DeMocrAtizAção Do Acesso & ForMAção De Agentes culturAis
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Projeto Acervos Museológicos Democratização do Acesso e Formação de Agentes Culturais
Realização
Instituto Minas Pela Paz
Conselho Deliberativo
Parcerias
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
PUC Minas
Sistema FIEMG
Cledorvino Belini
Presidente
Olavo Machado Junior
Vice-Presidente
Luiz Alberto Garcia
Conselheiro
Francisco Sérgio Soares Cavalieri
Conselheiro
Hélcio Roberto Martins Guerra
Conselheiro
Otávio Marques de Azevedo
Conselheiro
Rubens Menin Teixeira de Souza
Conselheiro
Aguinaldo Diniz Filho
Conselheiro
Paulo Eduardo Rocha Brant
Conselheiro
Manoel Vitor de Mendonça Filho
Conselheiro
Ricardo Vescovi de Aragão
Conselheiro
Alexandre de Campos Lyra
Conselheiro
Patrocínio
Diretoria
Instituto Minas Pela Paz
Marco Antonio Lage
Diretor Coordenador
Jedaias Jorge Salum Diretor Vice-Coordenador
Dirlene Taveira Corrêa
Diretor
Ana Gabriela Dias Cardoso
Diretor
Marcelo Dias
Diretor
Gestão Editorial
Projeto Institucional
Pesquisa
José Carlos Barboza de Oliveira - Consultor
Akala
Fabiana Abaurre
Coordenação Geral de Execução do Projeto
Eliana Mara de Rezende - Consultora
Fiat
Contax
Usiminas
Apoio
Gerdau
Oi Futuro
Instituto Cultural Usiminas
Produção dos Cadernos
Coordenação Geral
Margem 3 Comunicação Estratégica
Produção de Texto
Andréia Menezes De Bernardi
Consultoria Técnica
Fabiana Abaurre
Secretaria Municipal de Educação
de Belo Horizonte
Projeto Gráfico e Diagramação
Rosa Vani Pereira - Coordenação
Ilustrações
Sandra Fujii
Tiago Souza
Impressão e Acabamento
EGL - Editores Gráficos Ltda.
É expressamente proibida a comercialização deste caderno
Uma educação
para novos tempos
A
universalidade do conhecimento vem recuperando espaço no
mundo contemporâneo. Até pouco tempo, a especialização era
considerada como qualidade fundamental na formação do homem moderno.
A preocupação com as grandes causas da humanidade e com o acelerado processo de globalização evidenciam a importância crescente
de uma formação mais universalista, que possibilite ao indivíduo ir além
e compreender os desafios e as limitações que as sociedades devem
enfrentar, em um futuro próximo.
Para vencer esses obstáculos, num plano de absoluta realidade, as empresas têm se ressentido da lacuna crescente entre o perfil de seus recursos humanos e a necessária capacidade de inovar, acreditando que
a cultura pode fazer a verdadeira diferença.
Acervos Museológicos, Democratização do Acesso e Formação
de Agentes Culturais é um projeto inovador, que tem como objetivo
capacitar professores e gestores educacionais para a inclusão sociocultural de alunos das escolas públicas, promovendo a difusão da cultura
como a principal estratégia na construção da cidadania.
O projeto foi estruturado basicamente em quatro pilares, sendo o primeiro uma pesquisa de campo realizada pelo Instituto Vox Populi, em 2010,
visando ao melhor conhecimento do perfil dos professores das escolas
da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte. A pesquisa também
avaliou o interesse e o grau de disponibilidade dos professores, alunos
e seus respectivos familiares na ampliação da frequência de visitas aos
espaços culturais de Belo Horizonte, que, por sua vez, podem, assim,
promover o melhor aproveitamento de seus potenciais e de suas respectivas programações.
O segundo pilar consiste em um curso de pós-graduação em Gestão de
Projetos Culturais, realizado pela PUC Minas, beneficiando, em uma primeira etapa, cerca de 240 educadores das nove Regionais Municipais
de Ensino da Capital.
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Projeto Acervos Museológicos
Uma educação para novos tempos
Os participantes do curso terão a missão de repassar o conhecimento
adquirido dos demais educadores da Rede Municipal, com vistas a ampliar o número de professores devidamente preparados para planejar,
dar continuidade e avaliar os resultados parciais do projeto.
O terceiro pilar refere-se ao Programa de Imersão Cultural, com a proposta de levar os estudantes a visitar, com maior frequência, os museus
e outros espaços culturais, para enriquecer e consolidar uma formação
mais universalista. Nessa etapa de visitação, o programa Circuito de Museus da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, integra-se
ao projeto Acervos Museológicos, unindo esforços e fortalecendo os dois
programas.
Essa etapa dá sustentação ao quarto pilar do projeto, a Olimpíada Cultural, que visa ao acompanhamento do Programa de Imersão Cultural e à avaliação final dos resultados do projeto, estimulando, ao longo
do processo, a participação ativa dos estudantes, criando oportunidades para que eles possam traduzir em atividades, através de diferentes
formas de expressão, os estímulos recebidos e vivenciados, favorecendo a aprendizagem.
O reconhecimento do mérito pelos resultados alcançados deve incentivar alunos e professores a darem continuidade ao projeto, ampliando
ainda mais seus objetivos e expandindo seus horizontes.
O projeto, nascido da iniciativa de empresas associadas à Federação
das Indústrias do Estado de Minas Gerais foi coordenado, em sua execução, pelo Instituto Minas Pela Paz, em parceria com a Prefeitura de
Belo Horizonte, através da Secretaria Municipal de Educação.
Esse projeto conta com o patrocínio da Fiat, Contax e Usiminas, com
apoio da Gerdau, da Oi Futuro e do Instituto Cultural Usiminas. Vem sendo realizado com recursos obtidos através da Lei Federal de Incentivo à
Cultura, Lei Rouanet, no âmbito do Ministério da Cultura.
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo I – Introdução
E
ste é o Caderno do Professor do Projeto Acervos Museológicos
– Democratização do Acesso e Formação de Agentes Culturais.
Nele você encontrará dicas para elaboração e realização de ações
culturais com estudantes, que incluam visitas a múltiplos territórios de
ensino-aprendizagem. Foram contempladas reflexões e sugestões para
as diversas fases da ação: Sensibilização, Visita e Desdobramentos.
Deseja-se que este material seja instrumento de troca e construção
compartilhada de conhecimentos.
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo I – Introdução
Acervos Museológicos
e Cidades Educadoras
Ao estimular a realização de ações culturais em novos territórios de ensino-aprendizagem, o Projeto Acervos Museológicos considera visitas
a praças, parques, centros culturais, museus, cinemas, teatros, salas
de espetáculos, complexos patrimoniais na cidade ou no campo. Outros espaços poderão ser escolhidos e explorados por você, de acordo
com os objetivos da ação idealizada e o desejo de seus estudantes. Por
esse motivo, o projeto propõe a criação de uma área de convergência
entre os conceitos de “Acervos Museológicos” e “Cidade Educadora”.
A palavra acervo, do latim acervu, está ligada à noção de “conjunto de
bens que integram um patrimônio; conjunto de obras de uma biblioteca, de um museu” (FERREIRA, 1986, p.28), podendo ser de caráter
histórico, artístico, documental, científico, organizado e sistematizado
em um espaço físico ou em fase de organização. Na acepção dada por
Meneses (1985, p. 200), seriam considerados acervos institucionais, integrados a acervos operacionais,
certos espaços, paisagens, estruturas, monumentos,
equipamentos – enfim, áreas e objetos sensíveis do tecido
urbano, socialmente apropriados, percebidos não só na
sua carga documental, mas na sua capacidade de alimentar as representações urbanas. (MENESES, 1985, p.201)
Há que se considerar também acervos não vinculados ao urbano, mas
relacionados à experiência do campo, às experiências indígenas e outras que possuam apelo estético. Organizados e dispostos sob a forma
de oferta, exposições temporárias ou de longa duração, tais acervos
constituem fontes de pesquisa, usufruto e apreciação.
