1º Ten Al FABÍOLA MESQUITA DE LIMA MACIEL
BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA MILITAR PARA A PREVENÇÃO
CARDIOVASCULAR E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA
RIO DE JANEIRO
2010
1º Ten Al ALINE BATISTA DE CASTRO
1º Ten Al FABÍOLA MESQUITA DE LIMA MACIEL
BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA MILITAR PARA A
PREVENÇÃO CARDIOVASCULAR E MELHORIA DA
QUALIDADE DE VIDA
Trabalho de conclusão de curso apresentado à
Escola de Saúde de Exército como requisito parcial
para aprovação no Curso de Formação de Oficiais
do Serviço de Saúde, especialização em Aplicações
Complementares às Ciências Militares
Orientador: Sérgio José Siqueira de Araújo
RIO DE JANEIRO
2010
M152b
Maciel, Fabíola Mesquita de Lima.
Benefícios da atividade física militar para a prevenção
cardiovascular e melhoria da qualidade de vida / Fabíola Mesquita
de Lima Maciel - Rio de Janeiro, 2010.
28 f; il. color. 30 cm
Orientador: Sérgio José Siqueira de Araújo
Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Escola de
Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação em Aplicações
Complementares às Ciências Militares, 2010.
Referências: f. 27-28.
1. Treinamento Físico Militar. 2. Doenças Cardiovasculares. 3.
Qualidade de Vida. I. Araújo, Sérgio José Siqueira de. II. Escola de
Saúde do Exército. III. Título.
CDD 613
1º Ten Al FABÍOLA MESQUITA DE LIMA MACIEL
BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA MILITAR PARA A
PREVENÇÃO CARDIOVASCULAR E MELHORIA DA
QUALIDADE DE VIDA
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO
SÉRGIO JOSÉ SIQUEIRA DE ARAÚJO – Mestre em Medicina
Interna/Cardiologia
Orientador
LUÍS FELIPE SIMÕES RAMOS – Capitão
Coorientador
FABRÍCIO ALMEIDA DE MOURA - Capitão
Avaliador
RIO DE JANEIRO
2010
Dedico este trabalho em especial ao meu esposo, Capitão Mesquita, responsável
pelo meu entusiasmo e vibração.
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, pois sem Ele eu nada seria. Quantas
vezes em minha vida precisei do seu amor incondicional... E Ele sempre estava ali,
para me dar coragem, perseverança e acima de tudo confiança em mim mesma.
Nunca nem por um momento me senti só ou desamparada, e tudo o que eu sou e
tenho hoje eu devo a Ele.
Agradeço também aos meus pais. Que me fizeram crescer como pessoa, que
me educaram e destinaram parte (se não a totalidade) de suas vidas à felicidade de
seus filhos. O amor que recebi dos meus pais foi fundamental para o meu
desenvolvimento. Quero aqui externar a eles meu profundo agradecimento por estar
presente em cada etapa vencida de minha vida. Sem eles minha vida não teria
sentido.
Meu marido... muitas palavras seriam necessárias para agradecer por tudo o
que você me ajudou a alcançar e por tudo o que já passamos juntos e que se
tornaram para mim um grande aprendizado! Obrigada, ainda, por me fazer acreditar
que fazemos parte de uma Instituição que nos enche de muito orgulho. O tempo só
me fez te amar cada vez mais e ter a certeza de que nossos ideais são “ontem, hoje
e sempre” um único ideal por todas as nossas vidas.
Vovó, maninho, tios, tias, primos, primas... toda minha família. Obrigada!
Ao meu orientador, que mesmo distante e tão ocupado pôde me dar a
atenção e as orientações necessárias.
Ao meu coorientador, Capitão Luís Felipe, sempre atencioso e disposto a
ajudar.
A todos que contribuíram para minha formação militar, um agradecimento
todo especial! Vocês foram fundamentais para a consolidação de uma teoria já tão
presente em minha vida. Com destaque ao Capitão Veloso, comandante do meu
querido pelotão Cobra, do qual faço parte com muito orgulho! Obrigada por cada
ensinamento e por cada repreensão na hora devida.
E ainda a vocês, todos os meus companheiros de jornada! Amizades
inesquecíveis ficarão em meu coração. Obrigada por cada mão estendida na hora
em que por um minuto pensei que estivesse só.
“Mente sã em um corpo são, é uma descrição
curta, mas completa, de uma condição feliz neste
mundo. Aquele que tem ambos, tem muito pouco
mais a desejar; e aquele que deseja ambos, será
um pouco melhor em tudo.”
(John A. Locke)
RESUMO
O objetivo da presente pesquisa é revisar a literatura para ressaltar a importância da
atividade física na saúde cardiovascular e na melhoria da qualidade de vida de uma
maneira geral. Importância, essa, sobretudo presente na vida dos militares, que
além de precisarem estar sempre com boa saúde e um bom condicionamento físico,
precisam também de autos níveis de autoconfiança e motivação. Atributos esses
essenciais e indispensáveis para suas funções no corpo de tropa. Ao longo da
história a atividade física sempre esteve presente na rotina da humanidade
associado a um estilo de época. A caça dos homens das cavernas para a
sobrevivência, aos Gregos e suas práticas desportivas na busca de um corpo
perfeito ou de cunho militar, como o exemplo na formação das legiões romanas com
suas longas marcha e treinos. Mas essa relação entre a atividade física e o homem
em sua rotina diária parece ter diminuído gradativamente. O progresso trouxe uma
situação um tanto dúbia, de um lado a redução da mortalidade por doenças infecto
contagiosas e o aumento da longevidade e do outro o aumento de doenças crônico
degenerativas e a perda da qualidade de vida, porque o fato de viver mais não indica
viver melhor. Mas por que toda essa preocupação com o grau de condicionamento
físico da população mundial? Estudos longitudinais apontam para a relação direta e
favorável entre o nível de aptidão física, o grau de atividade física praticada e a
saúde. Ainda segundo esses estudos algumas doenças podem ser evitadas ou
minimizadas com o ato de exercitar-se regularmente: doença aterosclerótica
coronariana; hipertensão arterial sistêmica; diabetes melito tipo II; acidente vascular
encefálico; doença vascular periférica; obesidade; osteoporose e osteoartrose;
ansiedade e depressão. No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem
assumindo grande importância. As pesquisas mostram que a população atual gasta
bem menos calorias por dia, do que gastava há 100 anos, o que explica porque o
sedentarismo afeta aproximadamente 70% da população brasileira. O estilo de vida
atual pode ser responsabilizado por 54% do risco de morte por infarto e por 50% do
risco de morte por derrame cerebral, as principais causas de morte no país. Assim,
vê-se como a atividade física é assunto de saúde pública e pode-se então concluir
quantos benefícios o militar da ativa pode adquirir com a atividade física regular,
bem planejada e bem estruturada.
