CONFERÊNCIA EUROPEIA CONSTRUIR A COESÃO SOCIAL (Comunicações) BUILDING UP SOCIAL COHESION (Proceedings) Fundação Calouste Gulbenkian – Auditório 2 27 de Abril de 2009 Conferência organizada pelo Conselho Económico e Social Conselho da Europa Em colaboração com Comité Económico e Social Europeu Comissão Europeia Fundação Calouste Gulbenkian Lisboa, 2009 Editor: Conselho Económico e Social Rua João Bastos n.º 8 1449-016 Lisboa Telefone: 351 21 302 05 05 Fax: 351 21 302 06 63 Internet: www.ces.pt E-mail: [email protected] Revisor: Centro de Documentação e Informação do CES Impressão e Acabamento: António Coelho Dias, S.A. Tiragem: 300 exemplares Depósito Legal n.º 302388/09 ISBN: 978-972-8395-68-1 NOTA DE APRESENTAÇÃO FORWARD CONFERÊNCIA EUROPEIA “CONSTRUIR A COESÃO SOCIAL” VII NOTA DE APRESENTAÇÃO O presente volume reúne as comunicações apresentadas na Conferência Europeia sobre “Construir a Coesão Social” que teve lugar em Lisboa, a 27 de Abril de 2009, na Fundação Calouste Gulbenkian. A conferência foi uma iniciativa do Conselho Económico e Social, em parceria com o Conselho da Europa (Estrasburgo), e contou com a colaboração do Comité Económico e Social Europeu (Bruxelas), da Comissão Europeia (Bruxelas) e da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa). O principal objectivo do encontro foi o de debater alguns aspectos relevantes da coesão social, com base no relatório produzido no âmbito do Conselho da Europa, pelo Grupo de Trabalho de Alto Nível sobre a Coesão Social no século XXI. A noção de “coesão social” não é totalmente nova. A expressão vem sendo utilizada pelo discurso político nos últimos tempos. Porém, mais de forma avulsa e pontual, do que de modo a traduzir uma reflexão sistemática sobre o tema. A Europa tem revelado sensibilidade para alguns dos principais factores de fragmentação da sociedade, quer latentes, quer manifestos, para os quais se tem proposto soluções. Esta abordagem “sectorial” é importante, mas não dispensa uma reflexão aprofundada sobre a coesão na sua globalidade e em aspectos estruturais que, pela sua natureza transversal, não chegam a ser habitualmente considerados. Foi o reforço desta última perspectiva que constituiu o objectivo desta Conferência. Como se sabe, o Conselho da Europa é, sem dúvida, a organização internacional que mais sistematicamente se vem dedicando ao tema da coesão. Importa salientar que, no entendimento dos textos do Conselho da Europa, o termo “social” não se limita ao que correntemente se designa por “políticas sociais”. O que está em causa é a coesão da sociedade em todas as suas dimensões, designadamente nas que encerram riscos potenciais ou reais de fragmentação social. Ao publicar as comunicações da Conferência, o Conselho Económico e Social pretende contribuir para que o tema da “sociedade coesa” venha a merecer um lugar de destaque na agenda política do país e, desejavelmente, da Europa. Alfredo Bruto da Costa Presidente Conselho Económico e Social EUROPEAN CONFERENCE “BUILDING UP SOCIAL COHESON” IX FOREWARD The present volume compiles the proceedings of the European Conference on “Building Up Social Cohesion”, that took place in Lisbon, on the 27th April 2009, at the Calouste Gulbenkian Foundation. The Conference was the initiative of the Portuguese Economic and Social Council, in partnership with the Council of Europe (Strasbourg), and the collaboration of the European Economic and Social Committee (Brussels), the European Commission (Brussels) and the Calouste Gulbenkian Foundation (Lisbon). The main aim of the Conference was to debate several relevant aspects of social cohesion, taking as the background paper the Report produced by a High Level Task Force of the Council of Europe on Social Cohesion in the 21st century, “Towards an Active, fair and Socially Cohesive Europe”. The notion of “social cohesion” is not totally new. The term has been used by the current political discourse. However, most frequently in a dispersed way that does not reflect a systematic and comprehensive thought on the subject. Europe has shown some sensitivity towards the main factors of social fragmentation, both latent as well as manifest, and has sought solutions to the corresponding problems. This “sectoral” approach is no doubt important, but it does not substitute a deep reflection on cohesion in its overall aspects, which are structural in nature and cut across the various individual social problems. The Conference aimed at emphasising the relevance of the latter approach. The Council of Europe is, undoubtedly, the international organization that has more systematically given attention to social cohesion. It should be stressed that, in the understanding of the Council of Europe, the term “social” when applied to “social cohesion” is not limited to what is currently understood as “social policies”. What is at stake is the cohesion of the society as a whole, in all its dimensions, namely those that contain potential or real risks of social fragmentation and unrest. With this edition, the Portuguese Economic and Social Council aims at contributing towards giving the theme of a “cohesive society” the place that it deserves in the national and European political agenda. Alfredo Bruto da Costa President Portuguese Economic and Social Council ÍNDICE CONTENTS XII CONFERÊNCIA EUROPEIA “CONSTRUIR A COESÃO SOCIAL” ÍNDICE/CONTENTS Nota de Apresentação/ Foreword Alfredo Bruto da Costa.....................................................................................................VII Sessão de Abertura/Opening Session Emílio Rui Vilar...............................................................................................:....................3 Alfredo Bruto da Costa.......................................................................................................5 Alexander Vladychenko......................................................................................................9 Jérôme Vignon..................................................................................................................13 Mario Sepi........................................................................................................................15 Jorge Sampaio..................................................................................................................17 Comunicação/Keynote Speach Social cohesion in the 21st century.....................................................................................25 Jørgen Søndergaard Painel 1 – Factores de Coesão Social/Panel 1 – Factors of Social Cohesion Eduardo Marçal Grilo.........................................................................................................33 L’Apport des Droits de l’Homme à la Cohésion Sociale..............................................................35 Françoise Tulkens Participação e diálogo civil e político......................................................................................43 João Salgueiro Diálogo social hoje.............................................................................................................53 João Proença ÍNDICE/CONTENTS XIII Sessão de Abertura da Tarde/Afternoon Opening Session Reforçar a coesão social durante e depois da crise....................................................................77 Mário Soares Painel 2 – Principais Desafios da Coesão Social/Panel 2 – Main Challenges to Social Cohesion Principais desafios da coesão social.........................................................................................83 Francisco van Zeller Organização do trabalho, família e sociedade...........................................................................85 Manuel Carvalho da Silva Migrações e coesão social.....................................................................................................91 Roberto Carneiro Coesão territorial (Nacional e Europeia)................................................................................107 Maria João Silveira Botelho Sessão de Conclusões/Conclusions Session Guilherme d’Oliveira Martins...........................................................................................115 Apresentação das conclusões...............................................................................................117 Isabel Guerra Sessão de Encerramento/Closing Session José António Vieira da Silva.............................................................................................127 Anexo/Annex Programa da conferência/ Conference programme..................................................................135 Curricula vitae..................................................................................................................137 SESSÃO DE ABERTURA OPENING SESSION SESSÃO DE ABERTURA 3 COMUNICAÇÃO Emílio Rui Vilar Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian 1. Em nome do Conselho de Administração e no meu próprio gostaria de vos dar as boas- -vindas à Fundação Calouste Gulbenkian. Ao acolher iniciativas como esta Conferência sobre Coesão Social, organizada pelo Conselho Económico e Social, a Fundação está também a cumprir uma das suas missões que consiste em assumir-se como um centro de reflexão esclarecida sobre as grandes questões que afectam a nossa sociedade. A parceria que o Conselho Económico e Social estabeleceu com o Conselho da Europa, bem como a colaboração com o Comité Económico e Social Europeu e com a Comissão Europeia, colocam neste mesmo auditório os principais actores regionais europeus com responsabilidades e competências ao nível da coesão social europeia, o que constitui uma garantia da relevância desta iniciativa. Gostaria, por isso, de felicitar pessoalmente o Professor Alfredo Bruto da Costa pelo cuidado com que desenhou o alinhamento desta conferência, que espero venha a beneficiar da ressonância que merece junto das autoridades, agentes sociais e da opinião pública. 2. Um dos elementos centrais da “Estratégia Revista para a Coesão Social” do Conselho da Europa consiste na ideia da responsabilidade partilhada entre o sector público e o sector privado, assimilando-se desta forma a profunda mutação do papel do Estado nas sociedades actuais. De acordo com este documento, esta alteração apela ao diálogo e ao envolvimento de novos parceiros sociais na construção da coesão social na Europa, segundo o seu conceito transversal que incorpora diferentes dimensões, não apenas sociais, mas igualmente económicas, políticas e culturais. O mais recente Programa de Acção constante do relatório do Grupo de Trabalho de Alto Nível sobre a Coesão Social no século XXI, que irá ser objecto de debate ao longo do dia de hoje, mantendo que a coesão social constitui uma das tarefas primordiais dos Estados Nação, reforça igualmente o imperativo de aumentar o sentido de responsabilidade social entre todos os actores envolvidos, incluindo necessariamente a sociedade civil e as suas organizações, numa perspectiva simultaneamente local e global. 3. No universo que me é mais próximo, o das fundações, posso afirmar que esta noção de responsabilidades partilhadas, não só é activamente incorporada na nossa intervenção como constituiu uma das premissas da nossa actividade, para o que contribuem as nossas características genéticas e institucionais. Por um lado, tratando-se de organizações que emergem da própria sociedade civil para a prossecução de finalidades de interesse social, as fundações constituem em si mesmas um exercício 4 EMÍLIO RUI VILAR de cidadania responsável, um factor indispensável para a construção de sociedades mais coesas. Por outro lado, esta matriz constitutiva acompanha as nossas actividades em todos os momentos, moldando as nossas características institucionais que tornam as fundações particularmente aptas para a intermediação entre diferentes actores que a coesão social reclama. Muito brevemente, permito-me, por isso, referir os atributos institucionais das fundações que lhes dão vantagem comparativa e, em contrapartida, acrescida responsabilidade a este nível: a independência dos diferentes ciclos económicos, mediáticos ou políticos; a capacidade de assunção de riscos e de mobilização de recursos de origens diversas; uma actuação orientada para o impacto e o longo prazo; e, finalmente, a proximidade das pessoas e dos problemas. As actuais circunstâncias, com agravamento da situação económica e com graves reflexos sociais, conduzem a que a actuação das fundações seja ainda mais necessária. Daí iniciativas como a que lançámos recentemente, “País Solidário”, procurando conjugar contributos vários da sociedade civil para responder a necessidades e carências de famílias que não beneficiam dos esquemas de protecção social públicos ou em que estes se revelam insuficientes. 4. Gostaria de concluir reafirmando que o movimento fundacional europeu está preparado para desempenhar as funções que entende como suas ao nível da contribuição para a coesão social na Europa. Temos a experiência, os recursos, as pessoas, a motivação e o método. Confiamos que os restantes actores sociais saibam igualmente honrar o compromisso que todos temos com as gerações futuras de tornar a Europa uma região mais justa, inclusiva, participativa e coesa. Formulo votos de um bom debate. SESSÃO DE ABERTURA 5 COMUNICAÇÃO Alfredo Bruto da Costa Presidente do Conselho Económico e Social Senhor Dr. Jorge Sampaio Senhor Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian Senhor Director-Geral da Coesão Social, do Conselho da Europa Senhor Director da Protecção Social e Inclusão Social, da Comissão Europeia Senhoras e Senhores Conselheiros do Conselho Económico e Social Senhoras e Senhores É com o maior prazer que damos início a esta Conferência europeia sobre “Construir a Coesão Social” que o Conselho Económico e Social entendeu promover. Tenho dois tipos de razões para que assim seja. A primeira está na relevância do tema em si: os países europeus e a Europa como um todo apresentam sinais claros de serem sociedades fragmentadas, estruturalmente fragmentadas. São sinais com os quais essas sociedades têm convivido, porque são normalmente silenciosos, relativamente pacíficos, com ressurgimentos esporádicos, que embora por vezes graves, não chegam a criar um clima permanente de instabilidade e insegurança. Neste sentido, para a generalidade das pessoas e autoridades, as sociedades são tidas por coesas, e a própria construção europeia é porventura lida como um processo coeso. Todavia, estamos bem dentro do século XXI, quase no fim da sua primeira década, e é forçoso que olhemos para o mundo e a Europa em que vivemos com um olhar mais atento. Veremos, então, sobretudo depois de a crise mundial se ter tornado manifesta para se tornar preocupante, que a coesão social não poderá continuar a ser uma referência ocasional do discurso político. Terá, antes, de merecer um lugar de relevo e permanente na agenda política dos países, da Europa, e do mundo. Creio que a pouca importância que se tem dado à coesão social resulta em parte de a olharmos a partir das clivagens sociais. É uma perspectiva necessária. Porém, ao concentrarmo-nos nos problemas sociais que denunciam a falta de coesão, a referência fica centrada nesses problemas e não na coesão. Adoptar-se-ão políticas específicas para atenuar aqueles problemas, talvez no pressuposto de que a coesão será a resultante automática das políticas sectoriais, como se algum fio invisível (já que a “mão invisível” está desacreditada) as justapusesse numa manta de retalhos a que se daria o nome de “coesão”. 6 ALFREDO BRUTO DA COSTA É outra a perspectiva desta Conferência. Queremos olhar a coesão como objectivo em si, entendido na sua natureza e nas exigências que traz nas suas diversas dimensões. Queremos olhá-la sobretudo nas componentes em que não é habitual ser abordada: componentes transversais, que, precisamente por serem transversais, correm o risco de passarem despercebidas ou de serem subestimadas. Analisaremos, antes do mais, o papel dos direitos humanos. Até mesmo os direitos civis e políticos, que são aqueles a que as culturas europeias estão mais sensibilizadas, têm de ser aprofundados, designadamente no sentido de reconhecer que cada tipo de direito só é real (a liberdade, por exemplo) quando estão asseguradas as condições económicas e sociais necessárias ao seu exercício – condições que têm relação estreita com os direitos económicos, sociais e culturais, área em que, como sabemos, o atraso é manifesto, e o progresso necessário, quer no âmbito do Conselho da Europa, quer no da União Europeia. Trata-se, no fundo de um problema de cidadania. A participação e o diálogo constituem outro eixo fundamental na construção da coesão, quer na sua expressão cívica ou civil, quer nos domínios social e político. A organização do trabalho, em si própria e na sua relação com a família e a sociedade é outra das grandes áreas de reflexão e mudança. Uma área que tem estado totalmente subjugada às exigências da actividade económica, como se o ser humano fosse fundamentalmente, se não exclusivamente, “homo economicus” e “homo faber”, no sentido mais estreito destes termos. Também se relaciona com este tema o vasto problema das migrações. Problema que reclama cada vez mais o reconhecimento de algum tipo de cidadania mundial, conceito que vimos construindo demasiado lentamente, com prejuízo, por vezes grave, para todas as partes. Por último, uma referência à coesão territorial. Também esta é uma perspectiva transversal, com a particularidade de que a fragmentação reveste aqui duas expressões distintas: exclusão das pessoas e das famílias, por um lado, mas também exclusão do próprio território. São zonas excluídas do progresso, zonas urbanas ou suburbanas, regiões inteiras ou países dentro de um contexto mais vasto, europeu ou mundial. Como disse, a coesão que aqui nos ocupa tem carácter estrutural. Não se trata, portanto, do que é específico em resultado da crise mundial, embora certamente a crise tenha agudizado a situação nalguns aspectos. Daí que interesse reflectir sobre o problema quer durante quer depois da crise. A segunda razão pela qual expresso satisfação está em termos conseguido dar a esta Conferência um carácter europeu. O Conselho da Europa é um dos organismos internacionais que mais reflexão tem sobre a coesão social, nesta perspectiva abrangente, e o relatório produzido pelo High Level Task Force reflecte bem essa preocupação. Agradeço a pronta abertura do Conselho da Europa, através da Direcção Geral da Coesão Social e da Direcção-Geral dos Direitos Humanos, para ser nosso parceiro na realização desta Conferência. Ao Director-Geral da Coesão Social, Alexander Vladychenko, agradeço também o empenho que pôs em estar aqui presente pessoalmente. SESSÃO DE ABERTURA 7 Agradeço também a presença da Juíza Françoise Tulkens, do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, do Conselho da Europa, bem como a do Vice-Presidente do HLTF atrás referido, Jørgen Søndergaard, que irá fazer a primeira comunicação da Conferência. A outra organização que quis associar-se na realização desta Conferência foi o Comité Económico e Social Europeu, através do seu presidente Mario Sepi, que infelizmente teve de cancelar a sua vinda mas enviou uma vídeo-mensagem que iremos apresentar. Agradeço ao nosso Conselheiro Carlos Pereira Martins o trabalho que teve em servir de elemento de ligação entre o CES e o CESE na fase inicial deste processo. Também temos entre nós um representante da Comissão Europeia, Jérôme Vignon, Director da Protecção Social e Inclusão Social, da Direcção-Geral do Emprego, Assuntos Sociais e Igualdade de Oportunidades. Uma palavra de agradecimento e muita estima à Fundação Calouste Gulbenkian, na pessoa do seu presidente Emílio Rui Vilar, pela cedência das suas diversas instalações e sua presença nesta sessão. Agradeço muito sinceramente a todos quantos aceitaram o nosso convite para colaborarem neste evento, quer na mesa quer na plateia, quer nos bastidores. Entre estes, uma palavra especial de agradecimento aos colaboradores e colaboradoras permanentes do CES, de modo particular à Renata Mesquita, que coordenou os trabalhos de organização da Conferência. Senhoras e senhores Como é sabido, o bom êxito de iniciativas como esta depende de todos. Na qualidade de presidente do Conselho Económico e Social coloco elevadas e justificadas expectativas no bom êxito desta Conferência. SESSÃO DE ABERTURA 9 STATEMENT BY Alexander Vladychenko Director-General of Social Cohesion, Council of Europe President Sampaio President Bruto da Costa Ladies and gentlemen The background document distributed for our conference says that the notion of “social cohesion” is not new. I do agree with this. Anyhow, the well established definition of “social cohesion” is still missing. Even the Council of Europe managed to reach an agreement on this definition only in 2004. So, what does it mean for us? As understood by the Council of Europe, social cohesion is the capacity of a society to ensure the welfare of all its members, minimising disparities and avoiding polarisation. A cohesive society is a mutually supportive community of free individuals pursuing these common goals by democratic means. Social cohesion is not a legal instrument, which can be defended in courts. It is the political concept that highlights the strong and systematic relationship between the core values of the Council of Europe: human rights, democracy and the rule of law. Social cohesion is thus an essential condition for democratic security and sustainable development, since divided and unequal societies are not only unjust, but also cannot guarantee stability in the long term. Social rights, social security, public health and other social issues are central to the Council of Europe’s work and were therefore included in the Organisation’s activities almost from the very beginning. We continue to help set this agenda for the European continent! It was with the drafting of the Social Cohesion Strategy in 2000, that the Council of Europe began to concentrate on social cohesion as such. The Strategy is now regularly up-dated in the light of societal developments and changing priorities. At their Warsaw Summit in 2005, the Council of Europe Heads of State and Government decided to establish a High Level Task Force (HLTF) with the task of providing the Organisation with a vision of social cohesion in the 21st century. The HLTF prepared a report titled “Towards an active, fair and socially cohesive Europe”. The report was delivered in December 2007 and will be presented today in detail to you by the Vice Chair of the HLTF, Mr. Jørgen Søndergaard. 10 ALEXANDER VLADYCHENKO Ladies and gentlemen, The Council of Europe puts a unique and mutually reinforcing set of structures, bodies, instruments and activities at the member States’ disposal, which aim at transforming social cohesion from a concept to a reality. Governments are requested to make a major commitment to invest into social rights. The European Social Charter is a Council of Europe legal instrument, which has not only set out social and economic rights and freedoms, but through a system of country reports makes sure governments continue to respect their commitment. The Social Charter is complemented by other legal instruments, such as the European Code for Social Security, which define minimum standards for social protection, an issue which seemed to have been achieved in Europe. Sadly, these instruments gain new relevance in the context of the global economic crisis and its social consequences, as the question of social protection becomes more important again in Europe. However, social cohesion is not the exclusive domain of public authorities. It is crucial to share responsibilities. Authorities on national, regional and local level need to incorporate social cohesion and sustainability concerns into economic decision-making processes. At the same time they should encourage and empower citizens to act responsibly, not only with regard to their civic rights and duties, but also in their employment, consumption and other life style choices. In developing social responsibilities there is room, too, for the social partners and NGOs for enterprises and the media. Indeed, everyone is concerned because social cohesion is for all of us. Individuals as well as institutions have to be aware of the social changes that affect and transform human, family, labour and local community relations in Europe. In order to promote a meaningful dialogue between public authorities and other partners, the HLTF recommends that a forthcoming meeting of the Council of Europe’s Forum for the Future of Democracy should be devoted to a major topic related to social cohesion, such as the interdependence of democracy and social rights, which addresses precisely the issue of interaction between democratic institutions and individuals in the context of shared and social responsibilities. Democracy is a process which only functions if all partners play the game. If citizens feel, rightly or wrongly, that they are increasingly excluded and alienated from democratic decision-making, than this is a development which is contrary to social cohesion and also contrary to the functioning of democracy itself. We have to address it. Ladies and gentlemen, In a democratic society the concept of representation is of a vital importance. For the Council of Europe, those who are at risk of poverty and exclusion have to be enabled to represent themselves first and foremost. The list of those who are at risk is long. I will mention just one group of people which is very much in focus of the Council of Europe. These are people with disabilities. Independently of SESSÃO DE ABERTURA 11 whatever other group they belong to, their human rights and dignity need to be respected and public authorities need to take measures to guarantee equal opportunities, non-discrimination and full citizenship. The Council of Europe Disability Action Plan gives a clear guidance to the 47 member States of our Organisation to how make life of people with disabilities better in practical terms. I am very happy that Portugal is one of those member States of the Council of Europe who is very much in line with our Disability Action Plan. To build a secure future for all is perhaps the biggest challenge, which may sound like a provocation to some. Markets crumble, what looked safe can no longer be guaranteed and people in Europe realise that what they have come to believe since the end of the Second World War, namely that each generation would be a little bit better off than the previous one, is not necessarily true any more. And governments do act – they invest billions in order to stabilise the economy and to avoid unimaginable consequences for the majority of the population. This is incredibly important. But making the economy work is not enough. Even providing a good legal framework is not enough. Governments also have to make society work. People need to believe in their future again. Parameters change, and people’s preferences and possibilities, indeed their values, change. It will therefore be necessary to radically re-think concepts for interaction between governmental institutions and a variety of civil society and private sector partners, and to develop policy models which favour social mobility and people’s active involvement in their own life plans. Social cohesion is a transversal concept, which requires and creates synergies and comple mentarities. The wide range of policies and activities developed and implemented by the Council of Europe proves this point. There is no part of our Organisation which does not have a role to play – work on legal solutions to debt-problems, on education for the children of migrants or on developing indicators for social well being, and many more. The recent Conference of Ministers responsible for Social Cohesion (26-27 February, Moscow) asked for a Council of Europe Action Plan on Social Cohesion to be elaborated. This plan should transform the recommendations of the High Level Task Force into specific steps to be implemented by member States according to their needs and priorities. The Action Plan will partly be based on the work carried out previously, in particularly the Social Cohesion Strategy and the High Level Task Force report and relevant legal instruments, and it will take into account the global economic crisis and its social consequences. The Action Plan should be ready at the latest by May 2010 that is in a year. And the Council of Europe would be happy to hold another similar conference in Portugal to present it to the Portuguese as well as to the large European public. Thank you very much. SESSÃO DE ABERTURA 13 COMMUNICATION Jérôme Vignon Directeur pour la Protection sociale et l’inclusion sociale à la Commission Européenne Monsieur le Président Jorge Sampaio Monsieur le Président de la Fondation Gulbenkian, Emílio Rui Vilar Monsieur le Président du Conseil économique et social du Portugal, Alfredo Bruto da Costa Monsieur le Directeur-Général pour la Cohésion sociale, au Conseil de l’Europe, Alexander Vladychenko Chers amis Au nom du Président Barroso et du Commissaire Špidla, je voudrais partager avec vous le sentiment que nous vivons une grande et belle circonstance, en étant réunis ce matin autour du remarquable rapport que le Conseil de l’Europe a consacré à la Cohésion sociale. Le moins remarquable n’est pas que ce rapport ait été approuvé par les 47 Etats membres du Conseil de l’Europe, comme l’a souligné Monsieur l’Ambassadeur Vladychenko. L’Union européenne ne peut que saluer cette manifestation d’unité. Elle signale une richesse culturelle commune, une identité sociale commune, large et riche dans le monde global d’aujourd’hui. Oui, il s’agit bien de construire ensemble, comme l’a dit le Professeur Alfredo Bruto da Costa, la Cohésion sociale, selon les principes et la définition évolutive qu’en a donné la task-force animé par Mary Daly: “La Cohésion sociale est la capacité d’une société à assurer le bien-être de tous ses membres, en réduisant les disparités et en évitant la marginalisation”. Il s’agit en outre de mettre l’accent sur la capacité de la société à gérer les différences et les diversités et à se donner les moyens d’assurer la protection sociale de l’ensemble de ses membres. A cette construction commune, l’Union européenne peut et doit donner tout le poids de son expérience et de son projet que je résumerai en trois points: - Dès le milieu des années 70, alors que le Portugal entrait dans la liberté et la démocratie, l’UE a promu l’objectif d’une société inclusive comme une société où les pouvoirs publics s’astreignent à lutter contre la pauvreté et à assurer la participation de tous à la vie commune. On retrouve ce principe de participation dans le rapport du Conseil de l’Europe. - Dès 1992, notamment à la suite de l’adhésion du Portugal et de l’Espagne à l’Union européenne en 1986, l’Union européenne a inscrit dans son Traité un titre complet consacré à la Cohésion économique et sociale. Cette politique commune a été dotée de moyens 14 JÉRÔME VIGNON budgétaires important grâce au triplement en quelques années du montant des “Fonds structurels” au point qu’ils représentent aujourd’hui plus de 40 milliards d’Euros par an. Ces fonds expriment la solidarité entre Etat et Régions, riches et pauvres et sont assignés à des objectifs concrets de développement économique et social. L’adjonction du qualificatif “économique” à la Cohésion sociale illustre la volonté de Jacques Delors, à l’époque, de toujours associer les forces économiques du marché et les forces sociales de la cohésion. - Enfin le projet de Cohésion sociale, tel que porté par l’Union européenne, se veut holistique, intégrant les multiples facettes des acteurs et des actions qui concourent à la cohésion. Pour la première fois, cette dimension d’intégration sera clairement explicitée par le prochain Traité de Lisbonne, dont nous espérons la pleine ratification en 2009: il s’agit là aussi d’une préconisation du Rapport du Conseil de l’Europe. L’Union européenne se réjouit donc de l’impulsion politique majeure que le Conseil de l’Europe va donner désormais à la perspective de la Cohésion sociale. Le signal mondial ainsi donné par l’autorité morale et culturelle du Conseil de l’Europe revêt une valeur irremplaçable, dans un moment où les grandes régions du monde sont en recherche pour leur propre compte, d’une forme d’humanisation de la mondialisation. La proximité entre le rapport du Conseil de l’Europe et les principes d’action de l’Union Européenne devrait ouvrir la voie à de nouvelles synergies en particulier dans les relations entre l’Union européenne et son voisinage, comme avec son grand partenaire qu’est la Russie: la Cohésion sociale peut devenir un fédérateur concret de leurs interactions. Mais réciproquement, le Conseil de l’Europe peut bien compter sur l’Union européenne comme sur un moteur actif de la Cohésion sociale. SESSÃO DE ABERTURA 15 STATEMENT BY Mario Sepi President of the European Economic and Social Committee I would like to focus my contribution on the importance of social cohesion, as the European Union’s DNA. Article 2 of the Treaty of Rome clearly stated that the EU, which was the called the European Community, would have a very significant social aspect, as it highlighted that the aim was to create social cohesion within the Union, besides the establishment of a single market. This aspect was strengthened in the following treaties, in particular in the Constitutional Treaty and in the Lisbon Treaty. The issue of social cohesion evolves directly from solidarity and social justice, both fundamental values of European societies. Nevertheless, solidarity and social justice have still to be translated into compulsory measures which shall be implemented in the legislation in order to reinforce the participation of social partners and civil society. Social cohesion requires not only the existence of rights but also instruments for income redistribution and an appropriate and harmonised economic policy. Europe has to face the challenges of globalisation preserving its fundamental principles and defending individual and collective rights. In this context, Europe must shape globalisation rather than go through it, and this means that it has to boost its values. Indeed, globalisation has not only financial aspects – of which we are all suffering the consequences – but also social effects and I think that the most significant and controversial facet of this social globalisation is immigration. Immigration raises several questions about social cohesion and fundamental values and it needs to be managed in the fairest way. By contrast, there are conservative and xenophobic forces that exploit immigration for electoral purposes, whipping up fears and hostility towards immigrants, and do not propose other solutions than enforcement measures. These political forces are growing everywhere in Europe and still have to be defeated. Within the framework of immigration, we, as European Economic and Social Committee, launched a forum for integration with the European Commission and representatives of immigrants. Enforcement measures are ineffective and are not the answer to immigrants who leave the depths of Africa, crossing deserts and boarding ramshackle boats, or refugees who stow away on lorries to get to Europe. Instead, the challenge is to find other instruments. The first kind of instruments is long-term and involves rebalancing economic development in order to avoid huge differences between the North and the South. We need to find means of co-development which would lead to growth and to faster development in the South and in the southern Mediterranean: this is a necessity which cannot be extended and I strongly believe that agricultural reforms in developing countries is one of the key issues, especially in some African 16 MARIO SEPI countries. We are heading towards a global food crisis in the next few years, and for this reason we must look upon every opportunity and every economic and legal instrument necessary to ensure that this does not happen. Alongside economic immigration there is social immigration, notably people who leave their country not simply to achieve a higher standard of living but also to have better consolidated rights. These people emigrate in search of democracy rather than economic development and European Union cannot avoid working on making rights universal. The short-term objective is integration. All integration processes need to be used to guarantee that new cultures take part of our society and make it richer: European society’s ability to meet this challenge through integration is fundamental. I would like to finish by saying that, more than ever, Europe needs to be on the side of rights. SESSÃO DE ABERTURA 17 COMUNICAÇÃO Jorge Sampaio Presidente da República (1996-2006) Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações Enviado Especial das Nações Unidas para a Luta contra a TB Senhor Presidente do Conselho Económico e Social Senhor Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian Senhor Director do Conselho da Europa Senhor representante da Comissão Europeia Senhoras e Senhores Conferencistas Foi com muito gosto que aceitei o amável convite que me foi dirigido pelo Professor Bruto da Costa para encerrar a sessão de abertura desta Conferência sobre a “Coesão social”, um tema a que a presente crise económica e financeira empresta acrescida oportunidade. Pelas minhas convicções pessoais e ideário político, sempre considerei este tema absolutamente fundamental – fundamental para qualquer sociedade no seio de cada Estado, mas fundamental também do ponto de vista do projecto europeu e igualmente no plano mundial. Na pujante diversidade de que são feitas as sociedades, só políticas de coesão fortes podem assegurar a igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos e assim assegurar um modelo social inclusivo, de que todos os actores – cidadãos, poderes públicos e empresas – se sintam co-responsáveis. Se as políticas de coesão são como o cimento das sociedades e, digamos, sua condição de possibilidade, por tempos de crise, como o nosso, elas são verdadeiramente postas à prova perante a urgência de resultados. No caso presente, em que o desemprego atinge já níveis acima dos registados no pós-guerra, muito do sucesso das políticas de coesão dependerá das respostas que soubermos encontrar no plano da criação do emprego, o problema número um do nosso tempo. E porquê? Porque ficar desempregado, não conseguir trabalho, é muito mais do que perder ou não conseguir aceder a uma fonte de rendimentos. Quase sempre, não ter emprego, para quem está em idade e tem saúde para trabalhar, é ver diminuídas as possibilidades de se integrar plenamente na sociedade, é ver limitada boa parte dos intercâmbios e relações sociais e é, amiúde, sentir-se atirado para as margens da sociedade onde se acantonam os excluídos. 