UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA LUCIANA CESAR GARCIA CID INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA: O FENÔMENO DAS EMPRESAS BORN GLOBAL Florianópolis 2013 II LUCIANA CESAR GARCIA CID INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA: O FENÔMENO DAS EMPRESAS BORN GLOBAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Prof. Beatrice Maria Zanellato Fonseca Mayer, Msc. Florianópolis 2013 III LUCIANA CESAR GARCIA CID IV À minha mãe, minha melhor amiga, meu anjo, minha luz, minha vida. V AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os professores do curso de Relações Internacionais da Unisul, pelos os anos de transmissão segura e paciente de conhecimento. Agradeço, especialmente, à minha professora e orientadora, Beatrice Mayer, por ter me acolhido diante de tantas dúvidas, por ter me apresentado o tema do presente trabalho, por toda sua ajuda, paciência, compreensão e por todos os conhecimentos compartilhados. Agradeço aos funcionários da universidade, por sempre me receberem com um sorriso e por seu carinho, fazendo, assim, com que o meu dia fosse melhor. Agradeço a todos os colegas de classe, por todos os momentos de parceria, contribuição e descontração. Agradeço à minha antiga chefe de estágio, Cristina Wolowski, pela oportunidade, pelos aprendizados, pelo carinho, paciência e compreensão Também agradeço pela ajuda e disponibilidade para a coleta de dados essenciais à realização deste estudo. Agradeço à minha amiga e companheira, Carolina Frozza, pela amizade, carinho e companheirismo, pela confiança e, principalmente, por todos os momentos que compartilhamos ao longo desses seis anos. Agradeço ao meu namorado, Jean Menezes, por sua ajuda e orientação ao longo da realização deste trabalho, por seu carinho e preocupação, por fazer com que cada momento fosse leve e descontraído, por me apresentar a novas perspectivas, gostos, pessoas e lugares. Agradeço ao meu padrasto, Eder, por proporcionar momentos de alegria, humor e descontração a cada dia, por seu carinho, preocupação e amor e ao meu irmão, Cesar, por todo amor e carinho. Agradeço à minha mãe, Maria Lucia, por todo o carinho, amor, dedicação, por todos os sacrifícios, por seu incentivo e pela preocupação para que eu estivesse sempre no caminho certo. Agradeço por sua fé em mim e por acreditar em minha capacidade e potencial. VI RESUMO Apesar da existência de inúmeras pesquisas realizadas, principalmente entre os países desenvolvidos, a discussão internacional acerca do Fenômeno Born Global ainda é considerada recente, e seu entendimento superficial. Sendo assim, o presente estudo se fundamenta nas principais correntes teóricas tradicionais e nos principais estudos realizados acerca do fenômeno, no intuito de identificar se o processo de internacionalização de uma empresa pode ser acelerado intencionalmente a partir da delimitação e direcionamento das estratégias utilizadas pela companhia em conjunto com três blocos de fatores, estes identificados como influentes ao processo de internacionalização. Feita a investigação dos fatores ligados ao ambiente, às empresas e à realidade do perfil e ações do empreendedor, constatou-se que os mesmos podem sim servir como propulsores à rápida internacionalização, além de contribuírem para o melhor entendimento acerca do fenômeno, ao mesmo tempo em que proporcionam novas perspectivas ao processo de internacionalização das empresas, às pesquisas relacionadas ao tema, e ao desenvolvimento socioeconômico brasileiro através da adequação de incentivos aos negócios internacionais. Palavras-chave: Internacionalização de empresas. Internacionalização gradual. Internacionalização acelerada. Empresas Inovadoras. Fatores influentes. VII ABSTRACT Despite the existence of numerous studies conducted, mainly among developed countries, international discussion related to the Born Global Phenomenon is still considered recent, and its understanding shallow. Therefore, this study is based on the main theories of traditional currents and on the major studies conducted about the phenomenon, in order to identify if a firm’s internationalization process can be intentionally accelerated based on the delimitation and orientation of the company’s strategies in conjunction with three blocks of factors, those identified as influential to the internationalization process. Once made the investigation of factors related to the environment, organization and to the reality of the entrepreneur’s profile and actions, it was found that these factors can indeed serve as drivers for the rapid internationalization, at the same time that they contributes to a better understanding of the phenomenon, as well as provides new perspectives to the internationalization process of enterprises, to researches related to the topic in matter, and to the Brazilian socioeconomic development thru the adequacy of incentives to international business. Keywords: Internationalization of companies. Gradual internationalization. Accelerated internationalization. Innovative enterprises. Influential factors. VIII LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Mecanismo de Internacionalização segundo o Modelo Uppsala ..............36 Figura 2 - Market Commitment vs. Market Knowledge..............................................37 Figura 3 - Mecanismo de internacionalização com base nas Networks ....................40 Figura 4 - O modelo de Oviatt e McDougall ..............................................................61 Figura 5 - Tipos de novos empreendimentos internacionais .....................................62 Figura 6 - Características chave das alternativas de entrada ...................................71 Figura 7 - Modelo Conceitual dos Fatores Influentes à Internacionalização .............80 IX LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Processo de Internacionalização: grau de influência dos fatores elencados nas empresas DMC e Razek ...................................................................98 X LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Principais teorias tradicionais de internacionalização .............................34 Quadro 2 - Conjunto de críticas ao modelo de Uppsala ............................................38 Quadro 3 - Classificação dos Investimentos Diretos .................................................44 Quadro 4 - Questões básicas do Processo de Internacionalização ..........................47 Quadro 5 - Fenômeno Born Global e Definições Similares .......................................54 Quadro 6 - A Reciclagem de Madsen e Rasmussen.................................................55 Quadro 7 - EBGs e suas principais definições ..........................................................58 Quadro 8 - Critérios de definição de uma Born Global..............................................59 Quadro 9 - A Tipologia de Fernandes e Seifert .........................................................63 Quadro 10 - Definições das Empresas de Base Tecnológica ...................................65 Quadro 11 - Variáveis influentes à entrada no mercado estrangeiro ........................68 Quadro 12 - Constructo estratégico a partir das variáveis ao modo de entrada no mercado estrangeiro .................................................................................................69 Quadro 13 - Formas de adentrar no mercado estrangeiro ........................................70 Quadro 14 - Principais Diferenças entre o Comportamento da Internacionalização Tradicional e Internacionalização Acelerada .............................................................78 Quadro 15 - Hipóteses: Aplicação, Expectativas e Conclusões. ...............................81 Quadro 16 - Fatores Relevantes à Internacionalização Acelerada ...........................83 Quadro 17 - Os Diferentes Tipos de Inovação ..........................................................86 XI SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................15 1.1. EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA.......................................................15 1.2. OBJETIVOS .......................................................................................................17 1.2.1. OBJETIVO GERAL ...............................................................................................17 1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................17 1.3. JUSTIFICATIVA.................................................................................................18 1.4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...........................................................20 1.4.1. QUANTO À NATUREZA .........................................................................................21 1.4.2. QUANTO AOS OBJETIVOS ....................................................................................21 1.4.3. QUANTO AOS PROCEDIMENTOS ...........................................................................22 1.4.4. QUANTO À ABORDAGEM ......................................................................................24 1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO ..........................................................................24 2. O COMÉRCIO INTERNACIONAL: UMA BREVE RETROSPECTIVA .................26 2.1. TEORIAS TRADICIONAIS .................................................................................27 2.2. A TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL “CONTEMPORÂNEA” ............28 3. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO E SEU ARCABOUÇO TEÓRICO ..................................................................................................................................33 3.1. TEORIAS TRADICIONAIS DE INTERNACIONALIZAÇÃO ...............................34 3.1.1. O MODELO UPPSALA ..........................................................................................35 3.1.2. PERSPECTIVA DE NETWORKS ..............................................................................38 3.1.3. DUNNING E O PARADIGMA ECLÉTICO ...................................................................41 3.2. À CAMINHO DE UMA NOVA ABORDAGEM.....................................................48 4. O FENÔMENO “BORN GLOBAL”.......................................................................51 4.1. A HISTÓRIA POR TRÁS DO CONCEITO ..........................................................51 4.1.1. CONCEITOS SIMILARES .......................................................................................53 4.2. DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS BORN GLOBAL - EBGS ..................................................................................................................................57 4.3. A CONTRIBUIÇÃO DE OVIATT E MCDOUGALL..............................................60 4.4. A TIPOLOGIA DE BRUNO FERNANDES..........................................................63 4.5. DEFININDO AS EBTS........................................................................................65 4.6. FORMAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA ...................................67 5. INTERNACIONALIZAÇÃO: GRADUAL VS. ACELERADA.................................75 5.1. REVISÃO E SÍNTESE DA LITERATURA...........................................................75 XII 5.2. FATORES RELEVANTES À INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA ...........79 6. ESTUDO DE CASO: A EMPRESA DMC E A EMPRESA RAZEK.......................83 6.1. UM BREVE ADENDO – EMPRESAS INOVADORAS E EBTS ..........................85 6.2. SELEÇÃO DOS CASOS E COLETA DE DADOS ..............................................87 6.2.1. ESTUDO DE CASO 01: O GRUPO DMC ................................................................89 6.2.2. ESTUDO DE CASO 02: A EMPRESA RAZEK .........................................................94 6.3. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO ................................................................95 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................101 REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS ............................................................................105 CONGRESSO E EVENTOS....................................................................................110 APÊNDICE A – COLETA DE DADOS GERAIS: DMC...........................................114 APÊNDICE B – COLETA DE DADOS GERAIS: RAZEK ......................................115 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PARA COLETA DE DADOS ............................116 XIII LISTA DE SIGLAS AAOS – American Academy of Orthopedic Surgeons ABIMO – Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária APEX – Agência de Promoção de Exportações e Investimentos APL – Arranjo Produtivo Local BG(s) – Born Global(s) CAD – Computer Aided Design CAM – Computer Aided Manufacturing CE – Comissão Europeia CEPAL – Comissão Econômica para América Latina CINDES – Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento CIOSP – Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo CNI – Confederação Nacional da Indústria CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico EBG(s) – Empresa(s) Born Global(s) EBT(s) – Empresa(s) de Base Tecnológica EFE – Agência de Notícias da Espanha EMN(s) – Empresa(s) Multinacional/ Multinacionais P&D – Pesquisa e Desenvolvimento EPO(s) – Export Promotion Organization(s) FAPESP – Programa Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FINEP – Agência Brasileira de Inovação FUNCEX – Fundação de Estudos de Comércio Exterior FUNDECTO – Fundação de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Odontologia HG – Hipótese Geral ICE – Información Comercial Española IDE – Investimento Direto Estrangeiro INV(s) – International New Venture(s) LATN – Latin American Trade Network LED(s) – Light Emiting Diode(s) XIV LELO – Laboratório Especial de Laser em Odontologia MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia MSC - Mestre NBG(s) – Non Born Global(s) NUPEN – Núcleo de Pesquisa e Ensino de Fototerapia nas Ciências da Saúde OMS – Organização Mundial da Saúde PDT – Photodynamic Therapy PIPE – Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas RHAE – Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas TI – Tecnologia da Informação WWW – World Wide Web 15 1. INTRODUÇÃO Estando o cenário econômico atual cada vez mais volúvel diante às mudanças impostas pela globalização, a internacionalização das empresas torna-se ainda mais acentuada e de realização imediata, fazendo com que empresários repensem nos conceitos e estratégias utilizadas para a inserção de sua empresa no mercado. Com isso, pode-se considerar o processo de internacionalização como forma de sobrevivência das empresas futuras e atuantes que pretendem manteremse ativas e operantes. Optar pela internacionalização significa obter vantagens competitivas que permitiriam a estas empresas sobreporem-se à concorrência. Por tanto, a identificação e o reconhecimento da importância da internacionalização das empresas impulsionaram a realização de uma pesquisa que apresente as melhores técnicas para a realização do mesmo. Sendo assim, será estudada a teoria de internacionalização tradicional, na qual o processo ocorreria de forma gradual, desde a conquista e a solidificação da empresa diante do mercado interno para somente depois iniciar o processo de internacionalização de forma cuidadosa e fracionada. E, como uma proposta antagônica, também se realizará o estudo da mais nova teoria que representaria a inovação do processo de internacionalização das empresas, fenômeno denominado como Born Global, ou Internacionalização Acelerada. 1.1. EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA Apesar de a globalização ser um fenômeno considerado historicamente recente, há um tempo considerável seus efeitos e consequências são evidenciadas e sofridas mundialmente. Conforme colocado por Kotabe e Helsen (2000, p. 25): Produtos vêm sendo comercializados através das fronteiras durante a civilização conhecida (...). O que é relativamente novo no fenômeno, surgindo com as grandes empresas norte americanas, nos anos 50 e 60, e com as empresas europeias e japonesas nos anos 70 e 80, é o grande número de empresas com operações inter-relacionadas de produção e de vendas localizadas em todo o mundo. 16 Importante ressaltar ainda que “o surgimento de empresas europeias e japonesas competitivas têm dado à noção de competição global um toque a mais de urgência e significado” (KOTABE; HELSEN, 2000, p. 25). Com isso, o constante crescimento da globalização tornou-se infreável e as adaptações decorrentes deste cenário, nunca antes imaginadas. No ambiente dos anos 1990, deve-se tomar como certa a globalização. E será só um o parâmetro para medir o sucesso de uma empresa: sua participação no mercado internacional. As empresas bem-sucedidas chegarão ao sucesso encontrando mercados em todo o mundo (WELCH, 2000 apud HELSEN; KOTABE, 2000, p. 25). De acordo com Kotabe e Helsen (2000), a limitação das empresas aos mercados internos e à concorrência doméstica não é o suficiente, uma vez que as empresas estão expostas a concorrência internacional, mesmo no mercado interno. Os executivos das empresas ao escolherem não olhar e pensar além das fronteiras nacionais podem e certamente irão perder oportunidade para concorrentes mais bem preparados. Já se foram os dias em que estávamos acostumados às diferenças de preferência nacional ou regional. Já se foram os dias em que uma empresa podia vender os modelos do ano anterior – ou versões superadas de produtos avançados – no mundo menos desenvolvido (LEVITT, 1983, p. 92). Seguindo a linha de pensamento supracitada, Guedes (2007) ressalta que, estando o mundo baseado em repetidas e inevitáveis relações junto ao presente sistema capitalista, o objetivo deste se fundamenta nos princípios e técnicas utilizadas pelo marketing global e pela gestão de negócios internacionais acerca do processo de internacionalização de empresas, e nas bases teóricas que explicam o mais recente fenômeno ligado à internacionalização das mesmas, denominado Born Global, a fim de identificar qual das redes de pensamento melhor se enquadra no cenário atual e que deverá servir como base para as ações tomadas por aquelas empresas que visam a concretização de futuros negócios e a maximização do alcance dos objetivos traçados para si dentro do âmbito global. Para isso, serão estudados os métodos de internacionalização defendidos por duas correntes teóricas, sendo a primeira de conhecimento comum à área de empreendedorismo global, com maior tempo e ainda de atual aplicabilidade; e a segunda, recente, inovadora e ainda um tanto quanto descrente pela maioria dos 17 estudiosos e/ou atuantes relacionados à atividade de internacionalização de empresas. Concluindo, nas palavras de Marconi e Lakatos (2002, p. 26), “problema é uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância, para a qual se deve encontrar uma solução”. Portanto, a partir da constatação de que existem empresas Born Global, as quais são assim denominadas por terem um processo de internacionalização acelerado, ou seja, se internacionalizam em menor tempo em relação àquelas que obtiveram sua internacionalização a partir de processos graduais, questiona-se: A partir da perspectiva teórica e da análise comparativa de dois estudos de caso, o processo de internacionalização de uma empresa pode ser acelerado? 1.2. OBJETIVOS A fim de tornar mais claro os motivos que impulsionaram a escolha do problema de pesquisa e, consequentemente, a realização deste trabalho, apresentam-se, na sequência, os objetivos gerais e específicos do mesmo. 1.2.1. Objetivo Geral O objetivo geral do referido trabalho será o estudo de duas teorias a respeito do processo de internacionalização de empresas, sendo a primeira proveniente de uma linha teórica tradicional, enquanto que a segunda, ainda muito recente, apresenta sua teoria através da identificação da possibilidade das empresas se enquadrarem na denominação “Born Global” a partir do seu processo de internacionalização. Portanto, o objetivo geral do presente estudo é: - Verificar se as empresas podem acelerar o seu processo de internacionalização a partir da perspectiva teórica e da análise comparativa de dois casos de internacionalização: um gradual e outro acelerado. 1.2.2. Objetivos Específicos A fim de responder o objetivo geral exposto apresentam-se abaixo alguns pontos definidos que deverão ser alcançados ao final do proposto trabalho: 18 - Comparar as teorias que tratam da internacionalização como um processo gradual e como um processo acelerado; - Descrever os fatores que podem potencializar uma empresa a ser uma “Born Global”; - Verificar se as empresas podem acelerar o seu processo de internacionalização a partir da análise comparativa de dois casos de internacionalização: um gradual e outro acelerado. 1.3. JUSTIFICATIVA O cenário econômico atual caracteriza-se cada vez mais pelo seu dinamismo e sua atitude global. A interdependência entre países, a formação de blocos regionais, o surgimento e crescimento de economias emergentes na Ásia e América Latina, bem como os surpreendentes – e cada vez mais constantes – avanços tecnológicos em distintos setores são, sem dúvida alguma, tendências que configuram o cenário mundial atual, competitivo e em um constante processo de “metamorfose”. Em suma, a visão sob os olhos do fenômeno aqui abordado, caracteriza-se como imprescindível; principalmente por parte dos empresários, que devem repensar seus conceitos e desenvolver novas estratégias condizentes com o modelo econômico vigente. Com isso, elencam-se aqui algumas razões que visam legitimar a importância que o estudo, entendimento e aprofundamento do Fenômeno Born Global representam para as relações políticas, econômicas e sociais futuras, sendo um tema de crescente tendência acadêmica e forte relevância para as atividades empresariais. Primeiramente, torna-se importante ressaltar que a ideia de internacionalização via inserção direta da empresa em um determinado país estrangeiro (seja através de aquisição ou criação de uma unidade produtiva), logo nos primeiros anos após sua fundação, vem sendo cada vez mais aceita entre os atuantes e especialistas no ramo, uma vez que empresários e empreendedores veem no processo de internacionalização acelerada a resposta às limitações apresentadas pelas atividades vinculadas à exportação de bens e/ou serviços. Conforme elucidado por Knight (1997 apud DIB, 2008), torna-se cada vez mais claro e crescente o número de empresas cabíveis na definição de Born Global. 19 Tal acontecimento vem evidenciado a velocidade e a complexidade cada vez mais eminentes ligadas ao processo de internacionalização das empresas, levando muitos autores e especialistas no assunto a acreditarem que as empresas caracterizadas pelo comportamento da internacionalização acelerada tendem a mudar o conceito que envolve o processo de internacionalização das empresas e seus precedentes teóricos. Antes consideradas como “exceção” ao padrão de internacionalização, as Born Global, hoje, tornam-se norma entre as empresas ativas no mercado. O segundo ponto, que ressalta a importância do estudo aqui feito, é proveniente de uma breve análise da literatura especializada, na qual foi possível identificar a dificuldade dos autores em explicar o fenômeno da internacionalização acelerada por meio das teorias tradicionais. A falta de uma explicação teórica específica para o modelo, ou até mesmo de um consenso entre os principais especialistas, acaba por limitar, e possivelmente estagnar, avanços possíveis às empresas brasileiras, que sem alternativa, recorrem e utilizam o modelo de internacionalização tradicional como base para suas ações e decisões futuras. Neste sentido, “o conhecimento das estratégias e atitudes mais adequadas pode significar a diferença entre o crescimento rápido ou o fracasso irreversível” (SILVA, 2011, p. 4); tornando eminente a necessidade de ampliar e atualizar – o quanto antes – a estrutura literária atualmente disponível para que, finalmente, seja possível formular estratégias condizentes com a estrutura, setor e objetivos da empresa que anseia pela conquista da sua parcela de espaço no âmbito internacional. Conquista-se, assim, o aumento de inovação, fundamental para o crescimento nos mais variados setores da economia. Em uma terceira instância, é identificada uma preocupação de cunho governamental. De acordo com os estudos feitos por Silva (2011, p. 4): Mesmo parecendo que as políticas públicas de promoção da atividade exportadora tenham influência significativa sobre as firmas que visam exportar e empreender negócios internacionais, a literatura especializada aponta, contudo, que as políticas governamentais de promoção das atividades internacionais não têm sido adequadas às necessidades 1 específicas das empresas Born Global . 