Representações Sociais dos alunos dos Cursos de Licenciatura em Matemática, das instituições públicas de ensino superior paranaenses, sobre as contribuições dos diferentes espaços de formação ofertados nestes cursos, para sua atuação no ensino de matemática na educação básica? Denise Therezinha Rodrigues Marques Wolski1 GD07 – Formação de Professores que Ensinam Matemática Resumo. Este texto apresenta, em linhas gerais, o estudo em desenvolvimento intitulado “Representações Sociais dos alunos dos Cursos de Licenciatura em Matemática, das instituições públicas de ensino superior paranaenses, sobre as contribuições dos diferentes espaços de formação ofertados nestes cursos, para sua atuação no ensino de matemática na educação básica? Diante deste questionamento colocou-se como objetivos: i) desvelar as Representações Sociais dos alunos dos Cursos de Licenciatura em Matemática, das instituições públicas de ensino superior sobre as contribuições dos diferentes espaços de formação ofertados nestes cursos, para sua atuação no ensino de matemática na educação básica; ii) apontar interseções e divergências entre os objetivos propostos na legislação da área de estudo e as representações sociais identificadas junto aos alunos. Dentre os referenciais teóricos que estão sendo utilizados para dar conta da questão e objetivos postos, destaca-se a Teoria das Representações Sociais na perspectiva dimensional de seu precursor Serge Moscovici e um de seus desdobramentos: a abordagem estrutural (Teoria do Núcleo Central) desenvolvida por Jean-Claude Abric; o conceito de campo na perspectiva de Pierre Bourdieu e, o conceito de práxis, conforme estudado por Adolfo Sanchez Vázquez. O presente texto descreve os procedimentos metodológicos já utilizados e os previstos, bem como, alguns apontamentos teóricos a respeito da Teoria das Representações Sociais. Palavras-chave: formação de professores; licenciatura em matemática; representações sociais. Introdução O projeto de tese em desenvolvimento que apresentamos tem, provisoriamente como título “Quais as Representações Sociais dos alunos dos Cursos de Licenciatura em Matemática, das instituições públicas de ensino superior paranaenses, sobre as contribuições dos diferentes espaços de formação ofertados nestes cursos, para sua atuação no ensino de matemática na educação básica? ” Dentro deste panorama, ao desenvolver a pesquisa que dará origem à tese, pretendese responder aos seguintes questionamentos: 1 Universidade Estadual de Ponta Grossa, e-mail: [email protected], orientador: Dra. Celia Finck Brandt. Quais as Representações Sociais dos alunos dos Cursos de Licenciatura em Matemática, das instituições públicas de ensino superior paranaenses, sobre as contribuições dos diferentes espaços de formação ofertados nestes cursos, para sua atuação no ensino de matemática na educação básica? Quais as aproximações e as divergências entre as representações sociais apreendidas entre os licenciandos e as contribuições apontadas como objetivos na legislação que regula os espaços de formação supracitados? Diante de tais questionamentos colocamos, como objetivos gerais deste estudo: Desvelar as Representações Sociais dos alunos dos Cursos de Licenciatura em Matemática, das instituições públicas de ensino superior sobre as contribuições dos diferentes espaços de formação ofertados nestes cursos, para sua atuação no ensino de matemática na educação básica. Apontar interseções e divergências entre os objetivos propostos na legislação da área de estudo e as representações sociais identificadas junto aos alunos. Dentre os referenciais teóricos que subsidiam a pesquisa destacam-se a Teoria das Representações Sociais, o conceito de Práxis e o Conceito de Campo, conforme justificado sinteticamente a seguir. Quando se estuda representações sociais, estuda-se o ser humano enquanto ele faz perguntas, pensa, procura respostas, busca compreender o contexto em que se insere para intervir no mesmo. Nesta tese, os sujeitos da pesquisa são acadêmicos dos cursos de Licenciatura em Matemática das IES públicas paranaenses. Pretende-se, então, desvelar imagens, atitudes e conhecimentos que esses acadêmicos manifestam