QUEM FOMOS? QUEM SOMOS? Uma análise
comparativa entre os estudantes de Serviço Social do
ano 2000 e 2010 da UFF/Campos dos Goytacazes/RJ
Carlos Antonio de Souza Moraes
Professor Assistente – SSC/ESR/UFF
E-mail: [email protected]
Danielle de Oliveira Almeida
Aluna do Curso de Serviço Social- SSC/ESR/UFF
E-mail: [email protected]
Joelma Candido Bastos
Bacharel em Serviço Social/UFF-Campos
E-mail: [email protected]
Thaynara Moreira Botelho
Aluna do Curso de Serviço Social- SSC/ESR/UFF
E-mail: [email protected]
Thuanny Alves Fonseca
Aluna do Curso de Serviço Social- SSC/ESR/UFF
E-mail: [email protected]
Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada na Universidade
Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes/RJ, com o objetivo principal de Identificar o
perfil sócio-econômico e cultural dos estudantes do Departamento de Serviço Social,
analisando as principais dificuldades encontradas pelos discentes, que interferem no processo
de ensino-aprendizagem durante sua formação profissional. A partir de tal objetivo, o enfoque
ora proposto compara o atual perfil destes estudantes com os da pesquisa realizada nesta
mesma Instituição e Departamento no ano 2000. Desta maneira, os eixos abordados ao longo
do estudo consideram: aspectos relacionados ao seu perfil, a relação com o curso de
graduação em Serviço Social, com a própria universidade, além de seus projetos futuros. Tais
análises terão por base estudos nacionais (Moraes, 2010; Finatti, 2007; Gondim, 2002; Zago,
2006; Portes, 2006) e internacionais (Gringnon et.al., 1996; Bisseret, 1975) a respeito da
temática em questão. Para tanto, optou-se por desenvolver pesquisa bibliográfica e de campo.
Esta ultima foi operacionalizada através de questionários disponibilizados aos alunos de todos
os períodos do curso de Serviço Social, além da discussão em grupo focal com um
representante de cada período do curso. Os resultados sugerem que eixos como: origem social
do discente, família, trabalho e assistência estudantil possuem relação direta com estes
estudantes, seja no passado ou no momento atual.
Palavras-chave: Estudante, Serviço Social, Perfil.
Agradecimentos:
Aos alunos, Professores e Coordenadores do curso de Serviço Social, tão receptivos à
realização da pesquisa.
Trabalho apresentado no 4º Seminário de pesquisa do Instituto de Ciências da Sociedade e
Desenvolvimento Regional, da Universidade Federal Fluminense - UFF, realizado em Campos
dos Goytacazes, RJ, Brasil, em março de 2010
2
I-
Considerações Iniciais
Desde a década de 1990 identifica-se, sobretudo pelo setor privado, a
expansão do nível superior de ensino brasileiro. Esse fator está diretamente
relacionado ao aumento quantitativo de cursos de Serviço Social também a
partir desta década. No entanto, Larissa Dahmer (2008, p.152) constata que
desde 2003 “assistimos à galopante criação de cursos de Serviço Social no
Brasil: cerca de 60% (55,9%) deles foram criados a partir do período em
questão”.
Independente das análises adotadas acerca do crescimento do ensino superior
em que se destaca a “explosão” de matrículas, os motivos para tal, a chamada
“universidade operacional” (Chauí, 1999), o plano estratégico para reforma
emergencial do aparelho do Estado (Pereira, 2008), o que se constata é o
crescimento do setor privado na educação superior.
Essa informação é corroborada pelos dados disponibilizados pelo censo da
educação superior de 2004 ao informar que até outubro deste ano existiam no
País 2.013 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo que destas, 88,9%
eram privadas (Inep, MEC, 2005). Em 2007, com base no Cadastro Nacional
das IES, verificamos um aumento de 385 Instituições de Ensino Superior em
relação a 2004, sendo que 89,28% passaram a ser de natureza privada.
Por ser um curso da área de humanas, não exigir laboratórios, não necessitar
de maiores investimentos, e estar em crescimento em relação ao mercado de
trabalho, dentre outros fatores, o Serviço Social também passa por um rápido
processo de mercantilização. Larissa Dahmer (2008) ressalta que entre 1930–
1994 os cursos privados de Serviço Social correspondiam a 63, 5% do total,
entre 1995-2002 a participação cresce para 90% da totalidade criada neste
período, processo que permanece no pós-2003.
É importante compreender que tal processo transforma substancialmente o
perfil dos cursos, o nível de aprofundamento e discussão teórica, a relação com
pesquisa e extensão, dentre outros. Por outro lado, é válido identificar e
compreender quem são os usuários destes cursos, ou seja, quem são os
alunos que vem se tornando a grande minoria a serem inseridos nas
universidades públicas, o que os difere dos demais na atualidade e no
passado, qual seu perfil sócio-econômico-cultural...
Esse debate acerca do estudante de serviço social foi realizado na
Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes/RJ no ano
2000, cujo título do relatório final foi: “Estudante que trabalha ou trabalhador
que estuda? Perfil dos acadêmicos do Departamento de Serviço Social de
Campos”, coordenado pelas Professoras Denise Juncá e Rita Márcia Paixão.