1 O autor cita como exemplo os trabalhos de Moen (2002), Bell e McNaught (2000). 20 Num quarto e último ponto, nota-se que o fenômeno das empresas Born Global trouxe consigo a esperança, antes perdida, aos países em desenvolvimento – também considerando o Brasil – ao apresentar quase que uma “releitura” do processo de internacionalização há pouco vigente. Dib (2008) acredita que o surgimento das Born Global representa uma nova chance aos empresários e executivos de vencerem diversas barreiras lhes apresentadas, tais como a geográfica, linguística e cultural; garantindo um maior envolvimento de tais países com os negócios internacionais. Após a exposição e breve argumentação dos pontos mencionados acima, acredita-se que a relevância e importância do tema abordado tenham se tornado claro, especialmente com a intensa e crescente demanda que estudantes, especialistas e atuantes da área vêm exigindo. 1.4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS De acordo com Demo (1995), a pesquisa científica pode ser de tipo teórico, metodológico, empírico ou prática, o qual implicará na elaboração de um projeto de pesquisa, este, constituído pela fase inicial da definição do que se pretende explicar e de como fazê-lo. Segundo o autor, se bem elaborado, um projeto de pesquisa pode vir a servir como base de conhecimento, o que agregaria à mesma inestimado valor. Cervo e Bervian (1996) apontam pesquisa como uma atividade voltada para a busca de uma resposta ou solução para determinado problema, resultado este obtido através da utilização de métodos científicos. E ainda, de acordo com os autores, método é apenas um conjunto ordenado de procedimentos que se mostraram eficientes ao longo da historia na busca do saber. O método científico é, pois, um instrumento de trabalho, que se trabalhado adequadamente, poderá levar a uma solução referente ao problema inicialmente levantado. Em suma, esta sessão apresentará os métodos e técnicas utilizadas para a realização da pesquisa e para o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso em Relações Internacionais. 21 1.4.1. Quanto à natureza Segundo os autores Barros e Lehfeld (2000), a pesquisa aplicada tem como motivação a necessidade de produzir conhecimento para a aplicação de seus resultados, onde seu objetivo é o de “contribuir para fins práticos, visando à solução mais ou menos imediata do problema encontrado na realidade” (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 78). Nunan (1997) aponta que na estruturação mais comum de uma pesquisa aplicada é apresentada da seguinte maneira: a) fundamentação teórica; b) metodologia de pesquisa; c) análise e discussão dos dados. Nesse caso, a fundamentação teórica serve, dentre outras possibilidades, como referencial para a análise dos dados, os quais foram coletados por meio de uma metodologia compatível com os objetivos de pesquisa, às características do objetivo de estudo e ao contexto de investigação. De acordo com Nunan (1997), Michel (2005) e Oliveira (2007), a pesquisa do tipo aplicada depende de dados que podem ser coletados de diferentes formas, tais como pesquisas em laboratórios, pesquisa de campo, entrevistas, gravações em áudio/ vídeo, diários, questionários, formulários, análise de documentos, entre outros. 1.4.2. Quanto aos objetivos Segundo Mattar (1996), de acordo com os objetivos apresentados, a pesquisa pode ser classificada como sendo exploratória, descritiva, e/ou explicativa. Porém, o objetivo do presente estudo enquadra a pesquisa nos tipos exploratório e descritivo, uma vez que: A pesquisa de tipo exploratória visa prover o pesquisador de maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. A utilização da pesquisa do tipo exploratória é indicada, principalmente, quando o conhecimento acerca do problema de pesquisa apresentar dificuldades e/ou limitações ao interessado, ou seja, quando o conhecimento a respeito for muito vago. Segundo Freitas e Prodanov (2013), esse tipo de pesquisa, geralmente, envolve: levantamento bibliográfico, realização de entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que 22 estimulem a compreensão – todos os métodos são utilizados como ferramentas essenciais à realização deste trabalho. Já em uma segunda instância, segundo Triviños (1987), a pesquisa do tipo descritiva exige do investigador a coleta de uma séria de informações acerca do tema de pesquisa. Esse tipo de estudo é feito com o intuito de descrever as características de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. De maneira geral, esse tipo de pesquisa pode ser entendido como um estudo de caso onde, após a coleta de dados, é realizada uma análise das relações entre as variáveis para uma posterior determinação dos efeitos resultantes em uma empresa, sistema de produção ou produto. Para a realização do trabalho em questão, a pesquisa será feita a partir do uso de bibliografias – ligadas, principalmente, ao processo de internacionalização, marketing internacional/ global, empreendedorismo global e gestão estratégica de negócios internacionais; e através do estudo de caso, o qual agrega, também, questionários e entrevistas com roteiro estruturado. 1.4.3. Quanto aos procedimentos Segundo Vergara (2000), a coleta de dados é a forma de se obter os dados necessários para responder ao problema. Para tanto, o desenvolvimento do presente estudo se dará a partir de específicos métodos de pesquisas, sendo eles: pesquisa bibliográfica, pesquisa ex-post facto, estudos de caso, pesquisa participante e levantamento de campo. A pesquisa bibliográfica representa um levantamento geral em relação ao tema escolhido através de livros, revistas, artigos e via meios eletrônicos. A pesquisa bibliográfica parte de um material já elaborado, livros e artigos publicados. Na verdade, boa parte dos estudos é desenvolvida pautada em outras publicações sobre o assunto, seja como fonte de consulta ou como ponto de partida para uma contestação (LAROSA, 2003, p. 44). De acordo com Vergara (2000), a pesquisa de campo é uma investigação empírica, realizada no local onde os elementos necessários encontram-se disponibilizados. Neste caso, a pesquisa ocorreu no escritório de representação 23 comercial da empresa que disponibiliza os serviços estudados, o qual inclui entrevistas, aplicação de questionários, testes e observação participante ou não. Tratando-se dos procedimentos técnicos para a realização da pesquisa, optou-se pelo estudo de casos que, segundo Yin (1989) consiste em uma pesquisa empírica que investiga certo fenômeno contemporâneo dentro do contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Este método torna-se adequado a este estudo, uma vez que a análise das condições contextuais nas quais as unidades de análise estão inseridas é necessária para o melhor entendimento do fenômeno estudado. Seguindo a indicação de Yin (2005), opta-se pelo estudo de casos múltiplos, a fim de ampliar os benefícios analíticos ao confrontarem-se a realidades distintas. As unidades de análise são empresas familiares, de pequeno a médio porte, e de base-tecnológica, cujo período da primeira atividade internacional não ultrapasse cinco anos da fundação da respectiva empresa. Por se tratar de um estudo de multi-casos, foram estudadas duas empresas: a empresa DMC e a empresa RAZEK, ambas sediadas em São Carlos - SP. Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro de entrevista com 66 perguntas, estando as primeiras 19 direcionadas à coleta de dados básicos do entrevistado, da empresa e à filial internacional, bem como ao entendimento da prospecção realizada para a expansão internacional da empresa; e as 47 perguntas restantes relacionadas aos três blocos de fatores influentes ao processo de internacionalização das empresas, conforme estudo realizado por Ribeiro, Oliveira e Borini (2012), o qual aborda fatores externos e internos à empresa e fatores ligados ao empreendedor (ver Apêndice 01). A partir de diversos contatos com a gerente de exportação, Cristina V. Wolowski, realizados por meio de ligações, troca de mensagens via e-mail e via celular, além de duas visitas ao departamento de exportação comum às empresas, foi possível responder a todas as questões propostas pelo questionário apresentado e às demais questões e dúvidas esclarecidas informalmente. Utilizou-se também o procedimento de observação participante, uma vez que a autora atuou como assistente no departamento de exportação citado durante 09 (nove) meses (correspondente ao período de julho/ 2012 a abril/ 2013), onde foi possível observar o comportamento dos empresários, funcionários da empresa, bem como a dinâmica interna e externa das empresas. 24 1.4.4. Quanto à abordagem O tipo de abordagem utilizado para a realização da pesquisa definiu-se a partir do comentário feito por Mezzaroba (2007, p. 110), na qual explica que a pesquisa qualitativa visa à compreensão das informações de forma global e “interrelacionada com fatores variados, privilegiando contextos”. E ainda, de acordo com Oliveira (1997), na abordagem qualitativa, o autor deverá realizar uma série de leituras sobre o assunto pesquisado, descrevendo e relatando minuciosamente as explicações e opiniões de diferentes autores e/ou especialistas do tema, a fim de estabelecer correlações dos argumentos apresentados. Sendo assim, ao final do trabalho, o autor deverá expor um ponto de vista conclusivo acerca da pesquisa. 1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO Os capítulos a serem apresentados seguem pela exposição do tema e do problema da pesquisa, seguido pela identificação dos objetivos gerais e específicos, metodologia de pesquisa, seguido pela justificativa que levaram o autor à escolha do tema, em seguida, o desenvolvimento da fundamentação teórica e, por fim, a análise e apresentação dos resultados obtidos a partir da realização de dois estudos de caso. No primeiro capítulo serão tratados os elementos iniciais do relatório de pesquisa, dando destaque à exposição do tema e do problema. Na sequência, serão apresentados os objetivos gerais e específicos que a pesquisa a ser realizada almeja alcançar. Prossegue-se com a justificativa da escolha do tema ”Internacionalização acelerada: o fenômeno das empresas Born Global” e a metodologia científica que se utilizará para o desenvolvimento do presente trabalho. Em seguida, apresenta-se o segundo capítulo, na qual é feita uma breve retrospectiva histórica acerca do comércio internacional. A abordagem se inicia a partir do surgimento e noções ligas à prática mercantilista para que seja possível apresentar o desenvolvimento de estudos e pesquisas que propiciaram a formação das primeiras teorias sobre o processo de internacionalização das empresas. O capítulo 3 é destinado exclusivamente ao aprofundamento dos principais modelos teóricos vinculados ao processo de internacionalização do tipo gradual. Através de subcapítulos, será apresentada a comparação entre os modelos 25 tradicionais de ambas as vertentes teóricas (econômica e comportamental), bem como os motivos que levaram especialistas a questionarem a validade de tais modelos. O capítulo 4 dá início à exposição do Fenômeno Born Global, onde é feita uma breve apresentação do tema, seguido pela história por trás do conceito utilizado, ao mesmo tempo em que identifica conceitos similares ao fenômeno. Ademais, são apresentadas as definições e características das born globals e os tipos de entrada possíveis ao mercado internacional, explorando, por fim, fatores possivelmente influentes à aceleração do processo de internacionalização das empresas. O capítulo também apresenta um subcapítulo destinado a explicar o que significa ser uma empresa de base tecnológica, assim como evidencia a importância em diferenciar empresas do tipo inovadora das “seguidoras” das tendências de inovação. Com o intuito de sintetizar o conteúdo teórico exposto, o quinto capítulo destina-se à comparação entre as teorias e o comportamento adotado por empresas de internacionalização gradual e empresas de internacionalização acelerada. Onde também serão expostos os fatores considerados, por muitos autores, como influentes ao processo de internacionalização acelerada, a fim de analisa-los no capítulo seguinte. No capítulo 6 são analisados dois estudos de caso, sendo o processo de internacionalização de uma empresa considerada como gradual, e da outra considerada como acelerada, com base, principalmente, nos fatores “influentes” citados na sessão anterior. Por fim, o capítulo 7 apresenta as considerações finais da autora sobre os aprendizados e resultados obtidos com a elaboração desta pesquisa. Na sequência, apresentam-se os principais conceitos teóricos necessários para o desenvolvimento deste trabalho. 26 2. O COMÉRCIO INTERNACIONAL: UMA BREVE RETROSPECTIVA De acordo com Mariotto (2007), a prática de comercializar bens e serviços internacionalmente é exercida desde a antiguidade; porém, as descrições e explicações a tais atividades aparecem somente no final da Idade Média Europeia com o surgimento da Nação-Estado Moderna. O pensamento e a doutrina adotados em tal época exaltavam a conquista e acúmulo de riquezas como objetivo primordial do país, ou seja, “deveria ser atingido um saldo exportador positivo da nação no comércio com outras nações. Essa corrente ficou posteriormente conhecida como ‘mercantilismo’” (MARIOTTO, 2007, p. 24). O mercantilismo [modelo caracterizado pela prática de acúmulo excessiva – de metais preciosos (especialmente o ouro)] é conhecido como a principal prática econômica adotada durante três séculos na Idade Média Moderna. E era através do saldo final apresentado, que exportadores viriam a subjugar as nações em desvantagem comercial, ou seja, nações que apresentassem saldos inferiores, ou negativos de sua(s) reserva(s). Ademais, os mercantilistas propagavam o aumento das exportações, ação esta encorajada por subsídios, simultaneamente à diminuição das importações, resultante da aplicação de tarifas; ações estas que atingiram seu ápice durante os séculos XVI e XVII. Porém, em consequência às ideias liberais impostas por “teorias mais sofisticadas2” (MARIOTTO, 2007, p.25) – defensoras do livre-comércio entre as nações – o modelo há pouco descrito (e de vigência na época), acabou por perder sua força e credibilidade, sendo rápida e posteriormente substituído pela teoria das vantagens comparativas, desenvolvida em 1817 por David Ricardo. A Teoria das Vantagens Comparativas defendia a existência de vantagens no comércio internacional partindo da premissa de que nações em parceria poderiam trabalhar com as diferenças de produtividade em prol do benefício mútuo, ou seja, “a especialização internacional seria mutuamente vantajosa 2 As “teorias mais sofisticadas”, indicadas acima por Mariotto, referem-se à teoria das vantagens absolutas, sugerida pelo economista Adam Smith em 1776, na qual é definida por Germano (2013, apud GRANZOTTO, 2011, p.4) como sendo uma teoria que tinha como ideias básicas a especialização das produções, motivada pela divisão do trabalho na área internacional, e as trocas efetuadas no comércio internacional, na qual contribuíam para o aumento do bem-estar das populações. Em outras palavras, cada nação deveria concentrar seus esforços em uma produção de baixo custo a fim de trocar o excedente por produtos que fossem de menor custo em outros países. 27 em todos os casos em que as nações parceiras canalizassem os seus recursos para a produção daqueles bens em que sua eficiência fosse relativamente maior” (GERMANO, 2013, apud GRANZOTTO, 2011, p.4). Depois de adquirido breve conhecimento acerca dos princípios adotados pela teoria proposta por David Ricardo, é imprescindível ressaltar a ênfase dada por Smith (1776, apud. MARIOTTO, 2007, p. 26) à divisão do trabalho e da especialização como fontes de aumento da produtividade – temas a serem abordados a seguir. 2.1. TEORIAS TRADICIONAIS Tratando-se do comércio internacional, cada país deveria focar-se e investir na especialização daqueles produtos, bens e/ou serviços que fossem ou julgassem ser de seu maior domínio, ou seja, na área em que apresentassem maior eficiência. Seguindo esta linha de raciocínio, o investimento na especialização resultaria na redução dos custos de produção e o aumento do volume produzido. Sob o olhar de Ricardo (1817), a interpretação das vantagens absolutas desenvolvida por Smith ganhou uma nova dimensão, aliás, dimensão esta que expandiu os horizontes para as práticas comerciais no âmbito internacional. A explicação para isso se dá através das palavras de Mariotto, na qual diz: [...] um país, mesmo tendo produtividade inferior a outro país em todos os produtos que faz, ainda assim, terá ganhos concretos por meio do comércio exterior [...] isso é possível porque, pela especialização e pelo comércio exterior, cada país deixa de usar seus recursos em atividades nas quais é menos produtivo para usá-los em atividades em que é mais produtivo (MARIOTTO, 2007, p. 26, grifo do autor). Em suma, a teoria das vantagens comparativas se concentra no pressuposto de que todos os países deveriam focar sua produção e procurar especializar-se nas atividades onde os mesmos apresentam-se mais eficientes a fim de “exportar parte desta produção e troca-la por bens cuja produção é menos eficiente” (MARIOTTO, 2007, p. 26). Isso possibilitaria aos países de baixa produtividade ter acesso a uma quantidade de bens e serviços para o consumo interno maior do que se os mesmos optassem somente pela produção local como forma de abastecimento e manutenção do país (MARIOTTO, 2007). 28 De acordo com a Agência EFE 3 , em 1979, a Teoria das Vantagens Comparativas proposta por David Ricardo (vigente desde o início do século XIX), começou a ser “moldada” para a nova realidade vigente durante as décadas de 20 e 30 do século XX pelos suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin. Porém, os esforços feitos não foram suficientes para “explicar a dominação progressiva do comércio internacional por países com condições semelhantes e que por sua vez comercializavam os mesmos produtos4” (ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p.74, tradução nossa). 2.2. A TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL “CONTEMPORÂNEA” A necessidade de explicar o comportamento real do comércio internacional levou Krugman (2000) a investigar sobre novas teorias que complementassem as abordagens ortodoxas e heterodoxas sobre o comércio internacional. Dentro dessas teorias tradicionais, encontram-se a relação das vantagens absolutas apresentada por Adam Smith, e a teoria de David Ricardo, que introduz o Modelo Ricardiano através do conceito das vantagens comparativas – ambas brevemente conceituadas e explicadas no capítulo anterior. Importante salientar os quatro pontos identificados por Krugman e Obstfeld (2001) como debilidades na teoria de David Ricardo em relação ao mundo real. Os autores explicam que (1) o Modelo Ricardiano precede de um grau de especialização extremo e que não se observa na realidade; ou seja, os países se especializam na produção de bens e serviços nos quais acreditam possuir maiores vantagens competitivas, porém, no mundo real cada país produz uma variedade diversificada de produtos para exportar, bem como para suprir sua própria demanda. (2) O modelo se separa dos efeitos do comércio internacional sobre a distribuição de renda em cada país, na qual prevê que os países sempre ganham com o comércio. Na realidade, as barreiras de entrada às importações, tais como as tarifas e os subsídios dos governos às exportações, fazem com que existam maiores vantagens para os países que aplicam este tipo de medida protecionista, o que comprovaria 3 Fundada em 1865, a EFE* é uma empresa de informações multimídia formada por uma rede mundial de jornalistas, sendo a primeira agência de notícias em espanhol e a quarta do mundo, com mais de sessenta anos de história. Para maiores informações, recomenda-se acessar: www.efe.com. 4 “[...] explicar la dominación progressiva del comercio internacional por países com condiciones semejantes y que a su vez transaban los mismos produtos” (ALDANA; SÁNCHEZ. 2008 p. 74, apud EFE Estocolmo, 2008). 29 que o comércio nem sempre é benéfico para ambas às partes. (3) No entanto, o modelo não identifica as diferenças de recursos entre os países como razão para o comércio a ser realizado, ou seja, não leva em conta outros fatores produtivos, tais como a tecnologia, terra (solo), qualificação dos funcionários, localização geográfica, etc. (4) Por último, o Modelo Ricardiano ignora a inclusão das economias de escala como causa do comércio, tornando-o incapaz de/ ineficaz para explicar os grandes fluxos comerciais entre nações aparentemente similares (KRUGMAN; OBTFELD, 2001). A partir da premissa supracitada, Krugman montou sua teoria baseado no conceito apresentado pelas “economias de escala”, na qual os elevados volumes de produção acarretariam na redução de custos, que por sua vez facilitam a oferta de produtos e beneficiariam os consumidores. A integração das abordagens citadas convergiu-se em um conjunto formado por especialização, produção em larga escala, baixos custos e oferta diversificada, denominado como teoria da “nova geografia” econômica, criada em 1979 e desenvolvida posteriormente 5 (ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p.7, tradução nossa). Outros modelos tentaram complementar o modelo de Ricardo, como foi o caso do modelo dos fatores específicos, desenvolvido por Paul Samuelson e Ronald Jones (SAMUELSON; JONES, 1971), que permite a existência de outros fatores de produção específicos para determinadas indústrias, na qual o trabalho é o único recurso que poderia percorrer livremente entre os setores; tornando o modelo ideal para compreender a distribuição de renda. Outro modelo seria o de Heckscher-Ohlin, que se baseia na ideia de que a vantagem comparativa é influenciada pela interação entre os recursos das nações (abundância relativa dos fatores de produção), tendo a tecnologia de produção como fator que afeta diretamente na intensidade relativa com que outros fatores de produção são utilizados para produzir diferentes bens e serviços; em suma, os fatores podem deslocar-se entre os setores (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001). 5 Por su parte Krugman montó su teoría partiendo del concepto de las “economías de escala” mediante el cual a mayores volúmenes de producción, menores costos, que a su vez facilitan la oferta de productos, beneficiando a los consumidores. La integración de los citados planteamientos concluyó en la formulación de la especialización y la producción a gran escala con bajos costos y oferta diversificada, denominándose la teoría de la “nueva geografía” económica, gestada desde 1979 por el mismo nobel y desarrollada posteriormente (ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p.7). 30 Entretanto, conforme apontado pelo Boletim Econômico de ICE 6 (2003), tais modelos se aplicam a mercados de “competência perfeita”, onde são analisadas somente as vantagens comparativas de cada nação e, consequentemente, assumindo instantaneamente que cada país produzirá aqueles bens e serviços em que possui vantagem comparativa, e ainda, mediante a troca entre diversos países, os mesmos contemplariam a oportunidade oferecida pela diferença de seus recursos, capacidade e força de trabalho e características advindas do fator capital. Tal complementariedade na produção leva ao conceito de comércio interindustrial, na qual produtos e serviços de diferentes indústrias intercambiam-se, promovendo, assim, a especialização de cada país na área em que possui vantagem comparativa, a indústria de alimentos serve de bom exemplo (Información Comercial Española ICE n. 2765, 2003, tradução nossa). Krugman (2005) identificou tais deficiências e incorporou à sua teoria o conceito de “economias de escala” ou “rendimentos de escala crescentes”. Segundo o autor, aonde existem rendimentos crescentes, ao duplicar os insumos ou recursos de uma indústria, a produção deverá aumentar mais do que o dobro, o que, consequentemente, diminuirá os custos de cada unidade produzida. A diferença entre a teoria tradicional do comércio, explicada anteriormente, na qual se supõe que os mercados são perfeitamente competitivos, quando existem economias de escala, as grandes empresas ganham vantagem sobre as pequenas, o que traz como consequência a tendência dos mercados de encontrarem-se dominados por monopólios ou oligopólios, que influenciam diretamente sobre os preços dos produtos, convergindo a competitividade dos mercados à imperfeição. Krugman explica sua teoria baseado em mercados de competências imperfeitas, ou seja, mercados monopolistas, na qual cada empresa consegue diferenciar seu produto dos produtos de seus rivais, além de supor que cada empresa utiliza o valor do produto rival como dado, ignorando o efeito de seu próprio preço sobre os preços cobrados por outras empresas. Além dos pontos supracitados, o autor ainda percebeu que na realidade, o comércio internacional não era apenas “interindustrial” (conforme contempla a teoria tradicional), mas sim “intraindustrial”, uma vez que os países também realizam 6 Información Comercial Española - ICE: Revista de informação econômica disponibilizado pelo Ministério da Economia e Competitividade e Secretaria de Estado de Comércio do Governo da Espanha. 