introdução à língua brasileira de sinais - libras Profa. Renata Alves Orselli 1* * Possui bacharel em Direito pela Universidade Braz Cubas (1999), graduada em Letras com licenciatura em língua portuguesa e língua inglesa pela Universidade Braz Cubas (2006). Especialização em Língua Portuguesa pela PUC/SP (2008). Aperfeiçoamento em Capacitação de Educação Especial - UMC/SP. Libras no Instituto de Educação para Surdos SELI/SP, no Centro Educacional Cultura Surda - SP/SP e no Trabalho de Apoio ao Deficiente Auditivo - TRADEF/MC. Mestre em Semiótica, Tecnologia da Informática e Educação na Universidade Braz Cubas - UBC. Atualmente docente da Universidade Braz Cubas – UBC, Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ ministrando aulas de Libras e Língua Portuguesa na graduação, nos cursos de extensão e no ensino a distância – EAD presencial e virtual. Tem experiência na área de Letras com ênfase em Morfossintaxe. Ministra aulas de francês/português em empresas e escolas por mais de 12 (doze) anos e no ensino de computação/português para surdos oralizados e não-oralizados. Voluntária da escola da família na Escola Estadual Dr.Morato de Oliveira na cidade de Suzano ministrando aulas de LIBRAS para surdos, ouvintes e professores da rede de ensino. Sumário APRESENTAÇÃO 7 INTRODUÇÃO 9 Unidade I O INÍCIO DA HISTÓRIA... 11 1.1 Retrospectiva da Educação de Surdos no Brasil 11 1.2 O preconceito contra os deficientes auditivos 15 1.3 Cultura surda e cidadania Brasileira 16 1.4 A LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002, DISPÕE SOBRE A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS 18 1.5 Fisiologia do ouvido (ou orelha) humano 20 1.6 Causas da Surdez 21 1.7 Níveis de Audição 23 1.8 Perda Auditiva 24 1.9 A LÍNGUA PORTUGUESA NA LUSOFONIA 25 1.9.1 O Brasil no mundo da Lusofonia 26 1.10 LÍNGUA E IDENTIDADE: UM CONTEXTO DE POLÍTICA LINGUÍSTICA28 1.11 A Importância da Língua Portuguesa como segunda língua 31 1.12 Um projeto em desenvolvimento: O ensino de Português como segunda língua 33 1.13 Batismo do sinal pessoal 34 1.14 Língua Gestual 37 1.15 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE I 42 3 Sumário 3 U n i d a d e II O QUE É LIBRAS 47 2.1 Os sinais 47 2.2 A Língua Brasileira de Sinais e seus parâmetros de articulação 48 2.3 Expressões: facial e corporal dos sinais 50 2.3.1 Materiais produzidos e utilizados no ensino de Libras e da língua portuguesa 51 2.3.2 Material didático usado no aprendizado dos surdos/ouvintes no ensino de Libras e da língua portuguesa. 2.4 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE II 60 62 U n i d a d e III ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 65 3.1 Características da Língua de Sinais 65 3.2 Construção e formação da Libras 66 3.3 SINAIS E SUAS CONFIGURAÇÕES 69 3.3.1 ORIENTAÇÃO ESPACIAL 69 3.3.2 Leitura dos movimentos das figuras (sinais) 71 3.4 Formas de cumprimento 74 3.5 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE III 76 Unidade IV AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 4 Sumário 81 4.1 Algumas diferenças entre a Libras e o Português 81 4.2 Pronomes interrogativos 81 4.3 Pronomes indefinidos 82 4.4 Adjetivos 83 4.5 Advérbio de Tempo 83 4.6 Língua portuguesa e a língua brasileira de sinais: uma breve análise. 85 4.6.1 As diferenças verbais entre a Língua Portuguesa e a Libras 86 4.6.2 Quando a Língua Brasileira de Sinais e o Português são semelhantes 89 4.6.3 Tempos e aspecto verbais 97 4.6.4 Tempo e aspecto em Libras 98 4.7 Características das línguas de sinais 110 4.7.1 Língua de sinais encontrada em cinco continentes 111 4.7.2 Representações gestuais da língua de sinais 112 4.8 Pronomes Pessoais 120 121 4.8.1 Gênero Masculino e Feminino 4.9 Números e dias da semana 125 4.9.1 Números cardinais 125 4.9.2 Números ordinais 127 4.10 MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A TECNOLOGIA PARA OS SURDOS 134 4.11 O mundo é das palavras 135 4.12 O QUE É SIGNWRITING? 138 4.13 SignWriting - Escrita de Sinais 139 4.14 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE IV 144 REFERÊNCIAS 147 5 Sumário 5 APRESENTAÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Bem-vindo(a) à disciplina de Introdução a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS! É um prazer tê-lo(a) como aluno(a). Entraremos no universo de uma comunidade diferente da nossa, porém tão rica como a dos ouvintes. Os surdos percebem e elaboram o mundo apenas por meio do olhar, enquanto nós, ouvintes, percebemos este mesmo mundo usando a percepção visual associada à auditiva. Essa diferente condição fará com que, indivíduos com iguais potenciais tenham visões diferenciadas de um mesmo mundo. O bom aprendiz de libras é aquele que exercita os sinais aprendidos repetidas vezes. Por isso, não tenha vergonha de imitar o professor, pois no início é difícil movimentar os dedos. Alguns exercícios estarão disponíveis no final da leitura, visando melhorar o aprendizado e a fixação. 7 Apresentação 7 Lembre-se que a consulta periódica à plataforma, links, Podcast, webaula e o acompanhamento das teleaulas complementarão o entendimento adequado dos temas abordados. Espero que você aprecie a leitura. Bom estudo! Profa. Renata Alves Orselli 8 Apresentação INTRODUÇÃO As línguas são convencionais e surgem de condições variadas. Ela só se realiza ligada histórica e culturalmente a uma comunidade de usuários. Não existe língua se não existirem os sujeitos da língua. Isso significa que aprender uma língua vai além do aprender o conjunto de regras ou normas que a rege, aprender uma língua é mergulhar no espaço em que ela vive. Este material está dividido em 4 unidades ilustradas com exercícios para facilitar o aprendizado e a memorização. Em cada unidade foi colocado um pouco da cultura surda e um pouco da língua que habita esse mundo. Portanto, fique atento(a) às dicas que complementam o seu aprendizado durante a leitura. 1. Retrospectiva da Educação do surdo no Brasil - Nesta reflexão parte-se da trajetória da educação do surdo no Brasil, isto é, desde os primeiro indícios da língua gestual até os dias atuais. A mesma unidade ressalta as leis que oficializaram a Libras como língua materna, garantindo a inclusão de pessoas com necessidades especiais nas instituições de ensino e as causas de surdez. Veremos como se dá o batismo do sinal, a língua e a identidade do surdo, bem como a importância da Língua Portuguesa para a formação e inclusão social do surdo no meio em que está inserido. Por fim, vamos aprender a datilologia das palavras por meio do alfabeto manual. 2. O que é Libras? - Neste livro faremos uma imersão ao mundo dos surdos, serão verificados alguns aspectos estruturais, expressão não manual/corporal da língua de sinais e suas particularidades, e materiais para o ensino da Libras e da língua portuguesa. 3. Aspectos estruturais da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Serão apresentados orientação espacial e classificadores, estes aspectos são responsáveis pelas configurações de alguns sinais e formas de cumprimento. 4. As convenções da Libras - Aqui serão descritas a formação e a construção da língua, isto é, a formação de verbos, pronomes, adjetivos, números ordinais 9 Introdução 9 e cardinais, dias da semana, variações linguísticas, novos vocabulários, signwrinting e os meios de comunicação e tecnologia para os surdos. 10 Introdução 1 Unidade I O INÍCIO DA HISTÓRIA... OB JET IVOS D A UN ID A D E • Identificar as diferentes terminologias (surdo, mudo e deficiente auditivo); • Conhecer a cultura e identidade da comunidade surda. HAB IL IDADE S E C O MP E T Ê N C IA S • Identificação e aplicação dos Princípios da Inclusão para o desenvolvimento da competência cognitiva – aprender a aprender. • Fundamentação das ações da Libras para o desenvolvimento da competência produtiva – aprender a fazer. • Desenvolvimento do trabalho em equipe para o desenvolvimento da competência social – aprender a conviver. • Estímulo ao respeito à diversidade como riqueza cultural para o desenvolvimento da competência pessoal - aprender a ser. Retrospectiva da Educação de Surdos no Brasil 1.1 O mais antigo registro que menciona sobre “Língua de Sinais” é de 368 a.C, escrito pelo filósofo grego Sócrates, quando perguntou ao seu discípulo: “Suponha que nós, os seres humanos, quando não falamos e queríamos indicar objeto, uns para os outros, nós o fazíamos como fazem os surdos mudos, sinais com as mãos, cabeça e demais membros do corpo?” Unidade 11 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 11 A comunicação por sinais foi a solução encontrada também pelos monges beneditinos da Itália, cerca de 530 d.C, para manter o voto do silêncio. Mas pouco foi registrado sobre esse tema ou sobre os sistemas usados por surdos até a Renascença, mil anos depois. Até o fim do século XV, não havia escolas especializadas para surdos na Europa porque, na época, os surdos eram considerados incapazes de serem ensinados. Por isso, as pessoas surdas foram excluídas das sociedades e muitas tiveram sua sobrevivência prejudicada. Existiram leis que proibiam o surdo de possuir ou herdar propriedades, casar-se, votar como os demais cidadãos. A grande mudança aconteceu com o Abade de L´Épée, na França em 1755. Não somente pelo reconhecimento da língua gestual, mas, sim, pelas portas que ele conseguiu abrir em benefício dos surdos. Abade aprendeu a língua utilizada pela comunidade surda parisiense e a partir dela desenvolveu uma suposta língua gestual universal, estruturada de acordo com a sintaxe da língua francesa, que ele próprio inventou para representar as inflexões, os tempos, os artigos etc. Com a insistência de L´Épée em sua metodologia (publicada em 1776, a “Institution des sourds-muets”, que apresenta seu sistema de “sinais metódicos”), ele conduziu muitos alunos surdos a terem acesso à cidadania, pela primeira vez na história da cultura ocidental. No início do século XX, Pintner afirmou que os surdos são intelectualmente inferiores aos ouvintes em várias áreas da cognição: inteligência, memória e pensamento abstrato. Referiu-se, ainda, às dificuldades de compreensão na comunicação e na inter-relação social dos surdos. Desde então, muitos ouvintes confundem a habilidade de falar, com a voz, com a capacidade intelectual desta pessoa, talvez seja porque a palavra “fala” esteja etimologicamente ligada ao verbo/pensamento/ação e não simplesmente ao ato de emitir sons articulados. Em 1855, foi fundada a primeira escola para surdos no Brasil, a Imperial Instituto de surdos-mudos (atual INES - Instituto Nacional de Educação dos Surdos). Era uma mistura da Língua de Sinais Francesa, trazida por Ernest Huet com a língua de sinais brasileira antiga, já usada pelos surdos das várias regiões do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais. 12 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... Em 1880, em Milão, foi realizado o Congresso Internacional de Surdo-Mudez e ficou definido que o melhor e o mais adequado método para o ensino dos surdos seria o método oral, pois somente através da fala ele poderia ter um desenvolvimento pleno. Assim, a língua oral é uma condição básica para a aceitação em uma comunidade majoritária de ouvintes. Segundo Skliar (1997), o congresso constituiu não o começo da ideologia oralista, senão sua legitimação oficial. As consequências dessa filosofia educacional, o oralismo, foi um fracasso acadêmico. Para Sacks (1990, p.45), o oralismo e a supressão do sinal resultam numa deterioração dramática das conquistas educacionais da criança surda. Deve-se compreender que as escolas podem ser um dos fatores de integração ou desintegração das comunidades surdas, dependendo da metodologia adotada. Se uma escola rejeita a língua de sinais, as crianças surdas que estudam nesta escola ou não vão conhecer a comunidade surda de sua cidade e, consequentemente, não aprenderão uma língua de sinais, ou poderão se integrar com os surdos de sua cidade somente após a adolescência. Felizmente essa situação mudou e hoje podemos contar com profissionais surdos, homens e mulheres, que estão se destacando também na área de educação. Unidade 13 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 13 14 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... Dica de Leitu r a A história da surdez é, portanto, a história da luta dos surdos na busca de um espaço como sujeitos sociais, com direito a educação e a saúde assim como os ouvintes. Para aprofundar o conhecimento dessa história, indicamos a leitura dos livros a seguir: CAPOVILLA, F.C. e RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue: língua de sinais brasileira - LIBRAS. Volumes I e II. São Paulo: Edusp, 2009. SÁ, R. L. de. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: Ed. da Ufam, 2002. O preconceito contra os deficientes auditivos 1.2 Tanya (2001) remete-se para tratar da questão que envolve integração do deficiente auditivo em sociedade a uma época em que existiam leis que proibiam o surdo de possuir ou herdar propriedades, casar-se e votar, como os demais cidadãos. Daquela época até hoje, muitos ouvintes confundem a habilidade de falar com voz com a inteligência. Pode-se até indagar o quanto o pensamento está diretamente ligado ao poder da fala, mas é absurdo imaginar que uma deficiência física específica possa alterar a capacidade de abstração de um ser humano. Com este pensamento, chegamos à conclusão de que uma vez que o deficiente auditivo tenha o domínio da Língua Portuguesa, este deve ter todos seus direitos preservados. E mais: deve ter toda a possibilidade de recursos para se aprimorar e desenvolver novas qualidades. O deficiente auditivo não tem deficiência intelectual, isto é, sua capacidade de aprendizado é a mesma de qualquer ouvinte. O fato é que, pela dificuldade de comunicação, o surdo não tem acesso às mesmas informações que o ouvinte tem. A linguagem visogestual tem como finalidade, exatamente, dar ao deficiente a possibilidade de se comunicar e interagir com o mundo, como o ouvinte, assim, podendo ter acesso à educação e às informações para sua formação. Unidade 15 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 15 1.3 Cultura surda e cidadania Brasileira Normalmente um grupo predominante, como os das pessoas ouvintes, julgamse superiores aos grupos minoritários, como os dos surdos, ainda mais neste caso em que o ouvinte goza do privilégio da habilidade da audição que não está disponível ao surdo. Esquecemos que cada indivíduo possui características próprias, com habilidades extraordinárias em campos distintos, além de deficiências em relação aos outros. O surdo, por sua vez, também possui suas habilidades, independentemente de sua deficiência auditiva, podendo ser considerado um indivíduo comum, como qualquer outro, apenas com uma deficiência mais característica. A falta de audição, necessariamente, não trata de uma perda, mas de uma diferença, pois muitos surdos, especialmente os congênitos, não tiveram a sensação de perda auditiva. Devemos romper o paradigma da deficiência e perceber as restrições de ambos os lados, tanto do surdo, quanto do ouvinte. Por exemplo: o ouvinte não consegue se comunicar debaixo d’água, em local barulhento, a menos que grite. Já o surdo se comunica sem problemas em ambos os lugares. Atualmente vivenciamos um momento de grandes conquistas, em que grupos socialmente excluídos, entre eles os surdos, estão cada vez mais integrados na comunidade, lutando por seu espaço e empreendendo esforços gigantescos para garantir sua cidadania. Muitas leis foram e estão constantemente sendo aprovadas pelo Congresso Nacional para dar suporte legal, priorizando a inclusão e a promoção humana, a partir do direito de ser diferente no contexto da sociedade brasileira. Um marco significativo que demonstra o avanço das conquistas dos movimentos surdos está mencionado no Decreto Lei nº 5.626, de 22 de Dezembro de 2005, que regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, dispondo sobre a Língua Brasileira 16 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... de Sinais – Libras. O art. 3º trata da inclusão da Libras como disciplina curricular, que será obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, em instituições de ensino, públicas e privadas. O art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, reconhece a Libras como idioma das comunidades surdas do Brasil. Entretanto, essas