Já o conceito de museologia, do qual deriva o termo museológico, também passou por diversas revisões e é continuamente atualizado. Uma
das correntes de pensamento compreende a museologia como “a relação específica entre o homem e a realidade caracterizada como a
documentação do real pela apreensão sensível direta”.1 (DESVALLÉES;
MAIRESSE, 2010, p.57)
Esse conceito - aliado ao de patrimônio cultural entendido como “o real
na sua totalidade: material, imaterial, natural e cultural” (SANTOS, 2008,
p.37) - permite pensar a escola e o seu entorno, o bairro e toda a cidade como territórios para o “exercício da cidadania e o desenvolvimento
social, por meio do processo educativo”. (SANTOS, 2008, p.34).
1 Tradução livre.
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo I – Introdução
O Movimento das Cidades Educadoras, por sua vez, iniciado na década de 1990 em Barcelona, na Espanha, deu origem à Carta das Cidades Educadoras (revisada em Gênova em 2004), que considera que
as cidades grandes ou pequenas dispõem de incontáveis
possibilidades educacionais. De uma forma ou de outra, elas possuem em si mesmas elementos importantes
para uma formação integral. (...) A cidade educadora é
um sistema complexo, em constante evolução, e pode ter
expressões diversas, porém sempre dará prioridade absoluta a um investimento cultural e à formação permanente
de sua população. (CARTA das Cidades Educadoras, Declaração de Barcelona, 2004, s.p.)
Belo Horizonte aderiu à Carta das Cidades Educadoras e tem elaborado seus projetos político-pedagógicos nessa perspectiva. As ações do
Programa Escola Integrada, os projetos Circuito de Museus, BH para
Crianças, Escola Aberta e, agora, o Acervos Museológicos são alguns
exemplos do engajamento de Belo Horizonte, como cidade educadora.
Assim, convidamos você a experimentar Belo Horizonte e sua região
metropolitana como um museu a céu aberto, considerando suas diversas paisagens, seus territórios e suas instituições culturais como um
grande e diversificado acervo, uma rede socioeducativa e cultural em
movimento, que está de portas e braços abertos para professores, estudantes e suas famílias.
Aproveite.
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo II – Gestão Cultural
O
Brasil vive um momento em que a população economicamente ativa supera o número de dependentes, idosos e
crianças. Entre os anos 2000 e 2030, essa condição, chamada “bônus demográfico”, amplia as chances de desenvolvimento
econômico e social do país. Para aproveitar esta oportunidade e
promover o crescimento nos próximos 20 anos, é preciso que se
invista na criação de novos postos de trabalho, em saúde e, sobretudo, em educação.
Consciente deste desafio e do protagonismo de diretores, vice-diretores, coordenadores e professores, o Projeto Acervos Museológicos, propõe investimento na formação gerencial dos profissionais
da educação como um dos caminhos para o aprimoramento da
educação básica.
Pesquisas recentes (Dourado, 2000; Souza, 2009) demonstram que
a maior parte dos diretores e vice-diretores de escolas públicas tem
entre 10 e 20 anos de experiência educacional, atuando como professores, supervisores e coordenadores. As funções de diretor e
vice-diretor, no entanto, requerem conhecimentos da área de gestão
que não se referem exclusivamente ao âmbito técnico-pedagógico,
mas a atividades que compreendem competências comportamentais e técnicas, além de uma visão integrada dos processos administrativos: logística, gestão de finanças, marketing, negócios,
pessoas e projetos. É também uma exigência contemporânea dos
cargos gerenciais o conhecimento de conceitos e práticas ligadas
às noções de empreendedorismo, liderança, inovação, cultura organizacional subjetiva, sustentabilidade, gestão da comunicação e do
conhecimento, entre outros.
Reconhecendo a diversidade de formações desses profissionais
e a crescente exigência de complementaridade no âmbito da gestão, o Instituto Minas Pela Paz (IMPP), aliado à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, decidiu oferecer o curso de especialização lato-sensu Gestão de Projetos Culturais, que contou
com a adesão de 240 profissionais entre diretores, vice-diretores,
professores e técnicos atuantes na Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte.
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo II – Gestão Cultural
A gestão cultural na escola
Educação e Cultura... Cultura e Educação...
“duas faces, rigorosamente recíprocas e complementares,
de uma mesma realidade.”
Forquin (1993, p.14)
Para gerenciar projetos culturais a partir da escola, os profissionais envolvidos precisam, idealmente, estar sensibilizados em relação à importância da cultura na formação integral do ser humano. Ou seja, precisam reconhecer os papeís do usufruto, do pensamento sobre cultura,
do estímulo à produção cultural dos estudantes. São dimensões significativas dos processos de construção de identidades e de memórias.
Para tanto - como veremos no Módulo III - é um passo essencial propor
a inserção de visitas a espaços culturais no planejamento da escola em
que você atua. Convidar artistas e arte-educadores para atuarem dentro
da escola também é um caminho interessante, sobretudo pela possibilidade de envolvimento das comunidades do entorno.
O Projeto Acervos Museológicos formou os participantes do curso de
pós-graduação Gestão de Projetos Culturais para a elaboração, realização e acompanhamento de projetos.
No site www.acervosmuseologicos.org.br, reforçando as principais etapas do processo, há dicas úteis para você, profissional da educação/
gestor de projetos culturais.
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo III – Mediação Cultural
O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é o caminho
que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o
seu caminho de cultura e ao fim falou que só sabia que
não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas
que aprendera coisas di-menor com a natureza. [...] Estudara nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver, no
ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. Chegou por vezes
de alcançar o sotaque das origens. Se admirava de como
um grilo sozinho, um só pequeno grilo, podia desmontar os
silêncios de uma noite! Eu vivi antigamente com Sócrates,
Platão, Aristóteles – esse pessoal. Eles falavam nas aulas:
Quem se aproxima das origens se renova. [...]
Manoel de Barros, 2006
O que é mediação para você?
E mediador?
N
o âmbito da educação em museus, o termo mediador tem sido
cada vez mais utilizado para definir o profissional que acolhe e
orienta visitas com o público em espaços culturais. Conhecemos também os termos “guia”, “monitor”, “educador”, “arte/educador”,
“orientador de visitas”, “condutor” e, por vezes, há quem utilize o termo
“professor”. Não há consenso. Cada espaço cultural ou museu identifica os profissionais que atuam junto ao setor educativo da forma como
julga ser a mais adequada, gerando controvérsias.
Alguns consideram a discussão vazia, ligada a questão meramente
terminológica, mas, apesar de terem sido usadas como sinônimos durante décadas, defendemos que para cada uma dessas palavras há
diferentes sentidos. Pensemos na palavra “guia”: o que ela nos sugere?
Quando você é guiado por alguém, o que ocorre? E no caso da palavra
“monitor”? Como é ser monitorado por alguém? Continuemos o exercício pensando agora na palavra “educador”. O que ela pressupõe? E a
palavra “professor”? A quais contextos ela nos remete?
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo III – Mediação Cultural
O debate é intenso não só no Brasil, mas em outros países também,
uma vez que a terminologia tem sido associada à proposta pedagógica, à metodologia adotada pelo museu ou espaço cultural.
