Animação Sociocultural
Módulo 1- Origens da ASC
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Módulo 1:
Origens da ASC
Ano Lectivo: 2009/2010
Docente: Marina Maltez
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Animação Sociocultural
Módulo 1- Origens da ASC
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Índice
Índice ............................................................................................................................. 2
Apresentação do Módulo ...................................................................................... 3
Objectivos Gerais de Aprendizagem: ........................................................................ 3
Parâmetros de Avaliação: ................................................. Erro! Marcador não definido.
As circunstâncias históricas, sociais, económicas e culturais que suscitaram o
aparecimento da ASC ...................................................................................................... 4
O conceito de ASC: variadas definições ......................................................................... 7
A emergência da ASC em Portugal .................................................................. 9
Etapas do aparecimento da ASC em Portugal:................................................... 11
A existência de problemas em estratos sociais não favorecidos e a necessidade de
técnicos especializados .................................................................................................. 16
A conjuntura actual: ...................................................................................................... 17
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Apresentação do Módulo
Este módulo inicial da disciplina visa proporcionar ao aluno um
primeiro contacto com a Animação Sociocultural (ASC), e as suas
dimensões teóricas, mais concretamente no que diz respeito às razões
que levaram ao seu aparecimento.
Pretende-se ainda que o aluno compreenda a evolução histórica
deste conceito, tendo em conta as mutações sociais e a necessidade
desta prática se adaptar às novas e crescente necessidades das
diferentes comunidades.
Objectivos Gerais de Aprendizagem:

Analisar as circunstâncias que levaram ao aparecimento da ASC;

Tomar conhecimento do conceito de ASC;

Reconhecer a emergência tardia da ASC em Portugal;

Estabelecer
as
diferenças
entre
democracia
cultural
e
democratização cultural;