sobre os diferentes espaços de formação que vivenciam em seus cursos, da perspectiva da contribuição dos mesmos para atuação na educação básica. Neste ponto, devemos levar em conta que a representação que temos de algo não está relacionada somente a nossa maneira de pensar, porque nossa maneira de pensar e o que pensamos dependem também de representações que já circulam na coletividade. As representações são produto de nossas ações e comunicações, uma vez criadas adquirem vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações. Sendo assim, podemos afirmar que há todo um corpo de representações acerca dos conhecimentos necessários para ensinar matemática na educação básica, e é nessa “atmosfera” que os futuros professores vão criar suas próprias representações. Desta forma justificamos o uso dos trabalhos de Serge Moscovici (Teoria das Representações Sociais), Denise Jodelet e Jean-Claude Abric para orientar este eixo da tese. Incluídas no contexto das representações dos licenciandos a respeito dos conhecimentos necessários para ensinar matemática na educação básica, encontram-se representações acerca de teoria e prática, conceitos estes que consideramos essenciais para a organização do trabalho pedagógico. Pretende-se analisar, então, em que medida essas representações se aproximam ou se distanciam do conceito de práxis, apresentado na legislação que trata do curso em estudo. Daí, entendemos que deriva a necessidade de uso de referencial teórico que explore o conceito de práxis. Para isto, optamos por tomar como base o trabalho de Adolfo Sanchez Vázquez. Ainda em relação às representações dos acadêmicos acerca dos conhecimentos necessários para ensinar matemática na educação básica, leva-se em consideração que, os cursos de licenciatura em Matemática trazem questões expressas nas orientações curriculares que fragmentam a formação dos futuros professores, colocando de um lado os conhecimentos da ciência de referência e de outro os conhecimentos das ciências da educação. Essa polarização compromete a formação para ensinar matemática na educação básica. O que se instala nos cursos são disputas de campos acadêmicos: ciência de referência x ciências da educação. Para tentar compreender esse fenômeno, buscaremos embasamento teórico no conceito de campo, estudados em obras de Pierre Bourdieu. Desta forma pretende-se contribuir para a identificação e o entendimento das representações sociais dos alunos dos cursos de licenciatura em matemática das instituições de ensino superior paranaenses acerca da contribuição de diferentes espaços de formação para o ensino de matemática na educação básica, com o propósito de, a partir da análise dessas representações, apontar possíveis formas de intervenção com o objetivo de superar modelos instrumentalistas de formação de professores. Alguns apontamentos sobre o trabalho de Serge Moscovici Serge Moscovici, psicólogo social, começou a trabalhar com o conceito de representação social, na década de 1950. Já no pós-guerra, incomodava-lhe a ideia circulante de que “quando a ciência se espalha pela área social se torna algo impuro e degradado, supostamente porque as pessoas não seriam capazes de assimilá-la, como fazem os cientistas” (MOSCIVICI, 2012a, p. 308). Ou seja, lhe incomodava a crença subjacente nestas ideias, de que as pessoas comuns são incapazes de pensar racionalmente. Partindo destas inquietações, Moscovici fez todo um esforço para valorizar e estudar o conhecimento presente nas práticas cotidianas das pessoas comuns. Seu problema central passou a ser o de buscar entender “Como o conhecimento científico é transformado em conhecimento comum, ou espontâneo? ” (MOSCOVICI, 2012a, p. 311). Foi neste contexto que o autor elaborou a Teoria das Representações Sociais. Em 1961, Moscovici terminou sua tese intitulada “La psychanalyse, son image, son public”, orientado por Daniel Lagache. A pesquisa desenvolvida tratava de como a psicanálise, como corpo de conhecimento científico novo, foi partilhado e penetrou em diversos setores da sociedade francesa (WACHELKE e CAMARGO, 2007). Para elaborar a Teoria das Representações Sociais Moscovici inspirou-se em Durkheim, mais