Vol. 37, n.º 2 Março / Abril 2006 EDITORIAL Daniel Virella XXI ARTIGOS DE OPINIÃO REFLEXÕES SOBRE ONCOLOGIA PEDIÁTRICA Mário Chagas, Lucília Norton, Rui Batista XXII REFLEXÕES SOBRE O PROGRAMA DE FORMAÇÃO PÓS-GRADUADA EM PEDIATRIA MÉDICA João M. Videira Amaral XXV A PEDIATRIA DO NOVO MILÉNIO E OS CUIDADOS DE SAÚDE À CRIANÇA E ADOLESCENTE Alberto Caldas Afonso XXVII QUE FUTURO PARA OS CUIDADOS À CRIANÇA? Jorge Amil Dias XXVIII ARTIGOS ORIGINAIS AVALIAÇÃO PROSPECTIVA DA MORTALIDADE E MORBILIDADE NUMA UNIDADE DE CUIDADOS INTENSIVOS EM CRIANÇAS TRAUMATIZADAS Paulo Oom 37 HÁBITOS DE ADOLESCENTE. ESTUDO SOBRE A OCUPAÇÃO DOS SEUS TEMPOS LIVRES E CONSUMOS Margarida Henriques, Maria Manuel Zarcos, Rui Passadouro, Belarmino Spencer 42 NEUROCISTICERCOSE EM IDADE PEDIÁTRICA Manuela Ferreira, Maria João Brito, José Pedro Vieira, Ana Bárbara Salgueiro, Maria Céu Machado 48 CASOS CLÍNICOS QUANDO A ESPONJA APETECE… UM CASO DE PICA Marta João Silva, Felisbela Rocha, Ana Corina Rodrigues, Maria do Céu Ribeiro, Sónia Carvalho, Paula Fonseca, Fernanda Carvalho, Maria Teresa Graça 56 CRYPTOSPORIDIUM – DE ONDE TERÁ VINDO? AP Fernandes, S Tavares, D Antunes, JM Correia da Costa 59 PANENCEFALITE ESCLEROSANTE SUBAGUDA: DE NOVO UMA VELHA DOENÇA Susana Pinto, M M Campos, M Teresa Lavandeira Pimenta 62 ARTIGOS DE ACTUALIZAÇÃO RICKETTSIA AKARI: VARICELA OU TALVEZ NÃO Cláudia Ferraz, Georgeta Oliveira, Fátima Bacelar, Armanda Dulce Raínho 65 QUILOTÓRAX NO FETO E NO RECÉM-NASCIDO. ESTADO DA ARTE Gustavo Rocha, Gabriela Mimoso, Israel Macedo, Hercília Guimarães 69 EDUCAÇÃO MÉDICA O TRABALHO DO INTERNO DE PEDIATRIA E AS OPORTUNIDADES DE APRENDIZAGEM João M. Videira Amaral 73 COMENTÁRIO OS INTERESSES COMERCIAIS PODEM SER O PRINCIPAL CONDICIONANTE DOS COMPONENTES DO LEITE PARA LACTENTES António José Guerra 76 CARTAS AO DIRECTOR 78 COMUNICADO DA COMISSÃO NACIONAL DA SAÚDE MATERNA E NEONATAL – CNSMNN A POPULAÇÃO MOBILIZADA PARA AS MANIFESTAÇÕES CONTRA O ENCERRAMENTO DOS BLOCOS DE PARTOS FÊ-LO COM A INFORMAÇÃO ADEQUADA? Comissão Nacional da Saúde Materna e Neonatal – CNSMNN NOTÍCIAS NORMAS DE PUBLICAÇÃO 80 XXXI XXXIII ISSN 0873-9781 ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA Vol 37 Nº 2 Março – Abril 2006 (Orgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Pediatria) www.spp.pt [email protected] Fundador Carlos Salazar de Sousa Corpo Editorial (triénio 2005-2007) Director João M. Videira Amaral Director Adjunto Álvaro de Aguiar Editores Associados Jorge Saraiva, Jorge Amil Dias, Luís Pereira da Silva Coordenador de Edição Daniel Virella Conselho Editorial João Gomes-Pedro • Maria do Carmo Vale • Graça Rocha • Helena Fonseca • Hercília Guimarães Eulália Calado • Libério Ribeiro • Eunice Trindade • Helena Porfírio • Rosa Gouveia • Sílvia Álvares Lucília Norton • Helena Jardim • Luísa Guedes Vaz • Paolo Casella • Manuel Fontoura Directores/Editores ex-officio (Revista Portuguesa de Pediatria e Acta Pediátrica Portuguesa) Carlos Salazar de Sousa • Maria de Lourdes Levy • Mário Cordeiro • Nuno Cordeiro Ferreira Jaime Salazar de Sousa • Norberto Teixeira Santos • João Gomes-Pedro Presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria Gonçalo Cordeiro Ferreira Objectivos da APP: A APP é uma revista científica funcionando na modalidade de revisão prévia dos textos submetidos ao corpo editorial por colegas peritos em anonimato mútuo (peer review). É dirigida essencialmente a pediatras (vertente médico-cirúrgica) e a médicos em formação pós-graduada, podendo os respectivos conteúdos interessar a outros médicos e profissionais devotados à saúde da criança e adolescente inseridos no respectivo meio familiar e social. A APP pretende abranger um vasto leque de temas sobre actualização em pediatria, prática clínica, pediatria social, investigação, educação médica, controvérsias, normas de actuação, etc. Nesta perspectiva são adoptadas diversas modalidades de divulgação: editoriais, artigos originais, artigos de actualização em pediatria, resumos de apresentações em eventos científicos, notícias de reuniões, e espaço aberto a organismos devotados à criança e ao adolescente. A revista científica Acta Pediátrica Portuguesa (APP) (ISSN 0873-9781), que se sucede à Revista Portuguesa de Pediatria e Puericultura e à Revista Portuguesa de Pediatria, é propriedade da Sociedade Portuguesa de Pediatria com responsabilidade administrativa da respectiva Direcção. A publicação é bimestral com todos os direitos reservados. A coordenação dos conteúdos científicos é da responsabilidade do corpo editorial da APP (Director e Director Adjunto, Editores Associados, Coordenador de Edição e Conselho Editorial). Os textos publicados, não reflectindo necessariamente a política da SPP, são da responsabilidade dos seus autores. 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Rua Comandante Oliveira e Carmo, 18-C, Cova da Piedade, 2805-212 Almada – Telef.: 212 744 607 – Fax: 212 743 190 – e-mail: [email protected] • Tiragem: 3000 Exemplares • Correspondência: Sociedade Portuguesa de Pediatria – Rua Amilcar Cabral, 15, r/c I – 1750-018 Lisboa Parcerias: Danone • Merck Sharp & Dohme • Milupa Portuguesa • Nestlé Portugal • Schering-Plough XVII A Direcção da Sociedade recomenda a utilização do espaço virtual da S.P.P. na Internet, que poderá ser acedido através do endereço www.spp.pt Este projecto existente on-line desde 1997, foi desenvolvido com o intuito de tornar acessível a todos os membros da comunidade pediátrica um conjunto de informações detalhadas e permanentemente actualizadas. As áreas de consulta actualmente defenidas são: www.spp.pt Apresentação institucional da SPP www.spp.pt/ app Edição virtual da Acta Pediátrica Portuguesa com total renovação bimestral www.spp.pt/ agenda Agenda de todos os eventos pediátricos, nacionais e internacionais, para os próximos 12 meses de que a S.P.P. tem conhecimento. Referência ainda aos eventos dos últimos 3 meses e aos posteriores ao ano calendarizado. www.spp.pt/ base Base de dados de resumos de trabalhos na área pediátrica desde 1998, organizada de forma acessível e pesquisável através de Motor de Busca, www.spp.pt/ biblioteca Levantamento e listagem dos títulos existente na Biblioteca tradicional da S.P.P. e que poderão ser consultados na sua Sede. www.spp.pt/ seccoes Informação detalhada sobre cada uma das Secções da S.P.P., já referenciadas na área institucional. Comporta informação específica para profissionais e distinta para não-profissionais. www.spp.pt/ tecnoped Área de informação geral, técnica para pediatras, com a inclusão de legislação, formatos de candidaturas, estatutos e muito mais, que complementará a já fornecida por cada uma das Secções da S.P.P. ÍNDICE ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA EDITORIAL Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXI ARTIGOS DE OPINIÃO Reflexões sobre Oncologia Pediátrica Mário Chagas, Lucília Norton, Rui Batista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXII O programa de formação pós-graduada em Pediatria Médica João M. Videira Amaral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXV A Pediatria do novo Milénio e os cuidados de saúde à criança e adolescente Alberto Caldas Afonso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXVII Que futuro para os cuidados à criança? Jorge Amil Dias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXVIII ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação prospectiva da mortalidade e morbilidade numa unidade de cuidados intensivos em crianças traumatizadas Paulo Oom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Hábitos de Adolescente. Estudo sobre a ocupação dos seus tempos livres e consumos Margarida Henriques, Maria Manuel Zarcos, Rui Passadouro, Belarmino Spencer. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Neurocisticercose em idade pediátrica Manuela Ferreira, Maria João Brito, José Pedro Vieira, Ana Bárbara Salgueiro, Maria Céu Machado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CASOS CLÍNICOS Quando a esponja apetece… um caso de pica Marta João Silva, Felisbela Rocha, Ana Corina Rodrigues, Maria do Céu Ribeiro, Sónia Carvalho, Paula Fonseca, Fernanda Carvalho, Maria Teresa Graça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cryptosporidium – de onde terá vindo? AP Fernandes, S Tavares, D Antunes, JM Correia da Costa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Panencefalite esclerosante subaguda: de novo uma velha doença Susana Pinto, M. M. Campos, M. Teresa Lavandeira Pimenta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ARTIGOS DE ACTUALIZAÇÃO Rickettsia akari: Varicela ou talvez não Cláudia Ferraz, Georgeta Oliveira, Fátima Bacelar, Armanda Dulce Raínho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quilotórax no feto e no recém-nascido. Estado da arte Gustavo Rocha, Gabriela Mimoso, Israel Macedo, Hercília Guimarães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 42 48 56 59 62 65 69 EDUCAÇÃO MÉDICA O trabalho do Interno de Pediatria e as oportunidades de aprendizagem João M. Videira Amaral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 associa COMENTÁRIO Os interesses comerciais podem ser o principal condicionante dos componentes do leite para lactentes António José Guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Disponibilização de espaço e meios para representação virtual de cada uma das associações "amigas da criança" existentes no nosso país. CARTAS AO DIRECTOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 COMUNICADO DA COMISSÃO NACIONAL DA SAÚDE MATERNA E NEONATAL – CNSMNN A população mobilizada para as manifestações contra o encerramento dos Blocos de Parto fê-lo com a informação adequada? Comissão Nacional da Saúde Materna e Neonatal – CNSMNN. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 www.spp.pt/ pais Área de informação mais específica para os pais, com referências a legislação contactos úteis e informações práticas, idealizada de modo a fornecer informação mais apropriada e certificada, muito frequentemente solicitada. www.spp.pt/ www.spp.pt/ uvp Área da Unidade de Vigilância Pediátrica da S.P.P., onde pode consultar tudo sobre a Unidade e os estudos específicos em curso. www.spp.pt/ socios Novas inscrições e actualização da inscrição na S.P.P. ou assinatura da APP Ficamos a aguardar a vossa visita, esperando que possam usufruir de todo o investimento feito de um modo rápido e confortável, esperando fazer deste espaço um ponto de encontro e referência para todos os Pediatras. NOTÍCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXXI NORMAS DE PUBLICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXXIII À vossa disposição… sempre! XIX CONTENTS 0873-9781/06/37-2/XXI Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ACTA PEDIÁTRICA PORTUGUESA EDITORIAL Daniel Virella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXI OPINION Thoughts about Pediatric Oncology Mário Chagas, Lucília Norton, Rui Batista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXII Thoughts on the post graduate pediatric training João M. Videira Amaral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXV Paediatrics in the new Millenium: healthcare for children and adolescents Alberto Caldas Afonso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXVII What future for children health care? Jorge Amil Dias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXVIII A Acta Pediátrica Portuguesa continua empenhada no projecto de se tornar uma publicação nacional credível nos âmbitos abrangidos pelo seu estatuto editorial, ocupando um espaço de formação e debate clínico, científico, ético, pedagógico e de políticas de saúde. ORIGINAL ARTICLES Prospective evaluation of mortality and morbidity in traumatized children admitted to a paediatric intensive care unit Paulo Oom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Adolescent Habits. Study of their spare time and risky behaviors Margarida Henriques, Maria Manuel Zarcos, Rui Passadouro, Belarmino Spencer. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Neurocysticercosis in pediatric age Manuela Ferreira, Maria João Brito, José Pedro Vieira, Ana Bárbara, Maria Céu Machado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Dois interessantes artigos do Professor João Videira Amaral reflectem sobre as necessidades actuais e o futuro imediato dos internatos de pediatria. Um grupo de ilustres oncologistas pediátricos reflecte em conjunto sobre a actualidade dos cuidados oncológicos às crianças portuguesas e a necessidade da formação específica nesta área. O Professor Caldas Afonso e o Dr. Jorge Amil Dias partilham connosco as suas perspectivas sobre a organização dos cuidados às crianças e adolescentes, num interessante confronto de ideias. Por fim, publicamos um importante comunicado da Comissão Nacional da Saúde Materna e Neonatal, explicando a sua posição sobre a necessidade de reestruturar a rede de apoio perinatal. Este assunto, particularmente candente no País nestas últimas semanas, suscitou uma Carta ao Director do Dr. António Levy, dirigida à Direcção da Sociedade Portuguesa de Pediatria, respondida pela Direcção da Secção de Neonatologia. CASE REPORTS Pica for sponge: a case report Marta João Silva, Felisbela Rocha, Ana Corina Rodrigues, Maria do Céu Ribeiro, Sónia Carvalho, Paula Fonseca, Fernanda Carvalho, Maria Teresa Graça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cryptosporidium – where did it come from? AP Fernandes, S Tavares, D Antunes, JM Correia da Costa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Subacute sclerosing panencephalitis: again an old disease Susana Pinto, M. M. Campos, M. Teresa Lavandeira Pimenta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REVIEWS Rickettsia akari: It may not be chickenpox Cláudia Ferraz, Georgeta Oliveira, Fátima Bacelar, Armanda Dulce Raínho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Chylothorax in the fetus and the newborn. State of the art Gustavo Rocha, Gabriela Mimoso, Israel Macedo, Hercília Guimarães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . EDITORIAL 37 42 48 56 59 62 Neste segundo número de 2006, chamamos a atenção para duas áreas de debate muito actual: a formação pediátrica e a política de saúde infantil e perinatal em Portugal. Mas também de matéria clínica vive a Acta Pediátrica Portuguesa e os seus leitores. Neste número estão incluídos sete artigos, todos muito interessantes na sua diversidade. Dos hábitos dos adolescentes à avaliação prognóstica das crianças e adolescentes internados em cuidados intensivos, passando pela análise de casos e casuísticas tão peculiares como formativas, muito podemos encontrar nesta edição. Destaque ainda para dois úteis artigos de actualização. Uma última palavra para a profunda reflexão ética do Professor António Guerra sobre a influência dos interesses da indústria nas actividades regulamentadoras, neste caso da Comissão Europeia. Esperamos que este número da Acta Pediátrica Portuguesa capte a atenção dos leitores, a exemplo do anterior (agradecemos as muitas reacções positivas que nos chegaram “de aquém e além-mar”), que desperte a continuação de um produtivo e útil debate, que também passe pelas nossas páginas e sejam sentidas como propriedade de toda a Pediatria portuguesa. Podemos desde já prometer que o próximo número irá ser tão ou mais interessante! Daniel Virella Coordenador de Edição 65 69 MEDICAL EDUCATION The residents’ hours of work and the opportunities for apprenticeship João M. Videira Amaral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 COMMENT Commercial interests may be the strongest driver of what goes into formula milk António José Guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 LETTERS TO THE DIRECTOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 STATEMENT OF NATIONAL COMMISSION OF MATERNAL AND NEONATAL HEALTH – CNSMNN Did the people that participated on demonstrations against the closure of delivery rooms have the proper information? National Commission of Maternal and Neonatal Health – CNSMNN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 NEWS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXXI GUIDELINES FOR THE AUTHORS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXXIII XX Correspondência: Daniel Virella Acta Pediátrica Portuguesa Coordenador de Edição E-mail: [email protected] XXI Acta Pediatr Port 2006:2(37):XXII-IV 0873-9781/06/37-2/XXII Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO DE OPINIÃO Os Problemas Coloca-se então a questão de saber se as actuais UOP têm meios para fazer face a estes desafios. Reflexões sobre Oncologia Pediátrica Uma breve descrição dos Serviços permite perceber alguma heterogeneidade. Assim, no Serviço de Pediatria do Centro Regional do Porto do IPOFG, as instalações são modernas e adequadas às necessidades actuais – há 23 camas, cerca de 100 doentes novos por ano, e a taxa de ocupação é de 75% a 80% – qualidades estas reconhecidas de resto, pela certificação conferida pela King’s Fund. Mário Chagas1, Lucília Norton2, Rui Batista3 1 - Serviço de Pediatria do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, de Lisboa. 2 - Serviço de Pediatria do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, do Porto. 3 - Hospital Pediátrico, Coimbra. Introdução Este artigo tem por objectivo analisar a situação actual da subespecialidade de Oncologia Pediátrica no nosso País e reflectir sobre o seu futuro, tanto no âmbito assistencial, como no formativo. Destina-se a todos os leitores da Acta Pediátrica Portuguesa e, muito especialmente, aos que têm responsabilidades docentes e de planificação dos cuidados de saúde em Pediatria. O Presente Anualmente, adoecem com cancro, em Portugal, entre 250 e 300 crianças dos 0 aos 15 anos de idade. As Leucemias Agudas e os Tumores do Sistema Nervoso Central representam mais de metade dos casos. Os Linfomas, os Tumores da Crista Neural, o Tumor de Wilms, os Sarcomas das Partes Moles e do Osso e uma miríade de outros tumores representam os restantes casos. De acordo com normas internacionais, estas crianças devem ser tratadas em Unidades de Oncologia Pediátrica (UOP) que terão de obedecer a vários pressupostos, entre os quais dispor de meios de diagnóstico e de estadiamento adequados, participar em protocolos de tratamento multicentricos, e garantir o suporte do doente nos efeitos adversos do tratamento. Só desta forma se consegue maximizar a probabilidade de cura de doenças que estão longe de ser frequentes. Embora no nosso País a sub-especialidade de Oncologia Pediátrica tenha sido criada muito recentemente, desde há mais de vinte anos que as crianças com doença oncológica são referenciadas para um número limitado de Serviços de Pediatria, que foram assim adquirindo competência nesta área. Existem, actualmente, três UOP: duas localizadas nos Centros Regionais de Lisboa e do Porto do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil (IPOFG) e uma em Coimbra, no Hospital Pediátrico, que servem, respectivamente, a Zona Sul e Regiões Autónomas, a Zona Norte, e a Zona Centro do País. É para estas UOP que convergem as crianças com cancro do nosso País. As curvas de sobrevivência destes doentes, quando adequadamente referenciados, são semelhantes às referidas na literatura internacional, já que os protocolos de diagnóstico e terapêutica são comuns 1,2. Convém lembrar que, fruto dos progressos no diagnóstico, no tratamento, e no suporte dos doentes, a probabilidade de cura é hoje de 75 a 80% para alguns tipos de cancro como as Leucemias e os Linfomas 3. De qualquer forma, e apesar dos progressos das últimas décadas, o cancro em Pediatria continua a ter um forte impacte na sociedade, já que é a segunda causa de morte após o 1º ano de vida, logo depois dos acidentes. O Futuro A incidência de cancro em Pediatria tem vindo a aumentar conforme demonstram vários estudos que incidem num universo significativo, variando o aumento anual entre 0,6% e 1,1%, consoante as estatísticas 4. Sem nos debruçarmos sobre as suas causas, é forçoso concluir que as UOP terão, no futuro, um papel cada vez mais relevante na saúde infantil portuguesa. Por outro lado, é desejável que as UOP alarguem a sua acção ao grupo etário da adolescência. Na verdade, é consensual a noção de que é em Serviços de Pediatria, devidamente adaptados, que devem ser tratados os adolescentes. Igualmente, é universalmente reconhecido que, em Oncologia, os resultados são superiores quando os doentes são tratados em protocolos cooperativos, como é característico das UOP. Considerando que, de acordo com o recenseamento da população portuguesa de 2001, há cerca de 700 000 adolescentes entre os 15 e os 19 anos, e que a incidência de cancro neste grupo etário é superior ao da criança, e próxima dos 200 casos novos por milhão e por ano, poderemos esperar a admissão suplementar anual de cerca de 140 novos doentes adolescentes nas actuais UOP. Convém frisar, também, que este número irá crescer rapidamente, já que a incidência de cancro no adolescente está igualmente a aumentar 5,6, admitindo-se que o crescimento seja muito significativo para alguns tumores como, por exemplo, o melanoma 7,8. Correspondência: Mário Chagas Instituto Português de Oncologia de Lisboa de Francisco Gentil E-mail: [email protected] XXII Já no Serviço de Pediatria do Centro Regional de Lisboa do mesmo Instituto, as instalações estão degradadas pelo uso intensivo – há 22 camas, cerca de 150 doentes novos por ano, em parte oriundos das Regiões Autónomas e também dos PALOP, e a taxa de ocupação é superior a 85%. No Hospital Pediátrico de Coimbra, na ausência de instalações próprias, os doentes – cerca de 50 novos por ano – são distribuídos pelas várias enfermarias do Hospital. A idade limite para admissão dos doentes também é variável, sendo de 15 anos no Porto, 14 anos em Lisboa e 13 anos em Coimbra. As equipas médicas são também diferentes, havendo no Porto 8 Pediatras, predominantemente jovens, com menos de 40 anos, dos quais 6 com a sub-especialidade. Em Lisboa, há 6 Pediatras e 1 outro destacado em Comissão de Serviço, tendo 4 destes médicos mais de 50 anos; 6 dos médicos têm a sub-especialidade. Em Coimbra há uma Unidade de Hematologia e Oncologia com 4 Pediatras Oncologistas e 2 Hematologistas, com uma média de idades de 50 anos (40 – 62). Todos os Serviços têm Hospitais de Dia muito movimentados, com instalações confortáveis e adequadas às necessidades actuais, excepto o Serviço de Pediatria de Lisboa que apresenta instalações manifestamente insuficientes para os 600 a 700 tratamentos/observações que aí se realizam mensalmente. Nenhuma das UOP conta com a presença permanente de Internos de Pediatria em formação, muito antes pelo contrário. Atente-se a que a UOP de Coimbra teve apenas dois Internos por períodos de um e três meses nos últimos anos! Este facto não é de estranhar, já que a Oncologia Pediátrica não é valência obrigatória no Internato de Especialidade de Pediatria. Por outro lado, duas das UOP estão localizadas em Hospitais Oncológicos, estando portanto fora do circuito dos hospitais que têm Internato de Especialidade de Pediatria. Isto significa que, na maior parte dos casos, o Interno de Especialidade termina a sua formação sem ter adquirido conhecimentos mínimos de Oncologia Pediátrica, com as inerentes consequências na sua aptidão para o diagnóstico precoce desta patologia. Em suma, por entre as singularidades de cada UOP, constata-se a existência de limitações físicas e humanas que permitem antever um futuro problemático para a Oncologia Pediátrica e seus doentes, se não forem resolvidas oportunamente. Chagas M et al – Reflexões sobre Oncologia Pediátrica existentes, à sua frequência sistemática por Internos em formação e à renovação do quadro de Pediatras com a sub-especialidade em Oncologia. A primeira medida acarreta custos económicos a ponderar pelo Ministério da Saúde, de acordo com a sua política. A segunda e a terceira caracterizam-se pela morosidade e incerteza. Morosidade, porque a sub-especialização em Oncologia Pediátrica – de acordo com as normas europeias – se prolonga por três anos 9. Incerteza, porque necessitará para a sua concretização, da concertação política de várias Instituições: Faculdades de Medicina, Ordem dos Médicos, Conselhos de Administração dos Hospitais onde estão inseridas as UOP, e Administrações Regionais de Saúde. Neste sentido, parece-nos vantajoso começar por atribuir um maior relevo à Oncologia no ensino pré-graduado da Pediatria pelas Faculdades de Medicina, plenamente justificado pelo lugar que esta patologia ocupa, actualmente, nas causas de morte infantil, com a agravante de se tornar ainda mais relevante no futuro, como já foi referido. É também desejável que a Ordem dos Médicos, através do Conselho Nacional do Internato Médico e dos Orientadores de Formação, incentive a frequência das UOP pelos Pediatras em formação, de acordo com o novo Regulamento do Internato Médico e com o Decreto-Lei nº 203/2004. É oportuno realçar que o Pediatra Oncologista, pela metodologia que usa no diagnóstico e no tratamento, e pela inter-relação com muitas especialidades a que tem que recorrer no seguimento dos doentes, acaba por representar, de alguma forma, o paradigma do Pediatra Geral, constituindo-se assim como um bom exemplo para o Interno de Pediatria em formação, ainda que este não pretenda a sub-especialidade. Finalmente, aos Conselhos de Administração Hospitalar e às Administrações Regionais de Saúde compete avaliar as necessidades de assistência em Oncologia Pediátrica das populações que servem, adequando as UOP a tais necessidades. Para concluir, é necessário afirmar que estamos conscientes que as limitações físicas e humanas aqui referidas são partilhadas por outras sub-especialidades pediátricas, mas é a singularidade que caracteriza a Oncologia, expressa na noção de que não há, em regra, segunda oportunidade para tentar curar uma criança com cancro, que torna a sua situação particularmente preocupante, tornando urgente a tomada de medidas apropriadas. Referências 1 – Lacerda AL, Chagas M, Neto A, Vieira E, Ribeiro MJ, Pereira F et al. Leucemia Linfoblástica Aguda na Criança – Experiência de 10 Anos com o Protocolo DFCI 81/01. Acta Med Port 1999; 5: 287-92 2 – Costa V, Oliva T, Silva I, Bento MJ, Sodré Borges BP. Doença de Hodgkin: Experiência de 20 Anos num Centro de Referência. Acta Pediatr Port 2004; 35:115-9. 3 - Ravindranath Y. Recent Advances in Pediatric Acute Lymphoblastic and Myeloid Leukemia.Curr Opin Hematol 2003; 15:23–5. As Soluções A adequação das actuais UOP às necessidades que se avizinham obrigará à remodelação de algumas estruturas físicas 4 – Smith MA. Childhood Cancer: Incidence, Survival, and Mortality. In Pizzo PA, Poplack DG, editors. Principles and Pratice of Pediatric Oncology. 4 th ed. Philadelphia: Lippincott Williams Wilkins; 2002. p1-12. XXIII Acta Pediatr Port 2006:2(37):XXII-IV 5 – Bleyer WA. Cancer in Older Adolescents and Young Adults: Epidemiology, Diagnosis, Treatment, Survival and Importance of Clinical Trials. Med Pediatr Oncol 2002; 38: 1-10. 6 – Desandes E, Lacour B, Sommelet D, Buemi A, Danzon A, Delafosse P et al. Cancer Incidence Among Adolescents in France. Pediatr Blood Cancer 2004; 43: 742-8. Chagas M et al – Reflexões sobre Oncologia Pediátrica 7 – Sharfman W, Lange J, Balch CM. Pediatric Melanoma. Pediatr Blood Cancer 2005; 44: 431-2. 8 – Chao MM e col. High-Risk Surgically Resected Pediatric Melanoma and Adjuvant Interferon Theraphy. Pediatr Blood Cancer 2005; 44: 441-8. 9 – Mann JR.European Training Programme in Pediatric Haematology and Oncology. Med Pediatr Oncol 2003; 41: 65-6. 0873-9781/06/37-2/XXV Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO DE OPINIÃO O programa de formação pós-graduada em Pediatria Médica João M. Videira Amaral Considero muito positiva a realização da Assembleia Geral do Colégio da Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos em Fevereiro de 2006, onde houve oportunidade de troca de opiniões - nem sempre convergentes - de diversos colegas, com base nas respectivas experiências, com vista à reformulação do programa de formação para obtenção da “especialidade” de pediatria. 1. Tendo em conta: – a duração total do período de ensino-aprendizagem, com a duração de cinco anos em diversos cenários (hospitais centrais, hospitais distritais, centros de saúde) contemplando valências obrigatórias e opcionais de diversa duração; – a realidade actual da oficialização pela Ordem dos Médicos de um conjunto de sub-especialidades pediátricas (implicando um período suplementar de treino, uma vez obtida a “especialidade” de pediatria), dizendo respeito essencialmente à aquisição de competências quanto à realização de técnicas e procedimentos específicos no grupo etário pediátrico; – que o treino pós-obtenção da “especialidade” com vista à obtenção da “sub-especialidade” é realizado em diversas modalidades, e não sem algumas dificuldades por constrangimentos institucionais - por exemplo, havendo centros hospitalares que autorizam a frequência de ciclos de estudos especiais e outros que não; – a necessidade de formar “pediatras gerais” e “sub-especialistas” em função das necessidades na perspectiva de prestação de um serviço de qualidade à população; – a necessidade de racionalizar recursos humanos e materiais numa fase da vida nacional caracterizada demograficamente por diminuição ou estagnação da natalidade e esperança de vida cada vez maior; – a elevada taxa etária dos pediatras portugueses, reflexo, seguramente de falta de planeamento nas duas últimas décadas e da diversidade de políticas “saltitantes” adoptadas ao longo dos anos em função, não do interesse nacional, mas de facções ou de ideologias mais ou menos radicais; – a realidade nos tempos de hoje relacionada com internamentos cada vez mais curtos de situaçãoes por vezes complexas que exigem seguimento no ambulatório por pediatras; 2. Faço as seguintes propostas, apenas de ordem estrutu- ral quanto à formação pós-graduada em pediatria (pediatria médica), contemplando dois escalões de pediatras: Aspectos gerais – formação em pediatria geral com duração de 3 anos (para obtenção do título de pediatra generalista) implicando programa específico decalcado do actual, com algumas modificações face às prioridades formativas e às tarefas a desempenhar pelo futuro pediatra generalista; uma vez obtida esta especialidade, o pediatra geral ficaria capacitado para exercer clínica pediátrica, quer no regime privado de ambulatório, quer no regime oficial (centros de saúde), quer mesmo nos hospitais distritais ou centrais, no pressuposto de que nestes últimos (hospitais centrais) tem perfeito cabimento a vertente de pediatra geral, como garante de uma pediatria geral de prestígio para a formação em “pediatria geral” e para que se evite o “esvaziamento” da mesma com a criação das sub-especialidades; – formação em pediatria especializada com a duração de 2 anos (para obtenção do título de pediatra sub-especialista) implicando programa específico em áreas restritas de centros hospitalares idóneos, nacionais ou estrangeiros) relacionadas com a respectiva sub-especialidade; uma vez obtida a sub-especialidade, o pediatra sub-especialista ficaria capacitado para exercer em hospitais centrais ou distritais (esta terminologia pode considerar-se, à luz da realidade portuguesa actual, obsoleta, carecendo de reformulação). De referir que o acesso aos 2 anos de subespecialização dependeria das vagas/necessidades para os centros/serviços hospitalares que a carta hospitalar definisse e/ou para as sub-especialidades pediátricas que a Ordem dos Médicos reconhecesse, o que implicaria um completo e síncrono acordo entre a Ordem dos Médicos e as instituições de saúde estatais. Aspectos específicos – relativamente ao tópico quente “serviços de urgência de pediatria médica nos hospitais com unidades e equipas sub-especializadas”, as respectivas equipas contariam, quer com os pediatras gerais, quer com os sub-especialistas, exceptuando no que respeita ao intensivismo (com equipas autónomas); – pediatras nos centros de saúde, outro “tópico quente” e “tabu” à luz da política actual: não me parece, pela experiênCorrespondência: João M Videira Amaral Acta Pediátrica Portuguesa Director E-mail: [email protected] XXIV XXV Acta Pediatr Port 2006:2(37):XXV-VI cia que tenho da instituição onde trabalho, que a figura de “pediatra consultor” deslocando-se aos centros de saúde periodicamente para discussão de casos e apoio aos especialistas de medicina familiar, seja exequível com garantia de continuidade, face aos recursos actuais dos hospitais centrais. Entendo que haverá que inventar o “engenho e a arte” e lutar para que se crie, no quadro do centro de saúde, a figura do “pediatra comunitário” que, de facto, existe no papel, mas “guardado na gaveta”. – investigação; mais uma vez repito: sei que é o déja vu, mas entendo que é fundamental que esta valência seja valorizada e obrigatória, pelo menos no segundo período dos 2 anos (formação de sub-especialistas)! Quando digo investigação, quero dizer “estágio” ou vivência em dedicação exclusiva, em período sem sobreposição com as tarefas de treino assistencial (trabalho do interno), por exemplo 3 meses, no mínimo; na hipótese de não ser exequível a “prá- Amaral JMV – Internato de Pediatria tica efectiva da investigação” em 3 meses intensivos, que o seja em sobreposição com o compromisso de tarefa para 6 meses. Num e noutro caso, compreende-se que o projecto de investigação tenha de ter continuidade, o que implica compromisso por parte de orientador/investigador senior e do interno. Tenho a noção de que abordei aspectos delicados; mas fi-lo numa perspectiva de cidadania “pediátrica” e com a ideia de que uma melhor formação conduzirá seguramente a melhor serviço à comunidade. Termino com uma última reflexão: para que as intenções se convertam em resultados concretos, há que ter vontade política, há que passar à acção, o que exige previamente uma estratégia. Felicito o excelente trabalho e dinamismo de toda a equipa do Colégio da Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos, presidido por Jorge Amil Dias. 0873-9781/06/37-2/XXVII Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO DE OPINIÃO A Pediatria do novo Milénio e os cuidados de saúde à criança e adolescente Alberto Caldas Afonso Nas Sociedades Modernas assiste-se a uma clara mudança nas práticas assistenciais pediátricas, fruto dos avanços significativos no controlo da maioria das doenças agudas, através do seu fácil diagnóstico e tratamento, bem como da prevenção da maioria das doenças infecciosas com as vacinações actualmente disponíveis. Passou-se