i UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL NOS TRÓPICOS TESE DE DOUTORADO DIAGNÓSTICO DE ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS CENTRAIS EM CÃES POR MEIO DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Roberto Robson Borges dos Santos SALVADOR – BAHIA OUTUBRO – 2013 Sistema de Bibliotecas da UFBA Santos, Roberto Robson Borges dos. Diagnóstico de alterações neurológicas centrais em cães por meio de tomografia computadorizada / Roberto Robson Borges dos Santos. - 2013. 158 f.: il. Orientadora: Profª. Drª. Stella Maria Barrouin Melo. Coorientador: Prof. Dr. Eduardo Luiz Trindade Moreira. Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Salvador, 2013. 1. Cão - Doenças - Diagnóstico. 2. Neurologia veterinária. 3. Hidrocefalia. 4. Tumores. 5. Semiologia (Medicina). 6. Tomografia computadorizada. I. Melo, Stella Maria Barrouin. II. Moreira, Eduardo Luiz Trindade. III. Universidade Federal da Bahia. Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia. IV. Título. CDD - 636.70896075 CDU - 636.7:616.071 ii ROBERTO ROBSON BORGES DOS SANTOS DIAGNÓSTICO DE ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS CENTRAIS EM CÃES POR MEIO DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência Animal nos Trópicos, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Ciência Animal nos Trópicos. Orientador: Prof. Dra. Stella Maria Barrouin Melo Coorientador: Prof. Dr. Eduardo Luiz Trindade Moreira SALVADOR - BA OUTUBRO - 2013 iii ROBERTO ROBSON BORGES DOS SANTOS DIAGNÓSTICO DE ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS CENTRAIS EM CÃES UTILIZANDO TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA. Tese defendida e aprovada pela Comissão Examinadora em 14 de Outubro de 2013. Comissão Examinadora: ________________________________________ Profo. Dr. João Moreira Costa Neto Professor Associado Dep. Anatomia, Patologia e Clínicas Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFBA Presidente da Banca Profa. Dra. Caterina Muramoto Professor Adjunto Dep. Anatomia, Patologia e Clínicas Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFBA Profo. Dr. Francisco de Assis Dórea Neto Professor Adjunto de Cirurgia e Clínicas da União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura Profa. Dra. Sílvia Lima Costa Professor Associado Departamento de Biofunção Instituto de Ciências da Saúde - UFBA Profa. Dr. Eduardo Luiz Trindade Moreira Professor Adjunto Dep. Anatomia, Patologia e Clínicas Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFBA SALVADOR-BAHIA OUTUBRO - 2013 iv ―... nem Dupuytren, indo abrir um abscesso através de uma camada espessa do encéfalo; nem Gensoul, quando fez a primeira ablação de maxilar superior, certamente tinham o coração tão palpitante, a mão tão trêmula, o intelecto tão tenso quanto o Dr. Bovary ao aproximar-se de Hippolyte ...‖ Madame Bovary – Gustave Flaubert Abril de 1857 Dedico este trabalho a Fábio Lima e nossos animais de estimação: Angelina (in memorian), Sansão, Dalila, Kika, Frederico Abreu, Tobias Barreto, Clarice Lispector e Bartolomeu de Gusmão pelo carinho incondicional. v AGRADECIMENTOS À Senhora Kátia Requião e sua filha, Juliana Requião, que tão prestativas foram a mim em disponibilizar de seu tempo, material, conhecimento e paciência para a realização deste trabalho e a SEMEVE clínica Veterinária. A Clínica DELFIN e ao Hospital São Rafael por possibilitarem estágios e discussões das análises de imagens. A todos os animais e seus responsáveis, pelos dados trabalhados por nós nesta tese. Ao Hospital de Medicina Veterinária Renato de Medeiros Neto da Universidade Federal da Bahia, e a todos os funcionários que auxiliaram durante as avaliações de alguns dos animais estudados. Aos alunos de graduação da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia que me ensinaram a construir o saber em intermináveis horas de aulas e debates de casos clínicos. Aos veterinários Joana D´Arc, Júlia Liger, Dra. Daniela Laranjeiras, Dra. Bárbara Paraná, Dra. Lídia Oliveira, MSc. Euler Penha e tantos outros que por ventura não poderia deixar de mencionar, mas que se sintam honrados e homenageados pela realização desta etapa. A minha família e aos amigos por fazerem parte de todos os momentos importantes. A CAPES pelo auxílio financeiro sobre forma de bolsa de doutorado. vi BIOGRAFIA DO AUTOR ROBERTO ROBSON BORGES DOS SANTOS, filho de Rozita Borges dos Santos e Rivail Vilas Boas dos Santos nasceu em 20 de julho de 1979 em Salvador-Ba. Concluiu o ensino médio, curso de Eletrotécnica, na Escola Técnica Federal da Bahia em 1998 e iniciou Graduação na Escola de Medicina Veterinária na Universidade Federal da Bahia em março de 1999. Em 2004 mediante processo seletivo ingressou na EMEV-UFBA como professor substituto no Departamento de Anatomia dos Animais Domésticos, período este em que prestou seleção para o mestrado, em 2005, ingressando no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal nos Trópicos, pela Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da Professora Dra. Fernanda Washington de Mendonça Lima tendo defendido dissertação de Mestrado intitulada ―Avaliação antielmíntica do extrato aquoso de Cratylia mollis e Caesalpinia pyramidalis contra Haemonchus contortus em caprinos naturalmente infectados‖ em outubro de 2007. Após isto ingressou novamente na MEVZ-UFBA como professor substituto no mesmo Departamento de Anatomia dos Animais Domésticos em 2008 ficando neste até o ano de 2010 quando ingressou no Doutorado, no mesmo programa onde fez o Mestrado, em março de 2010 sob Orientação da Professora Dra. Stella Maria Barrouin Melo. vii LISTA DE QUADROS Quadro 1 Diferenciação entre SVC e SVP Quadro 2 Diagnóstico de alterações neurológicas encefálicas em cães domésticos de Salvador e Região Metropolitana por TC e respectivos parâmetros: raça, idade, sinais clínicos, sítio de localização e tamanho da lesão......39 Quadro 3 Diagnóstico de alterações neurológicas compressivas da medula espinal de cães domésticos de Salvador e Região Metropolitana por TC e respectivos parâmetros: sinais clínicos, tipo de lesão, sítio de localização, raça, idade, sexo e peso......................................................55 Quadro 4 Sítios de localização das lesões medulares em cães portadores de discopatias em diversas raças.................................................................59 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1 Gráfico de demonstração do número de alterações neurológicas encefálicas avaliadas pela TC disposto conforme classe de peso (em quilogramas)...........................................................................................43 Figura 2 Gráfico de demonstração do número de alterações neurológicas encefálicas avaliadas pela TC disposto conforme classe de idade, dispostas conforme classe de idade (em anos).......................................43 Figura 3 Imagem de TC com contraste de encéfalo de cão da raça Poodle, 14 anos, macho, mostrando disposição marginal, medindo cerca de 17,9 mm em seu maior eixo e 6,6 mm em seu menor eixo. Nota-se que a imagem não captou contraste suficiente, evidenciando área hiperatenuante de formato fusiforme na parte dorsal do lobo frontal esquerdo visto em corte coronal e área de edema vasogênico perilesional em corte axial.....................................................................45 Figura 4 Imagem de TC em cortes coronal em a e axial em b e de reconstrução multiplanares em c a f, de cão com neoplasia em cavidade nasal invadindo ossos do cranio e causando osteólise intensa mantendo continuidade com o encéfalo..................................................................48 Figura 5 Imagens de TC em planos longitudinal (a), axial (b), reconstrução em 3D sagital (c) e axial (d) de cão apresentando tumor ósseo craniano com envolvimento de encéfalo.......................................................................50 Figura 6 Imagens de TC em planos axial (a, b e c) e longitudinal (d) de cão da raça Pinscher com 2 meses de idade apresentando fontanelas abertas e diagnóstico de hidrocefalia tetraventricular. Nota-se que o tronco encefálico mantém volume normal sem ceder às alterações ventriculares adjacentes (fig.6a)..................................................................................52 Figura 7 Imagem de TC em plano longitudinal (a) e (b) e em plano dorsal (c) e (d) de cão apresentando quadro de Panventriculomegalia moderada................................................................................................53 Figura 8 Distribuição das lesões em DIV em cães com diagnóstico de discopatia por segmentos medulares.......................................................................60 Figura 9 Distribuição das lesões em DIV em cães Teckel com diagnóstico de discopatia por segmentos medulares......................................................61 Figura 10 Imagem de TC do segmento toracolombar da colunca vertebral entre T12-T13, T13-L1, L1-L2 e L2-L3 em um cão da raça Poodle, 6 anos, macho, com sinais clínicos de compressão medular toracolombar..........................................................................................62 ix Figura 11 Gráfico de demonstração do número de alterações compressivas da coluna vertebral em cães avaliados pela TC disposto conforme classe de peso (em quilogramas)...........................................................................64 Figura 12 Gráfico de demonstração do número de alterações compressivas da coluna vertebral em cães avaliados pela TC disposto conforme classe de idade (em anos).....................................................................................64 x LISTA DE SIGLAS CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior TC – Tomografia Computadorizada REM – Ressonância Eletromagnética RD – Radiologia Digital SNC – Sistema Nervoso Central SNP – Sistema Nervoso Periférico SV – Síndrome Vestibular SVC – Síndrome Vestibular Central SVP – Síndrome Vestibular Periférica SRD – Sem Raça Definida LCR – Líquido Cefaloraquideano NMS – Neurônio Motor Superior NMI – Neurônio Motor Inferior NC – Nervo Craniano DIV – Disco Intervertebral DDIV – Doença do Disco Intervertebral DVP – Derivação Ventrículo Peritoneal HU – Unidade de Hounsfield C – Vértebras Cervicais T – Vértebras Torácicas L – Vértebras Lombares S – Vértebras Sacrais SEMEVE – Serviço Médico Veterinário HOSPMEV – Hospital Médico Veterinário UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura xi UFBA – Universidade Federal da Bahia mm – Milímetros cm – Centímetros mmHg – Milímetros de Mercúrio xii SUMÁRIO PÁGINA RESUMO 01 ABSTRACT 03 INTRODUÇÃO 04 OBJETIVOS 07 HIPÓTESES 07 REVISÃO DE LITERATURA 08 MATERIAL E MÉTODOS 35 RESULTADOS 40 DISCUSSÃO 66 CONCLUSÕES 78 CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 81 RESUMO Alterações neurológicas em cães são comuns na rotina da clínica médica veterinária, sendo necessário identificar o sítio de lesão quando da ocorrência de neuropatias por xiii comprometimento de estruturas do sistema nervoso central (SNC). O objetivo deste trabalho foi confrontar os dados do exame clínico/físico neurológico com o resultado da Tomografia Computadorizada (TC), verificando a concordância entre os diagnósticos dos sítios lesionais e da prórpia doença fornecidos por ambos os exames, no período de março de 2011 a janeiro de 2013 nos municípios de salvador e região metropolitana. Foram avaliados cães portadores de neuropatias centrais, 14 destes com alterações encefálicas e 17 com alterações medulares, de diversas raças com idade entre 2 meses e 16 anos de idade e de ambos os sexos, atendidos na rotina de hospitais e clínicas veterinárias e encaminhados para realização de TC na clínica SEMEVE, conforme indicação clínica. Para alterações encefálicas foram obtidas as seguintes ocorrências: 5/14 (35,71%) de Neoplasias encefálicas primárias e metástase, 4/14 (28,57%) de quadros de Hidrocefalia, 2/14 (14,28%) fraturas ósseas cranianas, 2/14 (14,28 %) de neoplasias ósseas cranianas e 1/14 (7,14%) de Síndrome Vestibular Central (SVC); para as alterações medulares foram obtidas as segunites frequências: 12/17 (70,58 %) de discopatias, 2/17 (11,76 %) de neoplasias ósseas vertebrais, 1/17 (5,88 %) de malformações vertebrais, 1/17 (5,88 %) de neopolasia medular e 1/17 (5,88 %) de fratura de vértebra, identificadas através da TC. Para a avaliação de encefalopatias a raça mais frequente neste estudo foi a Poodle 5/14 (35,71%) e a idade média para estes foi de 11,4±4,21 anos. Para as medulopatias a raça mais frequente foi a Daschund 6/17 (35,29 %) e a idade média destes foi de 10,2 ±3,94 anos. Das neoplasias encefálicas 4/5 (80 %) foram de natureza primária e os sinais clínicos mais frequentes foram: alterações de marcha/equilíbrio 10/14 (71,42 %) e alterações de consciência como comatoso ou convulsão 3/14 (21,42%). Para as medulopatias as discopatias por mielopatia extradural representaram 9/12 (75 %) dos casos e o sinal clínico mais frequente foram: dor 8/17 (47,05 %) e défict proprioceptivo 7/17 (41,17 %). Os sítios de localização mais presentes no estudo de alterações encefálicas foram os lobos parietal, frontal, temporal, occipital e tronco encefálico. O segmento medular mais acometido por alterações de disco intervertebral foi de T3-L3 33/50 (66 %). Conclui-se que os sítios lesionais encontrados justificaram os sinais clínicos observados na avaliação clínica dos animais estudados, contudo, a TC mostrou outros pontos de alterações que não geraram sinais neurológicos o que auxilia o clínico no conhecimento da lesão, seu padrão de ocorrência, prognóstico e futuras intervenções. xiv Palavras-Chave: Canino, desordens neurológicas compressivas, hidrocefalia, discopatia, neoplasia, sinais clínicos, tomografia computadorizada. ABSTRACT Neurological disorders in dogs are common in routine clinical veterinarian, being necessary to identify the site of injury in the event of neuropathies commitment structures of central nervous system (CNS). The aim of this study was to compare data from clinical examination / neurological physical with the result of Computed Tomography (CT), verifying the concordance between the diagnoses of lesional sites xv and prórpia disease provided by both tests, from March 2011 to January 2013 in the cities of Salvador and its metropolitan area. Were evaluated dogs with central neuropathies , with 14 of these abnormal brain and spinal cord changes with 17 of various breeds aged between 2 months and 16 years of age and of both sexes , attended the routine of hospitals and veterinary clinics and referred for CT in clinical SEMEVE , as clinically indicated . Brain abnormalities were obtained for the following events: 5/14 (35.71 %) of primary and metastatic brain neoplasms, 4/14 (28.57 %) Frame of hydrocephalus , 2/14 (14.28 %) bone fractures cranial , 2/14 (14.28 %) of cranial bone neoplasms and 1/14 (7.14 %) of Central Vestibular Syndrome (SVC), for spinal cord changes were obtained segunites frequency : 12/17 (70.58 %) of discopathies 2/17 (11.76 %) of vertebral bone tumors , 1/17 (5.88 %) in vertebral malformations , 1/17 (5.88 %) of neopolasia cord and 1/17 ( 5 , 88 % ) of fractured vertebrae , identified by CT . For the evaluation of encephalopathies race more frequent in this study was the Poodle 5/14 (35.71 %) and the average age for these was 11.4 ± 4.21 years. For medulopatias race was the most frequent Daschund 6/17 (35.29 %) and the average age of these was 10.2 ± 3.94 years. Of brain tumors 4/5 (80 %) were primary in nature and the most frequent clinical signs were abnormal gait / balance 10/14 (71.42 %) and alterations of consciousness as coma or seizure 3/14 (21, 42%). For the medulopatias discopathies myelopathy extradural represented by 9/12 (75 %) of cases and the most frequent clinical signs were pain 8/17 (47.05 %) and proprioceptive défict 7/17 (41.17 %). The sites location more present in the study of brain changes were the parietal , frontal, temporal , occipital and brainstem . The spinal segment most affected by changes in the intervertebral disc was T3- L3 33/50 (66 %). We conclude that the lesional sites found justified the clinical signs observed in the clinical evaluation of the animals studied, however, the CT showed other points of changes that did not generate neurological signs which aids the clinician in the knowledge of the injury, pattern of occurrence, prognosis and future interventions. Keywords: Brain injury, canine, compressive neurologicals disorders, hydrocephaly, intervertebral disease, neoplasm, neurological signs. 1. INTRODUÇÃO Na rotina da clínica médica veterinária é bastante comum quadros de alterações neurológicas em cães domésticos. O diagnóstico limita-se a compreensão dos sinais clínicos para que se possa inferir a área acometida em processos de doença do Sistema xvi Nervoso Central (SNC) (BERG, 1989; JHONSON, 2012; LOWRIE, 2012). A natureza da alteração envolvida é sugerida e não pode ser determinada com clareza (LIEBEL et al., 2013). O diagnóstico por imagem é imprescindível para a visualização dos sítios afetados no SNC, de modo a determinar um diagnóstico definitivo ou sugerir novos exames ou ainda para o acompanhamento do quadro (THOMAS, 2000). Alterações neurológicas no SNC produzem importantes manifestações clínicas de acordo com a localização das lesões (JAMES et al., 2012). Lesões encefálicas, de ocorrência significativa na rotina veterinária, tais quais, malformações (MACHADO et al., 2012), traumas, neoplasias (SANTOS et al., 2012), infecções/inflamações (LAVELY e LIPSITZ, 2005; SYKES et al., 2010), intoxicações (MOLDES-ANAYA et al., 2012) ou degeneração (TIDWELL et al., 1994) podem causar compressão de estruturas do sistema nervoso central (SNC), por exemplo, pela invasão ou efeito de massa que neoplasias primárias ou secundárias causam, ou alterações de fluxo de líquido cefalorraquidiano (LCR) por obstrução de aquedutos e aumento de ventrículos (ALVES et al., 2006). Em filhotes de algumas raças de pequeno porte o quadro de hidrocefalia é a alteração compressiva mais comum geradora de sinais como incoordenação e convulsões (THOMAS, 2010), podendo ser congênita ou adquirida sendo que na Medicina Veterinária, a forma congênita é a mais comum (CURTI, 2008). A TC diagnostica lesões encefálicas que podem ser classificadas conforme a natureza da lesão, em: neoplásicas primárias - meningiomas, gliomas, oligodendrogliomas (POLIZOPOULOU et al. 2004); neoplásicas secundárias metástases tumorais, hemangiossarcoma (DENNLER et al., 2007); congênitas - aplasia cerebelar, disgenesia/agenesia de corpo caloso, atresia de forame de Monro, hidrocefalia (THOMAS, 2010); Infecciosas/inflamatórias - Meningites, meningoencefalites, encefalites (DUCOTÉ et al., 2007) e traumático-compressivas - abscessos, hemorragias (CABASSU et al. 2008), neoplasias medulares e encefálicas, aumento de pressão do liquido cefalorraquidiano (LCR) (PACKER et al., 2011). As alterações de natureza compressiva secundárias em medula espinal podem ser descritas de forma segmentar no cão (DALLMAN et al., 1992). A mielopatia extradural é o evento mais comum em coluna vertebral, com ou sem presença de conteúdo hemorrágico, e contribue para o processo de compressão local das radículas nervosas (DENNISON et al., 2010; XU et al., 2013). Processos degenerativos do disco xvii interveretebral em cães são responsáveis pela compressão medualar. Os cães são agrupados conforme propensão racial em desenvolver Doença do Disco Intervertebral (DDIV) em raças condrodistróficas e não condrodistróficas (BERGKNUT et al., 2013; SMOLDERS et al., 2013). A tendência a distrofia da cartilagem do Disco Intervertebral (KRANEMBURG et al., 2013) implica em alterações ortopédicas importantes, tais como remodelação óssea e desgaste articular, podendo determinar pontos de compressão e dor neuropática (SMOLDERS et al., 2013). Outras raças, não condrodistróficas, podem apresentar desgaste de disco intervertebral (DIV) em função da idade avançada, em decorrência do processo natural de degeneração (HENKE et al., 2013). A ruptura do anel fibroso do DIV permitirá a extrusão de quantidades variáveis de núcleo pulposo no canal vertebral, isto incorrerá na doença de Hansen tipo I ou extrusão de disco e a ruptura parcial do anel acarretará insinuação do disco causando a doença de Hansen tipo II (DENNY e BUTTERWORTH, 2006). Há alterações no diâmetro do canal vertebral, como por estenose lombossacra, que podem gerar sinais clínicos neurológicos (JOHNSON et al., 2012). A compressão local de uma estrutura nervosa pode gerar um ou mais sinais clínicos por compressão ou por inflamação, prolongando o quadro clínico em alterações medulares (BERG, 1989; Da COSTA e MOORE, 2010). Pode haver o surgimento repentino dos sinais que, algumas vezes, se prolongam por dias ou até mesmo perduram como sequela, a depender da área lesionada e do tempo em que a injúria persiste. Déficits proprioceptivos e claudicação (De DECKER et al., 2012), tetraparesia nãoambulatória, teraplegia (BELTRAN et al., 2012) são sinais comumente presentes. A Radiografia Convencional é o método primário de escolha no diagnóstico de alterações da coluna vertebral, porém apresenta limites na avaliação diagnóstica em alguns quadros de discopatias, uma vez que a radiopacidade da lesão não mineralizada pode não ser suficiente para revelá-la, tornando limitada a avaliação do espaço intervertebral que se apresenta reduzido nos processos de protrusão/extrusão do disco intervertebral (THRALL, 20010). A Mielografia e a Tomografia Computadorizada (TC) são comumente utilizadas na avaliação da extrusão de disco intervertebral aguda em cães condrodistróficos, contudo a TC tem maior acurácia quando comparada aos resultados obtidos pela Mielografia (HECHT et al., 2009) ou considerada complementar xviii a exames como a radiografia convencional e mielografia no estudo de doenças da medula espinal e cauda equina (BURGESE, 2006; CINTRA, 2008). A TC consiste em um importante meio diagnóstico de alterações neurológicas centrais, determinando o foco ou a localização multifocal de doenças (SNYDER et al., 2008) e também auxilia na avaliação da evolução do quadro de neoplasias e acompanhamento de seu tratamento (SOUKUP et al., 2009). A TC determina com maior clareza a avaliação de tecidos duros, como ossos e cartilagens (JEHN et al., 2007), contudo, pode-se também avaliar tecidos moles como encéfalo e medula de acordo com o padrão de atenuação dos raios X ao atravessar os tecidos (THRALL et al., 2010). A TC foi introduzida na rotina Veterinária há quatro décadas e a produção científica acerca deste tema é recente (SANTOS et al., 2012). O uso desta técnica pode gerar um painel de dados que contribua para a formação acadêmica e profissional na área de diagnóstico por imagem em Neurologia Veterinária auxiliando o clínico na determinação do diagnóstico preciso e identificação das áreas acometidas no processo de doença, bem como, na tomada de decisões terapêutica e prognóstica. 