Processo de laminação por Infusão de Barcos de Lazer como Fonte de Sustentabilidade e Vantagem competitiva das Empresas do Setor Náutico Brasileiro Autoria: Leonardo Riche, Leonardo Pabon, Marcos Cohen Resumo: No momento em que o desenvolvimento econômico coloca sob dúvida o nosso futuro, pode-se dizer que o desenvolvimento sustentável é o grande desafio dos dias de hoje. Nesse contexto, é essencial que as empresas mudem sua política de reativa para proativa e inovadora, alinhando sua estratégia de negócio com a ambiental. É importante não apenas buscar métodos de produção mais limpos, mas planejar todo o ciclo de vida do produto. O objetivo desse artigo foi comparar dois processos distintos de fabricação de barcos de lazer. O primeiro método analisado foi o tradicional método de laminação manual e o segundo o método de laminação por infusão. Foram abordados os conceitos de produção limpa, eficiência produtiva e sustentabilidade nos negócios. Foi avaliado o desempenho de cada um dos dois processos levando-se em conta a economia de recursos materiais e financeiros, a degradação do meio ambiente e os males que os produtos químicos causam às pessoas que trabalham diretamente na laminação do barco. O presente trabalho utilizou o método de pesquisa qualitativa de estudo de caso exploratório para investigar as principais diferenças no processo de laminação e comprovar a melhor eficiência na alocação de recursos do método de laminação de barcos por infusão. Entrevistas foram realizadas simultaneamente com pesquisa de campo, além de pesquisa literária sobre os temas em questão. Os resultados alcançados explicitam os benefícios à saúde dos trabalhadores, a economia de recursos, e a preservação ambiental do método de construção por infusão. 1 Introdução O Brasil, com sua extensa costa, possui um enorme potencial náutico que é ainda pouco desenvolvido. De acordo com o Relatório da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos - ACOBAR (2005), a relação nacional de barco por habitante é de aproximadamente 1/1.600, que pode ser considerada pequena quando comparada com a relação de 1/23 dos Estados Unidos, de 1/66 da Itália, ou de 1/120 da França. O país possui uma frota nacional de 53 mil embarcações em fibra de vidro acima de 14 pés. Segundo o próprio relatório, o país deveria ter perto de 300.000 embarcações de lazer, ou uma relação de 1/1.500, o que representa um déficit de 247 mil barcos. A indústria náutica brasileira é um setor pulverizado e constituído de pequenas e médias empresas em sua maioria. Segundo os mesmos dados de 2005, existem em atividade 151 estaleiros formalmente registrados em atividade no país, com uma produção média de 3,3 mil barcos/ano. Cerca de 15% dessas embarcações construídas tem mais de 32 pés de tamanho. Para Nasseh (2007), na produção dessas embarcações, há um predomínio no uso de técnicas artesanais, raramente recorrendo-se a máquinas, automação, ou ao uso de processos mais sofisticados. Pode-se enumerar uma série de críticas e desvantagens para esse modelo de produção. O uso de técnicas artesanais leva a necessidade de uso de uma maior quantidade de mão de obra, e por conseqüência de uma menor produtividade, maior exposição dos trabalhadores a materiais tóxicos, e maior geração de resíduos no processo. O presente trabalho analisa o processo de fabricação de barcos de lazer acima de 32 Pés ou 10 Metros de comprimento, tendo como base dois métodos de laminação. Segundo Nasseh (2000; p. 237), o processo de laminação compreende em utilizar resina suficiente para impregnar um material (fibra de vidro ou manta) previamente cortado. 1 O primeiro método a ser analisado é o processo de laminação manual e o segundo é o método de laminação por infusão, desenvolvido pela empresa Barracuda Technologies do Brasil como BIS (Barracuda Infusion System). O método alternativo de construção é o método de construção por infusão. Esse método é considerado como um processo inovador na indústria náutica. Inovação, segundo Schumpeter (1982), é um conjunto de novas funções evolutivas que alteram os métodos de produção, criando novas formas de organização do trabalho e, ao produzir novas mercadorias, possibilita a abertura de novos mercados mediante a criação de novos usos e consumos. As limitações do crescimento e desenvolvimento de uma economia, na visão de Schumpeter (1982), estão na falta de projetos rentáveis, na ausência de estoque de conhecimentos e na pouca disponibilidade de pessoas capazes de empreender. Portanto, a limitação do crescimento econômico e social não está na falta de investimentos, mas sim de competências para identificar oportunidades de negócios. Dentre as principais formas de inovação classificadas pelo autor (Schumpeter, 1982) uma delas menciona a introdução de um novo método de produção. Este novo método, segundo o autor, precisa estar baseado numa descoberta científica nova, que pode constituir uma nova maneira de comercializar uma mercadoria. Apesar de benéfico à economia, o crescimento desenfreado das inovações tecnológicas e dos lançamentos de novos produtos e processos ocasionou a maior preocupação com os impactos negativos ao meio ambiente que esses avanços proporcionavam. Em outras palavras foi acrescentada a variável ambiental nos negócios. Segundo Lemos e Nascimento (1999), parte das empresas está em crescente preocupação com o meio ambiente, com a saúde e segurança de seus trabalhadores e com a responsabilidade social perante sua comunidade. Essa preocupação é originada principalmente por pressão dos governos e da sociedade segundo os autores. É baseado nesse contexto que foi realizado um trabalho de investigação sobre a inovadora tecnologia de fabricação de barcos de lazer que é pouco difundida no Brasil. A idéia surgiu diante de uma oportunidade de aprimoramento no processo de laminação das estruturas das embarcações de lazer maiores de 32 pés fabricadas em compósitos. Compósito é um material em cuja composição é originada de dois ou mais tipos de materiais diferentes. Alguns exemplos são Fibra de Vidro e Espuma de PVC. Na próxima seção será abordado o referencial teórico e os principais conceitos utilizados no trabalho. Na terceira seção será explicado o método da pesquisa e como foram feitas as coletas dos dados e a organização das informações para gerar os resultados obtidos. Na quarta seção serão apresentados os resultados a partir das pesquisas e do trabalho de campo realizado. Esta seção explica as diferenças nos dois processos de laminação. Finalmente na quinta seção serão feitas as conclusões do trabalho e as recomendações. 