O Ponto entrevista Carlos Augusto Beckenkamp, que, estudando fora dos grandes centros de preparação (Santa Cruz do Sul – RS), deixou a timidez de lado e foi o primeiríssimo colocado no AFRFB/2010! A história do Carlos Augusto com o concurso de Auditor-Fiscal da Receita Federal começou em 2005, quando deu uma rápida estudada para o AFRFB/2005, não suficiente para sua aprovação, mas mais do que suficiente para animá-lo a estudar para o próximo certame, que, à época, ninguém sabia quando seria. De lá para cá, não se desviou do seu objetivo! Mesmo trabalhando 7 horas por dia, com a esposa grávida (seu filho está recém completando dois anos), foi intensificando os estudos na medida em que os boatos sobre o concurso cresciam e, agora, em 2010, colheu os frutos de tanta disciplina e determinação: foi o primeiro colocado no AFRFB/2010! Sem demagogia, eu considero a história da vitória do Carlos Augusto importantíssima, um grande estímulo para milhares de candidatos de todo o Brasil, pelos motivos abaixo expostos. No segundo semestre do ano passado, eu tive a oportunidade de dar aula em quatorze capitais brasileiras, no projeto de divulgação da Andacon. Uma das coisas (tristes) que eu percebi nessa minha maratona foi que, em algumas capitais, os candidatos estavam com a auto-estima muito baixa, em razão de se julgarem incompetentes para concorrer nos grandes concursos com os candidatos dos grandes centros de preparação, como Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Ouvi frases do tipo: “professor, aqui quase todo mundo está estudando somente para Analista da RFB, pois para Auditor não dá, não temos como competir com os candidatos dos grandes centros”. Outras frases que eu ouço muito por aí são: “ah, professor, eu tenho filho pequeno, como é que vou concorrer com essa garotada, sem filhos” e “ah, professor, hoje só passa nos grandes concursos quem só estuda; trabalhando e estudando não dá”! Pois é, o Carlos Augusto é mais um que veio para quebrar todos esses mitos! Primeiro, porque ele se preparou no interior do Rio Grande do Sul, em Santa Cruz do Sul, distante dos grandes centros de preparação para concursos; segundo, porque ele trabalhava 7 horas por dia durante a sua preparação; e terceiro, porque ele estudou tendo que dividir o pouco tempo que lhe restava com a esposa, nos cuidados de um filho recém-nascido. Bem, superados todos os obstáculos de uma longa preparação, de malas prontas para Fortaleza, onde frequentará o curso de formação e levará a esposa e o filhinho para conhecerem as belezas do Ceará, o Carlos Augusto gentilmente concordou em conceder-nos a seguinte entrevista: Vicente Paulo: Fale a verdade: durante a sua preparação, você pensou alguma vez que seria o primeiro colocado no AFRFB/2010? Carlos Augusto: Sinceramente, não! Acho que ninguém, de sã consciência, se prepara para um concurso deste tamanho pensando em ficar na primeira colocação! O que eu fiz, na verdade, foi estudar com a maior dedicação e seriedade possíveis para tentar garantir uma das vagas, qualquer delas, pelo menos a última... O que todos buscamos é a aprovação. Temos que lutar para ficar dentro do número de vagas. Mas a colocação sempre depende de muitos outros fatores, como o candidato estar bem nos dias de prova, manter a calma, não dar o “azar” de serem cobrados em abundância justamente aqueles conteúdos em que temos mais dificuldades ou estudamos menos, o desempenho dos colegas e, é claro, a sorte (que não é fator decisivo na aprovação, mas sempre que aparece vem bem!). Sempre disse à minha esposa: “acho que estudei o suficiente para passar, mas não há como garantir, concurso é concurso, e alguma coisa sempre pode dar errado”. Felizmente não deu errado. Ao contrário, deu tudo muito mais certo do que poderíamos imaginar! Vicente Paulo: Mesmo tendo estudado pouco, você bateu na trave no AFRFB/2005. Foi aí que começou, de fato, a sua guinada rumo ao AFRFB/2010? Carlos Augusto: Exatamente! A Receita Federal sempre foi o meu sonho. Ocorre que concluí o ensino superior em 2004, mas por uma série de razões pessoais, como o meu casamento em