São [email protected] Revista Acadêmica do Grupo Comunicacional de São Bernardo www.metodista.br/unesco/GCSB/index.htm Ano 1 - nº 1 - (janeiro/junho de 2004) Textos originais, revisados pelos membros do conselho editorial O Surgimento da mídia impressa no município de Passo Fundo/RS - os primeiros 50 anos Sônia Bertol* Fabíola Frosi (Universidade de Passo Fundo Faculdade de Artes e Comunicação Curso de Jornalismo) A história do jornal através do mundo A imprensa cruza o Atlântico Imprensa Sul-Rio-Grandense Mídia imprensa no município de Passo Fundo - os primeiros 50 anos Referências Bibliográficas A sociedade atual tornou-se uma sedenta consumidora de informação. A oferta é grande, diversificada e cada vez mais especializada, enquanto a demanda cresce a cada dia, fundamentada sobre um desejo insaciável de informar-se. Entretanto, segundo Stephens, 1993, essa sede pelas notícias já se verifica há muito tempo, até mesmo em sociedades primitivas ou sem línguas grafadas. Freqüentemente, observadores nos fazem notar a aguda preocupação com notícias que pode ser encontrada entre povos pré-letrados ou semiletrados. Um relato missionário, escrito em 1857 acerca de uma tribo zulu da África do Sul, destacava (...) 'Os homens especialmente, quando não possuem ocupações sérias, passam grande parte de seu tempo contando e ouvindo coisas novas’. STEPHENS (1993, p. 37) Ou seja, a necessidade da notícia faz parte do ser humano em qualquer época ou lugar. Alguns podem até consumir informação por prazer, mas sua principal motivação será o desejo de conhecimento. Porque esse conhecimento dá sentido social e o homem é, essencialmente, um ser social. Não faz diferença se estamos acostumados a acompanhar as notícias de uma ilha ou do mundo inteiro; quando o fluxo de notícias sofre uma obstrução privando-nos de nossa visão costumeira se estabelece a escuridão(...) 'Sem as notícias', escreveu o historiador Pierre Sardella, 'o homem se sentiria infinitamente diminuído.' (...) uma sede de conhecimento. É essa a fonte de nossa obsessão. STEPHENS (1993, 46 e 47) A origem do Jornalismo está ligada a essa necessidade das pessoas. Primeiramente, a atividade de transmissão das notícias era feita por arautos, mensageiros e "fofoqueiros" profissionais, o que não pode ser considerado, ainda, Jornalismo. Com a invenção da imprensa no século XV, no período de saída da Idade das Trevas para o Iluminismo, surgem as primeiras folhas noticiosas e jornais, que aos poucos vão tomando forma de Jornalismo propriamente dito. O jornalismo nasceu, como se sabe, dentro do processo de formação do mundo moderno. (...) Nessa época, os serviços de correio privado e os relatos extraordinários veiculados em folhas e volantes surgidos nos séculos anteriores começaram a ceder lugar a publicações periódicas regulares, lançadas por casas editoras especializadas. RUDIGER (1993, p. 10) A história do jornal através do mundo A história do jornal impresso inicia-se com a criação, pelo alemão Johanes Gutenberg, da prensa de tipos móveis, no século XV e logo a invenção passou a funcionar produzindo material gráfico religioso. Somente no início do século XVI as primeiras folhas noticiosas apareceram na Europa, utilizando a prensa, agora, para produzir informação. Estas relacionavam-se a acontecimentos particulares e não tinham edições subsequentes. Na segunda metade do mesmo século, elas começaram a ser periódicas, até que no século XVII, juntamente com a intensificação da atividade comercial, surgem os primeiros jornais e as revistas de notícias regulares. As primeiras, chamadas Avisa-Relation Oder Zeitung e Relation foram impressas em Wolfenbuttel e Strassburgo, respectivamente, no ano de 1609. Já o primeiro jornal semanal, segundo evidências sugerem, teria surgido em 1607, na cidade de Amsterdã. Obviamente, o poder político estava fortemente ligado à imprensa e às publicações desse período, utilizando-as para comunicar proclamações oficiais, mas também, censurando-as quando "perigosas". Para Habermas: A revolução comercial fomentou simultaneamente o trânsito de mercadorias e o trânsito de informações, na medida em que progressivamente a própria informação virou mercadoria. Porém, a publicação sistemática e aberta de informações só se desenvolveu com o surgimento dos periódicos patrocinados direta ou indiretamente pelo Estado. A ascensão da sociedade burguesa na esteira da expansão do capitalismo comercial colocou novos problemas de governo para as autoridades, que rápido descobriram na imprensa nascente um meio de controlar a opinião e exercer o poder HABERMAS (1984, p.35-7) apud RUDIGER (1993, p.11) Durante o século XIX, a produção e distribuição de notícias adquiriram caráter de indústria jornalística, o que coincidiu com uma grande melhoria nos métodos de produção e na multiplicação de estradas de ferro, por onde a distribuição poderia ser feita mais fácil e rapidamente. Além disso, a população ia se alfabetizando e criando um mercado consumidor em constante expansão. Da Europa, a imprensa alcançou as colônias em todo o mundo, chegando ao Brasil com a família real, em 1808. A imprensa cruza o Atlântico A chegada do primeiro material tipográfico no Brasil data de 1808, junto com a família real portuguesa, que precisou deixar Portugal às pressas, antes da invasão de Napoleão Bonaparte e transferiu o governo do Império para o Brasil. Dom João oficializou a imprensa no Brasil em 31 de maio de 1808, criando, assim, a Imprensa Régia no Rio de Janeiro. ... a implantação da imprensa não constituiu uma iniciativa isolada, mas vinculou-se a um complexo de medidas governamentais capazes de proporcionar o apoio infra-estrutural para a normalização das atividades da Coroa Portuguesa, aqui instalada de modo provisório MELO (1973, p.85) Entretanto, verifica-se