Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 1 O Processo SAAL Arquitetura e participação 1974–1976 Manifestação contra do decreto de lei que proíbe as ocupações, São Pedro da Cova, 1976 Fotografia: cortesia Centro de Documentação 25 de Abril – Coleção Alexandre Alves Costa 31 Out 2014 1 Fev 2015 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 2 (…) No sistema de habitação tradicional tudo está feito quando os inquilinos chegam. Com o programa SAAL, o inquilino chega antes de qualquer decisão ser tomada (…). Nuno Portas 2 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 3 Numa revolução, o que pode a arquitetura? Nascido da Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal, o SAAL – Serviço Ambulatório de Apoio Local – desencadeou um dos mais empolgantes processos da arquitetura do século XX. Foi uma experiência pioneira no contexto europeu que propunha a constituição de brigadas técnicas lideradas por arquitetos que, em colaboração com as populações, tinham por objetivo enfrentar as prementes necessidades habitacionais de comunidades desfavorecidas em todo o país. Do levantamento das condições de vida ao apoio às comissões de moradores, do projeto arquitetónico ao acompanhamento dos processos de expropriação dos terrenos, as brigadas reinventaram a prática da arquitetura, projetando com os moradores e não para eles. Ativo até outubro de 1976, o SAAL concluiria nos seus vinte e seis meses de existência cerca de 170 projetos que envolveram mais de 40.000 famílias de Norte a Sul, incluindo os distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Lisboa, Santarém, Setúbal e Porto. Quarenta anos volvidos sobre o início do SAAL, a sua marca continua a definir a malha espacial e social das cidades e dos bairros intervencionados e a convidar à reflexão sobre processos coletivos geradores de transformação social. Partindo da especificidade da situação no Porto, a exposição centra-se em 10 projetos (Porto, Lisboa, Setúbal e Lagos), apresentando também documentação do período 1974–1976. Numa altura em que as noções de participação atravessam os universos das artes e da arquitetura é interessante e proveitoso rever alguns aspetos da história portuguesa imediatamente posteriores à Revolução de Abril de 1974. Nessa altura, coincidindo com uma profunda transformação nas estruturas de poder, as relações de contaminação entre os processos reivindicativos, as estruturas representativas e as organizações autónomas precipitaram-se de forma vertiginosa. Nessa vertigem – em boa parte movida pelas tensões de uma sociedade que tentava, com inúmeras contradições e a diferentes ritmos, apanhar o comboio do seu tempo – jogavam-se 3 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 4 questões básicas da organização societária, como o modelo político, o modelo económico, o surgimento de direitos fundamentais do estado social; mas o plano onde tudo efetivamente se jogava era na questão da mobilidade social: como vencer a exclusão endémica advinda dos bairros de lata e das “ilhas”, onde a insalubridade e a falta de condições mínimas de dignidade eram patentes e o analfabetismo superior a 25%? Como poderia uma sociedade gerir coletivamente a carência habitacional, estimada em 1970 em cerca de 500.000 fogos, com largos setores da população (social e culturalmente desclassificados) a viver em condições degradadas? Estas questões – centrais para a promoção do desenvolvimento e hoje remetidas para o património da memória das transformações sociais e económicas portuguesas – eram nucleares no contexto da saída do regime autoritário deposto em 1974, que nunca tinha promovido uma política social nem tão pouco uma política de habitação. Este é o contexto no qual se iriam desenvolver, por todo o país, um significativo número de operações, nenhuma delas terminada, mas suficientemente estimulantes para fazerem repensar a relação das populações carenciadas com o direito à cidade, convocando debates numa tensão participativa que afetaria o pensamento sobre a planificação urbana, o entendimento por parte