QUEM FOMOS? QUEM SOMOS? Uma análise comparativa entre os estudantes de Serviço Social do ano 2000 e 2010 da UFF/Campos dos Goytacazes/RJ Carlos Antonio de Souza Moraes Professor Assistente – SSC/ESR/UFF E-mail: [email protected] Danielle de Oliveira Almeida Aluna do Curso de Serviço Social- SSC/ESR/UFF E-mail: [email protected] Joelma Candido Bastos Bacharel em Serviço Social/UFF-Campos E-mail: [email protected] Thaynara Moreira Botelho Aluna do Curso de Serviço Social- SSC/ESR/UFF E-mail: [email protected] Thuanny Alves Fonseca Aluna do Curso de Serviço Social- SSC/ESR/UFF E-mail: [email protected] Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada na Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes/RJ, com o objetivo principal de Identificar o perfil sócio-econômico e cultural dos estudantes do Departamento de Serviço Social, analisando as principais dificuldades encontradas pelos discentes, que interferem no processo de ensino-aprendizagem durante sua formação profissional. A partir de tal objetivo, o enfoque ora proposto compara o atual perfil destes estudantes com os da pesquisa realizada nesta mesma Instituição e Departamento no ano 2000. Desta maneira, os eixos abordados ao longo do estudo consideram: aspectos relacionados ao seu perfil, a relação com o curso de graduação em Serviço Social, com a própria universidade, além de seus projetos futuros. Tais análises terão por base estudos nacionais (Moraes, 2010; Finatti, 2007; Gondim, 2002; Zago, 2006; Portes, 2006) e internacionais (Gringnon et.al., 1996; Bisseret, 1975) a respeito da temática em questão. Para tanto, optou-se por desenvolver pesquisa bibliográfica e de campo. Esta ultima foi operacionalizada através de questionários disponibilizados aos alunos de todos os períodos do curso de Serviço Social, além da discussão em grupo focal com um representante de cada período do curso. Os resultados sugerem que eixos como: origem social do discente, família, trabalho e assistência estudantil possuem relação direta com estes estudantes, seja no passado ou no momento atual. Palavras-chave: Estudante, Serviço Social, Perfil. Agradecimentos: Aos alunos, Professores e Coordenadores do curso de Serviço Social, tão receptivos à realização da pesquisa. Trabalho apresentado no 4º Seminário de pesquisa do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional, da Universidade Federal Fluminense - UFF, realizado em Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, em março de 2010 2 I- Considerações Iniciais Desde a década de 1990 identifica-se, sobretudo pelo setor privado, a expansão do nível superior de ensino brasileiro. Esse fator está diretamente relacionado ao aumento quantitativo de cursos de Serviço Social também a partir desta década. No entanto, Larissa Dahmer (2008, p.152) constata que desde 2003 “assistimos à galopante criação de cursos de Serviço Social no Brasil: cerca de 60% (55,9%) deles foram criados a partir do período em questão”. Independente das análises adotadas acerca do crescimento do ensino superior em que se destaca a “explosão” de matrículas, os motivos para tal, a chamada “universidade operacional” (Chauí, 1999), o plano estratégico para reforma emergencial do aparelho do Estado (Pereira, 2008), o que se constata é o crescimento do setor privado na educação superior. Essa informação é corroborada pelos dados disponibilizados pelo censo da educação superior de 2004 ao informar que até outubro deste ano existiam no País 2.013 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo que destas, 88,9% eram privadas (Inep, MEC, 2005). Em 2007, com base no Cadastro Nacional das IES, verificamos um aumento de 385 Instituições de Ensino Superior em relação a 2004, sendo que 89,28% passaram a ser de natureza privada. Por ser um curso da área de humanas, não exigir laboratórios, não necessitar de maiores investimentos, e estar em crescimento em relação ao mercado de trabalho, dentre outros fatores, o Serviço Social também passa por um rápido processo de mercantilização. Larissa Dahmer (2008) ressalta que entre 1930– 1994 os cursos privados de Serviço Social correspondiam a 63, 5% do total, entre 1995-2002 a participação cresce para 90% da totalidade criada neste período, processo que permanece no pós-2003. É importante compreender que tal processo transforma substancialmente o perfil dos cursos, o nível de aprofundamento e discussão teórica, a relação com pesquisa e extensão, dentre outros. Por outro lado, é válido identificar e compreender quem são os usuários destes cursos, ou seja, quem são os alunos que vem se tornando a grande minoria a serem inseridos nas universidades públicas, o que os difere dos demais na atualidade e no passado, qual seu perfil sócio-econômico-cultural... Esse debate acerca do estudante de serviço social foi realizado na Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes/RJ no ano 2000, cujo título do relatório final foi: “Estudante que trabalha ou trabalhador que estuda? Perfil dos acadêmicos do Departamento de Serviço Social de Campos”, coordenado pelas Professoras Denise Juncá e Rita Márcia Paixão. Na ocasião, a pesquisa teve como foco a compreensão do perfil dos alunos e os fatores que interferem em sua formação profissional, havendo uma abordagem direcionada a condição de estudante e trabalhador. Atualmente, estamos desenvolvendo estudos no Grupo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Cotidiano e Saúde (GRIPES), nesta mesma Universidade e Departamento, através do projeto “Da „Universidade‟ dos saberes aos saberes da „Universidade‟: o perfil sócio-econômico-cultural dos acadêmicos de Serviço Social de Campos e os fatores que incidem em sua formação profissional. 