UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
LUCIANA CESAR GARCIA CID
INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA:
O FENÔMENO DAS EMPRESAS BORN GLOBAL
Florianópolis
2013
II
LUCIANA CESAR GARCIA CID
INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA:
O FENÔMENO DAS EMPRESAS BORN GLOBAL
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Relações Internacionais, da Universidade
do Sul de Santa Catarina, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Relações Internacionais.
Orientador: Prof. Beatrice Maria Zanellato Fonseca Mayer, Msc.
Florianópolis
2013
III
LUCIANA CESAR GARCIA CID
IV
À minha mãe,
minha melhor amiga, meu anjo, minha luz, minha vida.
V
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os professores do curso de Relações Internacionais da
Unisul, pelos os anos de transmissão segura e paciente de conhecimento.
Agradeço, especialmente, à minha professora e orientadora, Beatrice
Mayer, por ter me acolhido diante de tantas dúvidas, por ter me apresentado o tema
do presente trabalho, por toda sua ajuda, paciência, compreensão e por todos os
conhecimentos compartilhados.
Agradeço aos funcionários da universidade, por sempre me receberem
com um sorriso e por seu carinho, fazendo, assim, com que o meu dia fosse melhor.
Agradeço a todos os colegas de classe, por todos os momentos de
parceria, contribuição e descontração.
Agradeço à minha antiga chefe de estágio, Cristina Wolowski, pela
oportunidade, pelos aprendizados, pelo carinho, paciência e compreensão Também
agradeço pela ajuda e disponibilidade para a coleta de dados essenciais à
realização deste estudo.
Agradeço à minha amiga e companheira, Carolina Frozza, pela amizade,
carinho e companheirismo, pela confiança e, principalmente, por todos os momentos
que compartilhamos ao longo desses seis anos.
Agradeço ao meu namorado, Jean Menezes, por sua ajuda e orientação
ao longo da realização deste trabalho, por seu carinho e preocupação, por fazer com
que cada momento fosse leve e descontraído, por me apresentar a novas
perspectivas, gostos, pessoas e lugares.
Agradeço ao meu padrasto, Eder, por proporcionar momentos de alegria,
humor e descontração a cada dia, por seu carinho, preocupação e amor e ao meu
irmão, Cesar, por todo amor e carinho.
Agradeço à minha mãe, Maria Lucia, por todo o carinho, amor, dedicação,
por todos os sacrifícios, por seu incentivo e pela preocupação para que eu estivesse
sempre no caminho certo. Agradeço por sua fé em mim e por acreditar em minha
capacidade e potencial.
VI
RESUMO
Apesar da existência de inúmeras pesquisas realizadas, principalmente entre os
países desenvolvidos, a discussão internacional acerca do Fenômeno Born Global
ainda é considerada recente, e seu entendimento superficial. Sendo assim, o
presente estudo se fundamenta nas principais correntes teóricas tradicionais e nos
principais estudos realizados acerca do fenômeno, no intuito de identificar se o
processo
de
internacionalização
de
uma
empresa
pode
ser
acelerado
intencionalmente a partir da delimitação e direcionamento das estratégias utilizadas
pela companhia em conjunto com três blocos de fatores, estes identificados como
influentes ao processo de internacionalização. Feita a investigação dos fatores
ligados ao ambiente, às empresas e à realidade do perfil e ações do empreendedor,
constatou-se que os mesmos podem sim servir como propulsores à rápida
internacionalização, além de contribuírem para o melhor entendimento acerca do
fenômeno, ao mesmo tempo em que proporcionam novas perspectivas ao processo
de internacionalização das empresas, às pesquisas relacionadas ao tema, e ao
desenvolvimento socioeconômico brasileiro através da adequação de incentivos aos
negócios internacionais.
Palavras-chave: Internacionalização de empresas. Internacionalização gradual.
Internacionalização acelerada. Empresas Inovadoras. Fatores influentes.
VII
ABSTRACT
Despite the existence of numerous studies conducted, mainly among developed
countries, international discussion related to the Born Global Phenomenon is still
considered recent, and its understanding shallow. Therefore, this study is based on
the main theories of traditional currents and on the major studies conducted about
the phenomenon, in order to identify if a firm’s internationalization process can be
intentionally accelerated based on the delimitation and orientation of the company’s
strategies in conjunction with three blocks of factors, those identified as influential to
the internationalization process. Once made the investigation of factors related to the
environment, organization and to the reality of the entrepreneur’s profile and actions,
it was found that these factors can indeed serve as drivers for the rapid
internationalization, at the same time that they contributes to a better understanding
of the phenomenon, as well as provides new perspectives to the internationalization
process of enterprises, to researches related to the topic in matter, and to the
Brazilian socioeconomic development thru the adequacy of incentives to international
business.
Keywords:
Internationalization
of
companies.
Gradual
internationalization.
Accelerated internationalization. Innovative enterprises. Influential factors.
VIII
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Mecanismo de Internacionalização segundo o Modelo Uppsala ..............36
Figura 2 - Market Commitment vs. Market Knowledge..............................................37
Figura 3 - Mecanismo de internacionalização com base nas Networks ....................40
Figura 4 - O modelo de Oviatt e McDougall ..............................................................61
Figura 5 - Tipos de novos empreendimentos internacionais .....................................62
Figura 6 - Características chave das alternativas de entrada ...................................71
Figura 7 - Modelo Conceitual dos Fatores Influentes à Internacionalização .............80
IX
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Processo de Internacionalização: grau de influência dos fatores
elencados nas empresas DMC e Razek ...................................................................98
X
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Principais teorias tradicionais de internacionalização .............................34
Quadro 2 - Conjunto de críticas ao modelo de Uppsala ............................................38
Quadro 3 - Classificação dos Investimentos Diretos .................................................44
Quadro 4 - Questões básicas do Processo de Internacionalização ..........................47
Quadro 5 - Fenômeno Born Global e Definições Similares .......................................54
Quadro 6 - A Reciclagem de Madsen e Rasmussen.................................................55
Quadro 7 - EBGs e suas principais definições ..........................................................58
Quadro 8 - Critérios de definição de uma Born Global..............................................59
Quadro 9 - A Tipologia de Fernandes e Seifert .........................................................63
Quadro 10 - Definições das Empresas de Base Tecnológica ...................................65
Quadro 11 - Variáveis influentes à entrada no mercado estrangeiro ........................68
Quadro 12 - Constructo estratégico a partir das variáveis ao modo de entrada no
mercado estrangeiro .................................................................................................69
Quadro 13 - Formas de adentrar no mercado estrangeiro ........................................70
Quadro 14 - Principais Diferenças entre o Comportamento da Internacionalização
Tradicional e Internacionalização Acelerada .............................................................78
Quadro 15 - Hipóteses: Aplicação, Expectativas e Conclusões. ...............................81
Quadro 16 - Fatores Relevantes à Internacionalização Acelerada ...........................83
Quadro 17 - Os Diferentes Tipos de Inovação ..........................................................86
XI
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................15
1.1. EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA.......................................................15
1.2. OBJETIVOS .......................................................................................................17
1.2.1. OBJETIVO GERAL ...............................................................................................17
1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................17
1.3. JUSTIFICATIVA.................................................................................................18
1.4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...........................................................20
1.4.1. QUANTO À NATUREZA .........................................................................................21
1.4.2. QUANTO AOS OBJETIVOS ....................................................................................21
1.4.3. QUANTO AOS PROCEDIMENTOS ...........................................................................22
1.4.4. QUANTO À ABORDAGEM ......................................................................................24
1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO ..........................................................................24
2. O COMÉRCIO INTERNACIONAL: UMA BREVE RETROSPECTIVA .................26
2.1. TEORIAS TRADICIONAIS .................................................................................27
2.2. A TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL “CONTEMPORÂNEA” ............28
3. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO E SEU ARCABOUÇO TEÓRICO
..................................................................................................................................33
3.1. TEORIAS TRADICIONAIS DE INTERNACIONALIZAÇÃO ...............................34
3.1.1. O MODELO UPPSALA ..........................................................................................35
3.1.2. PERSPECTIVA DE NETWORKS ..............................................................................38
3.1.3. DUNNING E O PARADIGMA ECLÉTICO ...................................................................41
3.2. À CAMINHO DE UMA NOVA ABORDAGEM.....................................................48
4. O FENÔMENO “BORN GLOBAL”.......................................................................51
4.1. A HISTÓRIA POR TRÁS DO CONCEITO ..........................................................51
4.1.1. CONCEITOS SIMILARES .......................................................................................53
4.2. DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS BORN GLOBAL - EBGS
..................................................................................................................................57
4.3. A CONTRIBUIÇÃO DE OVIATT E MCDOUGALL..............................................60
4.4. A TIPOLOGIA DE BRUNO FERNANDES..........................................................63
4.5. DEFININDO AS EBTS........................................................................................65
4.6. FORMAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA ...................................67
5. INTERNACIONALIZAÇÃO: GRADUAL VS. ACELERADA.................................75
5.1. REVISÃO E SÍNTESE DA LITERATURA...........................................................75
XII
5.2. FATORES RELEVANTES À INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA ...........79
6. ESTUDO DE CASO: A EMPRESA DMC E A EMPRESA RAZEK.......................83
6.1. UM BREVE ADENDO – EMPRESAS INOVADORAS E EBTS ..........................85
6.2. SELEÇÃO DOS CASOS E COLETA DE DADOS ..............................................87
6.2.1. ESTUDO DE CASO 01: O GRUPO DMC ................................................................89
6.2.2. ESTUDO DE CASO 02: A EMPRESA RAZEK .........................................................94
6.3. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO ................................................................95
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................101
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS ............................................................................105
CONGRESSO E EVENTOS....................................................................................110
APÊNDICE A – COLETA DE DADOS GERAIS: DMC...........................................114
APÊNDICE B – COLETA DE DADOS GERAIS: RAZEK ......................................115
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PARA COLETA DE DADOS ............................116
XIII
LISTA DE SIGLAS
AAOS – American Academy of Orthopedic Surgeons
ABIMO – Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos,
Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APEX – Agência de Promoção de Exportações e Investimentos
APL – Arranjo Produtivo Local
BG(s) – Born Global(s)
CAD – Computer Aided Design
CAM – Computer Aided Manufacturing
CE – Comissão Europeia
CEPAL – Comissão Econômica para América Latina
CINDES – Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento
CIOSP – Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo
CNI – Confederação Nacional da Indústria
CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
EBG(s) – Empresa(s) Born Global(s)
EBT(s) – Empresa(s) de Base Tecnológica
EFE – Agência de Notícias da Espanha
EMN(s) – Empresa(s) Multinacional/ Multinacionais
P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
EPO(s) – Export Promotion Organization(s)
FAPESP – Programa Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FINEP – Agência Brasileira de Inovação
FUNCEX – Fundação de Estudos de Comércio Exterior
FUNDECTO – Fundação de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da
Odontologia
HG – Hipótese Geral
ICE – Información Comercial Española
IDE – Investimento Direto Estrangeiro
INV(s) – International New Venture(s)
LATN – Latin American Trade Network
LED(s) – Light Emiting Diode(s)
XIV
LELO – Laboratório Especial de Laser em Odontologia
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MSC - Mestre
NBG(s) – Non Born Global(s)
NUPEN – Núcleo de Pesquisa e Ensino de Fototerapia nas Ciências da Saúde
OMS – Organização Mundial da Saúde
PDT – Photodynamic Therapy
PIPE – Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas
RHAE – Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas
TI – Tecnologia da Informação
WWW – World Wide Web
15
1. INTRODUÇÃO
Estando o cenário econômico atual cada vez mais volúvel diante às
mudanças impostas pela globalização, a internacionalização das empresas torna-se
ainda mais acentuada e de realização imediata, fazendo com que empresários
repensem nos conceitos e estratégias utilizadas para a inserção de sua empresa no
mercado. Com isso, pode-se considerar o processo de internacionalização como
forma de sobrevivência das empresas futuras e atuantes que pretendem manteremse ativas e operantes.
Optar pela internacionalização significa obter vantagens competitivas que
permitiriam a estas empresas sobreporem-se à concorrência. Por tanto, a
identificação e o reconhecimento da importância da internacionalização das
empresas impulsionaram a realização de uma pesquisa que apresente as melhores
técnicas para a realização do mesmo.
Sendo assim, será estudada a teoria de internacionalização tradicional, na
qual o processo ocorreria de forma gradual, desde a conquista e a solidificação da
empresa diante do mercado interno para somente depois iniciar o processo de
internacionalização de forma cuidadosa e fracionada. E, como uma proposta
antagônica, também se realizará o estudo da mais nova teoria que representaria a
inovação do processo de internacionalização das empresas, fenômeno denominado
como Born Global, ou Internacionalização Acelerada.
1.1. EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA
Apesar de a globalização ser um fenômeno considerado historicamente
recente, há um tempo considerável seus efeitos e consequências são evidenciadas
e sofridas mundialmente. Conforme colocado por Kotabe e Helsen (2000, p. 25):
Produtos vêm sendo comercializados através das fronteiras durante a
civilização conhecida (...). O que é relativamente novo no fenômeno,
surgindo com as grandes empresas norte americanas, nos anos 50 e 60, e
com as empresas europeias e japonesas nos anos 70 e 80, é o grande
número de empresas com operações inter-relacionadas de produção e de
vendas localizadas em todo o mundo.
16
Importante ressaltar ainda que “o surgimento de empresas europeias e
japonesas competitivas têm dado à noção de competição global um toque a mais de
urgência e significado” (KOTABE; HELSEN, 2000, p. 25).
Com isso, o constante crescimento da globalização tornou-se infreável e
as adaptações decorrentes deste cenário, nunca antes imaginadas.
No ambiente dos anos 1990, deve-se tomar como certa a globalização. E
será só um o parâmetro para medir o sucesso de uma empresa: sua
participação no mercado internacional. As empresas bem-sucedidas
chegarão ao sucesso encontrando mercados em todo o mundo (WELCH,
2000 apud HELSEN; KOTABE, 2000, p. 25).
De acordo com Kotabe e Helsen (2000), a limitação das empresas aos
mercados internos e à concorrência doméstica não é o suficiente, uma vez que as
empresas estão expostas a concorrência internacional, mesmo no mercado interno.
Os executivos das empresas ao escolherem não olhar e pensar além das fronteiras
nacionais podem e certamente irão perder oportunidade para concorrentes mais
bem preparados.
Já se foram os dias em que estávamos acostumados às diferenças de
preferência nacional ou regional. Já se foram os dias em que uma empresa
podia vender os modelos do ano anterior – ou versões superadas de
produtos avançados – no mundo menos desenvolvido (LEVITT, 1983, p.
92).
Seguindo a linha de pensamento supracitada, Guedes (2007) ressalta
que, estando o mundo baseado em repetidas e inevitáveis relações junto ao
presente sistema capitalista, o objetivo deste se fundamenta nos princípios e
técnicas utilizadas pelo marketing global e pela gestão de negócios internacionais
acerca do processo de internacionalização de empresas, e nas bases teóricas que
explicam o mais recente fenômeno ligado à internacionalização das mesmas,
denominado Born Global, a fim de identificar qual das redes de pensamento melhor
se enquadra no cenário atual e que deverá servir como base para as ações tomadas
por aquelas empresas que visam a concretização de futuros negócios e a
maximização do alcance dos objetivos traçados para si dentro do âmbito global.
Para isso, serão estudados os métodos de internacionalização defendidos
por duas correntes teóricas, sendo a primeira de conhecimento comum à área de
empreendedorismo global, com maior tempo e ainda de atual aplicabilidade; e a
segunda, recente, inovadora e ainda um tanto quanto descrente pela maioria dos
17
estudiosos e/ou atuantes relacionados à atividade de internacionalização de
empresas.
Concluindo, nas palavras de Marconi e Lakatos (2002, p. 26), “problema é
uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real
importância, para a qual se deve encontrar uma solução”. Portanto, a partir da
constatação de que existem empresas Born Global, as quais são assim
denominadas por terem um processo de internacionalização acelerado, ou seja, se
internacionalizam em menor tempo em relação àquelas que obtiveram sua
internacionalização a partir de processos graduais, questiona-se: A partir da
perspectiva teórica e da análise comparativa de dois estudos de caso, o
processo de internacionalização de uma empresa pode ser acelerado?
1.2. OBJETIVOS
A fim de tornar mais claro os motivos que impulsionaram a escolha do
problema de pesquisa e, consequentemente, a realização deste trabalho,
apresentam-se, na sequência, os objetivos gerais e específicos do mesmo.
1.2.1. Objetivo Geral
O objetivo geral do referido trabalho será o estudo de duas teorias a
respeito do processo de internacionalização de empresas, sendo a primeira
proveniente de uma linha teórica tradicional, enquanto que a segunda, ainda muito
recente, apresenta sua teoria através da identificação da possibilidade das
empresas se enquadrarem na denominação “Born Global” a partir do seu processo
de internacionalização. Portanto, o objetivo geral do presente estudo é:
- Verificar se as empresas podem acelerar o seu processo de
internacionalização a partir da perspectiva teórica e da análise comparativa de dois
casos de internacionalização: um gradual e outro acelerado.
1.2.2. Objetivos Específicos
A fim de responder o objetivo geral exposto apresentam-se abaixo alguns
pontos definidos que deverão ser alcançados ao final do proposto trabalho:
18
- Comparar as teorias que tratam da internacionalização como um
processo gradual e como um processo acelerado;
- Descrever os fatores que podem potencializar uma empresa a ser uma
“Born Global”;
- Verificar se as empresas podem acelerar o seu processo de
internacionalização
a
partir
da
análise
comparativa
de
dois
casos
de
internacionalização: um gradual e outro acelerado.
1.3. JUSTIFICATIVA
O cenário econômico atual caracteriza-se cada vez mais pelo seu
dinamismo e sua atitude global. A interdependência entre países, a formação de
blocos regionais, o surgimento e crescimento de economias emergentes na Ásia e
América Latina, bem como os surpreendentes – e cada vez mais constantes –
avanços tecnológicos em distintos setores são, sem dúvida alguma, tendências que
configuram o cenário mundial atual, competitivo e em um constante processo de
“metamorfose”. Em suma, a visão sob os olhos do fenômeno aqui abordado,
caracteriza-se como imprescindível; principalmente por parte dos empresários, que
devem repensar seus conceitos e desenvolver novas estratégias condizentes com o
modelo econômico vigente.
Com isso, elencam-se aqui algumas razões que visam legitimar a
importância que o estudo, entendimento e aprofundamento do Fenômeno Born
Global representam para as relações políticas, econômicas e sociais futuras, sendo
um tema de crescente tendência acadêmica e forte relevância para as atividades
empresariais.
Primeiramente,
torna-se
importante
ressaltar
que
a
ideia
de
internacionalização via inserção direta da empresa em um determinado país
estrangeiro (seja através de aquisição ou criação de uma unidade produtiva), logo
nos primeiros anos após sua fundação, vem sendo cada vez mais aceita entre os
atuantes e especialistas no ramo, uma vez que empresários e empreendedores
veem no processo de internacionalização acelerada a resposta às limitações
apresentadas pelas atividades vinculadas à exportação de bens e/ou serviços.
Conforme elucidado por Knight (1997 apud DIB, 2008), torna-se cada vez
mais claro e crescente o número de empresas cabíveis na definição de Born Global.
19
Tal acontecimento vem evidenciado a velocidade e a complexidade cada vez mais
eminentes ligadas ao processo de internacionalização das empresas, levando
muitos autores e especialistas no assunto a acreditarem que as empresas
caracterizadas pelo comportamento da internacionalização acelerada tendem a
mudar o conceito que envolve o processo de internacionalização das empresas e
seus precedentes teóricos. Antes consideradas como “exceção” ao padrão de
internacionalização, as Born Global, hoje, tornam-se norma entre as empresas ativas
no mercado.
O segundo ponto, que ressalta a importância do estudo aqui feito, é
proveniente de uma breve análise da literatura especializada, na qual foi possível
identificar a dificuldade dos autores em explicar o fenômeno da internacionalização
acelerada por meio das teorias tradicionais. A falta de uma explicação teórica
específica para o modelo, ou até mesmo de um consenso entre os principais
especialistas, acaba por limitar, e possivelmente estagnar, avanços possíveis às
empresas brasileiras, que sem alternativa, recorrem e utilizam o modelo de
internacionalização tradicional como base para suas ações e decisões futuras.
Neste sentido, “o conhecimento das estratégias e atitudes mais
adequadas pode significar a diferença entre o crescimento rápido ou o fracasso
irreversível” (SILVA, 2011, p. 4); tornando eminente a necessidade de ampliar e
atualizar – o quanto antes – a estrutura literária atualmente disponível para que,
finalmente, seja possível formular estratégias condizentes com a estrutura, setor e
objetivos da empresa que anseia pela conquista da sua parcela de espaço no
âmbito internacional. Conquista-se, assim, o aumento de inovação, fundamental
para o crescimento nos mais variados setores da economia.
Em uma terceira instância, é identificada uma preocupação de cunho
governamental. De acordo com os estudos feitos por Silva (2011, p. 4):
Mesmo parecendo que as políticas públicas de promoção da atividade
exportadora tenham influência significativa sobre as firmas que visam
exportar e empreender negócios internacionais, a literatura especializada
aponta, contudo, que as políticas governamentais de promoção das
atividades internacionais não têm sido adequadas às necessidades
1
específicas das empresas Born Global .
1
O autor cita como exemplo os trabalhos de Moen (2002), Bell e McNaught (2000).
20
Num quarto e último ponto, nota-se que o fenômeno das empresas Born
Global trouxe consigo a esperança, antes perdida, aos países em desenvolvimento –
também considerando o Brasil – ao apresentar quase que uma “releitura” do
processo de internacionalização há pouco vigente. Dib (2008) acredita que o
surgimento das Born Global representa uma nova chance aos empresários e
executivos de vencerem diversas barreiras lhes apresentadas, tais como a
geográfica, linguística e cultural; garantindo um maior envolvimento de tais países
com os negócios internacionais.
Após a exposição e breve argumentação dos pontos mencionados acima,
acredita-se que a relevância e importância do tema abordado tenham se tornado
claro, especialmente com a intensa e crescente demanda que estudantes,
especialistas e atuantes da área vêm exigindo.
1.4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
De acordo com Demo (1995), a pesquisa científica pode ser de tipo
teórico, metodológico, empírico ou prática, o qual implicará na elaboração de um
projeto de pesquisa, este, constituído pela fase inicial da definição do que se
pretende explicar e de como fazê-lo. Segundo o autor, se bem elaborado, um projeto
de pesquisa pode vir a servir como base de conhecimento, o que agregaria à mesma
inestimado valor.
Cervo e Bervian (1996) apontam pesquisa como uma atividade voltada
para a busca de uma resposta ou solução para determinado problema, resultado
este obtido através da utilização de métodos científicos. E ainda, de acordo com os
autores, método é apenas um conjunto ordenado de procedimentos que se
mostraram eficientes ao longo da historia na busca do saber. O método científico é,
pois, um instrumento de trabalho, que se trabalhado adequadamente, poderá levar a
uma solução referente ao problema inicialmente levantado.
Em suma, esta sessão apresentará os métodos e técnicas utilizadas para
a realização da pesquisa e para o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de
Curso em Relações Internacionais.
21
1.4.1. Quanto à natureza
Segundo os autores Barros e Lehfeld (2000), a pesquisa aplicada tem
como motivação a necessidade de produzir conhecimento para a aplicação de seus
resultados, onde seu objetivo é o de “contribuir para fins práticos, visando à solução
mais ou menos imediata do problema encontrado na realidade” (BARROS;
LEHFELD, 2000, p. 78).
Nunan (1997) aponta que na estruturação mais comum de uma pesquisa
aplicada é apresentada da seguinte maneira: a) fundamentação teórica; b)
metodologia de pesquisa; c) análise e discussão dos dados. Nesse caso, a
fundamentação teórica serve, dentre outras possibilidades, como referencial para a
análise dos dados, os quais foram coletados por meio de uma metodologia
compatível com os objetivos de pesquisa, às características do objetivo de estudo e
ao contexto de investigação.
De acordo com Nunan (1997), Michel (2005) e Oliveira (2007), a pesquisa
do tipo aplicada depende de dados que podem ser coletados de diferentes formas,
tais como pesquisas em laboratórios, pesquisa de campo, entrevistas, gravações em
áudio/ vídeo, diários, questionários, formulários, análise de documentos, entre
outros.