dos arquitetos do seu papel social e político, e que demonstraria a possibilidade de um outro modelo de política de habitação que não a mera subsunção ao mercado ou a políticas estaduais industrializadas e de deslocalização. A radicalidade das questões pode ser aferida pelo facto de, em inúmeros casos e 40 anos depois, não estar ainda resolvida a questão da propriedade dos solos. Por parte dos arquitetos que coordenavam as brigadas, a vontade de participação política junta-se à disponibilidade quase completa de entrega, quer pela evidente escassez de mercado no período revolucionário, quer na sequência de algumas das preocupações que (sobretudo em Lisboa e no Porto) se tinham vindo a adensar no sentido da discussão em torno das práticas da arquitetura, da sua autonomia disciplinar e da responsabilidade social do arquiteto. Este no4 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 5 velo de circunstâncias seria o campo que faria do SAAL uma experiência inédita, complexa, frutífera e impossível de sintetizar: não há um SAAL, há tantos quantos os casos de cada situação de intervenção, de cada brigada e de cada experiência de terreno. Apesar de todas as contradições e de todos os fracassos, o SAAL representa a arquitetura da Revolução, participativa, contraditória, aberta, nalguns casos rigorosa, demagógica noutros. Para muitas comunidades, o SAAL representou um importante passo no sentido de uma habitação condigna. Como se afirma no Livro Branco do SAAL – publicado em 1976 como resposta e prestação de contas à sindicância decidida por despacho de novembro do mesmo ano – o processo jogou-se “cidade a cidade, bairro a bairro, ilha a ilha, casa a casa, quarto a quarto”. Nas memórias, pessoa a pessoa. 5 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 6 PORTO A especificidade do SAAL no Porto reside no facto de as intervenções se situarem, em grande parte, no centro histórico – nas chamadas “ilhas”, bairros operários consolidados de grande insalubridade. Reivindicando o direito à cidade das populações carenciadas, o SAAL convocou um intenso debate sobre a cidade histórica. Embora subitamente interrompido, o processo que decorreu das 33 operações iniciadas resultou na construção de 374 habitações, uma pequena parcela, no entanto, da generosa ambição do processo. Na maqueta apresentada é visível a centralidade das zonas de intervenção e a forma como abriram a discussão sobre o futuro da cidade, dando aos arquitetos a oportunidade de projetarem para a cidade histórica e colocando em discussão o chamado Plano de Melhoramentos da década de 1950. O SAAL foi ainda um período de intensa mobilização das populações, motivadas pela esperança de obterem condições dignas de vida, mantendo embora as ligações comunitárias. O processo participativo implicou uma forte ligação entre brigadas e associações de moradores. As tensões geradas pela movimentação popular levaram a reações violentas, que chegaram aos atentados à bomba contra instalações do SAAL/Norte e os seus dirigentes. 6 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 7 Bairro do Leal O Bairro do Leal foi pioneiro no associativismo das populações, recuando as primeiras dinâmicas dos moradores ao início da década de 1970. Em 1974, imediatamente após a Revolução, os moradores desenvolveram um intenso processo de oposição à construção de um parque de estacionamento que implicaria a sua deslocalização e realojamento. Assim, o projeto do Bairro do Leal, de Sérgio Fernandez, oriundo de um processo organizativo das populações anterior ao 25 de Abril, foi concebido na própria dinâmica do processo dos moradores, possuindo uma clareza projectual que advém de um sentido económico do desenho na adaptação às necessidades e ao caráter politicamente imperioso da intervenção. Em complemento aos desenhos de projeto e à maquete agora realizada é apresentada uma maquete da época, que permite compreender o caráter sintético e a eficácia da intervenção. Serviço: SAAL/Norte Projeto: Sérgio Fernandez Brigada técnica: António Corte Real, Carlos Delfim, Emídio