ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget
Almada
Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas
em
Animação Sociocultural
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico
Professor: Dr. Francisco Jacinto
Tema:
MÉRTOLA
A TRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE DE UM POVO
Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58
Corroios
Março de 2003
ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget
Almada
Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico
Professor: Dr. Francisco Jacinto
Tema:
MÉRTOLA
A Tradição Oral na Identidade de um Povo
Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58
Mértola – “um esporão rochoso” que se ergue entre-ambas-as-águas “aberto aos mares do Sul” ou
O Penedo húmido (em que se transformou NÍOBE) donde correm, constantemente, dois rios de lágrimas, para o grande Mar...
Março de 2003
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
FICHA TÉCNICA
Título A Tradição Oral na Identidade de um Povo –
Área de Estudo - Mértola
Autora Maria de Fátima da Vinha Borges – Aluna nº 58
Trabalho no âmbito do Curso: ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO
Qualificação Para o Exercício de
Jean Piaget – Almada – Março de 2003
Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural - Disciplina:
Gestão de Espaços Culturais e
Património Histórico – leccionada
pelo Professor: Dr. Francisco Jacinto
PENSAMENTO
«Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e
as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 1
Miguel Torga:
1
TORGA, Miguel (1986). “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed. (pp. 27 – 44),
Coimbra: Gráfica de Coimbra.
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Índice breve – relação entre os TEMAS abordados e as RECOLHAS em ANEXO
Índice do desenvolvimento do tema
A Tradição Oral na Identidade de um Povo
2
Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO
ORAL na Identidade de um Povo:
5
ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS
6
0.
– INTRODUÇÃO 7
1.
FALAM OS MESTRES
9
1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de
Colonização...16
2. - Mértola – os Nomes
20
2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo
NOME 20
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia grecolatina
20
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia grecolatina
21
2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as
Freguesias e Lugares.22
2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais
numerosos e raros. 24
2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um
mundo delicado, pouco estudado...
26
2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a
Flora... 27
PEIXES 28
AVES 30
Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto
sobre as AVES 31
2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS
COMIDAS.. 32
Saudações, formas de tratamento...
32
3. – Outras Formas de Expressão
36
3.1 – LENDA/s
37
3.1.1 – Mitologia Greco-Latina
42
3.2 – CONTO/s
44
3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem:Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...
47
3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas –
Orações..50
3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS 55
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as
outras 58
Conclusão
61
BIBLIOGRAFIA 62
BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso
Brasileira de Cultura – in Mértola:
62
BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos
da Tradição Oral – Literatura Popular e Informação
complementar, como alguns dados sobre a
MITOLOGIA GRECO LATINA:
64
BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas
e Outras Publicações Periódicas
66
BIBLIOGRAFIA - 4. Artigos do Professor in Vilas e
Cidadades 68
MULTIMEDIA:
68
Índice dos ANEXOS – Colectânea de textos
71
78
81
82
86
86
88
97
98
104
105
107
109
115
115
119
120
141
166
176
179
202
220
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Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO ORAL na Identidade de um Povo:
-
0 - Introdução
-
PLANO DESENVOLVIDO a partir do MATERIAL que foi possível recolher e
organizar:
-
1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o
PATRIMÓNIO.
-
1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização...
-
2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES:
-
2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e
-
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina
-
2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...
-
2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...
-
2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado...
-
2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...
-
2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: Comidas - Saudações, formas de
tratamento...
-
3. – Outras Formas de Expressão
-
3.1 – LENDA/s
-
3.1.1 – Mitologia Greco-Latina “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO...
-
3.2 – CONTO/s
-
3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...
-
3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...
-
3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS
-
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...
Conclusão
-
Bibliografia –

1. citada na Verbo e C. Arq. M –

2. Fontes das Recolhas Lit Pop. e Mitos –

3. Artigos em diversas Publicações e

4. Artigos do Dr. Francisco Jacinto, Professor da Cadeira...

4. MULTIMÉDIA.
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ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS
para desenvolvimento de cada item do TEMA proposto... e portanto com o ESQUEMA em
SINTONIA ou CONTRAPONTO com os diversos CAPÍTULOS...
-
1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o
PATRIMÓNIO.
-
1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização...
-
2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES:
-
2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e
-
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina
-
2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...
-
2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...
-
2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado...
-
2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...
-
2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: Comidas - Saudações, formas de
tratamento...
-
3. – Outras Formas de Expressão
-
3.1 – LENDA/s
-
3.1.1 – Mitologia Greco-Latina “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO...
-
3.2 – CONTO/s
-
3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...
-
3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...
-
3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS
-
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...
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0. – INTRODUÇÃO
Ser alentejana será sempre motivo de orgulho. Continuo a sonhar em voltar para o Alentejo pois
só aí me sinto em “casa”. A forma de estar da minha gente, o nosso modo de falar são realmente
o que me fascina.
Em MÉRTOLA vivi um ano, sentei-me à mesa com as gentes do lugar e fui acolhida como filha
da terra.
Fazer um trabalho sobre Mértola, para mim só faz realmente sentido se poder partilhar estes
encantos que passam despercebidos aos que por lá passam mas servem de motivo de anedotas
para muitos que não sabem lêr o que nós dizemos.
Pretendo com este trabalho fazer a PROPOSTA – sugestão da criação de um CDI (Centro de
Documentação Investigação e Divulgação)... Mértola tem muitos museus mas ainda não existe
um espaço que dê voz às gentes do lugar, onde os mais velhos divulguem junto dos mais novos e
ao “vivo” as suas tradições, as suas lendas enfim o testemunho vivo da nossa forma de falar e de
nos expressarmos.
Em relação a este trabalho considero-o um trabalho rico especialmente pela trabalhosa e
inesperada
RECOLHA
de
diversificadas
manifestações
da
TRADIÇÃO
ORAL
–
LITERATURA POPULAR que vai em ANEXO e pode parecer desproporcionada em relação ao
trabalho... e por isso a apresento como COLECTÂNEA DE TEXTOS, que foi possível recolher,
como base e/ou contributo para um trabalho mais desenvolvido a realizar por quem seja e esteja
mais habilitado do que eu....
O trabalho em si, vai consistir na transcrição de um ou outro exemplo de cada FORMA de
EXPRESSÃO, tentando ver em cada uma as manifestações da Identidade duma região –
Mértola... Inserida no Alentejo e vizinha e fronteira e ligada pelo rio ao Algarve...
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Os exemplares recolhidos, que são necessariamente limitados, deixam o campo aberto para
futuras recolhas e fica como desafio a outros mais competentes e mais ligados ao ambiente que
possam desenvolver este trabalho...
Julgo que pode ser uma maneira “fabulosa” de envolver cada vez mais gente da população no
projecto local que já leva duas décadas de iniciativas notáveis...
Corroios, Fevereiro de 2003
Maria de Fátima da Vinha Borges
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1. FALAM OS MESTRES
Da Importância dos NOMES e de conhecer a Identidade de um Povo...
O que caracteriza a Identidade de um Povo na Literatura (Oral) Popular...
Um pouco de Teoria como referência... de J. Leite a Viegas Guerreiro, de Zaluar Nunes, a
Francisco Jacinto... como fundamentação teórica para justificar a importância ou a falta de
importância que é dada à tradição oral na identidade de um povo.
Este trabalho talvez se pudesse chamar – NOMINALIA – uma palavra latina, usada no plural,
que nos dicionários de Latim significa, simplesmente, «Dia solene em que se punha o NOME a
uma criança.» mas que evoca os dias de festa para celebrar os NOMES, como as conhecidas
BACCHANALIA – as festas em honra de Baco... a princípio só destinadas às Bacantes, mas
que, depois de abertas a homens se transformaram em “bacanais” de tal maneira que tiveram de
ser interditas pelo Senado em 186 a. C..
Definição da Gramática do Português Contemporâneo:
- A LÍNGUA... A FALA...
«Expressão da consciência de uma colectividade, a LÍNGUA é o meio por que ela concebe o
mundo que a cerca e sobre ele age. Utilização social da faculdade da linguagem, criação da
sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à
do organismo social que a criou.»2
Epicteto citado por Mesquitela Lima:
«O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca
das coisas.» Epicteto – Daí a importância de chamar as “coisas” ou os “bois” pelos nomes e de
sabermos quem e como foi dado um determinado NOME e o que significa. Se conseguirmos
saber o NOME das “coisas”, estamos a entrar no mundo da Cultura Humana «Aquela que estuda
2
CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley (1985). - Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa: Ed. João Sá da
Costa.
9
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a CULTURA integrada nas relações, nas constelações de relações que os homens tecem entre
si.», como nos diz Mesquitela Lima. 3
Fernão Lopes: In PRÓLOGO da PRIMEIRA PARTE DA «CRÓNICA DE EL-REI D.
JOÃO I DE BOA MEMÓRIA»:
Para justificar o empenho que vai pôr na sua maneira de contar a História tentando relatar tudo
com objectividade, Fernão Lopes, neste Prólogo, explica porque é que os outros historiadores
erravam tão facilmente: é que a sua maneira de pensar estava de tal maneira ligada à Cultura, à
Terra, aos Parentes, aos Senhores... que erravam quase sem querer!!!
«Grande licença deu a afeição a muitos que tiveram cárrego de ordenar histórias, mormente dos
senhores em cuja mercê e terra viviam e hu foram nados seus antigos avós, sendo-lhe muito
favoráveis no recontamento de seus feitos.»
Ver citação mais completa em ANEXOS 1.
Gil Vicente:
Toda a obra do genial Mestre do Teatro em Portugal assenta num conhecimento profundo da
cultura popular, adágios, maneiras de ser e pensar, usos e costumes do povo.
Miguel Torga:
«Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e
as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 4
Cláudio Torres:
«Proteger as tradições artesanais é também impedir que a nossa escola continue a insultar
aqueles a quem chama “analfabetos” corrigindo o seu falar, o seu gosto e a sua cultura para
impor o modelo dominante de Lisboa – Cascais.» Cláudio Torres5.
Francisco Jacinto6:
3
LIMA, Mesquitela (1983).- Antropologia do Simbólico (ou o Simbólico da Antropologia), Lisboa: Editorial
Presença.
4
TORGA, Miguel (1986). “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed. (pp. 27 – 44),
Coimbra: Gráfica de Coimbra.
5
TORRES, Cláudio et allii, Mantas Tradicionais do Baixo Alentejo, (Ângela Luzia – Isabel Magalhães) –,
Caderno N.1 - Campo Arqueológico de Mértola – Edição da Câmara Municipal de Mértola, Abril de 1984.
6
JACINTO, Francisco – “Património Cultura Memória Social – O passado preservado no presente” in «VILAS E
CIDADES» Ano IV - Mensal N.º 40 – Fevereiro / 2000.
10
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Cita Carlos Antero Ferreira: «A ideia de defesa e salvaguarda do património cultural radica na
convicção, cada vez mais alargada e generalizada, de que a manutenção das expressões do
passado histórico é um dos mais relevantes factores de continuidade na construção da memória
colectiva dos povos, concorrendo para a definição e a fixação da identidade social e cultural.»
Acrescenta depois a ideia de património imaterial e cultura:
«Assim sendo, a noção de património está – ainda que mais “vagamente” – ligada à ideia de
cultura imaterial (crenças, lendas, tradições, contos e, dum modo geral, a tudo o que é
transmitido por via oral ou integra um conjunto de valores vividos e assumidos por uma
sociedade ou por grupos dela constituintes.»
Será importante ver neste artigo a visão do autor, como as alusões ao antropólogo Jorge Dias,
Helder Pacheco; a evocação de Heródoto «... e a forma como ele entendia a “história”... um
património não só digno de ser preservado como transmitido aos vindouros.»; fala ainda de
Nuno Santos Pinheiro e de José Mattoso para nos dizer o que se deve entender por património e
da necessidade de «... o concurso, em pé de igualdade, da interdisciplinaridade das ciências.»
Ver também José Rabaça Gaspar: (Citação mais completa a consultar in ANEXO 1.)
In IV Jornadas da ESE/Beja, 2 de Junho de 1995 - A «LITERATURA (CULTURA)
TRADICIONAL) e o Desenvolvimento e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO
DE CULTURA /DESENVOLVIMENTO» in Revista da Escola superior de Educação de Beja –
LER EDUCAÇÃO – N.º 17 7 18 – Março Dezembro de 1995 – pp. 167 - 220
A Literatura (Cultura) Tradicional é, terá de ser, a base, raiz e condição de um desejável,
correcto e eficiente DESENVOLVIMENTO.
DELGADO:
Manuel Joaquim Delgado in “A ETNOGRAFIA E FOLCLORE - BAIXO ALENTEJO”, 1ª
ed. 1957/58, como separata da Revista “Ocidente”, 2ª Ed. da Assembleia distrital de Beja, 1985,
cito apenas, da p.17:
“Necessidade da criação de uma cadeira de folclore nas Escolas do Magistério Primário, dado
o valor Cultural e formativo que esse ramo do saber humano pode e deve desempenhar nas
Escolas Primárias.”
J. L. Vasconcellos:
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De José Leite de Vasconcelos, in “ETNOGRAFIA PORTUGUESA - Tentame de
Sistematização” - vol. I, p. 328, 343, ed. da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1980 (em
1985 já estava publicado o VII vol.), algumas citações e um apanhado do que parece mais
gritante e era urgente fazer na 2ª metade do séc. XIX e na 1ª do século XX. (07/07/1859 17/05/1941) (Em 41, com 82 anos ainda escreve o prefácio do III vol. do Cancioneiro).
O essencial do que se vai transcrever, já o mestre o tinha escrito 1882 e 1919.
(Perante estas afirmações de um Mestre consagrado, não será de admirar a importância que não
se tem dado a estes temas?...)
«A necessidade / imperativo de estudar as manifestações de um Povo nasce da “máxima antiga:
 , isto é, nosce te ipsum” - conhece-te a ti próprio. Se isto é importante como base
para todo o desenvolvimento individual, “maior aplicação tem” no que diz respeito “a um Povo,
olhando no seu conjunto: apreciar como ele interpreta a Natureza que o rodeia, qual a
vivacidade ou torpor do seu engenho, a feição e grau de vitalidade da sua literatura, arte e
indústria tradicionais, as suas aptidões, génio, tendências religiosas, manifestações psíquicas
expontâneas, como julga os povos que o convizinham, ou como se considera a si próprio com
relação aos outros; o que são para ele a família e a sociedade; como é que ama, e como é que
odeia.” ... Tudo isto é fundamental para quem tenha de, verdadeiramente, penetrar no espírito
das sociedades. através do vocabulário usual, relatos do quotidiano, como reflexo da vida
normal, podem conhecer-se as pessoas... Aí têm de ir a Etnografia e a Filologia de mãos
dadas.»
Diz ainda o Mestre: «Empenhemo-nos por isso na investigação das tradições populares;
façamos reviver ou conservemos as que forem úteis; rejeitemos ou substituamos as que forem
más; e em todo o caso, estudemos tudo,...».
ZALUAR NUNES:
Para nos atrevermos a desenvolver qualquer abordagem à LITERATURA POPULAR torna-se
indispensável conhecer os estudos daqueles que seguiram o grande MESTRE J. L. Vasconcellos:
Ver – Maria Arminda Zaluar Nunes – O CANCIONEIRO POPULAR EM PORTUGAL –
Instituto de Cultura Portuguesa – M. E. C. – Secretaria de Estado da Cultura – Julho de 1978;
VIEGAS GUERREIRO.
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Manuel Viegas Guerreiro – PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA Instituto de Cultura Portuguesa – M. E. C. – Secretaria de Estado da Cultura – Março de 1983;
para se não falar do ABC das REGRAS elementares e do respeito devido às populações a
contactar, de qualquer um que se atreva a meter nestas andanças que é:
de Manuel Viegas Guerreiro – GUIA DE RECOLHA DE LITERATURA POPULAR, Lisboa,
Ministério da Educação e investigação Científica, 1976. – é neste ponto e recomendações do
Mestre que, como se explica à frente, este trabalho peca, por não se estar integrado, nem
relacionado com a população de Mértola e com quem está a desenvolver iniciativas notáveis para
o seu desenvolvimento.
Entretanto, apoiado-se no pensamento destas autoridades na matéria e outras citadas em ANEXO
1, este tema:
A TRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE DE UM POVO pretende ser uma sugestão para o
desenvolvimento de um trabalho que complemente e de certa maneira dê sentido a TODO o
notável e profundo trabalho de escavações, investigação e divulgação que tem sido notória e
notavelmente desenvolvido desde 1979 pelo Campo Arqueológico de Mértola.
Não pretende ser uma descoberta genial!!! Estamos convencidos que os mentores e obreiros
desse enorme projecto têm constantemente em mente isto mesmo que aqui propomos e de certa
maneira o vão desenvolvendo e apresentando como se pode verificar pela imensa bibliografia...
Ao ser-nos proposta, nesta Cadeira – Gestão dos Espaços Culturais e Património Histórico, do
Professor Dr. Francisco Jacinto, um trabalho sobre Mértola, e constatando o que se tem feito e
dito, a primeira reacção foi: - porquê mais um estudo sobre uma zona que já tem tantos
especialistas e trabalho realizado; porque não dar atenção a outras zonas mais carenciadas?! Mas,
por fim, ao olhar para o conjunto bem estruturado de Núcleos e Actividades já existentes,
pareceu-nos que este, sobre a tradição oral, seria um contributo com algum préstimo.
UM RISCO ASSUMIDO:
Corremos um sério risco e estamos perfeitamente conscientes dele. Contrariando todas as
indicações e lições de vários Mestres, em especial Viegas Guerreiro, no seu «Guia de Recolhas
de Literatura Popular», este é precisamente o TEMA que não deve, nem poderia ser levado a
cabo por pessoas que não estejam fortemente integradas na região, no local, nos seus envolventes
e por conseguinte, se possível, com raízes ou ligações significativas a Mértola e sua Região.
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Porque o fazemos apesar disso? Porque, para nós está a ser um desafio interessante e desafiador
e porque nos pareceu que pode ser um contributo válido a ser continuado e desenvolvido pelas
Pessoas ou Entidades adequadas e competentes. Sem grandes ligações directas com Mértola, a
partir das primeiras investigações que nos pareceram um “deserto” sobre Literatura Popular
relacionada com Mértola, a partir de certa altura e com a contribuição de muitos colegas e
amigos, pareceu-nos, já no final do ano 2002, ter “material” rico em diversidade e quantidade e
até certa qualidade, para nos permitir um CONTRIBUTO que pode ser útil.
É esta, tão só, a nossa pretensão. Um trabalho que nos permitiu uma difícil e proveitosa
investigação... Um trabalho que julgamos ÚTIL e pode ser APROVEITADO pelos seus
legítimos, indiscutíveis e inalienáveis herdeiros e proprietários que são os Habitantes de Mértola
e as Pessoas que investiram e investem o seu saber, labor e vida num Projecto cujas dimensões
não sabemos nem temos a pretensão de avaliar, nem muito menos ajuizar.
Esperamos, um dia, poder partilhar convosco, um SERÃO de CONVÍVIO no CDI – ou o
equivalente que vier a ser criado ou que já estará a funcionar...
– Os exemplos apresentados para caracterizar a Identidade de um Povo na Literatura Popular –
apresentados por Manuel Viegas Guerreiro, nessa obra, foram:
- O Conto -- A Anedota - - A Lenda - - O Romance - - As Décimas - - As Cantigas - - As
Adivinhas - - Os Provérbios - - Os Ensalmos - - A Oração.
À medida que fomos desenvolvendo o trabalho e fomos pesquisando e encontrando exemplos
que pudessem ilustrar aquilo que nos propusemos no título:
ATRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE CUTURAL DE UM POVO
Pouco a pouco, foi-se-nos impondo uma organização diferente, de modo a que o texto a
apresentar nesta cadeira:
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico
Professor: Dr. Francisco Jacinto
No Curso:
Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural
Ministrado na:
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Almada
aparecesse de uma maneira mais lógica e fluente de modo a chegar a uma conclusão, que, como
que se impõe por si, e, segundo nos parece, dentro do espírito que norteia não só a disciplina
ministrada pelo Professor Francisco Jacinto, como também o do curso em Animação
Sociocultural.
Daí a alteração do esquema inicial que apresentámos no PLANO DE TRABALHO e
confirmámos na INTRODUÇÃO e agora passamos a explicar melhor para que todo o
desenvolvimento tenha uma sequência mais compreensível.
A proposta – sugestão da criação de um Centro de Convívio (CDI ou outro nome) que implicasse
a participação activa da população com eventuais convidados “estramgeiros”, abrangendo os
diversos níveis etários e onde os “velhos” teriam o seu lugar de “sábios” ou de guardiões dos
saberes acumulados, e a FALA , a oralidade, como ALMA de um POVO, tivesse o papel
principal, visto por mim, a esta distância, e como não mertolense, e como trabalho académico,
creio que seria, mais uma maneira interessante de levar TODA A POPULAÇÃO a sentir-se
envolvida no conjunto desse “fabuloso” projecto que, desde 1979, com o Campo Arqueológico
de Mértola, tem desenvolvido uma notável série de realizações que pode pôr Mértola, de novo,
na encruzilhada das vias do futuro.
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1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de Colonização...
Ver Delgado, Cláudio Torres, Mattoso (História) e Rabaça (Linguística) - “ O que perturba e
alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.” –
Epicteto
ANEXO 3 – MARCAS DE COLONIZAÇÃO
Delgado:
In - Estudos Linguísticos – o Idioma Português – Manuel Joaquim Delgado – Editorial Império,
L.da Lisboa 1968, p. 111
Sobre o nome ALENTEJO de marca colonialista e outros nomes...
1 Na citada obra (Religiões da Lusitânia, Cap. I - Época Lusitano-Romana, vol. III) de J. L. de
Vasconcelos da pág. 138, diz:
«Entre-Tejo-e-Guadiana ou Entre-Tejo-e-Odiana é designação geográfica usada pelos nossos
antigos AA. e corresponde pouco mais ou menos à do Alentejo no sentido primitivo da expressão
(=além-Tejo). Os antigos costumavam designar muito naturalmente as zonas geográficas pelos
nomes dos rios».
Ver, sobre o mesmo tema, NOTA 2, p. 104 – 2 Região Entre-Tejo-e-Guadiana.
Idem p. 106
«Alguns termos que designam cargos, postos ou profissões, etc., que caíram em desuso mas que
sobrevivem ainda em topónimos:
Adaíl, Aguazil, alvazir ou alvazil, alcaide) almoxarife, alvanel, alvenel ou alvanéu, alfageme,
almocadém, almotacé, etc.
Na toponímia: Casas Novas do Adaíl, freg.a de Vila Nova de Milfontes. conc. de Odemira,
Horta dos Alvazíis, na freg.a de Selmes, conc. de Vidigueira, Vale de Alcaide de Cima e Vale de
Alcaide de Baixo, na freg.a de Quintos, conc. de Beja, Vale de Alcaide, na freg.a e conc. de
Ourique, Almoxarifes, na freg.a e conc. de Barrancos, Barranco dos Alcaides, na freg.a de
Corte do Pinto, conc. de Mértola.»
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Mattoso – ver Arquivo de Beja I jornadas:
Ver - «ALENTEJO NÃO TEM SOMBRA SENÃO A QUE VEM NO CÉU» - José Mattoso, in
Revista Arquivo de Beja, Actas das II Jornadas, ALENTEJO E OS OUTROS MUNDOS, vol.s
VII e VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 –30.
Começa assim: «Toda a gente sabe que uma das características mais salientes do Alentejo é o
seu isolamento.» p. 15
Mais à frente ao tentar descrever a situação do Alentejo antes do século XIII: «As condições
geográficas favoreciam portanto, estas estruturas de produção e de circulação...»
Descreve depois as grandes vias de circulação... «...a importância do eixo económico do
Guadiana desde a antiguidade até ao século XIII»... e «...a sua íntima ligação com o
Mediterrâneo... e não com o Atlântico...» e... «Beja era um grande centro do GARB
muçulmano... em relação... com outros mundos de que o Mediterrâneo era a grande
encruzilhada.»
«O que se passou para que Beja (o Alentejo - Mértola...) entre o século XIII e o século XX...»
para, de um grande centro, passar a um dos níveis mais afastados deles (dos grandes circuitos
internacionais)...
As respostas são muitas e complexas... não se deve facilitar nem generalizar... Vale a pena ler
todo o trabalho deste Mestre, muito cuidado e abordando as críticas violentas com uma
delicadeza que é apanágio deste grande Histotiador e Pensador... mas, conseguimos ler que,
afinal, as grandes vias de circulação, terrestres e fluviais, terão sido mais para levar e exportar as
"riquezas" do Alentejo do que para contribuir para o seu progresso e desenvolvimento... e
portanto com a marca “ferrete” de região “colonizada” explorada em proveito de outros...
FIM DE CITAÇÃO. fica o apelo à leitura do Artigo completo que podemos ter interpretado
mal!!!
Ver em Anexo 1.1 (Não o artigo completo mas a chamada para ele.)
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Rabaça Gaspar:
Ver «INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / DESENVOLVIMENTO (IAC/D)» José
Rabaça Gaspar, in Revista ARQUIVO DE BEJA, ACTAS DAS I JORNADAS - CULTURA E
SOCIEDADE NO BAIXO ALENTEJO, vol. II / III, série III, Dezembro de 1996, pp. 237 - 248.
1 -«... Afinal, aquilo que o Mestre em História mostrava com tantos dados e pormenores... podia
LER-SE, através de uma análise linguística, na própria palavra ALENTEJO...
O determinante ALÉM, mostra que o sujeito está distante do "objecto". Enquanto o "EU"
implica "AQUI" o "ALÉM" indica que foram estranhos que deram NOME ao ALÉM-TEJO... e
como o nome indica relação ou apropriação de algo... parece que comparando com a História,
este "dar NOME"... tem significado, exploração... colonização... isolamento... apropriação
indevida do que pertence a um Povo e a uma Região... ALENTEJO tem a marca de um NOME
imposto pelos “Senhores” - conquistadores que vieram do norte... e nem sempre foi assim.»
Ver também - Rabaça Gaspar – in Actas I Congresso sobre o Alentejo – Out 1985. e a citação
mais completa em ANEXOS, 1.1
Vale a pena repetir aqui Cláudio Torres – in Palavras Prévias de «MANTAS Tradicionais do
Baixo Alentejo», já citado anteriormente em ponto 1 – Ver também Anexos 1.
Mértola “integrada” no BAIXO ALENTEJO – no ALENTEJO e no PAÍS
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ALÉM – Tejo, como Além – Garbe e como Além – Mar... é possivelmente a região que ficou
com uma marca mais profunda de NOME imposto por gente de fora... Todos podem dizer,
correctamente: «Nós somos daqui - aqui... Os Alentejanos, dizem: Somos daqui - além!!!»
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2. - Mértola – os Nomes
2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina
Quando se fala de MÈRTOLA evocam-se, quase sempre, para simplificar, as TRÊS formas
predominantes pela qual esta povoação ficou conhecida na história, evocando as épocas e os seus
presumíveis fundadores e conquistadores:
MYRTILIS – para evocar a possível fundação fenícia e ocupação romana da qual há numerosos
vestígios... e portanto desde as origens (ca. De 1000 anos aC – à invasão árabe –
715?...)
MĀRTULA – a marcar a ocupação árabe, desde 711 – Tarik desembarca em Gilbraltar e vence
Rodrigo, o rei visigodo, em Guadalete e em 712 toma Leão e as Astúrias,
enquanto Murça ocupa já a Galiza – de mais de 5 séculos... ate 1538.
MÉRTOLA - 1238 – D. Sancho I – integrada no Reino de Portugal... - 1250 - foral por D.
Afonso III – confirmado em 1287 por D. Dinis e reformado em 1512 por D.
Manuel I
- Entretanto pudemos observar, muitas outras formas de grafar o nome, a que talvez se deva dar
alguma atenção – podendo ver um leque alargado em ANEXOS 2 – com informação recolhida
em vários textos e tendo recorrida ainda, na WEB, a Carlos Leite Ribeiro – in
cidadevirtual/mertola, em trabalhos de António Marques de Faria e muitas citações de Mantas.
- Podemos também ver outros NOMES e PALAVRAS relacionadas com MÉRTOLA, como:
MIRTILO – MIRTO – MURTA... ver em ANEXOS 2.
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2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina
«Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram
uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de
Mercúrio.»
in Serpínia, A Princesa Feliz
-
In http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpi.htm e / ou
ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), de João Cabral, Serpa 1971, pp. 165- 167
Embora partindo de uma Lenda, podemos presumir então que MÉRTOLA terá sido fundada
pelos fenícios, que possivelmente já por aqui se dedicavam ao comércio..
Outras fontes apresentam-nos MÉRTOLA « MYRTILIS ou NOVA TIRO - nome dado,
provavelmente, pelos Fenícios que aqui se homiziaram quando Alexandre Magno conquistou
TIRO... (333-332 a. C.)» - ver in Alentejo virtual e outras fontes.
Quem será então este personagem da mitologia greco-latina, MYRTILIS, que vai dar nome a
esta cidade, ainda por cima, fundada pelos fenícios que fugiam aos romanos... e chamam-lhe
MIRTILIS para ser NOVA TIRO que tinha sido conquistada por Alexandre!!?
Que relação entre NOVA TIRO e MÉRTOLA?
E porquê dar o nome de MIRTILIS em honra da Deusa MIRTO, uma Deusa que não
encontrámos em nenhum elenco destas divindades, mas sabemos que Vénus / Afrodite tem o
MIRTO como sua árvore sagrada...
Mas o MIRTILIS que encontrámos, aparece como cocheiro do rei ENUMÃO ou ENUMAU, pai
da princesa HIPODAMIA, que vai permitir que PÉLOPS, ganhe a corrida que o rei propunha aos
pretendentes da filha, contra a sua parelha mágica... e acaba por ser assassinado por PÉLOPS?!
Problemas levantados pelas brumas da história e reinventadas e efabuladas pelas lendas, aspectos
que iremos desenvolver em 3.1 AS LENDAS, porque, apesar de LENDAS, talvez valha a pena
dar-lhes alguma atenção, porque como diz «Ovídio, o poeta latino, que escreveu durante o
reinado de Augusto. – Ovídeo é um autêntico compêndio de mitologia. ... “Não importa serem
absurdos (os mitos); apresentar-vo-los-ei com tão belos artifícios que haveis de gostar”.» e
possivelmente aprender alguma coisa...
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2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...
Para conhecermos uma determinada terra ou região, para além de tentarmos saber o NOME e o
que possivelmente quer dizer, é, parece-nos, importante fazer um levantamento de toda uma
toponímia, que, para além de servir de referência às pessoas que aí habitam, os nomes, em si,
uns, possivelmente muito antigos, dos quais se terá perdido o significado e outros mais recentes,
e por vezes demasiado oportunistas, têm com certeza muito a revelar das características desse
povo que se revelou e continua a revelar através da linguagem...
Deixamos aqui só uns breves apontamentos, remetendo o levantamento que foi feito para
ANEXOS 2.2 – na COLECTÂNEA DE TEXTOS.
O nome da 9 freguesias – o que significam? Quem os deu? De que época são?:
Mértola - Concelho do Distrito e Diocese de Beja, comarca de M. - O Concelho (1279 km2)
Tem nove freguesias:
1. Alcaria Ruiva (orago - Nossa Senhora da Conceição),
2. Corte do Pinto (Nossa Senhora da Conceição),
3. Espírito Santo (Espírito Santo),
4. Mértola (Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas),
5. Santana de Cambas (Sta. Ana),
6. São João dos Caldeireiros (S. João Baptista),
7. São Miguel do Pinheiro (S. Miguel),
8. São Pedro de Solis (S. Pedro Apóstolo),
9. São Sebastião dos Carros (S. Sebastião).
Características gerais:
Com uma população total residente de 9805 habitantes. (1991).
Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro.
Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite.
Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e
olaria.
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Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no
último fim-de-semana de Setembro.
Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha,
beijinhos de Mértola e pão alentejano.
O que nos pode ensinar cada um destes elementos para tentarmos conhecer a identidade de uma região.
Para além destes elementos, tentámos um levantamento dos principais lugares de cada freguesia, um
trabalho que como já dissemos só será possível completar por alguém ou por grupos de trabalho que
estejam bem inseridos no local e, por conseguinte, aqui deixamos, só, como pista de estudo a desenvolver.
Freguesia
Orago
Alcaria Ruiva
Nossa Senhora da
Conceição
Corte do Pinto
Nossa Senhora da
Conceição
Espírito Santo
Espírito Santo
Mértola
Nossa Senhora de
Entre-as-Vinhas
Santana de
Cambas
Sta. Ana
São João dos
Caldeireiros
S. João Baptista
São Miguel do
Pinheiro
S. Miguel
São Pedro de
Solis
S. Pedro Apóstolo
São Sebastião dos S. Sebastião
Carros
Total
Total de Exemplos escolhidos
Nomes no
levantamento
51 Amendoeira /várias
Atafona
Boisões
59 Alfadega
Barranco dos Alcaides
Chança
Ilha
28 Álamo
Bramafão
Roncão (vários)
85 Altura dos Coitos
Achada
Cachopo
18 Picoitos
Serralhas
Moreanes
17 Alvares
Martinhanes
Tacões
30 Castanhos
Espragosa
Milhalvo
17 Bicada
Giralheira
Monte de Negas
12 Belo
Boisões
Papa Leite.../inho
317
História ou e
significado
Dominante nomes
que diremos “típicos”
Já com muitos nomes
modernizados como a
vila de Mértola
Dominante
“típicos”...
Uma “saudável”
mistura de momes
“típicos” e
“modernizados”...?
Dominante
“típicos”...
Dominante
“típicos”...
Dominante
“típicos”...
Dominante
“típicos”...
Dominante
“típicos”...
Ficamos assim, só neste capítulo, com um levantamento de 317 nomes que poderão revelar muito, tanto
da história, como das ocupações e características da região e revelam sem dúvida uma maneira de pensar
e uma mentalidade...
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2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...
É um capítulo que, necessariamente, fica muito incompleto e se apresenta só como “amostra”.
Esperávamos encontrar uma série de nomes que nos levassem à revelação da quantidade de
povos e gentes que passaram por esta “encruzilhada”, mas nem a fonte a que recorremos, nem os
conhecimentos que temos sobre o assunto nos permitem tirar conclusões...
Este é um estudo que nos escapa e normalmente é apresentado como diversão em vez de tentar
perceber como é que a evolução da mentalidade das Pessoas vai ficando registada nos NOMES...
e falta um estudo a partir de um levantamento das ALCUNHAS, para perceber, até que ponto se
impõem os NOMES ou MÁ NOMES aos APELIDOS ditos de REGISTO... para definir a
mentalidade e evolução de um POVO...
Além do NOME - PALMA - 113 - QUE SE DESTACA DE TODOS OS OUTROS e de haver
muitos nomes que consideramos PRÓPRIOS como AFONSO... JOSÉ... JOÃO... aparecerem
com APELIDOS DE FAMÍLIA... salientamos o APELIDO - LAMPREIA pela relação com um
peixe que tem imagem de marca na região, ainda na actualidade, início do século XXI.
NOMES MAIS REPETIDOS:
Acima dos 50 - PALMA - COSTA - MARTINS - PEREIRA - SANTOS - SILVA
Próximos dos 50 - GUERREIRO - RAMOS - RAPOSO - RODRIGUES - ROSA - TEIXEIRA
Em jeito de brincadeira, como estes temas costumam ser apresentados, imaginemos uma sessão
em que apresentamos uma REGIÃO onde há:
- 12 ALHOS; - 1 ANSEITEIRO; - 8 BAIOAS; - 11 BARÕES; - 25 BENTOS; - 14 BRANCOS;
- 17 CANDEIAS; - 1 CANGALHINHAS; - 1 CARANGUEJO; - 3 CARRASCOS; - 16
CAVACOS; - 8 COELHOS; - 11 CONDUTOS; - 17 CORREIA; - 61 COSTA; - 22 CRUZ; - 29
DIAS; - 38 FERNANBDES; - 47 GUERREIRO; - 14 HORTA; - 15 JESUS; - 10 LAMPREIA; 16 LOPES; - 86 MARTINS; - 10 MATIAS; - 37 MESTRE; - 113 PALMA; - 70 PEREIRA; - 10
PIRES; - 5 ROMANA; - 3 ROMÃO; - 12 RAMOS; - 42 RAPOSO; - 19 REIS; - 41
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RODRIGUES; - 4 ROLHA; - 42 ROSA; - 7 RUAS; - 7 RUIVO; - 56 SANTOS; - 52 SILVA; 16 VALENTE; - 12 VARGAS; e - 1 VIRIATO -
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2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado...
ALCUNHAS – NOMES NÃO DE REGISTO mas pelo qual as pessoas se conhecem...
Embora se verifique com bastante facilidade que muitos dos APELIDOS ou NOMES de
FAMÍLIA derivaram possivelmente de antigas ALCUNHAS devido à profissão e outros
factores que seria preciso estudar, fica ainda um MUNDO a desvendar para recolher,
investigar e estudar o significado desta quase necessidade secular de atribuir outro nome às
pessoas que não o de registo...
Não sabemos o que se passa em Mértola... mas é importante saber...
Como dissemos sobre o trabalho em geral, este capítulo, em especial, pela delicadeza e
melindre que muitos nomes podem apresentar, não deve ser feito por quem não estiver
integrado no meio, ou pelo menos, nunca deve aparecer como uma intromissão ou, muito
menos, uma agressão... Trata-se de, como acontece com cada pessoa individualmente, querer
ou não querer conhecer-se a si próprio, com as qualidades e defeitos que se têm, com os
aspectos positivos e negativos que revelam o que somos.
Como pista para este estudo, ver diversos trabalhos de Francisco Martins Ramos, de quem
só consultámos:
ALCUNHAS ALENTEJANAS – Estudo Etnográfico, Edição da Associação d Defesa dos
Interesses de Monsaraz (ADIM), Monsaraz, Dezembro de 1990;
mas temos conhecimento de, pelo menos, mais duas obras, tendo sabido já em 2003 de um
TRATADO das ALCUNHAS Alentejanas, da autoria do Dr. Francisco Ramos – Carlos
Alberto da Silva, Editora Colibri., 2003.
Ver ANEXO 2.4 - correspondente em COLECTÂNEA
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2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...
Neste Capítulo, fomos encontrar, no Parque Natural do Vale do Guadiana, pelo menos duas
obras fundamentais, pelo que verificamos que já não será uma sugestão nossa que vai alertar
para o estudo deste tema, nem era esse o nosso propósito.
Trata-se de um trabalho notável. É preciso descobrir entretanto como é que este trabalho vai
fazer parte do quotidiano das pessoas como afirmação da sua cultura.
Todos nós temos assistido um pouco a um fenómeno estranho, que tem acontecido durante
algumas décadas e caricaturado naquela anedota do ancinho: o filho sai de ao pé dos pais para ir
estudar, e como já sabe muito, quando volta a casa e vai ao campo com o pai, já não sabe como
se chama aquela alfaia com dentes para juntar a palha e as folhas, a não ser quando o pisa e leva
com ele na cara. À medida que as pessoas “vão saindo” para saberem mais, aquilo que sabiam
em crianças, quando corriam livres pelos campos atrás dos pássaros e dos animais, depois de
alguns anos de estudo, já não sabem!?? Como se chama aquela árvore? Como se chama aquela
flor? Como se chama aquela ave? NADA!!! Será que ficam ao menos a saber o nome científico?
Dá-se uma total descaracterização cultural ou o que é que se passa?
É importante tomar consciência que o Universo da Linguagem de tudo o que nos rodeia, constrói
e define o nosso Universo Cultural – caracteriza o Universo Cultural de uma região. Não
estamos a sugerir que as pessoas não devem estudar e saber mais. Estamos a dizer exactamente o
contrário. O que não devem, é esquecer aquilo que antes aprenderam, nem rejeitá-lo, antes
assumi-lo e desenvolvê-lo ou corrigi-lo, se for o caso.
O nosso contributo neste capítulo é apreciar o trabalho realizado que fomos encontrar, como todo
o restante das várias entidades de Mértola, e sugerir que se descubram os meios mais eficientes e
até lúdicos para que estes conhecimentos não se percam e junto com os nomes dos livros, se
continuem a saber os nomes que os antepassados da região nos legaram com o seu significante,
significado e talvez com o seu simbolismo...
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PEIXES
1. PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Leonor Rogado (Texto), Carlos Carrapato
(fotografia), Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2001
Com um Glossário no final que, segundo pensámos nos ia facilitar o trabalho, encontrando a lista
dos PEIXES, com o seu nome científico e nome popular por que são conhecidos, mas que afinal
contém, o que seria mais importante para os autores e organizadores, a lista das palavras que
ofereceriam mais dificuldade aos possíveis leitores.
Entretanto, basta recorrer ao índice para termos o levantamento do nome dos PEIXES, segundo
as várias espécies e até menciona os secundários...
Como aparece no ANEXO correspondente, além desta obra especificamente dedicada aos peixes
pode ainda ser complementado com os dados fornecidos por mais duas obras:
1. AS TERRAS – AS SERRAS E OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do Concelho de
Mértola, Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a
História Local 1 – Edição do Campo Arqueológico de Mértola, 1995. VER:
Página 42 - peixe: PICOIS – BOGAS – PERDELHOS – EYROZES – CAGAÇOS BORDOLOS;
Página 50 - BARBOS – EIRÓS – MUGES e alguas SOLHOS;
Página 56 - PEXES LISSAS (SAVES – LAMPREYAS – SOLHOS) (as ribeiras enumeradas
são: COBRES – TERGES – OUEYRAS – LAMPREYA e VASCAM);
Página 73 - SOLHOS – SAFIOS – MUGES – SABOGAS – PICOENS;
Página 81 – PICOIS;
Página 94 – PARDELLAS.
2. COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e
Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara
Municipal de Mértola, 1997.
Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio:
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- Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas...
Ver ANEXO 2.5 – PEIXES
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AVES
2. AVES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Ana Cristina Cardoso (texto) Carlos
Carrapato (fotografia)- Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2000.
Esta obra, além de um Glossário importante, tem ainda uma listagem das espécies citadas no
texto como FLORA e MAMÍFEROS e uma TABELA com o nome científico e o nome vulgar,
além de outras anotações importantes...
AVES - as 170 espécies que se podem encontrar no PARQUE NATURAL DO VALE DO
GUADIANA e estão agrupadas pelos principais habitates existentes dentro do Parque:
Habitat rupícola – margens e leitos de cursos de água com afloramentos rochosos...
Zonas húmidas - os pegos dos cursos de água na estação seca...
Charcas – pequenos olhos de água... Com elevada biodiversidade...
Matagal mediterrânico – em vales encaixados dos cursos de água... e vertente Norte de Alcaria
Ruiva... com estrato arbustivo bastante diversificado
Montados – com povoamento mais ou menos disperso de azinheira e sobreiro...
Sub-coberto – Abaixo das árvores... variando conforme a cultura realizada...
Matos – vastas áreas de charneca arbustiva resultado do abandono da exploração agrícola
extensiva...
Estepe cerealífera – campos de cultivo...
Pousio – Tempo durante o qual se deixa a terra em repouso – pousio...
Alqueive – Terra preparada mas não semeada como preparação para futura sementeira...?
Meio urbano – os aglomerados populacionais que datamde vários séculos a. C.
1. ordem seguida no livro – AVES DO PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA, Ana
Cristina Cardoso - Texto, Carlos Carrapato – fotografia, edição do Parque Natural do vale do
Guadiana, 2000.
2. Lista por ordem alfabética com os NOMES vulgares – 2ª coluna
Ver ANEXO 2.5 - AVES
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Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto sobre as AVES
ANEXO 2.5
– A FLORA – ÁRVORES E PLANTAS – Nomes de cerca de 3 dezenas de ÁRVORES
- MAMÍFEROS – a lista de animais que se podem ou podiam encontrar na regiaão, cerca de uma
dezena....
Ver ainda in AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do
Concelho de Mértola, Estudos e fontes para a História Local 1 - Joaquim Ferreira Boiça – Maria
de Fátima Rombouts Barros, as referências a
AVES – por exemplo cisões... - p. 121
Plantas já vimos o DARO - p. 121
ANIMAIS – por exemplo “muitas cilhas de colmeas... p. 121
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2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS...
Saudações, formas de tratamento...
Ver ANEXO 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... Saudações,
formas de tratamento... – com uma TABELA dos principais PRATOS / RECEITAS no final para
enriquecimento do vocabulário e não só...
Outro aspecto importante a desenvolver e que pode ajudar a definir a identidade de uma
população pela consagração de fórmulas sedimentadas ao longo dos tempos, mas que, mais ainda
do que todas as outras, só poderá ser levada a cabo por quem esteja perfeitamente inserido no
meio...
Como este aspecto não é realizável à distância, decidimos recorrer a outro aspecto do quotidiano
que pode ser estudado em conjunto.
COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e
Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara
Municipal de Mértola, 1997.
As receitas distribuídas pelas quatro estações é uma decisão notável e ficamos a saber, como
sugere Fernão Lopes:
«Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns,
dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e
espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta
conformidade.»
Afinal, somos, também, aquilo que comemos!
E como tão bem diz aquele “saboroso” livro paciente e “amorosamente” feito por tanta gente,
“COMER”, em português (e também em castelhano e galego), ao contrário do que acontece nas
outras línguas, vem de “cum” + “edere”. Ora “edere” já significa “comer” só por si e assim, para
as gentes da Península Ibérica, comer era já um acto social – “comer com... alguém”... e como se
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afirma no mesmo livro, «Fazer este livro sobre a gastronomia do quotidiano mertolense foi
também... um acto de generosidade, de partilha e de convívio.», e portanto, além do social e do
convívio, implica “partilha”, talvez solidariedade, amizade, fraternidade... e a distribuição das
receitas pelas estações do ano, revela, para além da culinária, a vida das pessoas com a sua
ligação à Terra, a sua inserção com os “envolventes” – o que a terra produz..., o que a terra dá...,
a sabedoria secular de saber colher, “caçar”, “pescar”, “apanhar”, conservar os vários tipos de
alimentos e condimentos... e “ao ritmo das estações”..., revelando a maneira de ser de uma região
e denunciando até, como observam os anexos finais, do médico e do arqueólogo, o “estatuto
social” de quem come o quê... e da “sabedoria” das donas de casa que sabiam substituir por
exemplo o arroz com feijão, quando não havia carne ou peixe e assim mantinham a família bem
alimentada, recorrendo também à migas e açordas para que não dissessem: “saco vazio não se
pode erguer... saco cheio não se pode dobrar...”; para não falarmos já da comida que é o centro
das festas que marcam a vida social das famílias – os baptizados, casamentos e até a morte... e
onde a “fala”, os “cumprimentos”, a diversão, os “discursos” e até os “tratos” e “negócios” se
firmavam à mesa, por vezes bem “comida” e bem regada...
Como pistas de trabalho fica-nos uma vontade de fazer um levantamento completo dos nomes
dos ingredientes, temperos e “rituais”, mas deixamos isso para alguém mais habilitado como os
que realizaram este “saboroso” livro de “aromas e sabores” ou como diz outra obra de “sabores e
saberes”.
Algumas recolhas como exemplo:
Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar:
“Deus te acrescente no alguidar
Como Deus Nosso Senhor está no altar”...
Importante é saber também como algumas padeiras conheciam “o som de pão” para reconhecer
que a massa estava “lêveda” ou não!
E depois de meter todo o pão no forno:
“Deus te acrescente,
que é para muita gente”
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E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem: «Faz-se um benzido com o sinal da
cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as saias e diz:
Cresças tu, pão
Como as saias afastadas do cu estão».
A matança do porco é outro ritual até com vários significados no decorrer do tempo... desde o
tempo dos arábes em que para eles seria proibido, até ao tempo dos cristãos novos em que seria
obrigatório como mostra pública de conversão convicta, até ao tempo em que significava casa
farta ou em que não haveria fome durante todo o ano e “entre-ajuda” entre várias famílias e a
sabedoria do tempo próprio, as luas... e das preparações a fazer... saber se as porca “ressaem”
(estão com o cio) e se é preciso capa-las... a distribuição das tarefas entre os homens e as
mulheres, “aos homens cabe matar, musgar e desmanchar...” e “do porco tudo se aproveita
menos as castanholas (unhas)” que até podem servir de amuletos.
“O fel serve para curar as chagas das patas dos animais”...
“A passarinha (baço) junta-se à cachola para engrossar o molho”
“Os lombinhos eram para o padre”.
Dos muitos termos usados podemos ainda tentar um pequeno levantamento.
As acelgas – (Beta vulgaris L. Ssp. Maritima l.)
Tingarrinhas – (Scolymus Maculatus L.)
Túberas – (Terfezia leonis tul.) Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe
de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem encontrar-se junto das raízes das
estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo.
Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio:
Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas...
Até as rãs... cobras... lagarto... cágado... ouriços servem ou serviam para petiscos, além das
cabeças de carneiro...
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Para os caçadores os passarinhos fritos metem: POMBO – TORDO – MELRO TARAMBOLA...
E o doce da primavera é o NÓGADO!
No Verão. O GASPACHO – SOPAS DE TOMATE – TOMATADA – SOPA DE
BELDROEGAS...
Encontramos ainda no final, (Santiago Macías)
O CHÍCHARO – “... vegetal.... que se consumiria cozido... e na região até há uma dezena de
anos.”
E tudo isto envolvido numa deliciosa história ... do rei que tinha três filhas... e a mais nova,
afinal a que gostava mais disse: «Eu gosto tanto do meu pai como a comida gosta do sal...» ...
como o célebre bispo de Viseu dizia da religião «Nem de mais, nem de menos... mas como o sal
na comida.» Como nós dizemos das palavras e conversas: Nem de mais, nem de menos... para
um bom convívio e comunicação sã entre as pessoas!
Ver Anexo 2.5
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3. – Outras Formas de Expressão
LENDAS
CONTOS
ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...
POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...
MODAS & GRUPOS CORAIS
PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...
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3.1 – LENDA/s
Uma estranha LENDA de SERPA – em pelo menos 3 versões - que dá pistas para as origens de
Mértola) - para dar uma explicação ao NOME – MÉRTOLA...
UMA (possível) LENDA DE MÉRTOLA
Ver ANEXO 3.1 – 1 (Voltando ao NOME e à possível fundação de MÉRTOLA)
«Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram
uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de
Mercúrio.»
in Serpínia, A Princesa Feliz - http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpa.htm e também in:
ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), - João Cabral - Edição Câmara Municipal de
Serpa” 1971 – ver Bibliografia.
Nota do autor nessa obra, o autor afirma: - «Contada também por C. Gonçalves Serpa em
“Serpínea e a Fundação de Serpa” que diz ter ido “... bebe-la a velhos documentos perdidos,
esquecidos no pó dos tempos”.»
Ver ANEXO 3.1 – 2
in - A LENDA DE SERPÍNEA - in CANCIONERO DE SERPA, Maria Rita Ortigão Pinto
Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994 - pp. 347 - 349.
Outra versão da mesma LENDA:
«No dia seguinte os construtores lançaram mãos à obra, e assim nasceu Serpe. Daqui, Cófilas
partiu para novas expedições, dominando toda a região vizinha, e fundou outras cidades a
Ocidente, atravessando o rio Ana, e encontrando-se finalmente com os Fenícios, que nos seus
navios subiam este rio até ao ponto em que vieram a fundar Mirtilis. Estabeleceu-se um tratado
de amizade, e em breve Serpínea ficava noiva do belo príncipe fenício Polípio. Porém, este teve
de partir novamente em viagem, prometendo à inconsalável Serpínea regressar depressa para o
casamento.»
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Baseada, segundo a autora, que escreve todo este livro à mão, com uma caligrafia deliciosamente
legível e com muitas ilustrações, que vale a pena admirar, em «SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO
DE SERPA» de C. Gonçalves Serpa.
Ver ANEXO 3.1 – 3
SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA – por C. Gonçalves Serpa, Composto e impresso na
Gráfica Torriense, Torres Novas, s/d – uma brochura, fotocopiada, de 32 páginas.
Finalmente e para grande surpresa nossa, alguns amigos a quem falámos destas LENDAS
fizeram-nos chegar uma cópia dessa LENDA de C. Gonçalves de Serpa, em que os dois autores
atrás citados dizem ter-se baseado.
Mesmo como LENDA que o autor diz: «Fomos bebê-la a velhos documentos perdidos,
esquecidos no pó dos arquivos.», é uma LENDA que salienta bastante as ligações entre SERPA
e MÉRTOLA desde a fundação de ambas e remete para nomes e lugares, como o rio Limosino e
o Castelo das Loendreiras, como lugares de ligação entre as dua cidades...
Ver ANEXO 3.1 - 4
SERPA ENCANTADA EM LENDAS, José Rabaça Gaspar, com versos de José Penedo de
Serpa, publicado como separata – SERPA ANTIGA – in SERPA INFORMAÇÃO, 4ª série,
Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17- no segundo andamento refere uma das três
LENDAS que tentam explicar o nome de SERPA e com as referências que esta tem sobre as
origens de MÉRTOLA:
«Chegaram barcos fenícios / que vinham comerciar. / Outra cidade nasceu / (com ligações com
o MAR...) / MIRTILIS foi o seu nome / por ser o filho de MIRTO / que o teve de MERCÚRIO / o
Deus dos comerciantes / mensageiro dos amantes.»
Ora, voltando ao NOME DE MÉRTOLA (2.1 e 2.1.1) e sabendo, como Ovídio, já atrás citado,
que LENDAS são LENDAS, mas... pode ser que tragam alguma coisa para nos encantar ou para
nos fazer pensar, a partir destas duas ou três versões da mesma LENDA de SERPÍNEA, que se
baseiam numa outra versão mais antiga de C. Gonçalves Serpa, que diz ter ido “... bebe-la a
velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos tempos.”, partimos à procura de uma
explicação para a seguinte passagem «... Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a
que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.»