2. OBJETIVOS Este trabalho teve como objetivo geral confirmar suspeitas diagnósticas estabelecendo uma relação de causalidade entre o diagnóstico pela TC e os sinais clínicos, sítios lesionais e fatores como raça, peso e idade. xix Os objetivos específicos foram: Diagnosticar lesões neurológicas encefálicas e medulares, seus sítios de localização e possível comprometimento de áreas circunvizinhas; Relatar e descrever outros possíveis pontos de lesão ortopédica ou neurológica que não tenha se manifestado clinicamente, mas que estejam presentes no exame de TC; Determinar a relação entre o diagnóstico pela TC e os sinais clínicos presentes durante avaliação clínica no exame neurológico; Verificar se há relação entre fatores raciais, idade e peso com as alterações observadas pela TC. Contribuir com um painel de dados que poderá ser consultado posteriormente como literatura técnica, a fim de auxiliar o médico veterinário na busca de conhecimentos específicos sobre as patologias aqui estudadas. 3. HIPÓTESES O diagnóstico clínico presuntivo de uma alteração neurológica nem sempre pode indicar com precisão os sítios lesionais. As alterações encontradas em pacientes portadores de sinais clínicos de lesão neurológica, diagnosticados por TC, tem relação com fatores como raça, peso ou idade. 4. REVISÃO DE LITERATURA 4.1 Execução e interpretação da TC xx A TC evoluiu da radiologia convencional (THRALL, 2010). Para obter uma TC, o paciente é anestesiado e colocado numa mesa que se desloca para o interior de um anel com cerca de 70 cm de diâmetro. Em volta deste encontra-se uma ampola de Raios X num suporte circular designado gantry, espécie de cavalete para grua móvel. Do lado oposto à ampola encontra-se o detector responsável por captar a radiação e transmitir essa informação ao computador ao qual está conectado (TUDOR e THOMAS, 2013). A TC baseia-se nos mesmos princípios que a radiografia convencional nos quais tecidos com diferentes composições absorvem a radiação X de forma diferente onde ao serem atravessados por raios X, tecidos mais densos, como o fígado ou com elementos mais pesados, como o cálcio presente nos ossos, absorvem mais radiação que tecidos menos densos, como o pulmão, que está cheio de ar (DÖRFLER et al., 2008). Assim, uma TC indica a quantidade de radiação absorvida por cada parte do corpo analisada, e traduz essas variações numa escala de cinza, produzindo uma imagem. Cada pixel da imagem corresponde à média da absorção dos tecidos nessa zona, expresso em unidades de Hounsfield (WILSON e WHITE, 1998). Nas máquinas seqüenciais ou de terceira geração, durante o exame, o ―gantry‖ descreve uma volta completa (360º) em torno do paciente, com a ampola a emitir raios X, que após atravessar o corpo do paciente são captados na outra extremidade pelo detector (THRALL, 2010). Esses dados são então processados pelo computador, que analisa as variações de absorção ao longo da seção observada, e reconstrói esses dados sob a forma de uma imagem, contudo, podendo gerar artefatos (BRADY et al., 2012; FAHIMIAN et al., 2013). Segundo B. Li e colaboradores apud Grimmer e Kackelriess (2011) programas específicos podem decodificar a informação processada, códigos binários, em imagens a reduzindo os artefatos na TC aplicada à medicina. Os equipamentos designados helicoidais, ou de quarta geração, descrevem uma hélice em torno do corpo do paciente, em vez de uma sucessão de círculos completos. Desta forma é obtida informação de modo contínuo, permitindo, dentro de certos limites, reconstruir imagens de qualquer seção analisada, não se limitando, portanto, aos círculos obtidos com as máquinas convencionais. (THRALL, 2010). Permitem também xxi a utilização de doses menores de radiação, além de serem muito mais rápidas (BREMKE et al., 2009). A hélice é possível porque a mesa onde se acomoda o paciente, ao invés de ficar parada durante a aquisição, tal qual na tomografia convencional, avança continuamente durante a realização dos cortes; sendo assim, na tomografia convencional a mesa avança a cada novo corte, e na helicoidal a mesa avança enquanto os cortes são realizados (TUOTO, 2011). 4.2 Padrão de apresentação das alterações neurológicas observadas pela TC em SNC A análise histológica e macroscópica em uma dada alteração pode apresentar aspectos histopatológicos importantes para determinar a natureza de um processo de doença e as implicações que esta traz aos tecidos e órgãos acometidos em SNC (SHULMAN et al., 2007; MADRI, 2009). Edema, hemorragia, calcificações, liberação de quimiocinas e quimiotaxia de células de defesa para a área afetada são eventos em processsos de doença conhecidos e que podem gerar alterações do padrão de atenuação em um tecido (KUMAR et al., 2010; KUMAR, 2010). Em um processo inflamatório agudo, como na extrusão de núcleo pulposo sobrea a medula espinal, é possível observar edema e hemorragia sobre a meninge, medula e no canal medular gerando compressão de tecido nervoso central, ou mesmo em radículas nervosas em Sistema Nervoso Periférico (SNP) (SMOLDERS et al., 2012). A administração de contraste revela áreas com intensa vascularização, lesões mineralizadas, mas, não mostra com clareza, áreas de edema através da TC sendo conveninente uma mielotomografia com o objetivo de demonstrar áreas de compressão geradas pela projeção do núcelo pulposo que pode ser projetado em alguma distância do seu disco vertebral de origem (HAISHIZUME et al., 2012; LUETMER et al., 2012). A REM é mais fidedigna para demonstrar áreas de edema sobre a medula espinal quando comparada com a TC (STARLING et al., 2013). Alterações vasculares podem levar a quadros de edema vasogênico como em neoplasias encefálicas sobre meninge ou na sua proximidade (KRAFT, 1999; KUBOTA xxii et al., 2005), a exemplo dos meningiomas, glimoas, astrocitomas (KRAFT et al., 1990) e oligdodendrogliomas (YOUNG et al., 2011) podem causar edema vasogênico pela sua natureza intensamente vascularizada (KRAFT, 1999). Essa carcaterística facilita a sugestão da neoplasia, pela TC, que acomete o paciente canino, e onde o diagnóstico histológico não é possível de ser realizado previamente ao ato cirúrgico, por se tratar de procedimento invasivo e de risco (FUCHS et al., 2003). Hemorragia é consequência comum em quadros de trauma agudo, seja encefálico (ABIODUM et al., 2012). A hemorragia causa pressão sobre o tecido adjancente, elevando a PIC o que torna o prognóstico ruim em quadros de TCE (KOSTELJANETZ, 1987; MUKHAMETZHANOV et al., 1991). Quando ocorre hemorragia sobre a medula espinal, em casos de discopatias, podem ocasionar uma lesão crônica, em processos onde a medula espinal e a meninge podem estar ligadas com um tecido pós-hemorrágico cicatricial o que torna a intervenção cirúrgica arriscada devido a presença de um ativo plexo venoso paraespinal existente no canal vertebral (LEVINE et al., 2011). Em angioTC é possível determinar os pontos de aneurisma (DA GAMA et al., 2012), trombose (VANDERGHEYNST et al., 2011), neovascularização ou mesmo hematomaa (BARTOLI et al., 2011). Em tecidos do SNC através da injeção de contraste, realizando uma angiotomografia (ESCUDERO et al., 2007; ESCUDERO et al., 2009). Não há diferenças singnificativas da administração do contrase ora por via endovenosa ora por via arterial, o padrão de distribuição e apresentação na angioTC é o mesmo (ESCUDERO et al., 2007). Lesões mineralizadas apresentam densidade aumentada na TC (KLEIN et al., 2005; TIE et al., 2012). Entretanto, alguns casos podem não apresentar densidade suficiente para revelá-las ou mesmo pode-se confundir a captação de contraste em seio venoso no canal vertebral com lesões discais (DRESS et al., 2009). O tipo de plano e posicionamento do corpo utilizado no exame do cão, possibilida a identificação da lesão mineralizada podendo estabelecer o sítio de localização e a região exata da medula que sofre com o material discal projetado (GARGANO et al., 1976; HIGGINS et al., 2011). xxiii No encéalo podem-se apresentar lesões de calficação, calcinose, em diferentes padrões, em geral, associadas a doenças infecciosas ou parasitárias, com resolução por calcificação de tecidos neurais, são exemplos disso a calcificação de larvas de cestódeos e nematódeos (RÜTTINGER e HADIDI, 1991), em processos infecciosos (PITELLA, 2013) ou em processos crônicos por mobilização e depoisção de cálcio (RAMONET et al., 2002). 4.3 Semiologia do sistema nervoso em cães O diagnóstico neurológico inicia-se com o exame clínico, que se baseia na anamnese, que permite, por sua vez, acesso as informações sobre histórico do caso e no exame físico do animal (FEITOSA, 2004). O clínico deverá interpretar os dados obtidos para levantar a suspeita clínica sobre a área anatômica lesada. Dessa forma o objetivo será o diagnóstico mais preciso da localização da lesão que explique todos os sinais clínicos observados (VIANNA, 2000). Quando não é possível determinar apenas uma área, a suspeita clínica recai sobre uma doença multifocal ou difusa (BISHOP et al., 2004; KOCH et al., 2011). A fisiopatologia da lesão e a anatomia do órgão ou tecido em estudo determinam a apresentação clínica dos sinais e o curso da doença. A história sugere a natureza - aguda ou crônica e a etiologia traumática, infecciosa, inflamatória ou metabólica da enfermidade, e o exame físico neurológico sugere a localização do problema (FEITOSA, 2004). Estabelecida a área lesada, deve-se então, através de meios auxiliares tais quais radiografias, bioquímica sérica, sorologias e outros, pesquisar a causa da lesão, a seleção adequada dos meios auxiliares de diagnóstico, para estabelecimento da etiologia, do prognóstico e do tratamento, depende do raciocínio preciso no levantamento da suspeita clínica e definição correta da área lesada (VIANNA, 2000). Os meios auxiliares podem incluir exames laboratoriais de patologia clínica e imunodiagnóstico; além dos métodos de diagnóstico por imagens (THRALL, 2010) e sinais (CARNEIRO et al., 2001). Certos aspectos são importantes quando se considera que cada classe de enfermidades tem características próprias: enfermidades vasculares e traumáticas têm início súbito, a gravidade dos sinais clínicos é imediata e, em geral, não são xxiv progressivos; nas neoplasias, os sinais são focais e progressivos; nas enfermidades degenerativas os distúrbios são difusos e lentamente progressivos; nas inflamações, as alterações aparecem subitamente e são multifocais; nas enfermidades metabólicas geram sinais multifocais e progressivos (VIANNA, 2000). Assim, a forma de aparecimento e a duração da enfermidade, obtidos pelo histórico clínico, sugerem a classe de enfermidade envolvida, antes mesmo do exame físico (CHRISMAN, 1985). 4.3.1 Avaliação da sensibilidade dolorosa no cão Segundo Vianna (2000) é coerente inferir que o cão sinta algumas alterações neurológicas sem ter como demonstrá-las como os humanos. Contudo, identificar estes sinais e eliminar os ruídos de informação que virão se faz necessário. Ao manifestar dor periférica, por exemplo, e ser manipulado quando do exame físico, o cão pode esboçar reação de defesa realizando reflexo de retirada, quando da avaliação semiológica do membro, vocalização imediata e ataque com mordedura (VIANNA, 2000). Identificar a origem da dor exige completa dedicação aos mínimos detalhes que um exame físico neurológico pode oferecer. Para mlhor compreensão das manifestações que o animal apresenta quando manipulado é preciso entender os gestos que este animal faz quando contido (SCHEIDER et al., 2013). Frequentemente pode se associar como fonte de dor neurológica: alterações ortopédicas - os traumas/rupturas ligamentares, traumas ósseos (HUCK e BERGH, 2011); alterações neoplásicas metastáticas ou não metastáticas (OMURA et al., 2009), a exemplo de lipomas e carcinomas mamários; ou ainda de natureza infecciosa/inflamatória (CSÈBI et al., 2010) e procedimentos como colheita de medula óssea (GUILLOT et al., 2011). Em geral, a dor articular por deposição de complexos imunes acontece de forma bilateral, mostrando uma forte evidência de acometimento sistêmico (GREENE, 2010). Este achado pode ser corroborado pela presença de linfadenomegalia ao exame físico e tomográfico da região analisada, quando for o caso. Quando a dor se manifesta de modo unilateral, recai-se sobre a suspeita de alterações locais osteoarticulares (FEITOSA, 2004). A manifestação da intensidade de dor pode ser influenciada de forma bastante acentuada pelo comportamento animal. A forma de criação, o cuidado dispensado, o xxv apego ao responsável podem criar um mecanismo de defesa artificial, gerando ―choros‖, submissão excessiva e demonstrações de carência afetiva (GAUNET e DEPUTTE, 2011). Este quadro de ―humanização‖ dos sentimentos de um cão (LIT et al., 2010) faz com que a dor possa ser mascarada ou acentuada por uma dada característica comportamental ou mesmo racial. Mudanças posturais, de comportamento animal e a busca da similaridade de comportamentos com humanos estão realacionadas a área do córtex próximo ao sulco temporal posterior e sua atividade psíquica pode ser acompanhada por estudos com REM observando níveis de atividade por meio do estudo do fluxo sanguíneo na área solicitada do córtex cerebral (KUJALA et al., 2012). Quanto a distribuição de nociceptores em pele e muscularura, o estudo do campo de inervação de um determinado nervo, dermátomo, que abrange topograficamente um músculo, uma fáscia, pele e demais estruturas adjacentes (SISSON e GROSMANN, 1983) pode estabelecer os mecanismos de dor periférica avaliada em exames neurológicos (FEITOSA, 2004). O número de receptores para dor, sensibilidade térmica e tato pode ter sua distribuição topográfica alterada de acordo com a região corpórea do cão (EVANS, 1993). Regiões como o ânus, genitália, dígitos e certas regiões da face e língua são extremamente inervadas e possuem muitos receptores de superfície (CUNNINGHAM e HALL, 2005). Alterações da capacidade de sensibilidade dolorosa podem estar associadas a problemas hereditários, a bloqueios isquêmicos, a compressões por neoformações na emergência ou trajeto dos nervos e, para cada uma destas ocorrências, uma forma distinta de apresentação do quadro clínico (JIMENEZANDRADE et al., 2010). A vocalização é uma manifestação comum em cães idosos. Porém, animais que sofreram processo traumático ou mesmo a compressão de áreas encefálicas específicas podem gerar e manter este quadro por tempo indeterminado, em geral, a elevação da atividade psíquica pode estar associada a vocalização (UDUPA, 1978). Contudo, ao avançar da idade pode ocorrer deposição de susbtância beta-amilóide no pericário, evento semelhante aquele que acontece na doença de Alzhemier, levando a degeneração do córtex préfrontal e hipocampo possibilitando eventos como a vocalização do animal idoso, como distúrbio cognitivo (HEADE, 2010). O sítio de lesão que promove a atividade psíquica de vocalizar é variado, sendo que, no processo traumático a lesão que promove a vocalização geralmente está xxvi relacionada ao lobo frontal, contudo, estudos já demonstraram a importância do lobo temporal no processo de vocalização em chamados normais de reconhecimento em matilhas (SINISCALCHI et al., 2012). Doenças infecciosas como cinomose, também é causa comum de vocalização em cães jovens como sequela do quadro neurológico que apresentavam, nestes, pode haver relação com os componentes do sistema límbico do animal: hipocampo, giro do cíngulo e giro para-hipocampal; grande parte do córtex frontal, cerebelo, corpo estriado, hipotálamo e células endoteliais (BERNARD et al., 1993). Os distúrbios neurológicos que envolvem o SNC podem ser avaliados com a TC. Contudo, distúrbios laríngeos, quando da vocalização induzida, podem ser avaliados por eletromiografia. A técnica foi padronizada em cães ao inserir os eletrodos em músculos intrínsecos a laringe por Mu e Yang (1991). Algumas alterações patológicas podem gerar um quadro de aumento de atividade psíquica que se manifesta como dor aparente ou distúrbios comportamentais, como a agitação (VIANNA, 2000). É o caso de intoxicação incidental por opióides (CANTILE et al., 1999) e no quadro de dor abdominal aguda (SPECCHI et al., 2012). 4.4 Doenças associadas ao Sistema Nervoso Central (SNC) em cães e sinais clínicos Diversas são as doenças que acometem o SNC e algumas cursam com a morte após o nascimento ou perduram com certas limitações fisiológicas. Segundo MacKillop (2011) malformações genéticas como a hidranencefalia, porencefalia, holoprosencefalia, agenesia ou disgenesia do corpo caloso, lisencefalia, polimicrogiria, meningoencefalocele, cistos intracranianos e malformações cerebelares são alterações congênitas comuns na clínica veterinária. Alteraçoes cerebelares foram bem descritas por meio de um estudo comparativo entre REM e TC realizados por Marino e colaboradores (2012). Neste estudo os autores avaliaram cães da raça Cavalier King Charles Spaniel e 58 cães de outras raças e, observaram que, dentre 274 cães estudados com diagnóstico presuntivo de malformação, 187 cães (68,2 %) apresentaram alguma das alterações descritas para malformações cerebelares, em especial malformação tipo Kiari, que cursam com compressão cerebelar, compressão ventral da medula espinal em C1-C2 e compressão dorsal da medula espinal ao nível da articulação entre C1-C2. Foi xxvii calculado um índice de compressão e correlacionado ao sítio de lesão, sendo evidenciada a junção craniocervical como a mais incidente para esta alteração patológica. As lesões focais do SNC resultam em sinais clínicos previsíveis, específicos, e, deste modo, pode-se localizar uma lesão em qualquer uma destas regiões pelo reconhecimento dos mesmos (FEITOSA, 2004). Contudo, numa síndrome, é importante que se compreenda que nem todos os sinais serão necessariamente observados (VIANNA, 2000). A compressão local de uma estrutura nervosa, a depender do sítio de lesão no SNC, pode gerar um ou mais sinais clínicos que começam de modo discreto a exemplo de ataxia, déficitis proprioceptivos e motores (BERG, 1989; Da COSTA e MOORE 2010). Pode haver o surgimento repentino dos sinais que, algumas vezes, se prolongam por dias ou até mesmo perduram como sequela, a depender da área lesionada e do tempo em que a injúria persiste. Déficits proprioceptivos e claudicação são consequências comuns (De DECKER et al., 2012). O sítio de localização de uma lesão encefálica pode gerar diferentes sinais clínicos (SANTOS et al., 2012). A natureza infecciosa ou inflamatória das lesões que ocorrem no encéfalo e suas meninges podem levar a quadros compressivos causando desequilíbrio eletroquímico e pressão sobre estruturas importantes levando a diferentes sinais clínicos (THOMAS, 2010). Um conjunto de sinais pode determinar uma síndrome e para o encéfalo há cerca de seis síndromes de acordo com a localização no encéfalo e tronco encefálico (FEITOSA, 2004). A compressão de áreas importantes pode gerar isquemia e hipóxia em regiões essenciais para funções coordenadas pelo cérebro, ao passo que lesões provenientes de agentes infecciosos podem determinar meningites, coroidite (infecção e inflamação do plexo coróide) e até mesmo encefalites, levando desde a perda de função temporária ou definitiva da área lesada até mesmo a processos convulsivos (BAUMGÄRTNER et al., 1991). As alterações tóxicas podem levar ao desequilíbrio eletroquímico, causando transtornos mesmo irreversíveis a depender do agente e tempo de exposição. Algumas substâncias podem causar hemorragia em meninges e encéfalo. A causa do evento deve ser analisada de forma aprofundada, pois, alguns agentes virais também podem causar xxviii hemorragia petequial em quadros de meningite infeciosa (BAUMGÄRTNER et al., 1991; LUDLOW et al., 2012). Stewart (1928) descreveu um relato de meningite experimental em cães e descreveu a característica da lesão inerente ao tipo II do pneumococo envolvido. A realização de exames contrastados também pode aferir risco às meninges levando a quadros de meningites tóxicas. Sepencer e colaboradoes (1982) compararam o efeito de dois contrastes, iopamidol e metrizamida, tendo como padrão negativo solução salina injetada em punção da cisterna magna. Foram observadas alterações patológicas à miscroscopia nas leptomeninges dos cães testados, neutrofilia para o iopamidol e células mononucleares para a metrizimida. Sendo o iopamidol menos neurotóxico como agente de contraste em exames radiológicos. No Brasil há um grande número de casos de cinomose, doença causada pelo morbilivírus canino, esta doença causa uma série de alterações neurológicas podendo inclusive deixar sequelas como ataxia, tremores de intenção e convulsão (HEADLEY et al., 2009). Há outros sinais presentes tais quais andar compulsivo, reações posturais deprimidas, tetraparesia espástica, opistótono e espasticidade dos membros torácicos (AMUDE et al., 2006). Headley e colaboradores (2009) descrevem a encefalomielite como achado comum na necropsia de cães afetados por cinomose e manifestações clínicas progressivas de disfunção cerebral. Ao exame histopatológico a lesão se apresenta como uma encefalite linfoplasmocitária multifocal crônica com inclusões intracitoplasmáticas e intranucleares (YOUNG et al., 2009). 