novas conquistas precisam ser traduzidas em ações que permitam aos surdos o acesso aos saberes sistematizados por ouvintes e, ao mesmo tempo, os ouvintes precisam ter acesso aos saberes produzidos pelos surdos ao longo da história da humanidade. Um desses saberes dos surdos é a própria Língua Brasileira de Sinais – Libras - que já está no Decreto e Leis acima mencionados. A importância de uma língua está exatamente no fato de que ela serve de forma de comunicação. Não existiria sentido se não fosse por isso. A comunicação entre os homens tem sido a peça mestre no desenvolvimento e evolução do ser humano e suas culturas. Sem a troca e o armazenamento de cultura e experiência nunca chegaríamos à evolução científica, social e, por que não dizer, moral dos povos. A Língua Portuguesa, por sua vez, representa a nossa cultura nacional e proporciona toda a chance e oportunidade que um indivíduo tem para conquistar uma carreira profissional e, assim, ter uma acessão social, cultural e econômica. O deficiente auditivo necessita, como qualquer outro indivíduo, de uma linguagem de comunicação e o aprendizado da Língua Portuguesa é essencial para que possa usufruir da mesma sorte de oportunidades. A Língua Brasileira de Sinais entrou em vigor a partir da lei n.10.436 de 24 de abril de 2002, que decretou e sancionou como meio de comunicação e expressão LIBRAS como forma ideal para o professor ensinar a Língua Portuguesa, pois é comprovadamente a melhor forma de comunicação com o deficiente auditivo. Como discute Lemle (2002 p.83), a língua de sinais parece contribuir para que isso ocorra no texto de aprendizes surdos, pelas características de sua estruturação sintática. Unidade 17 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 17 A LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002, DISPÕE SOBRE A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS 1.4 Descreveremos a lei, que instituiu a Língua Brasileira de Sinais, suas intenções e analisaremos os benefícios que a sociedade terá com a sua aplicação. Em seu Art. 1º, a lei 10.436 reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Libras, sendo um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. No 2º Artigo, ela garante, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias, formas institucionalizadas de apoio ao uso e difusão da Libras. Os artigos 3º e 4º tratam dos direitos do deficiente auditivo, como de assistências, tanto médica como educacionais por serviços públicos federais, estaduais e municipais. Dá garantia de inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudióloga e Magistério, em seus níveis médio e superior, sendo parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs. Também menciona que a Língua Brasileira de Sinais não poderá substituir a modalidade escrita da Língua Portuguesa. Esta lei entrou em vigor na data de sua publicação, dia 24 de abril de 2002, e foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e então pelo Ministro da Educação, Paulo Renato Souza. 18 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... Podemos considerar dois aspectos diferentes no conteúdo da lei. O primeiro visa garantir e integrar o cidadão portador de deficiência auditiva no mais amplo aspecto de direitos civis, garantindo-lhe o direito de atendimento médico em qualquer serviço público, ressaltando sua equidade social de acordo com as normas legais gerais e oficializando a Libras como uma linguagem visual-motora oficial do Brasil, isto é, dando a ela um aspecto patriótico e cultural. Em outro aspecto, a lei oficializa a garantia da inclusão do deficiente auditivo, tanto no ensino do nível médio como no superior, nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e Magistério, assim, abrindo portas de formação e profissão a todos os deficientes auditivos. A lei 10.436 tem como objetivo o progresso de uma sociedade, que sabidamente é formada por pessoas de características diferentes uma das outras. O preconceito em relação à qualificação do deficiente físico é superado e transformado em garantia de oportunidade na formação e atendimento a estas pessoas. Desta forma, dá-se um passo à frente na qualidade de vida, não subsidiada pelo governo, isto é, pela própria sociedade, mas sim, conquistada pelo próprio esforço e trabalho, que remunera o deficiente e aumenta o potencial de mão-de-obra de um país inteiro. Dessa maneira, o surdo terá garantida por lei a mesma oportunidade e poderá, com a Língua Portuguesa, ter um avanço profissional, possibilitando sua inclusão e participação na sociedade, além de ter um melhor acesso ao mundo que vive. Dica de Leitu r a Para ver na íntegra essa lei, acesse o link no AVA. Unidade 19 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 19 1.5 Fisiologia do ouvido (ou orelha) humano O homem tem dois ouvidos que ajudam a escutar. Apenas um deles trabalhando sozinho não consegue fazer isso bem. O cérebro precisa comparar e contrastar ruídos, volume e o tempo dos sons dos dois ouvidos para que os sons tenham um sentido. O sistema auditivo humano pode ser dividido em duas partes: Periférico e Central. O Sistema Auditivo Periférico é formado pela Orelha Externa, Média e Interna. A Orelha Externa é formada pelo pavilhão auricular (conhecida como orelha), conduto auditivo externo, o qual é totalmente fechado pela membrana timpânica (Tímpano). Na Orelha Interna localiza-se a cóclea (responsável pela audição) e o vestíbulo e canais semicirculares (responsáveis pelo equilíbrio). A cóclea tem a forma de um caracol e o seu interior é preenchido por líquidos onde encontramos pequenas células, chamadas de células ciliadas, as quais mantêm um íntimo contato com as fibras do nervo auditivo. Este por sua vez, envia os impulsos nervosos para o cérebro, permitindo-nos percebê-los como som. O ouvido humano http://www.aparelhosauditivosecia.com.br/surgimento-aparelhos-auditivos.html Acesso 19/04/2011 às 19:36 20 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 1. O som (sons ambientais, ruídos e a fala) é captado pelo pavilhão auricular, atravessa todo o conduto auditivo externo e choca-se contra o tímpano (2), pondo-o em movimento. 2. Como o tímpano está preso aos três ossículos da orelha média, através do martelo, todo o sistema, tímpano e ossículos, vibra fazendo com que o som alcance os líquidos da cóclea (3). 3. Na cóclea o som alcança as células ciliadas e estas o transformam em impulsos nervosos estimulando as fibras do nervo auditivo (4). Daí estes impulsos chegam ao cérebro onde os interpretamos. Em resumo: o som é captado pela nossa orelha (ouvido externo) entra no ouvido médio e se depara com o tímpano, fazendo-o vibrar. O tímpano é uma membrana bem fina e muito sensível. Essa vibração do tímpano se transfere, por meio de contato, para os três ossículos que estão “ligados” ao tímpano (bigorna, martelo e estribo) que passam a vibrar e transferem essas vibrações para o ouvido interno, (caracol e canal semicircular) onde o som é transformado em impulsos elétricos. Esses impulsos elétricos são conduzidos ao cérebro pelo nervo auditivo, o cérebro recebendo esses impulsos elétricos irá interpretá-los e distingui-los como “som” que nós ouvimos. 1.6 Causas da Surdez A deficiência auditiva tem origens diversas. Causas pré-natais (antes do parto): • Hereditárias; • Malformações congênitas, adquiridas pelo embrião devido a infecções virais Unidade 21 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 21 ou bacterianas intra-uterinas (ex.: rubéola, sarampo, sífilis, citamegalovirus, herpes simplex, toxoplasmose); • Intoxicações intra-uterinas (ex.: quinino, álcool, drogas); • Alterações endócrinas (ex.: patologias da tiróide, diabetes); • Carências alimentares (ex.: vitamínicos); • Agentes físicos (ex.: raios X); • Causas pré-natais (durante o parto); • Traumatismos obstétricos (ex.: hemorragias do ouvido interno ou nas meninges); • Anóxia; • Incompatibilidades sanguíneas (do fator RH que podem provocar danos no sistema nervoso central); • Causas pós-natais (depois do parto e no decurso da vida do indivíduo); • Doenças infecciosas; • Bacterianas (ex.: meningites, otites, inflamações agudas ou crônicas das fossas nasais e da naso-faringe); • Virais (ex.: encefalites, varicela); • Intoxicações (ex.: alguns antibióticos, ácidos acetilsalisílico, excesso de vitamina D que pode provocar lesão com hemorragia ou infiltração calcária nas artérias auditivas); • Trauma acústico (ex.: exposição prolongada a ruídos nos locais de trabalho ou em recintos de diversão; sons de elevada intensidade e de curta duração, 22 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... tais como: nas explosões e na caça; diferenças de pressão, como no caso dos mergulhadores); • Causas desconhecidas ou idiopáticas. 1.7 Níveis de Audição Os níveis utilizados para caracterizar os graus de severidade da deficiência auditiva podem ter algumas variações entre os diferentes autores. Segundo o critério de Davis e Silverman (1966), os graus de severidade se subdividem em: 1. Audição normal: a pessoa ouve bem o tic-tac de um despertador (até 24 decibéis); 2. Deficiência auditiva leve: a pessoa não ouve o tic-tac do despertador, mas escuta um sussurro (de 25 a 40 decibéis); 3. Deficiência auditiva moderada: neste estágio a pessoa só consegue escutar sons mais altos como o de uma sala de trabalho (escritório) e tem muita dificuldade de falar no telefone (de 41 a 70 decibéis); 4. Deficiência auditiva severa: a pessoa precisa de um som tão alto quanto o barulho de uma impressora rotativa (de 71 a 90 decibéis); 5. Deficiência auditiva profunda: a pessoa só ouve ruídos como os provocados por uma turbina de avião (120 decibéis), disparo de revólver (150 decibéis) e tiro de caminhão (200 decibéis). Este grau de severidade é classificado acima de 90 decibéis. Unidade 23 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 23 Mas segundo o decreto n° 3.298, de 20 de dezembro de 1999, a deficiência auditiva é perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando de graus e níveis: a) De 25 a 40 decibéis – considerado surdez leve; b) De 41 a 55 decibéis – considerado surdez moderado; c) De 56 a 70 decibéis - considerado surdez acentuada; d) De 71 a 90 decibéis - considerado surdez severa; e) Acima de 91 decibéis – considerado surdez profunda; f) Anacusia (ausência total de audição). 1.8 Perda Auditiva De todos os sentidos, provavelmente a audição é o seu mais importante órgão de comunicação. Mesmo enquanto dormimos, os ouvidos continuam funcionando. O processo de perda auditiva é lento e progressivo. Em geral, a família é quem nota os sintomas primeiro por ter que repetir as coisas mais de uma vez ou deixar o volume da televisão muito alto. É importante que, assim que os sintomas aparecerem, recorra-se a um especialista para que se inicie o uso do aparelho auditivo, pois o ouvido pode não estar mais acostumado a ouvir sons de intensidade normal. Em outras palavras, o ouvido se esquece de como ouvir. Assim, pessoas com perdas auditivas são consideradas deficientes auditivos e as pessoas com perda auditiva profunda são chamadas de surdas. Porém, pode-se dizer que por muito tempo as leis que classificavam os direitos dos surdos eram a mesma 24 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... para todos os graus de surdez, mas a partir de 2002 foi criada a lei Art. 1º, a lei 10.436 reconhecendo a língua de sinais como meio legal de comunicação especifica para a comunidade surda estabelecendo seus direitos tanto na educação como na saúde, reconhecendo a Libras como língua materna e como segunda língua brasileira. DIC A DE C ON S ULTA O exame da orelha poderá ajudar a criança ter melhor desenvolvimento e aprendizagem quando a surdez tem um diagnostico precoce. Consulte o link no AVA para saber mais sobre o exame da orelha. 1.9 A LÍNGUA PORTUGUESA NA LUSOFONIA A Língua Portuguesa, juntamente com o espanhol, catalão, francês, italiano, romeno, vem se transformando através dos séculos. Elas surgem do latim, o que explica serem referidas como línguas românicas ou neolatinas, constituindo uma única família linguística. O latim tem origem na região do Lácio onde, em 711 a.C, fundou-se Roma, e pertence ao tronco linguístico originário do indo-europeu, falado pelos árias ou arianos. As migrações desse povo, que deixou seu território em diferentes tribos entre o século XV e XX a. C., ocuparam novas regiões da Europa e parte da Ásia, provocando a disseminação de sua língua. Estudos realizados pelo filólogo alemão Franz Bopp no começo do século XIX demonstram, pelo método da gramática comparada, que quase todas as línguas faladas na Europa e na Ásia provêm do indo-europeu, que atesta por diversos fatos fonéticos, morfológicos e sintáticos a existência do indo-europeu. Com a dispersão do povo ariano, verificou-se o fracionamento do indo-europeu em diversos ramos: o germânico, o itálico, o eslavo, o grego, o céltico etc., e distribuídas em regiões que vão da Europa Ocidental até a Índia. Unidade 25 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 25 A difusão do latim se expande com o Império Romano dando inicio à história da Língua Portuguesa pelo processo de romanização da península ibérica, iniciada em 197 a.C. Após a queda de Roma, ocorre a invasão árabe. Em decorrência dessa invasão, a formação da Língua Portuguesa ganha força com um movimento para a expulsão dos árabes e pela influência político-cultural, o que a tornou polo de resistência e irradiação do cristianismo. Com a reconquista da península, os árabes são expulsos e Portugal fixa sua capital, Lisboa, em 1255. As grandes navegações, que deram origem ao descobrimento, em particular, o descobrimento do Brasil, por Pedro Álvares Cabral, em 1500, estabelecem importantes definições geopolíticas do mundo ocidental e a difusão da Língua Portuguesa. 1.9.1 O Brasil no mundo da Lusofonia A etimologia da palavra LUSO-FON-IA (Buyold, 2008) é explicada como LUSOdo latim, lusu- relativo a lusitano, Português, relativo a Portugal. A Lusitânia era uma das três províncias romanas da Hispânia (Península Ibérica) que correspondia ao que é hoje o Sul do Douro em Portugal e à Estremadura espanhola. Os lusitanos eram um dos povos que habitavam esse território na época pré-romana; sendo considerados os descendentes de uma legendária personagem chamada Luso. FON- do grego “som”; “voz”; “palavra”; língua -IA: sufixo de origem grega que se emprega sobretudo com substantivos abstratos, derivados de adjetivos e que designam uma qualidade ou defeito, ou a capacidade ou um estado. Assim sendo, lusofonia, quer dizer, etimologicamente, a qualidade abstrata do lusófono que tem a capacidade de falar a língua dos lusos, lusíadas ou portugueses. 26 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... Linguística e culturalmente, a palavra lusofonia designa também uma comunidade linguística ou uma comunidade de todos os indivíduos que têm em comum a Língua Portuguesa e que, através dela, partilham aspectos culturais comuns. Assim, pode-se falar de uma lusofonia mundial. Mais ou menos integrados nesta comunidade estarão os que falam Português como segunda língua ou estrangeira. Elas estão presentes em países, regiões, estados ou cidades falantes da Língua Portuguesa como Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e por diversas pessoas e comunidades em todo o mundo. A Língua Portuguesa, com mais de 215 milhões de falantes nativos, é a quinta língua mais falada no mundo e a terceira mais falada no mundo ocidental. É o idioma oficial de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, GuinéBissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, sendo falada na antiga Índia Portuguesa (Goa, Damão, Diu e Dadrá e Nagar-Aveli), Macau e Guiné Equatorial, além de ter também estatuto oficial na União Européia, no Mercosul e na União Africana. Nos séculos XV e XVI à medida que Portugal criava o primeiro império colonial e comercial europeu, a Língua Portuguesa se espalhou pelo mundo, estendendo-se desde as Costas Africanas até Macau, na China, ao Japão e ao Brasil, nas Américas. Como resultado dessa expansão, o Português é agora língua oficial de oito países independentes, além de Portugal, e é largamente falado ou estudado como segunda língua noutros. Há, ainda, cerca de vinte línguas crioulas de base portuguesa. É uma importante língua minoritária em Andorra, Luxemburgo, Paraguai, Namíbia, Suíça e África do Sul. Encontram-se, também, numerosas comunidades de emigrantes, em várias cidades em todo o mundo, onde se fala o Português como Paris na França; Toronto, Hamilton, Montreal e Gatineau, no Canadá; Boston, New Jersey e Miami nos EUA e Nagoya e Hamamatsu no Japão. Depois de cinco séculos da colonização, nos primeiros anos do 2o milênio, a sociedade brasileira se apresenta como maior nação de falantes da Língua Portuguesa. Assim como os outros idiomas, o Português sofreu uma evolução histórica, sendo influenciado por vários idiomas e dialetos até chegar ao estágio conhecido atualmente. Deve-se considerar, porém, que o Português de hoje compreende vários dialetos e subdialetos, falares e subfalares, muitas vezes bastante distintos, além de dois padrões Unidade 27 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 27 reconhecidos internacionalmente (Português brasileiro e Português europeu). No momento atual, o Português é a única língua do mundo ocidental falada por mais de cem milhões de pessoas com duas ortografias oficiais. Distribuição geográfica - Em destaque, países e regiões onde o Português é língua oficial1 LÍNGUA E IDENTIDADE: UM CONTEXTO DE POLÍTICA LINGUÍSTICA 1.10 As concepções da língua são divididas em três pressupostos: 1. a relação entre unidade linguística e unidade política e o processo de identidade e nacionalidade; 2. a difusão de língua(s) por meio de instrumentos controlados, usados pelo ensino, ambientes naturais ou estrangeiros; 3. a capacitação em línguas, mediante programas específicos de formação. 