1.4.2. Quanto aos objetivos
Segundo Mattar (1996), de acordo com os objetivos apresentados, a
pesquisa pode ser classificada como sendo exploratória, descritiva, e/ou explicativa.
Porém, o objetivo do presente estudo enquadra a pesquisa nos tipos exploratório e
descritivo, uma vez que:
A pesquisa de tipo exploratória visa prover o pesquisador de maior
conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. A utilização
da pesquisa do tipo exploratória é indicada, principalmente, quando o conhecimento
acerca do problema de pesquisa apresentar dificuldades e/ou limitações ao
interessado, ou seja, quando o conhecimento a respeito for muito vago. Segundo
Freitas e Prodanov (2013), esse tipo de pesquisa, geralmente, envolve:
levantamento bibliográfico, realização de entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que
22
estimulem a compreensão – todos os métodos são utilizados como ferramentas
essenciais à realização deste trabalho.
Já em uma segunda instância, segundo Triviños (1987), a pesquisa do
tipo descritiva exige do investigador a coleta de uma séria de informações acerca do
tema de pesquisa. Esse tipo de estudo é feito com o intuito de descrever as
características de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de
relações entre variáveis. De maneira geral, esse tipo de pesquisa pode ser
entendido como um estudo de caso onde, após a coleta de dados, é realizada uma
análise das relações entre as variáveis para uma posterior determinação dos efeitos
resultantes em uma empresa, sistema de produção ou produto. Para a realização do
trabalho em questão, a pesquisa será feita a partir do uso de bibliografias – ligadas,
principalmente, ao processo de internacionalização, marketing internacional/ global,
empreendedorismo global e gestão estratégica de negócios internacionais; e através
do estudo de caso, o qual agrega, também, questionários e entrevistas com roteiro
estruturado.
1.4.3. Quanto aos procedimentos
Segundo Vergara (2000), a coleta de dados é a forma de se obter os
dados necessários para responder ao problema. Para tanto, o desenvolvimento do
presente estudo se dará a partir de específicos métodos de pesquisas, sendo eles:
pesquisa bibliográfica, pesquisa ex-post facto, estudos de caso, pesquisa
participante e levantamento de campo.
A pesquisa bibliográfica representa um levantamento geral em relação ao
tema escolhido através de livros, revistas, artigos e via meios eletrônicos.
A pesquisa bibliográfica parte de um material já elaborado, livros e artigos
publicados. Na verdade, boa parte dos estudos é desenvolvida pautada em
outras publicações sobre o assunto, seja como fonte de consulta ou como
ponto de partida para uma contestação (LAROSA, 2003, p. 44).
De acordo com Vergara (2000), a pesquisa de campo é uma investigação
empírica, realizada no local onde os elementos necessários encontram-se
disponibilizados. Neste caso, a pesquisa ocorreu no escritório de representação
23
comercial da empresa que disponibiliza os serviços estudados, o qual inclui
entrevistas, aplicação de questionários, testes e observação participante ou não.
Tratando-se dos procedimentos técnicos para a realização da pesquisa,
optou-se pelo estudo de casos que, segundo Yin (1989) consiste em uma pesquisa
empírica que investiga certo fenômeno contemporâneo dentro do contexto da vida
real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos. Este método torna-se adequado a este estudo, uma vez que a
análise das condições contextuais nas quais as unidades de análise estão inseridas
é necessária para o melhor entendimento do fenômeno estudado. Seguindo a
indicação de Yin (2005), opta-se pelo estudo de casos múltiplos, a fim de ampliar os
benefícios analíticos ao confrontarem-se a realidades distintas.
As unidades de análise são empresas familiares, de pequeno a médio
porte, e de base-tecnológica, cujo período da primeira atividade internacional não
ultrapasse cinco anos da fundação da respectiva empresa. Por se tratar de um
estudo de multi-casos, foram estudadas duas empresas: a empresa DMC e a
empresa RAZEK, ambas sediadas em São Carlos - SP.
Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro de entrevista com 66
perguntas, estando as primeiras 19 direcionadas à coleta de dados básicos do
entrevistado, da empresa e à filial internacional, bem como ao entendimento da
prospecção realizada para a expansão internacional da empresa; e as 47 perguntas
restantes relacionadas aos três blocos de fatores influentes ao processo de
internacionalização das empresas, conforme estudo realizado por Ribeiro, Oliveira e
Borini (2012), o qual aborda fatores externos e internos à empresa e fatores ligados
ao empreendedor (ver Apêndice 01).
A partir de diversos contatos com a gerente de exportação, Cristina V.
Wolowski, realizados por meio de ligações, troca de mensagens via e-mail e via
celular, além de duas visitas ao departamento de exportação comum às empresas,
foi possível responder a todas as questões propostas pelo questionário apresentado
e às demais questões e dúvidas esclarecidas informalmente. Utilizou-se também o
procedimento de observação participante, uma vez que a autora atuou como
assistente no departamento de exportação citado durante 09 (nove) meses
(correspondente ao período de julho/ 2012 a abril/ 2013), onde foi possível observar
o comportamento dos empresários, funcionários da empresa, bem como a dinâmica
interna e externa das empresas.
24
1.4.4. Quanto à abordagem
O tipo de abordagem utilizado para a realização da pesquisa definiu-se a
partir do comentário feito por Mezzaroba (2007, p. 110), na qual explica que a
pesquisa qualitativa visa à compreensão das informações de forma global e “interrelacionada com fatores variados, privilegiando contextos”.
E ainda, de acordo com Oliveira (1997), na abordagem qualitativa, o autor
deverá realizar uma série de leituras sobre o assunto pesquisado, descrevendo e
relatando minuciosamente as explicações e opiniões de diferentes autores e/ou
especialistas do tema, a fim de estabelecer correlações dos argumentos
apresentados. Sendo assim, ao final do trabalho, o autor deverá expor um ponto de
vista conclusivo acerca da pesquisa.
1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO
Os capítulos a serem apresentados seguem pela exposição do tema e do
problema da pesquisa, seguido pela identificação dos objetivos gerais e específicos,
metodologia de pesquisa, seguido pela justificativa que levaram o autor à escolha do
tema, em seguida, o desenvolvimento da fundamentação teórica e, por fim, a análise
e apresentação dos resultados obtidos a partir da realização de dois estudos de
caso.
No primeiro capítulo serão tratados os elementos iniciais do relatório de
pesquisa, dando destaque à exposição do tema e do problema. Na sequência, serão
apresentados os objetivos gerais e específicos que a pesquisa a ser realizada
almeja
alcançar.
Prossegue-se
com
a
justificativa
da
escolha
do
tema
”Internacionalização acelerada: o fenômeno das empresas Born Global” e a
metodologia científica que se utilizará para o desenvolvimento do presente trabalho.
Em seguida, apresenta-se o segundo capítulo, na qual é feita uma breve
retrospectiva histórica acerca do comércio internacional. A abordagem se inicia a
partir do surgimento e noções ligas à prática mercantilista para que seja possível
apresentar o desenvolvimento de estudos e pesquisas que propiciaram a formação
das primeiras teorias sobre o processo de internacionalização das empresas.
O capítulo 3 é destinado exclusivamente ao aprofundamento dos
principais modelos teóricos vinculados ao processo de internacionalização do tipo
gradual. Através de subcapítulos, será apresentada a comparação entre os modelos
25
tradicionais de ambas as vertentes teóricas (econômica e comportamental), bem
como os motivos que levaram especialistas a questionarem a validade de tais
modelos.
O capítulo 4 dá início à exposição do Fenômeno Born Global, onde é feita
uma breve apresentação do tema, seguido pela história por trás do conceito
utilizado, ao mesmo tempo em que identifica conceitos similares ao fenômeno.
Ademais, são apresentadas as definições e características das born globals e os
tipos de entrada possíveis ao mercado internacional, explorando, por fim, fatores
possivelmente influentes à aceleração do processo de internacionalização das
empresas. O capítulo também apresenta um subcapítulo destinado a explicar o que
significa ser uma empresa de base tecnológica, assim como evidencia a importância
em diferenciar empresas do tipo inovadora das “seguidoras” das tendências de
inovação.
Com o intuito de sintetizar o conteúdo teórico exposto, o quinto capítulo
destina-se à comparação entre as teorias e o comportamento adotado por empresas
de internacionalização gradual e empresas de internacionalização acelerada. Onde
também serão expostos os fatores considerados, por muitos autores, como
influentes ao processo de internacionalização acelerada, a fim de analisa-los no
capítulo seguinte.
No capítulo 6 são analisados dois estudos de caso, sendo o processo de
internacionalização de uma empresa considerada como gradual, e da outra
considerada como acelerada, com base, principalmente, nos fatores “influentes”
citados na sessão anterior.
Por fim, o capítulo 7 apresenta as considerações finais da autora sobre os
aprendizados e resultados obtidos com a elaboração desta pesquisa.
Na sequência, apresentam-se os principais conceitos teóricos necessários
para o desenvolvimento deste trabalho.
26
2. O COMÉRCIO INTERNACIONAL: UMA BREVE RETROSPECTIVA
De acordo com Mariotto (2007), a prática de comercializar bens e serviços
internacionalmente é exercida desde a antiguidade; porém, as descrições e
explicações a tais atividades aparecem somente no final da Idade Média Europeia
com o surgimento da Nação-Estado Moderna. O pensamento e a doutrina adotados
em tal época exaltavam a conquista e acúmulo de riquezas como objetivo primordial
do país, ou seja, “deveria ser atingido um saldo exportador positivo da nação no
comércio com outras nações. Essa corrente ficou posteriormente conhecida como
‘mercantilismo’” (MARIOTTO, 2007, p. 24).
O mercantilismo [modelo caracterizado pela prática de acúmulo excessiva – de metais preciosos (especialmente o ouro)] é conhecido como a
principal prática econômica adotada durante três séculos na Idade Média Moderna.
E era através do saldo final apresentado, que exportadores viriam a subjugar as
nações em desvantagem comercial, ou seja, nações que apresentassem saldos
inferiores, ou negativos de sua(s) reserva(s).
Ademais, os mercantilistas propagavam o aumento das exportações, ação
esta encorajada por subsídios, simultaneamente à diminuição das importações,
resultante da aplicação de tarifas; ações estas que atingiram seu ápice durante os
séculos XVI e XVII. Porém, em consequência às ideias liberais impostas por “teorias
mais sofisticadas2” (MARIOTTO, 2007, p.25) – defensoras do livre-comércio entre as
nações – o modelo há pouco descrito (e de vigência na época), acabou por perder
sua força e credibilidade, sendo rápida e posteriormente substituído pela teoria das
vantagens comparativas, desenvolvida em 1817 por David Ricardo.
A Teoria das Vantagens Comparativas defendia a existência de vantagens
no comércio internacional partindo da premissa de que nações em parceria
poderiam trabalhar com as diferenças de produtividade em prol do benefício
mútuo, ou seja, “a especialização internacional seria mutuamente vantajosa
2
As “teorias mais sofisticadas”, indicadas acima por Mariotto, referem-se à teoria das vantagens
absolutas, sugerida pelo economista Adam Smith em 1776, na qual é definida por Germano (2013,
apud GRANZOTTO, 2011, p.4) como sendo uma teoria que tinha como ideias básicas a
especialização das produções, motivada pela divisão do trabalho na área internacional, e as trocas
efetuadas no comércio internacional, na qual contribuíam para o aumento do bem-estar das
populações. Em outras palavras, cada nação deveria concentrar seus esforços em uma produção de
baixo custo a fim de trocar o excedente por produtos que fossem de menor custo em outros países.
27
em todos os casos em que as nações parceiras canalizassem os seus
recursos para a produção daqueles bens em que sua eficiência fosse
relativamente maior” (GERMANO, 2013, apud GRANZOTTO, 2011, p.4).
Depois de adquirido breve conhecimento acerca dos princípios adotados
pela teoria proposta por David Ricardo, é imprescindível ressaltar a ênfase dada por
Smith (1776, apud. MARIOTTO, 2007, p. 26) à divisão do trabalho e da
especialização como fontes de aumento da produtividade – temas a serem
abordados a seguir.
2.1. TEORIAS TRADICIONAIS
Tratando-se do comércio internacional, cada país deveria focar-se e
investir na especialização daqueles produtos, bens e/ou serviços que fossem ou
julgassem ser de seu maior domínio, ou seja, na área em que apresentassem maior
eficiência. Seguindo esta linha de raciocínio, o investimento na especialização
resultaria na redução dos custos de produção e o aumento do volume produzido.
Sob o olhar de Ricardo (1817), a interpretação das vantagens absolutas
desenvolvida por Smith ganhou uma nova dimensão, aliás, dimensão esta que
expandiu os horizontes para as práticas comerciais no âmbito internacional. A
explicação para isso se dá através das palavras de Mariotto, na qual diz:
[...] um país, mesmo tendo produtividade inferior a outro país em todos os
produtos que faz, ainda assim, terá ganhos concretos por meio do comércio
exterior [...] isso é possível porque, pela especialização e pelo comércio
exterior, cada país deixa de usar seus recursos em atividades nas quais é
menos produtivo para usá-los em atividades em que é mais produtivo
(MARIOTTO, 2007, p. 26, grifo do autor).
Em suma, a teoria das vantagens comparativas se concentra no
pressuposto de que todos os países deveriam focar sua produção e procurar
especializar-se nas atividades onde os mesmos apresentam-se mais eficientes a fim
de “exportar parte desta produção e troca-la por bens cuja produção é menos
eficiente” (MARIOTTO, 2007, p. 26). Isso possibilitaria aos países de baixa
produtividade ter acesso a uma quantidade de bens e serviços para o consumo
interno maior do que se os mesmos optassem somente pela produção local como
forma de abastecimento e manutenção do país (MARIOTTO, 2007).
28
De acordo com a Agência EFE 3 , em 1979, a Teoria das Vantagens
Comparativas proposta por David Ricardo (vigente desde o início do século XIX),
começou a ser “moldada” para a nova realidade vigente durante as décadas de 20 e
30 do século XX pelos suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin. Porém, os esforços feitos
não foram suficientes para “explicar a dominação progressiva do comércio
internacional por países com condições semelhantes e que por sua vez
comercializavam os mesmos produtos4” (ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p.74, tradução
nossa).
2.2. A TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL “CONTEMPORÂNEA”
A necessidade de explicar o comportamento real do comércio internacional
levou Krugman (2000) a investigar sobre novas teorias que complementassem as
abordagens ortodoxas e heterodoxas sobre o comércio internacional. Dentro dessas
teorias tradicionais, encontram-se a relação das vantagens absolutas apresentada
por Adam Smith, e a teoria de David Ricardo, que introduz o Modelo Ricardiano
através do conceito das vantagens comparativas – ambas brevemente conceituadas
e explicadas no capítulo anterior.
Importante salientar os quatro pontos identificados por Krugman e Obstfeld
(2001) como debilidades na teoria de David Ricardo em relação ao mundo real. Os
autores explicam que (1) o Modelo Ricardiano precede de um grau de
especialização extremo e que não se observa na realidade; ou seja, os países se
especializam na produção de bens e serviços nos quais acreditam possuir maiores
vantagens competitivas, porém, no mundo real cada país produz uma variedade
diversificada de produtos para exportar, bem como para suprir sua própria demanda.
(2) O modelo se separa dos efeitos do comércio internacional sobre a distribuição de
renda em cada país, na qual prevê que os países sempre ganham com o comércio.
Na realidade, as barreiras de entrada às importações, tais como as tarifas e os
subsídios dos governos às exportações, fazem com que existam maiores vantagens
para os países que aplicam este tipo de medida protecionista, o que comprovaria
3
Fundada em 1865, a EFE* é uma empresa de informações multimídia formada por uma rede
mundial de jornalistas, sendo a primeira agência de notícias em espanhol e a quarta do mundo, com
mais de sessenta anos de história. Para maiores informações, recomenda-se acessar: www.efe.com.
4
“[...] explicar la dominación progressiva del comercio internacional por países com condiciones
semejantes y que a su vez transaban los mismos produtos” (ALDANA; SÁNCHEZ. 2008 p. 74, apud
EFE Estocolmo, 2008).
29
que o comércio nem sempre é benéfico para ambas às partes. (3) No entanto, o
modelo não identifica as diferenças de recursos entre os países como razão para o
comércio a ser realizado, ou seja, não leva em conta outros fatores produtivos, tais
como a tecnologia, terra (solo), qualificação dos funcionários, localização geográfica,
etc. (4) Por último, o Modelo Ricardiano ignora a inclusão das economias de escala
como causa do comércio, tornando-o incapaz de/ ineficaz para explicar os grandes
fluxos comerciais entre nações aparentemente similares (KRUGMAN; OBTFELD,
2001).
A partir da premissa supracitada, Krugman montou sua teoria baseado no
conceito apresentado pelas “economias de escala”, na qual os elevados volumes de
produção acarretariam na redução de custos, que por sua vez facilitam a oferta de
produtos e beneficiariam os consumidores. A integração das abordagens citadas
convergiu-se em um conjunto formado por especialização, produção em larga
escala, baixos custos e oferta diversificada, denominado como teoria da “nova
geografia” econômica, criada em 1979 e desenvolvida posteriormente 5 (ALDANA;
SÁNCHEZ, 2008, p.7, tradução nossa).
Outros modelos tentaram complementar o modelo de Ricardo, como foi o
caso do modelo dos fatores específicos, desenvolvido por Paul Samuelson e Ronald
Jones (SAMUELSON; JONES, 1971), que permite a existência de outros fatores de
produção específicos para determinadas indústrias, na qual o trabalho é o único
recurso que poderia percorrer livremente entre os setores; tornando o modelo ideal
para compreender a distribuição de renda. Outro modelo seria o de Heckscher-Ohlin,
que se baseia na ideia de que a vantagem comparativa é influenciada pela interação
entre os recursos das nações (abundância relativa dos fatores de produção), tendo a
tecnologia de produção como fator que afeta diretamente na intensidade relativa
com que outros fatores de produção são utilizados para produzir diferentes bens e
serviços; em suma, os fatores podem deslocar-se entre os setores (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2001).
5
Por su parte Krugman montó su teoría partiendo del concepto de las “economías de escala”
mediante el cual a mayores volúmenes de producción, menores costos, que a su vez facilitan la oferta
de productos, beneficiando a los consumidores. La integración de los citados planteamientos
concluyó en la formulación de la especialización y la producción a gran escala con bajos costos y
oferta diversificada, denominándose la teoría de la “nueva geografía” económica, gestada desde 1979
por el mismo nobel y desarrollada posteriormente (ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p.7).
30
Entretanto, conforme apontado pelo Boletim Econômico de ICE 6 (2003), tais
modelos se aplicam a mercados de “competência perfeita”, onde são analisadas
somente as vantagens comparativas de cada nação e, consequentemente,
assumindo instantaneamente que cada país produzirá aqueles bens e serviços em
que possui vantagem comparativa, e ainda, mediante a troca entre diversos países,
os mesmos contemplariam a oportunidade oferecida pela diferença de seus
recursos, capacidade e força de trabalho e características advindas do fator capital.
Tal complementariedade na produção leva ao conceito de comércio interindustrial,
na qual produtos e serviços de diferentes indústrias intercambiam-se, promovendo,
assim, a especialização de cada país na área em que possui vantagem comparativa,
a indústria de alimentos serve de bom exemplo (Información Comercial Española ICE n. 2765, 2003, tradução nossa).
Krugman (2005) identificou tais deficiências e incorporou à sua teoria o
conceito de “economias de escala” ou “rendimentos de escala crescentes”. Segundo
o autor, aonde existem rendimentos crescentes, ao duplicar os insumos ou recursos
de uma indústria, a produção deverá aumentar mais do que o dobro, o que,
consequentemente, diminuirá os custos de cada unidade produzida. A diferença
entre a teoria tradicional do comércio, explicada anteriormente, na qual se supõe
que os mercados são perfeitamente competitivos, quando existem economias de
escala, as grandes empresas ganham vantagem sobre as pequenas, o que traz
como consequência a tendência dos mercados de encontrarem-se dominados por
monopólios ou oligopólios, que influenciam diretamente sobre os preços dos
produtos, convergindo a competitividade dos mercados à imperfeição. Krugman
explica sua teoria baseado em mercados de competências imperfeitas, ou seja,
mercados monopolistas, na qual cada empresa consegue diferenciar seu produto
dos produtos de seus rivais, além de supor que cada empresa utiliza o valor do
produto rival como dado, ignorando o efeito de seu próprio preço sobre os preços
cobrados por outras empresas.
Além dos pontos supracitados, o autor ainda percebeu que na realidade, o
comércio internacional não era apenas “interindustrial” (conforme contempla a teoria
tradicional), mas sim “intraindustrial”, uma vez que os países também realizam
6
Información Comercial Española - ICE: Revista de informação econômica disponibilizado pelo
Ministério da Economia e Competitividade e Secretaria de Estado de Comércio do Governo da
Espanha.
31
trocas de bens e serviços para a mesma indústria. A partir de tal evidência, Krugman
utilizou como base para sua teoria a hipótese de que os consumidores apreciam a
diversidade em seu consumo. Krugman também percebeu que o comércio
intraindustrial se mostra benéfico para o país, tratando-se de oferta e/ ou produtores,
onde explica que ao permitir que cada país tome vantagem das economias de
escala, os consumidores em um contexto global se beneficiariam pelos preços
baixos e pela diversidade de produtos (FUJITA; KRUGMAN, 2005).
A teoria do “novo comércio” levou Krugman a realizar novas propostas sobre
a geografia econômica, desta vez concentrando-se no lado da oferta para explicar
as fontes de crescimento econômico em um contexto regional e analisar os
resultados obtidos da integração regional a partir da estrutura das atividades
econômicas. A teoria da nova geografia econômica parte fundamentalmente do
conceito “centro-periferia”, na qual se supõe que os trabalhadores podem mobilizarse de uma região a outra, dependendo do local em que venham a obter maior bem
estar, em termos salariais e de diversidade de bens ofertados; ao mesmo tempo a
teoria também traz a ideia de que os bens agrícolas se transportam sem custo entre
as regiões, enquanto que transportar os bens manufaturados de um local para o
outro implicaria em um custo elevado (FUJITA; KRUGMAN, 2005).
Krugman resume sua contribuição para a nova geografia econômica com as
seguintes ideias:
Primeiramente, [...] os produtores querem localizar-se perto de seus
fornecedores e de seus clientes, o que explica porque ao final estarão perto
um dos outros. Em segundo, a imobilidade de alguns recursos – a terra,
certamente, e em alguns casos a força laboral – atua como uma força
centrífuga que se opõe à força centrípeta de aglomeração. A tensão entre
estas duas forças molda a evolução da estrutura espacial da economia
(FUJITA; KRUGMAN, 1999 apud ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p. 83 –
7
tradução nossa) .
Krugman tratou de materializar suas teorias em três artigos. O primeiro
faz uma análise aprofundada sobre as dificuldades, obstáculos e o futuro da
7
“La primera, es que en un mundo en donde tanto los rendimientos crecientes como los costos de
transporte son importantes, los encadenamientos hacia atrás y hacia delante pueden generar uma
lógica circular de aglomeración. Es decir, ceteris paribus, los productores quieren situarse cerca de
sus proveedores y de sus clientes, lo cual explica que van a terminar estando cerca los unos de los
otros. La segunda, consiste en que la inmovilidad de algunos recursos – la tierra, ciertamente, y en
algunos casos la fuerza laboral – actúa como una fuerza centrífuga que se opone a la fuerza
centrípeta de la aglomeración. La tensión entre éstas dos fuerzas moldea la evolución de la estructura
espacial de la economía” (FUJITA; KRUGMAN, 1999 apud ALDANA; SÁNCHEZ, 2008, p. 83)
32
“geografia econômica” (1979); Integrando a primeira publicação, o artigo de 1980
aborda a teoria do “Home Market”, ou seja, do mercado local, que consiste na ideia
de localização da empresa será decidida de acordo com a relação entre a utilização
das economias de escala e transporte. A problemática dos custos de transporte
abordados no segundo artigo serviu de premissa para a publicação da terceira teoria
formulada por Krugman, que integrou os conceitos de economias de escala, custo
de transporte e demanda, em um único modelo, o “centro-periferia” (KRUGMAN,
1991 apud. ALDANA; SÁNCHEZ, 2008).
