Formação de Dirigentes Através de uma Abordagem Interdisciplinar e Polidisciplinar: uma Experiência no Ensino da Graduação na PUC-Campinas Autoria: José Eduardo Rodrigues de Sousa, Celeste Aida Sirotheau Corrêa Jannuzzi, Cibele Roberta Sugahara RESUMO Relato de uma experiência didática orientada por uma abordagem interdisciplinar e polidisciplinar envolvendo disciplinas do curso de graduação em Administração da PUCCampinas. Discorre sobre um trabalho conjunto desenvolvido pelas disciplinas, que em torno de um objeto comum busca proporcionar ao aluno uma experiência real na elaboração de um plano estratégico para uma micro ou pequena empresa existente no mercado, visando à assimilação efetiva da teoria discutida em sala de aula. Discute as estratégias educacionais adotadas no desenvolvimento das atividades como fator relevante para a capacitação do administrador. O texto conclui que o experimento adotado permite ao aluno uma experiência concreta em seu aprendizado, contribuindo para a sua formação como administrador. 1 INTRODUÇÃO As pessoas nas empresas ganham cada vez mais importância pelo seu peso em influenciar o alcance das metas e contribuir para que a organização obtenha vantagem competitiva. Assim, saber ler o ambiente além do óbvio, ouvir o inaudível desde o pensamento dos subordinados até o franzir de cenho do cliente, portar-se à frente dos negócios e entender os sentimentos e formação do raciocínio das pessoas situadas nos diferentes níveis hierárquicos apresentam-se como conhecimentos inerentes à formação dos profissionais de escopo, líderes em suas áreas de atuação administrativa. A formação dos gestores dessa estirpe precisa ir além de sua experiência e deve ter início nos bancos escolares, com atividades que desafiem seu potencial criativo. O caminho que as universidades, em seus cursos de Administração, trilham para atingir esse objetivo é rico em alternativas e em seu universo observa–se a existência de um ambiente propício para reflexões e inserções de novas práticas de ensino, visando melhorias para a transferência e aquisição de conhecimentos. A estrutura curricular apresentada pelos cursos universitários em geral segue a linha da organização disciplinar instituída no século XIX e consolidada no século XX, frente ao progresso da pesquisa científica no período (Morin, 2002). Embora a divisão disciplinar adotada nos cursos de graduação contribua para o domínio de competência de uma dada área do conhecimento, suas fronteiras (linguagem, conceitos próprios) também corroboram para o isolamento da [...] disciplina em relação às outras e em relação aos problemas que ultrapassam as disciplinas (Morin, 2002, p.38). Assim, é nesse contexto de especialização do conhecimento, acrescido ainda do cenário de globalização econômica, de redes de comunicação, etc., que conceitos como a interdisciplinaridade e a polidisciplinaridade se fazem obrigatoriamente presentes nas discussões da área educacional. O primeiro, interdisciplinaridade, por defender a importância de um estudo integrado em torno de um objeto (Durand, 1993) e o segundo, polidisciplinaridade, por se desenvolver nesse mesmo sentido, mas acrescido da necessidade de que esse objeto de estudo seja comum às diferentes disciplinas envolvidas no processo (Morin, 2002). 1 No processo de ensino e aprendizagem, a interdisciplinaridade e a polidisciplinaridade tem o importante papel de integrar, por meio de troca e cooperação, as diferentes disciplinas, transpondo suas fronteiras e estabelecendo uma visão sistêmica do conhecimento, sem que haja perda de identidade das diversas áreas. Para as instituições de ensino superior, o ambiente propício para a adoção dessas abordagens se dá não somente entre os diferentes cursos oferecidos por elas, mas também no interior de cada um de seus cursos, cujo conteúdo também se apresenta fragmentado em disciplinas menores, pontuais, que, por muitas vezes, não revelam a articulação que necessariamente deve existir entre elas. Qualquer curso oferecido no ensino superior é idealizado e estruturado em partes (conteúdos diferentes que formam um todo/disciplinas menores) que contribuem para o entendimento global e específico de uma dada área. Entretanto, apesar dessa premissa, a realidade que se constata é a repetição do que ocorre na relação entre diferentes áreas do conhecimento, ou seja, o isolamento das partes, prejudicando, dessa forma, a compreensão do todo almejado na elaboração do curso. Para os cursos de Administração, diante das exigências do mercado de trabalho para seus egressos, torna-se relevante que a capacitação dada a seus alunos vislumbre, além do campo de conhecimento específico da Administração, o envolvimento de conceitos advindos de outras áreas do conhecimento. Tal entendimento tem como premissa o fato de que, no exercício da administração, para o indivíduo interagir com as diversidades do