PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Administração
Mestrado Acadêmico em Administração
Renata Petrin
A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO DAS
INCUBADORAS DE BASE TECNOLÓGICA PARA AS EMPRESAS
INCUBADAS: um estudo comparativo de casos
Belo Horizonte
2015
Renata Petrin
A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO DAS
INCUBADORAS DE BASE TECNOLÓGICA PARA AS EMPRESAS
INCUBADAS: um estudo comparativo de casos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Administração da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais e Fundação Dom Cabral, como requisito
para a obtenção do título de Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. José Márcio de Castro
Belo Horizonte
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Petrin, Renata
P496d
A dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras de
base tecnológica para as empresas incubadas: um estudo comparativo
de casos / Renata Petrin. Belo Horizonte, 2015.
149 f.: il.
Orientador: José Márcio de Castro
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Administração.
1. Incubadoras de empresas - Transferência de tecnologia. 2. Gestão do
conhecimento. 3. Tecnologia. 4.
Empresas - Estudo de casos. I. Castro, José
Márcio de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de
Pós-Graduação em Administração. III. Título.
CDU: 658.012.4
Renata Petrin
A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO DAS
INCUBADORAS DE BASE TECNOLÓGICA PARA AS EMPRESAS
INCUBADAS: um estudo comparativo de casos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Administração da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais e Fundação Dom Cabral, como requisito
para a obtenção do título de Mestre em Administração.
Área de concentração: Administração
____________________________________________________________________________________________
Orientador Prof. Dr. José Márcio de Castro (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
____________________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Baroni de Carvalho (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
______________________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Eugênio Veneziani Pasin (Universidade Federal de Itajubá)
Belo Horizonte, 06 de fevereiro de 2015
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me capacitado e me dado forças para ingressar no mestrado e concluir
esta pesquisa, principalmente nos momentos em que os problemas pareciam maiores e mais
pesados do que eu podia suportar.
Ao meu orientador, Professor Dr. José Márcio de Castro, obrigada pela paciência e
dedicação, que possibilitaram a realização deste trabalho.
Aos professores do Programa de Pós Graduação em Administração da PUC Minas, que
sem o empenho despendido nas disciplinas que cursei, não seria possível a conclusão do
curso.
A Professora Dra. Simone e ao Professor Flavius, que acreditaram em meu potencial e
me incentivaram a fazer o mestrado ainda na graduação.
Aos meus pais, Leila e Roberto, pelo amor, incentivo e por sempre me ensinarem que
um dos bens mais preciosos, depois da formação do caráter de uma pessoa de bem, do
respeito, entre outros, a principal herança que podiam me deixar era a “educação”.
A minha irmã, Rafaela, que compartilhou comigo todos os dias dessa jornada, sempre
me apoiando.
Ao meu amigo Carlinho, pelas palavras de incentivo e apoio.
Ao Breno, pelo carinho, incentivo, apoio e por me escutar nos momentos difíceis.
Aos meus amigos do mestrado que se mostraram companheiros, os quais vou sempre
lembrar principalmente pelo apoio e incentivo.
Aos funcionários e amigos da secretária do Programa de Pós Graduação em
Administração da PUC Minas, que sempre foram muito receptivos e dispostos a ajudar no que
fosse necessário.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo
suporte financeiro para a realização desta pesquisa.
Aos gestores das incubadoras, os responsáveis pelas assessorias e os empreendedores
das empresas incubadas, que ao se prontificarem em participar do estudo de caso,
possibilitaram a realização desta pesquisa.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a
consecução deste trabalho, que representa muito além de uma contribuição para a academia e
o mercado, mas a realização de um sonho.
Há ouro e abundância de rubis, mas os lábios do conhecimento são joias preciosas
(Bíblia Sagrada: Provérbios 20:15).
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi descrever e analisar empiricamente as barreiras e os indutores da
transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as empresas
incubadas e compreender não apenas o papel das incubadoras, mas também as atribuições das
instituições de pesquisa e ensino no processo de disseminação do conhecimento tecnológico e
científico para os novos empreendimentos. A literatura sobre incubadoras de empresas tem
discutido que se estas organizações não conseguem atender adequadamente os
empreendedores, a eficácia no desenvolvimento das empresas incubadas fica comprometida, o
que torna necessário investigar os problemas e dificuldades na incubação dos
empreendimentos. Argumenta-se nesta pesquisa que a base da incubação das empresas é a
transferência de conhecimento das incubadoras para os empreendimentos incubados e que há
fatores críticos que influenciam este processo. A partir da literatura da transferência de
conhecimento interorganizacional, este estudo utilizou uma perspectiva multidimensional, em
que foram analisados fatores que influenciam o fluxo de conhecimento da fonte para o
receptor. Tais fatores são: (i) características do conhecimento (explícito e tácito); (ii)
característica organizacional da fonte (capacidade disseminativa); (iii) característica
organizacional do receptor (capacidade absortiva); e (iv) intensidade dos laços da fonte para o
receptor (laços fortes e fracos). Em termos metodológicos, a pesquisa realizada foi de
natureza qualitativa, que consistiu em um estudo comparativo de casos entre duas Incubadoras
de Empresas de Base Tecnológica (IEBTs): (i) IEBT RAIAR, associada à PUCRS e (ii) IEBT
CENTEV, que mantém vínculo com a UFV. Foram realizadas entrevistas com gestores das
incubadoras e empreendedores das empresas incubadas, para verificar como flui o
conhecimento e as dificuldades e facilitadores deste processo. Os resultados encontrados
mostram que se o conhecimento a ser transferido é o gerencial, este fluirá da interação direta
entre as incubadoras e as empresas incubadas, mas quando se trata do conhecimento
tecnológico é necessário que as IEBTs façam a mediação da sua rede de contato - em que o
agente principal é a universidade - com os empreendedores. Além disso, constatou-se que a
capacidade disseminativa, a capacidade absortiva e a intensidade dos laços entre esses agentes
são fatores críticos à transferência de conhecimento de natureza explícita e tácita.
Palavras-chave: Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica; Transferência de
Conhecimento Interorganizacional; Fatores Críticos; Gestão do Conhecimento.
ABSTRACT
The objective of this research was to describe and analyze empirically the barriers and
inductors of the knowledge transfer from technology business incubators to incubated firms
and understand not only the role of incubators, but also the roles of research and academic
institutions in the process of technological and scientific knowledge dissemination to new
ventures. The literature about business incubators has argued that if these organizations fail to
adequately meet the entrepreneurs, the development effectiveness of the incubated firm is
compromised, which makes it necessary to investigate the problems and difficulties in the
incubation of firms. It is argued in this research that the basis of incubating of firms is the
knowledge transfer from incubators to entrepreneurs and there are critical factors that
influence this process. Based upon literature of interorganizational knowledge transfer, this
study used a multidimensional perspective, where factors influencing the knowledge flow
from source to receiver were analyzed. These factors are: (i) characteristics of knowledge
(explicit and tacit); (ii) organizational characteristics of the source (disseminative capacity);
(iii) organizational feature of the receiver (absorptive capacity); and (iv) intensity of ties from
source to receiver (strong and weak ties). In terms of methodology, the research was
qualitative, consisting of a comparative case study between two technologies business
incubators (TBIs): (i) TBI RAIAR, associated with PUCRS and (ii) TBI CENTEV which
keeps bond with UFV. Interviews were made with managers of incubators and entrepreneurs
from incubated firms, in one to help determine how knowledge flows, the difficulties and
facilitators of this process. The results show that if the knowledge being transferred is the
managerial knowledge, this one flows from the direct interaction between incubators and
incubator firms, but when it comes to technological knowledge is necessary to the TBIs make
the mediation of its own network contacts- the main agent in this case is the university - with
the entrepreneurs. Furthermore, it was found that the disseminative and absorptive capacities
and the intensity of ties between these agents are critical factors to knowledge transfer of
explicit and tacit natures.
Keywords: Technology Business Incubators; Interorganizational Knowledge Transfer;
Critical Factors; Knowledge Management.
.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Interações com a Incubadora e Assistência aos Empreendimentos ......................... 43
Figura 2. Incubadora de Empresas como Elo entre a Universidade-Empresas Incubadas e os
Benefícios da Incubação de Empresas para a Instituição de Ensino ........................................ 52
Figura 3. Framework do Processo de Transferência de Conhecimento das Incubadoras de
Base Tecnológica para as Empresas Incubadas ........................................................................ 53
Figura 4. Composição da Rede INOVAPUCRS ..................................................................... 69
Figura 5. Etapas de Desenvolvimento das Empresas Incubadas na RAIAR ........................... 71
Figura 6. Estrutura Administrativa .......................................................................................... 90
Figura 7. Dinâmica da Transferência de Conhecimento das Incubadoras para as Empresas
Incubadas ................................................................................................................................ 123
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Assistência Gerencial e Tecnológica Fornecida pelas Incubadoras ......................... 43
Tabela 2 Síntese Teórica dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento .... 50
Tabela 3 Relação de Entrevistas Realizadas na Incubadora de Empresa de Base Tecnológica
– IEBT RAIAR ......................................................................................................................... 60
Tabela 4 Relação de Documentos da IEBT RAIAR ............................................................... 60
Tabela 5 Relação de Entrevistas Realizadas na Incubadora de Empresa de Base TecnológicaIEBT CENTEV/UFV ............................................................................................................... 61
Tabela 6 Relação de Documentos da IEBT CENTEV/UFV ................................................... 62
Tabela 7 Categorias de Análise ............................................................................................... 64
Tabela 8 Funções das Unidades Periféricas que Compõem a Rede INOVAPUCRS.............. 70
Tabela 9 Síntese de Evidências dos Fatores que Influenciam a Transferência de
Conhecimento ........................................................................................................................... 86
Tabela 10 Objetivos dos Programas de Pré-Incubação e Incubação da IEBT CENTEV/UFV
.................................................................................................................................................. 91
Tabela 11 Assessorias Fornecidas pela IEBT CENTEV/UFV ................................................ 94
Tabela 12 Síntese das Evidências dos Fatores que Influenciam a Transferência de
Conhecimento ......................................................................................................................... 109
Tabela 13 Fatores Críticos à Transferência de Conhecimento .............................................. 122
LISTA DE SIGLAS
ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CA - Capacidade Absortiva
CD – Capacidade Disseminativa
CERNE – Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos
CENTEV - Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa
CERTI - Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras
CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CPPI/UFV - Comissão Permanente de Propriedade Intelectual da Universidade Federal de
Viçosa
ETT - Escritório de Transferência de Tecnologia
EVTECIAS - Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica, Comercial e do Impacto Ambiental
e Social
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FUNARBE - Fundação Arthur Bernardes
IEBT - Incubadora de Empresas de Base Tecnológica
IGG - Instituto de Geriatria e Gerontologia
INSCER - Instituto do Cérebro
INTOX - Instituto de Toxicologia e Farmacologia
IPB - Instituto de Pesquisas Biomédicas
LABELO - Laboratórios Especializados em Eletroeletrônica
MCT - Museu de Ciências e Tecnologia
MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
MIVI - Manual de Identidade Visual
NTG - Núcleo de Tecnologia e Gestão
P&D - Pesquisa e Desenvolvimento
PD&I - Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação
PII - Programa de Incentivo à Inovação
PNE - Plano de Negócio Estendido
PPG/UFV - Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal de Viçosa
PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
RMI - Rede Mineira de Incubação
SAGE - Serviço de Apoio à Gestão
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SECTES - Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais
UFV - Universidade Federal de Viçosa
SUMÁRIO
1 Introdução ............................................................................................................................ 15
1.1 Problema de pesquisa ....................................................................................................... 15
1.2 Justificativa da pesquisa .................................................................................................. 21
1.3 Objetivos da pesquisa ....................................................................................................... 23
2 Referencial Teórico.............................................................................................................. 25
2.1 A transferência de conhecimento: contextos e fatores envolvidos ............................... 25
2.1.1 A natureza do conhecimento como fator influenciador no processo de transferência 27
2.1.2 As características organizacionais da fonte e do receptor na transferência de
conhecimento ........................................................................................................................... 30
2.1.3 A intensidade dos laços entre fonte e receptor na transferência de conhecimento ..... 35
2.2 Incubadoras de empresas no processo de transferência de conhecimento para as
empresas incubadas: indutores e barreiras ......................................................................... 38
2.2.1 Fatores que influenciam a transferência de conhecimento durante a incubação das
empresas ................................................................................................................................... 45
2.3 Framework do processo de transferência de conhecimento das incubadoras para as
empresas incubadas ................................................................................................................ 51
3 Metodologia .......................................................................................................................... 56
3.1 Estratégia e método de pesquisa ..................................................................................... 56
3.2 Unidades empíricas de análise ......................................................................................... 57
3.3 Estratégia de coleta de dados........................................................................................... 58
3.4 Estratégia de análise de dados ......................................................................................... 63
4 Descrição e Análise dos Dados............................................................................................ 66
4.1 Incubadora RAIAR .......................................................................................................... 66
4.1.1 Caracterização e contexto da Incubadora RAIAR e das empresas entrevistadas ........ 66
4.1.2 A dinâmica da transferência de conhecimento da incubadora RAIAR para as
empresas incubadas ................................................................................................................. 73
4.1.2.1 Conhecimento Gerencial: características do conhecimento e características
organizacionais da fonte e do receptor .................................................................................... 74
4.1.2.2 Conhecimento Tecnológico: características do conhecimento e características
organizacionais da fonte e do receptor .................................................................................... 79
4.1.2.3 Intensidades dos laços no relacionamento entre universidade, incubadora e empresas
incubadas .................................................................................................................................. 81
4.2 Incubadora CENTEV/UFV ............................................................................................. 88
4.2.1 Caracterização e contexto da Incubadora CENTEV/UFV e das empresas
entrevistadas............................................................................................................................. 88
4.2.2 A dinâmica da transferência de conhecimento da incubadora CENTEV/UFV para as
empresas incubadas ................................................................................................................. 96
4.2.2.1 Conhecimento Gerencial: características do conhecimento e características
organizacionais da fonte e do receptor .................................................................................... 97
4.2.2.2 Conhecimento Tecnológico: características do conhecimento e características
organizacionais da fonte e do receptor .................................................................................. 101
4.2.2.3 Intensidades dos laços no relacionamento entre universidade, incubadora e empresas
incubadas ................................................................................................................................ 104
4.3 Análise comparativa entre os casos ............................................................................... 111
4.3.1 Fatores críticos à transferência de conhecimento da IEBT RAIAR e da IEBT
CENTEV/UFV para as empresas incubadas ....................................................................... 111
4.3.2 Modelo da Pesquisa ...................................................................................................... 122
5 Conclusão ........................................................................................................................... 126
5.1 Principais resultados da pesquisa ................................................................................. 126
5.2 Contribuições da pesquisa ............................................................................................. 131
5.3 Limitações da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros ....................................... 133
Referências ............................................................................................................................ 135
Apêndice ................................................................................................................................ 142
15
1 Introdução
1.1 Problema de pesquisa
As organizações estão inseridas em um ambiente de elevada instabilidade e
concorrência, e, em grande parte, a sua sobrevivência depende de processos, serviços e
produtos inovadores (Rapini & Righi, 2007; Santos, Dutra, Almeida & Sbragia, 2008;
Marques, Caraça & Diz, 2010). Neste cenário, o conhecimento passou a ser um insumo
valioso e sua criação interna por parte das firmas se tornou uma das principais fontes de
competitividade (Rapini & Righi, 2007).
A crescente importância do conhecimento na economia contemporânea requer uma
mudança na maneira de pensar sobre inovação, seja ela técnica, em produtos, estratégica ou
organizacional (Nonaka, 1994). Nestes termos, a sociedade tem atribuído às instituições de
ensino e de pesquisa uma função de destaque como atores econômicos e sociais (Remiro,
Oliveira, Mello & Araujo, 2008), ao promoverem a transferência de conhecimento e
tecnologia para a indústria, como um dos fatores que mais contribui para elevar o desempenho
da inovação (Arvanitis, Sydow & Woerter, 2008).
As ações inovadoras das organizações, a partir do conhecimento adquirido, refletem
diretamente na sociedade e no desenvolvimento econômico de um país (Etzkowitz, Mello &
Almeida, 2005; Vedovello & Figueiredo, 2005). Desta forma, segmentos políticos e
socioeconômicos, como governantes, empreendedores e instituições de pesquisa e ensino
(Vedovello & Figueiredo, 2005), têm despendido esforços para o suporte e apoio aos novos
empreendimentos, por serem fontes de inovação (Etzkowitz et al., 2005; Vedovello &
Figueiredo, 2005).
As incubadoras de empresas emergem, neste contexto, como agentes importantes no
desempenho da transferência de conhecimento e tecnologia (Phillips, 2002), dado que essas
16
organizações buscam explorar e potencializar os recursos existentes, disponibilizam um
ambiente favorável ao surgimento de novos empreendimentos e tornam as empresas
capacitadas e bem sucedidas (Vedovello & Figueiredo, 2005).
Baseando-se
no
retorno
positivo
de
uma
incubadora,
políticas
locais
de
desenvolvimento da economia, em todo o mundo, perceberam que a incubação de negócios é
uma medida efetiva para promover o crescimento regional, por meio do suporte aos novos e
inovadores empreendimentos (Schwartz, 2011), uma vez que o desenvolvimento de recursos
organizacionais e a capacidade de inovação são importantes antecedentes para novos negócios
adquirirem um desempenho superior e se manterem no mercado (Chen, 2009).
Porém, para que estas organizações de apoio às novas empresas sejam eficientes e
atuem como canais de transferência de conhecimento científico e inovador (Phillips, 2002)
faz-se necessária uma maior interação com as intituições de ensino e pesquisa. As
universidades como geradoras e repositórios de conhecimento científicos e tecnológicos
podem transferir parte desses recursos intangíveis para as empresas por meio de canais
articulados, como as incubadoras (Remiro et al., 2008). Tal interação é significativamente
benéfica à sociedade, principalmente, quando se trata de países classificados como imaturos
no Sistema Nacional de Inovação, como o caso brasileiro, que não possui uma produção
endógena da tecnologia. Situação que poderia ser modificada com a valorização do
conhecimento (Albuquerque, 1996).
Dado a importância das incubadoras de empresas para o apoio ao empreendedorismo
por meio da transferência de conhecimento, torna-se necessário compreender um pouco da
história dessas organizações e suas características.
O modelo de incubação atual surgiu nos Estados Unidos em 1959, quando uma das
fábricas da Massey Ferguson em Nova York fechou e deixou um número significativo de
desempregados. A partir desse acontecimento Joseph Mancuso, comprador das instalações da
17
fábrica, resolveu disponibilizar um espaço para pequenas empresas iniciantes que
compartilhavam equipamentos e serviços (Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores [ANPROTEC], 2012). Posteriormente, a partir dos anos 70, as
incubadoras emergem na região do Vale do Silício como uma maneira de incentivar
universitários e recém-graduados a disseminar suas inovações tecnológicas e a desenvolver o
empreendedorismo (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação [MCTI], 2000).
No Brasil, as incubadoras se consolidaram devido à necessidade de criar um modelo de
desenvolvimento menos dispendioso e que permitisse a cooperação entre universidades e
outras esferas institucionais. Provavelmente, o aparecimento dessas organizações de apoio ao
empreendedorismo possa ser explicado pela convergência de dois movimentos, o primeiro é
relativo às grandes empresas de alta tecnologia e o outro aos pequenos e médios negócios.
Desta forma, o processo da criação das incubadoras foi facilitado quando ambas as forças se
uniram no Congresso brasileiro em 1988, para que houvesse apoio às pequenas e médias
empresas no geral e as de alta tecnologia em particular, movimento que permitiu a criação da
primeira incubadora do país, em 1991 no estado de São Paulo (Etzkowitz et al., 2005).
A criação das incubadoras no Brasil desempenhou um papel importante no cenário de
inovação do país (Etzkowitz, 2002; Etzkowitz et al., 2005), o que foi usado como estímulo
para o desenvolvimento de regiões e o nascimento das spin-off nas universidades (Bergek &
Norman, 2008). Inicialmente, essas organizações eram associadas ao propósito de estimular o
surgimento de empreendimentos resultantes de projetos tecnológicos, desenvolvidos em
centros de pesquisa universitários ou não, no qual o foco era o setor de informática,
biotecnologia e automação industrial (Maury & Beuren, 2009).
Atualmente, as incubadoras fornecem apoio aos empreendimentos de diversos setores e
são classificadas em quatro categorias: (i) tecnológicas, as quais fornecem suporte apenas para
empresas que utilizam tecnologia, o que torna necessário estabelecer parcerias com
18
universidades e centros de pesquisa; (ii) tradicionais, que atendem empreendimentos deste
segmento de mercado e não têm como prioridade a interação com as instituições de ensino e
pesquisa; (iii) mistas, que não possuem restrições quanto ao setor de atividades das empresas;
e (iv) outras, como as incubadoras culturais, as agroindustriais e as cooperativas (Vedovello &
Figueiredo, 2005).
Com essas novas atribuições, além do objetivo inicial, as incubadoras têm o propósito
de contribuir para o desenvolvimento local e setorial (ANPROTEC, 2012). Segundo dados da
última pesquisa realizada pela ANPROTEC em parceria com o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), o Brasil possui cerca de 384 incubadoras em operação,
envolvendo 2.640 empresas incubadas, 1.124 associadas e 2.509 graduadas, o que gerou
45.599 postos de trabalho (ANPROTEC & MCTI, 2011).
Além disso, é relevante destacar que em países industrializados as incubadoras atendem
diversos
objetivos
e
segmentos.
Por
outro
lado,
países
subdesenvolvidos
são
predominantemente focados na tecnologia (Lalkaka, 2002), como é o caso brasileiro, em que
40% das incubadoras apoiam empreendimentos voltados para esse segmento de mercado, os
outros 60% são classificados em tradicionais (18%), mistas (18%) e outras (24%)
(ANPROTEC & MCTI, 2011).
No Brasil ou em países como Estados Unidos, China, Índia (Lalkaka, 2002), dentre
outros, apesar do modelo de incubação ser personalizado para a cultura e condições locais, as
incubadoras são dotadas de capacidade técnica, gerencial, administrativa e infraestrutura para
amparar o pequeno empreendedor (Lois et al., 2004; Bergek & Norman, 2008; Scillitoe &
Chakrabarti, 2010). Geralmente, elas fornecem consultoria, treinamento, informações,
interação com as redes de trabalho (Lalkaka, 2002; Phillips, 2002; Lois et al., 2004;
Etzkowitz et al., 2005; Bergek & Norman, 2008; Chen, 2009); facilitam o acesso às
atividades de pesquisas e aos laboratórios das universidades (Scillitoe & Chakrabarti, 2010); e
19
disponibilizam espaço apropriado, como escritórios compartilhados (Hackett & Dilts, 2004;
Lois et al., 2004; Bergek & Norman, 2008; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), o que reduz os
custos operacionais (Kim & Jung, 2010). Desta forma, fornecem condições efetivas para
abrigar ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de sucesso (Bergek &
Norman, 2008; Scillitoe & Chakrabarti, 2010).
Entretanto, essas organizações de apoio ao empreendedorismo têm apresentado como
objetivos principais a comercialização da tecnologia e a assessoria gerencial (Phillips, 2002;
Scillitoe & Chakrabarti, 2010), fornecendo conhecimento tecnológico para as empresas
apenas por meio das redes de contatos que as incubadoras estabelecem entre as universidades
e os novos empreendimentos (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Desta forma, como o
conhecimento tecnológico não é compartilhado diretamente pelas incubadoras, surgem alguns
entraves, como o conflito de interesses entre universidade e empresas e as diferenças de
contextos e estruturas legais em que atuam, o que implica na necessidade de compreender
como ocorre a transferência de conhecimento durante a incubação, com o objetivo de
identificar as barreiras que influenciam este processo e como superá-las (Phillips, 2002).
Nestes termos, a interação entre universidade-empresa (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994)
e as incubadoras (Phillips, 2002) é algo mais abrangente do que a relação comercial de um
bem tangível ou serviço, pois envolve uma tentativa de aumentar a base de conhecimento
destes agentes de mercado (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994). Além disso, é importante destacar
que o compartilhamento de conhecimento não é algo simples, pois neste processo uma
unidade é afetada pela experiência e conhecimento da outra (Argote & Ingran, 2000) e ocorre
em contextos organizacionais e relacionais diferentes (Szulanski, 2000).
Algumas pesquisas abordam (ver, por exemplo, Szulanski, 2000; Easterby-Smith, Lyle
& Tsang, 2008; Van Wijk, Jansen, & Lyles, 2008) diversos fatores, como a capacidade
disseminativa da fonte, a capacidade absortiva, a intensidade dos laços entre fonte e receptor
20
(Szulanski, 2000; Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008), que podem influenciar
positivamente ou representar barreiras à transferência de conhecimento (Szulanski, 2000).
Logo, para compreender como o fluxo de conhecimento ocorre entre as organizações é
necessário verificar os fatores críticos a este processo (Cummings & Teng, 2003; Van Wijk et
al., 2008; Castro, Diniz, Duarte, Dressler & Carvalho, 2013).
Dado este contexto, para que a incubadora atue como um efetivo canal de transferência
de conhecimento produzido em instituições de ensino e pesquisa (Phillips, 2002) e, apoie a
sobrevivência dos novos empreendimentos inovadores (Lalkaka, 2002; Chen, 2009; Kim &
Jung, 2010), tornar-se necessário verificar os diversos aspectos que influenciam positivamente
ou impedem esse processo, pois sabe-se pouco sobre o fluxo de conhecimento dessas
organizações de apoio ao empreendedorismo para as empresas incubadas (Rothaermel &
Thursby, 2005). Desta forma, o propósito do presente estudo é identificar empiricamente as
principais barreiras e os impulsionadores da transferência de conhecimento das incubadoras
para as empresas que participam do processo de incubação.
No intuito de atingir o objetivo dessa pesquisa, utilizou-se como abordagem
metodológica a pesquisa de natureza qualitativa, que consistiu em estudo de casos múltiplos
(Yin, 2005). Os objetos de estudo são duas incubadoras de empresa de base tecnológica, o que
é predominante no cenário brasileiro (ANPROTEC & MCTI, 2011) e que mantém vínculo
com instituições de ensino e pesquisa. Tomando como base esses critérios, as duas
instituições pesquisadas no estudo de caso comparativo são: (i) a Incubadora de Empresas de
Base Tecnológica (IEBT) RAIAR, que mantém vínculo com a Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e (ii) a IEBT do Centro Tecnológico de
Desenvolvimento Regional de Viçosa (CENTEV), associada à Universidade Federal de
Viçosa (UFV).
Diante do exposto acima, formulou-se a seguinte pergunta que norteia esta pesquisa:
21
Quais são os principais indutores e barreiras à transferência de conhecimento das
incubadoras de base tecnológica para as empresas incubadas?
1.2 Justificativa da pesquisa
O exponencial desenvolvimento tecnológico, a globalização, a inovação e o
empreendedorismo tornaram-se os principais impulsionadores do crescimento econômico
(Lalkaka, 2002; Chen, 2009). Desta forma, diversos segmentos políticos e socioeconômicos
perceberam a necessidade de investir em um conjunto de arranjos institucionais que
possibilitassem a disseminação do conhecimento e da tecnologia advindas de fontes
relevantes, como as instituições de ensino e pesquisa (Vedovello & Figueiredo, 2005), o que
facilita o desenvolvimento de empresários e empreendimentos inovadores (Lalkaka, 2002).
A infraestrutura tecnologica (Vedovello & Figueiredo, 2005) depende da interação entre
ciência, indústria e governo (Etzkowitz et al, 2005; Arvanitis et al., 2008), o que torna
necessário o fortalecimento das relações entre essa tríplice hélice (Etzkowitz et al., 2005), de
modo que proporcionem maior sinergia científica e tecnológica (Marques et al., 2010). Além
da necessidade de criar organizações como as incubadoras (Etzkowitz et al., 2005), que
tenham a finalidade de gerenciar a transferência de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento)
(Becker & Gassman, 2006), entre instituições de pesquisa e os novos empreendimentos
(Marques et al., 2010).
As incubadoras de empresas atuam como uma das principais organizações, que visam
disseminar conhecimento científico-tecnológico oriundo dos resultados de pesquisas e
direcioná-lo aos empreendimentos incubados (Phillips, 2002; Grimaldi & Grandi, 2005;
Prodan & Ulyin, 2009). Desta forma, indiretamente essas organizações contribuem para o
desenvolvimento econômico e regional (Lalkaka, 2002; Schwartz, 2011), ao possibilitar a
22
criação e o suporte tecnológico e estrutural de empreendimentos inovadores (Lois, Rice &
Sundararajan, 2004; Raupp & Beuren, 2006; Bergek & Norman, 2008; Scillitoe &
Chakrabarti, 2010), pois quando as novas empresas conseguem se estruturar, elas aumentam
as taxas de emprego (Phillips, 2002; Yan, 2004; Etzkowitz et al, 2005; Scillitoe &
Chakrabarti, 2010; Schwartz, 2011) tanto na fase de incubação, quanto após se graduarem
(Schwartz, 2011), gerando renda e ativos (Etzkowitz et al, 2005).
Embora as incubadoras juntamente com as universidades contribuam para o
desenvolvimento das atividades empreendedoras, é importante destacar que estas instituições
não oferecerem um mercado pronto com produtos e serviços inovadores, mas ajudam as
empresas a desenvolverem suas atividades tradicionais, por meio da formação de recursos
humanos e aumento de seu estoque de conhecimento pelo auxílio à pesquisa (Marque et al.,
2010). Desta forma, as instituições de ensino e pesquisas e as incubadoras devem ter clareza
do seu papel de disseminar conhecimento e, buscar parcerias com vista à troca de informações
e experiências, pois o sucesso das organizações depende, principalmente, dessas ações de
interação entre os agentes locais (Souza, 2013).
Ao atuarem
como
canais
de transferência
de conhecimento
e
apoio
ao
empreendedorismo, a implementação e fortalecimento de uma incubadora de empresa poderia
ser resumido em cinco aspectos: (i) promover o desenvolvimento econômico (como
diversificação da economia local); (ii) comercializar tecnologias; (iii) fomentar o
empreendedorismo; e, indiretamente, (iv) gerar emprego e promoção da autossuficiência para
diversos grupos da população (Organisation for Economic Co-Operation and Development
[OECD], 1999).
Portanto, dado o papel fundamental de uma sociedade do conhecimento para o ganho de
competitividade (MCTI, 2011) e a importância das incubadoras para o desenvolvimento e
suporte aos novos empreendimentos inovadores (Lalkaka, 2002; Phillips, 2002; Lois et al.,
23
2004; Yan, 2004; Bergek & Norman, 2008; Scillitoe & Chakrabarti, 2010; Schwartz, 2011), a
realização desta pesquisa se justificou com base nos seguintes aspectos: (i) a infraestrutura
tecnológica nos países emergentes encontra-se em consolidação, como é o caso brasileiro, que
apesar dos avanços, precisa se transformar em uma economia do conhecimento para que
atinja o desenvolvimento e seja competitivo no mercado com produtos de base tecnológica
(MCTI, 2011); (ii) as incubadoras têm sido implantadas em países emergentes baseando-se
nos modelos de países desenvolvidos, que já possuem uma estrutura tecnológica bem mais
avançada (Vedovello & Figueiredo, 2005); (iii) o Governo brasileiro tem investido em
pesquisas sobre incubadoras de empresas (MCTI, 2011), as quais aproximam os
empreendimentos ao conhecimento produzido nas universidades (Phillips, 2002); e (iv) os
novos empreendimentos que participam do processo de incubação aumentam a probabilidade
de sobrevivência no mercado (MCTI, 2000; Li & Atuahhene-Gima, 2002; Lois et al., 2004).