Adotamos neste material a palavra e o conceito de mediador cultural
para designar aquele que realiza a mediação em museus e espaços
culturais. Mas para designar também você, professor, e todos os agentes envolvidos na educação – com e para a cultura –, profissionais comprometidos com a educação integral dos sujeitos de forma crítica. O
mediador cultural, na acepção aqui tratada, é um sujeito que está num
entre-lugar entre o bem cultural e os sujeitos, oferecendo-lhes oportunidades de usufruto, apreciação, contemplação, observação, crítica e
reflexão, respeitando, sobretudo, os ritmos, interesses e propósitos dos
processos educativos.
O fomento da postura crítica na educação em museus e espaços culturais é um forte aliado na luta contra a reprodução das desigualdades
sociais e culturais em nosso país, pois contribui para o questionamento
e a inquietação, em detrimento da resignação. Segundo Dewey (2010;
136), um grupo de visitantes
conduzido por um guia em uma galeria de pintura, tendo
a atenção chamada para tal ou qual ponto alto, aqui e ali,
não percebe; só por acaso é que há sequer interesse em
ver um quadro por seu tema vividamente realizado. Para
perceber, o espectador ou observador tem de criar sua experiência.
Assim, numa visita orientada, a proposta pedagógica pode estimular o
cultivo de uma postura reflexiva e a investigação. Ou, ao contrário, pode
levar os visitantes a se comportarem como espectadores, seguindo um
percurso pré-definido, por meio de um discurso previamente elaborado.
Para refletir: Como promover a participação e a
integração de estudantes em visita a espaços culturais, museus ou em quaisquer situações de ensino-aprendizagem em que se pretenda valorizar a autonomia dos envolvidos?
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo III – Mediação Cultural
O professor como mediador cultural
O professor que promove a ação cultural pode recriar abordagens e
estratégias com o intuito de promover a participação dos estudantes,
assim como fazê-lo no contexto da educação formal. Interferir, com o
objetivo de criar esse ambiente, é essencial para o desenvolvimento da
ação como um todo, pois
(...) a ação mediadora e o fazer pedagógico desvelam as
preocupações e concepções de ensino que constituem
a identidade do educador. [...] Em nossas ações diárias,
traduzimos conceitos históricos e estéticos. Para ser mediador é preciso cultivar uma postura reflexiva e provocadora, capaz de planejar jogos estéticos, ativar descobertas e despertar o interesse de olhar mais além. (MARTINS,
2005, p. 52)
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo III – Mediação Cultural
Reproduzimos aqui texto2 em que o conceito de mediação, após a análise
das respostas de vários educadores e professores à pergunta “O que é
mediação para você?”, levou à conclusão de que “mediar é estar entre”.
(...) mediar é estar entre.
Um estar, contudo, que não é passivo nem fixo, mas ativo, flexível, propositor. Um estar entre que não é entre dois,
como uma ponte entre a obra e o leitor, entre aquele que
produz e aquele que lê, entre o que sabe e o que não sabe.
Ultrapassando a ideia de mediação como ponte, compreendê-la como um estar entre implica em uma ação fundamentada e que se aperfeiçoa na consciente percepção da
atuação do mediador que está entre muitos: as obras e as
conexões com as outras obras apresentadas, o museu ou
a instituição cultural, o artista, o curador, o museógrafo, o
desenho museográfico da exposição e os textos de parede
que acolhem ou afastam, a mídia e o mercado de arte que
valorizam certas obras e descartam outras, o historiador e
o crítico que a interpretam e a contextualizam, os materiais
educativos e os mediadores (monitores ou professores) que
privilegiam obras em suas curadorias educativas, a qualidade das reproduções fotográficas que mostramos (...) com
qualidade, dimensões e informações diversas, o patrimônio
cultural de nossa comunidade, a expectativa da escola e
dos demais professores, além de todos os que estão conosco como fruidores, assim como nós, mediadores, também repletos de outros dentro de nós, como vozes internas
que fazem parte de nosso repertório pessoal e cultural.
2 O Grupo de Pesquisa em Mediação
Cultural: provocações e mediações
estéticas da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, coordenado pela
pesquisadora e doutora em educação
Mirian Celeste Martins (2005), aplicou
questionário junto a vários professores,
buscando chegar ao conceito de
mediação.
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Projeto Acervos Museológicos
O estar entre da mediação cultural não pode desconhecer cada um desses interlocutores e o seu desafio maior:
provocar uma experiência estética e estésica. Ao contrário da anestesia, o desafio é liquidifazer a resistência que
se esconde atrás do “eu não gosto”, é substituir a apatia
pela empatia que convoca a disponibilidade para entrar
em com-TATO, é aproximar, possibilitar acesso ao encontro
com a arte e a cultura, enriquecendo-o pela potencialidade
de tantos outros que convivem com a experiência.
Um estar entre atento e observador, no olhar e na escuta, para
gerar questões que apenas têm sentido se provocam reflexão,
a conversação, a troca entre os parceiros. Um estar entre que
precisa cada vez mais ser apurado. (MARTINS, 2005, p. 55)
E você, o que pensa a respeito?
Módulo III – Mediação Cultural
Acervos geradores
Um dos maiores educadores brasileiros de todos os tempos, Paulo
Freire, criou método de alfabetização de adultos que parte de palavras
geradoras. Essas palavras, escolhidas a partir da realidade dos grupos
de alfabetizandos e introduzidas nas conversas dos círculos de cultura
promovidos por Freire, dinamizavam (e ainda dinamizam) o processo
de alfabetização. Isso se deve ao fato de essas palavras geradoras estarem conectadas à cultura, ao universo do trabalho e aos problemas
cotidianos dos envolvidos, pois,
ia
tór
his do il
ras
B
his
tór
h
d
B isotó ia
Bradsoilria
ras
il
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo III – Mediação Cultural
segundo o autor (1990, p. 31),
ler a palavra e aprender como escrever a palavra, de modo
que alguém possa lê-la depois, são precedidos do aprender como “escrever” o mundo, isto é, ter a experiência de
mudar o mundo e de estar em contato com o mundo.
Na leitura do mundo, que também faz parte do processo de alfabetização, somam-se às palavras geradoras paisagens, objetos, sons, imagens e infinitos estímulos visuais e sensoriais, também eles geradores.
Geradores de sentidos e de construção de repertórios pessoais. Cada
sujeito seleciona, organiza e atualiza constantemente seus repertórios,
seus acervos de ideias, sentimentos, desejos, ideologias.
Num museu ou espaço cultural de qualquer tipologia, os acervos nem
sempre apresentam relações explícitas com os repertórios pessoais
dos visitantes, que, ao visitarem uma exposição ou outro contexto de
contato com o patrimônio, assumem postura ora investigativa, curiosa,
ora indiferente, passiva. Quando nos reconhecemos em uma obra de
arte, objeto histórico ou mesmo numa paisagem, seja pelo interesse de
pesquisa que desperta ou pelo desconcerto que provoca, assumimos
naturalmente uma postura ativa, de busca, inquietação.
Para que sejamos afetados de alguma forma, sendo convidados à investigação ou impelidos à indiferença, é necessário que tenhamos um
contato inicial, uma experiência direta com os acervos. E que haja tempo e espaço para um primeiro olhar, pois, no exercício de análise de
imagens, como explicita Manguel (2001, p. 31-32),
cada obra de arte se expande mediante incontáveis camadas de leituras, e cada leitor remove essas camadas a fim
de ter acesso à obra nos termos do próprio leitor. Nesta
última (e primeira) leitura, nós estamos sós.
Há, também, as percepções sensoriais provocadas pelo contato com
as obras, os objetos, as exposições. Para além da leitura e da busca
interpretativa, há o contato visual, estético e sensível, ativado pelas relações de memória (pessoal e social) que os sujeitos estabelecem com
os bens culturais.
