GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA SUPERINTENDÊNCIA DE MUSEUS PRÁTICAS EDUCATIVAS EM MUSEUS Magaly Cabral* •Pedagoga, Museóloga, Mestre em Educação. •Diretora do Museu da República/DEMU/IPHAN/MinC EDUCAÇÃO - garantia de acesso aos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade. - prática para a cidadania - formadora de indivíduos críticos, criativos e autônomos, capazes de agir no seu meio e transformá-lo. - a educação (escola) não transforma a sociedade, mas pode contribuir para sua mudança. PÚBLICOS (*) ● criança – 5 anos e menos criança – 6 a 12 anos adolescente – 13 a 17 anos adulto – 18 a 64 anos idoso – 65 anos em diante ou “audiências diferenciadas” ● público escolar → educação infantil 1ª à 4ª séries 5ª à 8ª séries 2º Grau 3º Grau ● público em geral → infantil infanto-juvenil juvenil adultos idosos ● público especial → famílias portadores de deficiências excluídos socialmente (*) As práticas educativas devem ter em conta a que público se destinam São diversas as práticas educativas que podem ser desenvolvidas num museu. São, na verdade, formas de mediação, que possibilitarão a interpretação dos bens culturais. Nossa proposta aqui é somente destacá-las, pois cada uma delas mereceria um desenvolvimento específico. O conceito de “Educação para o Patrimônio” proposto por Grinspum (2000: 27), contempla as práticas educacionais de museus de qualquer natureza e pode ser entendido como “formas de mediação que propiciam aos diversos públicos a possibilidade de interpretar objetos de coleções dos museus, do ambiente natural ou edificado, atribuindo-lhes os mais diversos sentidos, estimulando-os a exercer a cidadania e a responsabilidade social de compartilhar, preservar e valorizar patrimônios material e imaterial com excelência e igualdade.” ● a prática da ação educativa em museus deve buscar entender como se dá a experiência dos visitantes no museu. ● tomar em consideração, por exemplo, um modelo de experiência museal total vivenciada pelo visitante, proposto por dois pesquisadores americanos, John Falk e Lynn Dierking (1997), a partir de diversos estudos de público por eles realizados. ● segundo os autores, a experiência museal envolve uma interação entre três contextos: MODELO DE EXPERIÊNCIA INTERATIVA CONTEXTO PESSOAL EXPERIÊNCIA CONTEXTO SOCIAL MUSEAL CONTEXTO FÍSICO Modelo criado para apresentar um quadro coerente da experiência museal total do visitante.* * In: Falk, John H. e Dierking, Lynn D. The Museum experience. Washuington D.C.: Whalesback Books, 1997. ● o contexto pessoal, que incorpora uma variedade de experiências e conhecimento do visitante, inclui seus interesses, motivações e relações. Cada pessoa chega ao museu com uma agenda pessoal. ● o contexto social, que compreende de que forma o visitante está no museu: só; em grupo; com a família. Mas que também leva em consideração se o museu está cheio ou vazio, por exemplo. E compreende também, evidentemente, a equipe do museu ─ desde a recepção, passando por guardas de sala, até os guias/monitores/mediadores. ● o contexto físico, que leva em conta a arquitetura do edifício, os objetos/a exposição e a ambiência. Um museu bem sinalizado, por exemplo, facilita a chegada e a circulação do visitante: indicação de exposições de longa duração e temporárias, guarda-volumes, banheiros, cafeteria, loja, livraria, etc. Segundo Köptcke (2003: 10), “os autores, mais tarde, acrescentaram ao sistema o eixo temporal, sinalizando que: ● o sentido e a construção de conhecimentos a partir da visita a uma instituição museal trazem consigo uma dimensão temporal manifesta na articulação de memórias e aquisições anteriores à visita, com possíveis situações de conflito cognitivo e novas construções de sentido durante a visita. ● se manifesta igualmente no ‘estoque’ de memórias e aquisições resultantes das interações sócio-cognitivas durante a visita, disponíveis para futuros (re)investimentos em situações diversas: na sala de aula, em casa assistindo TV, no cinema, em visita a outros museus, etc.” EXEMPLOS DE ALGUMAS PRÁTICAS EDUCATIVAS ● visitas “orientadas”/”guiadas”/”monitoradas”/”dialógicas” (*) ● encontros com professores ● projetos específicos ● visitas dramatizadas ● oficinas de férias ● PESQUISA DE PÚBLICO ● programas para famílias ● folhas de atividades ● ateliês ● AVALIAÇÃO ● visita-conferência ● maletas pedagógicas/exposições itinerantes ● salas de descoberta/ área ou módulo de animação ● festas para as crianças ● jogos ● guia auditivo (audioguide) ● filmes/vídeos ● Programa Multimídia/Internet/CD-ROM ● Site Institucional ● visitas “orientadas”/ “guiadas”/ “monitoradas”/ “dialógicas” ● a primeira e mais comum atividade pedagógica realizada pelos museus, mas, nem por isso, menos importante. ● o primeiro contato do visitante com o museu. ● bem feita, convidará o visitante a retornar mais vezes. ● a visita orientada é a “natureza de uma atividade pedagógica museal”. (Michel Allard, educador em museus e pesquisador canadense) Falk e Dierking, (1995: 12), no seu estudo sobre lembranças da experiência museal, reportaram que este estudo “reforçou que as visitas de escolas elementares iniciais foram experiências importantes nas vidas das crianças”. Eles notaram que assuntos perguntados prontamente lembraram suas visitas escolares e que estas memórias permaneceram persistentes. ● visita “orientada”, ou “guiada”, ou “monitorada” ou mesmo “mediada” • importa a forma como seja conduzida junto ao visitante: • compreendida como uma forma de comunicação que permita uma interpretação através de experiência compartilhada, modificação ou desenvolvimento da mensagem à luz das respostas no momento, sem que o orientador/guia/monitor/mediador seja o dono da verdade absoluta, mas que ouve e dá voz ao visitante. • um profissional que acredite numa educação dialógica. Daí podermos falar em “visita dialógica”. ● encontros com professores • se o atendimento à visita de escolares ao museu é uma das práticas mais realizadas, conseqüentemente, a de trabalhar junto com os professores, realizando encontros, é muito importante e fundamental. • pesquisas de colegas brasileiros indicam que a maioria das visitas de um escolar ao museu se dá através de ações da escola. • a proposta não é um encontro com professores para ensinar sobre o museu. • oportunidade de trocar, com os professores, reflexões sobre educação, a instituição museu e, é claro, o museu onde acontece o encontro. • oportunidade para que o professor amplie sua visão sobre as possibilidades de um museu e, o educador, as possibilidades da escola. • oportunidade de ouvir dos professores o que pensam das nossas ações, o que pode ser melhorado da nossa parte. • museus que só atendem com visita orientada àqueles professores que participam dos encontros oferecidos. • museus que oferecem percursos a serem desenvolvidos, cabendo a escolha ao professor. • proposta muito adequada, pois o mais importante é trabalhar um conjunto de acervo, ou uma exposição específica. • uma visita bem realizada desperta o desejo da volta. • o museu não deve estar preocupado com a massificação de visitas, mas sim com a qualidade delas. “O importante é menos receber uma grande quantidade de público e disso se vangloriar do que constatar se o visitante tirou proveito de sua visita, verificou, enriqueceu seus conhecimentos e fez algum intercâmbio, aguçou sua curiosidade e seu espírito crítico, cultivou sua sensibilidade, sentiu prazer, estimulou sua criatividade , melhorou seu modo de vida, privada e pública.” Giraudy e Bouilhet (1990: 92) Atualmente, muitos museus preparam e oferecem materiais específicos para os professores, para que possam conhecê-los melhor e, assim, colaborar na preparação que farão para suas visitas. ● projetos específicos • prática que pode resultar dos encontros com professores. • projetos específicos que atendam aos alunos a partir dos interesses do professor e do museu, ou a outros grupos como idosos ou grupos excluídos socioculturalmente, por exemplo. • uma ação que pode gerar excelentes resultados, uma vez que o grupo retornará muitas vezes ao museu e será possível fazer uma avaliação mais concreta dos objetivos propostos → tipo de prática educativa que permite a realização de avaliações mais substantivas sobre o comportamentos do visitantes. ● oficinas de férias oportunidade do grupo participante estabelecer um contato mais permanente com o museu. ● ● além dos jogos, brincadeiras, atividades artísticas, contação de