PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração Mestrado Acadêmico em Administração Renata Petrin A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO DAS INCUBADORAS DE BASE TECNOLÓGICA PARA AS EMPRESAS INCUBADAS: um estudo comparativo de casos Belo Horizonte 2015 Renata Petrin A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO DAS INCUBADORAS DE BASE TECNOLÓGICA PARA AS EMPRESAS INCUBADAS: um estudo comparativo de casos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Fundação Dom Cabral, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Dr. José Márcio de Castro Belo Horizonte 2015 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Petrin, Renata P496d A dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as empresas incubadas: um estudo comparativo de casos / Renata Petrin. Belo Horizonte, 2015. 149 f.: il. Orientador: José Márcio de Castro Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. 1. Incubadoras de empresas - Transferência de tecnologia. 2. Gestão do conhecimento. 3. Tecnologia. 4. Empresas - Estudo de casos. I. Castro, José Márcio de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título. CDU: 658.012.4 Renata Petrin A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO DAS INCUBADORAS DE BASE TECNOLÓGICA PARA AS EMPRESAS INCUBADAS: um estudo comparativo de casos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Fundação Dom Cabral, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração ____________________________________________________________________________________________ Orientador Prof. Dr. José Márcio de Castro (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) ____________________________________________________________________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Baroni de Carvalho (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) ______________________________________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Eugênio Veneziani Pasin (Universidade Federal de Itajubá) Belo Horizonte, 06 de fevereiro de 2015 AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me capacitado e me dado forças para ingressar no mestrado e concluir esta pesquisa, principalmente nos momentos em que os problemas pareciam maiores e mais pesados do que eu podia suportar. Ao meu orientador, Professor Dr. José Márcio de Castro, obrigada pela paciência e dedicação, que possibilitaram a realização deste trabalho. Aos professores do Programa de Pós Graduação em Administração da PUC Minas, que sem o empenho despendido nas disciplinas que cursei, não seria possível a conclusão do curso. A Professora Dra. Simone e ao Professor Flavius, que acreditaram em meu potencial e me incentivaram a fazer o mestrado ainda na graduação. Aos meus pais, Leila e Roberto, pelo amor, incentivo e por sempre me ensinarem que um dos bens mais preciosos, depois da formação do caráter de uma pessoa de bem, do respeito, entre outros, a principal herança que podiam me deixar era a “educação”. A minha irmã, Rafaela, que compartilhou comigo todos os dias dessa jornada, sempre me apoiando. Ao meu amigo Carlinho, pelas palavras de incentivo e apoio. Ao Breno, pelo carinho, incentivo, apoio e por me escutar nos momentos difíceis. Aos meus amigos do mestrado que se mostraram companheiros, os quais vou sempre lembrar principalmente pelo apoio e incentivo. Aos funcionários e amigos da secretária do Programa de Pós Graduação em Administração da PUC Minas, que sempre foram muito receptivos e dispostos a ajudar no que fosse necessário. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo suporte financeiro para a realização desta pesquisa. Aos gestores das incubadoras, os responsáveis pelas assessorias e os empreendedores das empresas incubadas, que ao se prontificarem em participar do estudo de caso, possibilitaram a realização desta pesquisa. Enfim, agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a consecução deste trabalho, que representa muito além de uma contribuição para a academia e o mercado, mas a realização de um sonho. Há ouro e abundância de rubis, mas os lábios do conhecimento são joias preciosas (Bíblia Sagrada: Provérbios 20:15). RESUMO O objetivo desta pesquisa foi descrever e analisar empiricamente as barreiras e os indutores da transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as empresas incubadas e compreender não apenas o papel das incubadoras, mas também as atribuições das instituições de pesquisa e ensino no processo de disseminação do conhecimento tecnológico e científico para os novos empreendimentos. A literatura sobre incubadoras de empresas tem discutido que se estas organizações não conseguem atender adequadamente os empreendedores, a eficácia no desenvolvimento das empresas incubadas fica comprometida, o que torna necessário investigar os problemas e dificuldades na incubação dos empreendimentos. Argumenta-se nesta pesquisa que a base da incubação das empresas é a transferência de conhecimento das incubadoras para os empreendimentos incubados e que há fatores críticos que influenciam este processo. A partir da literatura da transferência de conhecimento interorganizacional, este estudo utilizou uma perspectiva multidimensional, em que foram analisados fatores que influenciam o fluxo de conhecimento da fonte para o receptor. Tais fatores são: (i) características do conhecimento (explícito e tácito); (ii) característica organizacional da fonte (capacidade disseminativa); (iii) característica organizacional do receptor (capacidade absortiva); e (iv) intensidade dos laços da fonte para o receptor (laços fortes e fracos). Em termos metodológicos, a pesquisa realizada foi de natureza qualitativa, que consistiu em um estudo comparativo de casos entre duas Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica (IEBTs): (i) IEBT RAIAR, associada à PUCRS e (ii) IEBT CENTEV, que mantém vínculo com a UFV. Foram realizadas entrevistas com gestores das incubadoras e empreendedores das empresas incubadas, para verificar como flui o conhecimento e as dificuldades e facilitadores deste processo. Os resultados encontrados mostram que se o conhecimento a ser transferido é o gerencial, este fluirá da interação direta entre as incubadoras e as empresas incubadas, mas quando se trata do conhecimento tecnológico é necessário que as IEBTs façam a mediação da sua rede de contato - em que o agente principal é a universidade - com os empreendedores. Além disso, constatou-se que a capacidade disseminativa, a capacidade absortiva e a intensidade dos laços entre esses agentes são fatores críticos à transferência de conhecimento de natureza explícita e tácita. Palavras-chave: Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica; Transferência de Conhecimento Interorganizacional; Fatores Críticos; Gestão do Conhecimento. ABSTRACT The objective of this research was to describe and analyze empirically the barriers and inductors of the knowledge transfer from technology business incubators to incubated firms and understand not only the role of incubators, but also the roles of research and academic institutions in the process of technological and scientific knowledge dissemination to new ventures. The literature about business incubators has argued that if these organizations fail to adequately meet the entrepreneurs, the development effectiveness of the incubated firm is compromised, which makes it necessary to investigate the problems and difficulties in the incubation of firms. It is argued in this research that the basis of incubating of firms is the knowledge transfer from incubators to entrepreneurs and there are critical factors that influence this process. Based upon literature of interorganizational knowledge transfer, this study used a multidimensional perspective, where factors influencing the knowledge flow from source to receiver were analyzed. These factors are: (i) characteristics of knowledge (explicit and tacit); (ii) organizational characteristics of the source (disseminative capacity); (iii) organizational feature of the receiver (absorptive capacity); and (iv) intensity of ties from source to receiver (strong and weak ties). In terms of methodology, the research was qualitative, consisting of a comparative case study between two technologies business incubators (TBIs): (i) TBI RAIAR, associated with PUCRS and (ii) TBI CENTEV which keeps bond with UFV. Interviews were made with managers of incubators and entrepreneurs from incubated firms, in one to help determine how knowledge flows, the difficulties and facilitators of this process. The results show that if the knowledge being transferred is the managerial knowledge, this one flows from the direct interaction between incubators and incubator firms, but when it comes to technological knowledge is necessary to the TBIs make the mediation of its own network contacts- the main agent in this case is the university - with the entrepreneurs. Furthermore, it was found that the disseminative and absorptive capacities and the intensity of ties between these agents are critical factors to knowledge transfer of explicit and tacit natures. Keywords: Technology Business Incubators; Interorganizational Knowledge Transfer; Critical Factors; Knowledge Management. . LISTA DE FIGURAS Figura 1. Interações com a Incubadora e Assistência aos Empreendimentos ......................... 43 Figura 2. Incubadora de Empresas como Elo entre a Universidade-Empresas Incubadas e os Benefícios da Incubação de Empresas para a Instituição de Ensino ........................................ 52 Figura 3. Framework do Processo de Transferência de Conhecimento das Incubadoras de Base Tecnológica para as Empresas Incubadas ........................................................................ 53 Figura 4. Composição da Rede INOVAPUCRS ..................................................................... 69 Figura 5. Etapas de Desenvolvimento das Empresas Incubadas na RAIAR ........................... 71 Figura 6. Estrutura Administrativa .......................................................................................... 90 Figura 7. Dinâmica da Transferência de Conhecimento das Incubadoras para as Empresas Incubadas ................................................................................................................................ 123 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Assistência Gerencial e Tecnológica Fornecida pelas Incubadoras ......................... 43 Tabela 2 Síntese Teórica dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento .... 50 Tabela 3 Relação de Entrevistas Realizadas na Incubadora de Empresa de Base Tecnológica – IEBT RAIAR ......................................................................................................................... 60 Tabela 4 Relação de Documentos da IEBT RAIAR ............................................................... 60 Tabela 5 Relação de Entrevistas Realizadas na Incubadora de Empresa de Base TecnológicaIEBT CENTEV/UFV ............................................................................................................... 61 Tabela 6 Relação de Documentos da IEBT CENTEV/UFV ................................................... 62 Tabela 7 Categorias de Análise ............................................................................................... 64 Tabela 8 Funções das Unidades Periféricas que Compõem a Rede INOVAPUCRS.............. 70 Tabela 9 Síntese de Evidências dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento ........................................................................................................................... 86 Tabela 10 Objetivos dos Programas de Pré-Incubação e Incubação da IEBT CENTEV/UFV .................................................................................................................................................. 91 Tabela 11 Assessorias Fornecidas pela IEBT CENTEV/UFV ................................................ 94 Tabela 12 Síntese das Evidências dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento ......................................................................................................................... 109 Tabela 13 Fatores Críticos à Transferência de Conhecimento .............................................. 122 LISTA DE SIGLAS ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária CA - Capacidade Absortiva CD – Capacidade Disseminativa CERNE – Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos CENTEV - Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa CERTI - Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CPPI/UFV - Comissão Permanente de Propriedade Intelectual da Universidade Federal de Viçosa ETT - Escritório de Transferência de Tecnologia EVTECIAS - Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica, Comercial e do Impacto Ambiental e Social FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos FUNARBE - Fundação Arthur Bernardes IEBT - Incubadora de Empresas de Base Tecnológica IGG - Instituto de Geriatria e Gerontologia INSCER - Instituto do Cérebro INTOX - Instituto de Toxicologia e Farmacologia IPB - Instituto de Pesquisas Biomédicas LABELO - Laboratórios Especializados em Eletroeletrônica MCT - Museu de Ciências e Tecnologia MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MIVI - Manual de Identidade Visual NTG - Núcleo de Tecnologia e Gestão P&D - Pesquisa e Desenvolvimento PD&I - Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação PII - Programa de Incentivo à Inovação PNE - Plano de Negócio Estendido PPG/UFV - Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal de Viçosa PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul RMI - Rede Mineira de Incubação SAGE - Serviço de Apoio à Gestão SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SECTES - Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais UFV - Universidade Federal de Viçosa SUMÁRIO 1 Introdução ............................................................................................................................ 15 1.1 Problema de pesquisa ....................................................................................................... 15 1.2 Justificativa da pesquisa .................................................................................................. 21 1.3 Objetivos da pesquisa ....................................................................................................... 23 2 Referencial Teórico.............................................................................................................. 25 2.1 A transferência de conhecimento: contextos e fatores envolvidos ............................... 25 2.1.1 A natureza do conhecimento como fator influenciador no processo de transferência 27 2.1.2 As características organizacionais da fonte e do receptor na transferência de conhecimento ........................................................................................................................... 30 2.1.3 A intensidade dos laços entre fonte e receptor na transferência de conhecimento ..... 35 2.2 Incubadoras de empresas no processo de transferência de conhecimento para as empresas incubadas: indutores e barreiras ......................................................................... 38 2.2.1 Fatores que influenciam a transferência de conhecimento durante a incubação das empresas ................................................................................................................................... 45 2.3 Framework do processo de transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas ................................................................................................................ 51 3 Metodologia .......................................................................................................................... 56 3.1 Estratégia e método de pesquisa ..................................................................................... 56 3.2 Unidades empíricas de análise ......................................................................................... 57 3.3 Estratégia de coleta de dados........................................................................................... 58 3.4 Estratégia de análise de dados ......................................................................................... 63 4 Descrição e Análise dos Dados............................................................................................ 66 4.1 Incubadora RAIAR .......................................................................................................... 66 4.1.1 Caracterização e contexto da Incubadora RAIAR e das empresas entrevistadas ........ 66 4.1.2 A dinâmica da transferência de conhecimento da incubadora RAIAR para as empresas incubadas ................................................................................................................. 73 4.1.2.1 Conhecimento Gerencial: características do conhecimento e características organizacionais da fonte e do receptor .................................................................................... 74 4.1.2.2 Conhecimento Tecnológico: características do conhecimento e características organizacionais da fonte e do receptor .................................................................................... 79 4.1.2.3 Intensidades dos laços no relacionamento entre universidade, incubadora e empresas incubadas .................................................................................................................................. 81 4.2 Incubadora CENTEV/UFV ............................................................................................. 88 4.2.1 Caracterização e contexto da Incubadora CENTEV/UFV e das empresas entrevistadas............................................................................................................................. 88 4.2.2 A dinâmica da transferência de conhecimento da incubadora CENTEV/UFV para as empresas incubadas ................................................................................................................. 96 4.2.2.1 Conhecimento Gerencial: características do conhecimento e características organizacionais da fonte e do receptor .................................................................................... 97 4.2.2.2 Conhecimento Tecnológico: características do conhecimento e características organizacionais da fonte e do receptor .................................................................................. 101 4.2.2.3 Intensidades dos laços no relacionamento entre universidade, incubadora e empresas incubadas ................................................................................................................................ 104 4.3 Análise comparativa entre os casos ............................................................................... 111 4.3.1 Fatores críticos à transferência de conhecimento da IEBT RAIAR e da IEBT CENTEV/UFV para as empresas incubadas ....................................................................... 111 4.3.2 Modelo da Pesquisa ...................................................................................................... 122 5 Conclusão ........................................................................................................................... 126 5.1 Principais resultados da pesquisa ................................................................................. 126 5.2 Contribuições da pesquisa ............................................................................................. 131 5.3 Limitações da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros ....................................... 133 Referências ............................................................................................................................ 135 Apêndice ................................................................................................................................ 