A ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA POR MEIO DO MAPEAMENTO
CARTOGRÁFICO
Alexsandra Bezerra de Sousa¹
Licenciada em Geografia pela Universidade Regional do Cariri – URCA.
[email protected]
Adriana Moreira dos Santos
Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Tocantins –
UFT/ Campus Araguaína.
Bolsista de Iniciação a Docência pelo PIBID/UFT.
[email protected]
Camilla Sousa Silva
Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Tocantins –
UFT/ Campus Araguaína.
Bolsista do Laboratório de Geoprocessamento da UFT.
[email protected]
RESUMO
Pensar a cartografia, hoje, é ir além da mensuração de uma simples representação do espaço.
É conseguir abstrair todas as intensões que estão expressas em seus traçados, símbolos, ou
mesmo escondidas em sua projeção. Nessa perspectiva, foi objetivando vislumbrar o mapa
temático como uma forma de “registro, pesquisa e comunicação visual”, ou seja, além de uma
“mera ilustração” que iniciamos o processo de alfabetização cartográfica usando como base o
mapeamento cartográfico. A partir de uma situação problema proposta durante a 1º Oficina de
Cartografia cujo tema era “Da discussão ao uso da técnica cartográfica” realizada nas aulas da
disciplina de Cartografia no curso de Geografia da Universidade Federal do Tocantins - UFT
os alunos descobriram habilidades e elaboraram suas próprias representações espaciais. Por
meio de discussões foram organizados grupos, delimitados temas e o local do fato que
gostariam de estudar. Após analise, seleção e discussão das informações pesquisadas, iniciouse o mapeamento das áreas estudadas. Com base em imagens de satélite impressa em uma
folha de papel a A4 e uma folha de papel vegetal os educandos produziram mapas temáticos.
Em seguida, usando o programa ArcGis foram elaborados os mapas digitais. Desta forma, por
meio de rodas de discussões e atividades práticas os educandos passaram a entender que as
representações espaciais também simbolizam modos de vida, a cultura de uma determinada
época, sendo necessário ter um conhecimento a priori para a compreensão e apreensão das
representações espaciais. Além de perceberem que estas estão imbuídas de significações que
só podem ser desmistificada com o desenvolvimento da capacidade crítica e, mesmo da
acuidade visual decorrentes da compreensão dos significados e significantes contidos na
linguagem cartográfica, consequentemente, a partir do processo de alfabetização cartográfica.
Palavras-chave: Alfabetização Cartográfica. Mapeamento Cartográfico. Mapa Temático.
1. INTRODUÇÃO
Pensar a cartografia, hoje, é ir além da mensuração de uma simples representação do
espaço. É conseguir abstrair todas as intensões que estão expressas em seus traçados,
símbolos, ou mesmo escondidas em sua projeção. Fazer cartografia não é apenas para quem
domina técnicas, pois esta se encontra em momento de rompimento de paradigmas
tradicionais, onde a busca pelo domínio da técnica por meio da matemática e por suas
representações quantitativas dos fatos não são suficiente para compreender a dinâmica
espacial. Faz-se necessário ir além, buscar a essência, descobrir as intenções, o objetivo de
quem as produziu. Desvendar os mistérios, os mitos, as razões de uma determinada
representação.
Foi a partir destas reflexões que passamos a abordar discussões mais humanísticas
durante as aulas de Cartografia no curso de Geografia na Universidade Federal do Tocantins UFT. Assim, os educandos conheceram as diferentes representações espaciais, ao longo do
tempo, as linguagens e, a produção cartográfica. Em suma, foi iniciado o processo de
alfabetização cartográfica.
Por meio de rodas de discussões e atividades práticas foram descontruídos mitos, ou
seja, os educandos perceberam que a cartografia não é apenas usada na geografia, que as
representações espaciais antes mesmo da sua disseminação, em um primeiro momento a partir
das Grandes Navegações, principalmente, com o surgimento da máquina de impressão e mais
recentemente, com a necessidade de quantificação do espaço no decorrer do século XX, já
tinham sua importância.