histórias, etc, importante a temática do museu estar presente durante a oficina de férias: um objeto, uma exposição temporária, um recorte da exposição de longa duração. ● programas para famílias ● Os museus brasileiros, com raras exceções, ainda não perceberam a importância de se oferecer programas para esse segmento de público espontâneo que os visita. ● experiências com visitas de escolares demonstram que muitos deles comentam (e muitos o fazem) que voltarão com seus pais. ● prática educativa que oferece à família a possibilidade de desfrutar uma experiência cultural em seus momentos de lazer. ● estudos de público apontam para o interesse desse segmento em utilizar os museus como espaço de socialização e aprendizagem (Studart, 2002, 2003). ● folhas de atividades ● há educadores que não gostam das folhas de atividades, questionando que elas resultam em experiências limitadas que focam em apenas preencher a folha ao invés de alguma coisa mais produtiva. • argumento correto se a folha de atividades for preparada com esse sentido (acaba por reproduzir a atividade “copiar etiquetas”, muitas vezes presenciada em museus). ● bom material para estimular o interesse e permitir descobertas no museu, desde que apropriadas à faixa etária a que se destina e, acima de tudo, se não for utilizada para testar conhecimento de quem a utiliza. ● quando utilizadas em grupo, além de favorecer a experiência museal do contexto social, favorece o que Vygotsky (1991: 97) chama de “zona de desenvolvimento proximal”. ● ateliês Museus de arte se utilizam com freqüência dessa prática educativa, após a visita, oferecendo a oportunidade aos participantes de se expressarem plasticamente sobre obras com que tomaram contato. ● ● A prática, entretanto, não está restrita a essa tipologia de museu. ● visita-conferência Estabelecer, por exemplo, um dia na semana, ou no mês, num determinado horário, uma visita orientada por um especialista do museu a uma obra ou a um recorte da exposição de longa duração. ● ● Uma prática mais dirigida ao visitante adulto. ● demonstrações/salas ou espaços de descoberta/ área ou módulo de animação espaços que permitem ao visitante um descanso e, ao mesmo tempo, tomar contato com materiais referentes à exposição. ● ● podem contar com profissionais fazendo demonstrações ou ser, apenas, um espaço que contém jogos, computador, livros para consulta, etc. ● podem também ser montados no percurso da exposição. ● animação teatral ● um recurso bastante atraente, desde que o grupo teatral também se proponha a ouvir e dar voz ao visitante. ● diferente de uma prática em que os visitantes se vestem com roupas antigas e fingem vivenciar uma situação do passado, sem problematizá-lo. ● jogos ● produzir jogos relacionados à temática do museu é uma forma do visitante se relacionar de forma lúdica ao acervo. ● jogos da memória, dos 7 erros, álbum de figurinhas, etc, são exemplos. ● jogos podem ser produzidos de forma artesanal, testados, e, posteriormente, pode-se buscar editá-los. ● maletas pedagógicas/exposições itinerantes ● oferecer maletas pedagógicas e exposições itinerantes a escolas e outros espaços é uma forma eficaz de divulgar o museu e despertar o interesse pela visita ao museu, além de oferecer meios de se produzir conhecimento. ● audioguia (audioguide) recurso bastante caro, pois ainda não é produzido no Brasil, mas de excelente utilidade para o visitante individual no museu, e que pode ser editado em várias línguas. ● ● filmes/vídeos o recurso de se utilizar filmes/vídeos no museu, seja como introdução ou complemento a uma visita seja no circuito da exposição, é muito interessante. ● ● vídeos muito longos podem ser cansativos. ● Programa Multimídia/CD-ROOM utilização de novas tecnologias no museu é de um grande auxílio. ● ● não se pode valorizá-las em excesso, mas também não se pode ignorá-las. ● programas multimídias na recepção do museu ou mesmo no circuito da exposição também podem ser de grande auxílio para complementar informações. ● a produção de CD-ROMs pode ser de grande auxílio tanto na divulgação do museu quanto como material de apoio ao professor. ● Site Institucional ● ferramenta cada vez mais utilizada nas instituições e configura-se num importante espaço de divulgação do