Product: OGlobo
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PubDate: 31-03-2013 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_BB User: Asimon Time: 03-29-2013 21:47 Color: C
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l O GLOBO
l Saúde l
Domingo 31 .3 .2013
ÁGUA E AÇÚCAR SEM
VALOR NUTRICIONAL
U
Mitos e verdades
Vício
Especialistas
concordam que
refrigerante não vicia.
Seria necessário beber
entre 1 e 2 litros da
bebida tipo cola num dia
para que o ritmo
cardíaco, por exemplo,
fosse afetado pela
cafeína ou xantina
(substância equivalente)
contidas.
Especialistas listam mitos e verdades sobre refrigerantes, mais consumidos que carne
FLORENCE DELVA/ LATINSTOCK
Açúcar
A partir da quantidade
de calorias indicadas em
uma lata de refrigerante
açucarado, a estimativa
é de que haja o
equivalente a duas
colheres de sopa ou 30
gramas de açúcar por
lata de 350 ml.
Dopamina
O refrigerante
açucarado tem poder de
estimular a produção de
dopamina (o hormônio
do prazer) pelo cérebro,
mas em quantidades
semelhantes às de
qualquer outro alimento
que traga satisfação.
Mas pesquisas recentes
indicam que obesos
precisam de mais
consumo de calorias
para a mesma produção
de dopamina e, por isso,
consomem mais.
Danos aos dentes
Exagero. Nos anos 1970 e 1980, um litro de refrigerante servia uma família de quatro pessoas por um fim de semana; hoje são cerca de 94 ml por pessoa por dia, um aumento de 500% no consumo
DUILO VICTOR
[email protected]
Os refrigerantes existem da forma como a gente conhece há mais de 120
anos e, no Brasil, segundo informa o
IBGE, está entre os cinco alimentos
mais consumidos do país, à frente de
qualquer tipo de carne, fruta ou verdura. Pode ser cúmplice, mas a bebida
não produz celulites ou causa diabetes
sozinha, muito menos vicia. O açúcar
ajuda na obesidade, mas obesos não o
são apenas por causa do líquido tentador. Tanto tempo no mercado foi o suficiente para o surgimento de mitos sobre a ingestão da bebida doce borbulhante, mas há pelo menos uma grande
unanimidade entre especialistas em
nutrição: ao contrário de um bife, uma
laranja ou um brócolis, refrigerante
tem valor nutritivo insignificante.
UM TERÇO DE LATINHA PER CAPITA
Só de refrigerante, segundo a mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, de 2009, são cerca de 94 ml
por pessoa todos os dias, pouco menos
de um terço de uma latinha. Apesar da
cafeína contida em refrigerantes à base
de cola, a bebida não causa dependência química, afirma o nutrólogo e pediatra Mauro Fisberg, da Universidade
Federal de São Paulo. Não existe gente
viciada especificamente em refrigerante. Pode existir a necessidade, pelo hábito, e para que seja ingerida a quantidade de cafeína suficiente para ter o ritmo cardíaco alterado, seria necessário
beber entre um e dois litros da bebida
num mesmo dia.
— Há exagero nos ataques aos refrigerantes. Não há efeito deletério no
consumo da bebida, não se compara ao
cigarro — afirma o nutrólogo, coordenador do Centro de Distúrbios Alimentares na Infância do Hospital Infantil
Sabará, em São Paulo. — Do mesmo
modo, não há nada a favor dos refrigerantes, e cabe aos pais controlar o consumo, desde a infância. Antigamente, o
consumo da bebida estava atrelado aos
fins de semana, uma porção. O limite é
o bom senso. Quem puder mudar para
as versões light ou zero, melhor.
