Henrique Vieira HISTÓRIA DE LICEU NACIONAL DE DIOGO CÃO São autorizados os Governadores dos distritos de Benguela, Mossâmedes e Huíla a criar em cada um dos seus distritos uma Escola Primária Superior, competindo às câmaras e comissões municipais o encargo do pagamento das respectivas despesas. Assim reza o art. 1.0 da Portaria N.o 269-D, de 23 de Agosto de 1919, assinada pelo Governador-Geral de Angola, Francisco Coelho do Amaral Reis (visconde de Penalva), e publicada no Boletim Oficial da Província de Angola – I.a Série - N.o 34, de 26 de Agosto de 1919. O entusiasmo do Governador do Distrito da Huíla, capitão Alberto Freire Quaresma, coadjuvado pelos homens bons da então vila de Sá da Bandeira, capital do distrito, recrutou os professores entre as pessoas gradas da terra, sendo esse núcleo composto por oficiais do exército, médicos, advogados e engenheiros. A primeira acta diz-nos: Aos trinta e um dias do mês de Julho, de mil novecentos e vinte, na sala do Conselho Escolar da Escola Primária Superior do Distrito da Huíla, na vila de Sá da Bandeira, Lubango (".). Nessa sessão foi eleito o director, Eduardo Correia de Matos, e o secretário, João Henriques de Azevedo, sendo os outros membros do corpo docente, o médico Dr. Alfredo Lobo das Neves, o capitão Gastão de Sousa Dias e o advogado Dr. Domingos Alexandrino da Cunha. As aulas eram ministradas numas salas do edifício da Câmara Municipal, à época, o melhor edifício da vila. Em Dezembro, desse ano de 1920, é efectuada uma festa pública a fim de recolher o primeiro donativo para a Caixa Auxiliar, cujo objectivo era o de "dar aos alunos com insuficiência de meios o auxílio para poderem acompanhar o ensino em condições idênticas à dos outros estudantes". A expansão da Caixa Auxiliar faz com que seja necessário modificar o seu Regulamento inicial e, assim, pelo alvará N,o 13, de 18 de Novembro de 1925 (BO N.o 48, de 28.11.925) do Alto Comissário Rego Chaves, passa a denominar-se "Caixa Auxiliar dos Alunos da Escola Primária Superior da Huíla"; os sócios honorários obrigavam-se a uma quota mensal de 1$00 ou a uma dádiva única de 20$00. Os alunos, não carenciados, pagavam mensalmente 0$20. A direcção administrativa passa a ser presidida pelo director da escola, vice-presidida pelo aluno presidente da Academia, tendo por tesoureiro o professor - secretário da Escola. Um estudante do 3.° ano (finalista) servia de 1.° secretário, um do 2.° ano de 2.° secretário e três do 1.° ano como vogais. Chamamos a atenção para o facto curioso de um aluno (presidente da Academia), nesta hierarquia oficialmente regulamentada, se sobrepor a um professor, o tesoureiro. Com a extinção das Escolas Primárias Superiores na Metrópole, a da Huíla tinha, também, os seus dias contados, e é assim que dez anos após a sua criação, surge no seu lugar o Liceu Nacional da Huíla, através do Diploma Legislativo N.o 40, de 6 de Abril de 1929. Art. ° 1. ° - É extinta a Escola Primária Superior de ''Artur de Paiva" da cidade de Sá da Bandeira. Art.° 2.° - É criado, em sua substituição, na mesma cidade, um Liceu Nacional da Huíla. Art.o 3.° - O Liceu Nacional da Huíla, terá organização, regulamentação e programas semelhantes aos dos restantes Liceus do território da República, e nomeadamente aos do Liceu Central de Salvador Correia, de Luanda, na parte aplicável. (. .. ) O Alto Comissário: Filomeno da Câmara MeIo Cabral. [Boletim Oficial da Colónia de Angola – I.ª Série - n.