I .° de Maio. Desfile de confissões de quem quer "rasgar" o acordo Na UGT já há sindicalistas que acham que está na altura de romper o acordo com o governo KÁTIA CATULO (Textos) katia. [email protected] EDUARDO MARTINS (Fotos) [email protected] Ao chegarem Restauradores, do Largo do à Praça dos Lisboa, partiam os últimos Martim Moniz. Foi o mais os primeiros perto que estiveram as duas centrais sindicais. Não é certamente novidade ver a UGT e a CGTP-EM com desfiles diferentes no I.° de Maio, mas fará sentido esta divisão quando juntos poderiam ser muitos mais? "Lutamos pelo mesmo", defende Marina Martins, assistente técnica numa escola básica de Portalegre. Mais emprego, pensões, educação ou saúde, é isso que "todos querem" e que as "políticas de aus- teridade retiraram", conclui a filiada no Sindicato dos Trabalhadores de Escritório (UGT). Há um desejo, confessado a custo, de quem desce a Avenida da Liberdade de ter gostado de participar numa manifestação onde deveria haver mais gente, mas não houve: "São muitos os que estão saturados e têm medo", justifica Rui Agostinho, bancário de Espinho e dirigente da UGT de Aveiro. Vieram os que "sofrem na pele", conta Rosa Santos, sindicalista da UGT integrada no staff da organização do desfile. Do outro lado, a subir a Avenida Almi- rante Reis, o entusiasmo faz mais barulho. "Não vê?", pergunta Catarina DominA olho nu gues, estudante universitária. parecem mais e mais seriam se os que se concentraram nos Restauradores se juntassem aos que terminaram o desfile na Alameda D. Afonso Henriques. Nesta hora em que os dois lados reconhecem não fazer sentido medir forças, há uma condição que quem está no lado da CGTP impõe aos que desfilaram pela UGT: "Rejeitar o As centrais sindicais reconhecem que não deviam medir forças. Mas o acordo com o governo está no meio Código do Trabalho e rasgar o acordo de Concertação Social seria um bom princí- pio de conversa", defende Bruno Maia, médico de 30 anos. É o espinho que incomoda os dois lados, com um mais incomodado que o outro. O mal-estar, neste caso, é maior entre os que gritam nos Restauradores pela UGT. "Para mim era já. Imediatamente!", diz Leonel Correia, dirigente do Sindicato Democrático das TeleCorreios e Media Romper comunicações, o acordo "agora", defende o técnico supe- rior da PT, porque a UGT tem sido "demasiado pacífica". Já devia ter acontecido, desabafa Fran- cisco Miranda, empregado de mesa de 34 anos. A demora só serviu para o governo "esticar a corda". Tanto esticou que só res- ta "rebentar com ela", diz o habitante de Portalegre, que confessa preferir ver a sua Inter a assumir "mais firmeza" e a querer também do outro lado, entre os que estão pela UGT, "maior unidade". Do outro lado não há lugar para a condescendência. Quem é da CGTP não des- culpa a UGT por ter assinado em Janeiro o tal acordo que agora divide as duas centrais. Não perdoam e recorrem às frases de sempre para censurar os que desfilam na Avenida da Liberdade: "A UGT está do lado do patronato, logo está contra o povo", acusa Joana Marques, funcionária do Museu de Arqueologia, em Lisboa, e membro da organização do desfile. Nos Restauradores, junto ao palco, Rosa Santos tem uma resposta para os dedos acusadores da CGTP: "Aquilo que o nosJoão Proença, está a so secretário-geral, fazer é cumprir a sua palavra e pressio- nar o governo para que faça o mesmo." A professora do ensino básico de Viana do Castelo bem gostava de ter ali à volta mais aliados. E vai tendo, embora não com a mesma convicção. Maria Santos diz que- rer acreditar que a "sabedoria" do líder da UGT vai produzir efeitos. Até porque a "rigidez" que vem da outra central também não provocou "qualquer mudança". São mais tímidos os que estão com a UGT. Vão dizendo que entendem a "paciência" de João Proença, mas a verdade é que começam a ficar impacientes por não verem os resultados de um acordo que deveria estar do lado dos desempregados e dos que têm medo de perder o emprego. "Por mais que entenda ser uma questão de estratégia, sinto que já está na hora de dizer basta a este governo. Precisamos de intensificar o movimento sindical e precisamos de nos unir", confidencia Beatriz Almeida, técnica superior do Ministério da Administração Interna e filiada no Sindicato dos Quadros Técnicos. Estratégia para Vítor