FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS - FUCAPE MELISSA ALFEU PRIBANIC A CACHAÇA CAPIXABA: Um estudo sobre barreiras à internacionalização. VITÓRIA 2011 MELISSA ALFEU PRIBANIC A CACHAÇA CAPIXABA: Um estudo sobre barreiras à internacionalização. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Senso em Administração, linha de pesquisa em comércio internacional, da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Profa.Dra. Arilda Magna C. Teixeira Vitória 2011 MELISSA ALFEU PRIBANIC A CACHAÇA CAPIXABA: Um estudo sobre barreiras à internacionalização. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Senso em Administração, linha de pesquisa em comércio internacional, da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada em 23 de Março de 2011. COMISSÃO EXAMINADORA Prof° Dra.: Arilda Magna C. Teixeira (FUCAPE) Prof° Dr. : Bruno Funchal (FUCAPE) Prof° Dra.: Graziela Xavier Fortunato (FUCAPE) A Marin Pribanic, marido, amigo, parceiro e responsável por transformar o meu sonho em realidade. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por me dar força e coragem. Ao meu marido pelo exemplo de companherismo e ao meu filho pelos momentos de alegria e esperança num futuro melhor. À minha família pela compreensão e apoio durante a minha intensa jornada de estudos. À minha orientadora Dra. Arilda Magna C. Teixeira pelos conselhos, apoio e pela determinação em ajudar durante essa trajetória. Aos professores doutores Valcemiro Nossa, Graziela Fortunato e Bruno Funchal por suas contribuições, que me ajudaram na concretização deste trabalho. Aos demais professores, colegas e funcionários da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças pelos momentos compartilhados. Aos amigos Shirley Cunha e Itamar da Silva pelo convívio e pela oportunidade de aprendizado. E, em especial, à amiga Miriam Machado por suas contribuições e apoio nos momentos mais difíceis. RESUMO O objetivo do estudo é compreender os motivos do baixo desempenho de exportação de cachaça do Estado do Espírito Santo. A discussão teórica parte do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho (E-C-D) da teoria organizacional, que tenta explicar as ações da firma por meio da interdependência dos elementos E-C-D e inclui ainda as teorias sobre internacionalização de empresas, tanto da visão econômica, quanto da visão comportamental. Se valendo das premissas da pesquisa qualitativa, os dados foram analisados com base na análise de conteúdo, sendo coletados por meio de questionários estruturados e entrevistas semi- estruturadas, com produtores do segmento da cachaça, além de pesquisas bibliográficas em instituições,como o Ministério da Agricultura, Sebrae, Incaper, ACAPEQ, entre outras. Os resultados indicam que o baixo desempenho exportador da cachaça capixaba tem relação direta com os efeitos da estrutura e conduta do setor. Palavras Chaves: Modelo internacionalização, cachaça. estrutura-conduta-desempenho, processo de ABSTRACT The purpose of the study is to comprehend the reasons why the cachaca exporter’s performance is low from the state of Espirito Santo. The theoritical discussion comes from the Structure-Conduct-Performance (S-C-P) model of organizational theory that trys to explain the companies performance through elements of interdependence SC-P and also includes theories about the internationalization of the companies, thus being an economic vision and behavioral vision. Taking advantage of the assumptions made from the qualitative research, the data that was based in content research was anylized, collected through structured questionnaires and semi interviews with producers from the cachaça segment, also bibliographical research in institutions as Ministry of Agriculture, SEBRAE, INCAPER, ACAPEQ, among others. The results indicate that the low exporter performance of cachaca capixaba, has direct relationship with the effects of structure and sector conduct. Keywords: Structure-Conduct-Performance Model, internationalization process, cachaça. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Estrutura-Conduta-Desempenho Porter.....................................................20 Figura 2: Distribuição e Comercialização da Cachaça..............................................46 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Modo de entrada em outros países.....................................................21 Quadro 2: Diferença entre cachaça Artesanal e Industrial...................................39 Quadro 3: Comparativo da produção de Cachaça...............................................40 Quadro 4: Leis, Decretos e Normas da Cachaça.................................................41 Quadro 5: Bebidas destiladas mais vendidas no mundo (Volume em milhões de caixas de 9 litros)..................................................................................................50 Quadro 6: Frequências das barreiras à exportação das entrevistas....................65 Quadro 7: Resultado das respostas dos questionários........................................72 Quadro 8: Comparativos das barreiras à exportação...........................................75 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Produtores entrevistados segundo o município....................................57 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Mercado total de bebidas alcoólicas..........................................................48 Gráfico 2: Volume importado por cada continente.....................................................52 Gráfico 3: Principais países de destino em volume de exportação de Cachaça.......53 Gráfico 4: Comparativo percentual entre os Estados de SP,PE, MG e ES de quantidade de cachaça exportada.............................................................................54 Gráfico 5: Percentual correspondente do ES sob o faturamento do Brasil em cachaça exportada.....................................................................................................54 LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS ABRABE - Associação Brasileira de Bebidas ACAPEQ – Associação Capixaba dos Produtores de Cachaça de Qualidade AMPAQ - Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade APROCANA - Associação dos Produtores de Cachaça de Qualidade do Norte do Espírito Santo. COOPAS – Cooperativa dos Produtores de Aguardente do Sul do Espírito Santo EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária IBRAC - Instituto Brasileiro da Cachaça IDAF - Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo IDE - Investimento Direto Estrangeiro INCAPER – Instituto Capixaba de Pesquisa e Assistência Técnica e Extensão Rural INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MMA - Ministério do Meio Ambiente MT - Ministério do Trabalho e Emprego OMC - Organização Mundial do Comércio SEAMA - Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEDES - Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Social TRIPS - Acordo sobre aspectos dos direitos de propriedade intelectual relacionados ao comércio UFES - Universidade Federal do Espírito Santo UNICANA – Cooperativa dos Produtores de Cachaça do Espírito Santo SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................15 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO........................................................................................15 1.2 OBJETIVO E PROBLEMA ..............................................................................................16 1.3 RELEVÂNCIA DO TEMA.................................................................................................17 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO.........................................................................................17 2. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................18 2.1. MODELO ESTRUTURA-CONDUTA- DESEMPENHO....................................... 18 2.1.2 Abordagem do Modelo E-C-D segundo Porter ............................................ 19 2.2 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS ....................................................... 21 2.2.1 Teoria do Ciclo do produto ............................................................................ 24 2.2.2 Teoria do Poder de Mercado ......................................................................... 25 2.2.3 Paradigma Eclético ........................................................................................ 26 2.2.4 Modelo de Uppsala ......................................................................................... 28 2.2.5 Networks ......................................................................................................... 30 2.3 INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS ............................ 32 2.3.1 Estudos sobre internacionalização da cachaça ......................................... 34 2.4. A CACHAÇA ..................................................................................................... 37 2.4.1 O Produto ........................................................................................................ 38 2.4.1.1 Tipos de cachaça ........................................................................................ 38 2.4.1.2 Capacidade produtiva ................................................................................. 40 2.4.1.3 Legislação ................................................................................................... 40 2.4.1.4 Associações ................................................................................................ 43 2.4.1.5 Órgão reguladores ...................................................................................... 45 2.4.2 MERCADO ....................................................................................................... 46 2.4.2.1 Distribuição e comercialização ................................................................ 47 2.4.2.2 Consumo da cachaça ............................................................................... 48 2.4.2.3 Empresas líderes......................................................................................... 49 2.4.3 EXPORTAÇÃO ................................................................................................ 52 3. METODOLOGIA ................................................................................................... 56 3.1 MÉTODO............................................................................................................. 56 3.2 AMOSTRA DE DADOS ....................................................................................... 56 3.3 COLETA DE DADOS .......................................................................................... 57 3.3.1 Critérios de análise dos dados ..................................................................... 58 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................... 59 4.1 RESULTADO DAS ENTREVISTAS .................................................................... 59 4.1.1 Caractéristicas do setor conforme a categoria ........................................... 59 4.2 RESULTADO DOS 21 QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS ............................. 72 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 73 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 77 APÊNDICES ....... .................................................................................................. 83 Capítulo 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO Na primeira década do século XXI a cadeia produtiva da cachaça ganhou destaque e se firmou como um importante produto do agronegócio brasileiro (VERDI, 2006), com isso apresentou um aumento na pauta de exportação do país de 15,6% em relação à década anterior. No período de 2000 a 2009 houve um aumento de 52% no valor exportado. Em 2010 o setor exportou o equivalente a 15 bilhões de dólares em cachaça, isto equivale a 49% do valor exportado entre 1990 e 1999 (ALICEWEB,2010). A produção de cachaça é mais expressiva em 4 estados brasileiros – São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo, contudo, são os estados de São Paulo e Pernambuco que se destacam, respectivamente, no volume de produção e no volume de exportação (IBRAC,2010). O estado do Espírito Santo produz cachaça a 400 anos (MERLO, 2009), no entanto, nunca teve representatividade no mercado nacional, nem no comércio exterior. Por exemplo, em 2010, o ES respondeu por 0,0051 % da exportação nacional (ALICEWEB,2010). Concomitantemente, em outros setores, como minério de ferro, granito, café conillon e mamão papaya, o Espírito Santo é responsável por 23% das exportações brasileiras em valor (ES, 2010). 