16 1 INTRODUÇÃO O setor de serviços tem crescido enormemente e alcançou uma posição importante na economia de diversos países. Esse setor é constituído por um grande número de ramos de atividade (ex: financeiro, transporte, seguro e telecomunicação), emprega uma quantidade significativa de mão-de-obra e absorve uma parcela expressiva dos gastos anuais de consumidores e organizações. No entanto, o setor tem passado por transformações importantes (ex: privatização, avanço da tecnologia, crescimento das franquias e internacionalização), carece de modelo diferenciado de gestão das organizações e demanda por ferramentas, estratégias e ações inovadoras. O marketing desempenha um papel importante, amplo e complexo nas organizações de serviços. Ele é responsável por funções externas (geração de promessas), internas (viabilização de promessas) e interativas (cumprimento de promessas) e tem papel necessário na melhoria da satisfação dos clientes, do relacionamento com o mercado, da qualidade e produtividade dos serviços e da lucratividade da organização. Entretanto, o marketing de serviços é relativamente novo como campo de estudo, requer uma forma diferenciada de implementação de estratégias e carece ainda de estudos e publicações especializados. As estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca são fundamentais para as organizações de serviços. Elas determinam as ações de marketing a serem implementadas, a eficácia dos programas elaborados e a capacidade da organização de consecução dos objetivos de marketing pretendidos. Nas organizações de serviços, a complexidade dessas estratégias é maior, pois os clientes têm características diversificadas, o serviço é valorizado de modo diferente, o processo de produção-consumo é mais complexo, o mercado de serviços demanda por produtos customizados e o atendimento de necessidades demasiadamente diversificadas é mais difícil. O ramo de agências de comunicação oferece produtos nos quais os elementos intangíveis predominam, onde o serviço é constituído de atividades, desempenhos e/ou processos e onde o relacionamento com clientes é mais contínuo. No Estado de Santa Catarina, o ramo de agências de comunicação tem uma contribuição importante para a economia da região, mas apresenta ainda deficiências na prática de gestão, com problemas na seleção, atendimento e 17 manutenção de clientes, carecendo de pesquisas, estudos e propostas que possibilitem à profissionalização das organizações. A observação dos fatores mencionados levou à realização do presente estudo, cujo problema de pesquisa consiste em: Que estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento são aplicadas pelas organizações de serviços, do ramo de agências de comunicação, do Estado de Santa Catarina? Assim, este estudo tem por objetivo geral conhecer a prática de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca ou serviços de organizações de serviços. Os objetivos específicos estabelecidos são: identificar as estratégias recomendadas de segmentação, diferenciação e posicionamento por autores, pesquisadores e especialistas em marketing para as organizações de serviços; identificar a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento de agências de comunicação; apontar ações de melhorias para a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento das agências de comunicação estudadas. O trabalho está estruturado em seis capítulos, organizados de forma a possibilitar a leitura e o entendimento do estudo, quais sejam: introdução; justificativas e importância do estudo; fundamentação teórica; aspectos metodológicos da pesquisa de campo; apresentação e análise dos resultados; considerações finais, recomendações, contribuições, limitações e sugestões de estudos. A “Introdução” apresenta a visão geral dos fatores que levaram à realização do estudo, os objetivos gerais e específicos estabelecidos e a forma como o trabalho está organizado em capítulos. Em “Justificativas e importância do estudo” está a exposição detalhada das razões principais de ordem teórica, prática e técnica que justificaram a delimitação do campo de estudo e que evidenciaram a importância da realização deste trabalho. A “Fundamentação teórica” apresenta a revisão da literatura com as recomendações e pesquisas de autores e especialistas na área de marketing de serviços e aborda os seguintes tópicos: caracterização de serviços, do mercado de serviços e do ramo de agências de 18 comunicação; fundamentos e premissas do marketing de serviços; estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento para serviços. Em “Aspectos metodológicos da pesquisa de campo” encontra-se as decisões e procedimentos metodológicos adotados no planejamento e na implementação da pesquisa empírica realizada e se expõe sobre problema, objetivos, questões gerais, fontes de dados, variáveis, método de coleta, população, processo de amostragem, sistemática de verificação e procedimentos de análise dos dados. Em “Apresentação e análise dos resultados” estão em detalhes os resultados e as análises dos dados coletados na pesquisa empírica realizada junto às agências de comunicação do Estado de Santa Catarina e são tratados assuntos como mercado-alvo, estratégia de abordagem de mercado, processo de segmentação, estratégias de diferenciação competitiva e posicionamento de marca ou serviços. Em “Considerações finais, recomendações, contribuições, limitações e sugestões de estudos” encontra-se a síntese dos resultados e das análises da pesquisa empírica realizada junto às agências de comunicação, as recomendações de melhorias para a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento das agências estudadas, as contribuições do estudo para a academia, os tipos principais de limitações do estudo e as sugestões apontadas para pesquisas futuras. 19 2 JUSTIFICATIVAS E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO O presente trabalho tem como campo de estudo a segmentação de mercado, diferenciação competitiva e o posicionamento de marca ou serviços de agências de comunicação do estado de Santa Catarina. As razões principais de ordem teórica, prática e técnica que justificam a delimitação desse campo e que evidenciam a importância da realização desse estudo são apresentadas a seguir. 2.1 Razões de ordem teórica As razões de ordem teórica estão relacionadas aos aspectos acadêmicos. As justificativas principais são: marketing de serviços como campo de estudo é relativamente novo; disponibilidade de publicações e pesquisas sobre o assunto é limitada; marketing de serviços tem uma abordagem diferente do marketing de bens; tecnologias recentes demandam por técnicas e conceitos novos no setor de serviços. Abaixo, cada uma dessas justificativas é detalhada. O marketing de serviços como campo de estudo é relativamente novo. O estudo efetivo das organizações de serviços no ambiente acadêmico surgiu somente a partir de 1970 (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. xvii). A primeira conferência internacional sobre marketing de serviços ocorreu somente em 1982, nos Estados Unidos (BERRY; PARASURAMAN, 1993, p. 1). Na maioria das escolas de administração do mundo, o ensino sobre a gestão de organizações de serviços se tornou, só recentemente, uma disciplina importante (HOFFMAN et al, 2001, p. 262; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. xvii). A disponibilidade de publicações e pesquisas sobre o assunto é limitada. A despeito do crescimento do setor de serviços, muitos pesquisadores e especialistas em marketing tem investigado pouco os componentes-chave das estratégias de marketing de serviços (BOLTON; MYERS, 2003, p. 108). Os livros e publicações principais continuam a enfatizar as estratégias de marketing tradicionais, apropriadas para bens manufaturados, de aspectos tangíveis (HOFFMAN et al, 2001, p. 262). No Brasil, a literatura sobre marketing de serviços 20 é bastante limitada (LAS CASAS, 2002, p. 11) e a existência de pesquisas e publicações sobre a gestão de marketing em agências de comunicação é também restrita. O marketing de serviços requer uma abordagem diferente do marketing de bens. Um fator responsável pela demora no crescimento do marketing de serviços no ambiente acadêmico foi o entendimento equivocado de que esse não requeria uma abordagem diferente (HOFFMAN et al, 2001, p. 273). Os serviços têm características singulares, como intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade e perecibilidade, e requerem um tratamento gerencial distinto do marketing de bens manufaturados, seja no processo de planejamento, implementação e controle das estratégias de marketing (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. xvii; BERKOWOTZ et al, 2003, p. 63). As tecnologias recentes demandam por técnicas e conceitos novos no setor de serviços. O aperfeiçoamento e surgimento de tecnologias, em particular nas áreas de informações e telecomunicações, têm provocado mudanças nos processos de desenvolvimento, comercialização e distribuição de serviços (ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 34; ROSENBLOOM, 2002, p. 421). Essas mudanças geraram a necessidade de novos serviços, a disponibilidade de venda via canais eletrônicos, a possibilidade de sistemas de autoatendimento, a necessidade de investimento na educação de clientes e a necessidade de aperfeiçoamento dos processos de operações, marketing e recursos humanos. 2.2 Razões de ordem prática As razões práticas deste estudo estão vinculadas aos aspectos do setor e das organizações. As justificativas principais são: importância econômico-social do setor de serviço; características do mercado de serviços; deficiências das organizações de serviços; importância do marketing para as organizações; necessidade de modelo de gestão diferenciado para o setor de serviços; importância dos serviços para as indústrias de manufatura. O setor de serviços tem importância econômico-social inconteste. O setor tem alcançado taxas de crescimento superiores aos demais setores da economia (SPILLER et al, 2004, p. 13); tem participação relativa elevada no Produto Interno Bruto (PIB) de diversos países (Gráfico 1); tem apresentado um crescimento exponencial nos negócios de exportação (BOLTON; 21 MYERS, 2003, p. 108; BRADLEY, 1995); tem ocupado uma posição de destaque no emprego da mão-de-obra (Gráfico 1); absorve uma parcela significativa dos gastos de consumo de consumidores e organizações, com perspectiva de elevação no futuro (ETZEL et al, 2001, p. 522; BOONE; KURTZ, 1998, p. 305); compreende atividades fundamentais para o funcionamento da sociedade e da economia, como transporte, comunicação, segurança, educação, saúde, lazer e comércio (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2000, p. 25). % de participação 100% 80% 60% 40% 20% 0% Alemanha Argentina Participação no PIB Brasil Canada Estados Unidos Japão México Reino Unido Participação na mão-de-obra empregada Gráfico 1 - Importância do setor de serviços FONTE: LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 5; COBRA, 2004, p. 4; HOFFMAN et al, 2001, p. 263. O mercado de serviços tem características peculiares que justificam o presente estudo. Os clientes são mais críticos e exigentes, o que torna mais complicado a obtenção de conhecimento sobre suas necessidades e expectativas (RIBEIRO et al, 1999, p. 32). As entidades e legislações de proteção ao consumidor estão mais presentes e os clientes manifestam mais a solicitação de seus direitos (LAS CASAS, 2002, p. 14). A desregulamentação governamental de industrias (como: companhias aéreas, bancos, telecomunicações e transportes) possibilitou o aparecimento de competidores enxutos, focalizados e agressivos (HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 20). Em algumas áreas, os segmentos de mercado têm sido beneficiados com a introdução de serviços alternativos, mas 22 apresentam sinais de saturação ou crescimento limitado (MCKENNA, 1996; VAVRA, 1993, p. 17). As organizações de serviços apresentam deficiências que afetam os seus resultados e a satisfação dos clientes. Alguns exemplos dessas deficiências são: estrutura de pessoal restrita, informações não disponíveis e conhecimento de marketing limitado (ETZEL et al, 2001, p. 522); entrega de serviços atrasada, pessoal de serviços despreparado, horário de atendimento inconveniente, procedimento de serviços complicado e sistemas de reserva e/ou de espera de clientes deficientes (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 4); qualidade e produtividade insuficientes, necessidade de clientes negligenciada, orientação excessiva para o curto prazo e preocupação excessiva com resultados financeiros (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2000, p. 36). A prática de marketing é importante para as organizações. Conforme Tofler (1990), a valorização das ações de uma organização na bolsa de valores não é motivada pela disponibilidade de ativos (edifícios, máquinas e equipamentos), mas pela competência de marketing, capacidade de geração de receita e pelo poder de mercado. Segundo, as mudanças em andamento no mercado de serviços impõem cada vez mais a necessidade de orientação para o mercado e de aplicação de ferramentas de marketing (BOONE; KURTZ, 1998, p. 298). As características distintivas dos serviços requerem também qualidade nos serviços, comunicação integrada, compatibilização entre oferta e demanda, maximização da satisfação dos clientes, desenvolvimento de serviços inovadores e distribuição consistente dos serviços (ZEITHAML; BITNER, 2003). O setor de serviços demanda por modelo de gestão diferenciado, com características divergentes do modelo industrial. No modelo de gestão industrial, alguns princípios adotados são (SCHLESINGER; HESKETT, 1991; HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 20): investimentos em tecnologias, máquinas e sistemas são mais preferíveis do que em seres humanos; investimentos em gerentes e supervisores são mais necessários do que nos demais funcionários; solução de problemas é de competência exclusiva de gerentes e supervisores; contribuição do pessoal de serviços para os resultados da organização é limitada; custos operacionais devem ser mantidos em níveis baixos. Um modelo de gestão com características como essas não é adequado para o setor de serviços. 23 Os serviços desempenham papel importante nas indústrias de manufatura. Os fabricantes executam atividades de serviços que contribuem para os resultados da organização, tais como: desenvolvimento de produtos, financiamento de clientes, controle de qualidade, cobrança, comercialização, atendimento, logística, treinamento de pessoal e faturamento (GRÖNROOS, 2003, p. 12). As empresas de manufatura utilizam o serviço como elemento importante para as estratégias de diferenciação e para a obtenção de vantagens competitivas (HOFFMAN et al, 2001, p. 264). Alguns fabricantes comercializam serviços de suporte, como forma de compensar as margens (lucro) reduzidas dos bens manufaturados (KOTLER, 2000, p. 450). Essas empresas têm utilizado o serviço como estratégia para a obtenção de crescimento de vendas (HUTT; SPEH, 2002, p. 280). 2.3 Razões de ordem técnica As razões de ordem técnica estão relacionadas aos aspectos de operacionalização do estudo. As justificativas principais são: conhecimento e familiaridade do pesquisador com a indústria de agências de comunicação; interesse de estudantes e escolas de administração da região pelo assunto; critérios adotados para a escolha da indústria objeto de estudo; enfoque delimitante do estudo para as estratégias de marketing; critérios utilizados na escolha do estado de Santa Catarina. A familiaridade do pesquisador favorece a escolha das agências de comunicação como objeto deste estudo. O pesquisador tem atuado por muitos anos como executivo e consultor de marketing para diferentes organizações na região sul do Brasil e mantém contatos freqüentes com fornecedores e parceiros da indústria da publicidade. Essa familiaridade favorece a realização do estudo, facilitando o acesso às agências, melhorando a execução da coleta de dados e aprimorando o entendimento e a análise dos resultados. Os estudantes e as escolas de administração da região têm interesse pelo assunto do estudo. Instituições de ensino como a UNERJ (Centro Universitário de Jaraguá do Sul) e a FCJ (Faculdade Cenecista de Joinville) manifestaram simpatia e apoio ao trabalho. Estudantes de administração e marketing têm demonstrado curiosidade por estudos sobre o assunto e manifestado pretensões de trabalhar em organizações de serviços. Esse interesse facilita o envolvimento e a obtenção de apoio para o projeto na região. 24 Alguns critérios objetivos basearam a escolha da indústria de agências de comunicação como objeto de estudo. Esses critérios foram: no produto das agências predomina a existência de elementos intangíveis; o usuário desse serviço é destinatário direto e/ou indireto do processo; o serviço possibilita um certo nível de padronização na execução; o serviço apresenta relacionamento contínuo com os clientes; nesse serviço há flutuação (desequilíbrio) freqüente entre a demanda e a oferta; na execução do serviço o contato pessoal com clientes é elevado. O conteúdo deste trabalho está delimitado às estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento. Ele não compreende: estratégias relacionadas ao mix de serviços, de processos, de pessoas, de evidências físicas, de preços, de distribuição/logística e de comunicação/vendas; controle do desempenho de marketing, auditoria de marketing, estrutura organizacional de marketing, comportamento do consumidor de serviços, sistema de informações de marketing, planejamento de marketing, decisões de marketing global, ética na administração de marketing e outras estratégias competitivas. A escolha desse conteúdo se deve a três motivos: as estratégias de marketing são fundamentais para o direcionamento das organizações e para a eficácia do marketing; a experiência do pesquisador revela que as organizações de serviços são deficientes no assunto; esse conteúdo permite ao pesquisador investigar de forma precisa a realidade das organizações objeto de estudo. A escolha do Estado de Santa Catarina como aspecto geográfico delimitante está também baseada em critérios. Os principais são: Estado de tradição industrial, onde a indústria de serviço necessita de estudos dessa natureza; entidades e associações empresariais da região sinalizaram interesse pelo estudo; estado é sede do pesquisador, o que reduz os custos de deslocamento e o tempo de realização da pesquisa; há agências de comunicação no estado que manifestaram abertura e receptividade ao estudo. Por fim, o presente trabalho de pesquisa tem características, como originalidade, relevância, objeto de estudo reconhecível, área de conhecimento carente de avanço e possibilidade de contribuição para as comunidades acadêmica e empresarial. Dessa forma, as razões apresentadas para o estudo justificam a realização e evidenciam a importância. 25 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este estudo tem como tema “marketing em organizações de serviços” e está delimitado às estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento em agências de comunicação. Este capítulo tem o propósito de apresentar a revisão dos conceitos e teorias relacionados aos assuntos do estudo e foi elaborado a partir da visão, experiência e recomendação de inúmeros autores e especialistas na área de marketing de serviços. Nesse sentido, os tópicos principais abordados a seguir são os seguintes: caracterização de serviços, do mercado de serviços e do ramo de agências de comunicação; fundamentos e premissas de marketing de serviços; segmentação de mercado para serviços, diferenciação competitiva para serviços e posicionamento de marca ou serviços. 3.1 Caracterização de serviços, do mercado de serviços e do ramo de agências de comunicação. A caracterização de serviços apresenta a definição de serviço, os tipos de ofertas de produto, as diferenças entre serviços e bens, as características distintivas dos serviços e as formas de classificação dos serviços. A caracterização do mercado de serviços expõe sobre a definição de organização de serviços, a classificação das indústrias de serviços, a situação do setor no Brasil, as características do ambiente competitivo do setor e as transformações em andamento. A caracterização do ramo de agências de comunicação apresenta os componentes da indústria da comunicação, o papel e a estrutura organizacional das agências, a importância da indústria, as transformações e tendências identificadas, a situação dos investimentos publicitários no Brasil e a situação do mercado publicitário catarinense. 3.1.1 Caracterização de serviços A definição de serviço tem sido considerada como difícil e complexa. O termo compreende um conjunto de atividades diversas, de âmbito pessoal, empresarial e governamental, que requer uma definição com significado variado, amplo e extensivo (GRÖNROOS, 2003, p. 26 64). O serviço é intangível, o que torna o seu entendimento nebuloso e a identificação difícil (CLARKE, 2001, p. 17). O serviço é vendido, na maioria das vezes, em conjunto com bens, na forma de serviços de suporte, o que dificulta também a sua distinção e mensuração (ETZEL et al, 2001, p. 523). Dentre as propostas de definição de serviços, quatro se destacam por serem amplas, por apresentarem as características distintivas dos serviços e pela relevância de seus autores. Essas propostas se destacam também porque se completam numa definição mais elaborada de serviço. Para a AMA, American Marketing Association, (2005) serviços são produtos: [...] intangíveis, ou pelo menos o são de forma substancial. Se totalmente intangíveis, são comercializados diretamente do produtor para o usuário, não podendo ser transportados nem armazenados, e são quase instantaneamente perecíveis. Os serviços são freqüentemente difíceis de serem identificados, uma vez que passam a existir ao mesmo tempo em que são comprados e consumidos. São compostos de elementos intangíveis inseparáveis, geralmente envolvem a participação do cliente de alguma maneira importante, não podem ser vendidos no sentido de transferência de propriedade, e não têm direito de posse. Para Lovelock e Wright (2002, p. 5), serviço é “[...] um ato ou desempenho oferecido por uma parte a outra. Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta em propriedade de nenhum dos fatores de produção.” Para Kotler et al (2002, p. 283), serviço “[...] consiste em uma ação, desempenho ou ato que é essencialmente intangível e não acarreta necessariamente a propriedade do que quer que seja. Sua produção pode ou não estar vinculada a um produto físico.” Para Grönroos (2003, p. 65), serviço é: [...] um processo, consistindo em uma série de atividades mais ou menos intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre, ocorrem nas interações entre o cliente e os funcionários de serviço e/ou recursos ou bens físicos e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são fornecidas como solução para problemas do cliente. Diante dessas definições, o serviço pode ser entendido, enquanto produto, como um ato, atividade, ação, esforço, atuação, desempenho ou processo, de natureza predominantemente intangível, que é oferecido à venda, na forma de um pacote de benefícios, sem resultar na propriedade de algo, com o propósito de satisfazer necessidades, e que envolve geralmente algum tipo de interação entre o prestador de serviço e o cliente. 27 A oferta de serviços, denominada também de pacote de serviços, consiste de um conjunto de serviços integrados destinados a satisfazer necessidades específicas de determinado tipo de cliente, constituído de serviço básico e serviços e/ou bens de apoio ao produto (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 90). O serviço básico corresponde ao benefício primário desejado pelo cliente; enquanto os serviços/bens de apoio correspondem aos benefícios adicionais, necessários para atração, utilização e diferenciação do serviço básico. Na oferta de serviços, os benefícios adicionais podem ser apresentados por meio de elementos intangíveis e/ou tangíveis. A figura 1 apresenta um modelo que possibilita o melhor entendimento dos elementos tangíveis e intangíveis envolvidos numa oferta de serviços. Semelhante à molécula, a oferta de serviços é constituída no centro pelo serviço básico, que é dirigido à necessidade primária do cliente, e no entorno por uma série de serviços/bens de apoio. No exemplo de serviços de transporte aéreo, o serviço básico é o transporte; enquanto os serviços/bens de apoio incluem a freqüência do serviço, o atendimento de bordo, os serviços de embarque e desembarque (elementos intangíveis), a aeronave e as refeições servidas (elementos tangíveis). Aviões Automóveis Distribuição Preço Freqüência Freqüência do doserviço serviço Distribuição Preço Opções Opções Veículo Veículo Transporte Transporte Veiculo Veiculo Serviço Serviço de devôo vôo Serviço Serviçopré pré eepós-vôo pós-vôo Alimentos Alimentos eebebidas bebidas Transporte Transporte Posicionamento de marketing (Ponderado em relação à evidência) Posicionamento de mercado (Ponderado em relação à imagem) Legenda Elementos tangíveis Elementos intangíveis Figura 1 – Modelo molecular da oferta de serviços. FONTE: SHOSTACK, 1977, p. 76. 28 O serviço pode ser a parte principal ou não da oferta de produto de uma organização. As possibilidades de ofertas de produto são (KOTLER, 2000, p. 449): oferta de bem tangível – quando a oferta consiste essencialmente de um bem tangível, acompanhado com nenhum tipo de serviço; oferta de bem tangível associada com serviço – quando a oferta consiste de um bem tangível, acompanhado de um ou mais serviços suplementares; oferta híbrida – quando a oferta apresenta equilibradamente bens e serviços; oferta de serviço principal associada com bens ou outros serviços – quando a oferta consiste de um serviço principal, acompanhado com serviços e/ou bens suplementares; oferta de serviço puro – quando a oferta consiste essencialmente de um serviço. A distinção entre bens e serviços nem sempre é clara e a identificação de um bem ou serviço puro está cada vez mais difícil. A maioria das ofertas de bens oferece algum tipo de serviço de suporte e grande parte das ofertas de serviços oferece também algum bem de apoio. A Figura 2 fornece uma ferramenta útil para distinção entre bens e serviços. A escala apresenta uma gama de produtos distribuídos segundo o critério da tangibilidade. Do lado esquerdo estão os bens, que apresentam dominância do tangível (sal e refrigerantes) e do lado direito estão os serviços, que apresentam dominância do intangível (ensino e consultoria). A figura mostra a existência de poucos bens ou serviços efetivamente puros, sugerindo que a maioria das ofertas de produto contém uma combinação de elementos tangíveis e intangíveis. A distinção entre bens e serviços pode ser também analisada com base nos atributos existentes. Os produtos podem ser classificados em (HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 103): atributos de pesquisa – aqueles que podem ser identificados antes da compra, como preço, dimensão, aroma e cor; atributos de experiência – aqueles que podem ser identificados somente durante ou após o consumo, como qualidade do atendimento e cumprimento de promessas; atributo de crença – aqueles que não podem ser avaliados com segurança nem mesmo depois do consumo, como eficiência no serviço de cirurgia médica e confiança no serviço de advocacia. 29 Sal Refrigerante Detergente Automóvel Cosmético Loja de fast-food Dominância do intangível Dominância do tangível Loja de fast-food Agência de propaganda Companhia aérea Administração de investimento Consultoria Ensino Figura 2 - Espectro da tangibilidade FONTE SHOSTACK, 1977, p. 77. Ao contrário dos bens, os serviços têm pouco atributo de pesquisa e muito atributo de experiência, o que torna a identificação, pesquisa e avaliação objetiva possível somente durante e/ou após a experimentação. Alguns serviços têm propriedades que não podem ser avaliadas com segurança nem mesmo depois do consumo, em função da falta de conhecimento especializado dos consumidores. Em verdade, um produto deve ser denominado como bem ou serviço em função da percepção dos clientes (HUTT; SPEH, 2002, p. 283). No produto, os elementos considerados pelos clientes como predominantes são tangíveis ou intangíveis? Na resposta dessa questão está a base para definição da identificação das ofertas de produto da organização. Os serviços apresentam características peculiares que afetam significativamente a elaboração de programas de marketing. Essas características podem ser agrupadas em (KOTLER, 2000, p. 449; ZEITHAML et al, 1985; HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 30-55): intangibilidade – o serviço não pode ser visto, sentido, ouvido, cheirado ou degustado; inseparabilidade – o serviço é geralmente produzido e consumido simultaneamente, requerendo a participação do cliente e eventualmente a de outros clientes (e de não clientes) no ambiente de serviços; variabilidade ou heterogeneidade – o serviço depende de quem, quando e onde é realizado, o que torna variável o desempenho da qualidade e produtividade; 30 perecibilidade – o serviço não pode ser estocado, o que dificulta a gestão de recursos e o equilíbrio entre a demanda e oferta. A identificação de estratégias no mercado de serviços tem sido dificultada pela existência de ramos de atividade variados e de formas de relacionamentos com clientes diversificadas (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2000, p. 62). Métodos de classificação dos serviços têm sido desenvolvidos, para permitir a obtenção de idéias inovadoras, de insights estratégicos e de análises das práticas de gestão, a partir de situações semelhantes entre organizações de ramos diferentes. Um método de classificação dos serviços amplo e representativo foi desenvolvido por Lovelock e Wright, (2002, p. 32). Segundo os autores, os serviços podem ser agrupados quanto ao: grau de tangibilidade – conforme o serviço apresenta mais aspectos tangíveis ou intangíveis; destinatário da oferta – se o destinatário do serviço é uma pessoa ou bens de propriedade de clientes; tempo e lugar de entrega – conforme a execução do serviço seja na própria organização, nas instalações do cliente ou ambos, e se a entrega é feita via canais físicos ou eletrônicos; grau de personalização – conforme o grau de personalização ou padronização do serviço; tipo de relacionamento com clientes – se o relacionamento é de natureza contínua (prolongada) ou discreta (transitória, momentânea); grau de equilíbrio entre oferta e demanda – se a demanda é constante ou apresenta flutuação significativa; nível de intensidade dos recursos envolvidos – conforme a intensidade de uso de pessoas, equipamentos ou instalações na execução do serviço. 3.1.2 Caracterização do mercado de serviços As organizações de serviços incluem desde corporações internacionais, em ramos de serviços financeiros, de transportes, de seguros, de telecomunicações, de hotéis e de varejo, até uma gama ampla de empresas pequenas, de atuação local, como restaurantes, cabeleireiros, academias de ginásticas, lavanderias, taxistas e escritórios de contabilidade (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 6). De modo semelhante, o mercado de serviços é composto por um conjunto variado de ramos de atividade (indústrias), contendo organizações privadas, organizações governamentais, organizações sem fins lucrativos, organizações de serviços de consumo e organizações de serviços empresariais. 31 As indústrias de serviços têm sido classificadas de maneiras diferentes. Para Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000, p. 27), as indústrias de serviços podem ser ordenadas em subgrupos como: serviços empresariais – consultorias, finanças e bancos; serviços comerciais – varejo, manutenção e consertos; serviços de infra-estrutura – comunicações e transporte; serviços sociais/pessoais – restaurantes e saúde; administração pública – educação e governo. Para Etzel et al (2001, p. 524), as indústrias de serviços podem ser classificadas em: moradia – aluguel de hotéis, motéis, apartamentos, casas e fazendas; operações domésticas – utilidades, reformas na casa, consertos de equipamentos da casa, paisagismo e limpeza doméstica; recreação e entretenimento – teatro, esportes, parques de diversão, aluguel e conserto de equipamento de recreação e entretenimento; higiene pessoal – lavanderia, lavagem a seco, tratamento de beleza; cuidados médicos e com a saúde – serviços médicos, dentistas, enfermagem, hospitalização e optometria; educação particular – escolas vocacionais, escolas de enfermagem, programas de educação continuada; serviços para empresas e outros serviços profissionais – consultoria legal, contabilidade e gerenciamento; serviços de seguro, banco e outros serviços financeiros – seguro pessoal e de empresa, serviço de empréstimo e de crédito e consultoria financeira; transporte – serviço de frete e de passageiros, consertos e aluguel de automóveis e entrega expressa; comunicações – telefone, fax, computador e serviços de cópias. No Brasil, a categorização oficial das indústrias de serviços é a definida pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE (IBGE, 2002, p. 137-140). As categorias são as seguintes: serviços relacionados com a agricultura e a pecuária; serviços relacionados com a silvicultura e a exploração florestal; intermediários do comércio atacadista; manutenção e reparação de veículos automotores e motocicletas; reparação de objetos pessoais e domésticos; serviços de alojamento; serviços de alimentação; transporte ferroviário e metroviário; transporte rodoviário de passageiros; transporte de carga; transporte aquaviário; transporte aéreo; atividades anexas do transporte; atividades auxiliares aos transportes; atividades de agências de viagens e organizadores de viagens; atividades organizadoras do transporte de carga; correio; telecomunicações; serviços auxiliares financeiros; serviços auxiliares dos seguros e da previdência privada; atividades imobiliárias e de aluguel; aluguel de veículos sem condutores; aluguel de máquinas e equipamentos; aluguel de objetos pessoais e domésticos; atividades de informática; serviços prestados principalmente às empresas; limpeza urbana e esgoto; atividades recreativas e culturais; serviços pessoais; serviços de varejo e financeiro. O mercado de serviços apresenta algumas características que influenciam no nível de competição do setor e que geram mais desafios para as organizações. Tais características são (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2000, p. 65): facilidade para novos serviços – as inovações de serviços não são patenteáveis e as necessidades de investimentos de capital são geralmente reduzidas, o que facilita a introdução de novos serviços; barreiras para novos competidores - as possibilidades de serviços personalizados, diferenciados e de programas de fidelidade permitem a criação de barreiras contra novos competidores; economia de escala 32 limitada – aspectos como perecibilidade e simultaneidade limitam as possibilidades de distribuição e de ganhos de escala; demanda de flutuações erráticas – a oscilação acentuada da demanda provoca desequilíbrios entre a oferta e demanda; poder de barganha reduzido – o porte pequeno da maioria das organizações limita o poder de negociação com compradores e fornecedores; existência de bens substitutos - a possibilidade de bens inovadores ou substitutos de serviços amplia a competitividade no setor; existência de empresas marginais – a permanência de organizações operando com lucros reduzidos cria dificuldades para os competidores e limita as possibilidades de investimentos. No Brasil, as pesquisas governamentais sobre características e evolução do mercado de serviços são reduzidas. A principal é a Pesquisa Anual de Serviços (PAS), realizada pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que identifica a importância relativa das indústrias de serviços, com base na participação na geração de receita operacional líquida. Os resultados de levantamentos recentes identificaram como indústrias principais as seguintes (IBGE, 2002): transportes e serviços auxiliares dos transportes (27%), correio e telecomunicações (23%), serviços prestados principalmente às empresas (19%), serviços audiovisuais, serviços de agentes e representantes comerciais e serviços auxiliares financeiros (12%), serviços de alojamento e de alimentação (8%), serviços de informática (7%) e atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis (3%). A Pesquisa Anual de Serviços (PAS) identifica também a importância das indústrias com base no emprego de mão-de-obra. Os resultados apontam como indústrias principais as seguintes: serviços prestados principalmente às empresas (33,8%), serviços de alojamento e de alimentação (22%), transportes e serviços auxiliares dos transportes (19,6%), serviços audiovisuais, serviços de agentes e representantes comerciais e serviços auxiliares financeiros (14,5%), atividades de informática (3,7%), atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis (3,4%) e correio e telecomunicações (3,1%). Segundo o IBGE (2002), no período 2001-2002, o setor de serviços alcançou um crescimento médio de 15,9% e as indústrias que cresceram acima da média nacional foram as seguintes: atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis (25,1%), serviços prestados principalmente às empresas (20,1%), atividades de informática (19,1%) e correio e telecomunicações (16,5%). 