Em suma, Krugman retorna às teorias do comércio internacional,
apontando e concretizando, em cada uma delas, os elementos que faltam para
explicar o comportamento existente no comércio entre as nações, para finalmente
propor a teoria da geografia econômica e do novo comércio, que corrigem aspectos
equivocados acerca das teorias desenvolvidas anteriormente por Smith, Ricardo,
entre outros. Krugman ainda sugere uma correção no ponto de vista humano,
idealizando explicar o real comportamento do comércio internacional inserido no
contexto globalizado.
Segundo Pañeada (2008), foi através das contribuições teóricas
realizadas, em conjunto com o método simplista de pensamento e lógica da ação
humana, que garantiram à Krugman a conquista do prêmio Nobel no ano de 2004.
33
3. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO E SEU ARCABOUÇO TEÓRICO
Ainda que os motivos que levam às empresas a expandirem seus
negócios ao mercado estrangeiro pareçam simples e até mesmo óbvio – procura por
novos mercados; procura por localizações com baixos custos de matérias primas,
mão de obra e/ou com infraestrutura adequada; evitar barreiras comerciais; usufruir
de incentivos governamentais – os processos, oportunidades, exigências e
obrigações envolvidas neste processo são de tamanha complexidade que muitas
vezes são subestimadas pelo corpo administrativo da empresa que vislumbra a
internacionalização de seu negócio.
A internacionalização traz riscos e benefícios para as empresas. As
primeiras a se beneficiarem do processo apresentam ganhos de escala e
escopo, eficiência e aprendizagem. O principal desafio é superar as
desvantagens de ser estrangeiro, sobretudo a dificuldade de transferir
competências às operações no exterior. Para obter sucesso, precisam ter
clareza de sua ambição estratégica e capacitar seus colaboradores, tendo
humildade e sabedoria com seus próprios erros e com experiências uma
das outras (ALMEIDA, 2007, p. 05 apud CHARGAS; SIQUEIRA, 2010, p.
14).
Com isso, tornou-se necessário o desenvolvimento de teorias que fossem
tão complexas quanto o próprio processo de internacionalização em uma tentativa
de não apenas possibilitar, como também de facilitar o planejamento estratégico por
parte de ambos os setores, público e privado, sendo o primeiro representado por
políticas públicas e o segundo pelas próprias empresas.
Tendo em vista que o trabalho ora elaborado tem o fenômeno born global
como tema principal, buscar-se-á por uma breve exposição das teorias tradicionais,
a fim de evidenciar a diferença entre o processo de internacionalização gradual
abordado por um conjunto de teorias tradicionais, em comparação às novas teorias
que surgem com o intuito de desmistificar o processo de internacionalização,
propondo uma internacionalização acelerada.
34
3.1. TEORIAS TRADICIONAIS DE INTERNACIONALIZAÇÃO
Conforme
elucidado
por
Dib
(2008),
as
teorias
tradicionais
de
internacionalização tiverem seu desenvolvimento realizado por diversos autores sob
variadas perspectivas. Porém, em seu conjunto, foi possível agrupar a literatura
existente de acordo com duas grandes correntes teóricas, sendo a primeira de
cunho econômico e a segunda de base na evolução comportamental das empresas.
Quadro 1 - Principais teorias tradicionais de internacionalização
Teoria do Poder de Mercado (HYMER, 1960; 1976);
Teoria do Ciclo de Vida do Produto
(VERNON, 1966; 1974);
Teoria da Internalização (CASSON; BUCKLEY, 1976);
Paradigma Eclético (DUNNING, 1977; 1988).
ABORDAGENS
ECONÔMICAS
Modelo Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1977);
ABORDAGENS
Networks (JOHANSON; VAHLNE, 1990);
COMPORTAMENTAIS
Demais vertentes seguidas pela Escola Nórdica de
Internacionalização da Firma.
8
Fonte: Elaborado pelo autor (2013).
Carlson (1975 apud HEMAIS; HILAL, 2003) compara o processo de
internacionalização com o caminhar cauteloso diante de um terreno desconhecido.
(...) o padrão gradual de internacionalização decorre das maiores
incertezas, dos custos de informação mais elevados e da falta de
conhecimento
empírico
em
atividades
de
marketing
no
exterior,
especialmente para empresas médias e pequenas (CAVUSGIL, 1980 apud
HEMAIS; HILAL, 2003, p. 374).
Seguindo esta linha de raciocínio, entende-se a abordagem para o processo
de internacionalização adotado pelas teorias tradicionais. Portanto, analisam-se a
seguir três das principais teorias clássicas apresentadas pelo conjunto literário das
áreas de administração, negócios internacionais e de análise econômica como forma
8
Quadro elaborado com base nas informações disponibilizadas no trabalho elaborado por Dib (2008,
p. 40).
35
de identificar as principais restrições e dificuldades para a internacionalização das
firmas dentro do contexto atual.
3.1.1. O Modelo Uppsala
Consolidado pelos teóricos Johanson e Vahlne em 1977, o Modelo
Uppsala mostrou-se como fator decisivo para a solidificação da abordagem
comportamental no estudo da internacionalização das empresas.
Em suma, o modelo visava ser um mecanismo explicativo básico sobre as
etapas do processo de internacionalização. E ainda, a ênfase do trabalho voltava-se,
principalmente, para dois p006Fntos presentes nas empresas individuais: 1) a
gradual aquisição, integração e uso do conhecimento sobre mercados e operações
externas; 2) o comprometimento sucessivamente crescente com os mercados
estrangeiros.
Segundo Silva (2011), o modelo postula que a falta de conhecimento
sobre mercados externos é um relevante empecilho para o desenvolvimento de
negócios internacionais, e que tal conhecimento é adquirido principalmente (e
justamente) por meio de empreendimento destes mesmos negócios internacionais.
E ainda, baseado no modelo de Uppsala, o autor indica que o processo
de internacionalização da empresa iniciaria a partir do momento em que o mercado
doméstico começa a apresentar os sinais de saturação. Segundo o modelo, esta é a
deixa para que a empresa expanda seus horizontes em busca de novas alternativas.
A partir do momento em que a empresa encontra-se inserida em um
mercado estrangeiro, o sentimento de incerteza torna-se inevitável. Como forma de
resposta à insegurança consequente do desconhecido, torna-se certo a busca da
empresa por situações de mercado o mais próxima possível às que lhe
apresentassem alguma familiaridade.
Pensando nisso, Johanson e Vahlne (1977 apud SILVA, 2011, p. 6)
propuseram dois significativos adendos ao modelo. A primeira preposição explica
que a ordem de seleção de países para a internacionalização seria inversamente
proporcional à “distância psíquica” 9 entre os países alvo e o país de origem. Já no
segundo ponto, os autores atribuem o desenvolvimento da empresa a uma
9
Distância Psíquica é o “somatório de fatores que atrapalhariam o fluxo de informações entre os
geradores de oferta e de demanda, tais como o idioma, a cultura, o sistema político e o nível
educacional de cada mercado” (SILVA, 2011, p. 6).
36
sequência de estágios, estes de ordem incremental em relação ao comprometimento
de recursos.
Seguindo
a
premissa
dos
autores,
a
empresa
que
desejasse
internacionalizar seus negócios deveria, inicialmente, explorar as oportunidades
oferecidas pelo mercado doméstico, para posteriormente dar início – lentamente –
às atividades de exportação (direta ou indireta - via agentes intermediários). Algum
tempo após haver inserido e expandido suas atividades exportadoras, a empresa
deverá estabelecer subsidiárias de vendas em um país estrangeiro (cuja escolha
normalmente encontra-se baseada na similaridade com o mercado nacional), etapa
responsável por agregar conhecimentos e aprendizados relacionados ao mercado
exterior. Como consequência, a empresa ganha segurança para aumentar o seu
comprometimento, que será provado a partir do estabelecimento de unidades de
produção no exterior. Então, acaba-se por deduzir que o modelo em questão
considera o processo de internacionalização de uma firma de forma gradual.
Sendo assim, o processo de internacionalização – descrito acima – pode
ser visto a partir de “ciclos casuais”, conforme ilustrado pela figura abaixo.
Figura 1 - Mecanismo de Internacionalização segundo o Modelo Uppsala
Fonte: Johanson e Vahlne (1977; 1990 apud DIB, 2008, p. 71).
37
Figura 2 - Market Commitment vs. Market Knowledge
10
Fonte: Adaptado de Johanson e Vahlne (1977) .
Poucos autores contestaram a afirmação do Modelo de Uppsala de que a
internacionalização de uma empresa deveria ser associada a um processo.
Porém, uma outra afirmação do modelo, a de que o padrão de
internacionalização deveria ser o de comprometimento incremental, foi
muito questionada pela literatura (SILVA, 2011, p. 6).
De acordo com Silva (2011), o surgimento de críticas deu início a uma
série de desafios que deveriam ser enfrentadas pelo modelo. Dentre eles, a
necessidade de considerar o conceito da distância psíquica a nível individual e não
somente a nível nacional; a descontinuidade e aleatoriedade presente nos
processos de internacionalização existentes; reconhecer a importância do papel
desempenhado pelas networks e empreendedores; entre outros.
As críticas recebidas pelo Modelo Uppsala foram resumidas por Johanson
e Vahlne (1990, apud SILVA, 2011, p. 6) em seis grupos principais, conforme
descrito no quadro 2.
10
Vide site: http://www.provenmodels.com.
38
Quadro 2 - Conjunto de críticas ao modelo de Uppsala
1
2
3
4
5
6
O modelo é considerado muito determinista;
A relevância do modelo é restrita aos estágios iniciais da
internacionalização. Além de desconsiderar fatores limitadores, tais
como a falta de conhecimento de mercado e de recursos;
A generalização do processo de internacionalização de indústrias e de
mercados fez com que o fato “conhecimento de mercado” não fosse
mais visto como fator limitador ao processo;
A homogeneidade mundial impulsionaria o desejo pela entrada em
mercados maiores, levando à capacidade de inserção direta no mercado
estrangeiro;
O modelo desconsidera a interdependência entre os mercados de
diferentes países;
O modelo mostrou-se incompatível às empresas de serviços.
11
Fonte: Elaborado pela autora (2013) .
Em acréscimo, Hemais e Hilal (2003) apontam outros dois fatores a serem
revisados pela escola de Uppsala: o modelo não reconhece que há a possibilidade
da empresa escolher por não evoluir, mantendo-se em um determinado estágio, ou
de que a empresa opte por estratégias diferentes aos modos de entrada e expansão
internacional.
3.1.2. Perspectiva de Networks
O surgimento de abordagens direcionadas às redes de relacionamentos,
ou networks, é considerado por alguns autores como uma evolução natural do
modelo de Uppsala, uma vez que ambas utilizam-se da mesma base conceitual.
Partindo da premissa comportamental, Johanson e Vahlne (1990) buscaram traçar
um paralelo entre o processo de internacionalização das empresas e a existência de
redes de negócios e contratos presentes em diversos segmentos de mercados –
muitas vezes obtidos através de cadeias de suprimentos ou visando criação de
valor.
Dib (2008) aponta que, desta vez, os autores depositaram seu foco nas
relações entre empresas inseridas em uma rede de negócios, na qual o
envolvimento se dá, por exemplo, através da dependência de recursos externos,
11
Quadro elaborado com base nas informações disponibilizadas no trabalho elaborado por Silva
(2011, p. 6).
39
pelo tempo e esforços gastos na formação de parcerias, bem como para o
desenvolvimento de relações de conhecimento e mútua confiança.
Nesse sentido, Johanson e Mattsson (1988 apud HEMAIS; HILAL, 2003)
afirmam que os fatores e as forças competitivas presentes em indústrias altamente
internacionalizadas são responsáveis por criar um padrão diversificado de
oportunidades de entrada, o que não apenas possibilita como também incentiva
empresas a escolherem mercados e estratégias de entrada (ao contrário do previsto
pelo modelo de Uppsala). Porém, tais ações se tornarão viáveis somente mediante o
estabelecimento de redes de relacionamento junto aos mercados visados pela firma.
Conforme frisado por Gabrielsson e Kirpalani (2004 apud SILVA, 2011, p. 7), “atuar
em conjunto com os demais integrantes de uma rede é um modo efetivo de superar
a escassez de recursos e, paralelamente, promover o aprendizado entre os
participantes”. Dessa maneira, tanto relacionamentos – estritamente – profissionais
quanto pessoais, tornam-se aliados preponderantes para a entrada em novas
networks.
Em suma, os autores acreditam que o processo de internacionalização
depende da posição estabelecida e desenvolvida pela empresa diante as diversas
redes estrangeiras – estas representadas pelos próprios mercados. Nesse contexto,
a internacionalização torna-se dependente tanto da própria empresa quanto do
mercado (rede) que a mesma se insere. Com isso, a internacionalização passa a ser
percebida como uma forma de explorar potenciais relacionamentos além das
fronteiras nacionais.
40
Figura 3 - Mecanismo de internacionalização com base nas Networks
Fonte: Johanson e Mattsson (1988, p. 298 apud DIB, 2008, p. 62).
Por fim, Silva (2011) acredita importante salientar que a teoria de
networks
foi
desenvolvida
com
base
nas
sociedades
de
relações
predominantemente pessoais, tais como Estados Unidos e União Europeia, na qual
é considerada a possibilidade de que as empresas e suas relações encontrem-se
regidas também a normas impessoais. Sendo assim, em países cuja cultura difere
da descrita acima (tais como os orientais), imagina-se que a criação e
desenvolvimento das redes de relacionamento seriam fortemente influenciadas por
grupos familiares.
Obras posteriores (NORDSTROM; VAHLNE, 1985; NORDSTROM, 1991
apud HEMAIS; HILAL, 2003) incluíram ao modelo a importância presente no
tamanho do mercado e demais determinantes econômicos para o processo de
internacionalização. Sendo assim, os modelos da vertente comportamental não
conseguiriam responder a algumas dúvidas e questões remanescentes, tais como o
porquê o processo acontece (ou deixa de acontecer), ou ainda, como identificar com
antecedência a passagem de um estágio da internacionalização para o outro
(ANDERSEN, 1993 apud HEMAIS; HILAL, 2003).
Conclui-se, então, que “os modelos comportamentalistas não explicam
suficientemente por que as firmas podem não evoluir da maneira prevista e quais
41
seriam as restrições e as dificuldades para avançar na trajetória esperada de
internacionalização” (HEMAIS; HILAL, 2003, p. 374).
Em resposta às críticas recebidas e adendos propostos ao modelo,
teóricos comportamentalistas tentaram se justificar alegando não existir um tempo
padrão entre o início das atividades exportadoras e a aplicação de investimento no
exterior. Porém, conforme colocado por Hemais e Hilal (2003), sabe-se que a falta
de investimento e/ou comprometimento de recursos por parte de muitas empresas
são reflexos de um sentimento de incerteza em relação ao mercado ainda presente,
ou até mesmo pela falta de redução na distância psicológica e cultural 12.
Entretanto, as decisões referentes ao investimento no exterior podem ser
relacionadas às características dos ativos e do produto oferecido pela empresa.
Portanto, as teorias cujo tais fatores encontram-se presentes, em conjunto com o
tema referente aos custos de transação e imperfeições de mercado, podem ajudar a
entender os motivos que impedem a evolução da internacionalização da empresa,
assim como os motivos que levam às empresas a investir no exterior.
3.1.3. Dunning e o Paradigma Eclético
O paradigma eclético desenvolvido por Dunning 13 (1997; 1998 apud
MOREIRA, 2007) procura explicar os fatores que impulsionam a empresa a optar por
produzir ou não em um mercado estrangeiro. De maneira simplória, o Paradigma
pode ser definido, basicamente, como uma síntese das demais teorias que abordam
a produção internacional. Os autores dessa abordagem reconhecem que a
existência de determinadas falhas de mercado (tais como custos de informação e
transação, oportunismo por parte dos agentes, especificidades imposto por ativos,
etc.) serviriam de “incentivo” à utilização do Investimento Direto 14 por parte das
empresas (antes inclinadas ao licenciamento ou exportação como meios à inserção
12
As restrições para o investimento nos mercados externos não são muito discutidas na literatura.
Entretanto, há uma discussão a respeito das dificuldades de internacionalização por parte das
empresas, geradas em parte pelos aspectos financeiros, mas, principalmente, por questões culturais,
ambientais e de distância psicológica (IGLESIAS; VEIGA, 2003, p. 375).
13
A teoria eclética da internacionalização da firma foi desenvolvida por Dunning (1980; 1988), porém,
foi embasada em outros autores, dentre os quais se destacam: Buckley e Casson (1976) e Rugman
(1981).
14
Para maiores informações, recomenda-se a leitura do trabalho realizado por Iglesias e Veiga,
especialmente do capítulo 9 (vide referências).
42
num mercado externo – sob a condição de possuir vantagens diferenciais 15 em
relação às demais firmas, as quais seriam protegidas pela própria estrutura da
firma).
Sendo assim, foram levados em consideração dois tipos de investimento.
O primeiro se relaciona a atividades econômicas essencialmente limitadas às
fronteiras nacionais (cuja relação de bens e serviços encontra-se diretamente
voltados a mercados estrangeiros). A segunda consideração também está
relacionada a atividades econômicas, desta vez realizada por agentes nacionais,
que utilizam recursos alocados em diversos países para a produção de bens e
serviços destinados ao abastecimento do mercado estrangeiro.
A abordagem de Dunning corresponde a uma tentativa em analisar os
“porquês” e motivos que impulsionaram as decisões da empresa em termos de
vantagens relacionadas à propriedade, localização e internalização. Moreira (2007)
esclarece que “vantagens de propriedade16” são aquelas consideradas como únicas
por uma empresa em particular, o que permite que a mesma tire proveito de
oportunidades de investimento afora.
Segundo Iglesias17 e Veiga18 (2003), a exploração dessas vantagens por
parte da empresa poderá ser feita de diversas maneiras, dentre elas encontra-se a
15
De acordo com Iglesias e Veiga (2003), uma empresa pode contar com três tipos de vantagens
diferenciais: 1) as de localização – podendo ser oferecidas por um determinado país ou região; 2) as
de propriedade ou capacidades próprias desenvolvidas pela organização – que permitem à empresa
posicionar-se relativamente melhor no mercado estrangeiro (quando comparado aos produtos locais
e/ou demais produtos estrangeiros); e por fim, 3) as de internalização, na qual indicam que quando os
custos de incorporação e organização produtiva se mostram menores aos custos de transação
(relativos a variáveis do ambiente [incerteza e complexidade] e de comportamento humano
[racionalidade e oportunismo]) associados à transferência de tais capacidades a um produtor local, a
firma investirá na produção no mercado em questão.
16
As vantagens de propriedade de uma firma podem ser de natureza estrutural, derivada da posse de
ativos intangíveis (patentes, marcas, habilidades para a diferenciação de produtos, capacidades
tecnológicas e de management [gestão]) e/ou de natureza transnacional, derivada da capacidade
hierárquica, decorrente do common governance [governança comum] de diversas atividades, levando
à própria característica da empresa multinacional (IGLESIAS; VEIGA, 2003, p. 376).
17
Roberto Magno Iglesias é doutor em Economia pela Universidade de Oxford. Atuou como
Secretário-Adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda; coordenador da Confederação
Nacional da Indústria (CNI); economista da Fundação de Estudos de Comércio Exterior (FUNCEX);
consultor da Comissão Econômica para América Latina (CEPAL); da Organização Mundial da Saúde
(OMS) e do Banco Mundial. Atualmente arrume o cargo de diretor no Centro de Estudos de
Integração e Desenvolvimento (CINDES) e de docente pela PUC-RJ. Tem publicações na área de
macroeconomia, comércio internacional, política comercial e investimento brasileiro no exterior.
Também publicou trabalhos em economia do controle do tabagismo e impostos de cigarros.
18
Pedro da Motta Veiga é diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES) e
sócio-diretor da Ecostrat Consultores. Também atua como consultor regional da Agência Suíça de
Cooperação para o Desenvolvimento; consultor permanente da Confederação Nacional da Indústria –
sendo o coordenador no Brasil, e membro do Steering Committee da Latin American Trade Network
(LATN).
43
exportação de bens e serviços – provenientes da produção no país de origem; a
concessão de licenças de produção desses bens às firmas sediadas no exterior; e
ainda, a empresa poderá optar por internalizar 19 as vantagens de propriedade
através da instalação de plantas próprias em outros mercados.
Moreira (2007) ainda afirma que as vantagens ligadas à localização20 são
específicas para um país, sendo especialmente atrativas a investidores estrangeiros;
e ainda, as vantagens advindas pelo processo de internalização derivam de
mercados internos, o que permite às empresas ultrapassar mercados externos e
evitar custos adicionais.
É válido lembrar que a escolha da empresa pelo modo de entrada no
mercado externo dependerá de uma minuciosa análise de custo-benefício entre as
opções apresentadas acima, estas, passíveis de serem afetadas pelas formas de
concorrência no setor, grau de insuficiência de informações disponíveis pelo país de
destino, nível de proteção e aplicação dos direitos de propriedade, características do
país emissor e receptor do investimento, variedade e tipo de produtos cuja produção
no mercado externo é pretendida pela empresa, dentre outros.
Dado um determinado contexto legal e econômico, a decisão de produzir no
exterior, ao invés de licenciar ou exportar, está fortemente influenciada pela
natureza dos ativos intangíveis, alguns dos quais, especialmente os que
resultam das práticas tecnológicas, de management, ou de comercialização
da firma, são o conhecimento implícito, que a firma pode usar, mas não
vender nem licenciar (IGLESIAS; VEIGA, 2003, p. 377).
A fim de organizar as inúmeras possibilidades apresentadas pelas
combinações entre os fatores das vantagens de propriedade, internalização e
localização, apresenta-se abaixo um quadro como forma de observar a classificação
de investimento estrangeiro realizada por Dunning (1998 apud IGLESIAS; VEIGA,
2003).
19
Dentre os motivos que despertam o interesse da firma por internalizar um mercado de insumos ou
de produtos (produzir ao invés de comprar e/ou vender), ressaltam-se: (1) o risco e a incerteza, (2) a
obtenção de economias de escala, e (3) reduzir custos de transação e coordenação. Dunning (1988
apud IGLESIAS; VEIGA, 2003) ainda menciona a necessidade de proteger a qualidade do produto
final, evitar ou usufruir das políticas governamentais (comercial, tributária e de preço) e o controle das
cadeias de distribuição no mercado estrangeiro.
20
Algumas das vantagens de localização são: (1) abundância de recursos naturais e humanos, (2)
know-how tecnológico, (3) infraestrutura, (4) instituições, (5) tamanho do mercado, (6) estabilidade
política e econômica, (7) regime cambial, e (8) esquema de política econômica.
44
No quadro 3, podem ser observadas as vantagens de propriedade,
localização e internalização condizentes com cada tipo de investimento, bem como o
tipo de produto e o setor tido como característico à tais vantagens, de acordo com a
frequência com que foram encontradas em cada um dos casos, para dar origem a
cada um dos tipos de investimento direto.
Quadro 3 - Classificação dos Investimentos Diretos
(continua)
Tipos de
Investimento
Vantagens de
Propriedade
Vantagens de
Localização
Vantagens de
Internalização
Tipo de
Produto/
Setor
Resourse
Based
- Capital
- Tecnologia
- Acesso a
mercados
- Ativos
complementários
- Possessão de
recursos naturais
- Infraestrutura
adequada
- Mão-de-obra
não qualificada e
abundante
- Oferta estável
- Preços certos
- Controle dos
mercados
- Domínio da
tecnologia
- Petróleo
- Cobre
- Bauxita
- Bananas
- Cacau
- Hotéis
- Produção p/
exportar bens de
mão-de-obra não
qualificada
Market
Based
- Capital
- Tecnologia
- Informação
- Habilidades
organizacionais e
administrativas
- Excesso de P&D
- Economias de
escala
- Marca
- Boa vontade
- Custos materiais
e trabalhistas
- Características
do mercado
- Políticas
governamentais
- Custos de
transporte
- Redução nos
custos de
transação/
informação e
incertezas do
comprador
- Proteção dos
direitos de
propriedade e
qualidade
- Informática
- Produtos
farmacêuticos
- Veículos
- Automotores
- Cigarros
- Seguros
- Publicidade
Idem Market
Based MAIS:
a) Economias de
especialização do
produto e
concentração
- Economias de
escopo
- Diversificação
geográfica
b) Baixos custos
trabalhistas e
incentivos à
produção local
Rationalized
Specialization - Acesso a
/ Efficiency
mercados
a) Produtos
b) Processos
a) Idem Market
Based + ganho de
economias
através da política
de governança
comum
b) Economias de
integração vertical
a) Veículos
automotores,
aparelhos
elétricos, serviços
de negócios e
P&D;
b) Eletrônica de
consumo, têxteis
e vestuário,
indústria
fotográfica e
farmacêutica.