16 Essas diferenças entre os setores agroindustriais do mesmo estado podem ser melhor compreendidas por meio de análises do comportamento das empresas vis-a-vis a estrutura de mercado em que estão inseridas. Seguindo essa linha de análise o presente trabalho utilizou como parâmetro analítico o modelo Estrutura-Conduta-Desempenho (E-C-D) de Bain (1959), sintetizado por Scherer e Ross (1990). Este modelo estabelece uma cadeia causal entre o desempenho das firmas, seu comportamento (conduta) e a estrutura de mercado em que estão inseridas. Adicionalmente recorreu-se às teorias sobre internacionalização de empresas, para discutir os fatores que afetam as decisões de ingresso no mercado externo. Na literatura sobre o processo de inserção ao mercado externo, destaca - se a visão econômica, representada por Vernon (1966), Hymer (1976) e Dunning (1980); e a visão comportamental, ressaltando as articulações de Johanson e Valhne (1977,1990), Jonhanson e Wiederssheim-Paul (1975), entre outros autores. O objetivo de interpretar a relação entre o comportamento da firma e a estrutura de mercado em que está inserida é comum em ambas as visões. A primeira tem como referência o processo que constrói as condições internas para se manter em um mercado. A segunda, se concentra no gereciamento da estratégia organizacional para se estabelecer em um mercado a partir das condições internas (da firma) e externas (do mercado). 1.2 OBJETIVO E PROBLEMA Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo compreender os motivos do baixo desempenho exportador da cachaça do Espírito Santo por meio da análise da estrutura e da conduta do setor. 17 Nesse sentido buscou-se resposta para a seguinte questão: Por que o Espírito Santo apresenta baixo desempenho na exportação de cachaça? Para isso, utilizou as premissas da pesquisa qualitativa. Sendo a análise de conteúdo a metodologia usada como instrumento de interpretação dos dados. Os dados foram obtidos por meio de questionários estruturados e entrevistas semi-estruturadas com produtores do setor. 1.3 RELEVÂNCIA DO TEMA Este trabalho se justifica por contribuir para um melhor entendimento das características do setor produtor de cachaça do Espírito Santo. Além disso, não encontramos com frequência na literatura nacional trabalhos semelhantes que ressaltam a cachaça do estado do Espírito Santo. As informações obtidas na pesquisa serão válidas, tanto para o meio acadêmico, em prol da geração de outros trabalhos na área, quanto para consultas de empresas que tenham interesse no setor. 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO A estrutura deste trabalho está dividida em cinco capítulos, a saber: Após a introdução do tema estudado; o segundo capítulo identifica o arcabouço teórico do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho, as teorias de internacionalização de empresas, além de apresentar o setor produtor da cachaça; no terceiro, apresentase a metodologia; no quarto, a interpretação dos resultados da análise dos dados, e no quinto capítulo as considerações finais sobre o estudo. CAPÍTULO 2 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. MODELO ESTRUTURA-CONDUTA- DESEMPENHO A Organização Industrial busca discutir os efeitos que as imperfeições de mercado exercem sobre a eficiência produtiva e alocativa dos sistemas econômicos, ou seja, refere-se ao conjunto de ajustamentos que as empresas fazem, em virtude das condições de oferta e demanda, para se adaptarem aos mercados onde operam (BRUMMER, 1981). Para Sherer e Ross (1990), a Organização Industrial é definida como sendo a análise de alguns determinantes de mercado que orientam as atividades dos produtores no sentido de atender a demanda dos consumidores. Segundo a Teoria Econômica, existem dois tipos de determinantes da atuação da empresa no mercado, são eles: a) estrutura de mercado: que influencia e canaliza as atividades das empresas e seus resultados e; b) conduta de mercado: que compreende os costumes, políticas, padrões de concorrência, estratégias e todos os demais artifícios que as empresas possam adotar para se manterem no mercado. Segundo Kupfler (1992 ), é consenso entre os microeconomistas a relevância da obra de Bain (1959), na constituição da metodologia estrutura-condutadesempenho (E-C-D) como ferramenta básica de análise de organização industrial. Contudo, por compreenderem que o comportamento das organizações é o elemento que define o desempenho dentro das estruturas de mercado, Sherer e 19 Ross (1990) acrescentaram à cadeia causal de Bain, o elemento 'conduta'. Nesse sentido, a estrutura interdependente do modelo passou a ser denominada EstruturaConduta-Desempenho (E-C-D), sendo o desempenho das firmas determinado pela conduta, que por sua vez, é determinada pela estrutura do mercado. A estrutura de mercado é influenciada pelo que Scherer e Ross (1990) chamam de características básicas de oferta e demanda. Além das influências das condições básicas, os termos do modelo E-C-D também sofrem interferências dos efeitos de feedback, ou ações de retroalimentação entre os elementos (SHERER E ROSS, 1990), ou seja, seguindo as diretrizes desses efeitos de feedback, as mudanças na tecnologia afetariam os custos dos produtos. Novas medidas nas políticas de preços alterariam as condições de barreiras à entrada, implicando numa gradual mudança na estrutura do mercado, com aumento ou diminuição das firmas e consequentemente em seu desempenho (SHERER E ROSS, 1990). Em resumo, o modelo E-C-D prevê que a dimensão do desempenho econômico das firmas é o resultado direto da sua conduta perante a concorrência em termos de fixação de preços e custos, e que essa conduta dependerá da estrutura da indústria na qual as firmas estão inseridas. 2.1.2 Abordagem do Modelo E-C-D segundo Porter Porter (1990) relaciona o desempenho de uma empresa no mercado como variável dependente das características do ambiente em que ela está exposta. O ambiente é a estrutura na qual a empresa opera, e a partir dela, a estratégia competitiva é elaborada, ou seja, o desempenho depende da estratégia competitiva 20 que a empresa adotou para combater a concorrência. Essa, por sua vez, depende da estrutura (ambiente). O modelo de análise da indústria de Porter (1990) se define de acordo com a Figura 1: Estrutura da Indústria → Conduta (Estratégia) → Desempenho Figura 1: Estrutura-Conduta-Desempenho Porter Fonte: Porter (1990) As empresas, por meio de suas estratégias, podem influenciar as cinco forças competitivas, a saber (PORTER,1990): a) ameaça de entrada de novas firmas (barreiras); b) poder de negociação dos fornecedores; c) poder de negociação dos compradores; d) ameaça de produtos substitutos; e) rivalidade entre as empresas existentes. As cinco forças competitivas fornecem um contexto no qual as empresas competem, e o seu conjunto determina a intensidade da concorrência na indústria (PORTER,1990). Entre essas forças estão as barreiras de entrada. Porter (1990), assim como Bain (1959) e Scherer e Ross (1990), ressalta que as principais fontes dessas barreiras são: economia de escala, diferenciação do produto, necessidade de capital, custo de mudança, acesso aos canais de distribuição, desvantagens de custo independente de escala, política governamental e experiência. Essas barreiras de entrada mudam à medida que as condições do ambiente se alteram (Porter,1990). Conclui-se, então, que o ambiente em que a empresa opera irá determinar a barreira de entrada. 21 2.2 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS No mercado internacional o ambiente é marcado pela competitividade. Kupfler (1995) informa que a maior parte dos estudos da microeconomia se referem à competitividade como sendo o desempenho das empresas expressa na participação de mercado (market share). A participação das exportações da firma no comércio internacional de mercadorias é o seu indicador mais imediato. Contudo, Kupfler (1995) acrescenta que competitividade é mais do que isso. Na verdade, ela refere-se “a capacidade da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (KUPLFER,1995,p.3). A competitividade apresenta-se como resultado da adequação entre as estratégias das empresas individuais e o padrão de concorrência vigente no mercado específico. Esse padrão de concorrência será definido a partir da interação entre estrutura e condutas dominantes no setor (KUPFLER ,1995). A internacionalização surge como uma expressão dessa competitividade, na qual as empresas buscam por motivos diferenciados, ingressar em outros mercados. Existem diversas formas de ingresso no mercado externo. Rocha e Almeida (2006) criaram uma classificação de modos de entrada, conforme demonstra o Quadro 1: Por exportação Indireta Direta Cooperativa Contratual Licenciamento Franchising Acordo Técnico Contrato de serviços Contrato de administração Contrato de produção Aliança contratual Quadro 1: Modo de entrada em outros países Fonte: Rocha e Almeida (2006) Por investimento Investimento Greenfield Aquisição Subsidiária Joint venture 22 Este estudo deu ênfase ao meio de entrada por exportação, por ser a forma mais usual de ingresso no mercado externo, em especial para as pequenas e médias empresas (ROCHA E ALMEIDA, 2006). A exportação de forma indireta refere-se à modalidade de ingresso que se utiliza de agentes exportadores, trading company ou empresas distribuidoras, no país de origem, como intermediários, para realizar atividades no país destino. Essa forma apresenta benefícios de pouco comprometimento de recursos, menor risco e aprendizado rápido (ROCHA E ALMEIDA, 2006). Entretanto, as empresas que optam por essa modalidade, em geral, apresentam dificuldade de controle da forma de exposição dos seus produtos, posicionamento competitivo, preços, canais de distribuição e até mesmo, acarreta a perda da sua marca original, passando a usar a marca do distribuidor encarregado pela comercialização (ROCHA E ALMEIDA, 2006). Na exportação direta, o controle sobre as atividades internacionais da empresa é maior, contudo, envolve um maior custo de investimento, além do aumento no risco. As empresas que optam por essa modalidade, geralmente, montam sua própria rede de distribuição no mercado estrangeiro e definem a sua estrátegia de marketing (ROCHA E ALMEIDA, 2006). Devido ao alto grau de comprometimento de recursos, essa modalidade é bastante utilizada por grandes corporações. A modalidade que agrega maior controle e investimento ponderado é a forma cooperativa, sendo a mais comum a chamada exportação casada. Nela, a empresa exportadora se utiliza da estrutura de uma rede pré-existente de outra empresa, 23 local ou estrangeira, para vender seus produtos no mercado externo (ROCHA E ALMEIDA, 2006). Outra forma dessa modalidade é o consórcio. Trata-se de um grupo de empresas, com linhas de produtos complementares e não-competitivas, que se associam em conjunto para atingir o mercado internacional (ROCHA E ALMEIDA, 2006). Ohmae (1989) corrobora com a idéia que a melhor forma de diminuir os riscos no ingresso ao mercado internacional é por meio de associações e alianças. Ele ainda sugere que para ser global a empresa deve atuar em mercados importantes. Independente da forma de ingresso, a decisão de entrar em mercados internacionais, requer muita cautela, pois envolve uma série de fatores que se não forem bem administrados podem comprometer os recursos da empresa. Considerando essa realidade, existe uma gama de teorias que tentam apresentar as motivações que podem levar uma empresa a se internacionalizar. Neste trabalho, optou-se por utilizar as duas teorias tradicionais mais citadas no meio acadêmico, a saber: a teoria econômica e a teoria comportamental. Tendo como base os modelos da Organização Industrial, a teoria econômica, busca o entendimento das movimentações das empresas em ambiente competitivo, onde impera as imperfeições do mercado. Esta literatura faz associação entre a organização dos fatores produtivos e as decisões de investimentos das empresas às tendências de comportamento dos mercados. Tem como precursores Vernon (1966), com a teoria do Ciclo do produto, 24 Hymer (1976), com a teoria do Poder de Mercado e Dunning (1980), com Paradigma Eclético. 2.2.1 Teoria do Ciclo do produto A teoria do Ciclo do produto idealizada por Vernon (1966) afirmava que as inovações tecnológicas dos países desenvolvidos propiciariam um ganho de monopólio transitório da produção e exportação. Contudo, à medida que esses produtos fossem ficando padronizados, a sua produção poderia se estender para outros países, diminuindo os custos de produção. Ou seja, o padrão do comércio mundial se definiria a partir do ciclo de vida do produto, iniciando nos países desenvolvidos e finalizando nos países em desenvolvimento. Os produtos passariam por três fases de ciclo de vida,(VERNON,1966): 1) A introdução, presente nos países desenvolvidos, onde existe uma mudança constante na tecnologia e na evolução do mercado; 2) O crescimento, marcado pela demanda estrangeira, produção em larga escala e barreiras de entrada para firmas entrantes. 3) A maturação, presente nos países em desenvolvimento, onde existe uma produção e tecnologia mais padronizada e sem inovações, com grande necessidade de mão-de-obra pouco qualificada, priorizando a redução de custos. Vernon (1966) afirma que o empresário pode se valer dessas imperfeições do mercado para reduzir as desvantagens de escassez de capital presente em países 25 menos desenvolvidos, e coloca-se em posição de concorrer efetivamente na exportação de certos bens padronizados intensivos de capital. 