DeMocrAtizAção Do Acesso & ForMAção De Agentes culturAis 3 Projeto Acervos Museológicos Democratização do Acesso e Formação de Agentes Culturais Realização Instituto Minas Pela Paz Conselho Deliberativo Parcerias Prefeitura Municipal de Belo Horizonte PUC Minas Sistema FIEMG Cledorvino Belini Presidente Olavo Machado Junior Vice-Presidente Luiz Alberto Garcia Conselheiro Francisco Sérgio Soares Cavalieri Conselheiro Hélcio Roberto Martins Guerra Conselheiro Otávio Marques de Azevedo Conselheiro Rubens Menin Teixeira de Souza Conselheiro Aguinaldo Diniz Filho Conselheiro Paulo Eduardo Rocha Brant Conselheiro Manoel Vitor de Mendonça Filho Conselheiro Ricardo Vescovi de Aragão Conselheiro Alexandre de Campos Lyra Conselheiro Patrocínio Diretoria Instituto Minas Pela Paz Marco Antonio Lage Diretor Coordenador Jedaias Jorge Salum Diretor Vice-Coordenador Dirlene Taveira Corrêa Diretor Ana Gabriela Dias Cardoso Diretor Marcelo Dias Diretor Gestão Editorial Projeto Institucional Pesquisa José Carlos Barboza de Oliveira - Consultor Akala Fabiana Abaurre Coordenação Geral de Execução do Projeto Eliana Mara de Rezende - Consultora Fiat Contax Usiminas Apoio Gerdau Oi Futuro Instituto Cultural Usiminas Produção dos Cadernos Coordenação Geral Margem 3 Comunicação Estratégica Produção de Texto Andréia Menezes De Bernardi Consultoria Técnica Fabiana Abaurre Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte Projeto Gráfico e Diagramação Rosa Vani Pereira - Coordenação Ilustrações Sandra Fujii Tiago Souza Impressão e Acabamento EGL - Editores Gráficos Ltda. É expressamente proibida a comercialização deste caderno Uma educação para novos tempos A universalidade do conhecimento vem recuperando espaço no mundo contemporâneo. Até pouco tempo, a especialização era considerada como qualidade fundamental na formação do homem moderno. A preocupação com as grandes causas da humanidade e com o acelerado processo de globalização evidenciam a importância crescente de uma formação mais universalista, que possibilite ao indivíduo ir além e compreender os desafios e as limitações que as sociedades devem enfrentar, em um futuro próximo. Para vencer esses obstáculos, num plano de absoluta realidade, as empresas têm se ressentido da lacuna crescente entre o perfil de seus recursos humanos e a necessária capacidade de inovar, acreditando que a cultura pode fazer a verdadeira diferença. Acervos Museológicos, Democratização do Acesso e Formação de Agentes Culturais é um projeto inovador, que tem como objetivo capacitar professores e gestores educacionais para a inclusão sociocultural de alunos das escolas públicas, promovendo a difusão da cultura como a principal estratégia na construção da cidadania. O projeto foi estruturado basicamente em quatro pilares, sendo o primeiro uma pesquisa de campo realizada pelo Instituto Vox Populi, em 2010, visando ao melhor conhecimento do perfil dos professores das escolas da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte. A pesquisa também avaliou o interesse e o grau de disponibilidade dos professores, alunos e seus respectivos familiares na ampliação da frequência de visitas aos espaços culturais de Belo Horizonte, que, por sua vez, podem, assim, promover o melhor aproveitamento de seus potenciais e de suas respectivas programações. O segundo pilar consiste em um curso de pós-graduação em Gestão de Projetos Culturais, realizado pela PUC Minas, beneficiando, em uma primeira etapa, cerca de 240 educadores das nove Regionais Municipais de Ensino da Capital. 4 Projeto Acervos Museológicos Uma educação para novos tempos Os participantes do curso terão a missão de repassar o conhecimento adquirido dos demais educadores da Rede Municipal, com vistas a ampliar o número de professores devidamente preparados para planejar, dar continuidade e avaliar os resultados parciais do projeto. O terceiro pilar refere-se ao Programa de Imersão Cultural, com a proposta de levar os estudantes a visitar, com maior frequência, os museus e outros espaços culturais, para enriquecer e consolidar uma formação mais universalista. Nessa etapa de visitação, o programa Circuito de Museus da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, integra-se ao projeto Acervos Museológicos, unindo esforços e fortalecendo os dois programas. Essa etapa dá sustentação ao quarto pilar do projeto, a Olimpíada Cultural, que visa ao acompanhamento do Programa de Imersão Cultural e à avaliação final dos resultados do projeto, estimulando, ao longo do processo, a participação ativa dos estudantes, criando oportunidades para que eles possam traduzir em atividades, através de diferentes formas de expressão, os estímulos recebidos e vivenciados, favorecendo a aprendizagem. O reconhecimento do mérito pelos resultados alcançados deve incentivar alunos e professores a darem continuidade ao projeto, ampliando ainda mais seus objetivos e expandindo seus horizontes. O projeto, nascido da iniciativa de empresas associadas à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foi coordenado, em sua execução, pelo Instituto Minas Pela Paz, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, através da Secretaria Municipal de Educação. Esse projeto conta com o patrocínio da Fiat, Contax e Usiminas, com apoio da Gerdau, da Oi Futuro e do Instituto Cultural Usiminas. Vem sendo realizado com recursos obtidos através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Lei Rouanet, no âmbito do Ministério da Cultura. Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 5 Módulo I – Introdução E ste é o Caderno do Professor do Projeto Acervos Museológicos – Democratização do Acesso e Formação de Agentes Culturais. Nele você encontrará dicas para elaboração e realização de ações culturais com estudantes, que incluam visitas a múltiplos territórios de ensino-aprendizagem. Foram contempladas reflexões e sugestões para as diversas fases da ação: Sensibilização, Visita e Desdobramentos. Deseja-se que este material seja instrumento de troca e construção compartilhada de conhecimentos. 6 Projeto Acervos Museológicos Módulo I – Introdução Acervos Museológicos e Cidades Educadoras Ao estimular a realização de ações culturais em novos territórios de ensino-aprendizagem, o Projeto Acervos Museológicos considera visitas a praças, parques, centros culturais, museus, cinemas, teatros, salas de espetáculos, complexos patrimoniais na cidade ou no campo. Outros espaços poderão ser escolhidos e explorados por você, de acordo com os objetivos da ação idealizada e o desejo de seus estudantes. Por esse motivo, o projeto propõe a criação de uma área de convergência entre os conceitos de “Acervos Museológicos” e “Cidade Educadora”. A palavra acervo, do latim acervu, está ligada à noção de “conjunto de bens que integram um patrimônio; conjunto de obras de uma biblioteca, de um museu” (FERREIRA, 1986, p.28), podendo ser de caráter histórico, artístico, documental, científico, organizado e sistematizado em um espaço físico ou em fase de organização. Na acepção dada por Meneses (1985, p. 200), seriam considerados acervos institucionais, integrados a acervos operacionais, certos espaços, paisagens, estruturas, monumentos, equipamentos – enfim, áreas e objetos sensíveis do tecido urbano, socialmente apropriados, percebidos não só na sua carga documental, mas na sua capacidade de alimentar as representações urbanas. (MENESES, 1985, p.201) Há que se considerar também acervos não vinculados ao urbano, mas relacionados à experiência do campo, às experiências indígenas e outras que possuam apelo estético. Organizados e dispostos sob a forma de oferta, exposições temporárias ou de longa duração, tais acervos constituem fontes de pesquisa, usufruto e apreciação. Já o conceito de museologia, do qual deriva o termo museológico, também passou por diversas revisões e é continuamente atualizado. Uma das correntes de pensamento compreende a museologia como “a relação específica entre o homem e a realidade caracterizada como a documentação do real pela apreensão sensível direta”.1 (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2010, p.57) Esse conceito - aliado ao de patrimônio cultural entendido como “o real na sua totalidade: material, imaterial, natural e cultural” (SANTOS, 2008, p.37) - permite pensar a escola e o seu entorno, o bairro e toda a cidade como territórios para o “exercício da cidadania e o desenvolvimento social, por meio do processo educativo”. (SANTOS, 2008, p.34). 