Edição 24 - Setembro de 2015 De bem com a biotecnologia O Ministério da Agricultura da China (MOA, na sigla em inglês) saiu em defesa dos alimentos transgênicos aprovados no país. “A conclusão da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que os transgênicos aprovados não causam nenhum mal à saúde humana”, alertou o órgão por meio de nota oficial, no dia 31 de agosto. O MOA também lembrou aos consumidores que pesquisas realizadas tanto na China quanto em outros países chegaram a um ponto em comum: os transgênicos aprovados são tão seguros quanto os chamados grãos convencionais. O comunicado de Pequim também se baseia nos resultados de pesquisa que a própria União Europeia conduziu, durante 25 anos, com mais de 500 entidades independentes. A conclusão dos pesquisadores também acalmou os consumidores menos informados sobre a segurança da biotecnologia na alimentação humana. Em poucas horas, o comunicado do governo central ganhou o aval da comunidade científica do país. “Não há evidência científica que os transgênicos podem causar qualquer mal à saúde” – alertou o pesquisador Chen Junshi, da Academia Chinesa de Engenharia, ao jornal China Daily. A Academia Chinesa de Ciências Agrárias também aderiu ao coro em defesa dos transgênicos. “As pessoas devem confiar nas conclusões dos especialistas”, afirmou Huang Dafang, pesquisador em biotecnologia. A biotecnologia é parceira indispensável para a segurança alimentar da maior população do mundo. Não por acaso, o gigante asiático já é o maior importador de produtos transgênicos. Nos últimos anos investiu cifras bilionárias para desenvolver a própria indústria biotecnológica. Por isso, a China tem investido para conscientizar a opinião pública sobre a segurança dos organismos geneticamente modificados, os OGMs. A estratégia é vincular o carimbo de aprovação do Estado à segurança do produto. E isso significa mais fiscalização. Recentemente, o mesmo MOA lançou uma investigação nacional para apurar denúncias de plantios ilegais de soja transgênica. Os esforços serão concentrados na província de Heilongjiang. A região é a maior produtora de grãos do país. As autoridades portuárias também estão em alerta. A determinação é impedir a entrada de transgênicos não aprovados pelo governo central. A província de Shadong será o principal palco das operações. É lá que está o maior centro de distribuição dos grãos importados. Mas não é a fiscalização portuária que tem tirado o sono de quem exporta grãos pra China. A preocupação é pela falta de transparência e pela demora do governo chinês para avaliar os pedidos de registros de transgênicos. E, para alguns analistas, os chineses estão tornando a aprovação de transgênicos ainda mais complicada. Pequim notificou a Organização Mundial do Comércio sobre as novas regras no dia 2 de junho. Com o título “Propostas de emendas às regras para avaliação da segurança de organismos geneticamente modificados”, a nova legislação quebra a exclusividade dos critérios científicos na avaliação da segurança dos transgênicos. Na prática, a falta de objetividade pode prolongar a tramitação dos processos. E pior: pode ser o primeiro passo para a criação de novas barreiras não tarifárias. Se isso ocorrer, o Brasil estaria entre os países mais prejudicados por essa nova legislação. O motivo é simples. Os chineses são os maiores clientes externos dos agropecuaristas brasileiros. Só para se ter uma ideia do grande volume dos negócios: compraram 23% dos quase US$ 98 bilhões que o setor embarcou no ano passado. Mugido histórico. E veio da Universidade Agrícola de Pequim mais um sinal da proximidade dos chineses com os benefícios da biotecnologia. Ni Ni, a primeira vaca transgênica do país, deu a luz, pela primeira vez, no dia 28 de agosto. O pequeno bezerro passa bem e herdou as características da genética materna. Segundo Ni Hemin, pesquisador que liderou o experimento, o resultado demonstra a capacidade reprodutiva do gado transgênico. Nascida em 2012, a progenitora recebeu genes que aumentam o percentual de gordura do animal. O resultado é uma carne mais macia e saborosa. Bem ao gosto dos consumidores chineses. Informativo China Edição 24 - Setembro de 20152 Haja camisa para o algodão do Estado A estratégia do governo chinês para vender os estoques públicos de algodão não deu certo. Após quase dois meses de leilões diários, Pequim conseguiu bater o martelo em apenas 3,4% do volume que ofertou. lado, a procura por produtos têxteis segue em baixa na China. Para piorar a situação, os chineses vão colher algodão em breve. E a expectativa é que qualidade e os preços da safra nova sejam mais atrativos que os dos estoques públicos. ela conta com o cenário mais otimista - queda de produção e aumento da procura pela fibra. O problema é que as tendências apontam o mercado para direções opostas às imaginadas por Chase. Ao todo, apenas 63 mil toneladas da fibra deixaram os armazéns do Estado. A expectativa das autoridades chinesas era vender 1 milhão de toneladas. Com o fracasso dos leilões, Pequim deverá pensar em uma nova estratégia para escoar o algodão dos armazéns centrais para o pátio das indústrias têxteis. São cerca de 10 milhões de toneladas, volume equivalente a 40% de todo o estoque mundial. A queda das importações é outro indicador do momento ruim da indústria algodoeira na China. Somente no primeiro semestre deste ano, as compras externas caíram 65%. O mês de agosto registrou o pior desempenho nos últimos seis anos. O desafio não é nada fácil. O custo para manter milhares de pilhas de algodão já se tornou problema sério nas contas públicas. Para a analista Judith GanesChase, da Agrimoney, Pequim poderá demorar cinco anos para vender o último fardo da fibra. Mas, para isso acontecer, Mas ainda há luz no fim do túnel para os preços do algodão – ao menos para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Para o órgão, a demanda chinesa por algodão voltará a aumentar em 2016. Boa notícia para