Entrevista 8 R E V I S T A D A E S P M – JULHO / AGOSTO DE 2008 Ivan Zurita ENTREVISTA COM IVAN ZURITA N esta entrevista Ivan Zurita fala de sua experiência na direção geral da Nestlé no Brasil, cargo que assumiu há cerca de seis anos. Nesse período, Zurita introduziu mudanças radicais nos processos de produção e vendas, linhas de produtos e na filosofia empresarial como um todo, objetivando a redução de custos e o crescimento das vendas e dos resultados. Em função de tudo isto, o que pensa Zurita do futuro da Nestlé, da maneira como concilia os interesses da empresa e de seu pessoal e das estratégias de competição no mercado? Veja as respostas a estas e outras perguntas nas páginas que se seguem. N.R. JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M 9 Entrevista GRACIOSO – Lembro-me do tempo em que a Nestlé cabia inteirinha, naquele pequeno prédio da Rua da Consolação. Você chegou a trabalhar lá? IVAN – Sim. GRACIOSO – Pois é, quando o Ballarin o construiu, imaginou que seria a solução. IVAN – É incrível! Temos fotos de quando mudamos aqui para a Berrini, há 12 anos. Só existia o Word Trade Center e a Nestlé! E temos de acompanhar esse crescimento. Hoje, o Brasil é o segundo país, para nós, em volume mundial – primeiro Estados Unidos. Em faturamento, no ano passado, ultrapassamos a Grã-Bretanha e, esse ano, já encostamos na França – estamos em quarto lugar. Temos aqui 1.050 pessoas. Concentrei todo o grupo: sorvetes, água mineral, álcool, Purina, Nestlé, todo o escritório central da operação Nestlé no Brasil, “O MERCADO DE LEITE EM PÓ CONTINUA SENDO MUITO IMPORTANTE NO BRASIL.” Nespresso, chocolates. O edifício tem uma boa infra-estrutura: temos um anfiteatro excelente, um andar de fitness para o pessoal, e estão todos muito contentes. GRACIOSO – Outro dia, conversando com o novo presidente da Unilever, ele disse que o Brasil é o terceiro 98% “NÓS TEMOS DE PENETRAÇÃO NOS DOMICÍLIOS BRASILEIROS.” 10 R E V I S T A D A E S P M – JULHO / AGOSTO DE 2008 mercado da Unilever, com Estados Unidos e Inglaterra na frente. Acho que o futuro chegou e nós ainda não percebemos. Há coisas acontecendo no Brasil, realmente impressionantes, em todos os sentidos. IVAN – Há um lado positivo que é a dinâmica do mercado – um mercado em crescimento leva-nos a mudanças. Costumo dizer que, na gestão brasileira, quem não levar o tempo em consideração é um forte candidato ao fracasso. Talvez eu seja o presidente da Nestlé que tenha mais autonomia do Grupo justamente pela velocidade com que as decisões têm de ser tomadas. Costumo dizer que a Nestlé é “uma multinacional de sabor local”, não podemos perder isso de vista por nada. GRACIOSO – Nossa conversa tem a ver com o futuro. Vamos tratar, na Revista do tema “Onde é que estamos, onde vamos parar”, o dilema das empresas que não têm outra solução a não ser crescer continuamente. Isto está provocando con- Ivan Zurita seqüências de vários tipos. Por um lado, as empresas perdem a visão do longo prazo, tornam-se imediatistas, pressionadas pelos próprios acionistas. Entretanto – como no caso da Nestlé – é preciso preservar o patrimônio maior da empresa que são as marcas, a confiança que o mercado tem nela. As estratégias do marketing já não são mais o “santo milagreiro” de antigamente, pois grandes concorrentes se neutra lizam entre si. Como fica o marketing, nesse contexto? E, em relação ao pessoal, que continua a ser o patrimônio mais importante de qualquer empresa? Não precisa falar da Nestlé – quero sua visão pessoal. IVAN – Realmente, a busca de resultados, às vezes, supera a capacidade de respostas. E como você dizia, o tempo é fundamental: o tempo do resultado, o do retorno sobre o investimento. O jovem que entra aqui também tem pressa; se eu disser que ele vai passar dois anos estagiando antes de almejar um cargo, ele não fica. Tudo mudou. Temos de nos