Na ocasião, a pesquisa teve como foco a compreensão do perfil dos alunos e
os fatores que interferem em sua formação profissional, havendo uma
abordagem direcionada a condição de estudante e trabalhador.
Atualmente, estamos desenvolvendo estudos no Grupo Interdisciplinar de
Estudos e Pesquisa em Cotidiano e Saúde (GRIPES), nesta mesma
Universidade e Departamento, através do projeto “Da „Universidade‟ dos
saberes aos saberes da „Universidade‟: o perfil sócio-econômico-cultural dos
acadêmicos de Serviço Social de Campos e os fatores que incidem em sua
formação profissional.
3
Tal proposta tem como objetivo central identificar o perfil dos estudantes de tal
Departamento, analisando as principais dificuldades encontradas pelos
discentes que interferem no processo de ensino-aprendizagem durante sua
formação profissional.
Diante disso, optamos por priorizar a utilização de questionários com perguntas
abertas e fechadas, direcionadas a todos os alunos do curso de Serviço Social
da UFF/Campos. No entanto, dos questionários entregues aos discentes,
obtivemos a devolução de 149, contabilizando 45,3% dos alunos que se
encontravam em sala de aula e responderam à pesquisa. Além disso,
realizamos grupo focal com um aluno representante de cada período do curso
de graduação.
Com base nos dados produzidos e organizados durante o ano de 2010, a
proposta deste artigo é, a partir de avaliações preliminares, comparar o atual
perfil destes estudantes com os da pesquisa realizada no ano 2000. Sendo
assim, as descrições e análises desenvolvidas a seguir compreenderão a
identificação do aluno, o perfil sócio-econômico-cultural, dados referentes à
graduação em Serviço Social, bem como, seus futuros projetos.
II-
Entre a lousa e a carteira: identificando o aluno do Serviço Social
O movimento iniciado através da pesquisa ora analisada coloca em pauta a
necessidade de conhecer ou até mesmo, re-conhecer aquele que circula no
espaço acadêmico em busca de formação/qualificação profissional. Por vezes,
é este sujeito que reivindica, discute, participa das atividades e questões
acadêmicas de maneira mais veemente com objetivo de buscar melhorias à
vida universitária. Por outras, ele trabalha durante o dia para ter condições
financeiras de dar continuidade a seus estudos, além do trabalho ser
fundamental na garantia de seu sustento e/ou de sua família.
Este tipo de informação acerca dos discentes não é novidade a nenhum
daqueles que fazem parte deste contexto, e não colabora de forma efetiva para
mudanças expressivas na realidade acadêmica. Mudanças que garantam uma
melhor condição de permanência do discente na universidade pública.
Estas afirmações partem do pressuposto de que é necessário conhecer o
aluno, suas características gerais, além de dimensões relativas à família, ao
trabalho e a própria Universidade. Neste caso, um primeiro aspecto a focalizar
é a idade dos estudantes.
4
Não respondeu
1%
Gráfico 1: IDADE
Até 18 anos
6%
Mais de 40 anos
12%
31 a 40 anos
14%
19 a 21 anos
34%
26 a 30 anos
11%
22 a 25 anos
22%
Sabemos (Finnatti, 2007, Juncá; Paixão, 2000) que a universidade é um
ambiente tradicionalmente freqüentado por jovens, recém egressos do ensino
médio. No entanto, os dados demonstram uma tendência a uma clientela
diferente: adultos que não tiveram condições de ingressar ou concluir uma
universidade, e/ou até mesmo, buscam melhor se qualificar ou novas
possibilidades ocupacionais (Leão, 1997).
Esses discentes em idades variadas são em 95,2% mulheres, havendo
decréscimo de 0,6% no número de homens no curso de Serviço Social em
relação à pesquisa produzida no ano 2000, quando registrou-se o índice de
94,6% de mulheres. É válido destacar que estudos como o que Finatti (2007)
desenvolveu na Universidade de Londrina (com 3% dos alunos dos 41 cursos
de graduação), apontam percentual maior de mulheres em relação aos
homens, declarando-se, sobretudo, na condição de solteiros. Este último
aspecto também foi confirmado na UFF/Campos tanto na pesquisa realizada
no ano 2000 em que se constatou que 70,6% dos alunos eram solteiros,
quanto na atual pesquisa em que identificamos que 75% se enquadram neste
quesito. Além disso, verificamos que 18% são casados, 4% moram com
companheiros e os outros 3% se enquadram em outras opções (como viúvos e
divorciados).
A grande maioria (81,9%) destes discentes é do Estado do Rio de Janeiro.
Além disso, 12,7% são de outras localidades, como: Espírito Santo, Minas
Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia. O restante (5,4%) não informou
tal dado e/ou foi anulada sua questão.
Naturais do Estado do Rio ou de outras localidades, 55,6% residem na Cidade
de Campos dos Goytacazes na atualidade, 8,0% em algum distrito de Campos,
como: Travessão e Morro do Coco. Além disso, 20,8% moram em outro
Município do Estado, como: São Fidélis, Bom Jesus do Itabapoana, São João
da Barra, Itaperuna, Itaocara, Quissamã, Macaé. 14,8% residem
provisoriamente em Campos para estudar e 0,8% moram no Estado do Espírito
Santo.