Assim, compreendendo que a educação em espaços de cultura, museus e complexos patrimoniais se faz na relação, na aproximação entre
olhares, por meio de práticas de memória e no estímulo à investigação,
convidamos você, professor, a elaborar estratégias de mediação que
transformem os acervos museológicos - que iremos encontrar durante
a ação cultural - em acervos geradores. Acervos provocadores da criatividade, de atos significativos que envolvem lembrança e esquecimento,
do pensamento crítico, da autonomia e da liberdade dos estudantes.
16
Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV –
Realizando a ação cultural:
Sensibilização, Visita
e Desdobramentos
N
este módulo, buscamos destacar a importância de a ação cultural ter um fio condutor elaborado, que valorize e promova o
interesse e a participação dos estudantes nos momentos Sensibilização, Visita e Desdobramentos, criando-se uma ambiência propícia
para a criação em todas as etapas.
Convidamos você a refletir sobre a importância de se respeitar o caráter
cultural da visita, fortalecendo o momento de socialização, ludicidade,
fruição e construção de conhecimentos, que abarca e ultrapassa as
proposições curriculares. Destacamos a necessidade de se valorizar
a bagagem cultural dos envolvidos, promovendo o debate e a crítica,
além de incentivar o protagonismo.
Trabalhamos cada uma das etapas trazendo dicas e orientações para
que sua ação cultural seja realizada da melhor forma possível, antecipando eventuais desafios e sinalizando dificuldades recorrentes, tanto
por parte das escolas quanto por parte dos museus, instituições de
cultura e complexos patrimoniais.
Pré-produção
No universo dos projetos culturais, a “pré-produção” é o momento em que
você irá se preparar para o início da ação. A pré-produção faz parte da realização do projeto, mas é destinada à articulação necessária para seu início
junto aos beneficiários. É nesse momento que você deverá providenciar:
• a comunicação formal à diretoria da escola e ao corpo docente sobre
o início do projeto;
• a solicitação de apoio e a formalização de parcerias;
• a coleta de cartas de anuência de entidades envolvidas;
• a contratação de serviços;
• a compra de materiais necessários para a realização das ações, entre
outras.
Após a fase de “pré-produção”, é iniciada a fase de “produção”, quando as ações são iniciadas junto aos estudantes. A seguir, apresentamos
cada uma das etapas de produção (Sensibilização, Visita e Desdobramentos), trabalhando algumas questões em profundidade, com dicas
e reflexões.
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo IV – Realizando a ação cultural
Sensibilização
O homem e o objeto
A coisa existe,
quando existe
Sobre a mesa
Ou na planície
Um olho que a contempla.
Daí, nunca, em si
E por si própria subsiste,
Mas no olho que a reveste
É que persiste.
E mais: não só a coisa,
Também o olho
Somente existe
Se, de repente,
A descobre:
Na espessura do gesso,
Na pauta sonora e fria
E no espaço da moldura.
Mas se o olho
Com seu desprezo
A renega,
A coisa também se alheia,
E em si mesma se fecha
E mais se afunda:
Que a coisa
Somente existe
Quando existe
Uma outra coisa
Que a fecunda.
Affonso Romano de Sant’Anna, 1975
A etapa Sensibilização tem como objetivo ativar o olhar dos envolvidos
na ação cultural para que estejam atentos e, como indica Affonso Romano, possam fecundar os bens culturais com indagações, espanto,
surpresa, encantamento.
É também momento importante de instigação do olhar dos próprios
professores, por meio da visita prévia ao espaço e de outros procedimentos, que serão abordados a seguir.
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV – Realizando a ação cultural
Contato com o setor educativo
O agendamento pode ser considerado um primeiro contato com o setor
educativo. Considere que, nesse momento, informações importantes
podem ser colhidas e trocadas.
Os sites de espaços culturais costumam disponibilizar informações úteis
como horários das visitas orientadas, tempo estimado de visita, normas
de segurança, conteúdo sobre as exposições e até sugestões de abordagem com estudantes. Acessar o site da instituição também é uma maneira de estabelecer contato com o espaço cultural. Mesmo que remoto,
esse contato é tão importante quanto o agendamento das visitas.
Alguns espaços culturais não possuem setor educativo estruturado e,
se sua escolha contemplar a visitação a complexos patrimoniais urbanos, por exemplo, a ação cultural será construída e realizada por você
junto aos seus pares, outros professores e colaboradores da escola.
Considere essa possibilidade, pois, como explicitamos anteriormente,
a ação proposta pelo Projeto Acervos Museológicos não está focada
apenas em museus.
Dica: Busque sempre
agendar a visita de seu
grupo, evitando delegar
essa atribuição a outrem.
Se o setor educativo enviar
uma ficha de marcação de
visitas, material de apoio ou
orientações ao professor,
procure ler tudo e responda
prontamente às demandas
feitas pela instituição.
Visita prévia ao espaço
A visita prévia de professores ao museu, espaço cultural ou complexo
patrimonial é ferramenta potencializadora da ação. Em algumas instituições, o agendamento está condicionado à realização dessa visita. No
entanto, é importante que os docentes saibam como estimular a curiosidade dos estudantes e tenham cuidado para não antecipar o que será
visto, quebrando o impacto do primeiro olhar.
Ao visitar o site de uma instituição cultural - ou no momento do contato
para agendar a visita de sua turma -, lembre-se de perguntar se há algum serviço voltado para o professor3 e aproveite!
O contato inicial é valioso para o sucesso da ação, pois garante que você
tenha visão dos vários aspectos envolvidos, possibilitando-se, portanto,
que você possa criar um fio condutor entre Sensibilização, Visita e Desdobramentos. Assim, haverá maior sinergia entre você e os profissionais do
setor educativo. Como resultado, os estudantes perceberão essa integração entre museu e escola, entre mediador e professor, sentindo-se mais
livres para experimentar plenamente a visita e seus desdobramentos.
Dica: Uma ação cultural
deve ser planejada de
forma equilibrada, dosando
as etapas para não cansar
os estudantes e motivar
o interesse por todas as
fases.
3 Algumas instituições oferecem serviços especialmente voltados aos professores, como encontros de formação, assessorias ao
professor, oficinas e até mesmo a possibilidade de desenvolvimento de projetos em parceria. Se o espaço não oferecer serviços
específicos (ou se não for possível participar nos horários em que são ofertados), visite-o mesmo assim. Tente agendar uma conversa
com o coordenador do setor educativo ou com o mediador que irá orientar a visita. Será importante conhecer a proposta pedagógica,
obter outras informações de seu interesse, ter acesso a materiais impressos, discutir abordagens a serem privilegiadas na visita.
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo IV – Realizando a ação cultural
A Sensibilização e as
proposições curriculares
A maior parte das crianças e jovens conhece espaços de cultura por
meio da iniciativa da escola. O público escolar, na maioria desses espaços, é o mais representativo. Num esforço de ambas as partes para
a promoção de parcerias e projetos educativos comuns, é recorrente
a compreensão de que a visita deve estar conectada às proposições
curriculares e que somente assim ela será legitimada. Muitas vezes,
as turmas de estudantes já chegam a esses espaços com caneta e
prancheta em mãos, com um estudo dirigido para responder. Mas nem
sempre isso é bom.
Dica: Sugira a formação de
um Comitê de Educação e
Cultura entre os professores
de sua escola. Esse comitê
pode ser coordenado
por um professor a cada
trimestre e se reunir uma
vez a cada 15 dias para
escolha dos espaços
culturais que serão visitados
pelos estudantes. Assim,
você estará promovendo
a transdisciplinaridade
que - segundo o artigo 3°
da Carta divulgada pela
Unesco (Freitas, Morin &
Nicolescu, 1994) -“(...) não
procura o domínio sobre
várias outras disciplinas,
mas a abertura de todas
elas àquilo que as atravessa
e as ultrapassa (...)”.
