Seminário “Gestão das margens das linhas de água nas explorações agrícolas” Limpeza e Manutenção das Linhas de Água Maria Helena Alves, Maria Teresa Álvares Lisboa, 14 de Julho de 2014 Sistemas fluviais Hidráulica - recolha e escoamento das águas da bacia drenante Biofísica - suporte das comunidades aquáticas e ribeirinhas e estabilização das margens Paisagística - papel relevante como elemento estruturante e focalizador da paisagem Económica - utilização dos seus recursos pelos diversos agentes económicos e sociais Ecossistemas associados à zona ribeirinha: Margens Leito de cheia e leito abandonado Ecossistemas aquáticos Território Fluvial Espaço dominado por um sistema fluvial, inclui o leito menor, o corredor ribeirinho e total ou parcialmente a planície de inundação, de limites precisos, mas flexíveis ao longo do tempo, determinados pela mobilidade natural do rio. Permite manter/garantir: o corredor ribeirinho contínuo (garantido a diversidade ecológica e a função bioclimática do sistema fluvial) a dinâmica hidromorfológica do rio a paisagem fluvial a laminagem das cheias Diretiva Quadro da Água (DQA) A Diretiva Quadro da Água, transposta para o direito português através da Lei da Água, Lei nº58/2005, de 29 de dezembro, e do Decreto-Lei nº77/2006, de 30 de março, introduz o conceito de: Estado Ecológico, alterando o modo como a água é considerada no planeamento e gestão dos recursos hídricos: Recurso destinado a vários usos e atividades humanas Suporte dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos Estabelecendo que em 2015, todas as massas de água superficiais devem atingir o BOM ESTADO: Bom Estado Químico e Bom Estado/Potencial Ecológico Estado Ecológico Traduz a qualidade estrutural e funcional dos ecossistemas aquáticos Expresso através do “desvio ecológico” relativamente às condições de referência Os “RIOS” são caracterizados pelos elementos de qualidade: o Biológicos o Flora aquática o Macroinvertebrados bentónicos o Fauna piscícola Estado Ecológico Hidromorfológicos o regime hidrológico o características morfológicas: o profundidade e largura do rio o estrutura do substrato do leito o continuidade do rio o estrutura da zona ripícola (vegetação ribeirinha) Químicos e físico-químicos gerais e poluentes específicos Vegetação ribeirinha Regula a temperatura da água através do controle da Regula a temperatura da água através do controle da luminosidade luminosidade Garante o ensombramento do leito, fundamental para as espécies Garante nomeadamente o ensombramento leito, fundamental para as aquáticas, para do os peixes espécies aquáticas,da nomeadamente para os peixes Diminui a velocidade água em situação de cheia Diminui a velocidade da água em situação de cheia Abrigo para as espécies animais terrestres Proteção das margens contra a erosão Controlo dos nutrientes provenientes da agricultura através da sua filtragem, remoção e adsorção Retenção de sedimentos arrastados pelas águas de escorrência quando da ocorrência de chuvas Fator de riqueza e diversidade paisagística e valorização cénica da paisagem Diretiva Quadro da Água A Lei da Água estabelece a obrigatoriedade de elaborar Planos de Gestão de Bacia Hidrográfica (PGRH), instrumentos de planeamento das águas que visam a: A gestão, proteção e a valorização ambiental social e económica das águas ao nível da bacia hidrográfica que incluem: Caracterização das águas superficiais, Identificação das pressões Definição de objetivos ambientais Programas de Medidas para atingir o bom estado das massas de água PGRH aprovados pelo Conselho de Ministros a 22 de março de 2013. A APA iniciou a 22 de Dezembro de 2012 a elaboração do 2.