SUSCEPTIBILIDADE DE MUSCA DOMESTICA À IVERMECTINA, DORAMECTINA E MOXIDECTINA EM MOGI GUAÇU-SP CAMARGO, Eliana Anunciato Franco de Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) [email protected] PRADO, Angelo Pires do Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) [email protected] CAMARGO, José Tarcísio Franco de Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) [email protected] RESUMO: Neste trabalho, insetos adultos de Musca domestica foram coletados em propriedade rural no município de Mogi Guaçu, no Estado de São Paulo a fim de determinar a susceptibilidade ou a resistência destes insetos aos larvicidas ivermectina, moxidectina e doramectina. Através de diluições seriadas no meio de cultura de larvas foram determinadas as concentrações letais para cada um deles. As concentrações utilizadas foram: 0,02, 0,05, 0,1 e 0,5 ppm. Os dados obtidos foram expressos com CL50 e CL95 e demonstraram que a população coletada apresentou-se muito sensível quando comparada com os valores expressos pela OMS para populações sensíveis. A presença de elevado grau de susceptibilidade às avermectinas sugere que os aspectos operacionais do uso destes compostos e, provavelmente, o tempo de utilização nesta região ainda não permitem a detecção de resistência. PALAVRAS-CHAVE: Musca domestica, ivermectina, moxidectina, doramectina, controle de insetos. ABSTRACT: In this study, Musca domestica adults were collected in a farm in order to detect and to determine the susceptibility or resistance of these insects to the ivermectin, moxidectin and doramectin larvicides in Mogi Guaçu. The determination of lethal concentration for each larvicide were made through the larvicide dilutions in larvae culture medium. The concentrations used were 0.02, 0.05, 0.1 and 0.2 ppm. Data were expressed as LC50 and LC95 and results demonstrated that the population collected in this city had been showed more susceptible to the tested larvicides than the reference pattern used by the World Health Organization values for sensitive populations. The presence of high level of susceptibility to avermectins suggests that the operational use of these compounds and possibly the time of use in this region doesn’t allow the detection of Musca domestica resistance. KEYWORDS: Musca domestica, ivermectin, moxidectin, doramectin, insect control. 1. INTRODUÇÃO Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) é uma espécie de grande importância econômica e, em áreas de criação de animais domésticos, seus estágios larvais obtêm nas fezes e resíduos alimentares desses animais um excelente substrato para desenvolvimento (MILLER, 1970; AXTELL & EDWARDS, 1983; MULLA & AXELROD, 1983). Vários métodos para combate e controle desta praga podem ser elencados, tais como, manejo de matéria orgânica depositada nos locais de criação, alteração das características bióticas do esterco, uso de parasitas, parasitóides, predadores, competidores e patógenos como tentativa de controle biológico e, também, o uso de inseticidas seletivos (AXTELL & EDWARDS, 1983; BARNARD & HARMS, 1992). No passado, o uso indiscriminado de inseticidas em programas de controle de doenças e na agricultura influenciou o desempenho de muitos compostos químicos, fazendo com que espécies resistentes Interciência & Sociedade 53 CAMARGO, E. A. F.; PRADO, A. P.; CAMARGO, J. T. F. surgissem rapidamente nas mais diversas regiões (METCALF, 1980; BLOOMCAMP et al., 1987). Segundo HERD (1995), as avermectinas são compostos endectocidas, ou seja, são efetivas contra endo e ectoparasitas e representam uma classe de lactonas macrocíclicas que tem demonstrado atividade contra helmintos, ácaros e insetos. As avermectinas, cujos principais compostos produzidos são a ivermectina e a abamectina, demonstram ser tóxicas para a maioria dos insetos (STRONG & BROWN, 1987). Seu modo de ação em invertebrados relaciona-se com a interrupção dos receptores do ácido gama-aminobutírico (GABA) no sistema nervoso central e no sistema muscular (STRONG & BROWN, 1987; FISHER & MROZIK, 1989; LASOTA & DYBAS, 1991; CLARK et al., 1995; ROHRER & SCHAEFFER, 1995). Alguns estudos demonstram o efeito de ivermectina em larvas de dípteros. Em fêmeas de Neomyia cornicina (Díptera: Muscidae) observou-se uma redução significante na taxa de oviposição e de eclosão de ovos (GOVER & STRONG, 1995). KRÜGER & SCHOLTZ (1995) relatam redução na fertilidade de Musca nevilli (Diptera: Muscidae), enquanto FARKAS et al. (2003) demonstraram redução na emergência de Musca domestica em