corrente contínua
Ano XXXII - Nº 230 - Janeiro/Fevereiro - 2010
A REVISTA DA ELETRONORTE
Educação:
nas escolas da
Amazônia milhares
de professores e alunos
revolucionam os hábitos de
consumo de energia elétrica
nas salas de aula e residências
Eletronorte
Medindo as
águas dos rios
GERAÇÃO
sumário
GERAÇÃO
Página 3
ENERGIA ATIVA
Segurança do trabalho:
a importância da
prevenção na redução
de acidentes
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Procel Educacional:
um banho de economia
contra o desperdício
de energia
MEIO AMBIENTE
O verdadeiro lago dos sonhos
Página 12
Medindo as águas dos rios
Página 36
Como se faz a coleta de dados hidrológicos na Amazônia
Amazônia e nós
Érica Neiva
Brasília e nós
Página 52
CORREIO CONTÍNUO
Página 62
FOTOLEGENDA
CORRENTE ALTERNADA
Logística para o
desenvolvimento da Amazônia
Página 29
Página 63
corrente contínua
corrente contínua
2
SCN - Quadra 6 - Conjunto A
Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2
CEP: 70.716-901
Asa Norte - Brasília - DF.
Fones: (61) 3429 6146/ 6164
e-mail: [email protected]
site: www.eletronorte.gov.br
Prêmios 1998/2001/2003
Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito Cardoso
- Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de
Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine
(DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298- RS) - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Estagiárias: Camila Marques e Márcia
Alvarenga - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Revisão: Cleide Passos - Arte gráfica: Jorge Ribeiro - Na capa, a estudante Tainara Siqueira - Arte da contracapa: Sandro Santana Impressão: Brasília Artes Gráficas - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral
O combustível fundamental para fazer uma
usina hidrelétrica funcionar é a água. De acordo
com o Operador Nacional do Sistema – ONS, a
geração hidrelétrica está associada à vazão do
rio, isto é, à quantidade de água disponível em
um determinado período de tempo e à altura de
sua queda. A vazão de um rio depende de suas
condições geológicas, como largura, inclinação,
tipo de solo, obstáculos, quedas e também da
quantidade de chuvas que o alimenta. O potencial hidráulico é proporcionado pela vazão e
pela concentração dos desníveis existentes ao
longo do curso de um rio. A vazão refere-se ao
volume que escoa numa determinada unidade
de tempo e a unidade é dada em m³/s.
Ao se buscar mais informações sobre a matéria-prima que faz funcionar uma usina, deparase com as técnicas de monitoramento da água
que envolvem as áreas de projeto e construção,
operação e meio ambiente, de concessionárias
de energia elétrica como a Eletronorte. Nessas
áreas, o trabalho humano, auxiliado pela tecnologia, faz com que as medições dos níveis,
vazão e qualidade da água sejam obtidas com
segurança, contribuindo para a confiabilidade
da rede hidrológica.
Poço tranquilizador - Por trás de qualquer
trabalho existe sempre o empenho e a dedicação de homens e mulheres que unem seu conhecimento técnico à experiência de vida. Com
Theomário Alves Ferreira (à esquerda) não é diferente. Técnico em eletrônica, ele é colaborador
da Eletronorte desde 1987, quando ingressou na
Empresa como treinando-bolsista para o projeto
das usinas hidrelétricas Balbina (AM) e Samuel
(RO). Aos 44 anos, o amazonense é um técnico
multifuncional que, entre as várias atividades de-
corrente contínua
Página 20
3
4
senvolvidas, realiza a manutenção das plataformas de coleta de dados em Samuel (ver box).
As plataformas surgiram da necessidade de
empresas e instituições em obterem regularmente informações colhidas em lugares remotos.
São equipamentos automáticos que dispõem de
sensores eletrônicos capazes de medirem precipitação, pressão atmosférica, radiação solar,
temperatura e umidade do ar, direção e velocidade do vento e nível de corpos de água.
A plataforma hidrológica é um equipamento eletrônico responsável pela coleta de dados
pluviométricos (mede nível de chuva) e fluviométricos (mede nível e vazão). A energia para o
seu funcionamento provém de um painel solar
que alimenta uma bateria de 12 V. É composta
também por um pluviômetro, o encoder (conjunto de equipamentos que faz a interligação
do rio com a plataforma) (foto acima) e uma
antena unidirecional que transmite os dados
coletados ao satélite do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais – Inpe, conhecido como
Satélite de Coleta de dados – SCD2.
O papel de Theomário é fazer visitas semanais de manutenção e operação nas seis
estações telemétricas de Rondônia, ou seja,
em estações que registram os níveis de vazão
e chuva de hora em hora, e disponibilizam
as informações, no mínimo, três vezes ao dia
por meio do satélite SCD2 à Eletronorte e à
Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel. “Nas quintas-feiras visito as duas estações
a montante e jusante da Usina Samuel. Nas
sextas-feiras chego a percorrer 500 km para
supervisionar outras quatro estações, que ficam no município de Ariquemes, localizado
a 200 km de Porto Velho. O acesso aos locais
muitas vezes é difícil. A estrada que leva à estação Rio Preto do Crespo, a 83 km de Ariquemes, está em péssimas condições devido
à falta de pavimentação. Alternamos as visitas
entre manutenção e leitura. Nas visitas de leitura verifico o nível do rio na régua, conecto o
Sérgio de Paula Pereira, (foto) engenheiro de
desenvolvimento tecnológico, trabalha há mais
de 35 anos no Instituto
Nacional de Pesquisas
Espaciais - Inpe. Participou da implantação de diversos projetos na área de
sensoriamento remoto por
satélite, geração e processamento de imagens de
satélites e estações de terra para satélites meteorológicos e ambientais. Foi responsável, no Inpe, pela
coordenação das ações associadas ao Programa Nacional de Plataforma de Coleta de Dados, utilizando
o Satélite Brasileiro de Coleta de Dados. Atualmente, é responsável pelo Setor de Coleta de Dados de
Satélites Ambientais do Inpe. Realizou estágios de
treinamento técnico na Agência Nacional de Oceanografia e no Centro Espacial da Nasa em Goddard,
ambos nos Estados Unidos, no Centro Canadense de
Sensoriamento Remoto e na Sociedade Europeia de
Propulsão, na França.
Eletronorte, e a geração de medidas in loco para modelos
meteorológicos utilizados nas previsões de tempo e clima.
Qual o papel dos satélites na coleta de
dados provenientes das estações telemétricas?
O Sistema Brasileiro de Coleta de Dados via satéliteSCD, operado pelo Inpe, é constituído pela constelação
de satélites SCD1, SCD2 e CBERS2B, que representa o
segmento espacial da missão, e pelas diversas redes de
plataformas de coleta de dados espalhadas pelo território
nacional, pelas estações terrenas de recepção de Cuiabá
(MT) e de Alcântara (MA), e pelo Centro de Missão de
Coleta de Dados, que representam o segmento solo da
missão. No Sistema Brasileiro de Coleta de Dados os satélites funcionam como retransmissores das mensagens
provenientes das plataformas ou estações telemétricas.
Assim, a comunicação entre uma plataforma e as estações terrenas de recepção é estabelecida por meio dos
satélites. As plataformas são geralmente configuradas
para transmitirem, a cada 200 segundos, cerca de 32
bytes de dados úteis.
Descreva a tecnologia usada para a coleta e
decodificação dos dados transmitidos pelas plataformas.
O que é uma plataforma de coleta de dados?
São aparelhos eletrônicos de alto nível de automação,
que podem ser interligados diretamente a um sistema
de computadores ou a satélites de coleta de dados. Eles
têm capacidade de armazenar e transmitir, dentro de
altos níveis de confiabilidade, parâmetros ambientais,
hidrológicos, meteorológicos e agrometeorológicos,
captados por sensores específicos para esse fim. Após
o processamento dos dados no Centro de Missão de
Coleta de Dados do Inpe, em Cachoeira Paulista (SP),
eles são distribuídos a mais de 80 usuários finais. Entre
as diversas aplicações encontram-se o monitoramento
do nível de água em rios e represas, como é o caso da
notebook na plataforma de coleta de dados e
checo se o valor enviado está de acordo com
o valor medido na régua. Diariamente, acesso o site do Inpe e verifico se a estação está
transmitindo os dados via satélite”, esclarece
Theomário.
As plataformas já apresentaram muitos problemas, especialmente quando eram usados
sensores de pressão submersos, pois os dados
enviados não conferiam com níveis medidos
pelas réguas que ficam nas proximidades dos
reservatórios. Desde 2005, o sistema funciona
com o shaft-encoder, equipamento eletrônico
que mede o nível d’água e converte a informação em sinal digital enviado à plataforma. Para
isso adota-se o sistema boia/contrapeso, dispositivos responsáveis pelo monitoramento das
subidas e descidas do nível do rio. Esse sistema
fica em um poço tranquilizador, cuja função é
absorver os movimentos bruscos da correnteza
do rio para que a medida do nível seja efetuada
com exatidão.
Com a integração de Rondônia ao Sistema
Interligado Nacional – SIN, em outubro de
Como exemplo de uma rede operacional, há alguns anos
a rede de plataformas de coletas de dados hidrológicas da
Eletronorte opera no Norte do País. Os dados ambientais
contidos nas mensagens retransmitidas pelos satélites e recebidas pelas estações terrenas de Cuiabá ou de Alcântara
são enviados para o Inpe processar, armazenar e disseminar
aos usuários. O envio desses dados (informações decodificadas) é feito pela internet, via página web ou comunicação
FTP, estando disponíveis aos usuários em, no máximo, 30
minutos após a recepção.
Fale sobre os avanços tecnológicos
implementados ao longo dos
anos na área de coleta de dados.
Entre os avanços podemos citar o aperfeiçoamento das plataformas em termos de
capacidade de software de processamento
interno, o aumento da capacidade de armazenamento de dados na própria plataforma,
e o uso de múltiplos meios de transmissão
de dados, a exemplo da transmissão simultânea para a rede de telefonia celular. Houve ainda a implantação de um sistema eficiente de acesso às informações coletadas
e a disseminação de dados integrada a um
software de controle de qualidade e de validação das informações.
2009, reforçou-se o trabalho de coleta de dados pluviométricos e fluviométricos em Samuel.
“A rotina de manutenção com vistas a verificar
os equipamentos e fazer a leitura dos dados é
fundamental para a confiabilidade das informações que recebemos e, consequentemente,
para a operação da Usina. Com a mudança do
sensor de pressão para o sensor mecânico, os
problemas de inconsistência dos dados foram
sanados” explica o engenheiro eletricista da
Gerência de Comercialização de Energia da
Eletronorte, Geronimo Detoni.
corrente contínua
corrente contínua
Conheça o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados
5
monitorar nível, é falar em monitorar vazão. Ao
conhecer o volume de água que está passando naquela seção, naquele determinado ponto,
é possível calcular a vazão”, afirma Geronimo
(foto à esquerda). Diariamente, até às 11h, geram-se os relatórios de dados hidrológicos para
as áreas de interesse da Eletronorte.
Antes das estações telemétricas, a obtenção
dos dados acontecia diariamente em lances
de réguas, às 7h e 17h, por leituristas, ou seja,
moradores que residiam nas proximidades das
estações hidrológicas. As informações eram
anotadas em cadernetas e enviadas à Aneel e
às concessionárias somente a cada três meses.
“As réguas ainda continuam existindo, mas
hoje servem apenas de parâmetro para se configurar os dados na plataforma. Apesar de toda
tecnologia, o acompanhamento e o monitoramento feitos pelo homem são fundamentais,
pois é um sistema eletromecânico que está
sujeito às intempéries, vandalismo, umidade e
interferência de animais”, diz Geronimo.
Perdidos na trilha – A história de vida de
Celson Rocha da Silva, técnico em edificações,
se confunde com a trajetória da Eletronorte,
onde ingressou em 1978. Responsável pela
implantação da Rede Hidrológica Telemétrica,
que começou a funcionar em 2002, Celson
acompanha as estações hidrológicas há mais
de 30 anos. “A atuação da Eletronorte na bacia
amazônica foi cercada por imensas dificulda-
As várias medições - Os estudos de inventário de uma bacia hidrográfica visam, em síntese, à identificação de locais com potencial
para geração de energia elétrica. A Eletronorte
participou e participa de diversos inventários,
nos quais uma série de variáveis hidrológicas
e meteorológicas são medidas em postos de
observação. Com um conjunto de estações pluviométricas, fluviométricas, sedimentométricas,
de qualidade d’água e mete orológicas, distribuídas sobre uma determinada região, pode-se
caracterizar uma bacia hidrográfica.
“A operação das redes hidrométricas de
monitoramento está a cargo da Agência Nacional de Águas – ANA, embora outras entidades
operem redes de seu interesse específico. É o
caso da Eletronorte em relação às suas usinas
hidrelétricas. Quanto à forma de operar os pos-
Diversas
tecnologias
são usadas
nas medições
corrente contínua
corrente contínua
6
Estações telemétricas – Antes de 1998, a
Aneel monitorava a rede pluviométrica e fluviométrica nacional. Com a edição da Resolução
nº 396, em 1998, regulamentou-se a instalação,
manutenção e operação das estações de interesses das concessionárias e da própria Aneel.
Isto quer dizer que a Eletronorte, assim como
as demais concessionárias, passou a monitorar
suas áreas de interesse. O objetivo foi enxugar a
rede nacional, diminuir as estações e os custos,
além de garantir que as empresas continuassem alimentando o banco de dados da Aneel.
A Eletronorte possui uma rede
de plataformas de coleta de dados
hidrológicas composta por 23 estações telemétricas (foto acima),
ou seja, pela plataforma e pelo
sensor localizado no poço tranquilizador. Das estações, sete estão
no Estado do Pará, duas em Tocantins, cinco no Amapá, seis em
Rondônia e três no Maranhão. A
rede telemetrizada possibilita que
as informações hidrológicas sejam
transmitidas de forma automática,
três vezes ao dia, conforme estabelece a Resolução nº 396. “Transporta-se o
dado por meio de um sinal transmitido via rede
ou satélite para o Inpe, que disponibiliza a informação em rede, numa pasta da Eletronorte. O
monitoramento é capaz de nos informar sobre
o volume de água que entra na usina. Falar em
des. Existem estações com histórico de mais de
40 anos de observações, num período em que
o acesso aos locais era precário. Em alguns lugares, para se chegar até à estação, um morador local vinha nos apanhar num barquinho de
madeira, após ser avisado da nossa chegada
com a soltura de quatro foguetes”, relembra.
O técnico continua a história: “Os locais de
futuros aproveitamentos hidrelétricos, que demandavam interesse em estudos hidrológicos,
eram definidos por meio de fotos aerofotogramétricas. Para se chegar até determinada localidade tínhamos que utilizar as trilhas, estradas
e pontes improvisadas pelos madeireiros que
exploravam a selva amazônica naquela época.
Por essas trilhas, muitas vezes chegávamos
bem próximo ao local de interesse e seguíamos
a pé pela floresta até ao local de implantação da
estação fluviométrica. Geralmente, em localidades de acesso muito difícil,
não existiam observadores.
Então, tínhamos que instalar
o limnígrafo registrador dos
níveis, com autonomia de seis
meses de observação, quando voltaríamos ao local para
substituir o formulário e a alimentação da autonomia do
aparelho.
“Certa vez, saí de Porto
Velho com destino à Cachoeira do Jacinto e Cachoeira
Formosa, no Rio Formoso, para instalar duas
estações fluviométricas. Instalada a estação de
Jacinto, partimos para a Cachoeira Formosa,
numa viagem de mais ou menos cinco horas
selva adentro, seguindo trilhas e pontes improvisadas por madeireiros. Veio a noite e nada de
chegarmos ao local, rodamos no meio da floresta até mais ou menos uma hora da manhã
quando a trilha acabou. Ali passamos a noite
fazendo planos para o dia seguinte e ouvindo
os esturros das onças que haviam percebido
a nossa presença. No dia seguinte, logo cedo,
chegamos ao local para execução dos serviços”, rememora Celson (acima).
7
dias. Os técnicos têm que levar mantimentos
e dormir nos barcos. A dificuldade de acesso
torna o processo mais caro que em outras regiões”, detalha Álvaro.
Qualidade da água – Tanto nos estudos de
inventários hidrelétricos de bacias hidrográficos quanto nos de viabilidade de empreendimentos hidrelétricos deve-se conhecer a qualidade e as características da água dos rios ou
da própria bacia onde se pretende construir
os empreendimentos. São realizados estudos
de limnologia (ramo da ecologia que estuda
os ecossistemas aquáticos) e de qualidade
da água para entender a dinâmica dos corpos
hídricos das bacias, e avaliar os possíveis impactos que podem ocorrer na construção de
hidrelétricas.
As águas da região amazônica podem ser divididas em três grandes grupos, segundo suas
características físico-químicas e biológicas: rios
de água branca são grandes rios amazônicos
que nascem nos Andes e trazem uma grande
carga de sedimentos devido ao processo erosivo, como o Solimões e o Madeira; rios de água
clara referem-se àqueles que drenam terrenos
de rochas cristalinas muito antigas, a exemplo
do Xingu, Tapajós e Tocantins; e os rios de água
escura são os responsáveis pela drenagem de
terrenos sedimentares e arenosos bem recentes como o Rio Negro e o Rio Branco. “A área
de projetos e operação de uma usina tem como
matéria-prima para o seu trabalho o nível d’água
e a vazão. Já a área de meio ambiente estuda
as características físico-químicas e biológicas,
para saber como funciona o sistema aquático
e qual é a maneira adequada de dar suporte
à ictiofauna, isto é, ao conjunto das espécies
de peixes que vivem naquela região biogeográfica”, esclarece o analista ambiental da Eletronorte, Bruno Leonelo Paiola (abaixo).
Geralmente são feitas duas campanhas de
qualidade da água - uma
na cheia e outra na seca,
durante a fase de inventário de um empreendimento hidrelétrico. Os estudos
de viabilidade devem ser
feitos durante um ciclo hidroclimatológico que dura
em média dez meses. “O
Ibama está exigindo mais
informações para que possa decidir sobre a viabilidade de um empreendimento. É importante
o monitoramento em tempo real, pois em certo
momento a turbidez da água vai aumentar com
a passagem de sedimentos. A tecnologia prevê
se as ações demandadas pelo empreendimento estão interferindo no ecossistema, permitindo o acompanhamento de cada momento da
obra”, afirma Bruno.
Hoje, os dados de monitoramento de qualidade da água podem ser obtidos em tempo
real, a exemplo do que está acontecendo no
Rio Madeira. A tecnologia adotada é uma das
exigências do Ibama para a construção da hidrelétrica de Santo Antônio. Por meio das medições é possível identificar eventuais alterações
em relação à vida aquática e às comunidades
ribeirinhas localizadas logo abaixo do barramento, podendo-se desenvolver ações preventivas. São utilizadas duas sondas que medem
permanentemente a temperatura da água, sua
turbidez, a condutividade elétrica, o oxigênio
dissolvido, a acidez e o potencial de oxirredução do rio. Os dados podem ser transmitidos
por telefone celular, o que possibilita acesso remoto e instantâneo às informações.
Nas águas
dos rios são
medidas a
temperatura,
condutividade
e acidez
corrente contínua
corrente contínua
8
tos, temos estações manuais, automáticas e telemétricas, em que a medida do nível d’água e
a transferência dessa informação a uma central
é totalmente automatizada via telecomunicação”, frisa o engenheiro civil da área de Projetos e Construção da Eletronorte, Álvaro Lima
de Araújo.
As medições do transporte de sedimentos
acontecem nas estações sedimentométricas,
que coincidem com estações fluviométricas selecionadas. São realizadas por hidrometristas
que, por meio de amostradores adequados, coletam sedimentos posteriormente analisados em
laboratórios. Também são feitas medições de
qualidade de água, com equipamentos portáteis,
que envolvem parâmetros como temperatura,
pH, oxigênio dissolvido, condutibilidade elétrica
e turbidez. “A maior alteração que presenciamos foi o advento da eletrônica, que revolucionou a obtenção de dados hidrometeorológicos.
As atividades de campo efetuadas por equipes
de hidrometria que exercem atividades como
inspeção e manutenção das estações, recolhimento de boletins dos
postos convencionais dos observadores, execução das medições de
descargas líquidas, amostragem de
sedimentos, medições de variáveis
de qualidade de água e coleta de
dados das estações telemétricas”,
destaca Álvaro (ao lado).
A Eletronorte vem administrando diretamente a operação de
postos hidroclimatológicos nas bacias dos rios Xingu e Tapajós, em
convênio com a ANA, desde 2004,
operando mais de 100 estações entre fluviométricas, pluviométricas e telemétricas. Há duas
equipes de campo com dois técnicos em hidrometria e dois ajudantes cada uma. Cerca de
cem moradores também fazem as medições.
“É necessário termos o relatório de uma série de vazões. A Aneel exige isso e assim temos
feito desde 1931 até hoje. Não existem estudos daquele período, mas com os índices de
chuva, vazão e os postos situados em volta,
conseguimos montar as médias mensais. A
obtenção de dados é um dos elementos fundamentais a serem aplicados em engenharia.
