UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA KELLY LEITE MAIA DE MESSIAS AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES SOBRE ÓBITOS POR CAUSAS EXTERNAS NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA-CE. Fortaleza-CE Junho/2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA KELLY LEITE MAIA DE MESSIAS AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES SOBRE ÓBITOS POR CAUSAS EXTERNAS NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA-CE Tese apresentada ao programa de PósGraduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Ceará – UFC, da Universidade Estadual do Ceará – UECE e Universidade de Fortaleza- UNIFOR como requisito para obtenção do grau de Doutora em Saúde Coletiva. Linha de Pesquisa- Epidemiologia. Orientador- Prof. Dr. José Gomes Bezerra Filho. FORTALEZA, CE 2014 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde M548a Messias, Kelly Leite Maia de. Avaliação da qualidade das informações sobre óbitos por causas externas no município de Fortaleza-CE./ Kelly Leite Maia de Messias. – 2014. 155 f.: il. color., enc. ; 30 cm. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Comunitária, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Doutorado em Saúde Pública, Fortaleza, 2014. Área de Concentração: Epidemiologia. Orientação: Prof. Dr. José Gomes Bezerra Filho. 1. Avaliação em Saúde. 2. Mortalidade. 3. Violência. I. Título. CDD 614.42813 Universidade Federal do Ceará Universidade Estadual do Ceará Universidade de Fortaleza Doutorado em Saúde Coletiva Avaliação da qualidade das informações sobre óbitos por causas externas no município de Fortaleza-CE. Kelly Leite Maia de Messias Defesa de Tese em: 06/06/2014 Conceito Obtido: APROVADA Banca Examinadora Prof. Dr. José Gomes Bezerra Filho Orientador Profa.Dra. Ana Paula Soares Gondim UFC Prof.Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva UECE Profa. Dra Augediva Maria Jucá Pordeus UNIFOR Profa. Dra. Miren Maite Uribe Arregi ICC-CE DEDICATÓRIA Aos olhos instigantes de meus discentes aprendizes de medicina Pela esperança da mudança do novo KM Aos meus pais, Pedro e Ivonele, pelos trilhos firmes de minha escolaridade, desde os primeiros traços. Aos meus filhos, Pedro José e Júlia, pela grandeza do amor sem fim. Aos meus irmãos Professores Doutores, Erick e Gretha, por serem tão companheiros. Ao pai do meu filho, ex-colega de mestrado, companheiro de Doutorado, junto comigo no incentivo acadêmico, José Patrício. AGRADECIMENTOS Ao Professor Dr. José Gomes Bezerra Filho, pelo incentivo à pesquisa na temática da violência. Ao meu colega, Professor Doutor, Erick Leite Maia de Messias, pela valiosa ajuda na compreensão das análises estatísticas e no manuseio de programas estatísticos na área da saúde coletiva. Aos meus discentes David Guerreiro, Lara Carvalho, Madeline Sales, Maiara Queiroz, Marcelo Praxedes, Markus Lage, Thales Peixoto e Thiago Freitas pelo companheirismo e responsabilidades compartilhadas. Aos meus sobrinhos: Janilson, Sofia, Igor, Ivan e Anna. Aos meus amigos da vida: Anna Myrna de Lima, Flávia Dórea, Gerytza Alcântara, Juliana Lyra e Marcos Henrique Rocha. À minha amiga Vicência Jaguaribe, pelas preciosas coisas: a amizade e a revisão ortográfica. Aos meus colegas da Universidade de Fortaleza pelo incentivo e colaboração nesse quadriênio. Aos meus colegas de doutorado Isabelle, Marinila, Malvina e Valéria. Àqueles que nos deram apoio técnico no projeto de pesquisa, à Célula de Vigilância Epidemiológica de Fortaleza e à Perícia Forense do Ceará Fortaleza. Ao corpo docente do curso de Doutorado em Saúde Coletiva das Universidades: UFC; UECE e UNIFOR. E a todos que ajudaram a conduzir esse projeto de tese à efetivação. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABML - Associação Brasileira de Medicina Legal. ACV - Áreas de Concentração de Violência. APVP - Anos Potenciais de Vida Perdidos. ASS- Análise de Situação de Saúde. ATT- Acidentes de Transporte Terrestre. BO- Boletim de Ocorrência. CBCD - Centro Brasileiro de Classificação de Doenças. CE - Causas Externas. CEVEPI - Célula de Vigilância Epidemiológica. CFM - Conselho Federal de Medicina. CID- Classificação Internacional das Doenças. CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde. CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde. CMD - Causas Mal Definidas. CNS - Conselho Nacional da Saúde. CTB - Código de Trânsito Brasileiro. CTIIS – Comitê Tripartite de Informação e Informática em Saúde. DAC - Doenças do Aparelho Circulatório. DATASUS - Departamento de Informática do SUS. DIP - Doenças Infecciosas e Parasitárias. DO - Declaração de Óbito. GI- Gestão da Informação. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IC - Intervalo de Confiança. IDB - Indicadores de Dados Básicos. IML - Instituto de Medicina Legal. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. LOAS – Lei Orgânica da Saúde. MS - Ministério da Saúde. NEO - Doenças Neoplásicas. NOB – Normas Operacionais Básicas. OMS - Organização Mundial da Saúde. OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde. PEFOCE - Perícia Forense do Ceará. PIB - Produto Interno Bruto. PMMG- Polícia Militar de Minas Gerais. PNIICS- Política Nacional de Informação, Informática e Comunicação em Saúde. PPI- Programação Pactuada Integrada. RAP- Risco Atribuível Proporcional. RC- Razão de chances. RG- Registro Geral. RIPSA - Rede Interagencial de Informação para a Saúde. RP- Razão de Prevalência. SAI - Sistema de Informação Ambulatorial. SAME- Serviço de Atendimento Médico e Estatístico. SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica. SIAT-FOR - Sistema de Informação de Acidentes de Trânsito. SIH - Sistema de Informação Hospitalar. SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade. SINAN - Sistema de Informação de Agravo de Notificação. SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos. SIOPS - Sistema de Informação sobre orçamentos públicos em Saúde. SIS - Sistemas de Informação em Saúde. SMS - Secretaria Municipal de Saúde. SSPDS - Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social. SUS - Sistema Único de Saúde. SVO - Serviço de Verificação de Óbitos. TFECD- Teto Financeiro de Epidemiologia e Controle de Doenças. UBS - Unidade Básica de Saúde. USP - Universidade de São Paulo. LISTA DE FIGURAS Figura 01- Responsabilidade no preenchimento da DO segundo existência de violência. Figura 02- Distribuição das taxas de homicídios por bairros de ocorrência. Fortaleza, 2010. Figura 03- Distribuição da densidade de ocorrência de homicídios por Kernel. Fortaleza, 2010. Gráfico 01- Proporção de óbitos por causa definida no Brasil, 2010. Quadro 01- Sistemas de Informação em Saúde. Brasil, 2014. Quadro 02- Óbitos por Causas Externas segundo Grupo CID10. Brasil, 1999-2011. Quadro 03 - Óbitos por Agressão segundo Categoria CID10. Brasil, 1999-2011. LISTA DE TABELAS Tabela 01- Proporção de óbitos por Causa Mal Definida e desconhecida segundo unidade da federação e região, 1999-2011. Tabela 02 - Testes de coeficientes de modelo Omnibus. Tabela 03 - Indicadores de desempenho do modelo. Tabela 04 - Teste de Hosmer e Lemeshow. Tabela 05 - Classificação dos indivíduos segundo o modelo. Fortaleza, 2010. Tabela 06 - Distribuição dos bairros de ocorrência dos homicídios. Fortaleza, 2010. Tabela 07 – Preenchimento final dos bairros de ocorrência dos homicídios. Fortaleza, 2010. Tabela 08- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Identificação. Fortaleza, 2010. Tabela 09- Completitude dos óbitos por causas externas segundo variáveis nominais de Identificação. Fortaleza, 2010. Tabela 10- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Residência. Fortaleza, 2010. Tabela 11- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Ocorrência. Fortaleza, 2010. Tabela 12- Completitude dos óbitos por causas externas segundo variáveis nominais de Ocorrência. Fortaleza, 2010. Tabela 13- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Assistência Médica. Fortaleza, 2010. Tabela 14- Completitude dos óbitos por causas externas segundo informações do Médico. Fortaleza, 2010. Tabela 15- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Tipo de Morte. Fortaleza, 2010. Tabela 16- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Descrição do evento. Fortaleza, 2010. Tabela 17- Associação não ajustada entre Homicídio e variáveis independentes. Fortaleza, 2010. Tabela 18 – Parâmetros estimados da Regressão. Fortaleza, 2010. Tabela 19 - Probabilidades previstas pelo modelo para cada perfil. Fortaleza, 2010. Tabela 20 - Análise dos resíduos padronizados fora do intervalo ±2,5. Fortaleza, 2010. Tabela 21- Associação não ajustada e ajustada entre Homicídio, faixa etária, sexo, estado civil e ocorrência. Fortaleza, 2010. Tabela 22 – Análise de Concordância entre as codificações de causas básicas dos óbitos por causas externas. Fortaleza, 2010. Tabela 23- Distribuição dos bairros segundo ocorrência de homicídios com taxas entre 101-150 por 100.000 hab. Fortaleza, 2010. Tabela 24 – Índice de Moran Global. Fortaleza, 2010. Tabela 25 –Kernel por bairros de “áreas quentes”. Fortaleza, 2010. Tabela 26 –Kernel por densidade de homicídios. Fortaleza, 2010. RESUMO O Sistema de Informação sobre Mortalidade se apropria de informações para avaliar o estado de saúde das coletividades humanas e orientar medidas de saúde equânimes. Para tanto, este Sistema, não distante dos demais, deve dispor de informações de qualidade, que podem ser avaliadas a partir de dois parâmetros: a validade e a confiabilidade de seu indicador de saúde. Vários estudos foram realizados no Brasil nos últimos 20 anos demonstrando fragilidades nos processos avaliativos deste Sistema. O presente estudo tem como objetivo principal avaliar a qualidade do registro de informação sobre mortalidade para as vítimas de causas externas do ano de 2010 no município de Fortaleza-Ceará. Trata-se de um estudo transversal, no qual foram selecionadas todas as Declarações de Óbito advindas da Perícia Forense do Ceará cujas causas básicas foram identificadas no capítulo XX, da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), 2010, de residentes de Fortaleza. Foram comparados o quantitativo de óbitos registrado no Sistema de Mortalidade oficial e o quantitativo de óbitos identificados na Perícia Forense do Ceará. Também foram comparadas as codificações de causas básicas do óbito; os fatores de risco ligados à principal causa de morte (Agressões) e foi analisada a qualidade dos registros de todos os campos juntamente à Análise Espacial de local de ocorrência dos óbitos por Agressões. Os dados foram tabulados no programa EpiInfo for Windows, versão 3.5.4 e analisados no STATA 12. Foi utilizado o Kappa como medida de concordância. Os Resultados indicaram subnotificação de 67 óbitos, gerando amostra final 2.109 óbitos; a concordância entre as codificações pesquisa-oficial apresentou Kappa de 0.069; foi considerado, no modelo final de regressão logística, como risco às Agressões pertencer às categorias: adolescente (OR ajustada: 18,44; I.C.95% entre 9,57- 35,54); masculino (OR ajustada: 2,83; I.C.95% entre 1,92- 4,19); não ter vínculo conjugal (OR ajustada: 1,58; I.C.95% entre 1,14- 2,18) e bairro de ocorrência de renda menor (OR ajustada: 5,13; I.C.95% entre 2,13- 12,36); a maioria das variáveis apresentou completitude baixa e o indicador Kernel indicou “áreas quentes” na distribuição dos bairros de ocorrências de Agressões em Fortaleza-CE. Palavras-chave: Avaliação. Mortalidade. Violência. ABSTRACT The Health Information System on Mortality appropriates information to assess the health status of human populations and direct measures for equitable health care. Therefore, this system, not far from the others, must have quality information, which can be evaluated by two parameters: the validity and reliability of its health indicators. Several studies were conducted in Brazil over the last 20 years demonstrating weaknesses in the evaluation processes of this system. The present study aims to evaluate the quality of the record of mortality information for victims of external causes in 2010 in Fortaleza, Ceará. This is a cross-sectional study, which included all death certificates, from residents of Fortaleza, reported by the state’s Medical Examiner office where the underlying causes were identified in Chapter XX, the International Classification of Diseases (ICD- 10). The number of deaths recorded in the state Mortality Database and the amount of deaths identified in medical examiner’s office records were compared. We also compared encodings for basic causes of death; the risk factors linked to the leading cause of death (aggression), and we analyzed the quality of the records and performed a Spatial Analysis of deaths from aggression/assault. Data were tabulated in EpiInfo for Windows, version 3.5.4 and analyzed in STATA 12. Kappa was used as a measure of agreement. Results indicated underreporting of 67 deaths, with 2,109 deaths resulting final sample. The correlation between the medical examiner and the population registry had a kappa of 0.069. The following risk factor were identified in a logistic regression for death by aggression/assault: being a teenager (adjusted OR: 18.44, 95% CI from 9.57 to 35.54 ), being male ( adjusted OR : 2.83 , CI 95 % from 1.92 to 4.19 ), not having marital bond ( adjusted OR : 1.58 , 95% CI from 1.14 to 2.18 ) and occurrence of low- income neighborhood ( adjusted OR : 5.13 95% CI from 2.13 to 12.36 ); most variables showed low completeness and the indicator Kernel identified "hot areas" in the distribution of the occurrences of assaults among neighborhoods in Fortaleza . Keywords: Evaluation. Mortality. Violence. SUMÁRIO Parte I- Definição do Objeto em Estudo 1. Introdução.............................................................................................................18 2. Aporte Teórico......................................................................................................24 2.1 Sistemas de Informação em Saúde e o Sistema de Informação sobre Mortalidade ................................................................................................................24 2.2 Sistemas de Informação sobre Mortalidade: considerações quanto à legislação e gestão do sistema..................................................................................31 2.3 Mudanças no perfil epidemiológico e o aumento da carga de mortalidade por Causas Externas........................................................................................................38 2.4 Causas mal definidas e a importância do correto preenchimento da DO........47 3. Objetivos......... ....................................................................................................55 3.1 Objetivo geral .................................................................................................55 3.2 Objetivos específicos......................................................................................55 Parte II- Caminhos Metodológicos 4. Material e Método ................................................................................................57 4.1 Tipo de estudo................................................................................................57 4.2 Período do estudo...........................................................................................57 4.3 Local do estudo...............................................................................................57 4.4 População do estudo.......................................................................................58 4.5 Coleta do banco de dados...............................................................................60 4.6 Codificação da pesquisa.................................................................................64 4.7 Verificação da concordância entre a codificação da causa básica dos óbitos.................................................................................................................65 4.8 Análise e tabulação dos dados........................................................................66 4.9 Definição da categorização das variáveis.......................................................73 4.10 Georreferenciamento.....................................................................................74 4.11 Aspectos Éticos.............................................................................................76 Parte III- Resultados e Discussão 5. Resultados ..........................................................................................................79 5.1 Avaliação da qualidade de preenchimento e ocorrência de rasuras nos campos do instrumento de coleta de dados da declaração de óbito & descritiva......79 5.2 Análise Bivariada.............................................................................................87 5.3 Regressão Logística .......................................................................................94 5.4 Análise de Concordância ..............................................................................100 5.5 Análise Espacial............................................................................................101 6. Discussão ..........................................................................................................106 7. Conclusão .........................................................................................................134 REFERÊNCIAS……….............................................................................................136 ANEXOS E APÊNDICES.........................................................................................149 16 17 Parte I Definição do Objeto de Estudo 18 1. INTRODUÇÃO O Sistema Único de Saúde (SUS) criado pela Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) e regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90 e Lei 8.142/90) apresenta-se alicerçado nos princípios doutrinários da universalidade, integralidade e equidade e nos princípios estratégicos da descentralização, regionalização e participação social. Para o cumprimento destes princípios, grandes dificuldades e desafios são postos ao campo da Saúde Coletiva. Esse campo de atuação objetiva superar as limitações e fragmentações da „saúde pública‟ e, a partir da articulação entre Epidemiologia, Planejamento e Gestão em Saúde e Ciências Sociais, apontar novos caminhos, saberes e práticas à área da saúde (ALMEIDA FILHO e PAIM, 2000). Nesse contexto, a informação em saúde apresenta-se como uma ferramenta imprescindível para o conhecimento da realidade epidemiológica e para subsidiar os mecanismos de planejamento e gestão no SUS. Os dados, no campo da saúde coletiva, remetem ao conceito embrionário, bruto, da ausência do tratamento estatístico. Adiante, obtém-se a informação sob a égide de preceitos teóricos. Nessa perspectiva, a Informação em saúde representa ferramenta imprescindível à Vigilância Epidemiológica (VE) por ser fator desencadeador do processo intitulado “informação-decisão-ação”, tríade que sintetiza o escopo de suas atividades (BRASIL, 2010). Moraes (1994) discute a capacidade da informação imbricada em um Sistema detentor da capacidade de articular unidades que o compõem. Estas partes, ditas estruturas administrativas e unidades de produção, se articulam entre si com a finalidade de selecionar dados e transformá-los em informação. Segundo Machado (2007), a informação em saúde necessita do apoio da Tecnologia da Informação (TI), sendo importante o gerenciamento em conjunto. A autora discute as limitações da TI e amplia debate sobre a diferenciação entre informação e conhecimento. Ambos têm se utilizado da TI, porém na gestão do conhecimento é o indivíduo que é mais valorizado. Na estratégia orientada para informação, o investimento é em TI, sendo esta entendida como todas as formas de conhecimento relacionadas à produção, gestão e disseminação das informações capazes de solucionar ou minimizar os problemas de saúde no âmbito dos sistemas 19 de saúde que presam pelo bem das coletividades humanas. No Brasil, a utilização de Sistemas de Informação em Saúde (SIS) tem início com a implantação pelo Ministério da Saúde (MS) do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), datada em 1975. A princípio, esse sistema tinha como objetivo coletar, processar e disseminar dados e informações sobre óbitos em todo o país. Como instrumento de coleta dados, o MS adotou um modelo padronizado de Declaração de Óbito (DO) que possibilitou a obtenção e a organização de informações mais fidedignas e completas (BRASIL, 2009). Também outros Sistemas de Informações foram implantados em anos subsequentes, como o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), em 1976 e o Sistema de Informação de Agravo de Notificação (SINAN), 1977. Atualmente, além desses sistemas, o SUS também conta com o Sistema de Informação Hospitalar (SIH-SUS), o Sistema de Informação Ambulatorial (SIA-SUS), Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), Sistema de Informação sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS), dentre outros. Os SIS permitem, dentre outros fins, conhecer o estado de saúde, monitorizar e avaliar intervenções, resultados e impactos nas coletividades humanas, constituindo-se em importantes ferramentas para o monitoramento das estatísticas vitais e demográficas, desenvolvimento de estudos epidemiológicos, acompanhamento da situação de saúde da população com fins na avaliação e na gestão do sistema. 20 Quadro 01- Sistemas de Informação em Saúde. Brasil, 2014. Sistema Objetivo Sistema de Informações de Mortalidade Coletar dados da população permitindo gerar informações sobre o perfil de mortalidade. Instrumento Declaração de Òbito (DO) (SIM) Indicadores/Informação Mortalidade proporcional por causa, faixa etária, sexo, local de ocorrência e residência, letalidade de agravos, componentes da taxa de mortalidade geral, infantil e materna. Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) Coletar dados sobre os nascimentos da população permitindo gerar informações epidemiológica do segmento Materno-Infantil. Declaração de Nascido Vivo (DN) Taxa de fecundidade, taxa de natalidade, proporções de mães adolescentes, proporção de partos cesáreos, assistência ao pré-natal, componente das taxas de mortalidade infantil e materna. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) Coletar dados de agravos infectocontagiosos de notificação obrigatória permitindo avaliações de situações de risco e tomadas de decisões para medidas de controle Ficha Individual de Notificação (FIN) Ficha Individual de Investigação (FII) Cálculos de incidência, prevalência, letalidade e mortalidade, situação epidemiológica dos agravos como fontes de infecção mecanismos de transmissão, áreas de risco, populações susceptíveis Sistema de Informação Hospitalar (SIH-SUS) Coletar dados de internações hospitalares do SUS para fins administrativos financeiros e epidemiológicos. Autorização de Internação Hospitalar (AIH) Dados das internações hospitalares, fonte de informação para o conhecimento da situação de saúde da população e avaliação das ações e dos serviços de saúde. Sistema de Informação Ambulatorial (SIA-SUS) Coletar dados de atendimento ambulatorial e alta complexidade para fins de ordenação do pagamento dos serviços prestados nos municípios Boletim de Produção Ambulatorial (BPA) e Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade (APAC) Indicadores como: número de consultas médicas por habitante ano, número de consultas médicas por unidade conveniada e números de exames e de terapias realizadas e procedimentos de alta complexidade. Coletar dados para o acompanhamento das ações e dos resultados das atividades realizadas pelas equipes do PSF. Cadastro das Famílias e Boletim de Produtividade da Equipe e do ACS. Caracterização da Situação sóciosanitária e epidemiológica de áreas bem delimitadas, dados de acompanhamento pelos ACS de crianças < 2 anos, gestantes, hipertensos, diabéticos, tuberculosos e hansenianos, notificações, hospitalizações, agravos e óbitos na área de cobertura da equipe. Coletar dados para o acompanhamento de receitas, repasses e aplicações dos recursos da saúde. Dados de transferências de recursos, arrecadação de impostos, investimentos e despesas efetuadas. Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) Sistema sobre Públicos (SIOPS) de Informação Orçamentos em Saúde Recursos em saúde per-capta. Destinação dos recursos públicos. Ampliação da transparência e eficiência dos investimentos em saúde. Fonte- MEDRONHO, 2009. No que se refere às informações sobre mortalidade, estas são particularmente utilizadas para avaliação do estado de saúde das populações e para dimensionar o impacto de intervenções. A comparação entre diferentes padrões de mortalidade sugere hipóteses etiológicas a serem testadas (MATOS, PROIETTI, BARATA, 2007). Segundo Silva (2003), as estatísticas referentes aos óbitos representam, muitas vezes, o único instrumento de medida dos níveis de saúde das coletividades humanas e de avaliação de programas de saúde. Mediante o acontecimento de um óbito, dois caminhos distintos e singulares serão traçados para constatação e investigação de suas causas. Para óbitos não 21 violentos, os corpos são encaminhados para o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), que procederá à verificação do óbito e a avaliação da causa primária que levou ao evento. Em se tratando de morte violenta, os corpos devem ser encaminhados ao Instituto de Medicina Legal (IML) mais próximo para verificação e análise pericial, devendo também ser averiguada a causa primária que conduziu ao sinistro. Entretanto, a qualidade dessa informação é preocupação permanente para os serviços de saúde. Avaliações da qualidade dos dados para doenças e grupos etários específicos frequentemente apontam deficiências no preenchimento da DO, incluindo sua legibilidade. São também citados como inadequações os processos de codificação e seleção da causa básica, bem como a emissão da DO sem os resultados de exames de necropsia (MATOS, PROIETTI, BARATA, 2007). Segundo Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2008) é chamada de Causa Básica da morte, definida na Décima Revisão da Classificação Internacional das Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), como a “doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte ou as circunstâncias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal”. Estudo realizado no estado de São Paulo para avaliar a confiabilidade do SIM entre 1979 e 2001 aponta para falhas importantes no preenchimento das DO e, mediante consulta a prontuários hospitalares e entrevistas no domicílio, comprova a possibilidade de reestruturação das informações na elaboração das causas básicas em mais da metade dos óbitos definidos (HARAKI, LAURENTI e GOTLIEB, 2005). Na avaliação de estudos referentes aos óbitos por violência, estudos epidemiológicos (MATOS, PROIETTI, BARATA, 2007; SIMÕES e REICHENHEIM, 2001; BARROS, XIMENES e LIMA, 2001) constataram fragilidade tanto na identificação da causa básica do óbito, quanto na identificação de variáveis sociais e fatores relacionados ao óbito. Essa situação ganha relevância ao se analisar o perfil de mortalidade da população brasileira no decorrer do século XX. Com o desenvolvimento da transição epidemiológica, observa-se a diminuição da mortalidade por Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) e aumento considerável dos óbitos por Doenças do Aparelho Circulatório (DAC), por Doenças Neoplásicas (NEO) e por Causas Externas (CE) (BARRETO e CARMO, 2007). Em estudo epidemiológico de avaliação de tendências de curvas de 22 mortalidade, a tendência da mortalidade por homicídios no Brasil foi analisada, entre 1980 e 2003, demonstrando crescimento vertiginoso na taxa de mortalidade por esta causa. Em homens, esta causa quintuplicou durante o período referido do estudo. Para a faixa etária dos 15 aos 29 anos, em 1980 a taxa expressava 17 homicídios para cada 100.000 homens, evoluindo para 83 óbitos para cada 100.000 homens em 2003. A taxa padronizada no sexo feminino também sofreu acréscimo significativo durante o período, todavia manteve-se em considerável distância das taxas masculinas (SOARES FILHO et al, 2007). Em 2001, o MS lançou a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, promovendo ações articuladas em diversas áreas e setores. Entendendo a importância da Epidemiologia e Saúde Pública na condução de estudos que avaliem a vigilância desta temática, oportunizando pesquisas com foco na magnitude, escopo e característica das várias tipologias de violência e acidentes (SOUZA et al, 2007). Diante desse contexto, a qualidade da informação sobre óbitos no Brasil é um quesito essencial para a consolidação do SIM e para a definição de políticas de saúde mais equânimes e efetivas. Com a crescente escalada da violência no Brasil, no nosso estado e, sobretudo, no município de Fortaleza e no entorno metropolitano e a necessidade de responsividade dos diversos segmentos do Estado e da Sociedade Civil mediante políticas sociais, de saúde e de segurança pública, a qualidade da informação sobre mortalidade apresenta-se como necessidade preeminente para orientar a definição dessas políticas. O conhecimento dos óbitos por causas externas é essencial para a avaliação de tendências, tomadas de decisão na gestão pública em saúde, acompanhamento do impacto de intervenções voltadas para a redução da violência e planejamento de ações de saúde e da estruturação da Rede SUS voltada ao campo da assistência à saúde. O estudo proposto levanta as seguintes hipóteses epidemiológicas: é possível mensurar a qualidade deste Sistema de Informação sobre Mortalidade por causas externas em Fortaleza; qual a confiabilidade destas informações; há incompletudes no sistema, e em que nível de classificação (da coleta à digitação dos dados oficiais); como se dá o processo de codificação de causas básicas; como se comportam fatores associados à principal causa de óbito no município de Fortaleza, e, ainda, há diferenças na distribuição espacial de causas? 