Introdução ao Estudo da Corrente Eléctrica • Num metal os electrões de condução estão “dissociados” dos seus átomos de origem passando a ser partilhados por todos os iões positivos do sólido, e constituem desta forma um mar de electrões “livres”: Os electrões movimentam-se, mas a sua velocidade média é nula: não há corrente eléctrica. • Os transportadores de carga estão sempre em movimento, devido à agitação térmica. • Cargas eléctricas em movimento orientado originam a corrente eléctrica. 1/23 • Para haver corrente eléctrica é necessário que a velocidade média ou velocidade de deriva dos electrões de condução seja diferente de zero. • Quando há uma corrente eléctrica, os electrões têm velocidades diferentes, mas considera-se uma velocidade média: • Apesar de serem os electrões os responsáveis pela corrente eléctrica num condutor, convencionou-se que o sentido da corrente é o das cargas positivas. • Esta convenção foi estabelecida antes de se conhecerem os mecanismos de condução eléctrica nos metais (antes da descoberta do electrão por JJ Thomson, 1897). 2/23 Intensidade de Corrente Eléctrica • Para haver corrente eléctrica é necessário que actue uma força nas cargas, i.é terá de existir um campo eléctrico. • A diferença de potencial, V, que permite a existência de uma corrente eléctrica entre dois pontos afastado de L do condutor é: V E= L • A intensidade de corrente eléctrica define-se como a quantidade de carga eléctrica que atravessa uma secção recta de um condutor por unidade de tempo: I= • • ∆Q ∆t ou, no caso de a corrente não ser estacionária, isto é, de ser variável no tempo: dQ I= dt A unidade SI de corrente eléctrica é o Coulomb por segundo, ou Ampére [A]. 3/23 Intensidade de Corrente Eléctrica • Nem sempre são os electrões os responsáveis pela corrente eléctrica: – Num acelerador de partículas a corrente é provocada pelo movimento de todas as partículas carregadas presentes (electrões, positrões, protões, etc...). – No caso de um electrólito a corrente é transportada pelos iões positivos e negativos, que se movem em sentidos opostos. I= • • • • ∆Q = n ⋅ q ⋅ A ⋅v d ∆t n número de transportadores de carga por unidade de volume, q carga eléctrica dos transportadores A secção recta do volume onde se dá o transporte da corrente vd velocidade de transporte ou de deriva. 4/23 Resistência e resistividade eléctrica • A corrente eléctrica num condutor é provocada por um campo eléctrico no interior do condutor (nestes casos, o condutor não está em equilíbrio electrostático): – Os electrões de condução estão sujeitos a uma aceleração no interior do condutor. – No entanto a sua velocidade não aumenta indefinidamente, devido às frequentes colisões com os iões da rede cristalina, originando o aquecimento do material. – Quando se atinge o regime estacionário, o trabalho da força eléctrica é igual ao trabalho das forças de resistência: a energia cinética média dos electrões é constante. • Define-se resistência eléctrica como a razão entre a diferença de potencial entre os extremos de um condutor e a intensidade da corrente que o percorre: R= V I 5/23 Resistência e resistividade eléctrica R pode ser relacionada com o comprimento do condutor L , a secção do condutor A e uma propriedade do material denominada resistividade ρ : L R=ρ A A unidade SI de resistência eléctrica é o Volt por Ampére, denominada Ohm [Ω]. 