18 JORGE SAMPAIO O segundo problema, que assume aliás particular relevância em Portugal, é o da desigualdade. Desigualdade de oportunidades sociais no acesso à educação, à saúde, a empregos de qualidade, a rendimentos seguros e justos, à justiça e à equidade social. Não basta, de facto, reduzir a severidade da pobreza e o número de pobres, como tem sido feito. É preciso – e é possível! – reduzir ainda mais a pobreza e limitar as desigualdades sociais, quer de oportunidades, quer na partilha da riqueza criada. Por último, quero ainda indicar um terceiro conjunto de desafios, cuja dimensão é proporcional à complexificação crescente das nossas sociedades em termos da sua composição étnica, linguística, religiosa e cultural. De facto, muitas das sociedades europeias defrontam-se hoje com problemas de identidade e de integração das minorias que as compõem, colocando as questões da boa governação da diversidade cultural no centro da agenda política. Permitam-me que refira apenas que, nesta área especialmente sensível, Portugal tem sabido encontrar políticas bem sucedidas, consideradas muito positivas pelos seus parceiros europeus. Em todos estes domínios, o que está em causa é a coesão, ou seja, afinal, os termos do contrato social que une os homens numa comunidade de destino, os faz sentir solidários uns dos outros e lhes dá um sentido de co-responsabilidade pelo seu futuro colectivo. Não obstante, porque vivemos num mundo cada vez mais interdependente, a coesão já não pode ser só dimensionada à escala local porque os bens públicos são quase todos globais. Por isso, para além do plano nacional de cada país, importa considerar – no que a Portugal respeita – o plano europeu e, naturalmente, o sistema das relações internacionais. Meus Amigos Antes de mais, permitam-me que comece por enumerar um conjunto de paradoxos que não podemos ignorar. O primeiro diz respeito ao papel atribuído à coesão social no âmbito de uma economia concorrencial. A meu ver, assistimos a uma curiosa evolução pois, até há pouco, os arautos do pensamento único colocavam esta temática no banco dos réus, imputando às preocupações sociais do EstadoProvidência a responsabilidade de refrear os mercados, de contrariar a sua lógica de auto-regulação e de prejudicar a competitividade, os benefícios, os lucros e as mais valias. Hoje, ao invés, assistimos ao regresso em força da questão da coesão e do papel do Estado, conotada agora com uma imperiosa e urgente necessidade, dada a gravidade da crise económica e financeira que vivemos. O segundo paradoxo, gerador aliás de um sem número de perplexidades, vem daqui, da ausência de soluções cabais para ultrapassar esta crise. O que mais surpreende é precisamente a dificuldade da social democracia em propor um modelo de uma economia social de mercado que permita às empresas e aos cidadãos restabelecer a confiança entre si e nas instituições financeiras, bem como recuperar a confiança no poder regulador do Estado e das instituições europeias. SESSÃO DE ABERTURA 19 Surpreende, outrossim, a ausência da Europa política, numa altura em que, mais do que nunca, dela necessitamos e, sem a qual, eu não acredito que se possam encontrar vias sustentáveis de saída para a crise. Por exemplo, no âmbito da última reunião do G20, se a solidariedade europeia foi importante nas decisões tomadas, muito mais, no entanto, se poderia ter feito, se tivesse havido uma liderança europeia, expressa numa estratégia e numa visão comum. Mas curiosamente, e este é mais um paradoxo, se os cidadãos reclamam agora claramente mais Estado para tudo, continuam, porém, de costas voltadas para a Europa, indiferentes, e até desconfiados do seu papel e capacidade de influência e actuação. Basta olhar para os resultados do último Eurobarómetro relativo às próximas eleições europeias para nos darmos conta o quanto a Europa como projecto político está ainda por fazer, o quanto a Europa dos cidadãos está longe de ser uma realidade. De facto, o que os europeus querem mesmo é que o Estado regresse agora e faça alguma coisa “para que tudo fique na mesma”, como não hesitaria em dizer Lampedusa, que tão bem soube retratar os tempos de mudança que foram os seus. Mas a verdade é que esta não parece ser uma crise mais ou menos passageira, que se remediará com algumas medidas extraordinárias, planos de recuperação e injecções maciças de capital. Esta não parece ser apenas mais uma crise que, quando ultrapassada, levará à restauração do status quo. Ao invés, esta crise parece inscrever-se no quadro mais vasto de uma mudança de paradigma, à semelhança, aliás, do que aconteceu no passado, por exemplo, aquando das três anteriores revoluções industriais que se sucederam na Europa e que acarretaram, todas, uma certa reorganização do trabalho e do sistema produtivo, uma reestruturação social com evoluções políticas próprias, bem como uma alteração dos padrões de vida colectiva. Hoje vivemos, como é bem sabido, no rescaldo da revolução informática iniciada nos anos setenta, com a invenção da internet, do microprocessador e do computador. Vivemos na época da electrónica e da informática, mas também na idade da energia nuclear, da globalização, da deslocalização da produção e do comércio mundial. Vivíamos, até há pouco, na celebração da liberalização dos mercados e dos chamados sistemas financeiros sofisticados, na ilusão de que a política e o Estado poderiam ser substituídos pelos mercados, bastando para tanto deixá-los entregues a si próprios. Também no plano, mais vasto, do nosso modelo de civilização, começamos, agora, a dar-nos conta que pensávamos, vivíamos e agíamos como se fossemos os mestres absolutos do universo e seus insaciáveis senhores, como se os recursos naturais fossem infinitos e como se o progresso tecnológico resolvesse a prazo todos os problemas que criámos, desde a poluição, às mudanças climáticas, passando pela escassez de água potável, por exemplo. Temos vivido nesta ilusão civilizacional, mas os resultados estão à vista. A meu ver, tornou-se agora, bem claro, que precisamos de um modelo de desenvolvimento sustentável no quádruplo plano económico, social, ambiental e cultural. 20 JORGE SAMPAIO Para efectuar esta “revolução do desenvolvimento sustentável”, é necessário reformar o sistema internacional, reforçar o multilateralismo e desenvolver um novo paradigma de governação mundial assente na regulação dos bens comuns globais. Caros Conferencistas Não nos enganemos sobre o sentido da crise actual. Não nos iludamos também sobre a capaci dade de acção dos Estados nacionais. Temos de pedir mais a quem pode dar mais e, a meu ver, é à Europa que nos devemos dirigir. Temos de nos bater por que a Europa assuma as suas responsabilidades, assegure o respeito dos princípios em que assenta a construção europeia e o próprio mercado único e proteja os cidadãos europeus. Temos de nos bater pelo regresso da Europa política e da Europa social, agora que os Estados tanto precisam dela. Chegou a altura de quebrar o círculo vicioso da política social europeia. Porque digo isto? Porque o quadro geral da política social europeia – criado, há respectivamente 17 e 12 anos, pelos tratados de Maastricht e de Amesterdão – está hoje manifestamente desactualizado. E está desactualizado duplamente, em virtude do vastíssimo alargamento da União Europeia (com o importante aumento da diversidade económica e social da UE27 que conhecemos), mas sobretudo em resultado da evolução internacional entretanto verificada. A presente crise internacional mostra bem as vantagens das instituições europeias, nomeada mente, a União Económica e Monetária, vulgo o euro. Comparando as experiências da Islândia e da Irlanda, ambas pequenas economias europeias com elevados níveis de progresso económico e social, um sistema financeiro sobredimensionado e dependente dos mercados de capitais de curto prazo, é muito claro que a Irlanda, apesar dos problemas muito difíceis que ainda tem que enfrentar, se encontra numa situação relativamente vantajosa e sabe que, em última instância, a União estenderá uma mão para evitar o colapso ou a catástrofe financeira. Entre os casos da “Iceland” e da “Ireland”, a diferença não é entre um “c” e um “r”, mas o que verdadeiramente as separa e distingue é o euro! O euro faz aqui toda a diferença! Mas, se é verdade que a criação do euro veio proteger os Estados membros que integram a Zona Euro de uma parte das consequências da actual crise financeira, económica e social, não é, porém, menos verdade que a unificação monetária ocorreu em circunstâncias tais que criou um círculo vicioso para as políticas sociais que a crise actual torna agora urgente romper. É que, como se sabe, os tratados europeus, ao submeterem as políticas sociais à política económica e esta à política orçamental e monetária, criaram um círculo vicioso em que à dificuldade em tomar decisões juridicamente vinculativas ao nível europeu – veja-se o exemplo da Directiva sobre o tempo de trabalho – se soma uma escassíssima margem de manobra no plano nacional para qualquer desenvolvimento das políticas sociais com custos orçamentais relevantes. SESSÃO DE ABERTURA 21 Ora este círculo vicioso vem limitar as escolhas políticas susceptíveis de serem oferecidas aos eleitorados dos Estados membros e, ao mesmo tempo, cria as condições para desenvolver o jogo, perverso entre todos, da desculpabilização nacional em nome da Europa. Mas romper este círculo exige bem mais do que os – indispensáveis! – apelos contra as políticas chauvinistas e xenófobas – e declarações – igualmente bem intencionadas! – a favor da cooperação internacional na procura de respostas globais à crise global. A meu ver, para romper este círculo vicioso é necessário que se regule quer o sistema financeiro internacional, quer as relações económicas e sociais dentro dos países, e entre países. E é claro que, desta vez, não poderá ser “mais do mesmo” ou, se preferem o anglicismo, “business as usual”. É claro que não é um caminho fácil. Mas é, em contrapartida, um caminho indispensável, se quisermos travar o passo à lógica infernal que esta crise pode estar a gerar e que poderá traduzir-se em somar à crise financeira e económica, uma crise social e política que a humanidade não conhece desde os terríveis anos 30 do século passado, cujas consequências todos conhecemos. Mas a Europa tem ao seu dispor instrumentos próprios de que pode lançar mão para evitar o pior, como seja a emissão de obrigações europeias para reforçar as políticas sociais e de combate à crise. A meu ver, esta seria uma demonstração da força política do projecto europeu e uma afirmação da obrigação de solidariedade. Sei que existem ainda algumas reticências e muitas hesitações em relação a esta solução, mas acredito também que a elas se recorrerá se for necessário. Meus Amigos As democracias europeias estão, não tenho dúvidas, entre os Estados mais bem colocados do mundo para darem contributos decisivos para que a resposta à crise da globalização neo-liberal seja a regulação social do comércio internacional e não o fechamento proteccionista e xenófobo. Julgo que nenhum outro espaço geoestratégico do mundo está em melhores condições do que a União Europeia para construir uma nova conjugação virtuosa entre crescimento económico e equidade social, pela simples razão de que o modelo social europeu é, apesar de todas as suas limitações, a melhor base de partida para tornar aplicável à escala planetária o que a Organização Internacional do Trabalho chama a “agenda do trabalho digno”. Claro que temos, pela frente, tempos de grande incerteza, que exigirão de todos lucidez, concertação e unidade. Precisamos que o Estado seja ágil, atento, que diferencie e que incentive com critério; e que não deixe que os “salvados do costume” sejam sempre os mesmos à custa do interesse geral e da nossa necessária coesão social; e que faça da “accountability” um poderoso instrumento de confiança e de mobilização. Precisamos, também, mais do que nunca, que a União Europeia tome as necessárias medidas que assegurem uma virtuosa conjugação entre crescimento económico e equidade social, que defenda o modelo social europeu e reforce a Estratégia de Lisboa à luz dos novos condicionalismos. Precisamos, por último, de evitar que, com a nossa cumplicidade, estejamos a preparar as con dições de uma “tragédia dos comuns”, para utilizar a metáfora conhecida que o biólogo Garrett Hardin há uns anos atrás trouxe de novo para a ordem do dia. 22 JORGE SAMPAIO Não nos podemos comportar como os habitantes da aldeia descrita naquela metáfora que transformaram o prado, onde todos levavam o gado a pastar, num terreno estéril e seco por causa da sua falta de visão do futuro e de sentido de responsabilidade colectiva pelos bens públicos comuns. A mudança está nas nossas mãos. Basta vontade e unidade de todos os europeus. Esta é uma batalha política de grande alcance, que, nós europeus, podemos liderar. Muito obrigado. COMUNICAÇÃO KEYNOTE SPEACH 25 SOCIAL COHESION IN THE 21st CENTURY Jørgen Søndergaard Managing Director, SFI – The Danish National Centre for Social Research and Deputy Chair of the High Level Task Force of the Council of Europe on Social Cohesion in Europe Your Excellencies, ladies and gentlemen. It is a great honour for me to speak before such a distinguished audience. I am very thankful to the Portuguese Economic and Social Council and to its president Mr. Bruto da Costa for the kind invitation. I am going to talk about social cohesion in the 21st century: - What is social cohesion – what do we mean when using the term social cohesion? - Why is it an important goal for society? - What challenges do we see for social cohesion in the 21st century? - How to deal with the challenges and how to strengthen social cohesion? I do not intend to propose to you particular policies or strategies for any particular country. I am a strong believer that each society has to find its own route towards social cohesion. Social cohesion is not something we can simply decide to have or to have more of – we cannot just vote for more social cohesion. However, I think there are some issues and ways of looking at social cohesion that might be of common interest and concern independent of the more specific policy developments and policy choices made in different countries. I would like to share my views on these matters with you. The background for my presentation is the report: TOWARDS AN ACTIVE, FAIR AND SOCIALLY COHESIVE EUROPE from the Council of Europe’s High Level Task Force on Social Cohesion, which was released in the autumn of 2007. The Task Force was asked to formulate a long-term vision for promoting social cohesion in Europe and suggest policies and initiatives for different stakeholders, especially the Council of Europe. I will draw on that report without giving you a complete summary and on some issues I will go beyond the report and hence you must not blame my colleagues that were members of the Task Force nor the Council of Europe but only me for what I am saying today. What is social cohesion – what do we mean when using the term social cohesion? Social cohesion is widely used in political debates and writings about society these days. My impression is that we all have a feeling that we know what it means - despite the fact that we have no common definition to refer to. Social Cohesion has something to do with: 26 JØRGEN SØNDERGAARD - The feeling of belonging; - The invisible ties connecting people of a particular society; - The functioning of democracy and democratic institutions; - The ways in which societies organize themselves legally, socially, institutionally and so on; - The opportunities to be active members of that society; and - A sense of fairness, when conflicting interests and divergent opinions are resolved. The Task Force’s understanding of social cohesion is that the core of the concept is The capacity of a society to ensure the well-being of all its members, minimizing disparities and avoiding marginalization. This should not be taken to mean that the State or the government alone is responsible for individual well-being. The Task Force emphasizes that it is about society’s capacity to manage differences and divisions and to ensure the means of achieving welfare for all its members. In other words it is about ensuring relevant opportunities for all members of society and about organizing society in such ways that my aspiration for more well-being for me and my family is not achieved at the expense of the wellbeing of others. The application of social cohesion as a goal for society should not be fixed however. For many reasons. One is that social cohesion may be applied to different types of societies, ranging from small local communities to Nation States and regions of the world (like Europe) or even the world. Another very strong reason to keep the concept open is because of differences across countries. Although the notion of a “European social model” is widely spoken of, in practice there are many differences among countries and regions of Europe. Not only have they different historical legacies, but countries vary in terms of institutions, policy approaches, resources and challenges to social cohesion. For these and other reasons, a sustainable social cohesion strategy for Europe can neither be fixed nor uniform. Why is social cohesion an important goal for societies of today? Basically the answer is very simple. Nowhere is there a situation where the vision of social cohesion is fulfilled. There will never be. Social cohesion is something to strive for continuously as we develop our societies and adapt to the changes coming from outside of our societies as well as from ourselves as we change behaviour, values and attitudes. Societies are always on the move. Social cohesion should be seen as an overriding guide to the management of changes. Social cohesion has many strong points as a concept and guiding motto for policy. For one, it encapsulates the social goals in a way that other concepts do not. In comparison to social inclusion for example, it is a broader approach and has a much stronger set of references to the functioning of democracy and the healthiness of society. SOCIAL COHESION IN THE 21st CENTURY 27 Moreover, social inclusion focuses on “specialised” policies and actions whereas the social cohesion concept seeks a broader, more civic and societal responsibility. There is also the fact that a concern with social cohesion has deep roots in the European way of life, drawing upon a set of aspirations and vision that have evolved over time and were considered quintessential to the European way of life. Our report mentions four more specific reasons why striving for social cohesion is extremely relevant in the Europe of today. First: The modern principles of democracy are still very young, and the deeper conditions for a stable and consolidated democracy have probably not yet been fulfilled anywhere; Second: Some genuinely new needs and vulnerabilities are emerging and these are increasing the risk of social fragmentation; Third: Diversity, mobility and changing values are such that people living in the same community or society have less in common and may therefore be less likely to subscribe a common culture and a common set of norms and values; Fourth: The way that policies have responded to the challenges and changes has tended to pay too little attention to social factors and social infrastructure. Recently, we have witnessed a very clear example of that: the crisis in the financial and banking system. The deregulation of financial markets together with the increased connectedness of financial markets through globalization was first seen as a source of increased prosperity – even families with low incomes could buy houses with cheap loans. Now we know that this was “houses build on unstable sand” and a lot of innocent people suffer from the consequences of the collapses of banks and financial institutions. The interest in benefits from financial deregulation was given political priority to that of protecting people’s daily life. Hopefully, there are lessons to be learnt from this crisis. One of them being that the potential well-being of individuals of any local community is critically dependent on what happens and which decisions are taken in other parts of the world. This is indeed a challenge to developing policy responses that are effective both economically and in relation to protecting social cohesion. What challenges do we see for social cohesion in the 21st century? First let me stress that I do not pretend to know what will happen in the future. And frankly I do not know – and I declare my scepticism towards anybody who claims to know – the future. So what we can do is to think about the possible implications of changes already under way. There are at least five such changes under way that might imply challenges to social cohesion. - Globalisation provides opportunities for further economic development but also requires social policy to secure individuals while contributing to the flexibility in the labour market and to the structural changes necessary to harvest the benefits from globalisation. The big improvement in communication possibilities, lying behind the new economic opportunities, also changes conditions of daily life of ordinary people. Families can live at further distance 28 JØRGEN SØNDERGAARD without giving up intense communication. So people become less dependent on their local community. - Demographic changes in Europe are acting to change the population composition in terms of age, gender and generation, upsetting some existing balances and hugely challenging public policy. The fraction of the European population beyond the age of 60 is expected to double over the next 4 decades. This will create an immense increase in demand for care, for example. At the same time families are not living in the same community to the same extent as they used to, so an increasing share of the elderly will be dependent on care from non-family. Fertility has declined in large parts of Europe. A Europe where the young generation chooses not to have children is clearly lacking social cohesion. More generally, the change in age structure creates a need for a new balance in the way we use our resources. - Greater migration and cultural diversity pose the double challenge of integrating migrants and continuing the search for a common set of values to which all sectors of society can give their loyalty and commitment. Migration has always been there, but the level has varied a lot during history. The latest population forecast from the UN expert group expects the population of the world to increase to 9 billion in 2050 – 50 per cent more than in year 2000. Population is expected to grow in all regions of the world with only one exception. The exception is Europe. European population is expected to decline by some 100 million, from 730 mio. in 2000 to 630 mio. in 2050. How this may influence migration pressures on Europe is not difficult to imagine. Another change we might see in the future is an increasing tendency for people to move around not only within countries but also between countries. This will pose challenges to social cohesion in many ways. It is probably not going to be a rapid change – more likely it will be a gradual development. My children do not see Denmark as their only or even primary place of living and place of activity as we did in my generation and maybe their children will be even less rooted in a particular geographical place. Many of the institutions we have built and many Nation State policies do not take this into account. It seems plausible, if not likely, that we will have to rethink our understanding of society in light of the less tight connection between individuals and a particular geographically defined society. - Political changes pose the challenge of declining trust in the political system and a change in both the extent to which and how people become politically active as well as the increasing remoteness of the political system from people’s lives. Globalisation and migration contribute to this. But the media, the fact that people have a lot of other possible choices apart from engaging themselves in democratic processes and decision making should be mentioned as well. Somehow it seems to me a paradox that we have had such an enormous progress in communication technologies and possibilities while, at the same time, we observe a widespread opinion that policy makers are now more remote from their citizens than before and communication between citizens and politicians increasingly becomes one way messages. SOCIAL COHESION IN THE 21st CENTURY 29 - Economic and social changes endanger access to adequate financial and other resources, including employment, health and education, for some sectors of the population, as well as making for big gaps across sectors. For one we are still struggling with unemployment in Europe, but more generally it is a challenge to ensure that all sectors of the population may benefit from economic progress. This is the case because – among other things – we are facing deep structural changes as the economy develops in India, China and many other places outside the OECD area. This creates progress in many other places. We can benefit as well, but it depends on our ability to manage the necessary structural changes of our economies. There is nothing in these and other challenges that inevitably acts to reduce social cohesion or social solidarity. Without action, however, Europe’s social stability and achievements are likely to come under pressure. Our ability to manage such challenges will decide whether they will be beneficial or not to our societies. How to deal with the challenges and how to strengthen social cohesion? How is social cohesion in Europe to be achieved? While European diversity and variation have to be kept in mind, it is possible, essential even, to set out common principles and goals for action. It is the view of the Task Force that the way of achieving social cohesion is vitally important. Transversalism is the approach favoured and developed by the Task Force. This has a number of applications. First, the connectedness across policy areas has to be recognised. Whether at local, national or international levels, policy boundaries are not sharp and each policy exerts an effect beyond its primary sphere. Secondly, and related, there is a need for action at multiple levels and by many partners (Nation States, local and regional authorities, social partners, NGOs/civil society, international organisations). This is not to be confused with State disengagement. Rather, the public authorities are the guarantors of cohesion when it comes to social rights approaches and active consultation geared to improving democracy, generating greater social solidarity and creating innovation and stability in an increasingly complex society. The Task Force emphasises that the Council of Europe can play a pivotal role, not least because protecting social cohesion in Europe requires global, European, national and local level action and vision. The Task Force advocates an approach that focuses both on the classic social policies, albeit changing their content and orientation in key respects, and institutes a transversal approach which goes beyond individual policy spheres to target more global objectives and activities. The classic package of social policies is, of course, central to social cohesion. This policy infrastructure already exists in most countries, which means that in many cases it is a question of rethinking, modernising and sharpening the approach to social cohesion. The report devotes considerable attention to putting substance on a social cohesion policy for our time, especially to how the existing social policies can be better oriented towards social cohesion, given the changes that are underway and the insights that are coming forward about old and new approaches to social problems. However, in all countries, even those that would see themselves as already having 30 JØRGEN SØNDERGAARD a strong orientation to social cohesion, the understanding of what constitutes relevant policies for social cohesion has to broaden beyond the classic social policy frame. This is true in two senses. First, while social protection policy would be readily recognised in most member States as central to social cohesion, the Task Force suggests that employment, health, education and housing policies also have a crucial role to play. A broader policy mix comes into focus therefore. Secondly, in addition to these policy domains, social cohesion requires what will be, in many cases, a new domain of policy – one specifically oriented to activation and societal integration. The Task Force is of the view that the current understanding of activation as primarily economic in nature must be broadened to refer also to participation in social and political processes. When this is put together with societal integration, the spotlight is placed on the need for a new package of policies to promote an active and integrated society. The package we are talking about here comprises policies on migration, on better integrating migrants and other groups into society, on facilitating adaptation to cultural diversity and reconciliation, and on better realising democracy by, inter alia, further instituting social dialogue and introducing procedures for civic dialogue (whereby groups or sectors of society which have potentially opposing interests, or which are very different in terms of culture, can come together). The Task Force therefore emphasises the need for member States to revisit their social and other policies with a view to tailoring them more closely towards social cohesion objectives. The Task Force recommends that Nation States should adopt social cohesion as an active policy concern and place it at the centre of their development models. The goal should be an active, fair and socially cohesive society in which policies for economic and social development work in tandem. The Task Force has proposed a programme of action for the Council of Europe. The main idea is that social cohesion in Europe should be addressed transversally by a four-fold programme that: 1) reinvests in social rights; 2) develops a wider sense of responsibility; 3) strengthens democratic foundations and mechanisms of social and civic dialogue; and 4) builds confidence in the future. Finally, we recommend the use of five indicators to monitor the development of social cohesion in a systematic way. Furthermore, the work on investigating the links between policies and social cohesion and the elaboration of appropriate goals and structures that best deliver on social cohesion should be continued and consolidated. In my view this is one of the critical steps in further promoting social cohesion. We need to improve our understanding about how policies and societal changes impact on social cohesion. That will be a great challenge! Your conference today is an important contribution and I congratulate the Economic and Social Council of Portugal for taking this initiative Thank you very much for your attention. PAINEL 1 – FACTORES DE COESÃO SOCIAL PANEL 1 – FACTORS OF SOCIAL COHESION 33 COMUNICAÇÃO Eduardo Marçal Grilo Membro da Administração da Fundação Calouste Gulbenkian A Conferência Europeia organizada pelo Conselho Económico e Social sobre o tema da Construção da Coesão Social constituiu, para mim, um momento de reflexão em que foi possível escutar um conjunto vasto de intervenções relacionadas com uma das grandes áreas de preocupação das sociedades modernas. A coesão social é, com efeito, um factor decisivo para o equilíbrio das sociedades e para a sua evolução sobretudo quando assistimos a fenómenos de fragmentação social altamente preocupantes que se instalaram nas nossas sociedades e que tornam este problema uma questão central que não pode ser desprezada ou minimizada. A questão ganha, no entanto, uma relevância e uma complexidade acrescidas uma vez que o combate contra esses factores de fragmentação envolve em primeiro lugar uma grande diversidade de políticas públicas, mas ao mesmo tempo implica igualmente uma atitude por parte dos cidadãos no sentido da valorização da coesão e da compreensão dos factores e das causas que estão na origem destes conflitos sociais que tanto preocupam hoje os decisores políticos e as grandes organizações. As políticas que combatem a fragmentação social, sobretudo as que visam a erradicação da pobreza e da exclusão, têm um carácter muito amplo e diversificado podendo mesmo dizer-se que não há um só sector onde se não deva prestar uma atenção especial a estes fenómenos, tal a importância que eles têm para o equilíbrio da sociedade e para o bem-estar dos cidadãos, das famílias e das comunidades. As políticas económicas, a política fiscal, a política de rendimentos e de redistribuição, as políticas de imigração, as políticas na área da educação e da saúde e as políticas de apoio aos mais desprotegidos, designadamente as crianças, os idosos e os deficientes são seguramente áreas de actuação onde o Estado tem especiais responsabilidades políticas e onde é possível definir quadros de intervenção e medidas concretas que visem o combate à exclusão, à pobreza e à marginalidade. No entanto não é apenas o Estado que tem a obrigação de se preocupar com estes factores que afectam as pessoas e que as tornam cidadãos marginais, sem direitos, sem deveres, sem trabalho e sem dignidade. As empresas e as organizações da sociedade civil são, a par do Estado, instituições cuja responsabilidade social se torna igualmente decisiva para a promoção dos cidadãos através sobretudo do trabalho e da remuneração correspondente, uma vez que é pelo trabalho que a pessoa humana progride, evolui e se realiza num quadro de integração social balizada pelos Direitos Humanos, pela Democracia e pela Coesão Social. A crise que o Mundo hoje atravessa é um grande momento para reflectir sobre o passado, sobretudo o passado recente em que muitos valores foram desprezados e postos em causa em 34 EDUARDO MARÇAL GRILO tantas circunstâncias. Mas, é também a oportunidade para preparar o futuro e encarar as questões da Coesão Social numa perspectiva de combate às injustiças e às desigualdades, sem esquecer a prioridade que deve ser atribuída ao funcionamento do Sistema Político, à regulação dos sistemas financeiro e económico, ao funcionamento da Justiça, à racionalização e melhoria dos Serviços Públicos e particularmente às políticas de incentivo ao emprego numa perspectiva de novos empregos através de novos projectos e novas ideias, assentes na criatividade tanto ao nível dos produtos como dos serviços. Não adiantará que os esforços a desenvolver tenham como objectivo “manter o que está” quando todos sabemos que muito do que existe não tem possibilidade de sobrevivência neste mundo competitivo e exigente em que vivemos. A Economia Social de Mercado não é fácil de consolidar, exige mesmo um grande esforço para se impor e satisfazer os cidadãos, mas não vejo que haja uma qualquer outra alternativa para promover a Integração e a Coesão Social. 35 L’APPORT DES DROITS DE L’HOMME À LA COHÉSION SOCIALE Françoise Tulkens Juge à la Cour européenne des droits de l’homme Présidente de la Deuxième Section Introduction Je voudrais vous remercier d’avoir invité la Cour européenne des droits de l’homme, que j’ai l’honneur de représenter, à participer à vos travaux. Les droits de l’homme sont plus que jamais notre patrimoine commun (our common heritage) et nous partageons à cet égard une responsabilité commune. Dans cette brève intervention, j’évoquerai, à travers différentes étapes et des exemples significatifs, l’apport des droits de la Convention européenne des droits de l’homme à la cohésion sociale à travers la reconnaissance progressive des droits sociaux (I) ainsi que le sens de cette évolution et les conditions de réalisation de celle-ci (II). En toile de fond de cette analyse se trouvent évidemment les textes les plus récents du Conseil de l’Europe et notamment le rapport de la task force de haut niveau sur la cohésion sociale au XXIème siècle1. I. La reconnaissance progressive des droits sociaux2 Les pères fondateurs Dans l’esprit de ses pères fondateurs, la Convention européenne devait être un instrument dont la “juridicité” serait incontestable et dont les dispositions se prêteraient à un contrôle juridictionnel, au sens fort du terme, tant devant le juge national que devant le juge international. Ce souci les conduisit à n’insérer dans la Convention de 1950 que les droits dont le contenu pouvait s’appuyer sur un consensus politique suffisamment solide et qui pouvaient, en conséquence, être coulés dans des définitions juridiques fermes et précises. Les seuls droits répondant à ces exigences, dans l’immédiat après-guerre, étaient les droits civils et politiques classiques fondés sur l’idée de liberté (droit à la vie, interdit de la torture et des traitements inhumains et dégradants, droit à la liberté et à la sûreté, droit au procès équitable, droit à la vie privée et familiale, droit à la liberté de pensée et d’opinion, droit à la liberté d’expression, etc.). Contrairement à ces droits dits de la “première génération”, véritables droits subjectifs pouvant être invoqués devant les cours et tribunaux, les 1 Voy. Synthèse du rapport de la task force de haut niveau sur la cohésion sociale au XXIe siècle. Vers une Europe active, justice et cohésive sur le plan social, doc. TFSC(2007)32F, Strasbourg, Conseil de l’Europe, 29 octobre 2007. 2 Voy. Fr. Tulkens et S. Van Drooghenbroeck,“Pauvreté et droits de l’homme. La contribution de la Cour européenne des droits de l’homme”, Pauvreté – dignité – droits de l’homme. Les 10 ans de l’accord de coopération, Bruxelles, Service de lutte contre la pauvreté, la précarité et l’exclusion sociale, 2008, pp. 65 et s.; Idem, “La place des droits sociaux dans la jurisprudence de la Cour européenne des droits de l’homme. La question de la pauvreté”, in Commission nationale consultative des droits de l’homme, La déclaration universelle des droits de l’homme (1948-2008): réalité d’un idéal commun? Les droits économiques, sociaux et culturels en question, Paris, La documentation française, 2009 (à paraître). 36 FRANÇOISE TULKENS droits économiques, sociaux et culturels dits de la “seconde génération” ne représentaient (encore) que de simples lignes de conduite à destination des autorités publiques3. Cette différence de portée juridique résulterait de la nature même de ces droits: les droits civils et politiques se limitent le plus souvent à imposer à l’Etat un devoir d’abstention tandis que les droits économiques, sociaux et culturels demandent une intervention positive des autorités publiques pour véritablement accéder à l’effectivité. Dans les textes, s’ébauchait donc un cloisonnement juridique rigoureux et une division des tâches assez rigide qui rendait, a priori, illusoire toute perspective de voir l’un ou l’autre droit social effectuer une percée significative dans le droit de la Convention européenne des droits de l’homme. Un cloisonnement illusoire Un tel cloisonnement ne résista cependant pas longtemps à l’épreuve des faits. Appréhendant et faisant siennes les intuitions qui soutiennent le principe de l’indivisibilité des droits fondamentaux, la Cour européenne des droits de l’homme aperçut rapidement que l’effectivité des droits civils et politiques dont elle avait la garde ne pouvait se concevoir, dans certains cas, qu’à charge d’admettre les prolongements sociaux de ces droits. L’arrêt Airey c. Irlande du 9 octobre 1979 constitue un point de repère significatif: “(…) [L]a Convention doit se lire à la lumière des conditions de vie d’aujourd’hui (…), et à l’intérieur de son champ d’application elle tend à une protection réelle et concrète de l’individu (…). Or si elle énonce pour l’essentiel des droits civils et politiques, nombre d’entre eux ont des prolongements d’ordre économique ou social. Avec la Commission, la Cour n’estime donc pas devoir écarter telle ou telle interprétation pour le simple motif qu’à l’adopter on risquerait d’empiéter sur la sphère des droits économiques et sociaux; nulle cloison étanche ne sépare celle-ci du domaine de la Convention”4. Ainsi, dès le début des années 1980, la Convention européenne des droits de l’homme, grâce au dynamisme interprétatif de la Cour, s’écartait progressivement des rails sur lesquels ses auteurs l’avaient placée et se montrait, selon la belle expression d’un de ses commentateurs, “perméable aux droits sociaux”5. Certes, cet écart était-il par essence limité par la logique à l’aide de laquelle la Cour entendait le justifier: les droits sociaux ne faisaient leur entrée dans la Convention qu’à titre subsidiaire, c’est-à-dire dans la stricte mesure où leur protection était jugée, au cas par cas, indispensable à l’effectivité de l’un des droits ou de l’une des libertés explicitement garantis6. Il reste cependant que, malgré la voie relativement étroite et détournée qu’elle devait emprunter, la percée réalisée par la Cour fut impressionnante, dans de nombreux domaines7. Voy. P. Orianne, “Mythe ou réalité des droits économiques, sociaux et culturels”, Présence du droit public et des droits de l’homme. Mélanges offerts à Jacques Velu, Bruxelles, Bruylant, t. III, 1992, p. 1871; F. Sudre, Droit européen et international des droits de l’homme, Paris, P.U.F., 9ème édition, 2008, n° 178, p. 267. 4 Cour eur. D.H., arrêt Airey c. Irlande du 9 octobre 1979, § 26. C’est nous qui soulignons. 5 Cf. Fr. Sudre, “La perméabilité de la Convention européenne des droits de l’homme aux droits sociaux”, Mélanges offerts à J. Mourgeon, Bruxelles, Bruylant, 1998, p. 46. 6 La doctrine qualifie ce phénomène de protection par ricochet: voy. Fr. Sudre, “La protection des droits sociaux par la Cour européenne des droits de l’homme: un exercice de ‘jurisprudence fiction’?”, Rev. trim. dr. h., 2003, p. 760. 