Estes aspectos foram analisados por Juncá e Paixão em 2000 (p.14) quando
ressaltaram que “A proximidade do Rio de Janeiro com o Espírito Santo
5
também contribui para a existência de alunos deste último” no SSC. O fato é
que com estes dados, identifica-se que cerca de 30% dos alunos do curso
residem na atualidade fora da Cidade de Campos dos Goytacazes/RJ. Se
somarmos este percentual com aqueles oriundos de outras localidades, mas
que aqui se fixaram, provisoriamente, para estudar, constatamos que 44,4%
dos alunos são de outros Municípios e/ou Estados.
Estes dados demonstram crescimento relevante no número de alunos do Curso
de Serviço Social que são de outras localidades. Acerca deste fato, o relatório
da pesquisa realizada no ano 2000 já chamava atenção, visto que nele, se
identificou que 22,9% dos discentes eram de outras localidades, demonstrando
um alto crescimento em comparação com dados disponibilizados em 1994,
quando se constatava que 5,9% dos alunos eram de outros Municípios e/ou
Estados.
Identificamos em 2010, um crescimento de 39% no número de alunos de
outras localidades em relação a 1994 e 21,5% em relação a 2000. Estes
percentuais demonstram que a UFF/Campos no curso de Serviço Social vem
se tornando referência na região Norte e Noroeste Fluminense e para além
dela, ao incluir alunos de outros Estados.
Obviamente estas questões trazem implicações para os discentes e para
própria Universidade, seja referente a horários e condições de transporte para
aqueles que são de fora e chegam a percorrer mais de 100 km para chegarem
à UFF, seja no que concerne a alojamento, alimentação e bolsas de
assistência estudantil. Fatores já destacados na pesquisa anterior, embora,
naquele momento, não se passasse pelo processo de expansão que a
UFF/Campos vive na atualidade, através do REUNI.
III- Para além da sala de aula: o perfil sócio-econômico-cultural dos
acadêmicos de Serviço Social
Com o objetivo de identificar o perfil sócio-econômico e cultural dos estudantes
do Departamento de Serviço Social de Campos, buscamos neste primeiro
momento, compreender a condição de moradia do discente. A esse respeito,
identificamos que 84% possuem casa própria; 8% alugada; 7% cedida e 1% se
enquadram em outras opções.
Independente destas variações, 81% dos alunos do SSC residem com suas
famílias, 9% moram em repúblicas, 3% sozinhos, 1% em pensão, 5%
marcaram a opção “outros”, variando entre amigos e familiares, e 1% não
respondeu.
Diante destes dados, percebemos em relação à pesquisa realizada em 2000,
aumento de 4,3% no número de alunos que residem em repúblicas. Por outro
lado, houve diminuição de mais de 6% (de 87,4% para 81%) referente àqueles
que moram com suas famílias. Além disso, a opção “pensão”, não foi registrada
na pesquisa anterior.
Essas informações corroboram para o fato apontado pela literatura atual: os
novos arranjos familiares enquanto combinações diferentes e crescentes em
nossa sociedade. A esse respeito, Goldani (1994) ressalta que as famílias
brasileiras passam por transformações, sobretudo, a partir do início dos anos
1990 que caracterizam um processo de “modernidade contraditório”. A
tendência é de uma diminuição no tamanho das famílias e diversificação dos
arranjos domésticos e familiares. Aponta ainda, que a complexidade da vida
6
familiar aumentou devido ao incremento no número de famílias reconstituídas
através de separação, casamentos e recasamentos.
Essa tendência, em alguns casos, também é verificada na UFF/Campos.
Identificamos acentuadas variações em tipo de membros na composição
familiar, apesar de haver predomínio da chamada “família tradicional”, formada
por pais e irmãos ou cônjuges e filhos (22% dos casos tem filhos) conforme
demonstra o gráfico
Gráfico 2: Composição da família
1%
24%
1%
9%
Não tem família
Pai e mãe
31%
Pais e irmãos
Um dos pais e irmãos
12%
Cônjuge
7%
15%
Cônjuge/Filhos
Outro
Nula
Já no que se refere às profissões dos pais, identificamos uma variedade de
profissões e ocupações. No caso do pai, verificou-se um número considerável
daquelas que não exigem nível superior de ensino, como por exemplo:
comerciante, pedreiro, pintor, eletricista, motorista, cobrador de ônibus. Por
outro lado, também identificamos aqueles que são dentistas, médicos e
advogados. Além disso, existiram informações que não foram precisas,
declarando apenas que seus pais são aposentados. No entanto, um fator que
nos chamou atenção é um índice não negligenciável daqueles que destacaram
que os pais são falecidos.
No que se refere à mãe, há menores variações neste cenário, já que a grande
maioria dos discentes ressaltou que suas mães são “do lar”. Nos casos das
que trabalham fora, percebemos que suas profissões exigem especialização
em maior proporção que os pais: Professora, Professora universitária,
Assistente Social, Técnica em enfermagem, Auxiliar operacional em saúde,
Atendente de odontologia... No entanto, estes dados não são suficientes para
diagnosticar a questão ora abordada, visto que também existem aquelas que
são domésticas, auxiliares de serviços gerais, manicures... Vale ainda ressaltar
aqueles que registraram que suas mães são aposentadas (sem especificações
maiores) e falecidas.