45
(conclusão)
Tipos de
Investimento
Trade and
Distribution
Import/ Export
Vantagens de
Propriedade
Vantagens de
Localização
Vantagens de
Internalização
- Acesso a
mercados
- Produtos para
distribuição
- Fonte de
insumos
- Mercado local
- Necessidade de
estar perto dos
consumidores
- Serviços pósvenda
- Necessidade de
proteger a
qualidade dos
insumos
- Garantir vendas
- Evitar
deturpação do
agente
Tipo de
Produto/
Setor
Grande variedade
de produtos,
particularmente
os que requerem
contato com
responsáveis dos
subcontratos ou
consumidores
finais.
Fonte: Adaptado de Dunning (1988 apud IGLESIAS; VEIGA, 2003).
Ainda que o Paradigma Eclético tenha acrescentado aspectos novos e
importantes às considerações até então existentes acerca do processo de
internalização das empresas (tais como a teoria da firma, do poder de mercado e a
incorporação de uma maior variedade de fatores influentes ao mesmo), Cantwell
(1991 apud DIB, 2008) afirma que não seria certo considerar o arcabouço proposto
como sinônimo da abordagem de internalização.
Mitgwe (2006 apud DIB, 2008) acredita que a principal contribuição
proveniente do Paradigma tenha sido o aumento da consciência empresarial em
relação a construir e manter vantagens competitivas como fatores essenciais para o
sucesso da firma em mercados internacionais.
Por outro lado, Whitelock (2002, apud DIB, 2008, p. 59) nos lembra de
que “o escopo descritivo e explanatório” das teorias econômicas cometem um
grande erro ao ignorar os aspectos de aprendizado, da mesma forma que
“subestima” a importância do papel decisivo cabido ao empreendedor, além de
colocar as decisões da firma como autônomas, negligenciando por completo as
relações entre os participantes do mercado – ainda que Hymer (1960; 1976) e
Dunning (1995) tenham considerado a possibilidade de formação de alianças21.
De acordo com Raisanen (2003 apud DIB, 2008, p. 60), as principais
limitações apresentadas pelas teorias econômicas se sintetizam em dois pontos: (1)
a lógica utilizada por uma empresa para a tomada de decisões se limitava a visão
otimista dos mesmos em relação às transações; e a (2) suposição de que as
21
Comentário baseado na colocação feita por Dib (2008, p. 60).
46
empresas utilizariam de decisões racionais em meio a alternativas “discretas” em
momentos específicos.
De acordo com Dib (2008), apesar das falhas apresentadas pelas
abordagens econômicas, estas ainda são comumente utilizadas para o estudo de
firmas de grande porte22, bem como na análise de alocação interna de recursos em
empresas multinacionais.
Conforme
visto
ao
longo
do
subcapítulo
3.1,
as
teorias
de
internacionalização são, tradicionalmente, classificadas de acordo com os critérios
estabelecidos pelas abordagens econômica e comportamental.
Com base em Machado (2009 apud COSTA; PORTO, 2010), também
foram destacadas as principais linhas teóricas de ambas as correntes. No caso da
abordagem econômica, cita-se o Paradigma Eclético; enquanto que o modelo da
evolução comportamental destaca o modelo de Uppsala, a perspectiva de redes e o
empreendedorismo internacional.
Em um esforço conjunto, Dib e Carneiro (2006 apud COSTA; PORTO,
2010) sintetizaram as correntes teóricas atendo-se a um conjunto de questões
básicas que envolvem o processo de internacionalização, explanadas de acordo
com o quadro 4 apresentado a seguir.
22
Dib (2008, p. 60) cita: ACS, DANA e JONES (2003).
47
Quadro 4 - Questões básicas do Processo de Internacionalização
(continua)
Por quê?
O que?
Paradigma
Eclético
Explorar ou
desenvolver
vantagens de
propriedade:
busca de
mercados,
redução de
custos,
procura de
ativos e
capacitações
estratégicas;
Sem
restrições em
termos de
produtos,
serviços,
tecnologias
ou atividades
(implícito);
Modelo
Uppsala
Rede de Networks
Empreendedorismo
Internacional
Busca de
mercados;
Seguir
movimentos de
outros
participantes da
rede ou
desenvolver
relacionamentos
em novas redes
internacionais;
Procura de novos
mercados;
atendimento a
solicitações
espontâneas;
reestruturação da
indústria;
Sem restrições
em termos de
produtos,
serviços,
tecnologias ou
atividades
(implícito);
Sem restrições
desde que seja do
interesse de
outros
participantes da
rede (implícito);
Abordagem não é
explícita, mas não
traz restrições.
Dependeria do
perfil do
empreendedor;
Quando a rede de
negócios assim
compelir, ou seja,
quando houver
necessidade de
criar ou
desenvolver
relacionamentos;
Quando o
responsável pela
decisão final da
firma julgar
adequado;
De acordo com as
redes
internacionais
estabelecidas ou
almejadas;
Países que
originam pedidos;
onde houver
demanda
potencial e/ou
oportunidades de
reestruturação;
Momento inicial:
saturação do
mercado
doméstico;
Segue a linha Expansão:
Quando? da
conforme o
internalização conhecimento for
gradualmente
obtido através da
experiência
internacional;
Para países com
distância
Onde houver
psíquica em
vantagens de
relação ao
localização
mercado
(tais como:
Onde?
doméstico menor
incentivos,
no primeiro
alta
momento e,
demanda,
depois,
entre outros);
gradualmente
crescente;
48
(conclusão)
Paradigma
Eclético
Modelo
Uppsala
Em estágios de
comprometimento
Exportação,
gradual de
investimento
recursos (iniciadireto ou
se com
licenciamento, exportação,
dada a melhor depois é
Como? combinação
estabelecido um
das
escritório de
vantagens de vendas até
propriedade,
estabelecer uma
localização ou sede de
internalização. produção em
território
estrangeiro).
Rede de Networks
Empreendedorismo
Internacional
Solicitações
podem levar à
Comportamentos
exportação ou
diferentes de
licenciamento;
acordo com o grau
consolidações
de
seriam feitas via
internacionalização
fusões ou
da própria
aquisições; busca
empresa e de sua
de mercados pela
rede.
criação de novos
canais.
Fonte: Dib e Carneiro (2006 apud COSTA; PORTO, 2010, p. 149).
Havendo exposto o quadro acima, a autora sente-se confiante para dar
início ao próximo subcapítulo, o qual refletirá acerca das teorias aqui expostas, suas
contribuições e limitações, a fim de apresentar ideias posteriores e complementares
às sugeridas pelos modelos tradicionais.
3.2. À CAMINHO DE UMA NOVA ABORDAGEM
Segundo Oviatt e McDougall (1994, apud PIMENTEL; RIBEIRO, 2012),
até a década de 1990 as multinacionais eram estudadas, basicamente, como
organizações – historicamente – desenvolvidas a partir de firmas domésticas, estas
já de grande representatividade e de madura experiência no mercado.
Conforme colocado por Mitgwe (2006 apud DIB 2008, p. 60), “por muitas
décadas, os negócios globais foram considerados como exclusivos das grandes
multinacionais e a teoria mais tradicional de negócios internacionais era
desenvolvida para explicar o comportamento de tais empresas”. Porém, as
inovações tecnológicas e o aumento do número de pessoas com experiência
internacional agregaram novas perspectivas às empresas multinacionais.
49
A possibilidade de comandar uma empresa a partir de qualquer ponto do
globo deu vazão ao surgimento de novos empreendimentos que, embora
disponham de recursos limitados, podem concorrer na arena internacional.
A escala e o tamanho não são mais fatores essenciais para o sucesso de
internacionalização de uma firma (OVIATT; MCDOUGALL, 1994 apud
PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 6).
Dessa forma, é possível entender o porquê da dificuldade – ainda
presente - das duas maiores correntes teóricas sobre internacionalização em
explicar a existência das empresas denominadas Born Globals - BGs. As teorias
econômicas podem ser utilizadas como um breve exemplo; pois, ao enfatizarem a
internacionalização das grandes empresas com base na busca pelo aumento de
escala ou de uma maior sobrevida do produto acabam por não capturar a realidade
vivida por pequenas e médias empresas com base inovadora.
Oviatt
e
McDougall
(1994-2005)
ainda
apontam
outros
fatores
contribuintes à inadequação teórica frente ao entendimento e explicação acerca do
fenômeno das Born Globals: o primeiro motivo se dá, em grande parte, pelo fato de
que as teorias tradicionais foram originadas para explicar os fluxos de Investimento
Direto Estrangeiro - IDE, o qual atualmente se sabe, não são essenciais para as
Born Globals. Em segundo, as teorias em questão não tratam abertamente dos
elementos de dinâmica do processo de internacionalização, tais como a
aprendizagem organizacional e o papel desempenhado pelos empreendedores
(aspectos estes de suma relevância para o estudo das Born Globals). E, finalmente,
apontam que as teorias conhecidas não se atêm muito a explicar as formas de
cooperação empresarial,
alianças estratégicas e
redes de relacionamento
internacionais formadas por executivos, as quais muitas vezes explicam o sucesso
da internacionalização das empresas (intensificadas nas últimas décadas).
Até mesmo no caso das abordagens comportamentais, a preocupação
dos autores continua voltada ao IDE. Além disso, “o processo gradual de
internacionalização proposto foi severamente contestado pelas evidências empíricas
sobre empresas que já surgem para servir o mercado internacional” (PIMENTEL;
RIBEIRO, 2012, p. 7) 23. Diante das críticas apresentadas, os teóricos do modelo de
Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1990, apud PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 7) se
23
Os autores citam como exemplo os trabalhos de Madsen e Servais (1995), Knight e Cavusgil
(1995).
50
reportaram ao fenômeno da internacionalização acelerada, apresentando o
argumento de que seu modelo precisaria de ajustes em três situações, nas quais a
internacionalização livre da influência do IDE poderia acontecer. A primeira situação
refere-se a empresas com abundância de recursos; a segunda quando as condições
do mercado internacional são estáveis e homogêneas; e a terceira quando as
empresas possuem muita experiência no mercado doméstico e almejam mercados
internacionais que possuam o maior número de similaridades com o do país de
origem.
Ainda assim, Oviatt e McDougall (1994) insistem e enfatizam a
necessidade de formulações teóricas a fim de explicar o ocorrido com empresas de
internacionalização prematura – algumas tendo alcançado o mercado estrangeiro
desde seu nascimento, uma vez que as teorias propostas não se adequavam a
nenhuma das exceções apontadas por Johanson e Vahlne (1990).
51
4. O FENÔMENO “BORN GLOBAL”
Com base em estudos realizados acerca do fenômeno ao longo de pouco
mais de uma década (KNIGHT; KIM, 2009; KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; RIALP et al.,
2005; BELL; MCNAUGHTON, 2000; OVIATT; MCDOUGALL, 1994 apud RIBEIRO,
2012, p. 25), em síntese, as Empresas Born Global – EBGs são àquelas que
obtiveram sucesso ao estabelecer atividades no exterior desde sua fundação ou
pouco tempo após sua criação, na qual a experiência prévia no mercado doméstico
não representa um fator preponderante à realização de negócios no mercado
internacional; negócios estes realizados por empreendedores que fazem do risco um
aliado, não deixando-se segurar e/ou frear pelo desconhecido e incerto.
4.1. A HISTÓRIA POR TRÁS DO CONCEITO
O conceito “Born Global” foi cunhado em 1993 durante um estudo feito ao
Conselho de Manufatura Australiano (originalmente, “The Australian Manufacturing
Council”) pelos consultantes McKinsey e Rennie (MCKINSEY et. al., 1993; RENNIE,
1993, apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002). A denominação dada ao fenômeno
surtiu efeito e obteve grande aceitação, colocando, mais do que nunca, o assunto
em pauta entre teóricos, pesquisadores, estudantes e demais pessoas que se
encontravam
vinculados
aos
temas
que
englobam
a
trajetória
de
uma
internacionalização acelerada.
De acordo com Rasmussen e Madsen, as consequências agregadas à
identificação desta nova classificação de exportadores encontram-se claramente
expressas por Cavusgil em seu primeiro artigo feito à academia, cujo tema principal
tratava das empresas Born Global.
Está emergindo na Austrália uma nova geração de empresas exportadoras,
que contribuem substancialmente para o capital de exportação do país. O
surgimento de tais exportadores, embora não exclusivo à economia
australiana, reflete dois fenômenos fundamentais à década de 1990: 1.
Pequeno é lindo, e 2. Internacionalização gradual está morta (CAVUSGIL,
1994, p.18 apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002, p.6 – tradução nossa)
24
24
.
There is emerging in Australia a new breed of exporting companies, which contribute substantially to
the nation’s export capital. The emergence of these exporters though not unique to the Australian
52
O projeto australiano consistiu em uma análise dos “novos exportadores”
entre empresas de pequena e média produção. Conforme salientado por
Rasmussen e Madsen (2002), a pesquisa apresentou uma nova perspectiva sob o
fenômeno, uma vez que o foco não se direcionava as empresas (empreendedoras)
de formação recente, mas sim àquelas que recentemente deram inicio à atividade
exportadora. Ademais, vale ressaltar que o foco incidiu-se sob firmas cuja atividade
exportadora apresentasse crescimento durante o período mínimo de cinco anos,
estes, anteriores à realização da pesquisa. Dessa forma, foi possível excluir os
exportadores esporádicos, bem como empresas que já apresentassem alto grau de
internacionalização. Durante o estudo, McKinsey e Rennie identificaram mais de 700
empresas com atividades exportadoras em ascensão, destas, 310 responderam um
questionário e “somente” 56 foram entrevistadas25.
Após o término do estudo, McKinsey e Rennie (1993, apud RASMUSSEN;
MADSEN, 2002) concluíram que este novo tipo de exportadores – até mesmo
empresas antigas – possuíam uma característica em comum. As empresas
enquadradas na pesquisa realizada não viram o processo de exportação e o
mercado estrangeiro necessariamente como algo negativo; muito pelo contrário,
viram o mundo como um único e grandioso mercado. Adicionalmente, e talvez, a
maior contribuição do estudo, foi a conquista de uma clara distinção entre dois tipos
de empresas exportadoras, conforme descrição abaixo.
O primeiro tipo de exportadoras é representado por empresas de base no
mercado doméstico. Estas firmas estabelecem uma sólida base em seu mercado
doméstico através de muitos anos de experiência; porém, caso desejem expandir
seu negócio, a exportação aparece como melhor opção. É, portanto, o desejo pelo
crescimento que impulsiona empresas a exportarem (a redução de custos ou a
concorrência são raramente vistos como motivo à exportação).
Em um segundo plano, as empresas remanescentes (aproximadamente
25% do total das firmas selecionadas) formaram o segundo grupo – as chamadas
“Born Globals”. Esse tipo de empresa, normalmente, inicia suas atividades
exportadoras antes mesmo de completarem dois anos de fundação. Foram
identificadas como empresas jovens, porém, de grande influência e importância,
economy, reflects 2 fundamental phenomena of the 1990s: 1. Small is beautiful, 2. Gradual
internationalization is dead (CAVUSGIL, 1994, p.18 apud RASMUSSEN; MADSEN, 2002, p.6).
25
Para maiores informações acerca da pesquisa realizada, Rasmussen e Madsen (2002, p. 7)
indicam: McKinsey & Co. (1993), Rennie (1993) e Forman (1993).
53
uma vez que estas representam – aproximadamente – 20% do total das
exportações. Nas palavras de McKinsey (1993, p. 9, apud RASMUSSEN; MADSEN,
2002, p. 7 – tradução nossa), “(...) estas firmas veem o mundo como seu mercado
desde o começo, tendo o mercado doméstico como suporte para seus negócios
internacionais” 26.
Conforme pontuado por McKinsey e outros (1993, apud RASMUSSEN;
MADSEN, 2002), a pesquisa também apresenta um fator preponderante para a
explicação do fenômeno Born Global – o comprometimento por parte do corpo
administrativo da empresa com a internacionalização. Outro fator característico e de
suma importância é a habilidade da empresa em padronizar, como a produção,
estratégias de marketing, entre outros, de uma maneira global – contrariando,
novamente, o esperado, no caso, o desenvolvimento de produtos customizados.
Após interpretar a colocação feita por McKinsey, na qual afirma que o
processo de internacionalização gradual está “morto”, Cavusgil (1994, apud
RASMUSSEN; MADSEN, 2002) faz uma colocação interessante a respeito. Uma vez
que todos – inclusive as menores firmas – possuem acesso a informações sobre
mercados externos, o autor acredita que uma empresa pode sim dar início às suas
atividades exportadoras desde sua formação.
Cavusgil (1994) também comenta que, ainda que com um pouco de
atraso, pesquisadores ao redor do mundo descobriram os resultados apresentados
pelas empresas australianas que optaram por internacionalizarem-se de forma
acelerada, dando início a esboços de pesquisas similares sobre o tema “Born
Global” em diferentes países27.
4.1.1. Conceitos Similares
Na literatura disponível, é certa a inconstância de denominações
atribuídas às empresas de internacionalização acelerada, porém, todas se
apresentam como variações do mesmo fenômeno. De acordo com Rialp e outros
(2005 apud RIBEIRO, 2012, p. 25), as denominações podem ser Born Global,
International New Ventures, Global Start Ups, Global Pioneers, Instant Internationals,
26
(...) these firms view the world as their marketplace from the outset and see the domestic Market as
a support for their international business (MCKINSEY & CO., 1993, p.9 apud RASMUSSEN;
MADSEN, 2002, p. 7).
27
Rasmussen e Madsen (2002, p.7) indicam: Madsen e Servais (1997), Knight e Cavusgil (1996),
Madsen e outros (2000), Moen e Servais (2002).
54
Global High-Tech Firms, High Technology Start-Ups, Technology-Based New Firms,
ou ainda sem denominação específica, conforme exposto no quadro seguinte,
indicando os seus respectivos autores.
Quadro 5 - Fenômeno Born Global e Definições Similares
DEFINIÇÃO
AUTORES
BORN GLOBALS
Rennie (1993); Madsen e Servais (1997); Autio, Sapienza e
Almeida (2000); Bell e McNaughton (2000); Madsen e outros
(2000); Bell, McNaughton e Young (2001); Dominguinhos e
Simões (2001); Rasmussen e outros (2001); Moen (2002);
Zuchella (2002); McNaughton (2003); Knight e Cavusgil
(2004); Dominguinhos e Simões (2004); Gabrielsson e outros
(2004); Knight, Madsen e Servais (2004); Dib (2008).
INTERNATIONAL NEW
VENTURES
(INVs)
McDougall (1989); Oviatt e McDougall (1994); McDougall e
outros (1994); Oviatt e McDougall (1999); Zahra e George
(2002); Oviatt e McDougall (2005); Zahra (2005).
GLOBAL
START-UPS
GLOBAL PIONNEERS
INSTANT INTERNATIONALS
GLOBAL
HIGH-TECH FIRMS
Oviatt e McDougall (1995).
Almor (1999).
Preece, Miles e Baetz (1999).
Roberts e Senturia (1996).
HIGH TECHNOLOGY STARTUPS
Autio (1999).
TECHNOLOGY-BASED
NEW FIRMS
Autio (1999).
S/ DENOMINAÇÃO
ESPECÍFICA
Coviello e Munro (1995); Knight e Kim (2009).
28
Fonte: Elaborado pelo autor (2013 )
28
Quadro elaborado com base nas informações disponibilizadas no trabalho elaborado por Ribeiro
(2012, p. 26).
55
Ainda que de forma generalizada, nota-se que o breve levantamento das
definições ao processo de internacionalização exposto aponta para os estudos
empíricos realizados. Porém, dentre tais evidências, Madsen e Rasmussen (2002, p.
12) encontraram um grande número de casos “reciclados” 29 e algumas pesquisas
“mais” minuciosamente planejadas. Um breve resumo dessas definições, conceitos e
bases empíricas encontradas pelos autores é apresentado no quadro abaixo.
Quadro 6 - A Reciclagem de Madsen e Rasmussen
(continua)
AUTORES
Hedlund e
Kverneland
(1985)
29
CONCEITO
REFERÊNCIA
TEÓRICA
Firmas que ultrapassam
Leapfrogging30 estágios presentes nos
modelos tradicionais;
Young
(1987)
-
Discussões teóricas a
respeito dos resultados
encontrados por Hedlund e
Kverneland (1985);
Ganitsky
(1989)
Innate
Exporters
Exportadores
Inatos
Base em 18 exportadoras
israelenses
“Born
International”
(em
português:
nascidas
internacionalmente);
Jolly
e outros
(1992)
High-Tech
Start-Ups
Iniciantes de
Alta Tecnologia
Estudo de caso realizado
com quatro empresas de
alto cunho tecnológico;
McKinsey
e outros
(1993)
Born Global
Nascidas
Globais
Base em 310 firmas
produtoras de recente
atividade exportadora;
CONCLUSÕES E
RESULTADOS
Há
cada
vez
mais
homogeneidade entre os
mercados exportadores; A
internacionalização faz parte
da estratégia da empresa.
Young concorda com a
conclusão a respeito do
“leapfrogging”,
porém
somente para firmas de alta
tecnologia.
Firmas Born Global adaptam
suas estratégias a um nível
superior em comparação às
estratégias
de
mercados
estrangeiros; Carecem de
recursos e experiência.
Desde o início essas empresas
direcionaram suas estratégias
entre os nichos do mercado
global;
Fundador
com
experiência internacional.
Dentre as firmas, 25%
obtiveram um intenso fluxo
de exportações nos primeiros
2
após
sua
fundação;
Exportam em média 75% de
suas vendas.
Madsen e Rasmussen (2002, p. 13) citam o caso da firma “Logitech”.
“Leapfrog”: (1) avançar de um lugar/ posição/ situação para outro sem precisar progredir através de
todos ou qualquer um dos lugares/ estágios entre o ponto de partida e o destino final; (2) melhorar
uma posição ultrapassando rapidamente ou pulando algumas etapas de uma atividade ou processo
(síntese das definições encontradas no dicionário on-line de Cambridge e “WordReference”).
30
56
(continuação)
AUTORES
CONCEITO
Cavusgil
(1994)
Born Global
McDougall e
outros
(1994)
Oviatt e
McDougall
(1994)
Bell
(1995)
Bloodgood e
outros
(1996)
31
REFERÊNCIA
TEÓRICA
Interpretação de McKinsey
e outros (1993);
International
New Ventures
- INVs 31
Base em 24 estudos de
caso;
International
New Ventures
- INVs
Base em 12 estudos de
caso; Firmas de estratégia
proativa e internacional;
-
High Potential
Firms
Firmas de
Alto Potencial
Knight e
Cavusgil
(1996)
Born Global
Madsen
e Servais
(1997)
Born Global
CONCLUSÕES E
RESULTADOS
“O
pequeno
é
belo.
Internacionalização
gradual
está morta”.
Desde o nascimento, a
estratégia direciona-se aos
mercados internacionais. Os
modelos
tradicionais
incompatíveis ao uso.
“Uma INV é uma organização
empresarial que, desde o
início, busca obter significante
vantagem competitiva a partir
do uso de recursos e a venda
de sua produção a múltiplos
países”.
Pequenas
empresas
“Distância psíquica” não é
fornecedoras de software;
mais utilizada; Não há suporte
A internacionalização da
para os modelos tradicionais.
maioria deveria ser inicial;
A internacionalização depende
da experiência internacional
do
fundador.
Tornar-se
Firmas com alto potencial
internacional desde a fundação
de crescimento;
é possível mesmo para as
pequenas
empresas
americanas
Fatores que levam à existência
das
BGs:
Síntese
de
pesquisas - Aumento no número de
existentes + artigos de nichos
de
mercado
jornais. Empresas com taxa mundialmente;
de exportação igual ou - Mudanças na produção e
superior a 25% entre os comunicação
tecnológica;
primeiros 3-6 anos;
- Crescimento do número de
redes
de
relacionamento
internacional.