fezes tratadas de bovinos e suínos. Considerando que a aplicação de inseticidas para controle de pragas é uma prática difundida no Brasil e, as avermectinas, por consequência, utilizadas amplamente, esta pesquisa objetivou documentar a ocorrência de problemas na susceptibilidade da população de Musca domestica coletada em Mogi Guaçu-SP à ivermectina, à doramectina e à moxidectina através da determinação das CL50 e CL95 para cada larvicida. Tal fato se justifica em virtude dos relatos de alteração da susceptibilidade das populações deste insetos coletadas em diferentes regiões e que causam implicações financeiras, pois demandam aplicações mais frequentes, elevação nas dosagens utilizadas pelos consumidores finais, além da necessidade de pesquisas adicionais para desenvolvimento de novos produtos 54 químicos. 2. Material e métodos Foram realizados bioensaios utilizando exemplares de Musca domestica coletadas como insetos adultos, numa propriedade particular no município de Mogi Guaçu-SP, utilizada como criadouro rural em pequena escala de animais domésticos, onde não se observou nenhum tipo de manejo ou controle. Os insetos coletados no campo foram levados ao laboratório e transferidos para gaiolas com armação de ferro recobertas com tela de “nylon”, sendo mantidos em sala apropriada para criação com temperatura (26,5 ± 1,0ºC), umidade (70%) e fotoperíodo (12/12) controlados, disponível no Laboratório de Entomologia do Departamento de Parasitologia do IB/Unicamp. A alimentação destes insetos consistiu em uma mistura em partes iguais de açúcar refinado, leite em pó integral e levedura de cerveja. Água e alimento eram oferecidos e mantidos em abundância no interior das gaiolas. Para a realização dos bioensaios para determinação das concentrações letais, era oferecido meio de oviposição e cultura de larvas proposto por PICKENS & LORENZEN (1983) com algumas modificações e que era constituído por 4 partes de ração utilizada na alimentação de camundongos devidamente triturada e 6 partes de água. As gerações obtidas em laboratório foram tratadas com os seguintes larvicidas: - Doramectina (formulação comercial como Dectomax, Pfizer, 10% i.a.) - Ivermectina (formulação comercial como Ivomec, MSD, 10% i.a.) - Moxidectina (formulação comercial como Cydectin, Cyanamid, 10% i.a.) Os bioensaios para a determinação das respectivas CL50 e CL95 consideravam a taxa de mortalidade nos meios tratados até a emergência dos adultos. O cálculo era realizado da seguinte maneira: Interciência & Sociedade Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi Guaçu-SP onde: TMA = taxa de mortalidade LI = número inicial de larvas AE = número de adultos emergentes Para a obtenção dos meios tratados, foram realizadas diluições seriadas dos larvicidas no meio de cultura das larvas, os quais eram utilizados para a determinação das concentrações letais da população. TURNER & SCHAEFFER (1989) classificam as avermectinas como pouco solúveis em água, por isso, optou-se por diluir a ivermectina em 1 ml de acetona PA conforme sugere REED et al. (1985). Os meios testemunha também foram preparados com e sem acetona, a fim de pesquisar a interferência ou não desta no desenvolvimento das larvas. Os meios tratados apresentavam as seguintes concentrações: 0,02, 0,05, 0,1 e 0,2 ppm (partes por milhão) de ingrediente ativo de cada larvicida. Os bioensaios foram realizados em copos plásticos (50 ml) contendo 25 g de meio de cultura, onde foram colocadas 25 larvas de primeiro instar. A relação larva/quantidade de meio foi 1:1 que, segundo BARNARD & GEDEN (1993), em temperaturas entre 23-32ºC são adequadas. Foram feitas quatro réplicas para cada tratamento e dois grupos testemunha, um com acetona e outra sem acetona. Os copos recobertos com organza foram mantidos em câmara de germinação modelo FANEN 347 CGD, com temperatura (26,5 ± 0,5ºC), umidade (70%) e fotoperíodo (12/12) controlados. Após 9 dias, as pupas foram recolhidas pelo método de flutuação (SCHMIDT & KUNZ, 1980; BLOOMCAMP et al., 1987). A contagem dos sobreviventes era realizada considerando os insetos que conseguiam emergir por completo do pupário. Insetos com emergência incompleta, mesmo com alguma mobilidade eram descartados da contagem. A mortalidade nos meios tratados foi corrigida pela mortalidade nos meios testemunha pela fórmula de ABBOTT (1925), a qual se refere a índices de mortalidade natural ou acidental dos organismos analisados, alheios ao efeito do composto químico (FINNEY, 1971). Para a determinação das