1º Ten Al FABÍOLA MESQUITA DE LIMA MACIEL BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA MILITAR PARA A PREVENÇÃO CARDIOVASCULAR E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA RIO DE JANEIRO 2010 1º Ten Al ALINE BATISTA DE CASTRO 1º Ten Al FABÍOLA MESQUITA DE LIMA MACIEL BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA MILITAR PARA A PREVENÇÃO CARDIOVASCULAR E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Saúde de Exército como requisito parcial para aprovação no Curso de Formação de Oficiais do Serviço de Saúde, especialização em Aplicações Complementares às Ciências Militares Orientador: Sérgio José Siqueira de Araújo RIO DE JANEIRO 2010 M152b Maciel, Fabíola Mesquita de Lima. Benefícios da atividade física militar para a prevenção cardiovascular e melhoria da qualidade de vida / Fabíola Mesquita de Lima Maciel - Rio de Janeiro, 2010. 28 f; il. color. 30 cm Orientador: Sérgio José Siqueira de Araújo Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Escola de Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação em Aplicações Complementares às Ciências Militares, 2010. Referências: f. 27-28. 1. Treinamento Físico Militar. 2. Doenças Cardiovasculares. 3. Qualidade de Vida. I. Araújo, Sérgio José Siqueira de. II. Escola de Saúde do Exército. III. Título. CDD 613 1º Ten Al FABÍOLA MESQUITA DE LIMA MACIEL BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA MILITAR PARA A PREVENÇÃO CARDIOVASCULAR E MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA COMISSÃO DE AVALIAÇÃO SÉRGIO JOSÉ SIQUEIRA DE ARAÚJO – Mestre em Medicina Interna/Cardiologia Orientador LUÍS FELIPE SIMÕES RAMOS – Capitão Coorientador FABRÍCIO ALMEIDA DE MOURA - Capitão Avaliador RIO DE JANEIRO 2010 Dedico este trabalho em especial ao meu esposo, Capitão Mesquita, responsável pelo meu entusiasmo e vibração. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, pois sem Ele eu nada seria. Quantas vezes em minha vida precisei do seu amor incondicional... E Ele sempre estava ali, para me dar coragem, perseverança e acima de tudo confiança em mim mesma. Nunca nem por um momento me senti só ou desamparada, e tudo o que eu sou e tenho hoje eu devo a Ele. Agradeço também aos meus pais. Que me fizeram crescer como pessoa, que me educaram e destinaram parte (se não a totalidade) de suas vidas à felicidade de seus filhos. O amor que recebi dos meus pais foi fundamental para o meu desenvolvimento. Quero aqui externar a eles meu profundo agradecimento por estar presente em cada etapa vencida de minha vida. Sem eles minha vida não teria sentido. Meu marido... muitas palavras seriam necessárias para agradecer por tudo o que você me ajudou a alcançar e por tudo o que já passamos juntos e que se tornaram para mim um grande aprendizado! Obrigada, ainda, por me fazer acreditar que fazemos parte de uma Instituição que nos enche de muito orgulho. O tempo só me fez te amar cada vez mais e ter a certeza de que nossos ideais são “ontem, hoje e sempre” um único ideal por todas as nossas vidas. Vovó, maninho, tios, tias, primos, primas... toda minha família. Obrigada! Ao meu orientador, que mesmo distante e tão ocupado pôde me dar a atenção e as orientações necessárias. Ao meu coorientador, Capitão Luís Felipe, sempre atencioso e disposto a ajudar. A todos que contribuíram para minha formação militar, um agradecimento todo especial! Vocês foram fundamentais para a consolidação de uma teoria já tão presente em minha vida. Com destaque ao Capitão Veloso, comandante do meu querido pelotão Cobra, do qual faço parte com muito orgulho! Obrigada por cada ensinamento e por cada repreensão na hora devida. E ainda a vocês, todos os meus companheiros de jornada! Amizades inesquecíveis ficarão em meu coração. Obrigada por cada mão estendida na hora em que por um minuto pensei que estivesse só. “Mente sã em um corpo são, é uma descrição curta, mas completa, de uma condição feliz neste mundo. Aquele que tem ambos, tem muito pouco mais a desejar; e aquele que deseja ambos, será um pouco melhor em tudo.” (John A. Locke) RESUMO O objetivo da presente pesquisa é revisar a literatura para ressaltar a importância da atividade física na saúde cardiovascular e na melhoria da qualidade de vida de uma maneira geral. Importância, essa, sobretudo presente na vida dos militares, que além de precisarem estar sempre com boa saúde e um bom condicionamento físico, precisam também de autos níveis de autoconfiança e motivação. Atributos esses essenciais e indispensáveis para suas funções no corpo de tropa. Ao longo da história a atividade física sempre esteve presente na rotina da humanidade associado a um estilo de época. A caça dos homens das cavernas para a sobrevivência, aos Gregos e suas práticas desportivas na busca de um corpo perfeito ou de cunho militar, como o exemplo na formação das legiões romanas com suas longas marcha e treinos. Mas essa relação entre a atividade física e o homem em sua rotina diária parece ter diminuído gradativamente. O progresso trouxe uma situação um tanto dúbia, de um lado a redução da mortalidade por doenças infecto contagiosas e o aumento da longevidade e do outro o aumento de doenças crônico degenerativas e a perda da qualidade de vida, porque o fato de viver mais não indica viver melhor. Mas por que toda essa preocupação com o grau de condicionamento físico da população mundial? Estudos longitudinais apontam para a relação direta e favorável entre o nível de aptidão física, o grau de atividade física praticada e a saúde. Ainda segundo esses estudos algumas doenças podem ser evitadas ou minimizadas com o ato de exercitar-se regularmente: doença