Ano 9 Número 2 29 de maio de 2008 www.cni.org.br
Expansão da capacidade produtiva favorece
crescimento econômico equilibrado
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A capacidade produtiva da indústria está se expandindo, o que é essencial para a
manutenção de um processo contínuo de crescimento.
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A expansão da capacidade produtiva tem sido suficiente para que a oferta possa
acompanhar o ritmo de expansão da demanda.
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A atual expansão dos investimentos iniciou-se um ano antes da intensificação da atividade
industrial em 2007, o que permitiu à produção industrial crescer sem gerar pressões
adicionais relevantes sobre a UCI.
▌
As pressões inflacionárias recentes não derivam da incapacidade da indústria em atender a
demanda crescente.
Mais uma vez, a aceleração do crescimento econômico alimenta preocupações sobre a capacidade da indústria em atender a demanda crescente. Argumenta-se que a capacidade de
produção da indústria brasileira se aproxima de seu limite, o
que estaria pressionando a inflação. Esta nota apresenta evidências contrárias a essa avaliação. Observa-se que a capacidade de produção da indústria tem acompanhado a expansão
da demanda agregada e as recentes pressões sobre os preços
industriais não derivam da incapacidade da oferta em atender
a demanda.
Ampliação dos investimentos garante
aumento da capacidade de produção
Não há estatísticas que meçam diretamente a capacidade produtiva do país, pelo menos não a tempo hábil de se utilizar os
instrumentos de controle de demanda e evitar o crescimento da
inflação ou a recessão desnecessária. Desse modo, é usual se
estimar a evolução da capacidade instalada tendo como base o
investimento, que afeta diretamente a capacidade produtiva.
Segundo as Contas Nacionais (IBGE), a formação bruta de capital fixo ampliou-se 13,4% em 2007, após já ter se expandido
10,0% em 2006. Não há registro nas últimas duas décadas de
outro período no qual os investimentos no Brasil cresçam a
taxa de dois dígitos por dois anos consecutivos.
A ampliação do investimento é um bom indício do aumento da
capacidade de produção. No entanto, é preciso mais informações para afirmar que esse aumento tem sido o suficiente para
permitir uma expansão econômica equilibrada, com a oferta
se expandindo ao mesmo ritmo da demanda. O investimen-
A formação bruta de capital fixo cresce à taxa
de dois dígitos por dois anos consecutivos
Gráfico 1: Formação Bruta de Capital Fixo
Taxa de Variação (%)
13,4
10,0
9,1
5,0
3,6
0,4
2000
2001
-5,2
-4,6
2002
2003
Fonte: Contas Nacionais, IBGE.
Confederação Nacional da Indústria
2004
2005
2006
2007
to precede a expansão da capacidade produtiva, mas há uma
defasagem entre o ato de investir e o aumento da capacidade
produtiva. Desse modo, é necessário o uso de outras estatísticas para avaliar se a capacidade de produção da indústria está
aumentando no ritmo necessário para se atender ao crescimento da demanda.
Uma maneira de se inferir o que acontece com a capacidade produtiva de um país é comparar a evolução da produção
industrial com o nível de utilização da capacidade instalada
(UCI). A hipótese básica é que a variação da UCI é diretamente relacionada à variação da produção, a menos que ocorra
aumento da capacidade instalada ou da produtividade, que
permitiria o aumento da produção sem crescimento equivalente da UCI.
Aumento da capacidade produtiva tem sido
suficiente para atender o crescimento da
demanda
Duas pesquisas da CNI estimam o percentual de UCI na indústria: Indicadores Industriais e Sondagem Industrial. Embora diferentes, tanto em termos metodológicos como amostrais, as
pesquisas apontam para um quadro semelhante: a produção
industrial vem crescendo a um ritmo superior ao da UCI. Em
outros termos, a capacidade produtiva da indústria brasileira
está se expandindo.
A pesquisa Indicadores Industriais é quantitativa e procura medir a evolução mensal da indústria através de variáveis como
vendas e emprego. Apesar de não pesquisar a produção, é
Os sinais de expansão da capacidade produtiva
são evidentes em 2004/05 e em 2007
Gráfico 2: Horas Trabalhadas na Produção e UCI
Dados Dessazonalizados
Base: Janeiro de 2003 = 100
possível usar as horas trabalhadas na produção como indicador
do comportamento da produção industrial.
