ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget Almada Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico Professor: Dr. Francisco Jacinto Tema: MÉRTOLA A TRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE DE UM POVO Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58 Corroios Março de 2003 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget Almada Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico Professor: Dr. Francisco Jacinto Tema: MÉRTOLA A Tradição Oral na Identidade de um Povo Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58 Mértola – “um esporão rochoso” que se ergue entre-ambas-as-águas “aberto aos mares do Sul” ou O Penedo húmido (em que se transformou NÍOBE) donde correm, constantemente, dois rios de lágrimas, para o grande Mar... Março de 2003 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 2 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 FICHA TÉCNICA Título A Tradição Oral na Identidade de um Povo – Área de Estudo - Mértola Autora Maria de Fátima da Vinha Borges – Aluna nº 58 Trabalho no âmbito do Curso: ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Qualificação Para o Exercício de Jean Piaget – Almada – Março de 2003 Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural - Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico – leccionada pelo Professor: Dr. Francisco Jacinto PENSAMENTO «Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 1 Miguel Torga: 1 TORGA, Miguel (1986). “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed. (pp. 27 – 44), Coimbra: Gráfica de Coimbra. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 3 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Índice breve – relação entre os TEMAS abordados e as RECOLHAS em ANEXO Índice do desenvolvimento do tema A Tradição Oral na Identidade de um Povo 2 Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO ORAL na Identidade de um Povo: 5 ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS 6 0. – INTRODUÇÃO 7 1. FALAM OS MESTRES 9 1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de Colonização...16 2. - Mértola – os Nomes 20 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME 20 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia grecolatina 20 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia grecolatina 21 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares.22 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros. 24 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... 26 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... 27 PEIXES 28 AVES 30 Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto sobre as AVES 31 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS.. 32 Saudações, formas de tratamento... 32 3. – Outras Formas de Expressão 36 3.1 – LENDA/s 37 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina 42 3.2 – CONTO/s 44 3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem:Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... 47 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações..50 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS 55 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras 58 Conclusão 61 BIBLIOGRAFIA 62 BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso Brasileira de Cultura – in Mértola: 62 BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos da Tradição Oral – Literatura Popular e Informação complementar, como alguns dados sobre a MITOLOGIA GRECO LATINA: 64 BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas e Outras Publicações Periódicas 66 BIBLIOGRAFIA - 4. Artigos do Professor in Vilas e Cidadades 68 MULTIMEDIA: 68 Índice dos ANEXOS – Colectânea de textos 71 78 81 82 86 86 88 97 98 104 105 107 109 115 115 119 120 141 166 176 179 202 220 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 4 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO ORAL na Identidade de um Povo: - 0 - Introdução - PLANO DESENVOLVIDO a partir do MATERIAL que foi possível recolher e organizar: - 1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o PATRIMÓNIO. - 1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização... - 2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES: - 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e - 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina - 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... - 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... - 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... - 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... - 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: Comidas - Saudações, formas de tratamento... - 3. – Outras Formas de Expressão - 3.1 – LENDA/s - 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO... - 3.2 – CONTO/s - 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... - 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... - 3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS - 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... Conclusão - Bibliografia – 1. citada na Verbo e C. Arq. M – 2. Fontes das Recolhas Lit Pop. e Mitos – 3. Artigos em diversas Publicações e 4. Artigos do Dr. Francisco Jacinto, Professor da Cadeira... 4. MULTIMÉDIA. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 5 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS para desenvolvimento de cada item do TEMA proposto... e portanto com o ESQUEMA em SINTONIA ou CONTRAPONTO com os diversos CAPÍTULOS... - 1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o PATRIMÓNIO. - 1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização... - 2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES: - 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e - 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina - 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... - 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... - 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... - 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... - 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: Comidas - Saudações, formas de tratamento... - 3. – Outras Formas de Expressão - 3.1 – LENDA/s - 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO... - 3.2 – CONTO/s - 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... - 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... - 3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS - 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 6 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 0. – INTRODUÇÃO Ser alentejana será sempre motivo de orgulho. Continuo a sonhar em voltar para o Alentejo pois só aí me sinto em “casa”. A forma de estar da minha gente, o nosso modo de falar são realmente o que me fascina. Em MÉRTOLA vivi um ano, sentei-me à mesa com as gentes do lugar e fui acolhida como filha da terra. Fazer um trabalho sobre Mértola, para mim só faz realmente sentido se poder partilhar estes encantos que passam despercebidos aos que por lá passam mas servem de motivo de anedotas para muitos que não sabem lêr o que nós dizemos. Pretendo com este trabalho fazer a PROPOSTA – sugestão da criação de um CDI (Centro de Documentação Investigação e Divulgação)... Mértola tem muitos museus mas ainda não existe um espaço que dê voz às gentes do lugar, onde os mais velhos divulguem junto dos mais novos e ao “vivo” as suas tradições, as suas lendas enfim o testemunho vivo da nossa forma de falar e de nos expressarmos. Em relação a este trabalho considero-o um trabalho rico especialmente pela trabalhosa e inesperada RECOLHA de diversificadas manifestações da TRADIÇÃO ORAL – LITERATURA POPULAR que vai em ANEXO e pode parecer desproporcionada em relação ao trabalho... e por isso a apresento como COLECTÂNEA DE TEXTOS, que foi possível recolher, como base e/ou contributo para um trabalho mais desenvolvido a realizar por quem seja e esteja mais habilitado do que eu.... O trabalho em si, vai consistir na transcrição de um ou outro exemplo de cada FORMA de EXPRESSÃO, tentando ver em cada uma as manifestações da Identidade duma região – Mértola... Inserida no Alentejo e vizinha e fronteira e ligada pelo rio ao Algarve... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 7 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Os exemplares recolhidos, que são necessariamente limitados, deixam o campo aberto para futuras recolhas e fica como desafio a outros mais competentes e mais ligados ao ambiente que possam desenvolver este trabalho... Julgo que pode ser uma maneira “fabulosa” de envolver cada vez mais gente da população no projecto local que já leva duas décadas de iniciativas notáveis... Corroios, Fevereiro de 2003 Maria de Fátima da Vinha Borges FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 8 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 1. FALAM OS MESTRES Da Importância dos NOMES e de conhecer a Identidade de um Povo... O que caracteriza a Identidade de um Povo na Literatura (Oral) Popular... Um pouco de Teoria como referência... de J. Leite a Viegas Guerreiro, de Zaluar Nunes, a Francisco Jacinto... como fundamentação teórica para justificar a importância ou a falta de importância que é dada à tradição oral na identidade de um povo. Este trabalho talvez se pudesse chamar – NOMINALIA – uma palavra latina, usada no plural, que nos dicionários de Latim significa, simplesmente, «Dia solene em que se punha o NOME a uma criança.» mas que evoca os dias de festa para celebrar os NOMES, como as conhecidas BACCHANALIA – as festas em honra de Baco... a princípio só destinadas às Bacantes, mas que, depois de abertas a homens se transformaram em “bacanais” de tal maneira que tiveram de ser interditas pelo Senado em 186 a. C.. Definição da Gramática do Português Contemporâneo: - A LÍNGUA... A FALA... «Expressão da consciência de uma colectividade, a LÍNGUA é o meio por que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age. Utilização social da faculdade da linguagem, criação da sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à do organismo social que a criou.»2 Epicteto citado por Mesquitela Lima: «O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.» Epicteto – Daí a importância de chamar as “coisas” ou os “bois” pelos nomes e de sabermos quem e como foi dado um determinado NOME e o que significa. Se conseguirmos saber o NOME das “coisas”, estamos a entrar no mundo da Cultura Humana «Aquela que estuda 2 CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley (1985). - Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa: Ed. João Sá da Costa. 9 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 a CULTURA integrada nas relações, nas constelações de relações que os homens tecem entre si.», como nos diz Mesquitela Lima. 3 Fernão Lopes: In PRÓLOGO da PRIMEIRA PARTE DA «CRÓNICA DE EL-REI D. JOÃO I DE BOA MEMÓRIA»: Para justificar o empenho que vai pôr na sua maneira de contar a História tentando relatar tudo com objectividade, Fernão Lopes, neste Prólogo, explica porque é que os outros historiadores erravam tão facilmente: é que a sua maneira de pensar estava de tal maneira ligada à Cultura, à Terra, aos Parentes, aos Senhores... que erravam quase sem querer!!! «Grande licença deu a afeição a muitos que tiveram cárrego de ordenar histórias, mormente dos senhores em cuja mercê e terra viviam e hu foram nados seus antigos avós, sendo-lhe muito favoráveis no recontamento de seus feitos.» Ver citação mais completa em ANEXOS 1. Gil Vicente: Toda a obra do genial Mestre do Teatro em Portugal assenta num conhecimento profundo da cultura popular, adágios, maneiras de ser e pensar, usos e costumes do povo. Miguel Torga: «Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 4 Cláudio Torres: «Proteger as tradições artesanais é também impedir que a nossa escola continue a insultar aqueles a quem chama “analfabetos” corrigindo o seu falar, o seu gosto e a sua cultura para impor o modelo dominante de Lisboa – Cascais.» Cláudio Torres5. Francisco Jacinto6: 3 LIMA, Mesquitela (1983).- Antropologia do Simbólico (ou o Simbólico da Antropologia), Lisboa: Editorial Presença. 4 TORGA, Miguel (1986). “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed. (pp. 27 – 44), Coimbra: Gráfica de Coimbra. 5 TORRES, Cláudio et allii, Mantas Tradicionais do Baixo Alentejo, (Ângela Luzia – Isabel Magalhães) –, Caderno N.1 - Campo Arqueológico de Mértola – Edição da Câmara Municipal de Mértola, Abril de 1984. 6 JACINTO, Francisco – “Património Cultura Memória Social – O passado preservado no presente” in «VILAS E CIDADES» Ano IV - Mensal N.º 40 – Fevereiro / 2000. 10 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Cita Carlos Antero Ferreira: «A ideia de defesa e salvaguarda do património cultural radica na convicção, cada vez mais alargada e generalizada, de que a manutenção das expressões do passado histórico é um dos mais relevantes factores de continuidade na construção da memória colectiva dos povos, concorrendo para a definição e a fixação da identidade social e cultural.» Acrescenta depois a ideia de património imaterial e cultura: «Assim sendo, a noção de património está – ainda que mais “vagamente” – ligada à ideia de cultura imaterial (crenças, lendas, tradições, contos e, dum modo geral, a tudo o que é transmitido por via oral ou integra um conjunto de valores vividos e assumidos por uma sociedade ou por grupos dela constituintes.» Será importante ver neste artigo a visão do autor, como as alusões ao antropólogo Jorge Dias, Helder Pacheco; a evocação de Heródoto «... e a forma como ele entendia a “história”... um património não só digno de ser preservado como transmitido aos vindouros.»; fala ainda de Nuno Santos Pinheiro e de José Mattoso para nos dizer o que se deve entender por património e da necessidade de «... o concurso, em pé de igualdade, da interdisciplinaridade das ciências.» Ver também José Rabaça Gaspar: (Citação mais completa a consultar in ANEXO 1.) In IV Jornadas da ESE/Beja, 2 de Junho de 1995 - A «LITERATURA (CULTURA) TRADICIONAL) e o Desenvolvimento e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA /DESENVOLVIMENTO» in Revista da Escola superior de Educação de Beja – LER EDUCAÇÃO – N.º 17 7 18 – Março Dezembro de 1995 – pp. 167 - 220 A Literatura (Cultura) Tradicional é, terá de ser, a base, raiz e condição de um desejável, correcto e eficiente DESENVOLVIMENTO. DELGADO: Manuel Joaquim Delgado in “A ETNOGRAFIA E FOLCLORE - BAIXO ALENTEJO”, 1ª ed. 1957/58, como separata da Revista “Ocidente”, 2ª Ed. da Assembleia distrital de Beja, 1985, cito apenas, da p.17: “Necessidade da criação de uma cadeira de folclore nas Escolas do Magistério Primário, dado o valor Cultural e formativo que esse ramo do saber humano pode e deve desempenhar nas Escolas Primárias.” J. L. Vasconcellos: FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 11 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 De José Leite de Vasconcelos, in “ETNOGRAFIA PORTUGUESA - Tentame de Sistematização” - vol. I, p. 328, 343, ed. da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1980 (em 1985 já estava publicado o VII vol.), algumas citações e um apanhado do que parece mais gritante e era urgente fazer na 2ª metade do séc. XIX e na 1ª do século XX. (07/07/1859 17/05/1941) (Em 41, com 82 anos ainda escreve o prefácio do III vol. do Cancioneiro). O essencial do que se vai transcrever, já o mestre o tinha escrito 1882 e 1919. (Perante estas afirmações de um Mestre consagrado, não será de admirar a importância que não se tem dado a estes temas?...) «A necessidade / imperativo de estudar as manifestações de um Povo nasce da “máxima antiga: , isto é, nosce te ipsum” - conhece-te a ti próprio. Se isto é importante como base para todo o desenvolvimento individual, “maior aplicação tem” no que diz respeito “a um Povo, olhando no seu conjunto: apreciar como ele interpreta a Natureza que o rodeia, qual a vivacidade ou torpor do seu engenho, a feição e grau de vitalidade da sua literatura, arte e indústria tradicionais, as suas aptidões, génio, tendências religiosas, manifestações psíquicas expontâneas, como julga os povos que o convizinham, ou como se considera a si próprio com relação aos outros; o que são para ele a família e a sociedade; como é que ama, e como é que odeia.” ... Tudo isto é fundamental para quem tenha de, verdadeiramente, penetrar no espírito das sociedades. através do vocabulário usual, relatos do quotidiano, como reflexo da vida normal, podem conhecer-se as pessoas... Aí têm de ir a Etnografia e a Filologia de mãos dadas.» Diz ainda o Mestre: «Empenhemo-nos por isso na investigação das tradições populares; façamos reviver ou conservemos as que forem úteis; rejeitemos ou substituamos as que forem más; e em todo o caso, estudemos tudo,...». ZALUAR NUNES: Para nos atrevermos a desenvolver qualquer abordagem à LITERATURA POPULAR torna-se indispensável conhecer os estudos daqueles que seguiram o grande MESTRE J. L. Vasconcellos: Ver – Maria Arminda Zaluar Nunes – O CANCIONEIRO POPULAR EM PORTUGAL – Instituto de Cultura Portuguesa – M. E. C. – Secretaria de Estado da Cultura – Julho de 1978; VIEGAS GUERREIRO. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 12 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Manuel Viegas Guerreiro – PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA Instituto de Cultura Portuguesa – M. E. C. – Secretaria de Estado da Cultura – Março de 1983; para se não falar do ABC das REGRAS elementares e do respeito devido às populações a contactar, de qualquer um que se atreva a meter nestas andanças que é: de Manuel Viegas Guerreiro – GUIA DE RECOLHA DE LITERATURA POPULAR, Lisboa, Ministério da Educação e investigação Científica, 1976. – é neste ponto e recomendações do Mestre que, como se explica à frente, este trabalho peca, por não se estar integrado, nem relacionado com a população de Mértola e com quem está a desenvolver iniciativas notáveis para o seu desenvolvimento. Entretanto, apoiado-se no pensamento destas autoridades na matéria e outras citadas em ANEXO 1, este tema: A TRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE DE UM POVO pretende ser uma sugestão para o desenvolvimento de um trabalho que complemente e de certa maneira dê sentido a TODO o notável e profundo trabalho de escavações, investigação e divulgação que tem sido notória e notavelmente desenvolvido desde 1979 pelo Campo Arqueológico de Mértola. Não pretende ser uma descoberta genial!!! Estamos convencidos que os mentores e obreiros desse enorme projecto têm constantemente em mente isto mesmo que aqui propomos e de certa maneira o vão desenvolvendo e apresentando como se pode verificar pela imensa bibliografia... Ao ser-nos proposta, nesta Cadeira – Gestão dos Espaços Culturais e Património Histórico, do Professor Dr. Francisco Jacinto, um trabalho sobre Mértola, e constatando o que se tem feito e dito, a primeira reacção foi: - porquê mais um estudo sobre uma zona que já tem tantos especialistas e trabalho realizado; porque não dar atenção a outras zonas mais carenciadas?! Mas, por fim, ao olhar para o conjunto bem estruturado de Núcleos e Actividades já existentes, pareceu-nos que este, sobre a tradição oral, seria um contributo com algum préstimo. UM RISCO ASSUMIDO: Corremos um sério risco e estamos perfeitamente conscientes dele. Contrariando todas as indicações e lições de vários Mestres, em especial Viegas Guerreiro, no seu «Guia de Recolhas de Literatura Popular», este é precisamente o TEMA que não deve, nem poderia ser levado a cabo por pessoas que não estejam fortemente integradas na região, no local, nos seus envolventes e por conseguinte, se possível, com raízes ou ligações significativas a Mértola e sua Região. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 13 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Porque o fazemos apesar disso? Porque, para nós está a ser um desafio interessante e desafiador e porque nos pareceu que pode ser um contributo válido a ser continuado e desenvolvido pelas Pessoas ou Entidades adequadas e competentes. Sem grandes ligações directas com Mértola, a partir das primeiras investigações que nos pareceram um “deserto” sobre Literatura Popular relacionada com Mértola, a partir de certa altura e com a contribuição de muitos colegas e amigos, pareceu-nos, já no final do ano 2002, ter “material” rico em diversidade e quantidade e até certa qualidade, para nos permitir um CONTRIBUTO que pode ser útil. É esta, tão só, a nossa pretensão. Um trabalho que nos permitiu uma difícil e proveitosa investigação... Um trabalho que julgamos ÚTIL e pode ser APROVEITADO pelos seus legítimos, indiscutíveis e inalienáveis herdeiros e proprietários que são os Habitantes de Mértola e as Pessoas que investiram e investem o seu saber, labor e vida num Projecto cujas dimensões não sabemos nem temos a pretensão de avaliar, nem muito menos ajuizar. Esperamos, um dia, poder partilhar convosco, um SERÃO de CONVÍVIO no CDI – ou o equivalente que vier a ser criado ou que já estará a funcionar... – Os exemplos apresentados para caracterizar a Identidade de um Povo na Literatura Popular – apresentados por Manuel Viegas Guerreiro, nessa obra, foram: - O Conto -- A Anedota - - A Lenda - - O Romance - - As Décimas - - As Cantigas - - As Adivinhas - - Os Provérbios - - Os Ensalmos - - A Oração. À medida que fomos desenvolvendo o trabalho e fomos pesquisando e encontrando exemplos que pudessem ilustrar aquilo que nos propusemos no título: ATRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE CUTURAL DE UM POVO Pouco a pouco, foi-se-nos impondo uma organização diferente, de modo a que o texto a apresentar nesta cadeira: Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico Professor: Dr. Francisco Jacinto No Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural Ministrado na: FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 14 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget Almada aparecesse de uma maneira mais lógica e fluente de modo a chegar a uma conclusão, que, como que se impõe por si, e, segundo nos parece, dentro do espírito que norteia não só a disciplina ministrada pelo Professor Francisco Jacinto, como também o do curso em Animação Sociocultural. Daí a alteração do esquema inicial que apresentámos no PLANO DE TRABALHO e confirmámos na INTRODUÇÃO e agora passamos a explicar melhor para que todo o desenvolvimento tenha uma sequência mais compreensível. A proposta – sugestão da criação de um Centro de Convívio (CDI ou outro nome) que implicasse a participação activa da população com eventuais convidados “estramgeiros”, abrangendo os diversos níveis etários e onde os “velhos” teriam o seu lugar de “sábios” ou de guardiões dos saberes acumulados, e a FALA , a oralidade, como ALMA de um POVO, tivesse o papel principal, visto por mim, a esta distância, e como não mertolense, e como trabalho académico, creio que seria, mais uma maneira interessante de levar TODA A POPULAÇÃO a sentir-se envolvida no conjunto desse “fabuloso” projecto que, desde 1979, com o Campo Arqueológico de Mértola, tem desenvolvido uma notável série de realizações que pode pôr Mértola, de novo, na encruzilhada das vias do futuro. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 15 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de Colonização... Ver Delgado, Cláudio Torres, Mattoso (História) e Rabaça (Linguística) - “ O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.” – Epicteto ANEXO 3 – MARCAS DE COLONIZAÇÃO Delgado: In - Estudos Linguísticos – o Idioma Português – Manuel Joaquim Delgado – Editorial Império, L.da Lisboa 1968, p. 111 Sobre o nome ALENTEJO de marca colonialista e outros nomes... 1 Na citada obra (Religiões da Lusitânia, Cap. I - Época Lusitano-Romana, vol. III) de J. L. de Vasconcelos da pág. 138, diz: «Entre-Tejo-e-Guadiana ou Entre-Tejo-e-Odiana é designação geográfica usada pelos nossos antigos AA. e corresponde pouco mais ou menos à do Alentejo no sentido primitivo da expressão (=além-Tejo). Os antigos costumavam designar muito naturalmente as zonas geográficas pelos nomes dos rios». Ver, sobre o mesmo tema, NOTA 2, p. 104 – 2 Região Entre-Tejo-e-Guadiana. Idem p. 106 «Alguns termos que designam cargos, postos ou profissões, etc., que caíram em desuso mas que sobrevivem ainda em topónimos: Adaíl, Aguazil, alvazir ou alvazil, alcaide) almoxarife, alvanel, alvenel ou alvanéu, alfageme, almocadém, almotacé, etc. Na toponímia: Casas Novas do Adaíl, freg.a de Vila Nova de Milfontes. conc. de Odemira, Horta dos Alvazíis, na freg.a de Selmes, conc. de Vidigueira, Vale de Alcaide de Cima e Vale de Alcaide de Baixo, na freg.a de Quintos, conc. de Beja, Vale de Alcaide, na freg.a e conc. de Ourique, Almoxarifes, na freg.a e conc. de Barrancos, Barranco dos Alcaides, na freg.a de Corte do Pinto, conc. de Mértola.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 16 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Mattoso – ver Arquivo de Beja I jornadas: Ver - «ALENTEJO NÃO TEM SOMBRA SENÃO A QUE VEM NO CÉU» - José Mattoso, in Revista Arquivo de Beja, Actas das II Jornadas, ALENTEJO E OS OUTROS MUNDOS, vol.s VII e VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 –30. Começa assim: «Toda a gente sabe que uma das características mais salientes do Alentejo é o seu isolamento.» p. 15 Mais à frente ao tentar descrever a situação do Alentejo antes do século XIII: «As condições geográficas favoreciam portanto, estas estruturas de produção e de circulação...» Descreve depois as grandes vias de circulação... «...a importância do eixo económico do Guadiana desde a antiguidade até ao século XIII»... e «...a sua íntima ligação com o Mediterrâneo... e não com o Atlântico...» e... «Beja era um grande centro do GARB muçulmano... em relação... com outros mundos de que o Mediterrâneo era a grande encruzilhada.» «O que se passou para que Beja (o Alentejo - Mértola...) entre o século XIII e o século XX...» para, de um grande centro, passar a um dos níveis mais afastados deles (dos grandes circuitos internacionais)... As respostas são muitas e complexas... não se deve facilitar nem generalizar... Vale a pena ler todo o trabalho deste Mestre, muito cuidado e abordando as críticas violentas com uma delicadeza que é apanágio deste grande Histotiador e Pensador... mas, conseguimos ler que, afinal, as grandes vias de circulação, terrestres e fluviais, terão sido mais para levar e exportar as "riquezas" do Alentejo do que para contribuir para o seu progresso e desenvolvimento... e portanto com a marca “ferrete” de região “colonizada” explorada em proveito de outros... FIM DE CITAÇÃO. fica o apelo à leitura do Artigo completo que podemos ter interpretado mal!!! Ver em Anexo 1.1 (Não o artigo completo mas a chamada para ele.) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 17 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Rabaça Gaspar: Ver «INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / DESENVOLVIMENTO (IAC/D)» José Rabaça Gaspar, in Revista ARQUIVO DE BEJA, ACTAS DAS I JORNADAS - CULTURA E SOCIEDADE NO BAIXO ALENTEJO, vol. II / III, série III, Dezembro de 1996, pp. 237 - 248. 1 -«... Afinal, aquilo que o Mestre em História mostrava com tantos dados e pormenores... podia LER-SE, através de uma análise linguística, na própria palavra ALENTEJO... O determinante ALÉM, mostra que o sujeito está distante do "objecto". Enquanto o "EU" implica "AQUI" o "ALÉM" indica que foram estranhos que deram NOME ao ALÉM-TEJO... e como o nome indica relação ou apropriação de algo... parece que comparando com a História, este "dar NOME"... tem significado, exploração... colonização... isolamento... apropriação indevida do que pertence a um Povo e a uma Região... ALENTEJO tem a marca de um NOME imposto pelos “Senhores” - conquistadores que vieram do norte... e nem sempre foi assim.» Ver também - Rabaça Gaspar – in Actas I Congresso sobre o Alentejo – Out 1985. e a citação mais completa em ANEXOS, 1.1 Vale a pena repetir aqui Cláudio Torres – in Palavras Prévias de «MANTAS Tradicionais do Baixo Alentejo», já citado anteriormente em ponto 1 – Ver também Anexos 1. Mértola “integrada” no BAIXO ALENTEJO – no ALENTEJO e no PAÍS FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 18 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ALÉM – Tejo, como Além – Garbe e como Além – Mar... é possivelmente a região que ficou com uma marca mais profunda de NOME imposto por gente de fora... Todos podem dizer, correctamente: «Nós somos daqui - aqui... Os Alentejanos, dizem: Somos daqui - além!!!» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 19 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 2. - Mértola – os Nomes 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina Quando se fala de MÈRTOLA evocam-se, quase sempre, para simplificar, as TRÊS formas predominantes pela qual esta povoação ficou conhecida na história, evocando as épocas e os seus presumíveis fundadores e conquistadores: MYRTILIS – para evocar a possível fundação fenícia e ocupação romana da qual há numerosos vestígios... e portanto desde as origens (ca. De 1000 anos aC – à invasão árabe – 715?...) MĀRTULA – a marcar a ocupação árabe, desde 711 – Tarik desembarca em Gilbraltar e vence Rodrigo, o rei visigodo, em Guadalete e em 712 toma Leão e as Astúrias, enquanto Murça ocupa já a Galiza – de mais de 5 séculos... ate 1538. MÉRTOLA - 1238 – D. Sancho I – integrada no Reino de Portugal... - 1250 - foral por D. Afonso III – confirmado em 1287 por D. Dinis e reformado em 1512 por D. Manuel I - Entretanto pudemos observar, muitas outras formas de grafar o nome, a que talvez se deva dar alguma atenção – podendo ver um leque alargado em ANEXOS 2 – com informação recolhida em vários textos e tendo recorrida ainda, na WEB, a Carlos Leite Ribeiro – in cidadevirtual/mertola, em trabalhos de António Marques de Faria e muitas citações de Mantas. - Podemos também ver outros NOMES e PALAVRAS relacionadas com MÉRTOLA, como: MIRTILO – MIRTO – MURTA... ver em ANEXOS 2. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 20 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina «Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.» in Serpínia, A Princesa Feliz - In http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpi.htm e / ou ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), de João Cabral, Serpa 1971, pp. 165- 167 Embora partindo de uma Lenda, podemos presumir então que MÉRTOLA terá sido fundada pelos fenícios, que possivelmente já por aqui se dedicavam ao comércio.. Outras fontes apresentam-nos MÉRTOLA « MYRTILIS ou NOVA TIRO - nome dado, provavelmente, pelos Fenícios que aqui se homiziaram quando Alexandre Magno conquistou TIRO... (333-332 a. C.)» - ver in Alentejo virtual e outras fontes. Quem será então este personagem da mitologia greco-latina, MYRTILIS, que vai dar nome a esta cidade, ainda por cima, fundada pelos fenícios que fugiam aos romanos... e chamam-lhe MIRTILIS para ser NOVA TIRO que tinha sido conquistada por Alexandre!!? Que relação entre NOVA TIRO e MÉRTOLA? E porquê dar o nome de MIRTILIS em honra da Deusa MIRTO, uma Deusa que não encontrámos em nenhum elenco destas divindades, mas sabemos que Vénus / Afrodite tem o MIRTO como sua árvore sagrada... Mas o MIRTILIS que encontrámos, aparece como cocheiro do rei ENUMÃO ou ENUMAU, pai da princesa HIPODAMIA, que vai permitir que PÉLOPS, ganhe a corrida que o rei propunha aos pretendentes da filha, contra a sua parelha mágica... e acaba por ser assassinado por PÉLOPS?! Problemas levantados pelas brumas da história e reinventadas e efabuladas pelas lendas, aspectos que iremos desenvolver em 3.1 AS LENDAS, porque, apesar de LENDAS, talvez valha a pena dar-lhes alguma atenção, porque como diz «Ovídio, o poeta latino, que escreveu durante o reinado de Augusto. – Ovídeo é um autêntico compêndio de mitologia. ... “Não importa serem absurdos (os mitos); apresentar-vo-los-ei com tão belos artifícios que haveis de gostar”.» e possivelmente aprender alguma coisa... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 21 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... Para conhecermos uma determinada terra ou região, para além de tentarmos saber o NOME e o que possivelmente quer dizer, é, parece-nos, importante fazer um levantamento de toda uma toponímia, que, para além de servir de referência às pessoas que aí habitam, os nomes, em si, uns, possivelmente muito antigos, dos quais se terá perdido o significado e outros mais recentes, e por vezes demasiado oportunistas, têm com certeza muito a revelar das características desse povo que se revelou e continua a revelar através da linguagem... Deixamos aqui só uns breves apontamentos, remetendo o levantamento que foi feito para ANEXOS 2.2 – na COLECTÂNEA DE TEXTOS. O nome da 9 freguesias – o que significam? Quem os deu? De que época são?: Mértola - Concelho do Distrito e Diocese de Beja, comarca de M. - O Concelho (1279 km2) Tem nove freguesias: 1. Alcaria Ruiva (orago - Nossa Senhora da Conceição), 2. Corte do Pinto (Nossa Senhora da Conceição), 3. Espírito Santo (Espírito Santo), 4. Mértola (Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas), 5. Santana de Cambas (Sta. Ana), 6. São João dos Caldeireiros (S. João Baptista), 7. São Miguel do Pinheiro (S. Miguel), 8. São Pedro de Solis (S. Pedro Apóstolo), 9. São Sebastião dos Carros (S. Sebastião). Características gerais: Com uma população total residente de 9805 habitantes. (1991). Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro. Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite. Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e olaria. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 22 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no último fim-de-semana de Setembro. Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha, beijinhos de Mértola e pão alentejano. O que nos pode ensinar cada um destes elementos para tentarmos conhecer a identidade de uma região. Para além destes elementos, tentámos um levantamento dos principais lugares de cada freguesia, um trabalho que como já dissemos só será possível completar por alguém ou por grupos de trabalho que estejam bem inseridos no local e, por conseguinte, aqui deixamos, só, como pista de estudo a desenvolver. Freguesia Orago Alcaria Ruiva Nossa Senhora da Conceição Corte do Pinto Nossa Senhora da Conceição Espírito Santo Espírito Santo Mértola Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas Santana de Cambas Sta. Ana São João dos Caldeireiros S. João Baptista São Miguel do Pinheiro S. Miguel São Pedro de Solis S. Pedro Apóstolo São Sebastião dos S. Sebastião Carros Total Total de Exemplos escolhidos Nomes no levantamento 51 Amendoeira /várias Atafona Boisões 59 Alfadega Barranco dos Alcaides Chança Ilha 28 Álamo Bramafão Roncão (vários) 85 Altura dos Coitos Achada Cachopo 18 Picoitos Serralhas Moreanes 17 Alvares Martinhanes Tacões 30 Castanhos Espragosa Milhalvo 17 Bicada Giralheira Monte de Negas 12 Belo Boisões Papa Leite.../inho 317 História ou e significado Dominante nomes que diremos “típicos” Já com muitos nomes modernizados como a vila de Mértola Dominante “típicos”... Uma “saudável” mistura de momes “típicos” e “modernizados”...? Dominante “típicos”... Dominante “típicos”... Dominante “típicos”... Dominante “típicos”... Dominante “típicos”... Ficamos assim, só neste capítulo, com um levantamento de 317 nomes que poderão revelar muito, tanto da história, como das ocupações e características da região e revelam sem dúvida uma maneira de pensar e uma mentalidade... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 23 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... É um capítulo que, necessariamente, fica muito incompleto e se apresenta só como “amostra”. Esperávamos encontrar uma série de nomes que nos levassem à revelação da quantidade de povos e gentes que passaram por esta “encruzilhada”, mas nem a fonte a que recorremos, nem os conhecimentos que temos sobre o assunto nos permitem tirar conclusões... Este é um estudo que nos escapa e normalmente é apresentado como diversão em vez de tentar perceber como é que a evolução da mentalidade das Pessoas vai ficando registada nos NOMES... e falta um estudo a partir de um levantamento das ALCUNHAS, para perceber, até que ponto se impõem os NOMES ou MÁ NOMES aos APELIDOS ditos de REGISTO... para definir a mentalidade e evolução de um POVO... Além do NOME - PALMA - 113 - QUE SE DESTACA DE TODOS OS OUTROS e de haver muitos nomes que consideramos PRÓPRIOS como AFONSO... JOSÉ... JOÃO... aparecerem com APELIDOS DE FAMÍLIA... salientamos o APELIDO - LAMPREIA pela relação com um peixe que tem imagem de marca na região, ainda na actualidade, início do século XXI. NOMES MAIS REPETIDOS: Acima dos 50 - PALMA - COSTA - MARTINS - PEREIRA - SANTOS - SILVA Próximos dos 50 - GUERREIRO - RAMOS - RAPOSO - RODRIGUES - ROSA - TEIXEIRA Em jeito de brincadeira, como estes temas costumam ser apresentados, imaginemos uma sessão em que apresentamos uma REGIÃO onde há: - 12 ALHOS; - 1 ANSEITEIRO; - 8 BAIOAS; - 11 BARÕES; - 25 BENTOS; - 14 BRANCOS; - 17 CANDEIAS; - 1 CANGALHINHAS; - 1 CARANGUEJO; - 3 CARRASCOS; - 16 CAVACOS; - 8 COELHOS; - 11 CONDUTOS; - 17 CORREIA; - 61 COSTA; - 22 CRUZ; - 29 DIAS; - 38 FERNANBDES; - 47 GUERREIRO; - 14 HORTA; - 15 JESUS; - 10 LAMPREIA; 16 LOPES; - 86 MARTINS; - 10 MATIAS; - 37 MESTRE; - 113 PALMA; - 70 PEREIRA; - 10 PIRES; - 5 ROMANA; - 3 ROMÃO; - 12 RAMOS; - 42 RAPOSO; - 19 REIS; - 41 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 24 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 RODRIGUES; - 4 ROLHA; - 42 ROSA; - 7 RUAS; - 7 RUIVO; - 56 SANTOS; - 52 SILVA; 16 VALENTE; - 12 VARGAS; e - 1 VIRIATO - FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 25 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... ALCUNHAS – NOMES NÃO DE REGISTO mas pelo qual as pessoas se conhecem... Embora se verifique com bastante facilidade que muitos dos APELIDOS ou NOMES de FAMÍLIA derivaram possivelmente de antigas ALCUNHAS devido à profissão e outros factores que seria preciso estudar, fica ainda um MUNDO a desvendar para recolher, investigar e estudar o significado desta quase necessidade secular de atribuir outro nome às pessoas que não o de registo... Não sabemos o que se passa em Mértola... mas é importante saber... Como dissemos sobre o trabalho em geral, este capítulo, em especial, pela delicadeza e melindre que muitos nomes podem apresentar, não deve ser feito por quem não estiver integrado no meio, ou pelo menos, nunca deve aparecer como uma intromissão ou, muito menos, uma agressão... Trata-se de, como acontece com cada pessoa individualmente, querer ou não querer conhecer-se a si próprio, com as qualidades e defeitos que se têm, com os aspectos positivos e negativos que revelam o que somos. Como pista para este estudo, ver diversos trabalhos de Francisco Martins Ramos, de quem só consultámos: ALCUNHAS ALENTEJANAS – Estudo Etnográfico, Edição da Associação d Defesa dos Interesses de Monsaraz (ADIM), Monsaraz, Dezembro de 1990; mas temos conhecimento de, pelo menos, mais duas obras, tendo sabido já em 2003 de um TRATADO das ALCUNHAS Alentejanas, da autoria do Dr. Francisco Ramos – Carlos Alberto da Silva, Editora Colibri., 2003. Ver ANEXO 2.4 - correspondente em COLECTÂNEA FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 26 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... Neste Capítulo, fomos encontrar, no Parque Natural do Vale do Guadiana, pelo menos duas obras fundamentais, pelo que verificamos que já não será uma sugestão nossa que vai alertar para o estudo deste tema, nem era esse o nosso propósito. Trata-se de um trabalho notável. É preciso descobrir entretanto como é que este trabalho vai fazer parte do quotidiano das pessoas como afirmação da sua cultura. Todos nós temos assistido um pouco a um fenómeno estranho, que tem acontecido durante algumas décadas e caricaturado naquela anedota do ancinho: o filho sai de ao pé dos pais para ir estudar, e como já sabe muito, quando volta a casa e vai ao campo com o pai, já não sabe como se chama aquela alfaia com dentes para juntar a palha e as folhas, a não ser quando o pisa e leva com ele na cara. À medida que as pessoas “vão saindo” para saberem mais, aquilo que sabiam em crianças, quando corriam livres pelos campos atrás dos pássaros e dos animais, depois de alguns anos de estudo, já não sabem!?? Como se chama aquela árvore? Como se chama aquela flor? Como se chama aquela ave? NADA!!! Será que ficam ao menos a saber o nome científico? Dá-se uma total descaracterização cultural ou o que é que se passa? É importante tomar consciência que o Universo da Linguagem de tudo o que nos rodeia, constrói e define o nosso Universo Cultural – caracteriza o Universo Cultural de uma região. Não estamos a sugerir que as pessoas não devem estudar e saber mais. Estamos a dizer exactamente o contrário. O que não devem, é esquecer aquilo que antes aprenderam, nem rejeitá-lo, antes assumi-lo e desenvolvê-lo ou corrigi-lo, se for o caso. O nosso contributo neste capítulo é apreciar o trabalho realizado que fomos encontrar, como todo o restante das várias entidades de Mértola, e sugerir que se descubram os meios mais eficientes e até lúdicos para que estes conhecimentos não se percam e junto com os nomes dos livros, se continuem a saber os nomes que os antepassados da região nos legaram com o seu significante, significado e talvez com o seu simbolismo... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 27 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 PEIXES 1. PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Leonor Rogado (Texto), Carlos Carrapato (fotografia), Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2001 Com um Glossário no final que, segundo pensámos nos ia facilitar o trabalho, encontrando a lista dos PEIXES, com o seu nome científico e nome popular por que são conhecidos, mas que afinal contém, o que seria mais importante para os autores e organizadores, a lista das palavras que ofereceriam mais dificuldade aos possíveis leitores. Entretanto, basta recorrer ao índice para termos o levantamento do nome dos PEIXES, segundo as várias espécies e até menciona os secundários... Como aparece no ANEXO correspondente, além desta obra especificamente dedicada aos peixes pode ainda ser complementado com os dados fornecidos por mais duas obras: 1. AS TERRAS – AS SERRAS E OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola, Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a História Local 1 – Edição do Campo Arqueológico de Mértola, 1995. VER: Página 42 - peixe: PICOIS – BOGAS – PERDELHOS – EYROZES – CAGAÇOS BORDOLOS; Página 50 - BARBOS – EIRÓS – MUGES e alguas SOLHOS; Página 56 - PEXES LISSAS (SAVES – LAMPREYAS – SOLHOS) (as ribeiras enumeradas são: COBRES – TERGES – OUEYRAS – LAMPREYA e VASCAM); Página 73 - SOLHOS – SAFIOS – MUGES – SABOGAS – PICOENS; Página 81 – PICOIS; Página 94 – PARDELLAS. 2. COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara Municipal de Mértola, 1997. Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio: FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 28 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas... Ver ANEXO 2.5 – PEIXES FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 29 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 AVES 2. AVES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Ana Cristina Cardoso (texto) Carlos Carrapato (fotografia)- Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2000. Esta obra, além de um Glossário importante, tem ainda uma listagem das espécies citadas no texto como FLORA e MAMÍFEROS e uma TABELA com o nome científico e o nome vulgar, além de outras anotações importantes... AVES - as 170 espécies que se podem encontrar no PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA e estão agrupadas pelos principais habitates existentes dentro do Parque: Habitat rupícola – margens e leitos de cursos de água com afloramentos rochosos... Zonas húmidas - os pegos dos cursos de água na estação seca... Charcas – pequenos olhos de água... Com elevada biodiversidade... Matagal mediterrânico – em vales encaixados dos cursos de água... e vertente Norte de Alcaria Ruiva... com estrato arbustivo bastante diversificado Montados – com povoamento mais ou menos disperso de azinheira e sobreiro... Sub-coberto – Abaixo das árvores... variando conforme a cultura realizada... Matos – vastas áreas de charneca arbustiva resultado do abandono da exploração agrícola extensiva... Estepe cerealífera – campos de cultivo... Pousio – Tempo durante o qual se deixa a terra em repouso – pousio... Alqueive – Terra preparada mas não semeada como preparação para futura sementeira...? Meio urbano – os aglomerados populacionais que datamde vários séculos a. C. 1. ordem seguida no livro – AVES DO PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA, Ana Cristina Cardoso - Texto, Carlos Carrapato – fotografia, edição do Parque Natural do vale do Guadiana, 2000. 2. Lista por ordem alfabética com os NOMES vulgares – 2ª coluna Ver ANEXO 2.5 - AVES FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 30 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto sobre as AVES ANEXO 2.5 – A FLORA – ÁRVORES E PLANTAS – Nomes de cerca de 3 dezenas de ÁRVORES - MAMÍFEROS – a lista de animais que se podem ou podiam encontrar na regiaão, cerca de uma dezena.... Ver ainda in AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola, Estudos e fontes para a História Local 1 - Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, as referências a AVES – por exemplo cisões... - p. 121 Plantas já vimos o DARO - p. 121 ANIMAIS – por exemplo “muitas cilhas de colmeas... p. 121 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 31 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... Saudações, formas de tratamento... Ver ANEXO 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... Saudações, formas de tratamento... – com uma TABELA dos principais PRATOS / RECEITAS no final para enriquecimento do vocabulário e não só... Outro aspecto importante a desenvolver e que pode ajudar a definir a identidade de uma população pela consagração de fórmulas sedimentadas ao longo dos tempos, mas que, mais ainda do que todas as outras, só poderá ser levada a cabo por quem esteja perfeitamente inserido no meio... Como este aspecto não é realizável à distância, decidimos recorrer a outro aspecto do quotidiano que pode ser estudado em conjunto. COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara Municipal de Mértola, 1997. As receitas distribuídas pelas quatro estações é uma decisão notável e ficamos a saber, como sugere Fernão Lopes: «Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns, dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta conformidade.» Afinal, somos, também, aquilo que comemos! E como tão bem diz aquele “saboroso” livro paciente e “amorosamente” feito por tanta gente, “COMER”, em português (e também em castelhano e galego), ao contrário do que acontece nas outras línguas, vem de “cum” + “edere”. Ora “edere” já significa “comer” só por si e assim, para as gentes da Península Ibérica, comer era já um acto social – “comer com... alguém”... e como se FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 32 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 afirma no mesmo livro, «Fazer este livro sobre a gastronomia do quotidiano mertolense foi também... um acto de generosidade, de partilha e de convívio.», e portanto, além do social e do convívio, implica “partilha”, talvez solidariedade, amizade, fraternidade... e a distribuição das receitas pelas estações do ano, revela, para além da culinária, a vida das pessoas com a sua ligação à Terra, a sua inserção com os “envolventes” – o que a terra produz..., o que a terra dá..., a sabedoria secular de saber colher, “caçar”, “pescar”, “apanhar”, conservar os vários tipos de alimentos e condimentos... e “ao ritmo das estações”..., revelando a maneira de ser de uma região e denunciando até, como observam os anexos finais, do médico e do arqueólogo, o “estatuto social” de quem come o quê... e da “sabedoria” das donas de casa que sabiam substituir por exemplo o arroz com feijão, quando não havia carne ou peixe e assim mantinham a família bem alimentada, recorrendo também à migas e açordas para que não dissessem: “saco vazio não se pode erguer... saco cheio não se pode dobrar...”; para não falarmos já da comida que é o centro das festas que marcam a vida social das famílias – os baptizados, casamentos e até a morte... e onde a “fala”, os “cumprimentos”, a diversão, os “discursos” e até os “tratos” e “negócios” se firmavam à mesa, por vezes bem “comida” e bem regada... Como pistas de trabalho fica-nos uma vontade de fazer um levantamento completo dos nomes dos ingredientes, temperos e “rituais”, mas deixamos isso para alguém mais habilitado como os que realizaram este “saboroso” livro de “aromas e sabores” ou como diz outra obra de “sabores e saberes”. Algumas recolhas como exemplo: Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar: “Deus te acrescente no alguidar Como Deus Nosso Senhor está no altar”... Importante é saber também como algumas padeiras conheciam “o som de pão” para reconhecer que a massa estava “lêveda” ou não! E depois de meter todo o pão no forno: “Deus te acrescente, que é para muita gente” FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 33 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem: «Faz-se um benzido com o sinal da cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as saias e diz: Cresças tu, pão Como as saias afastadas do cu estão». A matança do porco é outro ritual até com vários significados no decorrer do tempo... desde o tempo dos arábes em que para eles seria proibido, até ao tempo dos cristãos novos em que seria obrigatório como mostra pública de conversão convicta, até ao tempo em que significava casa farta ou em que não haveria fome durante todo o ano e “entre-ajuda” entre várias famílias e a sabedoria do tempo próprio, as luas... e das preparações a fazer... saber se as porca “ressaem” (estão com o cio) e se é preciso capa-las... a distribuição das tarefas entre os homens e as mulheres, “aos homens cabe matar, musgar e desmanchar...” e “do porco tudo se aproveita menos as castanholas (unhas)” que até podem servir de amuletos. “O fel serve para curar as chagas das patas dos animais”... “A passarinha (baço) junta-se à cachola para engrossar o molho” “Os lombinhos eram para o padre”. Dos muitos termos usados podemos ainda tentar um pequeno levantamento. As acelgas – (Beta vulgaris L. Ssp. Maritima l.) Tingarrinhas – (Scolymus Maculatus L.) Túberas – (Terfezia leonis tul.) Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem encontrar-se junto das raízes das estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo. Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio: Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas... Até as rãs... cobras... lagarto... cágado... ouriços servem ou serviam para petiscos, além das cabeças de carneiro... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 34 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Para os caçadores os passarinhos fritos metem: POMBO – TORDO – MELRO TARAMBOLA... E o doce da primavera é o NÓGADO! No Verão. O GASPACHO – SOPAS DE TOMATE – TOMATADA – SOPA DE BELDROEGAS... Encontramos ainda no final, (Santiago Macías) O CHÍCHARO – “... vegetal.... que se consumiria cozido... e na região até há uma dezena de anos.” E tudo isto envolvido numa deliciosa história ... do rei que tinha três filhas... e a mais nova, afinal a que gostava mais disse: «Eu gosto tanto do meu pai como a comida gosta do sal...» ... como o célebre bispo de Viseu dizia da religião «Nem de mais, nem de menos... mas como o sal na comida.» Como nós dizemos das palavras e conversas: Nem de mais, nem de menos... para um bom convívio e comunicação sã entre as pessoas! Ver Anexo 2.5 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 35 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 3. – Outras Formas de Expressão LENDAS CONTOS ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... MODAS & GRUPOS CORAIS PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 36 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 3.1 – LENDA/s Uma estranha LENDA de SERPA – em pelo menos 3 versões - que dá pistas para as origens de Mértola) - para dar uma explicação ao NOME – MÉRTOLA... UMA (possível) LENDA DE MÉRTOLA Ver ANEXO 3.1 – 1 (Voltando ao NOME e à possível fundação de MÉRTOLA) «Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.» in Serpínia, A Princesa Feliz - http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpa.htm e também in: ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), - João Cabral - Edição Câmara Municipal de Serpa” 1971 – ver Bibliografia. Nota do autor nessa obra, o autor afirma: - «Contada também por C. Gonçalves Serpa em “Serpínea e a Fundação de Serpa” que diz ter ido “... bebe-la a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos tempos”.» Ver ANEXO 3.1 – 2 in - A LENDA DE SERPÍNEA - in CANCIONERO DE SERPA, Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994 - pp. 347 - 349. Outra versão da mesma LENDA: «No dia seguinte os construtores lançaram mãos à obra, e assim nasceu Serpe. Daqui, Cófilas partiu para novas expedições, dominando toda a região vizinha, e fundou outras cidades a Ocidente, atravessando o rio Ana, e encontrando-se finalmente com os Fenícios, que nos seus navios subiam este rio até ao ponto em que vieram a fundar Mirtilis. Estabeleceu-se um tratado de amizade, e em breve Serpínea ficava noiva do belo príncipe fenício Polípio. Porém, este teve de partir novamente em viagem, prometendo à inconsalável Serpínea regressar depressa para o casamento.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 37 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Baseada, segundo a autora, que escreve todo este livro à mão, com uma caligrafia deliciosamente legível e com muitas ilustrações, que vale a pena admirar, em «SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA» de C. Gonçalves Serpa. Ver ANEXO 3.1 – 3 SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA – por C. Gonçalves Serpa, Composto e impresso na Gráfica Torriense, Torres Novas, s/d – uma brochura, fotocopiada, de 32 páginas. Finalmente e para grande surpresa nossa, alguns amigos a quem falámos destas LENDAS fizeram-nos chegar uma cópia dessa LENDA de C. Gonçalves de Serpa, em que os dois autores atrás citados dizem ter-se baseado. Mesmo como LENDA que o autor diz: «Fomos bebê-la a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos arquivos.», é uma LENDA que salienta bastante as ligações entre SERPA e MÉRTOLA desde a fundação de ambas e remete para nomes e lugares, como o rio Limosino e o Castelo das Loendreiras, como lugares de ligação entre as dua cidades... Ver ANEXO 3.1 - 4 SERPA ENCANTADA EM LENDAS, José Rabaça Gaspar, com versos de José Penedo de Serpa, publicado como separata – SERPA ANTIGA – in SERPA INFORMAÇÃO, 4ª série, Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17- no segundo andamento refere uma das três LENDAS que tentam explicar o nome de SERPA e com as referências que esta tem sobre as origens de MÉRTOLA: «Chegaram barcos fenícios / que vinham comerciar. / Outra cidade nasceu / (com ligações com o MAR...) / MIRTILIS foi o seu nome / por ser o filho de MIRTO / que o teve de MERCÚRIO / o Deus dos comerciantes / mensageiro dos amantes.» Ora, voltando ao NOME DE MÉRTOLA (2.1 e 2.1.1) e sabendo, como Ovídio, já atrás citado, que LENDAS são LENDAS, mas... pode ser que tragam alguma coisa para nos encantar ou para nos fazer pensar, a partir destas duas ou três versões da mesma LENDA de SERPÍNEA, que se baseiam numa outra versão mais antiga de C. Gonçalves Serpa, que diz ter ido “... bebe-la a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos tempos.”, partimos à procura de uma explicação para a seguinte passagem «... Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 38 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Quem seria esse MYRTILIS que levou os FENÍCIOS a escolherem esse nome para uma nova cidade que queriam construir? O que teria levado os Fenícios, que tinham a sua religião e a sua cultura, a recorrerem à religião e cultura greco-latina para “darem nome” a uma nova cidade que queriam como “Nova Tiro”? Após algumas penosas pesquisas, conseguimos enfim descobrir que aparecia, na mitologia Greco-Latina e não na mitologia Fenícia, um personagem chamado MYRTILIS. Aparece-nos como cocheiro do rei ENUMAU ou ENUMÃO, rei da ÉLIDA, pai da princesa HIPODAMIA ou HIPODÂMIA, e acontece que esse cocheiro do rei, vai trair o seu rei em favor de PÉLOPS ou PÉLOPE a fim de este poder vencer a tremenda corrida de quadrigas, que era proposta aos pretendentes, como condição para conseguirem a mão da princesa e caso perdessem, pagariam com a morte. Mas os cavalos do rei eram superiores a quaiquer cavalos dos mortais pois tinham sido oferta de Ares (Marte o Deus da guerra), e assim muitos valentes perderam a vida. Pélops, que saberia do segredo, decidiu correr, pois a sua parelha tinha sido oferta de Poseidon – Neptuno, o Deus dos mares, mas o certo é que a princesa leva Myrtilis, o cocheiro a trair o pai para acabar de vez com aquela mortandade e MYRTILIS vai pagar a traição com a morte e foi colocado, no céu, na constelação de Cocheiro; mas morre às mãos de Pélops a quem tinha ajudado com a sua traição e antes de morrer roga a maldição ao assassino e seus descendentes que afinal já estava amaldiçoado. PÉLOPS era irmão de NÍOBE, a princesa que teve tudo para ser feliz, mas ambos eram filhos de TÂNTALO, o que ousou desafiar os Deuses do Olimpo, mandando servir, como majar, o próprio filho (Pélops) morto e cozinhado num grande caldeirão. Tântalo vai ter o tremendo suplício de ter tudo perto e não lhe poder chegar... Pélops, depois de regressar à vida, por intervenção condoída dos Deuses ofendidos, vai ser o assassino de Myrtilis, o cocheiro que traiu o seu rei para o favorecer... e Níobe, a orgulhosa mãe dos sete jovens mais valentes e destemidos e das sete jovens mais belas entre as belas, vai pagar pelo desafio que faz a Leto que só tinha tido dois filhos, Apolo e Artemisa (Diana) e assiste à morte dos sete rapazes e das sete belas, varados pelas setas certeiras dos dois implacáveis filhos de Letona. Assim de busca em busca, e para descobrir como é que, possivelmente, MÉRTOLA está ligada a todos estes NOMES e vatícinios que vêm do fundo dos tempos, fomos recolher uma série de elementos sobre a mitologia Greco Latina e um breve apontamento sobre a mitologia Fenícia (que damos em 3.1.1) e fomos encontrar, in www.joraga.net/mertola os caminhos que apontam no sentido de MÉRTOLA estar ligada, por intervenção de POLÍPIO, o fenício que se veio FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 39 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 apaixonar por SERPÍNEA, a princesa, que veio com seu pai Cófilas, rei dos Túrdulos fundar em SERPA a nova capital da TURDETÂNIA e faz alinaça com os fenícios fugidos de TIRO, conquistada por Alexandre Magno, que foi discípulo de Aristóteles, o Rei da Macedónia, ambicioso conquistador, que «em sete anos consegue reunir num único império todos os povos do Próximo Oriente até ao Ganges na Índia»e decidem fundar MÉRTOLA como NOVA TIRO. Ora, contam as LENDAS que este príncipe fenício, Polipo, à semelhança de Alexandre, fora educado e instruído por filósofos e sábios, que tinham sido escravizados pelos romanos conquistadores, mas difundiam a cultura dominante da bacia do Mediterrânio, naquela época, mesmo quando eram mal vistos pelos Césares e Imperadores, que não suportavam o seu livre pensamento e a maneira como cativavam discípulos das mais diversas regiões... Estaríamos no ano 332 a. C. – da conquista de TIRO por Alexandre Magno (rei da Macedónia, o grande onquistador, também ele educado por Aristóteles). Aliás, tanto as cidades fenícias, como Penísula Ibérica vêm a ficar sob o domínio romano por volta de um século a. C., com Augusto o 1º imperador de Roma. Toda esta mistura de culturas vêm cruzar-se na grande encruzilhada que era MÉRTOLA, desde, possivelmente um milénio a. C. e assim julgamos que MÉRTOLA ficou e está ligada a: MYRTILIS – o cocheiro do rei ENUMÂO pai da princesa HIPODAMIA... PÉLOPS (Pélope) – que acaba por assassinar o seu adjuvante na conquista de Hipodamia... MIRTO – Uma Deusa que não existe na Mitologia Greco-Latina, mãe de Myrtilis que o teve de Mercúrio (Hermes) VÉNUS – AFRODITE - Ora a Deusa que tem o MIRTO como árvore consagrada é VÉNUS (Afrodite) a Deusa do amor, nascida da cabeça de Zeus ou da espuma do Mar...; MERCÚRIO – HERMES - o Deus mensageiro dos Deuses com asas nos pés... e Deus dos Rebanhos, dos Pastores, dos Comerciantes e dos Ladrões (nos tempos em que o gado era o padrão da riqueza)... TÂNTALO – o pai de PÉLOPS, que afronta os favores dos Deuses mandando-lhes servir o seu filho como majar e é precipitado no Hades, num jardim de delícias onde não pode chegar a nada... NÍOBE – a irmã de Pélops, também filha digna do orgulho e insolência do seu pai que vai ser transformada em PEDRA húmida donde correm dois rios de lágrimas... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 40 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Por tudo isto, transcrevemos a possível LENDA DE MÉRTOLA – de MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO, de Josephus – o Esturjão in www.joraga.net/mertola : Ver ANEXO 3.1 – 4 Em ANEXO 3.1 – 5 Aparece ainda a LENDA – A TESOURINHA DA MOURA, por Fernanda Frazão a pedir a continuação da recolha de outras LENDAS que corram por MÉRTOLA... E damos em separado 3.1.1 – elementos sobre a mitologia greco romana, com dados mais alargados, que permitirão uma possível viagem às mais remotas raízes até Homero ou alguns milénios a. C. e talvez nos possam ajudar a “ler” em profundidade as “marcas” que podem caracterizar a verdadeira identidade do povo desta região que já foi “encruzilhada de grandes rotas terrestres e marítimas”, “...foi a mais poderosa fortaleza de todo o Mediterrâneo ibérico”; mergulhou em séculos de isolamento e esquecimento, e parece agora ressurgir, para se colocar, de novo, como centro irradiante de Cultura. Talvez, quem sabe, possam permitir o aparecimento dos novos Homeros e Ovídios do terceiro milénio?!... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 41 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina - “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO”... Para nos documentarmos sobre MYRTILIS & MIRTO e a possível ligação com MÉRTOLA e a possível ligação de MÉRTOLA com as fontes mais ricas e inspiradas e mais antigas da história da humanidade recorremos a: A MITOLOGIA, Edith HAMILTON, Publicações Dom Quixote, 2ª ed. Lisboa, 1979, para ver: AFRODITE (VÉNUS) – o MIRTO ERA A SUA ÁRVORE... pp. 39 – 41 – Mãe de Mirtilis? Ou filho de Mirto e Mercúrio... (Vide Lenda de Serpínea) HERMES (MERCÚRIO) filho de Zeus e Maia... pp. 41 e 42 TÂNTALO e NÍOBE... p. 358 PÉLOPE ou PÉLOPS... 359 A princesa HIPODAMIA filha do rei (ENOMÃO) que propunha aos pretendentes uma corrida... PÉLOPE E MÍRTILO o cocheiro da quadriga do pai... p. 360 NÍOBE (esposa de ANFIÃO rei de Tebas o músico...) - a maldição da Filha de TÂNTALO que desafiou LETO a mãe dos gémeos APOLO e ARTMISA (Diana) p 361 Vimos também in MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. HOPE MONCRIEFF, Editorial Estampa / Círculo de Leitores, Lisboa, 1992 AFRODITE – VÉNUS - a Deusa do amor que brotou do mar... p. 9 HERMES – MERCÚRIO – pai de Myrtilis – p. 12 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 42 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ARES – MARTE – que ofereceu os cavalos a ENOMÃO, pai da princesa Hipodamia... p. 12 POSEIDON – NEPTUNO – que ofereceu a quadriga a Pélope ou Pélops... p. 13 Recorremos ainda a algumas PÁGINAS da internet, para alargar o leque de informações e ao mesmo tempo fornecer elementos aos que se propuserem e tiverem melhores condições de desenvolver este tema, que talvez possa contribuir para uma compreensão melhor de Mértola e região envolvente. Consultámos neste sentido: http://mithos.cys.com.br/ http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm Talvez a estrela da Constelação de Cocheiro – MYRTILIS - que brilha no céu estrelado de Mértola, sirva de inspiração às novas gerações que despertam para a vida. Embora sendo LENDAS e até “possam ser absurdas” talvez apareçam os que “... as saibam contar de tal maneira que vão encantar aqueles que as ouvirem...” FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 43 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 3.2 – CONTO/s No ANEXO 3.2 – correspondente aos CONTOS, na impossibilidade de os recolher directamente no terreno, recorremos, como aliás a respeito dos outros temas, aos contos recolhidos pelo ilustre mestre José Leite de Vasconcellos. É verdade que não nos despertaram grande entusiasmo, mas podem servir de indicação de que há, como em todas as terras, que viveram num isolamento talvez imerecido, um filão riquíssimo a explorar de brilhantes “Conatadores de estórias...” CONTO 1 – A COMADRE MORTE In CONTOS POPUARES PORTUGUESES - inéditos – estudo Coordenação e Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. I - Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1984, pp. 239 – 240 n.º 157 157 [A COMADRE MORTE] Conclusão - E por isso o Pouco-Juízo e a Pouca-Vergonha não morre. Esses nã morrem. Existem sempre. [José Raposo, 77 anos de idade, alfaiate, natural de Facões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976]. CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 409 – 410 620 [MAIS FACILIDADE DE ESCOLHA] resumo, conclusão - - Olha, filha, e, se tu te portares mal, se não tomares juízo, ainda melhor escapas: tens aonde escolhas. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 44 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 418 – 421 Nº 633 633 [AS PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR] Final do conto: - Ah, o nosso divertimento ora, Senhor Professor! - Não, diga lá! - Ora, olhe, o nosso divertimento. Olhe, o mê pai dá pêdos e a gente ri-se. Diz ele: - Sim, também está uma música muito boa, pois nã podem adquirir outra, „tá certo, sim, senhor. Ficou, antão, coisa concluída perante os três alunos. [João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976. Vid. o número seguinte]. CONTO 4 – BOA RESPOSTA In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 422 - 423 - n.º 634 [BOA RESPOSTA!] Trata-se de testar um aluno muito inteligente que tinha sempre respostas para tudo e Acaba assim: FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 45 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - O que é que acontece, quando o senhor vai a qualquer parte com a sua senhora? Qual é o sistema do despedimento, diz ela? O Senhor Profesor disse: - Pois, a minha senhora dá-me um beijo no rosto. Responde-lhe o aluno assim: - Atão, pois, por qué que a sua senhora não lhe dá um bejo no cu, pois s'é do mesmo corpo? [João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja, de 61 anos de idade. Colector: Adélia Grade, professora primâria. Ano de recolha: 1976. Vid. o número anterior]. Consideramos uma pena o facto de termos encontrado só estes exemplos. As recolhas referem todas a data de 1976, e a colectora e a professora Adélia Grade. Honra lhe seja feita. Se, como têm recomendado os grandes mestres, os professores, ao longo dos tempos tivessem incentivado os alunos a recolher junto dos avós e parentes estes e outros saborosos contos, poderíamos ter e acreditamos que há um número suficiente para uma ANTOLOGIA de CONTADORES do Concelho de Mértola. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 46 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem: - Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... ANEDOTAS As anedotas que correm sobre alentejanos são às centenas, e mais ou menos bastante conhecidas. (Ver AlentejANEDOTAS in www.joraga.net ). De entre elas fomos encontrar duas directamente relacionadas com MÉRTOLA e nos anexos atrevemo-nos a acerscentar mais algumas que nos surgiram... O Alentejano e com um RÁDIO portátil, que tem AM e FM: - Atão cumpadre, o sê rádio tem aí umas letrinhas: AM e FM... Pra que raio serve essa coisa?... - Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... FM é Fora de Mértola!!!...??? (Isto parece mesmo ser verdade, porque uns amigos, que têm passado em Mértola, e vão no seu belo carro, ouvindo uma das estações de música, daquelas que se ouvem em todo o território nacional, começam a ter ruídos esquisitos, logo que entram nas curvas, mesmo antes de se ver Mértola e depois de atravessarem a vila, só voltam a poder ouvir, quase no cimo da serra, já quase à vista do Algarve!!!) O Alentejano e com um RELÓGIO, que tem AM e PM... - Atão p‟ra qui‟é que serve?... - Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... PM é PRA Fora de Mértola!!!...??? Pistas para um ESQUEMA e, entre OUTROS, do modo como se podem organizar e LER as ANEDOTAS (é uma modesta, respeitável e discutível opinião... resumo do que é apresento em www.joraga.net - no Espaço das AlentejANEDOTAS) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 47 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 O QUE SE PODE ESTUDAR A PARTIR DAS ANEDOTAS? Dada a presença contante das interrelações, tanto quanto aos temas como quanto aos personagens e características implicados em cada ANEDOTA, como ainda quanto à oportunidade de a contar, (... a propósito, lembras-te daquela...), qualquer ESQUEMA ou ORGANIZAÇÃO, se torna aleatória e daí esta divsão ser, já em si, uma perfeita ANEDOTA... como qualquer outra... Seguindo a sugestão de Arnaldo Saraiva (ver nas Pistas para uma Bibliografia) citado por A. Machado Guerreiro in LIVRO DE ANEDOTAS, Edições Colibri, Lisboa, Maio de 1995, p. 12: «... a anedota pode dar um bom contributo para o estudo de uma comunidade - suas manias e fobias, seus hábitos sociais, seus desejos e recalcamentos, seus heróis e suas vítimas, sua visão do mundo e do destino». Uma ANEDOTA pode servir, também, para um excelente treino da oralidade... Tal como no CONTO, a Estrutura com suas: Sequências... núcleos... indícios... informantes..., enfim estudar a linguagem como marca de uma identidade Cultural... Podem-se contar ANEDOTAS das ANEDOTAS e das AlentejANEDOTAS... ANEDOTA/s para mostrar o estilo de "regatinhar", “aciganado”, sem ofensa para os ciganos... ... para mostrar a ligação à Terra... ...para ver a lhaneza e simplicidade... ... responder aos Lisboetas, como ini/a/migos de estimação... ... a esperteza saloia... ... a lei do menor esforço... Talvez, como reflexão principal, é dar conta que neste MUNDO DAS ANEDOTAS, afinal se passa o mesmo que no MUNDO REAL - a LINGUAGEM e os VALORES das PESSOAS de REGIÕES diferentes são, mesmo DIFERENTES... A respeito das Outras formas de expressão como: – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 48 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 não nos foi possível recolher, pelos motivos que já foram apresentados e só podem ser recolhidos e estudados por alguém que esteja mesmo ligado ao meio. Ver ANEXO correspondente: ANX 3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 49 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... Este capítulo, em que pensavamos ter mais dificuldade de apresentar exemplos, tornou-se, afinal, um filão tão abundante que tivemos dificuldade em organizá-lo e pode, só por si, servir de base para uma RECOLHA separada com os estudos e divulgação adequados. No final, após laboriosas e penosas buscas viemos a encontrar em Mértola uma recolha feita por um artista natural e residente e amante da sua terra: Mário Elias. SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d. Verificamos que muitas das suas recolhas têm as mesmas fontes que as nossas, especialmente M J Delgado e Leite de Vasconcelos, mas Elias, tanto ele próprio como conviva de muitos poetas populares, contribui com muitos elementos a que nós não podemos ter acsso, na linha do que assumimos desde o início: todo este trabalho deve e tem de ser feito por alguém muito ligado à terra, que se estuda. A nós, cabe-nos dar também algum contributo e proporcionar uma visão mais distanciada que é a vantegem de quem está de fora e pode ver as coisas de maneira diferente e assim enriquecer este aspecto. ASPECTOS MAIS RELEVANTES e as FONTES E DE CADA GRUPO de QUADRAS, CANTIGAS DÉCIMAS ORAÇÕES e... recolhidas: Ponto inicial. A PSICOLOGIA (ver ANX 3.4 – 12) In SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.: A PSICOLOGIA de um Povo, a sua espontaneidade e singualridade pode estudar-se “nas suas manifestações espontâneas... as vivências populares... nas mais diversas circunstância...” Tudo isto e muito mais podemos encontrar na obra citada de Mário Elias, que nos fornece ainda o nome de colaboradores e poetas populares e cita António Louro Carrilho, no prefácio de “TERRA POUSIA” de António Vitorino (Ti Zé do Santo), poeta popular de Nisa...– ver FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 50 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANEXO correspondente ANX 3.4 – 12 POESIA, ao qual iremos ainda recorrer a prpósito das DÉCIMAS. (ANX 3.4 – 12) 1. OS DIVERSOS TEMAS VERSADOS NAS QUADRAS E CONTIGAS ver anx 3.4 – 1): In CORAIS ALENTEJANOS, de José Francisco Pereira – Edições Margem 1997; ver por exemplo: p. 25 sobre a Flora...;Ver p. 21... O que exprimem as CANTIGAS Populares: “sentimentos: Paixão do amor... prazer, dor, alegria e tristeza, ódio, ciúme, inveja, desgosto, resignação, saudade, melancolia, orgulho... tudo nela se versa...” “Os próprios sentimentos – religioso, moral, intelectual, estético, aí se retratam”; Ver ainda fenómenos e figuras de estilo...na mesma obra, pp. 34 e 35 e Ainda: 1. Toponímia – Mértola... Guadiana... 2. Fauna – Passarinhos... animais existentes na região... animais do trabalho... bois... 3. Flora – Plantas flores... lírio roxo... Vivo no jardim do mundo... rosa roseira botão... 4. Comoções, paixões, sentimentos... - (medo cólera, ternura, amor, ciúme, ódio, inveja orgulho, alegria e tristeza, prazer e dor, melancolia, desgosto, resignação, saudade... Ó minha mãe, minha mãe... 5. Partes e órgãos do corpo humano – olhos... rosto... coração... 6. Peças de vestuário e objectos de adorno... saia... anel... lenço...chapéu... 7. Astros – Sol Lua... 8. elementos da natureza... – água... montes... serras... terra Vivo no jardim do Mundo, Nos treze ramos matrizes, Com cinquenta e duas flores E vinte e cinco raízes. (Mértola) 2. As QUADRAS podem falar do OLHOS, de cenas do quotidiano, dos Santos populares... VER (ANX 3.4 - 2): In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - Manuel Joaquim Delgado – Com. Rec. Notas – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980: ver, por exemplo as quadras iniciadas por: FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 51 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 O nosso olhar é espelho... - Ó olhos azuis... - Ó olhos doa minha cara... - Onze horas, meianoite... - Fui um dia à tua horta... - Todas as Marias são... - Tenho carta no correio... Sant’Entónio é bom rapaz... - S. João à minha porta... - Raparigas d’hoje em dia... - A nobre vila de Mért’la... 3. Outros temas diversos – ocupações como as do MINEIRO, podemos ver (ANX 3.4 - 3): in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1975 ofícios e ocupações - Meu amor é barreneiro - (os barreneiros (= mineiros) cantam estas quadras enquanto trabalham - Ó Senhora Santa «Barba» - AMORES, AMORES.. – DECISÃO - AMOR PERFEITO – ALEGRIA - DESDÉNS E DESENGANOS - BEIJOS E ABRAÇOS – RETRATO - O CORAÇÃO MAIS OS OLHOS... 4. SENTIMENTOS – RIQUEZA E POBREZA – USOS E COSTUMES... ver (anx 3.4 – 4) in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979; Cap. XI – AMOR E TRISTEZAS p. 1 3. AUSÊNCIA p.13 - em 4. SAUDADES p. 23 - em 3. DINHEIRO E POBREZA p. 191 - No cap. XVII USOS E COSTUMES p. 197 - Cap. XX – CANTIGAS CONCEITUOSAS P. 235 - Cap. XXIV BOCAS DO MUNDO p. 289 - XXV GRAÇAS, CHALAÇAS E «CANTIGAS às AVESSAS» p. 303 - XXXIII - XXVI – CANTIGAS SATÍRICAS p. 339 5. TOPONIMICAS OU GEOGRÁFICAS ver (anx 3.4 – 5) in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1983 - XXXIII CANTIGAS GEOGRÁFICAS E TÓPICAS p. 1 - p. 21 - p.22 Beja - Adeus, cidade de Beja, - Mértola - Adeus, ó vila de Mértola, - Mina de S. Domingos - - Serpa – Guadiana – Vila Real de s. António... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 52 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 6. JANEIRAS – «Janeiras - Uma tradição que se cantava em grupos de Monte em monte, de casa em casa...» (ver ANX 3.4 – 6) In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p. 147 7. ORAÇÕES – simples (Ver ANX 3.4 – 7) in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1975: P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Para comer é que se faz isto! 8. ORAÇÕES DO RITUAL DO PÃO - Ver (ANX. 3.4 – 8) também as já referidas no RITUAL DO PÃO – no anterior ANX 2.6 ver : in COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara Municipal de Mértola, 1997. 9. ORAÇÕES – ROMANCEIRO (ver ANX 3.4 – 9) in ROMANCEIRO POPULAR PORTUGUÊS, II Vol. - organização, introdução notas e Bibliografia de Maria Aliete dores Galhoz, Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1988: - ORAÇÃO DAS ALMAS – algo de mais elaborado e completo... 10. DÉCIMAS – (ANX. 3.4 – 10 A – B – C – DÉCIMAS) in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979 ASSUNTOS VÁRIOS VERSADOS EM DÉCIMAS (Dado o apreço em que tinha estas décimas, o Prof. Leite de Vasconcellos conserva-as em maços à parte de outras composições. Versando vários assuntos, servem, na maioria dos casos, de glosas de quadras.) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 53 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 O mineiro traja bem - DESPIQUE DO ALENTEJO E DO ALGARVE - I - DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE – II – 10 DÉCIMAS (ANX 3.4 – 10 D) - Como Décimas mais genuínas e recolhidas in loco voltamos agora à citada obra no início deste capítulo: SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.; com as DÉCIMAS de: - p. 106 – ÉS JOVEM , SOU REFORMADO... – de Manuel Guerreiro Martins (Mina deS. Domingos); - p. 143 - VIVA AMENDOEIRA DA SERRA... de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da Serra. 11 – RIMANCE (ANX 3.4 – 11) In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980; - ANX. 3.4 – 11 A – RIMANCE - in Delgado – LAURA LINDA - ANX. 3.4 – 11 B – RIMANCE - in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 54 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS ou melhor dizendo: apresentamos - as 12 MODAS recolhidas por João RANITA da Nazaré in MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO – Cancioneiro da Tradição Oral – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – 1986. – Capítulo: Quintas variações: Mértola pp. 269 – 296: Profanas: - O meu anel - Rio Guadiana - As cobrinhas de água - Mértola do Guadiana - Nossa Senhora das Neves - Passarinho prisioneiro - Não quero que vás à monda - Maria pega na carta - Ao romper da bela aurora - Lírio Roxo Religiosas: - Os Reis - As Janeiras Quadra transcrita na mesma obra de Ranita da Nazaré:: Mértola estás situada Entre o rio e a ribeira, Firme nas tuas muralhas A viver de cantaneira. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 55 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - os 3 GRUPOS CORAIS relacionados com MÉRTOLA GRUPO CORAL «GUADIANA»DE MÉRTOLA GRUPO CORAL DA MINA DE SÃO DOMINGOS GRUPO CORAL DOS AMIGOS DA MINA DE SÃO DOMINGOS EM SACAVÉM que constam da obra de: José Francisco Pereira, CORAIS ALENTEJANOS, Editor Manuel Geraldo, Edições Margem, Lisboa, 1997. Tecer aqui grandes teorias sobre a importância, a originalidade, e as características do CANTE, MODAS e GRUPOS CORAIS do ALENTEJO, tanto os sediados, evidentemente, no Alentejo como os de Alentejanos sediados, sobretudo, na zona da Gande Lisboa, seria uma tarefa supérflua e demasiado ambiciosa. Deixamos simplesmente o testemunho do Maestro F. Lopoes Graça e de M. J. Delgado, citados por Ranita de Salomé na obra supra citada: Lopes Graça sobre a canção Alentejana: «Tem de ir ao coração do Alentejo, a Serpa e seu termo quem quiser conhecer uma das mais genuínas e curiosas manifestações do génio do nosso povo: as canções corais, que os íncolas da região, na sua maioria rudes trabalhadores do campo e pequenos mesteirais, cantam com uma admirável musicalidade nata e a compenetração de quem cumpre um velho ritual». MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS: «O valor das 'modas' alentejanas está em serem um canto misteriosamente afectivo, apaixonado, tendo algo de religioso e místico, como se desprende dos acordes e melodias.» Podemos e devemos ainda consultar, pelo menos, as duas obras, mais o grande Mestre do CANTE, o Padre António Marvão, de quem infelizmente não pudemos consultar nenhuma obra e do Grande Musicólogo que foi Michel Giacometti, por exemplo no CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS, Michel Giacometti, com a colaboração de Fernando Lopes Graça, Círculo de Leitores, Agosto de 1981, e teremos os dados essenciais para nos apercebermos da importância de recolher, estudar e divulgar o CANTE ALENTEJANO. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 56 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Como expressão Popular Artística, o CANTE – a «VOZ DO VENTRE DA TERRA» na expressão de José Rabaça Gaspar, repetida nos diversos trabalhos citados na bibliografia e nos POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA, Beja, 1987, como arte musical que escapa a qualquer influência, definição e intervenção erudita, aparece-nos como o sinal mais profundo e sentido da Alma de um Povo e que merece, por isso, uma atenção especial. Ver ANEXO correspondente ANX. 3.5 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 57 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... Como não somos Arqueólogos nem peritos em Epigrafia, mas como aluna de um Curso: de Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural e num TRABALHO para uma Disciplina de Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico, pareceu-me importante, guardar para o final, um TEMA que servisse de ligação entre todos os capítulos em que dividi o meu trabalho e se foram ampliando à medida que a investigação ia evoluindo e o trabalho excepcional, de uma dimensão e envergadura que não me compete qualificar nem muito menos avaliar, que tem sido desenvolvido, pelo menos desde os finais dos anos setenta (1975), pelo dinamismo do falecido primeiro presidente da Câmara de Mértola, pós 25 de Abril, Dr. António Manuel Serrão Martins; e por intermédio dele, pelo “milagre” do aparecimento do Campo Arqueológico de Mértola (1979); e pela Câmara Municipal de Mértola; e pela Assocoiação de Defesa do Património de Mértola; e pelo Parque Natural do Vale do Guadiana... e talvez outros que não conhecemos; e apresentar aqui, quase como ilustração, alguma PEDRAS QUE FALAM, possivelmente, mais do que as outras, porque têm algo escrito... Ver ANEXO correspondete ANX. 4. Alguns exemplos: Fig. 1 «ESTA TORRE MANDOU FAZER DOM JOÃO FERNANDES PRIMEIRO MESTRE QUE HOUVE EM PORTUGAL ERA DE 1330 0U SEJA 1292» Fig. 2 Em destaque o símbolo dos Templários e no cruzeiro a palavra "OBLATVS" part. de offero apresentar - expor - oferecer... Incricção em redor da base da Cruz: «OBLATVS EST QUIA IPSE VOLUIT ...???» Vide Antifona da Feria V in Coena Domini - (in LIBER USUALIS MISSAE ET OFFICII PRO DOMINICIS ET FESTIS CUM CANTU GREGORIANO EX EDITIONE VATICANA... Typis Societatis S. Joannis FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 58 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Evangelistae - Desclée & Socii - S. Sedis Apostolicae et Sacrorum Rituum Congregationis Typographi - Parisiis, Tornaci, Romae - 1950 - p. 651) «Oblatus est, quia ipse voluit, et peccata nostra ipse portavit.» «Foi oferecido, porque Ele próprio o quis, e Ele carregou com os nossos pecados.» Fig. 3 «As suas cinco naves são cobertas por um belo reticulado de abóbadas» Fig 4 «Dos poucos elementos da Antiga Mesquita restam dois capitéis reutilizados na reconstrução do século XVI» Fig 5 Porta da Igreja que segue o modelo do Renascimento Italiano Fig. 6 «Esta peça excepcional, fabricada no século XI, na antiga Tunísia, mostra, em traços rápidos, uma cena de caça, em que um corso é atacado por um galgo e um falcão» Fig. 7 «Os motivos decorativos animais ou vegetais passam a geométricos ou epigráficos.» Fig.8 Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas: «ANTÓNIA ... Fig 9 FESTELUS... Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas... «Alguém? "EISTELLUS"? "FISTELLUS" que aqui viveu e descansa em paz… Dezembro da ERA de quinhentos e Quarenta e Oito» «FISTELLUS V(IR) HON(ES)T(US) VIXIT AN(NOS) LXX REQ(U)IEVIT IN PACE D(IE) VIII KAL(ENDAS) DECENB(RES) ERA dXLVIII FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 59 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 "Fistelo, homem de condição social superior, viveu 70 anos; descansou em paz no 8º dia das calendas de Dezembro da era de 548 (o que no nosso calendário corresponde ao dia 24 de Novembro do ano 510). (Vide MUSEU DE MÉRTOLA - BASÍLICA PALEOCRISTÃ - Campo Arqueológico de Mértola, 1993, p. 117). Fig 10 Epitáfio de AMANDA «AMANDA FAMU(L)A XPI VIXIT ANNOS PLUS MIN(U)S XXXII MENSES V REQUIEVIT IN PACE D(OMI)NI SUB D(IE) VII KAL(ENDAS) MART(IAS) ERA dLXXXII» «Amanda, servidora de Cristo, viveu mais ou menos 32 anos e cinco meses, descansou na paz do Senhor no 7º dia das calendas do mês de Março da era de 582 (o que no nosso calendário corresponde ao dia 23 de Fevereiro do ano de 544). (Vide MUSEU DE MÉRTOLA - BASÍLICA PALEOCRISTÃ - Campo Arqueológico de Mértola, 1993, p. 119). Fig.11. SÃO HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO CORO DA IGREJA Epitáfio de Andreas «ANDREAS FAMULUS DEI PINCEPS CANTORUM SACROSANCTE A(E)CLISIAE MERTILLIA(N)E VIXIT ANNOS XXXVI REQUIEVIT IN PACE SUB D(IE) TERTEO KAL(ENDAS) APRILES AERA dLX TRISIS» «André, sevidor de Deus, primeiro cantor da sacrossanta Igreja Mertiliana, viveu 36 anos, descansou em paz no terceiro dia das calendas de Abril da era de 560 e três (o que no nosso calendário corresponde ao dia 30 de Março de 525) As lápides anteriores falam de «...HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO CORO DA IGREJA.» Fig. 12 «Lápida com uma escrita, ainda hoje por decifrar, gravada em caracteres greco-púnicos.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 60 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Conclusão Creio ter provado a importância do patrmónio oral, pois o mesmo é fundamental para identificar e caracterizar esta região. Foi feita uma recolha exaustiva de todas as formas de expressão que caracterizam o património oral segundo os autores de referência. Sendo evidente que todos os dados recolhidos merecem um tratamento mais aprofundado, creio ter contribuído para uma participação activa e empenhada dos autênticos actores da TRADIÇÃO ORAL... como “mostra” evidente – palpável – audível, da amálgama, da soma de Culturas que passaram por esta encruzilhada de vias terrestres, marítimas, de povos, de gentes... A PROPOSTA – SUGESTÃO da criação de um CDID-TOLP – Centro de Documentação, Investigação e Divulgação da TRADIÇÃO ORAL / LITERATURA POPULAR, que para além de Centro de Estudo devia ter a sua componente lúdica, dramática... (com petiscos e tudo)...e com as pistas de recolha, reflexão e divulgação dentro dos limites escassos que estão ao meu alcance, o mérito deste trabalho será sem dúvida o de abrir espaço para um trabalho mais alargado e aprofundado, em que teria todo o gosto de participar, mas reconheço que só poderá ser devidamente implementado e desenvolvido por alguém que esteja ou venha e estar intimamente ligado a MÉRTOLA e sua REGIÃO... A Aluna nº 58 Maria de Fátima da Vinha Borges FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 61 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso Brasileira de Cultura – in Mértola: Autor Título Edição José António Ferreira de Almeida (coord.), Joaquim Boiça, Virgílio Lopes Tesouros Artísticos de Portugal Lx., 1980 Joaquim Boiça Joaquim Boiça Luís Alves de Silva Joaquim Boiça, Maria de Fátima R. Sal S Barros Joaquim Boiça, Maria de Fátima R. Sal S Barros Joaquim Boiça, Maria de Fátima R. Sal S. Barros, Celeste Gabriel Manuel Figueiredo Bernardino Barros Gomes Vítor Oliveira Jorge e Cláudio Torres, (coord.) Pinho Leal Flávio Lopes Santiago Macias e Cláudio Torres (coord.) Santiago Macias e Cláudio Torres (coord.) Manuel Alves Oliveira Notas A Necrópole e a Ermida da Achada de S. Campo Arqueológico e Sebastião Escola Profissional Bento de Jesus Caraça, 1999 , Imaginária de Mértola – tempos, Mértola, Campo espaços, representações Arqueológico, 1998 Inventário/Roteiro do Arquivo Histórico Municipal de Mértola Mértola nas Memórias Paroquiais de 1758- Transcrição e Estudo Roteiro de Fontes para a História de (nº. 1) – SalN.T.T.; (nº. Mértola 2) – Casa de Bragança Mértola nas Visitações da Ordem de Santiago (1482-1593) – transcrição e estudo História das Terras de Portugal e seus Tesouros Artísticos, texto ms. (por gentil cedência do autor) Cartas Elementares de Portugal Lx., 1878 (ed. Facsimilada, Lx., 1990) A Arqueologia e os outros Patrimónios Porto, 1999 Portugal Antigo e Moderno Património Arqueológico e Arquitectónico Classificado O Islão entre o Tejo e Odiana Portugal Islâmico – os últimos sinais do Mediterrâneo Guia Turístico de Portugal de A a Z vol. I, Lx., 1993 Mértola, Campo Arqueológico Lx., 1998 Lx., 1990 Francisco Hipólito Raposo Descubra Portugal Lx., 1993 Miguel Rego Mineração no Baixo Alentejo Castro Verde, 1996 Cláudio Torres (director) Basílica Paleocristã Cláudio Torres (director) Arqueologia Medieval, nº. 1 Cláudio Torres (director) Cerâmica Islâmica Portuguesa Cláudio Torres, Luís Alves da Silva Cláudio Torres et al. Mértola – Vila Museu Mértola, Campo Arqueológico, 1993 Fevereiro de 1992, Mértola Mértola, Campo Arqueológico, 1987 Mértola, 1989 Terras da Moura Encantada Porto, 1999 Estácio da Veiga Memórias das Antiguidades de Mértola 1880 Afonso Eduardo Martins Zuquete Nobreza de Portugal Coimbra, 1960 Anuário Católico Lx., 1996 Anuário da Imprensa em Portugal 19921993 À Descoberta de Portugal Lx., 1993 Enciclopédia Geográfica Lx., 1988 Guia de Portugal vol. II Lx., 1991 (2ª reimp.) INE-Censo 91/resultados definitivos Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais – regulamento; Ministério do Planeamento e da Administração do Território, Livros e Conselhos Lx., 1984 Lx. 1996 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 62 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Outros sobre Mértola – Campo Arqueológico de Mértola – Associação de Defesa do Património de Mértola – Câmara Municipal de Mértola – Parque Natural do Vale do Guadiana... & outros COMIDAS DE MÉRTOLA AROMAS E SABORES Nádia Torres – Alunos Professores e Funcionários da Escola C+S de Mértola MÉRTOLA ISLÂMICA Estudo Histórico – Arqueológico do Bairro da Alcáçova (Séculos XII – XIII Santiago Macias MANTAS TRADICIONAIS do BAIXO ALENTEJO Ângela Luzia – Isabel Magalhães – Claúdio Torres MUSEU DE MÉRTOLA – BASÍLICA PALEOCRISTÃ Campo Arquelógico de Mértola, vários autores, com Coordenação de Cláudio Torres e Santiago Macias Heitor Domingos Heitor Domingos ALENTEJO – MARGEM ESQUERDA ESQUECIDA Recordações – Velhos são os Trapos O PROBLEMA DA CAÇA NO ALENTEJO (1901 – 1975) Mário do Carmo Tese de Mestrado Atitudes, expectativas e tensões sociais no distrito de apresentada à Faculdade de Letras da Beja Universidade de Lisboa em 1999 TEXTOS SERRÃO MARTINS António Serrão Martins SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA Mário Elias A ESTÉTICA DO PESSIMISMO EM ANTÓNIA SEQUEIRA (poetisa mertolense) AVES – aves do parque natural do vale do guadiana Mário Elias PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana Leonor Rogado – texto Carlos Carrapato – fotografia ENGENHOS HIDRÁULICOS TRADICIONAIS Rui Guita CONTRIBUTOS PARA Preservação e Valorização do Património Natural do Troço Médio do VALE DO GUADIANA Rosário Oliveira AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola Joaquim Ferreira Boiça Maria de Fátima Rombouts Barros Transcrição, organização, introdução e notas Filipe Abranches Nádia Torres Rosário Oliveira Jorge Revez À DESCOBERTA DE MÉRTOLA – OS CAMINHOS DO TEMPO E DA TERRA Ana Cristina Cardoso Edição – Escola C+S de Mértola Câmara Municipal de Mértola, 1997 Campo Arqueológico de Mértola, Mértola, 1996 CADERNO Nº 1 – Campo Arqueológico de Mértola- Edição da CM Mértola 1984 Ed. Do Campo Arqueológico de Mértola, 1993 Ed. Autor, 2000 Ed. Autor – 2ª ed. 1999 Edição Autor, apoiada pela CM de: Alvito, Beja, Castro Verde, Mértola, moura, Odemira, Ourique, Serpa. Ed.. 2000 Edição da Câmara Municipal de Mértola, 1985 Ed. Associação de Defesa do Património de Mértola, s/d Ed. Do Autor, 1997 Edição – Parque Natural do Vale do Guadiana, 2000 Edição – Parque Natural do Vale do Guadiana, 2001 Ed. ICN – Instituto de conservação da Natureza e PNVG Parque Natural do Vale do Guadiana, 1999 Associação de Defesa do Património de Mértola, 1996 Estudos e Fontes para a História local 1 Campo Arqueológico de Mértola, 1995 Edição ADPM e CADISPA, 1993 Ver cum edere – comer com... e nomes... ... até à alimentação... Para epigrafia etc... Histórias de velhos mineiros Ver “aforismos cinegéticos” e espécies... Ver crónicas alentejanas e retaratos populares... Muitas figuras e cancioneiro... Os nomes e os nomes regionais... nomes de peixes e pescadores... Lista de nomes de moinhos e... Flora – 132 espécies... Fauna – 192 (128 aves, 30 mamíferos, 17 anfíbios e 7 répteis) História e identidade: actividades, produtos, saber... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 63 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos da Tradição Oral – Literatura Popular e Informação complementar, como alguns dados sobre a MITOLOGIA GRECO LATINA: Título A MITOLOGIA Autor Edith Hamilton MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado A. R. Hope Moncrieff GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO CONTOS POPULARES e LENDAS Celso Cunha e Lindley Cintra CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS CONTOS POPULARES PORTUGUESES – (INÉDITOS) coligidos por José Leite de Vasconcellos coordenação Alda da Silva Soromenho e Paulo Caratão Soromenho – Vol I (1963/4) II (1966/9) – coligido por José Leite de Vasconcellos coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, vol. I (1975) vol. II (1979) vol. III (1983) Estudo, Coordenação e Classificação Alda da Silva Soromenho e Paulo Caratão Soromenho – Vol I ( 1984) e II ( 1986 ROMANCEIRO PORTUGUÊS Coligido por José Leite de Vasconcellos – Notícia preliminar de R. Menedez Pidal – Vol I (1958) e II (1960 ROMANCEIRO POPULAR PORTUGUÊS – II – Romances religiosos e orações Narrativas – Romances Vulgares e Cantigas Narrativas org. intrd. Notas e Bibliografia de Maria Aliete Dores Galhoz MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO – Cancioneiro da Tradição Oral A LINGUAGEM POPUAR DO BAIXO ALENTEJO e O DIALECTO BARRANQUENHO – ( Estudo Etnofilológico) A ETNOGRAFIA E O FOLCLORE no BAIXO ALENTEJO João Ranita da Nazaré SUBSÍDIO PARA O CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO – vol. I e II Comentário, recolha e notas – Manuel Joaquim Delgado ESTUDOS LINGUÍSTICOS o Idioma Português LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA Manuel Joaquim Delgado PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA POPULAR PORTUGUESA Guia de Recolha de Literatura Popular Manuel Joaquim Delgado comentário, recolha e notas – Manuel Joaquim Delgado Direcção-Geral da Educação de Adultos – Coordenação Distrital de Beja Manuel Viegas Guerreiro Manuel Viegas Guerreiro Edição Publicações Dom Quixote, Lisboa 1979 Editorial Estampa / Círculo de Leitores, Lisboa, 1992 Edições João Sá da Costa, Lisboa, 1985 Acta Universitatis Conimbrigensis – Por Ordem da Universidade – 1963 – 1969 Acta Universitatis Conimbrigensis – Por Ordem da Universidade – 1975 – 1983 Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação científica – Lisboa – 1984 – 1986 Acta Universitatis Conimbrigensis – Por Ordem da Universidade – 1958 e 1960 Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica – Lisboa 1988 Imprensa Nacional – Casa da Moeda – 1986 2ª edição – Edição da Assembleia Distrital de Beja – (1951) 1983 2ª edição – Edição da Assembleia Distrital de Beja – 1985 Instituto Nacional de Investigação Científica, 2ª ed. , Lisboa, 1980 Lisboa 1968 Notas Elementos sobre Mirtilis, Mirto, Tântalo... Ministério da Educação e Cultura – 1986 Instituto de Cultura e Língua Portuguesa – Ministério da Educação – Março de 1983 Lisboa, Ministério da Educação e Investigação Científica, 1976 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 64 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 O Cancioneiro Popular em Portugal Maria Arminda Zaluar Nunes A CANÇÃO POPULAR PORTUGUESA ARQUIVOS DE SERPA(Câmara Municipal) CANCIONEIRO DE SERPA Fernando Lopes Graça SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA C. Gonçalves Serpa João Cabral Maria Rita Ortigão Pinto Cortez MEC Secretaria de Estado da Cultura, Instituto de Cultura Portuguesa, 1978 Publicações Europa América – 1974 Serpa, 1971 Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994 Composto e impresso na Gráfica Torriense, Torres Vedras, s/d LISTA TELEFÓNICA – Alentejo – Setúbal – 20002 – 2003 Enciclopédia Verbo – LusoBrasileira de Cultura – Edição Século XXI Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea Ver Lenda Serpa Mértola Ver Lenda Serpa Mértola Ver Lenda Serpa Mértola Para ver localidades e APELIDOS mais repetidos Ver – Mértola – mirtilo – murta Academia de Ciências de Lisboa – Editorial Verbo – 2001 CORAIS ALENTEJANOS José Francisco Pereira ANEDOTAS – Contribuição para um Estudo LIVRO DE ANEDOTAS Sal Machado Guerreiro ANTROPOLOGIA DO SIMBÓLICO Mesquitela Lima ALCUNHAS ALENTEJANAS Francisco Martins Ramos Edições Margem – 1997 Editorial Império, Lx, 1986 Edições Colibri, Lx. 1995 Editorial Presença, L.da ,Porto, 1983 Ver mais publ. e Ed. Associação de Defesa dos Interesses o Tratado de de Monsaraz – ADIM Alcunhas, já em TRATADO DAS ALCUNHAS ALENTEJANAS Francisco Martins Ramos Carlos Alberto da Silva Editora Colibri, 2003 GUIA DE PORTUGAL – EXTREMADURA, ALENTEJO, ALGARVE Colaboração dos Mais Ilustres Escritores Portugueses (nome de referência Raúl Proença) – com 17 mapas e plantas e numerosas gravuras Biblioteca Nacinal de Lisboa, 1927 – pp. 162 - 166 Sal Machado Guerreiro Ver – mertolense e mertolengo – mirto – murta 2003... Signo que capta o essecial de alguém... Numerosos dados sobre Mértola e zona... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 65 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas e Outras Publicações Periódicas Título “Alentejo não Tem Sombra Senão a que Vem do Céu”, Autor José Mattoso Instituto Alentejano de Cultura / Desenvolvimento (IAC/D) José Rabaça Gaspar A LITERATURA (CULTURA TRADICIONAL) e o Desenvolvimento e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / DESENVOLVIMENTO A LINGUÍSTICA E A ANÁLISE LITERÁRIA COMO CONTRIBUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALENTEJO – para a Criação de um Instituto Alentejano de Cultura SOBRE MÉRTOLA E O GUADIANA José Rabaça Gaspar TOPOGRAFIA HISTÓRICA DE MÉRTOLA - Joaquim Boiça IBN QASI, REI DE MÉRTOLA E MAHIDI LUSO-MUÇULMANO Artur Goulart de Melo Borges CERÂMICA MUÇULMANA do Montinho das Laranjeiras Hélder M. R. Coutinho HISTÓRIAS DO GUADIANA Maurício Abreu José M. Fernandes José Conde Veiga – texto Augusto Cabrita – fotos José Rabaça Gaspar – (José Penedo de Serpa) RIO GUADIANA SERPA EN/CANTADA EM LENDAS Notas Publicada em: in ARQUIVO DE BEJA, vols. VII / VIII, série III, Agosto de 1998 in ARQUIVO DE BEJA – vol. II e III – série III – Dezembro de 1996, pp. 237 – 248. In LER EDUCAÇÃO, Revista da ESSE BEJA, n.