Quanto maior a disponibilidade de dados, mais
confiável será a análise. Os postos são bem
afastados uns dos outros. As estradas muitas
vezes estão em péssimas condições com altos
níveis de atoleiros. Há locais em que se chega
apenas de avião ou barco. As viagens de visita aos postos nos rios às vezes duram até 15
9
Eletronorte opera moderna rede sismográfica
10
Estações sismográficas - A Eletronorte possui estações
sismográficas que monitoram as usinas hidrelétricas Tucuruí (PA), Samuel (RO) e Balbina (AM). O processo de
instalação das estações sismográficas iniciou-se na fase
de construção das usinas, pois o objetivo era verificar se
existia atividade sísmica antes do início do enchimento do
reservatório. “As grandes empresas do Setor Elétrico brasileiro começaram a monitorar esse tipo de fenômeno nas
suas principais usinas, principalmente após o sismo na
barragem de Koyna, Índia, em 1967, com magnitude 6.3,
que causou 200 mortes e severos danos na sua estrutura. Daquela época até agora, o monitoramento sismológico
vem sendo realizado de forma contínua. Com a chegada de
recentes equipamentos adquiridos pela Eletronorte, iremos
aumentar a quantidade de estações em nossas usinas, iniciar o monitoramento nas hidrelétricas Coaracy Nunes (AP)
e Curuá-Una (PA), e também instalar estações em áreas de
futuros aproveitamentos hidrelétricos”, diz Gilson.
O monitoramento sismológico tem por objetivo avaliar
a atividade sísmica na área circunvizinha ao reservatório,
bem como verificar as eventuais mudanças no nível da
sismicidade devido à influência do lago, isto é, validar e
analisar quando for o caso, a ocorrência de sismos induzidos. O procedimento prático para auscultar sismicamente
uma barragem consiste em instalar, nas proximidades do
reservatório, uma rede de estações sismográficas portáteis, capazes de registrar todas as vibrações originais em
sua área de influência. Basicamente, uma estação sismográfica é composta de um sismógrafo, aparelho que
registra os movimentos do solo, e de um sismômetro, que
‘percebe’ os movimentos do solo. O sismômetro funciona
com uma massa suspensa por molas (ou um pêndulo).
Quando o solo oscila, a massa também balança, sendo
então registrado o movimento entre a massa e o solo.
“Por serem os equipamentos extremamente sensíveis
a qualquer tipo de movimento, as estações são instaladas
em afloramentos rochosos e não devem estar próximas
de locais onde haja vibrações como estradas, pedreiras
e passagem de pessoas ou animais. Os aspectos operacionais dos serviços envolvem a coleta de dados sísmicos
pelos nossos técnicos, remessa desses dados pelos serviços de rede da Empresa ou, no caso de fitas magnéticas,
enviadas via Correios. Daqui são remetidos para o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília - UnB,
sendo ali processados e interpretados”, explica Gilson.
Avanços tecnológicos - Em 2007, após um tremor de
terra de significativa importância em Tucuruí, a Eletronorte
iniciou a modernização e expansão de sua rede sismográfica. Em agosto de 2009, desembarcaram no Brasil 22 conjuntos de equipamentos importados (sismógrafo, sismô-
metro ou acelerômetro, cabos e instrumentos auxiliares),
com investimentos que chegaram a R$ 800 mil.
Até há pouco tempo, as informações sismológicas eram
coletadas manualmente, gravadas em disquetes e encaminhadas via malote para a estação de análise de dados localizada em Brasília. Com a digitalização dos equipamentos
sismológicos, a coleta das informações passou a ser automática, com os dados coletados e transmitidos por meio de
enlaces ópticos ou rádios.
“A estação é um equipamento que transmite, via digital, informações sísmicas. Essas informações são transferidas do equipamento, via fibra óptica, para uma estação
de telecomunicações, e
um enlace de rádio digital
transfere para a estação da
Eletronorte mais próxima,
sendo inserida na rede de
dados da Empresa. A UnB,
por meio de uma rede virtual privada, acessa os dados on-line para análises.
Todas essas informações
são analisadas como se
estivessem sendo lidas no
próprio equipamento, garantindo assim a confiabilidade e a disponibilidade
dos dados coletados”, relata o engenheiro eletricista e
matemático, Rosemberg Lobato Silva (ao lado).
Serão contempladas pelos
projetos de interligação das estações sismológicas, as usinas
Tucuruí, com três estações;
Samuel, com uma estação; e
Coaracy Nunes, também com
uma estação. De acordo com
Rosemberg, a utilização das
fibras ópticas tem diversas vantagens. Ele enumera algumas:
custo mais baixo por quilômetro de fibra versus taxa de transmissão, quando comparado
a qualquer outro meio de telecomunicações (com os equipamentos disponíveis na Eletronorte é possível transmitir pela
fibra óptica até 40 Gbps); imunidade a interferências eletromagnéticas, ou seja, podem ser instaladas em ambientes
hostis como linhas de transmissão e subestações; segurança
da informação, pois é muito difícil efetuar derivações no sinal
óptico sem que passe despercebido. “A economia estimada
para a Eletronorte é de R$ 45 mil/mês, o que equivale ao aluguel de um canal de 126 kbps de Tucuruí para Brasília, ou
seja, o sistema próprio a ser instalado paga-se em pouco menos de um ano”, garante Rosemberg.
Para o engenheiro, todo processo de evolução traz satisfação
e orgulho de executar e com este não será diferente. “Modernizar é o objetivo a seguir das telecomunicações no mundo e nós
estamos seguindo nessa mesma direção. O futuro dessa tecnologia é a implantação da rede convergente que já está em operação nos sistemas do Amapá e Tocantins, garantindo qualidade
de serviços às informações internas da Eletronorte”, afirma.
corrente contínua
corrente contínua
Segundo estudiosos, a distribuição mundial dos terremotos mostra que o Brasil é uma região relativamente estável e
nossa história confirma a inexistência de qualquer terremoto catastrófico. Somos um dos países com o menor índice
proporcional de sismicidade em toda a América Latina. O
Japão, equivalente em área ao Estado do Maranhão, muitas
vezes, em apenas um ano, sofre maior número de terremotos dos que os já catalogados em nosso País desde o início
da colonização.
A melhor explicação para tal fato vem de uma teoria nascida nos anos 1960, conhecida como Tectônica de Placas.
Segundo ela, toda a parte superficial da Terra, que sustenta
os continentes e oceanos, está quebrada em partes menores (placas tectônicas) que se movimentam lentamente, em
diferentes direções. Nos limites dessas placas existe maior
grau de atrito e deformação das rochas e, portanto, zonas
mais propensas a gerar sismos, em contraste com as áreas
centrais, mais tranquilas e distantes dos locais potencialmente perigosos.
“Nesse contexto, o Brasil teve a sorte de situar-se praticamente no meio de uma enorme placa, enquanto o Japão
localiza-se em uma surpreendente área que reúne o encontro
de três diferentes placas tectônicas. Diante desses fatos poderse-ia perguntar: se o Brasil está livre dos terremotos, para que
despender tempo e recursos nesse tipo de estudo? Na verdade
não existe nenhum local da Terra que esteja absolutamente
imune à ocorrência de um sismo. Embora sejam muitos mais
frequentes e poderosos nos limites das placas, também ocorrem tremores nas porções centrais dos continentes, podendo
inclusive atingir proporções de um superterremoto (magnitude
superior a 8.0 – escala Richter)”, afirma o engenheiro civil da
Eletronorte, Gilson Machado da Luz, responsável pelo monitoramento da rede sismográfica da Empresa (abaixo).
No diagrama e
na foto abaixo, a
estação sismológica
11
A célebre frase de John Lennon, “o sonho
acabou”, dita ao final da banda The Beatles,
jamais poderia ser dita por qualquer um que
visitasse os lagos das hidrelétricas brasileiras.
Neles, a cada sol que se põe nasce um sonho.
Os reservatórios hidrelétricos já constituídos
foram alvos de críticas e tidos como os causadores de futuras catástrofes. Hoje, após 20
ou até mais de 30 anos depois de formados,
além de manterem funcionando as turbinas,
também passaram a ser símbolo de prosperidade. Quando se discute fontes renováveis de
energia, eles continuam surpreendendo com
novas possibilidades.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico ONS constatou que, entre dezembro de 2009
e janeiro de 2010, os reservatórios do Sul e do
Sudeste estavam com 72,57% da capacidade,
os maiores níveis verificados em dez anos.
Em comparação com o mesmo período entre
2008/2009, os lagos estão com volume 30%
superior, em decorrência das chuvas. Cada vez
que isto acontece é como se o País recebesse
um presente dos céus. Os técnicos do setor
ensinam como tirar o melhor proveito de todas
essas grandes caixas d’água, que funcionam
eletricamente interligadas, através do Sistema
Interligado Nacional – SIN, com energia acumulada para mais uma década.
Os usos múltiplos dos reservatórios e do seu
entorno acontecem naturalmente, mas também
de forma planejada. As populações vizinhas,
independentemente de planejamento, os usam
para a pesca, navegação, lazer, esportes e outras
atividades. Já projetos de irrigação e aquicultura
contam com o apoio de governos e entidades
privadas. No Brasil se discute, desde a década
de 1980, as diretrizes para a ordenação do uso
desses mananciais. O empreendedor é apenas
mais um participante à frente do processo, mas
não é o dono das águas retidas e nem da sua
área de influência. Para usar esses patrimônios, precisam fazer parcerias com prefeituras,
órgãos estaduais e federais de meio ambiente,
com representações da sociedade, governos
federal e estadual. Qualquer ordenamento de
recursos naturais é sempre complexo, envolvendo diferentes interesses, gerando muitos
benefícios, mas também conflitos que precisam
ser gerenciados.
corrente contínua
MEIO AMBIENTE
corrente contínua
12
O verdadeiro lago dos sonhos
Byron de Quevedo
13
14
que transformá-lo num projeto de lei. Porém, no
estudo de impacto ambiental tem-se um diagnóstico das potencialidades e fragilidades das áreas
marginais aos reservatórios. A diferença entre o
Pacuera e o EIA-Rima é que enquanto este último enfoca as fases de viabilidade, construção e
operação dos reservatórios, além dos impactos
causados em cada uma delas; o Pacuera disciplina a gestão dos lagos na fase de operação, com
mais detalhes do que o EIA-Rima”
Existe ainda a legislação específica, como o
Código Florestal, que exige a manutenção das
áreas de preservação permanente no entorno
dos reservatórios, as APPs. Essa legislação
se sobrepõe. O Setor Elétrico tenta criar um
documento único atendendo a todas as exigências. A Eletronorte leva em frente o Plano
de Gestão de Uso e Ocupação do Entorno dos
Reservatórios, que deve abranger o Pacuera
e os demais.
Mitos – Rubens recorda que durante o
enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí surgiram denúncias exageradas.
“Houve os impactos sobre os peixes, o que já
era esperado, mas com o tempo veio a recuperação das espécies. Cada bacia tem suas
próprias características e dimensões, e cada
uma se estabilizará de acordo com determinadas condições, mas nunca chegaram ao ponto
de tornar impossível o consumo de suas águas
ou impedir a vida aquática. Em alguns casos a
qualidade das águas, da navegação e da pesca
até melhoram, pois passam a ser estudadas
e monitoradas, o que não acontecia antes do
represamento do rio. O lago tem também uma
vertente cultural, pois ajuda na integração das
comunidades no entorno”.
Outro caso interessante foi a exploração da
madeira submersa. Na década de 1990 tentouse explorar a madeira comercialmente, por meio
de empresas privadas. Alguns lotes do lago
chegaram a ser explorados economicamente,
mas pescadores procuraram a Eletronorte, o
órgão ambiental estadual e o Ibama, esclarecendo que nas águas onde havia os paliteiros
de madeira eles conseguiam pescar melhor
com vara do que naquelas onde ocorrera a
exploração de madeira submersa, pois as
galhadas protegiam as espécies, inclusive
impedindo a pesca predatória. A Eletronorte
recebeu da Secretaria do Meio Ambiente do
Pará uma notificação para que parasse com a
exploração da madeira submersa, sob pena de
comprometer a atividade pesqueira de quase
três mil pescadores locais.
Peixe: uma
das maiores
riquezas
do lago
de Tucuruí
Proliferação de peixes - Mirian lembra que
o Pacuera verifica os impactos, diagnósticos,
programas, potencialidades e fragilidades. Tudo
é reunido num único documento de gestão,
que mostra, por exemplo, os locais ideais para
a implantação de tanques-rede, exploração
turística, pesca comercial e amadora, áreas de
lazer e esporte e demais atividades. “Estamos
desenvolvendo o programa de tanques-rede
em Tucuruí, mas lá já existe a pesca comercial
e a amadora, com a realização de torneios de
pesca, onde o peixe é solto depois de pescado.
Temos na região potencialidades para o turismo,
a navegação de montante a jusante, e vice e
versa, será viável com a conclusão das obras
das eclusas. Nenhum desses usos danifica o
meio ambiente”, afirma.
Houve no passado a proliferação de mosquitos, que terminou com a redução das macrófitas (plantas aquáticas). Já a proliferação
de tucunarés, da pescada e de outras espécies
de peixes ditos ‘de carne’, foi benéfica. Há
ainda pequenos organismos animais e vegetais
que vivem nos troncos das árvores submersas
servindo de alimento para alevinos e camarões,
que depois se tornam alimento para predadores
maiores. Segundo Mirian, “o futuro da pesca no
reservatório de Tucuruí dependerá da legislação
disciplinadora e da conscientização ambiental
dos pescadores, respeitando o defeso (a sus-
pensão da pesca para a desova). Se houver
controle dos desembarques pesqueiros, sempre
haverá peixes”.
Energia eólica - Bruno descreve um cenário
propício para a exploração das correntes dos
ventos para fins energéticos, por exemplo às margens do lago de Tucuruí: “Registramos o aumento
de ventos, evidenciado pela intensa formação de
ondas. É um grande espelho d’água que sempre
terá movimentação de ventos sobrepondo-se ao
padrão regional, em decorrência das mudanças
de temperatura. Entre as 8h e 12h
há, inclusive, a formação do banzeiro (grandes ondas). As árvores
altas das margens criam corredores
de ventos com mais de dez quilômetros. Esse fato, aliado às trocas
de calor entre a lâmina d’água e a
atmosfera acelera ainda mais os
ventos. É um cenário que deve ser
considerado”.
Algumas empresas de eletricidade já estudam a possibilidade
de aproveitarem a abundância dos
ventos nos lagos. O coordenador
de Estruturação de Negócios e Gestão de Participações da Eletronorte, Wilson Fernandes de
Paula (foto ao lado), observa ser possível usar
os reservatórios para a instalação de matrizes
corrente contínua
corrente contínua
Pacuera - Os analistas de meio ambiente
da Superintendência de Meio Ambiente da
Eletronorte, Rubens Ghilardi, Bruno Paiola
e Mirian Carvalho (na foto abaixo), também
bióloga e especialista em ictiofauna, afirmam
com unanimidade que as possibilidades dos
reservatórios são tantas que a cada ano novas
formas de exploração econômica surgem antes
mesmo de as já consagradas serem exploradas
na sua plenitude. Rubens diz que a Associação
Brasileira das Empresas Geradoras de Energia
Elétrica - Abrage, por exemplo, criou um grupo
de trabalho para estudar o uso dos reservatórios
e dos seus entornos, devido às exigências legais,
como as do Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama. Tem também a Agência Nacional
de Energia Elétrica - Aneel que é quem aprova
o Plano de Gestão Sócio Patrimonial do Reservatório e dos Entornos, feito pelas empresas.
Atualmente, a Eletronorte desenvolve um plano
na Usina Hidrelétrica Samuel, para evitar a ocupação excessiva do entorno, o assoreamento e a
poluição das águas. Segundo Rubens, as novas
obras são mais fáceis de gerenciar, pois as medidas já estão inclusas nos projetos de construção e
de operação. Então, em paralelo, se faz o processo
de ordenamento. Já os antigos projetos são mais
difíceis de gerenciar, pois há várias situações
já consolidadas. “Às vezes é preciso recuperar
áreas, há conflitos com instituições e populações.
Independentemente desse ordenamento existe a
legislação ambiental que ampara, por exemplo,
o uso sustentável da pesca. Mas pela deficiência
dos órgãos de fiscalização e controle, explorações
predatórias também surgem”.
Nos reservatórios antigos há o zoneamento de
áreas. Para os novos há o Plano Ambiental de
Conservação e Uso dos Reservatórios Artificiais
– Pacuera, que é solicitado na fase do licenciamento prévio para as obras. Este documento, exigido por resolução do Conama, a partir de 2002,
chegou a ser elaborado por algumas empresas,
mas não funciona na prática, pois os órgãos têm
15
16
Regulamentação – Os usos múltiplos dos reservatórios abarcam outras áreas institucionais,
como a dos recursos minerais. Se uma empresa
pretende extrair areia do reservatório, deve
obter a autorização do Departamento Nacional
de Produção Mineral - DNPM, por ser uma
atividade comercial. Também tem sido grande
o interesse para a exploração da agricultura de
várzea (arroz, principalmente), nos trechos à
mostra nos períodos de baixa do reservatório.
Em qualquer extração mineral ou exploração
agrícola nessas áreas, o Ibama também tem
que ser ouvido.
Luiz Carlos Ferreira (ao lado),
especialista em regulação da Superintendência de Gestão e Estudos
Hidroenergéticos da Aneel, adverte
que um empreendimento para
ser levado a leilão precisa de três
diplomas legais emitidos simultaneamente: a aprovação da Aneel, o
licenciamento do órgão ambiental
e a Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica, pela Agência
Nacional de Águas - ANA. Depois de
aprovados os estudos de viabilidade,
os empreendimentos vão a leilão e,
uma vez licitados, se tornam objetos de contrato
de concessão. Nessa segunda etapa trata-se
da institucionalização dos usos do reservatório,
formalizados na Declaração de Utilidade Pública.
Todos os processos de desapropriação destinados
à liberação da área de canteiro e da obra serão
formalizados nessa declaração pública.
“No Setor Elétrico temos um modelo técnico
e institucional que foi sendo amadurecido. No
início dos anos 1980 começou a implantação dos
grandes reservatórios. A legislação se desenvolveu junto com essas obras, especificamente as
hidrelétricas da Amazônia. A regulamentação
dos usos dos recursos hídricos também tomou
corpo nessa época, com a lei que implementou
a política nacional de meio ambiente, com a
Resolução Conama 001, que instituiu o rito do
licenciamento. Na Eletrobrás tivemos o primeiro
Plano Diretor do Meio Ambiente - PDMA, em
1987, que institucionalizou os procedimentos
ambientais considerados já de forma mais integrada nos estudos de inventário e viabilidade.
Isso, naturalmente, evoluiu depois com o Conselho de Meio Ambiente do Setor Elétrico - Comase.
Foi desses primeiros instrumentos da legislação
ambiental que surgiu a ideia dos usos múltiplos
dos reservatórios”, observa Luiz Carlos.
O guardião das águas - Na mesma época
em que se criou o PDMA, instituiu-se também o
Manual de Inventário da Eletrobrás e, de acordo
com o modelo atual do Setor Elétrico, teve a
versão atualizada e editada em dezembro de
2007, determinando que esses aspectos sejam
considerados e mantenham a máxima: “onde já
existe navegação ela deverá continuar a existir”.
Neste sentido ganha importância a exigência
da ANA da inserção de eclusas nos projetos
hidrelétricos, exceto para casos muito específicos. A ANA, ao receber os estudos, estipula
qual a quantidade de água que o empreendedor contará para gerar energia, considerando
os outros usos: irrigação, abastecimento de
rebanhos e humano, quantidade e qualidade.
A Agência também faz a ponderação entre os
interesses econômicos e demais usos consuntivos (irrigação, abastecimento urbano etc.), e
os não consuntivos (turismo e lazer, exploração
de paisagens cênicas e belezas naturais, uso de
cachoeiras para esportes radicais etc.).
O superintendente de Outorga e Fiscalização
da ANA, Francisco Viana (abaixo), define como
sendo irmãs a política de água e a política de
meio ambiente. Segundo ele, “a política do meio
ambiente é vinculante, ou seja, as autorizações
para se usar o bem da natureza ou nela intervir
são vinculadas a uma aprovação prévia. Primeiro
se autoriza a instalação, depois a implantação
e a seguir a operação. E ela está vinculada ao
atendimento de regras estabelecidas. Isto se dá
sobre todo o ecossistema. Já a política de água
é mais restritiva e focada. Não está vinculada
a uma aprovação prévia e é discricionária, ou
seja, autoriza a utilização de águas vinculada
ao que foi pedido, mas o solicitante poderá
não receber a totalidade do que foi solicitado.
A Lei de Recursos Hídricos pode alterar valores e autorizações ao longo da vigência de
uma autorização, dada normalmente por até
35 anos, se houver alterações significantes na
bacia. E respeitado os marcos legais das disciplinas, vinculamos os seus usos às demandas
prioritárias: abastecimento de água, irrigação,
geração de energia e transporte, que são básicos para se reduzir outros usos”.