31 trocas de bens e serviços para a mesma indústria. A partir de tal evidência, Krugman utilizou como base para sua teoria a hipótese de que os consumidores apreciam a diversidade em seu consumo. Krugman também percebeu que o comércio intraindustrial se mostra benéfico para o país, tratando-se de oferta e/ ou produtores, onde explica que ao permitir que cada país tome vantagem das economias de escala, os consumidores em um contexto global se beneficiariam pelos preços baixos e pela diversidade de produtos (FUJITA; KRUGMAN, 2005). A teoria do “novo comércio” levou Krugman a realizar novas propostas sobre a geografia econômica, desta vez concentrando-se no lado da oferta para explicar as fontes de crescimento econômico em um contexto regional e analisar os resultados obtidos da integração regional a partir da estrutura das atividades econômicas. A teoria da nova geografia econômica parte fundamentalmente do conceito “centro-periferia”, na qual se supõe que os trabalhadores podem mobilizarse de uma região a outra, dependendo do local em que venham a obter maior bem estar, em termos salariais e de diversidade de bens ofertados; ao mesmo tempo a teoria também traz a ideia de que os bens agrícolas se transportam sem custo entre as regiões, enquanto que transportar os bens manufaturados de um local para o outro implicaria em um custo elevado (FUJITA; KRUGMAN, 2005). Krugman resume sua contribuição para a nova geografia econômica com as seguintes ideias: Primeiramente, [...] os produtores querem localizar-se perto de seus fornecedores e de seus clientes, o que explica porque ao final estarão perto um dos outros. Em segundo, a imobilidade de alguns recursos – a terra, certamente, e em alguns casos a força laboral – atua como uma força centrífuga que se opõe à força centrípeta de aglomeração. A tensão entre estas duas forças molda a evolução da estrutura espacial da economia (FUJITA; KRUGMAN, 1999 apud ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p. 83 – 7 tradução nossa) . Krugman tratou de materializar suas teorias em três artigos. O primeiro faz uma análise aprofundada sobre as dificuldades, obstáculos e o futuro da 7 “La primera, es que en un mundo en donde tanto los rendimientos crecientes como los costos de transporte son importantes, los encadenamientos hacia atrás y hacia delante pueden generar uma lógica circular de aglomeración. Es decir, ceteris paribus, los productores quieren situarse cerca de sus proveedores y de sus clientes, lo cual explica que van a terminar estando cerca los unos de los otros. La segunda, consiste en que la inmovilidad de algunos recursos – la tierra, ciertamente, y en algunos casos la fuerza laboral – actúa como una fuerza centrífuga que se opone a la fuerza centrípeta de la aglomeración. La tensión entre éstas dos fuerzas moldea la evolución de la estructura espacial de la economía” (FUJITA; KRUGMAN, 1999 apud ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p. 83) 32 “geografia econômica” (1979); Integrando a primeira publicação, o artigo de 1980 aborda a teoria do “Home Market”, ou seja, do mercado local, que consiste na ideia de localização da empresa será decidida de acordo com a relação entre a utilização das economias de escala e transporte. A problemática dos custos de transporte abordados no segundo artigo serviu de premissa para a publicação da terceira teoria formulada por Krugman, que integrou os conceitos de economias de escala, custo de transporte e demanda, em um único modelo, o “centro-periferia” (KRUGMAN, 1991 apud. ALDANA; SÁNCHEZ, 2008). Em suma, Krugman retorna às teorias do comércio internacional, apontando e concretizando, em cada uma delas, os elementos que faltam para explicar o comportamento existente no comércio entre as nações, para finalmente propor a teoria da geografia econômica e do novo comércio, que corrigem aspectos equivocados acerca das teorias desenvolvidas anteriormente por Smith, Ricardo, entre outros. Krugman ainda sugere uma correção no ponto de vista humano, idealizando explicar o real comportamento do comércio internacional inserido no contexto globalizado. Segundo Pañeada (2008), foi através das contribuições teóricas realizadas, em conjunto com o método simplista de pensamento e lógica da ação humana, que garantiram à Krugman a conquista do prêmio Nobel no ano de 2004. 33 3. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO E SEU ARCABOUÇO TEÓRICO Ainda que os motivos que levam às empresas a expandirem seus negócios ao mercado estrangeiro pareçam simples e até mesmo óbvio – procura por novos mercados; procura por localizações com baixos custos de matérias primas, mão de obra e/ou com infraestrutura adequada; evitar barreiras comerciais; usufruir de incentivos governamentais – os processos, oportunidades, exigências e obrigações envolvidas neste processo são de tamanha complexidade que muitas vezes são subestimadas pelo corpo administrativo da empresa que vislumbra a internacionalização de seu negócio. A internacionalização traz riscos e benefícios para as empresas. As primeiras a se beneficiarem do processo apresentam ganhos de escala e escopo, eficiência e aprendizagem. O principal desafio é superar as desvantagens de ser estrangeiro, sobretudo a dificuldade de transferir competências às operações no exterior. Para obter sucesso, precisam ter clareza de sua ambição estratégica e capacitar seus colaboradores, tendo humildade e sabedoria com seus próprios erros e com experiências uma das outras (ALMEIDA, 2007, p. 05 apud CHARGAS; SIQUEIRA, 2010, p. 14). Com isso, tornou-se necessário o desenvolvimento de teorias que fossem tão complexas quanto o próprio processo de internacionalização em uma tentativa de não apenas possibilitar, como também de facilitar o planejamento estratégico por parte de ambos os setores, público e privado, sendo o primeiro representado por políticas públicas e o segundo pelas próprias empresas. Tendo em vista que o trabalho ora elaborado tem o fenômeno born global como tema principal, buscar-se-á por uma breve exposição das teorias tradicionais, a fim de evidenciar a diferença entre o processo de internacionalização gradual abordado por um conjunto de teorias tradicionais, em comparação às novas teorias que surgem com o intuito de desmistificar o processo de internacionalização, propondo uma internacionalização acelerada. 34 3.1. TEORIAS TRADICIONAIS DE INTERNACIONALIZAÇÃO Conforme elucidado por Dib (2008), as teorias tradicionais de internacionalização tiverem seu desenvolvimento realizado por diversos autores sob variadas perspectivas. Porém, em seu conjunto, foi possível agrupar a literatura existente de acordo com duas grandes correntes teóricas, sendo a primeira de cunho econômico e a segunda de base na evolução comportamental das empresas. Quadro 1 - Principais teorias tradicionais de internacionalização Teoria do Poder de Mercado (HYMER, 1960; 1976); Teoria do Ciclo de Vida do Produto (VERNON, 1966; 1974); Teoria da Internalização (CASSON; BUCKLEY, 1976); Paradigma Eclético (DUNNING, 1977; 1988). ABORDAGENS ECONÔMICAS Modelo Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1977); ABORDAGENS Networks (JOHANSON; VAHLNE, 1990); COMPORTAMENTAIS Demais vertentes seguidas pela Escola Nórdica de Internacionalização da Firma. 8 Fonte: Elaborado pelo autor (2013). Carlson (1975 apud HEMAIS; HILAL, 2003) compara o processo de internacionalização com o caminhar cauteloso diante de um terreno desconhecido. (...) o padrão gradual de internacionalização decorre das maiores incertezas, dos custos de informação mais elevados e da falta de conhecimento empírico em atividades de marketing no exterior, especialmente para empresas médias e pequenas (CAVUSGIL, 1980 apud HEMAIS; HILAL, 2003, p. 374). Seguindo esta linha de raciocínio, entende-se a abordagem para o processo de internacionalização adotado pelas teorias tradicionais. Portanto, analisam-se a seguir três das principais teorias clássicas apresentadas pelo conjunto literário das áreas de administração, negócios internacionais e de análise econômica como forma 8 Quadro elaborado com base nas informações disponibilizadas no trabalho elaborado por Dib (2008, p. 40). 35 de identificar as principais restrições e dificuldades para a internacionalização das firmas dentro do contexto atual. 3.1.1. O Modelo Uppsala Consolidado pelos teóricos Johanson e Vahlne em 1977, o Modelo Uppsala mostrou-se como fator decisivo para a solidificação da abordagem comportamental no estudo da internacionalização das empresas. Em suma, o modelo visava ser um mecanismo explicativo básico sobre as etapas do processo de internacionalização. E ainda, a ênfase do trabalho voltava-se, principalmente, para dois p006Fntos presentes nas empresas individuais: 1) a gradual aquisição, integração e uso do conhecimento sobre mercados e operações externas; 2) o comprometimento sucessivamente crescente com os mercados estrangeiros. Segundo Silva (2011), o modelo postula que a falta de conhecimento sobre mercados externos é um relevante empecilho para o desenvolvimento de negócios internacionais, e que tal conhecimento é adquirido principalmente (e justamente) por meio de empreendimento destes mesmos negócios internacionais. E ainda, baseado no modelo de Uppsala, o autor indica que o processo de internacionalização da empresa iniciaria a partir do momento em que o mercado doméstico começa a apresentar os sinais de saturação. Segundo o modelo, esta é a deixa para que a empresa expanda seus horizontes em busca de novas alternativas. A partir do momento em que a empresa encontra-se inserida em um mercado estrangeiro, o sentimento de incerteza torna-se inevitável. Como forma de resposta à insegurança consequente do desconhecido, torna-se certo a busca da empresa por situações de mercado o mais próxima possível às que lhe apresentassem alguma familiaridade. Pensando nisso, Johanson e Vahlne (1977 apud SILVA, 2011, p. 6) propuseram dois significativos adendos ao modelo. A primeira preposição explica que a ordem de seleção de países para a internacionalização seria inversamente proporcional à “distância psíquica” 9 entre os países alvo e o país de origem. Já no segundo ponto, os autores atribuem o desenvolvimento da empresa a uma 9 Distância Psíquica é o “somatório de fatores que atrapalhariam o fluxo de informações entre os geradores de oferta e de demanda, tais como o idioma, a cultura, o sistema político e o nível educacional de cada mercado” (SILVA, 2011, p. 6). 36 sequência de estágios, estes de ordem incremental em relação ao comprometimento de recursos. Seguindo a premissa dos autores, a empresa que desejasse internacionalizar seus negócios deveria, inicialmente, explorar as oportunidades oferecidas pelo mercado doméstico, para posteriormente dar início – lentamente – às atividades de exportação (direta ou indireta - via agentes intermediários). Algum tempo após haver inserido e expandido suas atividades exportadoras, a empresa deverá estabelecer subsidiárias de vendas em um país estrangeiro (cuja escolha normalmente encontra-se baseada na similaridade com o mercado nacional), etapa responsável por agregar conhecimentos e aprendizados relacionados ao mercado exterior. Como consequência, a empresa ganha segurança para aumentar o seu comprometimento, que será provado a partir do estabelecimento de unidades de produção no exterior. Então, acaba-se por deduzir que o modelo em questão considera o processo de internacionalização de uma firma de forma gradual. Sendo assim, o processo de internacionalização – descrito acima – pode ser visto a partir de “ciclos casuais”, conforme ilustrado pela figura abaixo. Figura 1 - Mecanismo de Internacionalização segundo o Modelo Uppsala Fonte: Johanson e Vahlne (1977; 1990 apud DIB, 2008, p. 71). 37 Figura 2 - Market Commitment vs. Market Knowledge 10 Fonte: Adaptado de Johanson e Vahlne (1977) . Poucos autores contestaram a afirmação do Modelo de Uppsala de que a internacionalização de uma empresa deveria ser associada a um processo. Porém, uma outra afirmação do modelo, a de que o padrão de internacionalização deveria ser o de comprometimento incremental, foi muito questionada pela literatura (SILVA, 2011, p. 6). De acordo com Silva (2011), o surgimento de críticas deu início a uma série de desafios que deveriam ser enfrentadas pelo modelo. Dentre eles, a necessidade de considerar o conceito da distância psíquica a nível individual e não somente a nível nacional; a descontinuidade e aleatoriedade presente nos processos de internacionalização existentes; reconhecer a importância do papel desempenhado pelas networks e empreendedores; entre outros. As críticas recebidas pelo Modelo Uppsala foram resumidas por Johanson e Vahlne (1990, apud SILVA, 2011, p. 6) em seis grupos principais, conforme descrito no quadro 2. 10 Vide site: http://www.provenmodels.com. 38 Quadro 2 - Conjunto de críticas ao modelo de Uppsala 1 2 3 4 5 6 O modelo é considerado muito determinista; A relevância do modelo é restrita aos estágios iniciais da internacionalização. Além de desconsiderar fatores limitadores, tais como a falta de conhecimento de mercado e de recursos; A generalização do processo de internacionalização de indústrias e de mercados fez com que o fato “conhecimento de mercado” não fosse mais visto como fator limitador ao processo; A homogeneidade mundial impulsionaria o desejo pela entrada em mercados maiores, levando à capacidade de inserção direta no mercado estrangeiro; O modelo desconsidera a interdependência entre os mercados de diferentes países; O modelo mostrou-se incompatível às empresas de serviços. 11 Fonte: Elaborado pela autora (2013) . Em acréscimo, Hemais e Hilal (2003) apontam outros dois fatores a serem revisados pela escola de Uppsala: o modelo não reconhece que há a possibilidade da empresa escolher por não evoluir, mantendo-se em um determinado estágio, ou de que a empresa opte por estratégias diferentes aos modos de entrada e expansão internacional. 3.1.2. Perspectiva de Networks O surgimento de abordagens direcionadas às redes de relacionamentos, ou networks, é considerado por alguns autores como uma evolução natural do modelo de Uppsala, uma vez que ambas utilizam-se da mesma base conceitual. Partindo da premissa comportamental, Johanson e Vahlne (1990) buscaram traçar um paralelo entre o processo de internacionalização das empresas e a existência de redes de negócios e contratos presentes em diversos segmentos de mercados – muitas vezes obtidos através de cadeias de suprimentos ou visando criação de valor. Dib (2008) aponta que, desta vez, os autores depositaram seu foco nas relações entre empresas inseridas em uma rede de negócios, na qual o envolvimento se dá, por exemplo, através da dependência de recursos externos, 11 Quadro elaborado com base nas informações disponibilizadas no trabalho elaborado por Silva (2011, p. 6). 39 pelo tempo e esforços gastos na formação de parcerias, bem como para o desenvolvimento de relações de conhecimento e mútua confiança. Nesse sentido, Johanson e Mattsson (1988 apud HEMAIS; HILAL, 2003) afirmam que os fatores e as forças competitivas presentes em indústrias altamente internacionalizadas são responsáveis por criar um padrão diversificado de oportunidades de entrada, o que não apenas possibilita como também incentiva empresas a escolherem mercados e estratégias de entrada (ao contrário do previsto pelo modelo de Uppsala). Porém, tais ações se tornarão viáveis somente mediante o estabelecimento de redes de relacionamento junto aos mercados visados pela firma. Conforme frisado por Gabrielsson e Kirpalani (2004 apud SILVA, 2011, p. 7), “atuar em conjunto com os demais integrantes de uma rede é um modo efetivo de superar a escassez de recursos e, paralelamente, promover o aprendizado entre os participantes”. Dessa maneira, tanto relacionamentos – estritamente – profissionais quanto pessoais, tornam-se aliados preponderantes para a entrada em novas networks. Em suma, os autores acreditam que o processo de internacionalização depende da posição estabelecida e desenvolvida pela empresa diante as diversas redes estrangeiras – estas representadas pelos próprios mercados. Nesse contexto, a internacionalização torna-se dependente tanto da própria empresa quanto do mercado (rede) que a mesma se insere. Com isso, a internacionalização passa a ser percebida como uma forma de explorar potenciais relacionamentos além das fronteiras nacionais. 40 Figura 3 - Mecanismo de internacionalização com base nas Networks Fonte: Johanson e Mattsson (1988, p. 298 apud DIB, 2008, p. 62). Por fim, Silva (2011) acredita importante salientar que a teoria de networks foi desenvolvida com base nas sociedades de relações predominantemente pessoais, tais como Estados Unidos e União Europeia, na qual é considerada a possibilidade de que as empresas e suas relações encontrem-se regidas também a normas impessoais. Sendo assim, em países cuja cultura difere da descrita acima (tais como os orientais), imagina-se que a criação e desenvolvimento das redes de relacionamento seriam fortemente influenciadas por grupos familiares. Obras posteriores (NORDSTROM; VAHLNE, 1985; NORDSTROM, 1991 apud HEMAIS; HILAL, 2003) incluíram ao modelo a importância presente no tamanho do mercado e demais determinantes econômicos para o processo de internacionalização. Sendo assim, os modelos da vertente comportamental não conseguiriam responder a algumas dúvidas e questões remanescentes, tais como o porquê o processo acontece (ou deixa de acontecer), ou ainda, como identificar com antecedência a passagem de um estágio da internacionalização para o outro (ANDERSEN, 1993 apud HEMAIS; HILAL, 2003). Conclui-se, então, que “os modelos comportamentalistas não explicam suficientemente por que as firmas podem não evoluir da maneira prevista e quais 41 seriam as restrições e as dificuldades para avançar na trajetória esperada de internacionalização” (HEMAIS; HILAL, 2003, p. 374). Em resposta às críticas recebidas e adendos propostos ao modelo, teóricos comportamentalistas tentaram se justificar alegando não existir um tempo padrão entre o início das atividades exportadoras e a aplicação de investimento no exterior. Porém, conforme colocado por Hemais e Hilal (2003), sabe-se que a falta de investimento e/ou comprometimento de recursos por parte de muitas empresas são reflexos de um sentimento de incerteza em relação ao mercado ainda presente, ou até mesmo pela falta de redução na distância psicológica e cultural 12. Entretanto, as decisões referentes ao investimento no exterior podem ser relacionadas às características dos ativos e do produto oferecido pela empresa. Portanto, as teorias cujo tais fatores encontram-se presentes, em conjunto com o tema referente aos custos de transação e imperfeições de mercado, podem ajudar a entender os motivos que impedem a evolução da internacionalização da empresa, assim como os motivos que levam às empresas a investir no exterior. 3.1.3. Dunning e o Paradigma Eclético O paradigma eclético desenvolvido por Dunning 13 (1997; 1998 apud MOREIRA, 2007) procura explicar os fatores que impulsionam a empresa a optar por produzir ou não em um mercado estrangeiro. De maneira simplória, o Paradigma pode ser definido, basicamente, como uma síntese das demais teorias que abordam a produção internacional. Os autores dessa abordagem reconhecem que a existência de determinadas falhas de mercado (tais como custos de informação e transação, oportunismo por parte dos agentes, especificidades imposto por ativos, etc.) serviriam de “incentivo” à utilização do Investimento Direto 14 por parte das empresas (antes inclinadas ao licenciamento ou exportação como meios à inserção 12 As restrições para o investimento nos mercados externos não são muito discutidas na literatura. Entretanto, há uma discussão a respeito das dificuldades de internacionalização por parte das empresas, geradas em parte pelos aspectos financeiros, mas, principalmente, por questões culturais, ambientais e de distância psicológica (IGLESIAS; VEIGA, 2003, p. 375). 13 A teoria eclética da internacionalização da firma foi desenvolvida por Dunning (1980; 1988), porém, foi embasada em outros autores, dentre os quais se destacam: Buckley e Casson (1976) e Rugman (1981). 14 Para maiores informações, recomenda-se a leitura do trabalho realizado por Iglesias e Veiga, especialmente do capítulo 9 (vide referências). 42 num mercado externo – sob a condição de possuir vantagens diferenciais 15 em relação às demais firmas, as quais seriam protegidas pela própria estrutura da firma). Sendo assim, foram levados em consideração dois tipos de investimento. O primeiro se relaciona a atividades econômicas essencialmente limitadas às fronteiras nacionais (cuja relação de bens e serviços encontra-se diretamente voltados a mercados estrangeiros). A segunda consideração também está relacionada a atividades econômicas, desta vez realizada por agentes nacionais, que utilizam recursos alocados em diversos países para a produção de bens e serviços destinados ao abastecimento do mercado estrangeiro. A abordagem de Dunning corresponde a uma tentativa em analisar os “porquês” e motivos que impulsionaram as decisões da empresa em termos de vantagens relacionadas à propriedade, localização e internalização. Moreira (2007) esclarece que “vantagens de propriedade16” são aquelas consideradas como únicas por uma empresa em particular, o que permite que a mesma tire proveito de oportunidades de investimento afora. Segundo Iglesias17 e Veiga18 (2003), a exploração dessas vantagens por parte da empresa poderá ser feita de diversas maneiras, dentre elas encontra-se a 15 De acordo com Iglesias e Veiga (2003), uma empresa pode contar com três tipos de vantagens diferenciais: 1) as de localização – podendo ser oferecidas por um determinado país ou região; 2) as de propriedade ou capacidades próprias desenvolvidas pela organização – que permitem à empresa posicionar-se relativamente melhor no mercado estrangeiro (quando comparado aos produtos locais e/ou demais produtos estrangeiros); e por fim, 3) as de internalização, na qual indicam que quando os custos de incorporação e organização produtiva se mostram menores aos custos de transação (relativos a variáveis do ambiente [incerteza e complexidade] e de comportamento humano [racionalidade e oportunismo]) associados à transferência de tais capacidades a um produtor local, a firma investirá na produção no mercado em questão. 16 As vantagens de propriedade de uma firma podem ser de natureza estrutural, derivada da posse de ativos intangíveis (patentes, marcas, habilidades para a diferenciação de produtos, capacidades tecnológicas e de management [gestão]) e/ou de natureza transnacional, derivada da capacidade hierárquica, decorrente do common governance [governança comum] de diversas atividades, levando à própria característica da empresa multinacional (IGLESIAS; VEIGA, 2003, p. 376). 17 Roberto Magno Iglesias é doutor em Economia pela Universidade de Oxford. Atuou como Secretário-Adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda; coordenador da Confederação Nacional da Indústria (CNI); economista da Fundação de Estudos de Comércio Exterior (FUNCEX); consultor da Comissão Econômica para América Latina (CEPAL); da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Banco Mundial. Atualmente arrume o cargo de diretor no Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES) e de docente pela PUC-RJ. Tem publicações na área de macroeconomia, comércio internacional, política comercial e investimento brasileiro no exterior. Também publicou trabalhos em economia do controle do tabagismo e impostos de cigarros. 