2 Referencial Teórico 2.1 Sustentabilidade aplicada à gestão de operações A produtividade é usada para avaliar como uma organização está usando seus recursos. Ela pode ser definida como a razão entre as saídas e as entradas de um processo. Sendo quanto maior o seu valor, mais eficiente o processo (Chase, Jacobs e Aquilano; 2006; p39). O conceito de produtividade e eficiência econômica começou a ser contestado a partir da década de 60, que foi marcada pelo discurso da sustentabilidade nos negócios. O crescimento acelerado da economia, da população e da ocupação urbana acarretou numa maior preocupação e consciência com o meio ambiente e seus recursos escassos. Os esforços partiram inicialmente dos países desenvolvidos (Andrade, 1997). 2 O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu em 1987 no relatório “Nosso Futuro Comum” da Comissão Mundial para o Meio-Ambiente e Desenvolvimento da ONU. Ele foi definido como o desenvolvimento que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender as suas necessidades (CMMAD, 1991). No entanto, a maior conscientização de desenvolvimento sustentável e gestão ambiental aconteceu no Rio de Janeiro em 1992 (ECO-92) que conseguiu reunir líderes de todo o mundo para discutir o impacto da economia no meio ambiente (Araújo et al, 2006). Para garantir os direitos das gerações futuras, é preciso ter uma visão mais ampla do desenvolvimento econômico. As ações de um país, empresa, ou indivíduo não podem ser feitos sem levar em conta as conseqüências para a sociedade e o meio ambiente (De Graaf, Muster e Ter Keurs, 1996). Essa consciência sistêmica leva a disseminação da responsabilidade ambiental nas empresas, que passam a se preocupar com as conseqüências dos seus processos e produtos sobre o meio ambiente (Barbieri, 2004). O conceito de desenvolvimento sustentável é apoiado no tripé mais conhecido como Triple-Bottom Line ou sustentabilidade corporativa. Esse tripé combina progresso social, crescimento econômico e preservação ambiental. Para Araújo et al (2006), a interseção desses três elementos forma o equilíbrio ou o desenvolvimento sustentável. O autor afirma que o desenvolvimento com sustentabilidade ambiental pode ser visto com uma proposição conciliadora também chamada ecodesenvolvimento. Ou seja, o crescimento econômico é relativo aos limites ambientais. Esse crescimento é condição necessária, mas não suficiente para a erradicação da pobreza e das disparidades sociais, por exemplo. Desta forma, é necessário a intervenção e o direcionamento do desenvolvimento econômico para conciliar a eficiência econômica, o desenvolvimento social e a questão ecológica. Meredith (1994, apud Andrade 1997) sugere três tipologias para a gestão ambiental nas empresas: 1 Reativa: Quando a empresa percebe a variável ambiental como uma ameaça e fonte de gastos desnecessários. 2 Ofensiva: Quando as empresas cumprem com as leis antes dos seus concorrentes somente para obter vantagem competitiva e marketing para seus clientes. Geralmente o gasto com tecnologias mais limpas é baixo. 3 Inovativa: Quando existe uma antecipação a demandas ambientais futuras. A empresa utiliza estratégias de pesquisa e desenvolvimento de novas soluções para o meio ambiente independente das legislações ambientais de cada lugar. Para ter uma estratégia inovativa, Andrade (1997) sugere que deverá haver uma forte relação da estratégia de negócio com a estratégia ambiental da empresa. Para Barbieri (2004), a empresa pode adotar três formas de estratégias para abordar o problema ambiental, mais conhecida como eco-estratégias: 1. Controle de Poluição: Comportamento reativo. 2. Prevenção da Poluição: Procedimentos para combater a poluição. A teoria dos 4Rs – Redução da poluição na fonte; reutilização de materiais; reciclagem de materiais; recuperação energética. 3. Inclusão da questão ambiental na estratégia da empresa: Comportamento pró-ativo. No Brasil, um estudo da Firjan (2002) constatou que 79,3% das empresas buscam reduzir o consumo de insumos e 73,5% delas possuem normas e procedimentos de prevenção de riscos à saúde e segurança dos funcionários. No entanto, 9,6% delas estão certificadas pela norma ISO 14001 ou equivalente. Isso prova que as empresas 3 estão preocupadas com o meio ambiente, no entanto a homologação de tais medidas de controle e sistemas de gestão ambiental ainda é incipiente no caso Brasileiro. 