adaptar a essa realidade dinâmica. Hoje, se, por um lado, cobramos mais, por outro, a relação de disciplina com a empresa é bem menor do que antes. A nossa sensibilidade, em função da cultura que absorvemos na companhia, e eu me pergunto: “O que você está buscando: a formação ou a oportunidade imediatista? Há que definir o que se quer”. Realmente, a mudança foi muito radical, dinâmica. Por exemplo, quase todo dia temos um projeto novo. No momento, temos 92 projetos em desenvolvimento. GRACIOSO – O atual prazo de pay off de um projeto é o mesmo de antigamente? IVAN – Não. Os parâmetros mudaram totalmente. Costumo dizer que, se, no passado, as grandes corporações tivessem feito cálculos de rentabilidade, talvez eu não estivesse aqui, mas sim na América Central. Hoje tudo é retorno sobre o investimento, a velocidade do investimento, você tem de levar em conta o risco dos países. O Brasil tem um risco, a Europa outro. Numa reunião com assessores externos em que se discutia o Risco Brasil, eu perguntei: “Se vocês tivessem um bilhão de dólares, colocariam aqui na Europa”? Eles responderam “claro que não” e eu retruquei “mas aqui não tem risco!”. E eles: “mas também não tem negócio”. Até o conceito e a definição de Risco mudaram. Se não existe risco, não existe oportunidade. O risco é inerente ao negócio. Para isso você precisa de velocidade de decisão, de toda a informática. A grande preocupação de uma corporação é que não se torne grande e, consequentemente, lenta. Por exemplo, em termos de estratégias e ferramentas de marketing, estamos hoje criando uma linguagem atual, para o consumidor de hoje, que é totalmente diferente da que usamos há cinco ou mesmo três anos. Se não nos adaptarmos, vamos deixar de ter eficiência na nossa comunicação. Enquanto estamos aqui conversando, eu estou conectado com a companhia no mundo inteiro; a Nestlé Brasil está, neste momento, conectada com o mundo. Há dias que recebo 600 e-mails. “QUEM NÃO LEVAR O TEMPO EM CONSIDERAÇÃO É FORTE CANDIDATO AO FRACASSO.” CÉLIA – E como você administra isso? IVAN – É também uma dinâmica de trabalho, de velocidade, de discernir, rapidamente, o que é mais ou menos importante, porque a organização não Ð JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M 11 Entrevista pode parar. E, além disso, controlar um pouco quem está operando, através dos sistemas. Antigamente, em cada unidade, tínhamos uma operação por centro de custos, hoje está on-line; tínhamos uma operação de compras por fax, hoje está on-line, centralizado. Essa dinâmica é suportada pela informática e, por isso, a velocidade da informática é muito importante para acompanhar tudo isso. E nós que operamos também, caso contrário vamos ficar para trás. Uma criança já nasce hoje com um idioma diferente – tenho um sobrinho de seis anos que comentou outro dia que ficou 12 R E V I S T A D A E S P M – JULHO / AGOSTO DE 2008 sabendo que um amigo dele, no Chile, quebrou a perna. Perguntei como ele tinha ficado sabendo e ele respondeu: “converso com ele pelo messeger”. Esse momento da transição, da adaptação, para mim é o mais sensível de todos: grandes oportunidades e, por outro lado, grandes fracassos para aqueles que não conseguem acompanhar. Sou a favor da informática atualizada, do pessoal atualizado, investimos em torno de dois e meio a três por cento da cifra do negócio em informática por ano – isso dá mais ou menos quatro bilhões de reais. GRACIOSO – Um dos itens mais importantes do orçamento. IVAN – Ferramentas de marketing – lançamos produtos pela internet. Os consumidores criando campanhas para nós do Nescau, chegamos a ter dois milhões de visitantes por semana – é uma dinâmica distinta. Se não fizermos isso, não estamos nos comunicando com a nova geração. Além disso, o perfil do consumidor é fundamental. Investimos muito para conhecer realmente esse consumidor. Há