Steve Jobs, o empresário fundador da
Apple, morto em 2001, fez uma descrição bastante objetiva sobre os refrigerantes ao tentar convencer John Sculley, então CEO da Pepsi, em 1983, a
chefiar a empresa de tecnologia: "Você
quer vir mudar o mundo ou continuar a
vender água com açúcar?" Exageros à
parte, são os dois ingredientes mais importantes da bebida, mas uma lata não
contém as nove ou dez colheres de sopa que alguns virais da internet fazem
chegar a nossas caixas de e-mail. Fisberg faz a conta: para ter a média de 125
calorias, cada lata teria que ter 30 gramas de açúcar ou duas colheres cheias.
E o mesmo valor calórico da mesma
quantidade das bebidas à base de néctar de frutas, por exemplo:
— Ninguém fica gordo por causa de
refrigerante. A questão é que quem
consome refrigerante com açúcar em
excesso também tende a consumir pizza, macarronada ou doces em excesso,
além de não praticar exercícios físicos.
A maioria das pesquisas que condena o
consumo de refrigerantes isola a bebida sem considerar os outros hábitos do
indivíduo — acredita.
NA MESMA BAIA DO MACARRÃO
O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, concorda que não dá
para demonizar o refrigerante. Se for
para achar um culpado, que se coloque
então os refrigerantes na mesma baia
dos alimentos com alto índice glicêmico. Produtos industrializados, como
doces, macarrão, pães e arroz estão na
lista. Ribas Filho explica que tais alimentos têm o que se chama de carboidrato simples, pois elevam rapidamente o índice de açúcar do sangue e obrigam maior atividade do pâncreas ao
provocar o que especialistas chamam
de incursões insulínicas:
— Usar o pâncreas a toda hora desta
forma não faz bem. Temos um estoque
Mais Saúde
oglobo.com.br/saude
l CÂNCER: Pelo menos 74 marcadores genéticos
para tumores de ovário, mama e próstata foram
descobertos no maior estudo feito sobre o tema.
Pesquisa
com 6.480 pacientes
mostra que tabagistas
demoram seis semanas
a mais para tratar lesões
ósseas na comparação
aos não fumantes.
l FUMANTES:
U
REFRIGERANTES
BAIXAS CALORIAS SÃO
BOAS OPÇÕES
Uma alternativa óbvia à ingestão de
calorias contidas no refrigerante é a opção
pela bebida nas versões diet, light ou zero.
O nutrólogo Mauro Fisberg discorda da
suspeita de que o consumo da bebida com
menos calorias cause modificações no
metabolismo da absorção dos alimentos.
— Só há um estudo na literatura que diz
que as bebidas com adoçantes artificiais
levam a um menor nível de saciedade por
comida, e o resultado não foi comprovado
por um teste cego — diz o nutrólogo. — O
ideal, em relação ao consumo de
adoçantes, é variar os tipos. Não há
problemas em tomar refrigerantes nas
versões sem açúcar.
Fisberg explica que os adoçantes
artificiais — edulcorantes — são
metabolizados de forma rápida pelo corpo e
que seriam necessárias quantidades de
refrigerantes impossíveis de serem
consumidas diariamente para causar
algum tipo de dano.
O presidente da Associação Brasileira de
Nutrólogos, Durval Ribas Filho, calcula que,
para os edulcorantes causarem lesão nos
rins ou pâncreas, o indivíduo deveria tomar
mais de 20 litros de bebida diet por dia.
— Os edulcorantes têm um efeito tópico,
servem apenas para simular o sabor doce
nas papilas gustativas da língua— explica
Ribas Filho. — Não há, portanto, efeitos
sistêmicos, como reações hormonais.
Para crianças, no entanto, tomar
refrigerantes frequentemente pode criar
um hábito que leva à redução do consumo
de outros líquidos, como o leite:
— Os hábitos alimentares são formados
na infância, nos primeiros três anos de vida.
E são os pais que dão acesso a
determinado tipo de alimento. Para que a
criança consuma refrigerante, ele precisa
ser ofertado — diz Fisberg.
de produção de insulina para o decorrer da v ida e, quando o pâncreas entra
em fadiga, temos o diabetes — explica.