Síntese
de
pesquisas O modelo clássico é válido
existentes em conjunto para BGs se a experiência
com vários estudos de caso internacional do fundador for
dinamarqueses;
levada em consideração.
“International New Ventures” são empreendimentos internacionais considerados de alto risco.
57
(conclusão)
AUTORES
Jones
(1999)
CONCEITO
International
Entrepreneurs
Empreendedorismo
Internacional
REFERÊNCIA
TEÓRICA
Firmas com extensa
rede
de
relações
internacionais;
Questionário
realizado
com
empresas inglesas de
alta tecnologia;
CONCLUSÕES E
RESULTADOS
A
internacionalização
das
empresas geralmente se inicia a
partir
das
redes
de
relacionamento (das quais não
se relacionam de nenhuma
maneira às vendas). Foram
seguidos distintos caminhos
para
a
internacionalização
dessas empresas.
Fonte: Adaptado de Madsen e Rasmussen (2002, p. 13).
Seguindo os passos de Ribeiro (2012), optou-se por adotar o termo “Born
Global” como forma de referência ao fenômeno aqui estudado. A escolha feita levou
em consideração a denominação de maior incidência nos trabalhos elaborados,
tendo como aliados grandes nomes da literatura – citados no quadro acima –, outro
fator decisivo resume-se a uma tentativa de contribuir para o consenso de
caracterização do fenômeno; ainda que o termo “internacionalização acelerada”
também é encontrado em diversas partes ao longo deste trabalho, utilizado com o
mesmo sentido do termo em inglês selecionado, Born Global.
4.2. DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS BORN GLOBAL - EBGS
Apesar do fenômeno Born Global ainda não possuir uma denominação de
utilização geral, Rialp e outros (2005), ao longo de uma extensa revisão crítica
literária dos últimos dez anos, perceberam que a maioria dos principais estudos
concorda no conceito de que o fenômeno encontra-se presente em empresas
iniciantes, empreendedoras, engajadas nos negócios internacionais desde o início
ou poucos anos após sua fundação. A conclusão feita pelos autores resume-se ao
quadro abaixo.
58
Quadro 7 - EBGs e suas principais definições
“Organizações de negócios que desde sua concepção ou
Oviatt e McDougall
(1994, p. 49)
início de suas atividades buscam negócios no mercado
externo, procuram originar vantagem competitiva significante
a partir do uso de seus recursos e da venda de seus
produtos em diferentes países”.
“Organizações de negócios que desde a sua formação,
Knight e Cavusgil
(2004, p. 124)
buscam
performances
superiores
em
negócios
internacionais a partir da aplicação de recursos baseados
em conhecimento para vender seus produtos em múltiplos
países”.
Dib
(2008, p. 146)
“Empresas que, num horizonte de tempo de até cinco anos
desde sua fundação, já realizou negócios em pelo menos
um mercado internacional”.
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2012, p. 27).
Após a leitura dos conceitos presentes do quadro 7, torna-se possível
identificar o tipo de empresa de “maior compatibilidade” ao fenômeno, porém, o
mesmo consenso não ocorre quando o tópico abordado trata das características
necessárias para uma definição precisa. Considerando a controvérsia existente, Dib
(2008 apud RIBEIRO, 2012) aponta que é o uso impulsivo – e quase impensável –
de termos por parte dos autores que acaba por tornar a tentativa de uma
comparação excessivamente desafiadora.
Em contrapartida, através de estudos realizados por Rialp e outros (2005
apud RIBEIRO, 2012) e Dib (2008 apud RIBEIRO, 2012), os autores conseguiram
identificar algumas características cabíveis ao processo de internacionalização
acelerada, estas selecionadas com base na recorrência dos mesmos entre os
trabalhos de maior renome acerca do assunto. Dentre os diversos critérios
encontrados durante as pesquisas, os selecionados foram: data de fundação, início
das atividades internacionais depois da fundação, percentual do faturamento
proveniente de operações no exterior e a abrangência de mercados.
59
Quadro 8 - Critérios de definição de uma Born Global
DATA DE
FUNDAÇÃO
INÍCIO DAS
ATIVIDADES
INTERNACIONAIS
*Após fundação
PERCENTUAL
FATURAMENTO
* Proveniente de
operações no
exterior
ABRANGÊNCIA
DE MERCADOS
A maioria dos autores considera que as empresas born
globals surgiram depois de 1990 (MOEN, 2002; MOEN;
SERVAIS, 2002; MADSEN; RASSMUDEN, 2002); porém, há
autores que consideram empresas fundadas anteriormente
(EVANGELISTA; MADSEN; RASMUSSAN, 2005).
Varia de 02 até 15 anos:
- 02 anos (MOEN, 2002; MOEN; SERVAIS, 2002);
- 03 anos (CAVUSGIL; KNIGHT, 1996; KIM; KNIGHT, 2009;
KNIGHT; MADSEN; SERVAIS, 2004);
- 05 anos (ZUCCHELLA, 2002);
- 06 anos (HITT; IRELAND; ZAHRA, 2000);
- 08 anos (MCDOUGALL; OVIATT; SHANE, 1994);
- 15 anos/ percentual de vendas no exterior igual ou maior a
50% (DARLING; GABRIELSSON; SASI, 2004).
Varia de 5% até 75%:
- 5% (MCDOUGALL, 1989);
- 25% (CAVUSGIL; KNIGHT, 2004; KNIGHT; MADSEN;
SERVAIS, 2004; MOEN, 2002; MOEN; SERVAIS, 2002;
MADSEN; RASMUSSAN, 2002; EVANGELISTA; MADSEN;
RASMUSSAN, 2005);
- Superior a 50% para firmas de pequenas economias abertas
(DARLING; GABRIELSSON; SASI, 2004);
- Superior a 75% para firmas com pequenos mercados
domésticos (DARLING; GABRIELSSON; SASI, 2004).
Um ou poucos mercados internacionais (BLOMSTERMO;
SHARMA, 2003), na mesma ou em várias regiões do mundo
(DARLING; GABRIELSSON; SASI, 2004; GABRIELSSON,
2005). McNaughton (2003) observou, porém com pouca
relevância estatística, que a entrada num grande número de
mercados ocorria em born global em setores de alta tecnologia
e em países com mercado doméstico pequeno.
Fonte: Adaptado de Dib (2008); Dib e Rocha (2008); Rialp e outros (2005) apud Ribeiro (2012, p. 27).
Com o intuito de possibilitar a comparação dos estudos de caso
realizados (que serão descritos mais adiante), será adotado o conceito empregado
por Dib (2008), uma vez que a definição Born Global é condizente com os principais
trabalhos internacionais em que o assunto é abordado.
60
Depois de elucidar tais considerações, o termo Born Global utilizado neste
trabalho refere-se à “empresa que, num horizonte de tempo de até cinco anos desde
sua fundação, já realizou negócios em pelo menos um mercado internacional” (DIB,
2008, p. 146).
4.3. A CONTRIBUIÇÃO DE OVIATT E MCDOUGALL
O trabalho de Oviatt e McDougall (1994) significou um marco nas
pesquisas sobre as EBGs e é amplamente citado na literatura como um ponto de
partida no desenvolvimento de teorias que conseguissem melhor explicar o rápido
processo de internacionalização dessas empresas. Os autores sistematizam a
dispersa literatura sobre as experiências de pequenas e médias empresas que
realizavam negócios no exterior desde o nascimento, classificaram essas
experiências a partir da coordenação das atividades da cadeia de valor e o número
de países envolvidos, derivando um modelo para tentar explicar o comportamento
das mesmas.
Os mesmos fazem uso de teorias derivadas do empreendedorismo 32
internacional 33 , a fim de mostrar o processo de decisão quanto ao caráter
internacional da empresa desde deu “nascimento”. O modelo dá ênfase à utilização
de novas modalidades de estruturação organizacional e à importância nas redes de
relacionamentos pessoais formadas pelos executivos no exterior.
32
De acordo com a Associação Europeia de Formação Profissional (2009), empreendedorismo é
considerado como conceito “chave” para o crescimento econômico, emprego e realização pessoal.
Empreendedorismo não é sinônimo de capacidade para montar um negócio, mas sim a capacidade
de utilizar um conjunto de competências – criatividade, autoconfiança, inovação, assunção de riscos –
para transcender de ideias para ações.
33
“O empreendedorismo internacional é uma combinação de comportamentos inovadores, pró-ativo e
arriscado que atravessa as fronteiras e almeja criar riquezas nas organizações” (MCDOUGALL;
OVIATT, 2000, p. 903 apud CHAGAS; SIQUEIRA, 2010, p. 15).
61
Figura 4 - O modelo de Oviatt e McDougall
Fonte: Adaptado de Oviatt e McDougall (1994 apud PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 8).
A classificação proposta por Oviatt e McDougal (1994 apud DIB, 2008, p.
109) distingue os diferentes tipos de novos empreendimentos internacionais. A partir
do número de atividades apresentada pela cadeia de valor (coordenadas por uma
parte da matriz), e de acordo com o número de países numa outra dimensão,
resultam três principais tipos de empreendimentos, conforme exposto através da
figura 5 que segue.
62
Figura 5 - Tipos de novos empreendimentos internacionais
Fonte: Adaptado de Oviatt e McDougall (1994, p. 59 apud DIB, 2008, p. 110).
Dib (2008) aponta o potencial de utilidade presente no conjunto de
referências utilizado para a criação deste quadro para o estudo do conceito Born
Global. O mesmo também ressalta que o fato de alguns autores considerarem as
BGs como um tipo especial de empresa multinacional34 possibilitaria o uso de alguns
componentes das teorias tradicionais ligadas à vertente econômica – tais como a
análise de custos de transação, mercados imperfeitos, bem como a internalização
das transações internacionais.
A proposta das International New Ventures – INVs de Oviatt e McDougall
(1994 apud DIB, 2008) inovou ao utilizar da abordagem empreendedora para sua
fundamentação. A proposta dos autores acabou por desafiar o modelo “passivo/
reativo” de estágios defendidos pelas teorias da abordagem comportamental.
34
Os autores Barlett e Ghoshal (1992; 2000 apud COSTA; PORTO, 2010, p.148) classificaram as
organizações multinacionais em quatro categorias: (1) multidoméstica, (2) global, (3) internacional e
(4) transnacional.
63
4.4. A TIPOLOGIA DE BRUNO FERNANDES
Após considerar a classificação das EBGs realizada por Oviatt e
McDougall como restrita (uma vez que se baseia em apenas dois critérios: número
de países de atuação e coordenação das atividades de cadeia de valor), Fernandes
e Seifert (2007) propuseram uma nova tipologia, desta vez, de ampla diversidade.
Para eles, a utilização de apenas duas dimensões poderia fazer com que elementos
importantes para a diferenciação do processo de internacionalização – acelerada –
das empresas passassem despercebidos; consequentemente ocasionando o
agrupamento de empresas com realidades distintas entre si sob o mesmo “rótulo” 35.
A tipologia proposta pelos autores leva em consideração quatro aspectos,
sendo eles: o perfil do empreendedor, os valores organizacionais, o contexto
ambiental de referência e a estratégia empresarial para a internacionalização da
empresa. Dessa forma, a classificação das EBGs encontra-se dividida em cinco
modalidades, conforme apresentado pelo quadro a seguir.
Quadro 9 - A Tipologia de Fernandes e Seifert
(continua)
Perfil do
Empreendedor
Clássico
Aventureiro
35
Valores
Contexto de
Referência
Estratégia
Referências
- Experiência
internacional
prévia;
- Rede de relações
internacionais;
- Empreendedor
maduro;
- Conhecimento
de negócio.
- Visão global;
- Possibilidade
de criar
- Internacional;
vantagens
- Institucional;
competitivas no
- Técnico.
âmbito global;
- Tecnologia e
inovação.
Deliberada e
Proativa
Logitech e
Technomed
(OVIATT;
MACDOUGALL,
1995); Xseed
(ROCHA et al.,
2005).
- Senso de
oportunidade;
- Pró-atividade;
- Pouca
experiência
internacional.
- Propensão ao
risco;
- Persistência;
- Foco no
negócio;
- Inovação.
Emergente e
Proativa.
Trikke Tech
(SEIFERT;
FERNANDES,
2005).
- Doméstico;
- Técnico;
- Institucional.
O termo empregado vincula-se às diferentes nominações empregadas ao processo de
internacionalização sofrido por uma empresa.
64
(conclusão)
Perfil do
Empreendedor
Valores
Contexto de
Referência
Puxado
- Experiência
prévia no setor/
ramo de atuação;
- Amplo
conhecimento
técnico;
- Rede de relações
com grandes
empresas.
- Qualidade do
produto/
serviço;
- Competência
técnica;
- Eficiência;
- Flexibilidade;
- Foco no
cliente.
Predominante
mente
doméstico;
- Técnico.
Empurrado
- Fortes
competências
administrativas;
- Visão de
investimento e
lucratividade;
- Rede de relações
no setor.
- Qualidade;
- Adaptação e
padronização
de processos;
- Competitividade.
- Doméstico
com
incorporação
de padrões
internacionais;
- Institucional e
técnico.
Científico
- Cientista;
- Vínculo
acadêmico;
- Rede de relações
no seu campo de
saber.
- Profundidade
científica;
- Pesquisa;
- Inovação.
- Internacional
dentro do seu
campo de
saber;
- Técnico.
Estratégia
Referências
Emergente e
Reativa.
- Fujtec (ROCHA
et al, 2005);
- Altitude
Software
(SIMÕES;
DOMINGUINHO
S, 2001).
Reativa e
Deliberada.
- Oasis (OVIATT;
MACDOUGALL,
1995);
- Empresa de
alimentos no
Paraná
(SEIFERT, 2005).
Emergente,
deliberada e
Proativa.
- ICT 2
- Biotech 2
(SIMÕES;
DOMINGUINHO
S, 2001).
Fonte: Adaptado de Fernandes e Seifert (2007 apud PIMENTEL; RIBEIRO,).
Utilizando a visão conjunta a essa tipologia, o foco deste estudo são as
empresas de internacionalização acelerada do tipo científico. Nesse tipo de
empresa, as características encontradas no empreendedor são típicas de empresas
de base tecnológica.
Como esses empreendedores têm laços muito estreitos com o mundo
acadêmico, e suas áreas de atuação são muitas vezes globais, espera-se
que a internacionalização dessas empresas ocorra em geral como
decorrência de uma inovação científica gerada na empresa e da rede de
relacionamento internacional desenvolvida pelos empreendedores em seu
campo de saber. Em termos de estratégias, as born globals científicas
podem ter um processo deliberado, no qual a rápida internacionalização
65
foi planejada ou como emergente, no qual a rápida internacionalização
emerge em virtude das circunstâncias enfrentadas pela empresa
(PIMENTEL; RIBEIRO, 2012, p. 9).
Com esta afirmação, ressalta-se a importância do entendimento de que o
fenômeno Born Global não se limita a qualquer tipo de indústria, setor, densidade
tecnológica36, produto, tamanho, tempo, local ou a qualquer outro determinante.
Rennie (1993 apud RIBEIRO, 2012) comprova a existência de EBGs em
indústrias tão distintas quanto à dinâmica de seus concorrentes, podendo pertencer
desde o setor alimentício, bebida e tabaco, passando pelas indústrias de madeira,
móveis e papel, produtos farmacêuticos e veterinários, equipamentos científico,
profissionais, fotográficos e eletrônicos até produtos de couro. Os pesquisadores
Madsen e Servais (1997) e Oviatt e McDougall (1994) também afirmam que o
fenômeno da internacionalização acelerada não se limita a determinadas indústrias
A discrepância entre as características e a dificuldade em identificar esse
tipo de empresa é um dos grandes motivos que impulsionou a realização deste
trabalho.
4.5. DEFININDO AS EBTS
Conforme exposto acima, o fenômeno born global pode incidir sob
empresas de inúmeros setores, e não apenas às de maior intensidade tecnológica –
porém, não se nega que o número de BGs em Empresas de Base Tecnológica
(EBTs) é expressivamente maior em comparação aos demais setores, tornando o
entendimento de seu conceito imprescindível.
Quadro 10 - Definições das Empresas de Base Tecnológica
(continua)
DEFINIÇÕES
AUTORES
Marcovitch e outros
Empresa de alta tecnologia que dispõem de competência rara ou
(1986 apud FERRO;
exclusiva em termos de produtos ou processos, viáveis comercialmente,
TORKOMIAN, 1988,
que incorporam grau elevado de conhecimento científico;
p. 44).
36
Colocação baseada na afirmação feita por Madsen e Servais (1997) e Oviatt e McDougall (1994) –
vide Ribeiro (2012, p.25).
66
(conclusão)
DEFINIÇÕES
AUTORES
Empresas de capital nacional que, em cada país, se situem na fronteira
Stefanuto (1993).
tecnológica de seu setor;
Micro e pequenas empresas comprometidas com o projeto,
desenvolvimento e produção de novos produtos e/ou processos, Carvalho e outros
caracterizando-se ainda pela aplicação sistemática de conhecimento (1998, p. 462).
técnico-científico (ciência aplicada e engenharia);
Pequenas e médias empresas que realizam esforços tecnológicos
significativos e concentram suas operações na fabricação de “novos”
produtos. Para essas empresas deve-se considerar a capacidade de
desenvolver novos produtos (stricto sensu) e abranger as capacidades de
imitação, adaptação e engenharia reversa;
Pinho (2002; 2005);
Cortês e outros (2005);
Fernandes e outros
(2004).
Empresa de qualquer porte ou setor que tenha na inovação tecnológica os
fundamentos de sua estratégia competitiva. Desenvolvem produtos ou
FINEP 37 (2010).
processos tecnologicamente novos ou melhorias tecnológicas
significativas em produtos ou processos existentes.
Fonte: Adaptado de Cortês e outros (2005 apud RIBEIRO, 2012, p. 26).
De acordo com Pinho (2005 apud RIBEIRO, 2012), as EBTs são
empresas de pequeno e médio porte 38 em setores de alta tecnologia, os quais
realizam esforços tecnológicos significativos e concentram suas operações (arranjos
de cooperação, capacitação tecnológica, entre outros) na fabricação de “novos” 39
produtos – deixando expressas as competências específicas da empresa. O autor
preocupa-se em enfatizar que “as EBTs não devem ser confundidas com empresas
que operam com produtos inovadores para os seus mercados, mas não realizam
esforços significativos – caso de empresas dedicadas à montagem não qualificada
de artigos eletrônicos padronizados” (RIBEIRO, 2012, p. 26).
37
FINEP – Agência Brasileira de Inovação (para maiores informações, recomenda-se acessar:
http://www.finep.gov.br/).
38
Tendo o trabalho de Pinho (2005) como base, Ribeiro (2012, p. 26) explica que “um recorte sobre o
tamanho das empresas é necessário para dar clareza teórica ao objetivo de estudo. Mesmo num
ambiente menos intensivo em esforços de inovação tecnológica, (...) o conceito proposto sem esse
recorte de tamanho, alcança um número amplo de grandes empresas, em que as características,
acesso a recursos, estruturas e problemas são muito diferentes daqueles que tipificam de fato as
EBTs, que, em geral, são nascentes e de pequeno e médio porte”.
39
Ribeiro (2012, p. 26) enfatiza o adjetivo “novo” com o intuito de abranger as capacidades de
imitação, adaptação e engenharia reversa das EBTs.
67
Autio e outros (2000 apud RIBEIRO, 2012) afirmam que as EBTs exercem
um papel crítico nos processos de inovação e desenvolvimento tecnológico dos
países, uma vez que são responsáveis pelo comércio de produtos e processos (cuja
concepção e desenvolvimento são provenientes de pesquisas científicas) de
demanda crescente.
Dada a definição das empresas de base tecnológica, aborda-se a seguir
as formas de internacionalização das EBGs.
4.6. FORMAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA
Após relembrar as principais correntes teóricas ligadas ao processo de
internacionalização, cabe agora discutir as diferentes estratégias que podem ser
adotadas pelas empresas que anseiam por sua inserção no mercado estrangeiro.
Apesar da diversidade de formas, estruturas e estratégias de constituição,
manutenção e coordenação dos negócios internacionais, é importante frisar
que, na prática, há uma série de combinações possíveis e que a escolha do
modelo estratégico e estrutural de internacionalização a ser adotado por
uma empresa dependerá, dentre inúmeros fatores, da estratégia de
inovação adotada, do contexto, história e das características particulares da
empresa e de seu setor de atuação (COSTA; PORTO, 2012, p.149).
Segundo Kumar (1982), Contractor (1984), Dunning (1988), Hill, Hwang e
Kim (1990) 40, as empresas multinacionais necessitam de vantagens competitivas
únicas a fim de competirem eficazmente no mercado internacional. Essas vantagens
são apresentadas de diversas formas, seja através de produtos diferenciados;
métodos únicos de produção, administração e distribuição que ofereçam custos
mínimos; marcas de alta representatividade e reconhecimento ou através de uma
alta proteção de patentes, entre outros. Uma vez reconhecidas tais vantagens, a
empresa conseguirá ponderar com maior facilidade as hipóteses de busca e formas
de entrada em mercados estrangeiros.
A partir do momento em que a empresa decidiu por adentrar em um ou
mais mercados estrangeiros, é hora das mesmas definirem o grau de controle que
desejam possuir durante os processos de expansão internacional (ANDERSON;
40
Os autores referenciados foram descritos por Gouveia (2010, p. 44).
68
COUGHLAN, 1987; HILL; HWANG; KIM, 1990; ANDERSON; GATIGNON, 1986;
HARZING, 2002; HILL; HWANG, 1992 apud GOUVEIA, 2010).
Assim, podem optar entre assumir a responsabilidade total por suas
atividades locais através de investimentos diretos de alto controle organizacional
visando ao recebimento de dividendos, ou evitar maiores riscos infra estruturais em
nome da flexibilidade operacional, através de formas de licenciamento de seus
ativos
visando
ao
acúmulo
de
royalties
por
transferências
tecnológicas
(CONTRACTOR, 1984; ANDERSON; GATIGNON, 1986 apud GOUVEIA, 2010,
p.44).
Entretanto, de acordo com Hill, Hwang e Kim (1990), uma vez que a
escolha pelo modo de entrada foi feita, organismos multinacionais limitam sua
“flexibilidade tática” a partir do desenvolvimento de habilidades e conhecimentos que
suportem o processo de internacionalização pelo modo de entrada eleito.
Antes, as decisões referentes à inserção internacional de uma empresa
eram tratadas de maneira isolada. Porém, convencido da existência de uma
estrutura unificada, Charles Hill e seus dois colegas categorizaram os fatores
influentes às decisões da empresa – referentes ao modo de entrada a ser adotado
particularmente em cada mercado – em três variáveis, estas referentes à (1)
estratégia, (2) ao ambiente e (3) às transações.
Quadro 11 - Variáveis influentes à entrada no mercado estrangeiro
(continua)
VARIÁVEIS
Influência por meio do controle de requisitos e exigências que o processo
envolve. O controle é a capacidade e a vontade de uma empresa em
ESTRATÉGIA influenciar decisões, sistemas e métodos em um mercado estrangeiro.
Diferentes estratégias requerem níveis de controle sob o funcionamento de
filiais estrangeiras, conduzindo, assim, a diferentes formas de entrada.
A própria influência gerada pelo nível apropriado de comprometimento de
recursos influencia a forma de entrada de uma empresa. O
comprometimento de recursos é um ativo delineado, o qual não poderá ser
AMBIENTE
empregado para outra finalidade sem agregar custos. Os recursos podem
ser intangíveis, tal como a habilidade de gerenciamento, ou tangíveis, como
maquinário.
69
(conclusão)
VARIÁVEIS
A influência na forma de entrada se dá pela própria influência na
disseminação de riscos e no nível de controle apropriado. Tais riscos advêm
TRANSAÇÃO da possibilidade de que o conhecimento aplicado da firma (tangível e/ou
intangível) possa ser, involuntariamente, transferido a uma firma local,
consequentemente, um novo competidor.
Fonte: Adaptado de Hill; Hwang e Kim (1990).
