Universidade Federal do Rio de Janeiro A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA, LÉXICO E FREQUÊNCIA NA LINGUÍSTICA COGNITIVA CAIO CESAR CASTRO DA SILVA 2012 Faculdade de Letras/ UFRJ A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA, LÉXICO E FREQUÊNCIA NA LINGUÍSTICA COGNITIVA CAIO CESAR CASTRO DA SILVA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida Rio de Janeiro Fevereiro de 2012 A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na Linguística Cognitiva Caio Cesar Castro da Silva Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Examinada por: _______________________________________________________________________ Presidente, Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves – UFRJ _______________________________________________________________________ Professora Doutora Margarida Maria de Paula Basilio – PUC-Rio _______________________________________________________________________ Professora Doutora Helena Franco Martins – PUC-Rio _______________________________________________________________________ Professor Doutora Hanna Jakubowicz Batoréo – Universidade Aberta de Lisboa _______________________________________________________________________ Professor Doutora Lilian Vieira Ferrari – UFRJ _______________________________________________________________________ Professora Doutora Maria Lucia Leitão de Almeida – UFRJ Rio de Janeiro Fevereiro de 2012 CASTRO da SILVA, Caio Cesar. A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na Linguística Cognitiva/ Caio Cesar Castro da Silva. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Faculdade de Letras, 2012. XIII, 234f.: il.; 31cm. Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida Dissertação (Mestrado) - UFRJ/ Faculdade de Letras / Programa de PósGraduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2012. Referências bibliográficas: p.171-179. 1. Parassíntese. 2. Léxico cognitivo. 3. Produtividade e frequência de esquemas. 4. Escaneamento cognitivo. I. Gonçalves, Carlos Alexandre Victorio; Almeida, Maria Lucia Leitão de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. Título. RESUMO A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na Linguística Cognitiva Esta dissertação investiga a instanciação de verbos parassintéticos em português a partir de quatro diferentes subesquemas: [a[x]Nj ar]Vi (abaixar, acalmar), [en[x]Nj ar]Vi (embarcar, encostar), [a[x]Nj ecer]Vi (amanhecer, apodrecer, amadurecer), [en[x]Nj ecer]Vi (ensurdecer, enriquecer). À luz dos pressupostos cognitivistas, principalmente o modelo cognitivo de uso, argumentamos que esses subesquemas teriam diferentes níveis de produtividade, o que acarreta em diferenças no armazenamento e acesso lexical por parte dos falantes. Em consequência disso, analisamos as frequências de tipo e de ocorrência dos dados, a fim de encontrar indícios para a hipótese de que o subesquema [a[x]Nj ecer]Vi teria deixado de ser produtivo ao longo do percurso da língua, ao passo que os demais teriam se mantido produtivos. Assumimos, também, que as construções parassintéticas, embora compartilhem a noção semântica de resultatividade, distinguem-se pela seleção de perspectivas diferentes, como as noções de locativo (processo em relação a um local) ou atributo (processo em relação a uma característica). Como esses subesquemas permanecem conectados por um significado em comum (a resultatividade), é possível postular uma rede esquemática, cujas estruturas estejam relacionadas por links de herança, permitindo, então, um léxico mais econômico. Palavras-chave: parassíntese; léxico; frequência; extensão semântica; produtividade. Rio de Janeiro Fevereiro de 2012 ABSTRACT Circumfixation in Portuguese: the relationship between culture, lexicon and frequency in Cognitive Linguistics This work investigates the instantiation of verbs in Portuguese on the basis of four circumfix subschemas: [a[x]Nj ar]Vi (abaixar ‘to lower’, acalmar ‘to calm’), [en[x]Nj ar]Vi (embarcar ‘to board’, encostar ‘to lean’), [a[x]Nj ecer]Vi (amanhecer ‘to dawn’, apodrecer ‘to rot’, amadurecer ‘to mature’), [en[x]Njecer]Vi (ensurdecer ‘to deafen’, enriquecer ‘to enrich’). In the light of cognitive assumptions, especially the usagebased model, we argue that these subschemas have different levels of productivity, which leads to differences in mental storage and lexical access. As a result, we analyze the token and type frequencies of data in order to provide evidences for the hypothesis that the subschema [a[x]Nj ecer]Vi has ceased to be productive over the time, while the other subschemas are still productive. We also assume that the circumfix subschemas distinguish from each other by the selection of different perspectives of the same scene, although they share the same semantic notion of resultativity. As these subschemas are joined by this semantic notion, we suggest that they are connected by inheritance links in a prototypical network, which supports an economic lexicon. Key-words: circumfixation; lexicon; frequency; semantic extensions; productivity. Rio de Janeiro Fevereiro de 2012 SINOPSE Análise de subesquemas verbais de parassíntese. Exame das frequências de tipo e de ocorrência na diacronia do português. Proposta de uma rede esquemática. Esta pesquisa foi integralmente financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). DEDICATÓRIA A dois homens de caráter, que fizeram de mim uma pessoa melhor: Antônio Vianna de Castro (in memoriam) e Iacyr José de Araújo (in memoriam), meus avôs. Meu pensamento é um rio subterrâneo Meu pensamento é um rio subterrâneo. Para que terras vai e donde vem? Não sei… Na noite em que o meu ser o tem Emerge dele um ruído subitâneo De origens no Mistério extraviadas De eu compreendê-las…, misteriosas fontes Habitando a distância de ermos montes Onde os momentos são a Deus chegados… De vez em quando luze em minha mágoa, Como um farol num mar desconhecido, Um movimento de correr, perdido Em mim, um pálido soluço de água… E eu relembro de tempos mais antigos Que a minha consciência da ilusão Águas divinas percorrendo o chão De verdores uníssonos e amigos, E a ideia de uma Pátria anterior À forma consciente do meu ser Dói-me no que desejo, e vem bater Como uma onda de encontro à minha dor. Escuto-o… Ao longe, no meu vago tato Da minha alma, perdido som incerto, Como um eterno rio indescoberto, Mais que a ideia de rio certo e abstrato… E pra onde é que ele vai, que se extravia Do meu ouvi-lo? A que cavernas desce? Em que frios de Assombro é que arrefece? De que névoas soturnas se anuvia? Não sei… Eu perco-o… E outra vez regressa A luz e a cor do mundo claro e atual, E na interior distância do meu Real Como se a alma acabasse, o rio cessa… Fernando Pessoa AGRADECIMENTOS Agradecer é como se desculpar, pois, em geral, são atos que ficam perdidos no mar de coisas vagas do cotidiano. Não se agradece no tempo certo, nem ao ato certo, mas ao feito mais vão e com as palavras mais gastas. Nem sempre nos damos conta de quando estamos meramente cumprindo um ritual que se espera na sociedade civilizada ou de quando estamos expressando um sentimento que já não podemos conter. Minha intenção é aproveitar este breve espaço para apresentar minha sincera gratidão a todas as pessoas que atravessaram, de alguma forma, o meu caminho. Colho, então, as palavras certas para que esses agradecimentos ecoem como palavras que carregam histórias. Em favor da alma, faço um primeiro agradecimento a todos os deuses que me guiam e fazem com que eu sempre esteja percorrendo o caminho da luz e da paz. Devoto meus sentimentos aqueles que, por me trazerem ao mundo e me proporcionaram a melhor criação possível, já mereceriam todo o meu respeito: meus pais, Carlos e Regina. Ainda que tentasse, jamais poderia retribuir o amor, o carinho, as broncas e os mimos que me deram. Igualmente importantes são meus irmãos Thainá e Lupi, ainda que possam me apontar que este é apenas um cachorro (entretanto, para mim, é um garoto gordo, levado e mal-humorado). Se não fosse por vocês, sorriria menos e seria menos feliz. Agradeço aos meus tios, primos, avó, vizinhos e amigos por compreenderem que nem sempre posso comparecer aos eventos (mea culpa) e pelas palavras de incentivo. Ao professor Carlos Alexandre Gonçalves, que me aceitou como orientando muitos anos atrás e confiou no meu trabalho, só posso tecer elogios pelo profissionalismo, pela ética que guia seus atos e pela inteligência que não se pauta em vaidades. Outra pessoa importante na minha jornada acadêmica é a professora Maria Lucia Leitão, que me ajudou a descobrir as metáforas que se escondem na vida cotidiana. A confiança que sempre depositou em mim e a paixão com que trata a pesquisa acadêmica me estimulam a prosseguir. Um percurso acadêmico que se preze não pode ser feito apenas de estudos, mas de amizades também. Portanto, dedico este espaço a três meninas que me acompanham desde o início da graduação e passaram comigo os momentos de alegria e os de tristeza: à Ana, porque sei que se eu for imitar o Chaves e cair, alguém vai me ajudar a levantar (e vai rir de mim também); à Elaine, porque se ficar sem guarita, terei sempre uma porta aberta para me abrigar; e à Érica, porque se um dia me perder e passar mal, alguém estará ao meu lado para me guiar. Lembro, também, dos amigos que estão presentes na minha caminhada: Katia Emmerick, Hayla Thami, Rosângela Gomes, Vitor Vivas, André Faria, Rafael Cardoso, Marisandra Rodrigues, Mário Freitas, Bruno Faber, Carolina Gomes, Úrsula Antunes, Mayara Nicolau, Rachel Pereira e Janaina Pedreira. Um muito obrigado a todos vocês! Aos professores Roberto Rondinini, Janderson Lemos e Mauro Rocha agradeço por todas as conversas, principalmente as não acadêmicas, e pelas diversas contribuições para o meu amadurecimento profissional. Aos professores da pós-graduação, pela disponibilidade e pelo respeito com o qual sempre me trataram: Silvia Cavalcante, Dinah Callou, Filomena Rodrigues, Maria Eugenia Lamoglia, Mônica Orsini, Célia Lopes, Lilian Ferrari e João Moraes. Às professoras Margarida Basilio, Helena Martins, Hanna Batoréo e Lilian Ferrari por terem aceitado o convite e me darem o privilégio de participarem da banca desta dissertação. Devo agradecimentos, também, aos meus alunos da UFRJ, que sempre me fazem ir além. Obrigado por me mostrarem que lecionar é um laboratório em constante construção. Sou grato também às leituras atentas e precisas do Carlos Alexandre Gonçalves e da Ana Carolina Mrad. Os erros que surgirem são, é claro, de minha responsabilidade. Há, por fim, dois agradecimentos de cunho técnico, porém indispensáveis para que o trabalho rendesse frutos: ao CNPq, pela concessão da bolsa de estudos, o que me proporcionou uma dedicação exclusiva à pesquisa e diversas participações em eventos da área; e ao Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia pela disponibilidade em me ajudar e pelos dados que me foram apresentados. SUMÁRIO 1. Introdução .................................................................................................................. 16 2. Os caminhos já desbravados ...................................................................................... 21 2.1. A perspectiva usual .............................................................................................. 22 2.2. As perspectivas do zero e do afixo único ............................................................ 25 2.3. O fator semântico na parassíntese ...................................................................... 29 2.4. A circunfixação..................................................................................................... 32 2.5. Trabalhos específicos sobre a parassíntese ........................................................ 37 2.6. É preciso tomar partido: em defesa da circunfixação ......................................... 41 2. 7. Resumindo .......................................................................................................... 45 3. Linguística Cognitiva ................................................................................................... 47 3.1. Noções gerais sobre Linguística Cognitiva........................................................... 48 3.2. O léxico ................................................................................................................ 54 3.3. A relação entre uso e léxico ................................................................................ 59 3.4. Operações de conceptualização no léxico .......................................................... 64 3.4.1. Ajuste Focal .................................................................................................. 65 3.4.2. Metáfora ....................................................................................................... 67 3.4.3. Metonímia .................................................................................................... 69 3.5. Resumindo ........................................................................................................... 70 4. Métodos e corpora ..................................................................................................... 71 4.1. O corpus coletado no Houaiss ............................................................................. 71 4.2. Os corpora de língua escrita ................................................................................ 75 4.3. O experimento linguístico ................................................................................... 80 4.3.1. Método do questionário .............................................................................. 80 4.3.2. Conteúdo do questionário............................................................................ 82 4.4. Resumindo ........................................................................................................... 84 5. Construções parassintéticas ....................................................................................... 85 5.1. Operações de conceptualização e resultatividade .............................................. 86 5.2. Subesquemas de circunfixação ......................................................................... 102 5.2.1. O subesquema [a [x]Nj ar]Vi ......................................................................... 103 14 5.2.2. O subesquema [en [x]Nj ar]Vi ....................................................................... 113 5.2.3. O subesquema [a [x]Nj ecer]Vi ..................................................................... 118 5.2.4. O subesquema [en [x]Nj ecer]Vi ................................................................... 124 5.3. Rede de subesquemas ....................................................................................... 126 5.4. Resumindo ......................................................................................................... 128 6. Análise da produtividade dos circunfixos ................................................................. 130 6.1. Análise dos resultados de frequência................................................................ 132 6.1.1. Resultados da frequência de tipo ............................................................... 132 6.1.2. Resultados da frequência de uso ............................................................... 136 6.2. Análise dos resultados do experimento ............................................................ 144 6.3. Desatando os nós .............................................................................................. 154 6.3.1. A reanálise do subesquema [a [x]Nj ecer]Vi ................................................. 156 6.3.2. Unidades lexicais coexistentes ................................................................... 163 6.3.3. Os empréstimos .......................................................................................... 165 6.4. Resumindo ......................................................................................................... 167 7. Conclusão.................................................................................................................. 169 8. Referências Bibliográficas ......................................................................................... 171 15 INTRODUÇÃO 1 Recentes estudos das vertentes cognitiva (CROFT & CRUSE, 2004) e funcionalista (BYBEE, 2010) têm demonstrado que o uso modela e renova o léxico mental, como um efeito da interação entre os conhecimentos linguístico e enciclopédico. Desse modo, a formação de uma nova palavra não corresponde apenas a regras, mas a padrões gerais que se reforçam na mente do falante a partir da ativação e instanciação de novas unidades lexicais. Nesta dissertação, objetivamos analisar verbos parassintéticos que são instanciados por quatro construções básicas do português: (i) [a[x] Nj ar]Vi, que forma verbos como ‘abaixar’, ‘abafar’, ‘apaixonar’, ‘acalmar’, ‘afiar’, ‘ajoelhar’, ‘alagar’; (ii) [en[x]Njar]Vi, com os exemplos ‘embarcar’, ‘empacotar’, ‘embolar’, ‘empoçar’, ‘encaminhar’, ‘encostar’; (iii) [a[x]Nj ecer]Vi, que forma itens como ‘amanhecer’, ‘apodrecer’, ‘amolecer’, ‘amadurecer’, ‘amortecer’; e (iv) [en[x]Nj ecer]Vi, que instancia, por exemplo, ‘ensurdecer’, ‘emburrecer’, ‘envelhecer’, ‘enriquecer’, ‘entristecer’. As abordagens de Croft & Cruse (2004) e Bybee (2010) sobre a relação entre uso e léxico respaldam a motivação deste trabalho, que se pauta no questionamento de qual seria o papel da frequência na instanciação dos verbos parassintéticos. Em outras palavras, pretendemos mensurar o grau de produtividade de cada construção de parassíntese na diacronia do português e cotejar os resultados com a força lexical que cada uma delas apresenta no português brasileiro atual. 16 Com base no exame dos dados do corpus, que foi coletado no dicionário Houaiss (2009), levantamos, a princípio, duas hipóteses. A primeira estaria relacionada à improdutividade da construção [a[x]Nj ecer]Vi, visto que apresentava uma baixo número de palavras, enquanto a segunda se referia à produtividade das demais construções, [a[x]Nj ar]Vi, [en[x]Njar]Vi e [en[x]Nj ecer]Vi. No entanto, a identificação do conceito de produtividade com a frequência de tipo (CROFT & CRUSE, 2004) nos levou a verificar a força lexical como uma categoria escalar, na qual duas ou mais construções concorrentes se diferenciariam a partir do número de itens gerados (i.e., graus de produtividade), e não por uma oposição produtivo/ improdutivo (BOOIJ, 1977). Com isso, reformulam-se as hipóteses: (i) pretendemos investigar quais são os níveis de produtividade de cada construção de parassíntese; e (ii) qual a probabilidade de cada uma instanciar novas palavras. Nosso segundo – mas não menos importante – objetivo é descrever de que modo operações cognitivas que atuam no léxico, como a metáfora, a metonímia e o ajuste focal (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]; LANGACKER, 1987; COULSON, 2001; FAUCONNIER & TURNER, 2002) atualizam e modelam as construções parassintéticas. Observaremos, igualmente, como essas construções específicas se organizam na mente do falante por meio de estruturas simbólicas que evocam conhecimento (BASILIO, 2010; BOOIJ, 2010; GOLDBERG, 1995) e se relacionam com outras mais genéricas. Outra indagação diz respeito aos significados ativados pelas construções parassintéticas, que podem indicar uma mudança de estado (‘apaixonar’, ‘enlouquecer’, ‘amadurecer’ e ‘enviuvar’) ou mudança de local (‘empacotar’, 17 ‘envasilhar’, ‘aprisionar’ e ‘encaixotar’). É preciso verificar, portanto, se estão relacionados por elos polissêmicos ou se são significados diferentes. Assumimos, neste trabalho, a posição de Gonçalves (2005), Rio-Torto (1994) e Henriques (2007) que interpretam os casos de parassíntese como morfes descontínuos, isto é, um mesmo afixo que se desmembra para a inserção de uma base no seu interior. Em decorrência desse posicionamento, optamos por adotar a nomenclatura ‘circunfixação’ ao lado do termo mais difundido ‘parassíntese’, sem que implique mudança de significado, pois, em ambos os casos, estamos pressupondo a descontinuidade morfêmica. Esta dissertação está organizada em oito capítulos, ao término dos quais seguem breves resumos das informações discutidas ao longo do texto. No capítulo 2, traçamos um panorama sobre as diversas abordagens do processo de parassíntese em português. Aprofundamos a discussão com a noção de morfes descontínuos que será adotada como método de análise. Nesse mesmo capítulo, resenhamos dois importantes trabalhos acadêmicos sobre o tema: (i) a análise de Bassetto (1993) dos derivados parassintéticos, resgatando seu sentido na etimologia grega; e (ii) a análise gerativista de Martins (1991), com a qual manteremos um intenso diálogo durante nossa investigação, sobre a regularidade semântica nas formações de parassíntese. Debruçamo-nos no capítulo 3 sobre o arcabouço teórico da Linguística Cognitiva, que nos permitiu analisar os dados sob o escopo semântico por meio de operações cognitivas, como a metáfora, a metonímia e o ajuste focal. As principais referências são o trabalho de Langacker (1987) e as propostas do modelo baseado no uso das palavras no discurso (CROFT & CRUSE, 2004). Como assumimos uma 18 perspectiva lexicalista, recorremos a Booij (2010) e Basilio (2011) para representar os esquemas responsáveis pela instanciação de unidades do léxico. No capítulo 4, lançamos mão das ferramentas metodológicas empregadas para o exame dos dados. Descrevemos a constituição do corpus a partir do dicionário eletrônico Houaiss (2009), bem como os métodos de seleção de textos escritos na diacronia da língua portuguesa que serviram de base para a análise da frequência de uso. Controlamos os dados através de cálculos estatísticos propostos por Lieber (2010), que permitem capturar o grau de produtividade de cada subesquema nos diferentes estágios da língua. Comentamos, ainda nesse capítulo, o teste de aceitabilidade que aplicamos em falantes nativos do português para confirmar nossa hipótese de que uma das construções ([a[x]Nj ecer]Vi) teria produtividade baixa se comparada com as demais. No capítulo 5, observamos os esquemas parassintéticos [a [x] Nj ar]Vi, [en [x]Nj ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi com base na proposta de Booij (2010). Propomos uma rede esquemática, em que os subesquemas estariam conectados através de links de herança (GOLDBERG, 1995). A investigação semântica dos dados pautou-se no conceito de resultatividade (LEITE, 2006; GOLDBERG, 1995; GOLDBERG & JACKENDOFF, 2004), i.e., a mudança de estado de um elemento. Com Langacker (1987), expressamos que o escaneamento cognitivo dinâmico é responsável pela conceptualização dos verbos do corpus e que ajustes focais, metáforas e metonímias organizam as extensões de sentido das palavras. Verificamos, no capítulo 6, a produtividade de cada uma das construções de circunfixação com base em dados sincrônicos e diacrônicos. Pudemos confirmar a hipótese de que houve a manutenção de um padrão fraco do subesquema 19 [a[x]Njecer]Vi, enquanto os demais subesquemas se mantiveram produtivos, mas com diferentes graus de força lexical. Valemo-nos também dos resultados de um teste de aceitabilidade aplicado a duzentos falantes nativos do português, que apontaram que palavras com alta frequência de ocorrência tendem a ser mais facilmente reconhecidas, mesmo que sejam instanciadas por construções pouco produtivas, como é o caso de ‘amadurecer’, que vem de [a [x]Nj ecer]Vi. Nos capítulos 7 e 8, apresentamos as considerações finais e as referências bibliográficas, respectivamente. 20 OS CAMINHOS JÁ DESBRAVADOS 2 O linguista tem de decidir com qual tipo de problemas conviver. 1 Laurie Bauer No rol dos tradicionais processos formadores de novos itens lexicais, figura um considerado mais complexo por envolver a aplicação simultânea de um prefixo e um sufixo a uma base, em dados como ‘amanhecer’, ‘enrouquecer’, ‘abrandar’ e ‘embolar’. Alguns autores preferem designá-lo circunfixação (RIO-TORTO, 1994; HENRIQUES, 2007, SILVA & KOCH, 2005), enquanto outros adotam a nomenclatura mais difundida, derivação parassintética (SANDMANN, 1997; BASILIO, 2004). Não tendo sido considerada na NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) “para simplificar”, conforme explicou Nascentes (1959: 12), a parassíntese carece ainda de estudos mais detalhados que aprofundem os tratamentos formais que vêm se desdobrando nos últimos tempos e que destrinchem os sentidos subjacentes à construção morfológica. Neste capítulo, são apresentadas as várias propostas que vêm sendo discutidas no âmbito da tradição gramatical e da literatura morfológica, bem como faremos um breve panorama sobre os trabalhos mais significativos na área. A revisão que propomos não seguirá os moldes clássicos que separam as obras gramaticais das pesquisas linguísticas, já que, em alguns casos, observamos que autores de diferentes 1 The linguist has to decide which set of problems to live with. (BAUER, 2001) 21 perspectivas abordam posições similares. Dessa maneira, agrupamos os estudos em relação à semelhança das propostas defendidas. O capítulo está assim dividido: apresentamos em 2.1 o ponto de vista mais tradicional e usual sobre o processo, subentendendo uma anexação simultânea; na subseção seguinte, observamos as propostas que preveem um sufixo foneticamente nulo nos casos das terminações em ‘-ar’ e um prefixo semanticamente nulo (‘a-‘), ou seja, abordamos as análises que levam a um distúrbio na relação de um-para-um entre forma e significado em morfologia; em 2.3 argumentamos, com Basilio (1987) e Kehdi (1992), a relevância do fator semântico na análise dos processos morfológicos; em 2.4 atentamo-nos para a hipótese de as partes que compõem a parassíntese se comportarem como morfemas descontínuos. Fazemos também uma revisão mais acurada de dois importantes trabalhos acerca do assunto aqui discutido em 2.5; e, por fim, expomos as razões que nos guiaram a adotar uma dessas perspectivas, nomeadamente, a derivação circunfixal. 2.1. A perspectiva usual Cunha & Cintra (2007) e Rocha Lima (2008) referem-se ao processo como parassíntese, ponderando o fato de serem formados, em geral, mais verbos, como ‘acorrentar’, ‘embainhar’, ‘amanhecer’ e ‘ensandecer’, do que adjetivos. Esses parassintéticos não verbais, mais escassos na língua, podem ser ilustrados pelas palavras ‘desalmado’, ‘conterrâneo’, ‘subterrâneo’ e ‘desnaturado’. Rocha Lima afirma ainda que as bases disponíveis ao processo são, invariavelmente, substantivos (‘gaveta’ em ‘engavetar’) ou adjetivos (‘rijo’ em ‘enrijecer’). 22 A ação combinada de prefixo e sufixo (DUBOIS, 1973) constitui parte do estudo de Sandmann (1988) acerca das novas formações em português. Com base em um corpus coletado de textos jornalísticos, o autor informa que a parassíntese ainda é produtiva, principalmente com os sufixos ‘-ar’, ‘-izar’ e ‘-ecer’. Alguns dados encontrados foram ‘acaudilhar’, ‘ensombrecer’ e ‘desfavelar’, em que se percebem os sufixos citados acompanhados dos prefixos ‘a-‘, ‘en-‘ e ‘des-‘. Rocha (1998) afirma que essa produtividade é esporádica, pois, se comparada às derivações prefixal e sufixal, o número de novas palavras parassintéticas é relativamente baixo (o exemplo institucionalizado mais recentemente seria ‘desfavelar’2). Vilela (1994) e Laroca (1994) têm o mesmo posicionamento dos outros teóricos já citados, embora se baseiem em um quadro estruturalista para classificar a parassíntese. No recorte de Vilela (1994), o prefixo é visto como um modificador semântico que se anexa a uma base portadora de significado literal e a um categorema. Já Schwindt (2001) e Lee (1995) abordam o tema através da ótica gerativista – mais especificamente, a Fonologia Lexical. Lee (1995) prevê que a anexação do prefixo e do sufixo à base ocorra no primeiro nível do léxico, a que chama de nível α. Já Schwindt propõe que a junção dos afixos se dê no mesmo nível, mas em estratos diferentes para justificar sua oposição à hipótese tradicional de simultaneidade, dado que esta pressupõe uma divisão ternária, não acolhida pela Hipótese da Ramificação Binária (ARONOFF, 1976). De acordo com Aronoff, uma regra de formação de palavras deve envolver apenas uma base e um afixo; nunca três elementos, como ocorre na parassíntese. Schwindt, então, apresenta um diagrama arbóreo que pretende reparar essas questões através da concepção de 2 Acreditamos que o verbo mais usual é ‘desfavelizar’, derivado de ‘favelizar’, não sendo, portanto, um caso de parassíntese. 23 um estrato intermediário. Justamente por argumentar que a afixação ocorra em estratos diferentes, torna-se possível a criação de um estrato intermediário que satisfaria, de acordo com o autor, a simultaneidade do processo, ao mesmo tempo em que asseguraria que a ramificação não fosse ternária. Nesse caso, em um estrato superior haveria a adjunção do sufixo seguida de uma forma sem status prosódico com a posterior inclusão do prefixo em outro estrato. Exemplificamos essa proposta com a árvore na Figura 1, adaptada de Schwindt (2001): V 3 pref en V 3 N caro suf ecer Figura 1: diagrama arbóreo da parassíntese adaptado de Schwindt (2001) Por sua vez, Bechara (2009) ressalta que, embora alguns autores adotem a noção de circunfixação ou façam uso do critério de simultaneidade, é mais econômico excluir a parassíntese dos processos de formação de palavras, uma vez que se preserva a linearidade do signo linguístico. A derivação se daria à semelhança do que ocorre com os dados em (2): (2) letrando (o estudante de Letras) < *letrar farmacolando (o estudante de Farmácia) < *farmacolar prefeitável (passível de exercer cargo de prefeito) < * prefeitar 24 Nesses casos, a formação se apoia nas bases virtuais *letrar, *farmacolar e *prefeitar, respectivamente. Por analogia, casos de parassíntese, como ‘envelhecer’ e ‘emburacar’, teriam como bases virtuais *envelho e *emburaco, ou *velhecer e *buracar. A derivação poderia ser prefixal, como nos esquemas em (3), ou sufixal, como em (4). (3) envelhecer [ en [*velhecer]V ]V emburacar [ em [*buracar]V ]V (4) envelhecer [[*envelho]A ecer]V emburacar [[*emburaco]S ar]V 2.2. As perspectivas do zero e do afixo único Algumas descrições morfológicas sobre a parassíntese levam a crer que a posição sufixal de alguns verbos parassintéticos em ‘-ar’ seja ocupada por um constituinte sem representação fonética. É o caso de Monteiro (1987), que opõe verbos parassintéticos de dois tipos: uns formados pela adição de um sufixo derivacional (exemplo em (5)) e outros, muito mais comuns, gerados pela indexação de um morfema zero (exemplo em (6)). (5) adocicar a- + doce + -ic + -a + -r (6) adoçar a- + doce + Ø + -a + -r 25 Para o autor, a sequência morfêmica ‘-ar’ é flexional e, portanto, não seria responsável pela mudança categorial. O uso do morfema zero na posição de sufixo parte da disposição em manter o paradigma derivacional mais regular, visto que em (5) há uma sequência com valor de sufixo, ‘-ic’. O mesmo pode ser verificado nos exemplos em (7). (7) esquartejar es- + quarto + -ej + -a + -r amolecer a- + mole + -ec + -e + -r encalvecer en- + calvo + -ec + -e + -r (8) entornar en- + torno + Ø + -a + -r abaixar a- + baixo + Ø + -a + -r empoeirar em- + poeira + Ø + -a + -r Nos dados de (7), a formação se dá através de sufixos que apresentam propriedades fonéticas, ao contrário dos dados de (8), que necessitariam de um sufixo zero, porque, segundo Monteiro, a sequência ‘-ar’ não pode acumular características flexionais e derivacionais. Camara Jr. (1976: 226) alude à parassíntese como um mecanismo que atribui “ao nome a flexão verbal concomitantemente com um dos prefixos ‘en-‘ (prep. em) ou ‘a-‘ (prep. a)”, ou seja, desprovido de qualquer sufixo derivacional. Seguem o mesmo raciocínio Freitas (1997) e Corbin (1980), que lançam mão de um prefixo com poderes heterocategoriais. Esse prefixo seria capaz de transformar um nome em verbo a partir da geração de uma vogal temática verbal. 26 Villalva (2003) sugere que os parassintéticos verbais em ‘-ar’, como os de (6) e (8), sejam formados por conversão de uma forma virtual em uma forma possível e existente no léxico. Isso resulta do fato de os afixos não serem um “componente nuclear” nas derivações regressiva, imprópria e parassintética, nas quais o radical ou a palavra são as partes afetadas, afastando-se, logo, dos processos canônicos de derivação, como a prefixação e a sufixação. Em (9), apresentamos exemplos de derivação regressiva e em (10) de derivação imprópria, evidenciando, de acordo com o esquema proposto por Villalva (2003), quais partes são núcleos das formações3. comprar RV compra RN (9) beijar RV beijo RN gritar RV grito RN (10) O ‘azul’ N do mar foi enegrecido pela mancha de óleo. (azul A azul N) O ‘olhar’ N da bailarina encantou o público. (olhar V olhar N) A autora se posiciona contrariamente à adoção de ‘-ar’ como um sufixo derivacional, o que acarreta a geração de palavras parassintéticas a partir da alteração da categoria gramatical por conversão seguida da prefixação, não sofrendo, assim, mudança na forma. A única diferença entre os dados de conversão em (9) e (10) e os de parassíntese em (11), a seguir, seria a presença do prefixo, que aparece como um assegurador da derivação parassintética, embora tenha, segundo Villalva, uma simples função fática. 3 As siglas RV, RN e RA se referem, respectivamente, a Radical Verbal, Radical Nominal e Radical Adjetival. 27 (11) torn RN en torn ar brilhant RA a brilhant ar poeir RN em poeir ar Ainda na esteira dos que interpretam os prefixos parassintéticos apenas como marcadores de expressão, podemos citar Sandmann (1988; 1997), que credita ao prefixo somente a função semântica. A acepção do prefixo seria, então, incorporada à da base, caracterizando uma composicionalidade do significado, como se pode ver no esquema em (12), adaptado de Sandmann (1997). (12) en- para dentro (encaixar, empacotar) ex- para fora (expatriar, exportar) re- de volta (repatriar, remembrar) des- afastamento (desmatar, desossar) Por sua vez, o sufixo exerceria as funções sintática e semântica, podendo optar ora por uma, ora por outra, ou, em alguns casos, por ambas. Os dados mais exemplares são dos verbos terminados em ‘-ecer’ (exemplos em (13)), nos quais o prefixo teria não somente o significado aspectual de incoatividade, mas também atuaria na mudança categorial da base (de substantivo ou adjetivo para verbo). (13) amanhecer início da manhã entardecer início da tarde 28 Dentre os afixos que participam da parassíntese, o ‘a-‘ seria o único completamente desprovido de conteúdo semântico (SANDMANN, 1997; MONTEIRO, 1987; HENRIQUES, 2007, VILLALVA, 2003), ao contrário dos demais prefixos apresentados em (12). Sandmann opõe dois pares sinônimos em (14), a seguir, para reforçar a sua opinião de que o prefixo ‘a-’ é assemântico, além de recorrer a exemplos do francês que, segundo Wandruszka (apud Sandmann, 1988), apresentaria parassintéticos com prefixo assemântico (15). (14) avermelhar ~ vermelhar acasalar ~ casalar (15) agrandir ‘ampliar’ arrondir ‘arredondar’ 2.3. O fator semântico na parassíntese O critério da simultaneidade, no qual se apoia a tradição gramatical portuguesa, não é o que define a parassíntese. Basilio (1987) e Kehdi (1992) apontam que a estrutura de formação deve ser analisada, e não a ocorrência simultânea de prefixo e sufixo. Essa estrutura de formação nos revela que o prefixo e o sufixo devem ser acoplados à base simultaneamente, já que a mera existência de prefixo e sufixo não garante a parassíntese, como se percebe nos exemplos em (16). (16) desvalorização 29 recadastrar No primeiro exemplo de (16), a nominalização em ‘-ção’ se dá com base no verbo ‘desvalorizar’, que é formado da união do prefixo ‘des-’ à forma verbal ‘valorizar’. Já em ‘recadastrar’, observa-se que à base ‘cadastrar’ se aplica o prefixo ‘re-’; e o verbo ‘cadastrar’ tem como base o substantivo ‘cadastro’. Nesses casos, verifica-se que a presença do prefixo e do sufixo não assegura que os itens em (16) sejam palavras parassintéticas, pois a formação se dá em níveis diferentes; logo, não há simultaneidade. No entanto, esses autores percebem que, em muitos casos, a adoção do critério da simultaneidade não é suficiente para precisar se uma palavra é derivada por parassíntese ou por prefixação e sufixação. É o caso dos pares demonstrados em (17), cujos verbos têm as mesmas bases, mas são formados por processos distintos. (17) anotar x notar esbarrar x barrar embolar x bolar abaixar x baixar Considerando apenas a questão da simultaneidade, os verbos da primeira coluna não poderiam ser caracterizados como parassintéticos, uma vez que existem formas sem o prefixo (verbos da segunda coluna). Diante desse quadro, Kehdi (1992) e Basilio (1987) questionaram o critério e atribuíram ao traço semântico maior funcionalidade na constituição do processo. 