2.2.2 Teoria do Poder de Mercado Hymer (1976) foi um dos precursores das teorias econômicas de internacionalização. Em sua obra, o autor diferenciou o investimento estrangeiro direto (IED), do “investimento de portfólio”. A principal diferença entre eles, é que o primeiro teria a capacidade de controle da empresa no qual o investimento foi feito, e no segundo, o investidor buscaria apenas diversificar suas aplicações financeiras. Cada investidor tentaria aumentar seus lucros em países onde os retornos fossem maiores. Pois, segundo Hymer (1976), a empresa teria apenas três motivos para o investimento direto no exterior: neutralização da concorrência, obter vantagens competitivas e diversificar o produto. A teoria de Hymer (1976) classifica a firma, em especial, as multinacionais, como um agente do poder de mercado. Sendo assim, as empresas inicialmente cresceriam a sua participação nos mercados domésticos. Quanto mais aumentassem o seu poder de concentração dentro desse mercado, maior seriam os lucros, obtidos pelo alto grau de poder de monopólio. Tais lucros seriam investidos em atividades no mercado externo, gerando um novo ciclo de poder no mercado internacional. Para Dib (2008), o foco principal da teoria do poder de mercado foi estabelecer uma relação causal da conduta para a estrutura do mercado e não viceversa, como considerado na teoria de organização industrial. As multinacionais 26 construiam sozinhas uma posição de poder de mercado em seus países de origem, bem como, em seus mercados internacionais. Contudo, para Rocha e Almeida (2006), foi a interpretação dada por Hymer (1976) na escolha de investimento direto pelas multinacionais que revolucionou todo o pensamento econômico até então, influenciando vários estudos posteriores. 2.2.3 Paradigma Eclético O Paradigma Eclético de Dunning (1980) é um modelo para explicar a decisão de produzir ou não em um mercado externo. Dunning (1980) acreditava que as imperfeições do mercado (custos de informação e transação, oportunismo dos agentes e especificidades de ativos) levariam as empresas a optarem pelo investimento direto, ao invés de licenciamento ou exportação, como forma de ingresso no mercado externo. Contudo, essa decisão seria adotada, caso a empresa tivesse simultaneamente três conjuntos distintos de vantagens: a propriedade, a localização e a internalização. 1) A vantagem de propriedade se dá quando uma empresa apresenta um diferencial em relação às outras empresas do mercado, por possuir atributos específicos relacionados a marcas, capacitação tecnológica e qualificação de mãode-obra. 2) A vantagem de localização está diretamente relacionada a países que possuem aspectos atrativos para investimentos externos, tais como, recursos naturais, mão-de-obra, infra-estrutura e tamanho de mercado. 27 3) A vantagem de internalização é o aproveitamento do mercado doméstico, ao invés de se valer do mercado internacional para obter economias de escala ou para reduzir custos de transação e coordenação, resultantes da incerteza do mercado externo. Por meio deste conjunto de vantagens, o modelo de Dunning (1980) tem o objetivo de demostrar que a internacionalização só ocorre se houver interesse econômico e que o investimento estrangeiro direto (IED) é a via pela qual ela se concretiza. A limitação da sua análise consiste, segundo o próprio autor, no poder limitado para explicar e prever determinados tipos de produção internacional e o comportamento individual das empresas. Dunning (1980) afirma que as empresas diferentes podem ver as oportunidades de investimentos idênticos, oferecidos por um determinado país, de forma diferente. Sendo assim, as características específicas de cada empresa são cruciais para a configuração dessas vantangens. A outra linha de pensamento sobre internacionalização de empresas é a abordagem comportamental, com origem na escola de Uppsala, nas décadas de 1950 e 1960. Esta teoria supõe que os comportamentos empresarias são direcionados pelas condições internas e externas, e não pelo direcionamento de alguma estratégia específica. Existem dois modelos tradicionais que abordam as teorias comportamentais, são: o Modelo de Uppsala (M-U), que tem como precursores Johanson e Valhne (1977) (1990), Johanson e Wiederssheim–Paul (1975). E o modelo de inovação (IModel), exposto por Cavusgil (1980). 28 Segundo Dib (2008), a diferença entre os dois modelos está no direcionamento da empresa, enquanto o primeiro trabalha a integração e uso da experiência e do conhecimento sobre o mercado estrangeiro, o segundo modelo, entende a internacionalização como uma inovação da empresa. Sendo o ritmo lento da inserção, resultado da aversão da empresa ao risco e à falta de conhecimento do mercado estrangeiro. Ambos os modelos são similares em assumir um processo gradual de inserção da empresa, além das barreiras à internacionalização, como o idioma e as diferenças culturais. Entretanto, o modelo M-U é o mais difundido e ainda o mais abrangente, por não se referir a algum tipo particular de empresa, diferente do I-model direcionado para grandes empresas. Por isso, foi utilizado neste estudo o M-U como representante da abordagem comportamental. 2.2.4 Modelo de Uppsala (M-U) A base do modelo M-U está nas evidências encontradas em estudos empíricos de empresas suecas, que apoiavam a ideia da internacionalização como um processo pelo qual gradualmente aumentariam seu envolvimento internacional (JONHANSON E WIEDERSSHEIM-PAUL,1975). Esse modelo visava ser uma ferramenta explicativa sobre as etapas de um processo de internacionalização, que seguiriam uma sequência, chamada de “cadeia de estabelecimento”, a saber, (JONHANSON E WIEDERSSHEIMPAUL,1975) : 1) ausência de exportação; 29 2) exportacão para um país através de agentes; 3) estabelecimento de uma filial de venda; 4) estabelecimento da produção no país de acolhimento. Para Johanson e Wiedersheim-Paul (1975), o envolvimento das empresas com o mercado internacional se aprofunda à medida que aumenta o conhecimento sobre o mercado e amplia os canais de informação. Sendo a sequência feita através da escolha de mercados psiquicamente menos distantes. A expressão “distância psíquica” é definida por Johanson e Vahlne (1977) como “a soma dos fatores que impedem o fluxo de informações para o mercado”, entre eles estão as diferenças de língua, educação, práticas de negócios, cultura e desenvolvimento industrial. Sendo assim, as firmas escolhem ingressar inicialmente em países relativamente próximos e somente de forma gradual, vão se deslocando para países mais distantes. Em outras palavras, para Johanson e Vahlne (1977), conhecimento é um recurso empregado na estratégia de inserção em um mercado. Quanto maior o domínio desses recursos, melhores são as condições para se atuar nesse mercado. Seguindo esse direcionamento, as firmas buscam países que possuam similaridades com o mercado local e no qual possam ter maiores oportunidades e menores incertezas. Dib (2008) afirma que a premissa básica desse modelo é que a falta de conhecimento sobre mercados estrangeiros tornou-se um importante obstáculo para o desenvolvimento das atividades internacionais, e que tal conhecimento é adquirido principalmente por meio das operações internacionais. 30 Honório (2009) complementa tal afirmativa alegando que a experiência internacional pode influenciar as decisões da firma relativas ao comprometimento de recursos no mercado estrangeiro, bem como, o desempenho de suas atividades atuais. Segundo Melin (1992), o modelo de Uppsala é interessante por estimular o aprendizado e o desenvolvimento das atividades internacionais em países próximos das organizações de origem, reduzindo assim os riscos derivados desse processo. Entretanto, Andersen (1993) crítica a falta de teor empírico do modelo de Upssala e ainda o caráter limitante da amostra por ser composta apenas de empresas suecas. Hemais e Hilal (2003) afirmam que os pesquisadores de Uppsala não pretendiam com sua teoria explicar todas as expansões de cada firma ou as sequências de entrada em um mesmo mercado, uma vez que características específicas das empresas, das indústrias e dos fatores de localização também exerciam forte influência sobre o fenômeno. 2.2.5 Networks Posteriormente, Johanson e Vahlne (2006) admitiram que devido aos novos conceitos de um mundo globalizado, com arranjos culturais e institucionais diferentes, seria necessária uma revisão no modelo de Uppsala, propondo uma inclusão da abordagem de Networks. Segundo Rocha e Almeida (2006), a definição de uma networks é uma rede de relacionamentos formada por relações a longo prazo desenvolvidas e mantidas entre diferentes agentes econômicos atuantes no mercado. 31 Na abordagem de Networks, a base comportamental é a mesma do modelo de Uppsala, contudo, a perpectiva da internacionalização torna-se dependente, tanto da própria empresa, quanto da rede de relacionamentos (networks) (DIB, 2008). A atuação dentro desta rede é eficiente por promover aprendizado entre os participantes, além de superar a escassez de recursos (DIB, 2008). A entrada no mercado externo passa a ser uma coalizão de grupos de interesse, onde o grau de internacionalização da rede é que determina o grau de internacionalização da empresa (ROCHA E ALMEIDA,2006). Para Barreto (1998), as networks eram utilizadas tanto para ingressar no mercado externo, quanto para se manter nele. O autor apresenta uma série de contribuições que favorecem a participação de uma empresa numa network, são elas: • a network pode servir como facilitadora da entrada em mercados de maior distância psíquica; • a network pode estimular o interesse e a busca de conhecimento sobre determinado mercado; • o processo de internacionalização da líder de uma network pode acelerar ou retardar o dos demais membros; • a entrada pode permitir chegar a clientes potenciais antes inacessíveis. Fleury e Fleury (2003) afirmam que o posicionamento das empresas dentro desse novo contexto, caracterizado por redes interorganizacionais internacionais, torna-se importante a participação e a posição de cada empresa segundo a função de suas competências. Sendo que a posição na rede e a forma pela qual as 32 competências são administradas irão por sua vez influenciar as estratégias competitivas. Em suma, ao ingressar numa network, as ações das empresas passam a depender da rede de relacionamento na qual estão inseridas. 2.3 INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS A partir da década de 1990, devido a abertura de mercado e a entrada de multinacionais estrangeiras, as empresas brasileiras se sentiram ameaçadas, e com isso, buscaram novos mercados para diversificar o risco, fortalecer-se e aprender (ROCHA, 2003). De forma geral as empresas dos mercados emergentes buscaram ampliar o seu alcance utilizando os seguintes critérios: proximidade territorial, esfera linguística e comportamentos culturais (CASANOVA, 2009). Segundo Heming (2006), esse envolvimento com o mercado externo, em um primeiro momento ocorreu de forma irregular e gradativa, marcado por iniciativas isoladas. Contudo, essa realidade sofreu modificações até meados de 2004. O câmbio favorável impulsionou as exportações e incentivou o desempenho econômico internacional das empresas brasileiras, que enfrentaram um relativo sucesso nos mercados internacionais em que atuavam (CYRINO E BARCELOS, 2006). Todavia, Rocha (2003) alega que as empresas brasileiras não conseguem manter uma regularidade no processo de internacionalização, pois são motivadas a ingressar no mercado externo somente quando estímulos externos favorecem essa 33 atividade, como por exemplo: mercado interno saturado, incentivos governamentais, pedidos inesperados vindos do exterior, entre outros. Para Bañegil (2009), a comercialização no exterior não se deve valer apenas do aproveitamento de oportunidades pontuais, pois são efêmeras, deve-se pautar em estratégias globais, que compreendem marketing de divulgação do produto, investigação de mercados externos, avaliação de oportunidades, entre outros. Essa falta de interesse pela exportação pode ser devido à preferência ao mercado doméstico, devido a sua extensão, a sua familiaridade, e também lucratividade. E a falta de competitividade das empresas brasileiras no quesito exportação pode ser interpretada como acomodações às menores exigências dos consumidores locais (ROCHA,2003). Segundo Rocha (2003), além do impacto do ambiente sobre as motivações empresariais, outros fatores são impeditivos para o ingresso das empresas brasileiras no mercado externo, entre eles destacam-se o isolamento geográfico e linguístico e a formação cultural nacionalista dos nossos gestores. Corroborando com as afirmações de Rocha (2003) sobre a falta de interesse em exportação, destaca-se uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral – FDC (2002). A elaboração da pesquisa foi motivada com intuito de compreender os motivos do baixo volume de négocios internacionais gerado pelas empresas brasileiras. Os resultados mostram que apesar de 82,2% das empresas brasileiras pretenderem iniciar ou aumentar o seu grau de internacionalização, ainda não o fazem devido às seguintes barreiras (FDC,2002): 34 1. O mercado doméstico atende aos objetivos da empresa. 