Comunicação em Saúde Profª Drª Louise Lage Etimologicamente, comunicar é tornar comum. A comunicação é, no seu princípio, a passagem do individual ao coletivo e a condição de toda a vida social. Comunicação consiste então, de uma forma geral, numa troca de mensagens carregadas de significado, podendo apresentar-se sob vários aspectos. Fonte:CAZENEUVE, Jean. Guia Alfabético das comunicações de massa.São Paulo: Martins Fontes, 1976 Alguns teóricos buscaram definir o que é comunicação: Claude Lévi-Strauss, antropólogo francês, em Antropologia Estrutural, 1975, diz que a comunicação é um processo essencial, não só da socialização, mas também na formação do indivíduo, na medida em que este adquire consciência de si interiorizando os comportamentos na troca de mensagens significativas. Fonte:CAZENEUVE, Jean. Guia Alfabético das comunicações de massa.São Paulo: Martins Fontes, 1976 Armand Mattelart, comunicólogo francês, em História das Teorias da Comunicação, 1999, diz que a noção da comunicação recobre uma multiplicidade de sentidos e que a proliferação das novas tecnologias acrescentam novas vozes a essa polifonia. Para ele, o processo de comunicação está diretamente ligado à evolução da humanidade. Fonte:CAZENEUVE, Jean. Guia Alfabético das comunicações de massa.São Paulo: Martins Fontes, 1976 Paulo Freire, educador brasileiro natural de Pernambuco, em Pedagogia do Oprimido, 1970, afirma que a comunicação está diretamente ligada à educação. Sua tese é de que alfabetizar nada mais é do que ensinar o uso da palavra. É através da decodificação da palavra que o indivíduo vai-se descobrindo como homem, sujeito de todo o processo histórico. A linguagem, por sinais visuais ou palavras, é evidentemente a maneira mais clara da comunicação, na medida em que esta é uma troca de significações e, mais vulgarmente, a comunicação é uma transmissão de informações que implica na emissão da mensagem e sua recepção. Diversos fatores podem intervir na transmissão, seja no ponto de partida, seja no ponto de chegada, e podem alterar o significado da mensagem. De qualquer modo, entre a intenção de significação e a interpretação pelo receptor, é necessário que a mensagem seja codificada e decodificada. Fonte:CAZENEUVE, Jean. Guia Alfabético das comunicações de massa.São Paulo: Martins Fontes, 1976 A mensagem é uma seqüência de sinais transmitidos entre um emissor e um receptor por intermédio de um canal que constitui o suporte físico indispensável à transmissão. Qualquer processo de comunicação requer a transmissão de uma mensagem entre transmissor e receptor que detém em comum, pelo menos parcialmente, o código necessário à sua transcrição. Fonte:CAZENEUVE, Jean. Guia Alfabético das comunicações de massa.São Paulo: Martins Fontes, 1976 O termo informação pode ser empregado de diversas formas: a) Pode ser interpretada como o conjunto de idéias recebidas, aceites e divulgadas numa sociedade; b) A informação como elemento precursor do desenvolvimento através das novas tecnologias (era industrial); c) A informação como vontade coletiva, subordinada aos fins, objetivos e valores das organizações. Fonte:CAZENEUVE, Jean. Guia Alfabético das comunicações de massa.São Paulo: Martins Fontes, 1976 Portanto, a informação tanto pode designar um elemento particular de conhecimento ou de análise como o conjunto das instituições que, numa determinada sociedade, presidente a difusão coletiva de notícias que interessam aos seus integrantes. Fonte:CAZENEUVE, Jean. Guia Alfabético das comunicações de massa.São Paulo: Martins Fontes, 1976 Portanto, comunicar sem conhecer como vivem, o que pensam ou dizem os receptores é impossível. Somente se partirmos dos destinatários e de sua realidade é que será possível comunicar-se com eles. É deste espaço que surgem os temas que interessam as pessoas, a forma de tratá-los, o nível que se pode chegar, assim como os meios mais adequados a utilizar. Esta realidade não é tão simples. Pode ser bastante complexa e ter muitos elementos a levar em conta: 1. Os problemas e necessidades dos receptores Que forma de produção e sobrevivência têm? Que problemas enfrentam na comercialização de seus produtos? Como são os serviços públicos (saúde, escola, transporte, água potável, asfalto, etc?) Quais são as necessidades mais sentidas e urgentes? Quais são os problemas de saúde mais freqüentes? Quem tem o poder na região, na comunidade? 2. Níveis de consciência Quais as organizações populares que têm e que nível de mobilização conseguiram? Quem são os dirigentes e companheiros mais avançados? Como se relaciona a comunidade com outras organizações ou comunidades da região? Que papel joga a religião na vida cotidiana das pessoas? Que percepção eles têm de sua situação? Como vêem sua história? Que pensam da sociedade em que vivem? Quais são seus sonhos?... 