142 15 1 Introdução 1.1 Problema de pesquisa As organizações estão inseridas em um ambiente de elevada instabilidade e concorrência, e, em grande parte, a sua sobrevivência depende de processos, serviços e produtos inovadores (Rapini & Righi, 2007; Santos, Dutra, Almeida & Sbragia, 2008; Marques, Caraça & Diz, 2010). Neste cenário, o conhecimento passou a ser um insumo valioso e sua criação interna por parte das firmas se tornou uma das principais fontes de competitividade (Rapini & Righi, 2007). A crescente importância do conhecimento na economia contemporânea requer uma mudança na maneira de pensar sobre inovação, seja ela técnica, em produtos, estratégica ou organizacional (Nonaka, 1994). Nestes termos, a sociedade tem atribuído às instituições de ensino e de pesquisa uma função de destaque como atores econômicos e sociais (Remiro, Oliveira, Mello & Araujo, 2008), ao promoverem a transferência de conhecimento e tecnologia para a indústria, como um dos fatores que mais contribui para elevar o desempenho da inovação (Arvanitis, Sydow & Woerter, 2008). As ações inovadoras das organizações, a partir do conhecimento adquirido, refletem diretamente na sociedade e no desenvolvimento econômico de um país (Etzkowitz, Mello & Almeida, 2005; Vedovello & Figueiredo, 2005). Desta forma, segmentos políticos e socioeconômicos, como governantes, empreendedores e instituições de pesquisa e ensino (Vedovello & Figueiredo, 2005), têm despendido esforços para o suporte e apoio aos novos empreendimentos, por serem fontes de inovação (Etzkowitz et al., 2005; Vedovello & Figueiredo, 2005). As incubadoras de empresas emergem, neste contexto, como agentes importantes no desempenho da transferência de conhecimento e tecnologia (Phillips, 2002), dado que essas 16 organizações buscam explorar e potencializar os recursos existentes, disponibilizam um ambiente favorável ao surgimento de novos empreendimentos e tornam as empresas capacitadas e bem sucedidas (Vedovello & Figueiredo, 2005). Baseando-se no retorno positivo de uma incubadora, políticas locais de desenvolvimento da economia, em todo o mundo, perceberam que a incubação de negócios é uma medida efetiva para promover o crescimento regional, por meio do suporte aos novos e inovadores empreendimentos (Schwartz, 2011), uma vez que o desenvolvimento de recursos organizacionais e a capacidade de inovação são importantes antecedentes para novos negócios adquirirem um desempenho superior e se manterem no mercado (Chen, 2009). Porém, para que estas organizações de apoio às novas empresas sejam eficientes e atuem como canais de transferência de conhecimento científico e inovador (Phillips, 2002) faz-se necessária uma maior interação com as intituições de ensino e pesquisa. As universidades como geradoras e repositórios de conhecimento científicos e tecnológicos podem transferir parte desses recursos intangíveis para as empresas por meio de canais articulados, como as incubadoras (Remiro et al., 2008). Tal interação é significativamente benéfica à sociedade, principalmente, quando se trata de países classificados como imaturos no Sistema Nacional de Inovação, como o caso brasileiro, que não possui uma produção endógena da tecnologia. Situação que poderia ser modificada com a valorização do conhecimento (Albuquerque, 1996). Dado a importância das incubadoras de empresas para o apoio ao empreendedorismo por meio da transferência de conhecimento, torna-se necessário compreender um pouco da história dessas organizações e suas características. O modelo de incubação atual surgiu nos Estados Unidos em 1959, quando uma das fábricas da Massey Ferguson em Nova York fechou e deixou um número significativo de desempregados. A partir desse acontecimento Joseph Mancuso, comprador das instalações da 17 fábrica, resolveu disponibilizar um espaço para pequenas empresas iniciantes que compartilhavam equipamentos e serviços (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores [ANPROTEC], 2012). Posteriormente, a partir dos anos 70, as incubadoras emergem na região do Vale do Silício como uma maneira de incentivar universitários e recém-graduados a disseminar suas inovações tecnológicas e a desenvolver o empreendedorismo (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação [MCTI], 2000). No Brasil, as incubadoras se consolidaram devido à necessidade de criar um modelo de desenvolvimento menos dispendioso e que permitisse a cooperação entre universidades e outras esferas institucionais. Provavelmente, o aparecimento dessas organizações de apoio ao empreendedorismo possa ser explicado pela convergência de dois movimentos, o primeiro é relativo às grandes empresas de alta tecnologia e o outro aos pequenos e médios negócios. Desta forma, o processo da criação das incubadoras foi facilitado quando ambas as forças se uniram no Congresso brasileiro em 1988, para que houvesse apoio às pequenas e médias empresas no geral e as de alta tecnologia em particular, movimento que permitiu a criação da primeira incubadora do país, em 1991 no estado de São Paulo (Etzkowitz et al., 2005). A criação das incubadoras no Brasil desempenhou um papel importante no cenário de inovação do país (Etzkowitz, 2002; Etzkowitz et al., 2005), o que foi usado como estímulo para o desenvolvimento de regiões e o nascimento das spin-off nas universidades (Bergek & Norman, 2008). Inicialmente, essas organizações eram associadas ao propósito de estimular o surgimento de empreendimentos resultantes de projetos tecnológicos, desenvolvidos em centros de pesquisa universitários ou não, no qual o foco era o setor de informática, biotecnologia e automação industrial (Maury & Beuren, 2009). Atualmente, as incubadoras fornecem apoio aos empreendimentos de diversos setores e são classificadas em quatro categorias: (i) tecnológicas, as quais fornecem suporte apenas para empresas que utilizam tecnologia, o que torna necessário estabelecer parcerias com 18 universidades e centros de pesquisa; (ii) tradicionais, que atendem empreendimentos deste segmento de mercado e não têm como prioridade a interação com as instituições de ensino e pesquisa; (iii) mistas, que não possuem restrições quanto ao setor de atividades das empresas; e (iv) outras, como as incubadoras culturais, as agroindustriais e as cooperativas (Vedovello & Figueiredo, 2005). Com essas novas atribuições, além do objetivo inicial, as incubadoras têm o propósito de contribuir para o desenvolvimento local e setorial (ANPROTEC, 2012). Segundo dados da última pesquisa realizada pela ANPROTEC em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Brasil possui cerca de 384 incubadoras em operação, envolvendo 2.640 empresas incubadas, 1.124 associadas e 2.509 graduadas, o que gerou 45.599 postos de trabalho (ANPROTEC & MCTI, 2011). Além disso, é relevante destacar que em países industrializados as incubadoras atendem diversos objetivos e segmentos. Por outro lado, países subdesenvolvidos são predominantemente focados na tecnologia (Lalkaka, 2002), como é o caso brasileiro, em que 40% das incubadoras apoiam empreendimentos voltados para esse segmento de mercado, os outros 60% são classificados em tradicionais (18%), mistas (18%) e outras (24%) (ANPROTEC & MCTI, 2011). No Brasil ou em países como Estados Unidos, China, Índia (Lalkaka, 2002), dentre outros, apesar do modelo de incubação ser personalizado para a cultura e condições locais, as incubadoras são dotadas de capacidade técnica, gerencial, administrativa e infraestrutura para amparar o pequeno empreendedor (Lois et al., 2004; Bergek & Norman, 2008; Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Geralmente, elas fornecem consultoria, treinamento, informações, interação com as redes de trabalho (Lalkaka, 2002; Phillips, 2002; Lois et al., 2004; Etzkowitz et al., 2005; Bergek & Norman, 2008; Chen, 2009); facilitam o acesso às atividades de pesquisas e aos laboratórios das universidades (Scillitoe & Chakrabarti, 2010); e 19 disponibilizam espaço apropriado, como escritórios compartilhados (Hackett & Dilts, 2004; Lois et al., 2004; Bergek & Norman, 2008; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), o que reduz os custos operacionais (Kim & Jung, 2010). Desta forma, fornecem condições efetivas para abrigar ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de sucesso (Bergek & Norman, 2008; Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Entretanto, essas organizações de apoio ao empreendedorismo têm apresentado como objetivos principais a comercialização da tecnologia e a assessoria gerencial (Phillips, 2002; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), fornecendo conhecimento tecnológico para as empresas apenas por meio das redes de contatos que as incubadoras estabelecem entre as universidades e os novos empreendimentos (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Desta forma, como o conhecimento tecnológico não é compartilhado diretamente pelas incubadoras, surgem alguns entraves, como o conflito de interesses entre universidade e empresas e as diferenças de contextos e estruturas legais em que atuam, o que implica na necessidade de compreender como ocorre a transferência de conhecimento durante a incubação, com o objetivo de identificar as barreiras que influenciam este processo e como superá-las (Phillips, 2002). Nestes termos, a interação entre universidade-empresa (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994) e as incubadoras (Phillips, 2002) é algo mais abrangente do que a relação comercial de um bem tangível ou serviço, pois envolve uma tentativa de aumentar a base de conhecimento destes agentes de mercado (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994). Além disso, é importante destacar que o compartilhamento de conhecimento não é algo simples, pois neste processo uma unidade é afetada pela experiência e conhecimento da outra (Argote & Ingran, 2000) e ocorre em contextos organizacionais e relacionais diferentes (Szulanski, 2000). Algumas pesquisas abordam (ver, por exemplo, Szulanski, 2000; Easterby-Smith, Lyle & Tsang, 2008; Van Wijk, Jansen, & Lyles, 2008) diversos fatores, como a capacidade disseminativa da fonte, a capacidade absortiva, a intensidade dos laços entre fonte e receptor 20 (Szulanski, 2000; Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008), que podem influenciar positivamente ou representar barreiras à transferência de conhecimento (Szulanski, 2000). Logo, para compreender como o fluxo de conhecimento ocorre entre as organizações é necessário verificar os fatores críticos a este processo (Cummings & Teng, 2003; Van Wijk et al., 2008; Castro, Diniz, Duarte, Dressler & Carvalho, 2013). Dado este contexto, para que a incubadora atue como um efetivo canal de transferência de conhecimento produzido em instituições de ensino e pesquisa (Phillips, 2002) e, apoie a sobrevivência dos novos empreendimentos inovadores (Lalkaka, 2002; Chen, 2009; Kim & Jung, 2010), tornar-se necessário verificar os diversos aspectos que influenciam positivamente ou impedem esse processo, pois sabe-se pouco sobre o fluxo de conhecimento dessas organizações de apoio ao empreendedorismo para as empresas incubadas (Rothaermel & Thursby, 2005). Desta forma, o propósito do presente estudo é identificar empiricamente as principais barreiras e os impulsionadores da transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas que participam do processo de incubação. No intuito de atingir o objetivo dessa pesquisa, utilizou-se como abordagem metodológica a pesquisa de natureza qualitativa, que consistiu em estudo de casos múltiplos (Yin, 2005). Os objetos de estudo são duas incubadoras de empresa de base tecnológica, o que é predominante no cenário brasileiro (ANPROTEC & MCTI, 2011) e que mantém vínculo com instituições de ensino e pesquisa. Tomando como base esses critérios, as duas instituições pesquisadas no estudo de caso comparativo são: (i) a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT) RAIAR, que mantém vínculo com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e (ii) a IEBT do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CENTEV), associada à Universidade Federal de Viçosa (UFV). Diante do exposto acima, formulou-se a seguinte pergunta que norteia esta pesquisa: 21 Quais são os principais indutores e barreiras à transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as empresas incubadas? 1.2 Justificativa da pesquisa O exponencial desenvolvimento tecnológico, a globalização, a inovação e o empreendedorismo tornaram-se os principais impulsionadores do crescimento econômico (Lalkaka, 2002; Chen, 2009). Desta forma, diversos segmentos políticos e socioeconômicos perceberam a necessidade de investir em um conjunto de arranjos institucionais que possibilitassem a disseminação do conhecimento e da tecnologia advindas de fontes relevantes, como as instituições de ensino e pesquisa (Vedovello & Figueiredo, 2005), o que facilita o desenvolvimento de empresários e empreendimentos inovadores (Lalkaka, 2002). A infraestrutura tecnologica (Vedovello & Figueiredo, 2005) depende da interação entre ciência, indústria e governo (Etzkowitz et al, 2005; Arvanitis et al., 2008), o que torna necessário o fortalecimento das relações entre essa tríplice hélice (Etzkowitz et al., 2005), de modo que proporcionem maior sinergia científica e tecnológica (Marques et al., 2010). Além da necessidade de criar organizações como as incubadoras (Etzkowitz et al., 2005), que tenham a finalidade de gerenciar a transferência de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) (Becker & Gassman, 2006), entre instituições de pesquisa e os novos empreendimentos (Marques et al., 2010). As incubadoras de empresas atuam como uma das principais organizações, que visam disseminar conhecimento científico-tecnológico oriundo dos resultados de pesquisas e direcioná-lo aos empreendimentos incubados (Phillips, 2002; Grimaldi & Grandi, 2005; Prodan & Ulyin, 2009). Desta forma, indiretamente essas organizações contribuem para o desenvolvimento econômico e regional (Lalkaka, 2002; Schwartz, 2011), ao possibilitar a 22 criação e o suporte tecnológico e estrutural de empreendimentos inovadores (Lois, Rice & Sundararajan, 2004; Raupp & Beuren, 2006; Bergek & Norman, 2008; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), pois quando as novas empresas conseguem se estruturar, elas aumentam as taxas de emprego (Phillips, 2002; Yan, 2004; Etzkowitz et al, 2005; Scillitoe & Chakrabarti, 2010; Schwartz, 2011) tanto na fase de incubação, quanto após se graduarem (Schwartz, 2011), gerando renda e ativos (Etzkowitz et al, 2005). Embora as incubadoras juntamente com as universidades contribuam para o desenvolvimento das atividades empreendedoras, é importante destacar que estas instituições não oferecerem um mercado pronto com produtos e serviços inovadores, mas ajudam as empresas a desenvolverem suas atividades tradicionais, por meio da formação de recursos humanos e aumento de seu estoque de conhecimento pelo auxílio à pesquisa (Marque et al., 2010). Desta forma, as instituições de ensino e pesquisas e as incubadoras devem ter clareza do seu papel de disseminar conhecimento e, buscar parcerias com vista à troca de informações e experiências, pois o sucesso das organizações depende, principalmente, dessas ações de interação entre os agentes locais (Souza, 2013). Ao atuarem como canais de transferência de conhecimento e apoio ao empreendedorismo, a implementação e fortalecimento de uma incubadora de empresa poderia ser resumido em cinco aspectos: (i) promover o desenvolvimento econômico (como diversificação da economia local); (ii) comercializar tecnologias; (iii) fomentar o empreendedorismo; e, indiretamente, (iv) gerar emprego e promoção da autossuficiência para diversos grupos da população (Organisation for Economic Co-Operation and Development [OECD], 1999). Portanto, dado o papel fundamental de uma sociedade do conhecimento para o ganho de competitividade (MCTI, 2011) e a importância das incubadoras para o desenvolvimento e suporte aos novos empreendimentos inovadores (Lalkaka, 2002; Phillips, 2002; Lois et al., 23 2004; Yan, 2004; Bergek & Norman, 2008; Scillitoe & Chakrabarti, 2010; Schwartz, 2011), a realização desta pesquisa se justificou com base nos seguintes aspectos: (i) a infraestrutura tecnológica nos países emergentes encontra-se em consolidação, como é o caso brasileiro, que apesar dos avanços, precisa se transformar em uma economia do conhecimento para que atinja o desenvolvimento e seja competitivo no mercado com produtos de base tecnológica (MCTI, 2011); (ii) as incubadoras têm sido implantadas em países emergentes baseando-se nos modelos de países desenvolvidos, que já possuem uma estrutura tecnológica bem mais avançada (Vedovello & Figueiredo, 2005); (iii) o Governo brasileiro tem investido em pesquisas sobre incubadoras de empresas (MCTI, 2011), as quais aproximam os empreendimentos ao conhecimento produzido nas universidades (Phillips, 2002); e (iv) os novos empreendimentos que participam do processo de incubação aumentam a probabilidade de sobrevivência no mercado (MCTI, 2000; Li & Atuahhene-Gima, 2002; Lois et al., 2004). 1.3 Objetivos da pesquisa O objetivo geral da pesquisa consistiu em descrever e analisar empiricamente as barreiras e os indutores da transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as empresas incubadas e compreender não apenas o papel das incubadoras, mas também as atribuições das instituições de pesquisa e ensino neste processo de disseminação do conhecimento tecnológico e científico para os novos empreendimentos. Para atender o objetivo geral foi necessário: Descrever e analisar a dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas; Descrever e analisar os principais indutores e barreiras na transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas; 24 Analisar como as incubadoras de base tecnológica atuam no processo de transferência de conhecimento tecnológico e científico produzido nas universidades. 25 2 Referencial Teórico O referencial teórico desta pesquisa está estruturado em três subcapítulos: (i) no primeiro discute-se o conhecimento, as formas de conversão e os fatores que influenciam a sua transferência entre organizações; (ii) no segundo, são abordados os indutores e as barreiras ao processo de transferência de conhecimento produzido nas universidades para as empresas incubadas, por meio da ação das incubadoras como elo entre os dois agentes; (iii) por fim, é apresentado um framework sobre a dinâmica do fluxo de conhecimento, baseado na revisão teórica. 2.1 A transferência de conhecimento: contextos e fatores envolvidos O conhecimento é um dos insumos mais estratégicos para o crescimento, a sobrevivência e o desempenho econômico das organizações (Argote & Ingran, 2000; Jasimuddin, 2007; Li, Poppo & Zhou, 2010). Dado a relevância desse recurso para a competitividade, pesquisas sobre a transferência de conhecimento e os fatores que influenciam o seu fluxo entre fonte e receptor, tornaram atrativas (ver exemplo; Nonaka, 1994; Szulanski, 1996, 2000; Argote & Ingran, 2000; Cummings & Teng, 2003; Minbaeva & Michailova, 2004; Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008; Tang, 2011). O termo conhecimento possui diversas concepções (Nonaka, 1994), mas um ponto em comum é o seu entendimento como toda a informação contextualizada, a qual foi atribuída um significado (Nonaka, 1994; Bessant & Tidd, 2009). Ou seja, ele é criado e organizado pelo fluxo de informações (um fluxo de mensagem a partir de dados que foram organizados) geradas pelas pessoas, que expressam suas opiniões, seus valores e suas crenças (Nonaka, 1994; Nonaka, Toyama & Nagata, 2000; Khalozadeh, Kazemi, Movahedi, & Jandaghi, 2011). 26 Este entendimento enfatiza um elemento essencial de que o conhecimento se relaciona com a ação humana (Nonaka, 1994). Desta forma, ele é mais expressivo que a informação e inclui especialização, experiência, valores e insights estruturados (Bessant & Tidd, 2009). Além disso, ao discorrer sobre a criação do conhecimento organizacional, Argote e Ingran (2000) destacam que este insumo está incorporado nos membros da organização (componentes humanos), nas ferramentas (componentes tecnológicos, que incluem hardware e software), nas tarefas (objetivos e propósitos da organização) e nas várias sub-redes formadas pela combinação desses elementos básicos. Assim, a maioria das organizações busca aumentar a competitividade por meio da cadeia tecnológica e pela formação de recursos humanos especializados (Khalozadeh et al., 2011). Da mesma forma como ocorre à criação do conhecimento, a sua transferência pode ser concebida como um processo dinâmico e interativo entre os agentes organizacionais e/ou entre organizações distintas (a fonte e o receptor) (Tang, Mu & Maclachlan, 2010), que trocam, recebem e são influenciados pelas experiências e conhecimentos dos outros (Argote & Ingran, 2000; Van Wijk et al., 2008). Por meio deste compartilhamento, a organização recria e mantém um conjunto complexo e ambíguo de rotinas em uma nova configuração (Szulanski, 1996). O fluxo de conhecimento entre fonte e receptor contribui para o desenvolvimento de habilidades difíceis de imitar (Kostova, 1999; Van Wijk et al., 2008) e permite que as empresas sejam capazes de aprender sobre clientes, concorrentes e reguladores. Consequentemente, elas adquirem uma melhor chance de detecção das oportunidades e passam a adaptar seus produtos e serviços às necessidades emergentes, o que contribui para altos níveis de desempenho e ganho de vantagem competitiva (Jasimuddin, 2007; Van Wijk et al., 2008). Entretanto, para que o conhecimento adquirido seja um diferencial de mercado é necessário que a sua transferência seja confiável e completa, de forma que o receptor se torne 27 independente da fonte e desenvolva sua capacidade de adquirir, utilizar, copiar, melhorar e possibilitar a venda da tecnologia produzida (Khalozadeh et al., 2011). Por fim, é necessário destacar que a transferência de conhecimento não ocorre em um vazio social (Kostova, 1999) e, portanto, é influenciada por diversos fatores. Porém alguns fatores se destacam quando se trata da transferência de conhecimento entre organizações distintas, tais como: (i) as características do conhecimento transferido (natureza tácita e explícita) (Szulanski, 1996, 2000; Argote, McEvily & Reagans, 2003; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008); (ii) a característica organizacional da fonte (capacidade disseminativa do conhecimento) (Minbaeva & Michailova, 2004; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Tang et al., 2010; Tang, 2011); (iii) a característica organizacional do receptor (capacidade absortiva) (Cohen & Levinthal, 1990; Szulanski, 1996, 2000; Cummings & Teng, 2003; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Pérez-Nordtvedt, Kedia, Datta & Rasheed, 2008; Vega-Jurado, Garcia & Lucio 2008; Van Wijk et al., 2008); e (iv) a intensidade dos laços no relacionamento entre a fonte e o receptor (laços fortes e fracos) (Szulanski, 1996, 2000; Cummings & Teng, 2003; Jasimuddin, 2007; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Van Wijk et al., 2008). 2.1.1 A natureza do conhecimento como fator influenciador no processo de transferência A natureza do conhecimento tem efeitos significativos sobre a eficácia do processo de transferência entre a fonte e o receptor, uma vez que, o conhecimento apresenta características (pode ser codificado ou estar enraizado nas experiências individuais), que o classifica em dois tipos, sendo cada um adequado para determinados objetivos organizacionais. Embora se 28 encontre diversas classificações, uma tipologia tradicional o divide em explícito e tácito (Nonaka, 1994; Nonaka, Toyama, Nagata, 2000; Bessant & Tidd, 2009). O conhecimento explícito é articulado em linguagem sistemática e formal, o que possibilita sua codificação em palavras, símbolos e números (Nonaka, 1994; Hansen, Nohria & Terney, 1999; Nonaka et al., 2000; Becerra, Lunnan & Huemer, 2008; Bessant & Tidd, 2009). Portanto, ele é objetivo e fácil de ser compartilhado (Nonaka, 1994; Becker & Gassman, 2006; Bessant & Tidd, 2009; Anand, Wardb & Tatikonda, 2010) na forma de especificações e procedimentos operacionais padrão, como os manuais, formulários de operações, entre outros (Lam, 2000; Nonaka et al., 2000; Anand et al., 2010). Uma vez que o conhecimento explícito é codificado, a possibilidade de transferi-lo sem a presença da fonte, isto é, por meio de documentos, torna este recurso vulnerável, dado a facilidade de apropriação. Assim, a transferência de conhecimento explícito está intimamente associada à disposição da fonte em assumir riscos, pois há a possibilidade de suas competências distintivas serem transferidas para o seu parceiro, resultando em consequências danosas (Becerra et al., 2008), tais como, a possibilidade de cópias e revenda desse recurso (Grant, 1996). A facilidade com que ocorre o fluxo do conhecimento explícito, portanto, apresenta o problema da apropriabilidade, isto é, um recurso que pode ser facilmente copiado e, qualquer indivíduo pode adquiri-lo (Grant, 1996; Nonaka et al., 2000), o que o torna menos valioso, em termos de inovação e competitividade no mercado (Van Wijk et al., 2008). Entretanto, apesar de ser menos importante para a vantagem competitiva final da empresa, sua transferência envolve esses perigos iminentes, que precisam ser cuidadosamente geridos (Becerra et al., 2008). Por outro lado, o conhecimento tácito é mais difícil de ser comunicado e formalizado, (Nonaka, 1994; Hansen, Nohria et al., 1999; Argote & Ingran, 2000), pois é profundamente 29 enraizado na ação humana, no envolvimento em um contexto específico e nas relações sociais (Nonaka, 1994; Becerra et al., 2008). Este tipo de conhecimento também se apresenta de forma ambígua (Van Wijk et al., 2008), pois se baseia na percepção dos indivíduos e em suas experiências, o que torna ainda mais complexo o seu processo de compartilhamento (Nonaka, 1994; Anand et al., 2010). Embora a ambiguidade dificulte a transferência de conhecimento tácito (Van Wijk et al., 2008), pesquisas apontam (ver, por exemplo, Argote & Ingran, 2000; Van Wijk et al., 2008) que esta é uma das características mais importantes deste conhecimento (Szulanski, 2000), uma vez que, ao dificultar sua codificação, também o protege da imitação dos concorrentes (Van Wijk et al., 2008) e aumenta as chances de inovação e vantagem competitiva da organização (Nonaka & Takeuchi, 1997; Cummings & Teng, 2003; Becerra et al., 2008). Desta forma, quanto mais tácito é o conhecimento, maior o nível de complexidade do seu processo de transferência e mais valioso, em termos de inovação e competitividade, para o receptor (Szulanski, 2000; Argote et al., 2003; Jasimuddin, 2007; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008). Dado a importância do conhecimento tácito para as organizações, a socialização (conversão do conhecimento tácito em tácito) torna-se relevante, pois promove o seu processo de criação, por meio de experiências compartilhadas, observações, imitações e práticas. Posteriormente, é fundamental a sua externalização (conversão do conhecimento tácito em explícito), para que o conhecimento individual possa ser integrado ao organizacional. Este processo de conversão do conhecimento tácito em explícito é expresso pelos membros da equipe na forma de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos. Além disso, os conceitos formados pelas equipes de colaboradores, também podem ser combinados com dados existentes e conhecimentos externos. Este modo de combinação (conversão do conhecimento explícito em explícito) ocorre por meio de documentos, reuniões, conversas ou 30 redes de comunicação computadorizados. Por fim, quando a organização permite a experimentação pelo método de tentativa e erro, os conceitos podem ser articulados e desenvolvidos pelos colaboradores por meio do processo de “aprender fazendo”, o que promove a internalização do conhecimento (conversão do explícito em tácito) (Nonaka, 1994; Nonaka & Takeuchi, 1997). Entretanto, é importante destacar que estas formas de conversão do conhecimento precisam ser contínuas para que possam viabilizar a criação do conhecimento organizacional, ou seja, após a internalização, o conhecimento tácito adquirido pelo indivíduo precisa ser socializado com os outros membros da organização, e, assim, se inicia uma nova espiral de criação do conhecimento (Nonaka, 1994; Nonaka & Takeuchi, 1997). Portanto, este processo é importante para a inovação, pois fornecem a base para a acumulação do conhecimento de fontes externas, seu compartilhamento e armazenamento para uso futuro (Bessant & Tidd, 2009). 