Professor Me. Carlos Eduardo Santana Alves FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL graduação GESTÃO AMBIENTAL MARINGÁ-pr 2012 Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenação de Marketing: Bruno Jorge Coordenação Comercial: Helder Machado Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação de Curso: Silvio Silvestre Barczsz Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Jaime de Marchi Junior, José Jhonny Coelho, Robson Yuiti Saito e Thayla Daiany Guimarães Cripaldi Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo Revisão Textual e Normas: Amanda Polli, Cristiane de Oliveira Alves, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini e Maria Fernanda Canova Vasconcelos Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Fundamentos da gestão ambiental / Carlos Eduardo Santana Alves. Maringá - PR, 2012. 158 p. “Graduação em Gestão Ambiental - EaD”. 1. Gestão ambiental. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Sustentabilidade. 4.EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 363.7 CIP - NBR 12899 - AACR/2 “As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”. Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - [email protected] - www.ead.cesumar.br FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL Professor Me. Carlos Eduardo Santana Alves APRESENTAÇÃO DO REITOR Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Professor Wilson de Matos Silva Reitor FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 5 Caro(a) aluno(a), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido. Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento. Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa. Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária. Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem! Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenadora Pedagógica do NEAD - CESUMAR 6 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância APRESENTAÇÃO Livro: FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL Professor Me. Carlos Eduardo Santana Alves Este livro foi elaborado visando dar subsídios científicos à disciplina de Fundamentos da Química Ambiental do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR, sendo que a realização desta obra aconteceu pela integração da área química, biológica e da engenharia da instituição. Dessa forma, gostaria de agradecer a Silvano Piovan (Ciências Biológicas) e Dyeine Luchina de Almeida (Engenharia Civil) pelo empenho e dedicação nas discussões e importantes trabalhos desenvolvidos que auxiliaram na elaboração desta obra. Se pensarmos como Carl Sagan em sua obra: “Bilhões e Bilhões – Reflexões sobre vida e morte na virada do milênio”1, na qual ele apresenta o planeta como indivisível, é possível afirmar que todas as atividades humanas realizadas em qualquer lugar do planeta têm influência sobre todos os ecossistemas existentes no planeta. Dentro desse contexto, a química ambiental, que é uma ciência multidisciplinar (Química, Biologia, Geologia, Ecologia e Engenharia Sanitária), além de estudar as reações, os produtos e as fontes das substâncias químicas, ou seja, a química dos processos naturais existentes no ar, na água e no solo do planeta, deve estudar também os fenômenos causados pelo homem que podem comprometer a saúde humana ou de todo o planeta. Com a preocupação em melhorar a qualidade de vida em nosso planeta, a química desempenhou um papel de grande importância no progresso do aumento da expectativa de vida com mais saúde, conforto e diversão por meio do desenvolvimento de medicamentos, computadores, automóveis, televisores e DVD’s, lâmpadas e diversas fibras sintéticas. Por outro lado, em função desse desenvolvimento, grandes quantidades de produtos tóxicos e corrosivos são gerados e despejados no ambiente. “O nosso planeta é indivisível. Na América do Norte, respiramos oxigênio gerado na floresta tropical brasileira. A chuva ácida das indústrias poluentes no meio-oeste norte-americano destrói florestas canadenses. A radioatividade de um acidente nuclear na Ucrânia compromete a economia e a cultura na Lapônia. A queima de carvão na China aquece a Argentina. Os clorofluorocarbonetos liberados por um ar-condicionado na Terra-Nova ajudam a causar câncer de pele na Nova Zelândia. Doenças se espalham rapidamente até os pontos mais remotos do planeta e requerem um trabalho médico global para serem erradicadas. E, sem dúvida, a guerra nuclear e um impacto de um asteroide representam um perigo para todo o mundo”. 1 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 7 Mas nos enganamos ao pensar que apenas as atividades químicas ou industriais geram substâncias prejudiciais ao planeta, pois as atividades realizadas em cada residência podem gerar efluentes e resíduos nocivos que afetam negativamente o meio ambiente. Atualmente é possível perceber a atmosfera carregada com dióxido de carbono emitido pelos carros e motores à combustão que usamos, tem-se a ocorrência de rios contaminados com alta carga de poluentes provenientes do lançamento de esgoto doméstico, existem várias áreas produtivas que foram cobertas por lixo doméstico. Um ponto importante desse cenário é a capacidade que o planeta possui de lidar com esses resíduos, convertendo-os de volta aos seus recursos naturais que chamamos de capacidade de carga do planeta. Essa capacidade de carga do planeta é limitada e existem várias indicações de que ela já está sendo excedida, ou seja, se produz mais resíduo e se consome os recursos naturais mais rapidamente do que o planeta consegue convertê-los e repô-los, o que nos mostra que nossas atividades não são sustentáveis. Apesar de a ciência envolvida nos problemas ambientais ser altamente complexa, ela pode ser entendida e avaliada apenas com o conhecimento detalhado dos conceitos básicos de química. Dessa forma, ao longo deste livro será possível obter conceitos de química básica e de alguns processos naturais que possibilitará a todos que o obterem iniciar ações que contribuam para a melhoria da qualidade de vida dos seres vivos e das condições ambientais do planeta. Para um bom entendimento da relação entre as atividades humanas e a degradação ou manutenção do meio ambiente, as unidades I e II têm como objetivo relembrar conceitos básicos de química. Nessas unidades, serão apresentados os elementos e compostos químicos, as ligações químicas que ocorrem entre os elementos químicos e que normalmente são dependentes das características de cada elemento. Também serão abordadas as classes de compostos inorgânicos, as funções inorgânicas e as propriedades de cada elemento químico, assim como das substâncias químicas, a estrutura dos compostos orgânicos, as principais classes de elementos orgânicos e sua relação com energia. Todas as formas de vida na Terra dependem de água para sobreviver, sendo o ser humano um dos que mais consomem água em suas atividades diárias. Cada vez mais água é utilizada em atividades domésticas, como: tomar banho, lavar as mãos, lavar louça, cozinhar, irrigar os jardins e gramados, lavar calçadas, lavar o carro etc., com o objetivo de entender os efeitos 8 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância da ação humana sobre a disponibilidade e qualidade de água para os seres vivos. A unidade III será abordado o conceito de poluição da água, os poluentes aquáticos, os parâmetros indicativos de poluição da água (físicos e químicos), eutrofização, conteúdo orgânico (DBO e DQO), classificação do esgoto doméstico e dos resíduos industriais e as principais formas de poluição existentes. Analisando o aumento da utilização dos compostos químicos orgânicos na agricultura e em atividades de proteção à saúde humana, é possível observar consequências ambientais graves devido à toxicidade desses compostos com relação à saúde humana especialmente no que diz respeito ao câncer e defeitos congênitos e ao bem-estar de organismos inferiores. Para compreender os problemas ambientais associados ao uso dos pesticidas, a unidade IV contém informações a respeito dos conceitos de bioacumulação e biomagnificação das propriedades e estrutura dos pesticidas, princípios gerais de toxicologia relacionados aos efeitos na saúde humana, características e propriedades das dioxinas e furanos, além dos efeitos destes compostos à saúde humana. Em função do grande desenvolvimento da sociedade, os metais têm sido cada vez mais utilizados, incluindo metais que são venenosos para os seres humanos, os chamados metais pesados, que são os mais perigosos para o meio ambiente por seu uso intensivo e sua toxicidade. Apesar disso, eles não penetraram no meio ambiente de maneira a constituírem grande perigo, mas em regiões menores eles já foram encontrados em níveis tóxicos. Com o intuito de permitir a prevenção da contaminação por metais pesados e a recuperação de áreas contaminadas com esses metais, a unidade V apresenta informações a respeito das propriedades e forma apresentada pelos metais pesados na natureza, bem como os princípios gerais de toxicologia relacionados aos efeitos na saúde humana. Vários problemas ambientais, provavelmente semelhantes àqueles existentes onde você vive, podem ser resolvidos ou prevenidos se aprendermos mais sobre eles, portanto a química ambiental se tornará mais que um tópico de interesse apenas acadêmico, ela se tornará um assunto que fará parte da sua vida diária de forma muito prática. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 9 Sumário UNIDADE I QUÍMICA GERAL E INORGÂNICA IONIZAÇÃO..............................................................................................................................21 LIGAÇÕES QUÍMICAS............................................................................................................24 PROCESSOS ENDOTÉRMICOS E EXOTÉRMICOS..............................................................30 ÁCIDOS E BASES...................................................................................................................30 SOLUÇÕES-TAMPÃO..............................................................................................................34 A CONCENTRAÇÃO DE H+ E OS SISTEMAS BIOLÓGICOS.................................................35 OS ÍONS HIDROGÊNIO E OS METAIS PESADOS................................................................37 UNIDADE II QUÍMICA ORGÂNICA ESTRUTURAS DAS MOLÉCULAS ORGÂNICAS...................................................................45 MOLÉCULAS ORGÂNICAS E ENERGIA................................................................................53 UNIDADE III QUÍMICA DA POLUIÇÃO HÍDRICA PRINCIPAIS FORMAS DE POLUIÇÃO ..................................................................................61 PRINCIPAIS POLUENTES AQUÁTICOS.................................................................................65 PARÂMETROS INDICATIVOS DA POLUIÇÃO DAS ÁGUAS.................................................69 EUTROFIZAÇÃO......................................................................................................................90 CONTEÚDO ORGÂNICO........................................................................................................92 UNIDADE IV Poluentes orgânicos e persistentes BIOACUMULAÇÃO E BIOMAGNIFICAÇÃO............................................................................98 TOXINAS E FURANOS..........................................................................................................100 AGROQUÍMICOS...................................................................................................................106 DDT........................................................................................................................................ 112 UNIDADE V Metais pesados CÁDMIO.................................................................................................................................136 ARSÊNIO...............................................................................................................................137 CHUMBO...............................................................................................................................138 MERCÚRIO............................................................................................................................140 ALUMÍNIO..............................................................................................................................144 BÁRIO....................................................................................................................................145 COBRE...................................................................................................................................146 MANGANÊS........................................................................................................................... 147 CROMO..................................................................................................................................148 NÍQUEL..................................................................................................................................149 ZINCO.................................................................................................................................... 151 CONCLUSÃO.........................................................................................................................154 REFERÊNCIAS......................................................................................................................155 UNIDADE I QUÍMICA GERAL E INORGÂNICA Professor Me. Carlos Eduardo Santana Alves Objetivos de Aprendizagem • Relembrar conceitos básicos da química. • Compreender a Tabela Periódica e como é organizada. • Compreender como ocorrem as ligações químicas. • Estudar a Nomenclatura de compostos inorgânicos. • Estudar os Conceitos sobre pH. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Ionização • Ligações Químicas • Distribuição Eletrônica • Massa Atômica • Nomenclatura de Compostos Inorgânicos • Processos Endotérmicos e Exotérmicos • Ácidos e Bases • Escala de pH • Soluções-tampão INTRODUÇÃO Toda matéria existente no mundo é formada por uma enorme variedade de combinações entre aproximadamente 100 elementos químicos diferentes. Sendo que mais de 97% da massa da maioria dos organismos é atribuída a apenas seis deles: oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. Além desses, mais 23 elementos foram encontrados em diversos organismos vivos. Cinco deles, em sua forma iônica, são necessários a todos os organismos: Ca2+, Cl-, Mg2+, K+ e Na+. Para compreender a diversidade no comportamento químico da matéria e determinar como as propriedades de uma substância se relacionam com os tipos de átomos que ela contém, precisamos analisar de forma submicroscópica alguns desses elementos. Como os átomos se combinam para formar moléculas inorgânicas ou orgânicas, benéficas ou não para o meio ambiente? O que a especificidade das propriedades físicas e químicas dos compostos tem haver com a estrutura atômica? Essas serão questões aqui abordadas a fim Fonte: SHUTTERSTOCK.COM de melhor entender a relação da química com o meio ambiente. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 17 O termo “produto químico” muitas vezes é usado com sentido pejorativo, sendo responsabilizado pelos problemas de poluição. No entanto, a maioria dos problemas ambientais como, por exemplo, a contaminação biológica da água potável foi resolvida com uma grande contribuição da química. Portanto, produtos químicos ou substâncias químicas sintéticas podem ou não ser tóxicos, isso dependerá de suas propriedades. O meio ambiente é constituído por diferentes substâncias capazes de alterar sua forma química em função de fatores bióticos e abióticos (ver Quadro 1). Especulando sobre a natureza da matéria, Demócrito (460 – 370 a.C.) e outros filósofos gregos antigos pensavam que a matéria era formada por partículas indivisíveis chamadas átomos. Mais tarde, Platão e Aristóteles formularam a hipótese de que não poderia haver partículas indivisíveis. Mas foi somente quando os químicos aprenderam a medir a quantidade de matéria que reagia com outra para formar uma nova substância que os átomos passaram a ser considerados como os componentes químicos fundamentais da natureza. Quadro 1 − Fatores Bióticos e Abióticos Em ecologia são considerados Fatores Bióticos: • produtores; • macroconsumidores; • microconsumidores. Fatores Abióticos: • substâncias inorgânicas; • compostos orgânicos; • regime climático; • temperatura; • luz; • pH; • oxigênio e outros gases; • umidade; • solo. Fonte: baseado em Brown (2005) De acordo com John Dalton (1766-1844), átomos são as menores partes de um elemento que mantêm a identidade química desse elemento. Como observado nos postulados da teoria de 18 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Dalton, um elemento é composto por apenas uma espécie de átomo, enquanto um composto contém átomos de dois ou mais elementos. Dalton chegou à sua conclusão sobre átomos com base nas observações químicas no universo macroscópico do laboratório. Porém, à medida que novos métodos de investigação mais detalhados foram desenvolvidos, o átomo, que se supunha indivisível, começou a mostrar sinais de ser uma estrutura mais complexa. Em 1897, o cientista britânico J. J. Thomson publicou um artigo em que apresentou suas observações e concluiu que os raios catódicos são jatos de partículas com massa carregadas negativamente. O artigo de Thomson é conhecido como a descoberta daquilo que chamamos de elétron. No início do século XX, Thomson argumentou que, já que os elétrons compreendiam apenas uma pequena fração igualmente pequena do tamanho do átomo, este consistia em uma esfera positiva uniforme de matéria, na qual os elétrons estavam incrustados. Em 1911, Ernest Rutherford (1871-1937) e seus colaboradores contestaram o modelo de Thomson postulando que a maioria da massa do átomo e toda sua carga positiva residiam em uma região muito pequena e extremamente densa, que ele chamou de núcleo. Os nêutrons foram descobertos em 1923 pelo cientista britânico James Chadwick (1981-1972). Desde o tempo de Rutherford, novas descobertas aumentaram a lista de partículas que compõem o núcleo atômico. Porém, para nossos estudos, podemos adotar uma visão muito simples do átomo, pois apenas três partículas subatômicas – próton, nêutron e elétron – influenciam o comportamento químico e a organização dos elementos na tabela periódica. Muitos elementos apresentam similaridades muito fortes entre si. A organização desses elementos em ordem crescente de número atômico (número de prótons existentes no núcleo de um átomo), que considera ainda outras propriedades químicas, é conhecida como tabela periódica (Figura 1). As colunas na tabela periódica chamam-se grupos (numeradas de 1A a 8A ou de 1 a 18). As linhas na tabela periódica chamam-se períodos. Os metais estão localizados no lado esquerdo da tabela periódica (a maioria dos elementos são metais), os não FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 19 metais na parte superior do lado direito. Já os elementos com propriedades similares, tanto com os metais quanto com os não metais, são chamados metaloides ou semimetais e estão localizados no espaço entre os metais e os não metais. Alguns dos grupos na tabela periódica recebem nomes especiais. Esses nomes indicam as similaridades entre os membros de um grupo: Grupo 1A: Metais alcalinos. Grupo 2A: Metais alcalinos terrosos. Grupo 6A: Calcogênios. Grupo 7A: Halogênios. Grupo 8A: Gases nobres. Figura 1 – Tabela periódica Fonte: < http://www.tabelaperiodicacompleta.com/> 20 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância IONIZAÇÃO Ao analisar a tabela periódica (Figura 2), é possível observar no canto superior esquerdo um elemento de destaque, o Hidrogênio. Esse não metal é o elemento mais abundante no universo, encontrado na natureza como um gás incolor, H2(g) ou formando moléculas com diferentes átomos. Para tanto, o Hidrogênio em forma de íon (H+) apresenta grande poder de interação com elétrons de moléculas polares como a água (H2O). Figura 2 – Grupo 1A: destaque para o Hidrogênio Fonte: <http://www.tabelaperiodicacompleta.com/> Para entender o conceito de ionização, vamos analisar as propriedades químicas do elemento em questão. Note que, na tabela periódica, o Hidrogênio possui configuração 1s1 e número atômico 1, o que significa que possui apenas um elétron na eletrosfera e um próton no núcleo. Os átomos, de forma geral, são constituídos de elétrons (carregados negativamente) dispostos em um ou mais orbitais que formam a eletrosfera e por um núcleo formado por partículas subatômicas: prótons (carregados positivamente) e nêutrons (de carga neutra, formados por partículas menores, os quarks). No caso do Hidrogênio, o núcleo possui apenas uma partícula subatômica, um próton. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 21 Em um átomo, o núcleo não se torna carregado por processos químicos ordinários, mas os átomos podem facilmente ganhar ou perder elétrons. Dessa forma, durante o processo de ionização, o átomo não sofre alterações no núcleo, mas o que se altera é o número de elétrons. Se um elétron é adicionado a eletrosfera do átomo, forma-se um íon carregado negativamente (1-) chamado ânion. Se um elétron é removido, forma-se um íon carregado positivamente (1+) chamado cátion. Por possuir apenas um elétron, o átomo de hidrogênio, ao perdê-lo, tornase o íon denominado próton: H+. Este é o isótopo (ver Quadro 2) mais comum do hidrogênio, constitui 99,9844% do hidrogênio natural. Dois outros isótopos são conhecidos: o 1H2, cujo núcleo contém um próton e um nêutron, e H3, chamado de trítio, cujo núcleo contém um próton e dois nêutrons. O isótopo 1H2, também 1 chamado de deutério, constitui 0,0156% do hidrogênio natural. Em geral, representa-se o deutério com o símbolo D nas fórmulas químicas, como em D2O (óxido de deutério), conhecido como “água pesada”. Pelo fato de um átomo de deutério possuir número de massa aproximadamente duas vezes maior que um próton, as propriedades das substâncias com deutério variam em relação àquelas constituídas por próton. Os pontos de fusão e ebulição do D2O, por exemplo, são 3,81°C e 101,2°C respectivamente, enquanto para H2O são 0,00°C e 100,00°C. 22 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Quadro 2 – Isótopos, isóbaros e isótonos • ISÓTOPOS: São átomos que apresentam o mesmo número atômico* e diferentes números de massas**. H1 1 H2 H3 1 1 • ISÓBAROS: São átomos que apresentam diferentes números atômicos e mesmo número de massa. K40 19 20 Ca40 • ISÓTONOS: São átomos que apresentam diferentes números atômicos, diferentes números de massa e mesmo número de nêutrons. Cl37 17 20 Ca40 *NÚMERO ATÔMICO = número total de prótons. **NÚMERO DE MASSA = número total de prótons mais nêutrons em um átomo. Fonte: Brown (2005) O terceiro isótopo 1H3, também chamado de trítio, é formado continuamente na atmosfera mais alta nas reações nucleares induzidas pelos raios cósmicos. Entretanto, por causa de sua meia-vida (ver Quadro 3) curta, apenas pequenas quantidades existem naturalmente. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 23 Quadro 3 – Tempo de meia-vida MEIA-VIDA: O decaimento radioativo é um processo cinético de primeira ordem, ou seja, tem meia-vida característica, que é o tempo necessário para metade de certa quantidade de uma substância reagir. O trítio é radioativo, com meia-vida de 12,3 anos. Assim, se começarmos com 10,0g de trítio, apenas 5,0g desse isótopo permaneceriam após 12,3 anos. Fonte: Brown (2005) Os íons hidrogênio merecem destaque especial, pois são altamente reativos. Quando presentes em altas concentrações em um ambiente aquático podem afetar de forma significativa a atividade biológica. Fonte: SHUTTERSTOCK.COM LIGAÇÕES QUÍMICAS Quando átomos ou íons estão muito ligados a outros, dizemos que existe uma ligação química 24 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância entre eles. Existem três tipos gerais de ligações químicas: iônica, covalente e metálica. A ligação iônica é a força eletrostática que existe entre íons de cargas de sinais contrários. Esse tipo de ligação ocorre entre metais e não metais. A transferência de elétrons para formar íons de cargas opostas ocorre quando os átomos envolvidos diferem em suas atrações por elétrons. O cloreto de sódio (NaCl), por exemplo, é um composto iônico comum, pois consiste em um metal de baixa energia de ionização e um não metal com alta eletroafinidade (ver Quadro 4). Quadro 4 – Propriedades periódicas • Energia de Ionização: É a energia necessária para remover o elétron mais periférico de um átomo isolado. • Eletroafinidade: É a energia mínima necessária para arrancar um elétron de um ânion no estado gasoso, gerando assim um átomo neutro. • Eletronegatividade: É a tendência que um átomo tem de atrair elétrons em uma ligação química. • Eletropositividade: É a tendência que um átomo tem de perder elétrons em uma ligação química. Fonte: Brown (2005) A ligação covalente resulta do compartilhamento de elétrons entre dois átomos. Normalmente ocorre entre elementos não metais. O exemplo mais simples de ligação covalente é a que acontece na molécula de H2. Quando dois átomos de hidrogênio estão próximos um do outro, ocorrem interações eletrostáticas entre eles. Os dois núcleos carregados positivamente repelem-se mutuamente, assim como os dois elétrons carregados negativamente, enquanto o FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 25 núcleo e os elétrons atraem um ao outro (Figura 3). Elétron Atração Repulsão Núcleo Figura 3 – Atrações e repulsões entre elétrons e núcleo da molécula de hidrogênio Fonte: Brown (2005) A ligação metálica ocorre em metais como cobre, ferro e alumínio. Nesses metais, cada átomo está ligado a vários átomos vizinhos. Os elétrons vizinhos estão relativamente livres para mover-se pela estrutura tridimensional do metal. São essas ligações que conferem aos metais as propriedades metálicas, tais como altas condutividades elétricas e brilho. Distribuição eletrônica Fonte: SHUTTERSTOCK.COM 26 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância A distribuição eletrônica descreve a forma como os elétrons estão distribuídos em um átomo, fornecendo o número de elétrons em cada nível ou subnível. Os subníveis são preenchidos em ordem crescente de energia, sendo que um subnível só começa a ser preenchido quando outro estiver completo. Em um átomo neutro, a distribuição só é possível se soubermos qual seu número atômico, uma vez que em um átomo neutro o número de prótons é igual ao número de elétrons. A Tabela 1 descreve o número máximo de elétrons existentes em cada nível de energia e os respectivos subníveis. Tabela 1 – Distribuição dos elétrons em cada nível e subnível. Nível Camada Número máximo de elétrons 1º K 2 1s² 2º L 8 2s² 2p 6 3º M 18 3s² 3p 6 3d10 4º N 32 4s² 4p6 4d10 4f 14 5º O 32 5s² 5p6 10 5f14 6º P 18 6s² 7º Q 8 Subníveis 7s² 5d 6p6 6d10 7p 6 Fonte: baseado em Brown (2005) A ordem enérgica dos subníveis de energia não é igual à ordem geométrica. Isso porque subníveis de níveis superiores possuem energia total menor que subníveis inferiores. Dessa forma, a distribuição eletrônica de um átomo de Iodo (Z= 53) acontece na seguinte ordem de subníveis (seguindo a sequência das setas pontilhadas apresentadas na Tabela 1): FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 27 1s2, 2s2, 2p6, 3s2, 3p6, 4s2, 3d10, 4p6, 5s2, 4d10, 5p4 ordem crescente de energia Massa atômica Os átomos possuem massas extremamente pequenas. A massa do átomo mais pesado, por exemplo, é da ordem de 4x10 -22g. Usa-se a unidade de massa atômica (u) para expressar essa massa, uma vez que seria inconveniente expressar valores tão pequenos em gramas. Uma unidade de massa atômica (u) definida a partir de um átomo padrão é igual a 1,66054x10 -24g. Em 1961, a International Union of Pure and Ampplied Chemistry (IUPAC) oficializou como átomo padrão o isótopo 12C de carbono com número de massa 12 (6 prótons + 6 nêutrons em seu núcleo). Dessa forma, a massa atômica é definida como a soma do total de prótons (1,0073 u cada), nêutrons (1,0087 u cada) e elétrons (5,486x10 -4 u cada) contidos em um átomo. A maioria dos elementos é encontrada na natureza como mistura de isótopos. Podemos determinar a massa média de um elemento usando as massas de seus vários isótopos e suas abundâncias relativas. O carbono encontrado na natureza, por exemplo, é composto de 98,93% de C12 e 1,07% de C13. Considerando que as massas desses nuclídeos são respectivamente 12 u e 13,00335 u, calculamos a massa atômica média do carbono a partir da abundância fracionada de cada isótopo e a massa daquele isótopo: (0,9893)(12 u) + (0,0107)(13,00335 u) = 12,01 u Nomenclatura de compostos inorgânicos A nomenclatura de compostos é dividida em compostos orgânicos (aqueles que contêm C) e compostos inorgânicos (os demais elementos da tabela periódica). Neste tópico abordaremos os compostos inorgânicos. Em compostos iônicos, normalmente estão ligados entre si metais e não metais. Os metais formam os íons positivos, e os não metais, os negativos. Os cátions formados a partir de um metal têm o mesmo nome do metal, por exemplo: Na+ = íon de sódio. Se o metal puder formar mais de um cátion, a carga é indicada entre parênteses após o nome do metal como, por exemplo: Cu+ = cobre(I); Cu2+ = cobre(II). Os cátions formados de não metais têm a terminação –io, por exemplo: NH4+ íon amônio. 