3. Formas de comunicação Sempre, em qualquer favela, bairro ou comunidade, as pessoas têm suas próprias maneiras de se comunicar. Há uma quantidade impressionante de formas, lugares e situações de comunicação, como pode ser observado a seguir: Os murais, os grafitis, as banderolas, os volantes, os boletins, os festivais, as quermeses, as gincanas, as rifas, a música, os contos, os clubes esportivos e sociais, as mobilizações e passeatas, as visitas, o mercado, os bares, as cantinas, as missas, as festas religiosas, os campos de futebol, as reuniões convocadas por alguma organização, a rua, o jogo, o transporte público e os decalques colados no interior dos ônibus e dos carros. Se conhecermos o conjunto dos elementos mencionados anteriormente, teremos uma visão panorâmica do mundo em que vivem nossos receptores/destinatários. Esta visão será o marco que orientará nosso trabalho de comunicação. Um marco que permite escrever o que os receptores necessitam e desejam, o que gostam e pelo que se interessam. Tönnies folkways – costumes populares mais elementares - que definem como o indivíduo se comportará em relação ao outro na vida cotidiana. São as ações que tomam forma nas intercomunicações, e que também são estipuladas pelo que o autor chama de mores – ou costumes sociais que, por consenso geral consideram-se favoráveis à boa ordem social. Grupos locais Existem equipes de comunicação que são da mesma comunidade de onde trabalham. Moram na mesma favela, bairro ou comunidade e formam a população local. Os que se encontram nessas condições têm uma grande vantagem. Compartilham a vida com as pessoas e, sem dúvida, obtiveram muitos conhecimentos sobre a comunidade, seus problemas cotidianos, suas formas de comunicar, etc. Isto facilita bastante a pré-alimentação Grupos externos Vêm de fora e se comprometem a desenvolver atividades de promoção e comunicação com as pessoas. Os companheiros destes grupos podem ter conhecimento sobre meios de comunicação, sobre pedagogia ou trabalho social, sobre a estrutura da sociedade e outros tantos temas mais. Porém, freqüentemente ocorre que não conhecem bem a realidade local e a vida cotidiana dos seus receptores. Grupos mistos São integrados tanto por companheiros do próprio lugar como por pessoas externas. Nessas equipes os primeiros podem informar aos promotores externos, contar a eles sobre os problemas, a necessidade, a história, os costumes da população. Porém, apenas contar não é o suficiente. Conhecer sobre as pessoas e sua realidade exige mais. Exige um processo de inserção. Líderes de opinião Aqueles que se encontram inseridos nas comunidades físicas ou virtuais – e que são capazes de ler o mundo, mediando um processo já mediatizado pela comunicação de massa, traduzindo o contexto social para a realidade local. Mais que isso, o líder popular tem um papel importante na organização da comunidade, bem como na sua proteção, uma vez que geralmente, nas comunidades carentes, existem códigos de sobrevivência que nem sempre são revelados aos estranhos. Por isso, um líder popular é quase que um elo de ligação entre o interior das comunidades e o mundo de fora. O mais comum desses códigos é o silêncio e sua expressão, o gesto ou, como quer Jacques Corraze, a comunicação nãoverbal Entendemos por inserção o processo de aproximação entre as pessoas e a comunidade onde trabalhamos ou onde queremos trabalhar. Significa entrar no mundo dos receptores, também chamados destinatários. Embora a inserção seja um só processo, poderíamos distinguir: • Estar: Implica em nossa presença na comunidade e compartilhar determinados momentos e atividades de sua vida cotidiana: trabalho, esporte, reuniões, festas, desgraças, etc. • Conhecer: Estando com as pessoas, vamos conhecendo o seu ambiente e seus costumes. Esclarecemos sobre as necessidades mais urgentes e suas visões de mundo, suas formas de expressão, relações internas e com outros grupos. Facilita também conhecer a organização, suas vitórias, lutas e fraquezas. Com a aproximação, vamos compreendendo a vida da comunidade "desde dentro". . Sentir: A inserção não é apenas um assunto intelectual, uma questão de conhecimento. Com o avanço da inserção, vamos sentindo, como companheiros, os problemas das pessoas. Chegamos a nos identificar com a luta diária por melhores condições de vida e, em vez de fazer atividades para a comunidade, a equipe vai trabalhando com ela e a partir dessa mesma comunidade. Assim, a inserção permite ganhar a confiança das pessoas, o que é vital para o trabalho de comunicação popular. Desenvolvendo a solidariedade crítica: Dissemos, antes, que é preciso chegar suficientemente próximo da população, porém, em outros momentos devemos guardar uma certa distância. E falamos de solidariedade crítica como a posição em que se unem este dois pólos. Portanto, para chegar a uma solidariedade crítica, não basta nossa simples presença na comunidade. Não basta ter um simples contato com as pessoas, por importante que seja. Desenvolver