30 Nota-se que os dados expostos na primeira coluna de (17) veiculam significados distintos de seus pares correlatos. De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss (2009), ‘anotar’ é ‘tomar nota’, enquanto ‘notar’ é ‘perceber’, ‘observar’; ‘esbarrar’ é ‘chocar-se fisicamente’, ao contrário de ‘barrar’, que designa ‘impedir’, ‘bloquear’. Da mesma forma, observam-se diferenças entre ‘embolar’ e ‘bolar’, de um lado, e ‘abaixar’ e ‘baixar’, de outro. Ainda que as bases fonológicas sejam as mesmas (‘nota’, ‘barra’, ‘bola’ e ‘baixo’, respectivamente), as construções morfológicas das quais se originam guardam assimetrias. A partir dos exemplos em (18) e (19)4, pode-se verificar essa distinção de maneira mais clara. (18) A prefeitura ‘alargou’ a avenida da orla. ?A prefeitura ‘largou’ a avenida da orla. (19) Pedro é ‘descarnado’. A fome deixou Pedro ‘descarnado’. ?João foi ‘descarnado’ pela fome. Na primeira sentença de (18), dizemos que a avenida se tornou mais larga, enquanto na segunda percebemos o sentido estendido do verbo (a prefeitura teria parado de manter os cuidados com a tal avenida, como limpar as calçadas, podar as árvores etc), embora essa leitura possa parecer estranha para alguns falantes. Também é necessário que, nos exemplos em (19), o fator semântico seja ativado juntamente ao fator simultaneidade para identificarmos os derivados parassintéticos. Na primeira frase de (19), informa-se que Pedro é magro; na segunda, 4 Os exemplos de (18) foram adaptados de Kehdi (1992) e os de (19), de Basilio (1987). 31 que a fome é a causa de Pedro ser magro; e na terceira que Pedro é o paciente do ato de descarnar. Nos dois primeiros exemplos de (19), aparecem formas adjetivais parassintéticas, enquanto, no terceiro, tem-se o particípio passado do verbo ‘descarnar’. Mesmo com a estranheza causada pela última frase, poderíamos verificar dois tipos morfológicos (um adjetival e um verbal), que são licenciados na gramática por apresentarem significados diferentes. Seguindo Basilio, esses exemplos revelam a insuficiência da hipótese tradicional para acomodar a parassíntese, pois, ao considerar que a existência de um vocábulo sem um dos afixos implica a interpretação da forma derivada como não parassintética, faz-se necessário excluir as formas exemplificadas na primeira sentença de (18) e nas duas primeiras de (19). Uma verificação que leve em conta o aspecto semântico se mostraria, então, relevante não só para explicar a ocorrência de determinados vocábulos, mas também para entender a natureza morfossemântica do processo. 2.4. A circunfixação A circunfixação, ao que parece, é um processo de caráter tipológico, com dados registrados em diversas línguas não relacionadas entre si, como o alemão, o hebreu, o italiano, o indonésio e o eslavo, por exemplo. Pode ser entendida como o desmembramento de um afixo para a inserção da base/ radical no seu interior (MEL’ČUK, 2006; COHEN-SYGAL & WINTNER, 2006; GUEVARA, 2007, JENSEN, 1991). Guevara lembra ainda que é comum que alguns autores não façam distinção entre circunfixação e parassíntese, já que, em tese, ambas pressupõem a junção de um 32 segmento inicial e um final a uma base. Entretanto, só no primeiro processo esses segmentos se comportam como um único afixo. Mel’čuk apresenta alguns exemplos do Malaio (dispostos em (20)), em que o circunfixo /ke...an/ significa “ser parecido com”. Já Lieber (2010) traz alguns exemplos do Tagalog, língua também da família malaio-polinésia, em que o circunfixo /ka...an/ se junta a bases nominais para indicar coletividade – exemplos de (21). (20) cina ‘chinês’ ke-cina-an ‘ser como um chinês’ anak-anak ‘boneca’ ke-anak-anak-an ‘ser como uma boneca’ anakangkat ‘filho adotivo’ ke-anakangkat-an ‘ser como um filho adotivo’ (21) Intsik ‘pessoa chinesa’ ka-intsik-an ‘pessoas chinesas’ pulo ‘ilha’ ka-pulu-an ‘arquipélago’ Tagalog ‘pessoa de Tagalog’ ka-tagalog-an ‘pessoas de Tagalog’ No holandês, também encontramos um circunfixo indicando coletividade, de acordo com Booij (2002), ainda que o circunfixo /ge...te/ não seja mais produtivo. Percebe-se, nos exemplos em (22), assim como nos de (20) e (21), que a palavra base não existe sem o prefixo e nem sem o sufixo, o que confere o caráter de dependência entre as partes. (22) Berg ‘montanha’ ge-berg-te ‘(cadeia de) montanhas’ vogel ‘ave’ ge-vogel-te ‘bando’ 33 Em outras línguas, esse processo também pode ser verificado com bases verbais. Bauer (1988) apresenta alguns dados do alemão (23), cujo circunfixo /ge...t/ tem características flexionais, pois atua na formação do particípio passado de verbos fracos. Booij (2005) nota que em holandês há um sistema flexional semelhante ao do alemão, no que concerne ao uso de circunfixos para expressar o passado (24). (23) film-en ‘filmar’ ge-film-t ‘filmado’ frag-en ‘perguntar’ ge-frag-t ‘perguntado’ lob-en ‘louvar’ ge-lob-t ‘louvado’ zeig-en ‘mostrar’ ge-zeig-t ‘mostrado’ (24) fiets ‘andar de bicicleta’ ge-fiets-t ‘andou de bicicleta; pedalou’ No árabe, o tempo presente nos verbos é formado pelo radical de presente do verbo e um circunfixo. O radical isolado não funciona como uma palavra, ou seja, precisa do prefixo, que indica marca de pessoa, e do sufixo, que marca modo e número, para veicular um significado completo. O quadro abaixo (retirado de RYDING, 2005) ilustra a formação do presente do radical verbal -ktub- ‘escrever’. 34 Quadro 1: circunfixos no tempo presente do árabe (RYDING, 2005) Há ainda estudos sobre esse fenômeno no japonês (BOECKX & NIINUMA, 2004) e no guarani, línguas em que os circunfixos serviriam a indicar negação (/nd...i/) ou negação futura (/nd...mo’ãi/) (ZERROUKI & BALLA, 2009). Voltando nosso foco para o português, alguns autores (RIO-TORTO, 1994; HENRIQUES, 2007; GONÇALVES, 2005; ROSA, 2006; GONÇALVES & ALMEIDA, 2008) propõem que a circunfixação seja compreendida como um processo de formação de palavras, com características que acarretam na sua distinção da sufixação e da prefixação. Luft (1979) manifesta aquilo – que começaria a ser percebido mais adiante por outros pesquisadores – de mais característico na parassíntese: terem as partes derivacionais apenas um significado. Com isso, o autor indica, assim como Lopes (2003) e Silva & Koch (2005), que se trata de um morfema descontínuo, i.e., uma 35 unidade formal expressiva que é desmembrada para a inserção de outra unidade no seu interior. Henriques (2007), por razão diversa, se posiciona favorável a essa ideia 5. O teórico aborda também a formação de adjetivos circunfixais, que se dividiriam em dois grupos: o primeiro reúne os derivados que apresentam um prefixo que, se isolado, não possui valor semântico (‘abobado’, ‘achocolatado’); e um segundo grupo que se subdivide em outros dois: (i) prefixo ‘des-‘ (negação) e sufixo ‘-ado’. (‘desalmado’, ‘descampado’, ‘desnaturado’); e (ii) prefixo ‘con-‘ (simultaneidade) ou ‘sub-‘ (inferioridade) e sufixo ‘-âneo’ (‘conterrâneo’, ‘subterrâneo’). Sobre a circunfixação, Rio-Torto (1998: 214) adiciona ainda o fato de as partes que compõem o circunfixo não se comportarem de maneira autônoma, ou seja, “deixam de ter o estatuto de verdadeiros prefixo e sufixo, para adquirirem o de constituintes circunfixais, um ocorrendo em posição prefixal, outro em posição sufixal”. Outro ponto importante, a recategorização sintática, é tratado pela autora como uma função do circunfixo, e não apenas do sufixo, uma vez que se consideram derivados circunfixais os vocábulos formados pelo processo. No que diz respeito aos verbos terminados em ‘-ar’, Rio-Torto (1998; 1994) adota uma posição que concilia flexão e derivação, ou seja, o sufixo é responsável também pela mudança categorial. Contudo, ela informa que outras duas propostas são igualmente viáveis: a de Villalva, para quem verbos como os em (11) são derivados por conversão, ou a de Freitas (1997), que prevê um prefixo heterocategorial. 5 Como já foi dito, o autor não credita significado ao prefixo parassintético a- (que se origina do latino ad-), o que o faz distinguir este do prefixo grego a- (amoral, acéfalo e anarquia). Nesse contexto, de acordo com Henriques, ganha força a análise circunfixal, pois se privilegia o significado do todo. 36 2.5. Trabalhos específicos sobre a parassíntese Cabe aqui, mais do que uma breve menção, fazer uma resenha sobre dois importantes trabalhos que têm foco exclusivamente na parassíntese. Um deles é o de Bassetto (1993), que empreende um estudo sobre a conceituação dada ao tema desde a tradição greco-latina aos compêndios gramaticais mais recentes. O autor reúne em cinco capítulos informações recolhidas em textos originais com o claro objetivo de obter uma definição precisa para a parassíntese, visto que algumas das percebidas nos manuais de morfologia parecem desencontradas. Além disso, faz uso de um corpus constituído de palavras retiradas de obras de Guimarães Rosa para amparar e demonstrar a proposta que recupera dos pensadores gregos. O conceito de parassíntese remonta ao pensamento aristotélico, porém é Dionísio Trácio (170-90 a.C.) quem o transmite à tradição gramatical ocidental, pois “foi nesse documento [a primeira gramática grega] que se empregou, ao que tudo indica pela primeira vez, o termo” (BASSETTO: 1993: 24). O autor defende que a proposta dos gregos acomoda mais satisfatoriamente a análise derivacional, pois, em sua origem, parassíntese designa a anexação de uma partícula a um síndeto, sendo este qualquer palavra composta que tenha significação na língua. Choeroboscus (fins do século VI d.C.) diz que “simplesmente a tudo quanto se origina de um sintético chamamos parassintético, seja de nomes seja de verbos” (BASSETTO: 1993, 38). O trecho esclarece e amplia a noção estabelecida pelos gramáticos gregos anteriores, dado que qualquer palavra formada a partir de um síndeto é parassintética, seja formada por prefixação ou por sufixação. 37 Pela proposta, palavras como ‘contentamento’ e ‘inexplicável’ seriam parassintéticas, posto que encerram a anexação de uma partícula, ‘-mento’ e ‘in-’, a um síndeto, ‘contentar’ e ‘explicável’, respectivamente. Isso representa uma forte quebra de paradigma com a ideia imputada pelos autores latinos, principalmente Prisciano (século V d.C.), em quem a nossa tradição se fundamenta para designar a parassíntese. Conforme nos expõe Bassetto (1993:68), os elementos no interior de parênteses formam um conjunto que deve ser levado em conta em todas as operações subsequentes, assim os formantes de um sintético constituem um todo inseparável em relação a sufixações ou prefixações posteriores, sob pena de se chegar a formas absurdas. O esquema de magnanimitas é: (N + N) + SD ou (magn(-us) + animus) + itas. Baseado na conceituação grega, o autor passa, então, a uma análise dos vocábulos formados por parassíntese em português, levantando em conta a frequência com que os prefixos e sufixos ocorrem no processo. Na formação de verbos, o prefixo mais utilizado é ‘a-‘, com 21% das ocorrências, seguido de ‘des-‘ (15,2%), ‘en-‘ (12,4%) e uma lista de outros vinte e nove prefixos. O sufixo nominal mais comum é ‘-do’ (32,8%), enquanto na formação de verbos levam majoritária vantagem ‘-ar’ (morfema zero para o autor) e ‘-ecer’ (7,6%). O segundo trabalho com foco na parassíntese é o de Martins (1991) que, por sua vez, se apoia na distinção entre regularidade e irregularidade semântica nas formações lexicais, questionando até que ponto esse é um critério suficiente para acomodar os dados, uma vez que contraexemplos surgem em abundância. É o caso do verbo ‘encharcar’ que pode significar (i) ‘por em charco’, em que charco é entendido não literalmente, à semelhança de encher-se de água; (ii) ‘tornar um charco’, embora os verbos que façam parte desse grupo tenham por base um adjetivo e, assim, o 38 substantivo ‘charco’ teria que ser tomado por adjetivo; e (iii) ‘por charco em’, que é menos comum, embora mais regular. A autora argumenta que os significados mais usuais ajudam o falante a compreender e avaliar as regularidades do léxico, o que a faz optar pelo sentido irregular (i). A adoção do modelo de Jackendoff (1975) não dirime o desconforto em relação à insuficiência da intuição do falante em estabelecer a regularidade e a irregularidade das formações frente a processos6 que perpassam o léxico, mas não são tratados no escopo do modelo gerativista (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]). Por efeito dessa percepção, Martins assume que as irregularidades são sempre regularidades parciais, já que a irregularidade é estabelecida em relação a um significado regular. O trabalho é um grande salto nas poucas pesquisas que tinham se desenvolvido até então sobre o assunto, pois insere a derivação parassintética em um quebracabeça muito mais amplo e complexo: a formação de verbos em português. A recategorização dos itens lexicais teria, de acordo com Martins, motivação no uso das funções semânticas de adjetivos e substantivos para veicular um processo ou ação. Isso se reflete na divisão entre predicados accionais/ causativos e processuais. Esses teriam relação com bases adjetivais e a participação do sufixo ‘-ecer’, que veicula o aspecto de incoatividade; aqueles estão mais relacionados ao significado causativo dos verbos em ‘-ar’, anexados, principalmente, a bases substantivas. No segundo capítulo da dissertação, Martins serve-se de regras de redundância (JACKENDOFF, 1975) – que têm “a função de relacionar entradas lexicais umas às outras, na base de regularidades fonológicas e sintático-semânticas” (BASILIO: 1980, 6 Fala-se aqui, notadamente, de processos cognitivos, como a metáfora, a metonímia, a polissemia etc. 39 11)7 – para dar conta dos itens do corpus. Para tanto, propõe uma regra geral para os dados e outras específicas a cada simulfixo8. No caso específico do simulfixo a-X-ecer, como só foram encontradas sete formações e algumas não são previsíveis (‘abastecer’ não é tornar basto e ‘amortecer’ não é fazer algo relacionado à morte), não foi possível analisar esses dados com base em uma regra. No terceiro capítulo, apresentam-se os pilares que sustentam a pesquisa, a teoria semântico-cognitiva de Jackendoff (1983), que corrige as falhas do modelo anterior ao não considerar os processos cognitivos que atuam no léxico, embora se admita não haver um aparato bem equipado a fim de explicar completamente fenômenos comuns ao léxico, como, por exemplo, a metáfora (MARTINS, 1991: 79). São estabelecidos alguns critérios com o objetivo de reconhecer as regularidades da expansão lexical: um necessário, que diz respeito à percepção de uma estrutura para que uma formação seja considerada semanticamente regular, e seis preferenciais, cuja atuação depende do que Jackendoff designou por “estímulo experienciado”; no trabalho de Martins, esse estímulo seria a formação de verbos a partir de dois afixos. A Teoria da Metáfora, elaborada por George Lakoff e Mark Johnson (2002 [1980]), um dos marcos (talvez o primeiro) da Linguística Cognitiva, serve de base para entender os casos irregulares, o calcanhar de Aquiles dos estudos gerativistas. Diante das informações que foram apresentadas até aqui, assumiremos, na próxima subseção, nosso ponto de vista acerca do objeto estudado, bem como apresentaremos os argumentos que corroboram nossa posição e aqueles que nos levaram a rejeitar as demais. 7 8 Para maiores informações sobre regras de redundância lexical, ver Basilio (1980). Para maiores detalhes, ver Martins (1991). 40 2.6. É preciso tomar partido: em defesa da circunfixação A proposta de Bechara (2009) – que pressupõe a geração de verbos a partir de formas virtuais, acarretando na exclusão da parassíntese do conjunto de processos formadores de palavras – esbarra em problemas que vêm sendo apontados na literatura especializada. Um deles é que, conforme indicam Basilio (1993; 1987), Aronoff (1976) e Booij (2002), a formação de palavras nas línguas naturais se dá a partir de uma palavra já disponível no léxico, seguindo os pressupostos da Morfologia de Base Vocabular. Assim, temos formas recentes como ‘corpitcho’ de ‘corpo’, ‘micareteiro’ de ‘micareta’ e ‘mensalão’ de ‘mensal’, por exemplo, em que as bases são reconhecidas por qualquer falante brasileiro do português. Do mesmo modo, no caso de ‘enquadrar’, o substantivo ‘quadro’ faz parte do léxico internalizado do falante do português, ao contrário das formas virtuais *enquadro e *quadrar. Por isso, prever que os verbos parassintéticos sejam formados a partir de itens não existentes no léxico seria contraditório com a teoria que estamos adotando aqui (ver Capítulo 4). Além disso, a proposta pretende transformar casos excepcionais em regra, pois formas como ‘letrando’ ou ‘prefeitável’, que partiriam das formas virtuais *letrar e *prefeitar (BECHARA, 2009), não constituem um grupo robusto nem homogêneo. Ao contrário, exemplos de parassintéticos são abundantes, principalmente na categoria verbal, e não devem, portanto, ser tratados como desvio. Outra proposta arrolada é a que postula um zero morfêmico na formação dos verbos em -ar (ver 2.2). Esse morfema é, nas palavras de Bybee (1985: 4), “um tipo de distúrbio no mapeamento de um-para-um entre som e significado”. 41 Bybee (1985) e Gonçalves (2005) assinalam que o zero é um artifício utilizado para tentar uniformizar as descrições estruturais. Por isso mesmo, está vinculado a categorias mais básicas e não marcadas do ponto de vista cognitivo. Em português, aparece com frequência no gênero masculino, no número singular de nomes, na terceira pessoa do singular dos verbos e no tempo presente, ou seja, em categorias que não possuem representação fonética por seu caráter mais genérico, o que é comum nas línguas do mundo (BYBEE, 1985). Além disso, esses significados gramaticais tendem a se manifestar via flexão, o que leva à proposição de um morfema zero apenas para a morfologia flexional. Assim, a aplicação do zero, que tem forte valor gramatical, à derivação representaria um risco, uma vez que a toda entidade sem valor morfológico e sem massa fônica seria possível postular um morfema zero. Em outras palavras, seria atribuir poderes lexicais a uma entidade sem representação morfofonológica. Ademais, como bem salienta Freitas (1997: 153), as construções parassintéticas que mais apresentam derivados são as terminadas por ‘-ar’, “não constituindo, assim, a exceção, mas a regra geral, o que comprova a deficiência do critério”. Em verbos como ‘arriscar’, ‘amassar’, ‘enroscar’ e ‘entortar’, a terminação ‘-ar’ é responsável por reenquadrar, nos termos propostos por Nascimento (2006), a base nominal à categoria verbal. Como indica Basilio (1993), ‘-ar’ é um sufixo derivacional justamente por fazer a mudança de classe, além de apresentar a propriedade flexional resguardada na vogal temática e no morfema de infinitivo. Conforme foi abordado anteriormente, Villalva (2003) analisa os derivados em ‘-ar’ como resultados de um processo de conversão. Há, nessa proposta, um argumento que nos faz questionar sua aplicação, que é o fato de postular a adjunção 42 do prefixo a bases nominais antes de se tornarem verbos por conversão. Sobre isso, Bechara (2009) e Kehdi (1999) afirmam que, em português, é um traço dos prefixos se coadunarem, geralmente, a verbos ou a adjetivos, como em (25) e (26), a seguir, respectivamente. São parcos os exemplos de prefixos que se juntam a substantivos: normalmente, isso se verifica com deverbais (desempate, desagrado, retorno). (25) refazer, deter, reter, conter, pospor, sobrepor; (26) infeliz, desrespeitoso, impensável, antiaderente. Os verbos parassintéticos em ‘-ar’, que seriam formados por conversão na proposta de Villalva (2003), apresentam a seguinte distribuição categorial de suas bases: 80% vêm de adjetivos e 20% de substantivos, num total de 418 dados do nosso corpus. Esse resultado corrobora o que foi dito por Kehdi (1999) e Bechara (2009). Assim, caso optássemos por essa proposta, teríamos de explicar o porquê de prefixos se anexaram a bases substantivas, quando esse é um processo marginal. A alternativa para contornar esse obstáculo seria compreender que, primeiramente, as bases substantivas e adjetivas sofrem conversão e, em seguida, se anexam aos prefixos. No entanto, por acreditarmos que o sufixo ‘-ar’ é também derivacional, não adotaremos essa proposta. Dessa maneira, uma análise que se paute em elementos descontínuos evita esse (e outros) problemas, tendo em vista que se considera um único afixo derivacional. Já que o circunfixo não é vazio de significado, furtamo-nos, pois, a uma discussão sobre o prefixo ‘a-’ ser portador ou não de conteúdo semântico. Pela mesma 43 razão, acreditamos que o circunfixo acumule mais de uma função (semântica, sintática etc.), o que vai de encontro ao que afirmam Sandmann (1997) e Quadros (2009): No caso do verbo parassintético, temos, por exemplo, em- + cano mais o sufixo formador de verbo -ar: encanar. O fato é que o sufixo muda a classe da palavra a que pertence a base (cano), enquanto o prefixo tem apenas função semântica e essa semântica é muitas vezes vaga ou imprecisa, senão inexistente (SANDMANN, 1997: 73-74) seria difícil oferecer suporte a uma análise de circunfixação, já que ela implicaria a identidade morfológica entre o segmento que se encontra à esquerda e o que se encontra à direita da base – isto é, eles teriam de exercer a mesma função (QUADROS, 2009: 14). Como argumentamos, porém, o circunfixo é responsável pela evocação de um conceito (nos termos de Basilio [2011]) e pela mudança categorial da base, nada impedindo que acumule ambas as funções e a essas se reúnam outras, a depender dos contextos sociocomunicativos. Corroborando nosso ponto de vista, Basilio (1987) aponta que as construções lexicais podem apresentar mais de uma função, como é o caso da composição verbo + substantivo (‘porta-luvas’, ‘porta-malas’, ‘porta-níqueis’), em que atuam a função sintática e a semântica. Por fim, ao compreendermos esse tipo de derivação como baseada em circunfixos, nos isentamos de abordar o fator simultaneidade, visto que estamos lidando com apenas um elemento derivacional descontínuo, e não mais com um prefixo e um sufixo simultâneos. Nesse sentido, concordamos com Rio-Torto 44 (1998:90), que afirma que algumas definições (VILLALVA, 1994; LEE, 1995; SCHWINDT, 2001) apresentam o problema de identificar uma “sucessividade afixal”, seja sufixação seguida de prefixação (Figura 2) ou prefixação seguida de sufixação (Figura 3). V 3 pref. V a 3 N suf. mole ecer Figura 2: esquema arbóreo de prefixação precedida de sufixação V 3 N suf. 3 ecer pref. N a mole Figura 3: esquema arbóreo de sufixação precedida de prefixação Diante do que foi argumentado, embora seja criado um tipo especial de elemento morfológico, ampliando o inventário de processos derivacionais, adotaremos aqui a noção de derivação circunfixal, pois parece acomodar mais satisfatoriamente os dados de que dispomos, além dos outros motivos já expostos. 2. 7. Resumindo Neste capítulo, expusemos as posições adotadas pela gramática tradicional e pela literatura morfológica a respeito da parassíntese. Como dissemos na introdução, 45 embora tenhamos assumido um tratamento dos dados pela análise de morfemas descontínuos, por vezes, adotaremos o rótulo parassíntese e, em outras ocasiões, o nome circunfixação. Para alguns teóricos, essa perspectiva de circunfixação, contudo, não está isenta de divergências, pois carreia o fato de ampliar o inventário de afixos do português9. O enfoque mais habitual, por sua vez, não acomoda satisfatoriamente todos os dados, pois leva em consideração apenas o fator de simultaneidade, deixando à margem a significação. Outras abordagens não preveem o significado do prefixo ‘a-’, o que sabotaria o ideal de univocidade. Em suma, qualquer análise dos aspectos morfológicos dos dados aponta para uma necessidade de investigação semântica, que motiva todas as formações lexicais. Verificamos, nos próximos capítulos, de que modo o significado pode contribuir para a formação de novo material lexical e a influência do uso na manutenção das construções em que os circunfixos ocorrem no português brasileiro. 9 Esse fato não constitui um problema, nesta dissertação, uma vez que temos por base a teoria cognitivista, que se insere em uma perspectiva maximalista. 46 3 LINGUÍSTICA COGNITIVA Nós tendemos a assumir que o significado emana de sua representação formal, (...), quando na verdade está sendo ativamente construído por operações mentais incrivelmente complexas no cérebro. 1 Gilles Fauconnier & Mark Turner Apresentamos, neste capítulo, o arcabouço teórico com o qual tentaremos confirmar as hipóteses levantadas durante a análise dos dados. Traçamos um breve panorama dos principais postulados da Linguística Cognitiva e do tratamento dispensado ao léxico nessa vertente, adotando, portanto, uma perspectiva lexicalista, na qual processos referentes à análise e à criação de novas palavras ocorrem num domínio específico da gramática, o léxico. Não prevemos, todavia, uma separação entre esse domínio e os demais domínios gramaticais, como a sintaxe ou a fonologia: todos fazem parte de um mesmo contínuo. Assumimos a posição de Basilio (2011), que define o léxico como um espaço de formas simbólicas, isto é, formas se associam a conceitos. Estas formas, as unidades lexicais, cujas possibilidades de evocação são infinitas, dependendo das circunstâncias que podem envolver desde a história da língua e a história dos falantes envolvidos numa situação linguística e sociocultural, até relações entre formas e suas potenciais evocações. 1 we tend to take the meaning as emanating from its formal representation, (...), when in fact it is being actively constructed by staggeringly complex mental operations in the brain (FAUCONNIER & TURNER, 2002: 5). 47 Percebe-se, nesse trecho, uma orientação para a possibilidade de uma unidade lexical ser polissêmica, o que constitui um efeito de mudanças no âmbito da língua, já que a ativação de novos sentidos surge da necessidade de elaborar um mundo dinâmico. Essa ativação de novos sentidos pode ser operada por inúmeros processos conceptuais, como metáfora, ajuste focal e metonímia, aos quais daremos ênfase durante a descrição teórica. 3.1. Noções gerais sobre Linguística Cognitiva A insurgência de um pensamento relativista no último quartel do século XX pretendeu romper com um paradigma cartesiano que se instaurou na linguística contemporânea, presente, principalmente, na concepção gerativista de linguagem. Não se assumiu, nesse novo construto teórico, simplesmente uma tese relativista – que, apesar de remontar aos gregos antigos, ganhou contornos mais nítidos com os trabalhos de Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf – cujo preceito se refere à determinação do pensamento a partir da linguagem. O relativismo que decorre com a Linguística Cognitiva se reveste de um caráter experiencialista, que permite perceber uma forte influência da cultura na relação entre a linguagem e o pensamento. Salomão (1997: 34), ao comentar a revisão da hipótese de Sapir-Whorf no âmbito cognitivista, argumenta que não há mais o cotejo entre línguas descontextualizadas, pois neste campo será possível distinguir entre restrições cognitivas, possivelmente do escopo universal (estratégias de categorização, da acessibilidade a espaços 48 epistêmicos, de difusão, projeção e mesclagem de domínios conceptuais), e informações sócio-situacionais específicas (modelos cognitivos idealizados, funções-enquadre, táticas de enquadramento), que sempre constituíram o objeto de estudo da antropologia linguística de todos os matizes. A Linguística Cognitiva se caracteriza por não ser uma corrente teórica bem delimitada, mas por ter assunções convergentes. A esse movimento teórico, Geeraerts (2006: 2) atribui a metáfora de um arquipélago conceptual, cujas ilhas interagem através da experiência humana no meio social. Na verdade, a gramática cognitiva (Langacker, 1986), a teoria da integração conceptual (FAUCONNIER & TURNER, 2002), a estrutura radial e os protótipos (LAKOFF, 1987), a construção gramatical (GOLDBERG, 1995; BOOIJ, 2010) e o modelo de uso (CROFT & CRUSE, 2004; BYBEE, 2010) se relacionam a partir da hipótese de que a linguagem é um produto cognitivo de conceptualização. Segundo a hipótese da motivação conceptual da gramática, as estruturas gramaticais estão diretamente relacionadas à maneira como as pessoas pensam e entendem qualquer situação do mundo. Logo, para os cognitivistas, a linguagem é compreendida como uma habilidade interligada às demais habilidades da cognição humana – tanto que alguns pesquisadores (FAUCONNIER & TURNER, 2002; TOMASELLO, 2003) argumentam que a origem da linguagem ocorreu no mesmo intervalo de tempo em que outros produtos cognitivos surgiram, como as artes, o uso de ferramentas e a religião, por exemplo. Fauconnier & Turner destacam o fato de que todos esses produtos da cognição são sociais, ou seja, mantêm fortes relações com o meio que os fomenta. Rejeita-se, portanto, a tese de que a linguagem é autônoma, 49 carreada pelo estruturalismo e pelo gerativismo. O primeiro aponta a linguagem como uma estrutura descontextualizada (SAUSSURE, 2006) e o segundo entende a linguagem como uma faculdade independente de outros conhecimentos (CHOMSKY, 1986). Na Linguística Cognitiva, ao contrário, o conhecimento da linguagem se alinha ao conhecimento de outras habilidades, como a percepção e o raciocínio matemático, do mesmo modo que o conhecimento enciclopédico se equipara ao conhecimento linguístico. Anula-se, na Linguística Cognitiva, a concepção modular da gramática, cujas partes passam a ser compreendidas como segmentos de um contínuo, tornando-as bases flexíveis e prototípicas, em vez de átomos isolados. Nesse sentido, o léxico, a morfologia, a fonologia e a sintaxe interagem através de operações que moldam o processamento cognitivo. Em outras palavras, por ser uma teoria não modular, a Linguística Cognitiva não admite divisões entre os vários domínios constituidores da linguagem: morfologia, sintaxe e fonologia são vistas como categorias contínuas, e não como módulos separados. Não se constata, sobretudo, a superioridade da sintaxe sobre os demais domínios da linguagem: todos são dependentes de uma necessidade conceptual da cognição humana. Conforme Goldberg (1995) defende, elementos do léxico não são totalmente diferentes de elementos da sintaxe, porque um morfema é um pareamento de forma e conteúdo da mesma maneira que uma oração simples o é. A inexistência de fronteiras entre esses vários domínios favorece o entendimento de que mudanças em um domínio podem afetar outras partes da gramática, porque há interação na passagem da morfologia para a fonologia, ou da morfologia para a sintaxe, por exemplo. 50 Com os postulados cognitivistas de não modularidade da linguagem, perde-se também a dicotomia saussuriana entre sincronia e diacronia. Saussure (2006 [1916]) estabelece a distinção entre dois tipos de Linguística, uma interessada no estado da língua em um determinado período de tempo (sincrônica) e outra, na evolução da língua ao longo do tempo (diacrônica). A ênfase na sincronia, que prevê o estudo “das relações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam sistemas, tais como são percebidos pela consciência coletiva” (SAUSSURE, 2006 [1916]: 116), afasta a investigação de fenômenos linguísticos dos efeitos do tempo. Na Linguística Cognitiva, ao contrário, sincronia e diacronia passam a ser analisados como dimensões temporais complementares, uma vez que muitos fenômenos diacrônicos apresentam reflexos na sincronia. Podemos, então, buscar explicações para fatos da linguagem que se desenvolvem no presente em ocorrências do passado. Sobre isso, Sweetser (1990: 9) declara que a “polissemia sincrônica e a mudança histórica de significado realmente fornecem os mesmos dados em diversos aspectos” 2. Isso evidencia que a mudança diacrônica não deve ser abrupta, mas deve acontecer gradualmente em diferentes estágios de tempo. Como demonstraremos no capítulo 6, a mudança ocorrida no subesquema [a [x]Nj ecer]Vi respeitou as variações sincrônicas, já que perdeu produtividade ao longo de séculos (do século XII ao século XVI). A ruptura com a hipótese da modularidade da gramática não pressupõe, entretanto, um afastamento das assunções cognitivas. De acordo com Ferrari (2011), embora tenha havido uma negação da ideia de que a linguagem se constitui como um módulo independente de outras habilidades cognitivas, manteve-se o compromisso cognitivista. Continua, com relação à cognição, filiada aos mesmos princípios regentes 2 Synchronic polysemy and historical change of meaning really supply the same data in many ways. 51 da gramática gerativa, de que a linguagem tem origem nas estruturas mentais: a característica compartilhada pelas duas empreitadas teóricas é a mediação da mente entre o indivíduo e o mundo. No entanto, Silva (1997: 65) relata que essa herança mentalista aponta para dois caminhos: a gramática gerativa interessa-se pelo conhecimento da linguagem (tomando-a, portanto, não como meio, mas como objecto da relação epistemológica) e procura saber como é que esse conhecimento é adquirido, ao passo que a linguística cognitiva interessa-se pelo conhecimento através da linguagem e procura saber como é que a linguagem contribui para o conhecimento do mundo. Seguem também caminhos diferentes em razão dos focos de análise adotados serem distintos, visto que a forma, representada pela sintaxe, ocupa o centro dos estudos gerativistas e a semântica sobressai nos trabalhos cognitivistas. É uma influência da origem gerativista dos primeiros pesquisadores (George Lakoff, Ronald Langacker, Gilles Fauconnier, entre outros) que, insatisfeitos com o modelo, se voltaram para a integração entre sintaxe e semântica numa perspectiva não modular. Não é, contudo, uma continuação da semântica praticada no âmbito da Linguística Gerativa. Como explica Langacker (1987: 4), “a gramática cognitiva não é em nenhum sentido possível uma consequência da semântica gerativa, mas compartilha com esta concepção uma preocupação em lidar explicitamente com o significado” 3. Esse movimento teórico baseia-se no fato de que mecanismos conceptuais desempenham um importante papel nas estruturas gramaticais, havendo, portanto, 3 “Cognitive grammar is not in any significant sense an outgrowth of generative semantics, but it does share with that conception a concern for dealing explicitly with meaning” (LANGACKER, 1987: 4) 52 uma relação entre linguagem e significado conceptual. Esse postulado se espraia em quatro concepções, que são complementares (GEERAERTS, 2006): o significado linguístico é perspectivizado; o significado é flexível e dinâmico; o significado é enciclopédico e não autônomo; e o significado é baseado no uso e na experiência. O significado é um meio de modelar o mundo, que está sempre em constante transformação, a partir da perspectiva que adotamos. Como esse mundo construído é dinâmico, nem o significado nem a linguagem podem ser estáveis, mas sempre atualizáveis nos diferentes contextos sociodiscursivos. Assim, nossa experiência está intrinsecamente relacionada à flexibilidade do significado, uma vez que emerge das nossas relações empíricas. Essa flexibilidade do significado tem origem na dinamicidade dos processos constitutivos da linguagem, que nos possibilita transferir a atenção da estrutura gramatical para a atuação dos aparatos cognitivos no uso da linguagem. A representação linguística, que, em perspectivas estruturalistas e gerativistas, era a única responsável pela representação na mente do falante, não interessa, como mecanismo isolado, aos cognitivistas. Prevalece a ideia de que processos que atuam em outras áreas da cognição, como a metáfora e os esquemas imagéticos, podem moldar a representação linguística na mente do falante, porque emergem do uso. Entende-se, portanto, que (i) a metáfora compõe a arquitetura do pensamento cotidiano (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]); (ii) a frequência altera o padrão de estocagem e ativação dos subesquemas (CROFT & CRUSE, 2004); e (iii) as experiências sensório-motoras dos sujeitos são ativadas nos mecanismos cognitivos. 53 A partir dessas premissas previstas num modelo, acima de tudo, de conceptualização, delineamos, na próxima subseção, a concepção de léxico que norteará este trabalho. 