Palavras-Chaves: Treinamento Físico Militar. Doenças Cardiovasculares. Qualidade
de vida.
ABSTRACT
The objective of the present research is review the literature to highlight the
importance of the physical activity in the cardiovascular health and the improvement
of the quality of life in a general way. This importance is especially present in the life
of the military personnel, who need not only to be in good health and fit, but also high
levels of self confidence and motivation. Such attributes are essential and
indispensable to their functions in the troops. Throughout history, the physical activity
has always been present in the routine of humanity related to a period style. To the
hunting of the cave men for survival, to the Greek and their practice of sports in the
search of the perfect body or military interest, as when forming roman legions with
the long marches and trainings. However, this relation between the physical activity
and the man in his daily routine seems to have slowly decreased. Progress has
brought a situation somewhat dubious, on one hand the reduction of mortality due to
infectious diseases and the increase of longevity and on the other hand, the increase
of chronic degenerative diseases and the loss of quality of life, since living longer
does not mean living better. Nonetheless, how has there been this concern regarding
the level of fitness of the population? Longitudinal studies point to a direct and
favorable relation between the level of fitness, the level of exercises practiced and
health. Still, according to these studies some diseases may be prevented or
minimized when exercising regularly: coronary atherosclerosis, hypertension,
diabetes mellitus, stroke, peripheral vascular disease, obesity, osteoporosis,
osteoarthritis, anxiety and depression. In Brazil, sedentariness is a problem which
has been increasing. Researches show that the current population spends fewer
calories a day, than what was spent a hundred years ago, which explains why
sedentariness affects around 70% of the Brazilian population. The present life style
can be held responsible for 54% of death risk by infarct and for 50% of death risk by
stroke, the main causes of death in Brazil. Therefore, it is worth noting that the
physical activity is a public health issue and we may conclude how many benefits the
military personnel in the activity duty can profit when the physical activity is regular,
well-planned and well-structured.
Key words: Military Physical Training. Cardiovascular Diseases. Quality of life.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1
Fotos ilustrativas do Treinamento Físico Militar (TFM)
14
FIGURA 2
Outras atividades físicas militares (Pista de Pentatlo Militar).
14
FIGURA 3
Outras atividades físicas militares (Ginástica com Toros)
14
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO...................................................................................10
2
2.1
2.2
2.3
2.4
DESENVOLVIMENTO.......................................................................12
O TREINAMENTO FÍSICO MILITAR.................................................12
ASPECTOS HISTÓRICOS DA ATIVIDADE FÍSICA..........................15
ATIVIDADE FÍSICA, EXERCÍCIO E ESPORTES – DEFINIÇÕES....16
BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO...........................................................18
3
CONCLUSÃO....................................................................................26
REFERÊNCIAS..................................................................................27
10
1 INTRODUÇÃO
Há milhares de anos, os antigos gregos reconheceram a importância do
exercício e dos esportes. Hoje, um grande número de evidências relativas aos
estudos de observação epidemiológica, estudos de coorte, estudos randomizados e
pesquisa básica, conduzidos durante os últimos 30 anos, determinam evidências
inequívocas de que o exercício e a atividade física conferem saúde. A inatividade
física é agora reconhecida como um fator de risco independente para o
desenvolvimento de doença cardiovascular. E a atividade física é associada à
diminuição das taxas de mortalidade em indivíduos saudáveis, portadores de
doenças crônicas, diabéticos e idosos.
Os mecanismos específicos pelos quais a atividade física reduz o risco de
morte e de eventos cardiovasculares são aparentemente multifatoriais e vão além da
redução dos fatores de risco cardiovascular. Serão, dessa maneira, explicados no
decorrer dessa revisão bibliográfica.
Embora o mundo seja beneficiado pelos avanços tecnológicos que levam ao
aumento da produtividade e à melhoria da qualidade de vida, o preço é pago em
parte pela geração de uma sociedade sedentária que passa a maior parte de seu
tempo em carros, computadores e em frente às telas de televisão e vídeo (BALADY
e ADES, 2010).
A saúde pública tem sido tema de muitos comentários e especulações
durante as últimas décadas. O trinômio “atividade física, aptidão física e saúde” tem
sido objeto de inúmeros estudos, com diferentes delineamentos, em diversos países.
Embora haja uma reconhecida complexidade conceitual de saúde, dificultando o
entendimento das múltiplas facetas que a envolvem, parece haver um ponto pacífico
quando o assunto envolve os benefícios de uma vida ativa (ROCHA et al., 2008).
Dessa maneira, a presente pesquisa tem como objetivo destacar os
benefícios de uma atividade física regular para a prevenção cardiovascular e
melhoria da qualidade de vida, importante, sobretudo, na vida do militar.
No ambiente militar, a saúde e a aptidão física são fatores de suma
importância. O treinamento físico desenvolvido nas organizações militares (OM)
brasileiras estimula o desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória no corpo de
tropa, uma vez que sua melhoria contribui para o aumento significativo da prontidão
11
dos militares para o combate. Além de indivíduos aptos fisicamente serem mais
resistentes às doenças e terem maiores níveis de auto-confiança e motivação, de
acordo com o Manual de Treinamento Físico Militar (BRASIL, 2002).
