Henrique Vieira
HISTÓRIA DE LICEU NACIONAL DE DIOGO CÃO
São autorizados os Governadores dos distritos de Benguela, Mossâmedes e Huíla a criar
em cada um dos seus distritos uma Escola Primária Superior, competindo às câmaras e
comissões municipais o encargo do pagamento das respectivas despesas.
Assim reza o art. 1.0 da Portaria N.o 269-D, de 23 de Agosto de 1919, assinada pelo
Governador-Geral de Angola, Francisco Coelho do Amaral Reis (visconde de Penalva), e publicada
no Boletim Oficial da Província de Angola – I.a Série - N.o 34, de 26 de Agosto de 1919.
O entusiasmo do Governador do Distrito da Huíla, capitão Alberto Freire Quaresma,
coadjuvado pelos homens bons da então vila de Sá da Bandeira, capital do distrito, recrutou os
professores entre as pessoas gradas da terra, sendo esse núcleo composto por oficiais do
exército, médicos, advogados e engenheiros.
A primeira acta diz-nos: Aos trinta e um dias do mês de Julho, de mil novecentos e vinte,
na sala do Conselho Escolar da Escola Primária Superior do Distrito da Huíla, na vila de Sá da
Bandeira, Lubango (".). Nessa sessão foi eleito o director, Eduardo Correia de Matos, e o
secretário, João Henriques de Azevedo, sendo os outros membros do corpo docente, o médico
Dr. Alfredo Lobo das Neves, o capitão Gastão de Sousa Dias e o advogado Dr. Domingos
Alexandrino da Cunha. As aulas eram ministradas numas salas do edifício da Câmara Municipal,
à época, o melhor edifício da vila.
Em Dezembro, desse ano de 1920, é efectuada uma festa pública a fim de recolher o
primeiro donativo para a Caixa Auxiliar, cujo objectivo era o de "dar aos alunos com insuficiência
de meios o auxílio para poderem acompanhar o ensino em condições idênticas à dos outros
estudantes". A expansão da Caixa Auxiliar faz com que seja necessário modificar o seu
Regulamento inicial e, assim, pelo alvará N,o 13, de 18 de Novembro de 1925 (BO N.o 48, de
28.11.925) do Alto Comissário Rego Chaves, passa a denominar-se "Caixa Auxiliar dos Alunos
da Escola Primária Superior da Huíla"; os sócios honorários obrigavam-se a uma quota mensal
de 1$00 ou a uma dádiva única de 20$00. Os alunos, não carenciados, pagavam mensalmente
0$20. A direcção administrativa passa a ser presidida pelo director da escola, vice-presidida
pelo aluno presidente da Academia, tendo por tesoureiro o professor - secretário da Escola.
Um estudante do 3.° ano (finalista) servia de 1.° secretário, um do 2.° ano de 2.° secretário e
três do 1.° ano como vogais. Chamamos a atenção para o facto curioso de um aluno
(presidente da Academia), nesta hierarquia oficialmente regulamentada, se sobrepor a um
professor, o tesoureiro.
Com a extinção das Escolas Primárias Superiores na Metrópole, a da Huíla tinha,
também, os seus dias contados, e é assim que dez anos após a sua criação, surge no seu lugar
o Liceu Nacional da Huíla, através do Diploma Legislativo N.o 40, de 6 de Abril de 1929.
Art. ° 1. ° - É extinta a Escola Primária Superior de ''Artur de Paiva" da cidade de Sá da
Bandeira.
Art.° 2.° - É criado, em sua substituição, na mesma cidade, um Liceu Nacional da Huíla.
Art.o 3.° - O Liceu Nacional da Huíla, terá organização, regulamentação e programas
semelhantes aos dos restantes Liceus do território da República, e nomeadamente aos do
Liceu Central de Salvador Correia, de Luanda, na parte aplicável.
(. .. )
O Alto Comissário: Filomeno da Câmara MeIo Cabral.
[Boletim Oficial da Colónia de Angola – I.ª Série - n.º 13 (edição corrigida), de 6 de Abril de
1929.]
É de 4 de Maio desse ano de 1929 a primeira Acta do Liceu; transitam para o novo
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estabelecimento de ensino os professores efectivos da então extinta Escola Primária Superior,
DI. Luís Sampayo Torres Fevereiro, que desempenhou o cargo de reitor até 1933, Dr. Lobo das
Neves, capitão Sousa Dias e capitão Santos Torres. Cinco anos depois o liceu é equiparado aos
liceus nacionais metropolitanos, conforme regulamentou o Decreto 22:346, de 23 de Março de
1933 (assinado pelo Presidente da República António Óscar de Fragoso Carmona).