precisamente no conceito de representação coletiva estudado pelo mesmo. O autor revisita este conceito e passa a considerá-lo numa outra perspectiva que denomina representação social. Conforme indicado pelo próprio Moscovici (2012a), não se trata apenas de trocar uma expressão por outra, a ideia central, por trás dessa diferenciação, é que a expressão representações sociais indica um fenômeno, enquanto representações coletivas representa um conceito. Ainda mais: do ponto de vista de Durkheim, as representações coletivas abrangiam uma cadeia completa de formas intelectuais que incluíam ciência, religião, mito, modalidades de tempo e espaço, etc. De fato, qualquer tipo de ideia, emoção ou crença, que ocorresse dentro de uma comunidade, estava incluído. (MOSCOVICI, 2012a, p. 46). De acordo com Moscovici (2012a, 2012b) as representações sociais estão relacionadas ao pensamento simbólico e à toda forma de vida mental que pressupõe linguagem. As mesmas derivam de uma necessidade contínua de reconstituir o senso comum ou a forma de compreensão que cria o substrato das imagens e sentidos, sem a qual nenhuma coletividade pode operar. Desta forma, restauram a consciência coletiva e lhe dão forma, explicando os objetos e acontecimentos de tal modo que eles se tornem acessíveis a qualquer um e coincidam com os interesses imediatos. Em síntese, o processo de representação social permite às pessoas conceber e representar aspectos da realidade para entendê-los e agir sobre eles. Neste sentido, Moscovici (2012a) coloca três situações (intenções) que podem justificar essa ação, a saber: i. hipótese da desiderabilidade - neste caso o grupo cria representações para expor ou ocultar algo sobre um objeto de conhecimento, de acordo com seu desejo e conveniência. Quando isso acontece há distorções de uma realidade objetiva. ii. hipótese do desequilíbrio - o grupo cria representações para restaurar a estabilidade interna colocada em xeque por um fracasso ou uma falta de integração social. iii. hipótese do controle – o grupo cria representações para servir como meio de manipulação dentro da coletividade. Neste caso, as representações funcionam como filtro que age entre o mundo e os elementos do grupo, com força coercitiva. Moscovici (1988) se refere ainda a representação social enquanto uma rede de conceitos e imagens que interagem entre si, cujos conteúdos evoluem continuamente. De acordo com o autor, as representações sociais possuem precisamente duas funções em relação a nossas atividades cognitivas: elas podem ser normativas ou prescritivas. As representações sociais exercem uma função normativa quando convencionalizam os objetos, pessoas ou acontecimentos. Ou seja, quando os localizam em uma determinada categoria, as associam a um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas. Isto implica que, como nós pensamos por meio de uma linguagem, nós organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que está condicionado, tanto por nossas representações como por representações de nossa cultura. Neste sentido, Moscovici (2012a) argumenta que podemos, a partir de um esforço intencional, tornar-nos conscientes do aspecto convencional da realidade e, então, escapar de algumas exigências que ela impõe a nossas percepções e pensamentos. Porém, não podemos imaginar que podemos libertar-nos sempre de todas as convenções ou eliminar todos os preconceitos ao elaborar nossas representações. As representações sociais exercem também uma função prescritiva, quando se impõem sobre nós como uma força coercitiva. Força esta que é uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que nós comecemos a pensar sobre algum objeto de conhecimento, e de uma tradição que decreta o que deve ser pensado sobre ele. As representações são partilhadas, penetram e influenciam a vida de cada um. Elas são repensadas, re-citadas e re-apresentadas. A representação que temos de algo não está diretamente relacionada à nossa maneira de pensar, porque nossa maneira de pensar e o que pensamos depende das representações que já circulam na coletividade. Todos os sistemas de classificação, todas as imagens e todas as descrições que circulam dentro de uma sociedade