Visão Sistêmica do Setor Produtivo com Foco na Capacidade Produtiva. Carolina Pallaro dos Reis – Universidade Estadual de Maringá – [email protected] Maria de Lourdes Santiago Luz - Universidade Estadual de Maringá - [email protected] RESUMO Este projeto configurou-se inicialmente como pesquisa-ação, por meio de um estudo de caso, com o objetivo de gerar conhecimentos para aplicação prática e direcionados à solução dos problemas específicos da e,presa em questão. Do ponto de vista do objetivo proposto, este foi de caráter exploratório, compreendendo levantamento e coleta de dados, reforçado pela análise descritiva e explicativa. Como referência, utilizou-se as definições relativas a indicadores de desempenho do setor produtivo, e a importância de seu conhecimento para a gestão, com destaque especial para a capacidade produtiva. Tomou-se como metodologia principal a cronoanálise para determinação da capacidade produtiva, além da aplicação de instrumentos de controle e coleta de dados a fim de obter maiores informações acerca de outros indicadores de desempenho, principalmente no que tange às perdas em processo. Como resultado do projeto, por meio do diagnóstico, elaborou-se indicadores de desempenho e proposta de um plano de ação de melhorias, no intuito de proporcionar à empresa adequação do processo através de controles e visão do sistema produtivo de modo integrado. Concluiu-se que a dificuldade da pequena e média empresa em ter uma visão sistêmica do seu setor produtivo, e conseqüentemente do seu negócio, impossibilita-a de focar suas ações para melhorias naquelas poucas causas vitais do seu baixo desempenho, o que mostra ser de grande importância que estas organizações dediquem maior atenção à coleta e controle dos dados e informações (indicadores) que viabilizam esta visão. INTRODUÇÃO O projeto apresentado neste trabalho foi realizado em uma empresa de pequeno porte, do segmento de indústrias químicas situada na cidade de Maringá, região noroeste do Paraná. O empresário apresentou como problemática principal a falta de capacidade do setor produtivo para atender à demanda crescente. A partir disso, elaborou-se como objetivo do trabalho realizar um diagnóstico relativo à capacidade produtiva instalada, assim como um levantamento dos fatores causadores de perdas em seu processo produtivo, que sejam passíveis de melhorias, além de expor possíveis soluções de maneira clara, e que possibilite à empresa uma ação corretiva futura com embasamento num plano de ação a ser oferecido como produto final do projeto. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Sob o ponto de vista de Contador (2004, p. 556) a competição exige a utilização inteligente dos recursos, e para tanto, elementos como tempo, níveis de estoques, nível de utilização de materiais, equipamentos e mão-de-obra devem ser corretamente aplicados. Defende ainda que “o gerenciamento desses elementos exige a monitoração freqüente através de indicadores de desempenho [...]”. Este autor comenta ainda a dificuldade das pequenas e médias empresas em coletar, analisar e controlar estes indicadores. Davis et al.(2001) define alguns tipos de indicadores de desempenho. São eles: produtividade, a própria capacidade, qualidade, velocidade de entrega, flexibilidade, velocidade do processo e benchmarkingi. Martins e Laugeni (2005) acrescentam a estes os 1 seguintes: nível de estoque, pontualidade na entrega (complementando o indicador de velocidade proposto por Davis et al.(2001)) e eficiência. Para definir a capacidade de uma instalação industrial, é necessário que se tenha o tempo-padrão das operações envolvidas no processo. Segundo Martins e Laugeni (2005, p. 84), tempo padrão de produção significa “tempo de produção de uma unidade, que é determinado por meio de observação [e] avaliação estatística [...]”. Martins e Laugeni (2005, p. 84-85) destacam também a cronometragem como metodologia largamente utilizada para estabelecer padrões para a produção, padrões estes que, após devidamente medidos podem servir “como uma referência futura, para avaliar o desempenho [...]”. Tubino (1999, p. 147), ressalta que “o objetivo da obtenção dos tempos-padrão [...] é o de manter a distribuição homogênea das atividades [...] e não o de fazer o operador ter o máximo de velocidade em cada uma das operações.” Assim, pode-se verificar a importância de se atentar para a devida aplicação das teorias de tempos de operação, a fim de equilibrar e balancear as atividades de produção, sem, porém, provocar a fadiga do trabalhador. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO De acordo com as necessidades da empresa e o objetivo proposto, definiram-se as atividades em conjunto com o empresário. Tais atividades estão explicitadas a seguir: 1) Análise do sistema produtivo, através de observação e entrevistas in loco; 2) Estudo, observação e coleta de informações do processo; 3) Utilização da cronoanálise para mensuração dos tempos operacionais e de processo; 4) Aplicação de instrumentos para controle e coleta dos dados de interesse; 5) Elaboração de planilhas para tratamento dos dados coletados; 6) Determinação dos tempos-padrão e da capacidade; 7) Comparação entre os dados nominais e reais; 8) Análise conclusiva dos dados e resultados; 9) Elaboração de um plano de ação que norteie a futura implantação das melhorias propostas. RESULTADOS Os dados utilizados como fontes deste estudo foram coletados no setor produtivo da empresa e são