Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia CONTECC’ 2015 Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza - CE 15 a 18 de setembro de 2015 ISOTERMAS DE ADSORÇÃO DE ÁGUA DA FARINHA DAS FIBRAS RESIDUAIS SECAS DE MANGA SHIRLYANNE FERREIRA DA SILVA1, DANIELLE MARTINS LEMOS2*, FRANCILÂNIA BATISTA DA SILVA3, ROSSANA MARIA FEITOSA DE FIGUEIRÊDO4, ELISABETE PIANCÓ DE SOUSA5 1 Mestre em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 2101-1288, [email protected] 2 Mestre em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 2101-1288, [email protected] 3 Mestre em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 2101-1288, [email protected] 4 Drª. Professora Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 2101-1547, [email protected] 5 Mestre em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 2101-1288, [email protected] Apresentado no Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC’ 2015 15 a 18 de setembro de 2015 - Fortaleza-CE, Brasil RESUMO: Objetivou-se com esse trabalho a determinação das isotermas de adsorção de água das fibras residuais de manga nas temperaturas de 20, 30 e 40 °C e ajustar os modelos de GAB, Peleg e Oswin aos dados experimentais. As fibras residuais foram obtidas do despolpamento, as quais foram submetidas à secagem solar e trituradas obtendo-se a farinha. As isotermas de adsorção de água da farinha das fibras residuais secas de manga foram determinadas utilizando-se o medidor de atividade de água Aqualab com a determinação do teor de água de equilíbrio em estufa a vácuo a 70 º C até peso constante. O modelo de Peleg foi o que melhor representou a higroscopicidade da farinha das fibras residuais secas de manga. As isotermas de adsorção de água foram classificadas como Tipo II (40 oC) e III (20 e 30 oC). Os resultados obtidos para o teor de água da monocamada (Xm) do modelo de GAB indicou a probabilidade de um produto com maior período de conservação. PALAVRAS–CHAVE: atividade de água, Mangifera indica L., temperatura MOISTURE ADSORPTION ISOTHERMS OF THE FLOUR FIBER MANGO RESIDUAL DRIED ABSTRACT: The objective of this work was to determine the moisture adsorption isotherms in the temperatures of 20, 30 and 40 °C of the flour fiber mango residual dried and fit the GAB, Peleg and Oswin models to the experimental data. The residual fibers were obtained from pulping, which were crushed and subjected to solar drying to give the flour. The moisture adsorption isotherms of the flour fiber mango residual dried were determined using the Aqualab hygrometer with the determination of the equilibrium moisture content in a vacuum oven at 70 °C until constant weight. The Peleg model was the best represented the hygroscopicity flour fiber mango residual dried. The moisture adsorption isotherms were classified as Type II (40 °C) and III (20 and 30 oC). The results for the monolayer moisture content (Xm) of the GAB model indicated the likelihood of a product with higher retention period. KEYWORDS: water activity, Mangifera indica L., temperature INTRODUÇÃO Na indústria de polpa de frutas os resíduos do processamento são geralmente descartados, os quais segundo pesquisas possuem alto valor nutritivo devendo ser aproveitados de forma distinta na dieta humana. Dentre as frutas a manga é bastante apreciada pelos consumidores, sendo destinada ao consumo direto e/ou industrialização, na forma de compotas, geleias, sorvetes, néctares, polpas congeladas e sucos concentrados (Damiani et al., 2011). Para a conservação dos frutos ou de seus produtos a secagem é um excelente método para o aumento da vida útil e maior facilidade na comercialização desses alimentos (Moreira et al., 2013). Os produtos desidratados tem a capacidade de absorver umidade do ambiente, dessa forma o conhecimento das isotermas de adsorção de água dos