SETORES-CHAVE DA ECONOMIA BRASILEIRA1 SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econômico. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2005. a As noções de polarização, efeitos de encadeamento e indústrias-chave foram amplamente utilizadas a partir de meados dos anos de 1950. Contudo, os estudos empíricos realizados para diferentes países não chegaram à conclusão se as economias com as mais altas taxas de crescimento foram as que seguiram uma estratégia de crescimento desequilibrado, em favor de setores com elevados índices de encadeamento. Alguns trabalhos indicaram associação positiva entre grau de diversificação e taxa de crescimento: os países que mais cresceram nem sempre foram aqueles que concentraram os investimentos em setores-chave (Yotopoulos e Lau, 1970). No caso do Brasil, a industrialização realizou-se desde os anos de 1930 por substituição de importações. Em meados dos anos de 1950, durante o Plano de Metas, os investimentos concentraram-se preferencialmente em indústrias consideradas chave, como automóveis, química e construção naval, sobretudo na região Sudeste. Considerando-se o longo prazo, no entanto, os setores implantados nem sempre são os de mais altos índices de encadeamento, não coincidindo necessariamente com os setores-chave. Testes efetuados por Locatelli (1983, p. 425) indicaram que o crescimento da economia brasileira, entre 1949/1967, não foi desequilibrado em favor de setores-chave, exceto quando sua análise realizou-se no nível de agregação de 22 setores. Porém, mesmo que os investimentos se concentrem no curto prazo em atividades-chave, no longo prazo o crescimento tende a se diversificar pela ação do mercado, que busca corrigir os equilíbrios. No curto prazo, a estratégia de crescimento desequilibrado maximiza os efeitos de encadeamento totais, gerando necessidades a serem satisfeitas, que se traduzem em crescimento mais equilibrado ao longo do tempo. A questão da diversificação, no longo prazo, parece ser resolvida pelos próprios mecanismos de mercado. 1 - Conflito entre maximizar o produto ou o emprego Um dos grandes problemas da industrialização continua sendo o conflito entre maximizar o produto ou o emprego. No Brasil, a industrialização não tem gerado muito emprego. Entre 1949/1979, os setores de mais rápido crescimento da produção não foram os intensivos em trabalho (Locatelli, 1983, p. 430). A industrialização brasileira tende a se efetuar com elevada relação capital/trabalho, em virtude de as técnicas serem importadas dos países desenvolvidos, onde o trabalho é o fator escasso. Hazari e Krishnamurty (1970, p. 184), estudando a economia indiana com dados dos censos de 1960 e 1970 e com coeficientes de insumo-produto do biênio 1964/1965, 1 Esta é uma versão ampliada da seção 8.4 do livro Desenvolvimento Econômico (Souza, 2005). concluíram que os setores-chave do ponto de vista do produto não geram muito emprego. Ponderando os índices de encadeamento pelos coeficientes de trabalho, eles constataram ser os setores agroindustriais os que mais criam emprego no processo de crescimento econômico. No caso brasileiro, entre os 35 setores mais importantes do ponto de vista da geração direta e indireta do emprego, em 1975, 31 eram vinculados à agricultura. A maioria dos setores metalúrgicos, elétrico, químico e petroquímico, com alta relação K/L, não cria muito emprego por unidade de variação da demanda final (Souza, 1988, p. 123). A industrialização por substituição de importações gera relativamente pouco emprego, ao passo que a exportação de produtos com vantagens comparativas centra-se justamente naqueles setores intensivos em trabalho. Em 1970, o emprego de 256,6 homens/ano exportava um milhão de cruzeiros e apenas 116,4 homens/ano bastavam para produzir a mesma quantia de substituição de importações (Locatelli, 1985, p. 143). Entre os 121 setores de 