3 Tal proposta tem como objetivo central identificar o perfil dos estudantes de tal Departamento, analisando as principais dificuldades encontradas pelos discentes que interferem no processo de ensino-aprendizagem durante sua formação profissional. Diante disso, optamos por priorizar a utilização de questionários com perguntas abertas e fechadas, direcionadas a todos os alunos do curso de Serviço Social da UFF/Campos. No entanto, dos questionários entregues aos discentes, obtivemos a devolução de 149, contabilizando 45,3% dos alunos que se encontravam em sala de aula e responderam à pesquisa. Além disso, realizamos grupo focal com um aluno representante de cada período do curso de graduação. Com base nos dados produzidos e organizados durante o ano de 2010, a proposta deste artigo é, a partir de avaliações preliminares, comparar o atual perfil destes estudantes com os da pesquisa realizada no ano 2000. Sendo assim, as descrições e análises desenvolvidas a seguir compreenderão a identificação do aluno, o perfil sócio-econômico-cultural, dados referentes à graduação em Serviço Social, bem como, seus futuros projetos. II- Entre a lousa e a carteira: identificando o aluno do Serviço Social O movimento iniciado através da pesquisa ora analisada coloca em pauta a necessidade de conhecer ou até mesmo, re-conhecer aquele que circula no espaço acadêmico em busca de formação/qualificação profissional. Por vezes, é este sujeito que reivindica, discute, participa das atividades e questões acadêmicas de maneira mais veemente com objetivo de buscar melhorias à vida universitária. Por outras, ele trabalha durante o dia para ter condições financeiras de dar continuidade a seus estudos, além do trabalho ser fundamental na garantia de seu sustento e/ou de sua família. Este tipo de informação acerca dos discentes não é novidade a nenhum daqueles que fazem parte deste contexto, e não colabora de forma efetiva para mudanças expressivas na realidade acadêmica. Mudanças que garantam uma melhor condição de permanência do discente na universidade pública. Estas afirmações partem do pressuposto de que é necessário conhecer o aluno, suas características gerais, além de dimensões relativas à família, ao trabalho e a própria Universidade. Neste caso, um primeiro aspecto a focalizar é a idade dos estudantes. 4 Não respondeu 1% Gráfico 1: IDADE Até 18 anos 6% Mais de 40 anos 12% 31 a 40 anos 14% 19 a 21 anos 34% 26 a 30 anos 11% 22 a 25 anos 22% Sabemos (Finnatti, 2007, Juncá; Paixão, 2000) que a universidade é um ambiente tradicionalmente freqüentado por jovens, recém egressos do ensino médio. No entanto, os dados demonstram uma tendência a uma clientela diferente: adultos que não tiveram condições de ingressar ou concluir uma universidade, e/ou até mesmo, buscam melhor se qualificar ou novas possibilidades ocupacionais (Leão, 1997). Esses discentes em idades variadas são em 95,2% mulheres, havendo decréscimo de 0,6% no número de homens no curso de Serviço Social em relação à pesquisa produzida no ano 2000, quando registrou-se o índice de 94,6% de mulheres. É válido destacar que estudos como o que Finatti (2007) desenvolveu na Universidade de Londrina (com 3% dos alunos dos 41 cursos de graduação), apontam percentual maior de mulheres em relação aos homens, declarando-se, sobretudo, na condição de solteiros. Este último aspecto também foi confirmado na UFF/Campos tanto na pesquisa realizada no ano 2000 em que se constatou que 70,6% dos alunos eram solteiros, quanto na atual pesquisa em que identificamos que 75% se enquadram neste quesito. Além disso, verificamos que 18% são casados, 4% moram com companheiros e os outros 3% se enquadram em outras opções (como viúvos e divorciados). A grande maioria (81,9%) destes discentes é do Estado do Rio de Janeiro. Além disso, 12,7% são de outras localidades, como: Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia. O restante (5,4%) não informou tal dado e/ou foi anulada sua questão. Naturais do Estado do Rio ou de outras localidades, 55,6% residem na Cidade de Campos dos Goytacazes na atualidade, 8,0% em algum distrito de Campos, como: Travessão e Morro do Coco. Além disso, 20,8% moram em outro Município do Estado, como: São Fidélis, Bom Jesus do Itabapoana, São João da Barra, Itaperuna, Itaocara, Quissamã, Macaé. 