implicam um elo de prévios sistemas e imagens. Para Moscovici (2012) O que nós percebemos e imaginamos, essas criaturas do pensamento que são as representações, terminam por se constituir em um ambiente real, concreto. Através de sua autonomia e das pressões que elas exercem, elas são, contudo, como se fossem realidades inquestionáveis que nós temos de confrontá-las. (MOSCOVICI, 2012, p.40) Em síntese, a função normativa comanda as ações, comportamentos e decisões de um grupo baseada em normas tornadas consensuais por meio do processo de representação sociail. Já a função prescritiva comanda as ações, comportamentos e decisões de um grupo com base em conhecimentos tanto reificados como consensuais. Esses conhecimentos de certa forma prescrevem as formas de entender a realidade e os acontecimentos e com base nesse “entendimento” tomar atitudes, criar imagens e construir conhecimentos sobre objetos, acontecimentos, entre outros. Logo, podemos afirmar que o estudo das representações sociais se volta para o ser humano enquanto ele tenta conhecer e compreender as coisas que o circundam e resolver os enigmas centrais de sua existência. Neste sentido, Moscovici (2012a, 2012b) aponta dois processos que estão na gênese das representações sociais: ancoragem e objetivação. É importante ressaltar, contudo, que esses dois processos se desenvolvem concomitantemente, se inter-relacionam e assim constituem e dão sentido à representação social. A ancoragem é o processo cognitivo que toma algo estranho e perturbador e o compara com um paradigma de uma categoria que nós julgamos ser apropriada, tornando familiar o que antes era não familiar. “Ancorar é, pois, classificar e dar nome a alguma coisa” (Moscovici, 2012a). O primeiro passo em direção à conciliação (familiarização) acontece quando nós somos capazes de colocar o objeto ou pessoa em uma determinada categoria, de rotulá-lo com um nome conhecido, de fato, representação é, fundamentalmente, um sistema de classificação e denotação, de alocação de categorias e nomes. Ancorar implica, também, a prioridade do veredito sobre o julgamento e do predicado sobre o sujeito. A tendência para classificar não é de nenhum modo uma escolha puramente intelectual, mas reflete uma atitude específica para com o objeto, um desejo de defini-lo como normal ou aberrante. Estudos em Representações Sociais mostram que, quando nós classificamos, nós sempre fazemos comparações com um protótipo. Sempre nos perguntamos se o objeto comparado é normal ou anormal em relação a ele e tentamos responder à questão: é ele como deve ser ou não? Desta forma, todos os nossos preconceitos, sejam nacionais, raciais, geracionais, ou quaisquer que alguém tenha, somente podem ser superados pela mudança de nossas representações sociais da cultura, da natureza humana, e assim por diante. Ao nomear algo, nós o libertamos de um anonimato para dotá-lo de uma genealogia e inclui-lo em um complexo de palavras específicas, para localizá-lo, de fato, na matriz da identidade de nossa cultura. Uma vez nomeada a pessoa ou coisa a) pode ser descrita e adquire certas características, tendências. b) torna-se distinta de outras objetos ou pessoas por meio dessas características e tendências. c) torna-se objeto de uma convenção entre os que adotam e partilham a mesma convenção. Finalmente, enquanto o que parece abstrato a uma geração se torna concreto para a seguinte, o que é incomum e imperceptível para uma geração, torna-se familiar e óbvio para a seguinte. A passagem do tempo ou dos costumes provavelmente é necessária para este processo, mas essa domesticação é o resultado da objetivação. Que é um processo muito mais atuante que a ancoragem. Sendo assim, quanto à ação de objetivar, de acordo com Moscovici (2012a, 2012b), trata-se de atribuir qualidade icônica a uma ideia, de reproduzir um conceito em uma imagem. Nem todas as palavras podem ser ligadas a imagens, seja porque não existem imagens suficientes, facilmente acessíveis, seja porque as imagens lembradas são tabus. As imagens selecionadas se mesclam no chamado padrão de núcleo figurativo. A abordagem estrutural das representações socias: contribuições de Jean-Claude Abric