Os educandos passaram a entender também que essas representam modos de vida, a
cultura de uma determinada época, sendo necessário ter um conhecimento a priori para a
compreensão e apreensão das representações espaciais. Ou ainda, foi possível estes
compreenderem como relata Martinelle (2003, p. 8) que “os mapas conjugam-se com a prática
histórica, podendo revelar diferentes visões de mundo”.
No entanto, foi a partir de uma situação problema proposta em sala de aula que os
alunos descobriram habilidades e elaboraram suas próprias representações espaciais.
Objetivando vislumbrar “o mapa temático como um meio de registro, de pesquisa e
de comunicação visual dos resultados obtidos em seus estudos e não apenas como mera
ilustração” (Martinelli, 2003, p. 11) foi solicitado que formassem duplas, escolhessem um
tema que despertasse curiosidade e delimitassem o local do fato que gostariam de estudar. Por
meio de orientações os temas foram problematizados e, posteriormente, iniciada a pesquisa
bibliográfica e cartográfica.
Após analisar, selecionar as informações relevantes e discuti-las os alunos foram
orientados a selecionar uma imagem de satélite usando o software Google Earth da área que
estavam estudando. Logo após a imagem ser salva e impressa em uma folha de papel A4, com
o uso de uma folha de papel vegetal sobre a impressão foi dado inicio a produção de um mapa
temático a partir do tema escolhido.
Em seguida ocorreu a elaboração dos mapas digitais. Alguns alunos sem o domínio
de comandos básicos de informática se sentiram inibidos. Porém, com o trabalho em grupo
aos poucos cada um foi descobrindo suas habilidades e se envolver mais.
Assim, usando o programa ArcGis² cada dupla produziu seu mapa temático,
intensificando a compreensão de que estes são “meios capazes de revelar o conteúdo da
informação, proporcionando desta forma, a compreensão [...] permitindo uma reflexão crítica
sobre o assunto” (Martinelli, 2003, p 12).
Permeando esta discussão apresentamos nas linhas que seguem os resultados do
trabalho proposto durante a 1º Oficina de Cartografia cujo tema era “Da discussão ao uso da
técnica cartográfica” realizada no mês de dezembro de 2012, durante as aulas da disciplina de
Cartografia II, do V período, do curso de Licenciatura em Geografia da UFT. O projeto foi
elaborado e desenvolvido entre os meses de dezembro de 2012 a março de 2013, parare-lo a
outras temáticas.
2. DA ESCOLHA DO TEMA A PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA
Como mencionado anteriormente, durante a 1° Oficina de Cartografia realizada nas
aulas de Cartografia II no curso de Licenciatura em Geografia na UFT, foi proposto à
elaboração e desenvolvimento de um projeto no qual os educandos pudessem fazer uso dos
conhecimentos cartográficos que seriam apreendidos durante a disciplina. A partir deste
momento passou-se a se discutir a importância da cartografia nos estudos sobre áreas
degradadas em Bacias Hidrografias, áreas de risco-ambiental, entre outros, bem como a
evolução das técnicas cartográficas para a representação destas.
Tendo em vista que, o homem desenvolveu formas, meios, instrumentos de mensurar
a superfície terrestre em uma superfície plana, seja para se localizar ou mesmo afirmar o
domínio de territórios, sabe-se que ao longo do tempo essas técnicas de representação foram
aprimoradas. Com o desenvolvimento dos satélites e a concretização da capacidade destes, de
capturar imagens em tempo real da superfície do planeta, a cartografia ganhou impulso
inigualável. Segundo Sousa et. al. (2009, p.3):
Com o acelerado processo de evolução tecnológica, as técnicas usadas para
produção das informações cartográficas foram substancialmente
transformadas. Hoje, o uso de satélites, proporcionando a captação de
imagens em segundos ou milésimos de segundo do espaço e, sobretudo, a
utilização de softwares criando Sistemas de Informação Geográfica – SIG
revolucionam as geotecnologias da informação.