Essas evidências foram verificadas em diversos relatos, como os da
campanha do Exército Britânico nas Ilhas Falkland e os das ações do Exército
Americano em Granada, visto que os militares bem preparados fisicamente eram
mais aptos para suportarem o estresse debilitante do combate. A atitude tomada
diante dos imprevistos e a segurança da própria vida dependem, muitas vezes, das
qualidades físicas e morais adquiridas por meio do treinamento físico regular,
convenientemente orientado (BRASIL, 2002).
Dessa forma, como os militares estão sempre submetidos a treinamentos de
alto nível de estresse e responsabilidade, fica clara a importância da atividade física
regular, não apenas para a manutenção do condicionamento físico, necessário para
os trabalhos na tropa, como também para a melhoria da qualidade de vida e
principalmente prevenção de doenças cardiovasculares, já que esta permanece
como sendo a principal causa de morbimortalidade no Brasil (IBGE, 2007).
A metodologia aplicada para a referida pesquisa foi a revisão bibliográfica da
literatura mundial de 1997 à 2010, realizado em trials, artigos originais e de revisão,
livros e consensos.
12
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 O TREINAMENTO FÍSICO MILITAR
O Exército Brasileiro desde seus primórdios tem no treinamento físico um
importante aliado na manutenção das condições físicas de seus militares. Embora
talvez desvinculado das novas teorias sobre os benefícios de tais atividades,
intuitivamente sempre proporcionou a seus soldados condições de uma saúde
melhor. A tecnologia moderna apenas aperfeiçoou e adequou tal treinamento às
condições ideais de saúde e bem estar (TEIXEIRA, 2008).
Os primeiros registros da realização de prática física voltada para a área
militar datam de 1810, com a criação da Academia Real Militar, contudo sem
padronizações de fundamentações fisiológicas. Somente no ano de 1929, houve a
criação de um Curso Provisório de Educação Física, que funcionou nas instalações
da Escola de Sargentos de Infantaria, na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Em 1930, foi
criado o centro Militar de Educação Física, na fortaleza de São João, também
sediado no Rio de Janeiro, o qual foi transformado na Escola de Educação Física do
Exército, no ano de 1933.
Com a publicação do Regulamento de Educação Física n.º 7 no ano de 1934,
sendo ele uma tradução integral do Regulamento Francês de Educação Física feita
pela Escola de Educação Física do Exército, mostrou-se evidente a necessidade de
se ter um guia nas tropas e estabelecimentos militares, a fim de orientar os
combatentes na execução correta das atividades físicas demonstrando uma
preocupação com a saúde dos militares.
A filosofia do Treinamento Físico Militar (TFM) no Exército Brasileiro (EB)
reúne um conjunto de idéias de diversos sistemas de Educação Física, agregando
princípios fundamentais da atividade física, fazendo surgir um método para os
integrantes das Forças Armadas, visando capacitar fisicamente o combatente ao
cumprimento de sua missão (BRASIL, 2002).
O TFM busca através de um conjunto de atividades físicas proporcionar
alterações fisiológicas significativas no organismo humano, buscando adequar o
militar às exigências físicas levando em conta a situação em que ele se encontre,
melhorando sua aptidão física, desenvolvendo suas qualidades físicas e morais tão
13
indispensáveis ao militar (BRASIL, 2002). Além da saúde, a educação física bem
orientada dá ao praticante a indispensável aptidão física para a vida cotidiana e para
a guerra, através do desenvolvimento das diversas qualidades físicas (PEREIRA,
2007).
Segundo o Manual de Campanha Treinamento Físico Militar (C2020 – 2002),
manual este que dá as diretrizes para o treinamento físico e tem por finalidade
estabelecer procedimentos para o planejamento, a coordenação, a condução e a
execução da atividade física no Exército Brasileiro, pode-se conceituar Educação
Física Militar como: Um conjunto de atividades físicas, cuja prática de forma racional
e metódica explora as qualidades físicas, intelectuais, morais, sociais, psicológicas e
fisiológicas ensinando a disciplinar movimentos, contrair hábitos musculares e
assegurar o desenvolvimento harmônico do combatente a fim de proporcionar um
máximo de energia com um mínimo de esforço e fadiga.
Em um contexto geral o TFM é caracterizado como um conjunto de atividades
físicas agregado a um processo especializado de uma educação física orientada
objetivando alcançar elevados índices de aptidão de acordo com a necessidade
desejada.
A Educação Física Militar está diretamente relacionada à saúde do militar, a
qual é definida como um estado em que organismo funciona normalmente não
bastando apenas estar desprovido de doenças, mas levando uma vida executando
procedimentos que proporcionem afastar ao máximo os fatores de risco.
Todo militar apto para o serviço ativo está obrigado a realizar o TFM,
objetivando a preservação de sua saúde, permitindo atingir padrões de desempenho
físico compatíveis com a operacionalidade funcional desejada (BRASIL, 2002).
Como objetivos do treinamento físico militar, ainda segundo Brasil (2002),
podemos citar:
- Desenvolver, manter ou recuperar a aptidão física necessária para o
desempenho de sua função;
- Contribuir para a manutenção da saúde do militar;
- Assegurar o adequado condicionamento físico necessário ao cumprimento
da missão;
- Cooperar para o desenvolvimento de atributos da área afetiva;
- Estimular a prática desportiva em geral.
14
Figura 01 – Fotos ilustrativas do Treinamento Físico Militar (TFM)
Figura 02 – Outras atividades físicas militares (Pista de Pentatlo Militar)
Figura 03 – Outras atividades físicas militares (Ginástica com Toros)
2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ATIVIDADE FÍSICA
15
Retornando aos primórdios da humanidade, podemos dizer que durante o
período que se convencionou pré-histórico o homem dependia de sua força,
velocidade e resistência para sobreviver. Suas constantes migrações em busca de
moradia fazia com que realizasse longas caminhadas ao longo das quais lutava,
corria e saltava, ou seja, era um ser extremamente ativo fisicamente.
