PROPRIEDADES DOS MATERIAIS INTRODUÇÃO A escolha de um material de construção requer do engenheiro um conhecimento amplo de sua constituição, propriedades e características. A indústria da construção civil sempre foi considerada, de modo generalizado, como sendo uma indústria artesanal, onde a falta de habilitação de seus funcionários juntamente com a não observância das especificações dos materiais e a ausência de critérios técnicos e de aplicação dos mesmos, quando existem, contribuem para a redução da qualidade das obras, desperdício acentuado dos materiais e aumento significativo do custo final. No mundo atual onde a concorrência entre empreendedores aliada à necessidade de se oferecer a população residências de custo mais acessíveis, passando até por critérios até então relegados a um segundo plano, ou seja, a preocupação com os aspectos ecológicos que nos alerta para o uso racional dos materiais cuja matéria prima não é renovável ou reciclável, agravado pela ausência de locais destinados ao armazenamento do entulho, nos obriga a refletir e considerar como essencial o estudo de “Materiais de Construção” e consequentemente sua utilização racional. Profissionais com larga experiência no uso e aplicação dos materiais são unânimes em afirmar: - “Uma obra executada com materiais de baixa qualidade, onde não se considera aspecto técnicos, econômicos e estéticos, juntamente com a ausência quase que absoluta de critérios racionais e metodológicos na sua aplicação, geralmente fica mais cara que uma obra onde os materiais são adquiridos a um custo maior. Neste último caso o profissional que os utiliza, e detém o conhecimento de suas característica e propriedades, emprega esse saber na aplicação racional dos mesmo, eliminando desperdícios, não conformidades e defeitos que exigem reparos imediatos ou futuros, reduzindo o custo final e aumentando significativamente a durabilidade de nossas construções”. 1. CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS 1.1. Classificação quanto a origem Com relação a origem os materiais podem ser classificados como: naturais ou artificiais: Naturais: Consideramos como naturais aqueles que são extraídos da natureza e empregados isoladamente ou em conjunto com outros, sem terem sofrido transformações ou modificações na sua composição original. Ex.: areia, cascalho, argila, pedra, madeira. Obs.: Com relação a pedra britada alguns autores a classificam como artificial. Discordamos dessa colocação considerando que o fato da pedra ter sofrido alterações na sua dimensão não modifica ou transforma sua composição original. Artificial: Materiais obtidos através de alterações na sua composição original ou em mistura com outros se transforma em um terceiro. Ex. Cimento: composto basicamente por três materiais de origem natural: calcário, argila e gesso. A moagem do clinquer, resultante da calcinação do calcário e argila, com gesso resulta no cimento Portland. Outros exemplos de materiais de origem artificial: Tintas e vernizes, plásticos, aço, alumínio, materiais cerâmicos, etc. 2. CONDIÇÕES DE EMPREGO 2.1. Condições Técnicas As condições técnicas dizem respeito à organização física e química dos materiais. Dentre as várias características abordaremos as seguintes: Resistência Um material é resistente quando é capaz de suportar os vários tipos de solicitações físicas, químicas e mecânicas. Exemplo: concreto armado. Trabalhabilidade É a facilidade que o material oferece ao ser manuseado. Durabilidade Um material é considerado durável quando resiste ao meio ambiente no qual foi aplicado. Ex. alumínio. Higiene As condições relativas a higiene exigem que o material se comporte favoravelmente a saúde do homem: bem estar físico, mental e social. Ex. materiais isolantes (térmico, acústico, impermeabilizante). 