ºs 17/18, Março / Dezembro de 1995, pp. 167 – 220. José Rabaça Gaspar et allii In CONGRESSO sobre o ALENTEJO (ACTAS) – Semeando novos Rumos, vol. III, Évora, Outubro de 1985, pp. 1127 – 1131 e 1720 Síntese António Borges Coelho Arqueologia Medieval 1, Ed. Afrontamento, 1992 – Campo Arqueológico de Mértola Arqueologia Medieval 3, Ed. Afrontamento, 1994? Campo Arqueológico de Mértola Arqueologia Medieval 1, Ed. Afrontamento, 1992 Campo Arqueológico de Mértola Arqueologia Medieval 2, Ed. Afrontamento, 1993 Campo Arqueológico de Mértola RIOS DE PORTUGAL – Edição Gradiva s/d OS MAIS BELOS RIOS DE PORTUGAL, VERBO, 2ª edição, 1996 Rio Fronteira, nomes e Futuro jovem... Ver os “puros de nação”... separata – SERPA ANTIGA – in SERPA INFORMAÇÃO, 4ª série, Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17 Serpínea e Myrtilis... Texto de 1986? Moinhos, pesca e terminologia... Artigos do Professor in Vilas e Cidades Título Autor Francisco Jacinto Artes da construção O Museu Municipal de Arqueologia de Silves Museus de Empresa. Memórias e patrimónios a preservar Património Documental e Desenvolvimento Centro de Documentação e de Informação Artes da Construção Pomarão No Filão da História Alentejo Nosso, Memórias minhas Exposições Organização e Concretização Revista Nº e data Vilas e Cidades Ano II. Nº15. Dezembro de 1997 Notas A importância dos museus e a sua concepção Ano II. Nº27. Dezembro de 1998 Ano III. Nº32. Maio de 1999 Ano III. Nº32. Maio de 1999 Ano III. Nº36. Setembro/ Outubro de 1999 Ano IV. Nº37. Novembro de 1999 Ano IV. Nº37. Novembro de 1999 A importância das raizes A importância das exposições e a sua organização FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 66 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 A Casa Alentejana. A Natureza Manda. O Homem Cumpre Património, Cultura e Memória Social. O Passado Preservado no Presente Alcaria Ruiva Alentejo Nosso, Memórias Minhas Parque Natural do Vale do Guadiana Uma Área Geográfica Protejida Alcaria Ruiva e Aracelis A Aldeia e a Ermida Santiago Macias, em Mértola Lapa Uma Herdade Alentejana No Tempo da Minha Memória Piaget de Almada Uma Ideia de Universidade Turismo e Desenvolvimento Mértola. Autarquia e Desenvolvimento Saúde e Educação O Instituto Piaget em Macedo de Cavaleiros Ano IV. Nº39. Janeiro de 2000 Ano IV. Nº40. Fevereiro de 2000 Ano IV. Nº44. Junho de 2000 Ano V. Nº47. Setembro/ Outubro de 2000 Ano V. Nº48. Novembro de 2000 Ano V. Nº49. Dezembro de 2000 Ano V. Nº54. Maio de 2001 Ano V. Nº54. Maio de 2001 Ano V. Nº%%. Junho de 2001 Ano VI. Nº59. Dezembro de 2001 Ano VI. Nº59. Dezembro de 2001 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 67 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 MULTIMEDIA: Diciopédia 2003 – Porto Editora – 2002 Na internet: http://www.joraga.net ver Alentejo / feiradecastro / grupos corais / AlentejANEDOTAS / Conversar(e) /MERTOLA http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre freguesias. http://mertola.com.sapo.pt/ http://www.alentejodigital.pt/mertola/index.htm http://www.MNARQUEOLOGIA-IPMUSEUS.pt - Página que teve um Prémio de qualidade em Dezembro de 2002 – com bastantes exemplares referente a Mértola, em especial os de epigrafia. In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm - para mitologia in http://mithos.cys.com.br/ - sobre MITOLOGIA Photo CD – ou CD PORTFOLIO – MÉTOLA VILA MUSEU – Copyright AVS – criações multimédia – lda Lisboa Portugal – Campo Arqueológico de Mértola – Kodak – com Texto de Cláudio Torres e Fotografia de António Cunha e Fernando Chaves FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 68 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS Foto in CD POTFOLIO – MÉRTOLA – Vila Museu ANEXOS de A Tradição Oral na Identidade de um Povo Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58 ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget – Almada Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico Professor: Dr. Francisco Jacinto FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 69 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 PLANO DA COLECTÂNEA DE TEXTOS & RECOLHAS – ANEXOS Esquema paralelo ao da apresentação do trabalho - ANX - 1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o PATRIMÓNIO. - ANX - 1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização... - ANX - 2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES: - ANX - 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e - ANX – 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina - ANX - 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... - ANX - 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... - 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... - 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... - 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: COMIDAS - Saudações, formas de tratamento... - ANX - 3. – Outras Formas de Expressão - ANX - 3.1 – LENDA/s 3.1 – 1 – Serpínia – Princesa feliz 3.1 – 2 – A Lenda de Serpínea 3.1 – 3 – Serpa encantada em Lendas 3.1 – 4 – a LENDA DE MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de Mércúrio 3.1 – 5 – A TESOURINHA DA MOURA - ANX - 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO... aremeter para Pélops – Níobe – Tântalo... e Vénus a Deusa do Mirto... - ANX - 3.2 – CONTO/s - ANX - 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... - ANX - 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... - ANX - 3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS - ANX - 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 70 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 1. – FALAM OS MESTRES – Um pouco de Teoria como referência... de J. Leite a Viegas Guerreiro, de Zaluar Nunes, a Francisco Jacinto... Para fundamentar a Importância dos NOMES e de conhecer a Identidade de um Povo... O que caracteriza a Identidade de um Povo na Literatura (Oral) Popular... Definição da Gramática do Português Contemporâneo: A LÍNGUA... A LINGUAGEM... A FALA... «Expressão da consciência de uma colectividade, a LÍNGUA é o meio por que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age. Utilização social da faculdade da linguagem, criação da sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à do organismo social que a criou.» in Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha & Lindley Cintra, Ed. João Sá da Costa, Lx., 1985... FERNÃO LOPES in PRÓLOGO da PRIMEIRA PARTE DA «CRÓNICA DE EL-REI D. JOÃO I DE BOA MEMÓRIA «Grande licença deu a afeição a muitos que tiveram cárrego de ordenar histórias, mormente dos senhores em cuja mercê e terra viviam e hu foram nados seus antigos avós, sendo-lhe muito favoráveis no recontamento de seus feitos.» «E tal favoreza como esta nasce de mundanal afeição, a qual não é salvo conformidade dalguma cousa ao entendimento do homem: assim que a terra em que os homens per longo costume e tempo foram criados gera uma tal conformidade antre o seu entendimento e ela que, havendo de julgar alguma sua cousa. Assim em louvor como per contrairo, nunca per eles é direitamente recontada, porque, louvando-a dizem sempre mais daquelo que é, e se doutro modo, não escrevem suas perdas tão minguadamente como aconteceram.» «Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns, dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta conformidade. Alguns outros tiveram que esto descia na semente no tempo da geração, a qual dispõe per tal guisa aquelo que dela é gerado, que lhe fica esta conformidade, tão bem acerca da terra como de seus dividos.» «E assim parece que o sentiu Túlio, quando veio a dizer: Nós não somos nados a nós próprios porque uma parte de nós tem a terra, e outra os parentes.» Epicteto citado por Mesquitela Lima: «O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.» Epicteto – Daí a importância de chamar as “coisas” ou os “bois” pelos nomes e de sabermos quem e como foi dado um determinado NOME e o que significa. Se conseguirmos FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 71 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 saber o NOME das “coisas”, estamos a entrar no mundo da Cultura Humana «Aquela que estuda a CULTURA integrada nas relações, nas constelações de relações que os homens tecem entre si.», como nos diz Mesquitela Lima 7. Miguel Torga: «Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 8 Cláudio Torres: «Proteger as tradições artesanais é também impedir que a nossa escola continue a insultar aqueles a quem chama “analfabetos” corrigindo o seu falar, o seu gosto e a sua cultura para impor o modelo dominante de Lisboa – Cascais.» Cláudio Torres9. Francisco Jacinto10: Cita Carlos Antero Ferreira: «A ideia de defesa e salvaguarda do património cultural radica na convicção, cada vez mais alargada e generalizada, de que a manutenção das expressões do passado histórico é um dos mais relevantes factores de continuidade na construção da memória colectiva dos povos, concorrendo para a definição e a fixação da identidade social e cultural.» Acrescenta depois a ideia de património imaterial e cultura: «Assim sendo, a noção de património está – ainda que mais “vagamente” – ligada à ideia de cultura imaterial (crenças, lendas, tradições, contos e, dum modo geral, a tudo o que é transmitido por via oral ou integra um conjunto de valores vividos e assumidos por uma sociedade ou por grupos dela constituintes.» Será importante ver neste artigo a visão do autor, como as alusões ao antropólogo Jorge Dias, Helder Pacheco; a evocação de Heródoto «... e a forma como ele entendia a “história”... um património não só digno de ser preservao como transmitido aos vindouros.»; fala ainda de Nuno Santos Pinheiro e de José Mattoso para nos dizer o que se deve entender por património e da necessidade de «... o concurso, em pé de igualdade, da interdisciplinaridade das ciências.» 7 LIMA, Mesquitela Antropologia do Simbólico (ou o Simbólico da Antropologia) –, Editorial Presença, Lisboa, 1983. 8 TORGA, Miguel – “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed., Coimbra 1986. 9 TORRES, Cláudio et allii, Mantas Tradicionais do Baixo Alentejo, (Ângela Luzia – Isabel Magalhães) –, Caderno N.1 - Campo Arqueológico de Mértola – Edição da Câmara Municipal de Mértola, Abril de 1984. 10 JACINTO, Francisco – “Património Cultura Memória Social – O passado preservado no presente” in «VILAS E CIDADES» Ano IV - Mensal N.º 40 – Fevereiro / 2000. 72 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Transcrevemos parte da introdução de um trabalho de: José Rabaça Gaspar, IV Jornadas da SAL/Beja, 2 de Junho de 1995 A LITERATURA (CULTURA) TRADICIONAL) e o Desenvolvimento e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA /DESENVOLVIMENTO Publicado na Revista da Escola Superior de Educação de «LER EDUCAÇÃO» números 17/18, Março / Dezembro 1995. 1 1 uma INTRODUÇÃO AO TEMA A explicação de um título que se pode completar assim: A Literatura (Cultura) Tradicional é, terá de ser, a base, raiz e condição de um desejável, correcto e eficiente DESENVOLVIMENTO. Para que isso aconteça, e para que, através das variadas e múltiplas manifestações da CULTURA, se possa conhecer profunda e verdadeiramente um povo e/ou uma Região, é urgente (já tardia) a criação de um INSTITUTO ALENTEJANO de CULTURA / DESENVOLVIMENTO que, ao mesmo tempo que recolhe, estuda e divulga essa diversificadas manifestações, as anima, dinamiza e apoia, e, ainda ao mesmo tempo, fornece os dados a todos os agentes do DESENVOLVIMENTO os elementos necessários para que o DESENVOLVIMENTO não agrida a IDENTIDADE e AUTENTICIDADE de um Povo e/ou de uma REGIÃO e não se caia na desastrosa corrida ao desenvolvimento copiando o estranho, o estrangeiro, aquilo que agride, que mata a identidade, as características e autenticidade de um Povo / Região... 0.1 – A minha falta de autoridade. Que autoridade tenho para falar disto? Nenhuma. Não sou alentejano, não tenho credenciais. Sou professor da Língua e Literatura Portuguesa, aqui, desde 1980. Para além da formação académica e profissional que trazia e que me permitiu a colocação aqui, desde o início, a minha preocupação foi respeitar as raízes dos alunos com quem me era dado trabalhar. Creio que tenho muitas centenas ou milhares de alunos que o podem testemunhar. Todos os temas que devemos tratar, sempre procurei que fossem enraizados e a partir da cultura e conhecimentos em presença. Não se arrancam as raízes das árvores para que produzam frutos melhores. Acarinham-se, tratam-se e se for preciso, enxertam-se. Assim a LÍNGUA e a LITERATURA. TUDO NASCE DA TERRA COMO A ÁGUA, AS ÁRVORES, AS PLANTAS E AS ERVAS... COMA AS ÁRVORES QUE NOS DÃO OS FRUTOS COM OS SEUS VARIADOS SABORES, COMO AS PLANTAS E AS FLORES QUE NOS INIBRIAM DE MIL CHEIROS E CORES... COMO AS SEARAS QUE NOS DÃO O PÃO QUE NOS ALIMENTA... ASSIM A CULTURA. ESTÁ EM JOGO A NOSSA IDENTIDADE CULTURAL E A NOSSA AUTENTICIDADE COMO INDIVÍDUOS – livres e criadores – E COMO PESSOAS INTEGRADAS NUMA COMUNIDADE, numa SOCIEDADE... AS NOSSAS VIVAS RAÍZES SÃO A GARANTIA DO NOSSO SÃO E CORRECTO DESENVOLVIMENTO. Podíamos comentar aqui o “Erro de Descartes” denunciado recentemente por Damásio que propõe, em vez do famoso “Penso, logo existo” – “Existo e sinto, logo penso”. Ainda não li o livro, mas é evidente que é preciso completar o título de Damásio. Existo e sinto, logo penso, logo falo (comunico...), logo actuo e intervenho... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 73 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 0.2- A AUTORIDADE DOS MESTRES. Donde a autoridade do tema? Uma vez demonstrada a minha incompetência para falar deste assunto, onde o fundamento do tema? Desde 1980, aqui no Alentejo, e desde que entrei na vida activa em 1961, sempre acreditei que continua a ser verdade o aforismo discutidíssimo de Chesterton: O mais importante, para ensinar o latim ao João, é conhecer o João”. É evidente que é preciso saber o Latim. Não chega, nem é o fundamento, por mais iluminados que nos venham dizer o contrário. Em 1983/84 – com os cursos nocturnos, fizemos numa Escola a festa da Poesia, Música e Movimento, para, no final do ano, mostrar a ligação entre a Cultura Tradicional/ Popular e a Erudita, que desenvolvemos durante os todo/s o/s ano/s lectivo/s. A Cultura é ou não é CULTURA. Em 1985, foi, este mesmo, o tema da minha Comunicação no 1º Congresso sobre o Alentejo, Évora, Outubro. (Vide Actas do Congresso sobre o Alentejo, Évora, 1985). Em 1985/86, por trabalhar na Esc. MP de Beja percorri todo o Distrito, apelando a todos os professores para a importância de estarem atentos e recolherem as falas e tradições locais... Durante a Profissionalização em exercício, foi este o tema que propus à SAL e à Universidade Aberta. Em finais de 1986, princípios de 1987, tentámos com Professores da Univ. de Évora, organizar a estrutura base deste Instituto. Em 1987, organizei toda a estrutura do livro publicado pela CM Beja “Poetas Populares do Concelho de Beja” com uma nota introdutória sobre o assunto e um esboço para o estudo das Décimas no final. Em 1989 as Lendas de Beja – do touro e da cobra e Outras Lendas – inédito. Em 1993/94 foi o tema que desenvolvi na Licença Sabática. Em 1994, dois artigos no Jornal Terras do Cante, Nº 1 e 2, Abril e Maio. Em 1994, meados, As Lendas de Moura – A MOURA AMOR A MORTE ou a UTOPIA DA CONVIVÊNCIA (IM)POSSÍVEL – inédito. Em 1994/95, 15/05/95, foi este o tema do trabalho que apresentei como provas de acesso ao 8º Escalão. (Só isto, para não falar de iniciativas e trabalhos menores). (Vide ponto 8, alista de trabalhos desenvolvidos). Se não tenho autoridade sobre o tema, porque nunca ninguém, sobretudo do ME, ligou alguma importância ou deu qualquer valor, porque trabalho e porque venho aqui dizer que é urgente, é importante, é inadiável... e como é algo de fundamental, é vergonhoso que o ME, a Escola em geral, as Escolas, não estejam despertas, atentas, motivadas para este problema, não de uma maneira pontual e ocasional, mas, como é próprio de instituições competentes que exigem e avaliam competências, de um modo sistemático, profundo, sério e em reciclagem constante. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 74 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Algumas citações que julgo serem de uma autoridade acima da média. Manuel Joaquim Delgado in “A ETNOGRAFIA E FOLCLORE – BAIXO ALENTEJO”, 1ª ed. 1957/58, como separata da Revista “Ocidente”, 2ª Ed. Da Assembleia distrital de Beja, 1985, cito apenas, da p.17: “Necessidade da criação de uma cadeira de folclore nas Escolas do Magistério Primário, dado o valor Cultural e formativo que esse ramo do saber humano pode e deve desempenhar nas Escolas Primárias.” Passemos de 1957 para 1995 e podemos ver a quem o onde se deve aplicar esta sugestão que devia ser um imperativo. De José Leite de Vasconcelos, in “ETNOGRAFIA PORTUGUESA – Tentame de Sistematização” – vol. I, p. 328, 343, ed. Da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980 (em 1985 já estava publicado o VII vol.), vou fazer algumas citações e um apanhado do que me parece mais gritante e era urgente fazer na 2ª metade do séc. XIX e na 1ª do século XX. (07/07/1859 – 17/05/1941) (Em 41, com 82 anos ainda escreve o prefácio do III vol. do Cancioneiro). O essencial do que vou transcrever, já o mestre o tinha escrito 1882 e 1919. (Perante o que ele afirma, quem sou eu para me queixar pelo facto de o ME e as Entidades ditas responsáveis não me ouvirem a mim?) «A necessidade / imperativo de estudar as manifestações de um Povo nasce da “máxima antiga: , isto é, nosce te ipsum” – conhece-te a ti próprio. Se isto é importante como base para todo o desenvolvimento individual, “maior aplicação tem” no que diz respeito “a um Povo, olhando no seu conjunto: apreciar como ele interpreta a Natureza que o rodeia, qual a vivacidade ou torpor do seu engenho, a feição e grau de vitalidade da sua literatura, arte e indústria tradicionais, as suas aptidões, génio, tendências religiosas, manifestações psíquicas expontâneas, como julga os povos que o convizinham, ou como se considera a si próprio com relação aos outros; o que são para ele a família e a sociedade; como é que ama, e como é que odeia.” ... Tudo isto é fundamental para quem tenha de, verdadeiramente, penetrar no espírito das sociedades. Através do vocabulário usual, relatos do quotidiano, como reflexo da vida normal, podem conhecer-se as pessoas... Aí têm de ir a Etnografia e a Filologia de mãos dadas.» Para analisar uma obra de Literatura é preciso conhecer o seu contexto histórico. O mesmo se tem de dizer se se trata de escultura, pintura, gravura, cerâmica... Aí, para muitos casos temos de recorrer à Arqueologia... a Antropologia. «...o moderno literato, o artista, o industrial... na execução dos seus trabalhos...(têm de recorrer) a este mancial inesgotável de informações.» «A linguagem vulgar... adágios, cantigas, e várias rimas e fórmulas...» «Pela análise folklórica ficamos sabendo muitos dos hábitos dos nossos antepassados, muito do que eles pensaram e sentiram.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 75 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 «Da comparação do que se observa em um local com o que se observa noutro, e do que existe agora com o que existiu d‟antes, chegamos a inferir que certos usos, crendices e ditos que se julgam próprios de uma terra, existem longe dela, e, ou foram transmitidas de pais a filhos, ou provêm de concepções fundamentais da alma humana, que na sua essência é una.» Há um leque imenso de manifestações a estudar «considerando factos avulsos, ou ordenando-os em grupos como os romances, as danças, as festas populares relacionadas com os mitos da Natureza (cepos do Natal, fogueiras de S. João, serração da Velha, Maias), os costumes anexos à trilogia da vida, ou nascimento, casamento e morte, as superstições do Lobishomem, do mau olhado, dos dias aziagos, as lendas dos sinos, as facécias que podemos denominar Boeótica, (de boémia) os ensalmos e outras espécies de literatura popular, a arte rústica, os trajos, os tipos de casas e as formas de mobília, as variedades de comidas, os modos de transporte... Quantas surpresas históricas e psicológicas não encontraríamos no nosso caminho?» Ainda «...os remédios... feitiços... as crenças e costumes... as superstições... o crédito dado aos sonhos que é universal...” tudo isto fornecerá matéria para estudo se se quer conhecer realmente alguém e sobretudo um povo ou uma Região. Qual o valor prático destes estudos: «Se por ela apreciamos a vida de um Povo, no que tem mais íntimo, os seus caracteres intelectuais, os seus hábitos, as suas aptidões, ficam habilitados o sociólogo, o legislador e o político para lhe aproveitarem as virtudes, combaterem os defeitos e enfim dirigirem e educarem, e não contrariarem tendências naturais que sejam úteis.» Já é longa a transcrição. Seria preciso ler os 7 enormes volumes deste Mestre. Mas há apelos ainda mais directos no que se refere à Escola a que este trabalho se destina. «As crianças, ao irem para as escolas, levam já consigo copioso pecúlio tradicional, que obtiveram das mães e do contacto com o povo, porque o que se aprende na meninice, raro esquece...» «Fará excelente obra o mestre-escola que seleccione esse pecúlio, o regule e complete, aplicando-o ao desenvolvimento psíquico e físico dos seus alunos, que ao mesmo tempo aí encontrarão grande prazer; ...» Depois dá sugestões muito concretas. «... com as adivinhas «esperta-se a atenção e o acume intelectual... com cantigas “promove-se o gosto literário”... com contos e romances “abre-se a memória e activa-se a imaginação”... com os provérbios... com os jogos... com lendas e xácaras...» Cita ainda o mestre que muitos que foram bons governantes, foram-no sem dúvida resultado «...da experiência que tinha da terra, do conhecimento dos homens d‟ella». Por se não conhecerem os povos, quantos guerras e crises se provocaram? «Diante dos aumentos da civilização que se alastra pelas múltiplas camadas sociais, e que portanto destrói mais ou menos as tradições, sobretudo aquelas que estão em contraste com ela, importa indagar com urgência as que ainda restam, para que em breve não fiquemos privados FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 76 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 das vantagens que o estudo da Etn. Nos proporciona. E não me refiro só a tradições orais e actos, refiro-me também a objectos,... Acudamos a tudo enquanto é tempo!» «Empenhemo-nos por isso na investigação das tradições populares; façamos reviver ou conservemos as que forem úteis; rejeitemos ou substituamos as que forem más; e em todo o caso, estudemos tudo,...». A quantidade de trabalhos e iniciativas que é preciso desenvolver, são imensas. (Vide ponto 5). FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 77 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 1.1 – Mértola no Espaço – ALENTEJO com marcas de Colonização... 1 Vide M. J. Delgado (História e Etnografia) 11... Cláudio Torres (Arqueologia) 12... Mattoso (História)13... e J. Rabaça Gaspar (Linguística) 14 – “ O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.” – Epicteto15 ver e Mesquitela Lima16... Delgado: In Estudos Linguísticos – o Idioma Português – Manuel Joaquim Delgado – Editorial Império, L.da Lisboa 1968, p. 111 O nome ALENTEJO de marca colonialista e outros nomes... Delgado remete-nos para J. Leite de Vasconcellos: «1 Na citada obra (Religiões da Lusitânia, Cap. I Época Lusitano-Romana, vol. III) de J. L. De Vasconcelos da pág. 138, diz: «Entre-Tejo-e-Guadiana ou Entre-Tejo-e-Odiana é designação geográfica usada pelos nossos antigos AA. E corresponde pouco mais ou menos à do Alentejo no sentido primitivo da expressão (=além-Tejo). Os antigos costumavam designar muito naturalmente as zonas geográficas pelos nomes dos rios». Ver, sobre o mesmo tema, NOTA 2, p. 104 – 2 Região Entre-Tejo-e-Guadiana. Idem p. 106 «Alguns termos que designam cargos, postos ou profissões, etc., que caíram em desuso mas que sobrevivem ainda em topónimos: «Adaíl, Aguazil, alvazir ou alvazil, alcaide) almoxarife, alvanel, alvenel ou alvanéu, alfageme, almocadém, almotacé, etc. «Na toponímia: Casas Novas do Adaíl, freg.a de Vila Nova de Milfontes. Conc. De Odemira, Horta dos Alvazíis, na freg.a de Selmes, conc. De Vidigueira, Vale de Alcaide de Cima e Vale de Alcaide de Baixo, na freg.a de Quintos, conc. De Beja, Vale de Alcaide, na freg.a e conc. De 11 DELGADO, Manuel Joaquim, In Estudos Linguísticos – o Idioma Português –– Editorial Império, L.da Lisboa 1968, p. 111; 12 TORRES, Cláudio et allii – in Palavras Prévias de MANTAS TRADICIONAIS do Baixo Alentejo, Ângela Luzia, Isabel Magalhães, Cláudio Torres, Caderno N.º 1, Campo Arqueológico de Mértola, Ed. Da Câmara municipal de Mértola, Abril de 1984. 13 MATTOSO, José - Ver “Alentejo não Tem Sombra Senão a que Vem do Céu”, in Revista ARQUIVO DE BEJA, vols. VII / VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 - 29; 14 RABAÇA GASPAR, José et allii, in “A Linguística e a Análise Literária como contributo para o Desenvolvimento do Alentejo – Para a Criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA, in CONGRESSO SOBRE O ALENTEJO (ACTAS) – Semeando Novos Rumos – III vol., Évora, Outubro de 1985, pp. 1127 – 1131. 15 EPICTETO – Filósofo estóico grego (c. 50 a 138). Escravo em Roma, depois de libertado ensinou Filosofia. Na sua doutrina predominam as preocupações éticas. Considerando o homem como um rebento ou parte da divindade, diz ser o seu maior dever tomar todos os acontecimentos da vida como serviço e testemunho de obediência prestada a Deus. In Enciclopédia Fundamental Verbo. 16 LIMA, Mesquitela - Ver citação in ANTROPOLOGIA DO SIMBÓLICO, Editorial Presença, L.da, Porto, 1983. 78 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Ourique, Almoxarifes, na freg.a e conc. De Barrancos, Barranco dos Alcaides, na freg.a de Corte do Pinto, conc. De Mértola.» Mattoso – ver Arquivo de Beja I jornadas: Ver - «ALENTEJO NÃO TEM SOMBRA SENÃO A QUE VEM NO CÉU» - José Mattoso, in Revista Arquivo de Beja, Actas das II Jornadas, ALENTEJO E OS OUTROS MUNDOS, vol.s VII e VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 –30. Começa assim: «Toda a gente sabe que uma das características mais salientes do Alentejo é o seu isolamento.»p. 15 Mais à frente ao tentar descrever a situação do Alentejo antes do século XIII: «As condições geográficas favoreciam portanto, estas estruturas de produção e de circulação...» Descreve depois as grandes vias de circulação... «...a importância do eixo económico do Guadiana desde a antiguidade até ao século XIII»... e «...a sua íntima ligação com o Mediterrâneo... e não com o Atlântico...» e... «Beja era um grande centro do GARB muçulmano... em relação... com outros mundos de que o Mediterrâneo era a grande encruzilhada.» «O que se passou para que Beja (o Alentejo – Mértola...) entre o século XIII e o século XX...» para, de um grande centro, passar a um dos níveis mais afastados deles (dos grandes circuitos internacionais)... As respostas são muitas e complexas... não se deve facilitar nem generalizar... Vale a pena ler todo o trabalho deste Mestre, muito cuidado e abordando as críticas violentas com uma delicadeza que é apanágio deste grande Histotiador e Pensador... mas, conseguimos ler que, afinal, as grandes vias de circulação, terrestres e fluviais, terão sido mais para levar e exportar as “riquezas” do Alentejo do que para contribuir para o seu progresso e desenvolvimento... e portanto com a marca “ferrete” de região “colonizada” explorada em proveito de outros... FIM DE CITAÇÃO. Fica o apelo à leitura do Artigo completo que eu posso ter interpretado mal!!! Ver ainda «INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / DESENVOLVIMENTO (IAC/D)» José Rabaça Gaspar, in Revista ARQUIVO DE BEJA, ACTAS DAS I JORNADAS – CULTURA E SOCIEDADE NO BAIXO ALENTEJO, vol. II / III, série III, Dezembro de 1996, pp. 237 – 248. 1 - «Em 1998, tive o raro privilégio de poder ouvir em directo a intervenção deste Mestre, nas II Jornadas do ARQUIVO DE BEJA e pude ser contemplado com o “elogio” de me ter atrevido a tentar fazer a primeira intervenção, depois da sua Magistral Palestra, que deixou a plateia sem respiração nem capacidade de reacção de tão profunda, clara e inquestionável. Atrevi-me a sugerir, aquilo que tinha já escrito, desde 1985, no CONGRESSO sobre O ALENTEJO, Évora, Out., 85 e o que repetira por outras palavras nas I JORNADAS do ARQUIVO de BEJA, de 13 a 15 de Junho de 1996: Afinal, aquilo que o Mestre em História mostrava com tantos dados e pormenores... podia LER-SE, através de uma análise linguística, na própria palavra FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 79 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ALENTEJO... O determinante ALÉM, mostra que o sujeito está distante do “objecto”. Enquanto o “EU” implica “AQUI” o “ALÉM” indica que foram estranhos que deram NOME ao ALÉMTEJO... e como o nome indica relação ou apropriação de algo... parece que comparando com a História, este “dar NOME”... tem significado, exploração... colonização... isolamento... apropriação indevida do que pertence a um Povo e a uma Região.» Ainda duas citações do resumo que enviei, recomendando, para ser entendido, a leitura dos vários trabalhos em que me tenho debruçado sobre o assunto... «... 2 – Dadas estas e outras características marcantes, esta REGIÃO, tem sido ao longo dos tempos fortemente cobiçada, usada, colonizada, (basta analisar o nome ALENTEJO) a ponto de, mesmo os seus autóctones e defensores se considerarem sistematicamente ignorados e marginalizados. Por tradição e tendência do POVO português em geral fica-se normalmente à espera de um “DESEJADO” que nos salve; de um “génio”- que faça o que deve ser feito por muitos; das “AUTORIDADES COMPETENTES”, que nos mandem fazer o que nos compete; dos subsídios e apoios da “EU” – que venham dar valor ao que é nosso!!! ...» «... 3 – Em vez de nos lamentarmos, resta-nos tomar consciência de que ninguém virá reconhecer os nossos VALORES para nosso benefício... Pertence aos autóctones (indígenas ou que escolheram aqui viver) o dever se conhecerem e reconhecerem com as suas qualidades e defeitos, e para isso o dever de recolher, estudar, divulgar os VALORES que os caracterizam como REGIÃO, bem como, para o poderem exigir aos outros (Governos etc.), considerar estas características como base, fundamento e condição do seu desejável e imprescindível DESENVOLVIMENTO.» Ver também – Rabaça Gaspar – in Actas I Congresso sobre o Alentejo – Out 1985, (já citado). Ver ainda, de novo, Cláudio Torres – in Palavras Prévias de MANTAS TRADICIONAIS do Baixo Alentejo, (já citado no 1º ponto). FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 80 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 2. - Mértola – a NOMINALIA ou a festa dos Nomes FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 81 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina Mértola - Concelho do distrito e diocese - de Beja, comarca de M. O concelho (1279 km2) In Web: http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre freguesias Orago - Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas Área - 1279 Km2 cerca de 10.000 habitantes Feriado Municipal - 24 de Junho Ordenação heráldica do brasão e bandeira Publicada no Diário da República, III Série de 02/02/1987 Armas - Escudo de negro, um cavaleiro de armadura, cerco e manto, com espada alçada na mão direita e no braço esquerdo um escudo carregado de uma cruz de Santiago, de vermelho, montado num cavalo empinado, tudo de prata, o cavalo selado e enfreado de negro realçado a ouro. No cantão direito do chefe, dois martelos de prata, postos em pala e alinhados em faixa. Coroa mural de prata de quatro torres. Lintel branco com os dizeres : " VILA DE MÉRTOLA ", de negro. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 82 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Nome – grafados de diversas maneiras de acordo com a influência da ocupação romana, árabe e reconquista: Myrtilis – da presença romana – a muralha na margem do rio – ponte-cais... – em várias obras e autores... Mirtilis – «... fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe, que o teve de Mercúrio.» in Arquivos de Serpa, João Cabral, Serpa, 1971 – na Lenda «Serpínia, Princesa Feliz» Mirtilys Júlia – Mário Elias in Estudos literários sobre Mértola e seu Concelho, Associação dos Municípios do Distrito de Beja, s/d, MVRTILIS – António Marques de Faria – Colonização e Municipalização nas Províncias Hispano Romanas– in Internet... Myrtilis Julia (Mértola) (Mantas, 1987, p. 28) – cita FARIA Murtilis – terá sido provavelmente colónia de César... (Faria in citado) MARTULA (Romage (1998, p. 440, n. 38) citado por FARIA Myrtilis – Nova Tiro, porque aqui se homiziaram alguns Fenícios quando Alexandre Magno invadiu a cidade de Tiro ... e nos séc V a VIII – rotas marítimas e comerciais inseguras... alberga comerciantes nativos e orientais Mārtula – árabe Mártula - «... com o andar dos tempos Mirtilis corrompeu-se em Mártula – Arquivo Histórico de Portugal 1898 – citado por Carlos Leite Ribeiro – in cidade Virtual - Mértola Mirtolah – árabe - in As mais Belas Vilas e Aldeias de Portugal – Verbo – (1984) 1996 - séc. XI e XII – período islâmico - foi capital de um reino cujo território incluía a cidade de Beja (in Mértola – Vila Museu p.14) MÉRTOLA - 1238 – D. Sancho I – integrada no Reino de Portugal... - 1250 - foral por D. Afonso III – confirmado em 1287 por D. Dinis e reformado em 1512 por D. Manuel I - séc. XV início XVI – FOI PORTO DE ABASTECIMENTO CEREALÍFERO das praças portuguesas de norte de África... e depois perde em favor dos estuários do Sado e Tejo... - 1877 – intervenção de Estácio da Veiga sobre achados arqueológicos... após grande cheia... - 1978 – trabalho continuado 100 anos depois pelo Campo Arqueológico de Mértola... - até 1966 parte da economia baseava-se na exploração da mina de S. Domingos (desde 1858)... Vide DIVERSOS nomes relacionados: In Enciclopédia Verbo – Luso-Brasileira de Cultura – Edição Século XXI Ver – Mértola – mirtilo – murta – Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia de Ciências de Lisboa – Editorial Verbo – 2001 Ver – mertolense e mertolengo – mirto – murta – ... Nomes e PALAVRAS, possivelmente ligadas a MÉRTOLA & MÍRTILO MIRTILO [mirtílu] s.m. (do lat. científico myrtillus). bot. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 83 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 1. planta subarbustiva, da família das ericáceas ( Vaccinium myrtillus, lin.) que produz bagas comestíveis; 2. Baga negra e comestível, de sabor ligeiramente ácido e com propriedades adstringentes, produzida por essa planta. Doce de mirtilo. MIRTO [mírtu] s. m. (Do Lat. myrtus - grego murtos) 1. Bot. planta da família das mirtáceas de folhagem sempre verde, pequenas flores brancas, de aroma agradável, fruto baciforme, negro azulado, na maturação, também designado por murta. 2. Folha ou conjunto de folhas dessa planta. Uma coroa de mirto. MURTA [múrta] s. f. ( do let. murta do gr. murtos). bot. 1. Designação comum de uma planta arbustiva, por vezes arborescente, da família das mirtáceas (Myrtus comunis, Linn.) de folhas opostas, duras, levemente pecioladas e aromáticas quando esmagadas, flores brancas e perfumadas, fruto pequeno, ovóide negro e azulado, quando maduro, espontânea ou cultivada em Portugal. Bagas de murta. Colheu um raminho de murta, mas o vento da serra depressa lhe murchou as flores. A essência extraída das flores da murta é usada em perfumaria. 2. Fruto dessa planta, aromática e com propriedades balsâmicas. Deliciava-se com o licor de murta que trouxera da aldeia. Antigamente, usava-se a murta em determinados preparados farmacêuticos. MURTAL [murtál] s. m. (De murta + suf. al). 1. área onde crescem ou se plantam murtas. murteira [murtéira] s. f. (De murta + suf. eira) Bot. o mesmo que murta. murtinheira - o mesmo que murta murtinho - Baga da murta... mertolengo 1- o mesmo que mertolense Habitante de Mértola mertolengo 2 - o mesmo que mertolense Habitante de Mértola mertolense 1- Habitante de Mértola mertolense 2 - Habitante de Mértola (vide in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Verbo, 2001. Páginas Amarelas 2002 – 2003 – Nomes e apelidos mais repetidos... Cartografia – nomes de lugares... COMISSÃO NACIONAL DE ELEIÇÕES – Distritos, concelhos, Freguesias FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 84 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Outros dados sobre MÉRTOLA: com uma pop. total residente de 9805 habs. (1991). Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro. Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite. Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e olaria. Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no último fim-de-semana de Setembro. Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha, beijinhos de Mértola e pão alentejano. Desenvolvimento anterior à nacionalidade: - foi entreposto comercial fenício, cartaginês, romano e árabe... Património: - Castelo com Torre de menagem de 1292 - Muralha Romana 1500m e 5m de espessura... - Igreja de Nossa Senhora da Anunciação – antiga Mesquita - ? séc. XI, DAPTADA DEPOIS DA Reconquista e obras em finais do séc. XIII - Igreja da M – séc XVI Misericórdia... transformações no séc. XVIII - Ponte de Mértola – É provavelmente uma torre de aceso á agua – Monumento Nacional 16.6.1910. - Núcleo visigótico – na Torre de Menagem com obras do séc. VI e VII quando era parte integrante do Reino Visigótico de Toledo - Núcleo de ferreiro – desde 1983 - com instrumentos da profissão... - Núcleo da tecelagem – expositivo com objectivo de recuperar técnicas em vias de extinção... - Núcleo islâmico – colecções de cerâmica lápides... fragmentos... - Núcleo paleocristão - ruínas da Basílica paleocristã... escavada em 1982, onde apareceram sepulturas do séc. V ao VII... inaugurado em 1993... - Núcleo do Castelo – inaugurado em 1992 – com peças de várias épocas... - Núcleo romano – inaugurado em 19888 na Cave da Câmara... estátuas... moedas... armas... - Núcleo da Necrópole e Ermida da Achada de S. Sebastião – 1999 – ermida destruída pelas cheias de 1876... - Núcleo da Porta da Ribeira (arte sacra) – Ver ainda. Em Alcaria Longa – Povoado Medieval... e Corte Pinto... Igreja de Nossa Senhora da Conceição e descobertas de 1987 de enterramentos em sepulturas cavadas na rocha com datação provável do séc. XVIII Então e a Mina de S. Domingos?????????? FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 85 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX – 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina Embora este ponto seja tratado com maior desenvolvimento, quando falarmos das LENDAS, em ANX 3.1 e 3.1.1, talvez seja oportuno deixar aqui algumas referências sobre a mitologia grecolatina que podem contribuir para encontrar um sentido ao NOME que foi dado a MÉRTOLA. in http://mithos.cys.com.br/ Mirtilo Mitologia Greco-Romana Filho de Mercúrio e de Mirto. Sendo cocheiro de Enomáo, traiu-o numa corrida em proveito de Penélope (ver PÉLOPE ou PÉLOPS) e, como castigo, foi precipitado no mar, donde foi transportado para o céu e colocado na constelação de Cocheiro. Ver A MITOLOGIA - Edith Hamilton p. 359... «Era Cocheiro do pai da princesa Hipodamia e traiu o rei em favor de Pélope o irmão de Niobe, filhos de Tântalo...» Niobe Mitologia Greco-Romana Rainha frígia, filha de Tântalo, irmã de Pélops mulher de Amphion, foi mãe de sete filhos e sete filhas. Orgulhosa dessa sua fecundidade, zombou de Latona, que só teve um casal de gêmeos: Apolo e Diana; estes para vingarem sua mãe, mataram, a flechadas, todos os filhos de Niobe. A infeliz mãe, desesperada de dor e fechada em profundo mutismo, pediu a Júpiter que a mudasse em rochedo, e, em seguida, encaminhou-se para a montanha Sípile, onde as rochas cresceram ao redor do seu corpo, envolvendo-a em uma bainha de pedra; neste estado, um turbilhão arrebatoua para a Lídia, e a depôs sobre o cimo de uma montanha, onde ela derrama lágrimas que, perpetuamente, correm de um bloco de mármore. PÉLOPE E HIPODÂMIA – ( e o papel de MIRTILIS...) In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm Mas a chegada de Pélope à Elida veio terminar com a história de derrotas mortais. Pélope era o filho de Tântalo, a quem este tentou oferecer como manjar insultante aos deuses, fato pelo qual Tântalo foi castigado eternamente, enquanto o inocente Pélope era devolvido à vida por eles, após ser recomposto quase totalmente. Após o incidente, o jovem protegido dos deuses chegou às terras de Enomau e apaixonou-se pela bela Hipodâmia. Como era natural, o rei desafiou-o à mortal corrida e o jovem, sentindo-se acompanhado pela boa vontade divina, aceitou o desafio. Há quem diz que Pélope contava com uns cavalos ainda melhores, oferecidos por Possêidon, e a melhor qualidade dos corcéis foi a causa exclusiva do seu triunfo; há outros que preferem a versão do amor da princesa, e por isso asseguram que foi Hipodâmia quem decidiu terminar com a sanha do rei Enomau, que se negava a aceitar a possibilidade de ser o sogro, e preferia evitar o laço político potencial, atuando como um pai muito ciumento. Hipodâmia, farta de ter que resignar-se a ver desaparecer na fossa tantos admiradores valentes, sem chegar a desfrutá-los, inventou uma solução definitiva ao seu problema, fazendo com que um suborno chegasse a FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 86 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Mirtilo, moço de cavalariça do rei, para que este atentasse contra Enomau, deixando o eixo do carro real quase partido ao meio. A corrida começou e o carro real ficou de fora, sem nenhuma possibilidade de chegar, embora fosse o último, à meta. Para rematar a história, conta-se que Pélope deu morte a Mirto, não sem que este o maldissesse antes de morrer. Resulta trágico que Mirto morresse pelas mãos de quem tinha ajudado a viver, apesar de ter sido ele responsável do seu triunfo, mas isto pode ser interpretado como outro desses fatos infelizes que trouxeram a desgraça a toda a estirpe de Tântalo e que vêm justificar ainda mais o infortúnio do clã. O que se pode dizer com certeza é que o sanguinário e implacável deus do sofrimento alheio, Ares, embora só o fosse por intermédio do fracasso do seu amigo Enomau, também terminou a aventura numa má situação, dado que a derrota desse cúmplice era -em boa medida- também uma derrota própria. E sem nenhum gênero de dúvida, os gregos colocavam a prenda de Ares num lugar proeminente da lenda de Hipodâmia, para que se pudesse claramente ver a classe de indivíduo celestial que era o deus próprio das guerras. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 87 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... In Web: http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre freguesias Área - 1279 Km2 cerca de 10.000 habitantes Feriado Municipal - 24 de Junho Freguesias Alcaria Ruiva Corte do Pinto Espírito Santo Mértola Santana de Cambas São João dos Caldeireiros São Miguel do Pinheiro São Pedro de Solis São Sebastião dos Carros FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 88 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Mértola - Concelho do distrito e diocese de Beja, comarca de M. - O concelho (1279 km2) tem nove freguesias: Alcaria Ruiva (orago - Nossa Senhora da Conceição), Corte do Pinto (Nossa Senhora da Conceição), Espírito Santo (Espírito Santo), Mértola (Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas), Santana de Cambas (Sta. Ana), São João dos Caldeireiros (S. João Baptista), São Miguel do Pinheiro (S. Miguel), São Pedro de Solis (S. Pedra Apóstolo), São Sebastião dos Carros (S. Sebastião) com uma pop. total residente de 9805 habs. (1991). Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro. Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite. Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e olaria. Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no último fim-de-semana de Setembro. Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha, beijinhos de Mértola e pão alentejano. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 89 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Mértola tem nove freguesias – os LUGARES E RUAS...: Freguesia Alcaria Ruiva Orago Nossa Senhora da Conceição Lugares ÁGUA SALGADA AIPO ALCARIA RUIVA ALGODOR AMENDOEIRA DE BAIXO AMENDOEIRA DE CIMA AMENDOEIRA DO CAMPO AMENDOEIRAS ATAFONA AZINHAL BENVIÚDA BOISÃO CARRAPATEIRA CASA DA MUDA CASA DA SERRA CERQUINHA CORTE COBRES CORTE JOÃO CINZA CORTE PEQUENA EIRINHA FERRARIAS JOÃO SERRA MAL JULGADO MALHADA MALHÃO MECIARES MINGO REI MONTE DA GRADE MONTE DA LÉGUA MONTE DAS FIGUEIRAS MONTE DO OUTEIRO MONTE NOVO DO FUTURO MONTE RUIVO Monte Viegas MONTINHO FIALHO NAVARRO NEVES ORGANIM OUTEIRO PESO POMBAL SÃO LOURENÇO TRÊS FREIRAS VALBOM VALE AÇOR DE BAIXO VALE AÇOR DE CIMA VALE BOM DE BAIXO VALE DE CAMELOS VALE FRESCO VENDA DOS SALGUEIROS VEREDA Corte do Pinto Nossa Senhora da Conceição 25 de Abril – Rua Notas / Pistas Aldeia Nova - Rua Alfadega – Largo Bairro 1 de Maio Bairro Alto Barranco dos Alcaides Ver em Delgado Bispo – Rua FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 90 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Boavista – Rua Bonfim – Rua Cabanitas – Rua Capelão – Rua Caseta – Rua Celeiros – Rua Centro – Largo Chança – Rua Conceição – Rua CORTE AZINHA CORTE DO PINTO Corte – Rua D. Carlos – Rua D. Eduardo – Rua Dona Amélia – Rua Dona Lídia – Rua Dr. Rocha – Rua Dr. Serrão Martins - Rua Dr. Vargas – Rua Eiras – Rua Escola – Largo Escola – Rua Filarmónica - Rua GNR – Largo Guadiana – Rua Hospital – Largo Igreja – Largo ILHA Indústria – Rua Liberdade – Rua Longa – Rua Marco Encarnado - Rua Mercado Novo – Largo Mercado Velho - Largo Mercado – Rua MONTE BARBA MONTE DO SOSSEGO Nascente – Rua Norte – Rua Poente – Rua Quartéis Dobles – Rua Santa Bárbara – Rua Santa Eugénia – Rua Santa Isabel – Rua Santo António – Rua São Domingos - Rua São Francisco - Rua FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 91 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 São João – Rua São Pedro – Rua Serpa – Rua Sul – Rua Espírito Santo Espírito Santo Mértola Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas Violeta - Rua ÁLAMO ALCARIA DOS JAVAZES ALMOINHA VELHA BESTEIROS BICADA BOAVISTA BOMBEIRA VELHA BRAMAFÃO COLGADEIROS CORTE CARRILHO D’ORDEM EIRINHA ESPÍRITO SANTO GAFA MARROCOS MESQUITA MOINHOS DE VENTO MOINHOS DE VENTO DE BAIXO MOINHOS DE VENTO DE CIMA PALAQUEIRA PENHA DE ÁGUA RONCÃO DE BAIXO RONCÃO DE CIMA RONCÃO DO MEIO ROUCANITO SEDAS VICENTES ZAMBUJAL 25 de Abril – Largo 25 de Abril - Rua 5 de Outubro - Rua ACHADA DE S. SEBASTIÃO Adriano correia de Oliveira - Rua ALÉM RIO Aloriso Gomes – Largo ALTURA DOS COITOS Álvaro Marinha de Campos - Rua Alves Redol – Rua AMENDOEIRA DA SERRA Angola – Rua Aureliano Mira Fernandes - Avenida Bairro Novo - Rua BRITES GOMES Brito Camacho – Largo CACHOPO Cândido dos Reis - Rua Cândido dos Reis - Travessa CELA Cerro da Forca – Praceta CERRO DO BENFICA Combatentes da Grande Guerra - Rua CORTE DA VELHA CORTE GAFO DE BAIXO CORTE GAFO DE CIMA CORTE PEQUENA CORTE SINES CORVOS Delfim Rosa Alho - Rua D. Sancho II - Rua Dr. Afonso Costa – Rua FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 92 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Dr. António José de Almeida - Rua Dr. Manuel Francisco Gomes – Rua Dr. Serrão Martins – Rua Dr. Serrão Martins – Travessa Dr. Teófilo Braga – Rua Elias Garcia – Rua FERNANDES Igreja – Rua José Carlos Ary dos Santos – Rua Latino Coelho – Rua Leal – Beco Lojas – Praceta LOMBARDOS Luís de Camões – Praça Maria Luísa Sales – Rua MILHOURO MONTE ALTO MONTE DA BELA VISTA MONTE DOS AMORES MONTE VALE DAS ANTAS MONTE XERIFE MORENA MOSTEIRO Nacional 122 – Estrada NAMORADOS NEVES Neves – Travessa Nossa Senhora da Conceição – Rua Oliveirinha – rua PIAS POÇO DOS 2 IRMÃOS POÇOS NOVOS POMAR DA BOMBEIRA Professor Batista da Graça - Rua Professor Sebastião e Silva – Rua QUINTA República da Guiné - Rua República de Cabo Verde – Rua República de Moçambique – Rua República se São Tomé e Príncipe – Rua República – Rua Roncanito – Travessa Rossio – Largo Rossio – Travessa SAPOS SERRO DE SÃO LUÍS Soeiro Pereira Gomes – Rua TAMEJOSO Timor – Rua VALE DE ÉVORA Vasco da Gama – Largo Visc Boisós - Rua Zeca Afonso - Rua Santana de Cambas Sta. Ana ACHADA DO GAMO ALVES BENS COSTA FORMOA MOITINHO MONTE SAPOS MONTES ALTOS MOREANES PICOITOS FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 93 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 POMARÃO SALGUEIROS SANTANA DE CAMBAS SERRALHAS TELHEIRO VALE DO POÇO VALE FORMOSO São João dos Caldeireiros S. João Baptista VALE TRAVASSOS ÁLVARES CORTE PÃO E ÁGUA HERDADE DE SANTA MARIA HORTA DE SÃO JOÃO LEDO MARTINHANES MONTE CORVO MONTE COSTA PALMA PENILHOS QUINTA DA CALDEIRA ROMEIRAS SÃO JOÃO DOS CALDEIROS (?) SIMÕES TACÕES TOURIL VASCO RODRIGUES São Miguel do Pinheiro S. Miguel ALCARIA LONGA CASTANHOS CHANOCA CORCHA CORREDOURA DIOGO MARTINS ESPRAGOSA FONTES GATO GÓIS GÓIS GORDO LOBATO MALHÕES MANUEL GALO MILHALVO MONTE AGUDO MONTE NOVO MONTE NOVO DE MARREIROS MONTE VELHO MONTES SANTANA MURTEIRA NEGRACHO NEVES FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 94 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 PEITEIRA PENEDOS PEREIRAS RONCÃO SÃO MIGUEL DO PINHEIRO SERRANOS São Pedro de Solis S. Pedro Apóstolo São Sebastião dos Carros S. Sebastião TOURIL BARRANCO BICADA CASA NOVA CASA VELHA CASTELEJO FIALHO GATÃO GIRALHEIRA HORTINHA MIGUENSES MONTE DE NEGAS MONTE NOVO DA OLIVEIRA QUINTA DOM MAIOR ROSA SÃO PEDRO DE SÓLIS VENTOSA ZURRAL BELO BOISÕES BOISÕES DE BAIXO BOISÕES DE CIMA CARROS PAPA LEITE PAPA LEITINHO PIRES ALVES RAMOS SÃO BARTOLOMEU DA VIA GLÓRIA SÃO SEBASTIÃO DOS CARROS VARGENS Esta é só uma amostra a partir de uma simples leitura das Páginas Amarelas... Ficam a faltar os nomes de lugares... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 95 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 MÉRTOLA – MAPA – para possível localização das Freguesias, Montes e Lugares... Ver ainda. Em Alcaria Longa – Povoado Medieval... e Corte Pinto... Igreja de Nossa Senhora da Conceição e descobertas de 1987 de enterramentos em sepulturas cavadas na rocha com datação provável do séc. XVIII Então e a Mina de S. Domingos?????????? FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 96 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... É um capítulo que, necessariamente, fica muito incompleto e se apresenta só como “amostra”. Esperávamos encontrar uma série de nomes que nos levassem à revelação da quantidade de povos e gentes que passaram por esta “encruzilhada”, mas nem a fonte a que recorremos, nem os conhecimentos que temos sobre o assunto nos permitem tirar conclusões... Foto in CD PORTFOLIO – Mértola Vila Museu FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 97 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 NOMINÁLIA – APELIDOS – uma AMOSTRA dos mais repetidos e alguns raros Apelido / Família AFONSO ALHO ALMEIDA ALVES ANASTÁCIO ANSEITEIRO ANTÓNIA ANTÓNIO ARBINA ARMSTRONG ARRAIA ASSUNÇÃO AUGUSTA / O AZEDO BACALHAU BAIÃO BAIOA BARÃO BATINHA BATISTA BENTO BOIÇA BRAIZINHA BRANCO BRITO CAETANO CAIXINHA CALHEGAS CALQINHA CAMACHO CANDEIAS CANGALHINHAS CAPELO CAPITO CARANGUEJO CARDEIRA CARMO CARRACINHA CARRASCO CATARINA / O CAVACA CAVACO 26 12 7 8 6 1 11 9 1 6 7 2 8 – 1 BAIÔA 11 8 25 14 14 10 2 2 2 17 2 3 6 3 2+2 16 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 98 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 CESÁRIO CIPRIANO COELHO COLAÇA COLAÇO CONCEIÇÃO CONDUTO CONFEITEIRO CONTENTE CORREIA COSTA CRUZ CUSTÓDIA / O DIAS DIOGO DIONÍSIO DOMINGOS DRAGO ENCARNAÇÃO ESTEVENS FERNANDES FERREIRA FILIPE FRANCISCA / O GALHORDO GIMENES GODINHO GOMES GONÇALVES GUERREIRO HENRIQUE HORTA INÁCIA / O JACÓ JACOB JESUS JOÃO JOAQUIM / NA JOSÉ LAMPREIA LANEIRO LOPES LOURENÇO LOURO LÚCIA LÚCIO LUÍS 2 8 8 26 25 11 4 17 61 22 2+5 29 10 2 12 2 8 38 9 9 4 + 13 19 30 29 47 10 14 1 + 14 2 15 4 4+4 15 10 16 13 2 2 13 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 99 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 MACHADO MACIAS MADEIRA MANUEL MARIA MARQUES MARTINS MATEUS MATIAS MEDEIRO / S MESTRE NEVES NUNES PALMA PARREIRA PAULINO PEDRO PEREIRA PIRES RAMOS RAPOSO REIS REVES REVEZ RIBEIRO RODRIGUES ROLHA ROMAN ROMANA ROMÃO ROMBA ROSA ROSÁRIO RUAS RUIVO SANTOS SEITA SENO SILVA SILVESTRE SIMÃO SOARES TEIXEIRA VALADAS VALENTE VARGAS VIEGAS 12 10 10 32 32 86 2 10 2 + 15 37 10 12 113 7 10 7 70 10 12 42 19 7 – 1 é Revês 10 7 41 4 5 13 7 42 9 7 7 56 8 52 12 9 9 47 7 16 12 9 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 100 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 VIRIATO VISEU WINTER XIMENES ZEFERINO ZWANIKKEN 3 Ver em António Borges Coelho - «SOBRE MÉRTOLA E O GUADIANA» - in ARQUEOLOGIA MEDIEVAL, 1 – ed. Afrontamento, 1992 – Campo Arqueológico de Mértola: o nome do pároco em 1613: «Em 1613 o pároco Vicente Afonso Lampreia envia ao Santo Ofício uma relação dos fugitivos de Mértola. Aproveita para lembrar que a vila é uma terra de passagem onde não há familiar e oferece-se para comissário do Santo Ofício»... falando do tempo dos Filipes e suma época em que: «O rio quase volta a unir.» Pareceu-nos importante destacar este nome: LAMPREIA, como nome característico e ligado à Terra e ao Rio... mas não deixa de ser intrigante para apresentar Mértola como: TERRA DE PASSAGEM, onde não há (ou não tem?) FAMILIAR e oferece-se para comissário...!!! FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 101 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - ANX 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... Embora se verifique com bastante facilidade que muitos dos APELIDOS ou NOMES de FAMÍLIA derivaram possivelmente de antigas ALCUNHAS devido à profissão e outros factores que seria preciso estudar, fica ainda um MUNDO a desvendar para recolher, investigar e estudar o significado desta quase necessidade secular de atribuir outro nome às pessoas que não o de registo... Não sabemos o que se passa em Mértola... mas é importante saber... Como pista para este estudo, ver diversos trabalhos de Francisco Martins Ramos, de quem só consultámos: ALCUNHAS ALENTEJANAS – Estudo Etnográfico, Edição da Associação de Defesa dos Interesses de Monsaraz (ADIM), Monsaraz, Dezembro de 1990; mas temos conhecimento de, pelo menos, mais duas obras, tendo sabido já em 2003 de um TRATADO das ALCUNHAS Alentejanas, da autoria do Dr. Francisco Ramos e Carlos Alberto da Silva, Editora Colibri, 2003. Registo de alguns textos mais significativos... «Estudar designações num oral quotidiano, em perspectiva plurifacetada de apuramento de significações, funções sociais e distribuição geográfica, é um acto de coragem intelectual: exige conhecimentos especializados, rigor conceptual e disciplina metodológica, numa encruzilhada multidisciplinar em que confluem a Lexicologia, a Semântica e a sociologia.» (in Alcunhas Alentejanas – Francisco Martins Ramos, Monsaraz, 1990, p. 13) e talvez se possam acrescentar algumas mais, como a Antropologia, a Psicologia, etc. Perante a impossibilidade de recolha de ALCUNHAS recolhidas no terreno, transcrevemos nomes de APELIDOS que provavelmente derivaram de antigas ALCUNHAS, como os ligados a profissões, produtos da terra, árvores, animais... ALHO – ANSEITEIRO – ARRAIA – AZEDO – BACALHAU – BARÃO – CAIXINHA – CANDEIAS – CANGALHINHAS – CARANGUEJO – CARRACINHA – CARRASCO – CAVACO – COELHO – CONDUTO – CONFEITEIRO – CORREIA – GUERREIRO – HORTA – LAMPREIA – LANEIRO – LÚCIO – MACHADO – MADEIRA – MESTRE – NEVES – PALMA – PARREIRA – PIRES – RAMOS – RAPOSO – RIBEIRO – ROLHA – ROSA – SILVA... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 102 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... Neste Capítulo, fomos encontrar, no Parque Natural do Vale do Guadiana, pelo menos duas obras fundamentais, pelo que verificamos que já não será uma sugestão nossa que vai alertar para o estudo deste tema, nem era esse o nosso propósito. Trata-se de um trabalho notável. É preciso descobrir entretanto como é que este trabalho vai fazer parte do quotidiano das pessoas como afirmação da sua cultura. Todos nós temos assistido um pouco a um fenómeno estranho, que tem acontecido durante algumas décadas e caricaturado naquela anedota do ancinho: o filho sai de ao pé dos pais para ir estudar, e como já sabe muito, quando volta a casa e vai ao campo com o pai, já não sabe como se chama aquela alfaia com dentes para juntar a palha e as folhas, a não ser quando o pisa e leva com ele na cara. À medida que as pessoas “vão saindo” para saberem mais, aquilo que sabiam em crianças, quando corriam livres pelos campos atrás dos pássaros e dos animais, depois de alguns anos de estudo, já não sabem!?? Como se chama aquela árvore? Como se chama aquela flor? Como se chama aquela ave? NADA!!! Será que ficam ao menos a saber o nome científico? Dá-se uma total descaracterização cultural ou o que é que se passa? É importante tomar consciência que o Universo da Linguagem de tudo o que nos rodeia, constrói e define o nosso Universo Cultural – caracteriza o Universo Cultural de uma região. Não estamos a sugerir que as pessoas não devem estudar e saber mais. Estamos a dizer exactamente o contrário. O que não devem, é esquecer aquilo que antes aprenderam, nem rejeitá-lo, antes assumi-lo e desenvolvê-lo ou corrigi-lo, se for o caso. O nosso contributo neste capítulo é apreciar o trabalho realizado que fomos encontrar, como todo o restante das várias entidades de Mértola, e sugerir que se descubram os meios mais eficientes e até lúdicos para que estes conhecimentos não se percam e junto com os nomes dos livros, se continuem a saber os nomes que os antepassados da região nos legaram com o seu significante, significado e talvez com o seu simbolismo... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 103 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 1. PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Leonor Rogado (Texto), Carlos Carrapato (fotografia), Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2001 Com um Glossário no final que, segundo pensámos nos ia facilitar o trabalho, encontrando a lista dos PEIXES, com o seu nome científico e nome popular por que são conhecidos, mas que afinal contém, o que seria mais importante para os autores e organizadores, a lista das palavras que ofereceriam mais dificuldade aos possíveis leitores. Entretanto, basta recorrer ao índice para termos o levantamento do nome dos PEIXES, segundo as várias espécies e até menciona os secundários... Lista dos PEIXES – para ficar com uma ideia da influência que terão na região: p. 3 (Obra citada) Espécies migradoras Nome vulgar Enguia Esturjão Lampreia Sável Savelha Nome científico Anguilla anguilla Acipenser sturio Petromyzon marinus Alosa alosa Alosafalax p. 3 (Obra citada) Espécies nativas residentes Nome vulgar Nome científico Barbo de Steindachner Barbus steindachneri Barbo-de-cabeça-pequena Barbus microcephalus Barbo-do-sul Barbus sclateri Boga do Guadiana Chondrostoma willkommii Boga-de-boca-arqueada Chondrostoma lemmingii Bordalo Leuciscus albumoides Caboz-de-água-doce Salaria fluviatilis Cumba Barbus comiza Escalo do sul Leuciscus pyrenaicus Saramugo Anaecyplis hispanica Verdemã Notas Solho Notas Saramugo – uma espécie em extinção – tem um panfleto de divulgação da Faculdade de Ciências da UL e do Instituto da Conservação da Natureza e até na Web: http://hello.to/saramugo Cobitis paludica p.3 (Obra citada) Espécies introduzidas residentes Nome vulgar Achigã Carpa Chanchito Gambúsia Lúcio Peixe-gato-preto-arnericano Perca-sol Pimpão Nome científico Micropterus salmoides Cyprinus carpio Cichlasoma facetum Gambusia holbrooki Esox lucius Ameiurus meias Lepomis gibbosus Carassius auratus Notas p. 123 ( Obra citada) Espécies secundárias Nome vulgar Nome científico Notas Agulinha Sygnatus abaster Fauna do Guadiana Esgana-gata Gasteroteus aculeatus Fauna do Guadiana FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 104 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Fúndulo Tainha-fataça Tainha-garrento Tainha-olhalvo Fundullus boyeri Liza ramada Liza aurata Mugil cephalus introduzida Fauna do Guadiana Fauna do Guadiana Fauna do Guadiana Para mais informações, encontrámos ainda em MEMÓRIAS PAROQUIAIS de 1721 e 1758 informações que constam das respostas aos inquéritos realizados nessa época. Ver: AS TERRAS – AS SERRAS E OS RIOS – As Memórias paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola, Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a História Local 1 – Edição do Campo Arqueológico de Mértola, 1995. VER: p. 42 peixe: PICOIS – BOGAS – PERDELHOS – EYROZES – CAGAÇOS - ...BORDOLOS; p. 50 BARBOS – EIRÓS – MUGES e alguas SOLHOS; p. 56 PEXES LISSAS (SAVES – LAMPREYAS – SOLHOS) (as ribeiras enumeradas são: COBRES – TERGES – OUEYRAS – LAMPREYA e VASCAM) p. 73. SOLHOS – SAFIOS – MUGES – SABOGAS – PICOENS ...p. 81 PICOIS p. 94 – PARDELLAS FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 105 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 2. AVES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Ana Cristina Cardoso (texto) Carlos Carrapato (fotografia)- Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2000. Esta obra, além de um Glossário importante, tem ainda uma listagem das espécies citadas no texto como FLORA e MAMÍFEROS e uma TABELA com o nome científico e o nome vulgar, além de outras anotações importantes... AVES - as 170 espécies que se podem encontrar no PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA e estão agrupadas pelos principais habitates existentes dentro do Parque: Habitat rupícola – margens e leitos de cursos de água com afloramentos rochosos... Zonas húmidas - os pegos dos cursos de água na estação seca... Charcas – pequenos olhos de água... Com elevada biodiversidade... Matagal mediterrânico – em vales encaixados dos cursos de água... e vertente Norte de Alcaria Ruiva... com estrato arbustivo bastante diversificado Montados – com povoamento mais ou menos disperso de azinheira e sobreiro... Sub-coberto – Abaixo das árvores... variando conforme a cultura realizada... Matos – vastas áreas de charneca arbustiva resultado do abandono da exploração agrícola extensiva... Estepe cerealífera – campos de cultivo... Pousio – Tempo durante o qual se deixa a terra em repouso – pousio... Alqueive – Terra preparada mas não semeada como preparação para futura sementeira...? Meio urbano – os aglomerados populacionais que datamde vários séculos a. C. 1. ordem seguida no livro – AVES DO PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA, Ana Cristina Cardoso - Texto, Carlos Carrapato – fotografia, edição do Parque Natural do vale do Guadiana, 2000. 2. Lista por ordem alfabética com os NOMES vulgares – 2ª coluna 3. lista por ordem alfabética pelos NOMES científicos e ainda da mesma obra Espécies citadas no texto FLORA MAMÍFEROS Ver ainda in AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola, Estudos e fontes para a História Local 1 - Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, as referências a AVES – por exemplo cisões... p. 121 Plantas já vimos o DARO P. 121 ANIMAIS – por exemplo “muitas cilhas de colmeas... p. 121 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 106 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 AVES por ordem alfabética – nomes vulgares – 2ª coluna Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 Nome vulgar Abelharuco Abetarda (Abatrada) Abibe (Bibe) Abutre do Egipto Abutre-preto Açor Águia de Bonelli Aguia-calçada Águia-cobreira Águia-d'asa-redonda Águia-imperial Águia-pesqueira Águia-real Alcaravão (Algravão) Alfaiate Alvéola-amarela Alvéola-branca (Arvela) Alvéola-cinzenta Andorinha-das-barreiras Andorinha-das-chaminés Andorinha-das-rochas Andorinha-dáurica Andorinha-do-mar-anã Andorinha-dos-beirais Andorinhão-cafre (Corta-vento) Andorinhão-pálido Andorinhão-preto Andorinhão-real Bico-de-lacre Bico-grossudo Borrelho-pequeno-de-coleira Bufo-pequeno Bufo-real Calhandra Calhandrinha Carriça Cartaxo-comum Cartaxo-do-norte (Cartaxo-nortenho) Cegonha-branca Cegonha-preta Chamariz Chapim-azul Chapim-de-faces-negras Chapim-de-poupa Chapim-rabilongo Chapim-real Chasco-cinzento Chasco-ruivo Cia Codorniz Colhereiro Cortiçol-de-barriga-preta (Barriga-negra) Nome científico Merops apiaster Otis tarda Vanellus vanellus Neophron percnopterus Aegypius monachus Accipiter gentllis Hieraaetus fasciatus Hieraaetus pennatus Circaetus gallicus Buteo buteo Aquila heliaca Pandion haliaetus Aquila chrysaetos Burhinus oedicnemus Recurvirostra avosetta Motacilla flava Motacilla alba Motacilla cinerea Riparia riparia Hirundo rustica Ptyonoprogne rupestris Hirundo daurica Sterna albifrons Delichon urbica Apus caffer Apus pallidus Apus apus Apus melba Estrilda astrild Coccothraustes coccothraustes Charadrius dubius Asio otus Bubo bubo Melanocorypha calandra Calandrella brachydactyla Troglodytes troglodytes Saxicola torquata Saxicola rubetra Ciconia ciconia Ciconia nigra Serinus serinus Pares caeroleus Remis pendulinus Paros cristatus Aegithalos caudatus Pares major Oenanthe oenanthe Oenanthe hispanica Emberiza cia Coturnix coturnix Platalea leucorodia Pterocles orientalis notas Matos Estepe cerealífera Alqueive Habitat rupícola Matagal mediterrânico Habitat rupícola Matagal mediterrânico Habitat rupícola Estepe cerealífera Zonas húmidas Meio urbano Habitat rupícola Meio urbano Meio urbano Zonas húmidas Habitat rupícola pousio Matagal mediterrânico Matos Matos Meio urbano Habitat rupícola Matagal mediterrânico Habitat rupícola pousio FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 107 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 Coruja-das-torres Coruja-do-mato Corvo Corvo-marinho-de-faces-brancas Cotovia-do-monte (Cotovia-montesina) Cotovia-pequena Cuco Cuco-rabilongo Dom-fafe Escrevedeira Esmerilhão Estorninho-malhado Estorninho-preto Estrelinha-real Falcão-abelheiro Falcão-peregrino FeIosa-comum (Floucha) FeIosa-musical FeIosa-pálida Felosa-das-figueiras Felosa-do-mato Felosa-poliglota Ferreirinha Frisada Fuinha-dos-juncos Gaio Gaivina-de-bico-preto Gaivota-d'asa-escura Galeirão Galinha d‟água Ganso Garça-boeira Garça-branca-pequena Garça-pequena Garça-real Garça-vermelha Gavião Gralha-de-nuca-cinzenta Gralha-preta Grifo Grou Guarda-rios (Matim-pescador) Guincho Laverca Lugre Maçarico-das-rochas Marrequinho Melro-azul Melro-Preto Mergulhão-de-crista Mergulhão-pequeno Milhafre-preto Milhano Mocho-d'orelhas Mocho-galego Narceja Tyto alba Strix aluco Corvus corax Phalacrocorax carbo Galerida theklae Lullula arborea Cuculus canorus Clamator glandarius Pyrrhula pyrrhula Emberiza cirlus Falco columbarius Sturnus vulgaris Sturnus unicolor Regulus ignicapillus Pernis apivorus Falco peregrinus Phylloscopus collybita Phylloscopus trochilus Hippolais pallida Sylvia borin Sylvia undata Hippolais polyglotta Prunella modularis Anas strepera Cisticola juncidis Garrulus glandarius Gclochelidon nilotica Larus fuscus Fulica atra Galinula chloropus Anser anser Bubulcus ibis Egretta garzetta Ixobrychus minutus Ardea cinerea Ardea purpurea Accipiter nisus Corvus monedula Corvus corone Gyps fulvus Grus grus Alcedo atthis Larus ridibundus Alauda arvensis Carduelis spinus Actitis hypoleucos Anas crecca Monticola solitarius Turdus merula Podiceps cristatus Tachybaptus ruficollis Milvus migrans Milvus milvus Otus scops Athene noctua Gallinago gallinago Meio urbano Matos Montados Matagal mediterrânico Matos Matagal mediterrânico Zonas húmidas Meio urbano Habitat rupícola Sub-coberto Zonas húmidas Zonas húmidas Habitat rupícola Zonas húmidas (Charcas) Montado Montado Zonas húmidas (Charcas) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 108 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 Noitibó-de-nuca-vermelha Papa-amoras Papa-figos Papa-moscas-cinzento Papa-moscas-preto Pardal-comum Pardal-espanhol Pardal-francês Pardal-montês Pássaro-bique-bique Pato-de-bico-vermelho Pato-real (Pato-bravo) Pato-trombeteiro Pega-azul (Rabilongo ou charneco) Pega-rabuda Peneireiro-cinzento Peneireiro-das-torres (Francelho) Peneireiro-vulgar Perdiz-comum Perdiz-do-mar Perna-vermelha Petinha-das-árvores Petinha-dos-campos (Alqueveireiro) Petinha-dos-prados (Alqueveireiro) Peto-verde Picanço-barreteiro Picanço-real Pica-pau-malhado-grande Pica-pau-malhado-pequeno Pintarroxo Pintassilgo Pisco-de-peito-ruivo (Papinho-amarelo) Pombo-bravo Pombo-torcaz Poupa Rabirruivo-preto (Barba-ruiva) Rola Rola-turca Rolieiro Rouxinol-bravo Rouxinol-comum Rouxinol-do-mato Rouxinol-grande-dos-caniços Rouxinol-pequeno-dos-caniços Sisão Tarambola-dourada Tartaranhão-azulado Tartaranhão-caçador Tentihão Torcicolo Tordeia Tordo-comum Tordo-ruivo Toutinegra-carrasqueira Toutinegra-de-barrete-preto Toutinegra-de-cabeça-preta Caprimulgus europaeus Sylvia communis Oriolus oriolus Muscicapa striata Ficedula hypoleuca Passer domesticus Passer hispaniolensi Petronia petronia Passer montanus Tringa ochropus Netta rotina Anas platyrhynchos Anas clypeata Cyanopica cyana Pica pica Elanus caeruleus Falco naumanni Falco tinnunculus Alectoris rufa Glareola pratincola Tringa totanus Anthus trivialis Anthus campestris Anthus pratensis Picus viridis Lanius senator Lanius meridionalis Dendrocopus major Dendrocopos minor Carduelis cannabina Carduelis carduelis Erithacus rubecula Columba oenas Columba palumbus Upupa epops Phoenicurus ochruros Streptopelia turtur Streptopelia decaocto Coracias garrulus Cettia cetti Luscinia megarhynchos Cercotrichas galactotes Acrocephalus arundinaceus Acrocephalus scirpaceus Tetrax tetrax Pluvialis apricaria Circus cyaneus Circus pygargus Fringila coelebs Jynx torquilla Turdus viscivorus Turdus philomelos Turdus iliacus Sylvia cantillans Sylvia atricapilla Sylvia melanocephala Matagal mediterrânico Zonas húmidas Sub-coberto Montado Meio urbano Matos pousio Estepe cerealífera Estepe cerealífera Sub-coberto Matos Meio urbano Matagal mediterrânico Sub-coberto Meio urbano Montado pousio Zonas húmidas (Charcas) Matos Estepe cerealífera Estepe cerealífera Montado Matagal mediterrânico Matagal mediterrânico FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 109 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 165 166 167 168 169 170 Toutinegra-tomilheira Trepadeira-azul Trepadeira-comum Trigueirão Verdilhão Zarro-comum Sylvia conspicillata Sitta europaca Certhia brachydactyla Miliaria calandra Carduelis chloris Aythya ferina Estepe cerealífera Meio urbano Zonas húmidas (Charcas) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 110 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 FLORA Aroeira Azinheira Caniço Catacuzes Cevada-das-ratos Espadana-dos-montes Esteva Freixo Gaimão Lentisco-bastardo Loendro Margaça Murta Ranúnculo Roselha Rosmaninho Salgueiro Sargaço Sargoaço Serradela-brava Sobreiro Tabúa-de-folha-larga Tamargueira Tamujo Tojo-molar Trovisco Zambujeiro Pistacia lentiscus Quercus rotundifolia Phragmytes australis Rumex bucephalophorus Hordeum murinum Gladiolus illyricus Cistus ladanifer Fraxinus angustifolium Asphodelus ramosus Phillyrea angustifolia Nerium oleander Chamaemelum mixtum Myrtus communis Ranunculus peltatus Cistus crispus Lavandula stoechas Salix sp Cistus mompeliensis Cistus salvifolius Ornithopus compressus Quercus suber Typha latifolia Tamarix africana Securinega tinctoria Genista triacanthos Daphne gnidium Olea europea Ver – AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As memórias Paroquiais de 1758 do concelho de Mértola, Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a História Local 1 – Edição do Campo Arqueológico de Mértola, 1995. p. 120 – 121 “Acha-se nella huma certa especie de arbusto, a que os moradores chamão daro, que produz por fruto humas bagas de que fazem azeite, que serve para as candeas, e dá huma luz muy clara, e não falta quem use tambem delle para o prato; e affirmão que tem especial virtude para as dores e flatos que procedem de causa fria.” Cita ainda como hervas medicinaes: agrinomia e douradinha. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 111 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Mamíferos Gato-bravo Javali Musaranhos Ratazana Rato-caseiro Rato-cego Rato-das-hortas Saca-rabos Felis silvestris Sus scrofa Suncus etruscus e Crocidura russula Rattus norvegicus Mus musculus Microtus lusitanicus Mus spretus Herpestes ichneumon Ver – AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As memórias Paroquiais de 1758 do concelho de Mértola, Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a História Local 1 – Edição do Campo Arqueológico de Mértola, 1995. – nas várias localidades e serras, como por exemplo p. 121 – na serra de ARACELI - «Pastão nella de gado miudo, ovelhas, cabras e porcos. Acha-se muita caça rasteira, e miuda, de coelhos, e lebres; e de veação javalis...; e de bichos, lobos, e raposas; e muitas cilhas de colmeas, de que percbem grande lucro os moradores vizinhos.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 112 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - ANX 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... Saudações, formas de tratamento... Outro aspecto importante a desenvolver e que pode ajudar a definir a identidade de uma população pela consagração de fórmulas sedimentadas ao longo dos tempos, mas que, mais ainda do que todas as outras, só poderá ser levada a cabo por quem esteja perfeitamente inserido no meio... Como este aspecto não é realizável à distância, decidimos recorrer a outro aspecto do quotidiano que pode ser estudado em conjunto. COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara Municipal de Mértola, 1997. As receitas distribuídas pelas quatro estações é uma decisão notável e ficamos a saber, como sugere Fernão Lopes: «Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns, dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta conformidade.» Afinal, somos, também, aquilo que comemos! E como tão bem diz aquele “saboroso” livro paciente e “amorosamente” feito por tanta gente, “COMER”, em português (e também em castelhano e galego), ao contrário do que acontece nas outras línguas, vem de “cum” + “edere”. Ora “edere” já significa “comer” só por si e assim, para as gentes da Península Ibérica, comer era já um acto social – “comer com... alguém”... e como se afirma no mesmo livro, «Fazer este livro sobre a gastronomia do quotidiano mertolense foi também... um acto de generosidade, de partilha e de convívio.», e portanto, além do social e do convívio, implica “partilha”, talvez solidariedade, amizade, fraternidade... e a distribuição das receitas pelas estações do ano, revela, para além da culinária, a vida das pessoas com a sua ligação à Terra, a sua inserção com os “envolventes” – o que a terra produz..., o que a terra dá..., a sabedoria secular de saber colher, “caçar”, “pescar”, “apanhar”, conservar os vários tipos de alimentos e condimentos... e “ao ritmo das estações”..., revelando a maneira de ser de uma região e denunciando até, como observam os anexos finais, do médico e do arqueólogo, o “estatuto social” de quem come o quê... e da “sabedoria” das donas de casa que sabiam substituir por exemplo o arroz com feijão, quando não havia carne ou peixe e assim mantinham a família bem alimentada, recorrendo também à migas e açordas para que não dissessem: “saco vazio não se pode erguer... saco cheio não se pode dobrar...”; para não falarmos já da comida que é o centro das festas que marcam a vida social das famílias – os baptizados, casamentos e até a morte... e onde a “fala”, os “cumprimentos”, a diversão, os “discursos” e até os “tratos” e “negócios” se firmavam à mesa, por vezes bem “comida” e bem regada... Como pistas de trabalho fica-nos uma vontade de fazer um levantamento completo dos nomes dos ingredientes, temperos e “rituais”, mas deixamos isso para alguém mais habilitado como os FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 113 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 que realizaram este “saboroso” livro de “aromas e sabores” ou como diz outra obra de “sabores e saberes”. Algumas recolhas como exemplo: Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar: “Deus te acrescente no alguidar Como Deus Nosso Senhor está no altar”... Importante é saber também como algumas padeiras conheciam “o som de pão” para reconhecer que a massa estava “lêveda” ou não! E depois de meter todo o pão no forno: “Deus te acrescente, que é para muita gente” E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem: «Faz-se um benzido com o sinal da cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as saias e diz: Cresças tu, pão Como as saias afastadas do cu estão». A matança do porco é outro ritual até com vários significados no decorrer do tempo... desde o tempo dos arábes em que para eles seria proibido, até ao tempo dos cristãos novos em que seria obrigatório como mostra pública de conversão convicta, até ao tempo em que significava casa farta ou em que não haveria fome durante todo o ano e “entre-ajuda” entre várias famílias e a sabedoria do tempo próprio, as luas... e das preparações a fazer... saber se as porca “ressaem” (estão com o cio) e se é preciso capa-las... a distribuição das tarefas entre os homens e as mulheres, “aos homens cabe matar, musgar e desmanchar...” e “do porco tudo se aproveita menos as castanholas (unhas)” que até podem servir de amuletos. “O fel serve para curar as chagas das patas dos animais”... “A passarinha (baço) junta-se à cachola para engrossar o molho” “Os lombinhos eram para o padre”. Dos muitos termos usados podemos ainda tentar um pequeno levantamento. As acelgas – (Beta vulgaris L. Ssp. Maritima l.) Tingarrinhas – (Scolymus Maculatus L.) Túberas – (Terfezia leonis tul.) Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem encontrar-se junto das raízes das estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo. Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio: Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas... Até as rãs... cobras... lagarto... cágado... ouriços servem ou serviam para petiscos, além das cabeças de carneiro... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 114 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Para os caçadores os passarinhos fritos metem: POMBO – TORDO – MELRO TARAMBOLA... E o doce da primavera é o NÓGADO! No Verão. O GASPACHO – SOPAS DE TOMATE – TOMATADA – SOPA DE BELDROEGAS... Encontramos ainda no final, (Santiago Macías) O CHÍCHARO – “... vegetal.... que se consumiria cozido... e na região até há uma dezena de anos.” E tudo isto envolvido numa deliciosa história ... do rei que tinha três filhas... e a mais nova, afinal a que gostava mais disse: «Eu gosto tanto do meu pai como a comida gosta do sal...» ... como o célebre bispo de Viseu dizia da religião «Nem de mais, nem de menos... mas como o sal na comida.» Como nós dizemos das palavras e conversas: Nem de mais, nem de menos... para um bom convívio e comunicação sã entre as pessoas! FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 115 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Tabela das RECEITAS distribuídas ao longo do tempo, de acordo com o ciclo das estações, com pistas para um passado distante e para o futuro dos “congelados” e “fast-food” O PÃO alentejano – igual diferente de todos os outros... INVERNO PRIMAVERA PRIMAVERA / VERÃO VERÃO OUTONO PETISCOS de CAÇADORES Matança do porco Ensopado de borrego Borrego à pastora Sopa de peixe Gaspacho Javali assado Perdiz Caldeirada de peixe do rio17 Caldeirada `moda de Mértola Caracóis * 2 Sopas de tomate Tomatada Javali estufado Ovos de perdiz com ceseirão18 Passarinhos19 fritos *3 Moleja Fritada de Entrecosto Costas de Torresmos Sopa de pão com poejos Cozido de couve Enchidos Cabeças de carneiro assadas no forno Cabrito assado no forno Favas com chouriço Ervilhas com chouriços e ovos Folares de Páscoa Rã Pezinhos de rã *2 Cobra frita Linguiça Lagarto Tripas Cágado Recheio Pimentão caseiro Chouriço preto Cozido de grão com massa Cozido de feijão Feijão com ovos Feijão com acelgas21 Jantar de azeite22 Feijão branco com tingarrinhas23 Migas de carne Migas de bacalhau Bacalhau à alentejana Carne de porco à alentejana Arroz de túberas24 Túberas Sopas de túberas Túberas com ovos Espargos com ovos25 Salada Orelha de porco Lampreia DOCES Pastéis de grão Filhós *2 Filhós de entrudo Pudim de queijo fresco Pudim de requeijão Ouriço Ouriço frito *2 DOCES Costas doces Bolo podre Pudim de mel Torta Alentejana Sopa de beldroegas20 Eirós Ensopado de enguias Galinha de cabidela Empada de frango fricassé Coelho bravo à alentejana Sopa de lebre Coelho frito Lebre com feijão branco Lebre à caçador Arroz de tardos Perdiz estufada Perdiz nos pimentos DOCES Nógado26 Papas de Arroz Papas de milho 17 Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão - Carpas Ceseirão – é uma ervilhaca que pertence à família das leguminosas. Semeia-se com o pasto, aparecendo espontaneamente no meio das searas. 19 Pássaros – Pombo – Tordo – Melro – Tarambola. 20 Beldroega – Erva hortense da famíliadas portulacáceas, de valoe medicinal, usada também na alimentação, geralmente em saladas. 21 Acelga – Beta vulgaris L., ssp. Maritima l. – Planta de folha larga semelhante à beterraba, mas de raiz mais delgada utilizada na alimentação. (in DLPC – Verbo – 2001. 22 Azeite – ver tb. DARO – “... espécie de arbusto, a que os moradores chamam daro, que produz por fruto humas bagas de que fazem azeite, que serve para as candeias, e dá uma luz muito clara, e não falta quem use também delle para o prato.” In «As Memórias Paroquiais de 1758» ver Bibliografia 23 Tingarrinha – Scolimus Maculatus L. – Espécie de cardo branco rasteiro. 24 Túberas – Terfenia leonis Tul. – Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem encontrar-se junto das raízes das estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo. 25 Espargos – Aspargus acutifolios L. – Planta da família das liliáceas, subespontânea e cultivada em Portugal, donde nascem talos carnudos, turiões, cujas pontas são comestíveis. 26 NÓGADO – ver NOGADO – (DLPC) – Doce feito essencialmente com nozes, amêndoas ou pinhões misturados com açúcar e mel. 18 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 116 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3. – Outras Formas de Expressão LENDAS Influência? Da MITOLOGIA GRECO – LATINA??? CONTOS ANEDOTAS & OUTRAS... PROVÉRBIOS... ADIVINHAS...LENGALENGAS... CANTILENAS... POESIA – QUADRAS – CANTIGAS – DÉCIMAS – ORAÇÕES GRUPOS CORAIS E MODAS PEDRAS QUE FALAM... talvez umas mais que outras... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 117 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.1 – LENDA/s LENDAS 3.1 - 1 – SERPÍNEA e MIRTILIS Serpínia, A Princesa Feliz In http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpa.htm «Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.» Era uma Vez.... uma jovem e linda Princesa, muito linda, chamada Serpínia, que vivia nas longes terras do outro lado da Ibéria, lá para os altos Pirineus. Seu pai, Cófilas, rei dos túrdulos, tribo da Ibéria, era um homem bom. Num País vizinho, vivia um outro rei, de raça, celta, que era cruel e muito ambicioso, Rolarte de seu nome, que quando viu a formosa princesa quis casar com ela. Mas a princesa não se agradou dele. Um dia um Príncipe, Orosiano, visitou o Rei Cófilas e a sua filha Serpínia. Os dois príncipes gostaram um do outro e combinaram casar. Mas o rei Rolarte, quando soube, não gostou que Serpínia fosse dada em casamento a Orosiano e jurou vingar-se tratando logo de reunir os seus soldados e de fazer guerra a Orosiano. O Noivo de Serpínia morreu e Rolarte ficou ferido. O Rei dos Celtas não ficou satisfeito com a morte de Orasiano a jurou fazer guerra ao pai de Serpínia , mas este, informado do que Rolarte preparava, abalou para as longínquas paragens da outra banda da Península Ibérica. E andaram, andaram até chegarem a um sítio onde a Princesa se sentiu encantada com as formosas Terras que seus belos olhos avistavam. Campos recorbertos de luxuriantes verduras, flores campestres a perfurmarem os ares que respirava, tudo prenunciando abundância de água, de terras férteis, ubérrimas. Serpínia logo deu parte a seu pai de que gostava destes sítios. Cófilas examinou a região. Tudo aparentava terras fartas e amenidade de clima. Perto corria o Ana. Por toda a parte se viam Oliveiras, muitas Oliveiras, a garantir alimento, untura, tempero e luz na candeia. E logo ali acamparam e escolheram local para construir uma cidade que ficou a ser a capital de novo reino. E em homenagem a Serpínia, a formosa filha do Rei Cófilas, à nova cidade se ficou FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 118 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 chamando Serpe. Esta seria a capital da Turdetânia, o novo reino criado na região do Ana, hoje chamado Guadiana, e que se estendia até ao mar. Tempos depois chegou a Serpe a notícia da vinda até um Porto do Ana, aonde chegavam as águas salgadas do mar, de barcos Fenícios - povo de navegadores que vivia no Norte de África. Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio. Em um dos barcos vinha um Príncipe, jovem , guerreiro e bem parecido, que ao ver Serpínia se apaixonou por ela. E Serpínia amou Polípio, o belo Príncipe Fenício. E logo ficaram noivos. Polípio regressou à Fenícia. E Serpínia, enquanto esperava o seu noivo, dedicava-se à caça pelo que seu pai lhe construiu, à beira do Rio Limosine, que ia desaguar no Ana, um castelo onde ela ficava quando ia caçar. Ali havia muitos loendros e Serpínia deu à sua nova casa o nome de Castelo de Loendros. Serpínia já tinha esquecido Rolarte, mas Rolarte não esquecera Serpínia, nem a vingança de que lhe jurara. E uma noite, noite escura como breu, o Castelo dos Loendros foi atacado por Rolarte e os seus soldados. Mas o Rei dos Celtas foi vencido pelos soldados de Cófilas que guardavam o castelo de Serpínia. Com medo de novos ataques a princesa mandou aviso ao pai, que estava em Mirtilis, que hoje se chama Mértola, o qual regressou com muitos soldados, e que esporeando os seus corcéis corriam a toda a brida na companhia de Polípio, o príncipe noivo, que já tinha regressado da Fenícia para as bodas com Serpínia. Rolarte voltou a assaltar o castelo mas este, que tinha agora muita tropa, venceu os soldados de Rolarte e o Rei dos Celtas fugiu e foi morrer afogado no Ana. Serpínia casou com Polípio e os noivos foram para a Fenícia. Serpe, que recorda a linda princesa Serpínia e que sempre manteve o seu nome, é hoje a Serpa em que vivemos. "Arquivos de Serpa - Edição Câmara Municipal de Serpa" 1971 (João Cabral) Nota in: ARQUIVOS de SERPA – (Câmara Municipal), de João Cabral, Serpa 1971 - «Contada também por C. Gonçalves Serpa em “Serpínea e a Fundação de Serpa" que diz ter ido “... bebela a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos tempos”.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 119 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANEXO 3.1 – 2 - LENDA – A LENDA DE SERPÍNEA in CANCIONERO DE SERPA, Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994 - pp. 347 - 349. Baseada, segundo a autora, que escreve todo este livro à mão, com uma caligrafia deliciosamente legível e com muitas ilustrações, que vale a pena admirar, em «SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA» de C. Gonçalves Serpa. Não se sabe ao certo em que época foi fundada Serpa. Ela já existia com este nome no tempo dos Romanos, e durante a dominação árabe chamou-se Sheberina. Diz uma lenda que esta vila foi fundada pelos Túrdelos, um povo da antiga Bética, proveniente dos Pirinéus. Havia um rei dos Túrdelos, Cófilas, que tinha uma filha de rara beleza chamada Serpínea. Esta era requestada por Rolarte, rei dos Celtas, de quem não gostava e cuja proposta de casamento recusou, preferindo Orosiano, príncipe de um reino vizinho. Rolarte, despeitado, atacou esse reino, matando Orosiano, e jurou obter Serpínea, viva ou morta. Cófilas resolveu fazer uma expedição para o Ocidente, procurando instalar-se longe dos Celtas e conseguir uma aliança com os Fenícios, que sabia frequentarem o litoral da Península. Acompanhado dos seus homens e levando a filha consigo, chegaram uma tarde a uma colina verdejante e arbotizada, no sopé da qual se estendia uma imensa planície. Serpínea gostou tanto do local, que pediu ao pai para ali armarem o acampamento nessa noite, e para ali fundarem uma cidade que viesse a ser a nova capital da Turdetânia. Nessa noite, Cófilas teve um sonho profético, em que o Ocidente e o Oriente se uniriam em Serpínea. No dia seguinte os construtores lançaram mãos à obra, e assim nasceu Serpe. Daqui, Cófilas partiu para novas expedições, dominando toda a região vizinha, e fundou outras cidades a Ocidente, atravessando o rio Ana, e encontrando-se finalmente com os Fenícios, que nos seus navios subiam este rio até ao ponto em que vieram a fundar Mirtilis. Estabeleceu-se um tratado de amizade, e em breve Serpínea ficava noiva do belo príncipe fenício Polípio. Porém, este teve de partir novamente em viagem, prometendo à inconsalável Serpínea regressar depressa para o casamento. O rei Cófilas mandou construir para a filha, que era exímia caçadora, um castelo na serra que se estende ao Sul de Serpe, onde ela passava longas temporadas, passeando pelo campo e caçando. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 120 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 O palácio ficava situado na margem de uma ribeira. Chamava-se Castelo das Loendreiras, e possuia lindos jardins. Foi ali que o cruel Rolarte, nunca esquecido do seu jurmento, foi atacar os guerreiros de Cófilas, pretendendo raptar Serpínea. Esta, prevenida pela sua aia fiel que desconfiava de uns mercadores celtas recém-chegados, mandou pedir reforços a Serpe. Polípio também chegou providencialmente, salvando a noiva do seu perseguidor que, ferido de morte, foi arrastado pelas águas da ribeira. Serpínia e Polípio casaram, o que foi motivo para grandes festejos. porém, não puderam ficar aqui para sempre. Um dia, despediram-se da terra onde tinham sido tão felizes, e embarcaram em mirtilis a caminho da longínqua Fenícia, onde viveram longos anos, muito felizes. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 121 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANEXO 3.1 – 3 – SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA Por C. Gonçalves Serpa, Composto e impresso na Gráfica Torriana – Torres Vedras, s/d.. SERPÍNIA E A FUNDAÇÃO DE SERPA POR C. Gonçalves Serpa A Expedição - Além... Além... - exclamou uma graciosa voz de mulher de olhos castanhos, cabelos louros e faces rosadas como pétalas da mais esquisita flor. - Além... Além, naquela zona verde e de reconfortante frescura, enquanto com o braço delicado apontava um morro de mediana altitude a emergir de entre árvores frondosas dum verde cínzeo e rochedos plúmbeos. - Alto!... Ficamos aqui... gritou uma voz potente de homem que parecia ser o chefe da expedição. - Serpínia agradou-se do lugar, a terra parece fértil em água e fecunda em produtividade. - Alto!... Ficamos aqui... clamaram outras vozes secundando a do chefe. A caravana parou envolvida numa densa nuvem de poeira levantada pelo trotear dos cavalos. Todos levantaram os olhos cansados da caminhada e notaram que, de facto, a região agradava e estava bem localizada quer para o povoamento, quer para a defesa. - Ficamos então aqui. Os cavalos parados relinchavam, escavavam a terra vermelha com as patas grossas enquanto alguns, de cabeça baixa, tasquinhavam nos pequenos arbustos nascidos à beira do caminho. O cavaleiro que dera a primeira ordem, corpo agigantado, barba espessa e hirsuta, músculos de atleta, tornou a imperar: - Cargas ao chão, comecemos o acampamento antes que anoiteça. Num zape, todos se apearam com ligeireza homens, mulheres e crianças. O chefe, nada menos que o general Cófilas, rei dos Túrdelos, explicou: - Serpínia, minha dilecta filha e vossa muito linda e amada princesa achou lindo este local e muito apropriado para a construção da nova capital túrdela. A terra tem muita água, basta vegetação, matagais densos e um clima aprazível, um céu azul como não vimos outro na Ibéria. Ficaremos, pois aqui e amanhã iniciaremos já a construção da nova cidade a qual, em honra de Serpínia, que escolhera o local, será chamada Serpe (Serpa). - Viva Serpínia!...Viva Serpe a nova capital da Turdetânia - exclamou um coro de vozes. E o eco repetia-se pelas quebradas dos montes até diluir-se e perder-se ao longe através duma planície que parecia intérmina: - Serpínia... ínia... ínia! Serpe... erpe... erpe!... Ia entardecendo mais e mais. O sol fazia descer uma bola de fogo na linha clara do horizonte, ameaçando mergulhá -la, para além dos montes fronteiros, nas águas do Atlântico. O calor sufocante daquele dia de Junho havia passado e uma brisa acariciadora e refrigerante soprava agora das bandas do mar. -Já, assentar o acampamento. Desapetrecham-se os cavalos e os carros de transporte; deitam-se ao chão as cargas; desenrolam-se os panos; abrem-se covas; arrumam-se pedras; arranca-se mato; espetam-se estacas; batem martelos; esticam-se as cordas; estendem-se os panos e surgem as barracas. Está armado o acampamento. A tarde esmorece. Na linha do horizonte, por cima do solo, a poente, algumas nuvens riscam o céu em tom afogueado. É o primeiro pôr do sol que os olhos lindos de Serpínia contemplam nestas paragens ocidentais. Alma bela sensível ao bucolismo da natureza, à poesia paisagística deseja então desfrutar melhor o panorama ambiencial. Para isso, acompanhada duma aia, a fiel Galiosa, sobe acima dos rochedos que, na coroa do monte, emergem do solo, como cabeças monstruosas de gigantes descomunais. - Que lindo!... murmura. Que poesia bucólica e austera!... - Isto é superior ao vale do Guadalquivir, interveio Galiosa. - Muito superior!... E contempla. A região não muito acidentada estende-se, desdobra-se em cabeços sucessivos que se empurram uns aos outros sempre mais para além, num desafio titânico a ver quem primeiro chega ao mar. Em baixo a depressão do rio Ana que vai correndo... correndo, pleno de ilhotas verdes pelo meio, rodeado de margens rochosas, ásperas, agressivas na sua secular solidão. Até ao presente aquela terra era virgem de pre sença humana. Só caça, muita caça por ali existe. Os coelhos são em bando. Dali mesmo os vêem entrar e sair dos buracos, saltitar na pradaria verde pálida que se nota através dos matagais densos. Depois mais a distância habita o lobo, o veado, o javali, o gamo e a raposa. As aves são em chusma e cobrem a ramagem coposa das árvores. Umas saltitam de ramo em ramo mostrando sua plumagem multicor, outras mais corpulentas cortam o espaço em voo sereno ou em caprichosas evoluções circulares. As matas tem grande variedade de tonalidades de verde no seu arv oredo. Aqui o verde triste, bronzeado dos montados; ali a cor cinzo-prateada das oliveiras, a árvore predilecta de Eliote deus dos Túrdelos, o qual teria nascido no meio dum olival, quando sua mãe a deusa Eliaste estava a veranear num acampamento bélico. Mais para além, árvores de porte alto e esbelto mostram um verde álacre, exuberante, às vezes tirando um tanto para amarelo: são os álamos, os freixos, as faias e a amendoeira muito abundante na região. Depois é ainda o verde terroso do mato denso onde predomina a esteva viscosa, o sargaço de cheiro acre, a rosela de flor carmezim, o piorno amargo, a medronheira carregada de rubis, o lentisco resistente, o tojo espinhoso. A flora, alta ou meã, é colorida e variada na sua austeridade regional. O solo atapetado dum verde pálido, que dá ao panorama um tom axadrezado, mo stra muitas FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 122 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 flores e gramíneas de feitura e colorido diferente. O azul do céu, sobretudo o azul safírico deste céu é o que mais impressio na Serpínia. Nunca vira um céu tão anilado. Não cessa de o contemplar. A noite vai caindo. O sol escondera-se por detrás dos cabeços esfumados e as sombras começaram a adensar-se. Levanta-se uma brisa mais álgida que harpeja e assobia nas tranças do arvoredo. A celeste abóbada criva-se de olhos luminosos a piscar na escuridão como a saudar os novos habitantes que naquela noite encontraram nas margens agrestes do Ana 27. Serpínia e sua aia recolheram-se ao acampamento. Espesso manto de trevas cobre a terra a qual parece sorrir por ver terminada sua eterna solidão. Fundação de Serpa Os Túrdelos eram um povo que vinha dos Pirenéus e tomara rumo ao ocidente através das planícies do sul entre o planalto castelhano e o Mediterrâneo. Primeiro estabeleceram-se entre a bacia do Ebro e do Guadalquivir, não tendo ainda propriamente uma fixidez determinada. O aglomerado que lhe servira de primeira capital chamava-se Eliana, dedicada a Eliote o grande deus dos Túrdelos. Ao presente o seu chefe era Cófilas a quem davam a dignidade de rei. Era um guerreiro esforçado, astuto, duro sem deixar de ser bom, compreensivo e justo para com todos. Ao norte da Península dominavam os Celtas comandados por Rolarte, homem fera, esforçado mas despótico, cruel e vingativo. A p rincípio Túrdelos e Celtas deram-se bem. Faziam intercâmbio e mercadejavam. Um dia Rolarte viu Serpínia em uma caçada e ficou esmagadoramente apaixonado pela princesa túrdela. Nunca tinha visto beleza assim. Aqueles olhos castanhos duma viveza rutilante magnetizavam -no tiranicamente. Julgava-se o homem mais feliz da Terra se chegasse a possui-la. Aquela paixão tornou-se fogueira crepitante. Por outro lado sonhava ambiciosamente com a unificação da Ibéria pela amálgama de Celtas e Túrdelos através do seu casamento. Cófilas chegou a ter conhecimento dos projectos imperialistas do chefe Celta e preferiria que a filha não casasse com ele. No entanto deixava-lhe inteira liberdade para evitar males maiores. Serpínia abominava Rolarte já por ser fisicamente antipático, já por ser um carácter péssimo, violento e déspota. E dizia para si: - Poderá haver maior martírio para uma mulher do que casar e viver a vida inteira com um homem de que não e gosta!... Antes perder mil tronos. E ruminava: - Não, não casarei com ele. Em virtude de certo tacto diplomático mandou-o esperar mais tempo, quando ele lhe fez propostas, alegando a sua pouca idade. Rolarte, embora contrariado, resolveu esperar. Galiosa ao saber dos intentos de Rolarte e da repugnância de Serpínia por ele, advertiu: - Senhora: vê o que recusas... Rolarte é rico, é poderoso, é rei... - Fosse ele um deus, retorquiu a princesa em tom de censura. - Senhora, tereis um grande trono, riquezas e jóias e jóias incontáveis!... - Cala-te, cala-te: o amor não tem preço. Onde não há amor, nada pode dar a felicidade. - Lá isso é, mas... - Esse mas... seria uma traição ao amor. - E se vier a guerra? - Prefiro a guerra a um amor iludido. Por aqueles dias Cófilas recebeu a visita de Orosiano, príncipe duma tribo de guerreiros que viviam no sul das Gálias, entre os Pirenéus. Este sim, que era o predilecto de se Serpínia. Cófilas tratou com ele o casamento de sua filha e firmaram uma aliança contra posáveis represálias de Rolarte. Este soube do sucedido e, ardendo em cólera, jurou vingar-se duramente. Serpínia seria dele viva ou morta ainda que a tivesse ia de ir raptar à mansão dos deuses. Depois, caindo de improviso sobre as terras de Orosiano desprevenido foi atacar Periânia sua pequena capital construída na garganta de duas altas montanhas. Travou-se dura batalha em que o noivo de Serpínia - Orosiano - perdera a vida. Rolarte, também gravemente ferido, regressou a suas terras disposto a prosseguir a luta contra os Túrdelos logo que lhe fosse possível. Algun s contingentes de pirenaicos vieram pôr-se às ordens de Cófilas e informá-lo de tudo quanto se passava. Este então tomou rumo às terras de Oeste mais longe das fronteiras célticas e em lugares e situações mais propícias a boas defesas. Sabendo depois que os barcos feníc ios navegavam pelo Mediterrâneo e buscavam o «finis terrae» na costa atlântica esperava a oportunidade de lhes pedir auxílio por meio duma aliança. Foi neste remar para ocidente que chegaram à «Planície Fresca» onde deviam fundar Serpe. Ai ficaria o maior reduto da defesa turdetania. No dia seguinte ao despontar do sol, Cófilas chamou Serpínia e seus mais próximos subalternos para lhes narrar um sonho misterioso havido naquela noite. Vira, disse, naquele mesmo sítio levantar-se do solo, por mão invisível, um grande templo em cujo altar estava a estátua do seu deus Eliote. Este tinha na mão direita um sol nascente e n a outra uma flor de loendreira. E apontando ambas para Serpínia dizia-lhe: - neste local, está a tua felicidade. Em seguida acrescentou: «Depois da batalha a vitória; ocidente e oriente buscam-se». - Eis o sonho, concluiu. Portanto, embora envolvido em sombra de mistério Eliote mostra, por este aviso, que este lugar lhe agrada e aqui devemos ficar. Mãos à obra e vamos levantar os muros de Serpe. - Serpe... Serpe... Serpe... gritaram todos. Serpínia propôs. Comecemos por lançar a primeira pedra do templo dedicado a Eliote, ali no topo do morro rochoso. Depois iremos à «Pedra Longa», lugar onde começamos a avistar este sítio e ai faremos o primeiro altar, oferec endo ao nosso deus um sacrifício de acção de graças (28). 27 (i) Ana: nome que os antigos davam ao rio Guadiana. 28 (I) «Pedra Longa» era uma enorme rocha que estava à beira do caminho por onde vieram os Túrdelos naquela tarde da expedição. Chamaram-lhe «Pedra Longa» por causa do seu grande tamanho. Daqui se avistava toda a «Planície Fresca», nome que lhe puseram pela amenidade do lugar. Em Serpa ficou sempre a tradição da «Pedra Longa», de que ainda hoje se fala. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 123 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Principiaram a emergir do solo vermelho os muros de Serpe. Mais uma cidade nascia para a história. Haviam de rolar séculos sobre séculos, sucederem-se as gerações umas às outras e até cavalgadas de povos conquistadores haviam de calcar duramente este solo. Porém, Serpe, uma vez nascida havia de continuar. Nascera para viver. Seus muros fortes, feitos de granito e calcário em que a região é abundante haviam de resistir com fúria leonina às vicissitudes dos tempos e aos ataques de futuros inimigos. Sobre ela paira um carácter sagrado visto ter nascido à sombra dum templo. Bárbaros, Romanos, Árabes e Cristãos Visigóticos, mais tarde Lusitanos haviam de continuar a venerá-la conservando-lhe intacto o nome que recebera desde a primeira hora, caso único nas povoações da antiguidade que passaram para o domínio português. Serpe é uma linha de intercepção e cruzamento da Turdetânia com a Lusitânia, e mais tarde da Bética onde o carácter da sua população constitui curiosa excepção na Lusitanidade. Agora Gês: - Pax Júlia à vista - Beja actual Cófilas não se esquece de que Rolarte era seu figadal inimigo. Não perdoaria a Serpínia tê-lo preterido e nunca veria com bons olhos a grandeza da Turdetânia. Por isso, enquanto os muros de Serpe vão subindo à claridade doirada do céu transtagano ele dá -se à tarefa de tomar todas as terras até ao mar, e construir novos castros. Atravessou o Ana e explorou toda a planura da margem direita. Ao atingir o vértice do alti-plano reparou que a terra era ubérrima e a situação privilegiada para nova construção defensiva. Cófilas impera: - Aqui mais uma fortaleza... aqui... e afincou a lança no ponto mais elevado do planalto. Aqui será Gês - cidade vigia, sentinela da planície. E logo, do solo vermelho, principiam a subir os muros de Gês, a quem os Romanos chamariam mais tarde: Pax Júlia, os Árabes: Paca, os Portugueses: - Beja. Uma aliança com os Fenícios - nasce Mírtilis Cófilas domina já toda a vasta região da bacia do Ana e daqui até ao Atlântico. Gês e Serpe são os dois pontos concêntricos d e maior população e os dois mais fortes baluartes de defesa. Ele sabia, porém, que Rolarte, seu inimigo figadal rondava, como abutre de garras adunca s, suas fronteiras e não perdoaria a Serpínia tê-lo preterido no amor. Mais tarde ou mais cedo ele voltaria à carga, viria incomodá-lo de novo e por isso havia que prevenir tudo. Começara, pois, a construir novos aldeamentos, novos castros, pontos de defesa e muitas vias de comunicação. A terra era muito plana mas de difíceis possibilidades de comunicação. No Verão, muito pó; no Inverno, caminhos lamacentos em que o barro atolava e pegava tudo por causa da sua constituição argilosa. Neste entrementes Cófilas soube que umas naus fenícias vindas do Mediterrâneo haviam entrado a foz do Ana até onde a maré dava acesso e pretendiam fundar uma feitoria comercial. Ledo e confiante foi-lhes ao encontro. Estudaram o sítio e acordaram em que seria construída nova cidade fortificada no cimo de alto e escarpado morro a cair abrupto sobre ao margens do Ana e na confluência do rio Rochoso com estes. A região é áspera, escalvada, cálida e pronta a boa defesa. A povoação ficaria dependurada de escarpas quase abruptas e de difícil acesso ao inimigo. Como foram os Fenícios que quiseram construir a povoação deram-lhe o nome de Mírtilis (Mértola) por ser dedicada à sua principal divindade - Mirto. Nessas primeiras naus vinha o príncipe fenício Polípio, espírito navegador e sedento de aventuras, homem do mar e esforçado g uerreiro. E se este se apaixonasse por sua filha Serpínia e assim acordassem numa aliança de mútuo auxílio e defesa? Pensava Cófilas. Nesta esperança convidou-o a visitar Serpe. Não se enganara. Quando Polípio viu Serpínia, disse, surpreendido, para Cófilas: - Aquilo é mulher ou deusa? - Se a quiseres, pode ser para ti!... - foi a resposta. O príncipe aceitou a proposta. Estava diante duma beldade como outra não tinha encontrado nas terras misteriosas do sol nascente. Aqueles olhos castanhos e vivos eram ímans que atraíam; aqueles cabelos loiros eram cadeias que prendiam. Serpínia afinava pelo mesmo diapasão. Polípio agradou-lhe à primeira vista e viu nele um príncipe encantado das terras orientais. Foi chamado ao palácio o sacerdote de Eliote para assistir ao contrato dos esponsais. Este então recordou a Cófilas: - Lembras-te do sonho que tiveste a primeira noite que dormiste nesta terra que o destino nos reservou? Aqui tens a sua confirmação. O ocidente e o oriente juntaram-se sob as bênçãos de Eliote. Cófilas e Polípio firmaram um tratado de amizade e mútua defesa. Além do casamento com Serpínia estipulou-se que os fenícios estabelecessem uma feitoria comercial em Mírtilis. Nesse porto ficariam sempre equipados com homens e material dois navios fenícios que ao mesmo tempo patrulhariam o litoral da Turdetânia, pelo menos enquanto o perigo não passasse. Em caso de guerra com qualquer adversário cada um dos contratantes prestaria mútuo auxilio. Outrosim era estabelecida em Mírtilis uma escola naval onde os túrdelos aprenderiam dos fenícios a arte de navegar, e de se familiarizarem com as ondas. Assim, à face de tal acordo ficavam inteiramente frustrados os intentos imperialistas do chefe celta Rolarte, e a linda Serpínia ficava liberta do seu mais terrível pesadelo. O castelo das loendreiras Polípio voltou para o oriente com a promessa de tornar breve, pois já não podia viver muito tempo sem a presença de Serpínia e a luz do seu fascinante olhar. O seu centro de gravidade estava agora na Turdetânia. Quem lhe diria que tinha vindo encontrar no «finis te rrae» uma sereia mais sedutora de quantas infestam os altos mares!... Polípio partiu dividido em dois: no navio iria o seu corpo apenas; sua alma e o seu coração amante ficariam em Serpe. O mar que separa continentes, divide terras, afasta reinos, não é capaz de separar o amor; a distância, que tudo faz esquecer, torna o amor mais próximo e mais vivo. Parece que a saudade foi inventada por Serpínia quando, ao despedir-se de Polípio, lhe ofereceu uma prenda constando de dois corações de oiro entrelaçados por um S que tanto podia significar Serpínia, como solidão de onde vem a palavra: saudade. Na ausência do príncipe, todos os dias, quando o sol despontava de manhã na orla do horizonte, Serpínia subia a uma torre da fortaleza e dialogava com ele pedindo-lhe novas do seu amado. E à tarde, quando o mesmo se escondia por detrás das montanhas, na direcção do mar, ela enviava-lhe uns beijos, recordando: - Não te esqueças de os entregares ao Polípio quando amanhã passares pela Fenícia. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 124 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 De igual modo, sempre que o vento soprava das bandas do Levante, Serpínia punha-se à escuta parecendo-lhe ouvir. nas asas da brisa, a voz doce e maviosa do seu príncipe. * Serpínia tinha uma grande formação e cultura para o seu tempo. Já tinha viajado pelas Gálias e havia estado em Roma. Tinha uma alma extremamente sensível à beleza. Amava a arte, a poesia, a natureza. Cuidava de flores e dialogava com elas. Parecia compreenderem -se maravilhosamente. Um de seus desportos preferidos era a caça. Sabia manejar o arco e a flecha como o mais hábil caçador de fe ras. Também no seu tempo já se usava a espada com que ela sabia igualmente lidar. O pai, conhecendo-lhe estas boas qualidades, alimentava-lhas, promovendo de quando em quando uma caçada nas terras da Serra. Vendo que a filha adorava a vida campestre e pretendia sair sempre da cidade nas estações calmosas, mandou-lhe construir um palácio acastelado no campo, na região da serra onde o terreno, apesar de agreste tinha um clima agradável e onde a caça abundava. A construção fizera-se à borda do rio Limosino, afluente do Ana e o público bem depressa a baptizara com o nome de «Castelo das Loendreiras» em virtude dos muitos arbustos desta espécie que ali abundavam. O palácio era rodeado de altos e fortes torreões que lhe serviam igualme nte de defesa além duma forte cintura de muralha que o rodeava. Grandes portões de ferro davam acesso ao palácio e ao jardim. Tinha uma vista panorâmica maravilhosa. De seus torreões ameiados avistava-se grande extensão de planície e de serra para todos os pontos cardeais, divisando-se toda a depressão da bacia do no Ana, de Serpe até Mírtilis. As águas do Limosino eram represas por um açude e alimentavam o castelo e o jardim. No jardim, amplo e bem cuidado, sentia -se bem visivelmente a mão e o bom gosto da princesa. Este tinha grandes alamedas e ruas curvilíneas rodeadas de muitas e variadas espécies arbóreas. Ai se via o álamo, a faia, o loureiro, o cedro, a palmeira e a oliveira, 'árvore sagrada de Eliote. As flores abundavam por toda a parte onde grandes trepadeiras se enleavam umas nas outras e às grandes árvores dando ao conjunto uma visão de sonho. Para além dos muros do jardim desdobrava-se a serra em montículos sucessivos formando na paisagem, áspera e solene, gracioso desenho, como se fossem gigantes entretidos em jogo de xadrez. O mato abundava salientando-se a esteva viscosa e o rosmaninho penitente, cujo perfume acre embalsamava o espaço. As noites de luar revestiam-se de graciosa majestade e nostálgica poesia quando a chuva de prata incidia sobre as campinas em silêncio. As estrelas brilhavam sempre com meigas cintilações. De dia o céu encantava com o seu azul turquesino, puro e translúcido, onde quase se não distin guia um leve esfumado de neblina. Serpínia, além das flores, do céu azul, das estrelas e da caça amava também os passarinhos. Possuía gaiolas com várias espécies. As filomelas29, pareciam conhecer-lhe este fraco pois vinham com frequência entre as trepadeiras que estavam junto à sua janela trinar seus concertos orfeónicos. Certa vez uma andorinha lembrou-se de fazer o ninho no pátio do castelo, sob um beiral que muito lhe agrada. Serpínia achava graça e risonha poesia à maneira engenhosa como as industriosas andorinhas construíam suas curiosas habitações. Primeiro água no bico e borri favam o lugar onde pretendiam fazer o ninho. Depois eram pedacinhos de barro atrás uns dos outros: - põe aqui, põe ali, deita acolá, ajeita agora, ajeita logo e dentro de pouco tempo estava um autêntico palácio aviário. Depois era a prole. Que lições de paternidade, que lições de amor para os homens!... Em dada altura, quando as novas andorinhas estavam já crescidas, Serpínia mandou apanhar uma e atou-lhe ao pescoço uma placazinha de madeira muito fina, quase transparente, com estes dizeres: - «Serpínia envia recados a Polípio». Enquanto esteve no ninho as irmazinhas desta entre- tinham-se a debicar na placa. Chegou a altura de levantar voo. E a privilegiada da mensagem por ali volitou algum tempo com o seu adorno a que a princesa achava imensa o graça. Depois veio a emigração. Diz-se que no ano seguinte os passaritos voltaram ao mesmo local e lá vinha a mensageira trazendo ainda a mesma placa. Teria volitado pelas terras do oriente? Ter-se-ia desempenhado do seu recado? Se outra lição não tivesse ficado deste episódio bastava a sua poesia, a sua delicadeza amorosa, o sabor de bucolismo que ele contém para o tornar simpático. * Já dissemos algures que Serpínia tinha deliciosa predilecção pela caça. De quando em vez convidava cortesãos e altas dama. para uma batida aos lobos e javalis. A's vezes as empresas venatórias tornavam-se perigosas, quando os arcos e as flechas não andavam por mãos hábeis. Em dada ocasião um caçador feriu corpulento javali que não conseguira abater. O animal, furioso como um leão, desbocou enraiv ecido e atirase a tudo que encontrava. Dava saltos, afiava as cortantes presas e até estripou dois cavalos e muitos cães. Entre os caçador es estabeleceu-se pânico. Havia já senhoras desmaiadas e cavalheiros empoleirados em cima das árvores. Serpínia apercebeu-se do que havia e resolveu enfrentar o perigo. O javali tomou rumo ao seu grupo. A princesa correu para cima dum rochedo, onde não era fácil ser atingida pelo animal. Este, cada vez mais furioso, empoleira-se ao rochedo a tentar trepar. Foi nesta conjuntura que Serpínia, com admirável sangue frio, desfechou com êxito feliz, duas setas que atingiram o javali na cabeça, entre os olhos, dando-lhe morte rápida. Foi uma sensação de alívio para os caçadores e um autêntico triunfo para a princesa, a qual foi muito aclamada pela sua admirável proeza que, durante muito tempo, andou de boca em boca. O corpulento javali foi oferecido em holocausto a Eliote em acção de graças, ficando a cabeça embalsamada numa das salas do c astelo. Cófilas, quando soube da proeza venatória da filha mandou-lhe os parabéns, com esta missiva laudatória: - «Nada tens que invejares a Diana. O teu arco tornou-se terrivelmente fulminante!». Sonho de amor O amor é o mais doce e o mais tirano dos verdugos. Tanto beija como fere; tanto louva, como vitupera; tanto enobrece, como mata. As maiores criações do mundo e as mais aviltantes tragédias do Homem costumam ter por base e inspiração o amor. É o amor que funda nações e destrói impérios; faz os santos e até gera os criminosos e facínoras. É que o amor tem várias facetas e opera em diversas direcções. Pode vir do céu ou desentranhar-se do meio da lama; pode ser perfume balsâmico ou hálito pestífero; pode presidir a uma ressurreição ou gerar uma carnificina; pode ser mar de virtudes ou então furacão impetuoso de paixões. 29 Nome antigo dado ao rouxinol. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 125 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Tudo depende da qualidade do amor: se do céu, se da terra; se dom de Deus; se produto do mundo inferior do homem. Sim... o amor é um anjo de asas brancas que acaricia... .e pode ser demónio que flagela em antros escuros. Serpínia sentiu este martírio do amor. * Era uma tarde emoliente de primavera. O céu, por entre nesgas de nuvens esbranquiçadas, parecia mais azul do que vez nenhuma. No espaço corriam manchas de algodão impelidas pelo vento tépido da tarde. No jardim, intensamente florido, volitavam doidamente borboletas multicores, enquanto abelhas industriosas iam de pétala em pétala sugando o saboroso néctar. O cheiro acre da esteva florida e do penitente rosmaninho chegava até ao castelo das Loendreiras. À beira do Limosino alinhavam-se, frondosas e cheias de majestade, renques de árvores esbracejando generosamente ao vento da tarde. A cabeleira basta dos chorões ondulav a ao capricho da brisa enquanto o ciciar das faias formavam sibilante cadência de dança orfeónica. Além, entre silvedos e madressilvas cheirosas, uma filomela repenicava seus trinados aliciantes. Era uma tarde de poesia repa ssada de lirismo caldeado com suspiros de cupido. Toda a natureza parecia orquestra suave e harmoniosa a entoar laudes ao Amor invisível. Serpínia sentiu-se transportada às plagas do Oriente. A silhueta doce, risonha de Polípio desenhava-se vivamente na tela da sua imaginação viva e escaldante, fazendo pulsar-lhe o coração em ritmos mais acelerados. O sol da meia tarde, coado por algumas nuvens de arminho, havia diminuído suas ardências. A princesa loira sentia necessidade de expandir, com a natureza, seus colóquios de amor. Chama, por isso, Galiosa, a aia fiel de todas as horas, para uma deambulação pelos jardins. Depois de alguns passos ao acaso foram ambas sentar-se num banco de pedra sito debaixo de frondosa palmeira rodeada de cedros odoríferos. Pelas abas destes trepavam grinaldas de roseiras dos canteiros próximos. Mesmo em frente, para além dum pequeno parapeito de pedra tosca, deslizavam, plácidas e claras, as águas do Limosino. Serpínia foi a primeira a quebrar o religioso silêncio daquela tarde de amores. - Que lindo está tudo, minha boa Galiosa... tudo isto é vida, beleza e poesia. - Tens razão, linda princesa. Tudo são dons de Eliote. Mas porque olhas tanto na direcção do oriente? - Lembro-me de Pol1pio. - Olha mais para o sul. mais na direcção de África. A estas horas já ele vem em pleno Mediterrâneo ou talvez já tenha ultrapass ado as Colunas de Hércules. - Dizes bem, Galiosa: ele deve chegar a Mírtilis por estes dias. Vem ultimar os preparativos para o nosso casamento. E Serpínia sorri com delicioso bom humor. - Ficas entre nós ou vais para o Oriente? - interrogou Galiosa. - Não sei. Tanto se me dá, contanto que goze a presença de Polípio. - Connosco, os turdetanos, já não acontece o mesmo, insistiu Galiosa. Se te retiras, temos a impressão que na nossa doce pátria passará a ser sempre tarde ou manhã... Sem a luz dos teus olhos castanhos já não haverá para nós pleno meio dia! - Muito obrigada pela amabilidade, retorquiu a princesa, volvendo de novo os olhos para Leste. Depois: - Sabes, Galiosa: Sinto-me a mulher mais feliz do Mundo. Quando me vi livre das garras de Rolarte senti a felicidade da avezinha que sai da gaiola e se arremessa ao espaço. Era, porém, ainda só meia felicidade. A felicidade inteira, completa, encontrei-a quando encontrei Polípio. Os olhos felinos do chefe celta já não tornarão a poisar sobre mim. Passou a era das apreensões e dos p esadelos. Galiosa contraiu o rosto, como se fora vergastada por uma chicotada maldita. Fica silenciosa, olhando a distância. - Duvidas, minha boa aia? - Não duvido, temo. - Temes o quê?!... - A vingança de Rolarte. - Sonhas, Galiosa, retorquiu Serpínia, rindo com certa desenvoltura. - Não sonho: estou até muito acordada. E acrescentou: - Não te lembras do Juramento de Rolarte: - Hei-de apoderar-me de Serpínia morta ou viva?!... A princesa estremeceu e sentiu calafrios ao recordarem-lhe um juramento maldito. Depois, disfarçando: - Antes da aliança com os Fenícios temia, agora não. - Mas a Fenícia está para além dos mares, em terras da Ásia... Mas as suas naus patrulham as águas do Ana, e daqui lá a distância não é grande. E a princesa, com o braço estendido, onde se via uma mão de açucena, aponta, ao longe, o cimo dos montes que circundam Mírtilis, a perderemse na neblina esfumada da tarde. - É além!... - Bem vejo, Serpínia, bem vejo. E a prudente aia, insistiu: - É perto, relativamente perto, mas para um rapto basta uma hora. - Estás hoje muito pessimista, Galiosa. - Diz realista. Estou a ver as coisas como elas são ou podem vir a ser. - Rolarte está longe. . . - Que Eliote te oiça e nos defenda. - A propósito de Eliote... recorda Serpínia, que um criado vá hoje a Serpe e leve para o seu altar uns ramos de oliveira e umas flores de loendreira. Simbolizam paz e amor. - Já os mandei, como ontem tinhas indicado. - Agradeço os teus cuidados. - Porque olhas tanto para aquela palmeira em frente do meu quarto... interrogou de novo Serpínia. - Lembro-me... 126 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo - Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - Do quê? - Queres que diga? - Já... - Esta noite acordei ao piar sinistro dum mocho agoirento que, poisado naquela palmeira piava... piava... piava... e isto por mais duma hora. Quando ele voou, uma coruja passou grasnando também pelo mesmo sítio. Isto não é bom sintoma nem presságio consolador dizem os aurúspices. - Olha - Galiosa - nunca fui supersticiosa e em vez de temer o canto das avezinhas alegro-me com ele. - Também eu, quando elas são canoras. Agora estas. . . estas... estas são piadeiras. - Bom. .. disse Serpínia com ar desenvolto: falemos de coisas alegres. Repara naqueles canteiros de flores. Que inebriante perfume balsamiza este ambiente. - Aquelas. .. além... foram plantadas por mim. - Lá estás tu com essas vaidades espevitadas... não tas quero roubar; mas são do meu jardim... Era já meia tarde. O sol iam rodando para o ocaso através do manto azul da celeste abóbada. As sombras alongavam -se. A grande alameda onde ambas se encontravam, e que ia desembocar no rio, parecia agora um túnel, tão cerradas eram as sombras. Lá em baixo ouvia -se o rumorelhar das águas do Limosino, cuja serpente prateada as interlocutoras viam dali. Serpínia tornou a olhar na direcção do nascente e cortou o silêncio, apontando o rio: - Sabes, Galiosa: quando estas águas juntas às do Ana chegarem à foz para se misturarem às do oceano, talvez já lá encontrem as naus fenícias com Polípio. Sim... ele deve vir já perto. - Se assim é deixa-me saudá-lo: quero que ele ao tocar águas turdetanas encontre logo os nossos cumprimentos e vivas saudações. Levanta-se, com surpresa de Serpínia e vai para um lindo canteiro de flores. - Que vais fazer? - Espera. . . Galiosa, entre sorrisos e ditos engraçados, colheu um braçado de flores e, debruçando-se sobre o parapeito do muro que dava paro o rio, começou a atirar as flores à água, dizendo: - Ide... ide... saudar Polípio. - Ide... ide... saudar Polípio. Serpínia achou profundamente original a ideia de Galiosa e foi imitá-la. Colheu algumas das flores mais perfumadas: lírios, rosas, açucenas, cravos, amores perfeitos e começou também a deitá-los ao rio. Naquele momento a chama do amor ausente, acende-lhe o estro poético e ela principia, qual boa discípula de orfeu, a cantar: - Correi, pétalas, correi... - Ao encontro do amado, Que vem nas águas do mar, Em lindas naus embarcado. Algumas flores noa eram obedientes. Boiando ao cimo das águas algumas faziam reentrância, queriam voltar atrás, redemoinhavam ; outras ficavam presas e enlaçadas a madres- silvas, loendreiros e outros arbustos pendentes sobre as águas. Ela então, com uma comprida vara, desprendia-as, acelerava- lhes a marcha: - Correi todas... - Correi... - Correi... A veia poética aflora em catadupa; o amor vibra nas cordas mais sensíveis da alma; a paixão é tempestade... por isso os lábios ardem e ela continua a cantar: Águas, flores, ventos, brisas... Sêde-me bons, por favor; Levai ao meu bem amado, Meus ternos beijos de amor. Beijava as flores e atirava. De novo, uma e outra vez, com a varinha acelerava as mais retardatárias, repetindo: Levai... Levai... Levai... O primeiro assalto O idílio continuava entre risos e poesias, quando vieram dizer à princesa que estavam ali uns comerciantes de pérolas com lindas prendas de noivado. Montavam a cavalo e pareciam ser celtas, pois falavam mal o túrdelo. Galiosa sobressaltou-se logo e Serpíia ficou surpresa: Mercadores?.. Vamos ver. De facto as mercadorias eram lindas, mesmo tentadoras. Comprou para si um colar de finas pérolas e um alfinete com diamantes para o noivo. Vendido o peixe, os três mercadores deram de esporas aos cavalos e, com uma grande vénia, retiraram na direcção leste, intern ando-se no mato, para além dum cabeço, em frente. Galiosa estava presente e examinava com extrema curiosidade as palavras e os gestos dos adventícios. Desaparecidos estes, diz para Serpínia: Não me sorri o dia. Oxalá estas prendas não nos venham a ficar demasiado caras... Porque dizes isso?!... Porque digo? Talvez tenha razões... Explica-te... Por ventura, princesa, não notaste nada de estranho nestes inesperados? 127 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo - Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Eles eram celtas e eu notei que o terceiro não se aproximou fingindo segurar os cavalos. Reparei que ele tinha na mão um estilete e tábua encerada. Tirava não sei que apontamentos e fazia uma espécie de planta do castelo. Quando me aproximei, guardou... e, para d isfarçar, perguntou-me: Gosta das prendas? Eu interroguei por minha vez: - Gosta do nosso castelo? E ele: - Maravilhoso!... E está bem defendido... não há perigo de assalto. - Notaste isso?! . . . - É como te digo. - Mais ainda: não tens estranhado essa chusma de mercadores do mesmo género que nos últimos tempos tem enxameado as nossas terr as, indo até Serpe? Eu estou em crer que isto são espiões celtas às ordens de Rolarte. - Que me dizes?!... - Nem mais nem menos. Ele ronda as nossas fronteiras e não esqueças o seu ímpio juramento. Serpínia corou e sentiu-se um tanto trémula. Depois: - Não será isso pessimismo? - Não é pessimismo, é prudência. - Sendo assim, que me aconselhas então? - Olha, a guarnição do castelo noa é muito forte; manda vir ainda esta noite reforços e envia ramos de oliveira ao templo de Eliote pedindo ao sacerdote que ore... que ore por nós. Serpílnia, embora estivesse optimista, achou prudente transmitir ordens. * A noite caíra sobre a planície erma. Noite pesada e triste. Espessas nuvens se tinham levantado ao pôr do sol cobrindo o céu duma placa de chumbo. A custo cintilava uma estrela por entre os interstícios das nuvens. A lua só muito de madrugada havia de nascer, e era quarto minguante. Um vento agreste sussurra fortemente na copa ramuda das árvores que se torcem e gemem. O ambiente sabe a música desafinada, á spera e importuna. A escuridão cerra-se mais e mais. No ar pesado parecem vaguear medos e pesadelos. Nem se ouve ao longe qualquer rugir de fera. Os próprios irracionais, temendo a tempestade jazem acoitados em seus covis. Sopra mais o vento, assobia nas ameias do castel o, silva com estridência nas frinchas das portas, rebolam folhas de árvores pelos telhados. É uma dança macabra. O ambiente é de enervante nostalgia. É noite tétrica... Noite de assassinos... Noite de bandidos... Noite de crimes. Serpínia olhando através da janela a paisagem escura e solitária na direcção do sul só pede a todos os deuses que a nau de Polípio não seja surpreendida por qualquer tormenta. A noite avança. Os membros estão entorpecidos de lassidão; os cérebros pesados da atmosfera densa; o sono rond a os pobres mortais. Para além do mato há olhos que não piscam de sono porque são olhos de traidores e a traição age de preferencia na calada da noite. Serpínia recolhera-se a seus aposentos. Ainda não adormecera. Vagueia com o pensamento ao ritmo do soprar do vento. O pai deve estar em Mírtilis, Polípio já deve navegar em águas túrdelas. De repente Galiosa bate-lhe à porta. - Que há, interroga. - Tenho um mau pressentimento. Há momentos estava na torre mais alta do castelo a sondar o panorama e parec e-me ter visto na direcção de leste muitas luzes. -Talvez fossem olhos de feras... - Depois ouvi como um trotear de muitos cavalos... - Deve ser o vento a fustigar as árvores... - Por sim, por não, Serpínia, manda às sentinelas que estejam bem de vela e vigiem. Olha, quase que jurava ter ouvido, no meio do mato o relinchar de cavalos. - Talvez fossem os nossos próprios. Confia: Eliote está connosco. O sacerdote ora no templo. Cerrouse mais a noite. Além das paredes do castelo nada mais se vê. Só lá em baixo, à beira do jardim se percebe o gorgorejar das águas do açude. Alta madrugada, antes da lua despontar, ouviu-se um inquietante alerta da sentinela. Acorrem os reforços. Inimigos estavam a pretender assaltar o castelo. Organiza-se a defesa em volta de todo o edifício. O primeiro embate foi duro, felino, confuso. Relincham cavalos, atiram-se setas, partem-se escudos e ouvem-se gritos de desespero. Já há mortos e feridos. O atacante busca uma porta por onde possa entrar. Em vão; está tudo bem defendido. Os defensores do castelo defendem-se com fúria leonina. Serpínia e Galiosa acordaram ao som do alarido e estridor das armas. Informadas do que se passava encheram-se de bravura e queriam sair para fora, de armas na mão, mas os soldados não permitiram. Subiram então às torres e de lá atacavam com pedras e matérias inflamáveis. O inimigo atacava, vociferava, praguejava. Saíram-lhe errados os planos. Julgavam o castelo sem defesa. Passado tempo diminuíram de impetuosidade, enfraqueceram a resistência, recuaram. Vinha rompendo a manhã. Vendo a impossibilidade de tomar o castelo os sitiantes empreenderam a fuga e internaram -se no mato, sendo perseguidos até longe. Tinha-se frustrado o assalto. Por confissão dos prisioneiros soube-se que eram soldados de Rolarte. Este, conhecedor da aliança de Cófilas com os Fenícios e os esponsais de Serpínia com Polípio, há muito que projectava raptar a princesa túrdela. Sabendo-a, pelos seus espiões disfarçados em mercadores que ela se encontrava naquele palácio de campo, longe de Serpe, achou asado o momento. Infiltrando-se pela fronteira da serra onde não era fácil encontrar resistência veio a acampar no meio do mato, a alguns quilómetros de distância. O primeiro assalto foi uma tentativa de seus homens mais audaciosos que prometeram levar a efeito o rapto, sem o chefe expor a sua vida. Frustrada esta primeira tentativa eles voltarão. Rolarte agora ardendo em cólera e consumido de vergonha planeará nova vingan ça. Não é homem que desista ao primeiro fiasco. Serpínia, conhecedora destes planos, mandou a todo o galope emissários a Mírtilis dar conhecimento a Cófilas do que se passava ao mesmo tempo que prevenia a fortaleza de Serpe. Os emissários caminhando em marcha forçada, depressa galgaram a distância que separa Mírtilis do Castelo das Loendreiras. Por felicidade Polípio havia chegado nessa madrugada com homens e navios. Cófilas e futuro genro, co m grande FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 128 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 contingente de homens, puseram-se a caminho e, ao anoitecer estavam à vista do castelo. Serpínia foi recebê-los por entre grande alvoroço e lágrimas de alegria. Não contava com Polípio ali em tal contingência. Este respondeu: «O amor não sabe esperar e é nos perigos onde mais se aquilata o seu vigor. Serpínia agradeceu-lhe e caiu-lhe nos braços plena de emoção. Cófilas abençoou a filha e louvou-a pela sua grande coragem. Agora estava salva a situação. De Serpe já haviam também chegado reforços. Cófilas, ouvidos também os prisioneiros celtas, logo se aperceb eu da situação e dispôs tudo para uma resistência forte e eficaz. Serpínia tornou ainda a mandar essa noite ramos de oliveira e flores de loendro para o altar de Eliote. A derrota Os génios do mal são fecundos em planos perversos e por via de regra são vitimas do seu orgulho. O orgulho é um vírus que mat a sempre seus próprios senhores. Rolarte era mau e orgulhoso. Tinha as duas qualidades mais perversas do génio do mal. Ao ter conhecimento do fracasso do primeiro assalto ao castelo das Loendreiras desmaiou de indignação, rangeu felinamente os dentes, crispou as mãos de cólera e, fora de si, gritou: - Vingança... Vingança... não há vingança bastante para eu me poder vingar. E logo planeou o segundo assalto para aquela noite afim de não dar tempo a organizar-se uma defesa eficiente. Não sabia o que se passava no castelo, desconhecia a chegada de Polípio. O dia passou-se em planos de estratégia à face dos dados colhidos pelos falsos mercadores. O tempo estava tempestuoso e por isso favorável a um assalto desta natureza. Sobretudo o que importava era: Vingança.. Vingança... Anoitecera. De novo um denso céu de crepes tornou a envolver a terra. Escuro cerrado; vento irritante; aliança das trevas... e eis alguns de seus aliados para aquela noite. Choveu muito durante o dia e a noite estava, por igual, densamente nublada. Rolarte dividira seus homens em quatro grupos afim de atacarem o castelo por todos os lados dando assim ao adversário a impressão de que eram legião. Cerra-se mais atreva; adensa-se a noite; carregam-se mais as nuvens; o vento assobia. Cófilas tinha emboscado seus homens a centenas de metros, em pontos estratégicos exactamente na direcção dos quatro pontos cardeais. Mandou que no castelo nem uma luz acesa, tudo às escuras afim de dar ao inimigo a impressão ou que tinha sido abandonado ou q ue estavam desprevenidos. As horas passam lentas, angustiosas, apreensivas. Alta madrugada a assaltante aproxima-se. Nas torres do castelo vigia-se bem desperto. Rolarte, aceso em cólera, exclama ao dar ordens de atacar: - «Ó deuses: - que o ódio realize o que não conseguiu o amor!...» No momento oportuno saíram de seus esconderijos os túrdelos que, de improviso, carregaram sobre o inimigo. Espalha-se a confusão, o desespero. Há vítimas e destroços pelo chão. O escuro da noite, a lama do terreno, devido à chuva, empr estam ao cenário mais lugubridade, tetrismo e pavor. A dor e a morte encontravam-se frente a frente. Os atacantes viram-se envolvidos por uma resistência tenaz com que não contavam. Desesperam, a vitória foge-lhes momento a momento. Rolarte é mortalmente ferido. Os seus homens recuam, cedem terreno, debandando. É a derrota. A fuga precipitada está diante deles como única solução de salvamento. Cófilas foi impelindo o inimigo para as margens do Limosino. Este rio levava uma cheia formidável em virtude das chuvas torrenciais que haviam caído em certas regiões. Rolarte julgando ainda uma possibilidade de escapar às mãos de Cófilas meteu -se à água tentando atravessar o rio. Cavalo e cavaleiro iam muito feridos. Em tão má hora se meteu à água que o cavalo escorregou nas pedras roliças deixando cair o cavaleiro que foi arrastado pela torrente impetuosa. Cófilas e Polípio presenciaram a cena e queriam havê-lo, às mãos, vivo. Ainda fizeram tentativas para o salvar, mas em vão. Rolarte submergiuse na torrente e desapareceu para sempre. Estava terminado o drama doloroso. A tragédia pusera termo a uma louca aventura. O CONSÓRCIO Ocidente e Oriente de mãos dadas Polípio, o príncipe fenício de olhos azuis, barba ruiva e tez morena fizera boa estreia para conquistar definitivamente Serpínia. Era um amor e um herói. Sabia amar, lutar e combater. Herói no mar e na terra, ia ser também herói nos segredos do amor. Serpínia, a mulher mais linda que até ali havia visto, estava-lhe destinada. Túrdelos e Fenícios podiam regozijar-se com a estrondosa vitória, ocidente e oriente podiam dar as mãos num simbolismo histórico que os séculos futuros haviam de registar como predomínio do ocidente sobre toda a face do glob o. O Castelo das Loendreiras fora eterna testemunha da dupla vitória duma mulher singular: acabar com o pesadelo dum monstro apaixonado que fazia tremer as pedras e conquistar um amor que enlaçava duas nações, unia dois continentes. Serpínia ficava uma heroína para a his tória. A dupla vitória foi largamente festejada. Os vencedores entraram em Serpe por entre arcos e festões, palmas e flores, no meio de aclamações ruidosas como a capital túrdela nunca tinha presenciado. Num luxuoso carro puxado a quatro cavalos Serpínia seguia no meio de Cófilas e de Polípio. Sorrisos, ovações, acenar de braços, vivas, aclamações eis o ambiente que reinava por toda a parte. O cortejo triunfal seguiu pelas ruas principais e foi terminar no tem plo de Eliote onde Serpínia depôs ramos de oliveira e de loendreira e se ofereceu um sacrifício solene. As festividades continuaram no dia seguinte com o casamento real e prolongaram-se por duas semanas. * No meio de tanto regozijo uma nuvem de tristeza cobria o coração de todos. Por certo iam ficar sem a sua idolatrada princesa a quem a Turdetânia já tanto devia. O oriente esperava por ela. A os clamores da vitória, ao incenso dos sacrifícios juntavam-se já as tristezas da próxima separação e as lágrimas ardentes duma saudade infinda. Serpínia é uma radiosa estrela do ocidente que vai iluminar as terras do oriente; é uma beldade destinada a ofuscar todas as beldades das terras dos beduínos, onde vagueiam civilizações e passam caravanas admirando os arcos desmantelados de Palmira, os templos soterrado s dos Hititas, as ruínas monstruosas de Balbek. Diante da beleza de Serpínia, havia de desmaiar a beleza de Artemisa de Palmira; os Egípcios haviam de achar demasiado feia s ua admirada Cleópatra e Helena de Troia cairia em eterno desespero. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 129 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Mais ainda: quando Serpínia aparecesse no oriente não mais Salomão olharia para os encantos da Rainha de Sabá. Depois as formosas: Célia dos Hititas, Zeliana dos Babilónios, Artésia dos Assírios, ficariam arrumadas a um canto como gente sem valor, corno beldades ultrapassadas. Se tais pensamentos regozijavam os turdetanos a ideia da separação atormentava-os. o ADEUS Entre os Europeus e a Ásia O destino é sempre o destino: tem de cumprir-se. Não é um cego fatalismo, é um selo da providência; não é uma coincidência fortuita é, sim, o sinal da mão de Deus a marcar a fronte do homem. Serpínia está destinada a ser rainha de Tiro e Sidónia. Para além do Mediterrâneo, confinando com as terras que um dia o Cristo transitará na sua passagem pelo nosso planeta, está o seu trono. A partida aproxima-se. O reinar é também um dever, um serviço que tem de cumprir-se. Os navios estão já surtos no porto de Mírtilis. Está firmada uma aliança forte e duradoira entre a Fenícia e a Turdetânia que dão as mãos por cima do Mediterrâneo. Mírtilis, embo ra no território turdetâneo, é uma faceta do rosto da Fenícia e fica a servir de ponto de enlace, rota de cruzamento entre os dois povos amigos. Serpínia vai partir. Como piedosa e crente quis na véspera da partida, ir ao templo de Eliote oferecer um sacrifício e entregar um ex -voto. Este constava da seguinte oferta: uma preciosa rosa de loendreira feita de oiro e pedras preciosas dádiva de seu pai e que lhe adornava o gracioso cabe lo no dia do casamento. Numa das pétalas da rosa estava gravado o nome de Serpínia, noutra o castelo das Loendreiras. Na base do castelo via-se a cabeça dum dragão representando a vitória sobre Rolarte. Assentava tudo sobre um escudo rodeado de folhas de oliveira, a árvore sagr ada de Eliote. Este brasão ficaria a ser as armas de Serpe e conservou-se no templo até à sua destruição nas inquietas vicissitudes da história. * Chegou por fim o dia da partida. Aproximava-se a hora do embarque. O sol radioso duma serena tarde de primavera iluminava com revérberos de oiro o casario de Mírtilis construída em anfiteatro na encosta do alto morro, bem como as campinas circunjacentes e as águas plácidas do Ana. Era bem uma tarde de amorosa saudade. Serpíia e Polípio acompanhados de Cófilas e grande comitiva chegavam a Mírtilis. As naus estavam surtas nas águas do rio todas embandeiradas. Sorria a natureza, choravam os corações. Uma separação, ainda quando para melhor, é sempre dolorosa. A fortaleza de Mírtilis erguida no cimo do morro escarpado pelos homens de Polípio, espelha-se agora nas águas do rio. Serpfnia desce ao cais. A multidão ovaciona e chora. Vai-se a luz da Turdetânia. Os mareantes fazem os últimos preparativos. Polípio, como elegante surpresa, havia posto o nome de Serpe àquele navio que devia levar a princesa. Este voltaria muitas vezes às águas da Turdetânia afim de mitigar as saudades dos turdelos. A princesa ajoelha-se aos pés de seu pai carinhoso e bom. É a hora amarga da despedida. Depois sobe para o navio e acena à multidão. No ar há lenços e braços a saudar e nos olhos abundância de lágrimas. - Adeus... Adeus... era o grito que irrompia de todas as bocas e ecoava pelas quebradas dos montes. A emoção atinge o seu auge quando o navio inicia a marcha. Serpínia, de pé, acena à multidão. Já não pisa terra da Turdetânia , mas ainda lhe pertence. Galiosa, a aia sempre fiel acompanha-a ao Oriente. - Adeus!... Boa Viagem!... Felicidades! - continua a gritar a multidão em coro. Serpínia sorri na plenitude da sua felicidade. Tiro e Sidónia esperam por ela. Vai entardecendo cada vez mais. O ambiente é de emoção e de saudade. Respira-se a dor da despedida com a glória duma exaltação. O Serpe, que leva a pérola da Turdetânia, é seguido por muitos barcos de recreio engalanados. Desliza agora sobre as águas plácidas. A o longe ainda se vê a silhueta esguia e bela de Serpínia, a quem o povo continua a dizer: -Adeus!... E o navio desliza até desaparecer numa curva do rio. NOTA Quisemos oferecer aos Serpenses esta leve brochura e modesto trabalho sobre uma das graciosas lendas acerca da fundação da sua terra. Fomos bebê-la a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos arquivos. Não há dúvida de que Serpa "histórica e velhinha, berço da minha vinda ao mundo, é uma das povoações mais antigas da Ibéria. É certo que a sua fundação imerge nas sombras densas da pré-história. Ninguém poderá saber ao certo qual o dia, o ano em que do solo vermelho em que assenta emergiu o primeiro muro de suas casas e se del ineou a sua primeira rua. Os tempos guardaram para si este mistério que o génio do passado arquivou nos subterrâneos das idades. Uma coisa singular: os tempos e as vicissitudes históricas respeitaram sempre inalterável seu nome primitivo com que fora baptizada, caso único, estamos em crê-lo, nas velhas terras da Lusitânia. Isto parece confirmar o carácter sagrado que presidiu à sua fundação. Esperemos que no último dia do Mundo, se Serpínia ressuscitar, ela nos desvende esses mistérios. Sempre me interessei vivamente pelos problemas de Serpa e não quis deixar de lhe ofertar este pequeno obséquio que Ela, pro vavelmente, saberá agradecer. Sim. .. a fundação de Serpa ter-se-á dado como aqui se descreve. Qualquer outra lenda é inverosímil. O AUTOR, C. J. GONÇALVES SERPA Composto e impresso na Oficina Torriana – Torres Vedras. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 130 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANEXO 3.1 – 4 – SERPA EN/CANTADA EM LENDAS De José Rabaça Gaspar (José Penedo de Serpa) in separata – SERPA ANTIGA – SERPA INFORMAÇÃO, 4ª série, Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17 2º ANDAMENTO - SERPÍNIA A BELA PRINCESA Serpínia era princesa do reino da Turdetânia que antes da Lusitânia era um reino mui distante muito p‟ra lá da Ibéria, para além dos Pirenéus. Cófilas, o pai de Serpínia, adorava a sua filha, que, além de ser princesa, sua filha muito querida, era de rara beleza, como diz a lenda antiga. Mas Rolarte, um rei mesquinho, rei cruel, ambicioso, dos celtas povo vizinho, logo que viu a Serpínia à força a quis tomar para com ela se casar sem ela o querer, nem amar. Orosiano, esse era o noivo que a Serpínia escolhera. E logo que isto soube o rei Rolarte, cruel, guerra ao príncipe moveu. Orosiano morreu nessa batalha fatal. E Rolarte, ambicioso, apesar de muito ferido, mesmo às portas da morte, roído de atroz ciúme, jura perseguir Serpínia até ser sua, ou morrer. Cófilas, que era bom rei, e que ter guerras não queria, Para proteger sua filha, caminha para Oriente, passando os Pirenéus, atravessando a Ibéria, até que parou no Ana, o rio Ana Odiana que depois foi Guadiana... Foi, quando viu estas terras, guardadas por uma serpente, que haviam de ser de Serpa, que a princesa se encantou, ao ver os campos cobertos de deslumbrante verdura e de flores de muitas cores que perfumavam os ares dum odor estonteante. A água era abundante. Terra farta, clima ameno, farta, tanto de animais, como de aves para caça. Com imensos olivais... Ali estava o alimento, o bom unto, o provimento e até luz nas candeias... - É este o lugar que eu quero para morar e caçar correndo montes e vales... E nunca mais ver Rolarte nem mais dele ouvir falar... E chorar Orosiano que morreu de tão má morte pelo destino da sorte que aquele malvado lhe deu. É talvez um chamamento, encanto, deslumbramento, que me atrai, que me fascina. É que o meu nome é Serpínia e os caçadores daqui contam, que esta região é reino de uma serpente alada, forte e potente que os protege e guarda a terra os campos, aves e bichos, e que também os defende de todos os inimigos. Também a nós guardará. E, se ela assim quiser, serei eu essa serpente que os vai guardar dos perigos e vencer os inimigos desta terra e desta gente. Creio bem, senhor, meu pai, que aqui, irei encontrar o meu futuro. A PAZ. Meu nome será ligado ao da Serpe benfazeja... Por todos será lembrado para lá de toda a inveja por mais mudanças que houver. - Aqui será, minha filha, pois assim o desejais a cidade capital do reino da Turdetânia e daqui vamos reinar em paz, boa vizinhança, desde o Ana, até ao mar. Assim possas tu, ó filha Amor de novo encontrar. Logo se fez a cidade com túrdulos e naturais se estenderam pelos campos pelos montes e locais até ao porto onde o Ana se casava com o mar. Chegaram barcos fenícios que vinham comerciar. Outra cidade nasceu. Mirtilis foi o seu nome por ser o filho de Mirto que o teve de Mercúrio o Deus dos comerciantes, mensageiro dos amantes. Um dia, num desses barcos, chega, nobre e sobranceiro, Polípio, um jovem guerreiro, que ao ver Serpínia, a princesa logo se deixou vencer de tanto encanto e beleza aliada à fortaleza que de Serpínia emanava. - Nunca mais esquecerei tanta beleza e encanto. E se for vossa vontade e do vosso pai também, vou regressar ao meu reino, à Fenícia lá distante, e voltarei radiante mais digno da vossa mão e condigna companhia para as bodas celebrar. Bela mulher, sede minha e virei para casar e ao meu reino levar... Logo ali ficaram noivos e prometeram amar-se. - Vai depressa, volta breve, porque embora protegida, sou de morte perseguida por um rei cruel e mau... Partiu Polípio para longe. E a noiva, enquanto espera refugia-se na serra para se melhor defender e à caça se entregar, seu prazer e seu dever para todos sustentar. Para melhor a guardar seu pai que era prudente logo manda construir um palácio diferente no meio da selva inóspita. E devido aos loendreiros que enchiam a região logo lhe chama a propósito O Castelo dos Loendros. Mesmo ali nesse reduto qual Diana no seu meio, perdida na Natureza quase do Mundo isolada, um dia, quem o sonhava, aparece qual fantasma o ciumento Rolarte que jurara de tal arte: ou possui-la, ou matá-la... Não consegue seus intentos. Os soldados de Serpínia com a aliada Serpente como uma Serpe ou Dragão defendem o seu castelo, põem em fuga o ladrão. Logo avisado, seu pai corre em socorro da filha... E já a Mirtilis chegado corre o Polípio aflito... Lutam com os celtas renhidos. Perseguem o rei Rolarte que fugindo à morte certa que o novo noivo lhe jura se despenha nos fraguedos se vai afogar no rio fica presa da Serpente de Serpínia a protectora... Há festas e casamento. Tanto a vitória alcançada como a beleza dos noivos são motivos para aquele povo se encher de contentamento. E quando os noivos partiram para a Fenícia distante, o povo, que muito a amava e a queria para rainha, e que ela amava tanto por tanto que ali viveu, para jamais a perder e nunca mais a esquecer deu o seu nome à cidade: SERPE, em boa homenagem à Serpente e a Serpínia... SERPA por ser a imagem daquela que foi rainha, da Serpe que a defendia e a defende hoje em dia de todo o mal, todo o perigo e de todo o inimigo. SERPA, a cidade da Serpe e de Serpínia, a princesa, fica assim a Vila Branca, rodeada de muralhas e protegida das águas do Ana que a abraça qual serpente a defendê-la. Assim a Serpe das Armas que de Serpa são o Brasão fica o signo, o símbolo imagem de Serpínia e do Dragão. José Penedo de Serpa Verão de 1996 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 131 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANEXO 3.1 – 5 – A LENDA DE MYRTILIS em honra da Deusa MIRTO que o teve de Mercúrio In www.joraga.net/mertola MÉRTOLA - um NOME LIGADO às LENDAS? «Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio .» ou um NOME a evocar a filha de TÂNTALO - NIOBE - irmã de PÉLOPE - o que assassinou MYRTILIS e foi transformada em enorme PEDRA donde correm dois RIOS DE LÁGRIMAS por toda a eternidade... MÉRTOLA - a possível origem de um NOME (ver em 3.1.1 alguns recortes sobre MITOLOGIA GRECO LATINA que podem dar uma certa verosimelhança a estes voos de fantasia e encantamento...) Introdução MYRTILIS ou NOVA TIRO - nome dado, provavelmente, pelos Fenícios " que aqui se homiziaram quando Alexandre Magno conquistou TIRO..." «Em um dos barcos (fenícios) vinha um Príncipe, jovem , guerreiro e bem parecido, que ao ver Serpínia se apaixonou por ela. E Serpínia amou Polípio, o belo Príncipe Fenício. E logo ficaram noivos.» MYRTILUS - aparece nos dicionários de Latim como MÍRTILO, filho de Mercúrio... A mãe terá sido a Deusa MIRTO... ... ora, nas diversas bibliografias consultadas e apesar de sabermos que os Deuses do Olimpo eram pródigos em arranajar várias esposas ou amantes a exemplo do grande Jupiter ou Zeus, não encontrámos uma Deusa ou esposa de Mercúrio com o nome de MIRTO... ... mas encontrámos a Deusa que tem o MIRTO como árvore - símbolo ou consagrada: é a Deusa AFRODITE (VÉNUS) - a Deusa do Amor e da Beleza que a todos seduzia. ... e que, na grande maioria das histórias, surge como mulher de HEFASTO (VULCANO) o Deus da Forja, disforme e coxo... (vide in a «Mitologia», de Edith HAMILTON, Dom Quixote, Lisboa, 1979) Ora Mírtilo, foi inexplicavelmente morto por PÉLOPE, o filho de TÂNTALO... MYRTILO A lenda pode contar-se assim... Onde começa a LENDA?... em TÂNTALO. TÂNTALO, Rei da Lída, filho de Júpiter ou ZEUS e da ninfa Plota, tinha um lugar privilegiado entre os Deuses do Olimpo... Era convidado para os seus banquetes onde podia saborear a comida e a bebida própria dos Deuses, como a ambrosia e os néctares mais delicados, desconhecidos dos pobres mortais, como se dava ao luxo de poder convidar os Imortais para os seus banquetes no seu palácio deslumbrante do seu reino de sonho... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 132 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Um dia, do que é que se havia de lembrar? Tântalo mandou matar o seu próprio filho, Pélope, ordenou que fosse cozinhado num grande caldeirão e serviu-o de refeição aos seus convidados do Olimpo... Que motivo o terá levado a tão hediondo gesto é um mistério para os poetas e istoriadores! Talvez o ódio e a revolta que sentia por estes seres que se consideravam superiores, para os obrigar a sentir o horror do canibalismo que permitiam a alguns dos mais repugnantes dos mortais! Que ingenuidade o levou a escarnecer, desta maneira, dos Deuses que tudo sabem, a ponto de sacrificar o seu próprio filho?! Os Senhores do Olimpo tinham que decidir um castigo exemplar, para que nunca mais, ninguém ousasse insultá-los de novo: Foi decidido o conhecido... SUPLÍCIO de TÂNTALO: Para castigar tão hediondo crime, Tântalo foi lançado num poço, o Hades, o inferno, mas, surpreendentemente, num Jardim maravilhoso onde corria abundantemente a água e abundavam todas as árvores de fruto, mas... cada vez que esticava a mão para beber, a água sumia-se... cada vez que esticava o braço para um fruto, o vento levava os ramos das árvores para longe, fora do seu alcance... e, ali está, para a eternidade, morto de sede, à beira da água que se some... ali está, morto de fome, à vista de uma abundância indescrítível, que se lhe escapa... Que aconteceu ao sacrificado PÉLOPE? PÉLOPE Além deste castigo exemplar, para que fosse reposta a Justiça, os Deuses do Olimpo, enternecidos, decidiram restituir a vida a Pélope... Pélope foi reconstruído, mas tiveram de lhe moldar um ombro de marfim! Conta-se que, inadevertidamente, uma das Deusas presentes no macabro banquete, uns dizem que foi Deméter, outros garantem que foi Tétis, não teria resistido ao aspecto agradável daquele saboroso hediondo manjar... Mas, contam as Lendas, a vida de Pélope correu daí em diante sem incidentes de maior. Teria sido o único descendente de Tântalo que não foi marcado pelo infortúnio, que se abateu de uma maneira impiedosa, por exemplo, sobre a sua irmã NIOBE... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 133 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Entra na LENDA mais uma personagem, possivelmente, mais visivelmente ligada ao “esporão rochoso” que se ergue “Entre-ambas-as-Águas”... NIOBE Niobe, a que tudo teve para ser feliz... Fez um casamento feliz com Anfião o Rei de Tebas... Foi rainha querida de todos os súbditos... Teve sete filhos que se tornaram jovens valentes e destemidos... Teve sete filhas, que se tornaram as mais belas entre as belas... O seu marido Anfião e seu irmão gémeo Zeto empreenderam a fortificação de Tebas... O seu marido, músico de eleição, suplantou a força colossal do irmão, arrancando, com a sua lira, sons tão arrebatadores, que as grandes pedras o seguiram-no para a construção das muralhas de Tebas... No meio de tanta prosperidade e felicidade Níobe decidiu, como seu pai Tântalo, desafiar os Deuses e exigiu do Povo de Tebas as honrarias e o incenso que queimavam no templo de Leto, a mãe de Apolo e Artemisa, em Delos!!! Ora, como a arrogância e a insolência é imediatamente reconhecida no Olimpo e nunca deixam de ser punidas, Apolo (Febo) e Artemisa (Diana) deslizaram rapidamente dos seus tronos celestiais e, ao mesmo tempo, o Deus do Arco de Prata e da Flecha de longo alcance e a Divina Caçadora, desceram a Tebas e, com pontaria infalível, abateram, sem piedade, os filhos e filhas de Niobe, um dos motivos da sua arrogância perante a rival que só tinha tido dois filhos!!! Atingida por aquela dor inenarrável, Niobe desfez-se em lágrimas mudas incapazes de um grito, e transformou-se em pedra, que ficou humida por toda a eternidade, devido às lágrimas, que correm sem parar... MÍRTILO Mas seu irmão Pélope, o ressuscitado, foi mais feliz... Cortejou entretanto a fatídica princesa Hipodamia, que foi causa de muitas mortes, talvez não por ela, mas pelo artifício engendrado pelo Rei seu pai, - ENOMÃO ou ENOMAU, que obrigava os pretendentes a prestarem uma prova insuperável... Como não queria que a filha se casasse, propunha aos pretendentes uma corrida com a sua de parelhas de cavalos. Se ganhassem, teriam a mão da sua filha... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 134 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Se perdessem, pagariam com a morte... A parelha de cavalos do rei, oferta de Ares, era, evidentemente superior a qualquer parelha de cavalos mortais!... E assim muitos perderam a vida... Quando chegou a vez de Pélope, este aceitou o desafio, porque a sua parelha de cavalos tinha sido um presente de Poseídon, e por isso confiava na sua superioridade, mas... Conta outra Lenda, que ele terá vencido e conquistado a mão da princesa, porque Hipodamia, apaixonada por ele, ou decidida a acabar com aquele terrível massacre, teria subornado MÍRTILO, o cocheiro do seu pai, ... MÍRTILO, (filho de Mercúrio e Mirto), para agradar à princesa, terá engendrado uma maneira de os raios das rodas do carro real se partirem durante a corrida... e assim a vitória coube, sem dificuldade, a Pélope... Por motivos insondáveis, que só acontecem no reino da Lendas e dos Deuses, mais tarde, Pélope, em vez da eterna gratidão, veio a matar Mírtilo, que, ao expirar, amaldiçoou o assassino... Não foi sobre Pélope, directamente, que caiu a maldição, mas ele teve dois filhos: Atreu e Tiestes... Foram estes e os seus descendentes que pagaram pelo crime do pai... Atreu era o rei... Tiestes apaixonou-se pela Rainha, a esposa do irmão e seduziu-a... O Rei descobriu, claro, e concebeu uma vingança hedionda e inenarrável... Matou os dois filhinhos do irmão e mandou serví-los ao pai partidos em bocadinhos... e Tiestes comeu... Ao descobrir a verdade Tiestes gritou até à loucura... cuspiu e vomitou até ao desespero... amaldiçoou aquela casa para que sobre ela caíssem todos os male inimagináveis... e, com a mesa do banquete, ficou esmagado contra o chão... O crime atroz não foi divulgado nem vingado durante o reinado do soberano... Atreu, o filho mais velho de Pélope, assassino de Mírtilis, era Rei e Tiestes não tinha poderes!!! Foram os filhos e os filhos dos filhos que vieram a pagar... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 135 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 MÉRTOLA & MÍRTILO É, possivelmente, assim, que Mértola, a cidade das encruzilhadas que se ergue entre-ambas-aságuas e foi porto importante de ligação ao mar está ligada à MITOLOGIA Greco-Latina: - a MÍRTILO, filho da Deusa do Mirto, morto por aquele a quem ajudou a ganhar a corrida e a mão da princesa... - a VÉNUS dos Romanos - a AFRODITE dos Gregos... a Deusa que tem o MIRTO como árvore consagrada... e a quem os Fenícios , fundadores da Cidade no porto do Ode Ana, deram o nome de Myrtilis, em homenagem à sua Mãe a Deusa (do) MIRTO... - e quem sabe às terríveis pragas que pesam sobre o hediondo crime de TÂNTALO... castigado pelo suplício de ter tudo ao alcance da mão sem o poder usar... - ao castigo dos artifícios do pai da Princesa HIPODAMIA, ENOMAU, que causou a morte de tantos jovens pretendentes à mão da Bela Princesa..., - e ao crime do seu marido Pélope, assassino de MÍRTILO!!!.. - e ao castigo de NIOBE? ... Não será MÉRTOLA o ROCHEDO - a PEDRA em que ELA se transformou e que ficou húmida por toda a eternidade, devido às lágrimas, que correm sem parar... simbolizado no "esporão rochoso" em que a VILA se ergue ENTRE-AMBAS-ASÁGUA, que correm sem parar o RIO - ODE ANA e a ribeira de OEIRAS?... São LENDAS - divagações, podem dizer os Estudiosos sisudos que dedicam a vida na tentativa de saber os segredos do Universo... São LENDAS - verdades possivelmente ocultas para reflectir e descobrir, podem dizer os Sábios que se dedicam a descobrir os segredos do Universo e as Leis da Natureza e do Cosmos... São LENDAS que servem para alimentar a inspiração dos Poetas e que o Povo, na sua generosa ingenuidade, se gosta e lhe reconhece algum valor, vai repetindo e reinventando ao longo dos Tempos... São LENDAS que talvez abram pistas para perceber uma espécie de "maldição" ou "fado" ou "fardo" que pesa sobre Mértola e o Alentejo em geral e está "escrito" nas LENDAS ou nas "estrelas", mas que seria preciso saber e perceber para não se ficar amarrado a um fatalismo sem esperança!... Aí fica FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 136 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 para os circunspectos Estudiosos... para os Sábios ignorados e desprezados pela Ciência cega... para os Poetas visionários... para a ingénua generosidade do Povo... para os que têm a responsabilidade de SABER para poderem decidir e governar... UMA VERSÃO (im)possível de uma possível LENDA DE MÉRTOLA Foi há muitos muitos anos... Um povo de navegadores e omerciantes que tinham as suas cidades estado e os seus deuses e artes lá para o outro lado do Mediterrâneo, perto da Grécia e do Egipto, decidiram sair daquele que para eles era o grande mar, para se aventurarem pelo outro mar imenso que se abria para além do ROCHEDO (ALUBE para os fenícios ESTREITO DE HÉRCULES ou as COLUNAS DE HÉRCULES para os gregos – Foi Hércules que ergueu ali as duas Colunas – GALPE e ABILA (Ceuta), quando separou a Europa da África...) imponente que servia de PORTA de saída para o desconhecido... a partir do qual não se podia ir mais além... Era a PONTA do mundo conhecido de entã o... a ponta do que agora conhecemos como a EUROPA... a quinze quilómetros do outro Continente, a Àfrica... Já se tinham arriscado vária vezes até ao MONS SACRUS, e pela Costa Africana abaixo, sempre à vista de Terra, mas não se podiam atrever a ir mais além para o desconhecido imenso que era só territóri dos deuses e abismo donde se não poderia voltar... Foi então que desde uns 1000 anos a. C. um grupo mais arrojado de navegadores e comerciantes fenícios, pois é desse povo quefalamos, decidiu aventurar-se mais para o interior... passaram o grande ROCHEDO da PORTA do MAR, avançaram até ao MONS SACRUS, voltaram atrás e encontraram a foz de um grande rio que era o ANA... Subiram aproveitando a força das marés... Subiram até sentirem onde as ma rés os empurravam e pararam à vista daquele ESPORÃO ROCHOSO que se erguia ENTRE-AMBAS-AS-ÁGUAS... Voltaram ali muitas vezes... Alguns ficavam e estabelecram contactos com os povos dispersos que por ali viviam peloa montes... Vendiam o que traziam e compravam os produtos que puco a pouco iam chegando àquele porto de rio que se foi formando e até apareceu minério e outras riquezas para comerciar... Mas um dia as embarcações que chegaram eram mais numerosas e notava-se um tipo de agitação diferente daquele a que as pessoas das redondezas estavam habituadas... A chegada de barcos era sempre um acontecimento, mas daquela vez, além de serem mais, e a chegarem dia após dia ainda mais, vinham mais carregadas e traziam outro tipo de gente. Para além dos navegadores e comerciantes notavam-se outro tipo de gente que não estava habituada àquelas lides... era tambem gente de guerra, o que não era habitual, e outro tipo de gentes... Os habitantes das redondezas, habituados a lidar com aquela gente desde os avós dos avós ficaram perturbados... Souberam então que uma das suas mais ricas cidades, a cidade de TIRO tinha sido conquistada pelo ainda jovem e ambicioso Alexandre, o Macedónio, paraquem a sede de conquista não tinha limites... Agora ali, exilados da sua cidade, e naõ querendo viver submetidos a um povo estranho, um grupo daqueles homens entre os quai s vinha POLÌPIO, um príncipe fenício, sonhou e decidiu que podiam ali fundar a sua NOVA TIRO... Gente pacífica, mas sem descurar a guerra, foram bem aceites pelas gentes d região e logo fizeram aliança com um povo que vinha de além dos Pirineus à procura de Paz e da Abundância... Eram os Turdulos que fugiam dos Celtas e do temível ROLARTE e eram chefiados por CÓFILAS, o rei querido do seu povo, que tudo fazia para lhes agradar e mais ainda, para tudo fazer em favor da mais Bela entre as Belas a sua filha SERPÍNEA... E foi assim que nasceu SERPA, e logo a seguir a outra cidade, a NOVA TIRO que depois decidiram «chamar MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MÉRCÚRIO», com o dizem lendas antigas, e alguns chamavam de NÍOBE, por «aquele esporão rochoso» que se erguia na curva do rio lhes lembrar a lenda da filha de TÂNTALO, a orgulhosa rainha de TEBAS que, por ser mãe de sete valentes rapazes e de sete belas raparigas desafiou LETO, mãe d e APOLO e de DIANA e assistiu à morte dos catrorze filhos executados sem piedade pelas flechas certeiras dos dois filhos ofendidos... Então, conta a lenda, «Níobe ficou muda de dor e espanto... só deixava correr as lágrimas de um inútil arrependimento... e os deuses condoídos permitiram que, a seu pedido, ficasse tranformada em pedra donde correm dois rios de lágrimas por toda a eternidade...» Ora Níobe, a orgulhosa filha do também insolente Tântalo, era irmã de PÉLOPS, aquele que fora servido aos deuses como manjar de afronta e que, uma vez regressado à vida por intervenção dos deuses que tinham condenado o pai ao suplício de viver para sempre ao lado da abundância sem a poder alcançar, veio por sua vez a assassinar MYRTILIS, o cocheiro de ENUMÃO, pai da princesa HIPODAMIA, por quem o ressuscitado se apaixonara, e que deci dira trair o seu rei, serrando a rodas do carro para que Pélops pudesse ganhar a corrida e assim ser poupado à morte!!! Sim, aquela cidade seria MYRTILIS, aquele que se sacrificou pelo seu assassino, irmão de Níobe, e pela sua princesa, e como prémio dos Deuses do Olimpo, brilha na Constelação de Cocheiro com uma luz especial... de protecção e conforto para os que a sabem ver e admirar... Não, o nome de NÍOBE, traria porventura augúrios de desgraça e fatalidade para uma nova a cidade que ali estava a nascer... e agora se chama a NOBRE VILA DE MÉRTOLA. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 137 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANEXO 3.1 – 6 - LENDA – A TESOURINHA DA MOURA in LENDAS PORTUGUESAS – VOL. V - Fernanda Frazão – Amigos do Livro Editores L.da, Lisboa, s/d pp. 89, 90, 91. A TESOURINHA DA MOURA Ali para os lados de Mértola, aconteceu, certa vez, um caso fantástico e temeroso provocado por uma moura encantada. Vinha um homem do amanho do campo, de enxada ao ombro, quando ao passar pelo sítio da Mortilhera viu uma cobra que da cintura para cima tinha corpo de mulher. A cobra, que era uma moura encantada, meteu-se a conversar com o homem, e o homem cheio de medo, a suar e a limpar o suor com o lenço. A moura foi perguntando ao homem como lhe corria a vida, que tal as colheitas, se a seara era dele ou se tinha patrão, e muitas outras coisas com as quais talvez viesse a entreter-se nos longos serões que de Inverno era obrigada a passar sozinha debaixo da terra. Quando acabou de saber tudo o que a interessava, a moura estendeu ao homem um capacho com figos secos, que estava a seu lado, dizendo-lhe que tirasse quantos quisesse. O homem, que durante todo o tempo da conversa suara frio, de medo e nervos, tirou meia dúzia de figos e meteu-os na algibeira do colete. Despediu-se da cobra com alguns salamaleques e partiu aliviado e desejoso de se ver bem longe dali. Ao chegar a casa contou à mulher o que lhe acontecera e por fim, quando ia a tirar os figos do bolso do colete, encontrou no lugar deles seis moedas de ouro. A mulher desatou logo a ralhar com ele: - Ó homem, pois então a moura dá-te figos que são ouro e tu só trazes isto?! Valha-te Deus, que estás mas é a ficar taralhouco! Vai mas é buscar o resto, antes que a cobra volte à cova, vai depressa, ouviste?! O homem, que não sabia bem se havia de temer mais o bicho ou a mulher, lá foi, dizendo mal à sua vida. E quando passou pela cobra, disse-lhe, para que ela não desconfiasse: - Adeus, senhora moura! Vou outra vez ao campo, que me esqueci de uma coisa! Mas a moura sabia tudo: - Não vais, não! Não te esqueceste de nada, o que tu querias era mais figos, mas já não há! Olha, leva daqui qualquer coisa que te sirva. E estendeu ao homem o seu açafate da costura, donde ele sacou uma tesourinha com cabos de ouro e pedras preciosas. Partiu e a moura ficou a dizer-lhe adeus com um estranho sorriso. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 138 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 A caminho de casa, o homem, que ia distraído com os seus pensamentos, escorregou à beira de uma ladeira, caiu, espetou a tesoura no peito e morreu. Assim acontece quando os encontros com mouras não são mantidos em segredo! FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 139 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina – LENDA/s - “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO”... As referências das duas ou três versões da LENDA DE SERPÍNEA em relação a MÉRTOLA levaram-nos a esta pesquisa. Não deixa se ser estranho, ser preciso recorrer a uma LENDA, relativamente pouco conhecida, mas divulgada sobre as origens de SERPA, para encontrar uma referência, embora lendária, sobre as origens e sobretudo sobre a possível origem de um nome tão estranho como MÉRTOLA! Obras com esta LENDA: «SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA» de C. Gonçalves Serpa; obra citada por João Cabral in ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), Serpa, 1971, p.165; por Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, in CANCIONEIRO DE SERPA, Edição da Câmara municipal de Serpa, 1994: ver ainda José Rabaça Gaspar e com versos de José Penedo de Serpa, in SERPA ENCANTADA EM LENDAS, publicado como separata – SERPA ANTIGA – in SERPA INFORMAÇÃO, 4º série, Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17- no segundo andamento refere uma das três LENDAS que tentam explicar o nome de SERPA e com as referências que esta tem sobre as origens de MÉRTOL: “Chegaram barcos fenícios / que vinham comerciar. / Outra cidade nasceu / (com ligações com o MAR...) / MIRTILIS foi o seu nome / por ser o filho de MIRTO / que o teve de MERCÚRIO / o Deus dos comerciantes / mensageiro dos amantes.” FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 140 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 MÉRTOLA – Alguns dados sobre MITOLOGIA GRECOROMANA Vide in A MITOLOGIA, Edith HAMILTON, Publicações Dom Quixote, 2ª ed. Lisboa, 1979 AFRODITE (VÉNUS) – o MIRTO ERA A SUA ÁRVORE... pp. 39 – 41 – Mãe de Mirtilis? Ou filho de Mirto e Mercúrio... (Vide Lenda de Serpínea) HERMES (MERCÚRIO) filho de Zeus e Maia... pp. 41 e 42 TÂNTALO e NÍOBE... p. 358 PÉLOPE ou PÉLOPS... 359 A princesa HIPODAMIA filha do rei (ENOMÃO) que propunha aos pretendentes uma corrida... PÉLOPE E MÍRTILO o cocheiro da quadriga do pai... p. 360 NÍOBE (esposa de ANFIÃO rei de Tebas o músico...) - a maldição da Filha de TÂNTALO que desafiou LETO a mãe dos gémeos APOLO e ARTMISA (Diana) p 361 pp. 22 a 26 OS MITÓGRAFOS GREGOS E ROMANOS A maioria das abras referentes aos mitos clássicos fundamenta-se principalmente no poeta latino Ovídio, que escreveu durante o reinado de Augusto. Ovídio é um autêntico compêndio de mitologia. Deste ponto de vista, nenhum escritor antigo pode equiparar-se a ele. Contou quase todas as histórias e de modo bastante desenvolvido. Ocasionalmente, algumas das mais conhecidas, nos campos da literatura e da arte, chegaram até nós apenas através da sua pena. Evitámos, no caso presente, recorrer a ele tanto quanto possível. Não há dúvida de que foi um bom poeta e um fabulista seguro, capaz de apreciar devidamente os mitos, compreendendo, portanto, o material de qualidade que lhe ofereciam; Ovídio, no entanto, estava realmente muito afastado deles, mais do que nós hoje. Para ele os mitos eram meros disparates e, segundo esta linha de pensamento, escreveu: Eu canto as monstruosas mentiras dos poetas antigos Nunca vistas, quer agora quer então, por olhos humanos. Com efeito, dirigindo-se ao leitor, afirma: «Não importa serem absurdos; apresentar-vo-los-ei com tão belos artifícios que haveis de gostar.» E, na realidade, fá-lo frequentemente muito bem; nas suas mãos, contudo, os assuntos que eram verdade de facto e verdade solene para os poetas primitivos, Hesíodo e Píndaro, e veículos de autênticos dogmas religiosos para os tragediógrafos gregos, tornam-se contos fúteis, algumas vezes espirituosos e divertidos até, outras sentimentais e desoladoramente retóricos, e mantêm-se notável e perfeitamente alheios a qualquer forna de sentimentalismo. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 141 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Não é longa a lista dos principais escritores através de quem os mitos chegaram até nós. Homero surge em primeiro lugar, naturalmente. A Ilíada e a Odisseia são, ou melhor, contêm os escritos gregos mais antigos, muito embora não haja possibilidade de se datar com exactidão qualquer passagem desses poemas. Os eruditos têm opiniões muito díspares quanto a esse ponto; no entanto uma das datas a que não se levantam muitas objecções é o ano 100 a. C. - no que respeita à Ilíada, que é o mais antigo. A partir deste momento, todas as datas da presente obra devem entender-se como anteriores ao nascimento de Cristo, a não ser que se faça qualquer referência em contrário. Hesíodo, o segundo escritor, logo depois de Homero, é algumas vezes situado entre os séculos IX e VIII; levava uma vida dura e amarga de camponês. Não pode haver maior contraste do que aquele que se verifica entre o seu poema «Os Trabalhos e os Dias» (mediante o qual pretende mostrar ao homem o processo de se conseguir ter uma vida razoável num mundo inóspito) e o esplendor cortês que transparece da Ilíada; e da Odisseia. Mas Hesíodo tem muito que dizer sobre os deuses e, por isso, dedica à mitologia todo um segundo poema, que habitualmente lhe é atribuído, a «Teogonia». Se Hesíodo é realmente o seu autor, então podemos afirmar que esse camponês humilde, vivendo numa quinta solitária, longe da cidade, foi o primeiro homem na Grécia que ponderou sobre o modo como tudo aconteceu, o Mundo, o Céu, os deuses, a humanidade, e foi também o primeiro que tentou elaborar uma explicação adequada. Homero nunca se debruçou sobre tal problema. A «Teogonia», uma narrativa da criação do Universo e das gerações de deuses, assume, pois, grande importância para o estudo da mitologia. A seguir aparecem os «Hinos Homéricos», poemas escritos em honra de vários deuses. Não podem ser datados com carácter definitivo, mas os mais antigos são considerados pela maioria dos especialistas como pertencendo aos fins do século VIII, princípios do século VII. Aquele que se considera menos importante (são trinta e três ao todo) refere-se à Atenas do século V, ou provavelmente do século IV. Píndaro, o maior poeta lírico da Grécia, começou a escrever por volta dos fins do século VI. Compôs odes homenageando os vencedores dos jogos realizados por ocasião dos grandes festivais nacionais gregos e, em todos os seus poemas, surgem narrativas ou meras alusões aos mitos; é, portanto, um autor tão importante para o conhecimento da mitologia como Hesíodo. Ésquilo, o mais antigo dos três poetas trágicos, foi contemporâneo de Píndaro. Os outros dois, Sófocles e Eurípides, eram um pouco mais novos. Eurípides, o mais jovem, morreu nos fins do século V. À excepção de Os Persas, de Ésquilo, escrita para celebrar a vitória dos Gregos sobre os Persas em Salamina, todas as peças versam temas mitológicos. Juntamente com a obra de Homero constituem a fonte mais importante dos estudos desses temas. O grande comediógrafo Aristófanes, que viveu durante os últimos anos do século V e começos do IV, faz muitas vezes referências aos mitos, bem como dois outros grandes prosadores, Heródoto, o primeiro historiador da Europa, que foi contemporâneo de Eurípides, e Platão, o filósofo, que pertenceu à geração seguinte. Os poetas alexandrinos viveram por volta do ano 250. Esta designação provém do facto de, na altura, o centro da literatura grega ter sido transferido para Alexandria, no Egipto. Apolónio de Rodes contou pormenorizadamente a Demanda do Velo de Oiro e uma série de outros mitos relacionados com essa história. Juntamente com outros três poetas alexandrinos, que também se debruçaram sobre os temas da mitologia, os poetas pastoris Teócrito, Bíon e Mosco perderam a simplicidade da crença nos deuses, que caracteriza Hesíodo e Píndaro, e apresentam-se, pois, já muito afastados da profundidade e da gravidade das ideias religiosas dos poetas trágicos; ainda não tocam, porém, a frivolidade de Ovídio. Dois escritores já do fim dessa época, Apuleio, latino, e Luciano, grego, ambos do século II da era cristã, vêm trazer um contributo bastante notável. A célebre história de Cupido e Psique é FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 142 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 contada por Apuleio, que escreve bastante à maneira de Ovídio. Luciano, por seu turno, tem um estilo muito pessoal, muito sui generis: satirizou os deuses, que, na sua época, se tinham tornado já assunto jocoso. Não obstante, dá, a propósito, muitas indicações úteis. Apolodoro, grego também, é, depois de Ovídio, o mitógrafo antigo de produção mais vasta; no entanto, ao contrário do que acontece com Ovídio, é muito terra a terra, chegando a ser, por vezes, um tanto enfadonho. A data em que viveu tem sido fixada diferentemente ao longo do período que medeia entre o século I a. C. e o século IX da era cristã. Segundo a opinião do erudito inglês Sir J. G. Frazer, as suas obras terão sido escritas muito provavelmente no século I ou no Século II da nossa era. O grego Pausânias, viandante entusiasta, autor do primeiro guia escrito, tem muito que dizer sobre os acontecimentos mitológicos que constava terem ocorrido nos locais que visitou. Viveu já nos derradeiros anos do século II d. C., mas não põe em discussão quaisquer dos argumentos das histórias relatadas, e a sua obra tem um carácter de absoluta seriedade. Virgílio ocupa posição proeminente em relação a todos os escritores romanos, não que acreditasse mais nos mitos do que Ovídio, de quem foi contemporâneo, mas achou que havia neles algo característico da natureza humana e, por isso, deu vida a determinadas personagens mitológicas como ninguém antes dele conseguira, desde os tragediógrafos gregos. Outros poetas romanos versaram o tema dos mitos. Catulo narra várias histórias e Horácio alude com frequência a esta ou àquela, mas nem um nem outro tem grande importância para o estudo da mitologia. Para todos os romanos as histórias eram infinitamente remotas, meras sombras. Os melhores guias para o conhecimento da mitologia grega são, pois, os autores gregos, que acreditavam no que escreveram. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 143 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 AOS DOZE OLIMPIANOS «Os gregos não acreditavam que os deuses tivessem criado o Universo; pensavam precisamente o contrário – o universo criara os deuses... Primeiro, formaram-se o CÉU e a TERRA... Estes foram os primeiros pais... Vieram depois os filhos: os TITÃS... seres supremos do Universo... de estatura descomunal... Apesar de muito numerosos, só nos restam: CRONOS (SATURNO), o mais importante que dominou os primitivos deuses... até ao momento em que o seu filho ZEUS o destronou e tomou conta do poder... OCEANO – o rio que envolvia a Terra... TÉTIS – esposa de Oceano... HIPERÍON – pai do sol, da lua e da Aurora... MNEMOSINE – que significa “memória”... TÉMIS – equivalente à ideia de justiça... JÁPETO – pai de ATLAS que trazia o Mundo às costas... e de PROMETEU, o salvador da humanidade FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 144 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 pp. 29 - 45 OS 12 Deuses DO OLIMPO: ZEUS – JÚPITER – filho de CRONOS que destronou o pai, e irmão de POSÍDON (NEPTUNO), HADES (PLUTÃO) e de HÉSTIA (VESTA), dividiu o universo com os irmãos e tornou-se o chefe supremo... POSÍDON – NEPTUNO – irmão de ZEUS – JÚPITER ficou com o MAR... HADES – PLUTÃO, irmão dos dois, ficou com o Inferno... HÉSTIA – VESTA, a irmã dos três... HERA – JUNO, a mulher de ZEUS – JÚPITER... ARES – MARTE, o filho de ZEUS - JÚPITER e HERA - JUNO... ATENA – MINERVA APOLO AFRODITE – VÉNUS HERMES – MERCÚRIO ARTEMISA – DIANA HEFESTO – VULCANO – o filho de HERA – JUNO e talvez filho de ZEUS – JÚPITER POSÍDON (NEPTUNO) Posídon, irmão de Zeus, era o Senhor do Mar e ocupava o segundo lugar, a seguir àquele, na hierarquia dos Olimpianos. Os gregos de ambas as costas do mar Egeu eram homens devotados às fainas marítimas e, por isso, o Deus do Mar tinha para eles uma importância muito especial. Anfitrite, sua mulher, era uma das netas do titã Oceano. Posídon possuía um palácio esplendoroso no fundo do mar, mas, a maior parte das vezes, encontrava-se no Olimpo. Além de Senhor dos Mares, foi ele quem deu o primeiro cavalo ao homem - dois motivos igualmente válidos para a sua veneração. Nosso Posídon, de vós este nosso orgulho temos, os fortes cavalos, os jovens corcéis e também o domínio das profundezas do mar. A tempestade e a bonança estavam sob o seu comando: Ele dava uma ordem e o vento da tempestade E as vagas do mar surgiam. Mas, quando ele passava por sobre as águas, conduzindo o seu carro de oiro, a agitação das ondas amainava e logo advinha uma paz tranquila sob o rolar suave das rodas. Chamavam-lhe habitualmente o «Agitador da Terra» e era sempre representado com o tridente (uma lança de três pontas), com o qual agitava ou destruía aquilo que lhe apetecia. O seu nome estava associado ao toiro e ao cavalo; o toiro, porém, era associado também a muitos outros deuses. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 145 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 pp. 36... FEBO APOLO Filho de Zeus e de Leto (Latona) , nasceu na pequena ilha de Delos. Tem sido chamado «o mais grego de todos os deuses». É uma bela figura da poesia grega, o músico mestre que deleita o Olimpo, quando tange a sua lira de oiro; é também o Deus do Arco de prata, o Deus da Flecha de grande alcance; o Curandeiro, que ensinou, pela primeira vez, ao homem a arte de curar todas as doenças. Além destes belos atributos, Apolo é igualmente o Deus da Luz, em quem não existe a mínima mácula e por isso, é também o Deus da Verdade - nunca nenhuma palavra falsa brota dos seus lábios. Oh! Febo, do teu trono de Verdade, Do lugar que habitas no coração do mundo, Tu falas aos homens. Por ordem de Zeus, nunca dizes uma mentira, Uma sombra que escureça o mundo da Verdade. Zeus selou, por direito eterno, A honra de Apolo, em quem todos podem cnfiar Com fé inabalável. Delfos, sob o imponente monte Parnaso, onde ficava o oráculo de Apolo, desempenha um papel importante na mitologia; aí se situava a fonte Castália e o rio Cefisso. Era considerada o centro do mundo e, por isso, muitos peregrinos, oriundos quer de países estrangeiros quer da própria Grécia, vinham visitá-la. Não havia santuário que rivalizasse com essa fonte. As respostas às perguntas daqueles que, ansiosos, procuravam a Verdade eram pronunciadas por uma sacerdotisa, que entrava em transe antes de falar. Supunha-se que o transe era provocado pelos vapores provenientes de uma profunda fenda do rochedo sobre o qual se colocava o banco de três pés, o trípode, em que ela se sentava. Apolo era chamado Délio por ter nascido na ilha de Delos, e Pítio por ter morto a serpente Píton, que, em tempos, vivera nas cavernas do monte Parnaso. A luta foi dura, pois tratava-se de um monstro aterrador; mas, por fim, as suas flechas certeiras deram-lhe a vitória. O nome que, muitas vezes também, lhe é atribuído, o Lício, explica-se de modo diferente; para uns, significa Deus-Lobo, para outros, Deus da Luz ou ainda Deus da Lícia. Na Ilíada, é chamado o Smíntio, o Deus-Rato, mas não se sabe ao certo por que razão, se por proteger os ratos se por os destruir. Frequentemente era também o Deus-Sol. O seu outro nome, Febo, significa «brilhante» ou «cintilante». Mais exactamente, porém, o Deus-Sol era Hélio, filho do titã Hiperíon. Em Delfos, Apolo era um poder puramente benéfico, um elo entre os deuses e os homens, ajudando estes a conhecer a vontade divina, mostrando-lhes como haviam de pactuar com eles; era também o purificador, capaz de tornar imaculados até aqueles que se manchavam com o sangue dos próprios parentes. Não obstante, contam-se histórias acerca dele que o revelam impiedoso e cruel. Duas ideias se digladiavam no seu íntimo, como em todos os deuses, aliás: uma, eivada de primitivismo e crueldade, outra, bela e poética. No caso de Apolo, apenas uns laivos de primitivismo ficaram associados à personalidade que o caracteriza habitualmente. O loureiro era a sua árvore, e havia muitos animais que lhe eram consagrados, entre os quais se destacavam o delfim e o corvo. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 146 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ARTEMISA (DIANA) . Também chamada Cíntia, de acordo com o nome do lugar em que nascera, o monte Cinto, em Delos. Irmã gémea de Apolo, filha de Zeus e de Leto, era uma das três deusas virgens do Olimpo: Afrodite aureolada de oiro insufla amor a toda a criação. Não é capaz de dominar nem armar cilada a três corações: a pura donzela Vesta, Atena dos olhos cinzentos, que só se preocupa com a guerra e com os trabalhos dos artesãos, Artemisa, amante dos bosques e da caça nas montanhas. Era a Senhora da Floresta, Caçadora-Chefe dos Deuses, cargo um tanto estranho para ser desempenhado por uma mulher. Como boa caçadora que era, tinha o cuidado de preservar os animais jovens, sendo, portanto, a «protectora da juventude». Não obstante, devido a uma dessas espantosas contradições tão vulgares na mitologia, impediu que a armada grega navegasse rumo a Tróia enquanto esta não sacrificou em sua honra uma donzela. Em muitas outras histórias mostra-se igualmente feroz e vingativa. Por outro lado, quando as mulheres morriam subitamente, sem sofrimentos prolongados, dizia-se que tinham sido vítimas das suas setas de prata. Assim como Febo era o Sol, ela era a Lua, chamada Febe e Selene (Luna, em latim). Nenhum destes nomes, porém, lhe pertenciam originariamente. Febe era um titã, um dos deuses da primitiva geração, tal como Selene - uma deusa da Lua, realmente, mas não relacionada com Apolo. Era irmã de Hélio, o Deus-Sol, com quem se confundia Apolo. Nos poetas posteriores, Artemisa foi identificada com Hécate. É a «deusa que pode assumir três aspectos», Selene, no Céu, Artemisa, na Terra, Hécate, nos Infernos e na Terra, quando esta se encontra envolta em trevas. Hécate era a Deusa da Lua Nova, das noites de breu, em que a Lua não é visível. Como Deusa das Encruzilhadas, lugares que eram considerados fantasmagóricos, de magia nefasta, estava associada a tudo o que acontecia na escuridão. A divindade terrível. Hécate dos infernos Capaz de aniquilar toda a rebeldia. Escuta! Escuta! Os seus cães andam a ladrar pela cidade, Onde três caminhos se cruzam, ela lá está! FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 147 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 É uma estranha transformação da encantadora Caçadora desferindo as suas setas por toda a floresta, da Lua embelezando tudo à sua volta com o luar, da casta Deusa-Virgem para quem Quem quer que seja absolutamente casto de espírito Pode colher folhas e flores e frutos. Os impuros nunca. Através dela é revelada o mais vividamente possível a hesitação entre o bem e o mal, mais ou menos evidente em todas as divindades. O cipreste era-lhe consagrado, bem como todos os animais selvagens, mas muito em especial a corça. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 148 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Pp 39… AFRODITE (VÉNUS) A Deusa do Amor e da Beleza, que seduzia todos, tanto deuses como mortais; a deusa alegre, que ria ora docemente ora de modo trocista daqueles que os seus ardis haviam conquistado; a deusa irresistível, que até aos mais sensatos subtraia as faculdades mentais. Filha de Zeus e de Dione, segundo a Ilíada; em poemas posteriores, porém, afirma-se ter brotado da espuma do mar, sendo o seu nome explicado precisamente como «a que nasceu da espuma do mar». Aphros é o vocábulo grego que significa espuma. Este nascimento marítimo ocorreu perto da ilha de Citera, donde foi levada suavemente pela brisa para Chipre. Ambas as ilhas foram, desde então, consagradas à deusa., daí serem tão correntes as designações de Citereia e de Cípria. Um dos Hinos Homéricos, que a chama de «bela deusa dourada», fala-nos assim: O sopro do vento poente fê-la brotar Do sussurrante mar, Por sobre a delicada espuma a impeliu Para Chipre envolta; em ondas, a sua ilha. E as Horas engrinaldadas de oiro Receberam-na com júbilo. Envolveram-na em vestes imortais E foram levá-la aos deuses. Todos ficaram maravilhados quando contemplaram A Citereia coroada de violetas. Os Romanos escreveram sobre ela no mesmo tom. Quando Vénus aparece surge a própria beleza. Os ventos e as nuvens da tempestade desaparecem na presença dela; a terra vê-se ornamentada de belas flores; as ondas do mar riem; a deusa move-se envolta num halo de luz radiosa. Sem ela não há alegria nem ,beleza em parte alguma - é a imagem que os poetas mais se deleitam em apresentar. Esta, porem, não era a sua única faceta. É perfeitamente natural que, na Ilíada, cujo tema é a luta entre heróis, Afrodite não passe de uma figura apagada. Nesse poema ela é, com efeito, um ser brando, débil, que qualquer mortal não receia atacar. Noutras obras posteriores, no entanto, é normalmente traiçoeira e má, exercendo sobre os homens uma influência fatal e destruidora. Na grande maioria das histórias surge como mulher de Hefesto (Vulcano), o Deus da Forja, disforme coxo. O mirto era a sua árvore; a pomba a sua ave, e, por vezes, o pardal e o cisne. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 149 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 pp. 41... HERMES (MERCÚRIO) Zeus era seu pai e Maia, filha de Atlas, sua mãe. Devido a uma estátua que o representa e que se tornou muito popular, o aspecto deste deus é-nos muito mais familiar do que o de qualquer outro. Os seus movimentos eram graciosos e rápidos. Usava sandálias aladas; tinha asas também no chapéu coroado, bem como no bastão, o caduceu. Era o Mensageiro de Zeus, que voava «tão célere como o pensamento, para cumprir as suas ordens». De todos os deuses era ele o mais arguto e o mais astuto. De facto era o Chefe dos Ladrões; dera início à sua carreira ainda antes de completar um dia de vida. Nasceu ao despontar do dia E antes da noite cair já tinha roubado Os rebanhos de Apolo. Zeus obrigou-o a restituir tudo, e Hermes conseguiu o perdão de Apoio presenteando-o com a lira que acabara de inventar e que fizera com uma concha de tartaruga. Talvez houvesse qualquer relação entre essa sua história, muito antiga, e o facto de ser o Deus do Comércio e dos Mercados, o protector dos comerciantes. Em estranho contraste com esta ideia, Hermes é considerado também o solene guia dos mortos, o Mensageiro dos Deuses, que conduzia as almas ate à sua última morada. Este deus aparece mais frequentemente nos contos de mitologia do que qualquer outro. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 150 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 pp. 357 - 362 A CASA DOS ATRIDAS A principal importância da história de Atreu e dos seus descendentes reside no facto de o poeta trágico do século V Ésquilo a ter utilizado como tema da trilogia A Oréstia, constituída pelas suas maiores peças: Agamémnon, As Coeforas e As Euménides. Esta obra não tem rival em toda a tragediografia grega. excepção feita às quatro peças de Sófocles, cujo assunto se concentra em Édipo e nos seus filhos. Píndaro, nos princípios do século V, narra a versão corrente do festim que Tântalo ofereceu aos deuses, protestando não ser verdadeiro. O castigo infligido a Tântalo e descrito várias vezes, primeiro, na Odisseia, donde foi extraído para a presente obra. A história de Anfião, tal como a de Níobe, foram buscar-se a Ovídeo, que é o único e contá-las na íntegra. Para a vitória de Pélope na corrida de quadrigas preferiu-se Apolodoro (séculos I ou 11 da era cristã), que nos legou o relato mais completo que chegou até nós. A história dos crimes de Atreu e de Tiestes, bem como de todos os factos que se lhes seguiram. foi baseada na Oréstia, de Ésquilo. A Casa dos Atridas é uma das mais célebres da mitologia. Agamémnon, que chefiou os Gregos em Tróia, pertencia a essa família e todos os seus parentes mais próximos, a mulher, Clitemnestra, os filhos, Ifigénia, Orestes e Electra, foram tão conhecidos como ele; o irmão, Menelau, foi marido de Helena, a causadora da Guerra de Tróia. Trata-se efectivamente de uma casa malfadada. A causa de todos os infortúnios parece ter sido um antepassado, um rei da Lídia chamado Tântalo, que, ao come- ter um acto de perversidade atroz, fez cair sobre si um dos mais terríveis castigos. Mas o pior foi que a maldição não o atingiu só a ele. O mal que ele originou prolongou-se após a sua morte; os seus descendentes também incorreram em actos reprováveis e foram por isso punidos. Pairava sobre a família como que uma obsessão maldita; os homens eram levados a pecar, por vezes contra vontade, acarretando sofrimento e morte tanto a inocentes como a culpados. TANTALO e NÍOBE Tântalo, como filho de Zeus, era muito mais considerado pelos deuses do que qualquer outro descendente mortal do Senhor do Olimpo - convidavam-no para a sua mesa, saboreava a ambrosia e o néctar, que só ele podia partilhar com os imortais. Mais ainda: honraram com a sua presença um banquete que Tântalo ofereceu no seu palácio e condescenderam em conviver com ele na Terra. Em troca desses favores, ele agiu de modo tão medonho que não houve ainda nenhum poeta que conseguisse explicar cabalmente a sua conduta. Mandou matar seu filho Pélope, cozinhá-lo num grande caldeirão e servi-lo aos deuses. Aparentemente tal acto teria sido consequência de uma paixão de ódio que nutria por eles e que o dispôs a sacrificar o filho, a fim de lhes fazer sentir, o horror de serem canibais; mas também se põe a hipótese de ter querido mostrar-lhes da maneira mais espantosa e chocante, sem dúvida, quão fácil era para ele desapontar as divindades temíveis, veneradas e humildemente adoradas. Com este escarnecer dos deuses e a sua desmedida autoconfiança, Tântalo nunca sonhou que os convidados descobrissem a espécie de alimento que lhes apresentava. Fora um louco! Os Olimpianos estavam a par do que se passava. Retiraram-se, pois, do banquete execrando e insurgiram-se contra o criminoso que o havia idealizado. O seu castigo ia ser de tal ordem, declararam, que ninguém, depois dele, ao ter conhecimento do sofrimento a FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 151 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 que fora condenado, ousaria insultá-los de novo. O superpecador foi colocado num poço, no Hades, mas sempre que na sua atormentadora sede se inclinava para beber não conseguia chegar à água, pois ela desaparecia, infiltrando-se no chão, enquanto ele se curvava; quando se levantava, lá aparecia a água novamente. Por sobre o poço pendiam árvores de fruto carregadas de pêras, de romãs, de maçãs rosadas, de doces figos. Todas as vezes que esticava a mão para apanhar um fruto o vento punha os ramos fora do seu alcance, fazendo-os subir muito alto nos ares. Assim ficou para a eternidade, a garganta imortal sempre sedenta, a fome no meio da abundância, incapaz de a satisfazer. Os deuses restituíram Pélope à vida, mas tiveram de lhe moldar um ombro de marfim. Uma das deusas, uns dizem que Deméter, outros, Tétis, teria comido inadvertidamente do repugnante manjar; no momento em que os membros do rapaz foram repostos no seu lugar, deu-se pela falta de um ombro. Esta história detestável parece ter sido transmitida de geração em geração em toda a sua forma brutal e crua, sem qualquer tentativa de aligeiramento; os gregos das épocas posteriores, no entanto, protestaram contra ela, pois não era do seu agrado. O poeta Píndaro chamou-lhe: Conto envolto em mentiras reluzentes contra a palavra da verdade. Que não se fale de actos de canibalismo entre os deuses bem-aventurados! Desde então, a vida de Pélope correu sem mais incidentes; foi o único descendente de Tântalo não marcado pelo infortúnio. Fez um casamento feliz, embora cortejasse a perigosa princesa Hipodamia, causa de muitas mortes; contudo, os homens não morriam propriamente por ela, mas por culpa de seu pai (Enumau). O rei tinha uma maravilhosa parelha de cavalos, superiores aos cavalos mortais, como é natural - tinham sido uma oferta de Ares. Não queria que a filha casasse e, sempre que um pretendente lhe vinha pedir a mão de Hipodamia, punha-o ao corrente de que teria de competir com ele para conseguir o seu intento - se os cavalos do hipotético noivo ganhassem, a princesa casaria com ele; caso contrário, o jovem seria obrigado a pagar com a própria vida a sua derrota. Muitos pretendentes encontraram, assim, a morte. Pélope, apesar de tudo, ousou realizar a prova. Tinha confiança nos seus cavalos, que, no seu caso, haviam sido presente de Posídon. Ganhou a corrida. Há uma versão, porém, segundo a qual Hipodamia parece ter tido maior influência neste triunfo do que propriamente os cavalos de Posídon - ou se apaixonou por Pélope ou pensou ter chegado a altura de pôr termo àquelas corridas de consequências trágicas. Teria, então, subornado o cocheiro da quadriga do pai, Mirtilo, para que a ajudasse. Arrancou para o efeito os raios que prendiam as rodas do carro real, e a vitória coube, sem qualquer dificuldade, a Pélope. Posteriormente, este matou Mírtilo, que, ao expirar, amaldiçoou o assassino; há quem perfilhe a ideia de que foi esta a causa das infelicidades que vieram a suceder-se na família. A maioria dos escritores, no entanto, e certamente com boas razões, partilha a opinião de que foi a malvadez de Tântalo a fonte das desgraças que caíram sobre os seus descendentes. (Níobe – a Pedra donde correm dois rios de água...) Nenhum deles sofreu maior maldição que sua filha Níobe e, contudo, a princípio parecia que os deuses lhe tinham reservado melhor sorte que a do irmão Pélope. Foi feliz no casamento; o marido, Anfião (filho de Zeus) , era um músico incomparável. Ele e seu irmão gémeo, Zeto, empreenderam a fortificação de Tebas, mandando erguer uma alta muralha em redor da cidade. Zeto, homem de grande força física, costumava censurar a negligência do irmão pelos desportos viris e o seu gosto pelas artes. Mas, no momento em que se pretendia arranjar pedra suficiente para a construção das muralhas, foi o músico e a sua arte que prestaram melhores ser viços, FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 152 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 suplantando, de longe, o forte atleta - arrancou sons tão arrebatadores à sua lira que as próprias rochas se moveram e o seguiram para Tebas. Anfião e Níobe reinaram com inteiro agrado de todos. Chegou a altura, porém, em que a rainha mostrou que a louca arrogância de Tântalo estava também latente em si. Devido à grande prosperidade de que desfrutava, considerava-se superior, crendo-se acima de tudo o que os mortais temem e veneram. Era de nascimento nobre e descendente de famílias abastadas e poderosas; tivera sete filhos, que se tornaram jovens valentes e sete filhas, as mais belas entre as belas - julgava-se, pois, com poder suficiente não apenas para atraiçoar os deuses, tal como seu pai, mas também para os desafiar abertamente. Invocou o povo de Tebas a venerá-la: «Queimam incenso em honra de Leto e, no entanto, que é ela ~ parada comigo? Teve apenas dois filhos, Apolo e Artemisa; eu tive sete vezes mais. Além disso, sou rainha; e ela, até chegar à minúscula Delos, o único lugar do mundo que consentiu em recebê-la, afinal, não passava de uma vagabunda sem lar! Sou feliz, forte e poderosa suficientemente poderosa para lutar contra quem se me opuser, quer seja homem quer seja deus. Dediquem-me os sacrifícios que oferecem no templo de Leto, que, a partir de agora, passará a ser meu, e não dela!» As palavras insolentes pronunciadas com a consciência arrogante do poder chegavam sempre ao Céu e nunca deixavam de ser punidas. Apolo e Artemisa deslizaram rapidamente do Olimpo até Tebas e, à uma, o Deus do Arco e a caçadora divina, atirando com pontaria certeira, abateram os filhos e as filhas de Níobe. A rainha assistiu à mortandade demasiado angustiada para poder falar. Afundou-se no meio daqueles corpos jovens e fortes, tão cedo ceifados à vida; caiu imobilizada pela dor imensa, muda como uma pedra, o coração empedernido dentro do peito; apenas as lágrimas brotavam em torrentes contínuas. Foi transformada em pedra, que ficou húmida para a eternidade devido às lágrimas que derrama. Pélope foi pai de dois filhos, Atreu e Tiestes. A herança do mal também desceu sobre eles na sua máxima força. Tiestes apaixonou-se pela mulher do irmão conseguindo que ela faltasse ao cumprimento dos votos do casamento. Atreu descobriu e jurou vingar-se como ninguém até então. Matou os dois filhinhos do irmão, mandou-os mutilar membro a membro, cozinhar e servir ao pai. Quando Tiestes acabou Ide comer... Pobre miserável! Ao saber dó acto execrando, Deu um grito terrível e caiu por terra - cuspiu A carne que tragara; amaldiçoou aquela casa, chamando sobre ela Todos os males intoleráveis; a mesa. do banquete esmagou-se contra o chão. Atreu era rei. Tiestes não tinha quaisquer poderes. O crime atroz não foi vingado durante a vida do soberano; foram os filhos e os filhos dos filhos que vieram a sofrer. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 153 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Ver também in MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. HOPE MONCRIEFF, Editorial Estampa / Círculo de Leitores, Lisboa, 1992 AFRODITE – VÉNUS - a Deusa do amor que brotou do mar... p. 9 HERMES – MERCÚRIO – pai de Myrtilis – p. 12 ARES – MARTE – que ofereceu os cavalos a ENOMÃO, pai da princesa Hipodamia... p. 12 POSEIDON – NEPTUNO – que ofereceu a quadriga a Pélope ou Pélops... p. 13 «O mito conta uma história sagrada; relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, no tempo fabuloso das origens.» Mircea Eliade In MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. Hope Moncrieff – editorial Estampa / Círculo de Leitores, Lisboa, 1992 "INTRODUÇÃO Este volume é uma versão abreviada da obra de A. R. Hope Moncrieff Classic Myth and Legend. Como afirma o autor no prefácio original, "trata das célebres ficções lendárias da Grécia Antiga que tantos temas e alusões proporcionaram aos autores modernos". Transmitidas por via oral de geração em geração durante milhares de anos, estas antigas histórias foram eventualmente postas por escrito e depois aproveitadas pelos poetas e dramaturgos gregos do último período, e assim transmitidas através dos séculos até nós. Hope Moncrieff declara que a sua tarefa foi "reproduzir as características principais desta mitologia, geralmente segundo a versão mais conhecida, mas por vezes tendo em conta o gosto dos leitores que não digeririam facilmente as grosserias que não ofendiam os ouvintes de outros tempos. Uma certa selecção ou supressão praticadas justificam-se pelo exemplo clássico; mas a intenção é, na medida do possível, apresentar o espírito grego tal como se revela nas suas famosas fábulas, e tornar familiares os nomes e caracteres tantas vezes citados em poesia, em oratória e na história". Não há dúvida de que a mitologia grega, com o seu vasto elenco de deuses e semideuses, heróis e mortais, ninfas dos bosques e das águas, monstros da terra e do mar, as alturas do Olimpo e as profundezas do Hades, muito deve ao génio e à imaginação dos Gregos. A própria tradição destas histórias remonta ao tempo em que ainda não tinham sido contadas pela primeira vez, isto é, a um passado pré-helénico. Os dois grandes feitos épicos da mitologia grega são evidentemente os relatados por Homero na sua Ilíada, onde descreve a guerra de Tróia, e na Odisseia, que conta as aventuras de Ulisses na sua perigosa viagem de regresso à pátria. Homero escreveu estas histórias no ano 800 a. C. quatrocentos anos depois da guerra de Tróia. Extraídos de Homero e do seu contemporâneo Hesíodo, estes temas e muitos outros mitos clássicos de fontes desconhecidas foram relatados nas peças de Ésquilo e Sófocles, nas Metamorfoses de Ovídio, nas Vidas Paralelas de Plutarco, nas Odes de Píndaro e nas Descrições da Grécia de Pausânias, entre outras. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 154 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 O resultado, escreve Hope Moncrieff, foi que "podemos encontrar feitos semelhantes atribuídos a personagens diferentes e versões diversas, por vezes contraditórias, do que parece ser a, mesma história. Claro que isto não é novo em mitologia. Os escritores clássicos que tinham de lidar com esta confusão de tradições eram mais ou menos livres para as "deturpar" segundo os seus próprios gostos e preconceitos... Hércules aparece como contemporâneo de muitos heróis, alguns dos quais deviam ser demasiado velhos ou demasiado jovens para terem alguma utilidade entre os Argonautas, de quem ele era companheiro de bordo". O estilo lírico de Hope Moncrieff nestas histórias faz-se eco do próprio lirismo e da poesia com que os mitos épicos eram originariamente tratados. Com toda a sua natureza fantástica e a ausência de incrudelidade que a sua leitura requer, são histórias cujos temas ainda hoje dizem muito - o esforço, a perseverança e o espírito aventureiro dos homens, o amor e o ódio, a bravura e a cobardia, o ciúme, a tentação, a vingança e até o mérito. Uma relação completa de todos os personae dramatis da mitologia grega não tem aqui cabimento. A lista que se segue apresenta, porém, catorze das personagens mais notáveis, com pormenores tão bem documentados, que são geralmente aceites como "factos". O parentesco, as características, os triunfos e os desaires dos protagonistas mais importantes são revelados à medida que as histórias individuais se desenrolam; mas primeiro vamos remeter-nos à narrativa de Hope Moncrieff na sua descrição do Panteão. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 155 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 O Panteão dos 14 DEUSES mais conhecidos Os poetas reconhecem geralmente entre doze e dezasseis grandes deuses e deusas, cujo domínio sobre o homem e a natureza só é interrompido pelas suas próprias rixas. (No entanto, curvavam-se ocasionalmente perante um Destino vagamente imaginado como senhor de toda a vida, humana e sobrenatural.) A lista que se segue destas personagens divinas apresenta primeiro o seu nome principal e depois, entre parênteses, os nomes mais familiares da divindade latina. ZEUS (Júpiter, Jove) era o rei da terra e do ar e senhor supremo do Olimpo, mas nem mesmo ele estava livre da força do que tem de ser. Apresenta-se com um aspecto magnificente, de barba encaracolada, por vezes com uma coroa de folhas de carvalho, segurando nas mãos os raios com que flagelava os ímpios. Uma águia serve-o como ministro da sua vontade e tem como pagem ou copeiro Ganimedes, um rapaz tão belo que Zeus mandou-o raptar do monte Ida, para o fazer imortal no céu. HERA (Juno), esposa de Zeus, era a rainha legítima do Olimpo. Com o seu ciúme deu ao marido uma vida agitada. As suas outras características eram o orgulho e a arrogância, e sempre se mostrava pronta a ofender-se por qualquer desfeita da parte de deuses ou de homens. Tinha como criada Íris, o arco-íris, que levava as suas mensagens para a Terra. A filha Hebe servia de copeira, juntamente com Ganimedes, da mesa celestial. APOLO (entre os seus muitos pseudónimos Febo é o mais conhecido) era o mais belo e o mais amado dos habitantes do Olimpo. Ao lado de sua irmã Selene, a Lua, figura como Hélio, o Sol, e era também conhecido por Hiperíon. Era filho de Zeus e de Leto (Latona), que foi levada para Delos por causa do ciúme de Hera (Juno). Em virtude da contínua perseguição que esta impunha a sua mãe, Apolo foi criado por Témis e tão bem se desenvolveu neste cenário que, ao seu primeiro gole de néctar e ambrósia, rebentou os cueiros e surgiu como um jovem adulto que pedia a lira e o arco de prata com que é habitualmente representado. ARTEMÍSIA (Diana), irmã gémea de Apolo, também tinha vários pseudónimos. Um era o famoso Diana, dos naturais de Éfeso, cujo templo figurava entre as Sete Maravilhas; outro era a cruel deusa Tauris. A Artemísia da Arcádia era uma deusa da caça e da vida selvagem. Casta em excesso, o seu ciúme fatal era mais facilmente suscitado pela presunção dos mortais do que pelo amor. ATENA (Minerva) era outra deusa virgem, cujo pseudónimo, Palas, pode ter derivado de um herói ateniense com esse nome. O seu nome principal, contudo, mostra a sua afinidade com a cidade que a glorificou com o célebre Parténon. Supõe-se que brotou, adulta e armada, da cabeça do pai, Zeus. É muitas vezes representada com uma armadura e por isso passava por deusa da guerra; mas a sua verdadeira vocação era a fantasia, as artes e ofícios e os trabalhos manuais femininos. Os seus animais sagrados eram a serpente,o galo e a coruja. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 156 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 AFRODITE (Vénus), a deusa do amor, era filha de Zeus segundo uma lenda, embora um velho mito diga que brotou do mar. O seu nome, "nascida da espuma”, confirma essa origem. Era dotada de suaves encantos e a posse da sua faixa ajudava a inspirar amor. CUPIDO (o Eros grego, mas mais conhecido pelo nome latino) era filho de Vénus. Poetas e artistas muito têm aproveitado este diabinho divertido, nu e alado, com os olhos por vezes vendados. A sua luz incendiava corações e as setas que disparava com descuidada malícia tinham umas vezes a ponta de ouro para despertar o coração, outras vezes de chumbo para fazer parar o palpitar do amor. HEFESTO (Vulcano) era o deus do fogo, nas suas aplicações industriais. Este sujeito coxo e feio fazia de bobo do Olimpo - o seu manquejar fazia com que os deuses mais elegantes desatassem em gargalhadas infindáveis. Grosseiro e negro como era, não havia dúvidas quanto à sua utilidade. Para os heróis do mito imaginou obras-primas como o escudo de Hércules, a armadura de Aquiles e o ceptro de Agamémnon. As suas oficinas situavam-se naturalmente em ilhas vulcânicas, onde os Ciclopes actuavam como ajudantes. ARES (Marte), filho de Zeus e de Hera, era o deus da guerra. Na mitologia grega, este atleta fanfarrão não faz grande figura, apresentando algo do mau génio e da estupidez selvagem que são naturalmente atribuídos aos gigantes lendários. Em Roma, Marte guindou-se a uma categoria mais elevada. HERMES (Mercúrio) era outro filho de Zeus. A sua função específica era a de mensageiro e arauto dos deuses, pelo que é representado como um jovem belo e ágil, com sandálias aladas e um chapéu de abas largas, também com asas. Hermes veio a ser considerado deus dos rebanhos e também do comércio e dos ladrões, ligação natural quando o gado era o padrão dos preços. Era também o guardião das estradas, das invenções inteligentes, dos jogos de azar e de uma quantidade de outros aspectos da vida quotidiana aparentemente não relacionados uns com os outros. POSEIDON (Neptuno), irmão de Zeus, era deus dos mares, debaixo dos quais possuía um maravilhoso palácio dourado com grutas enfeitadas de corais e de flores marinhas e iluminado por luzes fosforescentes. O seu ceptro era o tridente e movia-se num carro puxado por golfinhos, cavalos-marinhos ou outras criaturas do mar. PLUTÃO, senhor do mundo subterrâneo, era o mais temível dos deuses, imaginado como uma figura carrancuda sentada num trono de ébano ou guiando um carro puxado por corcéis negros como carvão. Brandia uma lança de duas pontas e entre os seus pertences havia um elmo que tinha o poder de lançar um feitiço de invisibilidade. DIONISO (Baco), filho de Zeus, era sempre jovem, belo e efeminado. Vestido com uma pele de pantera, tinha uma coroa de folhas de videira e cachos de uvas e, como ceptro, segurava um bastão entrelaçado de folhas de hera ou de videira. Veio para a Grécia com a cultura da vinha e trouxe consigo orgias orientais que também tinham a sua faceta religiosa. PLUTO, o deus da riqueza, era uma personagem diferente de Plutão. Os antigos acreditavam que Zeus o tinha cegado, e os poetas e os moralistas, transmitindo a história ao longo dos tempos, continuaram a fazer notar que a riqueza nem sempre acompanha o mérito. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 157 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Outras FONTES consultadas: in http://mithos.cys.com.br/ Mirtilo Mitologia Greco-Romana Filho de Mercúrio e de Mirto. Sendo cocheiro de Enomáo, traiu-o numa corrida em proveito de Penélope (ver PÉLOPE ou PÉLOPS) e, como castigo, foi precipitado no mar, donde foi transportado para o céu e colocado na constelação de Cocheiro. Ver A MITOLOGIA - Edith Hamilton p. 359... Era Cocheiro do pai da princesa Hipodamia e triu o rei em favor de Pélope o irmão de Niobe, filhos de Tântalo... Tântalo Mitologia Greco-Romana Rei da Lída, filho de Júpiter e da ninfa Plota. Por haver servido aos deuses os membros do próprio filho ( Pélops ), e roubar da mesa dos deuses o néctar e a ambrosia, foi condenado a morrer de fome e sede: precipitou-se no Tártaro, e as águas fugiam aos seus lábios; árvores repletas de frutos pendiam sobre a sua cabeça; ele, faminto, estendia as mãos crispadas, para apanhá-los, e o vento os arrebatava. Niobe Mitologia Greco-Romana Rainha frígia, filha de Tântalo, irmã de Pélops mulher de Amphion, foi mãe de sete filhos e sete filhas. Orgulhosa dessa sua fecundidade, zombou de Latona, que só teve um casal de gêmeos: Apolo e Diana; estes para vingarem sua mãe, mataram, a flechadas, todos os filhos de Niobe. A infeliz mãe, desesperada de dor e fechada em profundo mutismo, pediu a Júpiter que a mudasse em rochedo, e, em seguida, encaminhou-se para a montanha Sípile, onde as rochas cresceram ao redor do seu corpo, envolvendo-a em uma bainha de pedra; neste estado, um turbilhão arrebatou-a para a Lídia, e a depôs sobre o cimo de uma montanha, onde ela derrama lágrimas que, perpetuamente, correm de um bloco de mármore. Latona Mitologia Greco-Romana Filha do Céu e de Febe, foi amada de Júpiter, de quem teve Apolo e Diana. Juno, enciumada por esse desvio do seu esposo, mandou a serpente Piton perseguir a sua rival, e ordenou à Terra que não lhe desse abrigo. Nas vésperas de dar à luz Apolo, ela debalde percorria o mundo à procura de asilo, quando, já exausta e desanimada, Netuno veio em seu auxílio e, FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 158 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 fazendo uma rocha, com seu tridente, fez surgir a ilha de Delos, uma das Cícladas, onde nasceu o luminoso Ser. Latona personifica a noite, da qual parece nascer a aurora. Apolo Mitologia Greco-Romana Febo dos latinos. Divindade solar, filho de Júpiter e de Latona. É concebido como irmão de Diana, porque ambos, alternativamente, iluminam o mundo. Quando Apolo ( o Sol ) desaparece no horizonte, Diana ( a Lua ) resplandece no céu. Latona, ao sentir aproximarse o momento de pôr no mundo o deus de cabeleira loura e de radiante beleza, saiu pelo mundo a fora, à procura de um asilo, e não o encontrava, porque Juno havia maldosamente ordenado à Terra que não lhe desse abrigo. Mas Netuno, fendendo uma rocha com o seu tridente, fez nascer a ilha de Delos, para onde Latona, transformada em codorniz, se transportou. Aí chegando, vários cisnes de imaculada brancura vieram saudá-la, ruflando as asas e sacudindo as lindas plumagens; a terra cobriu-se de flores; o mar e as montanhas, douradas pela luz solar, pareciam revestir-se de um manto de púrpura, e a criança veio ao mundo. Temis, descendo do Olimpo, chegou aos lábios do recém-nascido o néctar e a ambrosia. Mal Apolo saboreou esses licores da imortalidade, as faixas que o envolviam, bem como o cinto de ouro que cingia a sua cintura, se desataram, e ele, "entrando no seu brilhante carro, iniciou o giro através do esplendor do céu". Apenas com quatro dias de existência, já manifestou o seu poder, atravessando, com suas infalíveis flechas, o horrendo dragão Piton, tremendo flagelo de Parnaso. Amou a ninfa Coronis, que o tornou pai de Esculápio; e, como esse seu filho fosse fulminado por Júpiter ( vide Esculápio ), Apolo matou, a flechadas, os cíclopes que forjaram o raio fatal. Por este ato homicida, foi ele condenado ao exílio na terra, onde se entregou, durante nove anos, ao serviço de Admeto, rei da Tessália, cujo rebanho passou a apascentar. Certa vez, quando ali se achava, surpreendeu na solidão de um bosque, a colher flores, a formosa Dafne, filha de Gea. Por ela se apaixonando, tentou possuí-la: mas a donzela, rápida como uma corsa, abriu em desabrida carreira, e estava quase a ser alcançada, já sentia em suas faces o hálito escaldante do seu perseguidor, quando, a um supremo grito, a sua mãe ( a terra ) abriu o seio e a acolheu. Amou e foi amado por Jacinto, filho de Amiclos. Divertia-se com este mancebo, no jogo de arremesso de disco, quando o maldoso Zefiro, movido pelo ciúme, desviou, com seu sopro, a pesada massa de ferro, levando-a a vitimar o amigo. Apolo, cheio de dor, transformou-o na flor jacinto. Sendo Apolo o deus da claridade diurna, os gregos, para explicarem os dias brumosos do inverno, concebem-no como um deus viajante que, temporariamente, abandona o santuário grego, para onde torna na primavera. Além disso, é Apolo deus dos oráculos, da poesia, da medicina, da arte, dos pastores, do dia, da música e da dança. Com sua lira, preside o coro das musas e das graças e, no Olimpo, diverte os imortais. Tendo Mársias ousado rivalizar com a sua lira, foi por ele esfolado vivo ( vide Mársias ). Castigou o rei Midas, com orelhas de burro, por haver votado contra ele em concurso musical. Entre os seus inúmeros templos, os mais célebres foram localizados em Delfos, Leocotoe, Dafne, Clitia, etc. Eramlhe consagrados: o galo, o gavião e a oliveira. Os artistas representam-no com uma lira na mão, rodeado de instrumentos própios das artes; ou ainda, sobre um coche tirado por cavalos, correndo o zodíaco. Venus Mitologia Greco-Romana Ver Mirto como árvore e Mãe de Myrtilis??? in Edith Hamilton 358... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 159 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Divindade romana da Beleza, dos amores, da energia reprodutra, da volúpia e da vida universal, filha de Júpiter e de Dionéa, ou do Céu e do Dia, esposa de Vulcano, e mãe de Eros ( o Amor ). Os gregos chamam-na Afrodite, que quer dizer: " nascida de espumas ". Chamam-na também Anadyomina, que significa: " aquela que sobe, saindo das vagas ". Narra-se da seguinte forma a lenda do seu nascimento: Urano, tendo aversão aos seus filhos, havidos de Gea, encerrava-os no Tártaro. Gea, revoltando-se contra esse proceder, deliberou vingar-se: fabricou então uma foice, com metal tirado do seu seio, e entregou-a a Cronos que, assim armado, se pôs de emboscada e, de surpresa, decepou-lhe os orgãos sexuais. O sangue vertido, caindo sobre a terra, deu origem às fúrias e aos gigantes; mas algumas gotas caíram no mar e, sacudidas pelas ondas, formaram um floco de espuma nacarada que, banhado pelos fulgurantes raios do sol, deu nascimento a uma encantadora jovem de arrebatadora beleza, cuja dourada cabeleira flutuava ao sopro da brisa. Os tritões e demais divindades do mar cercaram-na, envolveram em véus o seu cândido corpo, e depositaram-na sobre uma nacarada concha marinha, enquanto dois zéfiros a conduziram até a ilha de Chipre e a entregaram aos cuidados das horas e das graças que, por sua vez, a fizeram subir para um carro de alabastro, tirado por cândidas pombas, e a transportaram para o Olimpo, onde os deuses, encantados com a sua fascinante formosura, proclamaramna rainha da beleza. Com a sua presença, toda a natureza sorria, os ventos serenavam e as ondas se acalmavam. Possuía um cinto mágico, dotado do poder de sedução e de encanto, Esse precioso talismã esteve em mãos de Juno, que Io pedira emprestado para atrair ao leito o volúvel esposo. Venus, tendo desposado Vulcano, o feio e disforme deus ferreiro, deixou-se enamorar por outros: Obteve de Júpiter permissão para que Adonis, morto por um javali, saísse dos infernos para passar junto dela quatro meses de cada ano. Vemos em Adonis uma representação alegórica da Natureza, que se apresenta bela e fecunda, durante os quatro meses primaveris para, em seguida, aparentar fenecimento. Venus amou ainda Anchises, de cuja ligação nasceu Enéas. Manteve relações adulterinas com Marte, até que, surpreendida e denunciada pelo Sol, foi castigada pelo esposo, que a apanhou, com o amante, em sua rede maravilhosa que armava no seu leito, e expôs ambos à irrisão dos deuses ( vide Marte ). Dessa união, nasceu Eros ou Cupido, o irrequieto deus do amor. Amou tambem Baco, de quem houve Príapo. Tendo Venus saído nua do seio das ondas, é, na maioria das vezes, representada com o pé sobre uma tartaruga, ou uma concha marinha, na simples e desataviada beleza que trazia ao nascer. Elevaram-lhe templos em Amatonte ( ilha de Chipre ), em Pafos, na ilha Cítera, etc. Daí os seus nomes: Chipris, Páfia, Citérea, etc. Foi também chamada Dionéa, como sua mãe. Zeus Mitologia Greco-Romana Júpiter dos latinos, Osíris dos egípcios e Amon do resto da África, filho de Cronos ( Saturno ) e de Rea. Deus do raio do trovão, supremo rei do Olimpo, senhor do mundo e pai dos deuses e dos homens, agita o universo com um simples movimento de sua cabeça. Contanos a lenda que seu pai, símbolo do tempo, que devora tudo o que cria, obteve, do irmão mais velho Titão, a desistência dos direitos da progenitura, que lhe assegurava o império do universo, sob condição dele ir eliminando ( devorando-os ) todos os seus filhos varões que fossem nascendo da sua esposa Rea. Destarte, tais direitos, futuramente, se perpetuariam nos descendentes de Titão. Foi Zeus o único que escapou, graças às precauções de sua mãe que, ao sentí-lo estremecer nas entranhas, desceu do céu e encaminhou-se para um profundo vale, onde deu à luz o divino ser, e entregou aos cuidados de uma ninfa que o levou para a ilha de Creta e o ocultou em uma caverna, cuja entrada era velada por sombria vegetação. Em seguida, apresentou ao esposo uma enorme pedra envolta em cueiros, fazendo constar ser o recém-nascido. Iludido, Cronos devorou a pedra. No seu esconderijo, Zeus cresceu alimentado com o leite da cabra Amaltéa, com o mel que as abelhas lhe ofereciam e com ambrosias que as pombas traziam, enquanto uma linda águia oferecia-lhe o néctar, licor da imortalidade colhido numa fonte divina; as ninfas Adrastéia e FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 160 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Ida vinha distraí-lo, e os coribantes ou curetas dançavam em torno dele, e abafavam seus vagidos com entrechocar de espadas, afim de que não despertassem a mais leve suspeita paterna. Tornando-se adulto, Zeus saiu da caverna e, a conselho da deusa Metis ( a Prudênica ), a quem se associou, obrigou o pai a ingerir uma beberagem, cujo efeito foi de fazê-lo vomitar a pedra e, em seguida, os seus irmãos Netuno e Plutão, e o destronou. Zeus iniciou, daí, o seu reinado no Olimpo; mas como os titãs não quisessem se submeter ao seu império e, sobrepondo o monte Pélion ao Ossa, pretendessem escalar o Olimpo, teve ele necessidade de eliminá-los; dardejando relâmpagos e raios, auxiliados por seus irmãos Netuno e Plutão, pelos cíclopes e por três dos gigantes de cinqüenta cabeças e cem braços ( Egeon, Coto e Giges ), deu-lhes então renhido combate, no qual montanhas e rochedos eram arremessados, de parte a parte, formando novas montanhas, ao caírem na terra, ou semeando ilhas, quando precipitadas no mar. O vestígio deixado por essa luta épica é o panorama caótico que a natureza nos oferece. Completando a sua obra, Zeus encadeou, sob a massa do Etna e de outros vulcões, os últimos dos seus adversários: Tifeu, demônio do furacão, e os gigantes Encelado, Hiberbios, Efialto e Políbotes. Daí, os gregos explicam as freqüentes convulsões subterrâneas e os tremores de terra. Uma vez consolidado o seu poder, Zeus partilhou o universo com seus irmãos, cabendo-lhe o céu; a Netuno, o mar; e a Plutão, os infernos. Zeus teve muitas mulheres e inúmera prole: primeiramente, desposou Metis, a personificação da sabedoria. Querendo o poeta significar que ao poder de Zeus estava ligada a sabedoria, idealizou haver ele encerrado Metis no seio, assimilando-a e gerando Minerva. Chegado o tempo da gestação, ordenou a Vulcano que vibrasse, sobre a sua cabeça um profundo golpe de machado. A arma brandiu, e da divina fronte surgiu a deusa Athené ( Minerva ) vestida de armaduras guerreiras. Em seguida, Zeus teve por esposa Temis, a deusa da justiça, de quem houve as horas e as parcas. Da titanidade Mnemósine, deusa da memória, Zeus teve as nove musas; da oceânide Eurimone, as graças; de Demeter, Prosérpina; de Leto, ou Latona, Apolo e Diana; de Alcmene, Herácles; de Dione, a bela Afrodite; de Sêmele, Dionísio; e de Maia, Hermes. Metamorfoseado em touro, Zeus raptou Europa, de quem houve Minos e Radamanto, os juízes dos infernos. Finalmente, mudado em chuva de ouro, fecundou Danae, de quem teve Perseu. Os artistas representam-no sob aspecto majestoso, com barba espessa, cabeleira basta, sentado em seu trono de ouro ou de marfim, segurando o raio, com mão direita, e o cetro com a esquerda. Aos seus pés, vê-se a águia raptora de Ganímedes com as asas abertas. Muitas outras representações têm sido idealizadas pela fértil imaginação dos artistas. Diana Mitologia Greco-Romana Divindade romana, Artemis dos gregos, filha de Júpiter e de Latona, irmã mais velha de Apolo, nasceu em Delos; tem, no céu, os nomes de Lua e Febe e, nos infernos, o de Hécate. Deusa da Caça e da serena luz, é Diana a mais pura e casta das deusas e, como tal, tem sido fonte inesgotável da sublime inspiração dos artistas. Seu pai armou-a de flechas, deulhe uma corte de ninfas, e fê-la rainha dos bosques. Como a luz prateada da lua percorre todos os recantos dos prados, montes e vales, é Diana concebida como uma infatigável caçadora. Costumava banhar-se nas águas das fontes cristalinas; numa das vezes, tendo sido surpreendida pelo caçador Acteon que, ocasionalmente, para ali se dirigiu, afim de saciar a sede, transformou-o em veado, e fê-lo vítima da voracidade da própria matilha. Outra lenda nos conta que, apesar do seu voto de castidade, tendo ela se apaixonado, perdidamente, pelo jovem Orion, e se dispondo a consorciá-lo, o seu irmão Apolo impediu o enlace, mediante uma grande perfídia: Achando-se em uma praia, em sua companhia, desafiou-a a atingir, com a sua flecha, um ponto negro que indicava a tona da água, e que mal se distinguia, devido a grande distância. Diana, toda vaidosa, prontamente retesou o arco e atingiu o alvo, que logo desapareceu no abismo no mar, fazendo-se substituir por espumas ensangüentadas. Era Orion que ali nadava. Ao saber do desastre, Diana, cheia de desespero, conseguiu, do pai, que a vítima fosse transformada em constelação. Sob o nome FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 161 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 de Selene, apaixonou-se pelo jovem pastor Eudimião, a quem ia visitar todas as noites. Raptou Ifigênia no altar do sacrifício fazendo-a substituir por uma novilha ou uma cerva. É representada, como caçadora que é, vestida de túnica, calçada de coturno, trazendo aljava sobre a espádua, um arco na mão, um cão ao seu lado. Outras vezes vêmo-la acompanhada das suas ninfas, tendo a fronte ornada de um crescente. Representam-na ainda: ora no banho, ora em atitude de repouso, recostada a um veado, acompanhada de dois cães; ora em um carro tirado por corças, trazendo sempre o seu arco e aljava cheia de flechas. Há quem a represente com três cabeças de animais - uma de cavalo, a segunda de mulher e a terceira de cão; ou ainda - de touro, de cão e de leão. Sob este aspecto, era Diana a deusa triforme, adorada sob o nome de Trívia e guarda das encruzilhadas. Teve Diana o seu mais famoso templo em Efeso, considerado como uma das sete maravilhas do mundo. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 162 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm PÉLOPE E HIPODÂMIA – ( e o papel de MIRTILIS...) Mas a chegada de Pélope à Elida veio terminar com a história de derrotas mortais. Pélope era o filho de Tântalo, a quem este tentou oferecer como manjar insultante aos deuses, fato pelo qual Tântalo foi castigado eternamente, enquanto o inocente Pélope era devolvido à vida por eles, após ser recomposto quase totalmente. Após o incidente, o jovem protegido dos deuses chegou às terras de Enomau e apaixonou-se pela bela Hipodâmia. Como era natural, o rei desafiou-o à mortal corrida e o jovem, sentindo-se acompanhado pela boa vontade divina, aceitou o desafio. Há quem diz que Pélope contava com uns cavalos ainda melhores, oferecidos por Possêidon, e a melhor qualidade dos corcéis foi a causa exclusiva do seu triunfo; há outros que preferem a versão do amor da princesa, e por isso asseguram que foi Hipodâmia quem decidiu terminar com a sanha do rei Enomau, que se negava a aceitar a possibilidade de ser o sogro, e preferia evitar o laço político potencial, atuando como um pai muito ciumento. Hipodâmia, farta de ter que resignar-se a ver desaparecer na fossa tantos admiradores valentes, sem chegar a desfrutá-los, inventou uma solução definitiva ao seu problema, fazendo com que um suborno chegasse a Mirtilo, moço de cavalariça do rei, para que este atentasse contra Enomau, deixando o eixo do carro real quase partido ao meio. A corrida começou e o carro real ficou de fora, sem nenhuma possibilidade de chegar, embora fosse o último, à meta. Para rematar a história, conta-se que Pélope deu morte a Mirto, não sem que este o maldissesse antes de morrer. Resulta trágico que Mirto morresse pelas mãos de quem tinha ajudado a viver, apesar de ter sido ele responsável do seu triunfo, mas isto pode ser interpretado como outro desses fatos infelizes que trouxeram a desgraça a toda a estirpe de Tântalo e que vêm justificar ainda mais o infortúnio do clã. O que se pode dizer com certeza é que o sanguinário e implacável deus do sofrimento alheio, Ares, embora só o fosse por intermédio do fracasso do seu amigo Enomau, também terminou a aventura numa má situação, dado que a derrota desse cúmplice era -em boa medida- também uma derrota própria. E sem nenhum gênero de dúvida, os gregos colocavam a prenda de Ares num lugar proeminente da lenda de Hipodâmia, para que se pudesse claramente ver a classe de indivíduo celestial que era o deus próprio das guerras. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 163 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 164 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.2 – CONTO/s CONTO 1 – A COMADRE MORTE In CONTOS POPUARES PORTUGUESES - inéditos – estudo Coordenação e Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. I - Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1984, pp. 239 – 240 n.º 157 157 [A COMADRE MORTE] Dois casais vizinhos um do outro, dôs compadres e qualquer deles tinham um filho. De manêra que assim que apareceu a mulher embaraçada dum, outra vez disse: - Agora, nã sê onde hê-de ir convidar padrinhos, quem me faça o mê filho cristão. O filho, isso queria ele. - Eu vou por esse mundo a fora. A premêra pessoa que encontrar. E foi. Encontrou uma velhota (Essa teve um menino, essa mulher), encontrou uma velhota e disse-lhe: - Ó comadre, vossemecê quer-me fazer um favor? Fazer-me um filho cristão? - Sim, senhor. Antão, pôs-le, pôs ó afilhado o «Pouco-Juízo». Más tarde diz o compadre: - Antão, já baptizou o sê filho? - Já, sim, senhor. - Antão, como é que, quem sempre convidou alguém? - Foi a premêra pessoa qu'encontrei. - Ora, e a minha agora tá embaraçada tamém, e ê faço o mesmo. E a premêra pessoa qu'encontrar, se vierem bem, convido. Teve uma menina. Foi... encontrou a dita velhota. Disse-lhe: - Antão, querme fazer um favor? - Sim, senhora. Baptizou-le a filha, pôs-le a «Pouca-Vergonha». De manêra qu'era o «Pouco-JuÍzo» e a «Pouca-Vergonha». Casaram um com o outro e arrinjaram uma vidinha boa, viviam bem. Viviam bem. De manêra que um dia, belo dia, pareceu-lhe a madrinha o pé, em casa. Grande alegria com a visita da madrinha. - E vai já matar um pinrum - disse o homem à mulher. - Matar um pinrum? - diz-le ela - Não sabes o que venho fazer, afilhado? Venho-te buscar, qu'eu sou a Morte. - Nã me diga?! Uma vida tã boa qu'eu tenho e um homem novo! Antão, que jêto tinha isso? FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 165 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - Nã sê, isto nã é lá por idades. Tens que, tens que ir. calhou-te à tua vez. Tomou o desgosto, mas ó depôji foi o homem, disse: - Venha cá. Quero le mostrar aqui o prédio qu'ê mandei fezêri... E tinha um alçapão por baxo do solo e empurrou a Morte. Diz a Morte: - Nã morre ninguém e é já munta famila. S. Pedro vêo e disse pra soltar a morte. - Não, qu'ela quer-me matar e, atão, nã a solto. Voltou ó Céu e disse: - O Pouco-Juízo nã solta a morte, nã quéri. O Divino Mestre diz: - Vai lá e diz-le que eu que le dou quenhentos anos de vida. Vêo ele outra vez. - O Divino Mestre manda dezer que le dá quenhentos anos, que le soltes a Morte. -Não, não quero, nã quero. Olhe! Voltou ó Céu e disse: - O Pouco-Juízo diz que nã solta a morte. Por modo que ó fim de quenhentos anos, ela sempre o mata. - Bom, antão, vai lá e diz-le qu'é interno. Veio ao Mundo outra vez e dissele: - O Divino Mestre diz qu'és interno más a tua mulher, que soltes a Morte. E, antão, soltou-a e deu a matar, antão, a família. E por isso o Pouco-Juízo e a Pouca-Vergonha não morre. Esses nã morrem. Existem sempre. [José Raposo, 77 anos de idade, alfaiate, natural de Facões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976]. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 166 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.2 – CONTO/s CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 409 – 410 620 [MAIS FACILIDADE DE ESCOLHA] Nas proximidades duma escola, uma menina e um menino também nas proximidades da mesma escola, que se juntavam a meio caminho, aonde havia duas veredas, que se juntavam no mesmo caminho, nas proximidades da escola. Pr'àli brincavam, pr'àli se entretinham. Às vezes, quando se demoravam e coisa e tal... Mas a menina, quando chegava a casa, só tinha em casa, quer dezer, a mãe e a avó, não tinha mais ninguém. E a mãe perguntava-lhe assim: - Menina, minha filha, atão, o menino além da vezinha que diz, quando se juntam ali, no barranco, quando brincam ali? - Ora, ele não diz nada. - Atão, e tu o que é que lhe dizes? - Ora, eu digo-lhe que tenho aqui umas rendinhas e ele só me responde que não tem rendinhas, mas que tem outra coisa. -Atão, diga lá..: - Ora, tenho vergonha de dezer..., vozinha e mãezinha. - Atão, diga lá. - Ora, ele disse-me assim: «Que tem ali uma pichinha». Diz-lhe a mãe assim para ela: - Pois, atão, minha filha, porte-se bem, veja se pode concluir a escola, que, quando for uma mulher, há-de ganhar, se se portar bem e tomar juízo. Aprenda bem as suas letrinhas e essa coisa toda, que se [se] portar bem e tomar juízo há-de ganhar, quando for mulher, há-de ganhar uma pichinha, muito boa. Responde-lhe a avó assim, porque era solteira, e nã tinha possuído marido Diz-lhe ela: - Olha, filha, e, se tu te portares mal, se não tomares juízo, ainda melhor escapas: tens aonde escolhas. [João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja, 61 anos. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976]. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 167 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.2 – CONTO/s CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 418 – 421 Nº 633 633 [AS PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR] Numa escola, numa escola primária, aonde se juntavam três vezinhos, ali do mesmo sítio, que um, um deles, filho duns senhores muito ricos, o outro filho doutros assim mais remediados, um bocadito mais baixos, e o outro filho dum pobrezinho, muito pobrezinho. E, atão, acontece o seguinte. Em qu'eles juntavam-se, antes de chegar à escola, a brincar, qualquer caminho, qualquer motivo e tal, e que, um dia, faltaram à escola. Ora, o senhor professor, no dia seguinte, chamou-os à atenção e perguntando-lhe assim: - Por que motivo é que os meninos faltaram ontem à escola? E eles ficaram-se. Diz ele assim: - Pois vocês, amanhã, trazem-me a resposta por que motivo é que faltaram ontem à escola. Os meninos vêm de lá. À noite perguntaram às mães e tal... mas... ora... aquilo, quando lá chegaram, só quem se lembrava era o filho dos senhores mais ricos, é que se lembrava. Os outros já se nã lembravam daquilo que haviam de dizer. E, atão, basearam-se uns noutros. Diz o senhor professor assim prós meninos. Chamou-os todos à atenção: «Por que motivo que os meninos, tragam-me lá a resposta e tal dêem-me lá a resposta». Diz o filho dos senhores mais ricos, diz assim: - É... tal, Senhor Professor, eu faltei à escola, porque a minha mãe teve um menino. Diz ele: - Ah, sim, 'tá bem: a sua mãe teve um menino. Virou-se além, pró mais, outro a seguir, filho do outro mais rico, remediado, a seguir, a descer de escala. Perguntando, diz... e tal... - A minha mãe também teve um menino. Porque ele nã se lembrava já e disse o mesmo que o outro disse. - Bom, 'tá bem, a sua mãe teve um menino. Sim, muito bem. Atão e agora... Voltou-se além, procurou o outro, mais desgraçadinho, mais pobrezinho, perguntou-lhe: -Atão e o menino? Diz ele assim: - Oh, a minha mãe também teve um menino. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 168 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Diz ele: - Bom, atão, 'tá bem. Atão, olhe. O senhor professor olhou pra eles, mostrou-lhe uma nota de quinhentos escudos e disse assim: -Tenho aqui uma nota de quinhentos escudos pra dar a qualquer dos meninos, que diga a resposta mais concreta amanhã, quando eu lhe fazer uma pergunta. Bem, têm-me que dizer donde é que veio o seu menino. Bom, donde vieram os seus meninos, qu'a mãe teve. Bem, ora passado isto, os meninos regressaram à sua casa. Começa o rico, filho do rico perguntando lá os pais. - Atão, ó mãe, e talo senhor professor zangou-se, coitado. Dá-nos quinhentos escudos, se eu desser lá donde é que veio o menino, que eu tinha dito que a mãe tinha um menino, quando eu tinha faltado à escola. Diz ela: - Ora, diz-Ihe que o menino que veio da Alemanha. - Tá bem. Ora, na mesma altura, estava o filho do remediado, o outro rico a seguir, a descer (Não é da classe mais baixa), a perguntar à mãe. E lá disse que tinha que dar aquela resposta concreta. E diz a mãe assim: - Ora, diz-lhe que o menino que veio dali, da Espanha. Bom, deixemos isto. Estava cá o filho do pobrezinho, perguntando à mãe na mesma altura, à noite, ali o serão. - Ó mãe, minha mãezinha, conte lá! O senhor professor diz que dá quinhentos escudos, se a gente desser bem a verdade e coisa. E a mãe toda agoniada de faltas e sacrifícios, dificuldades à vida, dezia: - Ora, deixa-te tar calado, não sejas parvo! - Oh! Porque ê disse que a mãe que tinha tido um menino, e agora nã sê o que hê-de dizer. E ele disse donde é que tinha vindo o menino... Diz-lhe a mãe assim: - Ora, diz-lhe que veio do olho do cu. Bom. Ora, os meninos todos ficaram elucidados da resposta, que a mãe lhes deu. No outro dia, apresenta-se o senhor professor lá o pé deles. Chamou-os à atenção. Diz-lhe assim: FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 169 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - Também o menino - Derigiu-se ò rico, o mais rico - Atão, donde veio o sê menino? - A minha mãezinha diz que ele veio da Alemanha. - Sim... sim, da Alemanha. É uma nação boa, já é uma nação boa. Está certo. Muito bem. Atão, ali e o menino - que era o outro a seguir, logo a descer de classe. - Olhe, a minha mãezinha diz que ele veio ali, da Espanha. - Sim, „Tá certo. Olha que também não anda muito longe, não. Bom, atão e o menino? Começa o menino assim: - Ora, Senhor Professor, eu tenho vergonha de dizer. - Oh, não, diga lá donde é que a mãe diz que veio o menino. „Tá aqui os quinhentos escudos e, atão, tem que dizer. - Ora, senhor professor, ora. - Diga lá. - Oh, a minha mãe, minha mãe, assim que veio de... -Vá, diga lá... - Oh! Diz que veio ali, do olho do cu. Responde-lhe o senhor professor assim: - Olha lá, fostes tu que andastes ali mais perto. Toma lá, duzentos e cinquenta escudos. Os outros duzentos e cinquenta ficam pra mim, que não foi bem no sítio donde foi, mas bom ainda acertastes mais que os outros. Bom, e atão, tudo isto se passou. No outro dia, chama os três meninos à atenção o mesmo dito professor e perguntando a eles; - Atão - peguntando ò mais rico - Atão e, òs domingos, o que é que o menino faz com os seus pais, com as suas famílias, òs domingos? Qual é a sua destracção, e tal..., por que não vem à escola, bem entendido, claro que têm que... - Oh - diz ele assim, o menino diz assim: Oh, eu òs domingos vou com o meu paizinho, vamos prà televisão e, depois, viemos pra casa, ouvimos a rádio e... - Atão e há mais algum divertimento, que têm em casa? FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 170 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - Oh, o divertimento que temos é vamos pró café, prà pensão, passear com o mê pai; depois, à noite, temos a rádio. E a nossa destracção, é o nosso divertimento, que temos, e coisa e tal. Perguntou depois ò outro a seguir, a descer, o filho do outro mais rico, a descer pra baixo. - Atão, e o menino, qual é a sua destracção, a sua música, a sua coisa, que tem òs domingos, quando o menino, é claro, vá. Diz ele: - Ora, olha, òs domingos, o mê pai vai à pesca e ê vou com o mê pai à pesca. - Atão e depois, cá à noite, não têm um divertimento, uma destracção, uma coisa qualquer? - Ora, olhe, o mê pai toca lá uma concertina. Atão, é... as coisas bonitas assim... - „Tá bem, muito bem. „Tá bem - dizia ele. Perguntando pró mais pobrezinho e disse-lhe assim: - Atão e o menino, como é que é que os seus acontecimentos o domingo? - Ora, Senhor Professor, ò domingo, o mê pai vai arrancar mato e eu vou ajudar o mê pai. - Atão e à noite, cá ò serão, depois... Não têm um divertimento? - Ah, ah! O mê pai vem derêto à taberna, bebe um copo de vinho e compra-me cinco tostões de rebuçados e depois viemos pra casa. - Atão, e qual é a sua destracção, cá em casa? - Ora, „tamos ao pé do lume. - Atão, e não têm uma música, um divertimento, uma coisa qualquer pra se rirem? - Oh, Senhor Professor, oh, oh, tenho vergonha de dezer... - Não, diga lá, diga lá, porque o menino ganhou duzentos e cinquenta escudos no outro caso, e agora também, claro, tem que dezer a verdade. - Ah, o nosso divertimento ora, Senhor Professor! - Não, diga lá! - Ora, olhe, o nosso divertimento. Olhe, o mê pai dá pêdos e a gente ri-se. Diz ele: - Sim, também está uma música muito boa, pois nã podem adquirir outra, „tá certo, sim, senhor. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 171 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Ficou, antão, coisa concluída perante os três alunos. [João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976. Vid. o número seguinte]. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 172 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.2 – CONTO/s CONTO 4 – BOA RESPOSTA In CONTOS POPUARES PORTUGUESES inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 422 - 423 - n.º 634 634 [BOA RESPOSTA!] Juntaram-se dois professores e vai um, diz assim pró outro, assim: - Eh, pá, tenho lá um aluno. E que gajo tão esperto! Todos as perguntas, que lhe faço, o gajo responde-me bem. E os outros, é claro, responde-me sempre bem. Nã sei. Pois, aquele aluno, „tou admirado com ele. Diz o outro professor, pr'àquele assim: - Olha, eu sou capaz de lhe fazer uma pergunta qu'ele não é capaz de me responder. Diz ele: - Bom, vamos lá apostar. E apostaram. Fizeram a sua aposta. No outro dia, manda chamar o dito aluno, na presença dos dois professores. Diz o professor assim, esse tal teimoso, pergunta pró dito aluno: - Ouve lá uma coisa. Tu sabes o que é isto? Sabes o que é aquilo? Responde e coisa. Atão, pró atacar mais breve e mais possível, mais breve e pergunta-lhe assim: - Sabes o que é um freixo? - Pois, sei. Um freixo é uma árvores, nascida aí nas proximidades dos barrancos, e essa coisa uma árvore, ramuda, um freixeiro. - Pois, sim. Eu tenho um freixeiro, que mandei fazer um santo, mandei cortar o freixeiro, mandei fazer um santo e mandei fazer uma pia. E, atão, a pia pu-la ali ó pé do poço, aonde os burros bebem. Bebem os burros e bebem os cães e bebem aqueles animais, que passam por ali, todos. E o santo pu-lo lá na igreja. Ora, as mulheres, ali daquelas áreas, vão prà igreja, passam por a pia; como não têm sede, mesmo que tivessem sede, nã queriam lá ir beber nem olhem prà pia, mas vão lá adorar o santo. Pois, se ele é do mesmo pau, porque é que eles não, porque é qu'elas não ligam à pia, pois só ligam ao santo? Pergunta-lhe o aluno., assim pra ele assim: - Senhor Professor, o Senhor Professor é casado ou é solteiro? Diz ele assim: FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 173 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 - Sou casado e muito bem casado. - Atão, o Senhor Professor, não tem assim ocasiões de sair da sua casa, fazer uma visita a qualquer parte. Diz-lhe o professor: - Pois, tenho! - E, atão, o que é que lhe acontece com a sua senhora, quando não se despede dela? - Pois, despeço-me. - Atão e o que é qu'a sua senhora faz? Diz o aluno. Respondeu ao aluno que a sua senhora se despedia dele, quando ele ia ò seu passeio, que se destanciava dela e ele perguntou: - O que é que acontece, quando o senhor vai a qualquer parte com a sua senhora? Qual é o sistema do despedimento, diz ela? O Senhor Profesor disse: - Pois, a minha senhora dá-me um beijo no rosto. Responde-lhe o aluno assim: - Atão, pois, por qué que a sua senhora não lhe dá um bejo no cu, pois s'é do mesmo corpo? [João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja, de 61 anos de idade. Colector: Adélia Grade, professora primâria. Ano de recolha: 1976. Vid. o número anterior]. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 174 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... ANEDOTAS – Vide A. Machado Guerreiro e AlentejANEDOTAS in www.joraga.net As duas versões do CAVIAR – comida dos ricos... AM e FM – no Rádio AM e PM- no Relógio O lisboeta que vai comprar uma casa em Mértola... Algumas ANEDOTAS especialmente ligadas a MÉRTOLA: Um alentejano rico. Um alentejano ganha a lotaria e a primeira coisa que faz é ir a um restaurante de super luxo. - Quero comer aquelas coisas que comem os ricos. - Muito bem, então o senhor quer começar com champanhe e caviar? - Caviar? Que é isso de caviar? - São ovos de esturjão. - Então para mim, quero dois. E traga-mos bem estreladinhos e a cavalo num belo bife! (adaptada de - in IOL) Outra versão do ALENTEJANO rico de Mértola. Lembram-se daquele alentejano que ficou rico com o dinheiro da cortiça?... Esse mesmo que mandou o filho a Lisboa depositar o dinheiro no banco e na conseguiu... Ora, como ficou co'aquela dinheirama toda, vai um dia a Lisboa p'ra ver s'era verdade o c'o filho contara e óspois quis gastar algum à larga... - Ora vamos lá ver como é que comem os ricos, diss'ele prá Bia, mais pr'ó rapaz... Escolhem um dos melhores restaurantes da capital e pedem do melhor... - O melhor que temos e os ricos costumam comer é caviar e um bom champanhe para a entrada... - Ora venha lá esse champanhe que já temos ouvisto falar s'a senhora... e esse caviar é o quei??? - Ora meu senhor, o caviar são ovas de estrujão! Temos do melhor vindo da Rússia!!! - AAAAAH! Atão ele é isso? O caviar são as ovas do solho!!!? Vamos imbora, Bia, qu‟ê na sabia c‟os ricos comiam aquilo que eu deitava fora quando era pobre!!! O Alentejano e com um RÁDIO portátil, que tem AM e FM: - Atão cumpadre, o sê rádio tem aí umas letrinhas: AM e FM... Pra que raio serve essa coisa?... - Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... FM é Fora de Mértola!!!...??? (Isto parece mesmo ser verdade, porque uns amigos, que têm passado em Mértola, e vão no seu belo carro, ouvindo uma das estações de música, daquelas que se ouvem em todo o território nacional, começam a ter ruídos esquisitos, logo que entram nas curvas, mesmo antes de se ver Mértola e depois de atravessarem a vila, só voltam a poder ouvir, quase no cimo da serra, já quase à vista do Algarve!!!) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 175 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 O Alentejano e com um RELÓGIO, que tem AM e PM... - Atão p‟ra qui‟é que serve?... - Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... PM é PRA Fora de Mértola!!!...??? O lisboeta aparece em Mértola e vai “apreçar” uma casa que está à venda: - Então meu amigo, como está?! Vi no jornal que tem a sua casa à venda, e como esta vila está em franco desenvolvimento, talvez eu a possa comprar para passar aqui uns tempos de vez em quando... Vamos lá ver a casa a ver se me convém... Lá foram pela rua estreitinha acima com as curvas todas e pararam num pardieiro a cair aos bocados e assim a modos que do tamanho duma casa de brincadeira... O comprador olhou, mirou e foi-se preparando para a “pechincha” do século... Com um parvo de um alentejano... uma casa naquele estado... e numa rua daquelas... Bem se pedir € 5.000, já é muito, mas dá para fazer uma obrazitas e ficar aqui com um cantinho!!! - Então, compadre, quanto está a pedir?!... Aí uns € 2.500, já é pedir de mais!!!? - Pois saiba o meu rico senhor que já m‟ofreceram € 250.000 e nã vendi!!! - !!! !!! !!! Eh! Na pá!!! Então quanto é que meu compadre pede? - Uolhe! Por‟ser p‟ra vcmcê que tem cara de simpático, são €500.000 e „stá o negócio arrumado!... Acha um preço justo ó‟quein?! - Um preço justo? Por esse preço compro um palácio em qualquer parte do mundo!!! - Ai compra?!!! Atão vmc. no „stá vendo o qu‟eu lhe‟stou oferecendo... Estas ruínas que aí vê deixou-mas o mê pai... que já as herdou do mê avô... Quando o mê cumpadre adregar de começar a fazer as obras e começar escavando, „ndo pois sorte vai encontrar alguma coisa do tempo dos templários, que andaram por í „inda no tempo do Senhor Dom Sancho II... S‟inda cavar mais, pode dar de caras com “coisa até dos árabes, quem sabe!!!?... Cum sorte „inda vai até ós visigodes... e ós romanos... e ós turdalos... Vmc. no „stá mesmo vendo o qu‟ê tenho p‟ra lhe venderi, cumpadre???! Um alentejano que chega a Lisboa... desembarcado do vapor que passa o Tejo sai-se com esta lengalenga: NO RESSIO, ENFIO CUM DESIMBARAÇO; LOGO ME PRANTI NO TERREIRO DO PAÇO. FOI ATÃO QUE VI E QUE PUDE OBSERVÁ-LO UM HOME DE CHUMBO EM RIBA DUM CAVALO! (Contada por uma Professora em Mértola, em 1985...) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 176 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Pistas para um ESQUEMAe, entre OUTROS, do modo como se podem organizar e LER as ANEDOTAS (é uma modesta, respeitável e discutível opinião... resumo do que é apresento em www.joraga.net - no Espaço das AlentejANEDOTAS) Dada a presença contante das interrelações, tanto quanto aos temas como quanto aos personagens e características implicados em cada ANEDOTA, como ainda quanto à oportunidade de a contar, (... a propósito, lembras-te daquela...), qualquer ESQUEMA ou ORGANIZAÇÃO, se torna aleatória e daí esta divsão ser, já em si, uma perfeita ANEDOTA... como qualquer outra... Seguindo a sugestão de Arnaldo Saraiva (ver nas Pistas para uma Bibliografia) citado por A. Machado Guerreiro in LIVRO DE ANEDOTAS, Edições Colibri, Lisboa, Maio de 1995, p. 12: « ... a anedota pode dar um bom contributo para o estudo de uma comunidade - suas manias e fobias, seus hábitos sociais, seus desejos e recalcamentos, seus heróis e suas vítimas, sua visão do mundo e do destino». Assim uma ANEDOTA pode servir para um excelente treino da oralidade... Tal como no CONTO, a Estrutura com suas: Sequências... núcleos... indícios... informantes... - a linguagem como marca de uma identidade Cultural... Podem-se contar ANEDOTAS das ANEDOTAS e das AlentejANEDOTAS... ANEDOTA/s para mostrar o estilo de "regatinhar", “aciganado”, sem ofensa para os ciganos... ... para mostrar a ligação à Terra... ...para ver a lhaneza e simplicidade... ... responder aos Lisboetas, como ini/a/migos de estimação... ... a esperteza saloia... ... a lei do menor esforço... Talvez, como reflexão principal, é dar conta que neste MUNDO DAS ANEDOTAS, afinal se passa o mesmo que no MUNDO REAL - a LINGUAGEM e os VALORES das PESSOAS de REGIÕES diferentes são, mesmo DIFERENTES... A respeito das Outras formas de expressão como: – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... não nos foi possível recolher, pelos motivos que já foram apresentados e só podem ser recolhidos e estudados por alguém que esteja mesmo ligado ao meio. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 177 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... ANX. 3.4 – 1 - QUADRAS & CANTIGAS in Pereira – Cantigas e Quadras – o que podem exprimir. In Corais Alentejanos, de José Francisco Pereira – Edições Margem 1997 – p. 25 sobre a Flora... Ver p. 21... O que exprimem as CANTIGAS Populares: “sentimentos: Paixão do amor... prazer, dor, alegria e tristeza, ódio, ciúme, inveja, desgosto, resignação, saudade, melancolia, orgulho... tudo nela se versa...” “Os próprios sentimentos – religioso, moral, intelectual, estético, aí se retratam”. Ver ainda fenómenos e figuras de estilo...na mesma obra, pp. 34 e 35 Ainda: 1. Toponímia – Mértola... Guadiana... 2. Fauna – Passarinhos... animais existentes na região... animais do trabalho... bois... 3. Flora – Plantas flores... lírio roxo... Vivo no jardim do mundo... rosa roseira botão... 4. Comoções, paixões, sentimentos... - (medo cólera, ternura, amor, ciúme, ódio, inveja orgulho, alegria e tristeza, prazer e dor, melancolia, desgosto, resignação, saudade... Ó minha mãe, minha mãe... 5. Partes e órgãos do corpo humano – olhos... rosto... coração... 6. Peças de vestuário e objectos de adorno... saia... anel... lenço...chapéu... 7. Astros – Sol Lua... 8. elementos da natureza... – água... montes... serras... terra Vivo no jardim do Mundo, Nos treze ramos matrizes, Com cinquenta e duas flores E vinte e cinco raízes. (Mértola) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 178 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 2 - QUADRAS & CANTIGAS in Delgado - QUADRAS In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - Manuel Joaquim Delgado – Com. Rec. Notas – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p.328 3026 O nosso olhar é espelho Do que sente o coração. A boca pode mentir, O nosso olhar é que não. (Mértola) 3027 Onte'à noite à meia-noite, A meia-noite seria, Eu ouvi cantar um Anjo No coração de Maria. (Beja e Mértola) 3028 Onze horas, meia-noite, Já por aqui tudo drome: Só este meu coração Quer descansar mas não pode. (Mina de S. Domingos) 3029 Ó olhos azuis, Que já foram meus, Agora são doutro, Paciência, adeus. (Beja; Mina de S. Domingos; Ervidel e Vale de Santiago) 3030 Ó olhos doa minha cara, Não olhem para ninguém; Já que perderam a graça, Percam o olhar também. (Beja; Entradas, Castro Verde; Mértola; Vale de Santiago, Odemira) 3031 Ó olhos da minha cara, Não olhem para ninguém, Que eu não quero ter na cara Olhos que ofendam alguém. 4554 (p. 482) S‟eu sobesse quem tu eras, Ou quem tu vinhas a ser, Nunca t‟eu teria dado Meus segredos a saber. (Colos, Odemira; Mina da juliana, Aljustrel; Mértola; Vale de Santiago, Odemira, etc.) p. 515 4884 Fui um dia à tua horta, Pisí a salsa sem querer; Mas regando-a bem regada, FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 179 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Ela tronou a crescer (Mina de S. Domingos) p. 495 4690 Vai-te, carta, feliz carta, Triste de quem a notou. Com lágrimas te escreveu, Com suspiros te fechou. (Mértola) p. 493 4670 Tudo no mundo se prende, Dele não há que fugir. Eu sinto-me presa a ti. E nã dei pr‟àdonde hê-de‟ir (Mértola) p. 491 4649 Todas as Marias são Doces como o caramelo. Eu, como guloso sou, Uma Maria é que eu quero. (Beja; Amaraleja; Vila Nova da Baronia; Ervidel; e Mina de S. Domingos) 4650 Todo o homem que embarca, Deve rezar uma vez. Quando vai p‟rá guerra, duas, E, quando se casa, três. (Mértola) p. 489 4628 Tenho carta no correio, A letra de quem será? S‟é de Manuel nã‟na quero, S‟é de João deita-a cá. (Mina de S. Domingos) 4629 Tenho carta no correio, E a letra de quem será? S‟é do José nã‟na quero, S‟é do Manuel venha já. (Mértola) p. 488 4623 Tenho a minha fala presa, Mas não é do vinho tinto; É duma penguinha d‟água Que bubi na Corte Pinto. (Mina de S. Domingos) p. 486 4595 Se te quis bem algum dia, Esse tempo já passou. S‟inda hôis pera ti ôlho, FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 180 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Foi jeito que me ficou. (Corte Pinto – Mértola) p. 485 4589 Se queres qu‟ê seje tua, Manda ladrilhar o mar; Despois do mar ladrilhado, Sou tua se não faltar. (Mina de S. Domingos) p. 484 4581 Se ouvires tocar os sinos, Nã‟ prèguntes quem morreu, Lembra-te de uma infeliz, Que tanto por ti sofre. (Mértola) p.482 4554 S‟eu soubesse quem tua eras, Ou quem tu vinhas a ser, Nunca t‟eu teria dado Meu segredos a saber. (Colos, Odemira; Mina da Juliana Aljustrel; Mértola; Vale de Santiago, Odemira, etc.) p. 481 4546 Se entrares no cemitério, Entra e pede licença, Verás o rico do pobre Mesmo lá fazer diferença. (Beja e Mértola) p. 480 4534 Se a liberdade dos presos Tivesse na minha mão, Soltava presos e presos, Quantos na cadeia estão. (Mina de S. Domingos) p.479 4526 Sant‟Entónio é bom rapaz, Que livrou seu pai da morte. Também livrará meu bem Quando for “tirar as sortes”. (ir à inspecção militar) (Mina de S. Domingos) 4527 Santo António é meu pai, S. Francisco é meu irmão, Os anjos são meus parentes, Oh! Que linda geração! (Beja; Ervidel; Barrancos e Mértola) 4531 S. João à minha porta, Nada tenho p‟ra lhe dar, Dom-le uma caninha verde – (dou-lhe) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 181 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Para a pôr no seu altar. p. 477 4511 Raparigas d‟hoje em dia Só pensam em se casar. Põem a panela ao lume E nã na sabem tratar. (Mina de S. Domingos) p. 476 4496 Quem queser armar currais, Traga redes e atenchões, Qu‟ê tamém quer‟ir ô mêo Em certas àcsiões. (Mina de S. Domingos) in “Vocabulário Alentejano” – A. Tomás Pires, Elvas, 1813 XIV (citado por Delgado in LPBB): XIV Acrâdita, mê amôri, Tenho-te munta amezade; Tu é que cudas que não, Pensas q‟isto é falsedade. (Mina de S. Domingos) Ouvidas numa rua de Mértola: A nobre vila de Mért‟la Tem dois rios, duas pontes: Uma é p‟rós automóiveins, A outra é p‟ros transuntes. A nobre vila de Mért‟la Tem dois rios, duas pontes: Num rio, nadam os pêxes, O outro é p‟ros (in)fluentes. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 182 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 3 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – QUADRAS – volume I in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1975 P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Para comer é que se faz isto! (Dizem a começar a comer? Não pude averiguar, mas o 1º verso diz-se ao começar a comer). Em ofícios e ocupações (p. 216) sobre o mineiro, ver pp. 240 e 241 Meu amor é barreneiro Trabalha na contramina À luz do seu candeeiro Tira ouro e prata fina. (Alentejo) (os barreneiros (= mineiros) cantam estas quadras enquanto trabalham. Ó _Senhora Santa «Barba» Tenha dó dos barreneiros: Trabalham debaixo do chão À luz dos seus candeeiros. (Mértola) Nota JRG - (Comparar com as cantigas dos mineiros de Aljustrel a S. Bárbara, Padroeira dos Mineiros – e influência dos mineiros do norte de Espanha...) no cap. X (p. 301) - AMORES, AMORES... 7. DECISÃO(p.371): p.375 Uma silva, duas silvas, É uma brenha fechada Uma prende a outra arranha... Com silvas não quero nada. (Mértola) em 12. (p.400) AMOR PERFEITO: P. 405 Dá-me, amor, a tua mão, Juntemos palma com palma, Que eu te dou meu coração, Toma posse da minh‟alma. (Mértola) em 13. ALEGRIA (418) P. 420 Graças a Deus que já chove Pingas de água no jardim; Graças a Deus que já tenho Meu amor ao pé de mim! (Castelo Branco; Mértola) em 23 DESDÉNS E DESENGANOS (p. 516) 539 Se quere que eu seja tua Manda ladrilhar o mar; Depois do mar ladrilhado FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 183 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Serei tua sem faltar... (Ver a recolhida por Delgado...) “Serei tua se não faltar) Se te eu quis bem, foi um sonho, Se te amei foi falsidade: Foi enquanto não achei Amor à minha vontade. (Mértola) em 25 BEIJOS E ABRAÇOS (553) 556 Eu já fui ao céu em vida, Numa nuvem fiz encosto, Dei um beijo numa estrela, Julgando que era o teu rosto. (Mértola) em 30 RETRATOS 622 Meu amor moço É um bule-bule, É um rapazinho Vestido d‟azul. (Mértola) (P. 619) O CORAÇÃO MAIS OS OLHOS p. 632 660 Sobrancelhas arqueadas, Arcos que rogam a vida, Olhos que despedem raios Trazem a minha alma rendida! (Mértola) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 184 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 4 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – QUADRAS – volume II in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979 Cap. XI – AMOR E TRISTEZAS p. 1 3. AUSÊNCIA p.13 16 Desejava saber Onde a pena mais se auguenta: Se é no peito de quem fica Ou é no de quem se ausenta. (Mértola) em 4. SAUDADES p. 23 25 É de noite, é de noite, Para mim nunca amanhece! Nem a água me mata a sede, Nem o meu amor me esquece. (Mértola) em 3. DINHEIRO E POBREZA p. 191 196 Você diz que me não quer Porque eu não tenho fazenda : Não é o seu pai tão rico, Nem você tão boa prenda. (Mértola) No cap. XVII USOS E COSTUMES p. 197 206 1. Sou saloia trago botas E mantéu até ao meio, Lenço grande no pescoço P‟ra tapar meu lindo seio. 2. Sou saloia, trago botas, Também trago as minhas meias, Tenho a cintura delgada Sem precisar de baleias. (Varas de baleia, para se apertar, usadas nos espartilhos.) 3. Sou saloia, trago botas, Também trago meias pretas; Não me fales em namoro: Não creio nas tuas tretas... 