33 Em 2002, a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) identificou informações sobre a atuação dos serviços no comércio internacional do Brasil. O setor foi responsável pelo volume de exportações da ordem de R$ 5,9 bilhões e as indústrias que mais contribuíram com esse comércio foram as de transportes, informática, telecomunicações e audiovisuais. A indústria de transporte aéreo respondeu por 65% do total, enquanto a de telecomunicações por 14,5% e a de serviços de transporte aquaviário por 8,1%. Em âmbito mundial, o mercado de serviços tem passado por transformações significativas que impulsionaram mudanças e tendências no setor. Essas transformações variam em momento e intensidade dependendo do ramo de atividade e do país analisado. As transformações principais são mencionadas a seguir: a) Privatização e desregulamentação governamental – governos de vários países têm promovido a privatização de serviços públicos ou a desregulamentação de indústrias como companhias aéreas, serviços financeiros, telecomunicações, eletricidade, transporte de cargas, seguros e corretagem de ações. Essa situação tem eliminado as restrições existentes sobre preços, distribuição geográfica, características de produtos e atividades competitivas, possibilitando o surgimento de organizações novas, enxutas, focalizadas no mercado e competitivas (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 9; HOFFMAN et al, 2001, p. 264). b) Avanço da tecnologia – as mudanças tecnológicas, em particular a integração entre computadores e telecomunicações, têm provocado mudanças significativas na forma de atuação das organizações de serviços. As tecnologias impulsionaram novas formas de comercialização de serviços, de sistemas de entrega, de desenvolvimento de serviços e de relacionamento com parceiros e intermediários (HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 69; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 9). c) Crescimento do setor – o setor de serviços vem crescendo intensamente, tanto no mercado de consumo como no de organizações. Esse crescimento tem sido estimulado pela tendência de terceirização de serviços, pela demanda por serviços que economizam tempo, pela oferta de serviços das indústrias de manufatura e pela valorização dos consumidores por serviços de diversão, viagens e recreação (HUTT; SPEH, 2002, p. 280; HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 60). d) Oferta de serviços pelos fabricantes de manufatura – os fabricantes de bens manufaturados têm utilizado o serviço como elemento estratégico da organização. As 34 empresas estão oferecendo serviços aos clientes, como gerenciamento de instalações, administração de processos de negócio, financiamento de compras e comercialização direta de produtos. Muitos fabricantes estão utilizando o serviço como estratégia para obter lucros maiores, estabelecer diferenciais competitivos e ampliar os níveis de faturamento (GRÖNROOS, 2003, p. 12; KOTLER, 2000, p. 450; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 9). e) Pressões financeiras sobre as organizações públicas e sem fins lucrativos – as organizações públicas e sem fins lucrativos têm sido influenciadas por pressões financeiras elevadas, que requerem empenho no desenvolvimento de operações eficientes, na redução de custos e na busca de novas fontes de renda. Essa situação tende a gerar melhorias no atendimento das expectativas dos clientes, no oferecimento de serviços e no desenvolvendo ações promocionais (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 9). f) Pressões para aumentar a qualidade e produtividade – o aumento da competição tem gerado pressões para a melhoria da qualidade e produtividade no setor de serviços. Em resposta, as organizações têm investido na identificação das expectativas de clientes, na mensuração da satisfação, na automação de serviços, no oferecimento de sistemas de auto-atendimento, no aperfeiçoado de processos, na agilização das operações e na eliminação de tarefas desnecessárias (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 9; BOONE; KURTZ, 1998, p. 307). g) Internacionalização e globalização – as organizações de serviços estão se internacionalizando. Fornecedores de serviços financeiros, de agências de comunicação, de hotéis, de restaurantes, de transporte e de agências de aluguel de automóveis estão operando em vários países e investindo no fortalecimento da posição de suas marcas de serviços nos mercados internacionais. A tendência é de acirramento da competição e de estímulo à transferência de serviços e de processos inovadores em nível internacional (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 9; ETZEL et al, 2001, p. 539). h) Crescimento das redes de franquias – a utilização de redes de franquias tem sido crescente nos canais de marketing de serviços. As franquias estão substituindo (ou absorvendo) uma classe ampla de organizações independentes pequenas, que atuam em serviços como contabilidade, aluguel de carro, conserto de automóveis, hospedagem, fotocopiadoras, restaurantes, corretagem de imóveis, serviços educacionais e serviços comerciais. As franquias tendem a contribuir significativamente para a expansão dos sistemas de distribuição de serviços. (ROSENBLOOM, 2002, p. 419; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 9). 35 i) Relaxamento das restrições ao marketing – nos últimos anos, as restrições de governos e/ou de associações profissionais ao uso de ações de comunicação de marketing em determinadas indústrias de serviços têm sido eliminadas ou relaxadas. Profissionais de serviços como contadores, arquitetos, médicos, oculistas, dentistas, advogados e consultores têm se dedicado mais vigorosamente à atividade competitiva, investindo em propaganda, publicidade, promoções de vendas e na melhoria do marketing de suas organizações (KOTLER et al, 2002, p. 1; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 9). Em decorrência dessas transformações, o mercado de serviços tende a ser ocupado por organizações com competências melhoradas, como responsividade, competitividade, estratégicas focalizadas no mercado, produtos inovadores, produtos personalizados, atendimento das expectativas de clientes, uso intensivo de tecnologias, competência de distribuição, profissionais qualificados e funcionários com autonomia. 3.1.3 Caracterização do ramo de agências de comunicação A indústria da comunicação é composta por diversos ramos de atividades, incluindo veículos de comunicação, agências de comunicação e fornecedores de serviços especializados em comunicação. Os veículos de comunicação são quaisquer meios de divulgação visual, auditiva ou audiovisual capazes de transmitir mensagens publicitárias a um público definido (CENP, 2004, p. 5). A tabela 1 apresenta o ranking dos veículos de comunicação mais admirados no Brasil, segundo uma pesquisa realizada pela editora Meio & Mensagem, em 2003. Os veículos mais admirados são: O Estado de S. Paulo (mídia jornal), Rede Globo (mídia Tv aberta), Veja (mídia revista), CBN (mídia rádio) e GNT (mídia Tv por assinatura). 36 Posição (2003) Veículo de comunicação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 O Estado de S. Paulo (SP) Rede Globo de Televisão Folha de S. Paulo (SP) Veja Exame CBN IstoÉ O Globo (RJ) Época Gazeta Mercantil (SP) GNT SportTV 89 FM Discovery Jovem Pan Sat AM Meio Pontuação Jornal Tv aberta Jornal Revistas Revistas Rádio Revistas Jornal Revistas Jornal Tv assinatura Tv assinatura Rádio Tv assinatura Rádio 68 67 66 60 54 50 50 49 46 46 42 41 40 40 40 Tabela 1 – Veículos de comunicação mais admirados no Brasil FONTE: MEIO & MENSAGEM, 2005, p. A57. Os fornecedores de serviços especializados em comunicação são constituídos de “[...] pessoas físicas ou jurídicas especializadas e tecnicamente capacitadas a fornecer os serviços ou suprimentos necessários ao estudo, concepção e execução da publicidade, em complementação ou apoio às atividades da agência, anunciante e veículo.” (CENP, 2004, p. 5). Alguns exemplos de fornecedores especializados em comunicação são: produção de som, gráfica, produção de filmes, fotografias, ilustrações, modelos, editoração eletrônica, banco de imagem, computação gráfica e Internet/multimídia. A agência de comunicação, denominada também de agência de publicidade ou de propaganda, é uma: [...] empresa criadora/produtora de conteúdos impressos e audiovisuais, especializada nos métodos, na arte e na técnica publicitária, através de profissionais a seu serviço que estuda, concebe, executa e distribui propaganda aos veículos de comunicação, por ordem e conta de clientes anunciantes, com o objetivo de promover a venda de mercadorias, produtos, serviços e imagem, difundir idéias ou informar o público a respeito de organizações ou instituições a que servem. (CENP, 2004, p. 5). A tabela 2 revela a quantidade de agências de comunicação existentes no Brasil, certificadas pelo CENP, Conselho Executivo de Normas Padrão. A região sudeste detém quase 60% do total das agências de comunicação certificadas no Brasil, seguida à distância pela região sul (17,3%) e pela região nordeste (11,8%). 37 Região Quantidade % 2.296 675 462 331 133 3.897 58,92 17,32 11,86 8,49 3,41 100,00 Sudeste Sul Nordeste Centro-oeste Norte BRASIL Tabela 2 – Quantidade de agências de comunicação no Brasil FONTE: CENP, 2005. O ranking das 15 maiores agências de comunicação do Brasil, por faturamento declarado em 2004, é apresentado na Tabela 3. A agência Young & Rubicam manteve a liderança do ranking com o faturamento de R$1.187 milhões, seguida pela Ogilvy & Mather com R$805 milhões. Na relação contém cinco agências de comunicação internacionais (Ogilvy, McCannErickson, Walter Thompson, AlmapBBDO e Lowe) e seis agências nacionais associadas a agências internacionais (Y&R, Publicis Salles, DM9DDB, F/Nazca S&S e Carillo Pastore Euro RSCG). Posição (2004) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Agência de comunicação Y&R Ogilvy Publicis Salles Norton McCann-Erickson J. Walter Thompson Lew, Lara AlmapBBDO DPZ DM9DDB Giovanni, FCB F/Nazca S&S Fischer América Talent Carillo Pastore Euro RSCG Lowe Faturamento (em R$ milhões) 1.187,52 805,82 667,36 600,36 583,00 573,44 550,20 496,89 459,65 441,43 431,21 401,61 374,15 369,48 365,41 Tabela 3 – Ranking das maiores agências de propaganda do Brasil FONTE: MEIO & MENSAGEM, 2005, p. A34. 38 As agências de comunicação desempenham o papel de intermediação entre os anunciantes e os veículos de comunicação. Elas contribuem com os anunciantes: na formulação de planos de comunicação de marketing, no desenvolvimento de ações e peças publicitárias necessárias ao atingimento dos objetivos desejados, no controle da qualidade e do custo da produção das ações publicitárias e na colocação de anúncios em mídias e veículos convenientes, em termos de custo e audiência (ABAP, ca.2005, p. 10). De modo específico, o papel das agências de comunicação é estudar conceitos, produtos ou marcas a serem comunicados, incluindo as vantagens e desvantagens em relação ao públicoalvo, mercado e concorrência; identificar públicos e/ou mercados onde o conceito, marca ou produto encontra melhor possibilidade de assimilação; analisar idéias, marcas ou produtos concorrentes; examinar sistemas de distribuição e comercialização de idéias, marcas ou produtos; elaborar planos publicitários, incluindo a concepção de mensagens e peças (criação) e o estudo dos meios e veículos que assegurem a cobertura dos públicos desejados (planejamento de mídia); executar planos publicitários, incluindo orçamento e realização de peças publicitárias (produção) e a compra, distribuição e controle da publicidade nos veículos contratados (execução de mídia) (CENP, 2004). Para desempenhar o papel de intermediação entre anunciantes e veículos de comunicação, as agências de comunicação necessitam de estrutura organizacional adequada. As funções e atividades principais que compõem a estrutura de agências de comunicação estão detalhadas abaixo (LUPETTI, 2003, p. 49-73). A função “planejamento” é responsável pelo direcionamento das campanhas de comunicação a serem realizadas, o que inclui a definição de objetivos, alocação de verbas, posicionamento da marca e estabelecimento de estratégias de comunicação a serem implementadas. A função “atendimento” responde pelas tarefas de ligação entre a agência e o anunciante, quais sejam: elaboração de briefing (resumo das necessidades dos clientes e das informações necessárias a realização dos serviços); obtenção de informações sobre os clientes, seus mercados e concorrentes; participação nas decisões sobre os rumos das campanhas; elaboração de relatórios; acompanhamento dos trabalhos de criação, mídia e produção; verificação dos serviços antes da entrega aos clientes; apresentação de campanhas para os clientes; identificação de oportunidades de novos serviços e clientes. 39 A função “mídia” executa o planejamento de mídia da campanha de comunicação, o que inclui a seleção de mídias e veículos, a distribuição de verbas e a programação de como a mensagem publicitária terá acesso ao público-alvo desejado. A função define também sobre as seguintes decisões da campanha: onde deve ser executada (região, local), quando deve ser veiculada (período), por quanto tempo (duração) e qual a forma de execução (linear, onda, concentrada ou pulsação). A função “criação de arte” é responsável pela materialização do visual das peças publicitárias da campanha realizada, ou seja, pela transformação de idéias e conceitos em fotos, traços e/ou ilustrações e pela criação de layout dos anúncios de propaganda (disposição de imagens, textos e logotipos). A função “redator” responde pela elaboração dos textos publicitários, o que inclui a redação de títulos, expressões, chamadas, slogans e mensagens, bem como a revisão de texto de todas as peças publicitárias. A função “produtor gráfico” atua como suporte técnico da dupla de criação e é responsável pela produção final (materialização) das peças impressas, criadas pelo redator e diretor de criação, o que envolve tarefas como obtenção de imagens (desenhos, ilustrações ou fotos), contratação de fotógrafos e modelos, definição de tipo de papel para impressão e acompanhamento de gráficas, fotolitos e provas. A função “produtor de RTVC” atua também como suporte técnico da dupla de criação e responde pela produção de filme, spot e jingle, o que inclui a execução de filmagens e sons para rádio, tv e cinema, a contratação de atores, músicos e cantores, a gravação de anúncios, a edição e efeitos sonoros, o pagamento de direitos autorais e a reprodução de cópias de anúncios produzidos. Em agências de comunicação maiores existem também as funções especializadas em pesquisa de mercado, produção gráfica, produção eletrônica (som e imagem), tráfego (andamento dos trabalhos entre as áreas da agência) e eventualmente as funções relacionadas com outras ferramentas de comunicação (ex: relações públicas, promoção de vendas e merchandising). 40 No contexto econômico brasileiro, a importância da indústria da comunicação pode ser analisada considerando a quantidade de empresas, o movimento de capital, a geração de empregos, o volume de impostos recolhidos e a demanda existente por cursos de graduação em marketing e comunicação. Tabela 4 – Dados sobre a indústria da comunicação no Brasil Atividades Pesquisa de mercado e opinião Publicidade Serviços fotográficos Emissoras de rádio Emissoras de televisão Jornais, revistas e publicações BRASIL Número de empresas Pessoal ocupado Gastos com pessoal Receita bruta 1.078 12.828 10.148 2.781 615 3.744 31.194 7.083 64.351 75.288 31.722 42.038 134.477 354.959 165.784.000 1.330.639.000 190.530.000 414.689.000 1.979.576.000 3.573.505.000 7.654.723.000 774.047.000 4.733.286.000 601.974.000 1.065.601.000 10.666.747.000 16.189.567.000 34.031.222.000 FONTE: IBGE, 2002a; IBGE, 2002b. A Tabela 4 apresenta dados sobre a indústria da comunicação no Brasil. Segundo o IBGE (2002), essa indústria é constituída de 31 mil empresas, emprega 354 mil pessoas, gasta com pessoal o equivalente a R$7,6 bilhões e movimenta capital na ordem de R$34 bilhões. Os ramos de atividade principais são: pesquisa, publicidade, serviços fotográficos, rádio, televisão e publicações. Tabela 5 – Montante de impostos pagos pela indústria da comunicação Ramos de atividade Emissora de televisão Publicidade Jornais, revistas e publicações Emissora de rádio Pesquisa de mercado Serviços fotográficos TOTAL Valores em R$ (2002) 1.855.786.000 435.752.000 96.823.000 84.872.000 66.732.000 54.415.000 2.594.380.000 FONTE: IBGE, 2002a; IBGE, 2002b. O montante de impostos pagos pela indústria da comunicação é mostrado na Tabela 5. Em 2002, a indústria da comunicação no Brasil contribuiu em impostos com R$2,6 bilhões, sendo os ramos de emissoras de televisão (R$1,8 bilhões) e agências de publicidade (R$435 milhões) os que mais contribuíram. A tabela 6 apresenta a demanda existente por cursos de graduação em marketing e comunicação. No Brasil, os quase 500 cursos existentes de ensino superior formam cerca de 41 152 mil alunos, principalmente nas áreas de comunicação social, publicidade e propaganda, marketing e propaganda, mercadologia, jornalismo e relações públicas. Graduação Comunicação social Jornalismo Marketing e propaganda Mercadologia (marketing) Publicidade e propaganda Relações públicas Noticiário e reportagem Cinema e vídeo Radialismo Produção editorial Pesquisa de mercado Rádio e tele-jornalismo BRASIL Cursos Alunos 358 19 22 31 23 12 1 1 3 1 1 4 476 129.124 3.102 5.494 4.748 6.284 2.049 0 110 584 89 0 450 152.034 Tabela 6 – Número de cursos e alunos no ensino superior FONTE: ABAP, 2005, p. 23. No Brasil, a agência de propaganda tem um papel fundamental na indústria da comunicação. Ela coordena e agrega talento nas atividades de venda, planejamento, criação, produção, veiculação, verificação e faturamento de grande parte da publicidade realizada no país. A sua importância é maior, quando constatado que a maioria dos veículos de comunicação existentes no país depende fundamentalmente, para produzir e distribuir informação livre, da receita proporcionada pela publicidade gerada pelas agências de comunicação do país. Em âmbito nacional, algumas transformações e tendências têm sido identificadas no ramo de agências de comunicação. Algumas das transformações e tendências principais são: a) Terceirização - as agências de comunicação têm adotado o modelo de terceirização introduzido pelas indústrias de manufatura. Elas estão terceirizando serviços como: design, assessoria de imprensa, pesquisa de mercado, promoção de eventos, Web/site corporativo, planejamento de marketing, produção e marketing direto. A terceirização exige das agências habilidades para identificação, seleção, contratação, orientação e controle de terceiros, além da capacidade de estabelecimento de parcerias; 42 b) Comunicação integrada - em resposta às solicitações de clientes e mudanças no mercado, as agências de comunicação passaram a oferecer um mix de serviços mais amplo e diversificado, incluindo serviços de comunicação integrada. As agências principais não se concentram mais somente em serviços de propaganda, mas em comunicação e se reestruturaram para oferecer todos os tipos de serviços que seus clientes-alvo necessitam (LUPETTI, 2003, p. 81); c) CONAR – o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária tem tido uma atuação importante e respeitada na promoção da liberdade de expressão publicitária e na defesa das prerrogativas constitucionais da propaganda comercial. O CONAR é uma organização não-governamental cuja missão é avaliar as denúncias formuladas por consumidores, associados, autoridades ou integrantes da entidade e impedir a execução de publicidade enganosa e abusiva; d) CENP – em decorrência da desregulamentação da lei da propaganda, que estabelecia a remuneração de 20% pelos trabalhos veiculados, surgiu o Conselho Executivo das Normas-Padrão com o propósito de regulamentar o setor e de conter a liberação da remuneração das agências de comunicação. O CENP tem atuado na normatização das relações comerciais entre veículos, agências de publicidade e empresas anunciantes, no julgamento de processos relativos à quebra de práticas éticas e comerciais e na fixação de sanções cabíveis nos casos de condenação (CENP, 2004, p. 22); e) Investimentos em promoção de vendas – consolidando o comportamento que se iniciou nos anos 80, os investimentos em promoção de vendas têm crescido consistentemente a cada ano. Em termos mundiais, eles representam 35 a 45% dos investimentos publicitários, enquanto no Brasil já atingiram 16%. Diante disso, as agências de comunicação passaram a dispor de núcleos de promoção de vendas ou a trabalhar em parceria com empresas especializadas na criação de promoção de vendas, ações caracterizadas por resultados mais imediatos, estímulos de venda e estratégias centradas no varejo (OLIVEIRA, 2004); f) Fusões e associações - uma outra tendência observada no mercado nacional é a fusão ou associação entre agências de comunicação. Essa união de organizações tem possibilitado às agências a conquista de negócios adicionais, o crescimento da receita de vendas, a obtenção de economia de escala e o enfrentamento de problemas ocasionados pelo acirramento da concorrência. As fusões e/ou associações geram impactos importantes nas agências envolvidas, pois requerem investimento em recursos, redistribuição de 43 funções, melhorias nas instalações, mudança de cultura e decisão sobre abandonos de clientes que atuam no mesmo ramo de atividade (JONES et al, 2002, p. 21); g) Enxugamento de pessoal – em função das exigências dos clientes e do acirramento da concorrência, o quadro de pessoal de muitas agências de comunicação sofreu enxugamento. Os profissionais estão mais sobrecarregados, pressionados, com menos tempo e utilizando ferramentas mais sofisticadas de planejamento e análise de informações, como softwares de pesquisa, de análise de dados e de planejamento de mídia. A tecnologia tende a eliminar o trabalho operacional, mas requer uma atuação mais analítica e criativa dos profissionais (IBOPE, 2004). A Tabela 7 apresenta os investimentos em comunicação de marketing realizados no Brasil. Em 2003, o montante total de investimento foi de R$31 bilhões, principalmente nas atividades de propaganda, promoção de vendas, eventos, merchandising, marketing direto e pesquisa de mercado. Quase 50% dos investimentos das empresas anunciantes foram destinados para ações de propaganda, envolvendo mídias de massa, externa, interativa ou alternativa. Formas de investimento Propaganda Promoção de vendas Eventos Merchandising Marketing direto Pesquisa de mercado Patrocínios Publicidade na Internet Marketing social Outros TOTAL Valores - 2003 (em R$ bilhões) % 14,9 5,0 2,3 2,0 1,9 1,7 1,4 0,9 0,7 0,2 31,0 48,1 16,0 7,5 6,7 6,0 5,3 4,5 3,0 2,3 0,6 100,0 Tabela 7 – Investimentos em marketing no Brasil FONTE: ABAP, 2005, p. 11. O investimento publicitário no Brasil em 2003, por mídia de comunicação, é mostrado na Tabela 8. As mídias TV por assinatura, TV aberta e rádio foram as que mais se destacaram. O investimento publicitário total cresceu 18%, sendo que o investimento em TV por assinatura cresceu 50%, em TV aberta 20% e em rádio 19%. Segundo a ABAP (2005), os fatores que explicam esse crescimento são: aumento de inserções publicitárias, utilização de formatos de 44 exibição com maior duração, ampliação na verba de patrocínios e aumento na tabela de preços dos veículos. Mídias de comunicação Tv aberta Jornal Revista Rádio Outdoor Mídia Exterior Tv por assinatura TOTAL Valores - 2003 (em R$ bilhões) % 8,9 2,7 1,4 0,7 0,4 0,4 0,3 14,8 60,4 18,5 9,6 4,6 2,4 2,7 1,7 100,0 Tabela 8 – Investimentos publicitários – por mídia de comunicação FONTE: ABAP, 2005, p. 12-13. A Tabela 9 relaciona os 15 maiores anunciantes do Brasil, em 2003. O setor varejista respondeu por 27,9% do total de investimento publicitário no Brasil e tem sido o principal anunciante. O setor é composto por empresas de diversos ramos de atividade, como lojas de departamento, revendedores de veículos, supermercados e hipermercados, que estão preocupados em divulgar agressivamente suas ofertas em TV aberta, jornais, rádio e revistas, o que explica a presença do setor no topo do ranking de anunciantes. 45 Tabela 9 – Os maiores anunciantes do Brasil Posição (2003) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Anunciantes Casas Bahia Unilever Brasil Grupo Pão de Açucar Fiat General Motors Ford Tim Brasil Volkswagen / Seat Liderança Ponto Frio Telefônica/CTBC Coca-Cola Itaú Renault do Brasil DM Farmacéutica Investimento (em R$ mil) 764.854 407.326 306.098 264.681 239.129 226.386 222.139 207.261 189.159 161.324 157.020 147.647 143.863 143.807 143.598 FONTE: Meio & Mensagem, 2005, p. A43. Em Santa Catarina, os investimentos no mercado publicitário não são mensurados de forma periódica e com freqüência definida. A pesquisa mais recente apresenta dados importantes sobre o montante anual dos investimentos publicitários veiculados, a participação relativa de cada meio de comunicação, os investimentos realizados por microrregiões do estado e a quantidade de mão-de-obra empregada. O Gráfico 2 apresenta o montante anual dos investimentos publicitários veiculados em Santa Catarina e a participação dos principais meios de comunicação. 46 TELEVISÃO - Total 185,8 RÁDIO - Total 108,4 Rádios AM 59,4 Rádios FM 49,0 JORNAL - Total 93,9 Jornais Diários 74,9 Outros Jornais 19,0 5% MÍDIA EXTERIOR 45% 26% 14% 12% 23% 18% Valores em milhões(R$) Out-Nov/ 2004 22,0 5% - Bolo de investimentos em veiculação publicitária em SC: R$ 410,1 milhões 50 100 150 200 Gráfico 2 – Investimentos em veiculação publicitária – por mídia FONTE: MAPA, 2005. O montante total de investimentos em veiculação publicitária no estado foi de R$410,1 milhões, no ano de 2004. Desse montante, 46% correspondeu a investimentos realizados através de agências de comunicação e 54% foram investimentos efetuados diretamente pelos anunciantes com os veículos de comunicação; 63% foram investimentos realizados em ações via mídias e 37% em ações de não mídia, incluindo mala direta, folders, catálogos, material de PDV, panfletos, banners e cartazes. Em 2004, os investimentos publicitários no estado estavam distribuídos, por meio de comunicação, como segue: 45% em televisão (R$185,8 milhões); 26% em rádio (R$108,4 milhões), 23% em jornal (R$93,9 milhões) e 5% em mídia exterior (R$22,0 milhões). O Gráfico 3 descreve a participação relativa de cada microrregião do estado no montante total de investimentos em veiculação publicitária. As microrregiões com investimentos maiores foram: Florianópolis e São José (37%), Joinville e Jaraguá do Sul (15%) e Blumenau (14%). As microrregiões com investimentos menores foram: Rio do Sul e Ibirama (1%), Tubarão e Laguna (2%), Canoinhas e Mafra (2%) e São Miguel D`Oeste (2%). 47 Joinville, Jaraguá do Sul 15% 5% Itajaí, Brusque Florianópolis, São José 37% Tubarão, Laguna 2% 8% Criciúma, Araranguá 2% Canoinhas, Mafra Bolo de investimentos em veiculação publicitária em SC: R$ 410,1 milhões 14% Blumenau Rio do Sul, Ibirama 1% 3% Lages, Curitibanos 4% Concórdia, Joaçaba Chapecó 8% Out-Nov/ 2004 2% São Miguel D'Oeste 0% 10% 20% 30% 40% Gráfico 3 – Investimento em veiculação publicitária, por área do estado. FONTE: MAPA, 2005. O montante total de investimentos publicitários em Santa Catarina correspondeu a 3,8% do valor do faturamento total dos anunciantes. Em média, a receita das agências correspondeu a 22% dos investimentos publicitários realizados através das agências de comunicação e 92% da receita dos veículos de comunicação foi derivada de investimentos publicitários realizados pelos anunciantes. O Gráfico 4 apresenta a participação de cada mídia no total de mão-de-obra empregada nos veículos de comunicação, em Santa Catarina. Em 2004, do total de 7,5 mil funcionários, o jornal respondeu por 47% (3.530 empregados), a rádio por 36% (2.680), a televisão por 13% (1.000) e a mídia exterior por apenas 4% (290). 48 Televisão 13% Mídia exterior 4% Rádio 36% Jornal 47% Gráfico 4 – Nível de emprego nos veículos de comunicação. FONTE: MAPA, 2005. A Tabela 10 contém a quantidade de agências de comunicação credenciadas pelo CENP no Estado de Santa Catarina, em 2005. Do total de 165 agências existentes, 63,6% têm receita bruta anual máxima de R$200 mil/ano, 29,1% têm receita bruta anual entre R$201 mil e R$500 mil/ano e apenas 7,2% delas têm receita bruta anual superior a R$501 mil/ano. As agências de comunicação participantes deste estudo estão classificadas nos grupos 4 e 5. Tabela 10 – Quantidade de agências de comunicação em Santa Catarina Receita bruta Quantidade de Grupo (em R$/ano) agências 1 Acima de 50.001.000 De 20.001.000 até 50.000.000 De 7.001.000 até 20.000.000 2 3 0 0 0 4 De 3.001.000 até 7.000.000 1 5 De 501.000 até 3.000.000 11 6 De 201.000 até 500.000 48 7 Até 200.000 105 TOTAL FONTE: CENP, 2005. 165 49 3.2 Fundamentos e premissas de marketing de serviços Esta seção trata dos fundamentos e premissas do marketing de serviços e compreende os assuntos seguintes: definição e premissas de marketing, importância da satisfação dos clientes, diferenças entre o marketing de bens e de serviços, papel do marketing em organizações de serviços, problemas e desafios das organizações de serviços e fundamentos de estratégias de marketing de serviços. 3.2.1 Definição e premissas de marketing O marketing de serviços não requer uma definição específica e diferenciada. Os conceitos e premissas de marketing são igualmente aplicáveis para bens, serviços, pessoas, lugares, eventos, idéias e organizações. As definições de marketing podem ser classificadas em definições sociais e gerenciais. As definições sociais são aquelas que destacam o papel do marketing na sociedade, enquanto as definições gerenciais enfatizam o papel do marketing na organização, especificamente no processo de comercialização de produtos e de relacionamento com o mercado. De acordo com as definições sociais, marketing é um “[...] processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros” (KOTLER, 2000, p. 30); ou o “[...] processo social, orientado para a satisfação das necessidades e desejos de indivíduos e organizações, pela criação e troca voluntária e concorrencial de produtos e serviços geradores de utilidades para os compradores” (LAMBIN, 2000, p. 06). Sob o ponto de vista gerencial, marketing é “[...] uma função organizacional e o conjunto de processos para criação, comunicação, entrega de valor aos clientes e gerenciamento de relacionamentos de modo que beneficie a organização e seus stakeholders” (AMA, 2005); ou a “[...] função empresarial que cria continuamente valor para o cliente e gera vantagem competitiva duradoura para a empresa, por meio da gestão estratégica das variáveis 50 controláveis de marketing: produto, preço, comunicação e distribuição” (LIMEIRA et al, 2003, p. 2). A filosofia de marketing está baseada em princípios que orientam as decisões, estratégias, táticas, ações e ferramentas de marketing da organização. Em essência, esses princípios são (KOTLER et al, 2002, p. 7; KOTLER, 2004, p. 127): marketing tem origem no conceito de troca, isto é no processo de obter o que se deseja oferecendo algo em troca; marketing envolve a busca de informações sobre clientes, concorrentes, mercados e oportunidades; marketing se manifesta por intermédio de programas projetados e coordenados para conseguir respostas desejadas; marketing requer o direcionamento para mercados-alvo definidos; marketing é baseado nas necessidades, desejos e percepções dos clientes; marketing envolve a satisfação dos clientes-alvo e a realização dos objetivos da organização; marketing requer o estabelecimento de relacionamento duradouro com clientes, intermediários, funcionários e demais públicos que afetam o desempenho da organização. 3.2.2 Importância da satisfação dos clientes A satisfação dos clientes tem sido objeto de estudo de inúmeros pesquisadores de marketing (RUST et al, 1995, 2000). Muitas organizações são deficientes na prestação de serviços aos clientes. Elas cometem falhas como: prepotência, insensibilidade e descompromisso com os clientes (deficiências de comportamento); não cumprimento de promessas, execução errada de serviços, qualidade deficiente de atendimento, entrega atrasada de serviços e recuperação inadequada de serviços (deficiências de processo); serviços não disponíveis, pacote de benefícios inadequado, política de preços inflexível e serviços de apoio ineficientes (deficiências de produto). Essas falhas levam à insatisfação dos clientes. A busca da satisfação dos clientes é essencial para as organizações. Clientes satisfeitos proporcionam benefícios e sucesso à organização. O cliente, quando altamente satisfeito, tende a (KOTLER, 2000, p. 70; HOFFMAN et al, 2001, p. 279): ser leal à organização; comprar mais produtos da organização; falar mais positivamente sobre a organização e seus produtos; dar menos atenção às marcas e propagandas de concorrentes; ser menos sensível às ofertas de preços reduzidos; contribuir com idéias de produtos e de melhorias para a 51 organização; custar menos para ser atendido; melhorar a lucratividade da organização; melhorar o ambiente de trabalho interno da organização; tornar os funcionários mais motivados; auxiliar na qualidade e produtividade dos serviços. 3.2.3 Diferenças entre o marketing de bens e de serviços Os serviços têm características exclusivas que fazem com que a prática de marketing seja diferente. Na prestação de serviços, o cliente não obtém a propriedade do serviço; o cliente participa do processo de execução; o cliente tem dificuldade de identificação e avaliação objetiva do serviço; a presença de outros clientes e/ou de não-clientes pode afetar o resultado do serviço; os insumos e desempenhos são inconstantes; o estoque é inexistente; o fator tempo é mais importante; a entrega pode ser executada via canais eletrônicos (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 17). A Figura 3 expõe a diferença entre a prática de marketing de bens e de serviços. Ela ilustra a natureza do consumo de bens e de serviços, bem como as relações entre os processos de produção, consumo e marketing. A parte A contém a ilustração do consumo de bens físicos (consumo de resultados), onde os processos de produção e consumo são separados, no tempo e no espaço. Nessa situação, o marketing desempenha a tarefa de ponte entre a produção e o consumo. A parte B contém a ilustração do consumo de serviços (consumo de resultados e de processos), onde os processos de produção e consumo são simultâneos, ocorrendo a interação direta entre o cliente e os recursos da organização – pessoas, sistemas, tecnologias, equipamentos e instalações. Nessa situação, a lacuna entre produção e consumo não existe e o marketing não precisa desempenhar o papel de construtor de pontes. As diferenças decorrentes das características e da natureza do consumo de serviços requerem também que o modelo de gestão de negócios de serviços seja diferenciado do modelo utilizado pelas organizações de bens manufaturados (HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 21; SCHLESINGER; HESKET, 1991). O modelo tradicional de gestão das organizações de bens é baseado em princípios como: investimentos em tecnologias, máquinas e sistemas são mais preferíveis do que em seres humanos; investimentos em gerentes e supervisores são mais necessários do que nos demais funcionários; solução de problemas é de competência 52 exclusiva de gerentes e supervisores; contribuição do pessoal de serviços para os resultados da organização é limitada; custos operacionais devem ser mantidos em níveis baixos. Marketing Parte A – Bens físicos: Consumo de resultado Produção Consumo Parte B – Serviços: Consumo de resultado e de processo Processo (produção) de serviços Marketing? Consumo de serviços Figura 3 – A natureza do consumo de bens e de serviços. FONTE: GRÖNROOS, 2003, p. 72. O modelo de gestão das organizações de bens, quando aplicado nas organizações de serviços, promove um ciclo de falhas e deficiências autodestrutivas decorrentes das próprias limitações do modelo. No setor de serviços, esse modelo de gestão gera funcionários mal-remunerados, sem treinamento, sem iniciativa, sem perspectiva de ascensão, sem motivação e sem compromisso com a qualidade dos serviços, a satisfação dos clientes e os resultados da organização. O modelo de gestão indicado para as organizações de serviços é o focalizado no mercado. Ele tem como premissas: o foco principal da organização deve ser a prestação de serviços aos clientes; as decisões sobre contratação, treinamento, remuneração, motivação, rotatividade e acompanhamento de pessoal devem ser estratégicas para a organização; a tecnologia deve ter por propósito facilitar os processos e apoiar as tarefas do pessoal de serviços; a responsabilidade principal dos gerentes e supervisores deve ser orientação, motivação e apoio 53 do pessoal de serviços; a remuneração de pessoal deve refletir a satisfação dos clientes e o desempenho da organização; o pessoal de serviços deve ter capacidade e autonomia para solucionar os problemas de clientes. Estudos realizados em organizações com o modelo de gestão focalizada no mercado apresentaram resultados positivos e interessantes. A pesquisa executada por Narver e Slater (1990) mostrou como resultado o aumento na lucratividade das organizações; o estudo de Jaworski e Kohli (1993) apontou como resultados o espírito de equipe e o comprometimento do pessoal de serviços; o estudo de Brown et al (2002) mostrou como resultado a melhoria do desempenho da organização. 