20
Projeto Acervos Museológicos
Ao pedir que estudantes anotem informações, corre-se o risco de gerar
ansiedade, impedindo a fruição e a interação com os colegas, mediadores e, sobretudo, com o contexto a ser explorado em curto espaço
de tempo.
Dessa forma, não estaríamos direcionando o olhar dos estudantes e
impedindo que busquem o que lhes chama mais a atenção? Não estaríamos reforçando a busca pela informação – nas etiquetas, textos de
parede e na própria fala dos mediadores –, em detrimento do que pode
ser apreendido/descoberto com o olhar? Ocorre, assim, uma troca limitadora da vivência/experiência pelo conteúdo. É desejavel que o estudante fique à vontade para fazer anotações que sejam do seu interesse.
Para refletir: A conexão explícita com as proposições curriculares deve ser pré-requisito para a realização de ações que envolvam visitas a espaços
culturais?
Envolvendo mais professores, você enriquecerá substancialmente a
ação cultural. Envolvendo mais turmas você estará ampliando o número
de beneficiários do projeto. Sabemos que algumas escolas enfrentam
dificuldades para viabilizar as visitas: espaço no calendário escolar, disponibilidade na agenda dos espaços culturais, recursos para o transporte e para o lanche, entre outros. Se sua escola enfrenta tais dificuldades,
Módulo IV – Realizando a ação cultural
e não é possível pedir que os próprios estudantes contribuam financeiramente, não desanime. Crie um projeto que envolva a visitação por conta
dos estudantes, em família ou em pequenos grupos de amigos. Essa experiência certamente trará outras dimensões ao projeto e mostrará aos
estudantes que um programa cultural pode ser realizado independentemente da iniciativa da escola. E o melhor: que pode ser um exercício
de autonomia e liberdade, um momento cultural interessante e divertido.
Sobre as normas de segurança
Para refletir: A visita a um museu é, antes de tudo, um momento cultural, de socialização, de integração, de troca e de construção compartilhada de conhecimentos. A
visita não deve ser entendida como ilustração das disciplinas que compõem o currículo, mas como uma oportunidade de perceber e experimentar a cidade, de conhecer novas manifestações da cultura, de exercitar o pensamento para além das disciplinas.
dos espaços culturais
Cada espaço cultural possui características próprias. As normas de segurança muitas vezes são alteradas de acordo com a programação.
Algumas mudam também de acordo com a época do ano – caso dos
espaços que promovem atividades ao ar livre, como clubes, parques e
reservas ambientais. É importante que você se informe sobre as normas
de segurança, repassando-as para os estudantes e outros acompanhantes do grupo.
A visita ao espaço cultural é momento de ensino-aprendizagem, mas
também de lazer e de expansão dos corpos. Começar uma ação cultural com uma “chuva de nãos” é um erro. “Não pode tocar, não pode
correr, não pode conversar, não pode fotografar, não pode filmar, não
pode... Não pode...” No processo educativo é importante contextualizar
e estimular a participação de todos. Assim, sugerimos que você promova uma roda de conversa com seus estudantes sobre as normas de
visitação a espaços culturais em algum momento da etapa de Sensibilização, preferencialmente na véspera da visita.
O objetivo é fazer com que os estudantes reflitam sobre a responsabilidade de cada um no processo de preservação do patrimônio e entendam o porquê dos “nãos”. Além de contribuir para a formação cidadã
dos estudantes, o bate-papo envolvendo a participação de todos será
de grande valia durante a visita, quando o próprio grupo estará atento à
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
21
Módulo IV – Realizando a ação cultural
postura de seus integrantes.
Apresentamos, a seguir, algumas normas de segurança e os motivos
pelos quais existem. Mas, antes de discutir com os estudantes o que
deve ser evitado e o que não é permitido, pergunte a eles o que é
permitido. Isso ajudará bastante na condução do debate, pois, afinal,
quando há muitas restrições os estudantes se sentem menos à vontade e podem até mesmo perder o interesse já despertado.
O que podemos fazer durante a visita?
Falar... Perguntar... Observar... Contemplar... Pensar... Se emocionar...
Apreciar... Questionar... Contribuir... Sentir... Criar conexões... Lembrar...
Interagir... Ter ideias para os desdobramentos... Etc... Etc...
 Por que não é permitido tocar nas peças
ou espécies em exposição?
As peças e espécies em exposição fazem parte do patrimônio cultural
e devem ser preservadas para que outras gerações tenham a oportunidade de conhecê-las e pesquisá-las. Nossas mãos, mesmo quando
estão limpas, contêm impurezas invisíveis a olho nu, as quais, em contato com os objetos, irão provocar processos de deterioração.
No caso dos espaços de preservação ambiental como parques, zoológicos, reservas, museus de ciências naturais, clubes e praças, deve-se
abordar esta regra sob a perspectiva dos exemplares da fauna e da
flora, mesmo quando encontrados no chão, uma vez que na natureza
tudo cumpre funções específicas. Nesses casos, cita-se a máxima que
ajuda a provocar a reflexão: “Daqui nada se leva senão a lembrança
dos bons momentos e nada se deixa a não ser algumas pegadas”.
 Por que não é permitido comer, beber ou mas-
22
Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV – Realizando a ação cultural
car chicletes nas salas de exposição?
O ambiente das salas de exposições é rigorosamente controlado. A
luminosidade e a temperatura são reguladas e a umidade relativa do ar
deve ser mantida de acordo com as características do acervo exposto.
Por isso, quaisquer substâncias estranhas ao ambiente podem provocar danos às peças, como é o caso dos produtos de limpeza.
 Por que não é permitido fotografar com flash ou
filmar com aparatos de iluminação?
Algumas obras, documentos e artefatos são especialmente delicadas
quando se trata de exposição à luminosidade excessiva. Os flashes disparados, a cada dia, pelas câmeras de milhares de visitantes danificariam rápida e irremediavelmente determinadas peças.
 Por que não é permitido fotografar sem flash ou
filmar sem iluminação?
A fotografia sem uso de flash é permitida em alguns espaços, em outros
não. São dois os motivos para a existência desta regra:
O primeiro está ligado aos direitos autorais. Os artistas têm direitos
de exibição de suas obras e, se elas forem fotografadas, poderão
ser reproduzidas em contextos que fogem ao domínio dos detentores dos direitos.
O segundo motivo está ligado a uma questão de segurança. O Brasil
ocupa um triste quarto lugar entre os países onde há maior número
de furtos e tráfico de obras de arte (Agência Estado, 2007). Alguns
museus contam com forte aparato de segurança; outros, não. Por
esse motivo, as fotografias sem flash são evitadas para dificultar a
ação de criminosos.
 Por que não é permitido entrar com bolsas ou
mochilas?
Para evitar que mochilas ou bolsas derrubem ou danifiquem uma obra
de arte ou objeto histórico é importante que esta regra seja entendida e
respeitada. Depositando os pertences no guarda-volumes ou deixando-os no ônibus, os visitantes ficam também mais à vontade para aproveitar a visita.
Regras de segurança da escola
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo IV – Realizando a ação cultural
Antes de sair da escola, há regras de segurança importantes a seguir:
 Autorização dos pais ou responsáveis
Dica: Lembre-se de solicitar
também a autorização para
uso de imagem, pois será
importante registrar a visita
e compartilhar as fotos nas
redes sociais, nas quais a
escola participa.