2.1.2 As características organizacionais da fonte e do receptor na transferência de conhecimento A característica organizacional da fonte tem sido classificada na literatura (ver exemplo, Husted & Michailova, 2002; Minbaeva & Michailova, 2004; Minbaeva, 2007; Tang et al., 2010; Tang, 2011) como a capacidade disseminativa (CD), ou seja, o potencial e a motivação da fonte em codificar, articular, comunicar e ensinar o conhecimento para o receptor de forma eficaz e eficiente (Minbaeva & Michailova, 2004; Minbaeva, 2007). Nestes termos, a capacidade disseminativa é composta por dois aspectos complementares, o potencial do detentor do conhecimento e o seu comportamento no processo de transferência (Tang et al., 2010). 31 Primeiramente, se a fonte não tem expertise e habilidade suficiente para transferir o conhecimento necessário para os destinatários, a eficiência e a eficácia desse processo serão, significativamente, reduzidas (Tang et al., 2010). Exemplo desse problema ocorre quando o emissor não consegue especificar e comunicar precisamente o que deseja, então, o conhecimento transferido é mal interpretado e distorcido pelo receptor (Argote et al., 2003). Desta forma, é necessário que o detentor do conhecimento desenvolva seu potencial de articulação e comunicação, o que pode ser adquirido por meio da educação, formação, observação e envolvimento (Minbaeva, 2007). Além disso, outro aspecto importante que compõe a capacidade disseminativa é o comportamento da fonte (Minbaeva, 2007; Tang et al., 2010), pois há casos que o remetente tem potencial e expertise, mas são relutantes em compartilhar o seu conhecimento (Szulanski, 1996; Husted & Michailova, 2002; Minbaeva & Michailova, 2004; Minbaeva, 2007; Tang et al., 2010; Tang, 2011). Ao discutir o comportamento da fonte, Husted e Michailova (2002) abordam algumas justificativas para as atitudes hostis, que podem impedir a eficácia da transferência de conhecimento, tais como: (i) receio da perda de valor, do poder de barganha e a proteção da vantagem competitiva; (ii) relutância em gastar tempo e recursos no compartilhamento de conhecimentos, uma vez que poderia investir em atividades mais produtivas; (iii) falta de interesse em transferir conhecimento para um receptor que despendeu pouco ou nenhum esforço próprio para se desenvolver; (iv) proteger-se contra a avaliação externa da qualidade dos seus conhecimentos; e (v) cautela em revelar o conhecimento relevante, por duvidar da forma como o receptor vai perceber e interpretar o conhecimento compartilhado. Dado que a fonte pode se comportar de forma hostil, dificultando a transferência de conhecimento, um dos incentivos para que ela supere seus receios é a confiança no destinatário (Szulanski, 1996, 2000; Husted & Michailova, 2002, Becerra et al., 2008), a qual 32 é definida por Becerra et al.(2008) como uma percepção de confiabilidade, independente de haver riscos ou não nesta relação. Entretanto, nos relacionamentos baseados na confiança uma das partes se torna vulnerável e outra pode aproveitar disso e agir de maneira ilegal ou oportunista (Granovetter, 2005). Desta forma, a disposição da fonte em assumir os riscos que a transferência de seu conhecimento envolve, está fortemente associada a sua percepção em relação à integridade do receptor, ou seja, no seu caráter moral (Becerra et al., 2008), o que consequentemente facilita a frequência e a qualidade da comunicação, aumenta o fluxo de informações e a troca de conhecimentos (Sankowska, 2013). Em suma, o potencial e a motivação da fonte (capacidade disseminativa) devem estar presentes para que se alcance maior grau de transferência de conhecimento, uma vez que, mesmo que o detentor do conhecimento tenha um alto potencial, sem a motivação é provável que resulte em mau desempenho no processo de transferência e vice-versa. Portanto, quanto maior a capacidade disseminativa, maior será o grau do fluxo de conhecimento para o receptor (Minbaeva, 2007). Outro fator apontado pela literatura (ver exemplo, Cohen & Levinthal, 1990; Szulanski, 1996, 2000; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; Vega-Jurado et al. 2008; Van Wijk et al., 2008; Tang et al., 2010) como antecedente que pode influenciar na eficácia da transferência de conhecimento é a característica organizacional do receptor, especificamente, em relação à sua capacidade absortiva (CA) (Szulanski, 1996, 2000; Minbaeva, 2007; Van Wijk et al., 2008; Vega-Jurado et al. 2008). A capacidade absortiva está associada com a habilidade de utilizar o conhecimento externo, a qual depende do nível de experiência e conhecimento prévio, que permite identificar o valor da nova informação, assimilá-la e aplicá-la comercialmente (Cohen & Levithal, 1990; Vega-Jurado et al. 2008). Além disso, a CA é dinâmica e apresenta-se em 33 duas dimensões complementares: (i) como capacidade potencial (PACAP), que corresponde à aquisição e assimilação do conhecimento; e (ii) como capacidade realizada (RACAP), relacionada à transformação e exploração do conhecimento adquirido (Zahra & George, 2002). Ao utilizar os conceitos de PACAP e RACAP, Zahra e George (2002) sugerem que a CA apresenta um caráter cumulativo, no sentido de que o seu desenvolvimento no presente irá permitir uma maior acumulação eficiente no futuro (Vega-Jurado et al. 2008). Ou seja, as empresas não podem explorar conhecimento externo se elas não adquirirem e integrarem previamente um conhecimento similar em seus processos organizacionais (Zahra & George, 2002). Esta aquisição de conhecimento (PACAP) não tem, necessariamente, implicação na capacidade de transformá-lo e de explorá-lo (RACAP), mas a capacidade potencial é importante, pois torna mais fácil para as empresas se adaptarem às mudanças, explorar novas oportunidades e até reformular sua base de conhecimento (Zahra & George, 2002). A distinção entre PACAP e RACAP, não destaca apenas o caráter multidimensional da capacidade absortiva, mas também que há fatores antecedentes, principalmente, os organizacionais, que influenciam a CA de maneiras distintas dependendo do componente a ser analisado, tais como: (i) o conhecimento organizacional; (ii) a formalização e (iii) os mecanismos de integração social (Vega-Jurado et al., 2008). O conhecimento organizacional abrange o conjunto de habilidades e experiências, que é determinado pela base de conhecimentos adquiridos anteriormente (característica cumulativa), pelas habilidades individuais de seus empregados (nível de educação e treinamento da força de trabalho) e por suas atividades de pesquisa (tem sido determinante para a capacidade absortiva) (Vega-Jurado et al., 2008). Assim, se a organização já possui conhecimento relacionado ao que está sendo adquirido, ocorre o aumento da capacidade de armazenar e explorar as novas habilidades (Cohen & Levithal, 1990). 34 A formalização se refere à dimensão dos procedimentos, regras e instruções da administração nos processos organizacionais. A principal característica desse fator é que ele reduz a necessidade de coordenação e de comunicação entre as unidades, cria uma memória organizacional e permite a empresa agir em situações rotineiras. Entretanto, um alto nível de formalização tem uma influência negativa na flexibilidade da empresa e criatividade dos funcionários, o que dificulta a ação em situações de crise e desencoraja a inovação (VegaJurado et al., 2008). Por outro lado, os mecanismos de integração social referem-se à capacidade de coordenação, pois, são práticas que reduzem as barreiras de troca de informação dentro de uma organização e, ao mesmo tempo permitem que os indivíduos combinem os novos conhecimentos adquiridos com habilidades e experiência existentes, o que possibilita a absorção do conhecimento pela interação entre os diferentes membros. Estes mecanismos são, geralmente, associados com a rotação de trabalho, o uso de metodologias de resolução de problemas e outras práticas de gestão que possibilite que o empregado participe da organização e explore e transforme conhecimentos (Vega-Jurado et al., 2008). Por fim, estudos (ver exemplo, Vinding, 2004; Van Wijk et al., 2008; Castro et al., 2013) destacam que a baixa capacidade absortiva influencia negativamente na transferência de conhecimento (Vinding, 2004; Van Wijk et al., 2008; Castro et al., 2013), principalmente, quando este é de natureza tácita. Ou seja, a organização com alto nível de capacidade de absorção se posicionará melhor na aquisição do conhecimento não codificado e avançará na curva de aprendizagem da empresa (Cohen & Levinthal, 1990; Vinding, 2004). Desta forma, é necessário que as organizações invistam no desenvolvimento dos colaboradores (Vinding, 2004) e entendam como a CA dos indivíduos tende a desenvolver-se cumulativamente com o potencial da organização (Cohen & Levinthal, 1990). 35 Outro fator que pode influenciar na baixa CA é a falta de motivação do receptor em adquirir o conhecimento (Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003; Cummings & Teng, 2003; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008), pois em alguns casos pode haver relutância do destinatário em recebê-lo, quando este agente não enxergar compatibilidade do conhecimento a ser compartilhado com os seus objetivos, ou simplesmente por medo da mudança (Kostova, 1999; Szulanski, 2000; Van Wijk et al., 2008), o que pode levar a comportamentos danosos, como a não cooperação, falsa aceitação, passividade, sabotagem, dentre outros (Szulanski, 1996, 2000). Portanto, o destinatário pode ser mais motivado em adquirir conhecimento quando a fonte é atrativa, ou seja, é altamente capacitada, é reconhecida e possui um conhecimento relevante e compatível com os objetivos do destinatário (Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003; Pérez-Nordtvedt et al., 2008). Além disso, recompensas e incentivos financeiros e sociais são importantes componentes do processo de gestão do conhecimento (Argote et al., 2003). 2.1.3 A intensidade dos laços entre fonte e receptor na transferência de conhecimento Os laços da rede entre empresas fornecem caminhos nos quais as organizações podem encontrar e ter acesso a oportunidades e a recursos externos, o que facilita o desempenho, o crescimento e o ganho de vantagem competitiva (Hite, 2005). A intensidade das relações é estabelecida por meio de laços fortes ou fracos, conforme alguns aspectos, tais como, a proximidade cultural e a qualidade do relacionamento entre os agentes envolvidos (Granovetter, 1973; Argote et al., 2003; Jasimuddin, 2007). É importante destacar que estes fatores podem facilitar ou dificultar a transferência entre fonte e receptor, dependendo da 36 natureza do conhecimento (tácito ou explícito) a ser transferido (Argote et al., 2003; Jasimuddin, 2007). Os laços fortes são desenvolvidos com a intensa relação entre os parceiros e aumenta com a frequência da comunicação e interação (Granovetter, 1973; Argote et al., 2003; Van Wijk et al., 2008). Estes laços ligam indivíduos e/ou organizações com maior proximidade cultural, isto é, o grau de compatibilidade entre os valores e objetivos subjacentes à cultura da fonte e do receptor (Kostova, 1999; Cummings & Teng, 2003). Além disso, os laços fortes são mantidos pela qualidade no relacionamento, que está associada a confiança e a intensa interação, o que é fundamental para a eficácia e eficiência da transferência, pois os vínculos mais fortes não só facilitam a compreensão do destinatário no que tange os aspectos do conhecimento transferido, mas, também, tornam esse processo ágil e economicamente mais viável (Pérez-Nordtvedt et al., 2008). Entretanto, é importante destacar que a confiança como um indicador da qualidade do relacionamento (Szulanski, 1996; Sankowska, 2013), depende da percepção dos agentes envolvidos (fonte e receptor) na transferência de conhecimento. Ou seja, se a fonte desconfiar da integridade do receptor (Becerra et al. 2008), poderá agir de forma hostil (Husted & Michailova, 2002). Por outro lado, se a unidade de origem não é percebida como confiável ou detentor do conhecimento desejado, será mais difícil iniciar uma transferência a partir dessa fonte e seus conselhos e exemplos serão desafiados pelo receptor, o qual não sentirá motivado em receber o conhecimento que será transferido (Szulanski, 1996; Becerra et al., 2008). Desta forma, o relacionamento estabelecido por laços fortes está associado à percepção de confiança entre os parceiros e as interações sociais significativas (Szulanski, 2000; Levin & Cross, 2004; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Castro et al., 2013; Sankowska, 2013). Uma vez que, os laços fortes são mantidos por relações desenvolvidas com proximidade cultural e maior qualidade no relacionamento (intensidade de interações e confiança entre 37 fonte e receptor) (Jasimuddin, 2007; Van Wijk et al., 2008), eles são mais efetivos para a transferência de conhecimento tácito (Argote et al., 2003; Van Wijk et al., 2008; Sankowska, 2013), pois dado as características deste conhecimento, sua transferência depende de três dimensões da confiabilidade entre fonte e receptor: (i) integridade (caráter moral e comportamento ético dos parceiros); (ii) benevolência (compreensão e boa vontade entre os parceiros); e (iii) habilidade (a competência geral e expertise do detentor do conhecimento); as quais são observadas, apenas, quando há interações mais fortes entre os parceiros (Levin & Cross, 2004; Becerra et al., 2008). Por outro lado, os laços fracos são estabelecidos por meio de relacionamentos com muitos indivíduos ou organizações, o que implica em diversidade cultural, menor intensidade de interações e, consequentemente, implica baixa confiança. Estas características tornam este tipo de ligação mais propensa para a aquisição de novas informações, por permitir a interação com maior quantidade de indivíduos da rede que possuem experiências e formações diversas (Granovetter, 1973, 2005; Hansen, 1999; Levin & Cross, 2004). Entretanto, nas relações de laços fracos o receptor pode ser mais relutante em aceitar os novos conhecimentos, pois, para que ele realmente o adquira é necessário que haja sentimentos de identificação e confiança com a fonte, o que remete ao papel dos laços fortes (Granovetter, 1973). Além disso, o conhecimento transferido por laços fracos pode não ser tão valioso, uma vez que, a fonte pode ter receio em relação à forma como o receptor interpretará e utilizará o conhecimento compartilhado (Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003). Em suma, as relações mantidas por ambos os laços apresentam benefícios e dificuldades para a transferência de conhecimento (Hansen, 1999; Levin Cross 2004). Embora, os laços fracos sejam importantes para a aquisição de novas informações e para a inovação (Granovetter, 1973, 2005; Levin & Cross, 2004), este tipo de relacionamento não é propenso 38 para o fluxo do conhecimento mais complexo e valioso (Hansen, 1999). Já, quando as relações são mantidas por laços fortes há maior facilidade no compartilhamento de conhecimento tácito (Hansen, 1999; Argote et al., 2003; Van Wijk et al., 2008; Sankowska, 2013), mas em contrapartida, como neste caso há menor interação entre indivíduos diferentes, haverá menor fluxo de novas informações (Hansen, 1999; Granovetter, 2005). 2.2 Incubadoras de empresas no processo de transferência de conhecimento para as empresas incubadas: indutores e barreiras As empresas sempre almejam um desempenho superior (Vedovello & Figueiredo; 2005) e para isso precisam desenvolver sua capacidade de inovação de processos e produtos (Lalkaka, 2002; Phillips, 2002; Chen, 2009; Prodan & Ulyin, 2009; Marques et al., 2010), seja por meio de seus sistemas e estruturas (Chen, 2009) seja pela aquisição de conhecimento por fontes externas, como universidades e institutos de pesquisa (Rapini & Righi, 2007; Prodan & Ulyin, 2009). Nestes termos, os novos empreendedores buscam nas universidades apoio para que possam desenvolver seus negócios, pois o conhecimento científico e tecnológico produzido nas instituições de ensino e pesquisa é fundamental para o desenvolvimento das novas empresas (Lakalka, 2002; Janosky, Babcock & Brentin, 2009; Prodan & Ulyin, 2009) e a inovação tecnológica (Lakalka, 2002; Etzkowitz et al., 2005; Janosky et al., 2009; Prodan & Ulyin, 2009). A interação entre universidade e as empresas pode resultar em benefícios tanto para a comunidade acadêmica, quanto para os empreendimentos. Por um lado, as instituições de ensino e pesquisa fornecem suporte ao treinamento e capacitação de recursos humanos (Vinding, 2004; Etzkowitz et al., 2005; Marques et al., 2010), subsidiam os custos de 39 desenvolvimento das empresas, possibilitam o acesso ao conhecimento científico e tecnológico antecipadamente (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994; Marques et al., 2010) e a utilização de equipamentos avançados e instalações das universidades (Marques et al., 2010), bem como melhoram o desempenho na produção de novos produtos e daqueles consideravelmente modificados (Arvanitis et al., 2008). Em contrapartida, ao apoiarem as empresas, as universidades podem adquirir financiamentos adicionais, particularmente para pesquisa, além de expor seus estudantes e professores a problemas práticos, o que gera oportunidades de trabalho para os graduandos e os já graduados e desenvolve novas áreas para aplicar tecnologias e novas questões de pesquisa (Marques et al., 2010). Na interação entre universidade-empresas, o compartilhamento do conhecimento científico-tecnológico baseado em resultados de pesquisas (Phillips, 2002; Prodan & Ulyin, 2009), ocorre por meio de diversas práticas, tais como: conferências e wokshops, contatos informais, participação em cursos de formação universitária e o emprego de graduandos e graduados em P&D (Arvanitis et al, 2008). Outros autores, também, abordam como mecanismos chave de transferência de tecnologia, os spin-off - empresa que incorpora uma tecnologia desenvolvida em uma organização-mãe (Cley & Braet, 2007; Prodan & Ulyin, 2009), as patentes, as licenças, pesquisas, joint-ventures e as incubadoras de empresas (Caraynnis et al.,1998; Phillips, 2002; Rothaermel & Thursby, 2005; Etzkowitz et al., 2005; Marques et al., 2010). Neste processo de interação das instituições de ensino e pesquisa com os empreendedores, a incubadora surge como agente importante na aproximação das universidades com as empresas e, também, auxilia no desenvolvimento dos novos negócios e na comercialização e compartilhamento de tecnologia (Phillips, 2002; Aaboen, 2009). Estas organizações atuam como um elo entre o conhecimento acadêmico, a sua transferência e 40 aplicação nas empresas (Aranha, 2002; Hackett & Dilts; 2004), de forma a criar um ambiente de aprendizagem organizacional (Lois et al., 2004). Em razão do potencial das incubadoras em fornecer assistência e apoio ao desenvolvimento das empresas nascentes (Lois et al., 2004; Grimaldi & Grandi, 2005), os novos empreendedores se associam a essas organizações com o objetivo de superar as diversas restrições e dificuldades enfrentadas no início de suas atividades (Dornelas, 2002; Lois et al., 2004; Maury & Beuren, 2009; Andrade Junior, 2012). Tais dificuldades se relacionam, principalmente, com: (i) baixa intensidade de capital, em decorrência da dificuldade ao acesso às linhas de crédito (Andrade Junior, 2012; Maury & Beuren, 2009); (ii) falta de conhecimento tecnológico para a elaboração de projetos, que facilitaria a aquisição de financiamento (Andrade, Junior, 2012); (iii) pouco conhecimento gerencial; (iv) baixa qualificação dos recursos humanos; (v) precariedade da função tecnológica; (vi) baixo poder de barganha com parceiros comerciais (Andrade, Junior, 2012; Maury & Beuren, 2009); (vii) problema com a produção, decorrente da dificuldade financeira e do alto grau de conhecimento tecnológico exigido nas empresas de base tecnológica; (viii) dificuldade em identificar canais de distribuição compatíveis com o tipo de produto que fabricam, dado o seu caráter inovador; e por fim, (ix) a dificuldade na comercialização dos produtos (Andrade Junior, 2012). Com tais dificuldades enfrentadas pelos novos empreendimentos, algumas pesquisas (ver exemplo, Hannon, 2005; Scillitoe & Chakrabarti, 2010; Andrade Junior, 2012) discutem se as incubadoras conseguem fornecer suporte e transferir o conhecimento necessário às empresas incubadas. A literatura sugere que na incubação são despendidos