A Portaria N.o 1:498, de 28 de Setembro de 1934, legisla:
Considerando que todos os liceus de Portugal, tanto na Metrópole como nas Colónias,
têm os seus patronos e que tal regra faz excepção o Liceu Nacional da Huíla;
Considerando que o Conselho Escolar respectivo, manifestando o desejo de que o seu
liceu acompanhe os seus similares, propôs que passe a ser designado com o nome do grande
navegador português que primeiro aportou a terras de Angola - Diogo Cão;
Sob proposta do Governo da Província da Huíla, ouvida a repartição Central dos Serviços
de Instrução Pública;
O Governador Geral de Angola, no uso das faculdades que lhe são atribuídas (. .. ),
determina que o actual Liceu Nacional da Huíla passe a denominar-se «Liceu Nacional de Diogo
Cão».
Cumpra-se.
Residência do Governo Geral de Angola, Luanda, aos 28 de Setembro de 1934.
(Boletim Oficial da Colónia de Angola – Iª Série - n.º 39, de 28 de Setembro de 1934.)
Nesse ano lectivo de 1934/35 o Liceu era frequentado por 145 alunos e o seu corpo
docente era constituído por oito professores, dos grupos 1.0 a 9.°, e por mais dois
professores de Educação Física e de Canto Coral.
Em 1934, no dia 29 de Março, o Conselho Escolar do liceu aprovou a proposta da
Caixa Auxiliar para a criação de um Internato, para os alunos não residentes em Sá da
Bandeira, proposta esta que teve o devido enquadramento orçamental da referida Caixa
Auxiliar dos Alunos. O Internato (devidamente autorizado por Portaria n.º 1497, de 28 de
Setembro de 1934, do Governador Geral Ferreira Viana) começou a funcionar no ano
lectivo de 1935/36, sob a direcção do professor Santos Torres, com 23 alunos, passando
a ser administrado pelo Estado no ano seguinte (Dec. 28:114 de 26 de Outubro de
1937).
Em 1937, o quadro de professores passa para dez efectivos, dos 1.° a 9.° grupos,
além dos professores de Educação Física e Canto Coral (Dec. 28:114, de 26 de Oui . de
1937); nesse ano lectivo de 1937-38 o liceu era frequentado por 207 alunos, dos quais
25 são raparigas.
De 1933 a 1938 foi reitor o Dr. Carlos Sotto-Mayor Negrão e dessa data a 1948 a
reitoria esteve a cargo do Dr. José Augusto Brilhante de Paiva.
O Dr. Sotto-Mayor Negrão passou a exercer as funções de director do Internato,
em 1938, mantendo-se nesse cargo até 1950, altura em que o internato alojava 135
alunos.
A década em que o Dr. Brilhante Paiva exerceu as funções de reitor foi
importantíssima para o liceu, já que se procedeu à ampliação do novo edifício, adquiriramse os terrenos anexos, dinamizou-se a Caixa Auxiliar dos Alunos, bem como a actividade
desportiva.
No ano de 1939, foi eleito para o cargo de presidente da Academia dos Estudantes
do liceu, "um fraco" e, naturalmente, os "veteranos" e os "crónicos" temendo a quebra das
tradições académicas e dos rituais da praxe revoltaram-se instituindo o Reino de
Maconge que era, em resumo: "uma organização académica dos estudantes dos cursos
mais adiantados, destinada a gerar um notável movimento académico, para o
ressurgimento da velha Academia. Determinava manifestações de toda a natureza: festas
escolares, excursões, desporto, serenatas e praxe", com o uso da capa e batina como
traje obrigatório nas cerimónias escolares e académicas, traje esse que estava a cair em
desuso, devido às modas americanas. Foi eleito rei D. Caio Júlio César da Silveira IV que ,
por incompreensão de alguns professores, já tinha efectuado a sua oitava matrícula no
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liceu; elaborou-se a "Constituição Política do Reino de Maconge" - que viria a ser
solenemente aprovada em 9 de Abril de 1941 -, o Rei dividiu as massas em escalões
sociais, dando títulos nobiliárquicos e humorísticos, explorando os pontos frágeis e
flagrantes de cada um. "O Conselho de Estado", com a representa ção de todas as
camadas sociais, redigia e assinava os decretos, inspirados nos métodos da velha
Coimbra; o "Conselho de Ministros" zelava pelo cumprimento dos ditos. Esta Real
República de Sonho, Lenda e Fantasia que tem por lema o desenvolvimento da Amizade,
Fraternidade e Solidariedade entre os seus membros, dilui-se na história da própria
Academia, que tinha por entidade máxima da praxe e da boémia o Rei de Maconge,
mantém-se activa até aos dias de hoje - 2004 -, como mais adiante se explicará.