1 Tradução livre. Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 7 Módulo I – Introdução O Movimento das Cidades Educadoras, por sua vez, iniciado na década de 1990 em Barcelona, na Espanha, deu origem à Carta das Cidades Educadoras (revisada em Gênova em 2004), que considera que as cidades grandes ou pequenas dispõem de incontáveis possibilidades educacionais. De uma forma ou de outra, elas possuem em si mesmas elementos importantes para uma formação integral. (...) A cidade educadora é um sistema complexo, em constante evolução, e pode ter expressões diversas, porém sempre dará prioridade absoluta a um investimento cultural e à formação permanente de sua população. (CARTA das Cidades Educadoras, Declaração de Barcelona, 2004, s.p.) Belo Horizonte aderiu à Carta das Cidades Educadoras e tem elaborado seus projetos político-pedagógicos nessa perspectiva. As ações do Programa Escola Integrada, os projetos Circuito de Museus, BH para Crianças, Escola Aberta e, agora, o Acervos Museológicos são alguns exemplos do engajamento de Belo Horizonte, como cidade educadora. Assim, convidamos você a experimentar Belo Horizonte e sua região metropolitana como um museu a céu aberto, considerando suas diversas paisagens, seus territórios e suas instituições culturais como um grande e diversificado acervo, uma rede socioeducativa e cultural em movimento, que está de portas e braços abertos para professores, estudantes e suas famílias. Aproveite. 8 Projeto Acervos Museológicos Módulo II – Gestão Cultural O Brasil vive um momento em que a população economicamente ativa supera o número de dependentes, idosos e crianças. Entre os anos 2000 e 2030, essa condição, chamada “bônus demográfico”, amplia as chances de desenvolvimento econômico e social do país. Para aproveitar esta oportunidade e promover o crescimento nos próximos 20 anos, é preciso que se invista na criação de novos postos de trabalho, em saúde e, sobretudo, em educação. Consciente deste desafio e do protagonismo de diretores, vice-diretores, coordenadores e professores, o Projeto Acervos Museológicos, propõe investimento na formação gerencial dos profissionais da educação como um dos caminhos para o aprimoramento da educação básica. Pesquisas recentes (Dourado, 2000; Souza, 2009) demonstram que a maior parte dos diretores e vice-diretores de escolas públicas tem entre 10 e 20 anos de experiência educacional, atuando como professores, supervisores e coordenadores. As funções de diretor e vice-diretor, no entanto, requerem conhecimentos da área de gestão que não se referem exclusivamente ao âmbito técnico-pedagógico, mas a atividades que compreendem competências comportamentais e técnicas, além de uma visão integrada dos processos administrativos: logística, gestão de finanças, marketing, negócios, pessoas e projetos. É também uma exigência contemporânea dos cargos gerenciais o conhecimento de conceitos e práticas ligadas às noções de empreendedorismo, liderança, inovação, cultura organizacional subjetiva, sustentabilidade, gestão da comunicação e do conhecimento, entre outros. Reconhecendo a diversidade de formações desses profissionais e a crescente exigência de complementaridade no âmbito da gestão, o Instituto Minas Pela Paz (IMPP), aliado à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, decidiu oferecer o curso de especialização lato-sensu Gestão de Projetos Culturais, que contou com a adesão de 240 profissionais entre diretores, vice-diretores, professores e técnicos atuantes na Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 9 Módulo II – Gestão Cultural A gestão cultural na escola Educação e Cultura... Cultura e Educação... “duas faces, rigorosamente recíprocas e complementares, de uma mesma realidade.” Forquin (1993, p.14) Para gerenciar projetos culturais a partir da escola, os profissionais envolvidos precisam, idealmente, estar sensibilizados em relação à importância da cultura na formação integral do ser humano. Ou seja, precisam reconhecer os papeís do usufruto, do pensamento sobre cultura, do estímulo à produção cultural dos estudantes. São dimensões significativas dos processos de construção de identidades e de memórias. Para tanto - como veremos no Módulo III - é um passo essencial propor a inserção de visitas a espaços culturais no planejamento da escola em que você atua. Convidar artistas e arte-educadores para atuarem dentro da escola também é um caminho interessante, sobretudo pela possibilidade de envolvimento das comunidades do entorno. O Projeto Acervos Museológicos formou os participantes do curso de pós-graduação Gestão de Projetos Culturais para a elaboração, realização e acompanhamento de projetos. No site www.acervosmuseologicos.org.br, reforçando as principais etapas do processo, há dicas úteis para você, profissional da educação/ gestor de projetos culturais. 10 Projeto Acervos Museológicos Módulo III – Mediação Cultural O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim falou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas di-menor com a natureza. [...] Estudara nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens. Se admirava de como um grilo sozinho, um só pequeno grilo, podia desmontar os silêncios de uma noite! Eu vivi antigamente com Sócrates, Platão, Aristóteles – esse pessoal. Eles falavam nas aulas: Quem se aproxima das origens se renova. [...] Manoel de Barros, 2006 O que é mediação para você? E mediador? N o âmbito da educação em museus, o termo mediador tem sido cada vez mais utilizado para definir o profissional que acolhe e orienta visitas com o público em espaços culturais. Conhecemos também os termos “guia”, “monitor”, “educador”, “arte/educador”, “orientador de visitas”, “condutor” e, por vezes, há quem utilize o termo “professor”. Não há consenso. Cada espaço cultural ou museu identifica os profissionais que atuam junto ao setor educativo da forma como julga ser a mais adequada, gerando controvérsias. Alguns consideram a discussão vazia, ligada a questão meramente terminológica, mas, apesar de terem sido usadas como sinônimos durante décadas, defendemos que para cada uma dessas palavras há diferentes sentidos. Pensemos na palavra “guia”: o que ela nos sugere? Quando você é guiado por alguém, o que ocorre? E no caso da palavra “monitor”? Como é ser monitorado por alguém? Continuemos o exercício pensando agora na palavra “educador”. O que ela pressupõe? E a palavra “professor”? A quais contextos ela nos remete? Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 11 Módulo III – Mediação Cultural O debate é intenso não só no Brasil, mas em outros países também, uma vez que a terminologia tem sido associada à proposta pedagógica, à metodologia adotada pelo museu ou espaço cultural. Adotamos neste material a palavra e o conceito de mediador cultural para designar aquele que realiza a mediação em museus e espaços culturais. Mas para designar também você, professor, e todos os agentes envolvidos na educação – com e para a cultura –, profissionais comprometidos com a educação integral dos sujeitos de forma crítica. O mediador cultural, na acepção aqui tratada, é um sujeito que está num entre-lugar entre o bem cultural e os sujeitos, oferecendo-lhes oportunidades de usufruto, apreciação, contemplação, observação, crítica e reflexão, respeitando, sobretudo, os ritmos, interesses e propósitos dos processos educativos. O fomento da postura crítica na educação em museus e espaços culturais é um forte aliado na luta contra a reprodução das desigualdades sociais e culturais em nosso país, pois contribui para o questionamento e a inquietação, em detrimento da resignação. Segundo Dewey (2010; 136), um grupo de visitantes conduzido por um guia em uma galeria de pintura, tendo a atenção chamada para tal ou qual ponto alto, aqui e ali, não percebe; só por acaso é que há sequer interesse em ver um quadro por seu tema vividamente realizado. Para perceber, o espectador ou observador tem de criar sua experiência. Assim, numa visita orientada, a proposta pedagógica pode estimular o cultivo de uma postura reflexiva e a investigação. Ou, ao contrário, pode levar os visitantes a se comportarem como espectadores, seguindo um percurso pré-definido, por meio de um discurso previamente elaborado. Para refletir: Como promover a participação e a integração de estudantes em visita a espaços culturais, museus ou em quaisquer situações de ensino-aprendizagem em que se pretenda valorizar a autonomia dos envolvidos? 12 Projeto Acervos Museológicos Módulo III – Mediação Cultural O professor como mediador cultural O professor que promove a ação cultural pode recriar abordagens e estratégias com o intuito de promover a participação dos estudantes, assim como fazê-lo no contexto da educação formal. Interferir, com o objetivo de criar esse ambiente, é essencial para o desenvolvimento da ação como um todo, pois (...) a ação mediadora e o fazer pedagógico desvelam as preocupações e concepções de ensino que constituem a identidade do educador. [...] Em nossas ações diárias, traduzimos conceitos históricos e estéticos. Para ser mediador é preciso cultivar uma postura reflexiva e provocadora, capaz de planejar jogos estéticos, ativar descobertas e despertar o interesse de olhar mais além. (MARTINS, 2005, p. 52) Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 13 Módulo III – Mediação Cultural Reproduzimos aqui texto2 em que o conceito de mediação, após a análise das respostas de vários educadores e professores à pergunta “O que é mediação para você?”, levou à conclusão de que “mediar é estar entre”. (...) mediar é estar entre. Um estar, contudo, que não é passivo nem fixo, mas ativo, flexível, propositor. Um estar entre que não é entre dois, como uma ponte entre a obra e o leitor, entre aquele que produz e aquele que lê, entre o que sabe e o que não sabe. Ultrapassando a ideia de mediação como ponte, compreendê-la como um estar entre implica em uma ação fundamentada e que se aperfeiçoa na consciente percepção da atuação do mediador que está entre muitos: as obras e as conexões com as outras obras apresentadas, o museu ou a instituição cultural, o artista, o curador, o museógrafo, o desenho museográfico da exposição e os textos de parede que acolhem ou afastam, a mídia e o mercado de arte que valorizam certas obras e descartam outras, o historiador e o crítico que a interpretam e a contextualizam, os materiais educativos e os mediadores (monitores ou professores) que privilegiam obras em suas curadorias educativas, a qualidade das reproduções fotográficas que mostramos (...) com qualidade, dimensões e informações diversas, o patrimônio cultural de nossa comunidade, a expectativa da escola e dos demais professores, além de todos os que estão conosco como fruidores, assim como nós, mediadores, também repletos de outros dentro de nós, como vozes internas que fazem parte de nosso repertório pessoal e cultural. 2 O Grupo de Pesquisa em Mediação Cultural: provocações e mediações estéticas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, coordenado pela pesquisadora e doutora em educação Mirian Celeste Martins (2005), aplicou questionário junto a vários professores, buscando chegar ao conceito de mediação. 14 Projeto Acervos Museológicos O estar entre da mediação cultural não pode desconhecer cada um desses interlocutores e o seu desafio maior: provocar uma experiência estética e estésica. Ao contrário da anestesia, o desafio é liquidifazer a resistência que se esconde atrás do “eu não gosto”, é substituir a apatia pela empatia que convoca a disponibilidade para entrar em com-TATO, é aproximar, possibilitar acesso ao encontro com a arte e a cultura, enriquecendo-o pela potencialidade de tantos outros que convivem com a experiência. Um estar entre atento e observador, no olhar e na escuta, para gerar questões que apenas têm sentido se provocam reflexão, a conversação, a troca entre os parceiros. Um estar entre que precisa cada vez mais ser apurado. (MARTINS, 2005, p. 55) E você, o que pensa a respeito? Módulo III – Mediação Cultural Acervos geradores Um dos maiores educadores brasileiros de todos os tempos, Paulo Freire, criou método de alfabetização de adultos que parte de palavras geradoras. Essas palavras, escolhidas a partir da realidade dos grupos de alfabetizandos e introduzidas nas conversas dos círculos de cultura promovidos por Freire, dinamizavam (e ainda dinamizam) o processo de alfabetização. Isso se deve ao fato de essas palavras geradoras estarem conectadas à cultura, ao universo do trabalho e aos problemas cotidianos dos envolvidos, pois, ia tór his do il ras B his tór h d B isotó ia Bradsoilria ras il Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 15 Módulo III – Mediação Cultural segundo o autor (1990, p. 31), ler a palavra e aprender como escrever a palavra, de modo que alguém possa lê-la depois, são precedidos do aprender como “escrever” o mundo, isto é, ter a experiência de mudar o mundo e de estar em contato com o mundo. Na leitura do mundo, que também faz parte do processo de alfabetização, somam-se às palavras geradoras paisagens, objetos, sons, imagens e infinitos estímulos visuais e sensoriais, também eles geradores. Geradores de sentidos e de construção de repertórios pessoais. Cada sujeito seleciona, organiza e atualiza constantemente seus repertórios, seus acervos de ideias, sentimentos, desejos, ideologias. Num museu ou espaço cultural de qualquer tipologia, os acervos nem sempre apresentam relações explícitas com os repertórios pessoais dos visitantes, que, ao visitarem uma exposição ou outro contexto de contato com o patrimônio, assumem postura ora investigativa, curiosa, ora indiferente, passiva. Quando nos reconhecemos em uma obra de arte, objeto histórico ou mesmo numa paisagem, seja pelo interesse de pesquisa que desperta ou pelo desconcerto que provoca, assumimos naturalmente uma postura ativa, de busca, inquietação. Para que sejamos afetados de alguma forma, sendo convidados à investigação ou impelidos à indiferença, é necessário que tenhamos um contato inicial, uma experiência direta com os acervos. E que haja tempo e espaço para um primeiro olhar, pois, no exercício de análise de imagens, como explicita Manguel (2001, p. 31-32), cada obra de arte se expande mediante incontáveis camadas de leituras, e cada leitor remove essas camadas a fim de ter acesso à obra nos termos do próprio leitor. Nesta última (e primeira) leitura, nós estamos sós. Há, também, as percepções sensoriais provocadas pelo contato com as obras, os objetos, as exposições. Para além da leitura e da busca interpretativa, há o contato visual, estético e sensível, ativado pelas relações de memória (pessoal e social) que os sujeitos estabelecem com os bens culturais. Assim, compreendendo que a educação em espaços de cultura, museus e complexos patrimoniais se faz na relação, na aproximação entre olhares, por meio de práticas de memória e no estímulo à investigação, convidamos você, professor, a elaborar estratégias de mediação que transformem os acervos museológicos - que iremos encontrar durante a ação cultural - em acervos geradores. Acervos provocadores da criatividade, de atos significativos que envolvem lembrança e esquecimento, do pensamento crítico, da autonomia e da liberdade dos estudantes. 