1.3 Objetivos da pesquisa
O objetivo geral da pesquisa consistiu em descrever e analisar empiricamente as
barreiras e os indutores da transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica
para as empresas incubadas e compreender não apenas o papel das incubadoras, mas também
as atribuições das instituições de pesquisa e ensino neste processo de disseminação do
conhecimento tecnológico e científico para os novos empreendimentos.
Para atender o objetivo geral foi necessário:

Descrever e analisar a dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras
para as empresas incubadas;

Descrever e analisar os principais indutores e barreiras na transferência de
conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas;
24

Analisar como as incubadoras de base tecnológica atuam no processo de
transferência de conhecimento tecnológico e científico produzido nas universidades.
25
2 Referencial Teórico
O referencial teórico desta pesquisa está estruturado em três subcapítulos: (i) no
primeiro discute-se o conhecimento, as formas de conversão e os fatores que influenciam a
sua transferência entre organizações; (ii) no segundo, são abordados os indutores e as
barreiras ao processo de transferência de conhecimento produzido nas universidades para as
empresas incubadas, por meio da ação das incubadoras como elo entre os dois agentes; (iii)
por fim, é apresentado um framework sobre a dinâmica do fluxo de conhecimento, baseado na
revisão teórica.
2.1 A transferência de conhecimento: contextos e fatores envolvidos
O conhecimento é um dos insumos mais estratégicos para o crescimento, a
sobrevivência e o desempenho econômico das organizações (Argote & Ingran, 2000;
Jasimuddin, 2007; Li, Poppo & Zhou, 2010). Dado a relevância desse recurso para a
competitividade, pesquisas sobre a transferência de conhecimento e os fatores que
influenciam o seu fluxo entre fonte e receptor, tornaram atrativas (ver exemplo; Nonaka,
1994; Szulanski, 1996, 2000; Argote & Ingran, 2000; Cummings & Teng, 2003; Minbaeva &
Michailova, 2004; Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008; Tang, 2011).
O termo conhecimento possui diversas concepções (Nonaka, 1994), mas um ponto em
comum é o seu entendimento como toda a informação contextualizada, a qual foi atribuída um
significado (Nonaka, 1994; Bessant & Tidd, 2009). Ou seja, ele é criado e organizado pelo
fluxo de informações (um fluxo de mensagem a partir de dados que foram organizados)
geradas pelas pessoas, que expressam suas opiniões, seus valores e suas crenças (Nonaka,
1994; Nonaka, Toyama & Nagata, 2000; Khalozadeh, Kazemi, Movahedi, & Jandaghi, 2011).
26
Este entendimento enfatiza um elemento essencial de que o conhecimento se relaciona com a
ação humana (Nonaka, 1994). Desta forma, ele é mais expressivo que a informação e inclui
especialização, experiência, valores e insights estruturados (Bessant & Tidd, 2009).
Além disso, ao discorrer sobre a criação do conhecimento organizacional, Argote e
Ingran (2000) destacam que este insumo está incorporado nos membros da organização
(componentes humanos), nas ferramentas (componentes tecnológicos, que incluem hardware
e software), nas tarefas (objetivos e propósitos da organização) e nas várias sub-redes
formadas pela combinação desses elementos básicos. Assim, a maioria das organizações
busca aumentar a competitividade por meio da cadeia tecnológica e pela formação de recursos
humanos especializados (Khalozadeh et al., 2011).
Da mesma forma como ocorre à criação do conhecimento, a sua transferência pode ser
concebida como um processo dinâmico e interativo entre os agentes organizacionais e/ou
entre organizações distintas (a fonte e o receptor) (Tang, Mu & Maclachlan, 2010), que
trocam, recebem e são influenciados pelas experiências e conhecimentos dos outros (Argote
& Ingran, 2000; Van Wijk et al., 2008). Por meio deste compartilhamento, a organização
recria e mantém um conjunto complexo e ambíguo de rotinas em uma nova configuração
(Szulanski, 1996).
O fluxo de conhecimento entre fonte e receptor contribui para o desenvolvimento de
habilidades difíceis de imitar (Kostova, 1999; Van Wijk et al., 2008) e permite que as
empresas sejam capazes de aprender sobre clientes, concorrentes e reguladores.
Consequentemente, elas adquirem uma melhor chance de detecção das oportunidades e
passam a adaptar seus produtos e serviços às necessidades emergentes, o que contribui para
altos níveis de desempenho e ganho de vantagem competitiva (Jasimuddin, 2007; Van Wijk et
al., 2008). Entretanto, para que o conhecimento adquirido seja um diferencial de mercado é
necessário que a sua transferência seja confiável e completa, de forma que o receptor se torne
27
independente da fonte e desenvolva sua capacidade de adquirir, utilizar, copiar, melhorar e
possibilitar a venda da tecnologia produzida (Khalozadeh et al., 2011).
Por fim, é necessário destacar que a transferência de conhecimento não ocorre em um
vazio social (Kostova, 1999) e, portanto, é influenciada por diversos fatores. Porém alguns
fatores se destacam quando se trata da transferência de conhecimento entre organizações
distintas, tais como: (i) as características do conhecimento transferido (natureza tácita e
explícita) (Szulanski, 1996, 2000; Argote, McEvily & Reagans, 2003; Minbaeva, 2007;
Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008); (ii) a característica organizacional da
fonte (capacidade disseminativa do conhecimento) (Minbaeva & Michailova, 2004;
Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Tang et al., 2010; Tang, 2011); (iii) a
característica organizacional do receptor (capacidade absortiva) (Cohen & Levinthal, 1990;
Szulanski, 1996, 2000; Cummings & Teng, 2003; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al.,
2008; Pérez-Nordtvedt, Kedia, Datta & Rasheed, 2008; Vega-Jurado, Garcia & Lucio 2008;
Van Wijk et al., 2008); e (iv) a intensidade dos laços no relacionamento entre a fonte e o
receptor (laços fortes e fracos) (Szulanski, 1996, 2000; Cummings & Teng, 2003; Jasimuddin,
2007; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Van Wijk
et al., 2008).
2.1.1 A natureza do conhecimento como fator influenciador no processo de transferência
A natureza do conhecimento tem efeitos significativos sobre a eficácia do processo de
transferência entre a fonte e o receptor, uma vez que, o conhecimento apresenta características
(pode ser codificado ou estar enraizado nas experiências individuais), que o classifica em dois
tipos, sendo cada um adequado para determinados objetivos organizacionais. Embora se
28
encontre diversas classificações, uma tipologia tradicional o divide em explícito e tácito
(Nonaka, 1994; Nonaka, Toyama, Nagata, 2000; Bessant & Tidd, 2009).
O conhecimento explícito é articulado em linguagem sistemática e formal, o que
possibilita sua codificação em palavras, símbolos e números (Nonaka, 1994; Hansen, Nohria
& Terney, 1999; Nonaka et al., 2000; Becerra, Lunnan & Huemer, 2008; Bessant & Tidd,
2009). Portanto, ele é objetivo e fácil de ser compartilhado (Nonaka, 1994; Becker &
Gassman, 2006; Bessant & Tidd, 2009; Anand, Wardb & Tatikonda, 2010) na forma de
especificações e procedimentos operacionais padrão, como os manuais, formulários de
operações, entre outros (Lam, 2000; Nonaka et al., 2000; Anand et al., 2010).
Uma vez que o conhecimento explícito é codificado, a possibilidade de transferi-lo sem
a presença da fonte, isto é, por meio de documentos, torna este recurso vulnerável, dado a
facilidade de apropriação. Assim, a transferência de conhecimento explícito está intimamente
associada à disposição da fonte em assumir riscos, pois há a possibilidade de suas
competências distintivas serem transferidas para o seu parceiro, resultando em consequências
danosas (Becerra et al., 2008), tais como, a possibilidade de cópias e revenda desse recurso
(Grant, 1996).
A facilidade com que ocorre o fluxo do conhecimento explícito, portanto, apresenta o
problema da apropriabilidade, isto é, um recurso que pode ser facilmente copiado e, qualquer
indivíduo pode adquiri-lo (Grant, 1996; Nonaka et al., 2000), o que o torna menos valioso, em
termos de inovação e competitividade no mercado (Van Wijk et al., 2008). Entretanto, apesar
de ser menos importante para a vantagem competitiva final da empresa, sua transferência
envolve esses perigos iminentes, que precisam ser cuidadosamente geridos (Becerra et al.,
2008).
Por outro lado, o conhecimento tácito é mais difícil de ser comunicado e formalizado,
(Nonaka, 1994; Hansen, Nohria et al., 1999; Argote & Ingran, 2000), pois é profundamente
29
enraizado na ação humana, no envolvimento em um contexto específico e nas relações sociais
(Nonaka, 1994; Becerra et al., 2008). Este tipo de conhecimento também se apresenta de
forma ambígua (Van Wijk et al., 2008), pois se baseia na percepção dos indivíduos e em suas
experiências, o que torna ainda mais complexo o seu processo de compartilhamento (Nonaka,
1994; Anand et al., 2010).
Embora a ambiguidade dificulte a transferência de conhecimento tácito (Van Wijk et
al., 2008), pesquisas apontam (ver, por exemplo, Argote & Ingran, 2000; Van Wijk et al.,
2008) que esta é uma das características mais importantes deste conhecimento (Szulanski,
2000), uma vez que, ao dificultar sua codificação, também o protege da imitação dos
concorrentes (Van Wijk et al., 2008) e aumenta as chances de inovação e vantagem
competitiva da organização (Nonaka & Takeuchi, 1997; Cummings & Teng, 2003; Becerra et
al., 2008). Desta forma, quanto mais tácito é o conhecimento, maior o nível de complexidade
do seu processo de transferência e mais valioso, em termos de inovação e competitividade,
para o receptor (Szulanski, 2000; Argote et al., 2003; Jasimuddin, 2007; Minbaeva, 2007;
Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008).
Dado a importância do conhecimento tácito para as organizações, a socialização
(conversão do conhecimento tácito em tácito) torna-se relevante, pois promove o seu processo
de criação, por meio de experiências compartilhadas, observações, imitações e práticas.
Posteriormente, é fundamental a sua externalização (conversão do conhecimento tácito em
explícito), para que o conhecimento individual possa ser integrado ao organizacional. Este
processo de conversão do conhecimento tácito em explícito é expresso pelos membros da
equipe na forma de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos. Além disso, os
conceitos formados pelas equipes de colaboradores, também podem ser combinados com
dados existentes e conhecimentos externos. Este modo de combinação (conversão do
conhecimento explícito em explícito) ocorre por meio de documentos, reuniões, conversas ou
30
redes de comunicação computadorizados. Por fim, quando a organização permite a
experimentação pelo método de tentativa e erro, os conceitos podem ser articulados e
desenvolvidos pelos colaboradores por meio do processo de “aprender fazendo”, o que
promove a internalização do conhecimento (conversão do explícito em tácito) (Nonaka, 1994;
Nonaka & Takeuchi, 1997).
Entretanto, é importante destacar que estas formas de conversão do conhecimento
precisam ser contínuas para que possam viabilizar a criação do conhecimento organizacional,
ou seja, após a internalização, o conhecimento tácito adquirido pelo indivíduo precisa ser
socializado com os outros membros da organização, e, assim, se inicia uma nova espiral de
criação do conhecimento (Nonaka, 1994; Nonaka & Takeuchi, 1997). Portanto, este processo
é importante para a inovação, pois fornecem a base para a acumulação do conhecimento de
fontes externas, seu compartilhamento e armazenamento para uso futuro (Bessant & Tidd,
2009).
2.1.2 As características organizacionais da fonte e do receptor na transferência de
conhecimento
A característica organizacional da fonte tem sido classificada na literatura (ver exemplo,
Husted & Michailova, 2002; Minbaeva & Michailova, 2004; Minbaeva, 2007; Tang et al.,
2010; Tang, 2011) como a capacidade disseminativa (CD), ou seja, o potencial e a motivação
da fonte em codificar, articular, comunicar e ensinar o conhecimento para o receptor de forma
eficaz e eficiente (Minbaeva & Michailova, 2004; Minbaeva, 2007). Nestes termos, a
capacidade disseminativa é composta por dois aspectos complementares, o potencial do
detentor do conhecimento e o seu comportamento no processo de transferência (Tang et al.,
2010).
31
Primeiramente, se a fonte não tem expertise e habilidade suficiente para transferir o
conhecimento necessário para os destinatários, a eficiência e a eficácia desse processo serão,
significativamente, reduzidas (Tang et al., 2010). Exemplo desse problema ocorre quando o
emissor não consegue especificar e comunicar precisamente o que deseja, então, o
conhecimento transferido é mal interpretado e distorcido pelo receptor (Argote et al., 2003).
Desta forma, é necessário que o detentor do conhecimento desenvolva seu potencial de
articulação e comunicação, o que pode ser adquirido por meio da educação, formação,
observação e envolvimento (Minbaeva, 2007).
Além disso, outro aspecto importante que compõe a capacidade disseminativa é o
comportamento da fonte (Minbaeva, 2007; Tang et al., 2010), pois há casos que o remetente
tem potencial e expertise, mas são relutantes em compartilhar o seu conhecimento (Szulanski,
1996; Husted & Michailova, 2002; Minbaeva & Michailova, 2004; Minbaeva, 2007; Tang et
al., 2010; Tang, 2011).
Ao discutir o comportamento da fonte, Husted e Michailova (2002) abordam algumas
justificativas para as atitudes hostis, que podem impedir a eficácia da transferência de
conhecimento, tais como: (i) receio da perda de valor, do poder de barganha e a proteção da
vantagem competitiva; (ii) relutância em gastar tempo e recursos no compartilhamento de
conhecimentos, uma vez que poderia investir em atividades mais produtivas; (iii) falta de
interesse em transferir conhecimento para um receptor que despendeu pouco ou nenhum
esforço próprio para se desenvolver; (iv) proteger-se contra a avaliação externa da qualidade
dos seus conhecimentos; e (v) cautela em revelar o conhecimento relevante, por duvidar da
forma como o receptor vai perceber e interpretar o conhecimento compartilhado.
Dado que a fonte pode se comportar de forma hostil, dificultando a transferência de
conhecimento, um dos incentivos para que ela supere seus receios é a confiança no
destinatário (Szulanski, 1996, 2000; Husted & Michailova, 2002, Becerra et al., 2008), a qual
32
é definida por Becerra et al.(2008) como uma percepção de confiabilidade, independente de
haver riscos ou não nesta relação.
Entretanto, nos relacionamentos baseados na confiança uma das partes se torna
vulnerável e outra pode aproveitar disso e agir de maneira ilegal ou oportunista (Granovetter,
2005). Desta forma, a disposição da fonte em assumir os riscos que a transferência de seu
conhecimento envolve, está fortemente associada a sua percepção em relação à integridade do
receptor, ou seja, no seu caráter moral (Becerra et al., 2008), o que consequentemente facilita
a frequência e a qualidade da comunicação, aumenta o fluxo de informações e a troca de
conhecimentos (Sankowska, 2013).
Em suma, o potencial e a motivação da fonte (capacidade disseminativa) devem estar
presentes para que se alcance maior grau de transferência de conhecimento, uma vez que,
mesmo que o detentor do conhecimento tenha um alto potencial, sem a motivação é provável
que resulte em mau desempenho no processo de transferência e vice-versa. Portanto, quanto
maior a capacidade disseminativa, maior será o grau do fluxo de conhecimento para o
receptor (Minbaeva, 2007).
Outro fator apontado pela literatura (ver exemplo, Cohen & Levinthal, 1990; Szulanski,
1996, 2000; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Vega-Jurado et al. 2008; Van Wijk
et al., 2008; Tang et al., 2010) como antecedente que pode influenciar na eficácia da
transferência de conhecimento é a característica organizacional do receptor, especificamente,
em relação à sua capacidade absortiva (CA) (Szulanski, 1996, 2000; Minbaeva, 2007; Van
Wijk et al., 2008; Vega-Jurado et al. 2008).
A capacidade absortiva está associada com a habilidade de utilizar o conhecimento
externo, a qual depende do nível de experiência e conhecimento prévio, que permite
identificar o valor da nova informação, assimilá-la e aplicá-la comercialmente (Cohen &
Levithal, 1990; Vega-Jurado et al. 2008). Além disso, a CA é dinâmica e apresenta-se em
33
duas dimensões complementares: (i) como capacidade potencial (PACAP), que corresponde à
aquisição e assimilação do conhecimento; e (ii) como capacidade realizada (RACAP),
relacionada à transformação e exploração do conhecimento adquirido (Zahra & George,
2002).
Ao utilizar os conceitos de PACAP e RACAP, Zahra e George (2002) sugerem que a
CA apresenta um caráter cumulativo, no sentido de que o seu desenvolvimento no presente irá
permitir uma maior acumulação eficiente no futuro (Vega-Jurado et al. 2008). Ou seja, as
empresas não podem explorar conhecimento externo se elas não adquirirem e integrarem
previamente um conhecimento similar em seus processos organizacionais (Zahra & George,
2002). Esta aquisição de conhecimento (PACAP) não tem, necessariamente, implicação na
capacidade de transformá-lo e de explorá-lo (RACAP), mas a capacidade potencial é
importante, pois torna mais fácil para as empresas se adaptarem às mudanças, explorar novas
oportunidades e até reformular sua base de conhecimento (Zahra & George, 2002).
A distinção entre PACAP e RACAP, não destaca apenas o caráter multidimensional da
capacidade absortiva, mas também que há fatores antecedentes, principalmente, os
organizacionais, que influenciam a CA de maneiras distintas dependendo do componente a ser
analisado, tais como: (i) o conhecimento organizacional; (ii) a formalização e (iii) os
mecanismos de integração social (Vega-Jurado et al., 2008).
O conhecimento organizacional abrange o conjunto de habilidades e experiências, que é
determinado pela base de conhecimentos adquiridos anteriormente (característica cumulativa),
pelas habilidades individuais de seus empregados (nível de educação e treinamento da força
de trabalho) e por suas atividades de pesquisa (tem sido determinante para a capacidade
absortiva) (Vega-Jurado et al., 2008). Assim, se a organização já possui conhecimento
relacionado ao que está sendo adquirido, ocorre o aumento da capacidade de armazenar e
explorar as novas habilidades (Cohen & Levithal, 1990).
34
A formalização se refere à dimensão dos procedimentos, regras e instruções da
administração nos processos organizacionais. A principal característica desse fator é que ele
reduz a necessidade de coordenação e de comunicação entre as unidades, cria uma memória
organizacional e permite a empresa agir em situações rotineiras. Entretanto, um alto nível de
formalização tem uma influência negativa na flexibilidade da empresa e criatividade dos
funcionários, o que dificulta a ação em situações de crise e desencoraja a inovação (VegaJurado et al., 2008).
Por outro lado, os mecanismos de integração social referem-se à capacidade de
coordenação, pois, são práticas que reduzem as barreiras de troca de informação dentro de
uma organização e, ao mesmo tempo permitem que os indivíduos combinem os novos
conhecimentos adquiridos com habilidades e experiência existentes, o que possibilita a
absorção do conhecimento pela interação entre os diferentes membros. Estes mecanismos são,
geralmente, associados com a rotação de trabalho, o uso de metodologias de resolução de
problemas e outras práticas de gestão que possibilite que o empregado participe da
organização e explore e transforme conhecimentos (Vega-Jurado et al., 2008).
Por fim, estudos (ver exemplo, Vinding, 2004; Van Wijk et al., 2008; Castro et al.,
2013) destacam que a baixa capacidade absortiva influencia negativamente na transferência
de conhecimento (Vinding, 2004; Van Wijk et al., 2008; Castro et al., 2013), principalmente,
quando este é de natureza tácita. Ou seja, a organização com alto nível de capacidade de
absorção se posicionará melhor na aquisição do conhecimento não codificado e avançará na
curva de aprendizagem da empresa (Cohen & Levinthal, 1990; Vinding, 2004). Desta forma,
é necessário que as organizações invistam no desenvolvimento dos colaboradores (Vinding,
2004) e entendam como a CA dos indivíduos tende a desenvolver-se cumulativamente com o
potencial da organização (Cohen & Levinthal, 1990).
35
Outro fator que pode influenciar na baixa CA é a falta de motivação do receptor em
adquirir o conhecimento (Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003; Cummings & Teng,
2003; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008), pois em alguns casos pode haver
relutância do destinatário em recebê-lo, quando este agente não enxergar compatibilidade do
conhecimento a ser compartilhado com os seus objetivos, ou simplesmente por medo da
mudança (Kostova, 1999; Szulanski, 2000; Van Wijk et al., 2008), o que pode levar a
comportamentos danosos, como a não cooperação, falsa aceitação, passividade, sabotagem,
dentre outros (Szulanski, 1996, 2000).
Portanto, o destinatário pode ser mais motivado em adquirir conhecimento quando a
fonte é atrativa, ou seja, é altamente capacitada, é reconhecida e possui um conhecimento
relevante e compatível com os objetivos do destinatário (Szulanski, 1996, 2000; Argote et al.,
2003; Pérez-Nordtvedt et al., 2008). Além disso, recompensas e incentivos financeiros e
sociais são importantes componentes do processo de gestão do conhecimento (Argote et al.,
2003).
2.1.3 A intensidade dos laços entre fonte e receptor na transferência de conhecimento
Os laços da rede entre empresas fornecem caminhos nos quais as organizações podem
encontrar e ter acesso a oportunidades e a recursos externos, o que facilita o desempenho, o
crescimento e o ganho de vantagem competitiva (Hite, 2005). A intensidade das relações é
estabelecida por meio de laços fortes ou fracos, conforme alguns aspectos, tais como, a
proximidade cultural e a qualidade do relacionamento entre os agentes envolvidos
(Granovetter, 1973; Argote et al., 2003; Jasimuddin, 2007). É importante destacar que estes
fatores podem facilitar ou dificultar a transferência entre fonte e receptor, dependendo da
36
natureza do conhecimento (tácito ou explícito) a ser transferido (Argote et al., 2003;
Jasimuddin, 2007).
Os laços fortes são desenvolvidos com a intensa relação entre os parceiros e aumenta
com a frequência da comunicação e interação (Granovetter, 1973; Argote et al., 2003; Van
Wijk et al., 2008). Estes laços ligam indivíduos e/ou organizações com maior proximidade
cultural, isto é, o grau de compatibilidade entre os valores e objetivos subjacentes à cultura da
fonte e do receptor (Kostova, 1999; Cummings & Teng, 2003).
Além disso, os laços fortes são mantidos pela qualidade no relacionamento, que está
associada a confiança e a intensa interação, o que é fundamental para a eficácia e eficiência da
transferência, pois os vínculos mais fortes não só facilitam a compreensão do destinatário no
que tange os aspectos do conhecimento transferido, mas, também, tornam esse processo ágil e
economicamente mais viável (Pérez-Nordtvedt et al., 2008).
Entretanto, é importante destacar que a confiança como um indicador da qualidade do
relacionamento (Szulanski, 1996; Sankowska, 2013), depende da percepção dos agentes
envolvidos (fonte e receptor) na transferência de conhecimento. Ou seja, se a fonte desconfiar
da integridade do receptor (Becerra et al. 2008), poderá agir de forma hostil (Husted &
Michailova, 2002). Por outro lado, se a unidade de origem não é percebida como confiável ou
detentor do conhecimento desejado, será mais difícil iniciar uma transferência a partir dessa
fonte e seus conselhos e exemplos serão desafiados pelo receptor, o qual não sentirá motivado
em receber o conhecimento que será transferido (Szulanski, 1996; Becerra et al., 2008). Desta
forma, o relacionamento estabelecido por laços fortes está associado à percepção de confiança
entre os parceiros e as interações sociais significativas (Szulanski, 2000; Levin & Cross,
2004; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Castro et al., 2013; Sankowska, 2013).
Uma vez que, os laços fortes são mantidos por relações desenvolvidas com proximidade
cultural e maior qualidade no relacionamento (intensidade de interações e confiança entre
37
fonte e receptor) (Jasimuddin, 2007; Van Wijk et al., 2008), eles são mais efetivos para a
transferência de conhecimento tácito (Argote et al., 2003; Van Wijk et al., 2008; Sankowska,
2013), pois dado as características deste conhecimento, sua transferência depende de três
dimensões da confiabilidade entre fonte e receptor: (i) integridade (caráter moral e
comportamento ético dos parceiros); (ii) benevolência (compreensão e boa vontade entre os
parceiros); e (iii) habilidade (a competência geral e expertise do detentor do conhecimento);
as quais são observadas, apenas, quando há interações mais fortes entre os parceiros (Levin &
Cross, 2004; Becerra et al., 2008).
Por outro lado, os laços fracos são estabelecidos por meio de relacionamentos com
muitos indivíduos ou organizações, o que implica em diversidade cultural, menor intensidade
de interações e, consequentemente, implica baixa confiança. Estas características tornam este
tipo de ligação mais propensa para a aquisição de novas informações, por permitir a interação
com maior quantidade de indivíduos da rede que possuem experiências e formações diversas
(Granovetter, 1973, 2005; Hansen, 1999; Levin & Cross, 2004).
Entretanto, nas relações de laços fracos o receptor pode ser mais relutante em aceitar os
novos conhecimentos, pois, para que ele realmente o adquira é necessário que haja
sentimentos de identificação e confiança com a fonte, o que remete ao papel dos laços fortes
(Granovetter, 1973). Além disso, o conhecimento transferido por laços fracos pode não ser
tão valioso, uma vez que, a fonte pode ter receio em relação à forma como o receptor
interpretará e utilizará o conhecimento compartilhado (Szulanski, 1996, 2000; Argote et al.,
2003).
Em suma, as relações mantidas por ambos os laços apresentam benefícios e dificuldades
para a transferência de conhecimento (Hansen, 1999; Levin Cross 2004). Embora, os laços
fracos sejam importantes para a aquisição de novas informações e para a inovação
(Granovetter, 1973, 2005; Levin & Cross, 2004), este tipo de relacionamento não é propenso
38
para o fluxo do conhecimento mais complexo e valioso (Hansen, 1999). Já, quando as
relações são mantidas por laços fortes há maior facilidade no compartilhamento de
conhecimento tácito (Hansen, 1999; Argote et al., 2003; Van Wijk et al., 2008; Sankowska,
2013), mas em contrapartida, como neste caso há menor interação entre indivíduos diferentes,
haverá menor fluxo de novas informações (Hansen, 1999; Granovetter, 2005).
2.2 Incubadoras de empresas no processo de transferência de conhecimento para as
empresas incubadas: indutores e barreiras
As empresas sempre almejam um desempenho superior (Vedovello & Figueiredo;
2005) e para isso precisam desenvolver sua capacidade de inovação de processos e produtos
(Lalkaka, 2002; Phillips, 2002; Chen, 2009; Prodan & Ulyin, 2009; Marques et al., 2010),
seja por meio de seus sistemas e estruturas (Chen, 2009) seja pela aquisição de conhecimento
por fontes externas, como universidades e institutos de pesquisa (Rapini & Righi, 2007;
Prodan & Ulyin, 2009).
Nestes termos, os novos empreendedores buscam nas universidades apoio para que
possam desenvolver seus negócios, pois o conhecimento científico e tecnológico produzido
nas instituições de ensino e pesquisa é fundamental para o desenvolvimento das novas
empresas (Lakalka, 2002; Janosky, Babcock & Brentin, 2009; Prodan & Ulyin, 2009) e a
inovação tecnológica (Lakalka, 2002; Etzkowitz et al., 2005; Janosky et al., 2009; Prodan &
Ulyin, 2009).
A interação entre universidade e as empresas pode resultar em benefícios tanto para a
comunidade acadêmica, quanto para os empreendimentos. Por um lado, as instituições de
ensino e pesquisa fornecem suporte ao treinamento e capacitação de recursos humanos
(Vinding, 2004; Etzkowitz et al., 2005; Marques et al., 2010), subsidiam os custos de
39
desenvolvimento das empresas, possibilitam o acesso ao conhecimento científico e
tecnológico antecipadamente (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994; Marques et al., 2010) e a
utilização de equipamentos avançados e instalações das universidades (Marques et al., 2010),
bem como melhoram o desempenho na produção de novos produtos e daqueles
consideravelmente modificados (Arvanitis et al., 2008).
Em contrapartida, ao apoiarem as empresas, as universidades podem adquirir
financiamentos adicionais, particularmente para pesquisa, além de expor seus estudantes e
professores a problemas práticos, o que gera oportunidades de trabalho para os graduandos e
os já graduados e desenvolve novas áreas para aplicar tecnologias e novas questões de
pesquisa (Marques et al., 2010).
Na interação entre universidade-empresas, o compartilhamento do conhecimento
científico-tecnológico baseado em resultados de pesquisas (Phillips, 2002; Prodan & Ulyin,
2009), ocorre por meio de diversas práticas, tais como: conferências e wokshops, contatos
informais, participação em cursos de formação universitária e o emprego de graduandos e
graduados em P&D (Arvanitis et al, 2008). Outros autores, também, abordam como
mecanismos chave de transferência de tecnologia, os spin-off - empresa que incorpora uma
tecnologia desenvolvida em uma organização-mãe (Cley & Braet, 2007; Prodan & Ulyin,
2009), as patentes, as licenças, pesquisas, joint-ventures e as incubadoras de empresas
(Caraynnis et al.,1998; Phillips, 2002; Rothaermel & Thursby, 2005; Etzkowitz et al., 2005;
Marques et al., 2010).
Neste processo de interação das instituições de ensino e pesquisa com os
empreendedores, a incubadora surge como agente importante na aproximação das
universidades com as empresas e, também, auxilia no desenvolvimento dos novos negócios e
na comercialização e compartilhamento de tecnologia (Phillips, 2002; Aaboen, 2009). Estas
organizações atuam como um elo entre o conhecimento acadêmico, a sua transferência e
40
aplicação nas empresas (Aranha, 2002; Hackett & Dilts; 2004), de forma a criar um ambiente
de aprendizagem organizacional (Lois et al., 2004).
Em razão do potencial das incubadoras em fornecer assistência e apoio ao
desenvolvimento das empresas nascentes (Lois et al., 2004; Grimaldi & Grandi, 2005), os
novos empreendedores se associam a essas organizações com o objetivo de superar as
diversas restrições e dificuldades enfrentadas no início de suas atividades (Dornelas, 2002;
Lois et al., 2004; Maury & Beuren, 2009; Andrade Junior, 2012). Tais dificuldades se
relacionam, principalmente, com: (i) baixa intensidade de capital, em decorrência da
dificuldade ao acesso às linhas de crédito (Andrade Junior, 2012; Maury & Beuren, 2009); (ii)
falta de conhecimento tecnológico para a elaboração de projetos, que facilitaria a aquisição de
financiamento (Andrade, Junior, 2012); (iii) pouco conhecimento gerencial; (iv) baixa
qualificação dos recursos humanos; (v) precariedade da função tecnológica; (vi) baixo poder
de barganha com parceiros comerciais (Andrade, Junior, 2012; Maury & Beuren, 2009); (vii)
problema com a produção, decorrente da dificuldade financeira e do alto grau de
conhecimento tecnológico exigido nas empresas de base tecnológica; (viii) dificuldade em
identificar canais de distribuição compatíveis com o tipo de produto que fabricam, dado o seu
caráter inovador; e por fim, (ix) a dificuldade na comercialização dos produtos (Andrade
Junior, 2012).
Com tais dificuldades enfrentadas pelos novos empreendimentos, algumas pesquisas
(ver exemplo, Hannon, 2005; Scillitoe & Chakrabarti, 2010; Andrade Junior, 2012) discutem
se as incubadoras conseguem fornecer suporte e transferir o conhecimento necessário às
empresas incubadas. A literatura sugere que na incubação são despendidos esforços para
desenvolver ações gerenciais, fortalecer a capacidade empreendedora e facilitar a captação de
financiamento junto aos órgãos de apoio (Andrade Junior, 2012). Além disso, durante esse
processo, as incubadoras também fornecem serviços a preços subsidiados para os associados e
41
contribuem para facilitar o acesso aos recursos das universidades, como laboratórios de
pesquisa e conhecimento acadêmico (Lois et al., 2004).