3.2. O léxico O surgimento de novos verbos no português, como ‘twittar’, ‘blogar’ ou ‘deletar’ não são casos de neologismos, mas demonstrações de que há um padrão que todo falante nativo do português pode capturar. A entrada de bases estrangeiras por empréstimo tem a ver com a mudança tecnológica que se impõe no mundo atual, conectando sociedades e catapultando um sem número de informações por segundo. O desempenho da nossa mente e, por consequência, o funcionamento do léxico acontecem do mesmo modo, que devem ser organizados, então, para modelar um espaço que está em constantes revoluções. As bases das formações acima, ‘twitter’, ‘blog’ e ‘delete’, respectivamente, estão relacionadas à área da informática e, com o empréstimo, são indexadas no léxico do português, i.e., tornam-se entradas lexicais. A necessidade dos falantes do português brasileiro em expressar ações que envolvam essas unidades lexicais faz com que elas sejam unificadas em uma construção particular da língua, a saber [[x] Nj ar]Vi. No caso, [x] é uma variável que representa as palavras que instanciam novo material lexical. Interessante notar que no caso de ‘delete’ apaga-se a informação de que era um verbo em inglês, mas focaliza-se a função da tecla ‘delete’, que é a de apagar alguma informação no computador. Por operações cognitivas, como a metonímia e a 54 integração conceptual, o sentido de ‘deletar’ é expandido, possibilitando seu uso em outros contextos, como o da frase abaixo. (1) Coluna Neura: Os homens que deletei da minha vida depois dos 20. 4 Os três verbos citados anteriormente, ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’, têm em comum o esquema do qual são instanciados. Esse esquema se caracteriza por ser o mais produtivo na formação de verbos no português, o que aumenta a probabilidade de que novos itens venham a ser formados a partir de sua unificação. Inconscientemente, o falante nativo do português brasileiro reconhece que um considerável grupo de verbos do português se caracteriza por ativar o esquema [[x]Njar]Vi, o que o torna mais entrincheirado no léxico. Assim, sempre que surge a necessidade de instanciar um novo verbo, esse esquema é acessado mais rapidamente, pelo fato de já estar programado na nossa mente como o mais produtivo. Cabe destacar que essas operações aconteceram com base em palavras, e não em morfemas, remetendo-nos ao modelo palavra-paradigma, um dos vieses pelos quais a morfologia pode ser analisada. A linguística pós-bloomfieldiana se ocupou em verificar os itens morfológicos a partir de morfemas, posição que foi abandonada, com o avanço dos estudos gerativistas, em favor de um modelo que atribuísse a significação à palavra e às relações entre os itens do léxico (ARONOFF, 1976). Basilio (1980: 42) endossa essa proposta de processos que ocorrem no léxico ao afirmar que 4 http://opeixefresco.com/. Acessado em 23.10.11 55 dentro de uma abordagem gerativa, palavras são formadas por regras e/ou analisadas por regras, de modo que o estabelecimento de entidades como morfemas ou afixos, como elementos separados de regras e bases, constitui uma repetição desnecessária e, provavelmente, indesejável. No modelo construcionista em que nos baseamos (BOOIJ, 2010; BYBEE, 2010; GOLDBERG, 1995), a palavra também é o centro das investigações, tanto que é marcada com um índice subscrito que a identifica no léxico. Os afixos, ao contrário, não recebem marcação, por não serem livres, mas aparecerem vinculados a uma construção. Isso reforça que, em um modelo baseado em palavras, os afixos não são as unidades analisadas, mas atuam na instanciação de novos itens através de construções ou esquemas. Tomasello (2003) declara que a aquisição de esquemas acontece a partir do uso, ou seja, através do armazenamento em nossa mente de casos concretos de uso. O falante é capaz de realizar generalizações sobre representações com propriedades similares e adquirir esquemas genéricos que subjazem os dados relacionados. Vemos essa propriedade de generalização atuando nos exemplos ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’, uma vez que o falante armazenou dados isolados terminados por ‘-ar’, percebeu as similaridades entre as unidades e as particularizou no esquema genérico [[x] Nj ar]Vi. Os esquemas são, de acordo com Rumelhart (1980: 34), estruturas simbólicas de representação de conceitos genéricos que são estocados na memória. Em vez de representar definições, esquemas representam conhecimento, que pode ser de qualquer ordem (linguístico, enciclopédico ou compartilhado). Um esquema pode incluir sob seu domínio outros subesquemas, que, por sua vez, podem se desdobrar 56 em outros subesquemas. Esses dispositivos de conhecimento operam de maneira dinâmica na nossa mente, sendo fomentados pelas nossas bases de conhecimento e ativados por conexões de herança e entrincheiramento. Segundo Goldberg (1995), as construções (ou esquemas5) não são estruturas aleatórias, mas motivadas e organizadas a partir de generalizações que são feitas de suas regularidades. As informações são, pois, compartilhadas pelos vários esquemas e seus possíveis subesquemas, fazendo com que o custo de processamento seja menor do que se for especificado em cada esquema. A autora diz que “ao postular hierarquias gerais nas quais os níveis mais baixos herdam informação dos níveis mais altos, a informação é armazenada eficientemente e de fácil mutação” (GOLDBERG, 1995: 72). Podemos exemplificar essas relações de herança, que permitem a troca de informações entre as construções, por meio do esquema genérico para a formação de nomes em ‘-eiro’ no português. Gonçalves, Yacovenco & Costa (1998) demonstram que o sufixo apresenta várias possibilidades de significação, como, por exemplo, agente profissional (sapateiro, carteiro, pipoqueiro), agente habitual (funkeiro, maconheiro, romeiro), recipiente (galinheiro, cinzeiro, açucareiro) e árvore (cajueiro, mamoeiro, abacateiro). Pizzorno (2010), numa abordagem cognitiva, defende que esses vários domínios conceptuais estariam relacionados a um centro prototípico com a função de agente, do qual, por operações metafóricas e metonímicas, se projetariam os demais sentidos, como a acepção de vegetal (palmeira, amendoeira). Gentílicos como ‘mineiro’ e ‘brasileiro’ se relacionam metonimicamente com o centro agentivo devido ao fato de designarem originariamente a pessoa que trabalhava nas minas e na 5 Os termos ‘construção’ e ‘esquema’ não fazem referência ao mesmo conceito, mas há uma extensa discussão sobre qual seria a melhor nomenclatura para fazer referência a uma estrutura simbólica da mente humana. Não faremos, neste trabalho, distinção entre os dois usos, embora saibamos sobre as controvérsias. Para mais detalhes, ver Booij (2010). 57 colheita de pau-brasil, respectivamente. Por metonímia, passaram a nomear os nativos de um local. Paralelamente, o sentido de árvores se relaciona ao centro agentivo por metáfora, já que o ‘abacateiro’ é uma árvore que produz abacate, a ‘jabuticabeira’, uma árvore que dá jabuticaba, e assim por diante. Há, portanto, entre as projeções dominiais, relações de herança, que fazem com que os vários sentidos da construção [[x]Nj eiro]Ni estejam interligados. Em outras palavras, os níveis mais baixos desse esquema geral podem herdar informações dos níveis mais altos. No caso, são compartilhadas as informações semânticas do domínio prototípico, que se caracteriza pela instanciação de agentivos. De acordo com Goldberg (1995), ao menos, quatro links de herança fazem a correspondência entre as construções. (a) Links por polissemia, nos quais as extensões herdam informações sintáticas e/ou morfológicas do centro; (b) Links por subparte, em que uma construção é uma subparte de outra, existindo de maneira independente; (c) Links por instanciação, nos quais uma construção tem funções mais específicas que a outra que a domina; (d) Links por extensão metafórica, em que se capturam as relações metafóricas do mapeamento entre as construções, explicitando que a construção dominante projeta o sentido metafórico na construção dominada. Esses links são necessários por estabelecerem que as conexões entre as várias construções apresentam uma organização gramatical interna, em vez de projeções 58 aleatórias. Assim, uma construção será motivada à medida que suas informações são herdadas de outras construções da língua. Os verbos ‘deletar’ e ‘twittar’, por exemplo, herdam as informações da construção [[x]Nj ar]Vi, da qual são instâncias. Concomitantemente, a ativação dessas palavras reforça a produtividade desse esquema no léxico, aumentando a probabilidade de formar novas palavras. Dito isso, examinaremos, na próxima subseção, o entrincheiramento e a frequência, noções diretamente relacionadas à questão da produtividade. 3.3. A relação entre uso e léxico Demonstramos anteriormente que a criança apreende palavras isoladas e, a partir das similaridades que são encontradas entre os itens armazenados, é feita uma generalização, que possibilita o surgimento de um esquema geral. Uma vez instaurada a categoria, os exemplos que embasaram a sua formação não são descartados, mas permanecem armazenados na memória (BYBEE, 2010; LANGACKER, 1987). Essa representação cognitiva é sensível a fatores externos, como a frequência de uso (ou frequência de ocorrência), que corresponde ao número de ocorrências de uma palavra em um dado texto (BAUER, 2001). A cada nova ocorrência de um item lexical, o esquema que o instanciou é reforçado no léxico, pois sua ativação é necessária para o processamento das contrapartes formal e semântica. Um indivíduo adulto tem um estoque lexical relativamente estável, visto que as representações mentais são construídas com base na experiência. As crianças em fase de aquisição, ao contrário, sofrem um impacto maior a cada nova ocorrência, pois os esquemas ainda não estão completamente institucionalizados. 59 Outra consequência da alta frequência de uso é a manutenção de itens irregulares na língua, como os particípios ‘feito’ (de ‘fazer’), ‘escrito’ (de ‘escrever’) e ‘aberto’ (de ‘abrir’). A permanência dessas formas na língua se deve à alta frequência, que impediu a regularização do paradigma por analogia. Esse fenômeno é chamado de Efeito de Conservação (BYBEE, 2010), que indica que dados altamente frequentes são menos prováveis de serem reanalisados, ao passo que os menos frequentes, por serem menos acessados, são regularizados. No período de aquisição, a criança ainda não acumulou informação suficiente para distinguir um dado mais frequente de outro menos, o que faz com que a maioria dos dados irregulares seja reanalisada por força do paradigma (diante disso, é natural escutarmos ‘fazido’, ‘escrevido’ ou ‘abrido’). Por serem altamente frequentes, as palavras irregulares não são acessadas pelos esquemas, sendo armazenadas isoladamente. As formas participiais acima citadas não são instanciadas pelo esquema de particípio do português [[x] Vj do]Vi, ao contrário dos itens ‘amado’ (de ‘amar’), ‘vendido’ (de ‘vender’) e ‘partido’ (de ‘partir’). Os particípios ‘feito’, ‘escrito’ e ‘aberto’ são, então, entrincheirados no léxico. Croft & Cruse (2004) lembram que, de acordo com o modelo de uso, as formas irregulares estão entre as palavras mais frequentes no léxico, pois serão regularizadas, se seus índices de frequência não forem altos o bastante. Nesse aspecto, percebe-se que a frequência interfere na manutenção de formas irregulares no léxico, porque no caso de uma forma irregular ter baixa frequência “sua representação não será suficientemente entrincheirada e reforçada pelo uso, e, então, o esquema regular assume o controle de produção da flexão relevante” 6 (CROFT & CRUSE, 2004: 293). 6 its representation will not be sufficiently entrenched and reinforced through use, and so the regular schema will take over in the production of the relevant inflection. 60 Um esquema também pode ser entrincheirado, pois, como dissemos, a cada nova ocorrência de uma palavra em diferentes contextos sociodiscursivos, a representação mental é reforçada. Portanto, um esquema entrincheirado é, necessariamente, produtivo, visto que a sua recorrência favorece o recrutamento de novas palavras. Verbos terminados por ‘-ar’, por exemplo, são recorrentes em grau máximo no português, fazendo com que, consequentemente, o esquema que os instancia seja entrincheirado. Como o esquema [[x]Nj ar]Vi é reforçado na memória, o acesso de suas propriedades é mais rápido, ou seja, o falante leva menos tempo para processar todas as informações necessárias para analisar uma palavra de [[x] Nj ar]Vi. Assim, novas palavras tendem a ser instanciadas por esse esquema no português, como foi demonstrado com ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’. A criação dessas novas palavras parte de um processo analógico, cujos mecanismos de processamento permitem que posições esquemáticas sejam usadas produtivamente. As palavras ‘twitter’, ‘blog’ e ‘delete’ são unificadas em um padrão estocado na mente do falante por analogia com um grupo frequente de palavras que compartilham a terminação em ‘-ar’ e a ideia de causatividade, entre outras propriedades. Essa abordagem difere, portanto, do modelo de regras (ANDERSON, 1992; ARONOFF, 1976) por ser fortemente baseada na similaridade entre as várias unidades do léxico. Uma palavra é provável de existir na língua, e não possível: a formação de palavras é mais bem vista em termos de probabilidade, uma categoria escalar, do que em termos de possibilidade, uma categoria discreta. Um esquema não é medido, então, na ótica dicotômica de produtividade ou improdutividade, mas sob um olhar gradiente do fenômeno. 61 Vários pré-requisitos para um processo ser considerado produtivo foram estabelecidos nas diferentes correntes dos estudos linguísticos, como demonstra Bauer (2001). No modelo de uso (BYBEE, 2010; CROFT & CRUSE, 2004), são levadas em consideração a frequência de uso e a frequência de tipo. Um embrião dessa proposta já estava presente no trabalho de Nyrop (1908: 73), que afirma que “a vitalidade de um sufixo depende acima de tudo de sua frequência de uso (...) Quanto mais um sufixo é usado, mais ele pode dar origem a extensões analógicas” 7. A principal diferença dessa noção para a do modelo capitaneado por Bybee é a existência de esquemas. Para Bybee, os esquemas – e não os afixos – são mais produtivos ou menos produtivos, já que afixos estão sempre vinculados a uma construção gramatical. O segundo fator considerado ao tratar de produtividade, a frequência de tipo, refere-se ao número de palavras numa língua que são instanciadas por um determinado esquema sob análise. A produtividade é diretamente afetada pelo número de itens participantes, pois quanto mais palavras uma construção instancia, mais ela se torna produtiva. É um paralelo à questão da similaridade: se novos itens são formados por analogia com um grupo já existente no léxico, esse grupo tem de ser robusto o bastante para que a probabilidade de um esquema formar novos itens seja maior. Enquanto regras são determinadas por uma situação default, esquemas são moldados pelo número de tipos, visto que o falante só consegue conceptualizar um esquema linguístico a partir da percepção de semelhanças entre alguns dados. A produtividade de um processo seria, então, o resultado da conjugação entre os valores de frequência de tipo e o número de ocorrências no discurso. Um esquema com baixa 7 La vitalité d’un suffixe dépend surtout de la fréquence de son emploi (…) Plus un suffixe est employé, plus il est capable d’extensions analogiques. 62 frequência de uso e alta frequência de tipo será mais produtivo, como é demonstrado no gráfico abaixo. Tal esquema teria, com isso, maior força lexical, que corresponde à probabilidade de instanciar novos itens. [+ produtivo] Frequência de uso 1 0,5 0 Frequência de tipo Gráfico 1: maior grau de produtividade Ao contrário, um esquema com alto índice de frequência de ocorrência e baixo valor de frequência de tipo será menos produtivo, porque o esquema não será entrincheirado no léxico, nem terá força para produzir novos itens. Esse padrão, que tem baixa força lexical, é apresentado no gráfico 2. 63 [- produtivo] Frequência de uso 1 0,5 0 Frequência de tipo Gráfico 2: menor grau de produtividade 3.4. Operações de conceptualização no léxico A Linguística Cognitiva tem se preocupado em descrever e analisar como compreendemos alguns usos linguísticos da forma como o fazemos, muito embora não tenhamos, como falantes, consciência desses fenômenos. Os mecanismos que habilitam nossa cognição a atuar em quaisquer áreas, como a linguística, a matemática ou a artística, surgem de nossa relação com o meio que nos cerca. Sendo assim, mecanismos como a metáfora e a metonímia são estruturadores do nosso pensamento, e não apenas floreios literários. Igualmente, as posições que adotamos no mundo definem a perspectiva como observamos o mesmo. A seguir, pretendemos delinear algumas, dentre as inúmeras, operações cognitivas que ocorrem nos fenômenos linguísticos, apontando sua correspondência com o léxico. 64 3.4.1. Ajuste Focal Langacker (1987) define ajuste focal (do inglês ‘focal adjustment’) como as variações pelas quais uma mesma situação pode ser concebida. Em uma cena de roubo, por exemplo, pode-se adotar a perspectiva do ladrão, a da vítima, ou ainda focalizar o objeto que está sendo roubado. O significado que o falante pretende expor pode se modificar, dependendo de qual elemento seja posto no foco, podendo, inclusive, indicar a ideologia do locutor. O clássico estudo de Sweetser (1999) sobre a modificação adjetival demonstra que a linguagem é moldada pelas operações de ajuste focal, pois um mesmo adjetivo pode ativar sentidos diferentes de acordo com o elemento modificado da construção. Na construção ‘maçã vermelha’, ativa-se a parte externa da fruta, mas em ‘goiaba vermelha’ focaliza-se o interior da fruta. Os diferentes sentidos ativados pelo mesmo adjetivo têm a ver com o perfilamento que é feito da cena, ou seja, qual propriedade é posta em evidência. Em ‘caneta vermelha’, por exemplo, pode-se pensar tanto na cor do plástico do objeto, quanto na cor da tinta da caneta. Os ajustes que são feitos de uma mesma situação podem ser de três ordens: através de seleção, que determina quais aspectos da cena são evidenciados; por perspectivização, na qual a posição adotada pelo falante determina a visão de cena; e por abstratização, que se refere ao grau de especificidade da cena. Interessa-nos, nesta dissertação, o ajuste focal por seleção. Almeida et aii (2009) recorrem ao exemplo da hipotenusa para explicar o conceitos de base e perfil. Para entendermos o que representa uma hipotenusa, devemos saber previamente o que é um triângulo retângulo. Na figura fornecida pelos 65 autores, a hipotenusa é perfilada (linha mais grossa), enquanto o ângulo reto do triângulo figura como a base, ou o pressuposto da cena. Figura 1: perfilamento da hipotenusa (retirado de ALMEIDA et alii, 2009) Na formação de ‘carcereiro’ e ‘prisioneiro’, temos bases (cárcere e prisão, respectivamente) que, em princípio, ativam o mesmo conceito, um lugar de detenção. No entanto, as instanciações que resultam da unificação de ‘cárcere’ e ‘prisão’ no esquema [[x]Nj eiro]Ni evocam diferentes significados. Enquanto ‘carcereiro’ faz referência à pessoa responsável por vigiar o lugar, ‘prisioneiro’ corresponde ao indivíduo cuja liberdade foi cerceada. A diferença reside no modo como a mesma cena foi perfilada, ou seja, se o foco é em quem fica fora ou dentro do lugar. Com isso, percebemos que o mecanismo de ajuste focal opera no léxico através da seleção de que sentido será compatibilizado na construção. Essa é uma alternativa para verificar casos que foram classificados como quebra de bloqueio8 na literatura morfológica, pois acontece, na realidade, a seleção de diferentes sentidos de uma mesma palavra. No par contação/ contagem (LEMOS DE SOUZA, 2010), por exemplo, há diferentes perfilamentos do verbo contar: 8 Noção proposta por Aronoff (1976) que prevê que uma forma não ocorrerá dada à existência de outra. Para maiores informações sobre o assunto, consulte Aronoff (1976), Basilio (1980) e Rocha (2008). 66 (2) Naquela escola, há um projeto de contação de histórias. (3) A contagem de votos terminou de madrugada. Como afirma Soares da Silva (2006: 304), devemos nos lembrar do “impacto destes ajustamentos na extensão semântica e polissemia de uma palavra ou outra unidade linguística: a formação de sentidos diferentes correlaciona-se com a variação de seleção de facetas e de domínios cognitivos de uso”. Nas formações de novas palavras, então, serão selecionados sentidos das palavras para se compatibilizarem ao sentido do esquema, reforçando a proposta de verificar os fenômenos linguísticos sob a ótima do significado, desenvolvida nos trabalhos da Linguística Cognitiva. 3.4.2. Metáfora Um dos pilares de sustentação do pensamento cognitivista, a metáfora ressurgiu como uma operação que permeia a cognição, e não apenas a linguagem. Isso se reflete na defesa que Lakoff & Johnson (2002 [1980]: 19) fazem sobre o tema: “nós descobrimos, ao contrário, que a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, não somente na linguagem, mas também no pensamento e na ação”. Em linhas gerais, a metáfora é o entendimento de um domínio em termos de outro. A direcionalidade do mapeamento é, majoritariamente, de um domínio mais concreto para um mais abstrato (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]; SWEETSER, 1990), já que compreendemos um evento mais abstrato a partir de uma experiência. O consagrado exemplo da metáfora AMOR É UMA VIAGEM (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]) ilustra a projeção entre os dois domínios, pois temos um domínio-fonte mais 67 concreto, VIAGEM, que nos permite compreender um conceito mais abstrato presente no domínio-alvo, AMOR. (4) Veja a que ponto chegamos. Teremos que simplesmente seguir caminhos separados. Eu acho que nossa relação não vai dar em lugar nenhum. O nosso casamento está encalhado. Tem sido uma estrada longa e esburacada. A metáfora também repercute nos fenômenos lexicais, à semelhança do ajuste focal. As várias extensões de sentido do verbo ‘botar’ (exemplos em (5)) são motivadas por metáfora (BATORÉO & CASADINHO, 2009), bem como a polissemia da preposição ‘até’, que relaciona os domínios de espaço, tempo, quantidade e qualidade metaforicamente, como nos exemplos em (6) (ÁLVARO, 2009). (5) Botar discurso. Botar a alma para fora. (6) Eliana viaja até Juiz de Fora, sempre. Seu pai volta até domingo. Edu ganha até R$3.000,00 nesses trabalhos. Até juízes reconhecem que a demora é o principal fator de impunidade. Na próxima subseção, tratamos da metonímia, outro processo cognitivo que tem sido bastante explorado pelos estudos cognitivistas. 68 3.4.3. Metonímia Os comentários feitos para a metáfora podem ser estendidos para os casos de metonímia, pois ambos são mecanismos de conceptualização do mundo e estruturadores do nosso pensamento. A metonímia se caracteriza como uma operação cognitiva em que uma entidade se refere à outra, sendo ambas relacionadas. Na frase ‘o Paulo Coelho ainda não chegou às livrarias’, não pressupomos a presença física do escritor Paulo Coelho, mas tomamos o sentido como os livros escritos por ele. Nos processos de formação de palavras do português, podemos citar o caso do sufixo ‘-ão’ (GONÇALVES et alii, 2009) que apresenta a relação continente/ conteúdo, como nos exemplos em (7). (7) E o único ‘copão’ de refrigerante está inacessível. Todos estão pela metade e só aquele está mais cheio. Meteu a mão no bolso e tirou o ‘carteirão’ de dinheiro. Bateu um ‘pratão’. A palavra ‘copão’ em (7) não representa necessariamente um copo grande, mas um copo repleto do conteúdo (refrigerante). Em ‘carteirão’ e ‘pratão’, percebe-se a mesma relação, uma vez que não designam elementos grandes, mas com dinheiro e comida em excesso, respectivamente. 69 3.5. Resumindo Neste capítulo, traçamos um panorama das noções mais caras às pesquisas em Linguística Cognitiva. O movimento de confluência de teorias, pelo qual se caracteriza, permite o diálogo com outros campos de estudo sobre a cognição, como a antropologia e a psicologia. A consequência disso é a observação de operações, antes definidas como estritamente linguísticas, atuando em outras áreas do pensamento humano. 70 4 MÉTODOS E CORPORA Se uma das formas possui algum tipo de vantagem sobre a outra na luta evolutiva (...), este fato deve resultar em seu favorecimento durante o processo de mudança. Anthony Julius Naro1 Pesquisar a produtividade de um processo morfossemântico que atua na ampliação do léxico possibilita lidar com fórmulas probabilísticas e observar como o falante processa, armazena e utiliza essas unidades lexicais. É preciso, pois, lançar mão de uma metodologia capaz de apresentar resultados confiáveis que permitam a confirmação dos questionamentos feitos durante a análise dos dados. Também é necessário contar com amostras de textos nas quais possam ser coletados dados que corroborem essas hipóteses. Este capítulo tem, portanto, a finalidade de explicar que percursos trilhamos para tentar responder as principais questões deste trabalho. Em 4.1, comentamos nosso principal corpus, composto de verbos colhidos no Houaiss, as consultas que foram feitas a dicionários etimológicos e o cálculo estatístico da frequência de tipo. Em 4.2, falamos da frequência de ocorrência e quais corpora foram utilizados. Já em 4.3, estamos interessados em descrever a metodologia empregada no preparo e na análise do experimento linguístico. Finalmente, em 4.4, são sumarizadas as principais informações discutidas no capítulo. 4.1. O corpus coletado no Houaiss 1 Mollica & Braga (2008: 22). 71 A amostra de dados utilizada neste trabalho foi coletada na versão eletrônica do Dicionário Houaiss e contém 726 verbos distribuídos por 4 construções de circunfixação: [a [x]Nj ar]Vi (‘abafar’ e ‘acabar’), [en [x]Nj ar]Vi (‘embaçar’ e ‘enroscar’), [a[x]Nj ecer]Vi (‘abastecer’ e ‘amortecer’) e [en [x]Nj ecer]Vi (‘emudecer’ e ‘endoidecer’). Pode-se perceber que, nos circunfixos [en [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi, uma vogal nasal pode ocupar o onset da segunda sílaba (‘enaltecer’ e ‘emudecer’) ou a coda da primeira (‘entortar’ e ‘empobrecer’) e ter diferentes representações grafemáticas. Assumimos, então, uma única representação abstrata, que foi demonstrada entre colchetes, para as variantes ortográficas. Durante essa etapa da pesquisa, foram anotados o ano de primeiro registro da palavra, as bases que participaram na derivação dos verbos e as categorias gramaticais das bases. Essas informações estão dispostas em tabelas no Anexo I desta dissertação. Esse corpus foi o ponto de partida para a análise dos circunfixos sob a ótica construcional (capítulo 5) e para o estudo sobre a relação entre a frequência de tipo e a produtividade morfológica (capítulo 6). Nesse sentido, como estamos interessados em mensurar a produtividade de cada construção, devemos investigar quais estão disponíveis no léxico do falante, nos termos de Bauer (2001), ou quais estão mais entrincheiradas, nos termos de Bybee (2010) e Croft & Cruse (2004). Isso requer um refinamento da noção de produtividade (como foi abordado no Capítulo 3) que inclua não só a sincronia, mas também os dados diacrônicos. Utilizamos, assim, a amostra composta de dados coletados no dicionário Houaiss a fim de mapear a datação dos circunfixos ao longo da história da língua. 72 Na maioria dos casos, as informações empíricas, como a data do primeiro registro de uma palavra ou sua etimologia, foram encontradas no Houaiss. Quando essas informações não eram fornecidas pelo Houaiss, consultamos alguns dicionários etimológicos (CUNHA, 1999; NASCENTES, 1955; SILVEIRA BUENO, 1967; e, principalmente, MACHADO, 1973) para precisar a data de entrada dos itens lexicais ou dirimir quaisquer dúvidas em relação à sua origem. Percebemos algumas divergências entre os períodos registrados pelos dicionários para uma mesma palavra, o que nos levou a adotar a datação mais antiga. Como exemplo, podemos citar o verbo ‘acostumar’, que, segundo o Houaiss, data de 1255, porém, de acordo com Machado (1973), o registro é de 1358. Ou ainda o exemplo de ‘empunhar’, em que Machado registra como de 1813, mas o Houaiss, do século XIV. Nesses casos, adotamos sempre a data mais antiga. Com o objetivo de medir a produtividade de um processo ao longo de vários períodos, Lieber (2010) propõe uma fórmula matemática que consiste em verificar, em um dicionário, quantas palavras de um determinado formativo são citadas pela primeira vez em um determinado século e a quantidade de palavras que tiveram a primeira datação no século correspondente, independentemente de terem sido formadas por esse processo. Esses valores devem ser divididos a fim de encontrar uma porcentagem que corresponderia à produtividade do processo morfológico naquele século. O cálculo pode ser resumido na frequência de tipo de um processo X num período de tempo Y com base numa mesma amostra. Após obtermos os resultados do tempo Y, é feita a comparação com os resultados do tempo Y’. A fórmula adotada por Lieber (op. cit.) é a seguinte: 73 (1) P = n1 x 100 N em que P é o valor da produtividade de um processo morfológico, n 1 é o número de palavras formadas pelo processo em uma determinada data e N é o número total de palavras que o dicionário registra no mesmo período. Para exemplificar, podemos observar o caso de [en [x]Nj ecer]Vi no século XVIII. São registradas 3 palavras (‘embrutecer’, ‘encalvecer’ e ‘enraivecer’) no dicionário Houaiss com o circunfixo em questão e 8414 palavras têm a primeira datação no mesmo período. O valor resultante deve ser multiplicado por 100, no qual o percentual calculado é 0,013. Esse valor encontrado no século XVIII com base no dicionário Houaiss deve ser, então, comparado com os valores do século XVII, XIX e assim por diante, para visualizarmos um quadro de mudança na produtividade diacrônica. Para realizar os cálculos estatísticos que serão apresentados no capítulo 6, foi necessário saber a quantidade de palavras que tinham a primeira datação em cada século. Esses números foram, gentilmente, disponibilizados pelo Instituto Antônio Houaiss, responsável pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Um problema encontrado nessa proposta de Lieber (2010) é não haver restrições ou especificações no número total de tipos (N), uma vez que não é feita distinção entre palavras simples, como ‘parque’, e derivadas, como ‘embelezar’ (ambas do século XVI). Como o número representado por N, na fórmula em (1), abarca tanto palavras simples como as não simples (formadas por derivação, composição, cruzamento vocabular, truncamento etc), os resultados podem ser enviesados, pois estaríamos cotejando dados que passaram por um processo derivacional (n 1) e dados 74 que podem ou não ser resultados de processos de formação de palavras (N). O mais adequado seria excluir todas as palavras simples, incluindo apenas itens que passaram por algum processo de formação de palavras. No entanto, esses valores não estão disponíveis na plataforma eletrônica do dicionário Houaiss, nem estão registrados no Instituto Antônio Houaiss. Diante dessa impossibilidade, assumimos o cálculo proposto por Lieber, embora saibamos de suas limitações. 4.2. Os corpora de língua escrita A partir dos resultados obtidos nos cálculos de produtividade dos processos de circunfixação, é necessário confirmar as hipóteses levantadas com base em frequências de ocorrência em corpora de textos escritos. Foram utilizadas três amostras, duas com textos produzidos em sincronias passadas e uma com textos literários do final do século XX. Os dados diacrônicos foram obtidos a partir de dois diferentes projetos, um português e um brasileiro, que estão disponíveis para consulta na Internet: o Corpus Informatizado do Português Medieval (CIPM) e o Corpus Histórico do Português Tycho Brahe (CHPTB). Esses corpora foram escolhidos por apresentarem uma robustez de dados e serem disponibilizados por meio do acesso à Internet. Como foi necessário verificar uma vasta quantidade de textos para obtermos resultados mais confiáveis, seria indispensável o uso de textos disponíveis eletronicamente. Além disso, essas amostram são bastante interessantes, pois reúnem textos de diversos tipos e de diferentes autores num longo espaço de tempo. Para a análise da frequência, todos os textos foram salvos em arquivos .txt. 75 O CIPM é resultado de um projeto português que reúne textos escritos em língua portuguesa do século XII ao XVI, além de textos do romance que vão do século IX ao XII. O período anterior ao século XIV não apresentou dados significativos; logo, selecionamos apenas alguns textos produzidos entre os séculos XIV e XVI2. Já a plataforma virtual do CHPTB, da qual selecionamos textos que correspondem ao período do século XIV ao XVIII, apresenta a possibilidade de o usuário buscar os textos cronologicamente ou pela diferença de gênero textual, além de disponibilizá-los com anotações sintáticas ou morfológicas. Os pesquisadores que trabalham com dados retirados de corpus costumam apontar que um dos fatores que pode influenciar os resultados é o tipo de texto ou gênero textual. Como o CHPTB reúne cartas, atas, textos narrativos e dissertativos, levantamos a hipótese, a princípio, de que a diferença no tipo de texto pudesse indicar uma distribuição diferente dos circunfixos. Entretanto, os resultados a que chegamos não se mostraram relevantes na seleção de determinada construção parassintética por um tipo específico de texto. Comparemos, para exemplificar, os dados de [a[x] Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi em cartas. As cartas escritas por D. João III selecionaram apenas verbos formados por [a [x]Nj ecer]Vi, mas as cartas trocadas entre Eça de Queirós e Oliveira Martins não apresentam uma seleção categórica. Há, também, exemplos de correspondências que apresentam preferência pelos verbos de [en [x] Nj ecer]Vi, conforme indicam os valores da frequência de ocorrência nas cartas do missionário Antônio Vieira: 2 A relação com os textos escolhidos está no Anexo II. 76 Cartas, D. João III Cartas, Eça de Queirós e Oliveira Martins Cartas, Pe. Antônio Vieira [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi 100% 0% 71% 29% 22% 78% Tabela 1: comparativo da frequência de palavras em relação à carta Os dados na tabela 1 são uma pequena amostra de um comportamento observado em todos os documentos do gênero carta, visto que não houve uma seleção categórica por nenhum dos subesquemas analisados. Na verdade, em algumas cartas, percebem-se mais palavras de um mesmo subesquema, e em outras, observam-se mais dados de outro subesquema, sem que haja uma distribuição homogênea. A análise de textos narrativos, como apresentado na tabela abaixo, tampouco contribuiu para delinear um padrão de que construções seriam mais evocadas por cada tipo de texto. Por exemplo, o texto do Marquês da Fronteira e d’Alorna preferencia a construção [a [x]Nj ar]Vi, enquanto o de Bernardo Brito seleciona somente a construção [en [x]Nj ecer]Vi. Assim, não foi percebido nenhum padrão de como as formas se organizam nos textos, ou se algum texto poderia evocar alguma forma específica. Neste trabalho, portanto, o fator textual não será abordado durante a análise dos corpora, uma vez que não influencia diretamente o comportamento dos subesquemas de circunfixação. Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna, Marquês da Fronteira e d'Alorna Da Monarchia Lusitana, Bernardo de Brito Maria ou a menina roubada, Antônio Gonçalves Teixeira de Souza [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi 100% 0% 0% 65% 100% 35% Tabela 2: comparativo da frequência de palavras em relação ao texto narrativo 77 A questão cronológica nos pareceu ser um fator mais relevante à análise à medida que se relaciona à noção de produtividade diacrônica e implica entender como o falante conceptualiza as construções de circunfixação em diferentes épocas. É importante, pois, que adotemos uma perspectiva quanto às fronteiras que dividem os períodos da língua portuguesa. Galves et alii (2006) sintetizam as discussões em torno da periodização do português, identificando três grandes fases: o Português Antigo, o Português Clássico e o Português Moderno. O Português Antigo, também nomeado de Medieval, corresponderia desde os primeiros documentos escritos até o século XVI. O segundo período, quando algumas características encontradas em textos de hoje começam a surgir, abarcaria desde o século XVI até o início do XIX. Já o Português Moderno é, em geral, dividido entre Português Europeu e Português Brasileiro. O marco do PB seria o processo de desenvolvimento de uma nova sociedade que, de acordo com Tarallo (1993), apresenta as primeiras divergências entre o português de Portugal e o do Brasil. Dessa maneira, as amostras colhidas no CIPM e no CHPTB correspondem ao Português Antigo e ao Português Clássico. Quanto ao Português Moderno, optamos por selecionar textos escritos por falantes do português brasileiro, pois uma de nossas intenções é compreender o processamento da parassíntese por falantes de português brasileiro. Buscamos, para o século XIX, textos da literatura brasileira que representaram um retrato da época e gozaram de prestígio na sociedade. Por serem recentes, os textos literários produzidos no século XX estão protegidos legalmente por direitos autorais, o que impede a sua consulta eletrônica no 78 sítio do Domínio Público. Diante disso, utilizamos o banco de dados do European Corpus Initiative - Brasil (doravante ECI-BR) – que integra o projeto eletrônico AC/DC, reconhecido pela sua metodologia eficiente – para buscar os dados produzidos em português brasileiro ao longo do século XX. O ECI-BR disponibiliza uma amostra de fragmentos de textos escritos que conta com 724.008 palavras. Para que não houvesse discrepâncias em relação ao tamanho dos textos, estabelecemos uma margem entre 500.000 e 600.000 palavras por século, conforme pode ser visto na tabela a seguir. A única ressalva se deve ao século XX, porque, como dissemos, não conseguimos encontrar um corpus que mantivesse a margem estabelecida. Essa decisão, entretanto, não enviesou os resultados. XIV 504183 XV 590942 Quantidade de palavras nas amostragens XVI XVII XVIII 574042 563636 508567 XIX 530754 XX 724008 Tabela 3: tamanho das amostras diacrônicas utilizadas do PE e do PB Utilizamos como ferramenta de busca o programa computacional AntConc versão 3.2.1, que retorna a frequência das palavras a partir de uma seleção feita com base na terminação desejada. O software, desenvolvido por Laurence Anthony, da Universidade de Waseda, no Japão, pode gerar listas de concordância, que permitem comparar os diferentes usos de uma mesma palavra, além da frequência desse item. Como foi dito, os textos dos corpora citados acima tiveram de ser salvos em arquivos .txt para que o programa os identificasse. O programa Excel 2010, que faz parte do pacote do Microsoft Office, foi utilizado como ferramenta de cálculos estatísticos, 79 porque comporta uma grande quantidade de dados e possibilita a confecção de gráficos e tabelas comparativas. Calculamos o percentual dos verbos de circunfixação em relação ao número total de ocorrências em cada amostra separadamente. Isso nos permitiu observar isoladamente dados de cada circunfixo no período do século XIV ao XX. A fórmula utilizada foi a seguinte: (2) P = n2 x 100 N’ em que n2 é o número da frequência de ocorrência de uma palavra em um dado tempo e N’ é o número total de ocorrências no corpus. 