Precisamente para responder à preocupação de articulação entre o psicológico e o social, desenvolveu-se uma abordagem experimental das representações sociais. Os pesquisadores desta área consideram que, constituído “por formas modernas e específicas de conhecimento prático, produzidas e mobilizadas na vida cotidiana” (SÁ, 1996, p. 99), o campo das representações sociais, não pode prescindir da pesquisa empírica, ao contrário, tem suas bases na mesma. Foi a partir da preocupação com estes aspectos que Jean-Claude Abric (2003) em seus estudos voltou-se para o que chamou de “abordagem estrutural das representações sociais”. A esse respeito Abric indica que Uma representação social é um conjunto organizado e estruturado de informações, crenças, opiniões e atitudes; ele constitui um sistema sociocognitivo particular, composto de dois subsistemas: um sistema central (ou núcleo central) e um sistema periférico. (ABRIC, 2003, p. 38). Abric (1994), fundamentando-se em Moscovici, sobre os objetivos gerais das pesquisas em representações sociais, enfatiza que na perspectiva da Teoria do Núcleo Central, uma representação social se constitui de três componentes: dois deles relacionados a seu conteúdo (informações e atitudes), e outro relacionado a sua estrutura interna (imagens). Sobre os encaminhamentos para levantar o conteúdo e a organização de uma representação, o autor assim se expressa Daí que vai necessitar a utilização de métodos que visem por um lado levantar e fazer emergir os elementos constitutivos da representação, por outro lado conhecer a organização desses elementos e delimitar o núcleo central da representação. Enfim, se for possível, verificar a centralidade e a hierarquia posta em evidência (...) (...). Esse tríplice objetivo vai implicar uma abordagem multimetodológica das representações, organizadas em três tempos sucessivos: 1. O levantamento do conteúdo da representação. 2. O estudo das relações entre os elementos, de sua importância relativa e de sua hierarquia. 3. A determinação e o controle do núcleo central. (ABRIC, apud SÁ, 1996, p. 106). Constituído de quantidade limitada de elementos, o núcleo central tem três funções essenciais num sistema de representações: geradora, organizadora e estabilizadora. Essas funções são responsáveis, respectivamente, por determinar o significado, a consistência e a persistência de uma representação. Por ter essas funções, uma modificação no núcleo central é responsável pela organização de um novo sistema de representação. A função organizadora é que é determinante numa modificação. De acordo com Abric (2003) “(...) duas representações podem ter o mesmo conteúdo e, entretanto, serem radicalmente diferentes, se a organização desse conteúdo for diferente. ” (p. 38). Esta forma de organização das representações sociais em torno de um núcleo central, deriva do fato de elas serem uma manifestação do pensamento social e, por exercerem esse papel, existe sempre uma parte que não é negociável, aquela constituída de uma base comum e consensual, resultante da memória coletiva. Essas são a base dos modos de vida, que garantem a especificidade e a permanência do grupo. O essencial do núcleo central de uma representação social é constituído pelos valores associados ao objeto representado, portanto, partilhar uma representação com outros indivíduos é partilhar os valores centrais que a representação veicula sobre o objeto. Quando procuramos desvelar a estrutura do núcleo central, procuramos “a raiz, o fundamento social da representação, que, em seguida modulará, se diferenciará e se individualizará no sistema periférico, constituindo o sistema periférico” (ABRIC, 2003, p.40). Sintetizando, o conteúdo do núcleo central é estável, não varia em função do contexto. No entanto, alguns elementos serão mais ativados do que outros na definição do significado do objeto ou na sua associação à praticas (normativos ou funcionais). Há três fatores principais que determinam a forma de ativação do núcleo central: a finalidade da situação, a distância para com o objeto e a enunciação da situação. Já o sistema periférico de uma representação é mais flexível e acessível que o núcleo central. Podemos