7 Pour un bilan en la matière, voy. ibid., pp. 754 et s. Adde, J. Mouly, “Les droits sociaux à l’épreuve des droits de l’homme”, Droit social, 2002, n° 9-10, pp. 799 et s.; Fr. Tulkens, “Les droits sociaux dans la jurisprudence de la Cour européenne des droits de l’homme”, Les droits sociaux ou la démolition de quelques poncifs, sous la direction de C. 3 L’APPORT DES DROITS DE L’HOMME À LA COHÉSION SOCIALE 37 Une percée impressionnante Elle touche aujourd’hui presque toutes les dispositions de la Convention, manifestant ainsi que l’indivisibilité si souvent proclamée est vraiment prise au sérieux. J’évoquerai quelques exemples dans la jurisprudence de la Cour par rapport à des situations qui constituent des facteurs importants de cohésion sociale. Ainsi, la Cour a développé une jurisprudence importante en matière de protection sociale depuis l’arrêt Gaygusuz c. Autriche8 ainsi que sur la protection des personnes handicapées9. Synthétisant et amplifiant les acquis de la jurisprudence antérieure, une décision de principe Stec c. Royaume-Uni a en effet admis que la notion de “biens”, contenue dans la disposition conventionnelle, pouvait recouvrir l’ensemble des prestations et allocations sociales, qu’elles soient contributives ou non contributives10. De manière tout à fait significative, la Cour releva que, dans un État démocratique moderne, “beaucoup d’individus, pour tout ou partie de leur vie, ne peuvent assurer leur subsistance que grâce à des prestations de sécurité ou de prévoyance sociales. Par ailleurs, combiné avec l’article 14 de la Convention, l’article 1er du premier protocole additionnel fait obstacle à ce que de telles prestations, lorsqu’elles existent, soient refusées à certains pour des motifs tenant à leur sexe11, à leur état civil12 ou encore à leur nationalité13. La combinaison ainsi réalisée est d’autant plus performante que la jurisprudence récente de la Cour européenne a parallèlement développé une interprétation de l’article 14 concernant l’interdiction de la discrimination particulièrement propice à la protection des groupes structurellement fragilisés, que ce soit en admettant la licéité des actions positives14, en affirmant l’interdiction des discriminations indirectes s’agissant de la scolarisation des enfants Roms en République tchèque15 ou encore en imposant un partage de la charge de la preuve Grewe et Fl. Benoît-Rohmer, Strasbourg, Presses universitaires de Strasbourg, coll. de l’Université R. Schuman et Institut de recherches Carré de Malberg, 2003, pp. 117 et s.; A. De Salas, “Les droits sociaux et la Convention européenne des droits de l’homme”, in Libertés, justice, tolérance. Mélanges en hommage au Doyen Gérard Cohen-Jonathan, Bruxelles, Bruylant, 2004, pp. 579 et s.; Ch. Tomuschat, “Social rights under the European Convention on Human Rights”, in S. Breitenmoser et al. (éds.), Droits de l’homme, démocratie et Etat de droit. Liber amicorum Luzius Wildhaber, Zürich / Baden-Baden, Dike / Nomos, 2007, pp. 837 et s.; J. Akandji-Kombe, v “������������������������������������� �������������������������������������� Droits économiques, sociaux et culturels”, in Dictionnaire des droits de l’homme, sous la direction de J. Andriantsimbazovina et al., Paris, P.U.F., coll. Quadrige, 2008, pp. 322 et s. Plus anciennement, voy. M. Levinet, “Recherche sur les fondements du ‘droit au développement de l’être humain’ à partir de l’exemple de la Convention européenne des droits l’homme”, Actualité scientifique. Les droits fondamentaux, Bruxelles, Bruylant, 1997, pp. 43 et s. Du même auteur, voy. “La juridicité problématique du droit au développement de la personne humaine dans la jurisprudence récente des organes de la Convention européenne des droits de l’homme”, Cahiers de l’I.D.E.D.H., 1999, n° 7; Fr. Sudre, “La protection des droits sociaux par la Convention européenne des droits de l’homme”, Les nouveaux droits de l’homme en Europe, Bruxelles, Bruylant, 1999, pp. 103 et s. 8 Cour eur. D.H., arrêt Gaygusuz c. Autriche du 16 septembre 1996. Voy. aussi Cour eur. D.H., arrêt Koua Poirrez c. France du 30 septembre 2003; Cour eur. D.H., arrêts Niedzwiecki c. Allemagne et Okpisz c. Allemagne du 25 octobre 2005; Cour eur. D.H., arrêt Luczak c. Pologne du 27 novembre 2007. 9 Cour eur. D.H., arrêt Timergaliyev c. Russie du 14 octobre 2008. 10 Cour eur. D.H. (GC), décision Stec et autres c. Royaume-Uni du 6 juillet 2005. 11 Cour eur. D.H., arrêt Willis c. Royaume-Uni du 11 juin 2002. 12 Cour eur. D.H., arrêt Wessels-Bergervoet c. Pays-Bas du 4 juin 2002. 13 Cour eur. D.H., arrêt Koua Poirrez c. France du 30 septembre 2003. 14 Cour eur. D.H. (GC), arrêt Stec et autres c. Royaume-Uni du 12 avril 2006, spéc. §§ 61 et s. 15 Cour eur. D.H. (GC), arrêt D.H. et autres c. République tchèque du 13 novembre 2007. Voy. Fr. Tulkens, “L’évolution du principe de non-discrimination à la lumière de la jurisprudence de la Cour européenne des droits de l’homme”, L’étranger face au droit. Actes des XXèmes Journées d’études juridiques Jean Dabin, Bruxelles, Bruylant, 2009 (à paraître). 38 FRANÇOISE TULKENS en cette matière16. A cet égard, la ratification plus large du Protocole n° 12 pourrait constituer un appui précieux à la cohésion sociale. Consacrant le droit au respect de la vie privée et familiale, l’article 8 de la Convention européenne s’est également révélé porteur de percées sociales significatives. Je pense, par exemple, à l’arrêt Wallova et Walla c. République tchèque rendu le 26 octobre 2006, où les cinq enfants des requérants avaient été soustraits à la garde de ceux-ci et placés dans un établissement public. La Cour conclut à la violation de l’article 8. Elle relève que les juridictions internes ont admis que le problème fondamental auquel les requérants se heurtaient était de trouver un logement adéquat. Les capacités éducatives et affectives des requérants n’ont jamais été mises en cause et les tribunaux ont reconnu les efforts qu’ils avaient déployés afin de surmonter leurs difficultés. Selon la Cour, «il s’agissait donc d’une carence matérielle que les autorités nationales auraient pu compenser à l’aide de moyens autres que la séparation totale de la famille, laquelle semble être la mesure la plus radicale ne pouvant s’appliquer qu’aux cas les plus graves. (…) Pour respecter en l’espèce l’exigence de proportionnalité, les autorités (de l’État défendeur) auraient dû envisager d’autres mesures moins radicales que la prise en charge des enfants. En effet, (…) le rôle des autorités de la protection sociale est précisément d’aider les personnes en difficultés qui n’ont pas les connaissances nécessaires du système, de les guider dans leurs démarches et de les conseiller, entre autres, quant aux différents types d’allocations sociales, aux possibilités d’obtenir un logement social ou quant aux autres moyens de surmonter leurs difficultés”17. Les questions de santé sont, elles aussi, un bon indicateur de l’ouverture progressive de la Cour à la responsabilité des États dans le domaine social18. Ainsi, par exemple, dans la décision d’irrecevabilité Nitecki c. Pologne du 21 mars 2002, la Cour s’est attaquée à une obligation plus générale de l’État. Elle rappelle que l’on ne saurait exclure que les actions et omissions des autorités dans le domaine des politiques de santé peuvent, dans certaines circonstances, engager leur responsabilité au regard de l’article 2 et qu’une question peut se poser sous l’angle de l’article 2 lorsqu’il est prouvé que les autorités d’un État contractant ont mis la vie d’une personne en danger en lui refusant les soins médicaux qu’elles se sont engagées à fournir à l’ensemble de la population. Cette jurisprudence fait écho à un des éléments du programme d’action du Conseil de l’Europe pour la cohésion sociale et qui recommande de développer plus fortement la santé comme un pilier de Ibid. Ibid. Cour eur. D.H., arrêt Walla et Wallova c. République tchèque du 26 octobre 2006, § 73-74. Dans un sens identique, voy. Cour eur. D.H., arrêt Havelka et autres c. République tchèque du 21 juin 2007, spéc. § 61. Je mentionnerai encore l’arrêt McCann c. Royaume-Uni du 13 mai 2008, où, s’exprimant à propos de l’éviction d’un logement social, la Cour affirme que “la perte de son logement est la forme la plus radicale d’ingérence dans le droit au respect du domicile d’une personne”, en sorte que pareille mesure n’est conventionnellement admissible que moyennant l’existence d’un contrôle juridictionnel effectif de sa proportionnalité (§ 50). De manière générale, voy. aussi Fr. Tulkens et S. Van Drooghenbroeck, “Le droit au logement dans la Convention européenne des droits de l’homme. Bilan et perspectives”, Le logement dans sa multidimensionnalité. Une grande cause régionale, sous la direction de N. Bernard et C. Mertens, Ministère de la Région Wallone, Études et documents, Namur, 2005, pp. 311 et s. 18 Il est intéressant d’observer que les questions de santé ont fait leur entrée sur la scène conventionnelle dans le domaine de la prison. Cf. Fr. Tulkens et P. Voyatzis, “The right to health in prison. Developments in Article 3 of the European Convention on Human Rights”, The Global Community. Yearbook of International Law & Jurisprudence, 2007, Volume I, New York, Oceana, 2008, pp. 145 et s. 19 Ibid., p. 10. 16 17 L’APPORT DES DROITS DE L’HOMME À LA COHÉSION SOCIALE 39 la cohésion sociale et de promouvoir une approche “santé et droits de l’homme pour tous”19. Dans ce contexte, je devrais encore évoquer la question du droit à l’éducation ainsi que la protection des droits culturels (patrimoine historique et culturel) et de l’environnement20 qui sont des domaines sur lesquels la jurisprudence de la Cour se développe de plus en plus. Ce qui est significatif est que, plus ces questions deviennent des préoccupations sociales générales, plus elles deviennent aussi individualisées dans les requêtes introduites devant la Cour. Enfin, on pourrait encore s’interroger sur l’aptitude de l’article 3 de la Convention à former le siège d’obligations étatiques au profit des personnes fragilisées. Comment en effet ne pas considérer que l’exclusion économique et sociale “humilie l’individu devant lui-même et autrui” et “est de nature à créer des sentiments de peur, d’angoisse et d’infériorité”? “Est-il vraiment aberrant de penser que si un châtiment corporel dans une école est considéré comme dégradant, il devrait pouvoir en être de même pour la situation de celui qui “vit” dans un bidonville?” s’interroge P.-H. Imbert21. La décision Larioshina c. Russie du 23 avril 2002 est à cet égard significative: “The Court recalls that, in principle, it cannot substitute itself for the national authorities in assessing or reviewing the level of financial benefits available under a social assistance scheme (…). This being said, the Court considers that a complaint about a wholly insufficient amount of pension and the other social benefits may, in principle, raise an issue under Article 3 of the Convention which prohibits inhuman and degrading treatment”22. Le dialogue des instruments et des juges Le décloisonnement des générations de droits que l’on observe ainsi s’est accompagné, dans la jurisprudence de la Cour, d’un “dialogue des instruments” et d’un “dialogue des juges”. Ainsi, le récent arrêt Demir et Baykara c. Turquie du 12 novembre 2008 exprime clairement la volonté de la Cour de ne pas raisonner en solitaire mais, au contraire, d’articuler sa jurisprudence sur les développements significatifs des autres instruments européens et internationaux pertinents23. Désormais, la Cour appuie ses interprétations “sociales” de la Convention d’une référence, non seulement au texte même de la Charte sociale européenne24, mais aussi à la jurisprudence de ses organes d’application25. Comme l’observe M. de Boer-Buquicchio, les deux textes “sont largement complémentaires et tout progrès accompli dans l’un sert à renforcer et à consolider les avancées obtenues dans l’autre”26. Plus largement, le soft law du Conseil de l’Europe en matière de protection Synthèse du rapport de la task force de haut niveau sur la cohésion sociale au XXIe siècle. Vers une Europe active, justice et cohésive sur le plan social, op. cit., p. 9. 20 Ibid., p. 10. 21 P.-H. Imbert, “Ouverture”, in Les droits fondamentaux ou la démolition de quelques poncifs, op. cit., p. 12. 22 Cour eur. D.H., décision Larioshina c. Russie du 23 avril 2002 (notre accent). 23 Cour eur. D.H. (GC), arrêt Demir et Baykara c. Turquie du 12 novembre 2008. Voy. Fr. Tulkens et S. Van Drooghenbroeck, “Le soft law des droits de l’homme est-il vraiment si soft? Les développements de la pratique interprétative récente de la Cour européenne des droits de l’homme”, Mélanges Mahieu, Bruxelles, Publications des F.U.S.L, 2008, pp. 505 et s. 24 Voy., par exemple, Cour eur. D.H (GC), décision Stec et autres c. Royaume-Uni du 6 juillet 2005, § 25. 25 Voy., par exemple, Cour eur. D.H., arrêt Sidabras et Džiautas c. Lituanie du 27 juillet 2004, § 47. 26 “Interview avec Maud de Boer-Buquicchio – Secrétaire générale adjointe du Conseil de l’Europe”, Cohésion sociale: développements, n° 8, mars 2003, p. 2. 19 40 FRANÇOISE TULKENS sociale sera lui aussi, le cas échéant, mobilisé aux fins d’enrichir l’interprétation conventionnelle27. Pareille démarche traduit concrètement que tous les droits humains sont “étroitement liés, interdépendants et indivisibles». II. Le sens de cette évolution et les conditions de sa réalisation Quel est le sens de cette évolution? Elle traduit, à mon sens, l’idée de l’interaction entre les droits fondamentaux. L’interaction entre les droits D’un côté, les droits et libertés ne s’exercent pas dans un vide: ils s’attachent nécessairement à une personne en situation, au sein d’une communauté. Le concept de droit social indique bien l’idée que son titulaire est l’individu dans les rapports sociaux, à travers lesquels il vit ou il survit, il se construit ou se détruit. Comme le dit A. Touraine, dans Qu’est-ce que la démocratie?, “la reconnaissance des droits fondamentaux serait vide de contenu si elle ne conduisait pas à donner à tous la sécurité et à étendre constamment les garanties légales et les interventions de l’État qui protègent les plus faibles”28. C’est bien pourquoi le discours des droits de l’homme devient parfois intolérable, sinon insultant pour certains. Comme le rappelle P.-H. Imbert, les exclusions sociales constituent des “trous dans le tissu des droits de l’homme”29. Je pense que c’est Fichte, dans ses Fondements du droit naturel, qui renvoie à ce qu’il nomme le véritable “droit de l’homme”: “la possibilité d’acquérir des droits”. Éducation, santé, protection sociale, logement, travail, culture aussi deviennent des droits-créances qui imposent une action, une prestation pour créer les conditions nécessaires à leur réalisation. Les perspectives se trouvent en quelque sorte inversées: si les droitslibertés sont des “droits de...”, les droits-égalité sont des “droits à....” qui s’exercent aussi de façon plus collective. La Charte africaine des droits de l’homme et des peuples du 27 juin 1981 souligne de manière remarquable dans son Préambule ce principe de la complémentarité des droits humains fondamentaux: “les droits civils et politiques sont indissociables des droits économiques, sociaux et culturels”. D’un autre côté, si la satisfaction des droits économiques, sociaux et culturels garantit la jouissance des droits civils et politiques – au sens où ceux-ci ne servent à rien s’ils ne sont pas fondés sur des conditions économiques, sociales et culturels viables – certains n’hésitent pas à soutenir aussi la position inverse, à savoir que la violation des droits civils fondamentaux “plombe sûrement l’exercice – fragile et aléatoire – des droits économiques, sociaux et culturels”30. Les droits civils, s’ils sont garantis, donnent aux hommes le pouvoir de défendre bien d’autres revendications. Ainsi, par exemple, la liberté d’expression est-elle, comme l’ont dit Brecht et la tradition marxiste, un simple droit bourgeois? Non, répond le prix Nobel d’économie Amartya Sen. Elle pourrait bien Voy. Cour eur. D.H., arrêt Havelka et autres c. République Tchèque du 21 juin 2007, spéc. § 61, se référant à la Recommandation Rec (2006) 19 du Comité des Ministres aux Etats membres relative aux politiques visant à soutenir une parentalité positive du 13 décembre 2006. 28 A. Touraine, Qu’est-ce que la démocratie?, Paris, Fayard, 1994, p. 52. 29 P.-H. Imbert, “Droits des pauvres, pauvre(s) droit(s)? Réflexion sur les droits économiques, sociaux et culturels”, R.D.P., 1989, p. 740. 30 N. Bernard, “L’effectivité du droit constitutionnel au logement”, Revue belge de droit constitutionnel, 2001, n° 2, p.156. 27 L’APPORT DES DROITS DE L’HOMME À LA COHÉSION SOCIALE 41 être la condition sine qua non pour jouir de tous les autres droits, et peut-être même pour survivre. En n’hésitant pas à établir “une équation entre la nature non démocratique d’un système politique et les famines”, il soutient même que “ce sont les différentes libertés positives existant au sein d’un État démocratique, y compris la liberté de tenir des élections régulières, l’exercice d’une liberté de presse et de la liberté de parole hors censure, qui incarnent la véritable force responsable de l’élimination des famines”31. Lors de la Conférence des ministres responsables de la cohésion sociale à Moscou en février 2009, le Commissaire aux droits de l’homme du Conseil de l’Europe ne dit pas autre chose: “As every trade unionist knows, the protection of economic and social rights often depends on freedoms of expression and assembly”32. Des obligations de réalisation progressive Quelles sont les conditions de réalisation de cette évolution? Soyons clairs. Certains sont opposés, sinon franchement hostiles, à l’ouverture “sociale” de la Convention européenne des droits de l’homme. Je tenterai simplement d’apporter une réponse. Pour dépasser l’opposition entre les catégories de droit, certains auteurs nous invitent à “changer de perspective”: il s’agit de passer du point de vue des droits de l’individu au point de vue des obligations de l’État33. Les droits de l’homme que l’État s’engage internationalement à reconnaître imposent trois obligations: respecter les droits de l’homme (ne pas entraver l’exercice d’un droit garanti); protéger les droits de l’homme (ne pas accepter des atteintes); les réaliser (fournir les moyens d’un exercice effectif). La conséquence s’ensuit: “affirmer que l’État est tenu non seulement à une obligation de respecter les droits et d’en assurer la protection mais également d’en assurer la réalisation c’est affirmer simplement qu’il ne peut demeurer insensible à ces circonstances de l’existence qui séparent la garantie des libertés de l’individu de sa capacité effective d’en jouir”34. A ce titre, l’État est tenu à une obligation de réalisation progressive. Dès lors, “lorsqu’est en cause une obligation de réalisation progressive du droit de l’individu, le critère décisif devient de savoir si les autorités étatiques ont déployé les efforts qu’on pouvait raisonnablement exiger d’elles”35. La Cour européenne des droits de l’homme, avec les moyens qui sont les siens, entend participer pleinement au développement de la cohésion sociale dans ce qui la caractérise essentiellement, à savoir comme l’a rappelé J. Vignon, ainsi que J. Søndergård, la capacité d’une société à assurer le bien-être de tous ses membres, en réduisant autant que possible les disparités et en évitant la marginalisation. Il s’agit d’une politique offensive et non pas défensive. A mes yeux, la cohésion sociale est tout simplement le droit pour tous de penser l’avenir. A. Sen, Poverty and famine, Oxford, Oxford University Press, 1981; voy aussi P. Ricoeur, Parcours de la reconnaissance. Trois études, Paris, Stock, 2004, p. 213. 32 Th. Hammarberg, “Yes, we can get through the crisis – but only with a serious and sustainable programme for social rights”, Keynote speech, Council of Europe Conference of Ministers responsible for social cohesion “Investing in Social cohesion: investing in stability and the well-being of society” (Moscow, 26-27 February 2009), doc. CommDH/ Speech(2009)2, p. 4. 33 O. De Schutter, “L’interdépendance des droits et l’interaction des systèmes de protection: les scénarios du système européen de protection des droits fondamentaux”, Droit en Quart-Monde, septembre-décembre 2000, pp. 3 et s. 34 Ibid., p. 5. 35 Ibid., p.10 31 43 PARTICIPAÇÃO E DIÁLOGO CIVIL E POLÍTICO João Salgueiro Conselheiro do Conselho Económico e Social Senhor Presidente Minhas Senhoras e Meus Senhores Caros Amigos Considero um privilégio poder dirigir-me a esta Assembleia e intervir numa reflexão de tão grande significado para o futuro dos portugueses – e dos europeus em geral – e evidente oportunidade face aos problemas e interrogações que defrontamos nesta época. Gostaria de começar por sublinhar a importância do Report of the High Level Task Force on Social Cohesion, documento de partida para qualquer reflexão construtiva sobre o novo quadro da coesão social. Ouvimos, aliás, esta manhã a apresentação de Jørgen Søndergaard que constitui um verdadeiro desafio para a leitura do relatório, excelente enquadramento dos factores de mudança que defrontamos e suas consequências. 1. Quase todos nós na Europa evidenciamos hoje uma tendência para não querer pensar no futuro, assumindo que o passado, que conhecemos e em que fomos formados, se manterá. Podemos imaginar que quando como hoje se fala tanto de crise económica e social, se está predisposto para a mudança. Mas crise é uma palavra enganadora, que não diz muito, porque traz implícita a ideia de um problema que, uma vez resolvido, permitirá voltar à normalidade. E, no entanto, podemos ter a certeza de que estamos numa época de profundas transformações, para um novo enquadramento mundial que imporá a reconfiguração das estruturas europeias, por iniciativa própria ou por força das circunstâncias. Aliás, o mesmo acontece nos Estados Unidos, só que nos Estados Unidos os responsáveis aceitam menos a inconsistência entre intenções e realizações. Na Europa, substituímos as mudanças por discursos de boas intenções, o que tem mérito limitado. Recordo-me de um grande poeta e um grande professor que nos lembrava que o sonho comanda a vida. E é verdade, precisamos de sonhar. Mas sendo também um mestre com grandes qualidades pedagógicas e rigor científico, explicava que não se constrói um edifício sem alicerces sólidos. É essa tensão entre o que se quer sonhar e a capacidade de realizar com bons alicerces que a Europa defronta neste momento. Um dos pontos em que a Europa tem de mudar, no domínio das percepções, é perceber que o mundo, desde há décadas, já não é eurocêntrico. A Europa foi o centro da mudança no mundo, durante mais de cinco séculos: as navegações oceânicas, o progresso tecnológico, as inovações nos sistemas políticos, a Revolução Industrial, novas instituições, mercados financeiros, sucessivas e 44 JOÃO SALGUEIRO profundas transformações nascidas na Europa e lideradas pelos povos europeus ao longo de mais de 500 anos, liderança que perdeu os seus fundamentos após a Primeira Guerra Mundial. A liderança passou então para a América do Norte, ainda um prolongamento civilizacional da Europa. Mas agora a situação não é mais essa. Só quem não quer olhar para as previsões do que vai ser o futuro é que pode imaginar que a Europa, por si própria, vai ser determinante. Existe apoio generalizado para a necessidade de defender o Modelo Europeu e de o aperfeiçoar, mas é bom não esquecer que muitos dos seus alicerces estão a ser corroídos. O relatório do Conselho da Europa, que hoje nos inspira, salienta com pertinência a necessidade de estar atento aos novos desafios (Anexo I). 2. O sumário desta minha intervenção destaca condições que entendo básicas para uma sociedade com mais forte coesão. Aceitem o desafio de olhar para Portugal – ou para outro País – e discutir se essas condições básicas estão a ser suficientemente preenchidas. As instituições políticas estão a funcionar bem? Podemos falar de uma democracia representativa que realmente traduza as opções dos cidadãos? Em alguns países, e em Portugal designadamente, os deputados dependem mais das máquinas partidárias, do que dos eleitores. De facto, o que é bem conhecido entre nós, os seus mandatos serão melhor renovados se estiverem num lugar elegível, não necessariamente se os eleitores quiserem que eles sejam reeleitos. A função dos parlamentos é definir as grandes regras do jogo, definir as grandes opções e fiscalizar os governos. Não é o que acontece entre nós e não é o que acontece, em diferente escala, em outros países. Obtido o apoio eleitoral, os governos controlam bastante bem o poder legislativo, através das disciplinas partidárias. Assim, é mais difícil falar na possibilidade de as instituições democráticas contribuírem para a coesão social efectiva. A tecnicidade das matérias e o carácter sistémico de muitas opções limitam fortemente a relevância da intervenção individual dos deputados. Se não dispuserem de estruturas de estudo e apoio, dificilmente podem influir nas decisões governativas. Depara-se com crescente necessidade de regeneração das instituições da democracia representativa e melhor estímulo da participação activa dos cidadãos e dos movimentos cívicos de informação, diálogo e intervenção. 3. O Estado de Direito assenta necessariamente em magistraturas independentes, o que é reconhecido como essencial, mas é também indispensável que tenha suficiente operacionalidade. Entre nós, como em alguns outros países, a operacionalidade do sistema de justiça é uma grande interrogação. A justiça, para ter efeitos comportamentais e contribuir para a certeza das relações económicas e sociais, tem que oferecer decisões atempadas e previsíveis. Não é possível resolver conflitos, garantir direitos e contratos e assegurar a igualdade dos cidadãos perante a lei, se a Justiça não for oportuna e, especialmente, se não se encorajar o seu acesso pelos mais desfavorecidos, ao contrário do que infelizmente tem acontecido demasiadas vezes entre nós. A montante do sistema, justificam-se preocupações pela fraca qualidade dos processos legislativos, que demasiadas vezes carecem de suficiente justificação e avaliação prévia e de intervenção dos principais stakeholders, e são também afectadas por falta de clareza imprecisões de redacção e dificuldades de interpretação, regulamentação e aplicabilidade. De igual modo, o excessivo fundamentalismo, nomeadamente na transposição de directivas comunitárias, tende PARTICIPAÇÃO E DIÁLOGO CIVIL E POLÍTICO 45 a criar desvantagem de competitividade no confronto internacional, com custos directos para o emprego e o investimento nacional e estrangeiro. 4. A Administração Pública é necessariamente factor prioritário de opções e políticas públicas realistas, eficazes e consistentes. Submeter as políticas estruturantes ao prazo de cada legislatura impõe fortes limitações. No âmbito de cada legislatura definem-se naturalmente as opções de curto prazo. Para a definição de opções fundamentais e reformas básicas, sempre se deve e pode recorrer a maiorias qualificadas. Infelizmente nem sempre assim acontece. Em cada legislatura assumem-se demasiadas vezes opções que comprometem pesadamente o futuro, como se se tratasse de negócios correntes. Temos vivido em Portugal sucessivos episódios desta natureza. Não é possível definir projectos que vão levar décadas com base em opções dos protagonistas políticos do momento: tem que haver mais consensualidade política, económica e social. A Administração Pública exige qualificação e profissionalismo. Infelizmente temos assistido em diferentes governos a derivas que conduzem a que a Administração Pública seja crescentemente governamentalizada e partidarizada. Também a dificuldade de erradicar o peso da burocracia mantém portas abertas para o florescimento de clientelas e da corrupção. Por outro lado, não é possível reconhecer o direito de participação sem haver informação fiável – designadamente de natureza estatística – e sem acesso pleno ao que se passa na função pública e à documentação em que assenta. Perde também significado se não garantir a anualização rigorosa e transparente da gestão orçamental. Os orçamentos podem ser facilmente desvirtuados na ausência de rigorosa afectação de encargos e benefícios ao período a que respeitam, prevenindo o que é sempre fácil, a antecipação das receitas e o adiamento das despesas. 5. A solidariedade e segurança social, nas suas diversas vertentes, estão sujeitas a crescentes tensões, ainda muito mal avaliadas: combate ao desemprego, encargos diferidos com pensões, sistemas gratuitos de saúde e educação, políticas de reequilíbrio regional e urbano, políticas de emigração e integração. Tende a assumir particular acuidade a sustentabilidade inter-geracional e a ausência de políticas de apoio à família, com grave incidência demográfica e de integração comportamental e social das novas gerações. Como dizia atrás, temos vindo a argumentar que é preciso defender o Modelo Social Europeu. Mas em rigor, o que é o Modelo Social Europeu? Correspondeu a algum programa que fosse apresentado aos europeus, discutido e construído estruturadamente? O Modelo Social Europeu é, antes de mais, uma herança de uma época de sucesso e liderança da Europa no Mundo. Não teria sido possível se, desde meados do século XVIII, não se tivesse acumulado inovação tecnológica e produtiva a ritmos sem precedentes. Foi o diferencial de competitividade europeia, face a períodos anteriores e no confronto com outros continentes, que permitiu acabar com o trabalho infantil, reduzir os horários de trabalho, ter férias pagas, sistemas de saúde, educação generalizada, habitação social, segurança no desemprego, pensões de reforma. Esses benefícios foram possíveis na Europa porque se produziu muito mais do que se produzia em épocas anteriores e assim se abriu espaço para o papel redistributivo das dinâmicas partidárias e sindicais. O Reino Unido representa o melhor paradigma dessa evolução: a acumulação das inovações permitiu às suas empresas comprar na Índia as matérias-primas, transformá-las na 46 JOÃO SALGUEIRO Europa, e devolvê-las às regiões de origem a preços mais baixos do que se produzia localmente com os métodos tradicionais. Assim se criaram os fundamentos para reconfigurar as relações sociais na Europa e as inter-relações mundiais. O Reino Unido, país então com 13 milhões de habitantes, transformou-se numa potência mundial em 4 gerações. Com uma taxa de crescimento de 2% ao ano, que permite quadruplicar a produção em cerca de 70 anos, produzia 8 vezes mais um século depois. O séc. XIX é de algum modo um século “pós-revolução industrial inglesa”. Agora assistimos à revolução industrial num país que tem 100 vezes mais população – a República Popular da China – com taxas de crescimento entre os 7 e os 10%. Com taxas anuais de 7%, a quadruplicação faz-se em 20 anos. Em poucas décadas, a RPC e a sua economia assumiram no mundo um papel liderante, que tende a tornar-se avassalador nas décadas seguintes (Anexo II). Na prática, a Europa ignora ainda completamente esta realidade e os seus efeitos a prazo. 6. Na prática, os padrões civilizacionais da República Popular da China impõem-se já aos governantes europeus nas relações internacionais. Certamente nós valorizamos os direitos humanos; mas qual é o líder europeu que defende consistentemente uma política de direitos humanos nas relações com a China? Aparentemente, o realismo não o permite. Mantém-se de facto o discurso dos direitos humanos, mas não a sua prática. Por outro lado, a economia chinesa à medida que se desenvolve vai ter evolução semelhante à que teve a economia europeia exigindo mais matériasprimas e energia. Os contratos a 30 anos e as compras de empresas em África, na América Latina e no Médio Oriente não deixam lugar a dúvidas sobre a estratégia de médio prazo que a China está a construir – bem como o seu reforço como uma potência militar. Também vimos o desastre que resultou da ilusão de poder impor valores ocidentais no Médio Oriente, evidenciando as limitações das opções militares para defender valores nas suas aplicações efectivas. Defrontamos agora a revisão desses conceitos, no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão. A Europa e os Estados Unidos estão a ter a noção dos seus limites como líderes da mudança política e social. 7. Mesmo nos países da OCDE, defrontamos hoje um período de reconfiguração de valores e das instituições. Na Europa vivemos no pós-guerra uma época de ouro: terríveis destruições foram rapidamente ultrapassadas, democracias foram implantadas em todos os países da Europa Ocidental – por iniciativa própria ou por imposição das forças de ocupação – assistiu-se à uniformização institucional, com o Plano Marshall, a OCDE e a União Europeia de Pagamentos, que ajudaram a criar condições de crescente integração e rápido desenvolvimento. Esse desenvolvimento confirmou o Modelo da Economia Social de Mercado – aliás traduzido no texto das Constituições de alguns países. A Economia Social de Mercado era possível porque havia expectativas, confirmadas ano após ano, de um crescimento continuado. Já ouvimos aqui hoje, que vivemos ainda numa cultura que pensa que a geração seguinte vai ter mais oportunidades e melhor qualidade de vida que a geração anterior. Mas nada está garantido nesse sentido; as gerações seguintes podem ter uma vida bastante mais difícil do que acontece actualmente ou em períodos anteriores, desde 1945. Essas três décadas, que os franceses chamaram décadas gloriosas da economia, registaram realmente um crescimento sem confronto na história. Nunca mais se verificou na Europa; está agora a verificar-se nos países emergentes asiáticos como a China, a Índia e o Vietname. PARTICIPAÇÃO E DIÁLOGO CIVIL E POLÍTICO 47 Três décadas de desenvolvimento permitiram conciliar a limitação da inflação com pleno emprego e melhoria das condições de vida. Mais recentemente, no entanto, para prosseguir os mesmos objectivos, houve que recorrer a diferentes orientações de política económica, seguindo diferentes modelos teóricos. A Teoria Keynesiana teve, desde finais da II Guerra Mundial, pleno campo de aplicação, na medida em que a partir de crescente potencial produtivo explicava como é que a utilização da capacidade deve permitir, por um lado, evitar o desemprego e, por outro lado, evitar a inflação. Essa interpretação revelou-se consistente até aos choques do petróleo de 73 e 79. O alcance negativo do primeiro choque foi ainda em regra limitado pelo recurso a políticas de despesa pública, procurando manter o pleno emprego; o segundo choque conduziu à mudança radical das políticas económicas. Procurou-se então recorrer à inspiração das teorias da oferta, abandonando os ensinamentos da teoria da despesa. O modelo keynesiano foi abandonado porque, uma conjugação de inflação e desemprego – o que ficou conhecido como a stagflation – mostrou que esse modelo não se ajustava às novas circunstâncias. O modelo de economia de oferta orientava-se para obter maior eficácia produtiva, encorajando mais forte concorrência, melhor recurso ao mecanismo dos preços, liberdade de circulação de capitais, desregulação e privatizações. Orientações que tinham sido introduzidas pela falência do Modelo Keynesiano, na sua aplicação à realidade resultante dos choques petrolíferos, e que agora, por sua vez, estão a ser postas em causa. O modelo de economia de oferta teve uma consagração que ninguém antecipou com a queda do muro de Berlim e a adopção da economia de mercado por todos os países de economia planificada – com a excepção da Coreia do Norte – bem como pelos países em desenvolvimento de economia mista, como a Índia e alguns outros de África e da América Latina. A verdadeira certidão de óbito para o modelo de economia planificada surgiu com a adopção do modelo de mercado, mesmo pelos países que mantêm governo comunista, como o Vietname e a República Popular da China. Hoje convém recordar por que foi abandonada a economia planificada e o forte intervencionismo do Estado que a configurava: porque conduzia a grandes desperdícios ao nível da produção; a investimentos mal configurados e que custavam três e quatro vezes o que deviam custar; porque não facilitava a inovação; porque não respeitava as preferências dos consumidores. O excessivo intervencionismo adaptava-se mal a todas as transformações resultantes de novas tecnologias, dos aumentos de produtividade e da evolução dos consumos. O planeamento oferecia o que se pensava que era racional, mas não o que as pessoas queriam de facto comprar. Face agora às consequências da crise de 2008, é bom não esquecer o percurso histórico das inflexões da política económica desde 1944, em 73-79 e em 89, com a queda do muro de Berlim. 8. Defrontamos actualmente uma crise mundial cuja origem se atribui a alguns maus desempenhos de bancos. Em muitos países assistimos certamente a uma crise bancária, mas que é resultante de desequilíbrios anteriores. Uma parte dos responsáveis, que prefere diagnósticos politicamente correctos, mais fáceis de justificar, diz que o colapso financeiro resultou da avidez de alguns bancos de investimento americanos. Sendo certo que assim aconteceu, não foi essa a verdadeira origem da crise sistémica. Tratou-se de uma consequência já anunciada da política de dinheiro barato e crédito fácil durante demasiado tempo. Nos Estados Unidos – e em outros países – graves desequilíbrios económicos e financeiros estavam à vista de todos e foram tolerados durante vários anos: défices da balança de pagamentos, preços 48 JOÃO SALGUEIRO do sub-prime, cotações da Bolsa, “exuberância” irracional, como disse Greenspan. Foram também alterações, ainda no tempo do Presidente Clinton, confirmadas pelo Congresso dos Estados Unidos, que acabaram com as limitações impostas aos bancos de investimento, e ainda a facilitação de crédito à habitação para famílias de menores rendimentos. Não se tratou de iniciativas clandestinas, mas de opções concretas assumidas formalmente. Na mesma linha, a política do dinheiro fácil do FED americano e das autoridades inglesas e as alavancagens encorajadas até pelos reguladores, conduziram a diversas formas de engenharia financeira e novos riscos institucionais e de mercados. Quando se tira uma carta e o castelo desaba, é o castelo que está em causa e não as cartas em si mesmas. Falir um banco, que abala todo o sistema económico mundial, mostra que o sistema assentava em bases muito frágeis. 9. Porque é que se adoptou a política de dinheiro barato e fácil, mais do que seria prudente e conveniente? Porque se quis manter um doping à economia, de modo a assegurar ainda o pleno emprego e a melhoria das condições de vida, que assentava cada vez menos no potencial de desenvolvimento das estruturas produtivas existentes. A economia ocidental deixou de ser tão competitiva quanto as expectativas das pessoas exigiam: garantias de pleno emprego, melhoria de salários e progresso continuado das condições sociais. A competitividade dos Estados Unidos e da Europa cada vez menos o tornava possível porque sectores inteiros se tornaram inviáveis face à concorrência mundial. Nos Estados Unidos reduziu-se drasticamente a dimensão da indústria do calçado e do vestuário, dos brinquedos, da indústria electrónica, dos produtos de linha branca, da siderurgia, ou da construção naval – e a inviabilidade atingia já o sector automóvel, como se veio a reconhecer. Idêntica evolução se verificou na Europa. Face ao desaparecer dessas indústrias quais os novos sectores de crescimento? Audiovisual em Hollywood, especulação financeira em Nova Iorque e construção de habitações – sector este que mais emprego criava e mais contribuiu para generalizar o efeito riqueza, pela valorização dos patrimónios. Alimentada enquanto foi possível, atingiu naturalmente o seu limite e entrou em perda acelerada. Vencida a presente crise, que realidades iremos defrontar após uma possível normalização? Provavelmente a falta de competitividade da Europa e dos Estados Unidos manter-se-á, ainda agravada pelos avanços dos países emergentes. Por outro lado, não podemos esquecer que estamos agora a corrigir o excesso de endividamento privado com o aumento do endividamento público. Teremos então que fazer face simultaneamente aos encargos da dívida privada e da nova dívida do Estado. No Reino Unido, há 3 dias, a apresentação do orçamento pelo Chanceler Darling, mostrou que a Inglaterra pode ficar mais endividada do que estava no final da Segunda Guerra Mundial. Défices muito agravados – também na Irlanda, na Islândia, no Japão, na Alemanha, ou em todos os países Mediterrânicos da Europa – não vão desaparecer só pelo facto de se restabelecer a confiança no sistema financeiro e de estabilizar o desemprego. Teremos então que produzir muito mais eficazmente, assegurar novas exportações, suportar os encargos das finanças públicas. Só o conseguiremos com novos estímulos de competitividade e novos comportamentos individuais e colectivos. 10. Os indicadores sobre competitividade permitem fundamentar sumariamente algumas destas realidades em medida que o tempo agora disponível não torna possível (Anexo III). Deixo, no entanto, duas interrogações sobre as quais se impõe reflectir. Em primeiro lugar, quem poderá no futuro vir a criar empregos na Europa e na escala necessária? O Estado? As empresas europeias? PARTICIPAÇÃO E DIÁLOGO CIVIL E POLÍTICO 49 As empresas de outros países? Quando as nossas multinacionais e as autoridades europeias fomentam deslocalizações para países que oferecem melhores condições – nomeadamente emergentes da Ásia – quem fomentará deslocalizações a favor do espaço europeu? Quais as condições que o podem justificar e encorajar? 