concentrações letais foi utilizado o programa “Probio”, que consistia numa análise por “probits” dos resultados (BATSON, 1956), desenvolvido pelo Prof. Dr. José Tarcísio Franco de Camargo. A taxa comparativa entre larvicidas foi calculada dividindo-se a CL50 obtida para o larvicida pela menor CL50 obtida dentre os larvicidas testados, onde foram considerados resistentes, os testes com taxas cujos valores fossem maior que um (KEIDING, 1999). O programa “Minitab for Windows” foi utilizado para a realização dos testes estatísticos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores percentuais obtidos para os bioensaios larvicida/concentração são mostrados na Tabela 1, sendo possível verificar que a população tratada com ivermectina apresentou percentuais maiores de mortalidade em comparação com os outros larvicidas em todas as concentrações utilizadas. Conforme demonstrado na Tabela 2, a menor CL50 observada no bioensaio foi demonstrada por insetos tratados com ivermectina (0,017 ppm), tendo sido utilizada como referência para o cálculo da Taxa Comparativa (TC) entre os larvicidas utilizados. A TC foi obtida dividindo-se as CL50 dos larvicidas pela CL50 do larvicida referência. Tabela 1. Percentual médio de mortalidade de Musca domestica coletada em Mogi Guaçu. Larvicida/Concentração Doramectina Ivermectina Moxidectina 0,02 ppm i.a. 0,05 ppm i.a. 40 (3,27) 65 (6,00) 83 (3,83) 87 (2,00) 44 (3,27) 57 (8,87) 0,1 ppm i.a. 0,2 ppm i.a. 81 (3,83) 90 (9,52) 97 (2,00) 100 (0,00) 74 (3,27) 88 (3,27) Fonte: Autores. Os valores descritos entre parênteses correspondem ao desvio padrão dos percentuais de mortalidade. Interciência & Sociedade 55 CAMARGO, E. A. F.; PRADO, A. P.; CAMARGO, J. T. F. A maior CL50 observada foi demonstrada pelos insetos tratados com moxidectina, sendo, portanto, considerado o larvicida que demonstrou menor susceptibilidade. Convém citar os resultados de SCHMIDT & KUNZ (1980) que relatam que a CL50 utilizada pela OMS para considerar populações de Stomoxys calcitrans e Haematobia irritans como sensíveis para a ivermectina é 0,024 ppm e 0,003 ppm, res- pectivamente, o que se aproxima muito dos resultados obtidos nestes bioensaios. HERD (1995) e KIERAN (1994) demonstram que, em programas de rotação de inseticidas, a moxidectina é mais efetiva que a ivermectina, pois permite seu uso combinado com outras classes de drogas, além de permanecer efetiva por mais tempo. Tabela 2. Susceptibilidade de Musca domestica aos larvicidas doramectina, ivermectina e moxidectina coletada em Mogi Guaçu (SP). Larvicida/Concentração Doramectina Ivermectina Moxidectina 0,02 ppm i.a. 0,05 ppm i.a. 40 (3,27) 65 (6,00) 83 (3,83) 87 (2,00) 44 (3,27) 57 (8,87) 0,1 ppm i.a. 0,2 ppm i.a. 81 (3,83) 90 (9,52) 97 (2,00) 100 (0,00) 74 (3,27) 88 (3,27) Fonte: Autores. CL50 = concentração letal para 50% dos insetos tratados. CL95 = concentração letal para 95% dos insetos tratados. T.C. = taxa comparativa (CL50 da população/CL50 da população susceptível de referência) * = CL50 escolhida como referência no cálculo dos fatores de resistência LUMARET et al. (1993) em seu experimento, indicam que o impacto potencial da ivermectina no ambiente é muito variável, dependendo principalmente da região, do clima, dos insetos e das estações. Neste bioensaio, no entanto, o que se observou foi uma maior eficácia da ivermectina em relação à moxidectina, não concordando com os dados destes autores. TITCHENER & PURNELL (1996) relatam que a doramectina apresentou resultados favoráveis quando comparada com a ivermectina no controle de piolhos de gado. Porém, conforme observado na Tabela 2, o mesmo não se aplica à Musca domestica. Além disso, no local de coleta, não se observou nenhum tipo de controle químico, o que indica que, teoricamente, não se observou nenhuma pressão seletiva anterior exercida por inseticidas químicos. De maneira geral, os resultados obtidos indicam a alta sensibilidade da população estudada em relação aos larvicidas e permitem sugerir técnicas para a manutenção da sensibilidade desta população, 56 bem como retardar o processo de desenvolvimento de resistência em populações de campo. Cabe aqui ressaltar que, a partir do momento que as densidades populacionais destes insetos são aumentadas, pode ocorrer invasão de variados espaços, inclusive domicílios, causando incômodo, do ponto de vista estético e sanitário, com a possibilidade de veiculação de um número elevado de patógenos, como vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos, sendo, portanto, questão