para uma nova e importante fase do desenvolvimento estratégico assistêncial visando priorizar recursos nas situações emergentes ao nível da saúde da criança e dos adolescentes nas Sociedades desenvolvidas, como as doenças crónicas, as deficiências, as alterações emocionais e comportamentais e a protecção da “Criança em Perigo” quer por negligência, maus tratos ou abusos. Uma nova abordagem, mais holística é necessária para fazer face aos cuidados de saúde das crianças e adolescentes do novo milénio. Este modelo deverá deixar de centrar-se no poder exclusivo das decisões por parte do médico, mas num claro envolvimento da família e da comunidade, fruto de toda a informação que é disponibilizada. Esta nova filosofia assistêncial, assentará em três patamares, profundamente interligados. O primeiro patamar será constituído pela família, sendo aquela que de forma mais directa e próxima envolve a criança e o adolescente. O segundo patamar será da responsabilização dos serviços de proximidade do núcleo da família como os Cuidados de Saúde Primários, as Escolas, os Serviços Sociais, as Comunidades Religiosas e de Solidariedade Social e a Sociedade Civil através do voluntariado e do mecenato. O terceiro patamar incorpora os serviços assistenciais especializados, através dos Centros pediátricos Secundários e Terciários, onde as necessidades assistenciais com diferenciação tecnológica serão operacionalmente disponíveis. A excelência da comunicação e corresponsabilização entre estes três níveis de envolvimento na assistência à saúde da criança e do adolescente é crucial e decisiva para o sucesso desta estratégia. Esta nova medicina de envolvência e responsabilização colectiva deverá ter sempre no pediatra a referência e a linha condutora no acompanhamento de um crescimento e desenvolvimento saudável, para que os jovens de hoje sejam adultos saudáveis amanhã. A monitorização e avaliação permanente deste programa assistêncial é desejável e deverá ser da responsabilidade de uma entidade Reguladora da Saúde independente dos intervenientes. Correspondência: Alberto Caldas Afonso Serviço de Pediatria Hospital de São João, Porto XXVI XXVII Acta Pediatr Port 2006:2(37):XXVIII-IX 0873-9781/06/37-2/XXVIII Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO DE OPINIÃO Que futuro para os cuidados à criança? (*) Jorge Amil Dias Presidente do Colégio de Pediatria da Ordem do Médicos A evolução dos cuidados de saúde à criança e dos indicadores de saúde e mortalidade infantil nas últimas décadas em Portugal é uma história de sucesso. Os cuidados perinatais, o plano nacional de vacinações, a rede de cuidados de saúde primários, melhoraram enormemente a saúde da população pediátrica. A mortalidade associada a algumas patologias diminuiu imenso e há já hoje uma geração de médicos e pediatras que nunca viram um doente com sarampo por exemplo. Esses avanços obrigam-nos agora a responder a outros desafios. Ninguém ignora que os Serviços de urgência são diariamente procurados por número excessivo de doenças que não requerem cuidados hospitalares. Esta situação, semelhante ao que se passa nas urgências de adultos, não se resolve com taxas moderadoras que são socialmente inaceitáveis em Pediatria. Há que procurar entender as razões do fenómeno e definir soluções adequadas. Sem questionar o papel essencial dos médicos de Família no Saúde Infantil, é necessário reconhecer que muitos desses nossos colegas tem alguma dificuldade em lidar com grupos de crianças mais vulneráveis – lactentes, crianças com doença crónica, etc. São conhecidos graves incidentes no nosso país e noutros que confirmam aquilo que já todos sabemos – a falta de identificação e actuação precoce em comportamentos anti-sociais leva a consequências gravíssimas de difícil resolução. Nestas e noutras vertentes do crescimento é necessário criar médicos que, em conjugação com outros profissionais, tenham particular sensibilidade para identificar os sinais precoces de algumas “doenças sociais” do nosso tempo e contribuam para intervenção atempada. Esses médicos são, por definição, Pediatras com formação específica para, fora dos Hospitais, actuarem em colaboração com os Colegas de Medicina Familiar. Mas para isso devem receber formação específica durante os seus internatos, com a criação de Pediatras de ambulatório, como já existe em numerosos países, como na vizinha Espanha. É também pertinente perguntar porque não há, nos Serviços públicos de saúde, nada entre os Médicos de Família e os Pediatras hospitalares? Uma boa parte dos problemas que carecem de cuidados mais especializados poderiam ser prestados por especialistas fora dos hospitais. Afinal, se os filhos da população com maiores recursos pode ter Pediatra, porque hão-de os mais carenciados depender de consultas hospitalares ou dos serviços de urgência? sejam merecedores da sua confiança ajudando-os a superar os seus problemas e evitando graves consequências para a sua saúde física mental e social. A promoção da saúde, o combate às “novas” doenças como a obesidade e a toxicodependência, não são desafios para o futuro mas sim exigências para hoje pelos riscos que a curto prazo irão fazer recair sobre parte significativa da população e pelos enormes recursos financeiros que exigirão para soluções paliativas. Por último, temos de manter um olhar atento às necessidades Dias JA – Que futuro para os cuidados à criança? sanitárias de grupos de difícil integração social como grupos étnicos minoritários e populações imigrantes que raramente procuram os cuidados programados de saúde com receio de consequências políticas ou policiais do contacto com os serviços públicos. Resumo da apresentação em nome do Colégio de Especialidade de Pediatria na cerimónia de Celebração do 23ª Aniversário do Instituto de Apoio à Criança, em Lisboa, Março de 2006. (*) No capítulo das urgências hospitalares, também o futuro dos Cuidados à criança deve contemplar mudanças. Todos sabemos que muitas crianças são consultadas pelo médico assistente em momentos programados mas na doença aguda recorrem a serviços de urgência ou consultas de recurso onde são observadas por médicos que as não conhecem nem têm condições para controlar a evolução da doença. Estou certo que uma boa parte dos graves casos que de tempos a tempos vemos na televisão poderiam ter sido evitados se em vez de 4 consultas “na urgência do Hospital” (o que significa 4 observações por médicos diferentes sem continuidade de cuidados) tivessem sido observadas 2 ou 3 vezes pelo mesmo médico que as conhece bem! É pois necessário criar condições de “fidelização” ao médico assistente respeitando o princípio de que quem vê a criança com saúde deve também vê-la quando está doente! A Medicina moderna avançou imenso no controlo de muitas das causas de morte e morbilidade da criança. Muitas condições que determinavam a morte precoce foram controladas mas à custa de importante dependência de cuidados diferenciados. Não é aceitável condenar essas crianças a internamentos prolongados ou eternos em serviços hospitalares. A criação de equipas multidisciplinares que acompanhe no domicílio doentes em alimentação parentérica, ventilação assistida ou com grave limitação física. Essas equipas de cuidados continuados devem, contudo ser constituídas por profissionais com sólida experiência pelo que é recomendável alguma centralização desses cuidados. Os adolescentes constituem um grupo populacional particularmente difícil no contacto com os serviços de saúde pela natureza do comportamento próprio desse grupo etário mas também porque em muitos casos são seguramente os mais necessitados que menos procuram cuidados de saúde. Precisamos que os Pediatras do presente e do futuro tenham sólida formação no contacto com os jovens adolescentes e Correspondência: Jorge Amil Dias E-mail: [email protected] XXVIII XXIX 0873-9781/06/37-2/37 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO ORIGINAL Avaliação prospectiva da mortalidade e morbilidade numa unidade de cuidados intensivos em crianças traumatizadas Paulo Oom Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, Clínica Universitária de Pediatria - Hospital de Santa Maria, Lisboa. Resumo Introdução: Os traumatismos continuam a ser uma importante causa de morte e de morbilidade em crianças. A avaliação da gravidade representa um instrumento fundamental no local do acidente e na unidade de cuidados intensivos pois permite a triagem adequada e a selecção das medidas de monitorização e terapêutica mais apropriadas. Objectivos: Analisar, em crianças e adolescentes vítimas de traumatismo e internadas em cuidados intensivos, o desempenho das escalas PTS, PRISM e PIM na avaliação da mortalidade e o desempenho da escala PTS na previsão da ocorrência de sequelas. Metodologia: Estudo prospectivo de todas as crianças e adolescentes internadas na UCIP por traumatismo. Foram aplicadas as escalas PIM (primeiro valor obtido até uma hora após a admissão), PRISM (pior valor obtido durante as primeiras 24 horas após a admissão) e PTS (valor na admissão). A mortalidade foi entendida como mortalidade durante o internamento na UCIP. O acréscimo de morbilidade foi quantificado pelo cálculo do coeficiente delta, resultante da aplicação da escala POPC no momento da admissão e da alta. Para as diferentes escalas foram avaliados a sensibilidade, especificidade e valores preditivos da mortalidade observada. Resultados: Foram internadas 59 crianças vítimas de traumatismo das quais quatro vieram a falecer. Nas crianças traumatizadas, a utilização da Pediatric Trauma Scale (PTS) com um limiar de 8 pontos possibilitou a identificação de um subgrupo de crianças com maior mortalidade e morbilidade a curto prazo. Em relação à mortalidade a escala apresenta o seu melhor desempenho quando se considera o limiar de 1 ponto, de que resulta uma sensibilidade de 100% e especificidade de 93%. Nas crianças traumatizadas, as escalas PRISM e PIM apresentaram um desempenho na previsão de mortalidade semelhante ao da escala PTS. Prospective evaluation of mortality and morbidity in traumatized children admitted to a paediatric intensive care unit Abstract Introduction: Trauma continues to be an important cause of death and morbidity in children. Illness severity assessment represents an important tool in the scene of the accident and in the intensive care unit as it allows the adequate selection of the more appropriate therapeutic measures. Objectives: To analyse, in traumatized children admitted to the intensive care unit, the performance of the scales PTS, PRISM and PIM in the evaluation of mortality and the performance of the scale PTS in predicting morbidity. Methods: Prospective study of all the traumatized children and adolescents admitted to the PICU. The scales PIM (first value up to one hour after the admission), PRISM (worst value during the first 24 hours after the admission) and PTS (value at the admission) had been applied. Mortality was understood as mortality during the stay in the PICU. Short-term morbidity was quantified by the calculation of the delta coefficient, as the result of the application of POPC scale at admission and discharge. For the different scales we evaluated sensitivity, specificity and predictive values for observed mortality. Results: 59 children were admitted as trauma victims of whom four have died. The use of the Pediatric Scale Trauma (PTS) with a threshold of 8 points made possible the identification of a sub-group of children with bigger mortality and short-term morbidity. In relation to mortality the scale presents its better performance when the threshold of 1 point is considered, which results in a 100% sensitivity and 93% specificity. Performance of PRISM and PIM in predicting mortality was similar of that of PTS. Conclusões: A escala PTS representa um instrumento importante na avaliação da gravidade das crianças politraumatizadas. Conclusions: PTS permits the identification of a group of children with increased mortality and short-term morbidity. Palavras chave: Traumatismos, prognóstico, cuidados intensivos pediátricos, PTS, PRISM, PIM. Key-words: Trauma, outcome, paediatric intensive care, PTS, PRISM, PIM Acta Pediatr Port 2006;2(37):37-41 Acta Pediatr Port 2006;2(37):37-41 Recebido: Aceite: Correspondência: Paulo Oom Unidade de Cuidados Intensivos Clínica Universitária de Pediatria - Hospital de Santa Maria Av. Prof. Egas Moniz 1649-035 Lisboa E-mail: [email protected] 10.01.2004 03.04.2006 37 Acta Pediatr Port 2006:2(37):37-41 Introdução Os traumatismos continuam a ser a principal causa de morte e uma das principais causas de morbilidade em crianças e adolescentes 1-3. A avaliação correcta da gravidade da lesão é imprescindível para uma triagem e encaminhamento correctos dos casos mais graves para centros especializados, ao mesmo tempo que permite uma selecção adequada dos exames de diagnóstico e das medidas terapêuticas mais apropriadas e eficazes. A maioria das escalas de avaliação de lesões traumáticas foram desenvolvidas e validadas na população adulta4-6. A primeira escala desenvolvida para uso exclusivo na idade pediátrica e actualmente a mais utilizada é a Pediatric Trauma Scale (PTS) desenvolvida por Tepas 7. Diversos estudos têm sido publicados sobre a aplicação desta escala na avaliação da gravidade do traumatismo4,7-19. Estes apresentam grandes diferenças no que respeita a sua natureza (prospectiva ou retrospectiva), número de unidades de cuidados intensivos pediátricas (UCIP) envolvidas, dimensão da amostra, idade das crianças, tipo de acidente e zonas corporais envolvidas, o que torna muito difícil a sua comparação objectiva mas em todos é perceptível uma relação inversa entre a pontuação PTS e a mortalidade observada pelo que esta é actualmente a escala recomendada para avaliação inicial da gravidade das lesões traumáticas em crianças20,21. A avaliação da aplicação das escalas Pediatric Risk of Mortality (PRISM) 22 e Pediatric Index of Mortality (PIM) 23 especificamente a este grupo de crianças tem revelado dados controversos estando ainda por definir a sua utilidade na avaliação da gravidade das lesões traumáticas. A morbilidade em crianças vítimas de traumatismo é considerável podendo atingir uma proporção significativa de sobreviventes3,9,10,14,24-27. Apesar deste facto, a enorme maioria dos estudos avalia a gravidade em função da mortalidade e poucos referem o desempenho funcional da criança após o internamento na UCIP. Para além disso não existem estudos que utilizem as escalas Pediatric Overall Performance Category (POPC), e Pediatric Cerebral Performance Category (PCPC)28 as únicas validadas para quantificar a morbilidade física e cognitiva a curto prazo em cuidados intensivos pediátricos29. Foram objectivos deste estudo analisar de forma prospectiva e numa mesma população de crianças traumatizadas internadas em cuidados intensivos o desempenho das escalas PTS, PRISM e PIM na avaliação da mortalidade. Simultaneamente analisámos o desempenho da escala PTS na previsão da ocorrência de sequelas utilizando a escala POPC. Oom P – Avaliação da gravidade em crianças traumatizadas não tendo sido obtidos sinais vitais estáveis durante um período de, pelo menos, 2 horas. Foram obtidos de forma prospectiva e de cada paciente os seguintes dados: idade, sexo, diagnóstico de admissão, tipo de admissão (electiva, emergência), origem (enfermaria, outro hospital, urgência), destino (enfermaria, outro hospital, alta) e tempo de internamento. Para o cálculo da escala PIM foi considerado para cada variável o primeiro valor obtido até uma hora após a admissão23. Para o cálculo da escala PRISM foi considerado o pior valor de cada variável durante as primeiras 24 horas após a admissão22. Apenas foram obtidas as variáveis que o clínico considerou úteis para a abordagem diagnóstica e terapêutica de cada criança. Valores não obtidos foram considerados normais. A mortalidade esperada para o total do grupo de pacientes correspondeu à soma das estimativas de probabilidade de morte individuais. Foram igualmente obtidas, na admissão, as variáveis necessárias para o cálculo da escala PTS: peso, permeabilidade das vias aéreas, pressão arterial sistólica, estado de consciência, presença e tipo de fracturas e extensão das lesões cutâneas7. A mortalidade foi entendida como mortalidade durante o internamento na UCIP. A morbilidade foi quantificada pela aplicação da escala POPC a todas as crianças no momento da admissão e da alta como descrito por Fiser28. A diferença entre os valores obtidos na alta e na admissão (coeficiente delta) representa o acréscimo de morbilidade provocado pela doença aguda e internamento em cuidados intensivos 28. Para a escala PTS foram avaliados, em relação à mortalidade observada, a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo de acordo com os limiares de pontuação descritos pelos seus autores. Estes mesmos parâmetros foram também avaliados para as escalas de mortalidade quando aplicadas às mesmas crianças. Para avaliar a relação entre a escala PTS e as escalas de mortalidade foi utilizado o teste de correlação de Spearman. A análise estatística foi efectuada utilizando o programa Stata versão 7.0 para Windows (Stata Corporation, College Station, TX). Foram considerados significativos valores de p<0,05 e r>0,5. Este estudo teve o parecer favorável da Comissão de Ética da Faculdade de Medicina da Universidade Clássica de Lisboa e da Comissão de Ética para a Saúde do Hospital de Santa Maria. Doentes e métodos Resultados O estudo decorreu na Unidade de Cuidados Intensivos de Pediatria (UCIP) de um hospital universitário. Foram incluídas todas as crianças e adolescentes internadas na unidade por traumatismo excepto as que apresentavam algum critério para exclusão: 1-admissão que não se justificava, por se tratar de situações que não exigiam cuidados intensivos e que, por rotina, seriam tratadas em outros locais do Serviço de Pediatria, 2- tempo de internamento inferior a 2 horas, 3 - admissão que ocorreu durante manobras de reanimação cardiorrespiratória Durante o período de estudo foram internadas na UCIP 59 crianças e adolescentes vítimas de traumatismo. As características gerais desta população estão discriminadas no Quadro I. A idade variou entre 1 mês e os 16 anos com uma mediana de 6,7 anos. O tempo de internamento variou entre 1 e 13 dias com uma mediana de 2 dias. O peso da criança na admissão variou entre os 3 e os 75 Kg com uma distribuição (média ± desvio padrão) de 29,0 ± 18,0 Kg. Faleceram 4 crianças, correspondendo a 6,8% do total de traumatizados. Acta Pediatr Port 2006:2(37):37-41 Oom P – Avaliação da gravidade em crianças traumatizadas Quadro I – Características das crianças vítimas de acidente. Resultados expressos em número absoluto (percentagem). Sexo Admissão Origem Destino Masculino Feminino Emergência Electiva Mesmo hospital Outro hospital Casa Mesmo hospital Outro hospital Alta Falecido 38 21 59 0 5 32 22 46 5 4 4 (64,4) (35,6) (100) (0,0) (8,5) (54,2) (37,3) (77,9) (8,5) (6,8) (6,8) A maioria dos casos (59,3%) correspondeu a acidentes de viação como passageiro ou como pedestre. A causa seguinte foram as quedas (30,6%), conforme se pode ver no Quadro II. O traumatismo cranioencefálico foi a lesão mais frequente, seguido pelas lesões dos membros e traumatismo abdominal (Quadro III). Quadro II – Circunstâncias do acidente. Resultados expressos em número absoluto (percentagem). Viação (n=35) Queda (n=18) Recreativa (n=4) Outras (n=2) Passageiro Pedestre Motociclo Edifício Recreativa Escadas Casa Colo Bicicleta Motociclo Tronco de árvore Placa de ferro 17 15 3 7 6 3 1 1 3 1 1 1 (28,8) (25,4) (5,1) (11,9) (10,2) (5,1) (1,7) (1,7) (5,1) (1,7) (1,7) (1,7) Quadro III – Zonas corporais atingidas na criança traumatizada. Resultados expressos em número absoluto (percentagem). Zona Cranio Face Tórax Abdómen Bacia Coluna Medula 42 4 8 17 5 2 1 Membros 25 (42,4) (71,2) (6,8) (13,6) (28,8) (8,5) (3,4) (1,7) A aplicação da escala PTS a todas as crianças vítima de traumatismo mostrou valores entre – 4 e 12 pontos com mediana de 7. A distribuição de valores está expressa na figura 1. Em relação à mortalidade observada, para o limiar proposto pelos autores da escala (≤8) foi encontrada uma sensibilidade de 100%, especificidade de 36%, valor preditivo positivo de 10% e valor preditivo negativo de 100%. Em relação à mortalidade a escala apresenta o seu melhor desempenho quando se considera o limiar de 1 ponto, proposto na descrição origi- Figura 1 – Distribuição da gravidade das lesões na criança traumatizada de acordo com a escala PTS (a cheio estão representados os doentes falecidos. Limiar proposto para definir um maior risco de mortalidade: 8). nal, de que resulta uma sensibilidade de 100%, especificidade de 93%, valor preditivo positivo de 50% e valor preditivo negativo de 100%. O limiar de 8 pontos mostra igualmente ser útil na distinção da ocorrência de sequelas como vemos no Quadro IV. Nas crianças com pontuações iguais ou inferiores a esse valor a incidência de sequelas (traduzidas por coeficientes delta POPC positivos) e a sua gravidade foram significativamente superiores à das crianças com pontuações mais altas (p <0,01). Quadro IV – Distribuição dos coeficientes ∆POPC nas crianças traumatizadas de acordo com a escala PTS. PTS ≤8 >8 n 39 20 ∆POPC positivo (%) 20 (51,3) 2 (10,0) mediana 1 0 Legenda: PTS - Pedriatric Trauma Scale; ∆POPC - coeficiente delta da escala Pediatric Overall Performance Category. A colheita das variáveis necessárias para o cálculo das escalas PRISM e PIM forneceu as estimativas de probabilidade de morte apresentadas no Quadro V. Quadro V – Estimativas da probabilidade de morte nas crianças traumatizadas. A mortalidade esperada corresponde à soma das estimativas de probabilidade de morte individuais. Escala P25 P50 P75 PRISM PIM 0,6 0,9 0,8 1,5 2,7 4,1 Mortalidade esperada 5,2 3,0 Legenda: PRISM - Pedriatric risk of mortality; PIM - Pediatric index of mortality; P25 - percentil 25; P50 - percentil 50; P75 - percentil 75. Para a avaliação do desempenho das escalas de mortalidade neste grupo de crianças foram considerados os limiares de que resultaram uma sensibilidade de 100%, idêntica à conseguida pela escala PTS (Quadro VI). Quadro VI – Desempenho das escalas de mortalidade na criança traumatizada. Resultados expressos em percentagem. Foram considerados os limiares de que resultaram uma sensibilidade de 100% idêntica à conseguida pela escala específica (PRISM =0,31; PIM =0,05). PRISM PIM Sensibilidade 100 100 Especificidade 96 85 Valor preditivo positivo 67 33 Valor preditivo negativo 100 100 Legenda: PRISM - Pedriatric risk of mortality; PIM - Pediatric index of mortality. 38 39 Acta Pediatr Port 2006:2(37):37-41 Oom P – Avaliação da gravidade em crianças traumatizadas Das escalas objectivas, a PRISM foi a que apresentou o melhor desempenho. A correlação entre as escalas PTS e PRISM mostrou um coeficiente de correlação de 0,71. Discussão A Pediatric Trauma Scale (PTS) foi elaborada em 1987 como escala de triagem para identificar os doentes mais graves capazes de beneficiarem com a transferência urgente para unidades de cuidados intensivos de Pediatria7. Na descrição original da escala Tepas relacionou a pontuação obtida com a intensidade das lesões anatómicas encontradas e concluiu que o limiar de 6 pontos identificava as crianças com um risco acrescido de lesões7. Um limiar de 1 ponto, por outro lado, permitia identificar um subgrupo de doentes com mortalidade de 100%. Mais tarde, num estudo retrospectivo envolvendo 615 crianças (mortalidade de 3,5%) os mesmos autores elevaram o limiar para 8 pontos ao constatar que todas as crianças com pontuações superiores àquele valor sobreviviam8. Desde então diversos estudos procuraram identificar o limiar capaz de reconhecer com uma sensibilidade elevada o grupo de crianças com maior risco de morte (Quadro VII). Quadro VII – Limiares propostos para a escala PTS em vários estudos. 4 Orliaguet Kaufmann 6 Tipo UCIP n MO (%) Limiar p 1 507 12,0 4 M100 r 1 376 7,2 8 Tepas 7 m 1 100 3,0 6 1 Tepas 8 r 1 615 3,5 8 0 r 265 13,6 8 -2 2923 Suominen 9 Hannan 11 r Cantais 13 r 1 133 25,6 5 r 1 149 5,0 6 r 1 77 2,6 1 Lapner 14 15 Saladino 8 Ramenofsky 18 p 1 450 2,9 8 Eichelberger 19 p 1 1334 3,0 8 r 1 237 11,0 6 144 7,6 8 Breaux 24 Aprahamian Jubelirer Kasperk 31 32 30 r r 8 1307 2,0 8 r 1 68 7,4 3 Os nossos resultados permitem alargar esta análise pois o limiar clássico de 8 pontos permitiu igualmente a identificação de um grupo de crianças em que a incidência de sequelas e a sua gravidade foi maior. A avaliação inicial da criança traumatizada pode ser feita com recurso às escalas de mortalidade de aplicação geral em cuidados intensivos pediátricos. Esta aplicação pode permitir a simplificação de processos durante a admissão da criança na UCIP ao evitar a utilização de múltiplas escalas para situações específicas. Só será questionável se dela resultar um menor desempenho daquele que é conseguido pela escala PTS. No nosso estudo as escalas de mortalidade apresentaram, para uma sensibilidade de 100%, valores de especificidade elevados (PRISM =96%, PIM =85%), semelhantes ao conseguido pela escala PTS. -2 1 Legenda: Tipo - tipo de estudo; UCIP - número de unidades de cuidados intensivos pediátricas envolvidas no estudo; MO - mortalidade observada; Limiar - pontuação proposta como limiar para distinguir uma maior incidência de mortalidade; M100 - pontuação abaixo da qual a mortalidade foi de 100%; p - prospectivo; r - retrospectivo; m - misto. O limiar de 8 pontos é reconhecido como possuindo sensibilidade muito elevada na identificação dos casos mais graves pois pontuações acima daquele valor não estão habitualmente associadas à ocorrência de morte. Apenas duas publicações avaliaram o poder discriminativo da escala pela construção de curvas ROC referindo valores de 0,82 e 0,91 na previsão da mortalidade 4,13. Os nossos resultados vêm de encontro a estes dados. Na nossa amostra, todas os pacientes que faleceram apresentaram na admissão na UCIP valores iguais ou inferiores a 1 ponto. Para este limiar a escala apresentou o seu melhor desempenho com uma sensibilbidade de 100% e especificidade de 93% 40 Os traumatismos na idade pediátrica estão associados a grande morbilidade3,9,10,14,24,-27. A ocorrência de sequelas a curto prazo parece depender essencialmente da gravidade do traumatismo e local anatómico das lesões, com destaque para as lesões cranioencefálicas26,27. No entanto, poucos foram os estudos que procuraram avaliar a capacidade da escala PTS para prever a ocorrência de sequelas após lesões traumáticas em crianças. No seu trabalho original, Tepas sugere que as pontuações mais baixas se relacionam com uma maior morbilidade, mas não apresenta quaisquer dados que suportem esta hipótese7. Outros estudos, no entanto, relacionaram a pontuação da escala PTS com a ocorrência de sequelas a curto e longo prazo. Na sua descrição original das escalas POPC e PCPC Fiser mostra que, num subgrupo de 154 crianças vítimas de trauma, a pontuação da escala PTS na admissão se relaciona com os valores dos coeficientes delta PCPC e delta POPC na altura da alta28. Também num estudo retrospectivo envolvendo 261 crianças o valor de PTS na admissão relacionou-se de forma significativa com a ocorrência de sequelas 6 anos após a alta, medidas pela capacidade de frequência da escola10. O desempenho da escala PRISM tem sido pouco estudado neste grupo de crianças e a maioria dos artigos mostra apenas resultados parciais. Os resultados são controversos pois se muitos revelam que a escala não está calibrada para utilização nesta população 12,13,33,34 outros defendem o contrário35. O poder discriminativo parece bom com estudos mostrando AUC (area under the curve) entre 0,80 e 0,9413,34. Na comparação directa com a escala PTS num estudo retrospectivo abrangendo 133 crianças vítimas de traumatismo grave o seu poder discriminativo foi superior (PTS =0,82; PRISM =0,94; p <0,05)13. No entanto, a PRISM apresenta uma maior complexidade e depende dos dados colhidos durante as primeiras 24 horas de internamento o que lhe retira utilidade como instrumento de triagem. Infelizmente, não existem outros estudos que avaliem o desempenho da escala PIM especificamente nestes doentes. Acta Pediatr Port 2006:2(37):37-41 para além da mortalidade, também a incidência de sequelas a curto prazo é significativamente maior. A par destes factos apresenta as vantagens de ser a mais fácil de obter e mais simples de calcular mantendo por isso todo o interesse como instrumento de triagem não só no local do acidente como à entrada da unidade de cuidados intensivos. Referências 1. Ramenofsky M, Morse T: Standards of care for the critically injured pediatric patient. J Trauma 1982;22:921-33. 2. Rodriguez J: Childhood injuries in the United States. Am J Dis Child 1990;144:625-6. 3. Division of Injury Control, Center for Environmental Health and Injury Control, Centers for Disease Control: Childhood injuries in the United States. Am J Dis Child 1990;144:627-46. 4. Orliaguet G, Meyer P, Blanot S, Jarreau M, Charron B, Buisson C et al: Predictive factors of outcome in severely traumatized children. Anesth Analg 1998;87:537-42. 5. Orliaguet G, Lejay M: Pediatric trauma patients. Curr Op Crit Care 1999;5:506-10. 6. Kaufmann C, Maier R, Rivara F, Carrico C: Evaluation of the pediatric trauma score. JAMA 1990;263:69-72. 7. Tepas J, Mollitt D, Talbert J, Bryant M: The Pediatric Trauma Score as a predictor of injury severity in the injured child. J Pediatr Surg 1987;22:14-18. 8. Tepas J, Ramenofsky M, Mollitt D, Gans B, DiScala C: The Pediatric Trauma Score as a predictor of injury severity: an objective assessment. J Trauma 1988;28:425-9. 9. Suominen P, Kivioja A, Ohman J, Korpela R, Rintala R, Olkkola T: Severe and fatal childhood trauma. Injury 1998;29:425-30. Oom P – Avaliação da gravidade em crianças traumatizadas 18. Ramenofsky M, Ramenofsky M, Jurkovich G, Threadgill D, Dierking B, Powell R: The predictive validity of the pediatric trauma score. J Trauma 1988;28:1038-42. 19. Eichelberger M, Gotschall C, Sacco W, Bowman L, Mangubat E, Lowenstein A: A comparison of the trauma score, the revised trauma score and the pediatric trauma score. 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Klem S, Pollack M, Glass N, Spohn W, Kanter R, Zucker A, Ruttimann U: Resource use, efficiency and outcome prediction in pediatric intensive care of trauma patients. J Trauma 1990;30:32-6. Conclusão As escalas PTS, PRISM e PIM parecem assim possuir, em relação à mortalidade, um desempenho semelhante na avaliação da gravidade da criança traumatizada. A escala PTS permite igualmente identificar um subgrupo de crianças onde, 41 Acta Pediatr Port 2006:2(37):42-7 0873-9781/06/37-2/42 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO ORIGINAL Hábitos de Adolescente Estudo sobre a ocupação dos seus tempos livres e consumos (*) Margarida Henriques1, Maria Manuel Zarcos1, Rui Passadouro2, Belarmino Spencer2 1 - Serviço de Pediatria do Hospital de Santo André, EPE, Leiria 2 - Centro de Saúde Dr. Arnaldo Sampaio, Leiria Resumo their knowledge and contact with drugs. Objectivos: Caracterizar os hábitos de ocupação de tempos livres dos adolescentes, avaliar o seu conhecimento e contacto com drogas e possível transmissão de doenças no seu consumo. Methods: Cross-sectional study of schoolchildren selected from junior and high schools in Leiria. Data were obtained through the application of a written questionnaire. Material e Métodos: Estudo descritivo transversal a alunos de Escolas do Ensino Básico do concelho de Leiria. Os dados foram obtidos através da aplicação de um questionário. Results: 507 schoolchildren aged to 10 to 17 (mean age:12,5) answered the questionnaire. 51% of the sample consisted of boys. During their spare time most of them watch television (90%) and television is also their main source of information about drugs (93%). More than half of the individuals observed don’t consider alcohol as a drug. At the age of eleven their experiences had already started: 64% had tried alcohol, 24% had tried smoking and 2% had tried hashish, cocaine or ecstasy. Concerning the identification of diseases that can be transmitted through syringes, they identify AIDS as one of these (65%), but 68% did not recognize that hepatitis B and C can also be transmitted this way and 11% admitted their ignorance about it. Tabaco and alcohol consumption was higher in the oldest group and were associated with parents and friends that drink alcohol or smoke regularly (p<0,05). Alcohol consumption was associated with males (p<0,05). Resultados: Foram inquiridos 507 adolescentes com idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos (média 12,5 anos). 51% da amostra era do sexo masculino. Os adolescentes ocupam o seu tempo livre a ver televisão (90%) e é esta a sua fonte principal de informação sobre droga (93%). Mais de metade destes não reconhece o álcool como droga. Aos 11 anos já começaram as suas experiências: 64% com álcool, 24% com o tabaco e 2% com haxixe, cocaína, ou ecstasy. Quando questionados quanto à transmissão de doenças pela utilização de seringas, maioritariamente reconhecem a SIDA (65%), mas 68% não reconhece a possível transmissão da hepatite B e C e 11% admite a sua ignorância relativamente ao assunto. Verificou-se um aumento dos consumos com a idade e uma associação entre o álcool e o sexo masculino (p<0,05). O consumo de álcool e de tabaco pelos pais e amigos associou-se ao consumo pelos inquiridos (p<0,05). Conclusão: Os meios de comunicação social, nomeadamente a televisão, ocupam um papel preponderante na ocupação de tempos livres e na informação dos adolescentes. Os consumos de risco foram iniciados precocemente assistindo-se a um aumento com a idade e podendo ser associado à conduta dos pais e amigos. Adolescent Habits Study of their spare time and risky behaviours Abstract Purpose: To characterize adolescents’ habits in what concerns what they do during their spare time and to evaluate Recebido: Aceite: 42 22.12.2004 11.04.2006 Perante um caldo de valores a dificultar mais o, já por si difícil, acto de escolher, longe da decrepitude e da morte, com uma vida (de consumidores) pela frente, é para eles que o mercado organiza a maior parte das campanhas publicitárias. Valorizando intencionalmente o ter sobre o ser, a publicidade faz aparecer as roupas, as máquinas, os corpos esbeltos e musculados, as idas aos concertos, as festas e os convívios como consumos/presenças imprescindíveis a quem quer ter, de imediato, prestígio social, ser admirado pelos outros - a quem quer ser feliz. E se o ter se torna vital à felicidade, o não ter revela-se insuportável e o adolescente finge que tem, ou substitui o não ter pela sensação de prazer imediato conseguida à custa de uns cigarros, umas passas, de uns copos... 