11. Segunda interrogação: Devemos certamente encorajar a solidariedade europeia. Quais as melhores configurações que a tornam possível, com o realismo exigido para sua efectiva e duradoura concretização? Em Estados democráticos, com instituições que asseguram a soberania dos eleitores, não podemos esquecer que os membros do Conselho Europeu respondem perante o seu eleitorado e não perante o conjunto do eleitorado europeu. Em todos os países o eleitorado respeita antes de mais o sentimento nacional. Inquéritos do Eurobarómetro configuram a importância relativa do sentimento europeu no confronto com o sentimento nacional (Anexo IV). Podemos imaginar o que seria a política americana se o presidente dos Estados Unidos fosse escolhido por um colégio de governadores dos Estados americanos. Assenta, pelo contrário, no sistema de eleição directa, no qual a população de um dos mais pequenos Estados pode fazer a diferença, como aconteceu, de facto, há alguns anos atrás. Imaginemos também o que poderia ser a solidariedade entre os vários Estados se não existisse um Senado que representa a todos com igualdade de voto; ou se as decisões tendessem na prática a ser configuradas por um directório dos governadores da Califórnia, Texas e Nova Iorque. Recordemos também, se queremos progredir para uma coesão efectiva, as limitações do nosso federalismo fiscal: o reforço das políticas comuns não dispensa o reforço dos recursos comuns. O orçamento da Europa não chega a 1,5% do PIB – 40% afecto à PAC. Nos Estados Unidos está perto de 20%. O desenvolvimento de políticas comuns com base num orçamento de 1% não é viável. Mas quem é que na Europa vai suportar um aumento superior a 15% do PIB comunitário? Quando será possível eleitores dos países contribuintes líquidos – seja a Alemanha, a Finlândia, a Suécia, ou a Holanda – aprovarem um tal reforço de solidariedade a benefício dos países membros mais desfavorecidos? Quando existirão condições políticas para tal coesão efectiva? Volto ao início. Temos que aceitar que sonhar é desejável. Tentar ver onde é que podemos pôr os nossos alicerces com segurança é inevitável. Devemos encarar a realidade sem ambiguidades. Problemas postos com clareza delimitam melhor as soluções viáveis, construtivas e eficazes. É indispensável um esforço de imaginação, mas também de fundamentação, de consensualização e de determinação para garantir um projecto de desenvolvimento solidário à medida das aspirações que temos encorajado e dos desafios da nova ordem mundial. Muito obrigado. 50 JOÃO SALGUEIRO Anexos Anexo I Democracy has spread across the continent, levels of well-being are higher than they have been in the past, social stability is widespread and Europeans generally express satisfaction with their lives. However, there are grounds to question whether the conditions still prevail for a strong social commitment. The socio-economic transformation attendant on globalisation and the rewriting of the European political map bring new pressures to bear on and raise questions about social cohesion approach. (Report of High Level Task Force on Social Cohesion: Towards an Active, Fair and Socially Cohesive Europe; Council of Europe, August 2008, p.5). Anexo II Table 4: China’s Trade with the World ($ billion) 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Exports 148.8 151.1 182.7 183.8 194.9 249.2 % change 23.0 1.5 20.9 0.5 6.1 27.8 Imports 132.1 138.8 142.4 140.2 165.7 225.1 % change 14.3 5.1 2.6 -1.5 18.2 35.8 Total 280.9 289.9 325.1 324.0 360.6 474.3 % change 18.7 3.2 12.1 -0.4 11.3 31.5 Balance 16.7 12.3 40.3 43.5 29.2 24.1 Note: PCR exports reported on a FOB basis: imports on a CIF basis Source: PRC General Administration of Customs, China’s Customs Statistics 2001 266.2 6.8 243.6 8.2 509.8 7.5 22.5 2002 325.6 22.3 295.2 21.2 620.8 21.8 30.4 2003 438.4 34.6 412.8 39.3 851.2 37.1 25.5 2004 593.4 35.4 561.4 36.0 1,154.8 35.7 31.9 2005 762.0 28.4 660.1 17.6 1,422.1 23.2 101.8 Table 5: China’s Top Exports ($ million) Commodity Description HS # Electric machinery & equipment 85 Power generation equipment 84 Apparel 61,62 Iron & steel 72,73 Optics & medical equipment 90 Furniture & bedding 94 Toys & games 95 Inorganic & organic chemicals 28,29 Footwear & parts thereof 64 Plastics 39 * Percentage change over 2004 Source: PRC General Administration of Customs, China’s Customs Statistics 2005 172,320.8 149,715.5 65,904.1 34,123.7 25,478.0 22,363.5 19,123.6 19,064.0 19,052.9 17,783.3 % change* 32.9 26.7 20.3 35.3 57.1 29.1 26.7 36.8 25.3 35.7 2005 174,839.8 96,374.8 64,098.6 49,972.2 33,323.5 32,836.1 31,905.2 26,014.3 12,895.8 12,312.8 % change* 22.9 5.2 33.5 24.5 18.8 18.1 12.4 50.6 23.1 -6.0 Table 6: China’s Top Imports ($ million) Commodity Description HS # Electric machinery & equipment 85 Power generation equipment 84 Mineral fuel & oil 27 Optics & medical equipment 90 Plastics & articles thereof 39 Inorganic & organic chemicals 28,29 Iron & steel 72,73 Ore, slag & ash 26 Copper & articles thereof 74 Vehicle & parts other than rail 87 * Percentage change over 2004 Source: PRC General Administration of Customs, China’s Customs Statistics PARTICIPAÇÃO E DIÁLOGO CIVIL E POLÍTICO 51 Anexo III Balança de Pagamentos Correntes (% do PIB) Área do Euro Alemanha França Itália Espanha Holanda Bélgica Áustria Finlândia Grécia Portugal Irlanda Luxemburgo Estados Unidos da América Japão Reino Unido Coreia Taiwan Suécia Suiça Hong Kong Dinamarca Noruega Singapura Anexo IV 2004 2005 ? 4.1 -1.3 -1.5 -7.6 6.4 4.5 0.7 2.4 -7.9 -9.2 -1.9 7.9 -0.1 5.0 -1.3 -8.6 -8.6 8.3 2.7 2.4 4.6 -11.0 -9.4 -4.2 10.3 -0.2 5.6 -1.3 -2.2 -10.1 6.6 3.2 2.7 4.6 -13.9 -9.4 -4.5 9.5 -0.7 5.2 -2.4 -2.4 -10.5 5.9 2.9 2.9 3.8 -13.9 -9.5 -3.2 8.2 -6.7 3.8 -2.0 4.1 5.7 6.8 14.6 9.6 2.1 13.6 24.5 -6.4 3.6 -2.6 2.1 4.7 6.1 13.8 10.7 2.4 16.8 28.5 -6.2 3.9 -3.9 0.6 6.7 8.5 15.1 12.1 2.7 17.3 21.8 -5.3 4.9 -4.9 0.6 8.3 8.3 17.2 12.3 1.1 16.3 24.3 -4.3 4.0 4.8 1.0 7.8 6.4 15.4 9.9 0.7 20.0 20.6 0.8 3.7 -0.4 -0.9 -5.3 8.9 3.3 0.2 5.0 -6.3 -7.3 -0.8 11.1 2006 2007 2008 53 DIÁLOGO SOCIAL HOJE João Proença Vice-Presidente do Conselho Económico e Social Muito obrigado. Em primeiro lugar gostaria de saudar os organizadores, em particular o Professor Bruto da Costa por esta importante iniciativa. Esta iniciativa é ainda mais importante por hoje estarmos confrontados com uma crise, que provoca um aumento do desemprego, uma grande insegurança do emprego e o agravamento da pobreza e da exclusão. É evidente que esta crise é originada por uma globalização com desregulação económica, social, ambiental e, sobretudo, com desregulação financeira. De facto, o mundo transformou-se num gigantesco casino. Basta verificar que 70% dos capitais que circulam no mundo, que atingem um volume sem precedentes, vão e vêm em menos de uma semana. Especula-se contra as moedas nacionais, contra países e até com o preço dos alimentos, na aposta do mercado de futuros. O mundo transformou-se num gigantesco casino com o objectivo do lucro fácil, rápido e, sobretudo, do lucro máximo. Isto tem que mudar e esperamos que esta crise obrigue a mudar. A nível europeu a crise foi agravada por políticas erradas, nomeadamente pela actuação do Banco Central Europeu, que não viu a crise chegar. Estava a combater a inflação quando o problema era o desenvolvimento e o emprego, aumentando as taxas de juro para valores muito elevados, que conduziu a um grande endividamento de muitas famílias e de muitas empresas e que, por vezes, conduziu a situações irreparáveis. Apesar das taxas de juro terem vindo a descer muito rapidamente, muitas famílias e muitas empresas ficaram em situações extremamente difíceis. A coesão entra na discussão do dia-a-dia dos portugueses com a adesão à União Europeia. Os Fundos virados para a promoção da coesão económica e social (o Fundo Social Europeu para a melhoria das qualificações, o Fundo de Desenvolvimento Regional, os próprios fundos agrícolas e o próprio Fundo de Coesão) visam aproximar níveis de desenvolvimento dos recursos humanos, mas também promover políticas de coesão territorial e de desenvolvimento regional. E, por isso, os portugueses e os países ditos Países da Coesão, entre os quais Portugal se integra, sempre defenderam o reforço dessas políticas de coesão e dos fundos a elas afectos, ficando claro o objectivo de uma competitividade com coesão. Esta Conferência baseia-se num excelente Relatório do Conselho da Europa que nós saudamos. O Conselho da Europa define que a Coesão é a capacidade de uma sociedade para assegurar o bem-estar de todos os seus membros, reduzindo as disparidades e evitando a marginalização, ou seja, por outras palavras, que todos têm o direito a viver com dignidade, com plena integração na vida económica e social. Viver com dignidade e sem exclusão é um direito de todos o que implica um combate efectivo às desigualdades regionais, assegurando esse direito àqueles que têm trabalho, 54 JOÃO PROENÇA mas também àqueles que estão no desemprego e o direito daqueles que não estão na vida activa, nomeadamente as crianças, os jovens em idade escolar e os idosos. Viver com dignidade implica um mínimo de rendimentos, e daí também nos termos batido pelo rendimento mínimo garantido, actualmente chamado rendimento social de inserção, a melhoria das pensões, nomeadamente das mais baixas, a melhoria dos salários, como o salário mínimo. Implica a integração em especial por via do trabalho que é o principal instrumento de integração social. Implica a participação na vida económica e social. E é a participação o objectivo deste Painel. Falar em coesão implica uma democracia participada, como bem é salientado no Relatório do Conselho da Europa; uma democracia com direitos e, em particular, com direitos humanos. A democracia política tem de ser também uma democracia de participação dos cidadãos nas decisões que lhes dizem respeito. E, temos aqui dois níveis de participação que é importante distinguir: a participação cívica e a participação social. É que muitas vezes se confundem estas duas dimensões, havendo até tendência da Comissão Europeia para misturar estas duas dimensões, com forte crítica dos sindicatos. A nível europeu, o órgão máximo de participação cívica é o Comité Económico e Social Europeu (CESE). Existem várias outras estruturas de participação, mas é o CESE, o Órgão com funções definidas nos Tratados (com três grupos, aliás com igual número de membros – grupo dos trabalhadores, grupo dos empregadores e o chamado terceiro grupo dos interesses diversos), que emite pareceres por sua iniciativa ou a pedido da Comissão Europeia e que é ouvido sobre as políticas da Comunidade Europeia. Este Comité a nível europeu, tem aqui, em Portugal, como Órgão com dignidade constitucional o Conselho Económico e Social (CES), que é a estrutura máxima de participação da sociedade civil organizada, também com uma composição que inclui os trabalhadores e os empregadores, embora não tão importante como a nível europeu. Mas, a nível europeu, não é o CESE que faz o diálogo social europeu. O diálogo social europeu é um diálogo bilateral entre trabalhadores e empregadores nomeados directamente pelas suas organizações respectivas a nível europeu, com apoio da Comissão Europeia. O diálogo social europeu discute agora, por exemplo, um possível acordo entre trabalhadores e empregadores sobre os mercados de trabalho inclusivos, que tem muito a ver também com o tema desta Conferência, como o CESE tem emitido pareceres fortes e importantes sobre política de coesão e outros temas a ela ligados. Depois, a nível cívico, envolvendo as diferentes organizações da sociedade civil, entre as quais se incluem os sindicatos e as associações empresariais, existem diferentes instituições. Existe uma instituição consultiva dos emigrantes, do ambiente, dos consumidores, da juventude, das mulheres, existem várias organizações de participação das diferentes instituições, como também, a nível dos parceiros sociais, nomeadamente aquele que mais directamente lhe diz respeito na área do emprego e da segurança social e das políticas sectoriais, com representação dos governos, dos sindicatos e dos empregadores. Em Portugal temos como organização máxima da participação cívica o Conselho Económico e Social e como órgão máximo da participação social a Comissão Permanente de Concertação Social DIÁLOGO SOCIAL HOJE 55 (CPCS). A participação social é evidente que não se esgota na CPCS, mas esta Comissão tem um papel extremamente importante na discussão das questões que directamente dizem respeito aos parceiros sociais, que tem a ver com a vida da empresa e dos sectores de actividade (trabalhadores e empregadores) e que se traduz na celebração de acordos vinculativos entre trabalhadores e empregadores e no direito a serem consultados sobre as políticas económicas e sociais e que tem seguimento na própria negociação colectiva, entre trabalhadores e empregadores. O que distingue basicamente a participação social da participação cívica é a possibilidade de celebrar acordos vinculativos, quer no diálogo social tripartido quer no bipartido. Mas quer uma, quer outra das Instituições – CES e CPCS – tem um papel fundamental na emis são de pareceres, na obrigação de serem ouvidos sobre as políticas económicas e sociais. E, am bas as Instituições têm motivos de queixa por muitas vezes não serem ouvidas pelos governos em matérias fundamentais. Alguns pretendem, de facto, esgotar a participação social na CPCS (diálogo social tripartido) e na negociação colectiva. Mas não são exclusivos. E é fundamental chamar a atenção que, de facto, tem havido falhas em termos de CPCS: não haver uma agenda sistemática e estar muito dependente e subordinada à agenda do governo. Na negociação colectiva continuam a persistir vazios, ou seja, trabalhadores não abrangidos pela negociação colectiva e, sobretudo a nível da empresa, em que há uma participação deficiente dos trabalhadores. A negociação a nível da empresa só é verdadeiramente forte quando existe negociação colectiva da empresa. Verificamos mesmo, com preocupação, que empresas que afirmam a sua responsabilidade social e até empregadores reconhecidos pela sua dimensão ética, são, por vezes, os primeiros a pôr em causa e a dificultar a participação dos sindicatos a nível da empresa, o diálogo social na empresa com os sindicatos. E esta é também uma dimensão da coesão porque, como foi referido, a coesão é o respeito pelos direitos humanos e os direitos humanos também incluem os direitos sociais e, em particular, os direitos sindicais. A participação não é um fim em si própria, mas antes um meio para procurar decisões mais consensuais. Visa que as decisões que emanam dos órgãos de soberania e dos diferentes níveis em que as sociedades se organizam, não sejam apenas decididas através do voto popular, mas, também, tenha audição a participação organizada dos cidadãos naquilo que directamente os afecta. E, na área da coesão, considero particularmente importante discutir algumas questões que hoje merecem especial atenção. Em primeiro lugar, a coesão implica o direito à protecção social, garantida por uma segurança social de base pública e universal. A segurança social assegura dois níveis de responsabilidade diferentes: o nível daqueles que descontam para ter direito a uma pensão, e a protecção no desem prego, na doença e a outras prestações; a uma espécie de seguro; outro o nível de todos os cidadãos a terem direito a uma protecção garantida, paga através dos impostos – rendimento mínimo, pensão social, acção social e complementos de alguns regimes pouco contributivos. E é fundamental para o movimento sindical que se mantenha o regime contributivo daqueles que pagam para ter um direito que se mantenha ligado aos salários. No dia em que isso se perder, a ligação ao salário, a segurança social passa a ser uma segurança social de mínimos e não uma segurança social que garanta uma 56 JOÃO PROENÇA pensão digna. É evidente que a sustentabilidade da segurança social é hoje afectada por alguns factores como o desemprego – esperemos que não tão estrutural como isso – e, sobretudo, o envelhecimento da população. A segurança social em Portugal tem uma situação sólida em termos de receitas e despesas e em termos de projecção para o futuro. Agora é evidente que o envelhecimento da população poderá afectar a sustentabilidade da segurança social e isso também tem de ser previsto nos cálculos. Tem a ver com a idade da reforma e tem a ver com a relação entre população activa e número de aposentados. De referir que, por exemplo, na Europa a população activa, ou seja a relação entre os que trabalham e os que estão em idade de trabalhar é inferior à dos Estados Unidos. Para o nível de população activa contribui positivamente a imigração; mas não está em causa os imigrantes sustentarem a segurança social dos outros, antes imigrantes, como os outros, pagarem para terem assegurados os mesmos direitos que os restantes trabalhadores. Em segundo lugar, há que procurar garantir emprego de qualidade com trabalho digno. Um trabalho digno que aposta nas qualificações, numa remuneração justa, em condições de trabalho adequadas; num trabalho estável e, portanto, na luta contra a precariedade; em relações de trabalho saudáveis e também no respeito pelos direitos assentes na lei ou nos acordos de negociação colectiva. Daí o papel relevante quer do Tribunal de Justiça Europeu e do Tribunal dos Direitos Humanos das Comunidades Europeias, quer da Organização Internacional de Trabalho, sede do diálogo social tripartido, e da Organização das Nações Unidas que avançou com este conceito de trabalho digno. E esta questão do trabalho digno merece hoje uma especial reflexão numa época de crise. É fundamental proteger os desempregados e promover a criação e a manutenção de empregos. Mas, também esta crise veio chamar a atenção para uma questão central – a importância dos serviços públicos de qualidade, para garantir qualidade na saúde, na segurança social, na educação, na justiça e promover a regulação e a intervenção na economia. O Dr. João Salgueiro desafiou-me um pouco para falar do modelo social europeu, que é uma das bases centrais da construção da União Europeia. Não é um resultado da distribuição dos lucros gerados pela economia, mas antes uma das bases do modelo europeu. Não é um custo, mas antes esteve na base da competitividade europeia. E, destaque-se que o modelo social europeu, na sua origem, era de base sobretudo nacional, assente naquilo que os diferentes países tinham em comum: um bom nível de segurança social, protecção na saúde, um alto nível de relações de trabalho e um papel destacado do Estado na economia e na sociedade. E, se virmos bem, todas estas políticas no início não tinham dimensão europeia. A segurança social não era europeia e, neste momento, só o são as questões ligadas à livre circulação. A saúde não era europeia e continua a não ser. As relações de trabalho e outras dimensões na área das políticas sociais começaram a ser europeias só muito mais tarde, quase 30 anos depois da construção europeia, a partir de 1986 com o Acto Único Europeu e com Jacques Delors. O peso do Estado na sociedade e na economia diminuiu bastante depois das crises petrolíferas, mas hoje tal está em causa. É interessante ver o Estado alemão a colocar até a possibilidade da nacionalização de bancos em dificuldades, eventualmente para mais tarde voltarem à economia privada. DIÁLOGO SOCIAL HOJE 57 Para nós o modelo social europeu é mais importante que nunca, embora tendo que sofrer permanentes adaptações à mudança. Hoje a segurança social não é a mesma. Hoje as relações de trabalho não são as mesmas. Mas a crise veio demonstrar que muitas mudanças que alguns nos apontaram como inevitáveis, nomeadamente, por exemplo, a questão da privatização dos sistemas de segurança social, eram mudanças erradas, sem sustentação. Existe educação pública e privada, existe saúde pública e privada, também existe a segurança social pública e privada, mas é fundamental manter uma segurança social de base pública e universal. A coesão também implica políticas de inclusão e de solidariedade, com os idosos, com as crianças, com os imigrantes e com os mais desfavorecidos, que tenham presente uma dimensão central, que é a igualdade de oportunidades, a luta contra as discriminações e contra as desigualdades. Para terminar, resta-me dizer que, de facto, hoje, na área da coesão, há uma agenda nacional, há uma agenda europeia, há uma agenda mundial. Há uma agenda mundial pela necessidade de construir uma globalização diferente. Uma globa lização que não acentue as desigualdades. A globalização, tal como foi defendida, era para que os países mais pobres pudessem desenvolver-se mais do que os mais ricos. Mas a globalização veio acentuar a desigualdade entre países e veio acentuar as desigualdades dentro de cada país. A glo balização foi utilizada como instrumento de desregulação social. Mas também de desregulação ambiental, em que o ambiente se transformou em factor de competitividade com prejuízos graves para muitos países e regiões. É, portanto, fundamental introduzir uma globalização diferente com regulação. É necessário o reforço da construção europeia. A Europa precisa de ser mais forte, mais unida, mais coesa, em termos políticos, económicos e sociais. Precisamos do reforço do Estado social. Em conclusão, o nosso desafio é construir a coesão com desenvolvimento económico e social e com solidariedade. Muito obrigado. Mesa da Sessão de Abertura Emílio Rui Vilar, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, durante a sua intervenção na Sessão de Abertura Alfredo Bruto da Costa, Presidente do Conselho Económico e Social, durante a sua intervenção na Sessão de Abertura Alexander Vladychenko, Director-Geral da DG Coesão Social do Conselho da Europa, durante a sua intervenção na Sessão de Abertura Jérôme Vignon, Director da Protecção Social e Inclusão Social da DG Emprego, Assuntos Sociais e Igualdade de Oportunidades da Comissão Europeia, durante a sua intervenção na Sessão de Abertura Jorge Sampaio, Ex-Presidente da República Portuguesa e Enviado Especial das Nações Unidas para a Luta Contra a Tuberculose e Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, durante a sua intervenção na Sessão de Abertura Mesa da Sessão da Comunicação, moderada por Alexander Vladychenko Jørgen Søndergaard, Vice-Presidente do Grupo de Alto Nível sobre Coesão Social na Europa, do Conselho da Europa, e Director Executivo do Centro Nacional para a Investigação Social da Dinamarca - SFI, durante a sua intervenção na Sessão da Comunicação Plateia Mesa do Painel 1 “Factores de Coesão Social”, moderada por Eduardo Marçal Grilo, Membro da Administração da Fundação Calouste Gulbenkian Françoise Tulkens, Juíza e Presidente da 2ª Secção do Tribunal dos Direitos Humanos do Conselho da Europa, durante a sua intervenção no Painel 1 João Salgueiro, Conselheiro do Conselho Económico e Social, durante a sua intervenção no Painel 1 João Proença, Vice-Presidente do Conselho Económico e Social, durante a sua intervenção no Painel 1 Recepção a Mário Soares Plateia Mesa da Sessão de Abertura da Tarde, moderada por Alfredo Bruto da Costa Mário Soares, Ex-Presidente da República Portuguesa, durante a sua intervenção na Sessão de Abertura da Tarde Mesa do Painel 2 “Principais desafios da coesão social”, moderada por Francisco van Zeller, Presidente da Comissão Especializada Permanente de Política Económica e Social do Conselho Económico e Social Manuel Carvalho da Silva, Presidente da Comissão Especializada Permanente do Desenvolvimento Regional e do Ordenamento do Território do Conselho Económico e Social, durante a sua intervenção no Painel 2 Roberto Carneiro, Conselheiro do Conselho Económico e Social, durante a sua intervenção no Painel 2 Maria João Botelho, Subdirectora-Geral da DG dos Assuntos Europeus do Ministério dos Negócios Estrangeiros, durante a sua intervenção no Painel 2 Mesa da Sessão das Conclusões, moderada por Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Tribunal de Contas Isabel Guerra, Conselheira do Conselho Económico e Social, durante a sua intervenção na Sessão das Conclusões Mesa da Sessão de Encerramento José António Vieira da Silva, Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, durante a sua intervenção na Sessão de Encerramento SESSÃO DE ABERTURA DA TARDE AFTERNOON OPENING SESSION 77 REFORÇAR A COESÃO SOCIAL – DURANTE E DEPOIS DA CRISE Mário Soares Ex-Presidente da República Portuguesa Ilustres Participantes desta Conferência Europeia “Construir a Coesão Social” Minhas Senhoras e meus Senhores 1. Quero começar por agradecer ao Prof. Doutor Alfredo Bruto da Costa o amável convite para participar nesta importante e oportuna Conferência Europeia, intitulada “Construir a Coesão Social”. Não podia dizer não ao Prof. Bruto da Costa, que tanto respeito, como autoridade académica nos temas sociais e, consequentemente, tanto tem lutado, como Presidente do Conselho Económico Social e agora, também, como Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz – e, antes disso, como cidadão – contra a pobreza, o desemprego, a exclusão social e em favor da tão necessária coesão nacional. 2. Claro que desde a Revolução dos Cravos – que comemorou há dias o seu 35º aniversário – que os responsáveis políticos, dos diversos Partidos e Sindicatos, com maior ou menor prioridade, têm lutado em favor da coesão social e contra a exclusão. Por meu lado, tive sempre essa preocupação. E honro-me de ter sido, num governo sob a minha presidência, que se criou o primeiro Conselho de Concertação Social. 3. Contudo, os factos são os factos. A verdade é que, trinta e cinco anos após a Revolução dos Cravos, que foi pacífica e constituiu um grande sucesso internacional, continuamos a ser um dos países da União Europeia que tem uma maior desigualdade social. A diferença entre os mais pobres e os mais ricos é abissal. Ora, eu sinto isso como uma vergonha. 4. A crise global, que afecta o Mundo e teve, como se sabe, o seu epicentro na América, propagou-se na União Europeia. Portanto, chegou a Portugal. Estamos a sentir os seus efeitos em pleno e, segundo penso, trata-se de uma crise múltipla, instalada, que está para durar. Oxalá me engane. 5. Contudo, foi uma crise importada, que veio de fora. Por isso não é justo culpar o actual Governo em funções, de uma situação que não gerou e que, pelo contrário, em matéria de deficit até cumpriu – e bem – as suas obrigações comunitárias. 6. Temos, igualmente, uma situação também complicada, no plano político, porque 2009 é um ano em que vão ocorrer três eleições sucessivas: europeias, legislativas e autárquicas e as respectivas campanhas eleitorais. Quer isto dizer que as querelas partidárias tornam-se mais intensas e que a demagogia, com os políticos em campanha, é um pecado dificilmente combatível. 78 MÁRIO SOARES 7. Por outro lado, a crise traz com ela desemprego, falências em cadeia, por falta de crédito e de consumo dos produtos das pequenas e médias empresas, escassez de investimentos externos e internos, dificuldades com as exportações e falta em geral de crédito. É uma situação difícil, que pode tornar-se, com o aumento da deflação, um ciclo vicioso. Mas há uma coisa que é segura: Portugal depende muito da União Europeia, a que pertence, desde 1986. Se não pertencêssemos à zona euro, com uma moeda comum, estaríamos agora numa situação de bancarrota. E sem uma melhoria dos países da União, sobretudo com os que temos maiores relações comerciais, dificilmente poderemos atacar, com eficácia, a crise. Todos os Partidos – e também os Sindicatos – devem ter plena consciência disto. O nosso Povo, que sempre tem mostrado saber o que quer, começa a ter consciência da gravidade da situação que atravessamos. Não será facilmente enganado. 8. Acresce ainda que a União Europeia está a reagir mal à crise: reage em ordem dispersa, sem unidade nem planos de ataque à crise, pelo menos, convergentes. É, para nós, portugueses – e para a União em geral – uma agravante séria. Porque põe em causa a estabilidade do projecto europeu – o projecto político e de paz mais original e criativo do século XX – que, a par da paralisação institucional, pode pôr em risco a integração europeia e as regras do seu bom funcionamento. Uma das quais é a da igualdade e da solidariedade entre todos os países membros da União. 9. Aliás, o comportamento dos maiores países europeus, contrário ao espírito comunitário, contrasta com o que está a ocorrer na América de Obama, que anunciou o início de uma nova era, que já não tem nada a ver com o neo-liberalismo e aconselha políticas de protecção aos mais pobres: os desempregados ou que têm dificuldade em arranjar o primeiro emprego, os socialmente excluídos, os marginais, as minorias étnicas, as mulheres, os emigrantes. Políticas sociais consequentes para gerar confiança nas populações e uma maior coesão social. 10. Porque o desespero e o pessimismo, em tempo de recessão, conduz necessariamente a revoltas, politicamente, desenquadradas dos Partidos e dos Sindicatos, ao desespero niilista e à violência cega que só complicam e não trazem nada de construtivo. Particularmente, quando se vive em democracia, que é o regime da regra, do contrato social, da liberdade e do respeito pelos Direitos Humanos. 11. Tenhamos consciência que estamos a iniciar uma nova era. O neo-liberalismo implodiu como há cerca de vinte anos antes tinha implodido o totalitarismo soviético. Mas os ideais progressistas e humanistas não morreram. Pelo contrário. As democracias poderão ter defeitos – e têm, graves, ao ponto de em alguns lugares se terem tornado verdadeiras plutocracias – mas conservam todas as suas virtualidades. Desde que saibam conjugar liberdade com igualdade, justiça social e solidariedade. É o que chamamos socialismo democrático, trabalhismo ou social-democracia, a família político-ideológica europeia, donde saíram a maior parte das reformas sociais da segunda metade do século XX. 12. Devemos reconhecer, no entanto, que nos últimos anos, após a implosão do comunismo, a família socialista se deixou “colonizar” ideologicamente pelas teses do neo-liberalismo, que defendiam a “teologização” do mercado, a “mão invisível” que auto-regulava o mercado, sem necessidade do Estado – quanto menos Estado, melhor – deixando os mais pobres entregues à sua sorte, por ser essa a regra da selecção natural, como proclamou o chamado, impropriamente, “darwinismo social”. REFORÇAR A COESÃO SOCIAL - DURANTE E DEPOIS DA CRISE 79 A chamada “terceira via”, de Giddens e de Blair, que atraiu e contaminou tantos políticos socialistas europeus, foi um produto dessa “colonização” neo-liberal. Sabemos hoje onde nos conduziu durante os dois trágicos mandatos de George W. Bush, amigo dos socialistas da “terceira via”. Agora, em plena crise, todos reclamam mais Estado e vão até ao ponto de voltar às nacionalizações dos Bancos e das Grandes Empresas. 13. A crise global só pode ser vencida com um novo paradigma político, económico, social e ambiental. Obama disse-o claramente. E não é socialista. Impõem-se, assim, políticas sociais de Esquerda consequentes. Precisamos de um new deal global, como preconizam o Partido Socialista Europeu, presidido pelo dinamarquês Poul Rasmussen, e a Confederação Europeia dos Sindicatos. Essa, creio, é a linha político-ideológica do socialismo democrático de hoje. É a melhor saída para a crise, no meu modesto entender. Dignificação do trabalho, reformas sociais que tragam confiança no futuro, aos mais pobres e desfavorecidos, respeito pelos valores éticos, penalização dos infractores, luta contra a corrupção e contra o enriquecimento ilícito, concertação social conseguida através do debate entre os Sindicatos, as Comissões de Trabalhadores e as Associações Patronais, arbitrado pelo Estado, segundo as regras da justiça social, coesão social, tendo em conta que Portugal é um país membro e antigo participante da União Europeia, mas também da CPLP e da Comunidade Ibero-Americana. Fim dos paraísos fiscais e do sigilo bancário, etc. 14. A pobreza, o desemprego, a insegurança, as gritantes desigualdades sociais são, quanto a mim, os maiores problemas que temos pela frente, para resolver. A pobreza e as desigualdades sociais vêm de longe mas, claro, estão a ser agravadas pela crise. Pelo contrário, o desemprego e a insegurança, com afloramentos de violência e o aumento da criminalidade, são fenómenos importados pela crise ou, pelo menos, enormemente influenciados por ela. 15. É óbvio que a saída para a crise implica mais investimento, crescimento económico, protecção às empresas sérias em crise e confiança no novo sistema. Tenhamos em conta o que foi o PREC. Ninguém – suponho – pretende voltar a aterrorizar os patrões ou a pô-los em fuga. São necessários, quando sérios, para nos ajudarem a vencer a crise e para dar maior consistência à coesão social entre os portugueses. Mas temos de aprender a distinguir entre patrões sérios e os que vivem da especulação financeira e da corrupção. E a não permitir o conúbio escandaloso entre os políticos, os banqueiros e os grandes empresários. 16. Para isso, precisamos de uma Justiça actuante, vigilante, isenta e independente. Não me atrevo a falar de reformas. Tem havido bastantes. Falo da necessidade de ética, de sensatez e de distância, em relação à Comunicação Social, da parte de Juízes, Magistrados do Ministério Público, Polícias, para poderem assegurar e manter a credibilidade a que têm jus. Como vêem a coesão social tem a ver com tudo ou quase tudo. Mas independente de tudo, o resto há que a construir, onde não exista, e que a reforçar, por todos os meios, em países como o nosso. Um papel que cabe ao Governo, aos Partidos, aos Sindicatos e Associações Patronais e à opinião pública em geral. PAINEL 2 – PRINCIPAIS DESAFIOS DA COESÃO SOCIAL PANEL 2 – MAIN CHALLENGES TO SOCIAL COHESION 83 PRINCIPAIS DESAFIOS DA COESÃO SOCIAL Francisco van Zeller Presidente da Comissão Especializada Permanente de Política Económica e Social do Conselho Económico e Social A importância e actualidade dos problemas que estarão em discussão no âmbito do presente Painel impõem um breve enquadramento geral. Embora com algum desfasamento temporal, recordo a análise feita pelos Parceiros Sociais ao nível da UE, a propósito deste assunto, plasmada no relatório “Desafios-chave que se colocam aos mercados de trabalho da UE: Uma Análise Conjunta dos Parceiros Sociais ao nível da UE”, de Outubro de 2007. Nesse documento, refere-se que: - Ao nível da UE-25, a população em risco de pobreza manteve-se estável entre 2000 e 2005, nos 16%, o que representa cerca de 72 milhões de pessoas, embora se registem diferenças relevantes entre países, que vão desde os 9% da Suécia aos 21% da Lituânia e de Portugal. - O risco de pobreza infantil na UE-25 também se manteve estável, na ordem dos 20%, entre 2000 e 2005, mas verifica-se que é mais alta do que a dos adultos. Também neste domínio se registam diferenças assinaláveis entre Estados-membros: dos 7% na Suécia até aos 27% na Polónia. - Em 2005, na UE-25, as despesas sociais contabilizavam cerca de 27.3% do PIB, comparati vamente aos 26.6% em 2000, com variações significativas entre Estados-membros: 13.4% na Lituânia e na Estónia até aos 33.5% na Suécia. - Os sistemas fiscais e os sistemas de subsídios variam muito entre Estados-membros e a sua concepção tem efeitos diversos (positivos e negativos) nos mercados de trabalho. Todavia, neste breve enquadramento, uma palavra sobre a actual crise económico-financeira, é incontornável. Sendo facto que a crise é global, a amplitude dos seus efeitos está ainda longe de ser conhecida. Para já, vemo-nos todos os dias confrontados com a falência de inúmeras empresas e a redução ou suspensão da actividade de muitas outras, com reflexos manifestos num acentuado aumento do desemprego à escala mundial. Constata-se, assim, com grande preocupação, que o desemprego ao nível da União Europeia e em Portugal tem vindo num crescendo com o máximo dificilmente previsível e permite antever repercussões económicas, com impacto provável na coesão social. 84 FRANCISCO VAN ZELLER Mas outros factores, mesmo anteriores à crise, têm de se lhe somar. Por um lado, factores endógenos, como o envelhecimento da população, os modelos de educação que não se modernizaram nem agilizaram como era indispensável, sendo de uma preocupante ineficácia o investimento no ensino e na formação profissional e os insuficientes níveis de investigação e inovação. Por outro lado, factores exógenos, tais como o agressivo aumento de competitividade por parte de outros países ou blocos económicos, principalmente quando atingem níveis populacionais muito elevados, a fortíssima elevação das competências tecnológicas em muitos países exteriores à UE, os modelos sociais muito diferentes do europeu – ou, praticamente, a ausência de autênticos modelos sociais –, as tendências demográficas de sentido contrário às registadas na UE, os enormes aumentos do preço do petróleo, com máximos históricos em meados do ano passado, que são mais gravosos para os países mais industrializados, e que parecem ter-se convertido duravelmente num factor estrutural. Ora, com vista a aumentar os níveis de coesão social e, portanto, a fazer face aos factores que a ameaçam, a UE tem de melhorar – mais do que nunca – o crescimento, a produtividade e o emprego. Isto exige políticas económicas e sociais que se reforcem mutuamente, estabelecendo como prioridades a produtividade e o emprego, tendo sempre em linha de conta a diversidade que se verifica entre os Estados-membros. É que, como comummente se reconhece, coesão social com elevados níveis de emprego e de competitividade, reforçam-se mutuamente, e servem para combater a exclusão social e a pobreza. Na minha perspectiva, o Diálogo Social constitui um dos principais pilares do modelo social ao nível de muitos Estados-membros da UE. O diálogo social fornece uma plataforma para a organização dos interesses dos empregadores e dos trabalhadores, sobretudo no que toca ao estabelecimento de referências quanto àquilo que são condições de trabalho justas, contribui para a paz e coesão social, reduz as iniquidades salariais e facilita o acesso à Formação Profissional e Aprendizagem ao Longo da Vida. O diálogo social deve contribuir para aumentar a adaptabilidade dos trabalhadores e das empresas e combinar elevados níveis de competitividade com a criação de bons ambientes de trabalho. Mas também deve servir, sob a forma de concertação social tripartida, para implementar reformas estruturais essenciais à coesão social. No presente Painel, que abordará, à luz da coesão social, as temáticas da organização do trabalho, família e sociedade, das migrações e da coesão territorial, muitos dos tópicos que referi possivelmente virão a ser debatidos, mas muitos outros, certamente de grande interesse, constituirão base para o aprofundamento da abordagem que estamos hoje a realizar. Passo, agora, a palavra ao meu colega Conselheiro do CES, Dr. Carvalho da Silva. 85 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, FAMÍLIA E SOCIEDADE Manuel Carvalho da Silva Presidente da Comissão Especializada Permanente do Desenvolvimento Regional e do Ordenamento do Território do Conselho Económico e Social Optei por estruturar uma comunicação em que não me preocupei com a identificação de um fio condutor contínuo na análise, mas sim o buscar questões que nos deixem a reflectir sobre factores importantes que marcam, quer a organização da sociedade, quer a organização do trabalho, quer ainda a organização da família. São cinco esses campos de questões: No primeiro enuncio alguns tópicos relativos a potencialidades e limitações do processo de globalização que temos vivido e questionamos. A sociedade humana dispõe hoje de mais capacidades e meios económicos, tecnológicos, científicos e culturais que em qualquer outro período da história da humanidade. A eles estão associadas imensas implicações estruturais e organizacionais e alterações de formas de organização e prestação do trabalho. O sistema capitalista que tem sido potenciador da criação daqueles meios e recursos, nega a sua utilização para todos, e por todos os indivíduos. No centro das causas desta negação estão, nesta fase do capitalismo neoliberal, os efeitos do fundamentalismo monetarista e essencialmente financeiro que têm imperado, decorrendo daí uma perigosa desvalorização do trabalho, bem como de muitas das actividades de produção de bens e serviços úteis à sociedade. O capital financeiro auto dispensou-se de contribuir para os orçamentos colectivos (Orçamentos do Estado) e o capital produtivo procura seguir-lhe as peugadas, despoletando-se assim, designadamente, crises nas empresas, instabilidades e inseguranças, deslocalizações incontroladas de empresas, e desestruturação das bases fundamentais do Estado Social. As políticas de emprego seguidas têm apenas servido a tirania do crescimento no mais curto espaço de tempo possível a favor dos grandes accionistas das empresas e dos gestores ao seu serviço, desencadeando instabilidades e inseguranças (precariedades) na prestação do trabalho, limitando o aumento do emprego e destruindo a sua qualidade. A ausência de estabilidade e segurança dentro e fora do trabalho, a violação sistemática dos direitos no trabalho, e a ausência de uma retribuição minimamente justa constituem-se como causas fundamentais das desigualdades que se acentuam perigosamente; outras causas situam-se na ruptura de relações de coesão em diversos planos, designadamente as intergeracionais, afectando violentamente células ou instituições fundamentais como a família, e o afrouxamento da coesão social, territorial, enquanto as multinacionais se constituem o elemento mais determinante 86 MANUEL CARVALHO DA SILVA da própria estruturação e funcionamento das instituições (desde o Estado às instituições mundiais) procurando impor uma divisão social e internacional do trabalho adequada à sua estrutura e aos seus objectivos. Por outro lado, vivemos um individualismo institucionalizado, que isola os cidadãos para os responsabilizar pelas formas mais pervertidas. E, a convergência deste individualismo com um consumismo alienante em que nos movemos, aprisiona os cidadãos e as condições das famílias. Entretanto há muitos milhões de seres humanos a usufruir, pela primeira vez, de trabalho remunerado, embora para muitos deles mal pago e sem “decência”, mas que em geral lhes propiciará uma melhoria progressiva das suas condições de vida. Este é um factor fundamental a termos em consideração quando procuramos concretizar o objectivo de harmonização no progresso que sempre orientou e deve orientar a acção sindical. Neste tempo de crise que vivemos, tenhamos presente que as experiências do caminhar da nossa civilização, neste espaço europeu em que nos integramos, e, em particular, as vividas no que designamos comummente por sociedade moderna, foram muito marcadas pela conjugação de impactos do avanço da ciência e da técnica, com as dinâmicas resultantes do confronto de projectos políticos de estruturação e organização da sociedade, em contextos de intensas lutas sociais que sustentaram as condições para as transformações e mudanças e lhe deram sentido. E lembremo-nos também que o conceito de emprego, que se foi afirmando nas legislações dos países desenvolvidos e, nomeadamente, a nível dos normativos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), teve sempre associada a aquisição de protecção social e de direitos cívicos e políticos para os trabalhadores, enquanto cidadãos plenos, influenciando profunda e positivamente a organização da família e da sociedade. Segundo: O lugar do trabalho e os indicadores para o campo da acção social e política. Parto da caracterização da actual centralidade do trabalho que assumo em nove componentes: (i) O trabalho é uma actividade produtiva de criação de valores de uso e de troca; o caminho percorrido desde as sociedades esclavagistas propiciou aos seres humanos profundas mudanças, permitindo-lhes agora vender a sua força de trabalho. Alguns conseguem vendêla de forma a garantir a realização pessoal e familiar, outros não conseguem atingir este objectivo, e alguns nem sequer conseguem uma subsistência digna. (ii) O trabalho, enquanto actividade socialmente útil, contribui para o fornecimento de bens e serviços que harmonizam e qualificam a estruturação e a organização da sociedade; mas existem dimensões de consumo com componentes supérfluas, que geram um chocante paradoxo de imensos gastos desnecessários (socialmente de pouca racionalidade) feitos por uma parte diminuta da sociedade (à escala mundial), enquanto centenas de milhões de seres humanos vivem em profundas privações. (iii) A grande presença das pessoas no trabalho, torna-o factor essencial de socialização, propiciando experiências e vivências que desenvolvem compromissos para com a vida da comunidade; e o trabalho surge, na sociedade actual, como o primeiro factor de inclusão. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, FAMÍLIA E SOCIEDADE 87 (iv) O trabalho, enquanto expressão de qualificações, convida-nos a valorizá-lo e a tratarmos das profissões, das trajectórias e das carreiras profissionais. (v) O trabalho foi e é fonte de emanação de direitos sociais e de direitos de cidadania. Foi e é pelo trabalho que muitos indivíduos, historicamente primeiro os homens depois as mulheres, conquistaram (ou vão conquistando) importantes dimensões da sua afirmação como sujeitos de identidade própria na sua essência humana. (vi) O trabalho é um direito universal, fonte e espaço de dignidade e valorização humana, exigindo respeito e articulação entre o individual e o colectivo, entre o direito jurídico e a prática, numa sociedade em que o aprofundamento da globalização (não da que tem imperado) terá que ser feito numa perspectiva universalista e de afirmação da pluralidade cultural. (vii) Em certas condições, o trabalho, como já referi, é factor de alienação económica, ideológico-política e até religiosa, criando dependências do trabalhador face ao poder patronal, potenciadoras do tolhimento dos seus horizontes de vida. (viii)O trabalho é primordial como condição de acesso aos padrões de consumo e aos estilos de vida, pelo que o valor do salário é essencial para o patamar de socialização de cada indivíduo e da sua família. (ix) O trabalho tem de ser uma actividade humana que se adapta e valoriza numa sociedade crescentemente chamada a cuidar do ambiente, dos valores ecológicos, da relação entre o homem e a natureza. Se fosse assumida esta centralidade do trabalho que enunciei, bastaria a utilização de uma pequena parte da riqueza existente para se criarem milhões e milhões de empregos dignos e altamente úteis a toda a sociedade. Nesta perspectiva, relevo a importância do combate pelo emprego decente, tema tão caro ao actual Director-Geral da OIT. As teorias que atacam a centralidade do trabalho, expressa ou implicitamente, procuram acantonar o trabalho debaixo dos paradigmas dominantes da economia e estabelecer cortes ou distanciamentos entre conteúdos de algumas das componentes que aqui afirmei. Uma abordagem séria sobre o trabalho, bem como sobre as relações de trabalho, impõe que se situem e tratem, concomitantemente, as suas componentes ou dimensões económica, social, cultural e política. Neste quadro, deveremos interrogar-nos sobre para onde caminhamos com as revisões da legislação laboral a que vamos assistindo na generalidade dos países da Europa, e em Portugal. Não se procuram repostas face às novas formas de organização do capital, das empresas e dos serviços, mas sim submeter os trabalhadores a objectivos económicos a favor de quem domina o processo económico e financeiro. Terceiro: As precariedades: contexto e respostas. Como sabemos, há muito que se manipulam os conceitos de “mudança” e de “conservação”, ou se tratam de forma atrofiada, por exemplo, os de “empresa de qualidade” e de “produtividade”. Agora repare-se na manipulação absoluta que, na actualidade, é aplicada ao conceito de competitividade. 88 MANUEL CARVALHO DA SILVA O objectivo da obtenção de chorudos ganhos imediatos para os grandes accionistas e gestores de serviço subverte os melhores objectivos da gestão e sacrifica tudo, incluindo o valor produtivo do trabalho. As precariedades e inseguranças no trabalho resultam essencialmente daqui, ou seja, da subjugação das formas de organização e de prestação do trabalho à obtenção imediata daqueles lucros. Afirmo-o sem negar a influência que as mudanças tecnológicas, informacionais, comunicacionais e outras têm sobre a organização do trabalho e as formas da sua prestação. Entretanto, com as revisões da legislação laboral, assiste-se (p.e. em Portugal) à tentativa de uma “consagração jurídica” dessas precariedades e inseguranças, visando uma alteração paulatina e rápida do direito do trabalho. O neoliberalismo reinante procura mudar radicalmente as noções de contrato de trabalho e de retribuição, e pretende alcandorar essas novas figuras de contrato de trabalho, carregadas de ilegalidades e injustiças (a prazo, temporário, a tempo parcial, a recibos verdes, em outsourcing, intermitente, etc.), à dignidade do trabalho sem prazo determinado. Lembremo-nos que a estabilidade no emprego sustentou o desenvolvimento de um quadro de direitos sócio-laborais, que estão na base do desenvolvimento das sociedades mais avançadas. No quadro da Organização Internacional do Trabalho e no aprofundamento da implementação do conceito de trabalho digno, esta matéria constitui um dos principais temas em torno dos quais o movimento sindical tem que desenvolver grandes batalhas. As precariedades e inseguranças no trabalho não são mais um mero problema laboral; elas são também um enorme problema social, cultural e político, que afectam toda a concepção que queremos da sociedade. O que vai determinar a forma e a intensidade de as abordar e ultrapassar serão o estilo de vida que colectivamente assumimos, o modelo de desenvolvimento, ou até o sistema político que escolhermos. No imediato, as opções tomadas para tratar, por exemplo, as questões demográficas ou o tipo de família e seu funcionamento são decisivas. Será que a tão invocada volatilidade das empresas e do emprego impõe, sem apelo nem agravo, as precariedades e o total estilhaçar das condições para a conciliação família/trabalho? Não! Avanço quatro tópicos que me parecem fundamentais para se encontrarem respostas novas. Em primeiro lugar, é preciso desafiar o patronato e o poder político para a construção de uma relação sólida entre a existência de um posto de trabalho e a duração do vínculo de trabalho do trabalhador que o ocupa. Em segundo, é preciso colocar em evidência que o problema fundamental, para a regulamentação do trabalho, não está no surgimento de novas formas de organização e prestação do trabalho, mas sim em garantir-se o estabelecimento efectivo de mecanismos de regulação e regulamentação feitos com as partes a intervirem, na sua definição e controlo, em pé de igualdade. Em terceiro, há que convocar metodologias inovadoras para a definição de funções e de exigências de formação e qualificação profissionais. Isso passa por se tomar por base a análise objectiva de cada posto de trabalho, pois só essa opção permite valorizar o trabalho a desempenhar, propicia a obtenção de uma perspectiva mais sustentada da sua duração, e constituirá a forma segura de evitar discriminações de qualquer tipo que, como sabemos, são alimento e expressão de atipicidades e precariedades. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, FAMÍLIA E SOCIEDADE 89 Em quarto lugar, há que dar efectividade a um quadro legal estruturado no respeito pela Constituição da República, pelo Direito do Trabalho e pelas normas da OIT, que valorize o trabalho e dignifique os trabalhadores. A esse quadro legal corresponderão, obrigatoriamente, escolhas culturais e políticas solidamente democráticas, mas também práticas sociais concretas, que devem buscar a harmonização no progresso. Quarto conjunto de questões: observações sobre algumas grandes mudanças na composição dos mercados de trabalho. Realço três aspectos quanto à composição do mercado de trabalho: (i) o aumento quantitativo e qualitativo das mulheres que prosseguirá e acabará por se impor como factor muito positivo neste século, mas coloca-nos desafios sérios; como diz Anália Torres “esta feminização do mercado de trabalho, associada a fenómenos como a urbanização e a nuclearização da família, tem também um efeito de deitar por terra qualquer possibilidade de existência de amplas redes de solidariedade social baseada em relações familiares e de vizinhança alargadas”. Por outro lado, as mulheres continuam ainda a acumular o trabalho remunerado com muitas actividades inerentes às responsabilidades familiares, situação que progressivamente se irá alterando, com efeitos significativos na organização familiar; (ii) o aumento da esperança de vida que havemos de ter de tratar não como um fardo, mas como uma extraordinária conquista de que os seres humanos não vão abdicar, e nos obriga a rever conceitos e a encontrar opções novas na preparação para o trabalho, na forma de gerir a vida activa e naquilo que hoje definimos como vida pós-activa, bem como nos forçará a rever conceitos sobre a família; (iii) os processos migratórios que conduzem a mercados de trabalho com características novas e constituirão, no meu entender, um dos factores que mais hão-de influenciar a busca por dimensões de universalismo numa nova globalização por que é preciso lutar. Estes três aspectos, no contexto social em que se vão desenvolver, conduzem-nos a debate profundo de temas como o da igualdade em múltiplos planos, dentro e fora do trabalho. Quanto às exigências feitas aos trabalhadores, fico-me aqui por realçar apenas as relativas aos novos saberes, formações e qualificações dos trabalhadores. Sendo verdade que sempre foi necessário encontrar novos saberes e qualificações face à utilização dos instrumentos de trabalho disponíveis em cada tempo concreto, estamos hoje perante desafios e exigências de aquisição contínua que colocam as novas gerações debaixo de um processo muito complexo. Tem sido pedido aos jovens que adquiram formação e saberes, eles vão-nos adquirindo e depois não encontram contrapartidas. São-lhes oferecidas precariedades, baixas remunerações, desemprego e, de forma violenta, diz-se-lhes que vão ter piores condições de trabalho e menos direitos sociais que os seus pais e avós. Sejamos claros: não há saídas definitivas para a actual crise sem respostas novas para a juventude. 90 MANUEL CARVALHO DA SILVA Quinto: O papel do Estado e os caminhos das reformas das políticas sociais. Estamos hoje desafiados a fazer significativos ajustamentos, no plano conceptual (a exigir grande debate político), na sua estruturação e organização e, ainda, quanto às regras, competências e funções da Administração Pública. O papel deste primordial actor colectivo não diminuiu e impõe-se um forte confronto de interesses entre as classes sociais, para que as dominantes sejam forçadas a cederem meios e capacidades às classes e sectores da sociedade crescentemente subjugados. É necessário, por exemplo, que o Estado assegure uma intervenção mais justa na distribuição da riqueza, desde a sua produção à sua redistribuição. O Estado, como actor colectivo fundamental da organização das sociedades neste sistema em que vivemos, continua a ser uma garantia última de combate eficaz às múltiplas desigualdades; de construção de dimensões de coesão; de (re) construção de solidariedades. Enquanto se procuram rupturas mais profundas com o sistema, há que encetar reformas com estes objectivos. O Estado tem funções insubstituíveis na definição e enquadramento da divisão internacional e social do trabalho e na regulação e regulamentação do trabalho. É no papel do Estado, sustentado por uma democracia efectiva e participada, que reside a possibilidade de se assegurar uma concepção actualizada de serviço público onde o cidadão surja, perante os serviços públicos, como efectivo portador de direitos e não em condição de dependente, a pedir um favor. São necessárias reformas das políticas sociais. Isso decorre, nomeadamente, da evolução quantitativa e qualitativa dos direitos; de novos objectivos face aos processos de desenvolvimento das sociedades; da exigência de novas formas de relacionamento dos serviços públicos com os cidadãos; de mudanças organizacionais e tecnológicas; da existência de novos problemas vindos de questões demográficas; de mudanças profundas no mercado de trabalho. Podemos, entretanto, observar que a obsessão orçamental centrada no combate ao défice conduziu a políticas restritivas no investimento público, designadamente nas políticas sociais que subverteram, quase em absoluto, os objectivos com que foram anunciadas. Tomemos a análise das políticas seguidas em Portugal e somos conduzidos a dizer que as reformas encetadas procuraram, quase sempre, atingir quatro objectivos principais: embaratecer o sistema; transferir (plano ideológico) os direitos sociais para o plano dos bens de consumo com valor mercantil; hierarquizar a organização para efectivar políticas centralistas; criar focos de pressão sobre os profissionais, desarticulando e anulando direitos laborais e sociais consagrados. A maior parte dos argumentos expandidos pelos governos e seus aliados, para concretizarem tais políticas, sustenta-se na promoção do individualismo e no ressuscitar de velhas catalogações dos indivíduos que nos dividem entre capazes e incapazes, competentes e incompetentes, frugais e perdulários, preguiçosos e diligentes. Tais teorias e práticas negam a valorização do trabalho, negam o Estado-Providência e inviabilizam uma regulamentação e regulação equilibradas das relações de trabalho, potenciadoras de equilíbrios para a organização da vida pessoal e familiar e para o desenvolvimento efectivo da sociedade. Por estas vias não se constrói a necessária Coesão Social. Muito Obrigado. 91 MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL Roberto Carneiro Conselheiro do Conselho Económico e Social Senhor Presidente do Conselho Económico e Social, Senhor Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, colegas de mesa, minhas senhoras e meus senhores. Coube-me em sorte tratar deste problema complexo das migrações. Tenho para mim que este é o problema número um da Europa. Ou a Europa consegue gerir bem, inteligente e sabiamente, as migrações que para ela se dirigem ou então terá grande dificuldade em manter a coesão social, o desenvolvimento económico, a vocação intercultural, o destino histórico de entreposto de povos. A. A Declaração Universal dos Direitos do Homem Vou procurar demonstrar porquê. Começarei por lembrar aquilo que diz a Declaração Universal dos Direitos do Homem, documento fundamental cujos 60 anos comemorámos no ano passado (1948-2008). Vou citar quatro dos artigos fundamentais dessa Declaração: Artigo 1.° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2.° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Artigo 13.° Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14.° Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. 92 ROBERTO CARNEIRO Este “adquirido”, esta Declaração, representa um dos mais relevantes saltos de qualidade na consciência da humanidade. O problema é que não basta a mera enunciação de belos princípios. A questão essencial está na aplicação. Os principais movimentos migratórios estão sobretudo dirigidos ao hemisfério norte; são poucas as migrações dirigidas para o sul. E porque é que isto ocorre? Porque é que há tanta mobilidade humana? Claro que há estudantes, pessoas que vão prosseguir a formação avançada, como há também significativos exilados políticos, pessoas perseguidas politicamente que buscam santuário, protecção, asilo. Mas a determinante fundamental das migrações é a razão económica. As pessoas vão para sobreviver, ganhar a sua vida, procurar condições de trabalho que não encontram no seu próprio país. É o migrante económico, é a mão-de-obra flutuante, o factor trabalho que também se vai globalizando. A desigualdade, a chocante assimetria no mundo continua a alargar-se. Esta é que é a razão de fundo, o fundamento da mobilidade humana. A riqueza concentra-se sobretudo no hemisfério norte. A pobreza está no hemisfério sul com um grande bojo na Índia. Num mundo assimétrico se a riqueza não se democratiza, a pobreza globaliza-se. São vasos comunicantes, não tenhamos dúvidas. Se a Europa não tem a generosidade e a capacidade de desenvolver África, é evidente que os africanos virão ter connosco. Ninguém pode permanecer eternamente pobre, ver os seus filhos a morrer à fome, viver na destituição completa, sem aspirar a ter um nível de vida semelhante ao dos vizinhos, que vivem superfluamente, na mais revoltante ostentação, no consumo desenfreado, no desperdício descontrolado. As lições das crises financeiras anteriores são perfeitamente claras. Há impactos muito significativos sobre a população imigrante. São os imigrantes que sofrem com grande parte dos layoffs. Há, concomitantemente, uma redução das remessas, portanto impactos negativos nos países de origem. Já se começam a verificar hoje reduções nos níveis de vida e de compra em Cabo-Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe, etc. Países que recebem remessas e que vivem dessas remessas; Portugal também sofre esse reflexo, embora em escala relativamente menor (estatísticas recentes estimam em cerca de 7 milhões de euros por dia as remessas de emigrantes portugueses). E este efeito tem um impacto desigual. A extensão do efeito depende dos países, das regiões, do sector de actividade e, sobretudo, das qualificações dos imigrantes. Naturalmente que os imigrantes com mais baixas qualificações são os que sofrem um impacte mais negativo, aqueles que estão mais desprotegidos, os que sofrem de maior vulnerabilidade no mercado de trabalho. B. O Capital Social O investigador actual que mais investiga sobre o capital social é Robert Putnam. O seu livro mais celebrado denomina-se “Bowling Alone”, cujo título é em si uma metáfora muito interessante. Porque é que os americanos estão a jogar bowling sozinhos? Bowling é sobretudo uma actividade social: beber umas cervejas, contar umas anedotas, conviver com amigos, portanto uma actividade eminentemente social. MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL 93 Porque é que há um declínio de capital social na América e em todo o mundo? Porque as sociedades contemporâneas sofrem o desgaste da fragmentação constante? Será que a quebra de confiança e de entreajuda nas cidades não pode ser revertida? E que dizer das falhas de empreendedorismo social? E qual o papel das migrações num mundo marcado fortemente pelo egoísmo e pelo interesse próprio? Robert Putnam fez há três anos atrás um interessantíssimo estudo, uma grande investigação, sobre os impactes da imigração e da diversidade no capital social, ou seja, mediu os impactes da imigração e da diversidade no capital social, nos níveis de coesão social. Esse estudo foi divulgado precocemente no Financial Times, com gravíssimas distorções que levaram Robert Putnam a ter que vir publicamente desdizer aquilo que o Financial Times tinha publicado. O que é que nos revela Putnam a partir da sua investigação? Três coisas fundamentais: 1. Que o aumento da diversidade e da imigração é inelutável. Portanto, a acentuada assimetria no mundo gera movimentos migratórios que representam avanços, progressos, quer para os países de destino quer para os países de origem. Veja-se, por exemplo, o caso português. O que é que seria de Portugal sem os seus imigrantes? Os imigrantes representam hoje cerca de 5 a 6% do PIB nacional. Teríamos menos 5 a 6% de riqueza nacional sem os imigrantes. 2. No curto prazo, diz Robert Putnam, imigração e diversidade étnica colocam grandes desafios à coesão social. Inclusivamente, diz ele, num curto prazo, as sociedades de forte imigração tendem a fazer como a tartaruga: aconchegam-se debaixo da casca (hunker, como se diz em inglês), baixam-se e escondem-se com medo da imigração. Há evidentes problemas, não vale a pena escamoteá-los, com uma sociedade que se torna de repente muito mais diversa do que o que era anteriormente. Deixou de ser homogénea, toda igual, previsível. 3. Todavia, diz Putnam na sua terceira conclusão, no longo prazo as sociedades que conseguem integrar com sucesso os imigrantes são aquelas que conseguem reconstituir o sentido do “eu”, do “nós”, ou seja reconformar-se interculturalmente, e evidenciam claramente maior criatividade, maior inovação, melhor ajustamento às transformações. Aliás, Putnam deleita-se a enunciar os prémios Nobel que residem nos Estados Unidos; cerca de 50% são descendentes de imigrantes de 1ª ou 2ª geração. Um efeito claramente positivo na ciência, na tecnologia, nos conhecimentos, na educação, na investigação dos Estados Unidos que fica a dever-se a efeitos líquidos positivos da imigração. O conceito de capital social, capital de comunidade, capital de coesão, representa aquela “cola” que permite manter agregados os recursos efectivos ou potenciais ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas. O capital social permite diminuir os custos das transacções intangíveis. Os custos das transacções de confiança, das transacções de conhecimentos, das transacções de informação, baixam decididamente com o aumento de capital social. É a capacidade de as pessoas cooperarem umas com as outras, em grupos, com confiança, sem desconfiança, sem receio umas das outras, na partilha de normas e valores comuns. O capital social promove a reciprocidade específica e mobiliza a solidariedade. Esta “super-cola” sociológica cria laços internos de lealdade, mas pode, em contrapartida, produzir fortes 94 ROBERTO CARNEIRO antagonismos para o exterior. Por isso, há dois tipos de capital social, segundo diz Robert Putnam: o primeiro, a que ele chama bonding social capital – capital social restrito – explica a coesão intra-grupo (vd. chineses em Portugal – dão-se muito bem, fecham-se sobre si, só falam a sua língua, só comem juntos, têm os seus restaurantes, as suas lojas, as suas comunidades, dificilmente se abrem ao exterior). Há um outro tipo de capital social igualmente importante para manter a coesão social. É o bridging social capital, que é o capital social que faz pontes, o capital social alargado, que estabelece relações abertas, de carácter heterogéneo, para fora da sua etnia, da sua comunidade, dos grupos sociais restritos. Uma sociedade coesa é aquela que tem, em simultâneo, forte bonding social capital e forte bridging social capital, forte capital social restrito e forte capital social alargado. Então a grande questão que nos interessa aprofundar é a de como o capital social cruza o tema da etnicidade, o tema de fundo conexo ao das migrações, das minorias étnicas. O conceito de etnicidade é um conceito que se funda na reciprocidade, na identidade, na solidariedade, na confiança, no seio de um grupo étnico, do grupo de pertença. É constructo social mais do que constructo rácico. Para os imigrantes, etnicidade serve como uma fonte de vantagem, uma fonte de protecção, uma fonte de securitização; é uma rede de segurança social. Dois factores que contribuem intensivamente para o fortalecimento da etnicidade do capital social: a religião, que liga, “religa”, que une as pessoas através de códigos e normas comuns – a religião é, aliás, o grande codificador de valores comunitários ao longo do tempo e da história; e o reagrupamento familiar ou a reunificação familiar. Este último é talvez o tema mais difícil que nós temos pela frente na Europa e em Portugal. Só para terem uma ideia, hoje, no final da primeira década do século XXI, mais do que dois terços dos novos imigrantes na Europa entram no continente por via do reagrupamento familiar, da reunificação familiar. Não são novos imigrantes. Em Portugal temos hoje cerca de 430.000 imigrantes. Se se escancarassem as portas à entrada irrestrita das famílias – o que não se afigura de repente possível – aumentávamos para o triplo o número dos imigrantes em Portugal. Dificilmente poderíamos garantir uma rede de segurança para esse afluxo. Mas como é que nós resolvemos isso? É o “nó” família um direito fundamental que está, aliás, consagrado na Constituição. Todos têm direito à sua família ... excepto os imigrantes. Será que a Constituição só serve para os naturais, não se faz para os imigrantes. Mas temos nós a capacidade de os integrar a todos? É um tema de gestão assaz difícil na Europa. Tema muito difícil ao ponto de haver responsáveis europeus que já propuseram a análise de ADN aos candidatos de reunificação familiar, para apurar da verdadeira consanguinidade. C. Portugal e os Imigrantes Nós temos estudado, em Portugal, de forma aturada, o tema através do Observatório da Imigração, do ACIDI. Trago-vos apenas alguns breves insights das conclusões fundamentais da investigação científica que foi feita sobre o assunto. Há sentimentos duais face à situação dos imigrantes em Portugal. De um lado há sinais de preconceito, especialmente em relação ao emprego: “eles vêm-nos roubar os empregos, tiram-nos o emprego, quando há escassez de emprego. Os empregos têm de ser para nós, primeiro para nós e só depois para os imigrantes. Inclusivamente, se não têm emprego vão-se embora, voltem para sua MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL 95 casa”. Nesta acepção os imigrantes são aceites com base num princípio utilitário, enquanto forem necessários, quando puderem trabalhar; quando não puderem trabalhar, voltam para casa, têm que ser recambiados. Há assim sinais de xenofobia que a crise económica vem acentuando. Mas também há sinais contraditórios de acolhimento. Mais de 90% dos portugueses inquiridos dizem que os imigrantes têm direito à sua família, devem ter direito à reunificação familiar. Mais de 90% diz que eles têm direitos básicos: direitos à educação, à saúde, à segurança social; não podem ser excluídos do acesso a benefícios básicos, à titularidade básica da segurança social. Nem que sejam imigrantes ilegais, indocumentados ou clandestinos. Não podem ser excluídos de direitos fundamentais de toda a pessoa. O imigrante que está indocumentado em Portugal, mas que está doente, tem direito ao hospital, a ser tratado, não pode ser recusado num centro de saúde. Os filhos de imigrantes ilegais ou clandestinos têm direito à escola. Como é que se pode excluir um filho de um imigrante se a criança não tem culpa da condição legal em que vivem os pais? São as contradições que existem; aquilo que eu uma vez chamei a contradição de um povo de imigração – nacionalista, o que ficou cá – e de um povo cosmopolita, povo de emigração, que saiu para o mundo e que se abriu ao mundo, que viajou e que descobre. Vivemos esta condição de dualidade dentro de nós próprios. Dito isto, constata-se uma clara diferenciação nas preferências dos portugueses: primeiro os brasileiros, segundo os dos países do Leste, terceiro os africanos. Clara diferenciação, uma hierarquia de preferência no acolhimento. Os brasileiros são os mais simpáticos, cantam, sambam, bebem caipirinha, servem bem nos restaurantes, são todos amigos, comunicam com simpatia, entram em nossas casas pela telenovela. Os do Leste são trabalhadores, são honestos, são ordeiros. Os africanos são identificados com violência, droga, marginalidade. Temos preconceitos claros em relação às várias etnias, vários grupos sociais de imigrantes entre nós. Depois, há uma influência decisiva dos meios de comunicação social, sobretudo da televisão, na formação das representações sociais portuguesas. Os media veiculam uma imagem de pendor negativo do imigrante: é crime, é roubo, é furto, é clandestinidade. Não é solidariedade, não é interculturalidade, não é música bonita. Normalmente o pendor é negativo, sobretudo na televisão – sendo que a imagem na imprensa é mais equilibrada – explorando emocionalmente os aspectos mais negativos, mais deploráveis da imigração. Há preconceitos institucionais contra a criminalidade. Se se fizesse aqui uma sondagem nesta sala, perguntaria: são os imigrantes mais ou menos criminosos que os autóctones portugueses? Há maior incidência nos tribunais ou nas polícias de populações imigrantes? A sala responderia provavelmente que sim. A verdade é que isso não corresponde à verdade. Se compararmos o que é comparável, isto é, se controlarmos variáveis como a idade, sexo, condição sócio-económica, emprego, desemprego, pobreza, os imigrantes exibem exactamente a mesma taxa de criminalidade que os naturais portugueses. Não são mais criminosos, não nascem mais criminosos, não têm mais propensão criminal que os portugueses. Percebe-se bem porquê. É a destituição económica, a miséria, o desemprego, o enquadramento por máfias, que os leva muitas vezes a cometer crimes. Há lacunas graves quanto ao regime de cidadania. É ou não possível desacoplar cidadania de nacionalidade? Este é um tema de fundo. Não sei se estão a ver, cidadania interessa a todos, todos 96 ROBERTO CARNEIRO são cidadãos, enquanto nacionais são só alguns. Nós temos direito, naturalmente, a preservar a nossa nacionalidade, só conceder o título de nacionalidade portuguesa àqueles que revelam, por exemplo apreço pela língua portuguesa, afecto pela história de Portugal, compreensão pelos elementos integradores da identidade nacional. Agora, a pergunta é se a cidadania pode ser privada – ou negada – a alguém que vive em Portugal, trabalha e paga os seus impostos, desconta regularmente para a segurança social, apesar de não ser português? Podemos ou não desacoplar estes dois conceitos “cidadania e nacionalidade”, ou temos que manter acoplada “cidadania e nacionalidade”? Os direitos básicos dos cidadãos: o direito eleitoral, o direito de ser eleito e de poder eleger, o direito à educação, o direito à saúde, os direitos básicos da pessoa que estão ligados à sua condição cidadã, podem conhecer limitação? Estão esses direitos fundamentais “agarrados” à condição de nacionalidade, ou não? Podemos, ou não, desacoplar os dois temas? Uma questão de fundo que deixo à vossa reflexão. Kofi Annan, enquanto Secretário-Geral das Nações Unidas, numa conferência que fez sobre os fluxos internacionais da humanidade, em 2003, disse: “A disponibilidade para acolher os outros é a medida final da igualdade humana e da dignidade humana”. É a medida final da nossa generosidade, é a disponibilidade para acolher os outros, é essa a medida, a métrica, com a qual nós temos que nos aferir e com a qual nós temos que nos confrontar. D. A Europa das Migrações E qual é a métrica europeia? Na Europa cerca de 5 a 6% da população é imigrante, contabilizada nos então 15 Estados-Membros (EM). Há EM em que esta cifra chega a 12%, em que 1 em cada 8 residentes é imigrante! A situação média dos países do Conselho da Europa é ainda mais acentuada, porque ele integra um conjunto de países da Europa mais próximos do Leste. As migrações líquidas para a União Europeia sofreram um grande aumento nos últimos anos. E porquê? Às razões económicas “clássicas” junta-se uma outra razão óbvia – os Europeus exibem a mais baixa taxa de fertilidade de todas as regiões do mundo. A União Europeia não se renova, não se reproduz, está envelhecida. Como é que uma sociedade velha e idosa se rejuvenesce? Como é que pode ser inovadora? Como é que pode ser competitiva no mundo? É difícil. Por isso precisamos dos imigrantes As nossas taxas de natalidade estão em permanente degradação. Em todos os países europeus, de uma maneira geral, as taxas de natalidade decrescem de uma maneira sistemática. As estruturas demográficas que eram pesadas na base em 1950, tornam-se pesadas no topo em 2050. A pirâmide demográfica torna-se uma pirâmide invertida. Em cerca de 100 anos passa-se drasticamente de uma estrutura pesada na base para uma estrutura pesada no topo. É este o nosso destino. É esta a tendência inelutável das baixas das taxas de natalidade. Por isso, as migrações líquidas para a Europa estão crescendo sistematicamente, monotonicamente, e irão continuar a aumentar ao longo dos anos para resolução do problema demográfico europeu. MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL 97 Migrações Líquidas; UE - 25, 1960-2005 Fonte: Eurostat – Population and Social Conditions 1/2006 A OCDE calculou nos últimos 20-30 anos o rácio entre residentes nascidos no país versus residentes nascidos no estrangeiro. Ora, considerando que a OCDE representa o conjunto dos países mais ricos, verifica-se que o stock de pessoas residentes que nasceram no estrangeiro é elevado, é bastante significativo. Em Portugal a proporção é cerca de 7%. O saldo migratório, imigrantes menos emigrantes, é positivo na generalidade dos países. Isto é, a Europa é como um todo formada por países de imigração líquida. O caso português também. Numa Europa aberta ao mundo, o que é que acontece? A marcha da Europa confunde-se com a marcha da humanidade. Tivemos, aliás, a presunção de que todo o mundo seria eurocêntrico. A Europa foi, em larga medida, o berço dos principais movimentos migratórios. Só entre 1846 e 1930, 52 milhões de europeus – um quarto da população europeia de então – partiu para outras paragens: 72% para os Estados Unidos da América, 21% para a América Latina e 1% para a Austrália. Esta vaga migratória foi responsável por aumentos populacionais de 40% na Argentina, 30% nos EUA, e 15% no Canadá e no Brasil. Uma Europa que deixou “marcas” e “afectos” nos diversos continentes não pode estranhar que seja agora intensamente procurada como destino de povos e de culturas. Gentes que com ela conviveram e dialogaram durante séculos e que, inclusivamente, adoptaram muitos dos seus códigos comunicacionais, linguísticos e civilizacionais, não hesitam em procurá-la como “casa secundária” ou “abrigo” preferencial para resistir às contingências de ciclos económicos adversos. Com quem é que irão ter? Vão ter com aqueles que os acarinharam, que os colonizaram durante 500 anos. Vêm ter connosco. Falam a nossa língua, adoptaram o nosso sistema educativo, têm os nossos códigos civilizacionais, vêm procurar abrigo junto de nós. Como é que nós podemos estranhar isso? 98 ROBERTO CARNEIRO E. Quatro Desafios Europeus 1. Educar para uma cidadania intercultural A cidadania, entendida como um corpus fundamental de direitos e de deveres que, num sentido democrático, não deve excluir desigualmente segmentos diferenciados de uma mesma sociedade, está hoje refém de contradições e, por conseguinte, sujeita a uma profunda reformulação. A verdade é que o modelo político consagrado de cidadania – assente na “essencialização” da identidade – não acompanhou os movimentos de miscigenação étnica e cultural do planeta. Ao sonho totalitário da pureza étnica – na raiz de reiterados “crimes de Estado” – as sociedades actuais podem responder com uma hibridação crescente de culturas, decorrente, entre outros factores, da generosa mistura de gentes. Os híbridos culturais – ou os seus correspondentes mutantes, quando identificados em fases embrionárias – têm a virtude de minar as formas binárias de pensar a diferença. Eles desafiam o simplismo de um entendimento maniqueu relativamente à forma de ver e de entender a variedade humana.1 A consolidação de uma Europa da cidadania plural e intercultural exige, pois, um projecto educativo renovado que recusa ser o instrumento ideológico de uniformização que o velho Estado-Nação reclamava. Bem pelo contrário, impõe-se um novo ethos para a escola dos tempos actuais, assente na premissa de que a mesma cidadania acolhe, por igual, distintas culturas. A cidadania intercultural alicerça-se numa cultura de direitos humanos em que as garantias e liberdades individuais – universalmente proclamadas – se vêem agora complementadas por uma nova ordem de direitos culturais – ou colectivos – em defesa das liberdades fundamentais de grupos humanos. Acima de tudo, a educação para o pluralismo democrático deve afirmar-se como absolutamente incompatível com a emergência de identidades predatórias, isto é, de sentimentos exclusivos que prosseguem o seu benefício próprio à custa da supressão dos direitos das demais comunidades com que devem coabitar. A abolição do preconceito é tarefa educativa prioritária. Alcançar um desígnio dessa grandeza implica abrir a escola europeia ao multilinguismo precoce, promover a iniciação à pletora de cultos e de crenças, “desarmar” disciplinas cujos conteúdos são feitos de laudas militares ou de preconceitos beligerantes relativamente a vizinhos (História, Geografia, Ciências Sociais, Literatura), adoptar pedagogias aditivas – não subtractivas – que aproveitam plenamente o manancial de identidades e de memórias que coexistem no seu interior. O projecto educativo europeu necessita sublimar as grandes meta-narrativas, no sentido de as tornar menos hegemónicas e mais “acolhedoras” no relacionamento com as demais culturas. Roberto Carneiro (2001), Fundamentos da Educação e da Aprendizagem, Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão, pp. 57-58. 1 MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL 99 Educar para a interculturalidade é também sinónimo de aprender a conviver com a complexidade e o interrelacionamento, recusando qualquer paradigma simplista de interpretação linear da sociedade que inevitavelmente a reduz a oposições maniqueístas. Nesta acepção, a tarefa de educar rectamente as consciências inclui a mobilização da opinião pública europeia em torno dos valores da diversidade e do acolhimento, tarefa para a qual os meios de comunicação social não podem deixar de ser sensibilizados no quadro da sua especial responsabilidade pedagógica perante as comunidades que servem. Dito isto, convém perceber que a educação intercultural compreende uma formação europeia fortemente consciente do valor da identidade, história, memória e património que nos une e nos distingue. Uma condição sine qua non do diálogo intercultural e da cidadania alargada é a consciência plena do valor da Europa e do “Ser Europeu”, como riqueza universal e traço distintivo de civilização e de civilidade. O desafio consiste na reinvenção de um futuro com memória. Não é aceitável uma agenda pós-moderna redutora de culto pseudo-multicultural com perda de identidade. No seu percurso denso, a Europa será cada vez mais o produto de uma cidadania activa e inclu siva, sem renúncia aos ideais e valores que forjaram o seu carácter no decurso de milénios. A cidadania é sinónimo de participação, a participação pressupõe a responsabilidade, a respon sabilidade é o fruto de uma educação integral que potencia o conhecimento de si e a abertura ao conhecimento do outro. Dificilmente a Europa disporá de uma cidadania democrática em plenitude sem um projecto ousado de integração. 2. Integrar com generosidade e respeito pela diferença A integração configura um processo de adaptação mútua entre o imigrante e o autóctone.2 Esse ajustamento implica que, gradualmente, quer o grupo minoritário (comunidade imigrante), quer o grupo maioritário (comunidade de acolhimento) aprendam a olhar-se reciprocamente com respeito, acolham com naturalidade a diferença, rejubilem na celebração do universal que reside na cultura do outro, e participem na génese de um novo contrato social de confiança. A “sinalização” correcta por parte dos responsáveis políticos é crucial. Appadurai distingue, a este propósito, três domínios de intervenção estratégica dos poderes públicos nacionais e supranacionais:3 •A política pública deve desenvolver um esforço concertado para desacoplar etnicidade e cidadania, de molde a substituir gradualmente as formas de cidadania monoétnicas e exclusivas por outras que acomodem a hibridação e a diversidade humanas. Philip Muus (1998), “Conceptions de l’Integration des Immigrés: une Comparaison des Politiques Nationales”, in Les Mesures et Indicateurs d’Intégration, Strasbourg: Conseil de l’Europe, p. 42. 