4.4.1 Alterações Encefálicas: Sítio de localização, natureza da lesão e sinais clínicos 4.4.1.a Hidrocefalia xxix A hidrocefalia, de forma genérica, consiste na acumulação de líquido cefaloraquideano (LCR) no interior dos ventrículos ou no espaço subaracnóideo e que, por sua vez, faz aumentar a pressão intracraniana sobre o cérebro, podendo vir a causar lesões no tecido cerebral e aumento do crânio (THOMAS, 2010). É um problema de saúde que pode surgir como consequência da existência de espinha bífida (VIANNA, 2000). O líquido cefalorraquidiano passa, no cérebro, de um ventrículo para outro através de canais relativamente estreitos, circulando depois na superfície do cérebro e sendo absorvido pelo sistema sanguíneo (MACHADO, 2005). Existe ainda uma parte do líquido que circula ao longo da medula espinal no interior do canal medular (MACHADO, 2005). A hidrocefalia pode resultar do excesso de produção de LCR ou quando é impedida a circulação ou absorção deste líquido (THOMAS, 2010). No animal normal, o LCR é drenado através de um sistema de ductos comunicantes entre os ventrículos, onde a quantidade de líquor produzido pelo plexo corióide existente no interior dos ventrículos do encéfalo, passa em direção ao espaço subaracnóideo avançando para a cisterna magna (MACHADO, 2005). O principal meio de drenagem corresponde ao aqueduto mesencefálico que comunica os ventrículos laterais ao terceiro ventrículo e deste, através do assoalho do terceiro, para o quarto ventrículo (EVANS e MILLER 1993). Quando o LCR é constantemente produzido, mas, de fato, está impedido de circular, acumula-se e causa um aumento da pressão no interior do cérebro, assim, os ventrículos aumentam de volume e o tecido cerebral pode vir a sofrer lesão (KITAGAWA et al., 2005). O líquor acumulado gera aumento de pressão intraventricular havendo então a necessidade de drenagem. Segundo Kosteljanetz e colaboradores (1987) há uma diferença elétrica que pode ser aferida entre o líquor acumulado nos ventrículos e o tecido cerebral. Havendo assim um mecanismo alternativo de controle da pressão de fluxo do líquor produzido, gerando uma retroalimentação ativa no monitoramento desta pressão interna. A hidrocefalia é classificada conforme a causa em: xxx Obstrutiva ou não comunicante: Causada por bloqueio no sistema ventricular do cérebro, impedindo que o líquido cérebro-espinal flua devidamente pelo cérebro e sobre a medula espinhal pelo espaço subaracnóideo. A obstrução pode estar presente ao nascimento ou após. Um dos tipos mais comuns decorre da estenose do aqueduto de mesencefálico (PUMAROLA e VAN, 1992). Não obstrutiva ou comunicante: Resultado do aumento na produção do líquor ou pela reabsorção ineficiente. Sendo mais comuns nos sangramentos no espaço subaracnóideo (NYKAMP et al., 2001). Pode estar presente ao nascimento ou podem acontecer depois. Com pressão normal: É um tipo de hidrocefalia adquirida comunicante no qual os ventrículos estão aumentados, porém não ocorre aumento da pressão, sendo mais comum em indivíduos idosos. Podendo ser resultado de trauma ou doença, mas as causas ainda não são bem definidas (VIANNA, 2000). Pouco se tem conhecimento da pressão venosa em animais hidrocéfalos (THOMAS, 2000). Recentemente tem sido descrito em cães da raça beagle, portadores de hidrocefalia, uma condição de elevação de pressão venosa cortical (PORTNOY et al., 1994). O acréscimo da pressão venosa cortical pode implicar no aumento da pressão no líquido cefaloraquidiano (LCR) e no gradiente estabelecido entre pressão de ventrículo e córtex cerebral. Obstruções do fluxo de LCR produzem um discreto aumento do gradiente de pressão, cerca de 1 mm Hg, o qual é suficiente para criar uma resistência a drenagem da própria produção liquórica, desbalanceando o processo de produção e drenagem (LEVINE, 2008). O tratamento para a hidrocefalia é medicamentoso podendo, muitas vezes, ser cirúrgico, o qual tem obtido resultados significativos com o uso de Derivação Ventrículo-Peritoneal (DVP) com o objetivo de drenar o LCR em excesso nos ventrículos para outras cavidades corporais anulando a pressão causada pelo aumento ventricular (KIM et al., 2010). Embora também possa ser feita drenando o líquor para o átrio direito ou através do terceiro ventrículo, a forma mais utilizada é a derivação ventrículo-peritoneal (VIANNA, 2000). xxxi A colocação de válvulas para drenagem intracraniana do líquor é uma técnica amplamente utilizada em humanos (UL-HAG et al., 2013). Em alguns animais há a possibilidade de se utilizar válvulas pediátricas de uso específico para neonatos gerando um ponto de drenagem contínuo controlado por aparelho que encaminha o fluxo para o peritônio (SHIHAB et al., 2011; BIEL et al., 2013). Segundo Rekate e colaboradores (1988) um modelo experimental com dez cães da raça Greyhound sadios determinou a pressão liquórica intraventricular normal, tendo sido estabelecido entre 3.28 a 5.37 mm Hg para este parâmetro. Estes valores podem estar alterados em cães portadores de hidrocefalia, demonstrando experimentalmente a possibilidade de drenagem, neste caso através de uma via alternativa com o forame Interventricular (Forame de Monro). A obstrução do aqueduto mesencefálico pode contribuir para a drenagem ineficaz ou não drenagem do Líquido Cefalorraquidiano (LCR) elevando a pressão ventricular, sendo que alguns cães podem apresentar aumento da PIC e serem assintomáticos (VULLO et al.,1997). 4.4.1.b Neoplasias Segundo alguns autores (BAGLEY et al., 1999; COSTA, 2009) neoplasias encefálicas demonstram predisposição racial e as raças mais afetadas incluem Golden Retriever, Boxer, Labrador Retriever, Collie, Dobermann Pinscher, Schnauzer e Aierdale Terrier (HEIDNER et al. 1991, O'BRIEN e COATES, 2010). Frequentemente, as neoplasias afetam a região tálamo-cortical (COSTA, 2009), mas também podem envolver mais de uma região anatômica do encéfalo (SNYDER et al. 2006). Os sinais neurológicos dependem da localização, do tamanho e da taxa de crescimento de uma neoplasia no SNC (Le COURTER, 1999; DEWEY, 2008; COSTA, 2009). Estes sinais são resultantes de compressão, invasão direta dos tecidos, edema, inflamação e necrose (Le COURTER, 1999; BAGLEY, 2005; DEWEY, 2008, O'BRIEN e COATES, 2010). Os sinais clínicos também podem ser multifocais dependendo do número e da localização dos neoplasmas e das alterações locais provocadas (BAGLEY, 1998). xxxii A maioria dos casos de neoplasias são de meningiomas (FUCHS et al., 2003) e são de ocorrência múltipla, intracraniana e espinal (SANTOS et al., 2012). Takeuchi e colaboradores (2008) descrevem um meningioma com células granulares poligonais em um cão da raça Chihuahua de 11 anos. O tumor se dispunha sob a dura-máter no hemisfério cerebral direito. Salvadori e colaboradores (2011) descrevem um relato de caso em um cão que apresentou um meningioma microcístico em quarto ventrículo. Contudo, meninigiomas nesta região são descritos como de ocorrência rara na literatura, mais comumente é idenfiticado tumores de plexo coróide e de células ependimárias que se localizam no quarto ventrículo (ESPINO et al., 2009). Meningiomas múltiplos localizados exclusivamente no canal raqueano são, também, extremamente raros (VAN WINKLE, 1999; YEOMANS, 2000). O termo meningioma é o nome utilizado para tumores nas meninges e que, geralmente, são benignos. Eles podem variar muito no tamanho, de poucos milímetros a muitos centímetros. Os sintomas são causados pela compressão do cérebro ou da medula no canal vertebral. A compressão pode ocasionar sinais e sintomas específicos, contudo, podem desencadear síndromes vestibulares centrais levando a deambulação e pleurótono, gerando dificuldaes na avaliação do clínico (THOMAS, 2010). Os meningiomas podem ser detectados através da TC, o tumor se apresenta como uma massa homogênea densa e bem delimitada (KISHIMOTO et al., 2008, MacLEOD et al., 2009). A ressonância eletromagnética (REM) com contraste demonstra a relação entre o meningioma as estruturas vascular e neural (WISNER et al., 2011). A angiografia pode demonstrar se há a vascularização do tumor (UTSONOMIYA, 1982; SAKURAI et al., 1993). As opções de tratamento incluem conservativo, mantendo em observação, cirurgia e radiação incidente terapêutica (URIARTE et al., 2011). Como esses tumores são benignos e de crescimento lento, eles podem não causar nenhum problema para o cão (SANTOS et al., 2012). Se houver ressecção completa do tumor, haverá resolução dos déficits neurológicos e recuperação permanente, porém a recidiva do tumor é comum e no período pós-cirúrgico pode haver convulsão controlável por barbitúricos (SCHARTZ et al., 2011). A convulsão pode ser ocasionada por desequilíbrio eletroquímico gerado pela descompressão rápida da área afetada (SANTOS et al., 2012). xxxiii As neoplasias secundárias, enquanto processos expansivos podem gerar compressão sobre a massa encefálica adjacente e, por sua natureza invasiva, podem determinar alterações neurológicas progressivas por conta do crescimento da massa neoplásica (KIM et al., 2011). Pode ser investigada através do uso da Radiografia, contudo, há dificuldade em delimitar as áreas afetada e circunvizinha por se tratar de imagem bidimensional e não oferecer mensuração precisa da área estudada (OLMEZ et al., 2011) e ainda, por haver sobreposição de estruturas na imagem radiografada (THRALL, 2010). A natureza da neoplasia determina a característica do quadro clínico neurológico, das implicações terapêuticas e abordagem cirúrgica (THOMAS, 2010). Neoplasias secundárias em tecidos moles e ósseo podem sofrer metástase e invadir o neurocrânio do animal causando reabsorção óssea e compressão de massa encefálica e são consistentemente invasivos localmente requerendo, quase sempre, excisão cirúrgica dos segmentos acometidos, mandibulectomia ou maxilectomia parcial (GOLDWASER et al., 2012). A técnica cirúrgica adotada deve conciliar a retirada terapêutica da área lesionada com a possibilidade de manutenção e/ou reconstrução facial. Assim, o fator estético também é algo importante (GALLEGOS et al., 2007). 4.4.1.c Traumatismo Cranio-Encefalico (TCE) Lesões ortopédicas são, comumente, causas de alterações neurológicas secundárias. Há maior frequência de alterações secudárias em diversas categorias, do que aquelas que cursem como alterações neurológicas primárias (VIANNA, 2000). São estas, as lesões traumáticas em crânio, traumatismo crânio-encefálico (TCE) que frequentemente causam alterações neurológicas secundárias por edema, hematomas e comprimem áreas importantes do tecido nervoso (KOTANI et al., 2012) e lesões tumorais e abscessos. O TCE, frequente em cães, é causado por quedas de alturas que variam da altura das mãos do guardião até andares de prédios. A altura pode interferir na gravidade do quadro uma vez que o evento é caracterizado por movimentação do encéfalo e todas as estruturas ligadas a ele, por conseguinte (VIANNA, 2000). O movimento destas estruturas dentro da calota craniana é chamado de concussão encefálica e o efeito rebote xxxiv da força que gerou o movimento inicial é chamado de comoção encefálica (VIANNA, 2000). A movimentação pode gerar ruptura de pequenos vasos causando hemorragia subaracnóidea, o acúmulo de sangue em certas áreas pode gerar compressão de sítios específicos desencadeando sinais neurológicos evidentes (SINGER et al., 1998; PERL et al., 1999; YUAN et al., 2005). O início do quadro denota ataxia, rigidez espástica de membro em alguns casos, anisocoria, edema sobre lobo occipital e cerebelo podendo causar perda de equilíbrio, raramente síndrome vestibular central pelo envolvimento de núcleos compartilhados por cerebelo e nervos cranianos que vão ao globo ocular, oculomotor e abducente (VIANNA, 2000). Em algumas situações com envolvimento de edema em região occipital e forame magno podem comprometer áreas de visão e a progressão do edema pelo canal medular gera, no início, déficit proprioceptivo e tetraparesia, podendo evoluir para tetraplegia (LEVINE et al., 2011). Vianna (2000) relatou que não há casos de TCE em cães domésticos publicados no Brasil. Pacheco e colaboradores (2010) descreveram a casuística da rotina de atendimentos em um serviço médico pré-hospitalar na Espanha, onde foram atendidos casos emergenciais, de pessoas sem separação por faixa etária e estabeleceram uma prevalência de 0,9 % para AVC e 1,77 % para TCE. Este é um importante estudo epidemiológico que pode ser adaptado para qualquer hospital veterinário com um levantamento de casos bem diagnosticados. Da Silva e colaboradores (1980) publicaram um dos primeiros relatos sobre complicações de meningite recorrente em um caso de trauma crânio-encefálico em região fronto-basal com fratura isolada em seio esfenoidal esquerdo. Este estudo auxilia de forma equiparada, às cirurgias de correção de palato por persistência de fenda palatina com exposição de sela túrsica e/ou base do crânio, onde as meninges se tornam suscetíveis a infecções intercorrentes pela continuidade com cavidades nasal e, indiretamente, oral (SCHICH et al., 2001). 4.4.1.d Síndrome Vestibular (SV) O sistema vestibular tem a função de manter a postura e regular o tônus dos músculos antigravitacionais, ou seja, o equilíbrio (MACHADO, 2005). Ele também é xxxv responsável pelo controle dos movimentos involuntários dos olhos e por sua correção quando há alteração na posição da cabeça (VIANNA, 2000; MACHADO, 2005). O Sistema Vestibular inclui o ouvido interno, labirinto, o VIII par de nervos cranianos (NC), o núcleo vestibular no tronco cerebral e o núcleo cerebelar, que coordena a resposta vestibular motora (GETTY et al., 1956; MACHADO, 2005). Uma lesão em qualquer uma destas partes é capaz de causar sinal vestibular, que se manifesta pela perda do equilíbrio e inclinação da cabeça para o lado da lesão (VIANNA, 2000; KENT et al., 2010). Com raras exceções, os sinais clínicos quase sempre são ipsilaterais a lesão na SV (THOMAS, 2000). Em muitos animais o nistagmo patológico pode estar presente (SCHUNK, 1990). A SV é muito frequente na clínica, principalmente, de pequenos animais e o quadro clínico é muito semelhante, independentemente da localização da lesão, o que confunde o médico veterinário não treinado para identificá-las (VIANNA, 2000). Há inclinação da cabeça, andar em círculo fechado, para o lado da lesão, quedas, rolamentos e nistagmo. Este último é caracterizado por movimentos involuntários, rítmicos e oscilatórios dos olhos, resultante da perda do equilíbrio no tônus dos músculos extrínsecos do olho (KENT et al., 2010). Na maioria dos casos clínicos, o nistagmo é um sinal de disfunção vestibular. O nistagmo tem natureza oscilatória ou rotacional, com componentes rápidos e lentos: a fase rápida o olho tende a movimentar-se com componente rápido afastando-se da lesão (FEITOSA, 2004). O nistagmo horizontal é mais observado nos distúrbios vestibulares periféricos, enquanto, o nistagmo vertical, é mais frequente em lesões que envolvem o sistema vestibular central, tronco cerebral e cerebelo. Nistagmo rotatório pode aparecer em ambos os tipos de lesões (THOMAS, 2000). Nistagmo constante, espontâneo, é mais frequente nas doenças do sistema vestibular periférico (SVP) e o nistagmo provocado (induzido ou posicional), visto em decúbito lateral ou dorsal, é encontrado com maior freqüência nas enfermidades do sistema vestibular central (SVC) (FEITOSA, 2004). A elevação da cabeça em animais com lesão do SVP pode causar um estrabismo ventrolateral ipsilateral, com o aspecto de olho caído. A resposta normal é o desvio ventral uniforme dos olhos (FEITOSA, 2004). As alterações vestibulares centrais são sugeridas por outras disfunções de NC, como do V par, fraqueza mandibular, sensibilidade facial diminuída e reflexo palpebral xxxvi comprometido, ou disfunção do VI par provocando estrabismo medial (VIANNA, 2000). O quadro 1, a seguir, apresenta uma diferenciação entre a SVC e a SVP: Quadro 1 – Sítios de localização de lesão e sinais clínicos que diferenciam uma SVC de uma SVP Periférica Ouvido Interno VIII par de NC Síndrome de Horner Nistagmo horizontal e espontâneo Otite Ausência de outros sinais Nistagmo horizontal e espontâneo Paralisia Facial Central Tronco Encefálico Alteração de vários Nervos cranianos NC Consciência alterada (SARA) Reflexos alterados em NMS Perda de propriocepção Nistagmo vertical e provocado Cerebelo Ataxia Dismetria Tremores de Inteção Reflexo de ameaça comprometido Nistagmo vertical e provocado Força e reflexos normais Fonte: Adaptado de (Vianna, 2000). Introdução a Neurologia Veterinária, p.18. Sintomas cerebelares podem ser observados juntamente com as alterações vestibulares centrais. Quando a lesão estiver localizada no tronco cerebral, deverá haver também, alterações para os membros pelo comprometimento do NMS, além das alterações citadas para NC como na Síndrome Pontinobulbar (VIANNA, 2000; FEITOSA, 2004; MACHADO, 2005). As alterações vestibulares periféricas quando associadas a otite média estão acompanhadas, frequentemente, com a Síndrome de Horner sendo verificado miose exagerada, enoftalmia e protrusão da terceira pálpebra, uma vez que, a inervação simpática do olho atravessa o ouvido médio (COOK, 2004). Há também, com frequência, paralisia facial, o VII par de NC deixa o tronco cerebral próximo ao VIII par e caminha junto dele até o ouvido (MACHADO, 2005). Nestes casos, a incapacidade de fechar as pálpebras, conduz frequentemente a ceratoconjuntivite seca (FEITOSA, 2004). As alterações são ipsilaterais à lesão (VIANNA, 2000). 4.4.2 Alterações de Medula: Sítio de localização, natureza da lesão e sinais clínicos xxxvii A medula espinal é atravessada por diversos fascículos e tratos que mantém estruturas cranianas em interação com o meio externo (EVANS, 1993). São estes de maior expressão clínica os fascículos grácil, cuneiforme e trato espinocerebelar que compreendem as vias ascendentes e os tratos, corticoespinotalâmico, rubroespinal, resticuloespinal, vestibuloespinal e tectoespinal que compreendem as vias descendentes (Da COSTA e SAMII, 2010). Os funículos dorsais e ventrais trazem fibras em ambos os sentidos (MACHADO, 2005). Quaisquer lesões em segmentos de medula podem comprometer este sistema de condução neuronal complexo e organizado. O local da lesão é importante, pois, a depender da estrutura ou estruturas lesadas as implicações podem ser observadas com certa dificuldade, sendo que mais de uma área implica em sinais e sintomas distintos (ISRAEL et al., 2009). O diagnóstico neurológico presuntivo passa pela análise destes sinais, assim, o reconhecimento da área lesada estabelece um importante mecanismo na tomada de decisões terapêuticas e diagnósticas (FEITOSA, 2004). Dores no pescoço ou no dorso, relutância em subir escadas, incapacidade de caminhar, perda de equilíbrio ou incoordenação são frequentemente associado a doenças da medula espinal em cães (PARENT, 2010). O exame neurológico deve permitir ao Veterinário identificar em qualquer dos segmentos da medula espinal e cauda equina a ocorrência de lesões que promovam sinais clínicos neurológicos (MOORE, 1992). A localização do sítio lesional passa, inicialmente, pela avaliação clínica do médico veterinário que indicará a área a ser estudada por exames complementares (BERG, 1989). Alterações ortopédicas como espondilose podem ocasionar algum grau de mielopatia e a depender deste grau podem ou não gerar sinais clínicos de doença compressiva (Da COSTA et al., 2006; Da COSTA e PARENT, 2007). A dor é o achado mais comum e inespecífico quando se trata de doença medular, pois, este sinal não refere a nautureza da lesão atribuindo-se a intensidade ao grau de compressão da medula (SUKHIANI et al., 1996; LEVINE et al., 2006). Espondiloses, espondilites, degeneração do DIV e instabilidade ligamentar podem ser fatores predisponentes para o surgimento das primeiras manifestações no pacience canino (Da COSTA, 2010). 