1-5 O sentir-se bem quando se consome e o reconhecimento da coragem de praticar actos de consumo reprovados pelos adultos, desafiando-os, é uma forma de estar demasiado valiosa para o(a) adolescente a trocar por outra proposta dada pelos pais ou pelos professores, de certeza bem mais desinteressante e trabalhosa. Os adolescentes iniciam assim estilos de vida pouco saudáveis aumentando, no seu grupo etário, as taxas de morbilidade, de mortalidade e as patologias ligadas às chamadas doenças do comportamento.6 Neste contexto, a exigir práticas de prevenção7-10, este estudo surge com o objectivo de caracterizar (para depois actuar) os hábitos dos adolescentes do concelho de Leiria em termos da ocupação de tempos livres e avaliar o seu conhecimento e contacto com drogas. Material e Métodos Acta Pediatr Port 2006;2(37):42-7 Foi elaborado um estudo descritivo transversal para uma amostra populacional de adolescentes escolarizados a frequentar os 5º, 7º e 8º anos de quatro escolas pertencentes ao concelho de Leiria. Aplicou-se um questionário anónimo a duas turmas escolhidas pelos docentes de cada um dos anos escolares. Os professores asseguraram a sua distribuição e recolha durante o período lectivo no mês de Abril de 2002. O questionário foi elaborado com base nas referências analisadas, sendo composto por 25 questões fechadas. Introdução A adolescência é um período de crescimento caracterizado por complexas alterações físicas, psicológicas, sócio-culturais e cognitivas1. As variáveis analisadas foram: idade, sexo, ano de escolaridade e repetição de ano escolar, residência, núcleo familiar, profissão dos pais, hábitos de ocupação de tempos livres, informação, conhecimento e consumos de drogas lícitas e ilícitas, incluindo conhecimento sobre doenças transmissíveis no consumo de drogas injectáveis. Conclusion: Media, specially television, were the most important activity in spare time and the choice as information place. The consumption habits were precocious, increased with age and might be associated with parents and friends consumption. Key-words: Adolescents, habits, risky behaviors. Palavras-chave: Adolescentes, hábitos, comportamentos de risco. Acta Pediatr Port 2006;2(37):42-7 imprescindível e permanente (e para os pais e professores por vezes incomodativa) busca de autonomia e de liberdade.1,2 A valorização da necessidade de ser aceite e de ser respeitado pelos pares, mas também pelos outros (pelos pais), e de, ao mesmo tempo, querer estar/sentir-se bem consigo próprio, gera complexos quadros comportamentais alicerçados na Correspondência: Margarida Henriques Serviço de Pediatria do Hospital de Santo André, EPE Rua das Olhalvas 2410-196 Leiria E-mail: [email protected] Considerou-se como escola/residência urbana – se localizado dentro do limite urbano, escola/residência periférica – se localizado fora do limite urbano, família nuclear – se vive com pais e irmãos; família não nuclear – se vive só com pai ou mãe, se vive com pai/mãe e padrasto/madrasta, se vive sem pais com outros familiares ou em instituições, droga lícita – legalmente aceite, droga ilícita – consumo legalmente proibido. Os dados foram registados e analisados no Programa Estatístico para as Ciências Sociais (SPSS 9 for Windows, Copyright© SPSS Inc. 1989-1999), tendo sido utilizado o teste de Qui-quadrado (χ2), aceitando-se um nível de significância de 95% (p<0,05). Henriques M et al – Hábitos de Adolescente Resultados Obteve-se resposta a 507 questionários, correspondendo 30,6% ao 5º ano e, em igual proporção, os 7º e 8º anos com 34,7% cada. As idades estavam compreendidas entre os 10 e os 17 anos, sendo a idade média de 12,5 anos com desvio padrão (DP) de 1,6 anos; 51% eram do sexo masculino. Residiam maioritariamente em zonas periféricas e viviam com família nuclear 78% dos alunos. Quando questionados quanto à ocupação dos seus tempos livres, 79% praticam três ou mais actividades, com um máximo de sete actividades. As actividades sedentárias ocupam o tempo de 93,7% dos adolescentes, sendo a sua distribuição semelhante entre sexos (94%) e entre grupos etários (10-13 anos: 94%; 14-17 anos: 92%). O tempo é despendido com a televisão em 90% dos inquiridos (58% fazem-no mais do que duas horas por dia) e/ou com o computador em 58% (25% mais do que duas horas por dia). Preenchem o seu tempo livre com alguma actividade física 79% dos inquiridos, escolhendo um desporto organizado 59%. O futebol (21%), a natação (8%), o andebol (7%) e o ciclismo (4%) são as suas principais opções (Quadro I). Os rapazes praticam mais desporto do que as raparigas (86% dos rapazes e 73% das raparigas; χ2: 12,57, p <0,001) verificando-se uma distribuição etária homogénea (10-13A:79% versus 14-17A:83%). No que diz respeito à leitura, 44% dos inquiridos ocupam o seu tempo a ler, sendo que os mais novos (48% para 31% dos mais velhos) e as raparigas (58% para 31% os rapazes) fazem-no preferencialmente, sendo essa diferença estatisticamente significativa (χ2: 10,79, p=0,001; χ2: 35,82, p<0,001, respectivamente). Quadro I – Actividades de ocupação de tempos livres Actividades£ Actividades Sedentárias Não Sim Ver televisão 1h/dia 2 – 3h/dia > 4h/dia Jogar computador 1h/dia 2 – 3h/dia > 4h/dia Actividade Física Não Sim Desporto organizado Futebol Natação Andebol Ciclismo Ténis Ginástica Atletismo Voleibol Outros Leitura Não Sim N (%) 32 (6,3%) 475 (93,7%) 159 (31,3%) 198 (39%) 100 (19,7%) 168 (32,9%) 95 (18,5%) 32 (6,3%) 105 (20,8%) 400 (79,2%) 110 41 35 19 14 14 11 11 44 (21,7%) (8,1%) (6,9%) (3,7%) (2,8%) (2,8%) (2,2%) (2,2%) (8,6%) 282 (55,6%) 223 (44%) Legenda: £ - Actividades de ocupação de tempos livres, havendo possibilidade de escolha de mais do que uma actividade com o máximo de sete actividades; N - número de adolescentes; % - percentagem relativamente ao total de respostas. 43 Acta Pediatr Port 2006:2(37):42-7 Henriques M et al – Hábitos de Adolescente Reconhecem como droga a cocaína 94%, a heroína 84% e o haxixe 82%. Consideram também como drogas o tabaco 68%, o álcool 42%, os medicamentos 35%, o café 19% e o chocolate 6%. Dizem que obtiveram estes conhecimentos em diversas fontes, sendo a televisão a principal (93%), seguida dos jornais, revistas e livros (69%) e pela escola (64%). A família e os amigos surgem a seguir com 51% e 46%, respectivamente. Relativamente ao consumo do tabaco, já experimentaram fumar 16% do grupo dos mais novos (10-13A) e 46% do grupo dos mais velhos (14-17A), sendo essa diferença estatisticamente significativa (χ2: 43,8, p<0,001). Dos adolescentes que frequentam uma escola urbana 30% são fumadores, enquanto 19% são fumadores numa escola periférica, sendo esta diferença estatisticamente significativa (χ2=7,46; p=0,006). Não houve associação entre ser fumador e o local de residência (χ2=0,047; p=0,829). Dos 120 adolescentes que já fumaram, a idade em que o fizeram pela primeira vez foi em média aos 11 anos (DP ± 2A), sendo que 38 (32%) mantêm o hábito ou já o fizeram regularmente. Os rapazes fumam mais do que as raparigas (27% para 20%), não sendo essa diferença estatisticamente significativa (χ2=3,78, p=0,054). Respondem que fumam diariamente 13%, enquanto 30% fumam só em festas ou com amigos. O local escolhido para fumar é em bares em 25% dos casos. Fumam na escola 9% assim como 9% o faz em casa. Compram cigarros 21% (comprando à unidade –1 ou 2 cigarros 3% e um pacote 18%) enquanto 20% pede aos amigos. Adquirem os cigarros na tabacaria em 17%, no café em 15% e noutro local sem especificação 7%. Na caracterização quanto à periodicidade com que fumam, ao local escolhido para fumar, à quantidade adquirida e o local de compra, a maioria dos inquiridos fumadores opta por não responder (57%, 57%, 59% e 61%, respectivamente). Quadro II – Associação do género, idade, escola, repetição de ano escolar, residência e actividade de ocupação de tempos livres em relação ao consumo de tabaco, álcool e drogas ilícitas Adolescente (%) Características N (%) Fumador Sim n = 120 Não n = 359 χ2; p Bebe álcool Sim n = 326 Não n = 181 71% 29% 58% 42% χ2; p Drogas Ilícitas Sim n = 10 Não n = 497 4% 96% 1% 99% χ2; p Sexo Masculino 261 (51,5%) 27% 73% Feminino 246 (48,5%) 20% 80% 3,78; 0,054 9,046; 0,003 6,87; 0,05 Idade 10 – 13A 372 (76,1%) 16% 84% A 117 (23,9%) 46% 54% 14 – 17 43,8; 0,000 59% 41% 79% 21% 15,6; 0,000 1% 99% 7% 93% 11,76; 0,001 Escola Urbana 249 (49,1%) 30% 70% Periférica 258 (50,9%) 19% 81% 7,46; 0,006 68% 32% 61% 39% 2,71; 0,099 0,5% 99,5% 4% 96% 6,87; 0,009 Repetição de ano escolar Sim 49 (9,9%) 41% 59% Não 446 (90,1%) 22% 78% 9,15; 0,002 84% 16% 62% 38% 8,9; 0,003 2% 98% 2% 98% 0,000; 0,996 Residência Urbana 88 (17,7%) 24% 76% Periférica 408 (82,3%) 23% 77% Sim 400 (79,2%) 26% 74% Não 105 (20,8%) 17% 83% Sedentária Sim 475 (93,9%) 23% 77% 32 (6,1%) 42% 58% 66% 34% 64% 36% 3,2; 0,073 68% 32% 51% 49% 6,02; 0,014 64% 36% 74% 26% 0,047; 0,829 - 100% 3% 97% 9,66; 0,002 3% 97% - 100% 1,39; 0,238 2% 98% 5% 95% 0,119; 0,731 2,07; 0,149 Não Legenda: N – número de adolescentes; % – percentagem relativamente ao total de respostas; χ2 – Teste de Qui-quadrado; considerado significativo quando p<0,05. Entre os que experimentaram bebidas alcoólicas (64%), bebem regularmente 8% e 36% têm um consumo social. Reconhecem já terem bebido em excesso 18%. Não obtivemos resposta de 31% dos inquiridos. A idade média da “primeira bebida” foi os 11 anos (DP ± 2,8A). Das bebidas expe44 A Henriques M et al – Hábitos de Adolescente mais velho (79% entre os 14A-17A para 59% entre 10A-13A), sendo as diferenças estatisticamente significativas (χ2= 9,046, p=0,003; χ2=15,6, p<0,001, respectivamente). Não encontrámos diferenças entre o consumo e tipo de escola frequentada (66% urbana versus 64% periférica). Houve 10 alunos (2%) que nos responderam ter experimentado drogas ilícitas: haxixe- 7, ecstasy - 1 e cocaína - 2. Tinham idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos, sendo 8 do sexo masculino (χ2=3,8, p=0,05). Frequentavam uma escola periférica 9 adolescentes, sendo a associação estatisticamente significativa (χ2=6,87, p=0,009). Ao relacionar os hábitos de consumo entre os adolescentes verificámos que o consumo de álcool esteve associado a fumar (bebem 91% dos que fumam para 56% dos que não fumam; χ2=48,21, p<0,001). Entre os conviventes mais próximos, verificámos que os adolescentes fumadores estão associados a pais (32% versus 19%; χ2=11,68, p=0,001), irmãos (62% versus 21%; χ2=40,43, p<0,001) e amigos (38% versus 13%; χ2=43,88, p<0,001) fumadores. O mesmo acontece quando relacionamos o consumo de álcool dos adolescentes com o consumo dos pais (χ2=25,94, p<0,001) e dos amigos (χ2=50,4, p<0,001). Não houve associação entre hábitos tabágicos dos adolescentes e os professores (26% versus 21%; χ2 =2; p=0,157). Quadro III – Associação entre o consumo de tabaco e álcool pelos conviventes (pais, irmãos, amigos e professores) e os adolescentes. Adolescente Conviventes Fumador n = 120 Não Fumador n = 387 32% 68% 19% 81% Bebe n = 326 χ2 p 11,681 0,001 25,93 0,000 40,43 0,000 43,88 0,000 Não Bebe n = 181 Pais Fumador (%) n = 179 Não Fumador (%) n = 328 Consome álcool (%) n = 259 Não consome álcool (%) n = 248 75% 25% 53% 47% Irmão(s) Fumador (%) n = 55 Não Fumador (%) n = 343 62% 38% 21% 79% 38% 62% 13% 87% Amigo(s) Fumador (%) n = 222 Não Fumador (%) n = 285 Consome álcool (%) n = 134 Não consome álcool (%) n = 313 84% 16% 52% 48% 0,000 Professor(s) Fumador (%) n = 246 Não Fumador (%) n = 261 26% 74% 21% 79% 2,00 0,157 Legenda: N – número de adolescentes; % – percentagem relativamente ao total de respostas; χ2 – Teste de Qui-quadrado; p – significância do teste, considerado significativo quando p<0,05. Actividade Física Acta Pediatr Port 2006:2(37):42-7 2,71; 0,099 0,460; 0,494 – anos; p – significância do teste, rimentadas, a cerveja é a mais frequente (72%), seguida por bebidas licorosas e vinho em 49% cada uma. Os “shots” são escolhidos por 33%. Ao relacionar a ingestão de bebidas alcoólicas com o sexo e a idade, verificámos um predomínio do sexo masculino (71% para 58% das raparigas) e do grupo Conhecem a SIDA como doença transmissível através da partilha de agulhas no consumo de drogas injectáveis 65%, enquanto 32% apontam igualmente a hepatite B e C. Contudo, 11% sabe que é possível transmitir alguma doença, mas não sabe qual, enquanto que 13% invocam a meningite, não sendo possível estabelecer qualquer relação entre esta informação e os grupos etários (19% versus 20%) e as escolas frequentadas (24% versus 16%). Discussão A escolha recaiu nos 5º, 7º e 8º anos, tendo em conta estudos anteriores que referem como precoce o primeiro contacto com drogas e a influência que isso representa em relação à manutenção desse consumo posteriormente.1,2,4,6,7,8,11,12 Por outro lado, sendo a escolaridade obrigatória de nove anos, é importante tentar identificar os consumos que ocorrem nestas idades com o objectivo de instituir atitudes preventivas. Os adolescentes inquiridos ocupam o seu tempo livre a ver televisão e são igualmente os media a sua principal fonte de informação, situação semelhante aos resultados apresentados por outros.1,4,10,11 Parece-nos contudo preocupante a elevada percentagem de adolescentes que vê mais do que 2 horas de televisão por dia (58%), substituindo outras actividades (como o exercício físico e a leitura) importantes, não apenas 45 Acta Pediatr Port 2006:2(37):42-7 para a sua saúde, como também por estimularem a sua criatividade e sociabilidade.13,14 Por outro lado, a influência da publicidade ao tabaco e ao álcool no consumo dos adolescentes americanos tem sido alvo de debate nos últimos anos.15,16,17 Em Portugal, a legislação estabelece um horário de proibição de publicidade a bebidas alcoólicas em televisão e rádio (entre as 7h e as 22h30min) desde 2001, e, a lei da publicidade, proíbe todas as formas de publicidade ao tabaco através de suportes televisivos nacionais. Contudo, as referências a estes consumos não se limitam à publicidade e estão presentes em telenovelas, filmes, vídeos e videoclips, sendo muitas vezes vistos como comportamentos socialmente agradáveis e tidos pelas personagens principais.1,4,13,18,19 Surpreendeu-nos o facto da família surgir antes dos amigos como fonte de informação, o que poderá ser explicado pela idade jovem dos inquiridos (76% com menos de 13 anos), que ainda mantêm uma ligação familiar forte. Verificámos que o contacto com o tabaco e o álcool ocorreu em média aos 11 anos, o que, embora semelhante a outro estudo nacional20, nos parece precoce21,22. Mais de metade dos inquiridos já experimentaram álcool e só 42% o consideraram como droga, o que está de acordo com outros estudos realizados.2,4,20,23,24 Este resultado está em conformidade com o facto de o álcool estar facilmente ao alcance do adolescente: o consumo legal para o adulto e socialmente aceite, faz com que seja considerado menos perigoso do que as outras drogas e, consequentemente, desvalorizada a perigosidade do seu consumo.4 Por outro lado, o papel cultural que o álcool tem entre nós, mesmo nos nossos dias, facilita a sua aceitação por crianças de tenra idade, ocorrendo muitas vezes no seio familiar.4,21 Henriques M et al – Hábitos de Adolescente As principais limitações deste estudo foram o local de preenchimento do questionário - efectuado na sala de aula e na presença de professores - e o facto de termos uma elevada proporção de respostas omissas quando confrontados com o consumo de substâncias - que poderá ser explicada pela idade jovem da amostra – e que nos leva a questionar se os não respondentes têm os mesmos hábitos dos que responderam. Conclusão Os meios de comunicação social, nomeadamente a televisão, ocupam um papel preponderante na ocupação de tempos livres, na formação e informação dos adolescentes. O contacto com o álcool e o tabaco foi precoce, sendo em média aos 11 anos, assistindo-se a um aumento progressivo dos consumos com a idade, podendo ser influenciado pela conduta dos familiares e amigos. Tudo indica, portanto, que as acções de prevenção têm de ser dirigidas às idades mais jovens, começando nos primeiros anos de escolaridade e envolvendo a família, tendo não só a escola como também o médico, um papel preponderante nesta missão. Agradecimento Acta Pediatr Port 2006:2(37):42-7 8- Azevedo A, Machado AP, Barros H. Prevalência do consumo de tabaco, bebidas alcoólicas, café e drogas de abuso em adolescentes do Porto. Arq Med 1997;11:133-5. 9- Johnson JL, Leff M. Children of substance abusers: Overview of research findings. Pediatrics 1999;103:1085-99. 10- Matos M, Carvalhosa S. 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(*) O tabaco foi a segunda droga lícita consumida pelos adolescentes estudados, com 17,5% de fumadores actuais, valor semelhante aos referidos noutros estudos.20,21,22 Verificou-se um consumo maior entre os mais velhos.20,21,22 Mesmo tendo um valor inferior ao que se verifica entre a população americana25, julgamos importante o facto de encontrarmos 30% de fumadores em festas ou com amigos – fumadores sociais – principalmente se considerarmos o facto de poderem beber (bebem 91% dos que fumam) nestas ocasiões. A aquisição de cigarros à unidade em 3% dos casos traduz um fenómeno emergente, que ultrapassa o velho hábito de pedir ao amigo, havendo a troca comercial – venda – dos cigarros individualmente entre os alunos.26,27 Quando analisámos a influência de outros factores no consumo da nossa população, observámos que o consumo de tabaco e álcool pelos pais e amigos se associou ao consumo pelos inquiridos, facto concordante com outros estudos.1,7,8,20 Também se verificou que o género masculino consome mais que o género feminino20,22, sendo essa diferença significativa em relação ao álcool mas não ao consumo de nicotina. Tal facto é concordante com o estudo de Margarida Matos1 que comparando os anos de 1998 e 2002 notou um aumento valorizável no número de fumadores do sexo feminino. As associações encontradas relativamente ao consumo de drogas ilícitas, apesar de significativas, referem-se a um número muito restrito de alunos (2%). Quando se fala de doenças associadas ao uso de drogas injectáveis é de notar que 68% desconhece a sua associação ao contágio de hepatite B e C, identificando contudo a SIDA em 65%. 46 Referências 1- Matos M e equipa do Projecto Aventura Social & Saúde. A Saúde dos Adolescentes Portugueses (Quatro anos depois). Ed FMH:Lisboa, 2003. 2- Fabião E. Comportamentos aditivos em adolescentes escolarizados. Acta Pediatr Port 1998;2:163-70. 3- Matos M, Simões C, Canha L, Fonseca S. Saúde e estilos de vida nos jovens portugueses. Ed FMH/PPES: Lisboa, 2000 4- Borges S, Correia Z. Álcool e adolescência. Nascer e Crescer 2001;10:285-90. 5- Alexander DE, Gwyther RE. Alcoholism in adolescents and their families. Family-focused assessment and management. Pediatr Clin North Am 1995;42:217-34. 6- DuRant RH, Smith JA, Kreiter SR, Krowchuk DP. The Relationship Between Early Age of Onset of Initial Substance Use and Engaging in Multiple Health Risk Behaviors Among Young Adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med 1999;153:286-91. 7- Ramos S, Cardoso MF, Mendonça D, Santos T, Costa RJ. Os Jovens e as toxicodependências. Saúde Infantil 2000;22:53-70. 47 Acta Pediatr Port 2006:2(37):48-55 0873-9781/06/37-2/48 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO ORIGINAL Neurocisticercose em idade pediátrica Manuela Ferreira1, Maria João Brito1, José Pedro Vieira2, Ana Bárbara Salgueiro1, Maria Céu Machado1 1 - Departamento de Pediatria do Hospital Fernando Fonseca, Amadora. 2 - Serviço de Neurologia do Hospital de Dona Estefânia, Lisboa Resumo Neurocysticercosis in pediatric age A neurocisticercose (NC), causa importante de epilepsia, é a neuroparasitose mais frequente em todo o mundo. A clínica depende da resposta inflamatória do hospedeiro, do número, estadio e localização das lesões mas a forma de apresentação mais comum é a convulsão. Summary Objectivos: Caracterizar a neurocisticercose na população infantil de um Hospital Geral, na Zona Metropolitana de Lisboa. População e Métodos: Revisão de Junho de 1996 a Dezembro de 2003 (6,5 anos) de crianças com neurocisticercose. Analisaram-se dados demográficos e epidemiológicos, quadro clínico, alterações laboratoriais e imagiológicas, terapêutica, evolução e rastreio familiar. Resultados: Registaram-se 14 casos de NC com uma incidência estimada de 1,4/100000 na área estudada, um predomínio em crianças acima dos 10 anos (57%), sexo feminino (71%), oriundas de países africanos (93%) e com condições socioeconómicas deficientes (79%). Em todos os casos havia história epidemiológica para esta infestação. O sinal inaugural foi a convulsão em 86%. Os exames de imagem mostraram uma lesão única < 20 mm, com localização parenquimatosa e com características de lesão activa em 86% dos doentes. A Ressonância Magnética foi o exame de eleição para estadiamento das lesões. Realizou-se terapêutica com anticonvulsivantes e nenhum doente tomou cestocidas ou corticosteroides. A evolução foi favorável na maioria. O rastreio familiar foi realizado em 71 % dos casos. Conclusões: A doença ocorreu em crianças de origem africana com a apresentação habitualmente descrita na literatura. A ausência de terapêutica antiparasitária não interferiu no prognóstico. A história epidemiológica e o rastreio familiar são importantes na detecção de possíveis fontes de contágio e na prevenção da doença. Palavras-chave: neurocisticercose, Taenia solium, criança Acta Pediatr Port 2006;2(37):48-55 Recebido: Aceite: 48 28.06.2005 03.04.2006 Introdução A neurocisticercose (NC) é uma infecção do sistema nervoso central (SNC) causada pela forma larvar da Taenia solium (Cistocercus cellulasae), o parasita do porco 1,2. A Taenia solium tem dois ciclos de vida distintos que envolvem o Homem (fig. 1). A infecção que provoca a parasitose intestinal ocorre após a ingestão de carne de porco contaminada e mal cozinhada, com consequente excreção de ovos nas fezes que podem depois ser ingeridos pelo homem só então levando à cisticercose (A). A cisticercose deve-se então, não à ingestão de carne de porco contaminada, mas sim à ingestão de alimentos contaminados por ovos viáveis do parasita (B). Neurocysticercosis (NC) is a major cause of epilepsy and is the most frequent neuroparasitosis in the world. The clinical manifestations depend on the immune response of the host, the number, stage and location of the lesions, but the frequent presentation form is a seizure. Objective: To study neurocysticercosis in a pediatric population of a general hospital at Lisbon Metropolitan Area. Population and methods: We conducted a retrospective study of children with neurocysticercosis, from 1996, July 1st to 2003, December 31st (6 1/2 years). The analyzed parameters were demographic data, epidemiological history, clinical manifestations, laboratorial and imaging alterations, treatment, evolution and household screening. Results: We identified 14 cases of NC, with predominance in children of the group above 10 years of age (57%), 71.4% females, of African origin (93%) and with deficient social and economic status (79%). All children had epidemiologic history for this disease. Inaugural symptom was a convulsion in 86%. Neuroimaging showed single parenchymal lesion, with size < 20mm, and characteristics of active lesions in 86%. MR was important to establish the stage of the lesions. Therapeutic was made with anticonvulsants, and none has been treated with anticysticercal drugs or corticosteroids. Most of children had a favourable course. Household screening was carried out in 71% of cases. Mais raramente pode haver auto-infestação, em portadores assintomáticos 1,2,3,4,5. Depois de atravessarem a parede intestinal, os ovos do parasita entram em circulação e podem atingir vários órgãos ou sistemas com especial predilecção pelo SNC e globo ocular. Ao atingir estes tecidos, o parasita inicia um processo de degeneração passando por vários estadios de duração variável, que originam manifestações clínicas e aspectos imagiológicas diferentes. Na primeira fase do ciclo o parasita apresenta-se como um quisto envolvido por uma fina membrana, com um nódulo intramural de 2-4 mm denominada de escolex e preenchido por um líquido translúcido. Esta fase denomina-se vesicular e pode durar de um a cinco anos. Habitualmente existe tolerância do hospedeiro ao parasita e as manifestações clínicas de doença podem estar ausentes. Após este período, o parasita deixa de ser viável e desencadeia-se uma intensa reacção inflamatória com degeneração do quisto em que a parede se torna espessada e o conteúdo gelatinoso, denominando-se esta a fase coloidal. O quisto torna-se depois de menores dimensões com conteúdo semi-sólido e progressivamente é substituído por tecido granulomatoso consistindo esta, a fase nodular-granular. É nestas duas últimas fases que surgem os sintomas. Podem ainda ser consideradas na neurocisticercose, duas fases: uma fase activa que normalmente cursa com sintomas, com quistos viáveis (fase vesicular) ou lesões em degeneração (fase coloidal e nodular-granular) nos exames imagiológicos e uma fase inactiva, habitualmente assintomática com calcificação nos exames de imagem 1,3. O diagnóstico pode ser suspeitado nos exames de imagem mas é necessário pensar na doença. Em 1996, Del Brutto 4 propôs pela primeira vez critérios baseados em aspectos clínicos, imagiológicos, serológicos e epidemiológicos, posteriormente revistos em 2000 e actualmente aceites para o diagnóstico de neurocisticercose (Quadro I). A NC é a causa mais comum de epilepsia nos países em vias de desenvolvimento 4,5,6. Países da América Latina, como o Brasil e México, ou da Ásia como a China, Índia, Indonésia, Papua Nova Guiné, Sudoeste Asiático ou a África subsariana são considerados locais endémicos 5,6. Em países desenvolvidos, a incidência da doença tem vindo a aumentar em indivíduos aparentemente sem factores de risco. Tal facto relaciona-se provavelmente com o número crescente de viajantes e de populações que imigram de áreas endémicas para esses países 3,4,5,6. Os principais factores de risco são as más condições de higiene, ausência de saneamento básico, coabitação com porcos, utilização de água não tratada para rega e comercialização de carne de porco não submetida a controle médico-sanitário 4,7,8,9. Estas condições verificam-se em países subdesenvolvidos mas também em alguns meios rurais em Portugal 8,9. Conclusion: The illness predominated in children of African origin and the presentation is in accordance with the literature. Absence of anthelminthic therapy has not worsened the prognosis. Epidemiologic history and familial tracing are important to detect possible sources of infection and to prevent the illness. Key-words: neurocysticercosis, Taenia solium, children Acta Pediatr Port 2006;2(37):48-55 Correspondência: Manuela Ferreira Maria João Rocha Brito Departamento de Pediatria do Hospital Fernando Fonseca IC 19 – 2700 Amadora Telefone: 214 348 299 E-mail: [email protected] Ferreira M et al – Neurocisticercose em idade pediátrica Figura 1 – Ciclo de vida da Taenia solium (Adaptado de Manual of Clinical Microbiology: American Society for Microbiology, 1999).O homem é um hospedeiro definitivo (A). O homem, tal como o porco, comporta-se como um hospedeiro intermediário (B). No intestino cada ovo ingerido liberta várias oncosferas, que atravessam a parede intestinal, entram em circulação e alojam-se em vários locais como o músculo, tecido conjuntivo, pulmão e em especial, SNC e globo ocular. O estudo é realizado num hospital que presta assistência a uma população com um grande número de imigrantes de origem africana. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, cerca de 11% da nossa população é de origem africana no entanto, este valor é seguramente superior dado o número de imigrantes ilegais não considerados habitualmente 10. Estas populações com baixos recursos socio-económicos habitam por vezes em condições precárias de higiene, espaços reduzi49 Acta Pediatr Port 2006:2(37):48-55 Quadro I – Critérios revistos para diagnóstico de NC. Considera-se diagnóstico definitivo a presença de um critério absoluto (A) ou dois critérios major mais um minor e um epidemiológico (2B+C+D) e provável a associação de um critério major e dois minor (B+2C), ou de um major com um minor e um epidemiológico (B+C+D) ou de três critérios minor e um epidemiológico (3C+D). A – Critérios Absolutos 1. Demonstração histológica do parasita em biopsia de cérebro ou medula; 2. Lesões quísticas com visualização do escolex em TAC ou RMN; 3. Visualização directa dos parasitas na fundoscopia. B – Critérios Major 1. Lesões altamente sugestivas de NC em TAC e RMN; (*1) 2. Serologia positiva (EITB) para cisticerco; 3. Resolução das lesões quísticas intracranianas após terapêutica com albendazol / praziquantel; 4. Resolução espontânea de pequenas lesões captantes. (*2) C – Critérios Minor 1. Lesões compatíveis com a NC em TAC e RMN; (*3) 2. Manifestações clínicas sugestivas de NC; (*4) 3. ELISA positivo no LCR para cisticerco; 4. Evidência de cisticercose extra SNC. (*5) D – Critérios Epidemiológicos 1. Evidência de infecção a Taenia solium em coabitantes; 2. Origem ou residência em país endémico para NC; 3. História de viagens para áreas endémicas para NC. Notas: (*1) Lesões quísticas sem visualização do escolex, imagens captantes de contraste, calcificações típicas parenquimatosas; (*2) Lesões solitárias em anel < 20 mm em pacientes com convulsão, exame neurológico normal e sem evidência de doença sistémica; (*3) Hidrocefalia, imagem captante das leptomeninges, múltiplos defeitos de preenchimento da coluna do meio de contraste no mielograma; (*4) Convulsões, sinais neurológicos focais, hipertensão intracraniana e demência; (*5) Evidência histológica de lesões subcutâneas ou musculares, calcificações dos tecidos moles em radiografias, visualização do cisticerco na câmara anterior do olho. Duas lesões diferentes altamente sugestivas de NC em TAC e RMN = 2 critérios MAJOR. dos e elevado número de conviventes no agregado familiar. Por outro lado, deslocam-se também frequentemente ao seu país de origem sendo responsáveis por algumas das patologias de importação que ocorrem no nosso hospital. O objectivo do nosso trabalho foi caracterizar os casos de NC do Departamento de Pediatria de um hospital geral, na Zona Metropolitana de Lisboa. População e Métodos Foi feita a revisão da casuística através da colheita de dados dos processos clínicos das crianças com o diagnóstico de neurocisticercose, internadas ou seguidas nas consultas de Infecciologia e Neurologia Pediátrica do Departamento de Pediatria. Os critérios de diagnóstico estabelecidos encontram-se no Quadro I. Foi utilizada a escala de Graffar modificada para a caracterização social da população. O período em estudo foi de 1 de Junho de 1996, a 31 de Dezembro de 2003 (6,5 anos). Os parâmetros analisados foram: distribuição anual, idade, sexo, raça e origem geográfica, condições socio-económicas, história epidemiológica, manifestações clínicas, alterações laboratoriais e aspectos imagiológicos, terapêutica, evolução e rastreio familiar. 