16 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural: Sensibilização, Visita e Desdobramentos N este módulo, buscamos destacar a importância de a ação cultural ter um fio condutor elaborado, que valorize e promova o interesse e a participação dos estudantes nos momentos Sensibilização, Visita e Desdobramentos, criando-se uma ambiência propícia para a criação em todas as etapas. Convidamos você a refletir sobre a importância de se respeitar o caráter cultural da visita, fortalecendo o momento de socialização, ludicidade, fruição e construção de conhecimentos, que abarca e ultrapassa as proposições curriculares. Destacamos a necessidade de se valorizar a bagagem cultural dos envolvidos, promovendo o debate e a crítica, além de incentivar o protagonismo. Trabalhamos cada uma das etapas trazendo dicas e orientações para que sua ação cultural seja realizada da melhor forma possível, antecipando eventuais desafios e sinalizando dificuldades recorrentes, tanto por parte das escolas quanto por parte dos museus, instituições de cultura e complexos patrimoniais. Pré-produção No universo dos projetos culturais, a “pré-produção” é o momento em que você irá se preparar para o início da ação. A pré-produção faz parte da realização do projeto, mas é destinada à articulação necessária para seu início junto aos beneficiários. É nesse momento que você deverá providenciar: • a comunicação formal à diretoria da escola e ao corpo docente sobre o início do projeto; • a solicitação de apoio e a formalização de parcerias; • a coleta de cartas de anuência de entidades envolvidas; • a contratação de serviços; • a compra de materiais necessários para a realização das ações, entre outras. Após a fase de “pré-produção”, é iniciada a fase de “produção”, quando as ações são iniciadas junto aos estudantes. A seguir, apresentamos cada uma das etapas de produção (Sensibilização, Visita e Desdobramentos), trabalhando algumas questões em profundidade, com dicas e reflexões. Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 17 Módulo IV – Realizando a ação cultural Sensibilização O homem e o objeto A coisa existe, quando existe Sobre a mesa Ou na planície Um olho que a contempla. Daí, nunca, em si E por si própria subsiste, Mas no olho que a reveste É que persiste. E mais: não só a coisa, Também o olho Somente existe Se, de repente, A descobre: Na espessura do gesso, Na pauta sonora e fria E no espaço da moldura. Mas se o olho Com seu desprezo A renega, A coisa também se alheia, E em si mesma se fecha E mais se afunda: Que a coisa Somente existe Quando existe Uma outra coisa Que a fecunda. Affonso Romano de Sant’Anna, 1975 A etapa Sensibilização tem como objetivo ativar o olhar dos envolvidos na ação cultural para que estejam atentos e, como indica Affonso Romano, possam fecundar os bens culturais com indagações, espanto, surpresa, encantamento. É também momento importante de instigação do olhar dos próprios professores, por meio da visita prévia ao espaço e de outros procedimentos, que serão abordados a seguir. 18 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural Contato com o setor educativo O agendamento pode ser considerado um primeiro contato com o setor educativo. Considere que, nesse momento, informações importantes podem ser colhidas e trocadas. Os sites de espaços culturais costumam disponibilizar informações úteis como horários das visitas orientadas, tempo estimado de visita, normas de segurança, conteúdo sobre as exposições e até sugestões de abordagem com estudantes. Acessar o site da instituição também é uma maneira de estabelecer contato com o espaço cultural. Mesmo que remoto, esse contato é tão importante quanto o agendamento das visitas. Alguns espaços culturais não possuem setor educativo estruturado e, se sua escolha contemplar a visitação a complexos patrimoniais urbanos, por exemplo, a ação cultural será construída e realizada por você junto aos seus pares, outros professores e colaboradores da escola. Considere essa possibilidade, pois, como explicitamos anteriormente, a ação proposta pelo Projeto Acervos Museológicos não está focada apenas em museus. Dica: Busque sempre agendar a visita de seu grupo, evitando delegar essa atribuição a outrem. Se o setor educativo enviar uma ficha de marcação de visitas, material de apoio ou orientações ao professor, procure ler tudo e responda prontamente às demandas feitas pela instituição. Visita prévia ao espaço A visita prévia de professores ao museu, espaço cultural ou complexo patrimonial é ferramenta potencializadora da ação. Em algumas instituições, o agendamento está condicionado à realização dessa visita. No entanto, é importante que os docentes saibam como estimular a curiosidade dos estudantes e tenham cuidado para não antecipar o que será visto, quebrando o impacto do primeiro olhar. Ao visitar o site de uma instituição cultural - ou no momento do contato para agendar a visita de sua turma -, lembre-se de perguntar se há algum serviço voltado para o professor3 e aproveite! O contato inicial é valioso para o sucesso da ação, pois garante que você tenha visão dos vários aspectos envolvidos, possibilitando-se, portanto, que você possa criar um fio condutor entre Sensibilização, Visita e Desdobramentos. Assim, haverá maior sinergia entre você e os profissionais do setor educativo. Como resultado, os estudantes perceberão essa integração entre museu e escola, entre mediador e professor, sentindo-se mais livres para experimentar plenamente a visita e seus desdobramentos. Dica: Uma ação cultural deve ser planejada de forma equilibrada, dosando as etapas para não cansar os estudantes e motivar o interesse por todas as fases. 3 Algumas instituições oferecem serviços especialmente voltados aos professores, como encontros de formação, assessorias ao professor, oficinas e até mesmo a possibilidade de desenvolvimento de projetos em parceria. Se o espaço não oferecer serviços específicos (ou se não for possível participar nos horários em que são ofertados), visite-o mesmo assim. Tente agendar uma conversa com o coordenador do setor educativo ou com o mediador que irá orientar a visita. Será importante conhecer a proposta pedagógica, obter outras informações de seu interesse, ter acesso a materiais impressos, discutir abordagens a serem privilegiadas na visita. Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 19 Módulo IV – Realizando a ação cultural A Sensibilização e as proposições curriculares A maior parte das crianças e jovens conhece espaços de cultura por meio da iniciativa da escola. O público escolar, na maioria desses espaços, é o mais representativo. Num esforço de ambas as partes para a promoção de parcerias e projetos educativos comuns, é recorrente a compreensão de que a visita deve estar conectada às proposições curriculares e que somente assim ela será legitimada. Muitas vezes, as turmas de estudantes já chegam a esses espaços com caneta e prancheta em mãos, com um estudo dirigido para responder. Mas nem sempre isso é bom. Dica: Sugira a formação de um Comitê de Educação e Cultura entre os professores de sua escola. Esse comitê pode ser coordenado por um professor a cada trimestre e se reunir uma vez a cada 15 dias para escolha dos espaços culturais que serão visitados pelos estudantes. Assim, você estará promovendo a transdisciplinaridade que - segundo o artigo 3° da Carta divulgada pela Unesco (Freitas, Morin & Nicolescu, 1994) -“(...) não procura o domínio sobre várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa (...)”