set/2005, acabei esquecendo um pouco dos concursos. Quando saiu o edital, estudei com dedicação, mas já era tarde... Foram cerca de apenas 2 meses e meio de preparação, e ainda por cima com materiais de baixa qualidade. Mas o resultado foi animador. Faltaram-me apenas 3 pontos para ficar entre os classificados. E antes de pensarem que isto foi motivo para decepção e desânimo, digo que foi um incentivo tremendo. Afinal, estudando poucos meses havia quase passado. Era apenas seguir na preparação que teria muitas chances de aprovação numa próxima oportunidade (que pensava ser em um ou, no máximo, dois anos, e não quatro...!). Vicente Paulo: Foi uma longa preparação, de 2005 até o final de 2009. Como se manter concentrado durante tão longo período, sem edital nenhum à vista? Qual a sua receita para isso? Há estratégias diferentes para os estudos nos períodos “sem” e “com” edital na praça? Carlos Augusto: Pode-se dizer que foram 4 anos de preparação. Mas os dois primeiros anos foram baseados em um estudo pouco sistemático. Estudava mais a letra da lei, comprava poucos livros e fazia alguns cursos on-line de matérias aleatórias. Estudava quando dava. Mas a partir de 2008 a forma de estudo mudou. Passei a freqüentar cursos teletransmitidos e intensificar a preparação pelos cursos on-line do Ponto, além de adquirir diversos livros e aumentar a carga de estudos em casa (as famosas HSBC’s). Confesso que sem edital à vista é muito complicado para se manter estudando. É preciso ter foco num objetivo, escolher um concurso específico ou ao menos uma área de interesse, e se basear em editais anteriores. Esta é a fase mais difícil do estudo, mas, na minha opinião, a mais importante. É ela que vai possibilitar uma base sólida nas disciplinas, a fim de que, quando da publicação do edital, possamos “largar na frente” e nos dedicarmos mais a revisar do que propriamente a estudar o quase que interminável conteúdo programático, além de focar nas “surpresas” que cada edital nos prepara. Ou seja, antes do edital é muita disciplina e foco. Depois do edital é adrenalina mesmo! Vicente Paulo: Você não ficou tentado, nesse longo período, a desistir da RFB e tentar outros concursos que tiveram uma maior regularidade nesse período (os do TCU, por exemplo)? Carlos Augusto: Na verdade não. Como servidor público desde os 18 anos, já tinha uma certa estabilidade financeira, a qual me propiciou estudar com tranqüilidade e foco na RFB. Sei que foi uma estratégia arriscada investir 4 anos de estudo em uma única oportunidade, mas deu certo. Ademais, além de a RFB ter sido sempre o meu sonho, eu e minha esposa temos muitas “raízes” por aqui, família, amigos... e não pensávamos em nos mudar definitivamente para outra cidade. Em Santa Cruz do Sul existe uma Delegacia da RFB (que no momento não possui vaga, mas a médio prazo nos possibilita retornar à cidade), ao passo que em outros concursos, como TCU ou BACEN, a mudança teria que ser definitiva. Vicente Paulo: Sem dúvida, a internet e os cursos telepresenciais democratizaram muito o estudo para concursos nos últimos anos. Você foi beneficiado por essas ferramentas, ou estudou sozinho, sem cursinhos? Carlos Augusto: Sem medo de errar, devo muito da minha aprovação a esta verdadeira revolução no ensino. Como já foi dito, moro longe dos grandes centros, e a dificuldade para se encontrar materiais/aulas de boa qualidade era um problema constante. Mas hoje as coisas mudaram. Fiz dois cursos telepresenciais na rede LFG/Curso para Concursos em 2009, além de mais de uma dezena de cursos on-line do Ponto neste período. Tanto as aulas telepresenciais quanto as aulas on-line, pelo alto nível que tiveram, foram decisivas para o meu resultado. Nunca freqüentei cursos presenciais. Minha preparação foi baseada nestes cursos que citei e em muito estudo em casa. Vicente Paulo: Você conseguiria resumir como um candidato do interior deve se organizar para estudar, a fim de manter a rotina e disciplina, já que, ao contrário daqueles que residem nos grandes centros, ele não terá contatos presenciais com muitos outros candidatos e