14,8% residem provisoriamente em Campos para estudar e 0,8% moram no Estado do Espírito Santo. Estes aspectos foram analisados por Juncá e Paixão em 2000 (p.14) quando ressaltaram que “A proximidade do Rio de Janeiro com o Espírito Santo 5 também contribui para a existência de alunos deste último” no SSC. O fato é que com estes dados, identifica-se que cerca de 30% dos alunos do curso residem na atualidade fora da Cidade de Campos dos Goytacazes/RJ. Se somarmos este percentual com aqueles oriundos de outras localidades, mas que aqui se fixaram, provisoriamente, para estudar, constatamos que 44,4% dos alunos são de outros Municípios e/ou Estados. Estes dados demonstram crescimento relevante no número de alunos do Curso de Serviço Social que são de outras localidades. Acerca deste fato, o relatório da pesquisa realizada no ano 2000 já chamava atenção, visto que nele, se identificou que 22,9% dos discentes eram de outras localidades, demonstrando um alto crescimento em comparação com dados disponibilizados em 1994, quando se constatava que 5,9% dos alunos eram de outros Municípios e/ou Estados. Identificamos em 2010, um crescimento de 39% no número de alunos de outras localidades em relação a 1994 e 21,5% em relação a 2000. Estes percentuais demonstram que a UFF/Campos no curso de Serviço Social vem se tornando referência na região Norte e Noroeste Fluminense e para além dela, ao incluir alunos de outros Estados. Obviamente estas questões trazem implicações para os discentes e para própria Universidade, seja referente a horários e condições de transporte para aqueles que são de fora e chegam a percorrer mais de 100 km para chegarem à UFF, seja no que concerne a alojamento, alimentação e bolsas de assistência estudantil. Fatores já destacados na pesquisa anterior, embora, naquele momento, não se passasse pelo processo de expansão que a UFF/Campos vive na atualidade, através do REUNI. III- Para além da sala de aula: o perfil sócio-econômico-cultural dos acadêmicos de Serviço Social Com o objetivo de identificar o perfil sócio-econômico e cultural dos estudantes do Departamento de Serviço Social de Campos, buscamos neste primeiro momento, compreender a condição de moradia do discente. A esse respeito, identificamos que 84% possuem casa própria; 8% alugada; 7% cedida e 1% se enquadram em outras opções. Independente destas variações, 81% dos alunos do SSC residem com suas famílias, 9% moram em repúblicas, 3% sozinhos, 1% em pensão, 5% marcaram a opção “outros”, variando entre amigos e familiares, e 1% não respondeu. Diante destes dados, percebemos em relação à pesquisa realizada em 2000, aumento de 4,3% no número de alunos que residem em repúblicas. Por outro lado, houve diminuição de mais de 6% (de 87,4% para 81%) referente àqueles que moram com suas famílias. Além disso, a opção “pensão”, não foi registrada na pesquisa anterior. Essas informações corroboram para o fato apontado pela literatura atual: os novos arranjos familiares enquanto combinações diferentes e crescentes em nossa sociedade. A esse respeito, Goldani (1994) ressalta que as famílias brasileiras passam por transformações, sobretudo, a partir do início dos anos 1990 que caracterizam um processo de “modernidade contraditório”. A tendência é de uma diminuição no tamanho das famílias e diversificação dos arranjos domésticos e familiares. Aponta ainda, que a complexidade da vida 6 familiar aumentou devido ao incremento no número de famílias reconstituídas através de separação, casamentos e recasamentos. Essa tendência, em alguns casos, também é verificada na UFF/Campos. Identificamos acentuadas variações em tipo de membros na composição familiar, apesar de haver predomínio da chamada “família tradicional”, formada por pais e irmãos ou cônjuges e filhos (22% dos casos tem filhos) conforme demonstra o gráfico Gráfico 2: Composição da família 1% 24% 1% 9% Não tem família Pai e mãe 31% Pais e irmãos Um dos pais e irmãos 12% Cônjuge 7% 15% Cônjuge/Filhos Outro Nula Já no que se refere às profissões dos pais, identificamos uma variedade de profissões e ocupações. No caso do pai, verificou-se um número considerável daquelas que não exigem nível superior de ensino, como por exemplo: comerciante, pedreiro, pintor, eletricista, motorista, cobrador de ônibus. Por outro lado, também identificamos aqueles que são dentistas, médicos e advogados. Além disso, existiram informações que não foram precisas, declarando apenas que seus pais são aposentados. No entanto, um fator que nos chamou atenção é um índice não negligenciável daqueles que destacaram que os pais são falecidos. No que se refere à mãe, há menores variações neste cenário, já que a grande maioria dos discentes ressaltou que suas mães são “do lar”. Nos casos das que trabalham fora, percebemos que suas profissões exigem especialização em maior proporção que os pais: Professora, Professora universitária, Assistente Social, Técnica em enfermagem, Auxiliar operacional em saúde, Atendente de odontologia... No entanto, estes dados não são suficientes para diagnosticar a questão ora abordada, visto que também existem aquelas que são domésticas, auxiliares de serviços gerais, manicures... Vale ainda ressaltar aqueles que registraram que suas mães são aposentadas (sem especificações maiores) e falecidas. Estas informações sugerem que o grau de escolaridade dos pais dos alunos de serviço social não é tão elevado, conforme podemos verificar nos gráficos abaixo 7 Gráfico 4: Escolaridade do pai 1% 2% 8% 