aterosclerótica coronariana; hipertensão arterial sistêmica; diabetes melito tipo II; acidente vascular encefálico; doença vascular periférica; obesidade; osteoporose e osteoartrose; ansiedade e depressão. No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo grande importância. As pesquisas mostram que a população atual gasta bem menos calorias por dia, do que gastava há 100 anos, o que explica porque o sedentarismo afeta aproximadamente 70% da população brasileira. O estilo de vida atual pode ser responsabilizado por 54% do risco de morte por infarto e por 50% do risco de morte por derrame cerebral, as principais causas de morte no país. Assim, vê-se como a atividade física é assunto de saúde pública e pode-se então concluir quantos benefícios o militar da ativa pode adquirir com a atividade física regular, bem planejada e bem estruturada. Palavras-Chaves: Treinamento Físico Militar. Doenças Cardiovasculares. Qualidade de vida. ABSTRACT The objective of the present research is review the literature to highlight the importance of the physical activity in the cardiovascular health and the improvement of the quality of life in a general way. This importance is especially present in the life of the military personnel, who need not only to be in good health and fit, but also high levels of self confidence and motivation. Such attributes are essential and indispensable to their functions in the troops. Throughout history, the physical activity has always been present in the routine of humanity related to a period style. To the hunting of the cave men for survival, to the Greek and their practice of sports in the search of the perfect body or military interest, as when forming roman legions with the long marches and trainings. However, this relation between the physical activity and the man in his daily routine seems to have slowly decreased. Progress has brought a situation somewhat dubious, on one hand the reduction of mortality due to infectious diseases and the increase of longevity and on the other hand, the increase of chronic degenerative diseases and the loss of quality of life, since living longer does not mean living better. Nonetheless, how has there been this concern regarding the level of fitness of the population? Longitudinal studies point to a direct and favorable relation between the level of fitness, the level of exercises practiced and health. Still, according to these studies some diseases may be prevented or minimized when exercising regularly: coronary atherosclerosis, hypertension, diabetes mellitus, stroke, peripheral vascular disease, obesity, osteoporosis, osteoarthritis, anxiety and depression. In Brazil, sedentariness is a problem which has been increasing. Researches show that the current population spends fewer calories a day, than what was spent a hundred years ago, which explains why sedentariness affects around 70% of the Brazilian population. The present life style can be held responsible for 54% of death risk by infarct and for 50% of death risk by stroke, the main causes of death in Brazil. Therefore, it is worth noting that the physical activity is a public health issue and we may conclude how many benefits the military personnel in the activity duty can profit when the physical activity is regular, well-planned and well-structured. Key words: Military Physical Training. Cardiovascular Diseases. Quality of life. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Fotos ilustrativas do Treinamento Físico Militar (TFM) 14 FIGURA 2 Outras atividades físicas militares (Pista de Pentatlo Militar). 14 FIGURA 3 Outras atividades físicas militares (Ginástica com Toros) 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................10 2 2.1 2.2 2.3 2.4 DESENVOLVIMENTO.......................................................................12 O TREINAMENTO FÍSICO MILITAR.................................................12 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ATIVIDADE FÍSICA..........................15 ATIVIDADE FÍSICA, EXERCÍCIO E ESPORTES – DEFINIÇÕES....16 BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO...........................................................18 3 CONCLUSÃO....................................................................................26 REFERÊNCIAS..................................................................................27 10 1 INTRODUÇÃO Há milhares de anos, os antigos gregos reconheceram a importância do exercício e dos esportes. Hoje, um grande número de evidências relativas aos estudos de observação epidemiológica, estudos de coorte, estudos randomizados e pesquisa básica, conduzidos durante os últimos 30 anos, determinam evidências inequívocas de que o exercício e a atividade física conferem saúde. A inatividade física é agora reconhecida como um fator de risco independente para o desenvolvimento de doença cardiovascular. E a atividade física é associada à diminuição das taxas de mortalidade em indivíduos saudáveis, portadores de doenças crônicas, diabéticos e idosos. Os mecanismos específicos pelos quais a atividade física reduz o risco de morte e de eventos cardiovasculares são aparentemente multifatoriais e vão além da redução dos fatores de risco cardiovascular. Serão, dessa maneira, explicados no decorrer dessa revisão bibliográfica. Embora o mundo seja beneficiado pelos avanços tecnológicos que levam ao aumento da produtividade e à melhoria da qualidade de vida, o preço é pago em parte pela geração de uma sociedade sedentária que passa a maior parte de seu tempo em carros, computadores e em frente às telas de televisão e vídeo (BALADY e ADES, 