um espaço de 308 anos desde o descobrimento até a instalação da imprensa no País. Muitos autores explicam esse fato pela intenção da Coroa Portuguesa de manter a colônia na ignorância e, consequentemente, atada a seu domínio. É o caso de Moreira de Azevedo, 1865: Não convinha a Portugal que houvesse civilização no Brasil; desejando conservar essa colônia atada ao seu domínio, não queria arrancá-la das trevas da ignorância. AZEVEDO Apud MELO (1973, p.94) Porém, segundo José Marques de Melo, 1973, houve outras razões para o retardo na chegada da imprensa em território brasileiro, já que em outras de suas colônias, os portugueses até contribuíram para essa implantação. O precedente verificado nos territórios coloniais do oriente (...) põe por terra toda a argumentação de que Lisboa visualizava na imprensa um instrumento revolucionário, capaz de propiciar a libertação dos povos colonizados, e que, por isso mesmo, deveria ser aniquilada. Ao contrário, a imprensa foi no oriente um recurso eficaz para assegurar a submissão das populações, tarefa a que os missionários se entregaram com entusiasmo. MELO (1973, p.96) Os motivos, para José Marques de Melo, 1973, foram fatores sócio-culturais que não requeriam qualquer investimento português em imprensa, tais como o atraso das populações indígenas, com a predominância do analfabetismo. Ora, para quê imprensa se não havia demanda para ler os materiais impressos? Também, a ausência de escolas ou universidades, já que a natureza da colonização foi feitorial e até mesmo os setores burocráticos do governo eram precários e não necessitavam impressão. Além disso, o comércio e a indústria eram atividades incipientes ou inexistentes e, ainda, existia a questão da censura, imposta por todas as metrópoles absolutistas da época à suas colônias. Por isso, somente com a mudança do governo e da família real para o Brasil, atividades culturais, comércio e até a burocracia governamental exigiram que fosse instalada, no Brasil a Imprensa Régia. O primeiro jornal brasileiro começou a circular em 10 de setembro de 1808. A Gazeta do Rio de Janeiro era um jornal de quatro páginas e se constituía um órgão oficial da administração portuguesa. Antes da Gazeta, porém, em 1º de junho de 1808, em Londres, Hipólito José da Costa tirava a primeira edição do Correio Brasiliense. Este era mensal, com 72 a 140 páginas e chegava ao Brasil escondido. Seu conteúdo era doutrinário, defendendo as idéias liberais e o abolicionismo e desagradando, assim, os interesses portugueses. O Correio publicou 175 números, até dezembro de 1822, enfraquecendo-se logo após a Independência. É bom lembrar que, neste início da imprensa, havia censura prévia por parte da Coroa e, por isso, a criação de novos jornais, principalmente os não-áulicos, foi lenta, neste período. A LUTA PELA LIBERDADE Em 1821, porém, a liberdade de imprensa provoca o surgimento de diversos jornais, principalmente de oposição à dominação portuguesa. Eles tiveram papel bem destacado na preparação da Independência e utilizavam, muitas vezes, linguagem violenta. Eles surgiam em diversas regiões do Brasil e tinham caráter doutrinário, defendendo a liberdade. Para se defender, o governo mantinha, também, os seus jornais. Em 7 de setembro de 1822 é Proclamada, por D. Pedro I, a Independência do Brasil do poder de Portugal. Em outubro do mesmo ano, a liberdade de imprensa volta a ser cerceada. É aí que entram em cena os Pasquins. A LUTA POLÍTICA ATRAVÉS DA PASQUINAGEM Os pasquins tinham característica panfletária, linguagem violenta e agressiva e eram efêmeros. Seu objetivo era dar voz às facções políticas do período: Liberais e Conservadores, que se degladiavam através de seus respectivos pasquins. Desde os títulos até o conteúdo, eram irreverentes e chegavam a ponto do insulto pessoal e da calúnia. Em agosto de 1827, inicia-se um novo período de liberdade de imprensa, o que provoca o aparecimento de novos jornais pelas províncias. Neste mesmo ano surge o Farol Paulistano, primeiro jornal da província de São Paulo e O Diário de Porto Alegre, o primeiro na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. A partir daí, inicia-se a história do jornalismo no Rio Grande do Sul, em meio a um processo político intenso que, mais tarde, desembocaria na Revolução Farroupilha. Imprensa Sul-Rio-Grandense Parece haver uma certa concordância entre os pesquisadores sobre os primórdios da imprensa gaúcha. Eles têm afirmado que a Revolução Farroupilha foi a grande impulsionadora da imprensa no Rio Grande do Sul, apesar de não ser o fator essencial para seu surgimento. Silva, 1986, diz que "... o movimento de 35 não determinou o surgimento da imprensa no Estado, mas foi a mola-mestra para o seu desenvolvimento". Enquanto Rudiger afirma: ...não só o comércio precisava de notícias sobre os mercados, o câmbio e a legislação, como os editores pretendiam colocar à sua disposição um novo meio de comunicação. Porém, a mola propulsora do desenvolvimento da imprensa foi o processo político em curso; o estágio da vida econômica forneceu-lhe apenas a precondição. RUDIGER (1993, p.14) Já quanto a linha editorial do primeiro jornal da província, o Diário de Porto Alegre, não há tanta unanimidade, já que alguns afirmam ser ele um órgão áulico, por ter a aprovação do presidente da província, enquanto outros autores o classificam como, aparentemente, favorável à causa farroupilha. Rudiger acredita que a criação do Diário tinha a clara intenção de comunicar os pensamentos da Coroa, já que as primeiras insurreições começavam a surgir no país e também na província: As condições de civilização estavam começando a progredir e havia surgido um público letrado que precisava ser levado em consideração, mesmo porque a circulação de boatos e informações contraditórias punha