Mais tarde, na antiga Grécia, a atividade física era desenvolvida na forma de
ginástica que significava "a arte do corpo nu". Estas atividades eram desenvolvidas
com fins bélicos (treinamento para guerra), ou para treinamento de gladiadores. A
atividade física escolar na forma de jogos, danças e ginástica surge na Europa no
início do século XIX. A partir daí, surgem diversos métodos de exercícios físicos
propostos por diferentes autores. No Brasil, especificamente, os programas de
educação "atividade" física têm início alicerçados em bases médicas, procurando
formar o indivíduo "saudável" com uma boa postura e aparência física.
Posteriormente, com a implantação do estado novo, na década de 1930, surge a
tendência militar nos programas de atividade física escolar, privilegiando a eugenia
da raça. No final da década de 40, inspirada no discurso liberal da escola-nova a
Educação Física iniciou o seu ingresso na área pedagógica. Bem mais tarde, a partir
dos anos 70, influenciado pelo sucesso de algumas equipes desportivas no exterior,
surge a tendência esportiva na Educação Física. Observa-se desta forma, que a
atividade física relacionada à saúde nunca chegou a ser privilegiada no contexto da
Educação Física nacional.
Apesar de que desde épocas mais remotas, conforme evidenciado por
escritas gregas e chinesas, terapeutas têm ressaltado à importância da atividade
física para tratamento de doenças e melhoria da saúde, a relação entre
epidemiologia e atividade física aparentemente tem início na era epidemiológica das
doença crônicos-degenerativas, com a paradgima da caixa preta, onde entre os
elementos que estavam ocultos, como fatores multicausais de risco, o sedentarismo
aparece como fator determinante de agravos à saúde. Este momento, normalmente,
coincide com a chamada transição epidemiológica, na qual existe uma inversão das
causas de morte, de doenças infecciosas para doenças cardiovasculares, fato
observado há algum tempo nos países desenvolvidos.
A partir da era epidemiológica das doenças crônico-degenerativas surgem
diversos estudos epidemiológicos relacionando atividade física como meio de
16
promoção da saúde, sendo que nas últimas três décadas numerosos trabalhos têm
consistentemente demonstrado que altos níveis de atividade física ou aptidão física
estão associados à diminuição no risco de doença arterial coronariana, diabetes,
hipertensão, osteoporose.
Um dos primeiros estudos a ser desenvolvido relacionando atividade física e
doença arterial coronariana, foi conduzido em Londres, quando foram comparados
carteiros e trabalhadores de escritório do serviço postal, bem como motoristas e
cobradores de ônibus de dois andares em Londres. Estes investigadores
observaram que atividades ocupacionais com maior gasto energético estavam
associadas com menores taxas de morte por doenças cardíacas coronarianas.
Em seguida, foram examinadas todas as causas de mortalidade em 3.591
homens, executivos civis de Londres, que foram classificados em participantes e não
participantes em atividades físicas vigorosas. Eles foram seguidos, através de
estudo de coorte prospectivo, de 1968 até 1977. Setenta e sete por cento dos
homens que reportaram não exercícios vigorosos, apresentaram taxa de mortalidade
de 8,4 por 100, enquanto que os vinte e dois por cento que reportaram vigorosos
exercícios, apresentaram significante redução na taxa de mortalidade de 4,2 por
100.
Mais adiante, foi observado através de estudo longitudinal que homens
moderadamente ativos, experimentavam taxa de mortalidade 27% menor do que os
sedentários.
Na atualidade, os principais estudos sobre atividade física continuam a
investigar a relação entre sedentarismo, como fator de risco, ou estilo de vida ativo
fisicamente, como fator de proteção, a agravos cardiovasculares; hipertensão;
câncer; diabetes e saúde mental (PITANGA, 2002).
2.3 ATIVIDADE FÍSICA, EXERCÍCIO E ESPORTES – DEFINIÇÕES
Para compreender as várias questões que envolvem exercício e esportes é
essencial que se faça uma revisão das definições padrões. Atividade física refere-se
a qualquer atividade na qual a contração e o relaxamento do músculo esquelético
resultem em movimento corpóreo e requeiram energia. Exercício, ou treinamento, é
atividade física planejada desempenhada com o objetivo de melhorar ou preservar a
17
forma física. A forma física é um conjunto de atributos que permitem que um
indivíduo pratique atividade física.
Embora a maioria dos tipos de exercícios envolva tanto o treinamento
aeróbico quanto o de resistência, um tipo de treinamento geralmente predomina. As
respostas fisiológicas dependerão do tipo de exercício executado. Exercício aeróbico
(também chamado de exercícios dinâmico ou isotônico) consiste em atividades
envolvendo movimentos de alta repetição contra uma baixa resistência. Exercícios
aeróbicos regulares também são conhecidos como treinamento aeróbico, porque
geralmente levam a uma melhoria da capacidade funcional, permitindo que o
indivíduo realize exercícios por um tempo mais prolongado ou com taxas de trabalho
mais altas. Os exercícios aeróbios contribuem para o desenvolvimento do músculo
cardíaco e os demais componentes do sistema cardiorrespiratório, melhorando e
mantendo a aptidão. Exercícios de resistência envolvem movimentos de baixa
repetição contra uma alta resistência, ou seja, a tensão muscular desenvolve-se
predominantemente sem o encurtamento muscular. Treinamento regular de
resistência leva a aumento de força e é também chamado treinamento de força
(BALADY e ADES, 2010).
O treinamento físico militar envolve tanto o treinamento de força, quanto o
treinamento aeróbico, com maior destaque para esse último.
O
treinamento
regular
e
orientado
provoca,
naturalmente,
diversas
adaptações no funcionamento do organismo humano. Estas adaptações trazem
benefícios para a saúde e propiciam condições para a eficiência do desempenho
profissional.
É importante salientar que atividade física e aptidão física são duas
diferentes, porém interrelacionadas formas de medida. A primeira é uma opção
comportamental, enquanto que a segunda é parcialmente determinada por fatores
genéticos, sendo que a atividade física regular pode melhorar a aptidão física
(PITANGA, 2002).