de saúde pública (GREENBERG, 1973; GUIMARÃES et al., 1983; MARILUIS et al., 1989; FOTEDAR, 1992; KOBAYASHI et al.,1999; FISCHER, 1999). Além disso, ressalta-se as perdas financeiras geradas pela presença dos estágios imaturos destes insetos em locais de criação de animais domésticos, tais como, granjas e currais (POVOLNÝ, 1971) que implicam na necessidade de utilização de técnicas de controle. Considerando que a utilização de controladores químicos é prática amplaInterciência & Sociedade Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi Guaçu-SP mente disseminada no Brasil e, que estes compostos perdem a sua eficiência à medida que os insetos desenvolvem resistência genética aos produtos mais poderosos atuais (LEARMOUNT et al., 2002) a observação de populações resistentes aos compostos químicos utilizados é muito frequente, o que gera custos financeiros elevados pois implica o desenvolvimento de novos produtos ou novas tecnologias para controle de insetos considerados pragas. HERD et al. (1993) sugerem monitoramento periódico de populações de campo, como o realizado neste bioensaio. Porém, uma vez constatada a resistência, o manejo deste processo envolve a exposição da população considerada “praga” a “controladores não químicos” (ROUSH, 1993). HOY (1995) cita que as estratégias devem combinar uma variedade de táticas: redução de pesticidas aplicados, controle biológico e controle cultural. Cabe ressaltar que, conforme citam DENHOLM & ROWLAND (1992) não existe uma solução universal e nem facilitadores para tratar da resistência à inseticidas, por isso, o monitoramento da susceptibilidade das populações frequentemente atingidas por algum inseticida se torna imprescindível. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBOT, W. S. A method of computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomology 18 (2): 265-267, 1925. AXTELL, R. C.; EDWARDS, T. D. Efficacy and nontarget effects of Larvadex as a feed additive for controlling house flies in caged-layer poultry manure. Poultry Science 62: 2371-2377, 1983. BARNARD, D. R.; HARMS, R. H. Growth and survival of house flies (Diptera: Muscidae) in response to selected physical and chemical properties of poultry manure. Journal of Economic Entomology 85 (4): 1213-1217, 1992. 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Changing role of insecticides in crop 58 Interciência & Sociedade Susceptibilidade de Musca domestica à ivermectina, doramectina e moxidectina em Mogi Guaçu-SP Eliana Anunciato Franco de Camargo possui mestrado em Parasitologia pela Universidade Estadual de Campinas (1997), graduação em Licenciatura em Ciências - Faculdades Integradas Maria Imaculada (1992) e graduação em Pedagogia - Faculdades Integradas de Amparo (2000). Atualmente é doutoranda do curso de Ciências Biológicas em Biologia Animal na Universidade Estadual de Campinas, professora e coordenadora do curso de Ciências Biológicas do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal e professora de educação básica II do Governo do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Parasitologia, com ênfase em Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores e na área de Ensino Aprendizagem. Ângelo Pires do Prado possui graduação em Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1964) e doutorado em Parasitologia pela Universidade Estadual de Campinas (1969). É professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Parasitologia, com ênfase em Entomologia de Parasitos e Vetores e Sanidade Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: Musca domestica, Diptera, dípteros sinantrópicos, desenvolvimento e ecologia de moscas domésticas, de frutas e varejeiras; ácaros domésticos (de poeira), ácaros fitófagos, ácaros associados às aves sinantrópicas e silvestres (nidícolas, plumícolas , calamícolas e da pele). José Tarcísio Franco de Camargo possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1989), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1992) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1995). Atualmente é Professor do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal, Professor da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro”, Professor do Centro Guaçuano de Educação Profissional “Governador Mário Covas”, Membro de corpo editorial da Revista CEGEP Acadêmico e Membro de corpo editorial da Interciência e Sociedade - Fac. Municipal “Professor Franco Montoro”. Tem experiência na área de Ciência da Computação. Interciência & Sociedade 59