18 Pedro da Motta Veiga é diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES) e sócio-diretor da Ecostrat Consultores. Também atua como consultor regional da Agência Suíça de Cooperação para o Desenvolvimento; consultor permanente da Confederação Nacional da Indústria – sendo o coordenador no Brasil, e membro do Steering Committee da Latin American Trade Network (LATN). 43 exportação de bens e serviços – provenientes da produção no país de origem; a concessão de licenças de produção desses bens às firmas sediadas no exterior; e ainda, a empresa poderá optar por internalizar 19 as vantagens de propriedade através da instalação de plantas próprias em outros mercados. Moreira (2007) ainda afirma que as vantagens ligadas à localização20 são específicas para um país, sendo especialmente atrativas a investidores estrangeiros; e ainda, as vantagens advindas pelo processo de internalização derivam de mercados internos, o que permite às empresas ultrapassar mercados externos e evitar custos adicionais. É válido lembrar que a escolha da empresa pelo modo de entrada no mercado externo dependerá de uma minuciosa análise de custo-benefício entre as opções apresentadas acima, estas, passíveis de serem afetadas pelas formas de concorrência no setor, grau de insuficiência de informações disponíveis pelo país de destino, nível de proteção e aplicação dos direitos de propriedade, características do país emissor e receptor do investimento, variedade e tipo de produtos cuja produção no mercado externo é pretendida pela empresa, dentre outros. Dado um determinado contexto legal e econômico, a decisão de produzir no exterior, ao invés de licenciar ou exportar, está fortemente influenciada pela natureza dos ativos intangíveis, alguns dos quais, especialmente os que resultam das práticas tecnológicas, de management, ou de comercialização da firma, são o conhecimento implícito, que a firma pode usar, mas não vender nem licenciar (IGLESIAS; VEIGA, 2003, p. 377). A fim de organizar as inúmeras possibilidades apresentadas pelas combinações entre os fatores das vantagens de propriedade, internalização e localização, apresenta-se abaixo um quadro como forma de observar a classificação de investimento estrangeiro realizada por Dunning (1998 apud IGLESIAS; VEIGA, 2003). 19 Dentre os motivos que despertam o interesse da firma por internalizar um mercado de insumos ou de produtos (produzir ao invés de comprar e/ou vender), ressaltam-se: (1) o risco e a incerteza, (2) a obtenção de economias de escala, e (3) reduzir custos de transação e coordenação. Dunning (1988 apud IGLESIAS; VEIGA, 2003) ainda menciona a necessidade de proteger a qualidade do produto final, evitar ou usufruir das políticas governamentais (comercial, tributária e de preço) e o controle das cadeias de distribuição no mercado estrangeiro. 20 Algumas das vantagens de localização são: (1) abundância de recursos naturais e humanos, (2) know-how tecnológico, (3) infraestrutura, (4) instituições, (5) tamanho do mercado, (6) estabilidade política e econômica, (7) regime cambial, e (8) esquema de política econômica. 44 No quadro 3, podem ser observadas as vantagens de propriedade, localização e internalização condizentes com cada tipo de investimento, bem como o tipo de produto e o setor tido como característico à tais vantagens, de acordo com a frequência com que foram encontradas em cada um dos casos, para dar origem a cada um dos tipos de investimento direto. Quadro 3 - Classificação dos Investimentos Diretos (continua) Tipos de Investimento Vantagens de Propriedade Vantagens de Localização Vantagens de Internalização Tipo de Produto/ Setor Resourse Based - Capital - Tecnologia - Acesso a mercados - Ativos complementários - Possessão de recursos naturais - Infraestrutura adequada - Mão-de-obra não qualificada e abundante - Oferta estável - Preços certos - Controle dos mercados - Domínio da tecnologia - Petróleo - Cobre - Bauxita - Bananas - Cacau - Hotéis - Produção p/ exportar bens de mão-de-obra não qualificada Market Based - Capital - Tecnologia - Informação - Habilidades organizacionais e administrativas - Excesso de P&D - Economias de escala - Marca - Boa vontade - Custos materiais e trabalhistas - Características do mercado - Políticas governamentais - Custos de transporte - Redução nos custos de transação/ informação e incertezas do comprador - Proteção dos direitos de propriedade e qualidade - Informática - Produtos farmacêuticos - Veículos - Automotores - Cigarros - Seguros - Publicidade Idem Market Based MAIS: a) Economias de especialização do produto e concentração - Economias de escopo - Diversificação geográfica b) Baixos custos trabalhistas e incentivos à produção local Rationalized Specialization - Acesso a / Efficiency mercados a) Produtos b) Processos a) Idem Market Based + ganho de economias através da política de governança comum b) Economias de integração vertical a) Veículos automotores, aparelhos elétricos, serviços de negócios e P&D; b) Eletrônica de consumo, têxteis e vestuário, indústria fotográfica e farmacêutica. 45 (conclusão) Tipos de Investimento Trade and Distribution Import/ Export Vantagens de Propriedade Vantagens de Localização Vantagens de Internalização - Acesso a mercados - Produtos para distribuição - Fonte de insumos - Mercado local - Necessidade de estar perto dos consumidores - Serviços pósvenda - Necessidade de proteger a qualidade dos insumos - Garantir vendas - Evitar deturpação do agente Tipo de Produto/ Setor Grande variedade de produtos, particularmente os que requerem contato com responsáveis dos subcontratos ou consumidores finais. Fonte: Adaptado de Dunning (1988 apud IGLESIAS; VEIGA, 2003). Ainda que o Paradigma Eclético tenha acrescentado aspectos novos e importantes às considerações até então existentes acerca do processo de internalização das empresas (tais como a teoria da firma, do poder de mercado e a incorporação de uma maior variedade de fatores influentes ao mesmo), Cantwell (1991 apud DIB, 2008) afirma que não seria certo considerar o arcabouço proposto como sinônimo da abordagem de internalização. Mitgwe (2006 apud DIB, 2008) acredita que a principal contribuição proveniente do Paradigma tenha sido o aumento da consciência empresarial em relação a construir e manter vantagens competitivas como fatores essenciais para o sucesso da firma em mercados internacionais. Por outro lado, Whitelock (2002, apud DIB, 2008, p. 59) nos lembra de que “o escopo descritivo e explanatório” das teorias econômicas cometem um grande erro ao ignorar os aspectos de aprendizado, da mesma forma que “subestima” a importância do papel decisivo cabido ao empreendedor, além de colocar as decisões da firma como autônomas, negligenciando por completo as relações entre os participantes do mercado – ainda que Hymer (1960; 1976) e Dunning (1995) tenham considerado a possibilidade de formação de alianças21. De acordo com Raisanen (2003 apud DIB, 2008, p. 60), as principais limitações apresentadas pelas teorias econômicas se sintetizam em dois pontos: (1) a lógica utilizada por uma empresa para a tomada de decisões se limitava a visão otimista dos mesmos em relação às transações; e a (2) suposição de que as 21 Comentário baseado na colocação feita por Dib (2008, p. 60). 46 empresas utilizariam de decisões racionais em meio a alternativas “discretas” em momentos específicos. De acordo com Dib (2008), apesar das falhas apresentadas pelas abordagens econômicas, estas ainda são comumente utilizadas para o estudo de firmas de grande porte22, bem como na análise de alocação interna de recursos em empresas multinacionais. Conforme visto ao longo do subcapítulo 3.1, as teorias de internacionalização são, tradicionalmente, classificadas de acordo com os critérios estabelecidos pelas abordagens econômica e comportamental. Com base em Machado (2009 apud COSTA; PORTO, 2010), também foram destacadas as principais linhas teóricas de ambas as correntes. No caso da abordagem econômica, cita-se o Paradigma Eclético; enquanto que o modelo da evolução comportamental destaca o modelo de Uppsala, a perspectiva de redes e o empreendedorismo internacional. Em um esforço conjunto, Dib e Carneiro (2006 apud COSTA; PORTO, 2010) sintetizaram as correntes teóricas atendo-se a um conjunto de questões básicas que envolvem o processo de internacionalização, explanadas de acordo com o quadro 4 apresentado a seguir. 22 Dib (2008, p. 60) cita: ACS, DANA e JONES (2003). 47 Quadro 4 - Questões básicas do Processo de Internacionalização (continua) Por quê? O que? Paradigma Eclético Explorar ou desenvolver vantagens de propriedade: busca de mercados, redução de custos, procura de ativos e capacitações estratégicas; Sem restrições em termos de produtos, serviços, tecnologias ou atividades (implícito); Modelo Uppsala Rede de Networks Empreendedorismo Internacional Busca de mercados; Seguir movimentos de outros participantes da rede ou desenvolver relacionamentos em novas redes internacionais; Procura de novos mercados; atendimento a solicitações espontâneas; reestruturação da indústria; Sem restrições em termos de produtos, serviços, tecnologias ou atividades (implícito); Sem restrições desde que seja do interesse de outros participantes da rede (implícito); Abordagem não é explícita, mas não traz restrições. Dependeria do perfil do empreendedor; Quando a rede de negócios assim compelir, ou seja, quando houver necessidade de criar ou desenvolver relacionamentos; Quando o responsável pela decisão final da firma julgar adequado; De acordo com as redes internacionais estabelecidas ou almejadas; Países que originam pedidos; onde houver demanda potencial e/ou oportunidades de reestruturação; Momento inicial: saturação do mercado doméstico; Segue a linha Expansão: Quando? da conforme o internalização conhecimento for gradualmente obtido através da experiência internacional; Para países com distância Onde houver psíquica em vantagens de relação ao localização mercado (tais como: Onde? doméstico menor incentivos, no primeiro alta momento e, demanda, depois, entre outros); gradualmente crescente; 48 (conclusão) Paradigma Eclético Modelo Uppsala Em estágios de comprometimento Exportação, gradual de investimento recursos (iniciadireto ou se com licenciamento, exportação, dada a melhor depois é Como? combinação estabelecido um das escritório de vantagens de vendas até propriedade, estabelecer uma localização ou sede de internalização. produção em território estrangeiro). Rede de Networks Empreendedorismo Internacional Solicitações podem levar à Comportamentos exportação ou diferentes de licenciamento; acordo com o grau consolidações de seriam feitas via internacionalização fusões ou da própria aquisições; busca empresa e de sua de mercados pela rede. criação de novos canais. Fonte: Dib e Carneiro (2006 apud COSTA; PORTO, 2010, p. 149). Havendo exposto o quadro acima, a autora sente-se confiante para dar início ao próximo subcapítulo, o qual refletirá acerca das teorias aqui expostas, suas contribuições e limitações, a fim de apresentar ideias posteriores e complementares às sugeridas pelos modelos tradicionais. 3.2. À CAMINHO DE UMA NOVA ABORDAGEM Segundo Oviatt e McDougall (1994, apud PIMENTEL; RIBEIRO, 2012), até a década de 1990 as multinacionais eram estudadas, basicamente, como organizações – historicamente – desenvolvidas a partir de firmas domésticas, estas já de grande representatividade e de madura experiência no mercado. Conforme colocado por Mitgwe (2006 apud DIB 2008, p. 60), “por muitas décadas, os negócios globais foram considerados como exclusivos das grandes multinacionais e a teoria mais tradicional de negócios internacionais era desenvolvida para explicar o comportamento de tais empresas”. Porém, as inovações tecnológicas e o aumento do número de pessoas com experiência internacional agregaram novas perspectivas às empresas multinacionais. 49 A possibilidade de comandar uma empresa a partir de qualquer ponto do globo deu vazão ao surgimento de novos empreendimentos que, embora disponham de recursos limitados, podem concorrer na arena internacional. A escala e o tamanho não são mais fatores essenciais para o sucesso de internacionalização de uma firma (OVIATT; MCDOUGALL, 1994 apud PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 6). Dessa forma, é possível entender o porquê da dificuldade – ainda presente - das duas maiores correntes teóricas sobre internacionalização em explicar a existência das empresas denominadas Born Globals - BGs. As teorias econômicas podem ser utilizadas como um breve exemplo; pois, ao enfatizarem a internacionalização das grandes empresas com base na busca pelo aumento de escala ou de uma maior sobrevida do produto acabam por não capturar a realidade vivida por pequenas e médias empresas com base inovadora. Oviatt e McDougall (1994-2005) ainda apontam outros fatores contribuintes à inadequação teórica frente ao entendimento e explicação acerca do fenômeno das Born Globals: o primeiro motivo se dá, em grande parte, pelo fato de que as teorias tradicionais foram originadas para explicar os fluxos de Investimento Direto Estrangeiro - IDE, o qual atualmente se sabe, não são essenciais para as Born Globals. Em segundo, as teorias em questão não tratam abertamente dos elementos de dinâmica do processo de internacionalização, tais como a aprendizagem organizacional e o papel desempenhado pelos empreendedores (aspectos estes de suma relevância para o estudo das Born Globals). E, finalmente, apontam que as teorias conhecidas não se atêm muito a explicar as formas de cooperação empresarial, alianças estratégicas e redes de relacionamento internacionais formadas por executivos, as quais muitas vezes explicam o sucesso da internacionalização das empresas (intensificadas nas últimas décadas). Até mesmo no caso das abordagens comportamentais, a preocupação dos autores continua voltada ao IDE. Além disso, “o processo gradual de internacionalização proposto foi severamente contestado pelas evidências empíricas sobre empresas que já surgem para servir o mercado internacional” (PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 7) 23. Diante das críticas apresentadas, os teóricos do modelo de Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1990, apud PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 7) se 23 Os autores citam como exemplo os trabalhos de Madsen e Servais (1995), Knight e Cavusgil (1995). 50 reportaram ao fenômeno da internacionalização acelerada, apresentando o argumento de que seu modelo precisaria de ajustes em três situações, nas quais a internacionalização livre da influência do IDE poderia acontecer. A primeira situação refere-se a empresas com abundância de recursos; a segunda quando as condições do mercado internacional são estáveis e homogêneas; e a terceira quando as empresas possuem muita experiência no mercado doméstico e almejam mercados internacionais que possuam o maior número de similaridades com o do país de origem. Ainda assim, Oviatt e McDougall (1994) insistem e enfatizam a necessidade de formulações teóricas a fim de explicar o ocorrido com empresas de internacionalização prematura – algumas tendo alcançado o mercado estrangeiro desde seu nascimento, uma vez que as teorias propostas não se adequavam a nenhuma das exceções apontadas por Johanson e Vahlne (1990). 51 4. O FENÔMENO “BORN GLOBAL” Com base em estudos realizados acerca do fenômeno ao longo de pouco mais de uma década (KNIGHT; KIM, 2009; KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; RIALP et al., 2005; BELL; MCNAUGHTON, 2000; OVIATT; MCDOUGALL, 1994 apud RIBEIRO, 2012, p. 25), em síntese, as Empresas Born Global – EBGs são àquelas que obtiveram sucesso ao estabelecer atividades no exterior desde sua fundação ou pouco tempo após sua criação, na qual a experiência prévia no mercado doméstico não representa um fator preponderante à realização de negócios no mercado internacional; negócios estes realizados por empreendedores que fazem do risco um aliado, não deixando-se segurar e/ou frear pelo desconhecido e incerto. 4.1. A HISTÓRIA POR TRÁS DO CONCEITO O conceito “Born Global” foi cunhado em 1993 durante um estudo feito ao Conselho de Manufatura Australiano (originalmente, “The Australian Manufacturing Council”) pelos consultantes McKinsey e Rennie (MCKINSEY et. al., 1993; RENNIE, 1993, apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002). A denominação dada ao fenômeno surtiu efeito e obteve grande aceitação, colocando, mais do que nunca, o assunto em pauta entre teóricos, pesquisadores, estudantes e demais pessoas que se encontravam vinculados aos temas que englobam a trajetória de uma internacionalização acelerada. De acordo com Rasmussen e Madsen, as consequências agregadas à identificação desta nova classificação de exportadores encontram-se claramente expressas por Cavusgil em seu primeiro artigo feito à academia, cujo tema principal tratava das empresas Born Global. Está emergindo na Austrália uma nova geração de empresas exportadoras, que contribuem substancialmente para o capital de exportação do país. O surgimento de tais exportadores, embora não exclusivo à economia australiana, reflete dois fenômenos fundamentais à década de 1990: 1. Pequeno é lindo, e 2. Internacionalização gradual está morta (CAVUSGIL, 1994, p.18 apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002, p.6 – tradução nossa) 24 24 . There is emerging in Australia a new breed of exporting companies, which contribute substantially to the nation’s export capital. The emergence of these exporters though not unique to the Australian 52 O projeto australiano consistiu em uma análise dos “novos exportadores” entre empresas de pequena e média produção. Conforme salientado por Rasmussen e Madsen (2002), a pesquisa apresentou uma nova perspectiva sob o fenômeno, uma vez que o foco não se direcionava as empresas (empreendedoras) de formação recente, mas sim àquelas que recentemente deram inicio à atividade exportadora. Ademais, vale ressaltar que o foco incidiu-se sob firmas cuja atividade exportadora apresentasse crescimento durante o período mínimo de cinco anos, estes, anteriores à realização da pesquisa. Dessa forma, foi possível excluir os exportadores esporádicos, bem como empresas que já apresentassem alto grau de internacionalização. Durante o estudo, McKinsey e Rennie identificaram mais de 700 empresas com atividades exportadoras em ascensão, destas, 310 responderam um questionário e “somente” 56 foram entrevistadas25. Após o término do estudo, McKinsey e Rennie (1993, apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002) concluíram que este novo tipo de exportadores – até mesmo empresas antigas – possuíam uma característica em comum. As empresas enquadradas na pesquisa realizada não viram o processo de exportação e o mercado estrangeiro necessariamente como algo negativo; muito pelo contrário, viram o mundo como um único e grandioso mercado. Adicionalmente, e talvez, a maior contribuição do estudo, foi a conquista de uma clara distinção entre dois tipos de empresas exportadoras, conforme descrição abaixo. O primeiro tipo de exportadoras é representado por empresas de base no mercado doméstico. Estas firmas estabelecem uma sólida base em seu mercado doméstico através de muitos anos de experiência; porém, caso desejem expandir seu negócio, a exportação aparece como melhor opção. É, portanto, o desejo pelo crescimento que impulsiona empresas a exportarem (a redução de custos ou a concorrência são raramente vistos como motivo à exportação). Em um segundo plano, as empresas remanescentes (aproximadamente 25% do total das firmas selecionadas) formaram o segundo grupo – as chamadas “Born Globals”. Esse tipo de empresa, normalmente, inicia suas atividades exportadoras antes mesmo de completarem dois anos de fundação. Foram identificadas como empresas jovens, porém, de grande influência e importância, economy, reflects 2 fundamental phenomena of the 1990s: 1. Small is beautiful, 2. Gradual internationalization is dead (CAVUSGIL, 1994, p.18 apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002, p.6). 25 Para maiores informações acerca da pesquisa realizada, Rasmussen e Madsen (2002, p. 7) indicam: McKinsey & Co. (1993), Rennie (1993) e Forman (1993). 53 uma vez que estas representam – aproximadamente – 20% do total das exportações. Nas palavras de McKinsey (1993, p. 9, apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002, p. 7 – tradução nossa), “(...) estas firmas veem o mundo como seu mercado desde o começo, tendo o mercado doméstico como suporte para seus negócios internacionais” 26. Conforme pontuado por McKinsey e outros (1993, apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002), a pesquisa também apresenta um fator preponderante para a explicação do fenômeno Born Global – o comprometimento por parte do corpo administrativo da empresa com a internacionalização. Outro fator característico e de suma importância é a habilidade da empresa em padronizar, como a produção, estratégias de marketing, entre outros, de uma maneira global – contrariando, novamente, o esperado, no caso, o desenvolvimento de produtos customizados. Após interpretar a colocação feita por McKinsey, na qual afirma que o processo de internacionalização gradual está “morto”, Cavusgil (1994, apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002) faz uma colocação interessante a respeito. Uma vez que todos – inclusive as menores firmas – possuem acesso a informações sobre mercados externos, o autor acredita que uma empresa pode sim dar início às suas atividades exportadoras desde sua formação. Cavusgil (1994) também comenta que, ainda que com um pouco de atraso, pesquisadores ao redor do mundo descobriram os resultados apresentados pelas empresas australianas que optaram por internacionalizarem-se de forma acelerada, dando início a esboços de pesquisas similares sobre o tema “Born Global” em diferentes países27. 4.1.1. Conceitos Similares Na literatura disponível, é certa a inconstância de denominações atribuídas às empresas de internacionalização acelerada, porém, todas se apresentam como variações do mesmo fenômeno. De acordo com Rialp e outros (2005 apud RIBEIRO, 2012, p. 25), as denominações podem ser Born Global, International New Ventures, Global Start Ups, Global Pioneers, Instant Internationals, 26 (...) these firms view the world as their marketplace from the outset and see the domestic Market as a support for their international business (MCKINSEY & CO., 1993, p.9 apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002, p. 7). 27 Rasmussen e Madsen (2002, p.7) indicam: Madsen e Servais (1997), Knight e Cavusgil (1996), Madsen e outros (2000), Moen e Servais (2002). 54 Global High-Tech Firms, High Technology Start-Ups, Technology-Based New Firms, ou ainda sem denominação específica, conforme exposto no quadro seguinte, indicando os seus respectivos autores. Quadro 5 - Fenômeno Born Global e Definições Similares DEFINIÇÃO AUTORES BORN GLOBALS Rennie (1993); Madsen e Servais (1997); Autio, Sapienza e Almeida (2000); Bell e McNaughton (2000); Madsen e outros (2000); Bell, McNaughton e Young (2001); Dominguinhos e Simões (2001); Rasmussen e outros (2001); Moen (2002); Zuchella (2002); McNaughton (2003); Knight e Cavusgil (2004); Dominguinhos e Simões (2004); Gabrielsson e outros (2004); Knight, Madsen e Servais (2004); Dib (2008). INTERNATIONAL NEW VENTURES (INVs) McDougall (1989); Oviatt e McDougall (1994); McDougall e outros (1994); Oviatt e McDougall (1999); Zahra e George (2002); Oviatt e McDougall (2005); Zahra (2005). GLOBAL START-UPS GLOBAL PIONNEERS INSTANT INTERNATIONALS GLOBAL HIGH-TECH FIRMS Oviatt e McDougall (1995). Almor (1999). Preece, Miles e Baetz (1999). Roberts e Senturia (1996). HIGH TECHNOLOGY STARTUPS Autio (1999). TECHNOLOGY-BASED NEW FIRMS Autio (1999). S/ DENOMINAÇÃO ESPECÍFICA Coviello e Munro (1995); Knight e Kim (2009). 28 Fonte: Elaborado pelo autor (2013 ) 28 Quadro elaborado com base nas informações disponibilizadas no trabalho elaborado por Ribeiro (2012, p. 26). 