. 20 Projeto Acervos Museológicos Ao pedir que estudantes anotem informações, corre-se o risco de gerar ansiedade, impedindo a fruição e a interação com os colegas, mediadores e, sobretudo, com o contexto a ser explorado em curto espaço de tempo. Dessa forma, não estaríamos direcionando o olhar dos estudantes e impedindo que busquem o que lhes chama mais a atenção? Não estaríamos reforçando a busca pela informação – nas etiquetas, textos de parede e na própria fala dos mediadores –, em detrimento do que pode ser apreendido/descoberto com o olhar? Ocorre, assim, uma troca limitadora da vivência/experiência pelo conteúdo. É desejavel que o estudante fique à vontade para fazer anotações que sejam do seu interesse. Para refletir: A conexão explícita com as proposições curriculares deve ser pré-requisito para a realização de ações que envolvam visitas a espaços culturais? Envolvendo mais professores, você enriquecerá substancialmente a ação cultural. Envolvendo mais turmas você estará ampliando o número de beneficiários do projeto. Sabemos que algumas escolas enfrentam dificuldades para viabilizar as visitas: espaço no calendário escolar, disponibilidade na agenda dos espaços culturais, recursos para o transporte e para o lanche, entre outros. Se sua escola enfrenta tais dificuldades, Módulo IV – Realizando a ação cultural e não é possível pedir que os próprios estudantes contribuam financeiramente, não desanime. Crie um projeto que envolva a visitação por conta dos estudantes, em família ou em pequenos grupos de amigos. Essa experiência certamente trará outras dimensões ao projeto e mostrará aos estudantes que um programa cultural pode ser realizado independentemente da iniciativa da escola. E o melhor: que pode ser um exercício de autonomia e liberdade, um momento cultural interessante e divertido. Sobre as normas de segurança Para refletir: A visita a um museu é, antes de tudo, um momento cultural, de socialização, de integração, de troca e de construção compartilhada de conhecimentos. A visita não deve ser entendida como ilustração das disciplinas que compõem o currículo, mas como uma oportunidade de perceber e experimentar a cidade, de conhecer novas manifestações da cultura, de exercitar o pensamento para além das disciplinas. dos espaços culturais Cada espaço cultural possui características próprias. As normas de segurança muitas vezes são alteradas de acordo com a programação. Algumas mudam também de acordo com a época do ano – caso dos espaços que promovem atividades ao ar livre, como clubes, parques e reservas ambientais. É importante que você se informe sobre as normas de segurança, repassando-as para os estudantes e outros acompanhantes do grupo. A visita ao espaço cultural é momento de ensino-aprendizagem, mas também de lazer e de expansão dos corpos. Começar uma ação cultural com uma “chuva de nãos” é um erro. “Não pode tocar, não pode correr, não pode conversar, não pode fotografar, não pode filmar, não pode... Não pode...” No processo educativo é importante contextualizar e estimular a participação de todos. Assim, sugerimos que você promova uma roda de conversa com seus estudantes sobre as normas de visitação a espaços culturais em algum momento da etapa de Sensibilização, preferencialmente na véspera da visita. O objetivo é fazer com que os estudantes reflitam sobre a responsabilidade de cada um no processo de preservação do patrimônio e entendam o porquê dos “nãos”. Além de contribuir para a formação cidadã dos estudantes, o bate-papo envolvendo a participação de todos será de grande valia durante a visita, quando o próprio grupo estará atento à Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 21 Módulo IV – Realizando a ação cultural postura de seus integrantes. Apresentamos, a seguir, algumas normas de segurança e os motivos pelos quais existem. Mas, antes de discutir com os estudantes o que deve ser evitado e o que não é permitido, pergunte a eles o que é permitido. Isso ajudará bastante na condução do debate, pois, afinal, quando há muitas restrições os estudantes se sentem menos à vontade e podem até mesmo perder o interesse já despertado. O que podemos fazer durante a visita? Falar... Perguntar... Observar... Contemplar... Pensar... Se emocionar... Apreciar... Questionar... Contribuir... Sentir... Criar conexões... Lembrar... Interagir... Ter ideias para os desdobramentos... Etc... Etc... Por que não é permitido tocar nas peças ou espécies em exposição? As peças e espécies em exposição fazem parte do patrimônio cultural e devem ser preservadas para que outras gerações tenham a oportunidade de conhecê-las e pesquisá-las. Nossas mãos, mesmo quando estão limpas, contêm impurezas invisíveis a olho nu, as quais, em contato com os objetos, irão provocar processos de deterioração. No caso dos espaços de preservação ambiental como parques, zoológicos, reservas, museus de ciências naturais, clubes e praças, deve-se abordar esta regra sob a perspectiva dos exemplares da fauna e da flora, mesmo quando encontrados no chão, uma vez que na natureza tudo cumpre funções específicas. Nesses casos, cita-se a máxima que ajuda a provocar a reflexão: “Daqui nada se leva senão a lembrança dos bons momentos e nada se deixa a não ser algumas pegadas”. Por que não é permitido comer, beber ou mas- 22 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural car chicletes nas salas de exposição? O ambiente das salas de exposições é rigorosamente controlado. A luminosidade e a temperatura são reguladas e a umidade relativa do ar deve ser mantida de acordo com as características do acervo exposto. Por isso, quaisquer substâncias estranhas ao ambiente podem provocar danos às peças, como é o caso dos produtos de limpeza. Por que não é permitido fotografar com flash ou filmar com aparatos de iluminação? Algumas obras, documentos e artefatos são especialmente delicadas quando se trata de exposição à luminosidade excessiva. Os flashes disparados, a cada dia, pelas câmeras de milhares de visitantes danificariam rápida e irremediavelmente determinadas peças. Por que não é permitido fotografar sem flash ou filmar sem iluminação? A fotografia sem uso de flash é permitida em alguns espaços, em outros não. São dois os motivos para a existência desta regra: O primeiro está ligado aos direitos autorais. Os artistas têm direitos de exibição de suas obras e, se elas forem fotografadas, poderão ser reproduzidas em contextos que fogem ao domínio dos detentores dos direitos. O segundo motivo está ligado a uma questão de segurança. O Brasil ocupa um triste quarto lugar entre os países onde há maior número de furtos e tráfico de obras de arte (Agência Estado, 2007). Alguns museus contam com forte aparato de segurança; outros, não. Por esse motivo, as fotografias sem flash são evitadas para dificultar a ação de criminosos. Por que não é permitido entrar com bolsas ou mochilas? Para evitar que mochilas ou bolsas derrubem ou danifiquem uma obra de arte ou objeto histórico é importante que esta regra seja entendida e respeitada. Depositando os pertences no guarda-volumes ou deixando-os no ônibus, os visitantes ficam também mais à vontade para aproveitar a visita. Regras de segurança da escola Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 23 Módulo IV – Realizando a ação cultural Antes de sair da escola, há regras de segurança importantes a seguir: Autorização dos pais ou responsáveis Dica: Lembre-se de solicitar também a autorização para uso de imagem, pois será importante registrar a visita e compartilhar as fotos nas redes sociais, nas quais a escola participa. Dica: Instigue o olhar dos estudantes antes da visita usando