23 Este estudo se justifica pela necessidade de se avaliar Sistemas de Informação, apesar da tendência crescente de melhoria tanto da qualidade das informações quanto da cobertura nacional dos citados SIS-SUS. A pesquisadora tem experiência docente de seis anos de acompanhamento de acadêmicos de Medicina em módulos curriculares que focam o campo da Saúde Coletiva e os Sistemas de Serviços de Saúde na Rede SUS. Esta experiência gerou inúmeros questionamentos sobre a compreensão por parte do grupo discente dos níveis de atenção à saúde e suas atribuições bem como dos SIS-SUS e suas implicações na efetivação de um sistema de saúde amplo e complexo em nível nacional, seus impactos e sua capacidade de avaliação, monitoramento e transformação de realidades sanitárias. Percebendo um cenário que aponta fragilidades de interesse e uma falta de sensibilização dos estudantes de Medicina em gerar informações, sobretudo da sensibilização da necessidade de um alto padrão de qualidade destas informações, e por acreditarem que unicamente as demandas próprias de atendimento clínico individualizado sejam superiores em importância quando comparadas a uma participação irrestrita de responsabilidade, coparticipação e próatividade no fluxo de dados e informações do escopo da responsabilidade médica como demanda sanitária fundamental para os sistemas de serviços de saúde no qual estarão inseridos, nasceu o desejo de fundamentar a pesquisa. Além disso, o SIM tem peculiar importância pela sua capacidade muitas vezes exclusiva de medir os níveis de saúde das coletividades humanas, sendo, desta forma, fundamental que esteja alicerçado de dados de alta qualidade e com garantia de confiabilidade na reprodução de suas informações em níveis nacionais e internacionais. Desta forma, a presente tese de doutorado propõe uma avaliação da qualidade dos dados que alimentam SIM, no que se refere às informações sobre óbito por violência em Fortaleza no ano de 2010. Estes dados e informações são de responsabilidade dos peritos médicos da instituição denominada Perícia Forense do estado do Ceará (PEFOCE) e do Sistema responsável pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do município de Fortaleza: Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do município de Fortaleza-Ceará (CEVEPI). 24 2. APORTE TEÓRICO 2.1. Sistemas de Informação em Saúde e o Sistema de Informação sobre Mortalidade Historicamente tem-se que as primeiras contagens de mortes, selecionandose uma causa para cada feito obituário, são datadas de 1662, quando o inglês John Graunt descreveu a situação dos óbitos ocorridos em Londres e registrados nos livros que compunham as atas paroquiais. Graunt listou 83 causas de morte, sendo uma única descrição para cada ocorrência de óbito. Anos após, o autor em uma publicação já discutia a necessidade de múltiplos campos nos instrumentos de coleta de dados referentes aos óbitos dada a importância da descrição objetiva no preenchimento da diferença entre a morte ocorrer “devido” a uma doença e morrer “com” uma doença. Após Graunt, os países começaram a registrar suas causas de morte e estatísticas de mortalidade segundo causas, sendo esse preenchimento obrigatório pelo profissional médico em formulário apropriado denominado Atestado ou Declaração de Óbito. Passou a existir a necessidade de se selecionar uma única causa de morte, havendo a recomendação de normas e regras de seleção de causa básica, o que passou a ser tema de grandes reuniões presididas por William Farr, Inglaterra, em 1837. Em 1900, houve a 1ª Conferência para a primeira Revisão da Classificação das Doenças, sendo aprovadas seis regras de seleção de causas de óbito, mas deixando ainda grandes lacunas permitindo arbitrariedade nas escolhas (LAURENTI, MELLO JORGE e GOTLIEB, 2009). Em 1946, com a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), esta ficou responsável pelas revisões decenais da Classificação, incluindo normas e propostas referentes à compilação, tabulação e publicação das estatísticas de mortalidade e de morbidade. Foi ainda responsável pela aprovação de um documento que garantia a uniformização dos critérios de classificação da causa básica da morte e do conjunto de regras de seleção desta causa. Este documento foi intitulado de Modelo Internacional de Atestado Médico de Causa de Morte. Estas regras, em última instância, garantiriam a possibilidade da comparabilidade nacional e internacional nas análises das estatísticas vitais e demográficas (LAURENTI, MELLO JORGE e 25 GOTLIEB, 2009). Inúmeras revisões da Classificação Internacional das Doenças (CID) se sucederam ao longo deste século, sendo que diferenças mínimas caracterizam as revisões entre a 6ª e 10ª Revisões, datadas respectivamente entre os anos de 1948 e 1989 (BRASIL, 2009). No Brasil, pode-se atribuir ao Serviço Federal de Bioestatística do Departamento Nacional de Saúde, do Ministério da Educação e Saúde, a publicação dos primeiros dados nacionais sobre mortalidade, organizados segundo a Causa do Óbito referente aos anos de 1929 e 1932. Posteriormente, em 1973, a Lei Federal 6.015/1973 regulamentou o registro civil no país e atribuiu ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a responsabilidade pelas estatísticas dos registros civis. Em um segundo momento, em 1975, ocorre a primeira Reunião Nacional sobre os Sistemas de Informação na Conferência Nacional de Saúde realizada naquele ano (BRASIL, 2009). Sanches et al (2002) definiram os sistemas como um conjunto integrado de partes unitárias que se articulam entre si para uma finalidade sanitária comum. Na esfera dos sistemas de informação, uma das funções destes é a de disponibilizar prontamente a informação, existindo, assim, elementos embutidos para esse fim: a captação, o processamento e a difusão da informação. A informação disponível gerada do processamento, dito output, e o feedback, como retroalimentação dos sistemas, são considerados itens fundamentais para a garantia da plena atividade dos sistemas nas finalidades para as quase coexistem (GAZE; PEREZ, 2011). Pesquisadores diferenciam os conceitos entre os dados e a informação. A informação sendo concebida como um referencial teórico a ser produzido a partir de dados, sendo estes números brutos sem tratamentos estatísticos. Ainda, define um Sistema como um conjunto integrado de partes que se articulam entre si para um fim epidemiológico. Sendo este sistema um Sistema de Informação, deverá cumprir as suas funções de captação, processamento e difusão das informações (SANCHES et al, 2011). Nos últimos 30 anos, foram priorizados três importantes elementos do processo de constituição brasileira dos SIS, dentre estes: sistemas de informação que registram a experiência demográfica e de saúde no país, configurando o que se convencionou denominar “linha da vida”, circunscrevendo nascimento, doença e morte; o registro, a compilação e a difusão dos dados em saúde do SUS, 26 constituindo o DATASUS; e a elaboração de um processo de articulação interinstitucional para identificar fontes de informação, padronizar e construir indicadores e difundir, de forma organizada, dados, indicadores e Análises da Situação de Saúde conceituada como a Rede Interagencial de Informação para a Saúde – RIPSA (BRASIL, 2009). A RIPSA corresponde a uma iniciativa conjunta do MS e OPAS instituída em 1996 para contribuir como o aprimoramento de informações para adequar-se à gestão de boa qualidade no SUS. Essa iniciativa deveria suprir a carência de informatização nas informações em saúde. Constitui-se seu principal produto o conjunto de Indicadores de Dados Básicos (IDB), capaz de individualizar e especificar responsabilidades institucionais na produção de indicadores (OPAS, 2010). Almeida et al (2012) debatem, a partir da metodologia de “relacionamento de banco de dados”, o aprimoramento das Informações em Saúde. Essa técnica tem sido utilizada para ampliar a qualidade das informações, recuperando informações através da padronização e verificação desta qualidade, otimizando além da melhoria qualitativa do dado, sua completitude. O relacionamento das bases de dados se conceitua como área do conhecimento que estuda o método da busca de pares ou registros duplicados dentro de um mesmo arquivo ou entre bancos de dados. Machado (2007), ao avaliar a qualidade das informações sobre óbitos no estado do Ceará, descreve a completitude dos dados referentes ao triênio 20002002. Ao analisar a proporção de variáveis com preenchimento incompleto para as variáveis essenciais e secundárias, respectivamente, a proporção de dados ditos “ignorados” representou para as variáveis as seguintes proporções: variável sexo 0,4%; variável idade 0,5%; para tipo de violência 3,6%; para a variável raça cor 30,5%; para a variável estado civil 14,7%; escolaridade 51,5% e ocupação 31%. Quanto ao local de ocorrência do óbito, apresentou não preenchimento em 2,0% do total da amostra para o triênio. O preenchimento da variável assistência médica não foi informado em 65,7% do total dos óbitos no geral e 75% para óbitos com causas mal definidas. Na avaliação dos óbitos em menores de um ano, tiveram deficiência na completitude as informações referentes às mães, sendo para a variável raça cor 49,7%; escolaridade da mãe, 60,4% e para a variável ocupação da mãe, 47,9%. Houve uma relação diretamente proporcional entre a lacuna na completitude dos dados e idade da ocorrência do óbito em crianças. 27 Ao confrontar bancos de dados do SIM causas externas e o Sistema de Informação de Acidentes de Trânsito (SIAT-FOR), observaram diferenças marcantes entre os dois sistemas, sobretudo nas descrições dos acidentes entre ciclistas, que praticamente não houve registros para o anos do estudo no SIM (ALMEIDA et al, 2012). Segundo Moraes (2002), um processo de profunda mudança e ampliação da difusão e utilização da informação ocorreria na presença da inversão dos papéis do Estado e dos cidadãos na lógica dos Sistemas de Informação do SUS (SIS-SUS). No cenário atual, tem-se o Estado como gestor centralizador de um arsenal de bancos de dados em informações sobre saúde, no qual estados e municípios são obrigados a alimentar periodicamente estes bancos, sob pena da suspensão de repasses de recursos. Neste contexto, os cidadãos são meras quantificações de doenças, procedimentos e intervenções em saúde. A proposta de Moraes preconiza que, mediante uma ampla reforma social, esses “exércitos de informantes” (estados e municípios) seriam destituídos de sua condição passiva e se constituiriam atores sociais ativos, questionadores, propositores e responsáveis pelas avaliações e formulações das políticas públicas. Nesse contexto, os SIS, além de suas características fundamentais - traçar perfis de morbimortalidade; subsidiar a avaliação dos sistemas de serviços de Saúde; e fundamentar o planejamento em saúde - também seriam indutor e promotor de participação social, cidadania plena e qualidade de vida. Bispo Júnior e Gesteira (2004) discutem que para que o caráter participativo e democrático do SUS seja cumprido garantindo o controle social (Lei 8.142/90), a informação é ferramenta essencial no combate das desigualdades sanitárias e na promoção da saúde nos coletivos populacionais. Aliados à valorização da gestão participativa, municípios e estados alcançariam o estatuto de novos e importantes atores responsáveis pela geração e uso de informações necessárias à intervenção social (BRASIL, 2009). Os objetivos e funções dos SIS estão relacionados à coleta, avaliação, controle de qualidade dos dados, processamento, análise e difusão destes dados, com destaque para o caráter virtual de transferência ocorrida a partir do avanço da informática em saúde (MOTA e CARVALHO, 2003). A qualidade e a confiabilidade dos dados dos sistemas de informação poderão conduzir a duas situações opostas: gerar uma rede de informações confiáveis e 28 indicativa da real situação sanitária; ou produzir um conjunto de dados e informações não indicativas da real situação de saúde da população. Esta diferença de escalas de qualidade fundamentará a tomada de decisões mais ou menos adequada à realidade epidemiológica, de acordo com a qualidade das informações dos sistemas. Os parâmetros de avaliação da qualidade de um indicador em saúde caracterizam-se pelos componentes utilizados em sua formulação (frequência de casos, tamanho da população de risco), e da precisão dos SIS empregados (registro, coleta e transmissão de dados). O padrão-ouro de um indicador pode ser lido por sua validade (capacidade de medir o que se pretende) e confiabilidade (capacidade de reprodução de resultados gerados). A validade é determinada pela sensibilidade e especificidade de um indicador. Estas podem ser compreendidas como a capacidade deste de detectar fenômenos a que se presta avaliar (OPAS, 2008). O MS gerencia sistemas de informação sobre nascimento, óbitos, doenças de notificação, acidente de trabalho, atenção básica, ambulatorial e hospitalar, orçamentos públicos em saúde dentre outros. Somam-se ainda censos e pesquisas de base populacional coordenados pelo IBGE, pesquisas econômicas e sociais desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Os SIS-SUS podem ser consultados em bases de dados virtuais a partir do sítio eletrônico do DATASUS, em que as informações são disponibilizadas por estado ou município, sendo possível fazer o cruzamento de várias variáveis disponíveis. O SIM, embora nascido em 1975, ganhou amplitude nacional a partir de 1979, mediante convênio entre MS, OPAS, OMS e Universidade de São Paulo (USP). Desta parceria, foi criada o Centro Brasileiro de Classificação de Doenças (CBCD) com proposta de promover a melhoria da qualidade das informações dos atestados de óbito e assessorar o MS nas revisões do Código Internacional das Doenças (BRASIL, 2009). A DO foi implantada em 1976 como instrumento base de coleta de dados para as informações sobre mortalidade em nosso país. Nesta data, padronizou-se modelo único de coleta de informações com dois objetivos principais: o de ser documento padrão nacional de coleta das informações para o SIM; e, o segundo, de ter caráter jurídico, de ser documento hábil, conforme Lei dos Registros Públicos (6.015/1973), para lavratura, pelos Cartórios de Registros Civis, da Certidão de Óbito, documento 29 indispensável às formalidades legais de sepultamento de vítimas. O preenchimento da DO é ato exclusivo do profissional médico, tendo a responsabilidade ética e jurídica pelo seu preenchimento, e é composta de três vias auto-copiativas: prénumeradas sequencialmente, fornecida pelo MS e distribuída pelas Secretarias Estadual e Municipal de Saúde conforme fluxo padronizado nacionalmente (BRASIL, 2006). São pré-requisitos fundamentais para o preenchimento da DO: preencher os dados de identificação com base em um documento da pessoa falecida, na ausência deste, cabe às autoridades policiais o reconhecimento da vítima; registrar os dados com letra legível e sem abreviações ou rasuras; registrar as causas da morte, obedecendo às regras internacionais; revisar todos os campos antes de assinar o documento (BRASIL, 2006). No caso das mortes violentas, a DO deverá ser preenchida pelo profissional médico vinculado ao IML local, ou quando na ausência deste, qualquer médico nomeado por autoridade judicial ou policial (BRASIL, 2006). Segundo a OPAS (2010), os SIS vêm criando a necessidade de profissionais de saúde híbridos, com formação em tecnologia da informação. Os profissionais e os cidadãos precisam perceber os benefícios das informações para serem motivados a utilizá-las. O médico legista é especialista em Medicina Legal. A Medicina Legal é uma especialidade médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB), e Comissão Nacional de Residência Médica. As normas para realização de concurso para Título de Especialista em Medicina Legal são estabelecidas pelo convênio entre Associação Brasileira de Medicina Legal (ABML), AMB e CFM. Para obter o título de especialista é imprescindível submeter-se à prova de títulos, realizada pela ABML. A condição primária é ser médico registrado no Conselho Regional de Medicina e as secundárias são especificadas e estabelecidas através de diretrizes da AMB. Os cursos de Especialização e Residência em Medicina Legal, devidamente reconhecidos pela ABML, servem como pontuação para prova de títulos. A Câmara Técnica de Medicina Legal do CFM e a ABML classificam a perícia médica em qualquer dos seus ramos, Criminal, Previdenciária, Civil, Securitário e Trabalhista como a representação do pleno exercício da Medicina Legal (ABML, 2012). Atualmente, no quadro funcional que compõe a sede da Perícia Forense do 30 Ceará, localizado em Fortaleza, há 20 médicos legistas nas escalas de serviço do necrotério com carga horária semanal de 40 horas. Figura 1- Responsabilidade no preenchimento da DO segundo existência de violência. Fonte: BRASIL, Ministério da Saúde. Declaração de Óbito. 2006. A composição da DO compreende 09 blocos de preenchimento obrigatório, sendo estes (Anexo A): I. Parte da DO preenchida exclusivamente pelo Cartório de Registro Civil; II. Identificação do falecido; III. Residência; IV. Local de ocorrência; V. Específico para óbitos fetais e menores de um ano; VI. Condições e causas do óbito; VII. Dados do médico; VIII. Causas externas: os campos deverão ser preenchidos sempre que se tratar de morte decorrente de homicídio, suicídio, acidentes ou morte suspeita; IX. A ser utilizado em localidades sem profissional médico, quando o registro oficial será feito por duas testemunhas. 31 Na seção VI, a causa básica do óbito (doença ou lesão que iniciou a cadeia de eventos mórbidos que conduziram diretamente à morte, ou às circunstâncias do acidente, ou violência que produziram a lesão fatal) deve ser descrita em último lugar (parte I, linha d), estabelecendo uma sequência de cima para baixo até a causa terminal ou imediata (parte I, linha a). Nos óbitos por causas externas, o médico atestante deve declarar na parte I, linha a, como causa terminal, a natureza da lesão; e, como causa básica, a circunstância do acidente ou da violência responsável pela lesão que causou a morte. Há, ladeando os dados descritos acima, os campos referentes aos Códigos da Classificação Internacional das Doenças (CID) relativo a cada diagnóstico e que será preenchido pelos codificadores das Secretarias Municipais de Saúde do Estado brasileiro (BRASIL, 2006). Na DO, a causa básica do óbito, ou causa mortis, deverá ser preenchida e fornecida pelo serviço médico legal, em conformidade com a determinação do Código Penal Brasileiro e garantido através da Resolução no. 1.601/2000 do CFM. E, no intuito de melhorar a notificação dos óbitos, o CFM estabeleceu responsabilidades e rotinas médicas para a emissão da DO, por meio da Resolução no. 1.779/2005 do CFM. 2.2. Sistema de Informação sobre Mortalidade: considerações quanto à Legislação e Gestão do Sistema Lei 6.015/73 - Lei dos Registros Públicos. Os Registros Civis no Brasil são contemplados, no início da década de 70, com a promulgação da Lei 6.015 datada em 31/12/1973, intitulada como Lei dos Registros Públicos. Esta Lei, em seu Artigo 77, versa sobre a obrigatoriedade da necessidade do registro oficial, denominado de Certidão de Óbito, para quaisquer sepultamentos no país, devendo a Certidão deve ser lavrada em um Cartório de Registro Civil. Esta deverá contemplar campos de obrigatoriedade de preenchimento pelo profissional de saúde Médico e nos casos específicos de ausência destes profissionais, será completa através do preenchimento de campos do formulário por parte de duas testemunhas que tenham presenciado ou verificado o acontecimento do óbito. No Artigo 78, fica estabelecido o prazo de registro do óbito, respeitando o intervalo de 24 horas entre o ocorrido e o registro. Não havendo possibilidade deste 32 cumprimento, usualmente por motivos de distância entre os órgãos de Verificação de óbitos, ou outro motivo relevante, o registro deverá ser efetuado nos prazos entre 15 dias e três meses. Neste último caso para locais que distem mais de trinta quilômetros dos referidos Cartórios de registros civis (BRASIL, 2013). Leis 8.080/90 & 8.142/90 - Lei Orgânica da Saúde. Outro marco na legislação brasileira para o campo da Saúde Coletiva se constitui nas Leis 8.080/90 e 8.142/90. Em 1990, são publicadas compondo a Lei Orgânica da Saúde (LOAS), que caracterizam a descentralização políticoadministrativa como princípio estratégico do SUS, dispondo sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde da população, à organização e ao funcionamento dos Sistemas de Serviços de Saúde e institucionalizam e regulamentam a participação popular e o controle social na gestão do SUS, além de pautar sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde (BRASIL, 1990a, 1990b). Os Sistemas de Serviços de Saúde, segundo BISPO JÚNIOR e MESSIAS (2005) podem ser compreendidos como uma combinação de recursos, organização, financiamento e gerência que visam oferecer serviços de saúde a uma coletividade humana. Desta forma, os sistemas de serviços de saúde são sistemas sociais que se propõem e se organizam com o intuito de prestar assistência à saúde de uma população definida. São compostos por arquitetura, fisiologia e instrumentos. A arquitetura é o componente que envolve toda a estrutura do sistema e os mecanismos de relação entre o próprio sistema e entre esses e os demais sistemas sociais. A Fisiologia relaciona-se com a capacidade de funcionamento do sistema com o intuito de responder socialmente às condições de vida da população. Já os instrumentos, referem-se aos recursos disponíveis pelo sistema, sejam eles tecnológicos, legais, ou organizacionais, donde se incluem os SIS-SUS. Machado (2007) discorre o papel destas Leis no tocante à informação em saúde e à constituição dos Sistemas de Informação. Em seus Capítulos II e IV, há a descrição da utilização da Epidemiologia no estabelecimento de prioridades, alocação de recursos e orientação programática nos sistemas de serviços de saúde. São pontuadas as responsabilidades e competências das esferas da União, dos Estados e do Distrito Federal, bem como das atribuições dos municípios quanto às 33 responsabilidades nas amplas funções dos SIS-SUS. Normas Operacionais Básicas (NOB) Abreu (2008) discute a legislação que ampara o SUS quando da regulamentação das NOB. Relata que o processo de descentralização do SUS foi regulamentado através das quatro Normas Operacionais Básicas, ao longo da década de 90, sendo estas: NOB 01/91; NOB 01/92; NOB 01/93; NOB 01/96. A primeira deu início do processo de transferência de recursos federais para estados e municípios, enquanto a última operacionalizou as propostas de descentralização das LOAS. Nesta NOB, há a proposta de pactuação entre gestores, dita Programação Pactuada Integrada (PPI) e o estabelecimento do Teto Financeiro de Epidemiologia e Controle de Doenças (TFECD). As Normas Operacionais Básicas definem estratégias e movimentos táticos que orientam a operacionalidade do SUS, mediante a redefinição das responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União, no caminho da consolidação dos princípios do SUS. Andrade (2001) caracteriza as NOB como um importante mecanismo regulador do processo de estadualização e municipalização das ações e dos serviços de saúde adotado pelo MS, com origem de um processo politico de pacto entre as gestões em saúde. A NOB, ao transmitir aos municípios a condição, outrora de prestadores, de gestores do sistema, imputa aos mesmos as responsabilidades pelo registro dos dados, bem como a remessa dos mesmos referentes aos instrumentos de coleta de dados da linha da vida (nascimento e morte) e algumas situações de agravos à saúde (Doenças de Notificação Compulsória). Aos municípios, cabem as seguintes funções: a coleta e o processamento dos dados; a avaliação do processo e o envio das informações às instâncias federais com o apoio das instâncias estadual e federal. Estas Normas Operacionais têm como função reordenar o modelo de Atenção à Saúde, ao definir: i. Os papéis de cada esfera do governo e, em especial, no tocante à direção única; ii. Os instrumentos gerenciais para que os municípios e estados superem o 34 papel exclusivo de prestadores de serviços e assumam seus respectivos papéis de gestores SUS; iii. Os mecanismos e fluxos de financiamento, reduzindo progressiva e continuamente a remuneração por produção de serviços e ampliando as transferências de caráter global, fundo a fundo, com base em programações ascendentes, pactuadas e integradas; iv. A prática do acompanhamento, controle e avaliação no SUS, superando os mecanismos tradicionais, valorizando resultados advindos de programações com critérios epidemiológicos e desempenho de qualidade; v. Os vínculos dos serviços com seus usuários criando condições para uma participação e controle social (BRASIL, 1996b). Portaria Ministerial 1.311 Os dados referentes às condições de saúde das populações e ao processo de Informatização tiveram destaque na pauta do Ministério da Saúde do Brasil a partir de 1995. A partir daí, foi elaborada a Portaria de número 1.311, datada de 17 de julho de 1995. Esta Portaria, editada pelo MS, descrevia os objetivos de estudar, avaliar e propor soluções para os pontos sensíveis dos SIS-SUS, como a informatização das instituições integrantes da Rede de ações dos Sistemas de Serviços de Saúde. Atendendo às recomendações, o MS cria a Comissão de Informação e Informatização do Ministério da Saúde do Brasil (FRANÇA, 2001). Esta Comissão foi responsável pela criação de um grupo de trabalho para avaliar e propor soluções na organização dos SIS-SUS, nas quais estavam pautados os seguintes fins: avaliação permanente dos Sistemas de Serviços de Saúde através de ASS; averiguação do impacto de ações em saúde na retroalimentação dos sistemas otimizando as múltiplas funções dos SIS-SUS, dentre outros. Nesta lógica, as informações deveriam ter a capacidade de descrever as complexidades demográficas, econômicas, sociais, de recursos setoriais, de vigilância sanitária, produção de serviços, de morbidade, dentre outras. Os SIS-SUS dentro de suas funções integrativas deveriam garantir a justificativa da coleta de um determinado dado em saúde previamente à sua coleta, seja pela relevância na tomada de decisões, seja para o planejamento ou gerência em quaisquer níveis. 35 Lei 9.534/97 - Lei da Gratuidade dos Registros Públicos. Estudos discutem, ainda, que no Brasil há uma discrepância nos registros de óbitos e que os dados são diferentes entre as cidades de acordo com o porte populacional. Há a indicação de que a cobertura pode ser considerada qualitativamente como “boa” nas capitais e nas cidades de médio e grande porte populacional, fugindo, entretanto, deste padrão áreas menos populosas. Como exemplos de áreas com lacunas importantes de registros, temos as Regiões Norte e Nordeste, apesar da tomada de medidas importantes para a ampla garantia da informação sobre a mortalidade como o avanço da Lei da Gratuidade. Autores comentam que a efetividade desta Lei, a partir de janeiro de 1998, agregaria uma sensível diminuição no subregistro dos dados (LAURENTI et al, 2000). Autores reafirmam como fator de extrema relevância para ampliar a capacidade de cobertura destes registros como sendo a promulgação e efetivação da Lei 9.534, a partir da garantia da gratuidade para a concessão de Certidões de óbitos (LAURENTI et al, 2000; OLIVEIRA, SIMÕES, 2005). Portaria Ministerial 1.399 O MS, em dezembro de 1999, publicou a Portaria de número 1.399, com a meta de regulamentar a NOB-96no tocante às competências da União, Estados, Distrito Federal e municípios na área de abrangência da Epidemiologia (BRASIL, 1999). A Portaria 1.399 define as responsabilidades da esfera municipal citadas: notificação de agravos à saúde classificados como de notificação compulsória, surtos e agravos inusitados; investigação dos casos notificados (incluindo a busca ativa de casos novos nas Unidades de Saúde); busca ativa de Declarações de Óbito e de Declarações de Nascidos Vivos nas Unidades de Saúde, cartórios e cemitérios; Vigilância Epidemiológica dos casos de mortalidade materna e infantil; gestão dos Sistemas de Informação epidemiológica, perfazendo a coleta, consolidação dos dados do SIM, dentre outros SIS, envio dos dados ao nível estadual, respeitando os prazos estabelecidos para cada SIS, análise dos dados, retroalimentação, divulgação de informes e análises epidemiológicas. 36 Define, ainda, as responsabilidades da esfera estadual no tocante à gestão dos sistemas de informação epidemiológica, donde advêm: consolidação dos dados provenientes das unidades notificantes e das esferas municipais mediante processamento eletrônico do SIM; envio dos dados ao nível federal, cumprindo os prazos estabelecidos pelas normas do SIS-SUS; análise e retroalimentação dos dados. Portaria Ministerial 1.172- 15.07.2004 Em junho de 2004, o MS revoga a Portaria 1.311 e publica a Portaria 1.172, que objetiva uniformizar as práticas referentes ao modelo assistencial vigente, ao substituir o termo outrora utilizado “Epidemiologia e controle de doenças” por “Vigilância da Saúde”. Paim e Almeida Filho (1998) discutem as modificações no panorama politico e social no mundo e da situação de saúde. Em fins da década de 90, PAIM (2003) aponta o modelo de Vigilância à Saúde como modelo contrário de concepções restritivas no Campo da saúde coletiva, apoiando-se na ação intersetorial e à procura de reorganizar as práticas de saúde no nível local com as seguintes características: intervenção sobre problemas de saúde; ênfase em problemas que requerem longitudinalidade no acompanhamento; utilização do conceito de risco; articulação entre promoção, prevenção e cura; atuação intersetorial e ações sobre territórios. Gestão da Informação Moraes e Vasconcellos (2005) discutem o desafio da formulação pactuada de uma Política Nacional de Informação, Informática e Comunicação em Saúde (PNIICS) capaz de oportunizar qualidade de vida e de saúde à população. Esta política pode contribuir na melhoria tanto da Rede Assistencial SUS quanto ser capaz de diminuir as desigualdades sociais em saúde tão presentes no contexto atual de nossos indicadores brasileiros. 