50 Ferreira M et al – Neurocisticercose em idade pediátrica A serologia para cisticerco foi realizada pelas técnicas de imunoelectrodifusão (IED), enzyme – linked immonosorbent assay (ELISA) e imunodifusão (ID) no Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) de Lisboa. Resultados Registaram-se 14 crianças com o diagnóstico de neurocisticercose. De acordo com os critérios actuais o diagnóstico definitivo foi realizado em 12 (86%) casos, com dois critérios major, um critério minor e um critério epidemiológico. Os restantes dois casos são diagnósticos prováveis que reúnem um critério major, um minor e um epidemiológico. Este estudo aponta para uma incidência estimada de 1,4 por 100.000 crianças da área de residência do nosso hospital, com uma média de dois casos por ano. A idade variou entre os dois e os 18 anos, com maior incidência no grupo etário acima dos 10 anos (57%), a média aos 10 anos e mediana aos 11 anos. Houve um predomínio do sexo feminino (n=10; 71%) e da raça negra (n=13; 93%). Acta Pediatr Port 2006:2(37):48-55 crianças realizou posteriormente ressonância magnética craneoencefálica (RM-CE). A localização e número das lesões encontram-se resumidos no Quadro II. As lesões eram supratentoriais e parenquimatosas em todos os casos sendo o lobo parietal o mais frequentemente envolvido. Dois doentes, com lesões múltiplas tinham, também uma única lesão a nível do espaço sub-aracnoideu, sem evidência de hidrocefalia ou aracnoidite. Não se registou nenhum caso de localização ventricular. No que respeita ao número de lesões encontradas 10 (71%) doentes tinham lesão única. (fig. 2 e 3) com dimensões inferiores a 20 mm em todos os casos. De acordo com os aspectos imagiológicos a lesão mais frequentemente encontrada, em 12 (86%) casos, foi do tipo inflamatório, isto é, lesões captantes em anel ou nodulares, com edema perilesional (fig. 3 e 4). Os restantes dois casos, que eram doentes assintomáticos, apresentavam lesões de calcificação (fig. 5). Relativamente às condições socio-económicas, as famílias de sete crianças (50%) pertenciam à classe IV de Graffar. A média de habitantes por divisão foi de três. Todas crianças tinham contacto com países endémicos. Treze eram de origem africana: Angola (6), Guiné-Bissau (3), Cabo Verde (2), África do Sul (1) e São Tomé e Príncipe (1) e residiam em Portugal por períodos que variavam entre os oito meses e os quatro anos. O único doente nascido em Portugal tinha feito uma viagem a um país endémico, neste caso ao Brasil, cinco anos antes do início dos sintomas. A convulsão foi a forma de apresentação da doença em 12 (86%) casos. O tipo de convulsão foi generalizada em três doentes, focal em dois e focal com generalização secundária em sete. A duração do episódio convulsivo variou entre 3 e 30 minutos com uma mediana de 5 minutos. Na maioria (71%) dos casos registou-se apenas um episódio convulsivo, mas duas crianças tiveram mais que dois episódios no período de doença aguda. Registou-se deficit neurológico focal transitório, com alterações da visão e parestesias no membro inferior em dois casos e um caso cursou com cefaleias e vómitos, no período imediatamente a seguir à crise. Duas crianças, oriundas da Guiné, tinham diagnóstico prévio de epilepsia e estavam medicadas com anticonvulsivantes. Duas crianças encontravam-se assintomáticas. O diagnóstico foi realizado no decorrer de investigação de outra patologia em um caso e a outra criança foi investigada no decurso de um rastreio familiar. Quadro II – Aspectos radiológicos – localização, número e dimensões das lesões Localização anatómica Casos Frontal 3 Temporal 1 Parietal 6 Occipital 2 Gânglios da base 2 Localização cerebral Casos Parênquima cerebral: junção cortical / subcortical: n = 6; cortex: n = 3, substância branca: n = 3, putamen: n = 1, talamo: n = 1 14 Subaracnoideia 2 Ventricular 0 Número de lesões Casos Lesão única n = 10 Lesões múltiplas n=4 Dimensões Casos Diâmetro <20 mm n = 14 Figura 3 – Lesões múltiplas de cistecercose cerebral cortical em Axial Flair e Axial T1 com gadolínio. Nos exames laboratoriais verificou-se que cinco (46%) doentes tinham eosinofilia do sangue periférico mas em dois havia toxocarose associada. O exame parasitológico das fezes (três amostras) foi negativo em todos os doentes. A serologia para cisticerco foi positiva em 13 (91%) casos, com valores positivos nos testes de IED e ELISA em todos eles. O teste de ID não foi positivo em nenhum caso. O único doente em que a serologia foi negativa foi uma criança assintomática com lesão única calcificada. A tomografia axial computorizada craneoencefálica (TAC-CE) foi o exame de primeira linha, sendo que a maioria (93%) das Ferreira M et al – Neurocisticercose em idade pediátrica Todas as crianças sintomáticas tomaram anticonvulsivantes com valproato de sódio (5) ou carbamazepina (7). Nenhum doente fez terapêutica com cestocidas ou corticoides. Figura 2 – Cisticerco em degeneração na RM. Lesão única cortical frontal com reforço de sinal em T1 após gadolínio, em anel com marcado edema peri-lesional. Treze (93%) doentes foram seguidos em consulta durante um período mínimo de dois meses e máximo de 48 meses (mediana de 24 meses). Verificou-se evolução favorável na maioria mantendo-se os doentes sob terapêutica anticonvulsivante. Em dois casos, apesar da terapêutica instituída voltaram a 51 Acta Pediatr Port 2006:2(37):48-55 Ferreira M et al – Neurocisticercose em idade pediátrica registar-se novos episódios convulsivos, meses após a alta. Uma das crianças tinha antecedentes de encefalopatia epiléptica prévia. No outro caso tratava-se do único doente com lesões múltiplas (sete lesões) sendo uma delas de localização subaracnoideia, em que se registaram mais três crises convulsivas nos três meses imediatamente a seguir à alta. Actualmente encontra-se assintomático e a evolução imagiológica também é favorável. Em ambulatório a ressonância magnética (RM-CE) foi o exame de primeira linha para o seguimento dos doentes. Embora em nenhum doente houvesse desaparecimento das lesões na maioria a evolução imagiológica foi favorável com diminuição do tamanho das lesões e desaparecimento do edema perilesional em todos os casos e calcificação das lesões em dois doentes. O rastreio familiar realizado em 10 (71%) casos, revelou serologia positiva em quatro famílias com exame parasitológico das fezes negativo em todos os casos. Foi feito ensino sobre a forma de transmissão da doença e educação às famílias infectadas que foram referenciadas ao Instituto de Higiene e Medicina Tropical. Discussão Figura 4 – Cisticercos em degeneração em RM. Duas lesões em anel (Axial T1 com gadolínio e lesão nodular (Coronal T1 com gadolínio) ambas com edema peri-lesional. A incidência da neurocisticercose varia com a origem geográfica e com o tipo de população em causa. No nosso estudo a incidência baseada num registo hospitalar foi de 1,4/100 000 casos pediátricos na área analisada. No México país habitualmente endémico a incidência aproximada é de 0,8/100000 casos com 15% dos casos com idade inferior a 15 anos. Uma das incidências mais elevadas do mundo regista-se no Brasil, em Ribeirão Preto, com 54,5/100000 casos. Mas a doença pode também ocorrer em países em que esta patologia é importada. Em Los Angeles, entre 1988-1990, em comunidades imigrantes observou-se uma incidência de 1,6/100000 casos 5. O mesmo aconteceu na nossa revisão. Segundo dados do INE, 11% dos residentes dos Concelhos de Amadora e Sintra, são imigrantes de origem africana. A grande maioria (38%) provém de Angola, seguido de Cabo Verde (16%), Guiné-Bissau (12%). Um estudo epidemiológico realizado em 1992 numa aldeia do norte de Portugal revelou uma seroprevalência da parasitose de 8% 8 e entre 1993 e 1996, a Direcção-Geral da Saúde registou 379 casos de cisticercose, 201 de neurocisticercose e com 19 abaixo dos 14 anos de idade 9. Como seria de esperar, a maioria das crianças da nossa série tinha mais de 10 anos de idade. A doença ocorre na criança mais velha e no adulto, porque embora possam ocorrer períodos de incubação muito variáveis entre meses a 30 anos habitualmente este período é longo com uma média de cinco anos 1,7,11. O predomínio do sexo feminino encontrado não está descrito na literatura. Com excepção de algumas séries da Índia e Brasil onde o sexo masculino é o mais frequente, habitualmente não existe uma predilecção da doença por um determinado sexo 7. A maioria das crianças tinha más condições socioeconómicas e como noutros estudos verificou-se que os doentes eram oriundos de países endémicos, neste caso como já foi referido Figura 5 – Calcificação occipital em TAC-CE. 52 Acta Pediatr Port 2006:2(37):48-55 de origem africana. A ausência de medidas de higiene e de saneamento básico, associadas às características climatéricas destes países com níveis de humidade e temperatura elevadas são determinantes para a manutenção da cadeia de transmissão da doença em que o ambiente húmido e quente pode ser favorável à sobrevivência dos quistos 1,5,11. Em 70% dos casos a NC pode ser assintomática, mas a forma de apresentação mais comum é a convulsão. O quadro clínico depende não só do número e localização das lesões, como também do seu estadio e evolução assim como da resposta imunitária do hospedeiro 1,2,3,4,5,6. Todos estes factores podem contribuir para a apresentação pleomórfica da doença e explicar a fraca correlação que por vezes existe entre a localização das lesões e os sintomas 7. Na criança, a convulsão focal com generalização secundária é a manifestação mais frequente tal como se verificou no nosso estudo. Em três crianças a convulsão era descrita como generalizada, contudo o mais provável é ter ocorrido inicialmente uma convulsão focal com generalização secundária em que a componente focal não tenha sido identificada. A convulsão de curta duração é também a mais frequente 6,7,11. Duas crianças tiveram status epilepticus o que apesar de não ser comum pode ocorrer de acordo com algumas séries em até 32% dos doentes 7. A duração da convulsão não tem relação com o prognóstico já que crianças com episódios convulsivos mais prolongados, não têm necessariamente exames de imagem mais alterados e evolução menos favorável 7. Mais raramente podem ocorrer sintomas de hipertensão intra-craniana, encefalite, deficit neurológico focal, alterações psiquiátricas e do comportamento1,2,3,4,5,6,7. Os deficites focais observados em dois dos nossos doentes foram breves e transitórios e observados imediatamente a seguir à convulsão. Duas crianças oriundas da Guiné tinham antecedentes de epilepsia prévia, estando já medicadas com anti-epilépticos no momento do diagnóstico da NC. Em um caso pela associação de deficite cognitivo grave, existência de malformação bilateral dos hipocampos e EEG com traçado de base lenta e actividade epiléptica generalizada, pensamos que a epilepsia poderá ter outra etiologia; no entanto na outra criança a epilepsia prévia poderá ser uma complicação da neurocisticercose ainda não diagnosticada no seu país de origem. Em duas crianças o diagnóstico foi feito no decurso de investigação de outras patologias Ambas estavam assintomáticas e tinham imagem de calcificação parenquimatosa na TAC-CE, que corresponderá a uma fase inactiva da doença pelo que não foram medicadas. Os métodos serológicos recomendados para diagnóstico são baseados na detecção de anticorpos específicos para a Taenia solium 4,11,12. Destes o mais frequentemente utilizado é o enzyme-linked immunoelectrotransfer blot (EITB) com uma especificidade que ronda os 100% e uma sensibilidade de 94% a 98% 6. A serologia é positiva em até 50% dos casos de doentes com lesões parenquimatosas únicas 4,11,13. No nosso caso os métodos serológicos de imunoelectrodifusão (IED), enzyme – linked immonosorbent assay (ELISA) e imunodifusão (ID) que também se baseiam na detecção de anticorpos para a Taenia solium, utilizados no Instituto de Higiene e Medicina Ferreira M et al – Neurocisticercose em idade pediátrica Tropical (IHMT) de Lisboa são bastante sensíveis mas muito pouco específicos pelo que o seu contributo no diagnóstico deve ser encarado com alguma precaução. Os exames de imagem permitem o estadiamento da doença. Na fase inicial ou vesicular podem encontrar-se um ou mais quistos bem delimitados, com um nódulo intramural – o escolex, que não captam contraste e sem edema perilesional. Quando se desencadeia a resposta imunológica do hospedeiro com uma intensa reacção inflamatória e degeneração do parasita, surgem imagens em anel ou nodulares que captam contraste e edema vasogénico perilesional que corresponde às fases coloidal e nodular-granular. Estas lesões podem desaparecer ou evoluir para a calcificação com desaparecimento posterior, em meses ou anos. Tal como na fase vesicular, na presença de calcificações habitualmente não existe sintomatologia, mas mais raramente estas lesões podem resultar em focos epilepsinogénicos residuais 3,13. A RM é o exame de eleição para visualizar lesões localizadas a nível dos ventrículos e espaço sub-aracnoideu, sendo também mais sensível e específica no estudo de lesões em degeneração. Pelo contrário a TAC é mais sensível para a visualização de calcificações parenquimatosas. Por este facto, ambos os exames devem ser utilizados para o diagnóstico e seguimento dos doentes 11,13,14. No nosso estudo as lesões mais frequentes eram altamente sugestivas de NC, únicas, do tipo inflamatório, isto é, com captação de contraste e edema, parenquimatosas supratentoriais e com dimensões inferiores a 20 mm o que está de acordo com a literatura 7,11,15. Em determinadas situações, este tipo de lesões podem levantar problemas no diagnóstico diferencial imagiológico como tuberculoma, abcesso piogénico, granuloma micótico, tumores primários ou metástases cerebrais. No entanto, lesões com estas características que não desviam as estruturas da linha média em criança sem evidência de doença sistémica são altamente sugestivas de NC e devem ser correlacionadas com outros critérios 4. Relativamente ao número de lesões encontradas, quatro crianças tinham duas ou mais lesões, e em dois casos uma das lesões encontrava-se no espaço sub-aracnoideu, no entanto, sem evidência de hidrocefalia ou aracnoidite. Estes dados estão de acordo com outras séries em que se verifica que a localização extra-parenquimatosa, que cursa com mais complicações, é mais frequente em adultos, sendo rara em crianças 15. No caso das duas crianças assintomáticas as lesões de calcificação, poderiam colocar também problemas de diagnóstico diferencial como doença metabólica, malformação vascular, neoplasia, anomalia congénita ou outras infecções. No entanto, as calcificações supratentoriais sólidas e densas, com dimensões inferiores a 10 mm, em crianças sem evidência de outras doenças são altamente sugestivas de NC 4. A terapêutica recomendada é individualizada e deve basear-se na viabilidade, tamanho e localização dos quistos, gravidade da resposta imunitária do indivíduo e existência de complicações como hidrocefalia 1,11,16,17. A terapêutica médica pode ser apenas sintomática com a utilização de analgésicos, anticonvulsivantes e medidas médicas antiedema cerebral como corticoides e agentes osmóticos ou envolver a utilização de antiparasitários 11,16. Os antiparasitários recomendados são o praziquentel na dose de 53 Acta Pediatr Port 2006:2(37):48-55 50-100mg/kg/dia, durante 15-30 dias ou o albendazol na dose de 15mg/kg/dia com dose máxima de 800 mg/dia, durante 8-30 dias. A maioria dos estudos aponta o albendazol como o fármaco de escolha por ter uma actividade cestocida 20% superior, acção potenciada pela dexametasona, menos efeitos secundários e ser mais económico. Entre o segundo e o quinto dia de terapêutica cestocida podem ocorrer exacerbações dos sinais neurológicos devido à resposta imunitária desencadeada pela morte do parasita. Por este motivo deve associar-se corticoides à terapêutica cestocida, sendo a dexametasona na dose de 2mg, duas vezes ao dia, a mais utilizada 1,11,16,17,18,19. A decisão de tratar lesões parenquimatosas do tipo inflamatório ou granulomas com terapêutica sintomática ou associar antiparasitários, é controversa 11,17. Estudos randomizados demonstram não haver vantagem no uso de cestocidas porque estas formas têm resolução espontânea ao fim de alguns meses e por outro lado os cestocidas, podem agravar o quadro neurológico, aumentando a reacção inflamatória desencadeada pela morte do parasita 11,16,17,18,19. No entanto outros estudos referem que o tratamento de quistos viáveis (na fase vesicular, que não captam contraste) com antihelmintas melhora o controle das convulsões. Isto deve-se ao facto, de que a quimioterapia nestas formas iniciais pode acelerar a involução das lesões com menor formação de granulomas do que na evolução natural 19. Nas formas mistas de NC, com localização parenquimatosa e subaracnoideia e, ou ventricular o uso de cestocidas pode estar indicado (com albendazol) pela sua maior acção ao nível do LCR 16. No nosso estudo duas crianças apresentavam formas mistas, com uma lesão de pequenas dimensões no espaço sub-aracnoideu. A decisão de não fazer quimioterapia nestes doentes baseou-se sobretudo no receio de agravamento neurológico, preferindo-se apenas a terapêutica sintomática e uma vigilância estreita na consulta. Em ambos os casos a evolução clínica foi favorável com desaparecimento da lesão, na RM realizada posteriormente. O que parece ser consensual é que a quimioterapia em lesões calcificadas e quistos não viáveis não está indicada 11,16,17,18,19. Ferreira M et al – Neurocisticercose em idade pediátrica Na nossa revisão não se verificaram outras complicações mais raras como vasculite, meningite crónica, encefalite ou hidrocefalia que surgem sobretudo associadas às formas com envolvimento do espaço sub-aracnoideu 1,7,11,17. O rastreio familiar pedido em todos os doente, mas só realizado em 71% dos casos, revelou serologia positiva em quatro famílias. O objectivo é detectar portadores assintomáticos e tratá-los, para que se interrompa a cadeia de transmissão da doença 5,11. O facto da maioria dos indivíduos infectados ser assintomático associado à contagiosidade do agente – um parasita elimina por dia para o meio ambiente até 20.0000 ovos completamente embrionados – torna esta doença um importante problema de saúde pública 1,2,5,11. Para controlo desta infestação salientam-se as medidas gerais de higiene, educação das populações, existência de saneamento básico, tratamento das águas de rega, a não coabitação com porcos e a comercialização de carne de porco apenas submetida a controlo sanitário 5,11. Por outro lado, em países não endémicos em que o foco de contágio pode ter origem em populações imigrantes e viajantes para além das medidas gerais, a detecção e tratamento da parasitose intestinal a nível dos cuidados primários, nestes grupos de riscos é fundamental. 7. Morales NM, Agapejev S, Morales RR, Padula NA, Lima MM. Clinical aspects of neurocysticercosis in children. Pediatr Neurol 2000;22:287-91. 8. Monteiro L, Silveira A, Sampaio-Silva M, Correia JM, Costa AM, Carvalho MT, et al. Teníase/cisticercose por Taenia solium: estudo epidemiológico piloto numa aldeia do norte de Portugal. Revista Portuguesa de Doenças Infecciosas 1995;3-4:182-8. 9. Vilhena M, Lima G, Gíria J. Situação da Cisticercose humana em Portugal: 1993 a 1996. Saúde-Numeros 1997;12:25-8. 10. Instituto Nacional de Estatística. Recenseamento da População e Habitação 2001. Número de habitantes por nacionalidade e local de residência nas Freguesias dos Concelhos da Amadora e Sintra. 11. Red Book: Report of the Committee on Infectious Diseases, 26th edition. Chicago: American Academy of Pediatrics 2003;560-1. 12. Garcia HH, Parkhouse RM, Gilman RH, Montenegro T, Bernal T, Martinez SM, et al. Serum antigen detection in the diagnosis, treat- ment, and follow-up of neurocysticercosis patients. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2000;94:673-6. 13. 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Este facto relaciona-se provavelmente com o número crescente de viajantes e de populações imigrantes de áreas endémicas para esses países. A história epidemiológica e o rastreio familiar são por isso determinantes na detecção de possíveis fontes de contágio e na prevenção da doença. De acordo com o nosso estudo, a ausência de terapêutica antiparasitária não parece interferir no prognóstico. Agradecimentos À Dra. Leonor Bastos, do Serviço de Radiologia do Hospital de Dona Estefânia (HDE) pela ajuda preciosa na interpretação dos exames de neuroimagem e ao Dr. Luís Varandas do Serviço de Infecciologia do HDE pelas sugestões pertinentes. A terapêutica cirúrgica tem indicação na hidrocefalia activa para colocação de derivação ventrículo-peritonial ou para remoção do parasita quando existe localização ventricular ou medular 1,11,16. 1. Mandell GL, Bennett JE, Dolin R. Mandell, Douglas and Bennetts’s principles and practices of infectious diseases, 6th ed. London: Churchill Livingstone, 2004. 54 6. St Geme JW 3rd, Maldonado YA, Enzmann D, Hotez PJ, Overturf GD, Schantz PM. Consensus: diagnosis and management of neurocysticercosis in children. Pediatr Infect Dis J 1993;12:455-61. Ferreira M et al – Neurocisticercose em idade pediátrica Conclusões Quanto à duração da terapêutica com convulsivantes algumas séries referem que os anticonvulsivantes devem ser suspensos quando se verifique resolução das lesões nos exames de imagem, quando o EEG for normal e não se verifiquem convulsões por um período de dois anos 3,11. O nosso grupo de doentes mantém-se medicado visto que nenhum doente teve ainda resolução das lesões. Em todos os casos a evolução clínica e imagiológica foi favorável com diminuição das dimensões das lesões, desaparecimento do edema perilesional, tendência para a calcificação e desaparecimento de algumas lesões em doentes com lesões múltiplas. As duas crianças já referidas tiveram crises convulsivas meses após a alta. Em uma delas pensamos que possivelmente a epilepsia teria outra etiologia; no outro caso em que existiam múltiplas lesões aumentou-se a dose dos anticonvulsivantes com resposta favorável pelo que se decidiu manter vigilância. Acta Pediatr Port 2006:2(37):48-55 Referências 2. Murray PR, Baron EJ, Pfaller MA, Tenover FC, Yolken RH. Manual of Clinical Microbiology, 7th ed. Washington DC: American Society for Microbiology, 1999. 3. Singhi PD, Baranwal AK. Single small enhancing computed tomographic lesions in Indian children – II. Clinical features, pathology, radiology and management. J Trop Pediatr 2001;47:266-70. 4. Del Brutto OH, Rajshekhar V, White Jr. AC, Tsang VCW, Nash TE, Takayanagui OM et al. Proposed diagnostic criteria for neurocysticercosis. Neurology 2001;57:177-83. 5. Roman G, Sotelo J, Del Brutto OH, Flisser A, Dumas M, Wadia N, et al. A proposal to declare neurocysticercosis an international reportable disease. Bull World Health Organ 2000;78:399-406. 55 Acta Pediatr Port 2006:2(37):56-8 0873-9781/06/37-2/56 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria CASO CLÍNICO Quando a esponja apetece… um caso de pica Marta João Silva1, Felisbela Rocha1, Ana Corina Rodrigues2, Maria do Céu Ribeiro1, Sónia Carvalho1, Paula Fonseca1, Fernanda Carvalho1, Maria Teresa Graça2 1 - Serviço de Pediatria. Hospital São João de Deus, SA - Vila Nova de Famalicão 2 - Serviço de Pedopsiquiatria. Hospital Maria Pia - Porto Resumo Introdução: A pica define-se como uma perturbação do comportamento alimentar cuja característica essencial é a ingestão persistente de substâncias não nutritivas por um período de pelo menos um mês. Caso Clínico: Criança do sexo masculino de 5 anos de idade com história de ingestão de esponja sintética (forro de cadeiras, colchões, bases de arranjos florais,..) desde há 8 meses. Internado por suspeita de bezoar, devido ao aparecimento de vómitos matinais com pedaços de esponja e abdominalgias, com 15 dias de evolução. Referia gostar do sabor da esponja. Apresentava atraso da linguagem e palidez cutânea e das mucosas, com anemia ferropénica na avaliação analítica. Não foram detectados quaisquer sinais que evidenciassem a presença de psicopatologia grave apresentando, no entanto, baixa autonomia e alguns comportamentos regressivos. Com a terapêutica com ferro e orientação por pedopsiquiatria verificou-se o desaparecimento deste comportamento. Discussão: A pica é multifactorial, associa-se a défices nutricionais, como o ferro, a factores psicossociais, como o atraso do desenvolvimento e a falta de estímulo ou desorganização familiar e a factores sensoriais, como o gosto pelo sabor e textura da substância ingerida. O bezoar é uma complicação rara que deve ser sempre excluída. Conclusão: O diagnóstico de pica é difícil na ausência de complicações que a sinalizem e requer um elevado índice de suspeição. A abordagem tem de ser estruturada e multidisciplinar e abranger todos os factores intervenientes e possíveis complicações. Uma avaliação analítica e psicológica deve ser efectuada em todos os casos. Palavras-chave: pica; esponja; anemia ferropénica; bezoar; abdominalgia. Acta Pediatr Port 2006;2(37):56-8 Pica for sponge: a case report Summary Introduction: Pica is defined as the persistent eating of nonnutritive substances for a period of at least one month. Recebido: Aceite: 56 07.02.2005 01.03.2006 Case Report: A 5 years old boy with sponge ingestion for 8 months was admitted in our hospital suspecting of a bezoars because of abdominal pain and vomits for 15 days. He enjoyed the taste for sponge. Iron deficiency anaemia was detected and he did not present any mental retardation although he showed a low autonomy and some regressive behaviour. Treatment with iron supplements and psychological orientation led to cessation of pica. Discussion: The cause of pica is related to many factors. Deficiencies of minerals, such as iron, psychosocial or neuropsychiatric causes, such as developmental delay or family stress and sensory theories, as pleasure for the taste or texture, are possible causes. Bezoars are a rare complication that must be excluded. Conclusion: Discovery of pica behaviour can be difficult in the absence of complications that might signal such eating patterns. The diagnosis can be easily missed without a high degree of suspicion and physicians must be prepared for this kind of cases in their daily practice. A structured approach with blood samples and psychological evaluation must be taken in all patients. Key-words: pica; sponge; iron deficiency; bezoars; abdominal pain. Acta Pediatr Port 2006;2(37):56-8 Introdução O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV) define pica como uma perturbação do comportamento alimentar cuja característica essencial é a ingestão persistente de substâncias não nutritivas por um período de pelo menos um mês1. São ainda critérios de diagnóstico o comportamento ser inapropriado em termos evolutivos e não fazer parte de nenhuma prática culturalmente sancionada1. Pode, por vezes, ocorrer exclusivamente durante a evolução de uma perturbação mental sendo, nesse caso, o seu diagnóstico isolado feito se tiver gravidade suficiente para merecer atenção clínica independente. ou supervisão parental (nutricional ou psicológico) 1,2,3. Acontece em ambos os sexos e em todas as idades, sendo mais frequente nas grávidas, nas crianças e nas classes socioeconómicas mais baixas2,3. Os dados epidemiológicos sobre a prevalência desta perturbação são limitados, sendo muitas vezes subdiagnosticada, principalmente na idade pré-escolar1. Normalmente têm início na primeira infância, sendo necessária investigação se ocorrer após os dois anos de idade (pode ser normal entre os 18 e os 24 meses) 1,4. Nos casos associados a atraso mental, a prevalência de pica tende a aumentar com a gravidade do atraso1. A pica representa mais um sintoma complexo do que uma doença3. Várias teorias tentam explicar a sua etiologia. A teoria nutricional (défice específico de minerais como o ferro e o zinco) é a mais frequentemente usada, porém existem muitas outras como a teoria sensorial (gosto pelo sabor ou textura), fisiológica (melhoria de náuseas, perda de peso), neuropsiquiátrica (perturbação obsessivo-compulsiva, comportamento aditivo), cultural ou psicossocial (stress familiar) 5. O bezoar é um conglomerado de material orgânico não digerido que pode provocar obstrução intestinal e uma das complicações, apesar de rara, da pica6. Ocorre maioritariamente no estômago, mas tem sido descrito em todo o tracto gastro-intestinal6. As principais complicações dependem do tipo e da quantidade de substância ingerida e são essencialmente a toxicidade (chumbo), a obstrução intestinal (trico, fito ou lactobezoar), o excesso de ingestão calórica (comedores de amido), a depleção nutricional, a infecção parasitária e lesão dentária6,7,8. Várias modalidades de imagem têm sido usadas para o diagnóstico de bezoar. A radiografia contrastada e/ou ecografia são exames de primeira linha9. Caso Clínico Criança do sexo masculino com 5 anos de idade, caucasiana, trazida ao Serviço de Urgência por ingestão de esponja sintética (forro de cadeiras, colchões, bases de arranjos florais, …) desde há 8 meses e aparecimento de vómitos matinais de características alimentares com pedaços de esponja associados a abdominalgia com 15 dias de evolução (Figura 1). Quando questionado referiu ingerir esponja porque gostava. Ao exame objectivo apresentava palidez cutânea e das mucosas, ligeiro atraso da linguagem e abdómen mole e depressível sem sinais de irritação peritoneal ou organomegalias. Era o segundo filho de pais jovens saudáveis pertencentes a uma Classe de Graffar adaptado de IV (Média Baixa). A gravidez foi vigiada, sem intercorrências, com serologias maternas negativas. O parto foi eutócico, hospitalar, às 40 semanas, apresentando ao nascimento Índice de Apgar 9-10 e antropometria de 3470 g / 48,5 cm / 34 cm. O período neonatal decorreu sem intercorrências. Iniciou episódios de convulsões febris aos 18 meses (sete episódios), tendo ocorrido a última crise há cerca de dois anos. Aos três anos de idade foi internado por infecção por citomegalovírus e anemia ferropénica, tratada com ferro oral. Apresentava crescimento estaturo-ponderal no P25 e 50, respectivamente, e o plano de vacinação estava actualizado. Foram detectados erros alimentares com pouca ingestão de carne. O estudo analítico revelou anemia ferropénica [Hb 10,2 g/dl; Hct 29,6%; VCM 75,8fl; CHCM 34,6 g/dl; RDW 17,4%; Fe 16 µg/dl (N 43-184); Ferritina 4,4 µg/dl (N 20-280); CTFF 420 µg/dl (N 288-359); Transferrina 330 mg/dl (N 200-360)]. A radiografia esofago-gastroduodenal contrastada foi normal. Foi tratado com ferro oral (4 mg/Kg/dia) e observado por pedopsiquiatria que não encontrou sinais de psicopatologia grave nomeadamente, Perturbação Global do Desenvolvimento, Deficiência Mental ou Perturbação Obsessivo-Compulsiva. A avaliação psicológica revelou um Quociente de Inteligência de 87 com um nível geral de desenvolvimento abaixo da média, mas não suficientemente grave para justificar o quadro. Mostrou-se uma criança algo imatura, com baixa autonomia e alguns comportamentos regressivos (dorme com os pais, não é capaz de se vestir só, usa biberão). Não apresentou vómitos durante o internamento nem foi objectivada ingestão de esponja apesar de ter afirmado que a melhor esponja do hospital era a da casa de banho porque sabia a champô. Foi orientado para as Consultas de Pediatria Geral, Pedopsiquiatria e Terapia da Fala, apresentando, três meses depois, anemia em resolução, sem novos episódios de ingestão de esponja e alguma melhoria da autonomia (deixou de dormir no quarto com os pais e já é capaz de se vestir só), mantendo o problema de indução das palavras, controlado com a concentração. Discussão A pica está frequentemente associada a atraso mental, desorganização familiar, pobreza, negligência ou falta de estímulo Correspondência: Marta João Silva Rua das Mimosas Nº 39 Milheirós 4475-079 Maia E-mail: [email protected] Silva MJ et al – Um caso de pica Figura 1 – Exemplo de um dos bancos da cozinha de casa, revelando ausência de parte da esponja sintética do assento. A patogénese da pica não está bem definida. Estados anémicos, incluindo a anemia por défice de ferro, estão associados a este tipo de perturbação2,4,8,9,10. A pica tem também sido descrita como sintoma de défice de ferro mesmo com níveis normais de hemoglobina, não parecendo relacionar-se com a gravidade da anemia2,10. Apesar de ainda não completamente esclarecida, a pica parece ser mais uma consequência do que causa de anemia ferropénica ocorrendo, em muitos casos, regressão ou desaparecimento da mesma com a correcção nutricional e o seu reaparecimento com as recaídas do défice de ferro2,4. A ingestão de gelo é o tipo de pica mais associado ao défice de ferro e parece ser o que melhor responde ao tratamento no entanto, apesar de terem uma resposta mais incon57 Acta Pediatr Port 2006:2(37):56-8 sistente, tem-se observado a completa resolução de outras formas de pica com a suplementação deste mineral 2. Na ingestão de esponja são particularmente importantes os factores sensoriais como o cheiro e a textura5. Nenhuma teoria justifica por si só a pica, dado esta ser quase sempre multifactorial5. O diagnóstico de pica é muito difícil na ausência de complicações que a sinalizem e requer um elevado índice de suspeição. Os pais subrelatam este tipo de comportamentos, muitas vezes por embaraço ou porque não consideram importante mencioná-lo. Devem ser sempre efectuadas questões directas e específicas sobre a ingestão de substâncias não nutritivas aos pais e à criança. A ingestão de esponja é uma causa, apesar de rara, de bezoar6,10. O bezoar deve estar sempre entre os diagnósticos diferenciais de abdominalgia recorrente na criança e é uma das complicações de pica2,6. A sintomatologia de bezoar varia entre náuseas, epigastralgia, vómitos, saciedade precoce, perfuração gástrica, obstrução intestinal e peritonite6. A radiografia abdominal deve ser realizada quando se suspeita de obstrução intestinal (bezoar ou parasitas) 6. Na abordagem da pica deve ser efectuado um exame físico completo e estudo analítico com hemograma, esfregaço de sangue periférico, cinética de ferro, função hepática, ionograma e doseamento do chumbo (se necessário) 8. Um exame parasitológico de fezes pode ser necessário para excluir a presença de ovos e parasitas 5. Todas as crianças devem ser submetidas a uma avaliação psicológica2,8. O caso apresentado pertence a uma classe socio-económica média baixa, habitualmente mais susceptível e este tipo de comportamento, podendo ser a etiologia da pica explicada por vários factores intervenientes, como o défice de ferro (teoria nutricional), o stress e alguma desorganização familiar com falta de estímulo para o ganho de autonomia (teoria familiar) ou mesmo o gosto pelo sabor e textura da esponja (teoria sensorial). A suplementação com ferro associada à educação nutricional e terapia comportamental, com o estímulo pelo ganho de autonomia e reorganização familiar, levaram à resolução deste tipo de comportamento. É necessário, no entanto, uma supervisão apertada porque, apesar deste tipo de compor- Silva MJ et al – Um caso de pica 0873-9781/06/37-2/59 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria tamento tender a desaparecer com o tempo, pode reaparecer com a suspensão da suplementação mineral tendo sempre de ser excluída comorbilidade e tratadas as complicações2,9. Cryptosporidium – de onde terá vindo? Conclusão A pica é comum mas comummente esquecida. O seu diagnóstico é difícil na ausência de complicações que a sinalizem e requer um elevado índice de suspeição. Os médicos devem estar preparados para os casos de pica na prática clínica diária. A abordagem tem de ser estruturada e multidisciplinar e abranger todos os factores intervenientes e possíveis complicações devendo ser efectuado em todos os doentes uma avaliação analítica e psicológica. A educação nutricional, a terapêutica com ferro, a terapia comportamental e o aconselhamento psicológico são possíveis armas terapêuticas. Referências 1. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-IV. Washington, DC: American Psychiatric Press, 1994. 2. Rose E, Porcerelli J, Neale V. Pica: Common but Commonly Missed. J Am Board Fam Pract 2000;13:353-8. 3. Boris NW, Dalton R. Pica. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB. Nelson Textbook of Pediatrics. 17th edition. Philadelphia, Saunders 2004:73-4. 4. Muñoz JA, Marcos J, Risueño CE, de Cos C, Lopez R, Capote FJ, M MV, Gil JL. Iron deficiency and pica. Sangre1998;43:31-4. 5. Sayetta RB. Pica: an overview. Am Fam Physician 1986;33:181-5. 6. Lynch KA, Feola PG, Guenther E. Gastric Trichobezoar: An Important Cause of Abdominal Pain Presenting to the Pediatric Emergency Department. Pediatr Emerg Care 2003;19:343-7. 7. Lacey EP. Broadening the perspective of pica: literature review. Public Health Rep 1990;105:29-35. 8. Castiglia PT. Pica. J Pediatr Health Care 1993;7:174-5 9. Arbiter EA; Black D. Pica and iron-deficiency anaemia. Child Care Health Dev 1991;17:231-4. 