2.2. Condições econômicas As condições econômicas constituem requisitos de maior importância na escolha dos materiais. Para que um material possa ser aplicado é indispensável que seja examinado quanto às despesas de aquisição e de utilização. É condição essencial que os materiais sejam adquiridos e utilizados com o máximo de aproveitamento possível e com o mínimo de custo, considerando-se eficiente o material que satisfazendo as condições técnicas e estéticas, quando exigidas, é o de custo mais vantajoso. A qualidade influi, portanto, sobre a economia, concluindo-se que um material só poderá ser considerado econômico se for de boa qualidade. Fabricação Alguns materiais podem ser fabricados na obra ou adquiridos de terceiros outros só podem ser adquiridos prontos e, neste caso, devemos analisar a idoneidade do fabricante. Aquisição Esta etapa requer uma pesquisa de preços criteriosa no mercado fornecedor e, nos casos onde é possível fabricá-los na obra, comparar os custos de cada opção, incluindo todos os itens que formam uma planilha de custo, tais como: aquisição de insumos, estocagem, perdas, mão-de-obra, equipamentos, controle tecnológico, produtividade, etc. Outro item muito importante deve ser considerado quando da aquisição de um material, sua qualidade. A qualidade de um material influi significativamente na durabilidade e custo final de uma obra. Se tomarmos como exemplo o cimento veremos que no Brasil são fabricados quase que exclusivamente cimentos de classe 32 e 40, o cimento de classe 40 geralmente é comercializado por um preço de 4% a 5% mais caro que o de classe 32, entretanto um estudo criterioso de dosagem do concreto nos atesta que o uso do cimento de classe 40 nos permite uma redução de 10% a 12% no consumo total de cimento, sem comprometimento de sua resistência mecânica. 2 Transporte Devemos observar a distância de transporte do material até o local da obra. Considerando não só o custo do frete mas também problemas decorrentes de abastecimento. Os termos FOB e CIF indicam custo do material na origem e no destino final, respectivamente. Atualmente, nos grandes centros, está ficando cada vez mais difícil adquirir areia de boa qualidade devido ao esgotamento e/ou contaminação das jazidas existentes, o que nos obriga a adquirir o insumo em locais cuja distância pode chegar a 150 km. Nestes casos o preço do frete chega a superar o preço do material. Armazenamento Cada material exige um critério para estocagem, de acordo com suas características físicas e químicas. Ex.: aço, cimento, cal, areia, brita, etc. O custo e, principalmente, a disponibilidade de área de estocagem deve ser considerada na aquisição do material. Exemplo: o concreto virado em obra costuma apresentar custo ligeiramente inferior ao concreto pré-misturado porém o reduzido espaço físico necessário para estocagem de cimento, areia, brita e equipamentos pode inviabilizar a primeira opção. Aplicação Todo material requer uma aplicação específica, definida através de processos e técnicas racionais, com mão-de-obra treinada e consciente das características e propriedades dos mesmos. Esses fatores são responsáveis pela produtividade, qualidade e custo final (eliminação de desperdício e necessidade de recuperações e correções de trabalhos já executados). Exemplo: . azulejos (azulejista) . instalação elétrica (eletricista) . pintura (pintor) . armadura, aço (armador) . instalação hidráulica (bombeiro) . alvenaria (pedreiro) Manutenção Os materiais devem ser de boa qualidade e aplicados corretamente. Mesmo assim estão sujeitos aos agentes agressivos: intemperismo (sol, chuva, vento, congelamento e degelo), óleos, ácidos, desgaste superficial, deformações, fadiga, infiltrações, corrosão, etc. Daí a necessidade de manutenções periódicas. 2.3. Condições Estéticas São características definidas pelos materiais que melhor reproduzem os projetos arquitetônicos, tais como: cor, textura, padrão, dimensão. Todos estes itens bem ordenados, com sucessão agradável de tons e coerência na disposição dos materiais, dão estilo à obra. 3. PROPRIEDADE DOS MATERIAIS 3.1. Propriedades Físicas • Maleabilidade: São consideradas maleáveis as substâncias que podem ser transformadas em lâminas (chumbo, ferro, alumínio). • Ductilidade: São considerados dúcteis as substâncias que podem ser transformadas em fios. Exemplo: (cobre – fios elétricos). • Densidade: Relação entre a massa e o volume de um corpo. Conhecida também como massa específica ou densidade absoluta. 