2.2 Ecoeficiência e Tecnologia mais Limpa O conceito de ecoeficiência foi introduzido pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), no seu relatório de preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento – ECO 1992. Segundo Misra (2000), a ecoeficiência é a tentativa de utilização de menor quantidade de insumos ou recursos para a produção de um bem ou serviço que satisfaz as necessidades humanas com preços competitivos e que reduzem progressivamente os impactos ecológicos e sociais. A questão do ciclo de vida do produto está incluída nessa análise de Misra. Segundo o autor, ecoeficiência significa produzir mais com menos recursos e resíduos. Em busca da ecoeficiência, Misra (2000) menciona o conceito de Produção Mais Limpa (P+L). A produção mais limpa implica na aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva integrada aos processos e produtos, com o objetivo de diminuir os riscos para pessoas e o meio-ambiente. Dentro dessa linha de pensamento, Layragues (2000) defende que o mundo empresarial está tendendo a adesão de tecnologias mais limpas. Isso porque a implantação do certificado de qualidade ambiental, mais conhecido como ISO 14000, se transformará em instrumento de competitividade entre as empresas fazendo com que o próprio mercado busque o desenvolvimento sustentável. A ISO 14000, apesar de ser voluntária, será no futuro fator de competitividade entre as empresas segundo o próprio autor. As conseqüências da disseminação da ISO 14000 entre as empresas são: diminuição do nível de poluição, menor quantidade de resíduos despejados no meio ambiente e a maior preservação do meio ambiente com menos utilização dos recursos escassos. Segundo Porter (1999), a criação de restrições benéficas para o meio social em comum cria uma dinâmica competitiva e o fortalecimento da indústria, pois as empresas serão obrigadas a se tornarem mais eficientes e a inovar. Isso leva a vantagem competitiva no mercado global. Historicamente, as empresas encaram a questão ambiental como lidar com os resíduos, seja através da reciclagem ou do seu tratamento para minimizar o impacto ambiental. No entanto, ações como o programa Produção Mais Limpa das Nações Unidas tem uma visão assunto mais sustentável tanto ambientalmente, quanto economicamente. Na sua abordagem, também existe a preocupação com o tratamento dos resíduos, mas o foco passa a ser no aumento da produtividade, em ações que resultem na eliminação ou minimização da geração de resíduos (PNUMA, 2008). O conceito de tecnologia limpa foi introduzido pela United Nations Environment Programme - Unep (2009) como um método que integra estratégia da empresa com tecnologia e meio ambiente em processos e produtos no intuito de aumentar a eficiência no uso da matéria prima com redução de desperdícios e minimização da geração dos resíduos. Do ponto de vista do consumidor, Layragues (2000) acredita que cada vez mais pessoas estão se incluindo no grupo de consumidores mais exigentes que acrescentaram a variável ambiental na sua decisão de compra. Esses são os chamados consumidores verdes. Além de preço e qualidade, o consumidor verde estará também preocupado com a degradação do meio em que convive. Desta forma cada vez mais empresas utilizarão tecnologias mais limpas para atender essa demanda crescente. Outro benefício advindo das tecnologias mais limpas é a diminuição da poluição. De acordo com o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL), a poluição pode ser definida como sendo uma demonstração da ineficiência dos processos produtivos, ou seja, os resíduos (outputs) são matérias-primas (inputs) não aproveitadas 4 que as empresas estão desperdiçando e, portanto, comprometendo a sua produtividade e competitividade junto ao mercado (CNTL, 2006 apud Milan e Grazzioti 2008). Junto com as tecnologias limpas, a logística reversa foi introduzida nas empresas para que sejam diminuídos os resíduos e os recursos escassos sejam melhores aproveitados. Segundo Rogers and Tibben-Lembke (1998), logística reversa é justamente o contrário da logística tradicional. Ao invés de olhar o processo do bem fabricado até o destino final que é o consumidor, na logística reversa analisamos o processo do bem originado do cliente e sendo reutilizado pela empresa para fins de revalorização ou correta eliminação para diminuir o impacto do produto final ao meio ambiente. Esse conceito de logística reversa aumenta o ciclo de vida do produto que antes era limitado à sua criação, uso e destruição. Partindo dessas premissas, Sanches (2000) acredita que a prevenção da poluição, a minimização dos resíduos e a proteção dos recursos naturais proporcionarão não só a preservação do meio ambiente como também o bem-estar dos trabalhadores, da comunidade e até de gerações futuras. Isso vai obrigar as empresas industriais a adotarem posturas de longo prazo quanto ao ciclo de vida do produto e dos processos industriais. 3 Metodologia O presente trabalho é uma pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa é fundamentalmente interpretativa. Isso significa que o pesquisador faz uma interpretação dos dados. Isso inclui o desenvolvimento da descrição de uma pessoa ou de um cenário, análise de dados para identificar temas ou categorias e, finalmente, fazer uma interpretação ou tirar conclusões sobre seu significado, pessoal e teoricamente, mencionando as lições aprendidas e oferecendo mais perguntas a serem feitas (Wolcott, 1994 apud Creswell, 2007; p. 186). Dentre as estratégias de pesquisa qualitativa existe o estudo de caso. No estudo de caso o pesquisador explora em profundidade um programa, um fato, uma atividade, um processo ou uma ou mais pessoas. Os casos são agrupados por tempo e atividade, e os pesquisadores coletam informações detalhadas usando uma variedade de procedimentos de coleta de dados durante um período de tempo prolongado (Stake, 1995 apud Creswell, 2007; p. 32). Esse trabalho utilizou o método de estudo de caso para analisar um estaleiro que usa o processo de laminação e outro que usa o processo de laminação por infusão. Para levantar os dados dos estudos de caso vamos seguir os seguintes passos. O primeiro passo foi um estudo do preço dos materiais utilizados na construção. Após esse levantamento, foi feita uma entrevista com um funcionário que trabalha há mais de 10 anos em uma empresa do setor náutico. Utilizou-se um questionário com perguntas abertas a respeito dos processos e das quantidades despendidas de matéria prima e mão de obra para os dois processos. As perguntas se estenderam aos benefícios do produto final acabado. Após esta etapa, foi feita uma pesquisa de campo com os estaleiros que fabricam a embarcação de tamanho quase idêntico, porém cada