10. Gutelius MF; Millican FK; Layman E; Cohen GJ; Dublin CC. Nutritional study of children with pica. Pediatrics 1962:1012-23. AP Fernandes1, S Tavares2, D Antunes3, JM Correia da Costa4 1 - Hospital Senhora da Oliveira SA - Guimarães 2 - Hospital Geral de Santo António SA - Porto 3 - Centro de Saúde da Batalha - Porto 4 - CIBP - INSA - Porto Resumo O Cryptosporidium descrito, pela primeira vez em 1976, como causador de doença no Homem assume, actualmente, particular importância como uma zoonose emergente, responsável por epidemias de diarreia secundárias à ingestão de água contaminada e como causador de diarreia aguda auto-limitada em crianças imunocompetentes. Caso Clínico: Menina de 3 anos, sem antecedentes patológicos de relevo com episódio de diarreia aguda com cerca de uma semana de evolução. O exame parasitológico de fezes revelou Cryptosporidium spp. A evolução clínica foi favorável. O inquérito epidemiológico efectuado indiciou o consumo de água proveniente de mina, em área rural, como possível responsável por esta infecção. A apresentação deste caso pretende, por um lado, alertar para a necessidade do clínico pesquisar especificamente Cryptosporidium spp quando outra causa de diarreia aguda/ persistente em crianças em idade pré-escolar não é encontrada. Por outro lado, a descrição de epidemias associadas a este agente, atingindo maioritariamente os extremos da pirâmide etária, com origem em águas contaminadas por este agente, realçam a necessidade de se estar alerta face a esta eventualidade. Palavras-chave: Cryptosporidium, diarreia aguda, epidemia, zoonose Acta Pediatr Port 2006;2(37):59-61 Cryptosporidium – where did it come from? Abstract In 1976 Cryptosporidium was first described as a man diseasecausing agent. Nowadays, it assumes a particular importance as an emerging zoonosis, responsible for diarrhoea epidemics due to the ingestion of contaminated water, and as causer of self-limited acute diarrhoea in immune-competent children. Clinical case: Three year-old girl, uneventful past history, with acute diarrhoea during almost one week. The fecal parasitoloRecebido: Aceite: 58 CASO CLÍNICO 30.05.2005 26.10.2005 gic exam revealed Cryptosporidium spp. Clinical evolution was good. Epidemiologic inquire indicated a spring in a rural area as the possible responsible for the source of this infection. The presentation of this case intends, on one hand, to alert the clinician for the need of specific direction of clinical investigation towards Cryptosporidium spp when no other cause of acute / persistent diarrhoea in pre-school age children is found. On the other hand, the report of epidemics outbreaks mainly affecting the extremes of the age pyramid originated in contaminated waters, aware clinicians for this possibility. Key-words: Cryptosporidium, acute diarrhoea, epidemics, zoonosis. Acta Pediatr Port 2006;2(37):59-61 Introdução Em 1976 Cryptosporidium foi descrito pela primeira vez, como um agente parasitário causador de doença no ser humano, associado a um quadro de enterocolite aguda. Actualmente assume particular importância como uma zoonose emergente, responsável por epidemias de diarreia secundárias à ingestão de água contaminada e como causador de diarreia aguda auto-limitada em crianças imunocompetentes1-3. Existem várias espécies de Cryptosporidium, sendo o C parvum genótipo humano (tipo 1) e C parvum genótipo bovino (tipo 2) os mais frequentemente associados a doença humana 1-2. A infecção pode ser transmitida através do consumo de água ou alimentos contaminados por fezes humanas ou de animais, via directa pessoa-pessoa ou contacto animal-pessoa ou através de fontes ambientais contaminadas (Figura 1) 1-6. As manifestações clínicas da criptosporidiose dependem do hospedeiro (crianças/ idosos e indivíduos imunocomprometidos). Nos indivíduos imunocompetentes, após um período de latência entre uma a duas semanas pode surgir doença caracterizada, fundamentalmente, por diarreia líquida e cólicas abdominais; a duração da doença, nestes casos, varia entre uma a duas semanas, com resolução espontânea 1,3-5,7. Correspondência: Ana Paula Fernandes Rua Calouste Gulbenkian nº 207, 1º andar 4445-361 Ermesinde Telefone: 939 730 553 E-mail: [email protected] 59 Acta Pediatr Port 2006:2(37):59-61 Fernandes AP et al – Cryptosporidium – de onde terá vindo? até aos 14 meses altura em que teve gastroenterite aguda, sem identificação de agente. Aos dois anos novo episódio de gastroenterite aguda por Salmonella spp. Em nenhum destes episódios houve necessidade de hospitalização. Pertence a uma família Graffard Classe II, estando aos cuidados de ama, convivendo com mais três crianças. Sem antecedentes familiares relevantes. Cerca de seis dias antes de recorrer ao Centro de Saúde inicia dejecções diarreicas líquidas, muito abundantes, sem sangue, muco ou pús, associadas a abdominalgia ligeira, sem febre ou vómitos acompanhantes e com boa tolerância à ingestão de líquidos. Ao exame objectivo apresentava bom estado geral e nutricional, apirexia, sinais vitais normais, desidratação ligeira e eritema perianal. Restante exame sem alterações. Foram pedidos exames bacteriológico (Salmonella spp., E. coli, Shigella spp.) e parasitológico (Giardia lamblia) de fezes. Dado a pesquisa destes agentes ter sido negativa e a descrição recente de casos de diarreia aguda por Cryptosporidium spp., a pesquisa específica deste agente foi efectuada, tendo quer a imunofuorescência directa (Figura 2), quer a coloração acid-fast (Figura 3) revelado a sua presença. Teve alta com solução de hidratação oral, verificando-se resolução espontânea ao nono dia após o início do quadro, sem recorrência da sintomatologia. Acta Pediatr Port 2006:2(37):59-61 O Inquérito Epidemiológico foi realizado apenas dois meses após o episódio de diarreia aguda, dada a dificuldade em contactar os pais, pois se tratava do período de férias de verão e haviam, também, mudado recentemente de domicílio. Deste inquérito constava a caracterização familiar sob o ponto de vista social (Graffard), a identificação da origem da água que consome a criança, bem como os seus conviventes, a caracterização etária e do estado de saúde dos conviventes da criança, a referência às actividades lúdicas da criança associadas à utilização de água (piscina, rio, tanque), a caracterização da sintomatologia que a criança apresentou, bem como a identificação de outros conviventes, que apresentassem os mesmos sintomas. Este inquérito não revelou sintomas idênticos em conviventes, nomeadamente nas três crianças com as quais convivia na ama, indiciou o consumo de água proveniente de uma mina, localizada em área rural, como possível responsável por esta infecção parasitária. A investigação da qualidade da água da mina foi desenvolvida pela Autoridade de Saúde do local de proveniência da água, mais de 2 meses após o quadro clínico, não tendo sido conclusiva. Nenhuma das crianças foi submetida a exame parasitológico de fezes para pesquisa de Cryptosporidium spp., dado terem estado sempre assintomáticas desde a ocorrência deste episódio e serem crianças saudáveis, sem comprometimento imunológico conhecido. Discussão Figura 1 – Ciclo de vida do Crytosporidium parvum a) O Crytosporidium inicia o ciclo de vida como oocisto esporulado através das fezes do hospedeiro infectado (1). Os oocistos com potencial infeccioso localizam-se nos alimentos e água. A maior parte da transmissão ocorre em águas recreativas, como são as piscinas e lagos (2). A infecção ocorre quando os oocistos são ingeridos por um hospedeiro susceptível (3). b) Enquanto estão no intestino os oocistos libertam esporozoitos que invadem as células epiteliais do intestino ou pulmões, dependendo da forma de transmissão. Nas células os esporozoitos reproduzem-se assexuadamente e posteriormente sexuadamente; os macrogamontes femininos e os microgamontes masculinos desenvolvem-se e a fertilização ocorre. O zigoto pode desenvolver-se num oocosto de paredes espessadas que sai do hospedeiro e num oocisto de paredes finas que auto-infecta o hospedeiro. Adaptado do CDC - www.dpd.cdc.gov/dpdx/HTML/cryptosporidiosis.htm O Cryptosporidium spp, reconhecido até há pouco tempo como uma infecção rara, oportunista, é actualmente uma causa comum de diarreia aguda em crianças, sobretudo com menos de 5 anos 2, e idosos, contribuindo para cerca de 20% de todos os casos em países em desenvolvimento6. Na Europa, nomeadamente Grã-Bretanha e França, foram descritos surtos de criptosporidiose, tal como em Portugal9. Não há, contudo, dados concretos em relação à prevalência desta doença, por não ser de declaração obrigatória na grande maioria dos países, como em Portugal, e estar a ser subdiagnosticada 2,8. Figura 2 – Oocistos de Crytosporidium parvum. Imunofluorescência sobre esfregaço (sedimento fecal). A criptosporidiose é subdiagnosticada nos países desenvolvidos, dado esta hipótese de diagnóstico ser esquecida e, por tal, não pesquisada1-2,8. Os testes laboratoriais utilizados são a Imunofluorescência directa e Coloração Acid Fast, ELISA e a PCR 1-2,4-5. Quanto ao tratamento não existe nenhum fármaco que elimine a criptosporidiose intestinal. Em imunocompetentes a doença é auto-limitada e exige apenas tratamento sintomático, com reforço da hidratação1,4-5. Caso Clínico Criança do sexo feminino, três anos de idade, natural e residente no Porto. A gestação foi vigiada, sem intercorrências; o parto foi de termo, eutócico e a antropometria adequada à idade gestacional. Sem intercorrências infecciosas ou outras 60 Figura 3 – Oocistos de Crytosporidium spp após coloração acid fast. Observação em imersão – 100x. Neste caso clínico é descrita uma diarreia aguda, sem identificação inicial de agente microbiológico. A pesquisa específica de Cryptosporidium spp. foi sugerida pelo laboratório que efectuou a avaliação microbiológica das amostras, visto que na literatura o Crytosporidium spp. tem vindo a ser apontado como um dos principais responsáveis por diarreia aguda em crianças em idade pré-escolar6, quando outra causa não é identificada. Esta criança teve um quadro agudo de diarreia auto-limitada que necessitou apenas de terapêutica de suporte, com fluidoterapia oral, tal como o descrito na literatura em indivíduos imunocompetentes1,4-5. Há, contudo, relatos em países subdesenvolvidos de doença assintomática com repercussão ao nível do crescimento da criança7. A preocupação em relação à possibilidade de ocorrência de surtos de criptosporidiose deve manter-se presente face à identificação de casos isolados. Mas sem dúvida, que é nos indivíduos imunocomprometidos, como nos infectados por HIV, que a infecção por Cryptosporidium pode acarretar grande morbilidade, dado ser um agente oportunista. Nestas crianças provoca uma diarreia crónica grave que leva a um estado de malnutrição grave, com ano- Fernandes AP et al – Cryptosporidium – de onde terá vindo? rexia persistente e caquexia progressiva. A utilização de antiparasitários como nitazoxanide tem vindo a ser tentada, mas encontra-se ainda em fase de investigação4. Esta criança convivia com familiares jovens e com outras crianças imunocompetentes, não tendo, por isso, sido feita pesquisa deste agente nesses conviventes. Contudo, as análises efectuadas à água proveniente da mina foram inconclusivas, dado se terem realizado mais de 2 meses após o episódio agudo de diarreia e este agente poder ter um aparecimento cíclico. Isto é, pode não ter sido identificado por não estar presente na altura em que foi retirada a amostra da água para análise. É pois, a nível da água para consumo que a eliminação do Cryptosporidium é a medida preventiva mais eficaz no controlo da doença1,3. No entanto, a melhor estratégia para o fazer está ainda por definir, não sendo actualmente obrigatória a sua pesquisa em estações de tratamento de águas 1,10. A aplicação de filtros finos (poros menores que 1 µm) nas torneiras domiciliárias e a fervura da água, durante pelo menos um minuto, antes da sua utilização pode obviar este problema 5. A resposta à pergunta efectuada não pode ser dada com certeza, mas sendo o Cryptosporidium um agente existente na água, esta terá sido a fonte primária de contaminação. Deve ser, contudo, realçada a necessidade da realização com brevidade de um Inquérito Epidemiológico e da articulação com as Autoridades de Saúde locais, no sentido de proceder à identificação de possíveis fontes de contaminação e avaliação da qualidade da água, pois uma vez identificadas poder-se-ão tomar atitudes preventivas, tais como as citadas anteriormente. Referências 1. Kosek M, Alcantara C,Lima AAM, Guerrant RL. Cryptosporidiosis: an update. Lancet Infect Dis 2001; 1:262-9 2. Guyot K, Follet-Dumoulin A, Lelièvre E, Sarfati C, Rabodonirina M, Nevez G et al. Molecular characterization of Cryptosporidium isolates obtained from humans in France. J Clin Microbiol 2001; 39:3472-80 3. Katz DE, Taylor DN. Parasitic infections of the gastrointestinal tract. Gastroenterol Clin North Am 2001; 30:797-815 4. Flynn PM. Spore-Forming Intestinal Protozoa In: Beharman RE, Kliegman RM, Arvin AM, eds. Nelson - Textbook of Pediatrics 17th ed. Philadelphia: WB Saunders Company, 2003:1128 5. 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Diário da República, Decreto-Lei nº 236/98 de 1-8-1998 61 Acta Pediatr Port 2006:2(37):62-4 0873-9781/06/37-2/62 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria CASO CLÍNICO Panencefalite esclerosante subaguda: de novo uma velha doença Susana Pinto1, M. M. Campos2, M. Teresa Lavandeira Pimenta2 1 - Departamento de Pediatria, Hospital de S. João, Porto 2 - Unidade de Neurologia Pediátrica, Departamento de Pediatria, Hospital de S. João, Porto Resumo A panencefalite esclerosante subaguda (PEES), é uma doença progressiva do sistema nervoso central, causada por infecção persistente pelo vírus do sarampo. A apresentação clínica é variável e subtil, vários anos após a infecção inicial, o que, aliado à redução da incidência da doença nas últimas décadas, pela vacinação regular, torna a suspeição clínica fundamental para o estabelecimento do diagnóstico. Descreve-se o caso clínico de uma criança de nove anos, com sequelas neurológicas de meningite tuberculosa aos quatro meses de idade (atraso global, hemiparésia esquerda e epilepsia). Nesse internamento, foi registado sarampo, de evolução benigna. Evoluiu com atraso de desenvolvimento, mas com aquisições progressivas e estabilidade da epilepsia. Pelos oito anos, foi tendo insidiosamente menor autonomia nas tarefas básicas, regressão da linguagem, seguido por mioclonias. O estudo complementar revelou bandas oligoclonais em espelho (sangue e líquido cefalo-raquidiano), descargas periódicas no electroencefalograma, e evidência de positividade de anticorpos anti-sarampo, confirmativo do diagnóstico de PEES. O tratamento baseou-se na instituição de medidas de suporte gerais adequadas a uma doença crónica debilitante e já com sequelas neurológicas prévias. A PEES é uma doença de evolução progressiva e inevitável para a deterioração neurológica e morte. Apesar de diversas tentativas terapêuticas, desde há mais de três décadas, não existe tratamento eficaz que pareça alterar de forma consistente a sobrevida ou o prognóstico da doença. Reforça-se a importância da imunização como única forma eficaz de prevenir a doença. Palavras-chave: panencefalite, sarampo, mioclonias, doenças lentas por vírus. Acta Pediatr Port 2006;2(37):62-4 Subacute sclerosing panencephalitis: again an old disease Summary Subacute sclerosing panencephalitis (SSPE) is an inflammatory and degenerative disease of the brain, with a variable Recebido: Aceite: 62 27.12.2004 30.03.2006 clinical profile. Subtle signs appear several years after a measles infection. Continuous recognizance of SSPE is of great importance as its incidence is declining after an effective immunization program. We report a nine year-old boy with neurological disability following tuberculous meningitis, in early life. By that time, he had a benign measles infection almost undernoticed. Besides this static encephalopathy, by the age of eight, he started a cognitive regression, with progressive myoclonus. The diagnosis of SSPE was confirmed after typical periodc complexes in long EEG tracing, and elevated measles antibodies titers in CSF. General care management was offered to this patient, as no curative therapy is yet available, which reinforces the importance of a regular program of measles vaccine. em 8,5:106 de casos de doença, quando o risco estimado após a vacinação é de 0,7:106 de doses de vacina 1. A progressão da doença é variável: cerca de 80% dos casos tem uma sobrevida média entre um a três anos após o início da doença 3. Em 10% dos doentes, o curso pode ser agudo ou mesmo fulminante, levando à morte em meses ou semanas, enquanto que 10% podem evoluir com sobrevida entre quatro a oito anos. Em 5%, descrevem-se aparentes remissões espontâneas, mas a doença evolui invariavelmente para a deterioração neurológica e morte 2,3. Na maioria dos casos é possível classificar a doença em três ou quatro estádios 3-5. Para Jabbour 5, o estádio I inicia-se por deterioração subtil cognitiva e comportamental, com desinteresse, distracção fácil, e baixa do rendimento escolar, interpretados frequentemente como transtornos emocionais, e que podem durar semanas a meses. Surge depois um quadro neurológico (estádio II), com crises epilépticas parciais e mioclonias axiais, simétricas, de repetição regular, com agravamento progressivo. Correspondem ao envolvimento cortical em sentido caudal e podem durar 12 meses. Nesta fase, o EEG pode ser indicativo, revelando actividade de baixa amplitude, com descargas periódicas, de alta voltagem, de 1-3 segundos, bilaterais e síncronas. O LCR poderá revelar ligeira linfocitose, glicose normal, e discreto aumento de proteínas, e evidencia a produção intratecal de imunoglobulinas, com título de anticorpos anti-sarampo positivo. No estádio III surgem sinais extrapiramidais (distonia e atetose), hipertonia, e por vezes alterações oculares como coriorretinite focal, papiledema e atrofia óptica, progredindo para estado vegetativo e coma, marcado por grave espasticidade, descerebração ou descorticação e envolvimento intermitente do hipotálamo com sinais vegetativos, até à morte 3,5. Pinto S et al – Panencefalite esclerosante subaguda ção; índice de Apgar: 9/10; antropometria adequada à idade gestacional. O período neonatal decorreu sem intercorrências. Efectuou vacina antituberculosa no primeiro mês de vida. Aos quatro meses de idade foi internado no Serviço de Doenças Infecciosas por meningite tuberculosa e tuberculose pulmonar, diagnosticada na sequência de crise convulsiva parcial. Efectuou medicação tuberculostática, prednisolona e acetazolamida na fase aguda da doença (hidrocefalia triventricular) e valproato de sódio (VPA) como antiepiléptico. Durante o internamento, teve sarampo mucocutâneo, de evolução benigna. Ficou com hemiparésia esquerda residual, por lesão isquémica fronto-temporal direita, demonstrada em Tomografia Computorizada (TC) cerebral. O traçado EEG revelou ritmo de base normal para a idade a 6 Hz e actividade paroxística nas regiões temporais, com máxima incidência à esquerda. Foi evoluindo com atraso de desenvolvimento global mas com aquisições progressivas, embora lentas, condicionadas pelas sequelas neurológicas: aos sete anos, tinha autonomia para actividades básicas, discurso simples espontâneo, capacidade de escrita limitada e marcha claudicante, por hemiparésia esquerda. Apresentava epilepsia sintomática parcial esquerda, controlada com VPA. Introdução A panencefalite esclerosante subaguda (PEES) é uma doença neurológica progressiva, causada pela infecção persistente por vírus do sarampo no sistema nervoso central (SNC), conhecida desde Dawson, em 1933 1,2. Estudos clínicos e patológicos das décadas seguintes consideraram tratar-se de uma panencefalite, iniciada por uma reacção inflamatória difusa da substância cinzenta e branca, com infiltrados perivasculares e meníngeos. Incluída nas doenças lentas por vírus, na PEES o vírus do sarampo continua a multiplicar-se, justificando a evolução clínica em meses ou anos, levando à morte neuronal e proliferação glial, com desmielinização em manchas, em progressão rostro-caudal. Outros factores, nomeadamente genéticos, imunológicos e ambientais, poderão também estar implicados no desenvolvimento da doença, mas o seu papel não é ainda claramente conhecido2. Diversas abordagens terapêuticas têm sido tentadas, mas nenhuma parece alterar de forma consistente o prognóstico e a sobrevivência 2,3. O uso de isoprinosina em monoterapia, por via oral, ou a sua associação com a administração intratecal de interferão alfa revelou, em alguns estudos isolados, aumento da sobrevida e melhoria da incapacidade, com maior vantagem dos casos de evolução mais arrastada 1,3,6,7. Este benefício não é, no entanto, demonstrado por outros autores 7,8. Afecta primariamente crianças e adultos jovens (85% dos casos, entre os cinco e os 15 anos de idade1), e com história de infecção do sarampo abaixo dos dois anos em metade dos casos2. A sua incidência tem diminuído paralelamente à diminuição do número de casos de sarampo, sendo estimada A prestação de cuidados sintomáticos e de suporte, adequados a uma doença crónica, debilitante, inclui suporte nutricional, prevenção de escaras de decúbito, reabilitação motora e respiratória e tratamento farmacológico para melhoria das mioclonias e convulsões e da espasticidade2. A partir dos oito anos, foi notada perda lenta e progressiva das aquisições atingidas, principalmente na motricidade fina, com diminuição da agilidade e agravamento da incoordenação motora, seguida pelo aparecimento de posturas distónicas cervicais para a direita, acompanhada de abalos mioclónicos multifocais, breves e esporádicos. Sem recorrência das crises epilépticas parciais. O EEG revelou ritmo de base muito irregular, lentificado, com alterações focais mais marcadas na região temporo-occipital esquerda. Iniciou terapêutica com clonazepam, sem melhoria. Desde então foi tendo agravamento progressivo, manifestando evidente regressão cognitiva, com diminuição da interacção com o meio, regressão da linguagem, perda total de autonomia e da capacidade de marcha, com mioclonias constantes e exuberantes. Decidiu-se nesta fase efectuar revisão dos registos da doença inicial, sendo verificado o diagnóstico de sarampo aos quatro meses de idade, pelo que se presumiu o diagnóstico de PEES. O estudo de LCR mostrou citologia e bioquímica normais, com existência de bandas oligoclonais de imunoglobulinas idênticas ao soro (em espelho). O traçado EEG revelou actividade a 5-6 Hz, com descargas periódicas de ondas polimórficas lentas e amplas, intervaladas a 15/ minuto, sugerindo o diagnóstico proposto (Fig.1). A Ressonância Magnética cerebral mostrou extensa lesão encefaloclástica caudado-lentículocapsular e temporal subcortical direita, sequela da meningite tuberculosa, e desmielinização segmentar e atrofia córticosubcortical. Foram mantidas medidas habituais de suporte e preservação da qualidade de vida que incluíram suporte nutricional, cinesioterapia e fisioterapia. Caso Clínico Discussão Criança do sexo masculino, caucasiano, filho de pais jovens, não consanguíneos. O pai teve tuberculose pulmonar, com aderência irregular à terapêutica. Graffar V. Gestação vigiada, sem incidentes. Parto eutócico hospitalar às 38 semanas de gesta- A PEES é actualmente uma doença rara, mas que não pode ser esquecida nos diagnósticos diferenciais da patologia progressiva do SNC, tanto mais que o seu diagnóstico é fácil, após a presunção da doença. Key-words: panencephalitis, measles, myoclonus, slow-virus diseases. Acta Pediatr Port 2006;2(37):62-4 Correspondência: Susana Pinto Departamento de Pediatria – Hospital de S. João Alameda Prof. Hernâni Monteiro 4202-451 Porto Telefone e Fax: 225 512 273 E-mail: [email protected] A presunção da doença é fundamental para o estabelecimento do diagnóstico, principalmente pelo facto de os sintomas se manifestarem tardiamente. 63 Acta Pediatr Port 2006:2(37):62-4 Pinto S et al – Panencefalite esclerosante subaguda 0873-9781/06/37-2/65 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Conclusão A PEES tem vindo a tornar-se uma doença rara, o que é considerado um índice de qualidade na saúde das populações, mas contudo ainda existente. Neste sentido, é importante realçar a necessidade do seu reconhecimento e presumir o diagnóstico clínico em crianças com deterioração neurológica adquirida e progressiva, com a confirmação laboratorial do título de anticorpos anti-sarampo em estudo de LCR. Sendo uma doença grave, altamente incapacitante e fatal, sem tratamento eficaz, reforça-se a importância da imunização contra o vírus do sarampo, como única forma de prevenir a doença. Agradecimento Figura 1 – Traçado electroencefalográfico. Actividade a 5-6 Hz, com descargas periódicas de ondas polimórficas lentas e amplas, intervaladas a 15/ minuto, sugerindo o diagnóstico de panencefalite esclerosante subaguda. No presente caso clínico, o diagnóstico poderia ter sido mais precoce, mas a existência de alterações neurológicas prévias não tornaram tão evidente o declínio mental. Também ao contrário do habitualmente descrito, o EEG não revelou numa fase inicial as alterações sugestivas do diagnóstico, só evidente quando os movimentos mioclónicos dominaram o espectro clínico. O sarampo teve uma evolução benigna, sem complicações, e não foi referido nos antecedentes pessoais por ser considerado, pelos familiares, uma doença inerente à própria infância. O sarampo ocorreu numa idade precoce, o que é considerado um factor de risco para a doença 1,2. Tem sido proposta a possibilidade de nessa idade a imunidade transmitida passivamente pela mãe poder ser já residual e a reacção do organismo à infecção ser ainda insuficiente, podendo criar condições para a persistência do vírus 9. Acresce ainda, neste caso, a criança ser do sexo masculino, o baixo nível sócio-económico, o ambiente rural, a co-infecção e a imunossupressão, que são considerados factores de risco adicionais 1,2,9. Para esta criança, não foi instituído nenhum tratamento específico. Esta decisão baseou-se na falta de evidências concretas do benefício das propostas terapêuticas, e da indefinição do tempo de tratamento, num doente já com sequelas neurológicas globais estabelecidas. Ao Serviço de Neurofisiologia do Hospital de S. João, que gentilmente cedeu as fotografias do traçado electroencefalográfico. Referências Rickettsia akari: Varicela ou talvez não Cláudia Ferraz1, Georgeta Oliveira1, Fátima Bacelar2, Armanda Dulce Raínho1 1 - Serviço de Pediatria do Hospital Pedro Hispano, Matosinhos. 2 - Centro de Estudo de Vectores e Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA-CEVDI), Águas de Moura (Palmela). Resumo A varicela rickettsiana ou rickettsiose pustulosa é uma doença infecciosa causada pela Rickettsia akari, que se transmite pela mordedura de um ácaro que vive nos ratos, o Liponyssoides sanguineus. Caracteriza-se por exantema maculopapulovesicular que suscita problemas de diagnóstico diferencial não apenas com a varicela, mas também com doenças mais graves como o antraz. 1.Maldonado Y. Viral infections. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, eds. Nelson – Textbook of Pediatrics. 17th ed. Philadelphia: WB Saunders Company, 1999:1030-1. Dada a ameaça recente do bioterrorismo, a doença ganhou um interesse renovado nos EUA, sendo considerada uma doença infecciosa emergente. 2. Chronic Viral Infections of the Central Nervous System. In: Bell WE and McCormick WF, eds. Neurologic Infections In Children. Philadelphia: WB Saunders Company, 1975:289- 98. A detecção recente de casos de serologia positiva em animais, alertou para a existência da doença em Portugal. 3. Slow Virus Infections. In: Wedgwood RJ, Davis SD, Ray CG, Kelley VC, eds. Infections in Children. Philadelphia: Harper&Row, Publishers, 1983:1307-11. A presença de uma escara de inoculação, a ausência de aparecimento de vesículas em surtos, com lesões em vários estádios de evolução e a história de exposição a ratos, podem levantar a suspeita desta infecção. 4. Freeman JM. The clinical spectrum and early diagnosis of Dawson`s encephalitis. J Paediatr 1969;75:590-603. 5. Jabbour JT, Garcia JH, Lemmi H, Ragland J, Duenas DA, Sever JL. Subacute sclerosing panencephalitis. JAMA 1969;207:2248-54. 6. Huttenlocher PR, Mattson RH. Isoprinosine in subacute sclerosing panencephalitis. Neurology 1979;36:374-5. 7. DuRant RH, Dyken PR, Swift AV. The influence of inosiplex treatment on the neurological disability of patients with subacute sclerosing panencephalitis. J Pediatr 1982;101:288-93. 8. Gascon G, Yamani S, Crowell J, Stigsby B, Nester M, Kanaan I, Jallu A. Combined oral isoprinosine-intraventricular alpha-interferon therapy for subacute sclerosing panencephalitis. Brain Dev 1993;15: 346-55. 9. Diseases Caused by Conventional Viruses- Facultative Causative Agents of Slow Infections. In: Timakov VD, Zuev VA. Philadelphia: WB Saunders Company, 1975:54-67. Com esta revisão os autores pretendem divulgar a possibilidade deste diagnóstico, facto para o qual os profissionais de saúde devem estar alertados, perante o diagnóstico diferencial de exantemas variceliformes atípicos. Palavras-chave: Varicela, rickettsiose pustulosa, Rickettsia akari Acta Pediatr Port 2006;2(37):65-8 Rickettsia akari: It may not be chickenpox Summary Rickettsialpox is caused by infection with Rickettsia akari, wich is transmitted by the house mouse mite, Liponyssoides sanguineus. It causes a maculopapulovesicular rash that may be mistaken for chickenpox or more serious disease such as anthrax. With the recent threat of bioterrorism the disease gained a renewed interest in the United States and is considered an emergent infectious disease. Recebido: Aceite: 64 ARTIGO DE ACTUALIZAÇÃO 02.01.2006 08.03.2006 Since the recent detection of positive serology in rodents the disease is considered existent in Portugal. The presence of the inoculation eschar, a papulovesicular rash that fails to appear in crops and the exposition to mice can raise the suspicion of the infection. The health professionals should be aware of the existence of the disease in Portugal and consider the diagnosis during the evaluation of atypical chickenpox rashes. Key-words: Chickenpox, Rickettsialpox, Rickettsia akari Acta Pediatr Port 2006;2(37):65-8 Introdução A varicela rickettsiana ou rickettsiose pustulosa é uma doença infecciosa causada pela Rickettsia akari que se caracteriza por um exantema semelhante ao da varicela. Pode surgir em qualquer idade, tendo já sido referenciados vários casos em idade pediátrica.1,2,3,4 Transmite-se pela mordedura de um ácaro que vive nos ratos e noutros roedores peri-domésticos, o Liponyssoides sanguineus. 1,2,5 A doença foi descrita pela primeira vez em 1946, nos Estados Unidos, no Estado de Nova York.6 Mais recentemente foi também identificada na África do Sul, Coreia, Croácia, Ucrânia e Turquia. 4,7,8,9 Em Portugal a doença existe embora não seja diagnosticada clinicamente. O Centro de Estudo de Vectores e Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA-CEVDI) está actualmente a desenvolver um projecto de divulgação e pesquisa destas rickettsias “esquecidas”, possibilitando a detecção serológica específica. Este estudo possibilitou a identificação recente no nosso pais, de casos com serologia positiva em humanos e animais. 10 Nos EUA embora a infecção permaneça endémica em áreas urbanas, o número de casos relatados desde o surto inicial decresceu. A doença ganhou um novo interesse após Setembro de 2001, com a ameaça do bioterrorismo, por levantar também problemas de diagnóstico diferencial com doenças mais graves como o antraz. 11,12,13 Correspondência: Cláudia Ferraz Departamento de Pediatria do Hospital Pedro Hispano R. Dr. Eduardo Torres 4454-509 Matosinhos, Portugal Tel.: 229 391 000, Fax: 229 391 176 E-mail: [email protected] 65 Acta Pediatr Port 2006:2(37):65-8 Ferraz C et al – Varicela ou talvez não Desde então o número de casos diagnosticados voltou a aumentar, o que parece estar relacionado com uma maior atenção dos clínicos para a sua existência e com uma maior acuidade dos métodos de detecção nomeadamente polymerase chain reaction (PCR) e imunohistoquímica. 12 Menos frequentemente surgem fotofobia, congestão conjuntival, odinofagia, tosse e vómitos. 2,3,4,5 Assim, a infecção parece apresentar uma distribuição mundial, sendo mais comum do que anteriormente se pensava, o que terá levado à sua reclassificação como doença infecciosa emergente. 2,3,4,9,14 Os dados laboratoriais de rotina são inespecíficos podendo surgir leucopenia com linfocitose relativa e trombocitopenia. 3,7 No presente texto pretende-se apresentar uma revisão bibliográfica desta patologia e divulgar a sua existência em Portugal, alertando os clínicos para a possibilidade deste diagnóstico na abordagem de exantemas variceliformes atípicos. Quadro Clínico A doença inicia-se por uma lesão cutânea correspondendo ao local de picada do artrópode. Esta lesão, embora detectável em cerca de 90% dos casos 5, passa frequentemente despercebida. 2,3,5 Caracteriza-se por uma pápula eritematosa, indolor e firme, com cerca de um 1 a 1,5 centímetros de diâmetro, que desenvolve uma vesícula central, ulceração e evolui posteriormente para uma escara. Pode ocorrer em qualquer lugar incluindo as mãos, pés, face, comissura labial e mesmo partes cobertas do corpo e locais não aparentes como o couro cabeludo e orgãos genitais.4 Associa-se geralmente a linfadenopatia regional.2,5 Alguns dias após esta lesão, surge um quadro de febre elevada de início súbito associada a arrepios, diaforese, cefaleias e mialgias. Cerca de 2 a 3 dias após o inicio da febre surge um exantema generalizado maculopapulo-vesicular. Este exantema variceliforme constitui o aspecto mais marcante da doença. As lesões maduras são pápulo-vesiculas com predomínio do componente papular 3, desenvolvem uma crosta e geralmente desaparecem no período de uma semana, não deixando cicatriz. As lesões são geralmente esparsas podendo o seu número variar de 5 até mais de 100 2,3 e apresentam sempre o mesmo estágio de evolução. Podem atingir a cavidade oral, as palmas das mãos e plantas dos pés. 1,2,3 Estudo Complementar A Rickettsia akari pertence ao grupo de rickettsias que causam as febres maculares, induzindo imunidade cruzada e positividade dos estudos serológicos contra estes agentes. Ao contrário dos outros agentes deste grupo, não induz positividade da reacção de Weil-Félix. 1,2 O estudo serológico pode ser realizado através de fixação de complemento e imunofluorescência indirecta (IFI) com antigénio de rickettsia do grupo das febres exantemáticas. Um título de IgM superior a 64 e de IgG superior a 128 ou uma elevação igual ou superior a quatro vezes do título de IgG entre a fase aguda e a fase de convalescença, associados ao quadro clínico e negatividade da reacção de Weil-Félix, aponta para o diagnóstico. 