2010). A saúde pública tem sido tema de muitos comentários e especulações durante as últimas décadas. O trinômio “atividade física, aptidão física e saúde” tem sido objeto de inúmeros estudos, com diferentes delineamentos, em diversos países. Embora haja uma reconhecida complexidade conceitual de saúde, dificultando o entendimento das múltiplas facetas que a envolvem, parece haver um ponto pacífico quando o assunto envolve os benefícios de uma vida ativa (ROCHA et al., 2008). Dessa maneira, a presente pesquisa tem como objetivo destacar os benefícios de uma atividade física regular para a prevenção cardiovascular e melhoria da qualidade de vida, importante, sobretudo, na vida do militar. No ambiente militar, a saúde e a aptidão física são fatores de suma importância. O treinamento físico desenvolvido nas organizações militares (OM) brasileiras estimula o desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória no corpo de tropa, uma vez que sua melhoria contribui para o aumento significativo da prontidão 11 dos militares para o combate. Além de indivíduos aptos fisicamente serem mais resistentes às doenças e terem maiores níveis de auto-confiança e motivação, de acordo com o Manual de Treinamento Físico Militar (BRASIL, 2002). Essas evidências foram verificadas em diversos relatos, como os da campanha do Exército Britânico nas Ilhas Falkland e os das ações do Exército Americano em Granada, visto que os militares bem preparados fisicamente eram mais aptos para suportarem o estresse debilitante do combate. A atitude tomada diante dos imprevistos e a segurança da própria vida dependem, muitas vezes, das qualidades físicas e morais adquiridas por meio do treinamento físico regular, convenientemente orientado (BRASIL, 2002). Dessa forma, como os militares estão sempre submetidos a treinamentos de alto nível de estresse e responsabilidade, fica clara a importância da atividade física regular, não apenas para a manutenção do condicionamento físico, necessário para os trabalhos na tropa, como também para a melhoria da qualidade de vida e principalmente prevenção de doenças cardiovasculares, já que esta permanece como sendo a principal causa de morbimortalidade no Brasil (IBGE, 2007). A metodologia aplicada para a referida pesquisa foi a revisão bibliográfica da literatura mundial de 1997 à 2010, realizado em trials, artigos originais e de revisão, livros e consensos. 12 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 O TREINAMENTO FÍSICO MILITAR O Exército Brasileiro desde seus primórdios tem no treinamento físico um importante aliado na manutenção das condições físicas de seus militares. Embora talvez desvinculado das novas teorias sobre os benefícios de tais atividades, intuitivamente sempre proporcionou a seus soldados condições de uma saúde melhor. A tecnologia moderna apenas aperfeiçoou e adequou tal treinamento às condições ideais de saúde e bem estar (TEIXEIRA, 2008). Os primeiros registros da realização de prática física voltada para a área militar datam de 1810, com a criação da Academia Real Militar, contudo sem padronizações de fundamentações fisiológicas. Somente no ano de 1929, houve a criação de um Curso Provisório de Educação Física, que funcionou nas instalações da Escola de Sargentos de Infantaria, na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Em 1930, foi criado o centro Militar de Educação Física, na fortaleza de São João, também sediado no Rio de Janeiro, o qual foi transformado na Escola de Educação Física do Exército, no ano de 1933. Com a publicação do Regulamento de Educação Física n.º 7 no ano de 1934, sendo ele uma tradução integral do Regulamento Francês de Educação Física feita pela Escola de Educação Física do Exército, mostrou-se evidente a necessidade de se ter um guia nas tropas e estabelecimentos militares, a fim de orientar os combatentes na execução correta das atividades físicas demonstrando uma preocupação com a saúde dos militares. A filosofia do Treinamento Físico Militar (TFM) no Exército Brasileiro (EB) reúne um conjunto de idéias de diversos sistemas de Educação Física, agregando princípios fundamentais da atividade física, fazendo surgir um método para os integrantes das Forças Armadas, visando capacitar fisicamente o combatente ao cumprimento de sua missão (BRASIL, 2002). O TFM busca através de um conjunto de atividades físicas proporcionar alterações fisiológicas significativas no organismo humano, buscando adequar o militar às exigências físicas levando em conta a situação em que ele se encontre, melhorando sua aptidão física, desenvolvendo suas qualidades físicas e morais tão 13 indispensáveis ao militar (BRASIL, 2002). Além da saúde, a educação física bem orientada dá ao praticante a indispensável aptidão física para a vida cotidiana e para a guerra, através do desenvolvimento das diversas qualidades físicas (PEREIRA, 2007). Segundo o Manual de Campanha Treinamento Físico Militar (C2020 – 2002), manual este que dá as diretrizes para o treinamento físico e tem por finalidade estabelecer procedimentos para o planejamento, a coordenação, a condução e a execução da atividade física no Exército Brasileiro, pode-se conceituar Educação Física Militar como: Um conjunto de atividades físicas, cuja prática de forma racional e metódica explora as qualidades físicas, intelectuais, morais, sociais, psicológicas e fisiológicas ensinando a disciplinar movimentos, contrair hábitos musculares e assegurar o desenvolvimento harmônico do combatente a fim de proporcionar um máximo de energia com um mínimo de esforço e fadiga. Em um contexto geral o TFM é caracterizado como um conjunto de atividades