ambiente interno e externo das organizações ele necessita, além do conhecimento específico de Administração, de outros conhecimentos como Psicologia, Economia etc., caracterizando dessa forma a importância da interdisciplinaridade nas práticas de ensino e pesquisa da área. Saber pensar, tomar decisões e saber aprender são necessidades básicas para o bom desempenho do gestor nos dias atuais. (Freitas e Amorim, 2000; Lima; 2000). Tais funções, pertinentes à formação do estudante em qualquer nível de ensino e em qualquer área do conhecimento, incitam a preocupação sobre a prática educacional adotada nas instituições de modo geral. No campo de ensino, as técnicas didáticas têm sido incrementadas pelo uso de recursos materiais e didáticos diversos visando uma maior interação entre o professor e os alunos, como, por exemplo, o uso de multimídia nas aulas expositivas e/ou jogos e simulações. Entretanto, não obstante ao valor de todas as técnicas de ensino adotadas em sala de aula, estudos revelam que os melhores resultados na relação ensino-aprendizagem se apresentam estreitamente associados ao envolvimento dos alunos no processo (Bargainnier, 2005). Sob o enfoque do cone da experiência, teoria apresentada em 1946 por Edgar Dale que procura apresentar a probabilidade do indivíduo lembrar o que vê, ouve, escuta ou lê, destaca-se o seguinte entendimento: a utilização de recursos de multimídia e de técnicas didáticas expositivas não é suficiente para o aprendizado efetivo do aluno, uma vez que a chance de assimilação é de 50%; a adoção de atividades práticas como jogos, simulações etc., que viabilizem o envolvimento do aluno, tem uma perspectiva de 90% na obtenção de melhores resultados na assimilação de conhecimentos. Sob esse prisma, o êxito no processo de ensino e aprendizagem pode ganhar um maior significado se as atividades de envolvimento do aluno forem além da simulação e se tornarem experiências reais (Bargainnier, 2005). A obtenção de melhores resultados no processo de ensino-aprendizagem a partir da introdução de atividades que permitam aos alunos partirem para experiências reais pode ser compreendida em seu efeito se observada sob o prisma da comunicação em sua estreita relação com a discussão transferência x assimilação do conhecimento. 2 O fluxo de transferência e assimilação de conhecimentos é construído a partir de informações transmitidas e absorvidas em uma comunicação. Entretanto, esse processo não se traduz em uma fórmula exata, pois a assimilação de conhecimento depende, entre outros fatores, de que as informações emitidas façam sentido para quem as recebe, como também depende da interpretação feita pelo receptor, que será feita segundo o conhecimento que este já possui (Jannuzzi, 2004). No universo de transmissão de informação para formação do conhecimento não há garantia de assimilação da informação e muito menos da certeza de aquisição do conhecimento, pois a subjetividade inerente ao ser humano é fator sempre presente neste processo (Jannuzzi, 2004). Assim, considerando que esses aspectos se encontram presentes na relação transferência-ensino x aprendizagem-assimilação de conhecimentos, a introdução de uma estratégia de ensino que possibilite amenizar a influência dessas variáveis no processo se torna imprescindível para a realização de uma boa prática educacional. Dessa forma, na busca da melhoria de ensino, de melhores resultados de aprendizagem e partindo da premissa de que a introdução de atividades que proporcionem experiências reais aos alunos tem maiores chances de êxito é que se dá o experimento aqui relatado. 2 ESTRATÉGIA PARA A FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR Quando a discussão tem como foco a capacitação e competência de dirigentes, ela necessariamente também se refere à formação desse administrador. Nesse contexto, o ensino superior assume o papel de mentor desse processo, visando à atuação do administrador no mercado de trabalho. Assim, cientes da missão no ensino superior e buscando melhorias na relação ensinoaprendizagem é que, em 1999, os professores da Faculdade de Administração da PUCCampinas decidiram partir para um experimento de integração de disciplinas distintas no campo da educação superior, que possibilitasse ao aluno a vivência de experiências reais. Sob esse prisma, os professores decidiram realizar um trabalho conjunto, envolvendo diferentes disciplinas da graduação, orientado pelos conceitos de interdisciplinaridade e polidisciplinaridade, que embora conhecidos e praticados em outras áreas e instituições de ensino, ainda não haviam sido tentados no curso de Administração da PUC–Campinas. Inicialmente desenvolvido entre duas disciplinas denominadas Administração de Informações Gerenciais e Administração Estratégica, o trabalho, amadurecido ao longo dos anos, inclui a partir de 2004 a participação de mais uma disciplina denominada Administração