Comitê de bacias - Os novos empreendimentos, tanto na área de política ambiental como em
matéria de recursos hídricos, passam por situações que não são conflitantes, mas complementares. As hidrelétricas Estreito e Serra da Mesa,
no Rio Tocantins, por exemplo, já têm garantido
os usos múltiplos dos seus reservatórios, por
determinação imposta pela política de águas,
como calado mínimo para as embarcações,
rotina de vazão e os níveis dos reservatórios condizentes. “Destacamos na política de águas, os
comitês de bacias, que são um parlamento. Há
neles representantes do governo, da sociedade
civil, das associações de bairros, de produtores,
sindicatos, usuários das bacias, empresas do
Setor Elétrico, de pesca, saneamento, lazer, etc.
Esse parlamento dispõe de poder normativo e
avançado na questão dos recursos hídricos,
mas não tem condições de integrar as políticas
setoriais. Ele tem como melhorar a governança
da legislação. O caminho que vejo pela frente
são esses comitês e a interação promovida por
eles”, comenta Francisco Viana. .
Itaparica, sonho que virou realidade - A Usina Hidrelétrica Itaparica, no Rio São Francisco,
foi construída pela Chesf a partir do início da
década de 1980. A obra sofreu fortes movimentações da sociedade local, por causa das
inundações das áreas rurais e urbanas. Houve
dificuldades na regularização fundiária, com
muitos posseiros, meeiros e proprietários de
terras. Os proprietários, ou quem tinha documentação das terras receberam indenizações.
Outros tiveram suas benfeitorias indenizadas,
mas não foi o suficiente. Houve então mobilizações sociais culminando com a fundação
do Pólo Sindical do Submédio São Francisco,
que reuniu representantes dos sindicatos dos
trabalhadores rurais dos municípios atingidos
pelo enchimento do lago da Usina. Mas nem
todas as propriedades puderam ficar na borda
do lago. Alguns reivindicantes foram levados para
agrovilas com lotes de 1,5 a 6,0 hectares, com
irrigação, mas proporcionais ao tamanho das
famílias. Segundo o assessor e chefe interino do
empreendimento de Itaparica, Francisco Lyra,
Em Itaparica
irrigação
garante
produção
diversificada
corrente contínua
corrente contínua
eólicas, pois neles há caminhos naturais de
ventos em certos meses. “Toda energia eólica
é sazonal. Temos maior quantidade de ventos
exatamente no período em que os reservatórios
estão baixos. Gráficos eólicos do Cepel mostram
essa coincidência - pouca água, muito vento e
vice e versa. Essa descoberta vem ao encontro
da determinação do Governo Federal em expandir a geração eólica no País. Em 2009 já foram
leiloados 1.800 MW”, afirma. Hoje, a Eletronorte
participa do consórcio Brasil dos Ventos, que
arrematou quatro parques no Rio Grande do
Norte para gerar 160 MW.
17
Ibama: o processo
de licenciamento
A bióloga e coordenadora-geral de Infraestrutura
de Energia Elétrica do Ibama, Moara Menta Giasson
(foto), esclarece alguns pontos que ajuda a compreender melhor o processo de licenciamento ambiental.
Moara coordena as equipes que fazem as análises de
impacto ambiental em usinas hidrelétricas, reservatórios e linhas de transmissão.
O Ibama é moroso no licenciamento ambiental?
As licenças no Ibama levam o tempo necessário. É
evidente que ganharíamos tempo se tivéssemos mais
técnicos, melhor estrutura e um sistema de licenciamento e de protocolo mais informatizados. O licenciamento
é um processo lento envolvendo estudos complexos. O
Brasil é imenso e com biodiversidade desconhecida. Às
vezes são propostas hidrelétricas em regiões sensíveis.
Delas pouco se sabe sobre seus peixes, matas circunvizinhas e como seria o impacto nesses ecossistemas.
Os lapsos de conhecimento acabam refletindo nos processos e a produção de conhecimento científico passa
a ser feita no âmbito do licenciamento, o que retarda
as fases anteriores à licença prévia. A rotatividade dos
analistas também é problema, pois a média de permanência deles na Coordenação de Hidroelétricas, é de
três anos. Normalmente, depois desse tempo, eles vão
em busca de melhores salários e carreiras bem estruturadas. Trabalhamos com o licenciamento de pequenas
centrais hidrelétricas (PCHs), com enorme potencial
a ser explorado, e de grandes hidrelétricas – hoje são
130 projetos - com apenas 30 analistas, apoiados
pelos núcleos regionais de licenciamento, com cerca
de quatro analistas por estado. Cada processo tem a
sua história, mas não havendo contratempo e má formulação ou equívocos nos documentos, um processo
de licenciamento leva 180 dias úteis para a fase inicial
da licença prévia, mais 75 dias para a fase de licença
de instalação, e a licença de operação dependerá de
quanto tempo o empreendedor levará para construir a
usina e o seu reservatório.
Quando o Ibama entra no processo?
As licitações hoje são feitas com a licença prévia
emitida pelo Ibama para os empreendimentos de sua
competência. No Setor Elétrico, quando os empreendedores iniciam os estudos de viabilidade, eles aproveitam
para fazer junto os estudos de impacto ambiental. Antes
da licitação, a empresa faz o seu registro na Aneel e nos
solicita o termo de referência, que baseará os estudos
de impacto ambiental. Feito isso, orientamos sobre os
dados que queremos e as empresas contratam consultorias
e vão a campo para a execução dos trabalhos de avaliação
de impacto ambiental. E é exatamente nesse ponto que
surgem as primeiras dificuldades, pois em muitos casos não
existem dados anteriores sobre os ambientes a interferir. As
empresas do Sistema Eletrobrás costumam contratar universidades locais para pesquisas de solo, peixes, qualidade
das águas, matas, novas espécies de animais e plantas
que depois viram publicações científicas. Elas geralmente
contratam especialistas nessas áreas e o Ibama se sente
confortável para também fazer as análises posteriores.
Qual a interação do Ibama com as comunidades?
Durante as nossas vistorias técnicas conversamos com
as populações. Depois, temos novos contatos nas audiências públicas. Verificamos quais são suas exigências e
preocupações, se o programa de comunicação social das
empresas está funcionando no trabalho de conscientização
das comunidades, quais as expectativas dos governantes
locais sobre os projetos e as questões controversas. E
verificamos ainda quais as informações que a população
pode dar sobre, por exemplo, cavernas, edificações históricas, locais culturalmente importantes, e ajudar o Ibama
a ter a visão clara da região. Nos grandes projetos, como
as usinas Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, Marabá e
outras, fazemos reuniões públicas de coleta de sugestões para os termos de referência. Depois dos estudos
ambientais prontos ainda fazemos as audiências públicas
para o processo de licenciamento da fase prévia. O Ibama
colhe informações com outros parceiros também, como
a Fundação Palmares, a Funai; o Iphan, e a ANA, que
dispõem de dados relevantes sobre a qualidade da água
dos reservatórios e seus usos múltiplos e fontes poluentes.
Com a Aneel, buscamos informações sobre as mudanças
nos projetos com implicações ambientais.
Em relação aos usos múltiplos
dos reservatórios, como age o Ibama
para licenciar os novos empreendimentos,
e os antigos já em funcionamento?
Os empreendimentos antigos, feitos antes da legislação
ambiental, têm que obter a licença de operação, mesmo já
estando operando há trinta anos. Para essa regularização o
Ibama exige um estudo ambiental, mas mais simplificado que
o EIA – Rima, que trará dados sobre a qualidade da água dos
reservatórios, tipos de usos dessas águas, potencialidades,
cardumes, doenças de veiculação hídrica por proliferação de
macrófitas, e outros. Pois o uso descontrolado dos reservatórios
pode trazer prejuízos para a geração de energia e para a saúde
das populações do entorno dos lagos. Tanto para antigos como
para novos empreendimentos, o nosso objetivo é o de gestão
ambiental, de preservação do meio ambiente e de contribuir
para o desenvolvimento sustentável. Nessa perspectiva tentamos ser imparciais. Os nossos analistas são livres para fazer
os seus pareceres sem pressão de qualquer espécie. Mas
mesmo assim, sofremos críticas de todos os lados: as ONGs e
os ambientalistas nos acusam de ser permissivos e o governo
e o setor privado dizem que somos muito exigentes. Ou seja,
um lado acha que as licenças saem muito rápido, e o outro
lado diz que a licença demora muito para sair. Procuramos
seguir o meio termo, compreendendo que há de se ter os
cuidados ambientais.
Qual a melhor saída?
Existem diversas linhas de trabalho, mas creio que a
saída seria o governo trabalhar com a avaliação ambiental
estratégica. Ou seja, fazer um planejamento estratégico, com
a ampliação da geração de energia hidrelétrica, avaliações
ambientais por bacias hidrográficas, participação intensa
do Ministério do Meio Ambiente, que deve estar presente
já na fase da concepção dos projetos. Não se deve deixar
os projetos no Ibama sem que todas as questões envolvidas
estejam devidamente solucionadas. Se isso não acontece, o
próprio Ibama buscará os institutos como o Chico Mendes,
por exemplo, que trata das unidades de conservação, ou a
Funai, que trata das questões indígenas. Isto dá a impressão
que os problemas estão todos no licenciamento ambiental.
A avaliação ambiental estratégica deve incluir os estudos de
cenários e já resolver essas questões na sua origem. Hoje,
numa tentativa de se fazer o planejamento de bacias, a Aneel
inseriu no Manual de Inventário da Eletrobrás, a Avaliação
Ambiental Integrada de Bacias Hidrográficas, fazendo a
avaliação de todas as bacias do rio e verificando causas e
consequências ambientais. Mas esse tipo de avaliação tem
sido criticada porque é conduzida e elaborada somente pelo
Setor Elétrico. De acordo com essa concepção, todos os outros
usos, navegação, conservação da bacia com trechos de rios
livres para vários fins, abastecimento de água, ficariam num
segundo plano, em relação ao uso preponderante para a
geração de energia. O planejamento deveria ser para a bacia
como um todo e não só do Setor Elétrico.
corrente contínua
corrente contínua
18
hoje a Chesf tem um programa de agricultura no
entorno do lago e outro para outras áreas, mas
ambos estão além dos cem metros, ou seja, fora
da APP do entorno do lago.
“O lago beneficia 15 municípios nos estados
da Bahia e Pernambuco. A vocação do entorno
do lago é a agricultura familiar. Itaparica se tornou
produtiva. Tem grande potencial turístico a ser
desenvolvido pelos municípios limítrofes com o
lago e pelo Rio São Francisco. O Sistema Itaparica
atingiu áreas urbanas, agricultores e ribeirinhos
isolados. Com o enchimento do lago eles perderam áreas que seus antepassados já ocupavam.
Eram pequenas propriedades, de capoeira, com
cultura de aluvião (por gravidade) ou de subsistência, e pequenos criadores de animais. Foi dado
a eles sistemas irrigados, com água captada do
rio ou do lago”, lembra Francisco Lyra
Germana Zaicaner, arquiteta e uma das
consultoras do projeto, esclarece que a ideia
era que quem fosse agricultor continuasse
como agricultor. Foram criadas microcidades
rurais, com núcleos organizados de serviços
e infraestrutura básica: água potável, energia,
saúde, segurança e escolas. “Não se pode
negar a melhora na situação de vida para essas
populações, aumentando o Índice de Desenvolvimento Humano na região. A qualidade do solo
às margens do lago era ruim. Então, localizamos
áreas no entorno, a montante, num total de
mil hectares de terras boas. Mesmo porque as
áreas agricultáveis ao longo do lago não eram
suficientes para assentar as seis mil famílias.
Ainda não há um sistema de tratamento para
os agrotóxicos das plantações, mas eles não
escorrem para a barragem. Há na região um
programa educacional esclarecendo sobre o uso
de agrotóxicos e, em decorrência, os agricultores
já optam pela agricultura orgânica”.
Em Itaparica a agropecuária também vem
crescendo com o aumento dos rebanhos bovino, caprino e ovino. Mas o maior bem que o
lago oferece é a própria água. Fato que se pode
constatar ao visitar áreas do sertão e do agreste.
Onde não há água, encontram-se famílias sem o
que comer. “Não temos no Projeto Itaparica uma
casa que não disponha de queijos e doces a
oferecer a um visitante. O índice de mortalidade
infantil de outros municípios fora do perímetro
irrigado da Chesf, é alarmante. Hoje os inseridos
pelo Projeto Itaparica se sentem fazendo parte
de uma mesma ação, independentemente dos
valores que receberam. Mesmo morando em
municípios ou em estados diferentes, todos
têm um vínculo importante: a hidrelétrica e seu
reservatório”, finaliza Germana Zaicaner.
19
corrente contínua
No dia 10 de abril de 1992, um dos disjuntores
da Subestação Marabá (PA) precisou de manutenção. O técnico em manutenção de linha de
transmissão, Benedito Lakiss (abaixo à esquerda), na época com 34 anos, foi tentar solucionar
o problema e acabou sofrendo queimaduras em
todo o lado direito do corpo, causadas pelo arco
elétrico. “Estávamos fazendo a manutenção no
disjuntor, eu de um lado e um colega de trabalho
do outro. Eu estava apertando os parafusos quando, de repente, o cabo de aterramento soltou e
desceu. Percebi na hora o que iria acontecer, ou
seja, o arco abriria. Tentei virar o máximo para a
esquerda, mas não foi o suficiente.”
A primeira etapa de recuperação durou quatro meses de internação no hospital. “Recebi
20
os primeiros socorros no hospital de Marabá.
Depois, a Eletronorte fretou uma aeronave que
me levou para o Hospital Guadalupe, em Belém,
onde fiquei quatro meses, e me submeti a uma
cirurgia reparadora. Depois fui para Brasília
e durante 27 dias fiz fisioterapia no Hospital
Sarah Kubitschek. Por fim, retornei a Belém e
passei a fazer os exercícios de recuperação em
casa. Demorou um ano para eu me recuperar
totalmente e nesse tempo mantive-me afastado
da Empresa.”
Lakiss, que foi mais uma vítima de acidente
de trabalho, atualmente está com 52 anos.
É empregado da Eletronorte e já trabalhou em
Tucuruí por dez anos. Em 1991 foi transferido
para Belém, onde pretende se aposentar. Casado, é pai de três filhos, dois homens e uma
mulher, todos já formados. Um casal de netos
completa sua felicidade.
Por volta de 1999, outra história semelhante
aconteceu. Dessa vez no Estado do Tocantins.
O especialista em manutenção elétrica, Bartolomeu Cordeiro (abaixo), 41 anos, casado e
Previdência Social - Fatos como esses acontecem diariamente no Brasil, em grau maior ou
menor. É comum abrirmos o jornal do dia e ver
noticiado mais um acidente de trabalho por falha
humana ou por falta de aplicação das normas
de segurança. De acordo com dados do Anuário
Estatístico da Previdência Social, o número de
acidentes de trabalho registrado em 2008 no
Brasil foi de 764.933 contra 681.972 em 2007.
Ou seja, mais de 82 mil novos casos de acidentes de trabalho em todo o País. Se a análise for
feita a partir de dados estatísticos mundiais, a
Organização Internacional do Trabalho – OIT, no
início de 2009, registrou mais dois milhões de
vítimas que morreram de acidentes ou doenças
relacionadas ao trabalho.
Outro ponto interessante a ser observado é
o nível de acidentes ocorridos por setores econômicos e sociais que varia consideravelmente.
De acordo com o diretor do Departamento
de Política Saúde e Segurança Ocupacional
do Ministério da Previdência Social, Remígio
Todeschini, há setores que aparecem nas
primeiras posições do ranking de acidentes.
Por exemplo: a área de comércio e reparação
de veículos, apenas no ano de 2008, obteve
em torno de 99.571 acidentes, que equivalem
a 13.32% do índice total registrado no Brasil.
Em segundo lugar ficou a área de alimentação
e bebida com 69.660 registros, que equivalem
a 9,32% do total nacional. “Atualmente o Governo Federal, por meio da Comissão Tripartite
de Saúde e Segurança no Trabalho, vem redobrando a atenção também entre dois setores
econômicos, a construção civil e transporte
rodoviário de carga. Os dois juntos representam
hoje 28% da mortalidade e invalidez no País”,
afirma Todeschini (foto abaixo).
Ao ser perguntado sobre os perigos e proporções de acidentes no Setor Elétrico, Todeschini
explica que “a proporção de trabalhadores
nesse setor não é grande, comparado a outros
setores econômicos. O Ministério da Previdência Social avalia os setores com maior número
de empregabilidade, nem por
isso a avaliação do Setor Elétrico é diferente. Obviamente
ele tem seus riscos elevados,
devido principalmente à mortalidade e invalidez. O maior
problema das empresas desse
setor é exatamente o choque
elétrico.”
Sendo esse o maior problema das empresas da área
de eletricidade, quais são
os acidentes ocorridos com
maior frequência nos outros
setores? Segundo a Classificação Internacional de Doenças
e Problemas Relacionados
à Saúde – CID, em relação
ao total de registros, perto de 10,8 % dos
acidentes estão relacionados a ferimentos nos
punhos e nas mãos, ou seja, quase 80.949
casos. Ainda com base no CID, em 2008 a
média de trabalhadores que não retornaram ao
trabalho devido à invalidez ou morte chegou a
41 pessoas por dia.
Hoje o custo para a Previdência é substancial.
Quase R$ 56.8 bilhões ao ano são gastos com
os benefícios acidentários e com as aposentadorias especiais, insalubres, penosas e perigosas.
Segundo Todeschini “a Previdência gasta, com
os benefícios e com todos os custos de troca
de funcionário por conta de acidente, assistência médica, treinamento, um valor elevado
que precisa ser reduzido. É um prejuízo para a
sociedade como um todo, representando 1,8%
do PIB nacional”.
Funcoge - A energia elétrica está presente
na vida de trabalhadores de todo o mundo,
sobretudo daqueles do Setor Elétrico. Para manter o funcionamento do sistema, as empresas
corrente contínua
ENERGIA ATIVA
Segurança do trabalho:
a importância da prevenção
na redução de acidentes
com um casal de filhos, sofreu um acidente
na troca de disjuntores. “Eu tinha ido verificar
um painel que estava com pendência de obra,
era necessário trocar um disjuntor em meio a
um emaranhado de fios. Nessa troca eu estava
trabalhando sozinho. Porém, um engenheiro foi
me ajudar, segurando o instrumento até eu medir a tensão no disjuntor para ver se a corrente
estava dando continuidade ou se era defeito
de fábrica. Nesse meio tempo alguém chamou
o engenheiro e, inadvertidamente, ele virou e
bateu na minha mão, que segurava o aparelho
de medição. O aparelho entrou nos barramentos
e fechou um curto circuito.”
O painel pegou fogo e explodiu em cima dos
dois trabalhadores, que sofreram queimaduras.
Imediatamente, a equipe de segurança do trabalho da Eletronorte prestou os primeiros socorros,
encaminhando-os para o hospital da cidade de
Miracema, onde receberam todo o tratamento
possível. “Graças a Deus não foi grave ao ponto
de me deixar sequelas físicas e psicológicas que
me impedissem de trabalhar. Atualmente continuo trabalhando na mesma área e até ajudei a
recuperar o painel,” afirma Bartolomeu, outra
vítima de acidente de trabalho.
21
aperfeiçoamentos dos métodos relacionados à
rotina e processos do Setor Elétrico no Brasil,
a Fundação produz anualmente estatística
sobre os acidentes de trabalho. Segundo Cesar
Vianna (à esquerda), gerente de Segurança e
Saúde da Funcoge, “a Fundação, por meio do
Comitê de Segurança do seu grupo técnico de
estudos de indicadores pró-ativos, desenvolve
esse trabalho e procura a partir dele o bom desempenho de todas as empresas do setor”.
Os dados trazem a descrição e a classificação dos acidentes ocorridos com prestadores
de serviço, empregados e com a
população que tem contato com
as redes elétricas. O relatório com
estatísticas de acidente no Setor
Elétrico aponta, ainda, que a Eletronorte possui taxas de acidentes
com empregados próprios de
1,51% e de empregados contratados de 1,24%, valor considerado
baixo quando comparado a outras
empresas.
Segundo Pedro Martins (ao
lado), presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes –
Cipa, em Brasília, a Eletronorte, por
não ter contato direto com locais considerados
de alto risco, apresenta uma taxa de acidente de
trabalho baixa,. “Os incidentes de maior ocorrência são as quedas, os escorregões, torção no
tornozelo e outras situações que a própria Cipa,
junto à brigada de incêndio, consegue prestar
os primeiros socorros”, diz Martins.
afastamento, reduziu para 4,18%; alcançando
o menor valor em uma década inteira, aproximando da menor taxa de frequência registrada
na série histórica do setor, em 1999 (3,45%). As
taxas de frequência e gravidade apresentaram
os menores valores desde 2004, mas continuam
elevados quando se compara as mesmas taxas
de empregados próprios com as de prestadores
de serviço.
A Funcoge mantém parcerias com 63 empresas públicas e privadas do setor de energia
elétrica, responsáveis por mais de 90% da
eletricidade gerada, transmitida e distribuída
no País. Por ser uma instituição de caráter
técnico e científico que realiza pesquisas e
A ação do Corpo de Bombeiros na segurança do trabalho
corrente contínua
Em entrevista à revista Corrente Contínua, o tenente
Ivonaldo Almeida Guimarães (foto), do Quartel do Comando Geral de Brasília, comenta os esforços que o Corpo de
Bombeiros realiza para atender da melhor forma todos os
pedidos de socorro feitos por empresas e pela população.