professores? Carlos Augusto: O mais importante é a motivação e a disciplina. Ao meu ver, a falta de contato direto com professores e colegas em sala de aula não é obstáculo. Tanto nas aulas telepresenciais quanto nos cursos on-line há ferramentas para interagir com os professores e solucionar dúvidas. Pela experiência que tive, as aulas teletransmitidas inclusive têm a vantagem de não serem interrompidas com questionamentos, que são respondidos normalmente ao final. Os professores conseguem dar uma boa dinâmica à aula e o conteúdo “voa”. Não me senti em nenhum momento prejudicado pela falta de contato pessoal com os docentes. E, quanto aos cursos on-line, temos outras vantagens, como o fato de estudarmos a qualquer hora do dia ou da noite, revisarmos quantas vezes forem necessárias a matéria e tirarmos dúvidas a qualquer tempo, formulando, com calma, os questionamentos via Internet. Ou seja, não há mais a desculpa da falta de oportunidades e de materiais de qualidade para estudar. Hoje, todos temos acesso da mesma forma ao conhecimento. Basta buscá-lo e utilizá-lo da melhor forma possível. Cada um deve estabelecer a sua forma peculiar de estudar, alternando bons cursos com muito estudo em casa. Vicente Paulo: Quando eu estudava para o meu concurso, em 1996, eu tinha muito a sensação de estar estudando isolado, sem parâmetro para medir o meu conhecimento e sem gente para conversar (pois, à época, não existia internet, e em Brasília quase ninguém estudava para os concursos da RFB). Você sentiu muito isso durante a sua preparação, que estava estudando “isolado do mundo dos concursos”, ou a internet já acabou com essa sensação? Carlos Augusto: A Internet, com certeza, já superou isto. O Fórum Concurseiros, por exemplo, proporciona hoje uma interação muito grande entre as pessoas que estão se preparando para concurso. Particularmente sempre fui muito fechado, preferia ficar com a cara nos livros a vasculhar a Internet em busca de informações e conteúdos. Tinha uma lista de uns 4 ou 5 sites que acessava diariamente em busca de novidades e atualizações. No mais, pensava ser mais produtivo ficar com a cara nos livros mesmo. Sabemos que a Internet proporciona hoje um mundo de informações. Por um lado isto é muito bom, na medida em que democratiza o conhecimento. Mas, por outro, facilmente perdemos o foco diante de tanto conteúdo, nem sempre de boa qualidade. É preciso muito cuidado na seleção dos materiais e também no tempo que gastamos para isso. Quanto a parâmetros para medir o conhecimento, nada melhor do que fazer as provas mais atuais, de preferência da mesma banca examinadora, e comparar com as médias dos aprovados. Além disso, estão surgindo iniciativas valiosas, a exemplo dos sites de simulados na internet, que além de fornecer testes das mais diversas matérias, permitem visualizar um ranking de aproveitamento, e uma idéia de como estamos em relação aos outros. Fiz vários destes testes, mas o edital tão cheio de novidades (para um curto espaço de tempo) não me permitiu que fizesse todos os que eu planejava. O Prof. Hugo Góes definiu muitíssimo bem as duas regras necessárias para se passar em concurso: Regra nº 1: Estude! Regra nº 2: Não esqueça a Regra nº 1. É isso aí! Muito mais do que o contato pessoal com os professores, do que comparar o desempenho pessoal com os colegas, do que viajar pela Internet em busca de dicas milagrosas para a aprovação, o que realmente decide a aprovação é o estudo (em bons cursos e com bons materiais)! Vicente Paulo: Eu nunca fiz essa pergunta a qualquer entrevistado, mas vou passar a fazê-la nas minhas entrevistas daqui por diante, pois acho que a resposta a ela poderá ser um estímulo para bons profissionais do segmento de concursos. Houve algum professor que – em razão de suas aulas, livros, orientações e incentivos - foi mais importante, mais decisivo para a sua preparação rumo ao AFRFB? Carlos Augusto: Essa pergunta é difícil! Diante dos muitos e excelentes professores dos quais tive o privilégio de ser aluno à distância, creio que um dos que mais se destacaram foi o Prof. Cyonil Borges. Não