trabalho que está sendo desenvolvido. ● fundamental que os setores educativos possuam seu espaço dentro do portal institucional e nele devem constar os objetivos do setor, os projetos em andamento e demais informações. ● dedicar um espaço ao público infanto-juvenil com caráter lúdico e didático, visando aproximar este segmento, com laços tão estreitos com o mundo virtual, das questões relacionadas à preservação do patrimônio. • devem constar jogos e passatempos, textos de apoio ao professor e ao aluno, agenda, imagens e outras informações, sempre com uma linguagem adequada à faixa etária à qual se destina. AVALIAÇÃO -coleção sistemática de fatos e informação sobre características, atividades e conseqüências de uma exposição ou programa público e que é útil para tomar decisões sobre continuação do programa ou aperfeiçoamento. - a avaliação realizada em função: - do VISITANTE: - as exposições - os programas que lhe são oferecidos - suas necessidades - sua relação com o objeto museal - do NÃO-VISITANTE: - onde se situa ? - por que não visita? - um exemplo de primeiro instrumento que permite uma pesquisa e avaliação: o livro de assinaturas do museu. Data/ Nº/ Nome/ Procedência Escolaridade/ Profissão/ Idade (Cidade/Bairro) / AVALIAÇÃO DE EXPOSIÇÃO - Inicial (frontend) realizada no começo do desenvolvimento das idéias para a exposição. objetiva identificar e eliminar erros que podem ocorrer nas exposições antes que o planejamento detalhado da exposição comece. formativa(formative) testa idéias e exposições em construção objetiva testar seções da exposição enquanto no processo de desenvolver a exposição. - cara, consome tempo - pode ser bastante útil na redação de textos e no desenvolvimento de exposições interativas somativa (summative) testa a exposição depois de aberta ao público examina o que se obteve ao final do processo AVALIAÇÃO DE PÚBLICO - hoje, mais preocupada com a qualidade: - as percepções que o público tem do museu - as atitudes que traz com ele quando visita o museu - os significados e valores que o visitante atribui ao que vê e ouve. - Tipo de avaliação subjetiva proposta por Eilean Hooper-Greenhill GLO (Generic Learning Outcomes) → propõe a verificação dos seguintes aprendizados: - ampliação dos conhecimentos formais ( reconhecíveis na área do conhecimento) - ampliação das habilidades (sociais, museais, práticas e intelectuais) - transformação de valores e atitudes individuais e relacionais - prazer, inspiração e criatividade - progresso da atividade comportamental INCLUSÃO SOCIAL - conceito multidimensional que se relaciona à possibilidade de acesso aos direitos ou serviços em diferentes aspectos da vida → econômico, social, político e cultural INCLUSÃO SOCIOCULTURAL 1 – Públicos Especiais – • pessoas com limitações sensoriais, físicas ou mentais • grupos inclusivos (pessoas com e sem as limitações citadas) - contato com as instituições que trabalham com esses grupos especiais, para aprender como trabalhar. - parceria com as instituições que trabalham com esses grupos especiais - necessidade de educadores especialmente treinados - necessidade de produção de materiais especiais 2 - Populações que vivem em situações de vulnerabilidade ou de exclusão social - desconhecem o museu e - não percebem o museu como lugar de seu interesse - não se sentem representados por eles - espaço do outro, das elites culturais - o que o museu pode acrescentar ao seu cotidiano (marcado por diversas premências) ? - o que o museu pensa desse público? - desconsidera esses grupos como possíveis visitantes - o que organizações que já trabalham com esses grupos (associações, cooperativas, ONGs, etc) pensam do museu? - percebem o museu como uma instituição muito mais relacionada à educação e lazer do que relacionada a uma instituição com potenciais contribuições a oferecer à inclusão. - não estão convencidas do valor transformador de programas executados dentro de museus. - como trabalhar com esses grupos? - sensibilizar os profissionais responsáveis das organizações. - estabelecer parcerias com organizações conhecimento das suas especificidades, necessidades e interesses desenvolver ações que criem sentido e utilidade para os grupos atendidos, dando visibilidade e relevância ao museu.