Eletrônica em Negócios. Dessa forma, a fim de compartilhar conhecimentos, o texto aqui apresentado procura descrever a experiência desenvolvida pelas referidas disciplinas, detalhando a relação teórica-prática sob o foco inter e polidisciplinar. Sob o enfoque da interdisciplinaridade, o trabalho conjunto das disciplinas procura promover a integração do conhecimento exposto em sala de aula com outros conhecimentos fora dela. Sob o prisma polidisciplinar, a iniciativa contribui para que o aluno visualize a relação entre as disciplinas, que coexiste em torno do objeto, aqui entendido como a formação do administrador. A integração das disciplinas O passo inicial para a integração das disciplinas se deu com a reunião dos docentes, responsáveis pelas disciplinas, que partiram para analisar como poderiam trabalhar os conteúdos programáticos de maneira que uma disciplina complementasse a outra. O resultado dessa discussão culminou na instituição de um único trabalho formal a ser desenvolvido pelos alunos que atendesse as disciplinas em questão. 3 O trabalho em questão foi estruturado em partes distintas, porém interativas e complementares, cujo objetivo é o de desenvolver nos alunos de Administração a habilidade de contextualização dos fatos e planejamento de estratégias em uma organização a partir das informações do ambiente no qual esta está inserida. Dessa forma, os alunos das disciplinas, formando equipes de 3 ou 4 membros, são levados a desenvolver um trabalho prático que tem, como objeto final, a implantação ou melhoria da Administração Estratégica em uma organização por eles escolhida. Para a realização do trabalho, as equipes são solicitadas a estabelecer contato com alguma empresa já existente no mercado, o que contribui para uma experiência real para os alunos. O critério para a escolha da empresa é que esta seja preferencialmente micro ou de pequeno porte, a fim de que se torne viável o desenvolvimento do trabalho, referente a cada disciplina, no semestre letivo. Assim, em um processo integrado, o segmento referente às exigências informacionais relacionadas ao ambiente geral e o ambiente de negócios da empresa cabe à disciplina de Administração de Informações Gerenciais. A análise das informações coletadas, bem como a definição de objetivos e ações, ficam a critério da disciplina de Administração Estratégica. À disciplina de Administração Eletrônica em Negócios fica a responsabilidade de orientar a empresa sobre sua inserção no meio eletrônico, segundo seus objetivos e estratégias definidas em seu plano estratégico. O trabalho, para cada uma das disciplinas, é desenvolvido por meio de orientação programada que ocorre uma vez por semana durante o período letivo, a fim de acompanhar o desempenho dos alunos e direcioná-los no processo. Assim, nesse contexto, a disciplina é ministrada por meio de aulas teóricas-práticas, nas quais se procura estabelecer uma estreita relação entre a teoria exposta nos capítulos da bibliografia adotada e o trabalho prático desenvolvido com os alunos. O papel desempenhado pelas disciplinas pode ser visualizado na descrição feita a seguir. A disciplina de Administração de Informações Gerenciais A disciplina realizada no 7º período do curso de Administração da PUC-Campinas tem por objetivo, entre outros, o de discutir métodos para o desenvolvimento e operacionalização de sistema de informação, relacionado principalmente ao conteúdo informacional, e conhecer estratégias para a administração das informações gerenciais nas empresas. A estrutura do trabalho desenvolvido na disciplina se apresenta da seguinte forma: EMPRESA – apresentação dos dados cadastrais da empresa, complementados por dados sobre o mercado de atuação, produtos/ serviços oferecidos, e referenciar a pessoa de contato na organização. ORGANOGRAMA/ ARQUITETURA DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES – apresentação do organograma conforme as orientações recebidas na empresa. Além desse, solicita-se também que a equipe delineie uma outra estrutura, dessa vez, voltada para a arquitetura do sistema de informações (manual ou computadorizado), mesmo que os subsistemas do sistema empresa não estejam formalmente delimitados (Cassarro, 2001; Oliveira, 2000). FUNÇÕES DA EMPRESA/ INFORMAÇÕES DO AMBIENTE INTERNO – a partir da estrutura delineada para a arquitetura do sistema de informações deve-se identificar e descrever os processos de negócio correspondentes a cada um dos subsistemas determinados nessa estrutura. Após esse mapeamento dos processos, e orientado por eles, desenvolve-se o quadro de informações necessárias ao desempenho dessas atividades (Laudon; Laudon, 2004). 