Em meio a isso, as técnicas cartográficas e os produtos das geotecnologias passaram
a ser usados com inúmeras finalidades. Os mapas vão além do uso para a localização ou
delimitação de domínio de território. Utilizados, hoje, pelas mais diversas ciências tem
possibilitado o mapeamento de fato e fenômenos de diferentes tipos e épocas.
Assim, afim de demostrar como se deu todo o processo de produção cartográfica
usaremos como exemplo os resultados do trabalho desenvolvido pelas alunas Adriana Moreira
dos Santos e Camilla Sousa Silva cujo tema escolhido foi “Análise e mapeamento de áreas
degradadas na Bacia Hidrográfica do Rio Lontra em Araguaína/TO”. A partir deste, objetivouse demonstrar como essas novas tecnologias podem ser utilizadas para analise e controle de
impactos ambientais. Por meio de leituras bibliográficas e cartográficas, assim como visitas in
loco foi identificado e analisado as diferentes formas de uso e ocupação do solo ao longo do
curso da Bacia Hidrográfica do Rio Lontra e, consequentemente, as principais formas de
impactos ambientais ocasionados por estes. Com o uso de imagens de satélite foi elaborado os
mapas temáticos que relatam por meio de uma linguagem simbólica as principais
consequências das ações antrópicas em ambientes naturais.
O recorte espacial antes mencionado tornou-se foco de analise, sobretudo, por o
perímetro urbano de Araguaína está localizado sobre áreas de influência da Bacia
Hidrográfica do Rio Lontra, como nascentes e margens de córregos que deságuam neste.
Portanto, com base em Le Sann (2005, p. 62) ao afirma que “ideias abstratas podem
ser representadas por meio de mapas, por exemplo, as áreas de influência de cidades, a
densidade populacional, a produtividade de uma cultura, entre uma infinidade de temas”,
buscou-se construir representações espaciais capazes de levar o leitor a perceber a dimensão
dos problemas ambientais decorrentes do crescimento urbano ao longo da Bacia Hidrográfica
do Rio Lontra.
3
RESULTADOS
Visto como “ponto de partida para uma pesquisa, [o mapa] representa apenas um
objeto ou estado, enquanto o mapeamento, de fato, é um processo” (SEEMANN, 2003, p.
272). Processo este que leva a aprendizagem, a preensão dos fatos e fenômenos espaciais em
sua essência. Assim, diante da complexidade dos fatos identificados decorrentes das ações
antrópicas na Bacia Hidrográfica do Rio Lontra, localizada no município de Araguaína,
realizou-se o mapeamento dos impactos ambientais nesta.
A partir de pesquisas bibliográficas e cartográficas, a exemplo representações
cartográficas disponíveis no catálogo de mapas do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE³, imagens do satélite CBRES24 e imagens de satélite disponíveis no
software Google Earth, foi realizado o mapeamento de forma manual. Com o uso de imagem
de satélite da área em estudo impressa em uma folha de papel A4 e uma folha de papel
vegetal sobre esta, foi elaborado o esboço do mapa temático (Mapa 1) priorizando a
identificação das formas de uso e ocupação do solo ao longo da Bacia Hidrográfica do Rio
Lontra e os impactos por eles provocados.
MAPA 1: BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LONTRA E OS
PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS.
Fonte: Produzido por Santos, A. M. e Silva, C. S. (jan. 2013).
Em seguida, por meio do programa ArcGis5 foi iniciada a produção cartográfica em
meio digital. Desta forma, a fim de permitir a análise integrada dos impactos ambientais foi
produzido o mapa 2, com o tema “Impactos Ambientais na Bacia Hidrográfica do Rio Lontra
em Araguaína/TO”.