55 Ainda que de forma generalizada, nota-se que o breve levantamento das definições ao processo de internacionalização exposto aponta para os estudos empíricos realizados. Porém, dentre tais evidências, Madsen e Rasmussen (2002, p. 12) encontraram um grande número de casos “reciclados” 29 e algumas pesquisas “mais” minuciosamente planejadas. Um breve resumo dessas definições, conceitos e bases empíricas encontradas pelos autores é apresentado no quadro abaixo. Quadro 6 - A Reciclagem de Madsen e Rasmussen (continua) AUTORES Hedlund e Kverneland (1985) 29 CONCEITO REFERÊNCIA TEÓRICA Firmas que ultrapassam Leapfrogging30 estágios presentes nos modelos tradicionais; Young (1987) - Discussões teóricas a respeito dos resultados encontrados por Hedlund e Kverneland (1985); Ganitsky (1989) Innate Exporters Exportadores Inatos Base em 18 exportadoras israelenses “Born International” (em português: nascidas internacionalmente); Jolly e outros (1992) High-Tech Start-Ups Iniciantes de Alta Tecnologia Estudo de caso realizado com quatro empresas de alto cunho tecnológico; McKinsey e outros (1993) Born Global Nascidas Globais Base em 310 firmas produtoras de recente atividade exportadora; CONCLUSÕES E RESULTADOS Há cada vez mais homogeneidade entre os mercados exportadores; A internacionalização faz parte da estratégia da empresa. Young concorda com a conclusão a respeito do “leapfrogging”, porém somente para firmas de alta tecnologia. Firmas Born Global adaptam suas estratégias a um nível superior em comparação às estratégias de mercados estrangeiros; Carecem de recursos e experiência. Desde o início essas empresas direcionaram suas estratégias entre os nichos do mercado global; Fundador com experiência internacional. Dentre as firmas, 25% obtiveram um intenso fluxo de exportações nos primeiros 2 após sua fundação; Exportam em média 75% de suas vendas. Madsen e Rasmussen (2002, p. 13) citam o caso da firma “Logitech”. “Leapfrog”: (1) avançar de um lugar/ posição/ situação para outro sem precisar progredir através de todos ou qualquer um dos lugares/ estágios entre o ponto de partida e o destino final; (2) melhorar uma posição ultrapassando rapidamente ou pulando algumas etapas de uma atividade ou processo (síntese das definições encontradas no dicionário on-line de Cambridge e “WordReference”). 30 56 (continuação) AUTORES CONCEITO Cavusgil (1994) Born Global McDougall e outros (1994) Oviatt e McDougall (1994) Bell (1995) Bloodgood e outros (1996) 31 REFERÊNCIA TEÓRICA Interpretação de McKinsey e outros (1993); International New Ventures - INVs 31 Base em 24 estudos de caso; International New Ventures - INVs Base em 12 estudos de caso; Firmas de estratégia proativa e internacional; - High Potential Firms Firmas de Alto Potencial Knight e Cavusgil (1996) Born Global Madsen e Servais (1997) Born Global CONCLUSÕES E RESULTADOS “O pequeno é belo. Internacionalização gradual está morta”. Desde o nascimento, a estratégia direciona-se aos mercados internacionais. Os modelos tradicionais incompatíveis ao uso. “Uma INV é uma organização empresarial que, desde o início, busca obter significante vantagem competitiva a partir do uso de recursos e a venda de sua produção a múltiplos países”. Pequenas empresas “Distância psíquica” não é fornecedoras de software; mais utilizada; Não há suporte A internacionalização da para os modelos tradicionais. maioria deveria ser inicial; A internacionalização depende da experiência internacional do fundador. Tornar-se Firmas com alto potencial internacional desde a fundação de crescimento; é possível mesmo para as pequenas empresas americanas Fatores que levam à existência das BGs: Síntese de pesquisas - Aumento no número de existentes + artigos de nichos de mercado jornais. Empresas com taxa mundialmente; de exportação igual ou - Mudanças na produção e superior a 25% entre os comunicação tecnológica; primeiros 3-6 anos; - Crescimento do número de redes de relacionamento internacional. Síntese de pesquisas O modelo clássico é válido existentes em conjunto para BGs se a experiência com vários estudos de caso internacional do fundador for dinamarqueses; levada em consideração. “International New Ventures” são empreendimentos internacionais considerados de alto risco. 57 (conclusão) AUTORES Jones (1999) CONCEITO International Entrepreneurs Empreendedorismo Internacional REFERÊNCIA TEÓRICA Firmas com extensa rede de relações internacionais; Questionário realizado com empresas inglesas de alta tecnologia; CONCLUSÕES E RESULTADOS A internacionalização das empresas geralmente se inicia a partir das redes de relacionamento (das quais não se relacionam de nenhuma maneira às vendas). Foram seguidos distintos caminhos para a internacionalização dessas empresas. Fonte: Adaptado de Madsen e Rasmussen (2002, p. 13). Seguindo os passos de Ribeiro (2012), optou-se por adotar o termo “Born Global” como forma de referência ao fenômeno aqui estudado. A escolha feita levou em consideração a denominação de maior incidência nos trabalhos elaborados, tendo como aliados grandes nomes da literatura – citados no quadro acima –, outro fator decisivo resume-se a uma tentativa de contribuir para o consenso de caracterização do fenômeno; ainda que o termo “internacionalização acelerada” também é encontrado em diversas partes ao longo deste trabalho, utilizado com o mesmo sentido do termo em inglês selecionado, Born Global. 4.2. DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS BORN GLOBAL - EBGS Apesar do fenômeno Born Global ainda não possuir uma denominação de utilização geral, Rialp e outros (2005), ao longo de uma extensa revisão crítica literária dos últimos dez anos, perceberam que a maioria dos principais estudos concorda no conceito de que o fenômeno encontra-se presente em empresas iniciantes, empreendedoras, engajadas nos negócios internacionais desde o início ou poucos anos após sua fundação. A conclusão feita pelos autores resume-se ao quadro abaixo. 58 Quadro 7 - EBGs e suas principais definições “Organizações de negócios que desde sua concepção ou Oviatt e McDougall (1994, p. 49) início de suas atividades buscam negócios no mercado externo, procuram originar vantagem competitiva significante a partir do uso de seus recursos e da venda de seus produtos em diferentes países”. “Organizações de negócios que desde a sua formação, Knight e Cavusgil (2004, p. 124) buscam performances superiores em negócios internacionais a partir da aplicação de recursos baseados em conhecimento para vender seus produtos em múltiplos países”. Dib (2008, p. 146) “Empresas que, num horizonte de tempo de até cinco anos desde sua fundação, já realizou negócios em pelo menos um mercado internacional”. Fonte: Adaptado de Ribeiro (2012, p. 27). Após a leitura dos conceitos presentes do quadro 7, torna-se possível identificar o tipo de empresa de “maior compatibilidade” ao fenômeno, porém, o mesmo consenso não ocorre quando o tópico abordado trata das características necessárias para uma definição precisa. Considerando a controvérsia existente, Dib (2008 apud RIBEIRO, 2012) aponta que é o uso impulsivo – e quase impensável – de termos por parte dos autores que acaba por tornar a tentativa de uma comparação excessivamente desafiadora. Em contrapartida, através de estudos realizados por Rialp e outros (2005 apud RIBEIRO, 2012) e Dib (2008 apud RIBEIRO, 2012), os autores conseguiram identificar algumas características cabíveis ao processo de internacionalização acelerada, estas selecionadas com base na recorrência dos mesmos entre os trabalhos de maior renome acerca do assunto. Dentre os diversos critérios encontrados durante as pesquisas, os selecionados foram: data de fundação, início das atividades internacionais depois da fundação, percentual do faturamento proveniente de operações no exterior e a abrangência de mercados. 59 Quadro 8 - Critérios de definição de uma Born Global DATA DE FUNDAÇÃO INÍCIO DAS ATIVIDADES INTERNACIONAIS *Após fundação PERCENTUAL FATURAMENTO * Proveniente de operações no exterior ABRANGÊNCIA DE MERCADOS A maioria dos autores considera que as empresas born globals surgiram depois de 1990 (MOEN, 2002; MOEN; SERVAIS, 2002; MADSEN; RASSMUDEN, 2002); porém, há autores que consideram empresas fundadas anteriormente (EVANGELISTA; MADSEN; RASMUSSAN, 2005). Varia de 02 até 15 anos: - 02 anos (MOEN, 2002; MOEN; SERVAIS, 2002); - 03 anos (CAVUSGIL; KNIGHT, 1996; KIM; KNIGHT, 2009; KNIGHT; MADSEN; SERVAIS, 2004); - 05 anos (ZUCCHELLA, 2002); - 06 anos (HITT; IRELAND; ZAHRA, 2000); - 08 anos (MCDOUGALL; OVIATT; SHANE, 1994); - 15 anos/ percentual de vendas no exterior igual ou maior a 50% (DARLING; GABRIELSSON; SASI, 2004). Varia de 5% até 75%: - 5% (MCDOUGALL, 1989); - 25% (CAVUSGIL; KNIGHT, 2004; KNIGHT; MADSEN; SERVAIS, 2004; MOEN, 2002; MOEN; SERVAIS, 2002; MADSEN; RASMUSSAN, 2002; EVANGELISTA; MADSEN; RASMUSSAN, 2005); - Superior a 50% para firmas de pequenas economias abertas (DARLING; GABRIELSSON; SASI, 2004); - Superior a 75% para firmas com pequenos mercados domésticos (DARLING; GABRIELSSON; SASI, 2004). Um ou poucos mercados internacionais (BLOMSTERMO; SHARMA, 2003), na mesma ou em várias regiões do mundo (DARLING; GABRIELSSON; SASI, 2004; GABRIELSSON, 2005). McNaughton (2003) observou, porém com pouca relevância estatística, que a entrada num grande número de mercados ocorria em born global em setores de alta tecnologia e em países com mercado doméstico pequeno. Fonte: Adaptado de Dib (2008); Dib e Rocha (2008); Rialp e outros (2005) apud Ribeiro (2012, p. 27). Com o intuito de possibilitar a comparação dos estudos de caso realizados (que serão descritos mais adiante), será adotado o conceito empregado por Dib (2008), uma vez que a definição Born Global é condizente com os principais trabalhos internacionais em que o assunto é abordado. 60 Depois de elucidar tais considerações, o termo Born Global utilizado neste trabalho refere-se à “empresa que, num horizonte de tempo de até cinco anos desde sua fundação, já realizou negócios em pelo menos um mercado internacional” (DIB, 2008, p. 146). 4.3. A CONTRIBUIÇÃO DE OVIATT E MCDOUGALL O trabalho de Oviatt e McDougall (1994) significou um marco nas pesquisas sobre as EBGs e é amplamente citado na literatura como um ponto de partida no desenvolvimento de teorias que conseguissem melhor explicar o rápido processo de internacionalização dessas empresas. Os autores sistematizam a dispersa literatura sobre as experiências de pequenas e médias empresas que realizavam negócios no exterior desde o nascimento, classificaram essas experiências a partir da coordenação das atividades da cadeia de valor e o número de países envolvidos, derivando um modelo para tentar explicar o comportamento das mesmas. Os mesmos fazem uso de teorias derivadas do empreendedorismo 32 internacional 33 , a fim de mostrar o processo de decisão quanto ao caráter internacional da empresa desde deu “nascimento”. O modelo dá ênfase à utilização de novas modalidades de estruturação organizacional e à importância nas redes de relacionamentos pessoais formadas pelos executivos no exterior. 32 De acordo com a Associação Europeia de Formação Profissional (2009), empreendedorismo é considerado como conceito “chave” para o crescimento econômico, emprego e realização pessoal. Empreendedorismo não é sinônimo de capacidade para montar um negócio, mas sim a capacidade de utilizar um conjunto de competências – criatividade, autoconfiança, inovação, assunção de riscos – para transcender de ideias para ações. 33 “O empreendedorismo internacional é uma combinação de comportamentos inovadores, pró-ativo e arriscado que atravessa as fronteiras e almeja criar riquezas nas organizações” (MCDOUGALL; OVIATT, 2000, p. 903 apud CHAGAS; SIQUEIRA, 2010, p. 15). 61 Figura 4 - O modelo de Oviatt e McDougall Fonte: Adaptado de Oviatt e McDougall (1994 apud PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 8). A classificação proposta por Oviatt e McDougal (1994 apud DIB, 2008, p. 109) distingue os diferentes tipos de novos empreendimentos internacionais. A partir do número de atividades apresentada pela cadeia de valor (coordenadas por uma parte da matriz), e de acordo com o número de países numa outra dimensão, resultam três principais tipos de empreendimentos, conforme exposto através da figura 5 que segue. 62 Figura 5 - Tipos de novos empreendimentos internacionais Fonte: Adaptado de Oviatt e McDougall (1994, p. 59 apud DIB, 2008, p. 110). Dib (2008) aponta o potencial de utilidade presente no conjunto de referências utilizado para a criação deste quadro para o estudo do conceito Born Global. O mesmo também ressalta que o fato de alguns autores considerarem as BGs como um tipo especial de empresa multinacional34 possibilitaria o uso de alguns componentes das teorias tradicionais ligadas à vertente econômica – tais como a análise de custos de transação, mercados imperfeitos, bem como a internalização das transações internacionais. A proposta das International New Ventures – INVs de Oviatt e McDougall (1994 apud DIB, 2008) inovou ao utilizar da abordagem empreendedora para sua fundamentação. A proposta dos autores acabou por desafiar o modelo “passivo/ reativo” de estágios defendidos pelas teorias da abordagem comportamental. 34 Os autores Barlett e Ghoshal (1992; 2000 apud COSTA; PORTO, 2010, p.148) classificaram as organizações multinacionais em quatro categorias: (1) multidoméstica, (2) global, (3) internacional e (4) transnacional. 63 4.4. A TIPOLOGIA DE BRUNO FERNANDES Após considerar a classificação das EBGs realizada por Oviatt e McDougall como restrita (uma vez que se baseia em apenas dois critérios: número de países de atuação e coordenação das atividades de cadeia de valor), Fernandes e Seifert (2007) propuseram uma nova tipologia, desta vez, de ampla diversidade. Para eles, a utilização de apenas duas dimensões poderia fazer com que elementos importantes para a diferenciação do processo de internacionalização – acelerada – das empresas passassem despercebidos; consequentemente ocasionando o agrupamento de empresas com realidades distintas entre si sob o mesmo “rótulo” 35. A tipologia proposta pelos autores leva em consideração quatro aspectos, sendo eles: o perfil do empreendedor, os valores organizacionais, o contexto ambiental de referência e a estratégia empresarial para a internacionalização da empresa. Dessa forma, a classificação das EBGs encontra-se dividida em cinco modalidades, conforme apresentado pelo quadro a seguir. Quadro 9 - A Tipologia de Fernandes e Seifert (continua) Perfil do Empreendedor Clássico Aventureiro 35 Valores Contexto de Referência Estratégia Referências - Experiência internacional prévia; - Rede de relações internacionais; - Empreendedor maduro; - Conhecimento de negócio. - Visão global; - Possibilidade de criar - Internacional; vantagens - Institucional; competitivas no - Técnico. âmbito global; - Tecnologia e inovação. Deliberada e Proativa Logitech e Technomed (OVIATT; MACDOUGALL, 1995); Xseed (ROCHA et al., 2005). - Senso de oportunidade; - Pró-atividade; - Pouca experiência internacional. - Propensão ao risco; - Persistência; - Foco no negócio; - Inovação. Emergente e Proativa. Trikke Tech (SEIFERT; FERNANDES, 2005). - Doméstico; - Técnico; - Institucional. O termo empregado vincula-se às diferentes nominações empregadas ao processo de internacionalização sofrido por uma empresa. 64 (conclusão) Perfil do Empreendedor Valores Contexto de Referência Puxado - Experiência prévia no setor/ ramo de atuação; - Amplo conhecimento técnico; - Rede de relações com grandes empresas. - Qualidade do produto/ serviço; - Competência técnica; - Eficiência; - Flexibilidade; - Foco no cliente. Predominante mente doméstico; - Técnico. Empurrado - Fortes competências administrativas; - Visão de investimento e lucratividade; - Rede de relações no setor. - Qualidade; - Adaptação e padronização de processos; - Competitividade. - Doméstico com incorporação de padrões internacionais; - Institucional e técnico. Científico - Cientista; - Vínculo acadêmico; - Rede de relações no seu campo de saber. - Profundidade científica; - Pesquisa; - Inovação. - Internacional dentro do seu campo de saber; - Técnico. Estratégia Referências Emergente e Reativa. - Fujtec (ROCHA et al, 2005); - Altitude Software (SIMÕES; DOMINGUINHO S, 2001). Reativa e Deliberada. - Oasis (OVIATT; MACDOUGALL, 1995); - Empresa de alimentos no Paraná (SEIFERT, 2005). Emergente, deliberada e Proativa. - ICT 2 - Biotech 2 (SIMÕES; DOMINGUINHO S, 2001). Fonte: Adaptado de Fernandes e Seifert (2007 apud PIMENTEL; RIBEIRO,). Utilizando a visão conjunta a essa tipologia, o foco deste estudo são as empresas de internacionalização acelerada do tipo científico. Nesse tipo de empresa, as características encontradas no empreendedor são típicas de empresas de base tecnológica. Como esses empreendedores têm laços muito estreitos com o mundo acadêmico, e suas áreas de atuação são muitas vezes globais, espera-se que a internacionalização dessas empresas ocorra em geral como decorrência de uma inovação científica gerada na empresa e da rede de relacionamento internacional desenvolvida pelos empreendedores em seu campo de saber. Em termos de estratégias, as born globals científicas podem ter um processo deliberado, no qual a rápida internacionalização 65 foi planejada ou como emergente, no qual a rápida internacionalização emerge em virtude das circunstâncias enfrentadas pela empresa (PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 9). Com esta afirmação, ressalta-se a importância do entendimento de que o fenômeno Born Global não se limita a qualquer tipo de indústria, setor, densidade tecnológica36, produto, tamanho, tempo, local ou a qualquer outro determinante. Rennie (1993 apud RIBEIRO, 2012) comprova a existência de EBGs em indústrias tão distintas quanto à dinâmica de seus concorrentes, podendo pertencer desde o setor alimentício, bebida e tabaco, passando pelas indústrias de madeira, móveis e papel, produtos farmacêuticos e veterinários, equipamentos científico, profissionais, fotográficos e eletrônicos até produtos de couro. Os pesquisadores Madsen e Servais (1997) e Oviatt e McDougall (1994) também afirmam que o fenômeno da internacionalização acelerada não se limita a determinadas indústrias A discrepância entre as características e a dificuldade em identificar esse tipo de empresa é um dos grandes motivos que impulsionou a realização deste trabalho. 4.5. DEFININDO AS EBTS Conforme exposto acima, o fenômeno born global pode incidir sob empresas de inúmeros setores, e não apenas às de maior intensidade tecnológica – porém, não se nega que o número de BGs em Empresas de Base Tecnológica (EBTs) é expressivamente maior em comparação aos demais setores, tornando o entendimento de seu conceito imprescindível. Quadro 10 - Definições das Empresas de Base Tecnológica (continua) DEFINIÇÕES AUTORES Marcovitch e outros Empresa de alta tecnologia que dispõem de competência rara ou (1986 apud FERRO; exclusiva em termos de produtos ou processos, viáveis comercialmente, TORKOMIAN, 1988, que incorporam grau elevado de conhecimento científico; p. 44). 36 Colocação baseada na afirmação feita por Madsen e Servais (1997) e Oviatt e McDougall (1994) – vide Ribeiro (2012, p.25). 66 (conclusão) DEFINIÇÕES AUTORES Empresas de capital nacional que, em cada país, se situem na fronteira Stefanuto (1993). tecnológica de seu setor; Micro e pequenas empresas comprometidas com o projeto, desenvolvimento e produção de novos produtos e/ou processos, Carvalho e outros caracterizando-se ainda pela aplicação sistemática de conhecimento (1998, p. 462). técnico-científico (ciência aplicada e engenharia); Pequenas e médias empresas que realizam esforços tecnológicos significativos e concentram suas operações na fabricação de “novos” produtos. Para essas empresas deve-se considerar a capacidade de desenvolver novos produtos (stricto sensu) e abranger as capacidades de imitação, adaptação e engenharia reversa; Pinho (2002; 2005); Cortês e outros (2005); Fernandes e outros (2004). Empresa de qualquer porte ou setor que tenha na inovação tecnológica os fundamentos de sua estratégia competitiva. Desenvolvem produtos ou FINEP 37 (2010). processos tecnologicamente novos ou melhorias tecnológicas significativas em produtos ou processos existentes. Fonte: Adaptado de Cortês e outros (2005 apud RIBEIRO, 2012, p. 26). De acordo com Pinho (2005 apud RIBEIRO, 2012), as EBTs são empresas de pequeno e médio porte 38 em setores de alta tecnologia, os quais realizam esforços tecnológicos significativos e concentram suas operações (arranjos de cooperação, capacitação tecnológica, entre outros) na fabricação de “novos” 39 produtos – deixando expressas as competências específicas da empresa. O autor preocupa-se em enfatizar que “as EBTs não devem ser confundidas com empresas que operam com produtos inovadores para os seus mercados, mas não realizam esforços significativos – caso de empresas dedicadas à montagem não qualificada de artigos eletrônicos padronizados” (RIBEIRO, 2012, p. 26). 37 FINEP – Agência Brasileira de Inovação (para maiores informações, recomenda-se acessar: http://www.finep.gov.br/). 38 Tendo o trabalho de Pinho (2005) como base, Ribeiro (2012, p. 26) explica que “um recorte sobre o tamanho das empresas é necessário para dar clareza teórica ao objetivo de estudo. Mesmo num ambiente menos intensivo em esforços de inovação tecnológica, (...) o conceito proposto sem esse recorte de tamanho, alcança um número amplo de grandes empresas, em que as características, acesso a recursos, estruturas e problemas são muito diferentes daqueles que tipificam de fato as EBTs, que, em geral, são nascentes e de pequeno e médio porte”. 39 Ribeiro (2012, p. 26) enfatiza o adjetivo “novo” com o intuito de abranger as capacidades de imitação, adaptação e engenharia reversa das EBTs. 67 Autio e outros (2000 apud RIBEIRO, 2012) afirmam que as EBTs exercem um papel crítico nos processos de inovação e desenvolvimento tecnológico dos países, uma vez que são responsáveis pelo comércio de produtos e processos (cuja concepção e desenvolvimento são provenientes de pesquisas científicas) de demanda crescente. Dada a definição das empresas de base tecnológica, aborda-se a seguir as formas de internacionalização das EBGs. 4.6. FORMAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA Após relembrar as principais correntes teóricas ligadas ao processo de internacionalização, cabe agora discutir as diferentes estratégias que podem ser adotadas pelas empresas que anseiam por sua inserção no mercado estrangeiro. Apesar da diversidade de formas, estruturas e estratégias de constituição, manutenção e coordenação dos negócios internacionais, é importante frisar que, na prática, há uma série de combinações possíveis e que a escolha do modelo estratégico e estrutural de internacionalização a ser adotado por uma empresa dependerá, dentre inúmeros fatores, da estratégia de inovação adotada, do contexto, história e das características particulares da empresa e de seu setor de atuação (COSTA; PORTO, 2012, p.149). Segundo Kumar (1982), Contractor (1984), Dunning (1988), Hill, Hwang e Kim (1990) 40, as empresas multinacionais necessitam de vantagens competitivas únicas a fim de competirem eficazmente no mercado internacional. Essas vantagens são apresentadas de diversas formas, seja através de produtos diferenciados; métodos únicos de produção, administração e distribuição que ofereçam custos mínimos; marcas de alta representatividade e reconhecimento ou através de uma alta proteção de patentes, entre outros. Uma vez reconhecidas tais vantagens, a empresa conseguirá ponderar com maior facilidade as hipóteses de busca e formas de entrada em mercados estrangeiros. A partir do momento em que a empresa decidiu por adentrar em um ou mais mercados estrangeiros, é hora das mesmas definirem o grau de controle que desejam possuir durante os processos de expansão internacional (ANDERSON; 40 Os autores referenciados foram descritos por Gouveia (2010, p. 44). 