uma em cada processo diferente. Em ambos os estaleiros foram feitas pesquisas a respeito do processo de laminação. Os tempos de produção foram levantados entrevistando alguns funcionários dessas empresas, e a sua média foi ponderada junto com a entrevista com o encarregado de produção. A pesquisa de campo serviu como insumo para a análise e consolidação dos resultados em conjunto com a entrevista coletada anteriormente. Alguns relatórios operacionais também foram analisados, porém os relatórios eram informais de procedimento das operações do dia-a-dia, sem qualquer publicação em site ou estatuto da empresa, por exemplo. Por ser pouco difundido o processo de laminação por infusão, 5 existe uma dificuldade de obter esses relatórios. Outra etapa do trabalho foi pesquisar na literatura os males da exposição do monômero de estireno às pessoas que trabalham diretamente na produção e ao meio ambiente. Ele é um componente da resina poliéster, que durante o seu uso se propaga no ar. Com esses resultados foram geradas as conclusões e as recomendações para o setor náutico de embarcações de lazer superiores a 32’. A metodologia em questão possui algumas limitações como a fonte das informações. Apesar da convergência das informações dos entrevistados, o método de entrevistas possui limitações como a influência de opiniões pessoais do entrevistado e possível dúvida quanto à veracidade das informações prestadas. No entanto, a maioria das informações foi confirmada de acordo com as literaturas pesquisadas. 4 Resultados 4.1 Processos de Fabricação Para efeito de análise dos resultados foi considerado que ambos os barcos seriam produzidos a partir de um molde que espelhasse o modelo exato do barco. Os materiais consumidos nos dois processos foram dados de acordo com o plano de laminação do projeto. Segue abaixo: Gel Côat (Gel Branco que dá acabamento liso a superfície do Barco) Tecido de Manta de Fibra de Vidro de 300 grs/m2 (M300) Tecido de Manta de Fibra de Vidro de 450 grs/m2 (M450) Tecido de Manta de Fibra de Vidro de 450 grs/m2 (M450) Tecido Biaxial (duas fibras costuradas) de Fibra de Vidro CM 3208 Tecido Biaxial de Fibra de Vidro CM 3208 Espuma de PVC H60 DC 12MM Tecido Biaxial de Fibra de Vidro CM 3208 Tecido Biaxial de Fibra de Vidro CM 3208 Para o costado da embarcação usam-se duas camadas a menos de Tecido CM 3208. 4.1.1 Pré-Corte dos Materiais O primeiro passo para uma laminação eficiente é o pré-corte dos materiais para evitar o desperdiço na hora da laminação. Essa etapa foi verificada nos dois processos de laminação. Primeiro cortam-se todas as placas (espumas de PVC) de acordo com o molde do barco. Esse processo leva em torno de 2 horas. O corte dos tecidos de Fibra leva em torno de 4 horas e a preparação da resina 2 horas. Essa etapa, portanto, será considerada igual para os dois processos de laminação. 4.1.2 Preparação do molde para a laminação Preparado o material, o molde deve ser preparado para a laminação. Essa preparação é chamada de Gel Coat e Skin Coat. Primeiro encera-se a forma para que o produto final na hora da aplicação do material e colagem da resina não fique agarrado ao molde e o material possa ser desmoldado. Por isso leva-se o nome de cera desmoldante. A cera é aplicada 2 vezes na forma e essa etapa leva em média 2 horas. Depois da cera é aplicado o Gel Coat, que é a primeira camada do barco depois do Primer ou Tinta. Trata-se de um Gel Branco que da um aspecto branco e limpo para o casco da embarcação. Essa etapa leva em média uma hora e a secagem do Gel mais uma hora. Depois do Gel Coat aplica-se o Skin Coat. Skin em inglês significa pele ou película. Essa película é compreendida por um tecido de manta de fibra de vidro que dá 6 o reforço estrutural da embarcação. A primeira camada do Skin Coat é a Manta 300, um tecido de manta de fibra de vidro com o peso de 300 gramas por metro quadrado. Cada tecido é laminado com resina poliéster em quatro horas. Após laminar o tecido é necessário uma apara dos tecidos que ficam do lado de fora da forma, pois eles manualmente não vão ficar no formato ideal da forma, mesmo que antes seja pré-cortado. Essa etapa, também conhecida como rebarba, leva meia hora aproximadamente. Mais duas camadas de Manta 450 fecham a laminação do Skin Coat. Tanto o Skin Coat como o Gel Coat são necessários para os dois processos, portanto o pré-corte e a preparação da forma para a laminação também não serão levados em consideração nas vantagens e desvantagens. 4.1.3 Laminação As diferenças de produção começam a partir da laminação propriamente dita do casco da embarcação. O Casco é dividido em duas partes: O Fundo (abaixo da linha d’água) e o Costado (acima da linha d’água). A primeira diferença é que na laminação manual o Fundo e o Costado não podem ser laminados juntos, enquanto na laminação por infusão os construtores podem desfrutar desse benefício. 4.1.3.1 Laminação Manual O primeiro método analisado foi o método de laminação manual. Esse método é o mais utilizado e difundido na indústria náutica brasileira. A técnica básica de laminação manual se resume em utilizar resina suficiente para impregnar as fibras previamente cortadas, pressionando firmemente em sua posição. Após preparar o material todo, o segundo estágio é pegar a resina e derramar numa vasilha na quantidade suficiente para impregnar ou colar a peça. Segundo um dos entrevistados, é praticamente impossível estimar a quantidade suficiente de resina a ser utilizada, portanto uma parte é sobra ou excedente de produção. No caso analisado, esse resíduo virou lixo para empresa. Depois de derramar a resina no recipiente é necessário catalisar a resina para que ela dê consistência e fique dura em um curto período de tempo. O catalisador é uma substância que é adicionada à resina (a quantidade resina/catalisador é de acordo com cada tipo de resina) para que ela saia do estado líquido para o estado sólido em um determinado tempo de acordo com cada tipo de resina. O tempo de catalisação ou Gel Time serve para dar tempo ao operador aplicar a resina sobre a camada de fibra. Após esta operação deve ser usado um rolo de lã ou pincel para forçar (compactar) a resina a penetrar nas fibras e movê-la através delas. Em certo ponto a resina atuará dissolvendo o ligante químico das fibras que as mantém em suas posições. Qualquer área que apareça branca ao invés de translúcida deve ser compactada até a perfeita impregnação. Quando esta estiver completa, o ligante químico estará dissolvido e as fibras estarão na forma de filamentos individuais, o que tornará mais fácil sua moldagem sobre a fôrma. A quantidade de funcionários para satisfazer as premissas foram 6 laminadores e o custo mensal de mercado mais os encargos trabalhistas foi R$ 1.200,00 para cada funcionário. 