Estas informações sugerem que o grau de escolaridade dos pais dos alunos de
serviço social não é tão elevado, conforme podemos verificar nos gráficos
abaixo
7
Gráfico 4: Escolaridade do
pai
1%
2%
8%
1%
Fund.
Incompleto
2%
1%
44%
26%
Fundamental
completo
Médio
incompleto
Médio
completo
7% 8%
Superior
incompleto
Superior
completo
Gráfico 5: Escolaridade da
mãe
Fundamental
incompleto
3% 2%
Fundamental
completo
4%
1%
11%
2%
4%
Médio
incompleto
36%
24%
6%
7%
Médio
completo
Super. Inco.
Super. Com.
Acerca dos dados ora apresentados, de modo geral, ressaltamos que tanto
entre as mães, quanto entre os pais (em maior proporção) foi pequeno o
percentual de atividades que exigem o nível superior de ensino, apontando
para o fato de que “provavelmente este tenha sido um fator a impulsionar a
vida escolar dos filhos na expectativa de buscar possibilidades para construção
de um „futuro melhor‟” (Juncá, Paixão, 2000, p.17/18).
A esse respeito, em relação à família, educação e estudante, a literatura atual
destaca o fato de que esta primeira, geralmente, busca assegurar a entrada e a
permanência do filho no interior do sistema escolar, influenciando sua trajetória
e contribuindo substancialmente para que o filho alcance os níveis mais altos
de escolaridade (Portes, 2006).
No “trabalho escolar das famílias” (Portes, 2006) a mãe vem apresentando
papel fundamental na formação dos filhos desde a escola primária.
No ensino superior, nota-se esforço da mãe no que se refere a
questões paralelas no decorrer da trajetória do estudante. Seus
esforços são para que o filho não exerça trabalho remunerado, já que
para as mães, a entrada no mundo do trabalho parece significar um
desvio de rota. Se aposta na possibilidade dos filhos processarem
conselhos e ajudas das famílias. Estas, que o vêem como merecedor
de suas preocupações e conselhos (Moraes et.al., 2010, p.06).
Desta forma, o que se percebe é a grande influência da família na formação do
estudante desde os níveis iniciais de ensino. A própria origem social exerce
forte influência na “escolha1” e acesso às carreiras prestigiosas. Ou seja,
quanto mais importantes os recursos dos pais, mais os filhos terão chances de
acesso ao ensino superior e em cursos seletivos, mais orientados para
diplomas prestigiosos e empregos com melhor remuneração (Grignon e Cruel,
1999, p.183).
1
Falar globalmente de “escolha” implica ocultar questões que envolvem as condições social,
econômica e cultural da família e o histórico de escolarização do candidato. Para grande
maioria das pessoas não existe “escolha”, mas adaptação/ajuste a sua realidade (Zago, 2006).
8
Obviamente não desconsideramos (Moraes et. al., 2010) a possibilidade de
estudantes de camadas populares alcançarem cursos mais seletivos no ensino
superior, como apontam Zago (2006), Portes (2006), Muzzeti (1997), Viana
(1998), Souza e Silva (1999) em relação ao Brasil; Lahire (1997), Grignon et.
al. (1996), Bisseret (1974) no que concerne a França; e Hoggart (1975) no
contexto inglês. No entanto, vale ressaltar que enquanto persistirem as
desigualdades nos ensino primário e secundário brasileiros, as tentativas de
democratização do superior serão inócuas (Gouveia, 1968).
Independente do tipo de ocupação/profissão o que se verifica, através dos
questionários, é que a situação de trabalho atual das famílias (gráfico: 6)
envolve desde menores de 18 anos que trabalham até adultos que não
trabalham por opção. Estes fatores são fundamentais para o rendimento
familiar (gráfico: 7), conforme podemos visualizar a seguir
Gráfico 6: Trabalho e família: situação atual
1%
Todos adultos trabalham
19%
0%
Não tenho família
1%
33%
Alguns adultos trabalham
18%
Alguns adultos não
trabalham por opção
28%
Adultos e menores de 18
anos trabalham
Outro
S/ resposta
A opção “outro” corresponde aos casos de aposentadoria, pensão, “bicos”,
auxílios doença... De modo geral, com esta situação atual de trabalho,
constatamos os seguintes rendimentos
9
Gráfico 7: Rendimento mensal da família
1% 1%
26%
21%
Até 2 salários
Mais de 2 a 3 salários
Mais de 3 a 4 salários
10%
Mais de 4 a 5 salários
13%
Mais de 5 salários
28%
Nula
S/ resposta
Identifica-se variado rendimento familiar. Se em alguns casos, indica a
necessidade que o aluno tem de trabalhar, já que no gráfico também está
incluso os salários daqueles discentes que trabalham, em outros casos, podem
contribuir para que se dedique exclusivamente aos estudos ou tenha “apoio”
financeiro de seus familiares em momentos em que não esteja trabalhando.
Mas qual a situação do aluno em relação ao trabalho?
Gráfico 8: Situação do aluno em relação ao
trabalho
Não trabalha e não procura
emprego
Não trabalha e procura emprego
3%
1% 2%
Trabalha em horário integral
6%
20%
Trabalha em horário parcial
17%
17%
11%
2%
21%
Trabalha em sistema de
escala/plantão
Trabalha como bolsista ou
voluntário no SSC
Trabalha como bolsista no SSC
e tem outro emprego
Não possui renda própria
Nula
S/ Resposta
10
O que se identifica é que 54% dos alunos do Serviço Social trabalham. Bem
como nas pesquisas realizadas nos anos de 1994 e 2000 acerca do perfil dos
alunos do curso de Serviço Social da UFF/Campos, consideramos a atuação
enquanto bolsistas como trabalho.