28 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Os ânions monoatômicos (com apenas um átomo) são chamados -eto. Exemplo: Cl- é o íon cloreto. Exceções: hidróxido (OH-), cianeto (CN-), peróxido (O22-). Os ânions poliatômicos (com muitos átomos) que contêm oxigênio têm a terminação -ato ou -ito. (Aquele com mais oxigênio é chamado -ato), por exemplo: NO3- é o nitrato, NO2- é o nitrito. Os ânions poliatômicos contendo oxigênio com mais de dois membros na série são denominados como se segue (em ordem decrescente de oxigênio): per-….-ato, -ato, -ito, hipo-….-ito. Os ânions poliatômicos que contêm oxigênio com hidrogênios adicionais recebem o nome adicionando-se hidrogeno ou bi- (um H), dihidrogeno (dois H) etc., ao nome, como se segue: CO32- é o ânion carbonato, HCO31- é o ânion hidrogenocarbonato (ou bicarbonato), H2PO41- é o ânion dihidrogenofosfato. Os nomes dos ácidos estão relacionados com os nomes dos ânions que ao receber H+ tornamse compostos ácidos (Figura 4): -eto transforma-se em ácido….-ídrico; -ato transforma-se em ácido.....-ico; -ito transforma-se em ácido.....-oso. Ânion eto (cloreto,Cl ) ato (cloreto, ClO3 ) (perclorato, ClO4 ) ito (clorito, ClO2 ) (hipoclorito, ClO ) adiciona H íons adiciona H íons adiciona H íons Ácido Ácido ídrico (ácido clorídrico, HCl) Ácido ico (ácido clórico, HClO3) (ácido perclórico, HClO4) Ácido oso (ácido cloroso, HClO2) (ácido hipocloroso, HClO) Figura 4 – Nomenclatura de ácidos Fonte: Brown (2005) FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 29 PROCESSOS ENDOTÉRMICOS E EXOTÉRMICOS São chamados de processos endotérmicos aqueles que ocorrem com absorção de calor pelo sistema. Durante esse processo como, por exemplo, a fusão do gelo, o calor flui da vizinhança para dentro do sistema. Se uma pessoa, como parte da vizinhança, tocar o recipiente no qual o gelo está derretendo, ele nos passa a sensação de frio porque o calor passou das mãos da pessoa para o recipiente. O processo em que o sistema emite calor é chamado exotérmico. Durante esse processo, como, por exemplo, a combustão de gasolina, o calor flui para fora do sistema em direção a sua vizinhança. Se uma pessoa toca o motor de um carro que acabara de ser usado por algum tempo, ele passará a sensação de calor porque o calor passou do motor para as mãos da pessoa. Fonte: SHUTTERSTOCK.COM ÁCIDOS E BASES Na ano de 1880, o químico sueco Svante Arrhenius (1859-1927) propôs que a concentração dos íons H+ em uma solução é chamada de acidez (ver Quadro 5). Sendo que, quanto maior for essa concentração, mais ácida será a solução. No caminho inverso, temos o conceito de solução básica (ver Quadro 6) ou alcalina definido pela alta concentração de íons OH-. 30 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Quadro 5 – Propriedades dos ácidos • Possuem sabor azedo (como o vinagre e frutas cítricas); • Conduzem corrente elétrica em solução aquosa; • A maior parte é solúvel em água. Fonte: Brown (2005). Quadro 6 – Propriedade das bases • Sabor cáustico ou adstringente (leite de magnésia); • Hidróxidos alcalinos e alcalino-terrosos possuem estrutura iônica, os demais apresentam estrutura molecular; • Conduzem a corrente elétrica em solução aquosa e, conduzem a corrente elétrica quando fundidos; • A maior parte é insolúvel em água (apenas os hidróxidos alcalinos e o NH4OH são solúveis. Fonte: Brown (2005). Em 1923, o químico dinamarquês Johannes Bronsted (1879-1947) e o químico inglês Thomas Lowry (1874-1936) propuseram uma definição mais geral para ácidos e bases. O conceito deles é baseado no fato de que as reações ácido-base envolvem a transferência de íons H+ de uma substância para outra. Ao examinarmos a reação que ocorre quando HCl (ácido clorídrico) se dissolve em água, é possível observar que a molécula de HCl transfere um íon H+ para uma molécula de água HCl(g) + H2O(l) → H3O+(aq) + Cl-(aq) Figura 05 − Dissolução do ácido clorídrico em água Fonte: Brown (2005) Como já vimos, o hidrogênio é um átomo que possui em seu núcleo apenas um próton e, em sua eletrosfera, apenas um elétron. Assim, ao tornar-se o íon H+, passa a ser simplesmente um FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 31 próton sem nenhum elétron de valência em sua vizinhança. Essa pequena partícula carregada positivamente interage com os pares de elétrons ligantes de água para formar os íons H3O+(aq). A partir dessa conclusão, Bronsted e Lowry propuseram definir ácidos e bases em termos de suas habilidades de transferir prótons. De acordo a definição deles, “um ácido é uma substância (molécula ou íon) que pode doar um próton para outra substância”. Então “uma base é uma substância que pode receber um próton”. A amônia (NH3), por exemplo, é definida como base porque em solução aquosa recebe um próton da H2O. Segundo Arrhenius, a amônia é uma base porque adicionando-a à água há um aumento da concentração de OH-(aq): NH3(aq) + H2O(l) ↔ NH4+(aq) + OH-(aq) Figura 06 – Adição de amônia em água Fonte: Brown (2005) Escala de pH (potencial Hidrogeniônico) Geralmente a concentração molar de H+ em uma solução aquosa é muito pequena, então usa-se o cologaritmo na base 10 de [H+]1, o pH. Na água pura, em um dado momento, uma pequena fração de uma molécula de H2O é dissociada em seus íons hidrogênio (H+) e hidróxido (OH-). O pH da água pura, definido como pH neutro, é 7, o que significa que a concentração de íons de hidrogênio é 10 -7 (0,0000001) moles por litro (mol/L-1). Por outro lado, ácidos como o HCl se dissociam quase completamente em solução aquosa, produzindo valores de pH que se aproximam de 0, ou seja, 1 mole de H+ por litro. Segundo Ricklefs (2003), a maioria das águas naturais contém ácidos fracos, tais como o ácido carbônico (H2CO3) e vários ácidos orgânicos, e tendem a possuir valores de pH próximo ao neutro. Algumas águas naturais são de algum modo básicas, ou alcalinas (pH > 7), possuindo um excesso de OH- em relação ao H+, como a água do mar com pH entre 8 e 9. A variação 32 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância normal de pH nas águas naturais está entre 6 e 9, como é mostrado na Figura 7. Figura 7 – Escala de pH para águas naturais Fonte: Environment Canada (<http://www.ns.ec.gc.ca>) Para calcular o pH de uma solução neutra a 25°C (na qual [H+] = 1,0 x 10 -7 mol/L), por exemplo, usamos a seguinte equação: pH = -log [H+] Assim, temos: pH = -log (1,0 x 10 -7) = -(-7,00) = 7,00 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 33 Uma solução ácida é aquela a qual [H+] > 1,0 x 10 -7 mol/L. Em função do sinal negativo da equação apresentada anteriormente, o pH diminui à medida que a [H+] aumenta. Portanto, o pH de uma solução ácida na qual [H+] = 1,0 x 10 -3 mol/L é: pH = -log (1,0 x 10 -3) = -(-3,00) = 3,00 Uma solução básica é aquela na qual [OH-] > 1,0 x 10 -7 mol/L. Portanto, para calcular o pH de uma solução básica na qual [OH-] = 2,0 x 10 -3 mol/L, primeiramente usamos a seguinte equação para calcular [H+] para essa solução (em que KW = 1,0 x 10 -7): K [H ] = [OH ] + w − Assim, temos: [ H ] = 12,,00××1010 + −7 −3 = 5,0 ×10 −12 mol/L A partir do resultado obtido, calculamos o pH da solução: pH = -log (5,0 x 10 -12) = 11,30 SOLUÇÕES-TAMPÃO Soluções que contêm um par ácido-base conjugado fraco, podem resistir drasticamente às variações de pH com a adição de pequenas quantidades de ácido ou base forte. Elas são chamadas de soluções-tampão. Muito do comportamento químico da água do mar é determinado por seu pH, tamponado a aproximadamente 8,1 a 8,3 nas proximidades da superfície. 34 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Um tampão resiste às variações no pH porque ele contém tanto espécies ácidas para neutralizar os íons OH- quanto espécies básicas para neutralizar os íons H+. Entretanto, as espécies ácidas e básicas que constituem o tampão não devem consumir umas as outras pela reação de neutralização. A CONCENTRAÇÃO DE H+ E OS SISTEMAS BIOLÓGICOS Em sistemas biológicos, muitas reações envolvem transferência de prótons e têm velocidades que dependem da [H+]. Como as velocidades dessas reações são cruciais, o pH dos fluidos biológicos deve ser mantido dentro de limites estreitos. Por exemplo, o sangue humano tem pH normal na faixa de 7,35 a 7,45. Variações além dessa estreita faixa trazem consequências negativas para os processos biológicos, uma vez que afetaria a atividade da maioria das enzimas (ver Quadro 7) em nosso organismo. Quadro 7 – Enzimas Enzimas são moléculas grandes de proteínas com massa variando entre 10 mil e 1 milhão de u. Essas moléculas são catalisadoras de reações químicas nos seres vivos, ou seja, altera a velocidade das reações sem que elas mesmas sofram variações químicas permanentes no processo. A reação é catalisada em posição muito específica da enzima chamada sítio ativo. A atividade de uma enzima é interrompida se alguma molécula é capaz de ligar-se fortemente ao sítio ativo e bloquear a entrada das moléculas das soluções a serem catalisadas, bem como quando variações no pH alteram a distribuição espacial da enzima. Nos dois casos, ocorrem alterações no sítio ativo da enzima. Fonte: Ricklefs (2003) FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 35 As enzimas que estão presentes em nosso cérebro são sensíveis tanto ao pH, como já estudado, quanto a temperaturas, devido a isso a febre pode ser prejudicial assim como fatal quando a temperatura atingir e/ou ultrapassar os 42º C. Por causa da sua alta reatividade, os íons hidrogênio dissolvem os minerais das rochas e solos como, por exemplo, o carbonato de cálcio (CaCO3) que compõe as rochas calcárias: H+(aq) + CaCO3(s)→ Ca2+(aq) + HCO3-(aq) A reação química acima mostra que houve a remoção de H+ do meio e desse modo aumenta o seu pH. Já as águas que contêm uma concentração alta de Ca2+, assim como Mg2+ e outros cátions, são chamadas de “água dura” e possuem pH relativamente alcalino. Apesar de a presença desses íons não ser um risco para saúde, eles podem tornar a água imprópria para alguns tipos de uso doméstico e industrial. Quando a água, contendo íons cálcio (Ca2+) e íons bicarbonato (HCO3-), for aquecida, parte do dióxido de carbono (CO2) é expelida. Como resultado, a solução torna-se menos ácida e forma-se carbonato de cálcio (CaCO3) insolúvel: Ca2+(aq) + HCO3-(aq)→CaCO3(s) + CO2(g) + H2O(l) O CaCO3 sólido reveste a superfície de sistemas de água quente reduzindo a eficiência na transferência de calor e o fluxo de água. Os íons cálcio são importantes para os processos biológicos e sua presença em altas concentrações é vital para organismos que formam conchas de carbonato de cálcio, como caracóis e ostras. 36 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância OS ÍONS HIDROGÊNIO E OS METAIS PESADOS Como se pode constatar, os íons hidrogênio são essenciais para tornar determinados nutrientes disponíveis. No entanto, esta mesma propriedade também ajuda a dissolver metais pesados altamente tóxicos, tais como arsênico (As), cádmio (Cd) e mercúrio (Hg), chumbo (Pb), que são Fonte: SHUTTERSTOCK.COM prejudiciais à vida. Esses metais nas suas formas de elementos livres condensados não são particularmente tóxicos. Porém, os quatro são perigosos nas suas formas catiônicas (M2+, onde M é As, Cd, Hg ou Pb) e também quando ligados a cadeias curtas de átomos de carbono (C). Sua toxicidade deriva da forte afinidade de M+ pelo enxofre (S), portanto, pelo fato de a ligação metal-enxofre acontecer de maneira fácil, a ingestão destes metais pesados afeta os grupos sulfidrila (SH) que se localizam comumente nas enzimas que controlam a velocidade das reações metabólicas, influenciando a saúde do organismo que é afetado de maneira desfavorável e às vezes fatal. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, foi apresentada a estrutura atômica e que todos os elementos da tabela periódica, representados por símbolos, são átomos com número de elétrons, nêutrons e prótons diferentes. Foi possível observar que de acordo com as características dos átomos eles são organizados de maneira sistemática na tabela periódica. A partir do entendimento das diferenças entre elementos químicos e compostos químicos foi demonstrado a formação de íons (ionização) utilizando para este processo o conceito de distribuição eletrônica. Em seguida, com a formação dos íons foram demonstrados os tipos de ligações químicas (metálica, iônica e covalente) levando em consideração os elementos químicos e seus íons. Também conheceu as classes de compostos inorgânicos (ácido, base, sal e óxido), com exemplos de aplicação e formação no meio ambiente, e compreendeu as propriedades das substâncias químicas. Para finalizar a unidade, foi apresentado o conceito de pH e suas aplicações em conjunto com uma breve demonstração das relações entre os íons de hidrogênio e os sistemas biológicos e os metais pesados. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 01 (UEPG) – Sobre o modelo de Rutherford, assinale o que for correto. 01) O átomo não é maciço, apresentando predominantemente espaços vazios. 02) Rutherford supôs que o átomo era uma esfera uniforme de matéria carregada positivamente, dentro da qual circulavam milhares de elétrons. 04) Nas experiências realizadas por Rutherford foi observado que a maior parte das partículas alfa, de cargas positivas, ao incidirem sobre uma folha de ouro não eram desviadas, o que indicou que os elétrons ocupavam espaço externo ao núcleo atômico. 08) A maior parte da massa do átomo se encontra em uma pequena região central chamada núcleo. 16) Rutherford concluiu que a carga do núcleo era composta por nêutrons, partículas de massa muito maior que o elétron e de carga igual em grandeza a de um elétron. 38 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 02 (UEM) – Assinale o que for correto. 01) De acordo com Thomson, os átomos eram semelhantes a bolas de bilhar. Mais tarde, também na tentativa de elucidar o átomo, Rutherford descobriu a radioatividade. 02) Um elétron identificado com os números quânticos principal e magnético iguais a 4 e -1, respectivamente, pode ser um dos elétrons de valência do cálcio. 04) Quando dois orbitais atômicos p se aproximam paralelamente, tem-se a formação de uma ligação π (pi) ou de um orbital molecular do tipo π (pi). 08) O sódio possui maior caráter metálico do que o césio. 16) A hibridização na molécula de BF3 é do tipo sp2 e sua geometria é trigonal plana. 03 Considerando os dois elementos químicos, listados a seguir, assinale o que for correto. I – 11Na23 II – 17Cl35 01) A espécie química representada como Cl– possuirá 18 elétrons. 02) Se o elemento I perder um elétron, ele passará a apresentar número de massa igual a 22. 04) O elemento I apresenta número atômico igual a 11. 08) O elemento II possui 18 nêutrons. 04 (UEPG) – O CO2 presente na atmosfera é responsável pela chuva ácida em um ambiente não poluído. Entretanto, óxidos de enxofre, como o SO2 e o SO3, e óxidos de nitrogênio, tais como o NO2, agravam esse fenômeno tornando a chuva mais ácida. Nesse contexto, assinale o que for correto. 01) São óxidos ácidos de não metais que não apresentam átomos de hidrogênio em suas estruturas, mas que reagem com a H2O para produzir íons H+. 02) O CO2 se dissolve pouco em água formando um ácido fraco, H2CO3, que se ioniza em pequena extensão para formar o íon H+ e íons bicarbonato, HCO3. 04) São necessários 2 mols de dióxido de nitrogênio para que ocorra a reação com a H2O, formando o ácido nítrico e o ácido nitroso. 08) O óxido gasoso SO2 se combina com o O2 do ar formando o trióxido de enxofre. Esse por sua vez resulta no ácido sulfúrico ao se misturar com a H2O. 16) A ordem crescente do grau de acidez dos ácidos obtidos a partir dos óxidos ácidos é a seguinte: H2CO3, H2SO3 e H2SO4. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 39 05(UEPG)–Emcondiçõesnormais,opHdosanguesitua-seentre7,3e7,5.Contribuindoparaamanutençãodessevaloroequilíbriodogáscarbônico,emmeio aquoso, dado pela equação: CO2(g) + H2O(l)→H+(aq) + HCO3-(aq) Combasenessasinformações,assinaleoqueforcorreto. 01) No equilíbrio a concentração molar de íons H+ está próxima de 10– 7. 02) O pH do sangue não se torna alcalino pelo deslocamento desse equilíbrio. 04) A aceleração da respiração, com grande remoção do CO2, desloca o equilíbrio para a direita. 08) A dificuldade em respirar pode tornar o pH do sangue mais alcalino, pelo acúmulo de CO2. 16) No equilíbrio o sangue é um líquido próximo da neutralidade. gabarito: 01- 01 + 04 + 08 = 13 02- 02 + 16 = 18 03- 01 + 04 + 08 = 13 04- 01 + 02 + 04 + 08 + 16 = 31 05- 01 + 16 = 17 Saiba mais sobre química geral. Este material fornece a possibilidade de uma revisão rápida dos temas básicos da química inorgânica, tais como: modelos atômicos, tabela periódica, ligação química, funções inorgânicas e reações químicas. Ideal para quem faz algum tempo que não tem contato com a química e precisa complementar o estudo proporcionado pelo livro. <http://www.gilvan.pro.br/Quimicageral1.pdf>. Os itens apresentados a seguir trazem um resumo rápido e direto sobre as principais funções inorgânicas estudadas no livro, sendo recomendados para quem precisa de um texto sucinto e com informações gerais sobre essas funções inorgânicas e podem servir como uma fonte para uma consulta rápida e direta sobre o tema: 40 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Ácidosebases:<http://www.fisica.net/quimica/resumo10.htm>e<http://www.fisica.net/quimica/resumo11.htm>. Óxidos:<http://www.fisica.net/quimica/resumo13.htm>. Sais:<http://www.fisica.net/quimica/resumo12.htm>. Saiba mais sobre pH: por este link é possível obter um resumo interessante sobre pH, que pode contribuirparaumarevisãoeparaafixaçãodoconteúdoabordadonolivro. <http://educar.sc.usp.br/quimapoio/ph.html>. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 41 UNIDADE II QUÍMICA ORGÂNICA Professor Me. Carlos Eduardo Santana Alves Objetivos de Aprendizagem • Compreender as estruturas das moléculas orgânicas. • Compreender os hidrocarbonetos. • Compreender os grupos funcionais da Química Orgânica. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Estruturas das moléculas orgânicas • Moléculas orgânicas e energia • Grupos funcionais • Hidrocarbonetos INTRODUÇÃO O carbono não é considerado um elemento abundante, constitui apenas 0,027% da crosta terrestre. A maioria do carbono é encontrada na forma combinada, porém, parte se apresenta na forma elementar como grafite, diamante ou fulerenos. Mais de 16 milhões de compostos contendo carbono são conhecidos, cerca de metade ocorre em compostos carbonatos, como CaCO3. O carbono é também encontrado no carvão, no petróleo e no gás natural. A importância do elemento origina-se em grande parte de sua presença em todos os seres vivos: a vida como conhecemos é baseada nos compostos de carbono. O estudo dos compostos de carbono constitui um ramo separado da química, conhecido como química orgânica. Esse termo originou-se das crenças do século XVIII de que os compostos orgânicos poderiam ser formados apenas por seres vivos. Essa ideia foi desmentida em 1828 pelo químico alemão Friedrich Wöhler quando sintetizou a ureia (H2NCONH2), uma substância orgânica encontrada na urina dos mamíferos, por meio do aquecimento de cianato de amônio (NH4OCN), substância inorgânica. Os organismos são compostos por carboidratos, lipídios, proteínas e outras moléculas biológicas. Estes compostos contêm energia na forma de ligações químicas, principalmente entre átomos de carbono. A energia nessas ligações pode ser liberada para uso do organismo por meio de reações que quebram as ligações. ESTRUTURAS DAS MOLÉCULAS ORGÂNICAS As moléculas orgânicas apresentam três tipos de hibridização no carbono central. Hibridização é o processo de misturar e, por meio disso, variar os orbitais atômicos à proporção que os átomos se aproximam um do outro para formar ligações. Entretanto, o número total de orbitais atômicos em um átomo permanece constante, logo o número de orbitais híbridos em um átomo é igual ao número de orbitais atômicos misturados. O carbono forma quatro ligações FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 45 em praticamente todos os compostos. Quando as quatro ligações são simples, os pares de elétrons são dispostos em um arranjo tetraédrico. Na molécula de metano (CH4), por exemplo, o carbono está ligado a quatro outros átomos e os orbitais 2s e 2p são hibridizados sp3 (Figura 8). Figura 8 – Estrutura molecular com carbono hibridizado (sp3) Fonte: Brown (2005) Quando existe uma ligação dupla como, por exemplo, no formaldeído (CH2O) e o carbono está ligado a três outros átomos, o arranjo é trigonal plano (hibridização sp2 - Figura 9). Figura 09 – Estrutura molecular com carbono hibridizado (sp2) Fonte: Brown (2005) Com duas ligações duplas ou uma tripla, ele é linear (hibridização sp), como acontece na acetonitrila (C2NH3) onde o carbono está ligado a dois átomos (Figura 10). 46 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Figura 10 − Estrutura molecular com carbono hibridizado (sp) Fonte: Brown (2005) As ligações entre C–H ocorrem em quase toda molécula orgânica. Uma vez que o nível de valência de H pode comportar apenas dois elétrons, o hidrogênio forma apenas uma ligação covalente. O carbono forma ligações fortes com uma variedade de elementos, especialmente com H, O, N, os halogêneos e a si próprio, formando uma variedade de moléculas com cadeias ou anéis de átomos de carbono. Hidrocarbonetos Os compostos formados apenas por carbono e hidrogênio formam a classe mais simples de compostos orgânicos, os hidrocarbonetos. Tanto nesses compostos quanto em muitas outras substâncias orgânicas, a estrutura é resultado de ligações carbono-carbono estáveis. O carbono é o único elemento capaz de formar cadeias estendidas e estáveis de átomos unidos por ligações simples, duplas e triplas. Dependendo dos tipos de ligações carbono-carbono, os hidrocarbonetos podem ser divididos em quatro tipos: alcanos, alcenos, alcinos e hidrocarbonetos aromáticos. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 47 Alcanos São hidrocarbonetos que contêm apenas ligações simples, chamados de hidrocarbonetos saturados como o etano (C2H6): Figura 11 − Exemplo de alcanos e sua estrutura molecular Fonte: Brown (2005) A Tabela 2 relaciona vários dos mais simples alcanos. Muitas dessas substâncias são conhecidas porque são muito usadas. O metano é o principal componente do gás natural, utilizado para aquecimento doméstico e em fogões a gás. O propano é o principal componente do gás engarrafado (GLP) usado para aquecimento doméstico e também em fogões. O butano é usado em isqueiros descartáveis. Alcanos que contêm de 5 a 12 átomos de carbono por molécula são encontrados na gasolina. Tabela 2 − Alcanos de cadeia linear Fonte: Brown (2005) O nome dos alcanos varia de acordo com o número de átomos de C presentes na cadeia. Primeiramente é preciso identificar a cadeia mais longa e a utilizar como o nome do composto. 