3,14,15 É possível o estudo serológico específico com antigénio rickettsia akari. Podem, no entanto, surgir reacções cruzadas com outras rickettsias como rickettsia conorii, com necessidade de confirmação por técnicas de absorção cruzada. Outros testes incluem o estudo de biópsia cutânea ou crostas e exsudado, através de imunohistoquimica e polymerase chain reaction (PCR) e o isolamento da rickettsia akari em cultura celular.16 No INSA-CEVDI estão disponíveis para investigação as técnicas de IFI com antigénio de rickettsia akari e isolamento a partir do sangue total e PCR na biopsia ou em crostas. As amostras para estudo devem ser colhidas de forma estéril. As crostas e/ou biopsia mantidas em tubo seco e o sangue total (1-2 ml) em vacutainer® heparinizado e enviados para o laboratório em contentor refrigerado em 24 a 48 horas. Podem, em alternativa, serem congeladas a -80ºC. As amostras de sangue devem ser colhidas preferencialmente antes da aplicação de terapêutica antibiótica e após 3 a 4 semanas. (Anexo 1). Anexo 1 – Diagnóstico Laboratorial de Doenças Causadas por Rickettsias. Protocolo para colheita e conservação das amostras. ISOLAMENTO I - Sangue 1. Colher 5 ml de sangue com “vacutainer®” ou seringa com uma gota de anticoagulante. 2. Manter a agulha na seringa para evitar o contacto com os microrganismos que existem no ambiente. 3. Fixar a agulha, a sua tampa e o êmbolo da seringa com adesivo e colocar a 4°C. II 1. 2. 3. Biópsia de pele do exantema e/ou da escara Desinfectar o local da biópsia com uma solução que contenha iodo. Com seringa de biópsia (punch) retirar uma amostra (2 mm). Colocar em tubo estéril ou dentro de uma gaze estéril a seco, ou no reagente fornecido pelo CEVDI. Se não houver possibilidade de envio imediato, pode ser congelada a -80°C, a seco ou a -20°C no reagente. III - Crostas e/ou exudado 1. Recolher as crostas para tubos fornecidos pelo CEVDI e manter a 4°C. Acta Pediatr Port 2006:2(37):65-8 MUITO IMPORTANTE: As amostras para isolamento devem ser colhidas enquanto o doente está febril e de preferência antes da aplicação de terapêutica antibiótica. É ainda essencial que as amostras sejam mantidas a 4°C (frigorífico normal) e enviadas ao laboratório o mais rapidamente possível (menos de 48 h), sempre em condições de frio. SEROLOGIA 1. 2. 3. A serologia é efectuada pela prova de imunofluorescência indirecta utilizando antigénios específicos cultivados no laboratório ou obtidos de laboratórios internacionais de referência. Esta prova pode ser efectuada utilizando o plasma da amostra enviada para isolamento. A serologia dos casos para confirmação restrospectiva é efectuada no soro enviado ao laboratório nas condições usuais. MUITO IMPORTANTE: A confirmação laboratorial de infecção activa, só pode ser efectuada quando são estudadas 2 amostras colhidas com 15 dias de intervalo. Um título positivo em uma amostra só indica um contacto com o agente, em tempo indeterminado. Não são excluídas as reacções cruzadas com outros agentes com epitopos antigénicos semelhantes. Todas as amostras, devidamente acondicionadas, podem ser enviadas por correio directamente para: CEVDI / INSA Av. da Liberdade nº 5 2965-575 Águas de Moura Tel.: 265 912 222 Fax: 265 912 155 Evolução A doença é auto-limitada, resolvendo geralmente de forma espontânea após 14 a 21 dias. No entanto, os antibióticos encurtam o curso da doença, podendo estar indicado o tratamento com doxiciclina, sobretudo em crianças maiores de 8 anos e com quadros mais graves. 1, 2, 5 Não surgem geralmente complicações ou sequelas e até à data não foram relatados casos mortais.2, 5 Discussão A varicela rickettsiana é uma doença benigna, de prevalência desconhecida e pouco divulgada no nosso País. Uma vez que o exantema levanta problemas de diagnóstico diferencial com a varicela e outros exantemas víricos 2, casos que ocorram esporadicamente, podem não ser reconhecidos pelos profissionais de saúde 7. A presença da escara de inoculação que precede a doença febril, a relativa dispersão das lesões, o predomínio do componente papular, a ausência de aparecimento em surtos com lesões em vários estádios de evolução, a exposição a ratos e dados laboratoriais como trombocitopenia, devem levantar a suspeita. 3,4,7 Nestes casos, está indicado o estudo laboratorial com vista ao esclarecimento do diagnóstico e ao conhecimento da real incidência e prevalência desta doença em Portugal. Agradecimentos À Drª Célia Barbosa e Drª Cidrais Rodrigues pela revisão deste manuscrito. Referências 1. American Academy of Pediatrics. Rickettsialpox. In: Pickering LK, ed. Red Book: 2003 Report of the Committee on Infectious Diseases. 66 Ferraz C et al – Varicela ou talvez não 26 th ed: Elk Grove Village, IL: American Academy of Pediatrics, 2003:531-2. 2. Edwards M, Feigin R. Rickettsialpox. In: Feigin RD, Cherry JD, ed. Textbook of Pediatric Infectious Diseases. 4thed, Philadelphia. 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Serologic 67 Acta Pediatr Port 2006:2(37):65-8 evidence of rickettsialpox (Rickettsia akari) infection among intravenous drug users in inner-city Baltimore, Maryland. Am J Trop Med Hyg 1999;60:894–8. 14. Walker DH, Dumler JS. Emerging and Reemerging Rickettsial Diseases. N Engl J Med 1994;331:1651-2. 15. McDade JE, Black CM, Roumillat LF, Redus MA and Spruill CL. Ferraz C et al – Varicela ou talvez não 0873-9781/06/37-2/69 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Addition of monoclonal antibodies specific for Rickettsia akari to the rickettsial diagnostic panel.J Clin Microbiol 1988;26:2221-3. 16. Paddock CD, Zaki SR, Koss T, Singleton J Jr, Sumner JW, Comer JA, Eremeeva ME, Dasch GA, Cherry B, Childs JE. Rickettsialpox in New York City: a persistent urban zoonosis. Ann N Y Acad Sci. 2003. 990:36-44. ARTIGO DE ACTUALIZAÇÃO Quilotórax no feto e no recém-nascido. Estado da arte Gustavo Rocha1, Gabriela Mimoso2, Israel Macedo3, Hercília Guimarães1 1 - Serviço de Neonatologia, Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto,Hospital de São João, Porto 2 - Unidade de Neonatologia, Maternidade Prof. Dr. Bissaya Barreto, Coimbra 3 - Unidade de Neonatologia, Maternidade Dr. Alfredo da Costa, Lisboa Resumo O quilotórax é uma patologia rara no feto e no recém-nascido que resulta de uma anomalia do desenvolvimento (quilotórax congénito) ou traumatismo (quilotórax traumático) do canal torácico e consequente acumulação de linfa no espaço pleural. A clínica depende do volume e rapidez de formação do derrame e baseia-se em sinais de dificuldade respiratória, diminuição da amplitude da expansão torácica, diminuição dos sons respiratórios na auscultação pulmonar e macicez à percussão. O diagnóstico é confirmado por um doseamento, no líquido pleural, de triglicerídeos superior a 110 mg/ dl (com alimentação entérica) e uma contagem de células superior a 1000/ mm3 com predomínio de linfócitos (70% a 100%). O tratamento, independente da causa, é inicialmente conservador e consiste na drenagem do derrame quiloso e reposição das perdas nutricionais. O tratamento cirúrgico é reservado para os casos que não respondem a medidas conservadoras ou que apresentam complicações durante a sua aplicação. A mortalidade neonatal associada ao quilotórax apresentou uma diminuição acentuada nos últimos anos. Trabalhos recentes referem 100% de bons resultados empregando tratamento conservador ou conservador e cirúrgico. A mortalidade perinatal do quilotórax fetal excede os 50% sendo o prognóstico pior nos casos associados a hipoplasia pulmonar e hidrópsia fetal. Neste artigo, os autores apresentam uma revisão teórica, focando os principais aspectos relacionados com o quilotórax no feto e no recém-nascido. Palavras-chave: quilotórax; feto; recém-nascido. Acta Pediatr Port 2006;2(37):69-72 Chylothorax in the fetus and the newborn. State of the art. Summary Chylothorax is rare in the fetus and newborn and results from a developmental anomaly (congenital chylothorax) or a traumatic lesion (traumatic chylothorax) of the thoracic duct with Recebido: Aceite: 68 09.12.2005 03.04.2006 accumulation of lymph in the pleural space. Clinical findings depend on the speed and volume of effusion formation and include respiratory distress signs, diminished thorax excursions, diminished breath sounds at auscultation and dullness at percussion. Diagnosis is confirmed when analysis of the pleural fluid shows a triglyceride level over 110 mg/dl (with enteral feeding) and an absolute cell count over 1000/mm3 with a predominance of lymphocytes (70% – 100%). Management, independently of aetiology, is initially conservative and consists of chyle drainage and reposition of nutritional losses. Surgical approach is reserved to protracted cases in which optimal conservative therapy fails or that present important complications during its application. Morbidity and mortality related to chylothorax have significantly decreased over the last years. Recent studies refer 100% of good results with conservative or conservative plus surgical approach. Perinatal mortality of fetal chylothorax exceeds 50%; the cases associated to pulmonary hypoplasia and hydrops fetalis present the worst prognosis. In this paper, a theoretical review is presented enhancing important aspects of chylothorax in the fetus and newborn. Key-words: chylothorax; fetus; newborn. Acta Pediatr Port 2006;2(37):69-72 Introdução Define-se como quilotórax a acumulação de linfa na cavidade pleural. É o tipo mais comum de derrame pleural no feto e no recém-nascido. Trata-se de uma patologia complexa do ponto de vista etiológico que apresenta uma evolução clínica frequentemente prolongada e associada a significativa morbilidade. 1 Anatomofisiologia A linfa produzida no intestino (quilo) é colectada na cisterna linfática e atinge o sistema venoso através do canal torácico. O fluxo basal de linfa no canal torácico é de cerca de 1,38 ml/kg por hora, com grandes variações após as refeições, Correspondência: Gustavo Rocha Serviço de Neonatologia / Departamento de Pediatria Hospital de São João – Piso 2 Alameda Prof. Hernâni Monteiro, 4200-319 Porto Telefone: 225 095 816, Fax: 225 505 919 E-mail: [email protected] 69 Acta Pediatr Port 2006:2(37):69-72 até 5 ml/kg por hora. Refeições ricas em lipídeos aumentam este fluxo para valores superiores a 250 ml por dia. 1 Na mucosa do intestino, os ácidos gordos de cadeia longa são re-esterificados, transformando-se em triglicerídeos, os quais entram na circulação linfática como quilomicras. Os ácidos gordos de cadeia média (10 ou menos átomos de carbono) passam directamente para o sangue venoso portal, onde são transportados ligados à albumina, pelo que nos doentes com quilotórax torna-se útil a utilização desta via usando dieta com triglicerídeos de cadeia média. 1,2 A linfa que percorre o canal torácico é uma mistura de linfa originária do intestino, fígado, parede abdominal e extremidades inferiores; estima-se que 95% provém do intestino e fígado. A linfa no canal torácico contém electrólitos, vitaminas lipossolúveis, bicarbonato, lipídeos, proteínas de baixo peso molecular, linfócitos e pequena quantidade de eritrócitos 1,2,3. (Tabela). Quadro – Características e composição da linfa. Aspecto pH alcalino Densidade Gorduras totais Colesterol Triglicerídeos Proteínas totais Albumina Globulina Electrólitos Células Linfócitos Percentagem de linfócitos Eritrócitos amarelo citrino (leitoso após alimentação entérica) (7,4 – 7,8) 1012 - 1025 0,4 – 5 g/dl 65 – 220 mg/dl > 110 mg/dl 2,2 – 5,9 g/dl 1,2 – 4,1 g/dl 11,1 – 3,1 g/dl composição idêntica à do plasma > 1000/mm3 400 – 6800 / mm3 70 – 100% 50 – 600 / mm3 Rocha G et al – Quilotórax no feto e no recém-nascido angiografia 11. Um traumatismo com ruptura do canal torácico resulta, provavelmente, no desenvolvimento de fístulas entre este e o canal torácico 7 . Raramente, o traumatismo do canal torácico por hiperextensão cervical durante o parto, associado a aumento da pressão venosa, pode originar um quilotórax 10. (3) Quilotórax não traumático. Esta forma é rara no recém-nascido, ocorrendo mais frequentemente na criança e no adulto, é secundária a obstrução ou erosão do canal torácico, ou vasos linfáticos, por tumores intra-torácicos, doenças inflamatórias ou linfangiomatose mediastínica. 1,2 Fisiopatologia A acumulação de linfa na cavidade pleural comprime o pulmão, desvia o mediastino e pode comprometer a expansão do pulmão contra lateral. A insuficiência respiratória pode ser grave e exigir punção ou drenagem pleural com carácter urgente. 2 A perda prolongada de linfa provoca deplecção de proteínas, gorduras e vitaminas lipossolúveis, com consequente desnutrição proteico-calórica, desequilíbrio hidroelectrolítico e acidose metabólica. 2 Devido ao grande número de linfócitos tipo T presentes na linfa, pode surgir linfopenia. A drenagem contínua de linfa, com perda de factores plasmáticos e celulares coloca os doentes em risco aumentado de infecção. 2,12 A linfa tem propriedades bacteriostáticas devido ao seu conteúdo em ácidos gordos e lecitina, tornando pouco frequente a contaminação do quilotórax. Além disso, como não é irritante, não tem tendência a provocar aderência pleural, septações ou encarceramento pulmonar. 2 adaptado de Straaten HLM et al1, Costa F2 e Brodman RF3 Clínica Etiologia Bessone e colaboradores 4 distinguiram três formas de quilotórax: (1) congénito, (2) traumático e (3) não traumático. (1) Quilotórax congénito. Ocorre em 1: 10–15.000 recém-nascidos 1,5. Em 50% dos casos, o derrame está presente ao nascimento e em 75% manifesta-se na primeira semana de vida 6. A razão masculino:feminino é 2:1 em várias séries e a forma unilateral é mais frequente, com predomínio no lado direito 1. Existe controvérsia em relação à etiologia do quilotórax congénito 1. Para alguns autores é, possivelmente, parte de um espectro de anomalias (hipoplasia, fístulas linfatico-pleurais) que resultam em obstrução do canal torácico na vida intra-uterina 7. Esta anomalia do canal torácico pode ocorrer isolada ou associada a outras malformações do sistema linfático, como as descritas nos sindromas de Turner, Down e Noonan 8, linfangiectasia pulmonar congénita 9 e higroma quístico (linfangiomatose) 7. (2) Quilotórax traumático. É na maioria das vezes iatrogénico, surgindo como complicação de toracotomia 10, ou após 70 O quilotórax congénito pode já estar presente ao nascimento, ou surgir nos primeiros dias de vida, geralmente após o início de alimentação entérica. O quilotórax traumático surge, geralmente, entre os sete e os 14 dias após cirurgia ou introdução de dreno ou catéter, geralmente no lado abordado. 2 A clínica depende do volume e rapidez de formação do derrame. À semelhança dos outros derrames pleurais, baseia-se em sinais de dificuldade respiratória, com diminuição da amplitude da expansão torácica, diminuição dos sons respiratórios na auscultação pulmonar e macicez à percussão 1. Se unilateral, pode haver desvio contralateral da traqueia e mediastino 10. Os derrames pequenos são, geralmente, assintomáticos 10. O quilotórax crónico pode associar-se a hipovolémia, hipoalbuminemia, hiponatrémia e diminuição ponderal 10. Estes doentes são, também, imunodeprimidos devido à perda crónica de linfócitos e anticorpos 10,12. Diagnóstico O diagnóstico é, habitualmente, sugerido pela clínica. No entanto, um derrame pleural pode ser um achado imagiológico. Acta Pediatr Port 2006:2(37):69-72 Rocha G et al – Quilotórax no feto e no recém-nascido A radiografia de tórax apresenta imagem sugestiva de derrame na cavidade pleural, com desvio do mediastino, quando volumoso. Apesar disso, o diagnóstico nem sempre é fácil, pois outras afecções torácicas associadas podem dificultar a correlação clínico-radiológica 13. Nessas situações, a ultrassonografia pode ser de grande valia para o diagnóstico de líquido na cavidade pleural 14. Independente do método utilizado, a perda prolongada de linfa provoca grave deplecção de proteínas e gordura. Períodos prolongados utilizando dietas com triglicerídeos de cadeia média levam à deficiência de ácido linoleico e vitaminas lipossolúveis 16. Uma administração endovenosa semanal de lipídeos, contendo ácido linoleico e vitaminas lipossolúveis permite corrigir esta deficiência 16. O líquido pleural, obtido por toracocentese, é, classicamente, descrito como tendo aspecto leitoso (devido à presença de quilomicra). No entanto, antes da introdução da alimentação entérica ou em doentes com jejum prolongado, o líquido pleural pode ser transparente e amarelado, cor que se acentua se a criança está ictérica. Pode ser hemorrágico, quando secundário a traumatismo. 15 A linfopenia não deve ser utilizada como critério para utilização de antibióticos profilácticos2. Nos casos mais graves (linfopenia, hipofibrinogenemia e hipogamaglobulinemia) pode tornar-se necessário a administração de plasma fresco e imunoglobulinas 1, pelo risco de septicémia 2,12. No caso de alterações sintomáticas da coagulação pode ser necessária a administração de plasma fresco ou do(s) factor(es) em deficiência. A correcção da acidose metabólica pode ser feita com bicarbonato de sódio. O diagnóstico é confirmado quando existe um doseamento de triglicerídeos superior a 110 mg/ dl (com alimentação entérica) e uma contagem de células superior a 1000/ mm3 com predomínio de linfócitos (70% a 100%) 16. A contagem celular é independente do tipo de nutrição 16. Uma vez que a alimentação oral do recém-nascido é rica em triglicerídeos e pobre em colesterol, o doseamento dos triglicerídeos tem mais interesse no diagnóstico de quilotórax 16. Na ausência de alimentação entérica, mesmo que mínima, pode ser impossível a distinção entre derrame quiloso e não quiloso (pela ausência de triglicerídeos), pelo que pode ser necessário algum aporte de alimentação oral para confirmação do diagnóstico 16. Tratamento O tratamento do quilotórax no recém-nascido, independente da causa, é inicialmente conservador 10. O tratamento cirúrgico é reservado para os casos que não respondem a medidas conservadoras ou que apresentam complicações durante a sua aplicação 2. Tratamento conservador O tratamento conservador consiste, basicamente, na drenagem do derrame quiloso para expansão do pulmão e reposição das perdas nutricionais 2. Uma toracocentese evacuadora permite a expansão pulmonar, algumas vezes com tamponamento da formação de derrame, prevenindo posterior reacumulação. Quando o derrame é pequeno e não se refaz, uma única punção pode ser suficiente. Na maioria dos casos, o derrame quiloso refaz-se novamente (principalmente na presença de alimentação entérica) tornando necessárias punções repetidas. Actualmente, a maioria dos autores recomenda a drenagem pleural contínua, desde o início do tratamento 2. Alguns autores preconizam o uso de nutrição parentérica total associada ao jejum (habitualmente por uma semana), desde a fase inicial do tratamento. Outros autores, na tentativa de manter as condições nutricionais sem aumentar o fluxo de linfa, utilizam, desde o início, dietas com gordura na forma de triglicerídeos de cadeia média (mantida por um período de dois a três meses) principalmente nas formas leves de quilotórax. 2 Mais recentemente e em casos que não resolveram com drenagem contínua e pausa alimentar, tem sido descrita a utilização, com êxito, de somatostatina ou do seu análogo octreótido. Estas substâncias diminuem a produção de linfa intestinal, permitindo a resolução, em muitos casos, do quilotórax. Tratamento cirúrgico O tratamento cirúrgico está indicado quando, após três ou quatro semanas, não se obtém sucesso com o tratamento conservador 2,16. A drenagem persistente de grandes volumes (maior que 100 ml por dia, por um período de cinco dias consecutivos, no recém-nascido) ou complicações metabólicas e/ ou nutricionais graves, de difícil controlo, levam, por vezes a optar, mais precocemente, pelo tratamento cirúrgico 2. A derivação pleuroperitoneal, actualmente, é considerada a primeira escolha, pois é de simples colocação e eficaz em 85% a 95% dos casos 2. Se em duas ou três semanas o resultado não for satisfatório, o que ocorre com maior frequência nas crianças com trombose da veia cava superior ou com aumento da pressão na aurícula direita 16, deve-se tentar a laqueação do canal torácico ou mesmo tentar bloquear a área de extravazamento. A laqueação do canal torácico, por toracoscopia ou toracotomia, tem sido utilizada com bons resultados. A toracoscopia com magnificação de imagem por videocirurgia (videotoracoscopia), em relação à toracotomia, apresenta menor morbilidade e proporciona maior facilidade em localizar o local de extravazamento2. A toracoscopia permite, também, bloquear o local comprometido empregando “cola” de fibrina ou efectuar pleurodese (adesão pleural) com talco ou outros agentes esclerosantes como o OK-432, quinacrina, bleomicina, tetraciclina ou iodopovidona. A abrasão pleural ou pleurectomia é uma possibilidade cirúrgica quando as outras técnicas falham, sobretudo se não se identifica um defeito localizado no canal torácico2. Diagnóstico Antenatal e Tratamento do Quilotórax Fetal Actualmente, a realização sistemática de ecografia obstétrica permite o diagnóstico pré-natal de derrame pleural, o que também exclui a hipótese de um traumatismo obstétrico como etiologia 1. 71 Acta Pediatr Port 2006:2(37):69-72 Rocha G et al – Quilotórax no feto e no recém-nascido O diagnóstico in utero de um derrame pleural faz pensar, essencialmente, em dois diagnósticos: hidrópsia fetal e quilotórax. O quilotórax fetal é uma causa rara de hidrópsia não imune, quer por comprometer o retorno venoso por compressão cardíaca e da veia cava superior, quer pela perda de proteínas para o espaço pleural1. 3. Brodman RF. Congenital chylothorax. Recommendations for treatment. NY State J Med 1975;75:553–7. O prognóstico do quilotórax unilateral, de pequeno volume, isolado, é geralmente bom e a resolução espontânea é muitas vezes observada. Se ocorre no terceiro trimestre de gestação o risco de hipoplasia pulmonar é baixo, e a vigilância ecográfica é, habitualmente, suficiente17. 6. Yancy WS, Spock A. Spontaneous neonatal pleural effusion. J Pediatr Surg 1967;2:313–9. O quilotórax diagnosticado no segundo trimestre de gestação (antes das 24 semanas de gestação), geralmente apresenta maior volume e acarreta risco de hipoplasia pulmonar e insuficiência respiratória após o nascimento. Nestes casos é necessário evacuar o líquido pleural. Pode ser praticada uma punção com sedação materna e curarização fetal, sob controlo ecográfico, de modo a retirar o líquido pleural até o pulmão encostar à parede torácica. Em caso de recidiva ou agravamento justifica-se a colocação de um dreno pleuro-amniótico. Nos casos de quilotórax associado a hidrópsia e polihidrâmnios está indicada a colocação de dreno pleuroamniótico17. O momento do nascimento depende do carácter recidivante do derrame e da idade gestacional. O risco de insuficiência respiratória ao nascimento obriga, muitas vezes, a intubação endotraqueal, ventilação assistida, toracocentese evacuadora e colocação de dreno torácico no caso de recidiva17. Prognóstico A mortalidade neonatal associada ao quilotórax apresentou uma diminuição acentuada nos últimos anos. O tratamento conservador tem uma taxa de sucesso superior a 80%. Estudos recentes referem 100% de bons resultados empregando tratamento conservador ou conservador e cirúrgico. No entanto, uma taxa de mortalidade de 60%, no quilotórax bilateral, foi referida por Carmant L e Le Guernnec J-C. A mortalidade perinatal do quilotórax fetal excede os 50%, sendo o prognóstico pior nos casos associados a hidrópsia fetal18,19,20. Referências 1. Straaten HLM, Gerards LJ, Krediet TG. Chylothorax in the neonatal period. Eur J Pediatr 1993;152:2–5. 2. Costa F. Quilotórax. In: Maksoud JG, editor. Cirurgia Pediátrica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2003. pp 624–30. 4. 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A propósito dum artigo abordando o trabalho do interno nos EUA e a experiência do autor como responsável pela formação de internos, foram abordados aspectos relacionados com o desempenho do médico em formação, tendo como ponto de partida o panorama do respectivo regime em termos de carga horária de trabalho nos EUA e no Reino Unido. Embora mais horas de trabalho proporcionem maior número de oportunidades de aprendizagem, haverá que ter em conta o papel indispensável do orientador de formação que, idealmente, deverá promover o chamado “espírito andragógico” no interno. Por fim, chamando-se a atenção para a necessidade de o interno não perder as oportunidades de aprendizagem, conclui-se que se torna fundamental racionalizar o número de horas de treino, a fim de evitar o estresse e a quebra de rendimento da própria aprendizagem. Palavras-chave: Internato; Pediatria; Horas de trabalho; Oportunidades de aprendizagem; Legislação Acta Pediatr Port 2006;2(37):73-5 The Pediatrics Residents’ amount of work and the opportunities for apprenticeship Summary The residency is an educational experience that completes a physician’s preparation for independent practice. On the occasion of revisiting a paper published some years ago on the paediatrics residency in the United States of America (USA), and taking into account the author’s experience on residency clerkships, some issues related to hours of work and opportunities for apprenticeship, either in the United States or in Europe, including Portugal, are commented on. Despite some restrictions concerned with limitations of hours of work during residency in both continents, as a matter of Recebido: Aceite: 72 EDUCAÇÃO MÉDICA 28.04.2006 30.04.2006 fact the limits for work are much mores strict in Europe as compared to those of the USA. Commenting on the tutor profile for a better teaching and practical training, it is concluded that there is a need for promoting an andragogical spirit among the trainees. At last, the pedagogical message for the trainees is not to loose the opportunities for training, proportionally related to amount of work. Key-words: Residency; Paediatrics; Hours of work; Training opportunities; Legislation Acta Pediatr Port 2006;2(37):73-5 Introdução A educação médica tradicional tinha como objectivo essencial a transmissão de conhecimentos que os discentes deviam reter na sua memória. Com efeito, estes eram levados a pensar que a sua formação dependia essencialmente da sua capacidade de memorizar o máximo de informação que lhes era veiculada de modo passivo, em detrimento da prática ou aplicação dos mesmos conhecimentos, e da aquisição de aptidões, atitudes e valores, essenciais para o seu desempenho futuro 1. O ensino-aprendizagem da clínica (no caso que nos interessa, da criança e do adolescente) constitui um elemento essencial da educação médica, desde a pré- e pós- graduação ao desenvolvimento profissional contínuo. Por conseguinte, a aquisição de competências surge, pode dizer-se, numa relação directa com oportunidades de ensino e de aprendizagem e o trabalho efectivo acumulado na prática diária 2. O objectivo deste artigo, que dedico aos internos de pediatria, é analisar alguns aspectos relacionados com o trabalho tutelado que é desenvolvido por aqueles durante os estágios. Modelos de desempenho do interno No âmbito da responsabilidade como formador dos internos de Pediatria, sempre foi minha estratégia no processo de integração dos mesmos no início do estágio (incluindo reunião prévia explicativa em que eram definidos os objec- Correspondência: João M. Videira Amaral Departamento de Medicina Hospital de Dona Estefânia, Lisboa E-mail: [email protected] 73 Acta Pediatr Port 2006:2(37):73-5 Amaral JMV – Oportunidades de Aprendizagem do Interno de Pediatria tivos, estratégias, metodologias de trabalho e critérios de avaliação), a distribuição de um conjunto de artigos científicos e doutros textos relacionados com tópicos considerados essenciais. mente referenciadas num hospital central britânico, nada têm a ver com o panorama diversificado (leia-se, caótico) do nosso país e nas grandes urbes 4,5. Do conjunto de tais artigos, fazia parte um, já não recente, que recomendava de modo muito especial pelo facto de, no meu entendimento, veicular uma mensagem muito importante: para a aquisição de experiência clínica e de competências específicas é preciso estudar muito, trabalhar muito e ter espírito de iniciativa. Comentários O artigo, intitulado “A formação do pediatra”, é da autoria duma pediatra portuguesa já falecida (Maria Patuleia), que fez a sua carreira nos Estados Unidos da América do Norte (EUA) e que tive o privilégio de conhecer no meu hospital, onde proferiu uma conferência 3. Passo a transcrever algumas partes do referido artigo que poderão tipificar coma certa fidelidade o regime de trabalho do interno de pediatria norte-americano: “(...) O interno é, digamos, o soldado da linha da frente; trabalha vinte e quatro horas consecutivas, algumas vezes dia sim dia não, e é sempre o primeiro a ser chamado, seja qual for a causa, o departamento ou a hora; tem a responsabilidade de todos os doentes da área que lhe é distribuída, é o primeiro a aparecer na enfermaria e é obrigado a fazer as colheitas do dia, tem a seu cargo as endovenosas de todos os doentes, sacrifica o tempo de dormir para preparar as palestras semanais, apresenta os doentes durante as visitas dirigidas pelos chefes ou directores, e tem o direito de chamar o senior quando a situação o exige, sem no entanto, abusar desse privilégio (...)”. “(...) É também ao interno que cabe o dever de preparar os internamentos do dia e da noite, mas não pode admitir ou dar altas, nem assinar certidões de óbito (...). Durante o internato, o médico em formação nos Estados Unidos faz o que se pode chamar um teste de resistência física, inteligência e disciplina que o prepara para o resto da carreira ou o elimina.” “(...) Todos os internos em treino pediátrico, seja qual for o seu ano, são obrigados a assistir às diferentes conferências diárias, a tomar parte em todas as discussões sobre os casos clínicos, e a participar na observação e tratamento de doentes das consultas externas, quer da Pediatria, quer das subespecialidades. A sua falta nas actividades do programa em vigor é registada pelo responsável pela formação, que pode usá-la como informação não abonatória, se assim o entender (...)”. Durante estágio que realizei no Reino Unido (Cambridge), há mais de 20 anos, tive oportunidade de protagonizar algo semelhante ao que foi descrito, sendo de realçar uma forte ligação entre o orientador de formação (ou tutor) e o interno; este podia ser chamado, para sua casa, se, por exemplo, pelas 3 horas de determinada madrugada, e fora do habitual dia de serviço de urgência semanal (que nos fins de semana abrangia por vezes sábado e domingo) surgisse determinada situação ou necessidade de realização de técnica ou procedimento de interesse formativo para o interno tutelado. Tratando-se do serviço de urgência, será importante esclarecer que o panorama das urgências, correcta e disciplinada74 As linhas e ideias explanadas atrás, relacionadas com o processo formativo, levantam algumas questões interessantes que importa discutir: - O trabalho (árduo) conduz a uma melhor rendibilização das oportunidades de aprendizagem, pois é susceptível de contribuir para a aquisição de competências num mais curto espaço de tempo. Estou a lembrar-me da duração actual do internato de pediatria, de 5 anos: com trabalho mais intensivo, tal período poderia ficar mais reduzido, aproveitando parcela significativa do mesmo para a subespecialização. - A questão anterior não se pode dissociar do papel do orientador de formação, cuja eficácia e eficiência dependem dum conjunto de atributos tais como: disponibilidade permanente para os internos, superintendendo de perto os respectivos desempenhos; estímulo para a participação activa dos internos; boa capacidade de comunicação, propiciando oportunidades de aprendizagem, etc. 6. M Knowles, nos Estados Unidos, introduziu pela primeira vez o termo de andragogia (derivado do grego andros ou homem adulto) definindo-o como a “arte e a ciência de ajudar os adultos a aprender” - o que implica pró-actividade e espírito de iniciativa do formando-, por oposição ao termo de pedagogia (do grego pedos ou criança) que tem uma conotação paternalista, pois diz respeito ao ensino de modo semelhante ao que classicamente se faz (ou se fazia) às crianças. Com efeito, as principais linhas de força da andragogia são: a participação dos estudantes no diagnóstico das suas próprias necessidades, encorajando-os para a formulação dos seus próprios objectivos de aprendizagem, e envolvendo-os na efectivação dos seus planos de aprendizagem e na avaliação da mesma aprendizagem. A atitude andragógica, por sua vez, contribui para a aquisição do atributo designado por profissionalismo 7,8. Acta Pediatr Port 2006:2(37):73-5 - A legislação actual dos EUA, através do Accreditation Council for Graduate Medical Education, considera o limite de 80 horas por semana, com períodos de turnos não superiores 24 horas seguidas, e um período mínimo de 10 horas de pausa entre dois turnos de 24 horas! Torna-se evidente que este panorama deverá ser enquadrado num país de características especiais de competitividade entre instituições que promovem a formação 10. - Na seio da União Europeia, o panorama tem variantes quanto a máximos de horas permitidas por semana, quer para médicos em formação, quer para especialistas: entre 48 horas e 56 horas por semana, divergindo neste cômputo os critérios de serem contadas ou não as horas em regime de disponibilidade não presencial (na nossa gíria, “estar de chamada”) 11-14. - Especificamente, em Portugal, a legislação sobre o regime de trabalho dos internos estipula o máximo de 42 horas por semana, sem dedicação exclusiva 15. Facto curioso e paradoxal é o que se relaciona com o panorama dos serviços de urgência nos grandes centros como cenários de treino clínico dos internos: o “caos” por vezes instalado - em relação com as situações de “plétora” de urgências “ verdadeiras” e “de não urgências” que recorrem aos mesmos serviços - constitui factor de estresse e de fadiga para quem está a aprender; todavia, o mesmo panorama, de modo perverso, contribui para incrementar as oportunidades de aprendizagem. Em suma, foram abordados aspectos relacionados com o trabalho do interno, tendo como ponto de partida das reflexões o panorama do respectivo regime nos EUA e no Reino Unido. Embora mais horas de trabalho proporcionem maior número de oportunidades de aprendizagem, haverá que ter em conta o papel indispensável do orientador de formação que deverá promover o chamado “espírito andragógico”. Amaral JMV – Oportunidades de Aprendizagem do Interno de Pediatria Por fim, chama-se a atenção para a necessidade de racionalizar o número de horas de treino, a fim de evitar o estresse e a quebra de rendimento da própria aprendizagem. Referências 1. Costa JTSS. A organização dos internatos médicos em Portugal. Revista do Interno 1993;4:1-14. 