só pelas brilhantes aulas telepresenciais de Direito Administrativo, mas também pelos valiosos ensinamentos quanto às provas discursivas (o grande bicho-papão deste concurso AFRFB). O cara mandou muitíssimo bem, tanto no curso de discursivas do Ponto (em parceria com o Prof. Luciano Oliveira e o Prof. Luiz Henrique – curso fantástico!), quanto nas aulas do LFG, onde não se limitou ao Direito Administrativo, mas deu um show em outras matérias e nas dicas gerais para uma boa prova discursiva! Isto tudo sem falar no apoio e na atenção dispensadas via email, nos ajudando em todos os momentos. Mas, se me permite, gostaria ainda de fazer menção às aulas fenomenais que tive com o Prof. Ricardo Alexandre (as mais leves, descontraídas e “pesadas” de conteúdo que já vi telepresencialmente). Sem sombra de dúvida, são as melhores aulas para concurso que já assisti. Enfim, a lista de professores a agradecer, com certeza, seria enorme, tanto pelas aulas quanto pelos livros. Mas o risco de ser injusto e acabar esquecendo alguém me faz agradecer assim, a todos de uma forma geral, especialmente àqueles da rede LFG/Curso para Concursos e do Ponto dos Concursos. Vicente Paulo: Durante a sua preparação, você resolveu muitos exercícios de provas anteriores? Se afirmativo, isso foi importante para você? Carlos Augusto: Sim, muitos. Inicialmente eu utilizava a forma “burra” de resolver exercícios. Estudava um conteúdo, fazia um batalhão de questões, conferia o gabarito, ficava feliz em acertar 70% e seguia para outro conteúdo. Ou seja, media o conhecimento mas não acrescentava nada. Os 30% de erros, por exemplo, eu continuava sem aprender. Com o tempo, fui percebendo que isso não era produtivo. Para medir o conhecimento temos o concurso. As questões devem servir para medir e acrescentar conhecimento. Passei então a fazer apenas questões comentadas. Isto sim é que faz a diferença. Durante o ano de 2009, consegui estabelecer uma rotina de teoria e exercícios. Durante a semana, em regra, procurava estudar a teoria, ler livros e fazer resumos. Aos fins de semana, os cursos que fiz eram somente de resolução de exercícios. Assim, acho que consegui dosar bem as duas coisas. A teoria é importante para fazer a “base” das matérias, principalmente agora com as provas discursivas, onde devemos dissertar sobre os conteúdos. Já os exercícios são fundamentais para ver o estilo da banca, as pegadinhas das provas e treinar a rapidez na resolução delas. Vicente Paulo: Entre a publicação do edital e a realização das provas, quantas horas você estudava diariamente? Como você dividia esse tempo entre o estudo de teoria e resolução de exercícios? Carlos Augusto: Após a publicação do edital foi pura adrenalina! Estudava cerca de 6 horas por noite durante a semana. Aos fins de semana tinha aula o dia todo (9 horas de aula, tanto no sábado quanto no domingo), e às vezes conseguia dar mais uma estudada rápida no fim da noite. Foi uma rotina extremamente cansativa, mas necessária para conseguir vencer o edital. A propósito, como cerca de 40% do conteúdo foram novidades, fui obrigado a apenas revisar as matérias que foram mantidas do edital de 2005, e concentrar esforços em estudar, começando pela teoria, as matérias novas. Como minha preparação, embora longa, tinha se baseado exclusivamente no edital do último concurso, “perdi tempo” estudando disciplinas como Informática e Direito Previdenciário (parte de benefícios). Por outro lado, comecei do zero, após o edital, em matérias que nunca tinha enfrentado, como Direito Civil, Penal, Comercial, Auditoria, Administração Pública e Raciocínio Lógico. Quanto a estas, quem havia desfocado da Receita Federal e prestado concurso para os fiscos estaduais, na maioria das vezes já havia passado pelos conteúdos. Enfim, fui obrigado a abrir mão de uma preparação forte na reta final em relação às disciplinas confirmadas (como Constitucional, Administrativo, Tributário...), para estudar com afinco as tantas novidades do edital. Afora este esquema de matérias, confesso que nunca fui muito organizado nos estudos. Nunca fiz aqueles