º ciclo de PGRH (20152019) (revisão de 6 em 6 anos) Medidas contempladas nos PGRH Controlo de poluição ALGARVE Spf4/Sbt7 - Redução e controlo das fontes de poluição pontual Spf5/Sbt8 - Redução e controlo das fontes de poluição difusa Spf14/Sbt16 - Código de boas práticas agrícolas e promoção de guias de orientação técnica Reabilitação de linhas de água Spf7 - Melhoria das condições hidromorfológicas das massas de água superficiais Spf21 - Conservação e reabilitação da rede hidrográfica e zonas ribeirinhas Reabilitação de linhas de água Rib. OESTE SUP_P263_AT3 - Regime de caudais ecológicos para cada aproveitamento hidráulico. SUP_P441_AT3 - Plano de Gestão da Enguia para Portugal SUP_P434_AT7- Plano para o restabelecimento da conectividade dos cursos de água para a fauna piscícola. SUP_E65_AT3 - Parcerias no âmbito da reabilitação das linhas de água. SUP_E279_AT3 - Reabilitação e requalificação de linhas de água. SUP_P448_AT3 - Definição de áreas a preservar ao nível das bacias hidrográficas Objetivos da Lei da Água A Lei da Água estabelece a necessidade de implementar medidas de conservação e de reabilitação da rede hidrográfica e zonas ribeirinhas que garantam: O bom estado ecológico As condições de escoamento da água e sedimentos (cascalho, areias, lamas, etc.) em situações normais e extremas A minimização das situações de risco para pessoas e bens, em situações de cheia Enquadramento legal Lei da Água - Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro Art.º 33.º 1. Medidas de conservação e reabilitação da rede hidrográfica e zonas ribeirinhas: a) Limpeza e desobstrução das linhas de água b) Reabilitação de linhas de água degradadas e das zonas ribeirinhas c) Prevenção e proteção contra os efeitos da erosão de origem hídrica Enquadramento legal Art.º 33.º 5. Responsabilidade da execução destas medidas é: Dos municípios, nos aglomerados urbanos Dos proprietários Margens particulares nos aglomerados urbanos Leitos e margens particulares fora dos aglomerados urbanos Dos organismos dotados de competência, própria ou delegada, para a gestão dos recursos hídricos na área, nos demais casos PDM Faixa de Intervenção Leito e margens pertencentes ao Domínio Público Hídrico (Lei da Titularidade dos Recursos, Lei nº54/2005, de 15 de novembro) Leito - terreno coberto pelas águas em condições de cheias médias Margem - faixa de terreno contígua ou sobranceira à linha de água que limita o leito das águas com largura legalmente estabelecida o Linhas de água navegáveis ou flutuáveis 30m de largura o Linhas de água não navegáveis nem flutuáveis, incluindo linhas de água 10m de largura temporárias Tipo de autorização Licenciamento de Utilizações de Recursos Hídricos – as intervenções a realizar no leito e margens confinantes com propriedade privada estão sujeitas à emissão de Títulos de utilização de Recursos Hídricos (TURH) Licença Concessão Autorização Construções, equipamentos e infraCaptação de água Captação de água estruturas (vedações, (áreas regadas menores (áreas -regadas Limpeza de linhas desuporte água de Pedido/informação muros de que 50 ha) superiores a 50 ha) terras, pontões, charcas, edificações, estufas Infra-estruturas hidráulicas (barragens e açudes) (áreas regadas menores que 50 ha) Infra-estruturas hidráulicas (barragens e açudes) (áreas regadas superiores a 50 ha) Comunicação Prévia Limpeza e desobstrução dos álveos das linhas de água Infra-estruturas hidráulicas (barragens e açudes) em águas particulares Aterros e escavações Sementeira, plantação, corte de árvores ou arbustos e pastagens Sementeira, plantação, corte de árvores ou arbustos e pastagens (em águas particulares) Contra-ordenações ambientais Lei n.º 50/2006, de 29 de Agosto na redação da Lei n.º 89/2009, de 31 de Agosto Artigo 22.º, n.