2. Dificuldade de acesso a canais de distribuição nos mercados internacionais. 3. Baixas economias de escala, tornando os custos de produção elevados em relação aos concorrentes internacionais. 4. Dificuldades em formar parcerias internacionais. 5. Ausência de experiência e conhecimentos gerenciais para internacionalizar. 6. Dificuldades de adaptação de natureza cultural. 7. Dificuldades em oferecer produtos/serviços que atendam às necessidades de consumidores internacionais. 8. Dificuldades em levantar informações sobre mercados globais. 9. Competências tecnológicas insuficientes ou inadequadas para competir em custos e em qualidade. A pesquisa sugere que as empresas revejam a sua posição de ingresso gradual no mercado externo e busquem adquirir aprendizado por meio de experiências das empresas já inseridas, “de forma a queimar etapas e desfrutar mais rapidamente das vantagens decorrentes de operações internacionais”. Para saber se existe uma similaridade das barreiras destacadas nessa pesquisa com as barreiras ao ingresso da cachaça no mercado externo, buscou-se estudos sobre o tema. 2.3.1 Estudos sobre internacionalização da cachaça A falta de estratégia de internacionalização também é ressaltada nos estudos de Blume et al. (2007) sobre as vantagens competitivas da cachaça mineira de alambique. Neste estudo, os autores discutem a forma de ingresso e os recursos necessários para a cachaça ser inserida no mercado externo segundo os critérios das exigências competitivas para a internacionalização. Os resultados do referido estudo apontam que o setor produtor de cachaça de alambique não apresenta uma estratégia para internacionalização e pratica a forma de exportação indireta como forma de acesso. Acrescenta também a importância de 35 recursos como: economia de escala, pontos de distribuição, pontos de presença, planta instalada, além da necessidade de construir um padrão produtivo diferenciado para manter a capacidade competitiva. Já o estudo de Kovacs et a.l (2007) discute o processo de internacionalização da cachaça sob a ótica do marketing mix global. Kovacs et a.l (2007) reafirma as considerações de Blume et al. (2007) no quesito sobre a forma de acesso ao mercado externo ser prioritariamente a exportação. Kovacs et al. (2007) aplicou a metodologia de estudo de caso numa empresa pernambucana de cachaça que apresenta padrões de internacionalização bem sucedidos na competição internacional. Após modificações na embalagem, marca, preço, diferenciação do produto, liderança de custos e investimento em marketing, a empresa obteve um maior aprendizado internacional e conseguiu acesso a bons canais de distribuição (KOVACS ET AL.,2007). Segundo Kovacs et al. (2007), o sucesso da empresa deu-se devido ao relacionamento com os canais de distribuição e também por meio do investimento em marketing, como participação em feiras, eventos, missões internacionais, além de anúncios em revistas. A importância do marketing também está presente nas afirmativas de Scherer e Ross (1990), que alegam que investimentos em propaganda têm como objetivo garantir a fidelidade do comprador. 36 Bañegil (2009) acrescenta a relevância da propaganda, afirmando que o marketing internacional garantirá que a empresa consiga preparar-se melhor para enfrentar e vencer nos mercados internacionais. Outro estudo que ressalta a importância do marketing foi o estudo de caso da empresa de cachaça pernambucana Pitú, dos autores Tscha et al. (2007). O artigo discute os motivos do sucesso da empresa Pitú no setor exportador de cachaça. E conclui que o sucesso deu-se por meio de um projeto inovador de divulgação e comercialização de seu produto no exterior, com participação em feiras, eventos internacionais, divulgação em jornais, revistas, TV, rádio, além de promoções de degustação e treinamento de barmens (TSCHA ET AL., 2007). Ao encontro com as idéias de Kovacs et al. (2007) os autores Tscha et al. (2007) destacam como uma vantagem competitiva a escolha de uma boa parceria internacional, responsável pelo engarrafamento, distribuição e elaboração de estratégia no mercado externo. Outro estudo sobre cachaça artesanal de alambique, desenvolvido pelo SEBRAE-MG (2001), revelou as características do setor mineiro. Referente à exportação da cachaça, o estudo afirma que a muito o que ser explorado, pois no mercado externo, a cachaça é desconhecida no formato original e sim, sob a forma de caipirinha. E discute ainda que fatores responsáveis pela baixa participação mineira são: volume, padronização e preço. A solução apresentada foi a unificação do padrão da cachaça mineira, ampliação do volume de produção e o desenvolvimento de um novo nicho para a cachaça artesanal. 37 Já o trabalho de Guerra (2005) buscou investigar o comportamento das exportações da cachaça no mercado da União Europeia. O texto discute a evolução da exportação da cachaça, assim como a importância da marca Brasil nesse contexto, além das barreiras encontradas nesse processo. O resultado, segundo Guerra (2005), aponta para um grande potencial exportador para o mercado europeu, tendo como diferencial a marca Brasil, contudo, a cachaça encontra algumas barreiras tarifárias e não tarifárias. Desta última podese destacar a existência do percentual de cobre na destilação da cachaça produzida em alambiques, o que torna-se um entrave à exportação, pois a legislação internacional não permite sequer traços de cobre na composição final da bebida. Outro empecilho refere-se às características dos rótulos e embalagens que devem seguir rigorosas normas do país importador. Diante desses trabalhos citados surge o interesse em compreender as características do setor produtor de cachaça do Espírito Santo. 2.4 A CACHAÇA Este item aborda as características do setor produtor da cachaça e está dividido em três temas, a saber : a) O primeiro tema é o produto e traz um breve panorama sobre as questões técnicas de fabricação, tipos de cachaça, capacidade produtiva, regulamentação; b) O segundo tema é o mercado e traz informações sobre distribuição e comercialização, consumo da cachaça e empresas líderes; c) O terceiro tema é a exportação, que apresenta a realidade exportadora da cachaça em âmbito nacional e estadual. 38 2.4. 1. O Produto O processo de destilação chegou ao Brasil pelos portugueses, por meio da destilação do bagaço de uva, produzindo uma bebida chamada Bagaceira, por volta de 1553 (MERLO, 2009). Porém, a cachaça produzida a partir da destilação da cana-de-açúcar surgiu no começo do século XVI, mais especificamente na capitania de São Vicente. Neste mesmo período, a cachaça capixaba começou a ser fabricada em São Mateus (MERLO, 2009). Tipicamente familiar, a produção é até hoje, em sua maioria, artesanal. As mais antigas marcas, segundo Cavalcanti (1986), são fabricadas nos municípios de Santa Leopoldina e Afonso Cláudio, são elas, respectivamente, Sereia, fundada em 1917 e Thimontina, em 1915. 2.4.1.1 Tipos de cachaça Após a destilação e filtragem, a cachaça deve descansar por no mínimo 2 a 4 meses. Somente após o término deste período, é que poderá ser engarrafada ou submetida ao processo de envelhecimento, no qual deve permanecer por no mínimo um ano (SEBRAE,2009). A legislação atual só classifica como “envelhecida”, a cachaça armazenada em barris de madeira. O seu valor agregado é muito maior do que a cachaça branca. A classificação da cachaça é de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que pode ser em diversos tipos, (SILVA, 2006): • • Cachaça Descansada, Branca, Nova, Prata ou Tradicional: produzida e armazenada em recipientes neutros, de madeira ou não, que não agregue cor à bebida. Cachaça Envelhecida, Amarela ou Ouro: possui no mínimo 50% de cachaça nova envelhecida em recipiente de madeira 39 • • • • apropriado, com capacidade máxima de 700 litros, por um período não inferior a um ano. Cachaça Premium: contém 100% de cachaça envelhecida em recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxima de 700 litros, por um período não inferior a um ano. Cachaça Extra Premium: apresenta 100% de cachaça envelhecida em recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxima de 700 litros, por um período não inferior a três anos. Cachaça Reserva Especial: possui características sensoriais, dentre outras, diferenciadas do padrão usual e normal dos produtos elaborados pelo estabelecimento, desde que devidamente comprovada. Os laudos técnicos deverão ser emitidos por laboratórios públicos ou privados reconhecidos pelo MAPA. Cachaça Adoçada: contém açúcares em quantidade superior a 6g/l e inferior a 30g/l, expressos em sacarose. A produção da cachaça pode ser artesanal ou industrial, a distinção é feita da seguinte forma pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA (2009): Processo de produção Artesanal Baixa escala Tonéis de Cobre Natural Classe A e B Alto R$ 1,30 U$ 20 Aspectos Industrial Produção Larga escala Destilação Colunas e Tonéis de aço-inóx Fermentação Adição de produtos químicos Público Alvo Classe C e D Valor agregado Baixo Preço médio / litro custo R$ 0,70 Preço médio / litro venda U$ 1,5 exportação Quadro 2: Diferença entre cachaça Artesanal e Industrial Fonte: Elaborada pela autora com dados da Embrapa e Aliceweb.2010 As principais diferenças encontradas são referentes ao sabor e aparência que elevam a qualidade das cachaças artesanais aumentado o seu valor agregado em relação às industriais (SEBRAE/ESPM,2008). O processo de produção artesanal, em sua maioria, é composto por pequenos e médios produtores, já as grandes corporações são responsáveis pela produção industrial da cachaça (VERDI, 2006). 40 2.4.1.2 Capacidade produtiva As micro e pequenas empresas correspondem a 99% do total de produtores de cachaça no Brasil (EMBRAPA, 2009). Considerando somente a produção de estabelecimentos registrados, a capacidade produtiva chega a 1,3 bilhões de litros de cachaça por ano, aproximadamente (EMBRAPA ,2009). Deste montante, o Espírito Santo contribui em torno de 6,5 milhões de litros anuais (MAPA, 2010). Essa diferença se reflete em outros números, conforme se observa no quadro 3: Características Brasil Espírito Santo Produção anual (em litros) 1,3 bilhões 6,5 milhões Número de produtores 40 mil 131 Geração de empregos 600 mil 5 mil Quadro 3: Comparativo da produção de Cachaça Fonte: Elaborado pela autora com base dados:MAPA, Sebrae-ES, 2010 A produção do Brasil se concentra principalmente nos estados de São Paulo, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraíba, sendo São Paulo o maior produtor nacional e Pernambuco o maior exportador em termos de volume. (IBRAC, 2009). 2.4.1.3 Legislação Por se tratar de uma bebida alcoólica, a cachaça apresenta uma regulamentação específica, sendo proibido o seu consumo para menores de 18 anos. Os produtores devem seguir as regras impostas pelas leis, decretos e instruções normativas que dispõem sobre o assunto, conforme descrito no quadro 4: 41 Lei / Decreto / Norma Assunto Lei nº 8.918, de 14 de Dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a julho de 1994 produção e a fiscalização de bebidas, autoriza a criação da Comissão Intersetorial de Bebidas e dá outras providências. Decreto nº 4.062, de 21 Define as expressões "cachaça" e "cachaça do Brasil" como indicações de dezembro de 2001 geográficas e dá outras providências Instrução Normativa nº Aprova o regulamento técnico para a fixação de critérios para a indicação 55, de 18 de outubro de da denominação do produto na rotulagem de bebidas, vinhos, derivados 2002 da uva e do vinho e vinagres. Instrução Normativa nº Aprova as normas relativas aos requisitos e procedimentos para registro 56, de 30 de outubro de de estabelecimentos produtores de cachaça, organizados em associações 2002 ou cooperativas legalmente constituídas. Instrução Normativa nº Oficializa a cachaça como denominação típica e exclusiva de aguardente 13, de 29 de junho de de cana produzida no Brasil. 2005 Decreto nº 6.871 de 4 Regulamenta a Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, demostra a de Junho 2009 diferenciação dos destilados Quadro 4: Leis, Decretos e Normas da Cachaça Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do MAPA,IBRAC Dois decretos, em particular, contribuem para vincular o termo cachaça como um produto genuinamente brasileiro, são eles: Decreto nº 6.871/2009 que exprime a seguinte classificação: Art. 53. Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro. (Brasil, 2009) Decreto nº 4.062/2001, que definem as expressões "cachaça", "Brasil" e "cachaça do Brasil" da seguinte forma: 42 Art. 1o O nome "cachaça", vocábulo de origem e uso exclusivamente brasileiros, constitui indicação geográfica para os efeitos, no comércio internacional, do art. 22 do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio, aprovado, como parte integrante do Acordo de Marraqueche, pelo Decreto Legislativo no 30, de 15 de dezembro de 1994, e promulgado pelo Decreto nº 1355 de 30 de dezembro de 1994. § 1o O uso das expressões protegidas "cachaça", "Brasil" e "cachaça do Brasil" é restrito aos produtores estabelecidos no País.” (Brasil, 2009) O Decreto nº 4.062/2001 é resultado da representação perante à Organização Mundial do Comércio (OMC), para garantir a utilização exclusiva da expressão cachaça. Com base nos artigos 22 e 23 da TRIPS (Acordo sobre aspectos dos direitos de propriedade intelectual relacionados ao comércio) que definem: Art.22. - Proteção das Indicações Geográficas - Indicações Geográficas são, para os efeitos deste Acordo, indicações que identifiquem um produto como originário do território de um Membro, ou região ou localidade deste território, quando determinada qualidade, reputação ou outra característica do produto seja essencialmente atribuída à sua origem geográfica. Art. 23. Proteção Adicional às Indicações Geográficas para Vinhos e Destilados - Cada Membro proverá os meios legais para que as partes interessadas possam evitar a utilização de uma indicação geográfica que identifique vinhos em vinhos não originários do lugar indicado pela indicação geográfica em questão, ou que identifique destilados como destilados não originários do lugar indicado pela indicação geográfica em questão, mesmo quando a verdadeira origem dos bens esteja indicada ou a indicação geográfica utilizada em tradução ou acompanhada por expressões como "espécie", "tipo", "estilo", "imitação" ou outras similares(4). Em suma, o termo cachaça é considerado tipicamente brasileiro e os seus direitos reservados por lei, assegurando aos produtores do país o uso do termo. No âmbito estadual, existe a Lei 116/2007, que cria um Programa de Certificação da Cachaça de Qualidade do ES. O projeto determina que a certificação pode ser conferida à cachaça fabricada em safras anuais, a partir de matéria-prima 43 básica, processada de acordo com as características históricas e culturais de cada uma das regiões do estado e elaborada em propriedades rurais, podendo ser engarrafada na origem e/ou em entidades credenciadas, desde que estejam registradas no MAPA (ES, 2009). 2.4.1.4 Associações Para promover o desenvolvimento da cachaça, a Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE) criou o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC). O objetivo do IBRAC é adotar medidas que valorizem a cachaça, além de apoiar os produtores para que tenham condições de ingressar no mercado internacional e disputar espaço com outros destilados. Seguindo a premissa de valorização e ajuda mútua, os produtores capixabas se uniram, através da Associação Capixaba dos Produtores de Cachaça de Qualidade (ACAPEQ), que reúne três associações distintas, a saber: • UNICANA (Cooperativa dos Produtores de Cachaça do Espírito Santo), reunindo produtores de São Roque do Canaã. • COOPAS (Cooperativa dos Produtores de Aguardente do Sul do ES), agrupando fabricantes do sul do estado e da Grande Vitória. • APROCANA (Associação dos Produtores de Cachaça de Qualidade do Norte do Estado Espírito Santo), aglomerando produtores das regiões norte e noroeste do Espírito Santo. Essa parceria fortaleceu o segmento, aumentou a representatividade e a força política do setor. Para Rangel (2004), a junção dessas associações serviu também 44 para favorecer o desenvolvimento das micro e pequenas empresas desse mercado, além de implementar a melhoria da qualidade da cachaça, ampliar a conscientização sobre a importância de análise do produto por laboratório especializado, e aumentar o profissionalismo dos associados. Outra parceria de sucesso foi entre os produtores e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-ES). Este último possui um projeto específico de internacionalização do setor, que apresenta dois objetivos: o primeiro é preparar as empresas brasileiras para a competição no mercado doméstico com marcas internacionais e o segundo é abrir oportunidades para vendas no exterior. Para cumprir esses objetivos, o SEBRAE-ES se associou à Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) para fazer as análises químicas da cachaça e ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) para estabelecer normas padronizadoras de qualidade (SEBRAE-ES,2009). Em ambos os casos, as instituições fornecem um selo de certificação que comprova a qualidade da cachaça e garante que o produto cumpriu todas as normas ambientais. Atualmente, somente quatro produtores possuem os referidos selos (SEBRAE-ES,2009). Além disso, os selos são essenciais para facilitar a aceitação internacional da cachaça. Esta, por sua vez, deverá passar por um processo de certificação de algum organismo regulador brasileiro (SEBRAE-ES,2009). 45 2.4.1.5 Órgãos reguladores Para ser considerada uma produção regular, a cachaça deve apresentar registros nos seguintes órgãos governamentais: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e no Ministério do Trabalho e Emprego (MT). Além disso, precisa de uma licença ambiental, expedida pela Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente - SEAMA (MAPA, 2009). Para geração dessa licença, são considerados os seguintes itens: o fluxograma do processo de produção; layout do empreendimento; pontos de geração e emissão dos efluentes líquidos, resíduos sólidos, emissões atmosféricas, ruídos e vibrações; capacidade de produção; formas de estocagem de matérias-primas; produtos e subprodutos; sistemas de controle das poluições hídrica, atmosférica, sonora e de resíduos sólidos (ES,2009). Cabe a Receita Federal a liberação de um selo para atividades de industrialização, mediante o pagamento da taxa de IPI (Imposto sobre produtos industrializados). Sem esse selo o produtor fica impedido de comercializar a sua cachaça (ARAUJO et al., 2010). O valor desse imposto chega a representar 24,5% do faturamento da empresa. Contudo, esse imposto não é o único, ainda incide sobre a cachaça os tributos: PIS (Programa de Integração Social), COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) (ARAUJO et al., 2010). É provável que a alta taxa de informalidade no setor produtor de cachaça se deve a expressiva carga tributária. Segundo Sebrae-ES (2009), a taxa de informalidade pode chegar a 57% dos produtores do estado do Espírito Santo. 46 Essa informalidade não é exclusividade do setor capixaba, em seu estudo sobre a produção de cachaça, Martinelli et al(2000) apontam que os alambiques não regularizados contribuem, em aproximadamente, 10 a 20% da produção nacional. Um dos fatores estimuladores desta clandestinidade seria a facilidade de aquisição de matéria-prima e montagem do engenho. 2.4.2 MERCADO 2.4.2.1 Distribuição e comercialização A cachaça é uma denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil (MAPA,2009). E, após a sua fabricação, passa por uma extensa cadeia de distribuição, conforme a demonstra a figura 2: Figura 2: Distribuição e Comercialização da Cachaça Fonte: Oliveira, et al., (2002, p.3) 47 A partir da cana-de-açúcar, insumo necessário para a fabricação da cachaça, o setor produtor se diferencia conforme o objetivo final em (OLIVEIRA et al.,2002): a) Usinas: concentram a produção de açúcar e combustível; b) Destilarias: são responsáveis pela produção de álcool ou aguardente em grande escala; c) Alambiques: produzem exclusivamente a cachaça; d) Padronizadas ou estandardizadoras: apenas padronizam e engarrafam a bebida produzida pelas destilarias. Em relação à comercialização, Oliveira et al, (2002, p.2) dividem a produção da seguinte forma: 1. Venda interna, representada por supermercados, distribuidores de bebidas, postos de venda direta. A cachaça de alambique normalmente é vendida de forma direta do produtor, ou por cooperativas para o consumidor através de pontos de vendas. 2. Venda externa ou internacional, são usadas as vendas diretas, consórcios, e as vendas indiretas. Maia (2002, p.08) fez a seguinte distinção desses canais: • Vendas diretas são aquelas onde o produto exportado é faturado diretamente pelo produtor ou exportador, as formas mais comuns de exportação são: vendedor direto, filial de venda, agente exportador, consórcio de exportação, e vendas por correio. • A venda indireta se caracteriza por intermédio das empresas que se situam no país exportador, as formas usuais são: brooker, jobber, trading company e agente de vendas. 48 2.4.2.2 Consumo da cachaça No Brasil, há consumo de todos os tipos de cachaça. Sendo o consumo per capita, de aproximandamente, 11 litros por habitante/ano (MAIA, 2002). Os principais estados consumidores são: São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará, Bahia e Minas Gerais (IBRAC, 2009). Segundo a ABRABE (Associação Brasileira de Bebidas), a cachaça ocupa a segunda posição no mercado total de bebidas alcoólicas no Brasil, conforme mostra o Gráfico 1: Gráfico 1: Mercado total de bebidas alcoólicas Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados ABRABE (2009) Entretanto, se for considerado apenas o ranking de bebidas destiladas, a cachaça ocupa a primeira posição no país, com mais de 87% (em volume) do mercado (ABRABE,2009). No mundo, ocupa a terceira posição de bebida destilada mais consumida, perde apenas para vodca e para o shoju, contudo, fica à frente de bebidas como o gim, o whisky e o licor (VERDI, 2006). A cachaça tornou-se um símbolo de brasilidade, sendo apreciada por todas as classes sociais. E, até mesmo, os apreciadores mais exigentes já podem contar 49 com especialista na bebida, o chamado sommelier da cachaça, que assim como o sommelier de vinhos, serve e orienta os consumidores, além de saber avaliar todos os aspectos sensoriais de uma boa cachaça. A importância deste destilado para a cultura brasileira alcançou um patamar elevado, ao ser instituído, no calendário cultural, o dia nacional da cachaça, que é comemorado no dia 13 de Setembro (IBRAC,2009). Contudo, a sua gama de apreciadores não se restrige ao Brasil. Lima; Guimarães; Silva (2005), afirmam que o mercado internacional também aprecia o sabor da cachaça, em especial, a chamada cachaça tradicional, branca. Contudo, existe um mercado em expansão para a cachaça envelhecida, consumida pura. 2.4.2.3 Empresas líderes No mercado nacional, existem aproximadamente 4 mil marcas de cachaça (IBRAC,2009). Contudo, algumas se destacam, tanto no mercado doméstico, como no mercado mundial. Dentre elas, estão as marcas produzidas pelas empresas: Cia. Muller, Pitú ,Ypióca, Sagatiba (COUTINHO,2003). a) Cia. Muller Localizada em São Paulo, a Cia. Muller é a maior produtora de cachaça no mundo. E líder do mercado nacional, com 40% do mercado em volume e venda, sua marca é a Caninha 51, também conhecida como Pirassununga 51. Tem capacidade produtiva de 200 milhões de litros anuais, deste total, 20% do seu faturamento é proveniente das vendas (COUTINHO,2003;FLORÊNCIO,2009). para o mercado internacional 50 Numa pesquisa internacional, conduzida pela consultoria Euromonitor, a cachaça Pirassununga foi classificada no quarto lugar no ranking das mais vendidas, com 175,5 milhões de litros consumidos. Na frente de marcas tradicionais, como: o Whisky Johnnie Walker e o rum Bacardi (EUROMONITOR,2010). O primeiro lugar no ranking foi o destilado coreano Jinro. Conforme se pode observar no quadro 5, que representa as mais vendidas, segundo a pesquisa: Marca Jinro Smirnoff Lotte Liquor BG Pirassununga 51 Bacardi Tanduay Empresa Jinro Limited Diageo Lotte Liquor Cia Muller Bacardi Tanduay Distillers United Spirits Diageo United Spirits Categoria Soju Vodka Soju Cachaça Rum Rum 2007 69.84 24.30 19.00 21.50 19.90 14.43 2008 75.99 25.70 19.90 21.98 19.64 16.29 2009 63.98 24.00 21.20 19.50 18.60 16.92 Bagpiper Whisky 13.95 16.30 14.5 Johnnie Walker Whisky 15.80 16.30 14.50 McDowells N.1 Whisky 11.46 13.39 13.52 Officers Choice Whisky 6.60 9.50 12.00 Allied Quadro 5: Bebidas destiladas mais vendidas no mundo (Volume em milhões de caixas de 9 litros) Fonte: Euromonitor (2010) –Disponível em www.euromonitor.com Nota: Adaptada pela autora Podemos observar no quadro 5 que apesar da sua posição em 2009, a cachaça da produtora Muller obteve uma queda em relação aos últimos anos, a consultoria Euromonitor acredita que a perda de posição é um reflexo da crise mundial que afetou as grandes marcas. Em 2010, a marca obteve duas conquistas que podem significar um reforço em sua notoriedade internacional, a Certificação Kosher, mundialmente reconhecida como sinônimo de controle máximo de qualidade. Outra conquista foi o reconhecimento como a melhor cachaça envelhecida pelo Beverange Testing Institute (BTI), em Chicago, um dos mais importantes institutos de análise de bebidas alcoólicas do mundo (MULLER, 2010) 51 b) Pitú Localizada em Pernambuco, a engarrafadora Pitú, padroniza e engarrafa 5,6 milhões de litros por mês, ocupa a segunda colocação em vendas, obtendo 5 % do mercado nacional. Apesar de não fabricar, é uma das maiores exportadoras de cachaça do Brasil, exporta cerca de 2,5 milhões de litros/ano (PITÚ, 2010). c) Ypióca Localizada no Ceára, com 163 anos de tradição familiar, a empresa Ypióca é a mais antiga ainda em atividade. A empresa é a terceira em volume de vendas e possui uma capacidade produtiva de 126 milhões de litros por ano. Pioneira no desenvolvimento da cachaça orgânica, também está presente em mais de 40 países (YPIÓCA, 2010) d) Sagatiba A também paulista Sagatiba se destacou pela inovação, desenvolveu um processo de multidestilação que permitiu a fabricação de uma cachaça mais suave e leve ao paladar (ABRABE, 2010). No segmento Premium, recebeu destaque devido a sua marca Preciosa, envelhecida por 23 anos em barris de carvalho europeu do século XIX. Por causa da qualidade deste produto foi avaliada como uma das melhores cachaças do mundo pelo Beverage Testing Institute (BTI) (ABRABE, 2010). Segundo a ABRABE (2010), a Sagatiba Preciosa é a única cachaça do mundo a conquistar a medalha de platina e a integrar a categoria máxima, Superlative Category; obteve 96 pontos de um máximo de 100. Acima de 90 pontos a bebida é considerada excepcional. 