em perigo o próprio exercício do Governo. RUDIGER (1993, p.13) Baseado nos escritos de Ericksen, 1941, BARRETO, 1986, afirma que o Presidente da Província, Brigadeiro Salvador José Maciel, foi totalmente solidário à instalação da tipografia que imprimiu o Diário de Porto Alegre. Cita, ainda, Tancredo Fernandes de Melo, 1904, dizendo que "o Diário publicava os atos oficiais e o Presidente fiscalizava o que devia ser dado à publicidade". Ainda assim, SILVA, 1986, diz que "não se pode indicar seu posicionamento frente aos movimentos iniciais da província". Ele se baseia nos escritos de Pereira Coruja para dizer que: "o Diário de Porto Alegre não era órgão oficial do governo, insurgindo-se, inclusive, contra ele, apesar da aprovação do presidente Salvador José Maciel para a sua impressão". A aparente contradição pode ser explicada da seguinte forma: o Diário foi lançado pelo Governo da Província, que mandou vir do Rio de Janeiro dois franceses desertores da tropa do General Carlos Maria de Alvear, que pretendeu invadir o Brasil. Eram Estivalet e Claude Dubreuil, que haviam sido tipógrafos na França. Eles começaram trabalhando para o Presidente, mas suas idéias não emprestavam total apoio ao governo. Prova disso é que Dubreuil possuiu, posteriormente, dezenas de periódicos em nossa província, alguns em apoio ao Governo Provincial, outros lhe fazendo oposição. É possível que Dubreuil tenha emprestado sua personalidade ao Diário de Porto Alegre, causando essa dúvida quanto à sua linha editorial. É verdade, porém, que o Diário abriu caminho para o surgimento de outros periódicos, à medida que a situação política se agravava. Entretanto, os jornais pré-revolucionários encontraram sérias dificuldades para circular e, por isso, adquiriram características pasquineiras. Sua média de duração era de 1 ano, com algumas exceções. As características desses jornais são idênticas: circulação irregular, com constantes interrupções decorrentes das circunstâncias políticas que determinavam a sua publicação; daí a falta de uniformidade, por atenderem às exigências da linha doutrinária. SILVA (1986, p.18) Antes e durante a Revolução, os jornais foram guiados por conceitos políticos e seu conteúdo era doutrinário, opinativo e a linguagem era, muitas vezes, violenta. Nesse contexto, não constitui exagero afirmar que a imprensa foi o bastidor intelectual da Revolução Farroupilha. Nas páginas dos jornais se gestaram as idéias que radicalizaram o processo político e levaram ao movimento. RUDIGER (1993, p.15) Os historiadores têm maneiras diferentes de classificar os períodos da história da Imprensa Gaúcha. Rudiger, 1993, se concentra nas características e estilos e não tanto na cronologia. Ele apresenta: o Jornalismo Político-Partidário, o Jornalismo Literário Independente e o Jornalismo Informativo Moderno. Já Silva, 1986, adota um critério bem mais cronológico e, por isso, mais claro. Ele esquematiza em: Fase Inicial (a partir de 1827), Fase de Consolidação (a partir de 1852) e a Fase Moderna (a partir de 1896) e subdivide essas fases para melhor compreensão. 1ª FASE: INICIAL (de 1827 a 1851) Em se tratando da Fase Inicial, ou seja, o período pré-revolucionário até 1851 (6 anos depois da pacificação), Silva traça um perfil em cada momento dessa fase: 1. FASE DE GERMINAÇÃO (de 1º/6/1827 com o surgimento do "Diário de Porto Alegre" até 2. 3. 4. 5. 6. 07/4/1831 com a abdicação de D. Pedro). É quando surgem as primeiras manifestações revolucionárias. Nesta época, praticamente só haviam jornais favoráveis à causa Farroupilha. FASE DE PROPAGAÇÃO (de 07/4/1831 com a abdicação de D. Pedro até 20/9/1835 com a tomada de Porto Alegre pelos farroupilhas). É quando a imprensa reacionária serve à formação de linhas de combate. Esta é a fase onde há certo equilíbrio no número de jornais favoráveis e contrários à causa farroupilha. FASE DE ECLOSÃO (de 20/9/1935 com a tomada de Porto Alegre até 15/6/1836 com a retomada de Porto Alegre pelos legalistas). Quando a efervescência política chega ao seu apogeu. Aqui, voltam a ser maioria os jornais favoráveis aos farroupilhas. FASE DE REAÇÃO (de 15/6/1836 com a retomada de Porto Alegre pelos legalistas até 1º/9/1838 com o surgimento do órgão oficial da República Rio-Grandense: O Povo). Quando as forças legalistas se sobrepõem à causa farroupilha e praticamente só existem jornais contrários aos farroupilhas. FASE DE RECESSÃO (de 1º/9/1838 com o surgimento de O Povo até 27/6/1841 com a tomada de Piratini pelos legalistas). É quando, estabilizada a República Rio-Grandense, começa a decrescer o movimento revolucionário. Há poucos jornais favoráveis, incluindo O Povo, órgão oficial, porém, a maioria são jornais contrários. FASE DE CONCILIAÇÃO (de 27/6/1841 com a tomada de Piratini pelos legalistas até 28/2/1845 com o tratado de Ponche-Verde). É quando as forças contrárias buscam as bases de um acordo que desse fim à Revolução. Mas os jornais favoráveis à causa farroupilha são maioria. Ainda baseando-se em Silva, 1986, os jornais desse período inicial podem ser classificados conforme seu posicionamento político em: 1. RESTAURADORES (da direita conservadora): Apoiavam a Monarquia. A maioria usava linguagem violenta e se confrontava diretamente com os jornais da esquerda liberal. Alguns poucos eram mais moderados em seus posicionamentos. 2. REPUBLICANOS (da esquerda liberal): Eram os jornais Farroupilhas, incluindo os órgãos oficiais da República Rio-Grandense (O Povo, O Americano e Estrella do Sul). Nem todos eram verdadeiramente republicanos, alguns aliavam-se a Monarquia. Os nitidamente republicanos eram separatistas e pretendiam a província independente. Utilizavam linguagem violenta, principalmente nas fases mais críticas. 