Para atuar como canal de transferência de conhecimento (Marques et al., 2010; Phillips,
2002; Lois et al., 2004; Yan, 2004) gerencial e tecnológico das universidades aos novos
empreendimentos (Vedovello & Figueiredo, 2005), a incubadora promove reuniões, cursos,
treinamentos, workshops, interação com outras incubadoras e assessoria em relação à
elaboração do plano de negócios, em marketing, jurídica, contábil e financeira (Dornelas,
2002).
Nas assessorias oferecidas durante o processo de incubação, a incubadora juntamente
com a universidade (Rothaermel & Thursby, 2005; Marques et al., 2010) é capaz de fornecer
às empresas incubadas três tipos de conhecimento: (i) empresarial, isto é, a forma de iniciar
uma empresa e atingir o mercado; (ii) tecnológico, que se referem aos meios pelos quais o
empreendedor pode adquirir tecnologia externa e aumentá-la internamente; e (iii)
conhecimentos complementares de mercado, que oferecem respostas sobre a maneira de
atender as demandas dos clientes e a forma de segmentar o mercado em diferentes propostas
de valor tecnológico (Becker & Gassman, 2006).
A transferência desses tipos de conhecimento da incubadora para os empreendimentos
incubados, em geral, ocorre durante duas fases: na pré-incubação e na incubação. A primeira
fase tem por objetivo transformar as ideais empreendedoras em negócios de sucesso e
preparar os projetos das empresas para o futuro ingresso na incubadora. Na segunda fase,
ocorre o apoio ao desenvolvimento dos novos empreendimentos e a promoção das condições
favoráveis ao seu crescimento. Por fim, após a incubação ocorre a graduação, que é o período
de inserção da empresa no mercado (Hannon, 2005).
Além dessas etapas, as incubadoras, geralmente, adotam alguns procedimentos que
podem facilitar o fluxo do conhecimento durante o processo de incubação, tais como: (i)
42
instalar os empreendimentos incubados em um mesmo ambiente, no intuito de incentivar a
interação, para que aprendam uns com os outros, mediante a troca de experiências; (ii) captar
recursos externos para financiar os empreendedores; (iii) ter conhecimento da área de atuação
das empresas incubadas; e (iv) dispor de especialistas com conhecimentos gerencial e
tecnológico, com a finalidade de ajudar os empresários no desenvolvimento de sua empresa
(Etzkowitz, 2002).
Embora por meio de suas assessorias e instalações a maioria das incubadoras cumpra
sua função de suporte aos novos negócios, quando seu foco é desenvolver as empresas de
base tecnológica, coloca-se em discursão a sua capacidade em apoiar o crescimento desse tipo
de empreendimento e de que forma atuam para atender adequadamente tais demandas
(Scillitoe & Chakrabarti, 2010; Andrade Junior, 2012), uma vez que, a dinâmica da
transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas depende do tipo
de conhecimento a ser transferido, ou seja, se é gerencial ou tecnológico (Scillitoe &
Chakrabarti, 2010).
Em relação ao conhecimento gerencial, o que inclui desenvolvimento do plano de
negócios, assistência financeira, gerenciamento em marketing, recrutamento de pessoal
(Phillips, 2002; Raupp & Beuren, 2006; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), entre outros (ver
Tabela 1), as incubadoras, geralmente, tem potencial para auxiliar diretamente os
empreendedores (Phillips, 2002).
Por outro lado, a assistência tecnológica, que está associada à pesquisa, ao acesso aos
laboratórios, à proteção jurídica das patentes, ao conhecimento tecnológico ou científico
complexo, à capacidade de comercializar produtos tecnológicos (Hannon, 2005; Scillitoe &
Chakrabarti, 2005) e outras atividades (ver Tabela 1), as incubadoras apresentam limitações
para atendê-las. Desta forma, embora uma das atribuições das IEBTs seja apoiar o
desenvolvimento tecnológico do empreendimento diretamente (Hannon, 2005), em geral, para
43
fornecer conhecimento tecnológico para as empresas incubadas, estas instituições contam com
o apoio das suas redes de contato, as quais são compostas por professores das universidades,
pela comunidade acadêmica (Phillips, 2002), por institutos de pesquisa e por outras empresas
de alta tecnologia (Scillitoe & Chakrabarti, 2010).
Tabela 1
Assistência Gerencial e Tecnológica Fornecida pelas Incubadoras
Tipo de Conhecimento
Definição
Conhecimento Gerencial
-Apoio jurídico, assessoria contábil, assessoria financeira,
planejamento do negócio, recursos humanos, assistência em
marketing e gestão, orientação empresarial e mercadológica e
serviços de secretaria.
Conhecimento Tecnológico
-Proteção à propriedade intelectual, acesso e compreensão do
complexo tecnológico ou conhecimento científico, design de
produtos, habilidade de produção e acesso a laboratório e
equipamentos.
Nota. Fonte: Adaptado de Hannon, P.D. (2005). Incubation policy and practice: Building practitioner and
professional capability. Journal of Small Business and Enterprise Development 12 (1), 57–75.
A capacidade limitada das incubadoras em prestar assistência tecnológica diretamente,
justifica o apoio fornecido pelas redes de contatos (universidades e entidades públicas e
privadas) no compartilhamento de conhecimento tecnológico (Scillitoe & Chakrabarti, 2010).
Desta forma, o processo de transferência de conhecimento e assistência aos empreendimentos
durante a incubação pode ser ilustrado conforme a Figura 1.
Figura 1. Interações com a Incubadora e Assistência aos Empreendimentos
Fonte: Adaptado de Scillitoe, J. L. & Chakrabarti, A. K. (2010). The role of incubator interactions in assisting
new ventures. Technovation, (30), 155–167.
44
Com base nessa discussão, um dos argumentos para aproximar as incubadoras das
universidades, como agentes essenciais da rede, é que o fluxo de conhecimento científico e
tecnológico dessas instituições melhora o desempenho dos novos empreendimentos
(Rothaermel & Thursby, 2005). Além disso, esse relacionamento fornece benefícios para
ambas às partes, pois, de um lado a incubadora pode tornar-se um meio de transferência de
tecnologia da universidade para as empresas incubadas e, por outro as instituições de ensino e
pesquisa geram tecnologia, inovação e leva novos empreendimentos à incubadora (Dornelas,
2002).
Há evidências de que por meio das redes, a aprendizagem das empresas incubadas em
relação ao conhecimento tecnológico seria mais rápida, pois ao estabelecer uma grande
quantidade de contatos, há um aumento no fluxo de novas informações e conhecimentos
diversificados (Hackett e Dilts, 2004). Entretanto, a eficácia do apoio tecnológico fornecido
pelas incubadoras por meio de outros agentes precisa ser analisada, uma vez que, a interação
indireta, pode dificultar a compreensão das necessidades das empresas incubadas em relação a
este tipo de conhecimento, o que resultará no retardamento do processo de incubação
(Scillitoe & Chakrabarti, 2010).
Desta forma, o compartilhamento do conhecimento gerencial e tecnológico fornecido
pelas incubadoras, como atividades intermediárias no desenvolvimento dos novos
empreendimentos (Scillitoe & Chakrabarti, 2010), não é tão simples como se supõe e envolve
diversos fatores que ainda não foram totalmente compreendidos, quando se trata da interação
universidade, incubadora e empresa (Phillips, 2002).
45
2.2.1 Fatores que influenciam a transferência de conhecimento durante a incubação das
empresas
Como em um contexto de incubação, o conhecimento flui entre organizações distintas
(universidade, incubadora e empresas incubadas) e essa dinâmica depende do tipo de
conhecimento (gerencial e tecnológico) que será compartilhado (Scillitoe & Chakrabarti,
2010), os fatores agrupados nas quatro categorias, já analisadas no capítulo anterior, tais
como: (i) a característica do conhecimento; (ii) a característica organizacional da fonte; (iii) a
característica organizacional do receptor; e (iv) a intensidade dos laços (Szulanski, 1996,
2000; Argote et al., 2003; Cummings & Teng, 2003, Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et
al., 2008), podem ser apontados como críticos à transferência de conhecimento das
incubadoras para empresas incubadas (Phillips, 2002; Scillitoe & Chakrabarti, 2010).
A seguir discutem-se os fatores que afetam a transferência de conhecimento no
relacionamento entre universidade, incubadora e empresa. Porém, cabe ressaltar que nesta
interação a universidade atua como fonte do conhecimento, a incubadora ora cumpre o papel
de fonte e ora de receptora e as empresas incubadas apenas recebem o conhecimento dessas
organizações.
Como primeiro fator que influencia a transferência de conhecimento na interação
universidade, incubadora e empresa, está a característica do conhecimento (Bonaccorsi &
Piccaluga, 1994), que é associada a sua natureza tácita e explícita (Nonaka, 1994; Nonaka et
al., 2000; Anand et al., 2010).
A natureza tácita do conhecimento dificulta a sua transferência, pois é enraizado nas
experiências do indivíduo e como não é codificado, torna-se impossível transferi-lo por meio
da escrita ou instrumentos impressos, o que requer mecanismos mais complexos de
transmissão, como a fala e a observação das práticas desenvolvidas por trabalhadores ou
46
pesquisadores (Nonaka, 1994; Nonaka et al., 2000; Anand et al., 2010). Assim, as criações de
novas ideias e as formações de conceitos são altamente dominadas pelo conhecimento tácito,
que posteriormente será articulado de forma explícita (Nonaka, 1994).
Dado as características do conhecimento tácito, a sua transferência influencia
fortemente a relação estabelecida entre universidade, incubadora e empresa incubada, pois
pode gerar um impacto no arranjo institucional, uma vez que, o fluxo de conhecimento tácito
requer que o relacionamento interorganizacional seja suficientemente duradouro e estruturado
para suportar tal processo, o qual é baseado na observação, na experiência de tentativa e erro e
necessita de um ambiente organizacional que realize reuniões frequentes e participe de redes
de pesquisa (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994).
Além disso, o nível de codificação do conhecimento também influencia a natureza da
informação que é transmitida entre organizações e o tipo de canais de comunicação utilizado.
Em teoria, um conhecimento completamente codificado, ou seja, de natureza explícita,
poderia ser transferido por informações não ambíguas e por canais de comunicação impessoal.
Por outro lado, um conhecimento especializado e altamente tácito, dificilmente será articulado
de forma completa. Portanto, a transferência de conhecimento dos pesquisadores para os
empreendedores, ocorre em partes significativas de informações, de forma incompleta,
ambígua e instável (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994).
Em relação à segunda categoria, a característica organizacional da fonte, deve-se
ressaltar a capacidade disseminativa do conhecimento, ou seja, o potencial da fonte
(universidade e incubadora) em estabelecer um fluxo de conhecimento para o receptor
(incubadora e empresa incubada) de forma eficaz, bem como, sua motivação em participar
deste processo (Husted & Michailova, 2002; Minbaeva & Michailova, 2004; Tang, et al.,
2010; Tang, 2011).
47
Nestes termos, como a incubadora e a universidade atuam como fontes de conhecimento
para as empresas incubadas (Scillitoe & Chakrabarti, 2010) é importante se atentar para o
potencial destes agentes em codificar, articular, comunicar e ensinar o conhecimento para o
receptor (empreendedores). Além de, observar o seu comportamento em relação à
transferência, pois talvez não haja interesse da fonte em compartilhar o seu conhecimento por
achar que não terá recompensas com essa atitude e ainda perder sua posição de privilégio e
superioridade (Szulanski, 1996; Husted & Michailova, 2002; Minbaeva & Michailova, 2004;
Tang, et al., 2010; Tang, 2011).
Como terceira categoria de fatores que pode influenciar a transferência de conhecimento
no processo de incubação de empresas (Rothaermel & Thursby, 2005), está a capacidade
absortiva do receptor (Cummings & Teng, 2003; Vinding, 2004; Van Wijk et al., 2008).
No caso da transferência de conhecimento durante a incubação, a incubadora também
atua como receptora do conhecimento externo, pois precisa atender as necessidades das
empresas incubadas (Rothaermel & Thursby, 2005), o que, conforme a definição de CA
(Cohen & Levithal, 1990) discutida no capítulo anterior, torna necessário que os seus
profissionais tenham conhecimento prévio para que consigam absorver novas informações e
oportunidades e, consequentemente, utilizá-las para capacitar as empresas incubadas. Já os
empreendedores, que são os agentes mais interessados em obter conhecimento gerencial e
tecnológico, também precisam desenvolver sua CA (Rothaermel & Thursby, 2005), de forma
que consigam adquirir, transformar e utilizar esse conhecimento em prol da estruturação,
crescimento e competitividade do seu empreendimento (Szulanski, 1996; Van Wijk et al.,
2008; Vega-Jurado et al. 2008).
Além disso, é importante considerar a motivação do receptor em adquirir o
conhecimento como um fator associado a sua CA. No caso de um ambiente de incubação a
aquisição de conhecimento é impulsionada, pricipalmente pelo fato de que, para identificar as
48
oportunidades e conhecimentos externos e obter vantagem competitiva, os empreendimentos
precisam se desenvolver internamente. Assim, buscam nas universidades (Bonaccorsi &
Piccaluga, 1994) e nas incubadoras esse apoio, pois veem nestes agentes, alto potencial para
desenvolver o conhecimento interno de suas empresas, de forma que consigam superar as
diversas dificuldades enfrentadas no mercado (Phillips, 2002).
Por fim, a quarta categoria apontada como capaz de influenciar o processo de
transferência de conhecimento está associada à intensidade dos laços (fortes ou fracos), que
variam conforme a proximidade cultural e a qualidade do relacionamento (Granovetter, 1973;
Argote et al., 2003).
Baseando nas características que determinam a intensidade dos laços, estudos mostram
(ver exemplo, Scillitoe & Chakrabarti, 2005, 2010) que, como em um ambiente de incubação
a incubadora e os empreendedores têm objetivos convergentes, ou seja, desenvolver as
empresas incubadas, tornando-as competitivas (Dornelas, 2002; Lois et al., 2004; Maury &
Beuren, 2009; Andrade Junior, 2012), é estabelecido uma intensa interação e um
relacionamento de confiança entre a fonte e a receptora, o que aumenta a conexão social e
gera um relacionamento de laços fortes (Scillitoe & Chakrabarti, 2010).
Os laços fortes na incubação são importantes para que as incubadoras conheçam as
necessidades dos empreendedores. Além disso, como estas organizações de apoio ao
empreendedorismo apresentam estrutura e potencial para transferir diretamente o
conhecimento gerencial para as empresas incubadas, o relacionamento forte entre esses
agentes faz com que esse tipo de conhecimento flua com maior facilidade (Scillitoe &
Chakrabarti, 2010) e que seja de natureza tácita, o que permite alcançar níveis mais elevados
de aprendizagem (Van Wijk et al., 2008).
Em outra perspectiva, quando os empreendimentos necessitam de conhecimento
tecnológico as incubadoras contam com apoio das redes compostas, principalmente, por
49
instituições de pesquisa e ensino (Phillips, 2002; Hannon, 2005; Scillitoe & Chakrabarti,
2010). Entretanto, a literatura (ver exemplo, Bonaccorsi & Piccaluga, 1994; Khalozadeh,
Kazemi, Movahedi, & Jandaghi, 2011) aponta que a universidade e as empresas apresentam
diversas diferenças culturais, tais como: (i) enquanto a primeira visa publicar suas pesquisas, a
segunda preza o sigilo como forma de vantagem contra os concorrentes; (ii) os
empreendedores exigem soluções práticas em curto prazo, já os acadêmicos trabalham em
longo prazo e (iii) as formas organizacionais e perspectivas culturais, geralmente, são
divergentes ao comparar as empresas e as universidades (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994;
Khalozadeh et al., 2011).
Além disso, a qualidade do relacionamento entre as universidades e as empresas é
associada à questão da apropriabilidade do conhecimento. Este fator está ligado ao problema
da falta de confiança das organizações na idoneidade dos acadêmicos, os quais, ao deter o
conhecimento, podem utilizar os resultados das pesquisas para abrir seu próprio negócio ou
fornecer informações que beneficiam os concorrentes (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994). Nestes
termos, como a confiança é um quesito importante para a eficácia da transferência de
conhecimento (Kostova, 1999; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Van Wink et al., 2008; Joia &
Lemos, 2009), durante esta interação, torna-se necessário se atentar para alguns mecanismos
de proteção que possam elevar a confiabilidade entre a fonte e o receptor, tais como, o sistema
de patentes e acordos que contenham cláusulas que viabilizem retornos para os acadêmicos,
desde que se comprometam a colaborar e manter sigilo, dentre outros acordos e contratos
(Bonaccorsi & Piccaluga, 1994).
Essas características da interação entre universidade-empresa (diferença cultural, baixa
interação e confiança) (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994), podem afetar a intensidade dos laços
estabelecidos entre esses atores, que provavelmente serão mais fracos e, consequentemente
dificultarão a transferência de conhecimento tácito (Szulanski, 1996, 2000; Cummings &
50
Teng, 2003; Jasimuddin, 2007; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; PérezNordtvedt et al., 2008; Van Wijk et al., 2008).
Com base nesses fatores, para que as incubadoras gerenciem o fluxo de conhecimento
científico e tecnologico das universidades para as empresas, é necessário que elas
administrem os objetivos divergentes e o relacionamento entre esses atores (Phillips, 2002;
Khalozadeh et al., 2011), de forma à possibilitar o avanço, o progresso, a competitividade e a
melhoria no desempenho das empresas incubadas (Khalozadeh et al., 2011).
Por fim, a Tabela 2 apresenta uma síntese dos fatores que influenciam o processo de
transferência de conhecimento entre organizações, abordados neste capítulo.
Tabela 2
Síntese Teórica dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento
Característica
Organizacional
do Receptor
Característica
Organizacional da
Fonte
Características do Conhecimento
Itens
Fatores
Explícito
Tácito
Capacidade
Disseminativa
Capacidade
Absortiva
Indicadores
Referências
- Articulado na linguagem formal e pode ser
codificado em palavras, símbolos e números;
- Objetivo e fácil de compartilhar na forma de
especificações e procedimentos operacionais
padrão.
Nonaka, 1994; Becker e
Gassman (2006); Becerra et
al. (2008); Bessant e Tidd
(2009); Anand et al.(2010).
- Apresenta-se de forma ambígua;
- Baseia-se em experiências individuais;
- Profundamente enraizado na ação humana;
- Comprometido e envolvido em um contexto
específico, o que dificulta sua articulação na
linguagem formal.
Nonaka (1994); Becker e
Gassman (2006); Becerra et
al. (2008); Van Wijk et
al.(2008); Anand et
al.(2010).
- Capacidade da fonte em codificar, articular,
comunicar e ensinar o conhecimento para o
receptor de forma eficaz e eficiente;
- Motivação em compartilhar o seu
conhecimento;
- Depende das atitudes e comportamentos da
fonte no processo de transferência de
conhecimento.
- Conhecimento prévio;
- Educação e treinamento dos funcionários;
- Atividades de P&D;
-Habilidade e motivação do receptor em
adquirir conhecimento.
Husted e Michailova
(2002); Minbaeva e
Michailova (2004);
Minbaeva (2007); Tang et
al. (2010); Tang (2011).
Cohen e Levithal (1990);
Szulanski, (1996); Kostova
(1999); Vinding (2004);
Minbaeva (2007); Van Wijk
et al.(2008); Vega-Jurado et
al.(2008); Zahra e George
(2002).
Intensidade dos Laços no
Relacionamento entre Fonte e Receptor
51
Laços Fortes
Laços Fracos
- Indivíduos e/ou organizações com grande
proximidade cultural (compatibilidade entre os
valores e objetivos, subjacentes a cultura da
fonte e do receptor);
- Alta qualidade no relacionamento (confiança e
intenso relacionamento);
- Facilita a transferência de conhecimento tácito.
- Relações com grande quantidade de
indivíduos, o que envolve diversidade cultural;
- Permite a aquisição de novas informações;
- Baixa qualidade no relacionamento (confiança
e intenso relacionamento);
- Dificulta a transferência de conhecimento
tácito.
Ganovetter (1973);
Szulanski (1996:2000);
Argote et al. (2003);
Jasimuddin (2007); PérezNordtvedt, et al. (2008); Van
Wijk et al. (2008); Castro, et
al. (2013), Sankowska
(2013).
Ganovetter (1973);
Szulanski (1996:2000);
Argote et al. (2003);
Jasimuddin (2007).
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
2.3 Framework do processo de transferência de conhecimento das incubadoras para as
empresas incubadas
A literatura (ver exemplo, Phillips, 2002; Rothaermel & Thursby, 2005; Scillitoe &
Chakrabarti, 2010), como apresentado nas seções anteriores, tem discutido o papel das
incubadoras de empresas de base tecnológica, juntamente com as instituições de ensino e
pesquisa, no apoio ao empreendedorismo e a inovação. Assim, durante a incubação cada
agente, que participa do processo, tem atribuições que possibilitam uma ideia se tornar um
empreendimento de sucesso e, ainda, gerar benefícios para a comunidade acadêmica (ver
Figura 2). A universidade cumpre as funções de qualificar os recursos humanos, levar novos
empreendimentos à incubadora e produzir conhecimento científico-tecnológico por meio dos
resultados de pesquisas (Phillips, 2002; Rothaermel & Thursby, 2005; Prodan & Ulyin, 2009).
A incubadora gerencia a interação entre a universidade e as empresas incubadas, fornece
conhecimento gerencial e facilita o acesso dos empreendedores às instituições de ensino
(Phillips, 2002). Por fim, as empresas incubadas, além de adquirirem conhecimento, também,
geram benefícios para a universidade, tais como: (i) adquirem financiamento para pesquisas;
52
(ii) expõem estudantes e professores a problemas práticos; (iii) geram oportunidades de
trabalho; e (iv) criam novas questões de pesquisa (Marques et al., 2010).
Figura 2. Incubadora de Empresas como Elo entre a Universidade-Empresas Incubadas e os
Benefícios da Incubação de Empresas para a Instituição de Ensino
Fonte: Elaborado pela autora
Embora as atribuições das incubadoras e das universidades durante a incubação das
empresas possam ser claramente delimitadas, o desenvolvimento dos empreendimentos é
pautado na transferência de conhecimento gerencial e tecnológico (Scillitoe & Chakrabarti,
2010) e, este não é um processo tão simples, pois é multidimensional, ou seja, envolve fatores
organizacionais e relacionais que influenciam o fluxo de conhecimento (Szulanski, 1996,
2000).
Desta forma, com o objetivo de orientar esta pesquisa e possibilitar a visualização do
processo de transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as
empresas incubadas, a partir da revisão da literatura foi elaborado um framework, apresentado
na Figura 3, o qual se fundamentou no papel das universidades, das incubadoras e das
empresas incubadas durante o processo de incubação, conforme ilustrado na Figura 2 e, nos
53
fatores que influenciam todo o fluxo de conhecimento da fonte para o receptor, discutido nos
estudos de transferência de conhecimento interorganizacional (ver exemplo, Szulanski, 1996,
2000; Argote et al., 2003; Cummings & Teng, 2003; Minbaeva, 2007 Easterby-Smith et al.,
2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Van Wijk et al., 2008).
Figura 3. Framework do Processo de Transferência de Conhecimento das Incubadoras de
Base Tecnológica para as Empresas Incubadas
Fonte: Elaborado pela autora
O modelo teórico expõe como o conhecimento gerencial e tecnológico pode ser
transferido em sua natureza explícita ou tácita, o que dependerá das características
organizacionais da fonte e do receptor e da intensidade dos laços entre os agentes envolvidos
(Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003; Cummings & Teng, 2003, Easterby-Smith et al.,
2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Van Wijk et al., 2008). Assim, é necessário observar no
54
framework o papel de cada agente e como os fatores críticos influenciam a transferência de
conhecimento.
A universidade atua como fonte de conhecimento tecnológico e científico (Bonaccorsi
& Piccaluga, 1994; Rothaermel & Thursby, 2005; Marques et al., 2010), assim, precisa ter
capacidade disseminativa, ser incentivada e estar disposta a dedicar tempo e recursos para
apoiar a transferência de conhecimento para os empreendimentos incubados (Bonaccorsi &
Piccaluga, 1994; Vinding, 2004; Etzkowitz et al., 2005; Rothaermel & Thursby, 2005;
Marques et al., 2010). A incubadora como um agente intermediário, tem como atribuições a
transferência de conhecimento gerencial diretamente para as empresas incubadas e a
mediação da interação destes empreendimentos com a universidade (Aranha, 2002; Hackett &
Dilts; 2004; Rothaermel & Thursby, 2005), deste modo, é necessário que tenha capacidade
absortiva e capacidade disseminativa. Já as empresas incubadas atuam como receptoras e
precisam ter interesse no conhecimento e desenvolver sua capacidade absortiva, para que a
aquisição de conhecimento seja eficaz (Kostova, 1999; Szulanski, 1996, 2000; Argote et al.,
2003; Van Wijk et al., 2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008).
Como as incubadoras não apenas transferem conhecimento diretamente, mas também
atuam como um elo entre a universidade e as empresas incubadas, gerenciando a transferência
de conhecimento e administrando a interação e a comunicação entre as partes, o fluxo de
conhecimento entre estes três agentes passa a ser influenciado pelos laços estabelecidos.
Quando a incubadora fornece apoio gerencial diretamente para as empresas incubadas,
há motivação de ambas as partes em trabalharem juntas para que o empreendimento se
desenvolva e se torne competitivo, o que geram laços mais fortes entre esses agentes (Scillitoe
& Chakrabarti, 2010). Essa intensidade no relacionamento permite a incubadora monitorar o
progresso das empresas incubadas e atender adequadamente as suas necessidades (Hannon,
2005), de forma que o conhecimento tácito seja transferido com mais facilidade e,
55
consequentemente, que haja um maior nível de aprendizagem dos empreendedores (Scillitoe
& Chakrabarti, 2010).
Por outro lado, alguns estudos (ver exemplo, Bonaccorsi & Piccaluga, 1994) discutem
que há uma diferença cultural e baixa confiança entre a universidade e as empresas incubadas
e, assim, a interação entre esses agentes ocorre por meio de laços fracos (Scillitoe &
Chakrabarti, 2010), o que dificulta a transferência de conhecimento tecnológico de natureza
tácita. Desta forma, é necessário que este fluxo de conhecimento seja estudado de forma a
obter uma maior compreensão desse processo (Phillips, 2002).
Portanto, dado os fatores que influenciam na eficácia da transferência de conhecimento
durante a incubação das empresas, a partir do framework apresentado, pressupõe-se que para
analisar este processo é necessário determinar algumas váriaveis ressaltadas na literatura até o
momento, tais como: (i) a forma de transferência de cada tipo de conhecimento para as
empresas incubadas; (ii) as características organizacionais da universidade, da incubadora e
das empresas incubadas; e (iii) os aspectos que influenciam a intensidade dos laços
estabelecidos no relacionamento entre as partes envolvidas neste fluxo de conhecimento.
56
3 Metodologia
Este capítulo aborda os procedimentos metodológicos que foram utilizados nesta
pesquisa, ou seja, a estratégia e o método, as unidades de análise, a forma de coleta de dados e
como estes foram analisados.
3.1 Estratégia e método de pesquisa
Com o propósito de compreender a dinâmica da transferência de conhecimento das
incubadoras de empresas para as empresas incubadas, no que tange os fatores e barreiras
envolvidas neste processo, foi adotada como estratégia a pesquisa de natureza qualitativa,
com a utilização do método de estudo de caso (Eisenhardt, 1989; Yin, 2005).
O estudo de caso como método qualitativo é largamente utilizado, devido seu potencial
em possibilitar o surgimento de novos e inovadores conhecimentos (Yin, 2005; Welch,
Piekkari, Plakoyiannaki & Paavilainen-Mäntymäki, 2011). Além disso, este método permite
um exame profundo e amplo do caso em seu contexto real (Yin, 1981; Eisenhardt, 1989; Yin
2005), principalmente, quando os limites entre o fenômeno a ser estudado e o ambiente não
são claros (Yin, 1981).
Baseando-se nessas características, a justificativa para a utilização deste método, devese a sua capacidade em possibilitar o pesquisador analisar a natureza do objeto de estudo em
pontos bastante específicos e com grande nível de detalhamento, utilizando uma teoria
previamente definida (Greenwood, 1973, Yin, 2005).
Portanto, com base nos pressupostos de que as incubadoras transferem conhecimento
gerencial e tecnológico das universidades para os novos empreendimentos (Lalkaka, 2002;
Phillips, 2002; Rothaermel & Thursby, 2005; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), por meio do
método de estudo de caso foi possível desenvolver um estudo aprofundado sobre uma unidade
57
e sua relação com o contexto em que estava envolvida, evidenciando de forma empírica como
ocorre a transferência de conhecimento da incubadora para os novos empreendimentos e os
fatores que influenciam este processo.
3.2 Unidades empíricas de análise
No presente estudo, após estabelecer a questão de pesquisa e direcionar a atenção para
o processo de transferência de conhecimento embasado em uma teoria a priori, optou-se por
investigar duas incubadoras e suas respectivas empresas incubadas, o que configura um
estudo de múltiplos casos (Yin, 1991, 2005).
A seleção dos casos foi intencional e com critérios baseados na riqueza do fenômeno a
ser estudado, para que fosse possível obter resultados que apresentassem as suas
peculiaridades e a sua complexidade (Eisenhardt, 1989; Yin, 2005).
Como requisito para a escolha dos casos, determinou-se que as incubadoras de empresas
selecionadas fossem de base tecnológica, por representar o tipo mais utilizado no Brasil
(ANPROTEC & MCTI, 2011). Além disso, foram estudadas aquelas que tinham alguma
ligação com instituições de ensino e pesquisa, uma vez que, observou-se na literatura que o
conhecimento tecnológico é fornecido pelas incubadoras por meio da interação com as
universidades (Scillitoe & Chakrabarti, 2010).
Com base nos critérios de seleção, foram identificados os possíveis casos de
incubadoras de empresas de base tecnológica e posteriormente foram contatados aqueles mais
indicados para a realização da pesquisa em profundidade. Desta forma, após identificar e
contatar diversas incubadoras de referência, que constam na lista disponibilizada pela
ANPROTEC, conseguiu-se selecionar 2 (duas) que se dispuseram a colaborar com o estudo e
58
permitiram o acesso às instalações para realizar as entrevistas e recolher documentos
relevantes para a pesquisa.
O primeiro caso é o da Incubadora RAIAR, localizada no estado do Rio Grande do Sul,
na cidade de Porto Alegre, é classificada como de base tecnológica e faz parte da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Esta incubadora tem capacidade para
atender em torno de 70 (setenta) novos empreendimentos de base tecnológica de diversos
setores, mas até o mês de novembro de 2013 estava com 21(vinte e uma) empresas incubadas.
Por fim, o segundo caso é o da Incubadora do CENTEV, que é vinculada a
Universidade Federal de Viçosa – UFV e, também, é classificada como de base tecnológica.
Até o mês de maio de 2014, a incubadora tinha 9 (nove) empreendimentos incubados de base
tecnológica de vários setores e estava acompanhando 12 (doze) projetos pré-incubados.
3.3 Estratégia de coleta de dados
O estudo de caso não implica em um método particular de levantamento de dados (Yin,
1981), os quais podem ser coletados por meio do trabalho de campo, das observações,
entrevistas, arquivos, documentos, dentre outros (Bonoma, 1985; Eisenhardt, 1989; Meyer,
2001; Yin, 2005). A utilização de vários instrumentos de coleta possibilita a triangulação, o
que aumenta a consistência e a confiabilidade dos dados (Jick, 1979; Yin, 2005) e permite
obter conclusões mais robustas (Eisenhardt, 1989).