37 A Declaração Universal dos direitos Humanos (1948) define: Todo homem tem o direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões, e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios independentemente de fronteiras. Alguns estudos (MORAES, 1994; 2002) indicam que o acesso à informação é fundamental e necessário, mas não suficiente ao exercício pleno deste direito. A discussão dos papeis do Estado e do cidadão, enquanto ser passivo, é questionada e surgem hipóteses de inversão de papeis para modificar o panorama democrático. O acesso à informação ao cidadão comum deve ser claro e transparente para garantir inclusive a possibilidade da legitimação da participação popular, transformando-o no sujeito informacional. Em 2002, forma-se o Comitê Tripartite de Informação e Informática em Saúde (CTIIS) composto por representantes do MS e suas instituições vinculadas, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS). Um dos principais objetivos era tratar das questões de gestão, capacitação, desenvolvimento tecnológico e qualidade da informação em todos os níveis do SUS. Outro marco importante foi a constituição pelo CNS (Resolução 349) da Comissão Intersetorial de Comunicação e Informação em Saúde, que amplia as possibilidades da participação popular na PNIICS com a capacidade de incorporar o conhecimento acumulado pelas entidades populares, representando o patrimônio intelectual. A PNIICS é então alicerce para novas dimensões da cidadania: a cidadania informacional com o apropriar das informações em saúde para além do acesso per si (MORAES e VASCONCELLOS, 2005). Interessante a ampliação do conceito “Informação em saúde” como sendo a gestão da informação que se origina no uso sistemático e intensivo de dados quantitativos e qualitativos e das tecnologias da informação, comunicação, computação e telecomunicação na formulação, implementação e avaliação das políticas de saúde; na promoção da saúde; no planejamento, regulação dos sistemas de serviços de saúde; no monitoramento, vigilância e análise da situação de saúde das populações. Como desafio para o SUS, coloca-se a Informação como macrofunção de gestão da Rede: amplia a capacidade de governança dos gestores; instrumentaliza a adoção do modelo de Promoção da saúde; amplia a possibilidade 38 da equidade; compromete-se com o processo de tecnodemocracia (democratização dos saberes tecnológicos), contribui para um sistema integrado de serviços (ressalte-se a iniciativa do MS de unificar as coordenações das ações de informação com as de informática no DATASUS, criando o Departamento de Informação e Informática em saúde). O grande desafio da Saúde Coletiva no campo da Informação em Saúde se traduz na capacidade da transformação do sujeito social partícipe da PNCIIS, coparticipante e não apenas doador passivo da informação, tornando assim possível a cidadania informacional (uso social da informação), com garantia da consciência sanitária com democratização dos saberes (MORAES e VASCONCELLOS, 2005). Ainda, no arsenal de multiplicidade de informações, descompor o cenário de fragmentação, e aliar o tripé Informação, Informática e Comunicação com a garantia da qualidade, amplo acesso e custos apropriados (MORAES e VASCONCELLOS, 2005; BRANCO, 2006). 2.3. Mudanças do Perfil Epidemiológico e o aumento da carga de mortalidade por Causas Externas O padrão de morbimortalidade da população brasileira passou por consideráveis mudanças no decorrer do Século XX. Deve ser levado em consideração que a transição epidemiológica não ocorreu de maneira isolada. Associada a mudança do perfil de morbimortalidade também ocorreram as transições demográfica e nutricional (MESSIAS; BISPO JÚNIOR e GAMA, 2013). Do ponto de vista demográfico, merece destaque o crescimento vertiginoso da população brasileira. Em um período de 100 anos, entre 1900 e 2000, estima-se que a população brasileira multiplicou-se em mais de 10 vezes, saltando de 17 milhões para 180 milhões de habitantes. Outra característica da transição demográfica no Brasil é o aumento vertiginoso da expectativa de vida, em 1900 a expectativa de vida ao nascer estava em torno dos 33 anos, nos anos 2000 essa expectativa de vida superou a casa dos 70 anos. Também pode ser observado o aumento da proporção de idosos e o aumento da proporção de mulheres na população (CARVALHO; RODRIGUEZ-WONG, 2008). O perfil nutricional do brasileiro também passou por transformações significativas, tendo como principal característica a diminuição da fome/desnutrição e 39 aumento do sobrepeso/obesidade. Chama atenção no novo perfil nutricional, que o sobrepeso/obesidade atinge majoritariamente a população de menor poder aquisitivo e que consome alimentos de menor diversidade nutritiva e maior aporte calórico (CORREIA; SILVEIRA; SILVA, 2011; BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Essas transições demográfica, nutricional e epidemiológica ocorrem de maneira paralela, influenciando-se e afetando-se mutuamente. Também outros fatores de ordem econômica, social, política e cultural influenciaram essas mudanças no perfil de saúde dos brasileiros. Com as mudanças de padrão de morbimortalidade ocorridas nas últimas décadas no Brasil, ocorreu uma importante redução das mortes desencadeadas pelas DIP e um acréscimo considerável das mortes por doenças crônicas e por violência (BARRETO e CARMO, 2007). No Ceará, nas décadas de 1980 e 1990, observa-se o acompanhamento da tendência nacional com mudanças no perfil de mortalidade no estado. Essa tendência aponta a crescente elevação da mortalidade por doenças do aparelho circulatório, neoplasias e causas externas e redução das taxas anuais de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (BRASIL, 2009). A redução das DIP está vinculada à melhoria das condições de vida, à redução das doenças imunopreveníveis pelas altas coberturas vacinais e à ampliação de acesso aos serviços básicos de saúde. Associado a isso, as mudanças nos estilos de vida, o aumento do sobrepeso e o crescimento da violência urbana contribuíram para o aumento da carga de doenças e agravos não transmissíveis (BARRETO; CARMO, 2007). Vale ressaltar que com a diminuição da mortalidade precoce, os indicadores demográficos apontam a tendência de aumento da esperança de vida ao nascer, que ultrapassou o patamar dos 70 anos em 2000 (BRASIL, 2009). 40 Gráfico 01- Proporção de óbitos por causa definida no Brasil, 2010. Fonte- Dados do SIM-DATASUS Conforme observado no Gráfico 01, as doenças cardiovasculares constituemse na principal causa de morte no Brasil, correspondendo a 29% dos óbitos com causa definidas. As neoplasias aparecem em segundo lugar, com 16% do total de óbitos. E as causas externas apresentam-se como terceiro motivo das mortes no Brasil, perfazendo 13%. Esses três fatores, denominados causas da modernidade, juntos correspondem a 58% de todos os óbitos com causa definida no país. As doenças infecciosas e parasitárias são responsáveis por uma proporção bem menor dos óbitos, 4,8%. Esses números demonstram a profunda alteração do perfil de mortalidade, visto que em um passado não muito distante as DIP correspondiam à principal causa de morte no país (MESSIAS; BISPO JÚNIOR e GAMA, 2013). Ao focalizar as mortes determinadas pela violência, SOARES FILHO et al (2007) estimaram para o Brasil que, aproximadamente, 1,6 milhões de pessoas morrem a cada ano em decorrência da violência e para a faixa etária dos 15 aos 44 anos esta é a principal causa de morte na maioria dos países. No Brasil, os óbitos por causas externas, acidentes e violência perfazem a terceira principal causa de morte, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares e das neoplasias. No que se refere aos acidentes de trajeto, OLIVEIRA, MOTA e COSTA (2008) avaliaram a evolução dos acidentes de trânsito entre 1991 e 2000. A partir desse estudo, os autores estimam que a cada ano entre 20 a 50 milhões de pessoas são 41 feridas e 1,2 milhão morrem por acidentes de trânsito no mundo. Aliado a importância social destes números, estima-se que o impacto econômico para o Brasil seja de aproximadamente 5,3 bilhões de reais, correspondendo a 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Souza et al, 2007, em estudo de tendências de acidentes de transporte no Brasil, obtiveram taxa de mortalidade por acidente de transporte terrestre de 19 por 100 mil habitantes, sendo a proporção desta causa dentre a totalidade de causas de óbitos as seguintes nas grandes regiões: Região Sudeste (41%); Região Nordeste (22%); Região Sul (20%), Região Centro-oeste (10%) e Região Norte (7%). Na análise dos fatores associados ao risco, tem-se um importante aumento do risco para os homens: 4,5 vezes maior do que entre mulheres. Cardona et al (2008) em estudo que permitiu a comparabilidade da mortalidade por causas externas em três cidades da América Latina, Córdoba, Campinas e Medellin, entre 1980-2005, aponta Medellin como acidade com maior taxa de mortalidade por essa causa, sendo homens jovens o grupo mais atingido. Comparando os índices de homicídios e acidentes de trânsito entre Campinas e Córdoba, Campinas tem o dobro dos achados para ambas as causas (interessante perceber entre as duas cidades a tendência da mortalidade por causas externas crescente entre 1980-2000 e decrescente entre 2001-2005). Como fatores desencadeantes dessa epidemia de morbimortalidade por violência, destacam-se a acelerada taxa de urbanização da população brasileira, o rápido crescimento populacional no período e a reorganização do espaço urbano com considerável aumento do fluxo de veículos e mudanças consideráveis no estilo de vida. A elevada frequência e a magnitude dos eventos relacionados à violência têm demonstrado efeito deletério grave nas condições de saúde das populações. Não obstante, pelo comprometimento de faixa etária jovem, tem elevado significativamente os Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP), com sérias repercussões sociais e econômicas (BARRETO e CARMO, 2007). O indicador APVP qualifica os óbitos e apresenta critérios para seleção de prioridades. Este indicador possui singular abrangência de expressar a magnitude, expressa pela quantidade de óbitos; a transcendência, dada pela idade que o evento ocorreu, e a vulnerabilidade ao óbito (ALMEIDA et al, 2013). Conforme os dados do próprio SIM, demonstrado no Quadro 02, o número de óbitos por causas externas no Brasil elevou-se de maneira significativa no período 42 de 1999 a 2011. Os números demonstram um incremento de mais de 19.000 óbitos por causas externas para o período. Ao analisar os óbitos violentos segundo os grupos de causa, verifica-se a supremacia dos assassinatos como principal causa das mortes violenta no país. Para o ano de 2008, é estarrecedor comprovar que mais 50.000 brasileiros foram assassinados. Esse quantitativo de óbitos é superior aos registrados em muitos contextos de guerra civil. Também os óbitos por acidentes de transporte, segundo fator de morte pelas causas externas, apresenta forte tendência ascendente. Para o período estudado, observa-se um crescimento superior a 30% nos óbitos causados por acidente de transporte. Por sua vez, o número de suicídios não passa despercebido, perfazendo, em 10 anos, mais de 80.000 pessoas que atentaram contra a própria vida. Quadro 02- Óbitos por Causas Externas segundo Grupo CID10. Brasil, 1999-2011. Grupo de Causas Externas segundo CID 10 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Homicídios 42.914 45.360 47.943 49.695 51.043 48.374 47.578 49.145 47.707 50.113 51.434 Acidentes de transporte 30.118 29.645 31.031 33.288 33.620 35.674 36.611 37.249 38.419 39.211 37.831 Lesões autoprovocadas intencionalmente 6.530 6.780 7.738 7.726 7.861 8.017 8.550 8.639 8.868 9.328 7.991 Eventos Cuja Intenção é Indeterminada 3.889 5.484 6.319 7.131 6.832 6.941 6.610 4.719 6.358 6.604 7.524 Intervenções Legais e Op. de Guerra 33 73 89 121 491 535 558 559 512 546 609 Sequelas de causas externas 219 243 283 288 279 264 270 268 343 354 299 Outras Causas externas de lesões e Acidentes 37.913 37.285 35.060 36.784 35.146 36.328 35.958 34.487 37.138 38.462 40.454 Total 121.616 124.870 128.463 135.033 135.272 136.133 136.135 135.066 139.345 144.618 146.142 Fonte- SIM-DATASUS, 2014. 2010 2011 52.260 52.198 43.908 44.553 9.448 9.852 9.703 10.353 756 609 359 370 26.822 27.907 143.256 145.842 Quadro 03 - Óbitos por Homicídio segundo Categoria CID10. Brasil, 1999-2011. Categoria CID10 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Arma de fogo 26.902 30.865 33.401 34.160 36.115 34.187 33.419 34.921 34.147 35.676 36.624 36.792 36.737 Arma branca 8.345 7.637 8.231 8.473 8.663 8.840 9.600 9.998 9.730 10.571 10.844 8.390 8.603 Força corporal 200 253 337 338 401 441 484 578 497 615 582 630 555 Outros meios 7.461 6.600 5.965 6.713 5.853 4.899 4.070 3.640 3.325 3.244 3.372 6.448 6.303 Total 42.908 45.355 47.934 49.684 51.032 48.367 47.573 49.137 47.699 50.106 51.422 52.260 52.198 Homicídios Fonte- SIM-DATASUS, 2014. 45 Como exemplo de reação estatal a essa situação, em dezembro de 2008, o MS tornou público através dos diversos meios de comunicação e imprensa o estudo intitulado “Tendência de Acidentes de Transporte Terrestre segundo porte populacional dos municípios Brasil, 1990 a 2006”, conduzido pela pesquisadora Marli Silva Montenegro, colaboradora da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O estudo demonstrou que os óbitos por acidentes envolvendo motociclistas cresceram vertiginosamente no Brasil de 1990 a 2006. Se em 1990 ocorreram 299 mortes com acidentes envolvendo motos, em 2006 esse número subiu para 6.734, representando um crescimento de 2.252%. A taxa de óbitos por acidentes com moto subiu de 0,01/100.000 habitantes em 1990 para 4,6/100.000 habitantes em 2006 nas cidades com menor porte populacional (até 20 mil habitantes). Nas cidades com maior porte populacional (acima de 500 mil habitantes), esse índice foi de 0,2/100.000 habitantes em 1990 para 2,6/100.000 habitantes em 2006. Dados do SIM-SUS mostram que, em relação aos óbitos em decorrência de acidentes de transporte terrestre, esse tipo de veículo está em quarto lugar (BRASIL, 2009). No quesito óbitos por acidente versus número de habitantes, em 1990, as mortes por acidentes de trânsito eram mais frequentes nas cidades com maior porte populacional (mais de 500.000 habitantes). Nestes municípios, a taxa era de 26 mortes/100.000 habitantes, mas, depois de 1998, com a implantação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os óbitos diminuíram: em 2006 temos que a taxa nessas cidades caiu para 15,8 mortes/100.000 habitantes (BRASIL, 2009). Sobre a realidade específica do estado do Ceará, observa-se, nas décadas de 1980 e 1990, o acompanhamento da tendência nacional com mudanças no perfil de mortalidade no estado. Essa tendência aponta a crescente elevação da mortalidade por doenças do aparelho circulatório, neoplasias e causas externas e redução das taxas anuais de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (RIPSA, 2008). Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA), as causas externas estão entre as principais causas de mortes na população cearense, representadas principalmente por homicídios, acidentes de trânsito e suicídios. Também as causas externas são responsáveis pelas maiores taxas de APVP, pois acometem principalmente as populações mais jovens (CEARÁ, 2013). Os homicídios constituíram a principal causa externa de morte em 2006 e 46 2007 no estado e possuem curva de mortalidade ascendente, da mesma forma que o suicídio. No que tange ao sexo e à faixa etária, o sexo masculino e a faixa de 20 a 39 constituem-se nos grupos de maior frequência. A partir de 2006, os homicídios passaram a predominar em relação aos acidentes de trânsito, o que pode caracterizar uma tendência de aumento de respostas violentas às desigualdades sociais (CEARÁ, 2013). No Quadro 03, é possível observarmos a distribuição por óbitos por causas externas, tipo Homicídios, no período compreendido entre 1999-2011, Brasil. No último triênio, há um acréscimo de mortes por instrumentos de arma de fogo e para o total destas causas, há para a soma do Brasil, uma observação ascendente denotando a magnitude deste tipo de causa no período apontado. Vieira et al (2009), em estudo sobre o impacto da violência na saúde de famílias em Fortaleza-Ceará, discutem o impacto da violência alterando níveis de saúde psíquica gerando distúrbios de comportamento intrafamiliares, aumentando o uso e abuso de substâncias psicoativas como álcool e tabaco, além de altos índices de fármaco-dependência. Silva (2003), em estudo sobre APVP por causas evitáveis em Fortaleza entre 1996-1998, ao estipular como limite útil de vida a idade 65 anos, obteve uma taxa de APVP de 89,13 por mil homens e 38,26 por mil mulheres na faixa etária compreendida entre 1-64 anos; e, ainda, entre homens, o maior número de APVP ficou evidente entre a faixa de 15-39 anos, com a maior importância no grupo de causas evitáveis do tipo externas. Segundo dados do SIM-SESA, os homicídios constituíram a principal causa externa de morte nos últimos anos e possuem curva de mortalidade ascendente, da mesma forma que o suicídio. Relativamente ao sexo e faixa etária, o sexo masculino e a faixa de 20 a 39 constituem-se no grupo de maior frequência. A partir de 2006, os homicídios passaram a predominar em relação aos acidentes de trânsito, o que pode caracterizar uma tendência de aumento de respostas violentas às desigualdades sociais (CEARÁ, 2013). Ao analisar as estatísticas do DATASUS, referentes ao período 2010, de acordo com os óbitos por residência segundo capítulo CID-10, morreram 7.047 pessoas no Ceará por causas externas, constituindo a segunda maior causa geral de óbitos, representando 16,1% do total de óbitos. No mesmo ano, segundo dados de morbidade hospitalar por causas externas por local de residência, foram 47 internadas por causas externas no Ceará 42.888 pessoas, sendo a terceira causa de internação (BRASIL, 2014). Segundo estatísticas para o município de Fortaleza, para o ano de 2010, de acordo com os óbitos por residência segundo capítulo da Classificação Internacional das Doenças em sua 10ª. Revisão (CID-10), 2.314 pessoas foram a óbito por causas externas, constituindo a segunda maior causa geral de óbitos, representando 18,2% do total de óbitos. Dentre estes, 1.169 foram devido aos Homicídios. No mesmo ano, segundo dados de morbidade hospitalar por causas externas por local de residência, foram internadas por causas externas em Fortaleza 12.327 pessoas, sendo a segunda causa de internação (BRASIL, 2014). Santos e Ramires (2007) estudaram essa distribuição para homicídios no município de Uberlândia-MG, a partir de dados de registros oficiais do SIS-SUS e registros policiais. Rivero (2010), em estudo intitulado “Segregação urbana e a distribuição da violência no município do Rio de Janeiro”, apontou a um padrão desta distribuição com especificidades que conduziam às diferenças oriundas das esferas sociais, demográficas e econômicas, denotando as chamadas Áreas de Concentração de Vítimas com intensa concentração em determinados bairros e favelas e com grandes proximidades entre a residência e a ocorrência dos fatos. 2.4. - Causas mal definidas e a importância do correto preenchimento da DO Na análise da mortalidade por causas, tem-se uma importante lacuna na compreensão do perfil da mortalidade brasileira: as Causas Mal Definidas-CMD. Estas correspondem a um importante obstáculo para a avaliação do perfil epidemiológico da população e causam sérias dificuldades para a organização dos sistemas de assistência à saúde e alocação racional de recursos, visto que podem mascarar as taxas de mortalidade por causas especifica (MELLO JORGE, LAURENTI, GOTLIEB, 2000). O elevado índice de óbitos por causas mal definidas constitui-se como empecilho para avaliação do perfil epidemiológico da população e causam sérias dificuldades para a organização dos sistemas de assistência à saúde e alocação racional de recursos, visto que podem mascarar as taxas de mortalidade por causa especifica (SENA, 2009). 48 No Brasil, até meados da década de 1980, 20% do total de óbitos eram classificadas como CMD. Cerca de 10 anos após, este percentual caiu para 18%, atingindo a marca de 13%, em 2003, e menos de 10%, em 2006. Embora esse declínio possa ser considerado um importante avanço, as diferenças regionais apontam uma enorme desigualdade no acesso a atenção à saúde no país. As regiões Norte e Nordeste demonstram percentuais consideravelmente maiores quando comparados às regiões Sul e Sudeste. Para essas regiões, ainda há uma estimativa de subnotificação de óbitos em mais de 20%. Em 2006, foram notificados 40.758 óbitos no estado do Ceará, quando eram esperados 53.889, segundo o MS (BRASIL, 2009). No decorrer das décadas de 1990 e anos 2000 são observados consideráveis declínios na proporção das causas mal definidas de óbito. A Tabela 01 apresenta a proporção dos óbitos sem causa definida entre os anos de 1998 e 2011. No Brasil, para esse período de 10 anos, o percentual praticamente reduziu-se à metade, enquanto em 1998 a proporção era de 15,1% dos óbitos em 2007 este número foi reduzido para 7,1%. A tendência de queda é observada em todas as regiões e estados da federação, o que sinaliza uma ação conjunta e articulada para enfrentamento do problema (MESSIAS; BISPO JÚNIOR e GAMA, 2013). Embora esse declínio possa ser considerado um importante avanço, segundo Messias, Bispo Júnior e Gama (2013), as diferenças regionais apontam para uma ainda enorme desigualdade no acesso à atenção a saúde no país. As regiões Norte e Nordeste demonstram percentuais consideravelmente maiores quando comparados às regiões Sul e Centro-Oeste. Enquanto a proporção no Sul é de 4,8% e no Centro-Oeste 4,5%, no Nordeste esse percentual ultrapassa a marca dos 8% e no Norte chega a 11,8%. Ao se analisar os estados de maiores e menores índices observam-se discrepâncias ainda maiores, enquanto no Espírito Santo o percentual é de 1,3%, no estado do Amazonas o índice chega a 14,1%, uma diferença dez vezes superior (Tabela 01). Importantes iniciativas foram tomadas pelo MS no ano de 2008. Dentre estas, citam-se: as buscas ativas de óbitos em serviços de saúde e cemitérios, os inquéritos epidemiológicos; a investigação de óbitos materno-infantis, como foco nos acidentes de trânsito e o mapeamento de cemitérios clandestinos. Importa discutir os motivos e as ações que promoveram, de maneira geral, uma considerável redução dos percentuais das causas mal definidas de óbito. As 49 razões que levam a classificação de um óbito como causa mal definida são a ausência de diagnóstico, geralmente motivado por óbito sem assistência, e a deficiência no preenchimento da DO, situação caracterizada pela existência de assistência à saúde, mas as causas básicas e secundárias do óbito são inadequadamente relatadas. A experiência brasileira de redução da proporção dos óbitos por causas mal definidas se estruturou, majoritariamente, a partir do processo de investigação post mortem em domicílio, buscando descobrir a causa do óbito a partir de entrevistas com familiares (JORGE, LAURENTI, GOTLIEB, 2009). Embora sejam observados avanços com a diminuição do percentual da indefinição da causa do óbito, essa estratégia é questionada pela elevada chance de definição imprecisa da verdadeira causa do óbito. Conforme discutem Jorge, Laurenti e Nubila (2010), investigar óbito no domicílio, com o intuito de definir causas para óbitos que ocorreram sem assistência médica é correr o risco de incorporar informação leiga a um sistema baseado em informação médica. Tabela 01- Proporção de óbitos por Causa Mal Definida e desconhecida segundo unidade da federação e região, 1999-2011. Unidade da Federação Região Norte Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins Região Nordeste Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Região Sudeste Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo Região Sul Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Região Centro-Oeste Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal Total 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 24,3 15,4 31,7 23,8 9 28,1 10,5 24,6 24 12,9 31,2 25,2 9,1 27,6 14,9 21,2 22,7 12,5 28,8 24,8 6,2 25,9 12,8 19,8 21,6 11,1 23,5 25,2 4,4 26,3 12,4 11,8 21,2 12,4 24,9 25,4 6,7 25,4 15,4 6,6 20,8 11,2 29,3 22,6 8 25,7 14,6 5 17,7 9,4 7,7 21,3 6,2 22,4 14,3 5,5 15 7,8 8,3 20,6 5,6 17,7 15,4 3 12,8 7,6 7,4 17,6 5,1 14,4 16,4 3,6 12,7 8,2 12,3 16,2 3,2 14,2 13,9 4,5 12,6 8,5 10,9 16,3 5,1 13,8 15,9 4,4 30,3 40,7 31,4 21,9 29,5 53,5 24,6 34,4 31,7 29,9 28,4 36,1 30,7 20,2 27,6 46,5 22,8 29,1 29,7 29,7 27,5 39,5 29,6 21,5 28 45,1 21 28 26,4 26,7 26,8 40,3 25,9 25,5 27 40,5 19 28,2 23,5 25,4 25,9 37,4 26,2 26,1 24,9 34,9 17,7 27,2 23,8 25,7 23,7 36,6 24,3 24,8 20 29,7 16,2 25,2 10,6 24,8 17,2 16,6 22,1 19,1 8,5 15,6 10 13,5 9,5 25,3 9,5 10,3 6,5 6,2 5 11,2 5,9 10,4 8,2 14,9 8,1 8,1 4,3 5,1 3,6 8,2 5,3 7 7,2 14,1 7,9 7,5 3,0 5,0 3,4 7,6 5,2 6,7 6,6 14,5 7,7 6,5 3,3 5,2 3,7 7,8 5,2 7,7 6,5 13,6 10,1 16,1 19,3 10,9 6,6 9,8 14,2 17,6 11,5 6,6 9,6 13,7 16,4 11,2 6,7 9,1 13,1 11,8 10,8 6,5 8,9 13 6,4 10,8 6,4 8,5 12,4 4,6 9,7 6,4 8,1 11,5 4,4 9,3 6,3 8,2 11,7 3,5 9 6,5 8 11,2 3 9,1 6,4 7,6 11,3 2,4 7,6 6,3 7,3 11,0 1,6 7,0 6,3 7,1 6,6 13 5 6,3 5,4 12,6 4,4 6,3 5,1 12 4,9 6,3 4,6 11,3 5,7 6,7 5 10,4 6,5 6,2 5,1 9,3 5,7 5,8 4,8 8,7 5,4 5,8 4,9 9,1 5,1 5,5 4,7 8,6 4,9 5,1 4,9 7,7 4,2 5,2 5,3 6,1 4,6 10,1 9,2 7,5 13,6 4,9 8,5 8,5 7,9 10,2 4,7 7,9 5,5 8,9 9,5 5,1 6,6 3,2 8,2 8 4,6 5,7 2,4 5,9 7,6 4,3 5,8 1,6 8,3 7,3 3,5 5,2 1,8 6,4 7,2 2,3 4,9 1,6 5,9 7 2,2 4,3 1,7 3,5 6,6 2,4 4,1 1,7 3,4 6,1 2,0 3,8 1,3 3,7 5,8 1,6 15,1 14,3 14,1 13,7 13,3 12,4 10,4 8,3 7,7 7,4 7,2 Fonte- SIM-DATASUS, 2014. 2010 2011 12,5 11,2 14,0 15,5 5,3 13,7 14,6 2,9 8,3 11,8 9,8 9,7 14,1 4,0 13,5 10,3 3,6 8,3 7,6 4,7 6,0 3,2 9,0 5,6 9,5 5,6 13,6 7,4 7,3 5,8 5,6 3,7 8,7 5,4 8,2 6,8 14,1 7,0 10,2 1,5 7,8 6,4 5,1 9,4 1,3 7,2 6,2 4,8 5,3 5,5 4,8 4,1 5,1 4,3 7,9 4,5 1,4 4,4 6,3 1,0 7,4 1,7 6,8 5,8 1,2 7,1 51 Sobre os óbitos por causas violentas, esses merecem especial atenção no que se refere ao correto preenchimento da DO. Isso porque, o percentual de óbitos violentos com classificação inadequada é bastante elevado no Brasil (LOZADA; MATHIAS; ANDRADE, 2009). Era de se esperar elevada precisão dos dados sobre mortes por causas externas, em virtude da obrigatoriedade de avaliação médicolegal de todo o óbito violento. No entanto, o inadequado preenchimento da DO, com a definição imprópria para a causa básica do óbito faz com que classificação inadequada do óbito mantenha-se elevada. Regras internacionais recomendam que em caso de morte por uma lesão ou outro efeito de uma causa externa classificada no capítulo XIX da CID-10, as circunstâncias que deram origem a essa situação deverão ser selecionadas como causa básica para tabulação e codificação do óbito. Esse princípio deixa claro que as causas básicas devem corresponder aos tipos de causas externas, circunstâncias, que originaram as lesões (RIPSA, 2008). Ademais outros fatores, a lógica capaz de inferir esta compreensão trata-se da lógica da prevenção primária. Não se previne um traumatismo, uma laceração venosa, mas sim uma queda, um homicídio, um atropelamento. Jorge, Cascão e Carvalho-Silva (2005) apontam que os peritos legistas, ao preencherem a DO pós-necropsia, muitas vezes fazem a menção, somente, as lesões vistas, e não as circunstancias do acidente/violência responsáveis por essas lesões. Segundo os autores um dos problemas encontrados nas avaliações de DO nos IML refere ao fato de que um importante número destas declarações conte como causa básica a natureza das lesões e não as circunstâncias do acidente ou violência, que são as reais causas básicas. Lozada, Mathias e Andrade (2009) reforçam que essa debilidade na qualidade da causa básica das DO dos IML é devida a classificação destas mediante a natureza da lesão – se fratura, hemorragia, perfuração – e não idealmente como acidente, suicídio ou homicídio, obliterando entendimentos fundamentais deste instrumento para reflexões e execuções de políticas públicas efetivas. Estudos consideram que o aperfeiçoamento, quantitativo e qualitativo, dos dados e informações do SIM somente atingirá patamares desejáveis com a ampliação da atenção à saúde para a população e o desenvolvimento de um processo de sensibilização e educação permanente dos profissionais de saúde (JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009; JORGE; LAURENTI; NUBILA, 2010). 52 Atualmente, no Brasil, quantidade considerável das mortes por causas externas encontram-se nessa situação de classificação inadequada. No País, em todas as suas regiões, esse dado está em declínio. No período entre 1980 e 2003, a queda nacional foi de 20,7 para 8,8%. As regiões Nordeste e Sudeste apresentam a situação mais preocupante, 10%, e as regiões Norte e Centro-Oeste apresentam 2,3% e 3,1% respectivamente (OPAS, 2008). No que se refere ao correto preenchimento da DO, as regras internacionais recomendam que quando a morte ocorrer por uma lesão ou outro efeito de uma causa externa classificada no capítulo XIX da CID-10, as circunstâncias que deram origem a essa situação deverão ser selecionadas como causa básica para tabulação e codificação desta Causa no capítulo XX (OMS, 1995). Esse princípio deixa claro que as causas básicas devem corresponder aos tipos de causas externas, especificamente as circunstâncias que originaram as lesões (OPAS, 2009). Ademais outros fatores, a lógica capaz de inferir esta compreensão trata-se da lógica da prevenção primária. Não se previne um traumatismo, uma laceração venosa, mas sim uma queda, um homicídio, um atropelamento. Mello Jorge, Cascão e Carvalho Silva (2005) apontam que os peritos legistas, ao preencherem a DO pós-necropsia, muitas vezes fazem a menção, somente, às lesões vistas, e não às circunstâncias do acidente/violência responsáveis por essas lesões. Segundo o CBCD (2003), um dos problemas encontrados nas avaliações de DO nos IML refere-se ao fato de que um importante número destas declarações aponta como causa básica a natureza das lesões e não as circunstâncias do acidente ou violência, que são idealmente as reais causas básicas. Segundo Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2008), há cinco categorias capazes de avaliar dados sobre mortalidade: estudos que comparam as informações de atestados de óbitos com achados de necropsia; estudos que comparam as informações com do atestado de óbito com dados clínicos; estudos que comparam as informações com do atestado de óbito com dados clínicos e entrevista com familiares do falecido; estudos que avaliam as diferenças entre codificadores na classificação da causa básica e outros tipos. Um dos graves problemas de estudos utilizando a codificação como estudo, remete às competências destes, dentre estas a “preferências” por algumas doenças ou diagnósticos, podendo a má codificação afetar a fidedignidade das estatísticas. Mello Jorge, Laurenti e Gotlieb (2009), em estudo no qual avaliam a aplicação 53 das Regras Internacionais de Classificação de causa básica, partindo da seleção de todas as declarações de mulheres entre 10-49 anos de 26 capitais dos Estados brasileiros e do Distrito Federal de óbitos ocorridos no primeiro semestre de 2002, investigaram 1.315 casos. Utilizando as Regras de Seleção e Modificação de causas, respectivamente três e seis regras, os autores obtiveram que em 90% dos casos foi possível a seleção da verdadeira causa básica a partir da aplicação das Regras Internacionais. Segundo Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2009); Matos, Proietti e Barata (2007), sabe-se que na busca da verdadeira causa de morte faz-se necessária para cada óbito declarado a veemência de investigações abrangentes, desde a história natural dos eventos relacionados ao processo saúde doença, à investigação epidemiológica e aos princípios da fisiopatologia. Em estudo no Distrito Federal para investigar a causa básica de óbitos por causas externas, Oliveira e Souza (2007), a partir de consultas em livros de ocorrência de informações policiais, concluíram que, em 95,7% dos casos, a causa básica foi alterada, o que incita que dados oriundos dos Registros Policiais podem complementar as informações sobre a causa de óbitos por violência. Souza et al (2007) estudaram a análise descritiva e de tendência de acidentes de transporte entre 1980-2003 no Brasil, partindo do SIM causas externas. Os pesquisadores obtiveram uma falha no preenchimento das variáveis independentes estudadas: escolaridade, raça/cor e idade, sendo a escolaridade não preenchida em 44,9% das DO referentes ao período 2000-2003. Matos, Proietti e Barata (2007) mediram a confiabilidade de informações sobre mortalidade por violência em Belo Horizonte, MG. Concluíram que o percentual de concordância global entre os grupos de causa de óbito, quando comparados os dados do SIM com os obtidos a partir da investigação do óbito no IML, foi baixo (65,4%). E, ainda, declararam que em mais de 30% dos casos, a seleção da causa básica na DO estava incorreta. Em pesquisa realizada no estado de São Paulo, Melione e Mello Jorge (2008) estudaram os dados sobre morbidade por causas externas no ano de 2003, mediante a comparação entre informações oficiais do SIH e de prontuários médicos. As taxas de concordâncias para variáveis relacionadas às vítimas e à internação oscilaram entre 89 e 99%, enquanto as mais baixas taxas na avaliação dos níveis de confiabilidade foram registradas nas classificações dos tipos de lesões: causas 54 indeterminadas e Homicídios (Kappa=0,37 e Kappa=0,50, respectivamente). Mathias e Mello Jorge (2001) em estudo sobre os óbitos de residentes em Maringá, PR, entre 1979-1995, observaram deficiências importantes no preenchimento de dados referentes à ocupação e instrução do falecido. No início do período estudado, verificaram a ausência desta informação, respectivamente, em 32,9% e 35% para 7,7% e 9,1%. Em casos de mortes violentas, ressaltam quão frequente é a falta de preenchimento do tipo de violência, tipo de acidente, fonte de informação, acidente de trabalho e local do acidente. E, ainda, o quanto reluta o médico legista em preencher itens relacionados à tipologia da violência, descrevendo unicamente as lesões que ocasionaram a morte. O preenchimento da DO é ato exclusivo da profissão médica, salvo em situações restritas quando o preenchimento é feito com a presença de duas testemunhas, em Cartório de Registro Civil, apenas atestando a ocorrência do óbito, sem esclarecer a Causa Básica do mesmo. O fluxo destes documentos migra para as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, onde serão codificados e transcritos para o SIM (OPAS, 2008). No estado do Ceará, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza inaugura, em 1990, um Departamento de Epidemiologia do município, oriundo das necessidades de uma melhor compreensão dos fenômenos ligados aos eventos relacionados à saúde na lógica da descentralização das ações ligadas ao modelo de Vigilância à Saúde. Atualmente, a SMS apresenta na composição de seu Sistema Municipal de Vigilância Epidemiológica os seguintes componentes: uma Célula de Vigilância Epidemiológica (CEVEPI); nove núcleos de epidemiologia hospitalar; 92 unidades de vigilância pertencentes aos 92 centros de assistência às Unidades Básicas de Saúde da Família (UBS) e seis chefias das seis regionais de saúde. A CEVEPI é composta por 15 funcionários de níveis técnico e superior e é o órgão responsável pelo gerenciamento do SIM de todas as causas de óbitos de residentes em Fortaleza (FORTALEZA, 2012). 