Fonseca, José Manuel Soares, Vítor Sinde Designação da Associação de Moradores: Bairro do Leal Constituição da Associação de Moradores: 30 de abril de 1975 16 fogos na 1ª fase e 33 fogos na 2ª fase Data da operação: outubro de 1974 Data da construção: abril de 1976 7 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 8 Bairro de São Victor O conjunto de 12 casas edificadas em São Victor representa uma das mais importantes intervenções no contexto do SAAL, apesar de ser apenas uma pequena parte do projeto da brigada dirigida por Álvaro Siza Vieira. Mantendo o tecido urbano das “ilhas” e as ligações comunitárias, o projeto de São Victor alia a compreensão do caráter participativo ao rigor do projeto, tendo constituído um importante caso de estudo, conducente aos convites dirigidos a Siza Vieira para desenvolver os projetos realizados em Berlim e Haia na década seguinte. Em muitos aspetos, São Victor representa uma prática arquitetónica pensada ética e politicamente, com grande influência no entendimento da ligação entre a voz escutada das populações e a permanência do desenho arquitetónico. Projetado com grandes preocupações de contenção, a dimensão de cada fogo pode ser facilmente percecionada na planta esquemática à escala real, à qual se adicionou o volume da escada. As imagens atuais de São Victor, da autoria de André Cepeda, mostram a capacidade de resistência da arquitetura, apesar de muito pouco do projeto original ter sido edificado e ter mesmo sido destruída parte da envolvente em função da qual o projeto foi concebido. Serviço: SAAL/Norte Projeto: Álvaro Siza Vieira Brigada técnica: Adalberto Dias, Domingos Tavares, Eduardo Souto de Moura, Francisco Guedes, Graça Nieto, Manuel Borges, Manuela Sambade, Paula Cabral Designação da Associação de Moradores: São Victor Constituição da Associação de Moradores: 14 de abril de 1975 32 fogos na 1ª fase e 20 fogos na 2ª fase Data da operação: novembro de 1974 Data da construção: outubro de 1975 8 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 9 Bairro das Antas O projeto do Bairro das Antas constitui um exemplo de arquitetura e pensamento sobre o território no seio de uma malha urbana posteriormente desvirtuada. A forma como o desenho arquitetónico lida com as dificuldades do terreno, mantendo as características de bairro e incorporando a vernacularidade – o que é visível na forma como absorveu a apropriação –, contrasta com a escala das intervenções posteriores, o que é claramente compreensível na maquete, na qual fica também evidente a parcela edificada face ao projeto. Ao apresentar o Bairro das Antas tal como este sobreviveu aos últimos 40 anos, o trabalho fotográfico de André Cepeda demonstra essa resistência da arquitetura e coloca em evidência o pensamento sobre a habitação que o SAAL propôs. Serviço: SAAL/Norte Projeto: Pedro Ramalho Brigada técnica: Aires Pereira, Augusto Costa, Francisco M. Lima, José Lencastre, Lídia Costa, Pedro B. Araújo, Teresa Fonseca, Vítor Bastos Designação da Associação de Moradores: Antas Constituição da Associação de Moradores: 1 de setembro de 1975 32 fogos na 1ª fase e 50 fogos na 2ª fase Data da operação: outubro de 1974 Data da construção: outubro de 1975 9 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 10 SETÚBAL CASAL DAS FIGUEIRAS LISBOA CURRALEIRA - EMBRECHADOS BELA FLOR BACALHAU - MONTE COXO FONSECAS - CALÇADA ALGARVE MEIA PRAIA 10 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 11 PORTO S. VICTOR MIRAGAIA LEAL ANTAS PORTO 11 ÂNGELA FERREIRA Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 12 Bairro de Miragaia A opção de apresentar o projeto para Miragaia, de Fernando Távora, apesar de nada ter sido edificado, deriva do seu caráter seminal e programático. Situando-se na continuação do projeto de pesquisa sobre o Bairro do Barredo – zona muito pobre no centro histórico do Porto –, que Fernando Távora desenvolveu como arquiteto e professor na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, o projeto para Miragaia revela um grande conhecimento da cidade, tanto em termos