1% Fund. Incompleto 2% 1% 44% 26% Fundamental completo Médio incompleto Médio completo 7% 8% Superior incompleto Superior completo Gráfico 5: Escolaridade da mãe Fundamental incompleto 3% 2% Fundamental completo 4% 1% 11% 2% 4% Médio incompleto 36% 24% 6% 7% Médio completo Super. Inco. Super. Com. Acerca dos dados ora apresentados, de modo geral, ressaltamos que tanto entre as mães, quanto entre os pais (em maior proporção) foi pequeno o percentual de atividades que exigem o nível superior de ensino, apontando para o fato de que “provavelmente este tenha sido um fator a impulsionar a vida escolar dos filhos na expectativa de buscar possibilidades para construção de um „futuro melhor‟” (Juncá, Paixão, 2000, p.17/18). A esse respeito, em relação à família, educação e estudante, a literatura atual destaca o fato de que esta primeira, geralmente, busca assegurar a entrada e a permanência do filho no interior do sistema escolar, influenciando sua trajetória e contribuindo substancialmente para que o filho alcance os níveis mais altos de escolaridade (Portes, 2006). No “trabalho escolar das famílias” (Portes, 2006) a mãe vem apresentando papel fundamental na formação dos filhos desde a escola primária. No ensino superior, nota-se esforço da mãe no que se refere a questões paralelas no decorrer da trajetória do estudante. Seus esforços são para que o filho não exerça trabalho remunerado, já que para as mães, a entrada no mundo do trabalho parece significar um desvio de rota. Se aposta na possibilidade dos filhos processarem conselhos e ajudas das famílias. Estas, que o vêem como merecedor de suas preocupações e conselhos (Moraes et.al., 2010, p.06). Desta forma, o que se percebe é a grande influência da família na formação do estudante desde os níveis iniciais de ensino. A própria origem social exerce forte influência na “escolha1” e acesso às carreiras prestigiosas. Ou seja, quanto mais importantes os recursos dos pais, mais os filhos terão chances de acesso ao ensino superior e em cursos seletivos, mais orientados para diplomas prestigiosos e empregos com melhor remuneração (Grignon e Cruel, 1999, p.183). 1 Falar globalmente de “escolha” implica ocultar questões que envolvem as condições social, econômica e cultural da família e o histórico de escolarização do candidato. Para grande maioria das pessoas não existe “escolha”, mas adaptação/ajuste a sua realidade (Zago, 2006). 8 Obviamente não desconsideramos (Moraes et. al., 2010) a possibilidade de estudantes de camadas populares alcançarem cursos mais seletivos no ensino superior, como apontam Zago (2006), Portes (2006), Muzzeti (1997), Viana (1998), Souza e Silva (1999) em relação ao Brasil; Lahire (1997), Grignon et. al. (1996), Bisseret (1974) no que concerne a França; e Hoggart (1975) no contexto inglês. No entanto, vale ressaltar que enquanto persistirem as desigualdades nos ensino primário e secundário brasileiros, as tentativas de democratização do superior serão inócuas (Gouveia, 1968). Independente do tipo de ocupação/profissão o que se verifica, através dos questionários, é que a situação de trabalho atual das famílias (gráfico: 6) envolve desde menores de 18 anos que trabalham até adultos que não trabalham por opção. Estes fatores são fundamentais para o rendimento familiar (gráfico: 7), conforme podemos visualizar a seguir Gráfico 6: Trabalho e família: situação atual 1% Todos adultos trabalham 19% 0% Não tenho família 1% 33% Alguns adultos trabalham 18% Alguns adultos não trabalham por opção 28% Adultos e menores de 18 anos trabalham Outro S/ resposta A opção “outro” corresponde aos casos de aposentadoria, pensão, “bicos”, auxílios doença... De modo geral, com esta situação atual de trabalho, constatamos os seguintes rendimentos 9 Gráfico 7: Rendimento mensal da família 1% 1% 26% 21% Até 2 salários Mais de 2 a 3 salários Mais de 3 a 4 salários 10% Mais de 4 a 5 salários 13% Mais de 5 salários 28% Nula S/ resposta Identifica-se variado rendimento familiar. Se em alguns casos, indica a necessidade que o aluno tem de trabalhar, já que no gráfico também está incluso os salários daqueles discentes que trabalham, em outros casos, podem contribuir para que se dedique exclusivamente aos estudos ou tenha “apoio” financeiro de seus familiares em momentos em que não esteja trabalhando. Mas qual a situação do aluno em relação ao trabalho? Gráfico 8: Situação do aluno em relação ao trabalho Não trabalha e não procura emprego Não trabalha e procura emprego 3% 1% 2% Trabalha em horário integral 6% 20% Trabalha em horário parcial 17% 17% 11% 2% 21% Trabalha em sistema de escala/plantão Trabalha como bolsista ou voluntário no SSC Trabalha como bolsista no SSC e tem outro emprego Não possui renda própria Nula S/ Resposta 10 O que se identifica é que 54% dos alunos do Serviço Social trabalham. Bem como nas pesquisas realizadas nos anos de 1994 e 2000 acerca do perfil dos alunos do curso de Serviço Social da UFF/Campos, consideramos a atuação enquanto bolsistas como trabalho. Em comparação aos dados produzidos no ano 2000, tivemos um decréscimo de 10,2% de alunos trabalhadores, visto que foi verificado percentual de 64,2% de alunos que trabalhavam