3 Appadurai, A. (2001), “The New Territories of Culture: Globalization, Cultural Uncertainty and Violence”, in Bindé, J. (ed.), Keys to the 21st Century, Paris and New York: UNESCO and Berghahn Books, p.138. 2 100 ROBERTO CARNEIRO •O “nacionalismo” deve ser conscientemente aliado a projectos multiculturais, evitando o predomínio de histórias monoculturais que tendem a alimentar ideologias de pureza e de limpeza étnicas. •Os Estados devem encorajar o papel positivo dos media na criação de uma esfera pública que estimule, legitime e circule imagens e narrativas de hibridação e de identidades mistas. O tema da cidadania avulta como estrela de primeira grandeza na constelação das políticas de integração. Com efeito, aceitando por razoáveis alguns argumentos que restringem, em maior ou menor grau consoante a cultura política de cada nação, o acesso ao título de nacionalidade, já as restrições de cidadania são profundamente lesivas do sentimento de pertença e de participação. A criação de mecanismos que fomentem a intervenção cívica de imigrantes, designadamente no plano da democracia de proximidade, que os incentive a tomar parte na resolução dos seus próprios problemas e a partilhar uma esfera pública de debate e de decisão comunitária, apresentase como vector primordial de uma efectiva integração. O mesmo se dirá para as segundas e terceiras gerações que, quiçá, já não feridas do estigma formal da nacionalidade inacessível, podem permanecer na orla do sentimento de pertença e, por consequência, no limiar da exclusão social e política. O contrato social de estabilidade e progresso para uma Europa do século XXI, à altura dos desafios históricos e das oportunidades estratégicas que se lhe abrem, compreende ainda duas outras dimensões fundamentais: por um lado, o cultivo da arte do diálogo inter-religioso, por outro, a reunificação familiar. A fragmentação do universo das crenças é um facto incontroverso. Só o diálogo, no respeito profundo pelas diferentes formas de venerar o transcendente, pode ultrapassar os fundamentalismos para cujos braços a humilhação, a pobreza, a ignorância e a exclusão atira largos grupos de pessoas carecidas de alternativa. A integridade da família, célula-base da afectividade e da realização do projecto de vida humana, constitui um valor estruturante da ordem axiológica, social e jurídica das nações europeias. Por conseguinte, é improcedente a argumentação que denega o direito fundamental à unificação ou reunião familiar aos imigrantes que a reivindicam como factor de integração e de bem-estar. E nem se esgrima com o argumento da utilidade económica. O imigrante que vive num quadro familiar estável é mais produtivo, é em média mais saudável, participa melhor na comunidade, abre-se mais ao intercâmbio cultural, reduz substancialmente as remessas financeiras para o país de origem aplicando os seus rendimentos na economia onde se encontra a laborar. As políticas de integração compreendem a articulação de um vasto leque de acções interdepartamentais – que são, por excelência, políticas de âmbito horizontal nas orgânicas de governo – e, bem assim, a mobilização de uma cooperação efectiva entre entidades públicas – supranacionais, nacionais, regionais e locais –, privadas e do terceiro sector. MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL 101 3. Gerir com eficácia a mobilidade profissional de países terceiros A ascendente e imparável mobilidade de factores de produção está na origem de um surto de crescimento económico à escala mundial. A livre circulação de capitais, a abertura internacional à troca de bens e serviços, a intensificação dos intercâmbios de conhecimento e de saberes, a deslocalização de centros de produção, a inte gração regional de mercados, são transformações que alteraram a paisagem económica e o papel dos diferentes agentes criadores de riqueza. O incremento da mobilidade humana é sinónimo de maior potencial de utilização de capital humano e de uma redistribuição na repartição de inteligência no mundo. A Europa é um dos destinos com maior atractividade para os fluxos originados em países terceiros. Por isso, o Relatório Kok (2004) é muito enfático ao propor medidas enérgicas para que a União Europeia seja mais bem sucedida no acolhimento dos melhores e mais capacitados investigadores do mundo.4 No mesmo comprimento de onda o grupo de peritos da 2ª Câmara do programa eEurope, a propósito da Agenda de Lisboa e do objectivo de uma Europa mais inovadora, sublinham a importância da atracção de talentos para o seu seio.5 Mas o desafio do mercado de trabalho de imigrantes é muito mais complexo do que o da simples aritmética laboral. Efectivamente, a teoria do capital humano demonstra que a imigração pode favorecer a flexibilidade do mercado de trabalho. Porém, na maioria dos casos ela comporta o risco de aumento da segregação do mercado laboral, com uma sobre-representação de nacionais de países terceiros em trabalhos de menor qualidade. A Europa não foge ao paradigma: ela tem vindo a gerar um mercado de trabalho dual, no qual a população activa imigrante, independentemente das suas qualificações e experiência profissional, propende a ser relegada para postos de trabalho situados no extremo inferior da escala salarial e de menor procura social. Pode ler-se num relatório europeu: “A vulnerabilidade dos migrantes à discriminação, exploração e abusos é por vezes exacerbada por barreiras linguísticas, mas também por uma falta de familiaridade com os costumes e a cultura locais e por redes sociais pouco desenvolvidas”.6 “The EU needs to draw more of the best and brightest researchers in the world by raising its attractiveness. Therefore, the 2005 Spring European Council should agree to prepare an action plan to reduce the administrative obstacles for moving to and within the EU for world-class scientists and researchers and their dependents. This action plan should be implemented by spring 2006. Fast-track work permit and visa procedures should be introduced for researchers and the mutual recognition of professional qualifications must be improved.” W. Kok et al. (2004), Facing the Challenge – The Lisbon Strategy for Growth and Employment, Luxembourg: European Communities, p. 21. 5 “The Lisbon goals for competitiveness, growth and jobs put a strong emphasis on innovative learning approaches. Lifelong learning and high-quality human capital are regarded as major drivers of change and value creation for the entire society and economy. Education and training are key to matching the Lisbon ambition. Pulling talent - the most important ‘raw material’ for future value creation – emerges as a major lever of wealth and growth. Thus, harnessing the best talent in the right areas and sectors is a pre-requisite for building and maintaining a competitive edge in global markets and supporting a stronger business fabric.” Roberto Carneiro, Man-Sze Li et al. (2006), Making i2010 Work: Creating Value from Research and Innovation, Brussels: eEurope Advisory Group, 2nd Section, p. 16. 6 A Situação Social na União Europeia – Síntese (2002), Eurostat/Comissão Europeia, p. 14. 4 102 ROBERTO CARNEIRO A persistência do fenómeno das “curvas em U”, que denuncia uma acentuada desqualificação do imigrante no seu primeiro posto de trabalho no país de destino, relativamente às suas competências reais, e ao seu último emprego no mercado de trabalho de origem, quando acompanhada do alongamento dos períodos de ajustamento inicial e de recuperação no acesso a actividades profissionais mais vizinhas das reais qualificações, representa um efectivo desperdício de capital humano, uma ineficiência económica na utilização do factor trabalho, uma excessiva rigidez nas políticas e práticas laborais, e uma gestão desigual das pessoas perante as oportunidades de trabalho.7 Na Alemanha, cerca de 15% dos imigrantes activos estão desempregados; em França o número atinge 20% dos imigrantes masculinos; cerca de 4 em cada 10 europeus opinam que os imigrantes legais desempregados devem ser repatriados.8 Assim, o combate à discriminação no mercado de trabalho é uma dimensão impor tantíssima da justa relação com os imigrantes. Esse objectivo exige uma gestão adequada dos fluxos de imigrantes económicos à luz de mecanismos transparentes – e em tempo real – de informação sobre as necessidades dos mercados de trabalho europeus. Numa economia marcada pela competitividade, pela velocidade e pela mudança, essa gestão deve ser eficiente e decorrer em prazos compatíveis com a dinâmica empresarial. O recurso mais alargado às novas tecnologias de informação e da comunicação pode permitir ultrapassar peias burocráticas que aumentam a opacidade dos mercados e se têm por inadmissíveis na era da internet. Correlativamente, a luta contra a imigração clandestina, que apenas aproveita os empregadores sem escrúpulos que não hesitam em explorar as situações de especial vulnerabilidade das vítimas do tráfico ilegal de pessoas. Quanto melhor estiverem “integrados” os mercados de trabalho intra e extra-europeus e melhor forem administrados os incentivos para a mobilidade laboral, designadamente nas vertentes da política de concessão de vistos de trabalho, anuais e plurianuais, mais suavemente serão auto-regulados os fluxos de trabalho que tomam a Europa como destino preferencial. Investigação actual sobre a Europa permite confirmar também que o impacto da imigração sobre os níveis salariais e as taxas de desemprego dos nacionais é diminuto, ao contrário do que facções extremistas propalam. O livre jogo das forças de mercado – economias de escala e externalidades – induz variações de produtividade que largamente compensam eventuais efeitos negativos sobre as remunerações de uma mais abundante oferta de trabalho, além da verificação de uma tendência para a ocupação de postos de trabalho complementares.9 A União Europeia terá de desenvolver esforços mais intensos para coordenar as suas políticas nacionais e, em concomitância, para apoiar adequadamente as políticas regionais e locais de regulação dos mercados de trabalho no quadro da estratégia europeia de emprego. Roberto Carneiro et al. (2006), A Mobilidade Ocupacional do Trabalhador Imigrante em Portugal, Lisboa: DGEEPMTSS, Colecção Cogitum n.º 20. 8 Thomas Fuller, “Foreign Workers Face Turning Tide: Backlash in Europe”, International Herald Tribune, December 24, 2002. 9 Rainer Münz, Thomas Straubhaar, Florin Vadean and Nadia Vadean, “Cost and Benefits of European Immigration”, Working Paper, OECD Meeting Gaining from migration, 10-11 January 2005, Paris: OECD. 7 MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL 103 4. Cooperar no desenvolvimento equitativo e solidário do mundo O saldo líquido do impacto da emigração sobre o desenvolvimento dos países de origem é matéria ainda não totalmente investigada e esclarecida. São múltiplas as dimensões económicas, positivas e negativas, que se têm de colocar nos dois pratos da balança. Independentemente de uma avaliação científica dos seus efeitos, o certo é que importa aos países mais desenvolvidos – naturais recipientes de mão-de-obra imigrante – optimizar as consequências positivas do fenómeno para os países de origem dos fluxos de migrantes. Só deste modo é que os países de destino poderão esperar uma gradual auto-regulação das pressões migratórias na fonte. A correcta compreensão da interrelação entre migrações e desenvolvimento reveste-se de grande complexidade. Apenas para nos atermos aos factores positivos são de relevar: a influência benéfica das migrações circulares sobre as transferências de tecnologia e o aumento induzido no comércio, os impactos “domésticos” sobre ganhos de experiência e de empreendedorismo, e, obviamente, o efeito das remessas líquidas dos emigrantes para os seus familiares. Estimativas recentes demonstram que um incremento de 3% nas migrações internacionais teria um impacto sobre a riqueza mundial superior ao da liberalização de todo o comércio.10 O total das remessas ultrapassa actualmente os 100 mil milhões de dólares por ano, dos quais 60% flui para os países em desenvolvimento, cifra que supera o montante global da ajuda oficial ao desenvolvimento, bilateral e multilateral.11 No já mencionado Conselho Europeu de Tampere, de Outubro de 1999, os Estados-Membros acordaram em que um elemento central das suas estratégias passaria pelo fomento de parcerias com os países de origem dos migrantes tendo em vista a coordenação de políticas de co-desenvolvimento. Em Janeiro de 2005 a Comissão divulgou um Issues Paper – “European Union’s Development Policy” – em que recomenda ao Conselho que incremente a cooperação e alargue o escopo das parcerias entre a UE e os países em desenvolvimento para uma gestão efectiva dos desafios da globalização.12 A capacidade que a Europa revelar para cooperar equitativa e solidariamente no desenvolvimento das regiões e países pobres de onde são originários os principais fluxos de migrantes impõe-se por razões humanitárias, que superam outros argumentos utilitários. Todavia, o certo é que dessa capacidade resultarão, igualmente, consequências muito positivas para a viabilidade de regulação futura dos fluxos que demandam países e economias europeias. A experiência intra-europeia na gestão de fluxos migratórios deveria fazer-nos reflectir. Ao lado da ajuda ao desenvolvimento, a opção corajosa e ousada pela criação de um espaço comum, sem fronteiras, com liberdade de circulação de bens, de capitais e, sobretudo, de tra balhadores veio a revelar-se uma opção eficaz, nomeadamente na gestão de fluxos migratórios 10 Walmsley, Terri Louise and L. Alan Winters (2003), “Relaxing the Restrictions on the Temporary Movements of Natural Persons: A Simulation Analysis”, Discussion Paper No. 3719, London: Centre for Economic Policy Research. 11 IOM News: Inside, a Sneak Preview of World Migration, Geneva: International Organization on Migration, December 2002. 12 Louka Katseli, Robert Lucas and Theodora Xenogiani, “Effects of migration on sending countries: what do we know and what can we do?”, Working Paper, OECD Meeting Gaining from migration, 10-11 January 2005, Paris: OECD. 104 ROBERTO CARNEIRO internos. A perspectiva subjacente de solidariedade e de apoio ao desenvolvimento das economias mais débeis, bem como uma matriz comum de valores essenciais (Direitos Humanos, Democracia, Estado de Direito, Economia de Mercado, entre outros) viabilizou essa opção. Desde o núcleo inicial de seis países fundadores aos actuais vinte e sete Estados-Membros, muito caminho foi percorrido em cinco décadas, com inegável sucesso. Em cada alargamento colocou-se o receio de “invasão” dos cidadãos dos países recém-entrados. Isso levou, no caso das adesões de Portugal e de Espanha, à fixação de uma moratória de cinco anos para a plena liberdade de circulação de trabalhadores. Veio a verificar-se, poucos anos transcorridos, que estes países apresentavam um saldo migratório positivo, evoluindo de países de emigração para países de imigração. No alargamento da UE para 25, foi imposto igual mecanismo, com um período de transição de sete anos para que se verifique a plena liberdade de circulação dos cidadãos dos novos Estados-Membros. No entanto, ficou ao critério de cada país poder reduzir ou mesmo abdicar desse período de transição. O momento de crise que a Europa actualmente vive, voltou a trazer ao de cima o fantasma da “invasão” dos trabalhadores dos novos Estados-Membros. O grande desafio que se coloca é o da afirmação de confiança no modelo europeu, que já deu bons frutos no passado, também nesta vertente da gestão dos fluxos interiores da União. A cada alargamento não correspondeu um êxodo ingovernável de pessoas dos novos Estados-Membros com destino aos países mais ricos. Verificou-se, outrossim, uma dinâmica de desenvolvimento desses países com a geração, no seu próprio território, de novas oportunidades de emprego. O modelo europeu oferece, pois, um exemplo único de gestão equilibrada de fluxos migratórios, acompanhado da evidência de que esta só pode acontecer num quadro de simultâneo apoio ao desenvolvimento dos países mais pobres numa atitude de activa solidariedade e de partilha de meios. Ainda que fazendo frente a sucessivas crises e dificuldades de percurso, a história recente da construção europeia permitiu usufruir de cinco décadas de paz e de crescente prosperidade, numa região que tinha como tradição a guerra, a destruição cíclica e a desigualdade entre os seus membros. F. A Refundação Uma ideia fecunda de Europa no século XXI, apta a enfrentar com confiança os complexos desafios contemporâneos, contempla uma sua refundação na fidelidade a uma memória singular e uma sua refontalização na lúcida compreensão do seu papel motor num mundo em intensa fermentação. A Agenda de Lisboa elege como prioridade europeia uma ambiciosa trilogia: emprego, reforma económica e coesão social. A estratégia global que dela decorre põe uma especial ênfase na modernização do modelo social europeu, investindo nas pessoas e combatendo a exclusão social.13 13 Conselho Europeu de Lisboa, Conclusões da Presidência, 23-24 de Março de 2000, p. 2. MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL 105 O objectivo de crescimento económico e de competitividade que a União Europeia enfrenta não é antagónico do aprofundamento da moldura social e cultural que define a sua identidade. A sociedade civil e os parceiros sociais são instados a participar activamente no desígnio de uma refundação da Europa da prosperidade com o entendimento “espesso” de que o desenvolvimento sem cultura é um crescimento sem alma, que o progresso sem inclusão é uma infidelidade aos fundamentos de civilização. Uma União Europeia capaz de “agarrar e de potenciar” os desafios da diversidade e do acolhimento é: •Uma Europa dos Valores, que não se coíbe de afirmar um código civilizacional perpassado pelo humanismo e pela democracia cosmopolita. •Uma Europa Intercultural, que se afirma competente na gestão da diversidade e que não receia, antes deseja, o encontro de culturas como fonte de miscigenação. •Uma Europa Aberta ao Mundo, que assume uma liderança clara na cooperação e desenvolvimento com os povos mais carenciados e que responde com inteligência aos novos patamares de interdependência. •Uma Europa Sábia, que se capacita na gestão da mobilidade humana, no combate rigoroso ao tráfico ilegítimo de pessoas, na integração exemplar de imigrantes e de minorias no seu seio. A arte de viver juntos – venerando a policromia, interpretando a polifonia, celebrando a polissemia – é um desígnio genuinamente europeu que corre em paralelo à sua aspiração por um horizonte duradouro de paz. Ela compreende o reconhecimento inabalável de que a Europa só se poderá construir com as pessoas e para as pessoas que, independentemente das suas singularidades e idiossincrasias, apostam na força superior do que as une. Jean Monnet, personalidade que com Robert Schuman plantou os alicerces do novo ideal europeu, disse-o com lapidar clareza: “Nós não coligamos Estados, nós unimos pessoas”.14 14 “Nous ne coalisons pas les Etats, nous unissons des peuples” (Jean Monnet). 107 COESÃO TERRITORIAL Maria João Silveira Botelho Subdirectora-Geral da Direcção-Geral dos Assuntos Europeus do Ministério dos Negócios Estrangeiros I. Breve enquadramento histórico/evolução da política de coesão; papel de Portugal A coesão enquanto princípio base da construção europeia e política dotada de instrumentos próprios surge em 1986 com o Acto Único Europeu, ano da adesão de Portugal e Espanha. Nessa altura, a definição do conceito de Coesão assentou nas dimensões económica e social. Embora implícita, a vertente territorial só foi plenamente assumida com o Tratado de Lisboa. Iniciou-se então um ciclo em que os avanços no processo de integração foram sendo acompanhados pelo reforço da actuação da política de coesão. O agravamento de disparidades decorrente da adesão de Portugal e Espanha colocou maiores exigências em termos de coesão, que foram correspondidas. Momentos-chave: Acto Único Europeu – Mercado Interno/Coesão Económica e Social – Pacote Delors I (1988-92, 1ª reforma dos Fundos Estruturais) – actuação coordenada dos 3 Fundos Estruturais (FEDER, FSE e FEOGA-O), assente nos seguintes princípios: reforço das dotações, concentração nas regiões mais desfavorecidas, programação, parceria, descentralização, adicionalidade, acompanhamento, avaliação e controlo. Tratado de Maastricht – União Económica e Monetária/Fundo de Coesão – Pacote Delors II (1993-99) – novo reforço das dotações estruturais. Portugal contribuiu decisivamente e beneficiou significativamente do esforço a favor da Coesão Económica e Social. Deve-se a Portugal a proposta de criação do Fundo de Coesão, a relevância do critério da prosperidade nacional na afectação dos recursos, a elegibilidade das infra-estruturas de educação e saúde. Com o apoio da Política de Coesão, Portugal sofreu uma transformação profunda em termos económicos, sociais e territoriais, impulsionada pelo forte investimento público e privado, apoiado pelos Fundos Estruturais, em infra-estruturas, tecido produtivo, qualificação dos recursos humanos. Estas transformações mudaram a face do país e, sobretudo, aproximaram o cidadão português da realidade europeia, não só em termos físicos (as novas acessibilidades encurtaram as distâncias), como nas suas condições de vida, que muitas vezes não encontram reflexo directo em indicadores económicos (abastecimento e tratamento de águas residuais, taxas de cobertura escolar, 108 MARIA JOÃO SILVEIRA BOTELHO acentuadíssima redução na taxa de mortalidade infantil, aumento da esperança de vida, taxa de penetração do mercado das telecomunicações). A Política de Coesão contribuiu também para habituar a administração nacional a trabalhar numa lógica de programação e de maior responsabilização. Resta ainda muito a fazer, em particular, persiste o problema da nossa baixa produtividade – embora se tenha registado alguma melhoria, o ritmo tem sido muito lento, claramente associado a baixos níveis de qualificação e formação, e permanecem níveis inaceitáveis de pobreza. Esta dinâmica favorável entre coesão/integração foi-se diluindo, pela conjugação de diversos factores: esforço financeiro que a reunificação exigiu à Alemanha, condicionamento das finanças públicas decorrente da União Económica e Monetária, o alargamento à Áustria, Suécia e Finlândia que deteriorou a relação de forças no Conselho relativamente à Coesão, um certo desinteresse no aprofundamento da integração (atingiu-se o objectivo mercado interno) e também uma nova geração de líderes menos sensíveis ao ideal europeu. Espelho desta evolução é o facto de as negociações financeiras plurianuais (que determinam os montantes orçamentais para as diferentes políticas e, portanto, a capacidade de intervenção da UE) serem cada vez mais complexas e difíceis, dominadas por interesses nacionais, que sucessivos alargamentos tornaram cada vez mais variados e divergentes. Prevalece a lógica dos saldos líquidos: como pagar menos e receber mais, o que leva a tensões várias, geometrias variáveis, os contribuintes líquidos defendem contenção orçamental (já estamos abaixo do tecto 1% do RNB), os beneficiários defendem políticas que mais lhes interessam (sejam contribuintes líquidos ou não). Decidem-se novas prioridades mas sem mais recursos, há cada vez menos preocupação com o interesse comum. O acordo sobre o Quadro Financeiro em vigor (2007-2013), que corresponde ao período do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), só foi possível graças a uma extensa lista de bónus avulsos e de compensações diversas e a uma cláusula de reexame, conferindo mandato à Comissão para realizar uma reapreciação global e abrangente do quadro financeiro/orçamento, cobrindo todas as despesas/políticas e o sistema de financiamento/recursos, e apresentar o relatório em 2008/2009. Neste quadro, apesar de tudo, foi possível evitar que a Política de Coesão fosse a variável de ajustamento. A sua actuação tornou-se mais estratégica e o reforço das áreas de competitividade (I&D) não foi feito à custa da coesão. A dotação orçamental saiu reforçada (35,6% contra 17,2% em 1988); é certo que as necessidades aumentaram significativamente, quer em número de beneficiários quer em nível de desenvolvimento, mas, pela 1ª vez, a percentagem de recursos destinados aos Estados-membros (EM) menos desenvolvidos ultrapassou o que vai para os mais prósperos. Este resultado só foi possível pela pressão exercida por um grande número de EM, beneficiários líquidos, mas não só – o Grupo dos Amigos da Coesão que chegou a reunir 17 EM e que partiu da concertação entre Portugal, Espanha e Grécia, foi desencadeada por iniciativa nossa. Portugal obteve também um resultado bastante satisfatório, beneficiando de dotação financeira significativa e de condições de execução favoráveis (taxas de comparticipação mais elevadas – 85% regiões convergência e Fundos de Coesão – e elegibilidades mais amplas). COESÃO TERRITORIAL 109 II. Momento actual: estado da reflexão, crise Decorre a reflexão sobre o futuro do orçamento e das políticas, iniciada em Setembro de 2007 com uma consulta pública que se concluiu em Junho de 2008. Outras consultas públicas relevantes: Coesão/Janeiro 2008, Regiões Ultraperiféricas/Março 2008 e sobre Coesão Territorial/Fevereiro 2008. Depois das consultas públicas seguir-se-á o Livro Branco e só depois as propostas da Comissão. O Livro Branco não deverá ser apresentado antes do Outono. Portugal participou nas consultas públicas e nos debates que têm ocorrido ao nível da UE, ainda fora da agenda formal. Os textos que apresentámos estão nas páginas da UE e do Governo. Nas nossas contribuições temos insistido na natureza estratégica da reflexão e na globalidade do exercício (políticas/despesas e receitas); na importância de manter pressão sobre a compensação ao Reino Unido (rebate), não obstante a dificuldade na sua eliminação (requer unanimidade). Reafirmámos, como ponto de partida, os princípios, os objectivos e as orientações consagrados no Tratado (o Tratado de Lisboa fornece um quadro muito claro em matéria de repartição de competências UE/EM para diferentes políticas). Partilhamos a identificação pela Comissão dos desafios com que UE se confronta (competitividade num mundo globalizado e interdependente, alterações climáticas, energia, demografia, migrações) – note-se que o Estudo Regiões 2020 coloca Portugal no grupo dos países mais vulneráveis face a estes desafios. Defendemos que se deve olhar para as políticas da UE e se defina o seu quadro de actuação, sem desvirtuar a sua natureza (sem pôr em causa o referencial definido no Tratado), procurando uma maior coordenação e complementaridade entre as diferentes políticas e os respectivos instrumentos, face aos desafios, por forma a assegurar uma maior eficácia e coerência na actuação da União. Papel fundamental é o da Política de Coesão, cujo valor acrescentado está plenamente demonstrado. É uma Política estrutural que muito tem contribuído para o sucesso do processo de integração e que tem sabido evoluir e adaptar-se a novas exigências, contribuindo de forma decisiva para o reforço da competitividade e para o desenvolvimento sustentável. Consideramos positivo o progressivo alinhamento com os objectivos da Estratégia Lisboa, quer no plano estratégico quer no plano operacional, facilitando uma maior articulação e coerência entre a promoção da competitividade, as reformas estruturais e as intervenções no âmbito da política de coesão, mas a primeira missão desta política é o apoio ao desenvolvimento das regiões mais desfavorecidas. A contribuição para outros desafios ou prioridades nunca poderá pôr em causa esta sua missão fundamental. Neste contexto, a dimensão Coesão territorial deveria conduzir ao reforço da capacidade de actuação e da coerência da Política de Coesão, face às necessidades diferenciadas dos territórios, e permitir também uma maior tomada em consideração dos impactos das outras políticas sectoriais sobre os diferentes territórios. Tratar-se-ia, afinal, de cumprir a disposição do Tratado que prevê que todas as políticas e acções da UE devem contribuir para os objectivos da coesão. Naturalmente que há margem para reforçar a sua actuação (é neste plano que se deve colocar a questão do valor acrescentado), torná-la mais estratégica face aos desafios, mais selectiva, mais eficaz, mais mobilizadora. Temos defendido a necessidade de flexibilidade territorial na implementação 110 MARIA JOÃO SILVEIRA BOTELHO da política, pois a abordagem regional estrita é limitadora de actuação estratégica, integrada, mais eficaz. Esta limitação é particularmente relevante para a intervenção do FSE/coesão social (pessoas circulam, graves problemas sociais em áreas desenvolvidas não elegíveis regionalmente). É necessária também uma verdadeira simplificação. Agir ao nível das regras de aplicação (não tanto dos princípios) – não esquecer porém que a coesão é a política mais escrutinada. Era bom que outras, como a Investigação, seguissem mais de perto o modelo da coesão. A generalidade dos EM reconhece a importância da Política de Coesão, o seu valor acrescentado, há mesmo um certo consenso relativamente aos princípios e às orientações gerais. As divergências surgem quando se passa para aspectos mais concretos – interpretação do conceito de valor acrescentado (com repercussões na actuação da política), escolha dos critérios para afectação dos recursos e para definição das regiões elegíveis, determinada por interesses nacionais/expectativa em termos de envelope financeiro de que beneficiarão, perspectivas mais assistencialistas que desvirtuam a Política de Coesão e, ainda, como concretizar a nova dimensão da coesão territorial, introduzida pelo Tratado de Lisboa. Naturalmente, a 27 as divergências multiplicam-se, dificultando o estabelecimento de alianças, de geometria cada vez mais variável e complexa. A este quadro acresce a crise global e profunda que vivemos, que começou por ser financeira, atingiu a economia e é cada vez mais social; a imprevisibilidade quanto ao seu fim e quanto à eficácia das medidas tomadas, a interdependência e a vulnerabilidade que revelou, não deixará de ter impacto em todo este processo e, em particular, na definição da futura Política de Coesão, ou pelo menos deveria. Deveria trazer de novo ao debate, agora com renovada “legitimidade”, a necessidade de a UE se dotar de instrumentos financeiros com capacidade de intervenção conjuntural para fazer face a situações de crise. O Fundo Europeu da Globalização não tem a dimensão financeira nem operacional necessária (embora as regras tenham sido facilitadas no contexto da crise), o mecanismo de apoio à balança de pagamentos só beneficia os EM fora do euro, embora tenha sido reforçado. Na ausência de instrumentos desta natureza, a Política de Coesão sofrerá pressões suplementares “exógenas” (tem recursos apetecíveis) que acrescem às “endógenas” (interrupção de processos de convergência, retrocessos, aumento do desemprego). A Política de Coesão pode e deve dar um contributo importante, mas a resposta da UE não se pode cingir a esta política, sob pena de a desvirtuar. Aliás, a Política de Coesão já foi mobilizada para a crise. No Plano Europeu contra a crise, as medidas concretas e imediatas que são previstas referem-se à antecipação das transferências dos Fundos Estruturais, facilitação e agilização da execução do FSE (e flexibilização das regras dos auxílios de Estado). Em Portugal, a intervenção do FSE, no âmbito do QREN, tem sido reorientada para acções directamente associadas ao impacto da crise. Em qualquer caso, a crise impõe uma reflexão mais profunda e talvez devesse forçar a revalorização da Política de Coesão na sua vocação de política de desenvolvimento e de criação de condições para o crescimento sustentável das regiões e dos Estados. Mas a experiência leva-nos a ser realistas e a não ter grandes expectativas. A mais provável consequência é que a atitude restritiva se acentue. COESÃO TERRITORIAL 111 III. Perspectivas de evolução O calendário tem vindo a deslizar: primeiro devido às dificuldades com a ratificação do Tratado de Lisboa, para não dificultar o referendo na Irlanda. Depois, o impasse institucional, a situação de crise em vários planos – financeiro, económico e social (para além de energético e político no Verão de 2008) – não deixou espaço. O processo está praticamente parado. As Comissárias mais envolvidas neste exercício estão em campanha eleitoral. Nada acontecerá antes das eleições para o Parlamento Europeu, em Junho, nem antes de novo referendo na Irlanda (apontado para a 1ª metade de Outubro). O mais provável é que seja a nova Comissão, em funções a partir de Novembro, a apresentar o Relatório (Livro Branco, com diversas opções, da mais conservadora à mais radical). A futura Presidência sueca (2º semestre de 2009) tem manifestado interesse em iniciar este debate, mas não parece que haja efectivamente condições para tal. Este deslizar tem consequências na própria reflexão, aproximando-a da discussão do futuro Quadro Financeiro – a vigorar a partir de 2014 e cuja negociação deveria iniciar-se em 2010-2011 – e também de outras discussões, alvo de reflexões já iniciadas e que se interligam. Refira-se a Estratégia de Lisboa pós-2010, cuja decisão se prevê para o Conselho Europeu da Primavera 2010 e o Grupo de Reflexão presidido por Felipe Gonzalez, sobre o futuro da UE (e das suas políticas face aos desafios que se perspectivam em 2020-2030), cujo relatório final deverá ser apresentado ao Conselho Europeu de Junho de 2010. Duas datas que caem na próxima Presidência espanhola e com quem Portugal naturalmente trabalhará (já está) de forma muito estreita. A conjugação do timing destes exercícios, a par da crise, poderá potenciar o momento para decisões visionárias. A coesão não se faz apenas com políticas públicas. Tem que ser da responsabilidade partilhada por todos: agentes económicos, parceiros económicos e sociais e sociedade civil. SESSÃO DAS CONCLUSÕES CONCLUSIONS SESSION 115 COMUNICAÇÃO Guilherme d’Oliveira Martins Presidente do Tribunal de Contas Perante a crise financeira com que o mundo contemporâneo está confrontado, a coesão social assume uma importância acrescida. De facto, a situação a que chegámos deve-se, em parte significativa, ao primado da ilusão contabilística, à força da especulação, à indiferença relativamente às desigualdades e à tentação de considerar o mercado como o regulador exclusivo da vida económica. No entanto, quer as falhas do mercado, quer as falhas da intervenção têm de ser devidamente consideradas. Nem o Estado mínimo, nem o Estado produtor são factores estáveis e duradouros de coesão e de confiança. Por isso mesmo, depois de “trinta gloriosos anos” que se sucederam à Guerra, depois da estagflação dos anos oitenta e da emergência da supplyside economics – é chegado o momento de valorizar de novo, e com especial determinação, as concepções ligadas à coesão social, à confiança, à justiça distributiva e à regulação económica de um Estado encarado como catalisador de iniciativas do mercado e da sociedade civil. As recentes investigações sobre o “capital social” revelaram, aliás, que a fragmentação e a fragilização das instituições têm posto em causa os elos que levam à defesa do bem comum, dos interesses e valores comuns nas comunidades contemporâneas. Daí a necessidade de, perante a actual crise, criar condições para que o Estado e o mercado possam criar uma parceria que valorize a criação e que dê espaço à concorrência, à competitividade e à inovação. A competição não pode fazer-se através da desigualdade e da injustiça. O “doux commerce”, de que falava Montesquieu, exige que haja um Estado Social baseado na liberdade de iniciativa, na coesão económica e social, na criatividade da sociedade civil e na solidariedade voluntária. A liberdade igual e a igualdade livre têm de ser faces da mesma moeda. A cidadania activa exige que a liberdade política seja completada com a justiça distributiva centrada na iniciativa e na responsabilidade da sociedade civil. 117 CONCLUSÕES Isabel Carvalho Guerra Conselheira do Conselho Económico e Social É sempre embaraçoso fazer sínteses de uma sessão tão complexa e proveitosa por ter que optar por algumas dimensões e não citar outras. Como disse o moderador desta mesa, não é possível fazer uma síntese de uma sessão tão longa, tão rica e tão substantiva do ponto de vista das comunicações. Seleccionarei os elementos a reportar a partir de duas questões-chave: i) O que é que esteve em causa, o que é que se discutiu? ii) Nesta diversidade de actores intervenientes, quer em termos dos campos de enraizamento social quer em termos dos níveis de decisão, estamos todos de acordo? De facto, esteve aqui presente um conjunto de pessoas do mundo do trabalho – quer ao nível dos sindicatos quer ao nível dos empresários – do mundo financeiro, do mundo das políticas – quer comunitárias quer nacionais – do mundo social, aqui representado sobretudo pelas questões dos imigrantes, mas não só. Será, portanto, interessante conhecer o que significa a coesão social para um leque tão alargado de parceiros. Omnipresença do tema da crise e a procura de um novo modelo civilizacional A primeira questão, presente em todas as intervenções, salienta a presença do tema da crise e a preocupação generalizada em repensar a solidariedade no contexto da crise actual. Parece consensual que o conceito de coesão social adquire, nesta situação de crise, um novo interesse, uma nova importância, com a constatação das dificuldades do Estado-Providência em assegurar as dimensões que consubstanciavam a protecção social tradicional. Os oradores davam conta de que não se trata de uma crise passageira e superficial, mas de um sinal de uma profunda reestruturação do paradigma civilizacional que conhecemos até agora, e que se traduz, entre outras transformações, na procura de uma nova forma de apreender as questões da solidariedade social a todas as escalas – locais, nacionais e mundiais –, fazendo face à turbulência económica, mas também, e sobretudo, social. O mais interessante é que estiveram presentes como interrogações, temas muito diversos que mostram como a coesão social é, de facto, transversal a todas as dimensões societárias. Falou-se de economia, de política, do Estado e da sociedade, o que mostra que as fronteiras entre as dimensões económicas, sociais e culturais estão interligadas e as fronteiras são muito pouco definidas e que esse novo modelo interroga todas elas. Falou-se em como fazer face à mundialização e à crise, repensando a natureza do projecto político, nomeadamente o projecto político europeu, mas não só, e questionou-se o sentido do 118 ISABEL CARVALHO GUERRA paradigma anterior, perguntando mesmo se poderemos manter a colagem entre as questões da solidariedade social e as questões do progresso económico. Interrogou-se a possibilidade de ultrapassar as desigualdades cada vez mais acentuadas, referindo as desigualdades económicas, mas também as culturais e de modos de vida. Sem receitas e sem saber muito bem como é que se poderá ultrapassar essas clivagens múltiplas, os mais críticos falaram mesmo de uma economia de subsistência e até da ilusão civilizacional que corre o risco de ser substituída por um capitalismo de sobrevivência, apelando, como Jorge Sampaio à reconstrução de uma social-democracia de mercado. De qualquer forma, todos, mas muito particularmente o representante da DG da Coesão Social, o João Salgueiro e o Presidente do CES, fizeram apelo a uma nova relação entre as questões do emprego, dos modos de vida e da política, questionando os contornos desse novo modelo que se aproxima. João Salgueiro afirmou que, a bem ou a mal, teremos de reconstruir o modelo civilizacional, onde o mercado, o Estado e a sociedade civil se reencontram com novas e mais interpenetradas formas de reajustamento. No mesmo sentido, foi a chamada de atenção dos oradores como Alexander Vladychenko e Alfredo Bruto da Costa, afirmando que não é suficiente fazer a economia funcionar, a exigência é a de fazer a sociedade funcionar. Todos defenderam que coesão social e competitividade não são efectivamente dimensões separadas, e que a confiança nas pessoas, nas instituições, o reforço do capital social são dimensões indispensáveis à sobrevivência do modelo económico e uma parte integrante das dimensões de coesão social. Maria João Botelho referindo-se, no caso à coesão territorial, fez uma chamada de atenção, lembrando que se estamos de acordo que é preciso reconstruir o modelo civilizacional, não está garantido que essa sociedade emergente seja uma nova sociedade onde as dimensões da solidariedade e da coesão estejam mais presentes, e não se assista a um recrudescimento de políticas defensivas do “salve-se quem puder”, onde cada um tenta salvaguardar o seu território do poder. Em síntese, a omnipresença da crise, gerou um consenso sobre algo de emergente e de diferente que estará para emergir, mas também a ausência de garantias sobre um reforço da coesão social e, nesse sentido, a necessidade de novas e inovadoras propostas. Um conceito polissémico e as suas formas de abordagem: estamos a falar da mesma coisa? Uma das questões que esteve muito presente, e que pode parecer um pouco académica, mas que é importante, relaciona-se com o conteúdo da noção de coesão social. A importância da discussão sobre o conceito advém do facto de que a forma como se equaciona a relação entre competitividade e coesão tem impacto na forma como se visualizam os objectivos do desenvolvimento. Parte-se da definição importante e consensual do Conselho da Europa,1 mas, se essa característica polissémica do conceito tem a vantagem de fazer discutir o que se discutiu – e que é provavelmente Conselho da Europa, Janeiro 2008, Report of the Hight Level Task Force on Social Cohesion, “TOWARDS AN ACTIVE, FAIR AND SOCIALLY COHESIVE EUROPE”. 