6/23 Resistência e resistividade eléctrica O inverso da resistividade eléctrica é a condutividade eléctrica σ , 1 L R= ⋅ σ A Material Prata Resistivida de a 20°C Ω·m] [Ω 1,6 × 10-8 Cobre 1,7 × 10-8 Alumínio 2,8 × 10-8 Ferro 10 × 10-8 Germânio Resistividade eléctrica do cobre em função da temperatura 0,45 Madeira 108 – 1014 Vidro 1010 – 1014 Borracha dura 1013 – 1016 7/23 Resistividade eléctrica vs. Temperatura Resistividade aumenta com T em condutores ρ (T ) = ρ o [1 + α (T − To )] α - coeficiente de temperatura da resistividade Metal Resistividade diminui com T Semicondutor ρ (T < TC ) = 0 Supercondutor 8/23 Lei de Ohm Para metais verifica-se experimentalmente que V =RI , R constante Lei de Ohm óhmico não-óhmico 9/23 Efeito de Joule • • Durante a condução de corrente eléctrica observa-se, no interior do condutor, uma contínua transformação de energia eléctrica em energia térmica. Este fenómeno designa-se por efeito de Joule: – Este aquecimento deve-se ao mecanismo de colisões dos electrões livres com os iões positivos da rede cristalina durante a condução. Estas constantes colisões explicam a existência de uma velocidade de deriva constante. – Os electrões estão constantemente a receber energia do campo eléctrico, mas ela é rapidamente transferida para o condutor, sob forma de energia térmica: durante cada colisão o electrão perde todo o excesso de energia cinética adquirido. – O aumento de temperatura leva à transferência de energia do condutor para o exterior, sob a forma de calor. Potência dissipada por efeito de Joule num condutor com resistência R , submetido a uma diferença de potencial V e atravessado por uma corrente I Wr = V ∆Q ⇒ V2 P =V I = R I = R 2 10/23 10/23 Força Electromotriz • • • • Para manter uma corrente eléctrica constante num circuito devemos ter uma fonte de fornecimento de energia eléctrica também constante. Um dispositivo que fornece energia eléctrica é uma fonte de força electromotriz (f.e.m.). São exemplos de fontes de força electromotriz as baterias e os geradores. Uma bateria ideal é uma fonte de f.e.m. que mantém uma diferença de potencial constante entre os seus terminais, independentemente da intensidade da corrente que a percorre: Uma bateria real tem sempre uma certa resistência interna: a tensão entre os seus terminais é igual à sua força electromotriz menos a queda de tensão na sua resistência interna: 11/23 11/23 Leis de Kirchhoff • • Apesar de os circuitos eléctricos poderem ser muito complexos, a sua análise pode ser efectuada por intermédio de leis muito simples, as leis de Kirchhoff. A lei dos nodos (ou dos nós) a soma das correntes que entram num ponto do circuito é igual à soma das correntes que saem desse ponto: • ∑ Ientram = ∑ Isaem • Consequência da lei da conservação da carga. 12/23 12/23 Leis de Kirchhoff • Lei das malhas é nula a soma de todas as variações de potencial ao longo de qualquer percurso fechado: Atenção à convenção de sinais! Para a queda de tensão num gerador toma-se o sinal do pólo por onde se entra, ao circular. Para a queda de tensão numa resistência toma-se o sinal positivo quando se circula no sentido arbitrado para a corrente (e vice-versa). 13/23 13/23 Leis de Associação de Resistências • Associação em série A corrente é a mesma em todas as resistências. A diferença de potencial (d.d.p.) V é igual à soma das d.d.p. em cada resistência. Req = R1 + R2 + ... + Rn • Associação em paralelo A corrente total é a soma da corrente que passa em cada resistência. A d.d.p. em cada resistência é igual em todas as resistências. 1 1 1 1 = + + ... + Req R1 R2 Rn 14/23 14/23 Carga de Condensadores • • • • Um circuito com uma resistência e um condensador é um circuito RC. Neste tipo de circuito a corrente não permanece constante, mas varia com o tempo. Um exemplo prático de um circuito deste tipo é o circuito de alimentação de um flash. Durante o processo de carga de um condensador a intensidade de corrente diminui à medida que a carga no condensador aumenta: já não falamos de correntes estacionárias, mas de correntes transitórias. Num circuito deste tipo a carga, assim como a intensidade de corrente varia de forma exponencial. Estando o condensador inicialmente descarregado: −t τ Q (t ) = Qf 1− e , I (t ) = Io e −t τ 15/23 15/23 Carga de Condensadores A duração do processo de carga depende do produto entre os valores da resistência R e da capacidade do condensador C, designando-se t = RC por constante de tempo. O que acontece à energia fornecida pelo gerador ao circuito? 