1975, apenas 15 foram chave no encadeamento da produção, destacando-se Abate e preparação de aves, Embalagens metálicas, Destilação de álcool, Couros e peles e Beneficiamento de fibras naturais. Entre esses 15 setores, sete são vinculados à agricultura e quatro pertencem ao grupo metal-mecânico. Do total de setores, 61 apresentaram fortes encadeamentos verticais da produção e apenas 39 possuíam fortes encadeamentos horizontais. Isso indica os fortes efeitos industrializantes da substituição de importações (Souza, 1988, p. 152 e 270272). Entre os 12 setores-chave na geração do emprego, excetuando-se Distribuição, Transporte ferroviário e Outros serviços de reparação, os demais se vinculavam ao setor primário (Quadro 1). Nenhum dos setores-chave do ponto de vista do produto foi chave segundo a geração de emprego. Tanto o setor primário como os serviços de reparação e o setor de distribuição empregam muita mãode-obra. Em 1975, o setor ferroviário brasileiro encontrava-se sucateado e a redução de sua atividade não vinha sendo acompanhada por demissões.2 Tendo em vista a tendência ao estrangulamento externo da economia brasileira, torna-se importante incentivar a expansão dos setores exportadores. Nesse sentido, o conhecimento dos setores-chave na promoção de exportações líquidas (exportações menos importações) torna-se relevante. Em 1975, no conjunto dos 121 setores, o Brasil apresentava 33 setores-chave desse ponto de vista, sendo três simultaneamente chave na geração de emprego e outros dois também chave na geração da produção. Entre os 15 principais setores-chave das exportações líquidas, 12 vinculavamse à agroindústria, com destaque para o complexo cafeeiro, óleos vegetais em bruto e lavoura de trigo e soja (Quadro 1). Em 1975, cinco ou seis indústrias consideradas “modernas”, de capital mais intensivo, eram chave do ponto de vista da produção, mas não geravam muito emprego ou não apresentavam exportações líquidas significativas. Com altos coeficientes de importações e maiores níveis de produtividade do trabalho, essas indústrias vão aparecer na lista de setores-chave quando os índices 2 Visando a privatização, o número de funcionários da Rede Ferroviária Federal reduziu-se de 44.646 em 1995, para 19.550 em 1996, eliminando o déficit da empresa de R$ 30 milhões ao mês. Entre 1996 e 1999, ano que ela foi liquidada, foram cedidos em leilão 25.895 km de ferrovias, mediante concessão dos serviços por 30 anos. 2 de encadeamento forem ponderados pelo coeficiente de capital. Assim, 35 setores mostravam-se chave na formação de capital, sendo apenas cinco vinculados ao complexo agropecuário.3 Entre os 15 principais setores-chave segundo este critério, 12 pertenciam à Metal-mecânica, demonstrando a grande relevância das indústrias metalúrgicas e mecânicas na formação de capital. Cabe salientar, a esse respeito, a importância dos setores Caminhões/ônibus, Construção civil, Tratores/máquinas rodoviárias, Cimento/clínquer e Bombas hidráulicas/motores (Quadro 1). Quadro 1 Os principais setores-chave da economia brasileira segundo a produção, o emprego, as exportações líquidas e a formação de capital, em 1975, ordenados pela dimensão dos índices de encadeamento. Produçãoa Emprego Exportações líquidasb de Formação de capitalc Abate e preparação de aves Agropecuária Extração minerais Caminhões e ônibus Embalagens metálicas Lavoura de arroz Beneficiamento de café Construção civil Destilação de álcool Outras lavouras Óleos vegetais em bruto Tratores/máq. rodoviárias Couros e peles Criação de bovinos metálicos Lavoura de trigo e soja de café Cimento e clínquer Beneficiamento fibras naturais Caça e pesca Moagem e café Bombas hidráulicas motores Papel e papelão Extrat. vegetal e silvicultura Extração petróleo/gás natural Indústria naval Bombas hidráulicas/motores Lavoura de cana-de-açúcar Transporte ferroviário Turbinas e caldeiras