4.3. O experimento linguístico Nossas principais hipóteses estão ancoradas, como será visto no capítulo 6, na relação escalar de produtividade dos circunfixos, diacrônica e sincronicamente. Elaboramos, portanto, um experimento linguístico, com base em Lima (1999), objetivando confirmar os resultados encontrados nas frequências de tipo e de uso. 4.3.1. Método do questionário Duzentos sujeitos, falantes do português brasileiro, participaram do estudo. Uma de nossas preocupações foi controlar as variáveis não linguísticas que poderiam estar correlacionadas ao emprego de uma determinada construção parassintética 80 (MOLLICA & BRAGA, 2008). Para isso, observamos o gênero, a idade e a escolaridade dos nossos informantes. Em relação à idade, a divisão estabelecida previa que os informantes com até 18 anos seriam agrupados sob o rótulo de Adolescentes; aqueles que tinham entre 18 e 25 anos foram considerados Jovens; os que tinham até 60 anos foram rotulados de Adultos; e de 61 em diante, Idosos. Quanto à escolaridade, utilizamos cinco fatores: Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior (cursando), Ensino Superior (completo), Pós-graduação. Caso o informante marcasse as opções Ensino Superior (cursando), Ensino Superior (completo) ou Pós-graduação, era solicitado que informasse também a área de formação acadêmica: Letras, Direito, Astrofísica, entre outros. Contamos com o auxílio da ferramenta JotForm, que possibilitou a confecção de formulários online através de uma série de comandos e recursos de programação. O questionário, depois de pronto, foi, então, enviado aos informantes por correio eletrônico. Resolvemos utilizar a Internet como meio de difusão do experimento por permitir o controle de um maior número de participantes, além de as escolhas dos informantes serem enviadas à minha caixa de e-mail assim que respondidas, o que facilitou a análise dos resultados e possibilitou o acompanhamento do experimento quase instantaneamente. Nenhuma informação foi passada aos informantes sobre o conteúdo da pesquisa, assim como a participação dos mesmos se deu de forma voluntária e anônima. No questionário, foi pedido que não fossem consultados dicionários ou sítios de Internet e que avaliassem cada item de acordo com sua intuição de falante nativo. Havia, também, dez distratores que foram eliminados na contabilidade do resultado final. 81 Para contabilizar os resultados, adotamos o procedimento de aplicar um valor para cada um dos fatores que compunham o grupo de fatores, bem próximo ao que se encontra em trabalhos de sociolinguística de orientação variacionista (MOLLICA & BRAGA, 2008). Submetemos essas informações ao software Goldvarb X (LAWRENCE et alii, 2001) para darmos um tratamento estatístico aos resultados, possibilitando o cotejo dos diferentes subesquemas em relação às variáveis sociais adotadas (gênero, idade e escolaridade). 4.3.2. Conteúdo do questionário O experimento foi dividido em três grupos para que o sujeito não ficasse condicionado a dar sempre as mesmas respostas. O grupo I consiste em uma escolhaforçada do tipo 1x2, em que eram dadas sentenças incompletas para que o informante escolhesse a opção que melhor se ajustasse ao sentido da frase. Um exemplo se encontra em (3): (3) Os resíduos hospitalares foram __________ pela equipe da clínica médica. o alixeirados o enlixeirados Sem mencionar aos “informantes” os verdadeiros propósitos do experimento, testamos, nesta parte, como ocorre o processamento lexical dos circunfixos em palavras inventadas. Buscamos compreender quais subesquemas seriam mais acessados se os falantes tivessem de criar novo material lexical. Assim, teremos mais 82 dados que nos habilitem a indiciar quais construções são mais produtivas no atual estágio da língua. No grupo II, apresentamos dados que passaram por uma concorrência entre construções de parassíntese, mas que a frequência tornou apenas um membro do par acessível pelo falante do século XXI. É o caso de ‘amadurar’ e ‘amadurecer’, por exemplo, que são as opções para completar a frase em (4): (4) Horácio começou a ___________ quando passou a trabalhar. o amadurar o amadurecer O grupo III, por fim, visa a corroborar o fato de que nada impede que dois esquemas diferentes instanciem palavras com a mesma base, como ‘empossar’ e ‘apossar’. Verificamos, então, se o falante percebe que são focalizados sentidos diferentes da base. Foi solicitado, nessa etapa, que os informantes marcassem a(s) palavra(s) de cada par que fazia(m) parte de seu léxico internalizado, como no exemplo em (5). Poderiam ser marcadas ambas as palavras, apenas uma delas, ou nenhuma, de acordo com o conhecimento lexical de cada falante. (5) Marque a(s) palavra(s) que você conhece □ Encampar □ Acampar 83 4.4. Resumindo Neste capítulo, relatamos o modo como foram colhidos os dados no Houaiss e em três corpora de textos em português (CIPM, CHPTB e ECI-EBR). Discutimos também cálculos estatísticos, formulados com base no trabalho de Lieber (2010), que nos viabilizaram encontrar os percentuais de frequência de cada construção ou unidade lexical em um determinado período de tempo. Abordamos também os métodos empregados na confecção de um experimento linguístico e quais foram nossos objetivos em cada etapa do teste. 84 5 CONSTRUÇÕES PARASSINTÉTICAS o estudo do significado é o estudo de como as palavras surgem no contexto de atividade humana e como são usadas para evocar representações mentais. Seana Coulson1 Neste capítulo, investigamos o comportamento dos subesquemas de circunfixação através do prisma da semântica cognitivista. Para tanto, recorremos, em 5.1, aos conceitos de mecanismos de conceptualização, ajuste focal (LANGACKER, 1987), metáfora e metonímia (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]). Partindo de estudos anteriores, identificamos que as características subjacentes ao processo de circunfixação são a instanciação de novos verbos (MARTINS, 1991) e a ideia de resultatividade veiculada pela construção lexical (LEITE, 2006). Explicamos, em 5.2, cada um dos subesquemas examinados neste trabalho, nomeadamente [a [x]Nj ar]Vi, [en [x]Nj ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi. São observados, também, os diferentes sentidos ativados em função de fatores sociodiscursivos e a recuperabilidade das formas pelos falantes. Por fim, propomos a conexão entre os vários subesquemas que compõem a circunfixação através de uma rede esquemática (BYBEE, 2010; CROFT & CRUSE, 2004), por meio da qual as unidades instanciadas se reforçam através do uso em textos, orais 1 the study of meaning is the study of how words arise in the context of human activity, and how they are used to evoke mental representations (COULSON: 2001, p. 17). 85 ou escritos. Haveria, assim, um núcleo prototípico do qual espraiariam subesquemas mais específicos, que manteriam o fluxo de informação com o esquema central por meio de links de herança (GOLDBERG, 1995). 5.1. Operações de conceptualização e resultatividade Martins (1991), ao examinar a regularidade de verbos parassintéticos, destaca um traço semântico que tem reflexos no formalismo, mas que, muitas vezes, não recebe o devido tratamento em análises morfológicas: a formação de novos verbos na língua a partir de nomes. Esse fato – que perpassa a parassíntese, a sufixação e a conversão, por exemplo – estaria, para a autora, diretamente relacionado à nossa necessidade de expressar ações a partir de eventos. Essa proposição, com a qual concordamos, reflete o modo como ocorrem os processamentos cognitivos, ou seja, indica a motivação que leva os falantes a expressarem propriedades de adjetivos e substantivos por meio de processos. Em termos cognitivistas, a pergunta que deve ser feita diz respeito a conceptualizarmos uma cena holisticamente ou em partes que se sucedem. Langacker (1987, 1991, 2008a, 2008b) defende que o traço de dinamicidade é um dos mecanismos que compõe as operações de conceptualização, pois, nesse caso, a saliência de aspectos referentes à conceptualização da cena é mutável e, por isso, dinâmica. Em outras palavras, “o escaneamento (...) se relaciona a de que modo os aspectos da cena são percebidos, se visualmente ou de outra maneira, e como dão origem a representações conceptuais” 2 (EVANS, 2007: 186, 187). Esse traço dinâmico 2 scanning (...) relates to how the aspects of a scene are perceived, visually or otherwise, and give rise to a conceptual representation. 86 estaria presente na nossa capacidade de apreender relações e compreender eventos através de escaneamentos, que são mecanismos que permitem a integração dos trechos constitutivos de uma cena em uma representação aproximada do real (LANGACKER, 2008b: 110). O escaneamento pode ser de dois tipos: estático ou processual. O exemplo, providenciado por Langacker (2008a), de uma bola rolando um declive, pode ilustrar os dois modos de processamento, a depender do escaneamento que estiver sendo mapeado. Em uma das perspectivas, podemos conceptualizar essa cena como uma sequência de imagens que se sucedem e permitem compreender a trajetória do objeto, como na figura 4. Figura 1: escaneamento dinâmico (LANGACKER, 2008a) O evento de a bola rolar é representado, em cada retângulo, no tempo ti em uma determinada posição, enquanto a conceptualização acontece no tempo Ti. Não necessariamente o acontecimento de um evento e a sua conceptualização se dão no mesmo intervalo de tempo, o que possibilita que ti e Ti tenham valores de aplicação diferentes. Por exemplo, podemos conceptualizar, em um tempo futuro (Ti), uma ação que ocorreu no passado (ti). Na figura acima, o estímulo (o movimento da bola) é 87 escaneado sequencialmente, tal que no instante Ti o único trecho acessado corresponde a ti, o que nos permite ter uma concepção muito próxima do evento que se desenrolou em ti. Temos, então, o escaneamento dinâmico. Não é isso o que acontece no escaneamento estático, como é exemplificado na figura 2, retirada de Langacker (2008a). Figura 2: escaneamento estático (LANGACKER, 2008a) No escaneamento estático, cada trecho da cena não é acessado separadamente, mas cumulativamente, i.e., no tempo Ti todas as configurações da cena que se desenrolaram até então (t1 – ti) são sintetizadas, de modo que a sua representação se torne holística. Como estamos lidando com um léxico concebido a partir da interação de símbolos, ou seja, elementos formais que evocam significados (BASILIO, 2011), todo esse aparato cognitivo é refletido no ambiente lexical. Se, conforme Langacker (2008a) prediz, a semântica não for apenas o estudo das relações de condição de verdade, mas também das operações de conceptualização, o léxico torna-se o locus de manifestação da experiência, do uso e das habilidades cognitivas. Faz sentido, então, compreender 88 que os diferentes tipos de escaneamento correspondem a diferentes estruturas da gramática, como o verbo, o adjetivo, ou o substantivo, por exemplo. De acordo com Langacker (2008a), o escaneamento dinâmico está diretamente relacionado ao perfilamento realizado por verbos, visto que a relação processual é consequência do acesso sequencial de elementos de uma cena. Ao contrário, o escaneamento estático está para nomes, que, em geral, não perfilam relações, nem mudanças de estado. Com isso, percebemos que a motivação semântica que subjaz processos de formação de verbos se relaciona à necessidade de expressar conceptualizações dinâmicas a partir de mapeamentos estáticos de um estímulo, uma vez que instanciamos construções verbais a partir de nomes (substantivos e adjetivos). Sobre a característica processual dos verbos, que captura seu traço dinâmico, vale citar Langacker (1991: 81), que afirma que: uma predicação processual envolve uma contínua série de estados (...) e emprega um escaneamento dinâmico para acessar essa estrutura complexa. Um processo contrasta com sua correspondente relação atemporal ao elaborar um ‘perfilamento temporal’, definido como a duração do tempo concebido [ti] pelo qual a relação perfilada é escaneada sequencialmente3. Similarmente, argumenta Lemos de Souza (2010), com exemplos da formação de nomes deverbais no português, em favor da distinção dos dois tipos de escaneamento cognitivo. De acordo com o autor, essa diferença justifica, junto a 3 a processual predication involves a continuous series of states (…) and it employs sequential scanning for accessing this complex structure. A process contrasts with the corresponding atemporal relation by having a ‘temporal profile’, defined as the span of conceived time through which the profiled relationship is scanned sequentially. 89 outros fatores, a ocorrência de ‘ligação’ e ‘ligamento’, ‘armação’ e ‘armamento’, e ‘apartação’ e ‘apartamento’, como vemos abaixo. (1) ‘ligação’ ‘ato de ligar’, interpretação verbal ‘ligamento’ ‘articulação entre os ossos’, interpretação nominal (2) ‘armação’ ‘ato de armar’, interpretação verbal ‘armamento’ ‘conjunto de armas’, interpretação nominal (3) ‘apartação’ ‘ato de apartar’, interpretação verbal ‘apartamento’ ‘tipo de moradia’, interpretação nominal Nos itens instanciados pelo esquema [[x]Vi – ção]Nj, percebemos que o escaneamento ocorre sequencialmente, enquanto nas palavras de [[x] Vi – mento]Nj compreendemos a cena holisticamente. Esse seria um dos fatores que contribuiria para impedir o bloqueio das formas que selecionam a mesma base. Nem sempre a mudança categorial implica em mudança no tipo de conceptualização, pois, como vimos nos casos de [[x]Vi – ção]Nj, tanto o verbo-base como o substantivo resultante perfazem um escaneamento dinâmico. Da mesma forma, os exemplos demonstrados em (4), a seguir, indicam que a mudança de classe não altera a conceptualização, pois se percebe a mudança do verbo ‘correr’ para o substantivo ‘corre-corre’ com a manutenção do escaneamento dinâmico. Casos em que não há mudança categorial podem, ao contrário, apresentar mudança de escaneamento, como em (5), no qual a base ‘carta’ e a palavra derivada ‘cartada’ ativam o escaneamento estático e dinâmico, respectivamente. Com isso, observamos 90 que não há, necessariamente, uma correspondência entre mudança categorial e diferença no escaneamento cognitivo. (4) correrV corre-correN aprenderV aprendizagemN (5) cartaN cartadaN Nos casos de verbos parassintéticos, entretanto, a mudança de escaneamento está correlacionada à mudança categorial. Há, em todos os casos, substantivos ou adjetivos como base para uma construção verbal e, consequentemente, a passagem de uma conceptualização estática para dinâmica. Em (6), apresentamos alguns exemplos. (6) calmoA acalmarV justoA ajustarV dívidaN endividarV moleA amolecerV burroA emburrecerV raivaN enraivecerV Em comum aos verbos parassintéticos de (6), o escaneamento dinâmico expõe, mais detalhadamente, o traço durativo, processual, desses itens – além do caráter aspectual de incoatividade, reforçado em palavras terminadas por ‘-ecer’, como, por exemplo, ‘amolecer’, ‘emburrecer’ e ‘enraivecer’. 91 Desse traço processual, é possível generalizar um significado do tipo ‘tornar-se X’, em que a mudança dos vários estados constitutivos da cena é mapeada sequencialmente. Em outras palavras, esse significado mais geral nos permite visualizar os processos de ‘tornar-se calmo’, ‘tornar-se mole’, ‘tornar-se burro’ desenrolando-se em um período de tempo ti e a nossa compreensão da cena num tempo Ti equivalente. Podemos relacionar isso à proposta de que verbos parassintéticos sejam tratados como casos de resultatividade (LEITE, 2006), um fenômeno bastante difundido e estudado na área da sintaxe. As construções resultativas, que têm sido analisadas sob diferentes perspectivas (no campo funcionalista, LEVIN & RAPPAPORT, 1999; no quadro cognitivista, GOLDBERG, 1995; GOLDBERG & JACKENDOFF, 2004; LEITE, 2006; e no arcabouço gerativista, LOBATO, 2004; HOEKSTRA, 1988), indicam a mudança de estado de um objeto a partir da ação expressa no verbo (X faz com que Y se torne Z). Alguns exemplos de resultatividade são apresentados abaixo. (7) João pintou a casa [bem amarelinha]SAdv. (LOBATO, 2004) (8) Maria deixou o quarto [limpo]SA. (9) Eles partiram o bolo [em pedaços]SPrep. (LEITE, 2006) (10) Crise de energia tornou brasileiro mais [consciente]SA. (LEITE, 2006) Nos exemplos (8) e (10), percebemos que a mudança de estado é indicada por meio dos sintagmas adjetivais [limpo] e [consciente], enquanto na frase em (9) é expressa no sintagma preposicional [em pedaços]. Em (7), não é apenas o adjetivo 92 referente à cor que caracteriza a resultatividade, uma vez que a retirada do advérbio ‘bem’ acarreta a mudança de sentido da frase (LOBATO, 2004), como em (11). (11) ≠ João pintou a casa amarelinha. Em (11), a casa possui a propriedade de ser amarela, enquanto em (7) passa a ter essa característica Z (cor amarela) a partir da ação (pintar) de X (João). Em (7), o sintagma adverbial [bem amarelinha] é responsável por ativar a mudança de estado. Os constituintes destacados entre colchetes nos exemplos de (7) a (10) exprimem a ideia de transformação e, por isso, são identificados como sintagmas resultativos (de agora em diante, SR). Entretanto, para que haja mudança de estado, é necessário que um elemento assuma a transformação. Goldberg & Jackendoff (2004) chamam-no de hospedeiro, que nos exemplos de (7) a (10) se identifica com os constituintes que recebem caso acusativo (em negrito). Nessas frases, percebe-se a correlação entre o papel de agente e o elemento que recebe caso nominativo, porém este também pode ser o hospedeiro do processo de resultatividade, deixando de ser o agente, como em (12), a seguir. (12) O chocolate amoleceu. (13) O calor amoleceu o chocolate. Na verdade, o constituinte sintático responsável por hospedar o papel do agente corresponde à distinção entre estruturas causativas e não causativas. Os exemplos de (7) a (10) representam estruturas causativas, pois um agente é responsável para que o 93 hospedeiro assuma a propriedade expressa pelo SR. Já em (12), não há um elemento agentivo que caracterize uma estrutura causativa. Contudo, o mesmo exemplo pode ser reescrito, como em (13), de modo que inclua a noção de causatividade. Ainda que seja um tema bastante relevante, não nos aprofundaremos na discussão de considerar a causatividade no âmbito da Gramática das Construções, uma vez que não é esse o nosso foco 4. Nos casos de circunfixação, o indicador da mudança do estado não pode ser externo, já que estamos lidando com unidades do léxico. Esse indicador, que é compatibilizado num esquema mais geral, funcionando como a base para instanciar a palavra parassintética, é chamado de SR interno (LEITE, 2006). Nos exemplos de (14) a (20), apresentamos casos de parassíntese cujos subeventos indicam que um hospedeiro (X) passará a ter a propriedade indicada pelo SR interno, representado pelas bases. (14) [a [cafajeste]Ai ar]Vj ‘X tornar-se cafajeste’ (15) [em [bebedo]Ai ar]Vj ‘X tornar-se bêbedo’ (16) [a [podre]Ai ecer]Vj ‘X tornar-se podre’ (17) [en [magro]Ni ecer]Vj ‘X tornar-se magro’ (18) [em [pálido]Ai ecer]Vj ‘X tornar-se pálido’ (19) [em [paca]Ni ar]Vj ‘X tornar-se semelhante a uma paca’ (20) [a [bandido]Ni ar]Vj ‘X tornar-se um bandido’ 4 Os interessados no assunto podem consultar McCawley (1971), Levin & Rappaport (1999), Goldberg & Jackendoff (2004), Goldberg (1995, 2006). 94 Goldberg & Jackendonff propõem a terminologia ‘resultativas de propriedade’ para casos em que são focalizados um processo de mudança e uma propriedade desse subevento, como nos itens exemplificados acima. Em geral, adjetivos indicam o valor semântico de propriedade, o que favorece a compatibilização entre adjetivos e subesquemas de circunfixação que exprimem ‘mudança de estado relacionada a um atributo’, como [a[x]Nj ecer]Vi e [en[x]Nj ecer]Vi. Substantivos também podem servir à instanciação de novas unidades, conforme visto nos exemplos (19) e (20), porém como, normalmente, não indicam um atributo, é perfilada uma característica do substantivo base. Por exemplo, em (19) não se concebe a transformação do hospedeiro em uma paca. Ao contrário, um atributo do animal, a lentidão, é perfilado e compatibilizado na construção, o que nos permite identificar alguém ou alguma coisa que age de forma lenta como uma paca através da palavra ‘empacar’. Os exemplos abaixo ilustram esse perfilamento. (21) Meu cachorro ‘empaca’ na hora de passear... Por que (sic)?5 (22) O ônibus ‘empacou’ várias vezes no caminho porque os corintianos invadiam as ruas para saudar o time.6 (23) Minha carreira ‘empacou’.7 (24) Lançado há três meses, projeto social de Adriano ‘empaca’.8 5 http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100417173909AAXpe2c. Acessado em 11 ago.2011. 6 http://www.loucosporti.com.br/content/view/207/47/. Acessado em 11 ago.2011. 7 http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/max-gehringer/2011/08/03/MINHA-CARREIRAEMPACOU.htm. Acessado em 11 ago.2011. 8 http://www1.folha.uol.com.br/esporte/888204-lancado-ha-tres-meses-projeto-social-de-adrianoempaca.shtml. Acessado em 11 ago.2011. 95 Percebemos, nos exemplos de (21) a (24), que o atributo de ‘lentidão’ é perfilado na base ‘paca’ e relacionado aos hospedeiros ‘cachorro’ (21), ‘ônibus’ (22), ‘carreira’ (23) e ‘projeto social’ (24). Em (20), do mesmo modo, um traço da base ‘bandido’ é perfilado para compatibilizar com a construção parassintética. Não interessam os atributos físicos do bandido, mas os psicológicos e/ou sociais: ‘abandidar’ é ‘agir inescrupulosamente’, ‘participar de alguma facção criminosa’, ‘ter atitudes que se assemelhem à representação de um bandido’, entre outros. Como o termo ‘propriedade’, traduzido de Goldberg & Jackendoff, é muito genérico, adotamos o termo ‘atributo’, que acreditamos ser mais preciso por se referir especificamente a uma característica. Adaptando a cena utilizada por Langacker para representar o escaneamento dinâmico (figura 1), apresentamos, na figura 3, um diagrama que concentra esse modo de processamento cognitivo, a mudança de estado e o perfilamento de um atributo, característicos do esquema que expressa a ‘resultatividade atributiva’. > > T1 > T2 > T3 > T4 T5 Figura 3: representação dos esquemas que expressam a resultatividade atributiva 96 Na figura 3, há um evento representado na forma de um círculo, cuja tonalidade se modifica a cada intervalo ti. Nem todos os verbos parassintéticos se conformam a esse diagrama, já que alguns não se referem à mudança de atributo, mas de local, como os exemplos abaixo: (25) [a[prision]Ni ar]Vj ‘por X em prisão’ (26) [a[fund]Ni ar]Vj ‘por X no fundo’ (27) [en[caixot]Ni ar]Vj ‘por X em caixote’ (28) [en[moldur]Ni ar]Vj ‘por X em moldura’ Nos itens acima, compreendemos uma mudança de estado como uma mudança de local, já que ambas as mudanças pressupõem uma mudança no tempo. Goldberg (1995: 83) explicita que essa operação é recorrente e “envolve compreender uma mudança de estado nos termos de um movimento para um novo local” 9. Os exemplos de circunfixação expostos neste trabalho descrevem eventos e a forma como os representamos através de operações cognitivas. Levin & Rappaport (1999) destacam uma condição primordial debatida na literatura linguística sobre a identidade dos eventos: apresentarem as mesmas características espaciais e temporais. Isso explica a metáfora, abordada por Goldberg, que nos permite compreender uma mudança no espaço a partir de uma mudança no tempo/estado. Na direção contrária, Lakoff & Johnson (2002 [1980]) demonstram que também podemos compreender o tempo a partir da movimentação de objetos, o que pode ser 9 “[the metaphor] involves understanding a change of state in terms of movement to a new location” 97 evidenciado pela produtividade da metáfora TEMPO É UM OBJETO EM MOVIMENTO em expressões do tipo: (29) O tempo virá quando... (The time will come when...) O tempo para agir chegou. (The time for action has arrived.) Nas semanas seguintes… (In the following weeks…) O mapeamento entre a categoria de tempo e a sua orientação não estática na metáfora TEMPO É UM OBJETO EM MOVIMENTO nos habilita conceptualizar uma mudança de espaço em termos de uma mudança de estado, porque, culturalmente, uma mudança de espaço implica o movimento de um objeto de um local X para um local Y, que, por sua vez, está relacionada à passagem de tempo. Autores como Basilio (2004) e Leite (2006) já haviam notado a produtividade de verbos de circunfixação com a semântica de resultatividade espacial, veiculada pelas palavras de (25) a (29). Cabe notar que o SR interno (‘caixote’, de ‘encaixotar’, por exemplo) é conceptualizado como um recipiente para o qual o hospedeiro (um objeto qualquer) se move, como ilustrado no diagrama abaixo. 98 > > > t1 t2 t3 t4 T1 T2 T3 T4 Figura 4: representação dos esquemas que expressam a resultatividade espacial No digrama da figura 4, o evento é representado por um objeto elíptico inserido em um objeto trapezoidal. É, como argumentamos, a configuração de uma mudança no espaço, visto que em t1 o objeto elíptico está em um local externo e em t4 no interior do trapézio. Bastante difundida na literatura cognitivista (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]), a metáfora do contêiner perpassa a representação da figura 4, pois compreendemos o objeto trapezoidal como um recipiente, em razão dos seus limites espaciais, o que provoca uma orientação dentro-fora. Em (27), a base ‘caixote’ funciona como um recipiente devido ao seu formato e à possibilidade de colocar um objeto no seu interior. Já em (28), a base ‘moldura’ não é um representante exemplar da categoria ‘recipiente’, o que não nos impede de a compreendermos como um recipiente a partir de nossa experiência no mundo: não armazenamos objetos tridimensionais em molduras, mas planos, como pinturas, fotografias, certificados etc. Observamos, pois, que a cultura tem um papel decisivo na nossa compreensão e estruturação do léxico, uma vez que molda a forma pela qual pensamos e agimos no mundo. A relação entre mudança de estado e passagem de tempo não é fortuita, mas 99 tem a ver com o modo como experienciamos o meio. Da mesma maneira, conceber uma mudança de lugar nos termos de uma mudança de estado, já que implicam passagem no tempo, é altamente motivado por estabelecermos uma ligação entre a nossa condição de existência e o mundo que nos cerca. O diagrama representado na figura 4, provavelmente, pode não ser significativo em outras culturas, pois foi estruturado a partir da apreensão de como falantes do português brasileiro concebem a linguagem. Até agora, vimos que o conteúdo de resultatividade espacial envolve a conceptualização de um elemento como recipiente. Entretanto, Basilio (2004) destaca que esquemas de circunfixação também podem estar vinculados a ‘elementos colocados’, como os dos exemplos abaixo: (30) [a[cebol]Ni ar]Vj ‘por cebola em X’ (31) [a[piment]Ni ar]Vj ‘por pimenta em X’ (32) [a[tapet]Ni ar]Vj ‘por tapete em X’ (33) [em[balsam]Ni ar]Vj ‘por bálsamo em X’ (34) [en[cer]Ni ar]Vj ‘por cera em X’ (35) [em[palh]Ni ar]Vj ‘por palha em X’ As palavras de (30) a (35) também podem ser explicadas pela metáfora do contêiner por se enquadrarem no domínio das resultativas espaciais. A diferença reside no ajuste focal da cena, ou seja, no fato de o SR interno ser conceptualizado como o elemento colocado, e não como o recipiente. Os verbos de (30) a (35) ativam o escaneamento processual das resultativas espaciais (figura 4), sendo que o SR interno 100 é representado pelo objeto elíptico. Convém lembrar que os verbos de (25) a (28) retomavam o mesmo escaneamento, porém o SR interno era representado pelo objeto trapezoidal. Essa diferença na conceptualização do SR interno tem uma grande importância para o estudo apresentado aqui, porque, como assinalam Almeida et alii (2009), substancia a natureza conceptual da gramática. Há, nos verbos apresentados de (25) a (28) e de (30) a (35), uma mesma cena (ato de armazenar) que envolve os mesmos elementos (um recipiente e um objeto colocado), porém diferentes ajustes focais resultam em significados diferentes. Langacker (1987) foi o primeiro a propor o termo ‘ajuste focal’ para designar os mecanismos que nos permitem descrever uma mesma situação de diferentes maneiras. Em palavras como ‘aprisionar’ e ‘encaixotar’, o SR interno (‘prisão’ e ‘caixote’) é o recipiente, o que ocasiona a sua focalização e o esmaecimento do objeto colocado. Já em ‘acebolar’ e ‘encerar’ o SR interno (‘cebola’ e ‘cera’) se comporta como o objeto colocado, que é destacado, enquanto o recipiente é ofuscado. Percebemos, por exemplo, maneiras distintas de conceptualização de uma mesma cena básica nos verbos ‘aterrar’ e ‘enterrar’. Na primeira palavra, o objeto elíptico é o elemento realçado (‘terra’) e o recipiente é a base da cena, ou seja, o elemento que fica esmaecido e funciona como hospedeiro. Isso porque em ‘aterrar’ colocamos terra em algum local, ou seja, ‘terra’ é o elemento colocado, e não o recipiente. Em (36), a seguir, o SN ‘o mangue’ é o hospedeiro da mudança e o SR interno ‘terra’ é perfilado como objeto a ser inserido em algum local. Já o verbo ‘enterrar’ tem o SR interno compreendido como o recipiente, elemento perfilado na situação. Nesse caso, ‘terra’ não é o objeto colocado, mas o local onde algo será 101 inserido. Em (37), o SN ‘ossos’ fica no plano de fundo como o objeto colocado, enquanto o SR interno (‘terra’) aparece como o recipiente do evento. (36) Para ampliar porto, Estado quer ‘aterrar’ manguezal. 10 (37) Se seu cachorro adora fazer buracos para ‘enterrar’ ossos ou se refrescar, construa um pequeno tanque de areia em uma parte isolada11 Foi demonstrado, até aqui, que a noção semântica de resultatividade está ligada aos esquemas de circunfixação por meio de operações de conceptualização, tais como metáforas, metonímias e ajustes focais, que são operações básicas que nos servem a manipular quaisquer estruturas de conhecimento (CROFT & CRUSE, 2004). Alguns exemplos da atuação desses mecanismos, que foram abordados anteriormente, são (i) a compreensão de uma mudança de lugar a partir de uma mudança de estado e (ii) as diferentes perspectivas que se adotam em relação à mesma situação de mudança de local, i.e., a possibilidade de se focalizar o objeto colocado ou o recipiente na resultatividade espacial. Nas seguintes seções, exploramos de que maneira se desenvolve a relação entre os significados – dinâmicos e modificáveis no desenrolar do discurso – e os subesquemas que os evocam – estáveis e armazenados no léxico. 5.2. Subesquemas de circunfixação 10 http://www.intelog.net/site/default.asp?TroncoID=907492&SecaoID=508074&SubsecaoID=948063&Te mplate=../artigosnoticias/user_exibir.asp&ID=940817&Titulo=Para%20ampliar%20porto%2C%20Estado %20quer%20aterrar%20manguezal. Acessado em 14 ago.2011. 11 http://dogdicas.com.br/373/enterrando-ossos. Acessado em 14 ago.2011. 102 A circunfixação, como vimos, ativa um conceito principal – o da resultatividade – que se desdobra em dois: a mudança relacionada ao atributo e a mudança relacionada ao espaço. Cabe, então, definirmos a maneira como se distribuem os significados com referência aos subesquemas que os evocam. A instanciação de verbos parassintéticos tem por base unidades adjetivais ou substantivais, como foi visto nos exemplos de (15) a (20). Etiquetamos essas categorias através do índice N, de nome, que pode representar tanto adjetivos quanto substantivos. As características dos subesquemas serão representadas, conforme abordado no capítulo 3, através de um diagrama tripartido (BOOIJ, 2010), em que sejam consideradas as informações fonológicas, morfológicas e semânticas. Nas próximas subseções, discutimos os subesquemas que constituem o esquema mais geral, entendido por circunfixação ou parassíntese. Iniciamos a análise pelo subesquema [a [x]Nj ar]Vi. 5.2.1. O subesquema [a [x]Nj ar]Vi Grande parte dos verbos de [a [x]Nj ar]Vi tem substantivos como base, embora haja muitos exemplos instanciados a partir de adjetivos. No primeiro caso, podemos citar ‘abarrotar’ (de ‘barrote’), ‘acariciar’ (de ‘carícia’) e ‘agarrar’ (de ‘garra’), enquanto, no segundo, apresentam-se ‘acalmar’ (de ‘calma’), ‘alargar’ (de ‘largo’) e ‘amansar’ (de ‘manso’). O valor semântico de resultatividade de atributo é prototípico nesse subesquema, pois uma quantidade expressiva de dados evoca esse conceito (64% dos itens). Verbos como ‘acalmar’, ‘adoçar’ e ‘ajustar’, por exemplo, podem ser 103 parafraseados por < [tornar-se [x]Nj]Vi >, em que [x]Nj é uma variável que pode ser substituída pelas bases ‘calma’, ‘doce’ e ‘justo’, respectivamente. O circunfixo ativa, além do valor de resultatividade, o sentido de aproximação ao que é expresso pela base. Observemos nos dados abaixo de que maneira a metáfora opera nos significados. (38) abandejar, abaciar, abarrilar, afunilar (39) afofar, alisar, amaciar, alongar, aveludar (40) abatatar, atomatar, abaunilhar, acerejar, assenzalar, assobradar (41) abesourar, atartarugar, atucanar, agalinhar (42) abaronar, afrancesar, aburguesar, afeminar, aportuguesar, abeatar Nos exemplos de (38), focaliza-se a forma do objeto representado pela base, pois ‘abarrilar’ é tornar-se próximo da forma de um barril e ‘afunilar’, tornar-se próximo a um funil. Há um processo metaforização do esquema imagético entre o objeto que ocupa a posição de SR interno e o elemento que venha a ocupar a posição do hospedeiro, que vai assumir as mudanças expressas na unidade parassintética. Vejamos alguns exemplos: (43) Sim, mantive parte dos dutos de admissão. Esse duto vai ‘afunilando’ até o TB. Só vi um Intake com essa característica, mas era uma fortuna. Só acrescentei o filtro com o acelerador. Ficou bom. 12 12 http://forum.civicclub.com.br/smf/index.php?topic=3298.15. Acessado em 28.09.11. 104 (44) Após algum tempo, com a reforma já feita, o telhado ‘abaulou’ e, aos poucos, a estrutura da casa foi cedendo. 13 (45) John Henry Menton tirou o chapéu, ‘abaulou’ o amassado e alisou a penugem de seu paletó. Recolocou rapidamente o chapéu em sua cabeça. 14 Em (43), o SN [o duto] funciona como hospedeiro para o processo de resultatividade da forma verbal ‘afunilando’, ou seja, compreende-se que o duto aproxime sua forma a de um funil. Já em (45), o amassado do chapéu assume um formato convexo que se assemelhe à tampa de um baú. Os hospedeiros [o telhado], em (44), e [o chapéu], em (45), assumem a forma de baú expressa pelo SR interno. Diferentemente, os verbos de (39) são menos concretos que os de (38) pelo fato de aqueles ressaltarem uma característica, e não apenas o formato, do elemento da base. Em ‘afofar’, por exemplo, interessa-nos a qualidade do hospedeiro, e não propriamente sua forma. A diferença entre os dados de (39) e (40) é mais difusa. Basicamente, os itens de (39) ainda guardam algum resquício da forma, enquanto em (40) se destaca uma característica do elemento que ocupa o SR interno, que não esteja, necessariamente, relacionada à forma. Em ‘atomatar’ e ‘acerejar’, focaliza-se a cor avermelhada da cereja e do tomate maduros, e não propriamente seu formato. Os exemplos de (40) foram agrupados em razão de perfilarem uma característica do elemento-base. Em ‘atomatar’, por exemplo, o significado construído seria algo como ‘tornar-se próximo da cor vermelha de um tomate’; em ‘abaunilhar’, 13 14 http://www.trgconstrucoes.com.br. Acessado em 28.09.11. JOYCE, JAMES. Ulisses. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p.150. 105 ‘tornar-se próximo do sabor de baunilha’; e em ‘assenzalar’, ‘tornar-se próximo da característica de uma senzala’. Na unificação entre a base ‘senzala’ e o esquema, como demonstrado em (46), a seguir, nosso conhecimento enciclopédico participa na construção do significado através de frames estruturados15, já que sabemos que uma senzala não é um ambiente agradável ou acolhedor. Vemos, com isso, que na instanciação de um novo item lexical não só o conhecimento linguístico deve ser considerado, mas também as bases experienciais e as informações compartilhadas pelos membros de uma mesma sociedade. (46) [a [senzala]Nj ar]Vi [tornar-se próximo a uma característica da [senzala]Ni]Vi Lugar de maus tratos, sujo, sem conforto Os exemplos em (41) se comportam semelhantemente ao verbo ‘empacar’, que discutimos no início deste capítulo (v. exemplos (21) a (24)), na medida em que perfilam uma característica do elemento que ocupa o SR interno e mapeiam essas características com as do elemento que ocupa a posição do hospedeiro. Na frase ‘O João abesourou a Maria com histórias de fantasmas’, selecionamos o zumbido incômodo do besouro, que é representado no SR interno, e mapeamos com o hospedeiro João. Sabemos, logo, que as histórias de fantasmas incomodam Maria. 15 Seguindo a representação proposta por Fauconnier & Turner (2002), os frames serão diagramados, nesta dissertação, como formas retangulares relacionadas a expressões por meio de uma seta. 106 Vale notar que o verbo ‘atucanar’ ganhou extensões de sentido devido ao novo sentido da base ‘tucano’: membro do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), em referência à ave-símbolo do partido. Nesse contexto, ‘atucanar’ é ser filiado ao PSDB ou compartilhar ideologias parecidas com as do partido, como nos exemplos abaixo: (47) Marina ‘atucanou’ e apoiará Aécio em Minas Gerais, diz coluna. 16 (48) Quem diria: o outrora fogoso PCdoB, que há muito tempo já não é mais aquele, deu de ‘atucanar’. 17 Nos exemplos em (47) e (48), percebe-se que o sentido metafórico de ‘atucanar’ pode passar por novas extensões e compatibilizar o novo perfilamento da base ‘tucano’ (membro do PSDB) com o padrão instanciado pelo subesquema [a[x]Njar]Vi (o de resultatividade em relação a um atributo), pois nessas frases são destacadas características dos partidários do PSDB. A ex-senadora Marina Silva não se filiou ao PSDB, tampouco o PCdoB se fundiu ao outro partido; houve uma atualização discursiva. Retomando os exemplos em (42), percebe-se o foco no modo, nos costumes e nos hábitos dos elementos que servem de base para a formação dos verbos. Desse modo, ‘afrancesar’ é tornar-se mais próximo do que se julga ser uma característica dos franceses; ‘abaronar’ relaciona-se a como concebemos um barão. Não é exatamente se tornar aquilo expresso na base, mas adquirir traços que aproximem o hospedeiro das características ativadas pelo SR interno. 16 17 http://www.alemdanoticia.com.br/ultimas_noticias.php?codnoticia=4397. Acessado em 29.09.11. http://www.odiario.com/blogs/josepedriali/2011/08/09/e-o-pcdob-atucanou/. Acessado em 29.09.11 107 (49) Você está cansado de filmes sobre vampiros como Crepúsculo que ‘afeminaram’ os vampiros de uma forma tão grotesca que não são nem mais conhecidos como seres das trevas? Então fique de olho nesse filme, ele será a nossa salvação! 18 No exemplo em (49), percebemos que os vampiros – hospedeiro do processo ativado pelo verbo ‘afeminar’ – não viraram mulheres, mas ganharam características que os afastaram dos protótipos masculinos. Nesse grupo de (42), ainda se incluem todos os verbos que têm por base gentílicos, como ‘abrasileirar’, ‘abaianar’, ‘apaulistar’, ‘amineirar’, ‘acastelhanar’, entre outros. O subesquema [a [x]Nj ar]Vi também pode instanciar verbos com significado relacionado à espacialidade, como os que se apresentam em (50) e (51). (50) Abalsar, alojar, aprisionar, agrupar, alistar (51) Abarrotar, amordaçar, achocolatar, amanteigar, apimentar Esses exemplos refletem a discussão abordada anteriormente sobre as duas possibilidades de conceptualização: com ajuste focal no elemento colocado ou no recipiente (v. Figura 4). Nos verbos de (50), focaliza-se o recipiente, que, por relações vitais de identidade e unicidade (FAUCONNIER & TURNER, 2002), é mapeado com o SR interno de cada verbo. Em ‘abalsar’, ‘alojar’ e ‘aprisionar’, os SRs internos (‘balsa’, ‘loja’ e ‘prisão’) se referem a espaços físicos no mundo real, o que favorece a oposição fora18 http://portaldomagao.blogspot.com/2011/01/trailer-legendado-do-filme-deixe-me.html. Acessado em 29.09.11. 108 dentro e a relação com um recipiente, pois sabemos que são todos locais em que se podem “armazenar” coisas ou pessoas. Ainda que as bases de ‘agrupar’ (grupo) e ‘alistar’ (lista) não sejam espaços físicos, podemos compreender uma ‘lista’ como um estoque de palavras, ou um ‘grupo’ como um estoque de elementos. Atuam, nesse caso, operações metafóricas que relacionam o nosso conhecimento enciclopédico de que podemos reunir nomes em uma lista à conceptualização de inserção de um objeto em um recipiente. Os exemplos de (51), ao contrário, focalizam o SR interno como o elemento colocado, visto que ‘achocolatar’ é ‘colocar chocolate em pó em alguma substância líquida’ e ‘amordaçar’ é ‘colocar a mordaça em alguém ou algum animal’. Observamos também que a metáfora e a metonímia operam na compreensão desses verbos, pois os vocábulos ‘apimentar’ e ‘abarrotar’, por exemplo, apresentam extensões de sentido, de acordo com o contexto sociodiscursivo em que são empregados. Vejamos exemplos com o verbo ‘abarrotar’. (52) Patrocinado pela Camisaria Varca, Ronaldinho ‘abarrotou’ os estádios com milhares de torcedores, além de engordar a audiência dos jogos na TV. 19 (53) E o conseguiu graças à cumplicidade visceral e sensual que seu líder, Adam Levine, teve com a multidão que ‘abarrotou’ a Cidade do Rock no sexto dia do evento. 20 19 http://oglobo.globo.com/cultura/agamenon/posts/2011/02/20/onde-ja-civil-363937.asp. Acessado em 03.10.11. 20 http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/arte/noticias/mana-marron-five-e-coldplay-agitampenultimo-dia-do-rock-in-rio. Acessado em 03.10.11. 109 (54) Funcionários do supermercado chamaram a polícia depois que viram o casal ‘abarrotar’ um carrinho com mantimentos e, depois, passar direto pela porta de saída, sem pagar por nada. 21 (55) Megaleilão ‘abarrota’ aeroporto de Água Boa com 74 aviões. 22 ‘Abarrotar’ pode ser parafraseado como ‘por barrote em excesso’23. Nos exemplos de (52) a (55), contudo, o subesquema contém uma integração conceptual que nos permite compreender elementos físicos por barrotes: pessoas em (52) e (53); comida em (54); e aviões em (55). Na frase em (52), por exemplo, o estádio de futebol ficou cheio de torcedores, que no esquema correspondem à base ‘barrote’ do verbo ‘abarrotar’. Da mesma forma, em (54), o carrinho de mercado estava cheio de mantimentos, que é mapeado com o SR interno ‘barrote’ do verbo ‘abarrotar’. A seguir, demonstramos que o significado do subesquema admite um elemento [+ físico] na posição do SR interno. (56) [a [barrote]Nj ar]Vi [por [+ físico]Ni em excesso]Vi O verbo ‘apimentar’ também apresenta extensões de sentido, além do significado central de ‘colocar pimenta em comida’. 21 http://gerufm.com.br/portal/modules/news/article.php?storyid=106. Acessado em 03.10.11. http://www.matogrossonoticias.com.br/.Acessado em 03.10.11. 23 Pode ser que o significado do verbo ‘abarrotar’ (‘por em barrotes’) não seja tão facilmente depreendido por todos os falantes, já que, sincronicamente, é entendida como ‘superlotar’. 22 110 (57) Bobó de camarão vai bem com arroz branco, do tipo agulhinha. Quem gosta também pode ‘apimentar’ o prato com um molho de pimenta malagueta ou outra preferida. 24 (58) A banda Red Hot Chili Peppers ‘apimentou’ a noite paulistana nessa quarta-feira, com a turnê I’m With You. 25 (59) Sexting - conversinhas quentes para ‘apimentar’ a relação. 26 (60) Valdivia ‘apimenta’ polêmica: Respeito o adversário até começar a partida, depois não. 27 Em (57), percebe-se o sentido básico de condimentar um prato, tomado aqui como metonímia de comida. A compreensão de que apimentar uma comida é dar mais sabor a ela permite um mapeamento com outros elementos não comestíveis, como a noite paulistana (exemplo (58)). Neste, bem como em (59), entende-se ‘apimentar’ por melhorar alguma coisa, tornar mais picante. Já em (60), vemos que ‘apimentar’ sugere uma ideia de estímulo com intenções provocativas ou maliciosas, que estão relacionadas à fala do jogador de futebol Valdívia sobre a polêmica do seu estilo debochado de atuar em campo. Havíamos previsto que o esquema de circunfixação poderia instanciar verbos com sentido de atributo ou de espaço, sendo esses sentidos relacionados hierarquicamente à noção de resultatividade. A polissemia, logo, se instaura pela possibilidade de verificarmos em um esquema morfossintático vários sentidos que emergem a partir das bases experienciais e culturais. 24 http://acarajecompamonha.blogspot.com/2011_01_01_archive.html. Acessado em 05.10.11. http://www.rockbrigade.com.br/. Acessado em 05.10.11. 26 http://vilamulher.terra.com.br/. Acessado em 05.10.11. 27 http://esportes.br.msn.com/futebol/.Acessado em 05.10.11. 25 111 Como confirmação de que os dois sentidos estão relacionados, podemos observar um grupo de verbos que guarda semelhanças tanto com a resultatividade de atributo, quanto com a de local. (61) Acabar, afundar, arrasar, aprofundar Nos verbos de (61), percebemos que há uma relação com o sentido de aproximação, embora não seja mais a aproximação conceptual de características ou traços do SR interno. É uma aproximação física, na qual o hospedeiro se torna mais próximo fisicamente do SR interno – justificada pelo conteúdo de resultatividade espacial. Em outras palavras, perde-se o traço de atributo, mas se ganha a noção de local, mantendo o valor de aproximação. Em ‘acabar’, tornar-se mais próximo do cabo (fim) implica mudança de posição. Da mesma forma, compreende-se ‘afundar’ como uma aproximação e um deslocamento de uma posição X para uma posição mais ao fundo. (62) Um torpedo disparado de um submarino da Coreia do Norte ‘afundou’ uma corveta sul-coreana no dia 26 de março, no Mar Amarelo, matando 46 marinheiros. 28 Em (62), compreende-se o mar como um recipiente através de relações de identidade e analogia (FAUCONNIER & TURNER, 2002), o que permite a visualização do esquema imagético de conteúdo: a corveta é um objeto que é inserido no mar, 28 http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,coreia-do-norte-afundou-navio-sul-coreano-dizpericia,554047,0.htm. Acessado em 29.09.11. 112 conceptualizado como um recipiente. Assim, a embarcação da Coreia do Sul torna-se próxima do fundo do mar por conta do torpedo do país vizinho. Há uma aproximação e um deslocamento espacial evocado no verbo ‘afundar’, demonstrando que os esquemas morfológicos comportam relações polissêmicas. 5.2.2. O subesquema [en [x]Nj ar]Vi Apontamos, na subseção anterior, que o subesquema [a [x] Nj ar]Vi apresenta como protótipo o sentido de resultatividade atributiva, que figura em uma relação polissêmica com o sentido de resultatividade espacial. Paralelamente, na análise dos dados de [en [x]Nj ar]Vi, identificamos uma distribuição similar, sendo que há uma maior correlação com o sentido de resultatividade espacial. Defendemos, assim, que a diferença que existe entre esses dois subesquemas é a de prototipicidade dos conteúdos evocados, pois enquanto em [a[x]Nj ar]Vi prevalece o significado de atributo, em [en [x]Nj ar]Vi o significado de espaço é mais recorrente. Nota-se, no circunfixo [en [x]Nj ar]Vi, uma influência do significado da preposição ‘em’, herdada do latim ‘in’, que significa “dentro de”. Nas palavras de Martins (1991: 68), esse sentido seleciona “os traços de dimensionalidade que permitem trazer para o significado da formação a oposição continente/ contido”. Essa noção, de fato, está presente no escaneamento cognitivo exposto na figura 4, na qual o objeto trapezoidal representa um recipiente, que remete à oposição dentro/ fora. O significado de espacialidade é ativado por cerca de 62% dos verbos instanciados pela construção, como nos exemplos abaixo: 113 (63) Embotijar, empacotar, encarcerar, encenar, engavetar (64) Embalsamar, emplacar, engraxar, engravatar, envenenar Embora tanto as palavras de (63), quanto as de (64) façam referência à noção de resultatividade espacial, há diferentes focalizações no escaneamento cognitivo. Podemos ajustar o foco no recipiente, como nos exemplos de (63), ou perspectivizar o elemento colocado, como nos exemplos de (64). A paráfrase <[colocar em [x]Nj]Vi> traduz satisfatoriamente verbos como ‘embotijar’, ‘encarcerar’ e ‘engavetar’: ‘colocar em botija’, ‘colocar em cárcere’, ‘colocar em gaveta’, respectivamente. Entretanto outros sentidos podem ser ativados por essas unidades lexicais em função de operações metafóricas e metonímicas. ‘Engavetar’ pode significar ‘arquivar’, devido à relação metonímica do uso de gavetas como arquivos, como em (65), e ‘empacotar’ pode ser entendido como falecer pela ligação entre caixão e pacote (exemplo (66)). (65) Rumores indicam que Sony ‘engavetou’ projeto de Playstation 4. 29 (66) Michael Jackson ‘empacotou’ mas sua obra vive. 30 A base do verbo ‘encenar’ – ‘cena’ – não possui as características necessárias para ser caracterizada como um recipiente. Todavia, por mesclagem conceptual, projetam-se para o domínio da ‘cena’ os elementos do palco teatral, cujos traços limítrofes de interioridade/ exterioridade são ativados no subesquema. Assim, o 29 http://gostodetecnologia.com.br/noticias/playstation/playstation_0001.htm.Acessado em 06.10.11. http://www.detestogenteinteligente.com.br/2009/06/michael-jackson-empacotou-mas-sua-obravive.html. Acessado em 06.10.11. 30 114 exemplo de (67), a seguir, nos permite compreender que o corpo teatral (atores, objetos cenográficos etc) não será posto em cena enquanto um dos atores, que passa por tratamento contra uma doença, não puder atuar. (67) Elias Andreato, diretor da peça Cruel, que estava em cartaz com Reynaldo Gianecchini antes de o astro iniciar o tratamento contra um câncer no sistema linfático, não vai ‘encenar’ a peça sem o ator. 31 (68) Wagner Moura vem ao Recife para ‘encenar’ Hamlet no Teatro da UFPE.32 (69) ENQUETE! Rogério Ceni está certo em dizer que Neymar ‘encena’ nas faltas? 33 Na frase de (68), o ato de representar é perspectivizado do centro prototípico ‘colocar em cena’. Já em (69) nota-se uma extensão do sentido do verbo ‘encenar’, que por associação metafórica deixa de ser compreendido como atuação teatral e passa a ser visto como simulação. Nesse caso, é perfilada uma das características da atuação, o fingimento, possibilitando a polissemia do item ‘encenar’. (70) ωi 9 σ σ σ 4 4 4 /eN /se na/Nj R/Vi [en [cena]Nj ar]Vi [colocar em [cena]Ni]Vi 3 representar simular 31 http://entretenimento.r7.com. Acessado em 07.10.11. http://pe360graus.globo.com. Acessado em 07.10.11. 33 http://www.lancenet.com.br/minuto/Rogerio-Ceni-faltas-Neymarsimulacao_0_553744709html#ixzz1a6WYICSx. Acessado em 07.10.11. 32 115 No diagrama em (70), são demonstradas as extensões polissêmicas do verbo ‘encenar’, além das representações fonológicas e morfológicas, nas quais um índice relaciona os elementos nas interfaces semântica, fonológica e morfológica. A base é sempre indexicada pelo símbolo subscrito ‘Nj’, que representa a categoria nominal (substantivos e adjetivos), e o produto por um ‘Vi’, que representa a classe dos verbos. A palavra é representada por um ω e cada uma das três sílabas pelo σ. Retomando os exemplos de (64), cujo escaneamento cognitivo foi representado na figura 4, percebemos que o foco se mantém no elemento colocado, i.e., o SR interno é inserido no recipiente, que funciona como pano de fundo para a conceptualização da cena. O sentido de ‘embalsamar’ é, então, ‘colocar bálsamo em’; ‘engraxar’ é ‘por graxa em (sapato)’; e ‘engravatar’ é ‘por gravata em (alguém)’. O subesquema [en [x]Nj ar]Vi pode evocar também os conceitos de resultatividade atributiva, como em: (71) Embebedar, embelezar, embonecar, encrespar, enfear Os verbos de (71) podem ser parafraseados por ‘tonar-se bêbedo’, ‘tornar-se crespo’ e ‘tonar-se feio’, por exemplo. Em ‘embonecar’, mapeiam-se os traços da boneca nos traços de uma pessoa por relações vitais de similaridade e unicidade (FAUCONNIER & TURNER, 2002), o que nos permite produzir e compreender uma frase como a de (72), a seguir. Contamos, também, com nosso conhecimento enciclopédico, que seleciona os tipos de bonecas mais representativos da categoria beleza, em vez de qualquer tipo de boneca. 116 (72) Entendida de moda, a tia se ‘embonecou’ com brincos de praia, rasgou uma luvinha com as garras e se embrulhou para presente com uma fitinha amarela! 34 O próprio verbo ‘empacar’, discutido nos exemplos de (21) a (24), se insere no grupo das palavras geradas com o sentido prototípico de resultatividade de atributo, visto que são selecionadas características do animal ‘paca’, que ocupa a posição do SR interno, e mapeadas num outro elemento, que funciona como hospedeiro da mudança. Verificamos, pois, que o subesquema [en [x]Nj ar]Vi é polissêmico, já que ativa sentidos relacionados a um centro comum, a noção de resultatividade. Há um espraiamento desta para os significados de atributo e espaço, que se subdivide em recipiente ou objeto colocado, como vemos na representação abaixo. (73) [en [x]Nj ar]Vi [resultativo de [x]Ni ]Vi 3 atributo espaço 3 recipiente elemento colocado Essa hierarquia na interface semântica do subesquema indica os vários sentidos que podem ter expressão no uso das palavras instanciadas por [en [x]Nj ar]Vi , mas não se refere às relações de prototipia entre os vários sentidos elencados dentro da construção. Em outras palavras, o diagrama indica as relações polissêmicas que podem ocorrer em qualquer construção lexical ou sintática, tendo sempre como base o uso 34 http://wp.clicrbs.com.br/holofote/tag/fafa-de-belem/. Acessado em 07.10.11. 117 discursivo dos elementos instanciados. Não captura, entretanto, as relações de categorização que são estabelecidas entre os sentidos. 5.2.3. O subesquema [a [x]Nj ecer]Vi Esse subesquema instancia apenas 11 palavras na língua portuguesa, configurando um baixo grau de produtividade se comparado com os demais subesquemas. Conforme defendemos no próximo capítulo, há indícios de que mudanças ocorreram no percurso histórico da língua, fazendo com que alguns circunfixos fossem mais produtivos do que outros. Interessa-nos, nesta subseção, observar o conceito evocado pelo subesquema e as percepções do falante com relação à transparência dos itens. Todos os verbos instanciados compartilham o aspecto incoativo, i.e., o sentido de início de ação, mesmo que em algumas palavras essa noção esteja mais obscurecida. Seguem os exemplos: (74) Abastecer, aborrecer, adoecer, adormecer, agradecer, amanhecer, amadurecer, amolecer, amortecer, anoitecer, apodrecer Todos os verbos elencados em (78) apresentam, em maior ou menor grau, uma relação semântica de [tornar-se [x]Nj]Vi. Assim, ‘agradecer’ pode ativar o sentido de ‘tornar-se grato’; ‘amanhecer’, ‘tornar manhã’; e ‘apodrecer’, ‘tornar-se podre’. No entanto, verbos como ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ dificultam essa leitura, porque são palavras herdadas do latim que não sofreram modificações 118 morfofonológicas. Essas mudanças analógicas permitem que palavras de origem estrangeira fiquem mais semelhantes a palavras do léxico do português35. A palavra ‘amanhecer’, por exemplo, se origina de ‘admanescere’; porém, ao ser introduzida na língua portuguesa, passou por mudanças morfofonológicas motivadas pela analogia com a palavra ‘manhã’. Aplica-se a mesma explicação para ‘anoitecer’, que vem de ‘adnoctescere’: estabelecida a relação analógica com uma provável base do português, ‘noite’, a palavra sofre mudanças. Com ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ não houve mudanças, o que as tornou opacas. Nesse caso, os limites entre a base e o circunfixo são menos perceptíveis aos falantes do português do que os de palavras como ‘amolecer’ e ‘amadurecer’, que são transparentes. Pode-se, todavia, organizar ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ em torno do sentido aspectual incoativo, que nos permite inferir ‘o início da chateação’, ‘o início da doença’ e ‘o início do sono’. Trabalhamos com significados associativos – já que nem ‘chateação’, ‘doença’, ou ‘sono’ eram as bases das formações latinas –, mas que estão diretamente ligados ao significado da construção. Muito embora as palavras ‘amortecer’ e ‘abastecer’ sejam relativamente transparentes para o falante, pois podemos recuperar as bases ‘morte’ e ‘basto’, o uso semântico as distanciou da paráfrase [tornar-se [x]Nj]Vi. ‘Amortecer’ não é simplesmente ‘tornar morto’, mas uma extensão metafórica em que concebemos a redução da intensidade pela redução da vida. Similarmente ocorre com ‘abastecer’, 35 Demonstramos, no próximo capítulo, que fatores de frequência de uso e frequência de tipo estão envolvidos na manutenção ou reorganização de um paradigma lexical. 119 que não significa apenas ‘tornar basto’36, mas, segundo o Houaiss (2009), “guarnecer(se) do necessário” e “ser fonte de determinado(s) recurso(s)”: (75) ‘Abasteça’ seu carro num posto Ipiranga. (76) Vazamento de óleo contamina rio que ‘abastece’ cidade no Paraná. 37 Nas frases acima, a base ‘basto’ está conectada a outros elementos que não estão expressos na superfície textual, mas que podem ser inferidos pelo contexto discursivo. Em (79), as palavras ‘carro’ e ‘posto Ipiranga’ remetem ao combustível e, em (80), a palavra ‘rio’ remete à água. Da mesma maneira que foi percebido para os exemplos de ‘abarrotar’, de (52) a (55), perpassa à construção [a [basto]Nj ecer]Vi uma integração conceptual que mapeia a base com outros elementos, que compartilham com ‘basto’ traços de similaridade, permitindo uma nova leitura a partir da compressão dos elementos de domínios diferentes. Na sentença de (80), podemos propor dois domínios cujos elementos são mapeados por relações vitais, como as de propriedade, similaridade ou unicidade, por exemplo. Um dos domínios se refere à compreensão da construção [a [basto] Nj ecer]Vi como “tornar basto”. O outro, que é alimentado pelo contexto de uso, tem o sistema de abastecimento de água de uma cidade. São conectados, então, a base ‘basto’ e o elemento ‘água’, que por unicidade são comprimidos em outro domínio que se desenvolve de acordo com nossas bases de conhecimento. Em outras palavras, o espaço-mescla, esse terceiro domínio, comporta informações que não existiam nem 36 Os significados primários de ‘abastecer’ e ‘amortecer’ eram, respectivamente, ‘tornar basto’ e ‘ficar parecido com um morto’. 37 http://g1.globo.com/jornal-nacional. Acessado em 09.10.11. 120 no domínio da construção morfológica, nem no domínio do abastecimento de água. É a partir de todo esse aparato cognitivo que compreendemos uma frase como a de (80). Ainda que haja todos esses desdobramentos semântico-pragmáticos e um desbotamento do significado primário [tornar-se [x]Nj]Vi, podemos postular para ‘abastecer’ e ‘amortecer’ a construção [a [x]Nj ecer]Vi, visto que as bases são, minimamente, recuperáveis. Isto quer dizer que esses verbos, ao lado de outros mais transparentes, como ‘amanhecer’, ‘amolecer’ e ‘anoitecer’, são diretamente instanciados pelo subesquema [a [x]Nj ecer]Vi. Não podemos predizer a mesma situação para palavras mais opacas, como ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’, visto que, no atual estágio da língua, suas bases não são recuperadas pelos falantes do português brasileiro. Booij (2010: 30) atesta que, em casos de formações opacas, há uma base formal (representada por um x) que não é portadora de um índice categorial, consequência de não ter uma entrada lexical independente. Diferentemente de ‘amanhecer’ ou ‘anoitecer’, por exemplo, cujas bases podem aparecer livremente, em ‘aborrecer’ a base formal não tem livre-curso. Com isso, devemos acrescentar à construção [a [x]Nj ecer]Vi, o subesquema em (81): (77) [a – x – ecer]Vi [associação incoativa com Y]Vi É previsto na construção em (81) que o significado tenha alguma relação com o aspecto incoativo que é compatibilizado pelo circunfixo. No mais, o significado será associado com Y, uma variável semântica que representa o caráter da aproximação conceptual. Em ‘aborrecer’, essa variável pode ser substituída por chateação, como em (82). 121 (78) [aborrecer]Vi [associação incoativa com CHATEAÇÃO]Vi Nos verbos ‘adoecer’ e ‘adormecer’, a variável Y assume as ideias de doença e sono/dormir, respectivamente38. Conforme ressalta Booij (2010), ao contrário das regras, as formações opacas são demonstrações de que os esquemas possibilitam uma orientação no produto. Regras são baseadas na categoria gramatical e nas especificações sintáticas, fonológicas e semânticas da base. Em formações menos transparentes, cujos elementos internos não são facilmente recuperáveis pelos falantes, não há propriamente uma base, o que impede a postulação de uma regra. Ao contrário, na Linguística Cognitiva, há uma análise voltada para a percepção do produto construcional. Esse subesquema, por ser mais específico, deve ser diagramado como uma extensão do subesquema geral do circunfixo [a [x]Nj ecer]Vi, que instancia unidades transparentes, como ‘amolecer’, ‘apodrecer’ e ‘amadurecer’. Em (83), verificamos que [a – x – ecer]Vi está vinculado ao subesquema mais genérico [a [x]Nj ecer]Vi por um link de instanciação (LI), uma vez que aquele é um padrão mais específico deste, herdando parte das suas informações fonológicas, morfológicas e semânticas. 38 Dados como ‘adoecer’ e ‘adormecer’ poderiam ter outra análise, na qual derivariam das bases verbais ‘doer’ e ‘dormir’, respectivamente. Entretanto, seria necessário indicar a possibilidade de instanciar verbos parassintéticos a partir de outros verbos, e não apenas a partir de nomes (substantivos e adjetivos). 122 (79) [a [x]Nj ecer]Vi [tornar-se [x]Ni ]Vi LI [a – x – ecer]Vi [associação incoativa com Y]Vi A princípio, apenas o circunfixo [en [x]Nj ecer]Vi não apresenta um subesquema para palavras opacas, já que todas as bases podem ser facilmente recuperadas pelos falantes, como veremos na próxima subseção. Os demais circunfixos, ao contrário, apresentam um subesquema estendido que acomoda os dados não segmentáveis, pois, em geral, estes entraram no léxico do português por empréstimo, ou diretamente do latim. A seguir, exemplificamos em um quadro alguns dados de cada circunfixo que podem ser analisados por esse tipo de subesquema. Subesquemas a – x – ar Exemplos ‘apertar’, que vem da palavra latina appectorāre ‘abarcar’, que vem da palavra latina abbrachicāre (a base é brachĭum, ‘braço’) en – x – ar ‘empatar’, que vem da palavra italiana impattare (patta é plural de pactum, ‘acordo’) ‘emperrar’, que vem da palavra espanhola emperrarse (a base é perro, ‘cachorro’) ‘empenar’, que vem da palavra latina pīnus a – x – ecer ‘aborrecer’, que vem da palavra latina abhorrēscere ‘adoecer’, que vem da palavra latina addollescēre 123 ‘adormecer’, que vem da palavra latina addŏrmīscĕre Quadro 1: subesquemas de palavras opacas 5.2.4. O subesquema [en [x]Nj ecer]Vi Conforme abordamos, esse subesquema é caracterizado por apresentar unidades lexicais maximamente transparentes e ativar o aspecto incoativo através do circunfixo ‘en...ecer’. Não se observa o valor de resultatividade espacial nas suas instanciações, mas apenas o de resultatividade atributiva, tornando-o menos polissêmico que os circunfixos ‘a...ar’ e ‘en...ar’. Alguns exemplos de verbos instanciados pelo subesquema [en [x]Nj ecer]Vi são apresentados em (84). (80) emagrecer, embranquecer, emburrecer, empobrecer, emputecer, emudecer, encarecer, endurecer, enlouquecer, enriquecer, enrouquecer, entardecer, entristecer, envelhecer O significado [tornar-se [x]Nj]Vi se aplica a todos os verbos instanciados por esse subesquema, já que ‘emagrecer’ é ‘tornar-se magro’; ‘empobrecer’, ‘tornar-se pobre’; e ‘enlouquecer’, ‘tornar-se louco’. O exemplo ‘emburrecer’ demonstra o perfilamento de apenas um dos sentidos da base ‘burro’, que é o de falta de inteligência, tolo (HOUAISS, 2009). O verbo, então, significa ‘tornar-se tolo, estúpido’. Não se deve tomar o exemplo de ‘empacar’, citado anteriormente, por essa explicação, já que este envolve um diferente tipo de perfilamento. Em ‘empacar’, a base ‘paca’ não significa lentidão, uma vez que essa 124 informação advém do nosso conhecimento enciclopédico. O perfilamento da característica de morosidade do animal se dá apenas no subesquema [en [paca]Nj ar]Vi, enquanto a palavra ‘burro’ já ativa o sentido de não inteligente, independentemente do subesquema [en [burro]Nj ecer]Vi. No caso de ‘empacar’, o processo metafórico opera na construção, enquanto no caso de ‘emburrecer’ a extensão de sentido operou apenas sobre a palavra ‘burro’. Notamos, também, que o significado evocado pelo subesquema [en [x] Nj ecer]Vi é o mesmo de [a [x]Nj ecer]Vi, o que remonta ao Princípio da Não Sinonímia (Goldberg, 1995), que sinaliza a distinção semântica ou pragmática entre duas construções, no caso de serem formalmente distintas. Como esses dois subesquemas selecionam diferentes circunfixos, i.e., são formalmente diferentes, esperava-se que evocassem diferentes noções semânticas ou pragmáticas. Todavia, ambas ativam a resultatividade atributiva e o valor aspectual de incoativo, ao contrário do par [a [x] Nj ar]Vi e [e [x]Nj ar]Vi que apresenta os significados de resultatividade atributiva e espacial, em distribuição prototípica de acordo com a construção: [a [x]Nj ar]Vi seleciona majoritariamente o conteúdo de atributo e [en [x]Nj ar]Vi,, o de espaço. Entre [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi, porém, observamos que o primeiro tem baixo índice de produtividade, satisfazendo, em parte, o Princípio da Não Sinonímia. No próximo capítulo, ao investigarmos a produtividade de cada circunfixo, veremos que [a [x]Nj ecer]Vi tem força lexical baixa e a probabilidade de que venha a instanciar novos itens é quase nula. Com isso, apenas o circunfixo [en [x]Nj ecer]Vi, caracterizado pela resultatividade atributiva e pelo aspecto incoativo, permanece capaz de produzir novas palavras em português. 125 5.3. Rede de subesquemas Na seção anterior, discutimos as ligações estabelecidas entre as construções lexicais e as palavras instanciadas, analisando os dados por meio de subesquemas, que são responsáveis pela interface entre fonologia, morfologia e semântica. Cabe, nesta seção, salientar as características menos específicas das construções a fim de obtermos um esquema geral que acomode todos os dados. No esquema geral, exposto abaixo em (85), os circunfixos são substituídos pelas variáveis Circ que ficam em torno da variável x, que pode ter entrada lexical ou não. No caso de ter, será coindexado e terá a categoria N (nome), que pode se realizar como um adjetivo (A) ou um substantivo (S). O produto é sempre marcado pela categoria V, de verbo. (85) ωi | σ | / [Circ – x(Nj) - Circ]Vi 3 x=A x=S / [Resultatividade em relação a x(Nj)]Vi 3 atributo espaço 3 recipiente elemento colocado No polo fonológico, é feita a representação arbórea da palavra (ω), através do índice subscrito i, do número de sílabas (σ) e da representação fonológica. Já no polo semântico, expressa-se o conceito mais genérico do esquema de circunfixação, o de resultatividade, que, de modo polissêmico, pode ser entendido como uma referência ao atributo ou ao espaço. 126 Diante disso, é possível postular uma rede esquemática que teria esse esquema genérico de (85) como centro prototípico, do qual se espraiariam os demais subesquemas, com suas particularidades formais e semânticas. Essa rede permite que os subesquemas não sejam estruturas isoladas, mas estejam interconectados, favorecendo, inclusive, a mudança construcional. Por exemplo, quando uma palavra como ‘amarelecer’ deixa de ser identificada com o subesquema [a [x] Nj ecer]Vi e passa a ser observada como uma instanciação de [a [x]Nj ar]Vi, há uma mudança de construção que não pode ser explicada, a menos que se visualize uma rede de conexões entre os subesquemas. Assim, a mudança de ‘amarelecer’ para ‘amarelar’ se efetiva tanto pelo fato de as construções estarem conectadas, quanto pela analogia com outras palavras do paradigma de [a [x]Nj ar]Vi, como veremos no próximo capítulo. Podemos providenciar outro exemplo: o verbo ‘abranquecer’ passou a ‘embranquecer’, sendo, então, instanciado pelo subesquema [en [x] Nj ecer]Vi. Essa mudança só pode ser explicada se esses subesquemas estiverem conectados de alguma maneira. Do mesmo modo, temos casos em que dois subesquemas selecionam sentidos distintos de uma mesma base fonológica, como ‘afiar’ e ‘enfiar’, ou ‘aterrar’ e ‘enterrar’. Esses subesquemas devem, necessariamente, estar relacionados por links de subparte ao esquema mais genérico [Circ – x(Nj) - Circ]Vi. 127 ωi | σ | / [Circ – x(Nj) - Circ]Vi 3 x=A x=S [Resultatividade em relação a x(Nj)]Vi 3 atributo espaço 3 recipiente elemento colocado / LS [a [x]Nj ar]Vi LI [a – x – ar]Vi LS [en [x]Nj ar]Vi LS LS [a [x]Nj ecer]Vi LI LI [en – x – ar]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a – x – ecer]Vi Figura 5: rede de esquemas de circunfixação 5.4. Resumindo Neste capítulo, verificamos como ocorre o processamento cognitivo de verbos de circunfixação e enfatizamos que o escaneamento dinâmico é responsável pela conceptualização de verbos em português. Discutimos o tratamento que a literatura tem despendido ao processo de resultatividade, apontado por Leite (2006) como uma marca da parassíntese. Com base nos estudos de Goldberg & Jackendoff (2004), estabelecemos que os significados processuais envolvendo um atributo podem dar origem aos que envolvem mudança de lugar, promovendo, assim, uma relação polissêmica na construção gramatical. Esperamos ter demonstrado como se organizam os subesquemas de circunfixação e como a aplicação dos verbos parassintéticos no discurso possibilita 128 ganhos semântico e pragmático, já que são alimentados por nossas bases de conhecimento e por operações cognitivas, como metáfora, metonímia e ajustes focais. Além disso, a rede esquemática favorece uma investigação que perceba as construções como estruturas de processamento online que podem compartilhar informações. Essa perspectiva será crucial para verificarmos, no próximo capítulo, a influência das frequências de tipo e de ocorrência na compreensão dos subesquemas parassintéticos. 