4 PROCESSO DECISÓRIO – diante da descrição dos processos de negócios da empresa, identifica-se aqueles que necessariamente requerem tomadas de decisão. Após esse levantamento, determina-se o tipo de informação pertinente à tomada de decisão e o mapeamento de suas fontes, tanto no ambiente interno como no externo da organização (Maximiano, 2000). MONITORAMENTO DO AMBIENTE EXTERNO – esta parte do trabalho tem uma estreita relação com o processo decisório da alta administração na empresa. Seu desenvolvimento consiste na criação de um banco de dados de notícias, correspondente ao semestre que o aluno cursa a disciplina, que por meio de um levantamento feito em revistas e jornais visa detectar oportunidades, ameaças e tendências no ambiente em que a empresa está inserida. Além disso, é explorado junto com o aluno bases de dados disponíveis na Internet, a fim de subsidiar pesquisas sobre dados demográficos, econômicos etc. AVALIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES NA EMPRESA – frente ao estudo desenvolvido pela equipe faz-se um confronto deste com o que a empresa possui na prática. A partir dessa avaliação destaca-se as informações que necessariamente devem estar presentes, de maneira formal, no sistema de informações da empresa para a administração da organização. Os resultados obtidos são utilizados no semestre seguinte (8º. Período) nas disciplinas de Administração Estratégica e Administração Eletrônica em Negócios que, por sua vez, como parte do contexto inter e polidisciplinar que norteia essa iniciativa, adotam a mesma empresa e as equipes já constituídas. A disciplina de Administração Estratégica A disciplina realizada no 8º período do curso de Administração da PUC-Campinas tem por objetivo, entre outros, o de discutir a análise, formulação e implementação de estratégias, a fim de desenvolver vantagem competitiva para empresas. A estrutura do trabalho desenvolvido na disciplina se apresenta da seguinte forma: EMPRESA – complementando os dados já obtidos na disciplina de Administração de Informações Gerenciais, o aluno deve apresentar a empresa, identificando a missão, valores e intento estratégico da organização em estudo. Paralelamente procederão a analise e, se necessário, proporão alterações, fatores. ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO – análise do ambiente interno das empresas a partir da cadeia de valor (Porter, 1989). Nesta parte, a cadeia de valor é expandida, fazendo com que cada um dos indicadores, das diferentes variáveis das atividades de suporte e primária, seja apresentado por setor de atividade da empresa (industrial, comercial ou serviços/ terceiro setor) (Hitt et al, 2002). A análise da empresa é então procedida comparativamente com dois de seus principais competidores, uma vez que os pontos em análise de uma organização são evidenciados como fortes ou fracos quando comparados com uma outra empresa concorrente de porte e atividade semelhante. Assim, primeiro se realiza uma análise da empresa em estudo, para em seguida comparar esse fator com cada um dos concorrentes selecionados para esse fim, identificando as potencialidades e fraquezas da empresa em relação a cada um desses competidores. Num terceiro momento, num verdadeiro exercício prático de consultoria, a equipe deve identificar as causas das potencialidades e das fraquezas da empresa. 5 ANALISE DO AMBIENTE EXTERNO – da mesma forma que a análise anterior, esta parte do trabalho será conduzida fazendo-se uso de formulários adequados à atividade da empresa (industrial, comercial ou serviços/ terceiro setor). A partir das informações coletadas no Monitoramento Ambiental, conduzido na disciplina Administração de Informações Gerenciais, a equipe passa a analisar a empresa comparando-a com os dois de seus principais competidores, anteriormente escolhidos. Nesse momento, procura-se discutir os efeitos positivos e negativos de cada uma das variáveis e indicadores ambientais sobre a empresa e seus concorrentes, uma vez que o conceito de oportunidade e ameaça encontra-se interligado a como um fato no ambiente influenciará não apenas aquela organização, mas também seus concorrentes. Sob esse enfoque, parte-se da consideração de que uma oportunidade ou ameaça é relativa, isto é, depende também de como os competidores absorverão o evento em análise, pois uma possível oportunidade em que o concorrente tenha uma condição superior de aproveitá-la, pode representar uma ameaça para a organização analisada pela equipe. No estudo do ambiente competitivo é analisado, separadamente, cada um dos fatores citados por Porter (1986) em seu modelo de análise da indústria. Assim no estudo do poder de negociação do fornecedor é visto os produtos e serviços que fornece e os principais competidores da empresa, que igualmente seriam clientes daquele fornecedor. Na análise dos compradores industriais e comerciais é estudada não apenas os produtos e serviços que ele compra, mas quais competidores também vendem para aquela empresa. Já na análise do cliente final para as empresas varejistas procura-se detalhar ao máximo o estudo desse cliente, indo