Um ano marcante na história do liceu é o ano de 1940: pela primeira vez há uma
turma do 7.° ano, com 7 alunos; a Biblioteca liceal - possuindo já um espólio de 2551
obras, com 4015 volumes - é transformada em Instituição Pública (Dec. N.o 30 945, de
7 de Dezembro), podendo ser frequentada "por qualquer indivíduo interessado na leitura
ou consulta das suas obras". É nomeado director da Biblioteca o professor Sousa Dias;
são redigidas “As Macongíadas", poema épico à imagem e semelhança de Os LusÍadas,
onde se relatam os feitos dos maconginos nesse ano lectivo de 1940/41, pelos poetas
do reino Rui Ferreira Coelho e César Paulo da Silva; a presidência da Academia está a
cargo do aluno do 7.° ano Acrísio Sampaio Nunes.
Na década de quarenta, para além dos professores mencionados, leccio naram no
liceu outros distintos professores dos quais se destacam os nomes dos Drs. José
António Dentinho, Santos Diniz, Barros de Aguiar e Santos Paiva. Em 1942 foi
concedida uma verba de dois milhares de contos (avultada para a época), para a
aquisição dos terrenos adjacentes ao liceu, a fim de se poder edificar o Ginásio e
respectivos balneários, bem como o campo de futebol e a residência do reitor.
Da tradição académica dos anos quarenta salienta-se a "Reunião da Academia do
Liceu Nacional de Diogo Cão em Assembleia Magna, por determinação de Sua Excelência
o Senhor Ministro das Colónias, Doutor Francisco Vieira Machado" na qual se
elaboraram as petições a apresentar ao senhor ministro. Nessa reunião, efectuada em
17 de Novembro de 1942, presidiu à Mesa da Assembleia o veterano Constantino
Ferreira Brandão, sendo presidente da Academia César Gonçalves da Silveira. As seis
petições apresentadas - fundação da Associação Académica do Liceu; concessão de um
subsídio à Caixa Auxiliar; isenção de impostos alfandegários para todas as encomendas
feitas pela Caixa Auxiliar; instalação eléctrica nos edifícios do Internato, Liceu e Ginásio;
anulação da lei que estabelece o limite de idade para a admissão ao Liceu; maior
actividade no campo desportivo por parte da Mocidade Portuguesa - foram todas
satisfeitas pelo senhor ministro ao longo dos três anos lectivos imediatos.
Esta Assembleia Magna operou, no dizer de César da Silveira, verdadeira
transfiguração na fisionomia académica de Sá da Bandeira. Foi - é inegável acontecimento "histórico" de gratos e assinaláveis efeitos ( .. .). Coincidiu também com a
"criação" de duas grandes tradições académicas: fez-se, então, em Sá da Bandeira, a
primeira grande marcha académica "aux flambeau" (homenagem ao ministro Vieira
Machado) e realizaram-se as primeiras "Festas de Finalistas" (de "Despedida",
como se dizia naquele tempo) - tradição que se manterá até 1974.
Em 1946 o liceu era frequentado por 353 alunos internos e estavam matriculados
772 alunos externos, já que, havendo somente dois liceus em Angola, o Salvador
Correia, em Luanda, e o Diogo Cão, os alunos dos distritos de Benguela, Huambo e Bié
estavam abrangidos pela Área Pedagógica do Liceu Diogo Cão, deslocando-se os
professores deste liceu, na época de exames, aos estabelecimentos de ensino destas
províncias a fim de examinarem os candidatos aos exames de admissão e de transição
do 1. 0 para o 2. 0 ciclo.
No final do ano de 1950, mais precisamente em 29 de Dezembro, é publicado o
número um do PADRÃO, Revista Trimestral Ilustrada - órgão dos alunos do liceu de
Diogo Cão (Huíla), tendo como professor-orientador o Dr. Higino Vieira e sendo a
comissão redactorial composta pelos alunos Eduardo Freitas Monteiro, José Teixeira da
Costa e Fernando Fernandes e Freitas. Vitor Sá Machado (administrador da Fundação
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Calouste Gulbenkian nas duas últimas décadas do século passado) integrou a comissão
redactorial dos números 3 a 6 (de 30 de Junho de 1951 a 31 de Março de 1952). O Dr.
