COMUNICADO DE IMPRENSA RIO ALVIELA EM BOM ESTADO ATÉ 2015? Assinala-se hoje um ano após a iniciativa "Big Jump: Rios a 100%" (17 Julho de 2005, Nascente do Rio Alviela), organizada pela LPN, em cooperação com diversas entidades e associações locais, que teve como objectivo alertar para o problema da poluição do Rio Alviela. Foram criadas grandes expectativas relativamente à melhoria da qualidade da água do Rio Alviela, uma vez que o evento contou com a presença de representantes do Instituto da Água (INAG), Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) e representantes de diversas entidades e organizações locais. Foram identificados os principais problemas do Alviela e propostas algumas soluções que de alguma forma vieram ao encontro dos objectivos desta iniciativa. Esta iniciativa foi também uma demonstração do envolvimento das populações com os rios, seguindo as indicações da Directiva-Quadro da Água (DQA), que dá especial importância à participação pública na gestão das bacias hidrográficas No entanto, passado um ano, verifica-se que as expectativas foram goradas. Os peixes continuam a aparecer mortos no Rio Alviela, devido à descarga de águas residuais industriais e ao funcionamento deficiente da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena. Apesar disso, a opinião das populações continua a ser ignorada nas tomadas de decisão sobre os rios, uma vez que, apesar do processo de implementação da DQA já contar com mais de 6 anos, apenas no dia 8 deste mês teve lugar a primeira iniciativa sobre participação pública1. Como forma de assinalar a data do Big Jump, a LPN e a Comissão intermunicipal de defesa do rio Alviela irão reenviar ao INAG e à CCDR-LVT toda a documentação relativa aos resultados do Big Jump – Rios a 100% e o historial dos problemas de poluição do rio Alviela. O caso do Alviela é um exemplo, entre outros, em que as populações estão interessadas em participar activamente na resolução dos problemas que afectam o seu rio e impedem o usufruto pleno deste património natural e cultural. A LPN considera que este exemplo levanta diversas questões importantes sobre a forma como a sociedade civil tem estado à margem das decisões que afectam o seu dia-a-dia e a convicção de que só com o esforço e o envolvimento de todos poderemos perseguir o objectivo de alcançar o bom estado de todos os rios Portugueses até 2015. Para que isso aconteça, consideramos que é necessário ultrapassar um conjunto de mitos relacionados com o envolvimento dos cidadãos nas tomadas de decisão. 1 “A sociedade civil não está interessada em participar?” Apesar das entidades que tomam decisões quererem passar a ideia generalizada de que a sociedade civil não está interessada em tomar parte nas decisões, alguns exemplos mostram que não é assim e apontam para a necessidade de adequar os mecanismos de participação ao público interessado. O workshop realizado no âmbito do Big Jump – Rios a 100% foi um exemplo claro do interesse das populações locais pela gestão dos problemas do seu rio, não só ao nível dos representantes da administração, como é o caso das Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais, Governo Civil, etc., mas também outros grupos de interesse como sociedades recreativas, bombeiros, associações de ambiente, universidades e até mesmo cidadãos individuais. Outro exemplo demonstrativo do interesse generalizado pela participação na gestão da água foi a sessão sobre participação pública promovida pelo INAG, no dia 8 de Junho. Apesar de se realizar em Lisboa, num sábado e não ter sido alvo de uma divulgação ampla, teve uma participação bastante alargada, incluindo pessoas que se deslocaram voluntariamente de diversas zonas do país para tomarem parte da discussão. Estes exemplos mostram que há interesse pela participação, em especial se for dinamizada ao nível local, junto daqueles que vivem os problemas dos rios e terão que assumir um papel activo na sua resolução. “A gestão da água é demasiado técnica e ultrapassa o nível de conhecimentos do cidadão comum?” O acesso à informação é a base necessária para poder fazer uma gestão participada e essa informação deverá estar acessível a todos os interessados, bastando para isso que o tipo de linguagem utilizado seja acessível a todos. Mais uma vez, o workshop realizado no âmbito do Big Jump veio demonstrar que uma directiva comunitária bastante complexa (DQA) pode ser discutida por todos, em especial recorrendo a exemplos práticos da bacia do Alviela 2. As actividades realizadas com o público presente no Big Jump mostraram também que é possível envolver o cidadão comum em aspectos técnico/científicos, como foi o caso da avaliação da qualidade ecológica da água, com base nos peixes e invertebrados encontrados em zonas do rio com maiores ou menores níveis de poluição 3. “As decisões têm que ser tomadas pela administração e só no final deve haver uma consulta pública, porque os cidadãos não estão organizados” A LPN defende o envolvimento da sociedade civil desde o início dos processos de tomada de decisão, de modo a que sejam resolvidos os possíveis conflitos de interesse numa fase inicial. A experiência tida com os planos de ordenamento e gestão que envolvem recursos hídricos mostrou claramente que a maioria dos planos acaba por “ficar na gaveta”, apesar de serem tecnicamente bastante correctos. Isto deve-se simplesmente ao facto das populações não aceitarem as normas estabelecidas nem as medidas preconizadas, uma vez que não foram ouvidas e não se identificam com as decisões tomadas. A criação da Comissão intermunicipal de defesa do rio Alviela é um exemplo louvável da iniciativa da sociedade civil para contribuir para a recuperação da qualidade de um rio com um longo historial de poluição. Esta comissão conseguiu reunir cerca de 10.000 assinaturas numa petição pela despoluição do rio Alviela, que foi entregue na Assembleia da República no dia 27 de Junho deste ano4. 1. Sessão “A Água e a Participação Pública, 8 de Junho, ISCTE http://www.inag.pt/inag2004/port/divulga/actualidades/actualidades/actualidades.html 2. Relatório do “O futuro do rio Alviela no âmbito da Directiva-Quadro da Água (http://www.lpn.pt/#20-PT) 3. Relatório “Big Jump 2005” (http://www.lpn.pt/#20-PT) 4. http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=240&id=26682&idSeccao=3260&Action=noticia http://jn.sapo.pt/2006/05/30/sul/peticao_leva_alviela_parlamento.html Lisboa, 16 de Julho de 2006 2 A Direcção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza Para mais informações: Liga para a Protecção da Natureza | Estrada do Calhariz de Benfica, n.º 187 1500-124 Lisboa ; www.lpn.pt 217 780 097 | 217 740 155 | 217 740 176 Paula Chainho A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. É uma Associação sem fins lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. A LPN é membro da IUCN (The World Conservation Union), do EEB (European Environmental Bureau), do CIDN (Conselho Ibérico para a Defesa da Natureza), do MIO-ECSDE (Mediterranean Information Office for Environmental Culture and Sustainable Development) e do SAR (Seas at Risk). 3