esforços para desenvolver ações gerenciais, fortalecer a capacidade empreendedora e facilitar a captação de financiamento junto aos órgãos de apoio (Andrade Junior, 2012). Além disso, durante esse processo, as incubadoras também fornecem serviços a preços subsidiados para os associados e 41 contribuem para facilitar o acesso aos recursos das universidades, como laboratórios de pesquisa e conhecimento acadêmico (Lois et al., 2004). Para atuar como canal de transferência de conhecimento (Marques et al., 2010; Phillips, 2002; Lois et al., 2004; Yan, 2004) gerencial e tecnológico das universidades aos novos empreendimentos (Vedovello & Figueiredo, 2005), a incubadora promove reuniões, cursos, treinamentos, workshops, interação com outras incubadoras e assessoria em relação à elaboração do plano de negócios, em marketing, jurídica, contábil e financeira (Dornelas, 2002). Nas assessorias oferecidas durante o processo de incubação, a incubadora juntamente com a universidade (Rothaermel & Thursby, 2005; Marques et al., 2010) é capaz de fornecer às empresas incubadas três tipos de conhecimento: (i) empresarial, isto é, a forma de iniciar uma empresa e atingir o mercado; (ii) tecnológico, que se referem aos meios pelos quais o empreendedor pode adquirir tecnologia externa e aumentá-la internamente; e (iii) conhecimentos complementares de mercado, que oferecem respostas sobre a maneira de atender as demandas dos clientes e a forma de segmentar o mercado em diferentes propostas de valor tecnológico (Becker & Gassman, 2006). A transferência desses tipos de conhecimento da incubadora para os empreendimentos incubados, em geral, ocorre durante duas fases: na pré-incubação e na incubação. A primeira fase tem por objetivo transformar as ideais empreendedoras em negócios de sucesso e preparar os projetos das empresas para o futuro ingresso na incubadora. Na segunda fase, ocorre o apoio ao desenvolvimento dos novos empreendimentos e a promoção das condições favoráveis ao seu crescimento. Por fim, após a incubação ocorre a graduação, que é o período de inserção da empresa no mercado (Hannon, 2005). Além dessas etapas, as incubadoras, geralmente, adotam alguns procedimentos que podem facilitar o fluxo do conhecimento durante o processo de incubação, tais como: (i) 42 instalar os empreendimentos incubados em um mesmo ambiente, no intuito de incentivar a interação, para que aprendam uns com os outros, mediante a troca de experiências; (ii) captar recursos externos para financiar os empreendedores; (iii) ter conhecimento da área de atuação das empresas incubadas; e (iv) dispor de especialistas com conhecimentos gerencial e tecnológico, com a finalidade de ajudar os empresários no desenvolvimento de sua empresa (Etzkowitz, 2002). Embora por meio de suas assessorias e instalações a maioria das incubadoras cumpra sua função de suporte aos novos negócios, quando seu foco é desenvolver as empresas de base tecnológica, coloca-se em discursão a sua capacidade em apoiar o crescimento desse tipo de empreendimento e de que forma atuam para atender adequadamente tais demandas (Scillitoe & Chakrabarti, 2010; Andrade Junior, 2012), uma vez que, a dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas depende do tipo de conhecimento a ser transferido, ou seja, se é gerencial ou tecnológico (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Em relação ao conhecimento gerencial, o que inclui desenvolvimento do plano de negócios, assistência financeira, gerenciamento em marketing, recrutamento de pessoal (Phillips, 2002; Raupp & Beuren, 2006; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), entre outros (ver Tabela 1), as incubadoras, geralmente, tem potencial para auxiliar diretamente os empreendedores (Phillips, 2002). Por outro lado, a assistência tecnológica, que está associada à pesquisa, ao acesso aos laboratórios, à proteção jurídica das patentes, ao conhecimento tecnológico ou científico complexo, à capacidade de comercializar produtos tecnológicos (Hannon, 2005; Scillitoe & Chakrabarti, 2005) e outras atividades (ver Tabela 1), as incubadoras apresentam limitações para atendê-las. Desta forma, embora uma das atribuições das IEBTs seja apoiar o desenvolvimento tecnológico do empreendimento diretamente (Hannon, 2005), em geral, para 43 fornecer conhecimento tecnológico para as empresas incubadas, estas instituições contam com o apoio das suas redes de contato, as quais são compostas por professores das universidades, pela comunidade acadêmica (Phillips, 2002), por institutos de pesquisa e por outras empresas de alta tecnologia (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Tabela 1 Assistência Gerencial e Tecnológica Fornecida pelas Incubadoras Tipo de Conhecimento Definição Conhecimento Gerencial -Apoio jurídico, assessoria contábil, assessoria financeira, planejamento do negócio, recursos humanos, assistência em marketing e gestão, orientação empresarial e mercadológica e serviços de secretaria. Conhecimento Tecnológico -Proteção à propriedade intelectual, acesso e compreensão do complexo tecnológico ou conhecimento científico, design de produtos, habilidade de produção e acesso a laboratório e equipamentos. Nota. Fonte: Adaptado de Hannon, P.D. (2005). Incubation policy and practice: Building practitioner and professional capability. Journal of Small Business and Enterprise Development 12 (1), 57–75. A capacidade limitada das incubadoras em prestar assistência tecnológica diretamente, justifica o apoio fornecido pelas redes de contatos (universidades e entidades públicas e privadas) no compartilhamento de conhecimento tecnológico (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Desta forma, o processo de transferência de conhecimento e assistência aos empreendimentos durante a incubação pode ser ilustrado conforme a Figura 1. Figura 1. Interações com a Incubadora e Assistência aos Empreendimentos Fonte: Adaptado de Scillitoe, J. L. & Chakrabarti, A. K. (2010). The role of incubator interactions in assisting new ventures. Technovation, (30), 155–167. 44 Com base nessa discussão, um dos argumentos para aproximar as incubadoras das universidades, como agentes essenciais da rede, é que o fluxo de conhecimento científico e tecnológico dessas instituições melhora o desempenho dos novos empreendimentos (Rothaermel & Thursby, 2005). Além disso, esse relacionamento fornece benefícios para ambas às partes, pois, de um lado a incubadora pode tornar-se um meio de transferência de tecnologia da universidade para as empresas incubadas e, por outro as instituições de ensino e pesquisa geram tecnologia, inovação e leva novos empreendimentos à incubadora (Dornelas, 2002). Há evidências de que por meio das redes, a aprendizagem das empresas incubadas em relação ao conhecimento tecnológico seria mais rápida, pois ao estabelecer uma grande quantidade de contatos, há um aumento no fluxo de novas informações e conhecimentos diversificados (Hackett e Dilts, 2004). Entretanto, a eficácia do apoio tecnológico fornecido pelas incubadoras por meio de outros agentes precisa ser analisada, uma vez que, a interação indireta, pode dificultar a compreensão das necessidades das empresas incubadas em relação a este tipo de conhecimento, o que resultará no retardamento do processo de incubação (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Desta forma, o compartilhamento do conhecimento gerencial e tecnológico fornecido pelas incubadoras, como atividades intermediárias no desenvolvimento dos novos empreendimentos (Scillitoe & Chakrabarti, 2010), não é tão simples como se supõe e envolve diversos fatores que ainda não foram totalmente compreendidos, quando se trata da interação universidade, incubadora e empresa (Phillips, 2002). 45 2.2.1 Fatores que influenciam a transferência de conhecimento durante a incubação das empresas Como em um contexto de incubação, o conhecimento flui entre organizações distintas (universidade, incubadora e empresas incubadas) e essa dinâmica depende do tipo de conhecimento (gerencial e tecnológico) que será compartilhado (Scillitoe & Chakrabarti, 2010), os fatores agrupados nas quatro categorias, já analisadas no capítulo anterior, tais como: (i) a característica do conhecimento; (ii) a característica organizacional da fonte; (iii) a característica organizacional do receptor; e (iv) a intensidade dos laços (Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003; Cummings & Teng, 2003, Easterby-Smith et al., 2008; Van Wijk et al., 2008), podem ser apontados como críticos à transferência de conhecimento das incubadoras para empresas incubadas (Phillips, 2002; Scillitoe & Chakrabarti, 2010). A seguir discutem-se os fatores que afetam a transferência de conhecimento no relacionamento entre universidade, incubadora e empresa. Porém, cabe ressaltar que nesta interação a universidade atua como fonte do conhecimento, a incubadora ora cumpre o papel de fonte e ora de receptora e as empresas incubadas apenas recebem o conhecimento dessas organizações. Como primeiro fator que influencia a transferência de conhecimento na interação universidade, incubadora e empresa, está a característica do conhecimento (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994), que é associada a sua natureza tácita e explícita (Nonaka, 1994; Nonaka et al., 2000; Anand et al., 2010). A natureza tácita do conhecimento dificulta a sua transferência, pois é enraizado nas experiências do indivíduo e como não é codificado, torna-se impossível transferi-lo por meio da escrita ou instrumentos impressos, o que requer mecanismos mais complexos de transmissão, como a fala e a observação das práticas desenvolvidas por trabalhadores ou 46 pesquisadores (Nonaka, 1994; Nonaka et al., 2000; Anand et al., 2010). Assim, as criações de novas ideias e as formações de conceitos são altamente dominadas pelo conhecimento tácito, que posteriormente será articulado de forma explícita (Nonaka, 1994). Dado as características do conhecimento tácito, a sua transferência influencia fortemente a relação estabelecida entre universidade, incubadora e empresa incubada, pois pode gerar um impacto no arranjo institucional, uma vez que, o fluxo de conhecimento tácito requer que o relacionamento interorganizacional seja suficientemente duradouro e estruturado para suportar tal processo, o qual é baseado na observação, na experiência de tentativa e erro e necessita de um ambiente organizacional que realize reuniões frequentes e participe de redes de pesquisa (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994). Além disso, o nível de codificação do conhecimento também influencia a natureza da informação que é transmitida entre organizações e o tipo de canais de comunicação utilizado. Em teoria, um conhecimento completamente codificado, ou seja, de natureza explícita, poderia ser transferido por informações não ambíguas e por canais de comunicação impessoal. Por outro lado, um conhecimento especializado e altamente tácito, dificilmente será articulado de forma completa. Portanto, a transferência de conhecimento dos pesquisadores para os empreendedores, ocorre em partes significativas de informações, de forma incompleta, ambígua e instável (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994). Em relação à segunda categoria, a característica organizacional da fonte, deve-se ressaltar a capacidade disseminativa do conhecimento, ou seja, o potencial da fonte (universidade e incubadora) em estabelecer um fluxo de conhecimento para o receptor (incubadora e empresa incubada) de forma eficaz, bem como, sua motivação em participar deste processo (Husted & Michailova, 2002; Minbaeva & Michailova, 2004; Tang, et al., 2010; Tang, 2011). 47 Nestes termos, como a incubadora e a universidade atuam como fontes de conhecimento para as empresas incubadas (Scillitoe & Chakrabarti, 2010) é importante se atentar para o potencial destes agentes em codificar, articular, comunicar e ensinar o conhecimento para o receptor (empreendedores). Além de, observar o seu comportamento em relação à transferência, pois talvez não haja interesse da fonte em compartilhar o seu conhecimento por achar que não terá recompensas com essa atitude e ainda perder sua posição de privilégio e superioridade (Szulanski, 1996; Husted & Michailova, 2002; Minbaeva & Michailova, 2004; Tang, et al., 2010; Tang, 2011). Como terceira categoria de fatores que pode influenciar a transferência de conhecimento no processo de incubação de empresas (Rothaermel & Thursby, 2005), está a capacidade absortiva do receptor (Cummings & Teng, 2003; Vinding, 2004; Van Wijk et al., 2008). No caso da transferência de conhecimento durante a incubação, a incubadora também atua como receptora do conhecimento externo, pois precisa atender as necessidades das empresas incubadas (Rothaermel & Thursby, 2005), o que, conforme a definição de CA (Cohen & Levithal, 1990) discutida no capítulo anterior, torna necessário que os seus profissionais tenham conhecimento prévio para que consigam absorver novas informações e oportunidades e, consequentemente, utilizá-las para capacitar as empresas incubadas. Já os empreendedores, que são os agentes mais interessados em obter conhecimento gerencial e tecnológico, também precisam desenvolver sua CA (Rothaermel & Thursby, 2005), de forma que consigam adquirir, transformar e utilizar esse conhecimento em prol da estruturação, crescimento e competitividade do seu empreendimento (Szulanski, 1996; Van Wijk et al., 2008; Vega-Jurado et al. 2008). Além disso, é importante considerar a motivação do receptor em adquirir o conhecimento como um fator associado a sua CA. No caso de um ambiente de incubação a aquisição de conhecimento é impulsionada, pricipalmente pelo fato de que, para identificar as 48 oportunidades e conhecimentos externos e obter vantagem competitiva, os empreendimentos precisam se desenvolver internamente. Assim, buscam nas universidades (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994) e nas incubadoras esse apoio, pois veem nestes agentes, alto potencial para desenvolver o conhecimento interno de suas empresas, de forma que consigam superar as diversas dificuldades enfrentadas no mercado (Phillips, 2002). Por fim, a quarta categoria apontada como capaz de influenciar o processo de transferência de conhecimento está associada à intensidade dos laços (fortes ou fracos), que variam conforme a proximidade cultural e a qualidade do relacionamento (Granovetter, 1973; Argote et al., 2003). Baseando nas características que determinam a intensidade dos laços, estudos mostram (ver exemplo, Scillitoe & Chakrabarti, 2005, 2010) que, como em um ambiente de incubação a incubadora e os empreendedores têm objetivos convergentes, ou seja, desenvolver as empresas incubadas, tornando-as competitivas (Dornelas, 2002; Lois et al., 2004; Maury & Beuren, 2009; Andrade Junior, 2012), é estabelecido uma intensa interação e um relacionamento de confiança entre a fonte e a receptora, o que aumenta a conexão social e gera um relacionamento de laços fortes (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Os laços fortes na incubação são importantes para que as incubadoras conheçam as necessidades dos empreendedores. Além disso, como estas organizações de apoio ao empreendedorismo apresentam estrutura e potencial para transferir diretamente o conhecimento gerencial para as empresas incubadas, o relacionamento forte entre esses agentes faz com que esse tipo de conhecimento flua com maior facilidade (Scillitoe & Chakrabarti, 2010) e que seja de natureza tácita, o que permite alcançar níveis mais elevados de aprendizagem (Van Wijk et al., 2008). Em outra perspectiva, quando os empreendimentos necessitam de conhecimento tecnológico as incubadoras contam com apoio das redes compostas, principalmente, por 49 instituições de pesquisa e ensino (Phillips, 2002; Hannon, 2005; Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Entretanto, a literatura (ver exemplo, Bonaccorsi & Piccaluga, 1994; Khalozadeh, Kazemi, Movahedi, & Jandaghi, 2011) aponta que a universidade e as empresas apresentam diversas diferenças culturais, tais como: (i) enquanto a primeira visa publicar suas pesquisas, a segunda preza o sigilo como forma de vantagem contra os concorrentes; (ii) os empreendedores exigem soluções práticas em curto prazo, já os acadêmicos trabalham em longo prazo e (iii) as formas organizacionais e perspectivas culturais, geralmente, são divergentes ao comparar as empresas e as universidades (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994; Khalozadeh et al., 2011). Além disso, a qualidade do relacionamento entre as universidades e as empresas é associada à questão da apropriabilidade do conhecimento. Este fator está ligado ao problema da falta de confiança das organizações na idoneidade dos acadêmicos, os quais, ao deter o conhecimento, podem utilizar os resultados das pesquisas para abrir seu próprio negócio ou fornecer informações que beneficiam os concorrentes (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994). Nestes termos, como a confiança é um quesito importante para a eficácia da transferência de conhecimento (Kostova, 1999; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Van Wink et al., 2008; Joia & Lemos, 2009), durante esta interação, torna-se necessário se atentar para alguns mecanismos de proteção que possam elevar a confiabilidade entre a fonte e o receptor, tais como, o sistema de patentes e acordos que contenham cláusulas que viabilizem retornos para os acadêmicos, desde que se comprometam a colaborar e manter sigilo, dentre outros acordos e contratos (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994). Essas características da interação entre universidade-empresa (diferença cultural, baixa interação e confiança) (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994), podem afetar a intensidade dos laços estabelecidos entre esses atores, que provavelmente serão mais fracos e, consequentemente dificultarão a transferência de conhecimento tácito (Szulanski, 1996, 2000; Cummings & 50 Teng, 2003; Jasimuddin, 2007; Minbaeva, 2007; Easterby-Smith et al., 2008; PérezNordtvedt et al., 2008; Van Wijk et al., 2008). Com base nesses fatores, para que as incubadoras gerenciem o fluxo de conhecimento científico e tecnologico das universidades para as empresas, é necessário que elas administrem os objetivos divergentes e o relacionamento entre esses atores (Phillips, 2002; Khalozadeh et al., 2011), de forma à possibilitar o avanço, o progresso, a competitividade e a melhoria no desempenho das empresas incubadas (Khalozadeh et al., 2011). Por fim, a Tabela 2 apresenta uma síntese dos fatores que influenciam o processo de transferência de conhecimento entre organizações, abordados neste capítulo. Tabela 2 Síntese Teórica dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento Característica Organizacional do Receptor Característica Organizacional da Fonte Características do Conhecimento Itens Fatores Explícito Tácito Capacidade Disseminativa Capacidade Absortiva Indicadores Referências - Articulado na linguagem formal e pode ser codificado em palavras, símbolos e números; - Objetivo e fácil de compartilhar na forma de especificações e procedimentos operacionais padrão. Nonaka, 1994; Becker e Gassman (2006); Becerra et al. (2008); Bessant e Tidd (2009); Anand et al.(2010). - Apresenta-se de forma ambígua; - Baseia-se em experiências individuais; - Profundamente enraizado na ação humana; - Comprometido e envolvido em um contexto específico, o que dificulta sua articulação na linguagem formal. Nonaka (1994); Becker e Gassman (2006); Becerra et al. (2008); Van Wijk et al.(2008); Anand et al.(2010). - Capacidade da fonte em codificar, articular, comunicar e ensinar o conhecimento para o receptor de forma eficaz e eficiente; - Motivação em compartilhar o seu conhecimento; - Depende das atitudes e comportamentos da fonte no processo de transferência de conhecimento. - Conhecimento prévio; - Educação e treinamento dos funcionários; - Atividades de P&D; -Habilidade e motivação do receptor em adquirir conhecimento. Husted e Michailova (2002); Minbaeva e Michailova (2004); Minbaeva (2007); Tang et al. (2010); Tang (2011). Cohen e Levithal (1990); Szulanski, (1996); Kostova (1999); Vinding (2004); Minbaeva (2007); Van Wijk et al.(2008); Vega-Jurado et al.