pouco tempo modificamos a fórmula do Nescau: foi criada uma Ivan Zurita “HÁ QUATRO MIL CARRETAS, NESTE MOMENTO, TRANSPORTANDO MEUS PRODUTOS.” ONG dos ex-consumidores do Nescau que entraram em contato comigo. Não haviam gostado. Imediatamente aceitamos, voltamos, ajustamos, e o recolocamos no mercado. GRACIOSO – Um caso que me impressionou foi a Coca-Cola (a notícia já está circulando por aí) que vai redirecionar toda a estratégia de marketing mundial deles, porque chegaram à conclusão de que o relacionamento deles com o consumidor está enfraquecendo e, com isso, enfraquece também a imagem de marca. Esta preocupação é sua também? Ð 600 “HÁ DIAS EM QUE RECEBO E-MAILS.” JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M 13 Entrevista “QUALQUER PRODUTO QUE VÁ PARA MERCADO TEM DE SER 60% PREFERIDO AO NOSSO PRINCIPAL CONCORRENTE.” 14 R E V I S T A D A E S P M – JULHO / AGOSTO DE 2008 Ivan Zurita IVAN – Nós temos 98% de penetração nos domicílios brasileiros. Há seis anos, recebíamos duas mil ligações diárias, hoje recebemos dez mil. Isso mostra que estamos estreitando o relacionamento. A maneira de fazer a companhia crescer é “consuma mais nossos produtos com maior freqüência”. A penetração já existe e conseguimos através do relacionamento. E esse relacionamento é fundamental para conhecer suas expectativas e poder trabalhar no desenvolvimento. Nosso Centro de Desenvolvimento de Produtos busca produtos de gerações futuras, que respondam às necessidades que existem hoje, pela longevidade ou por outras razões que antes não existiam. A preocupação com a nutrição, hoje, é maior; a consciência do consumidor mudou. Outro ponto importante é que, através da informática, diminuiu o nível cultural médio das pessoas, e isso facilita a informação. No Brasil, há cem milhões de celulares e celular também é um veículo de comunicação; há 70 milhões de laptops, ótimo. Não podemos permitir que a diferença social chegue à diferença cultural por falta de recursos. Hoje, a classe C passou de 42% para 54%. Tudo isso é uma conseqüência dessas movimentações que despertam essa ansiedade de consumo natural. O Brasil tem 180 milhões de consumidores, a China tem 1.200 bilhão de habitantes, o que é muito diferente. Precisamos, no nosso país, de poder aquisitivo, porque somos pessoas com mentalidade de consumo. Agora, credibilidade, tradição, preocupação com a qualidade, isso não se negocia. GRACIOSO – Você sempre teve grande preocupação com custos... Ð JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M 15 Entrevista “A ÚNICA MARCA QUE NÃO ENVELHECE AQUI É MOÇA.” IVAN – Exato. O consumidor, antigamente, num mercado fechado, pagava a conta da ineficiência, porque não tinha alternativas de consumo. Hoje existem. Então sou a favor de mercados abertos altamente competitivos. 16 R E V I S T A D A E S P M – JULHO / AGOSTO DE 2008 Costumo dizer que “liderar o mercado não é faturar mais”. O importante é fazer melhor aquilo que a gente se propõe a fazer e essa é uma luta diária. Se somos uma empresa globalizada, temos de nos comparar com o mundo. Um exemplo de logística nesse país (que é uma das variáveis, para mim, mais competitivas): qualquer companhia que aqui chegue vai ter de aprender sobre logística; hoje temos três grandes centros de distribuição Ivan Zurita CÉLIA – Isso é feito com muita freqüência? tribuição. Aumentou a rotação do capital e do trabalho, isso traz uma eficiência fantástica para a organização. E não fizemos mais, porque não havia informática, sistemas, não havia formas de dar mais velocidade a tudo isso. Criei Unidades de Negócios – antigamente era a Nestlé como um todo. Agora, a business unit de chocolate se compara aos concorrentes de chocolate. Não se compara Nestlé com Danone; compara-se iogurte Nestlé com a Danone, sorvete Nestlé com a Kibon. Fazemos um teste que é interessante: às cegas, qualquer