3. LIBERAIS MODERADOS (da direita liberal): Eram jornais que apoiavam a Revolução, mas não a República, mas defendiam uma Monarquia Constitucional. Dentro destes incluem-se aqueles mais neutros politicamente, que eram mais publicitários ou noticiosos. Depois da Guerra, que termina em 1845, verifica-se, entretanto, uma estagnação na atividade periodística. Isso porque as circunstâncias políticas não impulsionavam mais o surgimento ou a manutenção dos jornais. Este é o período pós-revolucionário (de 1845 a 1851) que intermedia a mudança da Fase Inicial para a Fase de Consolidação: Na verdade, as forças políticas proporcionaram o surgimento das tipografias para fazerem sua publicidade, mas logo são as tipografias que publicam seus próprios jornais e os dispõem às forças políticas." RUDIGER (1993, p.30) Nesse período pós-revolucionário circulam poucos jornais porto-alegrenses, mas, em compensação, surgem os primeiros jornais em cidades do interior, como Pelotas e São Gabriel. Os jornais desse período são os que iniciam um tipo de avanço na imprensa gaúcha, como observa Silva, 1986: "Conciliada a província, os jornais pós-revolucionários, em menor número, se mantêm por mais tempo, evoluindo, técnica e editorialmente." 2ª FASE: CONCILIAÇÃO (de 1852 a 1895) Nessa fase surge público para todos os gostos e gêneros de publicações e o mercado começa a produzir em função dessa demanda. A formação, senão de uma sociedade, pelo menos de uma mentalidade burguesa, favorecia a diversificação das concepções jornalísticas vigentes, propondo a supremacia de novos valores como a veracidade noticiosa e a imparcialidade editorial, que na realidade contribuíam para a expansão do público potencial de cada periódico ao rejeitarem o compromisso político-partidário do jornalismo dominante à época. RUDIGER (1993, p.46) Essa é a fase em que a política perde a sua exclusividade e os jornais passam a abordar outros assuntos. Também é quando há o surgimento de diversos jornais no interior. A partir de 1869 a Imprensa Literária se desenvolve e, paralelamente, há o surgimento de jornais em língua alemã. Começam a aparecer, também, pequenos órgãos oficiais de partidos políticos. As novas publicações são humorísticas, ilustradas, joco-sérias, caricatas, noticiosas, etc (...) Mais tarde, com eles concorreram os órgãos representativos das diversas classes sociais sociedades, grêmios literários, escolas (...) e clubes mantêm boletins, órgãos noticiosos e recreativos. SILVA (1986, p.123) A partir de 1885, há uma intensificação da Imprensa Partidária, motivada pela movimentação política causada pela proximidade da abolição da escravatura e da proclamação da República e surgem os primeiros jornais italianos, com aumento no número de publicações em colônias de imigrantes (não somente alemães e italianos, mas também, poloneses). O levantamento feito por Silva, 1986, aponta o surgimento, em 1891, do jornal A Violeta, em Passo Fundo, mas não especifica a sua linha política e editorial. Ao aproximar-se o século XX, a imprensa sul-rio-grandense vai sofrendo novas transformações e, aos poucos, pequenos jornais começam a adquirir características de empresas. Os tipógrafos estavam se transformando em pequenos empresários, que tinham assalariados trabalhando a seu soldo nas oficinas e na redação, procuravam aumentar o capital social de seus negócios, exploravam o filão nascente da publicidade. O estágio artesanal havia sido superado e a imprensa estava baseada tecnologicamente na máquina a vapor. A circulação, por sua vez, fora renovada com a generalização da venda avulsa feita por ambulantes e a distribuição dos jornais pelo interior, através do uso dos novos serviços ferroviários. RUDIGER (1993, p.47) As mudanças significativas implantadas estavam ligadas ao recebimento de notícias, agora através dos serviços telegráficos, da especialização nas seções (esportes, cinema, vida social), devido à diversificação do público e até mesmo a sindicalização da classe jornalística teve início. 3ª FASE: MODERNA (de 1896 até os dias de hoje) O marco do início dessa fase é a criação do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, em 1895. Esse é considerado o primeiro jornal gaúcho moderno, em moldes industriais e que se estrutura técnica e administrativamente como empresa. O jornalismo rio-grandense estava em plena transição para uma nova fase de estruturação, na qual a política-partidária não ditaria mais as cartas, vencida pela racionalidade mercantil, nem haveria mais espaço privilegiado para o exercício literário, substituído progressivamente pela publicidade noticiosa, consolidando transformações cujas raízes se confundem com a história do Correio do Povo. RUDIGER (1993, p.57) Essa fase testemunha, ainda, uma ascensão dos jornais da capital, como O Correio e o Diário de Notícias, em detrimento aos jornais interioranos, que permaneceram por mais algum tempo ligados à atividade política local devido à falta de sustentação econômica para transformá-los em empresas. Foram, com isso, perdendo seu espaço. Alguns jornais foram surgindo, aos poucos, no interior, com a pretensão de empresas jornalísticas. Em Passo Fundo, surgem nesse contexto os jornais O Nacional, em 19 de junho de 1925 e o Diário da Manhã, em 28 de novembro de 1935. Eles ainda existem, mas nunca chegaram a adquirir status estadual, como as empresas metropolitanas. Outros jornais surgidos, nessa época, em Passo Fundo, foram catalogados por Silva: O Gaúcho (1892) Folha Vicentina (1919) O Barulho (1934) O Espião (1934) A Defesa (25 de agosto de 1935) A proclamação do Estado Novo, em 1937, com a proibição aos partidos políticos, põe um ponto final ao antigo regime e força a transformação dos jornais em periódicos noticiosos, consolidando, assim, o novo regime jornalístico no Rio Grande do Sul. Mídia imprensa no município de Passo Fundo - os primeiros 