físicas agregado a um processo especializado de uma educação física orientada objetivando alcançar elevados índices de aptidão de acordo com a necessidade desejada. A Educação Física Militar está diretamente relacionada à saúde do militar, a qual é definida como um estado em que organismo funciona normalmente não bastando apenas estar desprovido de doenças, mas levando uma vida executando procedimentos que proporcionem afastar ao máximo os fatores de risco. Todo militar apto para o serviço ativo está obrigado a realizar o TFM, objetivando a preservação de sua saúde, permitindo atingir padrões de desempenho físico compatíveis com a operacionalidade funcional desejada (BRASIL, 2002). Como objetivos do treinamento físico militar, ainda segundo Brasil (2002), podemos citar: - Desenvolver, manter ou recuperar a aptidão física necessária para o desempenho de sua função; - Contribuir para a manutenção da saúde do militar; - Assegurar o adequado condicionamento físico necessário ao cumprimento da missão; - Cooperar para o desenvolvimento de atributos da área afetiva; - Estimular a prática desportiva em geral. 14 Figura 01 – Fotos ilustrativas do Treinamento Físico Militar (TFM) Figura 02 – Outras atividades físicas militares (Pista de Pentatlo Militar) Figura 03 – Outras atividades físicas militares (Ginástica com Toros) 2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ATIVIDADE FÍSICA 15 Retornando aos primórdios da humanidade, podemos dizer que durante o período que se convencionou pré-histórico o homem dependia de sua força, velocidade e resistência para sobreviver. Suas constantes migrações em busca de moradia fazia com que realizasse longas caminhadas ao longo das quais lutava, corria e saltava, ou seja, era um ser extremamente ativo fisicamente. Mais tarde, na antiga Grécia, a atividade física era desenvolvida na forma de ginástica que significava "a arte do corpo nu". Estas atividades eram desenvolvidas com fins bélicos (treinamento para guerra), ou para treinamento de gladiadores. A atividade física escolar na forma de jogos, danças e ginástica surge na Europa no início do século XIX. A partir daí, surgem diversos métodos de exercícios físicos propostos por diferentes autores. No Brasil, especificamente, os programas de educação "atividade" física têm início alicerçados em bases médicas, procurando formar o indivíduo "saudável" com uma boa postura e aparência física. Posteriormente, com a implantação do estado novo, na década de 1930, surge a tendência militar nos programas de atividade física escolar, privilegiando a eugenia da raça. No final da década de 40, inspirada no discurso liberal da escola-nova a Educação Física iniciou o seu ingresso na área pedagógica. Bem mais tarde, a partir dos anos 70, influenciado pelo sucesso de algumas equipes desportivas no exterior, surge a tendência esportiva na Educação Física. Observa-se desta forma, que a atividade física relacionada à saúde nunca chegou a ser privilegiada no contexto da Educação Física nacional. Apesar de que desde épocas mais remotas, conforme evidenciado por escritas gregas e chinesas, terapeutas têm ressaltado à importância da atividade física para tratamento de doenças e melhoria da saúde, a relação entre epidemiologia e atividade física aparentemente tem início na era epidemiológica das doença crônicos-degenerativas, com a paradgima da caixa preta, onde entre os elementos que estavam ocultos, como fatores multicausais de risco, o sedentarismo aparece como fator determinante de agravos à saúde. Este momento, normalmente, coincide com a chamada transição epidemiológica, na qual existe uma inversão das causas de morte, de doenças infecciosas para doenças cardiovasculares, fato observado há algum tempo nos países desenvolvidos. A partir da era epidemiológica das doenças crônico-degenerativas surgem diversos estudos epidemiológicos relacionando atividade física como meio de 16 promoção da saúde, sendo que nas últimas três décadas numerosos trabalhos têm consistentemente demonstrado que altos níveis de atividade física ou aptidão física estão associados à diminuição no risco de doença arterial coronariana, diabetes, hipertensão, osteoporose. Um dos primeiros estudos a ser desenvolvido relacionando atividade física e doença arterial coronariana, foi conduzido em Londres, quando foram comparados carteiros e trabalhadores de escritório do serviço postal, bem como motoristas e cobradores de ônibus de dois andares em Londres. Estes investigadores observaram que atividades ocupacionais com maior gasto energético estavam associadas com menores taxas de morte por doenças cardíacas coronarianas. Em seguida, foram examinadas todas as causas de mortalidade em 3.591 homens, executivos civis de Londres, que foram classificados em participantes e não participantes em atividades físicas vigorosas. Eles foram seguidos, através de estudo de coorte prospectivo, de 1968 até 1977. Setenta e sete por cento dos homens que reportaram não exercícios vigorosos, apresentaram taxa de mortalidade de 8,4 por 100, enquanto que os vinte e dois por cento que reportaram vigorosos exercícios, apresentaram significante redução na taxa de mortalidade de 4,2 por 100. Mais adiante, foi observado através de estudo longitudinal que homens moderadamente ativos, experimentavam taxa de mortalidade 27% menor do que os sedentários. Na atualidade, os principais estudos sobre atividade física continuam a investigar a relação entre sedentarismo, como fator de risco, ou estilo de vida ativo fisicamente, como fator de proteção, a agravos cardiovasculares; hipertensão; câncer; diabetes e saúde mental (PITANGA, 2002). 