4.1.3.1.1 Fundo Em primeiro lugar lamina-se a parte do Fundo. O tempo de laminação para o Tecido Biaxial é o mesmo do tempo de laminação da Manta de Fibra de Vidro. Também é necessário fazer a rebarba após a laminação de cada etapa da fibra. A única diferença é que após a segunda camada de fibra de Vidro a placa (Espuma de PVC) deve ser colada sobre a fibra de vidro laminada e seca. Para a 7 colagem dessa placa é utilizado uma massa especial ou adesivo de colagem que deve ser pré-misturado e colado em cada placa antes desta entrar em contato com os outros materiais. Para misturar a massa e colar nas placas se gasta em média três horas. Depois de colar a massa, a placa deverá ser fixada nos tecidos laminados no molde. Essa etapa é feita junta com a compactação da placa aos materiais para que a massa escorra e penetre nas divisórias da placa e o sólido fique mais resistente. Essa etapa e a compactação das placas levam aproximadamente uma hora. Mais duas camadas de Tecido Biaxial CM 3208 são necessárias para fechar essa etapa de laminação do Fundo. O tempo de operação e rebarba é o mesmo. No final coloca-se uma película anti-bolha chamada Peel Ply para dar o acabamento liso na parte interna do casco. Esse processo geralmente é feito junto com a laminação do último tecido, portanto o tempo desse procedimento já foi aferido. O quadro 1 mostra ordenadamente todas as etapas do processo de laminação manual do fundo. Quadro 1: Tempo de processo de Laminação do Fundo Etapa do Processo Laminação Tecido Biaxial 3208 Rebarba Laminação Tecido Biaxial 3208 Rebarba Colagem do Adesivo (Massa Epóxi) na placa de espuma PVC Colagem do Adesivo no casco e compactação Laminação Tecido Biaxial 3208 Rebarba Laminação Tecido Biaxial 3208 e película anti-bolha (Peel Ply) Rebarba Total Tempo 4 Horas ½ Hora 4 Horas ½ Hora 3 Horas 1 Hora 4 Horas ½ Hora 4 Horas ½ Hora 22 Horas 4.1.3.1.2 Costado Para laminar o Costado, o procedimento é idêntico à laminação do Fundo. A única diferença, como percebida no quadro 2, é que no Costado usam-se duas camadas a menos de tecido Biaxial CM 3208. Uma antes da colocação da placa e outra depois da colocação da placa. Quadro 2: Tempo de processo de Laminação do Costado Etapa do Processo Laminação Tecido Biaxial 3208 Rebarba Colagem do Adesivo (Massa Epóxi) na placa de espuma PVC Colagem do Adesivo no casco e compactação Laminação Tecido Biaxial 3208 e película anti-bolha (Peel Ply) Rebarba Total Tempo 4 Horas ½ Hora 3 Horas 1 Hora 4 Horas ½ Hora 13 Horas 4.1.3.2 Laminação por Infusão A Laminação por infusão é um método recente de construção de embarcações de lazer bastante difundido na Europa e nos EUA. No Brasil esse método é pouco utilizado na indústria náutica. O processo de laminação por infusão consiste na transferência de resina do recipiente diretamente para um molde fechado por intermédio de uma mangueira que auxilia o processo. Este processo associa os benefícios das estruturas em material composto (fibra de vidro e espuma de PVC) como leveza, alta resistência e desempenho além da redução da emissão de partículas tóxicas na atmosfera. Todos os materiais são cortados antes do processo, assim como na laminação 8 manual. A diferença consiste que, além da resina e da fibra, outros acessórios deverão ser utilizados no processo de infusão como bolsa de vácuo, vedante da bolsa de vácuo, mangueira de sucção, tela para aumentar o fluxo da resina, bomba de vácuo, medidor de vazamentos da bolsa e trap para impedir que o contra fluxo de resina entre na bomba de vácuo. O Processo: Todos os materiais são dispostos (a seco) no molde ou na forma. As mangueiras e as telas são dispostas de acordo com o tamanho da peça e da disposição do molde (vertical ou horizontal) em cima dos materiais. Após esta etapa, o molde é fechado com uma bolsa de plástico para auxiliar o vácuo da peça. Cada canto deverá ser lacrado com o vedante da bolsa de vácuo que é um material de borracha que não gruda no molde após ser removido e é suficiente para selar a bolsa e impedir a passagem de ar. Uma mangueira deve ser ligada à bomba de vácuo e outra ao tambor de resina com contra-fluxo (volta da resina) ligada ao trap (uma caixa vazia onde será depositada a volta da resina). A resina escorrerá pelo molde sem entrar em contato com o meio ambiente. A bomba de vácuo será acionada para eliminar o ar da peça e fazer com que a resina seja impregnada de forma ótima. A resina deve ser catalisada com uma seringa que entra diretamente pela mangueira. É fundamental que a bolsa de vácuo esteja sem vazamentos, por isso é necessário passar o medidor de vazamentos por toda peça. A quantidade de funcionários para satisfazer as premissas foram três laminadores a um custo de mercado mais os encargos trabalhistas de R$ 1.200,00 por funcionário. 