os leiloeiros de Pequim. Para analistas entrevistados pela agência Reuters, o principal motivo para a falta de comprador foi o alto preço do lance inicial. O produto à venda também era relativamente antigo – a maioria dos lotes vendidos era da safra 2011. O mercado também não ajudou os leiloeiros. Os moinhos estão com estoques relativamente altos. Por outro Chá chinês com açúcar nigeriano Os chineses anunciaram mais investimentos na produção de commodities agrícolas na África Ocidental. Dessa vez, as asiáticas China Geo-Engineering Corporation (CGC) e a Lee Group irão investir na produção de açúcar no norte da Nigéria. A parceria foi firmada durante visita do embaixador chinês, Gu-Xianojie, ao governador do estado de Jigawa, Muhammad Badaru Abubakar. O evento aconteceu no dia 17 de agosto. A notícia é do jornal Nigeria´s Daily Trust. “Estamos trabalhando com a proposta de desenvolver nove mil hectares”, declarou Abubakar. Em entrevista coletiva, o governador também afirmou não ter dúvidas que as tecnologias chinesas atenderão às necessidades do campo nigeriano. As condições climáticas do país africano são muito parecidas com as da China. O projeto é novo; a parceria, antiga. As duas empresas chinesas fazem negócios na região de Jigawa há mais de 10 anos. E o portfólio é bem diversificado. Já construíram rodovias, sistemas de irrigação e até uma fábrica de sapatos. O lado oriental da savana africana. Em visita ao continente no ano passado, o primeiro-ministro Li Keqiang afirmou que os chineses vão investir mais de US$ 100 bilhões na África até 2020. E a modernização da infraestrutura na Nigéria é um dos principais pontos no radar dos chineses. Li também estimou que o comércio bilateral deverá movimentar US$ 400 bilhões nesse mesmo período. Os bens agropecuários deverão alavancar as vendas dos africanos para o gigante asiático. O objetivo é garantir a segurança alimentar para a maior população do mundo. Não é à toa que a agricultura está entre os dez setores que mais atraem o capital chinês para o continente africano. Serviços e oportunidades de negócios em infraestrutura também atraem chineses para a savana africana. A lista de deficiências é longa. Escassez de água potável, estradas em condições ruins, falta de energia e redes ineficientes de 2 comunicação. Somente nesses setores, as oportunidades de negócios podem chegar a US$ 900 bilhões. Segundo estudo publicado pelo instituto Brookings, mais de 2 mil empresas chinesas investiram no continente africano entre os anos de 1998 e 2012. Ao todo, 49 países receberam recursos chineses nesse período. Com 217 e 139 projetos cadastrados no Ministério do Comércio da China, o MOFCOM, Nigéria e África do Sul, respectivamente, lideram a corrida por investimentos do parceiro asiáticos. Em comum entre os dois países, a abundância de recursos naturais. Para os olhos dos empresários de fora, entretanto, as autoridades africanas ainda podem melhorar o ambiente de negócios. As lições de casa envolvem a redução dos custos com energia e com transporte. Barreiras ao comércio e a insegurança jurídica também são alvos de críticas. Edição 24 - Setembro de 20153 Informativo China Mudanças na política para o milho Os chineses vão reduzir a área destinada ao cultivo de milho a partir de 2016. É o que anunciou o próprio ministro da agricultura do país, Han Changfu, durante recente reunião com oficiais responsáveis pela política agrícola do país. De acordo com a agência Reuters, Han, entretanto, não especificou o tamanho da área de milho que será reduzida. Mas explicou que incentivará a substituição do grão por outras culturas. É o caso da soja e das gramíneas forrageiras utilizadas na alimentação do gado. Segundo apurado pela Reuters, Pequim deverá incentivar a importação de grãos básicos. A poluição do solo e dos recursos hídricos impede a expansão da atividade agrícola em determinadas regiões do país. Em vez de investir na produção de determinadas culturas, a política agrícola do país deve priorizar a segurança dos alimentos nos próximos anos. No caso do milho, entretanto, a questão Informativo China é elaborado mensalmente pelo Escritório de Representação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em Pequim, China. é outra. Durante anos, o regime central garantiu a rentabilidade dos produtores por meio de compras governamentais e de garantia de preços – muitas vezes superiores aos praticados no próprio mercado internacional. Desde o início dessa política, em 2008, o valor determinado pelo governo aumentou cerca de 60%. Agora, o estado chinês parece sentir os efeitos colaterais dos subsídios à produção de milho. Os preços artificiais encheram os armazéns públicos com milho quase 30% mais caro que o grão importado. Segundo o Conselho Internacional de Grãos, os estoques chineses de milho equivalem a quase 50% da oferta mundial do produto. A exemplo do que ocorre com o algodão, Pequim tem tido dificuldades para esvaziar os silos públicos. Em julho passado, conseguiu vender apenas 71 mil toneladas das 5,3 milhões de toneladas anunciadas em leilão público. O governo central já envia sinais de que deve acabar com o controle de preços do milho a partir do ano que vem. Com o aumento das importações, a tendência é que o mercado substitua a caneta das autoridades na formação dos preços internos. O fato é que margem para erros é quase nula quando se trata da segurança alimentar da maior população do mundo. Não por outro motivo, a China não quer depender de um único fornecedor externo do grão. Há cinco anos, 97% do milho que desembarcava nos portos chineses tinham origem nos Estados Unidos. Segundo reportagem do The Wall Street Journal, esse percentual despescou para menos de 4% no último ano. Oportunidade de negócios para outros exportadores, como Brasil, Bulgária, Mianmar e Laos. CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL SGAN - Quadra 601 - Módulo K CEP: 70.830-021 Brasília/DF (61) 2109-1419 | [email protected] 3