Para se comparar a evolução da UCI e das horas trabalhadas
é preciso considerar a diferença de natureza dos dois indicadores. O indicador de horas trabalhadas é número-índice com
base fixa, enquanto a UCI é um indicador percentual. Como
forma de melhor comparar a evolução das variáveis, a UCI foi
transformada em número-índice de base fixa. O Gráfico 2 apresenta as duas séries.
Nos últimos cinco anos, identificam-se dois períodos de aumento da capacidade produtiva: o primeiro se inicia no quarto
trimestre de 2004 e se encerra no segundo trimestre de 2005.
O segundo período se inicia no segundo trimestre de 2007 e
se estende até os dias atuais. As duas séries se distanciam
nesses dois períodos, ou seja, as horas trabalhadas crescem
mais rápido que a UCI, evidenciado o aumento da capacidade
produtiva. Ainda mais relevante é o momento recente, em que
as horas trabalhadas aumentam, mas a UCI permanece relativamente estável.
Ambas as expansões de capacidade ocorrem em períodos de
forte crescimento da produção. No primeiro período de forte
crescimento – entre agosto de 2003 e junho de 2005 –, as horas trabalhadas na produção ampliaram-se ao ritmo médio de
6,3% ao ano. No atual período de expansão – entre janeiro de
2007 e março de 2008 –, as horas cresceram ao ritmo médio
de 6,8% ao ano.
No entanto, há uma diferença fundamental entre os dois períodos, que permitiu a formação do crescimento equilibrado
atual. No período de crescimento atual, a expansão da capacidade produtiva foi concomitante ao forte crescimento da
atividade econômica. No período de crescimento passado
(2003/2005), a expansão da capacidade foi observada só um
ano após o início do crescimento econômico. Assim, crescimentos de intensidade similar geraram impactos diferentes
na UCI, reflexo da expansão da capacidade de produção da
indústria.
Se no período 2003/2005 o recrudescimento da atividade
econômica levou ao crescimento expressivo da UCI, o mesmo fato não foi observado no crescimento atual. Nos primeiros doze meses do primeiro período de forte crescimento da
atividade econômica (agosto de 2003 a agosto de 2004), as
empresas industriais ampliaram em 4,4 pontos percentuais
o nível de utilização da capacidade instalada. Em contrapartida, nos doze primeiros meses do período 2007/2008,
o aumento do nível de UCI foi bastante inferior: 1,7 ponto
percentual.
Fonte: Indicadores Industriais, CNI.
Ano 9, n.2, 29 de maio de 2008
Retomada gradual do crescimento permitiu
que a capacidade de oferta acompanhasse
o crescimento da demanda
O que diferencia o comportamento da UCI nesses dois períodos de forte crescimento é a tempestividade do crescimento.
O ciclo de expansão da atividade industrial que se iniciou em
2003 começou de forma abrupta, imediatamente após um período de recessão como é ilustrado no Gráfico 2. Já o período
atual foi precedido por um período de recuperação gradual da
economia. Conseqüentemente, o investimento começou a
acelerar antes da economia iniciar o forte crescimento, permitindo que os efeitos sobre a capacidade produtiva se fizessem
presentes no início da forte expansão.
O período de expansão em 2003 foi precedido por uma recessão. A formação bruta de capital fixo recuou 4,9% na média
dos três primeiros trimestres de 2003, contra o mesmo período de 2002. A resposta dos investimentos à recuperação
econômica só se mostrou significativa no segundo trimestre
de 2004, com taxas de expansão anual superiores a 10% ao
ano. Ainda assim, a UCI continuou a expandir ao ritmo de 1 p.p.
por trimestre, visto que há uma defasagem entre a realização e
a maturação dos investimentos.
A maturação dos investimentos (expansão da capacidade produtiva) é observada apenas no último trimestre de 2004, como
ilustrado pelo distanciamento das duas séries (veja Gráfico 2).
Não obstante, aparentemente estimulado pelo forte crescimento da UCI, o Banco Central iniciou a política de restrição
da demanda, interrompendo o crescimento, o investimento e o
processo de expansão da capacidade produtiva.
Em 2007, ao contrário do registrado em 2003/4, o período de forte
crescimento foi precedido por um período de leve retomada da
atividade. A retomada gradual do crescimento em 2006 estimulou
o investimento. Ou seja, uma quantidade relevante de investimentos foi realizada antes da intensificação da atividade industrial em
2007, o que permitiu que a produção industrial crescesse sem
gerar pressões adicionais relevantes sobre a UCI.