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Quem seria esse MYRTILIS que levou os FENÍCIOS a escolherem esse nome para uma nova
cidade que queriam construir?
O que teria levado os Fenícios, que tinham a sua religião e a sua cultura, a recorrerem à religião e
cultura greco-latina para “darem nome” a uma nova cidade que queriam como “Nova Tiro”?
Após algumas penosas pesquisas, conseguimos enfim descobrir que aparecia, na mitologia
Greco-Latina e não na mitologia Fenícia, um personagem chamado MYRTILIS.
Aparece-nos como cocheiro do rei ENUMAU ou ENUMÃO, rei da ÉLIDA, pai da princesa
HIPODAMIA ou HIPODÂMIA, e acontece que esse cocheiro do rei, vai trair o seu rei em favor
de PÉLOPS ou PÉLOPE a fim de este poder vencer a tremenda corrida de quadrigas, que era
proposta aos pretendentes, como condição para conseguirem a mão da princesa e caso
perdessem, pagariam com a morte.
Mas os cavalos do rei eram superiores a quaiquer cavalos dos mortais pois tinham sido oferta de
Ares (Marte o Deus da guerra), e assim muitos valentes perderam a vida. Pélops, que saberia do
segredo, decidiu correr, pois a sua parelha tinha sido oferta de Poseidon – Neptuno, o Deus dos
mares, mas o certo é que a princesa leva Myrtilis, o cocheiro a trair o pai para acabar de vez com
aquela mortandade e MYRTILIS vai pagar a traição com a morte e foi colocado, no céu, na
constelação de Cocheiro; mas morre às mãos de Pélops a quem tinha ajudado com a sua traição e
antes de morrer roga a maldição ao assassino e seus descendentes que afinal já estava
amaldiçoado. PÉLOPS era irmão de NÍOBE, a princesa que teve tudo para ser feliz, mas ambos
eram filhos de TÂNTALO, o que ousou desafiar os Deuses do Olimpo, mandando servir, como
majar, o próprio filho (Pélops) morto e cozinhado num grande caldeirão. Tântalo vai ter o
tremendo suplício de ter tudo perto e não lhe poder chegar... Pélops, depois de regressar à vida,
por intervenção condoída dos Deuses ofendidos, vai ser o assassino de Myrtilis, o cocheiro que
traiu o seu rei para o favorecer... e Níobe, a orgulhosa mãe dos sete jovens mais valentes e
destemidos e das sete jovens mais belas entre as belas, vai pagar pelo desafio que faz a Leto que
só tinha tido dois filhos, Apolo e Artemisa (Diana) e assiste à morte dos sete rapazes e das sete
belas, varados pelas setas certeiras dos dois implacáveis filhos de Letona.
Assim de busca em busca, e para descobrir como é que, possivelmente, MÉRTOLA está ligada a
todos estes NOMES e vatícinios que vêm do fundo dos tempos, fomos recolher uma série de
elementos sobre a mitologia Greco Latina e um breve apontamento sobre a mitologia Fenícia
(que damos em 3.1.1) e fomos encontrar, in www.joraga.net/mertola os caminhos que apontam
no sentido de MÉRTOLA estar ligada, por intervenção de POLÍPIO, o fenício que se veio
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apaixonar por SERPÍNEA, a princesa, que veio com seu pai Cófilas, rei dos Túrdulos fundar em
SERPA a nova capital da TURDETÂNIA e faz alinaça com os fenícios fugidos de TIRO,
conquistada por Alexandre Magno, que foi discípulo de Aristóteles, o Rei da Macedónia,
ambicioso conquistador, que «em sete anos consegue reunir num único império todos os povos
do Próximo Oriente até ao Ganges na Índia»e decidem fundar MÉRTOLA como NOVA TIRO.
Ora, contam as LENDAS que este príncipe fenício, Polipo, à semelhança de Alexandre, fora
educado e instruído por filósofos e sábios, que tinham sido escravizados pelos romanos
conquistadores, mas difundiam a cultura dominante da bacia do Mediterrânio, naquela época,
mesmo quando eram mal vistos pelos Césares e Imperadores, que não suportavam o seu livre
pensamento e a maneira como cativavam discípulos das mais diversas regiões... Estaríamos no
ano 332 a. C. – da conquista de TIRO por Alexandre Magno (rei da Macedónia, o grande
onquistador, também ele educado por Aristóteles). Aliás, tanto as cidades fenícias, como
Penísula Ibérica vêm a ficar sob o domínio romano por volta de um século a. C., com Augusto o
1º imperador de Roma.
Toda esta mistura de culturas vêm cruzar-se na grande encruzilhada que era MÉRTOLA, desde,
possivelmente um milénio a. C. e assim julgamos que MÉRTOLA ficou e está ligada a:
MYRTILIS – o cocheiro do rei ENUMÂO pai da princesa HIPODAMIA...
PÉLOPS (Pélope) – que acaba por assassinar o seu adjuvante na conquista de Hipodamia...
MIRTO – Uma Deusa que não existe na Mitologia Greco-Latina, mãe de Myrtilis que o teve de
Mercúrio (Hermes)
VÉNUS – AFRODITE - Ora a Deusa que tem o MIRTO como árvore consagrada é VÉNUS
(Afrodite) a Deusa do amor, nascida da cabeça de Zeus ou da espuma do Mar...;
MERCÚRIO – HERMES - o Deus mensageiro dos Deuses com asas nos pés... e Deus dos
Rebanhos, dos Pastores, dos Comerciantes e dos Ladrões (nos tempos em que o gado
era o padrão da riqueza)...
TÂNTALO – o pai de PÉLOPS, que afronta os favores dos Deuses mandando-lhes servir o seu
filho como majar e é precipitado no Hades, num jardim de delícias onde não pode
chegar a nada...
NÍOBE – a irmã de Pélops, também filha digna do orgulho e insolência do seu pai que vai ser
transformada em PEDRA húmida donde correm dois rios de lágrimas...
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Por tudo isto, transcrevemos a possível LENDA DE MÉRTOLA – de MYRTILIS em honra da
deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO, de Josephus – o Esturjão in
www.joraga.net/mertola :
Ver ANEXO 3.1 – 4
Em ANEXO 3.1 – 5 Aparece ainda a LENDA – A TESOURINHA DA MOURA, por Fernanda
Frazão a pedir a continuação da recolha de outras LENDAS que corram por
MÉRTOLA...
E damos em separado 3.1.1 – elementos sobre a mitologia greco romana, com dados mais
alargados, que permitirão uma possível viagem às mais remotas raízes até Homero ou
alguns milénios a. C. e talvez nos possam ajudar a “ler” em profundidade as “marcas”
que podem caracterizar a verdadeira identidade do povo desta região que já foi
“encruzilhada de grandes rotas terrestres e marítimas”, “...foi a mais poderosa
fortaleza de todo o Mediterrâneo ibérico”; mergulhou em séculos de isolamento e
esquecimento, e parece agora ressurgir, para se colocar, de novo, como centro
irradiante de Cultura. Talvez, quem sabe, possam permitir o aparecimento dos novos
Homeros e Ovídios do terceiro milénio?!...
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3.1.1 – Mitologia Greco-Latina
-
“...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO”...
Para nos documentarmos sobre MYRTILIS & MIRTO e a possível ligação com MÉRTOLA e a
possível ligação de MÉRTOLA com as fontes mais ricas e inspiradas e mais antigas da história
da humanidade recorremos a:
A MITOLOGIA, Edith HAMILTON, Publicações Dom Quixote, 2ª ed. Lisboa, 1979, para ver:
AFRODITE (VÉNUS) – o MIRTO ERA A SUA ÁRVORE... pp. 39 – 41 – Mãe de Mirtilis? Ou
filho de Mirto e Mercúrio... (Vide Lenda de Serpínea)
HERMES (MERCÚRIO) filho de Zeus e Maia... pp. 41 e 42
TÂNTALO e NÍOBE... p. 358
PÉLOPE ou PÉLOPS... 359
A princesa HIPODAMIA filha do rei (ENOMÃO) que propunha aos pretendentes uma corrida...
PÉLOPE E MÍRTILO o cocheiro da quadriga do pai... p. 360
NÍOBE (esposa de ANFIÃO rei de Tebas o músico...) - a maldição da Filha de TÂNTALO que
desafiou LETO a mãe dos gémeos APOLO e ARTMISA (Diana) p 361
Vimos também in
MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. HOPE MONCRIEFF, Editorial Estampa /
Círculo de Leitores, Lisboa, 1992
AFRODITE – VÉNUS - a Deusa do amor que brotou do mar... p. 9
HERMES – MERCÚRIO – pai de Myrtilis – p. 12
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ARES – MARTE – que ofereceu os cavalos a ENOMÃO, pai da princesa Hipodamia... p. 12
POSEIDON – NEPTUNO – que ofereceu a quadriga a Pélope ou Pélops... p. 13
Recorremos ainda a algumas PÁGINAS da internet, para alargar o leque de informações e ao
mesmo tempo fornecer elementos aos que se propuserem e tiverem melhores condições de
desenvolver este tema, que talvez possa contribuir para uma compreensão melhor de Mértola e
região envolvente.
Consultámos neste sentido:
http://mithos.cys.com.br/
http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm
Talvez a estrela da Constelação de Cocheiro – MYRTILIS - que brilha no céu estrelado de
Mértola, sirva de inspiração às novas gerações que despertam para a vida. Embora sendo
LENDAS e até “possam ser absurdas” talvez apareçam os que “... as saibam contar de tal
maneira que vão encantar aqueles que as ouvirem...”
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3.2 – CONTO/s
No ANEXO 3.2 – correspondente aos CONTOS, na impossibilidade de os recolher directamente
no terreno, recorremos, como aliás a respeito dos outros temas, aos contos recolhidos pelo ilustre
mestre José Leite de Vasconcellos. É verdade que não nos despertaram grande entusiasmo, mas
podem servir de indicação de que há, como em todas as terras, que viveram num isolamento
talvez imerecido, um filão riquíssimo a explorar de brilhantes “Conatadores de estórias...”
CONTO 1 – A COMADRE MORTE
In CONTOS POPUARES PORTUGUESES - inéditos – estudo Coordenação e
Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. I - Centro de
Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1984, pp. 239 –
240
n.º 157
157 [A COMADRE MORTE]
Conclusão - E por isso o Pouco-Juízo e a Pouca-Vergonha não morre. Esses nã morrem. Existem
sempre.
[José Raposo, 77 anos de idade, alfaiate, natural de Facões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de
Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976].
CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA
In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação
– Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho
Vol. II Centro de Estudos
Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 409 – 410
620 [MAIS FACILIDADE DE ESCOLHA]
resumo, conclusão - - Olha, filha, e, se tu te portares mal, se não tomares juízo, ainda melhor
escapas: tens aonde escolhas.
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CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR
In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda
da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 418 – 421 Nº 633
633
[AS PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR]
Final do conto:
- Ah, o nosso divertimento ora, Senhor Professor!
- Não, diga lá!
- Ora, olhe, o nosso divertimento. Olhe, o mê pai dá pêdos e a gente ri-se.
Diz ele:
- Sim, também está uma música muito boa, pois nã podem adquirir outra, „tá certo, sim, senhor.
Ficou, antão, coisa concluída perante os três alunos.
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros,
c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976.
Vid. o número seguinte].
CONTO 4 – BOA RESPOSTA
In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação
– Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho
Vol. II Centro de Estudos
Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 422 - 423 - n.º
634
[BOA RESPOSTA!]
Trata-se de testar um aluno muito inteligente que tinha sempre respostas para tudo e
Acaba assim:
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- O que é que acontece, quando o senhor vai a qualquer parte com a sua senhora? Qual é o
sistema do despedimento, diz ela?
O Senhor Profesor disse:
- Pois, a minha senhora dá-me um beijo no rosto.
Responde-lhe o aluno assim:
- Atão, pois, por qué que a sua senhora não lhe dá um bejo no cu, pois s'é do mesmo corpo?
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros,
c. de Mértola, d. de Beja, de 61 anos de idade. Colector: Adélia Grade, professora primâria. Ano
de recolha: 1976. Vid. o número anterior].
Consideramos uma pena o facto de termos encontrado só estes exemplos. As recolhas referem
todas a data de 1976, e a colectora e a professora Adélia Grade. Honra lhe seja feita. Se, como
têm recomendado os grandes mestres, os professores, ao longo dos tempos tivessem incentivado
os alunos a recolher junto dos avós e parentes estes e outros saborosos contos, poderíamos ter e
acreditamos que há um número suficiente para uma ANTOLOGIA de CONTADORES do
Concelho de Mértola.
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3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem:
-
Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...
ANEDOTAS
As anedotas que correm sobre alentejanos são às centenas, e mais ou menos bastante conhecidas.
(Ver AlentejANEDOTAS in www.joraga.net ).
De entre elas fomos encontrar duas directamente relacionadas com MÉRTOLA e nos anexos
atrevemo-nos a acerscentar mais algumas que nos surgiram...
O Alentejano e com um RÁDIO portátil, que tem AM e FM:
- Atão cumpadre, o sê rádio tem aí umas letrinhas: AM e FM... Pra que raio serve essa coisa?...
- Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... FM é Fora de Mértola!!!...???
(Isto parece mesmo ser verdade, porque uns amigos, que têm passado em Mértola, e vão no seu
belo carro, ouvindo uma das estações de música, daquelas que se ouvem em todo o território
nacional, começam a ter ruídos esquisitos, logo que entram nas curvas, mesmo antes de se ver
Mértola e depois de atravessarem a vila, só voltam a poder ouvir, quase no cimo da serra, já
quase à vista do Algarve!!!)
O Alentejano e com um RELÓGIO, que tem AM e PM...
- Atão p‟ra qui‟é que serve?...
- Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... PM é PRA Fora de
Mértola!!!...???
Pistas para um ESQUEMA e, entre OUTROS, do modo como se podem organizar e LER as
ANEDOTAS
(é uma modesta, respeitável e discutível opinião... resumo do que é apresento em
www.joraga.net - no Espaço das AlentejANEDOTAS)
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O QUE SE PODE ESTUDAR A PARTIR DAS ANEDOTAS?
Dada a presença contante das interrelações, tanto quanto aos temas como quanto aos
personagens e características implicados em cada ANEDOTA, como ainda quanto à
oportunidade de a contar, (... a propósito, lembras-te daquela...), qualquer ESQUEMA ou
ORGANIZAÇÃO, se torna aleatória e daí esta divsão ser, já em si, uma perfeita ANEDOTA...
como qualquer outra...
Seguindo a sugestão de Arnaldo Saraiva (ver nas Pistas para uma Bibliografia) citado por A.
Machado Guerreiro in LIVRO DE ANEDOTAS, Edições Colibri, Lisboa, Maio de 1995, p. 12:
«... a anedota pode dar um bom contributo para o estudo de uma comunidade - suas manias e
fobias, seus hábitos sociais, seus desejos e recalcamentos, seus heróis e suas vítimas, sua visão
do mundo e do destino».
Uma ANEDOTA pode servir, também, para um excelente treino da oralidade...
Tal como no CONTO, a Estrutura com suas: Sequências... núcleos... indícios... informantes...,
enfim estudar a linguagem como marca de uma identidade Cultural...
Podem-se contar ANEDOTAS das ANEDOTAS e das AlentejANEDOTAS...
ANEDOTA/s para mostrar o estilo de "regatinhar", “aciganado”, sem ofensa para os ciganos...
... para mostrar a ligação à Terra...
...para ver a lhaneza e simplicidade...
... responder aos Lisboetas, como ini/a/migos de estimação...
... a esperteza saloia...
... a lei do menor esforço...
Talvez, como reflexão principal, é dar conta que neste MUNDO DAS ANEDOTAS, afinal se
passa o mesmo que no MUNDO REAL - a LINGUAGEM e os VALORES das PESSOAS de
REGIÕES diferentes são, mesmo DIFERENTES...
A respeito das Outras formas de expressão como: – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas –
Cantilenas...
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não nos foi possível recolher, pelos motivos que já foram apresentados e só podem ser recolhidos
e estudados por alguém que esteja mesmo ligado ao meio.
Ver ANEXO correspondente: ANX 3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem
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3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...
Este capítulo, em que pensavamos ter mais dificuldade de apresentar exemplos, tornou-se, afinal,
um filão tão abundante que tivemos dificuldade em organizá-lo e pode, só por si, servir de base
para uma RECOLHA separada com os estudos e divulgação adequados.
No final, após laboriosas e penosas buscas viemos a encontrar em Mértola uma recolha feita por
um artista natural e residente e amante da sua terra: Mário Elias.
SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE
MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.
Verificamos que muitas das suas recolhas têm as mesmas fontes que as nossas, especialmente M
J Delgado e Leite de Vasconcelos, mas Elias, tanto ele próprio como conviva de muitos poetas
populares, contribui com muitos elementos a que nós não podemos ter acsso, na linha do que
assumimos desde o início: todo este trabalho deve e tem de ser feito por alguém muito ligado à
terra, que se estuda. A nós, cabe-nos dar também algum contributo e proporcionar uma visão
mais distanciada que é a vantegem de quem está de fora e pode ver as coisas de maneira
diferente e assim enriquecer este aspecto.
ASPECTOS MAIS RELEVANTES e as FONTES E DE CADA GRUPO de QUADRAS,
CANTIGAS DÉCIMAS ORAÇÕES e... recolhidas:
Ponto inicial. A PSICOLOGIA (ver ANX 3.4 – 12)
In SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE
MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.:
A PSICOLOGIA de um Povo, a sua espontaneidade e singualridade pode estudar-se “nas suas
manifestações espontâneas... as vivências populares... nas mais diversas circunstância...”
Tudo isto e muito mais podemos encontrar na obra citada de Mário Elias, que nos fornece ainda
o nome de colaboradores e poetas populares e cita António Louro Carrilho, no prefácio de
“TERRA POUSIA” de António Vitorino (Ti Zé do Santo), poeta popular de Nisa...– ver
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ANEXO correspondente ANX 3.4 – 12 POESIA, ao qual iremos ainda recorrer a prpósito das
DÉCIMAS. (ANX 3.4 – 12)
1. OS DIVERSOS TEMAS VERSADOS NAS QUADRAS E CONTIGAS ver anx 3.4 – 1):
In CORAIS ALENTEJANOS, de José Francisco Pereira – Edições Margem 1997; ver por
exemplo:
p. 25 sobre a Flora...;Ver p. 21... O que exprimem as CANTIGAS Populares: “sentimentos:
Paixão do amor... prazer, dor, alegria e tristeza, ódio, ciúme, inveja, desgosto, resignação,
saudade, melancolia, orgulho... tudo nela se versa...” “Os próprios sentimentos – religioso,
moral, intelectual, estético, aí se retratam”; Ver ainda fenómenos e figuras de estilo...na mesma
obra, pp. 34 e 35 e Ainda:
1. Toponímia – Mértola... Guadiana...
2. Fauna – Passarinhos... animais existentes na região... animais do trabalho... bois...
3. Flora – Plantas flores... lírio roxo... Vivo no jardim do mundo... rosa roseira botão...
4. Comoções, paixões, sentimentos... - (medo cólera, ternura, amor, ciúme, ódio, inveja orgulho,
alegria e tristeza, prazer e dor, melancolia, desgosto, resignação, saudade... Ó minha mãe,
minha mãe...
5. Partes e órgãos do corpo humano – olhos... rosto... coração...
6. Peças de vestuário e objectos de adorno... saia... anel... lenço...chapéu...
7. Astros – Sol Lua...
8. elementos da natureza... – água... montes... serras... terra
Vivo no jardim do Mundo,
Nos treze ramos matrizes,
Com cinquenta e duas flores
E vinte e cinco raízes.
(Mértola)
2. As QUADRAS podem falar do OLHOS, de cenas do quotidiano, dos Santos populares...
VER (ANX 3.4 - 2):
In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - Manuel Joaquim
Delgado – Com. Rec. Notas – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial
império 2ª Ed. 1980: ver, por exemplo as quadras iniciadas por:
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O nosso olhar é espelho... - Ó olhos azuis... - Ó olhos doa minha cara... - Onze horas, meianoite... - Fui um dia à tua horta... - Todas as Marias são... - Tenho carta no correio... Sant’Entónio é bom rapaz... - S. João à minha porta... - Raparigas d’hoje em dia... - A nobre
vila de Mért’la...
3. Outros temas diversos – ocupações como as do MINEIRO, podemos ver (ANX 3.4 - 3):
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado
e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1975
ofícios e ocupações - Meu amor é barreneiro - (os barreneiros (= mineiros) cantam estas
quadras enquanto trabalham - Ó Senhora Santa «Barba» - AMORES, AMORES.. –
DECISÃO - AMOR PERFEITO – ALEGRIA - DESDÉNS E DESENGANOS - BEIJOS E
ABRAÇOS – RETRATO - O CORAÇÃO MAIS OS OLHOS...
4. SENTIMENTOS – RIQUEZA E POBREZA – USOS E COSTUMES... ver (anx 3.4 – 4)
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado
e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979;
Cap. XI – AMOR E TRISTEZAS p. 1 3. AUSÊNCIA p.13 - em 4. SAUDADES p. 23 - em 3.
DINHEIRO E POBREZA p. 191 - No cap. XVII USOS E COSTUMES p. 197 - Cap. XX –
CANTIGAS CONCEITUOSAS P. 235 - Cap. XXIV BOCAS DO MUNDO p. 289 - XXV
GRAÇAS, CHALAÇAS E «CANTIGAS às AVESSAS» p. 303 - XXXIII -
XXVI – CANTIGAS
SATÍRICAS p. 339
5. TOPONIMICAS OU GEOGRÁFICAS ver (anx 3.4 – 5)
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e
com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1983
- XXXIII CANTIGAS GEOGRÁFICAS E TÓPICAS p. 1
- p. 21 - p.22 Beja - Adeus, cidade de Beja, - Mértola - Adeus, ó vila de Mértola, - Mina de S.
Domingos - - Serpa – Guadiana – Vila Real de s. António...
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6. JANEIRAS – «Janeiras - Uma tradição que se cantava em grupos de Monte em monte, de
casa em casa...» (ver ANX 3.4 – 6)
In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - II Vol. - Com. Rec.
Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. –
Editorial império 2ª Ed. 1980, p. 147
7. ORAÇÕES – simples (Ver ANX 3.4 – 7)
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado
e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1975:
P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo,
Para comer é que se faz isto!
8. ORAÇÕES DO RITUAL DO PÃO - Ver (ANX. 3.4 – 8) também as já referidas no
RITUAL DO PÃO – no anterior ANX 2.6 ver :
in COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e
Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara
Municipal de Mértola, 1997.
9. ORAÇÕES – ROMANCEIRO (ver ANX 3.4 – 9)
in ROMANCEIRO POPULAR PORTUGUÊS, II Vol. - organização, introdução notas e
Bibliografia de Maria Aliete dores Galhoz, Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional
de Investigação Científica, Lisboa, 1988:
- ORAÇÃO DAS ALMAS – algo de mais elaborado e completo...
10. DÉCIMAS – (ANX. 3.4 – 10 A – B – C – DÉCIMAS)
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado
e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979
ASSUNTOS VÁRIOS VERSADOS EM DÉCIMAS (Dado o apreço em que tinha estas décimas,
o Prof. Leite de Vasconcellos conserva-as em maços à parte de outras composições. Versando
vários assuntos, servem, na maioria dos casos, de glosas de quadras.)
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O mineiro traja bem - DESPIQUE DO ALENTEJO E DO ALGARVE - I - DESPIQUE
ALENTEJO ALGARVE – II –
10 DÉCIMAS (ANX 3.4 – 10 D) - Como Décimas mais genuínas e recolhidas in loco
voltamos agora à citada obra no início deste capítulo:
SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE
MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.; com
as DÉCIMAS de:
- p. 106 – ÉS JOVEM , SOU REFORMADO... – de Manuel Guerreiro Martins (Mina deS.
Domingos);
- p. 143 - VIVA AMENDOEIRA DA SERRA... de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da
Serra.
11 – RIMANCE (ANX 3.4 – 11)
In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - II Vol. - Com. Rec.
Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. –
Editorial império 2ª Ed. 1980;
- ANX. 3.4 – 11 A – RIMANCE - in Delgado – LAURA LINDA
- ANX. 3.4 – 11 B – RIMANCE - in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA
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3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS
ou melhor dizendo: apresentamos
- as 12 MODAS recolhidas por
João RANITA da Nazaré in MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO – Cancioneiro
da Tradição Oral – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – 1986. – Capítulo: Quintas variações:
Mértola pp. 269 – 296:
Profanas:
- O meu anel
- Rio Guadiana
- As cobrinhas de água
- Mértola do Guadiana
- Nossa Senhora das Neves
- Passarinho prisioneiro
- Não quero que vás à monda
- Maria pega na carta
- Ao romper da bela aurora
- Lírio Roxo
Religiosas:
- Os Reis
- As Janeiras
Quadra transcrita na mesma obra de Ranita da Nazaré::
Mértola estás situada
Entre o rio e a ribeira,
Firme nas tuas muralhas
A viver de cantaneira.
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- os 3 GRUPOS CORAIS relacionados com MÉRTOLA
GRUPO CORAL «GUADIANA»DE MÉRTOLA
GRUPO CORAL DA MINA DE SÃO DOMINGOS
GRUPO CORAL DOS AMIGOS DA MINA DE SÃO DOMINGOS EM SACAVÉM
que constam da obra de:
José Francisco Pereira, CORAIS ALENTEJANOS, Editor Manuel Geraldo, Edições Margem,
Lisboa, 1997.
Tecer aqui grandes teorias sobre a importância, a originalidade, e as características do CANTE,
MODAS e GRUPOS CORAIS do ALENTEJO, tanto os sediados, evidentemente, no Alentejo
como os de Alentejanos sediados, sobretudo, na zona da Gande Lisboa, seria uma tarefa
supérflua e demasiado ambiciosa.
Deixamos simplesmente o testemunho do Maestro F. Lopoes Graça e de M. J. Delgado, citados
por Ranita de Salomé na obra supra citada:
Lopes Graça sobre a canção Alentejana:
«Tem de ir ao coração do Alentejo, a Serpa e seu termo quem quiser conhecer uma das mais
genuínas e curiosas manifestações do génio do nosso povo: as canções corais, que os íncolas da
região, na sua maioria rudes trabalhadores do campo e pequenos mesteirais, cantam com uma
admirável musicalidade nata e a compenetração de quem cumpre um velho ritual».
MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS:
«O valor das 'modas' alentejanas está em serem um canto misteriosamente afectivo, apaixonado,
tendo algo de religioso e místico, como se desprende dos acordes e melodias.»
Podemos e devemos ainda consultar, pelo menos, as duas obras, mais o grande Mestre do
CANTE, o Padre António Marvão, de quem infelizmente não pudemos consultar nenhuma obra
e do Grande Musicólogo que foi Michel Giacometti, por exemplo no CANCIONEIRO
POPULAR PORTUGUÊS, Michel Giacometti, com a colaboração de Fernando Lopes Graça,
Círculo de Leitores, Agosto de 1981, e teremos os dados essenciais para nos apercebermos da
importância de recolher, estudar e divulgar o CANTE ALENTEJANO.
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Como expressão Popular Artística, o CANTE – a «VOZ DO VENTRE DA TERRA» na
expressão de José Rabaça Gaspar, repetida nos diversos trabalhos citados na bibliografia e nos
POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA, Beja, 1987, como arte musical que escapa
a qualquer influência, definição e intervenção erudita, aparece-nos como o sinal mais profundo e
sentido da Alma de um Povo e que merece, por isso, uma atenção especial.
Ver ANEXO correspondente ANX. 3.5
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4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...
Como não somos Arqueólogos nem peritos em Epigrafia, mas como aluna de um Curso: de
Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural e
num TRABALHO para uma Disciplina de Gestão de Espaços Culturais e Património
Histórico, pareceu-me importante, guardar para o final, um TEMA que servisse de ligação entre
todos os capítulos em que dividi o meu trabalho e se foram ampliando à medida que a
investigação ia evoluindo e o trabalho excepcional, de uma dimensão e envergadura que não me
compete qualificar nem muito menos avaliar, que tem sido desenvolvido, pelo menos desde os
finais dos anos setenta (1975), pelo dinamismo do falecido primeiro presidente da Câmara de
Mértola, pós 25 de Abril, Dr. António Manuel Serrão Martins; e por intermédio dele, pelo
“milagre” do aparecimento do Campo Arqueológico de Mértola (1979); e pela Câmara
Municipal de Mértola; e pela Assocoiação de Defesa do Património de Mértola; e pelo Parque
Natural do Vale do Guadiana... e talvez outros que não conhecemos; e apresentar aqui, quase
como ilustração, alguma PEDRAS QUE FALAM, possivelmente, mais do que as outras, porque
têm algo escrito...
Ver ANEXO correspondete ANX. 4.
Alguns exemplos:
Fig. 1
«ESTA TORRE MANDOU FAZER DOM JOÃO FERNANDES PRIMEIRO MESTRE QUE
HOUVE EM PORTUGAL ERA DE 1330 0U SEJA 1292»
Fig. 2
Em destaque o símbolo dos Templários e no cruzeiro a palavra "OBLATVS" part. de offero apresentar - expor - oferecer...
Incricção em redor da base da Cruz: «OBLATVS EST QUIA IPSE VOLUIT ...???»
Vide Antifona da Feria V in Coena Domini
-
(in LIBER USUALIS MISSAE ET OFFICII PRO DOMINICIS ET FESTIS CUM
CANTU GREGORIANO EX EDITIONE VATICANA... Typis Societatis S. Joannis
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Evangelistae - Desclée & Socii - S. Sedis Apostolicae et Sacrorum Rituum
Congregationis Typographi - Parisiis, Tornaci, Romae - 1950 - p. 651)
«Oblatus est, quia ipse voluit, et peccata nostra ipse portavit.»
«Foi oferecido, porque Ele próprio o quis, e Ele carregou com os nossos pecados.»
Fig. 3
«As suas cinco naves são cobertas por um belo reticulado de abóbadas»
Fig 4
«Dos poucos elementos da Antiga Mesquita restam dois capitéis reutilizados na reconstrução do
século XVI»
Fig 5
Porta da Igreja que segue o modelo do Renascimento Italiano
Fig. 6
«Esta peça excepcional, fabricada no século XI, na antiga Tunísia, mostra, em traços rápidos,
uma cena de caça, em que um corso é atacado por um galgo e um falcão»
Fig. 7
«Os motivos decorativos animais ou vegetais passam a geométricos ou epigráficos.»
Fig.8
Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas: «ANTÓNIA ...
Fig 9
FESTELUS...
Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas... «Alguém? "EISTELLUS"? "FISTELLUS"
que aqui viveu e descansa em paz… Dezembro da ERA de quinhentos e Quarenta e Oito»
«FISTELLUS V(IR) HON(ES)T(US) VIXIT AN(NOS) LXX REQ(U)IEVIT IN PACE D(IE)
VIII KAL(ENDAS) DECENB(RES) ERA dXLVIII
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"Fistelo, homem de condição social superior, viveu 70 anos; descansou em paz no 8º dia das
calendas de Dezembro da era de 548 (o que no nosso calendário corresponde ao dia 24 de
Novembro do ano 510).
(Vide MUSEU DE MÉRTOLA - BASÍLICA PALEOCRISTÃ - Campo Arqueológico de
Mértola, 1993, p. 117).
Fig 10
Epitáfio de AMANDA
«AMANDA FAMU(L)A XPI VIXIT ANNOS PLUS MIN(U)S XXXII MENSES V
REQUIEVIT IN PACE D(OMI)NI SUB D(IE) VII KAL(ENDAS) MART(IAS) ERA
dLXXXII»
«Amanda, servidora de Cristo, viveu mais ou menos 32 anos e cinco meses, descansou na paz do
Senhor no 7º dia das calendas do mês de Março da era de 582 (o que no nosso calendário
corresponde ao dia 23 de Fevereiro do ano de 544).
(Vide MUSEU DE MÉRTOLA - BASÍLICA PALEOCRISTÃ - Campo Arqueológico de
Mértola, 1993, p. 119).
Fig.11.
SÃO HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO CORO DA
IGREJA
Epitáfio de Andreas
«ANDREAS FAMULUS DEI PINCEPS CANTORUM SACROSANCTE A(E)CLISIAE
MERTILLIA(N)E VIXIT ANNOS XXXVI REQUIEVIT IN PACE SUB D(IE) TERTEO
KAL(ENDAS) APRILES AERA dLX TRISIS»
«André, sevidor de Deus, primeiro cantor da sacrossanta Igreja Mertiliana, viveu 36 anos,
descansou em paz no terceiro dia das calendas de Abril da era de 560 e três (o que no nosso
calendário corresponde ao dia 30 de Março de 525)
As lápides anteriores falam de «...HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E
CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO CORO DA IGREJA.»
Fig. 12
«Lápida com uma escrita, ainda hoje por decifrar, gravada em caracteres greco-púnicos.»
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Conclusão
Creio ter provado a importância do patrmónio oral, pois o mesmo é fundamental para identificar
e caracterizar esta região.
Foi feita uma recolha exaustiva de todas as formas de expressão que caracterizam o património
oral segundo os autores de referência.
Sendo evidente que todos os dados recolhidos merecem um tratamento mais aprofundado, creio
ter contribuído para uma participação activa e empenhada dos autênticos actores da TRADIÇÃO
ORAL... como “mostra” evidente – palpável – audível, da amálgama, da soma de Culturas que
passaram por esta encruzilhada de vias terrestres, marítimas, de povos, de gentes...
A PROPOSTA – SUGESTÃO da criação de um CDID-TOLP – Centro de Documentação,
Investigação e Divulgação da TRADIÇÃO ORAL / LITERATURA POPULAR, que para além
de Centro de Estudo devia ter a sua componente lúdica, dramática... (com petiscos e tudo)...e
com as pistas de recolha, reflexão e divulgação dentro dos limites escassos que estão ao meu
alcance, o mérito deste trabalho será sem dúvida o de abrir espaço para um trabalho mais
alargado e aprofundado, em que teria todo o gosto de participar, mas reconheço que só poderá
ser devidamente implementado e desenvolvido por alguém que esteja ou venha e estar
intimamente ligado a MÉRTOLA e sua REGIÃO...
A Aluna nº 58
Maria de Fátima da Vinha Borges
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BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso Brasileira de Cultura – in Mértola:
Autor
Título
Edição
José António Ferreira de Almeida
(coord.),
Joaquim Boiça,
Virgílio Lopes
Tesouros Artísticos de Portugal
Lx., 1980
Joaquim Boiça
Joaquim Boiça
Luís Alves de Silva
Joaquim Boiça,
Maria de Fátima R. Sal S Barros
Joaquim Boiça,
Maria de Fátima R. Sal S Barros
Joaquim Boiça,
Maria de Fátima R. Sal S. Barros,
Celeste Gabriel
Manuel Figueiredo
Bernardino Barros Gomes
Vítor Oliveira Jorge e
Cláudio Torres, (coord.)
Pinho Leal
Flávio Lopes
Santiago Macias e
Cláudio Torres (coord.)
Santiago Macias e
Cláudio Torres (coord.)
Manuel Alves Oliveira
Notas
A Necrópole e a Ermida da Achada de S. Campo Arqueológico e
Sebastião
Escola Profissional Bento
de Jesus Caraça, 1999
, Imaginária de Mértola – tempos,
Mértola, Campo
espaços, representações
Arqueológico, 1998
Inventário/Roteiro do Arquivo Histórico
Municipal de Mértola
Mértola nas Memórias Paroquiais de
1758- Transcrição e Estudo
Roteiro de Fontes para a História de
(nº. 1) – SalN.T.T.; (nº.
Mértola
2) – Casa de Bragança
Mértola nas Visitações da Ordem de
Santiago (1482-1593) – transcrição e
estudo
História das Terras de Portugal e seus
Tesouros Artísticos, texto ms. (por
gentil cedência do autor)
Cartas Elementares de Portugal
Lx., 1878 (ed. Facsimilada, Lx., 1990)
A Arqueologia e os outros Patrimónios
Porto, 1999
Portugal Antigo e Moderno
Património Arqueológico e
Arquitectónico Classificado
O Islão entre o Tejo e Odiana
Portugal Islâmico – os últimos sinais do
Mediterrâneo
Guia Turístico de Portugal de A a Z
vol. I, Lx., 1993
Mértola, Campo
Arqueológico
Lx., 1998
Lx., 1990
Francisco Hipólito Raposo
Descubra Portugal
Lx., 1993
Miguel Rego
Mineração no Baixo Alentejo
Castro Verde, 1996
Cláudio Torres (director)
Basílica Paleocristã
Cláudio Torres (director)
Arqueologia Medieval, nº. 1
Cláudio Torres (director)
Cerâmica Islâmica Portuguesa
Cláudio Torres,
Luís Alves da Silva
Cláudio Torres et al.
Mértola – Vila Museu
Mértola, Campo
Arqueológico, 1993
Fevereiro de 1992,
Mértola
Mértola, Campo
Arqueológico, 1987
Mértola, 1989
Terras da Moura Encantada
Porto, 1999
Estácio da Veiga
Memórias das Antiguidades de Mértola
1880
Afonso Eduardo Martins Zuquete
Nobreza de Portugal
Coimbra, 1960
Anuário Católico
Lx., 1996
Anuário da Imprensa em Portugal 19921993
À Descoberta de Portugal
Lx., 1993
Enciclopédia Geográfica
Lx., 1988
Guia de Portugal vol. II
Lx., 1991 (2ª reimp.)
INE-Censo 91/resultados definitivos Lei
Orgânica dos Tribunais Judiciais –
regulamento;
Ministério do Planeamento e da
Administração do Território, Livros e
Conselhos
Lx., 1984
Lx. 1996
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Outros sobre Mértola – Campo Arqueológico de Mértola – Associação de Defesa do Património
de Mértola – Câmara Municipal de Mértola – Parque Natural do Vale do Guadiana... & outros
COMIDAS DE MÉRTOLA AROMAS E SABORES
Nádia Torres – Alunos Professores e
Funcionários da Escola C+S de
Mértola
MÉRTOLA ISLÂMICA Estudo Histórico – Arqueológico
do Bairro da Alcáçova (Séculos XII – XIII
Santiago Macias
MANTAS TRADICIONAIS do BAIXO ALENTEJO
Ângela Luzia – Isabel Magalhães –
Claúdio Torres
MUSEU DE MÉRTOLA – BASÍLICA PALEOCRISTÃ
Campo Arquelógico de Mértola,
vários autores, com Coordenação de
Cláudio Torres e Santiago Macias
Heitor Domingos
Heitor Domingos
ALENTEJO – MARGEM ESQUERDA ESQUECIDA
Recordações – Velhos são os Trapos
O PROBLEMA DA CAÇA NO ALENTEJO (1901 – 1975) Mário do Carmo Tese de Mestrado
Atitudes, expectativas e tensões sociais no distrito de
apresentada à Faculdade de Letras da
Beja
Universidade de Lisboa em 1999
TEXTOS SERRÃO MARTINS
António Serrão Martins
SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E
CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA
Mário Elias
A ESTÉTICA DO PESSIMISMO EM ANTÓNIA
SEQUEIRA (poetisa mertolense)
AVES – aves do parque natural do vale do guadiana
Mário Elias
PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana
Leonor Rogado – texto
Carlos Carrapato – fotografia
ENGENHOS HIDRÁULICOS TRADICIONAIS
Rui Guita
CONTRIBUTOS PARA Preservação e Valorização do
Património Natural do Troço Médio do VALE DO
GUADIANA
Rosário Oliveira
AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias
Paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola
Joaquim Ferreira Boiça
Maria de Fátima Rombouts Barros
Transcrição, organização, introdução
e notas
Filipe Abranches
Nádia Torres
Rosário Oliveira
Jorge Revez
À DESCOBERTA DE MÉRTOLA – OS CAMINHOS DO
TEMPO E DA TERRA
Ana Cristina Cardoso
Edição – Escola C+S
de Mértola Câmara
Municipal de Mértola,
1997
Campo Arqueológico
de Mértola, Mértola,
1996
CADERNO Nº 1 –
Campo Arqueológico
de Mértola- Edição da
CM Mértola 1984
Ed. Do Campo
Arqueológico de
Mértola, 1993
Ed. Autor, 2000
Ed. Autor – 2ª ed.
1999
Edição Autor, apoiada
pela CM de:
Alvito, Beja, Castro
Verde, Mértola,
moura, Odemira,
Ourique, Serpa. Ed..
2000
Edição da Câmara
Municipal de Mértola,
1985
Ed. Associação de
Defesa do Património
de Mértola, s/d
Ed. Do Autor, 1997
Edição – Parque
Natural do Vale do
Guadiana, 2000
Edição – Parque
Natural do Vale do
Guadiana, 2001
Ed. ICN – Instituto de
conservação da
Natureza e PNVG
Parque Natural do
Vale do Guadiana,
1999
Associação de Defesa
do Património de
Mértola, 1996
Estudos e Fontes para
a História local 1
Campo Arqueológico
de Mértola, 1995
Edição ADPM e
CADISPA, 1993
Ver cum edere –
comer com... e
nomes...
... até à
alimentação...
Para epigrafia
etc...
Histórias de velhos
mineiros
Ver “aforismos
cinegéticos” e
espécies...
Ver crónicas
alentejanas e
retaratos
populares...
Muitas figuras e
cancioneiro...
Os nomes e os
nomes regionais...
nomes de peixes e
pescadores...
Lista de nomes de
moinhos e...
Flora – 132
espécies...
Fauna – 192 (128
aves, 30
mamíferos, 17
anfíbios e 7
répteis)
História e
identidade:
actividades,
produtos, saber...
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BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos da Tradição Oral – Literatura Popular e
Informação complementar, como alguns dados sobre a MITOLOGIA GRECO LATINA:
Título
A MITOLOGIA
Autor
Edith Hamilton
MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia
Ilustrado
A. R. Hope Moncrieff
GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS
CONTEMPORÂNEO
CONTOS POPULARES e LENDAS
Celso Cunha e Lindley Cintra
CANCIONEIRO POPULAR
PORTUGUÊS
CONTOS POPULARES
PORTUGUESES – (INÉDITOS)
coligidos por José Leite de
Vasconcellos coordenação Alda da
Silva Soromenho e Paulo Caratão
Soromenho – Vol I (1963/4) II
(1966/9) –
coligido por José Leite de
Vasconcellos coordenado e com
introdução de Maria Arminda Zaluar
Nunes, vol. I (1975) vol. II (1979)
vol. III (1983)
Estudo, Coordenação e Classificação
Alda da Silva Soromenho e Paulo
Caratão Soromenho – Vol I ( 1984) e
II ( 1986
ROMANCEIRO PORTUGUÊS
Coligido por José Leite de
Vasconcellos – Notícia preliminar de
R. Menedez Pidal – Vol I (1958) e II
(1960
ROMANCEIRO POPULAR
PORTUGUÊS – II – Romances
religiosos e orações Narrativas –
Romances Vulgares e Cantigas
Narrativas
org. intrd. Notas e Bibliografia de
Maria Aliete Dores Galhoz
MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO
ALENTEJO – Cancioneiro da
Tradição Oral
A LINGUAGEM POPUAR DO BAIXO
ALENTEJO e O DIALECTO
BARRANQUENHO – ( Estudo
Etnofilológico)
A ETNOGRAFIA E O FOLCLORE no
BAIXO ALENTEJO
João Ranita da Nazaré
SUBSÍDIO PARA O CANCIONEIRO
POPULAR DO BAIXO ALENTEJO –
vol. I e II
Comentário, recolha e notas – Manuel
Joaquim Delgado
ESTUDOS LINGUÍSTICOS
o Idioma Português
LITERATURA POPULAR DO
DISTRITO DE BEJA
Manuel Joaquim Delgado
PARA A HISTÓRIA DA
LITERATURA POPULAR
PORTUGUESA
Guia de Recolha de Literatura
Popular
Manuel Joaquim Delgado
comentário, recolha e notas – Manuel
Joaquim Delgado
Direcção-Geral da Educação de
Adultos – Coordenação Distrital de
Beja
Manuel Viegas Guerreiro
Manuel Viegas Guerreiro
Edição
Publicações Dom
Quixote, Lisboa
1979
Editorial Estampa /
Círculo de Leitores,
Lisboa, 1992
Edições João Sá da
Costa, Lisboa, 1985
Acta Universitatis
Conimbrigensis –
Por Ordem da
Universidade – 1963
– 1969
Acta Universitatis
Conimbrigensis –
Por Ordem da
Universidade – 1975
– 1983
Centro de Estudos
Geográficos –
Instituto Nacional
de Investigação
científica – Lisboa –
1984 – 1986
Acta Universitatis
Conimbrigensis –
Por Ordem da
Universidade – 1958
e 1960
Centro de Estudos
Geográficos –
Instituto Nacional
de Investigação
Científica – Lisboa
1988
Imprensa Nacional
– Casa da Moeda –
1986
2ª edição – Edição
da Assembleia
Distrital de Beja –
(1951) 1983
2ª edição – Edição
da Assembleia
Distrital de Beja –
1985
Instituto Nacional
de Investigação
Científica, 2ª ed. ,
Lisboa, 1980
Lisboa 1968
Notas
Elementos sobre
Mirtilis, Mirto,
Tântalo...
Ministério da
Educação e Cultura
– 1986
Instituto de Cultura
e Língua Portuguesa
– Ministério da
Educação – Março
de 1983
Lisboa, Ministério da
Educação e
Investigação
Científica, 1976
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O Cancioneiro Popular em Portugal Maria Arminda Zaluar Nunes
A CANÇÃO POPULAR
PORTUGUESA
ARQUIVOS DE SERPA(Câmara
Municipal)
CANCIONEIRO DE SERPA
Fernando Lopes Graça
SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE
SERPA
C. Gonçalves Serpa
João Cabral
Maria Rita Ortigão Pinto Cortez
MEC Secretaria de
Estado da Cultura,
Instituto de Cultura
Portuguesa, 1978
Publicações Europa
América – 1974
Serpa, 1971
Edição da Câmara
Municipal de Serpa,
1994
Composto e
impresso na Gráfica
Torriense, Torres
Vedras, s/d
LISTA TELEFÓNICA – Alentejo –
Setúbal – 20002 – 2003
Enciclopédia Verbo – LusoBrasileira de Cultura – Edição
Século XXI
Dicionário da Língua Portuguesa
Contemporânea
Ver Lenda Serpa
Mértola
Ver Lenda Serpa
Mértola
Ver Lenda Serpa
Mértola
Para ver
localidades e
APELIDOS mais
repetidos
Ver – Mértola –
mirtilo – murta
Academia de Ciências de Lisboa
– Editorial Verbo –
2001
CORAIS ALENTEJANOS
José Francisco Pereira
ANEDOTAS – Contribuição
para um Estudo
LIVRO DE ANEDOTAS
Sal Machado Guerreiro
ANTROPOLOGIA DO SIMBÓLICO
Mesquitela Lima
ALCUNHAS ALENTEJANAS
Francisco Martins Ramos
Edições Margem –
1997
Editorial Império,
Lx, 1986
Edições Colibri,
Lx. 1995
Editorial Presença,
L.da ,Porto, 1983
Ver mais publ. e
Ed. Associação de
Defesa dos Interesses o Tratado de
de Monsaraz – ADIM Alcunhas, já em
TRATADO DAS ALCUNHAS
ALENTEJANAS
Francisco Martins Ramos
Carlos Alberto da Silva
Editora Colibri, 2003
GUIA DE PORTUGAL –
EXTREMADURA, ALENTEJO,
ALGARVE
Colaboração dos Mais Ilustres Escritores
Portugueses (nome de referência Raúl
Proença) – com 17 mapas e plantas e
numerosas gravuras
Biblioteca Nacinal de
Lisboa, 1927 – pp.
162 - 166
Sal Machado Guerreiro
Ver –
mertolense e
mertolengo –
mirto – murta
2003...
Signo que capta
o essecial de
alguém...
Numerosos
dados sobre
Mértola e zona...
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BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas e Outras Publicações Periódicas
Título
“Alentejo não Tem Sombra Senão a
que Vem do Céu”,
Autor
José Mattoso
Instituto Alentejano de Cultura /
Desenvolvimento (IAC/D)
José Rabaça Gaspar
A LITERATURA (CULTURA
TRADICIONAL) e o
Desenvolvimento e a urgente
criação de um INSTITUTO
ALENTEJANO DE CULTURA /
DESENVOLVIMENTO
A LINGUÍSTICA E A ANÁLISE
LITERÁRIA COMO CONTRIBUTO
PARA O DESENVOLVIMENTO DO
ALENTEJO – para a Criação de um
Instituto Alentejano de Cultura
SOBRE MÉRTOLA E O GUADIANA
José Rabaça Gaspar
TOPOGRAFIA HISTÓRICA DE
MÉRTOLA -
Joaquim Boiça
IBN QASI, REI DE MÉRTOLA E
MAHIDI LUSO-MUÇULMANO
Artur Goulart de
Melo Borges
CERÂMICA MUÇULMANA do
Montinho das Laranjeiras
Hélder M. R.
Coutinho
HISTÓRIAS DO GUADIANA
Maurício Abreu
José M. Fernandes
José Conde Veiga –
texto
Augusto Cabrita –
fotos
José Rabaça Gaspar
– (José Penedo de
Serpa)
RIO GUADIANA
SERPA EN/CANTADA EM LENDAS
Notas
Publicada em:
in ARQUIVO DE BEJA, vols. VII / VIII,
série III, Agosto de 1998
in ARQUIVO DE BEJA – vol. II e III –
série III – Dezembro de 1996, pp.
237 – 248.
In LER EDUCAÇÃO, Revista da ESSE
BEJA, n.ºs 17/18, Março / Dezembro
de 1995, pp. 167 – 220.
José Rabaça Gaspar
et allii
In CONGRESSO sobre o ALENTEJO
(ACTAS) – Semeando novos Rumos,
vol. III, Évora, Outubro de 1985, pp.
1127 – 1131 e 1720 Síntese
António Borges
Coelho
Arqueologia Medieval 1, Ed.
Afrontamento, 1992 – Campo
Arqueológico de Mértola
Arqueologia Medieval 3, Ed.
Afrontamento, 1994?
Campo Arqueológico de Mértola
Arqueologia Medieval 1, Ed.
Afrontamento, 1992
Campo Arqueológico de Mértola
Arqueologia Medieval 2, Ed.
Afrontamento, 1993
Campo Arqueológico de Mértola
RIOS DE PORTUGAL – Edição Gradiva
s/d
OS MAIS BELOS RIOS DE PORTUGAL,
VERBO, 2ª edição, 1996
Rio Fronteira,
nomes e Futuro
jovem...
Ver os “puros de
nação”...
separata – SERPA ANTIGA – in SERPA
INFORMAÇÃO, 4ª série, Dezembro de 1996 /
Janeiro de 1997, N.º 17
Serpínea e
Myrtilis...
Texto de 1986?
Moinhos, pesca
e terminologia...
Artigos do Professor in Vilas e Cidades
Título
Autor
Francisco Jacinto
Artes da construção
O Museu Municipal de
Arqueologia de Silves
Museus de Empresa.
Memórias e patrimónios
a preservar
Património Documental
e Desenvolvimento
Centro de
Documentação e de
Informação
Artes da Construção
Pomarão
No Filão da História
Alentejo Nosso,
Memórias minhas
Exposições
Organização e
Concretização
Revista Nº e data
Vilas e Cidades
Ano II. Nº15.
Dezembro de 1997
Notas
A importância dos
museus e a sua
concepção
Ano II. Nº27.
Dezembro de 1998
Ano III. Nº32. Maio de
1999
Ano III. Nº32. Maio de
1999
Ano III. Nº36.
Setembro/ Outubro de
1999
Ano IV. Nº37.
Novembro de 1999
Ano IV. Nº37.
Novembro de 1999
A importância das
raizes
A importância das
exposições e a sua
organização
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A Casa Alentejana.
A Natureza Manda. O
Homem Cumpre
Património, Cultura e
Memória Social.
O Passado Preservado
no Presente
Alcaria Ruiva
Alentejo Nosso,
Memórias Minhas
Parque Natural do Vale
do Guadiana
Uma Área Geográfica
Protejida
Alcaria Ruiva e Aracelis
A Aldeia e a Ermida
Santiago Macias, em
Mértola
Lapa Uma Herdade
Alentejana No Tempo
da Minha Memória
Piaget de Almada
Uma Ideia de
Universidade
Turismo e
Desenvolvimento
Mértola. Autarquia e
Desenvolvimento
Saúde e Educação
O Instituto Piaget em
Macedo de Cavaleiros
Ano IV. Nº39. Janeiro
de 2000
Ano IV. Nº40.
Fevereiro de 2000
Ano IV. Nº44. Junho de
2000
Ano V. Nº47.
Setembro/ Outubro de
2000
Ano V. Nº48. Novembro
de 2000
Ano V. Nº49. Dezembro
de 2000
Ano V. Nº54. Maio de
2001
Ano V. Nº54. Maio de
2001
Ano V. Nº%%. Junho
de 2001
Ano VI. Nº59.
Dezembro de 2001
Ano VI. Nº59.
Dezembro de 2001
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MULTIMEDIA:
Diciopédia 2003 – Porto Editora – 2002
Na internet:
http://www.joraga.net ver Alentejo / feiradecastro / grupos corais / AlentejANEDOTAS /
Conversar(e) /MERTOLA
http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre freguesias.
http://mertola.com.sapo.pt/
http://www.alentejodigital.pt/mertola/index.htm
http://www.MNARQUEOLOGIA-IPMUSEUS.pt - Página que teve um Prémio de qualidade em
Dezembro de 2002 – com bastantes exemplares referente a Mértola, em especial os de epigrafia.