1 28 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesa acesso: 10/01/2010 às 22:00. Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... A primeira se dá na utilização efetiva tanto em escala nacional, quanto em escala mundial, isto é, quanto mais a língua é utilizada mais ela é viva, e se não usada corre o risco de sua extinção, assim, o seu uso determina o grau de revitalização. Por outro lado, o mundo globalizado e capitalista está inserido em um mercado internacional e multiculturalista, por consequência, num canteiro linguístico, onde a política e a economia são usadas por meio das línguas oficializadas no âmbito dos Estados. A língua materna é aquela que aprendemos em casa e que temos como inata. Ao ingressar na escola, o primeiro objetivo é ensinar a ler e a escrever, nossa língua maternal (oral) já é dominada a língua materna (oral), a capacidade de comunicar e construir frases complexas com qualquer falante da Língua Portuguesa. No entanto, é na primeira série escolar que o aluno deverá adquirir as habilidades de leitura e escrita, mas, na realidade o número de crianças que são reprovadas sem saber escrever ou ler corretamente é muito grande. Assim, as aulas de Português não deveriam se reduzir em “aulas gramaticais”; no lugar delas, deveria haver a aplicação de um material variado (jornal, revista, literatura etc.) em alta escala. Possenti (2001, p.143,144) afirma que o ideal é a “escrita constante, várias vezes por dia, todos os dias, narrativas, cartas etc. Muita leitura e muita escrita, simplesmente porque é assim que se aprende”. Sobretudo os professores que atuam hoje e que têm formação de mais de vinte anos “aprenderam, na universidade, a considerar a língua como um fenômeno homogêneo, iniciando-se numa gramática formal (sobretudo estrutural), e tomando a sentença como seu território máximo de atuação” (Castilho, 1998 p.12). Com as novas propostas e teorias lançadas por diferentes correntes da linguística contemporâneas, a reação dos professores são de espanto e perplexidade e, em muitos casos, de recusa total. Em consequência à rejeição de um novo sistema de ensino, os professores que atuam nos cursos universitários e que entram em contato com essa nova proposta científica não conseguem transformar em instrumento pedagógico efetivo para uso em sala de aula. Mesmo que alguns terminem seus cursos e queiram renovar o ensino Unidade 29 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 29 da língua materna, vão entrar em choque com as estruturas de um sistema educacional obsoleto, pouco flexível e muito burocrático, de forma que acaba frustrando os novos educadores. Em detrimento ao fracasso que ocorre nas instituições de ensino em relação à língua materna, foram feitos inúmeros trabalhos contendo discussões e propostas para uma melhoria efetiva nessa terrível situação em que se encontra o ensino no Brasil. Coseriu (1979) enfatiza a sua tríplice oposição que colabora em derrubar o conceito rígido do sistema linguístico. Ele cita que neste conjunto de fatores que impedem a prática pedagógica de ter sucesso está na compreensão restrita sobre o caráter dinâmico da língua e sua diversidade. Coseriu afirma ser possível fazer a distinção na língua de três séries de características, conforme o grau de abstração e de formalização: 1. as características concretas, variáveis e invariáveis, dos fatos linguísticos observados nas infinitas manifestações individuais – a fala; 2. as características normal, comum e mais ou menos constante, independentemente da função específica dos objetos – primeiro grau de abstração: a norma; 3. as características indispensáveis, isto é, funcionais – segundo grau de abstração: o sistema. Tendo em vista que a norma gramatical é obsoleta e antiquada, não se pode simplesmente substituir essa norma tradicional por outra atualizada, uma vez que a função da escola não é ensinar a gramática, e sim introduzir um novo conceito que vem sendo desenvolvido nas áreas da linguística e da educação, o conceito de letramento. Segundo Soares (1999, p.3), letramento é: 30 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... “Estado ou condição de quem não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e de escrita que circulam na sociedade em que vive, conjugando-as com as práticas sociais de interação oral...” A autora ressalta que a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que vive e para o indivíduo que aprende a usá-la. Diante disso, o ensino deve ter como objetivo levar o aluno a adquirir um grau de letramento cada vez mais elevado, desenvolver nele varias habilidades e um comportamento de leitura e escrita. O ensino tradicional no Brasil limita-se a ensinar a escrita e a leitura aos alunos que estão iniciando o seu alfabetizado, tornando o uso da gramática tradicional mecânica, descontextualizadas, artificial e incoerente. Segundo Soares (1998, p.18), o problema não é só ler e escrever, mas levar a criança ou adulto a fazer o uso da leitura e da escrita envolvendo práticas sociais de leitura e escrita. A Importância da Língua Portuguesa como segunda língua 1.11 No mundo atual, o conhecimento tornou-se a maior riqueza para um ser humano. A capacidade de processar esses conhecimentos e, com isso, produzir algo, é o que faz o homem moderno sobreviver financeiramente, suprindo suas necessidades básicas ou indo muito além disso. Este homem moderno é formado pela sua educação, ou seja, pelo ensino ao qual teve acesso, seja por investimento do Estado, no caso do ensino público, ou por conta própria ou familiar, no caso do ensino privado. A formação profissional de uma pessoa começa na infância e segue por toda vida, mas é imprescindível que a educação nesta infância seja eficiente, principalmente no que tange o ensinamento da língua pátria e a comunicação efetiva. O aprendizado da Língua Portuguesa, para nós, brasileiros, é o primeiro passo para que toda uma gama de possibilidades futuras seja concretizada, podendo, a partir deste Unidade 31 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 31 conhecimento, qualquer pessoa adquirir e/ou desenvolver novos conhecimentos em campos até distantes da própria língua, como exatas ou biológicas. Mas, como formar um médico sem que este, em algum momento, tenha aprendido o Português e, com isso, estudado diversos livros? Podemos transferir esta questão aos deficientes. Como formar profissionais portadores de deficiência auditiva sem que este tenha acesso a informações escritas e desenvolvidas por outras pessoas? Uma vez entendida a importância do aprendizado da Língua Portuguesa, tanto para ouvintes como para surdos, veremos que conforme Fromkin e Rodman (1993), a (...) língua de sinais assemelha-se às línguas orais em todos os aspectos principais, mostrando que verdadeiramente há universais da linguagem, apesar de diferentes na modalidade em que a língua é realizada. A aquisição da segunda língua tem três propriedades que se manifestam na aquisição da língua materna: 1. a universalidade, que corresponde ao fato de que, em condições normais, todas as crianças adquirem uma língua natural; 2. a uniformidade, que se refere às semelhanças no processo de aquisição a despeito das consideráveis diferenças nos estímulos do ambiente; 3. a rapidez, que se define em comparação com a manifestação de outras habilidades como o raciocínio com números, entre outras. Essas propriedades sugerem que a aquisição da linguagem não é um processo de imitação, mas deve-se à manifestação de um conhecimento linguístico inato – a faculdade de linguagem – em face da exposição e dados linguísticos primários. Essa aquisição é semelhante à habilidade de dirigir carro, tocar um violão, que são aprendidas por meio de instrução, estratégias para solucionar problemas. Já a aquisição de língua oral-auditiva para os surdos remete a questões complexas, tanto no ponto de vista cognitivo como cultural, social e afetivo. Pode-se comparar a aquisição da língua de sinais para os surdos da mesma forma para os ouvintes 32 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... que estão aprendendo a Língua Portuguesa, isto é, os resultados são semelhantes na apresentação mental e linguística, e no desenvolvimento nas habilidades cognitivas. Portanto, é desejável que o surdo aprenda uma segunda língua da comunidade em que vive, mesmo sabendo que implicaria uma criança surda aprender uma língua oral, isto é, adquirir propriedades no nível fonológico e prosódico que o seu aparato auditivo está impedido de aprender. No entanto, essa criança poderá ter acesso à representação gráficas dessas propriedades, que é a escrita da língua oral. Assim, o letramento é o ponto de partida na aquisição da língua oral pelo surdo, o que remete ao processo psicolinguístico da alfabetização e à explicitação e construção das referências culturais da comunidade letrada. Um projeto em desenvolvimento: O ensino de Português como segunda língua 1.12 Em virtude dos problemas de aprendizado nas escolas, foi desenvolvido um projeto de ensino do Português como segunda língua na área de educação, com a intenção de contribuir e projetar a Língua Portuguesa no mundo. O Departamento de Linguística da Universidade de Brasília, desde 2000, vem tomando medidas na educação com fins acadêmicos que é a Língua Portuguesa que tem como objetivo principal a pesquisa conjunta que conduza os especialistas a desenvolverem métodos e técnicas adequadas como língua materna. Essa responsabilidade está no âmbito da Licenciatura em Português do Brasil como segunda língua. Foi elaborado o Programa de Gestão para Implantação da Língua Portuguesa que reúne um conjunto de ações cuja base é a pesquisa acadêmica com vistas à difusão do Português por meio do ensino que é destinado aos falantes nacionais ou estrangeiros de outras línguas. Para que essa proposta seja levada em diante, é necessária a formação de um grupo de trabalho que se proponha a resolver os problemas linguísticos de comunidades em que o Português é língua não materna ou estrangeira. Para que uma comunidade seja alvo, deverá ter domínio de outra língua Unidade 33 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 33 que não seja o Português. Um dos grupos - Comunidade de Língua Brasileira de Sinais - visa ao desenvolvimento dos surdos brasileiros pelo meio ensino sistemático da Língua Portuguesa ao lado da Língua Brasileira de Sinais. Assim nasce a tarefa de instaurar o bilingüismo nas comunidades de usuários de Libras, cujo processo é de médio a longo prazo. O conhecimento para ensinar Português, como uma segunda língua, a falantes da Libras tem como fundamento o fato de que a aquisição de uma língua natural se processa de acordo com métodos próprios, em função da natureza das línguas envolvidas. Este processo de aquisição é semelhante, quer nas línguas verbais, quer nas línguas gestuais, utilizando apenas modalidades de produção e percepção diferentes: “O homem nasce com a capacidade inata para a linguagem e a sua aquisição processa-se de forma natural, desde que este esteja inserido num meio linguístico adequado” (Amaral, Coutinho & Martins, 1994, p. 41). 1.13 Batismo do sinal pessoal Cada pessoa pode ter seu sinal em Libras. O ato de “dar um sinal” a uma pessoa recebe o nome de batismo. Possuidora de um sinal próprio, a partir daí, sempre que for apresentada a um surdo, esta pessoa soletrará seu nome através da datilologia, ou seja, soletrar cada letra em seguida apresentará o seu sinal se tiver. Este sinal é dado por um surdo sendo que jamais poderá ser batizado por um ouvinte, pois o batismo faz parte da cultura surda. O surdo após observar as características da pessoa ou de algum traço físico, atividade, gesto ou cacoete, acrescido ou não da letra inicial do seu nome, ele recebe o batismo pessoal – o sinal. Segue o exemplo do sinal da professora Renata Orselli e como é configurado: 34 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... Vista frontal Vista lateral Vista frontal Vista lateral Vista frontal Vista lateral Vista frontal Vista lateral Alfabeto manual da letra R Classificador – mãos em garra Unidade 35 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 35 O sinal da professora Renata Orselli e como ele é configurado Sinal: configuração de mão em CL, deslizando de cima da cabeça até a altura do nariz em movimento rotatório – meia volta terminando com a letra R (Renata sempre usou franjas e seu nome começa com a consoante R). Uma vez batizada, não é costume a pessoa trocar o seu sinal, mesmo que aquilo que motivou o sinal (o referente) tenha mudado. Por exemplo, Renata foi batizada com o seu sinal por causa da sua franja. Com o passar dos anos, se ela cortar as franjas ou deixar crescer, o seu sinal permanece o mesmo. Dica de L eitu r a Para saber mais sobre linguagem, língua e a Língua Brasileira de Sinais, recomendamos as obras a seguir: LYONS, J. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. 36 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 1.14 Língua Gestual A língua gestual não é universal, cada país tem sua(s) própria(s) língua(s), embora se possa traçar um histórico das origens e apontar possíveis parentescos e semelhanças no nível estrutural das línguas humanas (sejam elas orais ou de sinais). Assim, nos Estados Unidos, os surdos “falam” a língua americana de sinais; na França, a língua francesa de sinais, e assim por diante. Vejam os diferentes alfabetos e suas configurações. Alfabeto manual da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Unidade 37 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 37 O alfabeto manual em Libras é usado para soletrar, essa soletração chama-se datilologia. Ela é usada para expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinal. Essa soletração é representada por hífen. Ex: J-U-L-I-A, V-O-C-A-B-U-L-A-R-I-O, I-S-S-O etc. Alfabetos manuais de alguns países: Alfabeto dos Estados Unidos 38 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... Alfabeto francês Unidade 39 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 39 Alfabeto português 40 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... Alfabeto italiano Unidade 41 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 41 1.15 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE I Nesta unidade, pudemos conhecer um pouco da cultura e identidade da comunidade surda bem como os avanços na área da educação para o surdo ao longo da história no Brasil e no mundo. Aqui também ressaltamos a importância da Libras e da Inclusão Social para o dia-a-dia do surdo, respeitando-o e compreendendo seus direitos como cidadão. Como parte desta unidade, assista à webaula dos alfabetos manuais da língua de brasileira de sinais e os exercícios de soletração disponíveis no AVA. Podcast – gravações de áudio com os principais temas das unidades disponíveis no AVA. Como complemento desta unidade, você deve assistir à primeira teleaula e participar das atividades no ambiente virtual de aprendizagem. Elas são parte importante de sua aprendizagem. Para as dúvidas, utilize o nosso Fórum! 