2.3 ATIVIDADE FÍSICA, EXERCÍCIO E ESPORTES – DEFINIÇÕES Para compreender as várias questões que envolvem exercício e esportes é essencial que se faça uma revisão das definições padrões. Atividade física refere-se a qualquer atividade na qual a contração e o relaxamento do músculo esquelético resultem em movimento corpóreo e requeiram energia. Exercício, ou treinamento, é atividade física planejada desempenhada com o objetivo de melhorar ou preservar a 17 forma física. A forma física é um conjunto de atributos que permitem que um indivíduo pratique atividade física. Embora a maioria dos tipos de exercícios envolva tanto o treinamento aeróbico quanto o de resistência, um tipo de treinamento geralmente predomina. As respostas fisiológicas dependerão do tipo de exercício executado. Exercício aeróbico (também chamado de exercícios dinâmico ou isotônico) consiste em atividades envolvendo movimentos de alta repetição contra uma baixa resistência. Exercícios aeróbicos regulares também são conhecidos como treinamento aeróbico, porque geralmente levam a uma melhoria da capacidade funcional, permitindo que o indivíduo realize exercícios por um tempo mais prolongado ou com taxas de trabalho mais altas. Os exercícios aeróbios contribuem para o desenvolvimento do músculo cardíaco e os demais componentes do sistema cardiorrespiratório, melhorando e mantendo a aptidão. Exercícios de resistência envolvem movimentos de baixa repetição contra uma alta resistência, ou seja, a tensão muscular desenvolve-se predominantemente sem o encurtamento muscular. Treinamento regular de resistência leva a aumento de força e é também chamado treinamento de força (BALADY e ADES, 2010). O treinamento físico militar envolve tanto o treinamento de força, quanto o treinamento aeróbico, com maior destaque para esse último. O treinamento regular e orientado provoca, naturalmente, diversas adaptações no funcionamento do organismo humano. Estas adaptações trazem benefícios para a saúde e propiciam condições para a eficiência do desempenho profissional. É importante salientar que atividade física e aptidão física são duas diferentes, porém interrelacionadas formas de medida. A primeira é uma opção comportamental, enquanto que a segunda é parcialmente determinada por fatores genéticos, sendo que a atividade física regular pode melhorar a aptidão física (PITANGA, 2002). Existe um componente genético, que influencia na aptidão física de cada indivíduo, porém quem não tem essa tendência, pode desenvolver benefícios para a saúde e níveis satisfatórios de aptidão física. A aptidão cardiorrespiratória depende das qualidades do coração, pulmões, sangue e vasos sanguíneos e da capacidade das fibras musculares de utilizarem o oxigênio transportado para produzir energia (NAHAS, 2003, apud PEREIRA). 18 O melhor critério para a avaliação da aptidão cardiorrespiratória é o consumo máximo de oxigênio ou potência aeróbica (VO2max). (FLETCHER et al. 2001, apud PEREIRA). VO2 é a quantidade de oxigênio que um indivíduo consegue captar do ar alveolar, transportar aos tecidos pelo sistema cardiovascular e utilizar a nível celular na unidade de tempo (MARINS, 1998, apud PEREIRA). Segundo Boldori (2002), a prática de esportes e de exercícios físicos regularmente aumentam o rendimento físico de seus praticantes através da melhoria da eficiência funcional do organismo. Essa eficiência funcional do organismo é chamada de aptidão física, que é um indicador importante para o desenvolvimento das atividades diárias do trabalhador. E de acordo com o Manual de Campanha Treinamento Físico Militar (C2020 – 2002), indivíduos aptos fisicamente têm uma recuperação mais rápida e são mais resistentes a doenças e lesões. O aumento da aptidão física está relacionado à prontidão dos militares para o combate. 2.4 BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO "Atividade física é um direito de todos e uma necessidade básica" (UNESCO) O exercício é o estresse fisiológico mais comum e o que provoca maior mobilização do sistema cardiopulmonar. Entendemos como estresse as respostas do organismo a um agente agressor, que pode ser físico (exercício), biológico (infecções, tireotoxicose etc.) ou mental. O estresse é mediado pelo sistema nervoso autônomo, através da liberação de catecolaminas, com o objetivo de adaptação ou homeostase orgânica. Consideramos alterações cardiovasculares agudas (imediatas) aquelas que ocorrem durante a atividade física e nos minutos pré e pós-exercício, e alterações crônicas, aquelas decorrentes do treinamento. Durante o exercício, há necessidade de maior aporte de O2 aos músculos em atividade. Esse aumento é dependente de um leque de alterações hemodinâmicas, como: aumento do volume sistólico, aumento da freqüência cardíaca, aumento da extração de O2 periférico e redistribuição do fluxo. 