50 anos A região antiga de Passo Fundo, que até as primeiras décadas do século passado compreendia as zonas que hoje formam os municípios de Soledade, Guaporé, Carazinho, Erechim, Nonoai, entre outros, fez parte da Província organizada pelos padres jesuítas. Esta parte do Estado, era denominada "Missões Orientais do Uruguai", sujeita à jurisdição do Povo de São João Batista, fundado em 1698. Nessas regiões de Missões, os jesuítas desenvolveram a agricultura, a plantação de erva-mate e a pecuária, junto aos índios. Uma vida social e econômica bastante ativa e, por isso, cobiçada pelos colonizadores, tropeiros e traficantes de escravos, que capturavam e vendiam índios. Com a incorporação do planalto gaúcho à Coroa Portuguesa, as vindas dos tropeiros paulistas e paranaenses para essa região ficaram mais constantes. Uma das primeiras expedições aconteceu por volta de 1816, comandada por Athanagildo Pinto Martins. Logo, essas terras se tornaram rota de passagem das tropas de gado. Por volta de 1827, se estabelece nessa região a família que daria início a cidade de Passo Fundo. Manoel José das Neves, o cabo Neves, chega trazendo uma carta do Comando Militar de São Borja, dizendo que o tropeiro Manoel José das Neves recebia, pelos serviços prestados ao Império, uma gleba de terra localizada na região norte da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul que se estendia das margens do rio Passo Fundo até o Pinheiro Torto. A fazenda foi batizada de "Fazenda Nossa Senhora da Conceição Aparecida" e sua sede estava localizada onde hoje existe a Praça Tamandaré e a Igreja Matriz. O povoado começa a se desenvolver, ao longo da estrada dos tropeiros, com a chegada de outros paulistas e curitibanos, incluindo Joaquim Fagundes dos Reis que, em 1847 lidera a elevação do povoado à categoria de Freguesia, denominada "Nossa Senhora da Conceição Aparecida". Nessa época, já se percebia um grande progresso e crescimento demográfico. Segundo o historiador Ney D'Ávila, a população do povoado cresceu de 419 habitantes, em 1833, para 1.159 em 1847. A partir daí, a economia foi se desenvolvendo, principalmente com a produção e exportação de ervamate, mas também, um importante comércio de tropas e pecuária, enquanto a agricultura permanecia incipiente. O distrito tinha 8.208 habitantes quando se emancipou de Cruz Alta. A Vila de Passo Fundo se tornou autônoma em 28 de janeiro de 1857 e o município foi instalado em 7 de agosto do mesmo ano, com a posse dos conselheiros. No fim da década de 1860 até meados de 1870, a economia passou por uma recessão, devido a falta de homens, que foram lutar na Guerra do Paraguai e a desvalorização da erva-mate (por causa do mau uso dos ervais e da falsificação). A retomada do crescimento econômico e social só acontece na década de 1880 e é acompanhada pelo progresso cultural. Em 1883 é fundado o Clube Literário "Amor à Instrução", que contou com 120 sócios do sexo masculino, mas algumas esposas e filhas participavam. Também havia um clube informal, quase clandestino, que possivelmente passou a se reunir ainda na década de 1870, na oficina do marceneiro Augusto Reichmann (ficava próxima ao atual IE), para discutir as idéias republicanas. Eram homens jovens, letrados e com fama de pobretões. Por isso mesmo foram apelidados de "clube do toco de vela", já que se reuniam à noite e não teriam dinheiro nem para comprar uma boa lamparina. Oficialmente, esses rapazes foram os primeiros propagandistas da República em Passo Fundo, mas, no final da década de 1880, essas novas idéias passam a ser discutidas na casa comercial do Major Lucas d'Araújo, onde hoje é o prédio do Círculo Operário. Diariamente se formavam debates dos quais participavam líderes políticos, conservadores, liberais e republicanos em formação. Além disso, os rapazes do "toco de vela" também faziam comícios na porta da ferraria de Tomás Canfild, próxima à marcenaria do Reichmann. Outro propagandista da República foi o Professor Eduardo Augusto de Souza Britto, diretor do Colégio Luso-Brasileiro, uma escola particular com dez matrículas anuais, onde de 1886 até 1893 (Revolução Federalista), estudaram muitos adolescentes que desejavam saber um pouco mais do que aquilo que era ensinado nas aulas públicas. Entretanto, o fundamento para os debates era encontrado no jornal A FEDERAÇÃO, de Porto Alegre, dirigido por Júlio de Castilhos e que era assinado por muitos passo-fundenses, entre eles o próprio Lucas Araújo. O Partido Republicano foi fundado, em Passo Fundo, no início do ano de 1889 pelos membros do antigo Partido Conservador, na figura principal de seu líder, o Coronel Gervásio Lucas Annes e mais alguns dissidentes do Partido Liberal. Os liberais, inclusive, sempre foram maioria em Passo Fundo, desde a emancipação até 1878, quando enfrentaram crises e cisões e perderam espaço para os conservadores. Seu líder local, desde 1882, era Antônio Ferreira Prestes Guimarães. A Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, cuja notícia só chegou a Passo Fundo no dia seguinte, veio para confirmar e fortalecer a supremacia adquirida pelos republicanos, também aqui, já que o Governo Provisório do Estado que assumiu após a Proclamação, dissolveu a Câmara Municipal e nomeou uma Junta Governativa formada por três filiados do Partido Republicano. Nesse clima de efervescência política e cultural foi que nasceu o primeiro jornal passo-fundense, o semanário ECHO DA VERDADE, fundado em 24 de abril de 1890 por alguns jovens do "clube do toco de vela", apoiados por líderes republicanos locais. Surgiu para ser órgão do Partido Republicano e divulgar suas idéias. Seu redator era Cel. Gervásio Lucas Annes e seu gerente, Manoel Francisco de Oliveira (o Manequinho), que entregava o jornal na casa dos assinantes, aos domingos, pessoalmente. Tinha