48 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Em seguida, são numerados os átomos de carbono começando com a ponta mais próxima ao substituinte. E, finalmente, é dado o nome e a posição de cada substituinte. Quando estão presentes dois ou mais substituintes, estes são listados em ordem alfabética. Alcenos São chamados de hidrocarbonetos insaturados, ou seja, não possuem apenas ligações simples, são moléculas que contêm dupla ligação (C=C) (Figura 12). Os alcenos recebem seus nomes da mesma forma que os alcanos, com o sufixo –eno substituindo o –ano dos alcanos. A posição da ligação dupla é indicada por um número. Figura 12 – Exemplos de alcenos e suas estruturas moleculares Fonte: Brown (2005) Na Figura 12 estão representados à direita dois isômeros geométricos. Esses compostos possuem a mesma fórmula molecular e os mesmos grupos ligados entre si, mas diferem no arranjo espacial dos grupos. No isômero cis, os dois grupos metil estão no mesmo lado da ligação dupla, enquanto no isômero trans eles estão em lados opostos. São possíveis FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 49 isômeros geométricos, uma vez que não há rotação em torno de uma ligação dupla. Esses compostos possuem propriedades físicas distintas e, geralmente, diferem significativamente no comportamento químico. Alcinos Também são hidrocarbonetos insaturados. São moléculas que contêm uma ou mais triplas ligações (C ≡ C) (Figura 13). Os alcinos recebem seus nomes da mesma forma que os alcenos, com o sufixo –ino substituindo o –eno dos alcenos. Figura 13 – Exemplo de alcino e sua estrutura molecular Fonte: Brown (2005) Hidrocarbonetos aromáticos Os hidrocarbonetos aromáticos são membros de uma classe grande e importante de hidrocarbonetos (Figura 14). O membro mais simples dessa série é o benzeno (C6H6). Sua estrutura plana e altamente simétrica, com seus ângulos de 120°, sugere alto grau de insaturação, porém, o comportamento químico do benzeno é diferente dos outros hidrocarbonetos insaturados. O benzeno e outros hidrocarbonetos aromáticos são muito mais estáveis que os alcenos e alcinos. A seguir, estão representados algumas estruturas e nomes de compostos aromáticos: 50 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Figura 14 – Exemplos de hidrocarbonetos aromáticos e suas estruturas moleculares Fonte: Brown (2005) Grupos funcionais Para tornar molécula orgânica reativa, adiciona-se grupos funcionas (Tabela 3). Os grupos funcionais controlam como uma molécula funciona, os mais complexos contêm outros elementos diferentes de C ou H (heteroátomos). Moléculas contendo grupos funcionais podem tanto ser saturadas (álcoois, éteres, aminas etc.) como insaturadas (ácidos carboxílicos, ésteres, amidas etc.). Normalmente, usamos R para representar grupos alquila. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 51 Tabela 3 – Grupos funcionais comuns em compostos orgânicos Fonte: Brown (2005) 52 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância MOLÉCULAS ORGÂNICAS E ENERGIA Nos sistemas biológicos, uma das mais comuns reações em que ocorre quebra de ligações é a oxidação das formas orgânicas do carbono. Os carboidratos (Cx(H2O)y) são oxidados durante a respiração na presença de O2 liberam e CO2. Assim, a oxidação reduz o potencial de energia química do átomo de carbono, e a energia liberada pode ser utilizada para outra ação bioquímica como a construção de membranas celulares. O oposto da oxidação é a redução. O dióxido de carbono é reduzido na presença de H2O na fotossíntese e forma carboidratos. A redução do carbono aumenta o potencial de energia do átomo e permite que ele reaja com outros átomos de carbono ou de nitrogênio para formar moléculas orgânicas. Os vários tipos de grupos funcionais abordados aqui geram vasta matriz de moléculas com reatividades químicas muito específicas. A síntese de grandes moléculas é um aspecto notável da bioquímica, que coloca grandes demandas aos sistemas químicos nos organismos vivos. Os organismos constroem biomoléculas a partir de substâncias menores e mais simples disponíveis na biosfera. A síntese dessas moléculas requer energia porque a maioria das reações é endotérmica. A fonte fundamental dessa energia é o Sol. Os mamíferos e outros animais praticamente não têm capacidade para usar a energia solar diretamente, em vez disso, dependem da fotossíntese vegetal para suprir grande parte das necessidades energéticas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, foram apresentados os compostos que apresentam o átomo de carbono como átomo essencial que são conhecidos como compostos orgânicos. Esses compostos são divididos em compostos alifáticos e cíclicos e compreendem um grande número de famílias como, por exemplo, os hidrocarbonetos. Dentro desse grupo, foi dada uma atenção especial aos hidrocarbonetos, que são compostos formados apenas por carbono e hidrogênio e formam a base do petróleo. Dependendo dos tipos de ligações carbono-carbono, os hidrocarbonetos podem ser divididos em quatro tipos: alcanos, alcenos, alcinos e hidrocarbonetos aromáticos, sendo discutido detalhadamente cada um destes grupos. A propriedade desses compostos serem insolúveis em água, devido ao fato de que estas FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 53 substâncias químicas orgânicas abordadas em sua maioria são apolares, ocasionam grandes problemas ambientais quando lançados no meio ambiente, sendo perigosos para a saúde e para o meio ambiente. Uma das classes que merece destaque são os organohalogenados, por serem persistentes no meio ambiente e extremamente tóxicos ao homem e animais. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 01 (UEPG) – O acetileno (etino) é um composto muito versátil, com numerosas aplicações, entre as quais destaca-se como matéria-prima para a obtenção de numerosos produtos. Considere as equações químicas não balanceadas abaixo e assinale o que for correto. 01) Tanto o composto formado na reação (III) como em (IV) podem polimerizar-se em condições adequadas. 02) A oxidação do produto da reação (I) forma o metanol. 04) A reação (II) é exotérmica e visa à obtenção de chamas de elevadas temperaturas. 08) O reagente acetileno pode ser obtido a partir da desidratação intramolecular do etanol. 16) Utilizando-se excesso de HCl na reação (IV) ocorre a formação do composto H3CCHCl2. 02 (UEM) – Assinale o que for correto. 01) Carbono, hidrogênio e oxigênio são os principais constituintes dos compostos inorgânicos. 02) A hibridização é um modelo utilizado para explicar a quantidade de ligações formadas somente para o átomo de carbono. 04) No estado fundamental, o átomo de carbono possui dois elétrons desemparelhados nos orbitais p. 54 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 08) Na molécula do ácido cianídrico, o carbono efetua duas ligações sigma e duas ligações pi. 16) O átomo de carbono pode formar compostos moleculares e iônicos. 03 (UEPG) – O metano, composto majoritário do gás natural, queima com chama clara e pouca emissão de fumaça através da reação abaixo. Sobre esse processo e os compostos nele envolvidos, assinale o que for correto. CH4 + 2O2 → CO2↑ + 2 H2O 01) É uma reação de combustão parcial envolvendo transferência de elétrons. 02) O reagente metano é um composto onde as ligações intermoleculares são do tipo ligações (pontes) de hidrogênio. 04) Os reagentes e os produtos são compostos covalentes. 08) Cada molécula reagente de O2 apresenta uma ligação sigma e uma ligação pi. 16) O gás carbônico formado é um composto molecular resultante do compartilhamento de elétrons. 04 (UEPG) – O ácido pantotênico ou vitamina B5 apresenta diversas funções biológicas no organismo humano. Analise a estrutura química do composto representada abaixo e assinale o que for correto. 01) O composto é um aminoácido. 02) O composto apresenta a função amida. 04) O composto apresenta a função éster. 08) O composto apresenta a função cetona. 16) O composto apresenta as funções álcool primário e secundário. Gabarito: 01- 01 + 04 + 16 = 21 02- 04 + 08 + 16 = 28 03- 04 + 08 + 16 = 28 04- 02 + 16 = 18 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 55 UNIDADE III QUÍMICA DA POLUIÇÃO HÍDRICA Professor Me. Carlos Eduardo Santana Alves Objetivos de Aprendizagem • Compreender os malefícios da poluição hídrica. • Compreender as classificações dos tipos de poluição hídrica. • Conhecer as classificações dos poluidores. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Principais Formas de Poluição • Classificação dos Resíduos Industriais • Principais Poluentes Aquáticos • Classificação de Esgoto Doméstico • Conteúdo Orgânico • Eutrofização INTRODUÇÃO A água cobre 70% da superfície da Terra, sendo uma das substâncias mais comuns existentes na natureza e pode ser encontrada em diversas formas. Na sua maior parte se encontra no estado líquido e é considerada como um recurso natural renovável devido ao ciclo hidrológico existente na Terra. Além disso, é indispensável para a sobrevivência de todos os organismos vivos, sendo fundamental que tenha condições físicas e químicas adequadas para sua utilização, ou seja, que contenha substâncias essenciais à vida e seja isenta de outras substâncias que possam ter efeitos maléficos aos organismos que dela fizerem uso. Dessa forma, a quantidade de água em uma determinada região e sua qualidade influencia significativamente o conjunto de seres vivos dessa região. A água pode ser caracterizada pela quantidade e pela sua qualidade, estando estas duas características intimamente relacionadas, pois a qualidade da água depende da quantidade de água disponível para dissolver, diluir e transportar as substâncias benéficas e maléficas para os seres que fazem uso dela. A água é formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio que se caracteriza por ser incolor, inodora e insípida. Ela pode ser encontrada, dependendo das condições de pressão e Fonte: SHUTTERSTOCK.COM temperatura, nos estados sólido, líquido e gasoso. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 59 A densidade da água varia com a temperatura, a concentração de substâncias dissolvidas e a pressão, variando relativamente pouco em relação a estes fatores do ponto de vista numérico, mas do ponto de vista ambiental, vários fenômenos importantes ocorrem a partir dessas variações. A água no estado sólido (gelo) é menos densa que no estado líquido, fazendo com que o gelo flutue permitindo que a superfície dos corpos d’água congele e a parte inferior fique no estado líquido mantendo a vida aquática. Graças ao seu alto calor específico, a água possui a característica de liberar ou absorver grandes quantidades de calor em função de pequenas variações de temperatura do ambiente, tornando-se um importante recurso para controle de temperatura de regiões do planeta, o que pode ser observado facilmente em regiões desérticas onde as variações diárias de temperatura são bem grandes. Por outro lado, essa característica faz com que as variações de temperatura no meio aquático sejam amenas, tornando a vida aquática menos adaptada para sobreviver a grandes variações de temperatura e mais suscetíveis a danos ambientais na ocorrência de despejo de efluentes aquecidos nos meios aquáticos. A poluição da água pode ser definida como a alteração das características estéticas, fisiológicas ou ecológicas da água por quaisquer ações ou interferências naturais ou provocadas pelo homem (Figura 15). A poluição da água ou os efeitos dos poluentes introduzidos em um ambiente aquático dependem da natureza do poluente, do caminho que este poluente percorre no meio e para que este meio aquático é utilizado. Como os termos poluição e contaminação são muitas vezes utilizados como sinônimos, precisamos distingui-los, pois contaminação refere-se à transmissão de substâncias ou microrganismos nocivos à saúde pela água. Portanto, a contaminação da água não significa que há um desequilíbrio ecológico no meio aquático ou, de maneira análoga, um meio aquático poluído não implica em risco a saúde de todos os organismos que fazem uso dos recursos hídricos poluídos. 60 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Figura 15 – Exemplos de poluição hídrica Fonte: IFECT – Rio Grande do Norte Fonte: SHUTTERSTOCK.COM PRINCIPAIS FORMAS DE POLUIÇÃO Considerando como premissa que a qualidade da água pode ser afetada pelas atividades do homem, sejam elas domésticas, comerciais ou industriais, é provável que cada atividade gere poluentes característicos que influenciarão de maneiras diferentes a qualidade do corpo receptor. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 61 A poluição pode ter origem química, física ou biológica, sendo que a adição desses poluentes altera também as outras características da água, portanto é de extrema importância conhecer as interações entre as relações de causa e efeito para cada poluente, de maneira que se possa lidar da melhor forma possível com as fontes de poluição. Em geral, os efeitos de cada poluente dependem das suas concentrações, do tipo de corpo d´água que o recebe e dos usos da água. Assim, podemos classificar as fontes de poluição quanto ao tipo de introdução dos poluentes no corpo de água que, segundo Tucci (1998), citado em Pereira (2004), são: atmosféricas, pontuais, difusas e mistas. –– A poluição atmosférica é o tipo de poluição que se dispersa mais facilmente por se tratar, na maioria das vezes, de gases e pode ser classificada em 4 tipos: –– as fixas, que provém principalmente das indústrias; –– as móveis que são causadas por veículos automotores, aviões, navios entre outros; –– as naturais, que são os fenômenos causados pela força da natureza, como as queimadas provocadas por raios e as atividades vulcânicas; –– as artificiais que têm como causa a atividade humana por exemplo: emissão de gases de automóveis e a queima de combustíveis fósseis. Já a poluição pontual refere-se à introdução ou lançamento que ocorre em um determinado ponto específico do corpo d´água. As estações de tratamento de esgoto e as indústrias são exemplos típicos de causa desse tipo de poluição. Na poluição difusa não é possível localizar um ponto definido de introdução ou lançamento no corpo d´água, dificultando o controle da poluição. Temos, como exemplo, o escoamento de água de chuva nos campos agrícolas, assim como o lançamento das drenagens urbanas. A poluição mista caracteriza-se por possuir conjuntamente as características de todas as outras fontes citadas acima, cada uma determinando um grau de poluição no corpo de água que é obtido por meio do estudo das purezas existentes, obtendo-se assim os parâmetros necessários para identificar a qualidade da água. 62 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Classificação dos resíduos industriais Segundo o site <http://www.ambientebrasil.com.br>, os resíduos são classificados: Quanto às características físicas: Seco: papéis, plásticos, metais, couros tratados, tecidos, vidros, madeiras, guardanapos e tolhas de papel, pontas de cigarro, isopor, lâmpadas, parafina, cerâmicas, porcelana, espumas, cortiças. Molhado: restos de comida, cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes, alimentos estragados etc. Quanto à composição química: Orgânico: é composto por pó de café e chá, cabelos, restos de alimentos, cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes, alimentos estragados, ossos, aparas e podas de jardim. Inorgânico: composto por produtos manufaturados como plásticos, vidros, borrachas, tecidos, metais (alumínio, ferro etc.), tecidos, isopor, lâmpadas, velas, parafina, cerâmicas, porcelana, espumas, cortiças etc. Quanto à origem: Domiciliar: originado da vida diária das residências, constituído por restos de alimentos (tais como cascas de frutas, verduras etc.), produtos deteriorados, jornais, revistas, garrafas, embalagens em geral, papel higiênico, fraldas descartáveis e uma grande diversidade de outros itens. Pode conter alguns resíduos tóxicos. Comercial: originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de serviços, tais como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares, restaurantes etc. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 63 Serviços públicos: originados dos serviços de limpeza urbana, incluindo todos os resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de praias, galerias, córregos, restos de podas de plantas, limpeza de feiras livres etc., constituído por restos de vegetais diversos, embalagens etc. Hospitalar: descartados por hospitais, farmácias, clínicas veterinárias (algodão, seringas, agulhas, restos de remédios, luvas, curativos, sangue coagulado, órgãos e tecidos removidos, meios de cultura e animais utilizados em testes, resina sintética, filmes fotográficos de raios X). Em função de suas características, merece um cuidado especial em seu acondicionamento, manipulação e disposição final. Deve ser incinerado e os resíduos levados para aterro sanitário. Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: resíduos sépticos, ou seja, que contêm ou potencialmente podem conter germes patogênicos. Basicamente originamse de material de higiene pessoal e restos de alimentos, que podem hospedar doenças provenientes de outras cidades, estados e países. Industrial: originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais como: o metalúrgico, o químico, o petroquímico, o de papelaria, da indústria alimentícia etc. O lixo industrial é bastante variado, podendo ser representado por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papel, madeira, fibras, borracha, metal, escórias, vidros, cerâmicas. Nesta categoria, inclui-se grande quantidade de lixo tóxico. Esse tipo de lixo necessita de tratamento especial pelo seu potencial de envenenamento. Radioativo: resíduos provenientes da atividade nuclear (resíduos de atividades com urânio, césio, tório, radônio, cobalto), que devem ser manuseados apenas com equipamentos e técnicas adequados. Agrícola: resíduos sólidos das atividades agrícola e pecuária, como embalagens de adubos, defensivos agrícolas, ração, restos de colheita etc. O lixo proveniente de pesticidas é considerado tóxico e necessita de tratamento especial. Entulho: resíduos da construção civil: demolições e restos de obras, solos de escavações. O entulho é geralmente um material inerte, passível de reaproveitamento. 64 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Fonte: SHUTTERSTOCK.COM PRINCIPAIS POLUENTES AQUÁTICOS De acordo com a natureza e os impactos causados por um poluente lançado em um meio aquático, pode-se classificá-los em: Poluentes orgânicos biodegradáveis Matéria orgânica biodegradável é composta principalmente por proteínas, carboidratos e gorduras e pode ser degrada por organismos decompositores existentes no meio aquático por meio de bactérias aeróbicas que utilizam o oxigênio dissolvido no meio para decomposição do material ou por bactérias anaeróbicas que farão a decomposição do material na ausência de oxigênio. No caso aeróbico, se o consumo de oxigênio for maior que a taxa de reposição de oxigênio na água, poderá haver a extinção dos organismos que dependem de oxigênio no meio. Já no caso anaeróbico, ocorre a formação de gases como o metano e o gás sulfídrico que podem ser tóxicos. Dessa forma, o despejo de esgotos domésticos em corpos de água tem um impacto na fauna FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 65 e flora aquática principalmente pela diminuição do oxigênio dissolvido na água e não pela presença de substâncias tóxicas constituintes do esgoto. Fonte: SHUTTERSTOCK.COM Poluentes orgânicos não biodegradáveis Esses compostos não são biodegradáveis ou possuem taxas de biodegradação muito lentas e por isto também recebem o nome de recalcitrantes ou refratários. Essa característica de não degradação está associada muitas vezes a não existência de microrganismos capazes de digeri-la, e o impacto desses compostos dependem da sua toxicidade e não do consumo de oxigênio para sua decomposição. Outro fator que deve ser observado é o efeito da bioacumulação, pois, mesmo em baixas concentrações, esses compostos podem ter grandes impactos sobre os organismos que não possuírem mecanismos metabólicos para eliminá-los. Alguns exemplos desses poluentes são os defensivos agrícolas, os detergentes sintéticos e o petróleo. Metais Por ação natural, os metais tóxicos estão presentes em pequenas quantidades no meio aquático, entretanto, por meio da ação humana, podem ser despejados em quantidades significativas, seja por atividades industriais, agrícolas ou de mineração. 66 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Os metais podem causar danos à saúde dependendo de sua toxicidade, da quantidade ingerida ou de seu potencial carcinogênico, mutagênico ou teratogênico. Todos os metais são solúveis em água, mas podem ser difíceis de serem detectados, pois podem precipitar para o fundo dos corpos de água e serem colocados em recirculação por meio de reações químicas. Os organismos aquáticos podem ser sensíveis à ação tóxica de um metal ou não ser sensíveis, mas potencializar o seu efeito nocivo ao longo da cadeia alimentar através da bioacumulação. Nutrientes Nutrientes como sais de nitrogênio e fósforo, que chegam aos corpos de água por erosões do solo, fertilização artificial das plantações ou pela decomposição natural da matéria orgânica, podem causar o crescimento exagerado de alguns organismos aquáticos (algas), acarretando prejuízo ao uso de recursos hídricos. Saiba mais sobre Sais: Um sal é um composto químico que possui ao menos um cátion diferente de H+ e um ânion diferente de OH-. São sólidos (devido à atração eletrostática ser muito forte na ligação iônica) e, em meio aquoso ou fundido, conduzem corrente elétrica. Ao contrário dos óxidos, os sais podem ser compostos binários ou não. Assim, a maioria dos ânions orgânicos pode formar sais (como o CH3COONa – acetato de sódio). São classificados como ácidos (provenientes de uma neutralização parcial de um ácido, como: NaHSO4), básicos (provenientes de uma neutralização parcial de uma base, como: Fe(OH)SO4), ou neutros (provenientes de uma neutralização total, como: NaCl). Fonte: <http://www.infoescola.com/quimica/quimica-inorganica/>. Acesso em: 20 set. 2012. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 67 Organismos patogênicos A água é um grande vetor de transmissão de doenças principalmente para populações menos desenvolvidas, onde o saneamento básico é precário ou mesmo inexistente, causando a incapacitação temporária ou mesmo a morte destas pessoas. As principais classes de organismos patogênicos e algumas doenças transmitidas pela água são: a) bactéria: doenças como leptospirose, a febre tifoide e paratifoide, a cólera etc.; b) vírus: hepatite infecciosa e a poliomelite; c) protozoários; amebíase e a giardíase; d) helmitos: esquistossomose e a ascaridíase. Sólidos em suspensão A ocorrência de sólidos em suspensão aumenta a turbidez da água o que reduz a ocorrência de fotossíntese de alguns organismos e dificulta a procura de alimento de outras espécies, produzindo um desequilíbrio na cadeia alimentar do meio aquático. Além disto, os sedimentos podem carregar substâncias tóxicas prejudicando a reprodução dos peixes e das espécies bentônicas devido à sua deposição nos fundos dos rios e lagos. Calor A temperatura da água afeta suas características físicas, químicas e biológicas, impactando, por exemplo, na migração de peixes, no aumento de organismos termófilos, e favorecer sinergismos maléficos ao meio etc. As grandes variações de temperatura dos corpos de água são causadas geralmente pelo lançamento de efluentes aquecidos. 68 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Fonte: SHUTTERSTOCK.COM PARÂMETROS INDICATIVOS DA POLUIÇÃO DAS ÁGUAS A água contém geralmente diversos componentes, os quais provêm do próprio ambiente natural ou foram introduzidos a partir de atividades humanas. Para caracterizar uma água, são determinados diversos parâmetros, os quais representam as suas características físicas, químicas e biológicas. Esses parâmetros são indicadores da qualidade da água e constituem impurezas quando alcançam valores superiores aos estabelecidos para determinado uso. A composição química das diversas substâncias presentes nos esgotos domésticos é extremamente variável, dependendo dos hábitos da população e diversos outros fatores. Essa variação vem sendo verificada devido à utilização de modernos produtos químicos de limpeza utilizados nas residências. O grau de complexidade da composição química de tais substâncias vem aumentando significativamente, sendo exemplo notório a presença de detergentes em concentrações cada vez maiores, bem como alguns inseticidas e bactericidas que já merecem estudos específicos de região para região. Segundo o Instituto Mineiro de Gestão das Águas e o Laboratório de Qualidade da água da Universidade Federal de Viçosa, os parâmetros físicos e químicos que indicam a poluição de águas são descritos da seguinte forma: FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 69 Físicos Cor A cor é originada de forma natural, da decomposição da matéria orgânica, principalmente dos vegetais - ácidos húmicos e fúlvicos, além do ferro e manganês. Está associada ao grau de redução de intensidade que a luz sofre ao atravessá-la, devido à presença de sólidos dissolvidos, principalmente material em estado coloidal e inorgânico. A origem antropogênica surge dos resíduos industriais e esgotos domésticos. Apesar de ser pouco frequente a relação entre cor acentuada e risco sanitário nas águas coradas, a cloração da água contendo a matéria orgânica dissolvida responsável pela cor pode gerar produtos potencialmente cancerígenos, dentre eles, os trihalometanos. No controle da qualidade das águas nas estações de tratamento, a cor é um parâmetro fundamental de operação e controle da qualidade da água bruta, da água decantada e da água filtrada, servindo como base para a determinação das dosagens de produtos químicos a serem adicionados, dos graus de mistura, dos tempos de contrato e de sedimentação das partículas flocadas. Para os problemas de lançamento de efluentes industriais, deverá ser levada em consideração a necessidade de atendimento aos padrões de cor do corpo receptor. Sabor e odor O sabor e o odor resultam de causas naturais (algas; vegetação em decomposição; bactérias; fungos; compostos orgânicos, tais como gás sulfídrico, sulfatos e cloretos) e artificiais (esgotos domésticos e industriais). A detecção do sabor e do odor é difícil, pois depende da sensibilidade do olfato humano, no entanto a água pura não apresenta sabor nem a sensação de odor. A absorção em carvão ativado granular ou em pó é a técnica mais empregada e eficiente no controle do odor. 70 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Turbidez A turbidez representa o grau de interferência com a passagem da luz através da água, devido à presença de sólidos em suspensão, tais como partículas inorgânicas (areia, silte, argila) e de detritos orgânicos, algas e bactérias, conferindo uma aparência turva à mesma, que é resultante de causas naturais ou artificiais, tais como: erosão do solo, lançamento de efluentes etc. Nas estações de tratamento de água, a turbidez, conjuntamente com a cor, é um parâmetro operacional de extrema importância para o controle dos processos de coagulação-floculação, sedimentação e filtração. Nas águas naturais, a presença da turbidez provoca a redução de intensidade dos raios luminosos que penetram no corpo d’água, influindo decisivamente nas características do ecossistema presente. A alta turbidez reduz a fotossíntese de vegetação enraizada submersa e algas. Esse desenvolvimento reduzido de plantas pode, por sua vez, suprimir a produtividade de peixes. Logo, a turbidez pode influenciar nas comunidades biológicas aquáticas. Há também uma preocupação adicional que se refere à presença de turbidez nas águas submetidas à desinfecção pelo cloro. Essas partículas grandes podem abrigar microrganismos, protegendo-os contra a ação desse agente desinfetante. Sólidos Sólidos nas águas correspondem a toda matéria que permanece como resíduo, após a evaporação, secagem ou calcinação da amostra a uma temperatura pré-estabelecida durante um tempo fixado. De um modo geral, as operações de secagem, calcinação e filtração são as que definem as diversas frações de sólidos presentes na água, sendo eles: sólidos totais, em suspensão, dissolvidos, fixos e voláteis. Sólidos totais: é o resíduo que resta na capsula após a evaporação em banho-maria de uma porção de amostra e sua posterior secagem em estufa a 103°C – 105°C até um peso constante, e pode ser denominado também como resíduo total. Sólidos em suspensão: é a porção dos sólidos totais que fica retida em um filtro que propicia a retenção de partículas de diâmetro maior ou igual a 1,2µm, que pode ser denominado também como resíduo não filtrável. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 71 Sólidos dissolvidos: é a porção dos sólidos em suspensão que se sedimenta sob a ação da gravidade durante um período de uma hora, a partir de um litro de amostra mantida em repouso em um cone Imhoff. Sólidos fixos: é a porção dos sólidos (totais, suspensos ou dissolvidos) que resta após a ignição ou calcinação a 550°C - 600°C após uma hora para sólidos totais ou dissolvidos fixos, ou 15 minutos para sólidos em suspensão fixos em forno mufla, e também pode ser denominado resíduo fixo. Sólidos Voláteis: é a porção dos sólidos (totais, suspensos ou dissolvidos) que se perde após a ignição ou calcinação da amostra a 550°C - 600°C, durante uma hora para sólidos totais ou dissolvidos voláteis ou 15 minutos para sólidos em suspensão voláteis, em forno mufla, e pode ser denominado também de resíduo volátil. Todas as impurezas da água, com exceção dos gases dissolvidos, contribuem para a carga de sólidos presentes nos corpos d’água. Os sólidos podem ser classificados de acordo com seu tamanho e características químicas. Os sólidos em suspensão, contidos em uma amostra de água, apresentam, em função do método analítico escolhido, características diferentes e, consequentemente, têm designações distintas. A unidade de medição normal para o teor em sólidos não dissolvidos é o peso dos sólidos filtráveis, expresso em mg/L de matéria seca. Dos sólidos filtrados pode ser determinado o resíduo calcinado (em % de matéria seca), que é considerado uma medida da parcela da matéria mineral. O restante indica, como matéria volátil, a parcela de sólidos orgânicos. Dentro dos sólidos filtráveis, encontram-se, além de uma parcela de sólidos turvos, também os seguintes tipos de sólidos/substâncias não dissolvidos: sólidos flutuantes, que em determinadas condições estão boiando e são determinados por meio de aparelhos adequados em forma de peso ou volume; sólidos sedimentáveis, que em determinadas condições afundam. Nesse caso, o resultado é anotado preferencialmente como volume (mL/L) acrescentado pelo tempo de formação; sólidos não sedimentáveis, que não dão sujeitos nem à flotação nem à sedimentação. No controle operacional de sistemas de tratamentos de esgotos e efluentes, em processos biológicos aeróbios e anaeróbios, as concentrações têm sido utilizadas para se estimar a concentração de microrganismos decompositores da matéria orgânica, medida importante no controle de decantadores e outras unidades de separação de sólidos, na qual constituem parâmetro utilizado em análises de balanço de massa. 72 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Temperatura A temperatura da água é um fator que influencia a grande maioria dos processos físicos, químicos e biológicos na água, assim como outros processos como a solubilidade dos gases dissolvidos. Uma elevada temperatura faz diminuir a solubilidade dos gases, por exemplo, o oxigênio dissolvido, além de aumentar a taxa de transferência de gases, o que pode gerar mau cheiro, no caso da liberação de gases com odores desagradáveis. Os organismos aquáticos possuem limites de tolerância térmica superior e inferior, temperaturas ótimas para crescimento, temperatura preferencial em gradientes térmicos e limitações de temperatura para migração, desova e incubação do ovo. Variações de temperatura são partes do regime climático normal, e corpos d’água naturais apresentam variações sazonais e diurnas, bem como estratificação vertical. A temperatura de efluentes industriais pode ser reduzida através do emprego de torres de resfriamento. Qualquer outro processo que provoque aumento da superfície de contato ar/ água pode ser usado como, por exemplo, os aspersores e o cascateamento. Em muitos casos, apenas o tempo de detenção hidráulico dos efluentes em tanques de equalização é suficiente para promover a redução desejada de temperatura. Condutividade Elétrica A condutividade elétrica da água é determinada pela presença de substâncias dissolvidas que se dissociam em ânions e cátions e pela temperatura. As principais fontes dos sais naturalmente contidos nas águas correntes e de origem das atividades humanas são: as descargas industriais de sais, o consumo de sal em residências e no comércio, excreções de sais pelo homem e por animais. A condutância específica fornece uma boa indicação das modificações na composição de uma água, especialmente na sua concentração mineral, mas não fornece nenhuma indicação das quantidades relativas dos vários componentes. À medida que mais sólidos dissolvidos são adicionados, a condutividade específica da água aumenta. Altos valores podem indicar características corrosivas da água. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 73 Químicos Potencial Hidrogeniônico (pH) O pH define o caráter ácido, básico ou neutro de uma solução e representa a atividade do íon hidrogênio na água, de forma logaritmizada, resultante inicialmente da própria molécula da água e posteriormente acrescida de hidrogênio proveniente de outras fontes como efluentes industriais, dissociação de ácidos orgânicos. O pH influi em diversos equilíbrios químicos que ocorrem naturalmente ou em processos unitários de tratamento de águas. Tem influência direta e indireta na qualidade da água. A influência direta se dá nos efeitos sobre a fisiologia das diversas espécies, já a influência indireta contribui para precipitação de elementos químicos tóxicos como os metais pesados. Os organismos aquáticos estão geralmente adaptados às condições de neutralidade e, em consequência, alterações bruscas do pH de uma água pode acarretar no desaparecimento dos seres presentes na mesma. Os valores fora das faixas recomendadas podem alterar o sabor da água e contribuir para corrosão do sistema de distribuição de água, ocorrendo assim uma possível extração do ferro, cobre, chumbo, zinco e cádmio, e dificultar a descontaminação das águas. Nas estações de Tratamento de Efluentes Industriais, em geral, procede-se à neutralização previa do pH dos efluentes antes de serem submetidos ao tratamento biológicos. A desinfecção pelo cloro é outro processo dependente do pH. Em meio ácido, a dissociação do ácido hipocloroso formando hipoclorito é menor, sendo o processo mais eficiente. O pH varia de 7 a 14; se uma água é ácida, elas são corrosivas e o pH é inferior a 7, se é neutra o pH é igual a 7 ou, se for alcalina, elas são incrustantes e o pH será maior do que 7. O pH é padrão de potabilidade, devendo as águas para abastecimento público apresentar valores entre 6,5 e 8,5, de acordo com a Portaria 36 do Ministério da Saúde. A vida aquática depende do pH, sendo recomendável a faixa de 6 a 9. Salinidade O conjunto de sais normalmente dissolvidos na água, formado pelos bicarbonatos, cloretos, sulfatos e, em menor quantidade, pelos demais sais, pode conferir à água sabor salino e 74 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância características incrustantes. O teor de cloreto pode ser indicativo de poluição por esgotos domésticos. Dureza É a característica conferida à água pela presença de sais de metais alcalino-terrosos (cálcio, magnésio etc.) e alguns metais em menor intensidade. A dureza é a capacidade de precipitar sabão, isto é, nas águas que a possuem, os sabões transformam-se em complexos insolúveis, não formando espuma até que o processo se esgote. É causada principalmente pela presença de cálcio e magnésio, além de outros cátions. Esse índice é visível de uma reação mais complexa que dificulta o banho e a lavagem de utensílios domésticos e roupas, criando problemas higiênicos. A principal fonte de dureza nas águas é a sua passagem pelo solo. Dessa forma, é muito mais frequente encontrar-se águas subterrâneas com dureza elevada do que as águas superficiais. A poluição das águas superficiais, devido à atividade industrial, é pouco significativa com relação à dureza. As águas duras, por conta de condições desfavoráveis e equilíbrio químico, podem incrustar as tubulações de água quente, radiadores de automóveis, hidrômetros, caldeiras etc. O abrandamento das águas pode ser feito por precipitação química ou por troca iônica. Os processos à base de troca iônica são mais eficientes, podendo eliminar totalmente a dureza da água ou permitir que se trate apenas parte da vazão para compor a dureza que se deseje na água tratada. Os processos são automatizados e produzem pouco lodo. Os sistemas à base de precipitação química são menos eficientes, não sendo capazes de eliminar totalmente a dureza da água por obedecer aos princípios do equilíbro químico. Alcalinidade A alcalinidade de uma amostra de água pode ser definida como sua capacidade de reagir quantitativamente com um ácido forte até um valor definido de pH e ocorre em razão da presença de bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos, quase sempre de metais alcalinos ou FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 75 alcalino-terrosos (sódio, potássio, cálcio, magnésio etc.). A principal fonte de alcalinidade de hidróxidos em águas naturais decorre da descarga de efluentes de indústrias, onde se empregam bases fortes como soda cáustica e cal hidratada. A alcalinidade provoca alteração no paladar e a rejeição da água, mais não se constitui em padrão de potabilidade, classificação de águas naturais nem de emissão de esgotos, ficando este efeito limitado pelo valor do pH. A importância desse parâmetro se concentra no controle de determinados processos unitários utilizados em estações de tratamento de águas para abastecimento. Está associada à dureza. Exceto quanto à presença de hidróxidos (sempre adicionados, não naturais), a alcalinidade não constitui problema isolado, desde que a salinidade esteja dentro dos limites aceitáveis para o uso desejado da água. A alcalinidade influencia o tratamento da água para consumo doméstico. Corrosividade A tendência de a água corroer os metais pode ser atribuída à presença de ácidos minerais (casos raros) ou pela existência em solução de oxigênio, gás carbônico e gás sulfídrico. De um modo geral, o oxigênio é fator de corrosão dos produtos ferrosos; o gás sulfídrico, dos não ferrosos; e o gás carbônico, dos materiais à base de cimento. Ferro e manganês O ferro é decorrente, normalmente, da dissolução de compostos do solo e dos despejos industriais. Em quantidade adequada, é essencial ao sistema bioquímico das águas, em contrapartida, em grandes quantidades, pode se tornar nocivo e, com certa frequência, quando associado ao manganês, confere à água sabor, ou melhor, sensação de adstringência e coloração avermelhada, decorrente de sua precipitação, tornando-se inadequada ao uso doméstico e industrial. 76 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância As águas ferruginosas mancham as roupas durante a lavagem, mancham os aparelhos sanitários e podem ficar depositadas nas tubulações, sendo assim sua presença, em quantidades excessivas, é indesejável em mananciais de abastecimento público. O manganês apresenta inconvenientes semelhantes aos do ferro, porém é menos comum e sua coloração característica é marrom. É utilizado na fabricação de ligas metálicas e baterias e na indústria química em tintas, vernizes, fogos de artifícios e fertilizantes, entre outros. Impurezas orgânicas, nitrogênio e cloretos O termo impurezas orgânicas é aplicável a constituintes de origem animal ou vegetal que podem indicar poluição. Como exemplo, citamos a matéria orgânica em geral, o nitrogênio sob as diversas formas (orgânicos, amoniacal, nitritos e nitratos) e, de forma associada, os cloretos, quando de origem estranha à natureza do terreno. O nitrogênio, por seguir um ciclo que o conduz à mineralização total sob a forma de nitritos, permite avaliar o grau e a distância de uma poluição pela quantidade e forma de apresentação dos derivados nitrogenados. Independentemente de sua origem, que também pode ser mineral, os nitratos presentes na água em quantidades maiores provocam em crianças o estado mórbido denominado cianose ou metemoglobinemia. Os cloretos podem indicar mistura, recente ou remota, com águas residuais. Oxigênio Dissolvido (OD) O oxigênio dissolvido é essencial para a manutenção de processos de autodepuração em sistemas aquáticos naturais e estações de tratamento de esgotos. Durante a estabilização da matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio nos seus processos respiratórios, podendo vir a causar uma redução de sua concentração no meio. Por meio da medição do teor de oxigênio dissolvido, os efeitos de resíduos oxidáveis sobre águas receptoras e a eficiência do tratamento dos esgotos, durante a oxidação bioquímica, podem ser avaliados. Os níveis de oxigênio dissolvido também indicam a capacidade de um corpo d’água natural manter a vida aquática. Nitrogênio Nitrato É a principal forma de nitrogênio encontrada nas águas. Concentrações de nitratos superiores a 5mg/L demonstram condições sanitárias inadequadas, pois a principal fonte de nitrogênio FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 77 nitrato são dejetos humanos e animais. Os nitratos estimulam o desenvolvimento de plantas, sendo que organismos aquáticos, como algas, florescem na presença destes e, quando em elevadas concentrações em lagos e represas, podem conduzir a um crescimento exagerado, processo denominado de eutrofização. Nitrogênio Nitrito É uma forma química do nitrogênio normalmente encontrada em quantidades diminutas nas águas superficiais, pois o nitrito é instável na presença do oxigênio, ocorrendo como uma forma intermediária. O íon nitrito pode ser utilizado pelas plantas como uma fonte de nitrogênio. A presença de nitritos em água indica processos biológicos ativos influenciados por poluição orgânica. NitrogênioAmoniacal(amônia) É uma substância tóxica não persistente e não cumulativa e, sua concentração, que normalmente é baixa, não causa nenhum dano fisiológico aos seres humanos e animais. Grandes quantidades de amônia podem causar sufocamento de peixes. A concentração total de Nitrogênio é altamente importante considerando-se os aspectos tópicos do corpo d’água. Em grandes quantidades o Nitrogênio contribui como causa da metemoglobinemia (síndrome do bebê azul). Síndromedobebêazul: A metemoglobina é a forma oxidada da hemoglobina, que além de não se ligar ao oxigênio, aumenta aafinidadedestepelaporçãoparcialmenteoxidadadahemoglobina.Aconcentraçãoaumentadada metemoglobina no sangue decorre de alterações congênitas e de exposição a agentes químicos diversos, resultando em quadro com múltiplos diagnósticos diferenciais, que se não tratado pode levar 78 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância ao óbito. Quando a concentração sangüínea de metemoglobina está acima de 1,5% surge a cianose, característica principal da doença. Os pacientes apresentam sangue arterial de coloração marrom-escuro com a PaO2 normal. O diagnóstico deve ser suspeitado em pacientes que apresentem cianose e baixa leitura de saturação ao oxímetro de pulso (SpO2), sem que haja comprometimento cardiopulmonarsignificativo.Aco-oximetriaéométodopadrão-ouroedefineodiagnóstico.Notratamentodos pacientes devem ser considerados o caráter agudo ou crônico da síndrome (etiologia) e a gravidade dos sintomas. A concentração sangüínea de metemoglobina é importante, sobretudo nos casos agudos. O tratamento básico consiste na remoção do agente causador, administração de oxigênio eobservação.Casosgravesdevemsertratadoscomazul-de-metileno,antídotoespecífico,porém ineficazemalgumassituações. A metemoglobinemia é condição potencialmente grave, cujo diagnóstico depende do alto grau de suspeição. Em geral, os anestesiologistas, no período perioperatório, são os primeiros a detectarem o problema e devem liderar a condução do tratamento. Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-70942008000600011>. Acesso em: 20 set. 2012. Fonte: SHUTTERSTOCK.COM Óleos e graxas Os óleos e graxas são substâncias orgânicas de origem mineral, vegetal ou animal. Estas substâncias geralmente são hidrocarbonetos, gorduras, ésteres entre outros. São raramente encontrados em águas naturais, normalmente oriundos de despejos e resíduos industriais, esgotos domésticos, efluentes de oficinas mecânicas, postos de gasolina, estradas e vias FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 79 públicas. Os despejos de origem industrial são os que mais contribuem para o aumento de matérias graxas nos corpos d’água, dentre eles, destacam-se os de refinarias, frigoríficos e indústrias de sabão. A pequena solubilidade dos óleos e graxas constitui um fator negativo no que se refere a sua degradação em unidades de tratamento de despejos por processos biológicos e, quando presentes em mananciais utilizados para abastecimento público, causam problemas no tratamento de água. A presença de óleos e graxas diminui a área de contato entre a superfície da água e o ar atmosférico, impedindo dessa forma a transferência do oxigênio da atmosfera para a água. Em processo de decomposição, a presença dessas substâncias reduz o oxigênio dissolvido elevando a DBO e a DQO, causando alteração no ecossistema aquático. Na legislação brasileira não existe limite estabelecido para esse parâmetro, a recomendação é que os óleos e as graxas sejam virtualmente ausentes para as classes 1, 2 e 3. Ácidos graxos: Ácido graxo é um ácido carboxílico (COOH) de cadeia alifática. São considerados componentes orgânicos, ou em outras palavras, eles contêm carbono e hidrogênio em suas moléculas. Estes ácidos são produzidos quando as gorduras são quebradas. São altamente solúveis em água, e podem ser usados comoenergiapelascélulas.Sãoclassificadosemmonoinsaturados,poliinsaturados,ousaturados. Os ácidos graxos são encontrados em óleos vegetais e gorduras animais, e são considerados “gorduras boas”, por isso devem estar incluso na dieta alimentar, uma vez que o corpo precisa deles para diversosfins.Principalmenteosácidosgraxospoliinsaturados(ácidosgraxosessenciais)queconfere ao organismo uma série de benefícios. Um ácido graxo essencial é um ácido graxo poliinsaturado que é sintetizado por plantas, mas não pelo corpo humano e, portanto, deve ser incluso na alimentação. Os ácidos graxos essenciais para a alimentação humana são o ácido linolênico (ômega-3) que está presente em grande quantidade nos peixes (especialmente o salmão) e óleos de peixe; e o ácido linoléico (ômega-6), presente nos óleos vegetais (soja, milho, girassol). Há outro ácido graxo conhecido como Omega-9, mas este tipo pode ser facilmente produzido pelo organismo, enquanto os outros dois tipos não são possíveis. Uma alimentação humana corretamente balanceada deve conter ácidos graxos essenciais que são necessários para manter os níveis saudáveis de lipídios no sangue. Eles também são necessários 80 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância para uma coagulação sanguínea adequada e para regular a pressão arterial. Outra função importante éocontroledeinflamaçõesnoscasosdeinfecçãooulesão.Osácidosgraxosessenciaistambém podem ajudar o sistema imunológico a reagir adequadamente. Fonte: <http://www.infoescola.com/bioquimica/acidos-graxos>. Acesso em: 20 set. 2012. FósforoTotal O fósforo é originado naturalmente da dissolução de compostos do solo e da decomposição da matéria orgânica. A origem antropogênica é oriunda dos despejos domésticos e industriais, detergentes, excrementos de animais e fertilizantes. A presença de fósforo nos corpos d´água desencadeia o desenvolvimento de algas ou outras plantas aquáticas desagradáveis, principalmente em reservatórios ou águas paradas, podendo conduzir ao processo de eutrofização. Cádmio (Cd) O cádmio possui uma grande mobilidade em ambientes aquáticos, é bioacumulativo e persistente no ambiente, acumula em organismos aquáticos, possibilitando sua entrada na cadeia alimentar. Está presente em águas doces em concentrações traços, geralmente inferiores a 1g/L. Pode ser liberado para o ambiente pela queima de combustíveis fósseis e também é utilizado na produção de pigmentos, baterias, soldas, equipamentos eletrônicos, lubrificantes, acessórios fotográficos, praguicidas etc. É um subproduto da mineração do zinco. O elemento e seus compostos são considerados potencialmente carcinogênicos e pode ser fator para vários processos patológicos no homem, incluindo disfunção renal, hipertensão, arteriosclerose, doenças crônicas em idosos e câncer. Bário (Ba) Em geral ocorre nas águas naturais em baixas concentrações, variando de 0,7 a 900g/L. É normalmente utilizado nos processos de produção de pigmentos, fogos de artifício, vidros e FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 81 praguicidas. A ingestão de bário, em doses superiores às permitidas, pode causar desde um aumento transitório da pressão sanguínea, por vasoconstrição, até sérios efeitos tóxicos sobre o coração. Chumbo (Pb) Em sistemas aquáticos, o comportamento de compostos de chumbo é determinado principalmente pela hidrossolubilidade. Concentrações de chumbo acima de 0,1mg/L inibem a oxidação bioquímica de substâncias orgânicas e são prejudiciais para os organismos aquáticos inferiores. Concentrações de chumbo entre 0,2 e 0,5mg/L empobrecem a fauna, e a partir de 0,5mg/L a nitrificação é inibida na água. A queima de combustíveis fósseis é uma das principais fontes, além da sua utilização como aditivo anti-impacto na gasolina. O chumbo é uma substância tóxica cumulativa. Uma intoxicação crônica por esse metal pode levar a uma doença denominada saturnismo, que ocorre na maioria das vezes, em trabalhadores expostos ocupacionalmente. Outros sintomas de uma exposição crônica ao chumbo, quando o efeito ocorre no sistema nervoso central, são: tontura, irritabilidade, dor de cabeça, perda de memória entre outros. Quando o efeito ocorre no sistema periférico, o sintoma é a deficiência dos músculos extensores. A toxicidade do chumbo, quando aguda, é caracterizada pela sede intensa, sabor metálico, inflamação gastrointestinal, vômitos e diarreias. Cobre (Cu) As fontes de cobre para o meio ambiente incluem corrosão de tubulações de latão por águas ácidas, efluentes de estações de tratamento de esgotos, uso de compostos de cobre como algicidas aquáticos, escoamento superficial e contaminação da água subterrânea a partir de usos agrícolas do cobre como fungicida e pesticida no tratamento de solos e efluentes, além de precipitação atmosférica de fontes industriais. As principais fontes industriais são as indústrias de mineração, fundição, refinaria de petróleo e têxtil. No homem, a ingestão de doses excessivamente altas pode acarretar em irritação e corrosão da mucosa, danos capilares generalizados, problemas hepáticos e renais e irritação do sistema nervoso central 82 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância seguido de depressão. Cromo (Cr) O cromo está presente nas águas nas formas tri e hexavalente. Na forma trivalente, o cromo é essencial ao metabolismo humano, e sua carência causa doenças. Já na forma hexavalente é tóxico e cancerígeno, sendo assim os limites máximos estabelecidos basicamente em função do cromo hexavalente. Os organismos aquáticos inferiores podem ser prejudicados por concentrações de cromo acima de 0,1mg/L, enquanto o crescimento de algas já está sendo inibido no âmbito de concentrações de cromo entre 0,03 e 0,032mg/L. O cromo, como outros metais, acumula-se nos sedimentos. É comumente utilizado em aplicações industriais e domésticas, assim como na produção de alumínio anodizado, aço inoxidável, tintas, pigmentos, explosivos, papel e fotografia. Níquel (Ni) As principais fontes são as atividades de mineração e fundição do metal, fusão e modelagem de ligas, indústrias de eletrodeposição e, como fontes secundárias, a fabricação de alimentos, artigos de panificadoras, refrigerantes e sorvetes aromatizados. Doses elevadas de níquel podem causar dermatites nos indivíduos mais sensíveis e afetar nervos cardíacos e respiratórios. O níquel acumula-se no sedimento, em musgos e plantas aquáticas superiores. Mercúrio (Hg) Entre as fontes antropogênicas de mercúrio no meio aquático destacam-se as indústrias cloro-álcali de células de mercúrio, vários processos de mineração e fundição, efluentes de estações de tratamento de esgotos, fabricação de certos produtos odontológicos e farmacêuticos, indústrias de tintas, dentre outras. O mercúrio prejudica o poder de autodepuração das águas a partir de uma concentração de apenas 18g/L. Esse pode ser absorvido em sedimentos e em sólidos em suspensão. O FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 83 metabolismo microbiano é perturbado pelo mercúrio por meio de inibição enzimática. Alguns microrganismos são capazes de metilar compostos inorgânicos de mercúrio, aumentando Fonte: SHUTTERSTOCK.COM assim sua toxicidade. O peixe é um dos maiores contribuintes para a carga de mercúrio no corpo humano, sendo que o mercúrio mostra-se mais tóxico na forma de compostos organometálicos. A intoxicação aguda pelo mercúrio, no homem, é caracterizada por náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, danos nos ossos e morte. A intoxicação crônica afeta glândulas salivares, rins e altera as funções psicológicas e psicomotoras. Zinco (Zn) O zinco é oriundo de processos naturais e antropogênicos, dentre os quais se destacam a produção de zinco primário, combustão de madeira, incineração de resíduos, siderurgias, cimento, concreto, cal e gesso, indústrias têxteis, termoelétricas e produção de vapor, além dos efluentes domésticos. Alguns compostos orgânicos de zinco são aplicados como pesticidas. O zinco, por ser um elemento essencial para o ser humano, só se torna prejudicial à saúde quando ingerido em concentrações muito altas, levando às perturbações do trato gastrointestinal. 