68 COUGHLAN, 1987; HILL; HWANG; KIM, 1990; ANDERSON; GATIGNON, 1986; HARZING, 2002; HILL; HWANG, 1992 apud GOUVEIA, 2010). Assim, podem optar entre assumir a responsabilidade total por suas atividades locais através de investimentos diretos de alto controle organizacional visando ao recebimento de dividendos, ou evitar maiores riscos infra estruturais em nome da flexibilidade operacional, através de formas de licenciamento de seus ativos visando ao acúmulo de royalties por transferências tecnológicas (CONTRACTOR, 1984; ANDERSON; GATIGNON, 1986 apud GOUVEIA, 2010, p.44). Entretanto, de acordo com Hill, Hwang e Kim (1990), uma vez que a escolha pelo modo de entrada foi feita, organismos multinacionais limitam sua “flexibilidade tática” a partir do desenvolvimento de habilidades e conhecimentos que suportem o processo de internacionalização pelo modo de entrada eleito. Antes, as decisões referentes à inserção internacional de uma empresa eram tratadas de maneira isolada. Porém, convencido da existência de uma estrutura unificada, Charles Hill e seus dois colegas categorizaram os fatores influentes às decisões da empresa – referentes ao modo de entrada a ser adotado particularmente em cada mercado – em três variáveis, estas referentes à (1) estratégia, (2) ao ambiente e (3) às transações. Quadro 11 - Variáveis influentes à entrada no mercado estrangeiro (continua) VARIÁVEIS Influência por meio do controle de requisitos e exigências que o processo envolve. O controle é a capacidade e a vontade de uma empresa em ESTRATÉGIA influenciar decisões, sistemas e métodos em um mercado estrangeiro. Diferentes estratégias requerem níveis de controle sob o funcionamento de filiais estrangeiras, conduzindo, assim, a diferentes formas de entrada. A própria influência gerada pelo nível apropriado de comprometimento de recursos influencia a forma de entrada de uma empresa. O comprometimento de recursos é um ativo delineado, o qual não poderá ser AMBIENTE empregado para outra finalidade sem agregar custos. Os recursos podem ser intangíveis, tal como a habilidade de gerenciamento, ou tangíveis, como maquinário. 69 (conclusão) VARIÁVEIS A influência na forma de entrada se dá pela própria influência na disseminação de riscos e no nível de controle apropriado. Tais riscos advêm TRANSAÇÃO da possibilidade de que o conhecimento aplicado da firma (tangível e/ou intangível) possa ser, involuntariamente, transferido a uma firma local, consequentemente, um novo competidor. Fonte: Adaptado de Hill; Hwang e Kim (1990). Quadro 12 - Constructo estratégico a partir das variáveis ao modo de entrada no mercado estrangeiro (continua) EXTENSÃO DA DIFERENÇA NACIONAL EXTENSÃO DAS ECONOMIAS DE ESCALA CONCENTRAÇÃO GLOBAL RISCO DE MERCADO FAMILIARIDADE LOCACIONAL CONDIÇÕES DE DEMANDA VOLATILIDADE DOS COMPETIDORES 41 VARIÁVEIS DE ESTRATÉGIA Havendo fatores em comum, firmas que buscam uma estratégia multi-doméstica irão favorecer modos de entrada de baixo controle; Ceteris paribus 41 , firmas que visam estratégias globais irão favorecer modos de entrada de alto controle; Ceteris paribus, quando a necessidade por uma coordenação estratégica global for alta (indústria global oligopolista), empresas multinacionais irão favorecer modos de entrada de alto controle. VARIÁVEIS DO AMBIENTE cet.par., quando o risco apresentado pelo mercado estrangeiro for alto, empresas multinacionais irão favorecer modos de entrada que envolvem um comprometimento de recursos relativamente baixo; cet.par., quando o mercado-alvo estiver há uma grande distância, empresas multinacionais irão favorecer modos de entrada que envolvem comprometimento de recursos relativamente baixo; cet.par., quando a demanda é incerta (como em mercados hospedeiros “embrionários” ou em declínio), empresas multinacionais irão favorecer modos de entrada que envolvem comprometimento de recursos relativamente baixo; cet.par., quanto maior a volatilidade da concorrência apresentada pelo mercado hospedeiro, mais as empresas multinacionais favorecerão modos de entrada cuja exigência de comprometimento de recursos for baixo. Ceteris Pabirus é uma expressão do latim que pode ser traduzida por "todo o mais é constante" ou "mantidas inalteradas todas as outras coisas". A condição cet. par. é usada na economia para fazer uma análise de mercado da influência de um fator sobre outro, sem que as demais variáveis sofram alterações. 70 (conclusão) VALOR ESPECÍFICO AO KNOW-HOW DA EMPRESA NATUREZA TÁTICA DO KNOW-HOW VARIÁVEIS DE TRANSAÇÃO cet.par., quanto maior for a estimativa da corrente de renda gerada pela propriedade de know-how da empresa, maior é a probabilidade das empresas multinacionais favorecerem um modo de entrada que minimize a disseminação de riscos (os benefícios aos parceiros locais aumentam a partir de ações oportunistas); cet.par., quanto maior for o componente tático apresentado pelo know-how da firma, mais as empresas multinacionais favorecerão modos de entrada de alto controle. Fonte: Adaptado de Hill; Hwang e Kim (1990). Hill, Hwang e Kim (1990) deixam claro que a forma de entrada escolhida por uma empresa acarretará implicações quanto à quantidade de recursos que deverão ser comprometidos às operações estrangeiras, o risco que a firma deve suportar, e o grau de controle que a mesma conseguirá exercer sob as operações no novo mercado. Os autores também apresentam quatro diferentes meios de entrada como sendo os mais apropriados. Porém, a escolha destes depende da composição resultante das três variáveis citadas anteriormente. Quadro 13 - Formas de adentrar no mercado estrangeiro EXPORTAÇÃO AQUISIÇÕES/ LICENCIAMENTO JOINT VENTURE SUBSIDIÁRIA/ GREENFIELDS Movimentação de bens provenientes do mercado doméstico a um mercado estrangeiro em conjunto com a venda local; Ocorre quando o licenciador cede os direitos de um bem intangível à parte interessada durante período de tempo específico; em retorno, o licenciador recebe sua parte do lucro por meio de royalties pagos pelo licenciado; Estabelecimento conjunto de uma firma por parte de duas ou mais empresas independentes; A firma é proprietária única do estabelecimento, este proveniente de iniciativa própria em mercado estrangeiro ou através de aquisição de firma já estabelecida. Fonte: Adaptado de Hill; Hwang e Kim (1990). 71 Com o intuito de propiciar melhor entendimento, aprofundam-se a seguir três das formas de entrada mais estudadas na literatura acadêmica (GOUVEIA, 2000, p. 54): aquisições, greenfields e joint ventures. Os autores Kogut; Singh (1988); Chang e Rosenweig (2001) apontam a compra de ações de empresas em quantidade suficiente a fim de garantir o controle majoritário das operações, ou seja, as aquisições como a melhor opção – em termos de tempo – para aqueles que buscam a conquista de significativa presença nos mercados estrangeiros. Interessante salientar que antes de fazer tal afirmação, os autores já haviam considerado a possibilidade de eventuais problemas causados pela supervalorização do investimento e as dificuldades de integração cultural. Apesar da intensa exigência de investimentos tecnológicos, de know-how e o longo período que envolve o processo – desde o primeiro momento até o início das operações locais em escala total, optar pela inserção internacional via greenfields apresenta maiores possibilidades de controle imediato sob novos empreendimentos próprios, ainda que em diferentes localidades. Por outro lado, àqueles que preferem coordenar suas atividades de forma a minimizar os riscos, recomenda-se a internacionalização por meio da partilha de ativos entre duas ou mais empresas sócias que compartilhem o mesmo objetivo. Uma joint venture nada mais é que uma forma das empresas de complementarem suas atividades que, caso fossem feitas isoladamente, apresentariam maior dificuldade aos sócios envolvidos; considerando, ainda, possíveis transtornos ocasionados por divergências e conflitos de interesse entre os parceiros (mesmo após formalização legal). Figura 6 - Características chave das alternativas de entrada (continua) 72 (conclusão) Fonte: Hill; Hwang e Kim (1990). A partir da breve análise teórica aqui exposta, é possível concluir que a escolha pelo modo de entrada a ser utilizado por uma empresa depende da relação entre as variáveis de estratégia, do ambiente e de transação. Para Hill, Hwang e Kim (1990), tema relacionado às formas de entrada ao mercado internacional pode ser sintetizado em dois pontos: (1) para certos grupos de empresas multinacionais, a redução da disseminação de riscos possui vital importância (como, por exemplo, quando a vantagem competitiva é baseada na propriedade de know-how), e (2) quando uma organização possui múltiplas operações estrangeiras, aperfeiçoar seu portfolio é melhor do que aperfeiçoar uma simples decisão de entrada no mercado. Por exemplo, quando as condições de mercado forem bastante similares e as economias de escala possam ser atingidas, a estratégia global baseado em subsidiárias próprias acarretam retornos maiores (porém, a redução do controle estratégico e flexibilidade tática a partir de um maior comprometimento de recursos são consequentes à escolha por tal modo de entrada). E ainda, de acordo com Koch (2001), a abrangente discussão acerca dos fatores que influenciam o processo de inserção das Empresas Multinacionais – EMNs num novo mercado revelaram os seguintes pontos: (1) a seleção do mercado estrangeiro e a seleção pelo modo de entrada devem fazer parte do mesmo processo decisório; (2) o processo enfrentado pelas EMNs sofre influência de uma variedade de fatores (ambientais, externos e internos) maior do que a comumente reconhecida pela teoria; (3) a adoção de uma abordagem sistemática ao processo 73 irá melhorar a qualidade das decisões resultantes do mesmo; e (4) para aumentar o “teor” de validade dos modelos existentes, é necessário que a teoria integre um resultado “afunilado” de diversas pesquisas. Adotando uma perspectiva voltada especificamente às EBGs, Cavuagil e Knight (2009 apud RIBEIRO, 2010) apontam que o principal modo de entrada em mercados internacionais, geralmente, é representado pelas exportações. Em adendo, Oviatt e Mcdougall (1994 apud RIBEIRO, 2010, p. 30) argumentam que “a propriedade de ativos no exterior não é uma condição essencial desses empreendimentos internacionais”, uma vez que suas principais preocupações encontram-se voltadas ao valor agregado do produto e em suas competências para mantê-lo e adaptá-lo ao mercado externo. Conforme lembrado por Ribeiro (2010, p. 30), “grande parte das amostras das pesquisas internacionais sobre o fenômeno de internacionalização acelerada utiliza bases de dados de empresas exportadoras, como o estudo de Knight e Kim (2009)”. Em uma segunda instância, a partir de estudos realizados acerca da dinâmica das redes na internacionalização acelerada, Covielo (2004 apud RIBEIRO, 2010) relata casos de empresas cuja inserção internacional se deu por meio de alianças estratégicas. Dib (2008, apud RIBEIRO, 2010) também faz uma colocação a respeito, na qual afirma que diversos autores apontam a relação entre rede de parcerias ou alianças estratégicas não apenas com outras empresas, mas também com universidades e institutos de pesquisa no exterior. Dentre os benefícios apresentados por essa forma de entrada – em que a aliança é feita entre uma firma do país anfitrião, o qual detém conhecimento sobre condições de competitividade, normas legais e culturas do país, entre outros – Ribeiro (2010) coloca que o objetivo comum entre os associados em um processo de internacionalização acelerada pode representar o conjunto de capacitações necessárias para a otimização de resultados, diminuição de riscos ou ambos. Outro objetivo bastante comum em Born Globals de setores de maior densidade tecnológica é a formação de alianças estratégicas entre empresas para o desenvolvimento conjunto de programas de P&D (FERNHABER at. al., 2003; 2008; apud RIBEIRO, 2010, p. 30). Ribeiro (2010) explica que outras formas de entrada no exterior (como aquisições e estabelecimento de subsidiárias próprias), por apresentarem maior custo inicial às operações externas, são raramente relatadas na literatura a respeito das EBG. Porém, a autora lembra que, conforme relatado por Mcdougall e outros 74 (1994)42, há a existência de alguns casos de BGS que adquirem uma empresa ou criam uma subsidiária própria antes mesmo de dar início às suas atividades exportadoras. 42 McDougall e outros (1994 apud RIBEIRO, 2010) citam como exemplos as empresas Logitech e LASA, as quais optaram por expandir seus negócios através da abertura de subsidiária no exterior, antes de exportar para esses mercados. 75 5. INTERNACIONALIZAÇÃO: GRADUAL vs. ACELERADA Há muito tempo que a internacionalização das empresas é entendida como um – longo e lento – processo evolutivo de etapas que envolvem crescente comprometimento com o mercado internacional. Porém, sabe-se que literaturas recentes vêm apresentando claras evidências de empresas “nascidas globais”, cuja internacionalização deu-se de maneira rápida e dedicada. Geralmente são empresas empreendedoras de menor porte que internacionalizam suas atividades desde o início, ou pouco tempo após sua fundação; estando a base para sua competitividade internacional relacionada a conhecimentos de maior sofisticação. De acordo com Bell e Mcnaughton (2000, p. 176 – tradução nossa43): Apoiar essas empresas vem representando um grande desafio para as EPOs [Export Promotion Organizations – em português, Organizações de Promoção Exportadora], conforme o comportamento de sua internacionalização e o suporte à suas necessidades são bastante distintos daquelas apresentadas pelas empresas tradicionais. Uma vez que a literatura mostra reconhecer a existência de diferentes “caminhos” para a internacionalização, pretende-se, a seguir, explorar os pontos que distinguem as firmas de internacionalização gradual das Born Global, tais como os fatores motivacionais e comportamentais que determinam tal condição. 5.1. REVISÃO E SÍNTESE DA LITERATURA Conforme já visto, a maioria dos modelos existentes postula que as empresas se internacionalizam de maneira gradual e incremental através de uma série de fases “evolutivas”. Ao fazê-lo, comprometem cada vez mais recursos aos mercados estrangeiros, e tendem a visar países de maior “distância psíquica”. Ademais, ainda que não exposta de maneira clara, os modelos tradicionais baseiamse na premissa de que as empresas que empreendem internacionalmente encontram-se bem estabelecidas em seu mercado doméstico. Porém, conforme apontado por Bell e McNaughton (2000), críticas a tais concepções assumem erroneamente que o processo gradual subestima fatores 43 “Supporting these firms presents a major challenge to EPOs as their internationalization behavior and support needs are quite distinct from those of traditional firms”. 76 como a indústria, a empresa e contextos pessoais, além de – geralmente – apresentar um determinismo “exagerado”. Dentre as últimas críticas relacionadas aos modelos tradicionais, encontra-se a de Andersen (1993 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 176) 44, o qual se centrou na fraca base teórica dos modelos e na incongruência encontrada entre a teoria e a prática. Ao final concluiu que a habilidade apresentada pelos modelos em delinear limites entre os estágios, ou para explicar adequadamente os processos que lideravam o movimento entre eles, era “um tanto quanto limitada”. No entanto, muitas empresas se internacionalizaram a partir de estágios incrementais e outras continuam a fazê-lo. Indiscutivelmente, este é particularmente o caso entre as empresas tradicionais gravitando de grandes economias (BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 176 – tradução nossa45). Ainda assim, teorias emergentes de pesquisas realizadas nos anos 90 apareceram como sério desafio a ser enfrentado pelas teorias defensoras da internacionalização gradual. Primeiramente, o crescente conjunto literário acerca da globalização de serviços 46 ressalta a existência de diferenças substanciais entre os modelos de internacionalização e as estratégias de empresas fornecedoras de produtos e às de serviços (ERRAMILI; RAO, 1991; 1994; CHADEE; MATTSSON, 1998; O’FARRELL et al., 1998 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000). Nessas circunstâncias, a validade dos modelos tradicionais frente às empresas ligadas ao setor de serviços ficou debilitada. Em segundo lugar, pesquisas recentes entre EBGs demonstram uma rápida e precoce expansão internacional por parte de empresas de menor porte, porém, altamente comprometidas e de intensa tecnologia. Em terceiro e último lugar, contrapondo as teorias tradicionais, a partir de investigações realizadas entre pequenas e médias empresas de “conhecimento intensivo” foi descoberto que algumas delas ignoraram por completo seu mercado 44 “More recently, Andersen-s (1993) conceptual critique focused on the weak theorical underpinning of most models and the lack of congruence between theory and practice. He concluded that their ability to delineate boundaries between stages, or adequately explain the processes that lead to movement between them, was rather limited (BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 176)”. 45 “Nevertheless, many firms have internationalized in incremental stages and others continue to do so. Arguably, this is particularly the case among traditional firms gravitating outwards from large economies”. 46 Bell e McNaughton (2000, p. 177) indicam Knight (1999) para uma análise de maior compreensão. 77 doméstico a fim de atingir um mercado-alvo, ou ainda, optaram por atuar no mercado doméstico e no internacional simultaneamente. De acordo com Bell (1995 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 177), se estas firmas já estiverem estabelecidas em seu mercado doméstico, elas tendem a seguir os clientes domésticos no exterior, independente da “proximidade psíquica” deste mercado. Para McKinsey e outros (1993 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000), muitas das firmas caracterizadas como “Born Global” e “de conhecimento intensivo” são formadas por empreendedores ativos, na maioria das vezes devido ao significante desenvolvimento de processos ou avanços da tecnologia; além disso, suas contribuições comumente envolvem substancial valor agregado. Outra característica decorrente às EBGS é o direcionamento das atividades empresariais, estas focadas pelos diretores ao mercado global. Dentre as inúmeras tendências influentes na atualidade, Knight e Cavusgil (1996 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000) destacam as que propiciaram o aparecimento das EBGS: (1) o crescente papel desempenhado pelos nichos de mercado e aumento da demanda por produtos especializados e customizados; (2) significativos avanços no processo de tecnologias que permitem às empresas realizarem a produção de complexos componentes de forma rentável, ainda que em pequena escala; (3) avanços na tecnologia de comunicação, tais como fax, e-mail e sites de abertura internacional (world wide web – www); isso significa que pequenas empresas podem administrar operações internacionais com maior eficiência e acesso à informações; (4) a vantagem inerente à pequenas empresas em termos de respostas mais rápidas, flexibilidade e adaptabilidade; (5) a internacionalização de conhecimento, ferramentas, tecnologia e instituições facilitadoras, as quais proveem oportunidades de transferência de tecnologia e acesso à fundos; e (6) a tendência das redes de relacionamento (networks) globais, que estão facilitando o desenvolvimento de relações mutuamente benéficas entre parceiros internacionais. Para Bell e McNaughton (2000) não há dúvidas de que tais tendências irão exercer forte influência na internacionalização das (pequenas e médias) empresas. Também fica claro aos autores que empresas que adotam uma visão internacional desde o começo representam um enorme desafio ao desenvolvimento de conceitos e modelos que incorporem o comportamento da internacionalização das EBGS, bem como das empresas mais “tradicionais”. 78 Quadro 14 - Principais Diferenças entre o Comportamento da Internacionalização Tradicional e Internacionalização Acelerada (continua) EMPRESAS MOTIVAÇÃO OBJETIVOS TRADICIONAIS - Reativo; - Mercado doméstico com condições adversas; - Falta de pedidos - Gestão “relutante”; - Os custos de um novo processo produtivo “forçam” o início das exportações. - Sobrevivência/ crescimento da empresa; - Aumento no volume de vendas; - Ganho de participação no mercado; - Mercados alvo; - Extensão do ciclo de vida do produto; - Renascimento global (“born again global”). - Incremental; PADRÃO DE - Expansão doméstica em EXPANSÃO INTERNACIONAL primeiro lugar. RITMO - Gradual; - Lenta internacionalização (pequeno número de mercados exportadores); - Um único mercado por vez; - Adaptação de ofertas existentes. BORN GLOBAL - Proativo; - Nichos de mercado globais; - Gestão “comprometida”; - Internacional desde o início; - Ativa atividade de pesquisa. - Vantagem competitiva; - Vantagem pioneira (“first-mover”); - Fidelização de clientes (“locking-in customers) - Rápida inserção nos nichos ou segmentos globais; - Proteção e exploração do conhecimento proprietário. - Concomitante; - Expansão das atividades doméstica e exportadora quase que simultaneamente (exportação pode preceder atuação no mercado doméstico); - Foco nos mercados “líderes”; - Evidências de clientes seguidores (“followership”). - Rápida; - Internacionalização acelerada (grande número de mercados exportadores); - Diversos mercados ao mesmo tempo; - Desenvolvimento de novos produtos “globais”. 79 (conclusão) EMPRESAS MÉTODO DE DISTRIBUIÇÃO/ FORMAS DE ENTRADA ESTRATÉGIAS TRADICIONAIS BORN GLOBAL - Convencional; - Uso de agentes/ distribuidores ou revendedores; - Direcionado ao consumidor. - Flexível; - Uso de agentes ou distribuidores + evidência de integração aos canais de distribuição de clientes, uso de licenças, joint ventures, produção em território estrangeiro, etc. - “Ad-hoc” 47 e oportunista; - Evidencias de contínuo comportamento reativo às oportunidades de exportação; - Expansão “atômica” 48, não estando relacionado à novos clientes ou mercados. - Estruturada; - Evidência de abordagens planejadas à expansão internacional; - Expansão das redes de relacionamento (networks) internacionais. Fonte: Adaptado de Bell e Mcnaughton (2000, p. 179). Havendo apresentado as principais diferenças comportamentais entre as empresas internacionalizadas tradicionalmente, ou seja, de forma gradual, e as internacionalizadas de forma acelerada, apresenta-se a seguir as variáveis de maior recorrência às EBGs. 5.2. FATORES RELEVANTES À INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA O subcapítulo em questão visa identificar os fatores apontados pela literatura como influentes à rápida inserção de uma empresa em mercados estrangeiros. A partir do conjunto de estudos, publicações e revisões feito sobre o tema nos últimos dez anos, foram identificados alguns fatores recorrentes na caracterização do processo de internacionalização, dentre eles: fatores ligados ao ambiente, fatores internos da firma e fatores ligados ao empreendedor. 47 O termo “ad-hoc” significa “para esta finalidade" ou “para isso”; Geralmente é utilizada para informar que determinado acontecimento tem caráter temporário e que se destina para aquele fim específico. 48 A utilização do termo “atômico” faz referência à sua filosofia natural, desenvolvida a partir de várias tradições. Consiste em diversos elementos separados, geralmente desiguais. 80 A partir dos estudos realizados e teorias elaboradas por Oviatt; Mcdougal (1994); Zahra; George (2002); Dominguinhos; Simões (2004); Gabrielsson e outros (2004); Rialp e outros (2005); Mathews; Zander (2007); Dib (2008); Knight; Kim (2009), entre outros, foi possível identificar e analisar fatores internos e externos a fim de conseguir explicar o que levaria uma empresa – “nascitura” ou com poucos anos de “vida” – a ser capaz de entrar no exterior. Apesar de Rialp e outros (2005 apud DIB, 2008) apontarem o fato de que, durante a condução de pesquisas empíricas sobre as EBGS, a maioria dos autores elaborou sua própria lista de fatores intervenientes à rápida internacionalização, vale lembrar a conclusão feita por Autio; Sapienza (2000); Oviatt e Mcdougall (1994), na qual afirma ser possível e necessária a realização de uma teoria integrada para a internacionalização de firmas empreendedoras de rápida entrada no exterior. Levando em consideração que até mesmo os fatores propulsores à rápida entrada no mercado exterior podem sofrer intervenções (tais como fatores inseridos no âmbito decisório da empresa e de seus gestores) a autora preocupa-se e acredita ser válido iniciar a abordagem de tais fatores com um pouco mais de abrangência. Sendo assim, é apresentado a seguir o modelo conceitual proposto por Dib (2008), o qual organiza os blocos de fatores intervenientes no caminho seguido durante o processo de internacionalização, seja ele gradual ou acelerado. Devido às limitações de espaço para o trabalho, o modelo conceitual realizado pelo autor, bem como os resultados encontrados por ele, encontram-se sumarizados pela figura 7 a seguir. Figura 7 - Modelo Conceitual dos Fatores Influentes à Internacionalização (continua) 81 (conclusão) Fonte: Adaptado de Dib (2008, p. 4). Quadro 15 - Hipóteses: Aplicação, Expectativas e Conclusões. (continua) HIPÓTESES O conjunto de fatores ligados a: (1) Empresas (2) Networks (3) Empreendedores HG1 está associado ao tipo de processo de internacionalização seguido, se precoce (BGs) ou gradual (NBGs); EXPECTATIVA CONCLUSÃO Em todas as hipóteses, a relação prevista é de que as BGs apresentarão esta característica com maior intensidade do que as NBGs. Obteve-se suporte empírico à primeira hipótese geral, confirmando a importância conjunta de fatores ligados a empresa, networks e empreendedor para a definição do processo de internacionalização seguido pelas empresas estudadas [por Dib, 2008]. 