produtos secos tem aplicação na predição da vida útil do produto, escolha do tipo de embalagem e na caracterização do produto (Alexandre et al., 2007). Propôs-se, neste trabalho, determinar as isotermas de adsorção de água, nas temperaturas de 20, 30 e 40 °C, das fibras residuais secas de manga e ajustar os modelos de GAB, Peleg e Oswin aos dados experimentais. MATERIAL E MÉTODOS Utilizou-se como matéria-prima as fibras residuais do despolpamento da manga da variedade Haden (Mangifera indica L.). Os frutos maduros foram selecionados no laboratório, lavados em água corrente, sanitizados em solução de hipoclorito de sódio a 50 ppm, enxaguados, descascados e processados em uma despolpadeira, onde separou-se as fibras resíduais da polpa. As fibras residuais foram submetidas à secagem natural do tipo solar colocadas uniformemente em bandejas de aço inoxidável por 24 h. As isotermas de adsorção de água das fibras residuais secas de manga foram determinadas utilizando-se o medidor de atividade de água Aqualab, modelo 3TE da Decagon Devices, nas temperaturas de 20, 30 e 40 °C. O teor de água de equilíbrio foi determinado em estufa a 70 ºC até peso constante e calculado usando a Equação 1: 𝑋𝑒 = 𝑚𝑒 −𝑚𝑠 𝑚𝑠 (1) Em que: Xe - teor de água de equilíbrio (% base seca); me - massa da amostra no equilíbrio (g); ms - massa seca da amostra (g). Os modelos de GAB (Equação 2), Peleg (Equação 3) e Oswin (Equação 4) (Tabela 1) foram ajustados aos dados experimentais das isotermas de adsorção de água por meio de regressão não linear utilizando-se o programa computacional Statistica. Tabela 1. Equações de isotermas de adsorção de água utilizadas nesta pesquisa Nome do modelo Equação 𝑋𝑚. 𝐶𝐾𝑎𝑤 GAB (2) 𝑋𝑒 = (1 − 𝐾𝑎𝑤 )(1 − 𝐾𝑎𝑤 + 𝐶𝐾𝑎𝑤 ) Peleg (3) 𝑋𝑒 = 𝐾1 𝑎𝑤 ⁿˡ+ 𝐾2 𝑎𝑤 ⁿ² 𝑎 ( 𝑎𝑤 ) Oswin 𝑋𝑒 = (4) (1 − 𝑎𝑤 )ᵇ Em que: Xe- teor de água equilíbrio; aw – atividade de água; Xm – teor de água na monocamada molecular; C, K, K1, K2, n1, n2, a, b – parâmetros dos modelos. Os critérios usados para determinação do melhor ajuste dos modelos aos dados experimentais foram: o coeficiente de determinação (R2) e o desvio percentual médio (P), calculado pela Equação 5. 𝑃= 100 𝑛 |𝑋𝑒𝑥𝑝−𝑋𝑝𝑟𝑒𝑑)| ∑𝑖=1 𝑛 𝑋𝑒𝑥𝑝 Em que: P – desvio percentual médio (%); Xexp – valores obtidos experimentalmente; Xpred – valores preditos pelo modelo; n – número de dados experimentais. (5) RESULTADOS E DISCUSSÃO Tem-se, na Tabela 2, os valores dos parâmetros dos modelos de GAB, Peleg e Oswin ajustados às isotermas de adsorção de água das fibras residuais secas de manga, nas temperaturas de 20, 30 e 40 °C, os coeficientes de determinação (R2) e os desvios percentuais médios (P). De acordo com os valores obtidos dos coeficientes de determinação (R2) e dos desvios percentuais médios (P), observa-se que todos os modelos testados podem ser utilizados para representar as isotermas de adsorção de água das fibras residuais secas de manga. Dentre os modelos testados o de Peleg foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais apresentando os maiores R2 e os menores valores de P. Tabela 2. Parâmetros dos modelos ajustados às isotermas de adsorção de água das fibras residuais secas de manga cv. Haden Temperatura Parâmetros Modelo R² P (%) (°C) Xm C K GAB Peleg Oswin 20 30 40 Temperatura (°C) 20 30 40 Temperatura (°C) 20 30 40 6,9479 7,4709 7,4127 K1 42,6048 45,9058 1775,3476 1,2536 1,9489 3,8323 Parâmetros n1 K2 2,6287 151,9248 2,3960 132,2762 57,5838 53,7699 Parâmetros a 7,7888 9,7591 11,2779 0,9840 0,9706 0,9670 n2 18,0592 18,5053 2,4412 b 0,8851 0,7824 0,7147 0,9995 0,9977 0,9810 3,20 4,91 11,31 R² P (%) 0,9998 0,9995 0,74 2,29 0,9963 6,21 R² P (%) 0,9994 0,9977 0,9833 4,00 4,93 10,60 Valores superiores do teor de água na monocamada molecular (Xm) foram encontrados por Bezerra et al. (2011) para os pós de manga das variedades Rosa e Tommy