22
O Corpo de Bombeiros é requisitado para atender
acidentes de trabalho. Quais são os acidentes
que acontecem com maior frequência?
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal é acionado para atender a emergências de acidentes de trabalho.
Estamos de plantão 24h por dia e atendemos casos como
quedas, acidentados em operações de equipamentos industriais, choques elétricos, esmagamentos, ferimentos com
hemorragia e fraturas.
São registrados grandes números de acidentes em
empresas do Setor Elétrico presentes na cidade?
Já atendemos inúmeras ocorrências de acidentes envolvendo choque elétrico, algumas com vítimas fatais, como o caso
de um funcionário de uma empresa prestadora de serviços
que estava fazendo manutenção na rede de alta tensão. No
entanto, não temos um número específico de ocorrência envolvendo somente vítimas de acidente do trabalho.
Então os acidentes elétricos residenciais
ocorrem com maior frequência?
Como é feito o atendimento a essas vítimas?
Acidentes provocados por choque elétrico são mais
comuns nas residências. Em 2008 tivemos um total de 88
ocorrências com vítimas de choque elétrico. Em 2009 foram
105 ocorrências dessa natureza. O atendimento às vítimas
de choque elétrico é feito por meio do monitoramento dos
sinais vitais do paciente e nos casos mais graves em que se
apresenta a parada cardiorrespiratória, é feita a reanimação
com massagem cardíaca e auxílio do desfibrilador (aparelho
que emite descarga elétrica). Também faz parte do atendi-
mento o tratamento de queimaduras ocasionadas pela
descarga elétrica.
Em relação à Cipa, como o Corpo de Bombeiros
vê o trabalho desenvolvido por essa Comissão?
O Corpo de Bombeiros Militar do DF desenvolve trabalho
intensivo na área de prevenção de acidentes, investindo
em campanhas educativas com a divulgação de vídeos
institucionais e a distribuição de cartazes e folhetos, tendo
sempre em vista o objetivo maior que é a redução do número de acidentes. As Cipas são vistas pelo CBMDF como
aliadas no trabalho de prevenção. As atividades das Cipas
são de extrema importância dentro do ambiente de trabalho,
pois visam à minimização dos acidentes, entre as quais
destaco a orientação do uso correto dos EPIs, adequados
para cada tipo e função, e o treinamento dos empregados
para situações de emergência, como evacuação ordenada
das edificações, em casos de incêndios, e até o combate
ao principio de incêndio, diminuindo a possibilidade de
perda de vidas.
Vocês oferecem treinamentos
ou algum tipo de auxílio às Cipas?
O Corpo de Bombeiros por diversas vezes realizou planos
de emergências, simulados em conjunto com as Cipas.
Nós não oferecemos cursos específicos, mas prestamos
todo o apoio necessário quando solicitado, principalmente
na Semana Interna de Prevenção do Acidente do Trabalho
– Sipat.
Considerando que os serviços das Cipas tenham que
melhorar em algum ponto, qual seria essa mudança?
Em se tratando de prevenção de acidentes temos que
estar sempre atentos. A vigilância incansável é primordial,
o acidente acontece onde a prevenção falha. Para isso é
necessária a busca constante de novos conhecimentos e
tecnologias voltados para a área de prevenção. A modernização dos sistemas de segurança contra incêndio e pânico,
a renovação dos equipamentos de proteção individual
e a intensificação nos treinamentos em segurança do
trabalho resguardam a qualidade de vida do trabalhador
e eleva a qualificação das empresas. Cabe à empresa,
por meio da Cipa, adotar uma rigorosa política de segurança do trabalho, proporcionando uma boa sensação
de segurança no ambiente de trabalho. A saúde dos
empregados é a saúde de uma empresa.
Para os bombeiros, quais os pontos a serem
destacados no atendimento dessas comissões?
Em muitos casos elas conseguem remediar algum
acidente até a chegada do Corpo de Bombeiros?
Devido aos inúmeros tipos e disposição interna das
edificações, principalmente as comercias e industriais,
torna-se difícil para nós, bombeiros, conhecer todas as
características de cada edificação, por isso é essencial
o trabalho das Cipas. Devido ao treinamento simulado,
as ações de emergência são mais rápidas. Quando da
chegada do socorro dos bombeiros ao local, as orientações sobre a ocorrência serão mais precisas e nos
ajudarão no atendimento.
Engenharia de Segurança
do Trabalho - A legislação brasileira considera acidentes de trabalho aqueles que provocam lesão
corporal, perturbação funcional ou
doença que cause a morte, perda
ou redução permanente ou temporária da capacidade de exercer as
funções destinadas. O engenheiro
de segurança do trabalho da Eletronorte de Brasília, Paulo Roberto
Coutinho (ao lado), exemplifica
melhor o que a legislação diz:
“Acidente de trabalho é aquele em
que o trabalhador está efetuando algum serviço
em benefício da empresa, independentemente
do ramo. Qualquer atividade desenvolvida pela
empresa que leve a um incidente será considerada como um acidente de trabalho. Da mesma
forma, e equiparado a ele, encontra-se qualquer acidente de trajeto, seja da sua casa até
corrente contínua
precisam ter o planejamento de manutenção
bem detalhado, com inspeções contínuas em
subestações e linhas de transmissão, além de
investirem em programas de segurança do trabalho. No Setor Elétrico, investir em prevenção
gera resultados, conforme pesquisa realizada
pela Fundação Comitê de Gestão Empresarial
-Funcoge, considerando-se, ainda, os desafios
de segurança do trabalho, que variam de uma
região a outra.
Dados do Relatório de Estatísticas de Acidentes no Setor Elétrico Brasileiro, elaborado
pela Funcoge, em parceria com a Eletrobrás,
referentes a 2008, mostram, por exemplo,
que a taxa de frequência de acidentados com
23
temos a função de melhorar, tendo em foco
a redução de acidentes e dos riscos naquele
ambiente. Fazemos planejamento, verificamos
atividades que os outros exercem, realizamos
estatísticas, mapas de risco, enfim, produtos
que geram um laudo de condições ambientais
e de periculosidade, além da investigação sobre
o acidente ocorrido”.
Cipa - A engenharia e a medicina do trabalho não trabalham apenas na promoção
contra acidentes. Pensando justamente nas
empresas, foram criados programas de implementação obrigatória que visam ao apoio
à prevenção de acidentes do trabalho. Entre
esses programas podemos destacar a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - Cipa,
obrigatória em toda empresa privada ou
pública que possua 20 ou mais empregados
regidos pela CLT.
Originada em 1944, no governo Getúlio
Vargas, a Cipa é o instrumento do qual os trabalhadores dispõem para tratar da prevenção
de acidentes, das condições do ambiente do
trabalho e de todos os aspectos que afetam sua saúde
e segurança. Composta por
representantes do empregador e dos empregados, a
Comissão tem como objetivo
primordial a responsabilidade
com a prevenção da saúde
e da integridade física dos
trabalhadores que integram
uma empresa.
Para favorecer os interesses
dos empregados do Setor Elétrico, o Ministério do Trabalho e
Emprego, por intermédio da Portaria 598/2004,
publicou a nova versão da Norma Regulamentadora 10 – NR-10, que prevê as condições mínimas de segurança em instalações e serviços em
eletricidade. Desde então, a Cipa da Eletronorte
oferece aos ‘cipeiros’ um curso básico de 80
horas, sendo metade complementar e a outra
parte de reciclagem.
São várias as ações que buscam a segurança dos trabalhadores na Eletronorte. “A
Os desafios do Ministério do Trabalho na
verificação da legislação nas empresas
corrente contínua
A função do Ministério do Trabalho e Emprego em relação
à prevenção de acidentes de trabalho é realizar auditorias de
verificação nas empresas. O setor do Ministério que atua nessa
área é o Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, que
verifica o cumprimento da legislação para a prevenção dos acidentes. Quem explica um pouco mais sobre o trabalho realizado
é a secretária de Inspeção do Trabalho, Ruth Vilela (foto).
24
Como funciona o sistema de verificação do cumprimento
da legislação na prevenção de acidentes feito pelo
Ministério do Trabalho e Emprego nas empresas?
O planejamento da fiscalização prioriza as atividades econômicas que apresentam maiores índices de acidentes e de óbitos
no trabalho. Com base no planejamento, são programadas
ações fiscais para verificação do cumprimento das normas
regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho. Quando
é constatada uma situação de descumprimento, o auditor fiscal
do trabalho pode conceder prazo para a regularização ou lavrar
um auto de infração, que inicia o processo de aplicação de uma
sanção. Tudo depende da natureza e gravidade da infração.
Nos casos de grave e iminente risco à saúde e à integridade
física do trabalhador, pode ocorrer a interdição de uma máquina
ou de todo o estabelecimento.
A prevenção de acidentes de trabalho percorreu
um grande caminho tanto na elaboração de leis
quanto no cumprimento delas pelas empresas.
Quais foram as conquistas obtidas nos últimos
anos na área de prevenção de acidentes?
Nos últimos anos intensificou a fiscalização de segurança e saúde no trabalho. Em 2009 foram mais de 150
mil inspeções realizadas. Foram publicados regulamentos
importantes para a prevenção de acidentes e doenças
relacionadas ao trabalho. Destacam-se as normas regulamentadoras 31 – Trabalho Rural e 10 – instalações e serviços
em eletricidade, além dos anexos da NR -17 que tratam das
atividades de tele-atendimento e checkout. A presença da
inspeção nos ambientes de trabalho, aliada à publicação de
novas normas regulamentadoras de segurança e saúde no
trabalho, mudou a realidade da proteção dos trabalhadores
nesses setores.
Como o Ministério vê o trabalho
desenvolvido pelas Cipas? E a Sipat, que
é obrigatória de acordo com a NR - 5?
O trabalho desenvolvido pelas Cipas é de fundamental
importância para a proteção da saúde e da integridade física
dos trabalhadores, pois um sistema de prevenção eficiente
deve aliar uma boa assessoria técnica com o conhecimento
dos trabalhadores. A Sipat é um momento de integração e
de divulgação da importância da prevenção de acidentes
e doenças.
Como o Ministério atua em relação às empresas
ou outro local de trabalho que descumprem
as leis a serem seguidas? Como ficam sabendo
desses descumprimentos legais?
As ações fiscais são previstas no planejamento da inspeção do trabalho a partir de um diagnóstico que se fundamenta, entre outros dados, nas estatísticas de acidentes
do trabalho. Em casos especiais, a ação fiscal decorre de
uma denúncia, quando esta implica risco grave e iminente
Cipa se responsabiliza, de forma educativa por
conscientizar seus empregados. O importante
é valorizar os programas de conscientização da
Empresa, considerando que nossos trabalhadores poderão aplicar os conhecimentos no dia a
dia”, diz Pedro Martins.
No dia 17 de setembro de 2009, a Cipa da
Eletronorte recebeu o certificado de Mérito
Oficial Cipa-DF, durante o XIX Seminário de
Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho
do Distrito Federal, por ser considerada a
melhor Empresa do Setor Público Federal em
segurança do trabalho. “Esse foi o primeiro
certificado que a Cipa-Brasília recebeu. É incentivador para todos aqueles que trabalharam
no desempenho de nossa Comissão receber
um diploma desses” declara Vitor Couto Cavalcanti, especialista em segurança do trabalho
(à esquerda).
Eloy Chaves – Por falar em premiação, para
prestigiar as empresas do Setor Elétrico que
se destacam na prevenção de acidentes de
trabalho em todo o Brasil, foi criado, em 1980,
aos trabalhadores. Quando é verificada uma situação irregular,
o auditor fiscal pode conceder prazo para a correção ou lavrar
um auto de infração, dependendo da natureza e gravidade da
infração. Após o processo legal que garante a ampla defesa
do empregador, pode ser aplicada uma multa, que no caso
das obrigações relacionadas à segurança e saúde no trabalho
varia entre R$ 400,00 e R$ 6.800,00 por infração.
O Sistema Federal de Inspeção do Trabalho
assegura a aplicação que prevê a proteção dos
trabalhadores no exercício da atividade laboral.
Verifica-se que há tabelas estatísticas sobre
acidentes de trabalho que vêm sendo registrados.
Como é desenvolvido esse serviço?
Além das tabelas há outras funções?
A produção de estatísticas sobre acidentes de trabalho é
atribuição do Ministério da Previdência Social. A inspeção do
trabalho responsabiliza-se pela fiscalização do cumprimento
da regulamentação de segurança e saúde no trabalho, com
o objetivo de prevenir acidentes e doenças, e pela análise
dos acidentes graves e fatais ocorridos. O Sistema é uma ferramenta de informática utilizada pela inspeção, que registra
todas as fiscalizações efetuadas, as irregularidades verificadas
e a conduta adotada pelo auditor fiscal do trabalho em cada
caso. O sistema mantém atualizado um cadastro de empresas,
com o seu respectivo histórico, que é utilizado para o diagnóstico que antecede o planejamento da fiscalização, mas
também para prévio conhecimento do auditor fiscal acerca
das condições gerais de trabalho, para melhor planejamento
das inspeções.
corrente contínua
à empresa ou vice e versa, considerando-se,
ainda, o tempo dedicado às refeições. Porém,
é bom que fique clara a questão dos desvios
nesse trajeto. Exemplo: se o empregado saiu da
empresa e passou no mercado antes de ir para
casa, deixa de ser uma situação equiparada a
um acidente de trabalho”.
Tudo que ocorre na área de segurança é
exigido pela Lei n° 6.514 - Portaria 3.214, que
criou as normas regulamentadoras do assunto. De acordo com Paulo Roberto, o Serviço
Especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho - SESMT é regulamentado
pela Norma Regulamentadora 04 e todas as
empresas, a partir de um determinado número
de funcionários, são obrigadas a ter o serviço
especializado de engenharia de segurança e
medicina do trabalho. “A importância disso
é poder trabalhar com prevenção para evitar
acidentes”, pondera.
Paulo Roberto explica como é a rotina de
um engenheiro de segurança do trabalho:
“Contratados para avaliar o ambiente de
trabalho em relação às atividades exercidas,
25
26
o Prêmio Eloy Chaves, concedido às concessionárias que no prazo de um ano registram os
melhores indicadores de acidentes dentro de
um dos grupos. São quatro os grupos, caracterizados pelo número de funcionários e empresas
distribuidoras, geradoras e transmissoras.
A Eletronorte recebeu a medalha Eloy
Chaves em 1982, 1986, 1988 e 1996. Por
ser uma empresa geradora e transmissora de
energia elétrica, tem que zelar pelos empregados próprios, contratados e pela população
que vive próxima aos seus sistemas elétricos.
“Os pontos de destaque considerados como
pré-requisitos na escolha dos ganhadores são
os dados estatísticos de acidentes do trabalho com empregados próprios, combinados
com os dados estatísticos de acidentes do
trabalho com empregados terceirizados, que
constituirão os dados da força de trabalho e
população. São apuradas também as taxas de
frequência e de gravidade de acidentados”,
diz José Simões Neto, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Energia
Elétrica – ABCE, responsável pelo Prêmio Eloy
Chaves (acima).
“O Prêmio Eloy Chaves continua atual e
atraindo a atenção da indústria de energia
elétrica. Há, inclusive, participantes com bom
retrospecto que investem em treinamentos
e aprimoramentos na gestão de segurança
de forma a manter-se na liderança” declara
José Simões Neto. “A preocupação com o
tema extrapola a necessidade de atenção e
resposta a seus quadros internos e passou
a ser fator de reconhecimento externo, até
mesmo de investidores do mercado de capitais”, conclui.
EPI e EPC - Outro ponto importante a ser lembrado, e que favorece as empresas a ganharem
A segurança na Regional de Transmissão do Maranhão é prioridade ‘zero’. Está em primeiro lugar, com o
slogan ‘Bom-dia com Saúde e Segurança’. Com essa
preocupação e com o apoio de toda a equipe gerencial
e técnica, a Divisão de Transmissão de Presidente Dutra
está com mais de 21 anos sem acidentes do trabalho
com afastamento.
Mas tudo isso é fruto de um trabalho árduo de muitos
anos, do comprometimento de cada pessoa, um trabalho
de equipe, pois, conforme o engenheiro Turenne Ribeiro
Júnior, primeiro gerente da Divisão, de agosto de 1984
a maio de 1991, o mérito dessa marca é de todos os
colaboradores. “Creio que devido à responsabilidade
das atividades, eles se conscientizaram, obedeceram as
determinações da Empresa e com isto nós nos tornamos
uma família, onde todas as situações de trabalho e externas são do conhecimento de todos, pois compartilhamos
as dificuldades e as alegrias”, relata.
Para o engenheiro Luiz Adriel Vieira Neto, seu sucessor, de maio de 1991 a agosto de 2003, “continuamos
focados na segurança da nossa força de trabalho, pois
trabalhamos uma política de segurança, mostrando
para os colaboradores que, na sua residência, está sua
esposa e seus filhos, de braços abertos aguardando o
seu retorno. Muitas vezes fomos obrigados a ser duros,
intransigentes, mas na certeza de que estávamos fazendo a coisa certa e que os próprios colaboradores seriam
os grandes beneficiados”.
Hoje o sentimento de gratificação e orgulho contagia
a todos que trabalharam por esse mérito. Luiz Adriel
declara essa satisfação: “Desses 21 anos sem acidentes,
estivemos à frente daquela equipe por 12 anos consecutivos, onde deixamos muitos amigos e ficamos ainda
mais felizes, por saber que aquela equipe continua com
essa qualidade na segurança, prezando acima de tudo
pelas suas famílias, suas vidas e honrando o nome de
nossa Empresa que tanto se preocupa com a segurança
de seu corpo funcional. Parabéns aos colaboradores,
encarregados e gerentes que ao longo desse período lutaram e continuam lutando pela segurança de todos’’.
Segundo o atual gerente da Divisão, o engenheiro José
Roberto Salomão Monteiro, “o resultado não poderia
ser outro. É um privilégio trabalhar em uma Empresa
onde o esforço de cada um proporciona o bom relacionamento entre os colaboradores, o companheirismo e
Turenne
a consciência daquilo que fazemos. Em nossas reuniões
digo sempre que um acidente de trabalho, principalmente
os mais graves, é um acontecimento muito triste e sério,
e todos saem perdendo. Só nós mesmos somos capazes
de evitar um acidente. Devemos pensar sempre nisso na
execução do nosso trabalho”.
Pioneirismo - A Regional de Transmissão do Maranhão
também é pioneira na elaboração do prontuário e filme
sobre segurança. O prontuário da Subestação São Luís I foi
elaborado em agosto de 2007. É um documento exigido pela
Salomão
Adriel
Delegacia Regional do Trabalho para o cumprimento da NR-10,
um manual onde estão as informações, em pastas distintas ou
meios magnéticos, sobre o gerenciamento das ações em sistema
elétrico de potência maior que 75 kV, objetivando a implementação de um processo preventivo e constantemente atualizado,
garantindo a saúde e a segurança dos trabalhadores que, direta
ou indiretamente, interajam em instalações elétricas e serviços
com eletricidade.Hoje, esse prontuário é modelo para todas as
regionais e já serviu também de referência para os Correios e
a Telemar, em São Luís.
Quanto ao filme, nasceu da necessidade de mostrar ao público interno e externo os cuidados
com a segurança nas instalações
da Eletronorte, que também se
tornou referência na Empresa.
Outro fator importante na Regional é o pilar de segurança da
metodologia TPM que, a partir
de 2009, está com uma nova
ferramenta de suporte, ou seja, o
programa Sistema de Prevenção
de Acidentes - SPA, o ‘Cipeiro’,
que qualquer empregado pode
acessar via intranet e fazer o registro de problemas ergonômicos,
atos e condições inseguras, gerando um banco de dados onde
estão registrados os riscos mais
frequentes nas plantas, por sazonalidade, e o seu grau de risco,
dando suporte aos técnicos para
melhor elaboração das análises
preliminares de riscos.
corrente contínua
corrente contínua
Segurança
no Maranhão
é referência
27
28
pontos de destaque, é o uso de Equipamentos
de Proteção Individual (EPI) e Coletivo (EPC),
objetos de segurança que os empregadores devem incentivar e ensinar o uso correto, garantindo a integridade física das equipes de trabalho.
Esses equipamentos de proteção requerem alto
grau de confiabilidade para evitar a exposição
do usuário a sérios riscos.
Os dois personagens que abrem esta matéria,
Benedito Lakiss e Bartolomeu Cordeiro, relatam
que no dia em que ocorreram os acidentes,
ambos estavam usando equipamentos de segurança. “Mesmo usando a roupa apropriada
para esse tipo de trabalho a temperatura foi
forte, algo em torno de mil graus. Sem a roupa
eu teria morrido”, declara Lakiss. “No
dia do meu acidente eu estava usando
equipamentos, porém a adequação
correta do local veio depois. Foram
afixadas chapas de policarbonato
nos quadros, para evitar acidentes
futuros”, explica Bartolomeu.