In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm - para mitologia
in http://mithos.cys.com.br/ - sobre MITOLOGIA
Photo CD – ou CD PORTFOLIO – MÉTOLA VILA MUSEU – Copyright AVS – criações
multimédia – lda Lisboa Portugal – Campo Arqueológico de Mértola – Kodak – com Texto de
Cláudio Torres e Fotografia de António Cunha e Fernando Chaves
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Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS
Foto in CD POTFOLIO – MÉRTOLA – Vila Museu
ANEXOS de
A Tradição Oral na Identidade de um Povo
Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58
ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget – Almada
Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico
Professor: Dr. Francisco Jacinto
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PLANO DA COLECTÂNEA DE TEXTOS & RECOLHAS – ANEXOS
Esquema paralelo ao da apresentação do trabalho
-
ANX - 1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o
PATRIMÓNIO.
-
ANX - 1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização...
-
ANX - 2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES:
-
ANX - 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e
-
ANX – 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina
-
ANX - 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...
-
ANX - 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...
-
2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado...
-
2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...
-
2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: COMIDAS - Saudações, formas de
tratamento...
-
ANX - 3. – Outras Formas de Expressão
-
ANX - 3.1 – LENDA/s
3.1 – 1 – Serpínia – Princesa feliz 3.1 – 2 – A Lenda de Serpínea
3.1 – 3 – Serpa encantada em Lendas
3.1 – 4 – a LENDA DE MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de Mércúrio
3.1 – 5 – A TESOURINHA DA MOURA
-
ANX - 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina
“...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de
MERCÚRIO... aremeter para Pélops – Níobe – Tântalo... e Vénus a Deusa do Mirto...
-
ANX - 3.2 – CONTO/s
-
ANX - 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas –
Cantilenas...
-
ANX - 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...
-
ANX - 3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS
-
ANX - 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...
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ANX. 1. – FALAM OS MESTRES –
Um pouco de Teoria como referência... de J. Leite a Viegas Guerreiro, de Zaluar Nunes, a
Francisco Jacinto...
Para fundamentar
a Importância dos NOMES e de conhecer a Identidade de um Povo...
O que caracteriza a Identidade de um Povo na Literatura (Oral) Popular...
Definição da Gramática do Português Contemporâneo:
A LÍNGUA... A LINGUAGEM... A FALA...
«Expressão da consciência de uma colectividade, a LÍNGUA é o meio por que ela concebe o
mundo que a cerca e sobre ele age. Utilização social da faculdade da linguagem, criação da
sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à do
organismo social que a criou.»
in Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha & Lindley Cintra, Ed. João Sá da
Costa, Lx., 1985...
FERNÃO LOPES in PRÓLOGO da PRIMEIRA PARTE DA «CRÓNICA DE EL-REI D. JOÃO I DE
BOA MEMÓRIA
«Grande licença deu a afeição a muitos que tiveram cárrego de ordenar histórias, mormente dos
senhores em cuja mercê e terra viviam e hu foram nados seus antigos avós, sendo-lhe muito
favoráveis no recontamento de seus feitos.»
«E tal favoreza como esta nasce de mundanal afeição, a qual não é salvo conformidade dalguma
cousa ao entendimento do homem: assim que a terra em que os homens per longo costume e
tempo foram criados gera uma tal conformidade antre o seu entendimento e ela que, havendo de
julgar alguma sua cousa. Assim em louvor como per contrairo, nunca per eles é direitamente
recontada, porque, louvando-a dizem sempre mais daquelo que é, e se doutro modo, não
escrevem suas perdas tão minguadamente como aconteceram.»
«Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns,
dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e
espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta conformidade.
Alguns outros tiveram que esto descia na semente no tempo da geração, a qual dispõe per tal
guisa aquelo que dela é gerado, que lhe fica esta conformidade, tão bem acerca da terra como
de seus dividos.»
«E assim parece que o sentiu Túlio, quando veio a dizer: Nós não somos nados a nós próprios
porque uma parte de nós tem a terra, e outra os parentes.»
Epicteto citado por Mesquitela Lima:
«O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca
das coisas.» Epicteto – Daí a importância de chamar as “coisas” ou os “bois” pelos nomes e de
sabermos quem e como foi dado um determinado NOME e o que significa. Se conseguirmos
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saber o NOME das “coisas”, estamos a entrar no mundo da Cultura Humana «Aquela que estuda
a CULTURA integrada nas relações, nas constelações de relações que os homens tecem entre
si.», como nos diz Mesquitela Lima 7.
Miguel Torga:
«Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e
as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 8
Cláudio Torres:
«Proteger as tradições artesanais é também impedir que a nossa escola continue a insultar
aqueles a quem chama “analfabetos” corrigindo o seu falar, o seu gosto e a sua cultura para
impor o modelo dominante de Lisboa – Cascais.» Cláudio Torres9.
Francisco Jacinto10:
Cita Carlos Antero Ferreira: «A ideia de defesa e salvaguarda do património cultural radica na
convicção, cada vez mais alargada e generalizada, de que a manutenção das expressões do
passado histórico é um dos mais relevantes factores de continuidade na construção da memória
colectiva dos povos, concorrendo para a definição e a fixação da identidade social e cultural.»
Acrescenta depois a ideia de património imaterial e cultura:
«Assim sendo, a noção de património está – ainda que mais “vagamente” – ligada à ideia de
cultura imaterial (crenças, lendas, tradições, contos e, dum modo geral, a tudo o que é
transmitido por via oral ou integra um conjunto de valores vividos e assumidos por uma
sociedade ou por grupos dela constituintes.»
Será importante ver neste artigo a visão do autor, como as alusões ao antropólogo Jorge Dias,
Helder Pacheco; a evocação de Heródoto «... e a forma como ele entendia a “história”... um
património não só digno de ser preservao como transmitido aos vindouros.»; fala ainda de Nuno
Santos Pinheiro e de José Mattoso para nos dizer o que se deve entender por património e da
necessidade de «... o concurso, em pé de igualdade, da interdisciplinaridade das ciências.»
7
LIMA, Mesquitela Antropologia do Simbólico (ou o Simbólico da Antropologia) –, Editorial Presença, Lisboa,
1983.
8
TORGA, Miguel – “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed., Coimbra 1986.
9
TORRES, Cláudio et allii, Mantas Tradicionais do Baixo Alentejo, (Ângela Luzia – Isabel Magalhães) –, Caderno
N.1 - Campo Arqueológico de Mértola – Edição da Câmara Municipal de Mértola, Abril de 1984.
10
JACINTO, Francisco – “Património Cultura Memória Social – O passado preservado no presente” in «VILAS E
CIDADES» Ano IV - Mensal N.º 40 – Fevereiro / 2000.
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Transcrevemos parte da introdução de um trabalho de:
José Rabaça Gaspar, IV Jornadas da SAL/Beja, 2 de Junho de 1995
A LITERATURA (CULTURA) TRADICIONAL) e o Desenvolvimento
e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA
/DESENVOLVIMENTO
Publicado na Revista da Escola Superior de Educação de «LER EDUCAÇÃO» números 17/18,
Março / Dezembro 1995.
1
1
uma INTRODUÇÃO AO TEMA
A explicação de um título que se pode completar assim: A Literatura (Cultura)
Tradicional é, terá de ser, a base, raiz e condição de um desejável, correcto e eficiente
DESENVOLVIMENTO. Para que isso aconteça, e para que, através das variadas e
múltiplas manifestações da CULTURA, se possa conhecer profunda e verdadeiramente
um povo e/ou uma Região, é urgente (já tardia) a criação de um INSTITUTO
ALENTEJANO de CULTURA / DESENVOLVIMENTO que, ao mesmo tempo que
recolhe, estuda e divulga essa diversificadas manifestações, as anima, dinamiza e apoia,
e, ainda ao mesmo tempo, fornece os dados a todos os agentes do
DESENVOLVIMENTO os elementos necessários para que o DESENVOLVIMENTO
não agrida a IDENTIDADE e AUTENTICIDADE de um Povo e/ou de uma REGIÃO e
não se caia na desastrosa corrida ao desenvolvimento copiando o estranho, o estrangeiro,
aquilo que agride, que mata a identidade, as características e autenticidade de um Povo /
Região...
0.1 – A minha falta de autoridade.
Que autoridade tenho para falar disto? Nenhuma. Não sou alentejano, não tenho credenciais. Sou
professor da Língua e Literatura Portuguesa, aqui, desde 1980. Para além da formação
académica e profissional que trazia e que me permitiu a colocação aqui, desde o início, a minha
preocupação foi respeitar as raízes dos alunos com quem me era dado trabalhar. Creio que tenho
muitas centenas ou milhares de alunos que o podem testemunhar. Todos os temas que devemos
tratar, sempre procurei que fossem enraizados e a partir da cultura e conhecimentos em presença.
Não se arrancam as raízes das árvores para que produzam frutos melhores. Acarinham-se,
tratam-se e se for preciso, enxertam-se. Assim a LÍNGUA e a LITERATURA.
TUDO NASCE DA TERRA COMO A ÁGUA, AS ÁRVORES, AS PLANTAS E AS ERVAS...
COMA AS ÁRVORES QUE NOS DÃO OS FRUTOS COM OS SEUS VARIADOS
SABORES, COMO AS PLANTAS E AS FLORES QUE NOS INIBRIAM DE MIL CHEIROS
E CORES... COMO AS SEARAS QUE NOS DÃO O PÃO QUE NOS ALIMENTA...
ASSIM A CULTURA.
ESTÁ EM JOGO A NOSSA IDENTIDADE CULTURAL E A NOSSA AUTENTICIDADE
COMO INDIVÍDUOS – livres e criadores – E COMO PESSOAS INTEGRADAS NUMA
COMUNIDADE, numa SOCIEDADE...
AS NOSSAS VIVAS RAÍZES SÃO A GARANTIA DO NOSSO SÃO E CORRECTO
DESENVOLVIMENTO.
Podíamos comentar aqui o “Erro de Descartes” denunciado recentemente por Damásio que
propõe, em vez do famoso “Penso, logo existo” – “Existo e sinto, logo penso”. Ainda não li o
livro, mas é evidente que é preciso completar o título de Damásio. Existo e sinto, logo penso,
logo falo (comunico...), logo actuo e intervenho...
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0.2- A AUTORIDADE DOS MESTRES.
Donde a autoridade do tema?
Uma vez demonstrada a minha incompetência para falar deste assunto, onde o fundamento do
tema?
Desde 1980, aqui no Alentejo, e desde que entrei na vida activa em 1961, sempre acreditei que
continua a ser verdade o aforismo discutidíssimo de Chesterton: O mais importante, para ensinar
o latim ao João, é conhecer o João”. É evidente que é preciso saber o Latim. Não chega, nem é o
fundamento, por mais iluminados que nos venham dizer o contrário.
Em 1983/84 – com os cursos nocturnos, fizemos numa Escola a festa da Poesia, Música e
Movimento, para, no final do ano, mostrar a ligação entre a Cultura Tradicional/ Popular e a
Erudita, que desenvolvemos durante os todo/s o/s ano/s lectivo/s. A Cultura é ou não é
CULTURA.
Em 1985, foi, este mesmo, o tema da minha Comunicação no 1º Congresso sobre o Alentejo,
Évora, Outubro. (Vide Actas do Congresso sobre o Alentejo, Évora, 1985).
Em 1985/86, por trabalhar na Esc. MP de Beja percorri todo o Distrito, apelando a todos os
professores para a importância de estarem atentos e recolherem as falas e tradições locais...
Durante a Profissionalização em exercício, foi este o tema que propus à SAL e à Universidade
Aberta.
Em finais de 1986, princípios de 1987, tentámos com Professores da Univ. de Évora, organizar a
estrutura base deste Instituto.
Em 1987, organizei toda a estrutura do livro publicado pela CM Beja “Poetas Populares do
Concelho de Beja” com uma nota introdutória sobre o assunto e um esboço para o estudo das
Décimas no final.
Em 1989 as Lendas de Beja – do touro e da cobra e Outras Lendas – inédito.
Em 1993/94 foi o tema que desenvolvi na Licença Sabática.
Em 1994, dois artigos no Jornal Terras do Cante, Nº 1 e 2, Abril e Maio.
Em 1994, meados, As Lendas de Moura – A MOURA AMOR A MORTE ou a UTOPIA DA
CONVIVÊNCIA (IM)POSSÍVEL – inédito.
Em 1994/95, 15/05/95, foi este o tema do trabalho que apresentei como provas de acesso ao 8º
Escalão. (Só isto, para não falar de iniciativas e trabalhos menores).
(Vide ponto 8, alista de trabalhos desenvolvidos).
Se não tenho autoridade sobre o tema, porque nunca ninguém, sobretudo do ME, ligou alguma
importância ou deu qualquer valor, porque trabalho e porque venho aqui dizer que é urgente, é
importante, é inadiável... e como é algo de fundamental, é vergonhoso que o ME, a Escola em
geral, as Escolas, não estejam despertas, atentas, motivadas para este problema, não de uma
maneira pontual e ocasional, mas, como é próprio de instituições competentes que exigem e
avaliam competências, de um modo sistemático, profundo, sério e em reciclagem constante.
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Algumas citações que julgo serem de uma autoridade acima da média.
Manuel Joaquim Delgado in “A ETNOGRAFIA E FOLCLORE – BAIXO ALENTEJO”, 1ª
ed. 1957/58, como separata da Revista “Ocidente”, 2ª Ed. Da Assembleia distrital de Beja, 1985,
cito apenas, da p.17:
“Necessidade da criação de uma cadeira de folclore nas Escolas do Magistério Primário, dado o
valor Cultural e formativo que esse ramo do saber humano pode e deve desempenhar nas Escolas
Primárias.”
Passemos de 1957 para 1995 e podemos ver a quem o onde se deve aplicar esta sugestão que
devia ser um imperativo.
De José Leite de Vasconcelos, in “ETNOGRAFIA PORTUGUESA – Tentame de
Sistematização” – vol. I, p. 328, 343, ed. Da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980 (em
1985 já estava publicado o VII vol.), vou fazer algumas citações e um apanhado do que me
parece mais gritante e era urgente fazer na 2ª metade do séc. XIX e na 1ª do século XX.
(07/07/1859 – 17/05/1941) (Em 41, com 82 anos ainda escreve o prefácio do III vol. do
Cancioneiro).
O essencial do que vou transcrever, já o mestre o tinha escrito 1882 e 1919.
(Perante o que ele afirma, quem sou eu para me queixar pelo facto de o ME e as Entidades ditas
responsáveis não me ouvirem a mim?)
«A necessidade / imperativo de estudar as manifestações de um Povo nasce da “máxima antiga:
 , isto é, nosce te ipsum” – conhece-te a ti próprio. Se isto é importante como base
para todo o desenvolvimento individual, “maior aplicação tem” no que diz respeito “a um Povo,
olhando no seu conjunto: apreciar como ele interpreta a Natureza que o rodeia, qual a
vivacidade ou torpor do seu engenho, a feição e grau de vitalidade da sua literatura, arte e
indústria tradicionais, as suas aptidões, génio, tendências religiosas, manifestações psíquicas
expontâneas, como julga os povos que o convizinham, ou como se considera a si próprio com
relação aos outros; o que são para ele a família e a sociedade; como é que ama, e como é que
odeia.” ... Tudo isto é fundamental para quem tenha de, verdadeiramente, penetrar no espírito
das sociedades. Através do vocabulário usual, relatos do quotidiano, como reflexo da vida
normal, podem conhecer-se as pessoas... Aí têm de ir a Etnografia e a Filologia de mãos
dadas.»
Para analisar uma obra de Literatura é preciso conhecer o seu contexto histórico. O mesmo se
tem de dizer se se trata de escultura, pintura, gravura, cerâmica... Aí, para muitos casos temos de
recorrer à Arqueologia... a Antropologia.
«...o moderno literato, o artista, o industrial... na execução dos seus trabalhos...(têm de
recorrer) a este mancial inesgotável de informações.» «A linguagem vulgar... adágios, cantigas,
e várias rimas e fórmulas...»
«Pela análise folklórica ficamos sabendo muitos dos hábitos dos nossos antepassados, muito do
que eles pensaram e sentiram.»
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«Da comparação do que se observa em um local com o que se observa noutro, e do que existe
agora com o que existiu d‟antes, chegamos a inferir que certos usos, crendices e ditos que se
julgam próprios de uma terra, existem longe dela, e, ou foram transmitidas de pais a filhos, ou
provêm de concepções fundamentais da alma humana, que na sua essência é una.»
Há um leque imenso de manifestações a estudar «considerando factos avulsos, ou ordenando-os
em grupos como os romances, as danças, as festas populares relacionadas com os mitos da
Natureza (cepos do Natal, fogueiras de S. João, serração da Velha, Maias), os costumes anexos
à trilogia da vida, ou nascimento, casamento e morte, as superstições do Lobishomem, do mau
olhado, dos dias aziagos, as lendas dos sinos, as facécias que podemos denominar Boeótica, (de
boémia) os ensalmos e outras espécies de literatura popular, a arte rústica, os trajos, os tipos de
casas e as formas de mobília, as variedades de comidas, os modos de transporte... Quantas
surpresas históricas e psicológicas não encontraríamos no nosso caminho?»
Ainda «...os remédios... feitiços... as crenças e costumes... as superstições... o crédito dado aos
sonhos que é universal...” tudo isto fornecerá matéria para estudo se se quer conhecer realmente
alguém e sobretudo um povo ou uma Região.
Qual o valor prático destes estudos:
«Se por ela apreciamos a vida de um Povo, no que tem mais íntimo, os seus caracteres
intelectuais, os seus hábitos, as suas aptidões, ficam habilitados o sociólogo, o legislador e o
político para lhe aproveitarem as virtudes, combaterem os defeitos e enfim dirigirem e
educarem, e não contrariarem tendências naturais que sejam úteis.»
Já é longa a transcrição. Seria preciso ler os 7 enormes volumes deste Mestre. Mas há apelos
ainda mais directos no que se refere à Escola a que este trabalho se destina.
«As crianças, ao irem para as escolas, levam já consigo copioso pecúlio tradicional, que
obtiveram das mães e do contacto com o povo, porque o que se aprende na meninice, raro
esquece...»
«Fará excelente obra o mestre-escola que seleccione esse pecúlio, o regule e complete,
aplicando-o ao desenvolvimento psíquico e físico dos seus alunos, que ao mesmo tempo aí
encontrarão grande prazer; ...»
Depois dá sugestões muito concretas. «... com as adivinhas «esperta-se a atenção e o acume
intelectual... com cantigas “promove-se o gosto literário”... com contos e romances “abre-se a
memória e activa-se a imaginação”... com os provérbios... com os jogos... com lendas e
xácaras...»
Cita ainda o mestre que muitos que foram bons governantes, foram-no sem dúvida resultado
«...da experiência que tinha da terra, do conhecimento dos homens d‟ella». Por se não
conhecerem os povos, quantos guerras e crises se provocaram?
«Diante dos aumentos da civilização que se alastra pelas múltiplas camadas sociais, e que
portanto destrói mais ou menos as tradições, sobretudo aquelas que estão em contraste com ela,
importa indagar com urgência as que ainda restam, para que em breve não fiquemos privados
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das vantagens que o estudo da Etn. Nos proporciona. E não me refiro só a tradições orais e
actos, refiro-me também a objectos,... Acudamos a tudo enquanto é tempo!»
«Empenhemo-nos por isso na investigação das tradições populares; façamos reviver ou
conservemos as que forem úteis; rejeitemos ou substituamos as que forem más; e em todo o
caso, estudemos tudo,...».
A quantidade de trabalhos e iniciativas que é preciso desenvolver, são imensas. (Vide ponto 5).
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ANX. 1.1 – Mértola no Espaço – ALENTEJO com marcas de Colonização...
1
Vide M. J. Delgado (História e Etnografia) 11... Cláudio Torres (Arqueologia) 12... Mattoso
(História)13... e J. Rabaça Gaspar (Linguística) 14 – “ O que perturba e alarma o homem
não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.” – Epicteto15 ver e
Mesquitela Lima16...
Delgado:
In Estudos Linguísticos – o Idioma Português – Manuel Joaquim Delgado – Editorial Império,
L.da Lisboa 1968, p. 111
O nome ALENTEJO de marca colonialista e outros nomes... Delgado remete-nos para J. Leite de
Vasconcellos:
«1 Na citada obra (Religiões da Lusitânia, Cap. I Época Lusitano-Romana, vol. III) de J. L. De
Vasconcelos da pág. 138, diz:
«Entre-Tejo-e-Guadiana ou Entre-Tejo-e-Odiana é designação geográfica usada pelos nossos
antigos AA. E corresponde pouco mais ou menos à do Alentejo no sentido primitivo da
expressão (=além-Tejo). Os antigos costumavam designar muito naturalmente as zonas
geográficas pelos nomes dos rios».
Ver, sobre o mesmo tema, NOTA 2, p. 104 – 2 Região Entre-Tejo-e-Guadiana.
Idem p. 106
«Alguns termos que designam cargos, postos ou profissões, etc., que caíram em desuso mas que
sobrevivem ainda em topónimos:
«Adaíl, Aguazil, alvazir ou alvazil, alcaide) almoxarife, alvanel, alvenel ou alvanéu, alfageme,
almocadém, almotacé, etc.
«Na toponímia: Casas Novas do Adaíl, freg.a de Vila Nova de Milfontes. Conc. De Odemira,
Horta dos Alvazíis, na freg.a de Selmes, conc. De Vidigueira, Vale de Alcaide de Cima e Vale de
Alcaide de Baixo, na freg.a de Quintos, conc. De Beja, Vale de Alcaide, na freg.a e conc. De
11
DELGADO, Manuel Joaquim, In Estudos Linguísticos – o Idioma Português –– Editorial Império, L.da Lisboa
1968, p. 111;
12
TORRES, Cláudio et allii – in Palavras Prévias de MANTAS TRADICIONAIS do Baixo Alentejo, Ângela Luzia,
Isabel Magalhães, Cláudio Torres, Caderno N.º 1, Campo Arqueológico de Mértola, Ed. Da Câmara municipal de
Mértola, Abril de 1984.
13
MATTOSO, José - Ver “Alentejo não Tem Sombra Senão a que Vem do Céu”, in Revista ARQUIVO DE BEJA,
vols. VII / VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 - 29;
14
RABAÇA GASPAR, José et allii, in “A Linguística e a Análise Literária como contributo para o
Desenvolvimento do Alentejo – Para a Criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA, in
CONGRESSO SOBRE O ALENTEJO (ACTAS) – Semeando Novos Rumos – III vol., Évora, Outubro de 1985, pp.
1127 – 1131.
15
EPICTETO – Filósofo estóico grego (c. 50 a 138). Escravo em Roma, depois de libertado ensinou Filosofia. Na
sua doutrina predominam as preocupações éticas. Considerando o homem como um rebento ou parte da divindade,
diz ser o seu maior dever tomar todos os acontecimentos da vida como serviço e testemunho de obediência prestada
a Deus. In Enciclopédia Fundamental Verbo.
16
LIMA, Mesquitela - Ver citação in ANTROPOLOGIA DO SIMBÓLICO, Editorial Presença, L.da, Porto, 1983.
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Ourique, Almoxarifes, na freg.a e conc. De Barrancos, Barranco dos Alcaides, na freg.a de
Corte do Pinto, conc. De Mértola.»
Mattoso – ver Arquivo de Beja I jornadas:
Ver - «ALENTEJO NÃO TEM SOMBRA SENÃO A QUE VEM NO CÉU» - José Mattoso, in
Revista Arquivo de Beja, Actas das II Jornadas, ALENTEJO E OS OUTROS MUNDOS, vol.s
VII e VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 –30.
Começa assim: «Toda a gente sabe que uma das características mais salientes do Alentejo é o
seu isolamento.»p. 15
Mais à frente ao tentar descrever a situação do Alentejo antes do século XIII: «As condições
geográficas favoreciam portanto, estas estruturas de produção e de circulação...»
Descreve depois as grandes vias de circulação... «...a importância do eixo económico do
Guadiana desde a antiguidade até ao século XIII»... e «...a sua íntima ligação com o
Mediterrâneo... e não com o Atlântico...» e... «Beja era um grande centro do GARB
muçulmano... em relação... com outros mundos de que o Mediterrâneo era a grande
encruzilhada.»
«O que se passou para que Beja (o Alentejo – Mértola...) entre o século XIII e o século XX...»
para, de um grande centro, passar a um dos níveis mais afastados deles (dos grandes circuitos
internacionais)...
As respostas são muitas e complexas... não se deve facilitar nem generalizar... Vale a pena ler
todo o trabalho deste Mestre, muito cuidado e abordando as críticas violentas com uma
delicadeza que é apanágio deste grande Histotiador e Pensador... mas, conseguimos ler que,
afinal, as grandes vias de circulação, terrestres e fluviais, terão sido mais para levar e exportar as
“riquezas” do Alentejo do que para contribuir para o seu progresso e desenvolvimento... e
portanto com a marca “ferrete” de região “colonizada” explorada em proveito de outros...
FIM DE CITAÇÃO. Fica o apelo à leitura do Artigo completo que eu posso ter interpretado
mal!!!
Ver ainda «INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / DESENVOLVIMENTO (IAC/D)»
José Rabaça Gaspar, in Revista ARQUIVO DE BEJA, ACTAS DAS I JORNADAS –
CULTURA E SOCIEDADE NO BAIXO ALENTEJO, vol. II / III, série III, Dezembro de 1996,
pp. 237 – 248.
1 - «Em 1998, tive o raro privilégio de poder ouvir em directo a intervenção deste Mestre, nas II
Jornadas do ARQUIVO DE BEJA e pude ser contemplado com o “elogio” de me ter atrevido a
tentar fazer a primeira intervenção, depois da sua Magistral Palestra, que deixou a plateia sem
respiração nem capacidade de reacção de tão profunda, clara e inquestionável. Atrevi-me a
sugerir, aquilo que tinha já escrito, desde 1985, no CONGRESSO sobre O ALENTEJO, Évora,
Out., 85 e o que repetira por outras palavras nas I JORNADAS do ARQUIVO de BEJA, de 13 a
15 de Junho de 1996: Afinal, aquilo que o Mestre em História mostrava com tantos dados e
pormenores... podia LER-SE, através de uma análise linguística, na própria palavra
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ALENTEJO... O determinante ALÉM, mostra que o sujeito está distante do “objecto”. Enquanto
o “EU” implica “AQUI” o “ALÉM” indica que foram estranhos que deram NOME ao ALÉMTEJO... e como o nome indica relação ou apropriação de algo... parece que comparando com a
História, este “dar NOME”... tem significado, exploração... colonização... isolamento...
apropriação indevida do que pertence a um Povo e a uma Região.»
Ainda duas citações do resumo que enviei, recomendando, para ser entendido, a leitura dos
vários trabalhos em que me tenho debruçado sobre o assunto...
«... 2 – Dadas estas e outras características marcantes, esta REGIÃO, tem sido ao longo dos
tempos fortemente cobiçada, usada, colonizada, (basta analisar o nome ALENTEJO) a ponto de,
mesmo os seus autóctones e defensores se considerarem sistematicamente ignorados e
marginalizados. Por tradição e tendência do POVO português em geral fica-se normalmente à
espera de um “DESEJADO” que nos salve; de um “génio”- que faça o que deve ser feito por
muitos; das “AUTORIDADES COMPETENTES”, que nos mandem fazer o que nos compete;
dos subsídios e apoios da “EU” – que venham dar valor ao que é nosso!!! ...»
«... 3 – Em vez de nos lamentarmos, resta-nos tomar consciência de que ninguém virá
reconhecer os nossos VALORES para nosso benefício... Pertence aos autóctones (indígenas ou
que escolheram aqui viver) o dever se conhecerem e reconhecerem com as suas qualidades e
defeitos, e para isso o dever de recolher, estudar, divulgar os VALORES que os caracterizam
como REGIÃO, bem como, para o poderem exigir aos outros (Governos etc.), considerar estas
características como base, fundamento e condição do seu desejável e imprescindível
DESENVOLVIMENTO.»
Ver também – Rabaça Gaspar – in Actas I Congresso sobre o Alentejo – Out 1985, (já citado).
Ver ainda, de novo, Cláudio Torres – in Palavras Prévias de MANTAS TRADICIONAIS do
Baixo Alentejo, (já citado no 1º ponto).
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 2. - Mértola – a NOMINALIA ou a festa dos Nomes
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ANX. 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME
e as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina
Mértola
- Concelho do distrito e diocese - de Beja, comarca de M. O concelho (1279 km2)
In Web: http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre
freguesias
Orago - Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas
Área - 1279 Km2 cerca de 10.000 habitantes
Feriado Municipal - 24 de Junho
Ordenação heráldica do brasão e bandeira
Publicada no Diário da República, III Série de 02/02/1987
Armas - Escudo de negro, um cavaleiro de armadura, cerco e manto, com espada alçada na mão
direita e no braço esquerdo um escudo carregado de uma cruz de Santiago, de vermelho,
montado num cavalo empinado, tudo de prata, o cavalo selado e enfreado de negro realçado a
ouro. No cantão direito do chefe, dois martelos de prata, postos em pala e alinhados em faixa.
Coroa mural de prata de quatro torres. Lintel branco com os dizeres : " VILA DE MÉRTOLA ", de
negro.
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Nome – grafados de diversas maneiras de acordo com a influência da ocupação romana, árabe e
reconquista:
Myrtilis – da presença romana – a muralha na margem do rio – ponte-cais... – em várias obras e
autores...
Mirtilis – «... fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis,
em honra da Deusa Mirto, sua mãe, que o teve de Mercúrio.» in Arquivos de Serpa, João
Cabral, Serpa, 1971 – na Lenda «Serpínia, Princesa Feliz»
Mirtilys Júlia – Mário Elias in Estudos literários sobre Mértola e seu Concelho, Associação dos
Municípios do Distrito de Beja, s/d,
MVRTILIS – António Marques de Faria – Colonização e Municipalização nas Províncias
Hispano Romanas– in Internet...
Myrtilis Julia (Mértola) (Mantas, 1987, p. 28) – cita FARIA
Murtilis – terá sido provavelmente colónia de César... (Faria in citado)
MARTULA (Romage (1998, p. 440, n. 38) citado por FARIA
Myrtilis – Nova Tiro, porque aqui se homiziaram alguns Fenícios quando Alexandre Magno
invadiu a cidade de Tiro ... e nos séc V a VIII – rotas marítimas e comerciais inseguras...
alberga comerciantes nativos e orientais
Mārtula – árabe
Mártula - «... com o andar dos tempos Mirtilis corrompeu-se em Mártula – Arquivo Histórico de
Portugal 1898 – citado por Carlos Leite Ribeiro – in cidade Virtual - Mértola
Mirtolah – árabe - in As mais Belas Vilas e Aldeias de Portugal – Verbo – (1984) 1996 - séc. XI e XII – período islâmico - foi capital de um reino cujo território incluía a cidade
de Beja (in Mértola – Vila Museu p.14)
MÉRTOLA - 1238 – D. Sancho I – integrada no Reino de Portugal...
- 1250 - foral por D. Afonso III – confirmado em 1287 por D. Dinis e reformado em
1512 por D. Manuel I
- séc. XV início XVI – FOI PORTO DE ABASTECIMENTO CEREALÍFERO das
praças portuguesas de norte de África... e depois perde em favor dos estuários do Sado e
Tejo...
- 1877 – intervenção de Estácio da Veiga sobre achados arqueológicos... após grande
cheia...
- 1978 – trabalho continuado 100 anos depois pelo Campo Arqueológico de Mértola...
- até 1966 parte da economia baseava-se na exploração da mina de S. Domingos (desde
1858)...
Vide DIVERSOS nomes relacionados:
In Enciclopédia Verbo – Luso-Brasileira de Cultura – Edição Século XXI
Ver – Mértola – mirtilo – murta –
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia de Ciências de Lisboa – Editorial
Verbo – 2001
Ver – mertolense e mertolengo – mirto – murta – ...
Nomes e PALAVRAS, possivelmente ligadas a MÉRTOLA & MÍRTILO
MIRTILO [mirtílu] s.m. (do lat. científico myrtillus). bot.
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1. planta subarbustiva, da família das ericáceas ( Vaccinium myrtillus, lin.) que produz bagas
comestíveis;
2. Baga negra e comestível, de sabor ligeiramente ácido e com propriedades adstringentes,
produzida por essa planta. Doce de mirtilo.
MIRTO [mírtu] s. m. (Do Lat. myrtus - grego murtos)
1. Bot. planta da família das mirtáceas de folhagem sempre verde, pequenas flores brancas, de
aroma agradável, fruto baciforme, negro azulado, na maturação, também designado por murta.
2. Folha ou conjunto de folhas dessa planta. Uma coroa de mirto.
MURTA [múrta] s. f. ( do let. murta do gr. murtos). bot.
1. Designação comum de uma planta arbustiva, por vezes arborescente, da família das mirtáceas
(Myrtus comunis, Linn.) de folhas opostas, duras, levemente pecioladas e aromáticas quando
esmagadas, flores brancas e perfumadas, fruto pequeno, ovóide negro e azulado, quando maduro,
espontânea ou cultivada em Portugal.
Bagas de murta.
Colheu um raminho de murta, mas o vento da serra depressa lhe murchou as flores.
A essência extraída das flores da murta é usada em perfumaria.
2. Fruto dessa planta, aromática e com propriedades balsâmicas.
Deliciava-se com o licor de murta que trouxera da aldeia.
Antigamente, usava-se a murta em determinados preparados farmacêuticos.
MURTAL [murtál] s. m. (De murta + suf. al).
1. área onde crescem ou se plantam murtas.
murteira [murtéira] s. f. (De murta + suf. eira) Bot. o mesmo que murta.
murtinheira - o mesmo que murta
murtinho - Baga da murta...
mertolengo 1- o mesmo que mertolense Habitante de Mértola
mertolengo 2 - o mesmo que mertolense Habitante de Mértola
mertolense 1- Habitante de Mértola
mertolense 2 - Habitante de Mértola
(vide in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Verbo, 2001.
Páginas Amarelas 2002 – 2003 – Nomes e apelidos mais repetidos...
Cartografia – nomes de lugares...
COMISSÃO NACIONAL DE ELEIÇÕES – Distritos, concelhos, Freguesias
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Outros dados sobre MÉRTOLA:
com uma pop. total residente de 9805 habs. (1991).
Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro.
Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite.
Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e
olaria.
Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no
último fim-de-semana de Setembro.
Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha,
beijinhos de Mértola e pão alentejano.
Desenvolvimento anterior à nacionalidade:
- foi entreposto comercial fenício, cartaginês, romano e árabe...
Património:
- Castelo com Torre de menagem de 1292
- Muralha Romana 1500m e 5m de espessura...
- Igreja de Nossa Senhora da Anunciação – antiga Mesquita - ? séc. XI, DAPTADA
DEPOIS DA Reconquista e obras em finais do séc. XIII
- Igreja da M – séc XVI Misericórdia... transformações no séc. XVIII
- Ponte de Mértola – É provavelmente uma torre de aceso á agua – Monumento Nacional
16.6.1910.
- Núcleo visigótico – na Torre de Menagem com obras do séc. VI e VII quando era parte
integrante do Reino Visigótico de Toledo
- Núcleo de ferreiro – desde 1983 - com instrumentos da profissão...
- Núcleo da tecelagem – expositivo com objectivo de recuperar técnicas em vias de
extinção...
- Núcleo islâmico – colecções de cerâmica lápides... fragmentos...
- Núcleo paleocristão - ruínas da Basílica paleocristã... escavada em 1982, onde
apareceram sepulturas do séc. V ao VII... inaugurado em 1993...
- Núcleo do Castelo – inaugurado em 1992 – com peças de várias épocas...
- Núcleo romano – inaugurado em 19888 na Cave da Câmara... estátuas... moedas...
armas...
- Núcleo da Necrópole e Ermida da Achada de S. Sebastião – 1999 – ermida destruída
pelas cheias de 1876...
- Núcleo da Porta da Ribeira (arte sacra) –
Ver ainda.
Em Alcaria Longa – Povoado Medieval... e
Corte Pinto... Igreja de Nossa Senhora da Conceição e descobertas de 1987 de enterramentos em
sepulturas cavadas na rocha com datação provável do séc. XVIII
Então e a Mina de S. Domingos??????????
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ANX – 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina
Embora este ponto seja tratado com maior desenvolvimento, quando falarmos das LENDAS, em
ANX 3.1 e 3.1.1, talvez seja oportuno deixar aqui algumas referências sobre a mitologia grecolatina que podem contribuir para encontrar um sentido ao NOME que foi dado a MÉRTOLA.
in http://mithos.cys.com.br/
Mirtilo
Mitologia Greco-Romana
Filho de Mercúrio e de Mirto. Sendo cocheiro de Enomáo, traiu-o numa corrida em proveito de
Penélope (ver PÉLOPE ou PÉLOPS) e, como castigo, foi precipitado no mar, donde foi
transportado para o céu e colocado na constelação de Cocheiro.
Ver A MITOLOGIA - Edith Hamilton p. 359...
«Era Cocheiro do pai da princesa Hipodamia e traiu o rei em favor de Pélope o irmão de Niobe,
filhos de Tântalo...»
Niobe
Mitologia Greco-Romana
Rainha frígia, filha de Tântalo, irmã de Pélops mulher de Amphion, foi mãe de sete filhos e sete
filhas. Orgulhosa dessa sua fecundidade, zombou de Latona, que só teve um casal de gêmeos:
Apolo e Diana; estes para vingarem sua mãe, mataram, a flechadas, todos os filhos de Niobe. A
infeliz mãe, desesperada de dor e fechada em profundo mutismo, pediu a Júpiter que a mudasse
em rochedo, e, em seguida, encaminhou-se para a montanha Sípile, onde as rochas cresceram ao
redor do seu corpo, envolvendo-a em uma bainha de pedra; neste estado, um turbilhão arrebatoua para a Lídia, e a depôs sobre o cimo de uma montanha, onde ela derrama lágrimas que,
perpetuamente, correm de um bloco de mármore.
PÉLOPE E HIPODÂMIA – ( e o papel de MIRTILIS...)
In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm
Mas a chegada de Pélope à Elida veio terminar com a história de derrotas mortais. Pélope era o
filho de Tântalo, a quem este tentou oferecer como manjar insultante aos deuses, fato pelo qual
Tântalo foi castigado eternamente, enquanto o inocente Pélope era devolvido à vida por eles,
após ser recomposto quase totalmente. Após o incidente, o jovem protegido dos deuses chegou
às terras de Enomau e apaixonou-se pela bela Hipodâmia. Como era natural, o rei desafiou-o à
mortal corrida e o jovem, sentindo-se acompanhado pela boa vontade divina, aceitou o desafio.
Há quem diz que Pélope contava com uns cavalos ainda melhores, oferecidos por Possêidon, e a
melhor qualidade dos corcéis foi a causa exclusiva do seu triunfo; há outros que preferem a
versão do amor da princesa, e por isso asseguram que foi Hipodâmia quem decidiu terminar com
a sanha do rei Enomau, que se negava a aceitar a possibilidade de ser o sogro, e preferia evitar o
laço político potencial, atuando como um pai muito ciumento. Hipodâmia, farta de ter que
resignar-se a ver desaparecer na fossa tantos admiradores valentes, sem chegar a desfrutá-los,
inventou uma solução definitiva ao seu problema, fazendo com que um suborno chegasse a
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Mirtilo, moço de cavalariça do rei, para que este atentasse contra Enomau, deixando o eixo do
carro real quase partido ao meio. A corrida começou e o carro real ficou de fora, sem nenhuma
possibilidade de chegar, embora fosse o último, à meta. Para rematar a história, conta-se que
Pélope deu morte a Mirto, não sem que este o maldissesse antes de morrer. Resulta trágico que
Mirto morresse pelas mãos de quem tinha ajudado a viver, apesar de ter sido ele responsável
do seu triunfo, mas isto pode ser interpretado como outro desses fatos infelizes que trouxeram a
desgraça a toda a estirpe de Tântalo e que vêm justificar ainda mais o infortúnio do clã. O que se
pode dizer com certeza é que o sanguinário e implacável deus do sofrimento alheio, Ares,
embora só o fosse por intermédio do fracasso do seu amigo Enomau, também terminou a
aventura numa má situação, dado que a derrota desse cúmplice era -em boa medida- também
uma derrota própria. E sem nenhum gênero de dúvida, os gregos colocavam a prenda de Ares
num lugar proeminente da lenda de Hipodâmia, para que se pudesse claramente ver a classe de
indivíduo celestial que era o deus próprio das guerras.
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ANX. 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...
In Web: http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre
freguesias
Área - 1279 Km2 cerca de 10.000 habitantes
Feriado Municipal - 24 de Junho
Freguesias
Alcaria Ruiva
Corte do Pinto
Espírito Santo
Mértola
Santana de Cambas
São João dos Caldeireiros São Miguel do Pinheiro São Pedro de Solis São
Sebastião dos Carros
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Mértola - Concelho do distrito e diocese de Beja, comarca de M. - O concelho (1279 km2)
tem nove freguesias:
Alcaria Ruiva (orago - Nossa Senhora da Conceição),
Corte do Pinto (Nossa Senhora da Conceição),
Espírito Santo (Espírito Santo),
Mértola (Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas),
Santana de Cambas (Sta. Ana),
São João dos Caldeireiros (S. João Baptista),
São Miguel do Pinheiro (S. Miguel),
São Pedro de Solis (S. Pedra Apóstolo),
São Sebastião dos Carros (S. Sebastião)
com uma pop. total residente de 9805 habs. (1991).
Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro.
Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite.
Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e
olaria.
Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no
último fim-de-semana de Setembro.
Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha,
beijinhos de Mértola e pão alentejano.
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Mértola tem nove freguesias – os LUGARES E RUAS...:
Freguesia
Alcaria Ruiva
Orago
Nossa Senhora da
Conceição
Lugares
ÁGUA SALGADA
AIPO
ALCARIA RUIVA
ALGODOR
AMENDOEIRA DE BAIXO
AMENDOEIRA DE CIMA
AMENDOEIRA DO CAMPO
AMENDOEIRAS
ATAFONA
AZINHAL
BENVIÚDA
BOISÃO
CARRAPATEIRA
CASA DA MUDA
CASA DA SERRA
CERQUINHA
CORTE COBRES
CORTE JOÃO CINZA
CORTE PEQUENA
EIRINHA
FERRARIAS
JOÃO SERRA
MAL JULGADO
MALHADA
MALHÃO
MECIARES
MINGO REI
MONTE DA GRADE
MONTE DA LÉGUA
MONTE DAS FIGUEIRAS
MONTE DO OUTEIRO
MONTE NOVO DO FUTURO
MONTE RUIVO
Monte Viegas
MONTINHO FIALHO
NAVARRO
NEVES
ORGANIM
OUTEIRO
PESO
POMBAL
SÃO LOURENÇO
TRÊS FREIRAS
VALBOM
VALE AÇOR DE BAIXO
VALE AÇOR DE CIMA
VALE BOM DE BAIXO
VALE DE CAMELOS
VALE FRESCO
VENDA DOS SALGUEIROS
VEREDA
Corte do Pinto
Nossa Senhora da
Conceição
25 de Abril – Rua
Notas / Pistas
Aldeia Nova - Rua
Alfadega – Largo
Bairro 1 de Maio
Bairro Alto
Barranco dos Alcaides
Ver em Delgado
Bispo – Rua
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Boavista – Rua
Bonfim – Rua
Cabanitas – Rua
Capelão – Rua
Caseta – Rua
Celeiros – Rua
Centro – Largo
Chança – Rua
Conceição – Rua
CORTE AZINHA
CORTE DO PINTO
Corte – Rua
D. Carlos – Rua
D. Eduardo – Rua
Dona Amélia – Rua
Dona Lídia – Rua
Dr. Rocha – Rua
Dr. Serrão Martins - Rua
Dr. Vargas – Rua
Eiras – Rua
Escola – Largo
Escola – Rua
Filarmónica - Rua
GNR – Largo
Guadiana – Rua
Hospital – Largo
Igreja – Largo
ILHA
Indústria – Rua
Liberdade – Rua
Longa – Rua
Marco Encarnado - Rua
Mercado Novo – Largo
Mercado Velho - Largo
Mercado – Rua
MONTE BARBA
MONTE DO SOSSEGO
Nascente – Rua
Norte – Rua
Poente – Rua
Quartéis Dobles – Rua
Santa Bárbara – Rua
Santa Eugénia – Rua
Santa Isabel – Rua
Santo António – Rua
São Domingos - Rua
São Francisco - Rua
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São João – Rua
São Pedro – Rua
Serpa – Rua
Sul – Rua
Espírito Santo
Espírito Santo
Mértola
Nossa Senhora de
Entre-as-Vinhas
Violeta - Rua
ÁLAMO
ALCARIA DOS JAVAZES
ALMOINHA VELHA
BESTEIROS
BICADA
BOAVISTA
BOMBEIRA VELHA
BRAMAFÃO
COLGADEIROS
CORTE CARRILHO
D’ORDEM
EIRINHA
ESPÍRITO SANTO
GAFA
MARROCOS
MESQUITA
MOINHOS DE VENTO
MOINHOS DE VENTO DE BAIXO
MOINHOS DE VENTO DE CIMA
PALAQUEIRA
PENHA DE ÁGUA
RONCÃO DE BAIXO
RONCÃO DE CIMA
RONCÃO DO MEIO
ROUCANITO
SEDAS
VICENTES
ZAMBUJAL
25 de Abril – Largo
25 de Abril - Rua
5 de Outubro - Rua
ACHADA DE S. SEBASTIÃO
Adriano correia de Oliveira - Rua
ALÉM RIO
Aloriso Gomes – Largo
ALTURA DOS COITOS
Álvaro Marinha de Campos - Rua
Alves Redol – Rua
AMENDOEIRA DA SERRA
Angola – Rua
Aureliano Mira Fernandes - Avenida
Bairro Novo - Rua
BRITES GOMES
Brito Camacho – Largo
CACHOPO
Cândido dos Reis - Rua
Cândido dos Reis - Travessa
CELA
Cerro da Forca – Praceta
CERRO DO BENFICA
Combatentes da Grande Guerra - Rua
CORTE DA VELHA
CORTE GAFO DE BAIXO
CORTE GAFO DE CIMA
CORTE PEQUENA
CORTE SINES
CORVOS
Delfim Rosa Alho - Rua
D. Sancho II - Rua
Dr. Afonso Costa – Rua
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Dr. António José de Almeida - Rua
Dr. Manuel Francisco Gomes – Rua
Dr. Serrão Martins – Rua
Dr. Serrão Martins – Travessa
Dr. Teófilo Braga – Rua
Elias Garcia – Rua
FERNANDES
Igreja – Rua
José Carlos Ary dos Santos – Rua
Latino Coelho – Rua
Leal – Beco
Lojas – Praceta
LOMBARDOS
Luís de Camões – Praça
Maria Luísa Sales – Rua
MILHOURO
MONTE ALTO
MONTE DA BELA VISTA
MONTE DOS AMORES
MONTE VALE DAS ANTAS
MONTE XERIFE
MORENA
MOSTEIRO
Nacional 122 – Estrada
NAMORADOS
NEVES
Neves – Travessa
Nossa Senhora da Conceição – Rua
Oliveirinha – rua
PIAS
POÇO DOS 2 IRMÃOS
POÇOS NOVOS
POMAR DA BOMBEIRA
Professor Batista da Graça - Rua
Professor Sebastião e Silva – Rua
QUINTA
República da Guiné - Rua
República de Cabo Verde – Rua
República de Moçambique – Rua
República se São Tomé e Príncipe –
Rua
República – Rua
Roncanito – Travessa
Rossio – Largo
Rossio – Travessa
SAPOS
SERRO DE SÃO LUÍS
Soeiro Pereira Gomes – Rua
TAMEJOSO
Timor – Rua
VALE DE ÉVORA
Vasco da Gama – Largo
Visc Boisós - Rua
Zeca Afonso - Rua
Santana de Cambas
Sta. Ana
ACHADA DO GAMO
ALVES
BENS
COSTA
FORMOA
MOITINHO
MONTE SAPOS
MONTES ALTOS
MOREANES
PICOITOS
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POMARÃO
SALGUEIROS
SANTANA DE CAMBAS
SERRALHAS
TELHEIRO
VALE DO POÇO
VALE FORMOSO
São João dos
Caldeireiros
S. João Baptista
VALE TRAVASSOS
ÁLVARES
CORTE PÃO E ÁGUA
HERDADE DE SANTA MARIA
HORTA DE SÃO JOÃO
LEDO
MARTINHANES
MONTE CORVO
MONTE COSTA
PALMA
PENILHOS
QUINTA DA CALDEIRA
ROMEIRAS
SÃO JOÃO DOS CALDEIROS (?)
SIMÕES
TACÕES
TOURIL
VASCO RODRIGUES
São Miguel do
Pinheiro
S. Miguel
ALCARIA LONGA
CASTANHOS
CHANOCA
CORCHA
CORREDOURA
DIOGO MARTINS
ESPRAGOSA
FONTES
GATO
GÓIS
GÓIS GORDO
LOBATO
MALHÕES
MANUEL GALO
MILHALVO
MONTE AGUDO
MONTE NOVO
MONTE NOVO DE MARREIROS
MONTE VELHO
MONTES SANTANA
MURTEIRA
NEGRACHO
NEVES
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PEITEIRA
PENEDOS
PEREIRAS
RONCÃO
SÃO MIGUEL DO PINHEIRO
SERRANOS
São Pedro de Solis
S. Pedro Apóstolo
São Sebastião dos
Carros
S. Sebastião
TOURIL
BARRANCO
BICADA
CASA NOVA
CASA VELHA
CASTELEJO
FIALHO
GATÃO
GIRALHEIRA
HORTINHA
MIGUENSES
MONTE DE NEGAS
MONTE NOVO DA OLIVEIRA
QUINTA DOM MAIOR
ROSA
SÃO PEDRO DE SÓLIS
VENTOSA
ZURRAL
BELO
BOISÕES
BOISÕES DE BAIXO
BOISÕES DE CIMA
CARROS
PAPA LEITE
PAPA LEITINHO
PIRES ALVES
RAMOS
SÃO BARTOLOMEU DA VIA GLÓRIA
SÃO SEBASTIÃO DOS CARROS
VARGENS
Esta é só uma amostra a partir de uma simples leitura das Páginas Amarelas... Ficam a faltar os
nomes de lugares...
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MÉRTOLA – MAPA – para possível localização das Freguesias, Montes e Lugares...
Ver ainda.
Em Alcaria Longa – Povoado Medieval... e
Corte Pinto... Igreja de Nossa Senhora da Conceição e descobertas de 1987 de enterramentos em
sepulturas cavadas na rocha com datação provável do séc. XVIII
Então e a Mina de S. Domingos??????????
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ANX. 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...
É um capítulo que, necessariamente, fica muito incompleto e se apresenta só como “amostra”.
Esperávamos encontrar uma série de nomes que nos levassem à revelação da quantidade de
povos e gentes que passaram por esta “encruzilhada”, mas nem a fonte a que recorremos, nem os
conhecimentos que temos sobre o assunto nos permitem tirar conclusões...
Foto in CD PORTFOLIO – Mértola Vila Museu
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NOMINÁLIA – APELIDOS – uma AMOSTRA dos mais repetidos e alguns raros
Apelido / Família
AFONSO
ALHO
ALMEIDA
ALVES
ANASTÁCIO
ANSEITEIRO
ANTÓNIA
ANTÓNIO
ARBINA
ARMSTRONG
ARRAIA
ASSUNÇÃO
AUGUSTA / O
AZEDO
BACALHAU
BAIÃO
BAIOA
BARÃO
BATINHA
BATISTA
BENTO
BOIÇA
BRAIZINHA
BRANCO
BRITO
CAETANO
CAIXINHA
CALHEGAS
CALQINHA
CAMACHO
CANDEIAS
CANGALHINHAS
CAPELO
CAPITO
CARANGUEJO
CARDEIRA
CARMO
CARRACINHA
CARRASCO
CATARINA / O
CAVACA
CAVACO
26
12
7
8
6
1
11
9
1
6
7
2
8 – 1 BAIÔA
11
8
25
14
14
10
2
2
2
17
2
3
6
3
2+2
16
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CESÁRIO
CIPRIANO
COELHO
COLAÇA
COLAÇO
CONCEIÇÃO
CONDUTO
CONFEITEIRO
CONTENTE
CORREIA
COSTA
CRUZ
CUSTÓDIA / O
DIAS
DIOGO
DIONÍSIO
DOMINGOS
DRAGO
ENCARNAÇÃO
ESTEVENS
FERNANDES
FERREIRA
FILIPE
FRANCISCA / O
GALHORDO
GIMENES
GODINHO
GOMES
GONÇALVES
GUERREIRO
HENRIQUE
HORTA
INÁCIA / O
JACÓ
JACOB
JESUS
JOÃO
JOAQUIM / NA
JOSÉ
LAMPREIA
LANEIRO
LOPES
LOURENÇO
LOURO
LÚCIA
LÚCIO
LUÍS
2
8
8
26
25
11
4
17
61
22
2+5
29
10
2
12
2
8
38
9
9
4 + 13
19
30
29
47
10
14
1 + 14
2
15
4
4+4
15
10
16
13
2
2
13
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MACHADO
MACIAS
MADEIRA
MANUEL
MARIA
MARQUES
MARTINS
MATEUS
MATIAS
MEDEIRO / S
MESTRE
NEVES
NUNES
PALMA
PARREIRA
PAULINO
PEDRO
PEREIRA
PIRES
RAMOS
RAPOSO
REIS
REVES
REVEZ
RIBEIRO
RODRIGUES
ROLHA
ROMAN
ROMANA
ROMÃO
ROMBA
ROSA
ROSÁRIO
RUAS
RUIVO
SANTOS
SEITA
SENO
SILVA
SILVESTRE
SIMÃO
SOARES
TEIXEIRA
VALADAS
VALENTE
VARGAS
VIEGAS
12
10
10
32
32
86
2
10
2 + 15
37
10
12
113
7
10
7
70
10
12
42
19
7 – 1 é Revês
10
7
41
4
5
13
7
42
9
7
7
56
8
52
12
9
9
47
7
16
12
9
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VIRIATO
VISEU
WINTER
XIMENES
ZEFERINO
ZWANIKKEN
3
Ver em António Borges Coelho - «SOBRE MÉRTOLA E O GUADIANA» - in
ARQUEOLOGIA MEDIEVAL, 1 – ed. Afrontamento, 1992 – Campo Arqueológico de Mértola:
o nome do pároco em 1613:
«Em 1613 o pároco Vicente Afonso Lampreia envia ao Santo Ofício uma relação dos fugitivos
de Mértola. Aproveita para lembrar que a vila é uma terra de passagem onde não há familiar e
oferece-se para comissário do Santo Ofício»... falando do tempo dos Filipes e suma época em
que: «O rio quase volta a unir.»