territoriais como sociais, para além de demonstrar uma visão sobre o habitar urbano. As opções políticas da autarquia para o centro histórico do Porto enveredaram posteriormente por um caminho que não contemplou o projeto para Miragaia de Fernando Távora. O projeto é, na seriedade do seu desenho e no conhecimento que a sua proposta revela, uma grande aposta na recuperação e na racionalização dos vazios da frente de Miragaia. É notável o grau de desenvolvimento da proposta, o seu caráter cirúrgico e a forma como, nas notas de Fernando Távora, se revela um pensamento sobre o processo do SAAL, a sua estrutura, a relação com os moradores e um modelo de intervenção na cidade. Serviço: SAAL/Norte Projeto: Fernando Távora, Bernardo Ferrão, Jorge Barros Brigada técnica: Antónia Nolo, Bernardo Ferrão, Gil Carneiro, Joaquim Jordão, Jorge Barros, Manuel Campos, Pedro Paredes Designação da Associação de Moradores: Miragaia Constituição da Associação de Moradores: 30 de março de 1976 900 fogos não construídos Data da operação: junho de 1975 12 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 13 L I S B OA Bairro da Quinta do Bacalhau – Monte Coxo Bairro da Quinta das Fonsecas – Quinta da Calçada Em Lisboa, a estrutura do SAAL – menos vinculada a uma sintonia processual em torno de uma estrutura organizativa e mais centrada em cada situação (distantes entre si e espalhadas pela cidade em ampla expansão desde a década de 1960) – joga-se nas intervenções cujo cunho urbanístico é motivado pela sua escala. Na maior parte dos casos, a tipologia do bloco habitacional com galerias de circulação foi-se impondo como forma de domesticar territórios desestruturados. As populações dos bairros de lata reivindicavam a tipologia do prédio de habitação, sinónimo de mobilidade social e de recusa da autoconstrução, assumida esta como continuação da exploração. Em 1976, no Concelho de Lisboa, num total de 19 intervenções em curso, estavam envolvidas cerca de 13.500 famílias. Esta tipologia, aplicada nos projetos do Bairro da Quinta das Fonsecas – Quinta da Calçada (615 fogos previstos), de Raúl Hestnes Ferreira, assim como no Bairro da Quinta do Bacalhau – Monte Coxo (384 fogos previstos), de Manuel Vicente, está vinculada a projetos de grande fôlego urbanístico, que pretendiam fazer cidade nas zonas limítrofes onde se encontravam os bairros de lata. Nenhum destes projetos foi realizado na íntegra, estando hoje mutilados e sitiados pela malha viária e não se tendo cumprido nenhum dos essenciais equipamentos coletivos e de socialização. O projeto fotográfico de José Pedro Cortes apresenta o Bairro das Fonsecas na sua condição actual, confinado pela malha das vias de circulação automóvel que o cercam, mas mantendo a racionalidade do desenho na estrutura incompleta dos seus pátios. 13 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 14 Bairro da Quinta do Bacalhau – Monte Coxo Serviço: SAAL/Lisboa e Centro Sul Projeto: Manuel Vicente Brigada técnica: Afonso José Batista, Agostinho Xavier de Andrade, António Albano Leitão, António Leitão, Cristina Catela Martins Pereira, Eduardo Serrano de Sousa, Gentil Noras, José Manuel Dinis Cabral Caldeira, Manuel Augusto Lopes de Sousa, Nuno Matos Silva, Rita Cabral Designação da Associação de Moradores: Cooperativa de Habitação Económica Portugal Novo Constituição da Associação de Moradores: 6 de setembro de 1974 384 fogos Data da operação: setembro de 1974 Data da construção: janeiro de 1977 Bairro da Quinta das Fonsecas – Quinta da Calçada Serviço: SAAL/Lisboa e Centro Sul Projeto: Raúl Hestnes Ferreira Brigada técnica: Adelaide Cordovil, Afonso Conde Blanco, Afonso Pissarra, Aminadade Pio, António Assis Freitas, Aurélio Bravo, Carlos Abreu Vasconcelos, Eugénio Castro Caldas, Fernando Silva Pereira, Jaime Pereira, Jesus Noivo, João Luís Carrilho da Graça, Jorge Farelo Pinto, Jorge Gouveia, José de Pina Cabral Trindade, José Ferreira Crespo, Manuel Morim, Manuel Samora, Maria Augusta Henriques, Maria do Rosário Leal, Maria dos Anjos Alves, Mário Martins, Quirino Marques da Silva, Hugo