uma solidariedade crítica pressupõe fazer um estudo, revisar arquivos, ler documentos, mapas, jornais. Supõe refletir sobre o porquê das coisas. Por que a população vive desta maneira? Por que se organizam ou não se organizam? Por que se expressam assim? Fazer este tipo de perguntas também é importante para os companheiros da mesma comunidade. É certo que eles conhecem mais de perto a cultura e o ambiente, porém os conhecimentos podem ter suas limitações. Justamente por fazer parte da comunidade, eles têm uma certa "cegueira". Quer dizer, estão acostumados a sua situação diária, já que não se dão conta de certos elementos significativos. Não têm a necessária distância para se perguntarem por que as pessoas agem desta forma (e não de outra) ou falam de determinada maneira. Além disso, não é suficiente conhecer a situação local. Necessitamos ter conhecimento tanto da região como da realidade em geral. Porque nenhuma comunidade vive só em si mesma. Cada comunidade, por remota ou pequena que seja, faz parte de um mundo mais amplo. Existe relação entre o que acontece na região, no país e até no mundo inteiro. Se quisermos compreender os problemas de sobrevivência dentro da comunidade, suas mudanças culturais, seu processo organizativo, teremos que compreender como se relaciona tudo isso com a situação fora da comunidade. Em outras palavras, temos que analisar a vida cotidiana das pessoas como um "lugar" onde se expressam muitos fatores externos, regionais, nacionais e internacionais, atuais e históricos. Enfim, analisar qual a relação entre o local e o regional, qual a relação entre o regional e o nacional, e deste com o global. Por isso, é imprescindível estudar e refletir juntos sobre a realidade próxima e sobre a mais distante.Isso é válido para qualquer equipe, seja qual for a sua origem e composição, tanto para os promotores externos como para os companheiros da mesma comunidade. Estratégias de comunicação popular: Elaborar uma estratégia de comunicação significa discutir em grupo várias perguntas sobre o nosso trabalho 1. Concepção 2. Objetivos 3. Destinatários 4. Metodologia 5. Meios 6. Organização do trabalho 7. Recursos A comunicação popular x comunicação de massas: por uma concepção Ação reativa E Estímulo/ Persuasão Ação Participativa Construção/ Processo E M M R R Comunicação de Massa: Comunicação Popular: Transmissão e informação Diálogo e intercâmbio Os níveis de participação: É fundamental para a participação que as pessoas se sintam identificadas com o que fazemos, que se reconheçam nos materiais e mensagens. Isto implica: 1. escutar, recolher as vivências e as falas das pessoas na comunidade, as preocupações e aspirações, como a expressam seus companheiros, as coisas que a eles lhe interessam; 2. revalorizar e recuperar os próprios conhecimentos, sua memória histórica e sua vida cotidiana. Apresentar testemunhos dos companheiros que viveram momentos importantes na vida da comunidade; 3. tratar, sobretudo, dos problemas sociais. E quando escrevemos sobre problemas nacionais e internacionais, conectar esses problemas com a experiência das pessoas, para que vejam como estes temas tem relação com seu próprio mundo; 4. não nos limitarmos a denúncias e problemas. A educação abrange mais do que coisas tão sérias. Também inclui elementos que animem e que dêem esperança: a risada, o jogo, o belo, a brincadeira. Na cultura popular encontramos uma fonte rica para isso. 5. outra condição para a participação popular é que as pessoas possam utilizar uma lista ativa de mensagens. Que tenham a oportunidade de se expressar em nossos materiais, de escrever, de dizer sua palavra, desenhar, etc. 6. também é importante que nossos materiais tenham uma função na luta coletiva e organizada da comunidade. Que os materiais realmente sirvam para discutir juntos os problemas e tomar decisões. Em outras palavras, temos que superar o consumo individualista e passivo das mensagens. 7. finalmente, para saber se nossos materiais têm uma boa acolhida entre a população é preciso avaliar com diferentes leitores. Perguntar tanto pelos conteúdos como pela forma do material: o que você acha? o que você mais gostou? e o que não gostou? o que entendeu? que sugestões tem? As pessoas da comunidade podem participar de diferentes maneiras: discutindo algum tema, contando estórias, escrevendo comentários, avaliando ,etc. Existem diferentes formas e níveis . Poderíamos pensar em uma escada com três níveis... 1. O nível de decisões: Os destinatários participam na equipe, no planejamento de atividades, na administração e até nas decisões estratégicas. 2. O nível de produção de mensagens: Os receptores contam suas experiências ou testemunhos, escrevem cartas, artigos, fazem ilustrações, tiram fotos. 3. o nível da recepção: Os receptores participam de eventos educativos, utilizam nossos materiais, os discutem e avaliam. A equipe tem uma função educativa