Existe um componente genético, que influencia na aptidão física de cada
indivíduo, porém quem não tem essa tendência, pode desenvolver benefícios para a
saúde e níveis satisfatórios de aptidão física. A aptidão cardiorrespiratória depende
das qualidades do coração, pulmões, sangue e vasos sanguíneos e da capacidade
das fibras musculares de utilizarem o oxigênio transportado para produzir energia
(NAHAS, 2003, apud PEREIRA).
18
O melhor critério para a avaliação da aptidão cardiorrespiratória é o consumo
máximo de oxigênio ou potência aeróbica (VO2max). (FLETCHER et al. 2001, apud
PEREIRA).
VO2 é a quantidade de oxigênio que um indivíduo consegue captar do ar
alveolar, transportar aos tecidos pelo sistema cardiovascular e utilizar a nível celular
na unidade de tempo (MARINS, 1998, apud PEREIRA).
Segundo Boldori (2002), a prática de esportes e de exercícios físicos
regularmente aumentam o rendimento físico de seus praticantes através da melhoria
da eficiência funcional do organismo. Essa eficiência funcional do organismo é
chamada de aptidão física, que é um indicador importante para o desenvolvimento
das atividades diárias do trabalhador. E de acordo com o Manual de Campanha
Treinamento Físico Militar (C2020 – 2002), indivíduos aptos fisicamente têm uma
recuperação mais rápida e são mais resistentes a doenças e lesões. O aumento da
aptidão física está relacionado à prontidão dos militares para o combate.
2.4 BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO
"Atividade física é um direito de todos e uma necessidade básica"
(UNESCO)
O exercício é o estresse fisiológico mais comum e o que provoca maior
mobilização do sistema cardiopulmonar. Entendemos como estresse as respostas
do organismo a um agente agressor, que pode ser físico (exercício), biológico
(infecções, tireotoxicose etc.) ou mental. O estresse é mediado pelo sistema nervoso
autônomo, através da liberação de catecolaminas, com o objetivo de adaptação ou
homeostase orgânica.
Consideramos alterações cardiovasculares agudas (imediatas) aquelas que
ocorrem durante a atividade física e nos minutos pré e pós-exercício, e alterações
crônicas, aquelas decorrentes do treinamento.
Durante o exercício, há necessidade de maior aporte de O2 aos músculos em
atividade. Esse aumento é dependente de um leque de alterações hemodinâmicas,
como: aumento do volume sistólico, aumento da freqüência cardíaca, aumento
da extração de O2 periférico e redistribuição do fluxo.
19
Para garantir o aumento de fluxo sanguíneo nos músculos em atividade e
manter o fluxo para as áreas nobres, como cérebro e coração, ocorre a
redistribuição do fluxo sanguíneo por meio de:
- vasodilatação no território muscular, mediada por alterações metabólicas locais,
levando â diminuição da resistência vascular periférica;
- vasoconstricção em territórios hepatoesplênico e renal.
Em decorrência dessa redistribuição, podemos observar que durante a
atividade física, há inibição da diurese, mesmo em pacientes bem hidratados, por
redução do fluxo renal. Quanto maior a intensidade do exercício, maior a
vasoconstricção, podendo chegar a 80% de redução do fluxo. Isso, muitas vezes,
ocasiona dor em hipocôndrio direito e⁄ou esquerdo, decorrente da mobilização da
cápsula hepática e⁄ou esplênica.
A diferença arteriovenosa de O2, em repouso, é de aproximadamente, 5% e
são retirados do sistema arterial de 4 a 5 mL de O2⁄100mL⁄min. Com a intensidade
do exercício, a diferença arteriovenosa aumenta linearmente, e pode chegar a 15 mL
de O2⁄100mL, triplicando, portanto, a oferta de O2 para a musculatura em atividade.
O aumento da freqüência cardíaca é a maior responsável pelo aumento do
débito cardíaco durante o exercício, especialmente em atividades de alta
intensidade. A freqüência cardíaca aumenta linearmente com o aumento da carga
de trabalho e com o consumo de O2 periférico. Esse aumento é decorrente da
inibição da atividade vagal e do estímulo da atividade simpática. A freqüência
cardíaca máxima pode ser prevista por meio de fórmulas. A mais utilizada,
provavelmente por sua praticidade de cálculo, é a de Karvonen, com margem de
erro de 7 a 11 bpm (batimentos por minuto).
Fórmula de Karvonen: FC máxima= 220 – idade
O volume sistólico é o volume de sangue ejetado pelo coração a cada
sístole, ou seja, é o resultado da diferença entre o volume diastólico final e o volume
sistólico final. Dessa forma, depende do retorno venoso e da complacência
ventricular (volume diastólico final) e da contratilidade miocárdica e resistência
vascular periférica (volume sistólico final). Em exercícios leves a moderados, o
volume sistólico aumenta linearmente com o aumento do débito cardíaco e sofre
influência de elevações da freqüência cardíaca em decorrência da redução do tempo
de enchimento ventricular. Quanto maior a freqüência, menor o volume sistólico.
Modificações na postura corporal influenciam o retorno venoso e, por conseguinte, o
volume sistólico. O condicionamento físico também influencia o volume sistólico. Em
20
indivíduos treinados, o aumento do volume sistólico é o maior determinante do
grande aumento do débito cardíaco, uma vez que a freqüência cardíaca desses
indivíduos não alcança valores acima da média para a idade (CARREIRA, 2009).
Pode-se citar ainda alterações agudas tardias, que são os efeitos fisiológicos
observados ao longo das primeiras 24 horas que se seguem a uma sessão de
exercícios e podem ser exemplificados como na discreta redução dos níveis
tensionais, especialmente, nos hipertensos, e no aumento do número de receptores
de insulina nas membranas das células musculares.
Como exemplo de alterações fisiológicas crônicas também denominados
como adaptações, são aqueles que resultam da exposição freqüente e regular às
sessões de exercícios, representando os aspectos morfofuncionais que diferem um
indivíduo fisicamente treinado, de um outro sedentário. Dentre os achados mais
comuns dos efeitos crônicos do exercício físico estão a hipertrofia muscular e o
aumento do consumo máximo de oxigênio (GODOY, 1997).