129 6 ANÁLISE DA PRODUTIVIDADE DOS CIRCUNFIXOS A ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado. Gunnar Myrdal Sabemos que um determinado processo morfológico considerado produtivo em um estágio da língua pode sofrer mudanças e ser caracterizado improdutivo, ou menos produtivo, em um período de tempo posterior (BAUER, 2001). O inverso também pode acontecer: processos mais marginais tomando a dianteira e se tornando produtivos em outro período. Essa mudança na construção lexical pode ser motivada pela competição com outra construção que tenha propriedades bastante similares e maior difusão no léxico. Nesse caso, o uso pode ser uma das causas da mudança construcional, dilatando ou restringido o poder de instanciação de unidades. Cabe ao linguista tentar descrever e analisar os dados através de ferramentas que deem um tratamento adequado ao poder de criatividade do falante, à probabilidade de ampliação lexical e ao princípio da economia da linguagem. Neste capítulo, estamos interessados em investigar a probabilidade de os subesquemas [a [x]Nj ar]Vi, [en [x]Nj ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi criarem novos itens. Em especial, observaremos o que os índices de frequência de tipo e de frequência de uso indicam sobre a produtividade e o grau de entrincheiramento das construções. Para tanto, utilizamos uma ampla amostragem de textos escritos em português para colher as frequências de uso, cobrindo três períodos da história do 130 português, nas delimitações propostas por Galves et alii (2006): Português Arcaico, Português Clássico e Português Contemporâneo. Foi necessário consultar também dicionários etimológicos a fim de tornar claras a origem e a data de entrada das palavras, conforme destacado ao longo do capítulo 3. É importante notar que grande parte dos dados é instanciada a partir de construções parassintéticas do português, sendo, assim, unidades do léxico da língua portuguesa. Contudo, uma pequena parcela provém de empréstimos de outras línguas românicas, como o espanhol (‘emperrar’ e ‘enaltecer’) e o italiano (‘empatar’), ou tem origem latina (que é a maioria neste grupo, como ‘acenar’, ‘embargar’ e ‘emagrecer’). O caso de [a [x]Nj ecer]Vi é exemplar dessa origem externa, posto que muitos dos verbos passam ao português via latim, como ‘aborrecer’, de ‘abhorrescere’, ‘adoecer’, de ‘addolescere’, e ‘adormecer’, de ‘addormiscere’. Como vimos no capítulo anterior, os únicos casos de formação desse subesquema no português seriam ‘abastecer’ e ‘amortecer’. Outra peculiaridade que deve ser somada a isso é o fato de encontrarmos, nos dicionários consultados, verbos formados por construções diferentes, mas que apresentam a mesma base (em alguns casos, a base é a mesma apenas em termos formais, como veremos mais à frente): (1) ‘abranquecer’ e ‘embranquecer’ de ‘branco’ ‘emordaçar’ e ‘amordaçar’ de ‘mordaça’ ‘abalsar’ e ‘embalsar’ de ‘balsa’ ‘empossar’ e ‘apossar’ de ‘posse’ 131 Temos de investigar se todos esses verbos veiculam o mesmo sentido e se suas frequências apresentam alguma divergência. Assim, diante do quadro que foi esboçado, pretendemos responder algumas hipóteses que nortearam a análise dos dados: a. quais construções de circunfixação são produtivas no português contemporâneo? Como ocorre a distribuição em uma escala de produtividade? b. Todas as construções sempre foram produtivas? Qual foi o percentual de instanciação no percurso da língua? c. Quão importante é a noção de entrincheiramento para a força lexical de um esquema? Como ocorre o armazenamento de itens no léxico? d. Os resultados da frequência de ocorrência podem indicar o entrincheiramento das construções? E quanto ao entrincheiramento de palavras? e. Palavras que entraram no léxico do português como empréstimo sugerem menor força lexical ou apontam para uma reanálise? 6.1. Análise dos resultados de frequência 6.1.1. Resultados da frequência de tipo Iniciamos a análise por um dos fatores que mais determina a produtividade de um esquema: a frequência de tipo. Com base no corpus coletado no dicionário Houaiss, apresentamos, no gráfico 1, os valores percentuais de como cada construção se distribuiu em relação aos verbos parassintéticos, ou seja, quantos tipos existem para cada construção, como [a [x]Nj ar]Vi e [a [x]Nj ecer]Vi, por exemplo. Percebemos 132 que, de um total de 726 verbos, há maior quantidade de dados instanciados por [a[x]Njar]Vi, com 57% das formações. Em seguida, aparecem as construções [en[x]Njar]Vi, com 35% dos dados, e [en [x]Nj ecer]Vi, com 6%. A construção [a[x]Nj ecer]Vi responde pela menor parcela de dados: 2% (apenas 11 palavras). O gráfico abaixo sintetiza essas informações. 2% 6% [a[x]ecer] 35% [en[x]ecer] [a[x]ar] [en[x]ar] 57% Gráfico 1: distribuição dos dados no corpus coletado no dicionário Houaiss Uma vez que as construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi apresentam uma alta frequência de tipo, podemos inferir, com base no que é proposto no modelo cognitivo de uso (CROFT & CRUSE, 2004; BYBEE, 2010), que estas são mais produtivas que os circunfixos terminados por ‘-ecer’. A construção [a [x]Nj ecer]Vi, por sua vez, representaria um caso de produtividade nula ou extremamente baixa, pois tem poucos itens lexicais instanciados. No entanto, embora esses dados nos indiquem qual a proporção que cada construção teve na formação de verbos parassintéticos, não nos revelam por que caminhos de produtividade seguiram durante o curso da língua. Em outras palavras, 133 sabemos quais construções são consideradas mais produtivas nos dias atuais, mas esses resultados não apontam até que período cada construção foi rentável e a partir de quando seus índices de produtividade começaram a cair. Diante disso, as palavras do corpus foram separadas de acordo com a data de primeira entrada fornecida pelo dicionário Houaiss, para que pudéssemos calcular os valores percentuais de cada circunfixo através da fórmula abaixo, exibida anteriormente na subseção 4.1. Vale relembrar que P é o índice de produtividade de um processo lexical, levando em conta a quantidade de tipos instanciados pelo processo em um determinado tempo (n1) e o total de palavras que surgiram no mesmo período (N). P = n1 x 100 N Os resultados de cada circunfixo, distribuídos entre os séculos XII e XX, são apresentados na tabela 1. [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi XII 0 0 0,881057 0,220264 XIII 0,127877 0,170503 0,660699 0,29838 XIV 0,073314 0,293255 0,83089 0,537634 XV 0 0,011067 0,658288 0,5386 XVI 0,022134 0,011067 0,564409 0,498008 XVII 0 0,26699 0,41383 0,20024 XVIII 0 0,035655 0,499168 0,130734 XIX 0 0,013317 0,181111 0,101209 XX 0 0,008065 0,096786 0,112917 Tabela 1: distribuição cronológica dos dados encontrados no Houaiss 134 Os primeiros vocábulos registrados pelo dicionário (‘acamar’, ‘acertar’ e ‘enforcar’) são instanciados por [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi no século XII, ao passo que não há ainda palavras de [a [x]Nj ecer]Vi ou [en [x]Nj ecer]Vi. Os índices de produção dos verbos terminados em ‘-ar’ – principalmente os do subesquema [a [x]Nj ar]Vi – são sempre muito altos se comparados com os subesquemas terminados por ‘-ecer’. A construção [a [x]Nj ecer]Vi, por exemplo, só produziu unidades lexicais em três séculos (XIII, XIV e XVI), enquanto [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi retornaram valores de frequência durante todo o período pesquisado. No que tange ao subesquema [en [x]Nj ecer]Vi, percebemos que apresenta índices consideravelmente mais baixos que os das construções [a[x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, ainda que não se aproxime da nulidade representada por [a[x]Nj ecer]Vi. Essas considerações reforçam nossas hipóteses e parecem confirmar a distribuição apresentada no gráfico 1. Haveria, portanto, uma produtividade escalar, em que cada circunfixo se diferenciaria dos demais pelos seus respectivos índices de frequência de tipo numa sequência temporal determinada. O gráfico comparativo, ilustrado abaixo, evidencia nossa hipótese de que os dois circunfixos terminados por ‘-ar’ seriam mais produtivos que aqueles terminados por ‘-ecer’, sendo que [a[x]Njecer]Vi apresentaria produtividade nula desde o século XVII. 135 1 0,9 0,8 0,7 [a[x]ecer] 0,6 0,5 [en[x]ecer] 0,4 [a[x]ar] 0,3 [en[x]ar] 0,2 0,1 0 XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX Gráfico 2: comparação diacrônica entre os circunfixos O gráfico 2, elaborado com os valores apresentados na tabela 1, aponta para a maior produtividade de [a[x]Nj ar]Vi e [en[x]Nj ar]Vi, principalmente entre os séculos XII e XVIII. Vejamos, na próxima subseção, os resultados da frequência de uso. 6.1.2. Resultados da frequência de uso Como um dos fatores que influenciam a produtividade de um esquema é a frequência de uso, já que determina o grau de entrincheiramento da construção, computamos os valores da frequência de cada palavra parassintética em textos escritos entre os séculos XIV e XX1. Utilizamos a fórmula exibida no capítulo 4, com a qual é calculado o número de ocorrências de uma palavra (n 2) pelo número total de ocorrências no corpus (N) (valor que foi apresentado na Tabela 3). P = n2 x 100 N’ 1 Como já abordamos, não foram encontrados dados significativos no período anterior ao século XIV. 136 Abaixo, descrevemos os resultados das cinco palavras mais frequentes de cada subesquema, iniciando pelo século XIV2. Na primeira coluna da tabela 2, especificamos os subesquemas; na segunda, distribuímos as palavras; na terceira, estão dispostos os valores absolutos de frequência de cada verbo em relação ao total de palavras do corpus; na quarta coluna, por fim, são apresentados os valores percentuais de frequência dos verbos pesquisados. Construção [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Século XIV Verbos Quantidade Agradecer 43/504183 Adoecer 34/504183 Abastecer 6/504183 Adormecer 3/504183 Aborrecer 3/504183 Enriquecer 3/504183 Ensoberbecer 1/504183 Enfraquecer 1/504183 Acabar 133/504183 Apoderar 44/504183 Aguardar 41/504183 Apartar 26/504183 Aportar 21/504183 Enterrar 22/504183 Encaminhar 5/504183 Enforcar 4/504183 Embarcar 2/504183 Emprazar 2/504183 Porcentagem 0,008529 0,006744 0,00119 0,000595 0,000595 0,000595 0,000198 0,000198 0,026379 0,008727 0,008132 0,005157 0,004165 0,004363 0,000992 0,000793 0,000397 0,000397 Tabela 2: frequência de ocorrência no século XIV Os valores da Tabela 2 indicam uma alta frequência das palavras de [a [x]Nj ar]Vi, seguidas pelos dados de [a [x]Nj ecer]Vi. No século XIV, foram encontrados apenas três dados de [en[x]Nj ecer]Vi (‘enriquecer’, ‘ensoberbecer’ e ‘enfraquecer’). 2 Os resultados completos podem ser encontrados no Anexo III. 137 Cabe ressaltar que, nos casos de [a [x]Nj ecer]Vi, as palavras mais bem classificadas em relação à sua ocorrência são as menos recuperáveis pelo falantes, isto é, as palavras menos transparentes morfológica e semanticamente retornam frequências maiores. Buscamos observar, deste ponto em diante, se esse comportamento se repete nos demais séculos. Construção [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Século XV Verbos Quantidade Agradecer 29/590942 Aborrecer 22/590942 Adormecer 19/590942 Adoecer 16/590942 Amanhecer 6/590942 Ensoberbecer 7/590942 Entristecer 5/590942 Enegrecer 4/590942 Endurecer 3/590942 Enfraquecer 3/590942 Acabar 172/590942 Apertar 78/590942 Aproveitar 64/590942 Abraçar 51/590942 Apartar 46/590942 Enterrar 21/590942 Encaminhar 16/590942 Envergonhar 13/590942 Endireitar 6/590942 Encostar 5/590942 Porcentagem 0,004907 0,003723 0,003215 0,002708 0,001015 0,001185 0,000846 0,000677 0,000508 0,000508 0,029106 0,013199 0,01083 0,00863 0,007784 0,003554 0,002708 0,0022 0,001015 0,000846 Tabela 3: frequência de ocorrência no século XV Na tabela 3, os índices de [a [x]Nj ar]Vi, cujo verbo ‘acabar’ aparece como o mais frequente mais uma vez, são bastante altos. Já em relação aos dados de [a [x]Nj ecer]Vi, percebemos que os mais frequentes correspondem aos itens mais opacos, como 138 ‘agradecer’, ‘aborrecer’ e ‘adormecer’. É interessante notar que os dados de [en[x]Njecer]Vi têm valores baixos se comparados aos demais subesquemas. Construção [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Século XVI Verbos Quantidade Agradecer 25/574042 Amanhecer 12/574042 Aborrecer 10/574042 Adoecer 2/574042 Adormecer 2/574042 Encarecer 21/574042 Enriquecer 21/574042 Engrandecer 20/574042 Enobrecer 11/574042 Entristecer 4/574042 Acabar 233/574042 Apontar 123/574042 Aproveitar 97/574042 Acertar 52/574042 Apartar 47/574042 Embarcar 92/574042 Encaminhar 14/574042 Enterrar 9/574042 Entesourar 6/574042 Enforcar 4/574042 Porcentagem 0,004355 0,00209 0,001742 0,000348 0,000348 0,003658 0,003658 0,003484 0,001916 0,000697 0,040589 0,021427 0,016898 0,009059 0,008188 0,016027 0,002439 0,001568 0,001045 0,000697 Tabela 4: frequência de ocorrência no século XVI No século XVI, o comportamento observado nos séculos anteriores se repete com a construção [a [x]Nj ar]Vi na liderança. Em geral, os dados de [en [x]Nj ecer]Vi e [en[x]Nj ar]Vi ocupam as posições de menor frequência. No entanto, na tabela 4, o verbo ‘embarcar’ aparece com alta frequência, o que pode ser uma influência de o período coincidir com as primeiras publicações sobre as navegações e descobertas portuguesas no além-mar. Abaixo, exibimos alguns exemplos retirados dos textos que corroboram essa hipótese. 139 Dom Estevão da Gama como estava tomado, e não corria com o Governador, passouse pera a Ilha de João Pereira, donde se ‘embarcou’ na entrada de Janeiro na náo Burgaleza. (Décadas, de Diogo do Couto) Acabados êstes negócios, se ‘embarcou’ o Governador pera Goa, onde começou a entender com as cousas d’ElRei de Maluco, que estava nela. (Décadas, de Diogo do Couto) E ‘embarcando-se’ oitenta portugueses dos trezentos que então havia na terra, em duas fustas, e um navio redondo, bem aparelhados de todas as coisas necessárias à empresa que levavam, se partiram dali a três dias com grande pressa, por se temerem que se fossem sentidos pelos mouros da terra dessem aviso aos outros mouros que eles iam buscar. (Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto) É certo, todavia, que não há, necessariamente, uma regularidade na colocação das palavras, porque nem sempre uma palavra que aparece bem colocada em uma sincronia tem o mesmo comportamento em outras épocas. Nesse sentido, as características de cada texto analisado podem influenciar a distribuição dos itens lexicais. Um documento que verse sobre experiências medicinais favorecerá a seleção de palavras do domínio medicinal, da mesma forma que textos sobre feitos heroicos ativarão unidades lexicais relacionadas aquele domínio semântico. Entretanto, uma verificação mais detalhada do assunto foge ao escopo deste trabalho. Vejamos os resultados do século XVII. Construção Século XVII Verbos Quantidade Porcentagem 140 [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Agradecer Aborrecer Adoecer Amanhecer Adormecer Enfraquecer Encarecer Enriquecer Entristecer Emudecer Acabar Aproveitar Apartar Assegurar Acertar Encaminhar Embarcar Envergonhar Engrossar Enterrar 48/563636 31/563636 16/563636 16/563636 5/563636 22/563636 13/563636 12/563636 8/563636 7/563636 320/563636 82/563636 54/563636 54/563636 51/563636 23/563636 20/563636 19/563636 12/563636 8/563636 0,008516 0,0055 0,002839 0,002839 0,000887 0,003903 0,002306 0,002129 0,001419 0,001242 0,056774 0,014548 0,009581 0,009581 0,009048 0,004081 0,003548 0,003371 0,002129 0,001419 Tabela 5: frequência de ocorrência no século XVII Na tabela 5, nota-se que o verbo ‘acabar’, o mais bem colocado entre os itens de [a [x]Nj ar]Vi com 320 ocorrências, diferencia-se de ‘apartar’ (54 ocorrências) e ‘assegurar’ (54 ocorrências), por exemplo, pelo alto número de frequência. Essa diferença também é percebida entre ‘acabar’ e os verbos mais bem colocados dos outros subesquemas, como ‘agradecer’ (48 ocorrências), ‘enfraquecer’ (22 ocorrências) e ‘encaminhar’ (23 ocorrências). A unidade lexical ‘acabar’ vem se mostrando, desde os resultados dos textos do século XIV, a mais recorrente entre todos os itens parassintéticos, apresentando, em alguns casos, quase o triplo do número de ocorrências do segundo colocado (‘agradar’) entre os verbos formados por [a [x]Nj ar]Vi. Sobre isso, verifiquemos os resultados da tabela abaixo: 141 Construção [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Século XVIII Verbos Quantidade Agradecer 43/508567 Aborrecer 27/508567 Adormecer 5/508567 Apodrecer 5/508567 Amanhecer 4/508567 Enobrecer 17/508567 Enternecer 7/508567 Enfraquecer 6/508567 Enriquecer 6/508567 Entristecer 6/508567 Acabar 330/508567 Agradar 111/508567 Apontar 71/508567 Aproveitar 51/508567 Apresentar 44/508567 Embarcar 19/508567 Envergonhar 13/508567 Encaminhar 11/508567 Endireitar 8/508567 Envenenar 7/508567 Porcentagem 0,008455 0,005309 0,000983 0,000983 0,000787 0,003343 0,001376 0,00118 0,00118 0,00118 0,064888 0,021826 0,013961 0,010028 0,008652 0,003736 0,002556 0,002163 0,001573 0,001376 Tabela 6: frequência de ocorrência no século XVIII Com os resultados expostos nas tabelas 5 e 6, percebemos que o comportamento dos circunfixos se manteve inalterado até o fim do Português Clássico: os dados menos transparentes de [a [x]Nj ecer]Vi têm maior frequência de uso que os mais transparentes; verbos como ‘acabar’, ‘aproveitar’ e ‘aconselhar’, por exemplo, obtiveram valores bastante elevados muitas das vezes; e as palavras das construções [en [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi não apresentam, por sua vez, altas taxas de frequência. Vejamos agora os dados recolhidos em textos do português brasileiro no século XIX. Construção [a [x]Nj ecer]Vi Século XIX Verbos Quantidade Amanhecer 32/530754 Agradecer 29/530754 Porcentagem 0,006029 0,005464 142 [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Aborrecer Adormecer Adoecer Empalidecer Enfurecer Entristecer Enriquecer Envelhecer Acabar Atirar Aproximar Apresentar Aproveitar Encaminhar Enfiar Embarcar Encarar Enterrar 19/530754 15/530754 11/530754 12/530754 8/530754 8/530754 6/530754 5/530754 457/530754 213/530754 162/530754 149/530754 106/530754 49/530754 28/530754 22/530754 21/530754 17/530754 0,00358 0,002826 0,002073 0,002261 0,001507 0,001507 0,00113 0,000942 0,086104 0,040132 0,030523 0,028073 0,019972 0,009232 0,005276 0,004145 0,003957 0,003203 Tabela 7: frequência de ocorrência no século XIX Novamente, repete-se o padrão observado nos períodos anteriores: há um alto percentual de uso das palavras de [a [x]Nj ar]Vi, enquanto [en [x]Nj ecer]Vi retorna valores baixos. Além disso, as palavras opacas de [a [x]Nj ecer]Vi aparecem bem colocadas, pois das cinco primeiras apenas ‘amanhecer’ é semântica e morfologicamente transparente. Temos verificado que o percentual de frequência de ocorrência pode influenciar no entrincheiramento de construções, que é um dos fatores a que devemos estar atentos enquanto analisarmos a força lexical de esquemas3 (CROFT & CRUSE, 2004; BYBEE, 2010, 2003; LANGACKER, 1987). Nesse sentindo, a análise de dados colhidos ao longo do século XX pode revelar uma fotografia do fenômeno linguístico em um estágio da língua próximo ao atual. Assim, apresentamos, na tabela 8, os resultados que obtivemos nos textos do ECI-EBR. 3 Para maiores detalhes, ver o capítulo 3 desta dissertação. 143 Século XX Construção Verbos Quantidade Porcentagem Agradecer 65/724008 0,008978 Amanhecer 22/724008 0,003039 [a [x]Nj ecer]Vi Adormecer 14/724008 0,001934 Amadurecer 12/724008 0,001657 Apodrecer 12/724008 0,001657 Envelhecer 16/724008 0,00221 Enriquecer 15/724008 0,002072 [en [x]Nj ecer]Vi Enlouquecer 11/724008 0,001519 Enfraquecer 10/724008 0,001381 Engrandecer 8/724008 0,001105 Acabar 328/724008 0,045303 Apresentar 235/724008 0,032458 [a [x]Nj ar]Vi Acreditar 156/724008 0,021547 Aproveitar 85/724008 0,01174 Apontar 80/724008 0,01105 Enfrentar 84/724008 0,011602 Enterrar 47/724008 0,006492 [en [x]Nj ar]Vi Encarar 32/724008 0,00442 Encostar 30/724008 0,004144 Enfiar 27/724008 0,003729 Tabela 8: frequência de ocorrência no século XX O comportamento observado na diacronia se repete aqui com os dados de [a[x]Nj ar]Vi retornando os valores mais altos de uso. No tocante aos demais subesquemas, verificamos a manutenção de um padrão que havia sido observado nos outros séculos. Notamos que os verbos de [en [x]Nj ecer]Vi apresentam um padrão baixo de frequência e que todos os dados de [a [x]Nj ecer]Vi apresentam índices de uso. 6.2. Análise dos resultados do experimento Participaram deste experimento duzentos informantes, dos quais cento e vinte e três eram do sexo feminino (61,5%) e setenta e sete do sexo masculino (38,5%). 144 Outra informação que tivemos o cuidado de selecionar foi a faixa etária dos nossos informantes, que se distribuíram da seguinte forma: sete adolescentes (3,5%), oitenta e seis jovens (43%), cento e seis adultos (53%) e um idoso (0,5%). Além disso, dos duzentos entrevistados, dois declararam ter Ensino Fundamental (1%), vinte e três cursaram até o Ensino Médio (11,5%), cinquenta estavam cursando algum curso de Ensino Superior (25%), sessenta e quatro tinham concluído o nível superior (32%) e sessenta e um possuíam curso de pós-graduação (30,5%). Na tabela abaixo, observamos os resultados do fator Gênero em relação à ativação de determinados subsesquemas. Feminino Masculino [a [x]Nj ar]Vi 39% 37% [en [x]Nj ar]Vi 31% 33% [a[x]Nj ecer]Vi 10% 11% [en [x]Nj ecer]Vi Total 20% 100% 19% 100% Tabela 9: resultado do fator gênero em relação aos circunfixos Como se percebe, a variação na escolha de um circunfixo é equiparada tanto para os homens quanto para as mulheres. Logo, o fator gênero não se mostra relevante na análise morfológica empreendida neste trabalho, pois não há um mesmo subesquema que seja selecionado mais recorrentemente por pessoas do mesmo gênero. Um dado interessante, no entanto, é que tanto homens como mulheres reconhecem proporcionalmente mais dados formados por [a [x] Nj ar]Vi, o subesquema mais produtivo, e menos dados formados por [a [x]Nj ecer]Vi, a construção menos produtiva. Não à toa que a distribuição ocorre da mesma maneira que foi evidenciada 145 no gráfico 1: os circunfixos [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi são mais facilmente acessados, enquanto os circunfixos [a[x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi retornam índices mais baixos. Na tabela 10, são apresentados os valores do fator faixa etária em relação aos quatro subesquemas parassintéticos. [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Adolescente 37% 29% 14% 20% Jovem 40% 32% 9% 19% Adulto 39% 31% 11% 19% Idoso 36% 37% 7% 20% Total 100% 100% 100% 100% Tabela 10: resultado do fator idade em relação aos subesquemas Novamente, verificamos que a variável idade não é relevante na seleção de um determinado subesquema, ou seja, não há casos em que jovens selecionem mais palavras de uma construção do que os sujeitos das outras faixas etárias. Nesse sentido, a escolha de um determinado esquema parassintético parece não ser sensível aos fatores extralinguísticos. A variação de cada circunfixo em função das diferentes faixas etárias é restrita, quase nula, podendo citar o caso de [en [x]Nj ecer]Vi, cujos índices são de 19% ou 20% (ou seja, uma margem de 1%) em todos os grupos. Esse fator não nos indica, portanto, nenhuma particularidade da manipulação das construções parassintéticas pelos falantes. Contudo, como salientamos com relação aos dados da tabela 9, o fato de os circunfixos mais produtivos terem valores percentuais maiores (i.e., serem evocados mais recorrentemente) aproxima os resultados obtidos aos que foram diagramados no gráfico 1. Na tabela 10, enquanto o percentual de acesso mental ao subesquema [a[x]Nj ar]Vi varia de 36% a 40%, o índice de escolha de [a[x]Njecer]Vi varia de 7% a 14%. 146 Esse comportamento nos permite indiciar – como apontaremos com argumentos mais sólidos na próxima seção – que qualquer falante do português brasileiro ativa mais facilmente as construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, já que são mais produtivas. O inverso, com relação aos circunfixos [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi, também parece verdadeiro: esses subesquemas são menos produtivos, portanto, menos facilmente acessados. A seguir, são expostos os índices do fator Escolaridade. [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Fundamental 44% 22% 14% 20% Médio 43% 28% 11% 18% Superior (cursando) 40% 31% 10% 19% Superior (completo) 37% 33% 11% 19% Pós-graduação 39% 32% 10% 19% Total 100% 100% 100% 100% 100% Tabela 11: resultado do fator escolaridade em relação aos circunfixos Com os resultados da tabela 11, confirmamos que as variáveis sociais não influenciam a seleção de nenhuma das construções de parassíntese, pois a flutuação dos índices de escolaridade é pequena. Não podemos afirmar, baseados nos resultados apresentados na tabela 11, que o grau de instrução do falante tenha relação direta com a escolha de um determinado circunfixo. Assim, nos dados tratados neste trabalho, a formação de palavras parece ser um terreno pouco dependente de fatores extralinguísticos. No mais, o mesmo panorama que já havia sido desenhado se mostra pertinente na análise da tabela 11, visto que [a [x]Nj ar]Vi tem valores maiores (variando de 37% a 44%) que [a[x]Nj ecer]Vi (variando de 10% a 14%), independentemente da escolaridade do indivíduo. 147 Excluindo as variáveis sociais, que não se mostraram relevantes, o experimento teve três diferentes focos, como explicamos no capítulo sobre a metodologia: averiguar o modo como o falante (i) reage diante de palavras inventadas; (ii) processa as palavras que foram substituídas por palavras semelhantes em razão da frequência de uso (‘amarelecer’ > ‘amarelar’); e (iii) comporta-se com relação às palavras de diferentes subesquemas que coexistem, embora tenham sentidos diferentes (‘enterrar’ e ‘aterrar’). Com isso, analisamos, primeiramente, os resultados das palavras que criamos. Comecemos com as formas inventadas a partir da base ‘banguela’: 1. Meu avô _______ quando fez 60 anos. [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi abangueleceu embangueleceu Total 9,5% 90,5% 100% Tabela 12: resultados das palavras inventadas em relação a [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi As construções parassintéticas [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi retornaram, nas consultas ao dicionário Houaiss (2009), baixos índices de frequência de tipo, indicando uma baixa probabilidade de formarem novas unidades lexicais4. Entretanto, buscamos investigar, no teste, qual subesquema o falante adotaria diante da necessidade de criar uma palavra. Os resultados indicaram um favorecimento de [en [x] Nj ecer]Vi, que obteve 90,5%, em face de [a [x]Nj ecer]Vi, que teve apenas 9,5%. Já era esperado que a construção [en [x]Nj ecer]Vi fosse mais evocada, porque, comparativamente, tem mais força lexical que [a [x]Nj ecer]Vi. Na próxima tabela, estão dispostos os resultados para os dados de [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, construções mais produtivas. 4 Ver subseção 6.1.1. 148 [a[x]Njar]Vi apalmitou [en[x]Njar]Vi empalmitou Total 38,5% 61,5% 100% abonitou embonitou Total 6,5% 93,5% 100% 2. Mesmo sabendo que não gosto, a Clarinha costuma ________ a salada. 3. Clarinha __________ depois que passou a frequentar a academia. alixeirados enlixeirados 4. Os resíduos hospitalares foram ____________ pela equipe da clínica médica. 7,5% 92,5% Total 100% Tabela 13: resultados das palavras inventadas em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi Os resultados das frases 2 e 4, na tabela 13, estão mais relacionados à semântica veiculada pelas construções do que com a noção de produtividade, uma vez que ambos os subesquemas são produtivos (ver tabela 1). No capítulo anterior, argumentamos que o subesquema [en [x]Nj ar]Vi apresenta como protótipo o domínio semântico de resultatividade de espaço, ao passo que a construção [a [x] Nj ar]Vi se caracteriza pelo sentido de resultatividade de atributo. Portanto, se o sentido pretendido na aplicação da palavra no discurso faz referência à noção de local, é de esperar que as novas instanciações partam do subesquema [en [x] Nj ar]Vi, como foram os casos das frases 2 e 4. O foco da palavra parassintética, na frase 2, é o palmito, ou, em termos cognitivistas, o SR interno se comporta como o elemento colocado. Na frase 4, perfila-se o recipiente (o SR interno ‘lixeira’), sendo altamente produtivo com [en [x]Nj ar]Vi, o que permite a instanciação de ‘enlixeirar’. Discutimos, nas próximas tabelas, os resultados das palavras cujo mesmo sentido da base é perfilado por subesquemas diferentes (‘abrutecer’ e ‘embrutecer’, por exemplo). 149 [a[x]Njecer]Vi [en[x]Njecer]Vi 5. As pessoas acham que Horácio ____________ com o passar dos anos. abruteceu embruteceu 2,5% 95,5% Sem resposta Total 2% 100% Tabela 14: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi Na frase 5, visualizamos que a frequência de ‘abrutecer’ não é forte o suficiente para impedir a emergência de ‘embrutecer’. Por ser instanciado por uma construção com baixa força lexical, [a [x]Nj ecer]Vi, a palavra ‘abrutecer’ precisaria de alta frequência de uso para não ser substituída por outra com as mesmas especificações sintáticas, semânticas e pragmáticas. Os dados revelam que não parece ser o caso, já que ‘embrutecer’ é majoritariamente reconhecido, em detrimento de ‘abrutecer’, que resulta em apenas 2,5%. Isso tem importantes consequências para todo um grupo de palavras de [a [x]Nj ecer]Vi que foi substituído por itens correspondentes de outras construções de parassíntese, como ‘abranquecer’, que foi substituído por ‘embranquecer’, por exemplo. Mais à frente, retomaremos essa questão. Os resultados da tabela abaixo foram obtidos para as formas derivadas do adjetivo ‘brando’: 6. O mar ___________ depois que a ressaca acabou. [a[x]Nj ar]Vi [en[x]Njecer]Vi abrandou embrandeceu 91% 8% Sem resposta Total 1% 100% Tabela 15: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi 150 A unidade ‘abrandar’ é reconhecida por 91% dos informantes, o que sugere, também nesse caso, que a palavra da construção com mais força lexical é mais facilmente acessada pelos falantes. Isso é um efeito da conjugação da frequência de uso com a frequência de tipo, que amplia a capacidade de construções com maior força lexical “atraírem” unidades lexicais de outras construções com menor poder (CROFT & CRUSE, 2004). Na tabela seguinte, vemos que isso nem sempre é verdade, porque se, por um lado, o comportamento se repete com ‘amarelar’, mais reconhecido pelos falantes do PB, por outro, ‘amadurar’ tem reconhecimento quase nulo. [a[x]Njar]Vi [a[x]Njecer]Vi 7. Horácio começou a ________ quando passou a trabalhar 8. A luz solar é branca, mas __________ por causa da atmosfera. amadurar amadurecer 2% 98% amarela amarelece 70% 28% Sem resposta Total 0% 100% Total 2% 100% Tabela 16: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [a [x]Nj ecer]Vi Seria natural que ‘amadurar’, por ser instanciado por [a [x]Nj ar]Vi, a construção mais forte, tivesse vantagem sobre ‘amadurecer’, que é instanciado pela construção com menor poder lexical. No entanto, os dados da tabela 16 nos mostram que a alta frequência de uso pode cooperar para manter, no léxico, palavras formadas por esquemas com produtividade baixa ou nula. Vale lembrar que nos resultados da frequência de ocorrência na diacronia dos textos portugueses, apresentados na subseção 6.1.2, o verbo ‘amadurecer’ sempre esteve entre os mais frequentes, o que favoreceu sua preservação. Assim, a frequência de ocorrência de um dado funciona 151 tanto para que novos itens sejam incorporados a uma construção, quanto para inibir a substituição de itens frequentes no léxico. Nos exemplos da tabela 17, a seguir, temos exemplos de palavras diferentes que evocam o mesmo significado, em função de terem a mesma base. 9. Horácio usou uma chave de fenda para ___________ o parafuso. [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi atarraxar entarraxar 97,5% 1,5% Sem resposta Total 1% amordaçaram emordaçaram 10. Os bandidos _____________ o homem que foi sequestrado. 11. Clarinha ____________ o canário numa gaiola de vime. 98,5% 1% aprisionou emprisionou 97,5% 2,5% 100% Total 0,5% 100% Total 0% 100% Tabela 17: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi Percebemos que todos os vocábulos de [a [x]Nj ar]Vi são mais bem avaliados em comparação com os itens de [en [x]Nj ar]Vi. Por ser o subesquema mais produtivo, os dados de [a [x]Nj ar]Vi acabam sendo mais facilmente interpretados pelos sujeitos. Nesse sentido, a frequência não atua apenas nos mecanismos de ampliação lexical, mas, principalmente, na compreensão e decodificação que o falante tem/faz das palavras. Na próxima tabela, são exibidos os valores das palavras que, embora selecionem a mesma base fonológica, compatibilizam sentidos diferentes no discurso. Por exemplo, ‘afiar’ tem o significado diferente de ‘enfiar’, ainda que, em termos sonoros, a base seja a mesma. Justamente por perfilarem sentidos diferentes, essas palavras podem coexistir. Difere, assim, dos exemplos da tabela 17, porque somente 152 as palavras ‘atarraxar’, ‘aprisionar’ e ‘amordaçar’ foram reconhecidas, enquanto suas correspondentes instanciadas por [en [x]Nj ar]Vi (‘entarraxar’, ‘emprisionar’ e ‘emordaçar’) não gozaram de prestígio. Voltemos à tabela 18. Como dissemos no capítulo sobre a metodologia, nessa parte do experimento, o informante deveria decidir se (i) apenas uma das palavras fazia parte do seu léxico internalizado, (ii) as duas eram reconhecidas, ou (iii) nenhuma das palavras era de seu conhecimento. 12 13 14 15 [a [x]Nj ar]Vi Afiar 4% Acampar 61% Apossar 7,5% Abaular 49,5% [en [x]Nj ar]Vi Os dois subesquemas Sem resposta Enfiar Afiar / Enfiar 1% 95% 0% Encampar Acampar/ Encampar 1% 38% 0% Empossar Apossar/ Empossar 21% 70% 1,5% Embaular Abaular/ Embaular 3,5% 5,5% 41,5% Total 100% Total 100% Total 100% Total 100% Tabela 18: resultados das palavras coexistentes Qualquer resultado acima de 25% é significativo, na medida em que os informantes podiam escolher entre quatro opções: somente palavras instanciadas por [a [x]Nj ar]Vi; as instanciadas apenas por [en [x]Nj ar]Vi; as instanciadas pelas duas construções; ou não apresentar nenhuma resposta. Em 12 e 14, os pares ‘afiar’ e ‘enfiar’ e ‘apossar’ e ‘empossar’ tiveram os maiores índices – 95% e 70%, respectivamente. Percebemos, também, que os informantes tinham diferentes graus de familiaridade com as palavras em 13, o que pode ter favorecido apenas uma delas, uma vez que ‘acampar’ tem mais livre-curso do que ‘encampar’. 153 Ainda na tabela 18, 41,5% dos informantes não souberam responder se reconheciam os verbos ‘abaular’ e ‘embaular’, o que demonstra que gozam de menor familiaridade entre os falantes entrevistados, ao contrário dos outros pares (‘afiar’/ ‘enfiar’, e ‘apossar’/ ‘empossar’, por exemplo) que foram facilmente acessados. Mesmo assim, ‘abaular’ teve quase a metade da porcentagem (49,5%) no cômputo geral, demonstrando que, mesmo não conhecendo a palavra, o falante ativa mais facilmente as estruturas instanciadas pelo subesquema [a [x] Nj ar]Vi. Em 16, na tabela abaixo, o favorecimento se dá para o par ‘emburrecer’ / ‘emburrar’ (53%), mas também para ‘emburrecer’ separadamente, que tem 41%. 16 [en [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Os dois subesquemas Emburrar Emburrecer Emburrar/ Emburrecer 5,5% 41% 53% Sem resposta Total 0,5% 100% Tabela 19: resultados das palavras coexistentes Na próxima seção, tentaremos reunir as informações obtidas até então para termos um panorama da relação construída entre a Frequência e a Produtividade de unidades lexicais. 6.3. Desatando os nós Recapitulando as observações discutidas até aqui, assumimos, com base nos resultados da frequência de tipo, que [a [x]Nj ecer]Vi já não é produtivo, ao contrário das demais construções de circunfixação. Além disso, os dados da frequência de uso 154 nos revelam que [a [x]Nj ar]Vi apresenta os dados mais recorrentes, enquanto [en[x]Njecer]Vi retorna baixos índices. Conforme foi revelado no gráfico 1, o fato de [a[x] Njar]Vi e [en[x]Njar]Vi serem entrincheirados faz com que tenham o poder de capitalizarem o maior número de palavras. Embora o subesquema [en [x]Nj ecer]Vi seja menos produtivo, ainda é capaz de instanciar material lexical, como demonstram as recentes formações ‘emburrecer’ e ‘emputecer’, que, segundo o Houaiss (2009), foram registradas apenas no século XX. Além disso, nota-se que todas as suas formações são transparentes, o que torna menos reduzida sua força lexical. O circunfixo [a [x]Nj ecer]Vi, por outro lado, poderia ter sua produtividade caracterizada como nula, posto que as últimas instanciações (‘abastecer’ e ‘amolecer’) foram no século XVI, ainda no Português Clássico. O fato de as palavras mais frequentes de [a [x]Nj ecer]Vi serem necessariamente as mais opacas corrobora essa hipótese, isto é, aquelas precisam ter um alto grau de entrincheiramento para não serem reanalisadas, como veremos na próxima subseção. Assim, [a [x]Nj ecer]Vi parece estar no polo marcado pela menor produtividade no continuum de força lexical. Tomando os números de frequência, podemos estabelecer uma escala, ilustrada no quadro 2, para os subesquemas parassintéticos: como [a [x]Nj ar]Vi tem maior frequência de tipo estaria à frente de [en [x]Nj ar]Vi, porém ambos estariam localizados próximos ao polo de maior força lexical, com alta produtividade e forte entrincheiramento; [en [x]Nj ecer]Vi estaria no meio da gradação; e [a [x]Nj ecer]Vi mais próximo do polo de [- força lexical]. 