2. Dent J, Harden R. A Practical Guide for Medical Teachers. London: Churchill Livingstone, 2005. 3. Patuleia MC. A formação do pediatra. Rev Port Pediatr 1974;2:188- 92. 4. Amaral JMV. Curso de pós-graduação sobre pediatria perinatal em Oxford (Reino Unido). Bol Pediatr Hosp Dona Estefânia 1985;1(2):11-5. 5. Amaral JMV. Estágio na Rosie Maternity/Addenbrooke´s Hospital em Cambridge (Reino Unido). Bol Pediatr Hosp Dona Estefânia 1985; 1(3):5-15. 6. Carneiro AV. Algumas reflexões sobre as necessidades em formação de um tutor do futuro 6º ano do curso médico. Boletim SPEM 1997; 7:10- 6. 7. Kliegman RM, Marcdante KJ, Jenson HB, Behrman RE. Nelson Essentials of Pediatrics. Philadelphia:Elsevier Saunders, 2006. 8. Kaufman DM. Educational theory in practice. BMJ 2003:12:385-90. 9. Mota J. O controlo das horas de trabalho dos internos. Tempo Medicina 2006;(1172/ 17de Abril):2E. 10. Philibert I. Residents´hours of work. BMJ 2002;325:1184-5. 11. Veasey S, Rosen R, Barzansky R, Rosen I, Owens J. Sleep loss and fatigue in residency training: a reappraisal. JAMA 2002;288:1116-24. 12. Weinger M, Ancoli-Israel S. Sleep deprivation and clinical performance. JAMA 2002;287:955-7. 13. Tuffs A. European Court ruling means. Germany likely to need more doctors. BMJ 2003;327:640. 14. Watson R. EU proposes changes to working time directive. BMJ 2004; 329:761-2. 15. Regime de trabalho dos internos. Diário da República 2004 – Iª sérieA/Decreto-lei 203/2004: 5355. A este propósito, no artigo de Patuleia, que serviu de base a estas reflexões, é curioso notar o “espírito andragógico na formação” que está subjacente na frase que torno a transcrever: “o interno tem o direito de chamar o senior quando a situação o exige, sem no entanto, abusar desse privilégio ...” 3. - Outra questão que se levanta relaciona-se com as condições de trabalho. De facto, pode considerar-se violento o trabalho descrito no mesmo artigo 3, ao tempo 100 horas por semana 9. Importa, pois, encontrar um equilíbrio entre o máximo de oportunidades e o máximo de rendibilidade de aprendizagem, considerados os riscos decorrentes da fadiga e do estresse, o que pode comprometer a própria aprendizagem e conduzir a erros por má prática. E, relativamente a esta questão, qual a legislação actual na Europa, nos EUA e em Portugal? Da literatura consultada, foram apurados os seguintes dados: 75 Acta Pediatr Port 2006:2(37):76-7 0873-9781/06/37-2/76 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria COMENTÁRIO Os interesses comerciais podem ser o principal condicionante dos componentes do leite para lactentes António Guerra Departamento de Pediatria, Hospital de São João. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Na edição de 18 de Março de 2006, o prestigiado British Medical Journal publica um artigo de opinião intitulado “Standards for infant formula milk. Commercial interests may be the strongest driver of what goes into formula milk”, 1 da responsabilidade de dois eminentes pediatras e investigadores na área da nutrição infantil e, há largos anos, membros do Comité de Nutrição da European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepathology and Nutrition (ESPGHAN). Nele é abordado um tema da maior relevância e sensibilidade, respeitante a recomendações relativas à composição nutricional das fórmulas lácteas para lactentes, alertando-se para a possibilidade de interesses comerciais poderem contaminar as decisões de organismos internacionais responsáveis pelas linhas de orientação que regem a composição de alimentos em geral e neste caso em concreto, das fórmulas lácteas para lactentes. Começando por lembrar que o aleitamento materno é o alimento ideal para a saúde do lactente e que todos os esforços deverão ser centrados numa activa e permanente promoção do aleitamento materno, aqueles investigadores lembram que sempre que tal não é possível e tendo em conta que a fórmula para lactentes é a fonte exclusiva de nutrientes numa fase crítica do crescimento e desenvolvimento, só são aceitáveis fórmulas lácteas com elevados padrões de qualidade. Refira-se que, conforme sublinha o Comité de Nutrição da ESPGHAN, a introdução de qualquer modificação à composição das fórmulas deve ser baseada na revisão sistemática da informação relevante existente. Esta revisão deve permitir o desenvolvimento de uma hipótese clara de benefícios funcionais e clínicos dependentes das modificações propostas e testadas em estudos metodologicamente correctos 2. Em 2004, o Scientific Committee on Food (SCF) da Comissão Europeia, seguindo uma extensa revisão relativa quer às necessidades proteicas dos lactentes quer ao factor de conversão para o cálculo do conteúdo proteico e ainda ao perfil de amino-ácidos do leite humano, propôs várias alterações à composição das fórmulas para lactentes e de transição relativamente ao conteúdo proteico 3. Sublinhe-se que a composição proteica das fórmulas deverá ter como padrão de referência o perfil em amino-ácidos do leite materno, num processo baseado sempre nos dados mais recentes relativos à composição do leite materno. O SCF propôs que o conteúdo proteico total de todas as fórmulas lácteas fosse calculado com base na multiplicação do conteúdo em nitrogénio (N) pelo factor de conversão de 6,25. Propôs ainda que o teor de N não proteico não ultrapassasse 15% do total de N. O SCF considera ainda não haver necessidade de que as fórmulas de transição tenham um teor de proteínas superior ao recomendado para as fórmulas para lactentes. A comissão do Codex Alimentarius (comissão da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação -FAO- e da Organização Mundial da Saúde -OMS) desenvolveu referências e linhas de orientação com o objectivo último de proteger a saúde dos consumidores e de assegurar práticas comerciais justas (http://www.codexalimentarius.net/web/index_es.jsp). As recomendações do Codex relativas às fórmulas para lactentes têm vindo a ser correntemente revistas desde o início da década de 80, tendo em conta o conhecimento científico acumulado. Na sequência deste processo, o Codex Committee on Nutrition and Foods for Special Dietary Uses solicitou à ESPGHAN que consultasse a comunidade científica internacional com vista à proposta de recomendações relativas ao teor de nutrientes nas fórmulas para lactentes, tendo por base naturalmente a evidência científica acumulada 4 . Na reunião de Bona, a International Dairy Federation, apoiada por vários estados membros defendeu a utilização de um factor de conversão superior (6,38) apesar das fórmulas para lactentes actuais conterem proteína modificada de leite de vaca para a qual esse factor não é adequado. Os autores lembram mesmo que a aplicação do factor 6,25 poderá implicar perdas avultadíssimas à industria dos produtos lácteos, deixando implícita a existência de interesses comerciais, que poderão sobrepor-se ao objectivo primordial da comissão que, como acima se referiu, se deve centrar na protecção da saúde dos consumidores. Outro aspecto controverso da reunião de Bona que os autores referem reporta-se aos valores máximos recomendados para os nutrientes. As fórmulas para lactentes deverão conter quantidades que sirvam objectivos nutricionais ou que revelem outros benefícios, ou sejam necessários por motivos tecnológicos. Quantidades desnecessárias apenas implicam sobrecarga metabólica ou de outras funções fisiológicas. Os valores máximos deverão assim basear-se nos dados científicos disponíveis relativos às necessidades e à ausência de efeitos adversos. No entanto, ao contrário destas recomendações científicas, delegados de alguns estados membros defenderam que os valores máximos devam ser estabelecidos unicamente para os nutrientes com efeitos adversos documentados. Os autores concluem que a comunidade médica deve questionar as bases das decisões do Codex Alimentrius no tocante às linhas de orientação relativas à composição das fórmulas para lactentes e rejeitar pressões comerciais. A selecção das fórmulas deverá basear-se na evidência científica actual e nas necessidades nutricionais dos lactentes. Guerra A – Interesses comerciais e leite para lactentes Numa altura em que tem vindo a acumular-se forte evidência científica relativa à programação metabólica condicionada por factores de stresse ligados a carência, mas também a excesso, condicionando risco acrescido de patologia a médio e longo prazo, julgamos da maior actualidade e pertinência o alerta feito por dois reputados pediatras com largo curriculum no domínio da nutrição infantil. Referências 1. Koletzko B, Shamir R. Standards for infant formula milk. Commercial interests may be the strongest driver of what goes into formula milk. BMJ 2006;332;621-622. 2. The nutritional and safety assessment of breast milk substitutes and other dietary products for infants: A commentary by ESPGHAN Committee on Nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2001;32: 256-8. 3. Commission of the European Communities. Working document for a proposal for a recast commission directive on infant formulae and follow-on formulae. Sanco D4/HL/ mm/D440180. Brussels, 6 april 2004. 4. Koletzko B, Baker S, Cleghorn G, Neto UF, Gopalan S, Hernell O et al. Global standard for the composition of infant formula: recommendations of an ESPGHAN coordinated international expert group. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005;41:584-99. 5. Life Sciences Research Office, American Societies for Nutritional Sciences. Assessment of nutrient requirements for infant formulas. J Nutr 1988;128(suppl):2059-298S. 6. Scientific Committee on Food. Report of the Scientific Committee on Food on the revision of essential requirements of infant formulae and follow-on formulae. Brussels: European Commission, 2003. (SCF/CS/NUT/IF/65 Final. 2003). Em Novembro de 2005, reuniu em Bona o referido Codex Committee on Nutrition and Foods for Special Dietary Uses com a participação de delegações governamentais de 71 estados membros do comité, 32 organizações não governamentais ligadas particularmente à produção alimentar e ainda grupos com interesses nas fórmulas infantis. Três revisões científicas recentes relativas à composição das fórmulas infantis realizadas por peritos da Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos, a Comissão Europeia e a Comissão do Codex Alimentarius permitiram a posição consensual de que a determinação do conteúdo proteico das fórmulas para lactentes se deve basear no total de conteúdo em N multiplicado pelo factor de conversão de 6,25 4,5,6. Correspondência: António Guerra E-mail: [email protected] 76 77 0873-9781/06/37-2/78 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Exmo Senhor Director Todos os portugueses e em especial os Pediatras têm assistido, pelos mais diversos órgãos de informação, à novela do fecho das Maternidades que, no entender do Governo e duma comissão que preparou a documentação que levou a essa decisão, deveriam encerrar. Penso ser consensual entre a classe médica e neste caso entre os Pediatras que todos os locais de trabalho sem as condições de segurança exigíveis num país como o nosso no século XXI devem encerrar a bem das crianças que vão nascer. Este facto não deve ser confundido com aspectos economicistas que todos os dirigentes gostam de pôr em prática. Esta minha carta deve-se ao facto de, com grande pena minha, a Sociedade Portuguesa de Pediatria não ter expressado de forma vigorosa e clara uma posição de repúdio pela demagogia populista e tacanha com que populações e autarcas têm intoxicado a opinião pública. Nós, que tantas vezes lamentamos a pouca intervenção da sociedade civil, tínhamos aqui, e em todas as matérias que importem às crianças, obrigação de intervir. Com os meus melhores cumprimentos, António Levy Gomes, Pediatra e Neuropediatra, Hospital de Santa Maria, Lisboa. RESPOSTAS A Direcção da SPP agradece a intervenção do Dr. António Levy e aceita a crítica subjacente às suas palavras. No entanto deve sublinhar-se que, não tendo qualquer tropismo mediático, e considerando que o nível da discussão pública promovida na comunicação social a propósito do encerramento de algumas maternidades estava profundamente inquinado por argumentos populistas, que a colocavam fora da esfera do debate sereno baseado em considerações técnicas, decidimos: Não participar directamente nesse debate, a menos que a nossa opinião fosse expressamente solicitada, o que não se verificou; Pedir, para posterior divulgação junto dos sócios e comunicação social, um parecer técnico, sobre esse tema, à Direcção da Secção de Neonatologia da SPP. A SPP não cede na defesa intransigente dos direitos da criança a uma assistência de excelência, mesmo que tal implique afrontar interesses políticos, económicos ou profissionais corporativos e temo-lo dito em vários locais e várias circunstâncias. 78 Acta Pediatr Port 2006:2(37):78-9 CARTAS AO DIRECTOR Reservamo-nos, no entanto, o direito de fazer ouvir a nossa voz do modo e na altura que consideramos mais eficaz. Mas compreendemos e aceitamos (e agradecemos) que haja opiniões diferentes. Gonçalo Cordeiro Ferreira Presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria Caro Dr. António Levy: A Direcção da Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), por solicitação da Direcção da SPP, agradece-lhe as palavras de estímulo à intervenção de cidadania da SPP em todos os assuntos públicos que interessem à defesa e promoção da defesa da saúde das crianças. Carta ao Director tam os meios técnicos e humanos, em número e diferenciação adequadas. Médicos (obstetras, pediatras/neonatologistas e anestesistas) e enfermeiros com as qualificações necessárias e em número suficiente, fácil acessibilidade a estes meios e rede de referenciação organizada e estruturada são as condições mínimas. São estes princípios que o Relatório da Comissão Nacional para a Saúde Materna e Neonatal propõe e que a tutela declarou adoptar: “Para que todos os partos sejam realizados em ambiente de maior segurança técnica e humanizante, propõe-se sim o encerramento dos Blocos de Partos que nos últimos anos não conseguiram os recursos humanos necessários, nem atingir o movimento mínimo capaz de anular o risco e de fornecer a experiência técnica e científica no domínio perinatal. Este encerramento só foi proposto para os locais em que a população venha a dispor de alternativas de maior qualidade e a uma distância não superior a 30 minutos”. Este encerramento está proposto de forma faseada e é ressalvado que poderá ser reajustado em função de alterações sociodemográficas que venham a ocorrer. Cumpridos estes requisitos, e reforçada a sensibilização das populações locais, a SPP e a sua Secção de Neonatologia concordam com a implementação escalonada das medidas anunciadas. No entanto, não são as únicas medidas necessárias para conseguir uma melhor prestação de cuidados perinatais e pediátricos no nosso País. É necessário regulamentar e avaliar a vigilância ecográfica prénatal por profissionais qualificados, estruturar a rede de referenciação para o diagnóstico pré-natal, garantir o cumprimento dos mesmos critérios mínimos de qualidade nos Blocos de Partos do sector privado que se exige no sector público e é ainda necessário que a rede de cuidados pediátricos e de saúde infantil seja reestruturada. As mesmas razões que levam a considerar inadequadas as condições actuais de alguns Blocos de Partos, que outrora tinham válidas razões para existirem, aplicam-se a outros serviços médicos destinados a crianças e adolescentes. Todas as medidas que contribuam para a melhoria da saúde das nossas crianças e adolescentes contarão com o incentivo e apoio da SPP e das suas Secções, pelo que é nossa obrigação divulgar entre os nossos sócios as razões que as fundamentam. A Direcção da Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria Hercília Guimarães Teresa Tomé Daniel Virella Gabriela Mimoso De facto, quer a SPP, quer as suas Secções, tentam desempenhar o papel que os seus estatutos e obrigações morais lhes incumbem a bem das crianças e adolescentes, em Portugal e no Mundo. Por vezes, de facto, é dada pouca ênfase à divulgação mediática destas acções, não apenas à Sociedade em geral, mas também entre os colegas que trabalham com crianças e adolescentes. A SPP, particularmente através da sua Secção de Neonatologia, há muito tem defendido a actualização da Rede de Referenciação Perinatal, já com mais de 15 anos de existência. Para tal, tem usado alguma possibilidade de contacto, com as Autoridades gestoras da Saúde do País e a intervenção dos seus associados nas Comissões criadas, nomeadamente a Comissão Nacional para a Saúde Materna e Neonatal e a Comissão para a Saúde da Criança e do Adolescente. A estruturação da rede de referenciação perinatal, feita pelo Ministério da Saúde em 1990, com base no relatório técnico da Comissão Nacional de Saúde Materna e Infantil, permitiu dar o grande salto qualitativo na saúde perinatal que colocou Portugal no quinto lugar mundial entre os países com melhores indicadores sanitários nesta área. No entanto, a rápida evolução demográfica e social do País tornou essa reforma desajustada. A nova Comissão Nacional para a Saúde Materna e Neonatal reavaliou a estruturação feita há mais de 15 anos e, num detalhado relatório, fundamentou as alterações necessárias à Rede de Referenciação Neonatal, com as quais a Secção de Neonatologia da SPP concorda inteiramente. É necessário garantir a todos os cidadãos de Portugal os melhores cuidados de saúde possíveis, particularmente cuidados perinatais. Esta melhoria passa necessariamente por garantir que a assistência durante o parto se faça nos locais onde exis- Exmo Sr Director da Acta Pediátrica Portuguesa: (Em relação ao artigo “Sarcoma de Ewing ou Linfoma Ósseo”, publicado na Acta Pediatr Port 2005;36(6):304-7) Devo chamar a atenção para dois pontos: Ao revisor e aos autores, deve ter passado desapercebido o lapso de falar em biopsia “excisional” e não em biopsia “incisional” ou cirúrgica (por oposição à citologia com agulha fina), já que não foi feita (e bem) a excisão da lesão. A biopsia excisional apenas está indicada em pequenas lesões, de diagnóstico desconhecido, mas que, sendo de pequenas dimensões e localizadas, o permitem (o que não era o caso). Aliás não é referido se foi feita laparotomia (para o diagnóstico da lesão abdominal/renal) nem sequer o cirurgião envolvido surge como autor do trabalho… NOTA EDITORIAL O Conselho Editorial lamenta que, devido à ausência de resposta em tempo útil dos Autores do artigo em causa, esta carta seja publicada sem a correspondente resposta. O pedido de desculpas da Coordenação de Edição da Acta Pediátrica Portuguesa, relativa à troca de legendas das imagens, referida na Carta, foi publicado na Acta Ped Port 2006;37(1). Ao paginador e revisor da Revista terá também passado despercebido que as legendas não correspondem às imagens radiográficas, o que será de evitar no futuro, sobretudo numa Revista que se deseja de qualidade! 3 de Fevereiro de 2006 Dr. António Gentil Martins 79 0873-9781/06/37-2/80 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria COMUNICADO DA COMISSÃO NACIONAL DA SAÚDE MATERNA E NEONATAL – CNSMNN A população mobilizada para as manifestações contra o encerramento dos Blocos de Parto fê-lo com a informação adequada? Comissão Nacional da Saúde Materna e Neonatal – CNSMNN Evolução da assistência materno-infantil. Explicações para a proposta actual. 1 – Há 15 anos, as taxas de mortalidade infantil (óbitos no primeiro ano de vida) e materna (óbitos durante o trabalho de parto) em Portugal eram as mais elevadas da Europa. Por cada mil recém nascidos faleciam 15 e, por cada falecido, cerca de 3 ficavam com sequelas graves. 2 – Em 1990, a Doutora Leonor Beleza, Ministra da Saúde de então, deu luz verde a uma Comissão Nacional de Saúde Materna e Infantil (CNSMI), exclusivamente técnica, para propor e executar um Programa Nacional de Saúde Materna e Infantil (PNSMI) que visasse resolver esta calamidade. 3 - 15 anos depois, Portugal deixou a cauda da Europa; foi o País que mais rapidamente evoluiu nesta área. Evoluímos dos 15 óbitos por mil nascimentos para 3,8 em 2004. Atingimos o Grupo dos melhores na mortalidade abaixo dos 5 anos no relatório da UNICEF em 2005. 4 – A ausência de entraves e interferências politico - partidárias, a nomeação sucessiva desta CNSMI por todos os Ministérios da Saúde (MS), permitiram a implementação contínua deste Programa, evitando alterações significativas da estrutura e processos desenvolvidos, sendo reconhecido por toda a sociedade portuguesa e aceite por todos os profissionais como um autêntico Património. 5 – Na base deste sucesso esteve a Missão definida no PNSMI que visava a criação de condições para assegurar a qualidade e segurança contínua no Parto e no Nascimento a toda a população e implementar um Sistema de Vigilância da Grávida e do Recém-Nascido (RN) a nível nacional. 6 – Nascia-se mal em cerca de 200 locais. Apesar da concentração dos partos em 50 hospitais, nem todos conseguiram até hoje as condições necessárias para fazer face a todas as situação de risco. As populações dos 150 locais que encerraram os Blocos de partos há 15 anos nunca reivindicaram a reabertura dos locais de partos nem se arrependeram das alternativas colocadas à disposição. 7 – Estas situações felizmente só acontecem em cerca de 5% dos partos, mas por serem quase sempre inesperadas, exigem soluções imediatas. 80 8 – Para evitar este risco existem exigências estruturais definidas por sociedades científicas nacionais e internacionais: Cada Bloco de partos deve ter uma equipa constituída por 2 Obstetras mais 1 Interno ou o apoio permanente de 1 Cirurgião que possa garantir uma cesariana e um parto não normal em simultâneo, 1 Pediatra com Competência em Neonatologia, 1 Anestesista, Enfermeiras Parteiras, Enfermeiros com especialidade em Saúde Infantil, disponibilidade permanente de Laboratório de Sangue e Análises Clínicas, disponibilidade de apoio de Cirurgia Geral para complicações obstétricas, para além do equipamento e instalações para monitorizar e concretizar o parto e a reanimação do RN. Incluindo os auxiliares de acção médica e secretariado são necessários cerca de 20 elementos com presença fixa contínua e imprescindível. 9 – Uma maternidade que não efectua 3-4 partos por dia não consegue fornecer experiência exigida a toda a equipa. 10 – Neste momento a questão essencial não é da insegurança e a falta de qualidade permanente no nascimento como se verificava há 15 anos, mas a necessidade de garantir, de forma contínua, em todos os hospitais e a toda a população os incontestáveis avanços conseguidos desde então. 11 – Podemos continuar a correr o risco naqueles 5% dos partos que ocorrem sem segurança contínua? 12 - Em Portugal ainda há cerca de 10% da população que não tem esta garantia. Isto passa-se em cerca de um terço dos hospitais. Acta Pediatr Port 2006:2(37):80-1 15 - A CNSMC há 10 anos que propõe aos sucessivos Ministros como solução a concentração dos partos, sempre que tal acarrete benefícios reais para a população. Com tal solução é possível, com os actuais recursos, não só minimizar o risco, como fornecer condições de qualidade e segurança no parto e no nascimento, a toda a população. CNSMNN – Encerramento de Blocos de parto especializado, para um local que oferece melhores condições para garantir a tal contínua qualidade e segurança do parto. f - Numa gravidez bem vigiada e com informação adequada, raramente o parto ocorre fora das Maternidades. A grávida fica a conhecer bem o momento em que se deve deslocar. Sem esta explicação a mobilização da população é compreensível, por não dispor da informação necessária para a efectiva defesa dos seus interesses. Custa ver as nossas mulheres e população dos locais visados a manifestarem-se, mobilizada por gente de boa fé, a perseguir valores que todos defendemos, mas involuntariamente a serem empurrados para o abismo por falta de informação correcta. g – As soluções propostas, ao contrário do que parecerá à primeira vista, não promovem a desertificação. Favorecem a concretização e vigilância da gravidez junto à área de residência e aumenta a probabilidade de conseguir um RN vivo e sem sequelas, registado no seu local de residência 3 dias depois do parto. 17 - Assim sendo, esclarecemos alguns pontos da proposta técnica que não têm sido devidamente transmitidos à população: h - Não se pode continuar a esconder à população que localmente o parto é mais arriscado e que o pode fazer com mais segurança a menos de 30 minutos de distância ou onde o desejar. a - O encerramento das Maternidades nunca esteve em causa. Para termos cada vez mais gravidezes bem sucedidas e crianças saudáveis, é necessário garantir uma vigilância contínua tanto à grávida como ao RN e de fácil acessibilidade. b – Para que todos os partos sejam realizados em ambiente de maior segurança técnica e humanizante, propõe-se sim o encerramento dos Blocos de Partos que nos últimos anos não conseguiram os recursos humanos necessários, nem atingir o movimento mínimo capaz de anular o risco e de fornecer a experiência técnica e científica no domínio perinatal. Este encerramento só foi proposto para os locais em que a população venha a dispor de alternativas de maior qualidade e a uma distância não superior a 30 minutos. c - Os profissionais libertos da equipa de urgência ficam assim mais disponíveis para efectuar outras actividades médicas essenciais: consultas de referência, consultas de vigilância das grávidas de risco, a assistência ginecológica, assistência do pós parto, bem como para adquirir formação e efectuar ecografias e outros exames complementares. Estas sim, são actividades assistenciais que devem continuar próximas das populações, constituindo um direito do qual não se pode abdicar e cuja acção interfere directamente na vigilância e programação da gravidez. 13- A maioria dos hospitais visados, embora tenha melhorado substancialmente, não conseguiu atingir nos últimos 10 anos, o movimento mínimo, nem criar condições para atrair os recursos humanos necessários. d - Aos profissionais são garantidos projectos mais atraentes. Poderão continuar a fazer os partos das suas parturientes integrando as equipas dos locais onde ele vai ser efectuado. O nº reduzido de Obstetras e Pediatras de que dispõem, não são suficientes para constituir as equipas mínimas de Urgência sendo necessário recorrer muitas vezes a colegas já aposentados. e - O único aparente incómodo para a população é o ter de se deslocar no dia do parto, menos de 30 minutos, em boas redes viárias, em transporte assegurado se necessário, com pessoal i - Esta proposta defende a saúde de todas as nossas mulheres e dos nossos filhos a nível nacional. Se concretizada, colocanos entre os países com melhor organização materno-infantil do mundo. j - Este texto serviu para fornecer a informação técnica e acrescentar alguma racionalidade a esta questão para não hipotecar nem atrasar a solução. Será muito perigoso para a consolidação da melhoria da Saúde Materna e Infantil em Portugal que as soluções para este problema, deixem de ser técnicas, que interferências políticoadministrativas, façam com que o bairrismo e o partidarismo dificultem a consolidação de valores como a competência, o profissionalismo, a colaboração, a cooperação, e a complementaridade interinstitucional, fundamentais para o suporte da Assistência Materno Infantil Nacional. Pela Comissão Nacional da Saúde da Mulher e da Criança Nota Editorial: Os recentes pareceres técnicos emanados da Comissão Nacional da Saúde Materna e Neonatal – CNSMNN, referidos neste comunicado podem ser consultados na sua totalidade através das seguintes ligações electrónicas: http://www.portugal.gov.pt/NR/rdonlyres/096F8E9F-5A844DE9-AAB3-B9CEF497869B/0/Requalificacao_Urgencia_Perinatal.pdf http://www.portugal.gov.pt/NR/rdonlyres/11BC1174-31D84571-A83D-D0808E52E4E2/0/Org_Perinatal_Nacional.pdf 14 - A referenciação das grávidas de risco para hospitais com melhor capacidade, prática já consolidada em todo o País, confirma que é possível o transporte da grávida sem complicações, permitindo salvar muitos recém nascidos. 81 0873-9781/06/37-2/XXXIII Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria NOTÍCIAS Calendário de Eventos Nacionais e Internacionais MARÇO 2006 • Perturbações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem PEDL 6º Workshop. Lisboa, 4/3/06 (Secretariado: Oficina Didáctica, tel. 213872458, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.oficinadidactica.pt) • Workshop: Vírus Respiratórios em Pediatria. Lisboa, 10/3/06 (Secretariado: D. Dulce Afonso, tel. 214348299) • 23º Aniversário do Instituto de Apoio à Criança. “A Criança, o Direito à Utopia; Acolhimento e Estadia no Hospital”. Lisboa, 1417/3/06 (Secretariado: Cláudia Gaivota, endereço na internet: http//www.iacrianca.pt) • Quartas-feiras Solidárias: Nutrição e Obesidade Infantil. Lisboa, 15/3/06 (Secretariado: MUSSOC – tel. 218409261, e-mail: [email protected]) • XII Seminário de Desenvolvimento. Coimbra, 23-24/3/06 (Secretariado – ASIC, tel. 239484464, fax 239482918, e-mail: [email protected], ou [email protected], endereço na internet: http://www.asic.pt) • Abordagem Multidisciplinar da Criança com Paralisia Cerebral. Lisboa, 29/3/06 (Secretariado: Maria João Tavares, tel. 210330729, e-mail: [email protected]) • Quartas-feiras Solidárias: Saúde Mental Infantil. Lisboa, 29/3/06 (Secretariado: MUSSOC – tel. 218409261, e-mail: [email protected]) • Jornadas Científicas do Departamento de Pediatria do Hospital de S. João “Aprender Pediatria”. Porto, 30-31/3/06. ABRIL 2006 • Dez regras de ouro para quem vive/trabalha com adolescentes. Lisboa, 1/4/06 (Secretariado: ESCA – tel. 218121743, fax 218121745, e-mail: [email protected]) MAIO 2006 • VII Reunião Pediátrica do Hospital de S. Francisco Xavier. Reunião de Epileptologia Pediátrica e Curso Satélite “O recém-nascido doente”. Oeiras, 3-6/5/06 (Secretariado – Milupa Comercial SA, tel. 214246880, fax 214188955. • Reunião da Secção de Pneumologia da SPP: Novas Terapêuticas em Pneumologia Pediátrica. Porto, 4-5/5/06 (Secretariado: tel. 934892105, e-mail: [email protected]) • Perturbações do Desenvolvimento Sensorial “Vozes, Luzes, … Sensações”. Albufeira, 12/5/06 (Secretariado: Cristina Adanjo - Secção de Pediatria do Desenvolvimento da SPP, tel. 289891160, fax: 289891161) • VI Jornadas do Serviço de Pediatria do Hospital de S. Pedro e VIII Jornadas da Secção de Pediatria Ambulatória da SPP. Vila Real, 12-13/5/06 • O brincar - Sua Importância no Desenvolvimento da Criança 2ª Jornada. Lisboa, 13/5/06 (Secretariado: Oficina Didáctica, tel. 213872458, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.oficinadidactica.pt) • 3ª Conferência Meninos de Oiro “Mais Tempo para o Futuro”. Lisboa, 15/5/06 (Secretariado: Associação Meninos de Oiro, tel. 212180703 ou 965671738, endereço na internet: http://www.meninosdeoiro.org) • XIII Anuário do Hospital de Dona Estefânia. Lisboa, 17/5/06 (Secretariado – anuá[email protected]) • XXXIII Jornadas Nacionais de Pediatria. Funchal, 18-20/5/06 (Secretariado – Muris Design - tel. 229476845/8, fax 229476846, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://spp-funchal.muris.pt) • II Seminário de Neonatologia: Nefro-urologia do Recém-Nascido. Viana do Castelo, 25-26/5/06 (Secretariado – Milupa Comercial SA, tel. 214246880, fax 214188955, endereço na internet: www.lusoneonatologia.net) JUNHO 2006 • 4º Encontro de Infecciologia Pediátrica. 2/6/06 • Workshop: Dislexia - teoria, diagnóstico e intervenção. Lisboa, 3/6/06 (Secretariado: Oficina Didáctica - tel. 213872458, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.oficinadidactica.pt) • Jornadas de Estudo da Ortopedia Infantil. Caminha, 7-9/6/06 (Secretariado: http://www.spot.pt/...) • 3º Congresso Nacional de Medicina do Adolescente. Braga, 8-9/6/06 (Secretariado – MURIS, tel. 229476845, fax 229476846, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://medicina-do-adolescente.muris.pt) • 3º Congresso sobre Espaços de Jogo e Recreio: Lei, Inovação e Boas Práticas. Lisboa, 22-24/6/06 (Secretariado: SGS – tel. 707200747, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.apsi.org.pt) • Reunião Anual da Secção de Hematologia e Oncologia da SPP. Coimbra, 23/6/06 (Secretariado: Nuno Farinha, tel. 968707616, fax 225096093, e-mail: [email protected]) • XXIII Curso de Pediatria Ambulatória e 17º Congresso da Sociedade Europeia de Pediatria Ambulatória. Coimbra, 23-24/6/06 (Acrópole – tel. 226199680, fax 226199689, e-mail: [email protected]) JULHO 2006 • XXVIII Simpósio Minhoto-Galaico de Pediatria Extra-Hospitalar. Esposende, 1/7/06 (Secretariado: Paula Coelho, tel. 253209069, e-mail: [email protected]) SETEMBRO 2006 • 12º Congresso Europeu de Adolescência “Obesity and eating disorders in young people: bio-psycho-social approaches”. Atenas, Grécia 21-23/9/06 (Secretariado: PRC Congress & Travel, tel. +302107711673, fax +302107711289, e-mail: [email protected]) XXXI Acta Pediatr Port 2006:2(37):XXXI-II • Curso de Verão para Internos da SPP: Uronefrologia. 22-24/9/06 (Secretariado: e-mail: [email protected]) • 17º Congresso da Sociedade Europeia de Pediatria Ambulatória e 9ª Reunião da Secção de Pediatria Ambulatória da SPP. Coimbra, 29-30/9/06. OUTUBRO 2006 • Europaediatrics. Barcelona, 7-10/10/06 (Secretariado – e-mail: [email protected], endereço na internet: www.kenes.com/europaediatrics) • XIII Jornadas de Pediatria de Évora “Neuropediatria”. Évora, 12-13/10/06 (Secretariado – Serviço de Pediatria do Hospital Espírito Santo de Évora, tel. 266740100, fax 266707912, e-mail: [email protected]) • Jornadas de Endocrionologia Pediátrica do Hospital Dona Estefânia: Criança e Adolescente com Diabetes. Lisboa, 19-20/10/06 (Secretariado – Carla Pereira, Rosa Pina, Unidade de Endocrinologia do Hospital Dona Estefânia) • XXXIV Jornadas Nacionais de Pediatria. Aveiro, 19-21/10/06 (Secretariado – SPP: e-mail: [email protected]) NOVEMBRO 2006 • II Simpósio sobre Obesidade Pediátrica Prevenção e Tratamento Multidisciplinar. Porto, 2-4/11/06. • XXI Jornadas da Secção de Nefrologia da SPP e XII Reunião do Serviço de Pediatria do Hospital de São Teotónio. Viseu, 9-11/11/06 • XXXV Jornadas Comemorativas dos 20 anos da Secção de Neonatologia da SPP: Avaliação da Qualidade/ Controvérsias. Lisboa, 16-17/11/06 (Secretariado: Skyros Congressos, e-mail: [email protected], endereço na internet: www.lusoneonatologia.net) • XVIII Reunião do Hospital de Crianças Maria Pia: “Desafios e Controvérsias em Pediatria”. Porto, 16-17/11/06 (Secretariado – Hospital de Crianças Maria Pia,tel. 226089988, fax 226089910, e-mail: [email protected]) • II International Meeting on Neonatology: “The Better Practices in Neonatology - 20 years of the Neonatal Branch of the Portuguese Society of Paediatrics”. Lisboa, 16-17/11/06 (Secretariado: Skyros Congressos, e-mail: [email protected], endereço na internet: http://www.lusoneonatologia.net) • 14ª Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha. Leiria, 24-25/11/05 (Secretariado: Serviço de Pediatria do Hospital St.