desde a faixa de renda, passando pelo volume médio e freqüência de compra, para chegar na definição das características favoráveis e desfavoráveis por tipo de cliente final analisado. No levantamento de dados para análise das características dos produtos e serviços substitutos e das barreiras de entrada erguidas pelos participantes do setor procura-se, antes da definição das características favoráveis e desfavoráveis desses produtos e/ou serviços sobre os negócios da empresa, obter dados sobre a empresa produtora e seus compradores. QUADRO RESUMO DAS ANÁLISES – ao final da análise, tanto do ambiente interno quanto do externo, procura-se identificar um conjunto distinto de fatores julgados relevantes como “alavancadores” ou “dificultadores”, conforme o caso, para a consecução do plano estratégico da empresa. Tal procedimento tem por finalidade propor ações para que a empresa tire proveito das oportunidades e previna-se das ameaças e, ainda, faça uso dos pontos fortes na definição dos objetivos, bem como procure neutralizar os pontos fracos. DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS DA EMPRESA – considerando que o discente deve possuir a noção de início e fim da proposta, o trabalho não é finalizado na definição do conjunto de objetivos, levando a equipe a propor um plano de metas para cada objetivo proposto, de forma a possibilitar o acompanhamento da sua implantação e execução. Ainda nessa etapa, solicita-se a proposta de operacionalização das metas por cada área funcional da empresa. Para cada uma das operacionalizações sugerida deve ser desenhado um conjunto de ações, contendo a definição de responsabilidade e prazo previsto de início, com vistas ao acompanhamento e controle o plano estratégico. COERÊNCIA DOS OBJETIVOS COM A ANÁLISE AMBIENTAL – o aluno deve entender que existe uma inter-relação entre as análises conduzidas no início do trabalho e os objetivos estabelecidos para a empresa. Assim para cada item apontado como relevante 6 pela equipe, no resumo das análises dos ambientes interno e externo, deve existir pelo menos um objetivo que o atenda ou o explore adequadamente. A disciplina de Administração Eletrônica em Negócios A disciplina Administração Eletrônica em Negócios, ministrada também no 8º período do curso de Administração da PUC-Campinas, tem por objetivo, entre outros, o de discutir questões associadas à elaboração e à administração de estratégias de negócios no meio eletrônico, sejam estas questões relacionadas ao produto e/ ou serviço vendido, ao processo ou ao agente de entrega, envolvendo aspectos mercadológicos e operacionais. A estrutura do trabalho desenvolvido na disciplina se apresenta da seguinte forma: EMPRESA – complementando os dados já apresentados nas duas outras disciplinas, nessa parte procura-se especificar se a empresa já opera em ambiente eletrônico, quais e como os produtos e/ ou serviços são comercializados utilizando dimensões digitais ou físicas. IDENTIFICAÇÃO DO AMBIENTE ELETRÔNICO – nesta parte do trabalho, a equipe realiza, por meio da Internet, um levantamento sobre concorrentes, distribuidores, fornecedores e substitutos, fazendo uma descrição dessas empresas no ambiente eletrônico de negócios e identificando as transações realizadas entre elas e seus parceiros de negócios. Nesse momento do trabalho, a equipe procura mapear as diferentes formas de interação entre os componentes do sistema em estudo, o que lhes permite conhecer ou definir, segundo a natureza da transação, as características do negócio eletrônico (ebusiness) praticado pelas empresas e seus parceiros, classificando-a como: empresaempresa (business-to-business), empresa-consumidor (business-to-consumer), consumidor-consumidor (consumer-to-consumer), entre outros (Turban; King, 2004). A contextualização do segmento da empresa no ambiente eletrônico permite à equipe avançar na compreensão das transações realizadas por seus parceiros de negócios: concorrentes, distribuidores, fornecedores e substitutos. Esta parte do trabalho consiste na realização do monitoramento de operações definidas para esse fim, identificando o (s) domínio (s) utilizado (s) por essas empresas, as palavras-chave selecionadas para sua localização na Rede, a classificação em motores de busca, sua inserção em diretórios e a apresentação do site quanto às estratégias, estrutura e conteúdo informacional (ícones e links) (Amor, 2000). Para completar as informações do cenário que envolve a empresa, pede-se a cada equipe que descreva as ferramentas de propaganda (banners, e-mails, anúncios padronizados, anúncios classificados etc.) e estratégias de retenção (salas de bate-papo, informes publicitários etc.) utilizadas pelas empresas analisadas para atrair a atenção dos clientes. Esse tipo de análise contribui para a contextualização de conceitos como personalização, fidelidade e confiança do cliente (Turban; King, 2004). PROPOSTA PARA O AMBIENTE ELETRÔNICO DE NEGÓCIO – a partir do levantamento e análise realizados até então, a equipe parte para a formulação da uma proposta de inserção ou de aprimoramento do negócio eletrônico para a empresa em estudo. Todas as sugestões e críticas são argumentadas para uma melhor compreensão por parte da empresa. A proposta deve contemplar quais transações se configuram como mais apropriadas à empresa em um meio eletrônico. Para tanto, nesta parte do trabalho, a equipe especifica qual(is) modelo(s) mais adequado(s) para a empresa segundo sua atividade-fim marketing afiliado, marketing viral, leilões on-line, entre outros (Bruner; Harden; Heyman, 2001). 