Atkins, desidratadas em estufa à vácuo a 61 °C por 18 horas, com Xm de 10,59 e 10,24%, respectivamente, para a temperatura de 22 °C. Observa-se que o Xm na temperatura de 20 oC foi menor do que a 30 e 40 oC, sendo que quanto menor o Xm maior será a estabilidade do produto (Ascheri et al., 2006), determinando o teor de água para uma armazenagem segura. As isotermas nas temperaturas de 20 e 30 oC foram classificadas como tipo III (0 < K ≤ 1, 0 ≤ C ≤ 2) e na temperatura de 40 oC como tipo II (0 < K ≤ 1, C > 2) de acordo com Blahovec (2004). Gomes et al. (2002) em estudo com a polpa de acerola em pó, verificaram que as isotermas de adsorção de água foram do Tipo III. Segundo a classificação de Brunauer, as isotermas de adsorção do Tipo III são consideradas típicas de alimentos ricos em componentes solúveis. Verifica-se que os parâmetros “a” e “b” do modelo de Oswin aumentou e diminuiu, respectivamente, com o aumento da temperatura. Valores inferiores de b foram determinados por Bezerra et al. (2010) para as isotermas de adsorção a 23 °C dos pós de manga Coité (0,5890) e Espada (0,5637). Na Figura 1 tem-se as isotermas de adsorção de água das fibras residuais secas de manga com ajustes com o modelo de Peleg, considerado como o melhor modelo. Constata-se que até atividades de água próximas a 0,9 quanto maior a temperatura maior o teor de água de equilíbrio; em atividades acima de 0,9 os teores de água nas temperaturas de 20 e 30 oC foram semelhantes com um pequeno distanciamento para a temperatura de 40 oC. As isotermas de adsorção podem ser empregadas para definir as épocas mais adequadas para o armazenamento de produtos agrícolas nas diversas regiões do país, levando-se em consideração dados de temperatura e umidade relativa (Corrêa et al., 2005). Figura 1. Isotermas de adsorção de água da farinha de fibras residuais secas de manga com ajustes pelo modelo de Peleg 90 Teor de água de equilíbrio (%b. s.) 80 20 °C 30 °C 40 °C 70 60 50 40 30 20 10 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 Atividade de água (a w) CONCLUSÕES O modelo de Peleg foi o que melhor representou a higroscopicidade da farinha de fibras residuais secas de manga, quando comparado aos modelos de GAB e Oswin utilizados para descrição deste fenômeno. As isotermas de adsorção de água foram classificadas como sendo do Tipo II (40 oC) e III (20 e 30 oC). Os resultados obtidos para o teor de água na monocamada (Xm) do modelo de GAB indicou a probabilidade de um produto com maior período de conservação, assim, a farinha de fibras residuais de manga pode ser usada na elaboração de produtos para dieta humana ou animal. REFERÊNCIAS Alexandre, H. V.; Figueirêdo, R. M. F.; Queiroz, A. J. M. Isotermas de adsorção de umidade da pitanga em pó. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 7, n. 1, p. 11-20, 2007. Ascheri, D. P. R.; Andrade, C. T.; Carvalho, C. W. P.; Ascheri, J. L. R. Efeito da extrusão sobre a adsorção de água de farinhas mistas pré-gelatinizadas de arroz e bagaço de jabuticaba. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 26, n. 2, p. 325-335, 2006. Bezerra, T. S.; Costa, J. M. C.; Afonso, M. R. A.; Maia, G. A.; Clemente, E. Avaliação físico-química e aplicação de modelos matemáticos na predição do comportamento de polpas de manga desidratadas em pó. Revista Ceres, v. 58, n. 3, p. 278-283, 2011. Bezerra, T. L.; Costa, J. M. C.; Afonso, M. R. A.; Maia, G. A.; Rocha, E. M. F. F. Comportamento higroscópico de pós de manga das variedades coité e espada e avaliação das características físicoquímicas. Ciência Rural, v. 40, n. 10, p. 2186-2192, 2010. Blahovec, J. Sorption isotherms in materials of biological origin mathematical and physical approach. Journal of Food Engineering, v. 65, n. 4, p. 489-495, 2004. Corrêa, P. 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