A Eletronorte conta com o Centro
de Tecnologia instalado em Belém,
denominado na sua fundação, em
1983, de Laboratório Central. Com
mais de 20 anos de experiência no
mercado, atua na prestação de serviços, projetos de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico para todo o território nacional e,
principalmente, na Amazônia Legal. Além de
serviços e recursos tecnológicos na área da
energia elétrica, como calibração de grandezas
elétricas e mecânicas, ensaios químicos, elétricos especiais, mecânicos em máquinas de
geração de energia elétrica e equipamentos de
sistema de potência, manutenção de instrumentação eletroeletrônica e elaboração e execução
de projetos de pesquisa e desenvolvimento, o
Lacen, como é conhecido, possui acreditação
junto ao Inmetro para os laboratórios de ensaios
em equipamento de proteção individual como
calçados isolantes, luvas de borracha, capacetes, vestimentas condutivas e outros materiais
utilizados pelos empregados.
“Realizamos ensaios para avaliações de
conformidades dos EPI e EPC nas fases de
análise de aquisição, de recebimento, periódica (estoque), retirada do estoque para
uso e periódica de equipamento em uso”,
explica Osvaldo Duarte (ao lado), técnico em
manutenção elétrica do processo de ensaio
em equipamentos de segurança do Centro
de Tecnologia da Eletronorte. Os empregados
devem estar cientes que esses equipamentos
serão utilizados apenas para as finalidades a
que se destinam. Cabe-lhes, ainda, a responsabilidade pelo acondicionamento e conservação de todo esse material. Os empregadores,
por sua vez, devem exigir o uso correto dos
equipamentos, orientando o empregado sobre
a manutenção.
Colaborou Camila Marques
César Fechine
É pelas águas dos grandes rios que são
transportadas pessoas, produtos e riquezas
provenientes da região amazônica. Mas a infraestrutura logística ainda é considerada precária.
Para mudar essa realidade, várias ações estão
sendo estudadas e coordenadas pelo Governo
Federal e por instituições públicas e privadas
como a Eletronorte, Vale, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit
e Confederação Nacional das Indústrias – CNI.
Desde os tempos mais remotos, o homem
utiliza-se do conceito de logística na definição
das estratégias de guerra e no armazenamento
e transporte dos grãos e outros produtos. Os
primeiros estudos formais começaram nos anos
1940, com a Segunda Guerra Mundial, e se
difundiram nas universidades e empresas nos
anos 1970, buscando a maximização de lucros
e a integração das áreas de produção.
No Brasil, somente no começo dos anos 1990
é que os especialistas acordaram para a necessidade de aprofundar esses estudos. “Enquanto lá
fora o pensamento era diminuir os estoques, aqui
no Brasil nós tínhamos uma inflação muito alta,
a indexação econômica, e a lógica era contrária,
de formação de estoques, porque se ganhava
com isso, com a remarcação de preços”, explica
Nelson Antônio do Amaral Santos (abaixo), gerente de Planejamento de Suprimento
da Eletronorte.
O resultado é que o País tem hoje
um gargalo muito grande na área logística. Na Argentina, um navio fica no
porto durante três dias para fazer a carga e descarga de produtos agrícolas,
por exemplo. Nos Estados Unidos, esse
prazo é de apenas um dia e meio. “No
Brasil, nós levamos cinco ou seis dias.
E esse custo é embutido no preço do
nosso produto”, exemplifica Nelson.
corrente contínua
CORRENTE ALTERNADA
corrente contínua
Laboratório
da Eletronorte
é um dos mais
preparados
do País nos
testes em
EPIs e EPCs
Logística para
o desenvolvimento
da Amazônia
29
Eclusas - Neste ano, a Eletronorte concluirá
um projeto fundamental para incrementar a
logística na Região Norte. As eclusas de Tucuruí
possibilitarão a navegação num trecho de dois
mil quilômetros desde Barra do Garça (MT) até
Barcarena (PA), constituindo-se num modal de
transporte de baixo custo, com custos financeiros e ambientais muito competitivos.
Para exemplificar: com um litro de combustível é possível transportar uma carga de uma
tonelada por 25 km na via rodoviária e por 85
km na via ferroviária. Já na via hidroviária, um
litro de combustível transporta uma tonelada por
218 km. “Um único comboio hidroviário poderá
As eclusas (acima) de Tucuruí são uma das
maiores obras do eixo de logística do Programa
de Aceleração do Crescimento – PAC, com investimentos de R$ 965 milhões, e garantem a
criação de 3,5 mil postos de trabalho. As obras
devem ser concluídas em junho de 2010.
“A conclusão das eclusas vai permitir a movimentação de cem milhões de toneladas de carga
ao ano”, declara o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot (à direita). Os números do
Dnit mostram que a eclusa I está com
93% das obras concluídas, o canal
intermediário com 91% e a eclusa II
com 82%. Já foram adquiridos 75%
dos equipamentos eletromecânicos,
como bombas e portas de ferro, que
são responsáveis pelo sistema de enchimento e esvaziamento das câmaras
das eclusas.
O balanço do PAC apresenta ainda o
esforço do governo para garantir a conclusão da pavimentação e duplicação de 1.634
km de rodovias e a contratação de manutenção
para mais de 53 mil km, além da construção de
39 terminais fluviais no Norte do País, com 21
em obras, 15 em fase de licitação e três concluídos. O Dnit possui outros 579 contratos que
abrangem, além de rodovias e hidrovias, obras
de ferrovias e contornos ferroviários.
Impulsionada também pelas descobertas de
petróleo no pré-sal, a indústria naval garante sua
revitalização, com quase 200 embarcações contratadas e outras 90 em construção, incluindo
Foto: Antônio Pugás/Dnit
comumente difundido tem a logística como uma
ferramenta de integração que gerencia toda a
cadeia de suprimentos, com o objetivo principal
de apoiar as decisões estratégicas empresariais,
atendendo às necessidades dos consumidores
internos e externos de forma eficiente.
No âmbito interno, a Eletronorte possui
54 centros de recebimento, distribuição e armazenagem de material na Sede e unidades
regionais. A Empresa tem mais de 37 mil itens
em estoque e a lista técnica de todos os sobressalentes dos disjuntores de 500 kV do Sistema
Norte-Sul. Os investimentos nas três contas de
estoque (custeio, investimento e combustível)
somam cerca de R$ 97 milhões. “Cerca de 80%
passar pelas eclusas com até 22 mil toneladas,
equivalentes a 785 carretas”, informa o engenheiro mecânico Edgar Cavalcante, que integra
a equipe da Gerência de Coordenação da Obra
das Eclusas de Tucuruí (ao lado).
As eclusas vão permitir
que os comboios superem o
desnível de 69m entre o lago
de Tucuruí e o Rio Tocantins, a
jusante. Cada eclusa terá 210m
de extensão, por 33m de largura. Localizada na barragem, a
eclusa I será ligada por um canal de navegação, contido por
um dique de seis quilômetros,
à eclusa II, que estará ligada ao
Rio Tocantins, às margens da
cidade de Tucuruí.
A transposição será feita nos dois sentidos.
Vindo no sentido do Tocantins, o comboio
entrará na eclusa II e será elevado da cota 5m
do rio até a cota 38m. Passará pelo canal de
navegação e entrará na eclusa I, que receberá
mais de 230 mil m³ de água. O
comboio será elevado então da
cota 38m até a cota de 74m do
reservatório. “Todo o processo
vai durar aproximadamente
uma hora e meia”, acrescenta
Yuri Mestnik (ao lado), também
integrante da equipe de Coordenação da Obra das Eclusas
de Tucuruí.
corrente contínua
corrente contínua
30
Transporte
Hoje, a logística empresarial envolve o
fluvial é
conjunto
de atividades de aquisição, armazevital na
Amazônia namento, transporte e distribuição. O conceito
de todo o nosso estoque é de sobressalentes,
que são materiais para atender à engenharia
de manutenção e que representam garantia
operacional para a Empresa”, informa Nelson.
Se ainda são necessários investimentos em
logística e transportes, na transmissão de energia
elétrica nós podemos ser considerados campeões. Mas isso é considerado logística? “Claro que
sim”, diz Nelson. Há uma demanda por carga
numa determinada cidade ou região que precisa
ser atendida. Há a produção de energia elétrica
de uma fonte geradora, seja térmica ou hidrelétrica, que geralmente está distante do centro de
carga. E há a necessidade de transportar essa
energia. “O Brasil hoje é campeão em levar, por
exemplo, a energia produzida no Norte para o
Centro-Sul do País. Nisso, nossa engenharia é
bastante eficiente”, acrescenta.
31
Foto: Agência Vale
Foto: Agência Vale
corrente contínua
a conclusão de implantação de dois grandes
estaleiros no Sul e no Nordeste.
Outro projeto importante é o da hidrovia Teles
Pires–Tapajós, com investimentos estimados em
R$ 2,5 bilhões. As obras permitirão aumentar a
navegação em 1.200 km e a movimentação de
grãos, atualmente de mais ou menos 400 mil
toneladas a cada safra. As eclusas de Estreito e
Lajeado também ajudarão a diminuir o chamado
‘custo Brasil’.
32
Siderurgia - As obras das eclusas de Tucuruí, retomadas em
2007 a partir de um convênio
firmado com o Dnit, viabilizaram
a criação da Siderúrgica Aços
Laminados do Pará – Alpa, em
Marabá (PA), cujo projeto tem
sido apresentado pela Vale em
audiências públicas e que se
encontra em fase de conclusão do
licenciamento ambiental.
O município de Marabá foi
escolhido devido à proximidade
com a província mineral de Carajás, ao sistema logístico rodoviário, ferroviário e fluvial em
condições de receber matéria-prima e escoar
a produção, além da vocação natural da região
para a atividade de siderurgia. “A Aços Lami-
nados do Pará será âncora de um novo polo
de desenvolvimento do setor metal-mecânico.
Haverá um potencial enorme de novos negócios,
não só diretamente, na fase de implantação,
mas também de toda a movimentação da cadeia
produtiva de Marabá e cidades vizinhas”, afirma
José Carlos Gomes Soares, diretor-presidente da
Alpa (à esquerda).
Até 2013, os investimentos previstos
chegam a R$5,2 bilhões e a siderúrgica vai
produzir 2,5 milhões de toneladas anuais de
aço na forma de placas e bobinas a quente,
utilizadas na indústria naval, na construção civil
e na fabricação de carros, geladeiras, botijões
de gás e vários outros produtos industriais. Há
a possibilidade de expandir a produção para
cinco milhões de toneladas ao ano, sendo que
...ou 54 carretas por
uma única barcaça
as principais matérias-primas para produção
serão o minério de ferro 100% nacional (de
Carajás) e o carvão mineral e calcário do mercado internacional.
O carvão mineral e o calcário a serem utilizados no empreendimento chegarão no Porto
de Barcarena (PA), via Oceano Atlântico. De
lá, os minerais irão de balsa até Marabá. Após
a fabricação, parte do aço ficará no próprio
município servindo de insumo para uma série
de projetos de verticalização, como fabricação
de tubos, vergalhões, embalagens metálicas
diversas e barcaças, e a outra parte retornará,
pelo mesmo eixo, para exportação.
Para a implantação da Alpa se tornar realidade, além da conclusão das eclusas de
Tucuruí, que tornarão a hidrovia do Tocantins
a alternativa logística confiável e competitiva, os
governos federal e estadual farão a realocação
da rodovia BR-230 e a expansão do terminal
portuário de Vila do Conde. Na esfera estadual,
está sendo criado o Distrito Industrial de Marabá
e a construção de uma alça viária. Outras ações
da Vale na viabilização da Alpa são a construção
de acesso ferroviário para receber o minério de
ferro de Carajás e a construção de um terminal
fluvial no Rio Tocantins.
A política adotada pela Vale para a contratação de pessoal dará preferência aos moradores
da região e do estado. Parcerias já estão sendo
feitas com instituições como o Senai e o Sine,
para qualificar os moradores residentes na área
de influência do projeto.
Outro importante projeto que se beneficiará
dos recursos logísticos da região é a Usina Siderúrgica do Pará – Usipar, localizada em uma
área de 11 milhões de m², no município de
Barcarena. Com esse projeto, o Grupo Cosipar
concretiza a verticalização da cadeia produtiva
do minério de ferro no Pará.
Atualmente, a empresa produz ferro-gusa a
partir de coque metalúrgico e opera com dois
altos fornos com capacidade nominal de 500
mil toneladas do produto. Numa segunda etapa,
vai produzir placas de aço, fazendo o beneficiamento na própria planta. A previsão é que a
corrente contínua
Siderurgia vai
trocar 15 vagões...
33
corrente contínua
Navegabilidade - No dia 4 de fevereiro de
2010, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, obteve junto ao Governo Federal recursos
de R$ 520 milhões para o deslocamento das
rochas que impedem a navegabilidade do Rio
Tocantins, sobretudo na região dos Pedrais,
próxima a Marabá. O trabalho, com duração
de 13 meses, será realizado num trecho de 43
km de extensão, compreendido entre a Ilha do
Bogea e o município de Itupiranga.
Com a retirada das pedras e a conclusão
das eclusas de Tucuruí, a Hidrovia AraguaiaTocantins poderá operar com embarcações
de grande calado. A hidrovia será importante
alternativa ao escoamento da produção e de
insumos, interligando o Centro-Oeste brasileiro
34
ao sul do Pará e ao Porto de Vila do Conde, no
município de Barcarena, região metropolitana
de Belém.
A hidrovia estará operacionalmente atrelada
à construção da Plataforma Logística Intermodal
de Transporte de Marabá pelo governo estadual,
que proporcionará a conexão dos transportes
aquaviário e ferroviário, este por meio da Estrada de Ferro Carajás, e rodoviário, pela rodovia
BR-230.
Integrará também a hidrovia o futuro porto
público a ser construído no município de Marabá, que já tem assegurado pelo Ministério
dos Transportes recursos da ordem de R$ 80
milhões. O porto ficará à margem esquerda do
Rio Tocantins, na altura do km 14 da BR-230,
região do parque industrial da cidade.
Estudos - A Ação Pró-Amazônia, grupo que
integra a Confederação Nacional da Indústria –
CNI, composto pelas federações de Indústrias
dos nove estados da Amazônia Legal, é uma
instituição focada na integração e no desen-
volvimento socioeconômico da Amazônia e
encomendou um estudo estratégico sobre a
logística da região.
Os primeiros resultados começaram a ser
divulgados durante um evento realizado na
Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), em Porto Velho, no último dia 4
de fevereiro, para a entrega de propostas de
investimentos em infraestrutura logística ao
Ministério dos Transportes.
O presidente do Sistema Fiero, Denis Roberto Baú (à direita), explica que se trata de um
levantamento minucioso de todos os pontos de
infraestrutura existentes na região amazônica
– estradas, portos, trens e hidrovias – e dos
investimentos que precisam ser feitos para a
integração logística. “Será feita a análise do que
já está pronto, do que precisa ser feito para ligar
determinada região à outra, o que cada uma
produz e qual o melhor meio de escoar essa
produção”, diz Denis.
Entre as propostas já apresentadas podem
ser citadas a restauração de rodovias, a conclu-
são de obras de pavimentação, a construção de
pontes e ferrovias e das eclusas nas hidrelétricas do Madeira, que tornarão navegável 4,2 mil
km a montante de Porto Velho até os Andes.
“O investimento na logística
transforma o ciclo vicioso num
ciclo virtuoso”, opina Denis.
“Há grande potencialidade
de produção ao longo dos rios,
como minério de ferro, grãos,
produtos agropecuários e outros, o que representa a geração
de emprego e progresso. Eu sou
um apologista das hidrovias”,
diz Edgar Cavalcante.
Como se vê, os projetos
em andamento buscam superar os obstáculos do setor
logístico e possibilitarão aumentar a eficiência
produtiva em regiões consolidadas, além de
promoverem o desenvolvimento em áreas mais
necessitadas e, consequentemente, reduzir as
desigualdades regionais.
corrente contínua
produção comece em 2012 com capacidade de
dois milhões de toneladas de aço. O Complexo
vai contar, ainda, com unidade de logística e de
serviços portuários e um centro de produção de
perfilados e pré-pintados para uso na construção civil e de beneficiamento de metal.
35
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Procel Educacional:
um banho de economia
contra o desperdício
de energia
O Borrachinha,
36
O número é 11,12 quilowatts.hora. Para uma
empresa como a Eletronorte, e pensando em
geração e transmissão de energia, é um valor irrisório. Porém, se for comparar com a economia de
energia alcançada pela Empresa na Região Norte
por conta do Procel Educacional - quando a meta
nacional é de 6,99 kWh - é um número mais do
que extraordinário. O resultado, obtido por meio
do convênio realizado entre a Eletronorte e mais
de mil escolas, beneficiou não apenas alunos e
professores, mas seus familiares e todo o município atendido. Com um investimento total de R$
903,5 mil em sete estados, o Procel possibilitou a
redução do desperdício de 692,50 MWh, o que
seria suficiente para atender 384 residências com
o consumo mensal de 150 kWh durante um ano,
ou ainda, 4.617 casas por um mês.
Nacionalmente, o Procel Educacional tem
mais de 20 anos de história, sendo coordenado
pela Eletrobrás. De 1995 a 2006, participaram
do Programa cerca de 21 mil escolas, 137 mil
professores e 18 milhões de alunos, evitando-se
o consumo perdulário da ordem de 2,7 bilhões
de kWh, o equivalente ao consumo médio anual
de 1,10 mil residências brasileiras. A entrada da
Eletronorte no Programa deu-se com a identificação de demandas de eficiência energética ao
mesmo tempo em que a Empresa já enxergava a
necessidade de uma aproximação com a sociedade. Quem explica é Jussara Nogueira Trajano,
gerente dos Programas e Projetos de Eficiência
Energética da Eletronorte e coordenadora do
Procel Educacional: “Foi criado o Programa
Eletronorte de Eficiência Energética – PEEE para
desenvolvermos essas ações, tanto de projetos
de eficiência, quanto de programas educacionais
para uso nacional de energia elétrica. Em julho
de 2005 começamos a trabalhar em parceria
com a Eletrobrás com recursos do Procel nos
programas de educação na Empresa”.
De acordo com Jussara, o PEEE está ancorado
na necessidade de combater o desperdício de
energia elétrica e na promoção de ações que
propiciam a melhoria da imagem da Eletronorte,
consolidando a marca do Sistema Eletrobrás na
necessidade de postergar a construção de novos
empreendimentos de geração e transmissão de
energia elétrica, no combate à exclusão elétrica no
País e na redução dos impactos ambientais causados pelo processo de gerar e transmitir energia.
“Nosso principal desafio é estimular a mudança de comportamento e a aquisição de novos
hábitos para a formação de uma cultura de
combate ao desperdício”, recorda. Com a filoso- mascote do
Programa,
fia de estimular a mudança de comportamento anima alunos
e a aquisição de novos hábitos, desde 2005 o
Procel Educacional foi implantado em 1.035
instituições de ensino, tendo capacitado ao longo
desses anos 6.457 professores, o que resultou
em economia acumulada de 537,44 MWh.
Meire, Marina
e Jussara:
consolidando
a marca
Procel
corrente contínua
corrente contínua
Bruna Maria Netto
37
38
instituições”, lembra Jussara. O Programa conta
ainda com capacitadores em cada unidade
descentralizada da Eletronorte, além da Sede,
em Brasília. Meire Fátima Siqueira é um desses
agentes e há quatro anos vem trabalhando com
capacitação de mestres e diretores das escolas.
Meire explica que o Programa é desenvolvido
após a articulação com as secretarias estaduais
e municipais de educação, quando são indica-
No último dia 26 de novembro de 2009, a Eletronorte
recebeu o Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional
de Energia 2009 na categoria Empresa do setor energético,
premiação concedida por conta do Programa Eletronorte
de Eficiência Energética Educacional nas Escolas Públicas
– Procel Educacional.
De acordo com Jussara Trajano, “a Eletronorte aparece
na mídia de maneira muito positiva. Há ainda depoimentos
de professores e pais de alunos sobre a economia na conta
de luz, visita de revitalização, pesquisa de satisfação, tudo
incluso no projeto”. Jussara lembra que esse Prêmio foi
ganho pela primeira vez. “Devemos nossa vitória ao amadurecimento dos processos, inclusive fazendo pesquisas
de satisfação do cliente. Quando se chega nesse ponto é
porque já estamos com o objetivo de implantar melhorias.
Nessa pesquisa tivemos uma média extremamente boa, de
4,16 (as notas variavam de 1 a 5)”.
das as escolas de acordo com os critérios estabelecidos pela Eletronorte. Jussara acrescenta
que as prefeituras nunca deram uma resposta
negativa, já que irão pagar menos na conta de
luz desses colégios.
Entre os critérios estabelecidos, figura o de a
cidade escolhida estar localizada em uma área
onde haja algum empreendimento da Eletronorte. “Apesar de não ser uma obrigação, nossa
prioridade são os municípios onde a Eletronorte
está, seja com usinas, linhas de transmissão,
subestações ou escritórios, pois os moradores
conhecem pouco a Empresa”, ressalta. Segundo
A pesquisa foi aplicada em cinco estados: Mato Grosso,
Maranhão, Tocantins, Pará e Amapá. Os entrevistados foram
os professores e diretores das escolas que trabalham com o
Procel Educacional. Jussara relembra : “Tivemos a resposta de
513 questionários devolvidos. Ficamos muito satisfeitos com
o resultado, pois as perguntas feitas na pesquisa englobaram
diversos temas, como a ocorrência de mudança de comportamento, a contribuição do multiplicador, a aproximação da
escola com a comunidade, a pertinência dos seminários como
ferramenta capazes de despertar o interesse e o comprometimento das pessoas, o domínio e a didática dos instrutores e dos
coordenadores, entre outros. O que ficou abaixo da média foi a
pergunta acerca da carga horária, pois eles sempre pleiteiam
mais encontros com os responsáveis pelo Programa”.