º André, tel. 244817053, e-mail: [email protected]) DEZEMBRO 2006 • Reunião Temática da SPP “A Criança e o Dia”. Lisboa, 16/12/06 Reunião de Casos Clínicos “Perturbações do desenvolvimento sensorial - vozes, luzes, … sensações” Albufeira, 12 de Maio de 2006; Organização: Secção de Pediatria do Desenvolvimento da S.P.P. XXXII Notícias Programa 09:00 Abertura do Secretariado 09:15 Sessão de Abertura 09:30-10:45 1ª Sessão, Moderador: Fátima Bessa (U.A.D.I.P., Porto) • Visão e Desenvolvimento - Conceição Neves (Consulta de sub-visão, H.S.M., Lisboa) • Tecnologias de apoio na multideficiência - Luís Azevedo (Anditec, Lisboa) 10:45 Intervalo 11:15-12:45 2ª Sessão, Moderador: Cristina Duarte (H.G.O., Almada) • Privação visual, exploração do meio ambiente e comunicação: que interacções? Isabel Amaral (Escola Superior de Saúde, Setúbal) • Caso Clínico: Retinopatia da Prematuridade - Teresa Campos, Isabel Rodrigues - (H.D.F., Faro) e Nair Malheiros, Teresa Gaia (N.E.C.I.) • Modulação sensorial no prematuro - Filipe Guimarães, Carlos Machado (H.D.F., Faro) 12:45 Almoço 14:15-15:45 3ª Sessão, Moderador: Fernanda Mello (H.S.F.X., Lisboa) • Avaliação Auditiva Precoce - Eunice Vieira (H.D.F., Faro) • Caso Clínico: Surdez neuro sensorial profunda: pós meningite? Inês Sousa, Margarida Silva (H.D.F., Faro); A propósito de um caso: Tipos de Intervenção - Rosa Horta (Unidade A.E.C.J. Surdos de Faro) • Caso Clínico: Défice visual de origem cortical - Andreia Pereira, Carla Moço (H.D.F., Faro); O Mundo a meus Olhos - Re(Habilitação) Cristina Sobral, Teresa Gaia (A.P.P.C. Faro) 15:45 Intervalo 16:15-17:15 4ª Sessão, Moderador: Guiomar Oliveira (H.P.C., Coimbra) • Uma rosa azul - Leonor e Carlos (Pais de criança com Síndrome de Asperger); Integração sensorial: intervenção no Síndrome de Asperger - Paula Serrano, Sónia Martins Lopes (Escola das Brincadeiras) • Abordagem terapêutica em crianças com perturbações na comunicação - Conceição Silva, Margarida Lino (H.D.F.) 17:15 Sessão de encerramento - Rosa Gouveia (Presidente da Secção de Pediatria do Desenvolvimento da S.P.P.) Prémio Milte de Pediatria Ambulatória Dr. Nicolau da Fonseca e Bolsas de Participação Na 9ª Reunião da Secção de Pediatria Ambulatória da Sociedade Portuguesa de Pediatria, reunião conjunta com o 17º Congresso da Sociedade Europeia Ambulatória (SEPA) que se realizará em Coimbra a 29 e 30 de Setembro de 2006, será entregue um Primeiro Prémio de 1250 € e 2 Menções Honrosas. O Primeiro Prémio, patrocinado pela Milte, será atribuído ao melhor trabalho apresentado na Reunião sobre um tema de pediatria ambulatória ou com projecção na actividade pediátrica ambulatória. Os resumos dos trabalhos deverão ser enviados até 20 de Julho, preferencialmente por e-mail: [email protected], para o Secretariado do Congresso: Acrópole – R. do Gondarém, 956, r/c, 4150-375 Porto, tel. 226 199 680, fax 226 199 689. A Secção de Pediatria Ambulatória da Sociedade Portuguesa de Pediatria também atribui 20 bolsas a Médicos do Internato de Pediatria, para assistirem ao 17º Congresso da SEPA. 0873-9781/06/37-2/XXXV Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria NORMAS DE PUBLICAÇÃO I - Indicações Gerais aos Autores A Acta Pediátrica Portuguesa (APP) aceita artigos sobre qualquer tema pediátrico e materno-fetal, nas múltiplas dimensões científicas, sociais e culturais relacionadas com a saúde e educação da criança e do adolescente. Aceita também estudos experimentais no animal que contribuam para o melhor conhecimento da fisiologia e fisiopatologia infantil e fetal na espécie humana. São bem-vindos artigos provenientes de todos os Países de Língua Oficial Portuguesa. Podem ser aceites, pela sua relevância, textos escritos noutras línguas, de reconhecida divulgação internacional. Os artigos propostos não podem ter sido objecto de qualquer outro tipo de publicação. Esta restrição não se aplica a notas de imprensa ou a resumos publicados no âmbito de reuniões científicas. Quando existem publicações semelhantes à que é submetida ou quando existirem dúvidas relativamente ao cumprimento dos critérios acima mencionados estas devem ser anexadas ao manuscrito em submissão. a 1200 palavras, excluindo referências e tabelas, com um máximo de duas tabelas e/ou figuras (total) e até dez referências. Os casos clínicos devem incluir resumos em português e em inglês, com um limite de 120 palavras cada um, estruturados em introdução, relato dos casos e discussão (eventualmente conclusão). Os manuscritos submetidos devem estar de acordo com os requisitos de submissão de manuscritos a revistas biomédicas, elaborados pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”, disponível em URL: www.icmje.org e em N Engl J Med 1997; 336: 309-15). Os manuscritos são inicialmente avaliados por membros da equipa editorial e os considerados adequados são submetidos ao parecer técnico de pelo menos dois revisores externos. A revisão é feita anonimamente, podendo os revisores rejeitar, aceitar sem modificações ou propor alterações de conteúdo ou de forma, condicionando a publicação do artigo às mesmas. Os pareceres da equipa editorial e dos revisores são comunicados ao(s) autor(es). A propriedade editorial dos artigos publicados é da APP. Uma vez aceites, os manuscritos não podem ser publicados textualmente ou em forma semelhante noutros locais, mesmo noutro idioma, sem o consentimento da APP. O(s) autor(es) mantêm os direitos de autor da sua obra, o que lhes permite: – publicar em parte ou na sua totalidade este artigo em livro escrito ou editado pelo(s) autor(es), com a necessária referência à presente publicação; – utilizar selecções de figuras, tabelas e textos deste artigo em outros trabalhos escritos pelo(s) autor(es), com a necessária referência à presente publicação; – incluir este artigo em compilações de textos para ensino, sempre que sejam distribuídos gratuitamente pelos estudantes ou disponibilizados em suporte informático de acesso livre, com intuito de ensino ou formação. Apesar dos editores e dos revisores envidarem esforços para assegurar a qualidade técnica e científica dos manuscritos, a responsabilidade final do conteúdo é dos autores, aos quais pertence a propriedade intelectual dos artigos. 5) Artigos de revisão ou actualização. Artigos de revisão sobre temas das diferentes áreas da Pediatria, com interesse prático para profissionais de saúde dedicados a crianças e adolescentes. Este tipo de artigos de revisão é geralmente solicitado pelos editores. Contudo, serão avaliados artigos de revisão submetidos sem solicitação prévia. O texto deve ser limitado a 3000 palavras, excluindo referências e tabelas, incluir um máximo de cinco tabelas e/ou figuras (total) e até 40 referências. As revisões quantitativas (metanálises) devem ser organizadas em introdução, métodos, resultados e discussão (incluindo conclusões). Os artigos devem incluir resumos em português e em inglês, com um limite de 250 palavras cada um, devendo ser estruturados no caso de serem revisões quantitativas. II - Tipos de artigos publicados na Acta Pediátrica Portuguesa A APP prevê a publicação de vários tipos de artigos: 1) Artigos de investigação original. Contendo o resultado de investigação original, qualitativa ou quantitativa. O texto, organizado em introdução, métodos, resultados, discussão (e eventualmente conclusão), deve ser limitado a 3000 palavras, excluindo referências e tabelas, com um máximo de seis tabelas e/ou figuras (total) e até 30 referências. Devem incluir resumos estruturados em português e em inglês, com um limite de 300 palavras cada um. 2) Publicações breves. Contendo resultados preliminares ou achados novos. O texto, organizado em introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão, deve ser limitado a 1500 palavras, excluindo referências e tabelas, com um máximo de duas tabelas e/ou figuras (total) e até quinze referências. Devem incluir resumos estruturados em português e em inglês, respectivamente com um limite de 250 palavras cada um. 3) Casos clínicos. Casos clínicos de facto exemplares, devidamente estudados e discutidos. O texto deve incluir uma breve introdução, a descrição do(s) caso(s), a discussão sucinta que incluirá uma conclusão sumária. O texto deve limitar-se 4) Séries de casos (Casuísticas). Contendo a descrição de séries de casos, numa perspectiva de reflexão sobre uma experiência particular de diagnóstico, tratamento ou prognóstico. O texto, incluindo uma breve introdução, a descrição dos casos, a discussão sucinta contendo uma conclusão, deve ser limitado a 1200 palavras, excluindo referências e tabelas. O texto deve estar organizado em introdução, métodos, resultados e discussão (eventualmente conclusão), com um máximo de duas tabelas e/ou figuras (total) e até quinze referências. As séries de casos devem apresentar resumos estruturados em português e em inglês, com um limite de 250 palavras cada um. 6) Artigos sobre Educação Médica. Artigos de revisão ou opinião sobre a formação médica contínua, geral ou pediátrica, dirigidos a profissionais de saúde que se dedicam a crianças e adolescentes, particularmente a responsáveis pela formação pré e pós-graduada. Estes tipos de artigos são submetidos sem solicitação prévia. O texto deve ser limitado a 3000 palavras, excluindo referências e tabelas, incluir um máximo de três tabelas e/ou figuras (total) e até 20 referências. Os artigos devem incluir resumos em português e em inglês, com um limite de 250 palavras cada um, devendo ser estruturados no caso de serem estudos originais. 7) Críticas de livros ou software. Críticas de livros, software ou sítios da internet. O texto deve ser limitado a 600 palavras, excluindo tabelas e figuras, e incluir no máximo uma tabela ou figura e até quatro referências bibliográficas, incluindo a referência bibliográfica completa do objecto da revisão. As revisões de livros ou software não devem conter resumos. 8) Artigos de opinião. Incidem em comentários, ensaios, análises críticas ou enunciados de posição acerca de tópicos de interesse nas áreas da Pediatria e Saúde Infantil, políticas de saúde e educação médica. O texto deve ser limitado a 900 palavras, excluindo referências e tabelas, e incluir no máximo uma tabela ou figura e até cinco referências. Os comentários e enunciados de posição não devem conter resumos. 9) Cartas ao Director. Comentários sucintos a artigos publicados na APP ou relatando de forma muito breve e objectiva os resultados de observação clínica ou investigação original que não justifiquem publicação mais extensa. O texto deve ser limitado a 400 palavras, excluindo referências e tabelas, e incluir no máximo uma tabela ou figura e até seis referências. As cartas ao director não devem apresentar resumos. III – Submissão de Manuscritos. Os manuscritos submetidos à APP devem ser preparados de acordo com as recomendações abaixo indicadas e acompanhados de uma carta de apresentação. A carta de apresentação deve incluir a seguinte informação: XXXIII Acta Pediatr Port 2006:2(37):XXXIII-VI 1) Título completo do manuscrito; 2) Nomes dos autores com especificação do contributo de cada um para o manuscrito; justificação de número elevado de autores (mais de seis), se tal ocorrer; 3) Especificação do tipo de artigo, de acordo com a classificação da APP; 4) Fontes de financiamento, incluindo bolsas e patrocínios comerciais; 5) Explicitação de conflitos de interesse ou da sua ausência; 6) Declaração de que o manuscrito não foi ainda publicado, na íntegra ou em parte, e de que nenhuma versão do manuscrito está a ser avaliada por outra revista; 7) Declaração de que todos os autores aprovaram a versão do manuscrito que está a ser submetida; 8) Assinatura de todos os autores. É dada preferência à submissão dos manuscritos por e-mail ([email protected]). O manuscrito e a carta de apresentação devem ser enviados em ficheiros separados. Deve ser enviada por correio ou por fax (217 577 617) uma cópia da carta de apresentação assinada por todos os autores. Se não for possível efectuar a submissão por e-mail, esta pode ser efectuada por correio, com o envio do suporte digital (CD ou disquete), para o endereço: Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15, R/C I 1750-018 Lisboa, PORTUGAL Os manuscritos rejeitados ou o material que os acompanha não serão devolvidos, excepto quando expressamente solicitado no momento da submissão. IV – Formatação dos Manuscritos. A formatação dos artigos submetidos para publicação deve seguir os “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”. Todo o manuscrito, incluindo referências, tabelas e legendas de figuras, deve ser redigido em coluna única, a dois espaços, com letra de dimensão 11, e tabelado à esquerda. Aconselha-se a utilização dos formatos de letra Times, Times New Roman, Courier, Helvetica e Arial; Symbol, para caracteres especiais. Em todo o manuscrito as quatro margens devem ser de 2,5 cm. Todas as páginas devem ser numeradas, incluindo a página do título. Devem ser inseridas quebras de página entre cada secção do manuscrito. Não conter cabeçalhos nem rodapés. Apenas serão publicadas citações, tabelas ou ilustrações cuja origem esteja sujeita a direitos de autor, com citação completa da fonte e/ou com autorização do detentor dos direitos de autor. Unidades de medida - Devem ser utilizadas as unidades de medida do Sistema Internacional (SI), mas os editores podem solicitar a apresentação de outras unidades não pertencentes ao SI. Abreviaturas - Devem ser evitados acrónimos e abreviaturas, especialmente no título e nos resumos. Quando for necessária a sua utilização, devem ser definidos na primeira vez que são mencionados no texto. O seu significado deve também ficar explícito no resumo, nas tabelas e figuras, excepto no caso das unidades de medida. Quando usados mais do que seis acrónimos ou abreviaturas, recomenda-se a inclusão de um quadro com a lista completa dos mesmos. Nomes de medicamentos - Deve ser utilizada a Designação Comum Internacional (DCI) de fármacos em vez de nomes comerciais de medicamentos. Quando forem utilizadas marcas registadas na investigação, pode ser mencionado o nome do medicamento e o nome do laboratório entre parêntesis. Local do estudo – A filiação institucional dos autores deve ser referida na página do título. Não deve ficar explícita, no texto ou no resumo, a identificação da instituição onde decorreu o estudo, de modo a manter o duplo anonimato da revisão. Se essa referência for necessária, deve ser feita em termos de caracterização genérica do nível de diferenciação e local geográfico da instituição (exº: “hospital universitário de nível III” ou “centro de saúde em área rural”). Secções do manuscrito - O manuscrito deve ser apresentado na seguinte ordem: 1 – Título (em português e inglês), autores, instituições, agradecimentos, autor e endereço para correspondência; 2 - Resumos e Palavras-chave (em português e inglês); 3 - Texto; 4 - Referências; 5 - Legendas; 6 - Figuras; 7 - Tabelas. XXXIV Normas de Publicação 1 - PÁGINA DO TÍTULO. Na primeira página do manuscrito devem constar: 1) O título (conciso e descritivo, em português e inglês); 2) Um título abreviado (com um máximo de 40 caracteres, incluindo espaços); 3) Os nomes dos autores, incluindo o primeiro nome (não incluir graus académicos ou títulos honoríficos); 4) A filiação institucional de cada autor no momento em que o trabalho foi realizado (deve figurar apenas na página do título; casos excepcionais devem ser justificados); 5) A contribuição de cada autor para o trabalho; 6) O nome e contactos do autor que deverá receber a correspondência, incluindo endereço postal e telefone, fax ou e-mail; 7) Os agradecimentos, incluindo fontes de financiamento, bolsas de estudo e colaboradores que não cumpram critérios para autoria; 8) Contagem de palavras, respectivamente para cada resumo e para o texto principal (não incluindo referências, tabelas ou figuras) Autoria - Como referido nos “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”, a autoria requer uma contribuição substancial para: 1) Concepção e desenho do estudo, ou obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; 2) Redacção do manuscrito ou revisão crítica do seu conteúdo intelectual; 3) Aprovação final da versão submetida para publicação. A obtenção de financiamento, a recolha de dados ou a supervisão geral do grupo de trabalho, por si só, não justificam autoria. É necessário especificar a contribuição de cada autor para o trabalho. Sugere-se a seguinte discriminação: (a) Desenho do estudo. (b) Recolha de dados. (c) Análise estatística. (d) Interpretação dos dados. (e) Preparação do manuscrito. (f) Pesquisa bibliográfica. (g) Recolha de fundos. Nos manuscritos assinados por mais de seis autores (três autores no caso das cartas ao editor), tem que ser explicitada a razão de uma autoria tão alargada. É necessária a aprovação de todos os autores, por escrito, de quaisquer modificações da autoria do artigo após a sua submissão. Agradecimentos - Devem ser mencionados na secção de agradecimentos os colaboradores que contribuíram substancialmente para o trabalho mas que não cumpram os critérios para autoria, especificando o seu contributo, bem como as fontes de financiamento, incluindo bolsas de estudo. 2 - RESUMO E PALAVRAS-CHAVE. Resumo - Deverá ser redigido em português e inglês, não ultrapassando as 300 palavras para os trabalhos originais e 120 para os casos clínicos, mas suficientemente informativo e elaborado segundo um formato estruturado contendo os seguintes itens: a) Os resumos de artigos de investigação original, publicações breves e revisões quantitativas devem ser estruturados (introdução, métodos, resultados, discussão e conclusões) e apresentar conteúdo semelhante ao do manuscrito. b) Nos casos clínicos e séries de casos, devem ser estruturados em introdução, relato do(s) caso(s), discussão (incluindo a conclusão); a conclusão deve destacar os aspectos que justificam a publicação do caso ou serie de casos. c) Os resumos de manuscritos referentes a revisões não sistemáticas e artigos de opinião não são estruturados segundo as secções referidas na alínea anterior. Nos resumos não devem ser utilizadas referências e as abreviaturas devem limitar-se ao mínimo. Palavras-chave - Devem ser indicadas logo a seguir ao resumo até seis palavras-chave, em português e em inglês, preferencialmente em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH) utilizado no Index Medicus. Nos manuscritos que não incluem resumos, as palavras-chave devem ser apresentadas no final do manuscrito. 3 - TEXTO. O texto poderá ser apresentado em português ou inglês (poderá ser excepcionalmente considerada a submissão de textos noutras línguas, de reconhecida divulgação internacional). Acta Pediatr Port 2006:2(37):XXXIII-VI Os números de um a quinze devem ser escritos por extenso, excepto quando têm decimais ou se usam para unidades de medida. Números superiores a quinze são escritos em algarismos, salvo no início de uma frase. Introdução - Deve conter essencialmente os argumentos científicos que fundamentam o objectivo. Deve por fim explicitar os objectivos do trabalho e a justificação para a sua realização. Esta secção deve apenas conter as referências bibliográficas indispensáveis para justificar os objectivos do estudo. Métodos – Esta secção poderá denominar-se, consoante a natureza do estudo, como “Métodos”, “Material e Métodos”, “Amostra e Métodos”, “População e Métodos”, ou simplesmente “Metodologia”. Nesta secção devem descrever-se: 1) A amostra ou a população em estudo; 2) A localização do estudo no tempo e no espaço; 3) Os métodos de recolha de dados; 4) Os métodos de análise dos dados: Os métodos estatísticos devem ser descritos com o detalhe suficiente de modo a possibilitar a reprodução dos resultados apresentados. Sempre que possível deve ser quantificada a imprecisão das estimativas apresentadas, designadamente através da apresentação de intervalos de confiança. Deve evitar-se uma utilização excessiva de testes de hipóteses, com o uso de valores de p, que não fornecem informação quantitativa importante. Deve ser mencionado o software utilizado na análise dos dados. As considerações éticas devem figurar no final desta secção. Os autores devem assegurar que todas as investigações envolvendo seres humanos foram aprovadas por comissões de ética das instituições em que a investigação foi realizada, de acordo com a Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial (www.wma.net). Nesta secção deve ser mencionada esta aprovação e a obtenção de consentimento informado, se aplicável. Resultados - Os resultados devem ser apresentados no texto, assim como em tabelas e figuras, seguindo uma sequência lógica. Não deve ser fornecida informação redundante, aparecendo em duplicado no texto e nas tabelas ou figuras, bastando descrever a principais observações referidas nas tabelas ou figuras. (vide infra as recomendações sobre tabelas e figuras). Discussão - Na discussão não deve ser repetida detalhadamente a informação fornecida na secção de Resultados. A discussão deve incidir nas limitações do estudo, na relação dos resultados obtidos com o observado noutras investigações, devem ser evidenciados os aspectos inovadores do estudo e as conclusões que deles resultam. Nesta secção apenas devem ser incluídas as referências indispensáveis para discutir os resultados do estudo. Conclusão – Esta secção pode surgir separada da Discussão ou incluída no final da mesma. É importante que as conclusões estejam de acordo com os objectivos do estudo, mas devem evitar-se afirmações e conclusões que não sejam completamente apoiadas pelos resultados da investigação realizada. 4 - ILUSTRAÇÕES. As Ilustrações devem ser anexadas após as referências bibliográficas. As Figuras devem ser anexas após os Quadros. Cada Quadro ou Figura deve ser apresentada em páginas separadas, juntamente com os respectivos título e as notas explicativas. Os Quadros e Figuras devem ser numeradas separadamente (numeração romana para Quadros e numeração árabe para Figuras) de acordo com a ordem com que são apresentadas no texto. Devem ser mencionadas no texto todos os Quadros e Figuras. Cada Quadro ou Figura deve ser acompanhado de um título e notas explicativas (ex. definições de abreviaturas) de modo a serem compreendidas e interpretadas sem recurso ao texto do manuscrito. Se a ilustração possui uma tabela ou gráfico que inclúa o resultado da análise estatística, devem ser referidos o teste estatístico usado e o seu nível de significância (no caso do cálculo do risco relativo ou do odds ratio, devem ser incluídos os seus intervalos de confiança). Nos Quadros, o título e notas explicativas encimam a tabela; nas Figuras, o título e notas explicativas colocam-se por baixo da ilustração. Para as notas explicativas dos Quadros ou Figuras devem ser utilizados os seguintes símbolos, nesta mesma sequência: *, †, ‡, §, ||, ¶, **, ††, ‡‡ . Nas tabelas devem ser utilizadas apenas linhas horizontais. As Figuras, incluindo gráficos, mapas, ilustrações, fotografias ou outros materiais, devem ser formatadas em computador ou digitalizadas. Nos gráficos, as legendas dos eixos devem ser preferencialmente escritas paralelamente aos eixos das ordenadas e das abcissas, indicando as unidades de medida. Esses eixos devem ter marcas correspondentes aos valores. Quando digitalizadas, as legendas, símbolos, setas ou letras devem ser inseridas no ficheiro da imagem das fotografias ou ilustrações correspondentes. Os símbolos, setas ou letras devem contrastar suficientemente com o fundo de fotografias ou ilustrações. Normas de Publicação As ilustrações que incluam fotografias de doentes, deverão ser acompanhadas pela autorização do doente, ou seu responsável legal, permitindo a sua publicação, devendo ter os olhos tapados ou desfocados digitalmente, de modo a impedir a sua identificação. A dimensão das ilustrações é habitualmente reduzida à largura de uma coluna, pelo que as mesmas e o texto que as acompanha devem ser facilmente legíveis após redução. A resolução de imagens a preto e branco deve ser de pelo menos 1200 dpi e a de imagens com tons de cinzento ou a cores deve ser de pelo menos 300 dpi. Uma vez que a impressão final da Acta é maioritariamente a preto e branco ou em tons de cinzento, os gráficos não deverão conter cores. A submissão de imagens a cores deve ser reduzida ao mínimo necessário, dado o número limitado de páginas a cores possível em cada número da Acta. O excesso de imagens a cores poderá atrasar a data de publicação até haver disponibilidade editorial. Na primeira submissão do manuscrito não devem ser enviados originais de fotografias, ilustrações ou outros materiais, como películas de raios-X. As figuras criadas em computador ou convertidas em formato electrónico após digitalização devem ser preferencialmente inseridas no ficheiro do manuscrito. Em caso de aceitação do manuscrito, serão solicitadas as Ilustrações nos formatos mais adequados para a sua reprodução na revista. 5 - REFERÊNCIAS. As referências devem ser listadas após o texto principal, numeradas sequencialmente, pela ordem de citação no texto e com o mesmo formato de letra com que figura no texto. No texto, os números das referências devem ser apresentados em expoente, antes de vírgulas ou pontos finais (ex.: “segundo alguns autores 3,5,7, (...)”). Não deve ser utilizado software para numeração automática das referências. Deve evitar-se a citação de referências secundárias (textos que fazem referência às publicações originais), resumos e comunicações pessoais (estas serão referidas no texto como tal). Os autores devem verificar se todas as referências estão de acordo com os documentos originais. Devem ser utilizados os nomes abreviados das publicações, de acordo com o adoptado pelo Index Medicus. Uma lista de publicações pode ser obtida em http://www.nlm.nih.gov. Uma descrição pormenorizada do formato dos diferentes tipos de referências, “ICMJE - Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals”, pode ser encontrada em http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html ou em http://www.icmje.org. Citamos apenas alguns tipos de referenciação: a) Artigo de revista: Relação de todos os autores - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes (se mais de seis, constarão os seis primeiros seguidos de “et al”). Título do artigo. Nome da revista (abreviada e em itálico), ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, e primeira e última páginas (exemplo 1). Em muitas revistas, os artigos que não têm estricta natureza científica têm numeração romana (exemplo 2). Se a paginação se inicia em cada número dentro do mesmo volume, o número deve figurar entre parêntesis logo a seguir ao volume (exemplo 3); na maioria das revistas médicas a paginação é contínua ao longo de todo o volume e neste caso o número deve ser omitido. Quando se trata de um suplemento deve figurar logo a seguir ao volume, com indicação da numeração do suplemento se este for o caso (exemplo 4). No caso de carta ao editor ou resumo, deve ser assinalado em parêntesis recto logo a seguir ao título do artigo (exemplo 5). Exemplos: 1. Levy ML. Adolescência e adolescentes. Acta Pediatr Port. 1995;5:255-8. 2. Chadwick R, Schuklenk U. The politics of ethical consensus finding. Bioethics. 2002;16:iii-v. 3. Diabetes Prevention Program Research Group. Hypertension, insulin, and proinsulin in participants with impaired glucose tolerance. Hypertension. 2002;40:679-86. 4. Geraud G, Spierings EL, Keywood C. Tolerability and safety of frovatriptan with short- and long-term use for treatment of migraine and in comparison with sumatriptan. Headache. 2002;42 Suppl 2:S93-9. 5. Tor M, Turker H. International approaches to the prescription of long-term oxygen therapy [letter]. Eur Respir J. 2002;20:242. Artigo em publicação electrónica: 1. Yu WM, Hawley TS, Hawley RG, Qu CK. Immortalization of yolk sac-derived precursor cells. Blood. 2002 Nov 15;100(10):3828-31. Epub 2002 Jul 5. XXXV Acta Pediatr Port 2006:2(37):XXXIII-VI 2. Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [serial on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];102(6):[about 3p.]. Acessível em: http://www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm b) Livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es). Título do livro em itálico e iniciais maiúsculas. Edição. Cidade: nome da casa editora; ano de publicação. Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical Microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002. c) Capítulo de livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es) do capítulo. Título do capítulo. In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) editor(es) médico(s), eds. Título do livro em itálico e iniciais maiúsculas. Número da edição. Cidade: nome da casa editora; ano de publicação. Número da primeira e última páginas. Arvin AN. Infection control. In: Beharman RE, Kliegman RM, Arvin AM, editors. Nelson Textbook of Pediatrics. 15th ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 1996. p1027-8. d) Comunicação em jornadas, congressos e similares: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es) da comunicação. Título da comunicação. In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) editor(es), eds. Livro de publicação das comunicações; data e local da reunião. Cidade e nome da casa editora; ano de publicação. Número da primeira e última páginas. Christensen S, Oppacher F. An analysis of Koza’s computational effort statistic for genetic programming. In: Foster JA, Lutton E, Miller J, Ryan C, Tettamanzi AG, eds. Genetic programming. EuroGP 2002: Proceedings of the 5th European Conference on Genetic Programming; 2002 Apr 3-5; Kinsdale, Ireland. Berlin: Springer; 2002. p. 182-91. e) Página web: Cancer-Pain.org [homepage on the Internet]. New York: Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01 [updated 2002 May 16; cited 2002 Normas de Publicação PROPOSTA DE NOVO SÓCIO Jul 9]. Acessível em: http://www.cancer-pain.org/. V – Autorizações. Antes de submeter um manuscrito à APP, os autores devem ter em sua posse os seguintes documentos que poderão ser solicitados pelo corpo editorial: - consentimento informado de cada participante; - consentimento informado relativamente a cada indivíduo presente em fotografias, mesmo após tentativa de ocultar a respectiva identidade; - transferência de direitos de autor de imagens ou ilustrações; - autorizações para utilização de material previamente publicado; - autorização dos colaboradores mencionados na secção de agradecimentos. ACTUALIZAÇÃO DE MORADA Sociedade Portuguesa de Pediatria VI – Revisão de Manuscritos Aceites. No caso do artigo ser aceite após modificações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo indicado pela APP. No momento da aceitação, os autores serão informados acerca do formato em que devem ser enviadas as figuras. As provas tipográficas serão enviadas aos autores, contendo a indicação do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da APP. A revisão deve ser aprovada por todos os autores. Nesta fase apenas aceitam-se modificações que decorram da correcção de gralhas. A correcção deve ser efectuada em documento à parte, referindo a página, coluna, parágrafo e linha na qual se pretende que se proceda às correcções. O não respeito do prazo desobriga aceitar a revisão pelos autores, podendo a mesma ser efectuada exclusivamente pelos serviços da APP. Juntamente com a correcção das provas tipográficas, deve ser enviada uma declaração de transferência de direitos de autor para APP, assinada por todos os autores (documento fornecido pela APP). Nome: Morada: Cód. Postal VII – Separatas. Após publicação de cada número da APP, os artigos publicados serão enviados em formato PDF pelo Secretariado da APP ao primeiro autor. Poderá ser solicitado ao Secretariado da APP o envio em formato PDF de artigos publicados recentemente, enquanto não estiverem disponíveis na página electrónica da Sociedade Portuguesa de Pediatria (www.spp.pt). - Telef.: Instituição: Telef.: e-mail: @ Enviar a: Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 e-mail: [email protected] Notas: • Esta proposta de novo sócio deverá ser acompanhada por um cheque de € 7,50 que se destinará ao pagamento da primeira anualidade. XXXVI ✄ • Em caso de pretender mudança de morada deverá indicar-nos qual a antiga para que se processe a actualização da mesma. Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria - Portuguese Paediatric Surveillance Unit INSCRIÇÃO DE NOVO NOTIFICADOR OU ACTUALIZAÇÃO DE CONTACTOS Nome: Morada: - , Instituição: Especialidade: Telefone: e-mail: @ Enviar para: ✄ Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 e-mail: [email protected] Unidade de Vigilância Pediátrica / Portuguese Paediatric Surveillance Unit. Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 – e-mail: [email protected] NOVO Enfalac Premium com DHA e ARA Os DHA e ARA são Ácidos Gordos Polinsaturados de Cadeia Longa, importantes no desenvolvimento dos tecidos do sistema nervoso central e desempenham um papel importante tanto no desenvolvimento neurológico como no da acuidade visual.1,2 Começar bem … … Continuar melhor! “As mulheres grávidas ou mães de recém-nascidos devem ser informadas das vantagens do aleitamento materno. As mães devem ser orientadas sobre como amamentar e saberem que a decisão de evitar ou interromper a amamentação pode ser irreversível. A introdução parcial de um leite dietético por biberão pode ter efeitos negativos sobre o aleitamento materno.” Código Internacional dos Substitutos do Leite Materno Edifício Fernão de Magalhães • Quinta da Fonte • 2780-730 Paço de Arcos Tel: 21 440 70 89 • Fax: 21 440 70 97 • www.meadjohnson.com 1. Birch, E., Uauy, R., et al. A Randomized Controlled Trial of Early Dietary Supply of Long-Chain Polyunsaturated Fatty Acids and Mental Development in Term Infants. Developmental Medicine & Child Neurology 2000, 42: 174-81. 2. Birch, E., Uauy, R., et al. Visual Acuity and the Essentiality of Docosahexaenoic Acid and Arachidonic Acid in the Diet of Term Infants. Pediatric Research 1998, 44: 201-209.