Com base nas diversas possibilidades de conduzir a coleta de dados, nesta pesquisa,
realizou-se uma triangulação, com a utilização de alguns instrumentos de coleta, tais como: (i)
observações realizadas no decorrer das visitas técnicas; (ii) entrevistas em profundidade
realizadas com os gestores das incubadoras; (iii) entrevistas semiestruturadas conduzidas com
os empreendedores das empresas incubadas; e (iv) documentos disponibilizados.
59
A coleta de dados iniciou-se pelo caso da incubadora RAIAR, com uma viagem e estada
em Porto Alegre durante o mês de novembro de 2013. Neste período, primeiramente, foram
feitas visitas técnicas às instalações da incubadora, ao parque tecnológico e à própria
universidade onde essas unidades estão instaladas, o que possibilitou observar a estrutura que
envolve a incubadora e alguns de seus procedimentos.
Além das visitas técnicas, foram feitas entrevistas com funcionários da incubadora,
selecionados de acordo com o cargo e setor de atuação associado diretamente com o
desenvolvimento dos empreendimentos incubados e, também, foram entrevistados os
empreendedores das empresas incubadas, selecionados conforme a permissão de acesso ao
empreendimento incubado e a disponibilidade dos sócios ou colaboradores desses
empreendimentos em participar da pesquisa.
Conforme os critérios de seleção fizeram-se 2 (duas) entrevistas em profundidade, uma
com o gestor da incubadora e a outra com o assessor de comunicação, juntamente, com o
assessor de monitoramento e, 5 (cinco) entrevistas semiestruturadas com gestores de
empreendimentos incubados.
As entrevistas foram guiadas por dois roteiros derivados da literatura, que abrangem
aspectos como: a transferência de conhecimento, dificuldades de relacionamentos, laços
estabelecidos, fatores que influenciam a transferência, entre outros. O primeiro roteiro tinha
por objetivo verificar a visão da incubadora em relação ao processo de transferência de
conhecimento e interação universidade empresa. Já o segundo tinha o propósito de verificar a
percepção das empresas incubadas a respeito da transferência de conhecimento. Estes
instrumentos se encontram nos apêndices A e B.
A Tabela 3 mostra como as entrevistas do primeiro caso são citadas na descrição e na
análise de dados.
60
Tabela 3
Relação de Entrevistas Realizadas na Incubadora de Empresa de Base Tecnológica –
IEBT RAIAR
Referência das Entrevistas
E.1:1
Entrevistado
Gestor da Incubadora
E.1:2
Assessor de Comunicação e Assessor de Monitoramento
E.1:3
Empresa Incubada 1
E.1:4
Empresa Incubada 2
E.1:5
Empresa Incubada 3
E.1:6
Empresa Incubada 4
E.1:7
Empresa Incubada 5
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
Além das entrevistas, os documentos também foram utilizados na medida em que a
pesquisadora teve acesso a estes materiais, que são importantes para construir um
entendimento dos processos adotados e da história da organização, o que facilita a análise dos
dados. Entretanto, raramente é possível coletar e verificar todos os documentos e, assim, é
necessário fazer uma seleção (Meyer, 2001). Em relação a este instrumento, no primeiro caso
recolheram-se documentos relevantes, tais como, o anuário da RAIAR de 2012 e alguns
estudos já publicados sobre a instituição. Na Tabela 4 é apresentada a relação de documentos.
Tabela 4
Relação de Documentos da IEBT RAIAR
Referência dos Documentos
Doc.1:1
Título
Revista PUC RS - Edição nº 167 - Novembro, Dezembro de 2013,
página 28-29.
Doc.1:2
Mecanismos de Gestão e de Aceleração de Empreendimentos - O
Caso da Incubadora RAIAR.
Doc.1:3
O impacto das novas tecnologias na comunicação das Micro e
Pequenas Empresas da Incubadora RAIAR. 2008.
Doc.1:4
Anuário da RAIAR 2012.
Doc.1:5
A qualidade Percebida nos Serviços de Empresas. 2011. Estudo de
caso com a IEBT RAIAR
Doc.1:6
Desenvolvimento de Capacidades e Competências: Relações entre
Incubadoras e Empresas Incubadas. - Estudo de Caso da IEBT
RAIAR
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
61
Ao retornar da coleta de dados da IEBT RAIAR, imediatamente, passou-se a transcrever
as entrevistas para não perder detalhes complementares que ainda estavam na memória. O
conjunto de dados transcritos (entrevistas e documentos) somou um total de 189 (cento e
oitenta e nove) páginas, que compuseram o corpus de pesquisa e foram à base para a redação
do primeiro caso.
Com o primeiro caso redigido era o momento de fazer o segundo caso para efeitos de
replicação. Assim, no mês de maio de 2014 viajou-se para Viçosa, Minas Gerais, para que os
dados da IEBT CENTEV/UFV fossem coletados. Neste período, também, foram realizadas
visitas técnicas às instalações da incubadora e ao parque tecnológico, o que possibilitou
observar a infraestrutura da incubadora e como são realizados alguns procedimentos de apoio
aos empreendimentos pré-incubados e incubados.
Durante a visita, foram realizadas 2 (duas) entrevistas em profundidade, uma com o
gestor da incubadora e a outra com o gerente de acompanhamento. Além dessas, também,
foram feitas 5 (cinco) entrevistas semiestruturadas com os gestores de empreendimentos
incubados. Destaca-se que todas as entrevistas foram guiadas pelos mesmos roteiros
utilizados no caso da RAIAR e a seleção dos respondentes seguiu os mesmos critérios do
primeiro caso. A Tabela 5 apresenta a relação das entrevistas realizadas no segundo caso e
como elas são citadas na descrição e análise dos dados.
Tabela 5
Relação de Entrevistas Realizadas na Incubadora de Empresa de Base TecnológicaIEBT CENTEV/UFV
Referência das Entrevistas
Entrevistado
E.2:1
Gestor da Incubadora
E.2:2
Gerente de Acompanhamento Empresarial da Incubadora
E.2:3
Empresa Incubada 1
E.2:4
Empresa Incubada 2
E.2:5
Empresa Incubada 3
E.2:6
Empresa Incubada 4
E.2:7
Empresa Incubada 5
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
62
Além disso, recolheram-se documentos relevantes, tais como: (i) Anexo da Resolução
Nº01/2012- CONSU _ Regimento Interno da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica
CENTEV/UFV; (ii) Procedimento Operacional Padrão - Processo de Incubação; (iii)
Procedimento Operacional Padrão - Processo de Pré-Incubação; e (iv) alguns estudos já
publicados sobre a IEBT CENTEV. A Tabela 6 apresenta a relação de documentos e a forma
como são citados durante a descrição e análise dos dados.
Tabela 6
Relação de Documentos da IEBT CENTEV/UFV
Referência dos Documentos
Título
Doc.2:1
Análise do Plano de Negócios nas
Empresas da Incubadora CENTEV/UFV
Doc.2:2
A Influência da Rede Precedente dos Empreendedores na Taxa de
Crescimento de Empresas Iniciantes: O caso de uma incubadora de
Empresa universitária (CENTEV/UFV)
Doc.2:3
Interação dos modelos de gestão ISO 9001:2008 e CERNE e sua
implantação em uma incubadora de empresas de base tecnológica
(CENTEV/UFV): metodologia e obstáculos
Doc.2:4
Interação universidade-empresa, empreendimento
inovador e desenvolvimento local: um estudo de caso da incubadora
CENTEV/UFV
Doc.2:5
Promoção da interação universidade-empresa: estudo de caso do
CENTEV/UFV
Doc.2:6
Anexo Da Resolução Nº01/2012- CONSU _ Regimento Interno Da
Incubadora De Empresas De Base Tecnológica - CENTEV/UFV.
Doc.2:7
Procedimento Operacional Padrão - Processo de Incubação da
CENTEV/UFV
Doc.2:8
Procedimento Operacional Padrão - Processo de Pré-Incubação da
CENTEV/UFV
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
Por fim, como no primeiro caso, ao retornar da coleta de dados, as entrevistas foram
imediatamente transcritas para que não se perdesse nenhum detalhe complementar. O
conjunto de dados transcritos (entrevistas e documentos) somou um total de 158 (cento e
63
cinquenta e oito) páginas, que compuseram o corpus de pesquisa e foram à base para a
redação do segundo caso.
3.4 Estratégia de análise de dados
A análise de dados é a etapa mais difícil e a menos codificada do processo de pesquisa e
pode ocorrer por meio de diversos recursos chave (Eisenhardt, 1989; Yin, 2005). No caso
deste estudo foi adotado o método de análise de conteúdo, que utiliza um conjunto de técnicas
de sistematização para descrever e interpretar o conteúdo da mensagem (Bardin, 2004).
No início da análise, os dados coletados ainda são brutos e só terão sentido se forem
tratados com técnicas adequadas (Mozzato & Grzybovski, 2011). Desta forma, há três fases
que precisam ser seguidas durante a análise de conteúdo: (i) pré-análise, (ii) exploração do
material, (iii) tratamento dos resultados (Bardin, 2004).
A fase de pré-análise é a organização de todo o material que será utilizado para a coleta
de dados e para o suporte ao entendimento do fenômeno em questão. Nestes termos,
primeiramente, foi realizada uma leitura dos documentos de forma que possibilitasse criar
impressões e orientações, o que é chamado de “leitura flutuante” (Bardin, 2004), para que,
posteriormente, fosse possível escolher os documentos que atendessem aos objetivos da
pesquisa.
A fase de exploração do material consiste em operações de codificação, que é o
processo pelo qual há uma transformação dos dados brutos para torná-los significativos
(Bardin, 2004). Assim, após a coleta e transcrição dos dados, eles foram alocados em
planilhas do Microsoft Excel, que geraram um corpus de análise (documentos e entrevistas)
de, aproximadamente, 32 páginas no primeiro caso e 59 páginas no segundo caso.
64
A obtenção do corpus de análise só foi possível ao tratar os dados, os quais foram
alocados nas planilhas conforme as categorias de análise definidas com base na literatura. A
categorização é uma operação de classificação dos elementos (Bardin, 2004), o que permite
organizar sistematicamente o processo, com objetivo de evitar a perda do propósito da
pesquisa e das questões a serem respondidas (Yin, 2005). As categorias de análise dos dois
estudos de caso estão representadas na Tabela 7.
Tabela 7
Categorias de Análise
Item
Categorias de Análise do Processo de Transferência de
Conhecimento Gerencial e Tecnológico
Características do conhecimento
- Conhecimento Tácito;
- Conhecimento Explícito.
Característica organizacional da fonte
(universidade e incubadora)
- Capacidade da fonte em disseminar conhecimento
(habilidade e motivação em transferir conhecimento).
Característica organizacional do receptor
(incubadora e empresas incubadas)
- Capacidade absortiva em relação ao conhecimento
(habilidade e motivação do receptor em adquirir
conhecimento).
Intensidade dos laços (Fortes e Fracos)
- Qualidade do relacionamento entre universidade,
incubadora e empresas incubadas;
-Proximidade cultural entre os agentes.
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
Por fim, adotou-se na pesquisa o procedimento de caso-cruzado (Yin, 1981), o qual foi
realizado com o objetivo de possibilitar a observação das similaridades e/ou diferenças entre
os casos analisados – IEBT Raiar e IEBT CENTEV/UFV. Entretanto, o problema das análises
deste tipo são as conclusões prematuras ou mesmo falsas que ocorrem em consequência de
vícios ou desvios na informação. Desta forma, a chave para uma boa comparação casocruzado é deter essas tendências e avaliar os dados por diversos caminhos (Eisenhardt, 1989).
Com base nesses aspectos, o presente estudo analisou as peculiaridades de cada caso e,
posteriormente, destacou as semelhanças e diferenças entre eles, bem como verificou se as
evidências coletadas condizem ou não com as categorias abordadas na literatura, o que
65
permitiu aumentar a validade interna desta pesquisa (Meyer, 2001; Yin, 2005). Por outro lado,
embora, durante a análise dos dados tenham sido adotados procedimentos para aumentar a
validade e confiabilidade deste estudo, é importante destacar que ao tratar de validade externa,
a qual está associada à possibilidade do pesquisador universalizar determinados resultados a
uma teoria mais abrangente (Yin, 2005), houve uma perda neste quesito, pois como foram
utilizados dois casos, não é possível fazer generalizações.
66
4 Descrição e Análise dos Dados
Neste capítulo é descrito e analisado o processo de transferência de conhecimento, com
foco no conhecimento gerencial e tecnológico das incubadoras de base tecnológica para os
empreendimentos incubados, bem como os fatores que afetam essa dinâmica.
O método utilizado foi à análise de conteúdo, baseando-se nas categorias definidas na
metodologia: (i) as características do conhecimento gerencial ou tecnológico, de natureza
tácita ou explícita; (ii) as características organizacionais da universidade, incubadora e
empresas incubadas; e (iii) a intensidade dos laços estabelecidos entre esses três agentes.
4.1 Incubadora RAIAR
4.1.1 Caracterização e contexto da Incubadora RAIAR e das empresas entrevistadas
A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) teve como marco
inicial de suas atividades a criação do curso de Administração e Finanças em março de 1931,
sob a denominação de Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, porém, apenas em 1984
foi equiparada a universidade (PUCRS, 2014).
A PUCRS conta, atualmente, com 22 (vinte e duas) faculdades, que oferecem 53
(cinquenta e três) opções de Cursos de Graduação, 24 (vinte e quatro) de Mestrado e 21 (vinte
e um) de Doutorado. Possui cerca de 30 (trinta) mil alunos, incluindo o Campus, em Porto
Alegre, e a unidade de Uruguaiana. Também é composta pelo Centro de Pesquisas e
Conservação da Natureza, no município de São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha e um
Centro de Extensão Universitária, na Capital. Além disso, a Universidade interage,
permanentemente, com a sociedade por meio de espaços como a Biblioteca Central, o Centro
de Atenção Psicossocial, o Centro de Educação Continuada, o Centro de Eventos, o Centro
67
Clínico, o Hospital São Lucas, o Instituto de Cultura Musical, a Aprendizagem sem
Fronteiras, o Parque Esportivo, o Parque Científico e Tecnológico (TECNOPUC) e a Rede
INOVAPUCRS (PUCRS, 2014).
Com base em sua estrutura e forma de gestão, a PUCRS busca a qualidade no ensino, na
pesquisa e na extensão, bem como visa desenvolver uma cultura empreendedora e promover a
inclusão social. Para atender estes objetivos da Universidade, principalmente, referente ao
desenvolvimento do empreendedorismo na comunidade acadêmica e na sociedade, uma das
ações da PUCRS foi à fundação do Parque Tecnológico (TECNOPUC) e, posteriormente, a
criação de uma Incubadora de Base Tecnológica (PUCRS, 2014).
Iniciando suas atividades em novembro de 2003 como uma incubadora multissetorial de
Empresas de Base Tecnológica (IEBT) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS) localizada no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS - TECNOPUC, a
RAIAR tem como missão estimular o empreendedorismo na comunidade acadêmica da
PUCRS e na sociedade, transformando ideias inovadoras em negócios competitivos, por meio
do apoio em infraestrutura e gestão empresarial (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014).
A RAIAR surgiu a partir das necessidades das empresas do TECNOPUC, pois a
PUCRS não tinha o objetivo de ter uma incubadora e sim um parque tecnológico. Houve um
momento em que os gestores de uma das empresas instalada no TECNOPUC, que produzia
software e, também realizava os testes de seus produtos, consideraram inviável continuar
desempenhando as duas atividades (produção e testes), assim, eles ofereceram a dois de seus
funcionários a possibilidade de criarem uma spin-off que fornecesse serviços de teste de
software para a empresa “mãe”. “(...) Quando isso aconteceu, os gestores da empresa
detentora da tecnologia e os empreendedores que iriam criar a spin-off procuraram pela
PUCRS para auxilia-los nesse novo empreendimento e, com isso surgiu a necessidade de uma
incubadora” (E.1:1).
68
Neste processo de implantação da incubadora, não houve restrições, porque a PUCRS é
“(...) uma instituição privada, assim, resolveu que precisava de uma incubadora e então
criaram” (E.1:1). A única barreira observada é que algumas pessoas não acreditam em uma
incubadora, como é o caso da área de humanas que tem um pouco mais de dificuldade em
entender esse mecanismo de apoio ao empreendedorismo. Desta forma, “(...) muitas vezes
escuta-se dizer que o negócio da universidade é ensino e não criação de empresa” (E.1:1),
porém, esta é uma forma um pouco ultrapassada de ver as coisas, porque a universidade tem
que sobreviver, e “(...) fazer isso apenas com a mensalidade do aluno a cada semestre está
ficando cada vez mais difícil, pois os custos estão muito elevados, então tem que achar novas
formas” (E.1:1). No caso específico da PUCRS, por exemplo, o TECNOPUC, aonde a Raiar
está inserida, é um espaço que a universidade utiliza para sustentar sua pesquisa aplicada, o
que representa uma maneira de buscar recursos para fazer pesquisa (E.1:1; E.1:2).
Após sua criação, a RAIAR passou a integrar a Rede INOVAPUCRS, que fomenta a
inovação e o empreendedorismo por meio de um conjunto de atores, mecanismos e ações.
Para cumprir seu objetivo, a rede articula todos os envolvidos na tríade: ensino, pesquisa e
extensão (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014).
A Rede INOVAPUCRS, conforme ilustrado na Figura 4, promove a interação entre o
Núcleo Acadêmico e as Unidades Periféricas da Universidade.
69
Figura 4. Composição da Rede INOVAPUCRS
Fonte:
Adaptado
de
Rede
INOVAPUCRS
http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/inovapucrs/Capa.
(2014).
Institucional.
Recuperado
de:
O Núcleo Acadêmico é composto pelas Unidades Acadêmicas, pelos Institutos de
Pesquisa (Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG), Instituto de Pesquisas Biomédicas
(IPB), Instituto de Toxicologia e Farmacologia (INTOX), Instituto do Cérebro (INSCER) e
Instituto Meio Ambiente) e pela área de pesquisa do Museu de Ciências e Tecnologia (MCT),
nos quais são desenvolvidas as pesquisas científicas e tecnológicas (Rede INOVAPURS,
2014).
Como complemento ao Núcleo Acadêmico, as Unidades Periféricas são mecanismos
institucionais voltados à interação com a sociedade, mais especificamente, com empresas e
diferentes setores do governo. Este grupo é composto pelos mecanismos abordados na Tabela
8.
70
Tabela 8
Funções das Unidades Periféricas que Compõem a Rede INOVAPUCRS
Unidades Periféricas
Funções
Agência de Gestão de Empreendimentos (AGE)
Tem o objetivo de estruturar e desenvolver
empreendimentos e serviços especializados, em que o
conhecimento e as tecnologias geradas sejam originários
da PUCRS, bem como, viabilizar a estruturação de fundos
de investimentos para estas novas empresas.
Agência de Gestão Tecnológica (AGT)
Agente institucional da PUCRS, que facilita o processo de
interação entre Universidade – Empresa – Governo, o que
viabiliza e estimula o desenvolvimento de projetos de
Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I).
Escritório de Transferência de Tecnologia
(ETT)
Setor responsável dentro da universidade pela gestão do
patrimônio intelectual.
Incubadora RAIAR
Tem a função de estimular e operacionalizar o
empreendedorismo na comunidade acadêmica da PUCRS.
Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação (NAGI)
Instituto IDEIA
Integra a Rede de Inovação da PUCRS e está localizado
na Escola de Negócios da universidade.
Apoia o desenvolvimento de projetos de pesquisa
científica e tecnológica, em diferentes unidades da
PUCRS.
Laboratórios Especializados em Eletroeletrônica
(LABELO)
Órgão suplementar da Universidade, que tem como
função a calibração de instrumentos de medição e ensaios
da conformidade para certificação de produtos.
Parque Científico e Tecnológico da PUCRS
(TECNOPUC)
Estimula a pesquisa e a inovação por meio de uma ação
conjunta com a academia, as instituições privadas e o
governo.
Núcleo Empreendedor
Promove diversas ações para apoiador e incentivar a
Cultura Empreendedora na Universidade.
Microsoft Innovation Center
Promove a qualificação de organizações, de profissionais
e estudantes, por meio de mecanismos que fomentem o
uso eficiente e inovador de Tecnologias da Informação
(TI).
Nota. Fonte: Dados de documentos.
Como integrante das Unidades Periféricas da Rede INOVAPUCRS, a RAIAR atende
preferencialmente os alunos, ex-alunos, professores e funcionários da universidade e tem os
seguintes objetivos: (i) abrigar empresas nascentes de base tecnológica e inovações geradas a
partir de projetos de pesquisa da universidade; (ii) estimular a capacidade empreendedora da
71
comunidade PUCRS; (iii) abrigar empreendimentos embrionários de empresas estabelecidas
no TECNOPUC (spin-off); (iv) favorecer o desenvolvimento de redes de negócios; (v)
capacitar jovens empreendedores; (vi) promover a geração de conhecimento e a incorporação
de tecnologias nas empresas; (vii) contribuir para a redução da taxa de mortalidade de novas
empresas; e (viii) estimular a associação entre pesquisadores e empresários (Incubadora de
Empresas RAIAR, 2014). Em suma, o propósito da incubadora é apoiar o empreendedorismo
entre os alunos e consolidar empresas nascidas nesse ambiente da universidade,
principalmente, aquelas de resultados de pesquisa (E.1:1).
A incubadora trabalha em três etapas, conforme a Figura 5: (i) pré-incubação, (ii)
incubação e (iii) graduação.
Figura 5. Etapas de Desenvolvimento das Empresas Incubadas na RAIAR
Fonte: Dados de documentos
A primeira etapa é um espaço que acolhe projetos e ideias de negócios de base
tecnológica e inovação, permite o amadurecimento e o detalhamento do projeto pré-incubado
e incentiva a concretização de um negócio. Nesta fase é desenvolvido o plano de negócio e,
geralmente, ocorre durante um período de seis meses (Incubadora de Empresas RAIAR,
2014).
72
Posteriormente, os empreendedores que pretendem se associar ou se tornarem residentes
na incubadora, passam pelo processo seletivo, no qual são analisados alguns aspectos, tais
como: (i) os projetos são de produtos, processos e/ou serviços de base tecnológica e
inovadores; (ii) os empreendimentos inscritos estão juridicamente constituídos ou em
constituição; (iii) os negócios tem viabilidade técnica e econômica; (iv) o produto ou o
serviço é um diferencial de mercado e competitividade; e (v) os proponentes são qualificados
na área em que atuam, possuem um perfil empreendedor e tem disponibilidade de tempo para
dedicar ao empreendimento (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014). É importante destacar
que, para entrar no processo de incubação não é necessário que o projeto tenha passado pela
pré-incubação (E.1:1).
Quando as novas empresas são selecionadas para ingressar na incubação, elas
participam de atividades que proporcionam o fortalecimento das ideias e dos projetos e,
contribuem para a formação do empreendedor e a estruturação de seu negócio, para que
possam se inserir no mercado de forma sustentável e competitiva (Incubadora de Empresas
RAIAR, 2014). O período de incubação são dois anos prorrogáveis por mais um, mas isso é
um aspecto que já está sendo reavaliado, porque “(...) hoje as empresas incubadas na RAIAR
são da área de saúde, engenharia e informática. Então para uma empresa da área de saúde, por
exemplo, dois anos é muito pouco, porque às vezes até para fazer um licenciamento na
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em dois anos não sai” (E.1:1).
Por fim, após as empresas se graduarem, algumas vão para o mercado e outras se
instalam no TECNOPUC, “(...) a ideia é sempre que todos os empreendimentos que se
graduarem fiquem no parque, porém existem algumas dificuldades, como a falta de espaço
físico. Assim, se a empresa não ficar no parque, espera-se que fique na cidade, se não ficar na
cidade, que fique no estado, se não ficar no estado que fique no Brasil” (E.1:1).
73
Até novembro de 2013, a RAIAR tinha vinte e uma empresas incubadas, que buscam
conhecimento para se desenvolverem e enfrentarem o mercado. Dentre essas empresas, cinco
foram entrevistadas, quatro eram residentes e uma era associada. Estes empreendimentos
informaram que desenvolvem produtos e serviços de base tecnológica, tais como: (i) site de
negociação de hospedagem em hotéis brasileiros (E.1:3); (ii) desenvolvimento de jogos
digitais (E.1:4); (iii) projetos na área de mobilidade urbana e deficiência energética, baseado
em tecnologia (E.1:5); (iv) protótipos odontológicos (E.1:6); e (v) produção de impressoras
3D (E.1:7). Desta forma, observa-se que a RAIAR precisa transferir aos empreendimentos
tanto conhecimentos gerenciais quanto atender necessidades relacionadas ao conhecimento
tecnológico, como a proteção a propriedade intelectual e algumas especificidades técnicas dos
produtos ou serviço (Doc.1:6).
4.1.2 A dinâmica da transferência de conhecimento da incubadora RAIAR para as
empresas incubadas
A incubadora RAIAR tem o objetivo de instalar e apoiar o desenvolvimento de
empresas com uso intensivo de tecnologia (Doc.1:3), de modo a possibilitar a capacitação em
áreas de interesse dos empresários (Doc.1:4). Desta forma, ela desenvolve diversas ações para
que os empreendedores das empresas incubadas adquiram o conhecimento necessário, ou seja,
disponibiliza serviços e assessorias, estabelece parcerias com a universidade, com o
TECNOPUC, com outras incubadoras, com instituições públicas e privadas e fomenta a troca
de informações e experiências entre os empreendimentos incubados (Doc.1:1; Doc.1:4;
Doc.1:6; E.1:1).
Dado que o desenvolvimento dos empreendimentos ocorre com base na aquisição de
conhecimento, esta seção descreve detalhadamente o fluxo do conhecimento gerencial e
74
tecnológico da incubadora RAIAR para as empresas incubadas e como os fatores associados
às características do conhecimento que será transferido (explícito e tácito), as características
organizacionais da fonte (capacidade disseminativa) e do receptor (capacidade absortiva) e a
intensidades dos laços, influenciam este processo.
É importante destacar que neste processo de transferência de conhecimento, a
universidade cumpre o papel de fonte, a incubadora atua em alguns momentos como fonte e
em determinadas situações que exigem capacitar seus colaboradores, ela, também, tem o
papel de receptora e as empresas incubadas recebem o conhecimento de ambas as instituições.
4.1.2.1 Conhecimento Gerencial: características do conhecimento e características
organizacionais da fonte e do receptor
Os empreendedores que procuram a RAIAR, geralmente, tem pouca ou nenhuma
formação específica em áreas gerenciais, o que dificulta transformar suas ideias em
empreendimentos com potencial de inserção no mercado (Doc.1:1; Doc.1:6; E.1:5). Desta
forma, estes empreendedores esperam que por meio das assessorias, cursos e demais ações da
incubadora, seja possível adquirir capacidade de identificar, assimilar e utilizar o
conhecimento gerencial, ou seja, que desenvolvam sua capacidade absortiva para que possam
estruturar suas empresas e produzir seus produtos ou fornecer seus serviços a partir de dados
do mercado em que pretendem atuar e, assim, consigam definir suas estratégias competitivas
(Doc.1:6).
O fato de o conhecimento gerencial ter sido citado pelos colaboradores da RAIAR como
o principal recurso que os empreendedores vêm buscar no processo de incubação (E.1:1;
E.1:2) é comum nas IEBTs brasileiras, pois conforme uma pesquisa (Petrin, Castro &
75
Rezende, 2014) 1 realizada com 105 gestores de incubadoras, dentre os que classificaram sua
organização como de apoio ao desenvolvimento de empresas de base tecnológica (62%), 66%
afirmaram que o principal conhecimento transferido para as empresas incubadas é o gerencial,
16% responderam que seria aprender a trabalhar em rede, apenas 9% indicaram o
conhecimento tecnológico e 9% citaram outros tipos de conhecimentos.
Dado que, “(...) o principal conhecimento que os empreendedores buscam na RAIAR é
o gerencial” (E.1:1), “(...) o que uma incubadora tem que ter em primeiro lugar é a assessoria
em gestão” (E.1:2), que, também, é um dos principais serviços fornecidos por grande parte
das 105 incubadoras brasileiras que participaram da pesquisa realizada em 2014 (78%, dos
respondentes afirmaram que fornecem capacitação em gestão). Além disso, a disponibilização
de espaço físico a preços subsidiados para as empresas se estabelecerem inicialmente (89%),
o apoio administrativo (80%), a assistência em marketing (70%) e as assessorias jurídica
(62%) e financeira (57%) são instrumentos de apoio encontrados na maioria das incubadoras
(Petrin et al., 2014).
No caso da RAIAR, determinados espaços físicos são disponibilizados e os serviços são
oferecidos conforme a fase em que o empreendimento se encontra, ou seja, na pré-incubação
ou na incubação (Doc.1:1; E.1:1, E.1:2).
Na pré-incubação como é elaborado o plano de negócio, os empreendedores recebem
assessorias para que sejam capazes de definir desde a formação completa do produto até
questões associadas ao negócio, como a identificação de clientes em potencial e a formação
de redes de fornecedores e de distribuidores (Doc.1:1; E.1:1; E.1:2). Desta forma, os
empreendedores aprendem na prática a transformar seu projeto de pesquisa em uma empresa
(E.1:1; E.1:2), o que provavelmente facilita a internalização do conhecimento adquirido
1
Estudo quantitativo desenvolvido no grupo de pesquisa Transfere do Programa de Pós-Graduação em
Administração da PUC Minas, em que os dados foram obtidos por meio de um survey enviado para 384 gestores
de incubadoras brasileiras, dos quais 105 responderam, durante um período de 8 (oito) meses (julho/2013 à
fevereiro/2014). Esta pesquisa resultou em um artigo apresentado no XXXVIII ENANPAD 2014.
76
(Doc.1:6). Posteriormente, o projeto passa por uma seleção (E.1:1; E.1:2) para que a
incubadora certifique-se que ele atende aos quesitos para ingressar na incubação, tais como,
“(...) se é inovador na área tecnológica e se está de acordo com os princípios da universidade”
(E.1:2).
Durante a segunda etapa, a incubação, os empreendedores contam com diversos
serviços oferecidos pela RAIAR, tais como: (i) assessoria em gestão; (ii) assessoria em
comunicação visual de design (os colaboradores da incubadora elaboram o Manual de
Identidade Visual (MIV); desenvolvem o material promocional das empresas incubadas e de
seus produtos e ajudam os incubados no design de produtos e embalagens); (iii) assessoria em
comunicação (os colaboradores da incubadora elaboram o plano de comunicação, divulgam
na imprensa releases sobre produtos e serviços das empresas incubadas, fazem a clipagem das
publicações na imprensa citando os incubados, apoiam à realização de eventos das empresas
incubadas e fornecem atendimento a imprensa) (Doc.1:5; E.1:1; E.1:2; E.1:6); (iv)
desenvolvimento do Serviço de Apoio à Gestão (SAGE), que fornece auxílio às empresas no
processo de transformação de seu projeto em um produto ou serviço (Doc.1:2; Doc.1:5;
Doc.1:6); (v) espaço físico individualizado; (vi) salas de reuniões; (vii) custos de utilização do
espaço físico e assessorias a preços inferiores ao que é oferecido no mercado (E.1:1); (viii)
maior facilidade ao acesso das empresas incubadas aos recursos públicos; e (ix) proximidade
com a universidade (E.1:2).
Dentre os serviços oferecidos, os empreendedores informaram que a motivação em
participar do processo de incubação na RAIAR está associada aos baixos custos de utilização
do espaço físico, a necessidade de obter conhecimento por meio das assessorias, cursos e
wokshops, a proximidade com a universidade e o contato com outras empresas incubadas.