Em comparação aos dados produzidos no ano 2000, tivemos um decréscimo
de 10,2% de alunos trabalhadores, visto que foi verificado percentual de 64,2%
de alunos que trabalhavam naquele período. Se somarmos o índice dos alunos
que trabalham na atualidade com os que desejam trabalhar, mas falta
oportunidade, constatamos o percentual de 71%. Esta percentagem é a menor
encontrada no perfil dos alunos de Serviço Social, tanto no ano de 1994
quando se realizou pesquisa com os discentes deste curso na UFF/Campos e
registrou um total de 76,5%, quanto em 2000 quando se identificou o índice de
90,7%.
Diante destes dados, um fato a se considerar é que a partir de 1970 pesquisas
(Cardoso; Sampaio, 1994) constatam a heterogeneidade do estudantado,
demarcando que muitos destes conciliam o trabalho com sua formação
universitária. Estes diagnósticos permitiram as seguintes diferenciações
afirmadas por Romanelli (1994) acerca do estudante:
1) Estudante em tempo integral: é mantido pela família e se dedica
exclusivamente aos estudos, independente do turno (diurno, noturno, integral);
2) Estudante-trabalhador: trabalha, no entanto, ainda é dependente
financeiramente de seus familiares;
3) Trabalhador-estudante: além de não depender dos familiares, contribui
muitas vezes, para o orçamento doméstico. A família não tem condições
financeiras para mantê-lo e/ou não julga a escolarização universitária relevante
investimento para o filho. Assim, o estudo depende do investimento, disposição
e aspiração pessoal deste último, incentivada, às vezes, pela família.
É evidente, diante destas informações, a singularidade expressa em cada
história/trajetória destes sujeitos que contribui significativamente para a
configuração heterogênea dos usuários do ensino superior no Brasil na
atualidade. No entanto, Ruth Cardoso e Helena Sampaio (1994) vislumbram
significativas semelhanças quando pesquisam a distribuição dos estudantes
que trabalham por curso:
(...) nos cursos da área de humanidades e de ciências sociais
aplicadas, os estudantes trabalhadores são a grande maioria. Eles
chegam a 72% nos cursos de administração de empresas, 71,3% no
de pedagogia, 68,8% no curso de direito e 62,9% no de filosofia.
No caso do Serviço Social da UFF/Campos, 66% dos alunos possuem
rendimento mensal entre 1 a 3 salários mínimos, prevalecendo aqueles que
recebem até 1 salário (36%). Trabalham, sobretudo, para o sustento pessoal
(22%), estudar (20%) e arcar com os gastos pessoais (20%). No entanto,
também existiram aqueles que ressaltaram que trabalham para auxiliar no
orçamento familiar (13%), sustentar a família (5%) e por opção (5%). O
restante (15%) não respondeu, teve sua questão anulada, ou se enquadrou em
outras opções que conjugavam mais de uma situação citada anteriormente.
Se compararmos o rendimento dos discentes com o total obtido mensalmente
pela família, verificamos que há importante participação dos pesquisados no
orçamento doméstico. No entanto, este mesmo rendimento é considerado
11
insuficiente por alguns pesquisados, sendo motivo de satisfação parcial com o
trabalho que exercem.
O que indiretamente viemos discutindo ao longo deste artigo é que a realização
de trabalho remunerado produz conseqüências à vida do estudante. Por
exemplo, o fato de 54% dos alunos de Serviço Social trabalhar pode contribuir
para que disponham de recursos para realização de cursos extracurriculares,
no entanto, faltar-lhes tempo suficiente para inserção em tais cursos. Por outro
lado, aqueles que não trabalham, geralmente possuem tempo para
freqüentarem cursos extracurriculares, porém, nem sempre possuem recursos
financeiros para custear seus gastos.
Esses fatores são relevantes ao constatarmos que 86% dos alunos de Serviço
Social não freqüentam cursos extracurriculares. Enquanto que 7% já
freqüentaram e não freqüentam mais, sobretudo, por falta de tempo ou
questões financeiras, 6% estão freqüentando e 1% teve sua questão anulada.
Dos que já freqüentaram e/ou freqüentam outros cursos, os mais citados foram:
inglês, espanhol e informática.
Estes dados também foram verificados na pesquisa realizada no ano 2000,
quando se percebeu um total de 85,3% de alunos que sequer iniciou outros
cursos extracurriculares. As coordenadoras da pesquisa sinalizaram que este
fato está relacionado a interesse e possibilidades de acesso aos cursos, que no
caso, eram limitados.
No Brasil, alguns estudos têm verificado que as atividades extracurriculares
(Capovilla, Santos, 2001) e o ambiente acadêmico (Fior, Mercuri, 2003) são
importantes para o desenvolvimento pessoal dos estudantes universitários,
sobretudo, no que diz respeito ao raciocínio reflexivo e competência social
(Pachane, 2003).