4.1.3.2 Laminação por Infusão do Fundo e Costado Como já foi frisado, o construtor pode optar por laminar o Fundo e o Costado ao mesmo tempo na laminação por infusão. A única restrição é que a largura da bolsa de vácuo seja suficiente para cobrir o casco todo sem emendas. O layout de laminação ou plano de laminação do método de infusão é o mesmo que o método manual. A única diferença é que na laminação por infusão não há necessidade de massa de colagem das placas. A própria resina poliéster colará todas as peças de uma vez só. Após ter pré-cortado todo o material e preparado a forma para a laminação o gerente de produção deve ter em mãos um mapa da infusão para orientar-se. Esse mapa contém todos os procedimentos para que o processo seja bem sucedido. O primeiro passo do procedimento é colocar os materiais a seco no molde com o Skin Coat já laminado. Na parte do Costado as placas poderão cair por ser uma superfície vertical. Para isto, é utilizado um Spray que segura essa placa momentaneamente, até ser dado o vácuo na peça. A disposição dos materiais a seco ou a montagem leva em torno de três horas, de acordo com o quadro 3. Depois de montado todo o material, a próxima etapa é a montagem das linhas de vácuo e Espiral de auxilio ao fluxo de resina. As linhas de vácuo são mangueiras rígidas que permitem a passagem da resina do tambor ao interior da bolsa de vácuo e o Espiral são plásticos reforçados que ajudam ao escorrimento da resina. Existem também as linhas de vácuo que puxam o ar de dentro da bolsa de vácuo ao invés de injetar resina. Essa etapa toda leva uma hora. A colocação e a vedação da Bolsa de vácuo é a próxima etapa. Depois de lacrada a bolsa de vácuo é importante que com um aparelho ultra-som seja examinado se há vazamentos na bolsa. Essas duas etapas levam em torno de uma hora e meia. Após certificar-se de que não há vazamentos na bolsa é acionada a bomba de vácuo que puxa o ar do laminado e os registros que liberam o fluxo de resina para o interior da bolsa de vácuo. Essa etapa é a infusão dos materiais. A infusão leva uma hora no máximo. Vide abaixo o quadro 3: 9 Quadro 3: Tempo de processo de Laminação do Fundo e do Costado por infusão Etapa do Processo Montagem dos materiais a serem infundidos Montagem das linhas de infusão (Mangueira de vácuo e espiral) Fechamento da bolsa de vácuo Verificação de vazamentos na bolsa Infusão da resina e colagem total dos materiais Total Tempo 3 Horas 1 Hora 1 Hora ½ Hora 1 Hora 6 ½ Horas 4.2 Economia de Recursos Esta seção pretende analisar as quantidades de recursos material e humano gastos em cada tipo de laminação. A análise será feita a partir da seção 4.1.3 visto que nas seções anteriores o gasto de material é equivalente devido à similaridade dos processos. 4.2.1 Mão de Obra De acordo com as pessoas entrevistadas, o salário médio mensal de um laminador é aproximadamente R$ 600,00 e calcula-se que os encargos e os benefícios do funcionário seja o mesmo valor do salário. Portanto a faixa de preço por laminador será R$ 1.200,00 / mês. Esse valor é o mesmo entre os dois processos de laminação. Vimos que a necessidade de mão de obra para a laminação manual é de seis funcionários e o tempo total da construção é de 35 horas. Caso o serviço fosse feito por um funcionário o processo todo levaria 210 horas. O mês útil tem 22 dias ou 176 horas considerando uma jornada de oito horas diária. Portanto o custo de mão de obra para o construtor seria de aproximadamente R$ 1.432,00. Na laminação por infusão gasta-se apenas seis horas e meia e três funcionários. Todos os funcionários levam 19 horas e meia. O custo de mão de obra para a laminação por infusão gira em torno de R$ 133,00. Economia do processo: R$ 1.299,00 4.2.2 Resina Outra grande economia para a empresa é na quantidade de resina dependida no processo de laminação manual que é brutalmente economizada quando comparamos com a laminação por infusão. Na laminação manual em cada camada de fibra e espuma de PVC há necessidade de laminação com resina, enquanto na infusão todos os materiais são dispostos a seco e a resina é usada de uma vez para toda a peça. Para laminar o fundo e o costado de um barco de lazer de 32 pés manualmente é necessário 1,5 toneladas de resina poliéster de acordo com os entrevistados. Isso sem contar com a exposição dessa resina ao meio ambiente e aos laminadores. A resina do processo por infusão é liberada uma vez só para molhar todos os materiais juntos. Esse procedimento faz com que a quantidade de resina gasta seja de uma tonelada segundo entrevistados. O preço de mercado da resina para laminação manual é R$ 10,00, enquanto que a resina para infusão (menos viscosa, que ajuda ao escorrimento antes de secar na peça) é um pouco mais cara: R$ 11,00. Portanto o custo total da resina na laminação manual é R$ 15.000,00 e o custo para a laminação por infusão é de R$ 11.000,00. Economia do processo: R$ 4.000,00 4.2.3 Fibra de Vidro Outra matéria prima que é economizada no processo é a fibra de vidro. Na 10 laminação manual as pessoas que estão laminando não conseguem ou não tem tempo (devido ao tempo de secagem da resina) para dispor os tecidos de forma melhor do que na laminação por infusão, onde com os materiais a seco, o tempo e o planejamento para a construção é muito maior. A necessidade de mais overlaps (sobreposição dos tecidos de fibra de vidro) acarreta em gastos de 20% a mais de fibra no processo de laminação manual (média verificada entre os entrevistados). A fibra de vidro a preço de mercado é aproximadamente R$ 12,00 o quilo para esse tipo de construção e a quantidade necessária é igual a da resina (razão 1:1). Na laminação manual, ao invés de 1 tonelada, gasta-se 1,2 toneladas devido à necessidade de sobreposições. Economia do processo: R$ 2.400,00 4.2.4 Motorização Com o dispêndio maior de materiais no processo de fabricação manual, o peso aproximado da embarcação é quase 50% maior comparando o mesmo barco feito por infusão. Na média, o peso final do barco feito manualmente foi de 3,5 toneladas enquanto no barco feito por infusão o peso total foi de 2,3 toneladas. Esse número é bem razoável dado que só a