Os mecanismos específicos pelos quais a atividade física reduz o risco de
morte e de eventos cardiovasculares são aparentemente multifatoriais e vão além da
redução dos fatores de risco cardiovascular. Foram evidenciados efeitos benéficos
na redução do risco de trombose, na função endotelial, na resposta inflamatória e na
modulação do sistema nervoso autônomo. A magnitude da redução da pressão
arterial obtida com exercícios é modesta e, em pacientes com hipertensão arterial
leve, produz um efeito semelhante à monoterapia farmacológica (BALADY e ADES,
2010).
A prática regular de exercícios físicos tem sido frequentemente recomendada
como uma conduta não farmacológica no tratamento da HAS (hipertensão arterial
sistêmica). O treinamento aeróbio entre 50% a 70% do VO2max pode resultar no
decréscimo de 4 a 10mmHg da pressão arterial sistólica (BUNDCHEN et al., 2009).
Segundo Matsudo (1999), os benefícios da atividade física no controle da
pressão arterial acontecem por diversos fatores diretos e indiretos da atividade física
no organismo:
Alterações cardiovasculares:
Diminuição da freqüência cardíaca de repouso, débito cardíaco no repouso,
resistência periférica e volume plasmático;
Aumento da densidade capilar.
Alterações endócrinas e metabólicas:
21
Diminuição da gordura corporal;
Diminuição dos níveis de insulina;
Diminuição na atividade do sistema nervoso simpático;
Aumento da sensibilidade a insulina;
Melhora da tolerância a glicose.
Composição corporal:
Efeito diurético;
Aumento da massa e da força muscular.
Comportamento:
Diminuição do estresse e da ansiedade.
A atividade física e o exercício induzem a diversos benefícios importantes
sobre o metabolismo da glicose, incluindo um aumento na sensibilidade periférica à
insulina, uma redução na produção hepática da glicose, uma utilização preferencial
da glicose em relação aos ácidos graxos pelo músculo em exercício e a redução da
obesidade. Ressalta-se ainda que a prática regular de exercício parece evitar o
surgimento do diabetes melito. Um fato amplamente conhecido é que o sobrepeso e
obesidade estão significativamente associados a um aumento na morbimortalidade
cardiovascular.
Apesar de grande parte dos estudos randomizados controlados
demonstrarem apenas uma modesta redução de peso com a prática de exercício, o
treinamento físico parece ser um importante componente nos programas de
emagrecimento. Estudos sugerem que o exercício é necessário para manutenção e
prevenção do aumento de peso corporal após uma dieta. O efeito do exercício no
perfil lipídico demonstra um grande benefício nos níveis de triglicerídeos, com
mudanças modestas nas taxas das lipoproteínas de alta densidade (HDL) e
pequena ou nenhuma mudança nos níveis de lipoproteína de baixa densidade
(LDL). Contudo, algumas informações sugerem que o exercício reduz a
concentração de partículas pequenas, densas e aterogênicas de LDL. Um recente
estudo envolvendo gêmeos monozigóticos mostra um forte componente genético
para níveis de HDL que pode ser modificado leve, mas favoravelmente através da
prática de atividade física.
Outras evidências sugerem que o treinamento físico tenha efeitos benéficos
no sistema fibrinolítico e muitos estudos reportam uma relação inversa entre a
22
atividade física e a reposta inflamatória. A prática regular de exercícios parece ter
uma importante e favorável influência sobre a função endotelial tanto nas artérias
periféricas quanto nas artérias coronarianas. A melhora da função vasodilatadora
endotelial pode resultar, ao menos em parte, do aumento da produção do óxido
nítrico e de uma redução associada do estresse oxidativo, assim como de um
aumento nas células progenitoras endoteliais. Além disso, o exercício físico também
reduz os níveis de PCR (proteína C reativa). Tais melhorias podem contribuir para a
redução do número de eventos cardiovasculares adversos. Finalmente, o exercício
parece modular favoravelmente o equilíbrio entre o tônus simpático e o
parassimpático, um efeito associado com a melhoria na sobrevida.
Mudanças
nos
sistemas
muscular,
cardiovascular
e
neuro-humoral
resultantes da prática regular do exercício podem ser expressas através da melhora
da capacidade funcional e da força muscular. Estas mudanças são chamadas de
efeito de treinamento e permitem que o indivíduo se exercite com cargas máximas
mais elevadas e com uma freqüência cardíaca submáxima mais baixa para um dado
nível de esforço. Em um estudo longitudinal, demonstrou-se um declínio da
capacidade funcional máxima associada ao exercício. Esta perda parece se tornar
mais marcante a cada década de vida. Embora exercício regular possa atenuar esta
perda da capacidade funcional com a idade, ele não parece prevenir o declínio mais
acentuado com o avanço da idade (BALADY e ADES, 2010).
Além dos benefícios sobre o sistema cardiovascular, proporcionando a
prevenção de diversas patologias cardíacas e cardiovasculares, o exercício físico
apresenta também contribuições positivas sobre diversos outros sistemas do
organismo humano propiciando uma significativa melhora da qualidade de vida.
Além da prevenção das doenças degenerativas já faladas anteriormente,
como o diabetes melitus do adulto, a hipertensão arterial, a angina⁄infarto do
miocárdio, o exercício físico também é um importante aliado na prevenção da
osteoporose. Pessoas sedentárias, também tem tendência maior para certos tipos
de câncer, como os do intestino e de mama. Ou seja, atividade física pode reduzir o
risco de desenvolvimento de várias doenças crônicas e é um fator importante para
aumentar o tempo de vida.