82 (conclusão) HIPÓTESES Empresas que seguiram processos de internacionalização precoce (BGs) e as que seguiram o processo HG2 de internacionalização gradual (NBGs) apresentam características distintas no processo. EXPECTATIVA CONCLUSÃO A expectativa era de que as BGs apresentariam graus mais elevados nas quatro primeiras variáveis e de que as motivações para internacionalização das BGs seriam mais proativas do que das NBGs. Obteve-se suporte empírico de que as características do processo de internacionalização diferenciariam as empresas de internacionalização precoce (BGs) das que seguiram o processo gradual (NBGs); também foi observado que apenas uma característica diferenciou os dois grupos: as BGs são mais dependentes do faturamento internacional do que as NBGs. Fonte: adaptado de Dib (2008). Havendo apresentado as principais diferenças entre o comportamento das empresas internacionalizadas tradicionalmente e das internacionalizadas de forma acelerada, segue-se para o próximo objetivo deste trabalho: uma breve análise de dois estudos de caso com base nos fatores e teorias expostas que abordam a internacionalização gradual e a acelerada. 83 6. ESTUDO DE CASO: A EMPRESA DMC E A EMPRESA RAZEK Serão analisados dois casos de empresas que expandiram seus negócios internacionalmente, sendo o processo de internacionalização de uma gradual e outra acelerada. Vale ressaltar que a classificação das empresas baseou-se no tempo entre a fundação até a primeira atuação da empresa no mercado internacional, e ainda, será considerada como Born Global a empresa que apresentar histórico de atuação internacional em um período igual ou inferior a cinco anos, partindo da data de sua fundação49. Para analisar a inserção dessas empresas no exterior são levados em consideração três fatores independentes: 1) fatores externos à empresa; 2) fatores internos à empresa; e 3) fatores ligados ao empreendedor. Ademais, cada um dos fatores é subdividido em outras diversas variáveis características ao processo de internacionalização, conforme exposto pelo quadro 16 abaixo. Quadro 16 - Fatores Relevantes à Internacionalização Acelerada (continua) Localização em Habitat de Inovação Integração a Cadeias Produtivas Globais Parcerias e Alianças Estratégicas para Inovação Políticas Governamentais 49 FATORES EXTERNOS Localização em um habitat de inovação, tais como: parque tecnológico, incubadoras, aceleradoras, APL, etc. (FERNHABER et. al., 2007). Atuação da empresa como fornecedora em cadeias produtivas globais ou competição em um setor altamente internacionalizado (FERNHABER et. al., 2007). Utilização de parcerias para inovação com universidades brasileiras, multinacionais situadas no Brasil, institutos de pesquisa brasileiros (DIB, 2008). Utilização de políticas (projetos, financiamentos) governamentais de apoio à internacionalização (BELL; MCNAUGHTON, 2000). O conceito operacional de born global adotado foi estabelecido por Dib e outros (2010). A definição está alinhada com os principais trabalhos internacionais sobre esse conceito (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; KNIGHT; KIM, 2009; MADSEN; SERVAIS, 1997; OVIATT; MCDOUGALL, 1994-1995; RIALP et al., 2005). Para maiores informações, aconselha-se ver Dib e outros (2010) e Borini e outros (2012). 84 (conclusão) Capacidade de Inovação Orientação para o Mercado Internacional Habilidade de Marketing Internacional Habilidade Gerencial Internacional Experiência Internacional FATORES INTERNOS Capacidade da empresa para desenvolver e introduzir novos processos, produtos, serviços ou ideias para o mercado internacional (KNIGHT; KIM, 2009; KNIGHT; CAVUSGIL, 2004). Habilidade da empresa de entender a ação dos concorrentes, e conseguir coordenar as ações internacionais entre as áreas funcionais da empresa – mediadas pelas atividades internacionais, estas, orientadas para atender especificamente as demandas dos clientes internacionais (KNIGHT; KIM, 2009). Habilidade da empresa em criar valor para os clientes internacionais por meio de uma efetiva segmentação e avaliando como as ferramentas de marketing estão organizadas para diferenciar as ofertas dos seus competidores (KNIGHT; KIM, 2009). FATORES DO EMPREENDEDOR Habilidades gerenciais internacionais derivam do perfil (formação técnica e gerencial, experiências acumuladas ao longo da carreira, conhecimento de idiomas) e das ações dos empreendedores, tais como: capacidade de identificação de oportunidades no exterior, mobilização e gerenciamento de recursos para a exploração dessas oportunidades, propensão em assumir riscos financeiros e de mercado internacionalmente (HOLTBRUGGE; WESSELY, 2009). Experiência profissional internacional de trabalho anterior em multinacionais (em departamentos internacionais ou de exportação) ou através da experiência no exterior como funcionários expatriados, ou algum outro tipo de experiência profissional no exterior (experiências durante a formação profissional), tais como cursos de graduação, especialização, MBAs, etc. (DOMINGUINHOS; SIMÕES, 2001). Fonte: Adaptado de Ribeiro (2010, p. 121). A partir desses dois estudos de caso se aprofundará o entendimento acerca das características presentes nas EBGs, ao mesmo tempo em que visa facilitar a identificação dos fatores preponderantes às empresas que tiveram seu processo de internacionalização de forma acelerada. Para que assim, seja possível destacar quais fatores que estão presentes em um processo de internacionalização acelerada e os que não estão presentes em um processo de internacionalização gradual. 85 Muito embora os resultados desta pesquisa sejam derivados de aplicação de teorias reconhecidas acerca do tema de internacionalização, a escolha do método estudo de caso apresenta limitações. Este se refere a uma realidade particular, cujos resultados encontrados também derivam de um contexto particular, os quais não podem ser generalizados ou servir de base para refutar quaisquer teorias. 6.1. UM BREVE ADENDO – EMPRESAS INOVADORAS E EBTS Levando em consideração que ao longo do desenvolvimento dos próximos itens os termos “inovador” e “de base tecnológica” estarão constantemente vinculados à caracterização das empresas selecionadas ao estudo de caso, a autora está convencida da importância em explicar (sumariamente) os conceitos envolvidos a tais definições – uma vez que, neste trabalho, “empresas inovadoras” e “empresas de base tecnológica – EBTs” serão utilizados como termos equivalentes (ainda que, atualmente, o termo considerado como mais adequado seja “empresas inovadoras”). Após haver contribuído com a identificação das principais teorias referentes à internacionalização e suas características, bem como a diferenciação do processo de internacionalização tradicional do acelerado, Bell e McNaughton (2000) apontaram mais uma possível linha de diferenciação, porém, específica às Born Globals. De acordo com os autores, as EBGs podem ser classificadas como de “conhecimento – e/ ou produção – intensiva” ou “empresas baseadas em conhecimento”. Coviello (1994 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 178) define essas firmas como aquelas que detêm um alto valor agregado de conhecimento científico embutido em seu produto e no processo do mesmo. Para Bell e McNaughton (2000), o ponto “chave” para a diferenciação desses grupos se encontra no fato de que a existência das empresas baseadas em conhecimento (Knowledge-Based Firms) é essencialmente consequente ao surgimento de novas tecnologias (tais como tecnologia da informação – TI –, biotecnologia, entre outros). Essas firmas irão desenvolver ou adquirir conhecimento próprio, do qual sem não iriam existir (como, por exemplo, criadores de softwares, provedores de internet, centros de rede telefônica ou quaisquer outras empresas que ofereçam serviços independentes à distância). 86 Em contrapartida, empresas baseadas em conhecimento e/ou serviços intensivos podem usar o conhecimento para o desenvolvimento de novas ofertas, melhorias à produtividade, introdução de novos métodos de produção e/ou melhorias à prestação de serviços; não estando inerentes às firmas baseadas em conhecimento. Como exemplos, Bell e McNaughton (2000, p. 178) citam o uso assistido de computadores no design (Computer Aided Design – CAD) e no processo de produção (Computer Aided Manufacturing – CAM), assim como o uso de tecidos “high-tech”, ou seja, tecidos com alta tecnologia incorporada, para a confecção de roupas e em indústrias têxteis. Com isso, os autores postulam que a propensão dessas empresas à internacionalização acelerada é susceptível ao fato das mesmas serem tecnologicamente “inovadoras” ou “seguidoras”. No presente trabalho, a inovação é entendida de uma maneira ampla. Para isso, serão adotadas as definições elaboradas por Tidd e outros (2005 apud RIBEIRO, 2012), as quais comportam quatro tipos de inovações; considerando, ainda, as capacidades de imitação, adaptação e engenharia reversa, discutidas por Pinho (2005 apud RIBEIRO, 2012). Quadro 17 - Os Diferentes Tipos de Inovação (continua) TIPO DE INOVAÇÃO PRODUTO PROCESSO ORGANIZACIONAIS DESCRIÇÃO Mudanças nos produtos ou serviços que uma empresa oferece. Envolvem mudanças significativas nas potencialidades de produtos e serviços. Incluem-se bens e serviços totalmente novos e/ou aperfeiçoamentos importantes para produtos existentes (TIDD et. al., 2005). O “novo” produto ou serviço é entendido de forma ampla, de maneira a abranger as capacidades de imitação, adaptação e engenharia reversa da empresa (PINHO, 2005). Mudanças nos métodos de produção e de distribuição dos produtos ou serviços. Trata-se da implementação de novos métodos organizacionais, tais como mudanças em práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas da empresa. Nesse sentido, Tidd e outros (2005) apresentam a noção de inovação de paradigma que incluem as mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam o que a empresa faz. 87 (conclusão) TIPO DE INOVAÇÃO MARKETING DESCRIÇÃO Envolvem a implementação de novos métodos de marketing, incluindo mudanças no design (concepção, desenho, delineamento e formulação) do produto e na embalagem, na promoção do produto e sua colocação, e em métodos de estabelecimento de preços de bens e de serviços; os autores ainda complementam com a inovação de posição que seriam as mudanças no contexto em que os produtos ou serviços são introduzidos. Fonte: Adaptado de Ribeiro (2012, p. 114-115). De acordo com Knight; Cavusgil (2004); Knight e Kim (2009), a inovação de uma empresa é resultante de duas fontes principais; estando a primeira relacionada à intensidade e importância dada ao investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) interno, criando, assim, o conhecimento acumulado da empresa; e o segundo fator determinado pela inteligência de mercado agregada à empresa como meio de entender as inovações dos competidores. Os autores também ressaltam que tais fontes devem ser organizadas de maneira integrada, pois, “além de introduzir novos produtos e métodos de produção, a P&D também suporta a abertura de novos mercados e reinvenção das operações da empresa para atender estes mercados internacionais” (RIBEIRO, 2012, p.109). 6.2. SELEÇÃO DOS CASOS E COLETA DE DADOS Até o momento, os estudos brasileiros relacionados às Born Globals limitam-se à estudos de caso (ROCHA et al., 2005; Rocha, 2005), ensaios teóricos (FERNANDES; SEIFERT, 2007; FERNANDES; SEIFERT, 2005; DIB, 2004) , com exceção ao estudo empírico mais recente sobre as Born Globals brasileiras no campo de software, elaborado por Dib em 2008. A problemática aqui existente se dá pelo fato dos estudos supracitados não considerarem as relações entre os recursos internos e o ambiente competitivo de forma a orientar as empresas para acessar o mercado internacional. Para esta pesquisa, foi definido o estudo de caso como sendo o método mais apropriado, levando em consideração, principalmente, a escassez de estudos relativos ao tema (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; RIALP; KNIGHT, 2005), bem como, 88 as limitações de recursos em um trabalho de conclusão de curso de graduação. Sendo assim, a pesquisa possui natureza qualitativa, com levantamento e análise de dados primários e secundários sobre duas empresas de base tecnológica: Razek e DMC Equipamentos, situadas na cidade paulista de São Carlos – um dos maiores polos de tecnologia do Brasil. Conforme visto anteriormente, apesar do fenômeno Born Global não ser restrito a empresas vinculadas aos setores de base tecnológica, as mesmas ainda lideram a preferência dos pesquisadores que abordam o assunto, em especial, por sua grande recorrência (DOMINGUINHOS; SIMÕES, 2001; RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005, apud BORINI et al., 2012). Em referência a Dominguinhos e Simões (2004), Ribeiro (2012, p. 24) frisa que a internacionalização acelerada é mais comum às empresas de indústrias de alta tecnologia, como as de software, eletrônicos, biotecnologia, aero espacial e instrumentos médicos; porém, conclui que o aparecimento de BGs não se vincula a tipos de tecnologias e/ou setores específicos (RENNIE, 1993; DIB, 2008). Também é valido ressaltar que na última década, estudos mostraram Empresas de Base Tecnológicas – EBTs que vêm obtendo sucesso competitivo em seus negócios no exterior, principalmente quando essas empresas possuem produtos de alto conteúdo tecnológico e capacidade de inovação (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; KNIGHT; KIM, 2009; OVIATT; MCDOUGALL, 1994; apud BORINI et al., 2012). Portanto, ambas as empresas foram escolhidas devido à tecnologia inovadora presente em seus produtos, bem como pela constante preocupação com pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, objetivando o fortalecimento dos setores à qual estão inseridas, frente aos concorrentes internacionais e, especialmente, pelo sucesso que obtiveram – nacional e – internacionalmente em suas respectivas áreas de atuação. A escolha das empresas para o estudo de caso levou em consideração tanto a relevância da empresa, bem como a facilidade de acesso a seus executivos e informações fundamentais à realização do presente estudo – consideração essencial a ser feita a partir do momento em que se busca realizar um estudo de caso aprofundado o suficiente para gerar alguma contribuição a pesquisas futuras, mesmo que singela – uma vez que, conforme elucidado por Yin (1994), é 89 imprescindível a autorização da empresa para o acesso a seus documentos, realização de entrevistas e visita. Tanto na empresa DMC quanto na empresa Razek, foi entrevistado o responsável pelo departamento de exportação, a representante comercial Cristina Varela Wolowski. De acordo com Yin (1994), a entrevista é considerada como a fonte de dados mais importante em um estudo de caso; e ainda, o roteiro de entrevistas em um estudo de caso deve possuir “open-ended nature”, ou seja, deve ser “naturalmente aberto”, e deve servir para orientar a discussão com os entrevistados, escolhidos de forma intencional e de acordo com a relevância de suas experiências e opiniões para a questão pesquisada. 6.2.1. Estudo de Caso 01: O Grupo DMC Fundada em 1998 na cidade de São Carlos – SP, a empresa DMC Equipamentos Ltda. se orgulha do pioneirismo presente em todo o caminho percorrido ao longo de sua história. Desde sua origem, a empresa teve como propósito o constante desenvolvimento de novas tecnologias para a saúde bucal. O início das operações de manufatura da DMC foi possível graças à visão empreendedora de seus sócios proprietários, que se submeteram a enfrentar os desafios de um ambiente empresarial nacional pouco regulamentado no aspecto da proteção ao segredo industrial e do uso de patentes. Por se tratar de um mercado extremamente burocrático, foram demandados altos investimentos financeiros em estruturas e mão de obra qualificada para que fosse possível efetivar a formalização legal dos produtos junto ao Ministério da Saúde. Naquela época, assim como na atualidade, o Brasil não tinha como tradição a geração de tecnologia, e o setor de indústrias de equipamentos e produtos para a odontologia não era exceção, porém a DMC vem quebrando sistematicamente esse paradigma. A primeira demonstração do espírito de inovação (que guia a empresa até hoje) aconteceu no final do ano de 1999, quando a DMC apresentou aos CirurgiõesDentistas brasileiros o primeiro fotopolimerizador nacional a base de emissores de estado sólido – Light Emmiting Diodes (LEDs). Na época, a empresa, ainda jovem, já conhecida pela fabricação de equipamentos na linha de profilaxia, iniciou Brasil afora uma grande campanha, com a realização de inúmeros cursos e treinamentos para 90 mudar a forte resistência natural por parte do mercado, uma vez que a técnica apresentada mostrou-se bastante inovadora para a época. Porém, todos os esforços mostraram ter valido a pena, já que atualmente a maioria dos fotopolimerizadores fabricados no mercado mundial utiliza da tecnologia que a empresa consagrou-se como pioneira. Logo em seguida, comandada pelo fundador Renaldo Massini Junior, a empresa continuou empenhada em abrir novas perspectivas para a modernização da base tecnológica utilizada na odontologia brasileira; sendo assim, lançou o sistema de laserterapia, considerado ainda hoje como o mais completo sistema disponível no mercado nacional. Atualmente, o Thera Lase é utilizado nos maiores centros de pesquisas especializadas do país, tais como o Laboratório Especial de Laser em Odontologia (LELO), Fundação de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Odontologia (FUNDECTO), Hospital Mario Covas, entre outros. Em 2001, foi criado e patenteado o Whitening Lase, equipamento de clareamento dental para uso em consultório, que combina duas fontes de luz (laser/ LED), o que significou uma nova revolução de conceitos seguida, novamente, por vários fabricantes ao redor do globo. Ademais, esse invento incrementou perpetuamente a difusão da técnica de clareamento dental sob a supervisão total do profissional de odontologia, uma vez que poucos deles mostraram-se dispostos a investir em outros tipos de tecnologias importadas, principalmente em razão do valor de desembolso e das contraindicações apresentadas. Vale ressaltar que, todo o investimento necessário para a concretização desses projetos, bem como de outros que hoje estão em via de conclusão, é provido pela própria empresa, que desde o início de suas atividades, utiliza laboratórios particulares para finalidade de ensaios, condição vital à manutenção do segredo e desenvolvimento industrial. Em 2003, partindo da identificação da necessidade de aprimoramento dos agentes químicos de clareamento dental, no sentido de estabelecer uma maior compatibilidade entre estes e os sistemas de fotoativação disponíveis no mercado, a DMC investiu na construção de um laboratório químico. Sete meses após a inauguração deste laboratório com sede em São Carlos e filial no Rio de Janeiro, já estava concluído o desenvolvimento de novas soluções em termos de conjunto químico, envolvendo um sistema a base de peróxido de hidrogênio a 35%, bi-componente que contendo elemento corante e 91 espessante oriundos da flora brasileira (urucum e juá), mantêm o nível adequado de absorção da luz que é gerada pela unidade fotoativadora. Durante o ano de 2004, todo o sistema de qualidade foi implantado e em Abril de 2005, a empresa passou pela primeira auditoria interna. Em 21 de Junho do mesmo ano, foi vistoriada pela ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, com a finalidade de analisar 116 (cento e dezesseis) itens que compõem as exigências da norma RDC 59 - Boas Práticas de Fabricação de Produtos Médicos, vistoria essa, que culminou com a emissão em 07 de Novembro de 2005, da respectiva certificação. Em Julho de 2005, sob a coordenação da Professora e Doutora Luciana Almeida Lopes50, a DMC passou a contar com o apoio do recémcriado Núcleo de Pesquisa e Ensino (NUPEN) de Fototerapia nas Ciências da Saúde, responsável por estabelecer parcerias valorosas com instituições tais como: LELO, FUNDECTO e Universidade de São Paulo (USP). Seguindo pela mesma linha inovadora, a empresa desenvolveu mídias educativas em CD-ROM e intensificou a realização de cursos através de conceituados professores no Brasil no exterior, amparados pelo NUPEN, o qual coordena as atividades de educação, pesquisa e desenvolvimento das técnicas de clareamento dental, laserterapia, fotoativação entre outras disponibilizando aos profissionais da saúde, o acesso às novas tecnologias através do incentivo e patrocínio de pesquisas que culminem com a criação de conceitos modernos de bioengenharia sem comprometimento da integridade do meio ambiente. Além de desenvolver materiais didáticos, prestar consultoria a clientes e organizar cursos nos territórios nacional e internacional. Interessante ressaltar que desde 2005 uma parcela dos investimentos da empresa fomenta o NUPEN, cuja contribuição no âmbito do desenvolvimento tecnológico se consolida nos atuais projetos firmados: (1) Programa Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE-FAPESP) e (2) programa de formação de Recursos Humanos em 50 A Professora e Doutora Luciana Almeida Lopes é (1) Mestre em Engenharia Biomédica pelo IP&D – órgão da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) encarregado de executar programas e projetos de pesquisa e desenvolvimento, bem como de ensino de Pós-Graduação “Stricto Sensu” de caráter institucional, de fornecer assessoria técnica científica a organismos públicos e privados e prestar serviços à comunidade, São José dos Campos, SP; (2) Doutora em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, SP; (3) Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Ensino de Fototerapia nas Ciências da Saúde (NUPEN), em São Carlos, SP; e (4) Professora Colaboradora do curso de "Maestria en Odontología Láser" do Instituto Mexicano de Tecnologia Biomédica", em Monterrey, México. 92 Áreas Estratégicas (RHAE) – gerido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e executado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), os quais, segundo a empresa, vêm apresentando importantes resultados que deverão culminar na criação de novos produtos e tendências para o mercado, especificamente para as áreas de Laser Cirurgia e Diagnóstico por Imagem. Foi no mesmo ano, durante a participação da DMC no 24º Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo – CIOSP (principal evento odontológico do mundo) que surgiu, a partir da proposta feita por um interessado estrangeiro aos proprietários da empresa, a oportunidade de expandir os negócios da empresa através da formação de uma parceria internacional. A proposta mostrou-se viável e satisfatória, principalmente dada à operante rede de distribuição pertencente ao futuro sócio, esta já consolidada no México, Argentina e Equador. O modo de entrada aos mercados se deu pela exportação de equipamentos e produtos odontológicos fabricados pela DMC ao sócio estrangeiro, que a partir de então, assumiria o papel de representante legal e exclusivo; estando também encargado pela promoção e venda dos produtos. Este, por sua vez, distribuía o pedido entre sua rede de contatos já estabelecidos e demais interessados. Porém, em 2007, por motivos desconhecidos, a parceria se extinguiu. Esse acontecimento levou à criação de um departamento comercial exclusivo ao mercado internacional e à participação da empresa nas maiores e principais feiras nacionais e internacionais vinculadas, principalmente, ao setor odontológico e estético. Apesar do término da parceria e dos desafios advindos da crise econômica mundial entre os anos de 2008 e 2009, ainda assim, a empresa DMC se apresentou ao ano de 2010 sustentada em modernas estruturas e constantes investimentos em inovações e tecnologia, que culminaram com a manutenção de todos os registros, o cumprimento de todas as exigências dos órgãos regulamentadores brasileiros, tal como a ANVISA, e a manutenção da Certificação de “Boas Práticas de Fabricação”. E ainda, no mesmo ano, a empresa conquistou a marcação da Comunidade Europeia (CE), o que permitiu a expansão dos canais de distribuição na Europa e Oriente Médio. 