7 Ainda como parte da proposta, a equipe deve definir o conteúdo do site, como menu, informações institucionais em links, cadastramento do cliente, links para outros sites, notícias, convenções utilizadas para navegação, bem como a definição de estratégias a serem adotadas para a divulgação do site, atendendo o cliente e garantindo sua segurança. As sugestões apresentadas pela equipe devem ser necessariamente orientadas pelos fundamentos do marketing on-line. A integração do trabalho, desenvolvido nesta disciplina com as outras disciplinas, acontece quando as análises feitas na disciplina de Administração Estratégica corroboram para a formulação das estratégias no meio eletrônico e quando a formulação da proposta deve prever a interação entre as ações da empresa no meio eletrônico e os processos de negócios/ informações, estudados na disciplina de Administração de Informações Gerenciais (Laudon; Laudon, 2004). 3 A DIDÁTICA SOB A LUZ DE PRINCÍPIOS PARA A PRÁTICA EDUCACIONAL Se a introdução de experiências reais no processo de ensino-aprendizagem se configura como o caminho adequado para a obtenção de melhores resultados, sua aplicação em sala de aula, com toda certeza, não se constitui como uma das tarefas mais fáceis. A estreita relação com a discussão transferência x assimilação do conhecimento, ou melhor, com um contexto que se poderia identificar como transferência-ensino x aprendizagemassimilação de conhecimentos determina as dificuldades enfrentadas na aplicação dessa prática educacional. Dessa forma, no contexto dessa discussão, e entre outras estratégias para a prática educacional, é que se projeta o discurso apresentado por Arthur W. Chickering e Zelda F. Gamson, em 1987, ao que denominam como “os sete princípios para a boa prática educacional junto a estudantes universitários”. No escopo desse estudo apresentado pelos autores observa-se, entre outros aspectos, a importância do contato estudante–corpo docente, desenvolvido em um ambiente de cooperação, e no qual o respeito a talentos e modos diversos de aprender promovem a aprendizagem ativa. Entre as orientações apontadas no estudo ressalta-se, por exemplo, a necessidade do corpo docente investir em estratégias de ensino que sejam condizentes com as necessidades e interesses dos alunos (Chickering e Gamson, 1987). Princípio no 1: A boa prática encoraja o contato entre o aluno e o professor Tal proposição requer que o professor seja entusiasmado não apenas com o ato de lecionar e de ser acessível e disponível para dialogar com seus alunos, mas também um encorajador para que esse contato venha a ocorrer continuamente (Chickering e Gamson, 1987). Assim, nas atividades desenvolvidas pelas disciplinas, essa aproximação é deflagrada logo no início do trabalho, pois a escolha de uma empresa por cada uma das equipes é orientada e discutida pelos professores. A partir disso, a relação aluno–docente ganha proporções significativas, pois os discentes passam a procurar os docentes mais amiúde na buscar de maiores esclarecimentos sobre o trabalho e sobre sua aplicação junto à empresa. Como estratégia para essa interação, procura–se realizar orientações e acompanhamento por equipe, durante aulas destinadas para esse fim, de modo a atender as necessidades específicas de cada grupo, em relação ao tipo de empresa escolhida. Nesse contexto é possível observar que as dúvidas deixam de ser aquelas corriqueiras, de quem apenas cursa uma disciplina, e passam a ser sobre o uso da teoria em determinadas situações práticas. 