4.4.2.a Discopatias xxxviii Compreendem a este grupo as discopatias por extrusão ou protrusão discal por degeneração do disco com ou sem extravasamento do núcleo pulposo e consequente compressão de segmento medular (BELTRAN et al., 2012). Cães idosos podem apresentar alterações degenerativas por senilidade tais como a espondilose ou inflamatória como a discoespondilite (De DECKER et al., 2011). Estas, comumente, causam radiculopatias com sinais de alterações neurológicas em nervos periféricos (DENNISON et al, 1995) e perda de movimentos por compressão oferecida por material discal extruido (ITO et al., 2005; DE RISIO et al., 2009). A dor pode ser local ou irradiada ao dermátomo correspondente, gerando resposta reflexa no ponto ipsilateral e ligeiramente próximo ou em área distante da emergência do nervo no forame intervertebral (CAVENAGH et al., 2006). A medula espinal é dividida em segmentos que, de acordo com a região da coluna vertebral, denomina-se cervical de C1-C5, o segmento caudocervical ou intumescência cervicotorácica de onde partem os nervos que formam o plexo axilar entre C6-T2, o segmento toracolombar T3-L3, entre L4-S3 o segmento lombossacro que dá origem ao plexo lombossacro onde se localizam os neurônios responsáveis pelos movimentos e sensibilidade dos membros pélvicos além das funções dos esfíncteres anal externo, sensibilidade perineal e esfíncter uretral (FOSSUM, 2005). Este conhecimento é muito importante, pois a localização das lesões se refere aos segmentos e não as vértebras (ARIAS, 2007). A doença do disco intervertebral (DDIV) é uma das enfermidades mais comuns que acomete o Sistema Nervoso Central, sendo a maior causa de paraplegia em cães, principalmente nos cães de pequeno porte (COSTA, 2001; LEVINE et al., 2006). A TC permite a visualização da degeneração do disco intervertebral (WORTH et al., 2009), compressão da cauda equina (MEIJI e BERGKNUT, 2010) e aprisionamento de raízes nervosas (De VICENTE et al., 2012). A DDIV ocorre primariamente em cães de raças condrodistróficas devido à extrusão do disco degenerado para o interior do canal vertebral (CREED e YTURRASPE, 1996; TOOMBS e BAUER, 1998; WHEELER e SHARP, 1999). Existem basicamente duas grandes categorias de discopatias, a DDIV cervical e a toracolombar, sendo que a toracolombar é responsável por 85% dos casos e a cervical xxxix por apenas 15% (COSTA, 2001). A degeneração dos discos intervertebrais e discopatias ocorrem normalmente com a idade, mas pode ocorrer de forma precoce em raças condrodistróficas como a Dachshund, o Beagle e o Basse Hound, ou tardia em raças não condrodistróficas (SHORES, 1992; FOSSUM, 2005). Nas raças condrodistróficas, o núcleo pulposo passa por metamorfose condróide onde se observa uma desidratação e invasão do núcleo pulposo por cartilagem hialina, provocando o enfraquecimento das fibras do anel fibroso, diminuindo a absorção do impacto (COATES, 2000; FOSSUM, 2005). O pico de incidência é de três a quatro anos de idade (BRUECKER, 1996; FOSSUM, 2005;). Nas raças não condrodistróficas o núcleo pulposo sofre metamorfose fibróide onde ocorre progressivamente a desidratação do núcleo pulposo, no qual esse é substituído por tecido colagenoso, mas raramente ocorre mineralização do disco intervertebral (SHORES, 1992; FOSSUM, 2005). Esse processo se inicia mais tarde e progride mais lentamente do que na metamorfose condroide (DENNY & BUTTERWORTH, 2006). A ruptura do anel fibroso permitirá a extrusão de quantidades variáveis de material do núcleo pulposo para o canal vertebral. Este evento é conhecido como doença de Hansen tipo I ou extrusão de disco quando o material do núcleo é projetado com força e de maneira rápida sobre a medula espinal. Quando não há o extravasamento do material do núcleo poulposo, ocorre uma insinuação do material discal sobre a medula espinal causando uma compressão discreta e lenta caracterizando a doença de Hansen tipo II ou protrusão (DENNY e BUTTERWORTH, 2006). A doença ou lesão de Hansen tipo I é a explosão do material nuclear atravessando o disco fibroso e comprimindo a medula espinal, provocando paraplegia aguda, sendo uma doença de alta severidade. Quando o animal apresenta crises intermitentes trata-se de um processo crônico, tendo maior incidência na região cervical e toracolombar (BROWN et al.,1977; FOSSUM, 2005). Em geral as raças condrodistróficas são as mais afetadas por esta enfermidade (DENNY e BUTTERWORTH, 2006). As discopatias toracolombares ocorrem primariamente em raças condrodistróficas, que apresentam a lesão de Hansen tipo I, tendo ocorrência maior em cães de três a sete anos de idade (COATES, 2000). Os dachshunds apresentam risco dez xl vezes maior de ter a lesão, comparado a outras raças (FOSSUM, 2005). Já em cães de raças não condrodistróficas é uma doença tardia, tendo ocorrência em cães de idade mais avançada, que apresentam a lesão de Hansen tipo II (TOOMBS e BAUER, 1998; COATES, 2000). Com relação ao sexo, machos e fêmeas da espécie canina são igualmente afetados pelas discopatias toracolombares. Os locais mais comumente envolvidos de extrusão são os espaços discais intervertebrais entre T11 e L2. Esses locais representam aproximadamente 65 a 75% de todas as extrusões discais (FOSSUM, 2005). O principal sinal clínico da doença do disco intervertebral cervical é a dor (LEVINE et al, 2006). O paciente evita movimentar o pescoço, girando o corpo inteiro e acompanhando objetos com os olhos, mantendo a cabeça geralmente para baixo. A tetraparesia ocorre em aproximadamente 10% dos casos das discopatias cervicais (DALLMAN et al., 1992). No caso da doença do disco intervertebral toracolombar os sinais clínicos são agudos e progressivos, iniciando com ataxia, progredindo para paraparesia, paraplegia e por fim, paraplegia com ausência de dor profunda (COSTA, 2001; LEVINE et al., 2006). Segundo Wheeler e Sharp (1999) os animais portadores de DDIV podem ser classificados em cinco graus de deficiência neurológica: Grau I - somente dor; Grau II - ataxia proprioceptiva, deficiência proprioceptiva consciente; Grau III - paraparesia; Grau IV – paraplegia com dor profunda; Grau V - paraplegia sem dor profunda. Os sinais clínicos nem sempre são simétricos bilateralmente, especialmente no inicio da doença. Essa lateralização é extremamente importante, uma vez que pode orientar a conduta terapêutica em caso de cirurgia descompressiva. Tratamentos adequados e orientados tanto à natureza da patologia quanto à sua localização podem ser adotados para o paciente animal a partir deste conhecimento. As terapias citadas incluem o tratamento conservativo com base no uso de drogas analgésicas e antiinflamatórias (WILCOX, 1965), a cirurgia descompressiva (DOWNES et al., 2009; FORTERRE et al., 2010) e a fixação-fusão da junção L7-S1 (SLOCUM e DEVINE xli 1986; PARÉ et al., 2001). Tais procedimentos são necessários para controle da dor e inflamação causadoras do processo de compressão da medula e raízes nervosas. 4.4.2.b Neoplasias vertebrais e medulares Os tumores que envolvem a medula espinal são incomuns (LEVY et al., 1997) e podem acometer simultaneamente, locais como os nervos periféricos e os tecidos adjacentes como vértebras e ligamentos, resultando em sinais clínicos de disfunção medular (BAGLEY, 2010). O diagnóstico de neoplasia em SNC pode ser estabelecido pelo histórico, raça, idade, sinais neurológicos, a evolução dos sinais e exames complementares (SANTOS et al., 2012). Os sinais clínicos neurológicos mais evidentes em casos de neoplasias medulares cervicais é a claudicação, contudo, as regiões de maior ocorrência de lesão neoplásica em cães são a cervicotorácica e toracolombar (SANTOS et al., 2012), a região torácica cranial (COSTA, 2009) e região cervical (PETERSEN et al., 2008). As neoplasias de origem secundária com compressão medular são mais comuns em cães (SANTOS et al, 2012) como as neoplasias que envolvem nervos espinais, como os tumores de bainha de nervo periférico (PARENT et al., 2010). O glioblastoma é um exemplo de neoplasia medular que pode ser diagnosticada por exames de imagem que evidenciam mudanças de captação do contraste referindo o padrão multifocal da lesão em meninge ou medula espinal (RÖTHLISBERGER et al., 2012). A raça boxer é a mais predisposta a ocorrência de neoplasias em SNC (HEIDNER et al., 1991; BAGLEY et al., 1999; BLEY et al., 2005; SNYDER et al., 2006; SANTOS et al., 2012) e não há predisposição sexual (BAGLEY et al., 2005; DEWEY et al., 2008). Quanto a idade dos animais com neoplasias medulares, em geral, apresentam mais de cinco anos (BAGLEY et al., 1999; SANTOS et al., 2012). Alteraçoes vertebrais também podem estar presentes, Mixoma sinovial é um exemplo de alteração em processos articulares de vértebras que podem ocasionar compressão de raízes e medula gerando sinais clínicos como hiperestesia e claudicação (BLAIR et al., 2011). Outras alterações como o Cordoma Condróide (WOO et al., 2008; STIGEN et al., 2011) podem gerar compressão de segmento medular. A compressão gerada pelo Condroma espinal causa sinais clínicos como incontinência urinária, dor xlii abdominal, déficit proprioceptivo consciente e os reflexos dos membros podem estar deprimidos, podendo ser diagnosticados por exames de imagem como a TC e a radiografia (PEASE et al., 2002). 4.4.2.c Siringomielia Siringomielia é uma patologia caracterizada pela formação de cavidades na coluna vertebral, com acúmulo de líquido nessas cavidades e progressivo dano à medula espinal, em geral, por compressão. Quando o acúmulo é excessivo diz-se que há siringohidromielia. A prevalência destes casos é altamente relacionada a característica de herdabilidade genética, sendo considerada de moderada a alta para todas as raças caninas quando avaliados por REM para determinar suscetibilidade pelo cruzamento entre indivíduos num mesmo grupo familiar (KNOWLER et al., 2011). Esta condição já é bem relatada na literatura veterinária. Rusbridge e colaboradores (2005) descreveram a condição de siringomielia em vários segmentos vertebrais ao longo da coluna cervical em uma cadela da raça Cavalier King Charles Spaniel de 21 meses de idade com diagnóstico de hipoplasia cerebelar em região occipital tendo sido atribuída a condição de malformação genética por sucessivos cruzamentos para a recriação do padrão da raça obtido em 1928. Cagle (2010) relata ter encontrado num cão da raça yorkshire Terrier com 7,5 anos de idade, um caso onde houve, concomitantemente, hipoplasia occipital, displasia occipital, siringohidromielia e hidrocefalia, diagnosticado por REM e tratados cirurgicamente. O animal apresentava ataxia e lateralização da cabeça de forma intermitente tendo sido diagnosticado com siringomielia e malformação occipital, sendo reveladas as outras alterações após abordagem cirúrgica. Contudo, há casos onde a siringohidromielia pode ser secundária a alterações adquiridas como, por exemplo, o meningioma. Jung e colaboradores (2006) descrevem uma siringomielia cervical secundária a meningioma em tronco encefálico em um cão da raça maltês. A condição de siringomielia ou siringohidromielia parece não ser limitante para o desenvolvimento ou manutenção da vida do animal. Porém, o aparecimento dos sinais e sintomas pode ocorrer a qualquer fase da vida do animal e condições como a espinha bífida pode agravar se houver retenção de líquidos e compressão do segmento da xliii medula espinal (RUBERTE et al., 1995). Esta compressão pode gerar alterações na condução neuronal, levando a traçados incomuns na eletroneuromiografia (CARNEIRO et al., 2001). A determinação do potencial evocado somato-sensitivo ao nível de C1 pode mostrar traços de anormalidade na onda F com elevação da sensibilidade na musculatura epaxial em torno desta vértebra. Assim, a análise de motricidade de músculos extensores como o carporadial e o tibial cranial, pode ser realizada por potencial evocado magnético transcraniano (HARCOURT-BROWN et al., 2011). 4.5 Diagnóstico complementar nas alterações do SNC A Neurologia é uma ciência vasta que, ao longo dos anos, vem se ramificando para melhor contemplar suas diversas vertentes que compreende a pesquisa de base, em neuroquímica e neurociência aplicada, traz subsídios para a compreensão de mecanismos da condução elétrica neuronal (FEITOSA, 2007), o metabolismo celular de neurônios e células gliais (BRUCE, 2010), mecanismos juncionais e sinapses (GUYTON e HALL, 2011), a neuroanatomia funcional no ensino acadêmico de base descrito por Machado (2005) e contemplando também a Neurologia clínica e diagnóstica (FEITOSA, 20040. A avaliação semiológica é a condição preponderante para a determinação prévia dos meios diagnósticos mais adequados a elucidação de um caso clínico. Muitos erros são comumente cometidos em avaliações neurológicas rotineiras por estudantes ou profissionais não bem treinados (CARNEIRO et al. 2001). Os itens a serem seguidos no processo de avaliação semiológica envolvem a avaliação de estruturas centrais e periféricas que denotam mobilidade, propriocepção, equilíbrio, nível de consciência e cognição (FEITOSA, 2004). Os métodos diagnósticos de imagem disponíveis na Medicina Veterinária atualmente são a Ressonância Eletromagnética (REM), a Tomografia Computadorizada (TC), a Radiologia Convencional (RC) ou digital (RD), a Ultrassonografia e a Mielografia (THRALL, 2010). O diagnóstico de discopatias é largamente amparado pela realização de técnicas de imagem avançadas, como a Tomografia Computadorizada e a Ressonância Eletromagnética, importantes no diagnóstico destas alterações, como xliv reforço a Mielografia, então largamente utilizada como recurso diagnóstico (HARARI e MARKS, 1992). O diagnóstico presuntivo de neoplasia do SNC pode ser ainda complementado com o histórico, a raça, a idade, os sinais neurológicos, a evolução dos sinais e os resultados de exames complementares como a radiografia torácica, ultrassonografia abdominal, análise do LCR (SANTOS et al, 2012). Por outro lado, o diagnostico definitivo só pode ser estabelecido através da análise histológica, realizada por meio de biópsia ou necropsia (BAGLEY, 2005; DEWEY, 2008; O'BRIEN e COATES, 2010). De forma a auxiliar no diagnóstico de algumas alterações pode-se realizar algumas sorologias e pesquisas diretas ou indiretas de agentes etiológicos geradores de reações neurológicas evidentes, tais quais Toxoplasma gondii, Neospora caninum, Ehrlichia canis e outros, tendo como achados frequentes: anemias, inclusões granulocíticas, mórulas intracitoplasmáticas e anormalidades no LCR comuns em quadros infecciosos (MARETZKI et al. 1994). A Ehrlichia spp frequentemente causa alterações hematológicas levando o animal a anemia, trombocitopenia, artralgia e mialgia; contudo, outros agentes podem determinar quadro similiar, quando um ou mais agentes etiológicos podem estar envolvidos no processo de doença, como os do gênero Babesia e Anaplasma (KELLY et al., 2013). Quadros neurológicos podem estar presentes levando o animal a uma meningoencefalite infecciosa que gera sinais clínicos neurológicos tais quais convulsões, ataxia, dor intensa e paresia (SKOTARCZAK, 2003). Os métodos de diagnóstico por imagem em neurologia clínica veterinária surgiram com a introdução da Radiologia. Na radiologia convencional, as imagens produzidas são bidimensionais, com sobreposição das estruturas da região avaliada (THRALL et al., 2010). A TC surgiu em 1971, inventada por um engenheiro inglês, Godfrey Newbold Hounsfield, e logo se tornou importante meio de diagnóstico (TUOTO, 2011). A TC consiste em uma técnica que utiliza a radiação-x como princípio da formação da imagem, contudo, com a associação da tecnologia computacional permitindo a produção de imagens seccionais sem sobreposição e com possibilidade de xlv reconstrução oferecendo melhor distinção das estruturas a serem avaliadas (GÄBLER et al., 2011) e com percepção espacial mais nítida (BERTA et al., 2013). Ao serem atravessados por raios X tecidos mais densos, como o fígado ou com elementos mais pesados como o cálcio presente nos ossos, absorvem mais radiação que tecidos menos densos, como o pulmão, que está cheio de ar (DÖRFLER et al., 2008). Assim, uma TC indica a quantidade de radiação absorvida por cada parte do corpo analisada, e traduz essas variações numa escala de cinza, produzindo uma imagem (THRALL, 2010). Cada pixel da imagem corresponde à média da absorção dos tecidos nessa zona, expresso em unidades Hounsfield (HU) (WILSON e WHITE, 1998) em homenagem ao pesquisador que inventou o aparelho de TC. A TC permite a avaliação de estruturas anatômicas, sobretudo pela alta qualidade das imagens produzidas (BRUNNER et al, 2011) com maior distinção entre dois tecidos de densidades diferentes. A TC permite captar diferenças de densidade da ordem 0,5% entre tecidos, ao passo que na radiologia convencional este limiar situa-se nos 5% (CARLSSON, 1999). Desta forma, é possível, sem uso de métodos invasivos, a detecção ou o estudo de estruturas normais e anôma-las (BEEKMAN et al., 2001) que não seriam visualizadas em radiografias comuns, sendo assim um exame complementar de diagnóstico de grande valor. Um dos primeiros trabalhos publicados com o uso da TC determinava os princípios iniciais da técnica que levava mais de 5 minutos para aquisição de uma única secção de imagem em plano axial (AMBROSE e HOUNSFIELD, 1973). E o primeiro trabalho publicado relacionado ao uso de cães como modelo experimental relatava a densidade mineral do tecido ósseo de esqueleto de cães através de um comparativo entre a TC e o método de absorção de fótons (POSNER e GRIFFTHS, 1977). Vários outros trabalhos foram surgindo a medida que o método se disseminou na rotina da pesquisa científica, sendo o primeiro relato da tomografia como meio diagnóstico de alterações neoplásicas atribuído a Fike e colaboradores (1981). Atualmente, já existem equipamentos designados helicoidais, ou de quarta geração, em que a informação é obtida de modo contínuo, de forma muito mais rápida e com menores doses de radiação, permitindo, dentro de certos limites, reconstruir xlvi imagens de qualquer seção analisada (KINAHAN et al., 2003; BREMKE et al., 2009, FAHIMIAN et al., 2013). Contudo, ainda permanece como uma das principais desvantagens da TC, a utilização de radiação X, a qual tem propriedade ionizante, ou seja, tem a capacidade de arrancar elétrons dos átomos por onde passa (WIDEL et al., 2009), podendo produzir mutações genéticas, mudanças bioquímicas e apoptose em células que se multiplicam rapidamente (TOMITA et al., 2013). Diversos estudos propõe-se a investigar a frequência de certas alterações encefálicas (AURIEMMA et al 2009) e medulares (SCHROEDER et al 2011) descrevendo sítios de localização e possível correlação com sinais apresentados no quadro clínico-neurológico (MEYER et al. 1991). No Brasil há poucas publicações que versem sobre o diagnóstico de alterações neurológicas através do uso de TC (SANTOS et al., 2012). 5. MATERIAL E MÉTODOS 5.1 Seleção de casos: critério de inclusão e exclusão Cães atendidos na rotina do hospital - Serviço Médico Veterinário (SEMEVE) e dos serviços Médicos Veterinários do Hospital de Medicina Veterinária da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMEVZ) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Hospital Veterinário HOVET – União Metropolitana para Educação e xlvii Culçtura (UNIME) e de clínicas particulares no município de Salvador e região metropolitana no período de março de 2011 a janeiro de 2013 foram avaliados por TC nos segmentos, crânio e coluna. A TC só foi realizada em animais cujos proprietários autorizaram o procedimento mediante assinatura de termo de responsabilidade e arcando com despesas para execução do exame. Todos os animais incluídos neste estudo foram avaliados física e clinicamente por médicos veterinários com treinamento em neurologia e ortopedia dos serviços hospitalares e possuíam diagnóstico presuntivo de alterações encefálicas ou medulares. Os animais podiam ser de ambos os sexos, em qualquer faixa etária e raça, porém, como critério de inclusão, necessariamente apresentar alteração neuropática sugerindo quadro compressivo encefálico ou medular em estado avançado com lesão morfológica aparente ou não. Não foram incluídos neste estudo os animais que apresentavam lesões neurológicas periféricas, sem qualquer envolvimento de componentes centrais, independente de sexo, idade ou raça. Quando da apresentação para realização do exame todos os animais apresentaram quadro clínico com duração mínima de 5 dias, proveniente do histórico do animal, ou com início súbito quando ocasionado por trauma. Os dados referentes a raça, idade, peso e sexo, foram registrados durante o atendimento para posterior correlação com outros parâmetros estabelecidos em literatura referência. 