3.2.4 Papel do marketing em organizações de serviços Nas organizações de serviços, o marketing desempenha um papel mais amplo e complexo. A Figura 4 apresenta, nas laterais do triangulo, as funções de marketing nas organizações de serviços: marketing interno, tarefas relacionadas à viabilização de promessas com os funcionários; marketing externo, tarefas relacionadas à geração de promessas para os clientes; marketing interativo, tarefas relacionadas ao cumprimento de promessas com os clientes. Essas três funções são fundamentais para que o esforço de marketing seja bem sucedido nas organizações de serviços. O marketing interno está relacionado à função de preparação da organização (sistemas e prestadores de serviços) para a implementação de programas e promessas de marketing. As tarefas de marketing interno incluem: utilização de ferramentas de marketing na contratação, treinamento, remuneração, motivação, retenção e avaliação de desempenho do pessoal de serviços; desenvolvimento de comunicação interna, de cultura organizacional de serviços e de modelo de liderança; adequação de processos e sistemas para o cumprimento das promessas de serviços. O marketing externo está relacionado à função tradicional de marketing, realizada por profissionais especialistas em marketing. Alguns exemplos de tarefas de marketing externo são: pesquisas de marketing, definição de mercados-alvo, desenvolvimento de novos serviços, 54 estabelecimento de estratégias de marketing, apreçamento, comercialização, distribuição, gestão de intermediários, propaganda, promoção de vendas, relações públicas, marketing direto e desenvolvimento de marca. EMPRESA Marketing externo Fazendo promessas Marketing Interno Viabilizando promessas Serviços Serviços FUNCIONÁRIOS CLIENTES Marketing interativo Realizando promessas Figura 4 – Triângulo do marketing de serviços. FONTE: GRÖNROOS, 1984, p. 36-44, adaptado por ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 39. O marketing interativo está relacionado ao processo de produção e consumo de serviços, realizado por pessoas não especializadas em marketing e tem como função assegurar que os clientes percebam a experiência de serviço com a qualidade e valor desejados, e tenham o interesse de continuar no relacionamento com a organização. Exemplos de tarefas de marketing interativo são: gestão de encontros de serviços, gestão da participação do cliente no serviço; gestão da qualidade dos serviços, gestão de reclamações e recuperação de serviços, gestão da presença de outros clientes e de não-clientes nos serviços e gestão do cenário de serviços. O marketing interativo é considerado o coração do marketing de serviços, pois representa o momento da verdade e as oportunidades para conquista, manutenção e aperfeiçoamento do relacionamento com clientes (TANSUHAJ et al, 1998). O papel do marketing nas organizações de serviços torna evidente a necessidade de interação entre marketing, operações, recursos humanos e demais áreas envolvidas no relacionamento 55 com clientes (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2000, p. 52; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 20). Nessas organizações, os processos de produção, de entrega e de consumo são simultâneos, os estoques que compensam o desequilíbrio entre oferta e demanda não existem e as atividades de marketing são realizadas também por pessoas não especializadas em marketing. Diante disso, os profissionais de marketing de serviços necessitam atuar de modo integrado com as demais áreas da organização, o que requer conhecimentos sobre operações e recursos humanos, habilidades de comunicação e relacionamento e a capacidade de obtenção de cooperação e apoio de pessoas não hierarquicamente subordinadas. Em muitas organizações, a integração entre marketing, operações e recursos humanos não existe e as áreas trabalham isoladamente realizando objetivos e interesses diferentes (ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 208; BATESON, 1995). Nessas situações, a lógica interna – princípios funcionais implícitos e/ou explícitos que determinam o comportamento (KINGMAN-BRUNDAGE et al, 1996) – faz com que cada área se concentre nas necessidades próprias e desconsidere as necessidades da organização. A área de operações pode valorizar a produtividade ou a redução de custos, mediante a produção em massa e a introdução de tecnologias (administração de processos). A área de recursos humanos pode valorizar a gestão de pessoal, mediante atividades isoladas de contratação, treinamento, pagamento e desligamento (administração de pessoas); a área de marketing pode valorizar exclusivamente a compreensão e o atendimento das necessidades dos clientes (administração de clientes). Os resultados são áreas com objetivos, prioridades e tarefas direcionadas para interesses próprios e divergentes. A integração entre áreas funcionais requer um esforço coordenado e consistente da organização de serviços. Alguns exemplos de estratégias que favorecem a integração são: difusão de conhecimentos sobre objetivos, estratégias e limitações funcionais; valorização do espírito de equipe; definição clara de papéis e responsabilidades funcionais; gerenciamento integrado de processos de serviços; planejamento integrado da utilização da capacidade de serviços; adoção de modelos de estrutura organizacional que possibilitam a integração, troca de experiência e trabalho em equipe (ex: estrutura por projeto, matricial ou força-tarefa); realização de recrutamento interno, transferência ou rodízio de pessoal; desenvolvimento de redes de contato e de relacionamentos informais; desenvolvimento de cultura organizacional de serviços (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 24; GRÖNROOS, 2003, p. 45). 56 3.2.5 Problemas e desafios das organizações de serviços As diferenças na natureza do consumo e nas características dos serviços tornam a prática de marketing nas organizações de serviços mais complexa e desafiadora. Exemplos de problemas e desafios do marketing de serviços são (ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 38): Como a qualidade do serviço pode ser aperfeiçoada? Com os novos serviços podem ser projetados e testados no mercado? Como a organização pode comunicar uma imagem consistente e integrada? Como a organização pode compatibilizar a oferta e demanda? Qual a melhor forma para a organização contratar, treinar, remunerar e motivar funcionários? Como os preços deveriam ser determinados? Como a organização deveria ser estruturada, de modo que marketing, operações e recursos humanos atuem integrados? Como determinar o equilíbrio entre serviços padronizados e personalizados? Como a organização pode proteger suas inovações dos concorrentes? Como a organização pode comunicar qualidade e valor aos clientes? Como a organização pode assegurar a entrega de serviços consistente? A solução dessas questões é um desafio constante para as organizações de serviços. 3.2.6 Fundamentos de estratégias de marketing de serviços As estratégias de marketing são fundamentais para a organização de serviços. As decisões sobre estratégias determinam as atividades a serem realizadas, a eficácia dos programas elaborados e a capacidade da organização de consecução dos objetivos pretendidos. Uma estratégia é um “conjunto integrado e coordenado de compromissos e ações, cujo objetivo é explorar as competências essenciais e alcançar uma vantagem competitiva” (HITT et al, 2002, p. 144). No âmbito de marketing, o termo estratégia tem sido freqüentemente empregado para designar os meios ou métodos abrangentes selecionados pela organização para alcançar os objetivos de marketing estabelecidos e para obter a vantagem competitiva necessária (FERRELL et al, 2000, p. 20; KOTLER, 2000, p. 111; WESTWOOD, 1996, p. 55). As estratégias de marketing são geralmente direcionadas para mercados, marcas e/ou produtos específicos, são definidas antes da elaboração do programa de ações e após o estabelecimento dos objetivos de marketing, e devem ser baseadas na capacidade da 57 organização, na necessidade dos clientes e no comportamento dos concorrentes. As estratégias fundamentais de marketing estão relacionadas às políticas e decisões de segmentação de mercado, seleção de mercado-alvo, diferenciação, posicionamento, produto, preço, distribuição, logística, comunicação e vendas. O composto de marketing contém um conjunto de recursos e instrumentos controláveis que podem ser utilizados no estabelecimento de estratégias destinadas à consecução dos objetivos de marketing. O Quadro 1 apresenta os instrumentos e recursos do composto de marketing de serviços. Eles estão classificados em mix de produto, mix de processos, mix de pessoas, mix de evidências físicas, mix de preço, mix de distribuição/logística e mix de comunicação/vendas. Cada mix do composto de marketing dispõe de diversos elementos que possibilitam a determinação das estratégias de marketing a serem utilizadas. O mix de produto compreende as estratégias relacionadas à oferta de produtos disponíveis para o mercado. Os componentes principais são: gestão de serviços e linhas de serviços, decisões de bens e serviços de apoio, decisões de características e benefícios dos serviços, fixação de padrões de qualidade, decisões de padronização e customização, garantias de serviços, decisões de marcas e desenvolvimento de novos serviços. O mix de processos compreende as atividades, sistemas e mecanismos organizacionais relacionados à execução (operacionalização) do serviço. Os elementos principais são: gestão de encontros de serviços, gestão da participação do cliente, gestão da qualidade dos serviços, gestão da satisfação dos clientes, gestão da produtividade dos serviços e gestão de reclamações e de recuperação de serviços. O mix de pessoas compreende os elementos pessoais que afetam a interação da organização com os clientes e influenciam a percepção de qualidade do serviço e de satisfação dos clientes. Os componentes principais são: gestão do pessoal de serviços (de linha de frente e de retaguarda), gestão dos gerentes e supervisores, gestão de clientes e do relacionamento com clientes, gestão de outros clientes no ambiente de serviço e a cultura organizacional de serviços. Identificação das expectativas dos clientes Localização das instalações Decoração, mobília e acessórios Estrutura e comunicação intena Valorização da presença de outras pessoas Valorização da presença de outros clientes Outros clientes e outras pessoas Brochuras e relatórios de serviço Propostas comerciais Folhetos e material de vendas Cartas e comunicações formais Comunicações não pessoais FONTE: Adaptado de KOTLER et al, 2002, p. 11; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 21-23; ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 41. Quadro 1 – Composto de marketing de serviços Telemarketing Venda direta Marketing direto Integração e treinamento Remuneração e motivação Estrutura da equipe de vendas Venda pessoal Merchandising Feiras e exposições Amostra e descontos Promoção de vendas Relações sociais com a comunidade Patrocínio de eventos Notícias para imprensa Relações públicas e publicidade Mídias alternativas Mídias externas Mídias de massa Propaganda MIX DE COMUNICAÇÃO E VENDAS Desenvolvimento de cultura de serviços Cultura organizacional de serviços Resolução de problemas com outros clientes Atuação nas relações entre clientes Gestão de outros clientes Motivação e empatia Conhecimento e habilidade Aparência e uniformes Pessoal de serviços Sinalização, símbolos e letreiros Relacionamento com os clientes Marketing on-line Remuneração por desempenho Arquitetura e design Iluminação e cores Atendimento de clientes difíceis Remuneração por porcentagem Informações de logística Prazo de atendimento empowerment Gestão de clientes e relacionamentos Sistemática de Modelo de gestão organizacional Gestão de gerentes e supervisores Programa de marketing interno Papel e perfil do pessoal de serviços MIX DE EVIDÊNCIAS FÍSICAS Cenário de serviços MIX DE PESSOAS Gestão do pessoal de serviços Remuneração por tempo Formas de remuneração dos serviços Fatores externos Fatores de balizamento do preço-final Fatores internos Preço baseado no valor percebido Preço baseado no custo Determinação do preço-base Gestão de filas e reservas Configuração da entrega Custo-preço Gestão da capacidade de serviços Gestão da demanda Gestão da logística de marketing Avaliação de desempenho dos membros Conflitos de canal Capacidade-demanda Qualidade-diferenciação Estratégias de preços Demanda e mercado Receita e venda Lucratividade Coordenação do canal Seleção de membros do canal Sistemática de precificação Objetivos de preços Design do canal Gestão dos canais de distribuição Gestão estratégica de preços Ajuste das visões interna e externa MIX DE DISTRIBUIÇÃO E LOGÍSTICA Sistemática de recuperação de serviços Identificação das falhas de serviço Gestão de reclamações e recuperação Controle e melhoria da produtividade Gestão da produtividade dos serviços Mensuração dos níveis de satisfação MIX DE PREÇO Sistemática de desenvolvimento Desenvolvimento de novos serviços Expansão de marca Abrangência de marca Decisões de marcas Garantia incondicional de satisfação Garantia de resultados específicos Garantias de serviços Mensuração da qualidade Gestão da satisfação dos clientes Estratégias de customização Controle dos níveis de qualidade Gestão da qualidade dos serviços Estímulo e monitoramento da participação Papel e educação do cliente co-produtor Gestão da participação do cliente Estratégias de padronização Decisões de padronização e customização Fixação de padrões de qualidade Decisões de características e benefícios Serviços ampliadores de valor Serviços facilitadores Interação cliente-máquina Interação por telefone Avaliação do desempenho Decisões de bens e serviços de apoio Interação face-a-face Estruturação das oferta de serviços MIX DE PROCESSOS Gestão de encontros de serviços MIX DE PRODUTO Gestão de serviços e linhas de serviços 58 59 O mix de evidências físicas compreende os elementos tangíveis e visuais do ambiente de serviços e das comunicações não pessoais que afetam a percepção e o comportamento dos clientes. Os componentes principais são: cenário de serviços (instalações e equipamentos), características do pessoal de serviços (aparência, uso de uniformes e comportamento), comunicações não pessoais e a valorização da presença de outros clientes e/ou de outras pessoas no ambiente de serviços. O mix de preço compreende os elementos relacionados ao apreçamento da oferta de serviços. Os componentes principais são: gestão estratégica de preços, objetivos de preços, estratégias de preços, determinação do preço-base, fatores de balizamento do preço-final e formas de remuneração dos serviços. O mix de distribuição e logística compreende as atividades realizadas para tornar o serviço acessível e disponível ao mercado-alvo. Os integrantes principais são: design do canal, seleção de membros do canal, coordenação do canal, conflitos de canal e avaliação de desempenho dos membros do canal (distribuição); gestão da demanda, gestão da capacidade de serviços, gestão de filas e reservas, configuração da entrega, localização das instalações, prazo de atendimento e informações (logística de marketing). O mix de comunicação e vendas compreende as ferramentas de comunicação utilizadas para a educação de clientes e promoção de serviços. Essas estratégias visam proporcionar notoriedade à marca, visibilidade à oferta de serviços, reputação à imagem organizacional e estimulo à experimentação de serviços. Os elementos principais são: propaganda, relações públicas/publicidade, promoção de vendas, merchandising, venda pessoal e marketing direto. A seleção das estratégias apropriadas de marketing depende do estágio em que o serviço ou a marca se encontram ao longo do tempo. O conceito de ciclo de vida do produto pode ser utilizado na identificação das estratégias de marketing de organizações de serviços e na verificação das mudanças estratégicas necessárias decorrentes da evolução do serviço, do mercado e da concorrência (KOTLER et al, 2002, p. 301). O ciclo de vida do serviço (CVS) é o curso das vendas e dos lucros de um serviço durante seu tempo de vida, envolvendo os estágios de introdução, crescimento, maturidade e declínio 60 (Figura 5). A introdução é o período de inserção do serviço no mercado, quando o faturamento tende a ser reduzido e o lucro negativo. O crescimento é o período de expansão da adoção do serviço, quando o faturamento apresenta um crescimento rápido e o lucro crescente. A maturidade é o período em que o serviço é aceito pela maioria dos compradores potenciais, quando o faturamento se estabiliza e o lucro atinge o apogeu. O declínio é o período em que o serviço apresenta queda acentuada no faturamento e no lucro. Cada estágio tem características diferentes e requer estratégias de marketing diferentes. Faturamento e lucros ($) Faturamento Lucros Introdução Crescimento Maturidade Declínio Tempo Figura 5 – Ciclo de vida para serviços (CVS). FONTE: KOTLER, 2000, p. 326; KOTLER et al, 2002, p. 301. Alguns exemplos de estratégias de marketing no estágio de introdução são: investimento elevado em propaganda e publicidade para obter a conscientização e experimentação do serviço; utilização de seletividade no canal de distribuição; direcionamento das vendas para compradores mais inclinados à compra; oferta de serviços de nível básico; oferta de serviços com preço alto e promoção intensiva; oferta de serviços com preço baixo e promoção reduzida. No estágio de crescimento, exemplos de estratégicas de marketing apropriadas são: aperfeiçoamento da qualidade do serviço, introdução de características inovadoras e diferenciadas no serviço; penetração em novos segmentos de mercados; utilização intensiva de novos canais de distribuição; mudança no enfoque da comunicação, de conscientização 61 para persuasão de ação; redução de preços para atrair os compradores sensíveis a preços; oferecimento de extensões de serviços. No estágio de maturidade, alguns exemplos de estratégias de marketing são: elevação do número de clientes da marca, via conversão de não-usuários, penetração em novos segmentos de mercado ou aliciamento de clientes de concorrentes; elevação da taxa de utilização do serviço pelos usuários atuais; introdução de diferenciais no serviço, como novos benefícios ou utilizações; adequação de elementos do composto de marketing (preço, distribuição, logística, comunicação) ao padrão da concorrência. Alguns exemplos de estratégias de marketing indicadas no estágio de declínio são: direcionamento de investimentos para serviços mais atraentes; direcionamento dos esforços de vendas para mercados principais; elevação da margem e/ou redução das despesas operacionais do serviço; desaceleração da distribuição nos canais não lucrativos; redução do preço de venda do serviço. O conceito de ciclo de vida do serviço (CVS) pode ser utilizado para classes de serviços (ex: serviços de comunicação de marketing), tipos de serviços (serviços de propaganda) ou marcas de serviços (Agência Talent). A curva do ciclo de vida de serviços pode também assumir padrões diferenciados como (KOTLER et al, 2002, p. 302): padrão escalonado – quando o serviço reinicia um novo ciclo cada vez que atinge a maturidade, em função de novas características, utilizações ou usuários; padrão cíclico – quando o serviço apresenta faturamentos com oscilações de alto a baixo, espelhando mudanças periódicas na demanda e/ou na oferta de mercado; moda passageira – quando o serviço é rapidamente introduzido no mercado, atinge com entusiasmo o pico de demanda e entra em pouco tempo em declínio acentuado. Estudo realizado sobre estratégia de marketing aponta a necessidade de estratégicas diferentes para mercados diferentes. Turley e Kelley (1997) compararam serviços destinados ao mercado organizacional com o mercado de consumidores e identificaram que as características do mercado organizacional requerem estratégias de marketing diferenciadas, uma vez que: os processos de compra são mais racionais, os relacionamentos são mais duradouros, os serviços são mais complexos, as transações envolvem maior valor monetário, as decisões em grupo são mais freqüentes e a demanda é maior por serviços personalizados. 62 3.3 Segmentação de mercado para serviços O sucesso da organização de serviços depende da sua capacidade de identificação de segmentos de mercado, seleção de mercados-alvo e desenvolvimento de estratégias adequadas para atender aos grupos diferentes de clientes selecionados. Essas decisões são tão importantes para as organizações que são consideradas como responsabilidades indelegáveis dos dirigentes (DOVER, 2000, p. 438). A segmentação de mercado compreende a identificação de agrupamentos de clientes que compartilham características, necessidades, expectativas e comportamentos de compra similares. Conforme Webster (1991, p. 98), a segmentação de mercado compreende o estudo de um mercado amplo e a identificação dos grupos de clientes que respondem de forma diferente aos esforços de marketing da organização e que possibilitam a escolha dos mercados-alvo. O mercado-alvo compreende os segmentos de mercado selecionados como foco dos esforços de marketing da organização (HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 215). Para Lovelock e Wright (2002, p. 131), a segmentação de mercado pode ser definida como o processo de identificação de: [...] grupos de clientes existentes e potenciais que compartilham as mesmas características, necessidades, comportamento de compra ou padrões de consumo [...] de maneira que resulte na maior similaridade possível quanto às características relevantes dentro de cada segmento, mas diferenciados nessas mesmas características entre cada segmento. A estratégia de segmentação de mercado está baseada em alguns pressupostos importantes (BEANE; ENNIS, 2001, p. 20; GREENBERG; MCDONALD, 1989, p. 29). Os mercados de consumo são geralmente heterogêneos. Os tipos existentes de consumidores ou usuários são diversos. Os consumidores ou usuários diferem entre si, com relação a aspectos como demografia, geografia, comportamento, situação de compra e/ou perfil da organização. As diferenças entre os consumidores ou usuários geram implicações importantes nos tipos de serviços solicitados, nos padrões de uso e na receptividade às estratégias de marketing das organizações. 63 A segmentação de mercado é uma estratégia útil para as organizações. Ela possibilita a compreensão dos consumidores ou usuários e a identificação de oportunidades de novos produtos, de necessidades de reposicionamento e de aperfeiçoamentos na comunicação publicitária (BEANE; ENNIS, 2001, p. 20). A segmentação de mercado auxilia também no direcionamento de produtos especializados para grupos específicos de clientes (DHALLA; MAHATOO, 1976, p. 34), na melhoria do atendimento das necessidades e expectativas dos clientes e no acesso eficiente aos segmentos de mercado desejados (KARA; KAYNAK, 1997, p. 873). No caso das organizações de serviços, a segmentação de mercado desempenha um papel ainda mais importante. Os clientes de serviços são mais diversificados e valorizam de modo diferente uma mesma oferta de serviço (BOLTON; MYERS, 2003, p. 110). A satisfação de clientes de serviços requer que a oferta de serviços seja direcionada para grupos de clientes específicos (HUTT; SPEH, 2002, p. 287). A complexidade do processo de produção-consumo de serviços dificulta o atendimento de necessidades diversificadas (GRÖNROOS, 2003, p. 387). A demanda de serviços tende a requerer um atendimento customizado, adequado às características dos clientes (ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 148). As possibilidades de sucesso dos serviços são maiores quando os esforços de marketing da organização são direcionados para segmentos de mercado que possam ser atendidos eficientemente (KOTLER et al, 2002, p. 207). De acordo com Diaz-Martin et al (2000, p. 132), a segmentação de mercado é uma estratégia de marketing utilizada cada vez mais pelas organizações de serviços. As razões principais são o aumento crescente dos competidores, a demanda elevada por serviços especializados e a oferta cada vez mais disponível de serviços adequados às necessidades e expectativas dos clientes. Apesar da importância da segmentação de mercado, a aplicação crescente dessa estratégia depende dos recursos e custos requeridos para a sua implementação (MITCHELL, 1998, p. 83). O custo principal de implementação é a necessidade de adaptação do mix de produtos e das estratégias da organização. A segmentação de mercado tende a requerer alguma adequação da oferta de serviços e/ou das estratégias de marketing aos tipos de clientes selecionados. No setor de serviços, esse custo tende a ser menor, pois as ofertas de serviços 64 são mais fáceis de adaptação e as organizações estão mais acostumadas com a prestação de serviços customizados. No geral, o processo de segmentação e seleção de mercados-alvo nas organizações de serviços é semelhante ao das indústrias de bens, embora existam alguns aspectos distintivos importantes. Nos serviços, a necessita de segmentos de mercado compatíveis e/ou de estratégias de administração da compatibilidade entre os segmentos é maior (LOVELOCK; WRIGHT, 2002). A possibilidade de abordar segmentos de mercado específicos, que exigem atendimento customizado em tempo real é maior (ZEITHAML; BITNER, 2003). A importância da utilização de fatores psicográficos e sociológicos como variáveis de segmentação é maior (ETZEL et al, 2001). A dificuldade de agrupamento de clientes que demandam por ofertas com características individualizadas é maior. A importância das expectativas dos clientes no processo de segmentação é maior (DAVIDOW; UTTAL, 1989). No processo de definição do mercado-alvo, a organização de serviços deve estabelecer a forma de abordagem de mercado a ser utilizada. As opções estratégicas principais são marketing indiferenciado, marketing diferenciado e marketing concentrado (KOTLER et al, 2002, p. 226). No marketing indiferenciado (ou marketing de massa), a organização decide por abordar todo o mercado com uma única oferta de serviço, sem dedicar atenção às diferenças entre os clientes. No marketing diferenciado, a organização decide por abordar diversos segmentos de mercado, com ofertas de serviço diferenciadas. Nessa abordagem, a organização pode focalizar nos serviços e oferecer produtos diversificados para a totalidade dos clientes ou focalizar nos clientes e oferecer produtos específicos para cada segmento de mercado selecionado. No marketing concentrado, a organização decide por abordar apenas um ou dois segmentos de mercado, com a oferta de serviço ideal para cada um. Nessa abordagem, a organização pode se concentrar em grupos de clientes menores, cujas necessidades não estão sendo adequadamente atendidas (marketing de nicho) ou em clientes específicos que demandam por ofertas personalizadas (marketing um a um). 65 A seleção da estratégia apropriada de abordagem de mercado depende das características do mercado e do perfil da organização. A abordagem marketing indiferenciado é indicada quando o mercado é de algum modo homogêneo, as opções de fornecedores são limitadas, a organização é pequena (ou está iniciando) e/ou quando a organização não dispõe de ofertas de serviço para segmentos ou nichos específicos. A abordagem marketing diferenciado é indicada quando a organização pretende se tornar líder em segmentos de mercado, quando ela está consolidada ou dispõe de porte, situação financeira e capacidade operacional para oferecer serviços diferenciados (LOVELOCK; WRIGHT, 2002). Essa abordagem é também indicada quando os diferentes segmentos de mercado são compatíveis ou possibilitam o atendimento em conjunto. A abordagem marketing concentrado é indicada quando a organização dispõe de recursos limitados para atender o mercado total ou oferecer serviços diferenciados; quando existem concorrentes fortemente estabelecidos na maioria dos segmentos; quando a organização é pequena ou está iniciando, mas dispõe de oferta com características específicas para algum segmento; quando o mercado tem um número limitado de compradores, mas que desejam projetos individualizados (ZEITHAML; BITNER, 2003). De acordo com Lowry e Wrege (1996, p. 137), muitas organizações de serviços estão direcionando seus esforços de marketing para mercados específicos (marketing de nicho), na tentativa de otimizar os recursos e/ou atenuar a competição acirrada. Nesses casos, as organizações adotam alguma das seguintes estratégias de nicho: “posição cabeça-a-cabeça” envolve a atuação em mercados pequenos, oferecendo serviços semelhantes ao de outras organizações; “posição diferenciada” - consiste na atuação em mercados pequenos e atraentes, oferecendo serviços especializados, benefícios diferenciados e/ou serviços não prestados pelos concorrentes. O marketing de nichos oferece vantagens e riscos para as organizações de serviços. Alguns exemplos de vantagens são: possibilidade de atendimento de um número pequeno de clientes, afastamento de competidores maiores, viabilização de mercado para organizações pequenas, possibilidade de atendimento de mercados pequenos, mas com potencial de crescimento e melhoria no relacionamento com clientes específicos. Alguns exemplos de riscos são: dependência demasiada de mercados concentrados, ameaça de outras organizações pequenas 66 interessadas no mercado, ameaça de organizações maiores interessadas em desenvolver unidades especializadas em nichos de mercado e possibilidade do mercado se tornar demasiadamente estreito ou com lucratividade potencial reduzida. No processo de segmentação e seleção de mercados-alvo, a organização deve analisar algumas questões importantes. No caso das organizações de serviços, essa análise deve considerar (LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 132): De que maneira os segmentos de mercado existentes podem ser identificados? Quais são as necessidades e expectativas dos segmentos de mercado existentes? Quais desses segmentos são mais apropriados à missão, aos objetivos e as capacidades operacionais da organização? Qual o volume financeiro potencial de cada segmento de mercado? O que os clientes de cada segmento consideram como vantagens e desvantagens da organização? A figura 6 apresenta as etapas do processo de segmentação e seleção de mercados-alvo para serviços. O processo é constituído de cinco etapas interdependentes, cada uma contendo um conjunto de atividades definidas. Cada atividade tem um papel relevante para assegurar a Atividades Etapas qualidade dos resultados. 1.Identificar as 1.Identificar as bases e bases e segmentos segmentos • Entender as características do mercado e dos clientes • Verificar as bases possíveis de segmentação • Identificar os segmentos existentes 2.Analisar os 2.Analisar os perfis e perfis e segmentos segmentos • Elaborar os perfis de cada segmento existente • Verificar o quanto a diferença existente entre os segmentos é real e significativa • Verificar se os segmentos atendem aos requisitos de segmentação eficaz 3.Desenvolver 3.Desenvolver medidas de medidas de atratividades atratividades • Definir os critérios de análise da atratividade dos segmentos • Coletar os dados e informações para desenvolver as medidas de análise • Avaliar a atratividade de cada segmento existente 4.Selecionar os 4.Selecionar os segmentos-alvo segmentos-alvo • Analisar a posição competitiva da organização perante cada segmento existente • Verificar a adequação dos segmentos à missão, objetivos e metas da organização • Selecionar os segmentos-alvo 5.Administrar a 5.Administrar a compatibilidade compatibilidade dos segmentos dos segmentos • Verificar a compatibilidade entre os segmentos escolhidos • Verificar as possibilidades de atender segmentos incompatíveis • Identificar estratégias para administrar segmentos e clientes incompatíveis Figura 6 – Processo de segmentação e seleção de mercados-alvo para serviços. FONTE: Adaptado de ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 146. 67 Na etapa 1, denominada de identificação das bases e segmentos de mercado, a organização deve procurar entender as características e os comportamentos do mercado e dos clientes que necessitam de seus serviços, verificar os aspectos possíveis de utilização como base de segmentação e identificar os segmentos de mercado existentes - utilizando uma ou algumas bases de segmentação. O Quadro 2 apresenta as bases principais de segmentação para os mercados de consumo e organizacional aplicáveis aos serviços. Mercados de consumo Geográficas Regiões/países do mundo Regiões/estados do país Porte de cidades Clima Demográficas Faixas etárias Sexo Tamanho da família Estágio do ciclo de vida Renda Ocupação Instrução/educação Classe social Mercados organizacionais Demográficas Tipo de setor de atuação Tamanho da empresa Localização geográfica Perfil da organização Objetivos/interesses da organização Mercado final atendido Tipo de tecnologia disponível Taxa de utilização do serviço Valor/importância de uso do serviço Tipos de recursos disponíveis Atitude em relação ao risco Fidelidade com os fornecedores Psicográficas Estilo de vida Personalidade Atitudes e valores Processo de compra Critérios-chave de compras Procedimentos/políticas de compras Estrutura/autonomia de compras Estágio do processo de decisão Comportamentais Ocasiões de compra e uso do serviço Freqüência/intensidade de uso Sensibilidade as variáveis de marketing Fatores situacionais Urgência do pedido Aplicação/uso específico Tamanho do pedido Quadro 2 – Bases de segmentação para mercados de consumo e organizacional em serviços FONTE: Adaptado de KOTLER et al, 2002, p. 215-225; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 131; BONOMA; SHAPIRO, 1983, p. 104-110. A atividade de seleção das bases de segmentação requer o estabelecimento de alguns critérios de seleção. Exemplos de critérios considerados importantes são (WEBSTER, 1991, p. 99): exeqüibilidade - a base deve possibilitar a operacionalização do esquema de segmentação de mercado; representatividade - a base deve ser representativa dos vários tipos de consumidores e das diferenças de preferências e comportamento de compra; aplicabilidade estratégica - a base deve possibilitar a aplicação de estratégias de marketing diferenciadas para os segmentos de mercado selecionados. 