Pareceu-nos importante destacar este nome: LAMPREIA, como nome característico e ligado à
Terra e ao Rio... mas não deixa de ser intrigante para apresentar Mértola como: TERRA DE
PASSAGEM, onde não há (ou não tem?) FAMILIAR e oferece-se para comissário...!!!
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-
ANX 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco
estudado...
Embora se verifique com bastante facilidade que muitos dos APELIDOS ou NOMES de
FAMÍLIA derivaram possivelmente de antigas ALCUNHAS devido à profissão e outros
factores que seria preciso estudar, fica ainda um MUNDO a desvendar para recolher,
investigar e estudar o significado desta quase necessidade secular de atribuir outro nome às
pessoas que não o de registo...
Não sabemos o que se passa em Mértola... mas é importante saber...
Como pista para este estudo, ver diversos trabalhos de Francisco Martins Ramos, de quem só
consultámos: ALCUNHAS ALENTEJANAS – Estudo Etnográfico, Edição da Associação de
Defesa dos Interesses de Monsaraz (ADIM), Monsaraz, Dezembro de 1990; mas temos
conhecimento de, pelo menos, mais duas obras, tendo sabido já em 2003 de um TRATADO
das ALCUNHAS Alentejanas, da autoria do Dr. Francisco Ramos e Carlos Alberto da Silva,
Editora Colibri, 2003.
Registo de alguns textos mais significativos... «Estudar designações num oral quotidiano, em
perspectiva plurifacetada de apuramento de significações, funções sociais e distribuição
geográfica, é um acto de coragem intelectual: exige conhecimentos especializados, rigor
conceptual e disciplina metodológica, numa encruzilhada multidisciplinar em que confluem
a Lexicologia, a Semântica e a sociologia.» (in Alcunhas Alentejanas – Francisco Martins
Ramos, Monsaraz, 1990, p. 13) e talvez se possam acrescentar algumas mais, como a
Antropologia, a Psicologia, etc.
Perante a impossibilidade de recolha de ALCUNHAS recolhidas no terreno, transcrevemos
nomes de APELIDOS que provavelmente derivaram de antigas ALCUNHAS, como os
ligados a profissões, produtos da terra, árvores, animais...
ALHO – ANSEITEIRO – ARRAIA – AZEDO – BACALHAU – BARÃO – CAIXINHA –
CANDEIAS – CANGALHINHAS – CARANGUEJO – CARRACINHA – CARRASCO –
CAVACO – COELHO – CONDUTO – CONFEITEIRO – CORREIA – GUERREIRO –
HORTA – LAMPREIA – LANEIRO – LÚCIO – MACHADO – MADEIRA – MESTRE –
NEVES – PALMA – PARREIRA – PIRES – RAMOS – RAPOSO – RIBEIRO – ROLHA –
ROSA – SILVA...
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ANX 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...
Neste Capítulo, fomos encontrar, no Parque Natural do Vale do Guadiana, pelo menos duas
obras fundamentais, pelo que verificamos que já não será uma sugestão nossa que vai alertar
para o estudo deste tema, nem era esse o nosso propósito.
Trata-se de um trabalho notável. É preciso descobrir entretanto como é que este trabalho vai
fazer parte do quotidiano das pessoas como afirmação da sua cultura.
Todos nós temos assistido um pouco a um fenómeno estranho, que tem acontecido durante
algumas décadas e caricaturado naquela anedota do ancinho: o filho sai de ao pé dos pais para ir
estudar, e como já sabe muito, quando volta a casa e vai ao campo com o pai, já não sabe como
se chama aquela alfaia com dentes para juntar a palha e as folhas, a não ser quando o pisa e leva
com ele na cara. À medida que as pessoas “vão saindo” para saberem mais, aquilo que sabiam
em crianças, quando corriam livres pelos campos atrás dos pássaros e dos animais, depois de
alguns anos de estudo, já não sabem!?? Como se chama aquela árvore? Como se chama aquela
flor? Como se chama aquela ave? NADA!!! Será que ficam ao menos a saber o nome científico?
Dá-se uma total descaracterização cultural ou o que é que se passa?
É importante tomar consciência que o Universo da Linguagem de tudo o que nos rodeia, constrói
e define o nosso Universo Cultural – caracteriza o Universo Cultural de uma região. Não
estamos a sugerir que as pessoas não devem estudar e saber mais. Estamos a dizer exactamente o
contrário. O que não devem, é esquecer aquilo que antes aprenderam, nem rejeitá-lo, antes
assumi-lo e desenvolvê-lo ou corrigi-lo, se for o caso.
O nosso contributo neste capítulo é apreciar o trabalho realizado que fomos encontrar, como todo
o restante das várias entidades de Mértola, e sugerir que se descubram os meios mais eficientes e
até lúdicos para que estes conhecimentos não se percam e junto com os nomes dos livros, se
continuem a saber os nomes que os antepassados da região nos legaram com o seu significante,
significado e talvez com o seu simbolismo...
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1. PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Leonor Rogado (Texto), Carlos Carrapato
(fotografia), Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2001
Com um Glossário no final que, segundo pensámos nos ia facilitar o trabalho, encontrando a lista
dos PEIXES, com o seu nome científico e nome popular por que são conhecidos, mas que afinal
contém, o que seria mais importante para os autores e organizadores, a lista das palavras que
ofereceriam mais dificuldade aos possíveis leitores.
Entretanto, basta recorrer ao índice para termos o levantamento do nome dos PEIXES, segundo
as várias espécies e até menciona os secundários...
Lista dos PEIXES – para ficar com uma ideia da influência que terão na região:
p. 3 (Obra citada) Espécies migradoras
Nome vulgar
Enguia
Esturjão
Lampreia
Sável
Savelha
Nome científico
Anguilla anguilla
Acipenser sturio
Petromyzon marinus
Alosa alosa
Alosafalax
p. 3 (Obra citada) Espécies nativas residentes
Nome vulgar
Nome científico
Barbo de Steindachner
Barbus steindachneri
Barbo-de-cabeça-pequena
Barbus microcephalus
Barbo-do-sul
Barbus sclateri
Boga do Guadiana
Chondrostoma willkommii
Boga-de-boca-arqueada
Chondrostoma lemmingii
Bordalo
Leuciscus albumoides
Caboz-de-água-doce
Salaria fluviatilis
Cumba
Barbus comiza
Escalo do sul
Leuciscus pyrenaicus
Saramugo
Anaecyplis hispanica
Verdemã
Notas
Solho
Notas
Saramugo – uma espécie em extinção – tem
um panfleto de divulgação da Faculdade de
Ciências da UL e do Instituto da Conservação
da Natureza e até na Web:
http://hello.to/saramugo
Cobitis paludica
p.3 (Obra citada) Espécies introduzidas residentes
Nome vulgar
Achigã
Carpa
Chanchito
Gambúsia
Lúcio
Peixe-gato-preto-arnericano
Perca-sol
Pimpão
Nome científico
Micropterus salmoides
Cyprinus carpio
Cichlasoma facetum
Gambusia holbrooki
Esox lucius
Ameiurus meias
Lepomis gibbosus
Carassius auratus
Notas
p. 123 ( Obra citada) Espécies secundárias
Nome vulgar
Nome científico
Notas
Agulinha
Sygnatus abaster
Fauna do Guadiana
Esgana-gata
Gasteroteus aculeatus
Fauna do Guadiana
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Fúndulo
Tainha-fataça
Tainha-garrento
Tainha-olhalvo
Fundullus boyeri
Liza ramada
Liza aurata
Mugil cephalus
introduzida
Fauna do Guadiana
Fauna do Guadiana
Fauna do Guadiana
Para mais informações, encontrámos ainda em MEMÓRIAS PAROQUIAIS de 1721 e 1758
informações que constam das respostas aos inquéritos realizados nessa época. Ver:
AS TERRAS – AS SERRAS E OS RIOS – As Memórias paroquiais de 1758 do Concelho de
Mértola, Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a
História Local 1 – Edição do Campo Arqueológico de Mértola, 1995. VER:
p. 42 peixe: PICOIS – BOGAS – PERDELHOS – EYROZES – CAGAÇOS - ...BORDOLOS; p.
50 BARBOS – EIRÓS – MUGES e alguas SOLHOS; p. 56 PEXES LISSAS (SAVES –
LAMPREYAS – SOLHOS) (as ribeiras enumeradas são: COBRES – TERGES – OUEYRAS –
LAMPREYA e VASCAM) p. 73. SOLHOS – SAFIOS – MUGES – SABOGAS – PICOENS
...p. 81 PICOIS p. 94 – PARDELLAS
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2. AVES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Ana Cristina Cardoso (texto) Carlos
Carrapato (fotografia)- Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2000.
Esta obra, além de um Glossário importante, tem ainda uma listagem das espécies citadas no
texto como FLORA e MAMÍFEROS e uma TABELA com o nome científico e o nome vulgar,
além de outras anotações importantes...
AVES - as 170 espécies que se podem encontrar no PARQUE NATURAL DO VALE DO
GUADIANA e estão agrupadas pelos principais habitates existentes dentro do Parque:
Habitat rupícola – margens e leitos de cursos de água com afloramentos rochosos...
Zonas húmidas - os pegos dos cursos de água na estação seca...
Charcas – pequenos olhos de água... Com elevada biodiversidade...
Matagal mediterrânico – em vales encaixados dos cursos de água... e vertente Norte de Alcaria
Ruiva... com estrato arbustivo bastante diversificado
Montados – com povoamento mais ou menos disperso de azinheira e sobreiro...
Sub-coberto – Abaixo das árvores... variando conforme a cultura realizada...
Matos – vastas áreas de charneca arbustiva resultado do abandono da exploração agrícola
extensiva...
Estepe cerealífera – campos de cultivo...
Pousio – Tempo durante o qual se deixa a terra em repouso – pousio...
Alqueive – Terra preparada mas não semeada como preparação para futura sementeira...?
Meio urbano – os aglomerados populacionais que datamde vários séculos a. C.
1. ordem seguida no livro – AVES DO PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA, Ana
Cristina Cardoso - Texto, Carlos Carrapato – fotografia, edição do Parque Natural do vale do
Guadiana, 2000.
2. Lista por ordem alfabética com os NOMES vulgares – 2ª coluna
3. lista por ordem alfabética pelos NOMES científicos
e ainda da mesma obra
Espécies citadas no texto
FLORA
MAMÍFEROS
Ver ainda in AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do
Concelho de Mértola, Estudos e fontes para a História Local 1 - Joaquim Ferreira Boiça – Maria
de Fátima Rombouts Barros, as referências a
AVES – por exemplo cisões... p. 121
Plantas já vimos o DARO P. 121
ANIMAIS – por exemplo “muitas cilhas de colmeas... p. 121
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AVES por ordem alfabética – nomes vulgares – 2ª coluna
Nº
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
Nome vulgar
Abelharuco
Abetarda (Abatrada)
Abibe (Bibe)
Abutre do Egipto
Abutre-preto
Açor
Águia de Bonelli
Aguia-calçada
Águia-cobreira
Águia-d'asa-redonda
Águia-imperial
Águia-pesqueira
Águia-real
Alcaravão (Algravão)
Alfaiate
Alvéola-amarela
Alvéola-branca (Arvela)
Alvéola-cinzenta
Andorinha-das-barreiras
Andorinha-das-chaminés
Andorinha-das-rochas
Andorinha-dáurica
Andorinha-do-mar-anã
Andorinha-dos-beirais
Andorinhão-cafre (Corta-vento)
Andorinhão-pálido
Andorinhão-preto
Andorinhão-real
Bico-de-lacre
Bico-grossudo
Borrelho-pequeno-de-coleira
Bufo-pequeno
Bufo-real
Calhandra
Calhandrinha
Carriça
Cartaxo-comum
Cartaxo-do-norte (Cartaxo-nortenho)
Cegonha-branca
Cegonha-preta
Chamariz
Chapim-azul
Chapim-de-faces-negras
Chapim-de-poupa
Chapim-rabilongo
Chapim-real
Chasco-cinzento
Chasco-ruivo
Cia
Codorniz
Colhereiro
Cortiçol-de-barriga-preta (Barriga-negra)
Nome científico
Merops apiaster
Otis tarda
Vanellus vanellus
Neophron percnopterus
Aegypius monachus
Accipiter gentllis
Hieraaetus fasciatus
Hieraaetus pennatus
Circaetus gallicus
Buteo buteo
Aquila heliaca
Pandion haliaetus
Aquila chrysaetos
Burhinus oedicnemus
Recurvirostra avosetta
Motacilla flava
Motacilla alba
Motacilla cinerea
Riparia riparia
Hirundo rustica
Ptyonoprogne rupestris
Hirundo daurica
Sterna albifrons
Delichon urbica
Apus caffer
Apus pallidus
Apus apus
Apus melba
Estrilda astrild
Coccothraustes coccothraustes
Charadrius dubius
Asio otus
Bubo bubo
Melanocorypha calandra
Calandrella brachydactyla
Troglodytes troglodytes
Saxicola torquata
Saxicola rubetra
Ciconia ciconia
Ciconia nigra
Serinus serinus
Pares caeroleus
Remis pendulinus
Paros cristatus
Aegithalos caudatus
Pares major
Oenanthe oenanthe
Oenanthe hispanica
Emberiza cia
Coturnix coturnix
Platalea leucorodia
Pterocles orientalis
notas
Matos
Estepe cerealífera
Alqueive
Habitat rupícola
Matagal mediterrânico
Habitat rupícola
Matagal mediterrânico
Habitat rupícola
Estepe cerealífera
Zonas húmidas
Meio urbano
Habitat rupícola
Meio urbano
Meio urbano
Zonas húmidas
Habitat rupícola
pousio
Matagal mediterrânico
Matos
Matos
Meio urbano
Habitat rupícola
Matagal mediterrânico
Habitat rupícola
pousio
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
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54
55
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57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
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101
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103
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107
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Coruja-das-torres
Coruja-do-mato
Corvo
Corvo-marinho-de-faces-brancas
Cotovia-do-monte (Cotovia-montesina)
Cotovia-pequena
Cuco
Cuco-rabilongo
Dom-fafe
Escrevedeira
Esmerilhão
Estorninho-malhado
Estorninho-preto
Estrelinha-real
Falcão-abelheiro
Falcão-peregrino
FeIosa-comum (Floucha)
FeIosa-musical
FeIosa-pálida
Felosa-das-figueiras
Felosa-do-mato
Felosa-poliglota
Ferreirinha
Frisada
Fuinha-dos-juncos
Gaio
Gaivina-de-bico-preto
Gaivota-d'asa-escura
Galeirão
Galinha d‟água
Ganso
Garça-boeira
Garça-branca-pequena
Garça-pequena
Garça-real
Garça-vermelha
Gavião
Gralha-de-nuca-cinzenta
Gralha-preta
Grifo
Grou
Guarda-rios (Matim-pescador)
Guincho
Laverca
Lugre
Maçarico-das-rochas
Marrequinho
Melro-azul
Melro-Preto
Mergulhão-de-crista
Mergulhão-pequeno
Milhafre-preto
Milhano
Mocho-d'orelhas
Mocho-galego
Narceja
Tyto alba
Strix aluco
Corvus corax
Phalacrocorax carbo
Galerida theklae
Lullula arborea
Cuculus canorus
Clamator glandarius
Pyrrhula pyrrhula
Emberiza cirlus
Falco columbarius
Sturnus vulgaris
Sturnus unicolor
Regulus ignicapillus
Pernis apivorus
Falco peregrinus
Phylloscopus collybita
Phylloscopus trochilus
Hippolais pallida
Sylvia borin
Sylvia undata
Hippolais polyglotta
Prunella modularis
Anas strepera
Cisticola juncidis
Garrulus glandarius
Gclochelidon nilotica
Larus fuscus
Fulica atra
Galinula chloropus
Anser anser
Bubulcus ibis
Egretta garzetta
Ixobrychus minutus
Ardea cinerea
Ardea purpurea
Accipiter nisus
Corvus monedula
Corvus corone
Gyps fulvus
Grus grus
Alcedo atthis
Larus ridibundus
Alauda arvensis
Carduelis spinus
Actitis hypoleucos
Anas crecca
Monticola solitarius
Turdus merula
Podiceps cristatus
Tachybaptus ruficollis
Milvus migrans
Milvus milvus
Otus scops
Athene noctua
Gallinago gallinago
Meio urbano
Matos
Montados
Matagal mediterrânico
Matos
Matagal mediterrânico
Zonas húmidas
Meio urbano
Habitat rupícola
Sub-coberto
Zonas húmidas
Zonas húmidas
Habitat rupícola
Zonas húmidas (Charcas)
Montado
Montado
Zonas húmidas (Charcas)
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Noitibó-de-nuca-vermelha
Papa-amoras
Papa-figos
Papa-moscas-cinzento
Papa-moscas-preto
Pardal-comum
Pardal-espanhol
Pardal-francês
Pardal-montês
Pássaro-bique-bique
Pato-de-bico-vermelho
Pato-real (Pato-bravo)
Pato-trombeteiro
Pega-azul (Rabilongo ou charneco)
Pega-rabuda
Peneireiro-cinzento
Peneireiro-das-torres (Francelho)
Peneireiro-vulgar
Perdiz-comum
Perdiz-do-mar
Perna-vermelha
Petinha-das-árvores
Petinha-dos-campos (Alqueveireiro)
Petinha-dos-prados (Alqueveireiro)
Peto-verde
Picanço-barreteiro
Picanço-real
Pica-pau-malhado-grande
Pica-pau-malhado-pequeno
Pintarroxo
Pintassilgo
Pisco-de-peito-ruivo (Papinho-amarelo)
Pombo-bravo
Pombo-torcaz
Poupa
Rabirruivo-preto (Barba-ruiva)
Rola
Rola-turca
Rolieiro
Rouxinol-bravo
Rouxinol-comum
Rouxinol-do-mato
Rouxinol-grande-dos-caniços
Rouxinol-pequeno-dos-caniços
Sisão
Tarambola-dourada
Tartaranhão-azulado
Tartaranhão-caçador
Tentihão
Torcicolo
Tordeia
Tordo-comum
Tordo-ruivo
Toutinegra-carrasqueira
Toutinegra-de-barrete-preto
Toutinegra-de-cabeça-preta
Caprimulgus europaeus
Sylvia communis
Oriolus oriolus
Muscicapa striata
Ficedula hypoleuca
Passer domesticus
Passer hispaniolensi
Petronia petronia
Passer montanus
Tringa ochropus
Netta rotina
Anas platyrhynchos
Anas clypeata
Cyanopica cyana
Pica pica
Elanus caeruleus
Falco naumanni
Falco tinnunculus
Alectoris rufa
Glareola pratincola
Tringa totanus
Anthus trivialis
Anthus campestris
Anthus pratensis
Picus viridis
Lanius senator
Lanius meridionalis
Dendrocopus major
Dendrocopos minor
Carduelis cannabina
Carduelis carduelis
Erithacus rubecula
Columba oenas
Columba palumbus
Upupa epops
Phoenicurus ochruros
Streptopelia turtur
Streptopelia decaocto
Coracias garrulus
Cettia cetti
Luscinia megarhynchos
Cercotrichas galactotes
Acrocephalus arundinaceus
Acrocephalus scirpaceus
Tetrax tetrax
Pluvialis apricaria
Circus cyaneus
Circus pygargus
Fringila coelebs
Jynx torquilla
Turdus viscivorus
Turdus philomelos
Turdus iliacus
Sylvia cantillans
Sylvia atricapilla
Sylvia melanocephala
Matagal mediterrânico
Zonas húmidas
Sub-coberto
Montado
Meio urbano
Matos
pousio
Estepe cerealífera
Estepe cerealífera
Sub-coberto
Matos
Meio urbano
Matagal mediterrânico
Sub-coberto
Meio urbano
Montado
pousio
Zonas húmidas (Charcas)
Matos
Estepe cerealífera
Estepe cerealífera
Montado
Matagal mediterrânico
Matagal mediterrânico
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
165
166
167
168
169
170
Toutinegra-tomilheira
Trepadeira-azul
Trepadeira-comum
Trigueirão
Verdilhão
Zarro-comum
Sylvia conspicillata
Sitta europaca
Certhia brachydactyla
Miliaria calandra
Carduelis chloris
Aythya ferina
Estepe cerealífera
Meio urbano
Zonas húmidas (Charcas)
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FLORA
Aroeira
Azinheira
Caniço
Catacuzes
Cevada-das-ratos
Espadana-dos-montes
Esteva
Freixo
Gaimão
Lentisco-bastardo
Loendro
Margaça
Murta
Ranúnculo
Roselha
Rosmaninho
Salgueiro
Sargaço
Sargoaço
Serradela-brava
Sobreiro
Tabúa-de-folha-larga
Tamargueira
Tamujo
Tojo-molar
Trovisco
Zambujeiro
Pistacia lentiscus
Quercus rotundifolia
Phragmytes australis
Rumex bucephalophorus
Hordeum murinum
Gladiolus illyricus
Cistus ladanifer
Fraxinus angustifolium
Asphodelus ramosus
Phillyrea angustifolia
Nerium oleander
Chamaemelum mixtum
Myrtus communis
Ranunculus peltatus
Cistus crispus
Lavandula stoechas
Salix sp
Cistus mompeliensis
Cistus salvifolius
Ornithopus compressus
Quercus suber
Typha latifolia
Tamarix africana
Securinega tinctoria
Genista triacanthos
Daphne gnidium
Olea europea
Ver – AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As memórias Paroquiais de 1758 do concelho de Mértola, Joaquim
Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a História Local 1 – Edição do Campo
Arqueológico de Mértola, 1995. p. 120 – 121
“Acha-se nella huma certa especie de arbusto, a que os moradores chamão daro, que produz por fruto humas bagas
de que fazem azeite, que serve para as candeas, e dá huma luz muy clara, e não falta quem use tambem delle para o
prato; e affirmão que tem especial virtude para as dores e flatos que procedem de causa fria.”
Cita ainda como hervas medicinaes: agrinomia e douradinha.
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Mamíferos
Gato-bravo
Javali
Musaranhos
Ratazana
Rato-caseiro
Rato-cego
Rato-das-hortas
Saca-rabos
Felis silvestris
Sus scrofa
Suncus etruscus e Crocidura russula
Rattus norvegicus
Mus musculus
Microtus lusitanicus
Mus spretus
Herpestes ichneumon
Ver – AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As memórias Paroquiais de 1758 do concelho de Mértola, Joaquim
Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a História Local 1 – Edição do Campo
Arqueológico de Mértola, 1995. – nas várias localidades e serras, como por exemplo p. 121 – na serra de ARACELI
- «Pastão nella de gado miudo, ovelhas, cabras e porcos. Acha-se muita caça rasteira, e miuda, de coelhos, e lebres;
e de veação javalis...; e de bichos, lobos, e raposas; e muitas cilhas de colmeas, de que percbem grande lucro os
moradores vizinhos.»
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-
ANX 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... Saudações,
formas de tratamento...
Outro aspecto importante a desenvolver e que pode ajudar a definir a identidade de uma
população pela consagração de fórmulas sedimentadas ao longo dos tempos, mas que, mais ainda
do que todas as outras, só poderá ser levada a cabo por quem esteja perfeitamente inserido no
meio...
Como este aspecto não é realizável à distância, decidimos recorrer a outro aspecto do quotidiano
que pode ser estudado em conjunto.
COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e
Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara
Municipal de Mértola, 1997.
As receitas distribuídas pelas quatro estações é uma decisão notável e ficamos a saber, como
sugere Fernão Lopes:
«Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns,
dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e
espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta
conformidade.»
Afinal, somos, também, aquilo que comemos!
E como tão bem diz aquele “saboroso” livro paciente e “amorosamente” feito por tanta gente,
“COMER”, em português (e também em castelhano e galego), ao contrário do que acontece nas
outras línguas, vem de “cum” + “edere”. Ora “edere” já significa “comer” só por si e assim, para
as gentes da Península Ibérica, comer era já um acto social – “comer com... alguém”... e como se
afirma no mesmo livro, «Fazer este livro sobre a gastronomia do quotidiano mertolense foi
também... um acto de generosidade, de partilha e de convívio.», e portanto, além do social e do
convívio, implica “partilha”, talvez solidariedade, amizade, fraternidade... e a distribuição das
receitas pelas estações do ano, revela, para além da culinária, a vida das pessoas com a sua
ligação à Terra, a sua inserção com os “envolventes” – o que a terra produz..., o que a terra dá...,
a sabedoria secular de saber colher, “caçar”, “pescar”, “apanhar”, conservar os vários tipos de
alimentos e condimentos... e “ao ritmo das estações”..., revelando a maneira de ser de uma região
e denunciando até, como observam os anexos finais, do médico e do arqueólogo, o “estatuto
social” de quem come o quê... e da “sabedoria” das donas de casa que sabiam substituir por
exemplo o arroz com feijão, quando não havia carne ou peixe e assim mantinham a família bem
alimentada, recorrendo também à migas e açordas para que não dissessem: “saco vazio não se
pode erguer... saco cheio não se pode dobrar...”; para não falarmos já da comida que é o centro
das festas que marcam a vida social das famílias – os baptizados, casamentos e até a morte... e
onde a “fala”, os “cumprimentos”, a diversão, os “discursos” e até os “tratos” e “negócios” se
firmavam à mesa, por vezes bem “comida” e bem regada...
Como pistas de trabalho fica-nos uma vontade de fazer um levantamento completo dos nomes
dos ingredientes, temperos e “rituais”, mas deixamos isso para alguém mais habilitado como os
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que realizaram este “saboroso” livro de “aromas e sabores” ou como diz outra obra de “sabores e
saberes”.
Algumas recolhas como exemplo:
Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar:
“Deus te acrescente no alguidar
Como Deus Nosso Senhor está no altar”...
Importante é saber também como algumas padeiras conheciam “o som de pão” para reconhecer
que a massa estava “lêveda” ou não!
E depois de meter todo o pão no forno:
“Deus te acrescente,
que é para muita gente”
E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem: «Faz-se um benzido com o sinal da
cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as saias e diz:
Cresças tu, pão
Como as saias afastadas do cu estão».
A matança do porco é outro ritual até com vários significados no decorrer do tempo... desde o
tempo dos arábes em que para eles seria proibido, até ao tempo dos cristãos novos em que seria
obrigatório como mostra pública de conversão convicta, até ao tempo em que significava casa
farta ou em que não haveria fome durante todo o ano e “entre-ajuda” entre várias famílias e a
sabedoria do tempo próprio, as luas... e das preparações a fazer... saber se as porca “ressaem”
(estão com o cio) e se é preciso capa-las... a distribuição das tarefas entre os homens e as
mulheres, “aos homens cabe matar, musgar e desmanchar...” e “do porco tudo se aproveita
menos as castanholas (unhas)” que até podem servir de amuletos.
“O fel serve para curar as chagas das patas dos animais”...
“A passarinha (baço) junta-se à cachola para engrossar o molho”
“Os lombinhos eram para o padre”.
Dos muitos termos usados podemos ainda tentar um pequeno levantamento.
As acelgas – (Beta vulgaris L. Ssp. Maritima l.)
Tingarrinhas – (Scolymus Maculatus L.)
Túberas – (Terfezia leonis tul.) Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe
de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem encontrar-se junto das raízes das
estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo.
Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio:
Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas...
Até as rãs... cobras... lagarto... cágado... ouriços servem ou serviam para petiscos, além das
cabeças de carneiro...
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Para os caçadores os passarinhos fritos metem: POMBO – TORDO – MELRO TARAMBOLA...
E o doce da primavera é o NÓGADO!
No Verão. O GASPACHO – SOPAS DE TOMATE – TOMATADA – SOPA DE
BELDROEGAS...
Encontramos ainda no final, (Santiago Macías)
O CHÍCHARO – “... vegetal.... que se consumiria cozido... e na região até há uma dezena de
anos.”
E tudo isto envolvido numa deliciosa história ... do rei que tinha três filhas... e a mais nova,
afinal a que gostava mais disse: «Eu gosto tanto do meu pai como a comida gosta do sal...» ...
como o célebre bispo de Viseu dizia da religião «Nem de mais, nem de menos... mas como o sal
na comida.» Como nós dizemos das palavras e conversas: Nem de mais, nem de menos... para
um bom convívio e comunicação sã entre as pessoas!
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Tabela das RECEITAS distribuídas ao longo do tempo, de acordo com o ciclo das estações, com
pistas para um passado distante e para o futuro dos “congelados” e “fast-food”
O PÃO alentejano – igual diferente de todos os outros...
INVERNO
PRIMAVERA
PRIMAVERA / VERÃO
VERÃO
OUTONO
PETISCOS de
CAÇADORES
Matança do porco
Ensopado de
borrego
Borrego à pastora
Sopa de peixe
Gaspacho
Javali assado
Perdiz
Caldeirada de peixe
do rio17
Caldeirada `moda
de Mértola
Caracóis * 2
Sopas de
tomate
Tomatada
Javali estufado
Ovos de perdiz com
ceseirão18
Passarinhos19 fritos *3
Moleja
Fritada de Entrecosto
Costas de Torresmos
Sopa de pão com
poejos
Cozido de couve
Enchidos
Cabeças de carneiro
assadas no forno
Cabrito assado no
forno
Favas com chouriço
Ervilhas com
chouriços e ovos
Folares de Páscoa
Rã
Pezinhos de rã *2
Cobra frita
Linguiça
Lagarto
Tripas
Cágado
Recheio
Pimentão caseiro
Chouriço preto
Cozido de grão com
massa
Cozido de feijão
Feijão com ovos
Feijão com acelgas21
Jantar de azeite22
Feijão branco com
tingarrinhas23
Migas de carne
Migas de bacalhau
Bacalhau à alentejana
Carne de porco à
alentejana
Arroz de túberas24
Túberas
Sopas de túberas
Túberas com ovos
Espargos com ovos25
Salada
Orelha de porco
Lampreia
DOCES
Pastéis de grão
Filhós *2
Filhós de entrudo
Pudim de queijo fresco
Pudim de requeijão
Ouriço
Ouriço frito *2
DOCES
Costas doces
Bolo podre
Pudim de mel
Torta Alentejana
Sopa de
beldroegas20
Eirós
Ensopado de
enguias
Galinha de
cabidela
Empada de
frango fricassé
Coelho bravo à
alentejana
Sopa de lebre
Coelho frito
Lebre com feijão
branco
Lebre à caçador
Arroz de tardos
Perdiz estufada
Perdiz nos
pimentos
DOCES
Nógado26
Papas de Arroz
Papas de milho
17
Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão - Carpas
Ceseirão – é uma ervilhaca que pertence à família das leguminosas. Semeia-se com o pasto, aparecendo espontaneamente no meio das searas.
19
Pássaros – Pombo – Tordo – Melro – Tarambola.
20
Beldroega – Erva hortense da famíliadas portulacáceas, de valoe medicinal, usada também na alimentação, geralmente em saladas.
21
Acelga – Beta vulgaris L., ssp. Maritima l. – Planta de folha larga semelhante à beterraba, mas de raiz mais delgada utilizada na alimentação. (in DLPC – Verbo –
2001.
22
Azeite – ver tb. DARO – “... espécie de arbusto, a que os moradores chamam daro, que produz por fruto humas bagas de que fazem azeite, que serve para as
candeias, e dá uma luz muito clara, e não falta quem use também delle para o prato.” In «As Memórias Paroquiais de 1758» ver Bibliografia
23
Tingarrinha – Scolimus Maculatus L. – Espécie de cardo branco rasteiro.
24
Túberas – Terfenia leonis Tul. – Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem
encontrar-se junto das raízes das estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo.
25
Espargos – Aspargus acutifolios L. – Planta da família das liliáceas, subespontânea e cultivada em Portugal, donde nascem talos carnudos, turiões, cujas pontas
são comestíveis.
26
NÓGADO – ver NOGADO – (DLPC) – Doce feito essencialmente com nozes, amêndoas ou pinhões misturados com açúcar e mel.
18
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ANX. 3. – Outras Formas de Expressão
LENDAS
Influência? Da MITOLOGIA GRECO – LATINA???
CONTOS
ANEDOTAS & OUTRAS... PROVÉRBIOS... ADIVINHAS...LENGALENGAS...
CANTILENAS...
POESIA – QUADRAS – CANTIGAS – DÉCIMAS – ORAÇÕES
GRUPOS CORAIS E MODAS
PEDRAS QUE FALAM... talvez umas mais que outras...
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ANX. 3.1 – LENDA/s
LENDAS 3.1 - 1 – SERPÍNEA e MIRTILIS
Serpínia, A Princesa Feliz
In http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpa.htm
«Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram
uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de
Mercúrio.»
Era uma Vez.... uma jovem e linda Princesa,
muito linda, chamada Serpínia, que vivia
nas longes terras do outro lado da Ibéria, lá
para os altos Pirineus. Seu pai, Cófilas, rei
dos túrdulos, tribo da Ibéria, era um homem
bom.
Num País vizinho, vivia um outro rei, de
raça, celta, que era cruel e muito ambicioso,
Rolarte de seu nome, que quando viu a
formosa princesa quis casar com ela. Mas a
princesa não se agradou dele.
Um dia um Príncipe, Orosiano, visitou o Rei
Cófilas e a sua filha Serpínia. Os dois
príncipes gostaram um do outro e
combinaram casar. Mas o rei Rolarte,
quando soube, não gostou que Serpínia fosse
dada em casamento a Orosiano e jurou
vingar-se tratando logo de reunir os seus
soldados e de fazer guerra a Orosiano.
O Noivo de Serpínia morreu e Rolarte ficou
ferido.
O Rei dos Celtas não ficou satisfeito com a morte de Orasiano a jurou fazer guerra ao pai de
Serpínia , mas este, informado do que Rolarte preparava, abalou para as longínquas paragens
da outra banda da Península Ibérica.
E andaram, andaram até chegarem a um sítio onde a Princesa se sentiu encantada com as
formosas Terras que seus belos olhos avistavam. Campos recorbertos de luxuriantes verduras,
flores campestres a perfurmarem os ares que respirava, tudo prenunciando abundância de água,
de terras férteis, ubérrimas.
Serpínia logo deu parte a seu pai de que gostava destes sítios. Cófilas examinou a região. Tudo
aparentava terras fartas e amenidade de clima. Perto corria o Ana. Por toda a parte se viam
Oliveiras, muitas Oliveiras, a garantir alimento, untura, tempero e luz na candeia.
E logo ali acamparam e escolheram local para construir uma cidade que ficou a ser a capital de
novo reino. E em homenagem a Serpínia, a formosa filha do Rei Cófilas, à nova cidade se ficou
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chamando Serpe. Esta seria a capital da Turdetânia, o novo reino criado na região do Ana, hoje
chamado Guadiana, e que se estendia até ao mar.
Tempos depois chegou a Serpe a notícia da vinda até um Porto do Ana, aonde chegavam as
águas salgadas do mar, de barcos Fenícios - povo de navegadores que vivia no Norte de África.
Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma
cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de
Mercúrio.
Em um dos barcos vinha um Príncipe, jovem , guerreiro e bem parecido, que ao ver Serpínia se
apaixonou por ela. E Serpínia amou Polípio, o belo Príncipe Fenício. E logo ficaram noivos.
Polípio regressou à Fenícia. E Serpínia, enquanto esperava o seu noivo, dedicava-se à caça pelo
que seu pai lhe construiu, à beira do Rio Limosine, que ia desaguar no Ana, um castelo onde
ela ficava quando ia caçar. Ali havia muitos loendros e Serpínia deu à sua nova casa o nome
de Castelo de Loendros.
Serpínia já tinha esquecido Rolarte, mas Rolarte não esquecera Serpínia, nem a vingança de
que lhe jurara.
E uma noite, noite escura como breu, o Castelo dos Loendros foi atacado por Rolarte e os seus
soldados. Mas o Rei dos Celtas foi vencido pelos soldados de Cófilas que guardavam o castelo
de Serpínia. Com medo de novos ataques a princesa mandou aviso ao pai, que estava em
Mirtilis, que hoje se chama Mértola, o qual regressou com muitos soldados, e que esporeando
os seus corcéis corriam a toda a brida na companhia de Polípio, o príncipe noivo, que já tinha
regressado da Fenícia para as bodas com Serpínia.
Rolarte voltou a assaltar o castelo mas este, que tinha agora muita tropa, venceu os soldados de
Rolarte e o Rei dos Celtas fugiu e foi morrer afogado no Ana. Serpínia casou com Polípio e os
noivos foram para a Fenícia. Serpe, que recorda a linda princesa Serpínia e que sempre
manteve o seu nome, é hoje a Serpa em que vivemos.
"Arquivos de Serpa - Edição Câmara Municipal de Serpa" 1971
(João Cabral)
Nota in: ARQUIVOS de SERPA – (Câmara Municipal), de João Cabral, Serpa 1971 - «Contada
também por C. Gonçalves Serpa em “Serpínea e a Fundação de Serpa" que diz ter ido “... bebela a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos tempos”.»
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ANEXO 3.1 – 2 - LENDA – A LENDA DE SERPÍNEA
in CANCIONERO DE SERPA, Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa,
1994 - pp. 347 - 349.
Baseada, segundo a autora, que escreve todo este livro à mão, com uma caligrafia deliciosamente legível
e com muitas ilustrações, que vale a pena admirar, em «SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA» de
C. Gonçalves Serpa.
Não se sabe ao certo em que época foi fundada
Serpa. Ela já existia com este nome no tempo
dos Romanos, e durante a dominação árabe
chamou-se Sheberina. Diz uma lenda que esta
vila foi fundada pelos Túrdelos, um povo da
antiga Bética, proveniente dos Pirinéus.
Havia um rei dos Túrdelos, Cófilas, que tinha
uma filha de rara beleza chamada Serpínea.
Esta era requestada por Rolarte, rei dos Celtas,
de quem não gostava e cuja proposta de
casamento recusou, preferindo Orosiano,
príncipe de um reino vizinho. Rolarte, despeitado, atacou esse reino, matando Orosiano, e jurou obter
Serpínea, viva ou morta.
Cófilas resolveu fazer uma expedição para o Ocidente, procurando instalar-se longe dos Celtas e
conseguir uma aliança com os Fenícios, que sabia frequentarem o litoral da Península.
Acompanhado dos seus homens e levando a filha consigo, chegaram uma tarde a uma colina verdejante e
arbotizada, no sopé da qual se estendia uma imensa planície.
Serpínea gostou tanto do local, que pediu ao pai para ali armarem o acampamento nessa noite, e para ali
fundarem uma cidade que viesse a ser a nova capital da Turdetânia.
Nessa noite, Cófilas teve um sonho profético, em que o Ocidente e o Oriente se uniriam em Serpínea.
No dia seguinte os construtores lançaram mãos à obra, e assim nasceu Serpe. Daqui, Cófilas partiu para
novas expedições, dominando toda a região vizinha, e fundou outras cidades a Ocidente, atravessando o
rio Ana, e encontrando-se finalmente com
os Fenícios, que nos seus navios subiam
este rio até ao ponto em que vieram a
fundar Mirtilis. Estabeleceu-se um tratado
de amizade, e em breve Serpínea ficava
noiva do belo príncipe fenício Polípio.
Porém, este teve de partir novamente em
viagem, prometendo à inconsalável
Serpínea regressar depressa para o
casamento.
O rei Cófilas mandou construir para a filha,
que era exímia caçadora, um castelo na
serra que se estende ao Sul de Serpe, onde
ela passava longas temporadas, passeando pelo campo e caçando.
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O palácio ficava situado na margem de uma ribeira. Chamava-se Castelo das
Loendreiras, e possuia lindos jardins.
Foi ali que o cruel Rolarte, nunca esquecido do seu jurmento, foi atacar os guerreiros
de Cófilas, pretendendo raptar Serpínea. Esta, prevenida pela sua aia fiel que
desconfiava de uns mercadores celtas recém-chegados, mandou pedir reforços a
Serpe. Polípio também chegou providencialmente, salvando a noiva do seu
perseguidor que, ferido de morte, foi arrastado pelas águas da ribeira.
Serpínia e Polípio casaram, o
que foi motivo para grandes
festejos.
porém,
não
puderam ficar aqui para sempre. Um dia,
despediram-se da terra onde tinham sido tão
felizes, e embarcaram em mirtilis a caminho da
longínqua Fenícia, onde viveram longos anos,
muito felizes.
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ANEXO 3.1 – 3 – SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA
Por C. Gonçalves Serpa, Composto e impresso na Gráfica Torriana – Torres Vedras, s/d..
SERPÍNIA E A FUNDAÇÃO DE SERPA
POR C. Gonçalves Serpa
A Expedição
- Além... Além... - exclamou uma graciosa voz de mulher de olhos castanhos, cabelos
louros e faces rosadas como pétalas da mais esquisita flor.
- Além... Além, naquela zona verde e de reconfortante frescura, enquanto com o
braço delicado apontava um morro de mediana altitude a emergir de entre árvores
frondosas dum verde cínzeo e rochedos plúmbeos.
- Alto!... Ficamos aqui... gritou uma voz potente de homem que parecia ser o chefe da
expedição.
- Serpínia agradou-se do lugar, a terra parece fértil em água e fecunda em
produtividade.
- Alto!... Ficamos aqui... clamaram outras vozes secundando a do chefe. A caravana
parou envolvida numa densa nuvem de poeira levantada pelo trotear dos cavalos.
Todos levantaram os olhos cansados da caminhada e notaram que, de facto, a região
agradava e estava bem localizada quer para o povoamento, quer para a defesa.
- Ficamos então aqui.
Os cavalos parados relinchavam, escavavam a terra vermelha com as patas grossas
enquanto alguns, de cabeça baixa, tasquinhavam nos pequenos arbustos nascidos à
beira do caminho.
O cavaleiro que dera a primeira ordem, corpo agigantado, barba espessa e hirsuta,
músculos de atleta, tornou a imperar:
- Cargas ao chão, comecemos o acampamento antes que anoiteça. Num zape, todos
se apearam com ligeireza homens, mulheres e crianças.
O chefe, nada menos que o general Cófilas, rei dos Túrdelos, explicou:
- Serpínia, minha dilecta filha e vossa muito linda e amada princesa achou lindo este
local e muito apropriado para a construção da nova capital túrdela. A terra tem
muita água, basta vegetação, matagais densos e um clima aprazível, um céu azul
como não vimos outro na Ibéria. Ficaremos, pois aqui e amanhã iniciaremos já a
construção da nova cidade a qual, em honra de Serpínia, que escolhera o local, será
chamada Serpe (Serpa).
- Viva Serpínia!...Viva Serpe a nova capital da Turdetânia - exclamou um coro de vozes.
E o eco repetia-se pelas quebradas dos montes até diluir-se e perder-se ao longe através duma planície que parecia intérmina: - Serpínia...
ínia... ínia! Serpe... erpe... erpe!...
Ia entardecendo mais e mais. O sol fazia descer uma bola de fogo na linha clara do horizonte, ameaçando mergulhá -la, para além dos montes
fronteiros, nas águas do Atlântico. O calor sufocante daquele dia de Junho havia passado e uma brisa acariciadora e refrigerante soprava
agora das bandas do mar.
-Já, assentar o acampamento. Desapetrecham-se os cavalos e os carros de transporte; deitam-se ao chão as cargas; desenrolam-se os panos;
abrem-se covas; arrumam-se pedras; arranca-se mato; espetam-se estacas; batem martelos; esticam-se as cordas; estendem-se os panos e
surgem as barracas. Está armado o acampamento.
A tarde esmorece.
Na linha do horizonte, por cima do solo, a poente, algumas nuvens riscam o céu em tom afogueado. É o primeiro pôr do sol que os olhos lindos
de Serpínia contemplam nestas paragens ocidentais.
Alma bela sensível ao bucolismo da natureza, à poesia paisagística deseja então desfrutar melhor o panorama ambiencial. Para isso,
acompanhada duma aia, a fiel Galiosa, sobe acima dos rochedos que, na coroa do monte, emergem do solo, como cabeças monstruosas de
gigantes descomunais.
- Que lindo!... murmura.
Que poesia bucólica e austera!...
- Isto é superior ao vale do Guadalquivir, interveio Galiosa.
- Muito superior!...
E contempla.
A região não muito acidentada estende-se, desdobra-se em cabeços sucessivos que se empurram uns aos outros sempre mais para além, num
desafio titânico a ver quem primeiro chega ao mar. Em baixo a depressão do rio Ana que vai correndo... correndo, pleno de ilhotas verdes pelo
meio, rodeado de margens rochosas, ásperas, agressivas na sua secular solidão. Até ao presente aquela terra era virgem de pre sença humana.
Só caça, muita caça por ali existe. Os coelhos são em bando. Dali mesmo os vêem entrar e sair dos buracos, saltitar na pradaria verde pálida
que se nota através dos matagais densos. Depois mais a distância habita o lobo, o veado, o javali, o gamo e a raposa. As aves são em chusma e
cobrem a ramagem coposa das árvores. Umas saltitam de ramo em ramo mostrando sua plumagem multicor, outras mais corpulentas cortam o
espaço em voo sereno ou em caprichosas evoluções circulares. As matas tem grande variedade de tonalidades de verde no seu arv oredo. Aqui o
verde triste, bronzeado dos montados; ali a cor cinzo-prateada das oliveiras, a árvore predilecta de Eliote deus dos Túrdelos, o
qual teria nascido no meio dum olival, quando sua mãe a deusa Eliaste estava a veranear num acampamento bélico. Mais para além, árvores de
porte alto e esbelto mostram um verde álacre, exuberante, às vezes tirando um tanto para amarelo: são os álamos, os freixos, as faias e a
amendoeira muito abundante na região. Depois é ainda o verde terroso do mato denso onde predomina a esteva viscosa, o sargaço de cheiro
acre, a rosela de flor carmezim, o piorno amargo, a medronheira carregada de rubis, o lentisco resistente, o tojo espinhoso. A flora, alta ou meã,
é colorida e variada na sua austeridade regional. O solo atapetado dum verde pálido, que dá ao panorama um tom axadrezado, mo stra muitas
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flores e gramíneas de feitura e colorido diferente. O azul do céu, sobretudo o azul safírico deste céu é o que mais impressio na Serpínia. Nunca
vira um céu tão anilado. Não cessa de o
contemplar.
A noite vai caindo. O sol escondera-se por detrás dos cabeços esfumados e as sombras começaram a adensar-se.
Levanta-se uma brisa mais álgida que harpeja e assobia nas tranças do arvoredo. A celeste abóbada criva-se de olhos luminosos a piscar na
escuridão como a saudar os novos habitantes que naquela noite encontraram nas margens agrestes do Ana 27.
Serpínia e sua aia recolheram-se ao acampamento. Espesso manto de trevas cobre a terra a qual parece
sorrir por ver terminada sua eterna solidão.
Fundação de Serpa
Os Túrdelos eram um povo que vinha dos Pirenéus e tomara rumo ao ocidente através das planícies do sul entre o planalto castelhano e o
Mediterrâneo. Primeiro estabeleceram-se entre a bacia do Ebro e do Guadalquivir, não tendo ainda propriamente uma fixidez determinada. O
aglomerado que lhe servira de primeira capital chamava-se Eliana, dedicada a Eliote o grande deus dos Túrdelos. Ao presente o seu chefe era
Cófilas a quem davam a dignidade de rei. Era um guerreiro esforçado, astuto, duro sem deixar de ser bom, compreensivo e justo para com
todos.
Ao norte da Península dominavam os Celtas comandados por Rolarte, homem fera, esforçado mas despótico, cruel e vingativo. A p rincípio
Túrdelos e Celtas deram-se bem. Faziam intercâmbio e mercadejavam. Um dia Rolarte viu Serpínia em uma caçada e ficou esmagadoramente
apaixonado pela princesa túrdela. Nunca tinha visto beleza assim. Aqueles olhos castanhos duma viveza rutilante magnetizavam -no
tiranicamente. Julgava-se o homem mais feliz da Terra se chegasse a possui-la. Aquela paixão tornou-se fogueira crepitante. Por outro lado
sonhava ambiciosamente com a unificação da Ibéria pela amálgama de Celtas e Túrdelos através do seu casamento. Cófilas chegou a ter
conhecimento dos projectos imperialistas do chefe Celta e preferiria que a filha não casasse com ele. No entanto deixava-lhe inteira liberdade
para evitar males maiores.
Serpínia abominava Rolarte já por ser fisicamente antipático, já por ser um carácter péssimo, violento e déspota.
E dizia para si:
- Poderá haver maior martírio para uma mulher do que casar e viver a vida inteira com um homem de que não
e gosta!... Antes perder mil tronos. E ruminava:
- Não, não casarei com ele. Em virtude de certo tacto diplomático mandou-o esperar mais tempo, quando ele lhe fez propostas, alegando a sua
pouca idade.
Rolarte, embora contrariado, resolveu esperar.
Galiosa ao saber dos intentos de Rolarte e da repugnância de Serpínia por ele, advertiu:
- Senhora: vê o que recusas... Rolarte é rico, é poderoso, é rei...
- Fosse ele um deus, retorquiu a princesa em tom de censura.
- Senhora, tereis um grande trono, riquezas e jóias e jóias incontáveis!...
- Cala-te, cala-te: o amor não tem preço. Onde não há amor, nada pode dar a felicidade.
- Lá isso é, mas...
- Esse mas... seria uma traição ao amor.
- E se vier a guerra?
- Prefiro a guerra a um amor iludido.
Por aqueles dias Cófilas recebeu a visita de Orosiano, príncipe duma tribo de guerreiros que viviam no sul das Gálias, entre os Pirenéus. Este
sim, que era o predilecto de se Serpínia. Cófilas tratou com ele o casamento de sua filha e firmaram uma aliança contra posáveis represálias de
Rolarte.
Este soube do sucedido e, ardendo em cólera, jurou vingar-se duramente.
Serpínia seria dele viva ou morta ainda que a tivesse ia de ir raptar à mansão dos deuses.
Depois, caindo de improviso sobre as terras de Orosiano desprevenido foi atacar Periânia sua pequena capital construída na garganta de duas
altas montanhas. Travou-se dura batalha em que o noivo de Serpínia - Orosiano - perdera a vida.
Rolarte, também gravemente ferido, regressou a suas terras disposto a prosseguir a luta contra os Túrdelos logo que lhe fosse possível. Algun s
contingentes de pirenaicos vieram pôr-se às ordens de Cófilas e informá-lo de tudo quanto se passava. Este então tomou rumo às terras de Oeste
mais longe das fronteiras célticas e em lugares e situações mais propícias a boas defesas. Sabendo depois que os barcos feníc ios navegavam
pelo Mediterrâneo e buscavam o «finis terrae» na costa atlântica esperava a oportunidade de lhes pedir auxílio por meio duma aliança.
Foi neste remar para ocidente que chegaram à «Planície Fresca» onde deviam fundar Serpe.
Ai ficaria o maior reduto da defesa turdetania.
No dia seguinte ao despontar do sol, Cófilas chamou Serpínia e seus mais próximos subalternos para lhes narrar um sonho misterioso havido
naquela noite. Vira, disse, naquele mesmo sítio levantar-se do solo, por mão invisível,
um grande templo em cujo altar estava a estátua do seu deus Eliote. Este tinha na mão direita um sol nascente e n a outra uma flor de loendreira.
E apontando ambas para Serpínia dizia-lhe: - neste local, está a tua felicidade. Em seguida acrescentou: «Depois da batalha a vitória; ocidente
e oriente buscam-se».
- Eis o sonho, concluiu.
Portanto, embora envolvido em sombra de mistério Eliote mostra, por este aviso, que este lugar lhe agrada e aqui devemos ficar. Mãos à obra e
vamos levantar os muros de Serpe.
- Serpe... Serpe... Serpe... gritaram todos. Serpínia propôs. Comecemos por lançar a primeira pedra do templo dedicado a Eliote, ali no topo do
morro rochoso. Depois iremos à «Pedra Longa», lugar onde começamos a avistar este sítio e ai faremos o primeiro altar, oferec endo ao nosso
deus um sacrifício de acção de graças (28).
27
(i) Ana: nome que os antigos davam ao rio Guadiana.
28
(I) «Pedra Longa» era uma enorme rocha que estava à beira do caminho por onde vieram os Túrdelos naquela tarde da expedição.
Chamaram-lhe «Pedra Longa» por causa do seu grande tamanho. Daqui se avistava toda a «Planície Fresca», nome que lhe puseram pela
amenidade do lugar. Em Serpa ficou sempre a tradição da «Pedra Longa», de que ainda hoje se fala.
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Principiaram a emergir do solo vermelho os muros de Serpe. Mais uma cidade nascia para a história. Haviam de rolar séculos sobre séculos,
sucederem-se as gerações umas às outras e até cavalgadas de povos conquistadores haviam de calcar duramente este solo.