8 Princípio no 2: A boa prática encoraja a cooperação entre estudantes Compartilhar as idéias com os colegas, desenvolver trabalhos em equipe e buscar soluções para problemas complexos são atividades recomendadas para que o cérebro esteja ativo, contendo informações atualizadas para quando for solicitado (Chickering e Gamson, 1987). Na experiência aqui relatada, observa-se que a formação de equipes, de 3 ou 4 membros, e o volume de trabalho requisitado nas disciplinas contribui para que todos tenham que se esforçar na pesquisa e no desenvolvimento do conteúdo, reduzindo a possibilidade de participação nula nas atividades e conduzindo à real necessidade de compartilhamento de dúvidas e conhecimentos. No contexto da proposta, as dúvidas são primeiramente trabalhadas na equipe e, nos casos em que eles não encontram uma solução satisfatória, buscam seu professor. Princípio no 3: A boa prática encoraja a aprendizagem ativa Os métodos tradicionais dão ênfase na aprendizagem passiva, muito embora, desde há algum tempo, os educadores venham salientando os benefícios dos métodos que levam ao aprendizado ativo, no qual o discente além de sujeito venha a atual igualmente como indivíduo ativo no processo da aprendizagem (Chickering e Gamson, 1987). A aprendizagem ativa é um dos aspectos bem focalizado no trabalho em questão. O fato de a equipe trabalhar uma empresa existente no mercado contribui para o envolvimento necessário para que as aulas teóricas se transformem em realidade prática. Pesquisas, visitas à empresa, discussão sobre o desenvolvimento do trabalho, busca de respostas para as dúvidas, contato entre os docentes e entre docentes e discentes são elementos presentes para propiciar ao aluno a oportunidade de praticar o que apreenderam. O aprendizado desenvolvido na articulação e leitura das informações, pertinentes ao negócio da empresa estudada, desperta no aluno uma visão mais abrangente e participativa das questões teóricas apresentadas nas aulas. Princípio no 4: A boa prática fornece feedback imediato Em todas as disciplinas, a partir do início do trabalho na empresa, é dado um espaço aos alunos para esclarecimento das dúvidas. Essa prática tem propiciado um retorno imediato relacionado não apenas às dúvidas dos alunos, mas também sobre comentários positivos ou negativos por parte destes. Tal procedimento tem possibilitado ao aluno a correção do andamento de seu projeto, como também, e igualmente, tem contribuído, quando necessário, para o redirecionamento das atividades dos professores. Nesse contexto, o processo se dá de forma contínua, constituindo-se assim como uma prática sadia e desejada de ensino – aprendizagem (Chickering e Gamson, 1987). Princípio no 5: A boa prática enfatiza o tempo da tarefa Na condução de uma organização, saber como trabalhar o tempo ajuda na construção do diferencial competitivo e, esse exemplo, durante o período em que o aluno vivencia o ambiente acadêmico, deve vir do próprio professor (Chickering e Gamson, 1987). Assim, logo na primeira semana de atividade acadêmica é fornecido aos alunos o planejamento didático de cada uma das disciplinas, de maneira que possam se organizar adequadamente para o acompanhamento das aulas e desenvolvimento das atividades. Princípio no 6: A boa prática comunica expectativas elevadas Expectativas elevadas devem ser alcançadas, pois tendem a automotivar os alunos a superarem os desafios (Chickering e Gamson, 1987). No caso da PUC-Campinas, a busca dos alunos por maiores conhecimentos, a fim de propiciar a um pequeno empresário (empresa 9 assistida) um plano estratégico, representa um objetivo desafiador, mas exeqüível. Tal situação, eleva as expectativas dos alunos em seu próprio potencial criativo, melhorando a performance dele no curso, pois eles têm que trabalhar duro para que o objetivo traçado venha a ser alcançado. Princípio no 7: A boa prática respeita os diversos talentos e as diferentes formas de aprendizado Cada pessoa possui habilidades cognitivas particulares que influenciam o seu modo de aprender, o que exige uma atenção do professor com as técnicas de ensino de que faz uso, bem como uma atenção e respeito às individualidades presentes em cada ser humano à sua frente (Chickering e Gamson, 1987). A proposta de realização dos trabalhos em equipe, que atendem uma empresa de sua escolha, e a orientação programada contribuem para que cada aluno manifeste suas dificuldades ao trabalhar aspectos teóricos e práticos das disciplinas. Tal situação tem favorecido a compreensão daquilo que é ensinado, pois além de trabalhar as questões de forma aplicada, também se encontra dentro da proposição das experiências reais no processo de ensino-aprendizagem. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos dias atuais, o alcance de vantagens competitivas nas organizações se apresenta estreitamente relacionado às pessoas que delas participam. Entretanto, essa contribuição depende, entre outros fatores, da capacitação e competência dos indivíduos envolvidos no processo. Essa formação pode ser estabelecida nas instituições de ensino superior, mais especificamente nos cursos de Administração, com abordagens de ensino que objetivem a aproximação da prática vivenciada pelos gestores de organizações com os aspectos teóricos vivenciados em sala de aula. Dessa forma, almejando essa capacitação ao futuro administrador é que se desenvolve o experimento aqui relatado e cujo resultado é traduzido pelo comportamento dos alunos, que passaram a se envolver mais com as disciplinas, como também a integrar o referencial