155 [-FORÇA LEXICAL] [a[x]Nj ecer]Vi [+FORÇA LEXICAL] [en [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a [x]Nj ar]Vi Quadro 2: continuum de produtividade dos circunfixos 6.3.1. A reanálise do subesquema [a [x]Nj ecer]Vi Voltamos aqui a uma importante questão, mencionada na introdução do capítulo, sobre a etimologia dos verbos instanciados pelo esquema [a [x] Nj ecer]Vi. Podemos agora traçar um paralelo entre a origem latina da maioria desses vocábulos e a sua frequência. Das onze palavras formadas, nove são latinas e duas são formações do português, como se vê no quadro a seguir. Palavras latinas Palavras portuguesas Aborrecer Abastecer Adoecer Amortecer Adormecer Agradecer Amadurecer Amanhecer Amolecer Anoitecer Apodrecer Quadro 3: distribuição das palavras quanto à etimologia A maioria das palavras de origem latina é totalmente transparente, como ‘apodrecer’, de ‘putrescere’, e ‘amanhecer’, de ‘admanescere’, não representando problemas no reconhecimento das partes internas, por parte do falante do português brasileiro contemporâneo. No entanto, essas palavras não foram instanciadas no 156 português, mas no latim como foi demonstrado pela origem etimológica. Nesse caso, houve uma reanálise de algumas palavras que foram incorporadas ao léxico do português, de modo que suas bases se assemelhassem a unidades recorrentes nessa língua. Podemos explicar de outra maneira: ‘putrescere’ foi instanciado, no latim, por um esquema que compatibilizava uma base e um sufixo, [x]Nj escere]Vi, enquanto ‘admanescere’ derivou de um esquema de circunfixação, [ad [x]Nj escere]Vi. Dadas as relações de similaridade simbólica (de forma e sentido) entre as duas construções, as palavras foram reanalisadas, no português, sob o subesquema parassintético [a[x]Njecer]Vi. Na nova compatibilização, ativaram-se as palavras ‘podre’ e ‘manhã’ – e não ‘pŭtris’ e ‘maneāna’, já que pertencem ao léxico latino –, permitindo a maior transparência das partes constitutivas das unidades resultantes ‘amanhecer’ e ‘apodrecer’. Na distribuição do quadro 3, observamos, também, que algumas palavras de origem latina são menos recuperáveis pelo falante, como ‘aborrecer’, de ‘abhorrēscere’ e ‘adormecer’, de ‘addŏrmīscĕre’, pois não passaram pela reanálise que aconteceu com as demais formações latinas. Como foi evidenciado por meio dos resultados da frequência de ocorrência, os dados mais opacos responderam pelas taxas mais altas de uso, as quais são indicativas da manutenção de itens menos regulares no léxico. Em ‘aborrecer’, não se reconhece uma base do português que tenha sido compatibilizada na construção, o que desencadeia o surgimento do subesquema [a - x - ecer]Vi a partir de [a [x]Nj ecer]Vi. Naquele subesquema, a variável x não é indexicada, nem recebe a etiqueta de uma categoria gramatical, porque não funciona como uma palavra do português. Com isso, verbos como ‘aborrecer’ e ‘adormecer’, que retornam índices maiores de uso, não reforçam diretamente o 157 subesquema [a[x]Njecer]Vi a cada nova ocorrência, pois estão conectados, primeiramente, ao subesquema [a - x - ecer]Vi, como vemos no diagrama a seguir. [a [x]Nj ecer]Vi LI [a - x - ecer]Vi O uso reforçou as palavras opacas, como ‘aborrecer’ ou ‘adormecer’, de tal maneira que as pressões analógicas não conseguiram se manifestar, isto é, por serem mais frequentes, foram armazenadas no léxico como um todo indivisível e estão, dessa forma, menos sujeitas às pressões por regularização paradigmática. As palavras que sofreram reanálise, ao contrário, eram as menos frequentes nos primeiros séculos pesquisados (ver tabelas 5 e 6), sendo, portanto, mais suscetíveis às pressões por um paradigma mais uniforme. Na tabela 2, por exemplo, vemos que os cinco primeiros vocábulos de [a [x]Nj ecer]Vi são menos transparentes (‘abastecer’ é opaco semanticamente). Ao contrário, as palavras mais transparentes, como ‘amanhecer’ e ‘apodrecer’, vêm sempre nas posições mais periféricas nas tabelas 5 e 6. Isso fica claro também em ‘amadurecer’, de ‘maturescere’, ‘amolecer’, de ‘emollescere’, e ‘anoitecer’, de ‘adnoctescere’, que foram reanalisadas pelas semelhanças fonológicas e semânticas com as palavras ‘maduro’, ‘mole’ e ‘noite’, respectivamente. Como essas palavras latinas (‘maturescere’, ‘emollescere’, e ‘adnoctescere’) compartilhavam relações fonológicas e semânticas, estabeleceu-se uma construção [a [x]Nj ecer]Vi, sob o domínio da qual foram instanciadas, permitindo que outras duas palavras fossem criadas no português: ‘abastecer’ e ‘amortecer’. 158 Capturamos, aqui, um dos postulados centrais do modelo de uso (BYBEE, 2010), que indica que as construções emergem a partir da percepção de semelhanças compartilhadas por um grupo de palavras. Assim, o subesquema [a [x]Nj ecer]Vi só passou a existir em português a partir do momento em que palavras herdadas do latim foram reanalisadas no português, permitindo a criação de material lexical em língua portuguesa (‘abastecer’ e ‘amortecer’). É importante salientar que a reanálise não se deu de forma abrupta, mas gradual. No século XIII, são registradas as palavras de origem latina ‘aborrecer’, ‘adoecer’, ‘adormecer’, ‘agradecer’, ‘anoitecer’ e ‘apodrecer’. Desse conjunto, apenas as últimas duas (‘anoitecer’ e ‘apodrecer’) são transparentes, o que indica que a maioria das palavras mais antigas tem um maior grau de opacidade. No século seguinte, são registradas ‘amadurecer’ e ‘amanhecer’, que têm origem no latim, além de ‘amortecer’, que é o primeiro item instanciado no português. Desde a entrada das primeiras palavras opacas até a formação de novo material lexical, houve um período em que as informações semânticas e formais foram mapeadas para que pudesse haver a reanálise dos itens menos frequentes e a posterior unificação do esquema. Por isso, acreditamos, nos termos de Bybee (2010: 120), que há fortes evidências de uma reanálise contínua nos dados de [a [x]Nj ecer]Vi. Alguns outros verbos chegaram a ser instanciados pelo esquema [a [x]Nj ecer]Vi, como ‘abranquecer’, ‘abrutecer’, ‘amarelecer’, entre outros. Conforme se disse anteriormente, a formação de palavras em Linguística Cognitiva caracteriza-se, em linhas gerais, pela seleção de um sentido de uma palavra-base que é compatibilizado com um dos sentidos dos afixos. No caso das palavras citadas, há, registradas no léxico, outras palavras com o mesmo sentido servindo de base para a formação, como 159 ‘embranquecer’, ‘embrutecer’ e ‘amarelar’. Um dos princípios da Construção Gramatical, defendido por Goldberg (1995), é conhecido por Princípio da Economia Maximizada, que opera com o objetivo de restringir a variedade de construções (GOLDBERG, 1995: 69). Esse princípio pode ser aplicado no léxico para delimitar o número de itens que atuam semântica e pragmaticamente da mesma maneira. Por exemplo, não é econômico, linguisticamente, dispor de ‘abranquecer’ e ‘embranquecer’, instanciados a partir do perfilamento do mesmo sentido de ‘branco’; ou de ‘embrutecer’ e ‘abrutecer’, que derivam de ‘bruto’. Nessa direção, os experimentos realizados nos mostraram que os falantes do português reconhecem mais facilmente palavras como ‘embranquecer’ e ‘amarelar’ do que ‘abranquecer’ e ‘amarelecer’. Explicamos, a seguir, essa preferência nos termos estatísticos da frequência. Palavras como ‘abranquecer’, ‘abolorecer’, ‘abrutecer’ e ‘amarelecer’ têm em comum o fato de terem sido instanciadas por um esquema que não é mais produtivo, ou seja, com baixa força lexical. Além do mais, as poucas palavras desse subesquema se mantiveram na língua por terem maior frequência de uso, o que gera um maior grau de entrincheiramento das palavras. Não foi a construção que se entrincheirou, mas sim as palavras isoladamente, o que acarretou na perda de alguns itens menos frequentes. No caso, as palavras com frequência baixa ou nula (‘abranquecer’, ‘abrutecer’ e ‘amarelecer’) passaram por uma mudança de subesquemas de circunfixação. Embora essas palavras sejam registradas em dicionários etimológicos, não gozam de reconhecimento dos falantes, que preferem suas contrapartes ‘embranquecer’, ‘embrutecer’ e ‘amarelar’, instanciadas por construções produtivas que apresentam níveis médio ([en [x]Nj ecer]Vi) e alto ([a [x]Nj ar]Vi) na escala de produtividade (ver 160 gráfico 1). Essa mudança da construção foi propiciada pela alta frequência de tipo das demais construções e pelo baixo contingente de [a [x]Nj ecer]Vi. Os dados em (2), abaixo, indicam que a maioria das palavras instanciadas pela construção [a [x] Nj ecer]Vi “migrou” para o subesquema [en [x]Nj ecer]Vi, que tem força lexical média. (2) abranquecer embranquecer abrutecer embrutecer abolorecer embolorecer Dos vocábulos a que tivemos acesso pelos dicionários etimológicos, ‘amarelecer’ é a única palavra que competiu com a construção [a [x]Nj ar]Vi, ‘amarelar’. Nesse caso, prevaleceu a noção de analogia, pois existe, como identificou Kehdi (1992) e Martins (1993), um conjunto de palavras que faz referência a cores na construção [a[x]Nj ar]Vi, como ‘avermelhar’, ‘acinzentar’, ‘azular’, ‘alaranjar’, entre outros. Assim, o vocábulo ‘amarelar’ parece ter sido favorecido por um processo analógico com as palavras de [a [x]Nj ar]Vi 5. Cabe dizer que uma das mudanças não se realizou devido à alta frequência da palavra. No par ‘amadurecer’ e ‘amadurar’, a primeira palavra, embora esteja em uma construção não produtiva, tem um uso muito elevado, razão pela qual ‘amadurar’ não é fortemente aceita pelos falantes. Desse modo, observamos que, se por um lado, a frequência pode ampliar o número de unidades lexicais instanciadas por uma construção (exemplos em 2), por outro, pode impedir que uma palavra frequente seja substituída por outra com menor frequência (‘amadurecer’ x ‘amadurar’). 5 Kehdi explica que ocorre uma crase entre o /a/ do circunfixo e a vogal que inicia a base ‘amarelo’. Por essa razão, acreditamos que ‘amarelar’ e ‘azular’ sejam parassintéticos. 161 Muitas outras palavras têm a mesma forma de base – ou, em termos cognitivistas, o perfilamento do mesmo sentido da base – mas são instanciadas por construções distintas. Majoritariamente, essa distribuição ocorre de [en [x] Nj ar]Vi para [a [x]Nj ar]Vi, como vemos em (3). (3) emadeirar amadeirar emordaçar amordaçar emprisionar aprisionar entarraxar atarraxar Nos exemplos de (3), uma mesma palavra serviu de base para a instanciação de novas palavras com o mesmo sentindo, pois, segundo o Houaiss ‘emordaçar’ e ‘amordaçar’ se traduzem por ‘colocar a mordaça em’; ‘emprisionar’ e ‘aprisionar’ significam ‘por na prisão’; e assim sucessivamente. Nesse caso, não é propriamente a força das palavras que permite a sua manutenção no léxico, mas a força da construção em que estão inseridas que acaba por influenciar a incorporação de mais unidades lexicais. Em outras palavras, o esquema [a [x]Nj ar]Vi, por razões de alto entrincheiramento e, consequentemente, maior força lexical, tem vantagens na competição entre palavras. O experimento linguístico realizado com falantes do português brasileiro vem ao encontro dessa hipótese, pois mostramos que o falante prefere, por exemplo, ‘aprisionar’, ‘amordaçar’ e ‘atarraxar’ às suas contrapartes em [en [x]Nj ar]Vi (‘emprisionar’, ‘emordaçar’ e ‘entarraxar’). Nem sempre essa distribuição em termos de entrincheiramento prevalece. Em alguns casos, as palavras de [en [x]Nj ar]Vi parecem ser mais facilmente acessadas que 162 suas contrapartes de [a [x]Nj ar]Vi, como nos itens em (4). Verificamos que estes verbos podem ser agrupados em função do sentido locativo que se traduz por (i) ‘colocar em x’, nos três primeiros pares de (4), ou (ii) ‘colocar x em’, nos dois últimos pares de (4). (4) abrenhar embrenhar abalsar embalsar abainhar embainhar abandeirar embandeirar abalsamar embalsamar Conforme foi argumentado no capítulo anterior, [a [x] Nj ar]Vi tem o centro prototípico de resultatividade de atributo, enquanto [en [x] Nj ar]Vi se caracteriza pela resultatividade de espaço – mesmo que as duas construções possam veicular os dois sentidos. Da mesma forma que aconteceu com o par ‘amarelecer’ / ‘amarelar’, as relações analógicas entre o sentido das palavras em (4) e o significado evocado pelo esquema [en [x]Nj ar]Vi levam a uma compatibilização semântica que culmina com a estocagem dos itens ‘embrenhar’, ‘embalsar’, ‘embainhar’, ‘embandeirar’ e ‘embalsamar’. 6.3.2. Unidades lexicais coexistentes Dissemos que, pelo Princípio da Economia Maximizada, palavras que têm a mesma base e veiculam o mesmo sentido tendem a entrar em competição, pois seus usos estão vinculados aos mesmos contextos pragmáticos e semânticos. Entretanto, 163 um grupo de palavras que tem a mesma base pode conviver desde que se especialize em contextos semânticos e/ou pragmáticos distintos. É o caso das unidades apresentadas em (5), em que diferentes subesquemas são ativados pela mesma base fonológica. (5) enterrar ≠ aterrar empossar ≠ apossar enfiar ≠ afiar emburrecer ≠ emburrar encavalar ≠ acavalar enfunilar ≠ afunilar encarneirar ≠ acarneirar enflorar ≠ aflorar embotijar ≠ abotijar embarrancar ≠ abarrancar embaular ≠ abaular emalhar ≠ amalhar embarrilar ≠ abarrilar Nos exemplos de (5), embora haja – em termos formais – a mesma base, sentidos diferentes são selecionados para cada par. Por exemplo, da base ‘funil’ pode ser perfilada a ideia de um instrumento pelo qual escoam líquidos ou a ideia de seu formato, a depender do subesquema com o qual a base será compatibilizada. Como o subesquema [a [x]Nj ar]Vi tem por sentido prototípico a informação de resultatividade 164 de atributo, seleciona-se o formato do objeto ‘funil’ para que haja uma aproximação conceitual na unidade ‘afunilar’, que, de acordo com o Houaiss (2009), significa ‘dar ou tomar a forma de funil’. Já [en [x]Nj ar]Vi, cujo sentido prototípico está relacionado à questão de espaço, evoca a ideia de escoamento. O verbo ‘enfunilar’ significa, então, ‘fazer passar por um funil’. O verbo ‘embarrilar’, por exemplo, mapeia o esquema imagético de conteúdo, pois significa ‘colocar em barril’, enquanto ‘abarrilar’ seleciona o formato do barril, indicando uma ‘transformação em algo parecido com um barril’. Apesar de ‘aterrar’ e ‘enterrar’ ativarem o sentido de resultatividade de espaço, o elemento focalizado deve ser distinto para que as construções sejam semanticamente diferentes. Em ‘aterrar’, perfila-se a porção de solo (o elemento colocado), enquanto em ‘enterrar’, o buraco no solo (o recipiente). 6.3.3. Os empréstimos Os exemplos de palavras que têm origem latina ou de outra língua românica são escassos, somando 3,8% (ou 27 itens) do conjunto de palavras. Grande parte desses dados vem do latim (86%), seguido do espanhol (11%) e do italiano (3%), como se apresenta no gráfico abaixo. 165 3% 11% Italiano Espanhol Latim 86% Gráfico 3: distribuição das palavras que entraram por empréstimo linguístico Como dissemos, algumas palavras são reanalisadas pelos falantes como um item instanciado na língua portuguesa. É o caso de ‘emudecer’, ‘emagrecer’ e ‘endurecer’, que têm origem latina, mas apresentam forte similaridade semântica e fonológica com as palavras ‘mudo’, ‘magro’ e ‘duro’. Outras como ‘emperrar’, do espanhol ‘emperrar’, e ‘empatar’, do italiano ‘impattare’, tornam-se opacas, pois o falante não recupera suas bases. Em outras palavras, o primeiro grupo de itens lexicais é instanciado por um subesquema em que [x]Nj é uma entrada lexical da língua e, com isso, o falante consegue recuperar as partes que constituem a formação. O segundo grupo de palavras apresenta um subesquema de opacidade, cujo elemento x não é indexicado, nem tem categoria gramatical, i.e., não é uma entrada lexical do português. O falante do português, por exemplo, não recupera a base ‘perro’, que significa cachorro, da palavra ‘emperrar’. ‘Empatar’ e ‘emperrar’ são, portanto, instanciados pelo subesquema [en - x - ar]Vi. Demonstra-se, no seguinte quadro, a lista de palavras que entraram como empréstimo no português. Mostramos, além do mais, a qual subesquema as palavras estão vinculadas. 166 Origem Latim Subesquemas [a [x]Nj ecer]Vi [a - x - ecer]Vi Palavras Agradecer, Amadurecer, Amanhecer, Amolecer, Anoitecer, Apodrecer Aborrecer, Adoecer, Adormecer [a [x]Nj ar]Vi Aguardar [a - x - ar]Vi Acenar, Achincalhar, Apertar, Arrecadar [en [x]Nj ecer]Vi Emagrecer, Emudecer, Endurecer [en - x - ar]Vi Embargar, Emborcar, Embriagar, Embrulhar, Empenhar, Engasgar Emperrar, Enaltecer, Entornar Empatar Espanhol [en - x - ar]Vi Italiano [en - x - ar]Vi Quadro 4: distribuição das palavras quanto à língua de origem 6.4. Resumindo Argumentamos, neste capítulo, que, em vez de observarmos a produtividade de construções isoladamente, devemos estar atentos a um conjunto de fatores que reúne as noções de entrincheiramento e produtividade, bem como os reflexos da frequência no acesso e armazenamento lexical. Nessa direção, a frequência de uso e a frequência de tipo têm importantes papéis, pois auxiliam na expansão do grupo de palavras e na manutenção dos itens opacos que têm alta frequência. A pesquisa em corpora diacrônicos revelou uma fotografia de como os falantes compreendem as unidades lexicais e os subesquemas de parassíntese ao longo do curso da língua, desde o Português Antigo ao Português Brasileiro. Pudemos, com isso, estabelecer limites claros de entrincheiramento em vários períodos e cotejar com os dados de produtividade diacrônica. Outro importante mecanismo foi analisar, através de um experimento linguístico, a conceptualização que os falantes do Português Brasileiro fazem de alguns fatos da parassíntese, como a substituição de uma palavra 167 menos frequente por outra que tenha maior taxa de frequência, ou a coexistência de palavras com a mesma base. Demonstramos também que, em vez de enfraquecer os esquemas de circunfixação, casos de empréstimos geram força lexical às construções por possibilitar a reanálise de itens, devendo ser analisados sob o escopo de uma construção mais específica. Concluímos, então, que (i) a construção [a [x]Nj ecer]Vi tem baixa força lexical e a probabilidade de instanciar novos itens é reduzida, quase nula; (ii) [en [x]Nj ecer]Vi tem força lexical próxima à média e ainda pode gerar novas unidades, mesmo que em pouca quantidade (‘emputecer’ e ‘emburrecer’, por exemplo); e (iii) o grau de força lexical das construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi é elevado, caracterizando um forte entrincheiramento e uma alta probabilidade de instanciação de novos itens, como foi evidenciado nos experimentos. 168 CONCLUSÃO 7 Nesta dissertação, tivemos como proposta investigar a produtividade e o comportamento morfossemântico de construções parassintéticas no português brasileiro. Duas premissas que nos conduziram durante a produção do trabalho foram a observação da mudança categorial como mudança de processamento cognitivo e a relevância da frequência de tipo e da frequência de ocorrência para a manutenção e formação de unidades lexicais. Uma vez que essas unidades lexicais não são estruturas ad hoc, mas vinculadas a esquemas genéricos, pudemos constatar que o entrincheiramento de construções contribui para sua maior produtividade, ao passo que o entrincheiramento de palavras impede sua reanálise pela força paradigmática. A análise das operações cognitivas (metáfora, metonímia, ajuste focal) que atuam nos fenômenos linguísticos possibilitou que verificássemos as extensões semânticas decorrentes da aplicação das palavras em diferentes contextos discursivos. Da mesma maneira, a organização dos subesquemas em uma rede indica o modo pelo qual a categorização por protótipos age na nossa mente: figura no centro o esquema mais genérico e radialmente se espraiam os subesquemas mais específicos. Naturalmente, não se pretendeu esgotar o assunto, cabendo, pois, apontar alguns caminhos que ainda não foram explorados nos estudos do léxico do português. Na perspectiva construcional (GOLDBERG, 1995), assume-se que morfologia e sintaxe têm muitas propriedades em comum, já que são tratadas como pareamentos de forma e significado. Falta, então, verificar se a transitividade dos diversos verbos 169 parassintéticos influencia o agrupamento semântico entre resultatividade de atributo e resultatividade de espaço. Além disso, como tangenciamos no capítulo 5, a causatividade parece estar correlacionada ao lugar que o hospedeiro ocupa na construção resultativa. Retomando os exemplos de (13) e (14), aqui apresentados como (1), o verbo ‘amolecer’ pode compatibilizar com uma estrutura de um lugar ou dois lugares, o que interfere na causatividade ou não causatividade da construção. (1) O chocolate amoleceu. O calor amoleceu o chocolate. Outra importante questão é o processo de prótese do [a] em verbos não parassintéticos, como ‘amostrar’, ‘atropeçar’, ‘assujeitar’ e ‘alembrar’. Tidos como arcaísmos pela gramática tradicional, esses verbos podem revelar, ao contrário, uma mudança de subesquemas. O processo inverso, o apagamento de uma das frações do circunfixo (a aférese), parece ser um caso semelhante, como em ‘paixonar’, ‘noitecer’ e ‘cabar’. É necessário verificar quais são as motivações extralinguísticas para tais processos fonológicos e se há implicações nas representações semânticas e formais. Esperamos, em suma, ter contribuído para o desenvolvimento dos estudos em Linguística Cognitiva no português e, mais especificamente, para o refinamento daqueles que versam sobre os fenômenos do léxico. 170 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8 ALMEIDA, Maria Lucia Leitão de et alii. Linguística Cognitiva em Foco: morfologia e semântica do português. Rio de Janeiro: Publit, 2009. ALVARO, Patrícia Teles. “Até: de preposição a operador escalar”. In: ALMEIDA, Maria Lucia Leitão de et alii. Linguística Cognitiva em Foco: morfologia e semântica do português. Rio de Janeiro: Publit, 2009. ANDERSON, Stephen. A-Morphous Morphology. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. ARONOFF, Mark. Word formation in generative grammar. Cambridge: The MIT Press, 1976. BASILIO, Margarida. Estruturas lexicais em português. Petrópolis: Vozes, 1980. ______. Teoria lexical. São Paulo: Ática, 1987. ______. Verbos em -a(r) em português: afixação ou conversão?. In: Revista D.E.L.T.A. 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XV s. XV 1783 s. XIII 1596 1913 1783 s. XIX 1783 1899 s.XX 1612 s. XX 1783 1899 s. XV 1913 1942 1777 s. XV s. XIX s. XIX 1532 1678 1837 1783 s.XVII s. XX 1783 s.XIX 180 Abeirar Abençoar Abendiçoar Abengalar Abesourar Abestar Abexigar Abezerrar Abibliotecar Abicar Abigodar Abilolar Abiombar Abiqueirar Abiscoitar Abisonhar Abobar Abocadar Abocetar Abodegar Aboemiar Abofetar Abolachar Aboletar Abolhar Abonançar Abordar Abordoar Abotijar Abotinar Abotoar Abraçar Abrandar Abrasar Abrasileirar Abrasilianar Abrasonar Abrecar Abrejar Abrejeirar Abrilhantar Abrumar Abrutar Aburguesar Acabanar Acabar Acabelar beira bênção bendição bengala besouro besta bexiga bezerro biblioteca bico bigode bilola biombo biqueira biscoito bisonho bobo bocado boceta bodega boêmio bofete bolacha boleto bolha bonança borda bordão botija botina botão braço brando brasa brasileiro brasiliano brasão breque brejo brejeiro brilhante bruma bruto burguês cabana cabo cabelo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo 1750 1562 1562 1783 1899 s. XX 1783 1552 1783 1647 1450 s. XIV 1986 1986 1712 1532 s. XV 1697 1830 s. XIV 1255 s. XIV s. XIV 1872 1879 1783 1938 1789 1710 1888 1783 s. XIII 1621 181 Acaboclar Acacetar Acachaçar Acachafundar Acachoeirar Acacifar Acafajestar Acafetar Acaixeirar Acajadar Acalmar Acalorar Acamar Acamaradar Acambraiar Acampainhar Acampar Acamurçar Acanalar Acanalhar Acanastrar Acancelar Acanelar Acangaceirar Acanhar Acanivetar Acanoar Acanteirar Acapachar Acapangar Acariciar Acarinhar Acarneirar Acarrancar Acarrapatar Acarretar Acartolar Acasalar Acasmurrar Acastanhar Acastelhanar Acavalar Acavaleirar Acavaletar Acebolar Acenar Acerejar caboclo cacete cachaça cachafundo cachoeira cacifo cafajeste café caixeiro cajado calmo calor cama camarada cambraia campainha campo camurça canal canalha canastra cancela canela cangaceiro canho canivete canoa canteiro capacho capanga carícia carinho carneiro carranca carrapato carreta cartola casal casmurro castanho castelhano cavalo cavaleiro cavalete cebola accinare, de cinnus cereja Substantivo Substantivo Substantivo 1872 1918 Substantivo 1912 Substantivo 1783 Adjetivo 1926 Substantivo 1899 Substantivo Substantivo 1783 Adjetivo s. XV Substantivo 1864 Substantivo 1136 Adjetivo 1783 Substantivo Substantivo Substantivo s. XIII Substantivo 1704 Substantivo 1670 Adjetivo 1879 Substantivo 1986 Substantivo 1845 Substantivo 1621 Substantivo Substantivo 1543 Substantivo Substantivo 1986 Substantivo Substantivo/Adjetivo 1891 Substantivo 1928 Substantivo 1559 Substantivo 1813 Substantivo Substantivo s. XVIII Substantivo s. XVIII Substantivo s. XIV Substantivo Substantivo 1881 Adjetivo Adjetivo 1783 Adjetivo 1596 Substantivo 1569 Substantivo s.XIX Substantivo Substantivo 1783 Latim XIV Substantivo 1647 182 Acertar Acevadar Achatar Achincalhar Achinelar Achinesar Achocolatar Acidrar Acinzentar Aclimar Acobertar Acocorar Acoicear Acolchetar Acolchoar Acoletar Acomadrar Acomodar Acompadrar Acompridar Aconfradar Aconselhar Acorcundar Acorrentar Acortinar Acostumar Acotovelar Acovar Acovardar Acreditar Acriançar Acrioular Aculturar Adamar Adamascar Adelgadar Adelicadar Adentrar Adestrar Adiamantar Adiar Adietar Adoçar Adoentar Adonar Afaçanhar Afamar certo cevada chato chinquilho chinelo chinês chocolate cidra cinzento clima coberta cócora(s) coice colchete colchão colete comadre cômodo compadre comprido confrade conselho corcunda corrente cortina costume cotovelo cova covarde crédito criança crioulo cultura dama damasco delgado delicado dentro destro diamante dia dieta doce doente dono façanha fama Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Advérbio Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo 1118 1562 1858 1833 1537 1851 1836 s. XV 1553 1783 1522 1871 1570 s. XIX 1871 1899 s. XIII 1913 1836 1871 1255 1532 1899 s. XV s. XVI 1930 1712 1570 1817 1189 1572 s. XIV 1831 s.XIII 183 Afandangar Afedorentar Afeminar Aferar Aferrar Aferrenhar Afervorar Afiançar Afiar Afidalgar Afinar Afivelar Aflamengar Aflorar Afofar Afolhar Afrancesar Afranzinar Afreguesar Afrescar Afronhar Afrontar Afrouxar Afundar Afunilar Agaitar Agalegar Agalhar Agalinhar Agarotar Agarrar Agigantar Agradar Agraudar Agrisalhar Agrosseirar Agrupar Aguardar Aguitarrar Ajeitar Ajesuitar Ajoelhar Ajuizar Ajustar Aladainhar Alagar Alaranjar fandango fedorento feminfera ferro ferrenho fervor fiança fio fidalgo fino fivela flamengo flor fofo folha francês franzino freguês fresco fronha fronte frouxo fundo funil gaita galego galho galinha garoto garra gigante gratus graúdo grisalho grosseiro grupo guardare guitarra jeito jesuíta joelho juiz justo ladainha lago laranja Substantivo Adjetivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Latim Adjetivo adjetivo Adjetivo Substantivo Latim Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo s. XV s.XV 1899 1619 1623 s. XIV 1543 s. XV 1783 1783 1712 s. XVI 1783 1562 1610 s. XIII s. XV s. XIII 1665 1540 1871 s. XVI 1612 s. XV 1871 1818 1288 s. XVI s. XIII 1647 s. XIV s. XIV 1516 184 Alarar Alargar Aletradar Alinhar Alisar Alisboetar Alistar Alojar Alongar Alourar Amaciar Amadeirar Amadrinhar Amalaguetar Amaldiçoar Amalhar Amanequinar Amansar Amantar Amanteigar Amarasmar Amarfinar Amaricar Amarinheirar Amarotar Amassar Amatilhar Amatronar Amazelar Ameigar Amelaçar Amembranar Ameninar Amentar Amesquinhar Amestrar Ametalar Amilhar Amineirar Amoçar Amochilar Amodernar Amoedar Amofinar Amoitar Amontanhar Amontoar lar largo letrado linha liso lisboeta lista loja longo louro macio madeira madrinha malagueta maldição malha manequim manso manta manteiga marasmo marfim maricas marinheiro maroto massa matilha matrona mazela meigo melaço membrana menino mente mesquinho mestre metal milho mineiro moço mochila moderno moeda mofina moita montanha montão Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo 1899 1294 s. XIII s. XVI s. XVIII s. XIV s. XIII 1789 1645 1344 s.XVII 1899 s. XIII 1836 1619 1258 1858 s.XIV 1789 1882 1657 s.XIV 1575 s.XV 1647 1899 1913 1899 s.XIV 1536 1844 1870 s. XIV 185 Amordaçar Amorenar Amornar Amortalhar Amostardar Amuar Amulatar Amulherar Amulherengar Amumiar Amunhecar Ananicar Anatar Anegrar Aninhar Anotar Apadrinhar Apainelar Apaiolar Apaisanar Apaixonar Apalaçar Apalacetar Apalacianar Apalancar Apalavrar Apalhaçar Apantufar Aparabolar Aparceirar Aparentar Aparoquiar Apartar Apascoar Apassivar Apatetar Apatifar Apaulistar Apavorar Apear Apeçonhentar Apedantar Apepinar Aperfeiçoar Apertar Apiedar Apimentar mordaça moreno morno mortalha mostarda mu mulato mulher mulherengo múmia munheca nanico nata negro ninho nota padrinho painel paiol paisano paixão palác(i)o palacete palaciano palanque palavra palhaço pantufa parábola parceiro parente paróquia parte páscoa passivo pateta patifepaulista pavor pé peçonhento pedante pepino perfeição pectus piedade pimenta Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Adjetivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Substantivo Latim Substantivo Substantivo 1881 1899 s.XV 1553 1873 1543 1699 1836 1716 1619 s. XV 1589 1632 1918 s. XV 1899 1712 s.XV 1597 1543 1871 s. XIV 1214 1858 1858 1755 1585 1540 1783 1611 s.XIII 1532 1789 186 Apinhar Apiramidar Apoderar Apolentar Apoliticalhar Apoltronar Apontar Aportar Aportuguesar Apossar Apreçar Apresentar Apressar Apresuntar Aprimorar Aprincesar Aprisionar Aprofundar Aprontar Apropriar Aprovar Aproveitar Aproximar Aprumar Apunhalar Apurar Aquadrilhar Aquilombar Arrapazar Arrasar Arrastar Arrebanhar Arrebatar Arrecadar Arredondar Arregaçar Arregalar Arreganhar Arregimentar Arrematar Arremessar Arrendar Arriscar Arrombar Arruinar Arrumar Assalariar pinha pirâmide poder polenta politicalha poltrona ponta porto português posse preço presente pressa presunto primor princesa prisão profundo pronto próprio prova proveito próximo prumo punhal puro quadrilha quilombo rapaz raso rastro rebanho rebate recaptare redondo regaço regalo reganho regimento remate remesso renda risco rombo ruína rumo salário Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo 1619 s. XIII 1562 s. XV 1211 1666 1567 1209 s. XIII 1344 1550 s. XIV 1836 1793 s. XIV s. XIV s. XIII 1619 1851 1642 s. XIV 1459 1899 1344 s. XIII 1597 1269 1174 s. XIV 1562 s. XV s. XIII 1504 s. XIV 1258 s. XV s. XV s. XIV 1456 s. XV 187 Assanhar Assedentar Assegurar Assenhorar Assenzalar Assinalar Assingelar Assoberbar Assobradar Assombrar Assovinar Assustar Atabernar Atamancar Atapetar Atarefar Atarraxar Atartarugar Atear Atenorar Aterrar Atiçar Atigrar Atijolar Atinar Atirar Atoalhar Atomatar Atormentar Atoucinhar Atraiçoar Atrapalhar Atravancar Atrelar Atropelar Atucanar Avaliar Avampirar Avarandar Avassalar Aveludar Avermelhar Avinhar Avistar Avivar Avizinhar Avolumar sanha sedento seguro senhor senzala sinal singelo soberba sobrado sombra sovina susto taberna tamanco tapete tarefa tarraxa tartaruga teia tenor terra titio tigre tijolo tino tiro toalha tomate tormento toucinho traição trapalhtravanca trela tropel tucano valia vampiro varanda vassalo veludo vermelho vinho vista vivo vizinho volume Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Latim Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo s. XIII s. XIV 1344 1279 s.XIV s.XIII s. XIV 1655 1899 1836 1828 1789 1793 1899 s. XV s. XV s. XV 1899 1543 s. XV 1507 1838 s. XIII 1552 1727 1553 s. XV s. XIV 1898 1322 1913 1600 1452 1500 1575 1644 1344 1543 1552 188 Avultar Axicarar Azabumbar vulto xícara zabumba Substantivo Substantivo Substantivo 1553 - TABELA 2: [a [X] ecer] = 11 palavras TABELA 2: [a [X]Nj ecer]Vi Vocábulo Base Categoria Abastecer Basto Adjetivo Aborrecer Abhorrescere Latim Adoecer Addolescere Latim Adormecer Addormiscere Latim Agradecer Gratus, gratescere Latim Amadurecer Maduro/ Ematurescere Adjetivo Amanhecer Manhã/ Admanescere Substantivo Amolecer Mole/ Emollescere Adjetivo Amortecer Morte Substantivo Anoitecer Noite, de adnoctescere Substantivo Apodrecer Podre, de putrescere Adjetivo Datação 1513 s.XIII s.XIII s.XIII s.XIII 1344 1344 1552- 1570 s.XIV s.XIII s.XIII TABELA 3: [en [X] ar] = 257 palavras Vocábulo Emaçar Emadeirar Emadeixar Emagotar Emalar Emalhar Emalhetar Emanocar Emantar Emascular Emassar Embabacar Embaçar Embacelar Embagar Embagulhar Embainhar Embalar Embalsamar TABELA 3: [en [X]Nj ar]Vi Base Categoria maço Substantivo madeira Substantivo madeixa Substantivo magote Substantivo mala Substantivo malha Substantivo maleta Substantivo manoca Substantivo manta Substantivo másculo (do latim) Adjetivo massa Substantivo babaca Adjetivo baço Adjetivo bacela Substantivo bago Substantivo bagulho Substantivo bainha Substantivo bala (balanço) Substantivo bálsamo Substantivo Data 1622 1926 1881 1634 s. XVI 1950 1532 s. XVI s. XVI 189 Embalsar Embananar Embandeirar Embaraçar Embaralhar Embarbascar Embarbelar Embarbilhar Embarcar Embargar Embarrancar Embarrar Embarreirar Embarricar Embarrigar Embarrilar Embasar Embasbacar Embatucar Embaular Embebedar Embeiçar Embelecar Embelezar Embernar Embestar Embetesgar Embezerrar Embicar Embiocar Embirutar Embocar Embocetar Embodegar Embolar Embolorar Embolotar Embolsar Embonecar Emborcar Emborrachar Emborralhar Emborrascar Embostar Embotijar Embraçar balsa banana bandeira baraço baralho barbasco barbela barbilho barca do latim barranco barro barreira barrica barriga barril base orig.controv. batocar baú bêbedo beiço orig.controv. beleza berne besta betesga bezerro bico bioco biruta boca boceta bodega bola bolor bolota bolso/a boneca do latim borracha boralho borrasca bosta botija braço Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo 1601 1512 s. XV 1664 1552 1899 1899 s. XIV s.XIII s.XIV 1928 1634 1816 1981 s. XIV 1858 s.XV 1548 1958 s. XV 1553 1713 s.XV 1713 1539 s. XV s. XIV 1562 s.XIV s. XIV 190 Embrechar Embrenhar Embriagar Embrincar Embruacar Embrulhar Embrumar Embruxar Embuchar Embuizar Emburacar Emburrar Embuzinar Emelar Emoldurar Empacar Empaçocar Empacotar Empalar Empalhar Empalheirar Empalmar Empampanar Empenachar Empanar Empantanar Empanturrar Empapar Empapelar Empapuçar Emparceirar Emparedar Emparelhar Empastar Empastelar Empatar Empauapicar Empavonar Empeçonhar Empedrar Empelotar Empenar Empenhar Emperiquitar Empernar Emperrar brecha brenha do latim brinco bruaca do latim bruma bruxa bucho origem duvidosa buraco burro buzina mel moldura paca paçoca pacote palo (pau) palha palheiro palma pâmpano penacho pano pântano panturra papa papel orig. controv. parceiro parede parelha pasta pastel patta, ita. pau-a-pique pavão peçonha pedra pelota pinus penhor periquito perna do espanhol Substantivo Substantivo embriago Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo s. XV s.XIII 1899 s.XIII 1977 s. XX 1647 1844 1873 1715 1531 s. XV 1836 1931 s. XVI 1953 1552 1588 1515 1836 1881 s. XIII s. XV 1644 1899 1655 s.XIII 1562 s. XV s. XV s. XX s. XX 1532 191 Empestear Empetecar Empilecar Empilhar Empinar Empipocar Empistolar Emplacar Emplumar Empoar Empoçar Empocilgar Empoeirar Empoleirar Empomadar Empombar Empossar Emprateleirar Emprazar Empreguiçar Empreitar Emprenhar Empunhar Empurpurar Emundar Encabeçar Encabular Encaçapar Encadear Encadernar Encafifar Encaixar Encaixotar Encalacrar Encalhar Encaminhar Encaminhar Encampar Encanar Encapar Encapuzar Encaracolar Encarar Encarcerar Encaretar Encarnar peste peteca pileque pilha pino pipoca pistolão placa pluma pó poço/a pocilga poeira poleiro pomada pomba posse prateleira prazo preguiça preito (pacto) prenhe punho púrpura mundo cabeça orig.controv. caçapa cadeia caderno cafifa caixa caixote calacre (dívida) calha caminho caminho campo cano capa capuz caracol cara cárcere careta carne Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo 1697 s. XV s. XV s. XV 1958 1662 1536 1562 1817 1562 s. XX 1537 s. XIII s.XIV s. XV s. XIII s. XIV 1938 1543 s. XX s. XV s. XIV 1899 s. XV 1789 1858 s. XV s. XV s.XV s.XIV 1649 1842 1996 1858 1553 s. XIV s. XIII 192 Encarneirar Encarniçar Encaroçar Encasacar Encasquetar Encastelar Encatarrar-se Encavalar Encavernar Enceleirar Encenar Encerar Encerebrar Encharcar Enciumar Enclausurar Encorajar Encorpar Encorujar Encostar Encravar Encrespar Encristar-se Encucar Encurralar Encurtar Endeusar Endinheirar-se Endireitar Endividar Endoidar Enervar Enevoar Enfaixar Enfear Enfeitiçar Enferrujar Enfezar Enfiar Enfileirar Enflorar Enfocar Enforcar Enfrentar Enfronhar Enfunilar carneiro carniça caroço casaca casquete castelo catarro cavalo caverna celeiro cena cera cérebro charco ciúme clausura coragem corpo coruja costa cravo crespo crista cuca curral curto deus dinheiro direito dívida doido nervo névoa faixa feo (<feio) feitiço ferrugem fezes fio fileira flor foco forca frente fronha funil Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo XIX 1543 1913 1867 s. XVI s. XIV s. XX 1899 1899 1540 1899 1529 1939 1881 1858 1713 1899 s. XIV s. XV s. XIV 1559 s. XIV 1622 1713 s. XIV s. XIII 1913 s. XIV s. XV s. XV 1913 s. XV 1727 1687 s. XIII s.XVIII XIX XX 1152 1899 1910 1713 193 Engaiolar Engarrafar Engasgar Engatar Engatilhar Engatinhar Engavetar Engessar Englobar Engomar Engordar Engordurar Engraçar Engravatar Engravidar Engraxar Engrinaldar Engrossar Enjaular Enlaçar Enlatar Enlerdar Enlodar Enluarar Enlutar Enquadrar Enrabar Enrabichar Enraizar Enredar Enricar Enrijar Enrolar Enroscar Enrugar Ensaboar Ensacar Ensanduichar Ensopar Entalar Entediar Enterrar Entoar Entornar Entortar Entrincheirar gaiola garrafa -gasg (goela) gato gatilho gatinho gaveta gesso globo goma gordo gordura graça gravata grávido graxa grinalda grosso jaula laço lata lerdo lodo luar luto quadro rabo rabicho raiz rede rico rijo rolo rosca ruga sabão saco sanduíche sopa tala tédio terra tom torno (cast.) torto trincheira Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo Substantivo 1713 1836 s. XVI 1563 1881 1543 1913 1562 1836 1562 s.XIV 1858 s.XIV 1871 