Além das 1.035 instituições de ensino atendidas pelo Procel,
mais 300 escolas participarão de uma nova etapa do Programa,
que deverá começar ainda no primeiro semestre de 2010.
Jussara, a escola deve ser urbana, ter considerável consumo de energia e muitos alunos
matriculados. “É um perfil que atende ao nosso
programa porque tem mais possibilidade de economia, e por isso preterimos as escolas rurais,
que por vezes têm apenas uma lâmpada para
iluminar e nem sequer possuem equipamentos
eletrônicos, ou seja, não tem como economizar
de uma forma que uma escola urbana poderia.
Além disso, elas funcionam geralmente durante
o dia, tendo uma ou duas turmas à noite”, acrescenta a gerente da Eletronorte e coordenadora
do Procel Educacional.
corrente contínua
corrente contínua
Equipes de
professores,
os melhores
disseminadores
do Procel
Educacional
Como funciona - O Procel é realizado a partir
do Acordo de Cooperação Técnica assinado
entre a Eletronorte e as secretarias de educação
dos municípios. Desde o início do Programa,
foram atendidas escolas nos estados do Acre,
Pará, Maranhão, Mato Grosso, Tocantins,
Amapá e Rondônia: “Começamos com 500
escolas no primeiro convênio, depois fizemos
outro convênio e trabalhamos com mais 535
Eletronorte é contemplada com o Prêmio Nacional
de Conservação e Uso Racional de Energia 2009
39
Comprometimento nas atividades ludo- pedagógicas
multipliquem a mensagem na escola, façam palestras não apenas aos demais professores, mas
também aos outros profissionais como vigilantes,
merendeiras, responsáveis pela biblioteca e pelo
laboratório da escola, por exemplo, porque eles
também contribuem”, lembra Jussara.
Em seguida, os docentes participam de
um curso de capacitação com os instrutores
da Eletronorte, que tem duração de dois dias,
totalizando 16 horas. O primeiro dia é usado
para a sensibilização, com informações sobre
o panorama energético brasileiro, enquanto o
segundo é destinado à metodologia do Programa, com os princípios fundamentais, o material
didático, as possibilidades de aplicação e oficinas
práticas. Os primeiros desafios a serem enfrentados, segundo Jussara, são sobre a Eletronorte:
“Mostramos todas as ações que realizamos com
a sociedade, os projetos ambientais de reparação
corrente contínua
A turminha está sempre interessada
40
e de compensação, os impostos e royalties que a
Eletronorte paga. A comunidade fica conhecendo a Empresa, o que é extremamente importante
para sua imagem. Hoje temos consciência de
que ajudamos a melhorar bastante a imagem
da Eletronorte junto àquela sociedade que não
nos conhecia”.
Em cada escola são escolhidos 36 alunos
de faixas etárias aleatórias, sendo divididos
em grupos de seis de uma mesma classe para
acompanhamento das contas de luz. “Com essa
amostragem, analisamos o reflexo da escola em
uma sala com 40 alunos, e por ali avaliamos
a repercussão do trabalho desenvolvido pelos
educadores afirma Jussara. O programa educacional da Eletronorte abrange desde alunos
da educação infantil até o ensino médio. “É
muito raro que esses alunos tenham qualquer
consciência de boa utilização da energia elétrica, por isso o Procel Educação é importante”,
completa.
Para o ensino, o Procel Educacional tem uma
metodologia própria que é definida como ‘a
natureza da paisagem’, usando como canal de
comunicação a educação ambiental. Porém, não
é apenas isso: “O nosso trabalho tem também a
nossa configuração, não sendo o mesmo trabalho
da Eletrobrás. Temos curso e apostila próprios.
Apenas a metodologia usada pelo professor na
sala de aula segue o padrão nacional do Procel”,
destaca Jussara, que ainda explica ser essa metodologia aprovada pelo Ministério da Educação
e estar inserida nos parâmetros curriculares nacionais como um tema transversal, já que energia
está vinculada com o meio ambiente.
Professores e alunos capacitados
corrente contínua
Professores e alunos - Após a articulação
com a prefeitura, o Procel Educacional se inicia
em quatro etapas: capacitação dos professores
e supervisores de ensino da rede estadual e
municipal; seminário de apresentação dos trabalhos; atividade ludopedagógica, em que são
revisados os conceitos e formas de economizar
energia; e, finalizando, um segundo seminário
de apresentação das escolas, quando as instituições têm a oportunidade de apresentarem
seus resultados.
“A capacitação dos coordenadores é essencial, pois eles são os maiores facilitadores da instituição. Sem que o diretor queira, nada acontece
na escola. Por isso precisamos sensibilizá-los
com palestras específicas”, conta Meire. “Durante a palestra traçamos o perfil ideal do professor
para o Programa e procuramos aqueles mais
motivados. Depois da capacitação, pedimos que
A escola convida a comunidade a participar
41
corrente contínua
Já as atividades ludopedagógicas acontecem em
grandes ginásios e contam com 50 alunos de cada
escola. “Nesse momento fazemos uma enorme
gincana e testamos o conhecimento e o comprometimento deles com o programa, o que conseguiram
assimilar de conceito. Aplicamos essas atividades
para as diferentes faixas etárias. E eles ganham um
troféu. A luta deles é pelo troféu, que fica na sala da
diretora. Eles ostentam aquilo com muito orgulho”,
afirma Jussara, que faz uma ressalva: “Apesar de
ser uma brincadeira, a festa é organizada e séria,
porque tem o foco na economia de energia e na
preservação dos recursos naturais”.
42
Nessas atividades acontecem diversas ações,
como teatro, concursos de poesia e dança,
panfletagem, produção de redações, paródias
e caminhada pelas ruas do bairro. “Eu me
comovo com a atividade, pois não são raros os
depoimentos de crianças que nunca tinham
ido a um evento assim, e essas festas acabam
por ser um incentivo ainda maior na economia
de energia. A criança é um multiplicador em
potencial, inclusive melhor que o adulto, que já
tem toda aquela formação e cultura adquiridas,
enquanto a criança e o adolescente estão na fase
de formação, ainda recebem e incorporam muita
Professores recebem como prêmio viagens a outras unidades da Eletronorte...
...com a entrega de
material didático e
orientação às diretoras
informação. Por isso é comum você observar
uma criança corrigindo um adulto com relação
ao trânsito ou coisas do gênero, o mesmo ocorre
em relação aos cuidados com a luz acesa sem
necessidade, com a porta aberta ou com o ar
condicionado ligado”.
Resultados incríveis - Os projetos individuais
das escolas e as inúmeras iniciativas documentadas mostram resultados incontestáveis.
O Procel ultrapassa os muros das escolas e
invade as ruas motivando as comunidades para
a conservação de energia, com caminhadas,
...como essa, à Usina Hidrelétrica Tucuruí
gincanas e outras atividades. Por conta disso,
o Procel nas Escolas superou as expectativas,
pelo empenho dos coordenadores, professores,
diretores e até secretários de educação, que
com seriedade e comprometimento conduzem
as etapas previstas em busca do melhor resultado, como explica Jussara: “Os resultados estão
muito acima do esperado. Hoje a meta nacional
é de 6,99 kWh, e a nossa ficou muito superior
a isso, com 11,12 kWh. Isso é consequência
de trabalho, e percebe-se que está surtindo um
efeito imenso. Acompanhamos 4.607 alunos,
um a um, um pontinho de luz mesmo, inserindo
corrente contínua
O estímulo começa
antes da sala
de aula....
43
44
Monitoramento e premiação - As escolas são
acompanhadas nas medições de consumo de
energia, quando se observa o quanto está sendo
economizado. Caso o programa não esteja dando
os resultados esperados, há reuniões para discutir novas estratégias de trabalho. “Após o término
do acompanhamento é feita a manutenção e,
uma vez por ano, visitamos cada uma dessas
escolas ou fazemos pesquisas para analisar se
continuam desenvolvendo o Programa já que,
anualmente a escola perde os alunos que concluem o curso ou ganham outros que chegam
sem nunca terem ouvido falar em economia de
energia. Em consequência, a escola nunca vai
poder parar de trabalhar. Inclusive recomendamos que eles insiram o Procel Educacional no
projeto político-pedagógico da instituição, para
que seja garantida a continuidade das atividades”, finaliza.
O Procel estabelece um prêmio para a
melhor escola de cada localidade, que pode
ser um computador com impressora ou um
projetor de multimídia. Para essa premiação
são considerados os resultados qualitativos e os
quantitativos. Os professores com os melhores
resultados de cada localidade recebem como
prêmio a participação em seminários das escolas em outro estado, quando são apresentados
como ganhadores e compartilham o projeto
que concorreram. “Os professores se engajam
de verdade, criam um uniforme da escola com
o símbolo do Procel, realizam gincanas internas, colocam faixas nas escolas e promovem
atividades para chamar a atenção dos alunos”,
explica Jussara
No Pará, Tucuruí bate
recordes de economia
A meta do Procel Educacional para Tucuruí em 2009
era atingir 30.892 kWh de economia. Em 16 medições,
foram economizados 39.776 kWh, e a média por escola
chegou a quase quatro mil kWh. Números expressivos,
mas que ainda não foram fechados, mostram toda a
evolução obtida em Tucuruí: em todas as escolas, os
índices superam as metas estipuladas. A economia
média obtida em 2009 foi de 13,79 KWh por aluno, 37
mil KWh ao todo. No Pará, o Procel atende 72 escolas
nos municípios de Goianésia do Pará, Jacundá, Tucuruí
e Santarém, onde 207 alunos são acompanhados pelo
Programa e fizeram muita economia para manter os
números do Procel acima da média estipulada.
O colégio Elza Borges apresentou as atividades mais
consistentes, tendo todas as ações direcioBelém
nadas externamente,
36 Escolas públicas
224 Professores capacitados
com a participação da
54.100 Alunos beneficiados
comunidade do bairro,
Ananindeua
que é o sexto maior de
49 Escolas públicas
Tucuruí, com cerca de
276 Professores capacitados
1.600 moradores. Gui22.151 Alunos beneficiados
lherme Sousa, seis anos,
Barcarena
diz que sempre tem en15 Escolas públicas
sinado aos pais como
84 Professores capacitados
economizar energia. Já
12.843 Alunos beneficiados
tem consciência de que
Santarém
30 Escolas públicas
o desperdício causa pre211 Professores capacitados
juízos para sua família
26.367 Alunos beneficiados
e para a comunidade.
Castanhal
“Procuro desligar a tele34 Escolas públicas
visão quando não quero
211 Professores capacitados
mais assistir. Com o que
34.854 Alunos beneficiados
aprendi com as aulas do
Tucuruí
Procel na escola, desco36 Escolas públicas
bri que economizando
816 Professores capacitados
vai sobrar dinheiro para
32.010 Alunos beneficiados
Breu Branco
comprar outras coisas
17 Escolas públicas
como brinquedos, co274 Professores capacitados
mida e material para a
11.895 Alunos beneficiados
escola”.
Goianésia
Sua colega, Dhebora
11 Escolas públicas
Ferreira, também de seis
82 Professores capacitados
anos, diz que tudo o que
8.799 Alunos beneficiados
ela aprende na escola
Jacundá
relacionado à economia
21 Escolas públicas
de energia elétrica e
128 Professores capacitados
12.702 Alunos beneficiados
preservação ambiental
Dhebora, Antônio, Rafaela e Guilherme: repassando aos pais os ensinamentos
é repassado para os pais, irmãos e colegas. “Meus pais
aprenderam que a troca das lâmpadas por outras que economizam energia ajuda a economizar dinheiro para comprar
outras coisas. Meus amigos também já sabem como economizar energia e gostam quando o pessoal do colégio visita e
entrega material ensinando como economizar”.
Antônio Sousa, cinco anos, conta que gostou das atividades do Procel na escola porque todos aprenderam
como economizar energia. Ele conta que em sua casa,
antigamente a mãe usava o ferro de passar todos os dias.
Agora, ela aprendeu a passar a roupa uma vez por semana
e nunca deixa a porta da geladeira aberta por muito tempo
e sem necessidade.
Christiane Miranda, supervisora escolar, relata que as atividades do Procel na escola têm sido pautadas na dinâmica
de grupo, onde os alunos
aprendem por meio de
atividades lúdicas. “Com
essa metodologia, o colégio tem conseguido cumprir as metas estabelecidas
na programação do Procel
em Tucuruí”. Quanto ao
retorno para professores
e alunos, ela destaca que
nos últimos três anos todos demonstram enorme
comprometimento com o
que é ensinado por meio
do Procel. Para 2010, o
planejamento já está em
fase de finalização, e as
atividades devem ser iniciadas já em março. O foco
na disseminação direta com a comunidade está mantido
e é parte essencial do programa da escola. “O Procel tem
ajudado a estreitar os laços com as famílias e a comunidade
do bairro. Podemos dizer que o Procel hoje já faz parte da
vida das pessoas do bairro”.
Janeide Vidal Machado (acima), diretora do colégio Elza
Borges, conta que desde 2007 os profissionais do colégio
têm procurado inserir toda a comunidade no processo de
aprendizagem do Procel. “Sempre procuramos trabalhar a
conscientização de uma economia total que ajude a manter
o meio ambiente e acabe com o desperdício”. Dessa forma,
acredita a diretora, a economia passa a ser feita de maneira
automática. “Assim ganha todo mundo. A empresa que terá
maior oferta de energia, a comunidade que economiza no bolso
um dinheiro que pode ser
investido em outras coisas
e o município que poderá
investir inclusive na construção de novas escolas e salas
de aula. Acreditamos que o
projeto é excelente. Deve
ser mantido para ajudar a
preservar a cultura contra
o desperdício. Sabemos que
a educação básica é tudo
na formação de um adulto
consciente”.
Gisele Fortunato (ao
lado), professora premiada em Tucuruí na edição
do Procel 2009 com uma
visita a São Luís, no Maranhão, disse que foi muito importante
o intercâmbio proporcionado pela Eletronorte. A caravana de
Tucuruí pode perceber e avaliar as metodologias que estão
sendo utilizadas pelas escolas daquele estado. Ela observa que
a forma de educação direcionada para a comunidade, como é
feito no colégio Elza Borges, pode vir a ser a nova metodologia
do Procel em 2010. “As crianças são grandes formadoras de
opinião e essa integração entre escola e comunidade é o que
tem garantido o sucesso do Procel em Tucuruí e na região”.
Hoje, conforme diz, toda a educação de Tucuruí está engajada na conscientização e na construção da cultura contra o
desperdício. “Acreditamos que dessa forma estamos formando
jovens responsáveis e conscientes quanto à importância de
cada um para a preservação do nosso meio ambiente. Toda a
escola está comprometida para a efetivação da economia de
energia dentro e fora da escola. Assim, formamos cultura e moldamos o caráter de nossos profissionais e futuros adultos”.
corrente contínua
corrente contínua
dado a dado. Com isso, o trabalho da Eletronorte
acaba por se tornar modelo para os demais,
inclusive reconhecido, pois ganhamos o Prêmio
Nacional de Eficiência Energética e Uso Racional
de Energia”. (Ver box).
Jussara lembra, no entanto, que além de
trabalho há muita dedicação e amor à profissão:
“Eu tenho paixão pela área de educação e acredito que quando se fala em eficiência energética
se pensa em duas coisas: melhorar a tecnologia
e os sistemas. Porém, não adianta trocar uma
lâmpada incandescente por uma fluorescente
se não houver educação para lidar com essa
tecnologia. Tem de haver educação para se obter
resultado eficiente”. Meire lembra de sua missão
como educadora: “Estamos fazendo a nossa
parte, levando nossa mensagem aos formadores
de opinião e às crianças, que são o futuro do
País, certos de que estamos contribuindo para
um mundo melhor”.
45
Tocantins: conscientização
desde cedo
Mato Grosso: aprendizado para toda a vida
46
continuo fazendo e repassando o que aprendi
com o Procel”, ressalta Edelva, explicando que
os alunos também levam o aprendizado para
casa e cobram dos pais atitudes antidesperdício. “Chegamos ao ponto de os pais virem até
à escola perguntar o que é esse tal de Procel
que a tia tanto fala”, conta a professora.
Edelva (ao lado) é a professora do pequeno
Ângelo Neto Alves
da Costa, de quatro anos. Apesar da
pouca idade, Ângelo
aprendeu ‘direitinho’
a lição, como conta
sua mãe Sônia Maria
Vieira: “Ninguém podia deixar a geladeira
aberta que ele já vinha brigando comigo – ‘não
pode, mamãe’. Quando não
era geladeira, era por causa
do ventilador ou por conta da
televisão. Se ele vê uma luz ligada, vai lá e desliga”,
relata Sônia. Ângelo confirma o que a mãe acaba
de dizer: “Não pode deixar a luz ligada não, mãe”.
Segundo Sônia, no ano passado a economia em casa
chegou a mais de R$ 10,00.
272 Professores capacitados
43.371 Alunos beneficiados
Porto Nacional
33 Escolas públicas
189 Professores capacitados
19.488 Alunos beneficiados
Colinas
20 Escolas públicas
91 Professores capacitados
8.520 Alunos beneficiados
Miranorte
7 Escolas públicas
46 Professores capacitados
4.827 Alunos beneficiados
Miracema
10 Escolas públicas
52 Professores capacitados
5.448 Alunos beneficiados
arem como ‘fiscais do Procel’.
Para isso, 12 crianças foram
escolhidas, seis por período.
Além disso, 15 alunos tiveram
suas contas de energia monitoradas nos últimos meses pelos
técnicos da Eletronorte. A aluna
Érica Silva Barbosa (acima), de nove anos, foi a que mais economizou energia, e como prêmio recebeu da escola uma bicicleta.
Segundo a estudante, com o Procel ela aprendeu a economizar
a energia em casa e também ensinou os pais, as duas irmãs e a
avó sobre a importância do consumo racional. “Meu pai sempre
pedia pra gente economizar luz porque a conta era cara, depois
que comecei a fazer em casa o que eu aprendi na escola a conta
ficou bem mais baixa. Antes ele pagava R$ 70,00, e hoje ele diz
que a conta não passa de R$ 25,00”. Para conseguir essa economia Érica ensina: “Eu assisto menos televisão, sempre apago as
lâmpadas quando saio dos lugares da minha casa e minha mãe
quando usa a máquina de lavar roupa desliga a geladeira”.
De acordo com a diretora da escola, Vanilda Pereira Batista,
durante todo o projeto a comunidade escolar foi orientada sobre
a importância e a necessidade
de desligar as lâmpadas e apaSinop
14 Escolas públicas
relhos eletrodomésticos nos
61 Professores capacitados
períodos que não estivessem
9.294 Alunos beneficiados
utilizando-os. “A participaVila Bela da S. Trindade
ção dos pais e alunos foi
2 Escolas públicas
100% positiva, envolvendo
11 Professores capacitados
totalmente a comunidade
2.058 Alunos beneficiados
em todos os eventos realiJauru
zados e competindo na eco3 Escolas públicas
nomia de energia”, destaca
18 Professores capacitados
Vanilda. A escola espera pelo
1.071 Alunos beneficiados
Rio Branco
resultado final da Eletronorte.
3 Escolas públicas
O colégio que alcançar a maior
12 Professores capacitados
redução no consumo de ener960 Alunos beneficiados
gia elétrica receberá um apaRondonópolis
relho datashow. Concorrem ao
15 Escolas públicas
prêmio oito escolas municipais
61 Professores capacitados
de Várzea Grande.
6.149 Alunos beneficiados
Várzea Grande
44 Escolas públicas
170 Professores capacitados
57.990 Alunos beneficiados
Cuiabá
31 Escolas públicas
166 Professores capacitados
18.320 Alunos beneficiados
Diamantino
5 Escolas públicas
21 Professores capacitados
1.328 Alunos beneficiados
Yasmim e Angelo com a mãe Sônia
corrente contínua
corrente contínua
“A tia disse que não pode deixar a lâmpada ligada nem em
casa nem na escola. Ela disse que temos que economizar”,
exclama a pequena Yasmim Oliveira, de sete anos, aluna da
Escola Municipal Delza da Paixão Pereira, de Porto Nacional,
a 60 km de Palmas, ao mostrar o livro do Procel que as professoras continuam utilizando
na escola. De acordo com
a gestora escolar, Rejane
de Souza Guimarães Gomes
(ao lado), mesmo depois do
fim do convênio com a Eletronorte, a escola continua
utilizando a metodologia
do Procel, que compõe o
Plano Político Pedagógico
da instituição.
Já a professora Edelva
Virginia Nascimento, da
Escola Municipal Professora
Generosa Pinto, também
de Porto Nacional, é uma
conscientizadora do Procel.