(2008); Zahra e George (2002). Intensidade dos Laços no Relacionamento entre Fonte e Receptor 51 Laços Fortes Laços Fracos - Indivíduos e/ou organizações com grande proximidade cultural (compatibilidade entre os valores e objetivos, subjacentes a cultura da fonte e do receptor); - Alta qualidade no relacionamento (confiança e intenso relacionamento); - Facilita a transferência de conhecimento tácito. - Relações com grande quantidade de indivíduos, o que envolve diversidade cultural; - Permite a aquisição de novas informações; - Baixa qualidade no relacionamento (confiança e intenso relacionamento); - Dificulta a transferência de conhecimento tácito. Ganovetter (1973); Szulanski (1996:2000); Argote et al. (2003); Jasimuddin (2007); PérezNordtvedt, et al. (2008); Van Wijk et al. (2008); Castro, et al. (2013), Sankowska (2013). Ganovetter (1973); Szulanski (1996:2000); Argote et al. (2003); Jasimuddin (2007). Nota. Fonte: Elaborado pela autora 2.3 Framework do processo de transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas A literatura (ver exemplo, Phillips, 2002; Rothaermel & Thursby, 2005; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), como apresentado nas seções anteriores, tem discutido o papel das incubadoras de empresas de base tecnológica, juntamente com as instituições de ensino e pesquisa, no apoio ao empreendedorismo e a inovação. Assim, durante a incubação cada agente, que participa do processo, tem atribuições que possibilitam uma ideia se tornar um empreendimento de sucesso e, ainda, gerar benefícios para a comunidade acadêmica (ver Figura 2). A universidade cumpre as funções de qualificar os recursos humanos, levar novos empreendimentos à incubadora e produzir conhecimento científico-tecnológico por meio dos resultados de pesquisas (Phillips, 2002; Rothaermel & Thursby, 2005; Prodan & Ulyin, 2009). A incubadora gerencia a interação entre a universidade e as empresas incubadas, fornece conhecimento gerencial e facilita o acesso dos empreendedores às instituições de ensino (Phillips, 2002). Por fim, as empresas incubadas, além de adquirirem conhecimento, também, geram benefícios para a universidade, tais como: (i) adquirem financiamento para pesquisas; 52 (ii) expõem estudantes e professores a problemas práticos; (iii) geram oportunidades de trabalho; e (iv) criam novas questões de pesquisa (Marques et al., 2010). Figura 2. Incubadora de Empresas como Elo entre a Universidade-Empresas Incubadas e os Benefícios da Incubação de Empresas para a Instituição de Ensino Fonte: Elaborado pela autora Embora as atribuições das incubadoras e das universidades durante a incubação das empresas possam ser claramente delimitadas, o desenvolvimento dos empreendimentos é pautado na transferência de conhecimento gerencial e tecnológico (Scillitoe & Chakrabarti, 2010) e, este não é um processo tão simples, pois é multidimensional, ou seja, envolve fatores organizacionais e relacionais que influenciam o fluxo de conhecimento (Szulanski, 1996, 2000). Desta forma, com o objetivo de orientar esta pesquisa e possibilitar a visualização do processo de transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as empresas incubadas, a partir da revisão da literatura foi elaborado um framework, apresentado na Figura 3, o qual se fundamentou no papel das universidades, das incubadoras e das empresas incubadas durante o processo de incubação, conforme ilustrado na Figura 2 e, nos 53 fatores que influenciam todo o fluxo de conhecimento da fonte para o receptor, discutido nos estudos de transferência de conhecimento interorganizacional (ver exemplo, Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003; Cummings & Teng, 2003; Minbaeva, 2007 Easterby-Smith et al., 2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Van Wijk et al., 2008). Figura 3. Framework do Processo de Transferência de Conhecimento das Incubadoras de Base Tecnológica para as Empresas Incubadas Fonte: Elaborado pela autora O modelo teórico expõe como o conhecimento gerencial e tecnológico pode ser transferido em sua natureza explícita ou tácita, o que dependerá das características organizacionais da fonte e do receptor e da intensidade dos laços entre os agentes envolvidos (Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003; Cummings & Teng, 2003, Easterby-Smith et al., 2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008; Van Wijk et al., 2008). Assim, é necessário observar no 54 framework o papel de cada agente e como os fatores críticos influenciam a transferência de conhecimento. A universidade atua como fonte de conhecimento tecnológico e científico (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994; Rothaermel & Thursby, 2005; Marques et al., 2010), assim, precisa ter capacidade disseminativa, ser incentivada e estar disposta a dedicar tempo e recursos para apoiar a transferência de conhecimento para os empreendimentos incubados (Bonaccorsi & Piccaluga, 1994; Vinding, 2004; Etzkowitz et al., 2005; Rothaermel & Thursby, 2005; Marques et al., 2010). A incubadora como um agente intermediário, tem como atribuições a transferência de conhecimento gerencial diretamente para as empresas incubadas e a mediação da interação destes empreendimentos com a universidade (Aranha, 2002; Hackett & Dilts; 2004; Rothaermel & Thursby, 2005), deste modo, é necessário que tenha capacidade absortiva e capacidade disseminativa. Já as empresas incubadas atuam como receptoras e precisam ter interesse no conhecimento e desenvolver sua capacidade absortiva, para que a aquisição de conhecimento seja eficaz (Kostova, 1999; Szulanski, 1996, 2000; Argote et al., 2003; Van Wijk et al., 2008; Pérez-Nordtvedt et al., 2008). Como as incubadoras não apenas transferem conhecimento diretamente, mas também atuam como um elo entre a universidade e as empresas incubadas, gerenciando a transferência de conhecimento e administrando a interação e a comunicação entre as partes, o fluxo de conhecimento entre estes três agentes passa a ser influenciado pelos laços estabelecidos. Quando a incubadora fornece apoio gerencial diretamente para as empresas incubadas, há motivação de ambas as partes em trabalharem juntas para que o empreendimento se desenvolva e se torne competitivo, o que geram laços mais fortes entre esses agentes (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Essa intensidade no relacionamento permite a incubadora monitorar o progresso das empresas incubadas e atender adequadamente as suas necessidades (Hannon, 2005), de forma que o conhecimento tácito seja transferido com mais facilidade e, 55 consequentemente, que haja um maior nível de aprendizagem dos empreendedores (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Por outro lado, alguns estudos (ver exemplo, Bonaccorsi & Piccaluga, 1994) discutem que há uma diferença cultural e baixa confiança entre a universidade e as empresas incubadas e, assim, a interação entre esses agentes ocorre por meio de laços fracos (Scillitoe & Chakrabarti, 2010), o que dificulta a transferência de conhecimento tecnológico de natureza tácita. Desta forma, é necessário que este fluxo de conhecimento seja estudado de forma a obter uma maior compreensão desse processo (Phillips, 2002). Portanto, dado os fatores que influenciam na eficácia da transferência de conhecimento durante a incubação das empresas, a partir do framework apresentado, pressupõe-se que para analisar este processo é necessário determinar algumas váriaveis ressaltadas na literatura até o momento, tais como: (i) a forma de transferência de cada tipo de conhecimento para as empresas incubadas; (ii) as características organizacionais da universidade, da incubadora e das empresas incubadas; e (iii) os aspectos que influenciam a intensidade dos laços estabelecidos no relacionamento entre as partes envolvidas neste fluxo de conhecimento. 56 3 Metodologia Este capítulo aborda os procedimentos metodológicos que foram utilizados nesta pesquisa, ou seja, a estratégia e o método, as unidades de análise, a forma de coleta de dados e como estes foram analisados. 3.1 Estratégia e método de pesquisa Com o propósito de compreender a dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras de empresas para as empresas incubadas, no que tange os fatores e barreiras envolvidas neste processo, foi adotada como estratégia a pesquisa de natureza qualitativa, com a utilização do método de estudo de caso (Eisenhardt, 1989; Yin, 2005). O estudo de caso como método qualitativo é largamente utilizado, devido seu potencial em possibilitar o surgimento de novos e inovadores conhecimentos (Yin, 2005; Welch, Piekkari, Plakoyiannaki & Paavilainen-Mäntymäki, 2011). Além disso, este método permite um exame profundo e amplo do caso em seu contexto real (Yin, 1981; Eisenhardt, 1989; Yin 2005), principalmente, quando os limites entre o fenômeno a ser estudado e o ambiente não são claros (Yin, 1981). Baseando-se nessas características, a justificativa para a utilização deste método, devese a sua capacidade em possibilitar o pesquisador analisar a natureza do objeto de estudo em pontos bastante específicos e com grande nível de detalhamento, utilizando uma teoria previamente definida (Greenwood, 1973, Yin, 2005). Portanto, com base nos pressupostos de que as incubadoras transferem conhecimento gerencial e tecnológico das universidades para os novos empreendimentos (Lalkaka, 2002; Phillips, 2002; Rothaermel & Thursby, 2005; Scillitoe & Chakrabarti, 2010), por meio do método de estudo de caso foi possível desenvolver um estudo aprofundado sobre uma unidade 57 e sua relação com o contexto em que estava envolvida, evidenciando de forma empírica como ocorre a transferência de conhecimento da incubadora para os novos empreendimentos e os fatores que influenciam este processo. 3.2 Unidades empíricas de análise No presente estudo, após estabelecer a questão de pesquisa e direcionar a atenção para o processo de transferência de conhecimento embasado em uma teoria a priori, optou-se por investigar duas incubadoras e suas respectivas empresas incubadas, o que configura um estudo de múltiplos casos (Yin, 1991, 2005). A seleção dos casos foi intencional e com critérios baseados na riqueza do fenômeno a ser estudado, para que fosse possível obter resultados que apresentassem as suas peculiaridades e a sua complexidade (Eisenhardt, 1989; Yin, 2005). Como requisito para a escolha dos casos, determinou-se que as incubadoras de empresas selecionadas fossem de base tecnológica, por representar o tipo mais utilizado no Brasil (ANPROTEC & MCTI, 2011). Além disso, foram estudadas aquelas que tinham alguma ligação com instituições de ensino e pesquisa, uma vez que, observou-se na literatura que o conhecimento tecnológico é fornecido pelas incubadoras por meio da interação com as universidades (Scillitoe & Chakrabarti, 2010). Com base nos critérios de seleção, foram identificados os possíveis casos de incubadoras de empresas de base tecnológica e posteriormente foram contatados aqueles mais indicados para a realização da pesquisa em profundidade. Desta forma, após identificar e contatar diversas incubadoras de referência, que constam na lista disponibilizada pela ANPROTEC, conseguiu-se selecionar 2 (duas) que se dispuseram a colaborar com o estudo e 58 permitiram o acesso às instalações para realizar as entrevistas e recolher documentos relevantes para a pesquisa. O primeiro caso é o da Incubadora RAIAR, localizada no estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre, é classificada como de base tecnológica e faz parte da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Esta incubadora tem capacidade para atender em torno de 70 (setenta) novos empreendimentos de base tecnológica de diversos setores, mas até o mês de novembro de 2013 estava com 21(vinte e uma) empresas incubadas. Por fim, o segundo caso é o da Incubadora do CENTEV, que é vinculada a Universidade Federal de Viçosa – UFV e, também, é classificada como de base tecnológica. Até o mês de maio de 2014, a incubadora tinha 9 (nove) empreendimentos incubados de base tecnológica de vários setores e estava acompanhando 12 (doze) projetos pré-incubados. 3.3 Estratégia de coleta de dados O estudo de caso não implica em um método particular de levantamento de dados (Yin, 1981), os quais podem ser coletados por meio do trabalho de campo, das observações, entrevistas, arquivos, documentos, dentre outros (Bonoma, 1985; Eisenhardt, 1989; Meyer, 2001; Yin, 2005). A utilização de vários instrumentos de coleta possibilita a triangulação, o que aumenta a consistência e a confiabilidade dos dados (Jick, 1979; Yin, 2005) e permite obter conclusões mais robustas (Eisenhardt, 1989). Com base nas diversas possibilidades de conduzir a coleta de dados, nesta pesquisa, realizou-se uma triangulação, com a utilização de alguns instrumentos de coleta, tais como: (i) observações realizadas no decorrer das visitas técnicas; (ii) entrevistas em profundidade realizadas com os gestores das incubadoras; (iii) entrevistas semiestruturadas conduzidas com os empreendedores das empresas incubadas; e (iv) documentos disponibilizados. 59 A coleta de dados iniciou-se pelo caso da incubadora RAIAR, com uma viagem e estada em Porto Alegre durante o mês de novembro de 2013. Neste período, primeiramente, foram feitas visitas técnicas às instalações da incubadora, ao parque tecnológico e à própria universidade onde essas unidades estão instaladas, o que possibilitou observar a estrutura que envolve a incubadora e alguns de seus procedimentos. Além das visitas técnicas, foram feitas entrevistas com funcionários da incubadora, selecionados de acordo com o cargo e setor de atuação associado diretamente com o desenvolvimento dos empreendimentos incubados e, também, foram entrevistados os empreendedores das empresas incubadas, selecionados conforme a permissão de acesso ao empreendimento incubado e a disponibilidade dos sócios ou colaboradores desses empreendimentos em participar da pesquisa. Conforme os critérios de seleção fizeram-se 2 (duas) entrevistas em profundidade, uma com o gestor da incubadora e a outra com o assessor de comunicação, juntamente, com o assessor de monitoramento e, 5 (cinco) entrevistas semiestruturadas com gestores de empreendimentos incubados. As entrevistas foram guiadas por dois roteiros derivados da literatura, que abrangem aspectos como: a transferência de conhecimento, dificuldades de relacionamentos, laços estabelecidos, fatores que influenciam a transferência, entre outros. O primeiro roteiro tinha por objetivo verificar a visão da incubadora em relação ao processo de transferência de conhecimento e interação universidade empresa. Já o segundo tinha o propósito de verificar a percepção das empresas incubadas a respeito da transferência de conhecimento. Estes instrumentos se encontram nos apêndices A e B. A Tabela 3 mostra como as entrevistas do primeiro caso são citadas na descrição e na análise de dados. 60 Tabela 3 Relação de Entrevistas Realizadas na Incubadora de Empresa de Base Tecnológica – IEBT RAIAR Referência das Entrevistas E.1:1 Entrevistado Gestor da Incubadora E.1:2 Assessor de Comunicação e Assessor de Monitoramento E.1:3 Empresa Incubada 1 E.1:4 Empresa Incubada 2 E.1:5 Empresa Incubada 3 E.1:6 Empresa Incubada 4 E.1:7 Empresa Incubada 5 Nota. Fonte: Elaborado pela autora Além das entrevistas, os documentos também foram utilizados na medida em que a pesquisadora teve acesso a estes materiais, que são importantes para construir um entendimento dos processos adotados e da história da organização, o que facilita a análise dos dados. Entretanto, raramente é possível coletar e verificar todos os documentos e, assim, é necessário fazer uma seleção (Meyer, 2001). Em relação a este instrumento, no primeiro caso recolheram-se documentos relevantes, tais como, o anuário da RAIAR de 2012 e alguns estudos já publicados sobre a instituição. Na Tabela 4 é apresentada a relação de documentos. Tabela 4 Relação de Documentos da IEBT RAIAR Referência dos Documentos Doc.1:1 Título Revista PUC RS - Edição nº 167 - Novembro, Dezembro de 2013, página 28-29. Doc.1:2 Mecanismos de Gestão e de Aceleração de Empreendimentos - O Caso da Incubadora RAIAR. Doc.1:3 O impacto das novas tecnologias na comunicação das Micro e Pequenas Empresas da Incubadora RAIAR. 2008. Doc.1:4 Anuário da RAIAR 2012. Doc.1:5 A qualidade Percebida nos Serviços de Empresas. 2011. Estudo de caso com a IEBT RAIAR Doc.1:6 Desenvolvimento de Capacidades e Competências: Relações entre Incubadoras e Empresas Incubadas. - Estudo de Caso da IEBT RAIAR Nota. Fonte: Elaborado pela autora 61 Ao retornar da coleta de dados da IEBT RAIAR, imediatamente, passou-se a transcrever as entrevistas para não perder detalhes complementares que ainda estavam na memória. O conjunto de dados transcritos (entrevistas e documentos) somou um total de 189 (cento e oitenta e nove) páginas, que compuseram o corpus de pesquisa e foram à base para a redação do primeiro caso. Com o primeiro caso redigido era o momento de fazer o segundo caso para efeitos de replicação. Assim, no mês de maio de 2014 viajou-se para Viçosa, Minas Gerais, para que os dados da IEBT CENTEV/UFV fossem coletados. Neste período, também, foram realizadas visitas técnicas às instalações da incubadora e ao parque tecnológico, o que possibilitou observar a infraestrutura da incubadora e como são realizados alguns procedimentos de apoio aos empreendimentos pré-incubados e incubados. Durante a visita, foram realizadas 2 (duas) entrevistas em profundidade, uma com o gestor da incubadora e a outra com o gerente de acompanhamento. Além dessas, também, foram feitas 5 (cinco) entrevistas semiestruturadas com os gestores de empreendimentos incubados. Destaca-se que todas as entrevistas foram guiadas pelos mesmos roteiros utilizados no caso da RAIAR e a seleção dos respondentes seguiu os mesmos critérios do primeiro caso. A Tabela 5 apresenta a relação das entrevistas realizadas no segundo caso e como elas são citadas na descrição e análise dos dados. Tabela 5 Relação de Entrevistas Realizadas na Incubadora de Empresa de Base TecnológicaIEBT CENTEV/UFV Referência das Entrevistas Entrevistado E.2:1 Gestor da Incubadora E.2:2 Gerente de Acompanhamento Empresarial da Incubadora E.2:3 Empresa Incubada 1 E.2:4 Empresa Incubada 2 E.2:5 Empresa Incubada 3 E.2:6 Empresa Incubada 4 E.2:7 Empresa Incubada 5 Nota. Fonte: Elaborado pela autora 62 Além disso, recolheram-se documentos relevantes, tais como: (i) Anexo da Resolução Nº01/2012- CONSU _ Regimento Interno da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica CENTEV/UFV; (ii) Procedimento Operacional Padrão - Processo de Incubação; (iii) Procedimento Operacional Padrão - Processo de Pré-Incubação; e (iv) alguns estudos já publicados sobre a IEBT CENTEV. A Tabela 6 apresenta a relação de documentos e a forma como são citados durante a descrição e análise dos dados. Tabela 6 Relação de Documentos da IEBT CENTEV/UFV Referência dos Documentos Título Doc.2:1 Análise do Plano de Negócios nas Empresas da Incubadora CENTEV/UFV Doc.2:2 A Influência da Rede Precedente dos Empreendedores na Taxa de Crescimento de Empresas Iniciantes: O caso de uma incubadora de Empresa universitária (CENTEV/UFV) Doc.2:3 Interação dos modelos de gestão ISO 9001:2008 e CERNE e sua implantação em uma incubadora de empresas de base tecnológica (CENTEV/UFV): metodologia e obstáculos Doc.2:4 Interação universidade-empresa, empreendimento inovador e desenvolvimento local: um estudo de caso da incubadora CENTEV/UFV Doc.2:5 Promoção da interação universidade-empresa: estudo de caso do CENTEV/UFV Doc.2:6 Anexo Da Resolução Nº01/2012- CONSU _ Regimento Interno Da Incubadora De Empresas De Base Tecnológica - CENTEV/UFV. Doc.2:7 Procedimento Operacional Padrão - Processo de Incubação da CENTEV/UFV Doc.2:8 Procedimento Operacional Padrão - Processo de Pré-Incubação da CENTEV/UFV Nota. Fonte: Elaborado pela autora Por fim, como no primeiro caso, ao retornar da coleta de dados, as entrevistas foram imediatamente transcritas para que não se perdesse nenhum detalhe complementar. O conjunto de dados transcritos (entrevistas e documentos) somou um total de 158 (cento e 63 cinquenta e oito) páginas, que compuseram o corpus de pesquisa e foram à base para a redação do segundo caso. 3.4 Estratégia de análise de dados A análise de dados é a etapa mais difícil e a menos codificada do processo de pesquisa e pode ocorrer por meio de diversos recursos chave (Eisenhardt, 1989; Yin, 2005). No caso deste estudo foi adotado o método de análise de conteúdo, que utiliza um conjunto de técnicas de sistematização para descrever e interpretar o conteúdo da mensagem (Bardin, 2004). No início da análise, os dados coletados ainda são brutos e só terão sentido se forem tratados com técnicas adequadas (Mozzato & Grzybovski, 2011). Desta forma, há três fases que precisam ser seguidas durante a análise de conteúdo: (i) pré-análise, (ii) exploração do material, (iii) tratamento dos resultados (Bardin, 2004). A fase de pré-análise é a organização de todo o material que será utilizado para a coleta de dados e para o suporte ao entendimento do fenômeno em questão. Nestes termos, primeiramente, foi realizada uma leitura dos documentos de forma que possibilitasse criar impressões e orientações, o que é chamado de “leitura flutuante” (Bardin, 2004), para que, posteriormente, fosse possível escolher os documentos que atendessem aos objetivos da pesquisa. A fase de exploração do material consiste em operações de codificação, que é o processo pelo qual há uma transformação dos dados brutos para torná-los significativos (Bardin, 2004). Assim, após a coleta e transcrição dos dados, eles foram alocados em planilhas do Microsoft Excel, que geraram um corpus de análise (documentos e entrevistas) de, aproximadamente, 32 páginas no primeiro caso e 59 páginas no segundo caso. 64 A obtenção do corpus de análise só foi possível ao tratar os dados, os quais foram alocados nas planilhas conforme as categorias de análise definidas com base na literatura. A categorização é uma operação de classificação dos elementos (Bardin, 2004), o que permite organizar sistematicamente o processo, com objetivo de evitar a perda do propósito da pesquisa e das questões a serem respondidas (Yin, 2005). As categorias de análise dos dois estudos de caso estão representadas na Tabela 7. Tabela 7 Categorias de Análise Item Categorias de Análise do Processo de Transferência de Conhecimento Gerencial e Tecnológico Características do conhecimento - Conhecimento Tácito; - Conhecimento Explícito. Característica organizacional da fonte (universidade e incubadora) - Capacidade da fonte em disseminar conhecimento (habilidade e motivação em transferir conhecimento). Característica organizacional do receptor (incubadora e empresas incubadas) - Capacidade absortiva em relação ao conhecimento (habilidade e motivação do receptor em adquirir conhecimento). Intensidade dos laços (Fortes e Fracos) - Qualidade do relacionamento entre universidade, incubadora e empresas incubadas; -Proximidade cultural entre os agentes. Nota. Fonte: Elaborado pela autora Por fim, adotou-se na pesquisa o procedimento de caso-cruzado (Yin, 1981), o qual foi realizado com o objetivo de possibilitar a observação das similaridades e/ou diferenças entre os casos analisados – IEBT Raiar e IEBT CENTEV/UFV. Entretanto, o problema das análises deste tipo são as conclusões prematuras ou mesmo falsas que ocorrem em consequência de vícios ou desvios na informação. Desta forma, a chave para uma boa comparação casocruzado é deter essas tendências e avaliar os dados por diversos caminhos (Eisenhardt, 1989). Com base nesses aspectos, o presente estudo analisou as peculiaridades de cada caso e, posteriormente, destacou as semelhanças e diferenças entre eles, bem como verificou se as evidências coletadas condizem ou não com as categorias abordadas na literatura, o que 65 permitiu aumentar a validade interna desta pesquisa (Meyer, 2001; Yin, 2005). Por outro lado, embora, durante a análise dos dados tenham sido adotados procedimentos para aumentar a validade e confiabilidade deste estudo, é importante destacar que ao tratar de validade externa, a qual está associada à possibilidade do pesquisador universalizar determinados resultados a uma teoria mais abrangente (Yin, 2005), houve uma perda neste quesito, pois como foram utilizados dois casos, não é possível fazer generalizações. 66 4 Descrição e Análise dos Dados Neste capítulo é descrito e analisado o processo de transferência de conhecimento, com foco no conhecimento gerencial e tecnológico das incubadoras de base tecnológica para os empreendimentos incubados, bem como os fatores que afetam essa dinâmica. O método utilizado foi à análise de conteúdo, baseando-se nas categorias definidas na metodologia: (i) as características do conhecimento gerencial ou tecnológico, de natureza tácita ou explícita; (ii) as características organizacionais da universidade, incubadora e empresas incubadas; e (iii) a intensidade dos laços estabelecidos entre esses três agentes. 