resumir suas funções em cinco itens, a saber: concretização, regulação, prescrição de comportamentos, proteção do núcleo central e personalização da representação. Os caminhos trilhados: procedimentos metodológicos da pesquisa Buscando coerência entre as questões de pesquisa, os objetivos colocados, o arcabouço teórico adotado e as discussões sobre metodologia de pesquisa em representações sociais, foram feitas as escolhas dos procedimentos metodológicos que norteiam este estudo, as quais descreveremos a seguir. Definição da amostra O espaço amostral deste estudo foi definido a partir da intenção de obter uma amostra significativa sobre as representações sociais dos alunos dos cursos de licenciatura em matemática das Instituições Públicas de Ensino Superior Paranaenses sobre as questões de estudo, bem como, as exigências de espaço amostral dos softwares utilizados: EVOC e ALCESTE. A princípio, colocou-se como objetivo visitar todas as IES públicas paranaenses que ofertam cursos de Licenciatura em Matemática. Porém, depois do processo de negociação sobre a possibilidade de obter a participação dos sujeitos das mesmas, chegamos a seguinte listagem de instituições participantes: Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Universidade Estadual de Londrina – UEL, Universidade Estadual de Maringá - UEM, Universidade do Centro-Oeste – UNICENTRO (campus Irati e Guarapuava),Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP (campus de Cornélio Procópio), Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR ( campus de Apucarana, Paranaguá, Campo Mourão e União da Vitória), Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE (campus Cascavel e Foz do Iguaçu) e Universidade Federal do Paraná – UFPR. Totalizando, portanto, uma amostra de 13 instituições. O critério de escolha dos sujeitos foi estar cursando a disciplina de estágio curricular supervisionado (I ou II). Esta amostra incluía sujeitos que participavam do Programa Institucional de Iniciação à Docência – PIBID, característica que também nos interessava. Desta forma obtivemos uma amostra de, aproximadamente, 300 sujeitos. Construção do instrumento de produção de dados De acordo com Sá (1996) a apreensão e compreensão das representações sociais, se dá pela via das práticas e (ou) pelas vias dos discursos dos sujeitos. Pela via da prática temos as diversas formas de observação que permitem descrever diferentes elementos do objeto. Já pela via do discurso, temos as técnicas associativas (Associação Livre de Palavras, cartas associativas, produção de imagens, entre outros) e as técnicas interrogativas (diferentes modalidades de entrevistas e questionários). Cabe ressaltar que essas técnicas podem, por vezes, estar presentes em um mesmo estudo ou até num mesmo instrumento, esta foi nossa opção metodológica. Inicialmente, elaboramos e aplicamos o 1º. Instrumento de produção de dados: um questionário que foi dividido em 4 partes, conforme descrito a seguir. A primeira parte, dedicada às evocações livres, foi encaminhada de modo a solicitar aos sujeitos a escrita das 5 (cinco) primeiras palavras que lhes viessem à mente quando pensavam nas contribuições: i) do curso para ensinar matemática na educação básica; ii) do estágio para ensinar matemática na educação básica; iii) do PIBID (quando partícipe) para ensinar matemática na educação básica. A seguir, solicitou-se que os sujeitos enumerassem de 1(um) a 5 (cinco) as palavras citadas de acordo com a importância que atribuíam as mesmas. Para finalizar, aos sujeitos era pedido que justificassem a escolha da palavra considerada como mais importante e que escrevessem nesta justificativa, no mínimo, cinco linhas. Na segunda parte, que tinha como objetivo trazer um delineamento inicial das atitudes dos sujeitos em relação aos cursos que frequentam, apresentou-se 11(onze) afirmativas sobre a contribuição de cursos de formação de professores para atuar na educação básica. Estas afirmativas basearam-se na legislação vigente sobre formação de professores para atuação na educação básica. O sujeito deveria expressar o seu grau de concordância em relação as afirmativas, considerando as diferentes experiências