68 Na opinião de Greenberg e McDonald (1989, p. 29), os critérios principais para a seleção das bases de segmentação são a correlação com o comportamento do mercado, a viabilização de mudanças na oferta de serviços, a possibilidade de direcionamento das estratégias de marketing e a orientação para a compra de mídias de comunicação. No setor de serviços, as bases de segmentação mais utilizadas são as demográficas e geográficas (Frank et al, 1972; Kotler et al, 2002, p. 217). Os motivos principais são a facilidade de definição e mensuração dos mercados, a consistência com que essas bases estão associadas às preferências e taxas de uso dos clientes e a facilidade de identificação do tamanho e da maneira de acesso aos segmentos. No entanto, estudo realizado por Bolton e Myers (2003) mostrou que aspectos como “características da organização”, “sensibilidade ao preço” e “qualidade de serviço”, todos ligados ao perfil da organização ou ao processo de compra, são bases que identificam eficientemente os segmentos de mercado em serviços organizacionais. Na opinião de Greenberg e McDonald (1989, p. 29), as bases de segmentação demográficas são necessárias por dois motivos. Primeiro, porque elas apresentam normalmente correlação elevada com o comportamento do mercado. Bases como renda, ocupação, idade, etnia e estágio do ciclo de vida tendem a direcionar as necessidades dos consumidores, a forma de utilização de produtos e os critérios de decisões de compra. Segundo, porque os aspectos demográficos auxiliam amplamente as estratégias de comunicação e a compra de mídias, uma vez que as audiências das mídias são geralmente classificadas com base em aspectos demográficos. Para Greenberg e McDonald (1989, p. 29) a base melhor para segmentação de mercado é a “necessidade/benefício” dos compradores. Segundo os autores, essa base de segmentação atende de forma consistente e confiável aos critérios de acionabilidade, correlação com o comportamento do mercado, possibilidade de manipulação do mix de produtos e/ou das estratégias de marketing e orientação da compra de mídias de comunicação. Estudos realizados por Mitchell (1998) e Baker; Faulkner (1992) recomendam a utilização do “risco percebido” como base de segmentação para mercados de serviços. Os resultados desses estudos identificaram segmentos de mercado válidos e confiáveis, cujas diferenças foram 69 significativas nas atitudes dos consumidores e nas características demográficas. Segundo os autores, a segmentação baseada no risco percebido é recomendável nos serviços porque o produto é intangível e apresenta dificuldades para a avaliação objetiva; os clientes consideram o produto importante e têm geralmente pouca experiência de compra; o processo de compra envolve dispêndios de tempo e custo elevados. O estudo de Leisen (2001) indicou também a “imagem percebida” como base de segmentação adequada para os mercados de serviços e a possibilidade de seleção de mercados-alvo a partir da receptividade dos segmentos a um dado serviço. O estudo identificou segmentos de mercado com base na percepção dos consumidores sobre destinos turísticos e teve como resultados segmentos com diferenças significativas. Os segmentos que expressaram imagem mais favorável declararam também intenção de visitação mais alta, enquanto os que expressaram imagem menos favorável declararam menos intenção de visitação. Os segmentos identificados apresentaram ainda características demográficas que orientam a contratação de mídias de comunicação segundo o perfil da audiência. Diaz-Martin et al (2000) estudaram a possibilidade de segmentar os consumidores de serviços com base na “expectativa de qualidade”. O estudo revelou que essa base possibilita uma segmentação operacional, útil e poderosa, uma vez que as expectativas de consumidores são heterogêneas e a organização pode identificar segmentos a partir de aspectos influenciadores da satisfação dos consumidores. Os resultados do estudo revelaram que aspectos relevantes das expectativas influenciam mais a satisfação dos consumidores e que diferentes níveis de expectativas estão relacionados com diferentes comportamentos dos consumidores. A “expectativa de qualidade” é recomendada para segmentação de serviços, porque as opções de produtos alternativos são variadas e os consumidores estão menos interessados em serviços padronizados. Em estudos de segmentação, cada mercado deve ser analisado como potencialmente diferente e não existe um método ou algoritmo único a ser utilizado (DHALLA; MAHATOO, 1976, p. 34). Os métodos possíveis de coleta de dados sobre clientes atuais e/ou potenciais são variados, incluindo focus group (discussão em grupo), survey (levantamento via questionário) e geocoding (sistema de dados de compra diários). As técnicas estatísticas de modelagem de dados são também diversas, podendo ser empregadas individualmente ou em conjunto. 70 Segundo Beane e Ennis (2001, p. 20), as técnicas estatísticas principais empregadas em estudos de segmentação são: conjoint analysis – mensura o impacto de atributos de produtos na decisão de compra e modela as preferências ou reações de consumidores; multidimensional scaling – representa graficamente os atributos de produtos com base nas percepções e preferências dos consumidores e identifica os consumidores com necessidades ou atitudes similares; factor analysis – analisa e reduz um número de variáveis capazes de explicar uma situação especifica; cluster analysis – analisa um conjunto de objetos e variáveis relacionados e forma segmentos com características similares; regression analysis – analisa as associações entre variáveis de marketing, elabora uma equação matemática e mensura uma variável dependente, com base em duas ou mais variáveis independentes; discriminante analysis – compara as diferenças entre segmentos, verifica a pertinência de grupos e identifica o perfil dos consumidores. A sistemática de segmentação recomendada por Alfansi e Sargeant (2000, p. 64) envolve quatro atividades. Primeiro, a realização de estudo exploratório, via entrevistas em profundidade e/ou focus group, para obter uma visão das motivações, atitudes e comportamentos dos clientes. Segundo, a execução de pesquisa descritiva, via levantamento de campo, para dimensionar as características dos clientes e a importância de algumas variáveis. Terceiro, a aplicação da técnica multivariada análise fatorial, para remover as variáveis fortemente correlacionadas. Quarto, o emprego da técnica de cluster analysis, para identificar os grupos de clientes existentes. Na Figura 6, a etapa 2 é denominada de análise dos perfis e segmentos gerados. Nela, a organização deve desenvolver os perfis e a denominação de cada segmento de mercado identificado, verificar quanto as diferenças existentes entre os perfis/segmentos são significativas (a ponto de justificar um esforço diferenciado de marketing) e avaliar se os segmentos identificados atendem aos requisitos necessários da segmentação. De acordo com Kotler (2000, p. 296), uma segmentação eficaz deve atender aos seguintes requisitos: mensurabilidade (possível de mensuração), substancialidade (volume e rentabilidade atraentes), acessibilidade (possível de ser alcançado e servido) e acionabilidade (possível de ser acionado com programas de marketing). 71 Nos mercados de consumo, os perfis de segmento são geralmente descritos com base em aspectos geográficos, demográficos, psicográficos e/ou comportamentais. Nos mercados organizacionais, os perfis são mais comumente descritos com base em aspectos da demografia, do perfil da organização, do processo de compra e dos fatores situacionais. Na etapa 3, nomeada de desenvolvimento de medidas de atratividade, a organização deve definir os critérios para a avaliação da atratividade dos segmentos, coletar as informações necessárias para a elaboração das medidas de análise e avaliar a atratividade de cada segmento identificado. Os critérios de atratividade mais utilizados são (HOOLEY et al, 2001, p. 60): tamanho, taxa de crescimento, sazonalidade, poder de barganha dos fornecedores, poder de barganha dos clientes, tipos de concorrentes, rentabilidade, barreiras de entrada, barreiras de saída, tecnologia e legislação governamental. Na etapa 4, seleção dos segmentos-alvo, a organização deve analisar a posição atual do negócio frente a cada segmento identificado; verificar a adequabilidade de cada segmento à missão, objetivos e metas da organização; selecionar os segmentos a serem considerados como mercados-alvo. Na avaliação da posição competitiva da organização é comum a análise de (HOOLEY et al, 2001, p. 60): tamanho, taxa de crescimento, poder de barganha perante os clientes e fornecedores, tecnologia disponível, capacidade de marketing, disponibilidade financeira, capacidade de prestação de serviços, capacidade de distribuição, expertise de mercado e grau de relacionamentos. Na etapa 5, administração da compatibilidade dos segmentos, a organização deve verificar o grau de compatibilidade entre os diferentes segmentos selecionados, analisar as possibilidades de atender segmentos diferentes e identificar as estratégias para a administração de segmentos incompatíveis. A figura 7 contém uma matriz de ofertas de serviço versus segmentos selecionados, aplicada à indústria de agências de comunicação. Um modelo semelhante pode ser utilizado para auxiliar na avaliação do grau de compatibilidade entre segmentos e na identificação das estratégias de administração de segmentos-alvo diferentes. Os estudos de segmentação de mercado tendem a ser complexos e a requererem muito tempo e recursos da organização (GREENBERG; MCDONALD, 1989, p. 29). Esses estudos necessitam geralmente de pesquisa inicial do tipo exploratória-qualitativa, levantamento quantitativo exaustivo, envolvimento de várias pessoas/áreas da organização, negociação dos 72 resultados esperados e compartilhamento de informações. As metodologias possíveis de utilização são variadas e os comportamentos dos segmentos de mercado estão constantemente em mudanças (BEANE; ENNIS, 2001, p. 20). Segmentos de mercado - alvo Segmentos Serviços Indústria médio/grande porte Comércio médio/grande porte Banco e financeira Órgão governamental Partido político Propaganda Comunicação interna Ofertas de serviço Pesquisa Publicidade Patrocínio Merchandising Relatório administração/ acionistas Balanço social Internet Promoção de vendas Figura 7 – Matriz das ofertas de serviço versus segmentos selecionados. FONTE: Elaborado a partir de CLARKE, 2001, p. 77. Para que os estudos de segmentação sejam bem sucedidos, algumas providências importantes são necessárias. As recomendações principais são (GREENBERG; MCDONALD,1989, p. 29): obter a participação das áreas que serão afetadas pelas decisões do estudo; assegurar o comprometimento e a agenda comum dos envolvidos; conscientizar os participantes sobre os objetivos, metodologia e aplicações da segmentação; realizar o levantamento quantitativo das características, atitudes e comportamento dos consumidores; denominar os segmentos de mercado com base nas propriedades e associações dos dados dos grupos e com o objetivo de estimular a intimidade e criatividade da organização com os tipos de clientes selecionados. 73 Os estudos de segmentação podem trazer mais benefícios para a organização se avaliarem a contribuição potencial de cada segmento de mercado (DHALLA; MAHATOO, 1976, p. 34). Em estudos de segmentação mais abrangentes são analisados a elasticidade dos diferentes segmentos, os níveis de demanda, os investimentos requeridos, o volume de vendas possível, a lucratividade potencial e o impacto nas estratégias de marketing da organização. 3.4 Diferenciação competitiva para serviços Tendo o mercado-alvo definido, a organização de serviços deve decidir sobre a estratégia de diferenciação em relação aos demais concorrentes, se deseja obter uma posição competitiva diferenciada no mercado. Todo bem ou serviço, inclusive um commodity, pode ser diferenciado quando analisado a oferta como um todo e não apenas o produto genérico (LEVITT, 1980, p. 83). A diferenciação competitiva consiste no “[...] ato de desenvolver um conjunto de diferenças significativas para distinguir a oferta da empresa da oferta da concorrência” (KOTLER, 2000, p. 309). Ela envolve a “[...] criação de algo que pareça ser único no mercado [...] os pontos fortes e as aptidões da empresa são usados para diferenciar seus produtos e/ou serviços dos produtos e/ou serviços de seus concorrentes, segundo alguns critérios valorizados pelos consumidores.” (HOOLEY et al, 2001, p. 42). Para Calori e Ardisson (1988, p. 255), a diferenciação competitiva ocorre quando a organização apresenta características distintivas que são valorizadas pelos consumidores, percebidas pelo mercado, defensáveis de imitação pelos competidores e que trazem benefícios em termos de imagem, vendas, rentabilidade e/ou participação de mercado. Segundo Dickson e Ginter (1987, p. 4), uma posição competitiva diferenciada é uma estratégia de marketing importante para a organização de serviços. Ela possibilita que a marca ou serviço seja percebido pelos consumidores como diferenciado, em quaisquer características físicas ou intangíveis, inclusive no preço. Entretanto, de acordo com Payne (1993, p. 120), a diferenciação competitiva no setor de serviços tende a ser mais difícil. O serviço é intangível, 74 impossível de ser patenteado e possui algumas características que dificultam o estabelecimento de diferenciais competitivos sustentáveis. Apesar das dificuldades de implementação, as estratégias de diferenciação são importantes para as organizações de serviços. Sendo o serviço intangível, difícil de comparação e com probabilidade maior de ser percebido como similar, a necessidade de diferenciação da marca é maior (ETZEL et al, 2001, p. 530). Quando os serviços não são diferenciados, a organização não consegue praticar preços superiores, obter margens atraentes e se desviar da competição por preço. A diferenciação de serviços permite a organização ser reconhecida como fornecedor destacado, prestigiado ou exclusivo no mercado. Nos serviços, as estratégias de diferenciação representam fatores motivacionais que levam o consumidor a optar pela marca da organização em detrimento a de concorrentes (HOOLEY et al, 2001, p. 182). Segundo Porter (1985), um benefício importante da diferenciação competitiva é a redução da elasticidade preço-demanda do serviço, isto é, da possibilidade de mudança na demanda em função de alteração no preço do serviço. Quanto mais a oferta de serviço é diferenciada, mais inelástica se torna a demanda e menos o consumidor deseja mudar de marca em função de aumentos no preço. Por isso, uma posição competitiva diferenciada capacita a organização a alterar a relação preço-quantidade e a possibilidade de lucratividade. Segundo Kotler et al (2002, p. 182), estudo envolvendo 422 organizações de serviços profissionais revelou que os motivos mais freqüentes para a utilização de estratégias de diferenciação em serviços são a dificuldade de enfrentar o aumento da concorrência, a preocupação com a transformação de serviços essenciais em commodities, a necessidade de atender a demanda por novos serviços e a elevação das expectativas dos clientes. As organizações de serviços dispõem de um conjunto amplo de estratégias de diferenciação. As estratégias apropriadas variam de acordo com a natureza do serviço, as características do setor e a posição da organização no mercado. A figura 8 apresenta as dimensões estratégicas pelas quais os serviços podem ser diferenciados: produto (serviço principal); serviços e bens de apoio; pessoal de serviço; canal e distribuição; imagem da marca do serviço e/ou da organização. Cada uma dessas dimensões possui uma extensa variedade de aspectos sobre os quais é possível o estabelecimento de estratégias de diferenciação. 75 Produto (serviço principal) • Classes/tipos de serviços oferecidos • Características/benefícios • Nível de desempenho • Conformidade • Confiabilidade • Nível de preço Serviços e bens de apoio • Facilidade de pedido • Tempo e horário de entrega • Treinamento de clientes • Orientação aos clientes • Bens de apoio ao serviço • Possibilidades de financiamento • Tecnologia utilizada • Recuperação de serviço/garantia Estratégias de diferenciação Canais/distribuição • Cobertura • Especialidade • Desempenho • Localização Pessoal de serviço • Competência/treinamento • Cortesia/atitude • Confiabilidade • Credibilidade • Capacidade de respostas • Comunicação/empatia Imagem da marca • Símbolo/logotipo/identificadores • Publicidade/mídia • Evidências físicas/atmosfera • Patrocínio de eventos Figura 8 – Estratégias de diferenciação para serviços. FONTE: Elaborado a partir de CALORI; ARDISSON, 1988, p. 255-269; KOTLER, 2000, p. 310; HOFFMAN; BATESON, 2003, p. 217. A dimensão “produto” compreende o conjunto de variáveis relacionadas diretamente aos descritores do serviço principal, quais sejam: diversidade da oferta de serviços (classes e tipos); características e benefícios do serviço principal; nível de desempenho (básico, moderado, superior) estabelecido para o serviço; grau de conformidade do serviço (atendimento das especificações prometidas); confiabilidade do serviço (probabilidade de ocorrência de problemas) e níveis de preços praticados. Quando a dimensão “produto” oferece dificuldades ou limitações para a diferenciação eficaz, a solução pode estar na utilização de aspectos relacionados à dimensão “serviços e bens de apoio”. Essa dimensão contém elementos facilitadores para os clientes (antes, durante e após a venda), como segue: facilidade com que o cliente pode emitir pedidos de serviço; conveniência de horários e o tempo/prazo necessário para entrega do serviço; existência de treinamentos para os clientes sobre a obtenção e a utilização dos serviços; disponibilidade de serviços de orientação (dados e informações); existência de bens de apoio ao serviço; 76 possibilidades de financiamento; tipo de tecnologia disponível na organização; sistemática de recuperação de falhas no serviço e a existência de garantias de satisfação para os clientes. A dimensão “pessoal de serviço” está relacionada ao perfil e a postura dos gerentes, líderes e pessoal de serviços (de linha de frente e retaguarda) da organização e compreende os seguintes aspectos: competência e treinamento (habilidades e conhecimentos necessários); cortesia e atitude (simpatia, respeito e atenção); confiabilidade (serviço executado de maneira consistente e cuidadosa); credibilidade (qualidade de quem é merecedor de crédito); capacidade de resposta (atendimento às exigências e problemas dos clientes com rapidez); comunicação e empatia (compreensão, entendimento e comunicação clara com os clientes). A dimensão “canal/distribuição” reúne as possibilidades de a organização diferenciar a oferta de serviços através de aspectos como: amplitude da cobertura geográfica de mercado; grau de especialização do canal de distribuição, nível de qualidade e confiabilidade dos membros do canal; localização diferenciada das instalações de serviços. A dimensão “imagem da marca” fornece um conjunto de aspectos de diferenciação relacionadas à imagem da marca da organização e dos serviços. Esses aspectos são: símbolos, logotipos e elementos identificadores da marca; tipos de mídias, formas de promoção, intensidade e conteúdos utilizados na publicidade; elementos relacionados às evidências físicas e a atmosfera do serviço (decoração, layout, cores, mobília); tipos de eventos (esportivo, cultural) que a marca patrocina. Para Levitt (1980, p. 84), quando o produto é commodity, as organizações falham porque utilizam o preço como estratégia única de diferenciação. Elas deveriam procurar diferenciar os produtos por meio da venda pessoal, da imagem da marca, dos serviços ou bens de apoio ou da forma de atuação da organização. Segundo o autor, a diferenciação de serviços é mais freqüente na imagem da marca, no design da organização, nos procedimentos operacionais de serviços e nas características do portfólio de serviços. As sistemáticas existentes para definição das estratégias de diferenciação são diversas. Kotler (2000, p. 311) propõe uma sistemática constituída de duas etapas. Primeiro, a coleta de opinião de compradores recentes sobre a oferta de serviços da organização, a necessidade de benefícios que aumentariam a satisfação e o montante que estariam dispostos a pagar pela 77 diferenciação. Segundo, a análise e seleção das estratégias de diferenciação, considerando o valor para os clientes, o custo para a organização, a intensidade de solicitação, o tempo necessário para implementação e a facilidade de imitação pelos concorrentes. Berry (1995) apresenta outra proposta de sistemática de diferenciação, constituída de quatro etapas. Primeiro, a investigação dos atributos (características) da oferta de serviços da organização mais valorizados pelos clientes. Segundo, com base nas expectativas dos clientes, a identificação dos atributos mais importantes e daqueles que os concorrentes principais são mais vulneráveis. Terceiro, a análise comparativa em relação aos concorrentes das capacidades, competências, potencialidades e vulnerabilidades da organização, Quarto, a seleção final das estratégias de diferenciação, considerando as necessidades dos clientes, as vulnerabilidades da concorrência e as capacidades e potencialidades da organização. De acordo com Calori e Ardisson (1988, p. 255), as estratégias de diferenciação competitiva podem ser implementadas de forma diversificadas e segundo o mercado-alvo. Um conjunto uniforme de estratégias pode ser implementado para todos os mercados-alvo ou para apenas alguns segmentos-alvo da organização. Outra alternativa é a implementação de conjuntos diferentes de estratégias para diferentes mercados-alvo da organização. Alguns critérios devem ser analisados quando da seleção das estratégias de diferenciação. Os critérios mais relevantes são (KOTLER et al, 2002, p. 240): importância – a estratégia selecionada deve oferecer uma diferenciação valorizada pelos clientes-alvo; exclusividade – a estratégia deve possibilitar a organização dispor de diferenciação exclusiva ou mais evidente que os concorrentes; superioridade - a estratégia deve possibilitar aos clientes obterem uma vantagem superior às outras formas de obtenção do mesmo benefício; comunicabilidade – a estratégia deve gerar uma diferença que possa ser comunicável e perceptível pelos clientes; inovação – a estratégia deve ser difícil de imitação pelos concorrentes; acessibilidade – a estratégia deve possibilitar aos consumidores argumentos para pagar o preço da diferenciação; lucratividade - a estratégia deve possibilitar à organização introduzir a diferenciação de modo lucrativo. A ameaça principal à diferenciação competitiva é a imitação pelos concorrentes (FISHER, 1991, p. 20). Qualquer estratégia de diferenciação tem retorno reduzido quando a organização é alvo de imitação pelos concorrentes. Diante das imitações, os consumidores não mais 78 percebem os diferenciais competitivos e questionam a política de preços e a imagem de exclusividade da organização. As organizações de serviços devem desenvolver estratégias de diferenciação sustentáveis e implementar procedimentos que atenuam o impacto das imitações competitivas. A Figura 9 apresenta alguns mecanismos de proteção para diferenciação competitiva em serviços. Os mecanismos de proteção são constituídos de desequilíbrios no conhecimento ou na habilidade dos competidores e nas capacidades da organização de limitar e/ou elevar os custos associados com a imitação competitiva. Os mecanismos de proteção estão baseados no competidor ou no consumidor. Mecanismos baseados no competidor • Impacto das informações • Tempo de reposta • Economia de escala • Aprendizagem organizacional • Superioridade do canal de distribuição DIFERENCIAÇÃO SUSTENTÁVEL Mecanismos baseados no consumidor • Custo de mudança para o comprador • Custo de avaliação para o comprador • Superioridade da comunicação da marca Figura 9 – Mecanismos de proteção para diferenciação em serviços FONTE: FISHER, 1991, p. 21. Os mecanismos de proteção baseados no competidor são as diferenças de conhecimento entre a organização e os demais competidores, o tempo requerido para a organização responder as ações dos competidores, a habilidade para desenvolver eficientemente atividades diferentes ou em volume, a aprendizagem da organização acumulada através da experiência e a superioridade ou pioneirismo da organização no canal de distribuição. 79 Os mecanismos de proteção baseados no consumidor são os custos de mudanças de marca provenientes de barreiras psicológicas e econômicas, os custos psicológicos e monetários associados à avaliação das ofertas de serviços e a superioridade ou pioneirismo da marca na mente dos consumidores. Algumas estratégias alternativas para a diferenciação competitiva sustentável têm sido recomendadas. A introdução constante de inovações possibilita uma sucessão de vantagens temporárias sobre os concorrentes. O esforço de comunicação para tornar a marca conhecida como inovadora favorece a atração de clientes que valorizam serviços novos e diferenciados (KOTLER, 2000, p. 457). A implementação com qualidade, consistência e eficiência de estratégias de diferenciação possibilita à organização um desempenho superior aos concorrentes imitadores (PORTER, 1996). Uma cultura organizacional que favoreça a implementação de estratégias de diferenciação torna mais difícil de imitação e gera vantagem competitiva sustentável (BARNEY, 1986, p. 656). A diferenciação competitiva requer o conhecimento sobre os competidores principais, em cada segmento de mercado, bem como o entendimento, do ponto de vista dos consumidores, sobre a situação competitiva da organização em relação aos demais competidores. QUESTÃO-CHAVE EXEMPLOS DE INFORMAÇÕES Por quê os competidores existem? Capacidade de atendimento, portfólio de serviços, diferenciais competitivos e situação do relacionamento com clientes Como os competidores adicionam valor para os clientes? Quais os tipos de consumidores que estão interessados nos competidores? Qual a situação de custo e liquidez dos competidores? Quão os competidores estão expostos aos fornecedores? Razões pelas quais os competidores são selecionados pelos consumidores (qualidade, preço, pessoal de serviços, marca, serviços de apoio, forma de entrega) Mercado-alvo, perfil dos clientes, expectativas dos clientes, tipos de serviços solicitados, caraceterísticas de atratividade dos clientes e tipos mais interessantes de clientes Estabilidade econômica, situação financeira, capacidade de investimento, possibilidades de reação e capacidade de superação de distúrbios do mercado Disponibilidade de fornecedores confiáveis, disponibilidade de fornecedores de custo baixo, disponibilidade de fornecedores eficientes, poder de barganha junto aos fornecedores, dependência em relação aos fornecedores e relacionamento com os fornecedores Resultados desejados nos próximos anos, segmentos de mercados almejados, necessidade de crescimento, nível de lucratividade desejada, objetivos de mercado e comprometimento com os objetivos Estratégias de marketing adotadas, política de preços, competitividade organizacional, competência de marketing, perfil dos dirigentes e cultura organizacional Fatores-chave de sucesso, fatores de decisão de compra, competências organizacionais, processos de serviços e aspectos valorizados pelos clientes Perfil dos novos competidores, possibilidades de entrantes potenciais, barreira para os novos entrantes, grau de atratividade do ramo, fase em que os produtos se encontram no ciclo de vida e novas formas de atendimento às necessidade dos consumidores e tecnologias em desenvolvimento Situação comparativa entre a organização e os competidores, considerando as competências, os diferenciais, as condições estruturais, o poder de mercado e a consistência no desempenho Quais os objetivos dos competidores? Quão as ações dos competidores podem afetar as estratégias da organização? Quão melhor a organização precisa ser para ganhar os clientes dos competidores? Quais são os novos competidores ou as novas formas de atender as necessidades dos consumidores? Se nos fossemos consumidores, nos escolheriamos o produto da nossa organização ou dos competidores? Quadro 3 - Informações importantes sobre os competidores FONTE: Adaptado de BLACKMORE; KENDRICK, 2002, p. 16-18. O Quadro 3 apresenta um conjunto de informações que toda organização de serviços deve conhecer sobre seus competidores principais. O conhecimento dessas informações possibilita 80 à organização rever suas conjecturas acerca dos competidores, reduzir as ameaças ou imprevistos decorrentes de atividades dos competidores e obter idéias sobre estratégias sustentáveis de diferenciação competitiva. Estudo realizado por Calori e Ardisson (1988) analisou o impacto das estratégias de diferenciação sobre o desempenho das organizações. Os resultados do estudo revelaram que “produto de qualidade”, “pontualidade de entrega”, “rapidez de entrega” “atendimento de pedidos não programados” e “respostas corretas às solicitações” são estratégias de diferenciação importantes e compatíveis com as estratégias de custo baixo; que o conhecimento sobre os consumidores possibilita a identificação de oportunidades de diferenciação e que estratégias de diferenciação competitiva e de custo baixo em conjunto promovem o crescimento da participação de mercado e da lucratividade da organização. 3.5 Posicionamento de marca ou serviços Como parte do processo de estabelecimento das estratégicas de marketing, a organização de serviços deve decidir sobre o posicionamento que pretende obter junto aos segmentos de mercado selecionados. Para Mühlbacher et al (1994, p. 287), o posicionamento é o processo de estabelecer, para um marca ou produto, um espaço distintivo no mercado, aos olhos dos consumidores, tornando-o mais atraente do que o de outros competidores. Para Payne (1993, p. 93), o posicionamento consiste na “[...] identificação, desenvolvimento e comunicação de uma vantagem diferenciada que torne os bens e/ou serviços organizacionais percebidos como superior e distinto dos competidores na mente do público-alvo”. Na visão de Kotler et al (2002, p. 234), o posicionamento é o lugar que o serviço ou marca ocupa na mente dos consumidores potenciais, quando comparado aos concorrentes e compreende um conjunto complexo de percepções, impressões e sensações que os clientes mantêm em relação ao serviço ou marca da organização. 81 O posicionamento de marca ou produto tem importância estratégica para as organizações (AAKER; SHANSBY, 1982, p. 56; PAYNE, 1993, p. 95). A imagem da marca ou do produto tem influência determinante sobre a decisão de compra dos consumidores e direciona as demais decisões estratégicas de marketing da organização. Nas organizações de serviços, o posicionamento é uma decisão importante por diferentes motivos. O setor é caracterizado por grande diversidade de competidores e por poucas barreiras para novos entrantes, o que requer maior esforço de distinção (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2000, p. 57). As ofertas são intangíveis, de avaliação complexa e os clientes têm menor capacidade de distinção dos serviços disponíveis (HOFFMAN; BATESON, 2003, p.217). Os clientes costumam posicionar o serviço com ou sem a ajuda da organização e os efeitos negativos de um posicionamento ao acaso podem ser danosos para a organização (KOTLER et al, 2002, p. 234). O posicionamento é necessário para orientar as demais decisões do composto de marketing da organização. O termo posicionamento foi originalmente cunhado por Ries e Troust (1993) para descrever o processo criativo de posicionar ou reposicionar um determinado produto ou marca na mente dos consumidores-alvo, com base em aspectos de comunicação e imagem. Segundo Trout (1997), o posicionamento de marcas ou serviços envolve a obtenção de posição distintiva, singular, clara e consistente na mente dos consumidores-alvo, com promessa precisa, focalizada e que situa a marca ou o serviço à parte de seus concorrentes. Os princípios do posicionamento de marca ou produto estão baseados no conceito de USP (Unique Selling Proposition), proposto por Reeves (1961, p. 51). A USP consiste em descrever a característica ou proposição mais importante de uma marca ou produto, a qual deve basear a comunicação publicitária. O termo unique (única) se refere à asserção distintiva do anúncio que deve ser usada somente pela organização anunciante; selling (venda) à asserção convincente do anúncio que deve induzir os consumidores à compra da marca; proposition (argumento) à asserção objetiva que deve ser sintetizada numa única frase ou slogan. Maggard (1976, p. 64) observou que o posicionamento não se restringe ao processo de comunicação, mas envolve também outros elementos do marketing da organização. Na maioria das vezes, o esforço de comunicação desempenha um papel fundamental no 82 posicionamento da marca, mas o resultado efetivo desse processo depende também da implementação adequada de outras estratégias de marketing da organização. Nesse sentido, Hooley et al (2001) passaram a denominá-lo de posicionamento competitivo, por entenderem que o posicionamento envolve todos os elementos do composto de marketing. De acordo com Mühlbacher et al (1994, p. 287), o posicionamento pode ser analisado sob as dimensões operacional e estratégica. A dimensão operacional considera o posicionamento como um conceito de comunicação, envolvendo os atributos que devem ser desenvolvidos e enfatizados nas ações de promoção e produtos da organização. A dimensão estratégica considera o posicionamento como uma diretriz estratégica, que antecede e orienta a implementação das demais decisões e estratégias de marketing da organização, incluindo a embalagem, o atendimento ao cliente, o canal de distribuição, o preço de venda e os serviços de apoio. Para Di Mingo (1988, p. 34), o termo posicionamento pode também ser analisado sob a dimensão psicológica e/ou de mercado. A dimensão psicológica diz respeito ao processo de fixação de identidade distintiva na mente dos consumidores, utilizando ferramentas de comunicação, com o objetivo de influenciar o processo de decisão de compra. A dimensão de mercado diz respeito à verificação da posição dos competidores, a identificação e seleção de segmentos de mercado e a definição de estratégias competitivas da organização. Ambas as dimensões têm um relacionamento estreito e precisam ser consideradas, uma vez que o sucesso do posicionamento psicológico depende da sua adequação à dimensão de mercado. Embora os conceitos de posicionamento de marca e diferenciação competitiva sejam relacionados, essas estratégias são diferentes (MAGGARD, 1976, p. 63). O posicionamento é um conceito mais complexo, está relacionado à imagem da marca ou produto e não se reduz à busca da diferenciação competitiva. O posicionamento envolve um conjunto de ações com vistas a induzir o público-alvo a perceber e a enaltecer o valor, em termos relativos, de uma dada marca ou produto. Para Aaker e Shansby (1982, p. 56), há também diferença entre os conceitos de posicionamento de marca e identidade de marca. O posicionamento envolve uma visão extrínseca e um quadro de referência que são os consumidores. A identidade de marca envolve uma visão intrínseca (da organização) e um conjunto de associações que objetiva 83 proporcionar sentido, finalidade e significado a marca ou ao produto. Nas palavras de Aaker (1996, p.80), a identidade de marca “representa aquilo que a marca ou produto pretende realizar e implica uma promessa aos clientes, feita pelos membros da organização”. A identidade de marca consiste na manifestação da essência da marca, do seu valor ou personalidade (ALLOYED, 2006) e se constitui numa plataforma que orienta os esforços e as iniciativas de construção da imagem da marca ou do produto. Nesse contexto, o termo identidade de marca é utilizado no sentido idêntico ao que possui na psicologia e significa, em última análise, um conjunto de “[...] características pessoais e intransferíveis de estabelecermos quem somos e para quem vemos: isto é, identifica nossas características particulares [...]” (CALIXTA, 1998, p. 73). A Figura 10 apresenta o processo de gestão de marca de serviço (brand equity) e possibilita melhor a visualização das diferenças entre posicionamento de marca e identidade de marca. As dimensões básicas que afetam o patrimônio de marca são as ações de comunicação de marketing da organização e a experiência do cliente com a marca. A linha cheia indica um impacto direto e a tracejada um impacto indireto. Organização ••Identidade Identidadede demarca marca ••Nome, Nome,logotipo, logotipo,slogan sloganee apresentação apresentaçãovisual visual Consciência de marca • Reconhecimento de marca • Lembrança de marca Comunicação Comunicaçãode demarca marca Patrimônio Patrimônio da damarca marca (Brand (Brandequity) equity) Experiência Experiênciacom comaamarca marca Imagem de marca Cliente • Percepção da marca • Associações de marca ••Vivência Vivênciacom comaa organização organização ••Aquisição Aquisiçãoeeconsumo