Se na UFF/ Campos, nem sempre tem sido possível os alunos recorrerem a
cursos extracurriculares, outros meios de informação se tornam necessários
para manter-se atualizado.
Gráfico 9: Principal meio de informação
3%
2%
4%
7%
Jornal
Televisão
33%
Rádio
Livros
46%
pessoas
Internet
3%
S/ informação
S/ resposta
1% 1%
Nula
Diferente da pesquisa realizada no ano 2000 em que a televisão era o principal
meio de informação dos alunos (48,4%), seguida pelos jornais (23,3%), em
12
2010, os dados demonstram a internet como principal meio de informação
(46%), seguida pela televisão (33%).
Outro fato a se destacar é que 3% dos alunos consideram não serem pessoas
informadas sobre questões da atualidade, quando em 2000 estes dados
estavam em torno de 1,8%. O índice atual (3%) nos permite problematizar o
caráter comprometedor da falta de informações acerca de questões da
atualidade, visto que as demandas recebidas pelos profissionais de Serviço
Social em sua prática profissional são frutos das diferentes manifestações da
questão social, desta forma, um dos principais requisitos a atuação profissional
é o conhecimento e informação da realidade, com objetivo de buscar melhores
alternativas à seu fazer, na garantia dos direitos dos usuários.
Enquanto meio de informação, no que se refere aos livros, identificamos um
baixo percentual de leitura, no entanto, este índice aumenta quando
questionamos o número de volumes lidos nos últimos 12 meses (excluindo-se
a bibliografia do curso de serviço social).
Gráfico 10: Quantidade de Livros lidos nos
últimos 12 meses
14%
19%
12%
Um
Dois a três
11%
Quatro a cinco
44%
Mais de cinco
Nenhum
Mesmo não sendo específicos do Curso de Serviço Social, os livros
selecionados abordam, prioritariamente, temáticas relacionadas ao mesmo, já
que em 36% se relacionam a problemas sociais, 29% educação e cultura, 18%
política, 4% esportes, 2% economia e 11% outros, prevalecendo o campo da
auto-ajuda.
A respeito da leitura dos alunos, Finatti (2007), em pesquisa realizada na UEL,
registrou percentual negativo, além de não possuírem o hábito de comprar
livros, visto que existem facilidades no acesso a literatura através de
fotocópias.
Por outro lado, Juncá e Paixão (2000, p.20) ressaltam que “o acesso a livros
pode estar sendo dificultado pela falta de condições financeiras para adquirilos, somada às limitações existentes nas bibliotecas disponíveis na região”.
Além disso, a falta de tempo pode se constituir também como fator de
influência para um grupo de pesquisados, já que acumulam funções de aluno,
trabalhador, além de realizarem funções domésticas, quando não estão
estudando, conforme destacamos.
13
Gráfico 11: Como ocupa o tempo quando
não está estudando
1%
14%
3%
3%
Trab. Domés
42%
Trabalho não doméstico
Lazer/esporte
15%
Faz nada
Outro
22%
S/ resposta
Nula
Os dados demonstram que poucos alunos participam de atividades de
lazer/esporte e até as atividades em grupo, que são valorizadas por muitos,
acabam sendo deixadas de lado. A esse respeito, constatamos que 51% nunca
participaram de atividades coletivas, enquanto 17% participaram e não
participam mais, sobretudo, por falta de tempo e desmotivação. E 32%
participam de atividades religiosas, grupo de jovens, associação de moradores,
diretório, grupo de dança e mútua ajuda.
A participação dos alunos em atividades coletivas é de grande relevância para
sua formação enquanto assistentes sociais, na medida em que o atual projeto
profissional do Serviço Social destaca a construção de uma nova ordem
societária, para isso, há necessidade da organização e participação do
cidadão. Diante disso, questionamos o que poderia revelar o pouco
envolvimento dos alunos em atividades grupais.
Este questionamento também está embasado no fato de que 41% dos
discentes têm como principal expectativa em relação ao curso de serviço
social, a formação/qualificação para ingresso no mercado de trabalho. Desta
maneira, cabe compreender: “a participação em atividades coletivas não seria
necessária a tal formação? Estariam os acadêmicos do SSC imersos a
questões imediatas de estudo e trabalho?”
É válido ressaltar que estes questionamentos estão se reproduzindo ao longo
dos anos, já que Juncá e Paixão (2000, p. 20, 21) nos traziam estas reflexões
no ano 2000. No entanto, o próximo item contribuirá ao abordar mais
diretamente dados referentes a graduação em serviço social, além dos projetos
dos alunos.
IV- O aluno e o curso de serviço social
Dar conta de todas as leituras exigidas pelos professores, visto que os materiais
são muitos e também trabalhamos, damos atenção a família, mantemos nossa vida
social, não sobrando tempo necessário para me dedicar a faculdade como
gostaria. (Depoimento de aluno (a), 7º período).
14
Ao longo deste item, veremos que a “falta de tempo” ressaltada no depoimento
anterior é uma das principais dimensões que dificultam o aproveitamento do
aluno no curso, no entanto, também fica evidente em suas falas a necessidade
de maior planejamento não apenas do curso de serviço social, bem como, do
próprio aluno em relação às suas atividades. Afinal, cursar o ensino superior
em uma Universidade Federal traz implicações que precisam ser avaliadas
pelos discentes.