84 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Fenóis Os fenóis são compostos orgânicos, oriundos, nos corpos d´água, principalmente dos despejos industriais. São compostos tóxicos aos organismos aquáticos em concentrações bastante baixas e afetam o sabor dos peixes e a aceitabilidade das águas. Para os organismos vivos, os compostos fenólicos são tóxicos protoplasmáticos, apresentando a propriedade de combinar- Fonte: SHUTTERSTOCK.COM -se com as proteínas teciduais. O contato com a pele provoca lesões irritativas e após ingestão podem ocorrer lesões cáusticas na boca, faringe, esôfago e estômago, manifestadas por dores intensas, náuseas, vômitos e diarreias, podendo ser fatal. Após absorção, tem ação lesiva sobre o sistema nervoso podendo ocasionar cefaleia, paralisias, tremores, convulsões e coma. Cloretos As águas naturais, em menor ou maior escala, contêm íons resultantes da dissolução de minerais. Os íons cloretos são advindos da dissolução de sais. Um aumento no teor de cloretos na água é indicador de uma possível poluição por esgotos (por meio de excreção de cloreto pela urina) ou por despejos industriais, e acelera os processos de corrosão em tubulações de FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 85 aço e de alumínio, além de alterar o sabor da água. Surfactantes As substâncias tensoativas reduzem a tensão superficial da água, pois possuem em sua molécula uma parte solúvel e outra não solúvel na água. A constituição dos detergentes sintéticos tem como princípio ativo o denominado “surfactante” e algumas substâncias denominadas de coadjuvantes como o fosfato. O principal inconveniente dos detergentes na água se relaciona aos fatores estéticos, devido à formação de espumas em ambientes aeróbios. Sódio (Na) O sódio pode provir, principalmente, de esgotos, fertilizantes, indústrias de papel e celulose. É comumente medido onde a água é utilizada para beber ou para agricultura, particularmente na irrigação. Potássio (K) O potássio é encontrado em baixas concentrações nas águas naturais, já que rochas que contém potássio são relativamente resistentes às ações do tempo. Entretanto, sais de potássio são largamente usados na indústria e em fertilizantes para agricultura e entra nas águas doces com descargas industriais e lixiviação das terras agrícolas. O potássio é usualmente encontrado na forma iônica, e os sais são altamente solúveis. Cianetos (CN) Os cianetos são os sais do hidrácido cianídrico (ácido prússico, HCN) podendo ocorrer na água em forma de ânion (CN-) ou de cianeto de hidrogênio (HCN). Em valores neutros de pH, prevalece o cianeto de hidrogênio. Cianetos têm um efeito muito tóxico sobre microrganismos. Uma diferenciação analítica entre cianetos livres e complexos é imprescindível, visto que a 86 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância toxicidade do cianeto livre é muito maior. Os cianetos são utilizados na indústria galvânica, no processamento de minérios (lixiviação de cianeto) e na indústria química. São também aplicados em pigmentos e praguicidas. Podem chegar às águas superficiais através dos efluentes das indústrias galvânicas, de têmpera, de coque, de gás e de fundições. Alumínio (Al) O alumínio é o principal constituinte de um grande número de componentes atmosféricos, particularmente de poeira derivada de solos e partículas originadas da combustão de carvão. Na água, o alumínio é complexado e influenciado pelo pH, temperatura e a presença de fluoretos, sulfatos, matéria orgânica e outros ligantes. O alumínio é pouco solúvel em pH entre 5,5 e 6,0, devendo apresentar maiores concentrações em profundidade, onde o pH é menor e pode ocorrer anaerobiose. O aumento da concentração de alumínio está associado com o período de chuvas e, portanto, com a alta turbidez. Outro aspecto-chave da química do alumínio é sua dissolução no solo para neutralizar a entrada de ácidos com as chuvas ácidas. Nessa forma, ele é extremamente tóxico à vegetação e pode ser escoado para os corpos d’água. A principal via de exposição humana não ocupacional é pela ingestão de alimentos e água. O acúmulo de alumínio no homem tem sido associado ao aumento de casos de demência senil do tipo Alzheimer. Não há indicação de carcinogenicidade para o alumínio. Sulfetos Os sulfetos são combinações de metais, não metais, complexos e radicais orgânicos ou eles são os sais e ésteres do ácido sulfídrico (H2S), respectivamente. A maioria dos sulfetos metálicos de uso comercial é de origem vulcânica. Sulfetos metálicos têm importante papel na química analítica para a identificação de metais. Sulfetos inorgânicos encontram aplicações como pigmentos e substâncias luminescentes. Sulfetos orgânicos e bissulfetos são amplamente distribuídos no reino animal e vegetal. Sulfetos orgânicos são aplicados industrialmente como protetores de radiação e queratolítica. Os íons de sulfeto presentes na água podem precipitar na forma de sulfetos metálicos em condições anaeróbicas e na presença de determinados FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 87 íons metálicos. Magnésio (Mg) O magnésio é um elemento essencial para a vida animal e vegetal. A atividade fotossintética da maior parte das plantas é baseada na absorção da energia da luz solar para transformar água e dióxido de carbono em hidratos de carbono e oxigênio. Esta reação só é possível devido à presença de clorofila, cujos pigmentos contêm um composto rico em magnésio. Entre outras aplicações dos seus compostos, salientam-se a utilização do óxido de magnésio na fabricação de materiais refratários e nas indústrias de borracha, fertilizantes e plásticos. Usa-se o hidróxido em medicina como antiácido e laxante, o carbonato básico como material isolante em caldeiras e tubagens e ainda nas indústrias de cosméticos e farmacêuticas. Por último, os sulfatos (sais de Epsom) são usados como fertilizantes para solos empobrecidos em magnésio e ainda nas indústrias têxtil e papeleira; e o cloreto é usado na obtenção do metal, na fabricação de colas e cimentos especiais. As aplicações do metal são múltiplas, como na construção mecânica, sobretudo, nas indústrias aeronáutica e automotiva, quer como metal puro, quer sob a forma de ligas com alumínio e zinco, ou com metais menos frequentes, como o zircónio, o tório, os lantanídeos e outros. A falta de magnésio no corpo humano pode provocar diarreia ou vômitos, bem como hiperirritabilidade ou uma ligeira calcificação nos tecidos. O excesso de magnésio é prontamente eliminado pelo corpo. Boro (B) O boro é muito reativo de forma que é dificultada a sua ocorrência no estado livre. Contudo, pode-se encontrá-lo combinado em diversos minerais. O boro, na sua forma combinada de bórax (Na2B4O7. 10H2O), é utilizado desde tempos imemoriais. O bórax é usado como matéria-prima na produção de vidro de borossilicato, 88 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância resistente ao calor, para usos domésticos e laboratoriais, familiarmente conhecido pela marca registada Pirex, bem como na preparação de outros compostos de boro. O boro elementar é duro e quebradiço, como o vidro e, portanto, tem aplicações semelhantes a este. Pode ser adicionado a metais puros, ligas ou outros sólidos para aumentar a sua resistência plástica, aumentando assim a rigidez do material. O boro elementar não é significativamente tóxico, não podendo ser classificado como veneno; no entanto, quando em pó muito fino, é duro e abrasivo, podendo causar indiretamente problemas de pele, se esta for esfregada depois de estar em contato com ele. Parecem ser indispensáveis pequenas quantidades de boro para o crescimento das plantas, mas em grandes quantidades é tóxico. O boro acumulado no corpo pela absorção, ingestão ou inalação dos seus compostos atua sobre o sistema nervoso central, causando hipotensão, vômitos e diarreia e, em casos extremos, coma. Arsênio (As) Devido às suas propriedades semimetálicas, o arsênio é utilizado em metalurgia como um metal aditivo. A adição de cerca de 2% de arsênio ao chumbo permite melhorar a sua esfericidade, enquanto 3% de arsênio numa liga à base de chumbo melhora as propriedades mecânicas e otimiza o seu comportamento a elevadas temperaturas. Pode também ser adicionado em pequenas quantidades às grelhas de chumbo das baterias para aumentar a sua rigidez. O arsênio, quando muito puro, é utilizado na tecnologia de semicondutores para preparar arsenieto de gálio. Esse composto utiliza-se na fabricação de diodos, LEDs, transistores e lasers. O arsenieto de índio é usado em detectores de infravermelho e em aplicações de efeito de Hall. A toxicidade do arsênio depende do seu estado químico. Enquanto o arsênio metálico e o sulfureto de arsênio são praticamente inertes, o gás AsH3 é extremamente tóxico. De um modo geral, os compostos de arsênio são perigosos, principalmente devido aos seus efeitos irritantes na pele. A toxicidade desses compostos ocorre principalmente por meio de ingestão e não por inalação. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 89 Selênio (Se) É um elemento raro que tem a particularidade de possuir um odor pronunciado bastante desagradável e que ocorre no estado nativo juntamente com o enxofre ou sob a forma de selenietos em certos minerais. As principais fontes de selênio são, todavia, os minérios de cobre, dos quais o selênio é recuperado como subproduto nos processos de refinação eletrolítica. Os maiores produtores mundiais são os E.U.A., o Canadá, a Suécia, a Bélgica, o Japão e o Peru. O selênio e os seus compostos encontram largo uso nos processos de reprodução xerográfica, na indústria vidreira (selenieto de cádmio para produzir cor vermelho-rubi), como desgaseificante na indústria metalúrgica, como agente de vulcanização, como oxidante em certas reações e como catalisador. O selênio elementar é relativamente pouco tóxico. No entanto, alguns dos seus compostos são extremamente perigosos. A exposição a vapores que contenham selênio pode provocar irritações dos olhos, nariz e garganta. A inalação desses vapores pode ser muito perigosa devido à sua elevada toxicidade. EUTROFIZAÇÃO Segundo o livro Introdução à Engenharia Ambiental, a eutrofização é o enriquecimento das águas com os nutrientes necessários ao crescimento da vida vegetal aquática. É um processo natural dentro da sucessão ecológica dos ecossistemas, quando o ecossistema lacustre tende a se transformar em um ecossistema terrestre utilizando a interação do lago com o meio terrestre que o circunda, sendo assim, é um processo natural de maturação de um ecossistema lacustre. Ela se manifesta por meio do aumento da produtividade biológica do lago, consequentemente observada pela proliferação de algas e outros vegetais aquáticos, que são decorrentes da maior quantidade de nutrientes disponível, sendo o fósforo e/ou o nitrogênio os mais importantes para 90 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância que a eutrofização ocorra. Essas substâncias são os principais nutrientes do fitoplâncton (as “algas” microscópicas que vivem na água), que podem se reproduzir em grandes quantidades, tornando a água esverdeada ou acastanhada (Figura 16). Quando essas algas e o zooplâncton (que delas se alimenta) morrem, sua decomposição pode tornar a água pobre em oxigênio, provocando a morte de peixes e outros animais, além da formação de gases tóxicos ou de cheiro desagradável. Além disso, algumas espécies de algas produzem toxinas que contaminam as fontes de água potável. Em suma, muitos efeitos ecológicos podem surgir da eutrofização, mas os três principais impactos ecológicos são: a perda de biodiversidade, alterações na composição das espécies e efeitos tóxicos. Figura 16 – Exemplo de eutrofização Fonte: IFECT – Rio Grande do Norte O processo de eutrofização natural é bastante demorado quando associado ao tempo de evolução dos ecossistemas. No entanto, esse processo vem sendo acelerado pela intervenção humana nos lagos cujas bacias sofrem a ocupação de atividades industriais, agrícolas ou zonas urbanas causando inúmeros efeitos negativos pelo fato de impedir que as alterações morfológicas acompanhem o seu ritmo, como ocorre no processo natural, sendo assim chamada de eutrofização cultural ou acelerada. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 91 CONTEÚDO ORGÂNICO Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) É definida como a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica biodegradável sob condições aeróbicas, isto é, avalia a quantidade de oxigênio dissolvido, em mg/L, que será consumida pelos organismos aeróbios ao degradarem a matéria orgânica. Um período de tempo de 5 dias numa temperatura de incubação de 20°C é frequentemente usado e referido como DBO5,20. Os maiores aumentos em termos de DBO, em um corpo d’água, são provocados por despejos de origem predominantemente orgânica. A presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir à completa extinção do oxigênio na água, provocando o desaparecimento de peixes e outras formas de vida aquática. Um elevado valor da DBO pode indicar um incremento da microflora presente e interferir no equilíbrio da vida aquática, além de produzir sabores e odores desagradáveis e, ainda, pode obstruir os filtros de areia utilizados nas estações de tratamento de água. Demanda Química de Oxigênio (DQO) É a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica por meio de um agente químico. Os valores da DQO normalmente são maiores que os da DBO, sendo o teste realizado em um prazo menor e, em primeiro lugar, orientando o teste da DBO. A análise da DQO é útil para detectar a presença de substâncias resistentes à degradação biológica. O aumento da concentração da DQO em um corpo d’água se deve principalmente a despejos de origem industrial. Classificação de Esgoto Doméstico Os esgotos domésticos ou residenciais são originados principalmente de casas, edifícios comerciais, qualquer instituição que contenha instalação de banheiros, cozinhas, lavanderias, 92 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância ou seja, em tudo que a água seja usada com características domésticas. Ele é constituído de resíduos de solo, águas de lavagem e dejetos, tem 99% ou mais de água, cerca de 300ppm (mg/l) de material em suspensão, celulose na maioria e 500ppm de material volátil; o grosso da matéria orgânica é formado por ácidos graxos, carboidratos e proteínas, nessa ordem. O mau cheiro normalmente associado, deriva da decomposição das proteínas sob condições anaeróbias (falta de oxigênio). Esse tipo de efluente pode apresentar organismos patogênicos, devendo ser afastado das fontes de água potável. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade foi possível verificar a disponibilidade da água na natureza e suas características, o que é poluição e o que é contaminação e seus efeitos no meio ambiente. Foram apresentadas também as principais fontes de poluição (atmosféricas, pontuais, difusas e mistas), além da classificação dos resíduos industriais de acordo com suas características físicas (seco e molhado), com sua composição química (orgânico e inorgânico) e com a origem (domiciliar, comercial, hospitalar etc.). Em seguida, foram apresentados os parâmetros da qualidade da água e os parâmetros indicativos de poluição das águas. Esses parâmetros indicadores de qualidade da água podem ser divididos conforme suas características (características físicas, químicas e microbiológicas). Além disso, nesta unidade, foi abordado o processo de eutrofização que é o enriquecimento das águas com os nutrientes necessários ao crescimento da vida vegetal aquática de forma natural ou acentuada, além da discussão de como ocorre o processo de eutrofização e quais suas consequências ao meio ambiente. Foi possível, ainda, conhecer as principais fontes de poluição, as quais têm origem em atividades humanas e que atingem o meio ambiente por três caminhos: os lançamentos na atmosfera, os lançamentos nas águas mais próximas e o depositado em área, por exemplo, um aterro sanitário ou industrial. Além disso, foi apresentada uma rápida discussão a respeito dos esgotos domésticos. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 93 ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 01 – Na área ambiental, vários termos são utilizados de maneira equivocada e às vezes são confundidos. Entre esses termos estão: poluição e contaminação, portanto, explique a diferença entre esses termos. 02 – Descreva como são classificadas as fontes de poluição quanto ao tipo de introdução dos poluentes no corpo de água. 03 – Comente a respeito de 3 (três) parâmetros físicos e 3 (três) parâmetros químicos indicativos da poluição da água. 04 – Explique como ocorre o processo de eutrofização. 05 – Comente como são classificados os resíduos industriais. Um crescente número de grandes cidades e regiões metropolitanas brasileiras vive situação de escassez e degradação dos recursos hídricos. Portanto, torna-se necessária a adoção de programas de conservação de água. Entre os componentes de programas de conservação de água está o de substituição de fontes que consiste em utilizar novas fontes de recursos hídricos em substituição às existentes, especialmente sob condições em que a nova fonte sirva a usos menos exigentes. Desta forma, o material disponível no link apresenta uma forma de utilizar como nova fonte a água da chuva: <http://ecopoa.orgfree.com/agua/reaproveitamento/>. Assunto pouco discutido, a poluição difusa ainda é um tema quase ausente nos debates técnicos sobre preservação ambiental. Esse tipo de degradação é causado em boa parte pela urbanização, impermeabilização do solo, gases lançados por automóveis, despejo de produtos químicos em rios e atividades humanas relacionadas à subsistência e falta de educação em alguns setores da sociedade. Dentro deste contexto, Juliano Freire trata de maneira sucinta sobre o tema no artigo disponível neste link. <http://www.caern.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/caern/imprensa/enviados/noticia_detalhe. asp?nCodigoNoticia=29595>. Neste material disponibilizado pela UFV está um resumo muito bom sobre os parâmetros de qualidade,sendoummaterialinteressanteparafixaçãodoconteúdotrabalhadonestaunidadedolivro. <http://www.ufv.br/dea/lqa/qualidade.htm>. 94 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância UNIDADE IV Poluentes orgânicos e persistentes Professor Carlos Eduardo Santana Alves Objetivos de Aprendizagem • Compreender as ações químicas dos poluentes. • Compreender as consequências da poluição para a saúde humana e para o meio ambiente. • Conhecer os aditivos agrícolas e suas consequências de seu uso ao meio ambiente. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Bioacumulação e Biomagnificação • Toxinas e Furanos • Agroquímicos INTRODUÇÃO A explosão populacional e o avanço da tecnologia com intuito de satisfazer suas necessidades básicas e potencializar a rentabilidade (o ganho) têm inserido um enorme número de novas substâncias químicas na superfície terrestre. Da mesma forma, a agricultura vem realizando um enorme esforço no sentido de aumentar a produtividade de alimentos, no entanto, a desinformação e a ambição vêm trazendo sérios prejuízos para as pessoas e para o meio ambiente. O aumento no número de casos de doenças causadas por intoxicações originadas de agrotóxicos está causando grande preocupação. A maior parte das causas para esse aumento está no despreparo do produtor agrícola que, em geral, desconhece os efeitos nocivos dos materiais que aplica e opta por não usar os EPI´s (equipamentos de proteção individual) e, além disso, desrespeita os períodos de carência (intervalos de segurança) previstos na legislação vigente. A partir desse cenário, estima-se que a produção global de compostos químicos sintéticos tenha aumentado 400 vezes com relação à década de 30, época em que se produziam aproximadamente 1 milhão de toneladas de compostos químicos sintéticos. Dessa forma, estamos em contato com substâncias desconhecidas que foram colocadas no mercado sem conhecimento de seus impactos ambientais de médio e longo prazo e, além disto, sem o conhecimento dos possíveis efeitos aditivos e sinérgicos que podem ocorrer entre esses produtos, pois eles podem reagir entre si gerando novos produtos dos quais se tem menos conhecimento ainda. Entre essas substâncias químicas, existe uma série de compostos orgânicos de uso variado que possuem fórmulas químicas bem distintas que, em função dos seus efeitos no meio ambiente e na saúde humana, foram classificados como poluentes orgânicos persistentes representados pela sigla POP´s (Persistent Oganic Pollutants). FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 97 Os POPs possuem características que os tornam muito perigosos do ponto de vista de contaminação ambiental, mesmo em baixas concentrações. Eles possuem alta estabilidade ou persistência, fazendo com que seus efeitos perdurem e sejam largamente dispersos antes de se decomporem. Além disto, pela sua solubilidade em gorduras, há um favorecimento de sua acumulação nos tecidos, aumentando sua capacidade de aumentar a sua concentração na direção do topo da cadeia alimentar. As primeiras evidências do perigo potencial desses compostos surgiram há mais do que 50 anos, quando foram descobertos resíduos de DDT em tecido adiposo humano e no leite materno, e, a partir desse fato, os estudos a respeito dos efeitos dos POPs sobre o meio ambiente e os seres vivos foram intensificados. Em função da importância desses compostos, é necessário entender a definição e propriedades dos poluentes orgânicos persistentes, suas origens, seus mecanismos de ação e propagação no meio ambiente e seus efeitos para ser possível a criação de estratégias e ações para o seu gerenciamento responsável. BIOACUMULAÇÃO E BIOMAGNIFICAÇÃO As expressões bioconcentração, bioacumulação e biomagnificação descrevem um processo pelo qual a concentração de poluentes nos animais aumenta na direção do topo da cadeia alimentar. Bioconcentração é o processo de aumento da concentração de compostos químicos em um organismo aquático em relação a sua concentração na água. Essa incorporação ocorre por meio da absorção pela água a qual ocorre pela superfície respiratória e/ou pela pele. A bioacumulação é um processo decorrente do acúmulo de um composto químico, um elemento químico ou um isótopo, em elevadas concentrações nos organismos, independente do nível trófico. 98 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Fonte: SHUTTERSTOCK.COM O processo pode ocorrer de forma direta, sendo efetuada diretamente a partir do meio ambiente onde o ser vivo está inserido, ou de forma indireta, quando ocorre pela alimentação e frequentemente de forma simultânea, principalmente em ambientes aquáticos. Se um peixe ou fruto do mar tem seu habitat contaminado por metais pesados, podem absorver esses contaminantes em seu organismo, acumulando-os em seus tecidos e, posteriormente, se seres de um nível trófico mais elevado se alimentarem desses peixes, serão contaminados, fazendo com que o contaminante suba na cadeia alimentar. A contaminação da cadeia alimentar provoca um aumento da concentração do contaminante a cada nível trófico, designando-se o processo por bioampliação ou biomagnificação. A bioacumulação é um termo muito amplo que se refere a um processo que inclui a bioconcentração e qualquer ingestão de resíduos químicos de fontes alimentícias. Para que esses processos ocorram, a substância deve ser lipossolúvel, ou seja, possuir a propriedade de se dissolver em gorduras, podendo assim fixar-se nos tecidos dos seres vivos FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 99 e ali permanecer quando persistentes. Essa propriedade é função do alto grau de cloração das POPs que as faz capazes de atravessar com facilidade a estrutura fosfolipídica das membranas biológicas e se acumularem no tecido adiposo. As classes de compostos com maior capacidade de bioacumulação são compostos cíclicos, aromáticos e clorados com moléculas grandes, por exemplo: o DDT, clordano, lindano, heptacloro, aldrin, dieldrin toxafeno, mirex e clordecona. Fator de Bioconcentração Denomina-se de fator de bioconcentração (FBC) a relação entre a concentração do composto no tecido do organismo e na água na situação de equilíbrio, podendo esse parâmetro também ser calculado por constantes cinéticas. Segundo documento do Ministério da Saúde (2007), o FBC é uma medida da magnitude da distribuição química com relação ao equilíbrio entre um meio biológico e um meio externo como a água. O FBC pode ser calculado dividindo a concentração de equilíbrio (mg/kg) de um composto químico encontrado em um organismo ou tecido pela concentração de um agente químico no meio externo. Entretanto, alguns peixes têm a habilidade de metabolizar alguns compostos como os hidrocarbonetos aromáticos, fazendo com que esses compostos não se acumulem significativamente em peixes e vertebrados. TOXINAS E FURANOS Dois importantes contaminantes orgânicos persistentes são as dibenzo-p-dioxinas e os furanos policlorados (Polychlorinated Dibenzo-p-Dioxins and Furans, PCDD/Fs), pois são semivoláteis, 100 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância tóxicos e ubíquos. Em função disto, as dioxinas levam de anos a séculos para degradaremse e podem ser continuamente recicladas no meio ambiente. Eles podem ser produzidos por meio de diversas fontes de combustão e como impurezas na manufatura de diversos produtos organoclorados. O interesse nesses contaminantes é crescente, pois acredita-se que a sua emissão para a atmosfera resultou na sua grande dispersão pelo meio ambiente devido ao fato de esses compostos serem encontrados em toda parte. Apesar disso, ainda há incerteza sobre as contribuições relativas das fontes de PCDD/Fs na atmosfera, criando o interesse em taxar a relação entre as fontes, níveis atmosféricos e processos de perda, incluindo deposição. Propriedades Físico-químicas As dioxinas fazem parte dos compostos dibenzo-p-dioxinas que se caracterizam por ter 3 anéis, sendo dois anéis benzênicos interligados por um par de átomos de oxigênio (Figura 17). As dioxinas representam os congêneres clorados de dibenzo-p-dioxina, que teoricamente podem ocorrer de 1 a 8 átomos de cloro nas posições substituíveis, possibilitando 75 possíveis congêneres de dioxinas cloradas. Figura 16– Fórmula estrutural da dioxina Fonte: <http://ecologica.com.br/ecologica/emissoes_atm_hcx.php> FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 101 Os furanos são compostos orgânicos conhecidos quimicamente como dibenzofuranos e possuem estrutura similar às dibenzo-p-dioxinas, com a diferença de que os dois anéis benzênicos são interligados por anel de 5 lados contendo um átomo de oxigênio (Figura 18). Como as dioxinas, os furanos são os congêneres de dibenzofuranos, que representam 135 congêneres de furanos clorados. Figura 18 – Fórmula estrutural da dioxina Fonte: <http://ecologica.com.br/ecologica/emissoes_atm_hcx.php> Esses compostos geralmente são pouco solúveis em água, possuem um alto coeficiente etanol-água (Kow) e, consequentemente, possuem forte tendência de depositar no solo ao invés de ir para a fase aquosa. Dentre as formas encontradas, apenas os congêneres substituídos nas posições 2,3,7,8 são toxicologicamente importantes. Nos últimos 20 anos, vários estudos mostraram que o 2,3,78TCDD (Figura 19) pode produzir uma variedade de efeitos tóxicos, incluindo câncer e efeitos reprodutivos em animais de laboratório submetidos a doses bem baixas. 