Indústria naval Lavoura de café Usinas de açúcar Peças de cimento Laminados plásticos Distribuição Lavoura de café Máquinas e equip. agrícolas Petroquímica Lavoura de trigo e soja Beneficiamento de produtos Estruturas metal e serralheria Móveis de metal Transporte ferroviário Refino de açúcar Máquinas não agrícolas Outros prod. metalúrgicos Outr. serviços reparação Benefic. de fibras naturais Laminados de aço solúvel vegetais Motores, aparelhos elétricos - Couros e peles Condutores elétricos Móveis de madeira - Fiação de tecidos naturais Veículos ferroviários Celulose e pasta - Conservas de frutas e legumes Arames trefilados Fonte: Notas: Souza (1988, Tabelas 9, 10, 13 e 16) a Inclui todos os setores-chave; b Inclui 15 dos 33 setores-chave; c Entre os 35 setores-chave, incluem–se os 15 mais importantes. Observa-se que as atividades com os maiores efeitos de encadeamento do crescimento pertencem ao segmento moderno da indústria, com mais alta relação capital/trabalho e tecnologia mais sofisticada, enquanto um maior número de atividades agroindustriais são atividades-chave no encadeamento da produção e as atividades agropecuárias exercem os mais altos efeitos sobre o emprego. Percebe-se, desse modo, que um setor pode ser chave segundo um critério e pouco relevante do ponto de vista de outros objetivos de política. Geralmente, as atividades mais importantes na formação de capital ou no encadeamento da produção não geram muito emprego e conflitam quanto aos demais objetivos de política. 3 Além de Tratores/máquinas rodoviárias e Máquinas/equipamentos agrícolas, também eram chave os setores Serrarias/ madeira compensada, Artigos de madeira e Extrativa vegetal/silvicultura. 3 2 - Setores conciliadores de objetivos de política Os setores-chave segundo os diferentes critérios de política foram obtidos pela média dos índices de encadeamento das diferentes variáveis. No estudo referido (Souza, 1988), essas variáveis foram: produção, emprego, salários, renda, exportações líquidas, demanda final, variação da demanda final (crescimento no curto prazo) e formação de capital (crescimento a longo prazo). Tabela 1 Ordem 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 Setores-chave segundo os diferentes critérios de política econômica, Brasil, 1975 (Ui.j > 1 e U*i. > 1). Setores de atividade Óleos vegetais em bruto Moagem de café e café solúvel Transporte ferroviário Extração de minerais metálicos Usinas de açúcar Agropecuária Beneficiamento de tecidos de fibras naturais Conservas de frutas e legumes Destilação de álcool Peças para máquinas e ferramentas Outras lavouras Couros e peles Turbinas e caldeiras Bombas hidráulicas e motores Indústria naval U.j 1,86 1,79 1,70 1,62 1,54 1,54 1,45 1,23 1,22 1,18 1,18 1,17 1,17 1,15 1,14 U*i. 1,17 1,25 4,29 1,52 1,32 1,13 1,19 1,16 2,46 1,66 1,58 2,14 1,36 1,80 1,04 Fonte: Souza (1988, p. 191). Os principais setores conciliadores dos diferentes objetivos de política econômica foram Óleos vegetais em bruto, Moagem de café/café solúvel, Transportes ferroviários, Extração de minerais metálicos e Usinas de açúcar (Tabela 1). Do conjunto dos 121 setores da matriz brasileira de 1975, 23 foram chave em relação aos diferentes objetivos de política, sendo 13 pertencentes ao complexo agroindustrial, processando matérias-primas ou fornecendo insumos industriais. Isso demonstra a grande importância dos setores vinculados ao complexo agrícola no processo de industrialização da economia brasileira naquele ano (Souza, 1988, p. 191). O Brasil apresentava, em 1975, uma indústria relativamente diversificada e com fortes índices de encadeamento vertical e horizontal da produção. Os encadeamentos permaneceram significativos quando os elementos da matriz de Leontief foram ponderados pelos coeficientes de emprego e outros indicadores, relativos a diversos objetivos de política. No entanto, ainda se encontrava a presença significativa de setores tradicionais na criação de emprego e na geração de exportações líquidas. 