5.2. Exame físico neurológico Ao dar entrada na rotina da clínica veterinária nos centros médicos veterinários captadores relacionados, os cães foram triados e encaminhados para SEMEVE onde foram avaliados clinicamente para identificar possíveis alterações neurológicas centrais. Assim, a partir da suspeita clínica de possível lesão neurológica encefálica ou medular, estes animais foram submetidos a uma avaliação acurada com o objetivo de sugerir os sítios lesionais com finalidade de focar na área ou segmento a ser avaliado pela tomografia. xlviii Os exames neurológicos realizados durante o exame físico seguiram modelo de ficha sugerida por Chrisman (1985) apud Vianna (2000) e adaptada, em (ANEXO A). A avaliação da integridade da via de nervos cranianos foi realizada estimulando cada par de nervos para determinar suas funções específicas com estíumulos de pressão, visuais, auditivos, táteis e olfativos. Deste modo pode-se determinar se uma lesão pertence a um ramo de nervo periférico ou sugerir lesão de núcleo na cápsula interna. O único nervo não avaliado neste estudo foi o nervo acessório, podendo somente ser avaliado através de eletrodiagnóstico. Com o objetivo de descartar a possibilidade de alterações em neurônio motor superior os cães foram observados para possíveis atrofia por desuso, paralisia espástica ou déficits proprioceptivos e motores em membros ipsilaterais. Para verificar a possibilidade de alterações encefálicas os animais foram avaliados mediante apresentação de sinais clínicos durante o exame que sugerissem possíveis sítios de lesão em cérebro, cerebelo ou tronco encefálico. Para alterações mesencefálicas foi estabelecida a graduação do nível de consciência: comatoso, semicomatoso, estupor ou consciente. Para alterações de marcha e apoio foi estabelecida a diferença entre ataxia de origem cerebelar e alterações vestibulares, estabelecendo os tipos de andadura: dismetria, hipermetria, hipometria e normal. Avaliou-se, também, a posição da cabeça em relação ao eixo corporal: Head Tilt (cabeça inclinada e angulada), opstótono, pleurótono e normal. Para avaliar deambulação e propriocepção, com o objetivo de distinguir alterações cerebelares de outras causadoras deste sinal clínico neurológico foram realizados os testes de propriocepção dobrando os dígitos dos membros anteriores e inferiores em relação a mesa de atendimento aguardando o tempo de retorno a posição normal, considerado diminuído quando levavam menos de três segundos para retornar a posição ortostática e ausente quando não retornavam espontaneamente. Para o teste do panículo foi utilizada uma pinça hemostática tipo Crile, reta, 14 cm realizando o pinçamento da pele do dorso do animal, da altura da cernelha até a junção lombossacra e observando a reação dérmica e postural durante a execução da técnica. Considerado positivo para reação imediata ao pinçamento, diminuído para resposta tardia e ausência de panículo quando fechado no primeiro dente da cremalheira xlix da pinça e com ausência de resposta. Para avaliação da dor profunda a pele do interdígito foi pinçada pelo examinador, considerando presente para o reflexo de retirada e negativo para a ausência de resposta. 5.3. Obtenção das Imagens de TC e protocolo anestésico O aparelho utilizado para a realização do exame de tomografia computadorizada foi o Tomógrafo Toshiba modelo Asteion super 4® (ANEXO B) produzindo imagens em cortes axiais com espessura variando de 0,5 - 2,0 mm e havendo possibilidade de reconstrução em 3D das áreas avaliadas por meio de software específico remodelando as estruturas para o conhecimento e acompanhamento do clínico ou cirurgião. A espessura de corte axial para o segmento de crânio foi de 0,5 – 1,0 mm e para segmentos de coluna vertebral de 0,5 – 2,0 mm. O tamanho do campo de visão foi de 25 cm para cabeça e 35 cm para coluna. Foi utilizado o contraste não iônico organiodado a base de Iopamidol, Iopamed® (ANEXO C), por via intravenosa, para verificar a captação pelos tecidos e avaliar a vascularização. A administração do contraste organoiodado se deu a uma dosagem de 0,3ml/Kg através de bomba de infusão momentos após o escaneamento para aquisição das imagens ainda não contrastadas. As imagens de tomografia computadorizada foram obtidas nas dependências da Clínica SEMEVE e, em todos os casos, os animais foram anestesiados segundo protocolo padrão descrito a seguir, obedecendo a restrições por faixa etária e doenças prévias. O protocolo anestésico submetido foi: Jejum sólido prévio de 12 horas e medicação pré-anestésica com cloridrato de Acepromazina e Citrato de Fentanila, na dose de 0,1 mg e 0,01 mg/kg, respectivamente, pela via Intra Muscular (IM). Após 20 minutos foi colocado na veia cefálica um cateter intravenoso (BD Science®), acoplado a equipo macro-gotas e Solução Fisiológica a 0,9 % de NaCl para infusão e indução com Propofol, Fresofol 1%®, a uma velocidade de 15mg a cada 10 segundos até atingir o segundo plano do terceiro estágio anestésico. Em seguida, os animais foram colocados em decúbito lateral direito e entubados com sonda endotraqueal e de calibre compatível com o diâmetro da traquéia do animal e mantidos em O2 a 100% com fluxo de 200 l mL/kg/min; após isto, infundiu-se Propofol na velocidade de 0,4 mg kg-1 min-1, durante 90 minutos, controlado por bomba de infusão TERUMO® TE-135 (PIRES et al., 2000). Durante o exame os cães foram mantidos em decúbito dorsal sobre a mesa em suporte com cavilha em V, com os membros flexionados contra o peito e atados por cinta. O tempo médio para realização do exame foi de aproximadamente 10 minutos quando sem intercorrências. 5.4. Aspectos éticos Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa e Experimentação Animal da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia em dezembro de 2009 e aprovado sobre o número de protocolo 04/2009. Nenhum dos animais estudados foi submetido a quaisquer procedimentos que pudessem vir a causar desconforto ou expor a risco de morte ou, injúria temporária ou permanente, em estrita obediência às normas de bem estar animal e com a plena anuência dos proprietários. 5.5. Análise estatística O programa de análise estatística utilizado foi o SPSS para avaliação das amostras. O espaço amostral foi reduzido devido a baixa frequência dos casos de alterações neurológicas, no período estudado, ainda subdiagnosticados e por sofrerem baixa em virtude da avaliação com outros métodos diagnósticos concorrentes, quando possível, a exemplo da radiografia convencional e mielografia. Foi estabelecido, primeiramente, um estudo de frequências relativas e absolutas das patologias encontradas. Em virtude do reduzido espaço amostral, consideramos utilizar o método probabilístico de correlações de Fisher que permite a avaliação de amostras com espaço amostral inferior a 20 animais, n < 20 e correlações de Pearson. Para avaliação da relação entre as doenças observadas e a variável sexo foi utilizado o método de Qui-quadrado. A avaliação de dados cuja distribuição era normal, como idade e peso, possibilitou o estabelecimento de médias e classes, considerando, para isto, o intervalo li de confiança de 95 % e erro padrão de 5 %. Assim, qualquer valor de p acima de 0,05 foi considerado não significativo. Para avaliação da sensibilidade e especificidade da TC em relação a determinação diagnóstica das lesões conforme sinal clínico apresentado foram utilizados a determinação de Valor Preditivo Positivo (VPP) e Valor Preditivo Negativo (VPN). Os dados obtidos neste trabalho são de natureza descritiva, quantitativos e qualitativos, visando a designação de alterações patológicas. Foi estabelecido um estudo de frequências absolutas e relativas para determinação da ocorrência de certas doenças e associando estas a fatores predisponentes, quando possível. Todos os resultados da análise estatística se encontram no Anexo D. 6. RESULTADOS 6.1 ALTERAÇÕES CRANIO-ENCEFÁLICAS Durante o período de março de 2011 a janeiro de 2013, 14 cães foram avaliados clinicamente diante da suspeita de lesão intracraniana ou craniana com possível lii envolvimento do tecido encefálico e que obtiveram diagnóstico presuntivo de alterações compressivas ou mesmo sequelas de processos traumáticos ou pela natureza neoplásica conhecida em alterações secundárias com envolvimento em SNC (Quadro 2). Todos os animais foram avaliados por exames laboratorias e alguns destes, por exames de imagem complementares. Os resultados se encontram dispostos nos Anexos E e F. . 53 Quadro 2 – Diagnóstico de alterações neurológicas encefálicas em cães domésticos de Salvador e Região Metropolitana por TC e respectivos parâmetros: raça, idade, sinais clínicos, sítio de localização e tamanho da lesão. Casos Raça Idadea Pesob Sexoc Sinais Clínicos Diagnóstico Clínico Presuntivo Diagnóstico por TC Sítio de localização da lesão Tamanho da lesãod Achados intercorrentes 01 Boxer 7 36,1 F Ataxia, Deambulação, Nistagmo oscilatório, Pleurótono Síndrome Vestibular Central, componente cerebelar? Otite bilateral com pólipos Bula timpânica Parte petrosa do osso temporal - - F Ataxia e Convulsão Alteração encefálica: Encefalite? Compressão de massa? Metástase intracraniana Lobo Temporal direito e parietal direito Compressão encefálica por Edema, hemorragia por TCE Fratura em região frontoaprietal esquerda com discreto desalinhamento Ossos frontal e parietal esquerdos - - 26 x 32 x 10 cada uma aproximada mente 02 Fila Brasileiro 03 Jack Russel Terrier 1 5,2 F Ataxia, incoordenação por fratura craniana 04 Pinscher 2 meses 0,27 F Incoordenação/agitação Hidrocefalia sugerida pelas fontanelas abertas Hidrocefalia Ventrículos laterais, terceiro e quarto. - - 05 Pinscher 3 meses 0,35 M Convulsão, Ataxia Hidrocefalia sugerida pelas fontanelas abertas Hidrocefalia Ventrículos laterais, terceiro e quarto. - - F Tetraparesia, déficit proprioceptivo moderado. Lesão encefálica em lobo frontal? Lesão em NMS? Panventriculomega lia moderada - Considerar hipertensão intracraniana benigna ou obstrução em medula cervical F Ataxia, Estrabismo ventrolateral direito Lesão encefálica: Encefalite? Compressão? Glioma? Meningioma?Ventr iculomegalia possivelmente secundária. 9 x 1,3 x 10 Dilatação ventricular assimétrica com maiores dimensões no ventrúlco direito, dilatação discreta do terceiro ventrículo 06 07 Poodle Poodle 7 16 12 40,0 4,5 5,3 Ventrículos laterais, terceiro, quarto e aqueduto mesencefálico Localizado em assoalho ventrolateral esquerdo junto ao Tronco encefálico em topografia de ponte - a Idade em anos, b Peso em Kg, c Sexo M (Macho), F (Fêmea), dTamanho em mm. continua 54 Quadro 2 – Diagnóstico de alterações neurológicas encefálicas em cães domésticos de Salvador e Região Metropolitana por TC e respectivos parâmetros: raça, idade, sinais clínicos, sítio de localização e tamanho da lesão. continuação 08 Poodle 5 6,2 M Comatoso, Tetraplegia Compressão encefálica por Edema, hemorragia por TCE Fratura com afundamento Ossos temporal direito, parietais e frontais. - - 09 Poodle 14 7,5 M Convulsão e Incoordenação Lesão encefálica: Encefalite? Compressão? Meningioma Região frontoparietal esquerda 6 x 12 x 17 - Tumor ósseo craniano com invasão de neurocrânio Ossos parietais, occipital, foice cerebral e tentório cerebelar a direita - Compressão discreta do Cortex cerebral Região occiptoparietal esquerda Entre 20 e 22 Desvia a foice cerebral a direita e comprimindo a parte caudal do ventrículo lateral esquerdo 27 x 29 x 30 Desvia a foice cerebral a esquerda e altera a conformação ventricular 10 x 20 (em polo encefálico rostral) Causa desvio da foice cerebral a esquerda - Fusão incompleta de fontanelas 10 Poodle 10 4,8 F Sem alterações Invasão da calota craiana por neoplasia óssea? 11 Schnauzer 13 10,0 M Ataxia Lesão em NMS? Lesão encefálica: Encefalite? Compressão? Processo expansivo intracraniano caudal esquerdo Processo expansivo de natureza neoplásica com efeito de massa sobre a hipófise 12 SRD 5 19,8 M Ataxia Lesão encefálica: Encefalite? Compressão? 13 SRD 13 13,9 F Sem alterações Invasão da calota craiana por neoplasia óssea? Invasão de neoplasia de cavidade nasal em SNC 14 Yorkshire Terrier 12 1,3 M Incoordenação/agitação Lesão encefálica: Encefalite? Compressão? Hidrocefalia tetraventricular, a Idade em anos, b Peso em Kg, c Sexo M (Macho), F (Fêmea), dTamanho em mm. Região ventrolateral direita do assoalho do calvário em continuidade com a Hipófise Ossos da face, lâmina cribriforme a direita, seio frontal direito Ventrículos laterais, terceiro e quarto 55 As raças acometidas pelas alterações foram de 5/14 (35,71 %) Poodle, 2/14 (14,28 %) Pinscher, 2/14 (14,28 %) Sem Raça Definida (SRD), 1/14 (7,14 %) Boxer, 1/14 (7,14 %) Fila Brasileiro, 1/14 (7,14 %) Jack Russel Terrier, 1/14 (7,14 %) Schnauzer e de 1/14 (7,14 %) Yorkshire Terrier, com idade variando entre 2 meses e 16 anos, de ambos os sexos. Verificou-se a média etária de 8,24 ±5,37 anos para todas as raças estudadas e de 11,4±4,21 anos para os animais da raça Poodle, tendo sido esta a mais frequente neste estudo 5/14 (35,71 %). Os quadros clínicos mais observados foram alterações de marcha com ataxia e deambulação/incoordenação 10/14 (71,42 %), de convulsão 3/14 (21,42 %) e paresia/plegia 2/14 (14,28 %), tendo correlação positiva com os sítios lesionais, r = 0,82. Os sítios lesionais encontrados variaram entre: lâminas ósseas cranianas 5/14 (35,71 %); ventrículos cerebrais 4/14 (28,57 %); áreas corticais 3/14 (21,42 %) em lobos frontal, parietal, occipital e temporal; tronco encefálico 2/14 (14,28 %) em topografia de ponte e hipófise. A frequência das alterações observadas pela avaliação com TC foi de 5/14 (35,71 %) para neoplasias encefálicas; 2/14 (14,28 %) neoplasias ósseas com invasão intracraniana; 4/14 (28,57 %) de alterações Ventriculares; 2/14 (14,28%) fraturas cranianas e 1/14 (7,14 %) correspondendo a Síndrome Vestibular Central (SVC). Estes dados foram organizados e resumidos conforme classe de peso e idade (Fig.1 e 2). 56 Figura 1 – Gráfico de demonstração do número de alterações neurológicas encefálicas avaliadas pela TC disposto conforme classe de peso (em quilogramas) Fonte: Arquivo Pessoal Nota: Outras Encefalopatias corresponde ao achado de neoplasias secundárias (2/5), Fraturas cranianas (2/5) e Síndrome Vestibular Central (1/5) Figura 2 – Gráfico de demonstração do número de alterações neurológicas encefálicas avaliadas pela TC disposto conforme classe de idade (em anos) Fonte: Arquivo Pessoal Nota: Outras Encefalopatias corresponde ao achado de neoplasias secundárias (2/5), fraturas cranianas (2/5) e Síndrome Vestibular Central (1/5) 57 Os casos 2, 7, 9, 11 e 12 apresentaram diagnóstico por TC de neoplasias encefálicas primárias ou, por metástase, Destes animais 3/5 (60 %) eram machos e 2/5 (40 %) fêmeas.A disposição marginal, padrão de atenuação e captação de contraste, bem como, o grande fluxo sanguíneo, em dois dos casos sugere quadro de Meningioma. O caso 9 com diagnóstico de Meningioma apresentou uma região que se mostrou discretamente hipoatenuante, dorsalmente ao lobo frontal e a esquerda, região de transição frontoparietal, de formato fusiforme e mediu cerca de 6,6 mm x 11,4 cm x 17,9 mm em seus maiores eixos (Fig.3a e 3b), com captação periférica do contraste e sinais de cauda dural. Ventrículos laterais encontraram-se simétricos com dimensões normais (Fig.3a). 58 Figura 3 – Imagem de TC com contraste de encéfalo de cão da raça Poodle, 14 anos, macho, mostrando disposição marginal, medindo cerca de 17,9 mm em seu maior eixo e 6,6 mm em seu menor eixo. Nota-se que a imagem não captou contraste suficiente, evidenciando área hiperatenuante de formato fusiforme na parte dorsal do lobo frontal esquerdo visto em corte coronal e área de edema vasogênico perilesional em corte axial. a Fonte: Arquivo pessoal b 59 Os casos 10 e 13 apresentaram lesão sugestiva de neoplasia óssea, com processo expansivo intracraniano e lesão de reabsorção óssea em pontos estratégicos que denotaram sinais de comprometimento de parênquima encefálico. O caso 13, fêmea com 13 anos de idade sem raça definida, apresentou lesão facial em plano nasal com característica de células escamosas. O caso 7, fêmea da raça poodle, com 10 anos de idade, apresentou tumor ósseo craniano com características de osteocondrossarcoma multilobular a análise histológica. Os dois casos foram acompanhados quanto a extensão da lesão através da TC. O material coletado para amostra histopatológica foi proveniente de excisão cirúrgica de fragmento de pele lesionada da face do animal tendo diagnóstico de carcinoma espinocelular confirmado pelo exame histopatológico, apresentando aspecto microscópico com características de neoplasia maligna e invasão difusa do tecido utilizado na amostra, ilhas de células epiteliais com núcleo amplo, pleomórfico e com nucléolos exuberantes e raras figuras mitóticas. A reconstrução da imagem mostrou uma lesão infiltrativa com extensão em plano nasal ocupando os dois terços caudais das cavidades e seguindo um trajeto mediano ao longo do focinho e entre as órbitas oculares até uma região dorsal e rostral ao nível do terço médio da sutura interfrontal (Fig.4e e 4f). A lesão capta o contraste de forma evidente e heterogênea. Na Figura 4a é visto uma lesão de absorção do osso esfenóide direito, paralelo ao vômer, de cerca de 20 mm, tornando a região neoplásica comunicante com estruturas da base do encéfalo, dorsalmente, a exemplo do subtálamo, contudo, o animal não mostrava sinais clínicos neurológicos de lesão talâmica. Em planos laterais (Fig.4c e 4d) a lesão neoplásica produziu osteólise de ossos nasal e frontal, demonstrada em técnica de reconstrução da lesão a partir das janelas de tecido duro. Dorsolateralmente ao osso nasal e maxila, do lado direito, apresentou-se uma imagem de massa hipoatenuante em janela de tecidos moles que sugere formação de estrutura neoplásica com evidência de neovascularização. A primeira com maior diâmetro, medial, e a segunda com menor diâmetro lateral (Fig.4b). Houve invasão do neurocrânio a partir da porção lateral direita da lâmina cribriforme, tendo sido identificado em polo encefálico rostral a presença de imagem de formato ovalado, que mediu cerca de 10,0 mm x 20,0 mm em seus maiores eixos, com captação periférica evidente do contraste iodado e que produz efeito de massa sobre a 60 foice cerebral, desviando-a para a esquerda (Fig.4a). Presença de aumentos de volume, preenchidos por conteúdo hipodenso, que não captou contraste e se localiza nos dois lados da face e em sobreposição ao seio frontal direito (Fig.4b) com o qual existe comunicação física devido a osteólise do osso frontal (Fig.4b). 61 Figura 4 – Imagem de TC em cortes coronal em a e axial em b e de reconstrução multiplanares em c a f, de cão com neoplasia em cavidade nasal invadindo ossos do cranio e causando osteólise intensa mantendo continuidade com o encéfalo. Fonte: Arquivo pessoal 62 Caso 7, fêmea da raça poodle apresentou lesão osteoproliferativa com distribuição parietooccipital, com extensão em maior proporção no lado direito e dorsal a extremidade cranial do processo espinhoso do áxis, projetando-se sobre o tentório cerebelar e a foice cerebral a direita (Fig.5a e Fig.5b). Ainda na Figura 5a, em plano longitudinal, observa-se a natureza infiltrativa da alteração neoplásica óssea avançando para o tecido nervoso encefálico ligeiramente adjacente. Nas Figuras 5c e 5d, a reconstrução mostra o grau de projeção que a estrutura alcança. A lesão apresentava características de osteocondrossarcoma multilobular, sendo confirmado por exame histopatológico do tecido ósseo analisado. Após injeção de contraste iodado não foram observadas alterações de atenuação no parênquima encefálico. Os ventrículos laterais mantiveram volume e morfologia normais. 63 Figura 5 – Imagens de TC em planos longitudinal (a), axial (b), reconstrução em 3D sagital (c) e axial (d) de cão apresentando tumor ósseo craniano com envolvimento de encéfalo. Fonte: Arquivo pessoal 64 Os casos 4, 5, 6, e 14 apresentaram alterações ventriculares. A hidrocefalia esteve presente em dois animais jovens, com 2 e 3 meses de idade (Fig.6.) e em dois animais idosos com 12 e 16 anos de idade. Os dois jovens eram da raça Pinscher e os dois animais senis eram das raças Yorkshire Terrier e Poodle, todos de pequeno porte pesando até 4,5 kg, com p=0,326 para correlação com o fator peso e p = 0,155 para o fator idade. No caso 4, pinscher, fêmea, dois meses de idade, apresentou-se dilatação cefálica, fontanelas frontoparietais abertas e convulsão. Apresenta hidrocefalia tetraventricular, com compressão da massa encefálica contra as paredes internas da calota craniana. Visualização do espaço subaracnóideo (fig.6b) e maior grau de compressão do parênquima encefálico na região da junção frontoparietal (fig.6c). Sem compressão importante em região do tronco encefálico, denotando silhueta completa da região do tálamo em secção coronal (fig.6a). Este achado é consistente com o diagnóstico presuntivo, pois havia diversas fontanelas abertas neste animal, cuja idade e raça, também apresentam fatores predisponentes para a alteração congênita observada. 