a escola e seu entorno como objeto de investigação. O olhar atento lançado ao bairro e à escola antes da visita irá ajudar em muito o processo educativo. Crie oficinas, dinâmicas de grupo, jogos, brincadeiras, desafios... Proponha a construção de um blog para a ação cultural, o desenvolvimento de um jornal ou programa de rádio. Crie, invente. Assim que definir qual turma irá participar da visita ao espaço cultural, envie uma carta aos pais ou responsáveis, solicitando autorização expressa. Aproveite para comunicar a participação do estudante na ação cultural, apresentando brevemente o espaço que será visitado. Insira informações sobre o endereço do local e do site e as normas de segurança. Destaque a obrigatoriedade do uso do uniforme e o que será necessário - ou não - levar. Uso de uniforme Quando anunciamos saídas da escola, os estudantes criam expectativas e às vezes chegam para a visita com roupas de passeio. Isso faz com que eles não seja identificados como integrantes do grupo, fragilizando a segurança de todos. O uniforme identifica o estudante para você, para os outros responsáveis pela visita, para mediadores e seguranças do espaço cultural, ajudando os profissionais envolvidos a manter o grupo unido4. Outra situação indesejável, em relação ao uniforme, é o uso de sandálias em visitas a parques, grutas e outros espaços em que o tênis é recomendado para garantir mais estabilidade e, também, como proteção contra eventuais picadas de insetos. Como estimular os estudantes para que a visita seja bem aproveitada? Qual é a graça de assistir a um filme quando alguém nos conta o final? Qual descoberta teremos a fazer num espaço em que já sabemos tudo o que vamos encontrar? Durante a preparação da visita dos estudantes, pense a respeito. Conforme vimos anteriormente, a instigação do olhar dos estudantes é a melhor sensibilização a fazer antes da visita. O papel do educador é provocar o desejo pelo saber, a vontade de pesquisar, o gosto pela descoberta e a autonomia. A visita começa na escola. A impor- 4 Se possível, providencie etiquetas autocolantes com o nome da escola impresso (use uma fonte bem legível com corpo 12 ou 14) e deixe um espaço para os estudantes escreverem seus nomes (apenas o primeiro nome, bem grande) com pincéis atômicos de cores variadas. Além de ajudar na identificação dos estudantes, as etiquetas permitem que o mediador os chame pelo nome durante a visita, o que favorece em muito a mediação cultural. Além disso, tal procedimento abre espaço para a afirmação da identidade dos estudantes por meio da forma como escrevem seus nomes, das cores escolhidas etc. Não se esqueça de fazer uma etiqueta para você, também, e para os outros acompanhantes adultos. 24 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural tância da vivência do deslocamento Meu corpo vai aonde vão meus sentidos. [...] Minha imaginação e minha sensibilidade também são veículos de minha corporeidade. Nabor Nunes Filho, 1997 O deslocamento da escola até o espaço cultural faz parte da visita. Pode-se pensar o deslocamento apenas como um movimento físico, dos corpos dos estudantes na cidade. Mas pode-se, também, pensar a palavra deslocamento como uma circunstância de produção de incertezas, de inquietações e dúvidas. O que há de mais inquietante do que a cidade? O que há de mais educativo do que a cidade? Estimule a investigação da cidade, desde o início da Sensibilização, passando pelo momento da entrada no ônibus e durante os trajetos de ida e de volta. Promova, a respeito, reflexões durante a Visita e no momento dos Desdobramentos. Acessibilidade Um integrante de seu grupo está em cadeira de rodas? É surdo ou cego? Tem síndrome de Down, autismo ou outra deficiência? Converse com o coordenador do setor educativo. Esclareça o caso em questão também na ficha de marcação de visitas. Muitas instituições estão preparadas para acolher deficientes; outras, não. Em vez de correr o risco de se provocar constrangimento (aumentando o enventual sentimento de exclusão social), faça as consultas antecipadas, com vistas a evitar essa situação. Check List Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 25 Módulo IV – Realizando a ação cultural Use esta Lista de Verificação (Check List) para apoiar seu planejamento no momento da Sensibilização: • defina a data da visita; • contate o setor de agendamento do espaço cultural para verificar disponibilidade de horários e proceda ao agendamento; • providencie o que for necessário para tornar a visita acessível a pessoas com deficiência: intérpretes de libras, material em braile, cadeiras de rodas ou quaisquer equipamentos, estratégias e facilidades; • comunique à turma e envie as solicitações de autorização para assinatura dos pais ou responsáveis; • faça uma visita prévia ao espaço, com os profissionais da escola envolvidos na ação, para reconhecimento, coleta de materiais de divulgação e de apoio ao professor; • oriente-se sobre as questões operacionais (local de parada para desembarque e estacionamento do ônibus; se o espaço possui guarda-volumes, se oferece espaço para lanche); • sensibilize os estudantes para a visita, utilizando o Caderno do Estudante do Projeto Acervos Museológicos e outras estratégias; • promova uma roda de conversas com os estudantes sobre as normas de segurança e outros combinados importantes; Visita Ser e não ser Para algo existir mesmo – Um Deus, um bicho, um universo, um anjo –, É preciso que alguém tenha consciência dele. Ou simplesmente que o tenha inventado. Mario Quintana, 2006 A Visita é o ponto alto da ação cultural. É o momento de sair da escola em direção a outro lugar, a outra paisagem, a outras pessoas e culturas. Você já instigou os estudantes, estimulando-os a observar a cidade durante o deslocamento. Agora, chegou o momento da visita ao espaço escolhido. Para que ela seja um sucesso, é importante que você recupere o planejamento da ação cultural e todas as questões trabalhadas junto ao grupo no momento da Sensibilização. O fio condutor que liga as etapas da ação cultural aparecerá muito fortemente durante a visita, por meio dos olhares, comentários, perguntas e gestos dos estudantes. Ter clareza dos objetivos e dos aspectos trabalhados no momento da Sensibilização ajudará você a fazer intervenções pontuais durante a visita, legitimando as conexões estabelecidas pelos estudantes e colecionando impressões do grupo para a definição das propostas de 26 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural produção cultural, que ocorrerão na etapa Desdobramentos. Necessidade ou não da visita ser orientada por um profissional do setor educativo A maioria dos espaços culturais não permite que grupos de escolares realizem visitas sem o acompanhamento de um mediador. Relacionadas a esta norma estão questões importantes, ligadas à segurança dos acervos e dos visitantes. Espaços culturais, notadamente museus, têm investido na construção de setores educativos estruturados, com propostas pedagógicas definidas e profissionais preparados para acolher os grupos de estudantes e professores5. O importante é que você se lembre de que a visita é um momento cultural em que a bagagem dos estudantes deve ser privilegiada, assim como a espontaneidade de seus comentários, perguntas e olhares. A 5 A maior parte dos espaços culturais não permite que grupos de escolares realizem visitas sem o acompanhamento de um mediador. Relacionadas a esta norma, estão questões importantes, como, por exemplo, a lotação máxima de um museu ou de uma sala de exposições. São questões que, por sua vez estão ligadas a aspectos da segurança dos acervos e dos próprios visitantes. Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 27 Módulo IV – Realizando a ação cultural Dica: Lembre-se de convidar, no mínimo, mais dois professores e / ou pais para a ação cultural pensada por você. O ideal é que eles participem, desde o momento da criação e elaboração do texto do projeto, agregando novas visões e fortalecendo a proposta. Geralmente, durante a visita, os grupos são divididos em dois ou três subgrupos, dependendo do número de integrantes, da disponibilidade de mediadores, do tamanho do espaço, do tempo de visitação, entre outros aspectos. Dessa forma, será determinante que outros professores, igualmente preparados, estejam presentes para acompanhar os subgrupos durante a visita. visita se distancia do conceito de “aula”, no sentido escolar, e se aproxima mais do conceito de “encontro cultural”. Por essa razão, sugerimos que você e seus pares estejam conscientes de que o tempo em que o grupo estará no espaço deve ser destinado à promoção da autonomia dos estudantes, organizando a ação da maneira menos diretiva possível, apoiando a realização de uma visita aberta às impressões de todos. Regras de segurança, na prática Para refletir: Por vezes, o silêncio é mais educativo do que a sobreposição de falas durante a visita. Não o silêncio imposto do “não pode falar”, “vamos ficar em silêncio para ouvir o mediador”, “evitem conversas paralelas”. O espaço cultural contemporâneo deixou há muito de ser um local de contemplação silenciosa para se transformar num “espaço-troca”, em que, ao contrário, as falas dos visitantes, os sentidos atribuídos pelo público são requisitados. É um silêncio que permite a investigação pessoal, a atribuição de significados únicos, distintos daqueles presentes nas falas dos mediadores e dos professores. Conforme sugerido anteriormente, as regras de segurança serão trabalhadas por você na escola, em uma roda de conversa com os estudantes. Se pretendermos educar para o reconhecimento e apropriação - por parte dos estudantes e de suas famílias - da vida cultural na cidade, é necessário abordar o conceito de patrimônio cultural de forma clara, elencando exemplos. Assim, a preservação do patrimônio será entendida pelos estudantes como um compromisso cidadão, e não como uma regra sem razão de ser. Lembre-se de abordar outros contextos de preservação do patrimônio para além das exposições de arte e história, dando exemplos mais próximos da realidade dos estudantes, como a coleta seletiva de materiais 28 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural recicláveis no bairro onde vivem, a preservação dos rios localizados no entorno da escola, a preservação de um saber-fazer típico da região onde a escola está localizada etc. Em espaços culturais, comumente os mediadores acolhem os grupos e, antes da entrada nos espaços expositivos, falam sobre as normas de visitação. Mesmo assim, não é raro ter estudantes que burlam as regras, tocando nas obras, fotografando, falando ao celular etc. Mediadores têm como principal função elaborar e realizar visitas orientadas, dirigidas ao público, mas também são responsáveis pela segurança dos acervos. Por isso, é importante que todos os professores e acompanhantes que estiverem apoiando o grupo conheçam de antemão as normas de segurança e permaneçam sempre junto ao grupo, apoiando a equipe do espaço no que for necessário. Dicas e cuidados para o sucesso da visita • Anote os contatos do espaço cultural, sobretudo o telefone do setor educativo, antes de sair da escola e, se for o caso, leve consigo uma cópia da ficha de marcação de visitas; • garanta que estudantes com deficiências tenham seus direitos observados no deslocamento: ônibus adaptados e pessoas aptas a ajudá-los no embarque e desembarque. E, também, durante a visita, intérpretes de libras, estratégias para cegos e para os estudantes com outros tipos de deficiência; • evite se atrasar ou chegar com antecedência maior do que 15 minutos ao espaço. Caso ocorra algum imprevisto, entre em contato com o museu para que os mediadores possam se programar; • deixe o máximo possível de objetos dentro do ônibus, pois o tempo destinado à organização de pertences irá reduzir o tempo de visita. Preferencialmente, peça aos estudantes para não levarem nada para a escola nesse dia; • caso esteja programado um lanche durante a visita, procure saber se o espaço oferece ou não um local adequado. Caso positivo, combine antes em que momento será o lanche. Caso negativo, organize o lanche dentro do ônibus, durante o trajeto. Tenha clareza de que o tempo do lanche poderá reduzir a duração da visita em alguns espaços. • durante a visita permita que o mediador seja a referência para o grupo em termos comportamentais, evitando sobrepor-se ao contrato estabelecido entre o profissional e o grupo. Caso seja necessária sua Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 29 30 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural intervenção, seja discreto para não tolher o restante da turma; • evite responder às perguntas do mediador destinadas ao grupo, tendo em vista que o silêncio após uma pergunta muitas vezes está ligado ao medo de errar. Permita que o próprio mediador resolva a situação. Em alguns casos, deixar que o estudante permaneça com a dúvida é mais educativo do que ofertar uma resposta pronta; • da mesma forma, evite repreender um estudante por causa de uma pergunta ou resposta, por mais descontextualizada que possa ser. Permita que o mediador resolva a situação; • permaneça todo o tempo da visita junto ao grupo, entre nas rodas, sente-se junto com seus estudantes, mesmo que no chão. Caso precise sair por algum motivo, avise o mediador; • dê o exemplo, siga estritamente as regras de segurança; • alguns espaços solicitam que o professor faça uma avaliação da visita. Muitas vezes é a única forma de receber um retorno sobre o trabalho realizado. Busque preencher a avaliação no próprio espaço durante e ao final da visita. Preencha da forma mais completa possível e seja sincero(a). Sua opinião, suas críticas e sugestões irão contribuir para o aprimoramento das ações. Desdobramentos Para refletir: Quando uma ação cultural é idealizada, é natural que todos criem expectativas em relação à visita. É importante considerar, no entanto, que há espaços que podem ser visitados em uma hora e trinta minutos e outros que exigirão um dia inteiro ou até novas visitas. O que é preferível: propiciar um contato qualificado com o contexto escolhido, alimentando a curiosidade dos estudantes – o que poderá resultar em novas visitas –, ou conhecer tudo como se estivesse em uma competição, sem viver, no entanto, uma real experiência? Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 31 Módulo IV – Realizando a ação cultural Critérios para escolha das oficinas OFICINA Tentei montar com aquele meu amigo que tem um olhar descomparado, uma Oficina de Desregular a Natureza. Mas faltou dinheiro na hora para a gente alugar um espaço. Ele propôs que montássemos por primeiro a Oficina em alguma gruta. Por toda parte existia gruta, ele disse. E por de logo achamos uma na beira da estrada. Ponho por caso que até foi sorte nossa. Pois que debaixo da gruta passava um rio. O que de melhor houvesse para uma Oficina de Desregular Natureza! Por de logo fizemos o primeiro trabalho. Era o Besouro de olhar ajoelhado. Botaríamos esse Besouro no canto mais nobre da gruta. Mas a gruta não tinha canto mais nobre. Logo apareceu um lírio pensativo de sol. De seguida o mesmo lírio pensativo de chão. Pensamos que sendo o lírio um bem da natureza prezado por Cristo resolvemos dar o nome ao trabalho de Lírio pensativo de Deus. Ficou sendo. Logo fizemos a Borboleta beata. E depois fizemos Uma ideia de roupa rasgada de bunda. E a fivela de prender silêncios. Depois elaboramos A canção para a lata defunta. E ainda a seguir: O parafuso de veludo, o prego que farfalha, o alicate cremoso. E por último aproveitamos para imitar Picasso com A moça com o olho no centro da testa. Picasso desregulava a natureza, tentamos imitá-lo. Modéstia à parte. Manoel de Barros, 2006. 