4.1 Incubadora RAIAR 4.1.1 Caracterização e contexto da Incubadora RAIAR e das empresas entrevistadas A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) teve como marco inicial de suas atividades a criação do curso de Administração e Finanças em março de 1931, sob a denominação de Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, porém, apenas em 1984 foi equiparada a universidade (PUCRS, 2014). A PUCRS conta, atualmente, com 22 (vinte e duas) faculdades, que oferecem 53 (cinquenta e três) opções de Cursos de Graduação, 24 (vinte e quatro) de Mestrado e 21 (vinte e um) de Doutorado. Possui cerca de 30 (trinta) mil alunos, incluindo o Campus, em Porto Alegre, e a unidade de Uruguaiana. Também é composta pelo Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza, no município de São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha e um Centro de Extensão Universitária, na Capital. Além disso, a Universidade interage, permanentemente, com a sociedade por meio de espaços como a Biblioteca Central, o Centro de Atenção Psicossocial, o Centro de Educação Continuada, o Centro de Eventos, o Centro 67 Clínico, o Hospital São Lucas, o Instituto de Cultura Musical, a Aprendizagem sem Fronteiras, o Parque Esportivo, o Parque Científico e Tecnológico (TECNOPUC) e a Rede INOVAPUCRS (PUCRS, 2014). Com base em sua estrutura e forma de gestão, a PUCRS busca a qualidade no ensino, na pesquisa e na extensão, bem como visa desenvolver uma cultura empreendedora e promover a inclusão social. Para atender estes objetivos da Universidade, principalmente, referente ao desenvolvimento do empreendedorismo na comunidade acadêmica e na sociedade, uma das ações da PUCRS foi à fundação do Parque Tecnológico (TECNOPUC) e, posteriormente, a criação de uma Incubadora de Base Tecnológica (PUCRS, 2014). Iniciando suas atividades em novembro de 2003 como uma incubadora multissetorial de Empresas de Base Tecnológica (IEBT) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) localizada no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS - TECNOPUC, a RAIAR tem como missão estimular o empreendedorismo na comunidade acadêmica da PUCRS e na sociedade, transformando ideias inovadoras em negócios competitivos, por meio do apoio em infraestrutura e gestão empresarial (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014). A RAIAR surgiu a partir das necessidades das empresas do TECNOPUC, pois a PUCRS não tinha o objetivo de ter uma incubadora e sim um parque tecnológico. Houve um momento em que os gestores de uma das empresas instalada no TECNOPUC, que produzia software e, também realizava os testes de seus produtos, consideraram inviável continuar desempenhando as duas atividades (produção e testes), assim, eles ofereceram a dois de seus funcionários a possibilidade de criarem uma spin-off que fornecesse serviços de teste de software para a empresa “mãe”. “(...) Quando isso aconteceu, os gestores da empresa detentora da tecnologia e os empreendedores que iriam criar a spin-off procuraram pela PUCRS para auxilia-los nesse novo empreendimento e, com isso surgiu a necessidade de uma incubadora” (E.1:1). 68 Neste processo de implantação da incubadora, não houve restrições, porque a PUCRS é “(...) uma instituição privada, assim, resolveu que precisava de uma incubadora e então criaram” (E.1:1). A única barreira observada é que algumas pessoas não acreditam em uma incubadora, como é o caso da área de humanas que tem um pouco mais de dificuldade em entender esse mecanismo de apoio ao empreendedorismo. Desta forma, “(...) muitas vezes escuta-se dizer que o negócio da universidade é ensino e não criação de empresa” (E.1:1), porém, esta é uma forma um pouco ultrapassada de ver as coisas, porque a universidade tem que sobreviver, e “(...) fazer isso apenas com a mensalidade do aluno a cada semestre está ficando cada vez mais difícil, pois os custos estão muito elevados, então tem que achar novas formas” (E.1:1). No caso específico da PUCRS, por exemplo, o TECNOPUC, aonde a Raiar está inserida, é um espaço que a universidade utiliza para sustentar sua pesquisa aplicada, o que representa uma maneira de buscar recursos para fazer pesquisa (E.1:1; E.1:2). Após sua criação, a RAIAR passou a integrar a Rede INOVAPUCRS, que fomenta a inovação e o empreendedorismo por meio de um conjunto de atores, mecanismos e ações. Para cumprir seu objetivo, a rede articula todos os envolvidos na tríade: ensino, pesquisa e extensão (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014). A Rede INOVAPUCRS, conforme ilustrado na Figura 4, promove a interação entre o Núcleo Acadêmico e as Unidades Periféricas da Universidade. 69 Figura 4. Composição da Rede INOVAPUCRS Fonte: Adaptado de Rede INOVAPUCRS http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/inovapucrs/Capa. (2014). Institucional. Recuperado de: O Núcleo Acadêmico é composto pelas Unidades Acadêmicas, pelos Institutos de Pesquisa (Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG), Instituto de Pesquisas Biomédicas (IPB), Instituto de Toxicologia e Farmacologia (INTOX), Instituto do Cérebro (INSCER) e Instituto Meio Ambiente) e pela área de pesquisa do Museu de Ciências e Tecnologia (MCT), nos quais são desenvolvidas as pesquisas científicas e tecnológicas (Rede INOVAPURS, 2014). Como complemento ao Núcleo Acadêmico, as Unidades Periféricas são mecanismos institucionais voltados à interação com a sociedade, mais especificamente, com empresas e diferentes setores do governo. Este grupo é composto pelos mecanismos abordados na Tabela 8. 70 Tabela 8 Funções das Unidades Periféricas que Compõem a Rede INOVAPUCRS Unidades Periféricas Funções Agência de Gestão de Empreendimentos (AGE) Tem o objetivo de estruturar e desenvolver empreendimentos e serviços especializados, em que o conhecimento e as tecnologias geradas sejam originários da PUCRS, bem como, viabilizar a estruturação de fundos de investimentos para estas novas empresas. Agência de Gestão Tecnológica (AGT) Agente institucional da PUCRS, que facilita o processo de interação entre Universidade – Empresa – Governo, o que viabiliza e estimula o desenvolvimento de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I). Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) Setor responsável dentro da universidade pela gestão do patrimônio intelectual. Incubadora RAIAR Tem a função de estimular e operacionalizar o empreendedorismo na comunidade acadêmica da PUCRS. Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação (NAGI) Instituto IDEIA Integra a Rede de Inovação da PUCRS e está localizado na Escola de Negócios da universidade. Apoia o desenvolvimento de projetos de pesquisa científica e tecnológica, em diferentes unidades da PUCRS. Laboratórios Especializados em Eletroeletrônica (LABELO) Órgão suplementar da Universidade, que tem como função a calibração de instrumentos de medição e ensaios da conformidade para certificação de produtos. Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (TECNOPUC) Estimula a pesquisa e a inovação por meio de uma ação conjunta com a academia, as instituições privadas e o governo. Núcleo Empreendedor Promove diversas ações para apoiador e incentivar a Cultura Empreendedora na Universidade. Microsoft Innovation Center Promove a qualificação de organizações, de profissionais e estudantes, por meio de mecanismos que fomentem o uso eficiente e inovador de Tecnologias da Informação (TI). Nota. Fonte: Dados de documentos. Como integrante das Unidades Periféricas da Rede INOVAPUCRS, a RAIAR atende preferencialmente os alunos, ex-alunos, professores e funcionários da universidade e tem os seguintes objetivos: (i) abrigar empresas nascentes de base tecnológica e inovações geradas a partir de projetos de pesquisa da universidade; (ii) estimular a capacidade empreendedora da 71 comunidade PUCRS; (iii) abrigar empreendimentos embrionários de empresas estabelecidas no TECNOPUC (spin-off); (iv) favorecer o desenvolvimento de redes de negócios; (v) capacitar jovens empreendedores; (vi) promover a geração de conhecimento e a incorporação de tecnologias nas empresas; (vii) contribuir para a redução da taxa de mortalidade de novas empresas; e (viii) estimular a associação entre pesquisadores e empresários (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014). Em suma, o propósito da incubadora é apoiar o empreendedorismo entre os alunos e consolidar empresas nascidas nesse ambiente da universidade, principalmente, aquelas de resultados de pesquisa (E.1:1). A incubadora trabalha em três etapas, conforme a Figura 5: (i) pré-incubação, (ii) incubação e (iii) graduação. Figura 5. Etapas de Desenvolvimento das Empresas Incubadas na RAIAR Fonte: Dados de documentos A primeira etapa é um espaço que acolhe projetos e ideias de negócios de base tecnológica e inovação, permite o amadurecimento e o detalhamento do projeto pré-incubado e incentiva a concretização de um negócio. Nesta fase é desenvolvido o plano de negócio e, geralmente, ocorre durante um período de seis meses (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014). 72 Posteriormente, os empreendedores que pretendem se associar ou se tornarem residentes na incubadora, passam pelo processo seletivo, no qual são analisados alguns aspectos, tais como: (i) os projetos são de produtos, processos e/ou serviços de base tecnológica e inovadores; (ii) os empreendimentos inscritos estão juridicamente constituídos ou em constituição; (iii) os negócios tem viabilidade técnica e econômica; (iv) o produto ou o serviço é um diferencial de mercado e competitividade; e (v) os proponentes são qualificados na área em que atuam, possuem um perfil empreendedor e tem disponibilidade de tempo para dedicar ao empreendimento (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014). É importante destacar que, para entrar no processo de incubação não é necessário que o projeto tenha passado pela pré-incubação (E.1:1). Quando as novas empresas são selecionadas para ingressar na incubação, elas participam de atividades que proporcionam o fortalecimento das ideias e dos projetos e, contribuem para a formação do empreendedor e a estruturação de seu negócio, para que possam se inserir no mercado de forma sustentável e competitiva (Incubadora de Empresas RAIAR, 2014). O período de incubação são dois anos prorrogáveis por mais um, mas isso é um aspecto que já está sendo reavaliado, porque “(...) hoje as empresas incubadas na RAIAR são da área de saúde, engenharia e informática. Então para uma empresa da área de saúde, por exemplo, dois anos é muito pouco, porque às vezes até para fazer um licenciamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em dois anos não sai” (E.1:1). Por fim, após as empresas se graduarem, algumas vão para o mercado e outras se instalam no TECNOPUC, “(...) a ideia é sempre que todos os empreendimentos que se graduarem fiquem no parque, porém existem algumas dificuldades, como a falta de espaço físico. Assim, se a empresa não ficar no parque, espera-se que fique na cidade, se não ficar na cidade, que fique no estado, se não ficar no estado que fique no Brasil” (E.1:1). 73 Até novembro de 2013, a RAIAR tinha vinte e uma empresas incubadas, que buscam conhecimento para se desenvolverem e enfrentarem o mercado. Dentre essas empresas, cinco foram entrevistadas, quatro eram residentes e uma era associada. Estes empreendimentos informaram que desenvolvem produtos e serviços de base tecnológica, tais como: (i) site de negociação de hospedagem em hotéis brasileiros (E.1:3); (ii) desenvolvimento de jogos digitais (E.1:4); (iii) projetos na área de mobilidade urbana e deficiência energética, baseado em tecnologia (E.1:5); (iv) protótipos odontológicos (E.1:6); e (v) produção de impressoras 3D (E.1:7). Desta forma, observa-se que a RAIAR precisa transferir aos empreendimentos tanto conhecimentos gerenciais quanto atender necessidades relacionadas ao conhecimento tecnológico, como a proteção a propriedade intelectual e algumas especificidades técnicas dos produtos ou serviço (Doc.1:6). 4.1.2 A dinâmica da transferência de conhecimento da incubadora RAIAR para as empresas incubadas A incubadora RAIAR tem o objetivo de instalar e apoiar o desenvolvimento de empresas com uso intensivo de tecnologia (Doc.1:3), de modo a possibilitar a capacitação em áreas de interesse dos empresários (Doc.1:4). Desta forma, ela desenvolve diversas ações para que os empreendedores das empresas incubadas adquiram o conhecimento necessário, ou seja, disponibiliza serviços e assessorias, estabelece parcerias com a universidade, com o TECNOPUC, com outras incubadoras, com instituições públicas e privadas e fomenta a troca de informações e experiências entre os empreendimentos incubados (Doc.1:1; Doc.1:4; Doc.1:6; E.1:1). Dado que o desenvolvimento dos empreendimentos ocorre com base na aquisição de conhecimento, esta seção descreve detalhadamente o fluxo do conhecimento gerencial e 74 tecnológico da incubadora RAIAR para as empresas incubadas e como os fatores associados às características do conhecimento que será transferido (explícito e tácito), as características organizacionais da fonte (capacidade disseminativa) e do receptor (capacidade absortiva) e a intensidades dos laços, influenciam este processo. É importante destacar que neste processo de transferência de conhecimento, a universidade cumpre o papel de fonte, a incubadora atua em alguns momentos como fonte e em determinadas situações que exigem capacitar seus colaboradores, ela, também, tem o papel de receptora e as empresas incubadas recebem o conhecimento de ambas as instituições. 4.1.2.1 Conhecimento Gerencial: características do conhecimento e características organizacionais da fonte e do receptor Os empreendedores que procuram a RAIAR, geralmente, tem pouca ou nenhuma formação específica em áreas gerenciais, o que dificulta transformar suas ideias em empreendimentos com potencial de inserção no mercado (Doc.1:1; Doc.1:6; E.1:5). Desta forma, estes empreendedores esperam que por meio das assessorias, cursos e demais ações da incubadora, seja possível adquirir capacidade de identificar, assimilar e utilizar o conhecimento gerencial, ou seja, que desenvolvam sua capacidade absortiva para que possam estruturar suas empresas e produzir seus produtos ou fornecer seus serviços a partir de dados do mercado em que pretendem atuar e, assim, consigam definir suas estratégias competitivas (Doc.1:6). O fato de o conhecimento gerencial ter sido citado pelos colaboradores da RAIAR como o principal recurso que os empreendedores vêm buscar no processo de incubação (E.1:1; E.1:2) é comum nas IEBTs brasileiras, pois conforme uma pesquisa (Petrin, Castro & 75 Rezende, 2014) 1 realizada com 105 gestores de incubadoras, dentre os que classificaram sua organização como de apoio ao desenvolvimento de empresas de base tecnológica (62%), 66% afirmaram que o principal conhecimento transferido para as empresas incubadas é o gerencial, 16% responderam que seria aprender a trabalhar em rede, apenas 9% indicaram o conhecimento tecnológico e 9% citaram outros tipos de conhecimentos. Dado que, “(...) o principal conhecimento que os empreendedores buscam na RAIAR é o gerencial” (E.1:1), “(...) o que uma incubadora tem que ter em primeiro lugar é a assessoria em gestão” (E.1:2), que, também, é um dos principais serviços fornecidos por grande parte das 105 incubadoras brasileiras que participaram da pesquisa realizada em 2014 (78%, dos respondentes afirmaram que fornecem capacitação em gestão). Além disso, a disponibilização de espaço físico a preços subsidiados para as empresas se estabelecerem inicialmente (89%), o apoio administrativo (80%), a assistência em marketing (70%) e as assessorias jurídica (62%) e financeira (57%) são instrumentos de apoio encontrados na maioria das incubadoras (Petrin et al., 2014). No caso da RAIAR, determinados espaços físicos são disponibilizados e os serviços são oferecidos conforme a fase em que o empreendimento se encontra, ou seja, na pré-incubação ou na incubação (Doc.1:1; E.1:1, E.1:2). Na pré-incubação como é elaborado o plano de negócio, os empreendedores recebem assessorias para que sejam capazes de definir desde a formação completa do produto até questões associadas ao negócio, como a identificação de clientes em potencial e a formação de redes de fornecedores e de distribuidores (Doc.1:1; E.1:1; E.1:2). Desta forma, os empreendedores aprendem na prática a transformar seu projeto de pesquisa em uma empresa (E.1:1; E.1:2), o que provavelmente facilita a internalização do conhecimento adquirido 1 Estudo quantitativo desenvolvido no grupo de pesquisa Transfere do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas, em que os dados foram obtidos por meio de um survey enviado para 384 gestores de incubadoras brasileiras, dos quais 105 responderam, durante um período de 8 (oito) meses (julho/2013 à fevereiro/2014). Esta pesquisa resultou em um artigo apresentado no XXXVIII ENANPAD 2014. 76 (Doc.1:6). Posteriormente, o projeto passa por uma seleção (E.1:1; E.1:2) para que a incubadora certifique-se que ele atende aos quesitos para ingressar na incubação, tais como, “(...) se é inovador na área tecnológica e se está de acordo com os princípios da universidade” (E.1:2). Durante a segunda etapa, a incubação, os empreendedores contam com diversos serviços oferecidos pela RAIAR, tais como: (i) assessoria em gestão; (ii) assessoria em comunicação visual de design (os colaboradores da incubadora elaboram o Manual de Identidade Visual (MIV); desenvolvem o material promocional das empresas incubadas e de seus produtos e ajudam os incubados no design de produtos e embalagens); (iii) assessoria em comunicação (os colaboradores da incubadora elaboram o plano de comunicação, divulgam na imprensa releases sobre produtos e serviços das empresas incubadas, fazem a clipagem das publicações na imprensa citando os incubados, apoiam à realização de eventos das empresas incubadas e fornecem atendimento a imprensa) (Doc.1:5; E.1:1; E.1:2; E.1:6); (iv) desenvolvimento do Serviço de Apoio à Gestão (SAGE), que fornece auxílio às empresas no processo de transformação de seu projeto em um produto ou serviço (Doc.1:2; Doc.1:5; Doc.1:6); (v) espaço físico individualizado; (vi) salas de reuniões; (vii) custos de utilização do espaço físico e assessorias a preços inferiores ao que é oferecido no mercado (E.1:1); (viii) maior facilidade ao acesso das empresas incubadas aos recursos públicos; e (ix) proximidade com a universidade (E.1:2). Dentre os serviços oferecidos, os empreendedores informaram que a motivação em participar do processo de incubação na RAIAR está associada aos baixos custos de utilização do espaço físico, a necessidade de obter conhecimento por meio das assessorias, cursos e wokshops, a proximidade com a universidade e o contato com outras empresas incubadas. Entretanto, o maior atrativo para os empreendedores é a assessoria de comunicação, que foi citada como o apoio mais importante para o desenvolvimento do negócio (E.1:3; E.1:4; E.1:5; 77 E.1:6; E.1:7), pois o “(...) principal problema da empresa está relacionado à questão da visibilidade do produto no mercado” (E.1:4). Logo, as empresas incubadas adquirem destaque junto à mídia por meio das ações desenvolvidas pela incubadora, por estar inserida no TECNOPUC e ter a marca vinculada a PUCRS, que é bem aceita no mercado (E.1:2). Todas as assessorias disponíveis na incubadora e o acompanhamento junto aos empreendimentos são fornecidos por funcionários altamente capacitados, pois são graduados na área em que atuam, têm acesso aos cursos e palestras disponibilizados pela RAIAR e são motivados a transferir seu conhecimento, pois “por ser uma incubadora, nos estamos sempre aprendendo e passando conhecimento” (E.1:2). Além disso, os colaboradores da incubadora têm experiências anteriores em outras organizações que trabalharam e aprendem com situações que tiveram que lidar com empreendimentos incubados, que já se graduaram. Ou seja, estes profissionais possuem experiências e conhecimentos gerenciais, que os permitem identificar, absorver e utilizar os novos conhecimentos, conforme as necessidades e solicitações dos empreendedores das empresas que se encontram no processo de incubação (Doc.1:5; E.1:1). Entretanto, quando os funcionários ou responsáveis pelas assessorias têm dificuldades para atender algumas necessidades gerenciais dos empreendedores, elas são supridas por meio de parcerias da incubadora com o SEBRAE, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e outros órgãos de fomento (Doc.1:6). Além disso, a RAIAR mantém um relacionamento com a PUCRS, que é estabelecido, principalmente, por meio da interação com professores altamente capacitados nas áreas gerenciais e com alguns cursos da universidade, tais como: (i) direito, com o qual foi firmada uma parceria em 2012, com o projeto “Núcleo de Práticas Jurídicas Empresariais”, que tem como propósito o suporte as empresas pré-incubadas e incubadas nas áreas tributária, trabalhista, contratual, societária e de propriedade intelectual; (ii) psicologia, que ajuda as empresas a selecionar colaboradores e fazer alguns trabalhos na área de 78 desenvolvimento pessoal; (Doc.1:4; E.1:2); e (iii) pode contar com assessorias de qualquer faculdade da universidade, só que às vezes é um pouco mais difícil de estabelecer um relacionamento (E.1:1). É importante destacar que, a grande maioria das ações da incubadora para desenvolver os empreendimentos incubados funciona como mecanismos de transferência de conhecimento gerencial, tanto de natureza explícita quanto tácita (Doc.1: 6). Quando a RAIAR faz o acompanhamento, a orientação e o planejamento do desenvolvimento dos empreendimentos, o conhecimento gerencial é verbalizado e sistematizado em relatórios mensais, em manuais e documentos (Doc.1:5; Doc.1:6) disponíveis para as empresas incubadas, o que possibilita os empreendedores identificarem com maior facilidade suas dificuldades e o que precisam fazer para melhorar seu desempenho (Doc.1:5). Além disso, para possibilitar a transferência de conhecimento gerencial para os empreendimentos incubadas, a Raiar fornece assessorias, cursos e workshops, bem como desenvolve ações para promover o compartilhamento do conhecimento entre os empreendedores das empresas incubadas (Doc.1:6), como o “café compartilhado” e reuniões mensais, o que incentiva a troca de informações, experiências individuais e habilidades (E.1:1; E.1:2). Por fim, como os empreendedores adquirem conhecimento gerencial transferido pela incubadora de acordo com a demanda de suas empresas (E.1:1; E.1:2), durante a incubação a aprendizagem ocorre na prática, a partir dos erros e experiências (E.1:7), o que possibilita a internalização do conhecimento gerencial (Doc.1:6). 79 4.1.2.2 Conhecimento Tecnológico: características do conhecimento e características organizacionais da fonte e do receptor A RAIAR é uma incubadora que trabalha basicamente com três assessorias, como já abordado, que tem como foco o desenvolvimento gerencial e o objetivo de oferecer visibilidade aos empreendimentos incubados (E.1:1; E.1:2; E.1:3; E.1:4; E.1:5; E.1:6). Assim, embora forneça suporte apenas às empresas de base tecnológica, a incubadora não apresenta estrutura e pessoal com potencial para atender diretamente as demandas específicas de cada negócio em relação ao conhecimento tecnológico (E.1:1; Doc.1:5), pois não considera necessário desenvolver esse apoio internamente, uma vez que, um dos requisitos para ingressar no processo de incubação é que os empreendedores possuam um conhecimento tecnológico prévio referente à seus produtos (E.1:1; Doc.1:5). Do ponto de vista dos empreendedores das empresas incubadas, existe a percepção de que possuem capacidade para adquirir e absorver conhecimentos relacionados à tecnologia de seus produtos (E.1:4; E.1:5). Entretanto, quando surgem dificuldades associada a este conhecimento, embora a RAIAR não tenha, internamente, pessoal com qualificação para atender as demandas tecnológicas dos empreendimentos incubados, busca-se resolver este problema por meio de algumas ações (E.1:1; E.1:2), que permitem os empreendedores adquirirem conhecimento tecnológico (Doc.1:6). Tais ações são: (i) fornecer cursos, palestras e workshops com profissionais de áreas tecnológicas, que estejam relacionadas à tecnologia dos produtos produzidos nas empresas incubadas; e (ii) incentivar a socialização entre os próprios empreendedores das empresas incubadas (exemplo: reuniões e cafés compartilhados), de forma que ao trocarem experiências, talvez, sejam capazes de solucionar as dificuldades uns dos outros e criarem novos projetos (E.1:1; E.1:2; E.1:4; E.1:5; E.1:6). 