quatro páginas e, às vezes, era impresso em papel de cor. A oficina ficava localizada num prédio na rua Paissandu com 15 de Novembro. Seus colaboradores eram Gezerino L. Annes, Gasparino L. Annes, Antônio José Pereira Bastos (que usava Avelar Bastos como pseudônimo), Candido Lopes de Oliveira e Gabriel Bastos. A nível nacional, o clima foi ficando difícil, já que em 3 de novembro de 1891, o Marechal Deodoro da Fonseca fecha o Congresso, com apoio dos republicanos e protestos armados dos liberais. Aqui na província, o antigo Presidente, Gaspar Silveira Martins, funda, em 31 de março de 1892, o Partido Federalista, que vem substituir o Partido Liberal. Nesta época, Joca Tavares era o Presidente aqui e se posicionou contra o governo central. Então, em 17 de junho de 1892, Júlio de Castilho assume o governo da província a mando do poder central, depondo Joca Tavares. As reações acontecem em todo o Estado. Um dia antes, o líder republicano Cel. Chicuta é morto em Passo Fundo, à luz do dia, e inicia-se uma "caça geral aos federalistas" e muitos fogem para os países vizinhos, como é o caso do próprio Prestes Guimarães. O semanário ECHO DA VERDADE passa a se chamar 17 DE JUNHO, em homenagem a contrarevolução que devolveu o poder da província ao Partido Republicano, utilizando a mesma oficina e com os mesmos diretores e colaboradores. Um ano antes dessa mudança, o ECHO passou a emprestar sua oficina para a impressão de um outro jornal, também de orientação castilhista, mas literário: A VIOLETA, fundado em 1º de maio de 1891 e tendo Antônio Manuel de Araújo como redator. Também era semanal, com quatro páginas de 23x33 cm. Entretanto, a paz não duraria muito, já que os federalistas estavam reunindo tropas no Uruguai, para iniciarem uma reação a partir da fronteira. Em 5 de fevereiro de 1893, um manifesto do General Joca Tavares deu início a uma guerra civil que paralisou o progresso no Estado e, sobretudo, em Passo Fundo, que foi palco das maiores batalhas dessa chamada Revolução Federalista ou da Degola (já que, para economizar munição, optava-se por degolar os adversários). Desde a fronteira, Prestes Guimarães e outros líderes federalistas, como o General Gomercindo Saraiva (espanhol da região da Maragateria - daí o apelido de "Maragatos" para os federalistas) vieram lutando e vencendo, animando os companheiros que haviam ficado em Passo Fundo. Aqui, eles organizaram uma reação e tomaram Soledade e, depois, Passo Fundo em maio de 1893, porém, efemeramente. A partir daí, a guerra havia chegado à cidade, o que fez fechar os dois jornais que já funcionavam, bem como escolas, comércios e muitos habitantes abandonaram o Estado para esperar as turbulências políticas passarem. Prestes Guimarães consegue chegar a Passo Fundo, onde reúne suas tropas com as do General Gomercindo Saraiva e concentra, aqui, um grande número de maragatos. Do outro lado, os republicanos, que ficaram conhecidos pelos apelidos de pica-paus ou chimangos - nome de duas aves cuja cor da penugem lembrava os uniformes azuis e quepes vermelhos das tropas do Exército Nacional, já que eram apoiados pelos governos republicanos, tanto provincial quanto da nação - se prepararam para defender a região. Diversos confrontos ocorreram entre 1893 e 1894, entre eles, a Batalha do Pulador, ocorrida do campo da fazenda dos Mello (a 12 km do centro da cidade), a mais famosa e que, ao final de seis horas de combate entre 6.000 homens, não teve vencedores, apenas um saldo de centenas de mortos e mais de 1000 feridos. Uma das batalhas seguintes, a do Caroví, acaba causando a morte do General Gomercindo, em 10 de agosto de 1894, e muitos maragatos se dispersam para além das fronteiras, inclusive Prestes, para tentar se reorganizar militarmente. Entretanto, o tratado de paz é assinado antes disso, em Pelotas, no dia 23 de agosto de 1895. A partir da paz, começa a reconstrução de Passo Fundo, principalmente em termos econômicos e sociais. O historiador Francisco Antonino Xavier e Oliveira, que foi testemunha ocular dessa fase, critica a situação em que ficou a cidade, vitimada por essa "guerra fratricida". Em meio a essa reorganização, surge um jornal que, tudo indica, era órgão de propaganda da loja Serrana e tinha como objetivo promover a cultura da erva-mate e o cooperativismo: O VIAJANTE, fundado em 1º de junho de 1897 e dirigido por Gabriel Bastos. Não se sabe, porém, até quando circulou esta publicação. Logo após, em 1901 e, depois, em 1905, duas grandes indústrias ervateiras se instalam na cidade. Além disso, a reestruturação cultural também pode ser comprovada através do surgimento de O PALCO, em 1º de agosto de 1899, para ser órgão do Grêmio Dramático Passo Fundense, um jornal de 23x 34 cm, cujo redator era o próprio Antonino Xavier e que desapareceu no ano seguinte. Politicamente, os republicanos conseguem voltar a publicar seu jornal, em 11 de março de 1899, agora com o nome de O GAÚCHO. Esse jornal sofre uma interrupção em 1901 (que parece coincidir com a renúncia do presidente do Partido Republicano e fundador do jornal, Cel. Gervásio Lucas Annes, que se mudou para Porto Alegre alegando razões particulares). Assumiu a liderança do Partido uma comissão executiva, que também acaba renunciando em 1902. Com isso, o Cel. Gervásio é requisitado e volta a Passo Fundo, retomando suas atividades políticas na cidade. Em 1905, o jornal republicano retoma suas atividades até 1920. Seu redator político foi o Cel. Gervásio Lucas Annes e, ao que tudo indica, teve muitos colaboradores e diretores: Inocêncio Borges da Rosa, José Dario de Vasconcelos, Antonino Xavier, Gabriel Bastos e Nicolau de Araújo Vergueiro, que escrevia sobre medicina e, também, sobre política. Além disso, teve como gerente Claro Pereira Gomes mas, a figura que gerou mais