Entretanto, o maior atrativo para os empreendedores é a assessoria de comunicação, que foi
citada como o apoio mais importante para o desenvolvimento do negócio (E.1:3; E.1:4; E.1:5;
77
E.1:6; E.1:7), pois o “(...) principal problema da empresa está relacionado à questão da
visibilidade do produto no mercado” (E.1:4). Logo, as empresas incubadas adquirem destaque
junto à mídia por meio das ações desenvolvidas pela incubadora, por estar inserida no
TECNOPUC e ter a marca vinculada a PUCRS, que é bem aceita no mercado (E.1:2).
Todas as assessorias disponíveis na incubadora e o acompanhamento junto aos
empreendimentos são fornecidos por funcionários altamente capacitados, pois são graduados
na área em que atuam, têm acesso aos cursos e palestras disponibilizados pela RAIAR e são
motivados a transferir seu conhecimento, pois “por ser uma incubadora, nos estamos sempre
aprendendo e passando conhecimento” (E.1:2). Além disso, os colaboradores da incubadora
têm experiências anteriores em outras organizações que trabalharam e aprendem com
situações que tiveram que lidar com empreendimentos incubados, que já se graduaram. Ou
seja, estes profissionais possuem experiências e conhecimentos gerenciais, que os permitem
identificar, absorver e utilizar os novos conhecimentos, conforme as necessidades e
solicitações dos empreendedores das empresas que se encontram no processo de incubação
(Doc.1:5; E.1:1).
Entretanto, quando os funcionários ou responsáveis pelas assessorias têm dificuldades
para atender algumas necessidades gerenciais dos empreendedores, elas são supridas por meio
de parcerias da incubadora com o SEBRAE, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e
outros órgãos de fomento (Doc.1:6). Além disso, a RAIAR mantém um relacionamento com a
PUCRS, que é estabelecido, principalmente, por meio da interação com professores altamente
capacitados nas áreas gerenciais e com alguns cursos da universidade, tais como: (i) direito,
com o qual foi firmada uma parceria em 2012, com o projeto “Núcleo de Práticas Jurídicas
Empresariais”, que tem como propósito o suporte as empresas pré-incubadas e incubadas nas
áreas tributária, trabalhista, contratual, societária e de propriedade intelectual; (ii) psicologia,
que ajuda as empresas a selecionar colaboradores e fazer alguns trabalhos na área de
78
desenvolvimento pessoal; (Doc.1:4; E.1:2); e (iii) pode contar com assessorias de qualquer
faculdade da universidade, só que às vezes é um pouco mais difícil de estabelecer um
relacionamento (E.1:1).
É importante destacar que, a grande maioria das ações da incubadora para desenvolver
os empreendimentos incubados funciona como mecanismos de transferência de conhecimento
gerencial, tanto de natureza explícita quanto tácita (Doc.1: 6).
Quando a RAIAR faz o acompanhamento, a orientação e o planejamento do
desenvolvimento dos empreendimentos, o conhecimento gerencial é verbalizado e
sistematizado em relatórios mensais, em manuais e documentos (Doc.1:5; Doc.1:6)
disponíveis para as empresas incubadas, o que possibilita os empreendedores identificarem
com maior facilidade suas dificuldades e o que precisam fazer para melhorar seu desempenho
(Doc.1:5).
Além disso, para possibilitar a transferência de conhecimento gerencial para os
empreendimentos incubadas, a Raiar fornece assessorias, cursos e workshops, bem como
desenvolve ações para promover o compartilhamento do conhecimento entre os
empreendedores das empresas incubadas (Doc.1:6), como o “café compartilhado” e reuniões
mensais, o que incentiva a troca de informações, experiências individuais e habilidades
(E.1:1; E.1:2).
Por fim, como os empreendedores adquirem conhecimento gerencial transferido pela
incubadora de acordo com a demanda de suas empresas (E.1:1; E.1:2), durante a incubação a
aprendizagem ocorre na prática, a partir dos erros e experiências (E.1:7), o que possibilita a
internalização do conhecimento gerencial (Doc.1:6).
79
4.1.2.2 Conhecimento Tecnológico: características do conhecimento e características
organizacionais da fonte e do receptor
A RAIAR é uma incubadora que trabalha basicamente com três assessorias, como já
abordado, que tem como foco o desenvolvimento gerencial e o objetivo de oferecer
visibilidade aos empreendimentos incubados (E.1:1; E.1:2; E.1:3; E.1:4; E.1:5; E.1:6). Assim,
embora forneça suporte apenas às empresas de base tecnológica, a incubadora não apresenta
estrutura e pessoal com potencial para atender diretamente as demandas específicas de cada
negócio em relação ao conhecimento tecnológico (E.1:1; Doc.1:5), pois não considera
necessário desenvolver esse apoio internamente, uma vez que, um dos requisitos para
ingressar no processo de incubação é que os empreendedores possuam um conhecimento
tecnológico prévio referente à seus produtos (E.1:1; Doc.1:5).
Do ponto de vista dos empreendedores das empresas incubadas, existe a percepção de
que possuem capacidade para adquirir e absorver conhecimentos relacionados à tecnologia de
seus produtos (E.1:4; E.1:5). Entretanto, quando surgem dificuldades associada a este
conhecimento, embora a RAIAR não tenha, internamente, pessoal com qualificação para
atender as demandas tecnológicas dos empreendimentos incubados, busca-se resolver este
problema por meio de algumas ações (E.1:1; E.1:2), que permitem os empreendedores
adquirirem conhecimento tecnológico (Doc.1:6). Tais ações são: (i) fornecer cursos, palestras
e workshops com profissionais de áreas tecnológicas, que estejam relacionadas à tecnologia
dos produtos produzidos nas empresas incubadas; e (ii) incentivar a socialização entre os
próprios
empreendedores
das
empresas
incubadas
(exemplo:
reuniões
e
cafés
compartilhados), de forma que ao trocarem experiências, talvez, sejam capazes de solucionar
as dificuldades uns dos outros e criarem novos projetos (E.1:1; E.1:2; E.1:4; E.1:5; E.1:6).
80
Além disso, para suprir as necessidades dos empreendimentos, a RAIAR faz a
intermediação da sua rede de contatos, com os empreendedores (E.1:1; E.1:2). A transferência
de conhecimento tecnológico das incubadoras para as empresas incubadas, por meio das redes
de contatos, é uma situação recorrente nas incubadoras brasileiras, pois de 105 incubadoras
que participaram de uma pesquisa (Petrin et al., 2014), 65% dos respondentes confirmaram
que utilizam as redes de contato para fornecer conhecimento tecnológico aos empreendedores
e que a parceria mais importante é com as universidades, tanto para a gestão da incubadora
(40%) quanto para a capacitação dos colaboradores (48%). Os outros parceiros indicados
pelos respondentes como necessários para a gestão foram às instituições públicas (25%) e,
para a capacitação foram parcerias com outras instituições (26%), tais como, o SEBRAE e o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) (Petrin, et al.,
2014).
Dentre as parcerias da RAIAR, uma das mais importantes na transferência de
conhecimento tecnológico é o relacionamento com a PUCRS, uma vez que, esta universidade
tem alto potencial para transferir esse tipo de conhecimento, por trabalhar com ensino e
pesquisa nas mais diversas áreas do saber (E.1:1; E.1:2).
A interação entre a PUCRS e a RAIAR, estabelecida no intuito de possibilitar a
transferência
de
conhecimento
tecnológico
para
as
empresas
incubadas,
ocorre,
principalmente, nas seguintes situações: (i) durante o processo seletivo dos empreendimentos,
os professores da universidade são convidados a avaliar o projeto em quesitos tecnológicos e
se são realmente inovadores para ingressar na incubadora; (ii) se a empresa precisa de um
conhecimento específico, o que é identificado por meio do acompanhamento e relatórios
mensais, a RAIAR verifica junto ao banco de dados do Instituto IDEIA se há alguma pesquisa
em desenvolvimento na universidade e, aproxima o pesquisador e a empresa incubada (E.1:2);
(iii) as questões de propriedade intelectual e da marca são atendidas pela parceira que a
81
incubadora estabelece com o ETT, como já abordado, é o escritório da universidade
responsável pela gestão do patrimônio intelectual; (iv) quando uma empresa precisa
desenvolver um protótipo, recorre-se ao Instituto IDEIA, que também faz parte da PUCRS; e
(v) se os empreendedores precisam utilizar os laboratórios, isso é facilitado pela interação
com a universidade (E.1:1).
Por fim, os empreendimentos informaram que a rede de contatos da RAIAR é muito
importante para a aquisição de conhecimento tecnológico, pois ao participar da incubação eles
ficam mais próximos de outras empresas com tecnologias similares, trocam ideias e têm
acesso às empresas maiores dentro do parque, “acho que você começa se perguntando qual o
melhor lugar se não for aqui. É difícil encontrar o melhor lugar para começar uma empresa
que não seja em uma incubadora, no nosso caso” (E.1:4).
4.1.2.3 Intensidades dos laços no relacionamento entre universidade, incubadora e empresas
incubadas
A transferência de conhecimento durante a incubação ocorre por meio de interações,
tais como: (i) a incubadora com as empresas incubadas; (ii) a incubadora com a universidade;
(iii) a universidade, incubadora e empresas incubadas; e (iv) entre as empresas incubadas.
O relacionamento entre as empresas incubadas e a RAIAR é estabelecido logo quando
os empreendimentos ingressam na fase de pré-incubação e/ou incubação, pois “(...) quando a
empresa inicia o processo de incubação há um envolvimento muito forte” (E.1:2), que se
mantém por uma intensa conexão social entre os funcionários da incubadora e os
empreendedores das empresas incubadas (E.1:4 E.1:5). Nesta interação a RAIAR se
compromete em transferir conhecimento para as empresas incubadas, por ser um aspecto
82
inerente ao propósito de incubação, uma vez que, seu objetivo é capacitar os
empreendimentos para enfrentarem o mercado (E.1:1; E.1:2).
O principal mecanismo de interação entre a incubadora e as empresas incubadas são as
reuniões, as quais permitem verificar as expectativas dos empreendedores (Doc.1:6). Por meio
dessa interação, o principal conhecimento transferido é o gerencial, pois, como já explicado,
os empreendimentos incubados possuem muito conhecimento tecnológico e pouco ou nenhum
conhecimento gerencial (E.1:1).
Os empreendedores entrevistados consideram que há um bom relacionamento com os
funcionários e gestores da incubadora e que a RAIAR é um ótimo lugar para se desenvolver,
principalmente, porque este ambiente proporciona o convívio com outras empresas similares e
facilita as parcerias (E.1:4; E.1:5). Entretanto, esta interação, também, pode apresentar
algumas dificuldades, como exemplo, os gestores da assessoria em gestão e assessoria em
comunicação informaram que, às vezes, “(...) as empresas que estão no processo de incubação
estabelecem um relacionamento em que se acomodam e acham que a incubadora tem que
resolver todos os problemas do empreendimento” (E.1:2), porém na visão dos gestores da
RAIAR, eles não apenas prestam serviços as empresas incubadas, mas trabalham em parceria
com elas (Doc.1:5). Portanto, “(...) a ideia é sugerir para os empreendedores, mas quem toma
as decisões são eles” (E.1:2).
Além da interação com as empresas incubadas, a RAIAR estabelece parcerias com a
PUCRS, uma vez que, “(...) visa apoiar o empreendedorismo entre os alunos e consolidar
empresas nascidas na universidade, principalmente, aquelas de resultados de pesquisa”
(E.1:1). Este relacionamento é estabelecido por uma forte conexão entre esses agentes, pois
“(...) a RAIAR é um projeto de toda a cadeia de empreendedorismo da PUCRS” (E.1:2) e esta
parceria é mantida por meio da intermediação do gestor da incubadora, que dado o fato de que
83
ele, também, é o coordenador acadêmico, é possível fazer a ligação de qualquer setor da
universidade com a incubadora (E.1:2).
A proximidade da RAIAR com a PUCRS permite a incubadora mediar à interação entre
a universidade e as empresas incubadas. Este relacionamento se faz necessário quando os
empreendedores precisam de conhecimento gerencial, que não é oferecido pela RAIAR e,
principalmente, quando necessitam de algum conhecimento tecnológico, pois a incubadora
não atende diretamente este tipo de demanda e “(...) faz a aproximação da empresa com
professores da universidade, que desenvolvem pesquisas referentes ao produto das empresas
incubadas” (E.1:2).
A vantagem para a PUCRS da interação entre a universidade e os empreendimentos
incubados é trazer a realidade do mercado para dentro da comunidade acadêmica, o que “(...)
muda um pouco aquela história de dizer que o que as universidades ensinam não é o que as
empresas precisam” (E.1:1), pois ter uma incubadora de empresas na universidade melhora a
qualidade de ensino, uma vez que, os professores podem trabalhar com situações práticas e a
grade curricular dos alunos pode ser atualizada conforme a demanda do mercado (E.1:1;
E.1:2).
Por outro lado, o benefício para os empreendimentos incubados é que o relacionamento
com a universidade por meio da incubadora ajuda no desenvolvimento dos negócios e os
empreendedores se sentem motivados a participar do processo de incubação, por estar
próximo das pesquisas e conhecimentos da PUCRS (Doc.1: 6). Portanto, umas das vantagens
da interação entre a universidade, a incubadora e as empresas incubadas é promover um
ambiente de inovação para os empreendimentos nascentes, pois a RAIAR é parte da REDE
INOVAPUCRS, logo ela “(...) está em um ecossistema de empreendedorismo e inovação”
(E.1:1; E.1:2). Assim, dentre os empreendedores entrevistados, há um consenso de que as
empresas se tornaram mais inovadoras ao ingressar no programa de incubação (E.1:4, E.1:5;
84
E.1:6). Apenas um discordou e afirmou que “(...) a incubadora não fomenta a inovação dos
produtos e ficam estagnados apenas no desenvolvimento de um único projeto” (E.1:7).
Além disso, como a maioria das empresas incubadas é de alunos, eles levam para a sala
de aula a necessidade da empresa e trazem para a incubadora as resposta que o professor
fornece ou as novas tecnologias. Desta forma, (...) “a interação universidade-empresa por
meio de uma incubadora é muito benéfica e surte bons resultados” (E.1:1).
Embora, a interação entre a universidade e as empresas incubadas seja importante para a
comunidade acadêmica e para o desenvolvimento dos empreendimentos, fomentar o
relacionamento entre esses agentes não é tarefa fácil, pois “(...) os professores não utilizam o
potencial que existe na incubadora e alguns gestores e docentes da comunidade acadêmica
ainda acreditam que o negócio da universidade é ensino e não empreendedorismo” (E.1:1).
Além disso, o que na maioria das vezes dificulta o relacionamento entre a universidade e as
empresas incubadas é a diferença cultural, principalmente, em relação aos objetivos,
interesses e valores entre esses agentes, pois “(...) são duas línguas diferentes (a linguagem
acadêmica é uma, a de mercado é outra) e o maior desafio é fazer a tradução disso” (E.1:2).
Por exemplo, enquanto as empresas trabalham com a pressão do mercado, o desenvolvimento
de pesquisas exige um trabalho em longo prazo (E.1:2).
Dado os objetivos divergentes e as diferenças culturais, na tentativa de facilitar o
relacionamento entre a comunidade acadêmica e as empresas incubadas, de forma que as
interações entre esses agentes sejam mais frequentes, a RAIAR em parceria com a PUCRS,
promove atividades de integração, tais como: (i) implantação da disciplina de
empreendedorismo em todos os cursos da universidade; (ii) promoção de visitas da
comunidade acadêmica na incubadora; e (iii) promoção de torneios de empreendedorismo
entre os alunos (E.1:1).
85
Por fim, outro relacionamento citado como importante para o fluxo de conhecimento e a
troca de experiências dentro da incubadora é a interação entre as próprias empresas incubadas,
que ocorre por meio de ações promovidas pela RAIAR, como exemplo, “(...) em todo
primeiro dia útil do mês é realizado o café do “pé direito”, em que cada um traz alguma coisa
e é o momento do pessoal trocar experiências relacionadas ao conhecimento gerencial e ao
conhecimento tecnológico. Também são promovidas reuniões mensais, que tem o objetivo de
aproximar as empresas, formando uma rede” (E.1:1). Além disso, em 2012, foi realizado o
encontro de talentos para aproximar e promover a integração dos empresários da RAIAR
(Doc.1:4). Alguns empreendedores informaram que este relacionamento é importante para
estabelecer parceria (E.1:3; E.1:4), porém, na percepção do gestor da incubadora estas ações
não são fáceis, pois “(...) um empreendedor ainda olha para outro como concorrentes” (E.1:1).
Além dessas formas de relacionamento que possibilitam o fluxo de conhecimento entre
os atores, é importante destacar que com objetivo de obter a certificação no Modelo do Centro
de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (CERNE) (todas as incubadoras do
Brasil precisam deste certificado para continuar associadas à ANPROTEC), os
procedimentos, incluindo a transferência de conhecimento, atualmente, são documentados
pela RAIAR, o que tem possibilitado a gestão do conhecimento de forma que todos na
incubadora possam conhecer cada processo (E.1:2).
Com a descrição da transferência de conhecimento da RAIAR para os empreendimentos
incubados, elaborou-se a Tabela 9, que relaciona as principais evidências sobre o fluxo de
conhecimento entre universidade, incubadora e empresas incubadas.
86
Tabela 9
Síntese de Evidências dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento
Características Organizacionais da Universidade, Incubadora e Empresas
Incubadas
Características do Conhecimento
Itens
Fatores
Conhecimento Gerencial
Conhecimento Tecnológico
Conhecimento
Explícito
- Conhecimento sobre o
acompanhamento, planejamento e
desenvolvimento dos negócios são
definidos nas reuniões e disponibilizados
para os empreendedores das empresas
incubadas por meio de relatórios mensais
e documentos;
-Conhecimentos associados aos
procedimentos utilizados pela incubadora
são documentados e disponibilizados.
- Conhecimento sobre a tecnologia
produzida na universidade fica
disponível em um banco de dados do
Instituto IDEIA;
-Conhecimento sobre as necessidades
tecnológicas dos empreendimentos
incubados é documentado por meio
de relatórios mensais.
Conhecimento
Tácito
-Conhecimentos gerenciais são
transferidos aos empreendedores das
empresas incubadas por meio de
assessorias e são utilizados para
desenvolver os empreendimentos;
-Conhecimento de gestão (administrativo
e financeiro): os empreendedores das
empresas incubadas adquirem
conhecimento por meio de cursos e
workshops e colocam em prática;
- Conhecimento gerencial referente às
experiências dos empreendedores
incubados: há a troca de experiências em
reuniões e formas de confraternização.
- Conhecimento tecnológico referente
ao produto das empresas incubadas: é
transferido por meio de cursos,
palestras e workshops com
profissionais de áreas tecnológicas e
são colocados em prática pelos
empreendedores das empresas
incubadas;
- Conhecimentos associados à
tecnologia dos empreendimentos
incubados: os empreendedores das
empresas incubadas trocam
experiências tecnológicas.
Capacidade
Disseminativa
da Incubadora
- A incubadora identifica as necessidades
das empresas incubadas;
- Os funcionários da incubadora têm
capacidade para transferir conhecimento
gerencial;
- Funcionários da incubadora são
motivados a transferir o conhecimento.
-A incubadora não possui
conhecimento tecnológico;
-Identificam a necessidade do
empreendimento e coloca o
empreendedor em contato com a
universidade.
- A PUCRS possui áreas de ensino
ligadas ao conhecimento gerencial
(exemplo: administração);
- A PUCRS, juntamente com a RAIAR,
desenvolve ações para motivar a
comunidade acadêmica a transferir seu
conhecimento gerencial e tornar-se mais
participativa na incubadora.
-A PUCRS possui muito
conhecimento tecnológico;
-A PUCRS trabalha com ensino e
pesquisa em diversas áreas do
conhecimento;
- A PUCRS, juntamente com a
RAIAR, desenvolve ações para
motivar a comunidade acadêmica a
transferir seu conhecimento
tecnológico e tornar-se mais
participativa na incubadora.
- Profissionais da incubadora possuem
conhecimento na área gerencial,
publicidade, marketing e design de
produto;
-Profissionais da incubadora possuem
experiências adquiridas em outras
organizações e em situações já vividas
com outras empresas incubadas;
- Profissionais da incubadora são
-Profissionais da incubadora não
possuem conhecimento tecnológico
prévio.
Capacidade
Disseminativa
da
Universidade
Capacidade
Absortiva da
Incubadora
87
Intensidade dos laços entre Universidade, Incubadora
e Empresas Incubadas
capacitados por meio de cursos
fornecidos pelo SEBRAE e por palestras
com professores da PUCRS, workshops e
outros;
- Profissionais da incubadora são
motivados a transferir seu conhecimento.
Capacidade
Absortiva das
Empresas
Incubadas
-Empreendedores das empresas
incubadas têm pouco ou nenhum
conhecimento gerencial;
-Sócios e colaboradores das empresas
incubadas são capacitados por meio de
assessorias e cursos;
- Empreendedores das empresas
incubadas são motivados a adquirirem
conhecimento, dado a necessidade de
desenvolverem seus negócios, por
reconhecerem o potencial da incubadora
e a possibilidade de visibilidade no
mercado.
- Empreendedores das empresas
incubadas têm alta capacidade para
absorver conhecimentos tecnológicos
da sua área;
- Empreendedores das empresas
incubadas tem motivação em adquirir
conhecimento tecnológico da
universidade por reconhecerem o
potencial da PUCRS e um dos
incentivos para participarem da
incubação é o fato de estarem mais
próximos das pesquisas da PUCRS.
Laços Fortes
- Forte conexão social e bom
relacionamento da incubadora com as
empresas incubadas;
-Conhecimento gerencial transferido
diretamente da RAIAR para as empresas
incubadas;
- Interação constante da incubadora com
a universidade;
-A incubadora recorre à universidade,
quando não possui determinado
conhecimento gerencial.
-Interação constante da incubadora
com a universidade, o que permite
identificar as pesquisas
desenvolvidas, que possam atender as
necessidades dos empreendimentos
incubados.
Laços Fracos
-Diferença cultural entre a universidade e
as empresas incubadas;
-Alguns membros da academia
consideram que a função da universidade
é apenas ensino;
- O relacionamento da universidade com
as empresas incubadas é intermediado
pela incubadora.
-Diferença cultural entre a
universidade e as empresas
incubadas;
- A incubadora faz a mediação das
empresas incubadas com a
universidade para que obtenham
conhecimento tecnológico;
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
88
4.2 Incubadora CENTEV/UFV
4.2.1 Caracterização e contexto da Incubadora CENTEV/UFV e das empresas
entrevistadas
A Universidade Federal de Viçosa (UFV) originou-se da Escola Superior de Agricultura
e Veterinária e foi criada em 30 de março de 1922. Desde sua fundação a UFV adquire
experiência e tradição em ensino, pesquisa e extensão, que formam a base de sua filosofia de
trabalho. Assim, se preocupa em promover a integração vertical do ensino, ou seja, trabalha
de maneira efetiva, mantendo, atualmente, além dos cursos de graduação e pós-graduação, o
Colégio Universitário (Ensino Médio Geral), a Central de Ensino e Desenvolvimento Agrário
de Florestal (Ensino Médio Técnico e Médio Geral), a Escola Estadual Effie Rolfs (Ensino
Fundamental e Médio Geral), o Laboratório de Desenvolvimento Humano e a Creche, que
atende crianças de 3 (três) a 6 (seis) anos (Universidade Federal de Viçosa [UFV], 2014).
Destaca-se que por tradição, a área de Ciências Agrárias é a mais desenvolvida na UFV,
sendo respeitada no Brasil e no Exterior. Entretanto, visando desenvolver uma postura
coerente com o conceito da moderna universidade, a instituição tem expandido suas
atividades em outras áreas do conhecimento, tais como: (i) Letras e Artes; (ii) Ciências Exatas
e Tecnológicas; (iii) Ciências Humanas; e (iv) Ciências Biológicas e da Saúde (UFV, 2014).
Além disso, com o objetivo de apoiar o empreendedorismo, em 1993 a UFV iniciou o
projeto de criação da IEBT do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa
(CENTEV) (Incubadora de Empresas Base Tecnológica [IEBT] CENTEV/UFV, 2014a), o
qual foi viabilizado por meio da visão de alguns de seus professores, que foram até Santa
Catarina conhecer o Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI) em
89
Florianópolis e, se capacitaram para a criação e implementação da Incubadora de Empresas de
Base Tecnológicas (E.2:1; E.2:2).
Em 1995, o projeto foi filiado à ANPROTEC e sua gestão passou a ser feita pela
Fundação Arthur Bernardes (FUNARBE). Após definidas as normas e todos os aspectos
jurídico-organizacionais, a Incubadora FUNARBE/UFV iniciou suas atividades comerciais
em 1997 e tornou-se, também, sócia fundadora da Rede Mineira de Incubação (RMI) (E.2:1;
IEBT CENTEV/UFV, 2014a).
Em 2001, a Incubadora foi incorporada ao CENTEV (Doc.2:6; IEBT CENTEV/UFV,
2014a), que é um órgão vinculado diretamente à reitoria da UFV, criado pela Resolução
12/2001. Este Centro Tecnológico é composto pela IEBT, Central de Empresas Juniores,
Parque Tecnológico de Viçosa e Núcleo de Desenvolvimento Social e Educacional. Cada um
destes agentes de inovação desempenha um papel importante para a cooperação universidadeempresa, na difusão do empreendedorismo, da inovação tecnológica, capacitação e
qualificação profissional, conforme ilustrado na Figura 6 (IEBT CENTEV/UFV, 2014a).
90
Figura 6. Estrutura Administrativa
Fonte: Dados dos documentos
A IEBT CENTEV/UFV tem o objetivo de estimular a criação e o desenvolvimento de
empresas de base tecnológica nas fases de instalação, crescimento e consolidação e, fornece
aos empreendedores um ambiente apropriado para o funcionamento de seus negócios. Além
disso, ela difunde a cultura empreendedora e as tecnologias inovadoras oriundas da
comunidade acadêmica, bem como, contribui para o desenvolvimento local (Doc.2:1;
Doc.2:12).
Com o intuito de apoiar os empreendimentos nascentes, principalmente, aqueles criados
na UFV, a incubadora oferece diversos serviços a preços acessíveis, com despesas
compartilhadas entre as empresas usuárias e/ou subsidiadas por parceiros, tais como: (i)
espaço físico; (ii) equipamentos para o desenvolvimento de projetos; (iii) orientação
91
administrativo-gerencial; (iv) consultorias técnicas especializadas; (v) cursos; (vi) biblioteca;
(vii) salas de reunião e treinamento; e (viii) telefone e recepção compartilhados (Doc.2:2;
IEBT CENTEV/UFV, 2014b).
Os serviços disponibilizados pela IEBT aos empreendimentos são agrupados em dois
programas, de acordo com o desenvolvimento do negócio (ver Tabela 10): (i) o Programa de
Pré-Incubação e (ii) o Programa de Incubação (IEBT CENTEV/UFV, 2014b).
Tabela 10
Objetivos dos Programas de Pré-Incubação e Incubação da IEBT CENTEV/UFV
Programas
Objetivos
-Preparar os projetos de negócios pré-incubados para futuro ingresso na incubadora,
contribuindo para o desenvolvimento sustentável de Viçosa e região;
-Auxiliar o desenvolvimento de tecnologias em produtos, processos ou serviços
inovadores com potencial de aplicação de mercado;
Programa de
Pré-Incubação
-Promover a sinergia e parcerias entre empreendedores e instituições de ensino e
pesquisa, empresas, órgãos governamentais, associações de classe, agentes financeiros e
mercado consumidor;
-Difundir, junto à comunidade acadêmica, a cultura empreendedora e os modernos
instrumentos de gestão;
-Induzir a criação de spin-off acadêmicas junto UFV e;
-Oferecer aos empreendedores orientações gerenciais e técnicas, bem como, oportunidade
de capacitação gerencial, a fim, de prepará-los para a gestão do negócio.
-Fornecer suporte às empresas vinculadas ao programa, para que atinjam o sucesso,
alicerçadas em produtos e serviços inovadores e de qualidade.
- Consolidar a imagem da empresa no mercado por meio do vínculo com a incubadora;
- Ampliar o portfólio de produtos e serviços a partir da transformação de tecnologias em
produtos, processos e serviços inovadores, por meio das assessorias e cursos oferecidos
pela incubadora e acesso a infraestrutura de apoio empresarial;
Programa de
Incubação
- Promover a sinergia e parceria entre empresas vinculadas ao programa, instituições de
ensino e pesquisa, órgãos governamentais, associações de classe, agências financeiras e
mercado consumidor;
- Difundir junto à comunidade acadêmica à cultura empreendedora e os modernos
instrumentos de gestão;
- Oferecer às empresas incubadas assessorias gerenciais e técnicas, bem como
mecanismos de apoio à inovação e cooperação tecnológica e;
- Capacitar os empreendedores na utilização das tecnologias de gestão para que possam
aumentar a competitividade de seus negócios e adotar novos processos de tomada de
decisão.
Nota. Fonte: Dados de documentos
92
A Pré-Incubação, conforme descrita na Tabela 10, tem por objetivo preparar os projetos
com potencial de negócio para a criação de empresas de base tecnológica (Doc.2:6; Doc.2:7).
Este programa tem duração de seis meses contados a partir da assinatura do Contrato de
Utilização do Sistema Compartilhado (Doc.2:6). As principais atividades nessa fase enfatizam
a conscientização empreendedora; o estudo de viabilidade técnica, econômica, comercial e do
impacto ambiental e social (EVTECIAS); o Plano Tecnológico; o desenvolvimento do
protótipo de produto ou serviço; a elaboração do Plano de Negócios e a capacitação
empresarial para a gestão de negócios (Doc.2:5; Doc.2:6; Doc.2:8).
O Programa de Incubação compreende o período de trinta e seis meses (três anos), mas
pode ser prorrogado em determinados casos e, tem por objetivo o fortalecimento das empresas
nascentes por meio da capacitação gerencial do empreendedor e do desenvolvimento
econômico e financeiro de seu negócio (Doc.2:5; Doc.2:6). Após esse processo, a empresa
incubada é avaliada em relação à sustentabilidade, o estágio de desenvolvimento do produto
inovador e o tempo que está na incubadora, para que se certifique de que já está apta para se
graduar e se inserir no mercado ou se instalar no parque tecnológico (Doc.2:7).
Os empreendedores (incluem apenas alunos de graduação e pós-graduação da UFV e de
outras instituições de ensino superior e científicas, servidores públicos na forma da lei,
empreendedores da iniciativa privada, docentes e pesquisadores inativos da UFV e de outras
universidades), que pretendem ingressar no processo de Pré-Incubação e/ou Incubação,
precisam submeter um projeto ao processo seletivo. As propostas devem ser relacionadas com
as atividades de ensino e pesquisa da UFV e caracterizadas como de base tecnológica, as
quais são avaliadas conforme determinados critérios: (i) viabilidade técnica, econômica e
comercial da proposta; (ii) capacidade técnica e gerencial dos empreendedores; (iii) conteúdo
tecnológico; e (iv) grau de inovação dos produtos, processos e serviços a serem ofertados,
assim como seu impacto na modernização da economia (Doc.2:6).
93
Além dos programas de Pré-Incubação e Incubação, a IEBT CENTEV/UFV em parceria
com a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PPG/UFV) e a Comissão Permanente de
Propriedade Intelectual (CPPI/UFV), criou o Programa de Spin-off da UFV com o objetivo de
estimular e acelerar o processo de criação de spin-off a partir das pesquisas da universidade.