MAPA 1: IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
LONTRA EM ARAGUAÍNA/TO.
Fonte: Produzido pelas autoras (fev. 2013).
O mapa acima demonstra os impactos negativos causados pelo uso do solo na Bacia
Hidrográfica do Rio Lontra, “de forma singular, em que se pode visualizar claramente a
ocupação e o desmatamento das margens do curso d’água, fatos que acentuam processos
erosivos e intensificam a degradação ambiental” (FITZ, 2008, p 157).
Assim, diante das transformações socioambientais analisadas, percebe-se que a
degradação ambiental se manifesta não apenas pela suscetibilidade do solo à erosão, mas,
sobretudo, pela forma que ele tem sido ocupado. Sendo o homem um dos atores principal
nesse processo, pois “mudanças ocorridas no interior das bacias de drenagem podem ter
causas naturais, entretanto, nos últimos anos o homem tem participado como um agente
acelerador dos processos modificadores e de desequilíbrio da paisagem” (GUERRA e
CUNHA, 2004, p. 354).
Deste modo, a cartografia deve ser um meio viabilizador da analise integrada dos
fenômenos sócio-espaciais, possibilitando o desenvolvimento de ações eficazes e sistêmicas,
como o controle do uso e ocupação de áreas vulneráveis a processos de degradação. Esta
quando agregada a uma gama de conhecimento pode ser utilizada de forma positiva em busca
de melhorar a qualidade de vida reduzindo os impactos ambientais ocasionados por ações
antrópicas.
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos séculos “os seres humanos construíram meios ou instrumentos de
orientação próprios [...] sistematizaram ideias sobre a natureza e o mundo que os rodeavam,
com a elaboração de significados atribuídos a sinais e símbolos” (KATUTA, 2005, p. 52),
deram origem aos mapas. Estes “mais que um registro prático de localização. Trata-se de uma
‘taquigrafia visual’, um documento cultural” (LEWIS 1993, citado in SEEMANN, 2003, p.
272).
Parafraseando Fernandes (2008, p. 58):
“sobre uma mesa o mapa pode ser apenas um pedaço de papel, mais nada, e,
no entanto ele significa um grandioso universo cheio de símbolos e legendas,
maravilhosamente mudo enquanto fala para quem olha. O mapa representa
para nós o tempo inteiro e brinca com o nosso descobrimento do planeta”.
Dado a veracidade de que no período atual o mapa ainda é amplamente usado para
localização e delimitação de áreas, percebe-se que há necessidade de estimular a sua leitura e
produção, pois “como uma imagem (possível) do mundo [...] o mapa reproduz um sistema de
valores sociais que são culturais e históricos” (GIRARDI, 2000, p. 12). Cabe-nos observar
não apenas o que nele está explícito, mas tentar compreender a sua natureza.
Desta forma, acreditamos que ao realizar pesquisas que objetivem a analise de fatos e
fenômenos espaciais se deve levar em consideração as diferentes formas de representações do
espaço em que se manifestam. Uma vez que estas estão imbuídas de significações que só
podem ser desmistificada com o desenvolvimento da capacidade crítica e, mesmo da acuidade
visual, decorrentes da compreensão dos significados e significantes contidos na linguagem
cartográfica, consequentemente, a partir do processo de alfabetização cartográfica.
________________________
¹ Professora da disciplina de Cartografia II no Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do
Tocantins – UFT de abril de 2012 a março de 2013.
² Disponível em: <http://www.arcgis.com/about/>. Acesso em: jan. 2012.
³ Disponível em: <http://mapas.ibge.gov.br/bases-e-referenciais/>. Acesso em: jan. 2012.
4
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LONI=-48.25210&LANG=EN&SENSOR=HRC>. Acesso em: 01/04/2013.
5
Ibidem ao ².
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Alexsandra Bezerra de Sousa, Adriana Moreira dos Santos