Porém, Serpe, uma vez nascida havia de continuar. Nascera para viver. Seus muros fortes, feitos de granito e calcário em que a região é
abundante haviam de resistir com fúria leonina às vicissitudes dos tempos e aos ataques de futuros inimigos. Sobre ela paira um carácter
sagrado visto ter nascido à sombra dum templo. Bárbaros, Romanos, Árabes e Cristãos Visigóticos, mais tarde Lusitanos haviam de continuar a
venerá-la conservando-lhe intacto o nome que recebera desde a primeira hora, caso único nas povoações da antiguidade que passaram para o
domínio português. Serpe é uma linha de intercepção e cruzamento da Turdetânia com a Lusitânia, e mais tarde da Bética onde o carácter da
sua população constitui curiosa excepção na Lusitanidade.
Agora Gês: - Pax Júlia à vista - Beja actual
Cófilas não se esquece de que Rolarte era seu figadal inimigo. Não perdoaria a Serpínia tê-lo preterido e nunca veria com bons olhos a
grandeza da Turdetânia. Por isso, enquanto os muros de Serpe vão subindo à claridade doirada do céu transtagano ele dá -se à tarefa de tomar
todas as terras até ao mar, e construir novos castros.
Atravessou o Ana e explorou toda a planura da margem direita. Ao atingir o vértice do alti-plano reparou que a terra era ubérrima e a situação
privilegiada para nova construção defensiva.
Cófilas impera:
- Aqui mais uma fortaleza... aqui... e afincou a lança no ponto mais elevado do planalto. Aqui será Gês - cidade vigia, sentinela da planície. E
logo, do solo vermelho, principiam a subir os muros de Gês, a quem os Romanos chamariam mais tarde: Pax Júlia, os Árabes: Paca, os
Portugueses: - Beja.
Uma aliança com os Fenícios - nasce Mírtilis
Cófilas domina já toda a vasta região da bacia do Ana e daqui até ao Atlântico. Gês e Serpe são os dois pontos concêntricos d e maior população
e os dois mais fortes baluartes de defesa. Ele sabia, porém, que Rolarte, seu inimigo figadal rondava, como abutre de garras adunca s, suas
fronteiras e não perdoaria a Serpínia tê-lo preterido no amor. Mais tarde ou mais cedo ele voltaria à carga, viria incomodá-lo de novo e por
isso havia que prevenir tudo. Começara, pois, a construir novos aldeamentos, novos castros, pontos de defesa e muitas vias de comunicação. A
terra era muito plana mas de difíceis possibilidades de comunicação. No Verão, muito pó; no Inverno, caminhos lamacentos em que o barro
atolava e pegava tudo por causa da sua constituição argilosa.
Neste entrementes Cófilas soube que umas naus fenícias vindas do Mediterrâneo haviam entrado a foz do Ana até onde a maré dava acesso e
pretendiam fundar uma feitoria comercial.
Ledo e confiante foi-lhes ao encontro. Estudaram o sítio e acordaram em que seria construída nova cidade fortificada no cimo de alto e
escarpado morro a cair abrupto sobre ao margens do Ana e na confluência do rio Rochoso com estes. A região é áspera, escalvada, cálida e
pronta a boa defesa. A povoação ficaria dependurada de escarpas quase abruptas e de difícil acesso ao inimigo.
Como foram os Fenícios que quiseram construir a povoação deram-lhe o nome de Mírtilis (Mértola) por ser dedicada à sua principal divindade
- Mirto.
Nessas primeiras naus vinha o príncipe fenício Polípio, espírito navegador e sedento de aventuras, homem do mar e esforçado g uerreiro.
E se este se apaixonasse por sua filha Serpínia e assim acordassem numa aliança de mútuo auxílio e defesa? Pensava Cófilas.
Nesta esperança convidou-o a visitar Serpe.
Não se enganara.
Quando Polípio viu Serpínia, disse, surpreendido, para Cófilas:
- Aquilo é mulher ou deusa?
- Se a quiseres, pode ser para ti!... - foi a resposta.
O príncipe aceitou a proposta. Estava diante duma beldade como outra não tinha encontrado nas terras misteriosas do sol nascente. Aqueles
olhos castanhos e vivos eram ímans que atraíam; aqueles cabelos loiros eram cadeias que prendiam.
Serpínia afinava pelo mesmo diapasão. Polípio agradou-lhe à primeira vista e viu nele um príncipe encantado das terras orientais. Foi chamado
ao palácio o sacerdote de Eliote para assistir ao contrato dos esponsais. Este então recordou a Cófilas:
- Lembras-te do sonho que tiveste a primeira noite que dormiste nesta terra que o destino nos reservou? Aqui tens a sua confirmação. O ocidente
e o oriente juntaram-se sob as bênçãos de Eliote.
Cófilas e Polípio firmaram um tratado de amizade e mútua defesa. Além do casamento com Serpínia estipulou-se que os fenícios estabelecessem
uma feitoria comercial em Mírtilis.
Nesse porto ficariam sempre equipados com homens e material dois navios fenícios que ao mesmo tempo patrulhariam o litoral da Turdetânia,
pelo menos enquanto o perigo não passasse. Em caso de guerra com qualquer adversário cada um dos contratantes prestaria mútuo auxilio.
Outrosim era estabelecida em Mírtilis uma escola naval onde os túrdelos aprenderiam dos fenícios a arte de navegar, e de se familiarizarem
com as ondas. Assim, à face de tal acordo ficavam inteiramente frustrados os intentos imperialistas do chefe celta Rolarte, e a linda Serpínia
ficava liberta do seu mais terrível pesadelo.
O castelo das loendreiras
Polípio voltou para o oriente com a promessa de tornar breve, pois já não podia viver muito tempo sem a presença de Serpínia e a luz do seu
fascinante olhar. O seu centro de gravidade estava agora na Turdetânia. Quem lhe diria que tinha vindo encontrar no «finis te rrae» uma sereia
mais sedutora de quantas infestam os altos mares!...
Polípio partiu dividido em dois: no navio iria o seu corpo apenas; sua alma e o seu coração amante ficariam em Serpe.
O mar que separa continentes, divide terras, afasta reinos, não é capaz de separar o amor; a distância, que tudo faz esquecer, torna o amor mais
próximo e mais vivo. Parece que a saudade foi inventada por Serpínia quando, ao despedir-se de Polípio, lhe ofereceu uma prenda constando de
dois corações de oiro entrelaçados por um S que tanto podia significar Serpínia, como solidão de onde vem a palavra: saudade.
Na ausência do príncipe, todos os dias, quando o sol despontava de manhã na orla do horizonte, Serpínia subia a uma torre da fortaleza e
dialogava com ele pedindo-lhe novas do seu amado. E à tarde, quando o mesmo se escondia por detrás das montanhas, na direcção do mar, ela
enviava-lhe uns beijos, recordando:
- Não te esqueças de os entregares ao Polípio quando amanhã passares pela Fenícia.
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De igual modo, sempre que o vento soprava das bandas do Levante, Serpínia punha-se à escuta parecendo-lhe ouvir. nas asas da brisa, a voz
doce e maviosa do seu príncipe.
*
Serpínia tinha uma grande formação e cultura para o seu tempo. Já tinha viajado pelas Gálias e havia estado em Roma. Tinha uma alma
extremamente sensível à beleza. Amava a arte, a poesia, a natureza. Cuidava de flores e dialogava com elas. Parecia compreenderem -se
maravilhosamente. Um de seus desportos preferidos era a caça. Sabia manejar o arco e a flecha como o mais hábil caçador de fe ras. Também
no seu tempo já se usava a espada com que ela sabia igualmente lidar.
O pai, conhecendo-lhe estas boas qualidades, alimentava-lhas, promovendo de quando em quando uma caçada nas terras da Serra.
Vendo que a filha adorava a vida campestre e pretendia sair sempre da cidade nas estações calmosas, mandou-lhe construir um palácio
acastelado no campo, na região da serra onde o terreno, apesar de agreste tinha um clima agradável e onde a caça abundava. A construção
fizera-se à borda do rio Limosino, afluente do Ana e o público bem depressa a baptizara com o nome de «Castelo das Loendreiras» em virtude
dos muitos arbustos desta espécie que ali abundavam. O palácio era rodeado de altos e fortes torreões que lhe serviam igualme nte de defesa
além duma forte cintura de muralha que o rodeava. Grandes portões de ferro davam acesso ao palácio e ao jardim. Tinha uma vista panorâmica
maravilhosa. De seus torreões ameiados avistava-se grande extensão de planície e de serra para todos os pontos cardeais, divisando-se toda a
depressão da bacia do no Ana, de Serpe até Mírtilis.
As águas do Limosino eram represas por um açude e alimentavam o castelo e o jardim. No jardim, amplo e bem cuidado, sentia -se bem
visivelmente a mão e o bom gosto da princesa. Este tinha grandes alamedas e ruas curvilíneas rodeadas de muitas e variadas espécies arbóreas.
Ai se via o álamo, a faia, o loureiro, o cedro, a palmeira e a oliveira, 'árvore sagrada de Eliote. As flores abundavam por toda a parte onde
grandes trepadeiras se enleavam umas nas outras e às grandes árvores dando ao conjunto uma visão de sonho.
Para além dos muros do jardim desdobrava-se a serra em montículos sucessivos formando na paisagem, áspera e solene, gracioso desenho,
como se fossem gigantes entretidos em jogo de xadrez.
O mato abundava salientando-se a esteva viscosa e o rosmaninho penitente, cujo perfume acre embalsamava o espaço. As noites de luar
revestiam-se de graciosa majestade e nostálgica poesia quando a chuva de prata incidia sobre as campinas em silêncio. As estrelas brilhavam
sempre com meigas cintilações. De dia o céu encantava com o seu azul turquesino, puro e translúcido, onde quase se não distin guia um leve
esfumado de neblina.
Serpínia, além das flores, do céu azul, das estrelas e da caça amava também os passarinhos. Possuía gaiolas com
várias espécies. As filomelas29, pareciam conhecer-lhe este fraco pois vinham com frequência entre as trepadeiras que
estavam junto à sua janela trinar seus concertos orfeónicos.
Certa vez uma andorinha lembrou-se de fazer o ninho no pátio do castelo, sob um beiral que muito lhe agrada. Serpínia achava graça e risonha
poesia à maneira engenhosa como as industriosas andorinhas construíam suas curiosas habitações. Primeiro água no bico e borri favam o lugar
onde pretendiam fazer o ninho. Depois eram pedacinhos de barro atrás uns dos outros: - põe aqui, põe ali, deita acolá, ajeita agora, ajeita logo
e dentro de pouco tempo estava um autêntico palácio aviário. Depois era a prole. Que lições de paternidade, que lições de amor para os
homens!...
Em dada altura, quando as novas andorinhas estavam já crescidas, Serpínia mandou apanhar uma e atou-lhe ao pescoço uma placazinha de
madeira muito fina, quase transparente, com estes dizeres: - «Serpínia envia recados a Polípio».
Enquanto esteve no ninho as irmazinhas desta entre- tinham-se a debicar na placa. Chegou a altura de levantar voo. E a privilegiada da
mensagem por ali volitou algum tempo com o seu adorno a que a princesa achava imensa
o graça. Depois veio a emigração. Diz-se que no ano seguinte os passaritos voltaram ao mesmo local e lá vinha a mensageira trazendo ainda a
mesma placa. Teria volitado pelas terras do oriente? Ter-se-ia desempenhado do seu recado? Se outra lição não tivesse ficado deste episódio
bastava a sua poesia, a sua delicadeza amorosa, o sabor de bucolismo que ele contém para o tornar simpático.
*
Já dissemos algures que Serpínia tinha deliciosa predilecção pela caça.
De quando em vez convidava cortesãos e altas dama. para uma batida aos lobos e javalis. A's vezes as empresas venatórias tornavam-se
perigosas, quando os arcos e as flechas não andavam por mãos hábeis.
Em dada ocasião um caçador feriu corpulento javali que não conseguira abater. O animal, furioso como um leão, desbocou enraiv ecido e atirase a tudo que encontrava. Dava saltos, afiava as cortantes presas e até estripou dois cavalos e muitos cães. Entre os caçador es estabeleceu-se
pânico. Havia já senhoras desmaiadas e cavalheiros empoleirados em cima das árvores. Serpínia apercebeu-se do que havia e resolveu
enfrentar o perigo.
O javali tomou rumo ao seu grupo. A princesa correu para cima dum rochedo, onde não era fácil ser atingida pelo animal. Este, cada vez mais
furioso, empoleira-se ao rochedo a tentar trepar. Foi nesta conjuntura que Serpínia, com admirável sangue frio, desfechou com êxito feliz, duas
setas que atingiram o javali na cabeça, entre os olhos, dando-lhe morte rápida.
Foi uma sensação de alívio para os caçadores e um autêntico triunfo para a princesa, a qual foi muito aclamada
pela sua admirável proeza que, durante muito tempo, andou de boca em boca.
O corpulento javali foi oferecido em holocausto a Eliote em acção de graças, ficando a cabeça embalsamada numa das salas do c astelo.
Cófilas, quando soube da proeza venatória da filha mandou-lhe os parabéns, com esta missiva laudatória:
- «Nada tens que invejares a Diana. O teu arco tornou-se terrivelmente fulminante!».
Sonho de amor
O amor é o mais doce e o mais tirano dos verdugos. Tanto beija como fere; tanto louva, como vitupera; tanto enobrece, como mata.
As maiores criações do mundo e as mais aviltantes tragédias do Homem costumam ter por base e inspiração o amor. É o amor que funda nações
e destrói impérios; faz os santos e até gera os criminosos e facínoras. É que o amor tem várias facetas e opera em diversas direcções. Pode vir
do céu ou desentranhar-se do meio da lama; pode ser perfume balsâmico ou hálito pestífero; pode presidir a uma ressurreição ou gerar uma
carnificina; pode ser mar de virtudes ou então furacão impetuoso de paixões.
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Nome antigo dado ao rouxinol.
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Tudo depende da qualidade do amor: se do céu, se da terra; se dom de Deus; se produto do mundo inferior do homem.
Sim... o amor é um anjo de asas brancas que acaricia... .e pode ser demónio que flagela em antros escuros.
Serpínia sentiu este martírio do amor.
*
Era uma tarde emoliente de primavera. O céu, por entre nesgas de nuvens esbranquiçadas, parecia mais azul do que vez nenhuma. No espaço
corriam manchas de algodão impelidas pelo vento tépido da tarde. No jardim, intensamente florido, volitavam doidamente borboletas
multicores, enquanto abelhas industriosas iam de pétala em pétala sugando o saboroso néctar.
O cheiro acre da esteva florida e do penitente rosmaninho chegava até ao castelo das Loendreiras. À beira do Limosino alinhavam-se, frondosas
e cheias de majestade, renques de árvores esbracejando generosamente ao vento da tarde. A cabeleira basta dos chorões ondulav a ao capricho
da brisa enquanto o ciciar das faias formavam sibilante cadência de dança orfeónica.
Além, entre silvedos e madressilvas cheirosas, uma filomela repenicava seus trinados aliciantes. Era uma tarde de poesia repa ssada de lirismo
caldeado com suspiros de cupido.
Toda a natureza parecia orquestra suave e harmoniosa a entoar laudes ao Amor invisível.
Serpínia sentiu-se transportada às plagas do Oriente. A silhueta doce, risonha de Polípio desenhava-se vivamente
na tela da sua imaginação viva e escaldante, fazendo pulsar-lhe o coração em ritmos mais acelerados.
O sol da meia tarde, coado por algumas nuvens de arminho, havia diminuído suas ardências. A princesa loira sentia necessidade de expandir,
com a natureza, seus colóquios de amor.
Chama, por isso, Galiosa, a aia fiel de todas as horas, para uma deambulação pelos jardins.
Depois de alguns passos ao acaso foram ambas sentar-se num banco de pedra sito debaixo de frondosa palmeira rodeada de cedros odoríferos.
Pelas abas destes trepavam grinaldas de roseiras dos canteiros próximos. Mesmo em frente, para além dum pequeno parapeito de pedra tosca,
deslizavam, plácidas e claras, as águas do Limosino.
Serpínia foi a primeira a quebrar o religioso silêncio daquela tarde de amores.
- Que lindo está tudo, minha boa Galiosa... tudo isto é vida, beleza e poesia.
- Tens razão, linda princesa. Tudo são dons de Eliote. Mas porque olhas tanto na direcção do oriente?
- Lembro-me de Pol1pio.
- Olha mais para o sul. mais na direcção de África. A estas horas já ele vem em pleno Mediterrâneo ou talvez já tenha ultrapass ado
as Colunas de Hércules.
- Dizes bem, Galiosa: ele deve chegar a Mírtilis por estes dias. Vem ultimar os preparativos para o nosso casamento.
E Serpínia sorri com delicioso bom humor.
- Ficas entre nós ou vais para o Oriente? - interrogou Galiosa.
- Não sei. Tanto se me dá, contanto que goze a presença de Polípio.
- Connosco, os turdetanos, já não acontece o mesmo, insistiu Galiosa. Se te retiras, temos a impressão que na nossa doce pátria
passará a ser sempre tarde ou manhã... Sem a luz dos teus olhos castanhos já não haverá para nós pleno meio dia!
- Muito obrigada pela amabilidade, retorquiu a princesa, volvendo de novo os olhos para Leste.
Depois:
- Sabes, Galiosa: Sinto-me a mulher mais feliz do Mundo. Quando me vi livre das garras de Rolarte senti a felicidade da avezinha que sai da
gaiola e se arremessa ao espaço. Era, porém, ainda só meia felicidade. A felicidade inteira, completa, encontrei-a quando encontrei Polípio. Os
olhos felinos do chefe celta já não tornarão a poisar sobre mim. Passou a era das apreensões e dos p esadelos.
Galiosa contraiu o rosto, como se fora vergastada por uma chicotada maldita. Fica silenciosa, olhando a distância.
- Duvidas, minha boa aia?
- Não duvido, temo.
- Temes o quê?!...
- A vingança de Rolarte.
- Sonhas, Galiosa, retorquiu Serpínia, rindo com certa desenvoltura.
- Não sonho: estou até muito acordada. E acrescentou:
- Não te lembras do Juramento de Rolarte:
- Hei-de apoderar-me de Serpínia morta ou viva?!...
A princesa estremeceu e sentiu calafrios ao recordarem-lhe um juramento maldito.
Depois, disfarçando:
- Antes da aliança com os Fenícios temia, agora não.
- Mas a Fenícia está para além dos mares, em terras da Ásia...
Mas as suas naus patrulham as águas do Ana, e daqui lá a distância não é grande.
E a princesa, com o braço estendido, onde se via uma mão de açucena, aponta, ao longe, o cimo dos montes que circundam Mírtilis, a perderemse na neblina esfumada da tarde.
- É além!...
- Bem vejo, Serpínia, bem vejo. E a prudente aia, insistiu:
- É perto, relativamente perto, mas para um rapto basta uma hora.
- Estás hoje muito pessimista, Galiosa.
- Diz realista. Estou a ver as coisas como elas são ou podem vir a ser.
- Rolarte está longe. . .
- Que Eliote te oiça e nos defenda.
- A propósito de Eliote... recorda Serpínia, que um criado vá hoje a Serpe e leve para o seu altar uns ramos de oliveira e umas flores
de loendreira. Simbolizam paz e amor.
- Já os mandei, como ontem tinhas indicado.
- Agradeço os teus cuidados.
- Porque olhas tanto para aquela palmeira em frente do meu quarto... interrogou de novo Serpínia.
- Lembro-me...
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- Do quê?
- Queres que diga?
- Já...
- Esta noite acordei ao piar sinistro dum mocho agoirento que, poisado naquela palmeira piava... piava... piava...
e isto por mais duma hora. Quando ele voou, uma coruja passou grasnando também pelo mesmo sítio. Isto não é bom sintoma nem presságio
consolador dizem os aurúspices.
- Olha - Galiosa - nunca fui supersticiosa e em vez de temer o canto das avezinhas alegro-me com ele.
- Também eu, quando elas são canoras. Agora estas. . . estas... estas são piadeiras.
- Bom. .. disse Serpínia com ar desenvolto: falemos de coisas alegres. Repara naqueles canteiros de flores. Que inebriante perfume
balsamiza este ambiente.
- Aquelas. .. além... foram plantadas por mim.
- Lá estás tu com essas vaidades espevitadas... não tas quero roubar; mas são do meu jardim...
Era já meia tarde. O sol iam rodando para o ocaso através do manto azul da celeste abóbada. As sombras alongavam -se. A grande alameda
onde ambas se encontravam, e que ia desembocar no rio, parecia agora um túnel, tão cerradas eram as sombras. Lá em baixo ouvia -se o
rumorelhar das águas do Limosino, cuja serpente prateada as interlocutoras viam dali.
Serpínia tornou a olhar na direcção do nascente e cortou o silêncio, apontando o rio:
- Sabes, Galiosa: quando estas águas juntas às do Ana chegarem à foz para se misturarem às do oceano, talvez já lá encontrem as
naus fenícias com Polípio. Sim... ele deve vir já perto.
- Se assim é deixa-me saudá-lo: quero que ele ao tocar águas turdetanas encontre logo os nossos cumprimentos e vivas saudações.
Levanta-se, com surpresa de Serpínia e vai para um lindo canteiro de flores.
- Que vais fazer?
- Espera. . .
Galiosa, entre sorrisos e ditos engraçados, colheu um braçado de flores e, debruçando-se sobre o parapeito do muro que dava paro o rio,
começou a atirar as flores à água, dizendo:
- Ide... ide... saudar Polípio.
- Ide... ide... saudar Polípio.
Serpínia achou profundamente original a ideia de Galiosa e foi imitá-la. Colheu algumas das flores mais perfumadas: lírios, rosas, açucenas,
cravos, amores perfeitos e começou também a deitá-los ao rio. Naquele momento a chama do amor ausente, acende-lhe o estro poético e ela
principia, qual boa discípula de orfeu, a cantar:
- Correi, pétalas, correi...
- Ao encontro do amado,
Que vem nas águas do mar,
Em lindas naus embarcado.
Algumas flores noa eram obedientes. Boiando ao cimo das águas algumas faziam reentrância, queriam voltar atrás, redemoinhavam ; outras
ficavam presas e enlaçadas a madres- silvas, loendreiros e outros arbustos pendentes sobre as águas. Ela então, com uma comprida vara,
desprendia-as, acelerava- lhes a marcha:
- Correi todas...
- Correi...
- Correi...
A veia poética aflora em catadupa; o amor vibra nas cordas mais sensíveis da alma; a paixão é tempestade... por isso os lábios ardem e ela
continua a cantar:
Águas, flores, ventos, brisas...
Sêde-me bons, por favor;
Levai ao meu bem amado,
Meus ternos beijos de amor.
Beijava as flores e atirava.
De novo, uma e outra vez, com a varinha acelerava as mais retardatárias, repetindo:
Levai...
Levai...
Levai...
O primeiro assalto
O idílio continuava entre risos e poesias, quando vieram dizer à princesa que estavam ali uns comerciantes de pérolas com lindas prendas de
noivado. Montavam a cavalo e pareciam ser celtas, pois falavam mal o túrdelo.
Galiosa sobressaltou-se logo e Serpíia ficou surpresa:
Mercadores?.. Vamos ver.
De facto as mercadorias eram lindas, mesmo tentadoras. Comprou para si um colar de finas pérolas e um alfinete com diamantes para o noivo.
Vendido o peixe, os três mercadores deram de esporas aos cavalos e, com uma grande vénia, retiraram na direcção leste, intern ando-se no mato,
para além dum cabeço, em frente.
Galiosa estava presente e examinava com extrema curiosidade as palavras e os gestos dos adventícios. Desaparecidos estes, diz para Serpínia:
Não me sorri o dia. Oxalá estas prendas não nos venham a ficar demasiado caras...
Porque dizes isso?!...
Porque digo? Talvez tenha razões...
Explica-te...
Por ventura, princesa, não notaste nada de estranho nestes inesperados?
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Eles eram celtas e eu notei que o terceiro não se aproximou fingindo segurar os cavalos. Reparei que ele tinha na mão um estilete e tábua
encerada. Tirava não sei que apontamentos e fazia uma espécie de planta do castelo. Quando me aproximei, guardou... e, para d isfarçar,
perguntou-me:
Gosta das prendas?
Eu interroguei por minha vez:
- Gosta do nosso castelo?
E ele:
- Maravilhoso!... E está bem defendido... não há perigo de assalto.
- Notaste isso?! . . .
- É como te digo.
- Mais ainda: não tens estranhado essa chusma de mercadores do mesmo género que nos últimos tempos tem enxameado as nossas terr as,
indo até Serpe? Eu estou em crer que isto são espiões celtas às ordens de Rolarte.
- Que me dizes?!...
- Nem mais nem menos. Ele ronda as nossas fronteiras e não esqueças o seu ímpio juramento.
Serpínia corou e sentiu-se um tanto trémula.
Depois:
- Não será isso pessimismo?
- Não é pessimismo, é prudência.
- Sendo assim, que me aconselhas então?
- Olha, a guarnição do castelo noa é muito forte; manda vir ainda esta noite reforços e envia ramos de oliveira ao templo de Eliote
pedindo ao sacerdote que ore... que ore por nós.
Serpílnia, embora estivesse optimista, achou prudente transmitir ordens.
*
A noite caíra sobre a planície erma. Noite pesada e triste. Espessas nuvens se tinham levantado ao pôr do sol cobrindo o céu duma placa de
chumbo. A custo cintilava uma estrela por entre os interstícios das nuvens. A lua só muito de madrugada havia de nascer, e era quarto
minguante.
Um vento agreste sussurra fortemente na copa ramuda das árvores que se torcem e gemem. O ambiente sabe a música desafinada, á spera e
importuna. A escuridão cerra-se mais e mais. No ar pesado parecem vaguear medos e pesadelos. Nem se ouve ao longe qualquer rugir de fera.
Os próprios irracionais, temendo a tempestade jazem acoitados em seus covis. Sopra mais o vento, assobia nas ameias do castel o, silva com
estridência nas frinchas das portas, rebolam folhas de árvores pelos telhados. É uma dança macabra. O ambiente é de enervante nostalgia. É
noite tétrica... Noite de assassinos... Noite de bandidos... Noite de crimes.
Serpínia olhando através da janela a paisagem escura e solitária na direcção do sul só pede a todos os deuses que a nau de Polípio não seja
surpreendida por qualquer tormenta.
A noite avança. Os membros estão entorpecidos de lassidão; os cérebros pesados da atmosfera densa; o sono rond a os pobres mortais.
Para além do mato há olhos que não piscam de sono porque são olhos de traidores e a traição age de preferencia na calada da noite.
Serpínia recolhera-se a seus aposentos. Ainda não adormecera. Vagueia com o pensamento ao ritmo do soprar do vento. O pai deve estar em
Mírtilis, Polípio já deve navegar em águas túrdelas.
De repente Galiosa bate-lhe à porta.
- Que há, interroga.
- Tenho um mau pressentimento. Há momentos estava na torre mais alta do castelo a sondar o panorama e parec e-me ter visto na
direcção de leste muitas luzes.
-Talvez fossem olhos de feras...
- Depois ouvi como um trotear de muitos cavalos...
- Deve ser o vento a fustigar as árvores...
- Por sim, por não, Serpínia, manda às sentinelas que estejam bem de vela e vigiem. Olha, quase que
jurava ter ouvido, no meio do mato o relinchar de cavalos.
- Talvez fossem os nossos próprios. Confia: Eliote está connosco. O sacerdote ora no templo. Cerrouse mais a noite. Além das paredes do castelo nada mais se vê. Só lá em baixo, à beira do
jardim se percebe o gorgorejar das águas do açude.
Alta madrugada, antes da lua despontar, ouviu-se um inquietante alerta da sentinela. Acorrem os reforços. Inimigos estavam a pretender
assaltar o castelo. Organiza-se a defesa em volta de todo o edifício. O primeiro embate foi duro, felino, confuso. Relincham cavalos, atiram-se
setas, partem-se escudos e ouvem-se gritos de desespero. Já há mortos e feridos. O atacante busca uma porta por onde possa entrar.
Em vão; está tudo bem defendido.
Os defensores do castelo defendem-se com fúria leonina. Serpínia e Galiosa acordaram ao som do alarido e estridor das armas. Informadas do
que se passava encheram-se de bravura e queriam sair para fora, de armas na mão, mas os soldados não permitiram. Subiram então às torres e
de lá atacavam com pedras e matérias inflamáveis. O inimigo atacava, vociferava, praguejava.
Saíram-lhe errados os planos. Julgavam o castelo sem defesa. Passado tempo diminuíram de impetuosidade, enfraqueceram a resistência,
recuaram.
Vinha rompendo a manhã. Vendo a impossibilidade de tomar o castelo os sitiantes empreenderam a fuga e internaram -se no mato, sendo
perseguidos até longe. Tinha-se frustrado o assalto. Por confissão dos prisioneiros soube-se que eram soldados de Rolarte. Este, conhecedor da
aliança de Cófilas com os Fenícios e os esponsais de Serpínia com Polípio, há muito que projectava raptar a princesa túrdela.
Sabendo-a, pelos seus espiões disfarçados em mercadores que ela se encontrava naquele palácio de campo, longe de Serpe, achou asado o
momento. Infiltrando-se pela fronteira da serra onde não era fácil encontrar resistência veio a acampar no meio do mato, a alguns quilómetros
de distância.
O primeiro assalto foi uma tentativa de seus homens mais audaciosos que prometeram levar a efeito o rapto, sem o chefe expor a sua vida.
Frustrada esta primeira tentativa eles voltarão. Rolarte agora ardendo em cólera e consumido de vergonha planeará nova vingan ça. Não é
homem que desista ao primeiro fiasco.
Serpínia, conhecedora destes planos, mandou a todo o galope emissários a Mírtilis dar conhecimento a Cófilas do que se passava ao mesmo
tempo que prevenia a fortaleza de Serpe. Os emissários caminhando em marcha forçada, depressa galgaram a distância que separa Mírtilis do
Castelo das Loendreiras. Por felicidade Polípio havia chegado nessa madrugada com homens e navios. Cófilas e futuro genro, co m grande
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contingente de homens, puseram-se a caminho e, ao anoitecer estavam à vista do castelo. Serpínia foi recebê-los por entre grande alvoroço e
lágrimas de alegria. Não contava com Polípio ali em tal contingência. Este respondeu:
«O amor não sabe esperar e é nos perigos onde mais se aquilata o seu vigor.
Serpínia agradeceu-lhe e caiu-lhe nos braços plena de emoção. Cófilas abençoou a filha e louvou-a pela sua grande coragem. Agora estava
salva a situação. De Serpe já haviam também chegado reforços. Cófilas, ouvidos também os prisioneiros celtas, logo se aperceb eu da situação e
dispôs tudo para uma resistência forte e eficaz. Serpínia tornou ainda a mandar essa noite ramos de oliveira e flores de loendro para o altar de
Eliote.
A derrota
Os génios do mal são fecundos em planos perversos e por via de regra são vitimas do seu orgulho. O orgulho é um vírus que mat a sempre seus
próprios senhores. Rolarte era mau e orgulhoso. Tinha as duas qualidades mais perversas do génio do mal.
Ao ter conhecimento do fracasso do primeiro assalto ao castelo das Loendreiras desmaiou de indignação, rangeu felinamente os dentes, crispou
as mãos de cólera e, fora de si, gritou:
- Vingança... Vingança... não há vingança bastante para eu me poder vingar. E logo planeou o segundo assalto para aquela noite
afim de não dar tempo a organizar-se uma defesa eficiente. Não sabia o que se passava no castelo, desconhecia a chegada de Polípio. O dia
passou-se em planos de estratégia à face dos dados colhidos pelos falsos mercadores.
O tempo estava tempestuoso e por isso favorável a um assalto desta natureza. Sobretudo o que importava era:
Vingança.. Vingança...
Anoitecera.
De novo um denso céu de crepes tornou a envolver a terra. Escuro cerrado; vento irritante; aliança das trevas... e eis alguns de seus aliados
para aquela noite. Choveu muito durante o dia e a noite estava, por igual, densamente nublada. Rolarte dividira seus homens em quatro grupos
afim de atacarem o castelo por todos os lados dando assim ao adversário a impressão de que eram legião.
Cerra-se mais atreva; adensa-se a noite; carregam-se mais as nuvens; o vento assobia.
Cófilas tinha emboscado seus homens a centenas de metros, em pontos estratégicos exactamente na direcção dos quatro pontos cardeais.
Mandou que no castelo nem uma luz acesa, tudo às escuras afim de dar ao inimigo a impressão ou que tinha sido abandonado ou q ue estavam
desprevenidos. As horas passam lentas, angustiosas, apreensivas.
Alta madrugada a assaltante aproxima-se. Nas torres do castelo vigia-se bem desperto.
Rolarte, aceso em cólera, exclama ao dar ordens de atacar:
- «Ó deuses: - que o ódio realize o que não conseguiu o amor!...»
No momento oportuno saíram de seus esconderijos os túrdelos que, de improviso, carregaram sobre o inimigo.
Espalha-se a confusão, o desespero. Há vítimas e destroços pelo chão. O escuro da noite, a lama do terreno, devido à chuva, empr estam ao
cenário mais lugubridade, tetrismo e pavor. A dor e a morte encontravam-se frente a frente. Os atacantes viram-se envolvidos por uma
resistência tenaz com que não contavam. Desesperam, a vitória foge-lhes momento a momento.
Rolarte é mortalmente ferido. Os seus homens recuam, cedem terreno, debandando. É a derrota. A fuga precipitada está diante deles como única
solução de salvamento.
Cófilas foi impelindo o inimigo para as margens do Limosino. Este rio levava uma cheia formidável em virtude das chuvas torrenciais que
haviam caído em certas regiões. Rolarte julgando ainda uma possibilidade de escapar às mãos de Cófilas meteu -se à água tentando atravessar o
rio. Cavalo e cavaleiro iam muito feridos. Em tão má hora se meteu à água que o cavalo escorregou nas pedras roliças deixando cair o
cavaleiro que foi arrastado pela torrente impetuosa.
Cófilas e Polípio presenciaram a cena e queriam havê-lo, às mãos, vivo. Ainda fizeram tentativas para o salvar, mas em vão. Rolarte submergiuse na torrente e desapareceu para sempre. Estava terminado o drama doloroso. A tragédia pusera termo a uma louca aventura.
O CONSÓRCIO
Ocidente e Oriente de mãos dadas
Polípio, o príncipe fenício de olhos azuis, barba ruiva e tez morena fizera boa estreia para conquistar definitivamente Serpínia. Era um amor e
um herói. Sabia amar, lutar e combater. Herói no mar e na terra, ia ser também herói nos segredos do amor. Serpínia, a mulher mais linda que
até ali havia visto, estava-lhe destinada. Túrdelos e Fenícios podiam regozijar-se com a estrondosa vitória, ocidente e oriente podiam dar as
mãos num simbolismo histórico que os séculos futuros haviam de registar como predomínio do ocidente sobre toda a face do glob o. O Castelo
das Loendreiras fora eterna testemunha da dupla vitória duma mulher singular: acabar com o pesadelo dum monstro apaixonado que fazia
tremer as pedras e conquistar um amor que enlaçava duas nações, unia dois continentes. Serpínia ficava uma heroína para a his tória.
A dupla vitória foi largamente festejada. Os vencedores entraram em Serpe por entre arcos e festões, palmas e flores, no meio de aclamações
ruidosas como a capital túrdela nunca tinha presenciado.
Num luxuoso carro puxado a quatro cavalos Serpínia seguia no meio de Cófilas e de Polípio. Sorrisos, ovações, acenar de braços, vivas,
aclamações eis o ambiente que reinava por toda a parte. O cortejo triunfal seguiu pelas ruas principais e foi terminar no tem plo de Eliote onde
Serpínia depôs ramos de oliveira e de loendreira e se ofereceu um sacrifício solene.
As festividades continuaram no dia seguinte com o casamento real e prolongaram-se por duas semanas.
*
No meio de tanto regozijo uma nuvem de tristeza cobria o coração de todos. Por certo iam ficar sem a sua idolatrada princesa a quem a
Turdetânia já tanto devia. O oriente esperava por ela.
A os clamores da vitória, ao incenso dos sacrifícios juntavam-se já as tristezas da próxima separação e as lágrimas ardentes duma saudade
infinda.
Serpínia é uma radiosa estrela do ocidente que vai iluminar as terras do oriente; é uma beldade destinada a ofuscar todas as beldades das terras
dos beduínos, onde vagueiam civilizações e passam caravanas admirando os arcos desmantelados de Palmira, os templos soterrado s dos Hititas,
as ruínas monstruosas de Balbek.
Diante da beleza de Serpínia, havia de desmaiar a beleza de Artemisa de Palmira; os Egípcios haviam de achar demasiado feia s ua admirada
Cleópatra e Helena de Troia cairia em eterno desespero.
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Mais ainda: quando Serpínia aparecesse no oriente não mais Salomão olharia para os encantos da Rainha de Sabá. Depois as formosas: Célia
dos Hititas, Zeliana dos Babilónios, Artésia dos Assírios, ficariam arrumadas a um canto como gente sem valor, corno beldades ultrapassadas.
Se tais pensamentos regozijavam os turdetanos a ideia da separação atormentava-os.
o ADEUS
Entre os Europeus e a Ásia
O destino é sempre o destino: tem de cumprir-se. Não é um cego fatalismo, é um selo da providência; não é uma coincidência fortuita é, sim, o
sinal da mão de Deus a marcar a fronte do homem. Serpínia está destinada a ser rainha de Tiro e Sidónia.
Para além do Mediterrâneo, confinando com as terras que um dia o Cristo transitará na sua passagem pelo nosso planeta, está o seu trono.
A partida aproxima-se. O reinar é também um dever, um serviço que tem de cumprir-se. Os navios estão já surtos no porto de Mírtilis. Está
firmada uma aliança forte e duradoira entre a Fenícia e a Turdetânia que dão as mãos por cima do Mediterrâneo. Mírtilis, embo ra no território
turdetâneo, é uma faceta do rosto da Fenícia e fica a servir de ponto de enlace, rota de cruzamento entre os dois povos amigos.
Serpínia vai partir.
Como piedosa e crente quis na véspera da partida, ir ao templo de Eliote oferecer um sacrifício e entregar um ex -voto. Este constava da seguinte
oferta: uma preciosa rosa de loendreira feita de oiro e pedras preciosas dádiva de seu pai e que lhe adornava o gracioso cabe lo no dia do
casamento. Numa das pétalas da rosa estava gravado o nome de Serpínia, noutra o castelo das Loendreiras. Na base do castelo via-se a cabeça
dum dragão representando a vitória sobre Rolarte. Assentava tudo sobre um escudo rodeado de folhas de oliveira, a árvore sagr ada de Eliote.
Este brasão ficaria a ser as armas de Serpe e conservou-se no templo até à sua destruição nas inquietas vicissitudes da história.
*
Chegou por fim o dia da partida. Aproximava-se a hora do embarque. O sol radioso duma serena tarde de primavera iluminava com revérberos
de oiro o casario de Mírtilis construída em anfiteatro na encosta do alto morro, bem como as campinas circunjacentes e as águas plácidas do
Ana.
Era bem uma tarde de amorosa saudade.
Serpíia e Polípio acompanhados de Cófilas e grande comitiva chegavam a Mírtilis. As naus estavam surtas nas águas do rio todas
embandeiradas.
Sorria a natureza, choravam os corações. Uma separação, ainda quando para melhor, é sempre dolorosa.
A fortaleza de Mírtilis erguida no cimo do morro escarpado pelos homens de Polípio, espelha-se agora nas águas do rio.
Serpfnia desce ao cais.
A multidão ovaciona e chora. Vai-se a luz da Turdetânia. Os mareantes fazem os últimos preparativos. Polípio, como elegante surpresa, havia
posto o nome de Serpe àquele navio que devia levar a princesa. Este voltaria muitas vezes às águas da Turdetânia afim de mitigar as saudades
dos turdelos.
A princesa ajoelha-se aos pés de seu pai carinhoso e bom. É a hora amarga da despedida. Depois sobe para o navio e acena à multidão. No ar
há lenços e braços a saudar e nos olhos abundância de lágrimas.
- Adeus... Adeus... era o grito que irrompia de todas as bocas e ecoava pelas quebradas dos montes.
A emoção atinge o seu auge quando o navio inicia a marcha. Serpínia, de pé, acena à multidão. Já não pisa terra da Turdetânia , mas ainda lhe
pertence. Galiosa, a aia sempre fiel acompanha-a ao Oriente.
- Adeus!... Boa Viagem!... Felicidades! - continua a gritar a multidão em coro. Serpínia sorri na plenitude da sua felicidade. Tiro e
Sidónia esperam por ela.
Vai entardecendo cada vez mais. O ambiente é de emoção e de saudade. Respira-se a dor da despedida com a glória duma exaltação. O Serpe,
que leva a pérola da Turdetânia, é seguido por muitos barcos de recreio engalanados. Desliza agora sobre as águas plácidas. A o longe ainda se
vê a silhueta esguia e bela de Serpínia, a quem o povo continua a dizer:
-Adeus!...
E o navio desliza até desaparecer numa curva do rio.
NOTA
Quisemos oferecer aos Serpenses esta leve brochura e modesto trabalho sobre uma das graciosas lendas acerca da fundação da sua terra.
Fomos bebê-la a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos arquivos. Não há dúvida de que Serpa "histórica e velhinha, berço da minha
vinda ao mundo, é uma das povoações mais antigas da Ibéria. É certo que a sua fundação imerge nas sombras densas da pré-história. Ninguém
poderá saber ao certo qual o dia, o ano em que do solo vermelho em que assenta emergiu o primeiro muro de suas casas e se del ineou a sua
primeira rua. Os tempos guardaram para si este mistério que o génio do passado arquivou nos subterrâneos das idades.
Uma coisa singular: os tempos e as vicissitudes históricas respeitaram sempre inalterável seu nome primitivo com
que fora baptizada, caso único, estamos em crê-lo, nas velhas terras da Lusitânia. Isto parece confirmar o carácter sagrado que presidiu à sua
fundação. Esperemos que no último dia do Mundo, se Serpínia ressuscitar, ela nos desvende esses mistérios.
Sempre me interessei vivamente pelos problemas de Serpa e não quis deixar de lhe ofertar este pequeno obséquio que Ela, pro vavelmente,
saberá agradecer.
Sim. .. a fundação de Serpa ter-se-á dado como aqui se descreve.
Qualquer outra lenda é inverosímil.
O AUTOR,
C. J. GONÇALVES SERPA
Composto e impresso na Oficina Torriana – Torres Vedras.
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANEXO 3.1 – 4 – SERPA EN/CANTADA EM LENDAS
De José Rabaça Gaspar (José Penedo de Serpa) in separata – SERPA ANTIGA – SERPA INFORMAÇÃO, 4ª série,
Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17
2º ANDAMENTO - SERPÍNIA A BELA PRINCESA
Serpínia era princesa
do reino da Turdetânia
que antes da Lusitânia
era um reino mui distante
muito p‟ra lá da Ibéria,
para além dos Pirenéus.
Cófilas, o pai de Serpínia,
adorava a sua filha,
que, além de ser princesa,
sua filha muito querida,
era de rara beleza,
como diz a lenda antiga.
Mas Rolarte, um rei mesquinho,
rei cruel, ambicioso,
dos celtas povo vizinho,
logo que viu a Serpínia
à força a quis tomar
para com ela se casar
sem ela o querer, nem amar.
Orosiano, esse era o noivo
que a Serpínia escolhera.
E logo que isto soube
o rei Rolarte, cruel,
guerra ao príncipe moveu.
Orosiano morreu
nessa batalha fatal.
E Rolarte, ambicioso,
apesar de muito ferido,
mesmo às portas da morte,
roído de atroz ciúme,
jura perseguir Serpínia
até ser sua, ou morrer.
Cófilas, que era bom rei,
e que ter guerras não queria,
Para proteger sua filha,
caminha para Oriente,
passando os Pirenéus,
atravessando a Ibéria,
até que parou no Ana,
o rio Ana Odiana
que depois foi Guadiana...
Foi, quando viu estas terras,
guardadas por uma serpente,
que haviam de ser de Serpa,
que a princesa se encantou,
ao ver os campos cobertos
de deslumbrante verdura
e de flores de muitas cores
que perfumavam os ares
dum odor estonteante.
A água era abundante.
Terra farta, clima ameno,
farta, tanto de animais,
como de aves para caça.
Com imensos olivais...
Ali estava o alimento,
o bom unto, o provimento
e até luz nas candeias...
- É este o lugar que eu quero
para morar e caçar
correndo montes e vales...
E nunca mais ver Rolarte
nem mais dele ouvir falar...
E chorar Orosiano
que morreu de tão má morte
pelo destino da sorte
que aquele malvado lhe deu.
É talvez um chamamento,
encanto, deslumbramento,
que me atrai, que me fascina.
É que o meu nome é Serpínia
e os caçadores daqui
contam, que esta região
é reino de uma serpente
alada, forte e potente
que os protege e guarda a terra
os campos, aves e bichos,
e que também os defende
de todos os inimigos.
Também a nós guardará.
E, se ela assim quiser,
serei eu essa serpente
que os vai guardar dos perigos
e vencer os inimigos
desta terra e desta gente.
Creio bem, senhor, meu pai,
que aqui, irei encontrar
o meu futuro. A PAZ.
Meu nome será ligado
ao da Serpe benfazeja...
Por todos será lembrado
para lá de toda a inveja
por mais mudanças que houver.
- Aqui será, minha filha,
pois assim o desejais
a cidade capital
do reino da Turdetânia
e daqui vamos reinar
em paz, boa vizinhança,
desde o Ana, até ao mar.
Assim possas tu, ó filha
Amor de novo encontrar.
Logo se fez a cidade
com túrdulos e naturais
se estenderam pelos campos
pelos montes e locais
até ao porto onde o Ana
se casava com o mar.
Chegaram barcos fenícios
que vinham comerciar.
Outra cidade nasceu.
Mirtilis foi o seu nome
por ser o filho de Mirto
que o teve de Mercúrio
o Deus dos comerciantes,
mensageiro dos amantes.
Um dia, num desses barcos,
chega, nobre e sobranceiro,
Polípio, um jovem guerreiro,
que ao ver Serpínia, a princesa
logo se deixou vencer
de tanto encanto e beleza
aliada à fortaleza
que de Serpínia emanava.
- Nunca mais esquecerei
tanta beleza e encanto.
E se for vossa vontade
e do vosso pai também,
vou regressar ao meu reino,
à Fenícia lá distante,
e voltarei radiante
mais digno da vossa mão
e condigna companhia
para as bodas celebrar.
Bela mulher, sede minha
e virei para casar
e ao meu reino levar...
Logo ali ficaram noivos
e prometeram amar-se.
- Vai depressa, volta breve,
porque embora protegida,
sou de morte perseguida
por um rei cruel e mau...
Partiu Polípio para longe.
E a noiva, enquanto espera
refugia-se na serra
para se melhor defender
e à caça se entregar,
seu prazer e seu dever
para todos sustentar.
Para melhor a guardar
seu pai que era prudente
logo manda construir
um palácio diferente
no meio da selva inóspita.
E devido aos loendreiros
que enchiam a região
logo lhe chama a propósito
O Castelo dos Loendros.
Mesmo ali nesse reduto
qual Diana no seu meio,
perdida na Natureza
quase do Mundo isolada,
um dia, quem o sonhava,
aparece qual fantasma
o ciumento Rolarte
que jurara de tal arte:
ou possui-la, ou matá-la...
Não consegue seus intentos.
Os soldados de Serpínia
com a aliada Serpente
como uma Serpe ou Dragão
defendem o seu castelo,
põem em fuga o ladrão.
Logo avisado, seu pai
corre em socorro da filha...
E já a Mirtilis chegado
corre o Polípio aflito...
Lutam com os celtas renhidos.
Perseguem o rei Rolarte
que fugindo à morte certa
que o novo noivo lhe jura
se despenha nos fraguedos
se vai afogar no rio
fica presa da Serpente
de Serpínia a protectora...
Há festas e casamento.
Tanto a vitória alcançada
como a beleza dos noivos
são motivos para aquele povo
se encher de contentamento.
E quando os noivos partiram
para a Fenícia distante,
o povo, que muito a amava
e a queria para rainha,
e que ela amava tanto
por tanto que ali viveu,
para jamais a perder
e nunca mais a esquecer
deu o seu nome à cidade:
SERPE, em boa homenagem
à Serpente e a Serpínia...
SERPA por ser a imagem
daquela que foi rainha,
da Serpe que a defendia
e a defende hoje em dia
de todo o mal, todo o perigo
e de todo o inimigo.
SERPA, a cidade da Serpe
e de Serpínia, a princesa,
fica assim a Vila Branca,
rodeada de muralhas
e protegida das águas
do Ana que a abraça
qual serpente a defendê-la.
Assim a Serpe das Armas
que de Serpa são o Brasão
fica o signo, o símbolo imagem
de Serpínia e do Dragão.
José Penedo de Serpa
Verão de 1996
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ANEXO 3.1 – 5 – A LENDA DE MYRTILIS em honra da Deusa MIRTO que o teve de Mercúrio
In www.joraga.net/mertola
MÉRTOLA - um NOME LIGADO às LENDAS?
«Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que
deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio .»
ou um NOME a evocar a filha de TÂNTALO - NIOBE - irmã de PÉLOPE - o que assassinou MYRTILIS e foi
transformada em enorme PEDRA donde correm dois RIOS DE LÁGRIMAS por toda a eternidade...
MÉRTOLA - a possível origem de um NOME
(ver em 3.1.1 alguns recortes sobre MITOLOGIA GRECO LATINA que podem dar uma certa
verosimelhança a estes voos de fantasia e encantamento...)
Introdução
MYRTILIS ou NOVA TIRO - nome dado, provavelmente, pelos Fenícios " que aqui se homiziaram quando
Alexandre Magno conquistou TIRO..."
«Em um dos barcos (fenícios) vinha um Príncipe, jovem , guerreiro e bem parecido, que ao ver Serpínia se
apaixonou por ela. E Serpínia amou Polípio, o belo Príncipe Fenício. E logo ficaram noivos.»
MYRTILUS - aparece nos dicionários de Latim como MÍRTILO, filho de Mercúrio... A mãe terá sido a Deusa
MIRTO...
... ora, nas diversas bibliografias consultadas e apesar de sabermos que os Deuses do Olimpo eram pródigos em
arranajar várias esposas ou amantes a exemplo do grande Jupiter ou Zeus, não encontrámos uma Deusa ou esposa
de Mercúrio com o nome de MIRTO...
... mas encontrámos a Deusa que tem o MIRTO como árvore - símbolo ou consagrada: é a Deusa AFRODITE
(VÉNUS) - a Deusa do Amor e da Beleza que a todos seduzia. ... e que, na grande maioria das histórias, surge
como mulher de HEFASTO (VULCANO) o Deus da Forja, disforme e coxo... (vide in a «Mitologia», de Edith
HAMILTON, Dom Quixote, Lisboa, 1979)
Ora Mírtilo, foi inexplicavelmente morto por PÉLOPE, o filho de TÂNTALO...
MYRTILO
A lenda pode contar-se assim...
Onde começa a LENDA?... em TÂNTALO.
TÂNTALO, Rei da Lída, filho de Júpiter ou ZEUS e da ninfa Plota, tinha um lugar privilegiado
entre os Deuses do Olimpo...
Era convidado para os seus banquetes onde podia saborear a comida e a bebida própria dos
Deuses, como a ambrosia e os néctares mais delicados, desconhecidos dos pobres mortais, como
se dava ao luxo de poder convidar os Imortais para os seus banquetes no seu palácio
deslumbrante do seu reino de sonho...
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Um dia, do que é que se havia de lembrar?
Tântalo mandou matar o seu próprio filho, Pélope, ordenou que fosse cozinhado num grande
caldeirão e serviu-o de refeição aos seus convidados do Olimpo...
Que motivo o terá levado a tão hediondo gesto é um mistério para os poetas e istoriadores!
Talvez o ódio e a revolta que sentia por estes seres que se consideravam superiores, para os
obrigar a sentir o horror do canibalismo que permitiam a alguns dos mais repugnantes dos
mortais!
Que ingenuidade o levou a escarnecer, desta maneira, dos Deuses que tudo sabem, a ponto de
sacrificar o seu próprio filho?!
Os Senhores do Olimpo tinham que decidir um castigo exemplar, para que nunca mais, ninguém
ousasse insultá-los de novo:
Foi decidido o conhecido...
SUPLÍCIO de TÂNTALO:
Para castigar tão hediondo crime, Tântalo foi lançado num poço, o Hades, o inferno, mas,
surpreendentemente, num Jardim maravilhoso onde corria abundantemente a água e abundavam
todas as árvores de fruto, mas...
cada vez que esticava a mão para beber, a água sumia-se...
cada vez que esticava o braço para um fruto, o vento levava os ramos das árvores para longe,
fora do seu alcance...
e, ali está, para a eternidade, morto de sede, à beira da água que se some...
ali está, morto de fome, à vista de uma abundância indescrítível, que se lhe escapa...
Que aconteceu ao sacrificado PÉLOPE?
PÉLOPE
Além deste castigo exemplar, para que fosse reposta a Justiça, os Deuses do Olimpo,
enternecidos, decidiram restituir a vida a Pélope...
Pélope foi reconstruído, mas tiveram de lhe moldar um ombro de marfim! Conta-se que,
inadevertidamente, uma das Deusas presentes no macabro banquete, uns dizem que foi Deméter,
outros garantem que foi Tétis, não teria resistido ao aspecto agradável daquele saboroso
hediondo manjar...
Mas, contam as Lendas, a vida de Pélope correu daí em diante sem incidentes de maior. Teria
sido o único descendente de Tântalo que não foi marcado pelo infortúnio, que se abateu de uma
maneira impiedosa, por exemplo, sobre a sua irmã NIOBE...