consumo do doserviço serviço • Favorabilidade, força e exclusividade das associações Figura 10 – Processo de gestão de marca de serviços 84 FONTE: Adaptado de BERRY, 2001, p. 215. A dimensão “comunicação de marca” compreende o nome, logotipo, slogan, identidade de marca, apresentação visual, aparência do pessoal de serviços, anúncios de propaganda e outras ações de comunicação desenvolvidas pela organização. Essa dimensão contribui diretamente para a consciência de marca, que é a capacidade de reconhecimento e lembrança de marca do cliente. O reconhecimento revela um nível relativamente superficial de consciência (recall estimulado), enquanto que a lembrança indica um nível mais profundo de consciência (recall espontâneo). A dimensão “experiência com a marca” decorre da vivência do cliente com a organização e com a prática de aquisição e consumo do serviço. Ela resulta dos esforços da organização para que os processos e encontros de serviços proporcionem contatos positivos ao cliente e relacionamento favorável com a marca. Essa dimensão impacta diretamente sobre a imagem de marca atribuída pelo cliente, que é formada pelas percepções de marca, pelas associações de marca e pelo grau de favorabilidade, força e exclusividade das associações. As associações são pensamentos, sentimentos ou sensações que o cliente tem sobre determinada marca. A imagem de marca combinada com a consciência de marca proporciona o valor patrimonial de marca (brand equity), cujos resultados podem ser positivos ou negativos. A marca apresenta valor patrimonial de resultado positivo quando, na comparação com marcas sem nome ou com nome fictício, obtém vantagens de marketing, como preço premium e preferência do consumidor. O posicionamento desejado (identidade de marca) pode ser diferente do posicionamento percebido pelos consumidores, uma vez que o segundo é formado pela condição atual e passada da marca, bem como pelas experiências pessoais dos consumidores com a aquisição e consumo da marca ou produto, dentre outros fatores (ROCHA; CHRISTENSEN, 1999, p. 53). Algumas falhas de posicionamento de marca têm sido identificadas nas organizações de serviços. As principais são (KOTLER et al, 2002, p. 239; KOTLER, 2000, p. 323): subposicionamento – quando os consumidores têm uma idéia vaga sobre a marca ou quando ela é vista como apenas mais uma no mercado; superposicionamento – quando o posicionamento é demasiadamente restrito e os consumidores têm uma idéia bastante estreita 85 da marca; posicionamento confuso – quando os consumidores possuem uma imagem confusa da marca, em decorrência de processos de alegações excessivas ou de mudanças freqüentes; posicionamento duvidoso – quando os consumidores não acreditam no posicionamento da marca, em função das características do serviço, do nível de preço ou do perfil da organização de serviços. A estratégia de posicionamento pode ser aplicada em diferentes níveis de amplitude (PAYNE, 1993, p. 105). Um posicionamento desejado pode ser estabelecido para um setor da economia ou ramo de atividade, para uma marca ou organização, para uma linha ou família de produtos ou para bens ou serviços individuais. Na opinião de Palmer e Cole (1995, p. 333), os consumidores de serviços valorizam mais o posicionamento da marca ou organização do que o de serviços individuais. Os motivos estão relacionados à natureza dos serviços, onde aspectos como intangibilidade requerem algum tipo de contato entre o fabricante e consumidor, o que dificulta o posicionamento de serviços individuais. Nas organizações de serviços, a estratégia de posicionamento pode ser baseada não apenas no conceito do serviço, mas também nos aspectos relacionados ao serviço básico, serviço de apoio, pessoal de serviços, imagem da marca, característica do canal de distribuição, política da organização, processo de serviços, relacionamento com os clientes ou instalação de serviços (HESKETT et al, 1990, p. 54; SHOSTACK, 1987, p. 41). O desenvolvimento eficaz de posicionamento requer a utilização de sistemáticas adequadas. Existem diversas sistemáticas de desenvolvimento de posicionamento desejado para marca ou serviço. A sistemática recomendada por Aaker e Shansby (1982, p. 59) é constituída de seis etapas: identificação dos concorrentes principais, levantamento dos posicionamentos percebidos dos competidores junto aos consumidores, análise do posicionamento dos competidores, análise do perfil e das expectativas dos consumidores, seleção do posicionamento desejado para a marca ou serviço da organização e monitoramento do posicionamento percebido. A sistemática de Payne (1993, p. 108) é constituída de cinco etapas principais. Ela é a seguinte: determinação da abrangência desejada do posicionamento (organização, linha de serviço ou individual); identificação dos atributos-chave para cada segmento de mercado; alocação das marcas da organização e dos concorrentes principais num mapa espacial; 86 avaliação das opções de posicionamento (ex: identificar uma nova posição, forçar uma posição já ocupada por concorrentes ou reposicionar os concorrentes); definição dos meios necessários para obter o posicionamento desejado. Outra sistemática recomendada é a proposta por Mühlbacher et al (1994, p. 291). Ela consiste em: análise do perfil dos consumidores atuais e potenciais de uma dada classe de serviços; identificação dos concorrentes principais; análise do poder de mercado e das estratégias gerais dos concorrentes; análise dos fatores-chave de sucesso e da atratividade de cada segmento de mercado; seleção dos segmentos desejados; avaliação dos diferenciais e benefícios oferecidos pela organização; definição do posicionamento desejado; adequação do composto de marketing ao posicionamento desejado. Como regra geral, as principais decisões do processo de posicionamento são: decidir o objeto do posicionamento (marca, categoria de serviços ou tipo de serviços); identificar as dimensões (características, benefícios, preferências) que os consumidores percebem ou avaliam no objeto; escolher as dimensões (tipo e quantidade) a serem utilizadas; selecionar os concorrentes principais; identificar o posicionamento individual dos competidores junto aos consumidores-alvo, com base nas dimensões selecionadas; definir a posição distintiva que se deseja ocupar na mente dos consumidores e a estratégia de posicionamento a ser utilizada; comunicar o posicionamento desejado aos públicos-alvo importantes, como clientes, distribuidores, funcionários e fornecedores. As estratégias principais de posicionamento de marcas ou serviços são (KOTLER, 2000, p. 323; AAKER; SHANSBY, 1982, p. 57; LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 191): posicionamento por atributo – quando o serviço é posicionado com base na performance de características específicas, como preço, capacidade do pessoal ou consistência do serviço; posicionamento por benefício – quando o serviço é posicionado como líder em relação a um certo benefício oferecido, como segurança e conveniência; posicionamento por aplicação – quando o serviço é posicionado como melhor para um dado uso ou aplicação, como para períodos de inverno ou ambiente rural; posicionamento por usuário – quando o serviço é posicionado para uma determinada categoria de usuário, como para professores universitários ou pessoas que gostam de emoções intensas; posicionamento por concorrente – quando se faz comparações ou o serviço é posicionado como melhor em relação à concorrência; posicionamento por classe de serviço – quando o serviço é posicionado como líder em uma determinada classe de 87 serviços, como “parque temático para recreação”; posicionamento por qualidade e preço – quando o serviço é posicionado como o que oferece melhor valor para os consumidores na relação preço-qualidade. O posicionamento pode também ser estabelecido com base na combinação de algumas dessas estratégias. O mapa perceptual ou mapa espacial é uma técnica de mapeamento que tem sido bastante recomendada para identificação de posicionamentos de marcas e serviços. Segundo Jain (2000, p. 364), os mapas perceptuais permitem à organização: entender como as marcas ou produtos são percebidos por grupos diferentes de consumidores; identificar as semelhanças e diferenças entre marcas ou produtos concorrentes; encontrar espaços para o reposicionamento de marcas ou produtos; definir o posicionamento desejado de novas marcas ou produtos no mercado; monitorar o impacto das ações de marketing sobre o posicionamento da organização. Para Lovelock e Wright (2002, p. 193), o mapeamento perceptual proporciona os seguintes benefícios: identificação da imagem percebida pelos consumidores de determinado segmento sobre os diferentes competidores; transformação da imagem percebida num mapa espacial de fácil visualização e entendimento; análise de eventuais problemas e oportunidades competitivas; detecção de divergência existente entre a percepção de posicionamento da organização e dos consumidores potenciais. A Figura 11 mostra um exemplo de mapa de posicionamento aplicado no setor de hotelaria, no segmento de consumidores executivos. As dimensões de posicionamento utilizadas são: preço dos serviços e nível de qualidade dos serviços. O mapa possibilita identificar que: preço e nível do serviço são variáveis correlacionadas, conforme mostra a barra diagonal da figura; na visão dos consumidores, existem três agrupamentos (posicionamentos) de hotéis: Regency e Grand (no extremo superior), Palace, Shangri-La, Sheraton, Itália e Atlantic (no centro) e Castle, Alexander IV e Airport Plaza (no extremo inferior); o Palace é visto como um hotel de preço elevado em relação ao nível de serviço oferecido. A técnica de mapa perceptual pode ser aplicada para diversas dimensões de posicionamento, mas tem sido mais utilizada para apenas duas ou três dimensões, uma vez que facilita a visualização e o entendimento (AAKER et al, 2001, p. 606). Quando mais de três dimensões 88 são necessárias, diversos mapas bidimensionais, por pares de atributos ou por segmentos, podem ser elaborados permitindo a visualização e análise dos posicionamentos. Caros Grand Regency PALACE Shangri-La Serviço de alto nível Sheraton Atlantic Serviço moderado Itália Castle Alexandre IV Airport Plaza Mais baratos Figura 11 – Exemplo de mapa de posicionamento aplicado no setor de hotelaria. FONTE: LOVELOCK; WRIGHT, 2002, p. 197. Além de estar alinhada com as demais estratégias de marketing, o posicionamento desejado deve ser comunicado, compreendido e internalizado pelos gerentes, funcionários, intermediários e parceiros da organização. Esse esforço de comunicação é necessário para a implementação efetiva da imagem desejada e para a orientação correta da percepção do mercado e dos consumidores. Embora o posicionamento e a diferenciação sejam estratégias importantes e consagradas na teoria de marketing, os estudos sobre aplicações no setor de serviços têm sido limitados (STEENKAMP; HOFSTEDE, 2002; WEDEL; KAMAKURA, 2000; BOLTON; MYERS, 2003). De modo semelhante, apesar da importância da segmentação de mercado para as organizações, os estudos que analisam a implementação dessa estratégia no setor de serviços são também restritos (MITCHELL, 1998). 89 Estudos realizados em nível nacional investigaram a aplicação dos conceitos de segmentação, diferenciação e posicionamento na indústria de agências de viagens e turismo. Na pesquisa Ikeda e Oliveira (1999), os resultados indicaram que as agências utilizam parcialmente as estratégias de segmentação e posicionamento. No estudo de Niño e Gouvêa (2004), os resultados revelaram a prática incipiente das agências de portes pequeno e médio no uso de segmentação, diferenciação e posicionamento, e que essas organizações necessitam de métodos mais formais e de procedimentos mais sistematizados. 90 4 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA DE CAMPO Este capítulo apresenta as decisões e os procedimentos metodológicos adotados no projeto de pesquisa de campo. Os assuntos abordados são os seguintes: problema de pesquisa; objetivos de pesquisa; questões gerais de pesquisa; fontes de dados; variáveis de pesquisa; tipo de pesquisa; método de coleta de dados; população da pesquisa; processo de amostragem; instrumento de coleta de dados; planejamento da coleta de dados; sistemática de documentação e verificação dos dados; procedimentos de análise dos dados. A elaboração deste capítulo foi principalmente baseada nas diretrizes e recomendações de Selltiz et al (1987), Flick (2004), Cooper; Schindler (2003) e Malhotra (2001). 4.1 Problema de pesquisa Um problema de pesquisa consiste numa indagação relacionada a um fato-problema que requer conhecimento possível de ser obtido pela contribuição de um projeto de pesquisa. A figura 12 apresenta os componentes que levaram à realização do presente estudo e a maneira como esses componentes se inter-relacionam na formulação do problema de pesquisa. Tais componentes foram identificados a partir da justificativa/importância do estudo e da fundamentação teórica apresentados anteriormente. Os componentes principais do problema de pesquisa são: importância econômico-social do setor de serviços; importância do marketing para as organizações de serviços; necessidade de novas técnicas e estratégias decorrentes de inovações tecnológicas no setor de serviços; transformações ocorridas no mercado de serviços; acirramento da concorrência nos serviços; limitação de estudos e publicações sobre marketing de serviços; limitação de pesquisas e informações sobre marketing em agências de comunicação; abordagem diferenciada do marketing em organizações de serviços; prática de marketing incipiente e deficiente nas organizações de serviços; necessidade de modelo de gestão diferenciado para as organizações de serviços. 91 Importância econômico-social do setor de serviços (Lovelock; Wright, 1999; Cobra, 2004; Hoffman at al, 2001; Bolton; Myers, 2003; Bradley, 1995; Etzel et al, 2001; Boone; Kurtz, 1998; Fitzsimmons; Fitzsimmons, 2000). Importância do marketing para as organizações de serviços (Boone; Kurtz, 1998; Zeithaml; Bitner, 2003; Tofler, 1990). ASPECTOS DO SETOR • Novas tecnologias demandam por novas técnicas e estratégias de serviços (Zeithaml; Bitner, 2003; Rosenbloom, 2002). •O setor tem passado por transformações importantes (Ribeiro et al, 1999; Las Casas, 2002). • O mercado tem sido afetado pelo acirramento da concorrência (Hoffman; Bateson, 2003; McKenna, 1996; Vavra, 1993). ASPECTOS ACADÊMICOS ASPECTOS DA ORGANIZAÇÃO • Marketing de serviços é um campo de estudo novo (Lovelock; Wright, 2002; Berry; Parasuraman, 1993; Hoffman at al, 2001). • Disponibilidade de estudos e publicações na área é limitada (Hoffman at al, 2001; Bolton; Myers, 2003; Las Casas, 2002). • Há pouca pesquisa e publicação sobre a gestão de marketing em agências de propaganda. • Marketing de serviços requer abordagem diferenciada do marketing de bens (Hoffman at al, 2001; Lovelock; Wright, 2002; Berkowitz et al, 2003). • Organizações com prática de marketing fraca e deficiente (Fitzsimmons; Fitzsimmons, 2000; Etzel et al, 2001; Lovelock; Wright, 2002). • A necessidade de novo modelo de gestão para as organizações de serviços (Hoffman; Bateson, 2003; Schlesinger; Heskett, 1991). Que estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamentos são aplicadas pelas organizações de serviços, do ramo de agências de comunicação, do estado de Santa Catarina ? Figura 12 – Componentes da formulação do problema de pesquisa A constatação dos fatores mencionados acima contribuiu para a formulação da seguinte indagação, a qual consiste no problema da pesquisa: Que estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento são aplicadas pelas organizações de serviços, do ramo de agências de comunicação, do Estado de Santa Catarina? 4.2 Objetivos da pesquisa de campo O presente projeto tem os seguintes objetivos de pesquisa: a) Objetivo geral: Conhecer a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento de agências de comunicação do Estado de Santa Catarina. b) Objetivos específicos: Identificar a aplicação das estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento; Identificar deficiências ou oportunidades de melhoria na aplicação das estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento; Identificar 92 a opinião das agências sobre a importância da aplicação das estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento. 4.3 Questões gerais de pesquisa As questões gerais de pesquisa correspondem ao conjunto de indagações amplas relacionadas aos componentes específicos do problema e aos objetivos de pesquisa. As questões gerais da pesquisa são três e foram baseadas na estrutura teórica sobre as estratégias de marketing aplicadas pelas organizações de serviços: a) Como são aplicadas as estratégias de segmentação de mercado pelas agências de comunicação? b) Como são aplicadas as estratégias de diferenciação competitiva pelas agências de comunicação? c) Como são aplicadas as estratégias de posicionamento de marca ou serviços pelas agências de comunicação? 4.4 Fontes de dados A pesquisa utilizou diversas fontes de dados primários e secundários. As fontes principais de dados primários foram as seguintes: proprietários das agências de comunicação, dirigentes responsáveis pelo atendimento de clientes nas agências de comunicação e/ou dirigentes responsáveis pelo planejamento de novos negócios nas agências de comunicação. As fontes principais de dados secundários foram as seguintes: a) Publicações de referência do ramo de agências de comunicação, como Meio & Mensagem, Anuário da Propaganda, Revista da Propaganda e Caderno de Propaganda e Marketing da Folha de São Paulo; b) Artigos da imprensa publicados pelos principais jornais e revistas do estado sobre as agências de comunicação investigadas, como A Notícia, Diário Catarinense e Revista da ACP; 93 c) Casos premiados das agências por entidades como ADVB e Associação Brasileira de Colunistas e Profissionais do ano/Globo; d) Materiais fornecidos pelas agências de comunicação investigadas, como prospectos, portfólio de produtos, material de treinamento, documentos internos, publicações internas, manuais de orientação, descrições de missão, visão e valores; e) Web/site corporativo das agências investigadas e de serviços especializados no ramo, como www.colunistas.com, www.mmonline.com.br, www.cenp.com.br, www.adonline.com.br, www.sapesc.com.br, www.tudocom.com, www.casadacomunicação.com.br e www.aconteceaqui.com; f) Escolas e universidades com cursos de marketing e propaganda de referência em nível nacional e estadual: Universidade de São Paulo (ECA e FEA/USP), Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), Fundação Getúlio Vargas (EAESP), Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Universidade Regional de Blumenau (FURB) e Universidade do Vale de Itajaí (UNIVALI); g) Entidades relacionadas ao setor de comunicação como: Sindicato das Agências de Propaganda de Santa Catarina (SAPESC), Associação Catarinense de Propaganda (ACP), Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), Associação Brasileira das Agências de Publicidade (ABAP), Federação Nacional das Agências de Propaganda (FENAPRO), Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP), Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB/SC) e Associação dos Profissionais de Propaganda (APP). 4.5 Variáveis de pesquisa As variáveis de pesquisa correspondem ao conjunto de medidas ou propriedades a serem mensuradas no processo de investigação. O quadro 4 apresenta o conjunto de variáveis da pesquisa, caracterizadas pela natureza qualitativa e distribuídas por questão geral de pesquisa. As variáveis da pesquisa foram baseadas na fundamentação teórica sobre as estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento para as organizações de serviços e na contribuição de especialistas de mercado que participaram da verificação do instrumento de coleta de dados. 94 Questão de pesquisa Variável de pesquisa Segmentação de mercado Mercado-alvo; forma de abordagem de mercado; processo de segmentação de mercado Diferenciação competitiva Estratégias de diferenciação; sistemática de determinação das estratégias de diferenciação; visão sobre a importância da diferenciação competitiva; diferenciações e/ou inovações imitadas pelos concorrentes; procedimentos adotados para atenuar as imitações; diferenciações e/ou inovações imitadas pelas agências Posicionamento de marca ou serviços Posicionamento desejado pelas agências; dimensões utilizadas nos conceitos de posicionamento; avaliação dos conceitos de posicionamento estabelecidos; público-alvo da comunicação do posicionamento; formas utilizadas de comunicação do posicionamento; sistemáticas de identificação do posicionamento; avaliação sobre a importância da estratégia de posicionamento Quadro 4 – Variáveis de pesquisa 4.6 Metodologia de pesquisa A coleta de dados foi realizada via pesquisa exploratória, de natureza qualitativa e de abordagem direta. A pesquisa exploratória e qualitativa compreende um processo de investigação flexível, não totalmente estruturado, não-probabilístico, com amostragem pequena e com o propósito de proporcionar a compreensão e/ou a obtenção de insights sobre um dado problema de pesquisa. A pesquisa de abordagem direta compreende um processo de investigação cujos objetivos e patrocinadores são evidenciados ou revelados aos elementos entrevistados. Neste estudo, a pesquisa exploratória e qualitativa é utilizada por vários motivos. O marketing de serviços é relativamente novo como campo de estudo. A disponibilidade de materiais e publicações sobre marketing de serviços é relativamente limitada. A disponibilidade de conhecimento acadêmico sobre gestão de marketing de agências de comunicação é relativamente restrita. O estudo pretende realizar uma investigação ampla e profunda sobre o assunto. A pesquisa deve proporcionar melhor compreensão sobre o problema investigado. Os resultados devem propor direcionamento para futuras pesquisas de caráter conclusivo e de natureza quantitativa no ramo de agências de comunicação. O método principal de coleta de dados foi entrevista pessoal, individual, de interação face-aface, em profundidade, no ambiente natural do entrevistado e aplicada de forma fracionada. A 95 entrevista pessoal individual envolve a sondagem de relatos verbais, conduzida por entrevistador treinado e com entrevistados individuais. A entrevista em profundidade envolve a exploração detalhada das questões de pesquisa, o desenvolvimento de estímulos de respostas abertas e a obtenção de relatos abundantes, pormenorizados e intensos de fatos e opiniões sobre os assuntos investigados. A entrevista fracionada envolve a aplicação do roteiro de entrevista em etapas e em momentos diferentes. Neste estudo, a entrevista pessoal e em profundidade foi selecionada por diferentes motivos. O método tende a possibilitar: participação maior das agências pesquisadas; oportunidade para o estabelecimento de empatia com os entrevistados; obtenção de respostas complexas, amplas e detalhadas; consecução de respostas emocionais e sentimentos subjacentes às opiniões manifestadas; esclarecimento de questões aos entrevistados; utilização de recursos visuais na coleta de dados; sondagem de assuntos confidenciais e delicados; nível necessário de estruturação e abertura na coleta de dados. Esse método de entrevista é também compatível com o tipo de pesquisa, o perfil dos entrevistados (executivos, profissionais, especialistas) e a habilidade do pesquisador. Como forma de complementação e validação dos relatos verbais, alguns métodos adicionais de coleta de dados foram utilizados, quando necessários: análise de documentos, publicações e materiais visuais fornecidos pelas agências; inferência de fatos e opiniões não relatados, mas observados nos contatos com as agências; entrevistas com especialistas de mercado conhecedores das agências; entrevistas com ex-funcionários, clientes e fornecedores das agências. A população-alvo da pesquisa são as agências de comunicação principais do estado de Santa Catarina, sendo constituída pelas agências credenciadas no CENP (Conselho Executivo de Normas-Padrão), filiadas à ABAP (Associação Brasileira das Agências de Publicidade) ou ao SAPESC (Sindicato das Agências de Propaganda de Santa Catarina), com tempo mínimo de fundação de 10 anos e com número mínimo de 18 funcionários, em fevereiro de 2006. A pesquisa considerou como agência de comunicação a: [...] empresa criadora/produtora de conteúdos impressos e audiovisuais, especializada nos métodos, na arte e na técnica publicitárias, através de profissionais a seu serviço que estuda, concebe, executa e distribui propaganda aos veículos de comunicação, por ordem e conta de clientes anunciantes com o objetivo de promover a venda de mercadorias, produtos, serviços e imagem, difundir idéias ou informar o público a respeito de organizações ou instituições a que servem (CENP, 2004, p. 05). 96 O processo de amostragem empregou a técnica não probabilística e por julgamento. A amostragem não probabilística envolve a abordagem subjetiva e o desconhecimento da probabilidade de seleção dos elementos da amostra. A amostragem por julgamento envolve a seleção de amostra baseada na avaliação e estratégia do pesquisador. Essa técnica de amostragem é indicada para pesquisas exploratórias, de natureza qualitativa, de amostragem reduzida, sem a preocupação com inferências populacionais e com possibilidade de seleção de elementos que atendam aos critérios estabelecidos para a representatividade da populaçãoalvo. A listagem de um extrato das principais agências de comunicação de Santa Catarina foi elaborada a partir de dados fornecidos pelo SAPESC, CENP, Meio & Mensagem e Associação Catarinense de Propaganda. A estrutura da amostra, composta por 8 elementos, foi selecionada a partir dessa listagem e com base no julgamento do pesquisador e de especialistas de mercado (gerentes de marketing de empresas clientes, consultores de marketing, profissionais de veículos de comunicação e profissionais do ramo de agências de comunicação). O Quadro 5 contém a relação das agências de comunicação selecionadas e que participaram da pesquisa Agência Razão social Localização CMC Central de Marketing e Comunicação Jaraguá do Sul/SC FórmulaGrey Fórmula Comunicação Florianópolis/SC Free Free Reichert Comunicação Blumenau/SC Metra Metra Publicidade Blumenau/SC NeoVox OneWG PEB Propague NeoVox Comunicação Florianópolis/SC OneWG Multicomunicação Florianópolis/SC Pólo, Equipe e Borghoff Comunicação Propague Serviços de Comunicação Joinville/SC Florianópolis/SC Proprietários Christiane e Karen Hufenüssler Petrônio Estrela e Cláucio Chagalo Roberto e Romeu Reichert Eduardo Zilinsky Juarez Beltrão, Rodrigo Lapolli e Fábio Veiga Wilfredo Gomes e Luiz Barbosa Paulo Vitorio e Francisco Borghoff Roberto e Marilena da Costa Ano de abertura Qte. de funcionários Entidades associadas Cenp, Abap e Sapesc 1991 18 1995 30 Cenp e Abap 1986 30 Cenp e Sapesc 1990 19 Cenp e Sapesc 1995 27 Cenp e Sapesc 1985 53 Cenp e Sapesc 1976 45 Cenp e Sapesc 1962 45 Cenp, Abap e Sapesc Quadro 5 – Relação das agências de comunicação pesquisadas Os fatores qualitativos que influenciaram na determinação do tamanho da amostra foram: a natureza exploratória da pesquisa, o número de variáveis investigadas, o método agregado de análise dos dados e as restrições de tempo e recursos da pesquisa. No julgamento de seleção da amostra pelo pesquisador e especialistas de mercado, a questão-critério utilizada foi: Quais 97 são as melhores agências de comunicação do Estado de Santa Catarina? As agências selecionadas para a pesquisa foram aquelas mais mencionadas nas respostas a essa questão. 4.7 Instrumento de coleta de dados Na pesquisa, os dados primários principais foram coletados via roteiro de entrevista, semiestruturado com perguntas abertas, específicas e de mensuração nominal e ordinal. Como a natureza da pesquisa requer, o roteiro contém perguntas de enunciado específico para mensurar com mais exatidão a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento das agências e contém também perguntas abertas para possibilitar aos entrevistados um relato livre de fatos e opiniões sobre os assuntos investigados. O apêndice A contém a versão aplicada do roteiro de entrevista. O roteiro de entrevista semi-estruturado foi utilizado com as seguintes finalidades: atenuar as incertezas decorrentes de entrevistas abertas e não estruturadas; assegurar o direcionamento da pesquisa para o problema e objetivos desejados; tornar a coleta de dados menos suscetível ao sistema de referência do entrevistador; garantir que todas as variáveis investigadas sejam efetivamente coletadas; otimizar o tempo dos entrevistados no fornecimento de dados; possibilitar ao pesquisador obter a quantidade necessária de informações; auxiliar na estruturação da análise dos dados. A estrutura do roteiro de entrevista utilizado é composta por seis elementos. Primeiro, a folha de rosto apresenta a denominação da pesquisa, do pesquisador e da instituição credenciadora do trabalho. Segundo, os dados da agência são destinados à caracterização da organização objeto de estudo. Terceiro, os dados do entrevistado são destinados à caracterização da fonte pessoal de informações sobre a organização investigada. Quarto, as informações preliminares contêm as considerações iniciais da entrevista a serem comunicadas pelo pesquisador. Quinto, o conteúdo da entrevista compreende as perguntas sobre gestão e marketing, organizadas em seções por questão geral de pesquisa e em subseções por variável de pesquisa. Sexto, o roteiro de entrevista contém ainda algumas linhas para anotações por subseção para possibilitar o registro de dados não verbais e/ou observações complementares. 98 As questões do roteiro de entrevista tiveram quantidade, seqüência e natureza determinadas. A quantidade de questões assegurou a avaliação das variáveis de pesquisa, garantiu a cobertura de todos os assuntos investigados, possibilitou a verificação da fidelidade das respostas e auxiliou na validade da pesquisa. A seqüência orientou a formulação de perguntas pelo entrevistador e facilitou a compreensão, reflexão e resposta pelo entrevistado. A natureza das questões assegurou a coleta de informações explicitas (ex: quais são os tipos de clientes atendidos pela agência?) e de informações implícitas (ex: qual é a visão da agência sobre a importância de direcionar os esforços de marketing para determinados clientes?). O roteiro de entrevista foi elaborado a partir do referencial teórico disponível sobre as estratégias de marketing recomendadas por autores, pesquisadores e especialistas para as organizações de serviços. Os passos para a elaboração do roteiro de entrevista foram os seguintes: identificação dos dados e informações a serem coletados; definição sobre os tipos de perguntas a serem empregados; redação do esboço inicial das questões; revisão e reformulação do conjunto de questões; verificação do roteiro de entrevista; reformulação e edição final do roteiro de entrevista. A verificação do roteiro de entrevista foi efetuada em substituição ao pré-teste adotado em questionários estruturados e teve os propósitos de: assegurar que o conteúdo (assunto) das perguntas seja apropriado ao ramo de agências de comunicação; avaliar se o enunciado (redação) das perguntas é claro e fácil de entendimento; verificar a existência de perguntas redundantes ou desnecessárias; identificar a existência de perguntas comprometedoras e com probabilidade de não obtenção de respostas; obter sugestões de novas perguntas e/ou exemplos de respostas; obter sugestões de estratégias de aplicação do roteiro de entrevista; possibilitar o treinamento do pesquisador na aplicação do roteiro de entrevista. O apêndice B contém o protocolo utilizado na verificação do roteiro de entrevista. As atividades realizadas na verificação do roteiro de entrevista foram as seguintes: apresentação inicial do objetivo, importância, funcionamento e forma de aplicação da pesquisa; explicação dos aspectos a serem verificados no roteiro de entrevista; preenchimento do protocolo de verificação; leitura pelo avaliador de cada seção de questões do roteiro de entrevista; registro de comentários, problemas e sugestões de melhorias apresentadas pelo verificador; ao final da verificação, o pesquisador solicitou ainda ao verificador comentários gerais sobre o roteiro de entrevista e sugestões de aplicação. As duas verificações finais foram 99 gravadas em áudio para a avaliação posterior da entrevista e a observação da influência do gravador sobre o comportamento do entrevistado. Após cada verificação, o roteiro de entrevista foi reformulado e o modelo final resultou de quatro reformulações. O quadro 6 apresenta a relação dos verificadores do roteiro de entrevista. A seleção de verificadores teve como critérios os seguintes: idade, experiência em marketing; experiência no ramo de agências de comunicação; conhecimento da realidade do Estado de Santa Catarina e experiência como clientes de agências e/ou como dirigentes de agências de comunicação. o. N 1 2 3 4 Verificador Idade Adrian Eugênio de 52 anos Souza Roberto José Kawiski Walter Cezar Biselli 51 anos Rubens Cabral Ribeiro 56 anos 48 anos Experiência Diretor da Estação de Idéias e Marketing; ex-gerente de marketing da Docol; ex-gerente de novos negócios da Formula Comunicações e ex-gerente de conta da Núcleo Sul Comunicações. Diretor da Segment Comunicações; ex-diretor da Polo Comunicações Superintendente do Shopping Muller de Joinville; ex-diretor de marketing do Laboratório Catarinense; ex-presidente da Oxford; ex-executivo de marketing da Nestle e Votorantim Diretor da R&S Consultores; ex-gerente de marketing da Tubos Tigre; ex-assessor da presidência da Portobelo; exgerente de projetos de consultoria em marketing da Audit Consultores Data 30/12/2005 Horário 14:30h às 18:00h 02 e 03/01/06 17:00h às 19:00h 3/1/2006 11:00h às 12:45h 5/1/2006 16:30h às 18:30h e 20:30h às 00:00h Quadro 6 – Relação dos verificadores do roteiro de entrevista 4.8 Planejamento da coleta de dados A implementação da coleta de dados da pesquisa envolveu cinco etapas principais: preparação do roteiro de entrevista; definição das agências de comunicação a serem investigadas; execução das entrevistas; verificação e transcrição das entrevistas; análise e redação dos resultados da pesquisa. A etapa de preparação do roteiro de entrevista compreendeu as atividades de elaboração do roteiro preliminar de entrevista; de seleção dos verificadores do roteiro de entrevista; de realização das verificações do roteiro de entrevista; de elaboração da versão definitiva do roteiro de entrevista; de impressão dos formulários do roteiro de entrevista. 100 A etapa de definição das agências de comunicação envolveu as atividades de elaboração do material de apresentação do projeto de pesquisa; de comunicação e solicitação de apoio do SAPESC (Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de Santa Catarina) e da ACP (Associação Catarinense de Propaganda) para o projeto de pesquisa; de elaboração da relação das principais agências de comunicação do estado, com base nos critérios estabelecidos de identificação; de seleção das agências de comunicação a serem investigadas, em conjunto com os especialistas de mercado. A etapa de execução das entrevistas envolveu as atividades de envio de e-mail convite às agências-alvo da pesquisa (Apêndice C); reunião de apresentação do projeto e convite para participação; de execução das entrevistas em profundidade; coleta de dados complementares. As entrevistas foram aplicadas pelo próprio pesquisador, nas instalações de serviços das agências de comunicação. A coleta de dados primários em cada agência de comunicação teve 02 entrevistas, com duração média de 1:30h por entrevista. A etapa de verificação/transcrição das entrevistas envolveu as atividades de confirmação (checagem) dos dados coletados e de registro por escrito das conversações de entrevistas realizadas. A etapa de análise/redação dos resultados envolveu as atividades de compreensão e interpretação dos dados coletados; identificação da prática de segmentação, diferenciação e posicionamento das agências de comunicação investigadas; de redação da apresentação e análise dos resultados da pesquisa; de redação das conclusões e propostas de melhorias para a prática de marketing das agências. O Quadro 7 apresenta a estimativa detalhada do cronograma de realização das atividades envolvidas na coleta de dados primários. 