esquemas para distribuir as horas líquidas de estudo (que eu sequer contabilizava) entre as matérias, com base em pesos pré-estabelecidos. Sabia que era uma ferramenta importante e muito utilizada, mas o meu negócio era mesmo sentar na cadeira e estudar. Aproveitava todo o tempo livre que tinha, mas separava os conteúdos conforme a vontade e a necessidade, comumente pegando uma matéria e indo até o fim dela. Vicente Paulo: Você é do tipo que faz resumos, para ulterior revisão? Carlos Augusto: Com certeza. Acho que esta é uma das mais importantes dicas que podemos dar. Com a gigantesca quantidade de informações a guardar, são eles que possibilitam estruturar e esquematizar o conteúdo, facilitando o aprendizado e a memorização dos pontos mais importantes. Além disso, quando temos a parte central da matéria internalizada, ao lermos novamente um livro, começamos a prestar atenção nos detalhes e a nos darmos conta de muitas coisas quem nem percebemos em uma primeira lida. Conseguimos realmente aproveitar a leitura. Além disso, a revisão dos resumos em véspera de provas é uma das formas mais eficazes de nos acalmarmos (pelo menos para mim funciona). Neste ponto, sei que fiz algo pouco recomendável: na véspera das provas objetivas estudei das 16h da sexta-feira às 2h da madrugada de sábado, assim como antes da prova do sábado à tarde, antes da prova do domingo pela manhã e no intervalo para a tarde. Os resumos foram fundamentais. Já para as discursivas fiz o mesmo esquema no dia anterior, mas no dia da prova, entre a da manhã e a da tarde, vi que estava no meu limite. Não estudei nada e fiquei sentado no meio-fio, em frente ao local das provas, escutando música. Tive receio de estudar e acabar tendo uma “estafa” mental justo naquela hora. Enfim, sei que isto não é recomendado pela maioria dos professores, mas serve para mostrar que não há uma receita pronta de preparação. Para mim foi muito importante esta maratona de revisões de última hora. Acredito que, acima de tudo, cada um deve se conhecer o suficiente para saber até que ponto pode ir e, com base nisso, estabelecer a sua estratégia. Vicente Paulo: Como foi a sua preparação para as provas discursivas do AFRFB? Você treinou muito, redigindo respostas a questões discursivas? Quantas questões você elaborou durante a preparação? Carlos Augusto: As provas discursivas foram uma das grandes novidades que eu, à época, torcia para que não acontecesse. Nunca havia feito uma prova dessas antes, e há cerca de 10 anos não escrevia com letra cursiva (exigida pelo edital). Pensei em me preparar com antecedência para ir “pegando o jeito”. Antes das provas objetivas eu já tinha tirado um tempo para fazer o curso do Ponto sobre redação, com dicas e correção de 3 textos. Após as objetivas, vendo pelo ranking que era praticamente certo que eu passaria para a segunda fase, não esperei muito. Descansei uns 2 dias e, em seguida, comecei a ler livros teóricos sobre os conteúdos. A minha maior preocupação, então, foi revisar os resumos e tentar ler um livro de cada matéria que seria avaliada, fazendo alguns esquemas adicionais. Neste momento tinha mais receio de não saber o que escrever, de me faltar base para formular uma boa resposta. A questão da redação e da Língua Portuguesa eu deixei em segundo plano. Matriculei-me também no curso de Discursivas do Ponto com redações corrigidas. Este foi fundamental pela quantidade de questões de concursos anteriores resolvidas, justamente mostrando como deveria ser elaborada a resposta. Mas devido à proximidade da prova, apenas uma redação minha foi avaliada. Quanto aos livros, também não consegui ler todos. Na última semana assisti às aulas gratuitas do LFG, que também deram um grande apoio. Portanto, mesmo sem experiência com discursivas, fiz poucas redações (apenas estas 4 que foram corrigidas pelos professores), e priorizei a leitura, tanto da teoria, quanto das aulas com questões de concursos anteriores resolvidas. E, na verdade, acho que o que me favoreceu foi uma boa base em Português que tive desde os tempos do colégio. De um total de 140 pontos que valia