produto que vá para mercado tem de ser 60% preferido frente ao nosso principal concorrente. GRACIOSO – Napoleão Bonaparte não entrava em nenhuma batalha se tivesse menos de 80% de chances de vencer. Você está sendo mais modesto. no Brasil (eram 19, antes) e tenho uma semana de estoque só para os caminhões – são quatro mil carretas, neste momento, transportando meus produtos – e há mais uma semana de estoque nos três centros de dis- IVAN – “Muita” não. Hoje o Brasil está mais estável, então se pode planejar melhor. No Brasil, cada aumento de três por cento, leva-me a construir uma fábrica nova. O mercado é grande, a dinâmica também, e isso requer planejamento constante. Se quiser me manter, na posição que tenho hoje – num país que cresça cinco por cento ao ano – tenho de construir duas fábricas por ano, para manter o status quo. Dezenove por cento da população de São Paulo moram sozinhos: sete milhões de mulheres trabalham, e não trabalhavam antes. Logo, a alimentação em casa só existe nos finais de semana ou nem mais, porque muitos saem para comer fora. Então temos de nos adaptar a isso: quem compra, onde consome e por que consome. CÉLIA – A Nestlé sempre teve marcas fortíssimas, como fica a questão das marcas? IVAN – “Marca” é um trabalho permanente de rejuvenescimento ou atualização porque, caso contrário, morremos junto com as marcas, adentramos num túnel de nostalgia. A única marca que não envelhece aqui é Moça, está sempre moça... CÉLIA– Diante de toda essa velocidade, como é que fica o seu planejamento de longo prazo? GRACIOSO – Como você consegue rejuvenescer uma marca como Ninho, um produto tradicional que deve ter uns 100 anos pelo menos. IVAN – Hoje, nosso horizonte é de três anos. Fazemos um master plan de dez anos, revisado todo ano, e o longo prazo de execução é de três anos, mas se, no meio do caminho, for preciso fazer alguma correção, ela é feita. IVAN – O Ninho, antigamente, era um leite para ser consumido pela falta de geladeira, pela falta de recursos de conservação. Em paralelo, a longevidade das pessoas mudou também. Hoje temos Ð JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M 17 Entrevista Ninho 1+, 3+, 6+ que são três produtos que uniram o sistema de alimentação das crianças em três etapas da vida com probióticos, complexos vitamínicos. Ele leva ao consumidor vantagens que não existiam. Essa dinâmica é muito importante. A marca Ninho todos nós trazemos nas veias, mas ela deve manter essa resposta dinâmica ao consumidor. Você diz “mas ninguém toma leite em pó”. Toma. O mercado de leite em pó continua sendo muito importante no Brasil, desde que você responda a ele. Antigamente a marca era tudo. O que o consumidor quer é o que nós vamos produzir; não produzimos porque queremos que ele compre. Isso foi uma mudança radical. GRACIOSO – Imagine, Ivan, um espectro onde – num dos extremos – está a velha cultura paternalista (que já foi da Nestlé) e, no outro, a empresa super pragmática. Onde você colocaria a Nestlé? IVAN – Eu inaugurei esse edifício com os aposentados, para parabenizá-los pelo que fizeram no passado; por isso estamos aqui hoje. Esses extremos existem quando não há um escopo de companhia realmente madura de mercado. É lógico que o paternalismo mudou. GRACIOSO – Nem tudo que é paternalista é ruim. “A SENSIBILIDADE HUMANA INDEPENDE DE TECNOLOGIA E É FUNDAMENTAL.” 