Higino Vieira exerceu as funções de professor-orientador até ao número 9, publicado em
15 de Dezembro de 1952. O PADRÃO manteve a sua publicação trimestral, com ligeiras
interrupções, até Maio de 1974. Foi, também, colaborador desta revista estudantil,
entre 1966 e 1969, Luís Sá (1951-2002), destacado dirigente do Partido Comunista
Português.
De 1947 a 51 destaca-se, em especial, a figura do reitor, Dr. Ramalho Viegas, "O
Pai da Malta" que, por motivos de saúde, é colocado no Liceu Nacional de Faro, vindo,
por permuta, para o Diogo Cão, o Dr. Aleixo Cunha. Sobre a despedida do Dr. Ramalho
Viegas relata-nos o PADRÃO: " ... Na manhã em que deixou as terras da Huíla, a estação
ferroviária encontrava-se repleta de gente de todas as camadas sociais, que lhe
tributaram uma manifestação de grande simpatia e apreço" (N. o 4 - Set!51).
O professor Sousa Dias, ao atingir o limite de idade, dá a sua última aula a 20 de
Setembro de 1952, após 33 anos de docência; por Despacho do Governador -Geral de
Angola, a biblioteca do liceu passa a denominar-se "Biblioteca Professor Sousa Dias". É
reitor do liceu o Dr. José Amaral Espinha, cargo que desempenha até ao seu falecimento
em 1956. Na sucessão de reitores encontramos os nomes dos Drs. Teixeira Lucas,
Falcão Machado, Prado Leitão e Leandro de Mendonça.
O Dr. Leandro de Mendonça, professor de Ciências Físico-Químicas de 1937 a 67,
destacava-se pela sua força hercúlea, fama que já trazia dos seus tempos de
estudante, em Coimbra. Uma das "histórias" (que nos foi corro borada por dois excolegas da república que habitou na Lusa Atenas) relata-nos que, em noite de pândega
ou de festa académica, o "hercúleo" gostava de coleccionar barretes de polícias, o que,
naturalmente, lhe provocava alguns dissabores de hospedagem nocturna; no cortejo da
Queima das Fitas do seu 4. 0 ano, sabendo os polícias que o "hercúleo" tinha feito uma
aposta com os colegas, em que levaria, para a república, 25 barretes, só precisou de
"conquistar" 18, sendo os restantes sete oferecidos pelos diligentes agentes da
autoridade logo que o "hercúleo" se dirigia para o local onde estavam de serviço, na parte
final do trajecto do cortejo académico.
As aventuras da excursão dos finalistas de 1953/54 levam à produção das
"Lidadas" pelo bardo António Bruto da Costa e à elaboração do "Hino do Sétimo Ano", da
autoria de Bruto da Costa, Luís Almeida e Orlando Carvalho, hino esse que se manteve em
vigor até 1974.
Em Março de 1959, regista-se um acontecimento digno de realce, a Excursão a
Moçambique. Saindo de Sá da Bandeira para Moçâmedes a 4 de Março, em auto matara
dos Caminhos de Ferro de Moçâmedes, um grupo de 40 (14 raparigas e 26 rapazes) dos
74 finalistas, acompanhados por quatro professores (Higino Vieira, Manuel Matos,
Margarida Pinto e Helena Arez) vão, por via marítima, no paquete Pátria, visitar a
província do Índico, regressando a Moçâmedes no dia 29 desse mês. Tendo por alojamento
permanente o paquete, visitaram Cape Town, Lourenço Marques, Beira e ilha de
Moçambique. As referências elogiosas a esta embaixada académica foram uma constante,
quer nos meios de comunicação de Cape Town como nos de Moçambique, quer, também,
por parte do comandante do Pátria.
No início da década de sessenta são criados os cursos médios do Instituto
Comercial de Sá da Bandeira (1961) - director Dr. Vasco Homem, da Escola do Magistério
Primário (1963) - director Dr. Higino Vieira, e do Curso de Ciências Pedagógicas, na
delegação de Sá da Bandeira dos Estudos Gerais Universitários de Angola (1963) director Prof. Doutor Délio Nobre Santos; nesta delegação funcionam, a partir de 1966,
os cursos de professores adjuntos dos 8.0 e 11.0 grupos do Ensino Técnico. A abertura
dos Estudos Gerais (que em 1968 são transformados em Universidade de Luanda) possibilita a continuação de estudos a muitos dos jovens cujas famílias não tinham
capacidades económicas para os pôr a estudar na Metrópole. É em 1969 que são
criados, na Faculdade de Letras da Universidade de Luanda, a funcionar em Sá da
Bandeira, os bacharelatos em Filologia Românica, História e Geografia, bem como as
licenciaturas em Matemática e Engenharia Geográfica, cursos estes que rapidamente
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atingem uma frequência considerável, para a qual muito contribuíram os alunos que
terminavam o 7.0 ano no Liceu Diogo Cão.