Hugon, Salustiano Santos, Sebastião Formosinho Sanches, Vicente Bravo Ferreira Designação das Associações de Moradores: Cooperativa de Habitação Económica 25 de Abril e Cooperativa de Habitação Económica Unidade do Povo Constituição das Associações de Moradores: 26 de junho de 1975 e 14 de julho de 1975 314 fogos na 1ª fase e 301 fogos na 2ª fase Data da operação: outubro de 1974 Data da construção: setembro de 1976 14 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 15 Bairro da Curraleira – Embrechados A Curraleira – ou Bairro Horizonte, como foi rebatizado pelos moradores – teria sido uma intervenção de grande dimensão. O projeto de José António Paradela e Luís Gravata Filipe previa a construção de 938 fogos, realojando 864 famílias (no conjunto Curraleira – Embrechados) que, na sua maioria, viviam há duas gerações na área de intervenção. Localizado na proximidade de eixos de grande importância na dinâmica da cidade, permanecia no entanto um lugar isolado e com muito fraca mobilidade social. Embora só tenha chegado a concretizar-se uma pequena parte do projeto (mantendo-se ainda irresoluta, como em muitas situações, a questão da propriedade dos solos), a intervenção foi catalisadora do envolvimento das populações que continuam, ainda hoje, a desenvolver processos reivindicativos coletivos (por exemplo, contra a instalação nas imediações de uma central de alta voltagem). A apresentação do projeto é feita com painéis realizados pela brigada para uma exposição em 1976. A maqueta à escala real permite facilmente compreender o caráter evolutivo das habitações unifamiliares, materializando um princípio importante na época: a conciliação da grande densidade com a baixa altura das construções. Serviço: SAAL/Lisboa e Centro Sul Projeto: José António Paradela, Luís Gravata Filipe Brigada técnica: Álvaro Eduardo Ebling de Campos Costa, António José Tomás de Almada Guerra, Carlos Alberto Vale, Francisco Mendonça, João Dionísio, Maria Cecília Cruz Vaz, Maria de Deus Damião, Matilde Henriques, Paulo Menezes Braula Reis, Vítor Correia Designação da Associação de Moradores: Cooperativa de Habitação Económica Bairro Horizonte e Cooperativa de Habitação Económica Lisboa Nova Constituição da Associação de Moradores: 14 de novembro de 1975 768 fogos na 1ª fase e 170 fogos na 2ª fase Data da operação: novembro de 1976 Data da construção: setembro de 1976 e dezembro de 1976 15 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 16 Bairro da Quinta da Bela Flor Realizado num terreno muito difícil, o projeto da Quinta da Bela Flor, de Artur Rosa, partia de um bairro de lata cuja história remontava ao século XIX, havendo relatos sobre famílias que viveriam em grutas na encosta que hoje ladeia o início da autoestrada A5. Processo complexo e voluntarioso, o seu final constituiu um enorme golpe para a brigada de intervenção. Em 1976 e 1977, Artur Rosa, também artista plástico, realizou três intervenções que refletiam sobre o SAAL, o seu fracasso e a perseguição de que se sentiram alvo os responsáveis de muitas brigadas. A opção de não apresentar o projeto mas antes as intervenções artísticas SAAL 1, SAAL 2 e SAAL 3 pretende revelar o caráter performativo do processo, a sua intensidade poética e a forma como se manteve na memória dos seus protagonistas. Serviço: SAAL/Lisboa e Centro Sul Projeto: Artur Rosa Brigada técnica: Etelvina José, Hélio Oliveira, José Luís Teles Rebolo, José Miguel Fonseca, Luís Pereira, Manuel Coutinho Raposo, Maria Fernanda Carvalho, Maria Isabel Rodrigues Lobo, Nuno Blanco Bártolo, Nuno Martins Designação da Associação de Moradores: Cooperativa de Habitação Económica Bela Flor Constituição da Associação de Moradores: 13 de fevereiro de 1976 288 fogos Data da operação: setembro de 1974 Data da construção: dezembro de 1976 16 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 17 SETÚBAL Bairro do Casal das Figueiras Setúbal viveu com grande intensidade e vibração política os anos da Revolução. O Bairro do Casal das Figueiras foi projetado para uma comunidade piscatória, num terreno