º 13 (edição corrigida), de 6 de Abril de 1929.] É de 4 de Maio desse ano de 1929 a primeira Acta do Liceu; transitam para o novo 2 estabelecimento de ensino os professores efectivos da então extinta Escola Primária Superior, DI. Luís Sampayo Torres Fevereiro, que desempenhou o cargo de reitor até 1933, Dr. Lobo das Neves, capitão Sousa Dias e capitão Santos Torres. Cinco anos depois o liceu é equiparado aos liceus nacionais metropolitanos, conforme regulamentou o Decreto 22:346, de 23 de Março de 1933 (assinado pelo Presidente da República António Óscar de Fragoso Carmona). A Portaria N.o 1:498, de 28 de Setembro de 1934, legisla: Considerando que todos os liceus de Portugal, tanto na Metrópole como nas Colónias, têm os seus patronos e que tal regra faz excepção o Liceu Nacional da Huíla; Considerando que o Conselho Escolar respectivo, manifestando o desejo de que o seu liceu acompanhe os seus similares, propôs que passe a ser designado com o nome do grande navegador português que primeiro aportou a terras de Angola - Diogo Cão; Sob proposta do Governo da Província da Huíla, ouvida a repartição Central dos Serviços de Instrução Pública; O Governador Geral de Angola, no uso das faculdades que lhe são atribuídas (. .. ), determina que o actual Liceu Nacional da Huíla passe a denominar-se «Liceu Nacional de Diogo Cão». Cumpra-se. Residência do Governo Geral de Angola, Luanda, aos 28 de Setembro de 1934. (Boletim Oficial da Colónia de Angola – Iª Série - n.º 39, de 28 de Setembro de 1934.) Nesse ano lectivo de 1934/35 o Liceu era frequentado por 145 alunos e o seu corpo docente era constituído por oito professores, dos grupos 1.0 a 9.°, e por mais dois professores de Educação Física e de Canto Coral. Em 1934, no dia 29 de Março, o Conselho Escolar do liceu aprovou a proposta da Caixa Auxiliar para a criação de um Internato, para os alunos não residentes em Sá da Bandeira, proposta esta que teve o devido enquadramento orçamental da referida Caixa Auxiliar dos Alunos. O Internato (devidamente autorizado por Portaria n.º 1497, de 28 de Setembro de 1934, do Governador Geral Ferreira Viana) começou a funcionar no ano lectivo de 1935/36, sob a direcção do professor Santos Torres, com 23 alunos, passando a ser administrado pelo Estado no ano seguinte (Dec. 28:114 de 26 de Outubro de 1937). Em 1937, o quadro de professores passa para dez efectivos, dos 1.° a 9.° grupos, além dos professores de Educação Física e Canto Coral (Dec. 28:114, de 26 de Oui . de 1937); nesse ano lectivo de 1937-38 o liceu era frequentado por 207 alunos, dos quais 25 são raparigas. De 1933 a 1938 foi reitor o Dr. Carlos Sotto-Mayor Negrão e dessa data a 1948 a reitoria esteve a cargo do Dr. José Augusto Brilhante de Paiva. O Dr. Sotto-Mayor Negrão passou a exercer as funções de director do Internato, em 1938, mantendo-se nesse cargo até 1950, altura em que o internato alojava 135 alunos. A década em que o Dr. Brilhante Paiva exerceu as funções de reitor foi importantíssima para o liceu, já que se procedeu à ampliação do novo edifício, adquiriramse os terrenos anexos, dinamizou-se a Caixa Auxiliar dos Alunos, bem como a actividade desportiva. No ano de 1939, foi eleito para o cargo de presidente da Academia dos Estudantes do liceu, "um fraco" e, naturalmente, os "veteranos" e os "crónicos" temendo a quebra das tradições académicas e dos rituais da praxe revoltaram-se instituindo o Reino de Maconge que era, em resumo: "uma organização académica dos estudantes dos cursos mais adiantados, destinada a gerar um notável movimento académico, para o ressurgimento da velha Academia. Determinava manifestações de toda a natureza: festas escolares, excursões, desporto, serenatas e praxe", com o uso da capa e batina como traje obrigatório nas cerimónias escolares e académicas, traje esse que estava a cair em desuso, devido às modas americanas. Foi eleito rei D. Caio Júlio César da Silveira IV que , por incompreensão de alguns professores, já tinha efectuado a sua oitava matrícula no 3 liceu; elaborou-se a "Constituição Política do Reino de Maconge" - que viria a ser solenemente aprovada em 9 de Abril de 1941 -, o Rei dividiu as massas em escalões sociais, dando títulos nobiliárquicos e humorísticos, explorando os pontos frágeis e flagrantes de cada um. "O Conselho de Estado", com a representa ção de todas as camadas sociais, redigia e assinava os decretos, inspirados nos métodos da velha Coimbra; o "Conselho de Ministros" zelava pelo cumprimento dos ditos. Esta Real República de Sonho, Lenda e Fantasia que tem por lema o desenvolvimento da Amizade, Fraternidade e Solidariedade entre os seus membros, dilui-se na história da própria Academia, que tinha por entidade máxima da praxe e da boémia o Rei de Maconge, mantém-se activa até aos dias de hoje - 2004 -, como mais adiante se explicará. Um ano marcante na história do liceu é o ano de 1940: pela primeira vez há uma turma do 7.