52 A empresa possui uma capacidade produtiva de 1,8 milhões de litros /mês. E a marca conquistou em 2008 a terceira posição de vendas em São Paulo. Contudo, o seu foco está no mercado internacional, atualmente, presente em 32 países, pretende aumentar o seu share de participação no exterior, que hoje, representa 30% das vendas da marca (FLORÊNCIO, 2009). Após análise dos dados dessas empresas, há indícios que as mesmas dominam as exportações brasileiras de cachaça. 2.4.3 EXPORTAÇÃO Das 40 mil empresas do setor, somente 180 são exportadoras de cachaça (EMBRAPA,2010). Entretanto, a exportação deste destilado, cresce a cada ano. Num corte histórico, de 2000 a 2009, houve um crescimento de 52%, saltando de 8 bilhões de dólares faturados em 2000 para 15,5 bilhões em 2009 (ALICEWEB,2010). Segundo Moser et al (2009), o nosso principal importador é a União Europeia, entretanto, a cachaça brasileira está presente em todos os continentes, conforme podemos observar no gráfico 2: Gráfico 2: Volume importado por cada continente Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados de Moser et al., (2009) 53 A Alemanha consome mais da metade do volume exportado para a Europa, contudo, outros países também apreciam a cachaça brasileira (IBRAC, 2009). Segue uma representação gráfica dos cinco principais países de destino, em volume de exportação em litros, no período de 2000 a 2010: Gráfico 3: Principais países de destino em volume de exportação de Cachaça Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados do MDIC –Aliceweb – NCM 2208.40.00 Apesar de exportar para diversos países, se analisarmos o percentual total da exportação, menos de 1% da cachaça produzida anualmente no Brasil, é exportada (IBRAC ,2009). Ou seja, a exportação da cachaça apresenta muitas oportunidades de melhoria. O baixo desempenho exportador é expresso por meio dos índices de exportação de cachaça do estado do Espírito Santo. Comparando o percentual do volume total de litros exportados correspondente aos principais estados exportadores como: São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais, com o estado do Espírito Santo, no período de 2000 a 2010, percebe-se a disparidade dos números: 54 Gráfico 4: Comparativo percentual entre os Estados de SP,PE, MG e ES de quantidade de cachaça exportada Fonte: Elaborado pela autora com base dados AliceWeb A diferença se torna mais evidente, quando se compara o percentual correspondente do Espírito Santo sob o valor total faturado (em dólares) de exportação de cachaça do Brasil, no mesmo período de 2000 a 2010: Gráfico 5: Percentual correspondente do ES sob o faturamento do Brasil em cachaça exportada Fonte: Elaborado pela autora com base de dados Aliceweb Pode-se observar que nos números referentes ao ES, há inexistência de exportação em alguns anos, e os valores também levam à interpretação que os números são reflexos de casos isolados de empresas e não representam o setor. 55 Com intuito de compreender melhor esse setor, o presente estudo busca compreender os motivos do baixo desempenho exportador da cachaça do Espírito Santo. Capítulo 3 3. METODOLOGIA 3.1 MÉTODO Neste estudo utilizou-se a pesquisa qualitativa que, conforme afirma Godoy (1995), tem como objetivo principal interpretar o fenômeno que se observa. Já para Ponte et al. (2007), a pesquisa qualitativa se dedica à compreensão dos significados dos eventos, sem a necessidade de apoiar-se em informações estatísticas, sendo analisada por meio de pequenas amostras não necessariamente representativas da população, procurando entender as coisas, em vez de mensurálas. Dentro da pesquisa qualitativa optou-se por adotar a técnica de interpretação de dados, denominada de análise de conteúdo. Por meio desta técnica, pode-se obter indicadores do contéudo das mensagens passíveis de interpretação (BARDIN,1977). Creswell (2007) acrescenta que a análise de dados, conforme o conteúdo, permite uma imersão na realidade pesquisada por meio da extração dos seus significados, ou seja, extrai o verdadeiro significado das palavras ditas. Vergara (2005) complementa essa definição afirmando que a análise de conteúdo é utilizada no tratamento de dados que visa identificar o que vem sendo dito acerca de determinado tema. 3.2 AMOSTRA DE DADOS A amostra foi definida de maneira não probabilística e pelo critério de acessibilidade do pesquisador (VERGARA, 2000). Sendo composta por 35 57 produtores legalizados, representando 27% do universo de 131 produtores legalizados do Espírito Santo (MAPA,2010). Os produtores participantes foram retirados de três fontes distintas; da relação dos 10 maiores produtores por volume do MAPA–ES; da listagem de associados da ACAPEQ; e do livro Sabores do ES, cachaças capixabas, do Sebrae-ES, que relaciona os principais produtores do estado. 3.3 COLETA DE DADOS Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e de questionários estruturados. As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas para melhor compreensão e interpretação do material gravado (VERGARA,2000). As entrevistas foram efetuadas com 14 produtores in loco no período entre Junho de 2010 e Fevereiro de 2011, nos seguintes municípios: TABELA 1 : PRODUTORES ENTREVISTADOS SEGUNDO O MUNICÍPIO Municípios Número de produtores Afonso Cláudio 01 Alfredo Chaves 02 Anchieta 01 Boa Esperança 01 Domingos Martins 04 Guarapari 01 Marechal Floriano 01 Vitória 03 Total 14 Fonte:Elaborada pela autora 58 Já os questionários foram enviados para 21 produtores via correios e por meio de telemarketing, no período de Junho a Outubro de 2010. Os questionários que foram enviados pelos correios estavam acompanhados de uma carta de apresentação, e instruções de preenchimento, além do selo para a remessa de devolução. O contato via telemarketing seguiu um script padrão de abordagem. 3.3.1 Critérios de análise dos dados O modelo E-C-D foi utilizado para identificar nas entrevistas os elementos da estrutura de mercado e da conduta dos produtores do setor de produção de cachaça. O objetivo dessa análise foi compreender por meio desses elementos os motivos do baixo desempenho exportador do setor. Segundo esse modelo, o desempenho do mercado é uma resposta direta da interdependência da estrutura e da conduta existente no mercado em questão (SHERER E ROSS ,1990). Considerando os elementos da composição desse modelo, temos a estrutura de mercado formada por: número de compradores e vendedores, diferenciação de produtos, barreiras à entrada, estruturas de custos, integração vertical, diversificação (SHERER E ROSS ,1990). Já a conduta, segundo Scherer e Ross (1990), é composta por política de preço, pesquisa e desenvolvimento, investimento e técnicas de produção, propaganda, linha de produtos, cooperação tácita entre firmas e estratégias de divulgação. Capítulo 4 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste estudo utilizou-se a análise temática proposta por Bardin (1977) para a organização dos dados. Estes foram categorizados segundo elementos da estrutura de mercado e da conduta do setor de cachaça. E de acordo com a fala dos entrevistados. Na apresentação dos resultados, os entrevistados foram identificados por meio de números de 1 a 14, dispostos conforme a ordem de gravação. Os resultados dos questionários foram utilizados de forma descritiva e contribuiram para complementar as inferências do pesquisador no âmbito das entrevistas. 4.1 RESULTADO DAS ENTREVISTAS 4.1.1 Características do setor conforme a categoria O setor produtor de cachaça do Espírito Santo é constituído, em sua maior parte, por micro e pequenas empresas que, muitas vezes, fazem uso de mão-deobra familiar. A produção é artesanal e o “saber-fazer'' é herdado como tradição de família. Os temas abordados foram categorizados conforme a estrutura do mercado, assim como as atitudes dos produtores para uma melhor compreensão das peculiaridades do setor como um todo. 60 Categoria 1: Técnicas de produção Somente um produtor dos 14 pesquisados informou utilizar os dois processos artesanal e industrial na produção da cachaça, os demais utilizam o processo artesanal de alambique. A diferença entre os dois processos se torna clara por meio da seguinte fala: A cachaça artesanal é produzida em alambique e a cachaça industrial é através de colunas. Numa cachaça artesanal de qualidade de cada 200 litros produzidos 120 litros são jogados fora aproveita-se 80 litros que é o coração do produto, esse é o diferencial. Já que na coluna industrial não tem essa perda (Produtor 11). Por ser artesanal, a produção apresenta uma baixa escala, o produtor que mais produz não ultrapassa a marca de 25 mil litros por mês, contrastando com o produtor de menor rendimento, que chega a produzir no máximo 2,5 mil litros mês. Categoria 2: Estruturas de custos A média de custo por litro da cachaça tipo branca fica em torno de R$ 2,00. Entretanto, os custos da produção da cachaça sofrem interferências de fatores como: o preço do insumo cana-de-açúcar que modifica conforme a safra, a embalagem, o rótulo, os impostos, a mão-de-obra e também a qualidade do produto, conforme se observa na fala abaixo: Nós temos dois tipos de cachaça: a de combate e a de coração que é de melhor qualidade, a de coração me chega a custar R$ 7 o litro já a de segunda linha a de combate custa R$ 2 (Produtor 06). 61 Além disso, devido a baixa produção, os produtores não conseguem obter economia por escala, tornando o custo unitário alto, podendo chegar a 50% do valor do produto. Categoria 3: Política de preço O preço da cachaça apresenta diferenças conforme o tipo da cachaça. A cachaça tipo branca, mais vendida, mantém um padrão em torno de R$ 4 o litro. Contudo, a cachaça envelhecida pode variar de R$ 4 a R$ 250. Essa disparidade de valores deve-se a fatores como: quantidade de anos em envelhecimento, embalagem, tipo da madeira na qual é armazenada, qualidade da matéria-prima, grau de acidez, entre outros. Tem três coisas que agrega valor: o primeiro a cachaça em si, o segundo a embalagem, o terceiro são os impostos que são os mais caros, juntado essas três coisas você tem da mais barata em torno de R$ 6 o litro e da mais cara em torno de R$ 250 (Produtor 09). A cachaça de combate eu vendo a R$ 2,80, já a cachaça de coração vendo por R$ 12 (Produtor 06). Mesmo quando comercializada para outros estados, o valor da cachaça não sofre alteração. Dos produtores pesquisados 57,14% já venderam para outros estados, sendo Minas Gerais, o estado que mais compra cachaça capixaba, seguido por RJ e SP. Os demais produtores vendem exclusivamente para suas regiões, raramente alcançando outros munícipios. Vendemos para MG, vendemos bem pra caramba para BH, para o RJ (...) e é o mesmo preço (Produtor, 07). 