1 CONCLUSÕES 119 o consenso possível face a uma realidade que continuamente nega o que estamos a dizer, até pelas dimensões de fractura e de desigualdade que traz consigo – poder-se-á interrogar se se fala da mesma realidade e se teremos as mesmas perspectivas. Portanto, afirma-se essa concepção de coesão social como tendo uma base científica de longa tradição e de indispensável actualidade, mas numa situação onde, ao mesmo tempo, o conceito permite diferentes releituras, adaptações a realidades diferentes: é flexível para uma adaptação política diversificada e, francamente, torna-se difícil saber o que é que significa especificamente e a que compromissos o nosso discurso nos obriga. O que se passou aqui foi, como acontece frequentemente, um meta-discurso. Um discurso estratégico, que balançou entre o que dissemos e o que gostaríamos de ter dito e não dissemos, entre o que calámos, porque tivemos receio de dizer, e o que estrategicamente considerámos dever dizer. Meta-discurso esse que assentou numa base de procura de respostas à questão que colocámos anteriormente: a necessidade urgente que todos sentem de encontrar um modelo civilizacional onde poderemos viver juntos. Mas, apesar da diversidade, os oradores foram muito directos na mensagem que deixaram. O que se passou aqui foi um discurso quase sempre corajoso, quase sempre provocador, falouse para nós e para os outros, mandaram-se recados – não é certo para quem eram nem se esses destinatários estavam para ouvir. Só se poderá ficar agradavelmente impressionado pela quantidade de jovens que estava na assembleia, o que poderá levar a reinvenções na procura de novas formas de coesão social para novas aventuras e novos públicos. Aliás, o Jørgen Søndergaard disse mesmo que haveria grande vantagem em manter o conceito aberto e não o fechar. A diversidade de enfoques Mas, poder-se-á perguntar se na diversidade de abordagem há ou não consensos? Não é apenas uma diversidade das formas de abordagem, mas também de pressupostos. De algum modo, sobre o conceito de coesão social identificam-se três dimensões transversais a quase todos os discursos. - A primeira foi a ênfase no carácter transversal do conceito, dando conta de que este não se reduz ao empilhamento de direitos e que a coesão social é uma forma de pensar a sociedade e de pensar as suas formas organizativas. Esta chamada de atenção esteve muito presente no discurso do Senhor Presidente do CES, mas, também, no discurso de Jørgen Søndergaard, quando refere a experiência do Conselho da Europa. - A segunda dimensão que esteve presente foi a dimensão de equidade. É um conceito que apela claramente à igualdade de oportunidades e foram citadas algumas dimensões curiosas, como a referência a que a igualdade de oportunidades não deveria depender da geração anterior, mas estar relacionada com o facto de existir e, assim, dever estar garantida a cada cidadão pelo simples facto de ter nascido. - A terceira dimensão interessante é a dimensão prospectiva do conceito. Jørgen Søndergaard, mais uma vez, afirmava que a coesão social é a capacidade de gerir a mudança, ou ainda a 120 ISABEL CARVALHO GUERRA posição de Françoise Tulkens que afirmava que a coesão é a capacidade de cada um pensar o seu futuro – o que mostra também como o conceito tem dimensões que não são apenas actuais e realizáveis sempre, mas que são prospectivas e, de alguma maneira também, dimensões de utopia. As dimensões que estruturam o conceito mas também as práticas de coesão social O terceiro comentário permitirá situar as três dimensões que pareceram formatar o conceito nas várias intervenções. A primeira dimensão, que esteve muito presente no discurso de Françoise Tulkens, mas não só, é a via dos direitos humanos. A intervenção de Françoise referenciou a complexidade, não apenas de entendimento dos direitos humanos, direitos sociais e direitos económicos, nas suas dimensões objectivas/subjectivas, mas sobretudo mostrou como é que essa tecedura foi complexa ao longo dos tempos no contexto do Conselho da Europa e da União Europeia. Afirmou também que são direitos ainda hoje não consensuais entre os vários Estados-membros. Esta dimensão alicerça a coesão social na defesa dos direitos básicos dos cidadãos, face à grandiosidade de desafios que estão em cima da mesa. E, portanto, os direitos funcionariam como o grau zero de garantia que as populações europeias teriam face aos seus níveis mínimos de coesão social. De qualquer forma, neste conceito estão, não só as dimensões mais clássicas, como o direito ao trabalho, o direito à saúde, o direito à educação, ao alojamento, etc., mas também direitos mais subjectivos, como o direito à liberdade, o direito ao sentido de pertença, à diversidade, à religião, etc. Esta concepção de coesão social está sobretudo preocupada com a capacidade de garantia desses direitos e a grande inquietação é como garantir aos cidadãos – europeus, mas também mundiais – o direito a estes níveis mínimos de coesão social. Esta dimensão assenta largamente na capacidade que o Estado terá em garantir a cidadania e os direitos. Há uma segunda dimensão, que é sobretudo trazida pelos sindicatos, mas não só, que é um pouco mais abrangente. No fundo interroga as formas de organização social que poderão garantir, através do direito ao trabalho, o direito aos rendimentos e, através destes, o direito a uma identidade. A intervenção do Carvalho da Silva é exemplar nesse sentido, questionando o direito ao trabalho e ao trabalho “digno” – é o conceito que utilizou – num contexto de interrogação sobre a capacidade organizativa de uma sociedade em refundar um modelo civilizacional onde todos terão trabalho, mas também, identidade colectiva, sentido de pertença e direitos sociais. A coesão social residiria assim na capacidade de construir recursos partilhados e na redução das distâncias entre rendimentos e fomento da qualidade de vida. Protegidos pelas políticas públicas, os cidadãos teriam noção de partilha num fim comum, tendo os mesmos direitos, assentes num equilíbrio efectivo entre o mercado, o Estado e a sociedade civil, e procurando-se novas dimensões de desenvolvimento económico, mais sustentável, menos consumista e de maior coesão social. CONCLUSÕES 121 De alguma maneira está aqui presente a terceira dimensão do conceito, que é talvez a mais recente, e aquela que está muito presente no documento da Task Force, que é a dimensão da coesão social, sob o signo da confiança, do capital social, da participação. É a dimensão mais simbólica, que considera que a coesão social está assente nos valores da confiança e do sentido de pertença e que é construída a partir das dimensões anteriores, mas que assenta sobretudo na valorização da capacidade de cada um se sentir membro de uma colectividade de parte inteira. Um sentimento de pertença que contém simultaneamente um sentido de pertença a uma colectividade política, a uma comunidade social, mas que contém também uma identidade individual essencial, no sentido de existencial. Sobre esta dimensão da confiança, vários dos participantes desenvolveram discussões em torno da criação dos laços sociais e do sentido de pertença. Pode salientar-se a intervenção de João Salgueiro, porque equacionou cinco grandes elementos da confiança nas instituições, que parecem ser o garante desse sentimento básico de pertença. O Presidente do CES afirmou “a participação e o diálogo constituem outro eixo fundamental na construção da coesão, quer na sua expressão cívica ou civil, quer nos domínios social e político”. O relatório da Task Force insiste no apelo à participação directa e de representação dos próprios pobres e daqueles que são protagonistas das carências mais significativas da sociedade de hoje, de forma a terem uma voz activa, não apenas como ouvintes, mas como co-responsáveis nas decisões e se sintam parte também dessa comunidade. Roberto Carneiro reforçou esta dimensão de capital social, quer a partir de um plano mais subjectivo de valorização das redes de conectividade, mas também no plano da participação colectiva nas decisões e nos sentidos de construção de uma democracia mais madura, mais confiante e mais alargada, e portanto, as dimensões de confiança e de sentido de pertença seriam as argamassas da coesão social. Roberto Carneiro afirmava mesmo que essas dimensões seriam a “super cola sociológica” da coesão social. É importante referenciar o relatório da Task Force, que constrói cinco indicadores que cada Estado-membro devia organizar para aferir o estado da coesão social no seu território. Desses cinco indicadores, apenas um é económico, no sentido do bem-estar económico e de rendimentos de uma pessoa ou de uma família. Os outros indicadores são sobretudo imateriais - a dignidade e o sentido da diversidade, a participação, o sentimento da pertença. Poder-se-ia acrescentar, aliás também é referenciado no relatório da Task Force, e que foi trazido ao debate de uma forma muito interessante pelo Director-Geral da Coesão Social e por Françoise Tulkens, a dimensão da confiança no futuro. Claro que se está no domínio dos valores, mas talvez a maior inovação nesta concepção da coesão social é a inclusão do sentimento de pertença e de confiança – que são simultaneamente dimensões subjectivas e objectivas –, como estando no coração da vida colectiva. A “força dos laços fracos” mostra que o capital social permite que a sociedade tenha novos recursos, mais imateriais, mas não menos “produtivos” como convém a qualquer tipo de capital. 122 ISABEL CARVALHO GUERRA Os desafios Quais foram os desafios que ficaram em cima da mesa? Foram quase sempre desafios abertos, e se houvesse mais tempo de discussão provavelmente se abririam ainda mais. A primeira questão é a grande inquietação sobre o trabalho e a coesão social e que poderia traduzir-se nesta pergunta: Como é que se comporta a coesão social quando o direito ao trabalho parece estar comprometido? Se o trabalho está no centro da especificidade das dimensões da coesão social, como João Proença e Carvalho da Silva sublinhavam, o que fazer quando o mundo do trabalho não está a assegurar hoje as dimensões indispensáveis para a estabilidade da vida familiar e de sobrevivência? Carvalho da Silva fez aqui alguma distinção entre a lógica da criação de trabalho do capital financeiro e do capital produtivo, mas no fundo a interrogação que está em cima da mesa, já há duas décadas, é se se assiste ao fim do trabalho e se será necessário garantir a coesão por via das políticas públicas e descolar as políticas públicas do direito ao trabalho. Ou se teremos de assumir um mercado de trabalho a várias velocidades e, portanto, dar conta de que a flexigurança é efectivamente a dimensão do futuro. Nessa perspectiva, a coesão social seria muito mais um negócio do Estado do que um negócio da sociedade e garantiríamos pouca equidade nas formas de organização social, dado que haveria uns a depender do mundo do trabalho e outros a depender das políticas sociais. A segunda dimensão referencia o conflito, ideológico e prático, sobre a democracia igualitária e sobre o modelo de desenvolvimento económico assente em crescentes desigualdades. Ou seja, há aqui um paradoxo, como dizia João Salgueiro. Como é que é possível convencer alguém da bondade do discurso que aqui se fez quando, objectivamente, a marcação das desigualdades factuais e a desigualdade de oportunidades está a aumentar? Não pode deixar de ser um discurso que soa a ideologia e que não se aproxima da prática concreta da sociedade de hoje. E este mal-estar esteve em cima da mesa várias vezes, não apenas ao nível das desigualdades sociais, mas também das desigualdades territoriais. A distância de um discurso teórico baseado nos direitos, do que deve ser, e uma realidade que tende cada vez mais a escapar a este discurso e que é marcada pelas desigualdades, exige talvez mais pragmatismo nas abordagens e exige aquilo que alguns questionaram, mais uma vez a Françoise Tulkens, que é a capacidade de dar conta se as políticas sociais actuais estão a gerar mais igualdade, aprofundando a relação entre as políticas sociais e a coesão social. Terceiro e último desafio, que também ficou em aberto, é a coesão social e territorial como capacidade de gerar uma democracia mais adulta, mais madura, mais transversal. No fundo, retomou-se o tema da participação que vai desde as instituições públicas à sociedade como um todo, nomeadamente o que se tem vindo a apelidar de responsabilidade social das empresas e uma responsabilidade colectiva, transversal a todos os cidadãos e instituições. Apelou-se à refundação da lógica da intervenção do Estado, à retoma da lógica do poder autárquico e das democracias de proximidade e à participação dos pobres. CONCLUSÕES 123 A sociedade portuguesa está longe de ser uma democracia adulta. É uma democracia demasiado enquistada em órgãos e estruturas burocráticas e auto-centradas. Se a coesão social é uma responsabilidade colectiva, então todos somos co-produtores dessa coesão social e, portanto, exige-se muito maior participação na vida colectiva. A criação do sentimento de confiança e de pertença reside, em larga medida, na capacidade de nos sentirmos parte de uma sociedade, participando na construção das suas formas de regulação. Estas reflexões parecem partir da mesma constatação. A estabilidade social, política e cultural das sociedades actuais exige a procura de novas formas, se possível, inovadoras, para gerir a desigualdade de oportunidades. Trata-se de defender os direitos adquiridos no Modelo Social Europeu, aqui interrogados, mas trata-se, mais do que isso, de procurar mecanismos de concertação face a um outro mundo que seja possível. Ninguém é ingénuo ao ponto de pensar que os novos mecanismos de regulação se encontrarão por geração espontânea e pela mudança de atitudes de todos, nomeadamente dos decisores nacionais ou mundiais. É preciso que as novas instâncias de coordenação ensaiem verdadeiramente políticas transversais, no repensar as instâncias de desenvolvimento e coloquem na ordem do dia as pedras basilares do novo modelo civilizacional onde qualidade de vida e coesão social sejam os conceitos centrais, operacionais e visíveis. O Conselho da Europa tem sido pioneiro ao colocar em cima da mesa questões da coesão social, e os Conselhos Económicos e Sociais são, em larga medida, sinais da emergência da procura de novos consensos, para que seja possível a arte de vivermos em conjunto, neste nosso mundo, que mais não é do que o resultado complexo das nossas opções. Muito obrigada. SESSÃO DE ENCERRAMENTO CLOSING SESSION 127 COMUNICAÇÃO José António Vieira da Silva Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social Senhor Presidente do Conselho Económico e Social Senhor Director-Geral da Coesão Social, do Conselho da Europa Senhor representante da Fundação Calouste Gulbenkian Caras e caros convidados Minhas senhoras e meus senhores Em primeiro lugar, gostaria de agradecer o convite que me foi dirigido para estar aqui hoje na Sessão de Encerramento desta importante Conferência sobre a construção da coesão social em Portugal e na Europa. Permitam-me que deixe aqui algumas reflexões sobre o debate que aqui hoje decorreu. 1. As questões da coesão social têm vindo a ser discutidas ao longo das últimas décadas em vários palcos políticos, económicos e académicos. Quer olhemos a coesão numa perspectiva histórica, quer de um ponto de vista mais centrado no presente (e em particular no impacto desta tremenda crise que o mundo atravessa), mas particularmente nesta última, há uma exigência que se deve colocar a todos: uma profunda humildade perante as dificuldades e as incertezas que o mundo de hoje nos coloca. Isto não quer dizer nem falta de determinação, nem de compromisso com estas matérias, nem de responsabilidade de todos os actores. Quer dizer que muito do que se está a passar no mundo é difícil de compreender na plenitude das suas causas e implicações; e que muitas das consequências da crise que vivemos são difíceis de estimar, de medir e de avaliar em toda a sua profundidade. Também por isso, reflexões como a de hoje são tão importantes, para que possamos passar para uma situação de mais conhecimento e de mais capacidade de agir. A dimensão desta crise é, de facto, algo que ainda não podemos compreender de forma completa. No entanto, temos já algumas certezas. Por exemplo, a certeza de que esta é uma crise verdadeiramente global, com toda a probabilidade a primeira grande desta natureza. É global porque teve a sua origem (pelo menos aparente) numa crise financeira profunda que alastrou com uma rapidez, que surpreendeu alguns, à realidade económica e, consequentemente, à realidade social, em particular aos mercados de trabalho e aos sistemas de emprego. Assim, a actual crise é global também neste sentido: não deixou fora do seu impacto nenhuma destas áreas críticas: financeira, económica, social. Uma segunda razão é a que tem sido mais citada - o facto de esta crise ser planetária. Independentemente de para alguns países e zonas do mundo ela se traduzir numa recessão 128 JOSÉ ANTÓNIO VIEIRA DA SILVA severa, noutros numa recessão menos severa, ou até numa forte moderação do crescimento (nomeadamente, nas economias ditas emergentes), o facto é que ela é uma crise que se manifesta de modo bastante visível em praticamente todos os países e em todas as regiões do globo. Em terceiro lugar, e era este o ponto que eu gostava de reflectir convosco, esta crise é global também porque ela atingiu igualmente modelos de organização social distintos. Hoje em dia é difícil falar no mundo em modelos económicos e sociais profundamente distintos, mas, mesmo no chamado mundo desenvolvido (por exemplo, nos países da OCDE), tem decorrido ao longo das últimas décadas um debate muito profundo sobre o melhor modo de construir respostas estratégicas do ponto de vista da organização do modelo económico e social. Este debate tem decorrido, entre outras, em torno das questões da regulação. Há modelos com mercados mais regulados, outros com mercados menos regulados e com grandes diferenças entre eles – apesar de, como todos sabemos, a tendência das últimas duas décadas ter sido, em geral, de tendência para uma regulação menor, não apenas, mas em particular, no mercado de trabalho. Ora, também aqui a crise não poupou diferentes modelos. Atingiu, por exemplo com quebras no crescimento económico e fortes subidas do desemprego, mercados ou organizações sociais profundamente desreguladas, desde logo na fonte desta crise, nos Estados Unidos da América. Mas também está a afectar com grande profundidade economias que têm mercados mais regulados, como a Alemanha ou a França. Desse ponto de vista, ninguém ficou incólume e a intensidade da crise está a ser difícil de distinguir entre estes tipos de modelos. 2. Partindo do valor supremo que é a promoção da coesão social, a questão que se colocou imediatamente foi a de saber se o chamado Modelo Social Europeu resistiria melhor do que outros modelos aos efeitos da crise. É talvez cedo, ainda, para tirar conclusões seguras e definitivas sobre este aspecto. No entanto, alguns economistas começam já a comparar alguns indicadores da crise dos anos 20-30 e da crise que estamos a viver, e algo parece relativamente claro. Se nalguns indicadores macroeconómicos (por exemplo, os mercados bolsistas ou mesmo a evolução do produto), esta crise tem nalgumas zonas dimensões mais profundas do que a crise de 1929, parece também evidente que as almofadas sociais que os mecanismos de regulação social criaram em muitas sociedades, e em particular nos países próximos do Modelo Social Europeu, têm permitido impactos muito menos pesados, naturalmente, do que aqueles que marcaram a Grande Depressão. Ou seja, o Modelo Social Europeu tem resultados. A questão que se deve agora colocar é, pois, a de saber se o Modelo Social Europeu, tal como o conhecemos, e com toda a sua diversidade, vai ser capaz de resistir e de ser um instrumento poderoso de defesa da coesão social. Utilizando algumas dimensões daquilo que os teóricos identificam como o coração do Modelo Social Europeu, ele pode ser identificado por cinco ou seis traços fundamentais: primeiro, a existência de uma democracia de um Estado de Direito, com liberdades e uma sociedade aberta; a existência de níveis significativos de regulação dos mercados; a existência de sistemas de protecção social, nomeadamente na segurança social e na saúde, com uma rede de protecção poderosa face aos riscos da vida quotidiana e das famílias; um acesso alargado a um sistema de educação eficaz. E, para além destes pilares que, no meu entendimento, marcaram o essencial do Modelo Social SESSÃO DE ENCERRAMENTO 129 Europeu no pós-guerra, outras dimensões têm também preponderância fulcral e nalguns casos crescente: por exemplo, a dimensão da sustentabilidade ambiental, a centralidade do diálogo social ou a dimensão do combate a qualquer forma de descriminação. Começa hoje a ser claro que as sociedades e economias que melhor conseguiram combinar estes princípios, estão a ter melhor capacidade de resistência e resposta face aos impactos da crise que estamos a viver. E que o Modelo Social Europeu tem em si elementos que permitem a sua adaptação, com êxito, às novas condições globais que a crise veio tornar, mais do que nunca, incontornáveis. É evidente que se trata de uma questão que alimenta polémicas. O Senhor Director-Geral da Coesão Social do Conselho da Europa citou há pouco o Conselho de Ministros do Conselho da Europa que teve lugar já este ano em Moscovo e ficou aí claro que há, a este respeito, visões diferentes no seio da Europa, mesmo no seio da União Europeia. As principais diferenças, aliás, já antecediam a crise e mantêm-se depois dela, replicando um debate que marcou a Europa a partir dos anos 80 e principalmente nos anos 90: a contraposição entre welfare e workfare, ou seja, o modelo de inspiração social democrata de sociedade de bem-estar, com políticas de redistribuição fortes e um modelo que, não as anulando, as combina com uma sociedade menos regulada e fazendo depender a protecção social do acesso ao mercado de trabalho. Ora, este é um debate que prossegue, mesmo quando estamos afectados por dificuldades tão sérias do ponto de vista dos equilíbrios sociais. O que é, na minha óptica, mais uma razão para ter cuidado sobre a rapidez com que se postulou uma mudança imediata de paradigma por causa da crise. Parece haver, claramente, resistência de algumas das ideias fortes deste paradigma mais liberal, que alguns dão já por morto e enterrado. Julgo que, como disse Mark Twain numa frase que ficou famosa, as notícias sobre a morte dessas teorias são um pouco exageradas. Estamos, pois, a meio de um debate que ainda vai ser muito duro até produzir resultados sólidos e passar à construção de respostas globais à crise que vivemos. Até porque, se nós estamos a discutir aqui a coesão social no quadro europeu, uma das feridas mais profundas que estará hoje a ser aberta com a crise que estamos a viver não é nos países desenvolvidos, na sua generalidade, ou na Europa em particular, é por exemplo nas zonas que viram, durante os últimos anos, sair de situação de pobreza extrema centenas de milhões de pessoas, e que hoje estão a ver questionado esse progresso, que foi um salto significativo, do ponto de vista do bem-estar da humanidade. No quadro desta crise, serão esses muitos milhões de seres humanos, provavelmente, as vítimas onde a dureza da crise se faz sentir de modo mais agudo. 3. Mesmo quando nos centramos sobre a Europa, a reflexão sobre as respostas para a crise que vivemos e o seu impacto na coesão social, entendendo esta não apenas como utopia social, mas como força motriz do desenvolvimento económico e do desenvolvimento humano, passa precisamente pelo aprofundamento de três dimensões que uma recente recomendação da União Europeia fez sobre a inclusão activa. Esta recomendação, que exprime a actual orientação da UE sobre a sociedade inclusiva (que remete de modo muito claro para as questões da coesão social), aponta três linhas fundamentais da “inclusão activa”. A primeira é a defesa da garantia da universalidade de um mínimo de recursos de dignidade para todos os cidadãos. É um tema que é objecto de debate muito intenso e polémico. Foi-o em Portugal, 130 JOSÉ ANTÓNIO VIEIRA DA SILVA continua talvez a despertar resistências, mas tem feito um caminho de solidez e de resultados; e é considerado pela UE uma dimensão crítica da defesa da coesão social, por via da garantia de um patamar de recursos a que todos tenham acesso. Não é também um tema completamente pacífico à escala europeia, mas faz parte das orientações de fundo da Europa e particularmente em situações como esta que vivemos, de recessão e de crise, é um instrumento básico de resposta a situações dramáticas, apesar de, infelizmente, o debate de reforço da protecção social orientada para os mais frágeis ser muitas vezes mais difícil em momentos de recessão. A segunda linha foi a construção de um mercado de trabalho inclusivo, ou seja, um mercado de trabalho que não descrimine e que partilhe dos elementos essenciais do trabalho digno: trabalho com direitos, com direito à protecção social, com direito à defesa dos interesses, à liberdade de organização e de associação. Esta ideia de mercado inclusivo passa pela capacidade de dar oportunidades de inserção nesse mercado a quem mais longe está dele, às pessoas com deficiência, aos grupos étnicos com processos de exclusão muito pesados, às diversas minorias, aos trabalhadores mais idosos; essa é a segunda linha de orientação que continuo a considerar uma linha fundamental, bem como a primeira, de construção de coesão social. A terceira linha é uma questão que, de forma simples, eu diria que remete para a qualidade social: o aprofundamento das redes de serviços e equipamentos sociais acessíveis e de qualidade. No fundo, falamos de uma rede social que complemente as políticas públicas, e que se articule com elas, valorizando a economia social e a dimensão não mercantil da prestação de serviços. Estas três dimensões são hoje cruciais para a construção de uma sociedade inclusiva e com mais coesão social: a garantia dos recursos mínimos, em particular para aqueles que estão mais fragilizados; a garantia que vencemos barreiras quer no acesso quer na igualdade de oportunidades no mercado de trabalho com direitos; e o objectivo estratégico de reforçar a qualidade social das nossas comunidades e os laços de pertença a essas comunidades. Vários destes pontos são hoje atingidos por transformações, algumas delas nem sequer estão directamente ligadas a esta crise, mas antes às mudanças demográficas, familiares e sociais, bem como a outros factores civilizacionais e culturais; e também à mudança dos sistemas económicos globais. A aposta nestas dimensões, a que temos de somar inevitavelmente a importância incontornável do instrumento poderoso e transversal constituído pelas políticas redistributivas e das transferências sociais, forma um conjunto de pilares que são essenciais para, com solidez e sustentabilidade, defender a coesão social. Num país como Portugal, cada um destes pilares é ainda mais importante, porque em qualquer uma de tais dimensões há ainda, apesar de todos os progressos das últimas décadas, um percurso longo a fazer. Com empenho, esforço e responsabilidade indeclinável do Estado e de todos os actores sociais. Vale a pena, quando falamos de coesão, pensar na Europa e nos desafios que neste contexto ainda estão em aberto em matérias tão estruturantes e tão valiosas para o Modelo Social Europeu, em particular no contexto da Europa do Sul, mas também em muitos segmentos das sociedades dos países mais desenvolvidos. Em particular, é fundamental reflectir sobre a evolução da situação e do debate ao longo da última década, porque também aí – mesmo antes da crise – encontramos fortes sinais de preocupação sobre os quais não podemos deixar de nos debruçar. E de avaliar as SESSÃO DE ENCERRAMENTO 131 diferentes performances dos modelos económicos e sociais que, de algum modo, fazem a vitalidade e diversidade do Modelo Social Europeu. O que está em causa, em particular no caso português, é, em larga medida, ter consciência do importante caminho que percorremos nas últimas décadas, mas saber e ao mesmo tempo reflectir sobre o que falta fazer, sobre os pontos mais frágeis dos nossos sistemas e fazer as opções estratégicas para combinar crescimento económico com níveis mais elevados de coesão social. A coesão social também se constrói numa reflexão permanente sobre as estratégias de fundo a adoptar para tornar o nosso modelo económico e social mais sustentável e mais justo. Por alturas do 25 de Abril, havia cerca de 800 mil idosos que tinham direito a uma pensão; hoje o sistema de protecção paga 3 milhões de pensões e a cobertura é universal entre os activos. Essa diferença entre aquilo que acontecia não há muitos anos e o que acontece hoje ilustra bem os progressos. Este tipo de avanços nos números e no acesso ao bem-estar podem ser replicados na área da educação, na área da saúde, ou mesmo em áreas como a economia portuguesa. Não perdendo nunca de vista o muito que ainda há a fazer para completar este caminho de profunda modernização, tais conquistas são uma ferramenta fundamental para acreditar que podemos construir uma sociedade ainda mais desenvolvida, em que os valores da solidariedade e da coesão sejam valores fundamentais para todos nós. Muito obrigado. ANEXO ANNEX Conferência Europeia “CONSTRUIR A COESÃO SOCIAL” European Conference “BUILDING UP SOCIAL COHESION” Programa Programme 09h00 Recepção 09h00 Welcome 09h30 Sessão de Abertura Jorge SAMPAIO (Ex-Presidente da República Portuguesa, Enviado Especial do SG da ONU para a Luta Contra a Tuberculose e Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações) Emílio Rui VILAR (Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian) Alfredo BRUTO DA COSTA (Presidente do CES Portugal) Mario SEPI (Presidente do CESE) Alexander VLADYCHENKO (Director-Geral da DG Coesão Social, Conselho da Europa) Jérôme VIGNON (Director da Protecção Social e Inclusão Social, DG Emprego, Assuntos Sociais e Igualdade de Oportunidades, Comissão Europeia) 09h30 Opening Session Jorge SAMPAIO (Former President of the Portuguese Republic, UN Secretary-General’s Special Envoy to Stop TB and UN High Representative for the Alliance of Civilizations) Emílio Rui VILAR (President of Calouste Gulbenkian Foundation) Alfredo BRUTO DA COSTA (President of ESC Portugal) Mario SEPI (President of EESC) Alexander VLADYCHENKO (Director-General of DG Social Cohesion, Council of Europe) Jérôme VIGNON (Director for Social Protection and Social Inclusion, DG Employment, Social Affairs and Equal Opportunities, European Commission) 10h30 Comunicação: Coesão social no Século XXI Jørgen SØNDERGAARD (Vice-Presidente do Grupo de Alto Nível sobre Coesão Social na Europa, Conselho da Europa, e Director Executivo do Centro Nacional para a Investigação Social da Dinamarca - SFI) 10h30 Keynote Speech: Social cohesion in the 21st century Jørgen SØNDERGAARD (Deputy Chair of the High Level Task Force on Social Cohesion in Europe, Council of Europe, and Managing Director of the Danish National Centre for Social Research - SFI) 11h10 Pausa 11h10 Coffee Break 11h30 Painel 1 – Factores de Coesão Social Moderador: Eduardo MARÇAL GRILO (Membro da Administração da Fundação Calouste Gulbenkian) O PAPEL DOS DIREITOS HUMANOS NA CONSTRUÇÃO DA COESÃO SOCIAL Françoise TULKENS (Juíza e Presidente da 2ª Secção do Tribunal dos Direitos Humanos, Conselho da Europa) PARTICIPAÇÃO E DIÁLOGO CIVIL E POLÍTICO João SALGUEIRO (Conselheiro do CES Portugal) DIÁLOGO SOCIAL HOJE João PROENÇA (Vice-Presidente do CES Portugal) Debate 11h30 Panel 1 – Factors of Social Cohesion Chair: Eduardo MARÇAL GRILO (Member of the Board of Calouste Gulbenkian Foundation) THE ROLE OF HUMAN RIGHTS IN BUILDING UP SOCIAL COHESION Françoise TULKENS (Judge and President of the 2nd Section of the European Court of Human Rights, Council of Europe) CIVIL AND POLITICAL PARTICIPATION AND DIALOGUE João SALGUEIRO (Member of ESC Portugal) SOCIAL DIALOGUE TODAY João PROENÇA (Vice-President of ESC Portugal) Debate 13h00 Intervalo para Almoço 13h00 Lunch Break Conferência Europeia “CONSTRUIR A COESÃO SOCIAL” European Conference “BUILDING UP SOCIAL COHESION” Programa Programme 14h30 Sessão de Abertura da Tarde Reforçar a coesão social durante e depois da crise Mário SOARES (Ex-Presidente da República Portuguesa) 14h30 Afternoon Opening Session Strengthen social cohesion during and after the crisis Mário SOARES (Former President of the Portuguese Republic) 15h00 Painel 2 – Principais Desafios da Coesão Social Moderador: Francisco VAN ZELLER (Presidente da Comissão Especializada Permanente de Política Económica e Social, CES Portugal) ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, FAMÍLIA E SOCIEDADE Manuel CARVALHO DA SILVA (Presidente da Comissão Especializada Permanente do Desenvolvimento Regional e do Ordenamento do Território, CES Portugal) MIGRAÇÕES E COESÃO SOCIAL Roberto CARNEIRO (Conselheiro do CES Portugal) COESÃO TERRITORIAL (NACIONAL E EUROPEIA) Maria João BOTELHO (Subdirectora-Geral da DG dos Assuntos Europeus, Ministério dos Negócios Estrangeiros) Debate 15h00 Panel 2 – Main Challenges to Social Cohesion Chair: Francisco VAN ZELLER (President of the Permanent Specialized Committee for Economic and Social Policies, ESC Portugal) ORGANISATION OF WORK, FAMILY AND SOCIETY Manuel CARVALHO DA SILVA (President of the Permanent Specialized Committee for Regional Development and Physical Planning, ESC Portugal) MIGRATIONS AND SOCIAL COHESION Roberto CARNEIRO (Member of ESC Portugal) TERRITORIAL COHESION (NATIONAL AND EUROPEAN) Maria João BOTELHO (Deputy Director-General of DG European Affairs, Ministry of Foreign Affairs, Portugal) Debate 16h45 Pausa 16h45 Coffee Break 17h00 Conclusões Moderador: Guilherme d’OLIVEIRA MARTINS (Presidente do Tribunal de Contas, Portugal) APRESENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES Isabel GUERRA (Conselheira do CES Portugal) 17h00 Conclusions Chair: Guilherme d’OLIVEIRA MARTINS (President of the Portuguese Court of Auditors) PRESENTATION OF THE CONCLUSIONS Isabel GUERRA (Member of ESC Portugal) 17h30 Sessão de Encerramento José António VIEIRA DA SILVA (Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Portugal) Emílio Rui VILAR (Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian) Alfredo BRUTO DA COSTA (Presidente do CES Portugal) Alexander VLADYCHENKO (Director-Geral da DG Coesão Social, Conselho da Europa) 17h30 Closing Session José António VIEIRA DA SILVA (Minister of Labour and Social Solidarity, Portugal) Emílio Rui VILAR (President of Calouste Gulbenkian Foundation) Alfredo BRUTO DA COSTA (President of ESC Portugal) Alexander VLADYCHENKO (Director-General of DG Social Cohesion, Council of Europe) 18h00 Fim da Conferência 18h00 End of Conference Roberto CARNEIRO Nasceu em Maio de 1947. Licenciado em Engenharia Química; Mestre em Economia da Educação; Doutor honoris causa em Educação pela Universidade de Londres – King’s College. Professor Associado da Universidade Católica Portuguesa; Presidente do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa e do Instituto de Ensino e Formação à Distância. Perito e consultor de múltiplas organizações internacionais (Banco Mundial, UNESCO, OCDE, Conselho da Europa, União Europeia); Membro da Comissão Internacional da UNESCO para a Educação no Século XXI; Presidente dos Painéis de Avaliação dos programas ESPRIT e INFO2000 na Comissão Europeia; Vice-Presidente do Fórum Europeu para a Sociedade da Informação; Vice-Presidente do Grupo de Reflexão Educação-Formação da Comissão Europeia. Actualmente, preside ao Conselho de Administração da Fundação Escola Portuguesa de Macau e ao Conselho Técnico-Científico da Casa Pia de Lisboa; dirige os Observatórios da Imigração (ACIME) e da Sociedade da Informação e do Conhecimento (UMIC). Membro do Conselho Económico e Social. Secretário de Estado da Educação (1980-81); Secretário de Estado da Administração Regional e Local (1981-83); Ministro da Educação (1987-91). Born in May 1947. Degree in Chemical Engineering; Masters in Education Economics; Doctor honoris causa in Education by the University of London – King’s College. Professor at Universidade Católica Portuguesa, Lisbon; President of the Centre of Lusophone People and Cultures’ Studies and of the Institute of Teaching and Training at a Distance. Expert and consultant of various international organizations (World Bank, UNESCO, OECD, Council of Europe and European Union); Member of the UNESCO International Committee for Education in the 21st Century; President of the Evaluation Panels of the programmes ESPRIT and INFO2000 at the European Commission; Deputy Chairman of the European Forum for the Information Society; Deputy Chairman of the Working Group on Education/Training of the European Commission. Currently, is Chairman of the Macau Portuguese School Foundation and of the Technical and Scientific Council of Casa Pia of Lisbon; Director of the Migrations Observatory (ACIME) and of the Information and Knowledge Society Observatory (UMIC). Member of the Economic and Social Council, Portugal. Secretary of State of Education (1980-81); Secretary of State of Regional and Local Administration (1981-83); Minister of Education (1987-91). Manuel CARVALHO DA SILVA Nasceu em Novembro de 1948. Curso Industrial de Montador Electricista; Licenciatura em Sociologia – Formação em Organização do Trabalho; Doutoramento em Sociologia (Julho de 2007). Presidente da Comissão Permanente Especializada do Ordenamento do Território e do Desenvol vimento Regional do Conselho Económico e Social, desde 2005. Secretário-Geral da CGTP-IN. Membro do Comité de Direcção da Confederação Europeia de Sindicatos; Membro do Comité Executivo da Confederação Europeia de Sindicatos; Membro do Comité do Diálogo Social (Comité Político); Membro do Conselho Consultivo da Universidade Aberta; Membro do Conselho Consultivo do Instituto da Educação e Psicologia da Universidade do Minho; Presidente da Assembleia-Geral do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas do Norte e Centro; Membro da Comissão de Trabalhadores da Electromecânica Portuguesa (PREH); Foi, várias vezes, delegado dos trabalhadores portugueses em conferências anuais da Organização Internacional do Trabalho (OIT); Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Born in November 1948. Industrial Electricity Training; Degree in Sociology – Specialisation in Organization of Work; Doctor in Sociology (July 2007). President of the Permanent Specialized Committee for Regional Development and Physical Planning, Economic and Social Council, Portugal, since 2005. Secretary-General of CGTP-IN. Member of the Steering Committee of the European Trade Union Confederation; Member of the Executive Committee of the European Trade Union Confederation; Member of the EU Committee for Social Dialogue (Political Committee); Member of the Advisory Board of Universidade Aberta of Lisbon; Member of the Advisory Board of the Education and Psychology Institute of the University of Minho; Chairman of the General Assembly of the North and Centre Electrical Workers Trade Union; Member of the Portuguese Electro-Mechanic Works Council (PREH); For several times was the Portuguese workers’ delegate to the annual conferences of the International Labour Organization (ILO); Researcher of the Centre for Social Studies of the University of Coimbra. Isabel GUERRA Nasceu em Fevereiro de 1948. Concluiu o Curso Superior de Serviço Social, pelo Instituto de Serviço Social, Lisboa, 1970. Licenciada em Sociologia pelo Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), 1981. Doutorada em Sociologia, pela Universidade François Rabelais, Tours, França, 1991. Em 2000 concluiu as Provas de Agregação no ISCTE. Professora Catedrática convidada na Universidade Católica Portuguesa; Lecciona na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e é docente no ISCTE. A experiência de investigação e de prestação de serviços tem sido realizada no âmbito do Centro de Estudos Territoriais (CET / ISCTE), do qual é membro da Direcção desde 1982. As suas áreas de trabalho são as questões urbanas e sociais, nomeadamente o planeamento, desenvolvimento social urbano, habitação social, estratégias de actores em contexto de mudança social, exclusão social, etc. Membro do Conselho Económico e Social. Born in February 1948. Social Services High Level Course, by the Social Services Institute, Lisbon, 1970. Graduated in Sociology by the Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Lisbon, 1981. Doctor in Sociology by the University François Rabelais, Tours, France, 1991. Associate Professor with Aggregation at ISCTE, 2000. Visiting Full Professor at Universidade Católica Portuguesa, Lisbon; Teaches in the Faculty of Social and Human Sciences and in ISCTE. Research experience at the Centre of Territorial Studies (CET / ISCTE), and member of its Board since 1982. Main working areas: urban and social issues, such as planning, social urban development, social housing, actors’ strategies in a context of social change, social exclusion, etc. Member of the Economic and Social Council, Portugal. Eduardo MARÇAL GRILO Nasceu em 1942, em Castelo Branco. Licenciado (1966) e doutorado (1973) em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, obteve o grau de “Master of Science in Applied Mechanics” pelo Imperial College – Universidade de Londres (1968). Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian desde Outubro de 2000 e vice-presidente e administrador-delegado da Partex Oil and Gas (Holdings) Corporation desde 16 de Julho de 2002. Trabalhou no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (1966-76); foi Director-Geral do Ensino Superior (1976-80); Consultor do Banco Mundial (1980-91); Presidente da Conferência Regular para os Problemas Universitários do Conselho da Europa (1983-84); Director do Serviço para a Cooperação da Fundação Calouste Gulbenkian (1989-95); Presidente do Conselho Nacional de Educação (1992-95); Ministro da Educação do XII Governo Constitucional (1995-99). Actualmente é membro do Magna Charta Universitatum Observatory e da Assembleia Geral da Fundação Internacional Yehudin Menuhin, bem como da Comissão Internacional do Conselho para a Acreditação do Ensino Superior. É ainda, desde 2004, membro do “European Forum on University-Based Research”, membro do Selection Board do Programa ERASMUS MUNDUS e do Conselho da Universidade das Nações Unidas. Born in 1942 in Castelo Branco, Portugal. Graduated (1966) and Doctor in Mechanical Engineering (1973) by Instituto Superior Técnico, Technical University of Lisbon; “Master of Science in Applied Mechanics” by the Imperial College – University of London (1968). Member of the Board of Calouste Gulbenkian Foundation since October 2000 and Vice Chairman and deputy member of the Board of the Partex Oil and Gas (Holdings) Corporation since 16 July 2002. Worked at the National Civil Engineering Laboratory (LNEC), Lisbon (1966-76); was Director-General of the Higher Education (1976-80), World Bank consultant (1980-91); Chairman of the Standing Conference on University Problems of the Council of Europe (1983-84); Director of the Cooperation Unit of Calouste Gulbenkian Foundation (1989-95); Chairman of the National Council for Education (1992-95); Minister of Education of the XII Constitutional Government (1995-99). Currently, is member of the Board of the Magna Charta Universitatum Observatory and of the General Assembly of the Yehudin Menuhin International Foundation; member of the International Commission of the Higher Education Accreditation Council. Since 2004, is also member of the “European Forum on University-Based Research”; member of the Selection Board of the Programme ERASMUS MUNDUS and of the Council of the United Nations University. Guilherme d’OLIVEIRA MARTINS Nasceu em Setembro de 1952. Licenciado e Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Actualmente é Presidente do Tribunal de Contas e Presidente do Centro Nacional de Cultura; Professor Catedrático Convidado na Universidade Lusíada; Auditor Geral da Assembleia da UEO – União Europeia Ocidental, desde Maio de 2008; Primeiro Vice-Presidente da EUROSAI, desde Junho de 2008; Presidente do Conselho de Prevenção da Corrupção (Setembro de 2008). Exerceu funções como Ministro da Presidência (2000-2002); Ministro das Finanças (2001-2002); Ministro da Educação (1999-2000); Secretário de Estado da Administração Educativa (1995-1999); Vice-Presidente da Comissão Nacional da UNESCO (1988-1994); Presidente da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (1985-1995); Assessor Político da Casa Civil do Presidente da República (1985-1991); Assistente da Faculdade de Direito de Lisboa (1977-1985); Secretário-Geral da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura; Presidente do Steering Committee do Conselho da Europa que elaborou a Convenção de Faro sobre o valor do Património Cultural na sociedade contemporânea (27 de Outubro de 2005). Born in September 1952. Graduated and Master in Law from the Law Faculty, University of Lisbon. Currently is President of the Court of Auditors of Portugal and President of the National Centre of Culture; Visiting Full Professor at Universidade Lusíada, Lisbon; General-Auditor of the West European Union Assembly – WEU (since May 2008); First Vice-President of EUROSAI (since June 2008); President of the Council for the Prevention of Corruption (September 2008). Minister of the Presidency (2000-2002); Minister of Finance (2001-2002); Minister of Education (1999-2000); Secretary of State of the Educative Administration (1995-1999); Vice-President of the UNESCO National Commission (1988-1994); Chairman of SEDES – Portuguese Association for Economic and Social Development (1985-1995); Political Advisor of the Civil House of the President of the Republic (1985-1991); Lecturer at the Law Faculty, University of Lisbon (1977-1985); Secretary-General of the Portuguese Commission of the European Foundation for Culture; President of the Steering Committee of the Council of Europe that drew the Faro Convention on the value of the Cultural Heritage on today’s society (27 October 2005). João PROENÇA Nasceu em Julho de 1947, Belmonte. Licenciado em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, 1970. Vice-Presidente do Conselho Económico e Social, desde Outubro de 2005. Secretário-Geral da União Geral de Trabalhadores – UGT, desde 1995; Investigador Auxiliar do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação – INETI, desde 1982. Deputado à Assembleia da República (1987-1995); Assistente Universitário no Instituto Superior Técnico (1970-1980); Membro eleito do Conselho Directivo do Laboratório de Física e Engenharia Nucleares (1975-1976); Coordenador do Secretariado de Informação do Plano Estratégico Nacional; Membro do Grupo que elaborou o Plano de Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Nacional; Chefe de Gabinete de quatro membros do Governo (1976-78); Membro do Comité Económico e Social da União Europeia (1986-1989). Membro da Direcção do Partido Socialista (1993-95); Presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa e Presidente da Mesa de quatro Congressos do Partido Socialista; Secretário-Geral do SINTAP (Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública) desde a sua fundação (1978-1993); Vice-Presidente (1991-2003) e Presidente (2003-2007) da Federação Internacional das Associações de Educação de Trabalhadores – FIAET. Born in July 1947, Belmonte, Portugal. Degree in Chemical Engineering from the Instituto Superior Técnico, Technical University of Lisbon, 1970. Deputy Chairman of the Economic and Social Council, Portugal, since 2005. Secretary-General of União Geral dos Trabalhadores – UGT, since 1995; Assistant Researcher at the National Institute of Engineering, Technology and Innovation – INETI, since 1982. Member of the Portuguese Parliament (1987-95); Lecture Assistant Professor at Instituto Superior Técnico (1970-80); elected Member of the Directive Council of Physics and Nuclear Engineering Laboratory (1975-76); Coordinator of the Information Secretariat of the National Strategic Plan; Member of the Group which drew the Technological Development Plan for the National Industry; Head of Cabinet of four Government members (1976-78), Member of the Economic and Social Committee of the European Union (1986-89). Member of the Board of the Socialist Party (1993-95); President of the Lisbon Metropolitan Area Federation and Presiding Officer of four Congresses of the Socialist Party; Secretary-General of SINTAP (Public Administration Workers’ Trade Union) since its foundation (1978-93); Vice-President (1991-2003) and President (2003-2007) of the International Federation of the Workers’ Education Associations – IFWEA. João SALGUEIRO Nasceu em Setembro de 1934. Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras da Universidade Técnica de Lisboa; Pós-Graduação em Economic Planning and National Accounts, pelo Institute of Social Studies, den Hagen, Holanda; Stanford Executive Program, Stanford University, EUA. Presidente da Associação Portuguesa de Bancos; Vice-Presidente do Conselho da Federação Bancária Europeia; Membro do Conselho Económico e Social. Presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (1996-99); Presidente do Conselho de Administração do Banco Nacional Ultramarino (1996-99); Presidente do Conselho de Administração do Banco de Fomento e Exterior (1983-92); Deputado e Presidente da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia da República (1983-85); Ministro de Estado e das Finanças e do Plano do VIII Governo Constitucional (1981-83); Presidente do Instituto de Investimento Estrangeiro (1981); Vice-Governador do Banco de Portugal (1974-75); Presidente da Junta de Investigação Científica e Tecnológica (1972-74); Subsecretário de Estado do Planeamento (1969-71); Director do Planeamento, Secretário Técnico da Presidência do Conselho (1965-69); Economista do Banco de Fomento Nacional (1959-63); Economista, Ministério do Trabalho (1957-59). Born in September 1934. Degree in Economics by the Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, of the Technical University of Lisbon; Post-Graduation in Economic Planning and National Accounts, by the Institute of Social Studies, den Hagen, The Netherlands; Stanford Executive Program, Stanford University, USA. President of the Portuguese Banking Association; Vice-President of the Council of the European Banking Federation; Member of the Economic and Social Council, Portugal. Chairman of the Board of Caixa Geral de Depósitos (1996-99); Chairman of the Board of Banco Nacional Ultramarino (1996-99); Chairman and CEO of Banco de Fomento e Exterior (1983-92); Member of Parliament and President of the Economy and Finance Commission of the Parliament (1983-85); Minister of State and of Finance and Planning of the VIII Constitutional Government (1981-1983); President of the Foreign Investment Institute (1981); Vice-Governor of Banco de Portugal (1974-75); Chairman of the National Council for Scientific and Technological Research (1972-74); Under-Secretary of State for Planning (1969-1971); Director of the Central Planning Department (1965-69); Economist, Research Department, Banco de Fomento Nacional (1959-63); Economist, Ministry of Labour (1957-59). Jorge SAMPAIO Nasceu em Lisboa, em Setembro de 1939. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1961. Em 1975 é nomeado Secretário de Estado da Cooperação Externa, no IV Governo Provisório; Membro da Comissão Europeia dos Direitos do Homem no Conselho da Europa (1979-84); Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista (1987/88), tendo assumido, em 1986/87, a responsabilidade das Relações Internacionais do PS; Secretário-Geral do Partido Socialista (1989-91); é designado, pela Assembleia da República, como membro do Conselho de Estado; Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1989-93). Presidente da República Portuguesa, eleito em Janeiro de 1996, cargo que ocupou por dois mandatos (1996-2006), tendo então tomado posse como Conselheiro de Estado, na sua qualidade de antigo Presidente da República. Enviado Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Luta contra a Tuberculose, desde 2006, Alto Representante para a Aliança das Civilizações nomeado, pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, desde 2007. Born in September 1939 in Lisbon, Portugal. Degree in Law from the Faculty of Law of Lisbon University, in 1961. In 1975 was appointed Secretary of State for External Cooperation in the IV Provisional Government; Member of the European Human Rights Commission of the Council of Europe (1979-84); Chairman of the Parliamentary Group of the Socialist Party (1987/88) and in 1986/87 headed the International Relations of the Socialist Party; Secretary-General of the Socialist Party (1989-91); was appointed, by the Parliament, member of the Council of State; Mayor of Lisbon (1989-93). President of the Portuguese Republic, elected in January 1996, and re-elected for the second term of office (1996-2006); member of the Council of State as a former President of the Republic. In 2006 was appointed as the UN Secretary General’s Special Envoy to Stop TB, and in 2007 was appointed by the UN Secretary-General, as the UN High Representative for the Alliance of Civilizations. Mario SEPI Nasceu em 1941, em Merano (Província de Bolzano), Itália. Licenciado em Direito pela Universidade de Roma, em 1966; tese em Política Internacional sobre “A Grécia e as grandes potências durante a Segunda Guerra Mundial”. Presidente do Comité Económico e Social Europeu, desde Outubro de 2008; Presidente do Grupo dos Trabalhadores (Grupo II) do Comité Económico e Social Europeu (2002-2008); Membro do Comité Económico e Social Europeu – Grupo II , desde 1995. Membro do departamento das Políticas Comunitárias da Confederação Italiana de Sindicatos (CISL), desde 2001; Director do Instituto Sindical para a Cooperação, no que se refere ao Desenvolvimento (ISCOS) (1995); Secretário Nacional da Federação Italiana dos Sindicatos de Metalomecânicos (FIM‑CISL), responsável pela política em matéria de convenções colectivas (1986-88); Participação na investigação do MIT sobre o futuro da indústria automóvel (1980-86); Perito do Comité Económico e Social da CEE para as relações com os países do Mediterrâneo e Membro efectivo do Comité dos Trabalhadores Migrantes e do Comité do Fundo Social Europeu da CEE (1969-74). Born in 1941 in Merano (Bolzano), Italy. Degree in Law, University of Rome, 1966; thesis on International Politics on “Greece and the great powers in the Second World War”. President of the European Economic and Social Committee, since October 2008; President of Group II, Employees’ Group (2002-2008); Member of the European Economic and Social Committee – Group II, since 1995. Member of the department of the European Community Policies of the Italian Confederation of Trade Unions (CISL), since 2001; Director of the Trade Union Institute for Cooperation regarding Development (ISCOS) (1995); National Secretary of the Italian Metalworkers’ Federations (FIM-CISL), responsible for contractual policy (1986-88); Contributor to MIT research on the future of the car industry (1980-86); Expert of the Economic and Social Committee of the EEC on relations with Mediterranean countries and Member of the EEC Committees for Migrant Workers and of the European Social Fund (1969-74). Maria João SILVEIRA BOTELHO Nasceu em Novembro de 1956, em Lisboa. Licenciada em Economia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – ISCTE, 1978. Subdirectora-Geral dos Assuntos Europeus, Ministério dos Negócios Estrangeiros, desde 2003; ponto focal na Comissão Nacional para a “Estratégia de Lisboa” e representante nacional no Comité da política comercial da UE. Directora de Serviços das Questões Económicas e Financeiras na Direcção-Geral dos Assuntos Comunitários (1998-2003); Chefe de Divisão na Direcção-Geral dos Assuntos Comunitários, Ministério dos Negócios Estrangeiros (1994-98); Técnica Superior da Direcção de Serviços das Questões Económicas e Financeiras da Direcção-Geral dos Assuntos Comunitários (1988-94); no Secretariado para a Integração Europeia responsável pela organização de seminários de informação e formação sobre as consequências da adesão de Portugal às Comunidades Europeias (1985-88); no Gabinete de ingresso no Ensino Superior, Ministério da Educação (1976-85). Born in November 1956, Lisbon, Portugal. Graduate in Economics by the Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – ISCTE, Lisbon, 1978. Deputy Director-General for European Affairs, Ministry for Foreign Affairs, since 2003; focal point in the National Commission for the “Lisbon Strategy” and national representative on the EU trade policy Committee. Head of Department for Economic and Financial Affairs in the Directorate-General for European Affairs (1998-2003); Head of Unit in the Directorate-General for European Affairs, Ministry for Foreign Affairs (1994-98); Desk-officer on the Unit of Economic and Financial Affairs in the Directorate-General for European Affairs, Ministry for Foreign Affairs (1988-94); Secretariat for European Integration, Ministry for Foreign Affairs, (1985-88); Cabinet of Accession to Higher Education, Ministry of Education (1976-85). Mário SOARES Nasceu em Lisboa, em Dezembro de 1924. Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Faculdade de Letras (1951), e em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1957). Quando do seu exílio em França, foi “Chargé de Cours” nas Universidades de Vincennes e da Sorbonne; Professor associado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha (Rennes) e professor catedrático convidado da Universidade de Coimbra. Membro da Resistência Republicana e Socialista, na década de 50, e fundador da Acção Socialista Portuguesa em 1964 e do Partido Socialista (PS) em Bad Münstereifel em 1973. Secretário-Geral do PS desde 1973 até 1986; participou nos I, II e III Governos Provisórios, como Ministro dos Negócios Estrangeiros, no IV Governo Provisório, como Ministro sem Pasta; participou em todas as legislaturas até ser eleito Presidente da República, em 1986. Primeiro-Ministro do I e do II Governos Constitucionais (1976-78); Liderou a Oposição (1978-83) e foi nomeado de novo (1983-1985) Primeiro-Ministro do IX Governo Constitucional; em Janeiro de 1986 tornou-se o primeiro Presidente civil eleito directamente pelo povo, na história portuguesa, tendo sido reeleito em 1991 para um segundo e último mandato de cinco anos. Born in December 1924, in Lisbon, Portugal. Graduated in Historical-Philosophical Sciences, in 1951, and in Law, in 1957, by the University of Lisbon. During his exile in France was “Chargé de Cours” at Vincennes University and at the Sorbonne; Associate Professor at the Faculty of Arts of Haute Bretagne (Rennes); Visiting Full Professor at the University of Coimbra. Member of the Republican and Socialist Resistance during the 1950s; founder of the Portuguese Socialist Action in 1964 and of the Portuguese Socialist Party (PS) in Bad Münstereifel in 1973. Secretary-General of the PS from 1973 to 1986; Minister of Foreign Affairs in the I, II and III Provisional Governments; Minister without Portfolio of IV Provisional Government; Deputy in all Legislative Assemblies until being elected President of the Republic in 1986. Prime-Minister of the I and II Constitutional Governments (1976-78); Led the Opposition (1978-83); was again re-elected Prime-Minister of the IX Constitutional Government (1983-85); in January 1986 became the first civilian President of the Republic of Portugal, and was re-elected in 1991 for a second 5 year-term. Jørgen SØNDERGAARD Nasceu em 1949. Mestre em Economia pela Universidade de Aarhus, 1974. Desde 1995, é Director Executivo do SFI – Centro Nacional para a Investigação Social da Dinamarca. Vice-Presidente do grupo de alto nível sobre coesão social do Conselho da Europa (2006-2007). Professor assistente e Professor associado no Instituto de Economia, Universidade de Aarhus (1974-85); Secretário-Geral do Conselho Económico Dinamarquês (1985-95); Secretário-Geral da Comissão de Segurança Social (1991-93). Presidente do comité de investigação sobre desemprego (1982-86); Presidente da Administração dos Conselhos de Investigação dinamarqueses (1999-2003); Membro da Comissão Governamental para a Reforma da Protecção Social (2003-2005); Presidente do Comité de preparação do plano de acção nacional de leitura (2005); Membro do grupo consultivo do Governo para a reforma da qualidade do sector público (2006-2007). Born in 1949. Masters in Economics from University of Aarhus, 1974. Since 1995, is Managing Director of SFI – the Danish National Centre for Social Research. Vice-Chairman of the Council of Europe’s high level task force on social cohesion (2006-2007). Assistant Professor and Associate Professor at the Institute of Economics, University of Aarhus (1974-85); Secretary-General to the Danish Economic Council (1985-95); Secretary-General to the Commission on Social Security (1991-93). Chairman of the research committee on unemployment research (1982-86); Chairman of the Board of the Danish Research Councils (1999-2003); Member of the Government’s Commission on Welfare Reform (2003-2005); Chairman of committee to prepare national action plan for reading (2005); Member of the Government’s advisory group on public sector quality reform (2006-2007). Françoise TULKENS Nasceu em Bruxelas, Bélgica. Estudou na Universidade de Louvaina. Doutorada em Direito; Grau em Criminologia; Prova de agregação em Direito. Concedido o doutoramento honoris causa pelas Universidades de Otava, Genebra e Limoges. Juíza do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos desde 1 de Novembro de 1998; Actualmente é Presidente da Segunda Secção do Tribunal. Antes de integrar o Tribunal, foi Professora na Universidade de Louvaina e em outras Universidades noutros países, nas áreas de direito criminal, direito criminal comparado e justiça juvenil; foi também directora de um programa interdisciplinar avançado em estudos de direitos humanos, no âmbito do qual deu um curso de sistemas nacionais, regionais e internacionais de protecção dos direitos humanos. Born in Brussels, Belgium. Studied at the University of Louvain. Doctorate in law; Degree in criminology; Higher education teaching certificate (agrégation) in law. Awarded the title of doctor honoris causa by the Universities of Ottawa, Geneva and Limoges. Judge of the European Court of Human Rights since 1 November 1998; currently is President of the Second Section of the Court. Before joining the Court, was a professor at the University of Louvain and in some Universities abroad in the fields of criminal law, comparative criminal law and juvenile justice; was also director of an interdisciplinary advanced programme in human rights studies within the framework of which she delivered a course on the national, regional and international systems of protection of human rights. Francisco VAN ZELLER Nasceu em Outubro de 1938. Licenciado em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, 1961. Presidente da Comissão Especializada Permanente de Política Económica e Social do Conselho Económico e Social, desde Outubro de 2005. Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa – CIP, desde Abril de 2002; Vice-Presidente da CIP (2001-2002); Director da CIP (1981-2001). Presidente da Direcção da Associação Portuguesa das Empresas Químicas – APEQ (1997-2001); Administrador da Ferro, Indústrias Químicas, Portugal, SA (1970-2001); Presidente da Induger, Energia e Serviços, SA (1992-2002); Presidente da Metal Portuguesa, SA, desde 1996. Born in October 1938. Graduated in Chemical Engineer by the Instituto Superior Técnico, Technical University of Lisbon, 1961. President of the Permanent Specialized Committee for Economic and Social Policies of the Economic and Social Council, Portugal, since October 2005. President of the Confederation of Portuguese Industry – CIP, since April 2002; Vice-President of CIP (2001-2002); Director of CIP (1981-2001). Chairman of the Board of Directors of the Portuguese Association of Chemical Enterprises – APEQ (1997-2001); Member of the Board of Directors of “Ferro, Indústrias Químicas, Portugal, SA” (1970-2001); Chairman of “Induger, Energia e Serviços, SA” (1992-2002); Chairman of “Metal Portuguesa, SA”, since 1996. Jérôme VIGNON Chegou à Comissão Europeia em 1985, tendo Economia como formação. Inicialmente foi membro do Gabinete de Jacques Delors, passando a Director do “Forward Studies Unit”, com a tarefa de reunir e difundir ideias sobre o futuro processo de integração da Europa. A participação em dois Livros Brancos da Comissão: em 1993 em “Emprego, Competitividade e Crescimento” e em 2002 em “Governança Europeia”, prepararam-no para a sua missão actual como Director da Protecção Social e Inclusão Social, na DG Emprego, Assuntos Sociais e Igualdade de Oportunidades. A Direcção-Geral pretende contribuir para a “modernização e melhoria da protecção social” e mais amplamente para a inclusão social ao nível europeu. Arrived in the European Commission in 1985, with an economic background. Initially a member of Jacques Delors Cabinet, became Director of the “Forward Studies Unit”, with the task of collecting and disseminating ideas on the future of the European integration process. The participation in two white papers of the Commission: in 1993 on “Employment, Competitiveness and Growth” and in 2002 on “European Governance” have prepared him for his present mission as Director for Social Protection and Social Inclusion within the DG Employment, Social Affairs and Equal Opportunities. The Directorate aims at contributing to the “modernisation and the improvement of social protection” and more widely to social inclusion at European level. Alexander VLADYCHENKO Nasceu em Donetsk, URSS, em 1948. Licenciado pela Universidade de Relações Internacionais de Moscovo, Faculdade de Ciência Política, 1971. Doutorado em Ciência Política, 1980. Grau diplomático – Ministro Extraordinário e Plenipotenciário (1991). Director-Geral da Direcção-Geral da Coesão Social do Conselho da Europa, desde 2004. Director da Direcção-Geral de Direitos Humanos do Conselho da Europa (2001-2003); Vice-Director do Departamento de Cooperação Pan Europeia, Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa (1998-2001); Ministro-Conselheiro da Embaixada da Federação Russa na Suiça (1992-98); Vice-Director do Departamento de Cooperação Pan Europeia, Ministério dos Negócios Estrangeiros da URSS/Federação Russa (1989-92); Conselheiro da Embaixada da URSS em Itália (1982-88). Born in Donetsk, USSR, in 1948. Graduated from the Moscow University of International Relations, Faculty of Political Sciences, 1971. Ph. D. in Political Sciences, 1980. Diplomatic grade – Minister Extraordinary and Plenipotentiary (1991). Director-General of the Directorate-General for Social Cohesion of the Council of Europe, since 2004. Director of the Directorate-General of Human Rights of the Council of Europe (2001-2003); Deputy Director of the Department of the Pan European Cooperation, Ministry of the Foreign Affairs of the Russian Federation (1998-2001); Minister-Counsellor of the Embassy of the Russian Federation in Switzerland (1992-98); Deputy Director of the Department of the Pan European Cooperation, Ministry of the Foreign Affairs of the USSR/Russian Federation (1989-92); Counsellor of the Embassy of the USSR in Italy (1982-88). PUBLICAÇÕES DO CES PUBLICATIONS OF ESC PORTUGAL Publicações do Conselho Económico e Social • A Democratização e a OIT, 1992 (esgotada) • Os Acordos de Concertação Social em Portugal, (volume I) – Estudos 1993 (esgotada) • Os Acordos de Concertação Social em Portugal, (volume II) – Textos 1993 (esgotada) • Pacto de Concertação Social no Sector Portuário, 1993 (esgotada) • O Conselho Económico e Social: Legislação, Constituição, Composição, 1993 (esgotada) • Regulamento Interno da Comissão Permanente de Concertação Social, 1993 (esgotada) • Reajustamento e Comportamento da Economia nos Países Industrializados: Uma Síntese, 1993 (esgotada) • Ambiente, Emprego e Desenvolvimento, 1994 (esgotada) • A Organização Internacional do Trabalho e a Encíclica Social do Papa João Paulo II – Centesimus Annus (volume I), 1994 (esgotada) • A Doutrina Social da Igreja Católica e o Mundo do Trabalho (volume II), 1994 (esgotada) • Trabalho, Culturas, Religiões, 1994 (esgotada) • Debate sobre o Livro Verde da Política Social Europeia, I – Conferências e Debates, 1994 (esgotada) • Debate sobre o Livro Verde da Política Social Europeia, II – Pareceres e Contributos, 1994 (esgotada) • Responsabilidade Familiar pelos Dependentes Idosos nos Países das Comunidades Europeias, 1994 (esgotada) • Textos em Homenagem à OIT, 1994 (esgotada) • Portugal, a Europa e as Migrações, 1995 (esgotada) • Les Conseils Economiques et Sociaux et Institutions Similaires (Données Comparatives), 1995 • Os Conselhos Económicos e Sociais e Instituições Similares (Elementos Comparativos), 1995 (esgotada) • The Economic and Social Council of Portugal, 1995 • Le Conseil Economique et Social du Portugal, 1995 • Os Regimes Privados de Reforma e a Política Governamental, 1995 • A Reforma dos Sistemas de Saúde. Análise Comparada de Sete Países da OCDE, 1995 (esgotada) • Acordo de Concertação Social de Curto Prazo, 1996 • Accord de Concertation Sociale a Court Terme, 1996 • Short-Term Social Dialogue Agreement, 1996 • Actas do IV Encontro Internacional dos Conselhos Económicos e Sociais e Instituições Similares, 1996 • Política de Família: Alguns Aspectos (Série “Documentos e Estudos Internos”), 1996 (esgotada) • Iniciativas de Desenvolvimento Local (Série “Documentos e Estudos Internos”), 1996 • Initiatives de Developpement Local (Serie “Documents et Études Internes”), 1996 • Local Development Initiatives (Serie “Documents and Internal Studies”), 1996 • Pareceres e Reuniões do Conselho Económico e Social (Série “Documentos e Estudos Internos”), 1996 • Informação e Consulta dos Trabalhadores nas Empresas ou Grupos de Empresas de Dimensão Comunitária – Um Modelo Negocial (Série “Documentos e Estudos Internos”), 1996 • Estudos sobre Conselhos Económicos e Sociais, 1996 • Participação dos Trabalhadores e Emigrantes no Capital das Empresas Privatizadas, 1996 • Crescimento, Competitividade e Emprego, 1996 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 1997 (Série “Pareceres e Relatórios”), 1996 • Portugal e a Cooperação Euromediterrânica: Relatório para a Cimeira Euromediterrânica de Paris (Série “Pareceres e Relatórios”), 1996 • O Emprego no Mundo 1995: Um Relatório do BIT, 1996 (esgotada) • O Conselho Económico e Social: Legislação e Composição (Série “Estudos e Documentos”), 1996 • Administração Consultiva em Portugal (incluindo legislação respeitante aos conselhos e comissões consultivas) (Série “Documentos e Estudos Internos”), 1996 (esgotada) • Administração Consultiva em Portugal (Série “Documentos e Estudos Internos”), 1996 (esgotada) • Acordo de Concertação Estratégica 1996/1999 (Série “Estudos e Documentos”), 1996 • A Responsabilidade Civil do Estado e demais Pessoas Colectivas Públicas (Série “Estudos e Documentos”), 1997 • Accord de Concertation Strategique 1996/1999 (Série “Estudos e Documentos”), 1997 • Strategic Social Pact 1996/1999 (Série “Estudos e Documentos”), 1997 • Actes de la IVème Rencontre International des Conseils Economiques et Sociaux et Institutions Similaires (Serie “Documents et Études Internes”), 1997 • Minutes of the IVth International Meeting of the Economic and Social Councils and Similar Institutions (Serie “Documents and Internal Studies”), 1997 • Colóquio “A Política das Cidades” (Série “Estudos e Documentos”), 1997 • Parecer sobre a Política das Cidades (Série “Pareceres e Relatórios”), 1997 • Parecer sobre as Implicações para Portugal do Alargamento da UE (Série “Pareceres e Relatórios”), 1997 • Parecer sobre a Globalização – Implicações para o Desenvolvimento Sustentável (Série “Pareceres e Relatórios”), 1997 • Pareceres sobre o Rendimento Mínimo Garantido (Série “Pareceres e Relatórios”), 1997 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 1998 (Série “Pareceres e Relatórios”), 1997 • Problemas Actuais da Política Económica Portuguesa: Crescimento, Desemprego, Participação na União Económica e Monetária (Série “Estudos e Documentos”), 1997 (esgotada) • Criação, Desenvolvimento da PMEs e Cooperação entre Empresas no Mediterrâneo – Relatório apresentado na 3.ª Cimeira Económica e Social Euromediterrânea (Série “Estudos e Documentos”), 1997 • Parecer sobre a Proposta de Criação de Uma Empresa Pública Florestal (Série “Pareceres e Relatórios”), 1997 • Globalização: Documentos de Suporte ao Parecer “Globalização – Implicações para o Desenvolvimento Sustentável” (Série “Estudos e Documentos”), 1998 • Seminário “Flexibilidade e Relações de Trabalho” (Série “Estudos e Documentos”), 1998 • Parecer sobre a Execução em 1996 do Quadro Comunitário de Apoio 1994/99 (Série “Pareceres e Relatórios”), 1998 • Relatório de Actividades 1997 (Série “Pareceres e Relatórios”), 1998 • Colóquio “A Política da Habitação” (Série “Estudos e Documentos”), 1998 • Colóquio “O Plano Nacional de Emprego” (Série “Estudos e Documentos”), 1998 • Parecer sobre a Agenda 2000 da União Europeia e Portugal (Série “Pareceres e Relatórios”), 1998 • Colóquio “Agenda 2000 da UE: as suas implicações para Portugal” (Série “Estudos e Documentos”), 1998 • Debate sobre a “Administração e Justiça do Trabalho” (Série “Estudos e Documentos”), 1998 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 1999 (Série “Pareceres e Relatórios”), 1998 • Colóquio “A Globalização e a Economia Portuguesa” (Série “Estudos e Documentos”), 1999 • IV Cimeira Euromediterrânea dos Conselhos Económicos e Sociais e Instituições Similares: Declaração Final e Discursos (Série “Estudos e Documentos”), 1999 • Parecer sobre o Relatório de Execução Anual do QCA II em 1997 (Série “Pareceres e Relatórios”), 1999 • Contributo do Comércio Externo para o Crescimento Económico Português, 1960-1993 (Série “Estudos e Documentos”), 1999 • Capital Humano e Capacidade de Inovação: Contributos para o Crescimento Económico Português 1960-1991 (Série “Estudos e Documentos”), 1999 • A Componente Ambiental no Ordenamento do Território (Série “Estudos e Documentos”), 1999 • Parecer sobre o Plano Nacional de Desenvolvimento Económico e Social - PNDES (Série “Pareceres e Relatórios”), 1999 • Relatório de Actividades 1998 (Série “Pareceres e Relatórios”), 1999 • Colóquio “Ambiente, Economia e Sociedade” (Série “Estudos e Documentos”), 1999 • Colóquio “A Justiça em Portugal” (Série “Estudos e Documentos”), 1999 • Parecer sobre o Plano de Desenvolvimento Regional – PDR (Série “Pareceres e Relatórios”), 1999 • Propriedade e Agricultura: Evolução do Modelo Dominante de Sindicalismo Agrário em Portugal (Série “Estudos e Documentos”), 1999 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2000 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2000 • Colóquio Internacional “Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens, no Trabalho, no Emprego e na Formação Profissional” (Série “Estudos e Documentos”), 2000 • Parecer sobre o Relatório de Execução Anual do QCA II em 1998 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2000 • Emprego, Reforma Económica e Coesão Social: para uma Europa da Inovação e do Conhecimento (Série “Estudos e Documentos”), 2000 • Relatório de Actividades 1999 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2000 • A Pobreza em Portugal na Década de Oitenta (Série “Estudos e Documentos”), 2000 • Mesa Redonda sobre a Conferência Intergovernamental (CIG) (Série “Estudos e Documentos”), 2000 • Acordo sobre Política de Emprego, Mercado de Trabalho, Educação e Formação (Série “Estudos e Documentos”), 2001 • Acordo sobre Condições de Trabalho, Higiene e Segurança no Trabalho e Combate à Sinistralidade (Série “Estudos e Documentos”), 2001 • Agreement on Employment Policy, the Labour Market, and Education and Training (Serie “Studies and Documents”), 2001 • Agreement on Working Conditions, Work Hygiene, and Safety, and Work Accident Prevention (Serie “Studies and Documents”), 2001 • Seminário sobre Produtividade (Série “Estudos e Documentos”), 2001 • Mesa Redonda A Concorrência e os Consumidores (Série “Estudos e Documentos”), 2001 • Parecer sobre a Política de Defesa da Concorrência (Série “Pareceres e Relatórios”), 2001 • Relatório de Actividades - 2000 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2001 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2002 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2001 • Concertação Social – Modernização da Protecção Social (Série “Estudos e Documentos”), 2001 • Social Dialogue – Modernization of Social Protection (Serie “Studies and Documents”), 2001 • Concertation Sociale – Modernisation de la Protection Sociale (Serie “Études et Documents”), 2001 • Relatório de Actividades – 2001 (Série Pareceres e Relatórios), 2002 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2003 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2002 • Seminário A Responsabilidade Social das Empresas (Série “Estudos e Documentos”), 2003 • Mesa Redonda Coesão e Convergência no âmbito da UE (Série “Estudos e Documentos”), 2003 • Mesa Redonda A Competitividade da Economia Portuguesa (Série “Estudos e Documentos”), 2003 • Parecer sobre as Grandes Opções para a Política Económica e Social (Série “Pareceres e Relatórios”), 2003 • Mesa Redonda Grandes Opções da Política Económica e Social (Série “Estudos e Documentos”), 2003 • Parecer de Iniciativa sobre a Responsabilidade Social das Empresas (Série “Pareceres e Relatórios”), 2003 (esgotada) • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2004 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2003 • Parecer de Iniciativa sobre a Estratégia de Lisboa (Série “Pareceres e Relatórios”), 2005 • Relatório de Actividades 2004 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2005 • Parecer de Iniciativa sobre as Grandes Opções do Plano e Estratégia de Desenvolvimento e Parecer sobre as Grandes Opções do Plano para 2005-2009 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2005 • O Futuro da Europa (Estudo) (Série “Estudos e Documentos”), 2005 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano: Principais Linhas de Acção para 2007 (Série “Pareceres e Relatórios”), 2006 • Os Serviços de Interesse Económico Geral (Estudos sectoriais) (Série “Estudos e Documentos”), 2006 • Imigração, Desenvolvimento e Coesão Social em Portugal: Parecer face ao Anteprojecto de Proposta de Lei que regula as Condições de Entrada, Permanência, Saída e Afastamento de Estrangeiros do Território Português (Série “Pareceres e Relatórios”), 2006 Unicamente disponíveis (em PDF) em www.ces.pt • Acordo Bilateral visando a Dinamização da Contratação Colectiva, 2005 • Acordo Bilateral sobre Formação Profissional, 2006 • Acordo sobre as Linhas Estratégicas de Reforma da Segurança Social, 2006 • Acordo para a Reforma da Formação Profissional, 2007 • Acordo sobre a Reforma da Segurança Social, 2006 • Acordo sobre a Fixação e Evolução da Remuneração Mínima Mensal Garantida (RMMG), 2006 • Acordo Tripartido para um novo Sistema de Regulação das Relações Laborais, das Políticas de Emprego e da Protecção Social em Portugal, 2008 • O Mar e as Políticas Marítimas (Documento), 2008 • Parecer Conjunto CNADS-CES sobre Organismos Geneticamente Modificados. (+ anexo I, anexo II e anexo III), 2000 • Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2005, 2007 • Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2006, 2007 • Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2007, 2008 • Parecer sobre o Envolvimento dos Trabalhadores na Associação Europeia, 2003 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2001, 2000 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano 2005, 2004 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano para 2008, 2007 • Parecer sobre as Grandes Opções do Plano para 2009, 2008 • Parecer de Iniciativa sobre Pessoas com Deficiência: Mobilidade, Educação e Trabalho, 2008 • Parecer de Iniciativa sobre os Serviços de Interesse Geral, 2006 • Parecer sobre o PNAI 2006-2008 (Plano Nacional de Acção para a Inclusão 2006-2008), 2007 • Parecer sobre o Plano Nacional de Acção para a Inclusão 2008-2010, 2008 • Parecer sobre o PNPOT, 2007 • Parecer sobre a Proposta de Lei nº 247/X – Iniciativa para o Investimento e o Emprego, 2009 • Parecer sobre a Proposta de Lei sobre o Orçamento do Estado para 2009, 2008 • Parecer sobre o QREN-Quadro de Referência Estratégico Nacional 2007-2013, 2006 • Parecer sobre o QREN-Quadro de Referência Estratégico Nacional 2007-2013 – Programas Operacionais, 2007 • Relatório de Actividades 2002, 2003 • Relatório de Actividades 2003, 2004 • Relatório de Actividades 2005, 2006 • Relatório de Actividades 2006, 2007 • Relatório de Actividades 2007, 2008 • Report on Combating Poverty in the EuroMed Countries, 2006 • Os Serviços de Interesse Geral (Parte II – Transportes), 2008