Dica: Instigue o olhar dos
estudantes antes da visita
usando a escola e seu
entorno como objeto de
investigação. O olhar atento
lançado ao bairro e à escola
antes da visita irá ajudar em
muito o processo educativo.
Crie oficinas, dinâmicas de
grupo, jogos, brincadeiras,
desafios... Proponha a
construção de um blog
para a ação cultural, o
desenvolvimento de um
jornal ou programa de rádio.
Crie, invente.
Assim que definir qual turma irá participar da visita ao espaço cultural,
envie uma carta aos pais ou responsáveis, solicitando autorização expressa. Aproveite para comunicar a participação do estudante na ação
cultural, apresentando brevemente o espaço que será visitado. Insira
informações sobre o endereço do local e do site e as normas de segurança. Destaque a obrigatoriedade do uso do uniforme e o que será
necessário - ou não - levar.
 Uso de uniforme
Quando anunciamos saídas da escola, os estudantes criam expectativas
e às vezes chegam para a visita com roupas de passeio. Isso faz com
que eles não seja identificados como integrantes do grupo, fragilizando
a segurança de todos. O uniforme identifica o estudante para você, para
os outros responsáveis pela visita, para mediadores e seguranças do
espaço cultural, ajudando os profissionais envolvidos a manter o grupo
unido4.
Outra situação indesejável, em relação ao uniforme, é o uso de sandálias em visitas a parques, grutas e outros espaços em que o tênis é recomendado para garantir mais estabilidade e, também, como proteção
contra eventuais picadas de insetos.
Como estimular os estudantes para
que a visita seja bem aproveitada?
Qual é a graça de assistir a um filme quando alguém nos conta o final?
Qual descoberta teremos a fazer num espaço em que já sabemos tudo
o que vamos encontrar? Durante a preparação da visita dos estudantes, pense a respeito.
Conforme vimos anteriormente, a instigação do olhar dos estudantes
é a melhor sensibilização a fazer antes da visita. O papel do educador
é provocar o desejo pelo saber, a vontade de pesquisar, o gosto pela
descoberta e a autonomia.
A visita começa na escola. A impor-
4 Se possível, providencie etiquetas autocolantes com o nome da escola impresso (use uma fonte bem legível com corpo 12 ou 14)
e deixe um espaço para os estudantes escreverem seus nomes (apenas o primeiro nome, bem grande) com pincéis atômicos
de cores variadas. Além de ajudar na identificação dos estudantes, as etiquetas permitem que o mediador os chame pelo nome
durante a visita, o que favorece em muito a mediação cultural. Além disso, tal procedimento abre espaço para a afirmação da
identidade dos estudantes por meio da forma como escrevem seus nomes, das cores escolhidas etc. Não se esqueça de fazer
uma etiqueta para você, também, e para os outros acompanhantes adultos.
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV – Realizando a ação cultural
tância da vivência do deslocamento
Meu corpo vai aonde vão meus sentidos. [...] Minha imaginação e minha sensibilidade também são veículos de minha corporeidade.
Nabor Nunes Filho, 1997
O deslocamento da escola até o espaço cultural faz parte da visita.
Pode-se pensar o deslocamento apenas como um movimento físico,
dos corpos dos estudantes na cidade. Mas pode-se, também, pensar a
palavra deslocamento como uma circunstância de produção de incertezas, de inquietações e dúvidas.
O que há de mais inquietante do que a cidade?
O que há de mais educativo do que a cidade?
Estimule a investigação da cidade, desde o início da Sensibilização,
passando pelo momento da entrada no ônibus e durante os trajetos
de ida e de volta. Promova, a respeito, reflexões durante a Visita e no
momento dos Desdobramentos.
 Acessibilidade
Um integrante de seu grupo está em cadeira de rodas? É surdo ou
cego? Tem síndrome de Down, autismo ou outra deficiência? Converse
com o coordenador do setor educativo. Esclareça o caso em questão
também na ficha de marcação de visitas. Muitas instituições estão preparadas para acolher deficientes; outras, não. Em vez de correr o risco
de se provocar constrangimento (aumentando o enventual sentimento
de exclusão social), faça as consultas antecipadas, com vistas a evitar
essa situação.
 Check List
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo IV – Realizando a ação cultural
Use esta Lista de Verificação (Check List) para apoiar seu planejamento no momento da Sensibilização:
• defina a data da visita;
• contate o setor de agendamento do espaço cultural para verificar
disponibilidade de horários e proceda ao agendamento;
• providencie o que for necessário para tornar a visita acessível a pessoas com deficiência: intérpretes de libras, material em braile, cadeiras de rodas ou quaisquer equipamentos, estratégias e facilidades;
• comunique à turma e envie as solicitações de autorização para assinatura dos pais ou responsáveis;
• faça uma visita prévia ao espaço, com os profissionais da escola
envolvidos na ação, para reconhecimento, coleta de materiais de divulgação e de apoio ao professor;
• oriente-se sobre as questões operacionais (local de parada para desembarque e estacionamento do ônibus; se o espaço possui guarda-volumes, se oferece espaço para lanche);
• sensibilize os estudantes para a visita, utilizando o Caderno do Estudante do Projeto Acervos Museológicos e outras estratégias;
• promova uma roda de conversas com os estudantes sobre as normas de segurança e outros combinados importantes;
Visita
Ser e não ser
Para algo existir mesmo –
Um Deus, um bicho, um universo, um anjo –,
É preciso que alguém tenha consciência dele.
Ou simplesmente que o tenha inventado.
Mario Quintana, 2006
A Visita é o ponto alto da ação cultural. É o momento de sair da escola
em direção a outro lugar, a outra paisagem, a outras pessoas e culturas.
Você já instigou os estudantes, estimulando-os a observar a cidade durante o deslocamento. Agora, chegou o momento da visita ao espaço
escolhido. Para que ela seja um sucesso, é importante que você recupere o planejamento da ação cultural e todas as questões trabalhadas
junto ao grupo no momento da Sensibilização. O fio condutor que liga
as etapas da ação cultural aparecerá muito fortemente durante a visita,
por meio dos olhares, comentários, perguntas e gestos dos estudantes.
Ter clareza dos objetivos e dos aspectos trabalhados no momento da
Sensibilização ajudará você a fazer intervenções pontuais durante a
visita, legitimando as conexões estabelecidas pelos estudantes e colecionando impressões do grupo para a definição das propostas de
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV – Realizando a ação cultural
produção cultural, que ocorrerão na etapa Desdobramentos.
Necessidade ou não da visita
ser orientada por um profissional
do setor educativo
A maioria dos espaços culturais não permite que grupos de escolares
realizem visitas sem o acompanhamento de um mediador. Relacionadas a esta norma estão questões importantes, ligadas à segurança dos
acervos e dos visitantes.
Espaços culturais, notadamente museus, têm investido na construção
de setores educativos estruturados, com propostas pedagógicas definidas e profissionais preparados para acolher os grupos de estudantes
e professores5.
O importante é que você se lembre de que a visita é um momento cultural em que a bagagem dos estudantes deve ser privilegiada, assim
como a espontaneidade de seus comentários, perguntas e olhares. A
5 A maior parte dos espaços culturais não permite que grupos de escolares realizem visitas sem o acompanhamento de um mediador.
Relacionadas a esta norma, estão questões importantes, como, por exemplo, a lotação máxima de um museu ou de uma sala de
exposições. São questões que, por sua vez estão ligadas a aspectos da segurança dos acervos e dos próprios visitantes.