teórico à vivência empresarial. As descobertas, a aquisição de novos conhecimentos, o aprendizado prático vivenciados pelos alunos em relação ao trabalho propiciam o ambiente adequado para que estes adquiram a autoconfiança e, estimulados pelos professores das disciplinas, troquem informações entre si. Isso contribui para que o esforço na busca de resposta à sua dúvida leve o aluno a uma melhor aprendizagem, em razão de seu envolvimento na pesquisa do assunto, na partilha de seu questionamento, no ato de compartilhar os resultados auferidos com sua pesquisa, bem como de seu novo conhecimento. A integração das disciplinas no curso de graduação em Administração das PUCCampinas revelou-se de uma felicidade impar, de enriquecimento não apenas para os alunos, mas, principalmente, para os docentes envolvidos no processo. No campo da didática, possibilitou aos alunos observarem como poderiam fazer uso do que apreendiam em uma disciplina. No campo da experiência, sob um prisma não menos importante, puderam constatar como os dados levantados podem ser utilizados e discutidos com os empresários participantes dessa experiência. A contínua produção de conhecimentos vivenciada em todos os setores da sociedade, que justifica a relevância atribuída aos conceitos de interdisciplinaridade e polidisciplinaridade no processo de geração e aquisição de novos conhecimentos, e a necessidade de melhoria no ensino, que justifica a busca por estratégias que viabilizem a 10 assimilação de conhecimentos no processo de ensino-aprendizagem, se constituem os principais argumentos para essa discussão sobre a formação do administrador. Para as instituições de Nível Superior, como um ambiente de inovações científicas e tecnológicas, a adoção desses conceitos nas suas atividades de ensino torna-se imprescindível para a obtenção de qualidade na formação do administrador. A consciência sobre a importância desses conceitos e o intuito de contribuir para a discussão sobre o assunto nas instituições de Ensino Superior foram fatores fundamentais para a apresentação deste relato. O trabalho desenvolvido na Faculdade de Administração da PUC-Campinas caracteriza-se como um exemplo de sucesso para essa discussão. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AMOR, Daniel. A ( r ) evolução do e-business. Vivendo trabalhando em um mundo interconectado. São Paulo: Makron Books, 2000. BARGAINNIER. Sandra S., Health Education Concepts. Disponível em URL< http://www.samford.edu/pbl/registry/Health_Education_Concepts.pdf> Acesso em 14 de abril de 2005. BRUNER, Rick; HARDEN, Leland & HEYMAN, Bob. Marketing On-Line. Estratégias, melhores práticas e estudos de caso. São Paulo: Futura, 2001. CASARRO, A.C. Sistemas de informações para tomada de decisões. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. CHICKERING, A..; GAMSON, Z. The Seven Principles for Good Practice in Undergraduate Education. AAHE Bulletin.Com. Washington: American Association for Higher Education. Disponível em http://aahebulletin.com/public/archive/sevenprinciples1987.asp Acesso em 20/05/2005. FREITAS, Tiziana Severi; AMORIM, Tânia Nobre G. F. Diretrizes Curriculares X Flexibilização ... aonde vamos: Realmente queremos ir? In ENANGRAD – Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração. Agosto de 2000, Anais do XI ENANGRAD – Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração, Salvador: ANGRAD, p. 5 – 17, 2000. DURAND, Gilbert. Multidisciplinaridade e Heurística. In: Ver. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, v.113, p.59-74, abr./jun., 1993. JANNUZZI, Celeste Aída S.C. Gestão das informações nas empresas. Uma abordagem conceitual para a ciência da informação. São Paulo, 2004. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Pós-Graduação em Ciências da Comunicação/ Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação e Documentação, Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo. LAUDON, K. & LAUDON, J. Sistemas de Informação Gerenciais. São Paulo: Pearson, 2004. LIMA, Fernando Roque de. Demandas de Formação Profissional no Âmbito das Recentes Configurações Sócio–Econômicas. In ENANGRAD – Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração. Agosto de 2000, Anais do XI ENANGRAD – Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração, Salvador: ANGRAD, p. 125 – 136, 2000. MORIN, Edgar. Educação e Complexidade: os sete saberes e outros ensaios. Tradução Maria da Conceição de Almeida e Edgar de Assis Carvalho (orgs.) São Paulo: Cortez, 2002. OLIVEIRA, D.P. Sistema de Informações gerenciais. São Paulo: Atlas, 2001. 11 PORTER, Michael E. Estratégia competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1986. _____. Vantagem Competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1989. TURBAN, Efraim & KING, David. Comércio Eletrônico: estratégia e gestão. Tradução Arlete Simille Marques. São Paulo: Prentice Hall, 2004. 12