1958 1543 1635 s. XIII 1706 s. XIV s. XVI s.XV s.XX 1860 1899 1986 1881 1836 1543 1536 1524 s. XIII 1562 1548 1995 s. XV 1562 1865 s. XIII s.XV s.XIV 1562 1596 194 Entubar Entulhar Enturmar Envasilhar Envenenar Envergonhar Envernizar Enviuvar tubo tulha turma vasilha veneno vergonha verniz viúvo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Substantivo Adjetivo 1958 1507 1727 1858 s. XIII s. XV 1543 TABELA 4: [en [X] ecer] = 40 palavras TABELA 4: [en [X]Nj ecer]Vi Vocábulo Base Categoria Emagrecer magro Adjetivo Embambecer bambo Adjetivo Embarbecer barba Substantivo Embrabecer brabo Adjetivo Embrandecer brando Adjetivo Embranquecer branco Adjetivo Embravecer bravo Adjetivo Embrutecer bruto Adjetivo Emburrecer burro Adjetivo Emouquecer mouco Adjetivo Empalidecer pálido Adjetivo Empardecer pardo Adjetivo Empequenecer pequeno Adjetivo Empobrecer pobre Adjetivo Emputecer puto Adjetivo Emudecer mudo Adjetivo Enaltecer (do espanhol) alto Adjetivo Encalecer calo Substantivo Encalvecer calvo Adjetivo Encarecer caro Adjetivo Endoidecer doido Adjetivo Endurecer duro Adjetivo Enegrecer negro Adjetivo Enfraquecer fraco Adjetivo Enfurecer rad. de fúria Substantivo Engrandecer grande Adjetivo Enlouquecer louco Adjetivo Enobrecer nobre Adjetivo Enraivecer raiva Substantivo Enrijecer rijo Adjetivo Datação s. XIII s. XIII s. XIV s. XIX s. XIV s. XIV s. XVIII s. XX 1557 s. XVII s. XIX s. XIII s. XX s. XV s. XIX s.XVIII s. XIV s. XV s. XIV s. XIV s. XIII s. XVII s. XV s. XIII s. XIV s. XVIII s. XIII 195 Enriquecer Enrouquecer Ensoberbecer Ensurdecer Entardecer Enternecer Entristecer Envaidecer Envelhecer Enverdecer rico rouco soberba surdo tarde terno triste vaidade velho verde Adjetivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Adjetivo Substantivo Adjetivo Adjetivo s. XIII s. XIV s. XIV s. XIV s. XIX s. XVI s. XIV s. XIX s. XIII s. XIV 196 ANEXO II Textos utilizados dos corpora diacrônicos CIPM Lista de textos utilizados CIPM Crônica de Afonso X (MsP) in Crônica Geral de Espanha Dos Costumes de Santarém Crônica de Afonso X (MsL) in Crônica Geral de Espanha Crônica Geral de Espanha Castelo Perigoso Leal Conselheiro Orto do Esposo Crônica dos Reis de Bisnaga Data XIV XIV XIV XIV XV XV XV XVI TYCHO BRAHE Lista de textos utilizados CIPM Crônica del-Rei Dom João I, Fernão Lopes Gramática, João de Barros Crônica del-Rei Dom Afonso Henriques, Duarte Galvão Monarchia Lusitana, António Brandão Da Monarchia Lusitana, Bernardo de Brito Décadas, Diogo Couto Cartas, Dom João III Discursos vários políticos, Manuel Severim de Faria História da Província de Santa Cruz, Pero Magalhães de Gandavo Da pintura antiga, Francisco de Holanda Corte na Aldeia e Noites de Inverno, F. Rodrigues Lobo Data XIV XV XV XVI XVI XVI XVI XVI XVI XVI XVI Perigrinação, de Fernão Mendes Pinto A vida de Frei Bartolameu dos Mártires, Luis de Sousa XVI XVI Manuscritos das Mãos Inábeis Vida do apostólico padre Antonio Vieira, André de Barros Nova Floresta, Manuel Bernardes Cartas, José da Cunha Brochado Cartas Espirituais, Antonio das Chagas A arte de furtar, Manuel da Costa Obras Completas, Correia Garção XVI XVII XVII XVII XVII XVII XVII 197 Cartas, Alexandre de Gusmão Cartas Familiares, Francisco Manuel de Melo Tácito Português, Francisco Manuel de Melo História Sebástica, Manuel dos Santos Historia do futuro, Padre A. Vieira Sermões, Padre A. Vieira Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, Matias Aires Cartas, Marquesa de Alorna Cartas, Cavaleiro de Oliveira Cartas, Antonio da Costa Entremezes de Cordel, Jose Daniel Rodrigues da Costa Cartas, Almeida Garret Teatro, Almeida Garret Viagens na minha terra, Almeida Garret Cartas, Pina Manique Aventuras de Diófanes, Teresa Margarida da Silva e Orta Verdadeiro Método de Estudar, L. Antonio Verney Atas dos Africanos Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna Maria Moisés, Camilo Castelo Branco Cartas, Eça de Queirós e Oliveira Martins Cartas a Emília, Ramalho Ortigão Maria ou a menina roubada, Antônio Gonçalves Teixeira e Souza XVII XVII XVII XVII XVII XVII XVIII XVIII XVIII XVIII XVIII XVIII XVIII XVIII XVIII XVIII XVIII XVIII XIX XIX XIX XIX XIX Portal Domínio Público Lista de textos utilizados Data Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis O Sertanejo, de José de Alencar XIX O Cortiço, de Aluísio de Azevedo A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães Memórias de um sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida A Moreninha, Joaquim Manuel de Macedo O Ateneu, Raul Pompéia O Matuto, de Franklin Távora XIX XIX XIX XIX XIX XIX XIX 198 ANEXO III Frequência de uso do século XIV [a[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 43/504183 0,008529 Adoecer 34/504183 0,006744 Abastecer 6/504183 0,00119 Acaecer 3/504183 0,000595 Adormecer 3/504183 0,000595 Avorrecer 3/504183 0,000595 Amanhecer 2/504183 0,000397 Apodrecer 2/504183 0,000397 Amadurecer 1/504183 0,000198 Anoytecer 1/504183 0,000198 [en[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Enriquecer 3/504183 0,000595 Ensoberbecer 1/504183 0,000198 Enfraquecer 1/504183 0,000198 [en[X]ar] Unidade Quantidade Porcentagem Enterrar 22/504183 0,004363 Encaminhar 5/504183 0,000992 Enforcar 4/504183 0,000793 Embarcar 2/504183 0,000397 Emprazar 2/504183 0,000397 Emprenhar 1/504183 0,000198 Enfamar 1/504183 0,000198 Enlaçar 1/504183 0,000198 Encarnar 1/504183 0,000198 Unidade Acabar Apoderar Aguardar Apartar Aportar Abraçar Alongar Apresentar Apressar Abaixar Acertar Apontar [a[X]ar] Quantidade Porcentagem 133/504183 0,026379 44/504183 0,008727 41/504183 0,008132 26/504183 0,005157 21/504183 0,004165 19/504183 0,003768 15/504183 0,002975 12/504183 0,00238 12/504183 0,00238 9/504183 0,001785 9/504183 0,001785 7/504183 0,001388 199 Afrontar Assanhar Atormentar Apedrar Apertar Arrastar Apedrar Aproveitar Assenhorar Acevadar Aprovar Arrecadar Assegurar Avivar Abrandar Acostumar Agradar Arrasar Atropelar 5/504183 5/504183 5/504183 4/504183 4/504183 4/504183 3/504183 3/504183 3/504183 2/504183 2/504183 2/504183 2/504183 2/504183 1/504183 1/504183 1/504183 1/504183 1/504183 0,000992 0,000992 0,000992 0,000793 0,000793 0,000793 0,000595 0,000595 0,000595 0,000397 0,000397 0,000397 0,000397 0,000397 0,000198 0,000198 0,000198 0,000198 0,000198 200 Frequência de uso do século XV [a[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 29/590942 0,004907 Aborrecer 22/590942 0,003723 Adormecer 19/590942 0,003215 Adoecer 16/590942 0,002708 Amanhecer 6/590942 0,001015 Apodrecer 5/590942 0,000846 Aquecer 5/590942 0,000846 Anoitecer 4/590942 0,000677 Abastecer 2/590942 0,000338 [en[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Ensoberbecer 7/590942 0,001185 Entristecer 5/590942 0,000846 Enegrecer 4/590942 0,000677 Endurecer 3/590942 0,000508 Enfraquecer 3/590942 0,000508 Enverdecer 3/590942 0,000508 Embranquecer 2/590942 0,000338 Emudecer 1/590942 0,000169 Engrandecer 1/590942 0,000169 Enobrecer 1/590942 0,000169 Enriquecer 1/590942 0,000169 Envelhecer 1/590942 0,000169 [en[X]ar] Unidade Quantidade Porcentagem Enterrar 21/590942 0,003554 Encaminhar 16/590942 0,002708 Envergonhar 13/590942 0,0022 Endireitar 6/590942 0,001015 Encostar 5/590942 0,000846 Engordar 2/590942 0,000338 Embarcar 1/590942 0,000169 Embicar 1/590942 0,000169 Empossar 1/590942 0,000169 Empunhar 1/590942 0,000169 Engalhar 1/590942 0,000169 Enlaçar 1/590942 0,000169 Entornar 1/590942 0,000169 Unidade Acabar Apertar Aproveitar Abraçar [a[x]ar] Quantidade Porcentagem 172/590942 0,029106 78/590942 0,013199 64/590942 0,01083 51/590942 0,00863 201 Apartar Alongar Abaixar Acertar Aguardar Apresentar Apropriar Assanhar Atormentar Aportar Alagar Aprovar Assenhorar Aconselhar Apontar Apressar Abrandar Avivar Acarretar Afrontar Alargar Amansar Arrecadar Arrebatar Afigurar Afundar Apedrar Arrastar Arremessar Arrematar Abafar Afrouxar Afiar Acovardar Apiedar Apurar Avantajar 46/590942 34/590942 31/590942 30/590942 28/590942 23/590942 19/590942 18/590942 15/590942 12/590942 11/590942 9/590942 8/590942 7/590942 7/590942 6/590942 5/590942 5/590942 3/590942 3/590942 3/590942 3/590942 3/590942 3/590942 2/590942 2/590942 2/590942 2/590942 2/590942 2/590942 1/590942 1/590942 1/590942 1/590942 1/590942 1/590942 1/590942 0,007784 0,005754 0,005246 0,005077 0,004738 0,003892 0,003215 0,003046 0,002538 0,002031 0,001861 0,001523 0,001354 0,001185 0,001185 0,001015 0,000846 0,000846 0,000508 0,000508 0,000508 0,000508 0,000508 0,000508 0,000338 0,000338 0,000338 0,000338 0,000338 0,000338 0,000169 0,000169 0,000169 0,000169 0,000169 0,000169 0,000169 202 Frequência de uso do século XVI [a[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 25/574042 0,004355 Amanhecer 12/574042 0,00209 Aborrecer 10/574042 0,001742 Aquecer 4/574042 0,000697 Adoecer 2/574042 0,000348 Adormecer 2/574042 0,000348 Amadurecer 1/574042 0,000174 Anoitecer 1/574042 0,000174 [en[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Encarecer 21/574042 0,003658 Enriquecer 21/574042 0,003658 Engrandecer 20/574042 0,003484 Enobrecer 11/574042 0,001916 Entristecer 4/574042 0,000697 Emudecer 2/574042 0,000348 Empobrecer 2/574042 0,000348 Endurecer 2/574042 0,000348 Enfraquecer 2/574042 0,000348 Emagrecer 1/574042 0,000174 Enfurecer 1/574042 0,000174 Enternecer 1/574042 0,000174 [en[X]ar] Unidade Quantidade Porcentagem Embarcar 92/574042 0,016027 Encaminhar 14/574042 0,002439 Enterrar 9/574042 0,001568 Entesourar 6/574042 0,001045 Enforcar 4/574042 0,000697 Encarar 3/574042 0,000523 Encostar 3/574042 0,000523 Enojar 3/574042 0,000523 Entornar 3/574042 0,000523 Envergonhar 3/574042 0,000523 Encampar 2/574042 0,000348 Encurtar 2/574042 0,000348 Embicar 1/574042 0,000174 Empredar 1/574042 0,000174 Encadear 1/574042 0,000174 Emparelhar 1/574042 0,000174 Encaixar 1/574042 0,000174 Encapelar 1/574042 0,000174 Enforcar 1/574042 0,000174 Endireitar 1/574042 0,000174 Engordar 1/574042 0,000174 203 Enroscar Entulhar Embebedar Embostar 1/574042 1/574042 1/574042 1/574042 0,000174 0,000174 0,000174 0,000174 [a[X]ar] Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 233/574042 0,040589 Apontar 123/574042 0,021427 Aproveitar 97/574042 0,016898 Acertar 52/574042 0,009059 Apartar 47/574042 0,008188 Aconselhar 46/574042 0,008013 Apertar 26/574042 0,004529 Apresentar 26/574042 0,004529 Arrecadar 24/574042 0,004181 Aprovar 22/574042 0,003832 Acreditar 19/574042 0,00331 Assegurar 18/574042 0,003136 Apurar 15/574042 0,002613 Alargar 13/574042 0,002265 Assombrar 13/574042 0,002265 Acomodar 12/574042 0,00209 Assinalar 12/574042 0,00209 Avaliar 12/574042 0,00209 Acostumar 11/574042 0,001916 Apressar 11/574042 0,001916 Abaixar 10/574042 0,001742 Atirar 10/574042 0,001742 Abrasar 9/574042 0,001568 Alagar 9/574042 0,001568 Apear 9/574042 0,001568 Apoderar 9/574042 0,001568 Aremessar 9/574042 0,001568 Arriscar 9/574042 0,001568 Acarretar 8/574042 0,001394 Agradar 8/574042 0,001394 Arrendar 7/574042 0,001219 Atinar 7/574042 0,001219 Arruinar 6/574042 0,001045 Alojar 5/574042 0,000871 Aperfeiçoar 5/574042 0,000871 Atormentar 5/574042 0,000871 Abrandar 4/574042 0,000697 Afigurar 4/574042 0,000697 Afrontar 4/574042 0,000697 Aguardar 4/574042 0,000697 Alongar 4/574042 0,000697 Arrematar 4/574042 0,000697 Avivar 4/574042 0,000697 Afrouxar 3/574042 0,000523 204 Ajustar Arrasar Atear Abarcar Acalmar Amansar Arrastar Arrebatar Acanhar Adestrar Anotar Amuar Alarar Amortalhar Amassar Aproximar Atenuar Atemorizar 3/574042 3/574042 3/574042 2/574042 2/574042 2/574042 2/574042 2/574042 1/574042 1/574042 1/574042 1/574042 1/574042 1/574042 1/574042 1/574042 1/574042 1/574042 0,000523 0,000523 0,000523 0,000348 0,000348 0,000348 0,000348 0,000348 0,000174 0,000174 0,000174 0,000174 0,000174 0,000174 0,000174 0,000174 0,000174 0,000174 205 Frequência de uso do século XVII [a[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 48/563636 0,008516 Aborrecer 31/563636 0,0055 Adoecer 16/563636 0,002839 Amanhecer 16/563636 0,002839 Adormecer 5/563636 0,000887 Abastecer 3/563636 0,000532 Amolecer 2/563636 0,000355 Anoitecer 2/563636 0,000355 Amadurecer 1/563636 0,000177 Amortecer 1/563636 0,000177 Aquecer 1/563636 0,000177 [en[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Enfraquecer 22/563636 0,003903 Encarecer 13/563636 0,002306 Enriquecer 12/563636 0,002129 Entristecer 8/563636 0,001419 Emudecer 7/563636 0,001242 Enobrecer 6/563636 0,001065 Engrandecer 5/563636 0,000887 Endurecer 4/563636 0,00071 Envilecer 4/563636 0,00071 Empobrecer 2/563636 0,000355 Encruecer 2/563636 0,000355 Embravecer 1/563636 0,000177 Emagrecer 1/563636 0,000177 Endoidecer 1/563636 0,000177 Enfurecer 1/563636 0,000177 Enlouquecer 1/563636 0,000177 Enternecer 1/563636 0,000177 [en[X]ar] Unidade Quantidade Porcentagem Encaminhar 23/563636 0,004081 Embarcar 20/563636 0,003548 Envergonhar 19/563636 0,003371 Engrossar 12/563636 0,002129 Enterrar 8/563636 0,001419 Enforcar 4/563636 0,00071 Engatinhar 3/563636 0,000532 Ensacar 3/563636 0,000532 Embaraçar 2/563636 0,000355 Embalsamar 2/563636 0,000355 Empunhar 2/563636 0,000355 Encorporar 2/563636 0,000355 Engolfar 2/563636 0,000355 206 Embainhar Embalsar Empenhar Enceleirar Encostar Encravar Endireitar Endividar Engordar Ensopar Enredar Entoar Entortar Entulhar Entrouxar 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 [a[X]ar] Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 320/563636 0,056774 Aproveitar 82/563636 0,014548 Apartar 54/563636 0,009581 Assegurar 54/563636 0,009581 Acertar 51/563636 0,009048 Aprovar 44/563636 0,007806 Aconselhar 43/563636 0,007629 Agradar 42/563636 0,007452 Apontar 42/563636 0,007452 Ajustar 38/563636 0,006742 Acomodar 32/563636 0,005677 Apertar 24/563636 0,004258 Apresentar 24/563636 0,004258 Arruinar 17/563636 0,003016 Arrastar 15/563636 0,002661 Avaliar 15/563636 0,002661 Arrebatar 14/563636 0,002484 Atormentar 13/563636 0,002306 Avistar 12/563636 0,002129 Acreditar 11/563636 0,001952 Apurar 11/563636 0,001952 Arriscar 11/563636 0,001952 Assustar 11/563636 0,001952 Abrasar 10/563636 0,001774 Assombrar 10/563636 0,001774 Agravar 9/563636 0,001597 Alargar 9/563636 0,001597 Apressar 9/563636 0,001597 Abaixar 8/563636 0,001419 Aguardar 8/563636 0,001419 Atear 8/563636 0,001419 Atropelar 8/563636 0,001419 Amansar 7/563636 0,001242 207 Aperfeiçoar Arrasar Avultar Abarcar Agarrar Atirar Abrandar Afrontar Ajoelhar Aportar Atenuar Acarretar Acovardar Alistar Alojar Alongar Amontoar Apoderar Arremessar Assinalar Atinar Acanhar Acariciar Adestrar Afinar Agigantar Alagar Apadrinhar Apropriar Arrecadar Avivar Avizinhar Acalmar Afigurar Afrouxar Ajuizar Alinhar Aligeirar Arrematar Aprofundar Arrebanhar Arrombar Arrumar Aterrar 7/563636 7/563636 6/563636 5/563636 5/563636 5/563636 4/563636 4/563636 4/563636 4/563636 4/563636 3/563636 3/563636 3/563636 3/563636 3/563636 3/563636 3/563636 3/563636 3/563636 3/563636 2/563636 2/563636 2/563636 2/563636 2/563636 2/563636 2/563636 2/563636 2/563636 2/563636 2/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 1/563636 0,001242 0,001242 0,001065 0,000887 0,000887 0,000887 0,00071 0,00071 0,00071 0,00071 0,00071 0,000532 0,000532 0,000532 0,000532 0,000532 0,000532 0,000532 0,000532 0,000532 0,000532 0,000355 0,000355 0,000355 0,000355 0,000355 0,000355 0,000355 0,000355 0,000355 0,000355 0,000355 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 0,000177 208 Frequência de uso do século XVIII [a[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 43/508567 0,008455 Aborrecer 27/508567 0,005309 Adormecer 5/508567 0,000983 Apodrecer 5/508567 0,000983 Amanhecer 4/508567 0,000787 Amortecer 4/508567 0,000787 Adoecer 3/508567 0,00059 Anoitecer 3/508567 0,00059 [en[X]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Enobrecer 17/508567 0,003343 Enternecer 7/508567 0,001376 Enfraquecer 6/508567 0,00118 Enriquecer 6/508567 0,00118 Entristecer 6/508567 0,00118 Emudecer 5/508567 0,000983 Enfurecer 4/508567 0,000787 Engrandecer 4/508567 0,000787 Envelhecer 4/508567 0,000787 Envilecer 4/508567 0,000787 Endoidecer 3/508567 0,00059 Encarecer 2/508567 0,000393 Emagrecer 1/508567 0,000197 Empalidecer 1/508567 0,000197 Endurecer 1/508567 0,000197 Enlouquecer 1/508567 0,000197 Enraivecer 1/508567 0,000197 Enrouquecer 1/508567 0,000197 Ensoberbecer 1/508567 0,000197 Entontecer 1/508567 0,000197 [en[X]ar] Unidade Quantidade Porcentagem Embarcar 19/508567 0,003736 Envergonhar 13/508567 0,002556 Encaminhar 11/508567 0,002163 Endireitar 8/508567 0,001573 Envenenar 7/508567 0,001376 Enforcar 5/508567 0,000983 Enterrar 4/508567 0,000787 Enredar 4/508567 0,000787 Entoar 3/508567 0,00059 Embaraçar 3/508567 0,00059 Embainhar 3/508567 0,00059 Enrolar 2/508567 0,000393 Engrossar 2/508567 0,000393 209 Encostar Encasquetar Entortar Entalar Engordar Enervar Encrespar Encarquilhar Encarcerar Encaixar Empunhar Empastar Embaralhar Unidade Acabar Agradar Apontar Aproveitar Apresentar Aprovar Aconselhar Apertar Acertar Acreditar Apartar Abrandar Arrastar Ajustar Arruinar Assegurar Acomodar Abaixar Arriscar Aproximar Assustar Atirar Avaliar Avivar Apurar Atormentar Aperfeiçoar Apear Aprontar Apressar Arrebatar Alargar Atemorizar Abrasar Acostumar 2/508567 2/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 0,000393 0,000393 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 [a[X]ar] Quantidade Porcentagem 330/508567 0,064888 111/508567 0,021826 71/508567 0,013961 51/508567 0,010028 44/508567 0,008652 44/508567 0,008652 41/508567 0,008062 40/508567 0,007865 38/508567 0,007472 34/508567 0,006685 34/508567 0,006685 28/508567 0,005506 24/508567 0,004719 21/508567 0,004129 21/508567 0,004129 21/508567 0,004129 20/508567 0,003933 19/508567 0,003736 17/508567 0,003343 14/508567 0,002753 14/508567 0,002753 14/508567 0,002753 14/508567 0,002753 14/508567 0,002753 12/508567 0,00236 12/508567 0,00236 11/508567 0,002163 9/508567 0,00177 8/508567 0,001573 8/508567 0,001573 8/508567 0,001573 6/508567 0,00118 6/508567 0,00118 5/508567 0,000983 5/508567 0,000983 210 Ajoelhar Ajuizar Atropelar Afrontar Avultar Afiançar Agarrar Aportuguesar Arrecadar Arrematar Arrombar Arrumar Avistar Afigurar Alojar Aportar Apropriar Assinalar Aterrar Atinar Abafar Abrilhantar Acalmar Acanhar Acenar Afiar Afrouxar Agalegar Agravar Ajeitar Aligeirar Alistar Alongar Amassar Aninhar Apadrinhar Apaixonar Apiedar Apoderar Aprofundar Apunhalar Arrasar Arredondar Arregalar Arreganhar Assenhorar Assoberbar Assombrar Atelhar Atrapalhar Avizinhar 5/508567 5/508567 5/508567 4/508567 4/508567 3/508567 3/508567 3/508567 3/508567 3/508567 3/508567 3/508567 3/508567 2/508567 2/508567 2/508567 2/508567 2/508567 2/508567 2/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 1/508567 0,000983 0,000983 0,000983 0,000787 0,000787 0,00059 0,00059 0,00059 0,00059 0,00059 0,00059 0,00059 0,00059 0,000393 0,000393 0,000393 0,000393 0,000393 0,000393 0,000393 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 0,000197 211 Frequência de uso do século XIX [a[x]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Amanhecer 32/530754 0,006029 Agradecer 29/530754 0,005464 Aborrecer 19/530754 0,00358 Adormecer 15/530754 0,002826 Adoecer 11/530754 0,002073 Anoitecer 10/530754 0,001884 Apodrecer 5/530754 0,000942 Amolecer 2/530754 0,000377 Amadurecer 1/530754 0,000188 Amortecer 1/530754 0,000188 Abastecer 0/530754 0 [en[x]ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Empalidecer 12/530754 0,002261 Enfurecer 8/530754 0,001507 Entristecer 8/530754 0,001507 Enriquecer 6/530754 0,00113 Envelhecer 5/530754 0,000942 Emagrecer 4/530754 0,000754 Encarecer 4/530754 0,000754 Enlouquecer 4/530754 0,000754 Enegrecer 3/530754 0,000565 Enfraquecer 3/530754 0,000565 Enobrecer 2/530754 0,000377 Enternecer 2/530754 0,000377 Entontecer 2/530754 0,000377 Embrutecer 1/530754 0,000188 Emudecer 1/530754 0,000188 Endoidecer 1/530754 0,000188 Engrandecer 1/530754 0,000188 Enraivecer 1/530754 0,000188 Ensandecer 1/530754 0,000188 Unidade Encaminhar Enfiar Embarcar Encarar Enterrar Encostar [en[x]ar] Quantidade Porcentagem 49/530754 0,009232 28/530754 0,005276 22/530754 0,004145 21/530754 0,003957 17/530754 0,003203 16/530754 0,003015 212 Entornar Empunhar Endireitar Engrossar Empenhar Engomar Embalar Enrolar Entoar Empinar Envergonhar Embaraçar Enfeitiçar Embaçar Empacar Embolsar Emborcar Encurtar Envenenar Embebedar Encrespar Enforcar Engordar Enlaçar Enroscar Ensaboar Empoar Encadear Encarcerar Encerar Enfronhar Embainhar Embandeirar Embeiçar Embelezar Embrenhar Embruxar Empoeirar Empoleirar Encaixar Encaracolar Encarnar Encharcar Endividar Enfrentar Engaiolar 14/530754 13/530754 13/530754 12/530754 11/530754 11/530754 9/530754 8/530754 8/530754 7/530754 7/530754 6/530754 6/530754 5/530754 5/530754 4/530754 4/530754 4/530754 4/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 0,002638 0,002449 0,002449 0,002261 0,002073 0,002073 0,001696 0,001507 0,001507 0,001319 0,001319 0,00113 0,00113 0,000942 0,000942 0,000754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 213 Enrijar Enrugar Entalar Entrincheirar Enviuvar Enflorar Unidade Acabar Atirar Aproximar Apresentar Aproveitar Apertar Apontar Acreditar Arrastar Abraçar Avistar Agarrar Assustar Arrebatar Ajoelhar Abaixar Agradar Arremessar Apear Afrontar Acomodar Acostumar Assegurar Abafar Apaixonar Assanhar Acenar Apoderar Arriscar Apressar Apurar Alagar Aconselhar Alongar Apartar Acariciar Assombrar 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 [a[x]ar] Quantidade Porcentagem 457/530754 0,086104 213/530754 0,040132 162/530754 0,030523 149/530754 0,028073 106/530754 0,019972 101/530754 0,01903 92/530754 0,017334 80/530754 0,015073 77/530754 0,014508 68/530754 0,012812 62/530754 0,011681 60/530754 0,011305 47/530754 0,008855 43/530754 0,008102 39/530754 0,007348 39/530754 0,007348 39/530754 0,007348 36/530754 0,006783 29/530754 0,005464 28/530754 0,005276 28/530754 0,005276 27/530754 0,005087 27/530754 0,005087 26/530754 0,004899 25/530754 0,00471 25/530754 0,00471 25/530754 0,00471 24/530754 0,004522 23/530754 0,004333 22/530754 0,004145 22/530754 0,004145 21/530754 0,003957 21/530754 0,003957 21/530754 0,003957 20/530754 0,003768 20/530754 0,003768 20/530754 0,003768 214 Acertar Atinar Ajustar Abençoar Arrumar Aprontar Aprovar Arregaçar Aterrar Atormentar Afundar Avaliar Afrouxar Arrasar Avultar Afiançar Acalmar Alinhar Apossar Avivar Arregalar Abrasar Adiar Aguardar Amaldiçoar Apinhar Abrandar Arrematar Atropelar Avassalar Amassar Amofinar Arredondar Atear Avizinhar Aperfeiçoar Acovardar Afiar Afinar Ajuizar Alargar Alisar Amansar Amuar Apavorar Aprumar 19/530754 19/530754 17/530754 17/530754 15/530754 14/530754 14/530754 14/530754 14/530754 13/530754 12/530754 12/530754 11/530754 11/530754 11/530754 11/530754 10/530754 9/530754 9/530754 9/530754 9/530754 8/530754 8/530754 8/530754 8/530754 8/530754 7/530754 7/530754 7/530754 7/530754 6/530754 6/530754 6/530754 6/530754 6/530754 6/530754 5/530754 5/530754 5/530754 5/530754 5/530754 5/530754 5/530754 5/530754 5/530754 5/530754 0,00358 0,00358 0,003203 0,003203 0,002826 0,002638 0,002638 0,002638 0,002638 0,002449 0,002261 0,002261 0,002073 0,002073 0,002073 0,002073 0,001884 0,001696 0,001696 0,001696 0,001696 0,001507 0,001507 0,001507 0,001507 0,001507 0,001319 0,001319 0,001319 0,001319 0,00113 0,00113 0,00113 0,00113 0,00113 0,00113 0,000942 0,000942 0,000942 0,000942 0,000942 0,000942 0,000942 0,000942 0,000942 0,000942 215 Abarcar Abicar Aclimar Amaciar Amontoar Arreganhar Assenhorar Assinalar Avermelhar Acarinhar Abordar Acocorar Agrupar Alojar Alourar Ameigar Amesquinhar Amordaçar Aparentar Atrapalhar Atravancar Arruinar Abrasileirar Abrilhantar Acampar Acanalhar Acarretar Afamar Ajeitar Amoitar Aninhar* Aprofundar Apunhalar Arrombar Assoberbar Atraiçoar Aveludar Abalançar Acobertar Afivelar Agigantar Amorenar Apropriar Arrecadar Abotoar Apiedar 4/530754 4/530754 4/530754 4/530754 4/530754 4/530754 4/530754 4/530754 4/530754 4/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 3/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 2/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 1/530754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000754 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000565 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000377 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 0,000188 216 Frequência de uso do século XX [a [X] ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 65/724008 0,008978 Amanhecer 22/724008 0,003039 Adormecer 14/724008 0,001934 Amadurecer 12/724008 0,001657 Apodrecer 12/724008 0,001657 Abastecer 11/724008 0,001519 Aborrecer 11/724008 0,001519 Adoecer 8/724008 0,001105 Amolecer 5/724008 0,000691 Anoitecer 3/724008 0,000414 Amortecer 1/724008 0,000138 [en [X] ecer] Unidade Quantidade Porcentagem Envelhecer 16/724008 0,00221 Enriquecer 15/724008 0,002072 Enlouquecer 11/724008 0,001519 Enfraquecer 10/724008 0,001381 Engrandecer 8/724008 0,001105 Encarecer 7/724008 0,000967 Endurecer 7/724008 0,000967 Empobrecer 6/724008 0,000829 Empalidecer 5/724008 0,000691 Emudecer 5/724008 0,000691 Embrutecer 4/724008 0,000552 Emagrecer 3/724008 0,000414 Enobrecer 3/724008 0,000414 Enfurecer 3/724008 0,000414 Embranquecer 3/724008 0,000414 Envaidecer 3/724008 0,000414 Enaltecer 2/724008 0,000276 Enternecer 2/724008 0,000276 Entristecer 1/724008 0,000138 Enrijecer 1/724008 0,000138 Endoidecer 1/724008 0,000138 Enraivecer 1/724008 0,000138 Embravecer 1/724008 0,000138 Emurchecer 1/724008 0,000138 Ensurdecer 0/724008 0 Entardecer 0/724008 0 Enegrecer 0/724008 0 217 Emburrecer Enrouquecer Encalvecer Embambecer Embarbecer Embrabecer Embrandecer Emouquecer Empardecer Empequenecer Emperdenecer Emputecer Encalecer Ensoberbecer Enverdecer Unidade Enfrentar Enterrar Encarar Encostar Enfiar Encaminhar Embarcar Enquadrar Empenhar Englobar Embrulhar Engordar Envergonhar Empunhar Enrolar Encaixar Encarnar Encurtar Enforcar Embalar Embaralhar Engrossar Enlaçar Embaraçar Encampar Enroscar Entoar Embasar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 [en[x]ar] Quantidade Porcentagem 84/724008 0,011602 47/724008 0,006492 32/724008 0,00442 30/724008 0,004144 27/724008 0,003729 26/724008 0,003591 19/724008 0,002624 14/724008 0,001934 12/724008 0,001657 12/724008 0,001657 9/724008 0,001243 9/724008 0,001243 9/724008 0,001243 8/724008 0,001105 8/724008 0,001105 7/724008 0,000967 7/724008 0,000967 7/724008 0,000967 7/724008 0,000967 6/724008 0,000829 6/724008 0,000829 6/724008 0,000829 6/724008 0,000829 5/724008 0,000691 5/724008 0,000691 5/724008 0,000691 5/724008 0,000691 4/724008 0,000552 218 Emparelhar Empatar Encabeçar Engatinhar Envenenar Embelezar Embargar Embolar Embuchar Empacotar Empalmar Encadear Encasquetar Encenar Encurralar Endireitar Enferrujar Engraçar Ensopar Entediar Entulhar Embalsamar Embananar Embeiçar Embolsar Emborcar Embriagar Emoldurar Empanar Empastelar Emperrar Empinar Empreitar Emprenhar Encadernar Enciumar Enclausurar Encorajar Encravar Encrespar Enfear Engarrafar Engatar Engessar Engomar Engraxar 4/724008 4/724008 4/724008 4/724008 4/724008 3/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 0,000552 0,000552 0,000552 0,000552 0,000552 0,000414 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 219 Enraizar Enredar Ensaboar Entornar Entrincheirar Emaçar Emadeirar Emadeixar Emagotar Emagrar Emalar Emalhar Emalhetar Emanocar Emantar Emascular Emassar Ematilhar Embabacar Embaçar Embacelar Embagar Embagulhar Embainhar Embalsar Embandeirar Embarbascar Embarbelar Embarbilhar Embarrancar Embarrar Embarreirar Embarricar Embarrigar Embasbacar Embatucar Embaular Embebedar Embelecar Embernar Embestar Embetesgar Embezerrar Embicar Embiocar Embirutar 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 220 Embocar Embocetar Embodegar Embolorar Embolotar Embonecar Emborrachar Emborralhar Emborrascar Embostar Embotijar Embraçar Embrancar Embrechar Embrenhar Embrincar Embruacar Embrumar Embruxar Embuizar Emburacar Emburrar Embuzinar Emelar Empacar Empaçocar Empalar Empalhar Empalheirar Empampanar Empanachar Empantanar Empanturrar Empapar Empapelar Empapuçar Emparceirar Emparedar Empastar Empauapicar Empavonar Empeçonhar Empedrar Empelotar Empenar Emperiquitar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 221 Empernar Empestear Empetecar Empilecar Empilhar Empipocar Empistolar Emplacar Emplumar Empoar Empoçar Empocilgar Empoeirar Empoleirar Empomadar Empombar Empossar Emprateleirar Emprazar Empreguiçar Empurpurar Emundar Encabular Encaçapar Encachaçar Encafifar Encaixotar Encalacrar Encalhar Encanar Encapar Encapuzar Encaracolar Encarcerar Encaretar Encarniçar Encaroçar Encasacar Encastelar Encatarrar-se Encavalar Encavernar Encerar Encerebrar Encharcar Encorpar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 222 Encorujar Encristar-se Encucar Endeusar Endinheirar Endividar Endoidar Enervar Enevoar Enfaixar Enfeitiçar Enfezar Enfileirar Enfocar Enfronhar Engaiolar Engasgar Engatilhar Engavetar Engordurar Engravatar Engravidar Engrinaldar Enjaular Enlatar Enlodar Enluarar Enlutar Enrabar Enrabichar Enricar Enrijar Enrugar Ensacar Ensanduichar Entalar Entortar Entubar Enturmar Envasilhar Envernizar Enviuvar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 [a[x]ar] 223 Unidade Acabar Apresentar Acreditar Aproveitar Apontar Aproximar Atirar Arrumar Assegurar Apertar Arrastar Agarrar Aprovar Abraçar Assustar Avaliar Assinalar Acertar Aguardar Aconselhar Abordar Afundar Ajustar Arriscar Acenar Agradar Apurar Apressar Acariciar Avistar Abaixar Acomodar Acostumar Anotar Atrapalhar Ajeitar Aprofundar Ajoelhar Acarretar Agrupar Aprontar Arrebatar Alargar Amassar Apoderar Quantidade Porcentagem 328/724008 0,045303 235/724008 0,032458 156/724008 0,021547 85/724008 0,01174 80/724008 0,01105 77/724008 0,010635 71/724008 0,009807 62/724008 0,008563 55/724008 0,007597 54/724008 0,007458 42/724008 0,005801 41/724008 0,005663 37/724008 0,00511 35/724008 0,004834 35/724008 0,004834 35/724008 0,004834 34/724008 0,004696 32/724008 0,00442 31/724008 0,004282 26/724008 0,003591 24/724008 0,003315 24/724008 0,003315 21/724008 0,002901 21/724008 0,002901 20/724008 0,002762 19/724008 0,002624 19/724008 0,002624 18/724008 0,002486 17/724008 0,002348 17/724008 0,002348 16/724008 0,00221 16/724008 0,00221 16/724008 0,00221 16/724008 0,00221 15/724008 0,002072 14/724008 0,001934 13/724008 0,001796 11/724008 0,001519 10/724008 0,001381 9/724008 0,001243 9/724008 0,001243 9/724008 0,001243 8/724008 0,001105 8/724008 0,001105 8/724008 0,001105 224 Acalmar Abençoar Abrandar Adiar Aparentar Aperfeiçoar Atropelar Avolumar Abafar Afinar Afrontar Afrouxar Alongar Apartar Arrombar Assombrar Apaixonar Apossar Arregaçar Arremessar Abotoar Adoçar Afiançar Alisar Apavorar Aprumar Arregalar Atiçar Avultar Abarcar Abarrotar Acobertar Ajuizar Alistar Aportar Arrasar Arrecadar Arrendar Arruinar Aterrar Atinar Atormentar Abrilhantar Acalorar Achincalhar Acovardar 7/724008 6/724008 6/724008 6/724008 6/724008 6/724008 6/724008 6/724008 5/724008 5/724008 5/724008 5/724008 5/724008 5/724008 5/724008 5/724008 4/724008 4/724008 4/724008 4/724008 3/724008 3/724008 3/724008 3/724008 3/724008 3/724008 3/724008 3/724008 3/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 2/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 0,000967 0,000829 0,000829 0,000829 0,000829 0,000829 0,000829 0,000829 0,000691 0,000691 0,000691 0,000691 0,000691 0,000691 0,000691 0,000691 0,000552 0,000552 0,000552 0,000552 0,000414 0,000414 0,000414 0,000414 0,000414 0,000414 0,000414 0,000414 0,000414 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000276 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 225 Adestrar Afiar Agigantar Alagar Alinhar Amaldiçoar Amansar Aninhar Aprimorar Aprisionar Arrebanhar Arredondar Arreganhar Assanhar Atear Avassalar Avivar Avizinhar Ababadar Ababelar Ababosar Abacalhoar Abaciar Abadalar Abagaçar Abaianar Abainhar Abairrar Abalançar Abalizar Abaloar Abalofar Abalsamar Abalsar Abananar Abandar Abandejar Abandidar Abaquetar Abarbarar Abaritonar Abaronar Abarracar Abarrancar Abarricar Abarrilar 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 1/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0,000138 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 226 Abastardar Abatatar Abatinar Abaular Abaunilar Abeatar Abecar Abeirar Abendiçoar Abengalar Abesourar Abestar Abexigar Abezerrar Abibliotecar Abicar Abigodar Abilolar Abiombar Abiqueirar Abiscoitar Abisonhar Abobar Abocadar Abocetar Abodegar Aboemiar Abofetar Abolachar Aboletar Abolhar Abonançar Abordoar Abotijar Abotinar Abrasar Abrasileirar Abrasilianar Abrasonar Abrecar Abrejar Abrejeirar Abrumar Abrutar Aburguesar Acabanar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 227 Acabelar Acaboclar Acacetar Acachaçar Acachafundar Acachoeirar Acacifar Acafajestar Acafetar Acaixeirar Acajadar Acamar Acamaradar Acambraiar Acampainhar Acampar Acamurçar Acanalar Acanalhar Acanastrar Acancelar Acanelar Acangaceirar Acanhar Acanivetar Acanoar Acanteirar Acapachar Acapangar Acarinhar Acarneirar Acarrancar Acarrapatar Acartolar Acasalar Acasmurrar Acastanhar Acastelhanar Acavalar Acavaleirar Acavaletar Acebolar Acerejar Acevadar Achatar Achinelar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 228 Achinesar Achocolatar Acidrar Acinzentar Aclimar Acocorar Acoicear Acolchetar Acolchoar Acoletar Acomadrar Acompadrar Acompridar Aconfradar Acorcundar Acorrentar Acortinar Acotovelar Acovar Acriançar Acrioular Aculturar Adamar Adamascar Adelgadar Adelicadar Adentrar Adiamantar Adietar Adoentar Adonar Afaçanhar Afamar Afandangar Afedorentar Afeminar Aferar Aferrar Aferrenhar Afervorar Afidalgar Afivelar Aflamengar Aflorar Afofar Afolhar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 229 Afrancesar Afranzinar Afreguesar Afrescar Afronhar Afunilar Agaitar Agalegar Agalhar Agalinhar Agarotar Agraudar Agrisalhar Agrosseirar Aguitarrar Ajesuitar Aladainhar Alaranjar Alarar Aletradar Alisboetar Alojar Alourar Amaciar Amadeirar Amadrinhar Amalaguetar Amalhar Amanequinar Amantar Amanteigar Amarasmar Amarfinar Amaricar Amarinheirar Amarotar Amatilhar Amatronar Amazelar Ameigar Amelaçar Amembranar Ameninar Amentar Amesquinhar Amestrar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 230 Ametalar Amilhar Amineirar Amoçar Amochilar Amodernar Amoedar Amofinar Amoitar Amontanhar Amontoar Amordaçar Amorenar Amornar Amortalhar Amostardar Amuar Amulatar Amulherar Amulherengar Amumiar Amunhecar Ananicar Anatar Anegrar Apadrinhar Apainelar Apaiolar Apaisanar Apalaçar Apalacetar Apalacianar Apalancar Apalavrar Apalhaçar Apantufar Aparabolar Aparceirar Aparoquiar Apascoar Apassivar Apatetar Apatifar Apaulistar Apear Apeçonhentar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 231 Apedantar Apepinar Apiedar Apimentar Apinhar Apiramidar Apolentar Apoliticalhar Apoltronar Aportuguesar Apreçar Apresuntar Aprincesar Apropriar Apunhalar Aquadrilhar Aquilombar Arrapazar Arregimentar Arrematar Assalariar Assedentar Assenhorar Assenzalar Assingelar Assoberbar Assobradar Assovinar Atabernar Atamancar Atapetar Atarefar Atarraxar Atartarugar Atenorar Atigrar Atijolar Atoalhar Atomatar Atoucinhar Atraiçoar Atravancar Atrelar Atucanar Avampirar Avarandar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 232 Aveludar Avermelhar Avinhar Axicarar Azabumbar 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0/724008 0 0 0 0 0 233 ANEXO IV Experimento linguístico “LexQuest” Sexo: _________________ Escolaridade: _____________________ Idade: ____________ Neste experimento, estamos interessados na sua intuição, enquanto falante nativo do português, sobre os itens que serão listados. Basta marcar a opção que melhor completa os espaços nas frases. Não há respostas certas ou erradas, portanto, não será necessário consultar dicionários ou sites da Internet. Conte APENAS com sua intuição. Não leve muito tempo pensando; marque os itens de acordo com a sua primeira impressão. Obrigado pela ajuda! Meu avô _______ quando fez 60 anos. Mesmo sabendo que não gosto, a Clarinha costuma ________ a salada. Clarinha __________ depois que passou a frequentar a academia. Os resíduos hospitalares foram ____________ pela equipe da clínica médica. As pessoas acham que Horácio ____________ com o passar dos anos. O mar ___________ depois que a ressaca acabou. Horácio começou a ________ quando passou a trabalhar A luz solar é branca, mas __________ por causa da atmosfera. Horácio usou uma chave de fenda para ___________ o parafuso. Os bandidos _____________ o homem que foi sequestrado. Clarinha ____________ o canário numa gaiola de vime. 1 Marque a(s) palavra(s) que você conhece Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ 1 abangueleceu apalmitou embangueleceu empalmitou abonitou embonitou alixeirados enlixeirados abruteceu embruteceu abrandou amadurar amarela atarraxar amordaçaram aprisionou afiar acampar apossar abaular embrandeceu amadurecer amarelece entarraxar emordaçaram emprisionou enfiar encampar empossar embaular No caso de não conhecer nenhuma das palavras, deixe em branco. 234