Reconhecer
e
compreender
o
papel/perfil
do
Animador
Sociocultural.
NOTA: Os apontamentos que se apresentam de seguida assumem-se como linhas
orientadoras, pontos de reflexão que não dispensam pesquisa e uma posterior análise
mais profunda de todos os conteúdos.
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As circunstâncias históricas, sociais, económicas e culturais
que suscitaram o aparecimento da ASC
Nos finais do século XIX, um acontecimento revoluciona as
sociedades e transforma hábitos e rotinas. A Revolução Industrial e a
mecanização do trabalho libertam o Homem mas também o confrontam
com uma questão preocupante: que fazer com os tempos livres?
Na verdade, a diminuição das horas de trabalho causadas pela
introdução das máquinas, libertou o Homem mas colocou-o perante
uma realidade até então desconhecida: a existência de horas que não
estavam preenchidas por um horário laboral. O tempo incluía agora,
para além do trabalho e do descanso, uma faixa de horas
desocupadas.
De facto, a definição de ASC está intimamente relacionada com
a questão dos tempos livres, só possíveis num sociedade em que o
Homem está mais liberto devido à mecanização do trabalho.
A verdade, é que a ASC surge numa sociedade em constante
mutação e carente de respostas:
“A ASC como prática social crítica
aparece num contexto económico, cultural,
político e educativo que favorece a sua
implementação. A ASC é uma das respostas
para os problemas colocados pelos novos
contextos que mudam e transformam a
sociedade pós-industrial.”
Ucar, 1992
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São sobretudo três os factores que justificam o aparecimento da
ASC:
A) Factores Sociais e Económicos:
O aparecimento da sociedade industrial traz
consigo exigências sociais. Destaca-se o fenómeno
da
urbanização.
Na
verdade,
muitas
pessoas
abandonaram os campos indo para as cidades em
busca de uma melhor qualidade de vida. O trabalho
fabril prometia essa melhoria e em redor das fábricas, as cidades
foram crescendo de forma desorganizada.
De facto, o crescimento da população urbana colocou graves
problemas como a marginalidade, a mendicidade.
B) Factores Culturais:
A cultura torna-se uma conquista que passa a estar ao
alcance de todos. Se até aqui pertencia a uma elite reduzida, agora a
cultura democratiza-se.
Nesta altura surgem grupos, associações que se encarregam
de fazer essa difusão cultural:
“Assiste-se
a
um
aparecimento
importante de grupos e associações que
têm como objectivo ocupar o tempo livre,
que será o tempo por excelência da
Animação Sociocultural.”
Besnard, 1991
A cultura surge então, pela primeira vez, como um bem de
consumo que se coloca ao alcance de todos.
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“É
modelos
necessário
e
encontrar
dinâmicas
novos
culturais
que
favoreçam a participação, aumentem a
solidariedade e permitam novas formas de
expressão e de diálogo, onde a iniciativa
pessoal e grupal seja considerada como a
base de uma cultura mais popular e
democrática.
Esta
nova
orientação
da
cultura inspira a ASC que surge como
resposta a uma crise social.”
Placer, 1992
C) Factores Educativos:
A evolução constante de conhecimentos tem influência na
nova configuração dos currículos escolares. Educação já não é
sinónimo de escolarização.
Assim surge o conceito de Educação Permanente, que
defende que a educação existe, ocorre durante toda a vida e não
apenas na infância e em contexto escolar.
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O conceito de ASC: variadas definições
Quando se trata de identificar as razões que levaram ao
aparecimento da ASC, há consenso entre os autores: a mudança da
própria sociedade, as novas necessidades desta são motivos que
justificam o aparecimento de uma nova forma de intervenção social.
Contudo, quando se procura uma definição do termo encontra-se
um leque variado. Ainda assim, as semelhanças são evidentes e os
pontos comuns também.
Há autores que se debruçam sobre o aparecimento da ASC:
Como consequência das exigências criadas pelas mudanças
permanentes da sociedade moderna, a ASC aparece como um fenómeno
essencial (…) renovando as atitudes que permitem a adaptação e a
autonomia; a ASC é a resposta social que o sistema põe à disposição
para certas necessidades específicas…
PIERRE BESNARD
O aparecimento da ASC responde a uma reacção frente ao carácter
inaceitável de uma cultura cuja produção e transmissão estavam
reservados a uma minoria privilegiada intelectual e economicamente, e a
um projecto que procurava que os cidadãos interviessem directamente
numa cultura por eles vivida diariamente e em que participam.
JOSÉ MARIA QUINTANA
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Outros procuram encontrar uma definição para o conceito em si:
A ASC é um conjunto de práticas sociais que têm como finalidade
estimular a iniciativa e a participação das comunidades no processo do
seu próprio desenvolvimento e na dinâmica da vida sociopolítica em que
estão integradas.
UNESCO
É um modelo de intervenção dirigido a desenvolver processos
autoorganizativos individuais e colectivos de carácter social, cultural e
educativo, através de uma metodologia activa, criativa e participativa.
VÍTOR VENTOSA
A ASC é uma metodologia de intervenção que trabalha sobre a
cultura, a organização das pessoas, os projectos e iniciativas e o
desenvolvimento social.
CEMBRANOS
A verdade é que, apesar de distintas, estas definições não se
anulam. Pelo contrário, confirmam-se e completam-se, indicandonos um conceito que lentamente se afirma apesar doa ajustes
provocados pela constante evolução social.
Assim, podemos entender a ASC como uma tecnologia social,
com o fim máximo de satisfazer necessidades sociais. De
envolver o indivíduo no seu desenvolvimento pessoal e grupal,
recorrendo para isso a técnicas específicas.
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A emergência da ASC em Portugal
Antecedentes da ASC em Portugal
Por antecedentes de Animação entendemos qualquer acção, com dimensões
social, cultural e educativa, que tenha por objectivo dinamizar programas junto das
populações.
Deve existir uma íntima relação do plano educativo com o social, uma vez que
a educação é condicionada e condiciona a sociedade e também porque o acto de
educar constitui um instrumento quer de reprodução quer de transformação da
sociedade. É nesta interacção entre sociedade e educação que o acto de animar pode
e deve gerar processos de participação das comunidades e das pessoas.
O nosso entendimento de ASC coincide com uma concepção definida pela
UNESCO (1997), que a toma por um conjunto de práticas sociais que visam
estimular a iniciativa e a participação das populações no processo do seu próprio
desenvolvimento e na dinâmica global da vida sócio-política em que estão integradas.