de enorme complexidade pela acentuada pendente. O repto de Gonçalo Byrne foi o de manter a estrutura da habitação unifamiliar, obedecendo a tipologias que as populações solicitavam (como a “casa de fora” ou pátio) e simultaneamente produzir um grande gesto urbano. A solução encontrada, a partir de duas tipologias de habitação (de planta quadrada e de planta retangular) que vencem a pendente com uma inclinação de 36% é arquitetonicamente notável, tendo no entanto mantido as exigências de grande contenção de custos inerentes ao processo SAAL. O conjunto de diapositivos apresentado é da autoria de Gonçalo Byrne e narra o projeto desde a génese até à conclusão. O fotógrafo Daniel Malhão realizou um conjunto de imagens das condições atuais do bairro, sendo notável a resistência do projeto às apropriações e transformações, mantendo-se a qualidade do gesto arquitetónico que acompanhou o território. Serviço: SAAL/Lisboa e Centro Sul Projeto: Gonçalo de Sousa Byrne Brigada técnica: Ana Ferreira Rebocho, Berta Sá Caetano Designação da Associação de Moradores: Casal das Figueiras Constituição da Associação de Moradores: 30 de outubro de 1975 420 fogos Data da operação: julho de 1975 Data da construção: outubro de 1976 17 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 18 ALGARVE Bairro da Meia-Praia – Apeadeiro No Algarve, o SAAL foi vivido com grande entusiasmo e envolvimento. A opção de constituição de uma equipa volante que suprisse as carências das outras equipas e aglutinasse as tensões sociais e políticas fez do SAAL no Algarve um processo mais fluido e orgânico. Foi aqui que o processo participativo foi vivido com mais intensidade, que as questões da autoconstrução encontraram um maior campo de permeabilidade (mas também de discussão) e que o desenho arquitetónico se dobrou à urgência e à dinâmica participativa e política. Um dos protagonistas deste processo foi José Veloso, arquiteto responsável por um grande número de projetos no Barlavento, enquanto que João Moitinho assume grande parte dos projetos no Sotavento e Manuel Dias no Centro. O processo da Meia-Praia tornou-se icónico do SAAL devido ao filme de António da Cunha Telles Continuar a Viver ou Os Índios da Meia Praia (1976). Foi para esse documentário que José Afonso compôs a canção homónima: (…) Oito mil horas contadas Laboraram a preceito Até que veio o primeiro Documento autenticado Veio um cheque pelo correio E alguns pedreiros amigos Quem aqui vier morar Não traga mesa nem cama Com sete palmos de terra 18 Roteiro PT 2 29/10/14 20:01 Page 19 Se constrói uma cabana Eram mulheres e crianças Cada um c’o seu tijolo “Isto aqui era uma orquestra” Quem diz o contrário é tolo (…) As imagens de José Pedro Cortes são um testemunho da forma como o bairro cumpriu o seu desígnio. Serviço: SAAL/Algarve Projeto: José Veloso Brigada técnica: José Manuel Costa, José Rijo, Leonel Fadigas, Luís Abreu, Pedro Vieira Designação da Associação de Moradores: 25 de Abril Constituição da Associação de Moradores: 17 de fevereiro de 1975 36 fogos Data da operação: fevereiro de 1975 Data da construção: janeiro de 1975 19 Roteiro PT 3 30/10/14 17:48 Page 20 A exposição “O Processo SAAL: Arquitetura e Participação 1974 –1976” é comissariada por Delfim Sardo e organizada pelo Museu de Arte Contemporânea de Serralves em colaboração com o Canadian Centre for Architecture, Montréal, Canadá. Consultoria científica: José António Bandeirinha Arquitetura da exposição: Barbas Lopes Arquitectos Imagem gráfica: Atelier Pedro Falcão Conceção e execução das maquetas: Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra Colaboração: Arquivo Distrital do Porto FAUP / Centro de Documentação, Porto Instituto Fundação Marques da Silva, Porto A exposição é acompanhada por um extenso programa de atividades inclui visitas guiadas à exposição e conversas, ciclos de cinema e artes performativas e conversas nos Bairros da Bouça, Leal, Antas e São Victor. Para mais informação consultar a brochura disponível na receção do Museu, assim como a página da exposição em www.serralves.pt