a Língua Portuguesa (nas provas objetivas e discursivas), consegui 139. Isso me deu uma certa “folga” para compensar nas outras matérias. Vicente Paulo: Durante a preparação, alguém corrigia as suas respostas às questões discursivas? Se afirmativo, você considerou as correções por um terceiro importantes? Carlos Augusto: Apenas essas questões que comentei anteriormente. Na correção delas, percebi que os erros não eram tão graves assim. Observei que o tempo era suficiente e que conseguia administrá-lo bem. Observei o padrão de folha que a Esaf fornecia nas provas, e o (curto) tamanho de cada linha. Gostaria de ter treinado mais a elaboração das redações, mas como o tempo era exíguo, senti que o ponto mais fraco que tinha era a parte do conteúdo. Concentrei esforços nas leituras e em memorizar o resumo das matérias. Mas, com certeza, a prática na elaboração de redações e a correção delas são importantíssimas. Vicente Paulo: Neste momento, de véspera das provas discursivas do concurso de Auditor-Fiscal do Trabalho (que também serão aplicadas pela Esaf), que orientação você daria a um candidato que acredita já tenha sido aprovado na primeira fase e, por isso, tem sonhado com as tais discursivas (nas poucas noites que consegue dormir direito!)? O que fazer nesse período, até o dia das provas? Carlos Augusto: Mesmo não tendo feito muito isso, é fundamental treinar a elaboração de redações. Buscar questões de concursos anteriores para ver a forma como a Esaf cobra as discursivas. Analisar o modelo de resolução ideal apontado pelos professores. Prestar muita atenção no Português, pois é 50% da prova! Sei que não se aprende Português em poucos dias, mas os professores dão dicas valiosas sobre os erros mais comuns, sobre deslizes que cometemos mesmo sabendo escrever corretamente. E, é claro, não descuidar do conteúdo. Como falei anteriormente, é extremamente importante que o próprio candidato se conheça a ponto de identificar as suas prioridades. Melhorar o Português? O conteúdo? O tempo de prova? Conforme relatei, a minha prioridade foi o conteúdo, pois tinha medo de encontrar questões “cascudas” e não saber o que escrever. Mas isso varia conforme a preparação de cada um. E, neste contexto, a iniciativa do Ponto em disponibilizar 3 tipos diferentes de cursos para as discursivas é excelente, pois possibilita, como alternativa a uma preparação “completa”, focar naquilo que temos mais dificuldade, priorizando um curso de redação ou um mais voltado aos conteúdos, por exemplo. E parece bobagem mas não é! Observem o padrão da Esaf nas folhasresposta. Eles fornecem como rascunho uma folha totalmente em branco, acredito que A4 ou semelhante. Mas na hora de passar a limpo a redação encontramos uma folha pautada com cerca de apenas 15cm úteis por linha. Foram vários os relatos de quem não se deu conta disso, fez uma redação caprichada, mas no curto tempo disponível para passar a limpo teve que “destruí-la”, cortar parágrafos e resumir idéias para que coubesse no número de linhas disponibilizado, perdendo preciosos pontos. No mais, é muito estudo e treinamento até o dia das provas. Treinamento, inclusive, para controlar a ansiedade, administrar o tempo e “manter os nervos no lugar” no grande dia. Vicente Paulo: E para aqueles candidatos que se saíram bem nas provas objetivas do AFRFB, mas, ao contrário de você, tiveram um mau desempenho nas provas discursivas, qual a sua orientação? Como esses candidatos devem buscar o aperfeiçoamento, no médio prazo, para os próximos concursos? Carlos Augusto: Olha, a minha pequena experiência com as discursivas (das quais eu tinha medo, mas que acabaram me ajudando) me mostrou que um bom domínio da Língua Portuguesa é fundamental. Não que eu seja um grande conhecedor dela (isto é para a Profa. Cláudia Kozlowski, Prof. João Bolognesi...), mas é preciso ter jogo de cintura para, na hora da prova, se expressar de uma forma “menos arriscada”. Devemos seguir as dicas dos professores, como escrever de forma objetiva, com frases em ordem direta, reestruturando as orações a fim de fugirmos de pontos críticos como