economia de resina mais a fibra de vidro representam 700 quilos. Um barco 50% mais pesado significa que as condições de navegações não serão iguais e, tanto o custo de combustível quanto a necessidade de motorização serão diferentes para as duas construções. Não vamos entrar no mérito do custo do combustível, pois isso depende de quanto o barco é usado pelo proprietário que pode variar aos dois extremos. A grande e maior economia é no tipo de motor a ser escolhido para que o barco não perca em desempenho. Para um barco de 3,5 toneladas, um dos entrevistados respondeu que dois motores de 400 cv teriam desempenho equivalente ou inferior a dois motores de 320cv para um barco de 2,3 toneladas. O custo aproximado desses dois motores são respectivamente R$ 100 mil e R$ 80 mil cada. Outro dado é que a vida útil do motor de 320cv é maior e o consumo de combustível evidentemente menor. Economia do processo: R$ 40.000,00 4.3 Riscos à Saúde do trabalhador direto Está seção pretende analisar os riscos diretos da Resina Poliéster causados aos laminadores quando expostos no processo de laminação manual. Como foi visto anteriormente, o gasto de resina no processo de laminação manual para um barco de lazer de 32 pés é de 1,5 toneladas. Digamos que essa quantidade de resina é dividida igualmente entre os 6 laminadores. Isso significa que pelo menos 250 quilos de resina estarão em contato direto ou indireto com o corpo desses indivíduos. Segundo dados do fabricante (Araquimica, 2008), a classificação de risco da Resina Poliéster é: 1 Risco a saúde: 3 – Severo (causa câncer) 2 Taxa de Inflamabilidade: 3 – Severo (inflamável) 3 Taxa de reatividade: 2 – Moderado 4 Taxa de contato: 2 – Moderado 5 Equipamentos de Proteção de Laboratório: Óculos, máscara facial, avental, luvas, sapatos de segurança, capela com exaustão, extintor Classe B. 6 Código de cores para armazenamento: Vermelho (inflamável) 11 Segue abaixo a lista dos riscos a exposição da Resina. Os dados foram obtidos a partir da literatura no site do próprio fabricante de resina (Araquimica, 2008): 1 2 3 4 5 6 Olhos: Pode causar irritação. Os sintomas podem ser de ardência, lacrimejamento, vermelhidão e inchamento; Pele: Pode causar irritação. A exposição prolongada ou repetida pode causar ressecamento da pele. Os sintomas podem ser de vermelhidão, queimadura, ressecamento e descamação da pele. A absorção pela pele é possível, mas não é provável quando manuseado e utilizado de acordo com as Normas de Segurança do Trabalho; Ingestão: Pode causar irritação ao trato gastro-intestinal e os sintomas podem ser náusea, vômito e diarréia. Pode causar também Depressão do Sistema Nervoso Central e os sintomas podem ser letargia, insônia e tontura. Durante a ingestão ou vômito, o material pode ir para os pulmões e causar inflamação, convulsões e risco de edema pulmonar; Inalação: Causa irritação ao sistema respiratório. Os sintomas podem ser tosse e dificuldade em respirar. Age como sedativo ao sistema nervoso central. A exposição a altas concentrações pode causar acumulo de fluido nos pulmões (edema pulmonar) causando EMERGÊNCIA MÉDICA; Exposição crônica: A exposição contínua a este material pode causar náusea, vômito, perda de apetite, sensação de entorpecimento, fraqueza e doenças funcionais do sistema nervoso e fígado. Pode causar dermatite. As mulheres podem ter disfunções na menstruação e ovulação. Pode causar efeitos mutagênicos e teratogênicos; Agravamento em condições pré-existentes: Pessoas com doenças de pele, olhos, fígado, sistema nervoso central e dificuldade na respiração préexistentes, podem ser mais suscetíveis aos efeitos deste material. Esse tipo de risco à saúde não existe no processo de infusão, pois não há contato direto dos funcionários com a resina. 4.5 Riscos ao meio Ambiente 4.5.1 Emissão de Monômero de Estireno A concentração do monômero de estireno (Produto Tóxico) na resina: 50 – 30%. Alguns países já tomaram medidas para controlar a emissão no ar de monômero de estireno (componente da resina poliéster) e de outros reagentes. Um exemplo disso é o Clean Air Act. Este ato é a lei americana que define as responsabilidades da EPA (Environmental Protection Agency), agência americana responsável pela proteção do meio-ambiente, para a proteção e melhoria da qualidade do ar e da camada de ozônio. Na última mudança significativa feita pelo Congresso Americano nessa lei em 1990, foi definido que qualquer emissão acima de 10 toneladas por ano de um HAP (Hazardous air pollutants) como uma fonte majoritário de poluição e, portanto sujeita a uma regulação mais restritiva (US EPA, 2008). O estireno é classificado nela como um HAP, portanto qualquer fabricante de barcos que use mais de 10 barris de resina e gelcoat por ano se qualificaria dessa forma. Outro exemplo de legislação é o Canadian Environmental Protection Act, que teve emendas em 1999 que aumentaram as preocupações em relação aos HAP´s e VOC´s (Volatile Organic Compounds), compostos orgânicos voláteis (CEPA, 2009). O National Pollutant Release Inventory exige que fabricantes registrem o uso de poluentes identificados anualmente (NPRI, 2009). Produtores de barcos do lado Atlântico do 12 Canadá já estão sob estrito controle da província para as emissões de estireno em emendas ao Occupational Health Regulations. Os níveis permitidos de exposição para o estireno são de 20 ppm para um tempo médio de exposição e de 40 ppm para um curto tempo de exposição (COHSR, 2009). O lado do Pacífico do Canadá deve seguir essa linha de controle. Em relatório publicado pela US EPA (1996) sobre a emissão de estireno pela indústria de construção de barcos, indica estratégias para a redução das emissões de estireno no meio-ambiente como sendo: (1) Usar resinas e equipamentos de aplicação que gerem menos estireno. (2) Melhorar as técnicas usadas pelos operadores para reduzir o overspray. (3) Trocar os processos de open-molding pelos de closed-molding (4) Usar equipamentos de controle de emissão. Nesse relatório é apresentada uma extensa lista de estratégias para o controle e de emissão, que possuem um alto custo para as empresas, o que deixa claro o valor de evitar a emissão do estireno. O processo de laminação manual é considerado um processo de open-molding, enquanto o de laminação por infusão é considerado um processo de closed-molding. Seguindo a própria estratégia recomendada pelo programa Produção Mais Limpa das Nações Unidas, para a alcançarmos a sustentabilidade, e o Nosso Futuro Comum, é preciso mudar o foco do combate aos resíduos para ações que resultem na eliminação ou minimização da geração de resíduos através do aumento da produtividade. A adoção de laminação por infusão seria então de longe a melhor maneira de minimizar as emissões. 