º 2 – Coimas a aplicar às contra-ordenações leves Negligência Dolo Pessoa Singular € 200 a € 1000 € 400 a 2000 Pessoa Coletiva € 3000 a € 13000 € 6000 a € 22500 Artigo 25.º – Altera a gravidade da contra-ordenação, de leve para grave, por incumprimento de ordens ou mandados legítimos da autoridade administrativa transmitidos por escrito aos seus destinatários Conteúdo da “comunicação prévia” a apresentar à APA/ARH 1. 2. 3. 4. 5. Nome do requerente Morada e contactos Troço da linha de água a intervencionar (mapa/imagem do Google Earth) Breve descrição do estado do leito e margens Existência de rombos Lixo Infestantes Breve descrição da intervenção, incluindo: Meios a utilizar Calendário de intervenção Em Áreas Classificadas e Rede Natura) é necessário um parecer prévio do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF, I.P.). - http://www.apambiente.pt/index.php?ref=17&subref=826 http://www.apambiente.pt/index.php?ref=17&subref=826 Como fazer? O que limpar? Como limpar? # Situação O que fazer? 1 Existe lixo e entulho (pneus, resíduos de obras, eletrodomésticos, etc.) no leito e margens Recolher lixo e entulho e encaminhar para aterro 2 Há material vegetal (ramos e árvores caídas) no leito Remover material vegetal a valorizar (se possível) ou encaminhar para local apropriado fora da margem Como fazer? O que limpar? Como limpar? # 3 Situação Existem matagais de Canas (Arundo donax) ou de Silvas (Rubus sp.) nas margens O que fazer? Cortar vegetação. No caso de canas, e salvaguardada a estabilidade do talude, é permitida a remoção de raizame, bem como, a aplicação de glifosato após corte, em plantas com 0,5 - 1 m. Estraçalhar e utilizar no controle de erosão (cobertura do solo) ou valorização agrícola (incorporação no solo) Como fazer? O que limpar? Como limpar? # 4 Situação O rio apresenta vegetação infestante no leito, sem acumulação excessiva de sedimento O que fazer? Verificar condições de escoamento e avaliar junto da APA/ARH a necessidade de intervir e a forma de actuação Como fazer? O que limpar? Como limpar? # Situação O que fazer? 5 O rio tem vegetação herbácea, com acumulação de sedimentos Informar e avaliar junto da APA, I.P. a necessidade de intervir e a forma de atuação, nomeadamente a necessidade de remover os sedimentos 6 Existe vegetação herbácea e arbustiva no leito Verificar as condições de escoamento e avaliar junto da APA/ARH a necessidade de remover ou “deslocar” a vegetação para as margens Como fazer? O que limpar? Como limpar? # 7 8 Situação O rio encontra-se obstruído com sedimentos e vegetação O leito tem estrutura(s) que impede(m) o escoamento O que fazer? Submeter requerimento para extração de inertes no SILiAmb ou com impresso próprio junto da APA, I.P./ARH Informar e avaliar junto da APA, I.P./ARH a necessidade de intervir e a forma de atuação. Como fazer? O que limpar? Como limpar? # Situação O que fazer? 9 Existem rombos nas margens Informar e avaliar junto da APA, I.P./ARH a necessidade de intervir e a forma de atuação. 10 Poluição visível: cheiro e aspeto Informar SEPNA e APA, I.P./ARH Limpeza e desobstrução das linhas de água 1. Corte seletivo, mantendo: Árvores e arbustos, não infestantes, das margens Vegetação herbácea dos taludes Estrutura radicular da vegetação arbustiva e herbácea das margens Preservação dos valores naturais (ex. espécies autóctones). Diminuir os riscos de erosão dos taludes e, consequentemente, o assoreamento das linhas de água Limpeza e desobstrução das linhas de água # Valores a preservar (exemplos) 1 Salgueiro (Salicacea) 2 Freixo (Fraxinus) 3 Choupo (Populus alba) 4 Amieiro (Alnus glutinosa) 5 Tamargueira (Tamarix africana) 6 Tabuas (Typha latifolia) 7 Loendro (Nerium oleander) 8 Nenúfar … … Limpeza e