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Entra na LENDA mais uma personagem, possivelmente, mais visivelmente ligada ao “esporão
rochoso” que se ergue “Entre-ambas-as-Águas”...
NIOBE
Niobe, a que tudo teve para ser feliz... Fez um casamento feliz com Anfião o Rei de Tebas...
Foi rainha querida de todos os súbditos...
Teve sete filhos que se tornaram jovens valentes e destemidos...
Teve sete filhas, que se tornaram as mais belas entre as belas...
O seu marido Anfião e seu irmão gémeo Zeto empreenderam a fortificação de Tebas...
O seu marido, músico de eleição, suplantou a força colossal do irmão, arrancando, com a sua
lira, sons tão arrebatadores, que as grandes pedras o seguiram-no para a construção das muralhas
de Tebas...
No meio de tanta prosperidade e felicidade Níobe decidiu, como seu pai Tântalo, desafiar os
Deuses e exigiu do Povo de Tebas as honrarias e o incenso que queimavam no templo de Leto, a
mãe de Apolo e Artemisa, em Delos!!!
Ora, como a arrogância e a insolência é imediatamente reconhecida no Olimpo e nunca deixam
de ser punidas, Apolo (Febo) e Artemisa (Diana) deslizaram rapidamente dos seus tronos
celestiais e, ao mesmo tempo, o Deus do Arco de Prata e da Flecha de longo alcance e a Divina
Caçadora, desceram a Tebas e, com pontaria infalível, abateram, sem piedade, os filhos e filhas
de Niobe, um dos motivos da sua arrogância perante a rival que só tinha tido dois filhos!!!
Atingida por aquela dor inenarrável, Niobe desfez-se em lágrimas mudas incapazes de um grito,
e transformou-se em pedra, que ficou humida por toda a eternidade, devido às lágrimas, que
correm sem parar...
MÍRTILO
Mas seu irmão Pélope, o ressuscitado, foi mais feliz...
Cortejou entretanto a fatídica princesa Hipodamia, que foi causa de muitas mortes, talvez não
por ela, mas pelo artifício engendrado pelo Rei seu pai, - ENOMÃO ou ENOMAU, que obrigava
os pretendentes a prestarem uma prova insuperável...
Como não queria que a filha se casasse, propunha aos pretendentes uma corrida com a sua de
parelhas de cavalos.
Se ganhassem, teriam a mão da sua filha...
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Se perdessem, pagariam com a morte...
A parelha de cavalos do rei, oferta de Ares, era, evidentemente superior a qualquer parelha de
cavalos mortais!...
E assim muitos perderam a vida...
Quando chegou a vez de Pélope, este aceitou o desafio, porque a sua parelha de cavalos tinha
sido um presente de Poseídon, e por isso confiava na sua superioridade, mas...
Conta outra Lenda, que ele terá vencido e conquistado a mão da princesa, porque Hipodamia,
apaixonada por ele, ou decidida a acabar com aquele terrível massacre, teria subornado
MÍRTILO, o cocheiro do seu pai, ...
MÍRTILO, (filho de Mercúrio e Mirto), para agradar à princesa, terá engendrado uma maneira de
os raios das rodas do carro real se partirem durante a corrida... e assim a vitória coube, sem
dificuldade, a Pélope...
Por motivos insondáveis, que só acontecem no reino da Lendas e dos Deuses, mais tarde, Pélope,
em vez da eterna gratidão, veio a matar Mírtilo, que, ao expirar, amaldiçoou o assassino...
Não foi sobre Pélope, directamente, que caiu a maldição, mas ele teve dois filhos:
Atreu e Tiestes...
Foram estes e os seus descendentes que pagaram pelo crime do pai...
Atreu era o rei...
Tiestes apaixonou-se pela Rainha, a esposa do irmão e seduziu-a...
O Rei descobriu, claro, e concebeu uma vingança hedionda e inenarrável...
Matou os dois filhinhos do irmão e mandou serví-los ao pai partidos em bocadinhos...
e Tiestes comeu...
Ao descobrir a verdade Tiestes gritou até à loucura... cuspiu e vomitou até ao desespero...
amaldiçoou aquela casa para que sobre ela caíssem todos os male inimagináveis... e, com a mesa
do banquete, ficou esmagado contra o chão...
O crime atroz não foi divulgado nem vingado durante o reinado do soberano...
Atreu, o filho mais velho de Pélope, assassino de Mírtilis, era Rei e Tiestes não tinha poderes!!!
Foram os filhos e os filhos dos filhos que vieram a pagar...
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MÉRTOLA & MÍRTILO
É, possivelmente, assim, que Mértola, a cidade das encruzilhadas que se ergue entre-ambas-aságuas e foi porto importante de ligação ao mar está ligada à MITOLOGIA Greco-Latina:
- a MÍRTILO, filho da Deusa do Mirto, morto por aquele a quem ajudou a ganhar a corrida e a
mão da princesa...
- a VÉNUS dos Romanos - a AFRODITE dos Gregos... a Deusa que tem o MIRTO como árvore
consagrada... e a quem os Fenícios , fundadores da Cidade no porto do Ode Ana, deram o nome
de Myrtilis, em homenagem à sua Mãe a Deusa (do) MIRTO...
- e quem sabe às terríveis pragas que pesam sobre o hediondo crime de TÂNTALO... castigado
pelo suplício de ter tudo ao alcance da mão sem o poder usar...
- ao castigo dos artifícios do pai da Princesa HIPODAMIA, ENOMAU, que causou a morte de
tantos jovens pretendentes à mão da Bela Princesa...,
- e ao crime do seu marido Pélope, assassino de MÍRTILO!!!..
- e ao castigo de NIOBE? ... Não será MÉRTOLA o ROCHEDO - a PEDRA em que ELA se
transformou e que ficou húmida por toda a eternidade, devido às lágrimas, que correm sem
parar... simbolizado no "esporão rochoso" em que a VILA se ergue ENTRE-AMBAS-ASÁGUA, que correm sem parar o RIO - ODE ANA e a ribeira de OEIRAS?...
São LENDAS - divagações, podem dizer os Estudiosos sisudos que dedicam a vida na tentativa
de saber os segredos do Universo...
São LENDAS - verdades possivelmente ocultas para reflectir e descobrir, podem dizer os Sábios
que se dedicam a descobrir os segredos do Universo e as Leis da Natureza e do Cosmos...
São LENDAS que servem para alimentar a inspiração dos Poetas e que o Povo, na sua generosa
ingenuidade, se gosta e lhe reconhece algum valor, vai repetindo e reinventando ao longo dos
Tempos...
São LENDAS que talvez abram pistas para perceber uma espécie de "maldição" ou "fado" ou
"fardo" que pesa sobre Mértola e o Alentejo em geral e está "escrito" nas LENDAS ou nas
"estrelas", mas que seria preciso saber e perceber para não se ficar amarrado a um fatalismo sem
esperança!...
Aí fica
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para os circunspectos Estudiosos...
para os Sábios ignorados e desprezados pela Ciência cega...
para os Poetas visionários...
para a ingénua generosidade do Povo...
para os que têm a responsabilidade de SABER para poderem decidir e governar...
UMA VERSÃO (im)possível
de uma possível
LENDA DE MÉRTOLA
Foi há muitos muitos anos... Um povo de navegadores e omerciantes que tinham as suas cidades estado e os seus deuses e artes lá para o outro
lado do Mediterrâneo, perto da Grécia e do Egipto, decidiram sair daquele que para eles era o grande mar, para se aventurarem pelo outro mar
imenso que se abria para além do ROCHEDO (ALUBE para os fenícios ESTREITO DE HÉRCULES ou as COLUNAS DE HÉRCULES para os
gregos – Foi Hércules que ergueu ali as duas Colunas – GALPE e ABILA (Ceuta), quando separou a Europa da África...) imponente que servia
de PORTA de saída para o desconhecido... a partir do qual não se podia ir mais além... Era a PONTA do mundo conhecido de entã o... a ponta do
que agora conhecemos como a EUROPA... a quinze quilómetros do outro Continente, a Àfrica... Já se tinham arriscado vária vezes até ao MONS
SACRUS, e pela Costa Africana abaixo, sempre à vista de Terra, mas não se podiam atrever a ir mais além para o desconhecido imenso que era
só territóri dos deuses e abismo donde se não poderia voltar...
Foi então que desde uns 1000 anos a. C. um grupo mais arrojado de navegadores e comerciantes fenícios, pois é desse povo quefalamos, decidiu
aventurar-se mais para o interior... passaram o grande ROCHEDO da PORTA do MAR, avançaram até ao MONS SACRUS, voltaram atrás e
encontraram a foz de um grande rio que era o ANA... Subiram aproveitando a força das marés... Subiram até sentirem onde as ma rés os
empurravam e pararam à vista daquele ESPORÃO ROCHOSO que se erguia ENTRE-AMBAS-AS-ÁGUAS...
Voltaram ali muitas vezes... Alguns ficavam e estabelecram contactos com os povos dispersos que por ali viviam peloa montes... Vendiam o que
traziam e compravam os produtos que puco a pouco iam chegando àquele porto de rio que se foi formando e até apareceu minério e outras
riquezas para comerciar...
Mas um dia as embarcações que chegaram eram mais numerosas e notava-se um tipo de agitação diferente daquele a que as pessoas das
redondezas estavam habituadas... A chegada de barcos era sempre um acontecimento, mas daquela vez, além de serem mais, e a chegarem dia
após dia ainda mais, vinham mais carregadas e traziam outro tipo de gente. Para além dos navegadores e comerciantes notavam-se outro tipo de
gente que não estava habituada àquelas lides... era tambem gente de guerra, o que não era habitual, e outro tipo de gentes... Os habitantes das
redondezas, habituados a lidar com aquela gente desde os avós dos avós ficaram perturbados...
Souberam então que uma das suas mais ricas cidades, a cidade de TIRO tinha sido conquistada pelo ainda jovem e ambicioso Alexandre, o
Macedónio, paraquem a sede de conquista não tinha limites...
Agora ali, exilados da sua cidade, e naõ querendo viver submetidos a um povo estranho, um grupo daqueles homens entre os quai s vinha
POLÌPIO, um príncipe fenício, sonhou e decidiu que podiam ali fundar a sua NOVA TIRO... Gente pacífica, mas sem descurar a guerra, foram
bem aceites pelas gentes d região e logo fizeram aliança com um povo que vinha de além dos Pirineus à procura de Paz e da Abundância... Eram
os Turdulos que fugiam dos Celtas e do temível ROLARTE e eram chefiados por CÓFILAS, o rei querido do seu povo, que tudo fazia para lhes
agradar e mais ainda, para tudo fazer em favor da mais Bela entre as Belas a sua filha SERPÍNEA... E foi assim que nasceu SERPA, e logo a
seguir a outra cidade, a NOVA TIRO que depois decidiram «chamar MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MÉRCÚRIO», com o
dizem lendas antigas, e alguns chamavam de NÍOBE, por «aquele esporão rochoso» que se erguia na curva do rio lhes lembrar a lenda da filha de
TÂNTALO, a orgulhosa rainha de TEBAS que, por ser mãe de sete valentes rapazes e de sete belas raparigas desafiou LETO, mãe d e APOLO e
de DIANA e assistiu à morte dos catrorze filhos executados sem piedade pelas flechas certeiras dos dois filhos ofendidos... Então, conta a lenda,
«Níobe ficou muda de dor e espanto... só deixava correr as lágrimas de um inútil arrependimento... e os deuses condoídos permitiram que, a seu
pedido, ficasse tranformada em pedra donde correm dois rios de lágrimas por toda a eternidade...» Ora Níobe, a orgulhosa filha do também
insolente Tântalo, era irmã de PÉLOPS, aquele que fora servido aos deuses como manjar de afronta e que, uma vez regressado à vida por
intervenção dos deuses que tinham condenado o pai ao suplício de viver para sempre ao lado da abundância sem a poder alcançar, veio por sua
vez a assassinar MYRTILIS, o cocheiro de ENUMÃO, pai da princesa HIPODAMIA, por quem o ressuscitado se apaixonara, e que deci dira trair
o seu rei, serrando a rodas do carro para que Pélops pudesse ganhar a corrida e assim ser poupado à morte!!!
Sim, aquela cidade seria MYRTILIS, aquele que se sacrificou pelo seu assassino, irmão de Níobe, e pela sua princesa, e como prémio dos Deuses
do Olimpo, brilha na Constelação de Cocheiro com uma luz especial... de protecção e conforto para os que a sabem ver e admirar...
Não, o nome de NÍOBE, traria porventura augúrios de desgraça e fatalidade para uma nova a cidade que ali estava a nascer... e agora se chama a
NOBRE VILA DE MÉRTOLA.
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ANEXO 3.1 – 6 - LENDA – A TESOURINHA DA MOURA
in LENDAS PORTUGUESAS – VOL. V - Fernanda Frazão – Amigos do Livro Editores L.da,
Lisboa, s/d pp. 89, 90, 91.
A TESOURINHA DA MOURA
Ali para os lados de Mértola, aconteceu, certa vez, um caso fantástico e temeroso
provocado por uma moura encantada.
Vinha um homem do amanho do campo, de enxada ao ombro, quando ao passar pelo
sítio da Mortilhera viu uma cobra que da cintura para cima tinha corpo de mulher. A cobra, que
era uma moura encantada, meteu-se a conversar com o homem, e o homem cheio de medo, a
suar e a limpar o suor com o lenço.
A moura foi perguntando ao homem como lhe corria a vida, que tal as colheitas, se a
seara era dele ou se tinha patrão, e muitas outras coisas com as quais talvez viesse a entreter-se
nos longos serões que de Inverno era obrigada a passar sozinha debaixo da terra. Quando
acabou de saber tudo o que a interessava, a moura estendeu ao homem um capacho com figos
secos, que estava a seu lado, dizendo-lhe que tirasse quantos quisesse.
O homem, que durante todo o tempo da conversa suara frio, de medo e nervos, tirou
meia dúzia de figos e meteu-os na algibeira do colete. Despediu-se da cobra com alguns
salamaleques e partiu aliviado e desejoso de se ver bem longe dali.
Ao chegar a casa contou à mulher o que lhe acontecera e por fim, quando ia a tirar os
figos do bolso do colete, encontrou no lugar deles seis moedas de ouro. A mulher desatou logo a
ralhar com ele:
- Ó homem, pois então a moura dá-te figos que são ouro e tu só trazes isto?! Valha-te
Deus, que estás mas é a ficar taralhouco! Vai mas é buscar o resto, antes que a cobra volte à
cova, vai depressa, ouviste?!
O homem, que não sabia bem se havia de temer mais o bicho ou a mulher, lá foi, dizendo
mal à sua vida. E quando passou pela cobra, disse-lhe, para que ela não desconfiasse:
- Adeus, senhora moura! Vou outra vez ao campo, que me esqueci de uma coisa!
Mas a moura sabia tudo:
- Não vais, não! Não te esqueceste de nada, o que tu querias era mais figos, mas já não
há! Olha, leva daqui qualquer coisa que te sirva.
E estendeu ao homem o seu açafate da costura, donde ele sacou uma tesourinha com
cabos de ouro e pedras preciosas. Partiu e a moura ficou a dizer-lhe adeus com um estranho
sorriso.
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A caminho de casa, o homem, que ia distraído com os seus pensamentos, escorregou à
beira de uma ladeira, caiu, espetou a tesoura no peito e morreu.
Assim acontece quando os encontros com mouras não são mantidos em segredo!
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ANX. 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina – LENDA/s
-
“...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO”...
As referências das duas ou três versões da LENDA DE SERPÍNEA em relação a MÉRTOLA
levaram-nos a esta pesquisa. Não deixa se ser estranho, ser preciso recorrer a uma LENDA,
relativamente pouco conhecida, mas divulgada sobre as origens de SERPA, para encontrar uma
referência, embora lendária, sobre as origens e sobretudo sobre a possível origem de um nome
tão estranho como MÉRTOLA!
Obras com esta LENDA:
«SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA» de C. Gonçalves Serpa;
obra citada por João Cabral in ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), Serpa, 1971,
p.165;
por Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, in CANCIONEIRO DE SERPA, Edição da Câmara
municipal de Serpa, 1994:
ver ainda José Rabaça Gaspar e com versos de José Penedo de Serpa, in SERPA ENCANTADA
EM LENDAS, publicado como separata – SERPA ANTIGA – in SERPA INFORMAÇÃO, 4º
série, Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17- no segundo andamento refere uma das três
LENDAS que tentam explicar o nome de SERPA e com as referências que esta tem sobre as
origens de MÉRTOL: “Chegaram barcos fenícios / que vinham comerciar. / Outra cidade nasceu
/ (com ligações com o MAR...) / MIRTILIS foi o seu nome / por ser o filho de MIRTO / que o
teve de MERCÚRIO / o Deus dos comerciantes / mensageiro dos amantes.”
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MÉRTOLA – Alguns dados sobre MITOLOGIA GRECOROMANA
Vide in
A MITOLOGIA, Edith HAMILTON, Publicações Dom Quixote, 2ª ed. Lisboa, 1979
AFRODITE (VÉNUS) – o MIRTO ERA A SUA ÁRVORE... pp. 39 – 41 – Mãe de Mirtilis? Ou
filho de Mirto e Mercúrio... (Vide Lenda de Serpínea)
HERMES (MERCÚRIO) filho de Zeus e Maia... pp. 41 e 42
TÂNTALO e NÍOBE... p. 358
PÉLOPE ou PÉLOPS... 359
A princesa HIPODAMIA filha do rei (ENOMÃO) que propunha aos pretendentes uma corrida...
PÉLOPE E MÍRTILO o cocheiro da quadriga do pai... p. 360
NÍOBE (esposa de ANFIÃO rei de Tebas o músico...) - a maldição da Filha de
TÂNTALO que desafiou LETO a mãe dos gémeos APOLO e ARTMISA (Diana) p 361
pp. 22 a 26
OS MITÓGRAFOS GREGOS E ROMANOS
A maioria das abras referentes aos mitos clássicos fundamenta-se principalmente no poeta
latino Ovídio, que escreveu durante o reinado de Augusto. Ovídio é um autêntico compêndio de
mitologia. Deste ponto de vista, nenhum escritor antigo pode equiparar-se a ele. Contou quase
todas as histórias e de modo bastante desenvolvido. Ocasionalmente, algumas das mais
conhecidas, nos campos da literatura e da arte, chegaram até nós apenas através da sua pena.
Evitámos, no caso presente, recorrer a ele tanto quanto possível. Não há dúvida de que foi um
bom poeta e um fabulista seguro, capaz de apreciar devidamente os mitos, compreendendo,
portanto, o material de qualidade que lhe ofereciam; Ovídio, no entanto, estava realmente muito
afastado deles, mais do que nós hoje. Para ele os mitos eram meros disparates e, segundo esta
linha de pensamento, escreveu:
Eu canto as monstruosas mentiras dos poetas antigos
Nunca vistas, quer agora quer então, por olhos humanos.
Com efeito, dirigindo-se ao leitor, afirma: «Não importa serem absurdos; apresentar-vo-los-ei
com tão belos artifícios que haveis de gostar.» E, na realidade, fá-lo frequentemente muito bem;
nas suas mãos, contudo, os assuntos que eram verdade de facto e verdade solene para os poetas
primitivos, Hesíodo e Píndaro, e veículos de autênticos dogmas religiosos para os
tragediógrafos gregos, tornam-se contos fúteis, algumas vezes espirituosos e divertidos até,
outras sentimentais e desoladoramente retóricos, e mantêm-se notável e perfeitamente alheios a
qualquer forna de sentimentalismo.
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Não é longa a lista dos principais escritores através de quem os mitos chegaram até nós.
Homero surge em primeiro lugar, naturalmente. A Ilíada e a Odisseia são, ou melhor, contêm os
escritos gregos mais antigos, muito embora não haja possibilidade de se datar com exactidão
qualquer passagem desses poemas. Os eruditos têm opiniões muito díspares quanto a esse
ponto; no entanto uma das datas a que não se levantam muitas objecções é o ano 100 a. C. - no
que respeita à Ilíada, que é o mais antigo.
A partir deste momento, todas as datas da presente obra devem entender-se como anteriores ao
nascimento de Cristo, a não ser que se faça qualquer referência em contrário.
Hesíodo, o segundo escritor, logo depois de Homero, é algumas vezes situado entre os séculos
IX e VIII; levava uma vida dura e amarga de camponês. Não pode haver maior contraste do que
aquele que se verifica entre o seu poema «Os Trabalhos e os Dias» (mediante o qual pretende
mostrar ao homem o processo de se conseguir ter uma vida razoável num mundo inóspito) e o
esplendor cortês que transparece da Ilíada; e da Odisseia. Mas Hesíodo tem muito que dizer
sobre os deuses e, por isso, dedica à mitologia todo um segundo poema, que habitualmente lhe é
atribuído, a «Teogonia». Se Hesíodo é realmente o seu autor, então podemos afirmar que esse
camponês humilde, vivendo numa quinta solitária, longe da cidade, foi o primeiro homem na
Grécia que ponderou sobre o modo como tudo aconteceu, o Mundo, o Céu, os deuses, a
humanidade, e foi também o primeiro que tentou elaborar uma explicação adequada. Homero
nunca se debruçou sobre tal problema. A «Teogonia», uma narrativa da criação do Universo e
das gerações de deuses, assume, pois, grande importância para o estudo da mitologia.
A seguir aparecem os «Hinos Homéricos», poemas escritos em honra de
vários deuses. Não podem ser datados com carácter definitivo, mas os mais
antigos são considerados pela maioria dos especialistas como pertencendo
aos fins do século VIII, princípios do século VII. Aquele que se considera
menos importante (são trinta e três ao todo) refere-se à Atenas do século V,
ou provavelmente do século IV.
Píndaro, o maior poeta lírico da Grécia, começou a escrever por volta dos fins do século VI.
Compôs odes homenageando os vencedores dos jogos realizados por ocasião dos grandes
festivais nacionais gregos e, em todos os seus poemas, surgem narrativas ou meras alusões aos
mitos; é, portanto, um autor tão importante para o conhecimento da mitologia como Hesíodo.
Ésquilo, o mais antigo dos três poetas trágicos, foi contemporâneo de Píndaro. Os outros dois,
Sófocles e Eurípides, eram um pouco mais novos. Eurípides, o mais jovem, morreu nos fins do
século V. À excepção de Os Persas, de Ésquilo, escrita para celebrar a vitória dos Gregos sobre
os Persas em Salamina, todas as peças versam temas mitológicos. Juntamente com a obra de
Homero constituem a fonte mais importante dos estudos desses temas.
O grande comediógrafo Aristófanes, que viveu durante os últimos anos do século V e começos
do IV, faz muitas vezes referências aos mitos, bem como dois outros grandes prosadores,
Heródoto, o primeiro historiador da Europa, que foi contemporâneo de Eurípides, e Platão, o
filósofo, que pertenceu à geração seguinte.
Os poetas alexandrinos viveram por volta do ano 250. Esta designação provém do facto de, na
altura, o centro da literatura grega ter sido transferido para Alexandria, no Egipto. Apolónio de
Rodes contou pormenorizadamente a Demanda do Velo de Oiro e uma série de outros mitos
relacionados com essa história. Juntamente com outros três poetas alexandrinos, que também se
debruçaram sobre os temas da mitologia, os poetas pastoris Teócrito, Bíon e Mosco perderam a
simplicidade da crença nos deuses, que caracteriza Hesíodo e Píndaro, e apresentam-se, pois, já
muito afastados da profundidade e da gravidade das ideias religiosas dos poetas trágicos; ainda
não tocam, porém, a frivolidade de Ovídio.
Dois escritores já do fim dessa época, Apuleio, latino, e Luciano, grego, ambos do século II da
era cristã, vêm trazer um contributo bastante notável. A célebre história de Cupido e Psique é
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contada por Apuleio, que escreve bastante à maneira de Ovídio. Luciano, por seu turno, tem um
estilo muito pessoal, muito sui generis: satirizou os deuses, que, na sua época, se tinham tornado
já assunto jocoso. Não obstante, dá, a propósito, muitas indicações úteis.
Apolodoro, grego também, é, depois de Ovídio, o mitógrafo antigo de produção mais vasta; no
entanto, ao contrário do que acontece com Ovídio, é muito terra a terra, chegando a ser, por
vezes, um tanto enfadonho. A data em que viveu tem sido fixada diferentemente ao longo do
período que medeia entre o século I a. C. e o século IX da era cristã. Segundo a opinião do
erudito inglês Sir J. G. Frazer, as suas obras terão sido escritas muito provavelmente no século I
ou no Século II da nossa era.
O grego Pausânias, viandante entusiasta, autor do primeiro guia escrito, tem muito que dizer
sobre os acontecimentos mitológicos que constava terem ocorrido nos locais que visitou. Viveu
já nos derradeiros anos do século II d. C., mas não põe em discussão quaisquer dos argumentos
das histórias relatadas, e a sua obra tem um carácter de absoluta seriedade.
Virgílio ocupa posição proeminente em relação a todos os escritores romanos, não que
acreditasse mais nos mitos do que Ovídio, de quem foi contemporâneo, mas achou que havia
neles algo característico da natureza humana e, por isso, deu vida a determinadas personagens
mitológicas como ninguém antes dele conseguira, desde os tragediógrafos gregos.
Outros poetas romanos versaram o tema dos mitos. Catulo narra várias histórias e Horácio
alude com frequência a esta ou àquela, mas nem um nem outro tem grande importância para o
estudo da mitologia. Para todos os romanos as histórias eram infinitamente remotas, meras
sombras. Os melhores guias para o conhecimento da mitologia grega são, pois, os autores
gregos, que acreditavam no que escreveram.
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AOS DOZE OLIMPIANOS
«Os gregos não acreditavam que os deuses tivessem criado o Universo; pensavam precisamente
o contrário – o universo criara os deuses...
Primeiro, formaram-se o CÉU e a TERRA... Estes foram os primeiros pais...
Vieram depois os filhos: os TITÃS... seres supremos do Universo... de estatura descomunal...
Apesar de muito numerosos, só nos restam:
CRONOS (SATURNO), o mais importante que dominou os primitivos deuses... até ao momento
em que o seu filho ZEUS o destronou e tomou conta do poder...
OCEANO – o rio que envolvia a Terra...
TÉTIS – esposa de Oceano...
HIPERÍON – pai do sol, da lua e da Aurora...
MNEMOSINE – que significa “memória”...
TÉMIS – equivalente à ideia de justiça...
JÁPETO – pai de ATLAS que trazia o Mundo às costas... e de PROMETEU, o salvador da
humanidade
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pp. 29 - 45
OS 12 Deuses DO OLIMPO:
ZEUS – JÚPITER – filho de CRONOS que destronou o pai, e irmão de POSÍDON (NEPTUNO),
HADES (PLUTÃO) e de HÉSTIA (VESTA), dividiu o universo com os irmãos e tornou-se o chefe
supremo...
POSÍDON – NEPTUNO – irmão de ZEUS – JÚPITER ficou com o MAR...
HADES – PLUTÃO, irmão dos dois, ficou com o Inferno...
HÉSTIA – VESTA, a irmã dos três...
HERA – JUNO, a mulher de ZEUS – JÚPITER...
ARES – MARTE, o filho de ZEUS - JÚPITER e HERA - JUNO...
ATENA – MINERVA
APOLO
AFRODITE – VÉNUS
HERMES – MERCÚRIO
ARTEMISA – DIANA
HEFESTO – VULCANO – o filho de HERA – JUNO e talvez filho de ZEUS – JÚPITER
POSÍDON (NEPTUNO)
Posídon, irmão de Zeus, era o Senhor do Mar e ocupava o segundo lugar, a seguir àquele, na
hierarquia dos Olimpianos. Os gregos de ambas as costas do mar Egeu eram homens devotados
às fainas marítimas e, por isso, o Deus do Mar tinha para eles uma importância muito especial.
Anfitrite, sua mulher, era uma das netas do titã Oceano. Posídon possuía um palácio
esplendoroso no fundo do mar, mas, a maior parte das vezes, encontrava-se no Olimpo.
Além de Senhor dos Mares, foi ele quem deu o primeiro cavalo ao homem - dois motivos
igualmente válidos para a sua veneração.
Nosso Posídon, de vós este nosso orgulho temos, os fortes cavalos, os jovens corcéis e também o
domínio das profundezas do mar.
A tempestade e a bonança estavam sob o seu comando:
Ele dava uma ordem e o vento da tempestade
E as vagas do mar surgiam.
Mas, quando ele passava por sobre as águas, conduzindo o seu carro de oiro, a agitação das
ondas amainava e logo advinha uma paz tranquila sob o rolar suave das rodas.
Chamavam-lhe habitualmente o «Agitador da Terra» e era sempre representado com o tridente
(uma lança de três pontas), com o qual agitava ou destruía aquilo que lhe apetecia.
O seu nome estava associado ao toiro e ao cavalo; o toiro, porém, era associado também a muitos
outros deuses.
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pp. 36...
FEBO APOLO
Filho de Zeus e de Leto (Latona) , nasceu na pequena ilha de Delos. Tem sido chamado «o mais
grego de todos os deuses». É uma bela figura da poesia grega, o músico mestre que deleita o
Olimpo, quando tange a sua lira de oiro; é também o Deus do Arco de prata, o Deus da Flecha
de grande alcance; o Curandeiro, que ensinou, pela primeira vez, ao homem a arte de curar
todas as doenças. Além destes belos atributos, Apolo é igualmente o Deus da Luz, em quem não
existe a mínima mácula e por isso, é também o Deus da Verdade - nunca nenhuma palavra falsa
brota dos seus lábios.
Oh! Febo, do teu trono de Verdade,
Do lugar que habitas no coração do mundo,
Tu falas aos homens.
Por ordem de Zeus, nunca dizes uma mentira,
Uma sombra que escureça o mundo da Verdade.
Zeus selou, por direito eterno,
A honra de Apolo, em quem todos podem cnfiar
Com fé inabalável.
Delfos, sob o imponente monte Parnaso, onde ficava o oráculo de Apolo, desempenha um papel
importante na mitologia; aí se situava a fonte Castália e o rio Cefisso. Era considerada o centro
do mundo e, por isso, muitos peregrinos, oriundos quer de países estrangeiros quer da própria
Grécia, vinham visitá-la. Não havia santuário que rivalizasse com essa fonte. As respostas às
perguntas daqueles que, ansiosos, procuravam a Verdade eram pronunciadas por uma
sacerdotisa, que entrava em transe antes de falar. Supunha-se que o transe era provocado pelos
vapores provenientes de uma profunda fenda do rochedo sobre o qual se colocava o banco de
três pés, o trípode, em que ela se sentava.
Apolo era chamado Délio por ter nascido na ilha de Delos, e Pítio por ter morto a serpente Píton,
que, em tempos, vivera nas cavernas do monte Parnaso. A luta foi dura, pois tratava-se de um
monstro aterrador; mas, por fim, as suas flechas certeiras deram-lhe a vitória. O nome que,
muitas vezes também, lhe é atribuído, o Lício, explica-se de modo diferente; para uns, significa
Deus-Lobo, para outros, Deus da Luz ou ainda Deus da Lícia. Na Ilíada, é chamado o Smíntio, o
Deus-Rato, mas não se sabe ao certo por que razão, se por proteger os ratos se por os destruir.
Frequentemente era também o Deus-Sol. O seu outro nome, Febo, significa «brilhante» ou
«cintilante». Mais exactamente, porém, o Deus-Sol era Hélio, filho do titã Hiperíon.
Em Delfos, Apolo era um poder puramente benéfico, um elo entre os deuses e os homens,
ajudando estes a conhecer a vontade divina, mostrando-lhes como haviam de pactuar com eles;
era também o purificador, capaz de tornar imaculados até aqueles que se manchavam com o
sangue dos próprios parentes. Não obstante, contam-se histórias acerca dele que o revelam
impiedoso e cruel. Duas ideias se digladiavam no seu íntimo, como em todos os deuses, aliás:
uma, eivada de primitivismo e crueldade, outra, bela e poética. No caso de Apolo, apenas uns
laivos de primitivismo ficaram associados à personalidade que o caracteriza habitualmente.
O loureiro era a sua árvore, e havia muitos animais que lhe eram consagrados, entre os quais se
destacavam o delfim e o corvo.
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ARTEMISA (DIANA) .
Também chamada Cíntia, de acordo com o nome do lugar em que nascera, o monte Cinto, em
Delos.
Irmã gémea de Apolo, filha de Zeus e de Leto, era uma das três deusas virgens do Olimpo:
Afrodite aureolada de oiro insufla amor a toda a criação.
Não é capaz de dominar nem armar cilada a três corações: a pura donzela Vesta,
Atena dos olhos cinzentos, que só se preocupa com a guerra e com os trabalhos dos artesãos,
Artemisa, amante dos bosques e da caça nas montanhas.
Era a Senhora da Floresta, Caçadora-Chefe dos Deuses, cargo um tanto estranho para ser
desempenhado por uma mulher. Como boa caçadora que era, tinha o cuidado de preservar os
animais jovens, sendo, portanto, a «protectora da juventude». Não obstante, devido a uma dessas
espantosas contradições tão vulgares na mitologia, impediu que a armada grega navegasse rumo
a Tróia enquanto esta não sacrificou em sua honra uma donzela.
Em muitas outras histórias mostra-se igualmente feroz e vingativa. Por outro lado, quando as
mulheres morriam subitamente, sem sofrimentos prolongados, dizia-se que tinham sido vítimas
das suas setas de prata.
Assim como Febo era o Sol, ela era a Lua, chamada Febe e Selene (Luna, em latim). Nenhum
destes nomes, porém, lhe pertenciam originariamente. Febe era um titã, um dos deuses da
primitiva geração, tal como Selene - uma deusa da Lua, realmente, mas não relacionada com
Apolo. Era irmã de Hélio, o Deus-Sol, com quem se confundia Apolo.
Nos poetas posteriores, Artemisa foi identificada com Hécate. É a «deusa que pode assumir três
aspectos», Selene, no Céu, Artemisa, na Terra, Hécate, nos Infernos e na Terra, quando esta se
encontra envolta em trevas. Hécate era a Deusa da Lua Nova, das noites de breu, em que a Lua
não é visível. Como Deusa das Encruzilhadas, lugares que eram considerados fantasmagóricos,
de magia nefasta, estava associada a tudo o que acontecia na escuridão. A divindade terrível.
Hécate dos infernos
Capaz de aniquilar toda a rebeldia.
Escuta! Escuta! Os seus cães andam a ladrar pela cidade,
Onde três caminhos se cruzam, ela lá está!
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É uma estranha transformação da encantadora Caçadora desferindo as suas setas por toda a
floresta, da Lua embelezando tudo à sua volta com o luar, da casta Deusa-Virgem para quem
Quem quer que seja absolutamente casto de espírito
Pode colher folhas e flores e frutos.
Os impuros nunca.
Através dela é revelada o mais vividamente possível a hesitação entre o bem e o mal, mais ou
menos evidente em todas as divindades.
O cipreste era-lhe consagrado, bem como todos os animais selvagens, mas muito em especial a
corça.
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Pp 39…
AFRODITE (VÉNUS)
A Deusa do Amor e da Beleza, que seduzia todos, tanto deuses como mortais; a deusa alegre,
que ria ora docemente ora de modo trocista daqueles que os seus ardis haviam conquistado; a
deusa irresistível, que até aos mais sensatos subtraia as faculdades mentais.
Filha de Zeus e de Dione, segundo a Ilíada; em poemas posteriores, porém, afirma-se ter
brotado da espuma do mar, sendo o seu nome explicado precisamente como «a que nasceu da
espuma do mar». Aphros é o vocábulo grego que significa espuma. Este nascimento marítimo
ocorreu perto da ilha de Citera, donde foi levada suavemente pela brisa para Chipre. Ambas as
ilhas foram, desde então, consagradas à deusa., daí serem tão correntes as designações de
Citereia e de Cípria.
Um dos Hinos Homéricos, que a chama de «bela deusa dourada», fala-nos assim:
O sopro do vento poente fê-la brotar
Do sussurrante mar,
Por sobre a delicada espuma a impeliu
Para Chipre envolta; em ondas, a sua ilha.
E as Horas engrinaldadas de oiro
Receberam-na com júbilo.
Envolveram-na em vestes imortais
E foram levá-la aos deuses.
Todos ficaram maravilhados quando contemplaram
A Citereia coroada de violetas.
Os Romanos escreveram sobre ela no mesmo tom. Quando Vénus aparece surge a própria
beleza. Os ventos e as nuvens da tempestade desaparecem na presença dela; a terra vê-se
ornamentada de belas flores; as ondas do mar riem; a deusa move-se envolta num halo de luz
radiosa. Sem ela não há alegria nem ,beleza em parte alguma - é a imagem que os poetas mais
se deleitam em apresentar.
Esta, porem, não era a sua única faceta. É perfeitamente natural que, na Ilíada, cujo tema é a
luta entre heróis, Afrodite não passe de uma figura apagada. Nesse poema ela é, com efeito, um
ser brando, débil, que qualquer mortal não receia atacar. Noutras obras posteriores, no entanto,
é normalmente traiçoeira e má, exercendo sobre os homens uma influência fatal e destruidora.
Na grande maioria das histórias surge como mulher de Hefesto (Vulcano), o Deus da Forja,
disforme coxo.
O mirto era a sua árvore; a pomba a sua ave, e, por vezes, o pardal e o cisne.
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pp. 41...
HERMES (MERCÚRIO)
Zeus era seu pai e Maia, filha de Atlas, sua mãe. Devido a uma estátua que o representa e que se
tornou muito popular, o aspecto deste deus é-nos muito mais familiar do que o de qualquer outro.
Os seus movimentos eram graciosos e rápidos. Usava sandálias aladas; tinha asas também no
chapéu coroado, bem como no bastão, o caduceu. Era o Mensageiro de Zeus, que voava «tão
célere como o pensamento, para cumprir as suas ordens».
De todos os deuses era ele o mais arguto e o mais astuto. De facto era o Chefe dos Ladrões;
dera início à sua carreira ainda antes de completar um dia de vida.
Nasceu ao despontar do dia
E antes da noite cair já tinha roubado
Os rebanhos de Apolo.
Zeus obrigou-o a restituir tudo, e Hermes conseguiu o perdão de Apoio presenteando-o com a
lira que acabara de inventar e que fizera com uma concha de tartaruga. Talvez houvesse
qualquer relação entre essa sua história, muito antiga, e o facto de ser o Deus do Comércio e
dos Mercados, o protector dos comerciantes.
Em estranho contraste com esta ideia, Hermes é considerado também o solene guia dos mortos,
o Mensageiro dos Deuses, que conduzia as almas ate à sua última morada.
Este deus aparece mais frequentemente nos contos de mitologia do que qualquer outro.
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pp. 357 - 362
A CASA DOS ATRIDAS
A principal importância da história de Atreu e dos seus descendentes reside no facto de o poeta
trágico do século V Ésquilo a ter utilizado como tema da trilogia A Oréstia, constituída pelas
suas maiores peças: Agamémnon, As Coeforas e As Euménides. Esta obra não tem rival em
toda a tragediografia grega. excepção feita às quatro peças de Sófocles, cujo assunto se
concentra em Édipo e nos seus filhos. Píndaro, nos princípios do século V, narra a versão
corrente do festim que Tântalo ofereceu aos deuses, protestando não ser verdadeiro. O castigo
infligido a Tântalo e descrito várias vezes, primeiro, na Odisseia, donde foi extraído para a
presente obra. A história de Anfião, tal como a de Níobe, foram buscar-se a Ovídeo, que é o
único e contá-las na íntegra. Para a vitória de Pélope na corrida de quadrigas preferiu-se
Apolodoro (séculos I ou 11 da era cristã), que nos legou o relato mais completo que chegou até
nós. A história dos crimes de Atreu e de Tiestes, bem como de todos os factos que se lhes
seguiram. foi baseada na Oréstia, de Ésquilo.
A Casa dos Atridas é uma das mais célebres da mitologia. Agamémnon, que chefiou os Gregos
em Tróia, pertencia a essa família e todos os seus parentes mais próximos, a mulher,
Clitemnestra, os filhos, Ifigénia, Orestes e Electra, foram tão conhecidos como ele; o irmão,
Menelau, foi marido de Helena, a causadora da Guerra de Tróia.
Trata-se efectivamente de uma casa malfadada. A causa de todos os infortúnios parece ter sido
um antepassado, um rei da Lídia chamado Tântalo, que, ao come- ter um acto de perversidade
atroz, fez cair sobre si um dos mais terríveis castigos. Mas o pior foi que a maldição não o
atingiu só a ele. O mal que ele originou prolongou-se após a sua morte; os seus descendentes
também incorreram em actos reprováveis e foram por isso punidos. Pairava sobre a família como
que uma obsessão maldita; os homens eram levados a pecar, por vezes contra vontade,
acarretando sofrimento e morte tanto a inocentes como a culpados.
TANTALO e NÍOBE
Tântalo, como filho de Zeus, era muito mais considerado pelos deuses do que qualquer outro
descendente mortal do Senhor do Olimpo - convidavam-no para a sua mesa, saboreava a
ambrosia e o néctar, que só ele podia partilhar com os imortais. Mais ainda: honraram com a
sua presença um banquete que Tântalo ofereceu no seu palácio e condescenderam em conviver
com ele na Terra. Em troca desses favores, ele agiu de modo tão medonho que não houve ainda
nenhum poeta que conseguisse explicar cabalmente a sua conduta. Mandou matar seu filho
Pélope, cozinhá-lo num grande caldeirão e servi-lo aos deuses. Aparentemente tal acto teria
sido consequência de uma paixão de ódio que nutria por eles e que o dispôs a sacrificar o filho,
a fim de lhes fazer sentir, o horror de serem canibais; mas também se põe a hipótese de ter
querido mostrar-lhes da maneira mais espantosa e chocante, sem dúvida, quão fácil era para ele
desapontar as divindades temíveis, veneradas e humildemente adoradas. Com este escarnecer
dos deuses e a sua desmedida autoconfiança, Tântalo nunca sonhou que os convidados
descobrissem a espécie de alimento que lhes apresentava.
Fora um louco! Os Olimpianos estavam a par do que se passava. Retiraram-se, pois, do
banquete execrando e insurgiram-se contra o criminoso que o havia idealizado. O seu castigo ia
ser de tal ordem, declararam, que ninguém, depois dele, ao ter conhecimento do sofrimento a
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que fora condenado, ousaria insultá-los de novo. O superpecador foi colocado num poço, no
Hades, mas sempre que na sua atormentadora sede se inclinava para beber não conseguia
chegar à água, pois ela desaparecia, infiltrando-se no chão, enquanto ele se curvava; quando se
levantava, lá aparecia a água novamente. Por sobre o poço pendiam árvores de fruto
carregadas de pêras, de romãs, de maçãs rosadas, de doces figos. Todas as vezes que esticava a
mão para apanhar um fruto o vento punha os ramos fora do seu alcance, fazendo-os subir muito
alto nos ares. Assim ficou para a eternidade, a garganta imortal sempre sedenta, a fome no meio
da abundância, incapaz de a satisfazer.
Os deuses restituíram Pélope à vida, mas tiveram de lhe moldar um ombro de marfim. Uma das
deusas, uns dizem que Deméter, outros, Tétis, teria comido inadvertidamente do repugnante
manjar; no momento em que os membros do rapaz foram repostos no seu lugar, deu-se pela falta
de um ombro. Esta história detestável parece ter sido transmitida de geração em geração em toda
a sua forma brutal e crua, sem qualquer tentativa de aligeiramento; os gregos das épocas
posteriores, no entanto, protestaram contra ela, pois não era do seu agrado. O poeta Píndaro
chamou-lhe:
Conto envolto em mentiras reluzentes contra a palavra da verdade.
Que não se fale de actos de canibalismo entre os deuses bem-aventurados!
Desde então, a vida de Pélope correu sem mais incidentes; foi o único descendente de Tântalo
não marcado pelo infortúnio. Fez um casamento feliz, embora cortejasse a perigosa princesa
Hipodamia, causa de muitas mortes; contudo, os homens não morriam propriamente por ela,
mas por culpa de seu pai (Enumau). O rei tinha uma maravilhosa parelha de cavalos, superiores
aos cavalos mortais, como é natural - tinham sido uma oferta de Ares. Não queria que a filha
casasse e, sempre que um pretendente lhe vinha pedir a mão de Hipodamia, punha-o ao corrente
de que teria de competir com ele para conseguir o seu intento - se os cavalos do hipotético noivo
ganhassem, a princesa casaria com ele; caso contrário, o jovem seria obrigado a pagar com a
própria vida a sua derrota. Muitos pretendentes encontraram, assim, a morte. Pélope, apesar de
tudo, ousou realizar a prova. Tinha confiança nos seus cavalos, que, no seu caso, haviam sido
presente de Posídon. Ganhou a corrida. Há uma versão, porém, segundo a qual Hipodamia
parece ter tido maior influência neste triunfo do que propriamente os cavalos de Posídon - ou se
apaixonou por Pélope ou pensou ter chegado a altura de pôr termo àquelas corridas de
consequências trágicas. Teria, então, subornado o cocheiro da quadriga do pai, Mirtilo, para
que a ajudasse. Arrancou para o efeito os raios que prendiam as rodas do carro real, e a
vitória coube, sem qualquer dificuldade, a Pélope. Posteriormente, este matou Mírtilo, que, ao
expirar, amaldiçoou o assassino; há quem perfilhe a ideia de que foi esta a causa das
infelicidades que vieram a suceder-se na família. A maioria dos escritores, no entanto, e
certamente com boas razões, partilha a opinião de que foi a malvadez de Tântalo a fonte das
desgraças que caíram sobre os seus descendentes.
(Níobe – a Pedra donde correm dois rios de água...)
Nenhum deles sofreu maior maldição que sua filha Níobe e, contudo, a princípio parecia que os
deuses lhe tinham reservado melhor sorte que a do irmão Pélope. Foi feliz no casamento; o
marido, Anfião (filho de Zeus) , era um músico incomparável. Ele e seu irmão gémeo, Zeto,
empreenderam a fortificação de Tebas, mandando erguer uma alta muralha em redor da cidade.
Zeto, homem de grande força física, costumava censurar a negligência do irmão pelos desportos
viris e o seu gosto pelas artes. Mas, no momento em que se pretendia arranjar pedra suficiente
para a construção das muralhas, foi o músico e a sua arte que prestaram melhores ser viços,
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suplantando, de longe, o forte atleta - arrancou sons tão arrebatadores à sua lira que as
próprias rochas se moveram e o seguiram para Tebas.
Anfião e Níobe reinaram com inteiro agrado de todos. Chegou a altura, porém, em que a rainha
mostrou que a louca arrogância de Tântalo estava também latente em si. Devido à grande
prosperidade de que desfrutava, considerava-se superior, crendo-se acima de tudo o que os
mortais temem e veneram. Era de nascimento nobre e descendente de famílias abastadas e
poderosas; tivera sete filhos, que se tornaram jovens valentes e sete filhas, as mais belas entre
as belas - julgava-se, pois, com poder suficiente não apenas para atraiçoar os deuses, tal como
seu pai, mas também para os desafiar abertamente.
Invocou o povo de Tebas a venerá-la: «Queimam incenso em honra de Leto e, no entanto, que é
ela ~ parada comigo? Teve apenas dois filhos, Apolo e Artemisa; eu tive sete vezes mais. Além
disso, sou rainha; e ela, até chegar à minúscula Delos, o único lugar do mundo que consentiu
em recebê-la, afinal, não passava de uma vagabunda sem lar! Sou feliz, forte e poderosa suficientemente poderosa para lutar contra quem se me opuser, quer seja homem quer seja deus.
Dediquem-me os sacrifícios que oferecem no templo de Leto, que, a partir de agora, passará a
ser meu, e não dela!»
As palavras insolentes pronunciadas com a consciência arrogante do poder chegavam sempre
ao Céu e nunca deixavam de ser punidas. Apolo e Artemisa deslizaram rapidamente do Olimpo
até Tebas e, à uma, o Deus do Arco e a caçadora divina, atirando com pontaria certeira,
abateram os filhos e as filhas de Níobe. A rainha assistiu à mortandade demasiado angustiada
para poder falar. Afundou-se no meio daqueles corpos jovens e fortes, tão cedo ceifados à vida;
caiu imobilizada pela dor imensa, muda como uma pedra, o coração empedernido dentro do
peito; apenas as lágrimas brotavam em torrentes contínuas. Foi transformada em pedra, que
ficou húmida para a eternidade devido às lágrimas que derrama.
Pélope foi pai de dois filhos, Atreu e Tiestes. A herança do mal também desceu sobre eles na sua
máxima força. Tiestes apaixonou-se pela mulher do irmão conseguindo que ela faltasse ao
cumprimento dos votos do casamento. Atreu descobriu e jurou vingar-se como ninguém até
então. Matou os dois filhinhos do irmão, mandou-os mutilar membro a membro, cozinhar e
servir ao pai. Quando Tiestes acabou Ide comer...
Pobre miserável! Ao saber dó acto execrando,
Deu um grito terrível e caiu por terra - cuspiu
A carne que tragara; amaldiçoou aquela casa, chamando sobre ela
Todos os males intoleráveis; a mesa. do banquete esmagou-se contra o chão.
Atreu era rei. Tiestes não tinha quaisquer poderes. O crime atroz não foi vingado durante a vida
do soberano; foram os filhos e os filhos dos filhos que vieram a sofrer.
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Ver também in
MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. HOPE MONCRIEFF, Editorial Estampa /
Círculo de Leitores, Lisboa, 1992
AFRODITE – VÉNUS - a Deusa do amor que brotou do mar... p. 9
HERMES – MERCÚRIO – pai de Myrtilis – p. 12
ARES – MARTE – que ofereceu os cavalos a ENOMÃO, pai da princesa Hipodamia... p. 12
POSEIDON – NEPTUNO – que ofereceu a quadriga a Pélope ou Pélops... p. 13
«O mito conta uma história sagrada; relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, no
tempo fabuloso das origens.»
Mircea Eliade
In MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. Hope Moncrieff – editorial Estampa /
Círculo de Leitores, Lisboa, 1992
"INTRODUÇÃO
Este volume é uma versão abreviada da obra de A. R. Hope Moncrieff Classic Myth and Legend.
Como afirma o autor no prefácio original, "trata das célebres ficções lendárias da Grécia
Antiga que tantos temas e alusões proporcionaram aos autores modernos".
Transmitidas por via oral de geração em geração durante milhares de anos, estas antigas
histórias foram eventualmente postas por escrito e depois aproveitadas pelos poetas e
dramaturgos gregos do último período, e assim transmitidas através dos séculos até nós.
Hope Moncrieff declara que a sua tarefa foi "reproduzir as características principais desta
mitologia, geralmente segundo a versão mais conhecida, mas por vezes tendo em conta o gosto
dos leitores que não digeririam facilmente as grosserias que não ofendiam os ouvintes de outros
tempos. Uma certa selecção ou supressão praticadas justificam-se pelo exemplo clássico; mas a
intenção é, na medida do possível, apresentar o espírito grego tal como se revela nas suas
famosas fábulas, e tornar familiares os nomes e caracteres tantas vezes citados em poesia, em
oratória e na história".
Não há dúvida de que a mitologia grega, com o seu vasto elenco de deuses e semideuses, heróis
e mortais, ninfas dos bosques e das águas, monstros da terra e do mar, as alturas do Olimpo e
as profundezas do Hades, muito deve ao génio e à imaginação dos Gregos. A própria tradição
destas histórias remonta ao tempo em que ainda não tinham sido contadas pela primeira vez,
isto é, a um passado pré-helénico.
Os dois grandes feitos épicos da mitologia grega são evidentemente os relatados por Homero na
sua Ilíada, onde descreve a guerra de Tróia, e na Odisseia, que conta as aventuras de Ulisses na
sua perigosa viagem de regresso à pátria. Homero escreveu estas histórias no ano 800 a. C. quatrocentos anos depois da guerra de Tróia. Extraídos de Homero e do seu contemporâneo
Hesíodo, estes temas e muitos outros mitos clássicos de fontes desconhecidas foram relatados
nas peças de Ésquilo e Sófocles, nas Metamorfoses de Ovídio, nas Vidas Paralelas de Plutarco,
nas Odes de Píndaro e nas Descrições da Grécia de Pausânias, entre outras.
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O resultado, escreve Hope Moncrieff, foi que "podemos encontrar feitos semelhantes atribuídos
a personagens diferentes e versões diversas, por vezes contraditórias, do que parece ser a,
mesma história. Claro que isto não é novo em mitologia. Os escritores clássicos que tinham de
lidar com esta confusão de tradições eram mais ou menos livres para as "deturpar" segundo os
seus próprios gostos e preconceitos... Hércules aparece como contemporâneo de muitos heróis,
alguns dos quais deviam ser demasiado velhos ou demasiado jovens para terem alguma
utilidade entre os Argonautas, de quem ele era companheiro de bordo".
O estilo lírico de Hope Moncrieff nestas histórias faz-se eco do próprio lirismo e da poesia com
que os mitos épicos eram originariamente tratados. Com toda a sua natureza fantástica e a
ausência de incrudelidade que a sua leitura requer, são histórias cujos temas ainda hoje dizem
muito - o esforço, a perseverança e o espírito aventureiro dos homens, o amor e o ódio, a
bravura e a cobardia, o ciúme, a tentação, a vingança e até o mérito.
Uma relação completa de todos os personae dramatis da mitologia grega não tem aqui
cabimento. A lista que se segue apresenta, porém, catorze das personagens mais notáveis, com
pormenores tão bem documentados, que são geralmente aceites como "factos". O parentesco, as
características, os triunfos e os desaires dos protagonistas mais importantes são revelados à
medida que as histórias individuais se desenrolam; mas primeiro vamos remeter-nos à narrativa
de Hope Moncrieff na sua descrição do Panteão.