° ano, com 7 alunos; a Biblioteca liceal - possuindo já um espólio de 2551 obras, com 4015 volumes - é transformada em Instituição Pública (Dec. N.o 30 945, de 7 de Dezembro), podendo ser frequentada "por qualquer indivíduo interessado na leitura ou consulta das suas obras". É nomeado director da Biblioteca o professor Sousa Dias; são redigidas “As Macongíadas", poema épico à imagem e semelhança de Os LusÍadas, onde se relatam os feitos dos maconginos nesse ano lectivo de 1940/41, pelos poetas do reino Rui Ferreira Coelho e César Paulo da Silva; a presidência da Academia está a cargo do aluno do 7.° ano Acrísio Sampaio Nunes. Na década de quarenta, para além dos professores mencionados, leccio naram no liceu outros distintos professores dos quais se destacam os nomes dos Drs. José António Dentinho, Santos Diniz, Barros de Aguiar e Santos Paiva. Em 1942 foi concedida uma verba de dois milhares de contos (avultada para a época), para a aquisição dos terrenos adjacentes ao liceu, a fim de se poder edificar o Ginásio e respectivos balneários, bem como o campo de futebol e a residência do reitor. Da tradição académica dos anos quarenta salienta-se a "Reunião da Academia do Liceu Nacional de Diogo Cão em Assembleia Magna, por determinação de Sua Excelência o Senhor Ministro das Colónias, Doutor Francisco Vieira Machado" na qual se elaboraram as petições a apresentar ao senhor ministro. Nessa reunião, efectuada em 17 de Novembro de 1942, presidiu à Mesa da Assembleia o veterano Constantino Ferreira Brandão, sendo presidente da Academia César Gonçalves da Silveira. As seis petições apresentadas - fundação da Associação Académica do Liceu; concessão de um subsídio à Caixa Auxiliar; isenção de impostos alfandegários para todas as encomendas feitas pela Caixa Auxiliar; instalação eléctrica nos edifícios do Internato, Liceu e Ginásio; anulação da lei que estabelece o limite de idade para a admissão ao Liceu; maior actividade no campo desportivo por parte da Mocidade Portuguesa - foram todas satisfeitas pelo senhor ministro ao longo dos três anos lectivos imediatos. Esta Assembleia Magna operou, no dizer de César da Silveira, verdadeira transfiguração na fisionomia académica de Sá da Bandeira. Foi - é inegável acontecimento "histórico" de gratos e assinaláveis efeitos ( .. .). Coincidiu também com a "criação" de duas grandes tradições académicas: fez-se, então, em Sá da Bandeira, a primeira grande marcha académica "aux flambeau" (homenagem ao ministro Vieira Machado) e realizaram-se as primeiras "Festas de Finalistas" (de "Despedida", como se dizia naquele tempo) - tradição que se manterá até 1974. Em 1946 o liceu era frequentado por 353 alunos internos e estavam matriculados 772 alunos externos, já que, havendo somente dois liceus em Angola, o Salvador Correia, em Luanda, e o Diogo Cão, os alunos dos distritos de Benguela, Huambo e Bié estavam abrangidos pela Área Pedagógica do Liceu Diogo Cão, deslocando-se os professores deste liceu, na época de exames, aos estabelecimentos de ensino destas províncias a fim de examinarem os candidatos aos exames de admissão e de transição do 1. 0 para o 2. 