Algumas descobertas recentes têm demonstrado que estes benefícios podem
ser também sentidos entre os indivíduos inicialmente sedentários ou incapacitados
que se tornaram mais ativos (GHORAYEB, 2010). Mudar, até mesmo tardiamente,
23
de um estilo de vida sedentário para um mais ativo confere redução de mortalidade
por coronariopatia (GAZIANO et al., 2010)
O estudo da relação entre o exercício e a resposta imune teve grande impulso
a partir da metade da década de 70, tendo como principais áreas de interesse o
estudo da infecção das vias aéreas superiores em atletas submetidos a grandes
esforços, o exercício como resposta adaptativa frente a situações de estresse. A
descrição da interação entre os sistemas imunes e neuroendócrinos foi de
importância capital no desenvolvimento desses estudos. O exercício gerando um
desvio da homeostase orgânica leva à reorganização de diversos sistemas, entre
eles o sistema imune. É adequado dividir a resposta ao exercício em resposta
aguda, resposta transitória ao estresse e resposta de adaptação crônica, na qual o
treinamento capacita o organismo a lidar com o estímulo estressante de maneira
mais adequada (ROSA e VAISBERG, 2002). Apesar das incorreções que
cometemos quando das generalizações, podemos dizer que, de modo geral, o
exercício de intensidade moderada, praticado com regularidade, melhora a
capacidade de resposta do sistema imune, provocando por exemplo a redução da
incidência de alguns tipos de câncer e uma maior resistência dos pacientes com
AIDS (PITANGA, 2002) . Enquanto o exercício de alta intensidade praticado sob
condições estressantes provoca um estado transitório de imunodepressão (ROSA e
VAISBERG, 2002).
No que diz respeito aos aspectos psicobiológicos, os primeiros trabalhos
descritos na literatura foi a partir da década de 70, tendo como modelo o exercício
aeróbico e as suas repercussões sobre o humor e a ansiedade. O exercício físico
provoca alterações fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, portanto, pode ser
considerado uma intervenção não medicamentosa para o tratamento de distúrbios
relacionados ao sono, ao humor, a ansiedade, a depressão, a memória e a
aprendizagem (MELLO et al., 2005).
De acordo com Matsudo, evidências mostram que existem alterações nas
funções cognitivas dos indivíduos envolvidos em atividade física regular. Estas
evidências sugerem que o processo cognitivo seria mais rápido e mais eficiente em
indivíduos fisicamente ativos por mecanismos diretos: melhora na circulação
cerebral, alteração na síntese e degradação de neurotransmissores; e mecanismos
indiretos como: diminuição da pressão arterial, diminuição nos níveis de LDL no
plasma, diminuição dos níveis de triglicerídeos e inibição da agregação plaquetária.
24
Dentre os efeitos psicológicos, a diminuição da tensão emocional pode ser
considerada como um dos mais importantes e alguns dos seus mecanismos a curto
e a longo prazo tem sido descritos na literatura:
Efeitos a curto prazo:
Aumento do fluxo sanguíneo cortical;
Alterações nas aminas biogênicas;
Liberação de opióides endógenos;
Aumento da temperatura corporal;
Melhora da resposta ao estresse (aumenta a neurotransmissão de
catecolaminas e diminui a tensão muscular);
Modifica a atividade das ondas cerebrais.
Efeitos a longo prazo:
Alterações nos níveis e características das catecolaminas cerebrais;
Alteração da transmissão sináptica;
Liberação de opióides endógenos.
Como referido no Manual de Campanha Treinamento Físico Militar (C2020 –
2002), a atividade física está relacionada com uma saúde mental positiva e com o
bom humor dos praticantes. Sendo assim, um benefício adicional seria a maior
alegria de viver, adicionando, provavelmente, além de anos à vida, vida aos anos.
Isso pode ser também documentado através do trabalho de Rodrigues et al.
(2007), onde pode-se confirmar a clara relação entre a prática de exercício físico e a
elevada
capacidade
cardiorrespiratória
como
protetores
contra
os
efeitos
indesejáveis do estresse. O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito do
condicionamento físico aeróbico na resposta psicofisiológica a estressores
laboratoriais em oficiais do Exército Brasileiro. Apresentando resultados que
sugerem que indivíduos com melhor condição cardiorrespiratória tendem a
apresentar padrões reduzidos na resposta autonômica ao estresse, como indicado
pelo comportamento dos níveis de condutibilidade na pele.
Empresas que adotaram programas de atividade física no local de trabalho
para seus funcionários mostraram uma redução na ausência ao trabalho, redução
nos custos médicos, aumento na produção e melhoria em seus lucros. Evidências
científicas tem reforçado que um estilo de vida ativo desde a fase escolar pode
25
trazer vários benefícios; entre eles, melhor rendimento, menos faltas às aulas,
melhora no relacionamento com os pais, aumento da responsabilidade, bem como
melhora no nível de aptidão física geral (GHORAYEB, 2010).
Sendo assim, o treinamento físico militar, além de proporcionar o necessário
condicionamento físico e orgânico para a conquista dos objetivos, contribui no
campo da saúde mental para a estruturação e aperfeiçoamento das qualidades
morais, exercendo papel fundamental sobre a personalidade e o comportamento do
militar (BROWN, 2006, apud, SOUZA). Objetivando dessa maneira, a melhoria da
capacidade psicomotora do combatente. Melhoria essa que irá favorecê-lo diante de
certas adversidades durante o combate, tais como: sono, frio, calor, cansaço físico e
estresse, permitindo-lhe manter por mais tempo sua eficiência operacional
(RODRIGUES, 2007).
Dessa forma, pode-se concluir que a prática regular de exercícios constitui um
importante elemento motivador de promoção de saúde, com conseqüentes efeitos
benéficos tanto na prevenção quanto na recuperação de diversas doenças.
Benefícios esses que vão além da esfera da saúde física, ajudando o militar a
melhorar seu nível de energia, sua disposição e sua saúde de um modo geral.
Afetando desse modo de maneira positiva seu desempenho intelectual, seu
raciocínio e sua velocidade de reação, atributos esses tão indispensáveis para o
desempenho de sua função no corpo de tropa.
26
3 CONCLUSÃO
“Eu penso que a razão fundamental para o desenvolvimento da doença
cardiovascular em todo o mundo seja o que podemos chamar de má-adaptação à
urbanização” – essa foi uma afirmação feita pelo Dr. Salim Yusuf (Mc Master
University, Hamilton - Canadá) numa conferência realizada no XIVth World
Congresso f Cardiology, na Austrália.