3 - Mudança da estrutura econômica brasileira, 1980/2002 A Tabela 2 mostra a mudança da estrutura econômica brasileira entre 1980/1991, através dos produtos-chave no encadeamento da produção. Em 1991, havia 19 produtos-chave, contra 17 em 1980. Entre os produtos-chave deste último ano, 11 encontravam-se também na relação de 1991; os 4 produtos ausentes foram Outros produtos têxteis, Seguros, Produtos do café, Leite beneficiado, Serviços industriais de utilidade pública e Bebidas. Os produtos-chave no encadeamento da produção, presentes em 1991 e ausentes em 1980, foram Tecidos artificiais, Fios têxteis artificiais, Produtos de minerais não metálicos, Artigos de plástico, Produtos químicos não petroquímicos, Tintas, Outros produtos químicos e Adubos. Constata-se uma troca de Outros produtos têxteis, por Tecidos e Fios têxteis artificiais e, ainda, três produtos ligados à agroindústria e dois de serviços, por produtos ligados à indústria mais moderna, de capital mais intensivo, como os produtos vinculados à química. Essas mudanças estruturais refletem o avanço da industrialização brasileira, teriam sido mais intensas se o crescimento econômico continuasse ocorrendo nos anos de 1980. Produtos siderúrgicos básicos e Laminados de aço se mantiveram nas duas primeiras posições em 1991. Nas posições seguintes, encontram-se produtos da indústria têxtil, que passou por intensa reestruturação em decorrência da abertura da economia nos anos de 1990 e a forte concorrência de importações da Coréia do Sul e da China. A exclusão de produtos da agroindústria pode ser explicada pela política discriminatória contra a agricultura praticada nos dois primeiros anos do governo Collor. Outra observação digna de nota foi a redução dos encadeamentos médios, para frente e para trás, de Produtos siderúrgicos básicos e de Laminados de aço. Isso pode ser explicado pela redução do ritmo de crescimento da economia e pela mudança dos preços relativos, que leva os diferentes setores a substituir insumos mais caros por insumos mais baratos, desde que a tecnologia permita. De outra parte, a importância da siderurgia como indústria motora da industrialização tem se reduzido à medida que surgem novas indústrias básicas, como a indústria petroquímica. Tabela 2 Ordem 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Fonte: Produtos-chave do Brasil no encadeamento da produção, 1980 e 1991 (U.j > 1 e U*i. > 1). Produtos-chave em 1980 Produtos Produtos siderúrgicos básicos Laminados de aço Produtos metalúrgicos não ferrosos Produtos derivados da borracha Farinha de trigo Outros veículos e peças Fabr. e manut. de máquinas e equipamentos Tecidos naturais Seguros Outros produtos têxteis Papel, celulose, papelão, artefatos derivados Fios têxteis naturais Serviços industriais de utilidade pública Leite beneficiado Outros produtos metalúrgicos Produtos do café Bebidas - (U.j +U*i.)/2 2,11 1,61 1,47 1,28 1,25 1,23 1,22 1,21 1,19 1,17 1,16 1,14 1,14 1,12 1,10 1,08 1,05 - Produtos-chave em 1991 Produtos Produtos siderúrgicos básicos Laminados de aço Fios têxteis artificiais Fios têxteis naturais Produtos químicos não petroquímicos Produtos metalúrgicos não ferrosos Adubos Produtos derivados da borracha Outros produtos metalúrgicos Tintas Tecidos artificiais Tecidos naturais Papel, celulose, papelão, artefatos derivados Outros produtos químicos Farinha de trigo Produtos de minerais não metálicos Artigos de plástico Outros veículos e peças Fabr. e manut. de máquinas e equipamentos (U.j+U*i.)/2 1,61 1,38 1,35 1,33 1,29 1,26 1,26 1,24 1,23 1,23 1,18 1,16 1,16 1,15 1,14 1,13 1,12 1,09 1,07 Souza (1996a). 