101 ATIVIDADES PRINCIPAIS JAN CRONOGRAMA - 2006 FEV MAR ABR MAI Elaboração do roteiro preliminar de entrevista Seleção dos verificadores do roteiro de entrevista Execução das verificações do roteiro de entrevista Elaboração da versão definitiva do roteiro de entrevista Impressão dos formulários do roteiro de entrevista Elaboração do material de apresentação do projeto de pesquisa Identificação das principais agências de comunicação do estado Seleção das agências de comunicação a serem investigadas Comunicação e solicitação de apoio ao SAPESC e ACP Envio de e-mail convite às agências-alvo da pesquisa Reunião de apresentação do projeto e convite de participação Execução das entrevistas em profundidade Coleta de dados complementares Verificação dos dados coletados Transcrição das conversações das entrevistas Análise dos dados coletados Redação da apresentação e análise dos resultados Redação das conclusões da pesquisa e propostas de melhorias Quadro 7 – Cronograma de coleta de dados 4.9 Sistemática de documentação e verificação dos dados Os dados coletados foram documentados e verificados para assegurar a validade e confiabilidade da pesquisa. A sistemática de documentação compreendeu as atividades de gravação de áudio das entrevistas, transcrição da conversação das entrevistas, execução de notas de campo e obtenção de materiais visuais complementares. A gravação de áudio das entrevistas foi feita via equipamento digital e portátil, modelo Sony ICD-P210, com capacidade de memória para 15:45h. A gravação de áudio teve por finalidade: facilitar a transcrição das entrevistas, possibilitar a ampliação da coleta de informações e tornar o registro de dados menos dependente da perspectiva do entrevistador. Os entrevistados foram comunicados sobre a gravação e o equipamento de gravação foi colocado no bolso do entrevistador (local não visível), para atenuar os efeitos da influência da gravação sobre o discurso dos entrevistados. A transcrição da conversação das entrevistas foi feita via sistema de transcrição simples, contendo os padrões básicos de redação e atendendo aos limites mínimos, de quantidade e 102 exatidão do discurso, exigidos pelo estudo. A transcrição facilitou a compreensão e interpretação dos dados e contribuiu para a melhoria na exatidão das medições. A execução de notas de campo envolveu as anotações do pesquisador no roteiro de entrevista, durante as entrevistas e/ou após a verificação das entrevistas. As notas de campo auxiliaram no registro de evidências, observações e dados não verbais identificados na ocasião da coleta de dados primários. A obtenção de materiais visuais incluiu a aquisição de fotografias, documentos, manuais e outros materiais visuais disponibilizados pelas agências de comunicação durante a coleta de dados. A obtenção de materiais visuais facilitou a ilustração, exemplificação, demonstração e complementação dos dados e informações fornecidos pelos entrevistados. A sistemática de verificação dos dados teve o propósito de controlar o padrão de qualidade dos dados coletados. A verificação ocorreu via confirmação dos dados coletados ao final de cada entrevista e no próprio local da entrevista, observando se as perguntas foram todas realizadas, se a gravação de áudio foi adequadamente efetuada, se as observações complementares foram registradas e se os materiais visuais necessários foram coletados. No caso de dúvidas, problemas ou ausências de informações, o entrevistador fez contato imediato, pessoal ou por telefone, com os informantes para o acerto das verificações. Quando os manuscritos do entrevistador estavam ilegíveis ou resumidos em demasia, as anotações foram corrigidas e/ou complementadas. Algumas providências tomadas para evitar vieses de pesquisa foram as seguintes: assegurar a capacitação do entrevistador; obter informações antecipadas sobre as agências entrevistadas; sensibilizar os entrevistados para a importância e os objetivos da pesquisa; estabelecer empatia com os entrevistados; criar clima de cordialidade e confiança favorável à espontaneidade e sinceridade dos entrevistados; evitar a manifestação de pensamentos e o uso de expressões que influenciam as opiniões dos entrevistados; evitar comportamentos de entrevistador austero, efusivo, falante e tímido; demonstrar interesse e curiosidade pelas opiniões dos entrevistados; no caso de dúvida ou imprecisão nas respostas, solicitar explicações ou motivos que esclareçam os relatos dos entrevistados. 103 4.10 Procedimentos de análise dos dados Os dados primários coletados são exploratórios, qualitativos e oriundos de entrevistas em profundidade. Esse tipo de dados requer procedimentos de análise adequados para a organização, compreensão e interpretação dos dados, bem como para a identificação e conclusão sobre a realidade investigada. Como convém aos dados e estudos dessa natureza, o método de análise utilizado foi o descritivo, com as técnicas de categorização e codificação temática. A categorização envolveu a fragmentação, classificação e agrupamento dos dados em categorias (conceitos genéricos). A codificação temática envolveu a definição a priori de rótulos para as categorias de dados, com base na literatura, nas variáveis de pesquisa e/ou nas questões gerais de pesquisa. O Quadro 8 apresenta as categorias de dados e as respectivas dimensões utilizadas no procedimento de análise da pesquisa. As fontes potenciais de identificação das categorias, codificações e dimensões foram os conceitos apresentados na fundamentação teórica e nas definições iniciais do projeto de pesquisa. Categorias Mercado-alvo Dimensões Tipos de clientes atendidos; características e necessidades dos clientes; tipos de clientes-alvo; visão sobre a importância do direcionamento dos esforços de marketing para determinados clientes. Estratégia de abordagem Formas de abordagem de mercado; Ofertas de serviços de mercado Processo de segmentação Forma de identificação e seleção dos tipos de clientes-alvo; características de atratividade dos clientesde mercado alvo; características de atratividade das agências de comunicação; formas de reconhecimento de oportunidades de novos tipos de clientes; métodos de pesquisa para segmentação de mercado; bases de classificação de clientes; administração da compatibilidade entre clientes. Diferenciação competitiva Estratégias de diferenciação; sistemática de determinação das estratégias de diferenciação; visão sobre a importância da diferenciação competitiva; diferenciação e/ou inovações imitadas pelos concorrentes; procedimentos para atenuar as imitações; diferenciações e/ou inovações imitadas pelas agências Posicionamento de marca Posicionamento desejado (identidade de marca); dimensões e avaliação dos conceitos de posicionamento; ou serviço públicos-alvo e formas de comunicação do posicionamento desejado; sistemática de identificação do posicionamento percebido; avaliação sobre a importância do posicionamento. Quadro 8 – Categorias de dados utilizadas na análise O método de análise teve por objetivo identificar padrões nos dados coletados relacionados aos tópicos seguintes: estratégias aplicadas pelas agências de comunicação; formas de 104 aplicação das estratégias; sistemática de determinação das estratégias; visão das agências sobre a importância da aplicação das estratégias. 105 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS O propósito deste estudo é conhecer a prática de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca de organizações de serviços. Este capítulo descreve a apresentação e análise dos resultados da pesquisa empírica realizada sobre a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento de agências de comunicação do Estado de Santa Catarina. Com relação à segmentação de mercado, a pesquisa procurou identificar o mercado-alvo, a estratégia de abordagem de mercado e a sistemática de segmentação de mercado das agências pesquisadas. Os itens específicos investigados foram: a) características e necessidades dos clientes, tipos de clientes-alvo e visão sobre a importância do direcionamento para determinados clientes; b) forma de abordagem de mercado e tipos de serviços oferecidos; c) forma de seleção dos tipos de clientes-alvo, características de atratividade dos clientes-alvo, características de atratividade das agências, forma de reconhecimento das oportunidades de novos tipos de clientes, métodos de pesquisa utilizados na segmentação de mercado, bases de classificação de clientes e administração da compatibilidade entre os clientes. No que tange à diferenciação competitiva, a pesquisa buscou verificar sobre as estratégias de diferenciação competitiva, a sistemática de determinação das estratégias de diferenciação, a visão sobre a importância da diferenciação competitiva, as diferenciações e/ou inovações imitadas pelos concorrentes, os procedimentos adotados para atenuar as imitações de concorrentes e a utilização de inovações e/ou diferenciações introduzidas por outros competidores. Com relação ao posicionamento de marcas ou serviços, a pesquisa procurou levantar o posicionamento desejado pelas agências, as dimensões de posicionamento utilizadas, a qualidade dos conceitos de posicionamento, a forma de comunicação do posicionamento, a sistemática de identificação do posicionamento percebido e a visão sobre a importância da estratégia de posicionamento. Tanto a apresentação como análise dos resultados estão organizadas em seções, por questões gerais de pesquisa e em subseções por variáveis de pesquisa. Os assuntos principais, que 106 correspondem às seções, são: mercado-alvo, estratégia de abordagem de mercado, sistemática de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca ou serviços. Em atendimento ao compromisso assumido com as agências de comunicação estudadas, a apresentação e a análise dos resultados não identificam o nome nem a prática individual das agências participantes do estudo. 5.1 Mercado-alvo das agências de comunicação O mercado-alvo compreende os segmentos de mercado selecionados como alvo dos esforços de marketing da organização. Sobre esse assunto, a pesquisa identificou os tipos de clientes que estão sendo atendidos, as características e necessidades desses clientes, os tipos de clientes desejados e a visão da agência sobre a importância do direcionamento dos esforços de marketing para determinados clientes. 5.1.1 Tipos de clientes atendidos No setor de manufatura, as agências pesquisadas prestam serviços para organizações dos ramos de indústria de confecção, indústria de móveis, indústria de produtos de decoração, indústria de alimentos, indústria de plásticos, indústria de materiais de construção, indústria de colchões e estofados, indústria de embalagens e etiquetas, indústria de tecidos para camamesa-banho, indústria de fios e lãs, indústria de tintas e solventes, indústria de medicamentos, indústria de produtos de limpeza, indústria de calçados, indústria de máquinas de lavar, indústria de água mineral, indústria de cerâmicas, indústria de fumo e indústria de colas e adesivos. No setor de serviço, as agências atendem a organizações dos ramos de instituições de ensino, veículos de comunicação, entidades de classe, associações empresariais, hotéis e pousadas, indústria de softwares, hospitais, clínicas médicas, laboratórios de exames, partidos políticos, restaurantes, organizadores de eventos, indústria de telecomunicações, usinas produtoras de 107 energia elétrica, bancos, construtoras, indústria de entretenimento e serviços de logística para exportação. No setor de varejo, as agências pesquisadas prestam serviços para organizações dos ramos de supermercados, hipermercados, lojas de produtos para o lar, lojas de revenda de automóveis, lojas de produtos esportivos, shopping center, centros comerciais, lojas de produtos de vestuário, redes de farmácia e lojas de produtos cerâmicos. No setor público-governamental, as agências atendem a autarquias (entidades públicas com autonomia) e/ou gabinetes de prefeituras e governos de estado. Em âmbito municipal ou estadual, os clientes são geralmente as secretarias de planejamento, comunicação, educação, saúde, segurança pública, bem-estar social, infra-estrutura, esporte e turismo. Algumas das agências de comunicação pesquisadas têm como política o não atendimento a determinados setores ou ramos de atividade. Os exemplos principais são os setores de varejo e público-governamental. Para essas agências, o setor de varejo é desinteressante porque os clientes são muito exigentes, requerem muito envolvimento, demandam muito por serviços de gráfica, costumam solicitar serviços de curto prazo e possibilitam margens reduzidas. O setor público-governamental foi mencionado como desinteressante porque esses clientes têm critérios de contratação não técnicos, adotam processos de seleção orientados para preços, requerem perfil político-partidário e apresentam maiores possibilidades de risco para a agência. 5.1.2 Características e necessidades dos clientes Os clientes das agências de comunicação estudadas têm características e comportamentos diferentes, conforme o setor ou ramo de atividade (Quadro 9). As diferenças estão relacionadas aos aspectos: público-alvo da comunicação, disponibilidade de canais de distribuição, disponibilidade de pessoal próprio especializado em marketing, utilização de planejamento anual de comunicação, grau de exigência com os serviços, forma de contratação da agência, disponibilidade de tempo de realização dos serviços e características do mercado. 108 Em decorrência das diferenças de características e comportamentos, os clientes das agências de comunicação pesquisadas têm também necessidades e expectativas de serviços diferentes, que requerem formas de atendimento e estratégias de comunicação variadas. MANUFATURA Público principal é constituido de organizações componentes do trade (revendedor, varejista) VAREJO Público principal é constituído de consumidores finais e tem perfil muito variado Comunicação tem objetivos de construção da Comunicação tem objetivos de venda de imagem, estímulo ao produto, lembrança da produtos, divulgação de ações promocionais e atração de clientes marca e apresentação de diferenciais competitivos SERVIÇOS PÚBLICO-GOVERNAMENTAL Público principal é constituído de Público principal é constituido da consumidores finais, organizações e comunidade em geral e de influenciadores de funcionários e apresenta perfil muito variado opinião Comunicação tem objetivos de educação de Comunicação tem objetivos de informação (campanhas de vacinação e IPTU), prestação clientes (formas de aquisição e consumo), conhecimento de ofertas ou acontecimentos e de contas (apresentação de ações realizadas) e preservação da imagem institucional. redução de risco percebido no serviço A utilização de planejamento anual de comunicação é mais freqüente Há atividades programadas para as datas Há atividades programadas para datas promocionais (páscoa, natal, dias das mães) peculiares (vestibular, férias e estação do ano) A formatação de serviços na fase de contratação é mais freqüente (tema, ações, tipo de material e forma de execução) Os serviços dispõem mais de tempo para planejamento e execução Os serviços requerem ações de oportunidade Os serviços requerem a comunicação de oportunidade e dispõem de tempo menor para planejamento e execução Os serviços tendem a ser volumosos e a disponibilidade de tempo para planejamento e execução é maior Disponibilidade de profissionais próprios especializados em marketing é mais freqüente Os clientes são exigentes e costumam acompanhar detalhes dos serviços Disponibilidade de profissionais próprios especializados em marketing é menos freqüente Disponibilidade de profissionais próprios especializados em marketing é menos freqüente Abertura para recomendações e inovações pela agência é maior A mensuração e cobrança de resultados é mais imediata Mercado é mais sazonal e provoca desequilíbrios entre os níveis de oferta e demanda A verba disponível para investimentos em comunicação é previamente estabelecida Presença de canais de distribuição é mais freqüente Serviços são mais contratados via convites ou processos de concorrência Mercado é dinâmico e com sensibilidade maior para mudanças Sistema de remuneração por job é mais freqüente Presença de canais de distribuição é menos freqüente Sistema de remuneração por job é mais freqüente Mercado envolve sensibilidade política e apresenta maior risco Serviços são contratados via processos de licitação pública Quadro 9 – Resultados de características e comportamentos dos clientes Os clientes de varejo necessitam mais de serviços de propaganda de massa, merchandising no ponto de venda, promoção de eventos, promoção de vendas (ex: liquidações, ofertas semanais e concursos de incentivo), acompanhamento de produtos e mercados, Web/site corporativo, marketing on-line e comunicação via material gráfico. Tais clientes tendem a requerer da agência estrutura de pessoal com experiência em varejo, preparo para prestar serviços de volume e em prazo curto e capacidade para acompanhar o dinamismo do mercado e das ações de oportunidade. Os clientes de manufatura necessitam mais de serviços de propaganda direcionada, promoção de eventos (ex: lançamento de produtos), material de vendas (ex: folheto e catálogo de produtos), assessoria de imprensa, merchandising para o trade (ex: banner, expositores e cartazes), ações cooperadas, brindes para clientes, ações de posicionamento de marca, pesquisas de marketing, marketing direto (ex: mala–direta e marketing on-line) e promoção de vendas. Tais clientes tendem a requerer da agência estrutura de pessoal com conhecimento em canais de distribuição, capacidade para interagir com especialistas em marketing de 109 organizações contratantes e habilidades para atuar de forma planejada, desenvolver gestão de marcas e oferecer soluções que ultrapassem a comunicação via propaganda. Os clientes de serviços necessitam mais de propaganda segmentada, assessoria de imprensa, promoção de eventos, publicação própria (informativos e revistas), posicionamento de marca, marketing direto (mala-direta, venda em quiosques), Web/site corporativo, brindes para clientes, material gráfico, merchandising no ponto-de-venda, marketing interno e marketing de relacionamento.Tais clientes tendem a requerer da agência capacidade de atuação em mercados sazonais, conhecimento em marketing interno, datas peculiares do ramo e mídias alternativas, além da competência para comunicação de produto intangível, de risco percebido elevado e que requer comunicação boca-a-boca positiva. Os clientes público-governamental necessitam mais de serviços de propaganda de massa (ex: televisão, jornal e radio), assessoria de imprensa, promoção de eventos, patrocínio de atividades comunitárias, Web/site corporativo, publicação em mídias de abrangência local e comunicação institucional ou informativa. Tais clientes tendem a requerer da agência sensibilidade político-partidária, capacidade de participar em processos de licitação, propostas de serviços mais detalhadas, processos de serviços mais documentados, política de priorização de fornecedores locais e capacidade financeira para intermediar pagamentos de fornecedores e veículos de comunicação. Esses resultados da pesquisa confirmam as afirmações de Bolton; Myers (2003), de que os clientes de organizações de serviços tendem a ter características e comportamentos distintos, a valorizar de modo diferente um mesmo serviço e a demandar por serviços e formas de atendimento personalizadas. 5.1.3 Tipos de clientes-alvo As agências de comunicação pesquisadas utilizam um conjunto de características para a identificação e descrição dos tipos de clientes ou segmentos de mercado selecionados como alvo dos esforços de marketing da organização. O Quadro 10 reúne as características dos tipos de clientes-alvo mencionadas pela totalidade das agências de comunicação pesquisadas. As 110 características estão classificadas em demográficas, perfil da organização, processo de compra e fatores situacionais. Demográficas Organização que pertença a ramos de atividade agressivos em comunicação Organização que pertença a ramos de atividade importantes Organização importante ou ascendente em determinados ramos de atividade Organização de porte médio ou grande Organização localizada em determinada área geográfica Perfil da organização Organização agressiva e com objetivos de crescimento Organização sem cultura de comunicação, mas interessada em desenvolvê-la Organização que atue em mercado que esteja em expansão Organização que seja anunciante forte em meios de comunicação de massa Organização consciente da importância estratégica da comunicação e do marketing Organização com administração profissionalizada Organização com valores e características semelhantes ao da agência Processo de compra Organização que disponha de profissionais especializados em marketing Organização com política de contratação de agência na forma de contrato anual Organização com sistemática de remuneração por valor fixo/mensal (fee ) Organização disposta a desenvolver relacionamento de longo prazo com a agência Organização com postura ética no relacionamento com os fornecedores Fatores situacionais (perfil da demanda) Organização que demande por serviços de qualidade e criatividade Organização que demande por serviços com possibilidade de conquistar premiações Organização cuja demanda possa ser atendida com serviços eficazes e de resultados Organização cuja demanda possa ser atendida com planejamento adequado Organização com verba de comunicação disponível superior a determinado patamar Quadro 10 – Resultados de tipos de clientes-alvo As características mais mencionadas, utilizadas por diversas agências, são: organização pertencente a ramo de atividade importante, organização localizada em determinada área geográfica, organização com objetivo nítido de crescimento, organização atuante num mercado em expansão, organização consciente da importância da comunicação, organização que remunera via valor fixo/mensal (fee), organização disposta a desenvolver relacionamento de longo prazo, organização ética no relacionamento com fornecedores e organização com verba de comunicação superior a determinado patamar. Embora as agências de comunicação pesquisadas tenham definido o perfil dos clientes desejados, quase todas elas revelaram dispor, no portfólio atual, de clientes com características não compatíveis com o perfil definido, bem como a disposição para atender clientes com perfil diferente do desejado. Os motivos alegados são: necessidade de obter um 111 determinado faturamento ou volume de serviços; dificuldade de conquistar novos clientes; existência de clientes com perfil não desejado, mas cujo atendimento é viável; possibilidade de determinados clientes se tornarem interessantes no futuro. Essa prática tende a gerar problemas quando a agência dispõe de um número expressivo de clientes com características incompatíveis com o perfil desejado. As agências de comunicação estudadas têm como delimitação geográfica a região sul do país, o Estado de Santa Catarina ou micro-regiões de Santa Catarina; organizações localizadas em Santa Catarina e cujo mercado-alvo seja a região sul do Brasil; organizações localizadas em outras regiões do Brasil, mas interessadas em desenvolver ações de comunicação na região Sul ou no Estado de Santa Catarina. A delimitação dos clientes-alvo com base no aspecto geográfico é praticada por quase todas as agências de comunicação pesquisadas. Segundo elas, os serviços de comunicação requerem interação pessoal, contato físico, relacionamento constante e apresentações de serviços interativas, explicadas e empolgantes. Ademais, clientes atendidos à distância tendem a gerar complicações para a agência, tais como dificuldades de relacionamento, problemas de comunicação interpessoal, elevação nos custos, tempo maior de deslocamento e dificuldades de conhecimento da organização contratante. Há agências de comunicação que não delimitam os clientes-alvo com base no aspecto geográfico ou que consideram essa delimitação um fator importante, mas não determinante do mercado de atuação. Para essas agências, há sempre interesse no atendimento de clientes de qualquer região, desde que o porte ou a verba de comunicação viabilize o deslocamento necessário do pessoal de serviços ou o estabelecimento de escritório na região do cliente. A delimitação dos clientes-alvo com base no setor ou ramo de atividade é pouco praticada pelas agências de comunicação pesquisadas. Embora elas identifiquem os setores e/ou ramos de atividade mais desejados, em função da importância que têm para a economia local ou da agressividade com que investem em comunicação de marketing, elas não consideram setor ou ramo como fatores delimitantes do mercado-alvo. O Quadro 11 apresenta os motivos mencionados pelas agências para a não delimitação do mercado-alvo com base no setor ou ramo de atividades, segundo a freqüência de citação. 112 Impossibilidade de atender a clientes concorrentes Quantidade limitada de clientes no mercado regional Crença de que conhecimentos de comunicação são aplicáveis igualmente em quaisquer setores Incertezas e riscos decorrentes da concentração Não reconhecimento de problemas ou dificuldades causados pela diversidade de clientes Possibilidade de aprendizagem com clientes diferentes Grau de diversidade da economia regional Desejo de aumentar o mercado de atuação e as chances de conquista de novos clientes Necessidade de obter um faturamento estável Visão de que a diversidade de clientes é um desafio para a agência Preferência pessoal por uma carteira de clientes diversificada Quadro 11 – Resultados de motivos da não delimitação do mercado-alvo com base no setor ou ramo de atividades Cabe destacar que, dentre as agências de comunicação pesquisadas, diversas são aquelas que aparentaram não dispor de mercado-alvo definido conscientemente ou delimitado, focalizado e formalizado adequadamente. Essas agências revelaram: não estabelecer os tipos de clientes de interesse da organização; prestar serviços para quaisquer clientes possíveis de obtenção; desejar atuar em ramos de atividades importantes, embora não definam quais são esses ramos; não delimitar a área geográfica de atuação da organização; procurar obter clientes com base apenas na verba disponível para investimentos em comunicação; definir um perfil de clientes desejados, que na prática não é adotado ou considerado pela organização. Uma das agências que revelou dispor de mercado-alvo definido adequadamente teve esse processo provocado pela detecção de problemas no passado. A agência atendia a diversos tipos de clientes, oferecia serviços variados e detinha um faturamento expressivo. No entanto, a agência padecia de falhas de serviços, insatisfação de clientes, queixas de funcionários e descontentamento com os resultados da organização. Diante dos problemas, a agência resolveu promover uma pesquisa com clientes e funcionários, cujos resultados revelaram uma organização não diferenciada e sem foco de atuação. Na ocasião, a agência decidiu redirecionar o negócio, redefinir o perfil dos clientes-alvo e reduzir a quantidade de clientes da organização. A constatação de que algumas das agências de comunicação pesquisadas não dispõem de mercado-alvo definido adequadamente revela que essas organizações de serviços, no que tange a esse aspecto, não seguem as recomendações de pesquisadores como Hoffman; Bateson (2003) e Hutt; Speh (2002). 113 5.1.4 Visão sobre a importância do direcionamento para determinados clientes Quando questionadas sobre a importância do direcionamento dos esforços de marketing para determinados clientes, a grande maioria das agências de comunicação pesquisadas avaliou que essa decisão é estratégica e fundamental para a prosperidade do negócio. Segundo elas, toda agência de comunicação deve definir os tipos de clientes que interessam mais a organização, considerando as suas características atuais, o perfil dos clientes potenciais e a situação atual do ambiente de mercado. O Quadro 12 apresenta a relação dos tipos de problemas ou dificuldades que, na visão das agências pesquisadas, podem ocorrer quando a organização não dispõe de mercado-alvo definido, delimitado e/ou focalizado adequadamente. Dificuldades para satisfazer ou superar as expectativas de certos tipos de clientes Problemas para lidar com clientes que valorizam aspectos diferentes dos serviços Dificuldades para conhecer suficientemente o negócio dos clientes Problemas para oferecer soluções customizadas e atendimento personalizado Dificuldades para dispor de competências específicas de interesse de certos clientes Problemas com a qualidade e produtividade dos serviços Dificuldades para dispor de pessoal especializado ou com conhecimento em mídias específicas Problemas com cultura organizacional indefinida ou valores não orientados para serviços Dificuldades para estabelecer estratégias de marketing Problemas com mecanismos, sistemas ou políticas de gestão conflitantes Dificuldades para obter o desempenho e a rentabilidade desejados Quadro 12 – Resultados de tipos de problemas ou dificuldades oriundos de falhas na determinação do mercadoalvo. As agências de comunicação que avaliaram a definição de mercado-alvo como fundamental entendem que essa decisão deve ser baseada em aspectos geográficos, no perfil da organização cliente, no processo de relacionamento com fornecedores e nas situações de pedidos, bem como que essa definição deve ser periodicamente revisada e atualizada, em função das mudanças ou evoluções no perfil da agência, dos clientes ou do ambiente de mercado. Algumas das agências de comunicação pesquisadas avaliaram a definição de mercado-alvo como não necessária e entendem que uma agência de comunicação não pode se propor a prestar serviços para somente determinados tipos de clientes. Para elas, essa decisão: restringe 114 a capacidade da agência de obtenção de clientes, é aplicável somente nas agências localizadas em regiões de grande potencial, é apropriada apenas para as agências especializadas em determinados serviços (ex: promoção de vendas, promoção de eventos e marketing direto) e é desnecessária porque esse aspecto não é valorizado pelos seus clientes. 5.2 Estratégia de abordagem de mercado das agências de comunicação O processo de definição de mercados-alvo envolve também a decisão sobre a estratégia de abordagem de mercado a ser empregada pela organização, ou seja, a forma de reconhecimento e tratamento das diferenças existentes entre os clientes potenciais do mercado. Nesse sentido, a pesquisa levantou as formas de abordagem de mercado utilizadas e os tipos de serviços oferecidos pelas agências de comunicação estudadas. 5.2.1 Formas de abordagem de mercado A totalidade das agências de comunicação pesquisadas revelou adotar, como estratégia de mercado, a abordagem de diversos tipos de clientes ou segmentos de mercado, com ofertas de serviços diferentes (marketing diferenciado). Em consonância com as observações de Lovelock; Wright (2002) e Kotler et al (2002), as agências estudadas utilizam amplamente essa estratégia porque: os clientes costumam demandar por serviços específicos e diversificados; as agências dispõem de estrutura financeira, operacional e de pessoal capaz de oferecer serviços diversos e diferenciados; a concentração em poucos tipos de clientes tende a elevar os riscos do negócio; as agências são líderes no mercado regional e detém posição consolidada no mercado. Na implementação da estratégia de abordagem de mercado, uma das agências de comunicação pesquisadas revelou utilizar como estratégia complementar a focalização nos serviços, ou seja, o oferecimento de produtos diversificados (soluções variadas de comunicação) para a totalidade dos clientes. As demais revelaram utilizar como estratégia complementar a focalização nos clientes, ou seja, o oferecimento de produtos específicos (soluções customizadas) para cada tipo de cliente. 115 Para assegurar a implementação da estratégia de focalização nos serviços, as agências de comunicação investem principalmente em contratação de pessoal de serviços com habilidades polivalentes e experiência em diferentes ramos de atividade, estrutura operacional capaz de oferecer diversos tipos de serviços, desenvolvimento de parceiros especializados em determinados serviços e estabelecimento de acordos de cooperação com agências que dispõem de serviços diversificados. Para assegurar a implementação da estratégia de focalização nos clientes, as agências de comunicação investem em tipos de serviços adequados para diferentes tipos de clientes; dispor de metodologias apropriadas para diagnósticos de expectativas e necessidades dos clientes; conhecer profundamente as políticas, culturas, pessoas e operações dos clientes; realizar planejamentos de comunicação para os clientes; pesquisar constantemente os ramos de atividade e negócios dos clientes; obter informações atualizadas sobre serviços e mídias especializados; desenvolver relacionamentos fortes e constantes com os clientes; oferecer serviços personalizados, mesmo quando os clientes solicitam pacotes prontos. Uma análise comparativa entre as respostas das questões sobre abordagem de mercado e definição de mercado-alvo revela a coerência de resposta das agências de comunicação pesquisadas. A estratégia de mercado adotada pela maioria das agências estudadas, “abordagem de diversos tipos de clientes com ofertas de serviços diferentes”, está em consonância com a variedade de tipos de clientes-alvo mencionada anteriormente. 5.2.2 Ofertas de serviços As agências de comunicação pesquisadas têm portfólios de serviços que podem ser considerados como amplo, extenso e profundo. Em geral, as agências oferecem uma variedade ampla de linhas de serviços, uma quantidade extensa de tipos de serviços e um número elevado de profissionais para realização dos serviços. O portfólio de serviços das agências pesquisadas compreende o conjunto de serviços de comunicação integrada, incluindo serviços de comunicação via mídias e não-mídias. O envolvimento de terceiros na prestação de serviços depende do perfil do cliente, do volume de trabalho e do nível de especialização necessário do serviço. 116 O conjunto das agências de comunicação pesquisadas oferece as seguintes linhas de serviços: propaganda de massa, propaganda segmentada, relações públicas, assessoria de imprensa, promoção de eventos, patrocínios, promoção de vendas, merchandising no ponto de venda, marketing direto, pesquisa de marketing, desenvolvimento de marca, design, marketing interno, comunicação interna e desenvolvimento de Web/site corporativo. Os tipos de serviços oferecidos pela maioria das agências de comunicação pesquisadas são planejamento de campanha, atendimento, criação, planejamento de mídia, produção, estúdio, gestão administrativo-financeira das contas de comunicação, monitoramento de resultados e acompanhamento de serviços de terceiros. Os serviços executados internamente (com recurso próprio) pela maioria das agências pesquisadas são propaganda de massa, propaganda segmentada, promoção de vendas, merchandising, desenvolvimento de marca, marketing interno, comunicação interna, algumas ações de marketing direto, criação de Web/site corporativo, planejamento de comunicação, planejamento de eventos e patrocínios. Os serviços executados externamente (com a participação de terceiros) pela maioria das agências de comunicação pesquisadas são design, relações públicas, assessoria de imprensa, execução de determinadas ações de promoção de vendas, marketing direto, pesquisa de mercado, planejamento de marketing, gráfica, produção de tv e rádio (spot), execução de Web/site corporativo, fotografia e marketing de relacionamento. 5.3 Sistemática de segmentação de mercado das agências de comunicação A sistemática de segmentação de mercado compreende o processo de identificação de agrupamentos de clientes que compartilham características similares. Sobre esse assunto, a pesquisa levantou a forma de identificação dos tipos de clientes-alvo, as características de atratividade dos clientes-alvo, as características de atratividade das agências de comunicação, as formas de reconhecimento das oportunidades de novos tipos de clientes, os métodos de pesquisa utilizados para segmentação de mercado, as bases de classificação de clientes e a administração da compatibilidade entre clientes. 