Este programa reúne práticas, ferramentas e métodos de apoio às novas empresas e fornece
subsídios aos processos de inovação, estruturação do negócio e ampliação da competitividade
tecnológica. Além disso, é importante destacar que o programa não exige que exista um
vínculo formal entre a incubadora e o pesquisador, como é o caso da incubação e da préincubação (Doc.2:5).
Após a implantação do Programa de Spin-off da UFV obtiveram-se alguns resultados,
tais como: (i) aumento do número de projetos e negócios associados à IEBT; (ii) contribuição
para o desenvolvimento tecnológico e econômico da região por meio da criação de novas
empresas de base tecnológica; (iii) consolidação da visão empreendedora na comunidade
acadêmica da UFV; (iv) aumento do número de registros de propriedade intelectual da UFV e
licenciamentos e transferência de tecnologia; (v) criação de instrumentos que ajudam os
pesquisadores no desenvolvimento de novos estudos voltados para a demanda da sociedade; e
(vi) auxílio no desenvolvimento do Parque Tecnológico de Viçosa (Doc.2:5).
Outra iniciativa da IEBT CENTEV/UFV, que tem como objetivos estratégicos a
prospecção de tecnologias com potencial de transferência e a criação de empresas de base
tecnológica, é o Programa de Incentivo à Inovação (PII), desenvolvido em parceria com a
Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (SECTES) e
o SEBRAE -MG (Doc.2:5).
O PII ocorre em três etapas: (i) inscrição e seleção dos projetos com potencial
tecnológico e de mercado em estágio de desenvolvimento avançado; (ii) elaboração de
EVTECIAS para os projetos selecionados, visando avaliar a viabilidade comercial da
94
tecnologia; e (iii) seleção dos melhores projetos da etapa anterior, desenvolvimento do Plano
de Negócio Estendido (PNE) e apoio financeiro para o desenvolvimento de protótipos e
produtos. Com essas ações, este programa tem resultado em mais de 50 (cinquenta) depósitos
de patentes efetuados e em andamento, criação de mais de 20 (vinte) spin-offs acadêmicas e
cerca de 20 (vinte) processos de transferência de tecnologia, sendo que no total foram
elaborados mais de 200 (duzentas) EVTECIAS e cerca de 100 (cem) protótipos (Doc.2:5).
A IEBT CENTEV/UFV, também, oferece diversas consultorias e assessorias (descritas
na Tabela 11), que são destinadas tanto às empresas pré-incubadas ou incubadas (que tenham
algum vínculo formal), quanto para outros empreendedores interessados que não possuem
qualquer associação com a incubadora, com objetivo de fomentar o empreendedorismo na
região (IEBT CENTEV/UFV, 2014b).
Tabela 11
Assessorias Fornecidas pela IEBT CENTEV/UFV
Assessorias
Descrição
Estudo de Viabilidade
Técnica, Econômica e
Comercial e de
Impactos Ambientais
(EVTECIAS)
(i) análise do mercado; (ii) segmentação de mercado; (iii) análise das tendências de
mercado; (iv) análise dos aspectos regulatórios referentes ao mercado e à atividade;
(v) definição do público-alvo; (vi) definição das necessidades dos clientes; (vii)
análise dos concorrentes; (viii) identificação dos canais de distribuição; (ix)
identificação dos potenciais complementadores e influenciadores; (x) projeto da
cadeia de valor; (xi) elaboração da Matriz SWOT; (xii) elaboração da Matriz
Gestão da Plataforma; (xiii) análise econômica e financeira; e (xiv) identificação
do Canal de distribuição.
Gestão por processos
(i) identificação e proposição de processos-chave, necessários a operacionalização
da empresa; (ii) elaboração de mapas de processos e fluxogramas; (iii) proposição
de procedimentos operacionais padrão e instruções de trabalho; (iv) definição de
indicadores e ações para acompanhamento e controle dos processos; e (v)
elaboração de manual da Gestão por Processos.
Gestão do processo de
desenvolvimento de
produto
Gestão do processo de desenvolvimento de produto, com a identificação e
caracterização das seguintes etapas: (i) planejamento estratégico do produto; (ii)
desdobramento da função qualidade (QFD); (iii) projeto informacional; (iv) projeto
básico e detalhado; e (v) projeto do processo de produção.
Gestão de qualidade –
conforme
especificações da NBR
ISO 9001: 2008
(i) implementação do programa 5S; (ii) elaboração do Manual da Qualidade, de
acordo com a NBR ISO 9001: 2008; (iii) utilização de ferramentas da qualidade;
(iv) treinamento; e (v) auditorias internas.
·
Gestão da produção
95
(i) Gerenciamento de estoques; (ii) previsão de demanda; (iii) Kanban, Kaizen,
Just in Time (JIT); (iv) Planejamento e Controle da Produção (PCP); (v)
planejamento da capacidade; (vi) estudo do layout; e (vii) planejamento dos
sistemas produtivo.
·
(i) Gerenciamento de estoques; (ii) previsão de demanda; (iii) gestão da cadeia de
suprimentos; (iv) planejamento das necessidades de materiais (MRP); (v) logística
empresarial; e (vi) logística reserva.
Logística
·
Gestão de qualidade –
conforme
especificações da NBR
ISO 14000
Pré-requisito: Gestão de
Processos
(i) Identificação dos requisitos legais; (ii) identificação dos aspectos ambientais;
(iii) mapeamento dos processos, de acordo com os requisitos normativos; (iv)
elaboração dos procedimentos operacionais e instruções de trabalho; (v)
treinamento; (vi) elaboração do Manual do Sistema de Gestão Ambiental; e (vii)
auditorias internas.
·
(i) definição do negócio e da missão; (ii) análise de ambiente interno e externo; (iii)
proposição de filosofias e políticas organizacionais; (iv) definição de objetivos e
metas; (v) formulação de estratégias; e (vi) análise SWOT.
Planejamento
estratégico
·
Gestão contábil
financeira
·
Gestão de pessoas
Pré-requisitos: Gestão por
processos e Gestão
contábil financeira
·
Gerenciamento de
projetos
(i) Projeções financeiras (balanço patrimonial e DRE); (ii) elaboração de fluxo de
caixa; (iii) identificação de custos de produção e administrativos; (iv) elaboração e
análise de estratégias de precificação; (v) orientação contábil; (vi) orientações
fiscais; (vii) planejamento tributário; (viii) elaboração e análise de indicadores; e
(ix) auditoria e controle.
(i) Estruturação do sistema de recrutamento e seleção; (ii) estruturação do sistema
de treinamento e desenvolvimento; (iii) elaboração do plano de carreira; (iv)
elaboração do plano de cargos e salários; e (v) elaboração de benefícios (salários
variáveis).
(i) desdobramento das atividades do projeto; (ii) utilização do software MS Project;
e (iii) gestão de projetos de acordo com o Project Management Body of Knowledge
(PMBOK).
Nota. Fonte: Adaptado de: IEBT CENTEV/UFV (2014b). Serviços Oferecidos. Recuperado de:
http://www.centev.ufv.br/incubadora/interna.php?area=servicos&idIdioma=1&sis=2
A Incubadora, até maio de 2014, estava apoiando o desenvolvimento de doze projetos
pré-incubados e nove empresas incubadas (E.2:1; E.2:2). Dentre essas empresas, cinco
empreendedores foram entrevistados, os quais produzem produtos associados às seguintes
tecnologias: (i) dispositivo de estacionamento para bicicletas (E.2:3); (ii) controle biológico
de pragas agrícolas (E.2:4); (iii) sistemas inovadores, como software de uma forma geral
(E.2:5); (iv) estudo de novos microrganismos com potencial de aplicação biotecnológica para
a geração de produtos fermentados, principalmente, bebidas, além de análise de alimentos e
96
consultorias diversas, incluindo boas práticas em higiene e em controle de qualidade (E.2:6); e
(v) biotecnologia mais voltada para reatores e tratamento de resíduo, bem como a área de
máquinas voltada para agronegócio e agricultura em geral. Conforme a natureza destas
empresas, os empreendedores precisam desenvolver tanto sua capacidade gerencial para
constituir o empreendimento, quanto obter assistência tecnológica como a proteção a
propriedade intelectual e algumas especificidades técnicas dos produtos ou serviço (E.2:7).
4.2.2 A dinâmica da transferência de conhecimento da incubadora CENTEV/UFV para as
empresas incubadas
O principal motivo da iniciativa de criação da IEBT CENTEV/UFV foi à necessidade
de fomentar a interação da estrutura e conhecimento da UFV com o processo de
desenvolvimento tecnológico nacional, bem como explorar a capacidade inovativa da
universidade (Doc.2:1). Assim, esta incubadora visa desenvolver os novos negócios de base
tecnológica e difundir a cultura empreendedora (Incubadora CENTEV/UFV, 2014a).
A fim de cumprir o seu principal objetivo, ou seja, o apoio ao desenvolvimento dos
novos empreendimentos, a IEBT CENTEV/UFV fomenta o processo de transferência de
conhecimento para os empreendedores por meio de seus serviços e assessorias, pelas parcerias
com a UFV e órgãos como o SEBRAE, com o incentivo à troca de experiências entre os
empreendedores incubados e mediante relacionamento com outras incubadoras mantido em
encontros promovidos pela Rede Mineira de Inovação e a ANPROTEC (E.2:1; E.2:2).
Baseando-se nas ações desenvolvidas pela IEBT CENTEV/UFV para transferir
conhecimento para os empreendimentos, assim como no primeiro caso, esta seção descreve
como ocorre o fluxo de conhecimento gerencial e tecnológico durante a incubação e os fatores
que influenciam este processo, tais como: (i) características do conhecimento que será
97
transferido (explícito e tácito), as características organizacional da fonte (capacidade
disseminativa) e do receptor (capacidade absortiva) e a intensidades dos laços.
Além disso, como observado no primeiro caso, também, destaca-se que na transferência
de conhecimento da IEBT CENTEV/UFV para os empreendimentos incubados, a
universidade atua como fonte, a incubadora ora cumpre o papel de fonte ora de receptora e as
empresas incubadas adquirem o conhecimento transferido.
4.2.2.1 Conhecimento Gerencial: características do conhecimento e características
organizacionais da fonte e do receptor
No início de suas atividades, as empresas nascentes apresentam diversas dificuldades de
inserção no mercado, tais como: (i) imaturidade gerencial da empresa; (ii) falta de
conhecimento do mercado; (iii) dificuldade em trazer grandes empresas para Viçosa para
fazer negócio com uma empresa pequena e desconhecida (E.2:5); (iv) dificuldade ao acesso as
linhas de crédito, pois não dispõem de garantias reais; (v) debilidade da função gerencial; (vi)
baixa qualificação dos recursos humanos, dentre outras (E.2:6). Além disso, quando se trata
de empreendimentos de base tecnológica, geralmente, os empreendedores são de áreas
técnicas e não tem conhecimento em gestão suficiente para sanar estes problemas e
transformar sua ideia em um negócio de sucesso (E.2:1; E.2:2; E.2:5; E.2:6; E.2:7; Doc.2:1).
Diante das dificuldades que as empresas nascentes enfrentam e a falta de experiência
(E.2:6), os empreendedores sentem-se motivados a procurar a IEBT CENTEV/UFV por
considerá-la uma fonte de conhecimento gerencial com potencial para ajudá-los a
desenvolverem seus negócios (E.2:1; E.2:2; E.2:5; E.2:6; E.2:7; Doc.2:1). Entretanto, como
os empreendedores, geralmente, ingressam na incubadora sem conhecimentos gerenciais
adquiridos anteriormente, eles informaram que “(...) não tem condições de absorver a
98
capacidade de gestão rapidamente” (E.2:6), o que representa uma barreira à transferência de
conhecimento. É importante notar que este não é um problema encontrado apenas na IEBT
CENTEV/UFV, pois a falta de capacidade absortiva dos sócios das empresas incubadas,
também foi indicada por 64% dos gestores de 105 incubadoras brasileiras, como um dos
fatores que mais influenciam o fluxo de conhecimento das incubadoras para as empresas
incubadas (Petrin, et al., 2014).
Dado a falta de conhecimento prévio dos empreendedores em relação ao conhecimento
gerencial, para que a IEBT CENTEV/UFV desenvolva as competências gerenciais e
empreendedoras dos sócios das empresas incubadas, são oferecidos diversos serviços e
assessorias, tais como: (i) espaço físico na sede da incubadora de acordo com a necessidade
do empreendimento; (ii) orientação jurídica, administrativa e contábil; (iii) infraestrutura,
como biblioteca, salas de treinamento e de reunião e espaço para confraternização; (iv) cursos,
seminários e palestras ministrados mediante convênios e parcerias com instituições públicas e
privadas; e (v) assessorias em diversas áreas gerenciais, como jurídica, financeira,
administrativa e mercadológica. Além disso, como toda informação é transferida para os
empreendedores de acordo com a demanda de suas empresas, eles aprendem e colocam em
prática, o que facilita a internalização do conhecimento (Doc.2:3).
Dentre os serviços, assessorias e consultorias, que funcionam como mecanismos de
transferência de conhecimento, alguns já foram estruturados pela incubadora, porém há outras
demandas específicas dos empreendimentos incubados que a IEBT CENTEV/UFV “(...) não
tem estrutura e pessoal capacitado para atendê-las, assim, tenta buscar recursos para oferecer
via contratação externa” (E.2:1). Além disso, são disponibilizados cursos durante o ano todo
e a “(...) incubadora tenta viabilizar a participação em eventos, por meio de parcerias com o
SEBRAE” (E.2:1).
99
Conforme já descrito, o apoio fornecido para os empreendedores são divididas em duas
etapas, a pré-incubação e a incubação (E.2:2). Na primeira etapa são disponibilizadas
consultorias para assessorar a elaboração do plano de negócio, no qual é realizada a
modelagem de negócio e a sua estruturação com base na ferramenta de planejamento
estratégico CANVAS. Em geral, na pré-incubação o empreendedor só tem uma noção do que
é o negócio, o que realmente ele está se propondo a fazer, “(...) porque tem muita ideia que, às
vezes, quer abraçar o mundo e não consegue fazer nada”. Então, a incubadora tenta direcionálo por meio do Estudo da Viabilidade Técnica, Econômica e Comercial do Impacto Ambiental
e Social (EVTECIAS), de forma que, para estruturarem seus empreendimentos eles colocam
em prática os conhecimentos adquiridos junto às assessorias, o que facilita a internalização do
que aprendem (E.2:2, Doc.2:5).
Quando o plano de negócio é aprovado, a empresa vai para a fase de incubação, na qual
o empreendedor aprende como fazer com que sua tecnologia vire um produto de fato e como
pode ser comercializada (E.2:2, Doc.2:5), pois “(...) os empreendedores são pessoas técnicas,
sabem tudo do produto, mas para fazer com que este produto chegue ao mercado, aí é um
problema grande” (E.2:2).
Na visão dos empreendedores instalados na IEBT CENTEV/UFV, estes serviços e
assessorias fornecidos pela incubadora são importantes para o desenvolvimento do negócio,
pois atuam como mecanismos de transferência de conhecimento (E.2:3; E.2:5; E.2:6; E.2:7).
Este dado também foi confirmado na pesquisa realiza com 105 incubadoras brasileiras, em
que os principais mecanismos utilizados para transferir conhecimento para os empreendedores
são as consultorias (89%), reuniões (75%), workshops (71%), conversas informais (71%) e
treinamentos (71%). É interessante notar que apenas 36% dos respondentes informaram que o
fluxo de conhecimento ocorre por meios codificados, o que inclui planilhas, manuais e
documentos (Petrin et. al., 2014).
100
Dentre os empreendedores entrevistados, há um consenso de que a IEBT
CENTEV/UFV desenvolve as empresas incubadas ao transferir conhecimento gerencial “(...)
por meio de cursos disponibilizados de acordo com a necessidade da empresa” (E.2:3), com a
“(...) ajuda na formação empreendedora” (E.2:5) e ao fornecer “(...) assessoria jurídica,
contábil, gestão em marketing, gestão administrativa e utilização do espaço físico” (E.2:7),
pois eles “(...) não tinham conhecimento de gestão e a incubadora ajudou a desenvolver o
plano de negócios da empresa e verificaram se iriam abrir ou não um negócio” (E.2:5).
Apenas uma empresa informou que não utiliza o conhecimento gerencial da incubadora,
porque os sócios e sua equipe têm muito deste conhecimento, o que eles utilizam é o espaço
físico e algumas vezes participam de palestras sobre editais de obtenção de recursos e de
alguns cursos (E.2:4).
Além de transferir conhecimento para as empresas por meio de treinamento, assessoria,
cursos e consultorias, a incubadora também promove a integração entre os empreendedores
das empresas incubadas, por meio de reuniões em geral e café empresarial, que atuam como
mecanismos de socialização do conhecimento, pois permite a troca de experiências e
informações, bem como incentivam as parcerias e a criação de novos negócios (E.2:2; E.2:7;
Doc.2:4).
É importante destacar que, esse apoio aos empreendimentos incubados é fornecido por
profissionais capacitados e todos os cursos oferecidos para os empresários, também, são
disponibilizados para a equipe interna da incubadora, o que aumenta o seu potencial para
atender as necessidades dos empreendedores: “(...) quando os funcionários ou bolsistas
chegam aqui, nos fazemos uma capacitação do que é o CENTEV e de tempos em tempos nos
temos capacitações para a equipe interna, mas, normalmente, eles participam de programas
que são para as empresas incubadas” (E.2:1).
101
Entretanto, um dos empreendedores informou que apesar do corpo de profissionais da
incubadora ser muito bom e dedicado, “(...) faltam pessoas que já tiveram inserção no
mercado e retornaram, para trazer conhecimentos práticos para dentro da empresa” (E.2:6), ou
seja, os colaboradores da incubadora, geralmente, não possuem experiências anteriores de
mercado, o que dificulta a disseminação do conhecimento prático e a identificação e absorção
de oportunidades para os empreendedores. Porém, este não é um problema apenas da IEBT
CENTEV/UFV, mas também da própria universidade, pois “(...) há poucos professores que
vieram da área empresarial, então eles sabem pouco a respeito da realidade da indústria para
trazer isso para a incubadora” (E.2:6).
Por fim, com o objetivo de melhorar seus processos a IEBT CENTEV/UFV está
tentando adequar seus procedimentos ao CERNE. Assim, passou-se a mapear e documentar
todos os processos da incubadora e a partir disso, está sendo aprimorado um sistema que será
implantado, onde todas as informações, relatórios, Procedimentos Operacionais Padrão
(POPs) e documentos estarão disponíveis via web na intranet, permitindo a transferência desse
conhecimento codificado e facilitando a gestão das informações e conhecimentos na
incubadora (E.2:1).
4.2.2.2 Conhecimento Tecnológico: características do conhecimento e características
organizacionais da fonte e do receptor
A IEBT CENTEV/UFV tem o papel de transformar todo o potencial tecnológico que a
UFV possui em negócios inovadores de base tecnológica e ajudar no desenvolvimento local,
tal objetivo pode ser alcançado por meio do empreendedorismo, que gera emprego e renda
(E.2:1). Nestes termos, a incubadora apoia os novos empreendimentos de base tecnológica,
principalmente, aqueles em que a tecnologia foi desenvolvida na UFV, “(...) por isso, quando
102
são realizadas ações de sensibilização e prospecção elas são bem focadas na universidade”
(E.2:1).
Entretanto, como a IEBT é multissetorial, ou seja, apoia empreendimentos de
agronegócio, de tecnologia da informação, de biotecnologia, dentre outros, não é possível ter
um funcionário na incubadora com potencial para disseminar o conhecimento tecnológico e
que consiga atender as necessidades específicas de cada empresa, pois “(...) nos não
conseguiríamos conter essa demanda técnica, além disso, nos achamos que este conhecimento
é o mínimo que o empreendedor tem que ter para entrar aqui” (E.2:2) e “(...) durante o
processo de seleção verifica-se essa competência dos sócios” (E.2:1).
Dado que um dos requisitos para a empresa ingressar na incubadora é ter conhecimento
tecnológico, há um consenso entre os empreendedores de que eles têm conhecimento prévio,
que os permitem identificar novas oportunidades referentes à tecnologia de seu produto e,
assim, conseguem adquirir e utilizar novos conhecimentos tecnológicos (E.2:4; E.2:5; E.2:6;
E.2:7). Apenas um dos empreendedores informou que por ser formado em educação física, só
tinha a ideia, mas não possuía nem conhecimento gerencial para abrir a empresa, nem
conhecimento tecnológico para produzir o produto e contou com a ajuda de parceiros que
sabiam utilizar a tecnologia necessária para desenvolver sua ideia (E.2:3).
Embora a maioria dos empreendedores tenha conhecimento de sua tecnologia, quando
necessário, a incubadora faz a mediação dos empreendedores com alguns contatos, como
órgãos governamentais e a universidade, para ajudá-los a sanar alguma dificuldade (E.2:1;
E.2:2; E.2:6; Doc.2:4). Ou seja, “(...) se o empreendedor precisa de algum conhecimento
sobre o produto, a incubadora resolve de duas formas, quando já tem o pessoal que está
fornecendo algum curso eles mesmos fazem, porém quando não têm, eles passam para o
SEBRAE, para a UFV ou para outros órgãos com a competência” (E.2:3). Desta forma, para
atender estas necessidades dos empreendedores, atualmente, a incubadora tem um escritório
103
do SEBRAETEC, “(...) que provavelmente vai contratar um professor da UFV ou tenta
viabilizar uma parceria entre um empresário e um departamento da universidade” (E.2:1).
A IEBT CENTEV/UFV, também, tem parcerias com a UFV (E.2:1; E.2:2), que possui
alto potencial tecnológico, pois conta com professores altamente qualificados, com mais de
400 laboratórios, suporte na área de informática, com sala de servidor web, e-mail e internet
(Doc.2:4) e com o Núcleo de Tecnologia e Gestão (NTG) que é formado por alunos da
engenharia de produção, que ajudam a oferecer consultorias para as empresas (E.2:1; E.2:2).
Assim, “(...) como a incubadora é parte da universidade, ela faz esses links para os
empreendedores, em relação à parte técnica” (E.2:6).
Além disso, há na incubadora um departamento denominado escritório de ligação, que
mapeia todas as tecnologias e linhas de pesquisa em desenvolvimento na universidade. Desta
forma, quando chega um empreendedor que necessita de determinada tecnologia, o banco de
dados é consultado e o escritório promove esse encontro (E.2:1; E.2:2).
É importante destacar que, para permitir a transferência de tecnologia oriunda da
universidade e a utilização de sua infraestrutura, a CPPI faz um contrato de compartilhamento
de laboratório e negocia as cláusulas referentes à utilização da propriedade intelectual (E.2:2).
É desta forma que, “(...) a incubadora faz a ponte entre o mercado e a ciência” (E.2:2).
Do ponto de vista dos empreendedores das empresas incubadas entrevistadas, embora a
IEBT CENTEV/UFV não tenha profissionais para transferir o conhecimento tecnológico, as
necessidades dos empreendedores sempre são supridas de outras formas (E.2:3; E.2:6; E.2:7),
pois “(...) se o pessoal da incubadora não sabe alguma coisa e não pode nos auxiliar de
alguma forma, eles buscam consultores e informação de fora e nos passam, então sempre que
necessário não houve problemas em obter conhecimento tecnológico” (E.2:7). Além disso,
geralmente a incubadora recorre à ajuda da UFV e os empreendedores utilizam a
104
infraestrutura da universidade. Desta forma, “(...) a empresa usa o espaço administrativo do
CENTEV e o espaço técnico da universidade” (E.2:6).
Apenas dois empreendedores informaram que não utilizam os cursos e parcerias
disponibilizados pela incubadora para obter conhecimento tecnológico. Um deles justificou
que já possui conhecimento e laboratório próprio (E.2:4) e o outro informou que a UFV não
trabalha com o tipo de tecnologia que eles utilizam e seu conhecimento foi adquirido por
pesquisas próprias (E.2:5).
Por fim, é importante destacar que, assim como na transferência de conhecimento
gerencial, durante as reuniões e o café empresarial, já citado, como empreendedores das
empresas incubadas tornam-se mais próximos, há maior facilidade para tocarem experiências,
socializarem o conhecimento tecnológico e até criarem novos projetos e parcerias (E.2:2).
4.2.2.3 Intensidades dos laços no relacionamento entre universidade, incubadora e empresas
incubadas
A dinâmica da transferência de conhecimento da IEBT CENTEV/UFV para os
empreendimentos incubados ocorre tanto por meio de treinamento, assessoria, reuniões e
formas de confraternização (E.2:1; E.2:7; Doc.2:4), quanto por redes de contatos da
incubadora (E.2:1; E.2:2; E.2:6; Doc.2: 4).
Nestes termos, as interações que permitem o fluxo de conhecimento durante o processo
de incubação ocorrem entre os seguintes agentes: (i) incubadora e empresa incubada; (ii)
universidade e incubadora; (iii) universidade, incubadora e empresa incubada e (iv) entre as
empresas incubadas.
O relacionamento da IEBT CENTEV/UFV com as empresas incubadas é estabelecido
por meio de um contrato, que contém as atribuições de cada agente. Por um lado, a
incubadora tem que supervisionar e controlar as atividades das empresas incubadas, reunir-se
105
com os empreendedores de forma periódica para apresentar as informações pertinentes e
fornecer suporte gerencial e técnico aos projetos pré-incubados e às empresas associadas ou
residentes. Por outro lado, os empreendedores precisam cumprir as exigências do Contrato de
Utilização do Sistema Compartilhado, das normas e dos regimentos da IEBT, do CENTEV e
da UFV; apresentar semestralmente ou quando solicitado o relatório de atividades
desenvolvidas por meio do programa; comunicar a incubadora qualquer intenção de
desligamento do programa; participar das reuniões e eventos realizados, dentre outras
atribuições (Doc.2:6).
Dado que o relacionamento entre a IEBT CENTEV/UFV e as empresas incubadas é
mantido como um acordo, regido por um contrato que define os direitos e obrigações
(Doc.2:6), há uma ligação entre esses agentes no âmbito legal. Entretanto, também se
estabelece uma forte conexão social, pois existe um comprometimento de ambas as partes, ou
seja, os empreendedores se comprometem com a incubadora pela necessidade de desenvolver
suas empresas (E.2:1; E.2:2) e, a incubadora cumpre suas atribuições por ter definido valores
que precisam ser seguidos, tais como: (i) ética, (ii) transparência, (iii) atitudes
empreendedoras, (iv) compromisso com a inovação e a qualidade, (v) fortalecimento das
parcerias, (vi) humanização das condições de trabalho; e (vii) responsabilidade social e
ambiental (Doc.2:6).
Os gestores da incubadora informaram que, a interação com os empreendedores ocorre
sem apresentar dificuldades e todo o acompanhamento para verificar o desenvolvimento das
empresas incubadas é feito por meio de reuniões mensais (E.2:1; E.2:2). “(...) Às vezes a
única dificuldade nesse relacionamento está associada ao interesse do empresário, porque nos
queremos oferecer tudo e ele não quer nada, mas ai a gente respeita” (E.2:1).
Do ponto de vista dos empreendedores das empresas entrevistadas, o relacionamento
com a incubadora se baseia na confiança de que a IEBT CENTEV/UFV tem potencial para
106
desenvolver a capacidade gerencial dos sócios e, consequentemente, seu empreendimento
(E.2:3; E.2:5). Assim, eles são motivados a participar do processo de incubação devido à
estrutura, o valor do aluguel, os cursos oferecidos (E.2:4), o acompanhamento que os gestores
da incubadora fazem junto às empresas, a oportunidade de network e a capacitação dentro
daquilo que é possível (E.2:5). Além disso, durante a incubação os empreendedores se sentem
incentivados (E.2:3; E.2:6), ou seja, o simples estímulo dos gestores da incubadora cobrarem
dos empreendimentos (E.2:6), “(...) dá certa autoconfiança, eu sei que não estou sozinho e
saber que eu estou no meio de pessoas capacitadas e com formações nas mais diversas áreas é
muito importante” (E.2:3).
Outro relacionamento estabelecido para desenvolver os empreendimentos e, que se faz
necessário quando a incubadora não consegue atender as demandas dos empreendedores por
meio de seus funcionários e de sua infraestrutura, é entre IEBT CENTEV/UFV com sua rede
de contatos, em que um dos seus relacionamentos mais próximo é com a UFV, pois a
incubadora é parte integrante da universidade, que é a sua principal financiadora (E.2:2).
É importante destacar que o relacionamento entre UFV e a IEBT, atualmente, não
apresenta dificuldades (E.2:1; E.2:2) e já foi bem mais difícil obter apoio da universidade,
mas “(...) hoje se a gente fala que é da incubadora do CENTEV está havendo maior
receptividade e as portas estão abrindo voluntariamente, talvez seja por causa da divulgação
que a gente tem feito” (E.2:1). Assim, por meio desta interação mais receptiva entre essas
instituições, o gerente de acompanhamento empresarial da incubadora observa benefícios para
ambas às partes (E.2:2).
A maior vantagem da incubadora para a universidade é gerar spin-offs acadêmicas com
as tecnologias produzidas na UFV, estimular pesquisas que atendam as necessidades do
mercado e tentar gerar soluções para problemas da sociedade com as dissertações de mestrado
ou teses de doutorado. “(...) Não que a pesquisa básica não seja importante, tem que acontecer
107
também” (E.2:2), mas a preocupação é que “(...) por ano são defendidas 950 teses e
dissertações e para onde vai todo esse conhecimento?” (E.2:1). Portanto, a IEBT
CENTEV/UFV atua no sentido de conscientização, sensibilização e prospecção, “(...)
explicando para aquele pesquisador que sua tecnologia pode ser transferida para uma empresa
ou ele pode ser empreendedor” (E.2:2).
Por outro lado, o benefício para a incubadora neste relacionamento com a universidade
é que a IEBT passa atuar como uma interface entre a UFV e o mercado (Doc.2:2; E.2:1), de
modo a facilitar a interação da universidade com as empresas incubadas e possibilitar o acesso
dos empreendedores a infraestrutura (exemplo: laboratórios) da universidade e as pesquisas
relacionadas ao seu negócio (E.2:1; E.2:2; E.2:6). Além disso, quando um empreendimento
inicia suas atividades, “(...) ele ganha um pouco de credibilidade por estar na universidade”
(E.2:4).
Entretanto, o relacionamento entre as empresas incubadas e a universidade não é tão
fácil, pois esses dois agentes, geralmente, apresentam diferenças culturais e como a
incubadora está nessa interface, ela tem que lidar com duas realidades distintas. Ou seja, a
UFV trabalha em um ritmo mais lento que o mercado, “(...) a questão burocrática é muito
mais lenta, a gente tem que lidar aqui com empresas que querem sempre para ontem, então
isso é uma dificuldade muito grande” (E.2:2). Assim, há muito que fazer para minimizar essas
diferenças culturais, pois com a implantação da incubadora não houve mudanças
significativas na comunidade acadêmica e “(...) a questão cultural está mudando a passos
lentos” (E.2:2).
Desta forma, para que o relacionamento entre a UFV, a incubadora e os
empreendimentos seja mais próximo e possibilite intensificar o processo de inserção das
pesquisas no mercado, é necessário melhorar alguns aspectos, como exemplo, incentivar a
cultura empreendedora na universidade (E.2:1; E.2:6), porque, conforme os entrevistados
108
formados em administração na UFV, eles não tiveram nenhuma disciplina de
empreendedorismo (E.2:1) e faltam profissionais, tanto na incubadora quanto na universidade,
que tenham uma vivência empresarial: “(...) tem muitos professores e bolsistas aqui, com um
conhecimento muito grande da área técnica e gerencial, mas não de forma prática” (E.6).