42 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... TESTE SEU CONHECIMENTO Unidade 43 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 43 44 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... Unidade 45 I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 45 RESPOSTAS COMENTADAS 1. linhas verticais: primeira linha – b,h,z,s,f segunda linha – x,i,y,g,v terceira linha – j,p,l,w,c quarta linha – k,u,r,c,q quinta linha - s,o, número 5, letra S na língua gestual francesa, n. 2. primeira coluna à esquerda – luz, feio, vaca e neve. segunda coluna à direita – nuvem, pai, flor, crer. 3. Abade L´Épée. 4. F, V, F, V, F, V. Bons Estudos! 46 Unidade I - O INÍCIO DA HISTÓRIA... 2 U n i d a d e II O QUE É LIBRAS OB J ETIVOS D A UN ID A D E • Apresentar os conceitos básicos da Libras para a formação e aplicabilidade dos aspectos estruturais da língua brasileira de sinais com alunos surdos e ouvintes. HAB IL IDADE S E C O MP E T Ê N C IA S • Conhecimentos teóricos e práticos dos aspectos estruturais da língua brasileira de sinais, tornando-os capaz de identificar as diferenças e semelhanças com a língua portuguesa. LIBRAS - é a sigla da Língua Brasileira de Sinais. As línguas de sinais (LS) são as línguas naturais das comunidades surdas. Ao contrário de que muitos imaginam, as línguas de sinais não são simplesmente mímicas e gestos soltos, são utilizadas pelos surdos para facilitar a comunicação. São como estruturas gramaticais próprias. Atribui-se a Libras o status de língua porque ela é composta pelos níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. 2.1 Os sinais Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos. Nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros: UNIDADE II 47 - O QUE É LIBRAS 47 • Configuração das mãos; • Ponto de articulação; • Movimento; • Expressão não manual e/ou corporal; • Orientação/Direção. A Língua Brasileira de Sinais e seus parâmetros de articulação 2.2 Para a confecção de um sinal na Língua Brasileira de Sinais, precisamos usar os cincos parâmetros desta língua: • Configuração das Mãos (CM): são as formas que colocamos as mãos para a execução do sinal. Pode ser representado por uma letra do alfabeto, dos números ou outras formas de colocar a mão no momento inicial do sinal. A configuração das mãos é a representação de como estará a mão dominância (direita para os destros e esquerda para os canhotos) no momento inicial do sinal. Alguns sinais também podem ser representados pelas duas mãos. • Ponto de Articulação (PA): é o lugar onde incide a mão configurada para a execução do sinal. O ponto de articulação parte do corpo ou o sinal poderá ser realizado num espaço neutro vertical (ao lado do corpo) ou espaço neutro horizontal (na frente do corpo). 48 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS • Movimento (M): alguns sinais têm movimento, outros não, são sinais estáticos. Movimento é a deslocação da mão no espaço na execução do sinal. • Orientação ou Direcionalidade (O/D): é a direção que o sinal terá para ser executado. • Expressão não manual e/ou corporal: (EF/C): muitos sinais necessitam de um complemento facial e até corporal para que sejam compreendidos. A expressão não manual são as feições feitas pelo rosto para dar vida e entendimento ao sinal executado. Para a realização de um sinal precisaremos atentar para cada um destes parâmetros, visto que uma pequena mudança já poderá significar outro sinal. Veja a seguir os pontos de articulação, pois os sinais necessitam ser feitos em vários pontos do corpo, não somente braços, mas também nos demais membros como: rosto, testa, nariz, olhos, boca, queixo, bochecha, pescoço, ombro, barriga etc. UNIDADE II 49 - O QUE É LIBRAS 49 2.3 Expressões: facial e corporal dos sinais Essas línguas gestuais-visuais possuem sinais que, juntamente com expressões corporais e faciais, expressam o pensamento que é captado pela visão e decodificado a partir dos contextos onde estão sendo utilizados. Isso porque existem sinais que são iguais e a significação depende das expressões, pois a ênfase é que dá fluência às palavras. Portanto, as expressões faciais e corporais podem retratar uma interrogação, exclamação, negação, afirmação e/ou ordem. Expressão facial de negação e afirmação. 50 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS 2.3.1 Materiais produzidos e utilizados no ensino de Libras e da língua portuguesa Devido à falta de materiais didáticos e pedagógicos para o ensino dos alunos surdos, desenvolvi algumas ferramentas como estratégia de ensino, por exemplo, as carinhas de expressão facial, o avental de contar histórias, o jogo com sinais e figuras etc. Sabe-se que a melhor forma de ensino para crianças surdas é comprovadamente a utilização do visual e do lúdico, isto é, usar a imagem para melhor fixar e memorizar as palavras e os sinais. Essa estratégia pode ser usada igualmente com crianças ouvintes de qualquer faixa etária. Constatei que não bastava sinalizar as palavras em português, pois, com o auxílio das figuras, o aprendizado tornava-se mais rápido e de fácil entendimento. Para sanar as dificuldades de assimilação, houve a necessidade de criação e produção de materiais que pudessem auxiliar as aulas. No caso dos ouvintes, o aprendizado das expressões faciais que acompanham alguns sinais é de difícil entendimento, porque, na língua oral, usamos somente as expressões quando desejamos dar maior ênfase. Já em Libras, a expressão deve estar associada com os sinais, para que a palavra tenha seu sentido completo. Por exemplo, a palavra “bravo” deve ser sinalizada como bravo+expressão facial , assim como para “arrepiado”, a expressão acompanha o fato de estar arrepiado; se for feito somente o sinal, sem a expressão facial, configurase outra palavra ou descaracteriza-se a palavra, dando um novo significado ou criando um sinal inexistente. UNIDADE II 51 - O QUE É LIBRAS 51 Expressão facial de bravo Expressão facial de arrepiado + CL Na tentativa de fazer os alunos entenderem melhor a associação do sinal e expressão, elaborei um material com algumas expressões faciais usadas nas palavras em Libras. Esse material foi feito de pano, com formato redondo como o de um rosto e de fácil manuseio. A utilização é feita da seguinte forma: - Primeiro mostra-se a expressão facial, depois, a identificação do seu significado. Qual é a expressão facial desse boneco? 52 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS - Identificada a expressão facial, irei reproduzir o sinal de bravo. - Depois, o sinal é reproduzido juntando a expressão facial + o sinal de bravo. - Por fim é demonstrada a escrita da palavra e seu significado em português, caso seja um termo de difícil entendimento, haja vista que, para o surdo, algumas palavras devem ser substituídas por sinônimos, para que ele entenda o significado e enriqueça o seu vocabulário. Esse processo é repetido com todas as expressões faciais associadas aos sinais e palavras. Em seguida, utilizamos o painel de expressões e as características físicas, tais como cabelo, olhos, boca e nariz. O aluno deverá reproduzir um rosto que terá uma expressão mais as características faciais. A figura a seguir demonstra o aluno elaborando o rosto de uma menina sinalizado pelo professor. UNIDADE II 53 - O QUE É LIBRAS 53 Sinalização do professor antes de o aluno desenhar no painel: uma menina alegre, cabelos pretos com um laço rosa nos cabelos, nariz pequeno, aparelho nos dentes e óculos azuis. Para finalizar o exercício, é feita a associação de cada parte do rosto com as palavras em português e os sinais em Libras. Com o auxílio desse painel de expressões e características faciais, pode-se ter uma gama de palavras/sinais para o ensino dos surdos e dos ouvintes em ambas as línguas, ampliando o seu vocabulário. Essa atividade demonstra, de acordo com Lyons (1981), que a língua apresenta flexibilidade e versatilidade. Por meio dela é possível dar vazão às emoções e aos sentimentos, facilitar a cooperação de companheiros, ameaçar ou prometer, dar ordens, fazer perguntas ou afirmações. Pode-se fazer referência ao passado, presente e futuro e até mesmo a noções abstratas. Outra atividade é o jogo de sinais, que contém figuras de objetos, animais, alimentos, vestuário etc. e um tabuleiro com as palavras referentes às imagens. O jogo consiste em associar o desenho à palavra e, em seguida, produzir o sinal. O aluno que acertar mais palavras/sinais ganha o jogo. Para finalizar o aprendizado, é estudada cada palavra e o seu significado, sempre fazendo a sinalização. Para o aprendiz surdo, é de suma importância participar de atividades lúdicas que tornam o aprendizado prazeroso e de fácil entendimento. 54 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS Tabuleiro de palavras: objetos, animais, alimentos e vestuários. Em outra atividade, é utilizado o avental de contar histórias. Nessa fase, o aluno já estará dominando as expressões faciais e um vocabulário suficiente para iniciar uma história. O professor veste o avental e sinaliza cada cenário que se pode criar e seus personagens. O aluno deverá escrever uma história curta utilizando algum cenário e personagens que foram aprendidos anteriormente, e, em duplas, apresentam a história com o título, personagens, cenário etc. Nessa atividade, além de exercitar os sinais já vistos, ele vai produzir e criar uma pequena história escrita. Só posteriormente serão feitas as devidas correções gramaticais. Avental de histórias UNIDADE II 55 - O QUE É LIBRAS 55 Aluna Sílvia (ouvinte) com Aluna Patrícia (surda) os personagens: com os personagens: A Princesa e o Príncipe. Branca de Neve e a Vovó. Essa atividade permite a criação livre dos diálogos, o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, além de fornecer estímulo à interação entre surdos e ouvintes. Nesse momento, ambos falam a mesma língua e memorizam de forma lúdica os novos termos. A próxima atividade é o jogo do dado, que contém um resumo de todas as atividades desenvolvidas em sala. Cada lado do dado terá um tema e o dado será jogado pelo professor em direção ao aluno. O tema que estiver virado para ele deverá ser sinalizado. Cada lado do dado apresenta: • Expressões não manuais; • Expressões + palavras; • Animais; • Objetos; • Classificadores – CL, • Números. 56 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS Essa atividade visa a fazer uma revisão das aulas para identificar a memorização dos vocábulos e sinais estudados. Foi constatado que, com o auxílio dos materiais didáticos, tanto os alunos surdos como os alunos ouvintes tiveram desempenho e aproveitamento satisfatórios. Observou-se que, quando um deles não lembrava, sempre havia outro aluno ajudando nos sinais; o professor fazia a mediação apenas quando era necessário ou solicitado. O convívio de surdos/ouvintes trouxe uma melhora significativa no desenvolvimento de ambos, facilitando a assimilação tanto da escrita como dos sinais. A partir desse entrosamento, verificou-se que o professor surdo que auxilia as aulas com o professor ouvinte pode, finalmente, “batizar” os alunos ouvintes. Assim foi utilizado o bolo para simbolizar o primeiro ano na comunidade surda com o seu próprio sinal (que é analisado em suas características físicas), que será dado pelo professor. Primeiramente, ensinamos-lhes a canção “Feliz Aniversário” em sinais e, posteriormente, eles são “batizados”. Bolo para cantar “Feliz Aniversário” UNIDADE II 57 - O QUE É LIBRAS 57 Dessa forma, pode-se fazer uma aula mais dinâmica e de fácil assimilação, tanto para os surdos como para os ouvintes. Essa estratégia é repetida com todos os materiais produzidos, e os resultados são animadores. Surdos e ouvintes são observados interagindo de forma igual e aprendendo de forma lúdica. Cada material deverá proporcionar uma gama de palavras, das quais se forma uma frase e, dessas frases, um pequeno diálogo e, por fim, tem-se a produção de uma história. Assim, os alunos ouvintes perceberam a importância da expressão facial e da corporal, associada aos sinais. É por meio das características físicas de cada indivíduo que nasce o batismo, sinal que simboliza o nome na comunidade surda. Em Libras, não há como dissociar a expressão das palavras, pois a expressão complementa e se incorpora às palavras para dar o seu significado. Portanto, é importante usar sempre o material didático buscando o visual, pois o aluno surdo absorve em sua memória a grafia correta de uma palavra, quando seu significado é associado à palavra escrita. Quando o professor apresenta a escrita ao lado da imagem, facilita o aprendizado do surdo, promovendo maior interesse e aproveitamento em relação às novas palavras adquiridas. A atividade lúdica tem como objetivo gerar prazer em sua execução divertindo o aluno que está praticando. O lúdico, neste caso, é induzido pela introdução de brinquedos ou brincadeiras mais livres de regras ou normas; são atividades que não têm como objetivo principal a competição, e sim uma tarefa prazerosa. As atividades lúdicas também ajudam na memorização de fatos em testes cognitivos. Por meio da utilização dessa ferramenta de ensino à criança, também o jovem e o adulto aprenderão brincando, de maneira agradável. Ela será um fator facilitador para o aprendizado e, ao mesmo tempo, levará o aluno a desenvolver-se nas diferentes áreas da educação. Na educação infantil, as atividades lúdicas favorecem o desenvolvimento e o aprendizado das crianças. Elas interagem umas com as outras, desempenham papéis sociais, desenvolvem a imaginação, a criatividade e a capacidade motora e de raciocínio. Ferramentas didáticas usadas nas aulas: 58 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS • Permitem a interatividade, como o jogo. • Trabalham o lúdico. • Permitem compreensão de novas palavras. • Trabalham o imaginário e a criação. • Utilizam e desenvolvem a expressão facial e corporal. • Facilitam a memorização das palavras. • Usam a associação do significado ao significante, para uma produção da escrita mais facilitada. Quando não se faz uso da atividade lúdica, tanto a criança como o jovem oferecem resistência à escola e ao ensino, porque, acima de tudo, ela não é lúdica, não é prazerosa. Snyders (s/d) defende a alegria na escola, vendo-a não só como necessária, mas como possível. A maior parte das crianças em situação de fracasso são as de classe popular e elas precisam ter prazer em estudar; do contrário, desistirão, abandonarão a escola, se puderem. (...) Quanto mais os alunos enfrentam dificuldades de ordem física e econômica, mais a Escola deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria, não pode ser uma alegria que os desvie da luta, mas eles precisam ter o estímulo ao prazer. A alegria deve ser prioridade para aqueles que sofrem mais fora da escola. (SNYDERS, s/d) Por meio de atividades lúdicas, o educando explora muito mais sua criatividade, UNIDADE II 59 - O QUE É LIBRAS 59 melhora sua conduta no processo de ensino-aprendizagem e sua autoestima. Considera-se, portanto, necessário que as brincadeiras sejam direcionadas; que possuam um objetivo, porque são importantes no desenvolvimento afetivo, motor, mental, intelectual, social, enfim, no desenvolvimento integral da criança. 