GRANDE
ÁREA O TRABALHO
INVISÍVEL
Exemplos de informação que
Fernando Santos recebe “na hora” - à
esquerda: ficha de observação para
um futebolista, ainda em branco; em
cima: resumo da atuação de Cristiano
Ronaldo frente ao Celta de Vigo, a 24
de outubro; à direita: vista gráfica dos
tempos de utilização de Cédric Soares
e Cristiano Ronaldo
Três bases de dados ligadas entre si, todos os treinos
registados, 109 jogadores no radar de observação, 150 jogos
vistos, ao vivo ou na TV. Com informação disponível na
hora sobre o que fez cada potencial selecionável. Conheça
o processo que ajuda às tomadas de decisão de Fernando
Santos na escolha dos jogadores para a Seleção Nacional
Na época de 2007/2008, Fernando Santos liderava a equipa técnica
do PAOK Salónica. Antes de determinado jogo, quis saber quantas
vezes o árbitro dessa partida tinha apitado a sua equipa. Ricardo
Santos, um dos adjuntos, encontrou a resposta, mas teve de cruzar
elementos constantes em ficheiros de diferentes tipos: Excel,
Word, Access, etc.
“Nesse momento decidi desenvolver uma base de dados integrada
que nos permitisse responder a qualquer questão em segundos,
no máximo em minutos”, explica Ricardo, cuja formação de base é
a Educação Física, não propriamente os sistemas computacionais.
Do trabalho desenvolvido durante “cerca de um ano”, na
plataforma Filemaker Pro Advanced, da Apple, resultaram não
uma, mas três bases de dados que desde então sustentam toda
informação da equipa técnica do atual Selecionador Nacional.
Uma delas trata do registo diário de trabalho e inclui programas
de treinos, fichas de jogos, fichas individuais de jogadores com
informação desportiva, clínica e individual (até os aniversários
saltam à vista no primeiro ecrã!), exercícios-tipo a partir dos quais
se constrói cada sessão de treino – um mundo de informações
“todas cruzadas entre si e altamente pesquisáveis, com um tempo
de resposta de um segundo após a definição da pesquisa”.
Ricardo Santos dá um exemplo do detalhe: escolhe aleatoriamente
um jogador (calhou José Fonte) e “pergunta” à base de dados
quantas vezes treinou ele com a Seleção depois das 10h30.
Resposta: 18.
18
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TEMPO DE JOGO
Uma segunda base de dados serve para registar os tempos de
utilização e os golos (marcados ou sofridos) de cada um dos 109
jogadores que desde setembro de 2014 até setembro de 2015 estiveram
sob observação da equipa técnica nacional. Este número de atletas
é variável e ao longo do apuramento para o França-2016 foi subindo,
embora, dado o caráter dinâmico das escolhas, seja difícil determinar
a percentagem desta subida.
Esta segunda base de dados é atualizada diariamente e apresenta
resultados rápidos e simples, em gráfico ou em listagem.
futebolista. “Normalmente são as duas notas muito aproximadas, mas
eu, por exemplo, nunca vejo a média aritmética antes de dar a minha
nota, para não correr o risco de ficar condicionado.”
Estes relatórios são produzidos na hora, na maior parte das vezes com
recurso à aplicação mobile do programa. Desde que exista acesso à
internet, são imediatamente disponibilizados numa dropbox à qual
toda a equipa tem acesso. Contando com o acerto do relatório e o
tempo de exportação do ficheiro, Fernando Santos sabe o que fez cada
jogador cerca de dez minutos depois de o jogo terminar.
Este sistema de observação da equipa técnica nacional estará,
brevemente, integrado no Programa Global das Seleções – PGS,
ferramenta desenvolvida há vários anos pela Divisão Desportiva da
FPF e que já é utilizado para algumas destas vertentes. A prazo, toda
a estrutura técnica federativa poderá operacionalizar o seu trabalho
numa base comum, dos sub-15 aos AA, em masculinos e femininos,
em futebol de onze futsal ou futebol de praia.
O futuro é já aqui…
REGISTADO!
É na terceira base de dados, a das fichas de observação, que reside
boa parte do segredo do sucesso de todo este trabalho. Aqui, cada
um dos 109 jogadores do “radar” tem a sua ficha individualizada com
avaliações relativas a cada jogo em que é observado por um elemento
da equipa técnica.
Entre 29 de setembro de 2014 e 29 de setembro
de 2015 Fernando Santos, Ilídio Vale, João
Fernando Santos recebe no gabinete João Carlos Costa,
Carlos Costa, Ricardo Santos e Fernando
Ilídio Vale, Ricardo Santos e Fernando Justino para mais
Justino viram exatamente 150 jogos – a maioria
uma reunião de trabalho
dos quais in loco, na chamada observação
direta. “Falamos aqui dos jogos que planeamos
especificamente observar, claro que o número
aumenta exponencialmente ao longo da época,
porque vemos vários jogos quase todos os
dias”, anota Ricardo Santos.