naquele período. Se somarmos o índice dos alunos que trabalham na atualidade com os que desejam trabalhar, mas falta oportunidade, constatamos o percentual de 71%. Esta percentagem é a menor encontrada no perfil dos alunos de Serviço Social, tanto no ano de 1994 quando se realizou pesquisa com os discentes deste curso na UFF/Campos e registrou um total de 76,5%, quanto em 2000 quando se identificou o índice de 90,7%. Diante destes dados, um fato a se considerar é que a partir de 1970 pesquisas (Cardoso; Sampaio, 1994) constatam a heterogeneidade do estudantado, demarcando que muitos destes conciliam o trabalho com sua formação universitária. Estes diagnósticos permitiram as seguintes diferenciações afirmadas por Romanelli (1994) acerca do estudante: 1) Estudante em tempo integral: é mantido pela família e se dedica exclusivamente aos estudos, independente do turno (diurno, noturno, integral); 2) Estudante-trabalhador: trabalha, no entanto, ainda é dependente financeiramente de seus familiares; 3) Trabalhador-estudante: além de não depender dos familiares, contribui muitas vezes, para o orçamento doméstico. A família não tem condições financeiras para mantê-lo e/ou não julga a escolarização universitária relevante investimento para o filho. Assim, o estudo depende do investimento, disposição e aspiração pessoal deste último, incentivada, às vezes, pela família. É evidente, diante destas informações, a singularidade expressa em cada história/trajetória destes sujeitos que contribui significativamente para a configuração heterogênea dos usuários do ensino superior no Brasil na atualidade. No entanto, Ruth Cardoso e Helena Sampaio (1994) vislumbram significativas semelhanças quando pesquisam a distribuição dos estudantes que trabalham por curso: (...) nos cursos da área de humanidades e de ciências sociais aplicadas, os estudantes trabalhadores são a grande maioria. Eles chegam a 72% nos cursos de administração de empresas, 71,3% no de pedagogia, 68,8% no curso de direito e 62,9% no de filosofia. No caso do Serviço Social da UFF/Campos, 66% dos alunos possuem rendimento mensal entre 1 a 3 salários mínimos, prevalecendo aqueles que recebem até 1 salário (36%). Trabalham, sobretudo, para o sustento pessoal (22%), estudar (20%) e arcar com os gastos pessoais (20%). No entanto, também existiram aqueles que ressaltaram que trabalham para auxiliar no orçamento familiar (13%), sustentar a família (5%) e por opção (5%). O restante (15%) não respondeu, teve sua questão anulada, ou se enquadrou em outras opções que conjugavam mais de uma situação citada anteriormente. Se compararmos o rendimento dos discentes com o total obtido mensalmente pela família, verificamos que há importante participação dos pesquisados no orçamento doméstico. No entanto, este mesmo rendimento é considerado 11 insuficiente por alguns pesquisados, sendo motivo de satisfação parcial com o trabalho que exercem. O que indiretamente viemos discutindo ao longo deste artigo é que a realização de trabalho remunerado produz conseqüências à vida do estudante. Por exemplo, o fato de 54% dos alunos de Serviço Social trabalhar pode contribuir para que disponham de recursos para realização de cursos extracurriculares, no entanto, faltar-lhes tempo suficiente para inserção em tais cursos. Por outro lado, aqueles que não trabalham, geralmente possuem tempo para freqüentarem cursos extracurriculares, porém, nem sempre possuem recursos financeiros para custear seus gastos. Esses fatores são relevantes ao constatarmos que 86% dos alunos de Serviço Social não freqüentam cursos extracurriculares. Enquanto que 7% já freqüentaram e não freqüentam mais, sobretudo, por falta de tempo ou questões financeiras, 6% estão freqüentando e 1% teve sua questão anulada. Dos que já freqüentaram e/ou freqüentam outros cursos, os mais citados foram: inglês, espanhol e informática. Estes dados também foram verificados na pesquisa realizada no ano 2000, quando se percebeu um total de 85,3% de alunos que sequer iniciou outros cursos extracurriculares. As coordenadoras da pesquisa sinalizaram que este fato está relacionado a interesse e possibilidades de acesso aos cursos, que no caso, eram limitados. No Brasil, alguns estudos têm verificado que as atividades extracurriculares (Capovilla, Santos, 2001) e o ambiente acadêmico (Fior, Mercuri, 2003) são importantes para o desenvolvimento pessoal dos estudantes universitários, sobretudo, no que diz respeito ao raciocínio reflexivo e competência social (Pachane, 2003). Se na UFF/ Campos, nem sempre tem sido possível os alunos recorrerem a cursos extracurriculares, outros meios de informação se tornam necessários para manter-se atualizado. Gráfico 9: Principal meio de informação 3% 2% 4% 7% Jornal Televisão 33% Rádio Livros 46% pessoas Internet 3% S/ informação S/ resposta 1% 1% Nula Diferente da pesquisa realizada no ano 2000 em que a televisão era o principal meio de informação dos alunos (48,4%), seguida pelos jornais (23,3%), em 12 2010, os dados demonstram a internet como principal meio de informação (46%), seguida pela televisão (33%). Outro fato a se destacar é que 3% dos alunos consideram não