19 Para garantir o aumento de fluxo sanguíneo nos músculos em atividade e manter o fluxo para as áreas nobres, como cérebro e coração, ocorre a redistribuição do fluxo sanguíneo por meio de: - vasodilatação no território muscular, mediada por alterações metabólicas locais, levando â diminuição da resistência vascular periférica; - vasoconstricção em territórios hepatoesplênico e renal. Em decorrência dessa redistribuição, podemos observar que durante a atividade física, há inibição da diurese, mesmo em pacientes bem hidratados, por redução do fluxo renal. Quanto maior a intensidade do exercício, maior a vasoconstricção, podendo chegar a 80% de redução do fluxo. Isso, muitas vezes, ocasiona dor em hipocôndrio direito e⁄ou esquerdo, decorrente da mobilização da cápsula hepática e⁄ou esplênica. A diferença arteriovenosa de O2, em repouso, é de aproximadamente, 5% e são retirados do sistema arterial de 4 a 5 mL de O2⁄100mL⁄min. Com a intensidade do exercício, a diferença arteriovenosa aumenta linearmente, e pode chegar a 15 mL de O2⁄100mL, triplicando, portanto, a oferta de O2 para a musculatura em atividade. O aumento da freqüência cardíaca é a maior responsável pelo aumento do débito cardíaco durante o exercício, especialmente em atividades de alta intensidade. A freqüência cardíaca aumenta linearmente com o aumento da carga de trabalho e com o consumo de O2 periférico. Esse aumento é decorrente da inibição da atividade vagal e do estímulo da atividade simpática. A freqüência cardíaca máxima pode ser prevista por meio de fórmulas. A mais utilizada, provavelmente por sua praticidade de cálculo, é a de Karvonen, com margem de erro de 7 a 11 bpm (batimentos por minuto). Fórmula de Karvonen: FC máxima= 220 – idade O volume sistólico é o volume de sangue ejetado pelo coração a cada sístole, ou seja, é o resultado da diferença entre o volume diastólico final e o volume sistólico final. Dessa forma, depende do retorno venoso e da complacência ventricular (volume diastólico final) e da contratilidade miocárdica e resistência vascular periférica (volume sistólico final). Em exercícios leves a moderados, o volume sistólico aumenta linearmente com o aumento do débito cardíaco e sofre influência de elevações da freqüência cardíaca em decorrência da redução do tempo de enchimento ventricular. Quanto maior a freqüência, menor o volume sistólico. Modificações na postura corporal influenciam o retorno venoso e, por conseguinte, o volume sistólico. O condicionamento físico também influencia o volume sistólico. Em 20 indivíduos treinados, o aumento do volume sistólico é o maior determinante do grande aumento do débito cardíaco, uma vez que a freqüência cardíaca desses indivíduos não alcança valores acima da média para a idade (CARREIRA, 2009). Pode-se citar ainda alterações agudas tardias, que são os efeitos fisiológicos observados ao longo das primeiras 24 horas que se seguem a uma sessão de exercícios e podem ser exemplificados como na discreta redução dos níveis tensionais, especialmente, nos hipertensos, e no aumento do número de receptores de insulina nas membranas das células musculares. Como exemplo de alterações fisiológicas crônicas também denominados como adaptações, são aqueles que resultam da exposição freqüente e regular às sessões de exercícios, representando os aspectos morfofuncionais que diferem um indivíduo fisicamente treinado, de um outro sedentário. Dentre os achados mais comuns dos efeitos crônicos do exercício físico estão a hipertrofia muscular e o aumento do consumo máximo de oxigênio (GODOY, 1997). Os mecanismos específicos pelos quais a atividade física reduz o risco de morte e de eventos cardiovasculares são aparentemente multifatoriais e vão além da redução dos fatores de risco cardiovascular. Foram evidenciados efeitos benéficos na redução do risco de trombose, na função endotelial, na resposta inflamatória e na modulação do sistema nervoso autônomo. A magnitude da redução da pressão arterial obtida com exercícios é modesta e, em pacientes com hipertensão arterial leve, produz um efeito semelhante à monoterapia farmacológica (BALADY e ADES, 2010). A prática regular de exercícios físicos tem sido frequentemente recomendada como uma conduta não farmacológica no tratamento da HAS (hipertensão arterial sistêmica). O treinamento aeróbio entre 50% a 70% do VO2max pode resultar no decréscimo de 4 a 10mmHg da pressão arterial sistólica (BUNDCHEN et al., 2009). Segundo Matsudo (1999), os benefícios da atividade física no controle da pressão arterial acontecem por diversos fatores diretos e indiretos da atividade física no organismo: Alterações cardiovasculares: Diminuição da freqüência cardíaca de repouso, débito cardíaco no repouso, resistência periférica e volume plasmático; Aumento da densidade capilar. Alterações endócrinas e metabólicas: 21 Diminuição da gordura corporal; Diminuição dos níveis de insulina; Diminuição na atividade do sistema nervoso simpático; Aumento da sensibilidade a insulina; Melhora da tolerância a glicose. Composição corporal: Efeito diurético; Aumento da massa e da força muscular. Comportamento: Diminuição do estresse e da ansiedade. A atividade física e o exercício induzem a diversos benefícios importantes sobre o metabolismo da glicose, incluindo um aumento na sensibilidade periférica à insulina, uma redução na produção hepática da glicose, uma utilização preferencial da glicose em relação aos ácidos graxos pelo músculo em exercício e a redução da obesidade. Ressalta-se ainda que a prática regular de exercício parece evitar o surgimento do diabetes melito. Um fato amplamente conhecido é que o sobrepeso e obesidade estão significativamente associados a um aumento na morbimortalidade cardiovascular. Apesar de grande parte dos estudos randomizados controlados demonstrarem apenas uma modesta redução de peso com a prática de exercício, o treinamento físico parece ser um importante componente nos programas de emagrecimento. Estudos sugerem que o exercício é necessário para manutenção e prevenção do aumento de peso corporal após uma dieta. O efeito do exercício no perfil lipídico demonstra um grande benefício nos níveis de triglicerídeos, com mudanças modestas nas taxas das lipoproteínas de alta densidade (HDL) e pequena ou nenhuma mudança nos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL). Contudo, algumas informações sugerem que o exercício reduz a concentração de partículas pequenas, densas e aterogênicas