62 A gente vende para Belo Horizonte, Recife, São Paulo, o distribuidor de Belo Horizonte faz o sul do Brasil, temos uma abrangência grande porém a quantidade é pequena. Porque as cachaças que nós vendemos normalmente para fora são as mais caras, as de maior qualidade (Produtor, 09). Categoria 4: Pesquisa e desenvolvimento Ao serem questionados sobre o tema pesquisa e desenvolvimento, 71,42% da amostra afirmaram fazer uso desse recurso. Entretanto, as respostas não foram direcionadas a nenhum tipo de pesquisa e desenvolvimento dentro do planejamento da empresa e sim no desenvolvimento pessoal do produtor. Sim, a gente faz pesquisa em livros de produção de cachaça artesanal, internet e vai fazendo um apanhado para aprimorar o que há de melhor (Produtor, 06). Fiz 06 meses de cursos na Itália de análise sensorial, fiz cursos em Viçosa-MG, Campinas-SP, e em Lavras-MG fiz um curso para definir a levedura (Produtor,09). Sim, faço curso pelo (Produtor,10). Sebrae e a minha faculdade Categoria 5: Diferenciação de produtos Apenas 42,85% dos 14 pesquisados demonstraram uma tendência a sair do padrão da cachaça branca e envelhecida, produzindo cachaças diferenciadas como: banana, baunilha, laranja, jabuticaba, abacaxi, orgânica (sem adição de adubo e aditivos) e a preta. Sim, faço cachaça de cajá, coco, jaca, abacaxi e agora estamos lançando uma cachaça preta. É uma condição de querer inovar (Produtor, 06) 63 Fazemos a cachaça ebano que é com malte de whisky e corante de caramelo e tem agora a fresh que nós registramos só falta agora colocar no mercado (Produtor,07). Categoria 6: linha de produtos Dos 14 entrevistados somente um produtor afirmou diversificar a sua linha de produção, incluindo no seu portifólio diversos produtos à base de cachaça como: bombom, licores, rapaduras, melado. Eu começei com meu pai à 30 anos atrás e ele já tinha 40 anos da fábrica que ele também pegou do pai dele (...) nos últimos 15 anos passei a mudar o perfil (...) resolvi abrir uma loja com a minha variedade de produto, e para a loja se sustentar eu preciso ter outras coisas. A 3 anos que pesquiso o licor, agora saiu o licor, porque os outros de frutas é fácil, mas um licor só com cachaça e açúcar que você tome com prazer é muito díficil. Daí saiu o bombom, a rapadura o melado, o cinzero, o chápeu, as taças de cristal feitas à mão (Produtor, 09). Categoria 7: Propaganda e divulgação A maior parte dos produtores, em torno de 64%, fazem algum tipo de gasto com propaganda, entretanto, a divulgação não possui uma regularidade e fica restrita aos munícipios onde se concentram os alambiques. Os principais meios de divulgação são: Banner, cartões e folders. Daqueles que fazem investimento em propaganda alguns apresentaram formas diferenciadas de divulgação: A gente chega nos bares que trabalham com a nossa cachaça (...) vai na mesa fala da cachaça e faz o drink escolhido feito pelo nosso barmen (Produtor,07) Anuncio numa revista nacional de gastronomia, jornal, postal, lembrançinhas (Produtor, 09) Muito pouco, mais na região mesmo, faço locução em festas do interior, tanto para ajudar a festa quanto para divulgar a marca (Produtor, 12) 64 A empresa já fez gastos com propaganda, através de anúncios em rádio, banner e feiras em outros estados, mas não existe um foco na propaganda em si. (Produtor 03) A participação em feiras e alterações nos rótulos, também foram identificadas nas falas dos produtores: A gente participa de feiras do munícipio , aqui no ES falta eventos direcionados para cachaça (Produtor,05). Participamos da feira do munícipio de produtores familiar (Produtor,06). Antigamente o rótulo era para fazenda, a gente quer tirar aquela imagem antiga e ficar mais moderno (...) já participei,mas ir numa feira sai muito caro (Produtor, 07). Estou fazendo, pois estou no projeto de internacionalização do Sebrae-ES e eles pediram uma consultoria de rótulos e embalagens para atender o mercado externo em especial a Alemanha. Estamos em processo de modificação tanto da logomarca quanto dos dizeres do rótulo que tem que ser escrito em 3 línguas (Produtor,12). Categoria 8: Barreira à exportação da cachaça Dos produtores entrevistados 78,57% nunca exportaram e não apresentaram interesse em ingressar no mercado externo, devido as dificuldades do processo. Mesmo aqueles que exportaram, demostraram descontentamento com suas experiências: Eu exportei uma vez para o Chile, contudo não usei o nome da minha marca, tive que usar outro nome fornecido pela trading, devido as exigências do exportador. (...) passei a minha cachaça engarrafada com a embalagem do comprador, foi um container com 1400 caixas fechadas, só não levei prejuizo pois exportei em conjunto com outros produtos, foi em 1995 (...) hoje eu sou igual a São Thomé em relação a exportação da cachaça só acredito vendo (Produtor, 01). 65 Tenho a empresa desde 1996 e no início me iludi bastante com exportação, acabei exportando alguma coisa em pequenas quantidades através de uma trading, mandei cachaça para Grécia, Itália, Angola e EUA (Produtor, 02). Buscamos exportação em todos os caminhos. Consegui mandar 500 litros para Alemanha, a negociação foi boa, a exportação para nós produtores é excelente porque a carga tributária no Brasil é altissíma e a partir do momento que você exporta a alíquota cai a zero. Só que o governo alemão se fecha através de impostos para receber a cachaça para não vim dolar de lá para cá, ai a negociação ficou enviável (Produtor, 06). A forma de ingresso no mercado internacional escolhida por esses produtores foi a exportação indireta por meio de trading company, esse formato, conforme anteriormente citado por Rocha e Almeida (2006), apresenta como benefícios, o pouco comprometimento de recursos, o menor risco e aprendizado rápido. Os produtores alegaram diversas barreiras impeditivas para o ingresso da cachaça capixaba no mercado internacional. Em seguida, será demonstrada a frequência de cada uma delas e os comentários mais pertinentes. Barreiras à exportação Baixa produção em escala Domínio da cachaça industrial Falta de apoio do governo Falta de conhecimento do mercado externo Falta de propaganda Custo de produção Quadro 6: Frequências das barreiras à exportação das entrevistas Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados das entrevistas Frequência 07 07 06 05 05 05 a) Baixa produção em escala (...) a pessoa tem um alambique que produz 30 mil litros anuais e quer exportar, eu produzo 300 mil litros anuais e acho que não tenho négocio para exportação, isso não é para ganhar dinheiro a pessoa quer alimentar o ego e dizer que exportou (...) só que o importador quer que quando ele começar a vender o produtor tenha quantidade em estoque suficiente para repor um, dois, três container, ele quer regularidade e a pessoa que produz 30 mil litros ano não 66 consegue, e o produtor não atenta para esse detalhe (Produtor, 01) O problema é que esses grandes grupos apresentam uma capacidade financeira para levar o produto a granel e lá tem toda a infra-estrutura para engarrafar esse produto, rotular e distribuir. O pequeno produtor mal consegue atingir o munícipio vizinho, jamais terá condições de atingir o mercado lá fora (Produtor, 03). Se você não tiver quantidade não consegue. Só compensa se tiver quantidade para contenner, por garrafa não é viável. Se não tiver quantidade com aquela qualidade que eles vão exigir, impossível (Produtor, 08). A principal barreira em princípio é a quantidade, vamos supor que eles comprem um lote de 5 mil litros mês, eu não vou ter como produzir (Produtor,14). A conduta adequada para o pequeno produtor capixaba combater a barreira de baixa produção em escala é por meio da associação com outros produtores. A oferta do produto por meio de cooperativas, os tornam mais competitivos em relação ao preço, além de obter um maior estoque de reposição. Essa alternativa de ingresso em conjunto foi citada por Rocha e Almeida (2006) e, segundo esses autores, permite um maior controle da operação, além de requerer um baixo investimento. Alguns produtores apresentaram ter conhecimento dessa solução: Criar uma cooperativa, Minas Gerais consegue exportar porque fez essa parceria (Produtor, 08). União dos produtores para diminuição de custos, aumentar volume e buscar qualidade (Produtor, 11). Acho que seria associação, uma cooperativa que juntasse os produtores formando uma equipe para exportar (Produtor, 12). 67 b) Domínio da cachaça industrial (...) Na europa uma garrafa de Caninha 51 já vem com saquinho de limão desidratado e receita de caipirinha pendurada. Então eles aprenderam a tomar caipirinha e não a tomar cachaça. Apenas de uns 4 a 5 anos para cá é que o Brasil acordou que temos um produto de excelente qualidade genuinamente brasileiro que pode ser o nome do Brasil lá fora, esta se fazendo um esforço para mudar esse conceito que foi criado , posicionaram a cachaça na cabeça das pessoas lá fora de um jeito e para tirar isso é muito difícil, esse é o principal ponto (Produtor,01). O Brasil sempre exportou caipirinha, então qualquer coisa dá caipirinha, qualquer aguardente de má qualidade dá caipirinha, essa é a principal dificuldade de exportação, eles bebem somente caipirinha (Produtor,02). O mercado que está lá hoje não é mercado de cachaça, é mercado de caipirinha, independente da qualidade da cachaça (Produtor,03). Apesar de eu ter uma empresa de trading e um trabalho muito dificil de ser feito, pois na europa em todo lugar tem Pitú, Ypioca, ou seja a cachaça industrial que é uma cachaça diferente, para nós ela é pessíma, mas é o que os estrangeiros conhecem. Para você colocar uma cachaça artesanal no exterior é um trabalho longo requer muito dinheiro pois precisa de uma propaganda intensa e ainda eles vão querer comparar o preço com a industrial (Produtor, 08) (...) mostrar o nosso produto lá fora e o nosso diferencial em relação a cachaça industrializada. Porque lá na Alemanha é vendida muita cachaça mas a industrializada que eles conhecem com isso a nossa cachaça artesanal chega num valor mais alto, esse é o nosso desafio (Produtor, 12) Os produtores consideram o predomínio da cachaça industrial uma barreira, pois acreditam disputar o mesmo nicho de mercado. Entretanto, são produtos diferenciados, a cachaça artesanal apresenta um maior valor agregado e atributos específicos que devem ser melhor explorados. Conforme foi citado por Dunning 68 (1980), as empresas que possuem atributos específicos apresentam uma vantagem de propriedade para ingresso no mercado externo. c) Falta de apoio do governo Não há um trabalho do governo federal para divulgar a cachaça brasileira, enquanto não fizer isso como o México fez com a tequila e Cuba fez com rum, é dificil exportar (Produtor, 02) Exitem muita conversa do governo para exportar e pouca prática, o tal exporta fácil não funciona para cachaça devido ao peso e por ser inflamável. Para o pequeno produtor é quase impossível exportar. Só se for algo esporádico como alguém no exterior que solicita algumas caixas por ano. O único incentivo foi através dos cursos do Sebrae, mas falar o que você precisa para colocar o seu produto lá fora não fazem (Produtor,03) Tais afirmativas vêm de encontro aos conceitos explorados por Rocha (2003) no referencial teórico, que alega que as empresas brasileiras não conseguem manter uma regularidade no processo de internacionalização, pois são motivadas a ingressar no mercado externo, somente quando estímulos externos favorecem essa atividade, como por exemplo: mercado interno saturado, incentivos governamentais, pedidos inesperados vindos do exterior, entre outros. d) Falta de conhecimento do mercado externo (...) eu acho que o primeiro passo é identificar aqueles produtores que têm interesse em exportar e condições para isso, o segundo passo é uma pesquisa de mercado externo. O Sebrae-ES nos enviou uma pesquisa de mercado, porém todas as informações que continham nela, eu já tinha e não faz a menor diferença para você exportar cachaça. Não sei quanto o Sebrae-ES gastou mas a pessoa foi lá pegou informações da internet (Produtor,01) 69 (...) O Sebrae-ES nos forneceu uma relação de nomes de potenciais compradores lá fora, mas está escrito assim: não nos responsabilizamos pela idoniedade da empresa. Eu não falo inglês, nem outra língua estrangeira isso quer dizer que a minha pequena empresa localizada em Boa Esperança, provavelmente nunca terá oportunidade de sozinha colocar no exterior a cachaça (Produtor, 03) A gente como pequeno produtor não sabemos nem como começar, falta informação (Produtor,04) O pequeno produtor não sabe o que deve fazer, não tem incentivo, ninguém procura o pequeno produtor, não há informação, falta alguém para apoiar a gente a exportar (Produtor, 10) (..) Seria o acesso ao mercado, pois o existe mercado lá fora mas, para nós acessarmos é muito difícil (Produtor, 12) Conforme sugerem os depoimentos dos produtores, a ausência de conhecimento sobre o mercado externo é um dos impeditivos para a cachaça capixaba ser exportada. Contribuindo com a tese de Johanson e Valne (1977), que afirmam que o conhecimento é um recurso empregado na estratégia de inserção em um mercado. Quanto maior o domínio desses recursos, melhores são as condições para se atuar nesse mercado. e) Falta de propaganda Tem cachaça que não são conhecidas e são excelentes, pois o produtor não consegue investir em marketing, o marketing é muito caro, eu lancei um produto no munícipio de Afonso Claudio-ES a 3 anos e até hoje tem gente que não conhece, fazer isso em âmbito municipal é dificil, imagina fazer isso no estado. (Produtor,01) (...) só para divulgar numa feira na França ou na Alemanha, um estande básico de 9 metros quadrados custa R$ 80 mil reais, com apenas uma feira, sem ter a certeza que vai sair de lá com algum contrato. Mesmo se você utilizar os apoios comerciais, como por exemplo a FINDES (Federação das 70 Indústrias do Espírito Santo) que financiou uma visita para China, ou pelo SEBRAE-ES financiou uma visita para India, com estande montado,só com despacho áereo, passagem, hotel, você vai gastar por volta de R$ 5 mil reais, qual o produtor pequeno que pode pagar? (Produtor 01) O que está faltando é um representante fora do país para levar um mostruário e divulgar a nossa cachaça (Produtor,06) Segundo a fala dos produtores, a propaganda internacional é um recurso caro para os pequenos e por esse motivo não é utilizado. Entretanto, a importância da divulgação está presente nas afirmativas de Scherer e Ross (1990) expostas no referêncial teórico, que alegam que investimentos em propaganda e vendas têm como objetivo garantir a fidelidade do comprador. Bañegil (2009), acrescenta a relevância da propaganda, afirmando que o marketing internacional garantirá que a empresa