serem pessoas informadas sobre questões da atualidade, quando em 2000 estes dados estavam em torno de 1,8%. O índice atual (3%) nos permite problematizar o caráter comprometedor da falta de informações acerca de questões da atualidade, visto que as demandas recebidas pelos profissionais de Serviço Social em sua prática profissional são frutos das diferentes manifestações da questão social, desta forma, um dos principais requisitos a atuação profissional é o conhecimento e informação da realidade, com objetivo de buscar melhores alternativas à seu fazer, na garantia dos direitos dos usuários. Enquanto meio de informação, no que se refere aos livros, identificamos um baixo percentual de leitura, no entanto, este índice aumenta quando questionamos o número de volumes lidos nos últimos 12 meses (excluindo-se a bibliografia do curso de serviço social). Gráfico 10: Quantidade de Livros lidos nos últimos 12 meses 14% 19% 12% Um Dois a três 11% Quatro a cinco 44% Mais de cinco Nenhum Mesmo não sendo específicos do Curso de Serviço Social, os livros selecionados abordam, prioritariamente, temáticas relacionadas ao mesmo, já que em 36% se relacionam a problemas sociais, 29% educação e cultura, 18% política, 4% esportes, 2% economia e 11% outros, prevalecendo o campo da auto-ajuda. A respeito da leitura dos alunos, Finatti (2007), em pesquisa realizada na UEL, registrou percentual negativo, além de não possuírem o hábito de comprar livros, visto que existem facilidades no acesso a literatura através de fotocópias. Por outro lado, Juncá e Paixão (2000, p.20) ressaltam que “o acesso a livros pode estar sendo dificultado pela falta de condições financeiras para adquirilos, somada às limitações existentes nas bibliotecas disponíveis na região”. Além disso, a falta de tempo pode se constituir também como fator de influência para um grupo de pesquisados, já que acumulam funções de aluno, trabalhador, além de realizarem funções domésticas, quando não estão estudando, conforme destacamos. 13 Gráfico 11: Como ocupa o tempo quando não está estudando 1% 14% 3% 3% Trab. Domés 42% Trabalho não doméstico Lazer/esporte 15% Faz nada Outro 22% S/ resposta Nula Os dados demonstram que poucos alunos participam de atividades de lazer/esporte e até as atividades em grupo, que são valorizadas por muitos, acabam sendo deixadas de lado. A esse respeito, constatamos que 51% nunca participaram de atividades coletivas, enquanto 17% participaram e não participam mais, sobretudo, por falta de tempo e desmotivação. E 32% participam de atividades religiosas, grupo de jovens, associação de moradores, diretório, grupo de dança e mútua ajuda. A participação dos alunos em atividades coletivas é de grande relevância para sua formação enquanto assistentes sociais, na medida em que o atual projeto profissional do Serviço Social destaca a construção de uma nova ordem societária, para isso, há necessidade da organização e participação do cidadão. Diante disso, questionamos o que poderia revelar o pouco envolvimento dos alunos em atividades grupais. Este questionamento também está embasado no fato de que 41% dos discentes têm como principal expectativa em relação ao curso de serviço social, a formação/qualificação para ingresso no mercado de trabalho. Desta maneira, cabe compreender: “a participação em atividades coletivas não seria necessária a tal formação? Estariam os acadêmicos do SSC imersos a questões imediatas de estudo e trabalho?” É válido ressaltar que estes questionamentos estão se reproduzindo ao longo dos anos, já que Juncá e Paixão (2000, p. 20, 21) nos traziam estas reflexões no ano 2000. No entanto, o próximo item contribuirá ao abordar mais diretamente dados referentes a graduação em serviço social, além dos projetos dos alunos. IV- O aluno e o curso de serviço social Dar conta de todas as leituras exigidas pelos professores, visto que os materiais são muitos e também trabalhamos, damos atenção a família, mantemos nossa vida social, não sobrando tempo necessário para me dedicar a faculdade como gostaria. (Depoimento de aluno (a), 7º período). 14 Ao longo deste item, veremos que a “falta de tempo” ressaltada no depoimento anterior é uma das principais dimensões que dificultam o aproveitamento do aluno no curso, no entanto, também fica evidente em suas falas a necessidade de maior planejamento não apenas do curso de serviço social, bem como, do próprio aluno em relação às suas atividades. Afinal, cursar o ensino superior em uma Universidade Federal traz implicações que precisam ser avaliadas pelos discentes. Esta informação consubstancia um novo questionamento: Qual o principal motivo de escolha do curso de serviço social? Quase todos os alunos deste curso já tiveram que responder a esta pergunta, seja na própria Universidade, nos primeiros dias de aula, quando perguntados pelo (s) Professor (s), ou entre amigos e familiares... Em nossa pesquisa, o principal motivo de escolha do curso foi a chamada vocação (28%), seguida pelo fato da Universidade ser pública (26%) e pela possibilidade de maior empregabilidade (17%), conforme ressalta o gráfico a seguir Gráfico 12: Motivo de escolha do curso de S.S. Vocação 6% 