de LDL. Um recente estudo envolvendo gêmeos monozigóticos mostra um forte componente genético para níveis de HDL que pode ser modificado leve, mas favoravelmente através da prática de atividade física. Outras evidências sugerem que o treinamento físico tenha efeitos benéficos no sistema fibrinolítico e muitos estudos reportam uma relação inversa entre a 22 atividade física e a reposta inflamatória. A prática regular de exercícios parece ter uma importante e favorável influência sobre a função endotelial tanto nas artérias periféricas quanto nas artérias coronarianas. A melhora da função vasodilatadora endotelial pode resultar, ao menos em parte, do aumento da produção do óxido nítrico e de uma redução associada do estresse oxidativo, assim como de um aumento nas células progenitoras endoteliais. Além disso, o exercício físico também reduz os níveis de PCR (proteína C reativa). Tais melhorias podem contribuir para a redução do número de eventos cardiovasculares adversos. Finalmente, o exercício parece modular favoravelmente o equilíbrio entre o tônus simpático e o parassimpático, um efeito associado com a melhoria na sobrevida. Mudanças nos sistemas muscular, cardiovascular e neuro-humoral resultantes da prática regular do exercício podem ser expressas através da melhora da capacidade funcional e da força muscular. Estas mudanças são chamadas de efeito de treinamento e permitem que o indivíduo se exercite com cargas máximas mais elevadas e com uma freqüência cardíaca submáxima mais baixa para um dado nível de esforço. Em um estudo longitudinal, demonstrou-se um declínio da capacidade funcional máxima associada ao exercício. Esta perda parece se tornar mais marcante a cada década de vida. Embora exercício regular possa atenuar esta perda da capacidade funcional com a idade, ele não parece prevenir o declínio mais acentuado com o avanço da idade (BALADY e ADES, 2010). Além dos benefícios sobre o sistema cardiovascular, proporcionando a prevenção de diversas patologias cardíacas e cardiovasculares, o exercício físico apresenta também contribuições positivas sobre diversos outros sistemas do organismo humano propiciando uma significativa melhora da qualidade de vida. Além da prevenção das doenças degenerativas já faladas anteriormente, como o diabetes melitus do adulto, a hipertensão arterial, a angina⁄infarto do miocárdio, o exercício físico também é um importante aliado na prevenção da osteoporose. Pessoas sedentárias, também tem tendência maior para certos tipos de câncer, como os do intestino e de mama. Ou seja, atividade física pode reduzir o risco de desenvolvimento de várias doenças crônicas e é um fator importante para aumentar o tempo de vida. Algumas descobertas recentes têm demonstrado que estes benefícios podem ser também sentidos entre os indivíduos inicialmente sedentários ou incapacitados que se tornaram mais ativos (GHORAYEB, 2010). Mudar, até mesmo tardiamente, 23 de um estilo de vida sedentário para um mais ativo confere redução de mortalidade por coronariopatia (GAZIANO et al., 2010) O estudo da relação entre o exercício e a resposta imune teve grande impulso a partir da metade da década de 70, tendo como principais áreas de interesse o estudo da infecção das vias aéreas superiores em atletas submetidos a grandes esforços, o exercício como resposta adaptativa frente a situações de estresse. A descrição da interação entre os sistemas imunes e neuroendócrinos foi de importância capital no desenvolvimento desses estudos. O exercício gerando um desvio da homeostase orgânica leva à reorganização de diversos sistemas, entre eles o sistema imune. É adequado dividir a resposta ao exercício em resposta aguda, resposta transitória ao estresse e resposta de adaptação crônica, na qual o treinamento capacita o organismo a lidar com o estímulo estressante de maneira mais adequada (ROSA e VAISBERG, 2002). Apesar das incorreções que cometemos quando das generalizações, podemos dizer que, de modo geral, o exercício de intensidade moderada, praticado com regularidade, melhora a capacidade de resposta do sistema imune, provocando por exemplo a redução da incidência de alguns tipos de câncer e uma maior resistência dos pacientes com AIDS (PITANGA, 2002) . Enquanto o exercício de alta intensidade praticado sob condições estressantes provoca um estado transitório de imunodepressão (ROSA e VAISBERG, 2002). No que diz respeito aos aspectos psicobiológicos, os primeiros trabalhos descritos na literatura foi a partir da década de 70, tendo como modelo o exercício aeróbico e as suas repercussões sobre o humor e a ansiedade. O exercício físico provoca alterações fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, portanto, pode ser considerado uma intervenção não medicamentosa para o tratamento de distúrbios relacionados ao sono, ao humor, a ansiedade, a depressão, a memória e a aprendizagem (MELLO et al., 2005). De acordo com Matsudo, evidências mostram que existem alterações nas funções cognitivas dos indivíduos envolvidos em atividade física regular. Estas evidências sugerem que o processo cognitivo seria mais rápido e mais eficiente em indivíduos fisicamente ativos por mecanismos diretos: melhora na circulação cerebral, alteração na síntese e degradação de neurotransmissores; e mecanismos indiretos como: diminuição da pressão arterial, diminuição nos níveis de LDL no plasma, diminuição dos níveis de triglicerídeos e inibição da agregação plaquetária. 