desobstrução das linhas de água 2. Incluir a realização de cortes e podas de formação da vegetação para garantir o ensombramento do leito 3. Utilizar preferencialmente métodos manuais evitando o uso de meios mecânicos pesados 4. Remover as árvores caídas junto a passagens hidráulicas (pontes e pontões) 5. Não permitir a acumulação de vegetação nas linhas de água Limpeza e desobstrução das linhas de água 6. Controlo de canas (Arundo donax) através de: Aplicação de glifosato* após o corte, quando a nova planta tem até cerca de 1 m de altura Herbicida sistémico de absorção foliar, destinado a combater as infestantes anuais e vivazes, sem ação residual no ambiente aquático e no ambiente em geral. Estraçalhar e utilizar em controle de erosão (cobertura do solo) ou valorização agrícola (incorporação no solo) Limpeza e desobstrução das linhas de água 7. Manter a geometria da secção e não linearizar a linha de água 8. Ser realizada numa margem de cada vez 9. Ser realizada de modo mais rápido e silencioso possível 10. Ser realizada de jusante para montante 11. Ocorrer antes do período das chuvas (preferencialmente entre 1 Julho e 30 de Setembro 12. Periodicidade entre 2 a 3 anos, para permitir intervenções mais ligeiras Limpeza e desobstrução das linhas de água A limpeza com utilização de maquinaria pesada só deve ser efetuada quando: Existir grande acumulação de sedimentos e vegetação no leito Quando se justificar o corte total da vegetação da margem (canas e silvas) Limpeza e desobstrução das linhas de água A não realizar A ocupação total das margens por campos agrícolas; A construção de muros e a impermeabilização das margens; A deposição de resíduos; O entubamento parcial ou total da linha de água; A rejeição de efluentes sem o tratamento adequado e a descarga de águas pluviais contaminadas; Linhas de atuação para a reabilitação de linhas de água Limpeza e desobstrução das margens e leito de acordo com as recomendações atrás expostas Preservar a vegetação e fauna autóctone características da região, promovendo, sempre que possível, a plantação de espécies autóctones; Diminuição dos riscos de inundação através de intervenções pontuais, para aumento da capacidade de vazão de determinada secção, tendo em conta a ocupação das margens (urbana, rural, agrícola) para definição do período de retorno. Linhas de atuação para a reabilitação de linhas de água Controlo de fontes poluidores Utilização de técnicas de engenharia biofísica para pequenas intervenções estruturais com o objetivo de estabilizar margens Manutenção de caudais ecológicos em barragens e açudes Fiscalização APA, I.P./ARH Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional Republicana (SEPNA/GNR) Câmaras Municipais / Juntas de Freguesia Principais obstáculos Custos associados à implementação das medidas, em particular de mão de obra A escassez de técnicos e empresas com formação técnica adequada A desertificação do interior e o abandono da atividade agrícola, que dificulta ou mesmo impossibilita saber quem são os proprietários dos terrenos confinantes às linhas de água, a quem cabe a responsabilidade de implementar as medidas de limpeza e conservação necessárias Comentários adicionais O Estado da linha de água reflete o que se passa na sua hidrográfica Tão importante como a intervenção na linha de água é o tempo e o espaço para os sistemas fluviais recuperarem o equilíbrio Linhas de água limpas e em equilíbrio são um fator de valorização do território e garantia das condições de qualidade de vida das populações A limpeza das linhas de água é um dever de todos! Limpeza e Conservação da Rede Fluvial Um Dever de Todos http://www.apambiente.pt/_zdata/Instrumentos/LicenciamentoUtilizRH/) [email protected]