5 Nos anos de 1990, a abertura da economia às importações e a valorização cambial implicaram a reestruturação da economia brasileira. A análise da mudança estrutural da economia no período 1990/1998 está indicada na Tabela 3. Foram calculados os índices de encadeamentos verticais e horizontais para cada ano do período e identificados os setores-chave. Na tabela, colocou-se a soma de cada um dos índices, bem como a soma dos encadeamentos totais dos setores-chave, a fim de analisar sua evolução no período. Como se observa na Tabela 3, a soma dos índices de encadeamentos verticais caiu 15% em 1998, em comparação a 1990. Isto significa que o impacto de variações da demanda final de cada setor sobre o conjunto da economia ficou menor pela maior abertura da economia nacional ao exterior e pela valorização cambial do período, que barateou as importações de insumos e de bens de capital. Com isso, a indústria nacional conseguiu modernizar-se; porém, as relações internas de insumos ficaram mais fracas. Isso explica o crescimento dos encadeamentos horizontais de apenas 3,8%, no período, bem como a redução dos encadeamentos totais dos setores-chave de 16,8 em 1990, para 16 em 1997 e 9,8 em 1998 (- 41,7%). Tabela 3 – Evolução dos índices de encadeamentos totais da economia brasileira, 1990/1998. Encadeamentos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Variação entre 1990/1998 Totais (%) - Para trás 28,6 27,6 25,6 25,6 24,5 25,5 26,6 26,6 24,3 -15.0 - Para frente 26,2 26,1 27,0 27,0 27,2 26,3 27,3 27,3 27,2 3.8 Setores-chave 16,8 15,3 16,6 12,7 12,5 14,2 17,2 16,0 9,8 -41.7 Fonte: Souza (2001) e IBGE. Matrizes de insumo-produto, 1990 a 1998. Fonte: Souza (2001) 6 4 - Mudança de estrutura do emprego, 1990/2002 A redução da integração intersetorial interna retratada na Tabela 3 e na Figura 1, fruto da abertura da economia brasileira às importações nos anos de 1990, traduziu-se em forte mudança estrutural nesse período. Entre 1990 e 1995, o pessoal ocupado na economia brasileira cresceu 2.645 mil (+ 4,5%); a indústria, porém, desempregou 873 mil (- 9,3%), passando de 9.427 mil pessoas ocupadas em 1990, para 8.554 mil em 1995. Os setores industriais que mais desempregaram no período foram: minerais não metálicos (- 102 mil); têxtil (- 100 mil), máquinas e tratores (- 98 mil); outros produtos metalúrgicos (- 96 mil) e calçados (- 73 mil). Na construção civil, o nível de emprego também se reduziu substancialmente (- 507 mil, - 12,9%), mas cresceu na agricultura (252 mil, + 1,7%), provavelmente devido ao retorno de desempregados urbanos. O pessoal ocupado também cresceu no setor terciário (3.775, + 12,5%), com destaque para os serviços (+3.032 mil), comércio (1.252 mil) e transportes (178 mil). O emprego também caiu na administração pública (394 mil) e nas instituições financeiras (-207 mil), fruto do necessário ajuste (Souza, 2001, p. 629). Tabela 4 Pessoas ocupadas na economia brasileira, por setor de atividade, 1995/2002 (1.000 pessoas) Setores de atividade 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Agricultura 15.163 13.906 13.679 13.293 14.363 13.496 12.166 Total da indústria 8.808 8.459 8.269 8.102 8.148 8.837 8.932 - Extrativa mineral 230 207 205 208 190 203 196 - Petróleo e gás 31 26 25 27 37 47 59 - Mineral não metálico 444 436 453 414 430 469 453 - Siderurgia 96 84 79 74 70 80 80 - Metalurgia não ferrosos 56 55 52 55 55 63 63 - Outros produt. metalúrgicos 612 628 640 663 643 712 712 - Máquinas e tratores 422 418 413 388 381 469 509 - Material elétrico 153 141 136 132 121 131 132 - Material eletrônico 123 113 109 98 90 97 98 - Autom., caminh. ônibus 88 79 82 68 73 80 78 - Peças e outros veículos 236 213 207 193 207 229 224 - Madeira e mobiliário 843 856 835 789 812 926 921 - Papel e gráfica 434 423 411 410 424 429 422 - Indústria da borracha 67 55 53 48 48 56 55 - Elementos químicos 78 76 79 60 57 55 55 - Refino do petróleo 68 62 60 49 45 45 45 - Químicos diversos 159 155 161 161 157 151 150 - Farmacêut. e perfumaria 129 126 126 128 119 