(…)
Estes princípios que definem o conceito e o âmbito contemporâneo da ASC,
não encontram qualquer ressonância no Portugal do século XIX, princípios do
século XX. Todavia, encontrámos programas, acções, actividades e motivações nos
campos social, cultural e educativo, que visaram consciencializar, alfabetizar, educar,
animar, os cidadãos, com o intuito de promover neles a capacidade de participarem,
de se assumirem como sujeitos críticos e actores das suas próprias mudanças sociais,
políticas, culturais e económicas.
Marcelino de Sousa Lopes, 2006
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Falar de ASC em Portugal é falar de um arranque tardio. De facto,
condicionantes políticas, históricas e sociais determinaram que no
nosso país houvesse um despontar interrompido e posteriormente
um novo arranque. Tal como vimos pelo excerto anterior, nos inícios
do século XX ainda não encontrávamos acções de ASC. Existiam
sim, medidas tomadas pelo governo vigente mas que não assentavam
na adesão voluntária, condição essencial para que se fale de ASC.
De seguida, serão apresentadas as etapas que marcam o
despontar da ASC em Portugal.
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Etapas do aparecimento da ASC em Portugal:
1ª República:
Durante a primeira república já se encontram sinais de ASC no
programa educativo deste regime:
“Sente-se
que
durante
toda
a
1ª
república, uma atitude generosa e romântica,
talvez utópica, esteve presente em muitas
decisões. A aposta a nível pelo menos do
discurso, na dignificação do Homem e na
sua promoção moral e social através da
educação
manifestou-se
situações.
Por
isso,
em
o
inúmeras
combate
ao
analfabetismo, a difusão da cultura popular
e
o
empenhamento
na
educação
transformaram-se numa bandeira que uniu
na actuação muitos republicanos.”
Cortesão, 1981
A criação de bibliotecas itinerantes, universidades
livres e populares (que visavam promover uma
Ilustração 1:
Biblioteca
Itinerante
formação educativa não formal, enquadrada numa
metodologia de intervenção similar à da ASC) são
algumas das iniciativas que anunciavam o aparecimento da ASC em
Portugal.
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Estado Novo:
É frequente referir-se este período como sendo de desânimo no
que concerne à ASC.
A cultura e as artes eram promovidas e exibidas para distrair o
povo e não para o consciencializar e libertar.
Os meios de Animação estavam ao serviço de uma estratégia
política de doutrinação colectiva nos valores ideológicos do regime,
os fins em vista recorriam a meios de entretenimento público e não
propriamente a uma Animação que visasse a participação, a
autonomia e a auto-organização.
Actividades:
-colónias de férias;
-passeios e excursões;
-demonstrações desportivas;
-conferências;
-teatro do trabalhador;
-sessões de cinema
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Ilustração 2:
Colónia de Férias
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Primavera Marcelista:
O início da década de 70, em Portugal, é marcado pela esperança
depositada na abertura do regime político
“A política cultural a prosseguir pelo
governo, tendo por objectivo fundamental
garantir aos portugueses o acesso aos
benefícios
da
cultura,
incidirá
sobre
a
pesquisa, a descoberta, a conservação e a
inventariação do património cultural, nos
seus aspectos materiais, institucionais e
humanos na medida em que são pontos de
partida para a dinamização de actividade,
da criatividade e da receptividade culturais
(…).”
(Decreto-Lei, n.º 582 de 5 de Novembro de
1973)
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É muito difícil datar com precisão o aparecimento da ASC em
Portugal, mas há autores que referem:
“Em termos de dimensão massiva está
ligada ao 25 de Abril. Mas há experiências
anteriores. Do meu ponto de vista, as
experiências
fundadoras
da
aplicação
deste método são experiências que datam
dos fins dos anos 50 e princípios dos anos
60, e foram conduzidas pelo movimento
católico GRAAL, que usaram já processos
modernos de alfabetização da população.
Contudo, a Animação Sociocultural, com
dimensão e impacto público, só aparece
com o 25 de Abril.”
Augusto Santos Silva (ex- Ministro da
Cultura, docente universitário)
“As coisas em Portugal começam a mexer
a partir dos anos 70. Agora nada era
legitimado, eram acções clandestinas. O seu
reconhecimento e a sua legitimidade são
conferidos pelo 25 de Abril, que constitui o
marco fundamental para a legitimidade do
discurso da animação.”
Catarina Vaz Pinto (docente universitária,
animadora do Centro de Arte Moderna da
Fundação Calouste Gulbenkian)
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A verdade é que durante décadas no nosso país a ASC
sobreviveu graças ao voluntariado, uma vez que só na década de 80
se regulamentou a necessidade de formar animadores.
Mas há que reconhecer que na nossa história encontramos
dirigentes, professores, padres que agiram como animadores e que
voluntariamente promoveram acções de ASC.
Gradualmente, foi-se inculcando a ideia de que era necessário
formar adequadamente os animadores, necessidade aliás muito
comum em profissões de carácter social, nomeadamente a de
técnicos de apoio psicossocial.
O saber-fazer passa a impor-se ainda que mesmo actualmente
ainda existam muitos animadores voluntários. De facto, o que
distingue a nova geração de animadores é precisamente a sua
formação técnica adequada e actual, em sintonia com as crescentes
e novas necessidades sociais.
NOTA:
Apesar de actualmente haver já cursos profissionais e superiores
das áreas acima referidas, estes técnicos ainda se debatem com um
problema: a ausência de um estatuto específico, de uma profissão
reconhecida, sobretudo pelas instituições que nem sempre apresentam
estes técnicos no seu quadro.
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A existência de problemas em estratos sociais não favorecidos
e a necessidade de técnicos especializados
Tal como já vimos anteriormente, a ASC enquanto prática social
interventiva surge intimamente relacionada com o aparecimento de
problemas sociais como o alcoolismo, a criminalidade, a prostituição,
que por sua vez foram desencadeados pelo aumento rápido da taxa de
desemprego.
Educar estas franjas sociais para as preparar capazmente para
uma reinserção na sociedade activa não era tarefa fácil, sobretudo se
tivermos em conta que a maioria das pessoas responsáveis por esse
processo eram voluntária, logo não tinham formação técnica adequada.
Assim, surge uma cada vez mais vincada necessidade de formar
técnicos especializados.
É que as novas profissões de cariz social implicam por parte dos
técnicos
competências
e
valores
sem
os
quais
não
poderiam
efectivamente exercer capazmente as suas funções e que se centram,
acima de tudo, na dimensão do ser:

Ter sentido de responsabilidade, empenhar-se fortemente,
possuir maturidade elevada;

Ser dinâmico e entusiasta, entusiasmar o grupo com o seu
espírito, acreditar naquilo que faz;

Ter uma personalidade forte, ser alguém que num contacto
não passe indiferente;

Inspirar confiança, ser honesto, recto e leal;

Ter capacidade de iniciativa, ter ideias, imaginação e
audácia;

Ter capacidade de organização e gestão;
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
Ser aberto, acolhedor, de ideias largas e saber aceitar a
diferença;

Dar ânimo ao grupo;

Ser objectivo, realista e distinguir o essencial do acessório.
A conjuntura actual:
Se analisarmos a conjuntura em que vivemos, facilmente
reparamos que os problemas sociais se mantêm e até se agravam, como
o alcoolismo, a toxicodependência, o elevado insucesso escolar, a
criminalidade, entre outros. Assim, urge implementar medidas que
passam também pelo trabalho de técnicos de apoio psicossocial com
estes grupos de risco.
Na verdade, a aplicação de medidas em contextos não-formais é
cada vez mais necessária para que se possam recuperar estes grupos e
reinseri-los eficazmente nos contextos sociais de onde se desviam.
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Bibliografia
LOPES, Marcelino de Sousa (2006), História da ASC em Portugal, Amarante,
Editora AVE
www.anasc.pt
www.apdasc.pt
www.animacaosociocultural.pt
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