Proposta à Assembleia Geral de Sócios do SPGL de 8 Junho, 4ªF Face à gravidade e injustiça dos ataques governamentais, a nossa primeira resposta: greve aos exames nacionais do próximo dia 17 e garantir a participação das escolas e professores nas decisões sobre a continuação da luta… 1 – Os protestos que acolheram os “esclarecimentos” do engenheiro Sócrates na própria assembleia de militantes socialistas realizada na 6ª passada, dia 3 de Junho, em Setúbal, sobre a alegada justeza das propostas do seu governo para os trabalhadores da Administração Pública evidenciam a onda de indignação que percorre a generalidade do sector e mostram ainda as grandes possibilidades de construirmos uma frente unida e de luta pela defesa dos nossos direitos e melhoria das actuais condições de trabalho. É caso para dizer que, se só após colher os votos e ser eleito é que o Engenheiro Sócrates descobriu a gravidade do défice e a necessidade de ‘mandar às urtigas’ as suas promessas eleitorais, também temos o direito de descobrir agora o verdadeiro engenheiro Sócrates… 2 – À medida que a indignação sobe, a campanha governamental de que “todos irão pagar a crise” vai abrindo brechas e é obrigada a largar alguns (dos seus muitos) anéis, tentando manter o essencial. Tal como no passado, e sob diversos governos, é a generalidade dos trabalhadores, nomeadamente os professores, que é obrigada novamente a pagar a crise provocada pelos diversos governos e liberalismo selvagem. Os famosos “privilégios” da Função Pública que andam tanto na boca dos ministros e de alguma imprensa são afinal o que resta, após muita luta e resistência nossa, de sucessivos ataques ao nosso salário, ao sistema de aposentação (que o diga Ferreira Leite…), à estabilidade de emprego e ao próprio emprego de milhares de professores (a que se juntam os baixíssimos salários dos jovens colegas em início de carreira), às condições de trabalho dignas de trabalho … O primeiro ministro e o ministro das finanças afinal também usufruem de uma outra acumulação: a da hipocrisia com a prepotência… 3 – É uma afronta à nossa inteligência e honestidade que o governo do Engenheiro Sócrates se sinta autorizado pelo voto de 19 de Fevereiro para fazer aquilo que Santana Lopes já não estava em condições políticas para levar a cabo: congelamento das carreiras, aumento generalizado da idade de aposentação para 65 anos, não pagamento do trabalho-serviço lectivo inserido nos estágios dos estagiários, novo regime de carreiras e remunerações, redução da protecção na doença, aumento do IVA, abaixamento do nível social e económico do conjunto da população com reflexos imediatos na sua disponibilidade para o investimento na educação,… 4 – É falso que estas medidas sejam passageiras. A crise do liberalismo económico mais desumano que anima os governos europeus – e que esteve afinal na raíz do “não” em França e na Holanda – é permanente e prevalecerá enquanto os poderosos impuserem as suas soluções. Mas há uma alternativa pela qual vale a pena também lutar: medidas consequentes contra a fuga aos impostos e os verdadeiros privilégios e mordomias escondidas; taxação exemplar das grandes fortunas, manobras financeiras e bolsistas que não criam emprego nem nova riqueza e sobre as empresas que praticam a deslocalização; levantamento imediato do segredo bancário; investigação e penalização dos responsáveis de empresas que as descapitalizam a seu favor particular; criação de novos empregos e investimento produtivo, diminuindo assim o desemprego e a necessidade de subsídios e fortalecendo a segurança social… A própria bandeira da obediência cega aos ditames economicistas de Bruxelas perde velocidade perante a actual e evidente desorientação dos seus responsáveis… 5 – A oposição dos professores e restantes trabalhadores da Administração Pública a estas medidas terá que ser unida e frontal porque o governo está a representar o conjunto das forças e interesses daqueles que têm governado o país nos últimos anos. Esta política é a tradução para a Administração Pública do ‘Pacote Laboral’ de Durão Barroso que aumentou dramaticamente nas empresas o liberalismo nos direitos. Apenas uma luta forte, unida e democrática pode fazer o governo recuar. Contudo, mais do que nunca, os métodos de luta tradicionais, burocráticos, não serão suficientes para impor aquele recuo. É preciso discutir em cada escola e local de trabalho as medidas governamentais, as suas consequências, mas também debater formas de luta combativas, organizar nas escolas - e mesmo entre escolas - comissões para a luta e unidade e por fim decidir as formas de luta globais. Devem ser as escolas e professores a mandatar as direcções sindicais e não o contrário. Cada professor e cada escola tem agora a possibilidade e responsabilidade de dar uma lição sobre como se luta a sério para defender uma educação de qualidade para todos os portugueses e com profissionais respeitados. A greve aos exames nacionais do próximo dia 17 é o primeiro passo de uma luta que tem que ser construida democraticamente em cada escola. Assim, para a Assembleia Geral de Sócios do SPGL de 8 de Junho, 4ªF, propomos: 1 – Aprovar e apelar a todos os professores, de todos os graus de ensino, para a realização de uma greve no próximo dia 17 de Junho, 6ªF, assumindo desta forma a greve aos exames nacionais previstos para aquela data, mandatando as direcções sindicais para actuarem conforme esta decisão, nomeadamente no que se refere ao cumprimento da Lei da Greve a) Apelar à participação na manifestação convocada pelas diversas direcções sindicais para o mesmo dia na parte da tarde; 2 – Apelar a todos os professores e escolas para iniciarem desde já o debate sobre as propostas governamentais e suas consequências para a classe, sobre as formas de continuação da luta e criação e eleição de comissões sindicais dinamizadoras que acompanhem e participem nas decisões relacionadas com o processo reivindicativo 3 – Realizar, até o final do actual mês de Junho, um Plenário Geral de Professores, sindicalizados ou não, convocado de forma ampla e massiva, com apresentação prévia de propostas por parte das escolas, professores, estruturas sindicais, etc., para debater a situação reivindicativa e aprovar novas formas de luta. 4 – Propor à classe docente, aos diversos sectores da Administração Pública, e a todas as direcções sindicais uma Greve Geral da Função Pública também a realizar até ao final do corrente mês de Junho. Lisboa, SPGL, 6 de Junho 2005 Movimento www.reinventar-o-spgl.online.pt