Como todos sabem a maior causa de morbimortalidade no mundo Ocidental é
a doença cardiovascular. Ao invés de se imputar como causas únicas o
envelhecimento da população e a diminuição da mortalidade pelas doenças infectocontagiosas, deve-se prestar atenção ao perfil dessa mesma população.
Desde
os
anos
50,
dados
consistentes,
provenientes
de
estudos
observacionais e estudos clínicos, vêm mostrando a identificação da falta de
atividade física bem como da ociosidade, como fator de risco independente para a
doença cardiovascular, além de outros transtornos cognitivos e prejuízos da
qualidade de vida trazidos pelo sedentarismo.
A prática de exercícios físicos ajuda na prevenção e reabilitação, sendo os
efeitos benéficos da atividade física sobre o sistema cardiovascular e sobre os
diversos fatores de risco, independentes da idade, sexo ou influências genéticas e já
ocorrem com aumentos relativamente modestos do nível de atividade física.
As recomendações para a atividade física tiveram uma mudança radical na
última década. Atualmente tem-se demonstrado que as atividades realizadas com
grandes grupos musculares movimentados de forma cíclica com baixa e moderada
intensidade e longa duração, feitas de três a cinco vezes por semana, são as mais
recomendadas para a prevenção cardiovascular primária e secundária.
A promoção de atividade física deve ser uma prioridade de saúde pública, em
especial dentro das organizações militares, pois como já falado anteriormente além
de desenvolver a aptidão cardiorrespiratória no corpo de tropa, uma vez que sua
melhoria contribui para o aumento significativo da prontidão dos militares para o
combate, também os torna mais resistentes às doenças e proporciona melhoria na
qualidade de vida.
27
REFERÊNCIAS
BALADY, Gary J.; ADES, Philip A. Exercício e Cardiologia Esportiva. In:
BRAUNWALD, Eugene et al. Braunwald – Tratado de Doenças Cardiovasculares.
8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. v. 2, cap 78, p. 1983-1991.
BOLDORI, Reinaldo et al. Aptidão física e sua relação com a Capacidade de
Trabalho dos bombeiros militares do estado de Santa Catarina. [Dissertação de
mestrado] - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, 2002.
BRASIL. Exército Brasileiro. Manual de Campanha Treinamento Físico Militar
(C2020). Brasília, 2002.186 p.
BUNDCHEN, Daiana Cristine et al. Ausência de Influência da Massa Corporal na
Redução da Pressão Arterial após Exercício Físico. Arq Bras Cardiol. Rio de
Janeiro, v. 94, n. 5, p. 678-683, mai. 2010.
CARREIRA, Maria Angela M. Q. Fisiologia do Exercício. In: COSTA, Ricardo
Vivacqua C. Costa e CARREIRA, Maria Angela M. Q. Ergometria Ergoespirometria, Cintilografia e Ecocardiografia de Esforço. 2. ed. rev. e atual.
São Paulo: Atheneu, 2009. cap. 2, p. 5-10.
GAZIANO, J. Michael; MANSON, Joann E.; RIDKER, Paul M. Prevenção Primária e
Secundária na Doença Arterial Coronariana. In: BRAUNWALD, Eugene et al.
Braunwald – Tratado de Doenças Cardiovasculares. 8. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010. v. 1, cap. 45, p. 1119-1155.
GHORAYEB, Nabil. Vamos fazer atividade física. Disponível em:
<http://www.cardioesporte.com.br/>. Acesso em: 19 jun. 2010.
GODOY, Milton et al. I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular. Arq.
Bras. Cardiol. São Paulo, v. 69, n. 4, p. 267-291. 1997.
MATSUDO, Victor K. R. Vida ativa para o novo milênio. Revista Oxidologia. São
Caetano do Sul, p. 18-24, set/out. 1999.
MELLO, Marco Túlio de et al. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos. Rev
Bras Med Esporte. São Paulo, v. 11, n. 3, p. 203-207, mai ⁄ jun. 2005.
PEREIRA, Maurílio Miranda. Análise da aptidão cardiorrespiratória, composição
corporal e da Capacidade de Trabalho dos Oficiais, Subtenentes e Sargentos do 18°
Batalhão Logístico. Trabalho de Graduação (Licenciatura em Educação Física)-
28
Departamento de Educação Física, CCHAS⁄UFMS, Campo Grande, 2007.
PITANGA, Francisco José Gondim. Epidemiologia, Atividade Física e Saúde. Rev.
Bras. Ciên. e Mov. Brasília, v. 10, n. 3, p. 49-54, jul. 2002.
Relatório Saúde Brasil – IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
2007. Acesso em: 25 abr. 2010.
ROCHA, Carlos Ricardo Gomes de Souza; FREITAS, Cíntia de La Rocha e
COMERLATO, Miguel. Relação entre nível de atividade física e desempenho no
teste de avaliação física de militares. Revista de Educação Física. Rio de Janeiro,
v. 142, p. 19-27, set. 2008.
RODRIGUES, André Valentim Siqueira et al. O condicionamento aeróbico e sua
influência na resposta ao estresse mental em oficiais do Exército. Rev Bras Med
Esporte. Niterói, v. 13, n. 2, p. 113-117, mar /abr. 2007.
ROSA, Luiz Fernando Pereira Bicudo Costa; WAISBERG, Mauro W. Influências do
exercício na resposta imune. Rev Bras Med Esporte. São Paulo, v. 8, n. 4, p. 167172, jul ⁄ ago. 2002.
SOUZA, Adriano Xerfan Pinto de et al. A influência do treinamento físico na
formação do líder militar. Projeto Interdisciplinar – Escola de Saúde do Exército.
Rio de Janeiro, 2007.
TEIXEIRA, André Luís Mattos. Realização adequada do treinamento físico militar na
prevenção de doenças cardiovasculares. Trabalho de Conclusão de Curso
(Especialização) – Escola de Saúde do Exército. Rio de Janeiro, 2008.
Download

benefícios da atividade física militar para a prevenção