Mendes, electromecânico de Espinho, é "perceber que o acordo de Concertação Social não está a ser cumprido" e que o único caminho a tomar é "dar um murro na mesa e partir para hita contra quem não combate pelos mais fracos". Que "venham todos então para a luta sindical", apela Bruno Maia, do Sindicato dos Médicos da Região Sul (CGTP-IN). O chamamento chega da Alameda D. Afonso Henriques: "Todos são importantes para não nos arrependermos mais tarde de virmos a ficar pior que antes do 25 de Abril", remata. A despedida. Proença acusa governo de nas "incçmpetência" políticas de emprego João Proença fez ontem o último discurso no 1° de Maio enquanto líder da UGT EDUARDO MARTINS Quando o secretáriogeral da UGT subiu ao palco para fazer o seu último discurno próximo congresso do I.° de Maio so será substituído -já Passos Coelho tinha garantido que o governo não vai dar razões à central sindical para denunciar o acordo de Concertação Social. Uma jogada de antecipação que não impediu João Proença de afirmar que "as políticas de emprego estão fortemente condi- - cionadas pela incompetência do governo". E de avisar Passos que a UGT exige "o cumprimento integral" do compromisso tripartido assumido em Janeiro. Desta vez foi o presidente da UGT, João de Deus Pires, a reforçar a ameaça de romper o acordo se nos próximos tempos o governo não imprimir "mais rapidez e mais eficácia" à sua implementação, ou seja, se não concretizar ao crescimento e ao emprego. Este foi aliás o ponto principal que levou Proença a deixar o ultimato ao os incentivos executivo de Passos Coelho. Em declarações ao /, Proença acome reafirma que "o tem mostrado incapaz de cumprir o acordo, particularmente na área do emprego". "Ou porque não querem ou porque são incompetentes, mas na prática não cumprem", acrescenta da UGT, que acusa o secretário-geral "alguns elementos" do executivo - numa referência ao ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira de não terem "interesse ou capacidade" para levar à prática o documento assinado no iní- panha governo as críticas se - cio deste ano. Para tentar acabar com as críticas, Passos Coelho - que atribuiu, há duas semanas, a ameaça da UGT à proximi- - dade do 1." de Maio aproveitou o Dia do Trabalhador para garantir que "não haverá uma segunda oportunidade para ouvir dizer" que o governo não está "a cumprir" aquilo com que se comprometeu. Num encontro com os trabalhadores social-democratas (TSD) defendeu mesmo que "é tão importante res- peitar o compromisso externo", ao Memorando da troika, como "o compromisso interno com os parceiros sociais". As declarações do primeiro-ministro, que prometeu pôr em prática "políticas activas de emprego" reivindicadas umas horas mais tarde por Proença, foram bem recebidas pelo secretáriogeral da UGT, que, apesar das ameaças, reconhece ter "alguma confiança de que o acordo vai ser cumprido". Mas nem tudo são rosas e o primeiro-ministro admitiu, na reunião com os TSD, que não é tão cedo que o desem- referindo-se prego vai baixar. "Temos de estar preparados para viver durante pelo menos dois ou três anos com níveis de desemprego a que não estávamos habituados, ele não vai desaparecer de um dia para o outro." Já o secretário-geral da UGT, no discurso do I.° de Maio, atacou fortemente o governo por "prolongar" os cortes nos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e pensionistas e por insistir numa política que "só se tem preocupado com a austeridade". Em reacção ao discurso de Proença, o deputado do CDS Hélder Amaral que esteve na festa da central sindical encontrou nas palavras do líder da UGT "uma chamada de atenção" que o - governo deve "levar muito a sério". "Cumprir exactamente aquilo com que se compromete é "fundamental para a credibilidade do governo e do país", defendeu o deputado do CDS. Na Madeira, o deputado José Manuel Rodrigues foi mais longe e lembrou que a "auste- ridade tem limites". "Parem com o aumento de impostos", acrescentou o deputado democrata-cristão, que se demitiu do cargo de vice-presidente da bancada do CDS por ter furado a disciplina de voto nas propostas de lei que aumentam os impostos na Madeira, num apelo aos governos de Passos Coelho e de Alberto João Jardim. Mais previsível foi a reacção do PS. Miguel Laranjeiro voltou a acusar o governo de não cumprir "a parte essencial" do acordo de Concertação Social, que "tem a ver com as medidas activas de emprego, com as questões de valorização do trabalho e com a contratação colectiva". Esta foi o último discurso de João Proença num I.