117 5.3.1 Forma de identificação e seleção dos tipos de clientes-alvo Na grande maioria das agências de comunicação pesquisadas, a identificação e a seleção dos tipos de clientes-alvo não ocorrem de modo planejado, deliberado, formalizado e com análises estruturadas, mas como resultado de decisões assistemáticas, despretensiosas e gradativas, efetuadas durante a evolução da agência e do relacionamento com o mercado. As agências de comunicação pesquisadas costumam identificar os tipos de clientes-alvo a partir de uma ou algumas das seguintes situações: constatação de que os esforços de prospecção da agência são mais bem sucedidos para determinados tipos de clientes; percepção de que as competências e serviços da agência são mais adequados para certos tipos de clientes; descoberta de que determinados tipos de clientes não são rentáveis para a agência; compreensão de que a agência não consegue desenvolver relacionamento produtivo e duradouro com certos tipos de clientes. A decisão sobre os tipos de clientes-alvo é principalmente baseada na aprendizagem com os processos de prospecção e atendimento de clientes. Durante esses processos, as agências de comunicação tendem a aprender com a experiência, observar os erros e acertos ocorridos e identificar as situações e características que tornam determinados tipos de clientes mais atraentes e interessantes para a organização. O processo de prospecção de novos clientes ocorre de formas diferentes. O Quadro 13 contém as formas de prospecção mais utilizadas pelas agências de comunicação pesquisadas, ordenadas segundo a freqüência de citação. A prospecção de novos clientes via processo de concorrência entre agências ocorre com maior freqüência em clientes potenciais de porte maior. No processo de concorrência, o contratante solicita a três ou quatro agências de comunicação que apresentem propostas de plano de trabalho ou de campanha de comunicação, incluindo a sistemática e o nível de remuneração. A agência escolhida tende a ser aquela que apresenta a proposta de serviço que atenda melhor aos critérios-chave estabelecidos pela organização contratante. Esse processo tende a acontecer no terceiro trimestre de cada ano. 118 Identificação de clientes potenciais em publicações especializadas e não especializadas Obtenção de informações sobre prospects sem agências de comunicação ou em fase de substituição Desenvolvimento de relacionamentos com empresários, entidades de classe e formadores de opinião Visita de apresentação da agência e seus serviços a clientes potenciais Acompanhamento de editais de licitação de governos e entidades públicas Participação em processos de concorrência entre agências Indicação de clientes atuais, fornecedores, veículos de comunicação ou consultores de marketing Identificação de oportunidades de novos negócios nos clientes atuais (em outras áreas da organização) Quadro 13 – Resultados de formas de prospecção de novos clientes Nas agências de comunicação pesquisadas, o processo de prospecção de novos clientes é geralmente de responsabilidade dos proprietários-gerente, dirigentes e/ou profissionais especializados em desenvolvimento de negócios ou planejamento de negócios. Em várias agências de comunicação, todos os funcionários são convocados para contribuírem com esse processo, via identificação de oportunidades de novos negócios, obtenção de determinados tipos de informações e apresentação de sugestões para os responsáveis pela prospecção. Diversas agências de comunicação pesquisadas consideram a prospecção de novos clientes uma tarefa complicada, trabalhosa e demorada. Em função disso, elas utilizam algumas estratégias para tornar esse processo mais eficiente, quais sejam: oferecimento de serviços diferenciados, investimento na qualidade dos serviços, esforço para superar as expectativas dos clientes, desenvolvimento de imagem adequada, disponibilidade de porte, estrutura e tipos de serviços compatíveis com os clientes-alvo e estímulo à comunicação boca-a-boca positiva. Há agências de comunicação que não dispõem de sistemática nem estratégias definidas para prospecção de novos clientes. A Figura 13 contém um exemplo de sistemática de prospecção de novos clientes utilizada por uma das agências de comunicação estudadas. A sistemática é composta de quatro etapas e um conjunto de estratégias destinadas a identificação de oportunidades de prospecção e da abordagem de clientes mais adequada. 119 ETAPAS ESTRATÉGIAS Elaboração de listagem de clientes potenciais • Obtenção de indicações dos dirigentes e funcionários da agência • Identificação das organizações anunciantes nos diversos setores • Verificação das notícias de mercado sobre as organizações • Seleção das organizações de interesse da agência Obtenção de informações sobre clientes potenciais • Acompanhamento da situação atual de clientes potenciais • Verificação das ações de marketing realizadas • Verificação das ações de marketing dos concorrentes • Verificação da satisfação com a agência atual Identificação de fatores favoráveis à conquista Identificação de oportunidades para abordagem • Identificação de oportunidades para agregação de valor • Identificação de possibilidades de diferenciação da agência • Verificação da existência de canais de relacionamento com a organização • Seleção dos fatores favoráveis à conquista do cliente potencial • Identificação de situações oportunas para a prospecção • Preparação da abordagem de prospecção • Visita de apresentação da agência e seus serviços • Apresentação de proposta de trabalho Figura 13 – Exemplo de sistemática de prospecção de novos clientes 5.3.2 Características de atratividade dos clientes-alvo As agências de comunicação pesquisadas dispõem de um conjunto de características para descrever os tipos de clientes que lhes são mais atraentes. O Quadro 14 apresenta as características de atratividade dos clientes-alvo mencionadas pela totalidade das agências de comunicação pesquisadas. Em geral, as agências não atendem somente a clientes com as características de atratividade selecionadas, embora procurem conseguir clientes que tenham algumas das características mencionadas. As características de atratividade mais desejadas, mencionadas por diversas das agências pesquisadas, são: demandar por serviços de propaganda em mídias de massa, dispor de planejamento de marketing com objetivos e estratégias definidos, ocupar posição importante no mercado de atuação ou ramo de atividade, ter nome de prestígio que agrega valor à imagem da agência, ter objetivos de marketing agressivos e orientados para crescimento, ter reputação de mercado positiva e ter verba de comunicação superior a determinado patamar. 120 Demandar por serviços de propaganda em mídias de massa Dispor de planejamento de marketing, com objetivos e estratégias definidos Dispor de produtos de qualidade Ocupar posição importante no mercado de atuação/ramo de atividade Possuir concorrentes fortes Ser receptivo as idéias e recomendações de trabalho da agência Ter conhecimento do mercado de atuação Ter consciência da importância dos investimentos em comunicação Ter cultura de anunciante Ter estrutura de marketing ou pessoal especializado Ter nome de prestígio, que agrega valor à imagem da agência Ter o perfil de empreendedor Ter objetivos de marketing agressivos e baseados no crescimento Ter porte médio ou grande Ter reputação de mercado positiva Ter verba de comunicação superior a determinado patamar Quadro 14 – Resultados de características de atratividade dos clientes-alvo A verba disponível para a comunicação de marketing é a característica de atratividade mais mencionada pelas agências de comunicação pesquisadas. Segundo elas, o tamanho da verba de comunicação influencia substancialmente a dimensão, qualidade e resultados dos esforços de comunicação da organização, bem como o potencial de rentabilidade da agência de comunicação. Para a avaliação da atratividade, as agências de comunicação pesquisadas costumam obter, por diferentes métodos, as informações sobre os clientes potenciais. Exemplos de métodos utilizados pela maioria das agências são: identificação das ações de comunicação de marketing realizadas; verificação de notícias e informações publicadas pela imprensa; obtenção de comentários e rumores do mercado; obtenção de declarações à imprensa da diretoria da organização; visitação ao Web/site corporativo; coleta de opinião de elementos do trade (atacadistas, varejistas), fornecedores e especialistas do mercado; consulta direta aos dirigentes e executivos da organização. Existem algumas características que tornam determinados clientes não atraentes para as agências de comunicação pesquisadas. De acordo com a maioria, essas características são: demanda exclusiva por serviços de material gráfico, verba de comunicação muito pequena, solicitações e exigências exageradas, serviços difíceis de serem realizados com qualidade, 121 problemas de relacionamento com fornecedores, negócios indefinidos (ex: sorteios, bingos) e situações de risco elevado. Uma análise comparativa entre as respostas das questões sobre perfil de clientes-alvo e atratividade de clientes revela a existência de conexão entre as características de atratividades dos clientes e o perfil desejado dos clientes-alvo, o que pode ser interpretado também com um indicador de coerência de resposta das agências de comunicação pesquisadas. 5.3.3 Características de atratividade das agências de comunicação O processo de identificação e seleção de clientes-alvo requer também a verificação das características que tornam a agência atraente para determinados tipos de clientes. O Quadro 15 apresenta a relação das características de atratividade mencionadas pelo conjunto das agências de comunicação pesquisadas. Agilidade no atendimento e na execução dos serviços Agregação de valor à marca dos clientes Atendimento diferenciado Capacitação e talento do pessoal de serviços Competência e conhecimento nos serviços oferecidos Comprometimento com o negócio dos clientes Conhecimento da região sul do Brasil Credibilidade dos proprietários da agência Criatividade nos serviços Desenvolvimento de relacionamentos duradouros com os clientes Desenvolvimento pró-ativo de soluções para os clientes Disponibilidade para atendimento 24horas/dia e 7dias/semana Equilíbrio e estabilidade da agência Ética e transparência nos relacionamentos Execução de serviços com base nas necessidades dos clientes Experiência de mercado Infra-estrutura moderna e funcional Localização geográfica Oferecimento de serviços com padrão de qualidade superior e confiáveis Oferecimento de serviços de comunicação integrada Orientação para o resultado dos serviços realizados Portfólio atual de clientes Preocupação em não exaurir rapidamente a verba dos clientes Realização de serviços com visão de curto, médio e longo prazos Responsabilidade na comunicação de marca dos clientes Quadro 15 – Resultados de características de atratividade das agências 122 As características de atratividade mais mencionadas, possuídas por diversas das agências pesquisadas, são: pessoal de serviços com talento e capacidade; relacionamentos com ética e transparência, comprometimento com os clientes; serviços adequados às necessidades dos clientes; localização geográfica favorável; oferecimento de serviços de comunicação integrada; serviços orientados para resultados. De acordo com as agências de comunicação pesquisadas, as características de atratividade mais valorizadas pelos clientes são: agilidade na execução dos serviços, comprometimento com os clientes, criatividade, serviços adequados às necessidades dos clientes, experiência de mercado, serviços com qualidade confiável, oferecimento de serviços de comunicação integrada, serviços orientados para resultados, portfólio de clientes e tamanho da agência. Na opinião de algumas agências pesquisadas, o tamanho da agência é um aspecto muito considerado pelos clientes. Segundo elas, os clientes têm a tendência de procurarem uma agência com o tamanho compatível ao da sua organização. Clientes de porte grande tendem a não procurar agências de porte pequeno, pois as consideram incapazes para atender as suas necessidades. Ao passo que, clientes de porte pequeno tendem a não procurar agências de porte grande, pois as consideram grandes demais para as suas características e necessidades. Essas agências estão preocupadas em dispor de porte e infra-estrutura compatíveis com o tamanho dos clientes-alvo. 5.3.4 Formas de reconhecimento de oportunidades de novos tipos de clientes Uma das preocupações das agências de comunicação deve ser o reconhecimento de oportunidades de novos tipos de clientes. Mercados emergentes, como a indústria de telecomunicação e as instituições de ensino, podem conter clientes potenciais com necessidades enormes de serviços de comunicação e oportunidades de negócios volumosos e rentáveis para as agências de comunicação. Nas agências de comunicação pesquisadas, o processo de reconhecimento de novos tipos de clientes envolve o acompanhamento de tendências de mercado e a identificação de ramos de negócios emergentes. Nesse enfoque, as atividades específicas realizadas pela maioria das agências são: verificação de novos tipos de anunciantes; obtenção de informações, notícias e 123 materiais sobre o mercado publicitário; busca de inputs da rede de relacionamentos; detecção de mudanças nos mercados locais, regionais, nacionais e internacionais; identificação de rumos da economia e dos impactos sobre os ramos de atividade; observação de produtos em lançamento; verificação da abertura de novas indústrias; acompanhamento de tendências, modas e novidades; utilização do feeling pessoal dos dirigentes. Há agências de comunicação que dispõem de base de dados com informações sobre o mercado publicitário e os ramos diversos de atividades, bem como acesso a publicações e periódicos especializados, como Meio e Mensagem, Mercado, Expressão, Exame, Anuário de Mídias e Anuário da Propaganda. A metade das agências de comunicação pesquisadas dispõe de profissionais especializados no desenvolvimento de negócios, com responsabilidades específicas pela identificação, seleção e aproveitamento de novas oportunidades de mercado e tipos de clientes. Semelhante à prospecção de clientes, essas agências procuram envolver também todos os funcionários no processo de reconhecimento de oportunidades, solicitando-lhes o auxílio na busca de informações e no fornecimento de sugestões sobre novos tipos de clientes e negócios. Algumas das agências de comunicação pesquisadas aparentaram não dispor de qualquer sistemática pré-estabelecida para reconhecimento de novas oportunidades de mercado e tipos de clientes. Nessas agências, esse processo tende a ocorrer de forma não planejada, não estruturada, reativa, acidental e baseada principalmente na intuição pessoal ou na sorte de apostar em segmentos que se revelam casualmente em expansão. 5.3.5 Métodos de pesquisa para segmentação de mercado Nenhuma das agências de comunicação pesquisadas manifestou a utilização de métodos de pesquisa estruturados para a identificação de segmentos de mercado ou novas oportunidades de segmentação, nem mesmo mencionou a aplicação de técnicas estatísticas multivariadas de segmentação, como análise fatorial múltipla, análise de conglomerados, análise discriminante, escalonamento multidimensional, análise conjunta ou regressão múltipla. 124 Quando indagadas sobre métodos de pesquisa para segmentação de mercado, algumas agências pesquisadas revelaram a utilização em tempos passados de pesquisas estruturadas com clientes e/ou não-clientes, mas com propósitos diferentes da segmentação. Essas pesquisas tiveram os propósitos de: conhecer a visão do mercado sobre a agência, avaliar a qualidade dos serviços, identificar os aspectos valorizados pelos clientes e obter idéias de como a agência deveria se apresentar ao mercado. Em todos os casos, as pesquisas foram realizadas por terceiros, envolvendo institutos ou empresas especializadas em pesquisa de mercado. Diversas agências de comunicação estudadas afirmaram que realizam eventualmente pesquisas não estruturadas, com o propósito de conhecer a visão do mercado sobre a agência e seus serviços. Essas pesquisas são normalmente executadas pelo proprietário, dirigente ou profissional de prospecção da agência e envolve contatos informais e/ou visitas pessoais a clientes, fornecedores, veículos de comunicação e formadores de opinião. Apenas uma das agências de comunicação pesquisadas afirmou que utiliza regularmente de pesquisas estruturadas com propósitos de conhecer a visão do mercado sobre a agência e seus serviços. Exemplos de métodos de pesquisa não estruturados utilizados por uma das agências estudadas são feedback de clientes e decomposição de clientes. O feedback de clientes envolve a utilização de entrevistas pessoais individualizadas, pela diretoria ou proprietários da agência, com o propósito de coletar a opinião dos clientes sobre os serviços e a qualidade do atendimento. A decomposição de clientes compreende a utilização de sessões de discussão com a participação de todos os profissionais envolvidos com um dado cliente e o exame minucioso dos trabalhos, relacionamentos e resultados alcançados, com os propósitos de avaliar a qualidade dos serviços e o grau de agregação de valor da agência para o cliente. A maioria absoluta das agências de comunicação pesquisadas manifestou que considera os métodos estruturados de pesquisa importantes e capazes de melhorar as decisões e os resultados da organização. A maioria absoluta dos entrevistados tem a opinião de que a sua agência deveria investir mais na utilização de métodos estruturados de pesquisa de marketing. A constatação de que as agências de comunicação pesquisadas não utilizam métodos de pesquisa estruturados ou técnicas estatísticas multivariadas para a segmentação de mercado 125 mostra que essas organizações não aplicam plenamente as recomendações de especialistas em segmentação como Alfansi; Sargeant (2000) e Weinstein (1995). 5.3.6 Bases de classificação de clientes Embora a pesquisa tenha apontado que as agências de comunicação estudadas não utilizam técnicas e métodos elaborados de segmentação de mercado, a coleta de dados revelou que essas agências costumam classificar ou agrupar os clientes, mesmo que informalmente, em categorias ou segmentos de mercado. Esse agrupamento de clientes é utilizado nas situações de identificação de clientes-alvo, determinação das características de atratividade dos clientes e sistemática de prospecção de novos clientes. O Quadro 16 apresenta os aspectos (bases) de classificação de clientes utilizados pelo conjunto das agências de comunicação pesquisadas. Esses aspectos estão ordenados em fatores demográficos, fatores do perfil da organização, fatores do processo de contratação de fornecedores e fatores situacionais (relacionados à circunstância do pedido de serviços). BASES EXEMPLOS Fatores demográficos Tipo de setor da economia Tipo de ramo de atividade Posição da organização no mercado Porte da organização Localização geográfica Público-governamental, serviço, varejo, indústria de manufatura Material de construção, shopping center , confecção de vestuário Líder , melhor, sólido, desafiante, ascendente Tamanho do faturamento ou do volume de vendas Região nordeste, litoral, vale do Itajaí, estado de Santa Catarina, região sul do Brasil Fatores do perfil da organização Objetivos de marketing da organização Cultura e valores da organização Características do mercado-alvo Tipos de serviços demandados Intensidade de uso de serviços Características da gestão da organização Grau de consciência sobre a importância da comunicação Crescimento da organização, market share , aumento de faturamento, obtenção de novos clientes Cultura de marketing, de comunicação e de agressividade comercial Mercado em expansão, agressivo, competitivo Serviços de propaganda, de promoção de vendas, de merchandising , de planejamento de comunicação Serviços de propaganda em mídias de massa, serviços de material gráfico, serviços de não-mídia Administração ética, não ética, profissionalizada, não profissionalizada Consciência de comunicação em grau baixo, médio ou alto Fatores do processo de contratação Estrutura de marketing disponível Política de contratação de agências Sistemática de remuneração de serviços Política de relacionamento com os fornecedores Pessoal especializado em comunicação, em marketing, não especializado Contrato de serviço anual, com prazo indeterminado, por job , sem contrato formal Remuneração por valor fixo mensal (fee ), por tempo de serviço, por desempenho, por valor fechado Relacionamentos de prazo curto, médio ou longo Fatores situacionais Tamanho da verba disponível para comunicação Interesse por serviços possíveis de premiação Grau de eficácia possível na execução dos serviços Grau de exigência em relação aos serviços Acima de R$300mil/ano, de R$500mil/ano e de R$1milhão/ano Serviço premiável, não premiável, com possibilidade de participar em concursos e premiações Serviços com planejamento, qualidade, criatividade e resultados Detalhista, burocrático, técnico, dinâmico, rápido, pró-ativo Quadro 16 – Resultados de bases de classificação de clientes As bases de classificação de clientes mais mencionadas, utilizadas pela maioria das agências de comunicação pesquisadas, são: tipo de ramo de atividade, posição da organização no mercado, tamanho da organização, objetivos de marketing, localização geográfica, cultura da organização, intensidade de uso de serviços, grau de consciência da importância da 126 comunicação de marketing, estrutura de marketing disponível e tamanho da verba de comunicação. Cabe observar que as bases de classificação de clientes mais empregadas pelas agências de comunicação pesquisadas estão relacionadas aos fatores de demografia e perfil da organização. A explicação pode estar no fato de que essas bases de classificação possibilitam maior facilidade para a obtenção e análise de informações de mercado. Os resultados desta pesquisa, no que tange aos aspectos de classificação de clientes, confirmam as declarações de Kotler et al (2002) e Bolton; Myers (2003), segundo os quais as bases de segmentação demográficas e do perfil da organização são comumente aplicáveis no setor de serviços. Uma análise comparativa entre as respostas das questões sobre tipos de clientes-alvo e bases de classificação de clientes mostra a coerência de resposta das agências de comunicação pesquisadas. As características mencionadas para descrever os tipos de clientes-alvo são compatíveis com as bases de classificação mencionadas para a identificação das categorias de clientes ou segmentos de mercado. A exceção está nos setores e ramos de atividade, pois aqui foram identificados como bases de classificação de clientes, mas anteriormente foram mencionados como critérios não utilizados para a definição dos clientes-alvo. 5.3.7 Administração da compatibilidade entre clientes As agências de comunicação pesquisadas revelaram não dispor de quaisquer problemas relacionados com a administração da compatibilidade entre os clientes atendidos. Para evitar problemas de incompatibilidade de clientes, as agências de comunicação pesquisadas adotam a política de não atendimento a organizações concorrentes que atuam no mesmo ramo de atividade. Com essa política, as agências visam atender as exigências de clientes e do código de ética da categoria, evitar as possibilidades de conflito mercadológico entre os clientes e preservar a sua reputação de mercado. 127 Nas agências de comunicação onde essa política é mais radical, é atendido somente um único cliente por ramo de atividade e são evitadas organizações consideradas como concorrentes indiretos e potenciais dos clientes atuais. Algumas agências são menos radicais e atendem a organizações que atuam no mesmo ramo de atividade, desde que não ofereçam produtos similares, não atuem no mesmo mercado geográfico ou não tenham como público-alvo clientes do mesmo segmento de mercado (ex: consumidores de classes sociais iguais). A totalidade das agências de comunicação pesquisadas afirmou que costuma ser transparente com seus clientes atuais e potenciais sobre a política de atendimento com exclusividade e que, no caso de risco de problema com a conquista de novos clientes, tem a prática de consultar os clientes atuais. Algumas agências de comunicação informaram a prática de formalizar o compromisso de exclusividade em contratos de serviços, nos casos de clientes que operam sob o sistema de remuneração por valor fixo/mensal (fee) ou que exijam a exclusividade no edital de licitação. No entanto, nenhuma das agências pesquisadas adota a prática de estabelecer períodos de carência para o compromisso de exclusividade, após o encerramento de contratos de serviços. Em sintonia com as orientações de Lovelock; Wright (2002) e Zeithaml; Bitner (2003), a totalidade das agências de comunicação pesquisadas cuida na prospecção de clientes compatíveis e adota políticas que asseguram a compatibilidade dos clientes atuais. 5.4 Diferenciação competitiva das agências de comunicação A diferenciação competitiva compreende o desenvolvimento de um conjunto de características que diferenciam a agência ou os serviços em relação aos demais concorrentes. Sobre esse assunto, a pesquisa verificou as estratégias utilizadas de diferenciação competitiva, a sistemática de determinação das estratégias de diferenciação, a visão sobre a importância da diferenciação competitiva, as diferenciações e/ou inovações imitadas pelos concorrentes, os procedimentos adotados para atenuar as imitações pelos concorrentes e as diferenciações ou inovações imitadas pelas agências de comunicação estudadas. 128 5.4.1 Estratégias de diferenciação As agências de comunicação pesquisadas revelaram adotar estratégias diversas para a obtenção de posição competitiva diferenciada. A Figura 14 apresenta as estratégias de diferenciação adotadas pelo conjunto das agências de comunicação pesquisadas. Produto (serviço principal) • Serviços de comunicação integrada • Metodologia de execução dos serviços • Serviços com padrão superior de qualidade • Serviços com criatividade • Serviços orientados para resultados • Dispõe interno de serviços de promoção, assessoria de imprensa e WEB/site • Forma de remuneração flexível Organização • Filosofia de gestão • Agência sólida e em ascensão • Comportamento ético e profissional • Desenvolvimento de relacionamentos duradouros com os clientes Serviços e bens de apoio • Serviços de planejamento de comunicação • Atendimento diferenciado • Postura de atuação proativa • Comprometimento com o cliente • Software especializado em planejamento e teste de mídias • Permite aos clientes negociar diretamente com fornecedores e veículos ESTRATÉGIAS DE DIFERENCIAÇÃO Canais/distribuição • Atuação na região sul do Brasil • Desenvolvimento de relacionamentos com parceiros e intermediários Pessoal de serviço • Integração e espírito de equipe • Pessoal de confiabilidade • Especialista em planejamento • Proprietários com grande experiência • Profissionais polivalentes • Profissionais talentosos • Profissionais melhores do mercado Imagem da marca • Marca com imagem de vanguarda • Marca com imagem de seriedade • Marca com imagem de profissionalismo • Marca de referência no mercado Figura 14 – Resultados de estratégias de diferenciação As estratégias de diferenciação mais mencionadas, utilizadas por diversas das agências pesquisadas, são: solidez da organização, ética e profissionalismo, desenvolvimento de relacionamentos duradouros, oferta de serviços de comunicação integrada, criatividade, forma de remuneração flexível, serviços orientados para resultados, pessoal de serviços talentoso, serviços de planejamento de comunicação, marca com imagem de seriedade e comprometimento com os clientes. A característica de diferenciação mais mencionada pelas agências de comunicação é serviço orientado para resultados. Essa estratégia significa um empenho maior da agência no desenvolvimento de soluções que atendam aos objetivos dos clientes, em detrimento à 129 participação em concursos, condecorações e premiações por serviços realizados. As agências que adotam essa estratégia tendem a se preocupar mais com a identificação dos problemas dos clientes, a execução adequada dos serviços e a mensuração dos resultados alcançados (ex: vendas, rentabilidade, ampliação de clientes, market share e solução de problemas). As agências que utilizam a estratégia de relacionamento duradouro com clientes investem em: premiação de cliente ou do responsável pela contratação (ex: brindes especiais de final do ano); entendimento profundo da realidade dos clientes, incluindo política, cultura e procedimentos das diversas áreas da organização; relacionamento ético, evitando a adoção de preço abusivo, superfaturamento e comissão extra de fornecedores; desenvolvimento de relacionamentos que atendam às expectativas dos clientes; participação nas atividades de planejamento e marketing de clientes. Há agências que se diferenciam pela filosofia de gestão da organização. Um exemplo é a agência que utiliza a filosofia “corpo-mente-alma” como instrumento de gestão. A alma simboliza a emoção, motivação, satisfação e o sentimento em relação ao que se faz. A mente representa o pensamento, o planejamento, a reflexão e a aprendizagem sobre as atitudes, comportamentos e atividades relacionadas ao modo como se faz. O corpo simboliza a execução, implementação, ativação e pró-atividade em relação ao que deve ser feito. A filosofia de gestão da agência é baseada no equilíbrio entre esses três elementos. Com essa filosofia, a agência procura envolver os funcionários no desenvolvimento de uma cultura de serviço orientada para os clientes – o que a torna diferenciada. Há agências que utilizam como estratégia a metodologia de execução dos serviços. Um exemplo é a agência que emprega o denominado ciclo de planejamento, nas atividades de prospecção de clientes e de diagnóstico da necessidade de clientes. De forma resumida, a metodologia consiste em quatro questões principais: Onde o cliente está? Com quem o cliente deve se comunicar? Aonde o cliente deseja chegar? O que deve ser feito? Essas questões possibilitam a agência entender a situação real do cliente, a sua posição no mercado, o seu target, com quem ele se comunica, quem compra seus produtos, que resultados deseja alcançar, quais são seus objetivos mercadológicos, quais ações devem ser realizadas e que estratégias de comunicação devem ser empregadas. Com essa metodologia a agência espera oferecer serviços mais personalizados, atender melhor as necessidade e expectativas dos clientes e obter a diferenciação competitiva desejada. 130 A análise da prática de diferenciação competitiva das agências de comunicação pesquisadas permite observar alguns aspectos. Primeiro, as estratégias de diferenciação utilizadas estão mais concentradas no mix de serviço principal, nos serviços de apoio e no pessoal de serviços. Segundo, as estratégias “capacidade de executar serviço ganhador de prêmio” e “reputação de campanhas premiadas” não foram mencionadas por quaisquer das agências. Talvez porque essa prática esteja sendo alvo de críticas pelo mercado ou não seja mais um fator de diferenciação significativo. Terceiro, as estratégias “rapidez na execução de serviços” e “cumprimento dos prazos prometidos”, um problema manifestado freqüentemente por clientes, não são utilizadas por quaisquer das agências. Embora a grande maioria das agências de comunicação estudadas tenha manifestado que dispõe de características que as diferenciam em relação aos concorrentes, a observação durante as entrevistas possibilitou identificar a existência de agências onde os conceitos de diferenciação não estão claros, a diferenciação competitiva não se manifesta na prática, as estratégias de diferenciação mencionadas pareceram inconsistentes, as características de diferenciação não são trabalhadas ou percebidas pelos funcionários e os diferenciais competitivos não são comunicados ao mercado. 5.4.2 Sistemática de determinação das estratégias de diferenciação Dentre as agências de comunicação pesquisadas, há casos onde a sistemática de determinação das estratégias de diferenciação foi relativamente planejada e consciente, e casos onde esse processo ocorreu de forma natural, gradativa e sem qualquer planejamento. Três foram os casos de agências que revelaram um processo planejado e consciente. Primeiro, a agência cujo processo foi realizado quando da reformulação do modelo de gestão e que envolveu um levantamento de opinião com clientes e funcionários e a criação de um grupo interno de trabalho encarregado do desenvolvimento da proposta de diferenciação. Segundo, a agência cujo processo resultou da fusão com outras agências e que tornou necessário o trabalho interno de revisão dos valores, da identidade e das características de diferenciação. Terceiro, a agência cujo processo foi provocado pela “inquietação” dos dirigentes, que 131 promoveram reuniões internas de discussão sobre as características da agência, o perfil demandado pelo mercado e as estratégias recomendadas para diferenciação. Nos casos das agências de comunicação onde esse processo ocorreu de forma natural, gradativa e sem planejamento, as características de diferenciação se tornaram evidenciadas em conseqüência de: ações eventuais de reforço de comportamentos do pessoal de serviços; qualidades da agência que se consolidaram ao longo do tempo; requisitos exigidos pelo mercado; necessidade de adotar práticas que assegurassem a sobrevivência da agência; adoção natural de medidas para a manutenção de relacionamento com clientes; manifestação de aspectos peculiares dos proprietários. As agências de comunicação pesquisadas utilizam diferentes critérios na determinação das características de diferenciação desejadas. O Quadro 17 apresenta os critérios de escolha utilizados pelo conjunto das agências de comunicação pesquisadas. Atendimento às exigências de processos de licitação Capacidade de implementação Compatibilidade com os valores e a cultura da agência Compatível com a vocação da agência Impacto sobre o sucesso da agência Possibilidade de diferenciação efetiva em relação aos concorrentes Valorização pelos clientes da agência Valorização pelos dirigentes da agência Valorização pelos funcionários da agência Quadro 17 – Resultados de critérios de escolha das características de diferenciação Os critérios de seleção mais mencionados, utilizados por diversas das agências pesquisadas são: características valorizadas pelos clientes; características compatíveis com os valores e a cultura da agência; características valorizadas pelos funcionários. Para assegurar a implementação das estratégias de diferenciação, as agências de comunicação necessitam investir em práticas de gestão adequadas. O Quadro 18 apresenta as ações realizadas para a implementação efetiva da diferenciação competitiva pelo conjunto das agências de comunicação pesquisadas. 132 Algumas das agências de comunicação pesquisadas reconhecem que não estão investindo com a intensidade desejada na implementação das estratégias de diferenciação, mas avaliam que avançaram nesses investimentos e que hoje estão em situação superior à que se encontravam no passado. Acompanhamento dos padrões de serviços do mercado Adoçao de nível adequado de remuneração Colocação de pessoas-chave nas atividades importantes Contratação de pessoas com talentos necessários Desenvolvimento de valores e cultura organizacionais adequados Disponibilização de informações para os funcionários Estabelecimento de desafios constantes para o pessoal de serviços Estabelecimento de metodologias necessárias aos serviços Exigência de padrões de serviços elevados Formalização das políticas e procedimentos de serviços Introdução de sistemáticas de qualidade e produtividade Investimento na manutenção do pessoal de serviços Investimento no aperfeiçoamento dos processos de serviços Investimento no treinamento do pessoal de serviços Quadro 18 – Resultados de ações de implementação da diferenciação competitiva Para a comunicação dos diferenciais competitivos, o conjunto das agências estudadas investe em uma ou algumas das seguintes formas de comunicação: portfólio de serviços, visitas de prospecção, assessoria de imprensa, anúncios de propaganda, informativos, Web/site corporativo e conversa pessoal com clientes, funcionários, fornecedores, parceiros, intermediários e veículos de comunicação. Na maioria absoluta das agências pesquisadas, a comunicação dos diferenciais competitivos ocorre de forma episódica, limitada, insuficiente e sem planejamento. Há agências onde os funcionários, parceiros e intermediários não são adequadamente informados e conscientizados sobre os diferenciais competitivos desejados pela organização. Poucas foram as agências de comunicação estudadas que revelaram algum conhecimento sobre os diferenciais competitivos percebidos realmente pelos clientes atuais e/ou potenciais. Nessas agências, esse conhecimento está exclusivamente baseado em comentários eventuais 133 de clientes, prospects, fornecedores, profissionais dos veículos de comunicação e especialistas do mercado. Em relação à sistemática de determinação das estratégias de diferenciação, a pesquisa revelou que a maioria das agências de comunicação estudadas não adota sistemática estruturada como as propostas por Kotler (2000) e Berry (1995). 