80 Além disso, para suprir as necessidades dos empreendimentos, a RAIAR faz a intermediação da sua rede de contatos, com os empreendedores (E.1:1; E.1:2). A transferência de conhecimento tecnológico das incubadoras para as empresas incubadas, por meio das redes de contatos, é uma situação recorrente nas incubadoras brasileiras, pois de 105 incubadoras que participaram de uma pesquisa (Petrin et al., 2014), 65% dos respondentes confirmaram que utilizam as redes de contato para fornecer conhecimento tecnológico aos empreendedores e que a parceria mais importante é com as universidades, tanto para a gestão da incubadora (40%) quanto para a capacitação dos colaboradores (48%). Os outros parceiros indicados pelos respondentes como necessários para a gestão foram às instituições públicas (25%) e, para a capacitação foram parcerias com outras instituições (26%), tais como, o SEBRAE e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) (Petrin, et al., 2014). Dentre as parcerias da RAIAR, uma das mais importantes na transferência de conhecimento tecnológico é o relacionamento com a PUCRS, uma vez que, esta universidade tem alto potencial para transferir esse tipo de conhecimento, por trabalhar com ensino e pesquisa nas mais diversas áreas do saber (E.1:1; E.1:2). A interação entre a PUCRS e a RAIAR, estabelecida no intuito de possibilitar a transferência de conhecimento tecnológico para as empresas incubadas, ocorre, principalmente, nas seguintes situações: (i) durante o processo seletivo dos empreendimentos, os professores da universidade são convidados a avaliar o projeto em quesitos tecnológicos e se são realmente inovadores para ingressar na incubadora; (ii) se a empresa precisa de um conhecimento específico, o que é identificado por meio do acompanhamento e relatórios mensais, a RAIAR verifica junto ao banco de dados do Instituto IDEIA se há alguma pesquisa em desenvolvimento na universidade e, aproxima o pesquisador e a empresa incubada (E.1:2); (iii) as questões de propriedade intelectual e da marca são atendidas pela parceira que a 81 incubadora estabelece com o ETT, como já abordado, é o escritório da universidade responsável pela gestão do patrimônio intelectual; (iv) quando uma empresa precisa desenvolver um protótipo, recorre-se ao Instituto IDEIA, que também faz parte da PUCRS; e (v) se os empreendedores precisam utilizar os laboratórios, isso é facilitado pela interação com a universidade (E.1:1). Por fim, os empreendimentos informaram que a rede de contatos da RAIAR é muito importante para a aquisição de conhecimento tecnológico, pois ao participar da incubação eles ficam mais próximos de outras empresas com tecnologias similares, trocam ideias e têm acesso às empresas maiores dentro do parque, “acho que você começa se perguntando qual o melhor lugar se não for aqui. É difícil encontrar o melhor lugar para começar uma empresa que não seja em uma incubadora, no nosso caso” (E.1:4). 4.1.2.3 Intensidades dos laços no relacionamento entre universidade, incubadora e empresas incubadas A transferência de conhecimento durante a incubação ocorre por meio de interações, tais como: (i) a incubadora com as empresas incubadas; (ii) a incubadora com a universidade; (iii) a universidade, incubadora e empresas incubadas; e (iv) entre as empresas incubadas. O relacionamento entre as empresas incubadas e a RAIAR é estabelecido logo quando os empreendimentos ingressam na fase de pré-incubação e/ou incubação, pois “(...) quando a empresa inicia o processo de incubação há um envolvimento muito forte” (E.1:2), que se mantém por uma intensa conexão social entre os funcionários da incubadora e os empreendedores das empresas incubadas (E.1:4 E.1:5). Nesta interação a RAIAR se compromete em transferir conhecimento para as empresas incubadas, por ser um aspecto 82 inerente ao propósito de incubação, uma vez que, seu objetivo é capacitar os empreendimentos para enfrentarem o mercado (E.1:1; E.1:2). O principal mecanismo de interação entre a incubadora e as empresas incubadas são as reuniões, as quais permitem verificar as expectativas dos empreendedores (Doc.1:6). Por meio dessa interação, o principal conhecimento transferido é o gerencial, pois, como já explicado, os empreendimentos incubados possuem muito conhecimento tecnológico e pouco ou nenhum conhecimento gerencial (E.1:1). Os empreendedores entrevistados consideram que há um bom relacionamento com os funcionários e gestores da incubadora e que a RAIAR é um ótimo lugar para se desenvolver, principalmente, porque este ambiente proporciona o convívio com outras empresas similares e facilita as parcerias (E.1:4; E.1:5). Entretanto, esta interação, também, pode apresentar algumas dificuldades, como exemplo, os gestores da assessoria em gestão e assessoria em comunicação informaram que, às vezes, “(...) as empresas que estão no processo de incubação estabelecem um relacionamento em que se acomodam e acham que a incubadora tem que resolver todos os problemas do empreendimento” (E.1:2), porém na visão dos gestores da RAIAR, eles não apenas prestam serviços as empresas incubadas, mas trabalham em parceria com elas (Doc.1:5). Portanto, “(...) a ideia é sugerir para os empreendedores, mas quem toma as decisões são eles” (E.1:2). Além da interação com as empresas incubadas, a RAIAR estabelece parcerias com a PUCRS, uma vez que, “(...) visa apoiar o empreendedorismo entre os alunos e consolidar empresas nascidas na universidade, principalmente, aquelas de resultados de pesquisa” (E.1:1). Este relacionamento é estabelecido por uma forte conexão entre esses agentes, pois “(...) a RAIAR é um projeto de toda a cadeia de empreendedorismo da PUCRS” (E.1:2) e esta parceria é mantida por meio da intermediação do gestor da incubadora, que dado o fato de que 83 ele, também, é o coordenador acadêmico, é possível fazer a ligação de qualquer setor da universidade com a incubadora (E.1:2). A proximidade da RAIAR com a PUCRS permite a incubadora mediar à interação entre a universidade e as empresas incubadas. Este relacionamento se faz necessário quando os empreendedores precisam de conhecimento gerencial, que não é oferecido pela RAIAR e, principalmente, quando necessitam de algum conhecimento tecnológico, pois a incubadora não atende diretamente este tipo de demanda e “(...) faz a aproximação da empresa com professores da universidade, que desenvolvem pesquisas referentes ao produto das empresas incubadas” (E.1:2). A vantagem para a PUCRS da interação entre a universidade e os empreendimentos incubados é trazer a realidade do mercado para dentro da comunidade acadêmica, o que “(...) muda um pouco aquela história de dizer que o que as universidades ensinam não é o que as empresas precisam” (E.1:1), pois ter uma incubadora de empresas na universidade melhora a qualidade de ensino, uma vez que, os professores podem trabalhar com situações práticas e a grade curricular dos alunos pode ser atualizada conforme a demanda do mercado (E.1:1; E.1:2). Por outro lado, o benefício para os empreendimentos incubados é que o relacionamento com a universidade por meio da incubadora ajuda no desenvolvimento dos negócios e os empreendedores se sentem motivados a participar do processo de incubação, por estar próximo das pesquisas e conhecimentos da PUCRS (Doc.1: 6). Portanto, umas das vantagens da interação entre a universidade, a incubadora e as empresas incubadas é promover um ambiente de inovação para os empreendimentos nascentes, pois a RAIAR é parte da REDE INOVAPUCRS, logo ela “(...) está em um ecossistema de empreendedorismo e inovação” (E.1:1; E.1:2). Assim, dentre os empreendedores entrevistados, há um consenso de que as empresas se tornaram mais inovadoras ao ingressar no programa de incubação (E.1:4, E.1:5; 84 E.1:6). Apenas um discordou e afirmou que “(...) a incubadora não fomenta a inovação dos produtos e ficam estagnados apenas no desenvolvimento de um único projeto” (E.1:7). Além disso, como a maioria das empresas incubadas é de alunos, eles levam para a sala de aula a necessidade da empresa e trazem para a incubadora as resposta que o professor fornece ou as novas tecnologias. Desta forma, (...) “a interação universidade-empresa por meio de uma incubadora é muito benéfica e surte bons resultados” (E.1:1). Embora, a interação entre a universidade e as empresas incubadas seja importante para a comunidade acadêmica e para o desenvolvimento dos empreendimentos, fomentar o relacionamento entre esses agentes não é tarefa fácil, pois “(...) os professores não utilizam o potencial que existe na incubadora e alguns gestores e docentes da comunidade acadêmica ainda acreditam que o negócio da universidade é ensino e não empreendedorismo” (E.1:1). Além disso, o que na maioria das vezes dificulta o relacionamento entre a universidade e as empresas incubadas é a diferença cultural, principalmente, em relação aos objetivos, interesses e valores entre esses agentes, pois “(...) são duas línguas diferentes (a linguagem acadêmica é uma, a de mercado é outra) e o maior desafio é fazer a tradução disso” (E.1:2). Por exemplo, enquanto as empresas trabalham com a pressão do mercado, o desenvolvimento de pesquisas exige um trabalho em longo prazo (E.1:2). Dado os objetivos divergentes e as diferenças culturais, na tentativa de facilitar o relacionamento entre a comunidade acadêmica e as empresas incubadas, de forma que as interações entre esses agentes sejam mais frequentes, a RAIAR em parceria com a PUCRS, promove atividades de integração, tais como: (i) implantação da disciplina de empreendedorismo em todos os cursos da universidade; (ii) promoção de visitas da comunidade acadêmica na incubadora; e (iii) promoção de torneios de empreendedorismo entre os alunos (E.1:1). 85 Por fim, outro relacionamento citado como importante para o fluxo de conhecimento e a troca de experiências dentro da incubadora é a interação entre as próprias empresas incubadas, que ocorre por meio de ações promovidas pela RAIAR, como exemplo, “(...) em todo primeiro dia útil do mês é realizado o café do “pé direito”, em que cada um traz alguma coisa e é o momento do pessoal trocar experiências relacionadas ao conhecimento gerencial e ao conhecimento tecnológico. Também são promovidas reuniões mensais, que tem o objetivo de aproximar as empresas, formando uma rede” (E.1:1). Além disso, em 2012, foi realizado o encontro de talentos para aproximar e promover a integração dos empresários da RAIAR (Doc.1:4). Alguns empreendedores informaram que este relacionamento é importante para estabelecer parceria (E.1:3; E.1:4), porém, na percepção do gestor da incubadora estas ações não são fáceis, pois “(...) um empreendedor ainda olha para outro como concorrentes” (E.1:1). Além dessas formas de relacionamento que possibilitam o fluxo de conhecimento entre os atores, é importante destacar que com objetivo de obter a certificação no Modelo do Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (CERNE) (todas as incubadoras do Brasil precisam deste certificado para continuar associadas à ANPROTEC), os procedimentos, incluindo a transferência de conhecimento, atualmente, são documentados pela RAIAR, o que tem possibilitado a gestão do conhecimento de forma que todos na incubadora possam conhecer cada processo (E.1:2). Com a descrição da transferência de conhecimento da RAIAR para os empreendimentos incubados, elaborou-se a Tabela 9, que relaciona as principais evidências sobre o fluxo de conhecimento entre universidade, incubadora e empresas incubadas. 86 Tabela 9 Síntese de Evidências dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento Características Organizacionais da Universidade, Incubadora e Empresas Incubadas Características do Conhecimento Itens Fatores Conhecimento Gerencial Conhecimento Tecnológico Conhecimento Explícito - Conhecimento sobre o acompanhamento, planejamento e desenvolvimento dos negócios são definidos nas reuniões e disponibilizados para os empreendedores das empresas incubadas por meio de relatórios mensais e documentos; -Conhecimentos associados aos procedimentos utilizados pela incubadora são documentados e disponibilizados. - Conhecimento sobre a tecnologia produzida na universidade fica disponível em um banco de dados do Instituto IDEIA; -Conhecimento sobre as necessidades tecnológicas dos empreendimentos incubados é documentado por meio de relatórios mensais. Conhecimento Tácito -Conhecimentos gerenciais são transferidos aos empreendedores das empresas incubadas por meio de assessorias e são utilizados para desenvolver os empreendimentos; -Conhecimento de gestão (administrativo e financeiro): os empreendedores das empresas incubadas adquirem conhecimento por meio de cursos e workshops e colocam em prática; - Conhecimento gerencial referente às experiências dos empreendedores incubados: há a troca de experiências em reuniões e formas de confraternização. - Conhecimento tecnológico referente ao produto das empresas incubadas: é transferido por meio de cursos, palestras e workshops com profissionais de áreas tecnológicas e são colocados em prática pelos empreendedores das empresas incubadas; - Conhecimentos associados à tecnologia dos empreendimentos incubados: os empreendedores das empresas incubadas trocam experiências tecnológicas. Capacidade Disseminativa da Incubadora - A incubadora identifica as necessidades das empresas incubadas; - Os funcionários da incubadora têm capacidade para transferir conhecimento gerencial; - Funcionários da incubadora são motivados a transferir o conhecimento. -A incubadora não possui conhecimento tecnológico; -Identificam a necessidade do empreendimento e coloca o empreendedor em contato com a universidade. - A PUCRS possui áreas de ensino ligadas ao conhecimento gerencial (exemplo: administração); - A PUCRS, juntamente com a RAIAR, desenvolve ações para motivar a comunidade acadêmica a transferir seu conhecimento gerencial e tornar-se mais participativa na incubadora. -A PUCRS possui muito conhecimento tecnológico; -A PUCRS trabalha com ensino e pesquisa em diversas áreas do conhecimento; - A PUCRS, juntamente com a RAIAR, desenvolve ações para motivar a comunidade acadêmica a transferir seu conhecimento tecnológico e tornar-se mais participativa na incubadora. - Profissionais da incubadora possuem conhecimento na área gerencial, publicidade, marketing e design de produto; -Profissionais da incubadora possuem experiências adquiridas em outras organizações e em situações já vividas com outras empresas incubadas; - Profissionais da incubadora são -Profissionais da incubadora não possuem conhecimento tecnológico prévio. Capacidade Disseminativa da Universidade Capacidade Absortiva da Incubadora 87 Intensidade dos laços entre Universidade, Incubadora e Empresas Incubadas capacitados por meio de cursos fornecidos pelo SEBRAE e por palestras com professores da PUCRS, workshops e outros; - Profissionais da incubadora são motivados a transferir seu conhecimento. Capacidade Absortiva das Empresas Incubadas -Empreendedores das empresas incubadas têm pouco ou nenhum conhecimento gerencial; -Sócios e colaboradores das empresas incubadas são capacitados por meio de assessorias e cursos; - Empreendedores das empresas incubadas são motivados a adquirirem conhecimento, dado a necessidade de desenvolverem seus negócios, por reconhecerem o potencial da incubadora e a possibilidade de visibilidade no mercado. - Empreendedores das empresas incubadas têm alta capacidade para absorver conhecimentos tecnológicos da sua área; - Empreendedores das empresas incubadas tem motivação em adquirir conhecimento tecnológico da universidade por reconhecerem o potencial da PUCRS e um dos incentivos para participarem da incubação é o fato de estarem mais próximos das pesquisas da PUCRS. Laços Fortes - Forte conexão social e bom relacionamento da incubadora com as empresas incubadas; -Conhecimento gerencial transferido diretamente da RAIAR para as empresas incubadas; - Interação constante da incubadora com a universidade; -A incubadora recorre à universidade, quando não possui determinado conhecimento gerencial. -Interação constante da incubadora com a universidade, o que permite identificar as pesquisas desenvolvidas, que possam atender as necessidades dos empreendimentos incubados. Laços Fracos -Diferença cultural entre a universidade e as empresas incubadas; -Alguns membros da academia consideram que a função da universidade é apenas ensino; - O relacionamento da universidade com as empresas incubadas é intermediado pela incubadora. -Diferença cultural entre a universidade e as empresas incubadas; - A incubadora faz a mediação das empresas incubadas com a universidade para que obtenham conhecimento tecnológico; Nota. Fonte: Elaborado pela autora 88 4.2 Incubadora CENTEV/UFV 4.2.1 Caracterização e contexto da Incubadora CENTEV/UFV e das empresas entrevistadas A Universidade Federal de Viçosa (UFV) originou-se da Escola Superior de Agricultura e Veterinária e foi criada em 30 de março de 1922. Desde sua fundação a UFV adquire experiência e tradição em ensino, pesquisa e extensão, que formam a base de sua filosofia de trabalho. Assim, se preocupa em promover a integração vertical do ensino, ou seja, trabalha de maneira efetiva, mantendo, atualmente, além dos cursos de graduação e pós-graduação, o Colégio Universitário (Ensino Médio Geral), a Central de Ensino e Desenvolvimento Agrário de Florestal (Ensino Médio Técnico e Médio Geral), a Escola Estadual Effie Rolfs (Ensino Fundamental e Médio Geral), o Laboratório de Desenvolvimento Humano e a Creche, que atende crianças de 3 (três) a 6 (seis) anos (Universidade Federal de Viçosa [UFV], 2014). Destaca-se que por tradição, a área de Ciências Agrárias é a mais desenvolvida na UFV, sendo respeitada no Brasil e no Exterior. Entretanto, visando desenvolver uma postura coerente com o conceito da moderna universidade, a instituição tem expandido suas atividades em outras áreas do conhecimento, tais como: (i) Letras e Artes; (ii) Ciências Exatas e Tecnológicas; (iii) Ciências Humanas; e (iv) Ciências Biológicas e da Saúde (UFV, 2014). Além disso, com o objetivo de apoiar o empreendedorismo, em 1993 a UFV iniciou o projeto de criação da IEBT do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CENTEV) (Incubadora de Empresas Base Tecnológica [IEBT] CENTEV/UFV, 2014a), o qual foi viabilizado por meio da visão de alguns de seus professores, que foram até Santa Catarina conhecer o Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI) em 89 Florianópolis e, se capacitaram para a criação e implementação da Incubadora de Empresas de Base Tecnológicas (E.2:1; E.2:2). Em 1995, o projeto foi filiado à ANPROTEC e sua gestão passou a ser feita pela Fundação Arthur Bernardes (FUNARBE). Após definidas as normas e todos os aspectos jurídico-organizacionais, a Incubadora FUNARBE/UFV iniciou suas atividades comerciais em 1997 e tornou-se, também, sócia fundadora da Rede Mineira de Incubação (RMI) (E.2:1; IEBT CENTEV/UFV, 2014a). Em 2001, a Incubadora foi incorporada ao CENTEV (Doc.2:6; IEBT CENTEV/UFV, 2014a), que é um órgão vinculado diretamente à reitoria da UFV, criado pela Resolução 12/2001. Este Centro Tecnológico é composto pela IEBT, Central de Empresas Juniores, Parque Tecnológico de Viçosa e Núcleo de Desenvolvimento Social e Educacional. Cada um destes agentes de inovação desempenha um papel importante para a cooperação universidadeempresa, na difusão do empreendedorismo, da inovação tecnológica, capacitação e qualificação profissional, conforme ilustrado na Figura 6 (IEBT CENTEV/UFV, 2014a). 