Esta informação consubstancia um novo questionamento: Qual o principal
motivo de escolha do curso de serviço social? Quase todos os alunos deste
curso já tiveram que responder a esta pergunta, seja na própria Universidade,
nos primeiros dias de aula, quando perguntados pelo (s) Professor (s), ou entre
amigos e familiares...
Em nossa pesquisa, o principal motivo de escolha do curso foi a chamada
vocação (28%), seguida pelo fato da Universidade ser pública (26%) e pela
possibilidade de maior empregabilidade (17%), conforme ressalta o gráfico a
seguir
Gráfico 12: Motivo de escolha do curso de
S.S.
Vocação
6%
17%
Progressão funcional
27%
Por ser universidade pública
Por ser curso noturno
11%
Influência da família
4%
4%
26%
2%
Cultura geral
Maior empregabilidade
Outro
S/ resposta
Estes dados trazem informações surpreendentes, na medida em que
demonstram que um grupo de alunos dispõe de certo grau de conhecimento
acerca do curso capaz de possibilitar o escolher para se qualificarem e
seguirem esta carreira.
Nestes casos, compreendemos que
a vocação também não é escolhida, porém não seria correto dizer
que me encontro com ela; antes ela me encontra, me chama, e
correlativamente a descubro; não me é imposta, e sim apresentada, e
embora não esteja em minhas mãos ter ou não ter essa vocação,
permaneço frente a ela com uma essencial liberdade: posso segui-la
ou não, ser fiel ou infiel a ela. (Marías, 1983, p.24 apud Brandão, s/a).
Além disso, aliada a esta constatação, a universidade pública e gratuita
também se torna veículo fundamental de escolha do curso. Essas informações
também foram identificadas na pesquisa realizada em 2000, quando se
constatou, sobretudo, que a universidade pública era o principal motivo de
escolha do curso (44,1%), seguida pela vocação (20,1%).
15
Por outro lado, os discentes ressaltam que o curso de serviço social possui
algumas vantagens. Destas, percebe-se que algumas apresentam
particularidades da formação profissional, enquanto outras podem ser
pensadas e generalizadas a outras categorias profissionais de nível superior.
Gráfico 13: Vantagem oferecida pelo curso
Diploma superior
4% 1%
10%
Expectativas em relação ao
mercado de trabalho
21%
Conhecimento crítico da
realidade
9%
19%
35%
Técnicas para ajudar o povo
Melhorar a situação
financeira
Melhorar a vocação
Não tenho condições de
avaliar
Apesar de apresentar vantagens, no curso de serviço social também existem
fatores que dificultam a melhoria no aproveitamento do discente. Podemos
ressaltar que existe uma heterogeneidade no que se refere a este assunto. No
entanto, como vimos no depoimento inicial, “a falta de tempo para estudar” se
apresenta como o principal dado citado pelos alunos (16%), acompanhado das
“aulas à tarde” (14%), de ter que “trabalhar durante o dia” (12%), de o curso ter
“muita teoria e pouca prática” (12%), além da “estrutura precária” em que se
encontrava a universidade no período pesquisado (12%) – mês de junho de
2010. Além destes fatores, outros demonstram relevância, como: a “exigência
de muita leitura” (11%), “residir em outro município” (8%), o “tipo de aula dada”
(7%), o “meio de transporte para chegar à Universidade” (3%), a falta de apoio
da família (1%) e outros motivos (4%), foram os apontados entre os alunos.
Acerca destes dados, as autoras do relatório da pesquisa realizada no ano
2000, avaliam que a “falta de tempo” já era a maior preocupação dos alunos
(24%) e se tornava fator que colaborava para que tivessem maiores problemas
com a aprendizagem.
Quando questionados acerca dos fatores que mais interferem na qualidade do
processo de ensino-aprendizagem do SSC, a falta de tempo mais uma vez foi a
mais indicada pelo coletivo. O gráfico abaixo demonstra outros dados que
sugerem a necessidade de se pensar não apenas o discente, suas
responsabilidades e dedicação, enquanto fatores fundamentais no processo de
formação profissional, mas também o currículo, o planejamento do curso
(aulas, estágio, disciplinas), dentre outros.
16
Gráfico 14: Fatores que interferem na qualidade
do ensino aprendizagem do SSC
Tipo de curriculo
1%
1%
10%
Recursos disponíveis
0%
Comprometimento do aluno
17%
10%
13%
8%
20%
20%
Alunos trabalhadores com
pouco tempo para estudo
Dinâmica das aulas
Competência dos
professores
Planejamento e realização
do estágio
Outros
S/ resposta
Nula
“Movidos por distintas expectativas, nem sempre admitindo a existência de
uma vocação profissional e tendo que enfrentar tantas dificuldades durante o
curso de graduação” (Juncá, Paixão, 2000, p.50), estes alunos vêem a
possibilidade de exercer a profissão como “crescimento pessoal” (41%), a
realização de sua vocação (23%), necessário à sobrevivência (12%), além de
indicarem “outras alternativas” - que conjugam mais de uma destas opções
(12%), ajudar as pessoas (11%), nula (1%). Dados também identificados na
pesquisa do ano 2000.