Com sua frase típica, “dê
um clique, apague a luz!”,
ela está sempre atenta às dicas do Programa e demonstra
que a metodologia permanece na consciência dos alunos,
professores e gestores. “O Procel continua dentro da escola
no nosso dia a dia. Onde estou
Guaraí
sempre presto atenção se tem
13 Escolas públicas
ventilador ligado, luz ligada
37 Professores capacitados
e água pingando. Eu presto
6.509 Alunos beneficiados
atenção e alerto os alunos,
Palmas
pois eu adquiri esse hábito e
50 Escolas públicas
Os ensinamentos da professora
Valdinete Gomes Inomata (ao
lado) não se restringem às paredes da escola municipal Antônio
Joaquim de Arruda, da cidade
de Várzea Grande (MT), onde ela
ministra aulas para as salas de
apoio. Valdinete mobilizou toda
a comunidade com o intuito de
reduzir o consumo de energia
elétrica e conseguiu. Os índices
de consumo da escola e da residência de muitos alunos
obtiveram uma queda considerável.
Como reconhecimento pela iniciativa de conscientização, a docente recebeu do Procel o direito de expor
suas experiências aos educadores de Rio Branco, no
Acre. A participação de Valdinete aconteceu durante o 2°
workshop do Procel realizado nos dias 30 de setembro
e 1° de outubro de 2009, no auditório da Eletronorte.
“Esse foi um reconhecimento pelo trabalho realizado não
apenas por mim, mas por cada um dos funcionários da
escola. Os bons resultados só foram possíveis porque
juntos abraçamos a causa. Dedico esse prêmio a todos
da escola Antônio Joaquim. Sozinha, eu não conseguiria
chegar aonde cheguei”, ressalta Valdinete.
A docente explica que, no fim de cada bimestre, projetos
baseados no Procel eram desenvolvidos e apresentados
para a comunidade escolar. Entre as atividades desenvolvidas estão: gincana, concurso de paródias e passeatas.
“Aproveitávamos a culminância das atividades desenvolvidas ao longo do bimestre pela escola para expor nossas
experiências. Além do empenho dos alunos, era notável
a participação dos pais. Com isso, as medidas propostas
pelo Procel acabaram ultrapassando os muros da escola,
entrando na casa das pessoas e conscientizando a comunidade sobre a importância de se economizar energia
elétrica não apenas no tocante à redução do valor pago
no final do mês, mas, sobretudo, na preservação do meio
ambiente”, explica a professora.
A professora também selecionou estudantes para atu-
47
corrente contínua
No Maranhão, são atendidos pelo Procel Educacional os
municípios de Imperatriz, Timon, Itapecuru-Mirim, São José
do Ribamar e Coelho Neto. O município de Timon, a 450 km
da capital maranhense, é referência no Programa, tanto que a
cidade foi escolhida pela Eletronorte para concorrer ao Prêmio
Procel Cidade Eficiente em energia elétrica na
área educacional.
A Escola Municipal Projeto Educativo
Mãos Dadas, em Timon, tem quase 900
alunos e mais de 40 professores. O grande
número de pessoas na escola ilustra bem
o empenho do corpo docente, com um dos
seus professores premiados pelo Procel por
conta do desempenho. Márcia dos Santos
Silva (abaixo), diretora da instituição, lembra
que a implantação do Programa trouxe mais
conscientização das pessoas e maior cuidado
com o meio ambiente, tanto do corpo docente
como do corpo discente, pois ele despertou
essa conscientização, saiu da teoria para a
prática. “Percebemos as mudanças logo no
primeiro ano e as contas de energia estão aí
para comprovar. Tivemos depoimentos de
alunos e dos pais sobre a economia de energia
48
Imperatriz:
54 Escolas públicas
394 Professores capacitados
17.361 Alunos beneficiados
Itapecuru-Mirim
20 Escolas públicas
155 Professores capacitados
6.977 Alunos beneficiados
Presidente Dutra
30 Escolas públicas
137 Professores capacitados
4.382 Alunos beneficiados
Timon
35 Escolas públicas
301 Professores capacitados
18.981 Alunos beneficiados
Coelho Neto
15 Escolas públicas
105 Professores capacitados
7.609 Alunos beneficiados
São José de Ribamar
46 Escolas públicas
269 Professores capacitados
7.208 Alunos beneficiados
nas suas residências e, por isso, o Procel deve continuar
no município, levando esses conceitos a outras escolas.
Devemos ser perseverantes, isso só trará benefícios para o
meio ambiente. Vocês da Eletronorte deixaram uma marca
na escola, por transmitirem o programa com muita seriedade
e dedicação”.
A professora Eliane Maria Costa Ribeiro (à esquerda), contemplada com
o Prêmio, lembra que inicialmente
pensou que o Procel fosse mais um
programa, mas depois da capacitação viu que era algo sério, “pois o
capacitador (no caso, o empregado
da Eletronorte, Arthur Quirino) transmitiu essa seriedade do programa com
muita segurança e confiança. Tivemos
algumas dificuldades no início, mas
depois tudo correu com tranquilidade
e em sala de aula os alunos nos motivaram a trabalhar o Procel, foi muito
interessante”, relembra.
Ao receber a notícia, Eliane conta
que passou um filminho na cabeça:
“Eu vi naquela primeira manhã da capacitação a imagem do Arthur em sala
de aula nos motivando, falando do programa com
muita confiança, muita clareza. Após os dois dias
de capacitação percebi que o Programa iria trazer
grandes benefícios para todos nós, então realizamos
um bom trabalho aqui na escola”. Como prêmio,
Eliane conheceu a Usina Hidrelétrica Tucuruí: “Foi
algo maravilhoso conhecer novas práticas e novas
dinâmicas de como trabalhar o Procel. Percebi
que as dificuldades são muito parecidas, porém
o entusiasmo de todos é maior quando falam do
Procel, pois consigo ver um brilho nos olhos de
cada um dos colegas”.
Rita Pereira do Nascimento, mãe de Ana Luiza
Pereira (ao lado, à direita), aluna da 5ª série da
Escola Municipal Projeto Educativo Mãos Dadas,
conta que a filha chegou em casa dizendo que
estava participando do Procel na escola: “Eu procurei saber como era e nós começamos a mudar.
Não deixava mais as luzes acesas, trocamos as
lâmpadas incandescentes por fluorescentes, e eu
que pagava de energia entre R$ 90,00 e R$ 100,00
passei a gastar em torno de R$ 35,00 com a conta
de luz. Com essa economia, aumentei a minha casa e
repassei as informações para a minha mãe, que também
reduziu bastante o consumo de energia”.
Gracilene Alcântara, mãe de Vanessa Gabriela de Moraes
(acima), conta que a filha, além de trocar as lâmpadas
antigas, já foi mais radical: “Assim que a Vanessa chegou
em casa falando sobre o Procel, desligou a geladeira que já
é muito velha, e garante que só vai voltar a ligá-la quando
comprarmos uma nova, porque a geladeira velha consome
muita energia”. Dos R$ 95,00 que pagava de energia hoje
ela paga R$ 21,00, e diz: “Com essa economia já pago o
que devo, hoje eu não devo ninguém, ou seja, faço meus
pagamentos em dia graças ao Procel”. Segundo Vanessa,
alguns coleguinhas acham que o Procel é besteira: “Mas
eu não desisto, eu sempre converso com eles para economizar mais energia, água, porque tudo isso vai beneficiar
o meio ambiente”.
O professor Alex Charles Sousa Gonçalves (abaixo), de Timon, um dos colaboradores do Procel Educação nas escolas,
foi o idealizador do uso direto da luz do sol utilizando garrafas
PET cheias de água nos telhados (acima). Algumas escolas já
utilizam essa tecnologia e o resultado é fantástico. Veja como
é simples preparar essa: Pega-se uma telha comum, de barro,
de preferência do mesmo tipo das já existentes no telhado da
escola, faz-se um furo
no meio da telha com o
diâmetro de uma garrafa
PET. Tenha cuidado para
não quebrar a telha. Depois coloca-se a garrafa
deixando uma parte para
fora e outra para dentro.
Em seguida faz-se a vedação e fixação da garrafa
na telha com durepox,
enche-se a garrafa de
água e coloca-se a telha
preparada no telhado.
Para comprovar a eficácia do invento do professor Alex, foi medida a
luminosidade, com um
luxímetro, de uma sala
onde estão instaladas oito
garrafas PETs e outra com
cinco lâmpadas fluorescentes de 40W cada uma. Na sala com
as garrafas, a luminosidade chegou a 280 lux - com o dia nublado - enquanto a sala com as lâmpadas fluorescentes chegou
a 160 lux, ou seja, uma diferença de 120 lux.
corrente contínua
Maranhão: Timon como candidata
a Prêmio Nacional Cidade Eficiente
49
50
Maria Lúcia Lima Meireles
(à direita) é coordenadora de
ensino da Escola Estadual Diogo
Feijó B. Abrahão Alab, em Rio
Branco. De acordo com ela,
“quando a escola foi convidada
pela Secretaria Estadual de Educação para fazer parte do Procel,
fomos à Eletronorte buscar informações sobre como podíamos
desenvolver um trabalho com
os alunos no sentido de economizar energia para preservação
do meio ambiente. Trouxemos
a ideia e divulgamos aos professores, que em seguida elaboraram um projeto chamado
‘Água e energia, fonte de vida do planeta’. Esse projeto tem
por objetivo incentivar o aluno a analisar e refletir suas ações
como cidadão, cônsul de suas responsabilidades na utilização
racional dos recursos naturais, como forma de conservação e
preservação da natureza. Foram enfatizadas no projeto quais
ações o aluno poderia realizar na sua casa e na sua escola para
economizar energia”.
O Projeto envolveu todos os professores da escola e os 1.300
alunos. “Fizemos uma grande solenidade de abertura com a
participação da Eletronorte e
trouxemos um palestrante da
Rio Branco
101 Escolas públicas
Fundação de Tecnologia do
582 Professores capacitados
Acre. A partir daí, todos os pro87.058 Alunos beneficiados
fessores passaram a trabalhar
Amapá
a ideia de economizar energia
Serra do Navio
em suas casas e o propósito
2 Escolas públicas
era que a conta de consumo de
10 Professores capacitados
energia deveria diminuir tam482 Alunos beneficiados
bém nas casas dos alunos”,
Porto Grande
lembra Maria Lúcia. Os profes2 Escolas públicas
sores de matemática ficaram
10 Professores capacitados
1.903 Alunos beneficiados
responsáveis pela elaboração
Macapá
dos índices e gráficos, os pais
73 Escolas públicas
informariam o consumo e o
326 Professores capacitados
valor das faturas e os alunos,
31.118 Alunos beneficiados
por sua vez, traziam as fichas
Santana
que continham o consumo e
15 Escolas públicas
os valores das faturas.
54 Professores capacitados
“Nós percebemos o cui8.870 Alunos beneficiados
dado dos professores que, ao
Tartarugalzinho
terminarem a aula, apagam
2 Escolas públicas
10 Professores capacitados
as lâmpadas e desligam os
1.903 Alunos beneficiados
ventiladores, o que antes não
era feito, pois sabíamos que quem
pagava a conta era o governo.
Agora, até os alunos começaram
a desligar”, conta a coordenadora.
Lucia Meireles lembra que, certa
vez na sala de aula, houve uma
confusão, pois um aluno queria a
todo custo que a metade da sala
de aula ficasse com a iluminação
apagada durante um período para
economizar energia. “Com esse
fato, nós percebemos que o Procel foi realmente abraçado pelos alunos e está alcançando os objetivos”.
Matheus Costa de Freitas (acima) é aluno da 7ª série
da instituição e mora com mais seis pessoas. Segundo
ele, a vinda do Procel na escola e para a vida dos alunos
foi fundamental, “pois a maioria de nós não tinha o hábito
de economizar, mas depois do lançamento do Programa
tivemos acesso ao material didático enviado pela Eletronorte, como revistas e folhetos. Para mim foi interessante,
pois confesso que não tinha esse hábito e passei a tê-lo.
Resultado: minha conta de luz diminuiu muito. Formamos
um grupo de alunos no turno da manhã e outro no da tarde
e ficávamos discutindo o assunto, assistíamos vídeos, participamos de gincanas, palestras no auditório da Eletronorte
e chegamos até a construir um gráfico que mostrou uma
redução de 6,5% no consumo de energia nas casas dos
alunos. Os meus pais adoraram a ideia, mas tivemos um
pouco de dificuldade para mudar os velhos hábitos, tive
que tirar cópia do livro, recortar e colar na parede frases
do tipo: Torneira – Não desperdice a água; Interruptor –
Apague. Sempre que eu via algo interessante em revistas
eu recortava e colava no local apropriado em casa. Esse
cuidado também praticamos na escola”.
Rondônia: Ariquemes economiza R$ 1 milhão
A pequena cidade de Ariquemes, localizada no interior do
Estado de Rondônia, é referência
para muitos municípios brasileiros. O local já obteve resultados
expressivos com as ações simples
de gestão do Procel. A iniciativa
possibilitou uma economia de 24%
ao mês, cujo consumo passou de
509.450 kWh/mês, o equivalente a
R$ 107,8 mil para 384.469 kWh/
mês, equivalente a R$ 89,4 mil.
Em Rondônia, o Procel Educacional está incluso nas atividades
pedagógicas de 15
escolas da zona urbana e sete escolas da
zona rural, sendo que
uma delas localiza-se
dentro da reserva de
garimpo do Bom Futuro. De acordo com
o prefeito Confúcio
Moura, Ariquemes já
economizou cerca de
um milhão de reais
em três anos. “Desde
que o Procel vem sendo colocado em prática em nossa cidade já economizamos bastante. A verba
economizada com o Programa foi destinada à reforma
de escolas, bem como à aquisição de material de apoio
para a iluminação pública entre outras necessidades do
município”, afirma o prefeito.
Ariquemes possui vários convênios, mas a parceria
com a Eletronorte é considerada exemplar. “Tenho enorme satisfação de ter a Eletronorte como parceira da nossa
administração. O Programa tem sido um aliado junto à
conscientização da comunidade, e os resultados são
provas que a estratégia iniciada nas escolas foi a melhor
maneira de motivar a população para a importância da
economia de energia. O retorno está sendo muito positivo”, enfatiza Confúcio Moura.
Exemplo no campo e na cidade - De sorriso fácil,
estudiosa, bem articulada e preocupada com a questão
do uso correto da energia elétrica. Foi assim que a estudante da 6ª série Tainara Siqueira (acima, ao centro),
de 12 anos, ganhou o título de Garota Procel da Escola
Professor Levi Alves de Oliveira. Tainara levou a sério a
sua função. Na escola, após o horário de aula, é sempre a
última a sair. Ela ficou encarregada de verificar se todas
as lâmpadas, ventiladores e
computadores foram desligados. Papel semelhante
é exercido em sua casa,
onde a garota virou fiscal
da família, como revela sua
mãe. “A minha filha ficou tão
comprometida com o projeto
que virou fiscal de todos nós.
Chegou a colocar bilhetinhos
nos interruptores da nossa
residência. Ela ‘pega no pé’
mesmo quando percebe que
alguém não está seguindo as orientações
passadas pelos professores na escola
sobre as dicas do Procel”, revela a dona
de casa Terezinha Siqueira.
Apesar de não morar na cidade, Jacob
Costa Silva (acima), de dez anos, assim
como Tainara, também se preocupa
com a conta de luz: “É muito importante
economizar energia elétrica, pois assim,
estamos ajudando a nossa cidade, e ainda
sobra mais dinheiro em casa para comprar
outras necessidades básicas”, diz o estudante da 3ª série do ensino fundamental
da escola da zona rural Padre Ângelo
Spadari, localizada no Distrito de Bom Futuro, dentro de uma
reserva de garimpo. O menino que tem discurso de ‘gente grande’, não esconde a empolgação que tem em poder colocar em
prática as dicas do Procel.
Porto Velho
“Desde o início do projeto em
63 Escolas públicas
nossa escola, Jacob foi uma
222 Professores capacitados
revelação. Ele anteriormente
69.467 Alunos beneficiados
não gostava de ler. Após a
Guajará-Mirim
inserção das atividades pe10 Escolas públicas
dagógicas do Programa na
53 Professores capacitados
6.678 Alunos beneficiados
escola o menino se tornou
Ariquemes
um excelente leitor e disse23 Escolas públicas
minador mirim do Procel”,
106 Professores capacitados
conta orgulhosa a professora
7.630 Alunos beneficiados
Mazilda Nogueira.
Ji-Paraná
41 Escolas públicas
228 Professores capacitados
28.143 Alunos beneficiados
Candeias do Jamari
4 Escolas públicas
15 Professores capacitados
2.843 Alunos beneficiados
(Colaboraram Arthur
Quirino, Denis Aragão,
Rose Dayanne, Helize
Vieira, Leandro Alves,
Tereza Félix e
Alícia Figueiredo).
corrente contínua
corrente contínua
Acre: Escola Estadual Diogo Feijó elabora
projeto de proteção ao meio ambiente
51
52
Brasília
1 9 6 0
2 0 1 0
Eletronorte e Brasília - A Eletronorte começou
a fazer parte da história de Brasília em 1975,
quando a Sede da Empresa foi transferida do
Rio de Janeiro para o Setor Comercial Sul, no
coração da cidade. O assessor da Diretoria
Econômico-Financeira, Mario Gardino, que
começou a trabalhar na Empresa em novembro
de 1974, acompanhou esse período. Ele conta
que Brasília foi escolhida por ser o ponto central
para se chegar a qualquer área de atuação da
Eletronorte. “Desde aquela época Brasília já era
um concentrador de rotas. A área de atuação da
Eletronorte é muito extensa e Brasília facilita o
acesso da Sede para as demais instalações”.
corrente contínua
corrente contínua
No ano em que Brasília
completa 50 anos,
contamos um pouco
da história, do turismo
e da gastronomia
da capital brasileira
de trabalho, Brasília foi inaugurada em 21 de
abril de 1960.
A partir de então a cidade passou a se destacar como importante obra de arquitetura e urbanismo. Os edifícios públicos criados por Oscar
Niemeyer, como a Catedral, o Palácio do Planalto
e o Congresso Nacional, atraem olhares pelas
formas diferentes. Do mesmo jeito, o desenho
da cidade formado por tesourinhas, comerciais,
eixos, prédios com pilotis e muitas árvores chama
a atenção de quem chega a Brasília.
Foto: Brasíliatur - Raimundo Alves
AMAZÔNIA E NÓS
Brasília
e nós
Brasília é uma cidade diferente, foi planejada
e construída para atender alguns propósitos,
como a transferência da capital da República
para um lugar mais seguro, a maior integração
do País e o desenvolvimento do interior brasileiro. Depois de muito estudo o Planalto Central
foi a região escolhida para essa empreitada. Começaram, então, a surgir planos para a cidade.
Em setembro de 1956 foi lançado o Concurso
Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do
Brasil, que exigia o traçado básico de uma
cidade para 500 mil habitantes, com espaços
pré-definidos para o Lago Paranoá, o Brasília
Palace Hotel, o Palácio da Alvorada e o aeroporto. No ano seguinte o urbanista Lucio Costa
ganhou o concurso com um projeto formado
pelo cruzamento de duas linhas, que lembra o
desenho de um avião.
Em setembro de 1956 o presidente Juscelino
Kubitschek sancionou a lei que criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap,
empresa que ficou responsável pela construção
de Brasília. A obra movimentou a vinda de
pessoas de diferentes regiões. Os candangos
trabalharam arduamente para atender ao
prazo e, assim, com pouco mais de três anos
53
54
Foto: Brasíliatur - Márcio Cabral
A beleza de
Brasília está
no singelo
das flores
do cerrado
e nos traços
de Niemeyer
setor disso e daquilo. Lembro-me da primeira
vez que sai à noite em Brasília, era sexta-feira
e quando deu uma hora da manhã o pessoal já
começou a juntar as cadeiras. Eu estranhei, vim
de uma cidade que na sexta-feira as pessoas
ficam até de manhã na rua”.
Nesse período foi necessário o incentivo paterno para continuar na cidade, mas atualmente a
situação mudou. Hoje, José Adolfo declara adorar Brasília e diz estranhar quando sai da capital.
“O que antes eu estranhava logo que cheguei
aqui é o que sinto falta quando eu vou pra outros
lugares. Aqui tem uma facilidade muito grande
para encontrar os endereços, porque há uma
lógica. Hoje estou tão acostumado com Brasília
que não consigo me adaptar a outro lugar”.
A relação de José Adolfo com Brasília mudou tanto que ele até enfatiza o que mais gosta
na cidade. “Acho o Parque da Cidade demais!
Costumo ir muito com a família no Pier 21 e
antigamente não perdia uma edição da Feira
dos Estados. Gosto muito de Brasília, aqui tem
restaurantes com o tipo de comida que você
quiser e com preços variados”.
Por causa da profissão também chegou à capital o programador de computador Ednardo Silva (ao lado),
da Gerência de Infraestrutura
e Operações de Tecnologia
da Informação. Em 2003, ele
começava a cursar a faculdade
de computação em Manaus
quando a mãe, que já morava
na cidade desde 2000, contou
Foto: Brasíliatur - Márcia Alvarenga
minha esposa. Outro aspecto interessante é a
diversidade que se encontra aqui. Uma verdadeira ‘torre de babel’ de sotaques e culturas
de diversos cantos do Basil, construindo uma
sociedade mais tolerante e diversa”.