55 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral Avaliar a qualidade dos registros de informação sobre mortalidade para as vítimas de causas externas no município de Fortaleza-CE e analisar fatores de risco para a principal causa de morte. 3.2. Objetivos específicos Identificar as lacunas no preenchimento dos campos dos registros dos óbitos das Declarações de Óbito registradas na PEFOCE. Determinar a confiabilidade da codificação e seleção da causa básica dos óbitos por causas externas nos registros do SIM. Verificar o nível de concordância entre a causa básica registrada no SIM e na Declaração de Óbito. Construir um mapa de Áreas de Concentração por homicídios. Identificar a associação entre fatores de risco com o homicídio. Propor um modelo de sistematização da rotina a ser adotada nos serviços pesquisados para melhorar a qualidade das informações sobre causas externas em Fortaleza. 56 Parte II Caminhos Metodológicos 57 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1. Tipo de estudo Estudo do tipo quantitativo, individuado, observacional, seccional, exploratório e analítico. A definição das variáveis seguiu a seguinte classificação: as variáveis independentes foram: sexo; idade; escolaridade; ocupação; raça/cor; estado civil; local de residência e local de ocorrência, e a variável dependente foi o tipo de causa básica relacionado ao óbito por violência. Considerou-se óbito por violência aquele causado por todos os tipos de Homicídios, Acidentes de transporte, Suicídios, Eventos de Intenção Indeterminada e Intervenções legais e Outras Causas de traumas acidentais, que correspondem aos códigos V01 a Y36 da CID-10 (OMS, 1993). A definição da variável dependente foi feita baseada nos tipos de desfecho Homicídio (X85-Y09 da CID-10) e demais causas violentas de óbito (V01-V99, W00X84 e Y10-Y34 da CID-10). Essa escolha deu-se pelo fato de que a proporção de óbitos no período estudado apontou ao Homicídio como principal causa básica. De acordo com os dados oficiais SIM DATASUS, do total de óbitos registrados no período estudado, ano de 2010, 1.169 correspondem aos Homicídios, sendo a principal causa, representando 50,51% do total das mortes por causas externas (BRASIL, 2012). 4.2. Período de estudo O estudo foi realizado no período compreendido entre o quadriênio de 2010 a 2014. 4.3. Local do estudo O local do estudo foi definido como sendo o município de Fortaleza-CE. 58 O município de Fortaleza, capital do Ceará, possui, segundo IBGE, população segundo porte de município ano 2010 de 2.452.185 habitantes. Fortaleza apresenta os seguintes indicadores socioeconômicos registrados no Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2010 (IBGE): população segundo sexo - população feminina acima da masculina em 156.349 habitantes; pessoas entre 10 anos (ou mais) de idade economicamente ativas - 92,3% status ocupadas; pessoas de 10 anos ou mais com rendimentos (distribuição de renda por sexo) - 51,4% são mulheres; na distribuição do indicador educação, para cada 1.000.000 (avaliação da escolaridade de pessoas com 10 anos ou mais de idade, por nível de instrução) - 855.536 apresentaram-se sem instrução ou com ensino fundamental incompleto, 635.690 com médio completo e superior incompleto, 394.590 com fundamental completo e médio incompleto e 206.796 com superior completo. Apresenta taxa de analfabetismo, ano 2010, de 6,8% e na avaliação da distribuição de renda a proporção de pessoas com baixa renda (renda menos que 1 a 2 salários mínimos) representa 35,26% do total. 4.4. População do estudo Foram selecionados todos os óbitos que deram entrada na PEFOCE no ano de 2010 (período compreendido entre 01/01/2010 a 31/12/2010), cujas causas básicas foram identificadas no capítulo XX da CID-10. O ano de 2010 foi escolhido por ser o último ano com os todos os registros oficiais concluídos no banco de dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS) no período da qualificação da pesquisa. 4.4.1. Critério de inclusão Utilizou-se como critério de inclusão a seleção, dentre o total de óbitos, apenas os classificados como sendo residentes no município de Fortaleza - CE. Segundo registros oficiais disponíveis no DATASUS, no registro da Mortalidade por causas externas para o município de Fortaleza, ano de 2010, de acordo com os óbitos por residência segundo capítulo do CID-10, houve 2.314 óbitos, constituindo a segunda maior causa geral de óbitos, representando 18,2% do 59 total de óbitos. 4.4.2. Critérios de exclusão Utilizaram-se como critério de exclusão: óbitos de vítimas sem identificação; óbitos de vítimas sem identificação do município de residência; os óbitos de não residentes em Fortaleza. No segundo tempo do estudo, quando da depuração no processo de fechamento do banco de dados da pesquisa, também foram excluídos: os óbitos de vítimas que foram classificados como óbitos subnotificados por não constarem nos registros oficiais do SIM para o referido ano da pesquisa (não constavam no sistema oficial de informação sobre mortalidade da CEVEPI) e os óbitos cuja classificação oficial da causa básica não correspondia àquela citada como componente do capítulo XX da CID-10. Estas exclusões foram definidas seguindo os critérios metodológicos, sendo o primeiro motivo para os óbitos subnotificados pela impossibilidade de utilizar a variável da causa básica do óbito oficial, pois este era inexistente, e pelo motivo do estudo contemplar estritamente os óbitos violentos classificadas no capítulo XX da CID-10. As mortes por causas externas de residentes em Fortaleza que tenham ocorrido fora do município não foram contempladas no presente estudo em virtude da coleta de dados ser realizada exclusivamente na PEFOCE Fortaleza. 4.4.3. Procedimentos adotados na coleta dos dados O material utilizado na pesquisa foi composto por informações provenientes das Declarações de Óbito colhidas na PEFOCE e em informações oficiais registradas no SIM (Causas Externas) referente ao ano de 2010. Foram selecionadas todas as Declarações de Óbito emitidas na PEFOCE no período estudado. Foi realizada a seleção das mesmas seguindo o critério de inclusão supracitado quanto à variável município de residência no município de Fortaleza. Todas as declarações que atendiam a esse critério foram digitalizadas no banco de dados do estudo. Os critérios de exclusão foram igualmente respeitados e seguidos. 60 4.5. Coleta do banco de dados A coleta foi realizada na PEFOCE Fortaleza e mediante a liberação ao acesso online ao banco de dados oficial da Secretaria Municipal de Saúde, Gestão de Sistemas-SIM. 4.5.1. Pesquisa de campo na Perícia Forense do Ceará O estudo se iniciou pela consulta ao Livro de Registros de óbitos donde a data dos óbitos esteve compreendida entre o período com intervalo entre 01/01/2010 e 31/12/2010. Foram selecionadas todas as fichas de entrada de corpo de quaisquer faixas etárias, bem como as referentes aos corpos não identificados. No ano de 2010, os registros da PEFOCE apontam o total de 4051 corpos de vítimas que deram entrada nesta instituição (ver Anexo B). Os casos em que, após a necropsia e o laudo de polícia forense, não houve a identificação da vítima foram excluídos da pesquisa. Esta exclusão se justifica pela impossibilidade de classificar o óbito pelos critérios de identidade da vítima e do local de residência da mesma, sendo mencionados anteriormente no item critérios de exclusão. Etapa I A partir da identificação da DO, a qual se constituiu em instrumento primário de levantamento dos dados, essa sofreu um processo de análise e codificação. As informações constantes nas DO foram transcritas para uma ficha de coleta de dados (planilha eletrônica) elaborada para o presente estudo. Esta planilha foi elaborada mediante a utilização do pacote de programas Epiinfo for Windows (Center for Disease Control – CDC-, Atlanta, EUA), versão 3.5.4, de julho de 2012. Essa ficha contemplou todas as variáveis do instrumento da DO: as variáveis da seção de cartório; identificação (tipo de óbito, data, hora, naturalidade, nome do falecido, nome do pai, nome da mãe, data de nascimento, idade, sexo, raça/cor, estado civil, escolaridade, ocupação); residência, ocorrência; fetal ou menor de 1 ano; condições e causas do óbito, médico; causas externas e localidade sem 61 médico. A variável selecionada para ser a identificadora de cada registro foi o número de DO, onde constam entre oito e nove caracteres numerais. Etapa II Em uma segunda etapa, foi avaliada a totalidade das variáveis uma a uma individual e cuidadosamente, a fim de responder à classificação ou não de completitude dos campos que compõem a DO, sendo avaliados a partir de uma rigorosa classificação referente à adequação ou não no preenchimento dos campos (presença de campos não preenchidos e rasurados). Na planilha eletrônica, imediatamente seguidas a cada variável, foram elaboradas duas variáveis dicotômicas (com os itens de resposta YES ou NO) com a extensão _p e _r. Havendo, assim, duas variáveis para responder a questão da completitude: se a variável foi preenchida, classificada como variável_p e se a variável foi rasurada, classificada como variável_r, seguindo os seguintes critérios metodológicos de classificação: No caso da pergunta No caso da pergunta _p, se está preenchida, marcar YES; _p, se está em branco (ou não preenchida), marcar NO; No caso da pergunta _r, se há rasuras, marcar YES; No caso da pergunta _r, se não há rasuras, marcar NO; No caso de preenchimento incompleto: marcamos na pergunta _p, YES (pois consideramos que foi preenchida, mesmo que de forma incompleta, e ainda: a variável não está em branco!). Assim, não será avaliado o dado como incompleto, pois há várias situações que não poderíamos classificá-lo com exatidão (como, por exemplo, a variável de identificação nome do falecido, esta pode estar incompleta e não tivemos outros documentos probatórios como o Registro Geral –RG– disponível para checar). Perderíamos desta forma a homogeneização de critérios metodológicos. 62 Exceção para o critério acima descrito: apenas nas situações das variáveis de data (data do óbito, data de nascimento e data do atestado), donde houve ausência do dado dia, ou mês, ou ano, consideramos - apenas neste caso de preenchimento incompleto-, sem preenchimento, sendo inclusive impossível de ser digitada no banco de dados. Neste pacote de programas estatístico mediante a utilização do programa Enter Data só é possível a entrada de datas completas e no formado: dd-mm-yyyy. Neste caso, marcamos na pergunta _p, NO. Avaliamos desta forma: a presença de preenchimento total ou incompleto (=YES); a ausência de preenchimento (em branco) e preenchimento incompleto das variáveis de datas (=NO); a presença de rasuras (=YES) e a ausência de rasuras (=NO). No caso de preenchimento ausente, a variável_r não era preenchida, pela impossibilidade de avaliar ocorrência de rasuras. A pesquisa de campo na PEFOCE foi coletada por um grupo de oito acadêmicos de Medicina sob a responsabilidade da pesquisadora principal. Para tanto, foi realizado o seguinte treinamento: i. apresentação do projeto de tese, objetivos geral e específicos e metodologia; ii. apresentação da ficha de entrada de dados no Epiinfo e dos critérios eleitos na metodologia para a avaliação da completitude dos campos, garantindo que todos estivesses calibrados; iii. treinamento utilizando a ferramenta Enter Data do programa de entrada de dados do Epiinfo. Em seguida, houve o treinamento no campo de coleta (PEFOCE), havendo a seguinte distribuição dos formulários de DO: Colaborador A- período de data do óbito entre 01-01-2010 até 15-022010; Colaborador B- período de data do óbito entre 16-02-2010 até 31-032010; Colaborador C- período de data do óbito entre 01-04-2010 até 15-052010; Colaborador D- período de data do óbito entre 16-05-2010 até 30-062010; Colaborador E- período de data do óbito entre 01-07-2010 até 15-08- 63 2010; Colaborador F- período de data do óbito entre 16-08-2010 até 30-092010; Colaborador G- período de data do óbito entre 01-10-2010 até 15-112010; Colaborador H- período de data do óbito entre 16-11-2010 até 31-122010. Foi instituído a rotina de, semanalmente, cada colaborador enviar o banco de dados à pesquisadora responsável. Esta procedeu às verificações de inconsistências, feedbacks e correções necessárias. O banco foi renomeado com a extensão semana 2, 3, 4 e assim sucessivamente após cada revisão e reiniciada a entrada dos dados a partir do banco recebido, avaliado e certificado como correto pela pesquisadora. Essa etapa foi realizada nos meses de setembro, outubro e novembro de 2013. Etapa III Ao fechamento do banco de dados com os dados componentes estritamente da DO, foi iniciado o processo de codificação da pesquisa e, a seguir, a depuração do banco de dados para a constituição do banco final, mediante a seguinte descrição: Foram coletados no primeiro momento da pesquisa 2239 registros. Destes, iniciou-se um segundo processo de depuração de acordo com os dois seguintes critérios de exclusão. 1- Óbitos subnotificados: procedeu-se a procura do registro oficial do óbito utilizando quatro variáveis-chave, na ordem sucessiva de busca: primeiramente, pelo número da DO; seguida de nome do falecido, nome da mãe do falecido e pela data do óbito. Dentre 2239 registros coletados na PEFOCE, foram excluídos 63 óbitos neste primeiro processo de depuração, 64 pela sua inexistência no banco de dados oficial, identificados como óbitos subnotificados. 2- Óbitos cuja causa básica não foi classificada no Capítulo XX da CID-10: no segundo momento, foram excluídos todos os óbitos cujos códigos de causa básica registrados no sistema oficial de informação sobre mortalidade da CEVEPI Fortaleza não correspondiam aos códigos de causas de óbito por violência (sem correspondência com intervalos entre V01 e Y36). Neste segundo processo de depuração, foram excluídos 67 óbitos. Desta forma, foram excluídos 130 óbitos (63 somados aos 67), sendo estudados e analisados ao fim na pesquisa de tese 2109 óbitos por violência de residentes em Fortaleza no ano de 2010. 4.6. Codificação da pesquisa Nessa etapa, de inteira responsabilidade da pesquisadora responsável pela tese, foram criadas no banco de dados duas variáveis, além das do formulário da DO, intituladas: Causa BásicaPEFOCE e Causa BásicaSMS. A causa básica do óbito oriunda das DO foi codificada pela pesquisadora, estando cuidadosa e rigorosamente mascarada em relação à codificação oficial, seguindo as Regras para Seleção e Codificação das Causas de morte. Foi elaborado o código de causa básica dos óbitos, segundo a Classificação Internacional das Doenças, em sua 10ª Revisão (CID-10). As Regras de Seleção incluem o Princípio Geral, aplicado quando o médico atestante preenche corretamente, com a sequência lógica gerando uma única causa na última linha. A Regra de Seleção número 1 foi aplicada nas sequências que não estavam completas, sendo a causa básica eleita dentre esta sequência. A Regra de Seleção número 2 foi aplicada quando não existiu a sequência lógica de causas e a causa básica foi a primeira listada. Segundo orientações do CBCD, os dados referentes às causas do óbito devem ser preenchidos a partir da “linha d”, que representa o início da sequência de eventos que causaram o óbito, e as “linhas c e b”, afecções sequenciais. A afecção terminal, ou imediata, corresponde à “linha a”. Variável Causa BásicaPEFOCE: classificada a partir exclusivamente do 65 preenchimento realizado pelo profissional médico atestante, elaborou-se o código intitulado como CIDPEFOCE. Variável Causa BásicaSMS. Foi solicitada a permissão juntamente à CEVEPI com a apresentação do projeto de pesquisa e sequencialmente a Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, na qual nos foi concedida a liberação de consulta ao banco de dados oficial. Foi efetuada a vinculação da pesquisadora responsável enquanto usuária do sistema e elaborada uma senha de acesso virtual. Captou-se, a partir da pesquisa online, o código intitulado como CIDSMS. Salienta-se que a concordância foi medida através da concordância do quarto dígito, após o ponto. Para garantir a qualidade da codificação, esta foi realizada exclusivamente pela pesquisadora responsável pelo estudo. Essa etapa foi realizada durante o mês de dezembro de 2013. Para avaliação da qualidade no preenchimento da causa básica pelo médico atestante, foram comparadas as causas básicas do óbito CIDPEFOCE e CIDSMS (selecionadas baseando-se exclusivamente no que o médico havia registrado na DO original e pela causa básica digitada pela CEVEPI- Fortaleza no banco de dados oficial do SIM). Para a coleta via online no site oficial da SMS, seguimos os seguintes passos utilizados à captação do CIDSMS: i. Partiu-se do número da DO (para identificação correta); ii. Conferência com o nome do falecido (para checagem de identificação correta) e iii. Coleta do código de causa básica gerado pela SMS. 4.7. Verificação da Concordância entre codificação da Causa Básica dos óbitos No ano de 2010, foram codificadas no DATASUS 2.314 DO por causas externas de residentes em Fortaleza. A elaboração dos códigos pela CEVEPIFortaleza (CIDSMS) é feita a partir da leitura da DO emitida pela PEFOCE, via da Secretaria Municipal de Saúde, complementada pelos profissionais técnicos responsáveis nesta Célula da Vigilância municipal com informações de fontes múltiplas. Estes profissionais recebem treinamento técnico de cursos de 40 horas semanais. Entre as atividades desenvolvidas pela equipe do SIM, CEVEPI-SMS, 66 encontra-se a seleção da causa básica e sua codificação. Há, como método norteador para melhorar a qualidade da informação, a pesquisa de dados complementares, capazes de subsidiar e elucidar as circunstâncias reais do óbito (ver Apêndice A). Os códigos digitados no registro oficial do SIM (CIDSMS) e os códigos oriundos da causa básica descrita diretamente nas DO (CIDPEFOCE) se constituíram como os códigos que foram verificados e medidos estatisticamente na avaliação do nível de concordância entre a classificação das causas dos óbitos. 4.8. Análise e tabulação dos dados Os dados foram tabulados no pacote de programas estatístico EpiInfo for Windows, versão 3.5.4, software de distribuição gratuita, sendo de responsabilidade e manutenção oriundas do Centro de Controle de Doenças (CDC), Atlanta, EUA. Realizou-se controle rigoroso e sistemático na qualidade da digitação mediante já descrito acima, item 3.5.1. Após a finalização do banco de dados no EpiInfo foi realizada uma transferência de programas, mediante o programa que compatibiliza os arquivos denominado Stata transfer. A pesquisadora fez a junção dos oito bancos de dados utilizando o software STATA 11.1, ano 2009, sob o número de licença 40110591653. A análise do banco final do estudo foi realizada no software estatístico STATA 11.1 e no SPSS, versão 20. Procedeu-se à análise descritiva de todas as variáveis, seguida da análise da completitude das mesmas, avaliando a ausência do preenchimento e a presença de rasuras e às análises bivariadas, estratificadas e ao modelo final mediante a regressão logística. A completitude incluiu os seguintes critérios: avaliação do preenchimento ou não da variável & presença do item “ignorado” como eleito para a resposta do dado da DO. Foi feita a adaptação de parâmetros, no qual avaliou-se a completitude como o percentual de registro sem preenchimento, categorizada da seguinte forma: excelente (menor de 10% de registros sem preenchimento); regular (entre 10 e 30 % de registros sem preenchimento) e baixa (maior de 30% sem preenchimento). Elaboraram-se inicialmente as análises univariadas descritivas, onde foram 67 calculadas as medidas estatísticas com medidas de proporção, tendência central e Intervalos de Confiança de 95% e as análises bivariadas. Na análise bivariada, utilizaram-se as seguintes medidas estatísticas: Razão de Prevalência; o Risco Atribuível Proporcional (RAP) ou fração etiológica; Razão de Chances- Odds Ratio (OR), o Intervalo de Confiança no valor 95% e como nível de significância o valor de 5%. Teste de hipóteses: O teste utilizado foi o de Qui-quadrado e eventualmente o Exato de Fisher. Ambos testam a ocorrência de uma relação entre duas variáveis. Os testes de hipóteses foram utilizados para verificar a relação entre a variável “homicídio” com os outros fatores em questão. Como se adota costumeiramente o nível de confiança de 95%, se o valor de p do teste foi menor que 0,05, rejeitamos a hipótese , ou seja, pode-se dizer que há indícios de que as variáveis em questão estão relacionadas. Razão de prevalências (RP): É uma relação da probabilidade do evento ocorrer no grupo exposto contra o grupo de controle (não exposto). Expressa matematicamente o quanto maior, ou diferente, é o risco de um fator gerar um dado desfecho em relação à ausência deste. Razão de chances (RC): É a tradução do termo Odds Ratio do inglês que é o cálculo da razão de chance entre um evento ocorrer em um grupo e a chance deste mesmo evento ocorrer em outro grupo, considerando que chance é a razão de ocorrência deste evento dividida pela razão da não ocorrência do mesmo evento. Intervalo de confiança (IC): Na prática, o intervalo de confiança de 95% nos fornece um intervalo no qual estaríamos 95% confiantes da cobertura do verdadeiro valor estatístico da medida estudada. A interpretação serve para as duas medidas acima descritas. 68 No caso da RC e da RP, para que as medidas sejam significativas é preciso que o IC não contenha o número um (1), pois isso não nos garantiria sua relevância. Assim sendo, o verdadeiro valor do parâmetro ao assumir o valor um, significa dizer que ambas as características estudadas exprimem a mesma chance ou probabilidade de risco. RAP (Risco Atribuível Proporcional ou Fração Etiológica): A Fração Etiológica ou Risco Atribuível Proporcional expressa qual o percentual de doença entre os expostos pode ser atribuível à exposição. 4.8.1. Regressão logística A regressão logística é uma técnica utilizada com a finalidade de predizer ou explicar ocorrência ou não de um evento em função de variáveis que estão associadas a este evento. Para o presente estudo, utilizar-se-á a regressão logística com a finalidade de predizer se a causa do óbito foi por homicídio ou outra causa de morte, em função de variáveis presentes no estudo, que possivelmente estejam associadas a este evento. A partir dos resultados válidos estatisticamente, será proposto um modelo de regressão logística para analisar a associação entre o tipo de óbito por causa externa (homicídios ou outro tipo) e as variáveis independentes mencionadas no item 3.1. Neste momento, utiliza-se o modelo para medir a associação independente ou ajustada de cada fator de risco e a ocorrência de óbito por homicídio. Para esta seleção, toma-se como critério de eleição as variáveis cujas associações com o desfecho foram estatisticamente significantes que foram verificadas na análise bivariada, e também aquelas que obtiveram uma significância de até 10%. As variáveis selecionadas de acordo com os critérios adotados foram faixa etária, sexo, raça, estado civil, escolaridade, ocupação, local de ocorrência, assistência médica, bairro de residência e bairro de ocorrência. Para a construção do modelo, como definido acima, todas as variáveis que obtiveram associação com o desfecho tendo significância de até 10% foram adicionadas ao modelo inicial e foi utilizado um método de seleção de variáveis 69 passo a passo (stepwise). O método de seleção em etapas escolhido foi o retroceder (backward) que tem vantagens em relação ao método avançar (forward) devido ao fato do efeito supressor, que ocorre quando um previsor tem seu efeito significativo somente quando outra variável é mantida constante. Na seleção para frente é mais provável excluir previsores com efeito supressores que no método retroceder. No método retroceder, o modelo começa com todas as variáveis e depois retira o previsor que apresenta o menor impacto no ajuste do modelo e continua eliminando um a um todos os previsores que, com base em critérios específicos, não acrescentam informações ao modelo. O critério utilizado foi a significância da estatística de razão de verossimilhança, em que o modelo atual é comparado com o modelo com o modelo quando o previsor é removido. Se o modelo com a remoção do previsor não proporcionar uma piora substancial no grau de aderência do modelo aos dados observados, o previsor será removido. Este procedimento ocorre até restarem apenas os previsores que contribuam significativamente para o poder preditivo do modelo. Modelo logístico No estudo o tamanho da amostra foi de 2109 casos, mas um dos problemas encontrado foi a debilidade de completitude, onde muitas variáveis não tiveram os seus registros preenchidos na sua totalidade, acarretando perda de informação. Portanto, somente os indivíduos que tiveram todas as suas variáveis preenchidas foram incluídos no modelo, proporcionando tamanho amostral menor do que foi mencionado acima. As variáveis selecionadas para o modelo foram: faixa etária; sexo; raça; estado civil; escolaridade; ocupação; local de ocorrência; assistência médica; bairro de residência e bairro de ocorrência. Utilizados o método backward e a razão verossimilhança, permaneceram no modelo faixa etária, sexo, estado civil e bairro de ocorrência. O tamanho da amostra para este modelo foi de 1355 representando 64,2% do tamanho total amostrado, perdendo a informação de um pouco mais de um terço de indivíduos para a construção desse modelo. 70 Testando a Capacidade Preditiva do modelo. Na tabela abaixo, temos um conjunto de testes que verificam a validação do modelo como um todo, cujo objetivo é testar se todos os coeficientes do modelo são iguais a zero. Estes testes são equivalentes à estatística F na regressão linear. De acordo com os valores obtidos na Tabela 02, mediante aplicação dos três testes Step, Block e Model, rejeitamos a hipótese nula de que todos os coeficientes do modelo são nulos, portanto o presente modelo é significante, pois existe pelo menos um coeficiente diferente de zero. Tabela 02 - Testes de coeficientes de modelo Omnibus. Qui- Grau quadrado liberdade Step 260,080 9 0,0001 Block 260,080 9 0,0001 Model 260,080 9 0,0001 Teste de Sig. Para avaliar o desempenho geral do modelo temos os indicadores Cox e Snell e Nagelkerke que são conhecidos como Pseudo R2 e tem função de explicar o quanto de variação na variável dependente é explicado pelo modelo e, quanto mais próximo de um, maior o poder explicativo do modelo. O R2 de Cox e Snell é baseado no valor da razão de verossimilhança e se situa numa escala que começa em zero, mas não chega a um, e o R 2 de Nagelkerke é baseado no R2 de Cox e Snell com ajustes para que seu intervalo de variação seja de zero a um, facilitando a sua interpretação. Tabela 03 - Indicadores de desempenho do modelo. R 2 Valor Cox & Snell 17,4% Nagelkerke 23,6% 71 O valor que será usado para a interpretação do modelo proposto será o R2 Nagelkerke. Indicamos que o modelo do estudo é capaz de explicar de 23,6% das variações ocorridas na variável dependente do nosso estudo. A Tabela 04 tem um indicador chamado Teste de Hosmer e Lemeshow, que tem por objetivo testar a hipótese de que não há diferenças significativas entre os resultados preditos pelo modelo e os observados. Tabela 04 - Teste de Hosmer e Lemeshow Qui- Graus de quadrado liberdade 5,611 8 Sig. 0,691 A hipótese nula deste teste é que os valores preditos pelo modelo não são estatisticamente diferentes dos valores observados. O valor da significância do teste foi de 0,691, e como é maior que 0,05, não rejeitamos a hipótese nula, portanto temse mais um indício de que o modelo pode ser utilizado para estimar a probabilidade de um determinado indivíduo morrer por homicídio ou não. Na Tabela 05, observa-se a classificação final dos indivíduos que contribuíram para regressão, segundo sua causa da morte, de acordo com a previsão do modelo. Tabela 05 - Classificação dos indivíduos segundo o modelo. Fortaleza, 2010. Homicídio (previsto pelo modelo) Homicídio Porcentagem correta % Sim Não Sim 696 115 85,8 Não 283 261 48,8 Porcentagem global correta 70,6 O ponto de corte do modelo para esta classificação foi à probabilidade de 50%, ou seja, se o indivíduo que veio a falecer obteve uma probabilidade estimada pelo modelo acima de 50%, o modelo preverá que a causa da morte foi por homicídio se não o contrário. Percebe-se também que o modelo teve uma 72 sensibilidade estimada de 85,8%, ou seja, dos casos que o modelo previu que a morte foi por homicídio, ele obteve uma precisão de 85,8%. Já para a especificidade, que é o percentual de acerto quando o modelo prevê que a morte não foi por homicídio, foi de 48,8%. Portanto o modelo tem uma boa sensibilidade, ou seja, se o modelo previu que a morte do indivíduo foi por homicídio, dificilmente ele errará. Enquanto que a especificidade pode ser considerada razoável, pois se o modelo previu que a morte não foi por homicídio, ele será capaz de acertar aproximadamente a metade dos casos. 