65 Figura 6 – Imagens de TC em planos axial (a, b e c) e longitudinal (d) de cão da raça Pinscher com 2 meses de idade apresentando fontanelas abertas e diagnóstico de hidrocefalia tetraventricular. Nota-se que o tronco encefálico mantém volume normal sem ceder às alterações ventriculares adjacentes (fig.6a) Fonte: Arquivo pessoal 66 Caso 6, fêmea da raça poodle, com 16 anos de idade apresentou sinais de ataxia e tetraparesia. As imagens obtidas mostram através de plano longitundinal (Fig.7a) o ventrículo lateral direito mais próximo do septo interventricular e na (Fig.7b) a presença do ventrículo lateral direito projetando-se sobre a estrutura encefálica adjacante. Nas figuras 7c e 7d as imagens mostram, respectivamente, a extensão dos ventrículos laterais desde o pólo rostral do encéfalo até a porção caudal do lobo piriforme, dorsalmente, no lobo occipital. À tomografia apresentou diagnóstico de Panventriculomegalia moderada, com dilatação evidente nos dois ventrículos laterais. Ventrículos cerebrais e aqueduto mesencefálico com dimensões moderadamente aumentadas, sendo observada simetria dos ventrículos laterais e discreta assimetria do quarto ventrículo. Não houve evidências de desvios da foice cerebral e herniação cerebelar. Foram verificados discretos sinais de involução encefálica com aumento dos espaços subaracnóideos. Parênquima cerebral com coeficiente de atenuação dentro dos padrões de normalidade, não tendo sido notadas alterações significativas de atenuação após injeção do meio de contraste iodado. 67 Figura 7 – Imagem de TC em plano longitudinal (a) e (b) e em plano dorsal (c) e (d) de cão apresentando quadro de Panventriculomegalia moderada Fonte: Arquivo pessoal 68 6.2 ALTERAÇÕES MEDULARES Durante o período do estudo 17 cães foram avaliados clinicamente, diante a suspeita de lesão de coluna vertebral com possível envolvimento medular. As raças acometidas pelas alterações foram Dachshund 6/17 (35,29 %), Golden Retriever 2/17 (11,76 %), Poodle 2/17 (11,76 %), Maltês 1/17 (5,88 %), Schnauzer 1/17 (5,88 %), Pastor Suiço 1/17 (5,88 %), Pointer 1/17 (5,88 %), Basset Hound 1/17 (5,88 %), Cocker Spaniel 1/17 (5,88 %) e Sem Raça Definida (SRD) 1/17 (5,88 %) com idade variando entre 3 e 9 anos, de ambos os sexos (Quadro 3). 69 Quadro 3 – Diagnóstico de alterações neurológicas compressivas da medula espinal de cães domésticos de Salvador e Região Metropolitana por TC e respectivos parâmetros: sinais clínicos, tipo de lesão, sítio de localização, raça, idade, sexo e peso. Caso Raça Idadea Pesob Sexoc Sinais clínicos Diagnóstico clínico presuntivo Diagnóstico por TC Sítio de localização da lesão L4-L5 15 Basset Hound 5 20,8 M Lombalgia, bexiga espástica e dor ao abduzir os membros posteriores. Alteração lombossacra? Mineralização discal entre L5L6 com mielopatia extradural em L7-S1 L5-L6 L7-S1 16 17 18 a Cocker Spaniel 3 Daschsh und 5 Daschsh und 19 Daschsh und 20 Daschsh und 9 7 5 12,8 8,7 10,2 14,9 9,8 F F M M M Diminuição de propriocepção posterior Paresia e diminuição de dor profunda em psoteriores. Dor cervical Aleração lombar? Alteração toracolombar? Cervicopatia por extrusão/protrusão? Mielopatia extradural por mineralização discal em L2-L3 e ao longo do corpo de L2 Mielopatia extradural por mineralização discal e material hemorrágico entre T12-T13 Mielopatia extradural por mineralização discal e material hemorrágico entre C4-C5 Hiperreflexia de anteriores, dor cervical e clônus Cervicopatia por extrusão/protrusão? Mielopatia extradural por material discal mineralizado entre C6-C7. Paraplegia súbita Cervicopatia por extrusão/protrusão? Lesão em NMS? Mielopatia extradural em T1T2 e L2-L3 Idade em anos, b Peso em Kg, c Sexo M (Macho), F (Fêmea). T9-T10 L2-L3 T10-T11 Características das lesões Mineralização discal Material hiperdenso em volta da medula em posição dorsolateral esquerda Processo degenerativo com mineralização discal Mineralizaçao de disco Porção ventrolateral esquerda do canal medular, Mineralização de disco Material discal em forame intervertebral a esquerda T12-T13 Porção ventrolateral esquerda do canal medular, Material discal mineralizado e possível material hemorrágico associado C2-C3 Mineralização discal T4-T5 Mineralização discal C4-C5 Mineralização de disco e pinçamento de raízes nervosas em forame intervertebral a esquerda C6-C7 Porção ventral e ligeiramente lateralizado a direita no canal medular. Mínima espondiloartrose em coluna toracolombar T1-T2 L2-L3 Compressão de raízes nervosas em forame intervertebral direito Material discal mineralizado em grau importante continua 70 Quadro 3 – Diagnóstico de alterações neurológicas compressivas da medula espinal de cães domésticos de Salvador e Região Metropolitana por TC e respectivos parâmetros: sinais clínicos, tipo de lesão, sítio de localização, raça, idade, sexo e peso. continuação T10-T11 21 Daschsh und 9 10,9 M Panículo negativo em final de coluna torácica e Claudicação posterior Alteração toracolombar? Mielopatia extradural por material discal mineralizado entre T11-T12 e T12-T13. T11-T12 T12-T13 Cervicopatia por extrusão/protrusão? Lesão em NMS? Mineralização de material discal entre C5-C6 Perda de porpriocepção de membros posteriores e lombalgia Alteração lombossacra? F Acidente automobilístico 3,8 M 7 27,4 9 24,3 Daschsh und 9 23 Golden retriver 3 34,3 M 24 Golden retriver 7 28,3 25 Maltês 2 26 Pastor Suíço 27 Pointer 22 8,9 M Cervicalgia C5-C6 C7-T1 Mineralização discal sem mielopatia Discoespondilite Lombossacra L7-S1 Irregularidades secundárias a osteólise das epífises caudal de L7 e cranial de S1 Trauma ortopédico em coluna vertebral! Fratura sem deslocamento do fragmento ósseo em processo transverso de L1 L1 Processo transverso direito de L1 Cervicalgia, déficits proprioceptivos ispsilateral esquerdos (leve) e direitos (moderado) Cervicopatia por extrusão/protrusão? Lesão em NMS? Abertura de fises distais de C2 a C6, displasia occipital, hidrocefalia moderada C2-C6 Discreta abertura das físes distais M Perda de movimentos Alteração torácica? Estenose lombossacra e discoespondilite em T6-T7 T6-T7 Presença de material hipodenso em canal vertebral e reação óssea osteolítica e osteoproliferativa M Dor intensa na região lombossacra Alteração lombossacra? Proliferação de tecidos moles em torno de L6 e L7 L6 e L7 Reação osteolítica, proliferação de tecidos moles em toda extensão de L7 T11-T12 28 Poodle 6 5,4 M Paresia posterior, mialgia Alteração toracolombar? Lesão em NMI? Mielopatia extradural: leve entre T12-T13, importante entre T13-L1 e moderada entre L2-L3. T12-T13 T13-L1 L2-l3 a Compressão de raízes nervosas em forame intervertebral direito Mielopatia por material discal mineralizado Mielopatia por material discal mineralizado com compressão medular Mielopatia por material discal mineralizado Idade em anos, b Peso em Kg, c Sexo M (Macho), F (Fêmea). Espondiloartrose com osteófitos laterais Espondiloartrose com osteófitos laterais, mielopatia extradural por material discal com compressão medular discreto Mielopatia extradural por material discal com compressão medular importante Mielopatia extradural por material discal com compressão medular moderado continua 71 Quadro 3 – Diagnóstico de alterações neurológicas compressivas da medula espinal de cães domésticos de Salvador e Região Metropolitana por TC e respectivos parâmetros: sinais clínicos, tipo de lesão, sítio de localização, raça, idade, sexo e peso. continuação a 29 Poodle 10 6,4 M Tetraparesia Cervicopatia por extrusão/protrusão? Lesão em NMS? Caudal a C2 Processo expansivo intramedular? Enostose caudal a C2 C2 Imagem hipodensa em medula espinal na porção caudal de C2 30 Schnauz er 5 7,0 F Síndrome de cauda equina? Dor a palpação da coxofemoral Alteração lombossacra? Protrusão discal em L7-S1 e estenose lombossacra L7-S1 Estrutura semicircular hiperatenuante no assoalho do canal vertebral de L7-S1 31 SRD 8 7,5 M Paresia e panículo negativo Cervicopatia por extrusão/protrusão? Neoplasia óssea em T2 T2 Extensa osteólise com proliferação de tecidos moles em torno de T2 Idade em anos, b Peso em Kg, c Sexo M (Macho), F (Fêmea). 72 Verificou-se a média etária de 6,08±2,41 anos para todas as raças estudadas e de 7,33±1,97 anos para os animais da raça Dachshund com discopatia. A correlação feita entre idade e discopatia gerou significância estatística de p = 0,309. Os quadros de déficits proprioceptivos e alterações de marcha com suspeita clínica de discopatia tiveram correlação positiva, r = 0,88, com as lesões reveladas nas imagens obtidas pela TC, estabelecendo de maneira precisa os segmentos acometidos, contudo não evidenciaram com clareza clínica todos os pontos nos segmentos avaliados. Assim sendo, havia outros pontos de mineralização de disco que não ocasionaram alterações neurológicas clínicas perceptíveis nem que justificassem o quadro apresentado conforme indicado no quadro 4. Quadro 4 – Sítios de localização das lesões medulares em cães portadores de discopatias em diversas raças Segmentos de coluna C1-C5 C6-T2 T3-L3 L4-S1 Total S 2 3 20 4 29 Graus de compressão L M 1 1 1 1 1 3 Posição do deslocamento do material discal I 1 3 4 VLE 4 4 VLD 1 2 3 DLE 2 2 DVLD 1 1 CM 2 2 FIE 1 1 2 FID 1 2 3 Total 5 6 33 8 50 Nota: S – Sem Compressão; L – Compressão Leve; M – Compressão Moderada; I – Compressão Importante. VLE – Ventrolateral Esquerdo; VLD – Ventrolateral Direito; DLE – Dorsolateral Esquerdo; DVLD – Dorsoventral e Lateral Direito, CM – Centro mediano; FIE – Forame Intervertebral Esquerdo; FID – Forame Intervertebral Direito. Os segmentos acometidos por mielopatias com algum grau de protrusão ou extrusão apresentaram frequências de 3/17 (17,64 %) animais para o segmento cervical, 2/17 (11,76 %) para o segmento cervicotorácico, 9/17 (52,94 %) para o segmento toracolombar e 4/17 (23,53 %) para o segmento lombossacro. Dos 17 casos estudados 12 eram de discopatias. E, para estes, a proporção dos segmentos acometidos para o segmento cervical de 1/12 (8,33 %), para o segmento cervico-torácico foi de 2/12 (16,67 %), para o segmento toraco-lombar foi de 6/12 (50 %) e para o segmento lombossacro 73 houve 4/12 (33,33 %) dos casos. O caso 27 apresentou diagnóstico de alteração medular em segmentos toracolombar e lombossacro, sendo contado duas vezes. Dentre os segmentos estudados, os pontos de maior frequência ocorreram para o segmento toracolombar T3-L3 conforme (Fig.8 e 10). O perfil geral visto neste gráfico é similar e influenciado pelo comportamento de distribuição das lesões por segmentos medulares em cães Teckel condrodistróficos (Fig.9). Segundo o local de compressão medular foi observado a disposição de material discal ventral, lateral e dorsal em ambos os lados, direito e esquerdo, bem como em disposição central em relação a medula espinal. Figura 8 – Distribuição das lesões em DIV em cães com diagnóstico de discopatia por segmentos medulares Fonte: Arquivo pessoal Nota: VLE – Ventrolateral Esquerdo; VLD – Ventrolateral Direito; DLE – Dorsolateral Esquerdo; DVLD – Dorsoventral e Lateral Direito, CM – Centro mediano; FIE – Forame Intervertebral Esquerdo; FID – Forame Intervertebral Direito. 74 Figura 9 – Distribuição das lesões em DIV em cães Teckel com diagnóstico de discopatia por segmentos medulares Fonte: Arquivo pessoal Nota: VLE – Ventrolateral Esquerdo; VLD – Ventrolateral Direito; DLE – Dorsolateral Esquerdo;,DVLD – Dorsoventral e Lateral Direito, CM – Centro mediano; FIE – Forame Intervertebral Esquerdo; FID – Forame Intervertebral Direito. 75 Figura 10 – Imagem de TC do segmento toracolombar da coluna vertebral em um cão da raça Poodle, 6 anos , macho, com sinais clínicos de compressão medular toracolombar entre T12-T13, T13-L1, L1-L2 e L2-L3 a – plano longitudinal, mostrando imagem hiperatenuante em ponto de compressão entre T12-T13 e L1L2; b – Plano dorsal, segmento de T12-T13; c – Plano dorsal mostrando três pontos de compressão entre T11-T12, T12-T13 e L2-L3.d – Plano axial mostrando ponto hiperatenuante sugerindo lesão por mineralização de disco entre T13-L1 do lado direito. 76 Casos 23 e 26, cães das raças Golden Retriever e Pastor Suíço, ambos machos, com respectivamente 3 e 7 anos de idade apresentaram discoespondilite. O primeiro com acometimento do segmento lombossacro e o segundo com acometimento do segmento de T6-T7 e estenose lombossacra. Quatro animais apresentaram osteopatias: caso 24, cão da raça golden retriever com 7 anos de idade, fêmea, que sofreu acidente automobilístico e apresentou fratura do processo transverso de L1 sem deslocamento do fragmento, desta forma não atingindo a medula espinal, contudo, com dor intensa no local da lesão e histórico conhecido; os casos 27 e 31 que apresentaram neoplasias ósseas vertebrais; caso 27 , cão da raça pointer, macho, 9 anos de idade com proliferação de tecidos em torno de L6-L7 e o caso 31 de um animal SRD, macho, 8 anos de idade com neoplasia óssea em T2. Caso 25 animal da raça Maltês, macho, 2 anos de idade apresentou físes abertas de C2 a C6, displasia occipital e hidrocefalia moderada. A raça Dachshund foi a mais frequente dentre as raças avaliadas correspondendo ao total de 6/17 (35,29 %) dos animais, contudo, devido ao grande número de raças existentes na amostra não permitiu significância estatística quando analisado pelo método probabilístico de Fisher, p = 0,670. As raças com quadro de discopatia confirmado pela TC foram: Dachshund 6/12 (50 %) e Golden Retriver, Pastor Suiço, Poodle, Schnauzer, Basset Hound, Cocker Spaniel 1/12 (8,33 %) cada. Destas, as raças condrodistróficas totalizam 7 indíviduos das raças Dacshund e Basset Hound, as raças Pastor Suíço e Golden Retriever são propensas a processos degenerativos ou inflamatórios, neste caso, animais que apresentaram quadro de discoespondilite. O animal que apresentou quadro de discopatia com menor idade foi o caso 16, cão da raça Cocker Spaniel, com 3 anos de idade, e o animal mais velho foi o caso 29, Poodle com 10 anos de idade. Outras neuropatias primárias e secundárias como neoplasias ósseas e medulares, fraturas e malformação vertebral foram diagnosticadas e relacionadas no quadro 1 e sua ocorrência foi resumida por classes de peso e idade, respectivamente (Fig.11. e Fig.12.). 77 Figura 11 – Gráfico de demonstração do número de alterações compressivas da coluna vertebral em cães avaliados pela TC disposto conforme classe de peso (em quilogramas) Fonte: Arquivo pessoal Nota: Outras Neuropatias corresponde ao achado de neoplasias ósseas (2/5), neoplasia medular (1/5), fratura vertebral (1/5) e malformação vertenbral (1/5) Figura 12 – Gráfico de demonstração do número de alterações compressivas da coluna vertebral em cães avaliados pela TC disposto conforme classe de idade (em anos) Fonte: Arquivo pessoal Nota: Outras Neuropatias corresponde ao achado de neoplasias ósseas (2/5), neoplasia medular (1/5), fratura vertebral (1/5) e malformação vertenbral (1/5) 78 7. DISCUSSÃO Os casos 7, 9, 11 e 12, apresentaram neoplasias encefálicas primárias e o caso 2 apresentou sugestão de metástase encefálica de tumoração mamária ao exame tomográfico do crânio. Dois deles, casos 7 e 9, com características de Meningioma, sendo um indeterminado, podendo ter característica de Glioma. Nestes casos há necessidade de confirmação diagnóstica com biópsia post mortem (KRAFT et al., 1997). A disposição marginal, o grau de retenção de contraste iodado que reflete o padrão de fluxo sanguíneo no local pode sugerir a presença do Meningioma. O caso 9 apresentou um nódulo hipodenso, não captando contraste iodado e com dimensões de 6,6 mm X 17,9 mm, em formação provavelmente extra-axial, localizado em região frontoparietal esquerda, que pode corresponder a Meningioma. A disposição do Meningioma é quase sempre periférica, emergindo de uma área de meninge e se marginalizando ou, quase sempre, interiorizando e comprimindo massa encefálica (REF). O Meningioma é a forma de neoplasia primária mais frequente em cães (FUCHS et al., 2003). Por apresentar grande fluxo e volume sanguíneo capta bastante contraste o que facilita o diagnóstico pela TC (KISHIMOTO et al., 2008, MacLEOD et al., 2009). Dos animais que apresentaram neoplasias primárias em SNC houve lesão neoplásica encefálica em 3 machos e 2 fêmeas, não havendo correlação com o fator sexual, corroborando com a descrição de Bagley (2005) e Dewey (2008). Em geral, neoplasias primárias em SNC não sofrem influência direta da ação hormonal (SANTOS et al., 2012). Contudo, em neoplasias secundárias, casos de adenocarcinoma mamário (THUDI et al., 2011) e adenocarcinoma prostático (ATRASEVER et al., 1996; MATOS et al., 2012) pode haver influência do fator hormonal, por conseguinte sexual, no padrão de metástases em tecido nervoso. Em geral os animais que apresentaram neoplasias primárias ou metástases em SNC, casos 2,7, 9, 11 e 12, apresentaram idade superior a 5 anos e com média etária de 10,2±3,96 anos. Segundo Wessmann (2010) há relação da presença de doença neurológica e a faixa etária de um cão considerando haver aumento significativo na taxa de celularidade em LCR em algumas doenças no SNC, o que pode ser preditor de doença neurológica em casos de doenças infecciosas, neoplásicas e degenerativas. Cães com macrotumores em pituitária apresentaram idade média de 9,5 anos ao serem 79 diagnosticados por REM (DUESBERG et al., 1995). Schöniger e colaboradores (2013) avaliaram quatro cães de raças diferentes com diagnóstico por imagem de Meningioma e a idade destes animais variou entre 7 e 10 anos. Cães avaliados histologicamente e que tiveram diagnóstico de Meningioma tinham idade média de 11 anos (BAGLEY et al., 1999). Neste estudo os cães que apresentaram Meningioma foram da raça poodle com 12 e 14 anos, em concordância ao que se observa na literatura se tratando de animais idosos. Dois dos animais que apresentaram neoplasias em SNC foram da raça Poodle, sendo os demais das raças Fila Brasileiro, Schnauzer e SRD. O número de animais avaliados não permitiu inferir a predisposição racial para alguns dos tumores observados. Contudo, os dois animais que apresentaram diagnóstico de Meningioma eram da raça Poodle. As raças mais predispostas ao Meningioma são Pastor Alemão (PATNAIK et al., 1986) e o Golden Retriever (BAGLEY et al., 1999; GRECO et al., 2006), este último apresenta maior incidência. Em Salvador há uma predileção pela raça poodle que foi introduzida há algumas décadas e isto serve de viés de confundimento para a avaliação do seu papel, não podendo inferir se neoplasias primárias teriam relação direta com a raça, neste estudo. Os sinais clínicos presentes em casos de neoplasias em SNC foram os distúrbios de marcha e apoio tais quais ataxia, incoordenação, paresia e plegia e alterações do estado de consciência como convulsão. A compressão de massa encefálica pode desencadear os sinais clínicos neurológicos e a sua persistência pode ser um indício de alteração compressiva. Segundo Bagley e colaboradores (1999) a presença de tumores encefálicos em cães é mais comum a partir dos cinco anos de idade, a raça mais predisposta foi a Golden Retriever, o tumor mais incidente é o Meningioma e os sinais clínicos gerados são ataxia e inclinação da cabeça - head tilt. É preciso avaliar o surgimento, duração e permanência dos sinais clínicos gerados tais como ataxia, opistótono e déficitis motores (FOSTER et al., 1988; GRECO et al., 2006; SANTOS et al., 2012). Os sinais clínicos mais frequentes foram ataxia e convulsão, estes compreendem áreas específicas do encéfalo. A coordenação fina de movimentos é de função do cerebelo e a atividade motora voluntária é de função do lobo frontal (MACHADO, 2005). Nos casos estudados de neoplasias em SNC a localização variou entre lobos 80 frontal, parietal, temporal, occiptal e região centro mediana do tronco encefálico. Apenas no caso 10, animal com neoplasia óssea em região de occipital e parietais, com diagnóstico de osteocondrossarcoma projetando-se sobre o tentório cerebelar, não apresentou compressão que gerasse efeito de massa sobre a estrutura de vérmis e lóbulos cerebelares, desta maneira não gerando sinais clínicos. A compressão de lobos frontal e parietal, nos casos 2 e 9, gerou sinais de ataxia em ambos, e convulsão no segundo caso. Esta região promove a iniciação do movimento pretendido que, depois, será ajustado pelo cerebelo. Os sinais de ataxia podem estar relacionados a compressão de massa sobre feixes do trato corticotalamico que levam fibras ao cerebelo para informá-lo do movimento pretendido. Esta compressão em meningiomas, em