referentes ao último bimestre do ano de 2008 e primeiro bimestre de 2009. Inicialmente, por meio da observação in loco e levantamento de dados, foi possível obter, de forma qualitativa, as principais causas de perdas, que foram elencadas em Diagramas de Causa e Efeito (também conhecido como Diagrama de Ishikawa ou Espinha de Peixe), conforme ilustrado na Figura 1. Posteriormente, através da cronoanálise, obtiveram-se os tempos-padrão da produção, o que permitiu a determinação da capacidade total da fábrica pela elaboração de planilhas eletrônicas para simulações de balanceamento da linha de produção (Figura 2), bem como a mensuração do nível de utilização da capacidade instalada (Figura 3). Além deste foco na capacidade, foi também elaborado um sistema de controle de refugos e suas causas (baseado nos Diagramas de Causa e Efeito já citados anteriormente), que possibilitou a determinação das falhas críticas causadoras de perdas na produção, e, sendo incorporado às propostas de melhorias, pôde orientar a direção de atuação para redução das perdas e melhoria de desempenho. Os índices de refugos foram também utilizados na determinação da capacidade produtiva acima descrita. 2 MÃO-DE-OBRA MÉTODO Deixa o processo seguir mesmo que os problemas da máquina estejam afetando a qualidade do produto Deixa de engraxar devidamente a máquina ao final de sua utilização. Perdas de processo DESINFETANTE 2L MÁQUINAS Perdas de tempo pelos operadores realizando tarefas staff (parando o processo) Colocador de tampas deve padronizar método atentando para o cuidado com a rosqueadeira para que não danifique as tampas Calor excessivo no ambiente causa excesso de fadiga e redução de produtividade MEIO AMBIENTE Ao acionar-se a esteira, os bicos eventualmente abaixam, danificando os frascos já cheios. Atentar para qualidade do plástico dos frascos (mole ou frascos com medidas diferentes) Dificuldade na colocação das tampas, pois estas são sem lacre, e várias caem depois de já colocadas sobre o frasco. MATERIAIS Figura 1: Modelo esquemático de um Diagrama de Causa e Efeito Figura 2: Modelo de planilha eletrônica COMPARATIVO HORAS DISPONÍVEIS MÊS x HORAS PRODUTIVAS DE MÁQUINAS HORAS / MÁQUINA HORAS / MÊS 200,00 167,20 Horas 160,00 120,00 80,00 44,53 39,83 40,00 56,46 44,95 21,04 0,00 MÁQUINA MÁQUINA MÁQUINA MÁQUINA MANUAL 1 2 3 4 Equipamentos Figura 3: Gráfico - jornada disponível x capacidade utilizada dos equipamentos Com base nos dados de tempo juntamente com dados provenientes de documentos de controle de produção, foi possível ainda obter um comparativo entre capacidade real x nominal, além de informações sobre média de variação do tempo real gasto pelas máquinas em relação ao padrão cronometrado (que passou a configurar como meta de produção da 3 empresa), avaliação da utilização da capacidade das máquinas durante o mês, observação da execução do trabalho diário e sua concordância com a programação, dentre outras utilidades. Pela observação e cronoanálise foi também encaminhada a proposta de eliminação da execução das tarefas auxiliares do processo pelos operadores da linha (tempos improdutivos) e elaborou-se um documento com a classificação dos funcionários sob o critério do tempo de execução de cada atividade, facilitando o planejamento da rotatividade entre os mesmos. Durante os processos de cronometragens e demais coletas de dados, verificou-se uma necessidade de documentação padrão do processo e das atividades. Assim, paralelamente às ações propostas no objetivo e metodologia, desenvolveu-se também documentação descritiva do processo, por meio de fluxogramas de processo e Procedimentos Operacionais Padrão (tanto para os novos procedimentos de controle implantados quanto para os processos e atividades já existentes na produção), documentos estes que também configuraram como resultado do projeto aplicado. Com base no diagnóstico geral que a coleta e análise de dados permitiram, elaborou-se uma proposta de plano de ação de melhorias, que foi encaminhada à empresa como resultado final do projeto em questão. CONCLUSÃO Conforme o objetivo inicial foi possível, através do projeto, obter dados que, tratados, transformaram-se em indicadores de desempenho que refletem a situação do setor produtivo como um todo. Estes indicadores não só dão uma visão momentânea da situação da empresa, como possibilitam o acompanhamento da evolução dos mesmos, através das planilhas eletrônicas disponibilizadas à empresa. Pela análise dos dados, concluiu-se que a falta de capacidade da empresa não reside somente nos aspectos de nível operacional (tais como capacidade de equipamentos, perdas em processo), remetendo a possíveis problemas de gestão. Isto reforça o que diz a teoria, no que tange à fragilidade da pequena e média empresa na correta coleta, análise e controle das informações (indicadores) vitais ao seu desempenho, levando a equívocos nos focos de ações para melhoria. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONTADOR, J. C. (Coord.). Gestão de operações: a engenharia a serviço da modernização da empresa. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. DAVIS, M. M. et al. Fundamentos da administração da produção. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2005. TUBINO, D. F. Sistemas de produção: a produtividade no chão de fábrica. Porto Alegre: Bookman, 1999. i Comparação dos indicadores de uma empresa com as organizações consideradas de classe mundial (Davis, 2001, p. 127). 4