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O Panteão dos 14 DEUSES mais conhecidos
Os poetas reconhecem geralmente entre doze e dezasseis grandes deuses e deusas, cujo domínio
sobre o homem e a natureza só é interrompido pelas suas próprias rixas. (No entanto,
curvavam-se ocasionalmente perante um Destino vagamente imaginado como senhor de toda a
vida, humana e sobrenatural.) A lista que se segue destas personagens divinas apresenta
primeiro o seu nome principal e depois, entre parênteses, os nomes mais familiares da divindade
latina.
ZEUS (Júpiter, Jove) era o rei da terra e do ar e senhor supremo do Olimpo, mas nem mesmo
ele estava livre da força do que tem de ser. Apresenta-se com um aspecto magnificente, de barba
encaracolada, por vezes com uma coroa de folhas de carvalho, segurando nas mãos os raios
com que flagelava os ímpios. Uma águia serve-o como ministro da sua vontade e tem como
pagem ou copeiro Ganimedes, um rapaz tão belo que Zeus mandou-o raptar do monte Ida, para
o fazer imortal no céu.
HERA (Juno), esposa de Zeus, era a rainha legítima do Olimpo. Com o seu ciúme deu ao
marido uma vida agitada. As suas outras características eram o orgulho e a arrogância, e
sempre se mostrava pronta a ofender-se por qualquer desfeita da parte de deuses ou de homens.
Tinha como criada Íris, o arco-íris, que levava as suas mensagens para a Terra. A filha Hebe
servia de copeira, juntamente com Ganimedes, da mesa celestial.
APOLO (entre os seus muitos pseudónimos Febo é o mais conhecido) era o mais belo e o mais
amado dos habitantes do Olimpo. Ao lado de sua irmã Selene, a Lua, figura como Hélio, o Sol, e
era também conhecido por Hiperíon. Era filho de Zeus e de Leto (Latona), que foi levada para
Delos por causa do ciúme de Hera (Juno). Em virtude da contínua perseguição que esta
impunha a sua mãe, Apolo foi criado por Témis e tão bem se desenvolveu neste cenário que, ao
seu primeiro gole de néctar e ambrósia, rebentou os cueiros e surgiu como um jovem adulto que
pedia a lira e o arco de prata com que é habitualmente representado.
ARTEMÍSIA (Diana), irmã gémea de Apolo, também tinha vários pseudónimos. Um era o
famoso Diana, dos naturais de Éfeso, cujo templo figurava entre as Sete Maravilhas; outro era a
cruel deusa Tauris. A Artemísia da Arcádia era uma deusa da caça e da vida selvagem. Casta
em excesso, o seu ciúme fatal era mais facilmente suscitado pela presunção dos mortais do que
pelo amor.
ATENA (Minerva) era outra deusa virgem, cujo pseudónimo, Palas, pode ter derivado de um
herói ateniense com esse nome. O seu nome principal, contudo, mostra a sua afinidade com a
cidade que a glorificou com o célebre Parténon. Supõe-se que brotou, adulta e armada, da
cabeça do pai, Zeus. É muitas vezes representada com uma armadura e por isso passava por
deusa da guerra; mas a sua verdadeira vocação era a fantasia, as artes e ofícios e os trabalhos
manuais femininos. Os seus animais sagrados eram a serpente,o galo e a coruja.
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AFRODITE (Vénus), a deusa do amor, era filha de Zeus segundo uma lenda, embora um velho
mito diga que brotou do mar. O seu nome, "nascida da espuma”, confirma essa origem. Era
dotada de suaves encantos e a posse da sua faixa ajudava a inspirar amor.
CUPIDO (o Eros grego, mas mais conhecido pelo nome latino) era filho de Vénus. Poetas e
artistas muito têm aproveitado este diabinho divertido, nu e alado, com os olhos por vezes
vendados. A sua luz incendiava corações e as setas que disparava com descuidada malícia
tinham umas vezes a ponta de ouro para despertar o coração, outras vezes de chumbo para
fazer parar o palpitar do amor.
HEFESTO (Vulcano) era o deus do fogo, nas suas aplicações industriais. Este sujeito coxo e
feio fazia de bobo do Olimpo - o seu manquejar fazia com que os deuses mais elegantes
desatassem em gargalhadas infindáveis. Grosseiro e negro como era, não havia dúvidas quanto
à sua utilidade. Para os heróis do mito imaginou obras-primas como o escudo de Hércules, a
armadura de Aquiles e o ceptro de Agamémnon. As suas oficinas situavam-se naturalmente em
ilhas vulcânicas, onde os Ciclopes actuavam como ajudantes.
ARES (Marte), filho de Zeus e de Hera, era o deus da guerra. Na mitologia grega, este atleta
fanfarrão não faz grande figura, apresentando algo do mau génio e da estupidez selvagem que
são naturalmente atribuídos aos gigantes lendários. Em Roma, Marte guindou-se a uma
categoria mais elevada.
HERMES (Mercúrio) era outro filho de Zeus. A sua função específica era a de mensageiro e
arauto dos deuses, pelo que é representado como um jovem belo e ágil, com sandálias aladas e
um chapéu de abas largas, também com asas. Hermes veio a ser considerado deus dos rebanhos
e também do comércio e dos ladrões, ligação natural quando o gado era o padrão dos preços.
Era também o guardião das estradas, das invenções inteligentes, dos jogos de azar e de uma
quantidade de outros aspectos da vida quotidiana aparentemente não relacionados uns com os
outros.
POSEIDON (Neptuno), irmão de Zeus, era deus dos mares, debaixo dos quais possuía um
maravilhoso palácio dourado com grutas enfeitadas de corais e de flores marinhas e iluminado
por luzes fosforescentes. O seu ceptro era o tridente e movia-se num carro puxado por golfinhos,
cavalos-marinhos ou outras criaturas do mar.
PLUTÃO, senhor do mundo subterrâneo, era o mais temível dos deuses, imaginado como uma
figura carrancuda sentada num trono de ébano ou guiando um carro puxado por corcéis negros
como carvão. Brandia uma lança de duas pontas e entre os seus pertences havia um elmo que
tinha o poder de lançar um feitiço de invisibilidade.
DIONISO (Baco), filho de Zeus, era sempre jovem, belo e efeminado. Vestido com uma pele de
pantera, tinha uma coroa de folhas de videira e cachos de uvas e, como ceptro, segurava um
bastão entrelaçado de folhas de hera ou de videira. Veio para a Grécia com a cultura da vinha e
trouxe consigo orgias orientais que também tinham a sua faceta religiosa.
PLUTO, o deus da riqueza, era uma personagem diferente de Plutão. Os antigos acreditavam
que Zeus o tinha cegado, e os poetas e os moralistas, transmitindo a história ao longo dos
tempos, continuaram a fazer notar que a riqueza nem sempre acompanha o mérito.
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Outras FONTES consultadas:
in http://mithos.cys.com.br/
Mirtilo
Mitologia Greco-Romana
Filho de Mercúrio e de Mirto. Sendo cocheiro de Enomáo, traiu-o numa corrida em proveito
de Penélope (ver PÉLOPE ou PÉLOPS) e, como castigo, foi precipitado no mar, donde foi
transportado para o céu e colocado na constelação de Cocheiro.
Ver A MITOLOGIA - Edith Hamilton p. 359... Era Cocheiro do pai da princesa
Hipodamia e triu o rei em favor de Pélope o irmão de Niobe, filhos de Tântalo...
Tântalo
Mitologia Greco-Romana
Rei da Lída, filho de Júpiter e da ninfa Plota. Por haver servido aos deuses os membros do
próprio filho ( Pélops ), e roubar da mesa dos deuses o néctar e a ambrosia, foi condenado
a morrer de fome e sede: precipitou-se no Tártaro, e as águas fugiam aos seus lábios;
árvores repletas de frutos pendiam sobre a sua cabeça; ele, faminto, estendia as mãos
crispadas, para apanhá-los, e o vento os arrebatava.
Niobe
Mitologia Greco-Romana
Rainha frígia, filha de Tântalo, irmã de Pélops mulher de Amphion, foi mãe de sete filhos e
sete filhas. Orgulhosa dessa sua fecundidade, zombou de Latona, que só teve um casal de
gêmeos: Apolo e Diana; estes para vingarem sua mãe, mataram, a flechadas, todos os
filhos de Niobe. A infeliz mãe, desesperada de dor e fechada em profundo mutismo, pediu a
Júpiter que a mudasse em rochedo, e, em seguida, encaminhou-se para a montanha Sípile,
onde as rochas cresceram ao redor do seu corpo, envolvendo-a em uma bainha de pedra;
neste estado, um turbilhão arrebatou-a para a Lídia, e a depôs sobre o cimo de uma
montanha, onde ela derrama lágrimas que, perpetuamente, correm de um bloco de
mármore.
Latona
Mitologia Greco-Romana
Filha do Céu e de Febe, foi amada de Júpiter, de quem teve Apolo e Diana. Juno, enciumada
por esse desvio do seu esposo, mandou a serpente Piton perseguir a sua rival, e ordenou à
Terra que não lhe desse abrigo. Nas vésperas de dar à luz Apolo, ela debalde percorria o
mundo à procura de asilo, quando, já exausta e desanimada, Netuno veio em seu auxílio e,
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fazendo uma rocha, com seu tridente, fez surgir a ilha de Delos, uma das Cícladas, onde
nasceu o luminoso Ser. Latona personifica a noite, da qual parece nascer a aurora.
Apolo
Mitologia Greco-Romana
Febo dos latinos. Divindade solar, filho de Júpiter e de Latona. É concebido como irmão de
Diana, porque ambos, alternativamente, iluminam o mundo. Quando Apolo ( o Sol )
desaparece no horizonte, Diana ( a Lua ) resplandece no céu. Latona, ao sentir aproximarse o momento de pôr no mundo o deus de cabeleira loura e de radiante beleza, saiu pelo
mundo a fora, à procura de um asilo, e não o encontrava, porque Juno havia maldosamente
ordenado à Terra que não lhe desse abrigo. Mas Netuno, fendendo uma rocha com o seu
tridente, fez nascer a ilha de Delos, para onde Latona, transformada em codorniz, se
transportou.
Aí chegando, vários cisnes de imaculada brancura vieram saudá-la, ruflando as asas e
sacudindo as lindas plumagens; a terra cobriu-se de flores; o mar e as montanhas,
douradas pela luz solar, pareciam revestir-se de um manto de púrpura, e a criança veio ao
mundo. Temis, descendo do Olimpo, chegou aos lábios do recém-nascido o néctar e a
ambrosia. Mal Apolo saboreou esses licores da imortalidade, as faixas que o envolviam, bem
como o cinto de ouro que cingia a sua cintura, se desataram, e ele, "entrando no seu
brilhante carro, iniciou o giro através do esplendor do céu". Apenas com quatro dias de
existência, já manifestou o seu poder, atravessando, com suas infalíveis flechas, o horrendo
dragão Piton, tremendo flagelo de Parnaso. Amou a ninfa Coronis, que o tornou pai de
Esculápio; e, como esse seu filho fosse fulminado por Júpiter ( vide Esculápio ), Apolo
matou, a flechadas, os cíclopes que forjaram o raio fatal. Por este ato homicida, foi ele
condenado ao exílio na terra, onde se entregou, durante nove anos, ao serviço de Admeto,
rei da Tessália, cujo rebanho passou a apascentar. Certa vez, quando ali se achava,
surpreendeu na solidão de um bosque, a colher flores, a formosa Dafne, filha de Gea. Por
ela se apaixonando, tentou possuí-la: mas a donzela, rápida como uma corsa, abriu em
desabrida carreira, e estava quase a ser alcançada, já sentia em suas faces o hálito
escaldante do seu perseguidor, quando, a um supremo grito, a sua mãe ( a terra ) abriu o
seio e a acolheu. Amou e foi amado por Jacinto, filho de Amiclos. Divertia-se com este
mancebo, no jogo de arremesso de disco, quando o maldoso Zefiro, movido pelo ciúme,
desviou, com seu sopro, a pesada massa de ferro, levando-a a vitimar o amigo. Apolo,
cheio
de
dor,
transformou-o
na
flor
jacinto.
Sendo Apolo o deus da claridade diurna, os gregos, para explicarem os dias brumosos do
inverno, concebem-no como um deus viajante que, temporariamente, abandona o santuário
grego, para onde torna na primavera. Além disso, é Apolo deus dos oráculos, da poesia, da
medicina, da arte, dos pastores, do dia, da música e da dança. Com sua lira, preside o coro
das musas e das graças e, no Olimpo, diverte os imortais. Tendo Mársias ousado rivalizar
com a sua lira, foi por ele esfolado vivo ( vide Mársias ). Castigou o rei Midas, com orelhas
de burro, por haver votado contra ele em concurso musical. Entre os seus inúmeros
templos, os mais célebres foram localizados em Delfos, Leocotoe, Dafne, Clitia, etc. Eramlhe consagrados: o galo, o gavião e a oliveira. Os artistas representam-no com uma lira na
mão, rodeado de instrumentos própios das artes; ou ainda, sobre um coche tirado por
cavalos, correndo o zodíaco.
Venus
Mitologia Greco-Romana
Ver Mirto como árvore e Mãe de Myrtilis??? in Edith Hamilton 358...
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Divindade romana da Beleza, dos amores, da energia reprodutra, da volúpia e da vida
universal, filha de Júpiter e de Dionéa, ou do Céu e do Dia, esposa de Vulcano, e mãe de
Eros ( o Amor ). Os gregos chamam-na Afrodite, que quer dizer: " nascida de espumas ".
Chamam-na também Anadyomina, que significa: " aquela que sobe, saindo das vagas ".
Narra-se da seguinte forma a lenda do seu nascimento: Urano, tendo aversão aos seus
filhos, havidos de Gea, encerrava-os no Tártaro. Gea, revoltando-se contra esse proceder,
deliberou vingar-se: fabricou então uma foice, com metal tirado do seu seio, e entregou-a a
Cronos que, assim armado, se pôs de emboscada e, de surpresa, decepou-lhe os orgãos
sexuais. O sangue vertido, caindo sobre a terra, deu origem às fúrias e aos gigantes; mas
algumas gotas caíram no mar e, sacudidas pelas ondas, formaram um floco de espuma
nacarada que, banhado pelos fulgurantes raios do sol, deu nascimento a uma encantadora
jovem de arrebatadora beleza, cuja dourada cabeleira flutuava ao sopro da brisa. Os tritões
e demais divindades do mar cercaram-na, envolveram em véus o seu cândido corpo, e
depositaram-na sobre uma nacarada concha marinha, enquanto dois zéfiros a conduziram
até a ilha de Chipre e a entregaram aos cuidados das horas e das graças que, por sua vez,
a fizeram subir para um carro de alabastro, tirado por cândidas pombas, e a transportaram
para o Olimpo, onde os deuses, encantados com a sua fascinante formosura, proclamaramna rainha da beleza. Com a sua presença, toda a natureza sorria, os ventos serenavam e as
ondas se acalmavam. Possuía um cinto mágico, dotado do poder de sedução e de encanto,
Esse precioso talismã esteve em mãos de Juno, que Io pedira emprestado para atrair ao
leito o volúvel esposo. Venus, tendo desposado Vulcano, o feio e disforme deus ferreiro,
deixou-se enamorar por outros: Obteve de Júpiter permissão para que Adonis, morto por
um javali, saísse dos infernos para passar junto dela quatro meses de cada ano. Vemos em
Adonis uma representação alegórica da Natureza, que se apresenta bela e fecunda, durante
os quatro meses primaveris para, em seguida, aparentar fenecimento. Venus amou ainda
Anchises, de cuja ligação nasceu Enéas. Manteve relações adulterinas com Marte, até que,
surpreendida e denunciada pelo Sol, foi castigada pelo esposo, que a apanhou, com o
amante, em sua rede maravilhosa que armava no seu leito, e expôs ambos à irrisão dos
deuses ( vide Marte ). Dessa união, nasceu Eros ou Cupido, o irrequieto deus do amor.
Amou tambem Baco, de quem houve Príapo. Tendo Venus saído nua do seio das ondas, é,
na maioria das vezes, representada com o pé sobre uma tartaruga, ou uma concha
marinha, na simples e desataviada beleza que trazia ao nascer. Elevaram-lhe templos em
Amatonte ( ilha de Chipre ), em Pafos, na ilha Cítera, etc. Daí os seus nomes: Chipris, Páfia,
Citérea, etc. Foi também chamada Dionéa, como sua mãe.
Zeus
Mitologia Greco-Romana
Júpiter dos latinos, Osíris dos egípcios e Amon do resto da África, filho de Cronos ( Saturno
) e de Rea. Deus do raio do trovão, supremo rei do Olimpo, senhor do mundo e pai dos
deuses e dos homens, agita o universo com um simples movimento de sua cabeça. Contanos a lenda que seu pai, símbolo do tempo, que devora tudo o que cria, obteve, do irmão
mais velho Titão, a desistência dos direitos da progenitura, que lhe assegurava o império do
universo, sob condição dele ir eliminando ( devorando-os ) todos os seus filhos varões que
fossem nascendo da sua esposa Rea. Destarte, tais direitos, futuramente, se perpetuariam
nos descendentes de Titão. Foi Zeus o único que escapou, graças às precauções de sua mãe
que, ao sentí-lo estremecer nas entranhas, desceu do céu e encaminhou-se para um
profundo vale, onde deu à luz o divino ser, e entregou aos cuidados de uma ninfa que o
levou para a ilha de Creta e o ocultou em uma caverna, cuja entrada era velada por
sombria vegetação. Em seguida, apresentou ao esposo uma enorme pedra envolta em
cueiros, fazendo constar ser o recém-nascido. Iludido, Cronos devorou a pedra. No seu
esconderijo, Zeus cresceu alimentado com o leite da cabra Amaltéa, com o mel que as
abelhas lhe ofereciam e com ambrosias que as pombas traziam, enquanto uma linda águia
oferecia-lhe o néctar, licor da imortalidade colhido numa fonte divina; as ninfas Adrastéia e
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Ida vinha distraí-lo, e os coribantes ou curetas dançavam em torno dele, e abafavam seus
vagidos com entrechocar de espadas, afim de que não despertassem a mais leve suspeita
paterna. Tornando-se adulto, Zeus saiu da caverna e, a conselho da deusa Metis ( a
Prudênica ), a quem se associou, obrigou o pai a ingerir uma beberagem, cujo efeito foi de
fazê-lo vomitar a pedra e, em seguida, os seus irmãos Netuno e Plutão, e o destronou. Zeus
iniciou, daí, o seu reinado no Olimpo; mas como os titãs não quisessem se submeter ao seu
império e, sobrepondo o monte Pélion ao Ossa, pretendessem escalar o Olimpo, teve ele
necessidade de eliminá-los; dardejando relâmpagos e raios, auxiliados por seus irmãos
Netuno e Plutão, pelos cíclopes e por três dos gigantes de cinqüenta cabeças e cem braços (
Egeon, Coto e Giges ), deu-lhes então renhido combate, no qual montanhas e rochedos
eram arremessados, de parte a parte, formando novas montanhas, ao caírem na terra, ou
semeando ilhas, quando precipitadas no mar. O vestígio deixado por essa luta épica é o
panorama caótico que a natureza nos oferece. Completando a sua obra, Zeus encadeou,
sob a massa do Etna e de outros vulcões, os últimos dos seus adversários: Tifeu, demônio
do furacão, e os gigantes Encelado, Hiberbios, Efialto e Políbotes. Daí, os gregos explicam
as freqüentes convulsões subterrâneas e os tremores de terra. Uma vez consolidado o seu
poder, Zeus partilhou o universo com seus irmãos, cabendo-lhe o céu; a Netuno, o mar; e a
Plutão, os infernos. Zeus teve muitas mulheres e inúmera prole: primeiramente, desposou
Metis, a personificação da sabedoria. Querendo o poeta significar que ao poder de Zeus
estava ligada a sabedoria, idealizou haver ele encerrado Metis no seio, assimilando-a e
gerando Minerva. Chegado o tempo da gestação, ordenou a Vulcano que vibrasse, sobre a
sua cabeça um profundo golpe de machado. A arma brandiu, e da divina fronte surgiu a
deusa Athené ( Minerva ) vestida de armaduras guerreiras. Em seguida, Zeus teve por
esposa Temis, a deusa da justiça, de quem houve as horas e as parcas. Da titanidade
Mnemósine, deusa da memória, Zeus teve as nove musas; da oceânide Eurimone, as
graças; de Demeter, Prosérpina; de Leto, ou Latona, Apolo e Diana; de Alcmene, Herácles;
de Dione, a bela Afrodite; de Sêmele, Dionísio; e de Maia, Hermes. Metamorfoseado em
touro, Zeus raptou Europa, de quem houve Minos e Radamanto, os juízes dos infernos.
Finalmente, mudado em chuva de ouro, fecundou Danae, de quem teve Perseu. Os artistas
representam-no sob aspecto majestoso, com barba espessa, cabeleira basta, sentado em
seu trono de ouro ou de marfim, segurando o raio, com mão direita, e o cetro com a
esquerda. Aos seus pés, vê-se a águia raptora de Ganímedes com as asas abertas. Muitas
outras representações têm sido idealizadas pela fértil imaginação dos artistas.
Diana
Mitologia Greco-Romana
Divindade romana, Artemis dos gregos, filha de Júpiter e de Latona, irmã mais velha de
Apolo, nasceu em Delos; tem, no céu, os nomes de Lua e Febe e, nos infernos, o de Hécate.
Deusa da Caça e da serena luz, é Diana a mais pura e casta das deusas e, como tal, tem
sido fonte inesgotável da sublime inspiração dos artistas. Seu pai armou-a de flechas, deulhe uma corte de ninfas, e fê-la rainha dos bosques. Como a luz prateada da lua percorre
todos os recantos dos prados, montes e vales, é Diana concebida como uma infatigável
caçadora. Costumava banhar-se nas águas das fontes cristalinas; numa das vezes, tendo
sido surpreendida pelo caçador Acteon que, ocasionalmente, para ali se dirigiu, afim de
saciar a sede, transformou-o em veado, e fê-lo vítima da voracidade da própria matilha.
Outra lenda nos conta que, apesar do seu voto de castidade, tendo ela se apaixonado,
perdidamente, pelo jovem Orion, e se dispondo a consorciá-lo, o seu irmão Apolo impediu o
enlace, mediante uma grande perfídia: Achando-se em uma praia, em sua companhia,
desafiou-a a atingir, com a sua flecha, um ponto negro que indicava a tona da água, e que
mal se distinguia, devido a grande distância. Diana, toda vaidosa, prontamente retesou o
arco e atingiu o alvo, que logo desapareceu no abismo no mar, fazendo-se substituir por
espumas ensangüentadas. Era Orion que ali nadava. Ao saber do desastre, Diana, cheia de
desespero, conseguiu, do pai, que a vítima fosse transformada em constelação. Sob o nome
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de Selene, apaixonou-se pelo jovem pastor Eudimião, a quem ia visitar todas as noites.
Raptou Ifigênia no altar do sacrifício fazendo-a substituir por uma novilha ou uma cerva. É
representada, como caçadora que é, vestida de túnica, calçada de coturno, trazendo aljava
sobre a espádua, um arco na mão, um cão ao seu lado. Outras vezes vêmo-la
acompanhada das suas ninfas, tendo a fronte ornada de um crescente. Representam-na
ainda: ora no banho, ora em atitude de repouso, recostada a um veado, acompanhada de
dois cães; ora em um carro tirado por corças, trazendo sempre o seu arco e aljava cheia de
flechas. Há quem a represente com três cabeças de animais - uma de cavalo, a segunda de
mulher e a terceira de cão; ou ainda - de touro, de cão e de leão. Sob este aspecto, era
Diana a deusa triforme, adorada sob o nome de Trívia e guarda das encruzilhadas. Teve
Diana o seu mais famoso templo em Efeso, considerado como uma das sete maravilhas do
mundo.
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In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm
PÉLOPE E HIPODÂMIA – ( e o papel de MIRTILIS...)
Mas a chegada de Pélope à Elida veio terminar com a história de derrotas mortais.
Pélope era o filho de Tântalo, a quem este tentou oferecer como manjar insultante aos
deuses, fato pelo qual Tântalo foi castigado eternamente, enquanto o inocente Pélope
era devolvido à vida por eles, após ser recomposto quase totalmente. Após o incidente,
o jovem protegido dos deuses chegou às terras de Enomau e apaixonou-se pela bela
Hipodâmia. Como era natural, o rei desafiou-o à mortal corrida e o jovem, sentindo-se
acompanhado pela boa vontade divina, aceitou o desafio. Há quem diz que Pélope
contava com uns cavalos ainda melhores, oferecidos por Possêidon, e a melhor
qualidade dos corcéis foi a causa exclusiva do seu triunfo; há outros que preferem a
versão do amor da princesa, e por isso asseguram que foi Hipodâmia quem decidiu
terminar com a sanha do rei Enomau, que se negava a aceitar a possibilidade de ser o
sogro, e preferia evitar o laço político potencial, atuando como um pai muito ciumento.
Hipodâmia, farta de ter que resignar-se a ver desaparecer na fossa tantos admiradores
valentes, sem chegar a desfrutá-los, inventou uma solução definitiva ao seu problema,
fazendo com que um suborno chegasse a Mirtilo, moço de cavalariça do rei, para que
este atentasse contra Enomau, deixando o eixo do carro real quase partido ao meio. A
corrida começou e o carro real ficou de fora, sem nenhuma possibilidade de chegar,
embora fosse o último, à meta. Para rematar a história, conta-se que Pélope deu morte
a Mirto, não sem que este o maldissesse antes de morrer. Resulta trágico que Mirto
morresse pelas mãos de quem tinha ajudado a viver, apesar de ter sido ele
responsável do seu triunfo, mas isto pode ser interpretado como outro desses fatos
infelizes que trouxeram a desgraça a toda a estirpe de Tântalo e que vêm justificar
ainda mais o infortúnio do clã. O que se pode dizer com certeza é que o sanguinário e
implacável deus do sofrimento alheio, Ares, embora só o fosse por intermédio do
fracasso do seu amigo Enomau, também terminou a aventura numa má situação, dado
que a derrota desse cúmplice era -em boa medida- também uma derrota própria. E
sem nenhum gênero de dúvida, os gregos colocavam a prenda de Ares num lugar
proeminente da lenda de Hipodâmia, para que se pudesse claramente ver a classe de
indivíduo celestial que era o deus próprio das guerras.
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ANX. 3.2 – CONTO/s
CONTO 1 – A COMADRE MORTE
In CONTOS POPUARES PORTUGUESES - inéditos – estudo Coordenação e
Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. I
- Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação
Científica, Lisboa, 1984, pp. 239 – 240
n.º 157
157 [A COMADRE MORTE]
Dois casais vizinhos um do outro, dôs compadres e qualquer deles tinham um filho. De manêra
que assim que apareceu a mulher embaraçada dum, outra vez disse:
- Agora, nã sê onde hê-de ir convidar padrinhos, quem me faça o mê filho
cristão.
O filho, isso queria ele.
- Eu vou por esse mundo a fora. A premêra pessoa que encontrar.
E foi.
Encontrou uma velhota (Essa teve um menino, essa mulher), encontrou uma
velhota e disse-lhe:
- Ó comadre, vossemecê quer-me fazer um favor? Fazer-me um filho
cristão?
- Sim, senhor.
Antão, pôs-le, pôs ó afilhado o «Pouco-Juízo». Más tarde diz o compadre:
- Antão, já baptizou o sê filho? - Já, sim, senhor.
- Antão, como é que, quem sempre convidou alguém? - Foi a premêra
pessoa qu'encontrei.
- Ora, e a minha agora tá embaraçada tamém, e ê faço o mesmo. E a
premêra pessoa qu'encontrar, se vierem bem, convido.
Teve uma menina. Foi... encontrou a dita velhota. Disse-lhe: - Antão, querme fazer um favor? - Sim, senhora.
Baptizou-le a filha, pôs-le a «Pouca-Vergonha».
De manêra qu'era o «Pouco-JuÍzo» e a «Pouca-Vergonha». Casaram um
com o outro e arrinjaram uma vidinha boa, viviam bem. Viviam bem. De
manêra que um dia, belo dia, pareceu-lhe a madrinha o pé, em casa.
Grande alegria com a visita da madrinha.
- E vai já matar um pinrum - disse o homem à mulher.
- Matar um pinrum? - diz-le ela - Não sabes o que venho fazer, afilhado?
Venho-te buscar, qu'eu sou a Morte.
- Nã me diga?! Uma vida tã boa qu'eu tenho e um homem novo! Antão, que
jêto tinha isso?
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- Nã sê, isto nã é lá por idades. Tens que, tens que ir. calhou-te à tua vez.
Tomou o desgosto, mas ó depôji foi o homem, disse:
- Venha cá. Quero le mostrar aqui o prédio qu'ê mandei fezêri...
E tinha um alçapão por baxo do solo e empurrou a Morte. Diz a Morte:
- Nã morre ninguém e é já munta famila. S. Pedro vêo e disse pra soltar a
morte.
- Não, qu'ela quer-me matar e, atão, nã a solto. Voltou ó Céu e disse:
- O Pouco-Juízo nã solta a morte, nã quéri. O Divino Mestre diz:
- Vai lá e diz-le que eu que le dou quenhentos anos de vida. Vêo ele outra
vez.
- O Divino Mestre manda dezer que le dá quenhentos anos, que le soltes a
Morte.
-Não, não quero, nã quero. Olhe! Voltou ó Céu e disse:
- O Pouco-Juízo diz que nã solta a morte. Por modo que ó fim de quenhentos
anos, ela sempre o mata.
- Bom, antão, vai lá e diz-le qu'é interno. Veio ao Mundo outra vez e dissele:
- O Divino Mestre diz qu'és interno más a tua mulher, que soltes a Morte.
E, antão, soltou-a e deu a matar, antão, a família. E por isso o Pouco-Juízo e
a Pouca-Vergonha não morre. Esses nã morrem. Existem sempre.
[José Raposo, 77 anos de idade, alfaiate, natural de Facões, f. de S. João
dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade,
professora primária. Ano de recolha: 1976].
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ANX. 3.2 – CONTO/s
CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA
In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da
Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 409 – 410
620 [MAIS FACILIDADE DE ESCOLHA]
Nas proximidades duma escola, uma menina e um menino também nas proximidades da mesma escola, que se
juntavam a meio caminho, aonde havia duas veredas, que se juntavam no mesmo caminho, nas proximidades da
escola.
Pr'àli brincavam, pr'àli se entretinham. Às vezes, quando se demoravam e coisa e tal... Mas a
menina, quando chegava a casa, só tinha em casa, quer dezer, a mãe e a avó, não tinha mais
ninguém. E a mãe perguntava-lhe assim:
- Menina, minha filha, atão, o menino além da vezinha que diz, quando se juntam ali, no
barranco, quando brincam ali?
- Ora, ele não diz nada.
- Atão, e tu o que é que lhe dizes?
- Ora, eu digo-lhe que tenho aqui umas rendinhas e ele só me responde que não tem rendinhas,
mas que tem outra coisa.
-Atão, diga lá..:
- Ora, tenho vergonha de dezer..., vozinha e mãezinha.
- Atão, diga lá.
- Ora, ele disse-me assim: «Que tem ali uma pichinha». Diz-lhe a mãe assim para ela:
- Pois, atão, minha filha, porte-se bem, veja se pode concluir a escola, que, quando for uma
mulher, há-de ganhar, se se portar bem e tomar juízo. Aprenda bem as suas letrinhas e essa
coisa toda, que se [se] portar bem e tomar juízo há-de ganhar, quando for mulher, há-de ganhar
uma pichinha, muito boa.
Responde-lhe a avó assim, porque era solteira, e nã tinha possuído marido
Diz-lhe ela:
- Olha, filha, e, se tu te portares mal, se não tomares juízo, ainda melhor escapas: tens aonde
escolhas.
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos
Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja, 61 anos. Colector: Adélia Grade, professora primária.
Ano de recolha: 1976].
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ANX. 3.2 – CONTO/s
CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR
In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da
Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 418 – 421 Nº 633
633
[AS PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR]
Numa escola, numa escola primária, aonde se juntavam três vezinhos, ali do mesmo sítio, que
um, um deles, filho duns senhores muito ricos, o outro filho doutros assim mais remediados, um
bocadito mais baixos, e o outro filho dum pobrezinho, muito pobrezinho. E, atão, acontece o
seguinte. Em qu'eles juntavam-se, antes de chegar à escola, a brincar, qualquer caminho,
qualquer motivo e tal, e que, um dia, faltaram à escola. Ora, o senhor professor, no dia seguinte,
chamou-os à atenção e perguntando-lhe assim:
- Por que motivo é que os meninos faltaram ontem à escola? E eles ficaram-se. Diz ele assim:
- Pois vocês, amanhã, trazem-me a resposta por que motivo é que faltaram ontem à escola.
Os meninos vêm de lá. À noite perguntaram às mães e tal... mas... ora... aquilo, quando lá
chegaram, só quem se lembrava era o filho dos senhores mais ricos, é que se lembrava. Os
outros já se nã lembravam daquilo que haviam de dizer. E, atão, basearam-se uns noutros. Diz o
senhor professor assim prós meninos. Chamou-os todos à atenção: «Por que motivo que os
meninos, tragam-me lá a resposta e tal dêem-me lá a resposta».
Diz o filho dos senhores mais ricos, diz assim:
- É... tal, Senhor Professor, eu faltei à escola, porque a minha mãe teve um menino.
Diz ele:
- Ah, sim, 'tá bem: a sua mãe teve um menino.
Virou-se além, pró mais, outro a seguir, filho do outro mais rico, remediado, a seguir, a descer
de escala. Perguntando, diz... e tal...
- A minha mãe também teve um menino.
Porque ele nã se lembrava já e disse o mesmo que o outro disse.
- Bom, 'tá bem, a sua mãe teve um menino. Sim, muito bem. Atão e agora...
Voltou-se além, procurou o outro, mais desgraçadinho, mais pobrezinho, perguntou-lhe:
-Atão e o menino?
Diz ele assim:
- Oh, a minha mãe também teve um menino.
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Diz ele:
- Bom, atão, 'tá bem. Atão, olhe.
O senhor professor olhou pra eles, mostrou-lhe uma nota de quinhentos escudos e disse assim:
-Tenho aqui uma nota de quinhentos escudos pra dar a qualquer dos meninos, que diga a
resposta mais concreta amanhã, quando eu lhe fazer uma pergunta. Bem, têm-me que dizer
donde é que veio o seu menino. Bom, donde vieram os seus meninos, qu'a mãe teve.
Bem, ora passado isto, os meninos regressaram à sua casa. Começa o rico, filho do rico
perguntando lá os pais.
- Atão, ó mãe, e talo senhor professor zangou-se, coitado. Dá-nos quinhentos escudos, se eu
desser lá donde é que veio o menino, que eu tinha dito que a mãe tinha um menino, quando eu
tinha faltado à escola.
Diz ela:
- Ora, diz-Ihe que o menino que veio da Alemanha.
- Tá bem.
Ora, na mesma altura, estava o filho do remediado, o outro rico a seguir, a descer (Não é da
classe mais baixa), a perguntar à mãe. E lá disse que tinha que dar aquela resposta concreta. E
diz a mãe assim:
- Ora, diz-lhe que o menino que veio dali, da Espanha.
Bom, deixemos isto. Estava cá o filho do pobrezinho, perguntando à mãe na mesma altura, à
noite, ali o serão.
- Ó mãe, minha mãezinha, conte lá! O senhor professor diz que dá quinhentos escudos, se a
gente desser bem a verdade e coisa.
E a mãe toda agoniada de faltas e sacrifícios, dificuldades à vida, dezia:
- Ora, deixa-te tar calado, não sejas parvo!
- Oh! Porque ê disse que a mãe que tinha tido um menino, e agora nã sê o que hê-de dizer. E ele
disse donde é que tinha vindo o menino...
Diz-lhe a mãe assim:
- Ora, diz-lhe que veio do olho do cu.
Bom. Ora, os meninos todos ficaram elucidados da resposta, que a mãe lhes deu. No outro dia,
apresenta-se o senhor professor lá o pé deles. Chamou-os à atenção. Diz-lhe assim:
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- Também o menino - Derigiu-se ò rico, o mais rico - Atão, donde veio o sê menino?
- A minha mãezinha diz que ele veio da Alemanha.
- Sim... sim, da Alemanha. É uma nação boa, já é uma nação boa. Está certo. Muito bem. Atão,
ali e o menino - que era o outro a seguir, logo a descer de classe.
- Olhe, a minha mãezinha diz que ele veio ali, da Espanha.
- Sim, „Tá certo. Olha que também não anda muito longe, não. Bom, atão e o menino?
Começa o menino assim:
- Ora, Senhor Professor, eu tenho vergonha de dizer.
- Oh, não, diga lá donde é que a mãe diz que veio o menino. „Tá aqui os quinhentos escudos e,
atão, tem que dizer.
- Ora, senhor professor, ora.
- Diga lá.
- Oh, a minha mãe, minha mãe, assim que veio de...
-Vá, diga lá...
- Oh! Diz que veio ali, do olho do cu.
Responde-lhe o senhor professor assim:
- Olha lá, fostes tu que andastes ali mais perto. Toma lá, duzentos e cinquenta escudos. Os
outros duzentos e cinquenta ficam pra mim, que não foi bem no sítio donde foi, mas bom ainda
acertastes mais que os outros.
Bom, e atão, tudo isto se passou.
No outro dia, chama os três meninos à atenção o mesmo dito professor e perguntando a eles;
- Atão - peguntando ò mais rico - Atão e, òs domingos, o que é que o menino faz com os seus
pais, com as suas famílias, òs domingos? Qual é a sua destracção, e tal..., por que não vem à
escola, bem entendido, claro que têm que...
- Oh - diz ele assim, o menino diz assim: Oh, eu òs domingos vou com o meu paizinho, vamos
prà televisão e, depois, viemos pra casa, ouvimos a rádio e...
- Atão e há mais algum divertimento, que têm em casa?
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- Oh, o divertimento que temos é vamos pró café, prà pensão, passear com o mê pai; depois, à
noite, temos a rádio. E a nossa destracção, é o nosso divertimento, que temos, e coisa e tal.
Perguntou depois ò outro a seguir, a descer, o filho do outro mais rico, a descer pra baixo.
- Atão, e o menino, qual é a sua destracção, a sua música, a sua coisa, que tem òs domingos,
quando o menino, é claro, vá.
Diz ele:
- Ora, olha, òs domingos, o mê pai vai à pesca e ê vou com o mê pai à pesca.
- Atão e depois, cá à noite, não têm um divertimento, uma destracção, uma coisa qualquer?
- Ora, olhe, o mê pai toca lá uma concertina. Atão, é... as coisas bonitas assim...
- „Tá bem, muito bem. „Tá bem - dizia ele.
Perguntando pró mais pobrezinho e disse-lhe assim:
- Atão e o menino, como é que é que os seus acontecimentos o domingo?
- Ora, Senhor Professor, ò domingo, o mê pai vai arrancar mato e eu vou ajudar o mê pai.
- Atão e à noite, cá ò serão, depois... Não têm um divertimento?
- Ah, ah! O mê pai vem derêto à taberna, bebe um copo de vinho e compra-me cinco tostões de
rebuçados e depois viemos pra casa.
- Atão, e qual é a sua destracção, cá em casa?
- Ora, „tamos ao pé do lume.
- Atão, e não têm uma música, um divertimento, uma coisa qualquer pra se rirem?
- Oh, Senhor Professor, oh, oh, tenho vergonha de dezer...
- Não, diga lá, diga lá, porque o menino ganhou duzentos e cinquenta escudos no outro caso, e
agora também, claro, tem que dezer a verdade.
- Ah, o nosso divertimento ora, Senhor Professor!
- Não, diga lá!
- Ora, olhe, o nosso divertimento. Olhe, o mê pai dá pêdos e a gente ri-se.
Diz ele:
- Sim, também está uma música muito boa, pois nã podem adquirir outra, „tá certo, sim, senhor.
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Ficou, antão, coisa concluída perante os três alunos.
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos
Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de
recolha: 1976. Vid. o número seguinte].
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ANX. 3.2 – CONTO/s
CONTO 4 – BOA RESPOSTA
In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da
Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 422 - 423 - n.º 634
634
[BOA RESPOSTA!]
Juntaram-se dois professores e vai um, diz assim pró outro, assim:
- Eh, pá, tenho lá um aluno. E que gajo tão esperto! Todos as perguntas, que lhe faço, o gajo
responde-me bem. E os outros, é claro, responde-me sempre bem. Nã sei. Pois, aquele aluno,
„tou admirado com ele.
Diz o outro professor, pr'àquele assim:
- Olha, eu sou capaz de lhe fazer uma pergunta qu'ele não é capaz de me responder.
Diz ele:
- Bom, vamos lá apostar.
E apostaram. Fizeram a sua aposta. No outro dia, manda chamar o dito aluno, na presença dos
dois professores. Diz o professor assim, esse tal teimoso, pergunta pró dito aluno:
- Ouve lá uma coisa. Tu sabes o que é isto? Sabes o que é aquilo?
Responde e coisa. Atão, pró atacar mais breve e mais possível, mais breve e pergunta-lhe assim:
- Sabes o que é um freixo?
- Pois, sei. Um freixo é uma árvores, nascida aí nas proximidades dos barrancos, e essa coisa
uma árvore, ramuda, um freixeiro.
- Pois, sim. Eu tenho um freixeiro, que mandei fazer um santo, mandei cortar o freixeiro, mandei
fazer um santo e mandei fazer uma pia. E, atão, a pia pu-la ali ó pé do poço, aonde os burros
bebem. Bebem os burros e bebem os cães e bebem aqueles animais, que passam por ali, todos. E
o santo pu-lo lá na igreja. Ora, as mulheres, ali daquelas áreas, vão prà igreja, passam por a
pia; como não têm sede, mesmo que tivessem sede, nã queriam lá ir beber nem olhem prà pia,
mas vão lá adorar o santo. Pois, se ele é do mesmo pau, porque é que eles não, porque é qu'elas
não ligam à pia, pois só ligam ao santo?
Pergunta-lhe o aluno., assim pra ele assim:
- Senhor Professor, o Senhor Professor é casado ou é solteiro? Diz ele assim:
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- Sou casado e muito bem casado.
- Atão, o Senhor Professor, não tem assim ocasiões de sair da sua casa, fazer uma visita a
qualquer parte.
Diz-lhe o professor:
- Pois, tenho!
- E, atão, o que é que lhe acontece com a sua senhora, quando não se despede dela?
- Pois, despeço-me.
- Atão e o que é qu'a sua senhora faz?
Diz o aluno. Respondeu ao aluno que a sua senhora se despedia dele, quando ele ia ò seu
passeio, que se destanciava dela e ele perguntou:
- O que é que acontece, quando o senhor vai a qualquer parte com a sua senhora? Qual é o
sistema do despedimento, diz ela?
O Senhor Profesor disse:
- Pois, a minha senhora dá-me um beijo no rosto.
Responde-lhe o aluno assim:
- Atão, pois, por qué que a sua senhora não lhe dá um bejo no cu, pois s'é do mesmo corpo?
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos
Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja, de 61 anos de idade. Colector: Adélia Grade, professora
primâria. Ano de recolha: 1976. Vid. o número anterior].
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ANX. 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...
ANEDOTAS – Vide A. Machado Guerreiro e AlentejANEDOTAS in www.joraga.net
As duas versões do CAVIAR – comida dos ricos...
AM e FM – no Rádio
AM e PM- no Relógio
O lisboeta que vai comprar uma casa em Mértola...
Algumas ANEDOTAS especialmente ligadas a MÉRTOLA:
Um alentejano rico.
Um alentejano ganha a lotaria e a primeira coisa que faz é ir a um restaurante de super luxo.
- Quero comer aquelas coisas que comem os ricos.
- Muito bem, então o senhor quer começar com champanhe e caviar?
- Caviar? Que é isso de caviar?
- São ovos de esturjão.
- Então para mim, quero dois. E traga-mos bem estreladinhos e a cavalo num belo bife!
(adaptada de - in IOL)
Outra versão do ALENTEJANO rico de Mértola.
Lembram-se daquele alentejano que ficou rico com o dinheiro da cortiça?... Esse mesmo que
mandou o filho a Lisboa depositar o dinheiro no banco e na conseguiu...
Ora, como ficou co'aquela dinheirama toda, vai um dia a Lisboa p'ra ver s'era verdade o c'o filho
contara e óspois quis gastar algum à larga...
- Ora vamos lá ver como é que comem os ricos, diss'ele prá Bia, mais pr'ó rapaz...
Escolhem um dos melhores restaurantes da capital e pedem do melhor...
- O melhor que temos e os ricos costumam comer é caviar e um bom champanhe para a entrada...
- Ora venha lá esse champanhe que já temos ouvisto falar s'a senhora... e esse caviar é o quei???
- Ora meu senhor, o caviar são ovas de estrujão! Temos do melhor vindo da Rússia!!!
- AAAAAH! Atão ele é isso? O caviar são as ovas do solho!!!? Vamos imbora, Bia, qu‟ê na
sabia c‟os ricos comiam aquilo que eu deitava fora quando era pobre!!!
O Alentejano e com um RÁDIO portátil, que tem AM e FM:
- Atão cumpadre, o sê rádio tem aí umas letrinhas: AM e FM... Pra que raio serve essa coisa?...
- Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... FM é Fora de Mértola!!!...???
(Isto parece mesmo ser verdade, porque uns amigos, que têm passado em Mértola, e vão no seu
belo carro, ouvindo uma das estações de música, daquelas que se ouvem em todo o território
nacional, começam a ter ruídos esquisitos, logo que entram nas curvas, mesmo antes de se ver
Mértola e depois de atravessarem a vila, só voltam a poder ouvir, quase no cimo da serra, já
quase à vista do Algarve!!!)
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O Alentejano e com um RELÓGIO, que tem AM e PM...
- Atão p‟ra qui‟é que serve?...
- Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... PM é PRA Fora de
Mértola!!!...???
O lisboeta aparece em Mértola e vai “apreçar” uma casa que está à venda:
- Então meu amigo, como está?! Vi no jornal que tem a sua casa à venda, e como esta vila
está em franco desenvolvimento, talvez eu a possa comprar para passar aqui uns tempos de vez
em quando... Vamos lá ver a casa a ver se me convém...
Lá foram pela rua estreitinha acima com as curvas todas e pararam num pardieiro a cair
aos bocados e assim a modos que do tamanho duma casa de brincadeira...
O comprador olhou, mirou e foi-se preparando para a “pechincha” do século... Com um parvo de
um alentejano... uma casa naquele estado... e numa rua daquelas... Bem se pedir € 5.000, já é
muito, mas dá para fazer uma obrazitas e ficar aqui com um cantinho!!!
- Então, compadre, quanto está a pedir?!... Aí uns € 2.500, já é pedir de mais!!!?
- Pois saiba o meu rico senhor que já m‟ofreceram € 250.000 e nã vendi!!!
- !!! !!! !!! Eh! Na pá!!! Então quanto é que meu compadre pede?
- Uolhe! Por‟ser p‟ra vcmcê que tem cara de simpático, são €500.000 e „stá o negócio
arrumado!... Acha um preço justo ó‟quein?!
- Um preço justo? Por esse preço compro um palácio em qualquer parte do mundo!!!
- Ai compra?!!! Atão vmc. no „stá vendo o qu‟eu lhe‟stou oferecendo... Estas ruínas que aí
vê deixou-mas o mê pai... que já as herdou do mê avô... Quando o mê cumpadre adregar
de começar a fazer as obras e começar escavando, „ndo pois sorte vai encontrar alguma
coisa do tempo dos templários, que andaram por í „inda no tempo do Senhor Dom
Sancho II... S‟inda cavar mais, pode dar de caras com “coisa até dos árabes, quem
sabe!!!?... Cum sorte „inda vai até ós visigodes... e ós romanos... e ós turdalos... Vmc. no
„stá mesmo vendo o qu‟ê tenho p‟ra lhe venderi, cumpadre???!
Um alentejano que chega a Lisboa... desembarcado do vapor que passa o Tejo sai-se com esta
lengalenga:
NO RESSIO, ENFIO
CUM DESIMBARAÇO;
LOGO ME PRANTI NO TERREIRO DO PAÇO.
FOI ATÃO QUE VI
E QUE PUDE OBSERVÁ-LO
UM HOME DE CHUMBO
EM RIBA DUM CAVALO!
(Contada por uma Professora em Mértola, em 1985...)
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Pistas para um ESQUEMAe, entre OUTROS, do modo como se podem organizar e LER as
ANEDOTAS
(é uma modesta, respeitável e discutível opinião... resumo do que é apresento em
www.joraga.net - no Espaço das AlentejANEDOTAS)
Dada a presença contante das interrelações, tanto quanto aos temas como quanto aos
personagens e características implicados em cada ANEDOTA, como ainda quanto à
oportunidade de a contar, (... a propósito, lembras-te daquela...), qualquer ESQUEMA ou
ORGANIZAÇÃO, se torna aleatória e daí esta divsão ser, já em si, uma perfeita ANEDOTA...
como qualquer outra...
Seguindo a sugestão de Arnaldo Saraiva (ver nas Pistas para uma Bibliografia) citado por A.
Machado Guerreiro in LIVRO DE ANEDOTAS, Edições Colibri, Lisboa, Maio de 1995, p. 12: «
... a anedota pode dar um bom contributo para o estudo de uma comunidade - suas manias e
fobias, seus hábitos sociais, seus desejos e recalcamentos, seus heróis e suas vítimas, sua visão
do mundo e do destino».
Assim uma ANEDOTA pode servir para um excelente treino da oralidade...
Tal como no CONTO, a Estrutura com suas: Sequências... núcleos... indícios... informantes...
- a linguagem como marca de uma identidade Cultural...
Podem-se contar ANEDOTAS das ANEDOTAS e das AlentejANEDOTAS...
ANEDOTA/s para mostrar o estilo de "regatinhar", “aciganado”, sem ofensa para os ciganos...
... para mostrar a ligação à Terra...
...para ver a lhaneza e simplicidade...
... responder aos Lisboetas, como ini/a/migos de estimação...
... a esperteza saloia...
... a lei do menor esforço...
Talvez, como reflexão principal, é dar conta que neste MUNDO DAS ANEDOTAS, afinal se
passa o mesmo que no MUNDO REAL - a LINGUAGEM e os VALORES das PESSOAS de
REGIÕES diferentes são, mesmo DIFERENTES...
A respeito das Outras formas de expressão como: – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas –
Cantilenas...
não nos foi possível recolher, pelos motivos que já foram apresentados e só podem ser recolhidos
e estudados por alguém que esteja mesmo ligado ao meio.
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ANX. 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...
ANX. 3.4 – 1 - QUADRAS & CANTIGAS
in Pereira – Cantigas e Quadras – o que podem exprimir.
In Corais Alentejanos, de José Francisco Pereira – Edições Margem 1997 – p. 25 sobre a Flora...
Ver p. 21... O que exprimem as CANTIGAS Populares: “sentimentos: Paixão do amor... prazer, dor,
alegria e tristeza, ódio, ciúme, inveja, desgosto, resignação, saudade, melancolia, orgulho... tudo nela
se versa...” “Os próprios sentimentos – religioso, moral, intelectual, estético, aí se retratam”.
Ver ainda fenómenos e figuras de estilo...na mesma obra, pp. 34 e 35
Ainda:
1. Toponímia – Mértola... Guadiana...
2. Fauna – Passarinhos... animais existentes na região... animais do trabalho... bois...
3. Flora – Plantas flores... lírio roxo... Vivo no jardim do mundo... rosa roseira botão...
4. Comoções, paixões, sentimentos... - (medo cólera, ternura, amor, ciúme, ódio, inveja orgulho,
alegria e tristeza, prazer e dor, melancolia, desgosto, resignação, saudade... Ó minha mãe,
minha mãe...
5. Partes e órgãos do corpo humano – olhos... rosto... coração...
6. Peças de vestuário e objectos de adorno... saia... anel... lenço...chapéu...
7. Astros – Sol Lua...
8. elementos da natureza... – água... montes... serras... terra
Vivo no jardim do Mundo,
Nos treze ramos matrizes,
Com cinquenta e duas flores
E vinte e cinco raízes.
(Mértola)
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ANX. 3.4 – 2 - QUADRAS & CANTIGAS
in Delgado - QUADRAS
In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - Manuel Joaquim Delgado – Com. Rec.
Notas – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p.328
3026
O nosso olhar é espelho
Do que sente o coração.
A boca pode mentir,
O nosso olhar é que não.
(Mértola)
3027
Onte'à noite à meia-noite,
A meia-noite seria,
Eu ouvi cantar um Anjo
No coração de Maria.
(Beja e Mértola)
3028
Onze horas, meia-noite,
Já por aqui tudo drome:
Só este meu coração
Quer descansar mas não pode.
(Mina de S. Domingos)
3029
Ó olhos azuis,
Que já foram meus,
Agora são doutro,
Paciência, adeus.
(Beja; Mina de S. Domingos; Ervidel e Vale de Santiago)
3030
Ó olhos doa minha cara,
Não olhem para ninguém;
Já que perderam a graça,
Percam o olhar também.
(Beja; Entradas, Castro Verde; Mértola; Vale de Santiago, Odemira)
3031
Ó olhos da minha cara,
Não olhem para ninguém,
Que eu não quero ter na cara
Olhos que ofendam alguém.
4554 (p. 482)
S‟eu sobesse quem tu eras,
Ou quem tu vinhas a ser,
Nunca t‟eu teria dado
Meus segredos a saber.