geral, é centrípeta e em metástases na cápsula branca a compressão é centrífuga. O sinal clínico mais comum em neoplasmas encefálicos em cães é a convulsão (BAGLEY e GAVIN, 1998; BAGLEY et al., 1999; SNYDER et al., 2006). Segundo Santos e colaboradores (2012) os sinais mais frequentes em neoplasmas encefálicos caninos são alterações do nível de consciência, alterações comportamentais, crises convulsivas generalizadas, dificuldade de deglutição e SVC. Nos casos 7 e 12 houve compressão em região de tronco encefálico. O primeiro em região ventrolateral esquerda do calvário junto ao tronco encefálico em topografia de ponte e o segundo em região ventrolateral direita, próximo a hipófise. Em ponte emergem os pares de nervos cranianos III – Oculomotor, IV- Troclear (dorsal a ponte), VI – Abducente (GAROSI, 2004). Qualquer massa que se disponha no calvário e gere compressão de massa sobre a ponte, ventralmente, poderá causar sinais clínicos de alterações neurológicas. Apenas no caso 7 foi observado estrabismo ventrolateral no olho direito, que condiz com compressão de abducente responsável pela inervação do músculo reto lateral. Fato similiar foi observado por Santos e colaboradores (2012) quando a presença de neoplasmas em tronco encefálico na região de bulbo gerou compressão de nervos cranianos responsáveis pela deglutição sendo observado disfagia nos cães estudados. No caso 2, metástase tumoral em SNC, a paciente tinha sido castrada e mastectomizada unilateralmente após identificação de carcinoma mamário, apresentando metástase intracraniana posteriormente. Pode haver a ocorrência conjunta de tumores primários e secundários, as metástases tumorais de neoplasias mamárias em 81 cadelas que ainda não foram castradas são bastante comuns nestes casos (ALVES et al., 2006). Em cães adultos, machos, a forma mais comum de metástase intracraniana é a de câncer prostático, correspondendo a 25 % das formas de cânceres metastáticos em tecido nervoso (THUDI et al., 2011). Os casos 11 e 12 apresentaram processo expansivo, secundário, que não pode ter sua natureza neoplásica sugerida com a TC. A forma mais comum de tumores intracranianos secundários em cães é o Hemangiossarcoma, seguido dos tumores de pituitária (SNYDER et al., 2008). Contudo, para a confirmação diagnóstica seria necessário a análise histopatológica post mortem do tecido lesionado. O sítio lesional indica a possibilidade diagnóstica. Neste animal, o processo expansivo ocorreu em região cortical occiptoparietal esquerda no caso 11 e ventrolateral direita no calvário em continuidade com a hipófise. Os casos 10 e 13 apresentaram neoplasias faciais. Caso 10, fêmea, SRD e com 13 anos obteve diagnóstico de carcinoma espinocelular e o caso 13, Poodle, fêmea, 10 anos de idade apresentou diagnóstico histopatológico de osteocondrossarcoma multilobular. Os tumores orofaciais mais comuns em cães são o carcinoma de células escamosas (GALLEGOS et al., 2007), o carcinoma epidermóide, o adenocarcinoma e o condrosarcoma anaplásico (SMITH et al., 1989), sendo carcinoma de células escamosas o mais frequente, altamente invasivo e pode ser efetivamente tratado com cirurgia e uma combinação de quimioterapia e radioterapia (MADEWELL et al., 1979; MESTRINHO et al., 2012). Contudo, outros tipos podem ocorrer no cão como o Melanoma Maligno, o Fibrossarcoma, Osteossarcoma e o Epulis Acantomatoso (BERG, 1998). Estes animais não apresentaram sinais clínicos de doença neurológica, porém, foram avaliados para extensão da lesão por continuidade com a calota craniana. Assim, foram observadas lesão de osteólise ou remodelação óssea que permitiram a invasão da neoplasia em relação a calota tendo continuidade com estruturas próximas ao encéfalo e cerebelo, como a foice cerebral e o tentório cerebelar. Deve-se sempre considerar a possibilidade destas lesões neoplásicas em cavidade nasal e seios paranasais gerarem sinais clínicos neurológicos pela proximidade com estruturas como lâmina cribriforme e assoalho do calvário (MADEWELL, 1976; SMITH et al., 1989). Os casos 4, 5, 6 e 14 apresentaram alterações ventriculares. Neste estudo os animais mais jovens eram da raça Pinscher, casos 4 e 5, e em dois animais idosos das 82 raças Poodle e Yorkshire Terrier, casos 6 e 14 respectivamente. Algumas desordens podem estar associadas a fatores genéticos podendo haver malformação congênita de estruturas ósseas a exemplo da manutenção de fontanelas abertas, como achado frequente em 3/4 (75 %) dos animais estudados. Frequentemente observa-se em ninhadas de algumas raças puras a presença de algum indivíduo portador de má formação. Malformações são comuns em cães quando filhotes, podendo ser diagnosticados com exames de imagem (TIDWELL et al., 2011). Em filhotes de algumas raças de porte pequeno, o quadro de hidrocefalia é mais comum. A hidrocefalia pode ser congênita ou adquirida. Na Medicina Veterinária a forma congênita é mais comum, sendo as raças mais predispostas: Maltês, Yorkshire, Bulldog Inglês, Chihuahua, Lhasa Apso, Lulu da Pomerania, Poodle Toy, Boston Terrier e Pug (CURTI, 2008). No entanto, frequentemente é visto no atendimento da clínica veterinária a ocorrência de casos em animais da raça Pinscher, como observado em nosso estudo nos casos 4 e 5. Nestes, o sinais clínicos mais presentes foram a incoordenação, agitação e convulsão. A compressão da massa encefálica contra a calota craniana gera um aumento da PIC. Valores de PIC, mesmo aumentados, podem também não gerar sinais clínicos evidentes (YANG et al. 2010). Nos casos 6 e 14, respectivamente, Poodle e Yorkshire Terrier, com 12 e 16 anos de idade, apresentaram alterações ventriculares: Panventriculomegalia e Hidrocefalia tetraventricular. O quadro de Panventriculomegalia é bastante incomum e pode se assemelhar ao quadro de hidrocefalia, quando se trata de meios de drenagem do LCR ineficientes. O caso 6 apresentou aumento moderado das dimensões dos ventrículos laterais e aqueduto mesencefálico. Este aumento não pode ser atribuído ao período inicial da vida do animal, contudo, a imagem sugere que o quadro seja recente e que há discreta involução da massa encefálica consistente com senilidade. O quadro de Panventriculomegalia pode estar associado ao aumento da pressão intracraniana ou a processo obstrutivo em medula cervical ocorrente neste animal. Os sinais clínicos apresentados condizem com o aumento ventricular. Muitos são os mecanismos pelos quais o aumento da PIC pode ocorrer. Quadros infeccioso, inflamatório e cistos do plexo corióide podem gerar um acréscimo da produção do LCR ocasionando o aumento do volume de ventrículos e aqueduto (THOMAS, 2010). A hidrocefalia pode estar associada ao aparecimento de espinha 83 bífida (VIANNA, 2000). Neste estudo, os casos 14 e 25, apresentaram compressão medular com possível aumento de pressão ascendente ocasionando o quadro de hidrocefalia. Malformações, trauma e alterações neoplásicas em medula espinal cervical podem ser determinantes para o surgimento de hidrocefalia secundária. A dilatação de ventrículos laterais é um achado comum e caracteriza o quadro de Hidrocefalia. A razão para o aumento da produção, retenção ou não drenagem do LCR é variada. Em modelos experimentais é possível induzir o quadro de hidrocefalia não comunicante a fim de compreender o mecanismo de absorção transventricular do LCR utilizando técnicas de imagem como a Ressonância Eletromagnética (REM) (DEONARINE et al., 1994). Diversos são os mecanismos que podem levar a este quadro aumentando assim, a pressão intracraniana (PIC). A obstrução do aqueduto mesencefálico pode gerar uma drenagem ineficiente do LCR elevando a pressão nos ventriculos cerebrais (LINNINGER et al., 2009). A retenção do LCR pode provocar o aumento dos ventrículos cerebrais (YANG et al., 2010). Contudo, alguns cães podem apresentar aumento ventricular e serem assintomáticos (VERNAU et al., 1997). Estudos em cães com REM contrastada, administrado na fossa cerebelo-medular mostraram dilatação ventricular e não manifestaram quaisquer alterações neurológicas (VULLO et al., 1997). Humanos e animais podem se mostrar assintomáticos com certo nível de compressão encefálica, contudo, há de se estabelecer este grau e a pressão liquórica exercida (BAAN et al., 1984). Há casos em que a dilatação ventricular pode estar associada a processos infecciosos intercorrentes. Nos animais avaliados não se apresentou quadro de doença infecciosa que pudesse ser sugerido pelos exames realizados, conforme observado nos exames complementares de rotina (Anexo E). A reação inflamatória acerca da área lesionada pode causar a obstrução temporária ou definitiva do sistema de drenagem liquórica como em cães com o morbílivurs canino, aqueles em curso crônico da cinomose, podem apresentar desde degeneração do tecido nervoso, meningite e encefalite (SUMMERS e APPEL, 1994, GRIOT et al., 2003) a, também, desmielinização axonal e esclerose múltipla (SIPS et al., 2007). O caso 1, Boxer, fêmea, 7 anos de idade apresentou quadro de Síndrome Vestibular (SV), com acometimento de estruturas da bula timpânica correspondentes ao ouvido interno levando ao quadro de deambulação e inclinação da cabeça para o lado 84 direito, correspondente ao ouvido mais afetado. Desordens vestibulares são comuns na Medicina Veterinária de cães e gatos, sendo importante a avaliação clínica diagnóstica buscando evidenciar o agente etiológico, o sítio de lesão e a interpretação dos sinais clínicos apresentados com finalidade de determinar que se trate de uma SVC ou de uma SVP, sendo que a central tem um prognóstico ruim quando comparada a periférica (KENT et al., 2010). Os sinais clínicos mais frequentemente observados consistem em nistagmo oscilatório, balançar da cabeça, andar em círculos, cair e rolar para o lado da lesão (KENT et al., 2010; THOMAS, 2010). Os sinais observados no caso 1 condizem com os relatos da literatura, tendo apresentado nistagmo, ataxia e inclinação da cabeça. Em geral, as alterações medulares observadas foram de natureza compressiva secundária a presença de material discal que sofreu extrusão ou protrusão causando pressão sobre a medula espinal. As alterações neurológicas secundárias estão relacionadas à compressão gerada por traumas e por degeneração de disco, protrusão ou extrusão, inserida dentre as doenças do disco intervertebral podendo causar algum grau de mielopatia extradural (COATES, 2000) ou ainda, a presença de material hemorrágico que comprime radículas no forame intervertebral (TARTARELLI et al., 2009). Há alterações patológicas de natureza primária que também geram alterações neurológicas com apresentação focal a multifocal, tais como neoplasias (SNYDER et al., 2006), abscessos e meningites (KANG et al., 2010). Um completo exame neurológico é importante para avaliar herniações cervicais e toracolombares em cães, contudo, somente o exame clínico não revela a natureza da lesão, podendo apenas categorizá-la (BERG, 1989). É necessário avaliar o segmento afetado com a utilização de algum exame de imagem para determinar o sítio lesional, e exames laboratoriais para avaliar a possibilidade de doenças infecciosas ou inflamatórias, tais quais sorologias para Toxoplasmose, Neosporose, Erliquiose (MARETZKI et al., 2004), Leishmaniose e Brucelose (MARZETTI et al., 2013) Algumas alterações em LCR podem indicar a presença de agente infeccioso, a alta taxa de proteínas, celularidade e fragmentos de antígenos como elementos que não estão normalmente em sua composição (GREVEL, 1991; Di TERLIZE, 2006). As alterações de natureza secundária observadas nos animais avaliados, possivelmente, guardaram correlação com o fator racial para a ocorrência de discopatias em cães. Neste estudo seis dos doze animais acometidos por discopatia foram da raça 85 Dachshund, cinco machos e uma fêmea, e um animal da raça Basset Hound, macho. O perfil corporal alongado parece ter relação com o desvio do centro gravitacional quando comparado às demais raças de perfil corporal quadrado, assim, o deslocamento do centro de gravidade pode ocasionar sobrecarga sobre o sistema ligamentar da coluna do animal levando a uma maior tensão do ligamento longintudinal vertebral e seus componentes, o que predispõe ao deslocamento do disco intervertebral para fora do seu eixo (SANCES et al., 1984; BERGKNUT et al., 2013). Há correlação entre peso corporal, escore corporal e a longa distância entre T1-S1 que podem estar associados às discopatias por extrusão ou protrusão discal e promovem severas alterações neurológicas (LEVINE et al., 2006). O disco intervertebral desempenha um papel importante na estabilidade e flexibilidade da coluna. O estudo de suas propriedades biomecânicas e a reação da coluna à cargas compressivas, permitem compreender as forças que agem sobre o componente vertebral e suas implicações patológicas pelo desgaste ou sobrecarga de componentes (BRAY e BURBIDGE, 1998). Neste estudo o segmento de coluna mais acometido por discopatia foi o segmento toracolonmbar, T3-L3 correspondendo ao total de 33/50 (66 %) e de 19/27 (70,37 %) para raças Teckel. Cães da raça Dachshund com sinais clínicos de doença no disco intervertebral apresentaram alterações no segmento T12-T13 sendo este o mais acometido 6/16 animais (37,5 %) (NAUDÉ et al., 2008). Nos casos 18 e 22 foram verificados 2/6 animais (33,3 %) para o mesmo segmento de coluna, nesta raça. Para as demais raças a evidência de discopatia foi pontual, não gerando inferência estatística significativa. Nos casos 15 a 22 e 28 houve a presença de mielopatia extradural por mineralização de material discal, correspondendo a 9/12 casos observados (75 %). Na maioria dos casos de discopatias, há ocorrência de mineralização do disco intervertebral (JENSEN et al., 2001), fator este comumente associado a herdabilidade genética em raças como Dachshund com idade entre 24 e 30 meses (JENSEN e ARNBJERG, 2001). Quando agrupados segundo predisposição racial, as raças condrodistróficas que se apresentaram neste estudo foram a Daschund 6/12 (50 %) e Basset Hound 1/12 (8,33 %). Nestes animais a menor idade observada foi de 5 anos, casos 16, 18 e 21. Contudo, há outros tipos de degeneração que podem acometer o DIV em cães, assim, as raças de 86 maior porte apresentam propensão a degeneração do tipo fibroide, em lugar da degeneração condroide típica dos Teckel. As alterações em disco intervertebral podem ser caracterizadas ainda pelo deslocamento de posição do material discal, sendo caracterizados como doença Tipo Hansen I a extrusão, e tipo Hansen II, protrusão (HETTLIH et al., 2011; SCHMIED et al., 2011). Com este processo houve extravasamento de material discal em diferentes posições mostradas pela TC: ventrolateral, dorsoventral e centro mediano. Nas alterações tipo Hansen I e II a localização varia entre ventral, ventrolateral ou lateralmente (SCHMIED et al., 2011). Conforme quadro 3 e figuras 7 e 8, os sítios de localização de lesões medulares de maior ocorrência foram ventrolateral esquerdo 4/11 (36,36 %), ventrolateral direito 3/11 (27,27 %), dorsolateral esquerdo 2/11 (18,18 %), dorsoventral e lateral direito 1/11 (9,09 %) e centro mediano 2/11 (18,18 %). A relação entre grau de doença do disco intervertebral e a presença de sinais clínicos nem sempre é direta. Em muitos casos há mais de um ponto de mineralização e nem todos geram compressão medular ou de radículas, sendo que alguns segmentos são afetados de forma a produzir sinais neurológicos que determinem a severidade do quadro (RYAN et al., 2008; PENNING et al., 2006). Neste estudo houve apenas 7/50 (14 %) pontos de compressão com graduação estabelecida entre moderado a importante e 29/50 (58 %) sem compressão medular. Desta forma a TC evidenciou outros pontos onde não havia sugestão clínica de alteração medular. A mineralização discal esteve presente em todos os segmentos avaliados. Através do estudo da prevalência radiográfica de mineralização discal em 95 cães da raça Dachshund foi possível estabelecer que a calcificação do disco talvez seja um fator de risco para o desenvolvimento de extrusão discal (ROHDIN et al., 2010). A avaliação da conformação tridimensional e as forças biomecânicas que agem sobre o corpo do cão fornecem mecanismos para compreensão do processo de degeneração e, consequente mineralização do disco intervertebral (BENNINGER et al., 2006). Em nossos estudos o quadro de discopatia foi mais presente em cães de pequeno porte com peso inferior a 15 kg compreendendo a 9/12 (75 %) e apenas 1/12 (8,33 %) para cães de grande porte com mais de 26,4 kg. Em conformidade com Shmied e colaboradores (2011) que, ao avaliar cães com doença discal tipo Hansen I e II, 87 encontraram maior ocorrência de lesões em raças de pequeno porte com menos de 15 kg e em raças de grande porte com mais de 26 kg, respectivamente. Foram observados dois casos de discoespondilite torácica e lombossacara no presente estudo. A discoespondilite é uma condição inflamatório-infecciosa bastante comum em cães jovens e adultos (MacFARLANE, 2011). Embora muitas sejam idiopáticas, a maioria é causada por infecções bacterianas, fúngicas e por parasitas (TIPOLD e STEIN 2010). A brucelose é uma zoonose importante e deve ser considerada para o diagnóstico diferencial de alterações neurológicas que cursam com discoespondilite (SHIMSHONY, 1997; KYEBAMBE, 2005; MARZETTI et al., 2013). A discoespondilite pode levar à compressão de radículas nervosas, ocasionando sinais clínicos neurológicos de neuropatia periférica evidenciado em alguns casos. Contudo, nenhum dos animais avaliados foi testado sorologicamente para agentes infecciosos que justificassem o quadro de discoespondilite apresentado. Animais racialmente puros são mais afetados em comparação a animais mestiços, sendo aqueles de grande porte e machos os que apresentam o quadro com maior frequência (THOMAS, 2000). A relação entre machos e fêmeas chega a ser de 2:1 (BURKERT, 2005). No presente trabalho, em consonância ao observado por esses autores, os animais que apresentaram discoespondilite foram cães machos de grande porte, adultos, das raças Golden Retriever e Pastor Suíço. Neste trabalho foram encontrados outras patologias medulares além das discopatias, estas estão dispostas no quadro 2 e são: dois casos de neoplasia óssea vertebral, casos 27 e 31; o caso 25 da raça maltês com malformação em vértebras cervicais e o caso 29 de neoplasia medular. Nos casos 27 e 31 foram verificadas, respectivamente, neoplasias ósseas em T2 em cão da raça pointer e proliferação de tecidos moles e osteólise em torno de L6 e L7 em cão SRD. Esta formação tecidual e processo reabsortivo geram remodelação da estrutura normal do corpo da vértebra, tornando-o aumentado e comprimindo radículas de nervos nos forames intervertebrais e gerando compressão medular determinando os sinais clínicos de dor e déficites motores. As neoplasias em SNC podem comprimir segmento medular como é o caso dos neuromas (PARK et al., 2012) ou mesmo ter a natureza intratecidual, gerando além de compressão a perda de função neuronal (JULL et al., 2011). Alterações da estrutura óssea e das cartilagens articulares podem levar a compressão por alterações secundárias, 88 a exemplo do Condroma (RÓDENAS et al., 2008) e Osteocondromatose (CAPORN e READ, 1996) e a depender do segmento acometido pode gerar diferentes sinais clínicos (CAPORN e READ, 2008; WOO et al., 2008; STIGEN et al., 2011). A proliferação de tecidos moles em torno do corpo da vértebra pode estar relacionado a neoplasia ou a presença de cistos em meninges que promovem osteólise e remodelação óssea, como cistos aracnóideos que promoveram compressão medular com apresentação de sinais clínicos neurológicos (RYLANDER et al., 2002; SKEEN et al., 2003) podendo ser diagnosticado através de exames de imagem como Mielografia (FRYKMAN, 1999) e TC VERNAU et al., 1997). Também podem se apresentar pseudocistos (JURINA e GREVEL, 2004) e alterações vasculares como angiolipomas (REIF et al., 1998) gerando os mesmos sinais pela natureza expansiva e compressiva. O caso 25 apresentou malformação de vértebras cervicais com aberturas de físes distais e hidrocefalia possivelmente secundária a compressão medular cervical cranial. Diversos tipos de malformações podem acometer a coluna cervical do cão, displasia atlantoccipital, constricção dorsal de C1/C2 e instabilidade atlantoaxial (MARINO et al., 2012; DEWEY et al., 2013). Alterações congênitas cervicais são frequentes em raças de pequeno porte (CERDA-GONZALEZ e DEWEY, 2010). Os sinais clínicos mais presentes são de lesão de NMS com ataxia e alguns animais podem se apresentar assintomáticos (CERDA-GONZALEZ et al., 2009; CERDA-GONZALEZ e DEWEY, 2010). Quando comprime medula, obstruindo o fluxo de LCR pode ocasionar o aumento da pressão ascendente no canal vertebral determinando quadros de hidrocefalia secundária. O caso 29, neoplasia medular, o animal apresentou sinais clínicos de compressão de NMS. Estes sinais podem gerar alterações como atrofia muscular por desuso e hiporreflexia nos membros abaixo do segmento afetado (VIANNA, 2000). A natureza compressiva da neoplasia medular gera compressão dos fascículos de NMS que seguem pela massa de substância branca da medula levando a sinais distintos conforme região que esta massa comprime distintamente (SANTOS et al., 2012). A confirmação histopatológica da natureza da lesão é possível com o exame post mortem, observando a compressão de fibras axonais dos fascículos através da análise de morfometria das fibras (PARK et al., 2012). 