Para finalizar, ressaltamos que estes discentes demonstram certo
planejamento de sua vida profissional pelo fato de 61% dos entrevistados
terem perspectivas após terminar a graduação. Os depoimentos as seguir
ilustram esta constatação:
“Fazer mestrado após me formar e exercer a profissão” (3°º período)
“Concurso público e fazer residência em saúde” (7º período)
“Montar uma firma de consultoria e fazer mestrado e pós” (7º período)
Estes depoimentos demonstram que as expectativas dos estudantes quanto a
seu futuro profissional são otimistas, fato também verificado por Teixeira e
Gomes (2004) em pesquisa realizada na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, com discentes dos cursos de Farmácia e Odontologia.
É importante compreender que o término da Universidade se traduz em uma
nova fase da vida, marcada pela tentativa de exercer a profissão escolhida. No
entanto, os recém formados vem encontrando dificuldades em relação ao
17
mercado de trabalho. Nestes casos, a nítida redução de empregos acaba por
responsabilizar o indivíduo pelo seu sucesso ou fracasso profissional, exigindo,
além do diploma, “características pessoais, competências específicas, redes de
relações, além de sua capacidade de ajustar-se a diferentes demandas de
trabalho”. (Teixeira, Gomes, 2004, s/p).
Para finalizar, ressaltamos que a conclusão do curso universitário, envolve não
apenas a possibilidade de independência financeira em relação à família (para
uns), além de seu estabelecimento na vida adulta, mas também, o momento de
reavaliação das escolhas realizadas, experiências vividas, além da antecipação
do que está por vir, em termos profissionais e pessoais.
V- Algumas considerações finais
As análises iniciais acerca do estudante atual de Serviço Social da
UFF/Campos em comparação com os discentes do ano 2000 apresentam
dados que retratam a identificação, o perfil (social, econômico e cultural) dos
discentes, além de sua relação com a universidade.
Além de identificarmos que a maioria dos discentes são mulheres (95,2%),
solteiros (70,6%), com idade variada (de menos de 18 anos a mais de 40 anos)
e possuem casa própria (84%), percebemos um crescimento de 39% (em
relação a 1994) no número de alunos que são de outras localidades (Estado e
Município) e que estudam na UFF/Campos, e 21,5% em relação ao ano 2000.
Além disso, os dados indicaram que sua composição familiar envolve variadas
combinações, consubstanciando os chamados “novos arranjos familiares”
apontado pela literatura atual (Gondani, 1994) como mudanças processadas,
sobretudo, a partir de 1990.
Neste contexto, identificamos a baixa escolaridade dos pais dos discentes, em
que tanto o pai quanto a mãe, possuem em maior proporção (pai: 44%; Mãe:
36%) o ensino fundamental incompleto, realizando diferentes tipos de
atividades profissionais.
Porém, um índice que chama atenção em relação à pesquisa atual é o fato de
54% dos alunos trabalharem. Se considerarmos a percentagem daqueles que
desejam trabalhar, mas falta oportunidade, constatamos o índice de 71%.
Quando comparamos estes dados com os da pesquisa realizada no ano de
1994 e 2000, acerca do perfil de alunos do Serviço Social de Campos,
constatamos o índice mais baixo de “estudantes trabalhadores” ou
“trabalhadores estudantes” na atualidade, visto que em 1994 registrou-se a
percentagem de 76,5% e, em 2000, 90,7% dos alunos trabalhavam.
Diante disso, é possível verificar que as classificações afirmadas por Romanelli
(1994) acerca do “estudante em tempo integral”, “estudante trabalhador”, e
“trabalhador estudante” são verificadas na UFF/Campos no curso de Serviço
Social, no entanto, é possível afirmar o decréscimo no número de
“trabalhadores estudantes”, variando na atualidade, entre estes e os
“estudantes trabalhadores”, apesar de também haver um número considerável
de “estudantes em tempo integral”.
O fato é, na atualidade, pelo aumento no número de bolsas acadêmicas, e pelo
próprio rendimento mensal familiar (21% recebe mais de 5 salários mínimos),
existe uma tendência de crescimento no número de “estudantes trabalhadores”
e “estudantes em tempo integral”, apesar do elevado número de “trabalhadores
estudantes” no curso de Serviço Social.
18
São estes estudantes que ressaltam ser a “vocação” o principal motivo de
escolha do curso de Serviço Social. Se a entendemos enquanto um convite,
um chamado à liberdade e responsabilidade do homem, cabendo-lhe atender
ou não (Marías, 1983), podemos compreender que estes futuros profissionais
possuem maiores possibilidades de exercício crítico e comprometido com a
profissão.
No entanto, se a vocação (27%) os convidou a escolha do curso, além de ser
uma universidade pública (26%), a “falta de tempo” é destacada como o fator
que mais dificulta o aproveitamento do aluno no Serviço Social, mesmo
havendo decréscimo no número de “trabalhadores estudantes”.
Por fim, ressaltamos que os dados identificados em 2010 indicam mudanças no
perfil dos alunos de Serviço Social da UFF/ Campos em relação ao perfil dos
alunos identificado no ano 2000. Entendemos como dimensões destas
mudanças a participação familiar, o trabalho, a assistência estudantil, e o maior
reconhecimento do curso de Serviço Social da UFF/Campos na região e para
além dela, além da crescente conquista de espaço no mercado de trabalho por
parte do Serviço Social.
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Uma análise comparativa entre os estudantes de Serviço Social do