93 O ano de 2010 também foi marcado pela apresentação oficial do primeiro laser cirúrgico odontológico do mercado nacional – Thera Lase Surgery, destinado, pela primeira vez, ao trabalho com tecido duro, dentre outras aplicações cirúrgicas realizadas de forma minimamente invasiva. Para a área de laserterapia, foi apresentado ao mercado o equipamento Therapy XT, unidade de laser terapêutico operado a bateria; enquanto que na área de fotopolimerização, destacou-se a família de aparelhos fotopolimerizadores de alto desempenho, também operados a bateria. Ainda no mesmo ano foi implementado o laboratório de microbiologia, cuja grande conquista tecnológica deu-se pela manufatura de membranas de celulose bacteriana – inovadora contribuição com inúmeras aplicações, compreendidas desde o tratamento de feridas e úlceras crônicas, passando por lesões de queimaduras até lesões odontológicas. A divisão de materiais implantáveis contribuiu com o desenvolvimento de uma série de materiais igualmente inovadores, estes à base de hidroxipatita nanoparticulada, ácidos poliáticos e poliglicólicos – utilizados em procedimentos de enxertia óssea. O ano de 2011 foi marcado pela apresentação de uma série de produtos inéditos e revolucionários para as áreas de clareamento dental, Photodynamic therapy – PDT (em português, Terapia Fotodinâmica), cirurgia a laser, cirurgia ortopédica voltada para a odontologia (material de enxertia), além de uma gama imensa de produtos para as novas áreas de atuação – otorrinolaringologia, cirurgia vascular, neurocirurgia (cirurgia de coluna) e medicina veterinária, as quais se encontram aliadas às áreas tradicionais de atuação – odontologia, dermatologia estética e fisioterapia. Atualmente, a empresa está representada em quase todo o território nacional por uma equipe composta por dezessete representações, além de estar presente nos continentes: Latino Americano, Europeu, Asiático e Africano, e conta com uma filial nos EUA desde 2005, em Miami - Flórida. É graças a este conjunto de competências que, empresas tradicionais dos setores médico e odontológico, têm percebido o grande potencial tecnológico da organização e estão integrando em suas linhas de produtos, soluções personalizadas desenvolvidas pelos laboratórios da DMC. Ao longo de mais de uma década, a DMC vem se firmando junto ao público consumidor e ao segmento da saúde com equipamentos de alta tecnologia e serviços diferenciados, prestados através de uma rede de representantes 94 qualificados, distribuídos estrategicamente em diversos territórios nacionais e estrangeiros. Prova disso se dá pela consolidação da linha de clareadores e produtos da divisão química, motores, peças cirúrgicas, equipamentos e demais produtos que fazem parte do portfolio disponível para atender, também, a área médica em cirurgias minimamente invasivas e tratamentos de fototerapia. Atualmente a empresa segue com novos projetos, pretendendo aumentar sua participação no mercado odontológico e estruturar a atuação no segmento de produtos e equipamentos para a área médica, notadamente nas especialidades de Fisioterapia, Dermatologia Estética, Ortopedia e Neurocirurgia. 6.2.2. Estudo de Caso 02: A Empresa RAZEK Presente no Brasil e nos Estados Unidos desde sua fundação, em 11 de julho de 2005 no polo tecnológico da cidade de São Carlos, a empresa RAZEK vem desempenhando um papel estratégico no cenário da ortopedia brasileira, outrora completamente dependente das tecnologias desenvolvidas pelos países desenvolvidos. Segundo a própria empresa, a gama de produtos oferecida incorpora o “estado da arte” em termos de tecnologia às áreas de eletrônica fina, óptica, mecânica fina e química, abrangendo praticamente todos os segmentos da cirurgia ortopédica, tais como: artroscopia de ombro, quadril e joelho; neurocirurgia; cirurgia ATM; cirurgia para pés e mãos; cirurgia da coluna e cirurgia de buco-maxilo. E é através do avançado centro de desenvolvimento da empresa que a mesma consegue consolidar a missão estabelecida, ou seja, proporcionar a independência tecnológica nacional, bem como assegurar a continuidade de fornecimento de produtos e serviços. Apesar da dificuldade enfrentada pela autora em conseguir quaisquer documentos que informassem melhor a respeito da história da empresa e sua trajetória, foi possível identificar o ponto de partida e os motivos propulsores à expansão da empresa, graças ao tempo disponibilizado pela gerente de exportação, Cristina Wolowski, atuante na empresa desde 2011. Segundo ela, foi a partir da crescente procura vinda do exterior que, em 2010, a empresa RAZEK decidiu explorar as possibilidades apresentadas pelo mercado estrangeiro. Primeiramente, a 95 empresa preocupou-se em criar um departamento exclusivo à exportação para dar início ao atendimento da demanda internacional. Devido à facilidade de entrada e a aceitação do certificado de qualidade brasileiro ANVISA por parte dos mercados Latino Americanos, em conjunto com os estudos e prospecções cedidos pelas empresas de cooperação e incentivo – a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), e a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO), que a empresa RAZEK optou, em primeira instância, por direcionar suas atividades internacionais aos mercados do México, Colômbia, Chile e Peru. Ao longo dos anos seguintes, a empresa soube aproveitar as oportunidades apresentadas pela parceria formada junto à APEX e ABIMO para sua participação nas principais feiras médicas internacionais, tais como a Feira Hospitalar, o Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo e o evento promovido pela organização de cirurgiões ortopédicos da academia americana – American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS), utilizando a credibilidade advinda de ambas às instituições como favorecedor e propulsor ao reconhecimento global da firma, passando confiança e segurança quanto à qualidade e tecnologia presente nos produtos ofertados, conquistando, assim, potenciais clientes futuros. Atualmente a empresa possui representação ativa no México, Peru, Malásia, Colômbia, Coréia do Sul, África do Sul, Argentina, Uruguai, República Dominicana e Líbia, estando o processo de expansão para a China, Estados Unidos e Oriente Médio em andamento. 6.3. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO Um dos objetivos deste estudo é identificar os fatores que diferenciam as empresas cujo processo de internacionalização precoce as enquadra na categoria Born Global das empresas que se internacionalizam segundo o modelo gradual. Para isso, utilizou-se de suporte empírico, a coleta de dados primários junto às duas empresas e a experiência profissional da autora, no método de observação participativa (limitada ao período de atuação da autora como assistente do departamento de exportação das empresas). A análise dos resultados encontrados é dada a partir do grau de influência sofrido no processo de internacionalização de 96 cada empresa, com base nos fatores que influenciaram o processo de internacionalização acelerada, decompostos por variáveis na forma de hipóteses. As variáveis que podem influenciar a internacionalização foram tratadas como hipóteses, conforme exposto no quadro 20. Tais variáveis/ hipóteses agrupadas compõem as três categorias de fatores influentes no processo de internacionalização acelerada: os fatores externos, os fatores internos e os fatores do empreendedor, descritas anteriormente no item 5.2 deste TCC. Quadro 18 - Fatores Influentes: Teste de Hipóteses FATORES EXTERNOS H1a: A localização em habitats de inovação acelera a entrada de EBTs no exterior; H1b: A integração em cadeias produtivas globais acelera a entrada de EBTs no exterior; H1c: A utilização de parcerias com empresas multinacionais, universidades e institutos de pesquisa para inovação em seu país de origem acelera a entrada de EBTs no exterior; H1d: A utilização de políticas governamentais e apoios do governo para internacionalização acelera a entrada de EBTs no exterior. FATORES INTERNOS H2a: A capacidade de inovação acelera a entrada de EBTs no exterior H2b: A orientação para o mercado internacional acelera a entrada de EBTs no exterior; H2c: A habilidade em marketing internacional acelera a entrada de EBTs no exterior. FATORES DO EMPREENDEDOR H3a: A habilidade gerencial internacional do empreendedor acelera a entrada de EBTs no exterior; H3b: A experiência internacional do empreendedor acelera a entrada de EBTs no exterior. Não apoiada Apoiada Apoiada Apoiada Não apoiada Apoiada Apoiada Não apoiada Não apoiada Fonte: Adaptado de Ribeiro; Oliveira Jr.; Borini (2012, p. 881). Em relação aos fatores externos, apresentados no quadro 20, confirmaram-se as hipóteses H1b, H1c e H1d, uma vez que ambas as empresas atuam em setores de relevância internacional e foram beneficiadas pela parceria junto a instituições como a ABIMO e APEX Brasil. A hipótese relacionada à 97 localização em habitat de inovação não foi apoiada, já que não mostrou influenciar o processo de internacionalização de nenhuma das empresas aqui estudadas. Em referência à Fernhaber e outros (2007), Ribeiro, Oliveira Jr. e Borini (2012) afirmam que, “esse resultado apresenta conformidade com alguns estudos que mostram que inúmeras EBTs Born Globals (...) nascem em setores altamente globalizados, ou seja, setores em que cadeias globais de fornecimento estão configuradas”. Sendo assim, as empresas aqui estudadas parecem haver sido “puxadas” para o mercado internacional (FERNANDES; SEINFER, 2007 apud RIBEIRO; OLIVEIRA JR.; BORINI, 2012). A partir da análise das hipóteses relacionadas à influência dos fatores internos à internacionalização das empresas em questão, apresentados no quadro 20, obteve-se um resultado de significativa coerência com as conclusões apresentadas pela maior parte dos estudos sobre as EBGs. Entretanto, o resultado obtido através da hipótese que coloca a capacidade de inovação como fator propulsor à internacionalização acelerada apresentou incoerência com as expectativas geradas pela maioria literária. Por fim, mas não menos importantes, são analisados os fatores ligados ao empreendedor, apresentados no quadro 20. Em discordância com o baixo nível de influência agregado a este fator encontrado no gráfico exposto acima, o processo de internacionalização de ambas as empresas foi beneficiado pela habilidade gerencial e experiência internacional, ligadas não ao empreendedor, e sim à gerente responsável pelo departamento de exportação de ambas as empresas. Vale ressaltar que a igualdade no grau de influência vinculado aos fatores do empreendedor é dada ao fato de que ambas as empresas foram criadas pelo mesmo proprietário, portanto, ambas encontram-se sob a mesma direção e processos decisório às ações ligadas ao exterior. Ainda que a decisão final sob todos os aspectos da firma esteja vinculada ao empreendedor, ou seja, ao proprietário, a gerente do departamento de exportação mostrou ser de fundamental importância, se não a razão para a expansão dos negócios internacionais das empresas DMC e Razek. Para realizar a análise comparativa, os fatores foram contabilizados em termos percentuais aplicados ao grau de influência destes sobre o processo de internacionalização das duas empresas. A estatística utilizada foi resultante da divisão entre o número de variáveis influentes a cada fator principal e a soma dos 98 pontos identificados presentes entre as características externas, internas e do empreendedor de cada empresa (vide quadro 20). Os resultados estão expostos no gráfico a seguir. Gráfico 1 - Processo de Internacionalização: grau de influência dos fatores Grau de influência % elencados nas empresas DMC e Razek 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 DMC RAZEK Externos Internos Empreendedor Conjunto de Fatores Influêntes Fatores influêntes ao processo de internacionalização acelerada Fonte: Desenvolvido pelo autor (2013). Na análise do gráfico 01, nota-se um fato muito interessante. Apesar dos fatores selecionados serem considerados influentes à rápida internacionalização das empresas, os mesmos obtiveram maior incidência e impacto no processo de internacionalização da empresa DMC, considerada durante esta pesquisa, como internacionalização gradual. Em relação às empresas selecionadas, a empresa DMC, cujo processo de internacionalização caracterizado (neste estudo) como “gradual”, resultou ser a EBT “verdadeiramente” inovadora, enquanto que as características ligadas à Razek – considerada no presente estudo como sendo uma Born Global – classificam a empresa como “seguidora” das tendências inovadoras apresentadas por empresas internacionais. 99 O mais interessante é que, apesar de a DMC ser a empresa inovadora, aqui em questão, é a empresa Razek quem aparece como a verdadeira beneficiada, especialmente pelos produtos químicos presentes em seu portfolio, cuja tecnologia foi desenvolvida no laboratório da empresa DMC e pelos profissionais especializados contratados pela mesma. Em adendo, a autora agrega a disparidade e incongruência dos resultados apresentados pelo Gráfico 01 em relação à caracterização do processo de internacionalização da empresa DMC e da empresa Razek como consequência das barreiras impostas aos diferentes setores de atuação entre as empresas. O processo de normatização e legalização enfrentado pela empresa DMC vêm se mostrado mais burocráticos, demorados e custosos em relação ao enfrentado pela empresa Razek. Sendo assim, foi possível perceber que os resultados obtidos com a análise das empresas, a partir da seleção dos principais fatores, considerados por parte da literatura como influentes à rápida internacionalização das empresas, mostraram-se contraditórios à realidade de ambas as empresas. A partir dos resultados obtidos através da análise dos fatores individuais a cada uma das empresas, percebeu-se que o critério utilizado foi, não apenas insuficiente, como incoerente à realidade das empresas e ao processo de internacionalização sofrido por elas. Levando em consideração que o critério de análise e comparação do conjunto de fatores agregado às empresas (de acordo com as características individuais da instituição e do empreendedor, bem como pelo processo de internacionalização enfrentado), deu-se de maneira fiel às definições encontradas, a autora acredita ter levantado um ponto a ser considerado por pesquisas futuras, uma vez evidenciado a presença de outros fatores e características influentes à internacionalização das empresas, aqui estudadas. 100 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante a realização dos estudos, aqui apresentados, confirmou-se a incongruência entre as principais teorias sobre o processo de internacionalização diante da realidade vivida pelas empresas e empreendedores vinculados ao mercado externo. Ademais, percebeu-se que a dificuldade das teorias tradicionais em explicar o processo de internacionalização acelerada permanece, uma vez que não há um consenso expressivo entre autores e estudiosos da área para que seja possível definir as características, os motivos e os fatores que podem ou não influenciar o processo de internacionalização acelerada. Tal fato acaba por evidenciar a importância e urgência de expansão da literatura e pesquisas relacionadas ao tema e ao comportamento dessas empresas. Foi com esse intuito que o presente trabalho buscou trazer contribuições aos estudos sobre o processo de internacionalização, especialmente, ao campo de estudos ligados ao entendimento do fenômeno Born Global. Ainda que não se tenha alcançado um consenso acerca dos pontos relacionados ao fenômeno, tão pouco identificado quaisquer formas de conclusão definitiva dentre a literatura disponível, a autora acredita ter conseguido evidenciar as razões que validam o estudo do tema abordado, não apenas para a linha acadêmica (que carece de estudos e pesquisas voltadas, especialmente, à internacionalização acelerada, bem como o processo de internacionalização como um todo, tratando-se de uma reformulação geral das teorias tradicionais, ainda vigentes, que não mais correspondem com as exigências e necessidades apresentadas pelo cenário atual), mas também para o setor econômico, político e social do Brasil, os quais são responsáveis por proporcionar o incentivo necessário e o estímulo financeiro suficiente para promover o empreendedorismo internacional entre as empresas brasileiras. 101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APPLEYARD, Dennis R.; COBB, Steven L.; FIELD JR., Alfred J. Economia Internacional. 6ªed. 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Apud: indica a fonte de uma citação indireta (do latim junto a; em); pode ser entendido como: citado por, conforme, segundo. Artroscopia: também chamada de cirurgia artroscópica, é um procedimento cirúrgico endoscópio minimamente invasivo através do qual se examina e, por vezes, se realiza o tratamento dos danos do interior de uma articulação. É realizada utilizando um artroscópio, tipo de endoscópio que é inserido dentro da articulação através de uma pequena incisão. Os procedimentos artroscópicos podem ser realizados tanto para avaliar como para tratar muitos problemas ortopédicos. Buco-maxilo facial: a cirurgia bucomaxilofacial é uma especialidade odontológica que trata cirurgicamente as doenças da cavidade bucal, face e pescoço, tais como: traumatismos e deformidades faciais (congênitos ou adquiridos), traumas e deformidades dos maxilares e da mandíbula, envolvendo a região compreendida entre o osso hioide e o supercílio de baixo para cima, e do tragus a pirâmide nasal, de trás para frente. Ceteris Paribus: expressão do latim que pode ser traduzida por "todo o mais é constante" ou "mantidas inalteradas todas as outras coisas". A condição cet. par. é usada na economia para fazer uma análise de mercado da influência de um fator sobre outro, sem que as demais variáveis sofram alterações. Enxertia: na medicina, um enxerto é um procedimento cirúrgico para transplantar tecidos sem nutrição sanguínea. 112 Et Alia: expressão originária da língua latina, usada atualmente (segundo regras as quais devem se ater trabalhos acadêmicos, entre outros), em citações. Ex-Post Facto: termo utilizado, na metodologia científica, para indicar um experimento que se realiza depois do fato. First Movers: forma de vantagem competitiva que uma empresa ganha através da prática pioneira, ou seja, ao ser o primeiro a entrar em um mercado ou setor específico. O pioneirismo permite que uma empresa adquira o reconhecimento da sua marca e a lealdade do cliente. A empresa também tem mais tempo para aperfeiçoar seu produto ou serviço. Followership: refere-se à habilidade agregada a certos indivíduos em uma organização, equipe ou grupo. Especificamente, é a capacidade de um indivíduo para acompanhar ativamente um líder. Fotopolimerizador: aparelho de luz no espectro azul com comprimento de onda de aproximadamente 670 nanômetros que ativa o bis-gma da resina e produtos odontológicos endurecendo-os. Utilizado na restauração em resina foto-ativada. Greenfield(s): termo utilizado para descrever uma área de terra em que nenhuma infraestrutura foi construída, porém existe um projeto para que seja feita uma obra no local (“greenfield project” refere-se a um projeto que está sendo concebido e executado onde não existe atualmente uma organização empreendedora, ativo ou operação; “greenfield site” é um local onde não há infraestrutura presente para suportar o projeto). Joint Venture(s): é uma espécie de aliança estratégica que supõem um acordo comercial de inversão conjunta de longo prazo entre duas ou mais pessoas (normalmente pessoas jurídicas ou comerciantes). Know-how: termo em inglês que significa literalmente "saber como". Know-how é o conjunto de conhecimentos práticos (fórmulas secretas, informações, tecnologias, 113 técnicas, procedimentos, etc.) adquiridos por uma empresa ou um profissional, que traz para si vantagens competitivas. Laser-terapia: forma de tratamento médico baseado na aplicação da luz laser gerada por diodos emissores de luz a fim de ativar ou inibir a atividade celular Leapfrogging: (1) avançar de um lugar/ posição/ situação para outro sem precisar progredir através de todos ou qualquer um dos lugares/ estágios entre o ponto de partida e o destino final; (2) melhorar uma posição ultrapassando rapidamente ou pulando algumas etapas de uma atividade ou processo. Locking-in Customers: termo utilizado na economia para expressar a dependência do cliente com o fornecedor de produtos e serviços, tornando-o incapaz de utilizar outro fornecedor sem custos e/ou mudança significativos. Profilaxia: na odontologia, o objetivo da profilaxia é a prevenção de doenças orais ou dentárias, abrangendo tratamento como a selagem de fissuras, aplicação tópia de fluorides para fortalecer o esmalte, entre outros. Royalties: palavra de origem inglesa que se refere a uma importância cobrada pelo proprietário de uma patente de produto, processo de produção, marca, entre outros, ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercialização. Terapia Fotodinâmica: forma de tratamento de tumores, cancros e outras deformações de tecido, usando luz e compostos fotossensíveis (ou seja, absorve energia luminosa num determinado comprimento de onda e por decaimento do seu estado mais energético) em combinação com o oxigênio contido no tecido. 114 APÊNDICE A – Coleta de Dados Gerais: DMC DMC IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS LTDA. CNPJ ABERTURA NATUREZA SITUAÇÃO ENDEREÇO ATIVIDADES EXERCIDAS NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS FATURAMENTO ATIVIDADES INTERNACIONAIS * Correspondente ao ano de 2012 FILIAIS INTERNACIONAIS FUNDAÇÃO LOCALIZAÇÃO PRIMEIRA ATUAÇÃO NO EXTERIOR PAÍS DE ENTRADA FORMA DE ENTRADA PAÍSES EM QUE ATUA (2013) LINKS RECOMENDADOS 02.827.605/0001-86 21 de outubro de 1998 Sociedade Empresária Limitada Ativa desde 23 de dezembro de 2000 Rua Dr. Sebastiao De Moraes, nº 831, São Carlos, SP – Brasil - Fabricação de aparelhos eletromédicos, eletroterapêuticos e de irradiação; - Fabricação de produtos farmoquímicos; - Manutenção e reparação de aparelhos eletromédicos, eletroterapêuticos e de irradiação; - Manutenção e reparação de equipamentos e instrumentos ópticos; - Pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais; - Fabricação de instrumentos não-eletrônicos e utensílios para uso médico, cirúrgico, odontológico e de laboratório 80 funcionários diretos R$ 5 (cinco) milhões de reais DMC USA Ano de 2005 8201 Peters Road, STE 1000 Plantation, Florida - USA Ano de 2005 México, Ecuador e Argentina Exportação e Representação Internacional Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Bolívia, Chile, Filipinas, Finlândia, Guatemala, Iraque, Líbano, México, Paraguai, Peru, República Dominicana, Tailândia e Tunísia. • DMC: www.dmcgroup.com.br • NUPEN: www.nupen.com.br Fonte: Elaborado pelo autor (2013). 115 APÊNDICE B – Coleta de Dados Gerais: Razek RAZEK EQUIPAMENTOS LTDA. CNPJ ABERTURA NATUREZA SITUAÇÃO ENDEREÇO ATIVIDADES EXERCIDAS NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS FATURAMENTO ATIVIDADES INTERNACIONAIS * Correspondente ao ano de 2012 FILIAIS INTERNACIONAIS FUNDAÇÃO LOCALIZAÇÃO PRIMEIRA ATUAÇÃO NO EXTERIOR PAÍS DE ENTRADA FORMA DE ENTRADA PAÍSES EM QUE ATUA (2013) 07.489.0805/0001-30 11 de julho de 2005 Sociedade Empresária Limitada Ativa desde 11 de julho de 2005 Rua Ernesto Gonçalves Rosa Junior, nº 437, São Carlos, SP – Brasil - Fabricação de aparelhos eletromédicos, eletroterapêuticos e de irradiação; - Fabricação de instrumentos não-eletrônicos e utensílios para uso médico, cirúrgico, odontológico e de laboratório; - Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e equipamentos para uso odonto-médico-hopitalar; partes e peças. 100 funcionários diretos R$ 36 (trinta e seis) milhões de reais RAZEK USA Ano de 2005 8201 Peters Road, STE 1000 Plantation, Florida - USA Ano de 2010 Colômbia e Argentina Venda direta em feiras internacionais, Exportação e Representação Internacional México, Peru, Malásia, Colômbia, Coréia do Sul, África do Sul, Argentina, Uruguai, República Dominicana e Líbia; China, Estados Unidos e Oriente médio (em andamento). LINKS RECOMENDADOS Fonte: Elaborado pelo autor (2013). • RAZEK: www.razek.com.br 116 APÊNDICE C – Questionário para Coleta de Dados (continua) 117 (continuação) 118 (continuação) 119 (conclusão) Fonte: Adaptado 51 51 de Borini e outros (2012, p. 877-878) 52 . Questionário elaborado pelo designer gráfico Jean Henrique de Oliveira Menezes. Para maiores informações, acessar artigo RAC, Rio de Janeiro, v. 16, n. 6, art. 6, pp. 866-888, Nov./ Dez. 2012 em www.anpad.org.br/rac. 52