24 Dentre os efeitos psicológicos, a diminuição da tensão emocional pode ser considerada como um dos mais importantes e alguns dos seus mecanismos a curto e a longo prazo tem sido descritos na literatura: Efeitos a curto prazo: Aumento do fluxo sanguíneo cortical; Alterações nas aminas biogênicas; Liberação de opióides endógenos; Aumento da temperatura corporal; Melhora da resposta ao estresse (aumenta a neurotransmissão de catecolaminas e diminui a tensão muscular); Modifica a atividade das ondas cerebrais. Efeitos a longo prazo: Alterações nos níveis e características das catecolaminas cerebrais; Alteração da transmissão sináptica; Liberação de opióides endógenos. Como referido no Manual de Campanha Treinamento Físico Militar (C2020 – 2002), a atividade física está relacionada com uma saúde mental positiva e com o bom humor dos praticantes. Sendo assim, um benefício adicional seria a maior alegria de viver, adicionando, provavelmente, além de anos à vida, vida aos anos. Isso pode ser também documentado através do trabalho de Rodrigues et al. (2007), onde pode-se confirmar a clara relação entre a prática de exercício físico e a elevada capacidade cardiorrespiratória como protetores contra os efeitos indesejáveis do estresse. O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito do condicionamento físico aeróbico na resposta psicofisiológica a estressores laboratoriais em oficiais do Exército Brasileiro. Apresentando resultados que sugerem que indivíduos com melhor condição cardiorrespiratória tendem a apresentar padrões reduzidos na resposta autonômica ao estresse, como indicado pelo comportamento dos níveis de condutibilidade na pele. Empresas que adotaram programas de atividade física no local de trabalho para seus funcionários mostraram uma redução na ausência ao trabalho, redução nos custos médicos, aumento na produção e melhoria em seus lucros. Evidências científicas tem reforçado que um estilo de vida ativo desde a fase escolar pode 25 trazer vários benefícios; entre eles, melhor rendimento, menos faltas às aulas, melhora no relacionamento com os pais, aumento da responsabilidade, bem como melhora no nível de aptidão física geral (GHORAYEB, 2010). Sendo assim, o treinamento físico militar, além de proporcionar o necessário condicionamento físico e orgânico para a conquista dos objetivos, contribui no campo da saúde mental para a estruturação e aperfeiçoamento das qualidades morais, exercendo papel fundamental sobre a personalidade e o comportamento do militar (BROWN, 2006, apud, SOUZA). Objetivando dessa maneira, a melhoria da capacidade psicomotora do combatente. Melhoria essa que irá favorecê-lo diante de certas adversidades durante o combate, tais como: sono, frio, calor, cansaço físico e estresse, permitindo-lhe manter por mais tempo sua eficiência operacional (RODRIGUES, 2007). Dessa forma, pode-se concluir que a prática regular de exercícios constitui um importante elemento motivador de promoção de saúde, com conseqüentes efeitos benéficos tanto na prevenção quanto na recuperação de diversas doenças. Benefícios esses que vão além da esfera da saúde física, ajudando o militar a melhorar seu nível de energia, sua disposição e sua saúde de um modo geral. Afetando desse modo de maneira positiva seu desempenho intelectual, seu raciocínio e sua velocidade de reação, atributos esses tão indispensáveis para o desempenho de sua função no corpo de tropa. 26 3 CONCLUSÃO “Eu penso que a razão fundamental para o desenvolvimento da doença cardiovascular em todo o mundo seja o que podemos chamar de má-adaptação à urbanização” – essa foi uma afirmação feita pelo Dr. Salim Yusuf (Mc Master University, Hamilton - Canadá) numa conferência realizada no XIVth World Congresso f Cardiology, na Austrália. Como todos sabem a maior causa de morbimortalidade no mundo Ocidental é a doença cardiovascular. Ao invés de se imputar como causas únicas o envelhecimento da população e a diminuição da mortalidade pelas doenças infectocontagiosas, deve-se prestar atenção ao perfil dessa mesma população. Desde os anos 50, dados consistentes, provenientes de estudos observacionais e estudos clínicos, vêm mostrando a identificação da falta de atividade física bem como da ociosidade, como fator de risco independente para a doença cardiovascular, além de outros transtornos cognitivos e prejuízos da qualidade de vida trazidos pelo sedentarismo. A prática de exercícios físicos ajuda na prevenção e reabilitação, sendo os efeitos benéficos da atividade física sobre o sistema cardiovascular e sobre os diversos fatores de risco, independentes da idade, sexo ou influências genéticas e já ocorrem com aumentos relativamente modestos do nível de atividade física. As recomendações para a atividade física tiveram uma mudança radical na última década. Atualmente tem-se demonstrado que as atividades realizadas com grandes grupos musculares movimentados de forma cíclica com baixa e moderada intensidade e longa duração, feitas de três a cinco vezes por semana, são as mais recomendadas para a prevenção cardiovascular primária e secundária. A promoção de atividade física deve ser uma prioridade de saúde pública, em especial dentro das organizações militares, pois como já falado anteriormente além de desenvolver a aptidão cardiorrespiratória no corpo de tropa, uma vez que sua melhoria contribui para o aumento significativo da prontidão dos militares para o combate, também os torna mais resistentes às doenças e proporciona melhoria na qualidade de vida. 27 REFERÊNCIAS BALADY, Gary J.; ADES, Philip A. Exercício e Cardiologia Esportiva. In: BRAUNWALD, Eugene et al. Braunwald – Tratado de Doenças Cardiovasculares. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. v. 2, cap 78, p. 1983-1991. BOLDORI, Reinaldo et al. 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