Na tentativa de melhorar a interação entre da UFV e as empresas incubadas, uma das
ações da incubadora é fazer com que a comunidade acadêmica participe do programa de préincubação e incubação, o que aumenta a visibilidade do CENTEV (E.2:1; E.2:2). Assim, os
professores são convidados a fornecer consultorias, ministrar cursos, serem pareceristas
técnicos do processo de seleção das empresas (E.2:1) e alguns são sócios dos
empreendimentos incubados, mas atuam apenas como consultores, pois não podem intervir
diretamente como funcionários devido o problema da dedicação exclusiva (E.2:2). Além
disso, os mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos desenvolvem projetos de negócio ou
auxiliam nos serviços prestados aos alunos, que, geralmente, participam dos cursos abertos à
comunidade (E.2:1; E.2:2).
Durante a incubação, outro relacionamento que favorece o fluxo de informações e
conhecimento é a interação entre os próprios empreendedores, o que é incentivado pela
incubadora com a promoção de reuniões para tratar de assuntos gerais, para apresentar uma
empresa que está ingressando no processo de incubação e passar informações daqueles que já
estão na incubadora (E.2:2; E.2:7; Doc.2:4). Além disso, são promovidas formas de
confraternização, como o café empresarial que reúne apenas os empreendedores da
incubadora (E.2:1) e o CENTEV Sinergia, que tem como objetivo a interação de todas as
empresas da incubadora com os empreendimentos instalados no parque tecnológico, para que
se conheçam e compartilhem conhecimento (E.2:2). Estes meios de integração entre os
empreendedores “(...) são momentos para discussão e para troca de experiência, em que nos
levamos temas e eles discutem, às vezes sai até negócio, é muito interessante” (E.2:1).
109
Por fim, é importante destacar que além de promover um bom relacionamento entre as
empresas incubadas como forma de incentivar a transferência de conhecimento, é necessário
considerar que em muitos casos o empreendimento não se desenvolve de forma desejável,
dada a dificuldade no convívio entre os sócios, como intrigas, divergências de opiniões,
dentre outros (E.2:1; E.2:2). “(...) A gente teve três empresas, só no ano passado, que
fecharam, pois estavam incubadas e no meio do processo deu problema na sociedade” (E.2:1),
assim é necessário que os sócios tenham maturidade e saibam administrar a relação interna
entre eles (E.2:1; E.2:2).
Ao descrever a dinâmica da transferência de conhecimento da IEBT CENTEV/UFV
para as empresas incubadas e as interações que envolvem esse processo, como no caso da
RAIAR, elaborou-se a Tabela 12, que relaciona as evidências obtidas sobre o fluxo de
conhecimento entre universidade, incubadora e empresas incubadas e os fatores que
influenciam este processo.
Tabela 12
Síntese das Evidências dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento
Itens
Fatores
Características do Conhecimento
Conhecimento
Explícito
Conhecimento
Tácito
Conhecimento Gerencial
Conhecimento Tecnológico
- Conhecimento gerencial,
procedimentos da incubadora e
informações são documentados e
disponibilizados para funcionários e
empreendedores da incubadora.
- Conhecimento tecnológico da
universidade (linhas de pesquisa em
desenvolvimento) é mapeado e
disponibilizado.
- Conhecimento de gestão para
elaboração do plano de negócio: com
base nas assessorias consultorias, os
empreendedores das empresas
incubadas estruturam o seu negócio;
-Conhecimentos gerenciais, como
administrativos e financeiros: os
empreendedores das empresas
incubadas aprendem por meio de
cursos, seminários, palestras e
assessorias e colocam em prática;
- Conhecimento gerencial referente às
experiências dos empreendedores das
empresas incubadas: por meio de
reuniões e café empresarial há o
compartilhamento de experiências.
- Conhecimento tecnológico referente à
tecnologia dos produtos das empresas
incubadas: os empreendedores
adquirem conhecimento por meio de
consultorias e cursos fornecidos pelo
SEBRAETEC; professores da UFV e
pelo Núcleo de Tecnologia e Gestão
(NTG) e colocam em prática as
informações obtidas no
desenvolvimento de seus produtos;
-Conhecimentos referentes à
tecnologia dos empreendimentos
incubados: há a troca de informações e
experiências entre os empreendedores
das empresas incubadas durante as
reuniões e o café empresarial.
Intensidade dos laços entre
Universidade, Incubadora e Empresas
Incubadas
Características organizacionais da Universidade, Incubadora e Empresas Incubadas
110
- A incubadora não tem infraestrutura e
profissionais para atender diretamente
as necessidades tecnológicas dos
empreendimentos.
Capacidade
Disseminativa
da Incubadora
- Os colaboradores da incubadora são
dedicados;
-Os colaboradores da incubadora
possuem capacidade em relação ao
conhecimento gerencial;
-Faltam profissionais na incubadora
com experiências de mercado;
-A motivação em transferir
conhecimento já é inerente ao objetivo
da incubadora.
Capacidade
Disseminativa
da
Universidade
-Os professores da UFV são muito
acadêmicos e com pouca ou nenhuma
experiência real de mercado;
- São desenvolvidas ações para
incentivar a transferência de
conhecimento;
- São desenvolvidas ações pelo
CENTEV para incentivar a
transferência de conhecimento da
universidade.
- A UFV tem um grande potencial e é
uma fonte de tecnologias;
- A UFV possui mais de 400
laboratórios, suporte na área de
informática, com sala de servidor web,
e-mail, internet e de manutenção de
equipamentos.
- São desenvolvidas ações para
incentivar a transferência de
conhecimento tecnológico.
- Os colaboradores da incubadora não
tem conhecimento tecnológico.
Capacidade
Absortiva da
Incubadora
-Os colaboradores da incubadora são
capacitados em relação ao
conhecimento gerencial;
- Os colaboradores da incubadora
participam de curso para se
capacitarem;
-Os colaboradores da incubadora,
geralmente, não tem experiência no
mercado.
Capacidade
Absortiva das
Empresas
Incubadas
-Os empreendedores das empresas
incubadas têm pouco ou nenhum
conhecimento gerencial;
-Os empreendedores das empresas
incubadas, geralmente, não sabe
transformar sua ideia em uma empresa;
- Os empreendedores das empresas
incubadas veem a incubadora com
potencial para desenvolve suas
empresas, o que incentiva aquisição do
conhecimento.
-O requisito para ingressar na
incubadora é ter conhecimento
tecnológico sobre o produto;
- O incentivo para a aquisição do
conhecimento é a facilidade de acesso
à UFV, que tem alto potencial
tecnológico.
- O relacionamento da incubadora com
as empresas incubadas é mantido por
contratos e por forte conexão social;
- O relacionamento entre a incubadora
e a universidade já é mais próximo;
- A incubadora faz parte da UFV;
-Ações de integração entre as empresas
incubadas para trocar experiências e
conhecimento gerencial.
- A incubadora tem uma interação
direta com a UFV para possibilitar a
transferência de conhecimento
tecnológico;
- A transferência de tecnologia da UFV
para os empreendimentos incubados é
respaldada por contratos controlados
pela CPPI;
-O escritório do SEBRAETEC na
incubadora possibilita o apoio
tecnológico;
- Ações de integração entre as
empresas incubadas para trocarem
experiências e conhecimento gerencial.
Laços Fortes
111
Laços Fracos
-Diferenças culturais entre os
empreendimentos e a universidade;
- É necessário incentivar a cultura
empreendedora na universidade;
-Desentendimentos entre os sócios da
empresa incubada.
- As empresas incubadas adquirem
conhecimento tecnológico por meio da
intermediação da incubadora com a
UFV e o SEBRATEC;
-Diferenças culturais entre a empresa e
a universidade.
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
4.3 Análise comparativa entre os casos
4.3.1 Fatores críticos à transferência de conhecimento da IEBT RAIAR e da IEBT
CENTEV/UFV para as empresas incubadas
A descrição dos casos das IEBTs RAIAR e CENTEV/UFV permite observar que o
desenvolvimento dos empreendimentos durante o período de pré-incubação e incubação
consiste tanto na transferência de conhecimento gerencial - o que ocorre por meio do
relacionamento direto estabelecido entre as incubadoras e as empresas incubadas - quanto na
transferência de conhecimento tecnológico - o qual flui pela interação entre os
empreendedores e a rede de contatos da incubadora composta, principalmente, pela
universidade.
Entretanto, como o fluxo de conhecimento em ambos os casos envolve organizações
com diferentes objetivos, motivações, competências e culturas, esse processo perpassa um
ambiente multidimensional, ou seja, ocorre em contextos organizacionais e relacionais
distintos com implicações diversas para a transferência de conhecimento, o que,
consequentemente, afeta a eficácia na capacitação das empresas incubadas.
Desta forma, nesta seção faz-se uma análise comparativa entre os casos de modo a
verificar como determinados fatores influenciam à dinâmica da transferência de conhecimento
que ocorre durante a incubação dos empreendimentos nas IEBTs estudadas. Os fatores
identificados como críticos em ambos os casos foram: (i) capacidade disseminativa da fonte
112
(incubadora e universidade); (ii) capacidade absortiva do receptor (incubadora e empresas
incubadas); e (iii) intensidade do relacionamento entre a fonte (universidade e incubadora) e a
receptora (incubadora e empresas incubadas). Além disso, a natureza do conhecimento
transferido, também, influencia o fluxo de conhecimento durante a incubação, mas aparece
dependente dos outros fatores, como é explicado no decorrer desta análise.
A capacidade disseminativa foi identificada em ambos os casos a partir de dois
requisitos: (i) se a incubadora e a universidade enquanto fontes de conhecimento têm
expertise e potencial para transferir conhecimento para as empresas incubadas; e (ii) se estas
fontes estão motivadas para disseminar seu conhecimento (Minbaeva, 2007).
Com base nesses requisitos, é possível afirmar que as IEBTs estudadas apresentam alta
capacidade disseminativa do conhecimento gerencial, dado a existência de funcionários
qualificados que se atualizam frequentemente por meio de cursos e palestras fornecidos pelas
incubadoras em parceria com órgãos de fomento e, têm motivação para assessorar e apoiar os
empreendedores, posto que, como o propósito e a missão da incubadora é desenvolver os
empreendimentos incubados, os funcionários se envolvem fortemente no processo de
incubação e se dedicam para atender esse objetivo. Além disso, quando surge uma demanda
referente ao conhecimento gerencial que não é possível atender diretamente, as incubadoras
contam com o apoio de outros agentes externos qualificados, como o SEBRAE e/ou
professores das universidades, para transferir o conhecimento.
Entretanto, em relação às demandas associadas ao conhecimento tecnológico, pode-se
inferir que, as incubadoras não apresentam estrutura e competências internas para disseminar
esse conhecimento, pois atendem empreendimentos de diversas áreas tecnológicas e
consideram que esta é uma obrigação dos empreendedores, muito embora, as IEBTs não
deixem as empresas incubadas sem suporte e as colocam em contato com as universidades e
alguns órgãos de apoio.
113
Por outro lado, as instituições de ensino e pesquisa (PUCRS e UFV), ligadas as IEBTs,
RAIAR e CENTEV, têm alta capacidade disseminativa tanto referente ao conhecimento
gerencial quanto tecnológico, uma vez que, trabalham em diversas áreas e sabem como
transmiti-lo, pois possuem profissionais qualificados e que atuam na docência, ou seja, eles
têm habilidade para disseminar o conhecimento de forma mais didática. Além disso, as
incubadoras, juntamente com os gestores das instituições de ensino, também desenvolvem
ações para incentivar a troca de conhecimento entre a comunidade acadêmica e as empresas
incubadas. Exemplos desses incentivos é o fato da PUCRS, como apoio a RAIAR, ter
implantado a disciplina de empreendedorismo em todos os cursos oferecidos pela
universidade, o que tem motivado os alunos a participar da incubadora; e o caso do CENTEV,
que passou a realizar campanhas de divulgação na UFV tornando a IEBT mais reconhecida.
Além de analisar as características organizacionais das incubadoras e das universidades
como indicadores da capacidade disseminativa, também deve-se considerar os mecanismos
utilizados por essas fontes para transferir conhecimento às empresas incubadas, pois para que
o conhecimento gerencial e tecnológico seja disseminado de forma eficaz, também é
necessário que a transferência ocorra por meios adequados, que permitam o fluxo de
conhecimento de natureza explícita e tácita.
Desta forma, observa-se que para transferir conhecimento gerencial para as empresas
incubadas, as IEBTs estudadas utilizam mecanismos de disseminação semelhantes, tais como:
(i) manuais e documentos são utilizados para informar os empreendedores sobre os
procedimentos da incubadora, o planejamento de desenvolvimento do negócio, informações
gerenciais dos empreendimentos e algumas orientações, estes mecanismos permitem o fluxo
do conhecimento em sua natureza explícita; (ii) consultorias, assessorias, cursos, workshops e
palestras, possibilitam o fluxo de conhecimento gerencial, em relação ao conhecimento
administrativo, de marketing, jurídico e financeiro, bem como noções referentes à elaboração
114
do plano de negócios; e (iii) reuniões e formas de confraternização (exemplo: café
empresarial), promovem a integração entre as empresas incubadas, o que incentiva a troca de
informações, experiências e habilidades e, consequentemente, permite o fluxo de
conhecimento tácito.
Além desses mecanismos, observa-se nos dois casos que a aquisição e criação do
conhecimento gerencial, também ocorrem por meio do “aprender fazendo” (Nonaka, 1994),
pois durante o desenvolvimento dos empreendimentos incubados, os empreendedores utilizam
os conhecimentos adquiridos para solucionar os problemas de seus negócios, além disso, as
IEBTs permitem que os empreendedores aprendam com os próprios erros e com as
experiências dos outros. Nestes termos, por meio das experiências, os empreendedores
internalizam o conhecimento gerencial transferido das incubadoras para as empresas
incubadas, o que representa uma forma de criação do conhecimento tácito.
Em relação à transferência de conhecimento tecnológico durante a incubação das
empresas, foram identificados em ambos os casos os seguintes mecanismos de disseminação:
(i) mapeamento das pesquisas desenvolvidas pelas universidades, o que facilita o acesso dos
empreendedores das empresas incubadas ao conhecimento científico-tecnológico; (ii) cursos e
assessorias fornecidos pelos professores das universidades, que permitem atender algumas
necessidades dos empreendedores em relação a este conhecimento; e (iii) reuniões e as
formas confraternizações, o que incentiva a troca de experiências tecnológicas entre os
empreendedores das empresas incubadas, de modo que eles passam a ajudar uns aos outros a
solucionarem problemas e/ou criarem novos projetos, possibilitando, assim, o fluxo do
conhecimento de natureza mais tácita.
Além desses mecanismos, assim como no caso da disseminação do conhecimento
gerencial, destaca-se que, o conhecimento tecnológico transferido durante a incubação,
também é internalizado pelas empresas incubadas, uma vez que os empreendedores utilizam o
115
conhecimento adquirido para aperfeiçoar suas tecnologias e desenvolver seus produtos.
Nestes termos, por meio da experiência os empreendedores dos empreendimentos incubados
criam um conhecimento tácito.
Por fim, ao destacar os mecanismos utilizados durante a incubação das empresas para
disseminar o conhecimento gerencial e tecnológico, é possível inferir que os serviços
fornecidos por ambas as IEBTs facilitam o fluxo de conhecimento, principalmente, de
natureza tácita, posto que os empreendedores aprendem muito com as situações que ocorrem
durante o processo de desenvolvimento de seus empreendimentos e com as experiências das
outras empresas incubadas.
O segundo fator crítico na transferência de conhecimento é a capacidade absortiva tanto
das incubadoras - que para atender as demandas dos empreendedores de forma eficaz, em
alguns momentos, também, atuam como receptoras na aquisição de novos conhecimentos quanto das empresas incubadas que precisam de habilidades para assimilar, transformar e
utilizar o conhecimento adquirido.
A CA depende de diversos elementos, mas para identificá-la nos casos descritos foram
utilizadas as características apresentadas na literatura desta pesquisa, tais como: (i) o potencial
do receptor em relação ao nível de experiência e conhecimento prévio (Cohen & Levithal,
1990); (ii) a sua motivação em absorver novos conhecimentos (Minbaeva, 2007); e (iii) os
meios utilizados para se capacitarem (Vega-Jurado et al., 2008).
Nestes termos, observa-se que, nos casos analisados, as incubadoras possuem
profissionais com alta CA referente ao conhecimento gerencial, pois são graduados na área
em que atuam e quando necessário participam de cursos, palestras e workshops promovidos
em parceira com o SEBRAE e a universidade. Assim, os colaboradores conseguem tanto
adquirir e assimilar o conhecimento (capacidade potencial), quanto transformá-lo e explorá-lo
(capacidade realizada), de forma a atender as necessidades dos empreendedores.
116
Embora em ambos os casos os profissionais das incubadoras sejam qualificados,
diferente da IEBT RAIAR em que seus colaboradores possuem experiências em outras
organizações, a maioria dos funcionários da IEBT CENTEV/UFV possui muito conhecimento
gerencial adquirido na academia, mas não têm experiência em outras organizações fora da
incubadora e da universidade. Esta situação representa um fato negativo para a CA desta
IEBT, pois foi apontada nos relatos dos empreendedores como uma barreira para a
identificação de novas oportunidades. Desta forma, é possível inferir que neste caso é mais
difícil transferir o conhecimento tácito, o qual está atrelado às experiências do indivíduo
(Becerra et al., 2008; Anand et al. 2010). É importante destacar que este não é um problema
apenas da IEBT CENTEV/UFV, mas também afeta a UFV, que tem muitos professores da
área acadêmica e poucos com atuação no mercado.
Além disso, as incubadoras estudadas não apresentaram capacidade absortiva em
relação ao conhecimento tecnológico, porém, este fato não foi apontado como uma
dificuldade para o desenvolvimento das empresas incubadas, uma vez que, as demandas
associadas a este conhecimento são atendidas por meio da rede de contatos.
Em relação à CA das empresas incubadas, observa-se que os sócios destes
empreendimentos, geralmente, têm pouco ou nenhum conhecimento gerencial quando
ingressam no processo de incubação, o que dificulta a aquisição, assimilação, transformação e
utilização deste conhecimento, principalmente, o de natureza tácita por ser difícil de codificálo e transferi-lo.
Por outro lado, como um dos requisitos para as empresas ingressarem no processo de
incubação é que os empreendedores conheçam bem a tecnologia que produzem, pode-se
inferir que eles têm alta capacidade absortiva associada ao conhecimento tecnológico, o que
facilita a identificação e assimilação de novas oportunidades.
117
Por fim, é possível observar que a CA também é influenciada pela motivação do
receptor em adquirir conhecimento, pois nos casos analisados quando as empresas incubadas
se inserem no processo de pré-incubação ou incubação, os empreendedores estão altamente
motivados, o que aumenta o interesse na aquisição de conhecimento junto à incubadora,
facilitando sua absorção e utilização. Esta disposição e vontade em obter conhecimento, se
deve ao fato dos sócios das empresas incubadas considerarem a RAIAR e a IEBT
CENTEV/UFV como o melhor ambiente para se desenvolverem, como fontes de
conhecimento gerencial para ajudá-los a transformar suas ideias inovadoras em um negócio
de sucesso e como agentes capazes de facilitar o contato com as universidades e outras
empresas de alta tecnologia.
Além da capacidade disseminativa e da capacidade absortiva, verifica-se que, nos dois
casos, a intensidade dos laços interorganizacionais entre universidade, incubadora e empresas
incubadas, também, é um fator que influencia a transferência de conhecimento. Assim, a
partir da descrição dos dados, fez-se a classificação das interações entre os agentes como
conexões fortes ou fracas, o que se baseou em duas características principais: (i) proximidade
cultural; e (ii) qualidade no relacionamento (Granovetter, 1973; Argote et al., 2003;
Jasimuddin, 2007).
Desta forma, observa-se que o relacionamento entre as incubadoras e as empresas
incubadas é estabelecido por laços fortes, o que facilita a transferência de conhecimento
tácito. Esta afirmação é confirmada pelos seguintes aspectos: (i) intensa interação entre as
incubadoras e os empreendedores; (ii) relacionamento mantido por meio de contratos de
direitos e obrigações, o que gera maior confiança entre as partes e, consequentemente, maior
qualidade no relacionamento; (iii) forte conexão legal (relacionamento estabelecido por meio
de contrato) e social; e (iv) compatibilidade entre os objetivos da fonte e da receptora, o que
aumenta a proximidade cultural entre as incubadoras e as empresas incubadas.
118
Dado que há uma forte conexão entre as incubadoras e as empresas incubadas e que
estas organizações de apoio ao empreendedorismo apresentaram alta capacidade
disseminativa do conhecimento gerencial, como analisado anteriormente, verifica-se maior
facilidade no fluxo deste conhecimento para os empreendedores, inclusive o de natureza
tácita, pois a força dos laços nas interações tem implicações diretas nas características do
conhecimento. Ou seja, quanto mais forte é a relação, maior a facilidade em transferir
conhecimento tácito.
Além disso, em determinados momentos as incubadoras precisam interagir com as
universidades, a fim de adquirir conhecimentos adicionais e intermediar o relacionamento das
empresas com a instituição de ensino e pesquisa. Todavia, para que este relacionamento seja
mais forte, embora as IEBTs RAIAR e CENTEV façam parte das universidades (PUCRS e
UFV), elas precisam desenvolver ações para adequar o contexto de mercado dos
empreendimentos com o contexto acadêmico e fazer com que as instituições de ensino
participem mais do processo de incubação. Desta forma, por meio dos incentivos e
divulgação, atualmente, a PUCRS e a UFV aceitam melhor as incubadoras, o que facilita a
aquisição de conhecimento e o apoio entre as partes.
Entretanto, é importante destacar que ao comparar os casos estudados, observa-se que a
PUCRS apresenta características e desenvolve ações em parceria com a IEBT RAIAR, que
permitem inferir que esta incubadora se encontra em um ambiente com maiores incentivos ao
empreendedorismo do que a IEBT CENTEV.
Esta afirmação se baseia no fato de os
entrevistados enfatizarem que a IEBT RAIAR faz parte da cadeia de empreendedorismo da
PUCRS, o que mostra a visão empreendedora da universidade, além disso, algumas ações
como a implantação de disciplinas de empreendedorismo em todos os cursos representam
importantes incentivos para o desenvolvimento dessa cultura empreendedora. Já no caso da
UFV, verificam-se poucas ações que incentivam o empreendedorismo na comunidade
119
acadêmica, exemplo disso, é a falta de disciplinas voltadas para essa temática, inclusive,
segundo entrevistados formados em administração pela instituição, nas áreas gerenciais.
É provável que a cultura mais empreendedora da PUCRS em comparação com a UFV,
se justifique na origem de cada instituição. Ou seja, por um lado a PUCRS iniciou suas
atividades, justamente, com a criação dos cursos de Administração e Finanças, por outro lado,
embora a UFV tenha cursos nas áreas gerenciais, ela se classifica como uma instituição de
ensino tradicional e mais desenvolvida na área de Ciências Agrárias, o que não representa
uma barreira ao empreendedorismo, mas destaca a necessidade de ações mais incisivas em
relação ao desenvolvimento da cultura empreendedora.
Após verificar as características que envolvem o relacionamento entre as IEBTs e as
instituições de ensino e pesquisa, é necessário analisar uma terceira interação, ou seja, o
relacionamento entre as universidades e os empreendimentos incubados. Porém, infere-se que
em ambos os casos, algumas características, como as diferenças culturais (contexto de
mercado versus contexto acadêmico, trabalhar em logo prazo versus trabalhar em curto prazo,
dentre outras), a necessidade de mediação das incubadoras para que haja este relacionamento
e pouca interação entre as universidades e os empreendimentos incubados, fazem com que os
laços entre esses atores (universidade e empresas incubadas) sejam fracos. Logo, há maior
dificuldade em cumprir um dos principais motivos dessa interação, ou seja, promover a
transferência de conhecimento tecnológico de natureza tácita para as empresas incubadas.
Assim, embora o processo de compartilhamento de tecnologia e propriedade intelectual
entre universidade e empresas incubadas seja regulamentado por contratos elaborados pelo
CPPI/ETT, o que contribui para aumentar a confiança entre esses atores, é importante
ressaltar que estes acordos não são suficientes para que haja a transferência de conhecimento
tácito, pois dado alguns fatos que caracterizam as diferenças culturais, o que está associado,
principalmente, com as finalidades, interesses, formas de gestão e valores de cada organização
120
(exemplo disso é o fato de que ainda há membros da comunidade acadêmica que consideram
que o objetivo da universidade é apenas ensinar e, por isso não consideram necessário atender
as necessidades do mercado e incentivar o empreendedorismo), infere-se que haja receio em
compartilhar a tecnologia.
Além dessas interações, verifica-se que durante o processo de incubação, as IEBTs
incentivam o relacionamento entre os empreendedores por meio de reuniões e formas de
confraternizações. Embora no caso da RAIAR o gestor tenha afirmado que esta interação é
difícil pelo fato de os sócios das empresas incubadas se veem como concorrentes, há um
consenso entre os membros dos empreendimentos incubados entrevistados e os gestores da
IEBT CENTEV/UFV de que o relacionamento entre as empresas incubadas é de ajuda mútua
e que nesta interação surgem parcerias. Desta forma, como esta relação ocorre entre empresas
que estão em um mesmo ambiente e apresentam objetivos (se desenvolverem e se inserirem
no mercado) e culturas organizacionais semelhantes (são inovadoras e de base tecnológica),
pode-se inferir que há uma maior intensidade nos laços estabelecidos por estes agentes
durante a incubação, o que facilita a troca de experiências e, consequentemente, permite o
fluxo de conhecimento de maior conteúdo e valor.
A partir da identificação dos fatores críticos - capacidade disseminativa, capacidade
absortiva e intensidade dos laços - à transferência de conhecimento durante a interação
universidade, incubadora e empresas incubada, é possível fazer uma análise holística do
processo de forma a verificar, com embasamento em determinados elementos encontrados,
como ocorre o fluxo de conhecimento explícito e/ou tácito.
Nestes termos, observa-se que há fortes evidências de que o conhecimento gerencial
tácito é mais facilmente transferido das incubadoras para as empresas incubadas. Esta
afirmação se deve aos seguintes dados: (i) embora uma das incubadoras não tenha
profissionais com experiências no mercado, estas organizações, que ora atuam como fonte
121
para as empresas incubadas e ora como receptora de novos conhecimentos gerenciais
apresentaram alta capacidade disseminativa e absortiva deste conhecimento; (ii) os
empreendedores têm baixa capacidade absortiva do conhecimento gerencial, mas têm
motivação em aprender e a incubadora utiliza mecanismos que facilitam o processo de
transferência de conhecimento e de aprendizagem; e, por fim, (iii) os laços entre as
incubadoras e os empreendedores são fortes, o que torna mais fácil a transferência de
conhecimento tácito.
É importante destacar que, embora a transferência de conhecimento gerencial ocorra por
meio da interação direta das incubadoras com as empresas incubadas, em algumas situações
também é necessário recorrer ao auxílio das universidades, mas como o relacionamento
universidade-empresas incubadas ocorre por laços fracos e os empreendedores tem baixa CA
em relação ao conhecimento gerencial, infere-se que quando esse conhecimento é transferido
para as empresas incubadas por meio das redes de contatos é provável que ele seja mais
codificado.
Em relação ao fluxo de conhecimento tecnológico, observa-se que, embora a fonte
(universidades) tenha alto potencial para transferir o conhecimento e o receptor
(empreendedores de empresas incubadas) tenha alta capacidade de absorção, os laços entre
esses agentes são mais fracos, portanto, oferecem maior dificuldade na transferência de
conhecimento tácito. Ou seja, as universidades têm capacidade disseminava, mas podem não
ter tanta confiança para disponibilizar a sua pesquisa e tecnologia, assim, o conhecimento
transferido pode ser o de menor conteúdo e valor.
Entretanto, o conhecimento tecnológico também é transferido por meio da interação
entre as empresas incubadas e, como neste caso, os empreendedores possuem elevado
conhecimento referente à sua tecnologia e durante a incubação eles estabelecem laços fortes
122
uns com os outros, por meio desta interação ocorre o compartilhamento de conhecimento
tecnológico de natureza mais tácita.
Baseando-se nas características organizacionais das incubadoras, das empresas
incubadas e das universidades estudadas e, na intensidade dos laços entre esses agentes,
elaborou-se a Tabela 13, que apresenta como os fatores analisados influenciam na
transferência conhecimento. Ressalta-se que, não está representada na Tabela 13 a interação
entre universidade e incubadora, porque o principal objetivo deste relacionamento é promover
interações entre as universidades e as empresas incubadas, além disso, o foco é identificar
como ocorre a transferência de conhecimento para os empreendedores e qual a natureza do
conhecimento transferido.
Tabela 13
Fatores Críticos à Transferência de Conhecimento
Interações
Intensidade
dos Laços
-Alta Capacidade
Disseminativa
Incubadora
(Fonte)
e
Universidade
(Fonte)
e
Alta transferência de
conhecimento
gerencial tácito.
-Baixa Capacidade
Absortiva
- Laços Fortes
-Alta Capacidade
Absortiva
-Baixa Capacidade
Absortiva
-Alta Capacidade
Absortiva
-Alta Capacidade
Disseminativa
-Alta Capacidade
Disseminativa
-Baixa Capacidade
Absortiva
-Alta Capacidade
Absortiva
- Laços Fracos
Empresas
Incubadas
(Receptora)
Nota. Fonte: Elaborado pela autora
Tipo e Natureza do
Conhecimento
Transferido
-Baixa Capacidade
Disseminativa
- Laços Fortes
Empresas
Incubadas
(Receptora)
Entre Empresas
Incubadas
Tipo de Conhecimento
Conhecimento
Conhecimento
Gerencial
Tecnológico
Alta transferência de
conhecimento
tecnológico tácito,
desde que as empresas
incubadas sejam da
mesma especialidade.
Baixa transferência de
conhecimento
gerencial e tecnológico
tácito.
123
4.3.2 Modelo da Pesquisa
Tomando por base os resultados obtidos na análise comparativa dos casos, o
framework elaborado anteriormente, que orientou a pesquisa, foi revisado e elaborou-se o
modelo ilustrado na Figura 7, que representa a dinâmica da transferência de conhecimento das
incubadoras para as empresas incubadas com a adição de outros elementos descobertos.
Figura 7. Dinâmica da Transferência de Conhecimento das Incubadoras para as Empresas
Incubadas
Fonte: Elaborado pela autora
Ao observar o modelo da Figura 7, verifica-se que conforme o framework anterior à
incubadora realmente atua na transferência de conhecimento gerencial para as empresas
incubadas, o que é possível devido a sua alta capacidade em adquirir, absorver, transformar e
utilizar esse conhecimento, ou seja, a sua CA, bem como sua capacidade em disseminá-lo.
124
Além disso, como a incubadora tem laços fortes com as empresas, o conhecimento gerencial
de natureza tácita flui mais facilmente.
A incubadora, também, atua como um agente mediador nas relações da universidade
com os empreendimentos, mas um fato novo e muito citado nos dois casos é que as IEBTs
precisam adequar dois contextos culturais diferentes: (i) o contexto acadêmico, em que,
geralmente, a universidade ainda tem a visão de que sua função é apenas formar recursos
humanos, bem como o fato das pesquisas precisarem de prazos mais longos; e (ii) o contexto
de mercado, cujas empresas precisam superar a competitividade e atuar em curto prazo.
Já a universidade apresenta alta capacidade disseminativa em relação ao seu potencial
em codificar, articular, comunicar e ensinar, mas no que tange a sua motivação em transferir
conhecimento é necessário que sejam realizadas ações que a incentive interagir com as
empresas incubadas, até que se desenvolva na instituição de ensino e pesquisa uma cultura de
empreendedorismo.