89 O caso 24 apresentou fratura óssea de processo transverso de L1 por acidente automobilístico. Fraturas ósseas consistem também em importantes causas de lesão compressiva em SNC (FRIEDENBERG et al., 2012). Em alguns casos, as projeções ósseas podem ser lancetantes e gerar hemorragia como meio compressivo secundário a este processo (SANDE e WEST, 2010). Os acidentes automobilísticos estão entre as causas mais comuns de fraturas (LOPES et al., 1990; UMPHLET e JOHNSON, 1990). Como a natureza é incidental, não há fatores predisponentes. Neste trabalho o animal que apresentou fratura óssea em coluna vertebral foi um cão, macho, adulto, da raça Golden Retriever. A radiografia convencional pode não revelar desalinhamentos e fraturas incompletas a partir da escolha incorreta de incidências ou da não realização de todas estas necessárias para avaliar o trauma corretamente e, ainda, pela sobreposição de estruturas observadas com o uso da radiografia convencional. Isto pôde ser comprovado em estudo de avaliação de incidências radiográficas e imagens por TC com finalidade de estabelecer um comparativo diagnóstico para traumas em cães e gatos. Bar-Am e colaboradores (2008) afirmaram que a TC é superior em relação à radiografia convencional na identificação de fraturas ósseas revelando desalinhamentos e disjunções ósseas com bastante eficácia, podendo remontar a estrutura óssea acometida e gerando uma imagem tridimensional da lesão, revelando um importante dado para compreensão de alterações neurológicas que poderão surgir com o progresso das alterações secundárias tais quais hemorragias e edema. 90 8. CONCLUSÕES A raça canina mais frequentemente afetada por encefalopatias neste estudo foi a Poodle; Os sinais clínicos neurológicos mais frequentes em animais afetados por encefalopatias foram déficitis motores, de apoio e convulsão; Neoplasias encefálicas foram observadas em cães idosos com média de 10 anos de idade; O quadro de Hidrocefalia esteve presente tanto em animais muito jovens da raça Pinscher como em animais idosos de outras raças; A Hidrocefalia ocorreu em cães de pequeno porte com até 4,5 kg; A maioria das encefalopatias foi diagnosticada em raças de pequeno e médio porte com até 13,5 kg de peso vivo; A TC teve um importante papel na avaliação das doenças compressivas encefálicas: o Foi decisiva para o diagnóstico definitivo em 50 % dos casos onde o diagnóstico presuntivo e sinais clínicos e anamnese eram indicadores preditivos das lesões: hidrocefalia em filhotes, trauma craniano, tumores ósseos com possível invasão de neurocrânio e SVC; o Foi decisiva em 50 %, dos casos onde o diagnóstico clínico presuntivo não sugeria a natureza da lesão, que corresponde aos casos de: neoplasias primárias, metástases tumorais e hidrocefalia em cães adultos; o Foi importante na determinação do grau de retração do parênquima encefálico por senilidade e no estabelecimento do comprometimento de áreas circunvizinhas onde houve edema vasogênico; o Permitiu estabelecer um diagnóstico mais preciso, o prognóstico de lesões encefálicas e sítios de localização destas lesões distribuídas em regiões corticais e tronco encefálico. 91 Os cães da raça Dachshund foram os mais acometidos por Discopatias; O segmento medular mais acometido por Discopatias foi o toracolombar; Os sinais clínicos de alteração de marcha, dor e ausência de panículo foram correspondentes aos sítios de lesão medular; A utilização da TC no diagnóstico em coluna vertebral permitiu identificar: o Vários pontos de DDIV em que houve mineralização de disco sem compressão medular que não foram sugeridos durante exame clínico neurológico; o Pontos de DDIV, em graus leve, moderado e importante, em que houve compressão medular e que foram sugeridos ao exame clínico neurológico; o O posicionamento exato dos sítios lesionais em coluna vertebral, em imagens de cortes axiais, do material discal que se projetou em cada segmento da medula espinal; o Diagnosticar outras doenças compressivas medulares que não tinha sua natureza sugerida: neoplasia medular e malformação vertebral. 92 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados obtidos neste trabalho podemos considerar que: A raça mais frequente no estudo de alterações encefálicas foi a Poodle não podendo atribuir diretamente os achados patológicos ao fator racial, pois há um viés de confusão que remonta a predileção regional por esta raça; As alterações crânio-encefálicas observadas não guardaram correlação estatística com sexo, peso ou raça nos animais neste estudo, porém não se pode afirmar a falta de correlação em função do baixo número amostral deste trabalho; A ausência de uma avaliação histológica dos tecidos afetados inviabilizou a confirmação diagnóstica das alterações neoplásicas encefálicas onde houve sugestão de meningioma ou glioma pela TC; A raça Dachshund foi a mais frequente no estudo de alterações compressivas em coluna de cães domésticos, fato consolidado em literatura referência que sinaliza esta raça como a mais propensa as discopatias; Não houve correlação estatística entre alterações de coluna ou medular com sexo, idade, peso ou raça nos animais neste estudo; mas, mais uma vez não se pode afirmar a falta de correlação em função do baixo número amostral deste trabalho; As lesões encontradas no exame de TC em SNC justificaram os sinais clínicos observados nos animais deste estudo, contudo, havia outros pontos de alterações que não geraram sinais clínicos neurológicas e que foram diagnosticados pela TC; A TC é um importante meio de diagnóstico de imagem, determinando lesões neurológicas com precisão e fornecendo subsídios ao clínico e cirurgião na tomada de medidas terapêuticas. 93 9. 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Mar;68(3):131-7, 2005. 130 ANEXO A 131 ANEXO B - Tomógrafo Asteion Super 4 – Toshiba Fonte: Arquivo Pessoal 132 Especificações técnicas do modelo Asteion Super 4 Toshiba O Asteion Super 4 é extremamente flexível e possibilita várias configurações conforme a necessidade. Voltado para clínicas e hospitais de médio porte, o equipamento oferece todas as vantagens da tecnologia multi-slice com menor investimento. O Asteion Super 4 trabalha com a mesma tecnologia de aquisição de imagem do Aquilion 64, mas voltado às aplicações radiológicas diversas. Realiza rápidas aquisições de rotina que aumentam a eficiência de exames. O rápido tempo de aquisição aliado a um potente tubo de raiosX, de ânodo totalmente metálico que melhoram a eficiência de resfriamento, proporciona excelente resultados em estudos contrastados como na angioCT. Grandes vantagens são conseguidas com menor tempo de aquisição como, por exemplo, aumento da área estudada. Um benefício direto é a diminuição de intervalos necessários para respiração, possibilitando estudos completos de tórax em apenas uma apnéia. Aespessura de 0,5mm de corte é a menor disponível no mercado, possibilitando uma melhor auxiliação do órgão em análise. Complementa-se a isso o tamanho da abertura do equipamento no gantry, 72 cm, que proporciona mais conforto e maior variação de angulação da máquina. O Asteion Super 4 conta com a aquisição isotrópica, ou seja, a partir dos vários cortes feitos em cada área, o próprio equipamento junta as informações numa imagem 3D, garantindo a mesma resolução do corte e facilitando a avaliação do médico veterinário. Ampla gama de espessuras de cortes, algoritmos de reconstrução precisos e alta tecnologia na aquisição e transmissão de dados, permitem obter imagens de altíssima resolução longitudinal. Esta distinção contribui para a alta qualidade das imagens 3D. Devido à eficiência de um software especial (Anquillion one), as imagens adquiridas em 0,75 segundo podem ser reconstruídas de um volume de dados, proporcionando imagens com alta nitidez, mesmo nas partes dos pulmões próximas ao coração, reduzindo os artefatos de movimento. Fonte: http://toshibamedical.com.br/?pg=asteion-super 133 ANEXO C O Iopamidol é uma molécula de baixa osmolaridade, agente de contraste iodado não-iônico, desenvolvido pela Bracco. Ele está disponível em várias concentrações, 200-370 MGI / mL. É utilizado principalmente no seguinte em angiografias por todo o sistema cardiovascular, incluindo arteriografia cerebral e periférica, arteriografia coronária e ventriculografia, angiografia pediátrica, arteriografia visceral seletiva e aortografia, flebografia periférica (flebografia) em urografia excretora intravenosa e realce de contraste intravenoso para tomografia computadorizada cabeça e imagem corporal. Molécula de Iopamidol Fonte: Bracco Diagnostic Inc. (April 2004). "Iopamidol (Isovue) prescribing information (revised April 2004)". DailyMed. U.S. National Library of Medicine. Acessado em 15/10/2013. 134 ANEXO D ANÁLISE ESTATÍSTICA Avaliação da correlação entre os fatores peso e idade X Alterações ventriculares. Tabela 1 – Frequência de alterações ventriculares em encéfalo de cães organizados por classe de peso Ventriculopatia Classe de peso Presença de ventriculopatia Ausência de ventriculopatia Total 0,27- 13,5 4 6 10 13,6- 26,8 0 2 2 26,9- 40 0 2 2 Total 4 10 14 Tabela 2 – Análise estatística das alterações ventriculares em encéfalo de cães correlacionando a classe de peso mediante teste qui-quadrado Value df Asymp. Sig. (2-sided) Pearson Chi-Square 2,240a 2 0,326 Likelihood Ratio 3,291 2 0,193 Linear-by-Linear Association 1,800 1 0,180 N of Valid Cases 14 135 Tabela 3 – Frequência de alterações ventriculares em encéfalo de cães organizados por classe de idade Ventriculopatia Classe de Idade Presença de ventriculopatia Ausência de ventriculopatia Total 0,17- 4,8 2 1 3 4,9- 9,5 0 4 4 9,6- 14,2 2 5 7 4 10 14 Total Tabela 4 – Análise estatística das alterações ventriculares em encéfalo de cães correlacionando a classe de idade mediante teste qui-quadrado Value DF Asymp. Sig. (2-sided) Pearson Chi-Square 3,733a 2 0,155 Likelihood Ratio 4,557 2 0,102 Linear-by-Linear Association 0,671 1 0,413 N of Valid Cases 14 136 Avaliação da correlação entre fatores peso, idade e sexo X Discopatias. Tabela 5 – Frequência de discopatias em medula espinal de cães organizados por classe de peso Discopatia Classe de peso Presença de discopatia Ausência de discopatia Total 3,8- 13,9 9 3 12 14,0- 24,1 2 0 2 24,2- 34,3 1 2 3 12 5 17 Total Tabela 6 – Análise estatística da relação discoaptia em medula epsinal de cães e correlacionando a classe de peso mediante teste qui-quadrado Value DF Asymp. Sig. (2-sided) Pearson Chi-Square 2,951a 2 0,229 Likelihood Ratio 3,282 2 0,194 Linear-by-Linear Association 1,202 1 0,273 N of Valid Cases 17 Tabela 7 – Frequência de discopatias em medula espinal de cães organizados por classe de peso Discopatia Classe de idade Presença de discopatia Ausência de discopatia Total Total 2,0- 4,6 2 1 3 4,7- 7,3 7 1 8 7,4- 10 3 3 6 12 5 17 137 Tabela 8 – Análise estatística da relação discoaptia em medula epsinal de cães e correlacionando a classe de idade mediante teste qui-quadrado Value DF Asymp. Sig. (2-sided) Pearson Chi-Square 2,349a 2 0,309 Likelihood Ratio 2,432 2 0,296 Linear-by-Linear Association 0,669 1 0,414 N of Valid Cases 17 a. 5 cells (83,3%) have expected count less than 5. The minimum expected count is ,88. Tabela 9 – Frequência de discopatias em medula espinal de cães organizados por sexo Discopatia Sexo Presença de discopatia Ausência de discopatia Total Macho 9 4 13 Fêmea 3 1 4 12 5 17 Total Tabela 10 – Análise estatística da relação discoaptia em medula epsinal de cães e correlacionando ao sexo mediante teste Qui-quadrado e probabilidade exata de Fisher Value DF Asymp. Sig. (2-sided) Exact Sig. (2-sided) Exact Sig. (1-sided) Pearson Chi-Square 0,049a 1 0,825 Continuity Correctionb 0,000 1 1,000 Likelihood Ratio 0,050 1 0,823 Fisher's Exact Test 1,000 Linear-by-Linear Association 0,046 1 N of Valid Cases 0,830 17 a. 3 cells (75,0%) have expected count less than 5. The minimum expected count is 1,18. b. Computed only for a 2x2 table 0,670 138 Tabela 11 – Calculo do Valor Preditivo Positivo (VPP) e Valor Preditivo Negativo (VPN) para os casos de compressão de medula espinal considerando o diagnóstico presuntivo de discopatia como evento compressivo Diagnóstico Clínico para Discopatia Resultado positivo Resultado negativo Total Positivo 12 0 12 Negativo 4 1 5 Total 16 1 17 Resultado da TC VPP = 100 % e VPN = 80 % Tabela 12 – Cálculo do Valor Preditivo Positivo (VPP) e Valor Preditivo Negativo (VPN) para os casos de alterações encefálicas considerando o diagnóstico presuntivo de desordens compressivas Diagnóstico Clínico de compressão encefálica Resultado positivo Resultado negativo Total Positivo 13 0 13 Negativo 0 1 1 Total 13 1 14 Resultado da TC VPP = 100 % e VPN = 0 % 139 ANEXO E – Animais do quadro 2 – Alterações Encefálicas ERITROGRAMA Casos ERITRÓCITOS milhões/mm3 HEMOGLOBINA (g/dl) HEMATÓCRITO (%) VCM (u3) HCM (pg) CHCM (g/dl) ERITROBLASTOS 1 5,8 12,8 42 60,54 22,34 33,45 0 2 6,6 13,81 44 66,67 20,92 31,39 0 3 5,3 14,1 38 71,7 26,6 37,11 0 4 6 14,5 43 65,45 20,65 30,78 0 5 5,7 13,8 42 63,4 20,2 30,3 0 6 5,9 14,5 43 64,66 20,8 30,93 0 7 5,7 14,3 45 62,7 19,8 29,9 0 8 5,4 13,9 39 63,46 21,32 31,6 0 9 4,6 10,76 32 69,67 23,39 33,62 0 10 6,7 15,4 46 60,1 20,13 30,16 0 11 5,2 14,1 38 70,75 26,4 36,82 0 12 6,6 15,2 51 61,23 21,3 31,6 0 13 5,8 13,5 44 65,34 20,63 30,1 0 14 6,1 14,3 43 70,49 23,44 32,26 0 140 PADRÕES 5,5 - 8,5 12 a 18 37 a 55 % 60 a 77 % 19,5 a 24,5 30 a 36 0 Animais do quadro 3 – Alterações Medulares ERITROGRAMA Casos ERITRÓCITOS milhões/mm3 HEMOGLOBINA (g/dl) HEMATÓCRITO (%) VCM (u3) HCM (pg) CHCM (g/dl) ERITROBLASTOS 15 6,7 15,6 44 60,43 21,1 31,23 0 16 5,6 14,6 52 66,7 23,4 33,45 0 17 7,2 17,8 36 62,6 21,7 31,13 0 18 7,3 17,6 39 64,1 22,1 32,25 0 19 6,3 16,5 53 67,84 23,43 33,64 0 20 5,6 15,8 42 65,4 22,32 33,26 0 21 5,9 14,5 36 63,21 21,56 31,32 0 22 6,3 16,7 39 66,72 23,54 32,46 0 23 6,8 17,4 41 65,34 22,34 31,3 0 24 5,4 16,7 39 65,7 22,12 31,6 0 25 5,6 15,6 46 61,36 20,35 29,47 0 141 26 7,8 17,5 42 65,78 22,36 32,34 0 27 - - - - - - - 28 5,9 16,5 43 71,5 24,3 34,5 0 29 6,7 15,8 45 69,67 23,5 33,64 0 30 7,2 16,6 50 69,44 23,06 32,2 0 31 - - - - - - - PADRÕES 5,5 - 8,5 12 a 18 37 a 55 % 60 a 77 % 19,5 a 24,5 30 a 36 0 142 Animais do quadro 2 – Alterações Encefálicas LEUCOGRAMA LEUCÓCITO Casos S (mil/mm3) MIELÓCTI TOS (/mm3) METAMIELÓ CITOS (mm3) BASTONE TES (/mm3) SEGMENTA DOS (/mm3) EOSINÓFI LOS (/mm3) BASÓFIL OS (/mm3) LINFÓCITOS TÍPICOS (/mm3) LINFÓCITOS ATÍPICOS (/mm3) MONÓCIT OS (/mm3) OUTOS (/mm3) PLAQUETA S (mil/mm3) 1 7,8 0 0 134 5460 234 0 34 0 124 0 226,5 2 8,2 0 0 242 6150 328 0 1558 0 164 0 336,1 3 11,2 0 0 224 10080 224 0 672 0 0 0 124 4 6,6 0 0 198 4488 144 0 234 0 432 0 324 5 7,8 0 0 156 5148 78 0 203 0 345 0 456,3 6 11,4 0 0 114 7980 342 0 98 0 0 0 346,7 7 8,5 0 0 170 5780 425 0 324 0 0 0 432,4 8 8,4 0 0 252 5544 164 0 890 0 135 0 237 9 20,7 0 0 207 18216 621 0 1035 0 253 0 416,9 10 7,8 0 0 78 5304 234 0 340 0 0 0 451,3 11 8,3 0 0 176 5727 249 0 346 0 256 0 348,2 12 6,6 0 0 198 4686 396 0 643 0 0 0 258,4 13 9,6 0 0 192 6336 192 0 450 0 0 0 300,8 14 PAD RÕE S 6,4 0 0 81 6723 81 0 891 0 324 0 381,2 6 a 17 0% 0% 0a3% 66 a 77 % 2 a 10 % 0a1% 0% 10 a 30 % 0% 3 a 10 % 200 a 500 143 Animais do quadro 3 – Alterações Medulares LEUCOGRAMA LEUCÓCITO Casos S (mil/mm3) MIELÓCTI TOS (/mm3) METAMIELÓ CITOS (mm3) BASTONE TES (/mm3) SEGMENTA DOS (/mm3) EOSINÓFI LOS (/mm3) BASÓFIL OS (/mm3) LINFÓCITOS TÍPICOS (/mm3) LINFÓCITOS ATÍPICOS (/mm3) MONÓCIT OS (/mm3) OUTOS (/mm3) PLAQUETA S (mil/mm3) 15 5,4 0 0 108 - 270 0 0 0 O 0 345,6 16 6,3 0 0 189 - 215 0 345 0 175 0 237,3 17 7,9 0 0 79 - 79 0 564 0 282 0 456,3 18 11,4 0 0 114 - 224 0 0 0 0 0 235,1 19 6,4 0 0 212 - 64 0 0 0 0 0 236,5 20 12,7 0 0 127 - 354 0 0 0 0 0 312,4 21 8,5 0 0 190 - 340 0 0 0 0 0 204,3 22 7,6 0 0 228 - 380 0 567 0 345 0 375,3 23 6 0 0 180 - 450 0 845 0 254 0 415 24 6,5 0 0 195 - 195 0 1340 0 0 0 367,3 25 11,3 0 0 113 - 226 0 365 0 0 0 276,4 26 7,5 0 0 150 - 225 0 253 0 0 0 483,2 27 - - - - - - - - - - - - 28 8,7 0 0 261 - 261 0 785 0 424 0 376,4 29 7,8 0 0 156 - 390 0 934 0 365 0 200,5 30 7,6 0 0 152 5472 456 0 1520 0 152 0 293,7 31 PAD RÕE S - - - - - - - - - - - - 6 a 17 0% 0% 0a3% 66 a 77 % 2 a 10 % 0a1% 0% 10 a 30 % 0% 3 a 10 % 200 a 500 ANEXO F 144 Animais do quadro 2 – Alterações Encefálicas EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM E SINAIS ULTRASSONOGRAFIA ECO RX ABDOMINAL Casos ECG 1 - - - - 2 x - 3 X - x Microfraturas em carpo direito x Esplenomegalia e imagens císticas em ovários 4 - - - 5 - - - 6 x - 7 - 8 9 TOMOGRAFIA DE TÓRAX TOMOGRAFIA DO ABDOMEN múltiplas Imagens compatíveis com metástase pulmonares e pleurais x - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 10 Sugestivo de dilatação biatrial - - - - - 11 - - - - - - 12 - - - - - - 13 Arritimia sinusal com presença de marcapasso migratório. Presença de distúrbios de repolarização insuficiência valvar mitral em grau discreto - Nefropatia inflamatória bilateral - - 14 - - 145 Animais do quadro 3 – Alterações Medulares EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM E SINAIS ULTRASSONOGRAFIA ECO RX ABDOMINAL TOMOGRAFIA DE TÓRAX TOMOGRAFIA DO ABDOMEN - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 20 x - - - - - 21 - - - - - 22 Ritmo sinusal , sugestivo de dilatação atrial esquerda Arritimia sinusal com presença de marcapasso migratório. Presença de distúrbios de repolarização - - - - - 23 Bloqueio atrio-ventricular esquerdo em 1 grau - - - - - 24 X - - - - - 25 - - - - - 26 Sugestivo de dilatação atrial esquerda - x Esplenomegalia e hepatomegalia discreta 27 - - - - - 28 x Arritimia sinusal com presença de marcapasso migratório. Presença de distúrbios de repolarização - - - - - 29 - - - - - - 30 Sugestivo de dilatação ventricular esquerda - - - - - 31 - - - - - - Casos ECG 15 - - - 16 x - 17 x - 18 - 19 146 Animais Quadro 2 – Alterações Encefálicas BIOQUÍMICA SÉRICA Casos TGO (UI/L) TGP (UI/L) FA (UI/L) URÉIA (mg/dl) CREATININA (mg/dl) 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6 - 7 - - 8 - - 9 - 10 11 GLICOSE (mg/dl) - - 28,91 0,93 - 3 26,22 37,23 0,86 114,34 - - 45,86 1,34 - - - 53,4 1,65 - - - 35,69 0,98 - 39,04 113,82 78,92 0,76 112,31 - 83,2 1,21 - - 79,32 0,68 - - - 56,89 1,35 - - - - 89,61 1,01 - - - - 34,92 0,98 - 12 - - - 90,3 1,47 - 13 - - - 37,81 0,63 - 14 - 44,83 22 97,57 1,82 110,16 147 Animais Quadro 3 – Alterações Medulares BIOQUÍMICA SÉRICA Casos TGO (UI/L) TGP (UI/L) FA (UI/L) URÉIA (mg/dl) CREATININA (mg/dl) GLICOSE (mg/dl) 15 - - - 93,24 1,23 - 16 - - - 45,78 1,43 - 17 - - - 34,12 1,09 - 18 - - - 90,47 0,32 - 19 - - - 53,6 0,78 - 20 - - - 83,16 0,98 - 21 - - - 28,77 0,95 - 22 - - - 28,34 1,03 - 23 - - - 47,45 1,54 - 24 - - - 92,54 0,76 - 25 - - - 74,35 0,36 - 26 - - - 49,36 0,84 - 27 - - - 38,17 0,93 - 28 - - - 55,38 1,35 - 29 - - - 43,65 0,36 - 30 - - - 28,99 0,78 - 31 - - - 35,61 0,86 - 148 149 Caso 1 – SVC, otite bilateral com pólipos. Caso 2 – Sugestivo de metástase encefálica em lobo temporal e parietal direitos. Caso 3 – TCE, fratura em lâminas ósseas de frontal e temporal esquerdos. 150 Caso 4 – Hidrocefalia. Caso 5 – Hidrocefalia. Caso 6 – Panventriculomegalia moderada. 151 Caso 7 – Sugestivo de glioma ou meningioma. Caso 8 – TCE, fratura em lâminas ósseas de temporal, parietal e frontais. Caso 9 – Sugestivo de meningioma encefálico. 152 Caso 10 – Neoplasia óssea com invasão de neurocrânio. Caso 11 – Processo expansivo neoplásico em região occiptoparietal esquerda. Caso 12 – Processo expansivo neoplásico em assoalho do calvário. 153 Caso 13 – Invasão de neoplasia óssea de cavidade nasal em SNC. Caso 14 – Hidrocefalia. Caso 15 – Mineralização discal entre L5-L6, mielopatia extradural entre L7-S1. 154 Caso 16 – Mielopatia extradural por mineralização discal entre L2-L3. Caso 17 – Mielopatia extradural por mineralização discal entre T12-T13. Caso 18– Mielopatia extradural por mineralização discal entre C4-C5. 155 Caso 19 – Mielopatia extradural por mineralização discal entre C6-C7. Caso 20 – Mielopatia extradural entre T1-T2 e L2-L3. Caso 21 – Mielopatia extradural por mineralização discal entre T11-T13. 156 Caso 22 – Mielopatia extradural por mineralização discal entre C5-C6. Caso 23 – Discoespondilite lombossacra. Caso 24 – Fratura em processo transverso esquerdo de L1. 157 Caso 25 – Abertura de físes entre C2-C6 induzindo a hidrocefalia secundária. Caso 26 – Estenose lombossacra e discoespondilite em T6-T7. Caso 27 – Proliferação de tecidos moles em torno de L6 e L7. 158 Caso 28 - – Mielopatia extradural: leve entre T12-T13, importante entre T13-L1 e moderada entre L2-L3. Caso 29 – Processo expansivo intramedular caudal a C2. Caso 30 – Protrusão discal em L7-S1 e estenose lombossacra. 159 Caso 31 – Neoplasia óssea em T2.