2.3.2 Material didático usado no aprendizado dos surdos/ouvintes no ensino de Libras e da língua portuguesa. Dado: animal, verbos, palavras, números. Bolo para cantar “Feliz Aniversário” 60 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS Expressão Facial Avental para contar histórias Jogo de expressão facial e partes do rosto Jogo de palavras e sinais Dica de Leitu r a A expressão facial não só dá vida e ênfase ao sinal como também é necessário na configuração dos sinais, sem ela o sinal poderá ter outro significado. Para melhor compreensão do uso das expressões faciais e corporais da Libras consulte o livro Nós falamos com as mãos. O livro é ilustrativo e de fácil compreensão, tanto para alunos como para professores. FRANZ, J. Huainigg e BALHAUS, Verena – Nós falamos com as mãos – 1ª Ed. São Paulo: Scipione, 2006. QUADROS, R. M de. Línguas de sinais: instrumento de avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2011. Dica de F ILME O filme “Escritores da Liberdade” aborda de forma comovente e instigante, o desafio da educação em um contexto social problemático e violento. A novata professora terá de enfrentar problemas em sala e adotar novos métodos e estratégias de ensino com o objetivo de ensinar tolerância mútua. O milagre de Anne Sullivan Sinopse: A incansável tarefa de Anne Sullivan (Anne Bancroft), uma professora, ao tentar fazer com que Helen Keller (Patty Duke), uma garota cega, surda e muda, se adapte e entenda (pelo menos em parte) as coisas que a cercam. Para isto entra em confronto com os pais da menina, que sempre sentiram pena da filha e a mimaram, sem nunca terem lhe ensinado algo nem lhe tratado como qualquer criança. UNIDADE II 61 - O QUE É LIBRAS 61 2.4 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE II Observamos a importância do uso de materiais lúdicos para o ensino da libras/ português, pois proporciona ao aluno diversas habilidades na aquisição da língua. Para encontrar mais materiais didáticos consulte o link no AVA – materiais didáticos/ libras. É importante também que você assista à segunda teleaula para complementar seus estudos desta unidade. 62 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS TESTE SEU CONHECIMENTO UNIDADE II 63 - O QUE É LIBRAS 63 RESPOSTAS COMENTADAS 1. primeira linha horizontal: sério, orgulhoso, indignado, desconfiado segunda linha horizontal: alegre, aceitação, admirado, bravo 2. a) 3. F, V, V e V Bons Estudos! 64 UNIDADE II - O QUE É LIBRAS 3 U n i d a d e III ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS OB JET IVOS D A UN ID A D E • Apresentar algumas particularidades da língua, a criação e aplicação de estratégias de ensino lúdica em sala de aula. HAB IL IDADE S E C O MP E T Ê N C IA S • Conhecimentos dos aspectos estruturais e as configurações dos sinais nos diferentes pontos de articulação. 3.1 Características da Língua de Sinais A Língua de Sinais usa a modalidade visuo-espacial, que se distingue da modalidade oral-auditiva utilizada pelas línguas orais. A pesquisadora Lucianda Ferreira Brito (1995, p.11) diz que a linguística brasileira é pioneira no estudo da Língua Brasileira de Sinais (Libras), e que o canal visuo-espacial pode não ser o preferido pelo ser humano para o desenvolvimento da linguagem, pois a maioria das línguas naturais são orais-auditivas. Podemos entender que nas línguas orais há um universo linguístico também identificado na língua de sinais. Nesse sentido, a investigação das propriedades das línguas de sinais abre novo horizonte para o entendimento das línguas naturais, além de proporcionar o desenvolvimento de tecnologias que possam contribuir para a socialização do surdo e a afirmação dos seus valores culturais. UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA65 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 65 Segue como exemplo a língua de sinais e seu universo linguístico, encontrados em línguas orais. 3.2 Construção e formação da Libras Para fins de simplificação, os sinais, em Libras, serão representados com letras maiúsculas na Língua Portuguesa. Ex: MENINA, SALA. Na datilologia, alfabeto manual, nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinal, estarão grafados com separação por hífen letra a letra. Ex: C-A-R-I- N-A, I-S-S-O. Os verbos serão apresentados no infinitivo. Todas as concordâncias e conjugações são feitas por gestos específicos de passado ou futuro. Ex: EU SABER FALAR. As frases obedecerão à estrutura da Libras, e não à do português. Ex: ELE TRABALHA SUPERMECADO? (Ele trabalha no supermercado?) Os pronomes pessoais serão representados pelo sistema de apontação. Apontar, em Libras, é culturalmente e gramaticalmente aceito. Para conversar em Libras, não basta conhecer os sinais de forma solta, é necessário conhecer a estrutura gramatical da língua, para combiná-los em frases. Exemplo: Pronome pessoal – você. O locutor aponta para o enunciador. 66 UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Os sinais podem ter um movimento ou não. Por exemplo, o sinal EM PÉ não tem movimento; já o sinal FLOR possui movimento. Sinal de flor – com movimento UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA67 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 67 Sinal de em pé – sem movimento A modalidade gestual-visual-espacial pela qual a Libras é produzida e percebida pelos surdos leva, muitas vezes, a pensar que todos os sinais são o “desenho” no ar do referente que representam. É claro que, por decorrência de sua natureza linguística, a realização de um sinal pode ser motivada pelas características do dado da realidade a que se refere, mas isso não é uma regra. A grande maioria dos sinais da Libras são arbitrários, não mantendo relação de semelhança alguma com seu referente : são os sinais icônicos e arbitrários.Os sinais icônicos são gestos que fazem alusão à imagem do seu significado, como, por exemplo, o sinal de telefone e o de borboleta. Isso não significa que os sinais icônicos são iguais em todas as línguas. Cada sociedade capta facetas diferentes do mesmo referente, representadas por seus próprios sinais. (BRITO, 1993). 68 UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Os sinais arbitrários são aqueles que não mantêm nenhuma semelhança com o dado da realidade que representam. Uma das propriedades básicas de uma língua é a arbitrariedade existente entre o significado e o referente. Durante muito tempo, afirmou-se que as línguas de sinais não eram línguas por serem icônicas, não representando, portanto, conceitos abstratos. Isso não é verdade : em língua de sinais, tais conceitos também podem ser representados em toda a sua complexidade, como, por exemplo, o sinal de “conversar” e “depressa”. 3.3 SINAIS E SUAS CONFIGURAÇÕES Como vimos anteriormente, os sinais devem ter expressão facial e são sinalizados tocando o corpo ou em um espaço neutro. Vejamos alguns exemplos dos sinais e das configurações das mãos. 3.3.1 ORIENTAÇÃO ESPACIAL A mão configurada pode tocar parte do corpo ou um espaço neutro vertical ou horizontal. UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA69 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 69 Exemplo 1: sinal que toca parte do corpo - FAMÍLIA Exemplo 2: sinal no espaço neutro - TRABALHAR CLASSIFICADORES - São as formas de colocarmos as mãos para a execução do sinal. É representado por uma letra do alfabeto, do número ou outras formas no momento inicial do sinal. 70 UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Exemplo: GATO E DOMINGO. GATO DOMINGO 3.3.2 Leitura dos movimentos das figuras (sinais) As figuras representam os sinais e como elas são sinalizadas. É de suma importância saber fazer a leitura e a interpretação desses movimentos. O movimento dá vida e intensidade à palavra, por essa razão a importância de saber sinalizar com UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA71 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 71 mais leveza ou não. Vejam alguns exemplos dos movimentos. Exemplos: A palavra FOGO é configurada por um classificador, com movimentos longos repetidos e com vibração nas pontas dos dedos. A palavra SEMPRE é configurada pelo V deitado com o movimento em zig-zag para frente. 72 UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS A palavra “MAIS OU MENOS” é configurada por um classificador, com a mão dominante aberta e dedos afastados, com os movimentos médios semicirculares repetidos. UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA73 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 73 3.4 Formas de cumprimento Algumas formas de cumprimentos podem ou não vir com expressão facial. Nos casos que veremos a seguir, pode-se notar que os sinais de cumprimento na sua maioria são sinalizados por dois gestos para ter o seu significado, como por exemplo a palavra: BOM DIA!. Deve-se primeiramente sinalizar a palavra BOM + DIA, e assim por diante. Exemplo: BOA TARDE! BOM DIA! 74 UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS BOA NOITE! Já para o sinal de Oi e obrigad@, usa-se somente uma sinalização com a mão predominante, porém o sinal de obrigad@ pode ser sinalizado com as duas mãos uma mão na testa e a outra no meio do tronco, a expressão facial depende da ênfase que você quer colocar. UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA75 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 75 3.5 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE III Assista à nossa terceira teleaula e participe das atividades e interações na plataforma de estudos como complementação desta unidade. Abaixo seguem sugestões para leitura para que você possa se aprofundar mais nesses temas. Bons estudos! Dica de L eitu r a QUADROS, R. M. Educação dos surdos: aquisição da linguagem. Porto Alegre: ArtMed, 1997. SEGALA, R. S. e KOJIMA, K. C. Libras: Língua Brasileira de Sinais a imagem do pensamento. vol. I, Ed. Escala, 2008. 76 UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS TESTE SEU CONHECIMENTO UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA77 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 77 78 UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA79 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 79 RESPOSTAS COMENTADAS 1. d) 2. c, d, f, e, g, b, h, a, i e j 3. b) Bons Estudos! 80 UNIDADE III - ASPECTOS EXTRUTURAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 4 Unidade IV AS CONVENÇÕES DA LIBRAS OB JET IVOS D A UN ID A D E • Apresentar a formação de verbos, adjetivos, números, meses, variações lingüísticas e a signwrinting para que consiga identificar, aplicar e construir a língua brasileira de sinais seguindo as regras estruturais do idioma sem interferir na configuração dos sinais articulados. HAB IL IDADE S E C O MP E T Ê N C IA S • Construção e elaboração de conceitos da língua por meio de novos vocabulários. Algumas diferenças entre a Libras e o Português 4.1 Utilizando o livro “Libras em Contexto”, (Tanya 2001), demonstraremos como funcionam os pronomes na Língua Brasileira de Sinais e, assim, poderemos entender a dificuldade do deficiente auditivo em aprender sua forma na língua escrita. 4.2 Pronomes interrogativos Na Libras, há uma tendência para a utilização, no final da frase, dos pronomes interrogativos – QUAL, COMO E PARA QUÊ, e para a utilização, no início da frase, do UNIDADE IV81 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 81 pronome interrogativo POR QUE. Como na modalidade da Língua Portuguesa, não há diferença entre o “por que” interrogativo e o “porque” explicativo, pois o contexto mostra, pelas expressões facial e corporal, quando ele está sendo usado em frase interrogativa ou em frase explicativa/causal. Exemplos: Blusa mais bonita. Estampada ou lisa qual? (Pronome comparativo) Você ler livro?Qual nome? Nome “Vendo vozes” 4.3 Pronomes indefinidos Os pronomes indefinidos NINGUÉM (exemplo -1) e NINGUÉM, conforme os exemplos citados abaixo, são usados somente para pessoa; NINGUÉM/NADA/NENHUM (exemplo -2) (mãos abertas esfregando uma na outra) é usado para pessoa, animais e coisas; NENHUM/NADA (dedo polegar e indicador com o formato oval e os outros dedos estendidos, mão com movimento balançando) é usado para pessoas, animais e coisas e pode, em alguns contextos, ter o sentido de “não-ter”. Exemplo: NINGUÉM (1) - Ter-não ninguém casa. não NENHUM (2) - Você ter carro? - Eu nenhum carro. 82 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 4.4 Adjetivos Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na Libras e sempre estão na forma neutra, não havendo, portanto, nem marca para gênero (masculino e feminino), nem para número (singular e plural). Muitos adjetivos, por serem descritivos, apresentam iconicamente uma qualidade do objeto, desenhando-a no ar ou mostrando-a a partir do objeto ou corpo do emissor. Em Português, quando uma pessoa se refere a um objeto como sendo arredondado, quadrado, listrado, entre outros, está também descrevendo, mas, na Libras, esse processo é mais “transparente” porque o formato ou textura são traçados no espaço ou no corpo do emissor, em uma tridimensionalidade permitida pela modalidade da língua. Exemplo: Leão cor corpo amarelo perigoso. / Meu pai velho. 4.5 Advérbio de Tempo Na LIBRAS há expressões específicas para representar freqüência de uma ação e alguns são expressões idiomáticas: NUNCA pode ter sinal e sinal soletrado; FREQUENTE E FREQUENTEMENTE possuem a mesma configuração de mão, mas para a segunda ideia que tem o aspecto contínuo, o sinal é feito repetidamente; SEMPRE (continuar) e MESMO possuem a mesma configuração de mão, mas para o primeiro há um movimento para frente do emissor, o segundo fica no mesmo ponto de articulação inicial. UNIDADE IV83 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 83 • As dificuldades que o deficiente auditivo tem em compreender a Língua Portuguesa Analisaremos a visão do deficiente e suas dificuldades na compreensão da Língua Portuguesa, pois o olhar do surdo para um texto em Português é desconcertante, pois a percepção sensorial do surdo é essencialmente visual, portanto seu acesso e domínio são restritos. Em Libras, usa-se o verbo no infinitivo, já em Português, o verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa. Isto é, um acontecimento representado no tempo, e vem conjugado para estabelecer suas variações como, por exemplo, número, pessoa, modo, aspecto e de voz. Número: Singular e Plural (estudo – estudos) Pessoa: Eu e Nós (estudo – estudamos) Modo: Indicativo, subjuntivo e imperativo (para indicar dúvida, suposição etc.). Tempos: Momento que dá o fato: presente, passado e futuro (estudei, estudara, estudasse). Aspecto: Diferencia o ponto de vista do qual o locutor considera a ação expressa pelo verbo. Incluindo também o valor semântico pertinente ao verbo ou ao contexto. (João começou a comer; João continuou a comer). Exemplos: Para ilustrar a estrutura das frases em Libras, mostraremos nos textos que seguem como é fácil perceber e identificar os aspectos divergentes do Português. a) Eu tomo banho e coloco roupa. Eu ligo máquina de lavar. Eu como café de manhã. Eu como almoço. Eu faço lanche por meus filhos. Eu durmo às 22:00. b) Português é muito difícil para mim. De gramática de Português confunde me. 84 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS c) Eu moro em Brasília, até hoje é 2 meses. Dos brasilienses estão pessoas feliz. Eu tenho os amigos brasilienses. Eles são pessoas boa. Eles ajudam para mim. Eu gosto morar aqui, mas tenho problemas com falando. Eu escrevo mais. Tchau. Pode-se notar nos textos o uso de frases curtas, a omissão de artigos, inadequação lexical e a falta de preposição, a falha na colocação do advérbio de negação, concordância nominal e o excesso de itens lexicais, o uso inadequado de preposição, pronome e a omissão do verbo ser. O aprendiz de uma segunda língua utiliza várias estratégias para descobrir a gramática da língua-alvo. Cada texto apresentado foi produzido por uma pessoa que tem como língua materna uma outra diferente e apresenta características próprias. Os textos têm seu enunciado curto, característico de textos escritos por surdos que costumam apresentar vocábulos reduzidos, com ausência de artigos, concordância verbal, preposição e o uso reduzido de diferentes tempos verbais, verbos de ligação (ser, estar etc.). Para aprender uma segunda língua deve-se ter o conhecimento do léxico, que possuem informações sintáticas, semânticas e fonológicas. Língua portuguesa e a língua brasileira de sinais: uma breve análise. 