125 123 - Artigos de plástico 165 180 183 185 200 216 214 - Indústria têxtil 308 247 237 231 238 253 247 - Artigos do vestuário 1.644 1.589 1.448 1.410 1.432 1.660 1.697 - Fabricação de calçados 361 344 321 335 334 412 397 - Indústria Alimentar 1.536 1.486 1.480 1.468 1.470 1.402 1.480 - Indústrias diversas 527 463 474 509 514 528 523 Construção civil 3.429 3.523 3.701 4.036 3.909 4.012 3.924 Setor terciário 33.826 33.877 34.474 35.335 36.118 38.716 39.399 Total da economia 61.226 59.765 60.123 60.767 62.578 65.151 64.421 2002 12.508 9.034 206 62 444 81 63 711 540 114 92 75 222 962 423 53 57 46 155 120 208 244 1.737 398 1.503 520 4.064 40.767 66.373 Variação 1995/2002 Pessoas ocupadas -2.655 226 -25 31 0 -15 6 99 118 -40 -31 -13 -15 119 -11 -14 -21 -21 -4 -9 43 -65 93 37 -33 -7 635 6.941 5.147 Fonte: IBGE. Tabela de recursos e usos, 1995/99. Rio de Janeiro, 2000 e Sistema de contas nacionais, Brasil,, 2000/02. Rio de Janeiro, 2003. Obs.: Pessoas ocupadas compreendem: empregadores, empregados, trabalhadores por conta própria e trabalhadores não remunerados. % -17,5 2,6 -10,7 100,7 0,1 -15,6 11,4 16,2 28,0 -25,9 -25,3 -14,4 -6,2 14,1 -2,5 -20,3 -26,8 -31,7 -2,5 -6,7 26,3 -20,9 5,6 10,4 -2,1 -1,3 18,5 20,5 8,4 7 Em 2002 a indústria ainda não havia recuperado o número de pessoas ocupadas de 1990 (9.034 mil, contra 9.427 mil). O nível de emprego na indústria continuou em declínio até 1998, recuperando-se após com a desvalorização cambial de 1999; houve um aumento de 932 mil pessoas ocupadas entre 1998/2002 (+ 11,5%), ou 226 mil entre 1995/2002 (+ 2,6%). Neste último período, a recuperação foi mais intensa nos setores de madeira/mobiliário (119 mil, + 14,1%), máquinas/tratores (118 mil, + 28%), outros produtos metalúrgicos (99 mil, + 16,2%) e artigos do vestuário (93 mil, + 5,6%). Continuaram desempregando as indústrias têxteis (- 65 mil), material elétrico (- 40 mil), alimentar (- 33 mil) e eletrônica (- 31 mil). Na agricultura o número de pessoas ocupadas reduziu-se em 2.655 mil pessoas (-17,5%), enquanto o setor terciário continuou apresentando o maior crescimento (6.941 mil, ou 20,5%), seguido da construção civil (635 mil, + 18,5%). Mesmo com a ocupação da fronteira agrícola, a agricultura brasileira ainda continua liberando mão-de-obra para o meio urbano-industrial. O setor terciário, sobretudo o comércio e os serviços, vêm crescendo rapidamente, acompanhando o ritmo da urbanização do País. QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO 1. Explique os conflitos entre maximizar o produto e o emprego no caso da economia brasileira. 2. Com base no Quadro 1 e nas Tabelas 1 a 4 comente acerca das mudanças estruturais da economia brasileira entre 1975/1991 e 1990/2002. 3. Comente acerca dos setores conciliadores de política econômica. 4. Comente acerca da mudança da estrutura do emprego da economia brasileira entre 1990/2002. REFERÂNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HAZARI, Bharat R. e KRISHNAMURTY, J. Employment implications of india’s industrialization: analysis in an output framework. The Review of Economics and Statistics, v. 52, n. 2, May 1970. LOCATELLI, Ronaldo L. Relações intersetoriais e estratégia de desenvolvimento: o caso brasileiro reexaminado. Revista Brasileira de Economia, v. 37, n. 4, out./dez. 1983. ___________. Industrialização, crescimento e emprego: uma avaliação da experiência brasileira. Rio de Janeiro : IPE/INPES, 1985. SOUZA, Nali de Jesus. O papel da agricultura na integração intersetorial brasileira. Tese de doutorado. IPE/USP. São Paulo : Faculdade de Economia e Administração, 1988. 321p. _______. Estrutura produtiva, mudança tecnológica e desenvolvimento econômico: dimensionamento do complexo agroindustrial do Brasil e do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : CPGE/UFRGS/CNPQ, 1996a. _______. 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