18 R E V I S T A D A E S P M – JULHO / AGOSTO DE 2008 IVAN – O paternalismo de hoje é ser confortável, ter horário variado, segurança, um serviço médico que atenda bem. Antigamente era uma zona de conforto; hoje é Ivan Zurita muito mais cuidar das pessoas e administrá-las para que não se estressem. Faço várias reuniões por ano com todos os funcionários, com o Sindicato, para sentir o que está acontecendo na Organização. No nosso caso, o “dono” nunca está, todo mundo é empregado. Antigamente havia o andar da diretoria; hoje não existe mais. Eu criei um correio “o Presidente e você” – qualquer funcionário da companhia escreve para mim e eu respondo. Esse é o “paternalismo de hoje”. Todos entendem isso, e inclusive tenho bons exemplos do passado, das pessoas que costumo citar. Um exemplo que me marcou muito, foi na minha gestão na Nicarágua. Os sandinistas atacaram a Nestlé, levaram cadeiras, mesas, tijolos, portas, tudo. Com o dinheiro que tínhamos em caixa compramos jipes, ônibus russos, e eu falei “comprem o que encontrar”. Passaram-se alguns meses, as coisas se organizaram, nós vendemos esses ativos e reconstruímos a Nestlé. No Brasil, a Nestlé está identificada com o consumidor e o respeita há 87 anos. Essa cultura da história da empresa é fundamental. Algumas vezes somos obrigados a tomar decisões de que não gostaria, mas tudo é feito abertamente, somos transparentes: “A unidade tal fechei por tais e tais motivos”. Com todos os problemas sociais que possam acarretar, indenizando, colocamos headhunters para recolocar as pessoas. E todos entendem. Em contrapartida, vamos fazer um projeto social, alfabetizar os idosos... Esse equilíbrio e essa disciplina na gestão dos recursos da empresa são fundamentais. CÉLIA – E como é a qualidade dos líderes, hoje – dos diretores, gerentes e supervisores? IVAN – Esse é sempre o maior desa fio. São 17 diretores na unidade da presidência, mas a luta é permanente. A mudança, a cobrança, têm de começar no nível mais alto, caso contrário não funciona.. Tenho um grande relacionamento com as 28 fábricas, conheço muita gente pelo nome, estou sempre presente, mas o fundamental é saber o que está acontecendo. A administração e a gestão do estresse também é fundamental, respeitando, claro, o nosso limite. E percebemos que hoje as pessoas administram melhor esse limite. GRACIOSO – E para onde vai a empresa? Daqui a dez anos, você imagina a Nestlé com a mesma filosofia, a mesma estrutura básica ou haverá ainda mais mudanças? IVAN – Em termos de recursos, de tecnologia muito ainda vai acontecer na alimentação futura. Temos um centro de pesquisas, investimos quatro milhões de francos suíços por ano em desenvolvimento e há muito o que fazer na alimentação, para agregar valores. Já temos uma experiência nos Estados Unidos onde – através do exame de sangue – recebese uma receita da alimentação correta que vai evitar, no futuro, certas doenças. Isso é a obrigação de uma empresa líder desenvolver e colocar no mercado. Nos associamos ao álcool, à L´oreal, compramos a parte de nutrição da Novartis, porque são tecnolo- gias importantes que dão velocidade aos projetos. Na Nestlé a preocupação é alimentação e cultura. Amanhã não sabemos se um comprimido, de repente, resolve o nosso problema. Acho que nossa obrigação não é ser um laboratório, mas, através da alimentação, contribuir para o aumento da longevidade. CÉLIA – Se eu tiver direito a uma última pergunta, eu gostaria de perguntar sobre as qualidades do líder do futuro. IVAN – Existem muitos aspectos. Mas a sensibilidade humana independe de tecnologia e ela é fundamental. Também estar presente, independente do tamanho da organização. Na minha função, por exemplo, compartilho pressões com o primeiro nível de uma maneira; com o segundo de outra, e assim por diante. Todos sabem quanto ganha a companhia, se vai bem ou se vai mal; essa transparência na gestão é fundamental para que todos participem. Quando mudamos para esse edifí cio, até fiz uma campanha “é tempo de mudança”; não era mudança sobre o edifício, mas na maneira de operar, na maneira de trabalhar, na maneira de enxergar as coisas. CÉLIA – Quantas horas por dia você trabalha? IVAN – Umas doze horas. Às vezes exagero um pouco, mas é dinâmico e muito prazeroso também. ESPM CÉLIA – Percebe-se. JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M 19