16/23 16/23 Descarga de Condensadores • Supondo agora que o condensador se encontra inicialmente com uma carga Qo e se liga a uma resistência, através da qual se descarrega, a análise da situação é ainda mais simples, dada a ausência do gerador: Q (t ) = Qo e −t τ , I (t ) = −Io e −t τ O facto de a corrente ser negativa na equação anterior significa apenas que tem sentido contrário ao escolhido na figura: • Para um condensador que se descarregue desta forma, a constante de tempo, t , corresponde ao tempo ao fim do qual a carga é Q = Qo/e, ou seja, cerca de 37% da carga inicial. 17/23 17/23 Aparelhos de Medida: Galvanómetro Dispositivos que permitem medir as grandezas eléctricas num circuito de corrente contínua: – Amperímetro ➜ medida da intensidade de corrente – Voltímetro ➜ medida da diferença de potencial – Ohmímetro ➜ medida da resistência eléctrica Por vezes estes instrumentos estão incluídos num único aparelho: o multímetro. O principal componente de um amperímetro e de um voltímetro é um galvanómetro: aparelho cuja leitura é proporcional à corrente que o atravessa. 18/23 18/23 Aparelhos de Medida: Galvanómetro • As duas propriedades mais importantes num galvanómetro são: – A resistência interna do galvanómetro, Rg . – A corrente necessária para provocar a deflexão máxima (sobre toda a escala), Ig . • Valores típicos destas grandezas: Rg = 10-100Ω, Ig = 0,5 mA. 19/23 19/23 Aparelhos de Medida: Amperímetros e Voltímetros • Para medir uma diferença de potencial através de um elemento de um circuito, o voltímetro deve ser ligado em paralelo com esse elemento. • Para medir uma corrente eléctrica através de um elemento de um circuito, o amperímetro deve ser ligado em série com esse elemento. A resistência interna do voltímetro deve ser grande (idealmente infinita) comparada com a do elemento através do qual se pretende medir a diferença de potencial. A resistência interna do amperímetro deve ser pequena (idealmente nula) comparada com a do ramo do circuito onde se pretende medir a corrente eléctrica. 20/23 20/23 Aparelhos de Medida: Amperímetro • Para construir um amperímetro liga-se um galvanómetro em paralelo com uma resistência pequena (shunt), relativamente à resistência interna do galvanómetro: • A maior parte da corrente passa pela resistência em derivação (shunt), sendo a resistência interna do amperímetro assim construído, muito menor do que a do galvanómetro de partida: 1 1 Ra = + R Rs g −1 = Rg ⋅Rs Rg + Rs ≈ Rs , Rs = Rg 21/23 21/23 Aparelhos de Medida: Voltímetro • Para construir um voltímetro liga-se um galvanómetro em série com uma resistência elevada, relativamente à resistência interna do galvanómetro: • Deste modo a resistência interna do voltímetro assim construído é muito mais elevada que a do galvanómetro de partida: Rv = Rg + Rs ≈ Rs 22/23 22/23 Aparelhos de Medida: Ohmímetro • Para construir um ohmímetro liga-se um galvanómetro em série com uma resistência Rs e uma fonte de força electromotriz e . • Os valores de Rs e de e são escolhidos de modo a obter a deflexão máxima do ponteiro com os terminais a e b em curto-circuito: – A deflexão máxima indica resistência nula entre os terminais a e b . – Quando os terminais são ligados a uma resistência desconhecida R , a corrente no galvanómetro é I = e / (R+Rs+Rg), inferior a Ig. A escala pode ser calibrada para dar uma leitura directa de R (atenção que esta escala não é linear). 23/23 23/23