0 ciclo. No final do ano de 1950, mais precisamente em 29 de Dezembro, é publicado o número um do PADRÃO, Revista Trimestral Ilustrada - órgão dos alunos do liceu de Diogo Cão (Huíla), tendo como professor-orientador o Dr. Higino Vieira e sendo a comissão redactorial composta pelos alunos Eduardo Freitas Monteiro, José Teixeira da Costa e Fernando Fernandes e Freitas. Vitor Sá Machado (administrador da Fundação 4 Calouste Gulbenkian nas duas últimas décadas do século passado) integrou a comissão redactorial dos números 3 a 6 (de 30 de Junho de 1951 a 31 de Março de 1952). O Dr. Higino Vieira exerceu as funções de professor-orientador até ao número 9, publicado em 15 de Dezembro de 1952. O PADRÃO manteve a sua publicação trimestral, com ligeiras interrupções, até Maio de 1974. Foi, também, colaborador desta revista estudantil, entre 1966 e 1969, Luís Sá (1951-2002), destacado dirigente do Partido Comunista Português. De 1947 a 51 destaca-se, em especial, a figura do reitor, Dr. Ramalho Viegas, "O Pai da Malta" que, por motivos de saúde, é colocado no Liceu Nacional de Faro, vindo, por permuta, para o Diogo Cão, o Dr. Aleixo Cunha. Sobre a despedida do Dr. Ramalho Viegas relata-nos o PADRÃO: " ... Na manhã em que deixou as terras da Huíla, a estação ferroviária encontrava-se repleta de gente de todas as camadas sociais, que lhe tributaram uma manifestação de grande simpatia e apreço" (N. o 4 - Set!51). O professor Sousa Dias, ao atingir o limite de idade, dá a sua última aula a 20 de Setembro de 1952, após 33 anos de docência; por Despacho do Governador -Geral de Angola, a biblioteca do liceu passa a denominar-se "Biblioteca Professor Sousa Dias". É reitor do liceu o Dr. José Amaral Espinha, cargo que desempenha até ao seu falecimento em 1956. Na sucessão de reitores encontramos os nomes dos Drs. Teixeira Lucas, Falcão Machado, Prado Leitão e Leandro de Mendonça. O Dr. Leandro de Mendonça, professor de Ciências Físico-Químicas de 1937 a 67, destacava-se pela sua força hercúlea, fama que já trazia dos seus tempos de estudante, em Coimbra. Uma das "histórias" (que nos foi corro borada por dois excolegas da república que habitou na Lusa Atenas) relata-nos que, em noite de pândega ou de festa académica, o "hercúleo" gostava de coleccionar barretes de polícias, o que, naturalmente, lhe provocava alguns dissabores de hospedagem nocturna; no cortejo da Queima das Fitas do seu 4. 0 ano, sabendo os polícias que o "hercúleo" tinha feito uma aposta com os colegas, em que levaria, para a república, 25 barretes, só precisou de "conquistar" 18, sendo os restantes sete oferecidos pelos diligentes agentes da autoridade logo que o "hercúleo" se dirigia para o local onde estavam de serviço, na parte final do trajecto do cortejo académico. As aventuras da excursão dos finalistas de 1953/54 levam à produção das "Lidadas" pelo bardo António Bruto da Costa e à elaboração do "Hino do Sétimo Ano", da autoria de Bruto da Costa, Luís Almeida e Orlando Carvalho, hino esse que se manteve em vigor até 1974. Em Março de 1959, regista-se um acontecimento digno de realce, a Excursão a Moçambique. Saindo de Sá da Bandeira para Moçâmedes a 4 de Março, em auto matara dos Caminhos de Ferro de Moçâmedes, um grupo de 40 (14 raparigas e 26 rapazes) dos 74 finalistas, acompanhados por quatro professores (Higino Vieira, Manuel Matos, Margarida Pinto e Helena Arez) vão, por via marítima, no paquete Pátria, visitar a província do Índico, regressando a Moçâmedes no dia 29 desse mês. Tendo por alojamento permanente o paquete, visitaram Cape Town, Lourenço Marques, Beira e ilha de Moçambique. As referências elogiosas a esta embaixada académica foram uma constante, quer nos meios de comunicação de Cape Town como nos de Moçambique, quer, também, por parte do comandante do Pátria. No início da década de sessenta são criados os cursos médios do Instituto Comercial de Sá da Bandeira (1961) - director Dr. Vasco Homem, da Escola do Magistério Primário (1963) - director Dr. Higino Vieira, e do Curso de Ciências Pedagógicas, na delegação de Sá da Bandeira dos Estudos Gerais Universitários de Angola (1963) director Prof. Doutor Délio Nobre Santos; nesta delegação funcionam, a partir de 1966, os cursos de professores adjuntos dos 8.0 e 11.0 grupos do Ensino