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo IV – Realizando a ação cultural
Dica: Lembre-se de convidar,
no mínimo, mais dois
professores e / ou pais para
a ação cultural pensada
por você. O ideal é que eles
participem, desde o momento
da criação e elaboração do
texto do projeto, agregando
novas visões e fortalecendo
a proposta. Geralmente,
durante a visita, os grupos
são divididos em dois ou
três subgrupos, dependendo
do número de integrantes,
da disponibilidade de
mediadores, do tamanho
do espaço, do tempo de
visitação, entre outros
aspectos. Dessa forma, será
determinante que outros
professores, igualmente
preparados, estejam
presentes para acompanhar
os subgrupos durante a visita.
visita se distancia do conceito de “aula”, no sentido escolar, e se aproxima mais do conceito de “encontro cultural”. Por essa razão, sugerimos
que você e seus pares estejam conscientes de que o tempo em que o
grupo estará no espaço deve ser destinado à promoção da autonomia
dos estudantes, organizando a ação da maneira menos diretiva possível, apoiando a realização de uma visita aberta às impressões de todos.
Regras de segurança, na prática
Para refletir: Por vezes, o silêncio é mais educativo
do que a sobreposição de falas durante a visita. Não o silêncio imposto do “não pode falar”,
“vamos ficar em silêncio para ouvir o mediador”,
“evitem conversas paralelas”. O espaço cultural
contemporâneo deixou há muito de ser um local de
contemplação silenciosa para se transformar num
“espaço-troca”, em que, ao contrário, as falas dos
visitantes, os sentidos atribuídos pelo público são
requisitados. É um silêncio que permite a investigação pessoal, a atribuição de significados únicos,
distintos daqueles presentes nas falas dos mediadores e dos professores.
Conforme sugerido anteriormente, as regras de segurança serão trabalhadas por você na escola, em uma roda de conversa com os estudantes. Se pretendermos educar para o reconhecimento e apropriação - por
parte dos estudantes e de suas famílias - da vida cultural na cidade, é
necessário abordar o conceito de patrimônio cultural de forma clara,
elencando exemplos. Assim, a preservação do patrimônio será entendida pelos estudantes como um compromisso cidadão, e não como uma
regra sem razão de ser.
Lembre-se de abordar outros contextos de preservação do patrimônio
para além das exposições de arte e história, dando exemplos mais próximos da realidade dos estudantes, como a coleta seletiva de materiais
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV – Realizando a ação cultural
recicláveis no bairro onde vivem, a preservação dos rios localizados no
entorno da escola, a preservação de um saber-fazer típico da região
onde a escola está localizada etc.
Em espaços culturais, comumente os mediadores acolhem os grupos
e, antes da entrada nos espaços expositivos, falam sobre as normas
de visitação. Mesmo assim, não é raro ter estudantes que burlam as
regras, tocando nas obras, fotografando, falando ao celular etc. Mediadores têm como principal função elaborar e realizar visitas orientadas,
dirigidas ao público, mas também são responsáveis pela segurança
dos acervos. Por isso, é importante que todos os professores e acompanhantes que estiverem apoiando o grupo conheçam de antemão as
normas de segurança e permaneçam sempre junto ao grupo, apoiando
a equipe do espaço no que for necessário.
Dicas e cuidados para o sucesso
da visita
• Anote os contatos do espaço cultural, sobretudo o telefone do setor
educativo, antes de sair da escola e, se for o caso, leve consigo uma
cópia da ficha de marcação de visitas;
• garanta que estudantes com deficiências tenham seus direitos observados no deslocamento: ônibus adaptados e pessoas aptas a
ajudá-los no embarque e desembarque. E, também, durante a visita,
intérpretes de libras, estratégias para cegos e para os estudantes
com outros tipos de deficiência;
• evite se atrasar ou chegar com antecedência maior do que 15 minutos ao espaço. Caso ocorra algum imprevisto, entre em contato com
o museu para que os mediadores possam se programar;
• deixe o máximo possível de objetos dentro do ônibus, pois o tempo
destinado à organização de pertences irá reduzir o tempo de visita.
Preferencialmente, peça aos estudantes para não levarem nada para
a escola nesse dia;
• caso esteja programado um lanche durante a visita, procure saber se
o espaço oferece ou não um local adequado. Caso positivo, combine
antes em que momento será o lanche. Caso negativo, organize o lanche dentro do ônibus, durante o trajeto. Tenha clareza de que o tempo do lanche poderá reduzir a duração da visita em alguns espaços.
• durante a visita permita que o mediador seja a referência para o grupo em termos comportamentais, evitando sobrepor-se ao contrato
estabelecido entre o profissional e o grupo. Caso seja necessária sua
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV – Realizando a ação cultural
intervenção, seja discreto para não tolher o restante da turma;
• evite responder às perguntas do mediador destinadas ao grupo, tendo
em vista que o silêncio após uma pergunta muitas vezes está ligado
ao medo de errar. Permita que o próprio mediador resolva a situação.
Em alguns casos, deixar que o estudante permaneça com a dúvida é
mais educativo do que ofertar uma resposta pronta;
• da mesma forma, evite repreender um estudante por causa de uma
pergunta ou resposta, por mais descontextualizada que possa ser.
Permita que o mediador resolva a situação;
• permaneça todo o tempo da visita junto ao grupo, entre nas rodas,
sente-se junto com seus estudantes, mesmo que no chão. Caso precise sair por algum motivo, avise o mediador;
• dê o exemplo, siga estritamente as regras de segurança;
• alguns espaços solicitam que o professor faça uma avaliação da
visita. Muitas vezes é a única forma de receber um retorno sobre o
trabalho realizado. Busque preencher a avaliação no próprio espaço
durante e ao final da visita. Preencha da forma mais completa possível
e seja sincero(a). Sua opinião, suas críticas e sugestões irão contribuir
para o aprimoramento das ações.
Desdobramentos
Para refletir: Quando uma ação cultural é idealizada, é natural que todos criem expectativas em relação à visita. É importante considerar, no entanto,
que há espaços que podem ser visitados em uma hora
e trinta minutos e outros que exigirão um dia inteiro
ou até novas visitas. O que é preferível: propiciar
um contato qualificado com o contexto escolhido,
alimentando a curiosidade dos estudantes – o que
poderá resultar em novas visitas –, ou conhecer
tudo como se estivesse em uma competição, sem viver, no entanto, uma real experiência?
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo IV – Realizando a ação cultural
Critérios para escolha das oficinas
OFICINA
Tentei montar com aquele meu amigo
que tem um olhar descomparado,
uma Oficina de Desregular a Natureza.
Mas faltou dinheiro na hora para a gente alugar um
espaço.
Ele propôs que montássemos por primeiro
a Oficina em alguma gruta.
Por toda parte existia gruta, ele disse.
E por de logo achamos uma na beira da estrada.
Ponho por caso que até foi sorte nossa.
Pois que debaixo da gruta passava um rio.
O que de melhor houvesse para uma Oficina de
Desregular Natureza!
Por de logo fizemos o primeiro trabalho.
Era o Besouro de olhar ajoelhado.
Botaríamos esse Besouro no canto mais nobre da gruta.
Mas a gruta não tinha canto mais nobre.
Logo apareceu um lírio pensativo de sol.
De seguida o mesmo lírio pensativo de chão.
Pensamos que sendo o lírio um bem da natureza prezado
por Cristo
resolvemos dar o nome ao trabalho de Lírio pensativo de
Deus.
Ficou sendo.
Logo fizemos a Borboleta beata.
E depois fizemos
Uma ideia de roupa rasgada de bunda.
E a fivela de prender silêncios. Depois elaboramos
A canção para a lata defunta. E ainda a seguir:
O parafuso de veludo, o prego que farfalha, o alicate
cremoso.
E por último aproveitamos para imitar
Picasso com A moça com o olho no centro da testa.