4.8.2. Concordância entre Codificação da Causa básica do óbito Para contemplar a verificação do nível de concordância entre as codificações de causa básica do óbito, foram realizadas análises de frequências para avaliar a concordância de identificação entre as duas fontes. Realizou-se também o cálculo do Kappa para análise da confiabilidade entre os códigos CID SMS e CID PEFOCE. O Kappa é uma medida de concordância inter e intra-observador e mede o grau de concordância além do que seria esperado tão somente pelo acaso. Nas análises formais de concordância mediante a análise bivariada e o índice de Kappa, este é considerado adequado quando se tratam de variáveis categóricas avaliadas por julgadores independentes. Os cálculos dos intervalos de confiança do Kappa foram propostos por Fleiss et al, 1969. Esta medida de concordância tem como valor máximo o valor correspondente a um (1), o qual representa total concordância. Os valores próximos de zero e abaixo deste, indicam nenhuma concordância, ou, ainda, a concordância foi exatamente a esperada pelo acaso. Um eventual valor de Kappa menor que zero, negativo, sugere que a concordância encontrada foi menor do que aquela esperada por acaso. Sugere, portanto, discordância, mas seu valor não tem interpretação como intensidade de discordância. Para avaliar se a concordância é razoável, fazemos um teste estatístico para medir a significância do Kappa. Neste caso, estabelecemos que a hipótese testada é se o Kappa é igual a zero, o que indicaria concordância nula, ou se ele é maior do que zero, concordância maior do que o acaso (teste monocaudal: H0: K = 0; H1: K > 0). 73 No caso de rejeição da hipótese (Kappa=0), temos a indicação de que a medida de concordância é significativamente maior do que zero. Valor este que indicaria que existe alguma concordância. Isto não significa necessariamente que a concordância seja alta, cabendo ao pesquisador avaliar se a medida obtida é satisfatória ou não. Pode-se tomar como base, por exemplo, em dados de literatura ou pesquisas anteriores. 4.9. Definição da categorização das variáveis Para a análise bivariada, procedeu-se ao processo de codificação de variáveis. A definição destas categorias será apresentada mediante a seguinte classificação: as variáveis independentes, sendo: sexo; idade; escolaridade; ocupação; raça/cor; estado civil; local de moradia (bairro); bairro de ocorrência; local de ocorrência (domicílio, hospital, via pública e outros) e assistência médica; e a variável dependente como sendo a causa básica do óbito (CID SMS). São descritas as categorias criadas para o conjunto das variáveis que foram submetidas a estas análises: sexo (categorias: feminino e masculino); faixa etária (categorias: 0-9 anos: criança; 10-14 anos: pré-adolescente; 15-19 anos: adolescente; 20-24 anos: jovem; 25-59 anos: adulto; 60 anos ou mais: idoso); escolaridade (categorias 1 a 3 anos; 4 a 7 anos; 8 a 11 anos; 12 ou mais, nenhuma escolaridade); ocupação (categorias: possui trabalho; não trabalha; estudante; aposentado); raça/cor (categorias: parda; preta; amarela; branca); estado civil (categorias: sem vínculo conjugal; com vínculo conjugal); local de moradia, bairro (categorias: renda menor; renda média; renda menor); local de ocorrência, bairro (categorias: renda menor; renda média; renda menor); local de ocorrência do óbito (categorias: via pública; hospital; domicílio; outros) e assistência médica (sim, não). Os parâmetros para a categorização das variáveis descritas acima forma os seguintes: i. faixa etária: critério da OMS e ii. bairros de residência e ocorrência: Classificação dos bairros do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Mediante estudo realizado em 2013, dos 119 bairros de Fortaleza, o Meireles tem renda 15,3 vezes superior ao bairro mais pobre: o conjunto Palmeiras. O estudo indica que apenas 7% da população de Fortaleza mora nos 10 bairros mais ricos e que os 44 bairros de menor renda concentram metade da população da capital cearense. O estudo utilizou dados do Censo demográfico 2010 do IBGE. Os 74 119 bairros foram mapeados em cinco grupos, com intervalos de renda pessoal de 499,00 reais. Entre os 10 bairros mais ricos, com renda média entre 2.000,00 e 3.659,00 reais, nove estão localizados em uma única Secretaria Executiva Regional. Classificam-se em renda maior, os dez bairros listados: Meireles; Guararapes; Cocó, De Lourdes; Aldeota; Mucuripe; Dionísio Torres; Varjota; Praia de Iracema e Fátima. Classificam-se em renda menor, os dez bairros listados: Conjunto Palmeiras; Presidente Vargas, Canindezinho; Siqueira; Genibaú; Granja Portugal; Pirambu; Granja Lisboa; Autran Nunes e Bom Jardim. Os demais foram classificados como renda média. 4.10. Georreferenciamento A partir do tipo de causa mais importante no município de Fortaleza (ano 2010) os Homicídios, codificados como causas X85 a Y09 da CID-10, realizou-se um trabalho de georreferenciamento dos óbitos por esta causa mediante os locais de ocorrência. Os endereços georreferenciados foram localizados como pontos nos mapas dos setores censitários do município, elaborados pelo IBGE. Os estudos sobre distribuição espacial têm sido utilizados por serem capazes de buscar associações entre indicadores de saúde, incluindo indicadores de mortalidade, e as circunvizinhanças (NELSON et al, 2011). A Análise Espacial que será apresentada foi proposta para o grupo dos óbitos referentes à causa de morte de maior proporção para óbitos de residentes no município de Fortaleza, no ano de 2010: os homicídios. Para a realização da análise espacial foi utilizado o software TerraView, versão 4.2.2, de domínio público e distribuição pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Tal análise procurou identificar e apresentar os bairros segundo a distribuição da ocorrência de homicídios. Foram calculadas as taxas de homicídios por bairro, onde a avaliação do fenômeno é feita a partir da visualização das áreas se mostram de tonalidades díspares para áreas com comportamentos díspares. O cálculo das taxas foi obtido pelo quociente entre o número de ocorrências de óbitos por homicídios e a população referência do bairro. Em relação à totalidade dos bairros que foram incluídos na análise dos determinantes geográficos, como bairro de ocorrência, temos o total de 99 bairros. 75 Tabela 06 - Distribuição dos bairros de ocorrência dos homicídios. Fortaleza, 2010. N % Total de Bairros 119 100% Bairros de Ocorrência 99 83,19% Houve a necessidade de complementar a informação acerca dos bairros de ocorrência pelas ausências de preenchimento no banco da pesquisa. No que diz respeito ao preenchimento final do banco para a análise espacial relacionada aos bairros de ocorrência tem-se o êxito no preenchimento de 95,42% do total dos dados de ocorrência de homicídio. A complementação das informações foi realizada mediante busca online na Coordenadoria de Medicina Legal. Tabela 07 – Preenchimento final dos bairros de ocorrência dos homicídios. Fortaleza, 2010. N % Bairros de Ocorrências/Homicídios 1202 100% Preenchimento Final 1147 95,42% Para o georreferenciamento, utilizou-se como parâmetro o estimador de intensidade (Kernel estimation) para avaliar a existência de um padrão de distribuição espacial por intermédio da intensidade do processo, ou seja, número de eventos observados por unidade de área. Essa estimação é realizada por meio de função bidimensional aos eventos considerados, realizando a contagem de todos os pontos em uma determinada região de influência, ponderando-os pela distância de cada um até o ponto que está sendo estimado (RODRIGUES e RIVERO, 2012). O estimador de Kernel tem como parâmetros básicos: i) o raio de influência, que define a vizinhança do ponto a ser interpolado e controla o grau de “alisamento” da superfície gerada; e ii) uma função de estimação com propriedades de suavização do fenômeno (RODRIGUES e RIVERO, 2012). Utilizou-se o estimador de Kernel para identificar as Áreas de Concentração de Violência (ACV), tendo como parâmetros: o raio de um quilômetro para a vizinhança do evento e a função quadrática, que retorna o valor esperado de ocorrência do evento (óbitos por homicídio) por unidade de área (RODRIGUES e 76 RIVERO, 2012). Citam-se algumas vantagens dos mapas de Kernel. Há pelo menos duas vantagens na utilização do método de Kernel para geração de mapas temáticos: Quando existe uma concentração excessiva de pontos, a análise visual pode acabar sendo prejudicada. Por exemplo: em uma área, um ponto pode estar na realidade representando várias ocorrências; A representação não fica limitada a áreas pré-definidas, como é o caso de polígonos de bairros ou municípios. Desta forma, pontua-se a Análise Espacial como ferramenta capaz de elucidar distribuição espacial de fenômenos, a partir a possibilidade do pesquisador, ao dispor de um banco de dados somado a uma base geográfica, avaliar e compreender esta distribuição de dados oriundos de fenômenos ocorridos no espaço, ampliando a compreensão dos fenômenos sociais. Para a avaliação da análise realizada foi calculada a auto correlação espacial através do Índice de Moran. Tal índice é um coeficiente muito útil para medir a correlação espacial. Ele mede a relação do desvio padronizado de uma variável Z numa área i com o desvio padronizado das áreas vizinhas para a mesma variável Z. Numa matriz de vizinhança normalizada o índice de Moran é dado por: O Índice de Moran varia, da mesma forma que o coeficiente de correlação linear, de -1 a 1. Para o estudo, temos o Índice de Moran Global. 4.11. Aspectos Éticos O presente projeto foi encaminhado para a apreciação e avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará. Após análise, o referido 77 Comitê emitiu parecer favorável à realização da pesquisa, sob o protocolo CEP/UFC de número 369.335 e CAAE: 11587613.7.0000.5054. Foram seguidas as diretrizes éticas descritas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde-CNS (BRASIL, 1996a) sobre pesquisas com seres humanos, levando em consideração: o anonimato; a privacidade; o sigilo e os riscos. Serão obedecidos os princípios da autonomia, da não maleficência, da justiça e da equidade. Também observados os critérios de respeito total à dignidade do ser humano. Mesmo em situação de óbito, nenhum dado ou informação do indivíduo será utilizado ou divulgado individualmente. À direção da PEFOCE Fortaleza e à CEVEPI da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza foram apresentados os Termos de Fiel Depositário, devidamente assinados em duas vias ficando uma na instituição e outra junto à pesquisadora responsável pelo estudo. A pesquisadora se comprometeu a utilizar os dados apenas para fins acadêmicos e científicos, não permitindo que nenhum dado ou informação possibilite a identificação de qualquer indivíduo. 78 Parte III Resultados & Discussão 79 5. RESULTADOS Para a apresentação da Avaliação da Qualidade do Sistema de Informação sobre Mortalidade por Causas Externas no município de Fortaleza-Ceará, período 2010, apresentam-se os Resultados em cinco sub-tópicos. Seguindo critérios metodológicos, foram excluídos ao todo 130 óbitos (67 óbitos classificados a parte do Capítulo XX da CID-10 somados aos 63 subnotificados), sendo estudados e analisados ao fim na pesquisa de tese 2109 óbitos por violência de residentes em Fortaleza no ano de 2010. 5.1. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE PREENCHIMENTO E OCORRÊNCIA DE RASURAS NOS CAMPOS DO INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DA DECLARAÇÃO DE ÓBITO & DESCRITIVA. Analisar-se-ão as variáveis de acordo com a divisão do instrumento em nove subtópicos, respeitando a classificação das 62 variáveis que o compõem. 5.1.1. I – Cartório: Nesta seção, há 21 variáveis não havendo preenchimento de nenhuma destas, devido o preenchimento no cartório ocorrer seguido do preenchimento das demais seções pelo profissional médico. 80 5.1.2. II – Identificação: Tabela 08- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Identificação. Fortaleza, 2010. Variável N (%) Ausência de Rasuras preenchimento N (%) N (%) Tipo de óbito Fetal 87 (4,13) 10 (0,49) 14 (0,69) Não fetal 2.008 (99,31) Data do óbito - 15 (0,71) 2 (0,10) RG - 2109 (100) - 26 (1,23) 13 (0,63) 810 (38,41) 5 (0,38) 30 (1,42) 12 (0,58) 714 (33,89) 4 (0,29) Sexo Masculino 1.818 (87,28) Feminino 262 (12,58) Ignorado 3 (0,14) Raça-cor Parda 1.026 (78,98) Branca 202 (15,55) Preta 57 (4,39) Amarela 13 (1) Indígena 1 (0,08) Estado civil Solteiro 1.601 (77,01) Casado 380 (18,28) Viúvo 50 (2,41) Separado 45 (2,16) Ignorado 2 (0,10) União consensual 1 (0,05) Escolaridade 4-7 anos 521 (37,40) 1-3 anos 268 (19,24) 8-11 anos 230 (16,51) 12 ou mais 154 (11,06) Ignorado 149 (10,70) Nenhuma 71 (5,10) Observa-se na Tabela 08, a distribuição das variáveis quanto ao descritivo de suas categorias na amostra, a proporção de incompletude (ausência de preenchimento e presença da escolha do item “ignorado”) e presença de rasuras. As 81 variáveis Raça-cor e Escolaridade demonstraram os maiores percentuais de ausência de preenchimento (38,41 e 33,89%, respectivamente, completitude baixa), e, ainda, a Escolaridade demonstra o maior percentual de “ignorado” como resposta (10,70%). Tabela 09- Completitude dos óbitos por causas externas segundo variáveis nominais de Identificação e Data. Fortaleza, 2010. Variável Ausência de Rasuras preenchimento N (%) N (%) Naturalidade 19 (0,9) 4 (0,19) - 18 (0,85) Nome do pai 241 (11,43) 31 (1,66) Nome da mãe 8 (0,38) 24 (1,14) Data de nascimento 9 (0,43) 11 (0,52) 201 (9,53) 10 (0,52) Nome do falecido Ocupação A Tabela 09 mostra a completitude das variáveis textuais da Identificação. Obteve-se como maior ausência de preenchimento o Nome do pai (11,43%) e também o maior percentual de rasuras (1,66%). Somam-se às variáveis dessa seção, as variáveis intituladas Código de ocupação e Idade. O Código de ocupação apresentou 100% de ausência de preenchimento em todos os registros do estudo. A variável Idade apresentou média de 32,94 anos (erro padrão de 0,52; IC 95% entre 31,93 - 33,94). Quanto à completitude da variável Idade, tem-se o percentual de ausência de preenchimento representando 46,06% (equivalente a 969 registros, indicando completitude baixa). 82 5.1.3. III – Residência: Tabela 10- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Residência. Fortaleza, 2010. Variável Valores Ausência de Rasuras únicos preenchimento N (%) N (%) Logradouro 1662 9 (0,43) 23 (1,10) Número 1096 126 (5,97) 8 (0,40) Complemento 119 1957 (92,84) 2 (1,32) - 2096 (99,57) - 317 64 (3,03) 14 (0,68) 1 - - CEP Bairro Município de residência A Tabela 10 mostra a completitude das variáveis textuais da Residência. Obteve-se como maior ausência de preenchimento o CEP (99,57%, completitude baixa). 5.1.4. IV – Ocorrência: Tabela 11- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Ocorrência. Fortaleza, 2010. Variável N (%) Ausência de Rasuras preenchimento N (%) N (%) Local de Ocorrência 930 (44,09) Via Pública 535 (45,38) Hospital 456 (38,68) Domicílio 142 (12,04) Outros 43 (3,60) Ignorado 3 (0,25) - A Tabela 11 mostra a completitude das variáveis textuais do Local de Ocorrência. Observa-se nessa seção uma importante lacuna no preenchimento dos dados, totalizando 930 ausências de preenchimento, representando 44,09% do total das DO estudadas, indicando, para variável de extrema importância na codificação final da causa básica, completitude baixa. 83 Tabela 12- Completitude dos óbitos por causas externas segundo variáveis nominais de Ocorrência. Fortaleza, 2010. Variável Ausência de Rasuras preenchimento N (%) N (%) Estabelecimento 1345 (63,80) 9 (1,18) Endereço 803 (38,07) 12 (0,92) Número 1616 (76,62) 2 (0,41) - - CEP 2105 (99,86) - Bairro 710 (33,67) 9 (0,64) Município de ocorrência 69 (3,27) 3 (0,15) UF 68 (3,22) 1 (0,05) Complemento Na avaliação da completitude da Tabela 12, tem-se que, para o grupo das variáveis de texto relacionadas às especificações da Ocorrência do óbito, existe uma importante proporção de ausência de preenchimento para as variáveis: CEP, número e estabelecimento (99,86; 76,62 e 63,80%, respectivamente). Nesta seção, todas as variáveis são consideradas na avaliação da qualidade como de completitude baixa, exceto Município de ocorrência e UF. 5.1.5. V – Fetal ou menor de 1 ano: Houve sete óbitos em menores de um (1) ano. Este dado foi captado mediante o preenchimento da idade do falecido em meses, dias e minutos. Nesta seção, há 11 variáveis. Em nenhum registro houve preenchimento das variáveis da seção. 5.1.6. VI – Condições e causas do óbito: 5.1.6.1. Exclusivo para óbitos mulheres. Do total de 262 registros do sexo feminino, apresentaram-se as seguintes respostas para as duas variáveis da seção “Exclusivo para óbitos em mulheres”: Morte durante gravidez, parto, aborto: percentual de ausência de preenchimento representando 78,62% (206 registros); ocorrência de rasuras em um registro, representando 1,79%. Para avaliar a incompletude, do total que foi preenchido, 84 30,36% foi marcado o item “ignorado”. Para a variável Morte durante puerpério, aponta-se, para avaliação da qualidade, o percentual de ausência de preenchimento representando 81,67% (214 registros, representando completitude baixa) e ausência de rasuras. Dos preenchidos, 47,92% foi marcado o item “ignorado”. Observa-se que, na presença de uma especificação de condicionamento no preenchimento (no caso: ser do sexo feminino), a completitude apresenta importante fragilidade. O total de registros do sexo feminino representa na amostra apenas 12,58%. A ausência de identificação desta condição e do preenchimento da subseção “Exclusivo para as mulheres” aponta para uma ausência de sensibilização quanto à importância no preenchimento dos itens acima descritos. Estudos que avaliam as condições de óbitos violentos com abordagens para as situações circunscritas à gravidez, parto, abortamento e puerpério estariam imensamente debilitados quanto à análise no caso de utilização da captação destes dados secundários. Tabela 13- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Assistência Médica. Fortaleza, 2010. Variável N (%) Ausência Rasuras preenchimento N (%) N (%) Assistência médica Sim Não Ignorado Total: 2080 216 (29,23) 258 (34,91) 265 (35,86) Exame complementar Sim Não Ignorado Total: 2080 29 (8,24) 201 (57,1) 122 (34,66) Cirurgia Sim Não Ignorado 1.341 (64,47) 3 (0,41) 1.728 (83,08) - 1.668 (79,96) - 488 (23,14) 2 (0,12) 44 (10,53) 303 (72,49) 71 (16,99) Total: 2080 Necropsia Sim Não Ignorado 1600 (98,70) 14 (0,86) 7 (0,43) Total: 2109 85 Nota-se na Tabela 13, a importante incompletude dos campos ligados à Assistência médica, donde a ausência de preenchimento e a marcação do item “ignorado” apresentam percentuais acima de 50% e em torno de 30% respectivamente. Apresentar-se-ão agora as descrições das Causas A, B, C e D, com os percentuais de preenchimento e as cinco primeiras causas descritas que mais se repetiram nos registros das 2109 DO. Causa A: 2109 registros (100% preenchimento): principais descritores: choque hipovolêmico: 116; indeterminada: 91; asfixia mecânica: 76; hemorragia: 45; ferida penetrante de tórax: 35. Causa B: 1156 registros (45,19% de ausência de preenchimento, completitude baixa): projétil único de arma de fogo: 108; instrumento contundente: 50; ação perfurocontundente: 44; politraumatismo: 22 e traumatismo crânioencefálico: 16. Causa C: 321 registros (84,78% de ausência de preenchimento, completitude baixa): projéteis de arma de fogo: 91; instrumento perfurocontundente: 37; ferida penetrante de tórax: 17; enforcamento: 13; acidente de trânsito: 11. Causa D: 83 registros (96,11% de ausência de preenchimento, completitude baixa): instrumento perfurocontundente: 27; projétil de arma de fogo: 17; acidente de trânsito: quatro. Observa-se importante decréscimo de preenchimento dos itens da sequência Causas do óbito. Evidencia-se a sequência completa das “linhas a, b, c e d” apenas em 3,99% dos registros, indicando uma falha grave nas orientações de Classificação de causas com as sequências fisiopatológicas indicadas e dispostas na sequência das “linhas a, b, c e d”. 5.1.7. VII – Médico: Na distribuição da variável Atendimento médico, tem-se que 98,44% apontou o IML; 1,3% não; 0,1% sim e 0,1% para o item outros. As demais variáveis desta seção estão apresentadas na Tabela 14. Referente à completitude, observa-se: ausência de preenchimento representando 8,97% (189 registros, indicando completitude excelente) e ocorrência de rasuras em cinco registros, representando 0,26%. 86 Tabela 14- Completitude dos óbitos por causas externas segundo informações do Médico. Fortaleza, 2010. Variável Ausência de Rasuras preenchimento N (%) N (%) Nome do médico 9 (0,43) 6 (0,29) 333 (15,79) 9 (0,51) Data do atestado 41 (1,94) 8 (0,39) Assinatura 10 (0,47) 3 (0,14) Meio de contato do médico Segundo visto na Tabela 14, foi classificada como completitude baixa apenas a variável Meio de Contato do Médico. Salienta-se que a maioria destes contatos era o número de telefone fixo da PEFOCE. 5.1.8. VIII – Causas externas: Tabela 15- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Tipo de Morte. Fortaleza, 2010. Variável N (%) Ausência de Rasuras preenchimento N (%) N (%) Tipo de Morte 1.429 (67,76) Homicídio 410 (60,29) Acidente 181 (26,62) Suicídio 39 (5,74) Ignorado 43 (6,32) Outros 07 (1,03) 2 (0,29) Interessante observar que, nesta seção específica para óbitos por causas externas, o percentual de ausência de preenchimento mostra-se acima de 50% dos registros estudados. Ainda, observa-se a escolha do item “ignorado” para 6,32% dos dados (Tabela 15). Para a distribuição da amostra segundo Circunstâncias de morte não natural pela ocorrência de Acidente de Trabalho, tem-se que 71% indicaram não; 28% 87 ignorado e apenas 1% sim. Na avaliação da qualidade, tem-se: ausência de preenchimento representando 70,26% (1481 registros) e 28% de informação “ignorada”; ocorrência de rasuras em seis registros, representando 0,96%. Já para a distribuição da amostra segundo a classificação da seção de Circunstâncias de morte não natural pela Fonte da Informação, 90% apontaram para o Boletim de Ocorrência; 2% família; 7% outros e 1% ignorado. E, na avaliação da qualidade, mostrou ausência de preenchimento representando 69,61% (1468 registros); ocorrência de rasuras em quatro registros, representando 0,63%. A Tabela 16 mostra a distribuição da variável Descrição do evento. Demonstra completitude baixa, donde 81,31% houve ausência de preenchimento. Tabela 16- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Descrição do evento. Fortaleza, 2010. Variável Ausência de preenchimento Rasuras N (%) N (%) Descrição do evento 1714 (81,31) 394 (18,69) Ocorrência via pública 2,044 (96,92) - 5.1.9. IX – Localidade sem médico: 1. Declarante: somente um registro válido “naturalidade da vítima Recife PE” 2. Testemunha: vazio. 5.2. ANÁLISE BIVARIADA. Na análise bivariada para o conjunto das variáveis independentes do estudo, Tabela 17, observa-se na variável Faixa etária indivíduos incluídos na categoria adolescente têm, com base na Razão de Chances, 23,82 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles de outras categorias de faixa etária. A Razão de Prevalência aponta à categoria dos jovens uma probabilidade quase 20 vezes 88 maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). De forma análoga à categoria dos jovens, pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 94,9% dos casos de homicídio tiveram como relação essa faixa etária. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. Para a variável Sexo, tem-se que indivíduos do sexo masculino têm, com base na Razão de Chances, 3,89 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles do sexo feminino. De forma análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 2,13 maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 53,1% dos casos de homicídio tiveram como causa ser do sexo masculino. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. Na variável Raça, observa-se que indivíduos pardos têm, com base na Razão de Chances, 2,61 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles com vínculo. Para essa medida obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (sem incluir o valor 1). A Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 1,68 maior da raça amarela sofrerem homicídio (I.C. 95% entre 1,052,68). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 40,5% dos casos de homicídio tiveram como causa a raça amarela, e 23,7% para raça parda. Para estas últimas medidas, o valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. Observando o comportamento da variável Estado Civil, pontua-se que indivíduos sem vínculo conjugal têm, com base na Razão de Chances, 2,85 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles com vínculo. De forma análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 70% maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 41,5% dos casos de homicídio tiveram como causa a falta de vínculo conjugal. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o 89 fenômeno estudado. Para a variável Escolaridade, tem-se que indivíduos com escolaridade entre 4 a 7 anos têm, com base na Razão de Chances, 3,68 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles das demais categorias de escolaridade. Na análise da Razão de Prevalência, tem-se a mais importante probabilidade para a categoria de escolaridade entre 1 e 3 anos. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 89,3% dos casos de homicídio tiveram como causa a escolaridade compreendida entre 1 a 3 anos. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. A variável Ocupação aponta que indivíduos com ocupação estudante têm, com base na Razão de Chances, 15,44 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles com demais ocupações. A Razão de Prevalência mostra uma probabilidade 13,73 maior de sofrerem homicídio aqueles que não trabalham. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 81,1% dos casos de homicídio tiveram como causa a ocupação estudante. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. Na análise da variável Assistência médica, indivíduos em via pública têm, com base na Razão de Chances, 2,27 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles noutros locais. De forma análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 1,47 maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 32% dos casos de homicídio tiveram como causa a ocorrência em via pública. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. Na análise da variável Local de ocorrência, tem-se que indivíduos em via pública têm, com base na Razão de Chances, 4,58 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles noutros locais. De forma análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 4,42 maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o 90 intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), 77,4% dos casos de homicídio tiveram como causa a ocorrência em via pública. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. Referente ao Bairro de residência, observa-se que indivíduos no grupo de bairros de renda menor têm, com base na Razão de Chances, 7,24 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles de outros bairros. De forma análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 45,24 maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), 97,8% dos casos de homicídio tiveram como causa ter residência em bairro de renda menor. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. Paralelamente, a variável Bairro de ocorrência, indivíduos no grupo de bairros de renda menor têm, com base na Razão de Chances, 8,82 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles de outros bairros. De forma análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 56,21 maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 98,2% dos casos de homicídio tiveram como causa ocorrência em bairro de renda menor. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado. Mediante esta análise de associação preliminar, tem-se que o adolescente, do sexo masculino, sem vínculo conjugal, escolaridade entre 4 a 7 anos, ser estudante, não ter recebido assistência médica, estar em via pública e ter como bairros de ocorrência e residência bairros classificados como de renda menor, as medidas estudadas indicando importante associação nos cruzamentos bivariados, sem ajuste. Havendo, ainda, significância estatística (valor de p=0,000) para todas as relações. 