4.6 Com o auxilio da língua de sinais, o professor poderá fazer intercâmbio com o aprendiz surdo, de modo que possa, por analogia, demonstrar as semelhanças e as diferenças da utilização do verbo nas linguagens, tornando o seu aprendizado mais fácil. Esta unidade tem como objetivo demonstrar agora, exatamente estas diferenças UNIDADE IV85 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 85 verbais entre a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais, bem como a análise e a compreensão do papel do verbo em ambos idiomas, logo que o verbo é a ferramenta mais importante nas construções e compreensão de frases, segundo Tesnière (1969, p.102). Uma vez encontrado um ponto em comum quanto à estrutura verbal de ambas as línguas torna-se mais fácil essa compreensão. Analisaremos o aspecto e o tempo dos verbos em Libras e na Língua Portuguesa. Sabe-se que tempo relaciona o momento da ação, e aspecto designa a maneira como o falante vê a ação. 4.6.1 As diferenças verbais entre a Língua Portuguesa e a Libras O olhar do surdo para um texto de Português é desconcertante, pois a percepção sensorial do surdo é essencialmente visual, portanto seu acesso e domínio são restritos. Como vimos anteriormente, as estruturas gramaticais se diferenciam. Em Libras, usa-se o verbo no infinitivo, já em Português o verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo, e que vem conjugado para estabelecer suas variações como, por exemplo, número, pessoa, modo, aspecto etc. Entende-se por verbo a unidade de significados categorial que se caracteriza por ser um molde pelo qual se organiza o falar e seu significado lexical. Segundo Tesnière, o verbo é a ferramenta mais importante na construção e compreensão de frases, pois ele estabelece, também, uma hierarquia das relações sintáticas. O verbo ocupa o posto mais alto da oração, tanto na Libras como na Língua Portuguesa. Tem papel determinante para que a comunicação tenha êxito, e assim, o interlocutor compreenda a mensagem do locutor. Apresentam-se, a seguir, as categorias do verbo, comparando as características da Língua Portuguesa com base nos autores Celso Cunha (2001) e Quadros (2004). Esta 86 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS tabela foi retirada da monografia realizada na especialização em Língua Portuguesa com o tema “A distinção na forma do uso do verbo entre Língua Portuguesa e Língua Brasileira de Sinais” pela PUC de São Paulo. Língua Portuguesa Língua Brasileira de Sinais Pessoa Determina a relação dos participantes no acontecimento comunicado com os participantes no ato da fala. Pessoa Flexão que muda as referências pessoais do verbo (deixis) apontamento para a pessoa. Número Refere-se aos participantes no acontecimento comunicado e daí adquire capacidade quantificadora (está ligada a pessoa no verbo flexionado). Número Flexão que indica o significado, o dual, o trial, o múltiplo. Grau Não tem. Grau Apresenta distinção para menor, mais próximo, muito etc. Modo Assinala a posição do falante com respeito à relação entre a ação verbal e seu agente ou fim, isto é, o que o falante pensa dessa relação. Modo Apresenta distinções tais como os graus de facilidade. Tempo ou nível temporal Assinala a relação temporal do acontecimento comunicado com o momento do ato de fala: o presente, passado e futuro. Tempo Presente, passado e futuro. Aspecto Assinala a ação levada até o fim, isto é, como conclusa (perfeita) ou inconclusa (imperfeita). Certas espécies de ação: durativa, invocativa, terminativa etc. Aspecto Indica distinções do tempo: tais como: há muito tempo etc. Reciprocidade Não tem. Reciprocidade Indica relação ou ação mútua. Foco temporal Foco temporal Indica aspectos temporais: início, aumento, graduação, progresso etc. Aspecto distributivo Não tem. Aspecto distributivo Indica distinção: alguns especificados, não especificados, para todos etc. Estado Afeta a qualidade lógica do sucesso comunicado (afirmativo, negativo, interrogativo etc.) Estado Não tem. Categorias Distintas Não possuem esta categoria Categorias Análogas UNIDADE IV87 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 87 Dêixis – É uma palavra grega que significa “apontar” ou “indicar”- descreve uma forma particular de estabelecer nominais no espaço que são utilizados pelos verbos com concordância como parte de sua flexão. A marcação do tempo verbal em Libras A formação dos tempos verbais, por exemplo, em LGP – Língua Gestual Portuguesa, é a mesma formação da Língua Brasileira de Sinais. Constrói-se, essencialmente, em três espaços físicos imaginários que envolvem o gestuante, isto é, o gestuante serve de referência temporal. Assim, no espaço atrás do ombro, marca-se o passado, no espaço imediato à frente do tronco, marca-se o presente e, finalmente, num espaço mais afastado à frente do corpo, marca-se o futuro, como se pode observar na figura a seguir: Espaço imaginário de marcação temporal na LGP e LSB. 88 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 4.6.2 Quando a Língua Brasileira de Sinais e o Português são semelhantes No livro “Ensino da Língua Portuguesa para Surdos”, Salles (2004 p.85), podemos compreender que a Libras é uma língua moderna e viva como o Português, tendo muitos aspectos similares de formação, adaptação e compreensão. Como foi constatado, há distinção na forma do uso do verbo entre a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais. Sobre isso veja uma apresentação das discussões sobre a ordem das palavras no campo da linguística. A autora (Quadros, 1999) apresenta vários tipos de estrutura de frase da língua de sinais brasileira. A ordem das palavras é um conceito básico relacionado com a estrutura da frase de uma língua. As línguas podem variar suas ordenações das palavras. Greenberg (1966) observou que de seis combinações possíveis de sujeito (S), objeto (O) e verbo (V). Algumas delas são mais comuns do que outras, e mesmo com essas variações cada língua elege uma ordenação de palavras como a dominante, observa Greenberg. Conforme as suas investigações, a ordem dominante sempre será SOV, SVO ou VSO. Os verbos na Língua Brasileira de Sinais estão divididos em três classes: a) Verbos simples – são verbos que não flexionam em pessoa e número e não incorporam afixos locativos. Alguns desses verbos apresentam flexões de aspecto. Exemplo: conhecer, amar, aprender, saber, inventar, gostar. b) Verbos com concordância – são verbos que se flexionam em pessoa, número e aspecto, mas não incorporam afixos locativos. Exemplo: dar, enviar, responder, perguntar, dizer. c) Verbos espaciais – São verbos que têm afixos locativos. Exemplo: colocar, ir, chegar. Os dois tipos de verbos e o auxiliar: repercussões na estrutura da frase. UNIDADE IV89 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 89 As formas verbais utilizadas na língua de sinais são divididas em duas classes: os verbos sem concordância e os verbos com concordância. Os verbos sem concordância são aqueles que exigem argumentos explícitos, uma vez que não há marca alguma no verbo com os argumentos da frase (TER, FALAR, AMAR, CONHECER). Já os verbos com concordância estão associados à marcação não-manuais e ao movimento direcional (DIZER, ENTREGAR, AJUDAR, REMETER), como ilustra os desenhos a seguir: TER FALAR DIZER ENTREGAR Essas classes de verbos já foram estudadas em outras línguas de sinais (Bellugi e Klima, 1979; Liddel, 1980) e foram reconhecidas suas assimetrias morfológicas. Demonstraremos a seguir as repercussões sintáticas diferenciadas entre sentenças que contêm os dois tipos de verbos e a assimetria entre eles (verbos com e sem concordância): 1. Verbos com concordância parecem apresentar mais liberdade na sua ordenação do que aqueles contendo verbos sem concordância. 90 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS MARIA DO JOÃO OLHAR JOÃO OLHA PARA MARIA 2. As marcas não-manuais são obrigatórias nos verbos com concordância e opcionais nos verbos sem concordância. JOÃO GOSTAR MARIA JOÃO GOSTA DA MARIA 3. Argumentos nulos contendo verbos com concordância ocorrem em contexto sintático em oposição às sentenças contendo verbos sem concordância. UNIDADE IV91 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 91 AMANHÃ DAR LIVRO/AMANHÃ VOCÊ DARÁ O LIVRO 4. Há uma distribuição diferente da negação entre sentença contendo verbos com e sem concordância. JOÃO NÃO DAR LIVRO JOÃO NÃO DEU O LIVRO PARA ELA Essas diferenças podem ser explicadas através da análise de Lasnik (1995) para a assimetria morfológica observada entre os verbos principais e os verbos auxiliares no inglês. Lasnik propôs que os verbos principais seriam aqueles que apresentam uma operação fonológica e os auxiliares seriam inseridos e flexionados no processo de derivação. Observando os verbos com e sem concordância na língua de sinais, 92 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS percebe-se que os verbos com concordância têm o mesmo comportamento que os verbos auxiliares no Inglês, já os verbos sem concordância atuam como os verbos principais no inglês. Conforme os exemplos a seguir, podemos verificar essa analogia. 1. Os verbos principais não podem preceder a negação. (John likes not Mary) O mesmo é observado na Língua de Sinais Brasileira com os verbos sem concordância: Ex: João <Gostar não carro> 2. Os verbos principais não podem ser seguidos da negação sem a presença de do-support (Jonh not likes Mary e John does not like Mary). Isto é também observado na Língua Brasileira de Sinais: com um verbo de concordância a sentença é boa, mas sem o verbo de concordância a sentença será boa somente com um auxiliar. JOÃO NÃO DAR LIVRO (com verbo com concordância) JOÃO NÃO DEU O LIVRO UNIDADE IV93 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 93 JOÃO (AUX) NÃO GOSTAR COM VERBO SEM CONCORDÂNCIA COM AUXILIAR JOÃO NÃO GOSTA DELA A concordância nas línguas de sinais como elemento gramatical justifica-se a partir de vários aspectos gramaticais, afirma Rathmann e Mathur (2002), e Quadros (1999). Veja os exemplos que seguem: a) as formas para primeira pessoa e não-primeira pessoa são diferentes; b) a presença de marcação de número nos verbos apresenta múltiplas formas em diferentes línguas de sinais; c) a existência de auxiliar em algumas línguas de sinais expressam a relação sujeitoverbo-objeto nas construções com verbos que não marcam concordância; d) Rathmann e Mathur (2002) verificaram que a concordância verbal na língua de sinais está associada com diferentes tipos de verbos em relação às propriedades semânticas de seus argumentos (seleção de argumentos animados e inanimados). A concordância verbal está presente com objetos diretos/indiretos animados. Assim, caracteriza-se a concordância em termos estruturais. Para Quadros (1999), as classificações dos verbos na língua de sinais brasileiras são os de sem e com concordância verbal; no entanto, há outras manifestações que 94 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS compreendem expressões verbais como, por exemplo, os verbos chamados manuais e os classificadores. Os verbos manuais envolvem uma configuração de mão em que se represente segurar um objeto na mão. Esses verbos finalizam a sentença e pode-se incluir os classificadores que incorporam a informação verbal da sentença, pois, também incorporam o objeto quando este é o caso. Por exemplo: JOÃO CASA PINTAR-ROLO (JOÃO PINTA A CASA COM ROLO) Verbos Manuais – a configuração da mão pintar-rolo representa estar segurando o objeto (rolo). JOÃO CARRO BATER-POSTE (O JOÃO ESTAVA DE CARRO E BATEU NO POSTE, DETONANDO COMPLETAMENTE O VEÍCULO) UNIDADE IV95 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 95 Verbos classificadores – na última figura é demonstrada a mão representando o carro e a outra o poste, na figura anterior nota-se que a configuração da mão reto (carro) depois que bate ele fica detonado (dobrada) junto ao poste. Esses sinais são chamados de classificadores, pois incorporam o objeto. Há viabilidade de entendimento entre estas diferentes formas de emprego do verbo para que sejam compreensíveis entre si. Vamos analisar dois pontos encontrados em comum nas duas línguas, o tempo e o aspecto verbal. É preciso entender que em Língua Brasileira de Sinais usa-se geralmente o verbo no infinitivo, mas, como foi demonstrado anteriormente, os verbos sem concordância são os que não se flexionam em pessoa e número e não tomam afixos locativos, mas alguns deles se flexionam em aspecto. Como, por exemplo, os verbos: ter e falar. Esses tipos de verbos são aqueles que exigem argumentos explícitos, uma vez que não há marca nenhuma no verbo com os argumentos da frase. Os verbos sem concordância apresentam uma operação fonológica de afixação de sua desinência verbal durante o processo de derivação. Abaixo, a representação da estrutura da frase para a Língua Brasileira de Sinais. IP Spec Posição em que os sujeitos são gerados I VP I Posição ocupada por afixos, modais e tempo V Posição ocupada pelo verbo DP Posição ocupada pelo objeto Estrutura da frase com verbos sem concordância Fonte: Livro Língua de Sinais Brasileira – Estudos Linguísticos (p. 169). 96 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 4.6.3 Tempos e aspecto verbais Tempo A categoria linguística tempo relaciona o momento da ação, do acontecimento ou do estado referido na sentença ao momento em que é citado o enunciado, o `agora´. Na relação entre esses dois momentos, dispomos de três possibilidades básicas: passado, presente e futuro. Esses marcadores podem ser ordenados de forma linear, conforme Reichenbach (1966): 1. Momento da fala (MF): o momento em que é proferido o enunciado (escrito ou falado). 2. Momento do evento (ME): o momento da ação, do acontecimento ou do estado. 3. Momento de referência (MR): um outro momento temporal em relação ao qual o evento pode ser situado. Ao usar os marcadores temporais, o falante acrescenta um ponto de referência a mais, transferindo o posicionamento temporal para um momento no futuro. A estrutura desse tempo verbal será: momento da fala situa-se temporalmente antes do momento do evento que, por sua vez, é localizado como anterior ao momento de referência. Assim, aplicando a proposta linear, em que a linha indica que o ponto da esquerda é interpretado como temporariamente anterior ao da direita. Como segue o exemplo: MF_ME_MR (estrutura temporal do futuro perfeito composto) UNIDADE IV97 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 97 Seguem dois exemplos de estrutura verbal em Português: 1. Isabel está comendo graviola. - MF, MR_ME (a vírgula indica que os momentos são considerados como concomitantes). 2. Mariana comeu graviola demais. – ME, MR_MF. Aspecto O aspecto designa a maneira como o falante vê a ação, o acontecimento ou o estado verbal, isto é, seu ponto de vista diante dos eventos verbais. Em Português tem essa distinção aspectual em relação aos tempos do passado. Por exemplo, ideia de continuidade, duração do processo verbal, sem delimitação de seu começo ou fim. 1. Eu ia ao cinema. (tempo: pretérito imperfeito; aspecto: imperfectivo). 2. Eu fui ao cinema ontem. (tempo: pretérito perfeito; aspecto: perfectivo). 