102 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Figura 19 - Estrutura do 2,3,7,8 tetraclorodibenzodioxina e 2,3,7,8 tetraclorodibenzofurano Fonte: <http://ambiente.hsw.uol.com.br/substancias-toxicas3.htm> A partir de outros estudos realizados em 1987 e 1989, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (United States Environmental Protection Agency – USEPA) verificou que a toxicidade relativa dos outros 209 congêneres de dioxina e furanos variam de 0 a 50% da toxicidade do 2,3,7,8-TCDD, demonstrando que a toxicidade combinada de uma mistura de dioxinas/furanos é altamente dependente dos isômeros específicos que as constituem. Fonte: SHUTTERSTOCK.COM Efeitos sobre a saúde humana FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 103 Atualmente, para os propósitos de avaliação de riscos, a USEPA classifica o 2,3,7,8-TCDD como um carcinogênico B2 e de longe o mais potente carcinogênico já avaliado pela Agência. A categoria B2 é uma das 5 categorias que a USEPA utiliza para agrupar, por peso da evidência de carcinogenicidade para humanos, um produto químico. A seguir, estão definidas estas categorias: Grupo A: existe evidência suficiente, a partir de estudos epidemiológicos, para comprovar uma associação causa/efeito entre a exposição ao agente químico e o câncer. Grupo B1: o peso da evidência da carcinogenicidade baseado em estudos com animais é “suficiente”, mas a evidência de carcinogenicidade baseada nos estudos epidemiológicos é limitada. Grupo B2: o peso da evidência da carcinogenicidade baseada em estudos com animais é “suficiente”, mas os estudos epidemiológicos mostram uma “evidência inadequada” ou uma “ausência de dados”. Grupo C: há uma evidência limitada de carcinogenicidade em estudos com animais, mas não existem dados com seres humanos. Grupo D: não classificado como carcinogênico para humanos por existirem apenas evidências inadequadas de sua carcinogenicidade em humanos e animais ou não haver dados disponíveis. Grupo E: não é um carcinogênico para humanos. Como contaminantes ubíquos, as emissões industriais de dioxina para o meio ambiente são transportadas a longas distâncias por correntes atmosféricas, estando presentes no globo de forma difusa o que facilita seu contato com população em geral. A exposição humana é quase exclusiva pela ingestão alimentar de carne, peixes e laticínios. Exposições extremamente altas de seres humanos às dioxinas mostraram efeitos de toxicidade no desenvolvimento e reprodução, efeitos sobre o sistema imunológico e carcinogenicidade. Além disso, estudos recentes mostram que as concentrações das dioxinas no tecido humano em países industrializados já estão – ou estão próximos – dos níveis nos quais os efeitos sobre a saúde podem ocorrer. 104 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Os efeitos no desenvolvimento de seres humanos incluem: mortalidade pré-natal, crescimento reduzido, disfunção dos órgãos envolvendo efeitos no sistema nervoso central, tais como prejuízo do desenvolvimento intelectual, alterações funcionais incluindo efeitos sobre o sistema reprodutivo masculino. Para os animais adultos são necessárias doses muito altas para apresentarem efeitos, entretanto, os efeitos sobre o organismo em desenvolvimento ocorrem em doses mais de duas ordens de magnitude menores que as que seriam tóxicas para os adultos. Estudos de exposição ocupacional/acidental à dioxina em seres humanos, juntamente com os estudos em animais, evidenciam que a dioxina causa câncer em seres humanos. A agência internacional para Pesquisa do Câncer (IARC) declarou que a 2,3,7,8 TCDD é um carcinógeno humano reconhecido desde 1997. Formação de dioxinas e furanos Esses compostos podem ser gerados como subprodutos na fabricação de produtos químicos ou em uma combustão incompleta ou da recombinação de produtos gerados na queima de misturas contendo certos compostos orgânicos clorados. Conforme citado em Dempsey (1996, p. 1377), a agência Environment Canada concluiu que: embora fontes naturais possam contribuir com um aumento de PCDDs e PCDFs, estes não podem ser responsáveis pelo grande aumento das concentrações medidas desde o início desse século e nem pela diferença de concentração entre os diversos meios industrializados e áreas não industrializadas. Portanto, a concentração destas substâncias medidas no ambiente resulta predominantemente de atividades humanas. Como condições facilitadoras na formação desses contaminantes por meio de processos térmicos têm-se: • presença de organoclorados ou outros compostos contendo Cloro; • temperaturas no processo entre 200 – 400ºC e entre 800-1200°C; e • equipamento de controle de poluição operando entre 200 - 400ºC. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 105 Conclusões As dioxinas e furanos são contaminantes persistentes que possuem sua extensão de contaminação diretamente relacionada à produção em larga escala de cloro, havendo pouca evidência de que são produzidas naturalmente. A partir desse ponto de vista, como a produção de PVC utiliza muito cloro, o PVC é implicado como a fonte primária na produção desses contaminantes e são considerados diretamente responsáveis pela contínua geração e liberação de dioxinas e furanos para o meio ambiente. Outra fonte de emissão de dioxinas e furanos são os incineradores de resíduos, para os quais se verifica níveis de emissões de dioxinas e furanos clorados não são significativas para os incineradores de resíduos perigosos, sendo frequentemente menores do que os níveis relatados por fontes como os incineradores de resíduos municipais e incineradores de resíduos de serviços da saúde. Fonte: PHOTOS.COM AGROQUÍMICOS Desde a pré-história, a agricultura vem sendo desenvolvida pelo homem com o objetivo de obter maior produtividade para assegurar o seu sustento em alimentos e em renda. Vários fatores dificultam esse processo, e entre eles um de grande importância são as pragas que 106 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância destroem as plantas, as colheitas e os alimentos armazenados, geralmente em grandes quantidades. O combate às pragas é antigo, por volta do século XI os chineses já utilizavam compostos de arsênio, como o sulfeto de arsênio, no combate a esse problema. A partir de então, o homem passou a desenvolver os agroquímicos ou pesticidas, praguicidas ou defensivos agrícolas etc. Com o objetivo de proteger sua lavoura, o armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção das florestas e outros ecossistemas urbanos, hídricos e industriais. Alguns desses produtos também são utilizados como substâncias e produtos desfolhantes, dessecantes, estimuladores, inibidores do crescimento e fertilizantes para as plantas. Dentro desse contexto, a prática da agroquímica consiste na aplicação da química na agricultura, tendo seu foco não somente na produção de agroquímicos, mas também no estudo e prevenção de efeitos danosos tanto nas culturas como nos seres humanos (agricultores e consumidores). Os agrotóxicos são definidos pela Lei Federal nº 7.802, de 11/07/1989, regulamentada pelo Decreto nº 4.074, de 04/01/2002, como produtos e agentes de processos físicos, químicos e biológicos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, estimuladores e inibidores de crescimento. Existem cerca de 15.000 formulações para 400 agrotóxicos diferentes, sendo que cerca de 8.000 encontram-se licenciadas no Brasil, que é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo, segundo a ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segundo a ANVISA, a classificação dos agrotóxicos é realizada com base no grau de toxicidade do produto, sendo estabelecidas quatro classes: classe I – Extremamente Tóxico; classe II – Altamente Tóxico; classe III – Medianamente Tóxico e classe IV – Pouco Tóxico. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 107 Como existem vários tipos de agrotóxicos, cada um tem uma finalidade específica na agricultura e, a partir da finalidade, eles são classificados. Atualmente os principais agrotóxicos utilizados são: Inseticida: é um tipo de agrotóxico usado para exterminar insetos, destruindo ovos e larvas principalmente, matando-os por contato ou ingestão. Os inseticidas são utilizados na agricultura, na indústria e nas casas. Herbicidas: é um pesticida utilizado para o controle de plantas não desejadas no meio da cultura principal, classificadas como daninhas. As vantagens são: a rapidez de ação com efeito residual, custo reduzido, entretanto podem causar grande contaminação ambiental e o aparecimento de plantas resistentes. Os herbicidas são produtos específicos, ou seja, para cada tipo de planta deve ser utilizado um herbicida específico. Os principais tipos são: paraquat, glifosato, pentaclorofenol, dinitrofenóis e os derivados do ácido fenoxiacético que formam o principal componente do agente laranja (nome comercial Tordon), usado como desfolhante na Guerra do Vietnã. Fungicidas: é um pesticida que destrói ou inibe a ação dos fungos que geralmente atacam as plantas. Os principais grupos são: captan, hexaclorobenzeno, etileno-bisditiocarbamatos e trifenil estânico. Constituem um grande perigo ao meio ambiente, por serem produzidos a partir de princípios ativos à base de cobre e mercúrio. Fertilizantes: é um produto estimulante utilizado para tratamento do solo, enriquecendo-o e favorecendo o crescimento e o desenvolvimento das plantas de maneira mais rápida. Acaricidas: seu funcionamento pode ser comparado com o dos inseticidas e fungicidas, mas são aplicados para controle de todo tipo de ácaros existentes no cultivo. Fitorreguladores: são produtos constituídos a base de hormônios que irão estimular o crescimento da planta ou diminuir o desenvolvimento das raízes. Pesticidas Os pesticidas são todas as substâncias ou misturas químicas que têm como objetivo impedir e destruir qualquer praga de ordem animal ou vegetal. Os pesticidas têm espectros de ação diferentes, desde um largo espectro de ação, sendo tóxicos para quase todas as espécies (designados por biocidas), até os que têm um espectro 108 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância de ação estreito, sendo muito seletivos e eficazes contra um grupo definido de organismos. A persistência de um pesticida, ou seja, o tempo durante o qual, após a aplicação, ele mantém a sua toxicidade no ambiente é variável de pesticida para pesticida. Por exemplo, o DDT tem uma persistência que pode variar entre 2 a 17 anos, enquanto que outros têm uma persistência de algumas semanas ou até mesmo alguns dias. Para cada peste, é desenvolvido um tipo de pesticida geralmente tóxicos para o homem e meio ambiente. Há também a classificação básica dos elementos utilizados nas composições: • pesticidas botânicos - produzidos a partir de componentes extraídos da natureza como a sabadina, rotenona, piretrina ou nicotina; • pesticidas orgânicos - com síntese de clorados, clorofosforados, carbamatos ou outros; • pesticidas inorgânicos - alcançados com o uso de nitrogênio, fósforo, ferro, chumbo etc. A vantagem do uso dos pesticidas está no fato de que ele mantém a cultura livre de pragas (agentes patogênicos, parasitas, predadores e plantas indesejáveis), aumentando a produção de alimentos, além disto, previne o ser humano de certas doenças e diminui o apodrecimento de alimentos colhidos e armazenados. Por outro lado, do ponto de vista ambiental, o seu uso nas práticas agrícolas deve ser moderado e realizado com cuidado, pois pode causar a contaminação e desertificação do solo. O uso intenso pode levar à degradação dos recursos naturais de forma irreversível, levando a desequilíbrios biológicos e ecológicos, entre eles a contaminação da água, do ar e do próprio solo. Esses fatores podem causar a destruição de espécies que não são alvo dos pesticidas afetando as cadeias alimentares e o desenvolvimento de organismos resistentes aos pesticidas. Para os seres humanos, vários estudos indicam que a exposição aos pesticidas, em longo prazo, está associada com vários problemas de saúde, tais como: dificuldades respiratórias, problemas de memória, problemas na pele, cancro etc. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 109 A eficácia de um pesticida está relacionada com a forma da contaminação, mas, de maneira geral, os pesticidas eficientes são compostos que, em condições normais, têm um longo período de persistência nos organismos vivos manifestando-se diretamente ou indiretamente e, apesar de serem pouco solúveis e voláteis, são distribuídos em baixas concentrações e em grandes distâncias pela água ou pelo ar. Além disto, os pesticidas se beneficiam do efeito de bioacumulação, podendo atingir níveis significativos biologicamente e gerar grandes impactos sobre os seres que se contaminarem. Em função do nível de risco, os locais destinados ao armazenamento dos pesticidas devem ser construídos de materiais não combustíveis, com ventilação natural ou mecânica, não devem conter humidade e apresentar sinalização de segurança e materiais de combate a incêndio. Além disto, os pesticidas devem estar ao abrigo da exposição direta do sol e, afastados de habitações e locais de permanência de animais, e devem ainda ser arrumados em prateleiras metálicas e armazenados por ordem crescente de toxicidade, ficando os menos tóxicos mais acessíveis ao utilizador. A partir do exposto acima vemos que os pesticidas sintéticos podem causar grandes problemas ambientais e por outro lado trazem grandes benefícios para nossa sociedade, portanto não podemos simplesmente deixar de utilizá-los ou então fazer uso deles indiscriminadamente. O ideal seria utilizá-los de maneira equilibrada, fazendo uso de todas as formas possíveis de controle de pragas para continuarmos a se beneficiar destas substâncias minimizando os riscos ambientais. Os pesticidas são classificados de acordo com sua natureza química, sua finalidade, seu estado físico e espécie alvo. Se analisarmos por meio da espécie que se pretende combater, os pesticidas podem ser classificados principalmente em: inseticidas (insetos), herbicidas (plantas), fungicidas (fungos), acaricidas (ácaros), moluscidas (lesmas, caracóis e outros moluscos), nematicidas (nematoides) e rodenticidas (ratos e outros roedores). Quanto à natureza química, a classificação se altera e a maioria dos pesticidas sintéticos é 110 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância dividida em organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretoides. Apesar dessas classes, os pesticidas geralmente são utilizados para diversas aplicações além daquelas para as quais ele foi produzido. Isso se deve à possibilidade de se realizar inúmeras combinações entre a substância ativa e os adjuvantes. A substância ativa é o componente que contribui totalmente ou parcialmente para a eficácia do pesticida, enquanto os adjuvantes são utilizados para melhorar a ação, as propriedades ou o emprego do pesticida. Inseticidas organoclorados Os inseticidas organoclorados são compostos por átomos de cloro ligados a porções orgânicas e são os que possuem maior persistência conforme a seguinte ordem: DDT > dieldrina > lindano > heptacloro > aldrina. Muitos dos organoclorados são compostos estáveis e solúveis em lipídios, acumulando-se nos organismos e, em função disso, esse grupo é associado a problemas de biomagnificação e transferência nas cadeias alimentares. A contaminação por organoclorados, em geral, pode ser identificada pelos seguintes sintomas: dilatação da pupila e fotofobia, pálpebras trêmulas, dores de cabeça, alucinações, intumescimento da língua, agressividade, convulsões, coma, mas dependendo da forma de contato, podem se manifestar como sintomas: • por inalação: pode ocorrer tosse e edema pulmonar; • por ingestão: cólicas e diarreia; • por via dérmica: dermatites. Além disto, esses compostos causam sérias lesões hepáticas e renais, atuando principalmente sobre o sistema nervoso central e no sistema de defesa do organismo. O tratamento da contaminação deve ser realizado de acordo com os sintomas apresentados, por exemplo: • a pessoa não respira ou respira com dificuldade, fazer respiração artificial utilizando FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 111 um pano fino; induzir ao vômito; • se o veneno foi ingerido, proceder uma lavagem gástrica; • se a pele está contaminada, lavar com água e sabão; • se há convulsão, administrar diazepínicos; • se está inconsciente, transportá-la ao centro médico mais próximo, juntamente com a embalagem ou rótulo do produto. DDT O DDT é toxicologicamente um dos mais conhecidos pesticidas, poucas pessoas nunca ouviram falar dele, e muitos o consideram como um produto do dia a dia. O termo DDT é a abreviatura para o composto químico diclorodifeniltricloroetano apresentado na Figura 20, sendo possível observar claramente que o DDT é um organoclorado. Figura 19 – Fórmula química do DDT Fonte: Carapeto – Pesticidas O DDT foi sintetizado pela primeira vez em 1874, mas a partir de 1939 foi reconhecido como inseticida e, em 1948, seu descobridor ganha o prêmio Nobel. Sua primeira grande aplicação foi em programas de saúde pública para a eliminação de mosquitos vetores de diversas doenças após a 2ª Guerra Mundial, seguindo sua utilização na agricultura e nas florestas. Nos dez primeiros anos de sua descoberta, o DDT salvou aproximadamente cinco milhões de vidas 112 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância e evitou que 100 milhões de pessoas fossem afetadas pela malária, tifo, disenteria e mais de 20 outras doenças transmitidas por insetos. O DDT possui alta persistência no meio ambiente e baixa solubilidade em água (1,2mg/ m³ a 20°C) e seu principais metabólitos são o DDE (diclorodifenildicloroetileno) e o DDD (diclorodifenildicloroetano), que são os resíduos maioritários. O DDE não é um inseticida, porém, é altamente tóxico e mais estável que o DDT, fazendo com que uma aplicação de DDT tenha grandes probabilidades de afetar espécies não alvo, podendo contaminar cadeias alimentares completas devido à sua acumulação e biomagnificação e também em função da dificuldade de degradá-lo por meio de microrganismos ou de fatores físicos (luz solar ou calor). A Tabela 4 mostra a persistência típica do DDT no solo e de outros inseticidas organoclorados. Tabela 4 – Persistência de alguns pesticidas no solo Produto Químico Aldrina Heptacloro Lindano Dieltrina DDT Vida Média Tempo médio para (anos) 0,3 0,8 1,2 2,5 2,8 desaparecimento de 95% (anos ) 3 3,5 6,5 8 10 Fonte: adaptado de Freedman (1989) A divulgação e confirmação desses fatos no início dos anos 70 fez com que vários países industrializados eliminassem o uso do DDT, mas, em países em desenvolvimento e quentes, esse pesticida continuou a ser utilizado pois os efeitos positivos pelo sofrimento e vidas humanas poupadas se sobressaiam aos efeitos contaminantes. Além disso, o DDT é pouco solúvel em água (menos de 0,1ppm), o que significa que, após ser absorvido por um organismo, não pode ser eliminado pela urina, pela transpiração e nem o va- FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 113 por de água da respiração, por outro lado é solúvel em lipídios, onde tende a bioconcentrar-se. A população geral não está exposta ao DDT, DDE ou DDD, mas a uma mistura dos 3 compostos, uma vez que DDE e DDD são produtos metabólicos e de degradação do DDT. A principal via de exposição é por ingestão de alimentos contaminados, particularmente alimentos gordurosos de origem animal e leite materno. Apesar de o DDT e seus produtos de biotransformação serem ubíquos na atmosfera, eles estão presentes em baixas concentrações e as exposições dérmicas e inalatórias são mínimas. A exposição por ingestão de água potável também é considerada mínima, uma vez que o DDT é pouco solúvel em água. O DDT e o DDE podem atravessar a placenta e ser excretados no leite materno. O DDE é o principal metabólito do DDT no sistema biológico. Os efeitos agudos na exposição leve à moderada incluem náusea, diarreia, aumento da atividade enzimática do fígado, irritação (dos olhos, nariz e garganta), mal-estar e excitabilidade; em doses altas podem ocorrer tremores e convulsões. Entretanto, devido à estabilidade química, o DDT acumula na cadeia alimentar e tecidos de organismos expostos, incluindo pessoas que vivem em casas tratadas com DDT contra malária. Estudos epidemiológicos com crianças expostas ambientalmente ao DDT e DDE não encontraram anormalidades neurológicas ou de desenvolvimento. Contudo, a exposição ocupacional crônica ao DDT pode estar associada à diminuição permanente das funções neurocomportamentais, como atenção verbal, velocidade visual, motora e aumento de sintomas neuropsicológicos e psiquiátricos. HCH (Hexaclorociclohexano) O HCH é da classe dos organoclorados e consiste de uma mistura de pelo menos cinco estereoisômeros com uma composição de aproximadamente 62,5% de αHCH; 11,5% de βHCH; 14,5% de γHCH; 7,5% de δHCH e 4% de εHCH (Figura 21), sendo que esses percentuais dependem do processo de fabricação. Desses isômeros, o γ conhecido como 114 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Lindano é extremamente mais tóxico para os insetos do que os isômeros α e δ, e os isômeros β e ε são geralmente quase inertes. O isômero β é o mais estável e persistente na natureza, sendo encontrado nos tecidos adiposo e no leite. Figura 21 – Formas espaciais do HCH Fonte: Mello (1999) A Organização Mundial da Saúde recomenda a o uso de HCH na forma de Lindano (com 99% de pureza), pois os outros isômeros que não possuem ação sobre os insetos condicionam à intoxicação crônica. Em função da sua toxicidade e baseando-se na classificação toxicológica da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária de 1985, o Lindano pertence à Classe II, que compreende substâncias altamente tóxicas. O Lindano pode causar sensibilidade cutânea, reação alérgica e exantema, e o HCH pode causar reações fotoalérgicas. Quanto à carcinogenicidade os isômeros βHCH e γHCH, tiveram comprovação limitada em animais, entretanto o HCH e o isômero αHCH foram comprovados como carcinogênicos em animais. Em humanos não há provas suficientes. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 115 BHC (Hexaclorobenzeno) É um composto aromático halogenado e estável em função do seu núcleo benzênico com o cloro organicamente ligado em todo o anel (Figura 22), o que inibe sua biodegradação devido à maioria dos organismos não disporem de enzimas que a degradem, tornando-o extremamente persistente no ambiente. Cl Cl Cl Cl Cl Cl Figura 22 – Fórmula estrutural do BHC Fonte: baseado em Nakagawa (2003) A utilização do BHC iniciou-se em 1945 para controle de fungos em sementes, porém teve sua utilização como fungicida interrompida em 1970, pois apesar de sua toxicidade ser aguda moderada, ele é classificado como um risco ao ambiente em função da sua persistência e alta taxa de bioacumulação e está na lista do “Programa as Nações Unidas para o Meio Ambiente” (PNUMA) que classifica os poluentes orgânicos persistentes (POPs) em função da sua toxicidade, persistência, capacidade de bioacumulação e de transporte atmosférico. O BHC é sintetizado por várias vias: • por meio de cloração de benzeno sob altas temperaturas na presença de um catalizador; • formado como subproduto durante a produção de compostos clorados como os solventes percloroetileno e tricloroetileno, além de agrotóxicos clorados; • formado como subproduto de combustão incompleta na presença de cloro; • formado em processos como a incineração de lixo urbano e a queima de carvão para 116 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância a produção de cimento. Segundo Nakagawa (2003), 23000 kg/ano de BHC são adicionados ao ambiente e tem sido detectado no ar, na água e na biota, tornando-o um contaminante ambiental amplamente distribuído devido à alta persistência, baixa solubilidade em água e alta solubilidade em gordura. Por meio de estudos, Nakagawa (2003) observou-se a ocorrência de danos no fígado em ratos, além disso, o BHC é carcinogênico para hamster e ratos e em humanos produz lesões na pele e porfíria hepática. Porfíriahepática: Asporfiriassão,possivelmente,ogrupodedoençasmaisdifícildesecompreenderemtodaamedicina.Sãodoençasrelativamenterarasligadasaumaúnicasequênciafisiológica,aproduçãodoheme, com manifestações muito variadas e de difícil diagnóstico. Certa vez um colega, estudando sobre o assunto,encontrouamelhordefiniçãopossívelparaasporfirias:porfiriaéaqueladoençaquevocê investiga quando está desesperado para encontrar um diagnóstico. Conhecidadesdeaantiguidade,masnemsempreidentificadacomoumadoença,aporfiriaprovavelmentefoiafontedemitoscomoosvampiroselobisomens.Possivelmentevitimoudiversasfigurashistóricas conhecidas, como o Rei George III da Inglaterra, o pintor Vincent van Gogh e o escultor mineiro Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Pode causar sintomas diversos como lesões na pele, dor abdominal e distúrbios mentais, que muitas vezes são erroneamente interpretados como psiquiátricos. Seus portadores costumam sofrer seus sintomas por anos até o diagnóstico, que provavelmente só é realizado em uma minoria. Fonte:<http://www.hepcentro.com.br/porfiria.htm>.Acessoem:20set.2012. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 117 Inseticidas Ciclodienos Os inseticidas do tipo ciclodieno utilizados comercialmente, em grande parte, são classificados como Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). São eles: aldrin, dieldrin, endrin, clordano, mirex e heptaclor (Figura 23). Figura 23 – Inseticidas Ciclodienos Fonte: <http://www.antonio-fonseca.com/Unidades%20Curriculares/2-Ano/Poluicao/1%20Licoes/13%20 -%2014%20-%2015/Pesticidas.pdf>. O aldrin foi usado na agricultura em culturas de algodão e milho. No meio ambiente, os níveis de aldrin não são elevados, pois ele se converte em dieldrin que se acumula no tecido adiposo, e seus metabólitos são eliminados pela bile e fezes. O endrin é eliminado mais rapidamente no corpo humano não sendo encontrado em altas concentrações em seres vivos, mas, mesmo não se acumulando eficientemente, pode causar efeitos negativos. O aldrin, dieldrin e endrin têm seus usos proibidos ou seriamente restringidos em países desenvolvidos, porém alguns deles ainda são usados em países subdesenvolvidos. O mirex foi utilizado entre as décadas de 50 e 70 como retardante de chama em plásticos, 118 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância tintas, papel, entre outros. Sua degradação é lenta, e permanece nos solos e meio aquático por muito tempo. Os clordanos são substâncias químicas que não ocorrem naturalmente no meio ambiente, em 1988, foram proibidos para todos os usos. O heptacloro foi muito usado em residências e na produção de alimentos. A exposição pode ocorrer pela alimentação, ingestão de ar e água contaminados e os efeitos na saúde incluem danos no sistema hepático, excitabilidade e infertilidade. Inseticidas fosforados e clorofosforados Os inseticidas organofosforados (OF) são ésteres do ácido fosfórico e seus derivados que possuem um ou mais grupos de fosfatos ligados a uma porção orgânica, são menos estáveis que os organoclorados não apresentando uma tendência para serem bioacumulados e biomagnificados nas cadeias alimentares. De maneira geral, a toxicidade desses compostos depende do produto e dos organismos em contato, pois alguns organofosforados são biocidas de alta toxicidade para quase todos os animais, outros têm baixa toxicidade aos humanos (por exemplo, o malatião – disponível no comércio) e temos ainda os organofosforados (paratião, por exemplo), que possuem alta toxicidade aos humanos. Usualmente é mais caro controlar pragas com organofosforados do que com organoclorados. Devido a essa alta toxicidade e à facilidade de aquisição, os organofosforados estão entre as principais causas de intoxicação aguda, em situações acidentais ou não. De acordo com a VOMMARO, 2010, dos 37 OF utilizados na agricultura (alguns apresentados na Tabela 5), aproximadamente 27% são extremamente tóxicos, 43% são altamente tóxicos, 24 % medianamente tóxicos e 6% pouco tóxicos, portanto, aproximadamente 70% são extremamente e altamente tóxicos para o ser humano, sendo que, para esses compostos, a Ingestão Diária Aceitável (IDA) varia de 0,01 a 0,0008mg/kg de peso corpóreo. Alguns desses FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 119 compostos serão apresentados com mais detalhes mais adiante. Tabela 5 – Princípio ativo e nome comercial de alguns OF Fonte: Mello (1999) Os inseticidas organofosforados são absorvidos pelo organismo, pelas vias oral, respiratória e cutânea, sendo a via dérmica a mais comum em intoxicações ocupacionais, além disto, a taxa de absorção cutânea é aumentada em temperaturas elevadas ou quando há lesões na pele. Após absorvidos, os OF passam por reações de biotransformação, principalmente no 120 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância fígado, formando produtos menos tóxicos para que sejam eliminados com maior facilidade. A eliminação dos compostos da biotransformação ocorre principalmente pela urina e fezes e apenas uma pequena quantidade é eliminada de forma inalterada na urina. Os efeitos por contaminação são de maneira geral os seguintes: espasmos intestinais, salivação, sudorese, estimulação das glândulas lacrimais e convulsões; acompanhados de sintomas, tais como: redução do diâmetro das pupilas, lacrimejamento e rinite aguda, sudação intensa, vômito e tonturas, dores musculares e caibras, pressão arterial instável, taquicardia, confusão mental, hipotermia, cianose, cólicas e diarreias, sendo que a morte ocorre geralmente nas primeiras 48 horas, a possibilidade de recuperação normalmente é completa se não ocorre falta de oxigenação no cérebro. Etil parathion Quando puro, esse composto é um líquido amarelado. Na forma de produto comercial tem 90% de pureza com p-nitrofenol como parte da impureza e apresenta forte cheiro de alho. É pouco solúvel em água e é solúvel na maioria dos solventes orgânicos. C2H5O C2H5O P O NO2 S Figura 24 – Fórmula química do etil parathion Fonte: baseado em Tocchetto (online) Metil paration É um sólido cristalino (PF = 35°C). O produto comercial é um líquido de cor marrom com cheiro de alho, possui baixa solubilidade em água e é muito solúvel em solventes orgânicos. Decompõe-se em meio alcalino, podendo ser transformado em paraoxon. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 121 CH3O P CH3O NO2 O S Figura 25 − Fórmula química do metil paration Fonte: baseado em Tocchetto (online) Fention É um líquido pardo com leve cheiro de alho, insolúvel em água e solúvel na maioria dos solventes orgânicos e muito estável em meio alcalino. CH3O CH3O P O S S CH3 CH3 Figura 26 − Fórmula química do fention Fonte: baseado em Tocchetto (online) Dimetoato (Dimethoate) É um sólido cristalino branco, pouco solúvel em água e solúvel em solventes orgânicos que decompõe-se em meio alcalino e com menor intensidade em meio ácido. CH3O CH3O CH3 P S S CH2 C O N H Figura 27 − Fórmula química do dimetoato Fonte: baseado em Tocchetto (online) Malation O produto comercial é um líquido marrom escuro com forte cheiro de alho que possui de 95% a 98% de substância ativa. É pouco solúvel em água e é solúvel na maioria dos compostos 122 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância orgânicos e decompõe-se facilmente tanto em meio alcalino quanto em meio ácido. Quando armazenado inadequadamente, sofre decomposição para compostos similares (malaoxon e isomalation) que são altamente tóxicos. CH3O CH3O O P S CH C OC2H5 O S CH2 C OC2H5 Figura 28 − Fórmula química do Malation Fonte: baseado em Carapeto – Pesticidas Disulfoton O produto comercial é um óleo amarelo escuro de odor aromático, insolúvel em água e solúvel na maioria dos solventes orgânicos. C2H5O C2H5O P S (CH2)2 S C2H5 S Figura 29 − Fórmula química do Disulfoton Fonte: baseado em Tocchetto (online) Os inseticidas clorofosforados tiveram pouca importância até a década de 1980, quando entraram em ascensão pelo seu amplo campo de ação, período residual médio, toxicidade menor do que os fosforados e porque, em geral, não têm ação sistêmica. Dentre eles, estão os seguintes produtos. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 123 DDVP O produto comercial é um líquido de coloração que vai do incolor ao amarelo, com densidade de 1,1415kg/L, altamente solúvel em solventes orgânicos e em água. CH3O CH3O P O CH CCl2 O Figura 30 – Fórmula química do DDVP Fonte: baseado em Tocchetto (online) Dipterex É um produto sólido de cor branca ou amarelada e solúvel em água na faixa de 15%, solúvel em solventes orgânicos clorados e ligeiramente solúvel em éter e tetracloreto de carbono. É estável em ácido e instável em meio alcalino. CH3O CH3O P CH O OH CCl3 Figura 31 – Fórmula química do Dipterex Fonte: baseado em Tocchetto (online) Trition O produto comercial é um líquido ligeiramente amarelado pouco solúvel em água e solúvel na maioria dos solventes orgânicos. 124 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância C2H5O C2H5O P S CH2 S Cl S Figura 32 – Fórmula química do Trition Fonte: baseado em Tocchetto (online) Promophos É um produto comercial sólido cristalino amarelado pouco solúvel em água e solúvel em solventes orgânicos, tendo uma composição de 90% de composto ativo e 10% de impurezas diversas. Cl CH3O CH3O P O S Br Cl Figura 33 – Fórmula química do Promophos Fonte: baseado em Tocchetto (online) Inseticidas Piretroides Sintéticos Os piretroides são compostos que surgiram a partir de 1965, obtidos a partir de sínteses artificiais de moléculas similares às das piretrinas naturais e apresentam uma ação ampliada se comparada às naturais, possuindo uma estrutura química geral conforme apresentado na Figura 34 em que os radicais R1, R2 e R3 dependem do composto desejado. Esses compostos são representados pelas aletrinas, alfacipermetrinas, deltametrinas, permetrinas, FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 125 cipermetrinas, lambda-cialotrina, entre outros (ver Tabela 6), compreendendo inseticidas de uso agrícola, veterinário e domissanitário. R1 R2 O C CH CH CH C OR3 CH CH3 CH3 Figura 34 – Estrutura geral dos piretoides sintéticos Fonte: baseado em Tocchetto (online) Algumas qualidades desse grupo são: melhor efeito desalojante sobre as baratas; efeito fulminante sobre moscas, mosquitos e baratas; algum vapor de efeito tóxico sobre os insetos e certo efeito residual, devendo ser utilizado com efeito de choque (knock-down) quase instantâneo. Tabela 6 – Exemplos de estruturas de piretoides sintéticos específicos Composto Radicais R1 R2 Cipermetrina - Cl - Cl Permetrina - Cl - Cl R3 Fonte: baseado em Tocchetto (online) Em geral, são compostos pouco ou moderadamente tóxicos aos animais superiores e raramente envolvidos em intoxicações, assim, são em geral destituídos de antídoto específico, o tratamento de um ser humano ou animal intoxicado de forma sintomática é feito com a indicação do emprego de anti-histamínicos. São compostos facilmente absorvidos pelo trato digestivo e via respiratória e pouco absorvidos pela via dérmica, podendo causar reações 126 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância alérgicas. Inseticidas Carbamatos São inseticidas derivados do ácido carbâmico, e sua comercialização teve início por volta de 1960. O mais utilizado é o carbaril. Assim como os organofosforados, os carbamatos apresentam ação letal rápida sobre os insetos, apesar de um curto poder residual. Os carbamatos não são prontamente solúveis em solventes orgânicos geralmente usados para inseticidas de formulação oleosa, nessa forma eles são prontamente absorvidos pelo corpo e apresentam um grande espectro de atividade inseticida, porém, quando em formulações sólidas, são pouco absorvidos pelo organismo humano, tornando a absorção dérmica não considerada importante no aparecimento de efeitos tóxicos. A ação dos carbamatos é similar à dos inseticidas organofosforados nos sistemas biológicos, tendo como diferença apenas dois fatores principais: são potentes inibidores da Aliesterase (cuja função exata é desconhecida) e apresentam seletividade pronunciada contra as AChE de certas espécies, além disto, a segunda diferença é que a inibição da AChE pelos carbamatos é reversível. Essa segunda diferença permite ao homem uma rápida recuperação do envenenamento acidental, mas permite também a recuperação de insetos se atingidos por doses subletais. Carbaril O carbaril é um inseticida da classe dos carbamatos comercializado com 95% de pureza e que se encontra na forma de um sólido cristalino branco, pouco solúvel em água (até 20%) e solúvel em solventes orgânicos, além de ser instável em meio alcalino. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 127 Figura 35 – Fórmula química do carbaril Fonte: baseado em Tocchetto (online) Baygon ou Propoxur Produto comercial na forma de pó cristalino branco, pouco solúvel em água (até 0,002g/mL) e solúvel em solventes orgânicos polares. O O C NHCH3 O CH(CH3)2 Figura 36 – Fórmula química do Baygon Fonte: baseado em Tocchetto (online) 128 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância Fonte: SHUTTERSTOCK.COM Embalagens dos agrotóxicos Estima-se que o Brasil produza hoje cerca de 115 milhões de embalagens para armazenamento de 250 mil toneladas de agrotóxicos. Em 2000, foi aprovada a legislação que regulamenta o destino das embalagens. As embalagens laváveis (rígidas, feitas de plástico, metal ou vidro) devem ser recolhidas e, depois, submetidas à tríplice lavagem, procedimento que consiste na lavagem do vasilhame com água limpa por 3 vezes, diminuindo a quantidade de restos de agrotóxico. Essa mesma água será usada na diluição do agrotóxico a ser aplicado. A queima controlada das embalagens é uma prática e técnica ambientalmente viáveis para embalagens contaminadas, porém apresenta um elevado custo e pouca oferta de incineradores para a sua realização. A queima em caldeiras para o uso em indústrias, principalmente na fabricação de cimento, tem como vantagem o uso de matéria-prima com alto poder calorífico, principalmente o plástico. O custo do transporte das embalagens constitui a sua grande desvantagem. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 129 Provavelmente, a solução mais viável é a reciclagem com o objetivo de produzir outros produtos plásticos, já que as matérias-primas usadas são potencialmente recicláveis. O contato do produto tóxico com a embalagem, no entanto, torna necessária uma análise detalhada de cada caso. Para o vidro e o metal não parece haver problemas, uma vez que as temperaturas a que eles serão submetidos (mais de 1000°C) no processo de reciclagem, asseguram a total degradação das moléculas do princípio ativo. Os plásticos, por sua vez, são submetidos a temperaturas de 150°C a 170°C, insuficientes para a inativação dos princípios ativos. Portanto, não devem ser usados na confecção de produtos que possam comprometer a saúde de pessoas e animais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta unidade teve início com a apresentação dos conceitos de bioacumulação e biomagnificação, que descrevem um processo pelo qual a concentração de poluentes nos animais aumenta na direção do topo da cadeia alimentar e principalmente como medir a bioconcentração que é dada pelo fator de bioconcentração (FBC) a relação entre a concentração do composto no tecido do organismo e na água na situação de equilíbrio. Em seguida, foram apresentados os conceitos de dioxinas e furanos, que são produzidos por meio de diversas fontes de combustão e como impurezas na manufatura de diversos produtos organoclorados, assim como sua formação, suas propriedades físico-químicas e seus efeitos sobre a saúde humana. Na parte final da unidade, foram apresentados os agrotóxicos (definidos anteriormente, como produtos destinados a alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos) e seus tipos com relação à sua ação específica (inseticida, herbicida, fungicida etc.). Para finalizar a unidade, foi apresentada a situação atual de regras para destinação das embalagens dos agrotóxicos que são uma das principais fontes de contaminação relacionadas aos agrotóxicos. 130 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 01 – De qual meio – ar, alimento ou água – se origina a maior parte da exposição humana às dioxinas? 02 – Explique o que significam os termos bioacumulação e biomagnificação. 03 – Descreva as principais diferenças entre o DDT e seus análogos. 04 – Comente sobre qual é a destinação das embalagens de agrotóxicos no Brasil. 05 – Explique quais as diferenças entre o Lindano e seus análogos. 06 – Em uma lagoa costeira, foram medidas as concentrações na água de algumas substâncias tóxicas. Os peixes dessa lagoa também foram analisados para as mesmas substâncias. Os resultados dessas medições estão apresentados na tabela a seguir: Os peixes analisados são todos carnívoros. Por que a concentração das substâncias tóxicas nos peixes é maior do que a observada nas águas da lagoa? Segundo dados dos artigos apresentados nos links a seguir, uma quantidade de dioxina correspondente a um grão de arroz, se distribuído de forma igual e direta entre a população, é equivalente à taxa anual “permitida” para um milhão de pessoas, portanto, estes trabalhos trazem informações a respeito do que são as dioxinas e furanos, seus efeitos nos organismos, como são produzidos e sobre sua eliminação. <http://www.forumpermanentedefesavida.com.br/artigos/dioxinas.pdf>. <http://www.acpo.org.br/biblioteca/02_substancias_quimicas/dioxinas/eliminacao_dioxinas_ greenpeace.pdf>. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 131 O texto apresentado no link é bastante interessante pois trata de um tema pouco conhecido (ou conhecido, porém tabu) no universo médico mas já debatido há anos na Medicina Ambiental: Os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) que são as 12 substâncias mais nocivas ao ser humano (Os "DOZE SUJOS") agregadas em uma categoria denominada POPs. <http://www.ecologiamedica.net/2010/09/poluentes-organicos-persistentes-pops-e.html>. Convenção de Estocolmo sobre os Poluentes Orgânicos Persistentes - Convenção POPs é, indubitavelmente, um dos mais importantes instrumentos de promoção da segurança química global, incluindo no seu escopo a determinação de obrigação dos Países Parte de adotarem medidas de controle relacionadas a todas as etapas do ciclo de vida - produção, importação, exportação, disposiçãoeuso,dassubstânciasclassificadascomopoluentesorgânicaspersistentes-POPs.Em uma posição preventiva, a Convenção determina que os governos promovam as melhores tecnologias e práticas no seu campo tecnológico e previnam o desenvolvimento de novos POPs em suas plantas industriais.Indomaisalém,definecomoseuobjetivofinalaeliminaçãototaldosPOPs.Destaforma, este trabalho apresenta na íntegra o texto da Convenção de Estocolmo. <http://www.mma.gov.br/estruturas/smcq_seguranca/_publicacao/143_publicacao16092009113044. pdf>. O manuseio inadequado de agrotóxicos é assim um dos principais responsáveis por acidentes de trabalho no campo. A ação das substâncias químicas no organismo humano pode ser lenta e demorar anos para se manifestar. Segundo a OMS, há 20.000 óbitos/ano em consequência da manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas, nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Este link apresenta uma grande quantidade de informações a respeito da correta aplicação e os cuidados necessários no trabalho com agrotóxicos, tentando auxiliar na redução destes índices. <http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/agrotx.htm>. 132 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância UNIDADE V Metais pesados Professor Me. Carlos Eduardo Santana Alves Objetivos de Aprendizagem • Compreender as consequências dos metais pesados ao meio ambiente. • Conhecer os metais pesados. • Conhecer onde são empregados. • Conhecer quem são seus agentes poluidores. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Cádmio • Arsênio • Chumbo • Mercúrio • Alumínio • Bário • Cobre • Manganês • Cromo • Níquel • Zinco INTRODUÇÃO O maior grupo de elementos químicos existente é o dos metais, que possuem boa condução de eletricidade diferenciando-se assim dos não metais, que não são bons condutores, e dos semimetais (B, Si, Ge, As, Te), que têm baixa condutividade elétrica. Os metais pesados encontram-se em todas as partes, no solo, na água e no mar. Apesar de o termo metal pesado estar associado com poluição ou toxicidade (Whitton, 1984), por definição, metais pesados são os metais com densidade acima de 5g/cm³ de acordo com Beveridge et al. (1997), entretanto, esta é uma definição arbitrária por contemplar muitos metais. Os metais pesados absorvidos pelo ser humano se depositam no tecido ósseo e gorduroso, deslocando minerais nobres dos ossos e músculos para a circulação causando doenças, assim pode-se afirmar que o consumo habitual de água e alimentos contaminados coloca em risco a saúde. As populações que moram em torno das fábricas de baterias artesanais, industriais de cloro-soda que utilizam mercúrio, indústrias navais, siderúrgicas e metalúrgicas correm risco de serem contaminadas. Os metais, de acordo com sua aplicação ou efeito sobre os organismos vivos, podem ser classificados em três grupos: Metais essenciais: são os metais com funções essenciais na matéria viva. O Na, K, Mg, Ca são considerados macronutrientes, ou seja, elementos construtores no meio intracelular e possuem concentração elevada. Já os metais como Co, Ni, Zn, e Mo são micronutrientes, isto é, necessários em baixíssimas concentrações sendo tóxicos em altas concentrações. O cobre (Cu) tem uma essencialidade discutível. O tungstênio (W) tem sido apontado como essencial em função de as bactérias termofílicas de fontes termais submarinas (130ºC) serem dependentes de tungstênio em seu metabolismo. - Metais tóxicos: são metais que não têm função metabólica conhecida. Elementos como antimônio e selênio são considerados tóxicos apesar de serem semimetais e exercerem efeitos diferentes dos metais tóxicos. O alumínio, em decorrência da solubilização de FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 135 aluminosilicatos nos solos em consequência das chuvas ácidas e das espécies de Al(III), é tóxico às bactérias do solo, gerando problemas em horticultura e por isso vem sendo considerado tóxico. Metais indiferentes: metais como Rb, Cs, Sr e vários metais de transição são por vezes acumulados nas células por interações físico-químicas não específicas ou por mecanismos específicos de transporte. Os íons acumulados podem exercer efeitos biológicos indiretos como a substituição do íon K+2 na neutralização de cargas de Rb+ ou Cs+. A presença desses metais em microrganismos, por exemplo, reflete as características geológicas ou ambientais de um local. Um exemplo é a presença de 137Cs+ em bactérias dos solos do norte europeu como consequência da deposição atmosférica do material radioativo de Chernobyl. CÁDMIO Apesar localizado na tabela periódica na mesma coluna do Zn e do Hg, possui propriedades próximas às do Zn inibindo enzimas. É encontrado na natureza em associação ao Zn, sendo obtido a partir da mineração e fundição do Zn. Em alguns casos, a substituição do zinco pelo cádmio leva ao aumento na atividade catalítica. Figura 37 – Cádmio isolado Fonte: <http://www.infoescola.com/elementos-quimicos/cadmio> As principais aplicações do cádmio estão na constituição de eletrodos de baterias recarregáveis, em dispositivos fotovoltaicos e monitores de TV (na forma de CdSe) e na composição de tintas amarelas brilhantes (na forma de CdS). As principais fontes de poluição são deposições de partículas suspensas no ar, fundições de Pb, Zn e Cu, combustão de carvão, incineração de materiais residuais, e fertilizantes comerciais de fosfatos. Ele contamina o solo, o ar, a água e o lençol freático e é bioacumulativo em toda 136 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância a cadeia alimentar, provocando intoxicação nos seres humanos quando ingerem alimentos contaminados com cádmio. Por meio da deposição atmosférica, chega ao solo e é absorvido pelas plantas com pH baixo, em função de sua similaridade com o zinco, que é um nutriente essencial. Nos humanos, pode ser absorvido pela dieta alimentar e possui uma toxicidade aguda com dose letal de aproximadamente um grama para algumas espécies, sendo que os seres humanos possuem uma proteção em níveis baixos em função da proteína metalotioneína que regula o metabolismo do zinco. O cádmio possui uma natureza tóxica bastante séria e foi responsável por um envenenamento crônico, ocorrido no Japão há 40 anos, que se deu em consequência do consumo de cereais contaminados. O cádmio se acumula no fígado e nos rins, produzindo nefrite. A ingestão prolongada, associada à disfunção renal, conduz à excreção de proteínas e, em casos agudos ,as vítimas experimentaram dores intensas causadas pela degeneração óssea pela remoção de cálcio dos ossos. Além disto, pode provocar alterações no sistema nervoso central e no sistema respiratório, causando o aparecimento de edema pulmonar, câncer pulmonar e irritação no trato respiratório. Provoca perda de olfato, formação de um anel amarelo no colo dos dentes, redução na produção de glóbulos vermelhos. ARSÊNIO É encontrado na natureza em associação com minerais sulfetos (Figura 38), tendo como principais fontes difusoras a pirita e o sulfeto de ferro, que, por meio do intemperismo, causa a liberação de arseniato com hidróxidos de sulfato e férrico. O arseniato adsorve o hidróxido férrico e se deposita nos sedimentos dos rios. Figura 38 – Rocha de sulfeto de arsênio Fonte: <http://www.infoescola.com/elementos-quimicos/arsenio/> FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 137 O arsenito As2O3 (As3+ ou As(III)) é mais tóxico que o arseniato, AsO43-, (As5+ ou As(V)), pois se liga mais facilmente às proteínas, danificando o DNA das células humanas e, a baixos níveis, inibe os receptores de ativação do hormônio Glucocorticoide, que ativa muitos genes supressores de câncer e reguladores de açúcar no sangue, portanto a arsenicose é desencadeadora de diabetes e câncer. CHUMBO Extraído do mineral galena, PbS, contendo 86% do metal e da cerusita, PbCO3, (77%). Antigamente era usado em tubulações, panelas e construção de edifícios. Na década passada, eram utilizados em lacres de botijão de gás; hoje é usado como uma liga com o estanho para solda de eletrônicos e de latas e em baterias de automóveis; usado também como munição e chumbada de pescar. Sais de chumbo fornecem cores estáveis e brilhantes; o Pb3O4, cor vermelha brilhante, o PbCrO4 é amarelo e o Pb3(CO3)2(OH)2 é branco. As principais vias de contaminação com chumbo inorgânico são a ingestão e respiração, e as contaminações com compostos orgânicos de chumbo podem ocorrer pela penetração através da pele além de ingestão e inalação. Nas tubulações, o chumbo pode se dissolver se a água estiver muito ácida ou mole, em águas duras não ocorre esse problema. A ingestão de chumbo pela água representa 1/5 da contaminação. O restante se dá pelos alimentos e pelo ar. Figura 39 – Galena retirada de minas na Alemanha Fonte: <http://www.cdcc.sc.usp.br/elementos/chumbo.html> 138 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância O chumbo encontra-se muitas vezes na forma de compostos covalentes como o tetrametilato de chumbo e o tetraetilato de chumbo, que foram muito utilizados como aditivos para gasolina para controlar seu poder detonante, mas após a combustão se formam os di-haletos que se converte em óxido de chumbo (PbO) pela ação da luz na forma de aerossol tornando-se em uma fonte de contaminação ambiental. O Brasil produz gasolina sem chumbo desde 1989. A contaminação, mesmo em concentrações baixas, danifica células do cérebro, podendo levar à morte. O acúmulo desse metal ocorre nos ossos, onde se concentra 90% do total existente no corpo humano. A excreção é feita por via urinária e pelas fezes. Do mesmo modo que o Hg(II) e o Cd(II), o chumbo inibe enzimas que contêm grupos SH, porém menos fortemente. Os principais sintomas de intoxicação por chumbo são: irritabilidade e agressividade, indisposição, dores de cabeça, convulsões, fadiga, sangramento gengival, dores abdominais, náuseas, fraqueza muscular, obnubilação mental, perda de memórias, insônia, pesadelos, acidente vascular cerebral inespecífico, alterações de inteligência, osteoporose, doenças renais, anemias, problemas de coagulação. A maior parte do chumbo no organismo está no sangue, mas quando em excesso ele penetra nos tecidos macios como o cérebro e se deposita nos ossos. As crianças absorvem mais chumbo que os adultos, e esse metal permanece por vários anos nos organismos. O chumbo na criança (menor de 7 anos) provoca interferência no desenvolvimento de seu cérebro, por exemplo, crianças australianas com 300 ppb de chumbo no sangue apresentaram uma diminuição de 4 a 5 pontos no QI, comparado com as que continham 100 ppb. Para o chumbo, os efeitos no corpo humano são os mesmos em caso de ingestão ou inspiração, afetando principalmente o sistema nervoso central, além disto, pode causar anemia por inibição da síntese da hemoglobina, fraqueza nos dedos, punhos ou calcanhar, hipertensão, mal funcionamento dos rins, inibe ação de cálcio e proteínas e atinge o nervo óptico e auditivo. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 139 MERCÚRIO O mercúrio é um poluente natural da atmosfera e das águas, encontrando-se armazenado em depósitos naturais como vulcões e fogos florestais, em função disso, organismos expostos de forma natural em locais com alto teor de mercúrio parecem ter desenvolvido mecanismos de defesa, realizando metilação ou redução com formação de Hg22+ e Hg, ambos voláteis. Figura 40 – (a) Mercúrio na rocha e (b) Mercúrio líquido Fonte: <http://www.areaseg.com/toxicos/mercurio.html> Fonte: <http://www.areaseg.com/toxicos/mercurio.html> Entretanto, além das emissões naturais, grandes quantidades de vapor de mercúrio são lançadas ao ar por meio de emissões realizadas pelas atividades humanas, como: a combustão de carvão ou óleo combustível, a incineração de lixo, na agricultura com inseticidas e fungicidas, assim como nas indústrias, tais como a farmacêutica e na produção de interruptores elétricos, baterias, bulbos de lâmpadas fluorescentes, de lâmpadas a mercúrio, baterias de celular, termômetros, entre outros, tornando a concentração local de mercúrio maior que aquela produzida naturalmente, o que pode gerar sérios problemas ambientais. Na cadeia alimentar, o mercúrio encontra-se principalmente na forma de compostos do tipo CH3-Hg-R, em virtude da grande afinidade por grupos SH, abundantes nas proteínas. Como o mercúrio tem alta interação com a membrana lipoprotéica, sua absorção no trato gastrointestinal tem alta eficiência nas formas: CH3Hg+ (100%), C2H5 -Hg+ (50%) e Hg (II) (20%). Entrando para a circulação sanguínea, 140 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância concentra-se, principalmente, nas células vermelhas, podendo provocar hemólise (destruição dessas células) e se acumulando principalmente no fígado e rim. O mercúrio é o mais volátil de todos os metais, e seu vapor é altamente tóxico espalhando-se dos pulmões para a corrente sanguínea, e depois, atravessando a barreira sangue-cérebro, ele penetra no cérebro. Por outro lado, o mercúrio líquido não é altamente tóxico, pois a maior parte do que é ingerida é excretada. A alta toxicidade do mercúrio é o seu longo tempo de permanência no organismo. O tempo de meia vida do metilmercúrio, CH3-Hg+, no corpo humano é de 70 a 90 dias, sendo ainda maior no cérebro, e a eliminação se dá nas fezes. Os danos produzidos no cérebro via sistema nervoso central causam perda de sensibilidade nas extremidades das mãos, dos pés e de áreas ao redor da boca (parestesia), seguida de perda de coordenação dos movimentos (ataxia), dificuldade de articulação das palavras (disartria), perda de audição, cegueira e morte. Estima-se que 25mg de metilmercúrio produzam parestesia, 55mg provoquem ataxia, 90mg causem disartria e 200mg levem à morte. Alguns relatos famosos sobre intoxicação por mercúrio são relacionados abaixo: • Finale – Itália: as emissões de uma fábrica de cloreto de mercúrio causaram graves problemas de poluição no ar. • Iraque: ocorreu envenenamento pela ingestão de pães feitos com trigo tratado com fungicida à base de alquilmercúrio. • Baia de Minamata – Japão: o lançamento de águas residuárias de uma fábrica de cloro e soda cáustica, ricas em mercúrio (eletrólise do cloreto de sódio - 100g de Hg são produzidos para cada tonelada média de cloro produzido), provocou a contaminação dos peixes e, por consequência, da população local. No Brasil, o interesse pelos problemas causados pelo mercúrio começou a partir de 1980 com a descoberta do ouro em Serra Pelada (Pará) e outras regiões da Amazônia, em função dos problemas causados aos garimpeiros pela inalação do mercúrio volatilizado e a poluição do curso d’água pelo mercúrio utilizado. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 141 Intoxicações leves com mercúrio podem causar dor de estômago, diarreia, tremores, depressão, ansiedade, gosto de metal na boca, dentes moles com inflamação e sangramento na gengiva, insônia, falhas de memória, fraqueza muscular, nervosismo, mudanças de humor, agressividade, dificuldade de prestar atenção. Intoxicações severas com mercúrio podem causar inúmeros problemas neurológicos graves, inclusive paralisias cerebrais; mulheres grávidas amamentando crianças e possíveis futuras mães fazem parte da população de risco com relação a esse tipo de contaminação. Amálgama dental O amálgama dental é uma combinação de mercúrio líquido e uma mistura formada principalmente por prata e estanho que pode contaminar o ser humano, pois, quando a obturação estiver envolvida na mastigação da comida e ocorrer a vaporização de uma pequena quantidade de mercúrio, estes vapores serão absorvidos pelo organismo causando uma contaminação que pode se agravar ao longo do tempo. Outro ponto a ser observado é que, durante a cremação de cadáveres, pode ocorrer a vaporização de mercúrio elementar para a atmosfera. Contaminação gerada em garimpos Por meio da atividade dos garimpos, estima-se que entre 1570 e 1900 foram emitidas cerca de 200.000 toneladas de mercúrio para o ambiente, e entre os anos 70 e 90, cerca de 500 toneladas tenham sido lançadas na Amazônia contaminando peixes e consequentemente os humanos. Estudos demonstraram que determinadas espécies de peixes da região (traíra, tucunaré, pescada e peixe cachorro) consumidos pela população local apresentaram níveis de mercúrio total acima do limite recomendável pela Organização Mundial da Saúde para consumo humano, isto é, superiores a 0,5µg por grama de alimento consumido. Os garimpeiros sofrem intoxicação por via respiratória quando o mercúrio é aquecido e seus vapores são inalados pelo garimpeiro, além disto, ocorrem intoxicações por via cutânea, pois as técnicas precárias utilizadas no manuseio do metal e a falta de equipamentos de proteção 142 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância permitem que a pele do garimpeiro entre em contato com o mercúrio. Ocorrem também contaminações de plantas e animais, pois uma parte do mercúrio é perdida, ou até mesmo jogada fora causando danos ambientais a essas plantas e animais que, quando ingeridos, causam doenças as pessoas que os consomem. Produção de cloreto de vinil, acetaldeído e soda cáustica Outra fonte poluidora de mercúrio são as fábricas de cloroalcalis produtoras de cloreto de vinil, acetaldeído e soda cáustica, que, entre os anos de 1994 e 1995, lançaram 7 das 158 toneladas de mercúrio emitidas no ambiente nos Estados Unidos. Isso ocorre porque no processo de produção nem todo mercúrio é reciclado, uma pequena parte é lançada no ar e vertida no rio, tornando-se acessível aos peixes por ele ser oxidado até formas solúveis mediante as intervenções de bactérias presentes nas águas naturais. A formação de Metilmercúrio e Dimetilmercúrio A toxidade ambiental do mercúrio está associada quase inteiramente a ingestão de peixes, os quais no máximo 94% e pelos menos 80% se contaminaram com mercúrio na forma de metilmercúrio. As bactérias redutoras de sulfato em sedimentos geram metilmercúrio e dimetilmercúrio e o liberam na água. O agente ativo desse processo de metilação é a metilcobalimina, que é um constituinte derivado da vitamina B12 com um ânion CH3 ligado a um cobalto, comum dos microorganismos. Em 1977, a pesquisadora americana Karem Wetterhahn, morreu de envenenamento por mercúrio vários meses depois que 2 gotas de dimetilmercúrio puro penetraram através das luvas de látex que estava usando enquanto manipulava o composto em experimentos. No passado ocorreram centenas de mortes no Iraque e nos Estados Unidos, em consequência do consumo de pão preparado com sementes de cereais que tinham sido tratados com metilmercúrio, como fungicida, a fim de reduzir as perdas devido a ataque de fungos. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 143 ALUMÍNIO O alumínio ainda não tem bem definido seu papel no metabolismo dos organismos vivos, porém, a princípio é um metal não essencial, embora alguns autores sugiram que seja um metal essencial, sua toxicidade está comprovada, sendo, portanto, tóxico. A dose letal aguda (LD50) de alumínio é de 2,5 x 10 -2mol.kg-1 em 31 ratos. Figura 41 – Alumínio concentrado Fonte: < http://www.reciclaaluminio.com.br/produtos.html> Apesar dos compostos de alumínio serem fracamente absorvidos pelo trato gastrointestinal, a ingestão excessiva pode causar problemas. Esse tipo de contaminação pode ocorrer em tratamentos com antiácidos. A essencialidade de um elemento é comprovada por meio do aparecimento de uma doença em função de sua suspensão na dieta, entretanto, como o alumínio é ubíquoto (encontrado por toda parte) no ambiente, essa verificação é dificultada. 144 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância BÁRIO O principal minério do bário é a barita ou sulfato de bário (BaSO4). Suas formas industriais e domésticas são carbonato, cloreto, hidróxido, sulfato e nitrato e se comporta como forte antagonista do cálcio no organismo. Figura 42 – (a) Minério do bário e (b) Rocha com sulfato de bário Fonte:<http://www.manutencaoesuprimentos.com.br/conteudo/4555-mineracao-caracteristicas-doelemento-bario/> Fonte: <http://tablperiodfam2-a.blogspot.com.br/2010/06/bario.html> Descoberto em 1808, o bário (significa “pesado”) é um elemento tóxico que pode matar pela ingestão de apenas meio grama, porém possui uma absorção lenta. Esse elemento deposita-se nos ossos, olhos e pulmões, causando forte vasoconstrição. É utilizado em venenos para ratos, substâncias depilatórias, pigmentos para pintura, vidros e cerâmicas. Em medicina é usado em contrastes radiológicos para estômago, vesícula e intestinos. A contaminação em crianças pode causar retardamento mental, o não desenvolvimento físico e grande tendência ao isolamento. Nos idosos pode provocar demência senil, levando a um comportamento infantil e inseguro, além de provocar aumento da próstata nos homens e incontinência urinária em ambos os sexos. Pode produzir um aumento de gânglios, maior suscetibilidade a resfriados e cheiro fétido nos pés e virilhas. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 145 Dentre os sintomas da intoxicação aguda pelo bário estão a excessiva salivação, vômitos, cólicas, diarreia, tremores convulsivos, pulso lento e pressão alta, seguidos de hemorragias no estômago, intestinos e rins e, finalmente, parada cardíaca. O exame de sangue apresenta grande aumento de leucócitos, simulando uma infecção aguda, e as radiografias mostram lesões ósseas do fêmur e do maxilar. O bário é uma grande causa de derrames e acidentes vasculares quando em excesso no organismo. COBRE O cobre (Cu) é um elemento de transição e sua forma mais comum é o cátion e para os seres vivos pode ser benéfico ou maléfico. Dependendo de sua concentração, pode causar sérios danos ao cérebro e provocar manchas na pele (anel de Kayser-Fleischer). É comum na natureza encontrar o cobre combinado com ferro, carbono e oxigênio, sendo conhecidas mais de sem espécies de minerais de cobre das quais apenas seis têm interesse comercial, sendo a calcocita (Cu2S), que possui 79,8% de cobre, e a calcopirita (CuFeS2), com 34,5%, as mais utilizadas pelo mercado. O cobre, em conjunto com a doença de Wilson, é fatal a menos que seja diagnosticada e tratada a tempo. A doença de Wilson é um distúrbio genético que provoca um acúmulo excessivo de cobre no organismo, pois pequenas concentrações de cobre são tão essenciais quanto às vitaminas. O cobre está presente na maioria dos alimentos, as pessoas saudáveis excretam o excesso de cobre que ingerem, mas os doentes de Wilson não fazem isso. Figura 43 – Minério de cobre Fonte: <http://www.infoescola.com/elementos-quimicos/cobre/> 146 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância O cobre começa a se bioacumular desde o nascimento e quando em excesso ataca o fígado e o cérebro, provocando hepatite, sintomas neurológicos e psiquiátricos que começam a aparecer no fim da adolescência. Os principais sintomas são icterícia, inchaço do abdome, vômito de sangue ou dor de estômago, tremores, dificuldade para caminhar, para falar e para engolir, além disto, pode ocorrer o desenvolvimento de todos os níveis de doença mental, inclusive comportamento homicida ou suicida, depressão e agressividade. As mulheres podem apresentar irregularidade na menstruação, períodos de ausência de menstruação, infertilidade ou abortos múltiplos. Como é o fígado o primeiro órgão a ser atacado, em aproximadamente metade dos casos é o único órgão afetado. As alterações físicas no fígado são visíveis apenas no microscópio. Nos pacientes que a doença evolui, os sintomas são semelhante aos da hepatite infecciosa ou uma mononucleose infecciosa. MANGANÊS O manganês (Mn) é um mineral essencial ao funcionamento do nosso organismo como um micronutriente que é tanto é um ativador como um constituinte de várias enzimas além de atuar na síntese de lipídios, na síntese de hormônios da tireoide, entre outras funções. Figura 44 – Minério de manganês Fonte: <http://tudosobrepericiacriminal.blogspot.com.br/2011/05/biblioteca-de-intoxicacoes-2.html> FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 147 O manganês é considerado como um elemento de baixa toxicidade em função da forma química (Mn2+ e Mn4+) administrada com efeitos adversos variados. No entanto, quando absorvido por via oral em altas concentrações, pode causar alucinações e doenças do sistema nervoso central. Estes efeitos também podem aparecer quando ocorre a inalação crônica de manganês (relacionada com a via respiratória) por meio do ar contaminado oriundo de atividades de minas de aço ou de algumas indústrias químicas. Os sintomas de intoxicação por manganês são semelhantes aos da doença de Parkinson (tremores e rigidez muscular), perda de apetite, paralisia cerebral, problemas neurológicos, doenças psiquiátricas e perda de memória, anorexia, fraqueza, apatia, insônia e outras perturbações do sono, excitabilidade mental, comportamento alterado, dores musculares e distúrbios psicológicos: “loucura mangânica”, caracterizada por comportamento violento associado a períodos de mania e depressão. O manganês está presente em uma variedade de alimentos. Alguns alimentos como grãos (semente), arroz, noz, podem exceder 10mg por kg de alimento. Os cereais e os chás apresentam altas concentrações de manganês (780 – 930 mg.kg-1) (IPCS, 1997). CROMO O cromo +3 (Cr3+) é a forma estável e é considerada a forma essencial que apresenta atividade biológica, dessa forma não há evidências sobre sua toxicidade. O cromo +6 (hexavalente – Cr6+), presente nos cromatos, é 100 vezes mais tóxico para as plantas, animais e o homem do que o Cr3+. O cromo é um nutriente essencial que potencializa a ação da insulina, influenciando o metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, sendo raros os riscos de intoxicação via ingestão de alimentos. Na cadeia alimentar, 60% do cromo é encontrado em plantas que se constitui como uma via de exposição a esse elemento. 148 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância A ingestão diária de cromo pode variar amplamente dependendo das proporções dos grupos de alimentos na dieta. A dose diária de ingestão de cromo para adultos é de 5 – 200 μg.dia-1. A quantidade de cromo observada em alimentos pode variar substancialmente. Essa diferença observada pode ser atribuída à influência do local de plantio dos alimentos. NÍQUEL O níquel é um metal branco-prateado, dúctil, maleável, peso específico 8,5 g/cm³, tem seu ponto de fusão em aproximadamente 1.453ºC, peso atômico 58,68, possuindo grande resistência mecânica à corrosão e à oxidação. O níquel se apresenta na natureza como sulfetos (milerita e pentlandita (FeNi9S8)), que representam 90% do níquel extraído, associados a outros sulfetos metálicos em rochas básicas contendo cobre e cobalto. Outra forma do níquel é a garnierita ou silicato hidratado de níquel e magnésio, que se encontra associado às rochas básicas (peridotitos) formando veias e bolsas de cor verde maçã. O níquel (Figura 45) é utilizado em ligas ferrosas e não ferrosas para consumo no setor industrial, em material bélico, em moedas, na área de transporte, nas aeronaves, na área de construção civil, aços inoxidáveis, ou ainda na produção do ímã artificial conhecido como Alnico (Alumínio, Níquel e Cobre). O sulfato de níquel presta-se à chamada galvanoplastia (banhos de sais de níquel para um acabamento refinado e protetor de diversas peças de metal). Figura 45 – Minério de níquel Fonte: <http://www.edukbr.com.br/mochila/quiosque_conteudo.asp?Id_Quiosque=152> FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 149 Como outros metais, o níquel, quando em pequenas quantidades, é necessário ao organismo do homem e de outros animais, porém, quando as quantidades ultrapassam as requeridas, ele se torna prejudicial. Em geral, são ingeridas três vezes a quantidade diária necessária, mas esse valor ainda é considerado seguro pois em dietas em que são ingeridos de 100 a 300µg/ dia não são observados graves problemas relacionados a toxicidade. Em geral, os problemas de toxicidade começam a aparecer após aproximadamente 4 horas de exposição a elevados níveis do composto pela exposição por via respiratória ou gastrointestinal. Muitos alimentos têm alto nível de níquel em sua constituição como chocolate, coco, gordura hidrogenada, frutos secos, feijão, ervilhas secas, nabo e os cereais. Outras fontes de contato diário são os utensílios de cozinha e os detergentes, contribuindo para a quantidade absorvida diariamente pelo homem. O níquel é um mineral que pode causar alergia por contato, portanto, uma pessoa pode desenvolver sintomas como dermatite de contato ao usar um adereço composto por esse metal (brinco, colar ou o botão da calça jeans), além disso, o níquel age sobre as ligações nucleotídeas do DNA, fazendo com que se unam de forma errada e, por consequência, podem causar uma modificação nessa molécula que é a base da multiplicação celular no organismo, dessa forma, dependendo da alteração causada na estrutura, pode causar câncer, o que demonstra o efeito carcinogênico do níquel. A contaminação por níquel pode causar inicialmente sintomas como dores de cabeça frontais, vertigens, náuseas, vômitos, insônias, irritação do trato respiratório e, posteriormente, sintomas pulmonares semelhantes a uma pneumonia viral, podendo resultar em hemorragias, edemas e desarranjo celular, além disto, o fígado, rins, glândula adrenal, baço e o cérebro também são afetados, sendo a pneumonia intersticial difusa e o edema cerebral a maior causa de morte. Em trabalhadores de refinarias e naqueles que têm como instrumento de trabalho chapas de níquel e que estão expostos diariamente a elevados níveis do metal podem surgir efeitos crônicos como renites, sinusites, perfurações nasosseptal, displasia nasal e asma. Além disso, 150 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância alguns sintomas nefrotóxicos como edema renal e degeneração parenquimatosa também foram observados. Também podem surgir problemas de fertilidade e no desenvolvimento do feto, causando, por exemplo, má formação ocular, quistos pulmonares, hidronefroses, deformações nos ossos etc. ZINCO O zinco é um metal de cor branco-azulada, encontrado em todo o meio ambiente e é essencial para o bom funcionamento dos sistemas imunológico, digestivo e nervoso, assim como para o crescimento, controle do diabetes e sentidos do gosto e do olfato. O zinco possui alta resistência à corrosão permitindo o seu emprego como revestimento protetor de vários produtos, além disto, tem grande facilidade de combinação com outros metais, sendo muito utilizado na fabricação de ligas, principalmente os latões e bronzes (ligas cobre-zinco) e as ligas zamac (zinco-alumíniomagnésio). Essas ligas têm larga aplicação na construção civil, na indústria automobilística e de eletrodomésticos, destacando-se o seu uso na galvanização como revestimento protetor de aços estruturais, folhas, chapas, tubos e fios por meio da imersão ou eletrodeposição. O zinco atua como cofator de mais de 300 enzimas necessárias para o crescimento e desenvolvimento normais, síntese de DNA, imunidade, funções neurossensoriais e antioxidantes, além de outros processos celulares importantes. Apesar de o zinco ser essencial para manter a integridade da pele e mucosa e ajudar na formação e funcionamento das células na produção de anticorpos, ele não é produzido pelo organismo e precisa ser obtido por fontes externas. O zinco também colabora para o funcionamento adequado do sistema imunológico, proporcionando proteção contra gripes, resfriados, outras viroses e infecções. O excesso de zinco no organismo pode causar perda da concentração e da memória, repetitividade de gestos e pensamentos (balançar o pé ou a perna, enrolar a ponta do cabelo, roer unha, perguntar a mesma coisa, cantarolar o dia todo a mesma música), inquietação nas FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 151 pernas à noite e má circulação, dificuldades de aprendizado escolar. A contaminação por zinco pode ocorrer através de cremes, pomadas, talcos, xampus e colírios, alguns medicamentos antiestresse, antioxidantes e cálcio de ostras para osteoporose. CONSIDErAçÕES FINAIS Nesta unidade foram apresentados os tipos de metais existentes na natureza de acordo com sua aplicação e seus efeitos sobre os organismos vivos (metais essenciais, metais tóxicos e indiferentes). Posteriormente, foram apresentados os principais metais pesados, suas formas na natureza, as principais formas de contaminação e seus efeitos para os seres vivos. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1 – O que são metais pesados e por que fazem mal à saúde? 2 – Cite três metais pesados e seus efeitos sobre a saúde humana. 3 – Quais são as principais fontes de cádmio no ambiente? 4 – O mercúrio líquido ou vapor é o mais tóxico? Explique a diferença e efeitos das duas formas. O adjetivo “pesado” é literal, resultado de esses materiais serem mais densos - isto é, seus átomos ficammaispróximosunsdosoutros.Paraterumaideia,1cm3 de um metal considerado leve, como o magnésio, pesa 1,7 grama. Já 1 cm3 de qualquer metal pesado tem pelo menos 6 gramas. E onde entram os riscos para a saúde? Para responder a essa pergunta, o texto apresentado no link traz uma lista de vários metais e seus efeitos no organismo. <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-sao-metais-pesados-e-por-que-fazem-mal-a-saude>. O modo de vida atual envolve o ser humano em um ambiente onde a presença de metais tóxicos é permanente e quase sempre invisível. A nossa contaminação torna-se, pois, inevitável e generalizada e a absorção de metais tóxicos em doses diminutas, mas repetidas, acaba por se transformar em uma 152 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância intoxicação grave e mensurável. A partir do exposto, este trabalho trata das formas de intoxicação, apresenta algumas doenças provenientes dessa intoxicação e algumas formas de tratamento para as intoxicações onde isto é possível. <http://www.cristinasales.pt/Medicina-Integrada/Texts/Text.aspx?PageID=141&MVID=1000048>. FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância 153 CONCLUSÃO Esta disciplina está estruturada na preocupação em demonstrar o equilíbrio existente no meio ambiente, tendo como foco estabelecer ou não ligação com atividades humanas. Dentro desse contexto, os conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade estão fortemente relacionados com a realização de uma atividade com o menor impacto ambiental possível, porém, existem muitos conceitos que devem ser compreendidos e seguidos para que se consiga atingir essa meta. A conclusão à qual podemos chegar, analisando todo esse contexto, é a de que toda a atividade realizada pelo homem contribui de forma determinante para uma boa qualidade de vida, presente e futura, e cabe apenas ao homem fazer com que suas ações direcionem o rumo do planeta para um presente e futuro bons. Para concretizar a finalização desta disciplina, será necessário que você aplique os conceitos aprendidos durante o curso na prática, desenvolvendo e aplicando de forma responsável todo o conhecimento adquirido durante seu estudo. Fica aqui o desafio para você! 154 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA AMBIENTAL | Educação a Distância REFERÊNCIAS AGUIAR. 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