CASO CLÍNICO Departamento de Pediatria - FAMED - UFBA Cristina de Castro Lima Vargens Francisco Carleial Feijó de Sá Jarbas Machado Dr Hagamenon IDENTIFICAÇÃO Nome: L.S.S. Idade: 04 anos Sexo: Feminino Cor: Parda Naturalidade: Camaçari-BA Procedência: Camaçari-BA Data de Admissão: 16/09/98 HISTÓRIA CLÍNICA QP: “ Vômitos e dor de cabeça há ± 01 dia” HMA: Genitora refere que a paciente vinha bem quando, há ± 24 horas, passou a cursar com vômitos (03 episódios/dia) e cefaléia holocraniana que não cedia ao uso de medicamento (dipirona). Refere febre (não mensurada) e tosse seca esporádica. ANTECEDENTES Obstétricos e Neonatais: Nascida de PSAC, à termo, em ambiente hospitalar (HGC). Não apresentou icterícia ou cianose neonatal. Recebeu alta junto com a genitora, 48 horas após o parto. Vacinais: Genitora refere cartão vacinal completo (não apresentou no momento). ANTECEDENTES Alimentares: Aleitamento materno exclusivo até 02 meses, quando substituiu por leite Ninho. Aos 05 meses associou suco de fruta, caldo de feijão e carne. Atualmente, alimenta-se de acordo com o cardápio familiar. Patológicos: Refere resfriados freqüentes e 01 internamento prévio por pneumonia há ± 01ano. Nega alergias medicamentosa ou alimentar. ANTECEDENTES Familiares: Nega HAS, diabetes, cardiopatias ou pneumopatias na família. Sociais: reside em casa de bloco, com água encanada, luz elétrica, rede de esgoto, com 06 cômodos onde residem 03 pesssoas (genitores, menor). Criam um cão vacinado. Epidemiologia negativa para Chagas e positiva para Equistossomose. EXAME FÍSICO Paciente em REG, hipoativa, reativa, febril, eupnéica, acianótica, anictérica, corada e hidratada. PR: 96bpm FR: 18ipm Temperatura: 39° C AR: MV rude, com roncos esparsos. ACV: RCR em 2T, sem sopros. ABDOMEM: plano, flácido, indolor à palpação. RHA +. Ausência de visceromegalias ou massas palpáveis. SN: Presença de rigidez de nuca. Extremidades: bem perfundidas, sem edema. RESUMO • Paciente de 4 anos com febre elevada, vômitos e cefaléia intensa há 24hs. Regular estado geral e hipoativa, com dor a manipulação do pescoço e rigidez de nuca. Qual a suspeita diagnóstica para a paciente? Confirmação diagnóstica • Estudo do líquor (Celularidade e Bioquímica) • Bacterioscopia (Gram, Ziehl e tinta da China) • Cultura do LCR e do sangue • Hemograma • Testes sorológicos e PCR Meningite Asséptica X Bacteriana Aspectos clínicos ♦ Asséptica • Início insidioso • Sintomas gerais mais brandos - melhor condição clínica • Presença de conjutivite, miocardite e pericardite • Aumento de parótidas ♦ Bacteriana • Início rápido • Sintomas gerais mais importantes • “Olhar parado”, febre alta, hipoatividade e coma • Manifestações hemorrágicas e exantema Meningite Asséptica X Bacteriana Aspectos Liquóricos Meningite Asséptica Meningite Bacteriana Cor Incolor Opalescente Aspecto Límpido Turvo Células Aumentadas (20 a 1.000) Linfócitos ou PMN no início Aumentadas (acima de 1.000) PMN Proteínas Abaixo de 100mg% Acima de 100mg% Glicose Normal (2/3 da glicemia) Globulinas Ausentes Diminuída Presentes Meningite Asséptica Etiologia • • • • • • • Enterovírus - Coxsackie e ECHO vírus Herpes vírus Epstein-Baar vírus Caxumba Sarampo Arbovírus Treponema pallidum e outros Meningite Bacteriana Etiologia • • • • • • • Streptococcus pneumoniae Neisseria meningitidis Haemophilus influenzae Listeria monocytogenes Stafylococcus aureus Streptococos tipo B Gram - negativos Distribuição por faixa etária Neonatos 01 mês a 05 anos 05 a 18 anos Estreptococos do grupo B Listeria Gram negativos Estafilococos Pneumococo Haemophilus Meningococo Pneumococo Meningococo HEMOGRAMA • Hemoglobina - 11,2 g/dl • Hematócrito - 32% • Plaquetas - 300.000/ mm3 • Leucograma - 20.000 células/ mm3 Bastões 06% Segmentados 60% Linfócitos 29% Eosinófilos 02% Monócitos 03% EXAME DO LÍQUOR Data: 16/09/98 Aspecto: ligeiramente opalescente Citologia: 820 células/mm3 (neutrófilos) Glicose: 60 mg% Globulinas: negativa Proteínas: 30 mg% DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO Prova do Látex - negativa Isolamento Viral (cultura do líquor): ECHOVÍRUS B4 EVOLUÇÃO Evolução: Paciente evoluiu em uso apenas de sintomáticos, com melhora importante do estado geral, afebril, sem sinais de irritação meníngea, recebendo alta hospitalar no 3° DIH. Cerebrospinal Fluid Findings in Asseptic Versus Bacterial Meningitis Barbara Negrini, MD; Kelly J. Kelleher, MD, MPH; and Ellen R. Wald, MD Children’s Hospital of Pittsburgh, University of Pittsburgh School of Medicine, Pittsburgh, Pensylvania. PEDIATRICS Vol. 105, Pags. 316-319, Nº 2, Feb. 2000 INTRODUÇÃO • Considerações gerais • Como diferenciar meningite asséptica e bacteriana – Meningite asséptica • Pleocitose entre 20 e 1.000 células • Predomínio de MN • PMN nas primeiras 24 h – Meningite bacteriana • Pleocitose maior do que 1.000 células • Predomínio de PMN • Tendências recentes OBJETIVO • Diferenciar os achados do estudo do LCR nas meningites assépticas e bacerianas e a influência do tempo de doença nos mesmos. MÉTODOS • Estudo retrospectivo • Critérios de inclusão – Idade maior do que 30 dias – Pacientes internados de abril a outubro de 1992 a 1997 • Critérios de exclusão – – – – – – Antibioticoterapia prévia (até 5 dias) Infecção bacteriana em atividade Idade menor do que 30 dias Imunodeficiência conhecida História de procedimento neurocirúrgico Presença de Shunts MÉTODOS • Definição de termos – Meningite asséptica • Mais de 20 células • Ausência de crescimento bacteriano na cultura do LCR ou sangue – Meningite Bacteriana • Pleocitose • Isolamento da bactéria em cultura do LCR ou sangue RESULTADOS • • • • • Foram revisados 158 casos de meningite, sendo que 138 foram considerados meningite asséptica e 20 bacteriana A idade dos pacientes variou de 30 dias a 18 anos A cultura para enterovirus foi positiva em 11 pacientes, negativa em 35 e em 92 pacientes não foi realizada Não houve diferença estatisticamente significante entre os achados do LCR dos 11 casos comprovados de meningite viral e dos 127 com diagnóstico presuntivo Pneumococo foi isolado no LCR de 11 pacientes e Haemophilus em 6. Três crianças tinham pleocitose e hemocultura positiva com LCR estéril, sendo 02 casos de pneumococo e 01 caso de E. Coli RESULTADOS Table 1. Characteristics of the CSF in Pacients With Asseptic and Bacterial Meningitis Asseptic (n=138) Bacterial (n=20) Mean +/-Sd Median Mean +/-Sd Median P Value WBC (cells/mm 3) 391 +- 568,2 198,0 3461,7 +- 5841,9 1380,0 <0,0001 Neutrophilis (%) 52,6 +- 32,4 59,0 78,7 +- 78,7 83,5 0,001 Glucose (mg/dl) 55,4 +- 18,8 49,5 34,3 +- 29,9 25,5 <0,0001 Protein (mg/dl) 61,5 +- 35,6 57,0 242,6 +- 202,5 163,5 <0,0001 712,0 +- 2859,0 15,0 614,1 +- 2214,24 53,0 0,047 50,3 +- 46,2 36,0 84,0 +- 78,35 48,0 0,016 RBC Prodromal illness (h) RESULTADOS Tabela 2. CSF Differential in Asseptc and Bacterial Meningitis Asseptic Bacterial PMN >50 % 56,5% (n=78) 90% (n=18) PMN < 50% 43,5% (n=60) 10% (n=2) RESULTADOS Tabela 3. Predominância de PMN como fator isolado Meningite Asséptica Meningite Bacteriana Sensibilidade 57% 90% Especificidade 10% 43% PPV 81% 19% NPV 3% 97% CONCLUSÕES • A predominância de PMN ocorre na maioria dos pacientes com meningite asséptica • Contrariando estudos anteriores, este achado não está limitado as primeiras 24h de doença • Os dados do estudo do LCR devem ser interpretados conjuntamente com dados clínicos para serem mais confiáveis CRÍTICAS