4.6.4 Tempo e aspecto em Libras Em Libras, o tempo e o aspecto não estão codificados por meio de processos flexionais no verbo. Há, entretanto, marcadores de tempo não-verbais (ontem, amanhã), bem como recursos que consistem na repetição de sinais para indicar a progressão ou repetição do evento. Em alguns casos, acontece a incorporação da marca de aspecto no próprio item lexical. Por exemplo, em Libras pode representar em Português uma locução ou expressão (olhar-observando, olhar-várias-vezes). Para o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua, deverá o professor 98 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS saber diferenciar bem a distinção entre tempo e aspecto verbais, e a distinguir esses dois elementos relacionados ao verbo, para melhor compreensão do aprendizado do aluno surdo. Atividade aplicada com alunos surdos: Leitura, compreensão e identificação dos verbos no livro “Nós falamos com as mãos”. O objetivo dessa atividade é demonstrar que o aluno surdo é capaz de identificar, no livro “Nós falamos com as mãos”, os verbos e distinguir os tempos e os aspectos verbais, bem como fazer a produção de um texto escrito. Portanto, o ensino/aprendizagem da segunda língua aos alunos surdos será, assim, o Português escrito, isto é, a compreensão e a produção escrita, considerando todo aspecto já mencionado anteriormente quanto ao fato da ausência de trocas orais. O texto escrito não pode se restringir a transmitir informações estruturais e lexicais, mas caberá ao aluno surdo assumindo o papel de contextualizador, trazendo aspectos pragmáticos, sociolinguísticos e culturais. Os textos selecionados para trabalhar com esses aprendizes devem: 1. ser autênticos, sempre que possível; 2. conter temas relacionados à experiência dos alunos surdos, levando a um maior envolvimento pessoal e provocando reações e manifestações; 3. estar associados a imagens – a boa opção seria artigos de revistas, jornais e livros que costumam ser ilustrado. Essas características devem ser observadas no ensino do surdo para a Língua Portuguesa, pois o procedimento proposto nela está relacionado à concepção UNIDADE IV99 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 99 interacionista, pois proporciona ao aluno maior envolvimento e com o texto. Na abordagem interacionista, a concepção de língua é: “A língua é concebida como um meio para a realização de relações interpessoais e para o desempenho de transações sociais entre indivíduos. Ela é vista com um instrumento para a criação e manutenção das relações sociais”. (Richards & Rodgers, 1986, p.17). Por essa abordagem, no caso de uma produção de texto e a identificação dos verbos, é importante deixá-los buscar no seu texto as partes com que mais se identificam. Uma vez que ele trabalhe com um material que esteja relacionado com a sua história e cultura, será mais fácil prender a sua atenção, despertando, assim, uma maior afinidade com o material trabalhado em sala. Depois de escolhido o material adequado para ser trabalhado com o aluno surdo, é importante, antes, explicar as semelhanças e diferenças encontradas na Língua Portuguesa e na Língua Brasileira de Sinais, demonstrando os vários fatores, a seu favor, para conseguir de maneira mais fácil trabalhar com a língua que tanto assombra os surdos, pois até então não se usava nenhuma estratégia para alcançar a alfabetização da segunda língua. Bem sabemos que a língua materna dos surdos – a Libras – acontece de maneira natural. O livro “Nós falamos com as mãos” é de leitura rápida e fácil. É a história de uma menina chamada Elisa, surda desde que nasceu. Ela questiona o som do mundo, das estrelas, do mar etc. Elisa queria fazer amigos, pois havia acabado de mudar para o bairro e queria ser aceita por todos, até que um dia conheceu Tomás que, para a sua alegria, conseguia conversar com ela através de sinais. Este livro, além de conter uma linda história ele oferece, também, informações importantes sobre a vida e cultura dos surdos, bem como os meios de comunicação, dicas, sites, curiosidades e um alfabeto dos sinais. A produção do texto escrito vem depois da explicação das diferenças e semelhanças quanto ao uso do verbo entre a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira 100 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS de Sinais. Após demonstrar que ele é capaz de identificar o verbo no texto produzido por ele mesmo, é oferecido o livro como leitura e, depois, a produção de um resumo da história “Nós falamos com as mãos”. Finalmente, após a produção, deverá identificar no seu resumo todos os verbos, e depois encontrar o tempo verbal: presente, passado e futuro. Nesse momento, espera-se que será mais fácil conjugar os verbos encontrados e explicar, com outros exemplos, o tempo e o aspecto do verbo na Língua Portuguesa. Em seguida, veremos uma produção do resumo do livro e a identificação dos verbos que estão sublinhados por uma aluna surda que foi alfabetizada pela sua língua materna – Libras – e, após, tornar-se aprendiz da segunda língua – a Língua Portuguesa. UNIDADE IV101 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 101 Aplicação e objetividade da tarefa Para iniciar a tarefa, foi proposta uma leitura de fácil compreensão e que ao mesmo tempo parecesse atrativo ao surdo, e para isto foi escolhido o livro “Nós falamos com as mãos”. Como o objetivo da tarefa é a análise da capacidade de identificação dos verbos, bem como a determinação do tempo e aspecto verbal de sua utilização, foi pedido ao surdo que após a leitura do livro ele produzisse um resumo do livro sublinhando os verbos contidos em seu próprio texto. Além da explicação da tarefa, foi oferecido o vocabulário desconhecido pelo aluno e pedido que cada verbo por ele encontrado fosse analisado quanto ao tempo verbal, podendo ser presente, passado ou futuro. O exemplo que demonstraremos a seguir foi aplicado na surda Patrícia D. P., de 24 anos, que após a contração de meningite aos 5 anos de idade, perdeu a audição em ambos ouvidos. A sua língua materna é a Libras, sendo alfabetizada posteriormente no ensino médio e fundamental com a utilização da leitura labial, além da própria língua de sinais. Contemplada pelas leis recentes de inclusão social, conseguiu finalizar o curso de pedagogia da Universidade de Mogi das Cruzes, tendo como auxílio no curso, o oferecimento de uma intérprete de Libras na sala de aula. Hoje, Patrícia D. P. é professora de Libras para ouvintes e surdos. Primeira aplicação Apresentada a proposta da tarefa e executada a apresentação do livro com a devida explicação sobre o resumo e observações, foi pedido que a aluna fizesse por analogia, uma ponte entre os dois idiomas, o Português e a Libras, para perceber as semelhanças entre eles, e também utilizasse seus conhecimentos prévios da Língua Portuguesa para analisar sua diferença com a língua de sinais. 102 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Primeira produção do resumo: Nós falamos com as mãos. UNIDADE IV103 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 103 Análise da primeira aplicação No texto produzido pela Patrícia, fica clara a influência da utilização da estruturação da língua de Sinais, como um estrangeiro que carrega sua língua materna no aprendizado de uma segunda língua. Como exemplo disso podemos citar a utilização do verbo no infinitivo, a construção de frases curtas sem pontuação, bem 104 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS como a falta de artigos. O resumo é breve, mas apesar de suas dificuldades, consegue narrar em poucas palavras a história, demonstrando o entendimento do livro e seu foco. Podemos observar também a falta de critérios estéticos implícitos em uma apresentação, como a falta do título no livro, no resumo, como também de seu nome. A não realização do complemento do trabalho de sublinhar os verbos do texto demonstra a dificuldade que existe na compreensão total da tarefa, além de impossibilitar nossa análise quanto ao uso de palavras que se encontram fora do contexto verbal, por exemplo: “que, ela e frente”, mas pode-se verificar que os verbos selecionados na sua maioria estão classificados corretamente, como: “era, pegava e dançava”. Cabe ressaltar que alguns verbos não aparecem no infinitivo e as frases começaram a ganhar formas verbais apropriadas. Segunda aplicação Como a realização da primeira tarefa não foi satisfatória, fez-se uma nova proposta à aluna para que a mesma fizesse o resumo novamente completando o trabalho sublinhando os verbos e os analisando, objetivando a superação de suas dificuldades. Foi proposto um conjunto de procedimentos práticos, envolvendo não só a leitura, mas também a produção escrita. Assim, foram propostas e desenvolvidas as seguintes etapas: 1ª etapa: Refazer a leitura do livro e anotar os pontos mais importantes da história; 2ª etapa: Ao iniciar a produção do resumo, colocar data, nome e o título do livro; 3ª etapa: Sublinhar todos os verbos; 4ª etapa: Classificar todos os verbos encontrados e dar os tempos verbais (presente, passado ou futuro) de cada um. UNIDADE IV105 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 105 Segunda produção do resumo: Nós falamos com as mãos 106 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Análise da segunda aplicação Na segunda aplicação nota-se uma grande melhora tanto na produção como na organização do texto. O resumo possui frases maiores, ganha algumas vírgulas, além de UNIDADE IV107 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 107 pontos finais. O texto obedece às etapas que foram propostas na segunda produção, colocando o título do livro, seu nome e sublinhando os verbos e os classificando. Com muita propriedade, a aluna emprega os verbos de maneira correta, mesmo quando usa algumas palavras que não estão dentro do contexto verbal e, embora não devam ser classificadas como tais, elas possuem relação com o aspecto e tempo. Por exemplo: Agora e já – Foram grifados como verbos e, em Libras, possuem o sentido de um acontecimento no presente, “já” na Língua Portuguesa é advérbio de tempo, portanto, pelo sentido que ela usou está correto. Muito – Advérbio de intensidade refere-se ao tempo, em Libras é usado no mesmo sentido que da Língua Portuguesa. Nota-se também que no caso das palavras “muito bom”, o verbo está explícito na concepção da aluna, isto é, como o verbo de ligação “é” não é sinalizado na construção das frases em Libras, a aluna sinalizou as palavras que pareciam conter o verbo “oculto”. Análise Final A Língua Portuguesa possui uma complexidade maior que a Língua Brasileira de Sinais, assim, devemos organizar o aprendizado do Português para surdo por etapas, como o ensino do verbo, por diferenças e semelhanças, e quanto ao aspecto, e tempo e suas flexões. É importante salientar que, juntamente com esta adaptação de linguagem (Libras para o Português), é essencial que a ortografia seja ensinada, isto é, a grafia correta das palavras inclusive com o uso dos acentos. Faz-se necessário entender que o deficiente auditivo, como nós ouvintes, 108 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS só absorve em sua memória a grafia correta de uma palavra quando associa seu significado à palavra escrita. Um exemplo é a diferença entre palavras: “mau” e “mal”, que só poderá ser esclarecida quando associada ao contexto de uma frase. O surdo poderá aprender a escrever corretamente, assim que for capaz de adquirir uma leitura satisfatória e a praticar com veemência. Para que o surdo consiga começar a compreender a Língua Portuguesa, temos de partir do conhecimento prévio que ele possui e, assim, demonstrar a formação da estrutura do Português, por exemplo, a conjugação dos verbos, a aplicação dos gêneros, o uso do artigo etc. Esse intercâmbio pode tornar a vida social e a trajetória acadêmica do surdo muito mais fácil. O verbo tem um papel fundamental na construção de frases, na comunicação em geral. Em Libras, ele é usado apenas na forma do infinitivo. Um exemplo do processo de aprendizado do surdo é fazê-lo compreender que, no caso da Língua Portuguesa, este verbo que ele conhece no infinitivo tem variações ortográficas, isto é, uma forma de flexão relacionada a cada pronome pessoal. Este conhecimento será difícil de ser assimilado a princípio, mas, pelo exercício de repetição, exemplos e muita leitura o aluno surdo gravará a conjugação correta e sua grafia. Ex: Eu comer maçã (Libras) - Eu como maçã (Português) Você comer maçã (Libras) - Você come maçã (Português) O gosto pela leitura é entre todas as soluções a mais eficaz. Tão logo o deficiente auditivo tenha acesso a livros e chegue a compreendê-los iniciando-se por aqueles mais simples e ilustrativos, a prática da leitura fixará e ajudará o surdo a entender e praticar a gramática correta da Língua Portuguesa e suas diferenças para a língua de sinais. Assim, é importante saber que a falta da audição não é sinônimo de incapacidade UNIDADE IV109 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 109 intelectual e, sim, uma deficiência que, hoje, com os amparos legais e com o auxílio de um profissional devidamente preparado, os surdos poderão efetivamente tornar-se indivíduos participativos e produtivos na sociedade. Para tanto, deve-se considerar que desde o seu ensino da sua língua materna e a segunda língua sejam respeitadas e administradas de forma que não leve o surdo ter dificuldades ao acesso à educação, que ele tem todo o direito. O professor deverá primeiramente buscar um material que seja de interesse ao surdo, para que ele consiga despertar a vontade de aprender sem achar que o seu maior inimigo “Língua Portuguesa” seja o seu obstáculo, mas a sua garantia de ingresso ao mundo em que vive. Dessa forma, é de suma importância fazer essa analogia que estabelece os pontos em comum em ambas as línguas e descobrir as diferenças, de modo que permita entender os tempos e aspectos dos verbos. 4.7 Características das línguas de sinais A Língua de Sinais usa a modalidade visuo-espacial, que se distingue da modalidade oral-auditiva utilizada pelas línguas orais. Salienta Lucianda Ferreira Brito (1995 p.11), que: “...A linguística brasileira é pioneira no estudo da Língua Brasileira de Sinais (Libras), e que o canal visuo-espacial pode não ser o preferido pelo ser humano para o desenvolvimento da linguagem, sendo que a maioria das línguas naturais são oral-auditivas” Podemos entender que é encontrado nas línguas orais um universo linguístico, também identificados na língua de sinais. Nesse sentido, a investigação das propriedades das línguas de sinais abre novo horizonte para o entendimento das línguas naturais, além de proporcionar o desenvolvimento de tecnologias que possam contribuir para a 110 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS socialização do surdo e a afirmação dos seus valores culturais. Segue, como exemplo, uma ilustração das siglas que identifica a língua de sinais e seu universo linguístico, encontradas em línguas orais. 4.7.1 Língua de sinais encontrada em cinco continentes LIBRAS / LSB – Língua de Sinais Brasileira LGP – Língua Americana de Sinais LSF – Língua Francesa de Sinais ASL – American sign Language HSE – Hausa Sign Language (Nigéria) LIS – Língua Italiana Dei Segni BSL – British Sign Language LSA – Lengua de Señas Argentina LSC – Lengua de Senãs Chilena LSA – Língua de Sinais Australiana JSL – Japanese Sign Language LSQ – Langue des Signes Québecois LSUK – Língua de Sinais Urubu Kaapor UNIDADE IV111 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 111 4.7.2 Representações gestuais da língua de sinais A Língua de Sinais Brasileira não é universal porque cada língua é portadora da cultura das pessoas que a utilizam e, tendo a comunidade surda uma cultura própria, a Libras é diferente das demais línguas gestuais. Também os alfabetos manuais dos diversos países apresentam diferenças entre si, na maioria das suas configurações. A primeira configuração da letra A na Língua Gestual Portuguesa, na American Sign Language (Americana) e na Langue de Signes Françoise (Francesa). Não há línguas primitivas – todas as línguas são igualmente complexas e igualmente capazes de expressar qualquer ideia. O vocábulo de qualquer língua pode ser expandido a fim de incluir novas palavras para expressar novos conceitos. Um exemplo é o sinal que designa o correio eletrônico (e-mail) criado no contexto do recente surgimento dessa tecnologia. 112 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Todas as línguas mudam ao longo do tempo, segue abaixo um exemplo de diacronia na palavra pessoas, que antes era feito com as duas mãos e agora somente com uma mão na testa. As relações entre sons e significados das línguas faladas e entre os gestos (sinais) e os significados das línguas de sinais são em sua maioria arbitrárias. Em línguas de sinais, é reconhecida a motivação icônica de muitos sinais. No entanto, existem também sinais imotivados. UNIDADE IV113 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 113 Todas as línguas humanas utilizam um conjunto de sons discretos (ou gestos) que são combinados para formar elementos significativos ou palavras, os quais, por sua vez, formam um conjunto infinito de sentenças possíveis. Todas as gramáticas contêm regras de um tipo semelhante para formação de palavras e sentenças. Toda língua falada inclui segmentos sonoros discretos, como p, n, ou a, os quais podem ser definidos por um conjunto de propriedades ou traços. Toda língua falada tem uma classe de vogais e uma classe de consoantes. Línguas de sinais apresentam 114 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS segmentos discretos na composição dos sinais. Como ressalta em Ferreira – Brito (pó. Cit.: 35), “às línguas de sinais exibem a dupla articulação, isto é, unidade significativa ou morfemas, constituídas a partir de unidade arbitrárias e sem significado ou morfemas (Klima & Bellugi, 1979)”. As unidades constitutivas do sinal são: • Configuração de mão (CM) • Ponto de articulação (PA) • Movimento (M) • Orientação (Or) • Expressões não-manuais (ENM) Pode–se identificar o caráter fonológico das unidades constitutivas do sinal fato que os sinais podem se distinguir pela diferença em uma delas: Os sinais a seguir indicam contrastes no ponto de articulação (compare aprender e sábado) e na expressão não-manual (laranja e sábado): Todas as línguas apresentam categorias gramaticais (ex: nome, verbo). UNIDADE IV115 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 115 De acordo com Lemle (2002), em línguas de sinais, predominantemente `coisas´ são representadas por configurações de mão, e `mudanças´por sucessões de movimentos e sustações. Trata-se de um processo produtivo de movimentos, um sinal que contém as propriedades lexicais, e um sinal denotador de `evento´. Universais semânticos, com fêmeas ou macho, animado ou humano, são encontrados em todas as línguas. As diferenças nos sinais a seguir indicam a codificação do traço [+/- animado]. 