Quadro 12 - Constructo estratégico a partir das variáveis ao modo de entrada no
mercado estrangeiro
(continua)
EXTENSÃO DA
DIFERENÇA NACIONAL
EXTENSÃO DAS
ECONOMIAS DE ESCALA
CONCENTRAÇÃO
GLOBAL
RISCO DE MERCADO
FAMILIARIDADE
LOCACIONAL
CONDIÇÕES DE
DEMANDA
VOLATILIDADE DOS
COMPETIDORES
41
VARIÁVEIS DE ESTRATÉGIA
Havendo fatores em comum, firmas que buscam uma estratégia
multi-doméstica irão favorecer modos de entrada de baixo
controle;
Ceteris paribus 41 , firmas que visam estratégias globais irão
favorecer modos de entrada de alto controle;
Ceteris paribus, quando a necessidade por uma coordenação
estratégica global for alta (indústria global oligopolista),
empresas multinacionais irão favorecer modos de entrada de
alto controle.
VARIÁVEIS DO AMBIENTE
cet.par., quando o risco apresentado pelo mercado estrangeiro
for alto, empresas multinacionais irão favorecer modos de
entrada que envolvem um comprometimento de recursos
relativamente baixo;
cet.par., quando o mercado-alvo estiver há uma grande
distância, empresas multinacionais irão favorecer modos de
entrada que envolvem comprometimento de recursos
relativamente baixo;
cet.par., quando a demanda é incerta (como em mercados
hospedeiros “embrionários” ou em declínio), empresas
multinacionais irão favorecer modos de entrada que envolvem
comprometimento de recursos relativamente baixo;
cet.par., quanto maior a volatilidade da concorrência
apresentada pelo mercado hospedeiro, mais as empresas
multinacionais favorecerão modos de entrada cuja exigência de
comprometimento de recursos for baixo.
Ceteris Pabirus é uma expressão do latim que pode ser traduzida por "todo o mais é constante" ou
"mantidas inalteradas todas as outras coisas". A condição cet. par. é usada na economia para fazer
uma análise de mercado da influência de um fator sobre outro, sem que as demais variáveis sofram
alterações.
70
(conclusão)
VALOR ESPECÍFICO
AO KNOW-HOW DA
EMPRESA
NATUREZA TÁTICA
DO KNOW-HOW
VARIÁVEIS DE TRANSAÇÃO
cet.par., quanto maior for a estimativa da corrente de renda
gerada pela propriedade de know-how da empresa, maior é a
probabilidade das empresas multinacionais favorecerem um
modo de entrada que minimize a disseminação de riscos (os
benefícios aos parceiros locais aumentam a partir de ações
oportunistas);
cet.par., quanto maior for o componente tático apresentado pelo
know-how da firma, mais as empresas multinacionais
favorecerão modos de entrada de alto controle.
Fonte: Adaptado de Hill; Hwang e Kim (1990).
Hill, Hwang e Kim (1990) deixam claro que a forma de entrada escolhida
por uma empresa acarretará implicações quanto à quantidade de recursos que
deverão ser comprometidos às operações estrangeiras, o risco que a firma deve
suportar, e o grau de controle que a mesma conseguirá exercer sob as operações no
novo mercado.
Os autores também apresentam quatro diferentes meios de entrada como
sendo os mais apropriados. Porém, a escolha destes depende da composição
resultante das três variáveis citadas anteriormente.
Quadro 13 - Formas de adentrar no mercado estrangeiro
EXPORTAÇÃO
AQUISIÇÕES/
LICENCIAMENTO
JOINT VENTURE
SUBSIDIÁRIA/
GREENFIELDS
Movimentação de bens provenientes do mercado doméstico a um
mercado estrangeiro em conjunto com a venda local;
Ocorre quando o licenciador cede os direitos de um bem
intangível à parte interessada durante período de tempo
específico; em retorno, o licenciador recebe sua parte do lucro por
meio de royalties pagos pelo licenciado;
Estabelecimento conjunto de uma firma por parte de duas ou mais
empresas independentes;
A firma é proprietária única do estabelecimento, este proveniente
de iniciativa própria em mercado estrangeiro ou através de
aquisição de firma já estabelecida.
Fonte: Adaptado de Hill; Hwang e Kim (1990).
71
Com o intuito de propiciar melhor entendimento, aprofundam-se a seguir
três das formas de entrada mais estudadas na literatura acadêmica (GOUVEIA,
2000, p. 54): aquisições, greenfields e joint ventures.
Os autores Kogut; Singh (1988); Chang e Rosenweig (2001) apontam a
compra de ações de empresas em quantidade suficiente a fim de garantir o controle
majoritário das operações, ou seja, as aquisições como a melhor opção – em termos
de tempo – para aqueles que buscam a conquista de significativa presença nos
mercados estrangeiros. Interessante salientar que antes de fazer tal afirmação, os
autores já haviam considerado a possibilidade de eventuais problemas causados
pela supervalorização do investimento e as dificuldades de integração cultural.
Apesar da intensa exigência de investimentos tecnológicos, de know-how
e o longo período que envolve o processo – desde o primeiro momento até o início
das operações locais em escala total, optar pela inserção internacional via
greenfields apresenta maiores possibilidades de controle imediato sob novos
empreendimentos próprios, ainda que em diferentes localidades.
Por outro lado, àqueles que preferem coordenar suas atividades de forma
a minimizar os riscos, recomenda-se a internacionalização por meio da partilha de
ativos entre duas ou mais empresas sócias que compartilhem o mesmo objetivo.
Uma joint venture nada mais é que uma forma das empresas de complementarem
suas atividades que, caso fossem feitas isoladamente, apresentariam maior
dificuldade aos sócios envolvidos; considerando, ainda, possíveis transtornos
ocasionados por divergências e conflitos de interesse entre os parceiros (mesmo
após formalização legal).
Figura 6 - Características chave das alternativas de entrada
(continua)
72
(conclusão)
Fonte: Hill; Hwang e Kim (1990).
A partir da breve análise teórica aqui exposta, é possível concluir que a
escolha pelo modo de entrada a ser utilizado por uma empresa depende da relação
entre as variáveis de estratégia, do ambiente e de transação.
Para Hill, Hwang e Kim (1990), tema relacionado às formas de entrada ao
mercado internacional pode ser sintetizado em dois pontos: (1) para certos grupos
de empresas multinacionais, a redução da disseminação de riscos possui vital
importância (como, por exemplo, quando a vantagem competitiva é baseada na
propriedade de know-how), e (2) quando uma organização possui múltiplas
operações estrangeiras, aperfeiçoar seu portfolio é melhor do que aperfeiçoar uma
simples decisão de entrada no mercado. Por exemplo, quando as condições de
mercado forem bastante similares e as economias de escala possam ser atingidas, a
estratégia global baseado em subsidiárias próprias acarretam retornos maiores
(porém, a redução do controle estratégico e flexibilidade tática a partir de um maior
comprometimento de recursos são consequentes à escolha por tal modo de
entrada).
E ainda, de acordo com Koch (2001), a abrangente discussão acerca dos
fatores que influenciam o processo de inserção das Empresas Multinacionais –
EMNs num novo mercado revelaram os seguintes pontos: (1) a seleção do mercado
estrangeiro e a seleção pelo modo de entrada devem fazer parte do mesmo
processo decisório; (2) o processo enfrentado pelas EMNs sofre influência de uma
variedade de fatores (ambientais, externos e internos) maior do que a comumente
reconhecida pela teoria; (3) a adoção de uma abordagem sistemática ao processo
73
irá melhorar a qualidade das decisões resultantes do mesmo; e (4) para aumentar o
“teor” de validade dos modelos existentes, é necessário que a teoria integre um
resultado “afunilado” de diversas pesquisas.
Adotando uma perspectiva voltada especificamente às EBGs, Cavuagil e
Knight (2009 apud RIBEIRO, 2010) apontam que o principal modo de entrada em
mercados internacionais, geralmente, é representado pelas exportações. Em
adendo, Oviatt e Mcdougall (1994 apud RIBEIRO, 2010, p. 30) argumentam que “a
propriedade de ativos no exterior não é uma condição essencial desses
empreendimentos internacionais”, uma vez que suas principais preocupações
encontram-se voltadas ao valor agregado do produto e em suas competências para
mantê-lo e adaptá-lo ao mercado externo. Conforme lembrado por Ribeiro (2010, p.
30), “grande parte das amostras das pesquisas internacionais sobre o fenômeno de
internacionalização acelerada utiliza bases de dados de empresas exportadoras,
como o estudo de Knight e Kim (2009)”.
Em uma segunda instância, a partir de estudos realizados acerca da
dinâmica das redes na internacionalização acelerada, Covielo (2004 apud RIBEIRO,
2010) relata casos de empresas cuja inserção internacional se deu por meio de
alianças estratégicas. Dib (2008, apud RIBEIRO, 2010) também faz uma colocação
a respeito, na qual afirma que diversos autores apontam a relação entre rede de
parcerias ou alianças estratégicas não apenas com outras empresas, mas também
com universidades e institutos de pesquisa no exterior. Dentre os benefícios
apresentados por essa forma de entrada – em que a aliança é feita entre uma firma
do país anfitrião, o qual detém conhecimento sobre condições de competitividade,
normas legais e culturas do país, entre outros – Ribeiro (2010) coloca que o objetivo
comum entre os associados em um processo de internacionalização acelerada pode
representar o conjunto de capacitações necessárias para a otimização de
resultados, diminuição de riscos ou ambos. Outro objetivo bastante comum em Born
Globals de setores de maior densidade tecnológica é a formação de alianças
estratégicas entre empresas para o desenvolvimento conjunto de programas de P&D
(FERNHABER at. al., 2003; 2008; apud RIBEIRO, 2010, p. 30).
Ribeiro (2010) explica que outras formas de entrada no exterior (como
aquisições e estabelecimento de subsidiárias próprias), por apresentarem maior
custo inicial às operações externas, são raramente relatadas na literatura a respeito
das EBG. Porém, a autora lembra que, conforme relatado por Mcdougall e outros
74
(1994)42, há a existência de alguns casos de BGS que adquirem uma empresa ou
criam uma subsidiária própria antes mesmo de dar início às suas atividades
exportadoras.
42
McDougall e outros (1994 apud RIBEIRO, 2010) citam como exemplos as empresas Logitech e
LASA, as quais optaram por expandir seus negócios através da abertura de subsidiária no exterior,
antes de exportar para esses mercados.
75
5. INTERNACIONALIZAÇÃO: GRADUAL vs. ACELERADA
Há muito tempo que a internacionalização das empresas é entendida
como um – longo e lento – processo evolutivo de etapas que envolvem crescente
comprometimento com o mercado internacional. Porém, sabe-se que literaturas
recentes vêm apresentando claras evidências de empresas “nascidas globais”, cuja
internacionalização deu-se de maneira rápida e dedicada. Geralmente são empresas
empreendedoras de menor porte que internacionalizam suas atividades desde o
início, ou pouco tempo após sua fundação; estando a base para sua competitividade
internacional relacionada a conhecimentos de maior sofisticação. De acordo com
Bell e Mcnaughton (2000, p. 176 – tradução nossa43):
Apoiar essas empresas vem representando um grande desafio para as
EPOs [Export Promotion Organizations – em português, Organizações de
Promoção
Exportadora],
conforme
o
comportamento
de
sua
internacionalização e o suporte à suas necessidades são bastante distintos
daquelas apresentadas pelas empresas tradicionais.
Uma vez que a literatura mostra reconhecer a existência de diferentes
“caminhos” para a internacionalização, pretende-se, a seguir, explorar os pontos que
distinguem as firmas de internacionalização gradual das Born Global, tais como os
fatores motivacionais e comportamentais que determinam tal condição.
5.1. REVISÃO E SÍNTESE DA LITERATURA
Conforme já visto, a maioria dos modelos existentes postula que as
empresas se internacionalizam de maneira gradual e incremental através de uma
série de fases “evolutivas”. Ao fazê-lo, comprometem cada vez mais recursos aos
mercados estrangeiros, e tendem a visar países de maior “distância psíquica”.
Ademais, ainda que não exposta de maneira clara, os modelos tradicionais baseiamse na premissa de que as empresas que empreendem internacionalmente
encontram-se bem estabelecidas em seu mercado doméstico.
Porém, conforme apontado por Bell e McNaughton (2000), críticas a tais
concepções assumem erroneamente que o processo gradual subestima fatores
43
“Supporting these firms presents a major challenge to EPOs as their internationalization behavior
and support needs are quite distinct from those of traditional firms”.
76
como a indústria, a empresa e contextos pessoais, além de – geralmente –
apresentar um determinismo “exagerado”.
Dentre as últimas críticas relacionadas aos modelos tradicionais,
encontra-se a de Andersen (1993 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 176) 44, o
qual se centrou na fraca base teórica dos modelos e na incongruência encontrada
entre a teoria e a prática. Ao final concluiu que a habilidade apresentada pelos
modelos em delinear limites entre os estágios, ou para explicar adequadamente os
processos que lideravam o movimento entre eles, era “um tanto quanto limitada”.
No entanto, muitas empresas se internacionalizaram a partir de estágios
incrementais e outras continuam a fazê-lo. Indiscutivelmente, este é particularmente
o caso entre as empresas tradicionais gravitando de grandes economias (BELL;
MCNAUGHTON, 2000, p. 176 – tradução nossa45).
Ainda assim, teorias emergentes de pesquisas realizadas nos anos 90
apareceram como sério desafio a ser enfrentado pelas teorias defensoras da
internacionalização gradual.
Primeiramente, o crescente conjunto literário acerca da globalização de
serviços 46 ressalta a existência de diferenças substanciais entre os modelos de
internacionalização e as estratégias de empresas fornecedoras de produtos e às de
serviços (ERRAMILI; RAO, 1991; 1994; CHADEE; MATTSSON, 1998; O’FARRELL
et al., 1998 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000). Nessas circunstâncias, a validade
dos modelos tradicionais frente às empresas ligadas ao setor de serviços ficou
debilitada.
Em segundo lugar, pesquisas recentes entre EBGs demonstram uma
rápida e precoce expansão internacional por parte de empresas de menor porte,
porém, altamente comprometidas e de intensa tecnologia.
Em terceiro e último lugar, contrapondo as teorias tradicionais, a partir de
investigações realizadas entre pequenas e médias empresas de “conhecimento
intensivo” foi descoberto que algumas delas ignoraram por completo seu mercado
44
“More recently, Andersen-s (1993) conceptual critique focused on the weak theorical underpinning
of most models and the lack of congruence between theory and practice. He concluded that their
ability to delineate boundaries between stages, or adequately explain the processes that lead to
movement between them, was rather limited (BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 176)”.
45
“Nevertheless, many firms have internationalized in incremental stages and others continue to do
so. Arguably, this is particularly the case among traditional firms gravitating outwards from large
economies”.
46
Bell e McNaughton (2000, p. 177) indicam Knight (1999) para uma análise de maior compreensão.
77
doméstico a fim de atingir um mercado-alvo, ou ainda, optaram por atuar no
mercado doméstico e no internacional simultaneamente.
De acordo com Bell (1995 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 177), se
estas firmas já estiverem estabelecidas em seu mercado doméstico, elas tendem a
seguir os clientes domésticos no exterior, independente da “proximidade psíquica”
deste mercado.
Para McKinsey e outros (1993 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000),
muitas das firmas caracterizadas como “Born Global” e “de conhecimento intensivo”
são formadas por empreendedores ativos, na maioria das vezes devido ao
significante desenvolvimento de processos ou avanços da tecnologia; além disso,
suas contribuições comumente envolvem substancial valor agregado. Outra
característica decorrente às EBGS é o direcionamento das atividades empresariais,
estas focadas pelos diretores ao mercado global.
Dentre as inúmeras tendências influentes na atualidade, Knight e Cavusgil
(1996 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000) destacam as que propiciaram o
aparecimento das EBGS: (1) o crescente papel desempenhado pelos nichos de
mercado e aumento da demanda por produtos especializados e customizados; (2)
significativos avanços no processo de tecnologias que permitem às empresas
realizarem a produção de complexos componentes de forma rentável, ainda que em
pequena escala; (3) avanços na tecnologia de comunicação, tais como fax, e-mail e
sites de abertura internacional (world wide web – www); isso significa que pequenas
empresas podem administrar operações internacionais com maior eficiência e
acesso à informações; (4) a vantagem inerente à pequenas empresas em termos de
respostas mais rápidas, flexibilidade e adaptabilidade; (5) a internacionalização de
conhecimento, ferramentas, tecnologia e instituições facilitadoras, as quais proveem
oportunidades de transferência de tecnologia e acesso à fundos; e (6) a tendência
das redes de relacionamento (networks) globais, que estão facilitando o
desenvolvimento de relações mutuamente benéficas entre parceiros internacionais.
Para Bell e McNaughton (2000) não há dúvidas de que tais tendências
irão exercer forte influência na internacionalização das (pequenas e médias)
empresas. Também fica claro aos autores que empresas que adotam uma visão
internacional desde o começo representam um enorme desafio ao desenvolvimento
de conceitos e modelos que incorporem o comportamento da internacionalização
das EBGS, bem como das empresas mais “tradicionais”.
78
Quadro 14 - Principais Diferenças entre o Comportamento da Internacionalização
Tradicional e Internacionalização Acelerada
(continua)
EMPRESAS
MOTIVAÇÃO
OBJETIVOS
TRADICIONAIS
- Reativo;
- Mercado doméstico com
condições adversas;
- Falta de pedidos
- Gestão “relutante”;
- Os custos de um novo
processo produtivo “forçam” o
início das exportações.
- Sobrevivência/ crescimento da
empresa;
- Aumento no volume de
vendas;
- Ganho de participação no
mercado;
- Mercados alvo;
- Extensão do ciclo de vida do
produto;
- Renascimento global (“born
again global”).
- Incremental;
PADRÃO DE
- Expansão doméstica em
EXPANSÃO
INTERNACIONAL primeiro lugar.
RITMO
- Gradual;
- Lenta internacionalização
(pequeno número de mercados
exportadores);
- Um único mercado por vez;
- Adaptação de ofertas
existentes.
BORN GLOBAL
- Proativo;
- Nichos de mercado globais;
- Gestão “comprometida”;
- Internacional desde o início;
- Ativa atividade de pesquisa.
- Vantagem competitiva;
- Vantagem pioneira (“first-mover”);
- Fidelização de clientes (“locking-in
customers)
- Rápida inserção nos nichos ou
segmentos globais;
- Proteção e exploração do
conhecimento proprietário.
- Concomitante;
- Expansão das atividades doméstica
e exportadora quase que
simultaneamente (exportação pode
preceder atuação no mercado
doméstico);
- Foco nos mercados “líderes”;
- Evidências de clientes seguidores
(“followership”).
- Rápida;
- Internacionalização acelerada
(grande número de mercados
exportadores);
- Diversos mercados ao mesmo
tempo;
- Desenvolvimento de novos produtos
“globais”.
79
(conclusão)
EMPRESAS
MÉTODO DE
DISTRIBUIÇÃO/
FORMAS DE
ENTRADA
ESTRATÉGIAS
TRADICIONAIS
BORN GLOBAL
- Convencional;
- Uso de agentes/
distribuidores ou
revendedores;
- Direcionado ao
consumidor.
- Flexível;
- Uso de agentes ou distribuidores +
evidência de integração aos canais de
distribuição de clientes, uso de
licenças, joint ventures, produção em
território estrangeiro, etc.
- “Ad-hoc” 47 e oportunista;
- Evidencias de contínuo
comportamento reativo às
oportunidades de exportação;
- Expansão “atômica” 48, não
estando relacionado à novos
clientes ou mercados.
- Estruturada;
- Evidência de abordagens planejadas
à expansão internacional;
- Expansão das redes de
relacionamento (networks)
internacionais.
Fonte: Adaptado de Bell e Mcnaughton (2000, p. 179).
Havendo apresentado as principais diferenças comportamentais entre as
empresas internacionalizadas tradicionalmente, ou seja, de forma gradual, e as
internacionalizadas de forma acelerada, apresenta-se a seguir as variáveis de maior
recorrência às EBGs.
5.2. FATORES RELEVANTES À INTERNACIONALIZAÇÃO ACELERADA
O subcapítulo em questão visa identificar os fatores apontados pela
literatura como influentes à rápida inserção de uma empresa em mercados
estrangeiros.
A partir do conjunto de estudos, publicações e revisões feito sobre o tema
nos últimos dez anos, foram identificados alguns fatores recorrentes na
caracterização do processo de internacionalização, dentre eles: fatores ligados ao
ambiente, fatores internos da firma e fatores ligados ao empreendedor.
47
O termo “ad-hoc” significa “para esta finalidade" ou “para isso”; Geralmente é utilizada para
informar que determinado acontecimento tem caráter temporário e que se destina para aquele fim
específico.
48
A utilização do termo “atômico” faz referência à sua filosofia natural, desenvolvida a partir de várias
tradições. Consiste em diversos elementos separados, geralmente desiguais.
80
A partir dos estudos realizados e teorias elaboradas por Oviatt; Mcdougal
(1994); Zahra; George (2002); Dominguinhos; Simões (2004); Gabrielsson e outros
(2004); Rialp e outros (2005); Mathews; Zander (2007); Dib (2008); Knight; Kim
(2009), entre outros, foi possível identificar e analisar fatores internos e externos a
fim de conseguir explicar o que levaria uma empresa – “nascitura” ou com poucos
anos de “vida” – a ser capaz de entrar no exterior.
Apesar de Rialp e outros (2005 apud DIB, 2008) apontarem o fato de que,
durante a condução de pesquisas empíricas sobre as EBGS, a maioria dos autores
elaborou sua própria lista de fatores intervenientes à rápida internacionalização, vale
lembrar a conclusão feita por Autio; Sapienza (2000); Oviatt e Mcdougall (1994), na
qual afirma ser possível e necessária a realização de uma teoria integrada para a
internacionalização de firmas empreendedoras de rápida entrada no exterior.
Levando em consideração que até mesmo os fatores propulsores à rápida
entrada no mercado exterior podem sofrer intervenções (tais como fatores inseridos
no âmbito decisório da empresa e de seus gestores) a autora preocupa-se e acredita
ser válido iniciar a abordagem de tais fatores com um pouco mais de abrangência.
Sendo assim, é apresentado a seguir o modelo conceitual proposto por Dib (2008), o
qual organiza os blocos de fatores intervenientes no caminho seguido durante o
processo de internacionalização, seja ele gradual ou acelerado. Devido às limitações
de espaço para o trabalho, o modelo conceitual realizado pelo autor, bem como os
resultados encontrados por ele, encontram-se sumarizados pela figura 7 a seguir.
Figura 7 - Modelo Conceitual dos Fatores Influentes à Internacionalização
(continua)
81
(conclusão)
Fonte: Adaptado de Dib (2008, p. 4).
Quadro 15 - Hipóteses: Aplicação, Expectativas e Conclusões.
(continua)
HIPÓTESES
O conjunto de fatores
ligados a:
(1) Empresas
(2) Networks
(3) Empreendedores
HG1 está associado ao tipo
de processo de
internacionalização
seguido, se precoce
(BGs) ou gradual
(NBGs);
EXPECTATIVA
CONCLUSÃO
Em todas as
hipóteses, a relação
prevista é de que as
BGs apresentarão
esta característica
com maior
intensidade do que
as NBGs.
Obteve-se suporte empírico à
primeira hipótese geral,
confirmando a importância
conjunta de fatores ligados a
empresa, networks e
empreendedor para a
definição do processo de
internacionalização seguido
pelas empresas estudadas
[por Dib, 2008].
82
(conclusão)
HIPÓTESES
Empresas que
seguiram processos de
internacionalização
precoce (BGs) e as que
seguiram o processo
HG2
de internacionalização
gradual (NBGs)
apresentam
características distintas
no processo.
EXPECTATIVA
CONCLUSÃO
A expectativa era de
que as BGs
apresentariam graus
mais elevados nas
quatro primeiras
variáveis e de que as
motivações para
internacionalização das
BGs seriam mais
proativas do que das
NBGs.
Obteve-se suporte
empírico de que as
características do
processo de
internacionalização
diferenciariam as
empresas de
internacionalização
precoce (BGs) das que
seguiram o processo
gradual (NBGs); também
foi observado que apenas
uma característica
diferenciou os dois
grupos: as BGs são mais
dependentes do
faturamento internacional
do que as NBGs.
Fonte: adaptado de Dib (2008).