91 92 Tabela 17- Associação não ajustada entre Homicídio e variáveis independentes. Fortaleza, 2010. Homicídio N % N % Razão de Chances Criança 10 27,0 27 73,0 2,26 0,98 - 5,19 1,86 0,99 - 3,51 46,2 Pré-adolescente 21 67,7 10 32,3 12,83 5,45 - 30,2 10,89 7,11 - 16,67 90,8 Adolescente 269 79,6 69 20,4 23,82 14,66 - 38,7 13,77 9,67 - 19,62 92,7 Jovem 302 72,4 115 27,6 16,05 10,13-25,43 19,61 13,75-27,96 94,9 Adulto 566 52,7 507 47,3 6,82 4,46 - 10,42 3,75 2,63 - 5,34 73,3 Idoso Sexo 27 14,1 165 85,9 1 - - - - Masculino 1108 60,9 710 39,1 3,89 2,93 - 5,17 2,13 1,75 - 2,59 53,1 Feminino Raça 75 28,6 187 71,4 1 - - - - Parda 618 60,2 409 39,8 2,61 1,91 - 3,57 1,31 1,09 - 1,58 23,7 Preta 33 57,9 24 42,1 2,38 1,31 - 4,33 1,06 0,8 - 1,41 5,7 Amarela 8 61,5 5 38,5 2,77 0,87 - 8,78 1,68 1,05 - 2,68 40,5 Branca Estado Civil 74 36,6 128 63,4 1 - - - - Sem vinculo conjugal 1044 61,6 652 38,4 2,85 2,26 - 3,59 1,71 1,49 - 1,97 41,5 Com vinculo conjugal Escolaridade 137 36,0 244 64,0 1 - - - - 1 a 3 anos 155 57,8 113 42,2 2,69 1,55 - 4,65 9,33 6,63 - 13,12 89,3 4 a 7 anos 340 65,3 181 34,7 3,68 2,18 - 6,21 4,65 3,34 - 6,48 78,5 8 a 11 anos 124 53,9 106 46,1 2,29 1,31 - 3,99 2,58 1,82 - 3,65 61,2 12 anos ou mais 68 44,2 86 55,8 1,55 0,86 - 2,78 1,31 0,9 - 1,9 23,7 Nenhuma 24 33,8 47 66,2 1 - - - - Variáveis Sim Não IC 95% Razão de Prevalência IC 95% Fração Valor P Etiológica Faixa Etária 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 93 Ocupação Possui trabalho 812 55,4 654 44,6 8,07 4,36 - 14,95 4,25 2,5 - 7,21 76,5 Não trabalha 14 53,8 12 46,2 7,58 2,84 - 20,23 13,73 7,27 - 25,93 92,7 Estudante 228 70,4 96 29,6 15,44 8,04 - 29,66 5,28 3,1 - 8,98 81,1 Aposentado(a) Assistência Médica 12 13,3 78 86,7 1 - - - - Não 162 62,8 96 37,2 2,27 1,57 - 3,28 1,47 1,23 - 1,76 32,0 Sim Local de Ocorrência 92 42,6 124 57,4 1 - - - - Via pública 360 67,3 175 32,7 4,58 3,07 - 6,83 4,42 3,43 - 5,69 77,4 Hospital 191 41,9 265 58,1 1,61 1,08 - 2,41 1,09 0,83 - 1,43 8,3 Outros 17 37,0 29 63,0 1,31 0,65 - 2,63 1,19 0,76 - 1,87 16,0 Domicílio Bairro de Residência 44 31,0 98 69,0 1 - - - - Renda Menor 229 70,2 97 29,8 7,24 3,86 - 13,58 45,24 28,99 - 70,6 97,8 Renda Média 920 55,5 738 44,5 3,82 2,12 - 6,9 2,26 1,45 - 3,51 55,8 Renda Maior Bairro de Ocorrência 15 24,6 46 75,4 1 - - - - Renda Menor 136 78,6 37 21,4 8,82 3,88 - 20,07 56,21 33,2 - 95,16 98,2 Renda Média 691 58,0 501 42,0 3,31 1,57 - 6,98 1,97 1,17 - 3,32 49,2 Renda Maior 10 29,4 24 70,6 1 - - - - 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 94 5.3. REGRESSÃO LOGÍSTICA Coeficientes estimados da Regressão Na tabela abaixo (Tabela 18) apresentam-se as estimativas dos parâmetros do nosso modelo de regressão logístico, em que β representa a estimativa do coeficiente de regressão para determinada categoria de uma variável. O erro padrão é uma medida de variabilidade em torno do coeficiente populacional (β). A estatística de Wald que tem por finalidade aferir o grau de significância de cada coeficiente da equação logística, verificando se cada parâmetro estimado é significativamente diferente de zero. O valor de p é a significância da estatística de Wald, que para valores abaixo de 5% rejeitamos a hipótese de que o valor do coeficiente seja igual a zero. O exponencial de (β) representa a chance de um dado evento ocorrer para uma categoria em relação à outra de referência que também pode ser denominada OR ajustada. Tabela 18 – Parâmetros estimados da Regressão. Fortaleza, 2010. Erro Variável N Β padrão Wald Valor p Exp.(β) IC Exp.(β) 95% (β) Faixa Etária Adolescente 223 2,91 0,33 75,81 0,00 18,44 9,57 - 35,54 Jovem 277 2,48 0,32 62,00 0,00 11,99 6,46 - 22,25 Pré-adolescente 20 2,18 0,57 14,61 0,00 8,85 2,89 - 27,09 Adulto 699 1,72 0,29 35,82 0,00 5,56 3,17 - 9,75 Criança 21 0,95 0,55 2,94 0,09 2,58 0,87 - 7,63 Idoso 115 1 - - - - - Sexo Masculino 1198 1,04 0,20 27,18 0,00 2,83 1,92 - 4,19 Feminino 157 - - - - 1,00 - 95 Estado Civil Sem vínculo conjugal 1109 0,46 0,16 7,76 0,01 1,58 1,14 - 2,18 Com vínculo conjugal 246 1 - - - - Renda Menor 169 1,63 0,45 13,26 0,00 5,13 2,13 - 12,36 Renda Média 1154 0,85 0,41 4,33 0,04 2,34 1,05 - 5,22 Renda Maior 32 - - - - - Bairro de Ocorrência 1 - De acordo com a Tabela 18, tem-se que quase todos os coeficientes são estatisticamente diferentes de zero. Apenas o estrato criança da variável faixa etária não foi significativo, mas, como a frequência desta categoria é pequena, possivelmente estaríamos cometendo o erro do tipo II, que é não rejeitar a hipótese de que o parâmetro é zero quando esta é falsa. Portanto, consideramos este parâmetro no modelo para estimação das probabilidades. A Tabela 19 mostra todas as probabilidades de ocorrência de homicídio estimadas pelo modelo para todos os perfis de acordo com as variáveis selecionadas. Por exemplo, se o indivíduo veio a falecer com perfil conjunto sexo masculino, adolescente, sem vinculo conjugal, reside em um bairro cuja sua classificação de renda seja média, a probabilidade estimada de que causa da morte, dentre as causas externas, seja por homicídio é de 91,2%. Mediante comparações dentre as categorias, foi observado que para um indivíduo adolescente, do sexo masculino, sem vínculo conjugal, ao variarmos o bairro entre renda alta e renda baixa, a probabilidade estimada de que a causa de morte, dentre as causas externas, seja por homicídio apresenta variabilidade que imputa probabilidade 36% maior do risco de morte por esta causa. E, dentre o indivíduo ser jovem, sexo masculino, sem vínculo conjugal, de renda baixa quando comparado ao jovem, sexo masculino, sem vínculo conjugal, de renda alta, a probabilidade apresenta probabilidade 91% maior de risco de morte, falecendo por causas externas, por homicídio. 96 Tabela 19 - Probabilidades previstas pelo modelo para cada perfil. Fortaleza, 2010. PréVariáveis Estado Civil Criança Bairro ocorrência Renda Menor Sem vínculo conjugal Renda Média Renda Maior Renda Menor Com vínculo conjugal Renda Média Renda Maior adolescente Adolescente Jovem Adulto Idoso Sexo Probabilidade prevista pelo modelo Masculino 0,592 0,833 0,912 0,871 0,758 0,360 Feminino 0,339 0,637 0,785 0,704 0,525 0,166 Masculino 0,399 0,695 0,826 0,755 0,588 0,204 Feminino 0,190 0,445 0,626 0,521 0,335 0,083 Masculino 0,221 0,493 0,669 0,568 0,379 0,099 Feminino 0,091 0,255 0,417 0,317 0,177 0,037 Masculino 0,479 0,759 0,868 0,810 0,665 0,263 Feminino 0,245 0,527 0,699 0,601 0,411 0,112 Masculino 0,296 0,590 0,750 0,661 0,475 0,140 Feminino 0,129 0,337 0,514 0,408 0,242 0,054 Masculino 0,152 0,381 0,562 0,454 0,279 0,065 Feminino 0,060 0,178 0,311 0,227 0,120 0,024 97 Análise de resíduos Os principais objetivos de investigar os resíduos na regressão logística são isolar pontos em que o modelo tem pouca aderência e os que exercem influência indevida no modelo. Para o estudo dos resíduos do presente modelo usam-se os padronizados que, em geral, com o modelo bem ajustado, 99% dos resíduos estão compreendidos no intervalo de ±2,5. Dessa forma, qualquer valor fora deste intervalo deve ser examinado com cuidado e pontos que fiquem fora do intervalo ±3 devem ser vistos com cautela, pois estes podem causar influencia nas estimativas dos parâmetros e devem ser analisados por alguma estatística de influência. Aproximadamente 99% dos resíduos padronizados do nosso modelo estão no intervalo ±2,5. Os resíduos que ficaram fora deste intervalo podem ser visualizados na tabela abaixo (Tabela 20). Tabela 20 - Análise dos resíduos padronizados fora do intervalo ±2,5. Fortaleza, 2010. Homicídio Probabilidade estimada Homicídio previsto Resíduos modelo Resíduos Distancia padronizados de Cook Sim 0,08 Não 0,92 3,32 0,09 Sim 0,08 Não 0,92 3,32 0,09 Sim 0,06 Não 0,94 3,79 0,22 Sim 0,12 Não 0,88 2,71 0,17 Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04 Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04 Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04 Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04 Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04 Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04 Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04 98 Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04 Não 0,91 Sim -0,91 -3,22 0,06 Não 0,91 Sim -0,91 -3,22 0,06 Não 0,91 Sim -0,91 -3,22 0,06 A estatística de influência escolhida para analisar nossos resíduos foi a distância de Cook que é uma medida da mudança no coeficiente de regressão se um caso é retirado do modelo, sendo que se o caso apresentar um valor maior do que um para a distância de Cook será considerado problemático para o modelo, pois este caso está influenciando a estimação dos parâmetros. Os resíduos do nosso modelo, embora apresentem alguns valores que mereçam atenção, não exercem influência indevida na estimação, pois em nenhum deles a distância de Cook ultrapassou um. E 99% dos resíduos estão de acordo com a variação normal esperada para um modelo bem ajustado. Por fim, analisa-se a relação não ajustada e ajustada entre variáveis independentes, que foram selecionadas para o modelo multivariado final, e Homicídios, em residentes de Fortaleza, CE, ano 2010 (Tabela 21). Depois de ajustado, obteve-se associação com significância estatística (p ≤ 0,05) entre Homicídio e as seguintes variáveis: faixa etária, sexo, estado civil e bairro de ocorrência. Dentre essas variáveis, apresentaram-se como fatores de risco ao homicídio pertencer às categorias: adolescente (OR ajustada: 18,44; I.C.95% entre 9,57- 35,54); masculino (OR ajustada: 2,83; I.C.95% entre 1,92- 4,19); sem vínculo conjugal (OR ajustada: 1,58; I.C.95% entre 1,14- 2,18) e bairro de ocorrência de renda menor (OR ajustada: 5,13; I.C.95% entre 2,13- 12,36). 99 Tabela 21- Associação não ajustada e ajustada entre Homicídio, Faixa etária, Sexo, Estado civil e Ocorrência. Fortaleza, 2010. Variável N Razão de Chances Bruta IC (RC) 95% N modelo Razão de chances ajustada Exp. (β) IC (Exp. Β) 95% Valor P Teste de Wald Faixa Etária Adolescente 338 23,82 14,66 - 38,70 223 18,44 9,57 - 35,54 0,00 Jovem 417 16,05 10,13 - 25,43 277 11,99 6,46 - 22,25 0,00 Pré-adolescente 31 12,83 5,45 - 30,20 20 8,85 2,89 - 27,09 0,00 Adulto 1073 6,82 4,46 - 10,42 699 5,56 3,17 - 9,75 0,00 Criança 37 2,26 0,98 - 5,19 21 2,58 0,87 - 7,63 0,09 Idoso 192 1 - 115 1 - - Masculino 1818 3,89 2,93 - 5,17 1198 2,83 1,92 - 4,19 0,00 Feminino 262 1 - 157 1 - - Sem vinculo conjugal 1696 2,85 2,26 - 3,59 1109 1,58 1,14 - 2,18 0,01 Com vinculo conjugal 381 1 - 246 1 - - Renda Menor 173 8,82 3,88 - 20,07 169 5,13 2,13 - 12,36 0,00 Renda Média 1192 3,31 1,57 - 6,98 1154 2,34 1,05 - 5,22 0,04 Renda Maior 34 1 - 32 1 - - Sexo Estado Civil Bairro de Ocorrência 100 5.4. ANÁLISE DE CONCORDÂNCIA Mediante a comparação entre os códigos CIDPEFOCE e CIDSMS, tem-se a frequência de códigos coincidentes de 7,47%. Ressalta-se que, para a comparabilidade de pareamento, foi utilizada a verificação do quarto dígito após o ponto. Esta decisão metodológica gerou um sensível distanciamento das codificações, visto que as especificidades inerentes do quarto dígito no banco da pesquisa foram muitas vezes inócuas por impossibilidades de serem contempladas exclusivamente com informações contidas nas “linhas a,b,c e d” da seção das Condições e Causas dos óbitos da DO. Observa-se baixa completitude da variável Local da ocorrência do óbito na pesquisa, o que dificulta em segunda instância a eleição de um código oficial com a referida especificidade dos quatro dígitos. Verifica-se uma inadequação da CID com o arsenal das informações da seção Condições e Causas do óbito, donde há a necessidade da verificação de demais campos (Local de ocorrência) e implementação de informações de fontes “externas” para a tomada de decisão dos profissionais da CEVEPI na eleição de códigos. Utilizando o Kappa para medir o grau de concordância entre as codificações das causas básicas intituladas no banco de CIDPEFOCE e CIDSMS, com um nível de significância de 5%, rejeita-se a hipótese de o Kappa seja igual a zero, ou seja, há alguma concordância entre CIDPEFOCE e CIDSMS. Observa-se na Tabela 22, o Kappa encontrado foi 0,069, sendo considerada fraca a concordância entre os códigos. 101 Tabela 22 – Análise de Concordância entre as codificações de causas básicas dos óbitos por causas externas. Fortaleza, 2010. Medida de Simetria Erro padrão Valor Medida do Kappa assintótico .069 a .005 Sig. T aprox. b Aprox. 41.934 0.000 acordo a. Não considerando a hipótese nula. b. Uso de erro padrão assintótico considerando a hipótese nula. 5.5. ANÁLISE ESPACIAL Serão apresentados nessa seção os resultados referentes à Análise Espacial proposta para o grupo dos óbitos com a causa básica de morte de maior proporção para os residentes no município de Fortaleza, no ano de 2010: os Homicídios. Tal análise procurou identificar e apresentar os bairros segundo a distribuição da ocorrência de homicídios. Em um primeiro momento, tem-se uma simples representação das taxas de homicídios por bairro, onde as áreas com vermelho mais intenso denotam bairros mais propícios à ocorrência de homicídios. O cálculo das taxas foi obtido pelo quociente entre o número de ocorrências de óbitos por homicídios e a população referência do bairro. 102 Figura 02- Distribuição das taxas de homicídios por bairros de ocorrência. Fortaleza, 2010. O plano acima foi dividido em cinco faixas segundo a de taxa de homicídios por bairro de ocorrência (taxa de 1 a 50 por 100.000 habitantes; taxa de 51 a 100 por 100.000 habitantes; taxa de 101 a 150 por 100.000 habitantes; taxa de 151 a 200 por 100.000 habitantes; taxa de 201 a 550 por 100.000 habitantes). Tem-se os seguintes resultados apresentados em quantitativo de bairros e as taxas correspondentes: 72 bairros compreendidos entre taxas de 1 a 50 por 100.000 habitantes; 19 bairros com taxas de 51 a 100 por 100.000 habitantes; cinco bairros com taxas de 101 a 150 por 100.000 habitantes e dois bairros com taxas entre 201 e 550 por 100.000 habitantes. Dentre os bairros com as maiores taxas de ocorrência de homicídios, apresenta-se o Centro com uma taxa de 511,59 por 100.000 habitantes e Pedras com uma taxa de 298,06 por 100.000 habitantes. 103 Abaixo, apresenta-se a tabela demonstrando os cinco bairros com taxas de ocorrência de homicídios entre 101 e 150 para 100.000 habitantes. Tabela 23- Distribuição dos bairros segundo ocorrência de homicídios com taxas entre 101-150 por 100.000 hab. Fortaleza, 2010. Bairros Nº de Homicídios Bom Jardim 51 Pirambu 21 Praia do Futuro 9 Castelão 7 Moura Brasil 4 Ressalta-se que os demais bairros se encontram com taxas menores que 50 para 100.000 habitantes. Para a avaliação da análise realizada foi calculada a auto correlação espacial através do Índice de Moran. Tal índice é um coeficiente muito útil para medir a correlação espacial. O Índice de Moran varia, da mesma forma que o coeficiente de correlação linear, de -1 a 1. Para o caso em questão, tem-se o Índice de Moran Global, na qual não foi significante. Nesta análise, não se observa correlação de uma área específica para áreas vizinhas. Tabela 24 – Índice de Moran Global. Fortaleza, 2010. Índice de Moran Global Valor p-valor -0,0365 0,217 104 Mapa de Kernel Neste método estatístico de análise espacial cada uma das observações é ponderada pela distância em relação a um valor central, o núcleo. Dito de forma simples, o Mapa de Kernel é uma alternativa para análise geográfica do comportamento de padrões, onde permite facilmente identificar “pontos quentes” e agrupar pontos. No mapa, é plotada, por meio de métodos de interpolação, a intensidade pontual de determinado fenômeno em toda a região de estudo. Assim, tem-se uma visão geral da intensidade do processo em todas as regiões do mapa. No mapa abaixo, tem-se a densidade de Kernel calculada sobre a taxa de homicídio, no qual tal informação é apresentada por cores que “escurecem gradativamente”. Assim, observa-se visualmente a intensidade de homicídios sobre a capital do Ceará (Fortaleza). Figura 03- Distribuição da densidade de ocorrência de homicídios por Kernel. Fortaleza, 2010. 105 Logo abaixo têm-se dois bairros que se destacaram, ou seja, representaram no mapa acima “áreas quentes”, segundo a estatística de Kernel. Tabela 25 –Kernel por bairros de “áreas quentes”. Fortaleza, 2010. Bairros Densidade de Kernel Moura Brasil Muito Alta Pedras Alta Para uma “média” densidade de homicídios, apresentam-se apenas dois bairros: Ancuri e José Bonifácio. Demais bairros foram agrupados segundo a estatística de Kernel da seguinte maneira: Tabela 26 –Kernel por densidade de homicídios. Fortaleza, 2010. Densidade de Homicídios Quantidade de Bairros Baixa 53 Muito Baixa 43 106 6. DISCUSSÃO O Sistema de Informação sobre Mortalidade foi criado em 1975 pelo Ministério da Saúde do Brasil, tendo iniciado sua descentralização em 1992 (BRASIL, 2001). A descentralização permitiu a obtenção de dados no território brasileiro, do menor município ao mais populoso, favorecendo aos setores gerenciais o planejamento de ações para o campo da saúde ao permitir a elaboração de indicadores sensíveis que identificam grupos de risco, promovendo melhoria na qualidade de vida e desenvolvimento social (HARAKI, GOTLIEB e LAURENTI, 2005; FAJARDO, AERTS e BASSANESI, 2009). A participação do município, sendo esse espaço de aproximação entre cidadãos e instituições governamentais e não governamentais, permeia a possibilidade de mobilização dos setores sociais para a negociação de metas, compromissos e responsabilidades operativas, técnicas e financeiras para a redução da violência (SIMÕES e REICHENHEIM, 2001). As fontes oficiais dos dados sobre mortalidade por causas externas englobam as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e as Secretarias de Segurança Pública. Faz-se necessária uma sensibilização quanto à importância de dados transparentes e confiáveis para atestar a real situação sanitária das unidades da federação brasileira, e, ainda, uma interlocução entre estas instituições para o aprimoramento do processo gerador das informações em saúde. Muitas vezes, os objetivos a priori distintos destas instituições e o não entendimento de suas funções sociais conduzem a perdas de dados e a uma descaracterização da população estudada (BARROS, XIMENES e LIMA, 2002). A prevenção da violência apresenta-se como grande desafio para a sociedade civil e o setor saúde. No ano de 2002, a OMS ampliou a discussão da prevenção da violência como meta, apontando para a necessidade de prioridade de ações no campo da Saúde Coletiva (CONCHA-EASTMAN e MALO, 2006). Concha-Eastman e Malo (2006) classificam a violência em três níveis: i. Interpessoal, incluindo a violência na família, quando as vítimas em destaque podem ser mulheres e crianças, na comunidade, nas ruas e espaços públicos; ii. Coletiva, incluindo grupos organizados; iii. Auto infligida, como suicídios e abusos. Os autores destacam a abordagem da violência como componente da saúde pública devido aos 107 seguintes aspectos: magnitude da morbimortalidade, principalmente entre adultos jovens; o impacto dos altos custos sociais para o setor saúde; por afetar não somente um indivíduo, mas uma coletividade de pessoas de forma direta e indireta; por gerar efeitos negativos sociais e econômicos no desenvolvimento dos países e, ainda, pelo efeito de reduzir a liberdade das pessoas e a qualidade de vida. Soares Filho et al (2007) discutem a capacidade dos SIS-SUS em gerar análises produtoras de hipóteses epidemiológicas e sua habilidade de acompanhamento de atividades e respostas a intervenções realizadas, permitindo monitoramento de eventos. Exclamam para a possibilidade de, mediante seu aprimoramento, utilização dos SIS-SUS em análises capazes de gerar evidências, instrumentos capazes de modificar a situação de saúde das coletividades humanas. Nos últimos anos, através da análise epidemiológica do panorama da violência no Brasil (em especial no estado do Ceará, podendo ser percebido com a leitura da série histórica disposta no Anexo B), destaca-se o impacto da violência dentre os indicadores de morbimortalidade disponíveis nos bancos de dados referentes à informação em saúde do país. A magnitude da violência social se manifesta através desses indicadores, apontando para a gravidade do tema no âmbito da Saúde Coletiva (CEARÁ, 2014). No caso do estado do Ceará, ao analisar a série histórica de Exames Cadavéricos e suas causas entre 1990 e 2013 realizados pela PEFOCE (sede Fortaleza), observa-se a tendência crescente, exceto para o período entre 2002 e 2008. O fato pode ser explicado pela inauguração de Núcleos de Perícia Forense nas Regiões Sul e Central do estado. Importante observar que, a partir de 2008, houve um acréscimo importante no número total de exames cadavéricos realizados (em 2008, houve 3.391 e em 2013, 5879, representando acréscimo de 74%). O presente estudo de tese amplia seus objetivos para além da apresentação do perfil epidemiológico dos óbitos por causas externas de residentes em Fortaleza, avaliando a completitude da DO, subnotificação de óbitos e codificação de causa básica; discutindo a causa principal (homicídio), analisando fatores de risco associados aos homicídios e, ainda, apontando a Análise Espacial de homicídios segundo bairros de ocorrência. Em concordância com inúmeros autores, aponta fragilidades no Sistema e gera uma proposição de melhoria da qualidade. 108 Debatendo sobre o perfil epidemiológico dos óbitos de residentes de Fortaleza, ano 2010. As taxas de morte por violência nos principais centros urbanos brasileiros têm destaque como as mais altas no continente americano. Entretanto, essas taxas mostram distribuição desigual entre gênero, raça/cor, idade e espaço social. Na avaliação da magnitude da violência, analisando para além da mortalidade por essa causa, estudos indicam que o número de internações por acidentes e violência representa o sêxtuplo do número de morte por essas causas (SOUZA e LIMA, 2007). A análise descritiva da tese apresenta distribuição também desigual entre as categorias que compõem as variáveis sócio demográficas. Na avaliação da distribuição de gênero, observamos como sendo a mais discrepante, donde 87,3% dos óbitos por causas externas foram do sexo masculino. Apresentam-se as principais proporções das demais variáveis: 78,9% pardos; 77,0% solteiros; 37,4% com escolaridade entre 4 a 7 anos e a média de idade dos óbitos como sendo de 32,9 anos. Debatendo sobre a qualidade do preenchimento da DO, completitude e subnotificação dos óbitos de residentes de Fortaleza, ano 2010. SILVA et al (2013) discutem a existência de aspectos multifatoriais para avaliação de um Sistema de Informação: completitude das variáveis; fidedignidade e consistência. Considerando-se unicamente o primeiro aspecto, já é possível verificar a qualidade de um dado sistema. Mello Jorge, Gotlieb e Laurenti (2002) demonstram fragilidades na avaliação da qualidade do Sistema de Informação sobre Mortalidade e apontam possibilidades de propostas ao enfrentamento. A compreensão da informação sobre os eventos relacionados às causas externas permite, além do monitoramento de sua tendência, avaliar o impacto de intervenções e políticas públicas voltadas à sua redução. Barros, Ximenes e Lima (2002) chamam atenção para o fato das implicações dos altos percentuais de ignorados e ausência de preenchimento para as variáveis indispensáveis e essenciais, minimizando o entendimento da complexa rede de fatores associados aos eventos violentos. 109 No desenvolvimento da presente tese, salienta-se a possibilidade da produção de Sistemas de Informação de melhor qualidade, mediante a utilização da pesquisa científica, resultantes de alianças estabelecidas entre a qualidade e a redução dos números ligados à violência no nosso país. A capacidade da indução das hipóteses epidemiológicas sobre relações causais dos óbitos por causas externas será tão transparente e verdadeira para a Saúde Coletiva quanto a qualidade de sua rede de informação em saúde. Autores discutem possíveis caminhos para se propor soluções, sendo os mais significativos, a geração de dados de qualidade para o reconhecimento do impacto epidemiológico do problema, pesquisas que apontem para relações causais da violência, conhecimento de intervenções bem sucedidas na redução do problema e a articulação entre setores governamentais e da sociedade civil (CONCHAEASTMAN e MALO, 2006). Discutindo a importância do tema, fundamentam-se o que preconiza o MS quando salienta que as estatísticas sobre mortalidade são indispensáveis para elaboração e análise dos principais indicadores de saúde. Acrescenta também que os dados relativos às variáveis idade, sexo, estado civil, ocupação, naturalidade e local de residência se, por um lado, servem para identificar o falecido, por outro, constituem-se em valiosos elementos nas pesquisas epidemiológicas (BRASIL, 1997). Estudos analisam a grande evolução técnica dos SIS-SUS como capaz de tencionar o maior acesso aos bancos de dados, e, consequentemente, podem advir melhor análise e maior exigência de compatibilidade por parte dos usuários. Desta forma, as inconsistências têm levado as instituições geradoras dos dados referentes às causas externas a ter uma maior preocupação com a qualidade do SIS-SUS (BARROS, XIMENES e LIMA, 2002). O MS, mediante a informatização do SIM, classificou para efeito de crítica e correção dos dados as variáveis da DO da seguinte forma: indispensáveis (aquelas cuja falta implica não computação no sistema, havendo a investigação para o cumprimento do preenchimento), sendo o ano e o tipo do óbito; essenciais (as mais utilizadas em estudos, sendo prioridade para crítica e correção dos dados), sendo sexo, idade, município de ocorrência, município de residência, causa básica e tipo e violência; secundárias (aquelas que não têm prioridade para crítica e correção, apesar da grande importância se classificam desta forma por não atingirem níveis 110 satisfatórios de qualidade), sendo todas as demais (BRASIL, 1997). São apresentados no estudo de tese, para as variáveis essenciais, a seguinte avaliação de qualidade ao analisar a classificação de completitude: sexo (completitude excelente); idade (completitude baixa); município de ocorrência (completitude excelente); município de residência (ausência de incompletude); causa básica (completitude baixa) e tipo de violência (completitude baixa). Ressaltamos que houve ausência de incompletude na variável município de residência devido aos critérios de inclusão descritos no Capítulo 4 referente ao Material e Métodos, inexistindo validade na classificação de sua completitude. Dentre estudos que observaram o comportamento quanto ao preenchimento de variáveis relativas à pessoa e a lugar, temos o estudo realizado por Barros, Ximenes e Lima (2001). Os autores estudaram DO por causa externas na cidade do Recife apontando, na série entre 1979-1995, as variáveis de pior evolução no preenchimento. Apontaram estas como sendo: instrução; assistência médica e local da ocorrência do óbito. A variável assistência médica apresentou mais de 60% de ausência de preenchimento. O estudo acima descrito corrobora a presente tese, com ressalvas para completitude de melhor avaliação observada na tese. Na avaliação da completitude das variáveis relativas à pessoa (raça/cor e escolaridade), encontram-se os maiores percentuais de ausência de preenchimento (respectivamente 38,41 e 33,89% de ausência de preenchimento, classificando a completitude como baixa). A escolaridade demonstra o maior percentual de “ignorado” como resposta (10,70%). Quanto às variáveis relativas ao lugar, no nosso estudo, a variável local de ocorrência do óbito, apesar de sua importância para possibilitar boa qualidade de codificação de causa básica, apresenta completitude baixa. Segundo o MS (2009), a frequência da informação “não preenchida” para as variáveis relativas ao sexo e à idade vem se mantendo, ao longo do tempo, em níveis bastante baixos, permitindo leitura epidemiológica satisfatória. O MS afirma melhora incontestável do SIM, tanto no que diz respeito à cobertura, quanto à qualidade das informações no território brasileiro. A variável mais sensível a corresponder este espectro de melhora gradativa corresponde à causa básica dos óbitos. Corroborando os dados do MS, para a variável sexo, encontramos apenas 1,23% de ausência de preenchimento. Em contrapartida, a variável idade apresentou 111 completitude baixa (46,0 % de ausência de preenchimento). Na contramão do que foi identificado como tendência pelo MS, as variáveis relacionadas às Condições e causas do óbito, apresentaram completitude baixa, em apenas 3,89% das DO, houve preenchimento da “linha d”. Esse percentual aponta para uma falha na classificação dos eventos fisiopatológicos que levaram ao óbito. Em concordância com o estudo de Barros, Ximenes e Lima (2001), na tese apresentada, a variável assistência médica apresentou mais de 60% de ausência de preenchimento (64,47%), classificando-a como completitude baixa. Santos, Coelho e Araújo (2013) analisaram a informação sobre raça/cor da pele dos indivíduos submetidos à necropsia na Bahia, ano 2007. Discutem a importância do reconhecimento das definições desta variável devido às condições especiais de vulnerabilidade da população negra quando comparada a não negra. Os sujeitos do estudo foram profissionais em atividades no Instituto Médico Legal. Apontam uma multiplicidade de documentos que captam essa informação, e, ainda, na DO ressaltam que o preenchimento deste campo, ao invés de ser preenchido pelo médico atestante do óbito, é feito pelo profissional do setor de liberação de cadáveres, ficando a definição da raça/cor da pele a cargo do familiar ou reclamante do corpo. Inúmeros estudos brasileiros apontam a fragilidade no preenchimento da variável raça/cor, bem como a existência de problemas metodológicos na definição e classificação desta variável, repercutindo no seu preenchimento, mensuração e avaliação epidemiológica. A informação sobre raça tem sido utilizada em estudos epidemiológicos como proxy do nível socioeconômico, reforçando a importância do preenchimento correto dessa informação (BRASIL, 2012). No presente estudo, a avaliação da qualidade quanto ao preenchimento da variável raça/cor apresentou completitude baixa, fragilizando quaisquer análises que pudessem advir desta variável de identificação em estudos que utilizem como fonte de dados secundários óbitos violentos de residentes de Fortaleza, ano 2010. Reduzindo, portanto, a possibilidade de estudos utilizando a variável como proxy do nível socioeconômico. Pontua-se a rarefação de variáveis para definição de níveis socioeconômicos na DO. Discutindo a completitude de variáveis com potencial para avaliação de níveis socioeconômicos, no caso específico da DO, estando neste formulário ausentes as 112 variáveis como renda individual e familiar, a ocupação apresenta-se como variável importante para classificação econômica. Entretanto, observa-se a ocupação como variável de difícil aproveitamento por ser do tipo textual, havendo problemas de legibilidade, e, em última instância, de classificação em categorias. Houve evidências de rasuras, dentre fragilidades de codificação. No presente estudo, não houve nenhuma DO com o código de ocupação preenchido, dentre um total de mais de 2.000 óbitos. Soares, Horta e Caldeira (2007) em avaliação da qualidade das informações em declarações de óbito infantis, Minas Gerais, nos anos de 2002-2005, ao comparar DO originais e DO reestruturadas a partir de informações de prontuários médicos, encontraram a menor concordância entre causas básicas no grupo de causas relacionadas à prematuridade (78%). Na avaliação da completude dos campos, evidenciaram a maior