Ainda no que se refere à interação entre a universidade e as empresas incubadas,
conforme o modelo, este relacionamento ocorre por meio de alguns agentes, tais como: (i) os
professores e pesquisadores, que fornecem tanto conhecimento gerencial quanto tecnológico;
(ii) alguns órgãos da universidade, como o CPPI/ETT, que intermedia a transferência de
tecnologia; e (iii) alguns órgão de fomento como o SEBRATEC que convida professores para
ministrar cursos, palestras e ajudar os empreendimentos em suas necessidades tecnológicas.
Além disso, dado as características do relacionamento entre universidade e empresas
incubadas, identificadas na análise dos dados, a conexão entre esses agentes é estabelecida por
laços fracos, o que permite a aquisição de informações inovadoras, mas observa-se
dificuldade em transferir conhecimento tácito.
Em relação às empresas incubadas, o modelo revela que elas apresentam inicialmente
baixa capacidade absortiva referente ao conhecimento gerencial, o que dificulta aquisição
125
desse conhecimento, mas isso é superado pelos mecanismos utilizados pela incubadora para
transferir o conhecimento e a motivação dos empreendedores em aprender. Por outro lado,
observa-se alto potencial de aquisição, transformação e utilização do conhecimento
tecnológico, mas dificilmente é transferido o conhecimento tecnológico tácito, dado os laços
fracos entre universidade e empresas incubadas.
Outra interação ilustrada no modelo é a relação entre as próprias empresas incubadas,
que é incentivada pela incubadora. Desta forma, devido algumas características, como
proximidade cultural e qualidade no relacionamento, identificou-se esta interação como de
laços fortes, o que permite a transferência de conhecimento tácito.
Por fim, observa-se no modelo que por meio dessa dinâmica da transferência de
conhecimento, as empresas se graduam e se inserem de forma competitiva no mercado. Além
disso, como vantagem deste processo para a universidade, as pesquisas passam a atender as
necessidades do mercado e surgem novas ideias que podem se tornar empreendimentos
inovadores.
126
5 Conclusão
5.1 Principais resultados da pesquisa
A partir da perspectiva teórica sobre a transferência de conhecimento entre
organizações como base para compreender o fluxo de conhecimento durante a incubação dos
empreendimentos nascentes, esta pesquisa buscou descrever e analisar as barreiras e os
indutores da transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as
empresas incubadas, bem como compreender as atribuições das universidades no processo de
disseminação do conhecimento tecnológico e científico para os empreendedores. Entretanto,
para que esta pesquisa atingisse o seu propósito foi necessário definir e cumprir três objetivos
específicos.
Em relação ao primeiro objetivo - descrever e analisar a dinâmica da transferência de
conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas - os achados revelam que o
processo de transferência de conhecimento durante a incubação ocorre de duas formas. Ou
seja, o conhecimento gerencial é fornecido para os empreendedores pelas incubadoras por
meio de suas assessorias, serviços e, quando necessário, contam com as parcerias
estabelecidas com os professores das universidades e órgãos de fomento. Por outro lado,
como as IEBTs não têm funcionários e estrutura para fornecer o conhecimento tecnológico,
este é transferido pelas redes de contatos, que é composta, principalmente, pelas instituições
de ensino e pesquisa.
Após descrever e analisar como ocorre o fluxo de conhecimento das incubadoras para as
empresas incubadas e ao utilizar as pesquisas sobre a transferência de conhecimento
interorganizacional (ver exemplo, Szulanski, 1996, 2000; Cummings & Teng, 2003;
Minbaeva & Michailova, 2004; Easterby-Smith et al., 2008; Vega-Jurado et al., 2008; Tang,
2011), contatou-se que esse processo envolve fatores críticos, o que permitiu atingir o
127
segundo objetivo específico, ou seja, possibilitou descrever e analisar os principais indutores e
barreiras na transferência de conhecimento durante a incubação das empresas. Tais fatores
analisados foram: (i) capacidade disseminativa da fonte (universidade e incubadora); (ii)
capacidade absortiva do receptor (incubadora e empresas incubadas); (iii) intensidade dos
laços entre fonte e receptor; e (iv) a característica do conhecimento (tácito e explícito), que
dependem da forma como os outros fatores estão atuando.
Com base nesses fatores, primeiramente observou-se que em um ambiente de
incubação as incubadoras atuam tanto como fonte de conhecimento quanto como receptora,
pois para atender os empreendedores adequadamente precisam se capacitar constantemente e
adquirir novos conhecimentos, assim, é necessário que estas instituições tenham tanto
capacidade disseminativa quanto capacidade absortiva. A CA das IEBTs foi identificada
como fator importante para que estas organizações reconheçam, assimilem, utilizem novos
conhecimentos e, deste modo, possuam potencial para disseminá-lo, bem como para
reconhecer novas oportunidades para os empreendedores das empresas incubadas.
Entretanto, embora as incubadoras estudadas sejam de base tecnológica, os serviços
fornecidos durante a incubação têm como foco desenvolver as competências gerenciais dos
empreendedores. Desta forma, a alta capacidade disseminativa e absortiva das IEBTs atuam
como indutores do processo de transferência de conhecimento gerencial para as empresas
incubadas.
O fato de os serviços fornecidos pelas IEBTs serem utilizados para transferir,
principalmente, o conhecimento gerencial, se justifica pela característica organizacional das
empresas incubadas, pois ao ingressarem no processo de incubação, os empreendedores
possuem pouco ou nenhum conhecimento referente às áreas gerenciais, o que os impedem de
transformar suas ideias em empresas competitivas para o mercado sem o apoio de instituições
como as incubadoras. Assim, constatou-se que os empreendedores têm alta capacidade
128
absortiva do conhecimento tecnológico, mas baixa CA referente ao conhecimento gerencial, o
que se apresentou como um fator que dificulta a aquisição desse conhecimento,
principalmente, o de natureza mais tácita.
Entretanto, dado à proximidade cultural e a qualidade do relacionamento entre as
incubadoras e as empresas incubadas, verificou-se que estes atores mantêm um
relacionamento forte, o que segundo pesquisas sobre a transferência de conhecimento
interorganizacional (ver exemplo, Argote et al., 2003; Van Wijk et al., 2008; Sankowska,
2013), facilita o fluxo de conhecimento de natureza mais tácita, ou seja, constatou-se que
durante a incubação as IEBTs transferem conhecimento gerencial de alto valor e conteúdo
para os empreendimentos incubados.
Este resultado sobre a transferência de conhecimento converge com os estudos de
Hackett e Dilts (2004) e Scillitoe e Chakrabarti (2010), que também discutem que o
conhecimento gerencial é transferido para as empresas incubadas em um relacionamento
direto com a incubadora e que essa interação constante faz com que haja laços mais fortes, o
que permite as IEBTs aprenderem sobre as necessidades das empresas incubadas e serem
capazes de oferecer assistência relevante ao negócio.
Por outro lado, embora as empresas incubadas tenham apresentado alta CA referente ao
conhecimento tecnológico e as universidades tenham alta capacidade para disseminá-lo aos
empreendedores, os laços entre esses atores são fracos, o que foi identificado como uma
barreira ao fluxo de conhecimento tecnológico de natureza tácita. Nestes termos, em
complemento a algumas pesquisas (ver, Hackett e Dilts, 2004), que discutem que a interação
das empresas incubadas com as redes de contatos da incubadora facilita o acesso às novas
informações e conhecimentos, neste estudo conclui-se que o conhecimento tecnológico
transferido das universidades para os empreendimentos incubados dificilmente será o de
maior conteúdo e valor.
129
Dado que os laços fracos dificultam a transferência de conhecimento tecnológico de
natureza tácita das universidades para as empresas incubadas, em conformidade com a
discussão de Hannon (2005), este estudo verificou que uma das competências que a gestão da
incubadora precisaria desenvolver é o suporte tecnológico aos empreendedores. Porém, como
as IEBTs estudadas informaram que é inviável fornecer apoio tecnológico diretamente para os
empreendedores, uma vez que, apoiam empreendimentos de diversos setores, a única
alternativa para as incubadoras atenderem as demandas associadas ao conhecimento
tecnológico, como apresentado por Scillitoe e Chakrabarti (2010), seria realmente por meio
das redes de contato. Portanto, é necessário que se desenvolvam laços mais fortes entre
empresas incubadas e as universidades para que o conhecimento tácito seja mais facilmente
transferido.
O desenvolvimento de laços fortes entre as empresas incubadas e as universidades
poderia ocorrer, principalmente, com a mudança de alguns paradigmas que ainda perduram na
cultura acadêmica, tais como: (i) alguns membros da comunidade acadêmica ainda
acreditarem que a única atribuição da universidade é formar recursos humanos; (ii) o fato da
maioria dos alunos e pesquisadores focarem apenas no desenvolvimento de pesquisas básicas;
e (iii) as exigências de órgãos que regulamentam a educação no Brasil, os quais atribuem a
maior quantidade de pontos aos programas de pós-graduação pela quantidade de publicações,
sendo que em determinadas situações é necessário manter sigilo das descobertas para que
sejam registradas patentes e para garantir a competitividade no mercado, caso a pesquisa seja
desenvolvida em parceria com alguma empresa.
Ressalta-se que as IEBTs estudadas já desenvolvem algumas ações para alcançar uma
maior integração entre a universidade e as empresas incubadas, como divulgação da
incubadora, incentivo ao empreendedorismo na comunidade acadêmica, entre outros. Sendo
importante destacar que no caso da IEBT RAIAR, observou-se uma cultura empreendedora
130
mais desenvolvida do que na IEBT CENTEV, mas em ambos os casos as incubadoras ainda
têm dificuldades em mediar o contexto acadêmico e o contexto de mercado. Assim, para que a
conexão entre universidade, incubadora e empresas incubadas seja mais forte, essas ações de
aproximação entre estes atores precisam ser constantes, para que se minimizem as diferenças
culturais existentes em ambos os contextos.
Além disso, é importante destacar que as ações de incentivo a interação entre as
próprias empresas incubadas se mostrou importante para o fluxo de conhecimento tecnológico
de natureza tácita, pois ao interagirem durante a incubação, os empreendedores estabelecem
laços mais fortes, o que favorece a troca de informações e experiências, bem como a criação
de parceiras para novos projetos.
Por fim, o terceiro objetivo específico era analisar como as incubadoras de base
tecnológica atuam no processo de transferência de conhecimento tecnológico e científico
produzido nas universidades. Nestes termos, os achados mostraram que quando necessário as
IEBTs convidam professores para ministrar palestras e participar de workshops. Além disso,
as incubadoras fazem o mapeamento das pesquisas que estão em desenvolvimento na
universidade, verificam quais estão associadas à tecnologia das empresas incubadas e tentam
colocar os empreendedores em contato com os pesquisadores, de modo a incentivar a
comunidade acadêmica a utilizar as tecnologias produzidas para atender as necessidades do
mercado, na tentativa de que se estreitem mais os laços entre esses agentes, pois como
discutido os laços ainda são fracos e dificultam a transferência de conhecimento tácito.
Ao atingir os objetivos específicos, os resultados dessa pesquisa levam a concluir que,
entre os fatores analisados, a intensidade do relacionamento entre universidade, incubadora e
empresas incubadas apresentou-se como o fator com maiores implicações no fluxo de
conhecimento e, que a característica que mais influencia no fato de os laços serem mais fracos
entre as instituições de ensino e pesquisa e as empresas incubadas é a diferença cultural. Ou
131
seja, por um lado, tem-se um contexto acadêmico (exemplo: as pesquisas demandam prazos
maiores, há membros da comunidade acadêmica que consideram a universidade um ambiente
apenas de capacitação de recursos humanos, pesquisadores desenvolvem pesquisas que
apresentam relevantes contribuições teóricas, mas também precisam considerar a importância
de realizar estudos que atendam as necessidades do mercado, dentre outros) e por outro lado,
o contexto de mercado (exemplo: as empresas trabalham em curto prazo, demandam soluções
para as dificuldades enfrentadas no mercado, dentre outros).
5.2 Contribuições da pesquisa
Os resultados obtidos nesta pesquisa forneceram contribuições teóricas e empíricas
relevantes. Uma contribuição teórica deste estudo foi permitir a compreensão da dinâmica da
transferência de conhecimento em um ambiente de incubação.
Outro fato relevante, que contribuiu para a literatura, foi atrelar a teoria sobre os fatores
críticos à transferência de conhecimento interorganizacional com teorias que explicam o fluxo
de conhecimento das IEBTs para as empresas incubadas, pois dentre os estudos sobre
incubadoras utilizados para construir o referencial teórico desta pesquisa, não foi encontrado
nenhum que abordassem os indutores e barreiras da transferência de conhecimento durante a
incubação das empresas, o que torna esta análise inovadora neste campo de estudo.
Do ponto de vista empírico, a utilização das pesquisas que abordam os fatores que
influenciam o fluxo de conhecimento interorganizacional, foi relevante para identificar quais
aspectos precisam ser analisados pelos gestores das incubadoras para que cumpram de forma
eficaz o seu papel de desenvolvimento dos empreendimentos, por meio da transferência de
conhecimento gerencial e tecnológico.
132
Foi possível, também, confirmar que de acordo com a teoria utilizada, embora as
incubadoras sejam de base tecnológica, seu objetivo principal é a transferência de
conhecimento gerencial e não possuem estrutura interna para fornecer apoio tecnológico, o
que ocorre por meio da rede de contatos, principalmente com as universidades. Desta forma,
mostrou-se necessário que os gestores das incubadoras se atentem para a intensidade dos laços
entre universidade, incubadora e empresas incubadas e, para os fatores associados às
características organizacionais da fonte e da receptora, de modo que ocorra o fluxo do
conhecimento mais valioso, tornando os empreendimentos mais competitivos e capazes de se
graduarem para enfrentar o mercado.
Esta pesquisa, também mostrou o quanto é importante incentivar a interação entre as
próprias empresas incubadas para que se crie um ambiente com relacionamentos fortes, de
modo que durante a incubação das empresas haja cooperação entre os empreendedores e a
troca de experiências, informações e conhecimentos.
Finalmente, por meio deste estudo foi possível confirmar que, como as IEBTs apoiam o
desenvolvimento de empreendimentos inovadores, principalmente, por meio da transferência
de conhecimento gerencial e por possibilitar o fluxo de conhecimento tecnológico das
universidades para as empresas incubadas, estas organizações de apoio ao empreendedorismo
também atuam como agentes de transferência de tecnologia. Desta forma, além de cumprir o
papel de apoio no desenvolvimento dos empreendimentos nascentes, a proximidade das
universidades com as incubadoras se mostrou importante para que as instituições de ensino
não fiquem limitadas a desenvolver apenas estudos que forneçam contribuições teóricas, mas
que também sejam desenvolvidas pesquisas que se tornem empreendimentos e atendam as
necessidades do mercado.
Portanto, baseando-se no papel fundamental das IEBTs, este estudo enfatizou a
necessidade de que sejam feitos investimentos público e privados nestas organizações, posto
133
que, atuam na sociedade como agentes de inovação, estimulando o empreendedorismo na
comunidade acadêmica e na região em que estão inseridas. Entretanto, além de se fazer
investimentos, para que as incubadoras realmente cumpram suas atribuições como canais de
disseminação do conhecimento científico-tecnológico, este estudo ressalta que as
universidades, que estabelecem parcerias com estes agentes de inovação, percebam a
importância de trabalhar a cultura da comunidade acadêmica, de modo que vejam o
empreendedorismo como uma oportunidade de crescimento da instituição de ensino e como
uma forma de visibilidade e utilização de suas pesquisas e tecnologias. Desta forma, é
possível que se estreitem os laços entre as IEBTs e as universidades, o que,
consequentemente, aumentará o fluxo de conhecimento tácito e refletirá em maior eficácia do
processo de incubação.
5.3 Limitações da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros
A pesquisa forneceu contribuições teóricas e empíricas, porém, também apresentou
algumas limitações. Uma das principais dificuldades é o fato de o processo de transferência de
conhecimento no Brasil ser um tema relativamente recente. Além disso, apenas nos últimos
anos as incubadoras estão documentando todos seus procedimentos para se adequar as
exigências da certificação no CERNE, o que dificultou, principalmente no primeiro caso, o
acesso aos documentos institucionais que mostram os processos dessas organizações de apoio
ao empreendedorismo. Desta forma, foi necessário utilizar artigos sobre as incubadoras deste
estudo para complementar os dados.
O segundo fator, que também está associado à limitação dos dados foi à dificuldade de
acesso aos entrevistados das empresas incubadas, uma vez que disponham de pouco tempo,
assim, não foi possível realizar mais entrevistas. Desta forma, embora tenha sido realizado o
134
estudo de duas incubadoras, um maior volume de dados conferiria mais robustez aos
resultados.
Visto que os resultados dessa pesquisa foram obtidos apenas por meio da percepção dos
colaboradores das incubadoras e dos empreendedores das empresas incubadas, para aumentar
a compreensão da dinâmica da transferência de conhecimento durante a incubação dos
empreendimentos, seria importante realizar entrevistas com os professores e dirigentes das
universidades, o que possibilitaria verificar a visão dessas instituições de ensino sobre a
interação com as empresas incubadas e com a incubadora.
Além disso, o fato de se propor a analisar diversas variáveis atreladas a dificuldade de
obter um maior número de entrevistas, por um lado possibilitou a apresentação de uma maior
quantidade de fatores que influenciam a transferência de conhecimento, mas por outro lado
não permitiu que a análise fosse realizada com maior nível de profundidade.
Por fim, baseando-se nas limitações e alguns insights provenientes das constatações,
implicações e conclusões deste estudo, sugere-se que estudos futuros limitem os fatores
indicados nesta pesquisa como críticos à transferência de conhecimento, a fim de possibilitar
uma análise com maior nível de detalhes. Além disso, seria interessante realizar uma pesquisa
que verifique a visão da comunidade acadêmica sobre a interação com as incubadoras e a
transferência de conhecimento para as empresas incubadas.
135
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142
Apêndice
Apêndice A – Roteiro de entrevistas sobre a dinâmica da transferência de conhecimento
das incubadoras para as empresas incubadas: aplicado junto ao gestor da incubadora e
gerentes das assessorias
Nome:
Formação:
Função na Incubadora:
1. Aspectos gerais da incubadora
1) História da incubadora:
2) Tempo de atuação:
3) O que mudou na incubadora nos últimos 5 anos?
4) Processo de criação da incubadora (dificuldades, barreiras no processo de fundação):
5) Objetivos da incubadora.
6) Quantidade de empresas incubadas desde o início das atividades da incubadora e em uma
média anual?
7) Quantidade de empresas graduadas desde o início das atividades e em uma média anual:
8) A incubadora aceita empresas na fase de pré-incubação? Qual o tempo máximo de
permanência das empresas nesta fase?
9) Qual o tempo máximo de permanência das empresas na fase de incubação?
10) Como ocorre o processo de pré-incubação?
11) Como ocorre o processo de incubação?
12) Há um monitoramento das empresas após a graduação?
143
13) A incubadora tem fins lucrativos ou não? Se sim, este é o principal benefício de se instalar
uma incubadora de empresas? Se não qual o principal beneficio de se instalar uma
incubadora?
14) A incubadora cobra algum tipo de taxa das empresas incubadas? Qual a taxa cobrada?
Qual o valor médio da taxa?
15) Quem financia a incubadora?
16) Quais os serviços oferecidos pela incubadora para as empresas incubadas?
17) Após se graduarem, as empresas passam a desenvolver suas atividades no parque
tecnológico? Como ocorre esse processo de migração das empresas para o parque
tecnológico?
18) Em relação aos objetivos da incubadora como ocorre a criação dos spin-off e como
funciona a instalação destes nas incubadoras?
2. A importância das incubadoras para a universidade: (verificar a interação
universidade-empresa por meio da incubadora)
1) A incubadora pode ser considerada um agente de inovação? Por quê?
2) Qual a importância da incubadora para a criação de produtos e processos inovadores?
3) O que mudou na comunidade acadêmica com a implantação da incubadora?
4) Quais os benefícios de uma incubadora para a universidade?
5) Quais os benefícios da incubadora para os professores? Como estes, atuam na incubadora?
6) Quais os benefícios para os alunos?
7) Houve aumento de pesquisas desenvolvidas por alunos e professores com a instalação da
incubadora?
3. Principais dificuldades dos novos empreendimentos: (identificar quais conhecimentos
as empresas incubadas têm maior debilidade).
1) Quais as principais dificuldades dos novos empreendimentos, para a inserção no mercado?
Por quê?
a. ( ) a baixa intensidade de capital;
b. ( ) dificuldade ao acesso as linhas de crédito, pois não dispõem de garantias reais;
c. ( ) falta de conhecimento tecnológico para a elaboração de projetos, que possibilitariam a
aquisição de financiamento;
144
d.
e.
f.
g.
h.
i.
( ) debilidade da função gerencial;
( ) baixa qualificação dos recursos humanos;
( ) precariedade da função tecnológica;
( ) falta de planejamento em longo prazo;
( )baixo poder de barganha com parceiros comerciais;
( )problema com a produção, devido à dificuldade financeira o alto grau de conhecimento
técnico exigido nas empresas de base tecnológicas;
j. ( )dificuldade em identificar canais de distribuição compatíveis com o tipo de produto que
fabricam, devido o seu caráter inovador;
k. ( ) a comercialização;
l. ( ) Outra dificuldade.
2) Há empresas graduadas que não foram bem sucedidas no mercado? É possível informar
por qual motivo isso ocorreu?
3) De acordo com sua avaliação, qual o tipo de conhecimento absorvido, prioritariamente,
pelas empresas que participam do processo de incubação?
4. Processo de transferência de conhecimento:
4.1 Características organizacionais da incubadora
1) Como a incubadora, prioritariamente, mobiliza recursos e capacidades para prestar seus
serviços?
Exemplo: parceria com a universidade; parceria com outros institutos de pesquisa;
participação em palestras, conferências e workshops; parcerias com empresas privadas
realizam as próprias pesquisas.
2) Como os funcionários da incubadora são capacitados para trabalhar na incubadora?
3) A incubadora investe em palestras com pessoas especializadas?
4) No processo de capacitação das empresas incubadas, a incubadora tem competência
técnica e gerencial para estar auxiliando empreendimentos de diversas naturezas? Como
ocorre esse processo?
5) Qual a principal motivação da incubadora em transferir conhecimento para as empresas
incubadas?
4.2 Características organizacionais da empresa
1) Quais os fatores analisados na seleção das empresas candidatas ao processo de incubação?
2) Qual a principal motivação para as empresas incubadas estarem adquirindo o
conhecimento?
145
3) As empresas incubadas conseguem desenvolver sua capacidade de inovação, financeira e
gerencial ao participar de um processo de incubação?
4.3 A intensidade dos laços entre incubadora e universidade
1) Se a incubadora estabelece laços com as universidades, qual o principal argumento para
essa interação? Exemplo: o fluxo de conhecimento dessas instituições melhora o
desempenho dos empreendimentos; ocorrem benefícios para ambas às partes. Por um lado
à incubadora pode se tornar um meio de transferência de tecnologia entre a universidade e
o mercado, por outro a universidade pode ser um meio de geração de tecnologia, inovação
e levar novos empreendimentos à incubadora (DORNELAS, 2002).
4.4 A intensidade dos laços entre a incubadora e a empresa incubada
1) Há transferência de conhecimento dos funcionários da incubadora para as empresa
incubadas? Como ocorre esse processo?
2) Na incubadora, verifica-se uma interação entre as empresas incubadas? O senhor (a)
considera que este processo contribui para moldar a aprendizagem das empresas?
4.5 A transferência de conhecimento entre universidade, incubadora e empresas
incubadas
1) No processo de incubação é possível verificar os processos de compartilhamento de
conhecimento?
2) Quais as formas mais usuais utilizadas pela incubadora para transferir conhecimento
gerencial e tecnológico para as empresas incubadas?
3) Como ocorre o processo de transferência de conhecimento das universidades para a
incubadora? Exemplo: recursos humanos capacitados; patente ou direitos autorais;
participação em workshops, conferências, palestras.
4) Como ocorre o desenvolvimento das redes de negócio?
5) Quais as formas mais usuais utilizadas pela incubadora para transferir conhecimento para
as empresas incubadas? Exemplo: workshop, conversas informais, treinamento etc.
6) A incubadora promove a interação entre as universidades e as empresas? Como ocorre
esse processo?
7) No seu ponto de vista, a incubadora pode ser considerada como um mecanismo de
transferência de conhecimento das universidades para as empresas incubadas? Como
ocorre esse processo?
146
8) A transferência da tecnologia ou conhecimento das universidades ou instituições de
pesquisa para as indústrias depende de algum fator principal? E no processo de
tranferência desse conhecimento para as incubadoras?
Exemplo: o ambiente que ocorre a transferência, fatores organizacionais, capacidade de
absorção/transferência, os mecanismos de transferência, o gerenciamento do processo e o
valor adicionado ao processo de transferência de tecnologia.
9) A incubadora troca conhecimento com outras incubadoras? De que forma ocorre,
prioritariamente, essa interação das incubadoras?
10) O senhor (a) considera que a incubadora, consegue cumprir o papel de apoio aos novos
empreendimentos, no que tange os aspectos gerenciais, financeiros e de inovação? Se não,
qual o principal motivo?
4.6 Barreiras no processo de transferência de conhecimento
1) Há barreiras no processo de transferência de conhecimento, tanto das universidades para
as empresas, quanto das incubadoras para as empresas incubadas?
Exemplo: diferença em termos institucionais, em sua organização, valores, tolerância, nível de
qualidade e em seus objetivos sociais, o tempo gasto na transferência (enquanto os gestores
industriais exigem soluções práticas em curto prazo, os acadêmicos trabalham em longo
prazo); a apropriabilidade (as organizações podem não confiar na idoneidade dos acadêmicos,
os quais, ao deter o conhecimento, podem utilizar os resultados das pesquisas para abrir seu
próprio negócio ou fornecer informações que beneficiam os concorrentes), a implicitabilidade
(dificuldade de transferência de conhecimento tácito pelo pesquisador) e a universalidade do
conhecimento (associada a sua utilização em diversos problemas e áreas).
147
Apêndice B – Roteiro de entrevistas sobre a dinâmica da transferência de conhecimento
das incubadoras para as empresas incubadas: aplicado junto aos sócios das empresas
incubadas
Nome:
Formação:
Função na empresa:
1) Empresa (opcional):
2) Tipo de produto ou serviço oferecido pela empresa:
3) O(s) sócio (s) da empresa era (eram) estudante (s) da universidade?
4) O projeto de criação da empresa surgiu em que momento, quando era aluno ou após a
graduação?
5) Se a criação do projeto da empresa surgiu enquanto você era aluno da universidade, a
existência de uma incubadora de empresa na instituição facilitou a abertura da mesma?
6) De que forma a incubadora facilitou esse processo?
7) Atualmente a empresa se encontra em qual fase: (
) pré-incubação ( ) incubação
8) Quais as principais dificuldades de inserção da sua empresa no mercado?
a. ( )a baixa intensidade de capital;
b. ( ) dificuldade ao acesso as linhas de crédito, pois não dispõem de garantias reais;
c. ( ) falta de conhecimento tecnológico para a elaboração de projetos, que possibilitariam
a aquisição de financiamento;
d. ( ) debilidade da função gerencial;
e. ( ) baixa qualificação dos recursos humanos;
f. ( ) precariedade da função tecnológica;
g. ( ) falta de planejamento em longo prazo;
h. ( ) baixo poder de barganha com parceiros comerciais;
i. ( ) problema com a produção, devido à dificuldade financeira o alto grau de
conhecimento técnico exigido nas empresas de base tecnológicas;
j. ( ) dificuldade em identificar canais de distribuição compatíveis com o tipo de produto
que fabricam, devido o seu caráter inovador;
k. ( ) a comercialização;
l. ( ) Outra dificuldade.
9) Os sócios possuíam conhecimento gerencial e tecnológico quando iniciaram o
empreendimento, antes do processo de incubação? A incubadora consegue desenvolver essa
capacidade? De que forma a incubadora desenvolve essa capacidade? Se não, qual o motivo?
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10) Antes de participar da incubadora, a empresa possuía capacidade financeira? A incubadora
consegue desenvolver essa capacidade? Se Sim, de que forma a incubadora desenvolve essa
capacidade? Se não, qual o motivo?
11) Ao participar do processo de incubação, a empresa se tornou mais inovadora? Justifique a
resposta, explicando o que mudou na inovação de produtos e processos ao se associar à
incubadora.
12) Sua empresa possui pessoal capacitado (em termos de conhecimento), para absorver e integrar
os conhecimentos transferidos da incubadora para sua empresa? Quais as medidas adotadas
para desenvolver a equipe?
13) Quais os serviços oferecidos pela a incubadora, a sua empresa usufrui?
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
h.
i.
( )Assessoria jurídica;
( )Assessoria contábil;
( )Assessoria financeira;
( )Assistência em marketing;
( )Capacitação em gestão;
( )Apoio administrativo;
( )Utilização do espaço físico;
( )Acesso aos laboratórios e equipamentos;
( )Outro:
14) A incubação está sendo importante para o desenvolvimento do seu negócio? O que você
poderia citar como aspecto mais importante que a incubadora fornece para o desenvolvimento
do negócio?
15) De acordo com sua avaliação, qual o tipo de conhecimento absorvido, prioritariamente, pela
sua empresa ao participar do processo de incubação?
a. ( )Conhecimento gerencial;
b. ( )Conhecimento tecnológico;
c. ( )Aprender trabalhar em rede;
d. ( )Outro:
16) A empresa compartilha conhecimento com as outras empresas do processo de incubação?
Como ocorre esse processo? (Exemplo: Contatos informais, redes de negócio, comunidades
de práticas, fóruns, seminários e congressos, associação de empresas)
17) Em sua opinião qual o principal benefício de participar do processo de incubação:
a. ( ) Aquisição de conhecimento;
b. ( ) Obter capacidade gerencial;
c. ( ) Obter capacidade financeira;
d. ( ) Obter capacidade de inovação;
e. ( ) Obter capacidade técnica;
f. ( ) Obter capacidade gerencial, financeira, técnica e de inovação;
g. ( ) Acesso a equipamentos e laboratório de universidades;
h. ( ) Facilita a inserção do produto no mercado;
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i. ( ) A incubadora fornece serviço especifico para cada tipo de empreendimento;
j. ( ) Usufruir de um espaço físico, com escritórios, para estruturação da empresa com
um custo menor que os preços praticados no mercado;
k. ( ) Outro:
18) Principal desvantagem de incubar a empresa:
a. ( ) O processo de incubação é moroso;
b. ( ) A incubadora não desenvolve a capacidade financeira da empresa, de forma
adequada;
c. ( ) A incubadora não desenvolve a capacidade gerencial da empresa, de forma
adequada;
d. ( ) A incubadora não desenvolve a capacidade técnica da empresa, de forma
adequada;
e. ( ) A incubadora não desenvolve a capacidade de inovação, de forma adequada;
f. ( )A incubadora não desenvolver a capacidade financeira, gerencial, de inovação e
técnica, de forma adequada;
g. ( ) A incubadora apresenta dificuldade em inserir o produto no mercado;
h. ( ) A incubadora não fornece serviço especifico para cada tipo de empreendimento
i. ( ) Outro:
19) Justifique a resposta anterior
20) A incubadora atende as necessidades específicas de cada empreendimento de forma
adequada?
21) Quais as principais dificuldades identificadas, para que a empresa adquira o conhecimento
gerado na relação incubadora - empresa?
a. ( )Falta de conhecimento prévio por parte dos gestores das empresas incubadas;
b. ( )Dificuldade no relacionamento entre incubadoras e empresas incubadas (exemplo: falta
de confiança das empresas incubadas com as incubadoras, objetivos divergentes entre
empresas incubadas e incubadoras);
c. ( )Falta de uma cultura de inovação na empresa incubada;
d. ( )Falta de qualificação do pessoal da empresa incubada;
e. ( )Ambiente inadequado para a transferência de conhecimento.
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A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO DAS