Quando chega um parente ou amigo na
cidade, Sandro vira guia de turismo e sempre
faz questão de levar o visitante aos lugares
que mais gosta na capital: “Brasília tem vários
pontos positivos e que eu adoro. Por exemplo, o
Parque da Cidade, o Pontão, o Lago Paranoá, a
Ermida Dom Bosco, o Teatro Nacional e o Centro
Cultural Banco do Brasil”. Sobre as melhorias
no cotidiano que a vida em Brasília lhe trouxe,
Sandro comenta. “Moro a cerca de cinco minutos de carro do meu trabalho. Portanto, não
pego engarrafamentos e posso me dar ao luxo
de almoçar em casa todos os dias. Em Brasília,
posso caminhar em minha quadra com certa
tranquilidade durante a noite para ir à academia
ou sair para um passeio com minha cachorra
de estimação. Acho isso importantíssimo e não
abro mão”.
Diferente do publicitário, o assistente da Diretoria de Gestão Corporativa, José Adolfo Ramos
(abaixo), sofreu para se adaptar à cidade. Ele
trabalhava no Setor Elétrico em Porto Alegre
desde 1975, e em 1978 ficou sabendo, por meio
de amigos que moravam em
Brasília, de uma oportunidade
de emprego na Eletronorte e
enviou o currículo. “Não estava
nem pensando em sair de Porto
Alegre, mas então recebi uma
carta da Eletronorte dizendo
que tinha sido selecionado para
entrevista e decidi tentar. Quando cheguei para a entrevista
achei Brasília fantástica, muito
bonita. Eu era engenheiro eletricista e concorrendo comigo
havia doutores e mestres. Aí pensei: bom, pelo
menos conheci Brasília e revi amigos”.
Para a surpresa de José Adolfo, foi chamado
pela Eletronorte por ter exatamente o perfil que a
empresa procurava: experiência em informática
e em planejamento energético. Mudou-se para
a cidade e começou a trabalhar na Eletronorte
em novembro de 1978, mas passadas duas
semanas ele pegou um avião para Porto Alegre
decidido a não voltar mais para cidade. “Sofri
tanto. Em Brasília eu fiquei ‘sócio’ da Vasp,
da Varig, da Transbrasil porque eu ia a Porto
Alegre em todos os feriados emendados e finais
de semana possíveis. Para mim era tudo muito
diferente. Primeiro que tem lugar para tudo, tem
que a capital brasileira possuía o terceiro maior
mercado de tecnologia da informação do País.
Foi então que ele decidiu se mudar. Ao chegar
em Brasília se surpreendeu com a arquitetura.
“Fiquei impressionado com a simetria das ruas e
avenidas, o formato dos prédios, a educação dos
motoristas, a organização da cidade por setores.
Também foi quando conheci o tal do pequi, que
nunca tinha comido”. Na cidade, Ednardo, além
de continuar a faculdade, passou a estudar para
corrente contínua
corrente contínua
Gardino (abaixo) é carioca e fez parte do
núcleo básico inicial, grupo criado pela Eletrobrás para a implantação das subsidiárias. “A
proposta era ficar dois anos na cidade, implantar
a subsidiária e voltar, mas a qualidade de vida
de Brasília me fez ficar aqui até hoje”. Ele conta
que a principal vantagem era a ausência de engarrafamentos no trânsito, o que permitia mais
tempo livre. Um lugar que considera
especial é o Parque da Cidade.
Agora, com os filhos crescidos e
estabelecidos em Brasília, Mario tem
ainda mais motivos para ficar na cidade. Quando bate a saudade do relevo
do Rio de Janeiro, ele tem a solução:
“Eu sinto falta das montanhas, aqui é
tudo plano e para ver alguma diferença
de paisagem eu vou para os arredores,
como a Chapada dos Veadeiros e Pirenópolis”.
Da mesma forma, outras pessoas
se deslocaram das cidades onde nasceram
para viver em Brasília. Assim, a cidade pode
representar todo o Brasil por meio de seus moradores. Exemplo dessa diversidade é encontrado
na Eletronorte, em meio a uma equipe formada
por empregados vindos de diferentes partes do
território nacional.
O baiano Sandro Roberto (abaixo), publicitário, entrou na Eletronorte no último concurso
público, em 2007. “Desde 2003 coloquei como
meta morar em Brasília, por conta das oportunidades em concursos públicos”. Nascido e
criado perto da praia, ele diz que ao chegar na
capital do País sentiu muita falta do mar, mas
depois se adaptou bem à cidade. “Brasília caiu
como uma luva nas minhas pretensões profissionais e pessoais. Foi paixão à primeira vista.
A organização, a tranquilidade e a sensação de
segurança conquistaram tanto a mim como a
55
Foto: Brasíliatur - Luíz Trazzi Martins
corrente contínua
os concursos públicos de informática. Em 2007
foi aprovado e passou a fazer parte da equipe
da Eletronorte. Da mesma forma que os outros
entrevistados, o programador diz que o Parque
da Cidade é o local que mais gosta na cidade.
Ele faz elogios à capital: “ Brasília me proporciona melhor educação e qualidade de vida.
A infraestrutura é excelente e a remuneração
aos trabalhadores é boa”.
56
Agenda diversificada - Essa mistura de culturas
influencia a programação dos eventos da cidade.
Durante o ano são realizados exposições, shows e
festas que destacam diferentes regiões do Brasil,
alguns já tradicionais , como a Folia de Reis, que
costuma acontecer no mês de janeiro. O evento
recebe representação de vários estados, como
Minas Gerais, São Paulo, Tocantins, Goiás e Bahia.
Durante a Folia são apresentadas exposições,
danças e músicas típicas. Outra festa típica é a
Expotchê, que ressalta a cultura, a culinária e os
produtos do Rio Grande do Sul. A exposição é realizada em Brasília desde 1992 e reúne uma média
de 350 expositores. A Festa dos Estados também
é famosa na cidade. Na última edição, em 2009,
estavam representadas a cultura, o artesanato e
a culinária de 17 estados brasileiros.
A capital da República também atende a
gostos musicais variados com festivais de diferentes tendências, como o Porão do Rock e as
micaretas. Além disso, existem locais que sempre
apresentam novas opções culturais: a Fundação
Nacional de Artes, o Centro Cultural Banco do
Brasil, o Centro de Convenções, o Clube do Choro
e a Torre de TV. O turismo na cidade ainda pode
ser dividido em arquitetônico e ecológico.
Turismo arquitetônico - Se o turista quiser
conhecer as maravilhas projetadas por Lúcio
Costa e Oscar Niemeyer, o Eixo Monumental é o
principal ponto a ser visitado. Essa via com seis
faixas em cada mão atravessa Brasília no sentido leste-oeste e cruza com o Eixo Rodoviário,
conhecido como Eixão, que corta a cidade no
sentido norte-sul. Um passeio no Eixo Monumental permite conhecer grande parte das belas
construções de Brasília.
A Praça dos Três Poderes integra a representação dos poderes Judiciário, Legislativo e
Executivo. O Supremo Tribunal Federal fica no
lado sul do Eixo e é a sede do Poder Judiciário.
No centro está o Congresso Nacional, sede
do Poder Legislativo, e no lado norte o Palácio
do Planalto, a sede do Poder Executivo. Esse
passeio também é uma forma de aproximar o
cidadão do centro das decisões da República.
O Congresso Nacional, imagem mais comum
do cartão postal de Brasília, é formado por dois
blocos retangulares com duas cúpulas. Abaixo
da cúpula menor, e virada para baixo, está o
plenário do Senado Federal, representando a reflexão que deve existir naquele ambiente. Abaixo
da cúpula virada para cima está o plenário da
Câmara dos Deputados. A abertura da cúpula
para cima tem uma simbologia especial: significa
que a Câmara é um lugar aberto ao povo e às
influências diversas.
Ainda nessa área, entre as sedes dos três
poderes, está o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves. O monumento, criado
por Oscar Niemeyer, lembra o formato de uma
pomba e é uma homenagem a todos que se
destacaram a favor da pátria brasileira. O Pan-
corrente contínua
O verde dos gramados, o azul do céu, as linhas retas do Planalto central
57
58
Foto: Brasíliatur - Márcio Gabe
Bulcão no painel do batistério, o altar doado pelo
Papa Paulo VI e a réplica da imagem de Nossa
Senhora Aparecida.
Bem próximo à Catedral está o Museu Nacional, em formato de cúpula. Junto com a
Biblioteca Nacional formam o Complexo Cultural
da República. A obra foi inaugurada em 15 de
dezembro de 2006, no dia da comemoração dos
99 anos de Oscar Niemeyer. O grande espaço
plano do Complexo abriga shows musicais e
festas gratuitas, além de ser utilizado por ciclistas
e skatistas.
A Estação Rodoviária de Brasília está no
centro geográfico da cidade, no cruzamento
dos dois eixos. Foi projetada por Lúcio Costa e
concentra os pontos de ônibus que percorrem os
trajetos do Plano Piloto e entorno. Na plataforma
superior encontram-se dois conhecidos setores
de diversão: do lado sul, o Conic, e do lado norte,
o Conjunto Nacional, tradicional shopping de
Brasília.
Na parte oeste do Eixo Monumental está a
Torre de Televisão, o monumento mais alto de
Brasília. São 224 m. A Torre foi projetada por
Lúcio Costa e é uma referência à Torre Eiffel, em
Paris. O monumento possui um mirante a 75 m
de altura. Ao redor da Torre funciona uma feira
de artesanato muito frequentada por turistas.
Ainda no sentido oeste encontra-se o Centro
de Convenções Ulysses Guimarães. O lugar
possui equipamentos e espaço para alocar vários
eventos. O projeto é do arquiteto Sergio Bernardes. Indo no mesmo sentido está o Palácio
do Buriti. O nome faz referência à palmeira do
buriti, planta símbolo da cidade. Na frente do Palácio do Buriti há uma réplica da Loba Romana,
símbolo da cidade de Roma. Dentro do Palácio
existe uma parte destinada à visitação, no qual
está retratada a história de Brasília.
O Memorial dos Povos Indígenas é um pequeno pavilhão projetado por Oscar Niemeyer e que
reúne objetos da cultura indígena. Um pouco
O Cerrado
brasileiro
possui uma
das maiores
diversidades
do planeta
corrente contínua
corrente contínua
Foto: Brasíliatur - Jorge André Diehl
teão foi idealizado com a comoção causada pela
morte de Tancredo Neves, o primeiro presidente
eleito democraticamente após o regime militar,
mesmo que por voto indireto.
Subindo do Panteão, no sentido oeste, o
turista passa pela Esplanada dos Ministérios.
Os ministérios mais próximos do Congresso Nacional se destacam pelo formato diferente, São
eles o Palácio da Justiça e o Palácio do Itamaraty.
Acima dos ministérios, no sentido oeste e do
lado sul, está a Catedral. Também projetada por
Oscar Niemeyer, sua estrutura é composta pela
construção de 16 pilares de concreto, entre os
quais estão inseridas peças de fibra de vidro em
tons de azul, verde, branco e marrom. As peças
foram pintadas por Marianne Peretti. Na frente
da Catedral, quatro esculturas de três metros de
altura e em bronze representam os evangelistas.
Ao lado, no campanário, quatro sinos doados
pela Espanha completam a obra. Dentro da Catedral chamam a atenção as esculturas suspensas
de três anjos, as cerâmicas pintadas por Athos
59
Ainda no Distrito Federal, a 35 km de Brasília,
a Cachoeira Saia Velha oferece piscina natural,
clubes, restaurantes e uma bela vegetação característica do cerrado. Há ainda nas redondezas
de Brasília outras opções de turismo ecológico,
como o Parque Municipal Itiquira, em Formosa
(GO), que tem o Salto do Itiquira, com 168 m
de altura, como sua maior atração. No local há
várias cachoeiras e poços e uma boa infraestrutura turística.
Turismo ecológico - A travessia da ponte simboliza, aqui, o outro tipo de turismo que a cidade
oferece. Brasília tem a maior área verde do País.
O Lago Paranoá circunda a área leste de Brasília
e é formado pelo represamento das águas do
Rio Paranoá e dos riachos Fundo, Gama, Torto,
Bananal e Vicente Pires. As margens do Lago
concentram clubes, restaurantes e adeptos de
esportes náuticos. Destaque para o Pontão do
Lago Sul, no qual existem restaurantes e uma
bela vista da cidade.
O Parque da Cidade Sarah Kubitschek, como
demonstraram os entrevistados, é um ótimo passeio. Possui a maior área de lazer da cidade, com
um circuito de 10 km de pistas para caminhadas
e ciclismo. O passeio é sucesso garantido e ali
são encontrados restaurantes, anfiteatros, kart,
parques infantis, lagos, bosques com churrasqueiras e centro hípico.
O Parque Nacional de Brasília, conhecido
como Água Mineral, é uma opção para quem
gosta do contato direto com a natureza. Possui
piscinas em constante renovação, banhadas
pelas bacias dos rios Torto e Bananal. O local
conta, ainda, com trilhas ecológicas, lanchonetes
e uma rica fauna e flora.
Gastronomia - A diversidade de Brasília também se mostra na gastronomia. Como disse José
Adolfo Ramos, na cidade é possível encontrar os
mais variados tipos de comida e preços. O site
Quero Comer, especializado em indicar locais
para alimentação, informa que em Brasília existem 131 opções entre lanchonetes, restaurantes
de comidas típicas, fast-food, cafés, grelhados,
saladas, pizzarias, padarias, bares e choperias.
No cerrado, bioma característico do Planalto
Central, existe uma grande variedade de frutos de
alto valor nutricional que está sendo estudada por
universidades brasileiras e técnicos da Empresa
Brasileira de Pesquisas Agropecuária – Divisão
Cerrados (Embrapa Cerrados). Segundo esses
estudos existem 19 famílias, 51 gêneros e 82 espécies de árvores frutíferas no cerrado, como ingá,
jatobá, araticum, buriti, mangaba, pitomba, pequi,
cagaita, macaúba e a castanha de baru. Além das
propriedades medicinais, esses frutos são muito
utilizados na cozinha, como sucos, farinhas, molhos e no preparo de diversos pratos. A castanha
de baru, por exemplo, que é rica em ferro, cálcio,
zinco, magnésio, fósforo e zinco, é processada
por diversas cooperativas de Goiânia (GO), em
convênio com a Fundação Banco do Brasil.
Robalo Baru
Porção para duas pessoas:
Ingredientes:
500g de robalo
Sal a gosto
Para o azeite de ervas com alho:
5 dentes de alho
10 sementes de pimenta-do-reino preta em grão
10 sementes de pimenta-do-reino branca em grão
50 ml de azeite
20 sementes de pimenta rosa em grão
2 colheres de ervas de Provence
Para a crosta de baru:
50g de baru torrado
30g de pão de forma sem casca
5g de alho crocante
10g de manteiga sem sal
Sal a gosto
Modo de preparo do azeite de ervas com alho:
Junte o alho descascado e o azeite em uma vasilha de inox
e asse por 20 minutos até que o alho esteja completamente
assado. Em seguida, coloque o restante dos ingredientes e
deixe descansar por um dia para que libere todos os sabores
e temperos.
Modo de preparo da crosta de baru:
Junte todos os ingredientes no processador e bata até
virar uma farofa. Reserve.
Modo de preparo do Robalo Baru:
Tempere o robalo com sal a gosto e grelhe. Quando estiver
no ponto, coloque-o em uma forma. Por cima, coloque a
crosta de baru e leve ao forno até dourar. Retire do forno e
sirva com o azeite de ervas com alho.
Receita do chef Dudu Camargo, servida
no Dudu Camargo Bar e Restaurante
corrente contínua
Foto: Brasíliatur - Fernando Pinheiro
60
Foto: Brasíliatur - Marcos Moreira
corrente contínua
A água é um
elemento
presente
em toda a
cidade e
região
acima, o Memorial JK, também projetado por
Oscar Niemeyer, onde encontram-se guardados
os restos mortais e os pertences do presidente
Juscelino Kubitscheck, o fundador de Brasília.
Há ainda muitos outros pontos de onde se admira as belezas arquitetônicas de Brasília. A Ponte
JK, por exemplo, sintetiza a ousada arquitetura
da capital do Brasil. O monumento atravessa o
Lago Paranoá e liga a saída do Eixo Monumental
ao Lago Sul.
61
“Prezada Érica, a sua matéria sobre a castanheira ficou excelente, digna de qualquer publicação sobre o tema. Completa e esclarecedora! Parabéns!”
Rubens Ghilardi Jr - Superintendência de Meio Ambiente – Brasília - DF
“Prezados, sempre vejo na revista Corrente Contínua reportagens sobre as diversas regionais. Sugiro uma reportagem
sobre a Sede-Brasília onde poderíamos clarear a imagem distorcida que muitos colaboradores têm e aliar a reportagem
aos 50 anos de Brasília”
Torricelli da Silva Gomes - Gerência de Engenharia de Manutenção da Transmissão da
Superintendência de Engenharia de Operação e Manutenção da Transmissão – Brasília - DF
NR: Prezado Torricelli, sua proposta veio ao encontro da nossa pauta nesta edição, confira.
fotolegenda
CORREio contínuo
“Fiquei admirado e imaginando a maravilha e as dificuldades de uma distribuidora de energia elétrica numa região como
a mostrada na revista Corrente Contínua. Parabéns! Peço a Deus que no ano de 2010 abençoe vocês e suas famílias”.
Bressiani - Montrel Controles Eletrônicos Ltda – Campinas – São Paulo
“A título de colaboração informo que na página 50 na manchete Bravo povo acriano, esta última palavra está grafada
com a letra i. O correto não seria acreano com e? O artigo está excelente e caso eu esteja errado queira desculpar”.
Fernando Werneck Linhares - Gerência de Patrimônio Imobiliário – Brasília - DF
NR: Prezado Fernando, a grafia da palavra acriano passou a ser assim após a reforma ortográfica da língua portuguesa ora vigente.
“Recebemos e agradecemos a revista Corrente Contínua, Ano XXXII, Nº 229, de nov/dez de 2009”.
Rozangela Zelenski - Gerência de Documentação e Programas Especiais
da Universidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá - MT
“Prezado Alexandre, parabéns pela excelente reportagem sobre o XX SNPTEE publicada na última edição da revista
Corrente Contínua”.
José Henrique Machado Fernandes - Assessoria de Coordenação de Implantação
de Empreendimentos de Transmissão e Geração – Brasília - DF
“Prezada jornalista Erica Michelline Cavalcante Neiva, comunico-lhe que recebi no final da tarde de ontem os dez
exemplares da revista Corrente Contínua. Cumprimento pela magnífica qualidade da revista e a excelente reportagem
de capa sobre a castanha-do-pará. Precisamos plantar castanheiras na Amazônia e esforços nesse sentido precisam
ser efetivados. É um produto que tem mercado, todo mundo conhece, serve para recuperar áreas degradadas e como
é árvore nativa da Amazônia serve para recomposição de Reserva Legal (RL) e Área de Proteção Permanente (APP), e
ainda como poço de carbono. Nos colocamos à disposição da revista Corrente Contínua em outras reportagens sobre
a Amazônia”.
Alfredo Homma – Embrapa- Brasília – DF
corrente contínua
“Prezados senhores, vimos pelo presente agradecer o envio de dez exemplares da revista Corrente Contínua ano XXXII
nº 229 – novembro/dezembro de 2009, entre os quais o excelente artigo sobre a situação das castanheiras da Amazônia.
Sem mais, reiteramos nossos votos de estima e consideração”.
Noé Vom Atzingen – Presidente da Fundação Casa de Cultura de Marabá – Marabá – PA
62
“Aproveito o ensejo para desejar aos componentes da revista Corrente Contínua e milhares de leitores um santo e
próspero ano novo. Agradeço por receber regularmente esta excelente revista que é fonte de informação e cultura.
Severino Cassiano Ferreira – Água Preta- PE
“Com satisfação, acusamos o recebimento de exemplar da revista Corrente Contínua, da Eletronorte. Agradecendo
a gentileza da remessa, renovamos os nossos protestos de especial apreço e estima”.
José Arteiro da Silva - Fecomércio do Estado do Maranhão - São Luís - MA
Vejo a espuma do sabão que brilha nas águas desse rio
O branco dessa espuma se confunde com os grisalhos que tenho aqui comigo
Há tanto tempo os meus dias começam cedo com trouxas de roupas a lavar
E no meio dos lençóis, das calças e das saias ouço o barulho do sopro do vento
na água, que embala os meus sonhos
Aqueles poucos que consegui viver
Foi suficiente
Trouxe força para a luta diária
Luta essa de cada dia
Que me faz ter o pão
Mas quando esse sabão se acabar
Pode ter certeza que eu irei também
E esses cabelos de espumas sonhadoras sumirão nas águas do rio até o além
Texto: Camila Marques
Foto: Rony Ramos
corrente contínua
“Caríssimos, somos uma jovem entidade sem fins lucrativos, uma ONG voltada para vários projetos, entre eles a
educação, principalmente através da formação do conhecimento. Recebemos várias publicações, entre elas um exemplar desta revista chegou-nos por meio de Assessoria Parlamentar, e ficamos impressionados com a qualidade gráfica
e o nível dos artigos nela publicados. Por isso gostaríamos de saber quais as condições e possibilidades de podermos
recebê-la também.”.
Vital Caló Filho - Associação Comunitária Família Cristã Família Cidadã – Cosmópolis - SP
63
A REVISTA DA ELETRONORTE
Download

corrente contínua corrente contínua