proporção de informação ausente para: idade materna (31,3%); escolaridade materna (47%); tipo de parto (22,9%); idade gestacional (19,3%) e peso ao nascimento (28,9%). Alarmante observar que no referido estudo, a única variável que não apresentou ausência de preenchimento foi local de ocorrência do óbito. Os autores identificaram, ao longo do período estudado, uma melhoria na completude das declarações, associada possivelmente pela ampliação do sistema de saúde local, através da implantação de duas Unidades de Terapia Infantil no município. Almeida et al (2011) em estudo sobre avaliação da qualidade do preenchimento das DO de óbitos fetais, excluídos os emitidos pelo Instituto de Medicina Legal, identificaram variações na completitude dos registros mediante a classificação da unidade hospitalar de acordo com o tipo de prestação do atendimento. A completitude obteve pior resultado nos hospitais SUS, apresentando a mais baixa completitude às variáveis relativas às características maternas (idade, escolaridade e filhos anteriores). Os autores sugerem para melhoria da qualidade da informação sobre mortalidade o desenvolvimento de rotinas que facilitem o fluxo adequado das informações entre serviços de assistência à saúde com Serviços de Verificação de Óbitos. Dialogando com estudos que tiveram como foco avaliação de outro SIS-SUS (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos), realizado na região Nordeste, biênio 2000 e 2009, percebe-se que a completitude apresentou significativa melhora para o período em todos os estados da região. A completitude foi considerada de boa a 113 excelente para a maioria das variáveis, exceto raça/cor e escolaridade materna, com destaque para os estados da Paraíba e Bahia, apresentando, respectivamente, 7,8 e 10,2% de incompletude. O mesmo padrão de deficiências na avaliação para estes estados no preenchimento da variável escolaridade materna (SILVA et al, 2013). Macente e Zandonade (2010) analisaram a completude das variáveis demográficas (sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade, estado civil, local de ocorrência) no SIM causas externas por suicídio no estado do Espírito Santo, na região Sudeste e no Brasil, período entre 1996-2007. Dentre estas, a variável que apresentou mais baixa completitude foi escolaridade, com variações entre 83,8% e 85,5% de ausência de preenchimento. Discutem o equívoco dos médicos atestantes em imputar o sepultamento como principal, e, às vezes, única finalidade da DO, e a necessidade da sensibilização dos profissionais para a importância dos SIS para estudos epidemiológicos e a Saúde Coletiva. O estudo corrobora os dados apresentados, os quais, para as variáveis de identificação, a escolaridade apresentou completitude baixa (33,89% de ausência de preenchimento), sendo a segunda de pior preenchimento, ficando atrás apenas da raça/cor. Entretanto, a completitude do estudo do Espírito Santo apresenta-se substancialmente mais baixa do que do presente estudo. Rios et al (2013) estudaram a completude do SIM por suicídio em idosos no estado da Bahia, no período entre 1996 e 2010. O estudo encontrou para o sexo preenchimento excelente. No período, destacaram-se como o mais baixo nível de completude o grau de instrução e raça/cor da pele (atingindo 100% de não preenchimento). Referente aos resultados mais preocupantes, os autores descrevem como preocupantes a assistência médica e a fonte da informação do óbito (atingiram em todo o período classificação muito ruim na completude), enquanto que local da ocorrência do óbito apresentou classificação excelente. Os autores refletem que, apesar da melhoria da qualidade do SIM, há a persistência de inúmeras falhas no preenchimento da DO, havendo elevado número de informações ignoradas ou não preenchidas. Para tanto, sugerem medidas que poderiam ser implementadas à melhoria da completude: valorização dos currículos médicos e qualificação de profissionais; implantação, fortalecimento e atuação de núcleos hospitalares de epidemiologia; investimento na instrução de funcionários administrativos das células de vigilância epidemiológica e a implantação de comitês 114 de mortalidade para investigação, discussão e avaliação de melhorias para o desempenho dos SIS-SUS (RIOS et al, 2013). Barros, Ximenes e Lima (2002) estudaram a validação, em DO por causas externas de menores de 20 anos, de demais variáveis que não a causa básica. Os dados da pesquisa foram considerados o padrão ouro e foram comparados ao SIM. Utilizaram como medida para avaliar concordância o Kappa. Validaram as variáveis da pessoa (data de nascimento, data do óbito, sexo, idade, ocupação, instrução, tipo de violência, tipo de acidente e assistência médica) e de lugar (local e município de ocorrência do óbito e local do acidente). O Kappa foi considerado ótimo para sexo, idade e tipo de violência; bom para tipo de acidente; e fraco para assistência médica. Com relação às variáveis relativas a lugar, as medidas de Kappa foram consideradas “sofríveis”. Cordeiro et al (1999) analisaram, em estudo no estado de São Paulo, a validade das informações sobre ocupação habitual do falecido e causa básica do óbito. Foram estabelecidas como padrão-ouro entrevistas domiciliares e análise documental médica. Encontraram, mediante análise do indicador Kappa, muito baixa correlação para a variável ocupação (concordância de 37,7% e Kappa de 0,31). Já para a causa básica, a concordância simples foi de 83,1%. No estudo, os autores identificaram, dentre 549 DO, ausência do preenchimento do campo ocupação habitual em 58,7% dos óbitos avaliados. A tese aponta a ocupação como variável com ausência de preenchimento de 9,53%, e com ausência do código de ocupação em 100% das DO. A codificação da ocupação seriam uma importante tomada de iniciativa e conscientização por parte dos médicos atestantes, possibilitaria a utilização desta importante variável como proxy do nível socioeconômico. Os autores alertam para a escassez de publicações sobre a validade destas variáveis no Brasil, diferentemente do escopo internacional. Inúmeros estudos internacionais corroboram a baixa correlação para a ocupação habitual do falecido (CORDEIRO et al, 1999). Mello Jorge et al (2012) discutem a evolução do SIM desde sua criação aos dias atuais e observam que a melhoria tanto na cobertura quanto na qualidade das informações pode estar associado a sua gestão nos níveis estadual e municipal. A investigação de óbitos conduz a uma melhor qualidade das informações, mas requer custos altos e recursos humanos especializados. 115 Estudos em busca da melhoria da qualidade das informações sobre óbitos por causas externas têm apontado para os avanços da Informática de forma vetorial. Este campo tem evoluído e gerado importante interface entre as vastas áreas das ciências, incluindo os campos das ciências sociais e da saúde. O relacionamento entre bancos de dados melhora a qualidade de um dado sistema de informação mediante a intersecção gerada com as informações de um mesmo indivíduo registrada noutro sistema, técnica denominada de linkage (ALMEIDA e MELLO JORGE, 1996; MELLO JORGE et al, 2012). Em estudo sobre averiguação de óbitos em idosos e utilização do linkage, MELLO JORGE et al (2012) comprovam a viabilidade do uso da técnica e melhoria na qualidade da classificação das causas básicas, gerando indicadores de saúde com maior fidedignidade. Neste estudo, após o linkage, as causas de morte por acidentes de transporte e quedas triplicaram após relacionamento dos bancos de dados incluídos na pesquisa. O estudo presente, nas suas considerações finais junto à equipe da CEVEPI, propôs uma discussão sobre a possibilidade da utilização no município de Fortaleza de linkage de bancos de dados, dentre eles do Departamento de Trânsito do estado. Percebeu-se um importante interesse da gestão municipal de introduzir a ferramenta, uma real sensibilidade da capacidade de melhorar a informação sobre mortalidade mediante a intercomunicação entre bancos de dados. Castro, Assunção e Durante (2003) compararam dados sobre homicídios a partir de duas fontes de dados em minas Gerais no período entre 1986 e 1998. As fontes estudadas incluíram a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e o SIM e a comparação entre os dois sistemas foi feita através da razão entre os números absolutos de óbitos por homicídios e da regressão linear. Os autores encontraram diferenças inversamente proporcionais na razão entre óbitos registrados pela PMMG e pelo SIM quando comparadas aos portes do município. Para municípios até 50.000 habitantes, a razão foi de 1,5 e de 0,8 para cidades com mais de 200.000 habitantes. Com relação ao comportamento das taxas de homicídios e o porte dos mesmos, para o período, observaram que as taxas declinaram no tempo no caso dos municípios menores e aumentaram para os municípios com mais de 100.000 habitantes (CASTRO, ASSUNÇÃO e DURANTE, 2003). Debatendo a vertente da qualidade no que tange à subnotificação de óbitos 116 no SIM, Kanso et al (2011) destacam que a utilização de dados está sujeita à qualidade dos mesmos. Salientam a melhora expressiva da coleta e qualidade dos dados no Brasil, mas reconhecem haver ainda lacunas importantes relacionadas a fragilidades no preenchimento e às subnotificações. Estudos que medem a qualidade da informação em saúde (CARVALHO et al, 1990; SOARES, HORTA e CALDEIRA, 2007; CUNHA, CAMPOS e FRANÇA, 2011) permitem, mediante a análise da validade das informações e da ocorrência de subnotificação de eventos, a necessidade ou não de uma cobertura mais satisfatória do sistema, garantindo melhor precisão na determinação da causa básica, o menor (ou a inexistência de) registro de óbitos subnotificados nos bancos de dados oficiais, permitindo a garantia da coleta de informações confiáveis. Cunha, Campos e França (2011) realizaram estudo em Minas Gerais para compreender a subnotificação dos óbitos e fatores associados. Foram estudados dez municípios de uma determinada região no ano de 2007. Apontam para uma subnotificação de 26.5% do total de óbitos no ano do estudo. O porte populacional do município se associou significativamente (20.000 habitantes ou mais, pvalue=0,000). Apontaram que o maior percentual de subnotificação ocorreu nos óbitos ocorridos nos meses de novembro e dezembro, sugerindo atrasos na coleta e processamento de dados. Limitações no processamento de dados podem ser explicadas por fragilidades na transferência de dados do município ao estado ou sobrecarga de trabalho dos profissionais da saúde. O referido estudo acima descrito entra em discordância com o percentual de óbitos subnotificados no presente estudo. Encontra-se, dentre o total de óbitos que deram entrada no estudo, mediante a coleta direta das DO na PEFOCE- Fortaleza, 63 foram subnotificados no banco de dados oficial do MS. Este valor representa 3,07% do total de óbitos por causas externas para residentes em Fortaleza, no ano do estudo. Importante salientar que o valor é sensivelmente menor do que de vários estudos brasileiros. Questiona-se o valor da subnotificação junto à CEVEPI. Os profissionais declararam haver um conjunto de óbitos de 2010 que não foram digitados no sistema por questões das datas de recebimento das emissões das DO entre novembro e dezembro de 2010. Possivelmente, houve alguma falha no encaminhamento das DO da PEFOCE à SMS no período. Salienta-se para a especificidade de subnotificação de óbitos tendo como 117 causa o suicídio. Estudos indicam que se pode associar às situações de problemas na eleição da causa básica, imprecisão dos instrumentos de captação de dados, pela existência de cemitérios clandestinos e por destruição de cadáveres (MACENTE e ZANDONADE, 2010). Autores registram a existência da associação entre qualidade deficiente dos registros dos dados e condições socioeconômicas e de saúde das coletividades humanas, bem como grau de desenvolvimento regional. E, ainda, a subnotificação dos óbitos em geral, reflete o grau de desigualdade no acesso aos sistemas de serviços de saúde (CUNHA, CAMPOS e FRANÇA, 2011). Debatendo sobre a eleição da causa básica no preenchimento da DO dos óbitos de residentes de Fortaleza, ano 2010. Silva et al (2013) analisaram as DO (óbitos não violentos) registradas no SIM da cidade de Belém, PA, ano de 2010. Foram avaliados o preenchimento dos campos e sua legibilidade. Dentre as DO estudadas, encontram 98,7% destas com pelo menos um equívoco no preenchimento (preenchimento incompleto). Com relação à eleição da causa básica, observaram que apenas 28,5% das causas básicas estavam consideradas corretas, enquanto 71,5% apresentavam erros, sendo o mais comum a utilização de termos classificados como “vagos”. O campo referente ao tempo de evolução entre a doença e o óbito foi o que apresentou a maior quantidade de campos com preenchimento incompleto, apresentando índice de 98,7% das declarações estudadas. O estudo de tese presente identificou uma importante falha no preenchimento da seção das condições e causas dos óbitos. Há uma amostragem decrescente de preenchimento das “linhas a, b, c e d”. Obteve as seguintes ausências de preenchimento: “linhas b” de 45,19%; “linha c” de 84,78% e “linha d” de 96,11% dos registros das DO. O fato denota e põe em questão a normatização vigente no país de preenchimento das sequências fisiopatológicas que levaram ao óbito. Adicionalmente, KANSO et al, 2011, afirmam em estudo sobre qualidade da informação de morte em idosos que a fragilidade na qualidade da informação sobre a causa básica de morte não se mostrou independente da qualidade do preenchimento das variáveis restantes da DO. Pesquisas realizadas com os profissionais médicos revelaram que 80% 118 destes apontam a falta de clareza nas instruções contidas no próprio instrumento como a maior dificuldade para o correto preenchimento (MENDONÇA, DRUMOND e CARDOSO, 2010). Estudos apontam que os problemas no preenchimento do SIM tendem a ser minimizados quando o óbito é classificado como causa externa, sendo seu preenchimento de responsabilização de um médico atestante legista. Estudos indicam que um dos fatores sensíveis para o aprimoramento das informações referentes à classificação da causa básica do óbito é a realização da autópsia. Países como os do Reino Unido propõem que 100% dos óbitos do tipo fetais sejam autopsiados (SOARES FILHO, 2007; ALMEIDA et al, 2011). Essa constatação, de origem na literatura científica, gerou uma imensa motivação intrínseca da pesquisadora em avaliar a qualidade do SIM-Causas externas. Foram observadas, no entanto, importantes fragilidades nesta qualidade, descritas no tópico acima. Em estudo no estado de São Paulo, os autores encontraram informações mais detalhadas e de melhor qualidade nas DO emitidas por Serviços de Verificação de Óbitos (SVO), entretanto, a maior parte das DO apresentou como causa básica do óbito a morte fetal de causa não especificada (ALMEIDA et al, 2011). Villela et al (2012) discutem a fragilidade na classificação das causas básicas, quando as circunstâncias dos óbitos são substituídas pela natureza da lesão. Iniciativas para este enfrentamento foram propostas em grandes capitais, a exemplo de Belo Horizonte desde 2000. Além dos relatórios médicos, são também avaliados, com os mesmos critérios, relatórios de outros profissionais de saúde, perícias e laudos necroscópicos e, ainda, notícias veiculadas em jornais. Dentro das causas de intenção indeterminada, houve uma migração de dados gerando aumento de 220% nos óbitos envolvendo automóveis e de 100% nos acidentes com bicicleta e motocicleta. Lima e Mota (2011), em estudo ecológico sobre Causas Mal Definidas (CMD) no estado do Piauí, na avaliação das tendências no período entre 2000 e 2006, observaram no SIM uma falência na completitude do campo Médico atestante em 73,2% dos óbitos com CMD. Nosso estudo apontou essa falência representando 0,43%. A fragilidade nas especificações das causas básicas pode ser vista quando há a indicação unicamente da natureza da lesão, indicando que a morte foi por acidente 119 ou violência, não reconhecendo, portanto, as circunstâncias do óbito. No Capítulo dos Resultados, apresentamos para a descrição dos componentes da “linha d” a comprovação desta constatação que corrobora inúmeros estudos brasileiros. A causa que mais se repetiu nas DO estudadas, dentre apenas 83 descrições na “linha d”, foi “instrumento perfurocontundente”, que não traduz as circunstâncias do óbito. Haraki, Gotlieb e Laurenti (2005) buscaram identificar a confiabilidade do SIM no estado de São Paulo. No estudo, compararam a causa básica elaborada a partir de entrevistas domiciliárias, prontuários médicos e laudos de necropsia com a causa básica apontada pelo médico atestante. Na investigação da assertividade do registro do total de óbitos registrado, compararam as informações do SIM com o IBGE. Observaram, para a década de 80, o IBGE com 60% a mais de captação de dados, com aumento progressivo de captação pelo SIM (em fins da década, o SIM captava 3,7% a mais que o instituto). Nas declarações de óbito com diagnóstico incompleto, 59% passaram a ter causa básica definida, 16% mudaram e, apenas, 24% permaneceram com a mesma causa básica. Autores discutem a fragilidade na responsabilização do médico atestante por visualizar no instrumento apenas o caráter de sua exigência legal. Diversos autores estão em concordância quando versam acerca de que a fidedignidade das informações será melhor garantida quando houve maior interferência das instituições formadoras de profissionais quanto à importância epidemiológica das informações em saúde (HARAKI, GOTLIEB E LAURENTI, 2005). Kanso et al (2011) citam a pouca importância dada ao ensino sobre o preenchimento de formulários referentes aos registros vitais e a baixa valorização da DO como documento de relevância epidemiológica. Este foi um importante fator motivador da pesquisadora na investigação epidemiológica do estudo, pela experiência docente em Graduação de Medicina há quase uma década. Em estudo para medir a confiabilidade das informações de causas básica no Rio de Janeiro, Simões e Reichenheim (2001) compararam a codificação das causas básicas geradas pelo médico atestante e pelos codificadores da SMS, encontrando fraca concordância entre estas, corroborando a hipótese de que as informações geradas na DO de responsabilidade do médico atestante são inadequadas à formulação da codificação final pela SMS. Valendo salientar que, apesar dos esforços das Secretarias Municipais de Saúde no processo aprimorado de codificação das causas básicas, a responsabilidade social e legal de informar a 120 causa básica do óbito é do médico legista. Kanso et al (2011) estudaram a associação entre a qualidade da informação sobre mortalidade e o nível de desenvolvimento socioeconômico das regiões entre idosos no Brasil. Apontam a relação diretamente proporcional entre a idade do falecido e a proporção de CMD. Observaram menor proporção de CMD nas capitais brasileiras, com exceção de Fortaleza, com o dobro de CMD quando comparada aos demais municípios do estado. Encontraram no conjunto das variáveis socioeconômicas: não ser branco aumentando a chance de ter CMD; escolaridade do idoso inversamente proporcional às ocorrências de CMD. O tipo de atenção à morte (sem assistência médica) apresentou o maior aumento de chance de ter CMD (14 vezes). E, ainda, associaram a completitude da DO com a ocorrência de CMD: quando a variável “lugar da ocorrência do óbito” não foi preenchida, houve 11 vezes mais chances de ter CMD; e, quando a variável escolaridade estava sem preenchimento, a chance de apresentar CMD com causa básica do óbito foi 91% maior do que para o grupo com oito ou mais anos de escolaridade. Na avaliação das causas básicas dos óbitos, o suicídio no país apresenta coeficientes com grandes variabilidades. Enquanto a Região Sul apresenta os maiores coeficientes, a Norte abriga os menores índices. As premissas que estabelecem as relações causais para as distribuições dos eventos serão mais frágeis na medida da imprecisão da disponibilidade e da qualidade dos dados. A debilidade na classificação da causa básica dos óbitos torna-se ainda mais grave quando esta aponta para o suicídio. Há fatores variados, sendo eles religiosos, sociais, culturais, políticos, econômicos, dentre outros. Estimativas mostram que a subnotificação por esta causa pode variar entre 20 e 100% na determinação da causa básica do óbito. (MACENTE e ZANDONADE, 2010, RIOS et al, 2013). Segundo Schoeps et al (2009), para assegurar a qualidade das informações é necessário garantir processos adequados na etapa anterior à coleta dos dados, como protocolos de registros e coleta de dados com definições claras, o treinamento e a sensibilização dos profissionais responsáveis pelo preenchimento. Conclui que a atividade interdisciplinar está incorporada na rotina hospitalar, havendo comprometimento na busca de soluções diante das dificuldades, e ampliação na compreensão das finalidades e usos das informações produzidas. Pedrosa, Sarinho e Ordonha (2007) avaliaram a adequação das informações sobre mortalidade (óbitos infantis) no município de Maceió, Alagoas. Buscaram 121 definir sua validade e confiabilidade mediante a análise da concordância entre causa básica do SIM e as definidas por análises de prontuários médicos (padrão ouro do estudo). Encontraram, em causas do óbito como sendo maternas e do parto, 53,1% de concordância, com sensibilidade de 8,8%, e, em causas do óbito como definidas no grupo de prematuridade, 95,2% de concordância, com sensibilidade de 44,4%. Mendonça, Cardoso e Drumond (2010) apresentam estudo realizado no município de Belo Horizonte, MG, que utiliza a ontologia (apresentando como parâmetros de fundamentação: colaboração e informação; compartilhamento; padronização e confiabilidade) no âmbito de domínio da mortalidade, com a finalidade de melhorar a informação em saúde gerada sobre os indicadores de mortalidade. Entende-se por ontologia uma definição de um vocabulário, conceitos, subclasses como o fim de facilitar a geração e utilização de dados. Utilizaram o método 101 (Noy e McGuiness, 2000). As ontologias devem ter na sua composição clareza, objetividade, coerência e extensibilidade. Ainda, a completitude se mostra como um dos princípios a serem atingidos com sua utilização. Os passos para sua construção incluem: a definição de classes dentro das variáveis embutidas nos instrumento e hierarquização destas. Para o caso de informação sobre mortalidade, concluíram ser a ontologia um artefato computacional adequado na representação de um conhecimento específico na área da saúde. O estudo indica as ontologias como ferramentas computacionais que podem trazer contribuições para a melhoria na qualidade das informações em saúde. Debatendo sobre a codificação da causa básica dos óbitos de residentes de Fortaleza, ano 2010. Outra questão norteadora para o presente estudo foi avaliar o processo de eleição de códigos de causa básica no SIM. A importância da exatidão na classificação da causa básica do óbito se justifica pela importância que este indicador apresenta: dos 18 indicadores de mortalidade selecionados pela RIPSA, todos têm como fonte de dados a causa básica do óbito (KANSO et al, 2011). A legislação brasileira, ao determinar que para as mortes suspeitas ou decorrentes de causas externas a DO deve ser preenchida por um perito legista mediante a realização de uma necropsia (Código de Processo Penal, art. 262), tem sido negligenciada pelo fato comum em vários estudos epidemiológicos sobre a 122 qualidade da informação da aposição deste campo com a natureza da lesão. Essa negligência técnica levou o MS, em fins da década de 90, a criar uma seção na DO para campos obrigatórios em casos de morte por causas externas (MELLO JORGE, GOTLIEB e LAURENTI, 2002). A OMS orienta que a classificação da causa básica do óbito deve se fundamentar na circunstância que deram origem a determinada afecção, sendo tabuladas e codificadas de acordo com o Capítulo XX da CID 10ª. Edição, englobando as codificações entre V01 e Y89 (OMS, 1995). As regras de seleção destas causas seguem a estes protocolos técnicos para garantir a comparabilidade internacional. A observação do estudo, além de identificar percentual baixo para preenchimento da “linha d” (3,89% dos registros totais), aponta uma inadequação da eleição da circunstância do óbito como causa básica. Segundo Mello Jorge, Gotlieb e Laurenti (2002), diante da fragilidade de classificação da causa básica dos óbitos, é possível estabelecer uma “rede de migração” de causas desconhecidas ou mal definidas, culminando com o refinamento das informações. A apropriação de métodos utilizados em estudo no estado de São Paulo permitiu, através do resgate de informações em laudos necroscópicos, registros de ordem policial e visitas domiciliares, aumentar sensivelmente a definição das causas básicas em mais da metade dos óbitos. Em estudo para avaliar a aplicação das Regras Internacionais de Classificação de Causa Básica, Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2009) observaram que, mediante a reclassificação das causas por médicos treinados para o estudo, houve alto percentual de concordância com a “verdadeira” causa. Primeiramente, estudaram a DO, em seguida: investigação domiciliar; entrevista com o médico assistente do falecido; prontuários médicos e laudos necropsias. Foram investigados 3.245 óbitos em 26 capitais brasileiras. Os médicos treinados para o estudo foram considerados como padrão-ouro do estudo. A população da análise foi de 1.315 casos (foram excluídos os óbitos com a causa básica como sendo a natureza da lesão, quando houve uma única causa básica declarada e quando não houve possibilidade de selecionar a causa básica). Os autores encontraram 1.164 óbitos com duas ou mais causas na DO, representando 88,5% do total, e apenas 11,5% com apenas uma causa descrita na DO. A seleção da verdadeira causa mediante os passos metodológicos da pesquisa mostraram ser possível a seleção correta 123 fundamentada nas Regras Internacionais. Em 90,6% dos casos, foi possível a classificação adequada, mesmo estando a DO incorreta. A gestão em saúde, dentro de suas atribuições, deve avaliar as possibilidades de treinamentos aos profissionais de saúde e da aquisição de ferramentas e demais recursos capazes de melhorar a qualidade das informações dos Sistemas de Informação. Foram observadas, juntamente à CEVEPI, tomadas de ações referentes ao enfrentamento das fragilidades da DO. Em 2009, Schoeps et al elaboraram estudo no município de São Paulo para avaliar a representação social dos profissionais de saúde sobre instrumento de coleta de dados do SIM, dentre eles a Declaração de Nascido Vivo e a Declaração de Óbito. Indicam que, apesar do profissional médico ser o único legalmente habilitado ao preenchimento da DO, é comum o preenchimento ser compartilhado com outros profissionais da saúde. E, ainda, apontam a percepção sensível e positiva da presença dos demais profissionais de saúde no processo na elaboração e gerenciamento do SIM. Nos resultados, encontraram, referentes às variáveis de informações da mãe (no caso de óbitos fetais), relatos de preenchimentos realizados por profissionais da admissão, internação ou Serviço de Atendimento Médico e Estatístico (SAME). Nos estudos que avaliam a concordância de causas básicas no SIM e demais fontes de registros, há a forte sugestão de se utilizar os quatro dígitos do CID-10, por propiciar uma codificação com maior precisão dos eventos relacionados à saúde (PEDROSA, SARINHO e ORDONHA, 2007). Seguindo esta premissa, evidenciou-se concordância frágil entre as codificações de causa básica do óbito entre DO e CEVEPI. No presente estudo, ao analisar a parceria entre os Serviços de Saúde, aponta-se a participação da Gestão Municipal no setor de Epidemiologia, Informação em Saúde, como determinante na codificação da Causa Básica do óbito por Causas Externas. Obteve-se na pesquisa a quase totalidade das informações originárias da DO ampliada e reestruturada pelos profissionais da CEVEPI, gerando a codificação oficial do SIM-Causas Externas. Evidenciam-se diferenças de codificação mediante a comparação entre CIDPEFOCE e CIDSMS atingindo proporções bastante altas (apenas 7,49% de coincidências entre códigos). Dentre os códigos gerados pela SMS, o de maior proporção dentre o total foi X95.4- Agressão por meio de disparo de arma de fogo não especificada- rua, estrada 124 (665 casos, representando 31,5% do total), em discordância com o gerado pela PEFOCE, sendo Y24.9 –Disparo de arma de fogo não especificada, intenção não determinada e local não especificado (689 casos, representando 32,6% do total). Houve fraca concordância entre códigos (Kappa de 0.069) no estudo. Ressalta-se que a decisão tomada no método da pesquisa de comparar o quarto dígito reduziu significativamente a concordância entre códigos. A especificidade do quarto dígito é garantida na implementação das informações pelos profissionais da SMS através de duas fontes: primeira, mediante a própria DO, através da leitura e análise da variável Local de ocorrência do óbito e, na ausência de preenchimento desta variável na DO, mediante as buscas externas, incluindo fontes virtuais de notícias. Somando-se a estas preocupações, resultados de fraca completitude da variável Local de ocorrência do óbito, propusemos uma discussão com os técnicos da CEVEPI, acerca de necessidade de sensibilização da Gestão do SIM para melhoria da completitude da variável em questão. Salienta-se que a variável Descrição do evento tem potencial de esclarecer informações sobre a causa básica do óbito. A presente tese identificou 81,3% de ausência de preenchimento nesta variável. Profissionais da CEVEPI tomaram a decisão de solicitar interlocução com as autoridades competentes para a melhoria do preenchimento da DO, possibilitando maior especificidade para a eleição de código, como indica a CID-10. Em visita, observamos a emissão de documento desta Célula às autoridades da gestão do SIM, estado do Ceará, solicitando informações mais fidedignas, considerando a relevância do local de ocorrência do óbito para elaboração de políticas públicas no combate à violência, sabendo que a simples denominação do endereço de ocorrência não é capaz de qualificar o local de ocorrência. Técnicos da CEVEPI solicitaram o encaminhamento da anuência em determinar à autoridade policial que especifique o local de ocorrência do acidente ou violência, possibilitando assim um preenchimento adequado e em conformidade com a orientação contida na CID-10. Esta orientação utiliza as seguintes subdivisões para indicar o local da ocorrência da causa externa: 0. Residência (casa, apartamento, casa de fazenda, pensão familiar e outros); 1. Habitação coletiva (acampamento militar, asilo, cadeia, lar da crianças e outros); 2. Escolas, outras instituições e áreas de administração pública (hospital, campus universitário, cinema, 125 clube, colégio e outros); 3. Área para a prática de esportes e atletismo (estádio, ginásio, quadra de esportes, piscina pública e outros); 4. Rua e estrada (rua, rodovia, calçada e outros); 5. Áreas de comércio e de serviços (aeroporto, banco, hotel, loja e outros); 6. Áreas industriais e em construção (central elétrica, plataforma petrolífera, usina de gás e outros); 7. Fazenda (edificações, terra cultivada e outros);.8. Outros locais especificados (açude ou lagoa, estacionamento, beira-mar, floresta, praia, rio e outros) e 9. Local não especificado. Esta tomada de decisão entra em consonância com o nosso estudo de tese, onde 89,7% da Fonte da informação captada na DO constituiu-se no BO, sendo, portanto, pertinente a orientação de profissionais envolvidos na rede de informação sobre mortalidade acima descrita pela solicitação de técnicos da CEVEPI. Chamam a atenção dois pontos frágeis que foram identificados na DO como subsídio para eleição de códigos de causa básica: primeiro, pela exigência da CID10, deve-se especificar o local da ocorrência do óbito em caso de causas externas. Em consequência, a variável Local de ocorrência necessitaria de uma excelente completitude, o que nosso estudo não identificou (houve ausência de preenchimento em 44,09% dos registros & o item “ignorado” em 0,25% dos registros). Segundo, não sendo disponibilizada para o técnico da CEVEPI essa informação na DO, restamlhes as fontes externas para possibilitar codificação precisa e eleição de código na tentativa de elegê-lo com exatidão e qualidade. Villela et al (2012) sugerem a vinculação de notícias como rotina na vigilância dos óbitos por causas externas por incorporar informações capazes de elucidar fatos ocorridos. A articulação dos serviços de saúde com a mídia poderia agregar valores na ampliação da qualidade da informação sobre mortalidade por causas externas. Carvalho et al (1990) buscaram a concordância na determinação da causa básica de óbitos menores de um ano no estado do Rio de Janeiro. Obtiveram, mediante a geração de uma nova DO (prontuários hospitalares), 90% de concordância entre as causas básicas dos óbitos. Nosso estudo não identificou preenchimento das variáveis relacionadas aos óbitos de menores de 1 ano. Drumond et al (1999) analisaram 550 DO provenientes do IML do estado de SP, no ano de 1996. Destes, 54% tinham sido codificados como acidentes sem especificação e os outros 46% como eventos de intenção não determinada. 