17% Progressão funcional 27% Por ser universidade pública Por ser curso noturno 11% Influência da família 4% 4% 26% 2% Cultura geral Maior empregabilidade Outro S/ resposta Estes dados trazem informações surpreendentes, na medida em que demonstram que um grupo de alunos dispõe de certo grau de conhecimento acerca do curso capaz de possibilitar o escolher para se qualificarem e seguirem esta carreira. Nestes casos, compreendemos que a vocação também não é escolhida, porém não seria correto dizer que me encontro com ela; antes ela me encontra, me chama, e correlativamente a descubro; não me é imposta, e sim apresentada, e embora não esteja em minhas mãos ter ou não ter essa vocação, permaneço frente a ela com uma essencial liberdade: posso segui-la ou não, ser fiel ou infiel a ela. (Marías, 1983, p.24 apud Brandão, s/a). Além disso, aliada a esta constatação, a universidade pública e gratuita também se torna veículo fundamental de escolha do curso. Essas informações também foram identificadas na pesquisa realizada em 2000, quando se constatou, sobretudo, que a universidade pública era o principal motivo de escolha do curso (44,1%), seguida pela vocação (20,1%). 15 Por outro lado, os discentes ressaltam que o curso de serviço social possui algumas vantagens. Destas, percebe-se que algumas apresentam particularidades da formação profissional, enquanto outras podem ser pensadas e generalizadas a outras categorias profissionais de nível superior. Gráfico 13: Vantagem oferecida pelo curso Diploma superior 4% 1% 10% Expectativas em relação ao mercado de trabalho 21% Conhecimento crítico da realidade 9% 19% 35% Técnicas para ajudar o povo Melhorar a situação financeira Melhorar a vocação Não tenho condições de avaliar Apesar de apresentar vantagens, no curso de serviço social também existem fatores que dificultam a melhoria no aproveitamento do discente. Podemos ressaltar que existe uma heterogeneidade no que se refere a este assunto. No entanto, como vimos no depoimento inicial, “a falta de tempo para estudar” se apresenta como o principal dado citado pelos alunos (16%), acompanhado das “aulas à tarde” (14%), de ter que “trabalhar durante o dia” (12%), de o curso ter “muita teoria e pouca prática” (12%), além da “estrutura precária” em que se encontrava a universidade no período pesquisado (12%) – mês de junho de 2010. Além destes fatores, outros demonstram relevância, como: a “exigência de muita leitura” (11%), “residir em outro município” (8%), o “tipo de aula dada” (7%), o “meio de transporte para chegar à Universidade” (3%), a falta de apoio da família (1%) e outros motivos (4%), foram os apontados entre os alunos. Acerca destes dados, as autoras do relatório da pesquisa realizada no ano 2000, avaliam que a “falta de tempo” já era a maior preocupação dos alunos (24%) e se tornava fator que colaborava para que tivessem maiores problemas com a aprendizagem. Quando questionados acerca dos fatores que mais interferem na qualidade do processo de ensino-aprendizagem do SSC, a falta de tempo mais uma vez foi a mais indicada pelo coletivo. O gráfico abaixo demonstra outros dados que sugerem a necessidade de se pensar não apenas o discente, suas responsabilidades e dedicação, enquanto fatores fundamentais no processo de formação profissional, mas também o currículo, o planejamento do curso (aulas, estágio, disciplinas), dentre outros. 16 Gráfico 14: Fatores que interferem na qualidade do ensino aprendizagem do SSC Tipo de curriculo 1% 1% 10% Recursos disponíveis 0% Comprometimento do aluno 17% 10% 13% 8% 20% 20% Alunos trabalhadores com pouco tempo para estudo Dinâmica das aulas Competência dos professores Planejamento e realização do estágio Outros S/ resposta Nula “Movidos por distintas expectativas, nem sempre admitindo a existência de uma vocação profissional e tendo que enfrentar tantas dificuldades durante o curso de graduação” (Juncá, Paixão, 2000, p.50), estes alunos vêem a possibilidade de exercer a profissão como “crescimento pessoal” (41%), a realização de sua vocação (23%), necessário à sobrevivência (12%), além de indicarem “outras alternativas” - que conjugam mais de uma destas opções (12%), ajudar as pessoas (11%), nula (1%). Dados também identificados na pesquisa do ano 2000. Para finalizar, ressaltamos que estes discentes demonstram certo planejamento de sua vida profissional pelo fato de 61% dos entrevistados terem perspectivas após terminar a graduação. Os depoimentos as seguir ilustram esta constatação: “Fazer mestrado após me formar e exercer a profissão” (3°º período) “Concurso público e fazer residência em saúde” (7º período) “Montar uma firma de consultoria e fazer mestrado e pós” (7º período) Estes depoimentos demonstram que as expectativas dos estudantes quanto a seu futuro profissional são otimistas, fato também verificado por Teixeira e Gomes (2004) em pesquisa realizada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com discentes dos cursos de Farmácia e Odontologia. É importante compreender que o término da Universidade se traduz em uma nova fase da vida, marcada pela tentativa de exercer a profissão escolhida. No entanto, os recém formados vem encontrando