Em 1965, sendo presidente da Academia Alberto Traguedo, assiste-se à integração
na Academia dos alunos da Escola Industrial e Comercial de Artur de Paiva e do Instituto
Comercial, deixando a capa e batina de ser usada exclusivamente pelos alunos do liceu. É
também nesse ano que o pátio coberto, da ala nascente do liceu, desaparece, dando lugar
a mais quatro salas de aulas. No ano lectivo seguinte o Internato passa a denominar-se
"Lar dos Estudantes da Mocidade Portuguesa", e a ter um orçamento autónomo em
relação ao liceu, tendo por director o professor Simão Portugal que exerce essas funções
desde 1960.
Em Agosto de 1967, por ocasião das Festas de Nossa Senhora do Monte, realizase a IV Confraternização dos Antigos Estudantes do Liceu, sendo homenageado o antigo
reitor, Dr. Ramalho Viegas. Na sequência dessa confraternização, um grupo de antigos
alunos (Saraiva de Oliveira, Rogério Gomes e Carlos Fontoura) revitaliza as Ceias de
Maconge no último sábado de cada mês, iniciando-se uma confraternização entre antigos
e actuais estudantes, Ceias essas onde são cumpridos todos os rituais da praxe e da
boémia do Reino de Maconge (essa tradição mantém-se até aos dias de hoje, nos vários
Kimbos - «cidades» - onde os maconginos residem). É também em 1967, com o
aparecimento da Reforma do Ensino, que se cria o Ciclo Preparatório do Ensino
Secundário; nesse ano, os rapazes que frequentam o 1. 0 ano vão ter as suas aulas no
edifício da Escola Industrial, enquanto que as raparigas ficam no liceu. Em Outubro de
1968, com a conclusão do edifício da Escola Preparatória Marquês de Sá da Bandeira,
passam para este estabelecimento os alunos do 1.0 e 2. 0 ano do ciclo preparatório.
Em Fevereiro de 1968, dá a sua última aula o Dr. Leandro Mendonça, acta este
aproveitado pelas entidades locais e antigos alunos para uma justa homenagem ao
docente que, ao longo de trinta anos "com um dinamismo invulgar mais chateou a malta,
mais cagaços lhe pregou nas chamadas nos exercícios e exames", conforme consta da
Portaria Régia enviada pelo rei de Maconge, para ser lida nesta cerimónia.
Nesse ano de 68, sendo presidentes da Academia Fernando Cobanco (Set. 67 a Set.
68) e Henrique (Higino) Vieira (Set. 68 a Set. 69), aderem à Academia os alunos do
Colégio Nuno Álvares, Colégio Feminino das Irmãs Doroteias Paula Frassinetti e Escola do
Magistério Primário. Este facto leva à necessidade da criação de um Senado Académico
para o qual eram eleitos dois representantes, naturalmente veteranos, dos seis
estabelecimentos de ensino supra-mencionados. Os "Novos Estatutos da Praxe e da
Boémia da Academia da Huíla" são aprovados, pelo Rei de Maconge, a 24 de Setembro.
No ano lectivo de 1970/71, sendo reitor o arquitecto Samuel Varandas, o liceu é
frequentado por 645 alunos, estando matriculados nos dois estabelecimentos de ensino
médio e no superior 370 alunos. A Academia zela pela postura social e cumprimento das
normas académicas, com "Lata, Lábia e Linha", de mil e oitocentos estudantes. É também
em 1970, sendo presidente da Academia José Oliveira Pereira (Kindufo), que, face ao prolongado exílio do Rei de Maconge em Luanda, é nomeado D. Mário Saraiva de Oliveira
(aluno do liceu entre 1938/46 e presidente da Academia nesse último ano) para o cargo
de Vice-Rei de Maconge, substituindo, assim, o Rei nos seus impedimentos; no ano
imediato D. Mário recebe o título de Grão-Duque do Lubango.