Ao criar um novo relatório de observação
de jogo, o técnico abre uma ficha para cada
jogador em observação. Ao escolher o sistema
tático da equipa e clicar na posição do atleta,
surgem-lhe de imediato os parâmetros que
depois terá de avaliar de 1 a 5. Além destas
“notas”, que todas juntas resultam numa
média aritmética, o observador atribui ainda
uma nota qualitativa global, subjetiva, a cada
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19
1 ANO > 150 JOGOS
113 jogos de observação direta, 37 indireta
Taça de Portugal
3
Escócia
1
Supertaça Cândido de Oliveira
1
Espanha
11 (1 indiretas)
Liga NOS
47 (2 indiretas)
França
7 (2 indiretas)
Segunda Liga
7
Inglaterra
9 (5 indiretas)
Taça da Liga
2
Itália
1
Pré-época
9 (8 indiretas)
Polónia
1
Liga dos Campeões
15 (2 indiretas)
Rússia
9 (8 indiretas)
Liga Europa
15 (3 indiretas)
Turquia
9 (4 indiretas)
Ucrânia
3 (2 indiretas)
109 JOGADORES OBSERVADOS
54 A JOGAR EM PORTUGAL
55 A JOGAR NO ESTRANGEIRO
—
FAIXAS ETÁRIAS COM MAIS JOGADORES:
17/22 E 25/30 ANOS
20
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OS
OUTROS
Jogadores, treinadores (incluindo scouting)
e dirigentes são as faces mais visíveis nas ações
da Seleção Nacional. Mas cada comitiva tem muito
mais elementos. E não é por acaso. Conheçamos
um pouco melhor o trabalho invisível que também
contribuiu (e muito) para mais este apuramento
DIVISÃO DESPORTIVA
É o centro de comando de todas as operações relacionadas com a
Seleção A, bem como com qualquer uma das 20 Seleções Nacionais.
Todos os departamentos da FPF envolvidos numa ação dos AA,
aliás, respondem no terreno à Divisão Desportiva, sejam ou não
organicamente dependentes dela na estrutura federativa.
O planeamento e a logística de cada operação são a face mais evidente
do trabalho desta equipa, liderada pelo diretor Carlos Godinho,
presença assídua, há vários anos, nas concentrações da Seleção.
Todo o planeamento de cada ação é sustentado por um software
exclusivo e original, pertença da FPF, chamado “PGS” (“Programa
Global das Seleções”), no qual desde o primeiro minuto é registado
e enquadrado cada movimento após o sorteio da competição.
O conhecimento dos locais dos treinos, as temperaturas, as
distâncias e tempos de deslocação, segurança, os possíveis efeitos
de jet lag, as viagens, os hotéis e os contactos com FIFA, UEFA e
federações adversárias são o core business da Direção Desportiva. E
há igualmente o trabalho durante o estágio: necessidades pontuais,
compras de última hora, desbloqueio de alguma situação imprevista.
“Se as federações adversárias disserem onde vamos jogar na datalimite, de 90 dias antes do jogo, começamos a planear tudo aí. Mas
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FPF360
“INVISÍVEIS”
muitas vezes sabemos antes e começamos logo a trabalhar”, explica
Carlos Godinho.
SEGURANÇA
É parte integrante do planeamento de cada viagem, dentro ou fora
de Portugal. Nas comitivas da Seleção A estão sempre integrados um
elemento da PSP e um da GNR.
Nos jogos de qualificação realizados fora de casa pelo menos um
dos elementos viaja com 48 horas de antecedência para o destino,
garantindo todos os contactos com as autoridades locais de segurança
e aeroportos.
COZINHEIROS
Também iniciam o trabalho 90 ou mais dias antes de cada operação.
Mantêm contactos antecipados com os cozinheiros dos hotéis
onde a equipa estagia e um deles viaja, igualmente, com 48 horas
de antecedência a fim de assegurar que tudo está preparado para a
chegada da equipa.
UNIDADE DE SAÚDE E PERFORMANCE
Criada há pouco mais de um ano, agrega o trabalho de médicos,
fisioterapeutas, enfermeiros, massagistas e fisiologistas.
Em cada um dos sete estágios foram transportados, dentro ou fora do
País, 400 quilogramas de bagagem médica, num total de 2,8 toneladas
para toda a fase de apuramento do França-2016.
Esta unidade, além de monitorizar diariamente a atividade dos treinos
e qualquer questão física de cada jogador, produzindo relatórios
internos e externos (enviados aos clubes) após cada operação,
é igualmente responsável pela elaboração das ementas: ao todo,
nesta fase de qualificação, planearam 5928 almoços e jantares, 2964
pequenos-almoços e 5928 lanches e ceias.
ROUPARIA
Muitos quilogramas de bagagem, muitas horas de antecedência na
chegada a aeroportos, hotéis, campos de treino e de jogo. A vida dos
técnicos de equipamentos em cada estágio da Seleção Nacional é
vivida “de sol a sol”. Habitualmente integram a comitiva dois ou três
elementos desta secção dependente da Divisão Desportiva.
Em média, para cada estágio dos AA, seguem os seguintes materiais de
rouparia:
JOGO
TREINO
80 camisolas
70 calções
50 pares de meias
30 casacos hino
40 camisolas lycra
30 calções lycra
150 toalhas
150 sweats
150 T-shirts
150 calções
60 calças
100 pares de meias
30 casacos impermeáveis
MATERIAL DE APOIO
PASSEIO
10 bonecos barreiras
12 barreiras pequenas
30 estacas
100 coletes
40 bolas
100 fatos de treino
150 pólos
80 calções
200 pares meias
60 blusões de frio
DIVISÃO DE PESSOAS E MEDIA
Em cada operação da Seleção A estão presentes um ou dois assessores
de imprensa, elementos destacados pela Divisão de Pessoas e
Media, responsável pelas áreas institucionais da comunicação e da
informação da FPF.
Acresce ainda um fotógrafo oficial e um técnico de audiovisuais, que
trabalha quer para a equipa técnica, no apoio à filmagem de treinos e
jogos, quer para os departamentos referidos, produzindo conteúdos
para as várias plataformas de informação e comunicação da FPF.
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