Técnico. A abertura dos Estudos Gerais (que em 1968 são transformados em Universidade de Luanda) possibilita a continuação de estudos a muitos dos jovens cujas famílias não tinham capacidades económicas para os pôr a estudar na Metrópole. É em 1969 que são criados, na Faculdade de Letras da Universidade de Luanda, a funcionar em Sá da Bandeira, os bacharelatos em Filologia Românica, História e Geografia, bem como as licenciaturas em Matemática e Engenharia Geográfica, cursos estes que rapidamente 5 atingem uma frequência considerável, para a qual muito contribuíram os alunos que terminavam o 7.0 ano no Liceu Diogo Cão. Em 1965, sendo presidente da Academia Alberto Traguedo, assiste-se à integração na Academia dos alunos da Escola Industrial e Comercial de Artur de Paiva e do Instituto Comercial, deixando a capa e batina de ser usada exclusivamente pelos alunos do liceu. É também nesse ano que o pátio coberto, da ala nascente do liceu, desaparece, dando lugar a mais quatro salas de aulas. No ano lectivo seguinte o Internato passa a denominar-se "Lar dos Estudantes da Mocidade Portuguesa", e a ter um orçamento autónomo em relação ao liceu, tendo por director o professor Simão Portugal que exerce essas funções desde 1960. Em Agosto de 1967, por ocasião das Festas de Nossa Senhora do Monte, realizase a IV Confraternização dos Antigos Estudantes do Liceu, sendo homenageado o antigo reitor, Dr. Ramalho Viegas. Na sequência dessa confraternização, um grupo de antigos alunos (Saraiva de Oliveira, Rogério Gomes e Carlos Fontoura) revitaliza as Ceias de Maconge no último sábado de cada mês, iniciando-se uma confraternização entre antigos e actuais estudantes, Ceias essas onde são cumpridos todos os rituais da praxe e da boémia do Reino de Maconge (essa tradição mantém-se até aos dias de hoje, nos vários Kimbos - «cidades» - onde os maconginos residem). É também em 1967, com o aparecimento da Reforma do Ensino, que se cria o Ciclo Preparatório do Ensino Secundário; nesse ano, os rapazes que frequentam o 1. 0 ano vão ter as suas aulas no edifício da Escola Industrial, enquanto que as raparigas ficam no liceu. Em Outubro de 1968, com a conclusão do edifício da Escola Preparatória Marquês de Sá da Bandeira, passam para este estabelecimento os alunos do 1.0 e 2. 0 ano do ciclo preparatório. Em Fevereiro de 1968, dá a sua última aula o Dr. Leandro Mendonça, acta este aproveitado pelas entidades locais e antigos alunos para uma justa homenagem ao docente que, ao longo de trinta anos "com um dinamismo invulgar mais chateou a malta, mais cagaços lhe pregou nas chamadas nos exercícios e exames", conforme consta da Portaria Régia enviada pelo rei de Maconge, para ser lida nesta cerimónia. Nesse ano de 68, sendo presidentes da Academia Fernando Cobanco (Set. 67 a Set. 68) e Henrique (Higino) Vieira (Set. 68 a Set. 69), aderem à Academia os alunos do Colégio Nuno Álvares, Colégio Feminino das Irmãs Doroteias Paula Frassinetti e Escola do Magistério Primário. Este facto leva à necessidade da criação de um Senado Académico para o qual eram eleitos dois representantes, naturalmente veteranos, dos seis estabelecimentos de ensino supra-mencionados. Os "Novos Estatutos da Praxe e da Boémia da Academia da Huíla" são aprovados, pelo Rei de Maconge, a 24 de Setembro. No ano lectivo de 1970/71, sendo reitor o arquitecto Samuel Varandas, o liceu é frequentado por 645 alunos, estando matriculados nos dois estabelecimentos de ensino médio e no superior 370 alunos. A Academia zela pela postura social e cumprimento das normas académicas, com "Lata, Lábia e Linha", de mil e oitocentos estudantes. É também em 1970, sendo presidente da Academia José Oliveira Pereira (Kindufo), que, face ao prolongado exílio do Rei de Maconge em Luanda, é nomeado D. Mário Saraiva de Oliveira (aluno do liceu entre 1938/46 e presidente da Academia nesse último ano) para o cargo de Vice-Rei de Maconge, substituindo, assim, o Rei nos seus