(Colos, Odemira; Mina da juliana, Aljustrel; Mértola; Vale de Santiago, Odemira, etc.)
p. 515
4884
Fui um dia à tua horta,
Pisí a salsa sem querer;
Mas regando-a bem regada,
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Ela tronou a crescer
(Mina de S. Domingos)
p. 495
4690
Vai-te, carta, feliz carta,
Triste de quem a notou.
Com lágrimas te escreveu,
Com suspiros te fechou.
(Mértola)
p. 493
4670
Tudo no mundo se prende,
Dele não há que fugir.
Eu sinto-me presa a ti.
E nã dei pr‟àdonde hê-de‟ir
(Mértola)
p. 491
4649
Todas as Marias são
Doces como o caramelo.
Eu, como guloso sou,
Uma Maria é que eu quero.
(Beja; Amaraleja; Vila Nova da Baronia; Ervidel; e Mina de S. Domingos)
4650
Todo o homem que embarca,
Deve rezar uma vez.
Quando vai p‟rá guerra, duas,
E, quando se casa, três.
(Mértola)
p. 489
4628
Tenho carta no correio,
A letra de quem será?
S‟é de Manuel nã‟na quero,
S‟é de João deita-a cá.
(Mina de S. Domingos)
4629
Tenho carta no correio,
E a letra de quem será?
S‟é do José nã‟na quero,
S‟é do Manuel venha já.
(Mértola)
p. 488
4623
Tenho a minha fala presa,
Mas não é do vinho tinto;
É duma penguinha d‟água
Que bubi na Corte Pinto.
(Mina de S. Domingos)
p. 486
4595
Se te quis bem algum dia,
Esse tempo já passou.
S‟inda hôis pera ti ôlho,
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Foi jeito que me ficou.
(Corte Pinto – Mértola)
p. 485
4589
Se queres qu‟ê seje tua,
Manda ladrilhar o mar;
Despois do mar ladrilhado,
Sou tua se não faltar.
(Mina de S. Domingos)
p. 484
4581
Se ouvires tocar os sinos,
Nã‟ prèguntes quem morreu,
Lembra-te de uma infeliz,
Que tanto por ti sofre.
(Mértola)
p.482
4554
S‟eu soubesse quem tua eras,
Ou quem tu vinhas a ser,
Nunca t‟eu teria dado
Meu segredos a saber.
(Colos, Odemira; Mina da Juliana Aljustrel; Mértola; Vale de Santiago, Odemira, etc.)
p. 481
4546
Se entrares no cemitério,
Entra e pede licença,
Verás o rico do pobre
Mesmo lá fazer diferença.
(Beja e Mértola)
p. 480
4534
Se a liberdade dos presos
Tivesse na minha mão,
Soltava presos e presos,
Quantos na cadeia estão.
(Mina de S. Domingos)
p.479
4526
Sant‟Entónio é bom rapaz,
Que livrou seu pai da morte.
Também livrará meu bem
Quando for “tirar as sortes”. (ir à inspecção militar)
(Mina de S. Domingos)
4527
Santo António é meu pai,
S. Francisco é meu irmão,
Os anjos são meus parentes,
Oh! Que linda geração!
(Beja; Ervidel; Barrancos e Mértola)
4531
S. João à minha porta,
Nada tenho p‟ra lhe dar,
Dom-le uma caninha verde – (dou-lhe)
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Para a pôr no seu altar.
p. 477
4511
Raparigas d‟hoje em dia
Só pensam em se casar.
Põem a panela ao lume
E nã na sabem tratar.
(Mina de S. Domingos)
p. 476
4496
Quem queser armar currais,
Traga redes e atenchões,
Qu‟ê tamém quer‟ir ô mêo
Em certas àcsiões.
(Mina de S. Domingos)
in “Vocabulário Alentejano” – A. Tomás Pires, Elvas, 1813 XIV (citado por Delgado in LPBB):
XIV
Acrâdita, mê amôri,
Tenho-te munta amezade;
Tu é que cudas que não,
Pensas q‟isto é falsedade.
(Mina de S. Domingos)
Ouvidas numa rua de Mértola:
A nobre vila de Mért‟la
Tem dois rios, duas pontes:
Uma é p‟rós automóiveins,
A outra é p‟ros transuntes.
A nobre vila de Mért‟la
Tem dois rios, duas pontes:
Num rio, nadam os pêxes,
O outro é p‟ros (in)fluentes.
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ANX. 3.4 – 3 - QUADRAS & CANTIGAS
in J. LEITE V – QUADRAS – volume I
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com
introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por
Ordem da Universidade, 1975
P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo,
Para comer é que se faz isto!
(Dizem a começar a comer? Não pude averiguar, mas o 1º verso diz-se ao começar a comer).
Em ofícios e ocupações (p. 216) sobre o mineiro, ver pp. 240 e 241
Meu amor é barreneiro
Trabalha na contramina
À luz do seu candeeiro
Tira ouro e prata fina.
(Alentejo) (os barreneiros (= mineiros) cantam estas quadras enquanto trabalham.
Ó _Senhora Santa «Barba»
Tenha dó dos barreneiros:
Trabalham debaixo do chão
À luz dos seus candeeiros.
(Mértola)
Nota JRG - (Comparar com as cantigas dos mineiros de Aljustrel a S. Bárbara, Padroeira dos Mineiros
– e influência dos mineiros do norte de Espanha...)
no cap. X (p. 301) - AMORES, AMORES... 7. DECISÃO(p.371):
p.375
Uma silva, duas silvas,
É uma brenha fechada
Uma prende a outra arranha...
Com silvas não quero nada.
(Mértola)
em 12. (p.400) AMOR PERFEITO:
P. 405
Dá-me, amor, a tua mão,
Juntemos palma com palma,
Que eu te dou meu coração,
Toma posse da minh‟alma.
(Mértola)
em 13. ALEGRIA (418)
P. 420
Graças a Deus que já chove
Pingas de água no jardim;
Graças a Deus que já tenho
Meu amor ao pé de mim!
(Castelo Branco; Mértola)
em 23 DESDÉNS E DESENGANOS (p. 516)
539
Se quere que eu seja tua
Manda ladrilhar o mar;
Depois do mar ladrilhado
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Serei tua sem faltar... (Ver a recolhida por Delgado...) “Serei tua se não faltar)
Se te eu quis bem, foi um sonho,
Se te amei foi falsidade:
Foi enquanto não achei
Amor à minha vontade.
(Mértola)
em 25 BEIJOS E ABRAÇOS (553)
556
Eu já fui ao céu em vida,
Numa nuvem fiz encosto,
Dei um beijo numa estrela,
Julgando que era o teu rosto.
(Mértola)
em 30 RETRATOS
622
Meu amor moço
É um bule-bule,
É um rapazinho
Vestido d‟azul.
(Mértola)
(P. 619)
O CORAÇÃO MAIS OS OLHOS p. 632
660
Sobrancelhas arqueadas,
Arcos que rogam a vida,
Olhos que despedem raios
Trazem a minha alma rendida!
(Mértola)
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ANX. 3.4 – 4 - QUADRAS & CANTIGAS
in J. LEITE V – QUADRAS – volume II
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com
introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por
Ordem da Universidade, 1979
Cap. XI – AMOR E TRISTEZAS p. 1 3. AUSÊNCIA p.13
16
Desejava saber
Onde a pena mais se auguenta:
Se é no peito de quem fica
Ou é no de quem se ausenta.
(Mértola)
em 4. SAUDADES p. 23
25
É de noite, é de noite,
Para mim nunca amanhece!
Nem a água me mata a sede,
Nem o meu amor me esquece.
(Mértola)
em 3. DINHEIRO E POBREZA p. 191
196
Você diz que me não quer
Porque eu não tenho fazenda :
Não é o seu pai tão rico,
Nem você tão boa prenda.
(Mértola)
No cap. XVII USOS E COSTUMES p. 197
206
1.
Sou saloia trago botas
E mantéu até ao meio,
Lenço grande no pescoço
P‟ra tapar meu lindo seio.
2.
Sou saloia, trago botas,
Também trago as minhas meias,
Tenho a cintura delgada
Sem precisar de baleias. (Varas de baleia, para se apertar, usadas nos espartilhos.)
3.
Sou saloia, trago botas,
Também trago meias pretas;
Não me fales em namoro:
Não creio nas tuas tretas...
4.
Sou saloia, trago botas,
Também trago meu mantéu,
Também tiro a carapuça
A quem me tira o chapéu.
5.
Sou saloia, trago botas,
Também trago o meu cordão,
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185
ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
E por medalha pendente
De ouro um bom coração.
(Mértola)
Cap. XX – CANTIGAS CONCEITUOSAS P. 235
245
Eu não digo que não hei-de
Desta fonte água beber...
Pode-me a sede obrigar
E outro remédio não ter.
(Mértola)
Cap. XXIV BOCAS DO MUNDO p. 289
290
Andas sempre a acreditar
Coisas que não podem ser;
A inveja faz falar,
Não tens ouvisto dizer?
(Mértola)
291
Andas sempre a duvidar
Eu não sei o que arreceias...
As nuvens descem ao mar
Vazias e vêm cheias.
(Mértola)
302
Você diz que me quer munto,
Esse sê querer é engano:
Você corta a minha vida
Cuma a tesoura no pano.
(Mértola)
XXV GRAÇAS, CHALAÇAS E «CANTIGAS às AVESSAS» p. 303
325
Quando meus olhos te viram,
„Stavs tu a assar castanhas,
Na rua do merca-tudo,
No armazém das aranhas.
Quando Tróia se arrasou,
Choveu três dias areia,
Só uma alma se salvou
No ventre de uma baleia.
(Mértola)
XXVI – CANTIGAS SATÍRICAS p. 339
348
1
Estas meninas de agora
Não querem senão casar;
Põem na panela ao lume
Nem volta lhe sabem dar.
2.
Estas meninas de agora
Não querem senão regalo;
Bom sapato, boa meia
E a barriga dando estalo.
(Mértola)
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto
186
ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 5 - QUADRAS & CANTIGAS
in J. LEITE V – CANTIGAS – volume II
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com
introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por
Ordem da Universidade, 1983
XXXIII CANTIGAS GEOGRÁFICAS E TÓPICAS p. 1
p.22
Beja
Adeus, cidade de Beja,
Cada vez me alembras mais!
Adeus, quartel dos soldados,
Sepultura dos meus ais!
Adeus, cidade de Beja,
Cativeiro da mocidade,
Cativaste o meu amor
Na felor da sua idade!
Na rua nova de Beja
„Stá um fio de algodão,
Todos passam, não se prendem,
Só eu fiquei na prisão.
(Mértola)
68
Mértola
Adeus, ó vila de Mértola,
De ti me „stou a ausentar;
Há-de ser tarde ou nunca
Quando ê p‟ra cá voltar.
(Mértola)
69
Adeus, ó vila de Mértola,
És o meu acabamento,
És a causa de eu não ver
Meu amor há muito tempo
Adeus, ó vila de Mértola,
Onde a palma reverdece!
Quem tem amores
É porque não nos merece.
70
Mina de S. Domingos
A Mina de São Domingos,
Palácio de D. Diogo (Referência ao dono da mina)
Onde assiste tanta gente,
Cada um é do seu povo.
(Mértola)
107
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto
187
ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
Serpa
Eu não sei que tenho em Serpa
Que sempre me está lembrando.
Em chegando ao Guadiana
As ondas me vão levando...
(Mértola)
122
Vila Real de Santo António
Ó Vila Real alegre,
Lá ia morrendo à sede!
Uma sécia me deu água (Sécia = flor; neste caso significa rapariga bonita e bem vestida)
Da raiz da salsa verde.
145
Baixo Alentejo – Beja
Adeus, estação de Beja,
Adeus, jardim do quartel;
Adeus, ó portas de Mértola,
E a praça de Dom Manuel.
(Mixilhoeira Grande, c. De Portimão)
na secção de Rios e suas cercanias: (168)
176
Em setenta e seis se viu (Alusão à grande cheia de 1876)
A desgraça em Portugal:
Tanta água em Guadiana
Nunca se lembra de tal.
177
1.
No meio do Guadiana
„Stá um copo de água-mel.
Não é copo nem é água:
São os olhos de Manel.
2.
No meio do Guadiana
„Stá um copo de água fria.
Não é copo nem é água:
São os olhos de Maria.
Ó rio Guadiana,
Que para baixo correis:
Não leves o meu amor
Nessas ondas que fazeis.
(Mértola)
sobre grupos étnicos p.186
187
Quero cantar à saloia,
Já que outra moda não sei:
Minha mãe era saloia,
E eu com ela me criei...
Sou saloia, honro-me de isso,
P‟ra casacas não sou má.
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto
188
ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
Os janotas atrevidos
Sei correr a varapau.
Sou saloia trago botas,
E mantéu até ao meio,
Lenço grande no pescoço
P‟ra tapar meu lindo seio. ( Ver já noutra citação)
(Mértola)
Sou saloia trago botas,
Também tragao as minhas meias,
Tenho a cintura delgada,
Sem precisar de baleias (Varas de baleia usadas nos espartilhos, para apertar.) (Ver já citada)
Sou saloia trago botas,
Também trago meias pretas,
Não me fales em namoro,
Não creio nas tuas tretas...
(Mértola) (já citada)
Sou saloia trago botas,
Também trago o meu mantéu,
Também tiro a carapuça
A quem me tira o chapéu...
Sou saloia trago botas,
Também trago o meu cordão,
E por medalha pendente
De ouro um bom coração.
(Mértola) (já citada)
Sou saloia,
Na cedade de Lisboa;
Dizem todos os janotas:
- Ó saloia, és tão boa !
(Mértola)
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189
ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 6 - QUADRAS & CANTIGAS
in Delgado - JANEIRAS
In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel
Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p.
147
Janeiras
Uma tradição que se cantava em grupos de Monte em monte, de casa em casa, levando à frente um burro que
transportava as esmolas recebidas... Chegados às portas, tiravam os gorros ou chapéus e cantavam. Depois vinha
ou não a esmola que consistia em geral em coisas de comer. Aceitavam-na de mão estendida e aberta e
agradeciam com uma quadra.
Variante parecida com uma de Beja...):
Esta noite é de Janeiras,
É de grande merecimento,
Por ser a noite primeira
Em que Deus passou tromento.
Os tromentos que passou
Eu lhe digo na verdade:
O seu sangue derramou,
Pra salvar a cristandade.
Já os três reis estão chegados
À Lapinha de Belém,
Visitar o Deus-Menino,
Que Nossa Senhora tem.
Nossa Senhora lhe disse:
- Filho meu, que te farei?
Não tenho cama nem berço,
Em meus braços te deitarei.
(Mértola)
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190
ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 7 - ORAÇÃO
in J. Leite de Vasconcellos – in Orações parodiadas
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com
introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por
Ordem da Universidade, 1975
P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo,
Para comer é que se faz isto!
(Dizem a começar a comer? Não pude averiguar, mas o 1º verso diz-se ao começar a comer).
ANX. 3.4 – 8 – ORAÇÕES:
Ver as referidas no RITUAL DO PÃO - ANX 2.6:
Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar:
“Deus te acrescente no alguidar
Como Deus Nosso Senhor está no altar”...
E depois de meter todo o pão no forno:
“Deus te acrescente,
que é para muita gente”
E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem:
«Faz-se um benzido com o sinal da cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as
saias e diz:
Cresças tu, pão
Como as saias afastadas do cu estão».
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 9 - ORAÇÃO DAS ALMAS
in J. Leite de Vasconcellos –Orações in ROMANCEIRO
in Romanceiro Popular Português, II Vol. - organização, introdução notas e Bibliografia de Maria Aliete
dores Galhoz, Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa,
1988 – nº 729
p. – 910.
- 729. ORAÇÃO DAS ALMAS (estrofe)
Cristandade tão unida ouvindo gritos e ais
2 Que lá tens na outra vida as almas dos vossos pais.
Gritando em agonia toda a noite e todo o dia
4 Pedindo que lhe rezais sequer uma Avé-Maria.
É tã triste os pecadores tende compaixão daquela tã triste voz
6 Que repete para nós ó tã tristes pecadores.
As almas tão em clamores dando gritos tão sintidos
8 Gritam contra os seus amigos que cá dêxaram no mundo
Que são vivos e não dizem dá-me a mão qui eu os ajudo.
10 Gritam contra os seus herdeiros pelos bens que lhe dêxaram
Sendo os seus testamentêros ainda mais deles se lembraram.
12 Gritam contra os seus parentes da sua sanguinidade
Que são vivos e não se lembram de tanta necessidade.
14 Muito mal faz quem desperdiça das almas a devoção
Vamos-lhe ouvir uma missa dar-lhe esta consolação.
16 Que desta sorte se consolam as almas que em pena estão
Vamos pedir-lhe uma esmola andai com as almas irmão.
18 Quando deres a esmola não olhes a quem na dais
Considera que lá tens as almas dos vosso pais.
20 Quando deres a esmola nã olhes p'ra fazenda
Cada esmola que dais tiras uma alma da pena.
22 Homens, mulheres, meninos deste povo aditório
Mandai a esmola às almas às almas do prigatório.
24 Que as almas do prigatório é que nos mandam pedir
Que lhes mandem uma esmola qu'elas nâ podem cá vir.
26 Fiquem-se com Deus irmãos qu'ê com Deus me vou embora
Queira Deus que nos ajunte-nos lá no reino da Glória.
Informador: José Raposo, 77 anos.
Localidade: Tacões, fr. de S. João dos Caldeireiros, conc. de Mértola, d. de Beja.
Ano de recolha: 1976.
Colectora: Adélia Grade. [gravado]
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 10 A - DÉCIMAS
in J. LEITE V. – MINEIRO TRAJA BEM
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria
Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979
XXXI – ASSUNTOS VÁRIOS VERSADOS EM DÉCIMAS (Dado o apreço em que tinha estas décimas, o Prof. Leite de
Vasconcellos conserva-as em maços à parte de outras composições. Versando vários assuntos, servem, na maioria
dos casos, de glosas de quadras.) Nota – ver tb. Na introdução os comentários de Ariete Galhoz sobre estas
Décimas, onde se pode notar que não tem ideia nenhuma sobre o seu valor e origem e sobre a arte d sua
construção... JRG.
pp. 454 e 45530
O mineiro traja bem:
Cas‟mira, bota engraxada,
Us chapéu de fivela.
Dinheiro, nunca tem nada.
Enquanto as minas durar‟
Vai a coisa assim, assim;
Mas, se chegam a ter fim,
O luxo há-de-se acabar.
Cada um se há-de tornar
Em vender aquilo que tem.
Eu falo de mim também,
Não me faço isento dos mais,
Porque, enquanto houver minerais,
O mineiro traja bem.
Acho que e grande tortura
Usar o que lhe não „stá dado,
Muitas vezes andar empenhado
Por causa da grande loucura.
O luxo é p‟ra quem tem fartura,
Não é p‟ró pobre que não tem nada.
Passa a vida arrastada,
P‟la semana trabalhando,
P‟ró domingo andar trajando
Cas‟mira, bota engraxada.
Até o ponto desta idade
Ê não costumei mentir
E, senhores, que me estão a ouvir,
Digõ se isto é verdade:
Para que é tanta gravidade
Que eu vejo nesta famelga? («Famelga» = família (de famélia).
Andaram sempre em Palmela
E nunca avezaram dez réis.
P‟ra que serão tantos papéis
Usarem chapéu de fivela?
Chega o mineiro ao armazém
Ou a outra qualquer panilha: (Panilha = «venda», taberna (calão).
- Venha lá pão e morcilha ( Morcilha = linguiça (esp.)
É a canha, vai dando bem. ( Canha = galeria)
Pergunta vinho se tem:
- Dête mais meia canada.
Ali se lhe vai a pionada (Pionada = tempo de trabalho).
E passa a noite sem dormir.
E anda sempre co‟a bolsa a tinir,
Dinheiro nunca tem nada.
30
nota. Por não termos encontrado Décimas recolhidas em Mértola e por se tratar de uma (Composição da autoria de um mineiro) sem referência ao
nome e local de recolha, e por a Mina de s. Domingos ter sido uma terra de mineiros e ter tido grande influência na vida econ ómica de Mértola...
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 10 B - DÉCIMAS
in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - I
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria
Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 197931
(ver p. 465) (Décimas feitas por Marcelino Ramos, de Lisboa. Com outro homem andava ele cantando estes versos
por várias terras.) - pp. 462 –463
Despique do Alentejo e do Algarve I :
Alentejo
Sou o Alentejo opulento,
Tenho gado e cereias;
Algarve, quero saber
Qual de nós valerá mais.
Algarve
Cá na minha pequenez
Sou todo uma povoação;
Tu, com a tua grandeza,
És um verdadeiro sertão.
1.
Sou na verdade crescido,
Que a todos meto cobiça;
Tenho montanhas de cortiça
Que a muitos têm enriquecido.
Tenho p‟ra fora vendido
Cereais de valimento;
Tu, Algarve, toma tento
Em quem já te socorreu,
Porque tu sabes que eu
Sou o Alentejo opulento.
1.
P‟ra que te estás a abnar?
Que és muito rico eu bem sei,
Mas defeitos te porei
Que tu não hás-de gostar.
Eu tenho praias no mar,
Não acreditas talvez,
Que eu dou banho mais de um mês.
Sou o recreio do teu povo
E sou cheio como um ovo
Cá na minha pequenez.
2.
Eu sou em tudo abundante:
Tenho muitas azinheiras,
Com a lande das sobreiras
Engordo gado bastante;
Tenho muito negociante,
Tenho muitos olivais,
Eu tenho de tudo mais
Do que tu ninca hás-de ter;
Contudo deves saber
Tenho gado e cereais.
2.
És mui grande e muito forte,
Mas és pouco povoado,
És muito desabitado,
Só tens charnecas e mato.
Por isso tu toma tacto:
Se muito valor te dão,
Eu, por mim, digo que não
Na explicação que te faço.
Mas, em meu pequeno espaço
Sou todo uma povoação.
3.
Eu tenho em mim celeiros
Cheios de trigo até mais não;
Sou abundante de pão
Tenho em mim muitos dinheiros.
Até os teus corticeiros
Ajudo-os bem a viver,
Dou-te tudo p´ra comer
Em toda a minha grandeza.
E qual é a tua riqueza?
Algrave, quero saber.
3.
Se tu tens tanta valia
Como estás a apresentar,
P‟ra que vens a mim buscar
P‟ra ti tanta pescaria?
Não passa nem um só dia
Nem um sequer, com certeza,
Que eu não mande com franqueza
Peixe para a minha vizinha;
Não pescas nem uma sardinha,
Tu, com a tua grandeza.
4.
Eu tenho muito toicinho
E o precioso presunto,
Eu tenho de tudo munto.
Sou a fama do bom vinho,
Sou da riqueza o beijinho,
Porque tenho coisas tais.
Até pessoas reais
Em mim têm arvoredo.
Responde, não tenhas medo,
Qual de nós valerá mais?
4.
Quem em ti tem passeado
O que vem p‟ra cá dizer?
Que és um país de temer
P‟los lobos que tens criado.
Eu sou todo cultivado
P‟la minha população.
Pois na estação do Verão
Sou de Portugal o beijo.
E tu, ó Alentejo,
És um verdadeiro sertão.
31
Talvez, por ser Mértola uma ligação entre Alentejo e Algarve, seja oportuno transcrever estas Décimas que
teriam sido feitas por
( ver p. 465) (Décimas feitas por Marcelino Ramos, de Lisboa. Com outro homem andava ele cantando estes
versos por várias terras.)
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 10 C - DÉCIMAS
in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - II
Alentejo
Cala-te, Algarve faminto,
Que me estás a provocar !
Se te mostro o meu valor
Hás-de ter que te calar.
Algarve
De tudo o que tens em ti
Tenho eu cá um pouquechinho;
Eu tenho coisas em mim
Que tu não tens, amiguinho.
1.
Tu decerto tens desejo
De ser rico como eu sou
E dar, assim como eu dou,
Muita cera, mel e queijo.
Eu por todo o modo almejo,
Que sou poderoso o sinto
Tenho muito homem distinto,
Senhor‟s de propriedads.
Escuta muitas verdades,
Cla-te, Algarve faminto.
1.
Eu tenho navegações
Que tu lá não podes ter,
Pois, p‟ra melhor te dizer,
Tenho muitas armações.
De fábricas tenho milhões,
Tudo que é rico há aqui.
A riqueza que te vi
Mais tarde dizer-te venho:
No Algarve também tenho
De tudo o que tens em ti.
2.
Os homes que tes em ti,
Coitados, como andarão?
Espr‟ando que venha o V‟rão
P‟ra virem ceifar p‟ra aqui:
Se eu o teu peixe comi,
Tenho pão para te dar
Ou tenhpo, p‟ra te pagar,
Muito oiro, prata e cobre.
Cala-te, fminto e pobre,
Que me está a provicar.
2.
Embora menos porção
Eu tenha de olivais,
Mas também tenho olivais,
Tenho cortiça e pão;
Em mim tenho o bom feijão,
Tenho o grão e o bom vinho,
Também tenho algum toicinho
Para te imitar um dia,
De tudo o que lá se cria
Tenho eu cá um puquechinho.
3.
Se te mostro o meu valor.
3.
Eu tenho alfarrobeiras
Que tu nunca tens craido,
Tenho bom figo passado,
Estou coberto de figueiras
E milhar‟s de amendoeiras
Que tu não lhe vês o fim.
Por isso te digo assim,
Se ainda bem não me ouviste,
Que tu ninca possuiste,
Eu tenho coisas em mim.
4.
Nos meus matos tu verás
Gados de lã a valer
Que dão p‟ra roupa fazer,
Que tu muito pouco dá.
P‟ra que é que falando estás,
Se estás somente a errar?
Tu não devias falar
P‟ra não caires no laço;
Olhando aos favor‟s que te faço,
Hás-de ter que te calar.
4.
Tenho tido vultos meus
Da ilustração comum,
Como há pouco morreu um:
O ilustre João de Deus.
Mostra então os vults teus,
Alentejo, um instantinho.
Tu chamas-me pobrezinho,
Dizes que não tenho nada
Mas tenho gente ilustrada,
Que tu não tens, amiguinho.
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 10 D.1 – DÉCIMAS de Manuel Guerreiro Martins (Mina de S. Domingos)
in SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação
de Defesa do Património, Mértola, s/d. – p. 106
És jovem, sou reformado
Tu tens o mundo na mão;
Olha bem para o meu passado
Luta sempre p‟la razão.
Se eu tivesse a tua idade
Tua força e valentia
Com certeza arranjaria
Outra nova sociedade
Onde houvesse só liberdade
Mas ninguém fosse roubado
Nem o povo explorado
Que já vem de antigamente
Tu tens o futuro à frente
És jovem, sou reformado. (vide p. 106 – no livro faltou este 10º verso)
És livre e podes votar
Vivemos em democracia
Até que enfim chegou o dia
Para o país libertar
Agora podemos falar
.............................ão..................(no livro falta este verso por ex: Dizer a nossa razão ???!!!)
Não temer a reacção
Dos gulosos egoístas
Dar o fim aos parasitas
Tu tens o mundo na mão.
Foi bem triste o meu viver
Nos campos e nas fábricas
Às vezes bebia as lágrimas
E nada podia dizer
Tantos anos a sofrer
Mal comido e mal tratado
E nas prisões torturado
Pela nossa autoridade
Só por dizer a verdade
Olha bem o meu passado
Lutando com garras e esperança
Nós havemos de ganhar
Nunca deixes de lutar
P‟ra destruir a vingança
É preciso ter lembrança
De quem me roubava o pão
E me chamava ladrão
E deixava-me envergonhado
Tu não lutes enganado
Luta sempre p‟la razão
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 10 D.2 – DÉCIMAS de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da Serra)
in SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação
de Defesa do Património, Mértola, s/d. – p. 143
VIVA AMENDOEIRA DA SERRA
JÁ PARECE UMA CIDADE
RUAS TUDO ALCATROADO
JÁTEMOS ELECTRICIDADE
Era uma escuridão
O que faz os administradores
Podemos dar os louvores
A quem olhou à povoação
Foi o administrador Serrão
Que se encontra debaixo da terra
Esta palavra tudo encerra
Foi pelo concelho
Hoje parece um espelho
Viva amendoeira da Serra
Temos telefone e correio
E centro cultural
Já encontramos menos mal
Já se encontra algum recreio
Foi tarde mas já veio
Serrão teve cedo a infelicidade
Homem cheio de vontade
Sem excepção de criatura
Amendoeira já faz figura
Já parece uma cidade
Há transporte para o passageiro
Levou os alunos ao Liceu
Antes, não aconteceu
Só olhavam o dinheiro
Administrador foi o primeiro
Para todos foi um achado
A outro com o lugar ocupado
Da mesma opinião veio
Pode-se ver o asseio
Ruas tudo alcatroado
Foi a luz inaugurada
A vinte e oito de Outubro de oitente e três
A boa vontade tudo fez
Temos a causa preparada
Dentro de pouco não falta nada
É para a eternidade
Para os velhos e mocidade
Fica escrito na História
Fica-nos bem em memória
Já temos electricidade
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ANX. 3.4 – 11 A - RIMANCE
in Delgado – LAURA LINDA
In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel
Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980,
pp. 154 - 155
Romances Populares
LAURA LINDA, ÉS TÃO LINDA
Ele – Laura linda, és tão linda!
„Stás tão linda como o Sol
Deixa-me dormir contigo
Nas barras do teu lençol!
Ela – Sim, sim, cavalheiro sim,
Esta noite, amanhã não,
Meu marido não está cá,
Foi à Feira de Garvão.
Era meia-noite em ponto
Marido à porta bateu;
Bateu uma, bateu duas,
Mas ninguém lhe respondeu.
Laura linda não responde,
Pois já tem novos amores,
Foi lá bàxo a 'scar as chaves,
Lá ós fins dos corredores.
Ele - De que é aquele cavalo
Que na minha esquadra entrou?
Ela - Será pra ti meu marido,
Foi teu pai que to mandou.
Ele - De quem é aquele capote
Q'ue além está pendurado?
Ela - Será pra ti, meu marido,
Que tão bem o tens ganhado.
Ele- De quem é aquele chapéu
Todo cheio de galões?
Ela - Será pra ti, meu marido,
Fize-o (1) eu por minhas mãos. (por Fi-lo)
Ele - De quem é aquele suspiro
Que na minha cama entrou?
Laura linda não responde,
Dé-le'um ai e desmaiou.
Ele - Vom dezer (2) às tuas manas – (Vou dizer)
Que já tens novos amores;
Tu por seres a mais velhinha
Dás-les tão lindos louvores!
(Por Gerturdes Augusta Pinto, criada de servir e natural de Mina de S. Domingos)
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198
ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 11 B - RIMANCE
in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA
In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel
Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p.
155
ISOLINA MUI FERMOSA
Isolina mui fermosa
Já se aparta o teu guerreiro!
- A Palestina me chama,
Adeus, que sou cavaleiro!
Senhora, sinto o seu choro,
Nas suas lágrimas creio;
Mas, temo o novo amante,
As circunstâncias receio.
- Afonso, não receies,
Nada tens que arrecear;
Juro amar-te vivo ou morto,
Mais ninguém m'há-de lograr!
Se eu quebrar as minhas juras,
Se minhas juras quebrar,
Tua sombra me apareça
No dia em que m'eu casar.
Tua sombra me apareça,
Com teu direito requer
Que ao sepulcro me arrastes
Dizendo que eu sou tua mulher.
Graças de amor são prendas,
Nelas Isolina deu todas;
Finezas quebraram juras,
Trovador acode às bodas.
(Recitados por Aura dos Mártires Gomes de Brito, de Mértola)
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANX. 3.4 – 12 – OS ÚLTIMOS SÃO OS PRIMEIROS
NOTA IMPORTANTE:
O melhor exemplo de tudo o que temos dito até aqui fomos encontrar in:
SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE
MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.
Para além do seu CURRICULUM entranhadamente ligado a Mértola e às suas “pedras”, “cacos”
e “gentes”, apresenta-nos um enorme painel de Mertolenses ilustres, artistas e escritores... e, em
especial, apresenta, a partir da p.91 – SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO CANCIONEIRO
POPULAR DO CONCELHO DE MÉRTOLA, que afinal é a realização do projecto que temos
vindo a propor e está ali concretizado, dum modo e com elementos que nós nunca poderíamos
conseguir.
Apresenta-nos além dos ilustres anteriores “As figuras de maior destaque, que conheço de
momento, são, segundo a minha concepção: António Dionísio Gonçalves, de Corte Sines; Bento
Neto, de Corte da Velha; Francisco Horta (Hortinha), de Moreanes; José Alves dos Santos, de
Mértola; Bartolomeu Godinho, de Mértola; e João Alves Baiôa, também de Mértola.»
Além disso, grande número de QUADRAS, além das recolhidas “com o apoio da poetisa Maria
Olívia Diniz Sampaio elaborada em vários estudos etnográficos editados no país...” e tem muitas
das que nos foi possível recolher e aparecem com anónimas, Mário Elias apresenta-nos muitas
com os nomes dos seus autores além das suas próprias... Para além das de Mário Elias e dos
autores atrás citados, aparecem ainda: José Erva (Mértola) António Venâncio (Mértola),
Francisco Viegas (Moreanes), Palma Raposo (Espargosa). M. D. O. (Mértola), Francisco Barão
(Mértola), António Pedro da Costa (Mértola), Xavier Carrilho (S. João dos Caldeireiros), Manuel
Silva (Mértola), Manuel Seno (Santana de Cambas), Álvaro Costa (Espargosa) e vai até António
serrão Martins, que toda a gente conhece em Mértola, como o malogrado impulsionador do
desenvolvimento que desde os anos de depois de Abril de 1974, se vem assistindo na vila e em
todo o concelho;
uma DÉCIMA (p. 106) de Manuel Guerreiro Martins, pseudónimo – o Alentejano – natural da
Mina de S. Domingos e que reproduzimos, com a devida vénia em ANX. 3.4 – 10 – D DÉCIMAS.
Uma DÈCIMA (p. 143) de Joaquim Manuel Bento, nascido na Amendoeira da Serra e contava,
na altura da escrita da obra, tinha 74 anos, e vamos reproduzir com a devida anotação em ANX.
3.4 – 10 – E - DÉCIMAS.
Ver ainda outras figuras importantes para a Cultura em Mértola... nas outras obras...
De Mário Elias ver ainda as outras obras in BIBLIOGRAFIA...
De Heitor Domingos – ver obras citadas in BIBLIOGRAFIA...
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ANX. 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS
MODAS
recolhidas por João RANITA da Nazaré in MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO –
Cancioneiro da Tradição Oral – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – 1986. – Caoítulo:
Quintas variações: Mértola pp. 269 – 296:
Profanas:
O meu anel
Rio Guadiana
As cobrinhas de água
Mértola do Guadiana
Nossa Senhora das Neves
Passarinho prisioneiro
Não quero que vás à monda
Maria pega na carta
Ao romper da bela aurora
Lírio Roxo
Religiosas:
Os Reis
As Janeiras
Quadra:
Mértola estás situada
Entre o rio e a ribeira,
Firme nas tuas muralhas
A viver de cantaneira.
(in Momentos Vacais do Baixo Alentejo – Cancioneiro da Tradição Oral – João Ranita da Nazaré – Imprensa
Nacional da Casa da moeda, 1986, p. 269
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - Teoria
Lopes Graça sobre a canção Alentejana:
«Tem de ir ao coração do Alentejo, a Serpa e seu termo quem quiser conhecer uma das mais
genuínas e curiosas manifestações do génio do nosso povo: as canções corais, que os íncolas da
região, na sua maioria rudes trabalhadores do campo e pequenos mesteirais, cantam com uma
admirável musicalidade nata e a compenetração de quem cumpre um velho ritual.
É vê-los, concentrados e um tanto bisonhos, formar os seus grupos, cerrados uns aos outros,
muitas vezes as raparigas os braços nos braços, e, numa cadenciação suave do corpo, como
messe de altas espigas tocada pela brisa, darem início à função.
Uma voz entoa a melodia: canta sozinha os primeiros compassos; em geral, outra lhe dá uma
como que réplica - e logo as restantes se lhes juntam, numa harmonização instintiva, em que
um que outro gostoso arcaísmo lembra a arte medieva do Organum e do Discantus.
Esta gente canta com verdadeira paixão e todas as ocasiões lhe são boas para dar largas ao seu
lirismo ingénito. Não há trabalho, folga, festa ou reunião de qualquer espécie sem um rosário
infindo de cantigas. A alma do alentejano é profundamente musical e o canto é o elo vital que
liga aqueles seres primitivos no sentimento de uma fraternidade de destinos, na afirmação de
uma comunidade telúrica. Em qualquer parte o alentejano se reconhece e identifica,
reconhecendo e identificando, do mesmo passo os seus irmãos em carne e espírito, mediante o
viático das suas canções.
O ar e a paisagem vibram constantemente de melodias. É, porém, no silêncio da noite, da vasta
e profunda noite alentejana, que estas ganham toda a sua altura e projecção anímica...
[. . .] A canção alentejana é, por via de regra, larga, dolente e triste, de uma tristeza nada
depressiva, antes nobre e serena, de um colorido sóbrio, de uma linha severa, nisto reflectindo a
monotonia grandiosa, hierática e, por assim dizer, ensimesmada da própria planura
alentejana.»
FERNANDO LOPES-GRAÇA, «Apontamento sobre a canção alentejana», in A canção popular portuguesa, Lisboa, Europa-América, 1953, pp.
41-43.
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ANX. 3.5– MODAS – CANTE - Teoria
In MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS:
«Hoje a rádio, levada à mais humilde aldeia ou lugarejo, tem de algum modo apagado certos
usos tradicionais dos cantos alentejanos que, insensivelmente, vão perdendo muito de seu
natural e típico sabor, alterando-se e substituindo-se por inexpressivas e, porventura, duvidosas
canções. Nem por isso, creio, terão a rádio e os modernos 'jazes' força bastante para obliterar
por completo muitos dos nossos patriarcais costumes e usos que nossos maiores nos legaram
por via da tradição. É que tão enraizados eles estão na alma do povo, que não podem perder-se
ou alterar-se senão por lenta evolução.
I. . .] O valor das 'modas' alentejanas está em serem um canto misteriosamente afectivo,
apaixonado, tendo algo de religioso e místico, como se desprende dos acordes e melodias. .
A dolência e o vagaroso do canto vem-lhe do mundo ambiente - paisagem extensa, largos
horizontes, influência climática.. etc.. em que vive o alentejano. Da liturgia recebeu a forma
indefinida e simbólica, o que lhe dá carácter hierático. A tristeza e melancolia, de sentido vago
que estes cantos traduzem e deixam transparecer, está na etnopsicologia do alentejano.
Na verdade, o canto alentejano é expressivamente belo e, penetrando fundo na alma, cria-lhe
suavidade e doçura.»
MANUEL JOAQUIM DELGADO, Subsídio para o cancioneiro popular do Baixo Alentejo, vol. 11, Lisboa, Ed. Álvaro Pinto, 1955, pp. 8-9.
293 Momentos – J Ranita d Nazaré
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 1
1ª Moda – O Meu Anel:
Eu perdi o eu anel
Meu anel ‘stá perdido
Eu perdi o meu anel
‘Stava falando contigo.
‘Stava falando contigo
Contig’ estava faland(o)
E eu perdi o eu anel
Meia noite estava dando.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 2
Moda 2
Guadiana tens saudades
Das canoas e vapores
As tuas águas só servem
Pra as lanchas dos pescadores.
Pra as lanchas dos pescadores
Guadiana tem saudades
Guadiana tem saudades
Das canoas e vapores.
Mér’la velha cidade
De serranias cercada
Tens o espelho o Guadiana
Fostes tu a namorada.
As tuas velhas muralhas
Recordam a tu’ idade
De serranias cercada
Mér’la velha cidade.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 3
Moda 3
Algum di’ eu era
Agora já não
Da tua roseira
E o melhor botão.
O melhor botão
Algum di’ eu era
Algum di’ eu era
Agora já não.
As cobrinhas d’água
São nossas comadres
Se por lá passares
Dá-lhe saudades.
Dá-lhe saudades
Saudades minhas
Se por lá passares
Ao pé das cobri(nhas).
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 4
Moda 4
Ande lá por aond’ andar
Nada vejo de mais belo
Do que o nosso Guadiana
A mesquita e o castelo.
A mesquita e o castelo
Ande lá por aond’ andar
Ande lá por aond’ andar
Nada vejo de mais belo.
Ó Mértola do Guadiana
Por D. Sancho conquistada
Foi o berço que a embalou
Os filhos da terra amada.
Foste sim mas hoje és vila
És uma terra raiana
Por d. Sancho conquistada
Ó Mértola do Guadiana.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 5
Moda 5
Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo meu amor
Quem não tem mãe não tem nada.
Quem não tem mãe não tem nada
Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha mãe meu amor
Ó minha mãe minha amada.
Nossa Senhora das Neves
És a nossa Padroeira
Tens uma casa velhinha meu amor
Serás nossa a vid’ inteira.
Serás nossa a vid’ inteira
Tão velhinha como deves
És a nossa padroeira meu amor
Nossa Senhora das Neves.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 6
Moda 6
Ó minha mãe minha mãe
E ó minha mãe minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe não tem na(da).
Quem não tem mãe não tem na(da)
E ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha ama(da).
Passarinho prisioneiro
Diz-me lá quem te prendeu
Pela minha liberdade
Eu cantando peço a Deus.
Eu cantando peço a Deus
Que livre do cativeiro
Diz-me lá quem te prendeu
Passarinho prisioneiro.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 7
Moda 7
Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo
E ó meu lind’ amor
Quem não tem mãe não tem nada.
Quem não tem mãe não tem nada
Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe minha mãe
E ó meu lind’ amor
Ó minha mãe minha ama(da).
Não quero que vás à monda
Nem à ribeira lavar
Quero que fiques em casa
E ó meu lind’ amor
Para à noite namorar.
Para à noite namorar
Hás-de ser minha madrinha
Não quero que vás à monda
E ó meu lind’ amor
Nem à ribeira sozi(nha).
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 8
Moda 8
Anda lá para diante
Que eu atrás de ti não vou
Não me quedo o coração
Amar a quem me deixou.
Maria pega na carta
Toma sentido ó filha
Vai levála e ò correio
Que lhe ponh’ uma ‘stampilha.
‘Stampilh’ uma ‘stampilha
A paixão nasce de o peito
E uma paixão rigorosa
Todos nós ‘stamos sujeitos.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 9
Moda 9
Duas noites há no ano
Que me alegr’ o coração
É e a noite de Natal
E a noite de S. João.
E a noite de S. João
Duas noites há no ano
Duas noites há no ano
Que me alegr’ o coração.
Ao romper da bela aurora
O campo é um jardim
Cantam lindos passarinhos
Na rama do alecrim.
Na rama do alecrim
Ouvi eu há meia hora
E os passarinhos dizerem
Já lá em rompendo a aurora.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 10
Moda 10
Vou-me embora vou-me embora
Não me vou embora não
Meu lírio roxo
Não me vou embora mão.
Antes que eu memvá embora
Cá fica meu coração
Me lírio roxo
Cá fica meu coração.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 11
Os Reis
Esta cas’ é gente nobre
Se ‘scutarem eu direi
Ao romper do Oriente
São chegados os três Reis.
Lá da terr’ estão chegando
Lá das ilhas de Belém
Vêm visitar Deus-Menino
Que a Nossa Senhora tem.
Nossa Senhora nos disse
Filho meu que te farei
Não tenho cama nem berço
E em meus braços deitarei.
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ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 12
As Janeiras
Esta noit’ é de Janeiras
É de grande mer’cimento
Por ser a noit’ a primeira
É que Deus passou tormento.
Os tormentos que passou
Eu lhes digo na verda(de)
O seu sangue derramou
Pra salvar a cristandade.
Ó raminho dai raminho
De o raminho de salsa crua
O raminho de salsa crua
Lá ao pé da sua cama
Nasce o sol e põe-se a çua
Nasce o sol e põe-se a lua.
Daqui donde eu ‘stou bem vejo
E um canivet’ a bailar
Um canivet’ a bailar
Para cortar a choriça
Que a senhora me há-de dar
Que a senhora me há-de dar.
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OS GRUPOS CORAIS
GRUPO CORAL «GUADIANA»DE MÉRTOLA
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GRUPO CORAL DA MINA DE SÃO DOMINGOS – VER NOMES E FOTO
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GRUPO CORAL DOS AMIGOS DA MINA DE SÃO DOMINGOS EM SACAVÉM
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4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...
ALGUMAS PEDRAS QUE FALAM... talvez um pouco mais que OUTRAS...
Fotos recolhidas in CD PORTFOLIO – MÉRTOLA VILA MUSEU -
Fig 1 - ESTA TORRE MANDOU FAZER DOM JOÃO FERNANDES PRIMEIRO MESTRE QUE HOUVE EM PORTUGAL ERA DE 1330 0U SEJA 1292
Fig. 2 - Em destaque o símbolo dos Templários e no cruzeiro a palavra "OBLATVS" part. de offero - apresentar - expor - oferecer...
Incricção em redor da base da Cruz: «OBLATVS EST QUIA IPSE VOLUIT ...»
Vide Antifona da Feria V in Coena Domini
- (in LIBER USUALIS MISSAE ET OFFICII PRO DOMINICIS ET FESTIS CUM CANTU GREGORIANO EX EDITIONE VATICANA... Typis
Societatis S. Joannis Evangelistae - Desclée & Socii - S. Sedis Apostolicae et Sacrorum Rituum Congregationis Typographi - Parisiis, Tornaci, Romae - 1950 - p. 651)
«Oblatus est, quia ipse voluit, et peccata nostra ipse portavit.» - «Foi oferecido, porque Ele próprio o quis, e Ele carregou com os nossos pecados.»
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Fig. 3 - «As suas cinco naves são cobertas por um belo reticulado de abóbadas»
Fig. 4 - «Dos poucos elementos da Antiga Mesquita restam dois capitéis reutilizados na reconstrução do século
XVI»
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Fig. 5 - Porta da Igreja que segue o modelo do Renascimento Italiano
Fig. 6 - «Esta peça excepcional, fabricada no século XI, na antiga Tunísia, mostra, em traços
rápidos, uma cena de caça, em que um corso é atacado por um galgo e um falcão»
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Fig 7 - «Os motivos decorativos animais ou vegetais passam a geométricos ou epigráficos.»
Fig. 8 - Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas:
«ANTÓNIA ...
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Fig. 9 - FESTELUS...
Fig. 10 Amanda...
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Fig 11 - SÃO HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO
CORO DA IGREJA
Fig. 14 - «Lápida com uma escrita, ainda hoje por decifrar, gravada em caracteres greco-púnicos.»
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ÍNDICE
A Tradição Oral na Identidade de um Povo ..........................................................................................................2
Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO ORAL na Identidade de um Povo: ................................ 5
ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS ........................................................................................ 6
0.
– INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 7
1.
FALAM OS MESTRES ......................................................................................................................... 9
1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de Colonização... ...........................................................16
2. - Mértola – os Nomes ...............................................................................................................................20
2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME.............................................................................20
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina ..............................................................................20
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina ..............................................................................21
2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... .......................................................22
2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... ........................................................24
2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... ................................26
2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... ..............................................................................27
PEIXES ...........................................................................................................................................28
AVES...............................................................................................................................................30
Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto sobre as AVES..................................................31
2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... ..............................................................32
Saudações, formas de tratamento... ..............................................................................................................32
3. – Outras Formas de Expressão.................................................................................................................36
3.1 – LENDA/s.............................................................................................................................................37
3.1.1 – Mitologia Greco-Latina....................................................................................................................42
3.2 – CONTO/s ............................................................................................................................................44
3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem:- Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... ..47
3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... .......................................................................50
3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS .............................................................................................................55
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... ......................................................................58
Conclusão ...................................................................................................................................................61
BIBLIOGRAFIA ..........................................................................................................................................62
BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso Brasileira de Cultura – in Mértola: ........................................62
BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos da Tradição Oral – Literatura Popular e Informação
complementar, como alguns dados sobre a MITOLOGIA GRECO LATINA: ..........................................................64
BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas e Outras Publicações Periódicas .........................................66
BIBLIOGRAFIA - 4. Artigos do Professor in Vilas e Cidades
68
MULTIMEDIA: ....................................................................................................................................................68
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ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003
ANEXOS - COLECTÂNEA DE TEXTOS
Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS ANEXOS de A Tradição Oral na Identidade de um Povo ........................ 69
PLANO DA COLECTÂNEA DE TEXTOS & RECOLHAS – ANEXOS Esquema paralelo ao da apresentação do
trabalho..........................................................................................................................................................70
ANX. 1. – FALAM OS MESTRES – .................................................................................................................71
ANX. 1.1 – Mértola no Espaço – ALENTEJO com marcas de Colonização... ...................................................78
ANX. 2. - Mértola – a NOMINALIA ou a festa dos Nomes ...............................................................................81
ANX. 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME.......................................................................82
ANX. 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina ......................................................................86
ANX. 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... .................................................88
Mértola tem nove freguesias – os LUGARES E RUAS...: .................................................................................90
ANX. 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... ..................................................97
NOMINÁLIA – APELIDOS – uma AMOSTRA dos mais repetidos e alguns raros .............................................98
ANX 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... ....................................................................... 103
ANX. 3. – Outras Formas de Expressão ........................................................................................................ 117
ANX. 3.1 – LENDA/s..................................................................................................................................... 118
LENDAS 3.1 - 1 – SERPÍNEA e MIRTILIS .......................................................................................................... 118
ANEXO 3.1 – 2 - LENDA – A LENDA DE SERPÍNEA ......................................................................................... 120
ANEXO 3.1 – 3 – SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA ................................................................................ 122
ANEXO 3.1 – 4 – SERPA EN/CANTADA EM LENDAS ....................................................................................... 131
ANEXO 3.1 – 5 – A LENDA DE MYRTILIS em honra da Deusa MIRTO que o teve de Mercúrio .......................... 132
ANEXO 3.1 – 6 - LENDA – A TESOURINHA DA MOURA .................................................................................. 138
ANX. 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina – LENDA/s ......................................................................................... 140
MÉRTOLA – Alguns dados sobre MITOLOGIA GRECOROMANA ...................................................................... 141
ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 165
CONTO 1 – A COMADRE MORTE..................................................................................................................... 165
ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 167
CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA............................................................................................... 167
ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 168
CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR....................................................................................... 168
ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 173
CONTO 4 – BOA RESPOSTA ............................................................................................................................. 173
ANX. 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... .......................... 175
ANEDOTAS – Vide A. Machado Guerreiro e AlentejANEDOTAS in www.joraga.net ........................................... 175
ANX. 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... ............................................................... 178
ANX. 3.4 – 1 - QUADRAS & CANTIGAS in Pereira – Cantigas e Quadras – o que podem exprimir. ................... 178
ANX. 3.4 – 2 - QUADRAS & CANTIGAS in Delgado - QUADRAS...................................................................... 179
ANX. 3.4 – 3 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – QUADRAS – volume I ................................................ 183
ANX. 3.4 – 4 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – QUADRAS – volume II ............................................... 185
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ANX. 3.4 – 5 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – CANTIGAS – volume II .............................................. 187
ANX. 3.4 – 6 - QUADRAS & CANTIGAS in Delgado - JANEIRAS ...................................................................... 190
ANX. 3.4 – 7 - ORAÇÃO ..................................................................................................................................... 191
ANX. 3.4 – 8 – ORAÇÕES:Ver as referidas no RITUAL DO PÃO - ANX 2.6:
192
ANX. 3.4 – 9 - ORAÇÃO DAS ALMAS in J. Leite de Vasconcellos –Orações in ROMANCEIRO ......................... 192
ANX. 3.4 – 10 A – DÉCIMAS in J. LEITE V. – MINEIRO TRAJA BEM ............................................................... 193
ANX. 3.4 – 10 B – DÉCIMAS in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - I........................................ 194
ANX. 3.4 – 10 C – DÉCIMAS in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - II ...................................... 195
ANX. 3.4 – 10 D.1 – DÉCIMAS de Manuel Guerreiro Martins (Mina de S. Domingos) ........................................ 196
ANX. 3.4 – 10 D.2 – DÉCIMAS de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da Serra) .............................................. 197
ANX. 3.4 – 11 A – RIMANCE in Delgado – LAURA LINDA................................................................................ 198
ANX. 3.4 – 11 B – RIMANCE in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA ............................................................... 199
ANX. 3.4 – 12 – OS ÚLTIMOS SÃO OS PRIMEIROS .......................................................................................... 200
ANX. 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS MODAS ...................................................................................... 201
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – Teoria Lopes Graça sobre a canção Alentejana:.............................................. 202
ANX. 3.5– MODAS – CANTE – Teoria In MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS: .................... 203
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 1 1ª Moda – O Meu Anel: ................................................................................ 204
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 2 Moda 2 ......................................................................................................... 205
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 3 Moda 3 ......................................................................................................... 206
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 4 Moda 4 ......................................................................................................... 207
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 5 Moda 5 ......................................................................................................... 208
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 6 Moda 6 ......................................................................................................... 209
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 7 Moda 7 ......................................................................................................... 210
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 8 Moda 8 ......................................................................................................... 211
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 9 Moda 9 ......................................................................................................... 212
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 10 Moda 10...................................................................................................... 213
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 11 Os Reis ....................................................................................................... 214
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 12 As Janeiras ................................................................................................. 215
OS GRUPOS CORAIS .................................................................................................................................. 216
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... ............................................................................. 219
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Placa de estrada, na Feira de Castro Verde a indicar a ENCRUZILHADA de gentes e produtos...
Mértola o «esporão rochoso» que se ergue «entre-ambas-as-águas» e pode evocar NOMES e
Figuras da MITOLOGIA greco-romana...
FIM
Da
Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS
ANEXOS de
A Tradição Oral na Identidade de um Povo
Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58
ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget – Almada
Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico
Professor: Dr. Francisco Jacinto
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