A maturação dos investimentos realizados em 2006 possibilitou o aumento da capacidade de produção concomitantemente à aceleração do ritmo de crescimento da atividade, conforme ilustrado pelo Gráfico 2. Note-se que a partir do primeiro
trimestre de 2007 o crescimento das horas trabalhadas se
acelera, aumentando a distância entre as duas séries. Esse
descolamento entre as séries de horas trabalhadas e de UCI
representa o crescimento da capacidade produtiva da indústria. No fim de 2007 – e mais especificamente neste início de
2008 –, esse processo torna-se ainda mais evidente com a
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continuidade do crescimento da atividade industrial e, concomitantemente, estabilidade da UCI.
Sondagem Industrial também indica
aumento da capacidade produtiva
A Sondagem Industrial é uma pesquisa qualitativa que procura medir a evolução trimestral da indústria. A pesquisa apura a percepção do empresário com relação ao desempenho de sua empresa
e a expectativa com relação ao desempenho futuro. A pesquisa
apura tanto a evolução da produção como o nível de UCI.
Assim como no caso dos Indicadores Industriais, há uma diferença na natureza entre os indicadores. A UCI é divulgada
como percentual e a evolução da produção através de um indicador de difusão que varia entre 0 e 100 pontos. O indicador
é de base móvel e retrata a variação da produção no trimestre
na comparação com o trimestre anterior. A base do indicador é
50. Valores acima de 50 pontos indicam crescimento e valores
abaixo de 50, redução. Assim como no caso anterior, transformamos os percentuais em indicadores de difusão. Ambas as
séries são apresentadas no Gráfico 3.
No Gráfico 3, que apresenta as séries desde 2000, verificamse três períodos de descolamento das duas séries na forma de
crescimento mais intenso da produção que da UCI: 2000; 2004;
e 2006/07. No período de crescimento recente, a partir do segundo trimestre de 2006 a produção se expandiu significativamente mais que a UCI, corroborando as evidências de aumento
da capacidade produtiva da indústria, sobretudo em 2007.
Em 2000, 2004 e em 2007 a produção cresce
mais que a UCI, o que sinaliza aumento da
capacidade produtiva
Gráfico 3: Indicadores de Evolução da Produção e da
UCI da Indústria
Indicadores variam de 0 a 100 pontos. Valores acima de 50
pontos indicam crescimento em relação ao trimestre anterior.
65
60
55
50
45
40
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Fonte: Sondagem Industrial, CNI.
CONCLUSÃO
Em síntese, as evidências aqui apresentadas sugerem que a
indústria brasileira vive um momento de maturação de investimento, logo, de expansão da capacidade produtiva. Mais
importante, a expansão da capacidade produtiva tem sido
suficiente para que a oferta cresça e acompanhe a expansão
da demanda. Desse modo, ainda que a demanda doméstica
mantenha-se em crescimento, a capacidade de oferta da indústria está se expandindo rápido o suficiente para se evitar
um desequilíbrio entre oferta e demanda e o conseqüente
acirramento da inflação.
A expansão vigorosa dos investimentos a partir de 2006
– um ano antes da intensificação da atividade industrial
– foi essencial para que a capacidade de oferta se ajustasse a tempo de evitar um desequilíbrio entre o ritmo
de crescimento da oferta e o da demanda. Ou seja, o
aumento dos investimentos foi capaz de aumentar a capacidade produtiva da indústria antes de se atingir o nível
de capacidade plena. Isso explica a estabilidade do nível
de utilização da capacidade no fim de 2007 e início de
2008.
Cabe ressaltar que o nível de UCI atual está acima dos níveis registrados em 2004, quando o Banco Central decidiu
intervir – aumentando as taxas de juros – com a justificativa
de se evitar um acirramento da inflação. Isso tem levado
alguns analistas a sugerir que a indústria brasileira encontrase muito próximo à sua capacidade plena, o que impediria a
oferta de acompanhar o ritmo de crescimento da demanda
e requereria nova intervenção do Banco Central.
Não obstante, como mostrado nessa nota, a análise comparativa da evolução da produção e/ou horas trabalhadas e da
UCI apontam para outra direção. O acirramento da inflação
não decorre da incapacidade da indústria em atender a demanda crescente. O crescimento da capacidade produtiva
da indústria tem permitido o crescimento da oferta sem gerar pressões inflacionárias.
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Expansão da capacidade produtiva favorece crescimento