32 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural Desde o momento em que a turma é convidada a participar da ação cultural, os estudantes começam a idealizar o projeto. Como será a visita? O que vamos encontrar? O que vamos fazer depois? Passam a expressar desejos e a colecionar ideias relacionadas ao projeto, às suas vivências e experiências pessoais, aos seus interesses. É muito importante planejar, como vimos no Módulo III, toda a ação cultural. Mas é justamente porque planejamos bem que podemos permitir a alteração da proposta inicial diante da expressão de um desejo dos estudantes. Isso quer dizer que, se foi planejada uma oficina de vídeo com celulares, mas durante a ação seus estudantes demonstraram que estão mais interessados em produzir uma intervenção urbana, usando um outdoor com técnicas de pintura e colagem, você poderá mudar a programação. Afinal, a ação cultural é para os estudantes, com os estudantes e faz todo o sentido privilegiar o interesse deles. Por isso, sempre considere a possibilidade de adquirir materiais para as oficinas na véspera de sua realização. Que oficina promover? Que materiais comprar? Como desenvolver a proposta? Desenho, pintura, vídeo, produção de textos, teatro, poesia, dança, rádio, fotografia, gravura, escultura, criação de blog, circo, grafite, performance, instalação, colagem, fotocolagem, arte digital, desenho de animação, moda, intervenção urbana... A importância de se ter espaços adequados ou transformar espaços Dica: Nem sempre é possível adquirir materiais. Abra o armário e o almoxarifado de sua escola e veja o que você tem à disposição. Compartilhe esse momento com seus pares e colete opiniões e sugestões. Pense no perfil da turma, ouça o desejo dos estudantes, pergunte a eles o que gostariam de fazer, concilie interesses, possibilidades, e mãos à obra! Use os espaços da escola e do entorno para a ação cultural. Você está realizando uma ação que contempla o uso da cidade e de seus espaços culturais, incluindo nesta categoria as praças, parques e outros locais de convívio. Não faz sentido usar apenas a sala de aula no momento da Sensibilização e dos Desdobramentos. Use a cantina, o auditório, o jardim, a biblioteca, a rua, a quadra, o clube vizinho... Se for usar a sala de aula ou outros espaços utilizados no dia a dia da turma, transforme-os! Convide a turma a transformá-los junto com você. Escolha e qualidade dos materiais Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 33 Módulo IV – Realizando a ação cultural utilizados Os materiais disponíveis na escola podem ajudar você a desenvolver a proposta de uma oficina, mas, quando for possível adquiri-los, é a ideia que irá guiar a escolha dos produtos. Ao adquirir tinta, papel, argila etc., escolha materiais de qualidade. Normalmente, as diferenças de preço são compensadas com mais qualidade e durabilidade. Em ambos os casos, escolha materiais distintos e não se prenda apenas aos suportes tradicionais. Por exemplo: oferecendo giz de cera e papéis aos seus estudantes, você pode obter resultados tradicionais ou se surpreender com propostas inovadoras, mas se oferecer flores e folhas secas coletadas nos jardins da escola como material, certamente terá resultados pouco convencionais e terá provocado um deslocamento do corpo... Do olhar... 34 Projeto Acervos Museológicos Módulo IV – Realizando a ação cultural Acompanhamento e avaliação dos Desdobramentos O momento dos Desdobramentos, assim como toda a ação cultural, deve ser acompanhado de perto pelos profissionais responsáveis. É essencial a realização de reuniões periódicas com os professores envolvidos e também a escuta da opinião dos estudantes durante e depois de cada etapa. Esse constante monitoramento das ações será seu termômetro e permitirá a avaliação da ação como um todo. Para refletir: Trabalhar com cultura demanda valorizar os processos em detrimento dos fins. Assim, você não precisa dar notas ou conceitos aos estudantes por sua produção na etapa Desdobramentos. Trata-se de uma ação qualitativa e pouco quantitativa. Por isso, pense em maneiras de avaliar o processo que dispensem a atribuição de notas ou valor aos trabalhos realizados. Desdobramentos para a escola e para a comunidade: preparando a mostra cultural Como apresentar a produção dos estudantes aos familiares e a toda a comunidade escolar? Você já pensou em promover uma mostra cultural? Uma grande mostra em que outras áreas de expressão possam ser acolhidas, envolvendo toda a escola, transformando-a em espaço cultural? Gostou da ideia? Convide professores e promova a eleição de representantes de turma para compor o conselho curatorial, marque uma reunião e coloque a ideia em prática. Imagine a escola com seus espaços transformados em salas de exposição, salas de espetáculos, salas com oficinas sendo conduzidas pelos próprios estudantes, um café montado na cantina com venda de quitutes produzidos por membros da comunidade. Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 35 Módulo IV – Realizando a ação cultural Acessibilidade A acessibilidade deve ser pensada como condição fundamental para a realização de qualquer ação cultural. Vimos, na etapa Sensibilização, alguns cuidados e posturas importantes a serem assumidos. Na etapa Desdobramentos há que se ter em mente a acessibilidade de todos os participantes, e também, do público visitante, durante a mostra cultural. Verifique, juntamente com seus estudantes, se os acessos estão adaptados e desimpedidos. Estimule-os a pensar soluções para promover a acessibilidade sensorial e intelectual de pessoas com deficiência. Feedback para o museu ou espaço cultural Você e sua escola iniciaram uma parceria com um espaço cultural. Da mesma forma que há expectativa da escola, dos professores e estudantes em relação ao espaço visitado, criam-se também expectativas dos setores educativos em relação às escolas. Dê um feedback para a equipe que acolheu sua escola, indicando o que foi positivo e o que pode melhorar também. Envie imagens dos resultados e da produção cultural dos estudantes para o espaço e, se for possível, agende novo encontro com o coordenador do setor educativo para falar a respeito. Certamente essa conversa abrirá novos caminhos e possibilidades de ações futuras. Estimulando o retorno dos estudantes ao espaço cultural com suas famílias Para coroar todo esse movimento, é importante incentivar a visita aos espaços culturais da cidade de forma espontânea. Grande parte dos adultos de hoje só visitou espaços culturais e museus apenas uma vez na vida, por meio da escola. Por que não voltaram? É imprescindível que a escola e os mediadores do espaço cultural orientem os estudantes a voltarem com suas famílias, informando como funciona o espaço, se é gratuito ou não, em que dias e horários está aberto ao público, se há oficinas aos finais de semana etc. 36 Projeto Acervos Museológicos Módulo V – Para saber mais... Professor No site do Projeto (www.acervosmuseologicos.org.br) você terá acesso a fontes de informação, outros sites e portais que disponibilizam conteúdos sobre museus e espaços culturais, educação, artes visuais e fomento a projetos. Dicas de filmes e documentários também foram especialmente selecionadas. Faça bom proveito! Democratização do Acesso & Formação de Agentes Culturais 37 Referências Bibliográficas AGÊNCIA ESTADO. Brasil ocupa 4º lugar no ranking de roubo de obras culturais. 9 de setembro, 2007. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/ geral,brasil-ocupa-4-lugar-no-ranking-de-roubo-de-obras-culturais,48756,0. htm. 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