4.5.2 Poluição de Gases Gerados na Combustão do Motor O barco feito por infusão, por ser mais leve, exige um motor menos potente para a sua operação. Por conseqüência, os barcos produzidos dessa forma são mais sustentáveis dado que são menos poluentes e contribuem menos para o efeito estufa. 4.5.3 Rebarbas O processo de laminação manual gera a cada camada sobras de material na forma de rebarbas. Como esse material é composto, ele não pode ser reaproveitado e até onde foi levantado em nossa pesquisa, também não pode ser reciclado. Em geral esse material é despejado em aterros sanitários, causando impacto ao meio-ambiente. 5 Conclusões e Recomendações A análise feita dos dois processos demonstra que o processo de laminação por infusão é melhor do que o de laminação manual sob as dimensões econômica, de saúde dos empregados, e do meio-ambiente. De acordo com Araújo et al (2006) a questão da sustentabilidade engloba eficiência econômica, responsabilidade social e responsabilidade ambiental. No caso analisado a empresa conseguiu desenvolver um processo que englobe as três áreas formando um equilíbrio sustentável do processo. As vantagens financeiras do processo de infusão analisadas no caso, são apresentadas no quadro comparativo abaixo: Quadro 4: Quadro comparativo Laminação Manual x Laminação por infusão: Laminação Manual Mão de Obra: R$ 1.432,00 Gasto com Resina: R$ 15.000,00 Gasto com Fibra: R$ 14.400,00 Motorização: R$ 200.000,00 Laminação por Infusão Mão de Obra: R$ 133,00 Gasto com Resina: R$ 11.000,00 Gasto com Fibra: R$ 12.000,00 Motorização: R$ 160.000,00 13 Custo Total: 230.832,00 Custo Total: 183.133,00 O processo de infusão como visto não é um processo simples e demanda tempo para ser aprendido pelos funcionários da fábrica. As empresas que adotaram esse conceito de produção limpa podem ser classificadas segundo a tipologia de Meredith (1994) como empresas que possuem gestão ambiental inovativa ou proativa, pois não há legislação no Brasil que obrigue essas empresas a adotarem tais procedimentos. Apesar disso, devido ao impacto à saúde dos empregados e ao meio-ambiente é reconhecido e a tendência mundial é a de se criar legislações que obriguem as empresas a buscarem processos mais eficientes. Exemplo disso são as legislações americanas e canadenses que regulam os grandes emissores de estireno. A conseqüência direta dessas legislações, além da maior sustentabilidade, é o aumento da competitividade da indústria como um todo corroborando o argumento de Layragues (2000) e Porter (1999). De acordo com Barbieri (2004), a empresa em questão está adotando utilizando a ecoestratégia de prevenção da poluição reduzindo a poluição na fonte quando o processo por infusão impede que a resina entre em contato com o meio ambiente. Podem-se perceber as inúmeras vantagens do processo por infusão na construção de embarcações acima de 32 pés. Além das vantagens de custo que já foram mencionadas nessa seção, abaixo segue um quadro comparativo do produto final dos dois processos com as vantagens não financeiras da laminação por infusão: Quadro 5: Vantagens não financeiras na Laminação por infusão Laminação Manual Teor de Vidro/Resina - 1:1,2 Laminação por Infusão Teor de Vidro/Resina - 1:1 (Vidro possui melhores propriedades mecânicas) Exposição da Resina ao meio Ambiente Não exposição da Resina ao meio Ambiente Maior gasto e desperdício de Fibra de Vidro Menor gasto e desperdício de Fibra de Vidro Peso Final do Barco: 3,5 Toneladas Peso Final do Barco: 2,3 Toneladas Trabalhador: Riscos a saúde Trabalhador: Não exposto a Resina Meio Ambiente: Emissão de Monômero de Estireno Meio Ambiente: Monômero de Estireno não entra em contato com o meio ambiente Motor: Maior consumo de Combustível Motor: Menor consumo de Combustível Motor: Mais poluente por ser mais potente Motor: Menos poluente por ser menos potente Rebarbas ou Sobras: Excessivas Rebarbas ou Sobras: Quase nulas No Brasil a responsabilidade ambiental das empresas ainda está longe de ser uma realidade amplamente adotada. Ela já faz parte do dia a dia das grandes empresas, mas em geral ainda está fora da realidade da pequena e média empresa. (Figueiredo, 2004). Considerando que os estaleiros que fabricam barcos de lazer são em sua maioria absoluta pequenas e médias empresas, torna-se claro a necessidade de estímulos externos para que eles se tornem sustentáveis. Considerando também que outros países já se posicionaram a esse respeito, é importante que o governo brasileiro siga essa tendência e também crie leis similares. Não só a questão da sustentabilidade, mas também seguir uma tendência internacional de fabricação de Barcos. Isso criará uma oportunidade para o Brasil crescer internacionalmente no mercado de Barco de Lazer e até possivelmente criar um mercado internacional de Barcos brasileiros com excelência em fabricação, preços competitivos e respeitando a sustentabilidade social e ambiental. 6 Bibliografia ACOBAR – Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos. 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