° de Maio. "Certamente, mas vou continuar a viver e a marcar presença na festa da UGT", garantiu ao i o líder da central sindical. Passos Coelho avisou que "temos de estar preparados para viver com níveis de desemprego" elevados LUÍS CLARO luis. [email protected] A estreia. "Eles são os coveiros dopais", acusou Arménio Carlos Arménio Carlos diz que Vítor Gaspar tem a "pasta da propaganda" EDUARDO MARTINS Arménio Carlos, com ironia, diz que os subsídios são "eles": to com o FMI, o BCE e a UE, que promo- serão pagos "em 2021, 2015" ou "nunca" LUÍS CLARO luis. [email protected] Quase uma hora depois de João Proença ter feito o seu último discurso num I.° de Maio, o novo líder da CGTP, Arménio Carlos, estreou-se, na Alameda Afonso Henriqués, em Lisboa, com uma intervenção mais dura para o governo, como era de prever. "Eles", disse Arménio dirigindo-se aos governantes, são "os coveiros do país". "Eles têm medo que o povo perca o medo, mas estamos a dar uma clara demonstração de que o povo não tem medo quando luta", continuou líder da CGTP. "Eles são os que assinaram o de entendimen- chamado Memorando o A seguir Arménio Carlos explicou quem de Estratégia Orçamental apresentado esta segunda-feira. Com a certeza de que este foi um dos ve as injustiças e as desigualdades, que generaliza o empobrecimento da população, aumenta a exclusão social e põe em causa a democracia e a soberania l. os de Maio "maiores de sempre realizados em Portugal", Arménio Carlos pro- nacional." Num discurso dominado pelas críticas ao executivo de Passos Coelho, o secretário-geral da CGTP dirigiu-se concretamente ao ministro das Finanças, que "agora acumula a pasta da propaganda", e criticou o facto de o governo ter assumido que os subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e dos pensionistas só serão pagos na totalidade em 2018. "Eventualmente será para 2021, 2025 ou para nunca. Estes são os políticos que envergonham a política." Uma resposta ao anúncio feito por Vítor Gaspar de que as reposições "terão de ser feitas gradualmente a partir de 2015 e o ritmo será condicionado pela existência de espaço orçamental" e ao Documento e meteu aos trabalhadores "intensificar a luta e lutar contra "o empobrecimento a exploração". Os ataques da CGTP estenderam-se ao Presidente da República, acusado de só falar em "generalidades". 'Também temos um Presidente da República que em vez de falar dos problemas reais dos portugueses andou a divagar porque sabe que está a dar cobertura a uma política que despede os pais e não emprega os filhos." Arménio Carlos voltou a exigir o aumento do salário mínimo - mais um curo por dia - e a contestar as alterações às leis laborais, que querem fazer dos trabalhadores "peças descartáveis". Para combater esta política, no entender da CGTP, está na "hora de os portugueses se unirem na exigência de uma mudança de política e de uma política alternativa". Seguro insiste com Passos para aprovar adenda ao tratado ••• O secretário-geral socialis- ta, António José Seguro, desafiou ontem o primeiro-ministro a "aceitar a proposta do PS para a criação de emprego mento económico", e cresci- ou seja, a adenda ao tratado europeu, que a maioria PSD/CDS rejeitou no último mês na Assembleia da República na discussão e votação do Pacto Orçamental. "Desafio novamente o primei- ro-ministro a aceitar a proposta do PS para a criação de emprego e crescimento económico e que juntos possamos, no interior da União Europeia, dotar o Tratado Europeu da dimensão económica e social que lhe falta", apelou o secretário-geral dos socialistas, numa mensagem gravada previamente pelo PS para assinalar o Dia do Trabalhador. António José Seguro saudou "todos os trabalhadores que, em Portugal, dão o melhor de si para o desenvolvimento e para o bemestar do país", e lembrou os que estão desempregados, reiterando que o PS tem como prioridade o crescimento e o emprego. "Há muitos mes"es que temos vindo a apresentar propostas concretas de apoio à economia, de apoio às nossas empresas para que estas criem riqueza e postos de trabalho", afirmou o líder socialista. Luís Claro