Em 1973, sendo reitor do liceu o Dr. Edgar Verdades e presidente da Academia
João Costa e Silva, realiza-se a VIII Confraternização dos Antigos Estudantes do Liceu,
por altura das Festas de Nossa Senhora do Monte. N essa confraternização é oferecido
ao liceu o quadro do antigo professor e reitor, Dr. Leandro de Mendonça, pintado por
Preto Pacheco, e é aprovada a "Lei Fundamental do Reino de Maconge" nas Cortes
Constituintes, reunidas nos dias 13 e 14 de Agosto.
Em 1974, um grupo de trinta finalistas, visita a Metrópole entre os dias 3 e 30 de
Março; como facto saliente a não visita às Caldas da Rainha no dia 12 devido ao
"Levantamento das Caldas" no dia anterior, chefiado pelo então tenente-coronel Almeida
Bruno. Era reitora do liceu a Dr. a Maria José Brito que dirigiu, nessa qualidade, a visita;
além da senhora reitora acompanharam o grupo de trinta alunos os Drs. José Marinho e
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Eunice Marques Luís. Do grupo de finalistas fazia parte o presidente da Academia
Norberto Costa. É também neste ano lectivo que se realiza o último "Baile dos Finalistas".
A Revolução dos Cravos (25 de Abril de 74) e o seu respectivo desenvolvimento
político faz com que, no início do ano lectivo de 1974/75, sendo reitor o Dr. Reigadas, se
procedesse, ainda, à eleição do presidente da Academia, ocupando esse cargo o veterano
Manuel Carreira Fernandes. O desenvolvimento "revolucionário" da época leva a que não se
cumpram os rituais académicos de início de ano lectivo e a Academia "esvazia-se", face ao
fulgor da corrente estudantil que impõe a ''Associação dos Estudantes do Liceu" como
novel representante dos interesses reivindicativos da população estudantil, a qual,
naturalmente, se desagrega com a guerra civil e a imposição de um novo "currículo" nos
liceus angolanos, a partir de Setembro de 75. O Liceu Nacional de Diogo Cão passa a
chamar-se "Escola de Nível Básico Mandume".
A dinâmica académica, após a "descolonização", não se perdeu e a Real República de
Maconge e os seus ideais de Sonho, Lenda e Fantasia, onde se cultiva a Amizade, a
Solidariedade e a Fraternidade, continuam vivos. O Rei "ausentou -se para parte incerta"
(porque em Maconge não se morre) em Abril de 1977; D. Mário Saraiva de Oliveira, não
aceitou ser promovido a Rei - nas Cortes Gerais do Reino de Maconge, realizadas, em
Coimbra, a 28 de Maio de 1978 -, governando o Reino com o título de Vice-Rei. Em
Janeiro de 1998, o Vice-Rei visitou a sede do Reino, no Lubango (antiga Sá da Bandeira),
e aí foram criados os mecanismos que possibilitaram a construção dos Reais Paços de
Maconge, solenemente inaugurados em Janeiro de 2003. Estando D. Mário "ausente em
parte incerta" desde Março de 1998, passou a exercer as funções de II Vice-Rei, desde
Setembro desse ano, D. Olavo Godinho, aluno do liceu nos anos de 1944 a 53.
A estadia dos maconginos neste "ultramar" levou-os a adoptar uma nova organização
administrativa, estando agrupados por "Sobados", coordenados por um Soba. Em Angola,
onde existem os sobados do Lubango (ex-Sá da Bandeira) e Luanda, o representante do II
Vice-Rei, D. Fernando Silveira (Funka), marquês do Chongoroi, continua a congregar todos
os maconginos aí residentes; em Portugal os sobas do Porto, Aveiro, Leiria, Torres
Vedras, Lisboa, Seixal/ Almada, Setúbal, Santo André/Sines, Portimão, Faro e Funchal,
organizam anualmente várias Ceias Académicas onde comparecem os maconginos cujas
«cubatas» (residências) ou «chitakas» (quintas) ficam na área desse sobado; os sobas de
Cabrália-Brasil e Toronto-Canadá, anualmente, juntam os maconginos da sua área; em
Macau, existiu, entre 1989 e 99, o "Sobado de Amagao". Em todos nós, antigos
estudantes da Huíla, existe o orgulho de continuarmos a viver em permanente Amizade,
Fraternidade e Solidariedade, o orgulho de sermos MACONGINOS.
Henrique (Higino) Vieira
Aluno do Liceu Diogo Cão
entre 1960 e 69.
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