3 • Massa Específica: M.E. = Massa (kg) Volume (dm3) • (Volume absoluto: volume de sólidos, sem vazios) Massa Unitária: M.U. = Massa (kg) Volume (dm3) • (Volume aparente: volume de sólidos + volume de vazios) Inchamento: Inchamento = M.U. h x (100 + h) 100 M.U. s Obs.: M.U. h = massa unitária úmida M.U. s = massa unitária seca Umidade: Absorção: h = Ph - Ps x 100 Ps A (%) = Ph - Ps x 100 Ps 3.2. Propriedades Térmicas • Calor Específico: Quantidade de calor necessário para aumentar em 1ºC a temperatura de 1 grama de massa de qualquer substância. • Ponto de fusão: Passagem do estado sólido para o líquido. Ex: O minério de ferro se “funde” a temperatura próxima de 1500º C para a obtenção do ferro. • Solidificação: Passagem do estado líquido para o sólido. Ex: A água pura no estado líquido se solidifica a temperatura de 0º C. • Ebulição: Passagem do estado líquido para o gasoso. Ex: A água puro no estado líquido entra em ebulição a temperatura de 100º C. • Condensação: O vapor se condensa em gotículas. • Dilatação térmica: possibilita a determinação da variação dimensional de um material com a mudança de temperatura. Exemplos: • • Material • Coeficiente de dilatação térmica (cm/cm/ºC a 20 ºC) • Concreto • 12,6 x 10-6 • Cobre • 16,2 x 10 • Alumínio • 22,5 x 10-6 -6 Condutividade térmica: possibilita a determinação da capacidade de um material de conduzir ou transferir calor. Exemplos: Bom condutor (metais), mau 4 condutor (borracha, madeira) Exemplos: Material Coeficiente de condução térmica (ºC.cm2.s a 20ºC) Tijolo Cerâmico 0,0015 Aço 0,115 Poliestireno 0,0002 3.3. Propriedades Elétricas • Condutividade e resistividade elétrica: são as propriedades que definem a facilidade ou dificuldade que certos materiais apresentam para conduzir eletricidade. Exemplo: bom condutor (metais), mau condutor (borracha, madeira). Material Resistividade (ohm.cm a 20ºC) -6 Aço 17,1 x 10 Cobre 1,7 x 10-6 Alumínio 2,9 x 10 -6 1018 Poliestireno 3.4. Propriedades Químicas • Solubilidade: Alguns materiais são solúveis em presença de água. Exemplo: Material solúvel (gesso), insolúveis (cimento, ferro). • Estabilidade química: capacidade que um material apresenta de não reagir quimicamente. Esta propriedade é que garante a durabilidade do material e, depende da composição química, do grau de cristalização e nível de defeitos, e da temperatura. • facilidade de um material reagir quimicamente. Para algumas Reatividade: situações estas propriedades são necessárias, como no caso dos aglomerantes. A composição química, o grau de amorfização e nível de defeitos, a temperatura, os catalizadores e a granulometria influem na reatividade dos materiais. 3.5. Propriedades Magnéticas Magnetismo: Propriedade de certas substâncias em atrair o ferro. 3.6. Propriedades Mecânicas • Dureza: Propriedade dos materiais de oferecer resistência ao risco, ou seja, à penetração da sua superfície. A dureza é medida por escalas, obtidas a partir de materiais de referência conforme elaboração do autor. Assim têm-se as seguintes escalas: Mohs: escala comparativa com materiais de referência como a unha, o vidro e o canivete. Usada em Geologia e dá uma avaliação qualitativa do material. Brinnel: avalia o material através da área de penetração de “bilhas” esféricas padronizadas. Rocwell: avalia o material através da profundidade de penetração de uma bilha padrão. - - 5 Obs.: Os ensaios mais precisos são o Brinnel e o Rocwell, que avaliam o material a partir de uma referência padronizada. Com isto a avaliação passa a ser quantitativa e não qualitativa. Exemplos de dureza: Material Dureza Brinnel Dureza Mohs Aço carbono 200 4–5 Latão 100 2–3 Plásticos 12 1-2 Resistência mecânica Podemos definir resistência mecânica como sendo a relação entre o esforço aplicado a um determinado corpo e a área da seção onde está sendo transmitido esse esforço. A unidade de pressão, que define os valores de resistência, é o Pa (Pascal). Os valores da resistência devem ser expressos em MPa (Mega Pascal). 