conflito como diretor de O GAÚCHO foi o jornalista Basílico Gabriel de Oliveira Lima, que também era secretário da Intendência (prefeitura). Nessa época, vão surgindo outros jornais, dos quais se tem pouca informação. Como, por exemplo, O AVANÇA, em 1909, um periódico humorista e de propriedade de Queiroz Ribeiro. Em 1911, O GUISO, também humorístico, do qual J. Vargas foi o diretor. Alguns dados indicam, ainda, o surgimento relâmpago de outro jornal republicano, em 1912, chamado O PROGRESSO, cujos fundadores seriam Nicolau Vergueiro e Jovino da Silva Freitas. Com a morte de Gervásio Lucas Annes, em 4 de abril de 1917, uma comissão executiva assume novamente o Partido e, logo, surgem divergências entre essa executiva e Basílico Lima, diretor do jornal. A executiva propôs a venda do jornal, a fim de que Antônio Bitencourt de Azambuja, advogado, jornalista e correspondente do Correio do Povo, de Porto Alegre, comprasse e o dirigisse. Como não houve acordo, foi pedida a exoneração de Basílico do Partido. Entretanto, o intendente, na época, Pedro Lopes de Oliveira (mais conhecido como Cel. Lolico), não aceitou, já que Basílico era seu secretário. Foi aí que o "racha" no Partido Republicano aconteceu. Nessa mesma época, em junho de 1917, foi fundado outro jornal republicano: O REGIMEM, a princípio destinado a reforçar o trabalho de O GAÚCHO, mas já era, na verdade, cisão declarada; a executiva venderia o 1º jornal (tirando os opositores do caminho) e já teria o 2º em andamento. Contudo, Renato de Sá Brito, que fora convidado para ser diretor do novo jornal, quando soube da orientação do periódico, demitiu-se. Então, a executiva, na figura principal de Nicolau de Araújo Vergueiro, passou a utilizar um outro jornal como seu porta voz: A VOZ DA SERRA, que desde a sua fundação, em 30 de dezembro de 1915, até então (julho de 1917) tinha sido independente. Foi redator desse jornal Antônio B. Azambuja até 6 de setembro de 1916, quando se demitiu. Então, assumiu seu lugar Antonino Xavier. A necessidade de notícias Seu proprietário era Jovino da Silva Freitas. A redação e a oficina funcionavam na Rua General Neto, 7 mudando-se, em 1917, para Rua Morom, 31. Virou uma guerra: de um lado O GAÚCHO e a turma do Cel. Lolico e Basílico Lima e do outro A VOZ DA SERRA e a turma de Nicolau Vergueiro e Gabriel Bastos, passando a atacar a administração e orientação política do intendente. A situação chegou ao ponto de Borges de Medeiros, líder republicano e presidente da Província, tentar intervir, mas não conseguiu acalmar os ânimos. Houve diversos incidentes como brigas, prisões e até mortes. Ambas as facções apresentaram suas causas ao governo do Estado, que acabou se posicionando ao lado dos Vergueiristas (executiva). O que deixou bastante descontente a outra facção. Esse início de século marcou o progresso da cidade em diversos aspectos: a iluminação pública inicia em 1903, bem como melhoras na cadeia civil que havia sido construída quatro anos antes e, também, a construção da ponte sobre o Rio Passo Fundo. Em 1904, surge o Clube social e político Pinheiro Machado. Os demais distritos ligados à Passo Fundo também se organizam. Há a formação do Sindicato agrícola e pastoril e a vinda de indústrias. Monta-se uma plataforma para passageiros de trem na Av. Brasil com 7 de Setembro, em 1906, sendo que, a cidade já era servida pelo trem há alguns anos, no transporte de cargas, de maneira que a produção escoava pela via férrea. Politicamente, o ano de 1906 marca o retorno de Prestes Guimarães à Passo Fundo, agora com um discurso sobre vencer nas urnas, o que acaba fortalecendo os federalistas na disputa eleitoral daquele ano, sem, contudo, garantir sua vitória. Inicia-se, também, a instalação de uma empresa telefônica em 1909, bem como o loteamento na zona sudeste da cidade, que origina a Av. Progresso, atual Av. Getúlio Vargas. E continua com a criação do matadouro público, instalação do primeiro banco e ampliação da iluminação pública e da rede telefônica. Além disso, dados sobre um jornal chamado FOLHA VICENTINA, cujo início seria no ano de 1919, nos faz crer que este grupo religioso já estaria bem organizado na cidade, nesta época. Os vicentinos são os responsáveis pelo Hospital São Vicente de Paulo e algumas escolas. Em 5 de janeiro de 1921 surge um novo periódico, semanal, de quatro páginas de 54x36 cm e mais tarde de 32x48, chamado A ÉPOCA. Alguns historiadores o consideram um jornal de orientação política "borgista", ou seja, de apoio ao governo do Estado, enquanto outros o registraram como apolítico. É fato, porém, que teve diversos proprietários: primeiramente, a Livraria Minerva, depois Antão A. Chagas e Píndaro Annes. O primeiro diretor teria sido Ney de Lima Costa e, mais tarde, Herculano Araújo Annes. No ano de 1922, o jornal veio a instalar-se na Av. General Neto, esquina da Rua Independência (Praça Marechal Floriano). O jornal existiu até 21 de fevereiro de 1924. 