20,9% dos óbitos codificados com acidentes sem especificação não tinham quaisquer dados que permitissem essa classificação. E, do total de óbitos codificados como 126 intenção indeterminada, 66,4% não traziam qualquer informação esclarecedora do tipo de causa. Autores questionam a importância da discussão das orientações para codificação de mortes por causas externas como acidentais. Determinadas especificações precisariam de uma perícia técnica. Dialogam, ainda, sobre as falhas no preenchimento das DO. Afirma a importância da implementação da busca de outras fontes de informação adicionais, como registros hospitalares e a imprensa. Estabelecem a relação entre a melhoria da qualidade de vida mediante a melhoria da qualidade das informações dos Sistemas de Informação, apontando para realidades sanitárias transparentes transformadoras do panorama atual da violência e dos acidentes (DRUMOND et al, 1999). Fajardo, Aerts e Bassanesi (2009) apresentaram estudo investigando acurácia da equipe responsável pelo SIM, no Sul do Brasil, em 2009. Justificam a pesquisa pela escassez de estudos similares no Brasil. Indicam apenas um estudo realizado em Taiwan no ano de 1994. Neste estudo, os autores encontraram concordância entre a codificação original e a da pesquisa (elaborada a partir de informação de prontuários médicos), para óbitos hospitalares, de acordo com CID-9, de 80,9% para o quarto dígito e 83,9% para o segundo. A medida da acurácia pode ser calculada a partir do quociente entre o total de casos adequadamente selecionados (sensibilidade) ou não (especificidade) pelo total de casos estudados. A ideia que gerou o norte para a realização da presente tese adveio da constatação de uma importante fragilidade e debilidade de preenchimento dos formulários do SIS-SUS, em especial a DO. A codificação originária exclusivamente das informações da DO seria “hipoteticamente” frágil, mediante a revisão de literatura realizada no desenvolvimento do projeto de tese. E, ao término do estudo, a ideia embrionária do norteamento da pesquisa foi plenamente corroborada. Tanto a completitude, quanto a análise descritiva dos tipos de causas descritas apontam para necessidades urgentes de treinamentos técnicos e sensibilização quanto à importância de se garantir maior confiabilidade ao sistema de informação. Debatendo sobre os tipos de causas dos óbitos de residentes de Fortaleza e os homicídios, ano 2010. 127 As causas externas de morbidade e mortalidade englobam lesões decorrentes de acidentes de trânsito, afogamentos, envenenamentos, quedas, assim como a violência abrange homicídios, suicídios e abusos sexuais. Segundo informações do Ministério da Saúde, fonte do Departamento de Informática, DATASUS, para o ano de 2010, a mortalidade por causas externas constituiu-se terceira causa mais frequente de óbito no Brasil. Importante ressaltar que, na avaliação dos estratos, representa a primeira causa para o grupo de pessoas na faixa etária entre 10 e 39 anos (BRASIL, 2014). Waiselfisz (2013) chama atenção para a evolução histórica da mortalidade violenta no Brasil (1980-2011), enquanto as taxas de mortalidade para o conjunto da população caíram 3,5%, as mortes por causas externas aumentaram 28,5%. E, ainda, dentre estas causas, os homicídios cresceram 132,1%; em segundo lugar os suicídios, 56,4%; e os acidentes por transporte, 28,5%. Pode-se fazer um paralelo com a realidade do município de Fortaleza na série histórica apontada no Anexo B. O panorama local apresenta-se deveras mais grave, visto que, no período entre 1990 e 2013, os homicídios cresceram de 519 para 3213, representando o alarmante incremento de 619%. Nosso estudo identificou, dentre a codificação oficial do SIM, o homicídio como sendo a principal causa de óbitos por causas externas em residentes de Fortaleza, totalizando 1202 óbitos, representando 56,99% do total, a partir da codificação do SIM. Waiselfisz (2013) faz uma avaliação do número de homicídios na população total brasileira por UF e região no decênio 2001-2011. Em todo período estudado as duas regiões com maior número absoluto de óbitos por estas causas são a Sudeste e a região Nordeste. Destaca-se que em detrimento a um decréscimo de 40,1% dos casos na região sudeste, a Nordeste apresentou acréscimo de 83,7% nos números absolutos entre o período. Mansano et al (2013) realizaram estudo ecológico e estudaram a magnitude e a distribuição do risco de morte precoce por homicídios em adolescentes e jovens do sexo masculino no Paraná e em Santa Catarina, 2001-2010. Utilizaram indicadores geográficos, demográficos, de desigualdade social (Gini) e socioeconômicos. Dentre 692 municípios estudados, quase 70% eram de pequeno porte populacional. Em relação à localização geográfica, o Paraná apresentou os maiores valores medianos das taxas de mortalidade. Quanto ao porte, as taxas 128 medianas apresentaram tendências ao aumento segundo o porte populacional. Com relação ao índice de Gini, os grupos de municípios onde a desigualdade foi maior apresentaram maiores medianas das médias trienais das taxas de homicídios. Interessante a observação da maior magnitude e crescimento das medianas das taxas de morte por homicídios entre os municípios com maior densidade intradomiciliar. Na avaliação descritiva da variável tipo de morte, nosso estudo aponta a seguinte descrição com proporções dentre o total de óbitos estudados: homicídios (60,29%); acidentes (26,62%); suicídio (5,64%); ignorado (6,32%). Salientamos para a fragilidade de completitude desta variável, que se apresentou com 67,76% (1429) dos registros sem preenchimento. Costa et al (2013) estudaram a evolução da mortalidade por causas externas no RS, entre 1996-2009. No período estudado, observam decréscimo de todas as causas de óbitos, exceto dos homicídios que apresentaram elevação de 11% no período estudado (verificou-se aumento das mortes com significância estatística em Pelotas e no RS para homicídios entre homens de 15 a 39 anos de idade). Na avaliação do estado do RS foi encontrado maior número de mortes por causas externas em homens, quando comparados às mulheres, em todo o período estudado. As taxas de óbitos mais elevadas se concentraram para o estrato de idade maior e 39 anos, para ambos os sexos. Segundo Waiselfisz (2013), embora a interiorização da violência seja observada em todo país, as taxas de mortalidade proporcional por causas externas, em especial homicídios, tem níveis mais elevados nas capitais quando comparadas às cidades do interior. As taxas de homicídios, no Brasil, apontam esse panorama de distribuição, apresentando, todavia, importante redução de diferenças entre capital e interior para o período entre 1980-2011 (em 1980 essa diferença representava 57,5% e 2011, 34,2%). Apresentamos a análise descritiva dos homicídios, de acordo com a codificação do SIM, que corrobora com inúmeros estudos brasileiros (MACEDO, 2001; WAISELFISZ, 2013; MANSANO et al, 2013), onde a ocorrência dos homicídios demonstra o seguinte perfil epidemiológico: 47,3% dos homicídios ocorreram com adultos; 93,6% com homens; 88,3% sem vínculo conjugal; 47,8% com escolaridade entre 4 e 7 anos; 76,1% possui trabalho; 61,3% sem assistência médica; 58,8% ocorreram em via pública; 79,0% tendo como bairro de residência 129 bairros de renda média e 82,5% o bairro de ocorrência sendo os bairros com classificação de renda média. Mokdad et al (2004) em estudo sobre causas de mortes definidas nos estados unidos da América identificaram uma proporção descendente entre mortes violentas por uso de arma de fogo no período compreendido entre 1990 e 2000, sendo estes percentuais reduzidos pela metade dos casos no período. O declínio ocorreu principalmente pela redução dos homicídios e eventos de intenção indeterminada. Buscando associação entre homicídio e variáveis sociais, autores encontraram a maior taxa de homicídio para homens entre 15 e 39 anos de idade. Diversos estudos apontam a violência como reflexo de baixas condições socioeconômicas, desigualdades na distribuição de riquezas, iniquidades na saúde, da vulnerabilidade social e da desorganização urbana (MACEDO et al, 2001; BARRETO e CARMO, 2007; COSTA et al, 2013). Almeida et al (2013) & Barreto e Carmo (2007) elegem o indicador APVP como indicador de ampla abrangência, capaz de desvelar no âmbito da Epidemiologia três grandes medidas, dentre eles a magnitude, a transcendência e a vulnerabilidade. O indicador torna transparente na avaliação sanitária o impacto da morte precoce gerando a possibilidade de viver e contribuir para a sociedade de forma intelectual e econômica, traduzidos pela diferença entre o limite superior estabelecido e a idade no momento do óbito. Mediante avaliação deste indicador, pode-se ter uma leitura da necessidade de implantação de estratégias interinstitucionais, multidisciplinares e integrativas, envolvendo a sociedade civil, os setores saúde, trânsito, educação e trabalho no estímulo da cultura de paz. A tese, mediante regressão logística, indicou fatores de risco para homicídio. Dentre as variáveis testadas no modelo final, apresentaram-se como fatores de risco ao homicídio pertencer às categorias: adolescente (OR ajustada: 18,44; I.C.95% entre 9,57- 35,54); masculino (OR ajustada: 2,83; I.C.95% entre 1,92- 4,19); sem vínculo conjugal (OR ajustada: 1,58; I.C.95% entre 1,14- 2,18) e bairro de ocorrência de renda menor (OR ajustada: 5,13; I.C.95% entre 2,13- 12,36). Soares Filho et al (2007) realizaram uma análise da mortalidade por homicídios no Brasil entre os anos 1980 a 2003. O estudo utilizou como fonte de dados o SIM e IBGE e aponta a magnitude dos óbitos por homicídio, fatores associados e a tendência temporal. Em 2003, ocorreram 49.808 homicídios no Brasil. Com relação à completitude, houve perda de 39% para escolaridade. Do total 130 de homicídios, 92% ocorreram no sexo masculino, 50% população parda, 40% entre 20 e 29 anos. O risco de óbito por homicídio foi de 28 por 100.000 habitantes, sendo 12 vezes maior entre os homens. Ao analisar estudos pautados na avaliação da morbidade por causas externas, evidencia-se o estudo de Lignani e Villela (2013) sobre o impacto da morbidade por causas externas em Belo Horizonte, 2008-2010, apontam que, dentre os principais agravos (quedas, acidentes de transporte e homicídios), as internações hospitalares no Brasil por acidentes e violência apresentaram aumento progressivo no período compreendido entre 2000 e 2010, com destaque aos acidentes de trânsito e as quedas, merecendo o desenvolvimento de ações de promoção da saúde e prevenção desses agravos. No Brasil, apesar do incremento dos veículos automotores quase duplicar no primeiro decênio do último século, as taxas de óbitos demonstraram curvas descendentes, o que pode indicar mudanças no comportamento no trânsito. A introdução do Novo Código de Trânsito Brasileiro e mudanças no padrão de morbidade e letalidade das lesões em consequência da melhoria da assistência à saúde podem justificar esse padrão epidemiológico (COSTA et al, 2013). Lima et al (2013) analisaram a tendência de mortalidade por acidentes envolvendo motocicletas no Pernambuco, 1998-2009. Do total de óbitos por Acidentes de Transporte Terrestres (ATT) no período estudado, 17,6% forma por acidente de motocicleta. Importante refletir sobre a diferença na razão de sexo para os limites do período. Estas variaram entre 5,7 e 15,1. A tendência da mortalidade por acidentes de motocicleta revelou um crescimento médio anual de 0,3 óbitos por 100 mil habitantes em Pernambuco (p value<0,001). Almeida et al (2013) citam como uma das principais características dos ATT no Brasil como o padrão epidemiológico da sobremortalidade masculina e sua maior incidência na faixa etária dos adultos jovens, entre 20 e 39 anos de idade. Em estudo sobre mortalidade por ATT ocorridos em residentes em Pernambuco, 2007, chamam atenção para a alarmante média de APVP de 35,10 anos, sendo a maior proporção dos ATT envolvendo motociclistas. Em média, os motociclistas perderam 39,34 anos de vida, sendo os homens motociclistas os que mais perderam. No estudo de tese, aponta-se o descritivo dos óbitos por acidentes de transporte (representando a segunda principal causa de óbito), de acordo com a codificação do SIM, temos o seguinte perfil epidemiológico: 81,8% foram homens; 131 64,4% sem vínculo conjugal; 36,3% com escolaridade entre oito e 11 anos; 82,8% possui trabalho; 49,21% ocorreram no hospital; 85% tendo como bairro de residência bairros de renda média e 94,3% o bairro de ocorrência sendo os bairros com classificação de renda média. Os dados corroboram inúmeros estudos brasileiros (PORDEUS et al, 2010; LIMA et al, 2013; ALMEIDA et al, 2013). A magnitude do problema dos ATT no Brasil pode ser reconhecida pelas altas taxas de mortalidade por esta causa. Em 2010, o Brasil apresentou a taxa de mortalidade de 21,5 por 100 mil habitantes, acima da média mundial (19 por 100 mil habitantes). Comparados os dados com as médias de países de alta e baixa renda, sendo, respectivamente, 12,6 por 100 mil habitantes e 20,2 por 100 mil habitantes (BRASIL, 2014). Pordeus et al (2010), em estudo sobre ATT e fatores associados no estado do Ceará, apontam a ocorrência no interior para a maioria dos acidentes (66,1%) no estado do Ceará, ano de 2007. O estudo corrobora a tendência da interiorização da mortalidade por ATT envolvendo motocicleta, correspondendo ao fato de que a proporção de óbitos por acidente de motocicleta diminui à medida que o porte populacional aumenta. Segundo Pavarino Filho (2013), para se atingir impactos eficientes na redução da morbimortalidade por ATT deve-se intervir em processos determinantes, tais como: planejamento urbano; plano diretor de transportes; prioridade para o transporte público; garantia dos direitos do cidadão; dentre outros. Em conformidade, salienta como essencial a incorporação da promoção da saúde na política de redução dos ATT. Lima et al (2013) e Pavarino Filho (2013) discutem o reflexo dos ATT como resultado da exacerbação da violência social que ganha expressão singular na população brasileira na última transição secular. Como efeito sinérgico, apontam a globalização, com suas características transformadoras da Economia, e um processo de urbanização desordenado e gerador de grandes iniquidades sociais. Diversos autores apontam como aspectos positivos para a redução das mortes por acidentes de transporte terrestre a implantação de Leis de caráter mais punitivo, como a “Lei Seca”. A manutenção do padrão epidemiológico ainda preocupante pode ser explicada pelo fraco investimento em infraestrutura e educação, e pelo incentivo e facilitação ao consumo destes bens. Mudanças no paradigma da segurança no trânsito e ampliação da utilização de medidas de 132 Promoção à Saúde poderão reduzir significativamente as mortes por estas causas (ALMEIDA et al, 2013; LIMA et al, 2013). Para o enfrentamento deste desafio, faz-se necessária a implementação de políticas de prevenção de acidentes e violência. A DO se constitui como o instrumento padrão de coleta primária de dados responsável pela alimentação no Sistema de Informação sobre mortalidade, gerando indicadores da linha da vida. Vários estudos foram propostos no Brasil para avaliação da qualidade e confiabilidade deste instrumento. A DO, como instrumento documental de estatística demográfica, constitui-se como um dos principais documentos para análises da epidemiologia moderna. É reconhecida como ferramenta essencial para programação, monitoramento e avaliação das ações e investigações epidemiológicas. Justificando-se desta forma a veemente necessidade da garantida de sua fidedignidade. A cobertura e a confiabilidade devem ser características essenciais para garantir credibilidade ao SIM. Sobre a qualidade dos dados do SIM, inúmeros estudos têm mostrado ser insatisfatório o preenchimento da DO. Este formulário deve ter todos os seus itens respondidos, e o fato do não seguimento a esta regra fundamental imputa em baixos níveis de qualidade da informação (RIOS et al, 2013). Debatendo sobre Análise Espacial dos homicídios e bairros de ocorrência dos óbitos de residentes de Fortaleza, ano 2010. Para melhorar a compreensão da distribuição dos óbitos por violência no Brasil e regiões, tem-se identificado a descrição espacial dos indicadores de mortalidade. Análises são feitas a partir da malha cartográfica municipal e estadual, obtidas no sítio eletrônico do IBGE. Autores demonstraram distribuição espacial do risco de morte por homicídios para maior vulnerabilidade nos municípios próximos às rodovias entre fronteiras. Consideram que possivelmente o problema se explique pelo fato das atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e de armas. Também verificaram maior concentração entre municípios de maior porte populacional e de maior proporção de população negra (MANSANO et al, 2013). MACEDO et al (2001) buscaram compreender a relação entre indicadores sociais e violência em Salvador, BA. Para isto, os autores realizaram um estudo de 133 agregados, no período entre 1991 e 1994, identificando uma distribuição desigual dos homicídios no espaço urbano de Salvador. As áreas com piores indicadores concentraram as mortes por homicídios. O estudo reflete o risco de morte por homicídios nas populações residentes em áreas com baixas condições de vida e não no grau de periculosidade dessas áreas, visto que a referência do estudo foi o local de residência e não de ocorrência do óbito. Na avaliação da distribuição espacial, o presente estudo não evidenciou correlação de áreas circunvizinhas, mediante o índice de Moran Global. Na distribuição das taxas de homicídios por bairros de ocorrência, tem-se cinco bairros com taxas de 101 a 150 por 100.000 habitantes e dois bairros com taxas entre 201 e 550 por 100.000 habitantes. Esta análise possibilita a identificação de áreas geográficas dos eventos relacionados aos óbitos por causas externas, sendo possível apontar grupos populacionais com maior vulnerabilidade, demandando uma atenção prioritária no escopo das políticas públicas. Estratégias para melhoria da informação sobre mortalidade nos serviços de saúde incluídos no SIM. Como proposta de modelo para melhoria das informações sobre os óbitos por causas externas no município de Fortaleza-CE, pontua-se a seguinte sistematização: i. identificação dos profissionais envolvidos direta e indiretamente com o processo de geração e coleta dos dados sobre mortalidade, ii. treinamento técnico destes profissionais envolvendo: sensibilização da importância do tema; identificação de fragilidades no Sistema local e nacional com Estado da Arte; compreensão das variáveis que compõem o instrumento e da totalidade que compõem os SIS-SUS; iii. treinamento técnico dos profissionais médicos atestantes no que tange ao descrito acima somado treinamento específico sobre CID-10, codificação de causa básica fundamentado na classificação dos óbitos mediante as circunstâncias dos eventos e não a natureza das lesões; iv. disponibilização da TI para possibilitar aos técnicos da CEVEPI linkages de banco de dados capazes de garantir a qualidade das informações sobre os óbitos por causas externas. 134 7. CONCLUSÃO Por fim, percebe-se na avaliação das informações sobre óbitos por causas externas: uma fragilidade da qualidade que pode ser expressa por um conjunto de variáveis com classificação de completitude baixa; no qual questiona-se o papel do médico atestante dentro de suas atribuições profissionais e legais na verificação do óbito por causa externa; disparidades e inconformidades de codificação de causa básica da pesquisa com a codificação oficial, donde o indicador de medição de concordância Kappa aponta o valor de 0,069, donde a partir da verificação do quarto dígito, partindo-se de um ponto de maior especificidade de eleição de códigos, verifica-se uma discrepante e fraca concordância, dentre percentual em proporção e medidor Kappa. Neste processo, verifica-se uma lacuna importante de especificidades inerentes a CID-10 preenchidas na DO. Além da completitude baixa, variáveis do instrumento fundamentais e específicas de óbitos por causas externas passando como inexistentes no caminho do preenchimento. Além de um processo de eleição da causa básica junto à CEVEPI apresentando dificuldades incontáveis para eleição do código de causa básica dos óbitos utilizando o quarto dígito da CID10, posterior ao ponto. Dentre estas dificuldades, avalia-se todo o processo de preenchimento das variáveis da DO, e do próprio processo metodológico do sistema municipal ligado ao SIM. Evidencia-se, numa avaliação de componentes, haver uma enorme falta de exatidão e de cumprimento às recomendações oficiais de Classificação da Causa Básica mediante as circunstâncias do óbito, além da incompletude da variável Local de ocorrência do óbito, impossibilitando o processo de eleição exato da codificação, de acordo com o requisitado pela CID-10. Na apreciação dos fatores de risco para os homicídios, pode-se extrapolar os achados para discussão na orientação de políticas públicas capazes de reverter o lastimável quadro epidemiológico do nosso município. Trabalhar os mais vulneráveis está justificado nos níveis de evidência de ações exitosas. A distribuição espacial de bairros de ocorrência identificou bairros mais violentos e ausência de relações circunvizinhas. Como “retroalimentação” ética dos resultados da pesquisa, orientar-se-ão a sensibilização e o treinamento técnico dos profissionais envolvidos direta e 135 indiretamente na composição do SIM, pactuações de responsabilidades, incluindo linkages de bancos de dados para favorecer o melhor trabalho dos técnicos da CEVEPI. O retorno às instituições PEFOCE e SMS será feito com a apresentação dos Resultados da pesquisa, bem como o depósito da Tese nos Centros de Estudos. 136 REFERÊNCIAS ABML. Associação Brasileira de Medicina Legal. Especialista. 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Em intervalos mensais, a PEFOCE Fortaleza encaminha à CEVEPI-SMS as Declarações de Óbitos emitidas por esta instituição referentes a um determinado mês. Uma a uma, cada DO é lida, são verificadas as variáveis de sua composição e se inicia uma série de procedimentos de complementação (Processo I), codificação (Processo II) e digitação dos dados no Sistema de Informação sobre Mortalidade Causas Externa- SIM-SUS (Processo III). Para os processos iniciais desta função, há uma funcionária de nível médio que é responsável pelos processos I e II, donde os realiza ao longo de uma jornada de um dia típico de trabalho de oito horas diárias, dividindo o ambiente de trabalho com mais quatro funcionários responsáveis por outros Sistemas de Informação do SUS. Para a realização do processo III, há uma funcionária exclusiva para esta função, de nível médio, com jornada de oito horas de trabalho diárias. Descrição do Processo I- complementação das informações A PEFOCE Fortaleza encaminha juntamente às vias das DO que ficam retidas nesta Secretaria, por meio online, uma planilha com os registros de todos os óbitos ocorridos no mês de referência. Nesta planilha, constam as seguintes informações: nome; tipo de morte; descrição do objeto; estado civil; grau de instrução; data do exame; data da ocorrência; nome da mãe; local de ocorrência e procedência da vítima. Estas informações são elaboradas pela PEFOCE a partir dos laudos de necropsia. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do estado do Ceará (SSPDS-CE) disponibiliza à CEVEPI de Fortaleza um site de buscas de informações 151 das ocorrências de todos os óbitos registrados. A partir do ano e mês da ocorrência, a Célula inicia sua busca de complementação das informações referentes ao tipo de morte. Esta busca, por intermédio do site da SSPDS-CE, inicia-se a partir da variável identificadora “nome” e segue partindo de cada subtipo de ocorrência de Causas externas, sendo estas: homicídio; acidente de trânsito; morte indeterminada; causas acidentais, suicídio e outras causas. Avalia-se a seção VI (Condições e Causas do óbito) da DO, no subitem causas da morte parte I (itens a, b, c e d) o qual contempla a determinação da Causa do óbito. Procede-se, assim, à seção VIII (Causas Externas). Nesta última seção, a variável de número 48 apresenta os itens a serem marcados, sendo: 1acidente; 2- suicídio; 3- homicídio; 4- outros e 9- ignorado. Nas situações em que não há nenhum item marcado na seção VIII; nos casos em que há marcação, mas com ausência de especificação por escrito do tipo da circunstância da morte não natural (exemplos: marca-se o item 1-acidente, mas não se especifica o tipo de acidente, ainda, se 2-suicídio, mas não se especifica como foi elaborado o evento); e na ausência na identificação da causa básica do óbito na seção V, inicia-se o processo de complementação das informações da DO. Segue-se então aos seguintes passos: 1º passo- busca na planilha da PEFOCE; 2º passo- busca no site da SSPDS-CE. Na busca utilizando a planilha da PEFOCE, se não houver elucidação do tipo de morte, ou, ainda, havendo achados de incoerência, recorre-se ao site da SSPDSCE. São classificadas como incoerência de informações as causas descritas como Indeterminada ou Causas Acidentais. As variáveis mais utilizadas para essa busca na planilha são o tipo de morte e a descrição do objeto. Se houver ampliação da busca ao site da SSPDS-CE, a causa deve ser determinada a partir deste último passo na complementação de informações. Esta deverá ser feita no espaço da variável de número 51 da seção VIII e sempre a lápis pela impossibilidade legal de se alterar um documento médico. Se, após esses dois passos da complementação de informações, a causa básica estiver inconsistente aos dados da DO, e estando o item 48 vazio, descrevendo após a causa encontrada e formulada pós-complementação a seguinte expressão: “Segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado do Ceará”. Na situação em que a variável de número 48 estiver descrita e, mediante as buscas, houver achado de inconsistências, apurando a uma causa básica diferente 152 da descrita, mantém-se a descrição da DO e se omite a resultante da busca. Descrição do Processo II- codificação Ao avaliar a seção VI da DO, as descrições dos itens a, b, c e d contemplam a determinação da Causa do óbito. Cada um dos itens (a, b, c e d) gera um código, que é referenciado mediante a classificação da CID-10. Exemplificaremos algumas situações pela adequação na compreensão do processo. Situação 1- Seção VI (Condições e Causas do óbito) da DO (Causas da morte parte I) a- Traumatismo crânio encefálico- CID S06.9 b- Ação contundente- o processo II classificaria como “evento não especificado” CID Y34.9. *Este código Y34.9 só será registrado no caso em que a busca da complementação tiver chegado a Causa Indeterminada. Caso contrário, entrará o código da causa que foi complementada no processo I. Situação 2- Seção VI (Condições e Causas do óbito) da DO (Causas da morte parte I) a- Ferida penetrante no tórax- CID S 21.9 b- Ação pérfurocontundente- o processo II classificaria em “evento não especificado” CID Y 34.9. *Este código Y 34.9 só será registrado no caso em que a busca da complementação tiver chegado a Causa Indeterminada. Caso contrário, entrará o código da causa que foi complementada no processo I. Se o resultado da complementação chega a Homicídio por bala, entrará o CID deste com a obrigatoriedade de circular o entorno deste código sempre a lápis. Situação 3- Seção VI (Condições e Causas do óbito) da DO (Causas da morte parte I) 153 a- Politraumatismo- CID T07 b- Ação contundente- o processo II classificaria em “evento não especificado” CID Y 34.9. *Este código Y 34.9 só será registrado no caso em que a busca da complementação tiver chegado a Causa Indeterminada. Caso contrário, entrará o código da causa que foi complementada no processo I. Se a complementação encontra como causa Acidente por atropelamento, entrará o CID deste com a obrigatoriedade de circular o entorno deste código sempre a lápis. Descrição do Processo III- digitação São digitados os códigos da seção VI e VIII. Se, ao passo da digitação, o código não corresponder no programa oficial de busca com o descrito na DO havendo assim inconsistência, retorna-se ao profissional responsável pela complementação e codificação dos registros e é feita a confirmação das informações. 154 ANEXO A 155 ANEXO B 156