Havendo apresentado as principais diferenças entre o comportamento
das empresas internacionalizadas tradicionalmente e das internacionalizadas de
forma acelerada, segue-se para o próximo objetivo deste trabalho: uma breve
análise de dois estudos de caso com base nos fatores e teorias expostas que
abordam a internacionalização gradual e a acelerada.
83
6. ESTUDO DE CASO: A EMPRESA DMC E A EMPRESA RAZEK
Serão analisados dois casos de empresas que expandiram seus negócios
internacionalmente, sendo o processo de internacionalização de uma gradual e outra
acelerada. Vale ressaltar que a classificação das empresas baseou-se no tempo
entre a fundação até a primeira atuação da empresa no mercado internacional, e
ainda, será considerada como Born Global a empresa que apresentar histórico de
atuação internacional em um período igual ou inferior a cinco anos, partindo da data
de sua fundação49.
Para analisar a inserção dessas empresas no exterior são levados em
consideração três fatores independentes: 1) fatores externos à empresa; 2) fatores
internos à empresa; e 3) fatores ligados ao empreendedor. Ademais, cada um dos
fatores é subdividido em outras diversas variáveis características ao processo de
internacionalização, conforme exposto pelo quadro 16 abaixo.
Quadro 16 - Fatores Relevantes à Internacionalização Acelerada
(continua)
Localização em Habitat
de Inovação
Integração a Cadeias
Produtivas Globais
Parcerias e Alianças
Estratégicas para
Inovação
Políticas
Governamentais
49
FATORES EXTERNOS
Localização em um habitat de inovação, tais como: parque
tecnológico, incubadoras, aceleradoras, APL, etc. (FERNHABER
et. al., 2007).
Atuação da empresa como fornecedora em cadeias produtivas
globais ou competição em um setor altamente
internacionalizado (FERNHABER et. al., 2007).
Utilização de parcerias para inovação com universidades
brasileiras, multinacionais situadas no Brasil, institutos de
pesquisa brasileiros (DIB, 2008).
Utilização
de
políticas
(projetos,
financiamentos)
governamentais de apoio à internacionalização (BELL;
MCNAUGHTON, 2000).
O conceito operacional de born global adotado foi estabelecido por Dib e outros (2010). A definição
está alinhada com os principais trabalhos internacionais sobre esse conceito (KNIGHT; CAVUSGIL,
2004; KNIGHT; KIM, 2009; MADSEN; SERVAIS, 1997; OVIATT; MCDOUGALL, 1994-1995; RIALP et
al., 2005). Para maiores informações, aconselha-se ver Dib e outros (2010) e Borini e outros (2012).
84
(conclusão)
Capacidade de
Inovação
Orientação para o
Mercado Internacional
Habilidade de
Marketing
Internacional
Habilidade Gerencial
Internacional
Experiência
Internacional
FATORES INTERNOS
Capacidade da empresa para desenvolver e introduzir novos
processos, produtos, serviços ou ideias para o mercado
internacional (KNIGHT; KIM, 2009; KNIGHT; CAVUSGIL, 2004).
Habilidade da empresa de entender a ação dos concorrentes, e
conseguir coordenar as ações internacionais entre as áreas
funcionais da empresa – mediadas pelas atividades
internacionais, estas, orientadas para atender especificamente
as demandas dos clientes internacionais (KNIGHT; KIM, 2009).
Habilidade da empresa em criar valor para os clientes
internacionais por meio de uma efetiva segmentação e
avaliando como as ferramentas de marketing estão
organizadas para diferenciar as ofertas dos seus competidores
(KNIGHT; KIM, 2009).
FATORES DO EMPREENDEDOR
Habilidades gerenciais internacionais derivam do perfil
(formação técnica e gerencial, experiências acumuladas ao
longo da carreira, conhecimento de idiomas) e das ações dos
empreendedores, tais como: capacidade de identificação de
oportunidades no exterior, mobilização e gerenciamento de
recursos para a exploração dessas oportunidades, propensão
em
assumir
riscos
financeiros
e
de
mercado
internacionalmente (HOLTBRUGGE; WESSELY, 2009).
Experiência profissional internacional de trabalho anterior em
multinacionais (em departamentos internacionais ou de
exportação) ou através da experiência no exterior como
funcionários expatriados, ou algum outro tipo de experiência
profissional no exterior (experiências durante a formação
profissional), tais como cursos de graduação, especialização,
MBAs, etc. (DOMINGUINHOS; SIMÕES, 2001).
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2010, p. 121).
A partir desses dois estudos de caso se aprofundará o entendimento
acerca das características presentes nas EBGs, ao mesmo tempo em que visa
facilitar a identificação dos fatores preponderantes às empresas que tiveram seu
processo de internacionalização de forma acelerada. Para que assim, seja possível
destacar quais fatores que estão presentes em um processo de internacionalização
acelerada e os que não estão presentes em um processo de internacionalização
gradual.
85
Muito embora os resultados desta pesquisa sejam derivados de aplicação
de teorias reconhecidas acerca do tema de internacionalização, a escolha do
método estudo de caso apresenta limitações. Este se refere a uma realidade
particular, cujos resultados encontrados também derivam de um contexto particular,
os quais não podem ser generalizados ou servir de base para refutar quaisquer
teorias.
6.1. UM BREVE ADENDO – EMPRESAS INOVADORAS E EBTS
Levando em consideração que ao longo do desenvolvimento dos
próximos itens os termos “inovador” e “de base tecnológica” estarão constantemente
vinculados à caracterização das empresas selecionadas ao estudo de caso, a autora
está convencida da importância em explicar (sumariamente) os conceitos envolvidos
a tais definições – uma vez que, neste trabalho, “empresas inovadoras” e “empresas
de base tecnológica – EBTs” serão utilizados como termos equivalentes (ainda que,
atualmente, o termo considerado como mais adequado seja “empresas inovadoras”).
Após haver contribuído com a identificação das principais teorias
referentes à internacionalização e suas características, bem como a diferenciação do
processo de internacionalização tradicional do acelerado, Bell e McNaughton (2000)
apontaram mais uma possível linha de diferenciação, porém, específica às Born
Globals.
De acordo com os autores, as EBGs podem ser classificadas como de
“conhecimento – e/ ou produção – intensiva” ou “empresas baseadas em
conhecimento”. Coviello (1994 apud BELL; MCNAUGHTON, 2000, p. 178) define
essas firmas como aquelas que detêm um alto valor agregado de conhecimento
científico embutido em seu produto e no processo do mesmo.
Para Bell e McNaughton (2000), o ponto “chave” para a diferenciação
desses grupos se encontra no fato de que a existência das empresas baseadas em
conhecimento (Knowledge-Based Firms) é essencialmente consequente ao
surgimento de novas tecnologias (tais como tecnologia da informação – TI –,
biotecnologia, entre outros). Essas firmas irão desenvolver ou adquirir conhecimento
próprio, do qual sem não iriam existir (como, por exemplo, criadores de softwares,
provedores de internet, centros de rede telefônica ou quaisquer outras empresas
que ofereçam serviços independentes à distância).
86
Em contrapartida, empresas baseadas em conhecimento e/ou serviços
intensivos podem usar o conhecimento para o desenvolvimento de novas ofertas,
melhorias à produtividade, introdução de novos métodos de produção e/ou
melhorias à prestação de serviços; não estando inerentes às firmas baseadas em
conhecimento. Como exemplos, Bell e McNaughton (2000, p. 178) citam o uso
assistido de computadores no design (Computer Aided Design – CAD) e no
processo de produção (Computer Aided Manufacturing – CAM), assim como o uso
de tecidos “high-tech”, ou seja, tecidos com alta tecnologia incorporada, para a
confecção de roupas e em indústrias têxteis.
Com isso, os autores postulam que a propensão dessas empresas à
internacionalização
acelerada
é
susceptível
ao
fato
das
mesmas
serem
tecnologicamente “inovadoras” ou “seguidoras”.
No presente trabalho, a inovação é entendida de uma maneira ampla.
Para isso, serão adotadas as definições elaboradas por Tidd e outros (2005 apud
RIBEIRO, 2012), as quais comportam quatro tipos de inovações; considerando,
ainda, as capacidades de imitação, adaptação e engenharia reversa, discutidas por
Pinho (2005 apud RIBEIRO, 2012).
Quadro 17 - Os Diferentes Tipos de Inovação
(continua)
TIPO DE INOVAÇÃO
PRODUTO
PROCESSO
ORGANIZACIONAIS
DESCRIÇÃO
Mudanças nos produtos ou serviços que uma empresa oferece.
Envolvem mudanças significativas nas potencialidades de produtos e
serviços. Incluem-se bens e serviços totalmente novos e/ou
aperfeiçoamentos importantes para produtos existentes (TIDD et. al.,
2005). O “novo” produto ou serviço é entendido de forma ampla, de
maneira a abranger as capacidades de imitação, adaptação e
engenharia reversa da empresa (PINHO, 2005).
Mudanças nos métodos de produção e de distribuição dos produtos
ou serviços.
Trata-se da implementação de novos métodos organizacionais, tais
como mudanças em práticas de negócios, na organização do local de
trabalho ou nas relações externas da empresa. Nesse sentido, Tidd e
outros (2005) apresentam a noção de inovação de paradigma que
incluem as mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam
o que a empresa faz.
87
(conclusão)
TIPO DE INOVAÇÃO
MARKETING
DESCRIÇÃO
Envolvem a implementação de novos métodos de marketing,
incluindo mudanças no design (concepção, desenho, delineamento e
formulação) do produto e na embalagem, na promoção do produto e
sua colocação, e em métodos de estabelecimento de preços de bens e
de serviços; os autores ainda complementam com a inovação de
posição que seriam as mudanças no contexto em que os produtos ou
serviços são introduzidos.
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2012, p. 114-115).
De acordo com Knight; Cavusgil (2004); Knight e Kim (2009), a inovação
de uma empresa é resultante de duas fontes principais; estando a primeira
relacionada à intensidade e importância dada ao investimento em pesquisa e
desenvolvimento (P&D) interno, criando, assim, o conhecimento acumulado da
empresa; e o segundo fator determinado pela inteligência de mercado agregada à
empresa como meio de entender as inovações dos competidores.
Os autores também ressaltam que tais fontes devem ser organizadas de
maneira integrada, pois, “além de introduzir novos produtos e métodos de produção,
a P&D também suporta a abertura de novos mercados e reinvenção das operações
da empresa para atender estes mercados internacionais” (RIBEIRO, 2012, p.109).
6.2. SELEÇÃO DOS CASOS E COLETA DE DADOS
Até o momento, os estudos brasileiros relacionados às Born Globals
limitam-se à estudos de caso (ROCHA et al., 2005; Rocha, 2005), ensaios teóricos
(FERNANDES; SEIFERT, 2007; FERNANDES; SEIFERT, 2005; DIB, 2004) , com
exceção ao estudo empírico mais recente sobre as Born Globals brasileiras no
campo de software, elaborado por Dib em 2008. A problemática aqui existente se dá
pelo fato dos estudos supracitados não considerarem as relações entre os recursos
internos e o ambiente competitivo de forma a orientar as empresas para acessar o
mercado internacional.
Para esta pesquisa, foi definido o estudo de caso como sendo o método
mais apropriado, levando em consideração, principalmente, a escassez de estudos
relativos ao tema (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; RIALP; KNIGHT, 2005), bem como,
88
as limitações de recursos em um trabalho de conclusão de curso de graduação.
Sendo assim, a pesquisa possui natureza qualitativa, com levantamento e análise de
dados primários e secundários sobre duas empresas de base tecnológica: Razek e
DMC Equipamentos, situadas na cidade paulista de São Carlos – um dos maiores
polos de tecnologia do Brasil.
Conforme visto anteriormente, apesar do fenômeno Born Global não ser
restrito a empresas vinculadas aos setores de base tecnológica, as mesmas ainda
lideram a preferência dos pesquisadores que abordam o assunto, em especial, por
sua grande recorrência (DOMINGUINHOS; SIMÕES, 2001; RIALP; RIALP; KNIGHT,
2005, apud BORINI et al., 2012).
Em referência a Dominguinhos e Simões (2004), Ribeiro (2012, p. 24)
frisa que a internacionalização acelerada é mais comum às empresas de indústrias
de alta tecnologia, como as de software, eletrônicos, biotecnologia, aero espacial e
instrumentos médicos; porém, conclui que o aparecimento de BGs não se vincula a
tipos de tecnologias e/ou setores específicos (RENNIE, 1993; DIB, 2008).
Também é valido ressaltar que na última década, estudos mostraram
Empresas de Base Tecnológicas – EBTs que vêm obtendo sucesso competitivo em
seus negócios no exterior, principalmente quando essas empresas possuem
produtos de alto conteúdo tecnológico e capacidade de inovação (KNIGHT;
CAVUSGIL, 2004; KNIGHT; KIM, 2009; OVIATT; MCDOUGALL, 1994; apud BORINI
et al., 2012).
Portanto, ambas as empresas foram escolhidas devido à tecnologia
inovadora presente em seus produtos, bem como pela constante preocupação com
pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, objetivando o fortalecimento dos
setores à qual estão inseridas, frente aos concorrentes internacionais e,
especialmente, pelo sucesso que obtiveram – nacional e – internacionalmente em
suas respectivas áreas de atuação.
A escolha das empresas para o estudo de caso levou em consideração
tanto a relevância da empresa, bem como a facilidade de acesso a seus executivos
e informações fundamentais à realização do presente estudo – consideração
essencial a ser feita a partir do momento em que se busca realizar um estudo de
caso aprofundado o suficiente para gerar alguma contribuição a pesquisas futuras,
mesmo que singela – uma vez que, conforme elucidado por Yin (1994), é
89
imprescindível a autorização da empresa para o acesso a seus documentos,
realização de entrevistas e visita.
Tanto na empresa DMC quanto na empresa Razek, foi entrevistado o
responsável pelo departamento de exportação, a representante comercial Cristina
Varela Wolowski. De acordo com Yin (1994), a entrevista é considerada como a
fonte de dados mais importante em um estudo de caso; e ainda, o roteiro de
entrevistas em um estudo de caso deve possuir “open-ended nature”, ou seja, deve
ser “naturalmente aberto”, e deve servir para orientar a discussão com os
entrevistados, escolhidos de forma intencional e de acordo com a relevância de suas
experiências e opiniões para a questão pesquisada.
6.2.1. Estudo de Caso 01: O Grupo DMC
Fundada em 1998 na cidade de São Carlos – SP, a empresa DMC
Equipamentos Ltda. se orgulha do pioneirismo presente em todo o caminho
percorrido ao longo de sua história. Desde sua origem, a empresa teve como
propósito o constante desenvolvimento de novas tecnologias para a saúde bucal.
O início das operações de manufatura da DMC foi possível graças à visão
empreendedora de seus sócios proprietários, que se submeteram a enfrentar os
desafios de um ambiente empresarial nacional pouco regulamentado no aspecto da
proteção ao segredo industrial e do uso de patentes.
Por se tratar de um mercado extremamente burocrático, foram
demandados altos investimentos financeiros em estruturas e mão de obra
qualificada para que fosse possível efetivar a formalização legal dos produtos junto
ao Ministério da Saúde. Naquela época, assim como na atualidade, o Brasil não
tinha como tradição a geração de tecnologia, e o setor de indústrias de
equipamentos e produtos para a odontologia não era exceção, porém a DMC vem
quebrando sistematicamente esse paradigma.
A primeira demonstração do espírito de inovação (que guia a empresa até
hoje) aconteceu no final do ano de 1999, quando a DMC apresentou aos CirurgiõesDentistas brasileiros o primeiro fotopolimerizador nacional a base de emissores de
estado sólido – Light Emmiting Diodes (LEDs). Na época, a empresa, ainda jovem, já
conhecida pela fabricação de equipamentos na linha de profilaxia, iniciou Brasil afora
uma grande campanha, com a realização de inúmeros cursos e treinamentos para
90
mudar a forte resistência natural por parte do mercado, uma vez que a técnica
apresentada mostrou-se bastante inovadora para a época. Porém, todos os esforços
mostraram ter valido a pena, já que atualmente a maioria dos fotopolimerizadores
fabricados no mercado mundial utiliza da tecnologia que a empresa consagrou-se
como pioneira.
Logo em seguida, comandada pelo fundador Renaldo Massini Junior, a
empresa continuou empenhada em abrir novas perspectivas para a modernização
da base tecnológica utilizada na odontologia brasileira; sendo assim, lançou o
sistema de laserterapia, considerado ainda hoje como o mais completo sistema
disponível no mercado nacional. Atualmente, o Thera Lase é utilizado nos maiores
centros de pesquisas especializadas do país, tais como o Laboratório Especial de
Laser em Odontologia (LELO), Fundação de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico da Odontologia (FUNDECTO), Hospital Mario Covas, entre outros.
Em 2001, foi criado e patenteado o Whitening Lase, equipamento de
clareamento dental para uso em consultório, que combina duas fontes de luz (laser/
LED), o que significou uma nova revolução de conceitos seguida, novamente, por
vários fabricantes ao redor do globo. Ademais, esse invento incrementou
perpetuamente a difusão da técnica de clareamento dental sob a supervisão total do
profissional de odontologia, uma vez que poucos deles mostraram-se dispostos a
investir em outros tipos de tecnologias importadas, principalmente em razão do valor
de desembolso e das contraindicações apresentadas.
Vale ressaltar que, todo o investimento necessário para a concretização
desses projetos, bem como de outros que hoje estão em via de conclusão, é provido
pela própria empresa, que desde o início de suas atividades, utiliza laboratórios
particulares para finalidade de ensaios, condição vital à manutenção do segredo e
desenvolvimento industrial.
Em 2003, partindo da identificação da necessidade de aprimoramento dos
agentes químicos de clareamento dental, no sentido de estabelecer uma maior
compatibilidade entre estes e os sistemas de fotoativação disponíveis no mercado, a
DMC investiu na construção de um laboratório químico.
Sete meses após a inauguração deste laboratório com sede em São
Carlos e filial no Rio de Janeiro, já estava concluído o desenvolvimento de novas
soluções em termos de conjunto químico, envolvendo um sistema a base de
peróxido de hidrogênio a 35%, bi-componente que contendo elemento corante e
91
espessante oriundos da flora brasileira (urucum e juá), mantêm o nível adequado de
absorção da luz que é gerada pela unidade fotoativadora.
Durante o ano de 2004, todo o sistema de qualidade foi implantado e em
Abril de 2005, a empresa passou pela primeira auditoria interna. Em 21 de Junho do
mesmo ano, foi vistoriada pela ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
com a finalidade de analisar 116 (cento e dezesseis) itens que compõem as
exigências da norma RDC 59 - Boas Práticas de Fabricação de Produtos Médicos,
vistoria essa, que culminou com a emissão em 07 de Novembro de 2005, da
respectiva certificação. Em Julho de 2005, sob a coordenação da Professora e
Doutora Luciana Almeida Lopes50, a DMC passou a contar com o apoio do recémcriado Núcleo de Pesquisa e Ensino (NUPEN) de Fototerapia nas Ciências da
Saúde, responsável por estabelecer parcerias valorosas com instituições tais como:
LELO, FUNDECTO e Universidade de São Paulo (USP).
Seguindo pela mesma linha inovadora, a empresa desenvolveu mídias
educativas em CD-ROM e intensificou a realização de cursos através de
conceituados professores no Brasil no exterior, amparados pelo NUPEN, o qual
coordena as atividades de educação, pesquisa e desenvolvimento das técnicas de
clareamento dental, laserterapia, fotoativação entre outras disponibilizando aos
profissionais da saúde, o acesso às novas tecnologias através do incentivo e
patrocínio de pesquisas que culminem com a criação de conceitos modernos de
bioengenharia sem comprometimento da integridade do meio ambiente. Além de
desenvolver materiais didáticos, prestar consultoria a clientes e organizar cursos nos
territórios nacional e internacional.
Interessante ressaltar que desde 2005 uma parcela dos investimentos da
empresa fomenta o NUPEN, cuja contribuição no âmbito do desenvolvimento
tecnológico se consolida nos atuais projetos firmados: (1) Programa Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo de Pesquisa Inovativa em Pequenas
Empresas (PIPE-FAPESP) e (2) programa de formação de Recursos Humanos em
50
A Professora e Doutora Luciana Almeida Lopes é (1) Mestre em Engenharia Biomédica pelo IP&D
– órgão da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) encarregado de executar programas e
projetos de pesquisa e desenvolvimento, bem como de ensino de Pós-Graduação “Stricto Sensu” de
caráter institucional, de fornecer assessoria técnica científica a organismos públicos e privados e
prestar serviços à comunidade, São José dos Campos, SP; (2) Doutora em Ciência e Engenharia de
Materiais pela Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, SP; (3) Coordenadora do Núcleo de
Pesquisa e Ensino de Fototerapia nas Ciências da Saúde (NUPEN), em São Carlos, SP; e (4)
Professora Colaboradora do curso de "Maestria en Odontología Láser" do Instituto Mexicano de
Tecnologia Biomédica", em Monterrey, México.
92
Áreas Estratégicas (RHAE) – gerido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e
executado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPQ), os quais, segundo a empresa, vêm apresentando importantes resultados
que deverão culminar na criação de novos produtos e tendências para o mercado,
especificamente para as áreas de Laser Cirurgia e Diagnóstico por Imagem.
Foi no mesmo ano, durante a participação da DMC no 24º Congresso
Internacional de Odontologia de São Paulo – CIOSP (principal evento odontológico
do mundo) que surgiu, a partir da proposta feita por um interessado estrangeiro aos
proprietários da empresa, a oportunidade de expandir os negócios da empresa
através da formação de uma parceria internacional. A proposta mostrou-se viável e
satisfatória, principalmente dada à operante rede de distribuição pertencente ao
futuro sócio, esta já consolidada no México, Argentina e Equador.
O modo de entrada aos mercados se deu pela exportação de
equipamentos e produtos odontológicos fabricados pela DMC ao sócio estrangeiro,
que a partir de então, assumiria o papel de representante legal e exclusivo; estando
também encargado pela promoção e venda dos produtos. Este, por sua vez,
distribuía o pedido entre sua rede de contatos já estabelecidos e demais
interessados.
Porém, em 2007, por motivos desconhecidos, a parceria se extinguiu.
Esse acontecimento levou à criação de um departamento comercial exclusivo ao
mercado internacional e à participação da empresa nas maiores e principais feiras
nacionais e internacionais vinculadas, principalmente, ao setor odontológico e
estético.
Apesar do término da parceria e dos desafios advindos da crise
econômica mundial entre os anos de 2008 e 2009, ainda assim, a empresa DMC se
apresentou ao ano de 2010 sustentada em modernas estruturas e constantes
investimentos em inovações e tecnologia, que culminaram com a manutenção de
todos os registros, o cumprimento de todas as exigências dos órgãos
regulamentadores brasileiros, tal como a ANVISA, e a manutenção da Certificação
de “Boas Práticas de Fabricação”. E ainda, no mesmo ano, a empresa conquistou a
marcação da Comunidade Europeia (CE), o que permitiu a expansão dos canais de
distribuição na Europa e Oriente Médio.
93
O ano de 2010 também foi marcado pela apresentação oficial do primeiro
laser cirúrgico odontológico do mercado nacional – Thera Lase Surgery, destinado,
pela primeira vez, ao trabalho com tecido duro, dentre outras aplicações cirúrgicas
realizadas de forma minimamente invasiva. Para a área de laserterapia, foi
apresentado ao mercado o equipamento Therapy XT, unidade de laser terapêutico
operado a bateria; enquanto que na área de fotopolimerização, destacou-se a família
de aparelhos fotopolimerizadores de alto desempenho, também operados a bateria.
Ainda no mesmo ano foi implementado o laboratório de microbiologia,
cuja grande conquista tecnológica deu-se pela manufatura de membranas de
celulose
bacteriana
–
inovadora
contribuição
com
inúmeras
aplicações,
compreendidas desde o tratamento de feridas e úlceras crônicas, passando por
lesões de queimaduras até lesões odontológicas. A divisão de materiais implantáveis
contribuiu com o desenvolvimento de uma série de materiais igualmente inovadores,
estes à base de hidroxipatita nanoparticulada, ácidos poliáticos e poliglicólicos –
utilizados em procedimentos de enxertia óssea.
