Caso Clínico - Anemia Aplástica Dr. Diego Villa Clé Disciplina de Hematologia HCFMRP-USP Apresentação ID: AS, 56 anos, masculino, viúvo, trabalhador em frigorífico, procedente de Poços de Caldas-MG. HMA: Astenia há 10 meses com piora progressiva e início de dispnéia aos esforços, dor em MMIIs, gengivorragia, petéquias e hematomas espontâneos há 2 meses. Nega febre. AP: Ex-tabagista e etilista ½ litro aguardente/dia. Sem comorbidade. Nega uso de medicações. Nega exposição a produtos químicos. AF: 8 irmãos hígidos, 1 irmã com câncer cervical. Exames laboratoriais Hemograma: Hb: 6,3 g/dL Reticulócitos: 19.000 x103/mL Sorologias negativas Ret. Corrigido: 0,43% CMV – IgM negativo IgG positivo Vitamina B12>1.000 PG/mL HPN: Negativo FAN: negativo Mielograma: hipocelular, ausência de displasias TAD: negativo Cariótipo: 46 XY Ht: 19% VCM: 93,6 FL Leucócitos: 2.500 x 103/mL Neutrófilos: 625 x 103/mL Linfócitos: 1625 x 103/mL Plaquetas: 3.000 x 103/mL BMO paciente: celularidade < 5% BMO normal Definição da gravidade da Anemia Aplástica GRAVE1 Pelo menos 2 dos 3 critérios abaixo: • Reticulócitos corrigidos < 1% ou absoluto < 60.000 (contadores automáticos) ou < 20.000 (contagem manual)2 • Neutrófilos < 500 Anemia Aplástica Grave • Plaquetas < 20.000 MUITO GRAVE3 • Neutrófilos < 200 MODERADA Não preenche critérios para GRAVE e MUITO GRAVE 1- Camitta BM. Blood 1975; 45:355–363 2- Rovó A. Bone Marrow Transplantation 2013; 48:162–167 3-Bacigalupo A. Br J Haematol 1988; 70:177–182 Tratamento AAG 1 doadora HLA compatível HLA-A HLA-B HLA-C HLA-DRB1 HLA-DQB1 Paciente: AS, 56 anos 02:JXWR 36:AE 40:XX 1 81:AA 03 18 04:01 11:01 03:02 06:02 Doadora: CSS, 51 anos 02:JXWR 36:AE 40:XX 1 81:AA 03 18 04:01 11:01 03:02 06:02 TMO alogênico X Imunossupressão TMO X Imunossupressão • Não há estudos prospectivos comparando TMO x Imunossupressão Frequência dos fatores que influenciaram na sobrevida Peinemann F. et al. PLoS ONE 211; 6(4):e18572. TMO X Imunossupressão Diferença (%) entre TMO e Imunossupressão (5 years FFS) Idade Neutrófilos 103mL 10 20 30 40 50 0 24 20 14 6 -2 100 19 14 8 1 -7 200 14 TMO 9 3 -4 -11 300 10 5 -1 -7 -14 400 6 1 -4 -10 500 3 -2 -7 -12 IS T -16 -17 Adaptado de: Bacigalupo A. et al. Semin Hematol 2000; 37:69-80. TMO alogênico • Incidência GVHD aumenta com idade • GVHD relacionado com mortalidade/morbidade no TMO GVHD Agudo GVHD Crônico Sobrevida Global Gupta V. et al. Haematologica 2010;95(12):2119-2125 Tratamento AAG • Idade é o maior preditor de resultado. Diagnóstico de AAG < 40 anos e doador relacionado compativel > 40 anos sem doador relacionado TMO alogênico Imunossupressão 1-Scheinberg P. & Young NS. Blood. 2012;120(6):1185-1196 2-Passweg JR. & Marsh JSW. ASH Education Program Book. 2010;2010:36-42 Imunossupressão • • • • • ATG + Ciclosporina: Tratamento padrão Alentuzumab: resultados inferiores e + toxicidade2 Ciclofosfamida altas-doses: mais infecções fúngicas3 Corticóides: baixas respostas e aumento de complicações1 Adição de outras drogas a ATG + CSA: sem benefício 1-Scheinberg P. & Young NS. Blood. 2012;120(6):1185-1196 2-Scheinberg P. Blood 2012; 119: 345–354 3-Brodsky RA. Blood. 2010;115(11):2136-2141 Imunossupressão • Imunossupressão de escolha: ATG de cavalo + CSA • ATG de cavalo indisponível no Brasil desde 2007 Scheinberg P. et al.N Engl J Med 2011;365:430-8 Paciente • 56 anos, sem comorbidades, doador aparentado. • Escolha: ATG coelho + CSA, iniciado em 03/04/2012 • D20: Cefaléia há 30 dias, obstrução nasal e rinorréia purulenta. Afebril. * * • Endoscopia nasal: Secreção mucóide e hipertrofia conchas. Ausência palidez, necrose, massas. • Biópsia: Processo inflamatório + hífas e esporos invadindo vasos sanguineos e tecido ósseo. • Diagnóstico: Rino-sinusite fúngica invasiva. • Cultura: Bipolaris sp. RSFI • • • • Incidência 5% na AA1 Aspergillus sp fungo mais comun isolado na AA1 CT para investigação de neutropenia febril na AA CT isoladamente não faz diagnóstico. Necessidade de endoscopia nasal e biópsia (invasão submucosa) + cultura2 • Antifúngicos isoladamente – insuficientes2 • Tratamento: Antifúngicos + debridamento cirurgico (endoscópico ou aberto)2 1-Valdez JM. Clin Infec Dis 2011;52(6):726–735 2-Epstein VA & Kern RC. Otolaryngol Clin N Am 2008; 41:497–524 Paciente • Tratado com debridamento endoscópico + Voriconazol 30 dias (substituído por Itraconazol na alta, por mais 5 meses) • Sem resposta hematológica aos 3 e 6 meses pós-ATG • Aos 6 meses: encaminhado para TMO alogênico Scheinberg P. et al.N Engl J Med 2011;365:430-8 Paciente • • • • TMO em 10/2012 - FluCy + ATG. Profilaxia GVHD: MTX + CSA Septoplastia + retirada pólipo nasal pré-TMO Profilaxia com Voriconazol Complicações: Reativação CMV no D+19 GVHD crônico leve de pele • Última avaliação: Hb:14,6 g/dl Ret: 144.000 x 103/mL - 3,33% (corrigido) Ht: 43% VNTR: 100% doador GB: 8.400 x 103/mL Ne: 5.300 Ly: 2.500 PLQ: 246.000 x 103/mL Obrigado [email protected] Leitura Complementar • • • • Young NS, Calado RT, Scheinberg P. Current concepts in the pathophysiology and treatment of aplastic anemia. Blood 2006;108:2509-2519. Scheinberg P, Young NS. How I treat acquired aplastic anemia. Blood 2012;120(6):1185-1196 Marsh JC, Ball SE, Cavenagh J, et al; British Committee for Standards in Haematology. Guidelines for the diagnosis and management of aplastic anaemia. Br J Haematol. 2009;147(1):43-70. Passweg JR, Marsh JSW. Aplastic Anemia: First-line Treatment by Immunosuppression and Sibling Marrow Transplantation. ASH Education Program Book 2010;2010:36-42.