5.4.3 Visão sobre a importância da diferenciação competitiva A totalidade das agências pesquisadas avalia as estratégias de diferenciação como importantes para a sobrevivência das agências de comunicação, bem como que os diferenciais competitivos devem ser adequadamente comunicados aos funcionários, intermediários, parceiros, veículos de comunicação, clientes atuais e clientes potenciais. Na opinião das agências pesquisadas, a diferenciação competitiva é importante por diversos motivos. Ela possibilita à agência: enfrentar concorrentes marginais, que atuam como meros corretores de anúncios; atender clientes exigentes que querem fornecedores diferenciados; competir num mercado de rivalidade extrema; facilitar a distinção competitiva dos serviços; cobrar remuneração superior à média do mercado; obter novos clientes com mais facilidade; agregar valor à marca; obter uma posição de referência no mercado; agregar status aos clientes; escolher melhor os clientes, negócios e parceiros disponíveis; fortalecer o poder de recomendação dos clientes. 5.4.4 Diferenciações e/ou inovações imitadas pelos concorrentes As agências de comunicação pesquisadas foram indagadas sobre a existência de diferenciações e/ou inovações imitadas pelos concorrentes. Em resposta a essa pergunta, metade das agências entrevistadas revelou a existência de casos em que foram imitadas por concorrentes diretos ou indiretos, que atuam no mercado regional. O Quadro 19 apresenta os casos de imitação pelos concorrentes de diferenciais e/ou inovações introduzidos pelas agências de comunicação pesquisadas. As imitações mais freqüentes estão 134 relacionadas à metodologia de serviços, política de gestão, estratégia de atuação, introdução de novos serviços e procedimento de trabalho. Adoção de arquivos fechados para envio de materiais eletrônicos Estratégias de criação e assinatura (slogan ) de campanhas Estratégias de processos de seleção e/ou contratação de agências Gravação concomitante de campanhas que serão publicadas em momentos diferentes Introdução de novos serviços (ex: promoção de eventos e data-base marketing) Metodologias de comunicação integrada Metodologias de planejamento de comunicação Modelo de portfólio da agência Programas de incentivo à qualificação de funcionários Programas de participação de funcionários nos resultados Sistemas de gestão informatizados (ex: Publisys) Sistemas internos de banco de dados Quadro 19 – Resultados de casos de imitação pelos concorrentes A freqüência de imitação é menor no que tange à estratégia de comunicação, serviço customizado intensamente e entre agências concorrentes diretos. A freqüência de imitação é maior no que tange a procedimento de trabalho, metodologia de serviços, sistema de gestão informatizada e entre concorrentes indiretos ou agências de porte menor. A freqüência de imitação de idéias, estratégias ou ações de comunicação é reduzida por motivos relevantes. A ocorrência desse tipo de imitação põe em risco a reputação, competência e resultados das agências imitadoras. Os clientes que contratam e remuneram as agências desejam serviços de comunicação inovadores, criativos e customizados. O mercado publicitário premia e reconhece as agências em função de idéias e ações de comunicação originais, diferenciadas e criativas. 5.4.5 Procedimentos para atenuar as imitações A maioria absoluta das agências de comunicação pesquisadas não tem problemas provenientes das imitações dos concorrentes e, por conseguinte, investe pouco em procedimentos para atenuar as possibilidades de imitação. 135 As agências pesquisadas não se preocupam com a imitação pelos concorrentes por vários motivos. A imitação competitiva é uma prática comum no mercado, utilizada em proporções diferentes por todas as agências. Os negócios das agências não têm sido prejudicados pelas imitações competitivas. As ações de cobrança podem causar retaliações do mercado não desejadas. Muitas agências acreditam que os instrumentos jurídicos existentes (ex: CONAR) têm coibido suficientemente as imitações abusivas. Há agências de comunicação que fazem esforços para atenuar as possibilidades de imitação pelos concorrentes. Alguns exemplos desses esforços são: ser pioneiro na introdução de inovações; contratar pessoas honestas e fidedignas; dispor de liderança confiável nas funçõeschave da agência; desenvolver valores organizacionais orientados para ética, justiça e moralidade; investir na conscientização do pessoal de serviços; estimular o trabalho em equipe; zelar pela satisfação dos funcionários; evitar o fornecimento de informações estratégicas para o mercado; registrar no INPI, Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o nome de campanhas ou produtos desenvolvidos pela agência. Os esforços adotados por essas agências de comunicação estão alinhados com as recomendações de Kotler (2000), Porter (1996) e Barney (1986). Essas agências buscam a diferenciação competitiva sustentável através de estratégias como pioneirismo em inovação, desenvolvimento de cultura organizacional apropriada e implementação consistente das estratégias de diferenciação. 5.4.6 Diferenciações e/ou inovações imitadas pelas agências A grande maioria das agências de comunicação pesquisadas já adotou alguma diferenciação ou inovação introduzida por outra agência de comunicação. A freqüência dos casos de imitação é maior em relação às práticas introduzidas por agências de referência em nível nacional e internacional. Os casos de imitação envolvem instrumentos de gestão, procedimentos de trabalho, estratégias de comunicação e metodologias de serviços. Os exemplos mais mencionados são: programa de participação nos resultados; metodologia de células de trabalho; estratégias de comunicação em ramos específicos; metodologias de planejamento de comunicação; formas 136 de incentivo ao trabalho em equipe; sistemas de gestão informatizada; relatórios de desempenho da agência; sistemática de briefing; metodologia de diagnóstico da necessidade de clientes; sistemática de avaliação de serviços; método de obtenção de feedback de clientes; equipamentos e hardware especializados Algumas agências de comunicação de âmbito nacional são consideradas como referência de imitação pelas agências de comunicação pesquisadas. Tais agências são: África, AlmapBBDO, DM9DDB, DPZ, McCann-Erickson, Ogilvy Brasil, Talent e W/Brasil. As agências de comunicação pesquisadas utilizam diversas formas de obtenção de informações sobre os competidores considerados como referência de imitação. O Quadro 20 contém as formas principais mencionadas pelo conjunto das agências pesquisadas. Acompanhar os serviços, as ações e os resultados alcançados pelas agências Conhecer os instrumentos e as práticas de gestão das agências Contratar profissionais com experiência ou conhecimento sobre as agências Estabelecer contratos de cooperação com as agências Estudar os casos de sucesso das agências Obter informações de fornecedores, intermediários e veículos de comunicação Realizar benchmarking de processos específicos Trocar informações de mercado com as agências Verificar notícias e informações publicadas em mídias especializadas Visitar periodicamente o Web/site corporativo das agências Quadro 20 – Resultados de formas de obtenção de informações sobre competidores A maioria absoluta das agências de comunicação pesquisadas avalia a prática de imitação de concorrentes como importante, positiva e benéfica. Apesar de aparentaram algum constrangimento, elas consideram a imitação competitiva como forma de pesquisa, método de aprendizagem, possibilidade de aperfeiçoamento e mecanismo de avaliação do desempenho da organização. 5.5 Posicionamento de marca ou serviço das agências de comunicação O posicionamento é a imagem distintiva em relação aos concorrentes que a marca ou serviço ocupa na mente dos clientes atuais e potenciais. Com relação ao assunto, a pesquisa levantou o posicionamento desejado das marcas ou serviços das agências, as dimensões utilizadas nos conceitos de posicionamento, a qualidade dos posicionamentos estabelecidos, a forma de 137 comunicação, as sistemáticas de identificação do posicionamento percebido e a visão sobre a importância dessa estratégia. 5.5.1 Posicionamento desejado (Identidade de marca) A maioria das agências de comunicação pesquisadas revelou que não dispõe de um posicionamento desejado para a marca ou serviços da organização (identidade de marca). Os motivos principais alegados foram os seguintes: processo recente de fusão com outras agências; processo recente de transformação da sistemática de gestão da agência; reformulação recente do projeto de logomarca da agência; processo de transição da identidade de marca da agência. No caso das agências que dispõem de posicionamento desejado, os conceitos de posicionamento estão sintetizados nos slogans seguintes: “inteligência criativa”, “agência, grandes resultados”, “agência, comunicação sob medida”, “a agência que melhor entende o sul do país”. Há caso de agência que dispõe de dois slogans simultâneos para comunicar o conceito do posicionamento desejado. Algumas das agências que não dispõem de posicionamento desejado revelaram que tiveram posicionamentos definidos no passado. Os conceitos anteriores de posicionamento eram os seguintes: “comunicação com resultados”, “agência rápida e eficiente”, “agência com envolvimento total” e “paixão pelas grandes idéias”. Algumas agências de comunicação mencionaram que estão desenvolvendo ou reformulando o posicionamento desejado. Essas agências apresentaram como idéias de novos conceitos, as seguintes: “comunicação com flexibilidade”, “comunicação orientada para resultados”, “comunicação criativa, eficiente e planejada”, “agência completa e com foco em planejamento”, “agência que dá resultados”, “agência compromissada com o cliente”, “agência moderna, jovem, vigorosa e viva”, “a agência líder de mercado”, “agência de relacionamento e atendimento bons”, “agência com seriedade”, “agência de crescimento sustentado”, “grandes idéias que funcionam”, “idéias vencedoras”, ”a agência focada na iniciativa privada” e “agência ousada, que está na moda e de glamour”. 138 As agências de comunicação pesquisadas que não apresentam um posicionamento desejado definido podem não estar efetivamente utilizando o posicionamento como estratégia de marketing, o que contraria as recomendações de especialistas como Ries; Troust (1993) e Hooley et al (2001). 5.5.2 Dimensões e avaliação dos conceitos de posicionamento As agências de comunicação pesquisadas utilizam conceitos de posicionamento baseados em diversas dimensões. As dimensões identificadas são: posicionamento por atributo (ex: “inteligência criativa”, “agência com comunicação sob medida”, “paixão por grandes idéias” e “agência com envolvimento total”), posicionamento por concorrência (“a agência que melhor conhece o sul do país”) e posicionamento por benefício (“agência de grandes resultados” e “comunicação com resultados”). A dimensão de posicionamento utilizada mais freqüentemente pelas agências é a baseada em atributos do serviço ou da organização. As dimensões de posicionamento não identificadas nas agências de comunicação pesquisadas são: posicionamento por qualidade-preço (que comunica a oferta de “valor melhor” para os clientes), posicionamento por classe de serviços (que comunica a liderança em determinada categoria de serviços), posicionamento por aplicação (que comunica a superioridade num dado uso ou aplicação) e posicionamento por usuário (que comunica o direcionamento para uma dada categoria de usuário). Os conceitos de posicionamentos estabelecidos pelas agências podem ser avaliados em relação aos critérios distinção, clareza, precisão e consistência. A análise dos posicionamentos desejados vigentes revela que as agências de comunicação pesquisadas utilizam conceitos que distinguem efetivamente a marca ou serviços em relação aos concorrentes, que comunicam idéias com clareza e facilidade de memorização, que fazem promessas específicas e concisas, e que dispõem de coerência, coesão e ética. 5.5.3 Públicos-alvo e formas de comunicação do posicionamento desejado 139 As agências de comunicação pesquisadas devem investir na comunicação do posicionamento desejado para públicos como clientes atuais, clientes potenciais, funcionários, fornecedores, parceiros, intermediários, veículos de comunicação, especialistas do mercado e formadores de opinião. Há agências cuja comunicação do posicionamento é mais dirigida e destinada no máximo a duzentos profissionais, envolvendo executivos importantes, decisores de contratação de serviços e influenciadores de opinião. Em outras agências, a comunicação do posicionamento é mais aberta, utiliza mídias de massa e envolve diversos públicos em geral. Há agências cuja comunicação do posicionamento é direcionada para funcionários, via reuniões de trabalho, campanhas de marketing interno e eventos de confraternização. Em outras agências a comunicação do posicionamento para funcionários ocorre de forma casual, informal e não planejada, ficando a mercê da sutileza das informações, do interesse do funcionário e das relações do dia-a-dia. O mesmo ocorre com a comunicação para parceiros, fornecedores e intermediários da agência. As agências pesquisadas que investem na comunicação do posicionamento da marca ou serviços utilizam diversas ações e/ou mídias de comunicação. Os exemplos mencionados são: visitas de prospecção, reuniões de trabalho, contatos do dia-a-dia, apresentação em CD-Rom, mala direta, outdoor, anúncio em jornal, portfólio de serviços, perfil institucional, informativo da agência, frontlight, painel em aeroporto, painel nas instalações da agência, Web/site corporativo, eventos de final de ano e cartilha de orientação aos parceiros e fornecedores. A maioria absoluta das agências pesquisadas revelou que investe pouco na comunicação do posicionamento desejado da marca ou serviços. Elas manifestaram uma comunicação feita de forma insuficiente, limitada, esporádica, sem planejamento e usando principalmente mídias pessoais. Questionadas sobre as razões da limitação dos investimentos em comunicação, as agências alegaram dificuldades internas para a elaboração de campanhas próprias, prioridades para a execução de serviços dos clientes, exigências de qualidade das campanhas próprias e ausência de clientes do ramo de veículos de comunicação que viabilize os investimentos na comunicação. 140 5.5.4 Sistemática de identificação do posicionamento percebido A maioria absoluta das agências de comunicação pesquisadas revelou a não utilização de sistemáticas estruturadas para a identificação do posicionamento percebido pelo mercado da marca ou serviços. Essas agências não utilizam formas estruturadas de pesquisa, métodos estatísticos de mensuração (ex: análise fatorial, análise discriminante, análise de correspondência e escalonamento multidimensional) ou técnicas de mapeamento perceptual do posicionamento perante o mercado. A maioria das agências pesquisadas acredita que o seu posicionamento percebido pelo mercado é diferente do posicionamento desejado pela organização. Os casos mencionados de diferenças são: agência percebida menos como realizadora de planejamento; agência percebida como focada demais no setor público-governamental; agência percebida como não capacitada para o setor de varejo; agência percebida como não flexível; agência percebida como não orientada para resultados. Há agências que não têm qualquer informação sobre o posicionamento percebido pelo mercado de suas marcas ou serviços. O conhecimento que as agências pesquisadas detêm sobre o posicionamento percebido pelo mercado está principalmente baseado em informações eventuais, informais e não objetivas. Alguns exemplos de fontes dessas informações são: feedback de clientes atuais; comentários de clientes em prospecção; observações de amigos, veículos de comunicação e especialistas de mercado; comentários de gráficas, fotógrafos, produtoras, assessorias de imprensa e profissionais de outras agências de comunicação; feeling dos proprietários e dirigentes da agência. Duas das agências de comunicação pesquisadas afirmaram que realizaram no passado algum tipo de pesquisa estruturada com o objetivo de conhecer a imagem percebida pelo mercado da marca e/ou serviços, em relação aos concorrentes. As pesquisas envolveram clientes atuais, clientes potenciais e/ou especialistas do mercado e foram executadas por instituto especializado em pesquisa ou instituição de ensino superior da região. Os métodos de coleta de dados empregados foram focus groups e/ou survey (levantamento via entrevistas ou questionários). Ambas as agências manifestaram a satisfação com os resultados da pesquisa realizada e a intenção de refazê-la futuramente. 141 5.5.5 Avaliação sobre a importância do posicionamento A totalidade das agências de comunicação pesquisadas avalia a estratégia de posicionamento como importante e reconhece que o posicionamento desejado deve ser comunicado aos funcionários, intermediários, parceiros, veículos de comunicação, clientes atuais e clientes potenciais. Na avaliação das agências pesquisadas, a estratégia de posicionamento de marca ou serviços é importante por diversos motivos. O posicionamento corresponde ao sobrenome da organização, possibilita a obtenção de imagem distintiva, favorece a postura de agência profissionalizada, ajuda na agregação de valor à imagem da marca, sinaliza o valor dos serviços para os clientes e serve como orientador das demais decisões estratégicas da organização. A análise global dos resultados desta pesquisa revela que as organizações de serviços estudadas utilizam parcialmente as estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca e carecem de métodos e procedimentos de implementação mais estruturados. Esses resultados confirmam as conclusões dos estudos de Oliveira; Ikeda (1999) e Niño; Gouvêa (2004) relacionados ao assunto. 142 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS, RECOMENDAÇÕES, CONTRIBUIÇÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES DE ESTUDOS A partir das análises da revisão de literatura e dos resultados da pesquisa empírica sobre estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca em agências de comunicação, algumas considerações finais, recomendações para as agências, contribuições, limitações do estudo e sugestões para pesquisas futuras podem ser apresentados. 6.1 Considerações finais Este estudo tem por objetivo conhecer a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento de agências de comunicação do Estado de Santa Catarina. Em síntese, os resultados e as análises da pesquisa empírica sobre esses assuntos revelam que a maioria das agências de comunicação estudadas: a) Atende a clientes de diferentes setores e ramos de atividade, como indústrias de confecção, móveis, alimentos, materiais de construção (manufatura), instituições de ensino, associações empresariais, hotéis, entretenimentos (serviço), supermercados, revendas de automóveis, shopping center, redes de farmácia (varejo), prefeituras, governo do estado e instituições públicas (público-governamental); b) Presta serviços para clientes que têm necessidades e expectativas variadas e que demandam por formas de atendimento, serviços e estratégias de comunicação diferentes; c) Tem definido as características de clientes ou segmentos de mercado que são alvos dos esforços de marketing e prospecção da organização; d) Dispõe de mercado-alvo delimitado com base na área geográfica (ex: região sul do país, Estado de Santa Catarina ou microrregiões do Estado de Santa Catarina); e) Como estratégia de mercado, aborda diversos tipos de clientes ou segmentos de mercado com ofertas de serviços diferentes (marketing diferenciado) e adota a focalização nos clientes, ou seja o oferecimento de produtos específicos para cada tipo de cliente; f) Oferece, via pessoal interno ou terceiros, uma variedade de linhas de serviços, tais como: propaganda de massa, propaganda segmentada, relações públicas, assessoria de 143 imprensa, promoção de eventos, patrocínios, promoção de vendas, merchandising no ponto de venda, marketing direto, pesquisa de marketing, desenvolvimento de marca, design, marketing interno, comunicação interna e desenvolvimento de Web/site corporativo; g) Tem definido as características dos clientes que são mais adequadas e atraentes à organização. Por exemplo: clientes que demandam por serviços de propaganda em mídias de massa, clientes que dispõem de planejamento de marketing, clientes que ocupam uma posição importante no seu mercado de atuação e clientes que têm verba de comunicação superior a determinado patamar; h) Possui algumas características que tornam a agência atraente para determinados tipos de clientes, tais como: pessoal com capacitação e talento, relacionamento com ética e transparência, serviços de comunicação integrada, serviços adequados às necessidades dos clientes, comprometimento com os clientes, orientação para resultados e localização geográfica adequada; i) Costuma agrupar os clientes, mesmo que informalmente, em categorias ou segmentos de mercado e utiliza principalmente como base de classificação os aspectos demográficos (ramo de atividade, tamanho da organização, posição no mercado de atuação e localização geográfica) e o perfil da organização (objetivos de marketing, cultura organizacional, intensidade de uso de serviços e consciência da importância da comunicação); j) Dispõe de sistemática e estratégias definidas para a prospecção de novos clientes e tem proprietários, dirigentes e/ou profissionais especializados envolvidos na execução dessa atividade; k) Dispõe de mecanismos e profissionais destinados ao reconhecimento de oportunidades de novos tipos de clientes e realiza atividades de acompanhamento das tendências de mercado e de identificação dos ramos de negócios emergentes; l) Administra adequadamente a compatibilidade entre os clientes atendidos e dispõe de política de não atendimento a organizações que atuam no mesmo ramo de atividade e que são concorrentes; m) Adota estratégias de diferenciação competitiva, as quais estão relacionadas principalmente ao mix de serviço principal (ex: serviços de comunicação integrada e forma de remuneração flexível), mix de serviços de apoio (serviços de planejamento de comunicação e comprometimento com o cliente) e mix de pessoal (profissionais talentosos e polivalentes); 144 n) Quando determina as estratégias de diferenciação, considera como critérios de seleção os seguintes: características valorizadas pelos clientes, características valorizadas pelos funcionários e características compatíveis com a cultura e valores da agência; o) Quando comunica os diferenciais competitivos, investe em ações ou mídias de comunicação como: portfólio de serviços, visitas de prospecção, assessoria de imprensa, informativo da agência, Web/site corporativo, anúncios de propaganda e conversa pessoal com clientes e demais públicos de interesse; p) Utiliza as idéias e inovações introduzidas por outras agências, em nível nacional e internacional, como forma de pesquisa, aprendizagem e aperfeiçoamento da organização; q) Quando define o posicionamento desejado, utiliza conceitos de posicionamento baseados nas dimensões atributos (ex: “inteligência criativa”), concorrência (“a agência que melhor conhece o sul do país”) e benefícios (“agência de grandes resultados”); r) Quando tem o posicionamento desejado, adota conceitos que distinguem efetivamente a marca em relação aos concorrentes, que comunicam idéias claras, que são fáceis de memorização, que fazem promessas concisas e que dispõem de coerência; s) Quando comunica o posicionamento desejado, investe em ações ou mídias de comunicação como: visitas de prospecção, reuniões de trabalho, contatos do dia-a-dia, CD-Rom, mala direta, outdoor, anúncio em jornal, perfil institucional, eventos de final de ano, Web/site corporativo, informativo da agência e portfólio de serviços. Quando os resultados da pesquisa empírica são comparados com as recomendações de autores, pesquisadores e especialistas em marketing de serviços, a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento da maioria das agências de comunicação estudadas apresenta as seguintes deficiências: a) Não define o mercado-alvo da organização com base em métodos estruturados, planejados e deliberados, mas em decorrência de decisões assistemáticas, gradativas e despretensiosas, efetuadas durante a evolução da agência e do relacionamento com o mercado; b) Não dispõe de mercado-alvo delimitado, focalizado e formalizado de forma adequada. Há agências onde o mercado-alvo não está definido conscientemente, onde os tipos de clientes de interesse da organização não estão estabelecidos, onde os serviços são prestados para quaisquer tipos de clientes possíveis de obtenção, onde novos clientes são 145 conquistados apenas com base na verba disponível para comunicação ou onde o perfil de clientes-alvo estabelecido pela organização não é aplicado; c) Não utiliza métodos estruturados de pesquisa de marketing, nem técnicas estatísticas multivariadas para a identificação de segmentos de mercado, oportunidades de novas formas de segmentação e/ou de novos tipos de clientes; d) Emprega pouco esforço na implementação das estratégias de diferenciação e dispõe de funcionários, parceiros e intermediários que não estão adequadamente informados e conscientizados sobre os diferenciais competitivos da organização; e) Investe na comunicação dos diferenciais competitivos para os clientes, veículos de comunicação, especialistas de mercado e formadores de opinião, mas de forma limitada, episódica e sem planejamento; f) Não determina as estratégias de diferenciação com base em sistemáticas estruturadas, decisões planejadas, deliberadas e conscientes, mas como resultado de características e/ou decisões do dia-a-dia da organização que se evidenciaram de forma gradativa, casual e não desejada; g) Não dispõe de posicionamento desejado definido para a marca ou serviços da organização (identidade de marca); h) Investe pouco na comunicação do posicionamento de marca desejado para os clientes (atuais e potenciais), funcionários, parceiros, intermediários e veículos de comunicação. As ações de comunicação realizadas são freqüentemente limitadas, esporádicas, sem planejamento e, principalmente, via mídias pessoais; i) Não utiliza sistemática estruturada para a identificação do posicionamento de marca percebido pelo mercado, como métodos formais de pesquisa, métodos estatísticos de análise ou técnicas de mapeamento perceptual; j) Dispõe de posicionamento de marca percebido pelo mercado diferente (incoerente) do posicionamento de marca desejado pela organização. A constatação desses resultados mostra que a maioria das agências de comunicação estudadas aplica estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca ou serviços, mas carece de métodos e técnicas mais planejados, estruturados, deliberados e formalizados, bem como de esforço maior na implementação dessas estratégias, para a obtenção de melhorias no desempenho do marketing da organização. 146 6.2 Recomendações para as agências de comunicação Com base nas considerações mencionadas, algumas recomendações devem ser consideradas pelas agências de comunicação estudadas, sobre sistemáticas, técnicas e formas de implementação, caso pretendam obter resultados melhores com a aplicação das estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca ou serviços. Com relação à segmentação e seleção de mercados-alvo, recomenda-se que as agências tenham seu mercado-alvo mais adequadamente delimitado, focalizado e formalizado; definam os tipos de clientes-alvo com base em métodos mais planejados, estruturados e deliberados; identifiquem os segmentos de mercado, as oportunidades de novas formas de segmentação e/ou de novos tipos de clientes, utilizando métodos de pesquisa apropriados (entrevista em profundidade, focus group e/ou survey) e técnicas estatísticas multivariadas (análise fatorial múltipla, análise discriminante e cluster analysis); evitem dispor com intensidade de clientes que não tenham as características estabelecidas no perfil de clientes desejado. Sobre a diferenciação competitiva, sugere-se que as agências estabeleçam suas estratégias de diferenciação com base em decisões mais planejadas, deliberadas e conscientes; desenvolvam um esforço maior na implementação efetiva das estratégias de diferenciação identificadas; invistam mais na comunicação dos diferenciais competitivos junto aos clientes (atuais e potenciais), funcionários, parceiros, intermediários, veículos de comunicação, especialistas de mercado e formadores de opinião; procurem conhecer mais os diferenciais competitivos que são realmente percebidos pelos clientes atuais e potenciais. No que tange ao posicionamento, propõe-se que as agências definam o posicionamento que desejam para a marca ou serviços da organização (identidade de marca); invistam mais na comunicação do posicionamento desejado junto aos públicos importantes, via ações com planejamento, mídias, intensidade e freqüência adequados; utilizem sistemáticas mais estruturadas na identificação do posicionamento percebido pelo mercado, como técnicas apropriadas de pesquisa, métodos de estatística multivariada (análise de correspondência, escalonamento multidimensional e análise discriminante) ou técnicas de mapeamento perceptual; invistam na obtenção de posicionamento de marca percebido condizente com o posicionamento de marca desejado. 147 6.3 Contribuições do estudo para a academia Este estudo proporcionou algumas contribuições acadêmicas relevantes e permitiu o avanço do conhecimento sobre a aplicação das estratégias de marketing em organizações de serviços. O trabalho realizado representa uma ampliação do estudo acadêmico sobre a aplicação de estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento no setor de serviços, um campo de investigação considerado ainda carente por diferentes autores e pesquisadores, como Steenkamp; Hofstede (2002), Wedel; Kamakura (2000) e Bolton; Myers (2003). A fundamentação teórica apresentada reúne conceitos fundamentais sobre serviços, marketing de serviços e estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca ou serviços. A estrutura conceitual desenvolvida, além de estar baseada nas recomendações de teóricos e autores importantes, apresenta idéias modificadas ou elaboradas que podem apoiar pesquisas acadêmicas futuras no campo de estudo, bem como auxiliar na análise e identificação de deficiências na prática de marketing de organizações de serviços. A apresentação dos resultados da pesquisa proporciona à academia um conjunto de informações detalhadas e necessárias sobre a aplicação, deficiência e importância das estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento em agências de comunicação, um ramo de atividade que, conforme verificado durante este trabalho, apesar da sua importância no contexto econômico brasileiro, tem sido pouco estudado nas principais universidades e instituições de ensino da região sul e sudeste do Brasil. As conclusões deste estudo contribuem também para reforçar as conclusões de outros estudos acadêmicos realizados em nível nacional, envolvendo a aplicação das estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento em organizações de serviços, como os trabalhos de Ikeda; Oliveira (1999) e de Niño; Gouvêa (2004). Nesses trabalhos, os resultados das pesquisas revelaram que, nas agências de viagens estudadas, as práticas de segmentação, diferenciação e posicionamento são incipientes, carecem de procedimentos mais formais e sistematizados. 148 O estudo possibilitou ainda a maior compreensão sobre a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento em agências de comunicação, bem como a identificação de oportunidades e idéias de direcionamento para pesquisas acadêmicas futuras. Diversas possibilidades de estudos adicionais foram apontadas, incluindo as possibilidades de pesquisas complementares, de investigação de tópicos mais específicos e de aprofundamento de pontos obscuros, todas relacionadas à estratégia de marketing, gestão de organizações de serviços e gestão de marketing em agências de comunicação. 6.4 Limitações do estudo Apesar dos cuidados metodológicos e esforços empreendidos para assegurar a qualidade e validade dos resultados, o presente estudo está sujeito a diversos tipos de limitações, que precisam ser mencionados. O reconhecimento dessas limitações não deprecia o projeto de pesquisa nem desvaloriza os resultados, mas possibilita a utilização futura mais correta e consciente de dados, resultados e análises deste estudo. Os tipos principais de limitações do estudo são os seguintes: a) O tipo de pesquisa empregado, exploratório e qualitativo, um processo flexível, semiestruturado e com amostragem reduzida, proporciona resultados que auxiliam apenas na compreensão e/ou obtenção de insights sobre os assuntos investigados; b) O método de amostragem utilizado, não probabilístico e por julgamento, impede a inferência ou generalização dos resultados e restringe as conclusões da pesquisa às agências de comunicação estudadas; c) A estrutura da amostragem é restrita, pois contempla elementos que pertencem somente ao Estado de Santa Catarina e não contém todas as organizações que compõem as principais agências de comunicação do estado; d) O método de coleta de dados aplicado, entrevista pessoal e em profundidade, está sujeito à subjetividade, experiência e percepção do pesquisador, o que pode ter ocasionado vieses de mensuração, como interferência, falhas de compreensão e erros de interpretação; e) A fonte de dados primários, composta por proprietários, dirigentes ou executivos das agências de comunicação, pode não ter feito relatos verbais com o conhecimento, a 149 lembrança e a sinceridade desejados; ou pode ter revelado alguns fatos e opiniões de uma situação desejável (“política correta”), mas que não representa a prática real da agência de comunicação pesquisada; f) Há agências de comunicação que omitiram certos detalhes ou dados específicos desejados, alegando informação estratégica, política de sigilo ou que o estudo envolve concorrentes, o que pode ter ocasionado alguma distorção nos resultados; g) Apesar da profundidade do estudo, algumas variáveis de pesquisa relacionadas à segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca podem não ter sido investigadas com os detalhes necessários. 6.5 Sugestões para estudos futuros Durante a preparação, coleta e análise dos dados da pesquisa empírica, algumas idéias foram identificadas sobre estudos complementares, investigação de tópicos mais específicos e pontos obscuros nos resultados deste estudo. Como sugestões principais de oportunidades de estudos futuros, propõe-se o que segue: a) Pesquisar a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento das agências de comunicação do Estado de Santa Catarina, com base na visão dos clientes, fornecedores e intermediários, comparando os resultados com este estudo; b) Estudar as possibilidades de aplicação de métodos estruturados na implementação de estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca em agências de comunicação; c) Investigar a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento em agências de comunicação de portes pequeno e/ou médio do Estado de Santa Catarina, comparando os resultados com este estudo; d) Pesquisar a prática de segmentação, diferenciação e posicionamento de agências de comunicação dos estados do Paraná e/ou Rio Grande do Sul, comparando os resultados com este estudo; e) Dimensionar a aplicação das estratégias de segmentação, diferenciação e posicionamento, via pesquisa quantitativa (descritiva-conclusiva), pelas agências de comunicação do Estado de Santa Catarina; 150 f) Estudar outras estratégias de marketing relacionadas à gestão de agências de comunicação, como estratégias de serviços, preços, distribuição, logística, comunicação, vendas, evidências físicas, pessoas e processos; g) Investigar o grau de influência das estratégias de segmentação de mercado, diferenciação competitiva e posicionamento de marca sobre o desempenho das agências de comunicação; h) Replicar este estudo em organizações de outros ramos de atividade pertencentes à indústria da comunicação, como veículos de comunicação e produção publicitária; i) Efetuar um estudo intersetorial, com as organizações líderes de diferentes ramos de atividade da indústria da comunicação, comparando os resultados entre os setores estudados.