consiga preparar-se melhor para enfrentar e vencer nos mercados internacionais. O papel relevante da propaganda se explica pela necessidade da diferenciação de produtos como instrumento para conquista de market share. Esta diferenciação, por sua vez , sobrepuja o papel da “marca'' em relação ao do “produto'' nos mercados. Sendo as propagandas ações de marketing, elas são responsáveis por divulgar informações no mercado e contribuir para a conquista de market share. Cabe destacar então, que há dois elementos indissociáveis no processo de conquista de um mercado que são, a capacidade de produzir um produto 71 diferenciado e a de sustentar um canal disseminador dessa informação – o marketing. Este não parece ser o caso dos produtores de cachaça do Espírito Santo. f) Custo de produção (...)o preço que a cachaça é exportada, é, basicamente a granel a U$ 1, isso não estimula o produtor que faz produto de qualidade vender, ele prefere vender no mercado interno. (Produtor,01) (...) hoje o preço do litro lá fora está em torno de U$1,5, vou te dizer de coração , eu não pago nem o vasilhame e o rótulo da minha cachaça por esse valor, sem falar no produto em si, do lucro, transporte, legalização, tributação (Produtor, 03). (...)Temos conhecimentos gerais sobre rótulos, cada país tem regras diferentes, o vasilhame, a constituíçao da bebida se é mais fraca ou mais forte, a análise físico-quimica, a linguagem, o tamanho da letra, as versões em várias línguas, não existe um padrão, e isso ai é outro entrave, pois gera custo (Produtor, 03). Um grande problema é a tributação muito alta. Para o ES o ICMS é de 27% já para MG é de 7%, então temos uma concorrência extremamente desleal. A cachaça mineira chega aqui a um custo muito mais baixo devido a vantagem tributária que tem nos estados de origem e nós não temos (Produtor, 11). A partir do momento que houver uma restruturação do setor, no qual os produtores possam se organizar e com isso criar escala de produção, as barreiras de custos poderão ser transpostas. Contudo, para isso, os produtores devem conhecer o ambiente onde atuam e assim, conforme afirmou Porter (1990), desenvolverem as suas estratégias competitivas. 72 4.2 RESULTADO DOS 21 QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS Os resultados coletados por meio dos questionários somente ilustram os conceitos identificados nas entrevistas, complementando as informações por meio da inclusão de novas barreiras à exportação, conforme se observa no Quadro 7: Tema abordado Produção Idade da empresa Número de funcionários Tipo de cachaça produzida Volume de litros produzidos mensalmente Faz divulgação da cachaça Resposta Artesanal Acima de 15 anos Até 6 pessoas Branca Até 5 mil litros por mês Sim % dos 21 86% 52% 81% 67% 81% 67% Feira............57% Jornal ..........41% Vende para outros estados Não 52% Exportou a cachaça Tem interesse em exportar Não Sim 95% 62% Tem informação como exportar Barreiras à exportação Não Custos Impostos Propaganda Barreiras Tarifárias Preço de Mercado Burocracia Irá solicitar auxílio para exportar ao: SEBRAE Quadro 7: Resultado das respostas dos questionários Fonte: Elaborado pela autora com base dados dos questionários 71% 47% 24% 14% 05% 05% 05% 81% Capítulo 5 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta deste trabalho foi compreender o baixo desempenho exportador do setor produtor de cachaça do Espírito Santo. Estruturou-se a discussão em torno dos parâmetros do modelo E-C-D e das teorias de internacionalização de empresas. Isto porque, o estudo pretendia identificar a relação entre o comportamento dos produtores e os resultados de suas vendas para o exterior. Naquele momento considerou-se que o baixo desempenho era decorrente de uma atuação inadequada que não permitia ao setor atingir o mercado externo. Entretanto, os resultados da pesquisa qualitativa sugeriram que o baixo desempenho exportador deve-se a falta de interesse dos produtores em ingressar no mercado internacional, priorizando o mercado doméstico em suas vendas. Além disso, a forma como o setor está operando, semelhante a uma concorrência perfeita (grande número de micro-empresas, com produtos homogêneos), é inadequada para os padrões internacionais das estruturas de mercado (economia de escala, diferenciação de produto e diversificação da produção). Neste sentido o setor produtor de cachaça pode ser inserido no estágio denominado por Johanson e Vahlne (1977) de ausência de exportação, que significa a falta de comprometimento com o mercado, onde as exportações ocorrem de maneira esporádica. Cabe ressaltar que o desinteresse pelo mercado externo pode ser identificado pela ausência de medidas estratégicas voltadas para promover as exportações, dentre elas, o despreparo técnico dos produtores no âmbito da gestão 74 mercadológica do négocio, onde se incluem, uma estratégia para a definição e consolidação de uma marca para o produto, iniciativa para ampliar a escala de produção do setor e identificação dos potenciais mercados de destino. Os resultados encontrados neste estudo corroboram os achados de Blume et al. (2007), Kovacs et al. (2007), Tscha et al. (2007), Guerra (2005) referentes às dificuldades do setor produtor de cachaça. Cumpre acrescentar que as características de funcionamento desse setor assemelham-se às dos produtores mineiros de cachaça, destacadas pelo levantamento do Sebrae- MG (2001). As respostas dos produtores sugerem que a falta de interesse em exportar o produto deve-se a diversas barreiras impeditivas ao ingresso da cachaça capixaba no mercado internacional. E algumas delas foram similares àquelas encontradas na pesquisa elaborada pela Fundação Dom Cabral (2002) sobre as estratégias adotadas por empresas de capital nacional que estavam internacionalizando suas atividades. 75 Barreiras das Entrevistas Barreiras do Questionário Barreiras Dom Cabral Baixa produção em escala Custos O mercado doméstico atende aos objetivos da empresa Domínio da cachaça industrial Impostos Falta de apoio do governo Propaganda Dificuldade de acesso a canais de distribuição nos mercados internacionais Baixas economias de escala, tornando os custos de produção elevados em relação aos concorrentes internacionais Falta de conhecimento do mercado externo Barreiras Tarifárias Dificuldades em formar parcerias internacionais Falta de propaganda Preço de Mercado Ausência de experiência e conhecimentos gerenciais para internacionalizar Custo de produção Burocracia Dificuldades de adaptação de natureza cultural. Dificuldades em oferecer produtos/serviços que atendam às necessidades de consumidores internacionais Competências tecnológicas insuficientes ou inadequadas para competir em custos e em qualidade. Quadro 8: Comparativos das barreiras à exportação Fonte: Elaborado pela autora com base nos resultados das entrevistas,questionários e referêncial teórico Esse comparativo sugere que tais barreiras são encontradas não apenas no setor produtor de cachaça capixaba, mas em qualquer empresa que ingresse no processo de internacionalização. Caso o produtor queira em algum momento aproveitar as oportunidades que o mercado externo oferece deverá antes, reformular as suas estruturas comerciais por intermédio de investimento na sua cadeia produtiva, apostar em inovações de produto e embalagens, além de elaboração de estratégias de distribuição e acesso ao mercado internacional. Caso contrário, o produtor deve se manter no mercado doméstico e usufruir do que Dunning (1980) chamou de vantagens de internalização 76 que seria o aproveitamento do mercado doméstico, ao invés de se valer do mercado internacional para minimizar os riscos resultantes da incerteza do mercado externo. Nesse sentido, a ação de inserir-se em um mercado (o externo, por exemplo) deve ser precedida pela decisão de fazê-lo que, por sua vez, requererá um conjunto de medidas que desenvolvam as condições para isso. No caso do setor produtor de cachaça do Espírito Santo, este processo ainda não começou. A contribuição desse estudo foi proporcionar um melhor entendimento das características do setor produtor da cachaça do Espírito Santo e associá-las às condições dos mercados desta primeira década do século XXI. Sua limitação está no fato de que o grupo escolhido é composto exclusivamente por produtores legalmente formalizados; os informais não foram incluídos porque não foi possível contactá-los. Entrentanto, conforme afirma Vergara (2000), “o risco do grupo não ser o mais representativo do universo é um risco de qualquer processo de investigação”. Propõem-se para estudos futuros, linhas de pesquisas que possam mapear a realidade do volume de produção de cachaça no estado, incluindo os produtores informais. Além de estudos de casos nas empresas capixabas exportadoras de cachaça, para que haja possibilidade de se medir a perfomance exportadora durante o processo de internacionalização. E também, que se construa um prognóstico para a inserção nos mercados internacionais desse produto. 77 REFERÊNCIAS ABRABE Associação Brasileira de http://www.abrabe.org.br, acesso em 17.05.2010. Bebidas. 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Tipo de produção: Artesanal Indústrial 1) A quantos anos a empresa fabrica cachaça : 1 até 5 anos acima de 5 até 10 anos acima de 10 até 15 anos acima de 15 anos de 41 a 200 acima de 200 2) Quantos funcionários existem na empresa? até 6 de 6 a 40 3) Qual é o principal cachaça produzida? branca envelhecida Outros produtos 4) Quantos litros são vendidos por mês em média? Até 5 mil litros 5 a 10 mil litros 10 a 15 mil litros Acima de 15 mil litros 5) A empresa já fez alguma divulgação da cachaça produzida? Sim Não 6) Se respondeu sim, para a pergunta anterior, marque qual o meio de comunicação utilizado? Jornal Outdoor TV / Rádio Feiras 7) O rótulo ou a embalagem do produto foi modificado para atender a normas do mercado? Sim Não 8) Quais dos itens abaixo são essenciais para a venda da sua cachaça? (Marcação única) Qualidade Preço Marca 9) A empresa já vendeu para outro estado ? Sim Não 10) A empresa já exportou? Sim Não 11) Se respondeu não, para a pergunta anterior , responda se existe um planejamento para exportação no futuro? Sim Não 12) Possui informações sobre todo o processo necessário para exportação? Sim Não 13) Quais dos itens abaixo pode ser um impedimento para exportação da cachaça ? (marcação multipla) Impostos Preço do mercado Marca reconhecida Barreiras tarifárias Tecnologia Burocracia Falta de propaganda Custo de produção Conhecimento do mercado externo 14) Caso haja interesse em exportar solicitará ajuda a qual instituição ou pessoa? SEBRAE Amigo que já exportou Prefeitura Agente exportador Outros 84 APENDICE B – SCRIPT PARA TELEMARKETING 1º Passo- Identificar o contato alvo. Script: Bom dia / Boa tarde, meu nome é Melissa, por gentileza, posso falar com o responsável pela cachaça XXX. 2º Passo – Apresentação e informação do motivo da ligação Script: Sr. (a) YYYY (a), tudo bem? Meu nome é Melissa, sou estudante de mestrado da faculdade Fucape, em Vitória, estou realizando uma pesquisa com o produtores de cachaça do Espírito Santo. 3º Passo – Argumentação Script: O senhor (a) pode responder algumas perguntas sobre a produção da sua cachaça? A pesquisa irá levar apenas poucos minutos. ( neste momento iniciar o questionário). 85 APENDICE C – PERGUNTAS ABERTAS PARA AS ENTREVISTAS 1. Qual é o seu nome? E qual é o nome da empresa que o senhor (a) representa? 2. Quantos anos tem a empresa? 3. São quantos funcionários? 4. A produção é artesanal ou industrial? 5. Qual o tipo de cachaça produzida? 6. Seu produto (cachaça) tem uma marca própria? 7. Qual a capacidade de produção da empresa? 8. Quantos litros são vendidos mensalmente? 9. Qual o custo médio para produzir cada litro? 10. Qual o preço médio final do litro vendido dentro e fora do ES? 11. A empresa vendeu ou vende para outros estados do Brasil? 12. A empresa faz ou fez alguma pesquisa e desenvolvimento para aprimorar a qualidade da cachaça? 13. A empresa já fez alguma produto diferenciado? Como por exemplo cachaça com algum sabor? 14. A empresa já fez alguma modificação no rótulo ou embalagem para atender o mercado? 15. Sua empresa faz ou fez gastos com propaganda? Tem algum setor responsável por isso? 16. A sua empresa já participou de alguma feira/evento nacional ou internacional? 17. Sua empresa já contratou serviços de consultoria de mercado e consumidor para ampliar a venda do seu produto? 18. Na sua opinião qual a principal marca de cachaça do Brasil? 19. Na sua opinião qual é a cachaça com a melhor qualidade do Brasil fora a sua marca? 20. A empresa já exportou ou tem interesse em exportar? 21. A empresa tem informações sobre os requisitos necessários para exportar? 22. A empresa já recebeu algum incentivo governamental para exportar? 23. No seu entender quais são as principais barreiras para exportação? 24. Sua empresa já recebeu proposta para se associar ou fundir com outra? 25. A cachaça capixaba tem um baixo índice de exportação comparada a outros estados. Na sua opinião existe alguma estratégia que possa ajudar a melhorar o mercado exportador de cachaça capixaba?