impedimentos; no ano imediato D. Mário recebe o título de Grão-Duque do Lubango. Em 1973, sendo reitor do liceu o Dr. Edgar Verdades e presidente da Academia João Costa e Silva, realiza-se a VIII Confraternização dos Antigos Estudantes do Liceu, por altura das Festas de Nossa Senhora do Monte. N essa confraternização é oferecido ao liceu o quadro do antigo professor e reitor, Dr. Leandro de Mendonça, pintado por Preto Pacheco, e é aprovada a "Lei Fundamental do Reino de Maconge" nas Cortes Constituintes, reunidas nos dias 13 e 14 de Agosto. Em 1974, um grupo de trinta finalistas, visita a Metrópole entre os dias 3 e 30 de Março; como facto saliente a não visita às Caldas da Rainha no dia 12 devido ao "Levantamento das Caldas" no dia anterior, chefiado pelo então tenente-coronel Almeida Bruno. Era reitora do liceu a Dr. a Maria José Brito que dirigiu, nessa qualidade, a visita; além da senhora reitora acompanharam o grupo de trinta alunos os Drs. José Marinho e 6 Eunice Marques Luís. Do grupo de finalistas fazia parte o presidente da Academia Norberto Costa. É também neste ano lectivo que se realiza o último "Baile dos Finalistas". A Revolução dos Cravos (25 de Abril de 74) e o seu respectivo desenvolvimento político faz com que, no início do ano lectivo de 1974/75, sendo reitor o Dr. Reigadas, se procedesse, ainda, à eleição do presidente da Academia, ocupando esse cargo o veterano Manuel Carreira Fernandes. O desenvolvimento "revolucionário" da época leva a que não se cumpram os rituais académicos de início de ano lectivo e a Academia "esvazia-se", face ao fulgor da corrente estudantil que impõe a ''Associação dos Estudantes do Liceu" como novel representante dos interesses reivindicativos da população estudantil, a qual, naturalmente, se desagrega com a guerra civil e a imposição de um novo "currículo" nos liceus angolanos, a partir de Setembro de 75. O Liceu Nacional de Diogo Cão passa a chamar-se "Escola de Nível Básico Mandume". A dinâmica académica, após a "descolonização", não se perdeu e a Real República de Maconge e os seus ideais de Sonho, Lenda e Fantasia, onde se cultiva a Amizade, a Solidariedade e a Fraternidade, continuam vivos. O Rei "ausentou -se para parte incerta" (porque em Maconge não se morre) em Abril de 1977; D. Mário Saraiva de Oliveira, não aceitou ser promovido a Rei - nas Cortes Gerais do Reino de Maconge, realizadas, em Coimbra, a 28 de Maio de 1978 -, governando o Reino com o título de Vice-Rei. Em Janeiro de 1998, o Vice-Rei visitou a sede do Reino, no Lubango (antiga Sá da Bandeira), e aí foram criados os mecanismos que possibilitaram a construção dos Reais Paços de Maconge, solenemente inaugurados em Janeiro de 2003. Estando D. Mário "ausente em parte incerta" desde Março de 1998, passou a exercer as funções de II Vice-Rei, desde Setembro desse ano, D. Olavo Godinho, aluno do liceu nos anos de 1944 a 53. A estadia dos maconginos neste "ultramar" levou-os a adoptar uma nova organização administrativa, estando agrupados por "Sobados", coordenados por um Soba. Em Angola, onde existem os sobados do Lubango (ex-Sá da Bandeira) e Luanda, o representante do II Vice-Rei, D. Fernando Silveira (Funka), marquês do Chongoroi, continua a congregar todos os maconginos aí residentes; em Portugal os sobas do Porto, Aveiro, Leiria, Torres Vedras, Lisboa, Seixal/ Almada, Setúbal, Santo André/Sines, Portimão, Faro e Funchal, organizam anualmente várias Ceias Académicas onde comparecem os maconginos cujas «cubatas» (residências) ou «chitakas» (quintas) ficam na área desse sobado; os sobas de Cabrália-Brasil e Toronto-Canadá, anualmente, juntam os maconginos da sua área; em Macau, existiu, entre 1989 e 99, o "Sobado de Amagao". Em todos nós, antigos estudantes da Huíla, existe o orgulho de continuarmos a viver em permanente Amizade, Fraternidade e Solidariedade, o orgulho de sermos MACONGINOS. Henrique (Higino) Vieira Aluno do Liceu Diogo Cão entre 1960 e 69. 7