vivenciadas em seu curso de formação de professores. O grau de concordância variava entre: muito, razoavelmente, pouco, muito pouco e nada. Na terceira parte, em 5 (cinco) itens foram citadas duas afirmativas excludentes, baseadas nos objetivos elencados pela legislação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. Embora baseadas nos objetivos colocados na legislação do PIBID, compreendemos que as afirmativas serviam a todos os sujeitos da amostra devido ao seu teor. Num quinto item, além de escolher entre duas afirmativas com essas características, os sujeitos deveriam dissertar sobre como compreendiam a articulação teoria e prática. Tentou-se neste caso aproximar-se do que Moscovici (2012a) trata como processos de ancoragem e objetivação, pois os sujeitos vão buscar entre aquilo que conhecem, que já vivenciaram, o que pode ser tratado como teoria e prática, bem como se dá a aproximação ou superação de relações entre esses elementos. Finalmente, na quarta parte do questionário apresentou-se uma lista de palavras contrárias, com o objetivo de levar o sujeito a mostrar sua opinião sobre as atividades realizadas durante o curso de licenciatura em matemática quanto a preparação para a docência na educação básica. Perguntava-se, por exemplo, se estas atividades tendiam mais para pontuais ou constantes; articuladas ou desarticuladas, entre outros. Finalmente, focou-se no processo de objetivação, por meio do seguinte expressão indutora: Ser professor é... Onde nos encontramos e para onde caminhamos Até o momento, além do aprofundamento teórico que alimenta todo o processo de pesquisa, já realizamos a aplicação dos questionários em todas as IES selecionadas, organizamos os dados obtidos para submissão aos softwares EVOC e ALCESTE, preparamos a entrevista que será realizada ainda no segundo semestre de 2015. Vale destacar que o roteiro de entrevista semiestruturada, foi elaborado a partir das palavras obtidas por meio da Associação Livre de Palavras e seu tratamento pelo EVOC. Consideramos isto um exemplo importante das relações e complementaridade dos instrumentos de coleta e(ou) produção de dados, conforme já citado ao citar a necessidade do uso de procedimentos plurimetodológicos, no trabalho com representações socais. Sobre a justificativa para o uso de entrevista, embasamo-nos em Moscovici (2012), quando o autor afirma que, o fato de os elementos de uma representação social terem sido construídos mediados pela comunicação, confere às mesmas o caráter de elementos partilhados entre os membros do grupo. Sendo assim, a escolha dos métodos de coleta e (ou) produção de dados deve priorizar a conversação, o discurso, a linguagem, esta última considerada não apenas como língua falada, mas também como gestos, silêncios, pausas, desenhos, ou qualquer outro elemento utilizado na comunicação entre membros de um grupo, situados em seu contexto históricocultural. Considerando esta perspectiva, os sujeitos entrevistados serão aqueles que, após responderem o questionário, explicitados os objetos e objetivos da pesquisa, se dispuseram a participar espontaneamente. Ainda sobre a continuidade do trabalho, o movimento agora é de refinamento da empiria, agregando aos índices, conteúdos e estruturas obtidos, a análise dos dados a partir da perspectiva dos questionamentos, objetivos e fundamentos teóricos postos. Procedimentos estes sem os quais a tese não se sustentará. REFERÊNCIAS ABRIC, J. -C. Abordagem estrutural das representações sociais: desenvolvimentos recentes. In: JODELET, D. (org.). As representações sociais. Tradução: Lilian Ulup. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001. p. 37-57. ABRIC.J.-C. Abordagem estrutural das representações sociais: desenvolvimentos recentes. 155- 169In: CAMPOS, P. H. F.; LOUREIRO, M. C. S. da (Orgs.). Representações Socais e Práticas Educativas. Goiânia: UCG, 2003. p. 155-169. MOSCOVICI, S. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012a. MOSCOVICI, S. A psicanálise, sua imagem e seu público. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012b. SÁ, C. P. de. Sobre o núcleo central das representações sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.