Picasso desregulava a natureza, tentamos imitá-lo.
Modéstia à parte.
Manoel de Barros, 2006.
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV – Realizando a ação cultural
Desde o momento em que a turma é convidada a participar da
ação cultural, os estudantes começam a idealizar o projeto. Como
será a visita? O que vamos encontrar? O que vamos fazer depois?
Passam a expressar desejos e a colecionar ideias relacionadas
ao projeto, às suas vivências e experiências pessoais, aos seus
interesses.
É muito importante planejar, como vimos no Módulo III, toda a
ação cultural. Mas é justamente porque planejamos bem que podemos permitir a alteração da proposta inicial diante da expressão de um desejo dos estudantes. Isso quer dizer que, se foi planejada uma oficina de vídeo com celulares, mas durante a ação
seus estudantes demonstraram que estão mais interessados em
produzir uma intervenção urbana, usando um outdoor com técnicas de pintura e colagem, você poderá mudar a programação.
Afinal, a ação cultural é para os estudantes, com os estudantes e
faz todo o sentido privilegiar o interesse deles. Por isso, sempre
considere a possibilidade de adquirir materiais para as oficinas na
véspera de sua realização.
Que oficina promover?
Que materiais comprar?
Como desenvolver a proposta?
Desenho, pintura, vídeo, produção de textos, teatro, poesia, dança,
rádio, fotografia, gravura, escultura, criação de blog, circo, grafite, performance, instalação, colagem, fotocolagem, arte digital, desenho de
animação, moda, intervenção urbana...
A importância de se ter espaços
adequados ou transformar espaços
Dica: Nem sempre é
possível adquirir materiais.
Abra o armário e o
almoxarifado de sua escola
e veja o que você tem à
disposição. Compartilhe
esse momento com seus
pares e colete opiniões e
sugestões. Pense no perfil
da turma, ouça o desejo
dos estudantes, pergunte
a eles o que gostariam de
fazer, concilie interesses,
possibilidades, e mãos à
obra!
Use os espaços da escola e do entorno para a ação cultural. Você
está realizando uma ação que contempla o uso da cidade e de seus
espaços culturais, incluindo nesta categoria as praças, parques e
outros locais de convívio. Não faz sentido usar apenas a sala de
aula no momento da Sensibilização e dos Desdobramentos. Use a
cantina, o auditório, o jardim, a biblioteca, a rua, a quadra, o clube
vizinho... Se for usar a sala de aula ou outros espaços utilizados no
dia a dia da turma, transforme-os! Convide a turma a transformá-los
junto com você.
Escolha e qualidade dos materiais
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo IV – Realizando a ação cultural
utilizados
Os materiais disponíveis na escola podem ajudar você a desenvolver a
proposta de uma oficina, mas, quando for possível adquiri-los, é a ideia
que irá guiar a escolha dos produtos. Ao adquirir tinta, papel, argila etc.,
escolha materiais de qualidade. Normalmente, as diferenças de preço
são compensadas com mais qualidade e durabilidade.
Em ambos os casos, escolha materiais distintos e não se prenda apenas aos suportes tradicionais. Por exemplo: oferecendo giz de cera e
papéis aos seus estudantes, você pode obter resultados tradicionais
ou se surpreender com propostas inovadoras, mas se oferecer flores e
folhas secas coletadas nos jardins da escola como material, certamente
terá resultados pouco convencionais e terá provocado um deslocamento do corpo... Do olhar...
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Projeto Acervos Museológicos
Módulo IV – Realizando a ação cultural
Acompanhamento e avaliação
dos Desdobramentos
O momento dos Desdobramentos, assim como toda a ação cultural,
deve ser acompanhado de perto pelos profissionais responsáveis. É
essencial a realização de reuniões periódicas com os professores envolvidos e também a escuta da opinião dos estudantes durante e depois de cada etapa. Esse constante monitoramento das ações será seu
termômetro e permitirá a avaliação da ação como um todo.
Para refletir: Trabalhar com cultura demanda valorizar os processos em detrimento
dos fins. Assim, você não precisa dar notas ou conceitos aos estudantes por sua
produção na etapa Desdobramentos. Trata-se de uma ação qualitativa e pouco
quantitativa. Por isso, pense em maneiras de avaliar o processo que dispensem a
atribuição de notas ou valor aos trabalhos realizados.
Desdobramentos para a escola
e para a comunidade: preparando
a mostra cultural
Como apresentar a produção dos estudantes aos familiares e a toda
a comunidade escolar? Você já pensou em promover uma mostra cultural? Uma grande mostra em que outras áreas de expressão possam
ser acolhidas, envolvendo toda a escola, transformando-a em espaço
cultural?
Gostou da ideia? Convide professores e promova a eleição de representantes de turma para compor o conselho curatorial, marque uma
reunião e coloque a ideia em prática.
Imagine a escola com seus espaços transformados em salas de exposição, salas de espetáculos, salas com oficinas sendo conduzidas
pelos próprios estudantes, um café montado na cantina com venda de
quitutes produzidos por membros da comunidade.
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Módulo IV – Realizando a ação cultural
Acessibilidade
A acessibilidade deve ser pensada como condição fundamental para
a realização de qualquer ação cultural. Vimos, na etapa Sensibilização, alguns cuidados e posturas importantes a serem assumidos. Na
etapa Desdobramentos há que se ter em mente a acessibilidade de
todos os participantes, e também, do público visitante, durante a mostra cultural. Verifique, juntamente com seus estudantes, se os acessos estão adaptados e desimpedidos. Estimule-os a pensar soluções
para promover a acessibilidade sensorial e intelectual de pessoas
com deficiência.
Feedback para o museu
ou espaço cultural
Você e sua escola iniciaram uma parceria com um espaço cultural. Da
mesma forma que há expectativa da escola, dos professores e estudantes em relação ao espaço visitado, criam-se também expectativas
dos setores educativos em relação às escolas. Dê um feedback para
a equipe que acolheu sua escola, indicando o que foi positivo e o que
pode melhorar também. Envie imagens dos resultados e da produção
cultural dos estudantes para o espaço e, se for possível, agende novo
encontro com o coordenador do setor educativo para falar a respeito.
Certamente essa conversa abrirá novos caminhos e possibilidades de
ações futuras.
Estimulando o retorno dos estudantes
ao espaço cultural com suas famílias
Para coroar todo esse movimento, é importante incentivar a visita aos
espaços culturais da cidade de forma espontânea. Grande parte dos
adultos de hoje só visitou espaços culturais e museus apenas uma vez
na vida, por meio da escola. Por que não voltaram?
É imprescindível que a escola e os mediadores do espaço cultural
orientem os estudantes a voltarem com suas famílias, informando
como funciona o espaço, se é gratuito ou não, em que dias e horários
está aberto ao público, se há oficinas aos finais de semana etc.
36
Projeto Acervos Museológicos
Módulo V – Para saber mais...
Professor
No site do Projeto (www.acervosmuseologicos.org.br) você terá acesso
a fontes de informação, outros sites e portais que disponibilizam conteúdos sobre museus e espaços culturais, educação, artes visuais e
fomento a projetos.
Dicas de filmes e documentários também foram especialmente selecionadas.
Faça bom proveito!
Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais
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Referências Bibliográficas
AGÊNCIA ESTADO. Brasil ocupa 4º lugar no ranking de roubo de obras culturais. 9 de setembro, 2007. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/
geral,brasil-ocupa-4-lugar-no-ranking-de-roubo-de-obras-culturais,48756,0.
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da Língua Portuguesa. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 28.
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pdf/Key_Concepts_of_Museology/Museologie_Francais_BD.pdf>. Acesso em
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