Já alimentos como feijão, lentilha,
nozes e castanhas são feitos de carboidratos mais complexos, que demoram
a serem absorvidos e, por isso, exigem
trabalho mais suave do pâncreas.
EXPLOSÃO DE CONSUMO
Nos anos 1970 e 1980, uma garrafa de
um litro de refrigerante servia uma família de quatro pessoas por um fim de
semana. De acordo com Rosely Sichieri, especialista em nutrição em saúde
pública do Instituto de Medicina Social
da Uerj, levantamentos nacionais indicam que o consumo da bebida aumentou 500% em relação aos níveis dos
anos 70. Nesse intervalo surgiram as
embalagens de dois litros ou mais. Em
paralelo, explica Rosely, o mercado não
parou de fazer propaganda associando
o consumo dessas bebidas ao bem-estar, além de lançar marcas mais baratas, as tubaínas:
— O problema é o exagero. Temos
uma cultura de que tudo tem que ser
adocicado. Não existe, por exemplo, a
necessidade de beber algo durante as
refeições, mas criou-se o hábito.
A contrapropaganda da celulite, no
entanto, também tem seus mitos. Uma
latinha de refrigerante não tem poder
de virar imediatamente furinhos nos
quadris. Se a moça na praia não tem
uma celulite sequer, suspeite de sua herança genética, mais do que o fato de
ela nunca ter ingerido açúcar na vida.
— Não é a causa, mas é agravante. A
gordura dos quadris gera maior recepção do hormônio feminino, o estrogênio, para o local, e este é apenas um fator de indução à celulite — explica a
dermatologista Vanessa Metz, integrante da Academia Americana de Dermatologia. — As células de gordura
com pior irrigação sanguínea também
têm propensão à celulite. E nas mulheres, a gordura se acumula de forma perpendicular à pele, o que também contribui para o problema. l
l AUTISMO: Homens que
são pais com mais de 50
anos aumentam os riscos
de ter netos autistas. A
conclusão é de um estudo
de três universidades de
Europa e Austrália.
O dentista Marcelo
Fonseca, fundador da
Sociedade Brasileira de
Odontologia Estética,
explica que a acidez do
refrigerante facilita a
penetração no dente da
pigmentação escura dos
refrigerantes com cola.
Bactérias das cáries
também gostam de
ambientes ácidos, assim
como do açúcar contido.
“Se pudermos tirar o
refrigerante do cardápio,
melhor. Escovar os
dentes apenas minimiza
o efeito”, disse Fonseca.
Absorção de nutrientes
Segundo o nutrólogo
Durval Ribas Filho, o
fosfato presente na
bebida pode prejudicar
a absorção de cálcio
apenas se consumida
junto com a fonte do
nutriente. Não há efeito
para outros minerais
Água gasosa
Ingredientes que dão o
efeito gasoso na bebida
só são contraindicadas
para quem tem
problemas gástricos.
Atribuir o gás às
celulites é mentira.
Celulites
Refrigerante não vira
celulite sozinho.
Predisposição genética
conta, e a bebida é um
agravante dentro de um
conjunto de fatores,
inclusive na maior ação
do estrogênio nas
células de gordura. O
sódio presente na
bebida contribui para a
retenção de líquidos,
que também causa o
problema.
Hipertensão
De acordo com Durval
Filho, o consumo diário
de mais de duas latas e
meia de refrigerante, ou
850 ml, todos os dias,
aumenta o risco de
hipertensão.
Incursões glicêmicas
O açúcar da bebida,
assim como o de pães,
doces industrializados e
arroz, fazem pâncreas
trabalhar mais
intensamente.
l INIBIDOR DE APETITE:
A sibutramina, indicada no
tratamento da obesidade, deve
continuar a ser vendida no
Brasil, ao contrário do que
ocorre em países da Europa e
dos EUA, segundo a Anvisa.
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