4. Sou saloia, trago botas, Também trago meu mantéu, Também tiro a carapuça A quem me tira o chapéu. 5. Sou saloia, trago botas, Também trago o meu cordão, FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 185 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 E por medalha pendente De ouro um bom coração. (Mértola) Cap. XX – CANTIGAS CONCEITUOSAS P. 235 245 Eu não digo que não hei-de Desta fonte água beber... Pode-me a sede obrigar E outro remédio não ter. (Mértola) Cap. XXIV BOCAS DO MUNDO p. 289 290 Andas sempre a acreditar Coisas que não podem ser; A inveja faz falar, Não tens ouvisto dizer? (Mértola) 291 Andas sempre a duvidar Eu não sei o que arreceias... As nuvens descem ao mar Vazias e vêm cheias. (Mértola) 302 Você diz que me quer munto, Esse sê querer é engano: Você corta a minha vida Cuma a tesoura no pano. (Mértola) XXV GRAÇAS, CHALAÇAS E «CANTIGAS às AVESSAS» p. 303 325 Quando meus olhos te viram, „Stavs tu a assar castanhas, Na rua do merca-tudo, No armazém das aranhas. Quando Tróia se arrasou, Choveu três dias areia, Só uma alma se salvou No ventre de uma baleia. (Mértola) XXVI – CANTIGAS SATÍRICAS p. 339 348 1 Estas meninas de agora Não querem senão casar; Põem na panela ao lume Nem volta lhe sabem dar. 2. Estas meninas de agora Não querem senão regalo; Bom sapato, boa meia E a barriga dando estalo. (Mértola) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 186 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 5 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – CANTIGAS – volume II in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1983 XXXIII CANTIGAS GEOGRÁFICAS E TÓPICAS p. 1 p.22 Beja Adeus, cidade de Beja, Cada vez me alembras mais! Adeus, quartel dos soldados, Sepultura dos meus ais! Adeus, cidade de Beja, Cativeiro da mocidade, Cativaste o meu amor Na felor da sua idade! Na rua nova de Beja „Stá um fio de algodão, Todos passam, não se prendem, Só eu fiquei na prisão. (Mértola) 68 Mértola Adeus, ó vila de Mértola, De ti me „stou a ausentar; Há-de ser tarde ou nunca Quando ê p‟ra cá voltar. (Mértola) 69 Adeus, ó vila de Mértola, És o meu acabamento, És a causa de eu não ver Meu amor há muito tempo Adeus, ó vila de Mértola, Onde a palma reverdece! Quem tem amores É porque não nos merece. 70 Mina de S. Domingos A Mina de São Domingos, Palácio de D. Diogo (Referência ao dono da mina) Onde assiste tanta gente, Cada um é do seu povo. (Mértola) 107 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 187 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Serpa Eu não sei que tenho em Serpa Que sempre me está lembrando. Em chegando ao Guadiana As ondas me vão levando... (Mértola) 122 Vila Real de Santo António Ó Vila Real alegre, Lá ia morrendo à sede! Uma sécia me deu água (Sécia = flor; neste caso significa rapariga bonita e bem vestida) Da raiz da salsa verde. 145 Baixo Alentejo – Beja Adeus, estação de Beja, Adeus, jardim do quartel; Adeus, ó portas de Mértola, E a praça de Dom Manuel. (Mixilhoeira Grande, c. De Portimão) na secção de Rios e suas cercanias: (168) 176 Em setenta e seis se viu (Alusão à grande cheia de 1876) A desgraça em Portugal: Tanta água em Guadiana Nunca se lembra de tal. 177 1. No meio do Guadiana „Stá um copo de água-mel. Não é copo nem é água: São os olhos de Manel. 2. No meio do Guadiana „Stá um copo de água fria. Não é copo nem é água: São os olhos de Maria. Ó rio Guadiana, Que para baixo correis: Não leves o meu amor Nessas ondas que fazeis. (Mértola) sobre grupos étnicos p.186 187 Quero cantar à saloia, Já que outra moda não sei: Minha mãe era saloia, E eu com ela me criei... Sou saloia, honro-me de isso, P‟ra casacas não sou má. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 188 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Os janotas atrevidos Sei correr a varapau. Sou saloia trago botas, E mantéu até ao meio, Lenço grande no pescoço P‟ra tapar meu lindo seio. ( Ver já noutra citação) (Mértola) Sou saloia trago botas, Também tragao as minhas meias, Tenho a cintura delgada, Sem precisar de baleias (Varas de baleia usadas nos espartilhos, para apertar.) (Ver já citada) Sou saloia trago botas, Também trago meias pretas, Não me fales em namoro, Não creio nas tuas tretas... (Mértola) (já citada) Sou saloia trago botas, Também trago o meu mantéu, Também tiro a carapuça A quem me tira o chapéu... Sou saloia trago botas, Também trago o meu cordão, E por medalha pendente De ouro um bom coração. (Mértola) (já citada) Sou saloia, Na cedade de Lisboa; Dizem todos os janotas: - Ó saloia, és tão boa ! (Mértola) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 189 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 6 - QUADRAS & CANTIGAS in Delgado - JANEIRAS In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p. 147 Janeiras Uma tradição que se cantava em grupos de Monte em monte, de casa em casa, levando à frente um burro que transportava as esmolas recebidas... Chegados às portas, tiravam os gorros ou chapéus e cantavam. Depois vinha ou não a esmola que consistia em geral em coisas de comer. Aceitavam-na de mão estendida e aberta e agradeciam com uma quadra. Variante parecida com uma de Beja...): Esta noite é de Janeiras, É de grande merecimento, Por ser a noite primeira Em que Deus passou tromento. Os tromentos que passou Eu lhe digo na verdade: O seu sangue derramou, Pra salvar a cristandade. Já os três reis estão chegados À Lapinha de Belém, Visitar o Deus-Menino, Que Nossa Senhora tem. Nossa Senhora lhe disse: - Filho meu, que te farei? Não tenho cama nem berço, Em meus braços te deitarei. (Mértola) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 190 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 7 - ORAÇÃO in J. Leite de Vasconcellos – in Orações parodiadas in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1975 P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Para comer é que se faz isto! (Dizem a começar a comer? Não pude averiguar, mas o 1º verso diz-se ao começar a comer). ANX. 3.4 – 8 – ORAÇÕES: Ver as referidas no RITUAL DO PÃO - ANX 2.6: Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar: “Deus te acrescente no alguidar Como Deus Nosso Senhor está no altar”... E depois de meter todo o pão no forno: “Deus te acrescente, que é para muita gente” E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem: «Faz-se um benzido com o sinal da cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as saias e diz: Cresças tu, pão Como as saias afastadas do cu estão». FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 191 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 9 - ORAÇÃO DAS ALMAS in J. Leite de Vasconcellos –Orações in ROMANCEIRO in Romanceiro Popular Português, II Vol. - organização, introdução notas e Bibliografia de Maria Aliete dores Galhoz, Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1988 – nº 729 p. – 910. - 729. ORAÇÃO DAS ALMAS (estrofe) Cristandade tão unida ouvindo gritos e ais 2 Que lá tens na outra vida as almas dos vossos pais. Gritando em agonia toda a noite e todo o dia 4 Pedindo que lhe rezais sequer uma Avé-Maria. É tã triste os pecadores tende compaixão daquela tã triste voz 6 Que repete para nós ó tã tristes pecadores. As almas tão em clamores dando gritos tão sintidos 8 Gritam contra os seus amigos que cá dêxaram no mundo Que são vivos e não dizem dá-me a mão qui eu os ajudo. 10 Gritam contra os seus herdeiros pelos bens que lhe dêxaram Sendo os seus testamentêros ainda mais deles se lembraram. 12 Gritam contra os seus parentes da sua sanguinidade Que são vivos e não se lembram de tanta necessidade. 14 Muito mal faz quem desperdiça das almas a devoção Vamos-lhe ouvir uma missa dar-lhe esta consolação. 16 Que desta sorte se consolam as almas que em pena estão Vamos pedir-lhe uma esmola andai com as almas irmão. 18 Quando deres a esmola não olhes a quem na dais Considera que lá tens as almas dos vosso pais. 20 Quando deres a esmola nã olhes p'ra fazenda Cada esmola que dais tiras uma alma da pena. 22 Homens, mulheres, meninos deste povo aditório Mandai a esmola às almas às almas do prigatório. 24 Que as almas do prigatório é que nos mandam pedir Que lhes mandem uma esmola qu'elas nâ podem cá vir. 26 Fiquem-se com Deus irmãos qu'ê com Deus me vou embora Queira Deus que nos ajunte-nos lá no reino da Glória. Informador: José Raposo, 77 anos. Localidade: Tacões, fr. de S. João dos Caldeireiros, conc. de Mértola, d. de Beja. Ano de recolha: 1976. Colectora: Adélia Grade. [gravado] FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 192 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 10 A - DÉCIMAS in J. LEITE V. – MINEIRO TRAJA BEM in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979 XXXI – ASSUNTOS VÁRIOS VERSADOS EM DÉCIMAS (Dado o apreço em que tinha estas décimas, o Prof. Leite de Vasconcellos conserva-as em maços à parte de outras composições. Versando vários assuntos, servem, na maioria dos casos, de glosas de quadras.) Nota – ver tb. Na introdução os comentários de Ariete Galhoz sobre estas Décimas, onde se pode notar que não tem ideia nenhuma sobre o seu valor e origem e sobre a arte d sua construção... JRG. pp. 454 e 45530 O mineiro traja bem: Cas‟mira, bota engraxada, Us chapéu de fivela. Dinheiro, nunca tem nada. Enquanto as minas durar‟ Vai a coisa assim, assim; Mas, se chegam a ter fim, O luxo há-de-se acabar. Cada um se há-de tornar Em vender aquilo que tem. Eu falo de mim também, Não me faço isento dos mais, Porque, enquanto houver minerais, O mineiro traja bem. Acho que e grande tortura Usar o que lhe não „stá dado, Muitas vezes andar empenhado Por causa da grande loucura. O luxo é p‟ra quem tem fartura, Não é p‟ró pobre que não tem nada. Passa a vida arrastada, P‟la semana trabalhando, P‟ró domingo andar trajando Cas‟mira, bota engraxada. Até o ponto desta idade Ê não costumei mentir E, senhores, que me estão a ouvir, Digõ se isto é verdade: Para que é tanta gravidade Que eu vejo nesta famelga? («Famelga» = família (de famélia). Andaram sempre em Palmela E nunca avezaram dez réis. P‟ra que serão tantos papéis Usarem chapéu de fivela? Chega o mineiro ao armazém Ou a outra qualquer panilha: (Panilha = «venda», taberna (calão). - Venha lá pão e morcilha ( Morcilha = linguiça (esp.) É a canha, vai dando bem. ( Canha = galeria) Pergunta vinho se tem: - Dête mais meia canada. Ali se lhe vai a pionada (Pionada = tempo de trabalho). E passa a noite sem dormir. E anda sempre co‟a bolsa a tinir, Dinheiro nunca tem nada. 30 nota. Por não termos encontrado Décimas recolhidas em Mértola e por se tratar de uma (Composição da autoria de um mineiro) sem referência ao nome e local de recolha, e por a Mina de s. Domingos ter sido uma terra de mineiros e ter tido grande influência na vida econ ómica de Mértola... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 193 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 10 B - DÉCIMAS in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - I in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 197931 (ver p. 465) (Décimas feitas por Marcelino Ramos, de Lisboa. Com outro homem andava ele cantando estes versos por várias terras.) - pp. 462 –463 Despique do Alentejo e do Algarve I : Alentejo Sou o Alentejo opulento, Tenho gado e cereias; Algarve, quero saber Qual de nós valerá mais. Algarve Cá na minha pequenez Sou todo uma povoação; Tu, com a tua grandeza, És um verdadeiro sertão. 1. Sou na verdade crescido, Que a todos meto cobiça; Tenho montanhas de cortiça Que a muitos têm enriquecido. Tenho p‟ra fora vendido Cereais de valimento; Tu, Algarve, toma tento Em quem já te socorreu, Porque tu sabes que eu Sou o Alentejo opulento. 1. P‟ra que te estás a abnar? Que és muito rico eu bem sei, Mas defeitos te porei Que tu não hás-de gostar. Eu tenho praias no mar, Não acreditas talvez, Que eu dou banho mais de um mês. Sou o recreio do teu povo E sou cheio como um ovo Cá na minha pequenez. 2. Eu sou em tudo abundante: Tenho muitas azinheiras, Com a lande das sobreiras Engordo gado bastante; Tenho muito negociante, Tenho muitos olivais, Eu tenho de tudo mais Do que tu ninca hás-de ter; Contudo deves saber Tenho gado e cereais. 2. És mui grande e muito forte, Mas és pouco povoado, És muito desabitado, Só tens charnecas e mato. Por isso tu toma tacto: Se muito valor te dão, Eu, por mim, digo que não Na explicação que te faço. Mas, em meu pequeno espaço Sou todo uma povoação. 3. Eu tenho em mim celeiros Cheios de trigo até mais não; Sou abundante de pão Tenho em mim muitos dinheiros. Até os teus corticeiros Ajudo-os bem a viver, Dou-te tudo p´ra comer Em toda a minha grandeza. E qual é a tua riqueza? Algrave, quero saber. 3. Se tu tens tanta valia Como estás a apresentar, P‟ra que vens a mim buscar P‟ra ti tanta pescaria? Não passa nem um só dia Nem um sequer, com certeza, Que eu não mande com franqueza Peixe para a minha vizinha; Não pescas nem uma sardinha, Tu, com a tua grandeza. 4. Eu tenho muito toicinho E o precioso presunto, Eu tenho de tudo munto. Sou a fama do bom vinho, Sou da riqueza o beijinho, Porque tenho coisas tais. Até pessoas reais Em mim têm arvoredo. Responde, não tenhas medo, Qual de nós valerá mais? 4. Quem em ti tem passeado O que vem p‟ra cá dizer? Que és um país de temer P‟los lobos que tens criado. Eu sou todo cultivado P‟la minha população. Pois na estação do Verão Sou de Portugal o beijo. E tu, ó Alentejo, És um verdadeiro sertão. 31 Talvez, por ser Mértola uma ligação entre Alentejo e Algarve, seja oportuno transcrever estas Décimas que teriam sido feitas por ( ver p. 465) (Décimas feitas por Marcelino Ramos, de Lisboa. Com outro homem andava ele cantando estes versos por várias terras.) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 194 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 10 C - DÉCIMAS in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - II Alentejo Cala-te, Algarve faminto, Que me estás a provocar ! Se te mostro o meu valor Hás-de ter que te calar. Algarve De tudo o que tens em ti Tenho eu cá um pouquechinho; Eu tenho coisas em mim Que tu não tens, amiguinho. 1. Tu decerto tens desejo De ser rico como eu sou E dar, assim como eu dou, Muita cera, mel e queijo. Eu por todo o modo almejo, Que sou poderoso o sinto Tenho muito homem distinto, Senhor‟s de propriedads. Escuta muitas verdades, Cla-te, Algarve faminto. 1. Eu tenho navegações Que tu lá não podes ter, Pois, p‟ra melhor te dizer, Tenho muitas armações. De fábricas tenho milhões, Tudo que é rico há aqui. A riqueza que te vi Mais tarde dizer-te venho: No Algarve também tenho De tudo o que tens em ti. 2. Os homes que tes em ti, Coitados, como andarão? Espr‟ando que venha o V‟rão P‟ra virem ceifar p‟ra aqui: Se eu o teu peixe comi, Tenho pão para te dar Ou tenhpo, p‟ra te pagar, Muito oiro, prata e cobre. Cala-te, fminto e pobre, Que me está a provicar. 2. Embora menos porção Eu tenha de olivais, Mas também tenho olivais, Tenho cortiça e pão; Em mim tenho o bom feijão, Tenho o grão e o bom vinho, Também tenho algum toicinho Para te imitar um dia, De tudo o que lá se cria Tenho eu cá um puquechinho. 3. Se te mostro o meu valor. 3. Eu tenho alfarrobeiras Que tu nunca tens craido, Tenho bom figo passado, Estou coberto de figueiras E milhar‟s de amendoeiras Que tu não lhe vês o fim. Por isso te digo assim, Se ainda bem não me ouviste, Que tu ninca possuiste, Eu tenho coisas em mim. 4. Nos meus matos tu verás Gados de lã a valer Que dão p‟ra roupa fazer, Que tu muito pouco dá. P‟ra que é que falando estás, Se estás somente a errar? Tu não devias falar P‟ra não caires no laço; Olhando aos favor‟s que te faço, Hás-de ter que te calar. 4. Tenho tido vultos meus Da ilustração comum, Como há pouco morreu um: O ilustre João de Deus. Mostra então os vults teus, Alentejo, um instantinho. Tu chamas-me pobrezinho, Dizes que não tenho nada Mas tenho gente ilustrada, Que tu não tens, amiguinho. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 195 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 10 D.1 – DÉCIMAS de Manuel Guerreiro Martins (Mina de S. Domingos) in SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d. – p. 106 És jovem, sou reformado Tu tens o mundo na mão; Olha bem para o meu passado Luta sempre p‟la razão. Se eu tivesse a tua idade Tua força e valentia Com certeza arranjaria Outra nova sociedade Onde houvesse só liberdade Mas ninguém fosse roubado Nem o povo explorado Que já vem de antigamente Tu tens o futuro à frente És jovem, sou reformado. (vide p. 106 – no livro faltou este 10º verso) És livre e podes votar Vivemos em democracia Até que enfim chegou o dia Para o país libertar Agora podemos falar .............................ão..................(no livro falta este verso por ex: Dizer a nossa razão ???!!!) Não temer a reacção Dos gulosos egoístas Dar o fim aos parasitas Tu tens o mundo na mão. Foi bem triste o meu viver Nos campos e nas fábricas Às vezes bebia as lágrimas E nada podia dizer Tantos anos a sofrer Mal comido e mal tratado E nas prisões torturado Pela nossa autoridade Só por dizer a verdade Olha bem o meu passado Lutando com garras e esperança Nós havemos de ganhar Nunca deixes de lutar P‟ra destruir a vingança É preciso ter lembrança De quem me roubava o pão E me chamava ladrão E deixava-me envergonhado Tu não lutes enganado Luta sempre p‟la razão FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 196 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 10 D.2 – DÉCIMAS de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da Serra) in SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d. – p. 143 VIVA AMENDOEIRA DA SERRA JÁ PARECE UMA CIDADE RUAS TUDO ALCATROADO JÁTEMOS ELECTRICIDADE Era uma escuridão O que faz os administradores Podemos dar os louvores A quem olhou à povoação Foi o administrador Serrão Que se encontra debaixo da terra Esta palavra tudo encerra Foi pelo concelho Hoje parece um espelho Viva amendoeira da Serra Temos telefone e correio E centro cultural Já encontramos menos mal Já se encontra algum recreio Foi tarde mas já veio Serrão teve cedo a infelicidade Homem cheio de vontade Sem excepção de criatura Amendoeira já faz figura Já parece uma cidade Há transporte para o passageiro Levou os alunos ao Liceu Antes, não aconteceu Só olhavam o dinheiro Administrador foi o primeiro Para todos foi um achado A outro com o lugar ocupado Da mesma opinião veio Pode-se ver o asseio Ruas tudo alcatroado Foi a luz inaugurada A vinte e oito de Outubro de oitente e três A boa vontade tudo fez Temos a causa preparada Dentro de pouco não falta nada É para a eternidade Para os velhos e mocidade Fica escrito na História Fica-nos bem em memória Já temos electricidade FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 197 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 11 A - RIMANCE in Delgado – LAURA LINDA In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, pp. 154 - 155 Romances Populares LAURA LINDA, ÉS TÃO LINDA Ele – Laura linda, és tão linda! „Stás tão linda como o Sol Deixa-me dormir contigo Nas barras do teu lençol! Ela – Sim, sim, cavalheiro sim, Esta noite, amanhã não, Meu marido não está cá, Foi à Feira de Garvão. Era meia-noite em ponto Marido à porta bateu; Bateu uma, bateu duas, Mas ninguém lhe respondeu. Laura linda não responde, Pois já tem novos amores, Foi lá bàxo a 'scar as chaves, Lá ós fins dos corredores. Ele - De que é aquele cavalo Que na minha esquadra entrou? Ela - Será pra ti meu marido, Foi teu pai que to mandou. Ele - De quem é aquele capote Q'ue além está pendurado? Ela - Será pra ti, meu marido, Que tão bem o tens ganhado. Ele- De quem é aquele chapéu Todo cheio de galões? Ela - Será pra ti, meu marido, Fize-o (1) eu por minhas mãos. (por Fi-lo) Ele - De quem é aquele suspiro Que na minha cama entrou? Laura linda não responde, Dé-le'um ai e desmaiou. Ele - Vom dezer (2) às tuas manas – (Vou dizer) Que já tens novos amores; Tu por seres a mais velhinha Dás-les tão lindos louvores! (Por Gerturdes Augusta Pinto, criada de servir e natural de Mina de S. Domingos) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 198 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 11 B - RIMANCE in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p. 155 ISOLINA MUI FERMOSA Isolina mui fermosa Já se aparta o teu guerreiro! - A Palestina me chama, Adeus, que sou cavaleiro! Senhora, sinto o seu choro, Nas suas lágrimas creio; Mas, temo o novo amante, As circunstâncias receio. - Afonso, não receies, Nada tens que arrecear; Juro amar-te vivo ou morto, Mais ninguém m'há-de lograr! Se eu quebrar as minhas juras, Se minhas juras quebrar, Tua sombra me apareça No dia em que m'eu casar. Tua sombra me apareça, Com teu direito requer Que ao sepulcro me arrastes Dizendo que eu sou tua mulher. Graças de amor são prendas, Nelas Isolina deu todas; Finezas quebraram juras, Trovador acode às bodas. (Recitados por Aura dos Mártires Gomes de Brito, de Mértola) FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 199 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 12 – OS ÚLTIMOS SÃO OS PRIMEIROS NOTA IMPORTANTE: O melhor exemplo de tudo o que temos dito até aqui fomos encontrar in: SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d. Para além do seu CURRICULUM entranhadamente ligado a Mértola e às suas “pedras”, “cacos” e “gentes”, apresenta-nos um enorme painel de Mertolenses ilustres, artistas e escritores... e, em especial, apresenta, a partir da p.91 – SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO CANCIONEIRO POPULAR DO CONCELHO DE MÉRTOLA, que afinal é a realização do projecto que temos vindo a propor e está ali concretizado, dum modo e com elementos que nós nunca poderíamos conseguir. Apresenta-nos além dos ilustres anteriores “As figuras de maior destaque, que conheço de momento, são, segundo a minha concepção: António Dionísio Gonçalves, de Corte Sines; Bento Neto, de Corte da Velha; Francisco Horta (Hortinha), de Moreanes; José Alves dos Santos, de Mértola; Bartolomeu Godinho, de Mértola; e João Alves Baiôa, também de Mértola.» Além disso, grande número de QUADRAS, além das recolhidas “com o apoio da poetisa Maria Olívia Diniz Sampaio elaborada em vários estudos etnográficos editados no país...” e tem muitas das que nos foi possível recolher e aparecem com anónimas, Mário Elias apresenta-nos muitas com os nomes dos seus autores além das suas próprias... Para além das de Mário Elias e dos autores atrás citados, aparecem ainda: José Erva (Mértola) António Venâncio (Mértola), Francisco Viegas (Moreanes), Palma Raposo (Espargosa). M. D. O. (Mértola), Francisco Barão (Mértola), António Pedro da Costa (Mértola), Xavier Carrilho (S. João dos Caldeireiros), Manuel Silva (Mértola), Manuel Seno (Santana de Cambas), Álvaro Costa (Espargosa) e vai até António serrão Martins, que toda a gente conhece em Mértola, como o malogrado impulsionador do desenvolvimento que desde os anos de depois de Abril de 1974, se vem assistindo na vila e em todo o concelho; uma DÉCIMA (p. 106) de Manuel Guerreiro Martins, pseudónimo – o Alentejano – natural da Mina de S. Domingos e que reproduzimos, com a devida vénia em ANX. 3.4 – 10 – D DÉCIMAS. Uma DÈCIMA (p. 143) de Joaquim Manuel Bento, nascido na Amendoeira da Serra e contava, na altura da escrita da obra, tinha 74 anos, e vamos reproduzir com a devida anotação em ANX. 3.4 – 10 – E - DÉCIMAS. Ver ainda outras figuras importantes para a Cultura em Mértola... nas outras obras... De Mário Elias ver ainda as outras obras in BIBLIOGRAFIA... De Heitor Domingos – ver obras citadas in BIBLIOGRAFIA... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 200 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS MODAS recolhidas por João RANITA da Nazaré in MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO – Cancioneiro da Tradição Oral – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – 1986. – Caoítulo: Quintas variações: Mértola pp. 269 – 296: Profanas: O meu anel Rio Guadiana As cobrinhas de água Mértola do Guadiana Nossa Senhora das Neves Passarinho prisioneiro Não quero que vás à monda Maria pega na carta Ao romper da bela aurora Lírio Roxo Religiosas: Os Reis As Janeiras Quadra: Mértola estás situada Entre o rio e a ribeira, Firme nas tuas muralhas A viver de cantaneira. (in Momentos Vacais do Baixo Alentejo – Cancioneiro da Tradição Oral – João Ranita da Nazaré – Imprensa Nacional da Casa da moeda, 1986, p. 269 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 201 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - Teoria Lopes Graça sobre a canção Alentejana: «Tem de ir ao coração do Alentejo, a Serpa e seu termo quem quiser conhecer uma das mais genuínas e curiosas manifestações do génio do nosso povo: as canções corais, que os íncolas da região, na sua maioria rudes trabalhadores do campo e pequenos mesteirais, cantam com uma admirável musicalidade nata e a compenetração de quem cumpre um velho ritual. É vê-los, concentrados e um tanto bisonhos, formar os seus grupos, cerrados uns aos outros, muitas vezes as raparigas os braços nos braços, e, numa cadenciação suave do corpo, como messe de altas espigas tocada pela brisa, darem início à função. Uma voz entoa a melodia: canta sozinha os primeiros compassos; em geral, outra lhe dá uma como que réplica - e logo as restantes se lhes juntam, numa harmonização instintiva, em que um que outro gostoso arcaísmo lembra a arte medieva do Organum e do Discantus. Esta gente canta com verdadeira paixão e todas as ocasiões lhe são boas para dar largas ao seu lirismo ingénito. Não há trabalho, folga, festa ou reunião de qualquer espécie sem um rosário infindo de cantigas. A alma do alentejano é profundamente musical e o canto é o elo vital que liga aqueles seres primitivos no sentimento de uma fraternidade de destinos, na afirmação de uma comunidade telúrica. Em qualquer parte o alentejano se reconhece e identifica, reconhecendo e identificando, do mesmo passo os seus irmãos em carne e espírito, mediante o viático das suas canções. O ar e a paisagem vibram constantemente de melodias. É, porém, no silêncio da noite, da vasta e profunda noite alentejana, que estas ganham toda a sua altura e projecção anímica... [. . .] A canção alentejana é, por via de regra, larga, dolente e triste, de uma tristeza nada depressiva, antes nobre e serena, de um colorido sóbrio, de uma linha severa, nisto reflectindo a monotonia grandiosa, hierática e, por assim dizer, ensimesmada da própria planura alentejana.» FERNANDO LOPES-GRAÇA, «Apontamento sobre a canção alentejana», in A canção popular portuguesa, Lisboa, Europa-América, 1953, pp. 41-43. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 202 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5– MODAS – CANTE - Teoria In MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS: «Hoje a rádio, levada à mais humilde aldeia ou lugarejo, tem de algum modo apagado certos usos tradicionais dos cantos alentejanos que, insensivelmente, vão perdendo muito de seu natural e típico sabor, alterando-se e substituindo-se por inexpressivas e, porventura, duvidosas canções. Nem por isso, creio, terão a rádio e os modernos 'jazes' força bastante para obliterar por completo muitos dos nossos patriarcais costumes e usos que nossos maiores nos legaram por via da tradição. É que tão enraizados eles estão na alma do povo, que não podem perder-se ou alterar-se senão por lenta evolução. I. . .] O valor das 'modas' alentejanas está em serem um canto misteriosamente afectivo, apaixonado, tendo algo de religioso e místico, como se desprende dos acordes e melodias. . A dolência e o vagaroso do canto vem-lhe do mundo ambiente - paisagem extensa, largos horizontes, influência climática.. etc.. em que vive o alentejano. Da liturgia recebeu a forma indefinida e simbólica, o que lhe dá carácter hierático. A tristeza e melancolia, de sentido vago que estes cantos traduzem e deixam transparecer, está na etnopsicologia do alentejano. Na verdade, o canto alentejano é expressivamente belo e, penetrando fundo na alma, cria-lhe suavidade e doçura.» MANUEL JOAQUIM DELGADO, Subsídio para o cancioneiro popular do Baixo Alentejo, vol. 11, Lisboa, Ed. Álvaro Pinto, 1955, pp. 8-9. 293 Momentos – J Ranita d Nazaré FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 203 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 1 1ª Moda – O Meu Anel: Eu perdi o eu anel Meu anel ‘stá perdido Eu perdi o meu anel ‘Stava falando contigo. ‘Stava falando contigo Contig’ estava faland(o) E eu perdi o eu anel Meia noite estava dando. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 204 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 2 Moda 2 Guadiana tens saudades Das canoas e vapores As tuas águas só servem Pra as lanchas dos pescadores. Pra as lanchas dos pescadores Guadiana tem saudades Guadiana tem saudades Das canoas e vapores. Mér’la velha cidade De serranias cercada Tens o espelho o Guadiana Fostes tu a namorada. As tuas velhas muralhas Recordam a tu’ idade De serranias cercada Mér’la velha cidade. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 205 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 3 Moda 3 Algum di’ eu era Agora já não Da tua roseira E o melhor botão. O melhor botão Algum di’ eu era Algum di’ eu era Agora já não. As cobrinhas d’água São nossas comadres Se por lá passares Dá-lhe saudades. Dá-lhe saudades Saudades minhas Se por lá passares Ao pé das cobri(nhas). FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 206 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 4 Moda 4 Ande lá por aond’ andar Nada vejo de mais belo Do que o nosso Guadiana A mesquita e o castelo. A mesquita e o castelo Ande lá por aond’ andar Ande lá por aond’ andar Nada vejo de mais belo. Ó Mértola do Guadiana Por D. Sancho conquistada Foi o berço que a embalou Os filhos da terra amada. Foste sim mas hoje és vila És uma terra raiana Por d. Sancho conquistada Ó Mértola do Guadiana. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 207 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 5 Moda 5 Ó minha mãe minha mãe Ó minha mãe minha amada Quem tem uma mãe tem tudo meu amor Quem não tem mãe não tem nada. Quem não tem mãe não tem nada Ó minha mãe minha mãe Ó minha mãe minha mãe meu amor Ó minha mãe minha amada. Nossa Senhora das Neves És a nossa Padroeira Tens uma casa velhinha meu amor Serás nossa a vid’ inteira. Serás nossa a vid’ inteira Tão velhinha como deves És a nossa padroeira meu amor Nossa Senhora das Neves. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 208 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 6 Moda 6 Ó minha mãe minha mãe E ó minha mãe minha amada Quem tem uma mãe tem tudo Quem não tem mãe não tem na(da). Quem não tem mãe não tem na(da) E ó minha mãe minha mãe Ó minha mãe minha mãe Ó minha mãe minha ama(da). Passarinho prisioneiro Diz-me lá quem te prendeu Pela minha liberdade Eu cantando peço a Deus. Eu cantando peço a Deus Que livre do cativeiro Diz-me lá quem te prendeu Passarinho prisioneiro. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 209 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 7 Moda 7 Ó minha mãe minha mãe Ó minha mãe minha amada Quem tem uma mãe tem tudo E ó meu lind’ amor Quem não tem mãe não tem nada. Quem não tem mãe não tem nada Ó minha mãe minha mãe Ó minha mãe minha mãe E ó meu lind’ amor Ó minha mãe minha ama(da). Não quero que vás à monda Nem à ribeira lavar Quero que fiques em casa E ó meu lind’ amor Para à noite namorar. Para à noite namorar Hás-de ser minha madrinha Não quero que vás à monda E ó meu lind’ amor Nem à ribeira sozi(nha). FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 210 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 8 Moda 8 Anda lá para diante Que eu atrás de ti não vou Não me quedo o coração Amar a quem me deixou. Maria pega na carta Toma sentido ó filha Vai levála e ò correio Que lhe ponh’ uma ‘stampilha. ‘Stampilh’ uma ‘stampilha A paixão nasce de o peito E uma paixão rigorosa Todos nós ‘stamos sujeitos. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 211 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 9 Moda 9 Duas noites há no ano Que me alegr’ o coração É e a noite de Natal E a noite de S. João. E a noite de S. João Duas noites há no ano Duas noites há no ano Que me alegr’ o coração. Ao romper da bela aurora O campo é um jardim Cantam lindos passarinhos Na rama do alecrim. Na rama do alecrim Ouvi eu há meia hora E os passarinhos dizerem Já lá em rompendo a aurora. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 212 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 10 Moda 10 Vou-me embora vou-me embora Não me vou embora não Meu lírio roxo Não me vou embora mão. Antes que eu memvá embora Cá fica meu coração Me lírio roxo Cá fica meu coração. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 213 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 11 Os Reis Esta cas’ é gente nobre Se ‘scutarem eu direi Ao romper do Oriente São chegados os três Reis. Lá da terr’ estão chegando Lá das ilhas de Belém Vêm visitar Deus-Menino Que a Nossa Senhora tem. Nossa Senhora nos disse Filho meu que te farei Não tenho cama nem berço E em meus braços deitarei. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 214 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 12 As Janeiras Esta noit’ é de Janeiras É de grande mer’cimento Por ser a noit’ a primeira É que Deus passou tormento. Os tormentos que passou Eu lhes digo na verda(de) O seu sangue derramou Pra salvar a cristandade. Ó raminho dai raminho De o raminho de salsa crua O raminho de salsa crua Lá ao pé da sua cama Nasce o sol e põe-se a çua Nasce o sol e põe-se a lua. Daqui donde eu ‘stou bem vejo E um canivet’ a bailar Um canivet’ a bailar Para cortar a choriça Que a senhora me há-de dar Que a senhora me há-de dar. FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 215 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 OS GRUPOS CORAIS GRUPO CORAL «GUADIANA»DE MÉRTOLA FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 216 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 GRUPO CORAL DA MINA DE SÃO DOMINGOS – VER NOMES E FOTO FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 217 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 GRUPO CORAL DOS AMIGOS DA MINA DE SÃO DOMINGOS EM SACAVÉM FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 218 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... ALGUMAS PEDRAS QUE FALAM... talvez um pouco mais que OUTRAS... Fotos recolhidas in CD PORTFOLIO – MÉRTOLA VILA MUSEU - Fig 1 - ESTA TORRE MANDOU FAZER DOM JOÃO FERNANDES PRIMEIRO MESTRE QUE HOUVE EM PORTUGAL ERA DE 1330 0U SEJA 1292 Fig. 2 - Em destaque o símbolo dos Templários e no cruzeiro a palavra "OBLATVS" part. de offero - apresentar - expor - oferecer... Incricção em redor da base da Cruz: «OBLATVS EST QUIA IPSE VOLUIT ...» Vide Antifona da Feria V in Coena Domini - (in LIBER USUALIS MISSAE ET OFFICII PRO DOMINICIS ET FESTIS CUM CANTU GREGORIANO EX EDITIONE VATICANA... Typis Societatis S. Joannis Evangelistae - Desclée & Socii - S. Sedis Apostolicae et Sacrorum Rituum Congregationis Typographi - Parisiis, Tornaci, Romae - 1950 - p. 651) «Oblatus est, quia ipse voluit, et peccata nostra ipse portavit.» - «Foi oferecido, porque Ele próprio o quis, e Ele carregou com os nossos pecados.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 219 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Fig. 3 - «As suas cinco naves são cobertas por um belo reticulado de abóbadas» Fig. 4 - «Dos poucos elementos da Antiga Mesquita restam dois capitéis reutilizados na reconstrução do século XVI» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 220 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Fig. 5 - Porta da Igreja que segue o modelo do Renascimento Italiano Fig. 6 - «Esta peça excepcional, fabricada no século XI, na antiga Tunísia, mostra, em traços rápidos, uma cena de caça, em que um corso é atacado por um galgo e um falcão» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 221 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Fig 7 - «Os motivos decorativos animais ou vegetais passam a geométricos ou epigráficos.» Fig. 8 - Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas: «ANTÓNIA ... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 222 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Fig. 9 - FESTELUS... Fig. 10 Amanda... FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 223 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Fig 11 - SÃO HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO CORO DA IGREJA Fig. 14 - «Lápida com uma escrita, ainda hoje por decifrar, gravada em caracteres greco-púnicos.» FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 224 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ÍNDICE A Tradição Oral na Identidade de um Povo ..........................................................................................................2 Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO ORAL na Identidade de um Povo: ................................ 5 ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS ........................................................................................ 6 0. – INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 7 1. FALAM OS MESTRES ......................................................................................................................... 9 1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de Colonização... ...........................................................16 2. - Mértola – os Nomes ...............................................................................................................................20 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME.............................................................................20 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina ..............................................................................20 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina ..............................................................................21 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... .......................................................22 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... ........................................................24 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... ................................26 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... ..............................................................................27 PEIXES ...........................................................................................................................................28 AVES...............................................................................................................................................30 Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto sobre as AVES..................................................31 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... ..............................................................32 Saudações, formas de tratamento... ..............................................................................................................32 3. – Outras Formas de Expressão.................................................................................................................36 3.1 – LENDA/s.............................................................................................................................................37 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina....................................................................................................................42 3.2 – CONTO/s ............................................................................................................................................44 3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem:- Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... ..47 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... .......................................................................50 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS .............................................................................................................55 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... ......................................................................58 Conclusão ...................................................................................................................................................61 BIBLIOGRAFIA ..........................................................................................................................................62 BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso Brasileira de Cultura – in Mértola: ........................................62 BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos da Tradição Oral – Literatura Popular e Informação complementar, como alguns dados sobre a MITOLOGIA GRECO LATINA: ..........................................................64 BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas e Outras Publicações Periódicas .........................................66 BIBLIOGRAFIA - 4. Artigos do Professor in Vilas e Cidades 68 MULTIMEDIA: ....................................................................................................................................................68 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 225 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANEXOS - COLECTÂNEA DE TEXTOS Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS ANEXOS de A Tradição Oral na Identidade de um Povo ........................ 69 PLANO DA COLECTÂNEA DE TEXTOS & RECOLHAS – ANEXOS Esquema paralelo ao da apresentação do trabalho..........................................................................................................................................................70 ANX. 1. – FALAM OS MESTRES – .................................................................................................................71 ANX. 1.1 – Mértola no Espaço – ALENTEJO com marcas de Colonização... ...................................................78 ANX. 2. - Mértola – a NOMINALIA ou a festa dos Nomes ...............................................................................81 ANX. 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME.......................................................................82 ANX. 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina ......................................................................86 ANX. 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... .................................................88 Mértola tem nove freguesias – os LUGARES E RUAS...: .................................................................................90 ANX. 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... ..................................................97 NOMINÁLIA – APELIDOS – uma AMOSTRA dos mais repetidos e alguns raros .............................................98 ANX 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... ....................................................................... 103 ANX. 3. – Outras Formas de Expressão ........................................................................................................ 117 ANX. 3.1 – LENDA/s..................................................................................................................................... 118 LENDAS 3.1 - 1 – SERPÍNEA e MIRTILIS .......................................................................................................... 118 ANEXO 3.1 – 2 - LENDA – A LENDA DE SERPÍNEA ......................................................................................... 120 ANEXO 3.1 – 3 – SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA ................................................................................ 122 ANEXO 3.1 – 4 – SERPA EN/CANTADA EM LENDAS ....................................................................................... 131 ANEXO 3.1 – 5 – A LENDA DE MYRTILIS em honra da Deusa MIRTO que o teve de Mercúrio .......................... 132 ANEXO 3.1 – 6 - LENDA – A TESOURINHA DA MOURA .................................................................................. 138 ANX. 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina – LENDA/s ......................................................................................... 140 MÉRTOLA – Alguns dados sobre MITOLOGIA GRECOROMANA ...................................................................... 141 ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 165 CONTO 1 – A COMADRE MORTE..................................................................................................................... 165 ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 167 CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA............................................................................................... 167 ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 168 CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR....................................................................................... 168 ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 173 CONTO 4 – BOA RESPOSTA ............................................................................................................................. 173 ANX. 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... .......................... 175 ANEDOTAS – Vide A. Machado Guerreiro e AlentejANEDOTAS in www.joraga.net ........................................... 175 ANX. 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... ............................................................... 178 ANX. 3.4 – 1 - QUADRAS & CANTIGAS in Pereira – Cantigas e Quadras – o que podem exprimir. ................... 178 ANX. 3.4 – 2 - QUADRAS & CANTIGAS in Delgado - QUADRAS...................................................................... 179 ANX. 3.4 – 3 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – QUADRAS – volume I ................................................ 183 ANX. 3.4 – 4 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – QUADRAS – volume II ............................................... 185 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 226 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 ANX. 3.4 – 5 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – CANTIGAS – volume II .............................................. 187 ANX. 3.4 – 6 - QUADRAS & CANTIGAS in Delgado - JANEIRAS ...................................................................... 190 ANX. 3.4 – 7 - ORAÇÃO ..................................................................................................................................... 191 ANX. 3.4 – 8 – ORAÇÕES:Ver as referidas no RITUAL DO PÃO - ANX 2.6: 192 ANX. 3.4 – 9 - ORAÇÃO DAS ALMAS in J. Leite de Vasconcellos –Orações in ROMANCEIRO ......................... 192 ANX. 3.4 – 10 A – DÉCIMAS in J. LEITE V. – MINEIRO TRAJA BEM ............................................................... 193 ANX. 3.4 – 10 B – DÉCIMAS in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - I........................................ 194 ANX. 3.4 – 10 C – DÉCIMAS in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - II ...................................... 195 ANX. 3.4 – 10 D.1 – DÉCIMAS de Manuel Guerreiro Martins (Mina de S. Domingos) ........................................ 196 ANX. 3.4 – 10 D.2 – DÉCIMAS de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da Serra) .............................................. 197 ANX. 3.4 – 11 A – RIMANCE in Delgado – LAURA LINDA................................................................................ 198 ANX. 3.4 – 11 B – RIMANCE in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA ............................................................... 199 ANX. 3.4 – 12 – OS ÚLTIMOS SÃO OS PRIMEIROS .......................................................................................... 200 ANX. 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS MODAS ...................................................................................... 201 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – Teoria Lopes Graça sobre a canção Alentejana:.............................................. 202 ANX. 3.5– MODAS – CANTE – Teoria In MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS: .................... 203 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 1 1ª Moda – O Meu Anel: ................................................................................ 204 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 2 Moda 2 ......................................................................................................... 205 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 3 Moda 3 ......................................................................................................... 206 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 4 Moda 4 ......................................................................................................... 207 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 5 Moda 5 ......................................................................................................... 208 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 6 Moda 6 ......................................................................................................... 209 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 7 Moda 7 ......................................................................................................... 210 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 8 Moda 8 ......................................................................................................... 211 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 9 Moda 9 ......................................................................................................... 212 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 10 Moda 10...................................................................................................... 213 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 11 Os Reis ....................................................................................................... 214 ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 12 As Janeiras ................................................................................................. 215 OS GRUPOS CORAIS .................................................................................................................................. 216 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... ............................................................................. 219 FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 227 ESE JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003 Placa de estrada, na Feira de Castro Verde a indicar a ENCRUZILHADA de gentes e produtos... Mértola o «esporão rochoso» que se ergue «entre-ambas-as-águas» e pode evocar NOMES e Figuras da MITOLOGIA greco-romana... FIM Da Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS ANEXOS de A Tradição Oral na Identidade de um Povo Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58 ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO Jean Piaget – Almada Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico Professor: Dr. Francisco Jacinto FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto 228