116 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS É importante salientar que a língua de sinais é utilizada por uma comunidade onde as características pessoais são das mais diversas, sem esquecer que no universo do surdo possuem inúmeras pessoas, como os membros familiares, colaboradores e ouvintes que utilizam desta língua para se comunicarem com os deficientes auditivos. Mesmo entre eles existem vários níveis de surdez e motivos para tal, sendo imprescindível o estudo da faculdade física do ouvido, as causas e as características da surdez. Em relação ao ensino de Libras, cada país usa sua própria língua de sinais nas comunidades de surdos, diferente da língua usada na mesma área geográfica. Isso ocorre porque essas línguas são independentes das línguas orais: foram produzidas dentro das comunidades surdas. Portanto, cada país tem sua própria língua, seja na forma oral ou de sinais a exemplo do Brasil, onde a língua oral é o português e a língua de sinais é a Libras; na França, a língua oral é o francês e, na língua de sinais, é a Língua de Sinais Francesa – LSF e assim por diante. Desse modo, por não ser uma língua de sinais universal, pode-se observar, nas figuras, os diferentes pontos de articulação, movimento etc. Como a palavra (sinal) NOME: Língua de Sinais Americana – ASL Língua de Sinais Brasileira - Libras UNIDADE IV117 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 117 Além disso, dentro de um mesmo país, há variações regionais, por exemplo, na língua oral, a palavra mandioca, nome pelo qual é conhecida a espécie comestível e mais largamente difundida do gênero Manihot, composto por diversas variedades de raízes comestíveis. O nome dado ao manihot é maniva, de origem do oeste do Brasil (sudoeste da Amazônia). No Brasil, a maniva tem muitos sinônimos usados em diferentes regiões: aipi, aipim, castelinha, macaxeira, mandioca-doce, mandiocamansa, maniva, maniveira, pão de pobre e variedades como aiapuã e caiabana, ou nomes que designam apenas a raiz, como caarina. Todas se referem ao mesmo produto, mas o nome varia conforme a região, o que não significa que não seja conhecido, mas, pelo fato de não conseguir fazer referência ao nome recebido em determinado lugar, é necessário explicar, para que seja compreendido. No Brasil, a Libras apresenta dialetos regionais, ou seja, apresenta as variações de sinais de uma região para outra, no mesmo país. A variação é observada quando os diferentes sinais significam a mesma palavra. Em alguns casos, não somente o ponto de articulação (PA) é diferente como também a própria configuração das mãos (CM); já em outras regiões, o único parâmetro de articulação diferente é a CM. Ex: O sinal da cor verde: essa variação regional é configurada completamente diferente de uma região para outra, para o mesmo significado. 118 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Rio de Janeiro São Paulo Curitiba A variação social tem variações nas configurações das mãos e/ou no movimento, porém não modifica o sentido do sinal. Ponto de articulação, movimento, orientação e direção são iguais; o que vai determinar a variação, nesse caso, é somente a configuração das mãos. Observe o sinal de avião no estado de São Paulo e no Rio de Janeiro. Sinal de avião SP Sinal de avião do RJ UNIDADE IV119 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 119 Portanto, os usuários da língua podem incluir o literal e o não literal das expressões nos seus discursos, observando que o uso demasiado, provavelmente, será mal interpretado ou não compreendido. Assim, o “significado”, ou “significados” de uma expressão linguística deve apresentar características comuns compartilhadas entre os usuários da língua, para que os interlocutores se entendam. 4.8 Pronomes Pessoais A Libras possui um sistema pronominal para representar as pessoas do discurso, não é necessário tocá-las para identificar a pessoa, isto é, basta apontar na direção e direcionar o olhar e retornar imediatamente para a pessoa com quem está conversando. Na língua de sinais, usa-se a apontação para indicar as pessoas (eu, tu, ele, ela, nós, vocês e eles), para indicar localização (aqui, ali e lá) e para pronomes demonstrativos (este, esse, esta e essa). Exemplo: VOCÊ – aponta para o interlocutor (pessoa com quem se fala) com o indicador. 120 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS EU – aponta para o peito do enunciador (pessoa que fala) com o dedo indicador. Pronomes pessoas – primeira pessoa do singular. 4.8.1 Gênero Masculino e Feminino Na língua de sinais não há desinência para gênero (masculino e feminino) e número. O sinal, representado por palavras da Língua Portuguesa que possui essas marcas, será terminado com o símbolo @ para reforçar a ideia de ausência. Como por exemplo: AMIG@ (amiga ou amigo), EL@ (ele ou ela), ME@ (meu ou minha), est@ (este ou esta) etc. Como em Libras não tem essas marcas dos gêneros, os sinais geralmente são os mesmos para o masculino e feminino. UNIDADE IV121 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 121 Exemplo: EL@ (Ela ou ele) Pronome pessoal – primeira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): Eu, nós-2, nós-3, nós-4, nós-grupo, nós-tod@. Primeira pessoa do plural: nós-2, nós-3, nós-4, nós-tod@. 122 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Segunda pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): você, você-2, você-3, você-4, você-grupo, você-tod@. Segunda pessoa do plural: você-2, você-3, você-4, você-tod@. Colocar o plural UNIDADE IV123 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 123 124 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 4.9 Números e dias da semana 4.9.1 Números cardinais Os números cardinais são representados em duas formas, a primeira é configurada com o polegar para indicar quantidades de coisas e objetos. A segunda configuração é com o polegar para indicar os números, e os movimentos são feitos com a mão dominante e com movimento parada. Exemplo: Números configurados com o polegar UNIDADE IV125 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 125 Números configurados com o indicador. Números cardinais 126 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 4.9.2 Números ordinais Os números ordinais são sinalizados com a mesma configuração dos números cardinais, mais a vibração das mãos. Os números ordinais são usados para indicar os andares de um prédio – primeiro andar, segundo andar e a colocação como, por exemplo, primeiro lugar, segundo lugar Exemplo: dos números ordinais. 1º primeiro, segundo, terceiro, quarto etc. Dias da semana Os dias da semana são configurados pelos dedos da mão dominante e o seu ponto de articulação é na têmpora ao lado do olho (esquerdo ou direito). Porém UNIDADE IV127 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 127 sexta-feira, sábado e domingo o ponto de articulação muda, em frente à boca e rosto. SEGUNDA-FEIRA dedo indicador e médio TERÇA- FEIRA dedo indicador, médio e anular QUARTA-FEIRA dedo indicador, médio, anular e mínimo 128 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS SEXTA-FEIRA dedo indicador flexionado em X QUINTA-FEIRA dedo indicador e médio, configurado no número 5 DOMINGO dedo configurado em D, na frente do rosto com o movimento circular 1x. SÁBADO a configuração começa em C e termina em S UNIDADE IV129 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 129 QUARTA-FEIRA – dedo indicador, médio, anular e mínimo Meses do ano Janeiro 130 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Fevereiro Março Abril UNIDADE IV131 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 131 Maio Junho Julho 132 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Agosto Setembro Outubro UNIDADE IV133 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 133 Novembro Dezembro MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A TECNOLOGIA PARA OS SURDOS 4.10 A maior barreira para o surdo é a comunicação, quando o código é o som. A comunicação dos surdos depende exclusivamente de aparelhos, implantes, fonoaudióloga e subterfúgios que não necessitam desse código. 134 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Importante ressaltar que o surdo, mais do que qualquer outra pessoa, precisa aprender a ler, escrever, contar e entender. Portanto, não se deve associar falta de audição à falta de capacidade e inteligência. Esse preconceito é desmistificado quando percebemos que os surdos podem e são capazes de realizar ações mediadas pelo uso da língua. 4.11 O mundo é das palavras Alguns produtos e meios de comunicação usados para a comunicação dos surdos com os ouvintes e com a sua própria comunidade surda e familiares possibilitaram a integração com o mundo em que vive. Vejamos alguns desses produtos: • Telefone para surdos – TDD ou TS: Existem no mercado diversos tipos de telefones TDD para a comunidade de surdos e ouvintes, basta solicitar aos órgãos competentes. UNIDADE IV135 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 135 • Serviços da telefônica – 1402 (SP): comunicação ouvintes com surdos • Sinalização luminosa (para campainhas): quando tocar a campainha, a luz piscará várias vezes. • Chamada luminosa de telefone para surdos: ao tocar o telefone, a luz acenderá acompanhando o toque do telefone. O photo phone P-300 é um telefone amplificado que permite a inserção de pequenas fotos sobre as teclas, sendo que pode-se programar o número de telefone na memória. Ideal para pessoas com deficiências visuais e auditivas. 136 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS • Despertador e relógio com alarmes vibratórios. • receptor de choro de bebê: enquanto o bebê estiver chorando, a luz piscará continuamente. • TV: legenda escritas e janelas em Libras: closed caption. • Celular: atualmente o principal meio para se comunicar: com vibrador (recebe e envia e-mails; mensagens de texto; torpedos, câmera; vídeo). Torpedo Rybená® é um serviço de telefonia móvel que permite receber e enviar mensagens de texto na Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Pessoas com deficiência auditiva poderão, através da animação de imagens no celular, se comunicar em LIBRAS, UNIDADE IV137 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 137 como também visualizar as mensagens recebidas em texto. Ouvintes poderão enviar Torpedos Rybená®, que serão convertidos para LIBRAS, viabilizando, dessa forma, a comunicação através do uso de duas línguas (Português x LIBRAS). C onhe ç a mais Para saber mais sobre o telefone móvel e os torpedos Rybená, acesse o link rubena/libras no AVA. 4.12 O QUE É SIGNWRITING? SignWriting é um sistema visual de escrita que torna possível ler, escrever e digitar qualquer Língua de Sinais no Mundo. SignWriting utiliza símbolos visuais que representam configuração de mão, movimento e expressões faciais de qualquer Língua de Sinais. O alfabeto de SignWriting pode ser comparado com o alfabeto Romano. O alfabeto Romano é usado para escrever o Inglês, Espanhol, Francês e muitos outros idiomas falados. “ABC” é entendido por pessoas na Itália, Alemanha e Dinamarca. Embora cada língua falada seja diferente, todas utilizam o alfabeto Romano para escrever, pois ele é baseado em sons fonéticos. Da mesma forma, os símbolos do alfabeto de SignWriting são internacionais e podem ser usados para escrever os movimentos de qualquer Língua de Sinais no Mundo. Cada língua de sinais é muito diferente uma da outra, mas o alfabeto de SignWriting pode ser usado para escrever todas elas. SignWriting dá a oportunidade para que surdos escrevam sua própria literatura como livros, jornais e dicionários escritos diretamente em sinais. Ele pode ser utilizado para ensinar matemática, ciência e história para crianças surdas ou pode ser usado 138 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS para ensinar sinais a iniciantes, ajudando-os a relembrar novos sinais aprendidos em Sala. Posição das mãos e a representação da escrita. 4.13 SignWriting - Escrita de Sinais Respostas do exercício – ano, mostrar, namorado, família surdo. UNIDADE IV139 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 139 Compare o sinal de família (Libras) com a escrita de Sinais – SignWriting Exemplo: ano e família Sinal na Língua de Sinais Brasileira – ANO E a escrita de sinais – SignWriting Sinal da Língua de Sinais Brasileira – FAMÍLIA E a escrita de sinais - SignWriting 140 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Novos vocabulários: desenho, classificador, sinalização e datilologia UNIDADE IV141 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 141 142 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS Dica de Leitu r a Para melhor entendimento do aspecto da estrutura da Libras é necessário ficar atendo aos detalhes para quando for iniciar um sinal. Alguns sinais são configurados no espaço neutro horizontal ou vertical, outros possuem movimentos ou não, as expressões faciais são parte da configuração etc. Todos esses elementos fazem parte dos aspectos e da formação do sinal em Libras. GESSER, A. Libras? Que língua é essa? ed. Parábola: 2009. RODRIGUES, C.; TOMITCH, L. M. B. & COLS. Linguagem e cérebro humano: contribuição multidisciplinares. Porto alegre: ArtMed, 2003. UNIDADE IV143 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 143 4.14 CONSIDERAÇÕES DA UNIDADE IV Acabamos assim o nosso livro didático da disciplina Libras. Acredito que esta leitura possa ter lhe ajudado a compreender melhor a cultura e o universo que envolve o cotidiano dos surdos. É importante perceber que, como qualquer outra língua, precisamos continuar o estudo e a prática para o aprimoramento e fluência. Espero, assim, ter despertado em você o interesse e também a importância desta disciplina principalmente para a área da educação. Lembre-se que você deve acompanhar esta leitura com as outras mídias, acessando o Podcast e a Webaula no AVA. Para fechar esta unidade, assista ou reveja à quinta teleaula. Em caso de dúvidas, leve-as para o nosso Fórum e participe das atividades on-line. 144 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS TESTE SEU CONHECIMENTO UNIDADE IV145 - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS 145 RESPOSTAS COMENTADAS 1. c) 2. a) V b) F 3. c) Bons Estudos! 146 UNIDADE IV - AS CONVENÇÕES DA LIBRAS REFERÊNCIAS BÁSICA CAPOVILLA, Fernando Cesar e RAPHAEL, Walkiria Duarte – Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue –Língua de Sinais Brasileira – LIBRAS – volume I e II – 3ª Ed - São Paulo – Edusp – 2008. FELIPE, Tanya; MONTEIRO, Myrna. LIBRAS em contexto: Curso Básico: Livro do Professor. 4ª Ed. Rio de Janeiro: LIBRAS, 2005. FRANZ, J. Huainigg e BALHAUS, Verena – Nós falamos com as mãos – 1ª Ed. São Paulo: Scipione, 2006. COMPLEMENTAR MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – Ensino de Língua Portuguesa para surdos – caminhando para a prática pedagógica – Programa Nacional de apoio à Educação dos Surdos – volume I e II – Brasília, 2004. MOURA, Maria Cecília; VERGAMINI, A. Antonialli Sabine e CAMPOS, L. R. Sandra – Educação para Surdos: Práticas e Perspectivas – 1ª Ed. São Paulo: Santos, 2008. QUARDROS, R. M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmet, 2008. RONICE, Müller de Quadros e LODEMIR, K. Becker – Língua de Sinais Brasileira – Estudos Linguísticos – Porto Alegre: Artmed, 2004. 147 REFERÊNCIAS 147 SÁ, R. L. de. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: Ed. da Ufam, 2002. SEGALA, R. S. e KOJIMA, K. C. Libras: Língua Brasileira de Sinais a imagem do pensamento. vol. I, Ed. Escala, 2008 GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Ed. Parábola: 2009. O autor dos textos presentes neste material didático assume total responsabilidade sobre os conteúdos e originalidade. © Copyright UBC 2012 Proibida a reprodução total e/ou parcial 148 REFERÊNCIAS