1922 foi, também, ano de eleições. A disputa para presidente da República foi entre Nilo Peçanha, candidato dos republicanos e Arthur Bernardes, candidato dos federalistas. Aqui na cidade, a facção republicana do Cel. Lolico se aliou aos federalistas. A vitória confirmou Arthur Bernardes, mesmo que, aqui, o número de votos para Nilo Peçanha tenha sido maior. Os federalistas elegeram, também, o deputado Arthur Caetano a nível estadual. Entretanto, seu candidato à presidência do Estado, Joaquim Francisco de Assis Brasil, perdeu para Borges de Medeiros, que já se perpetuava no poder há muitos mandatos sucessivos, em vista dos métodos eleitorais aplicados na época: voto aberto (de cabresto), coronelismo, etc. Os federalistas de Carazinho (ainda ligado a Passo Fundo) iniciam um foco de revolta para impedir que Borges de Medeiros assumisse, o que se espalha pelo Estado. O ano de 1923 é marcado por muitas turbulências, novamente. Os revoltosos pedem ajuda ao presidente da República, Arthur Bernardes. Em 15 de dezembro é assinado o Pacto de Pedras Altas. Em janeiro de 1924 é fundada a Aliança Libertadora, e os republicanos descontentes aliam-se, definitivamente, aos federalistas. Em meio a esse clima, em 24 de junho de 1923, há notícias do surgimento de um novo jornal chamado A VANGUARDA. Seu diretor seria Ney de Lima Costa e o gerente, Marcelino Rodrigues Braga. O formato era de 34x50 cm e não se tem dados sobre a linha editorial ou sobre o seu desaparecimento. Contudo, considerando que o diretor Ney Costa era o mesmo de A ÉPOCA, e a julgar pelo título, não deveria ser um periódico com função estritamente política, apesar da fase em que foi lançado. A GAZETA é outro periódico que surge em meio às turbulências, em 1924. O Major João Carlos de Araújo e Silva foi seu primeiro diretor e proprietário. Era semanal e, em seu último ano, 1930, era impresso em tamanho 39x54 cm, em 4 páginas. Esse semanário foi o responsável pela vinda, para Passo Fundo, de um jornalista que deixaria sua marca na história da imprensa passo-fundense. Em 1926, Túlio Fontoura deixa seu lugar de repórter no Correio do Povo de Porto Alegre - onde havia trabalhado desde os 17 anos, primeiro em A Manhã (efêmero) e, depois, em A Federação (porta-voz do Partido Republicano), dirigido por Lindolfo Collor - para assumir a direção de A GAZETA, em Passo Fundo. A imprensa dessa época, acima de tudo, assume um caráter muito mais empresarial e jornalístico. É a fase de modernização chegando à Passo Fundo (que em Porto Alegre havia iniciado com o Correio do Povo, ainda em 1895). Por essa razão, começam a surgir periódicos que se estruturam, se adaptam e se consolidam, resistindo até aos dias de hoje. Em 19 de junho de 1925, Herculano Annes, Gabriel Bastos e seus familiares fundam O NACIONAL que, desde seu primeiro número, se autodenomina independente. Primeiramente foi semanal, porém, três meses após o lançamento passou a sair duas vezes por semana, depois três vezes e, em 1933 passa a ser diário. Foi o primeiro jornal diário de Passo Fundo. Seu tamanho inicial foi 33x46 cm. No ano de 1940, Herculano Annes deixa a direção do jornal, vendendo-o para seu funcionário Múcio de Castro e, até hoje, o jornal é dirigido por sua família. TRIBUNA GAÙCHA é o nome do jornal lançado em 1929 com 33x49 cm e 4 páginas. Como diretor tinha Jeferson Carvalho Dantas, como gerente, José de Souza Barros e Waldemiro Portugal era o redator. Por enquanto, não há dados sobre seu fechamento ou orientação editorial. O JORNAL DA SERRA, de propriedade de Asterio Canuto de Souza e gerência de Gustavo Gonzaga, teria sido fundado em Passo Fundo, em 14 de maio de 1930, sendo bi-semanal. No 42º número, entretando, teria se transferido para Carazinho, encerrando suas atividades em 5 de outubro de 1930. Com o fechamento de A GAZETA, em 1930, Túlio Fontoura funda, em 15 de maio de 1931, o jornal A LUTA, que veio a ser fechado, em 31 de dezembro de 1932 por ordem do Interventor Federal Fores da Cunha por ter se posicionado a favor dos paulistas e contra a ditadura de Vargas. Com isso, Túlio foi combater no movimento armado iniciado em Soledade, em prol do Movimento Constitucionalista de São Paulo. Foi preso por essa participação, juntamente com o companheiro Victor Graeff, enviados para Porto Alegre e, depois, para o Rio de Janeiro, a fim de serem expatriados para Portugal. Após cinco meses na prisão no Méier, obtiveram liberdade condicional graças ao pedido do Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Em meados de 1933, ainda por interferência da ABI, foi liberado e autorizado a regressar ao Rio Grande do Sul. O que restava do jornal A LUTA era uma máquina Marioni, um prelo velho e algumas caixas de tipo. Mesmo assim, recomeçou o jornal com o nome de A RAZÃO (algumas fontes citam Túlio Fontoura como, apenas, correspondente desse jornal, do qual não se tem maiores informações). Outros jornais são citados, com apenas nome e data de fundação: O BARULHO e O ESPIÃO em 1934 e A DEFESA, em 1935. A maior realização de Túlio Fontoura, o DIÁRIO DA MANHÃ, foi fundado em 28 de novembro de 1935 e existe até hoje, ainda sob a condução da mesma família. Começou na Av. General Neto com Av. Brasil e mudou-se, depois para Av. Cel Chicuta esquina com Rua Independência e, hoje, funciona na Av. 7 de Setembro. Sua edição, como o nome já diz, sempre foi matutina e diária. Foi o primeiro jornal dessa região impresso em máquina linotipo. Após a morte de Túlio, em 1979, seu genro, Diógenes Auildo Martins Pinto assumiu a direção, sendo sucedido por seu filho Péricles Martins Pinto e sua filha, Janesca Martins Pinto. Como o objetivo dessa pesquisa não é esgotar a História da Mídia Impressa em Passo Fundo, mas concentrar-se em contar como foram seus primeiros 50 anos, os periódicos aqui apresentados são os pioneiros. O que se pode concluir é que a história dos jornais é, sobretudo, a história de uma sociedade, com seus movimentos culturais, religiosos e, principalmente, políticos. A imprensa é a cara do povo que ela serve, mas também, um agente para sua transformação. Alguns jornais não puderam ser verificados. São títulos sem datas, que, provavelmente, devem estar incluídos na lista desses pioneiros (50 primeiros anos): HOMENAGEM AOS REPUBLICANOS, EXCELSIOR, BOLETIM DO HOSPITAL DE CARIDADE (Hospital da Cidade) e BOLETIM DA INTENDÊNCIA MUNICIPAL (sabe-se que esse nome - Intendência - só foi utilizado até 1930). Os dois últimos, são citados na biografia de Francisco Antonino Xavier e Oliveira, feita por Santina Rodrigues Dal Paz, já que ele foi um colaborador desses jornais. 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