O ano de 2011 foi marcado pela apresentação de uma série de produtos
inéditos e revolucionários para as áreas de clareamento dental, Photodynamic
therapy – PDT (em português, Terapia Fotodinâmica), cirurgia a laser, cirurgia
ortopédica voltada para a odontologia (material de enxertia), além de uma gama
imensa de produtos para as novas áreas de atuação – otorrinolaringologia, cirurgia
vascular, neurocirurgia (cirurgia de coluna) e medicina veterinária, as quais se
encontram aliadas às áreas tradicionais de atuação – odontologia, dermatologia
estética e fisioterapia.
Atualmente, a empresa está representada em quase todo o território
nacional por uma equipe composta por dezessete representações, além de estar
presente nos continentes: Latino Americano, Europeu, Asiático e Africano, e conta
com uma filial nos EUA desde 2005, em Miami - Flórida.
É graças a este conjunto de competências que, empresas tradicionais dos
setores médico e odontológico, têm percebido o grande potencial tecnológico da
organização
e
estão
integrando
em
suas
linhas
de
produtos,
soluções
personalizadas desenvolvidas pelos laboratórios da DMC.
Ao longo de mais de uma década, a DMC vem se firmando junto ao
público consumidor e ao segmento da saúde com equipamentos de alta tecnologia e
serviços diferenciados, prestados através de uma rede de representantes
94
qualificados, distribuídos estrategicamente em diversos territórios nacionais e
estrangeiros. Prova disso se dá pela consolidação da linha de clareadores e
produtos da divisão química, motores, peças cirúrgicas, equipamentos e demais
produtos que fazem parte do portfolio disponível para atender, também, a área
médica em cirurgias minimamente invasivas e tratamentos de fototerapia.
Atualmente a empresa segue com novos projetos, pretendendo aumentar
sua participação no mercado odontológico e estruturar a atuação no segmento de
produtos e equipamentos para a área médica, notadamente nas especialidades de
Fisioterapia, Dermatologia Estética, Ortopedia e Neurocirurgia.
6.2.2. Estudo de Caso 02: A Empresa RAZEK
Presente no Brasil e nos Estados Unidos desde sua fundação, em 11 de
julho de 2005 no polo tecnológico da cidade de São Carlos, a empresa RAZEK vem
desempenhando um papel estratégico no cenário da ortopedia brasileira, outrora
completamente
dependente
das
tecnologias
desenvolvidas
pelos
países
desenvolvidos.
Segundo a própria empresa, a gama de produtos oferecida incorpora o
“estado da arte” em termos de tecnologia às áreas de eletrônica fina, óptica,
mecânica fina e química, abrangendo praticamente todos os segmentos da cirurgia
ortopédica, tais como: artroscopia de ombro, quadril e joelho; neurocirurgia; cirurgia
ATM; cirurgia para pés e mãos; cirurgia da coluna e cirurgia de buco-maxilo.
E é através do avançado centro de desenvolvimento da empresa que a
mesma consegue consolidar a missão estabelecida, ou seja, proporcionar a
independência tecnológica nacional, bem como assegurar a continuidade de
fornecimento de produtos e serviços.
Apesar da dificuldade enfrentada pela autora em conseguir quaisquer
documentos que informassem melhor a respeito da história da empresa e sua
trajetória, foi possível identificar o ponto de partida e os motivos propulsores à
expansão da empresa, graças ao tempo disponibilizado pela gerente de exportação,
Cristina Wolowski, atuante na empresa desde 2011. Segundo ela, foi a partir da
crescente procura vinda do exterior que, em 2010, a empresa RAZEK decidiu
explorar as possibilidades apresentadas pelo mercado estrangeiro. Primeiramente, a
95
empresa preocupou-se em criar um departamento exclusivo à exportação para dar
início ao atendimento da demanda internacional.
Devido à facilidade de entrada e a aceitação do certificado de qualidade
brasileiro ANVISA por parte dos mercados Latino Americanos, em conjunto com os
estudos e prospecções cedidos pelas empresas de cooperação e incentivo – a
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), e a
Associação
Brasileira
da
Indústria
de
Artigos
e
Equipamentos
Médicos,
Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO), que a empresa RAZEK
optou, em primeira instância, por direcionar suas atividades internacionais aos
mercados do México, Colômbia, Chile e Peru.
Ao longo dos anos seguintes, a empresa soube aproveitar as
oportunidades apresentadas pela parceria formada junto à APEX e ABIMO para sua
participação nas principais feiras médicas internacionais, tais como a Feira
Hospitalar, o Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo e o evento
promovido pela organização de cirurgiões ortopédicos da academia americana –
American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS), utilizando a credibilidade
advinda de ambas às instituições como favorecedor e propulsor ao reconhecimento
global da firma, passando confiança e segurança quanto à qualidade e tecnologia
presente nos produtos ofertados, conquistando, assim, potenciais clientes futuros.
Atualmente a empresa possui representação ativa no México, Peru, Malásia,
Colômbia, Coréia do Sul, África do Sul, Argentina, Uruguai, República Dominicana e
Líbia, estando o processo de expansão para a China, Estados Unidos e Oriente
Médio em andamento.
6.3. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO
Um dos objetivos deste estudo é identificar os fatores que diferenciam as
empresas cujo processo de internacionalização precoce as enquadra na categoria
Born Global das empresas que se internacionalizam segundo o modelo gradual.
Para isso, utilizou-se de suporte empírico, a coleta de dados primários junto às duas
empresas e a experiência profissional da autora, no método de observação
participativa (limitada ao período de atuação da autora como assistente do
departamento de exportação das empresas). A análise dos resultados encontrados é
dada a partir do grau de influência sofrido no processo de internacionalização de
96
cada empresa, com base nos fatores que influenciaram o processo de
internacionalização acelerada, decompostos por variáveis na forma de hipóteses.
As variáveis que podem influenciar a internacionalização foram tratadas
como hipóteses, conforme exposto no quadro 20. Tais variáveis/ hipóteses
agrupadas compõem as três categorias de fatores influentes no processo de
internacionalização acelerada: os fatores externos, os fatores internos e os fatores
do empreendedor, descritas anteriormente no item 5.2 deste TCC.
Quadro 18 - Fatores Influentes: Teste de Hipóteses
FATORES EXTERNOS
H1a: A localização em habitats de inovação acelera a entrada de
EBTs no exterior;
H1b: A integração em cadeias produtivas globais acelera a entrada
de EBTs no exterior;
H1c: A utilização de parcerias com empresas multinacionais,
universidades e institutos de pesquisa para inovação em seu país
de origem acelera a entrada de EBTs no exterior;
H1d: A utilização de políticas governamentais e apoios do governo
para internacionalização acelera a entrada de EBTs no exterior.
FATORES INTERNOS
H2a: A capacidade de inovação acelera a entrada de EBTs no
exterior
H2b: A orientação para o mercado internacional acelera a entrada
de EBTs no exterior;
H2c: A habilidade em marketing internacional acelera a entrada de
EBTs no exterior.
FATORES DO EMPREENDEDOR
H3a: A habilidade gerencial internacional do empreendedor acelera
a entrada de EBTs no exterior;
H3b: A experiência internacional do empreendedor acelera a
entrada de EBTs no exterior.
Não
apoiada
Apoiada
Apoiada
Apoiada
Não
apoiada
Apoiada
Apoiada
Não
apoiada
Não
apoiada
Fonte: Adaptado de Ribeiro; Oliveira Jr.; Borini (2012, p. 881).
Em relação aos fatores externos, apresentados no quadro 20,
confirmaram-se as hipóteses H1b, H1c e H1d, uma vez que ambas as empresas
atuam em setores de relevância internacional e foram beneficiadas pela parceria
junto a instituições como a ABIMO e APEX Brasil. A hipótese relacionada à
97
localização em habitat de inovação não foi apoiada, já que não mostrou influenciar o
processo de internacionalização de nenhuma das empresas aqui estudadas. Em
referência à Fernhaber e outros (2007), Ribeiro, Oliveira Jr. e Borini (2012) afirmam
que, “esse resultado apresenta conformidade com alguns estudos que mostram que
inúmeras EBTs Born Globals (...) nascem em setores altamente globalizados, ou
seja, setores em que cadeias globais de fornecimento estão configuradas”. Sendo
assim, as empresas aqui estudadas parecem haver sido “puxadas” para o mercado
internacional (FERNANDES; SEINFER, 2007 apud RIBEIRO; OLIVEIRA JR.;
BORINI, 2012).
A partir da análise das hipóteses relacionadas à influência dos fatores
internos à internacionalização das empresas em questão, apresentados no quadro
20, obteve-se um resultado de significativa coerência com as conclusões
apresentadas pela maior parte dos estudos sobre as EBGs. Entretanto, o resultado
obtido através da hipótese que coloca a capacidade de inovação como fator
propulsor à
internacionalização
acelerada
apresentou
incoerência
com
as
expectativas geradas pela maioria literária.
Por fim, mas não menos importantes, são analisados os fatores ligados ao
empreendedor, apresentados no quadro 20. Em discordância com o baixo nível de
influência agregado a este fator encontrado no gráfico exposto acima, o processo de
internacionalização de ambas as empresas foi beneficiado pela habilidade gerencial
e experiência internacional, ligadas não ao empreendedor, e sim à gerente
responsável pelo departamento de exportação de ambas as empresas.
Vale ressaltar que a igualdade no grau de influência vinculado aos fatores
do empreendedor é dada ao fato de que ambas as empresas foram criadas pelo
mesmo proprietário, portanto, ambas encontram-se sob a mesma direção e
processos decisório às ações ligadas ao exterior.
Ainda que a decisão final sob todos os aspectos da firma esteja vinculada
ao empreendedor, ou seja, ao proprietário, a gerente do departamento de
exportação mostrou ser de fundamental importância, se não a razão para a
expansão dos negócios internacionais das empresas DMC e Razek.
Para realizar a análise comparativa, os fatores foram contabilizados em
termos percentuais aplicados ao grau de influência destes sobre o processo de
internacionalização das duas empresas. A estatística utilizada foi resultante da
divisão entre o número de variáveis influentes a cada fator principal e a soma dos
98
pontos identificados presentes entre as características externas, internas e do
empreendedor de cada empresa (vide quadro 20). Os resultados estão expostos no
gráfico a seguir.
Gráfico 1 - Processo de Internacionalização: grau de influência dos fatores
Grau de influência %
elencados nas empresas DMC e Razek
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
DMC
RAZEK
Externos
Internos
Empreendedor
Conjunto de
Fatores
Influêntes
Fatores influêntes ao processo de internacionalização acelerada
Fonte: Desenvolvido pelo autor (2013).
Na análise do gráfico 01, nota-se um fato muito interessante. Apesar dos
fatores selecionados serem considerados influentes à rápida internacionalização das
empresas, os mesmos obtiveram maior incidência e impacto no processo de
internacionalização da empresa DMC, considerada durante esta pesquisa, como
internacionalização gradual.
Em relação às empresas selecionadas, a empresa DMC, cujo processo
de internacionalização caracterizado (neste estudo) como “gradual”, resultou ser a
EBT “verdadeiramente” inovadora, enquanto que as características ligadas à Razek
– considerada no presente estudo como sendo uma Born Global – classificam a
empresa como “seguidora” das tendências inovadoras apresentadas por empresas
internacionais.
99
O mais interessante é que, apesar de a DMC ser a empresa inovadora,
aqui em questão, é a empresa Razek quem aparece como a verdadeira beneficiada,
especialmente pelos produtos químicos presentes em seu portfolio, cuja tecnologia
foi
desenvolvida
no
laboratório
da
empresa
DMC
e
pelos
profissionais
especializados contratados pela mesma.
Em adendo, a autora agrega a disparidade e incongruência dos
resultados apresentados pelo Gráfico 01 em relação à caracterização do processo
de internacionalização da empresa DMC e da empresa Razek como consequência
das barreiras impostas aos diferentes setores de atuação entre as empresas. O
processo de normatização e legalização enfrentado pela empresa DMC vêm se
mostrado mais burocráticos, demorados e custosos em relação ao enfrentado pela
empresa Razek.
Sendo assim, foi possível perceber que os resultados obtidos com a
análise das empresas, a partir da seleção dos principais fatores, considerados por
parte da literatura como influentes à rápida internacionalização das empresas,
mostraram-se contraditórios à realidade de ambas as empresas.
A partir dos resultados obtidos através da análise dos fatores individuais a
cada uma das empresas, percebeu-se que o critério utilizado foi, não apenas
insuficiente, como incoerente à realidade das empresas e ao processo de
internacionalização sofrido por elas.
Levando em consideração que o critério de análise e comparação do
conjunto de fatores agregado às empresas (de acordo com as características
individuais da instituição e do empreendedor, bem como pelo processo de
internacionalização enfrentado), deu-se de maneira fiel às definições encontradas, a
autora acredita ter levantado um ponto a ser considerado por pesquisas futuras, uma
vez evidenciado a presença de outros fatores e características influentes à
internacionalização das empresas, aqui estudadas.
100
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a realização dos estudos, aqui apresentados, confirmou-se a
incongruência entre as principais teorias sobre o processo de internacionalização
diante da realidade vivida pelas empresas e empreendedores vinculados ao
mercado externo.
Ademais, percebeu-se que a dificuldade das teorias tradicionais em
explicar o processo de internacionalização acelerada permanece, uma vez que não
há um consenso expressivo entre autores e estudiosos da área para que seja
possível definir as características, os motivos e os fatores que podem ou não
influenciar o processo de internacionalização acelerada. Tal fato acaba por
evidenciar a importância e urgência de expansão da literatura e pesquisas
relacionadas ao tema e ao comportamento dessas empresas.
Foi com esse intuito que o presente trabalho buscou trazer contribuições
aos estudos sobre o processo de internacionalização, especialmente, ao campo de
estudos ligados ao entendimento do fenômeno Born Global.
Ainda que não se tenha alcançado um consenso acerca dos pontos
relacionados ao fenômeno, tão pouco identificado quaisquer formas de conclusão
definitiva dentre a literatura disponível, a autora acredita ter conseguido evidenciar
as razões que validam o estudo do tema abordado, não apenas para a linha
acadêmica (que carece de estudos e pesquisas voltadas, especialmente, à
internacionalização acelerada, bem como o processo de internacionalização como
um todo, tratando-se de uma reformulação geral das teorias tradicionais, ainda
vigentes, que não mais correspondem com as exigências e necessidades
apresentadas pelo cenário atual), mas também para o setor econômico, político e
social do Brasil, os quais são responsáveis por proporcionar o incentivo necessário e
o estímulo financeiro suficiente para promover o empreendedorismo internacional
entre as empresas brasileiras.
101
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WOOKI. Dmc Importação e Exportação de Equipamentos Ltda. Disponível em:
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<http://www.wordreference.com/definition/leapfrogging#forumDiscussions>. Acesso
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CONGRESSO E EVENTOS
EFE, Estocolmo. PORTFÓLIO SEÇÃO INTERNACIONAL. 14 out 2008.
111
GLOSSÁRIO
Ad-hoc: o termo “ad-hoc” significa “para esta finalidade" ou “para isso”; Geralmente
é utilizada para informar que determinado acontecimento tem caráter temporário e
que se destina para aquele fim específico. Ao fazer isso, o autor revela que o
trabalho, frase ou outro conteúdo, ao qual ele recorreu, a fim de valorar a tese
defendida, apresenta um número maior que três autores e por isso, em texto, usa a
expressão et al ("entre outros", em tradução livre) comunicando na citação tal
evento.
Apud: indica a fonte de uma citação indireta (do latim junto a; em); pode ser
entendido como: citado por, conforme, segundo.
Artroscopia: também chamada de cirurgia artroscópica, é um procedimento
cirúrgico endoscópio minimamente invasivo através do qual se examina e, por
vezes, se realiza o tratamento dos danos do interior de uma articulação. É realizada
utilizando um artroscópio, tipo de endoscópio que é inserido dentro da articulação
através de uma pequena incisão. Os procedimentos artroscópicos podem ser
realizados tanto para avaliar como para tratar muitos problemas ortopédicos.
Buco-maxilo facial: a cirurgia bucomaxilofacial é uma especialidade odontológica
que trata cirurgicamente as doenças da cavidade bucal, face e pescoço, tais como:
traumatismos e deformidades faciais (congênitos ou adquiridos), traumas e
deformidades dos maxilares e da mandíbula, envolvendo a região compreendida
entre o osso hioide e o supercílio de baixo para cima, e do tragus a pirâmide nasal,
de trás para frente.
Ceteris Paribus: expressão do latim que pode ser traduzida por "todo o mais é
constante" ou "mantidas inalteradas todas as outras coisas". A condição cet. par. é
usada na economia para fazer uma análise de mercado da influência de um fator
sobre outro, sem que as demais variáveis sofram alterações.
Enxertia: na medicina, um enxerto é um procedimento cirúrgico para transplantar
tecidos sem nutrição sanguínea.
112
Et Alia: expressão originária da língua latina, usada atualmente (segundo regras as
quais devem se ater trabalhos acadêmicos, entre outros), em citações.
Ex-Post Facto: termo utilizado, na metodologia científica, para indicar um
experimento que se realiza depois do fato.
First Movers: forma de vantagem competitiva que uma empresa ganha através da
prática pioneira, ou seja, ao ser o primeiro a entrar em um mercado ou setor
específico. O pioneirismo permite que uma empresa adquira o reconhecimento da
sua marca e a lealdade do cliente. A empresa também tem mais tempo para
aperfeiçoar seu produto ou serviço.
Followership: refere-se à habilidade agregada a certos indivíduos em uma
organização, equipe ou grupo. Especificamente, é a capacidade de um indivíduo
para acompanhar ativamente um líder.
Fotopolimerizador: aparelho de luz no espectro azul com comprimento de onda de
aproximadamente 670 nanômetros que ativa o bis-gma da resina e produtos
odontológicos endurecendo-os. Utilizado na restauração em resina foto-ativada.
Greenfield(s): termo utilizado para descrever uma área de terra em que nenhuma
infraestrutura foi construída, porém existe um projeto para que seja feita uma obra
no local (“greenfield project” refere-se a um projeto que está sendo concebido e
executado onde não existe atualmente uma organização empreendedora, ativo ou
operação; “greenfield site” é um local onde não há infraestrutura presente para
suportar o projeto).
Joint Venture(s): é uma espécie de aliança estratégica que supõem um acordo
comercial de inversão conjunta de longo prazo entre duas ou mais pessoas
(normalmente pessoas jurídicas ou comerciantes).
Know-how: termo em inglês que significa literalmente "saber como". Know-how é o
conjunto de conhecimentos práticos (fórmulas secretas, informações, tecnologias,
113
técnicas, procedimentos, etc.) adquiridos por uma empresa ou um profissional, que
traz para si vantagens competitivas.
Laser-terapia: forma de tratamento médico baseado na aplicação da luz laser
gerada por diodos emissores de luz a fim de ativar ou inibir a atividade celular
Leapfrogging: (1) avançar de um lugar/ posição/ situação para outro sem precisar
progredir através de todos ou qualquer um dos lugares/ estágios entre o ponto de
partida e o destino final; (2) melhorar uma posição ultrapassando rapidamente ou
pulando algumas etapas de uma atividade ou processo.
Locking-in Customers: termo utilizado na economia para expressar a dependência
do cliente com o fornecedor de produtos e serviços, tornando-o incapaz de utilizar
outro fornecedor sem custos e/ou mudança significativos.
Profilaxia: na odontologia, o objetivo da profilaxia é a prevenção de doenças orais
ou dentárias, abrangendo tratamento como a selagem de fissuras, aplicação tópia
de fluorides para fortalecer o esmalte, entre outros.
Royalties: palavra de origem inglesa que se refere a uma importância cobrada pelo
proprietário de uma patente de produto, processo de produção, marca, entre outros,
ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercialização.
Terapia Fotodinâmica: forma de tratamento de tumores, cancros e outras
deformações de tecido, usando luz e compostos fotossensíveis (ou seja, absorve
energia luminosa num determinado comprimento de onda e por decaimento do seu
estado mais energético) em combinação com o oxigênio contido no tecido.
114
APÊNDICE A – Coleta de Dados Gerais: DMC
DMC IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS LTDA.
CNPJ
ABERTURA
NATUREZA
SITUAÇÃO
ENDEREÇO
ATIVIDADES
EXERCIDAS
NÚMERO DE
FUNCIONÁRIOS
FATURAMENTO
ATIVIDADES
INTERNACIONAIS
* Correspondente ao
ano de 2012
FILIAIS
INTERNACIONAIS
FUNDAÇÃO
LOCALIZAÇÃO
PRIMEIRA
ATUAÇÃO NO
EXTERIOR
PAÍS DE ENTRADA
FORMA DE
ENTRADA
PAÍSES EM QUE
ATUA (2013)
LINKS
RECOMENDADOS
02.827.605/0001-86
21 de outubro de 1998
Sociedade Empresária Limitada
Ativa desde 23 de dezembro de 2000
Rua Dr. Sebastiao De Moraes, nº 831, São Carlos, SP
– Brasil
- Fabricação de aparelhos eletromédicos,
eletroterapêuticos e de irradiação;
- Fabricação de produtos farmoquímicos;
- Manutenção e reparação de aparelhos eletromédicos,
eletroterapêuticos e de irradiação;
- Manutenção e reparação de equipamentos e
instrumentos ópticos;
- Pesquisa e desenvolvimento experimental em
ciências físicas e naturais;
- Fabricação de instrumentos não-eletrônicos e
utensílios para uso médico, cirúrgico, odontológico e
de laboratório
80 funcionários diretos
R$ 5 (cinco) milhões de reais
DMC USA
Ano de 2005
8201 Peters Road, STE 1000 Plantation, Florida - USA
Ano de 2005
México, Ecuador e Argentina
Exportação e Representação Internacional
Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Bolívia, Chile,
Filipinas, Finlândia, Guatemala, Iraque, Líbano,
México, Paraguai, Peru, República Dominicana,
Tailândia e Tunísia.
• DMC: www.dmcgroup.com.br
• NUPEN: www.nupen.com.br
Fonte: Elaborado pelo autor (2013).
115
APÊNDICE B – Coleta de Dados Gerais: Razek
RAZEK EQUIPAMENTOS LTDA.
CNPJ
ABERTURA
NATUREZA
SITUAÇÃO
ENDEREÇO
ATIVIDADES
EXERCIDAS
NÚMERO DE
FUNCIONÁRIOS
FATURAMENTO
ATIVIDADES
INTERNACIONAIS
* Correspondente ao
ano de 2012
FILIAIS
INTERNACIONAIS
FUNDAÇÃO
LOCALIZAÇÃO
PRIMEIRA
ATUAÇÃO NO
EXTERIOR
PAÍS DE ENTRADA
FORMA DE
ENTRADA
PAÍSES EM QUE
ATUA (2013)
07.489.0805/0001-30
11 de julho de 2005
Sociedade Empresária Limitada
Ativa desde 11 de julho de 2005
Rua Ernesto Gonçalves Rosa Junior, nº 437, São
Carlos, SP – Brasil
- Fabricação de aparelhos eletromédicos,
eletroterapêuticos e de irradiação;
- Fabricação de instrumentos não-eletrônicos e
utensílios para uso médico, cirúrgico, odontológico e
de laboratório;
- Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e
equipamentos para uso odonto-médico-hopitalar;
partes e peças.
100 funcionários diretos
R$ 36 (trinta e seis) milhões de reais
RAZEK USA
Ano de 2005
8201 Peters Road, STE 1000 Plantation, Florida - USA
Ano de 2010
Colômbia e Argentina
Venda direta em feiras internacionais, Exportação e
Representação Internacional
México, Peru, Malásia, Colômbia, Coréia do Sul, África
do Sul, Argentina, Uruguai, República Dominicana e
Líbia; China, Estados Unidos e Oriente médio (em
andamento).
LINKS
RECOMENDADOS
Fonte: Elaborado pelo autor (2013).
•
RAZEK: www.razek.com.br
116
APÊNDICE C – Questionário para Coleta de Dados
(continua)
117
(continuação)
118
(continuação)
119
(conclusão)
Fonte: Adaptado
51
51
de Borini e outros (2012, p. 877-878)
52
.
Questionário elaborado pelo designer gráfico Jean Henrique de Oliveira Menezes.
Para maiores informações, acessar artigo RAC, Rio de Janeiro, v. 16, n. 6, art. 6, pp. 866-888,
Nov./ Dez. 2012 em www.anpad.org.br/rac.
52
Download

o Fenômeno das Empresas Born Global