dificuldades em relação ao 17 mercado de trabalho. Nestes casos, a nítida redução de empregos acaba por responsabilizar o indivíduo pelo seu sucesso ou fracasso profissional, exigindo, além do diploma, “características pessoais, competências específicas, redes de relações, além de sua capacidade de ajustar-se a diferentes demandas de trabalho”. (Teixeira, Gomes, 2004, s/p). Para finalizar, ressaltamos que a conclusão do curso universitário, envolve não apenas a possibilidade de independência financeira em relação à família (para uns), além de seu estabelecimento na vida adulta, mas também, o momento de reavaliação das escolhas realizadas, experiências vividas, além da antecipação do que está por vir, em termos profissionais e pessoais. V- Algumas considerações finais As análises iniciais acerca do estudante atual de Serviço Social da UFF/Campos em comparação com os discentes do ano 2000 apresentam dados que retratam a identificação, o perfil (social, econômico e cultural) dos discentes, além de sua relação com a universidade. Além de identificarmos que a maioria dos discentes são mulheres (95,2%), solteiros (70,6%), com idade variada (de menos de 18 anos a mais de 40 anos) e possuem casa própria (84%), percebemos um crescimento de 39% (em relação a 1994) no número de alunos que são de outras localidades (Estado e Município) e que estudam na UFF/Campos, e 21,5% em relação ao ano 2000. Além disso, os dados indicaram que sua composição familiar envolve variadas combinações, consubstanciando os chamados “novos arranjos familiares” apontado pela literatura atual (Gondani, 1994) como mudanças processadas, sobretudo, a partir de 1990. Neste contexto, identificamos a baixa escolaridade dos pais dos discentes, em que tanto o pai quanto a mãe, possuem em maior proporção (pai: 44%; Mãe: 36%) o ensino fundamental incompleto, realizando diferentes tipos de atividades profissionais. Porém, um índice que chama atenção em relação à pesquisa atual é o fato de 54% dos alunos trabalharem. Se considerarmos a percentagem daqueles que desejam trabalhar, mas falta oportunidade, constatamos o índice de 71%. Quando comparamos estes dados com os da pesquisa realizada no ano de 1994 e 2000, acerca do perfil de alunos do Serviço Social de Campos, constatamos o índice mais baixo de “estudantes trabalhadores” ou “trabalhadores estudantes” na atualidade, visto que em 1994 registrou-se a percentagem de 76,5% e, em 2000, 90,7% dos alunos trabalhavam. Diante disso, é possível verificar que as classificações afirmadas por Romanelli (1994) acerca do “estudante em tempo integral”, “estudante trabalhador”, e “trabalhador estudante” são verificadas na UFF/Campos no curso de Serviço Social, no entanto, é possível afirmar o decréscimo no número de “trabalhadores estudantes”, variando na atualidade, entre estes e os “estudantes trabalhadores”, apesar de também haver um número considerável de “estudantes em tempo integral”. O fato é, na atualidade, pelo aumento no número de bolsas acadêmicas, e pelo próprio rendimento mensal familiar (21% recebe mais de 5 salários mínimos), existe uma tendência de crescimento no número de “estudantes trabalhadores” e “estudantes em tempo integral”, apesar do elevado número de “trabalhadores estudantes” no curso de Serviço Social. 18 São estes estudantes que ressaltam ser a “vocação” o principal motivo de escolha do curso de Serviço Social. Se a entendemos enquanto um convite, um chamado à liberdade e responsabilidade do homem, cabendo-lhe atender ou não (Marías, 1983), podemos compreender que estes futuros profissionais possuem maiores possibilidades de exercício crítico e comprometido com a profissão. No entanto, se a vocação (27%) os convidou a escolha do curso, além de ser uma universidade pública (26%), a “falta de tempo” é destacada como o fator que mais dificulta o aproveitamento do aluno no Serviço Social, mesmo havendo decréscimo no número de “trabalhadores estudantes”. Por fim, ressaltamos que os dados identificados em 2010 indicam mudanças no perfil dos alunos de Serviço Social da UFF/ Campos em relação ao perfil dos alunos identificado no ano 2000. Entendemos como dimensões destas mudanças a participação familiar, o trabalho, a assistência estudantil, e o maior reconhecimento do curso de Serviço Social da UFF/Campos na região e para além dela, além da crescente conquista de espaço no mercado de trabalho por parte do Serviço Social. VI- Bibliografias consultadas BISSERET, Noelle. Les inégaux ou La sélection universitaire. Paris: Presses universiaires de France, 1974. Capovilla, S. L. & Santos, A. A. A. (2001). Avaliação das influências de atividades extramuros no desenvolvimento pessoal de universitários. Psico USF, 6, 49-57. CARDOSO, Ruth C. L.; SAMPAIO, Helena. Estudantes universitários e o trabalho.RBCS, n° 26, outubro de 1994. CASTANHO, Maria Eugênia. Universidade à noite: fim ou começo de jornada? Campinas, SP: papirus, 1989. FINATTI, Betty Elmer. Perfil sócio, econômico e cultural dos estudantes da Universidade Estadual de Londrina-UEL- Indicadores para implantação de uma política de assistência estudantil. 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