a voz passiva, colocação pronominal, verbos defectivos... Além disso, o bom domínio do conteúdo é um facilitador enorme. Não precisar “inventar” ou “enrolar” na hora da resposta encurta o caminho para uma redação clara, objetiva e sem erros gramaticais. Mas como quem passa para a segunda fase de um concurso normalmente já domina o conteúdo, então o foco da preparação, em geral, deve ser a parte técnica da elaboração de redações e do uso correto do idioma. Nem pensar em ir para uma prova discursiva sem assistir a aulas e dicas de bons professores! Não é uma redação de vestibular! Tenho absoluta convicção de que teria me saído mal se não tivesse recorrido às aulas e dicas de professores especialistas do ramo. Vicente Paulo: Você se preparou boa parte do tempo com a esposa grávida, e depois, com o filhinho recém-nascido em casa. Como conciliar os estudos com um mínimo de apoio à família? Carlos Augusto: Não é nada fácil. O apoio da família é indispensável para dar estímulo e tranqüilidade para estudar. Os familiares ficam privados da nossa companhia (e nós, da companhia deles) em inúmeros momentos. Muitas coisas deixam de ser feitas juntos. É um dilema constante entre estudar mais (para que a sonhada aprovação chegue logo) ou ficar curtindo aquele momento e deixar o estudo para mais tarde. É fundamental ter uma família bem estruturada e que se ama. Vicente Paulo: Certamente a sua esposa foi peça importantíssima na sua preparação, pela compreensão e apoio, não? Carlos Augusto: Com toda certeza, 50% dessa conquista é da Katriane, minha esposa. Digo isso não para fazer “média” com ela, mas porque é a mais pura verdade! Foi a Katriane que esteve do meu lado durante essa longa trajetória de estudos (nos últimos 2 anos acompanhados do Matheus, nosso filhinho). Foi a Katriane que nem sequer por uma vez sugeriu que eu desistisse, que eu parasse de estudar por algum tempo, ou coisa parecida. Ao contrário, sempre me deu apoio e incentivo. Foi a Katriane que cuidou do Matheus nesses dois anos, 24 horas por dia, para que eu pudesse me dedicar ao trabalho e ao estudo quase que exclusivamente, além de descansar nas poucas horas que restavam... A propósito, ela já me contou que uma vez estava o Matheus, de madrugada, chorando ao meu lado, na nossa cama, enquanto ela fazia a mamadeira dele, e eu sequer acordei! Haja cansaço... e tranqüilidade... Esse apoio incondicional e essa tranqüilidade que ela sempre me deu não têm preço, e com certeza fizeram toda a diferença nessa caminhada. Por tudo, a ela eu dedico esta conquista, minha gratidão, admiração e amor. Vicente Paulo: Se você tivesse de apontar, em poucas linhas, qual o seu maior acerto na preparação para o AFRFB, qual seria ele? Carlos Augusto: Acredito que o maior acerto foi nunca ter perdido a determinação, a força de vontade e o foco. Não ter abandonado o emprego e nem a família. Ter acreditado que era possível estudar pesado para o concurso ao mesmo tempo em que continuava vivendo a vida. Ter buscado sempre forças em Deus e na família. Acreditar que todo o sacrifício valeria a pena. Vicente Paulo: E o que você não faria novamente? Carlos Augusto: Olha, mudaria algumas coisas na minha preparação, sobretudo no início. Não faria questões só para fazer e conferir o gabarito. Isso não é produtivo. Seria mais criterioso na compra de livros, buscando mais informações com outros concurseiros (tenho vários exemplares que comprei por impulso ou sem muitas referências e acabei nem lendo). E tentaria ser um pouco mais organizado, de uma forma geral. Vicente Paulo: Que mensagem você deixaria para os candidatos do AFRFB/2010 que não conseguiram ser aprovados agora, mas que querem continuar se preparando para esse mesmo cargo? Carlos Augusto: Não desistam jamais! A reprovação não deve significar um fim, mas sim o início de uma nova caminhada, desta vez com muito mais experiência e conhecimento acumulados. Eu também reprovei no AFRF 2005, e foi a partir daí que iniciei a jornada rumo ao AFRFB 2010. O Prof. Ricardo Alexandre, não me recordo se nestes exatos termos, diz que o concurseiro que não pára