1 MPa = 10 kgf/cm2 10 MPa = 1 kgf/mm2 (Em medidas de Engenharia, para facilitar os cálculos, a Norma Brasileira arredondou o valor de 1 kgf para 10 Newton ( 1 kgf = 9,80665 Newton ) A seguir demonstraremos porque 1 kgf/mm2 = 10 MPa e 1 kgf/cm2 = 0,1 MPa 10 MPa = 1 kgf/mm2 M (mega) = 106 Pa (Pascal) = N ÷ m2 1 N = 10-1 kgf Portanto teremos: 1 MPa = 106 x 10-1 kgf 106 mm2 Logo: 1 MPa = 106 x 10-1 kgf x 10-6 mm2 6 -7 1 MPa = 10 x 10 kgf mm2 1 MPa = 10-1 kgf / mm2 10 MPa = 1 kgf / mm2 1 MPa = 10 kgf/cm2 M (mega) = 106 Pa (Pascal) = N ÷ m2 1 N = 10-1 kgf 6 -1 Portanto teremos: 1 MPa = 10 x 10 kgf 104 cm2 Logo: 1 MPa = 106 x 10-1 kgf x 10-4 cm2 1 MPa = 106 x 10-5 kgf cm2 6 1 MPa = 10 kgf / cm2 Os esforços mecânicos ou solicitações simples a que um corpo pode ser submetido são: - Compressão - Tração - Flexão - Torção - Cisalhamento 7 UNIDADES DE MEDIDA Unidades de Base - SISTEMA INTERNACIONAL Grandeza Comprimento Massa Tempo intensidade de corrente elétrica temperatura termodinâmica intensidade luminosa quantidade de matéria Unidade Metro Quilograma Segundo Ampère Kelvin candela mol Representação m kg s A K cd mol Unidades Derivadas- SISTEMA INTERNACIONAL Grandeza área volume velocidade aceleração massa específica luminância atividade radioativa frequência força pressão trabalho,energia potência carga elétrica potencial elétrico fluxo de indução magnética indutância momento de uma força viscosidade dinâmica capacidade térmica e entropia calor específico campo elétrico Unidade metro quadrado metro cúbico metro por segundo metro por segundo ao quadrado quilograma por metro cúbico candela por metro quadrado por segundo hertz(Hz) newton (N) pascal (Pa) joule(J) watt (W) coulomb(C) volt(V) weber(Wb) henry(H) newton.metro pascal.segundo joule por kelvin joule por kilograma.kelvin volt por metro 8 Representação 2 m 3 m -1 m.s m.s-2 kg.m-3 cd.m-2 -1 s -1 s -2 kg.m.s -2 N.m -2 kg.m.s = N.m kg.m.s-3 = J.s-1 A.s J.C-1 V.s -1 Wb.A N.m Pa.s J.K-1 J(kg.K)-1 V.m-1 Unidades "NÃO SI " Grandeza Comprimento Comprimento Comprimento Comprimento Comprimento Comprimento Comprimento Comprimento Comprimento Comprimento Volume Volume Volume volume Massa Massa massa Massa Massa Massa Massa Energia Área Área Área Área Velocidade aceleração Pressão Pressão Pressão Pressão Pressão Força Força trabalho e energia trabaho e energia Potência Potência Unidade unidade astronômica (UA) parsec(pc) angstrom(Å) milha marítima micron ( ) milha terrestre (mile) jarda (yard) pé (foot) palmo (span) polegada (inch) litro(l ou L) barril de petróleo galão americano galão inglês unidade de massa atômica(u) tonelada(t) quilate dracma libra (pound) onça (avoirdupois) onça ( apothecaria) elétronvolt are (a ) hectare(ha) alqueire (paulista) pé quadrado nó gal bar milimetro de mercúrio (mmHg) torricelli (torr) barie (b) atmosfera normal(atm) dyne(dyn) quilograma-força(kgf) erg caloria (cal) cavalo-vapor(CV) horse-power Valor (unidades SI) 1,495978 x 1011 m 3,085680 x 1016 m -10 10 m 1852 m -6 10 m 1 609, 3 m 0,9144 m 0,30480 m 22,86 x 10-2 m -2 2,540 x 10 m -3 3 10 m 3 0,159 m -3 3 3,785 x 10 m -3 3 4,545963 x 10 m -27 1,66057 x 10 kg 1000 kg 2 x 10-4 kg 1,772 x 10-3 kg 0,453 kg -3 28,35 x 10 kg -3 31,10 x 10 kg 1,60218 x 10-19 J 102 m2 104 m2 24200 m2 9, 290304 m2 -1 1852 / 3600 m.s -2 -2 10 m.s 5 10 Pa 103,322 Pa 103,322 Pa 0,1 Pa 101325 Pa –5 10 N 9,80665 N -7 10 J 4,1868 J 735,5 W 745,7 W Bibliografia : Rozenberg, Izrael M. , "O Sistema Internacional de Unidades", Instituto Mauá de Tecnologia, São Paulo - 1998 9 Exercícios: 1. Sabendo-se que a massa específica da argamassa é 2200 kg/m3. Calcular a massa de 800 litros de argamassa. 2. Calcular o volume absoluto de um traço de concreto de acordo com os dados a seguir: Cimento: Areia: Brita: Água: 300 kg 700 kg 1200 kg 200 L Massa Específica: Massa Específica: Massa Específica: Massa Específica: 3,05 kg/dm3 2,62 kg/dm3 2,71 kg/dm3 1,00 kg/dm3 3. Com as quantidades contidas no exercício 2 e o volume total correspondente, calcular o volume de material necessário para uma concretagem de 150 m3. Cimento: Areia: Brita: Água: 300 kg 700 kg 1200 kg 200 L Massa Unitária: Massa Unitária: Massa Unitária: 4. Calcular o peso seco de 90 kg de areia com 6% de umidade. 10 1,30 kg/dm3 1,42 kg/dm3 1,00 kg/dm3