de estudar passa por osmose! E é verdade. A fila anda. E a cada concurso, mesmo que reprovados, saímos melhores do que entramos. Devemos acreditar que o estudo não foi em vão, e que estamos sempre um passo mais perto da sonhada aprovação. Além disso, temos que aprender a nos conhecermos. Não devemos buscar fórmulas prontas de sucesso. Cada um deve saber se avaliar, com os pés no chão: onde estamos e onde queremos chegar. E a partir daí traçarmos a nossa estratégia. Sem dúvida temos que apreender com as dicas dos outros. Mas eu, por exemplo, fiz muitas coisas que ninguém recomenda, como estudar na véspera e no próprio dia das provas (pois sei que isso, mais do que me cansar, me acalma). Não me alimentei bem nos dias de prova (pois na hora da prova a cabeça funciona e o estômago pára, e qualquer coisa mais pesada que comer me faz mal; minha alimentação era café, coca-cola e chocolates, nada de café da manhã ou almoço!). Além disso, mesmo depois de publicado o edital, eu fui a diversas festas para as quais fui convidado, mas não a todas, é claro. Não larguei a cervejinha, pois descontrair também é importante. Apenas tentei dosar tudo a ponto de não me prejudicar. Estas “loucuras” para mim funcionaram, pois me conhecia o suficiente para saber que poderia cometê-las. E digo mais: foram muito importantes para minha aprovação. Enfim, esta é apenas a minha história. Não estou recomendando a ninguém fazer o que fiz. Acho que o mais importante é isto: cada um pode e deve, a partir de um bom conhecimento de si mesmo, estabelecer a sua forma de estudo e de preparação, da melhor forma possível. A persistência levará à aprovação. Vicente Paulo: Para encerrarmos, quero reiterar, publica e explicitamente, o meu convite para que você venha integrar a equipe do Ponto, de algum modo, a fim de repassar o seu conhecimento e orientações a milhares de candidatos de todo o país. Eu não tenho dúvida de que com a sua competência e humildade você terá muito a contribuir com a preparação de outros candidatos... Carlos Augusto: Sinceramente, é uma tremenda honra receber um convite destes. Nunca pensei que um dia receberia uma proposta assim. O Ponto é um dos sites mais respeitados e acessados quando o assunto é concurso público, e sua qualidade é incontestável. Posso dizer que uma das coisas que deram uma guinada na minha preparação, depois da reprovação de 2005, foi conhecer o site, seus professores, artigos e cursos. Penso que, por enquanto, a melhor forma de contribuir na preparação de outros candidatos é esta aqui, contando tudo o que fiz, como me preparei, como encarei a reprovação e parti para a aprovação. Já havia contado parte da minha história no Fórum Concurseiros, já respondi a muitos emails e sempre estarei à disposição de qualquer colega concurseiro que quiser saber algo mais. Da forma que puder, ajudarei. Agora pretendo, ao menos por algum tempo, me dedicar exclusivamente a quem tanto se dedicou a mim nestes últimos anos de preparação: a minha família. Curtir o crescimento do filhão e tudo o mais que, inevitavelmente, quem está se preparando para concursos abre mão. Isto sem esquecer a Receita Federal, é claro! Vicente Paulo: Muito obrigado por toda a atenção e desprendimento. Muito sucesso no cargo de AFRFB - e muitas alegrias para você e toda a família. Como eu já lhe disse, para mim, é uma honra saber que pessoas competentes e humildes como você estudaram por algum material de minha autoria, ou dos professores do Ponto! Até breve, em Fortaleza, no curso de formação, momento em que espero ter a alegria de conhecer o seu filhinho (futuro vitorioso, como os pais, na certa!). Carlos Augusto: Professor Vicente, a honra é toda minha em estar participando desta entrevista, podendo contar a minha história e, com isso, se Deus quiser, estar ajudando outras pessoas que estão nessa mesma caminhada. Com toda certeza o Ponto dos Concursos e você (seja pelos cursos, seja pelos espetaculares livros “Descomplicados”), foram pilares fundamentais da minha preparação para chegar neste quase que inacreditável sucesso. Obrigado por tudo! E até Fortaleza!