90 Figura 6. Estrutura Administrativa Fonte: Dados dos documentos A IEBT CENTEV/UFV tem o objetivo de estimular a criação e o desenvolvimento de empresas de base tecnológica nas fases de instalação, crescimento e consolidação e, fornece aos empreendedores um ambiente apropriado para o funcionamento de seus negócios. Além disso, ela difunde a cultura empreendedora e as tecnologias inovadoras oriundas da comunidade acadêmica, bem como, contribui para o desenvolvimento local (Doc.2:1; Doc.2:12). Com o intuito de apoiar os empreendimentos nascentes, principalmente, aqueles criados na UFV, a incubadora oferece diversos serviços a preços acessíveis, com despesas compartilhadas entre as empresas usuárias e/ou subsidiadas por parceiros, tais como: (i) espaço físico; (ii) equipamentos para o desenvolvimento de projetos; (iii) orientação 91 administrativo-gerencial; (iv) consultorias técnicas especializadas; (v) cursos; (vi) biblioteca; (vii) salas de reunião e treinamento; e (viii) telefone e recepção compartilhados (Doc.2:2; IEBT CENTEV/UFV, 2014b). Os serviços disponibilizados pela IEBT aos empreendimentos são agrupados em dois programas, de acordo com o desenvolvimento do negócio (ver Tabela 10): (i) o Programa de Pré-Incubação e (ii) o Programa de Incubação (IEBT CENTEV/UFV, 2014b). Tabela 10 Objetivos dos Programas de Pré-Incubação e Incubação da IEBT CENTEV/UFV Programas Objetivos -Preparar os projetos de negócios pré-incubados para futuro ingresso na incubadora, contribuindo para o desenvolvimento sustentável de Viçosa e região; -Auxiliar o desenvolvimento de tecnologias em produtos, processos ou serviços inovadores com potencial de aplicação de mercado; Programa de Pré-Incubação -Promover a sinergia e parcerias entre empreendedores e instituições de ensino e pesquisa, empresas, órgãos governamentais, associações de classe, agentes financeiros e mercado consumidor; -Difundir, junto à comunidade acadêmica, a cultura empreendedora e os modernos instrumentos de gestão; -Induzir a criação de spin-off acadêmicas junto UFV e; -Oferecer aos empreendedores orientações gerenciais e técnicas, bem como, oportunidade de capacitação gerencial, a fim, de prepará-los para a gestão do negócio. -Fornecer suporte às empresas vinculadas ao programa, para que atinjam o sucesso, alicerçadas em produtos e serviços inovadores e de qualidade. - Consolidar a imagem da empresa no mercado por meio do vínculo com a incubadora; - Ampliar o portfólio de produtos e serviços a partir da transformação de tecnologias em produtos, processos e serviços inovadores, por meio das assessorias e cursos oferecidos pela incubadora e acesso a infraestrutura de apoio empresarial; Programa de Incubação - Promover a sinergia e parceria entre empresas vinculadas ao programa, instituições de ensino e pesquisa, órgãos governamentais, associações de classe, agências financeiras e mercado consumidor; - Difundir junto à comunidade acadêmica à cultura empreendedora e os modernos instrumentos de gestão; - Oferecer às empresas incubadas assessorias gerenciais e técnicas, bem como mecanismos de apoio à inovação e cooperação tecnológica e; - Capacitar os empreendedores na utilização das tecnologias de gestão para que possam aumentar a competitividade de seus negócios e adotar novos processos de tomada de decisão. Nota. Fonte: Dados de documentos 92 A Pré-Incubação, conforme descrita na Tabela 10, tem por objetivo preparar os projetos com potencial de negócio para a criação de empresas de base tecnológica (Doc.2:6; Doc.2:7). Este programa tem duração de seis meses contados a partir da assinatura do Contrato de Utilização do Sistema Compartilhado (Doc.2:6). As principais atividades nessa fase enfatizam a conscientização empreendedora; o estudo de viabilidade técnica, econômica, comercial e do impacto ambiental e social (EVTECIAS); o Plano Tecnológico; o desenvolvimento do protótipo de produto ou serviço; a elaboração do Plano de Negócios e a capacitação empresarial para a gestão de negócios (Doc.2:5; Doc.2:6; Doc.2:8). O Programa de Incubação compreende o período de trinta e seis meses (três anos), mas pode ser prorrogado em determinados casos e, tem por objetivo o fortalecimento das empresas nascentes por meio da capacitação gerencial do empreendedor e do desenvolvimento econômico e financeiro de seu negócio (Doc.2:5; Doc.2:6). Após esse processo, a empresa incubada é avaliada em relação à sustentabilidade, o estágio de desenvolvimento do produto inovador e o tempo que está na incubadora, para que se certifique de que já está apta para se graduar e se inserir no mercado ou se instalar no parque tecnológico (Doc.2:7). Os empreendedores (incluem apenas alunos de graduação e pós-graduação da UFV e de outras instituições de ensino superior e científicas, servidores públicos na forma da lei, empreendedores da iniciativa privada, docentes e pesquisadores inativos da UFV e de outras universidades), que pretendem ingressar no processo de Pré-Incubação e/ou Incubação, precisam submeter um projeto ao processo seletivo. As propostas devem ser relacionadas com as atividades de ensino e pesquisa da UFV e caracterizadas como de base tecnológica, as quais são avaliadas conforme determinados critérios: (i) viabilidade técnica, econômica e comercial da proposta; (ii) capacidade técnica e gerencial dos empreendedores; (iii) conteúdo tecnológico; e (iv) grau de inovação dos produtos, processos e serviços a serem ofertados, assim como seu impacto na modernização da economia (Doc.2:6). 93 Além dos programas de Pré-Incubação e Incubação, a IEBT CENTEV/UFV em parceria com a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PPG/UFV) e a Comissão Permanente de Propriedade Intelectual (CPPI/UFV), criou o Programa de Spin-off da UFV com o objetivo de estimular e acelerar o processo de criação de spin-off a partir das pesquisas da universidade. Este programa reúne práticas, ferramentas e métodos de apoio às novas empresas e fornece subsídios aos processos de inovação, estruturação do negócio e ampliação da competitividade tecnológica. Além disso, é importante destacar que o programa não exige que exista um vínculo formal entre a incubadora e o pesquisador, como é o caso da incubação e da préincubação (Doc.2:5). Após a implantação do Programa de Spin-off da UFV obtiveram-se alguns resultados, tais como: (i) aumento do número de projetos e negócios associados à IEBT; (ii) contribuição para o desenvolvimento tecnológico e econômico da região por meio da criação de novas empresas de base tecnológica; (iii) consolidação da visão empreendedora na comunidade acadêmica da UFV; (iv) aumento do número de registros de propriedade intelectual da UFV e licenciamentos e transferência de tecnologia; (v) criação de instrumentos que ajudam os pesquisadores no desenvolvimento de novos estudos voltados para a demanda da sociedade; e (vi) auxílio no desenvolvimento do Parque Tecnológico de Viçosa (Doc.2:5). Outra iniciativa da IEBT CENTEV/UFV, que tem como objetivos estratégicos a prospecção de tecnologias com potencial de transferência e a criação de empresas de base tecnológica, é o Programa de Incentivo à Inovação (PII), desenvolvido em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (SECTES) e o SEBRAE -MG (Doc.2:5). O PII ocorre em três etapas: (i) inscrição e seleção dos projetos com potencial tecnológico e de mercado em estágio de desenvolvimento avançado; (ii) elaboração de EVTECIAS para os projetos selecionados, visando avaliar a viabilidade comercial da 94 tecnologia; e (iii) seleção dos melhores projetos da etapa anterior, desenvolvimento do Plano de Negócio Estendido (PNE) e apoio financeiro para o desenvolvimento de protótipos e produtos. Com essas ações, este programa tem resultado em mais de 50 (cinquenta) depósitos de patentes efetuados e em andamento, criação de mais de 20 (vinte) spin-offs acadêmicas e cerca de 20 (vinte) processos de transferência de tecnologia, sendo que no total foram elaborados mais de 200 (duzentas) EVTECIAS e cerca de 100 (cem) protótipos (Doc.2:5). A IEBT CENTEV/UFV, também, oferece diversas consultorias e assessorias (descritas na Tabela 11), que são destinadas tanto às empresas pré-incubadas ou incubadas (que tenham algum vínculo formal), quanto para outros empreendedores interessados que não possuem qualquer associação com a incubadora, com objetivo de fomentar o empreendedorismo na região (IEBT CENTEV/UFV, 2014b). Tabela 11 Assessorias Fornecidas pela IEBT CENTEV/UFV Assessorias Descrição Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Comercial e de Impactos Ambientais (EVTECIAS) (i) análise do mercado; (ii) segmentação de mercado; (iii) análise das tendências de mercado; (iv) análise dos aspectos regulatórios referentes ao mercado e à atividade; (v) definição do público-alvo; (vi) definição das necessidades dos clientes; (vii) análise dos concorrentes; (viii) identificação dos canais de distribuição; (ix) identificação dos potenciais complementadores e influenciadores; (x) projeto da cadeia de valor; (xi) elaboração da Matriz SWOT; (xii) elaboração da Matriz Gestão da Plataforma; (xiii) análise econômica e financeira; e (xiv) identificação do Canal de distribuição. Gestão por processos (i) identificação e proposição de processos-chave, necessários a operacionalização da empresa; (ii) elaboração de mapas de processos e fluxogramas; (iii) proposição de procedimentos operacionais padrão e instruções de trabalho; (iv) definição de indicadores e ações para acompanhamento e controle dos processos; e (v) elaboração de manual da Gestão por Processos. Gestão do processo de desenvolvimento de produto Gestão do processo de desenvolvimento de produto, com a identificação e caracterização das seguintes etapas: (i) planejamento estratégico do produto; (ii) desdobramento da função qualidade (QFD); (iii) projeto informacional; (iv) projeto básico e detalhado; e (v) projeto do processo de produção. Gestão de qualidade – conforme especificações da NBR ISO 9001: 2008 (i) implementação do programa 5S; (ii) elaboração do Manual da Qualidade, de acordo com a NBR ISO 9001: 2008; (iii) utilização de ferramentas da qualidade; (iv) treinamento; e (v) auditorias internas. · Gestão da produção 95 (i) Gerenciamento de estoques; (ii) previsão de demanda; (iii) Kanban, Kaizen, Just in Time (JIT); (iv) Planejamento e Controle da Produção (PCP); (v) planejamento da capacidade; (vi) estudo do layout; e (vii) planejamento dos sistemas produtivo. · (i) Gerenciamento de estoques; (ii) previsão de demanda; (iii) gestão da cadeia de suprimentos; (iv) planejamento das necessidades de materiais (MRP); (v) logística empresarial; e (vi) logística reserva. Logística · Gestão de qualidade – conforme especificações da NBR ISO 14000 Pré-requisito: Gestão de Processos (i) Identificação dos requisitos legais; (ii) identificação dos aspectos ambientais; (iii) mapeamento dos processos, de acordo com os requisitos normativos; (iv) elaboração dos procedimentos operacionais e instruções de trabalho; (v) treinamento; (vi) elaboração do Manual do Sistema de Gestão Ambiental; e (vii) auditorias internas. · (i) definição do negócio e da missão; (ii) análise de ambiente interno e externo; (iii) proposição de filosofias e políticas organizacionais; (iv) definição de objetivos e metas; (v) formulação de estratégias; e (vi) análise SWOT. Planejamento estratégico · Gestão contábil financeira · Gestão de pessoas Pré-requisitos: Gestão por processos e Gestão contábil financeira · Gerenciamento de projetos (i) Projeções financeiras (balanço patrimonial e DRE); (ii) elaboração de fluxo de caixa; (iii) identificação de custos de produção e administrativos; (iv) elaboração e análise de estratégias de precificação; (v) orientação contábil; (vi) orientações fiscais; (vii) planejamento tributário; (viii) elaboração e análise de indicadores; e (ix) auditoria e controle. (i) Estruturação do sistema de recrutamento e seleção; (ii) estruturação do sistema de treinamento e desenvolvimento; (iii) elaboração do plano de carreira; (iv) elaboração do plano de cargos e salários; e (v) elaboração de benefícios (salários variáveis). (i) desdobramento das atividades do projeto; (ii) utilização do software MS Project; e (iii) gestão de projetos de acordo com o Project Management Body of Knowledge (PMBOK). Nota. Fonte: Adaptado de: IEBT CENTEV/UFV (2014b). Serviços Oferecidos. Recuperado de: http://www.centev.ufv.br/incubadora/interna.php?area=servicos&idIdioma=1&sis=2 A Incubadora, até maio de 2014, estava apoiando o desenvolvimento de doze projetos pré-incubados e nove empresas incubadas (E.2:1; E.2:2). Dentre essas empresas, cinco empreendedores foram entrevistados, os quais produzem produtos associados às seguintes tecnologias: (i) dispositivo de estacionamento para bicicletas (E.2:3); (ii) controle biológico de pragas agrícolas (E.2:4); (iii) sistemas inovadores, como software de uma forma geral (E.2:5); (iv) estudo de novos microrganismos com potencial de aplicação biotecnológica para a geração de produtos fermentados, principalmente, bebidas, além de análise de alimentos e 96 consultorias diversas, incluindo boas práticas em higiene e em controle de qualidade (E.2:6); e (v) biotecnologia mais voltada para reatores e tratamento de resíduo, bem como a área de máquinas voltada para agronegócio e agricultura em geral. Conforme a natureza destas empresas, os empreendedores precisam desenvolver tanto sua capacidade gerencial para constituir o empreendimento, quanto obter assistência tecnológica como a proteção a propriedade intelectual e algumas especificidades técnicas dos produtos ou serviço (E.2:7). 4.2.2 A dinâmica da transferência de conhecimento da incubadora CENTEV/UFV para as empresas incubadas O principal motivo da iniciativa de criação da IEBT CENTEV/UFV foi à necessidade de fomentar a interação da estrutura e conhecimento da UFV com o processo de desenvolvimento tecnológico nacional, bem como explorar a capacidade inovativa da universidade (Doc.2:1). Assim, esta incubadora visa desenvolver os novos negócios de base tecnológica e difundir a cultura empreendedora (Incubadora CENTEV/UFV, 2014a). A fim de cumprir o seu principal objetivo, ou seja, o apoio ao desenvolvimento dos novos empreendimentos, a IEBT CENTEV/UFV fomenta o processo de transferência de conhecimento para os empreendedores por meio de seus serviços e assessorias, pelas parcerias com a UFV e órgãos como o SEBRAE, com o incentivo à troca de experiências entre os empreendedores incubados e mediante relacionamento com outras incubadoras mantido em encontros promovidos pela Rede Mineira de Inovação e a ANPROTEC (E.2:1; E.2:2). Baseando-se nas ações desenvolvidas pela IEBT CENTEV/UFV para transferir conhecimento para os empreendimentos, assim como no primeiro caso, esta seção descreve como ocorre o fluxo de conhecimento gerencial e tecnológico durante a incubação e os fatores que influenciam este processo, tais como: (i) características do conhecimento que será 97 transferido (explícito e tácito), as características organizacional da fonte (capacidade disseminativa) e do receptor (capacidade absortiva) e a intensidades dos laços. Além disso, como observado no primeiro caso, também, destaca-se que na transferência de conhecimento da IEBT CENTEV/UFV para os empreendimentos incubados, a universidade atua como fonte, a incubadora ora cumpre o papel de fonte ora de receptora e as empresas incubadas adquirem o conhecimento transferido. 4.2.2.1 Conhecimento Gerencial: características do conhecimento e características organizacionais da fonte e do receptor No início de suas atividades, as empresas nascentes apresentam diversas dificuldades de inserção no mercado, tais como: (i) imaturidade gerencial da empresa; (ii) falta de conhecimento do mercado; (iii) dificuldade em trazer grandes empresas para Viçosa para fazer negócio com uma empresa pequena e desconhecida (E.2:5); (iv) dificuldade ao acesso as linhas de crédito, pois não dispõem de garantias reais; (v) debilidade da função gerencial; (vi) baixa qualificação dos recursos humanos, dentre outras (E.2:6). Além disso, quando se trata de empreendimentos de base tecnológica, geralmente, os empreendedores são de áreas técnicas e não tem conhecimento em gestão suficiente para sanar estes problemas e transformar sua ideia em um negócio de sucesso (E.2:1; E.2:2; E.2:5; E.2:6; E.2:7; Doc.2:1). Diante das dificuldades que as empresas nascentes enfrentam e a falta de experiência (E.2:6), os empreendedores sentem-se motivados a procurar a IEBT CENTEV/UFV por considerá-la uma fonte de conhecimento gerencial com potencial para ajudá-los a desenvolverem seus negócios (E.2:1; E.2:2; E.2:5; E.2:6; E.2:7; Doc.2:1). Entretanto, como os empreendedores, geralmente, ingressam na incubadora sem conhecimentos gerenciais adquiridos anteriormente, eles informaram que “(...) não tem condições de absorver a 98 capacidade de gestão rapidamente” (E.2:6), o que representa uma barreira à transferência de conhecimento. É importante notar que este não é um problema encontrado apenas na IEBT CENTEV/UFV, pois a falta de capacidade absortiva dos sócios das empresas incubadas, também foi indicada por 64% dos gestores de 105 incubadoras brasileiras, como um dos fatores que mais influenciam o fluxo de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas (Petrin, et al., 2014). Dado a falta de conhecimento prévio dos empreendedores em relação ao conhecimento gerencial, para que a IEBT CENTEV/UFV desenvolva as competências gerenciais e empreendedoras dos sócios das empresas incubadas, são oferecidos diversos serviços e assessorias, tais como: (i) espaço físico na sede da incubadora de acordo com a necessidade do empreendimento; (ii) orientação jurídica, administrativa e contábil; (iii) infraestrutura, como biblioteca, salas de treinamento e de reunião e espaço para confraternização; (iv) cursos, seminários e palestras ministrados mediante convênios e parcerias com instituições públicas e privadas; e (v) assessorias em diversas áreas gerenciais, como jurídica, financeira, administrativa e mercadológica. Além disso, como toda informação é transferida para os empreendedores de acordo com a demanda de suas empresas, eles aprendem e colocam em prática, o que facilita a internalização do conhecimento (Doc.2:3). Dentre os serviços, assessorias e consultorias, que funcionam como mecanismos de transferência de conhecimento, alguns já foram estruturados pela incubadora, porém há outras demandas específicas dos empreendimentos incubados que a IEBT CENTEV/UFV “(...) não tem estrutura e pessoal capacitado para atendê-las, assim, tenta buscar recursos para oferecer via contratação externa” (E.2:1). Além disso, são disponibilizados cursos durante o ano todo e a “(...) incubadora tenta viabilizar a participação em eventos, por meio de parcerias com o SEBRAE” (E.2:1). 99 Conforme já descrito, o apoio fornecido para os empreendedores são divididas em duas etapas, a pré-incubação e a incubação (E.2:2). Na primeira etapa são disponibilizadas consultorias para assessorar a elaboração do plano de negócio, no qual é realizada a modelagem de negócio e a sua estruturação com base na ferramenta de planejamento estratégico CANVAS. Em geral, na pré-incubação o empreendedor só tem uma noção do que é o negócio, o que realmente ele está se propondo a fazer, “(...) porque tem muita ideia que, às vezes, quer abraçar o mundo e não consegue fazer nada”. Então, a incubadora tenta direcionálo por meio do Estudo da Viabilidade Técnica, Econômica e Comercial do Impacto Ambiental e Social (EVTECIAS), de forma que, para estruturarem seus empreendimentos eles colocam em prática os conhecimentos adquiridos junto às assessorias, o que facilita a internalização do que aprendem (E.2:2, Doc.2:5). Quando o plano de negócio é aprovado, a empresa vai para a fase de incubação, na qual o empreendedor aprende como fazer com que sua tecnologia vire um produto de fato e como pode ser comercializada (E.2:2, Doc.2:5), pois “(...) os empreendedores são pessoas técnicas, sabem tudo do produto, mas para fazer com que este produto chegue ao mercado, aí é um problema grande” (E.2:2). Na visão dos empreendedores instalados na IEBT CENTEV/UFV, estes serviços e assessorias fornecidos pela incubadora são importantes para o desenvolvimento do negócio, pois atuam como mecanismos de transferência de conhecimento (E.2:3; E.2:5; E.2:6; E.2:7). Este dado também foi confirmado na pesquisa realiza com 105 incubadoras brasileiras, em que os principais mecanismos utilizados para transferir conhecimento para os empreendedores são as consultorias (89%), reuniões (75%), workshops (71%), conversas informais (71%) e treinamentos (71%). É interessante notar que apenas 36% dos respondentes informaram que o fluxo de conhecimento ocorre por meios codificados, o que inclui planilhas, manuais e documentos (Petrin et. al., 2014). 100 Dentre os empreendedores entrevistados, há um consenso de que a IEBT CENTEV/UFV desenvolve as empresas incubadas ao transferir conhecimento gerencial “(...) por meio de cursos disponibilizados de acordo com a necessidade da empresa” (E.2:3), com a “(...) ajuda na formação empreendedora” (E.2:5) e ao fornecer “(...) assessoria jurídica, contábil, gestão em marketing, gestão administrativa e utilização do espaço físico” (E.2:7), pois eles “(...) não tinham conhecimento de gestão e a incubadora ajudou a desenvolver o plano de negócios da empresa e verificaram se iriam abrir ou não um negócio” (E.2:5). Apenas uma empresa informou que não utiliza o conhecimento gerencial da incubadora, porque os sócios e sua equipe têm muito deste conhecimento, o que eles utilizam é o espaço físico e algumas vezes participam de palestras sobre editais de obtenção de recursos e de alguns cursos (E.2:4). Além de transferir conhecimento para as empresas por meio de treinamento, assessoria, cursos e consultorias, a incubadora também promove a integração entre os empreendedores das empresas incubadas, por meio de reuniões em geral e café empresarial, que atuam como mecanismos de socialização do conhecimento, pois permite a troca de experiências e informações, bem como incentivam as parcerias e a criação de novos negócios (E.2:2; E.2:7; Doc.2:4). É importante destacar que, esse apoio aos empreendimentos incubados é fornecido por profissionais capacitados e todos os cursos oferecidos para os empresários, também, são disponibilizados para a equipe interna da incubadora, o que aumenta o seu potencial para atender as necessidades dos empreendedores: “(...) quando os funcionários ou bolsistas chegam aqui, nos fazemos uma capacitação do que é o CENTEV e de tempos em tempos nos temos capacitações para a equipe interna, mas, normalmente, eles participam de programas que são para as empresas incubadas” (E.2:1). 101 Entretanto, um dos empreendedores informou que apesar do corpo de profissionais da incubadora ser muito bom e dedicado, “(...) faltam pessoas que já tiveram inserção no mercado e retornaram, para trazer conhecimentos práticos para dentro da empresa” (E.2:6), ou seja, os colaboradores da incubadora, geralmente, não possuem experiências anteriores de mercado, o que dificulta a disseminação do conhecimento prático e a identificação e absorção de oportunidades para os empreendedores. Porém, este não é um problema apenas da IEBT CENTEV/UFV, mas também da própria universidade, pois “(...) há poucos professores que vieram da área empresarial, então eles sabem pouco a respeito da realidade da indústria para trazer isso para a incubadora” (E.2:6). Por fim, com o objetivo de melhorar seus processos a IEBT CENTEV/UFV está tentando adequar seus procedimentos ao CERNE. Assim, passou-se a mapear e documentar todos os processos da incubadora e a partir disso, está sendo aprimorado um sistema que será implantado, onde todas as informações, relatórios, Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) e documentos estarão disponíveis via web na intranet, permitindo a transferência desse conhecimento codificado e facilitando a gestão das informações e conhecimentos na incubadora (E.2:1). 4.2.2.2 Conhecimento Tecnológico: características do conhecimento e características organizacionais da fonte e do receptor A IEBT CENTEV/UFV tem o papel de transformar todo o potencial tecnológico que a UFV possui em negócios inovadores de base tecnológica e ajudar no desenvolvimento local, tal objetivo pode ser alcançado por meio do empreendedorismo, que gera emprego e renda (E.2:1). Nestes termos, a incubadora apoia os novos empreendimentos de base tecnológica, principalmente, aqueles em que a tecnologia foi desenvolvida na UFV, “(...) por isso, quando 102 são realizadas ações de sensibilização e prospecção elas são bem focadas na universidade” (E.2:1). Entretanto, como a IEBT é multissetorial, ou seja, apoia empreendimentos de agronegócio, de tecnologia da informação, de biotecnologia, dentre outros, não é possível ter um funcionário na incubadora com potencial para disseminar o conhecimento tecnológico e que consiga atender as necessidades específicas de cada empresa, pois “(...) nos não conseguiríamos conter essa demanda técnica, além disso, nos achamos que este conhecimento é o mínimo que o empreendedor tem que ter para entrar aqui” (E.2:2) e “(...) durante o processo de seleção verifica-se essa competência dos sócios” (E.2:1). Dado que um dos requisitos para a empresa ingressar na incubadora é ter conhecimento tecnológico, há um consenso entre os empreendedores de que eles têm conhecimento prévio, que os permitem identificar novas oportunidades referentes à tecnologia de seu produto e, assim, conseguem adquirir e utilizar novos conhecimentos tecnológicos (E.2:4; E.2:5; E.2:6; E.2:7). Apenas um dos empreendedores informou que por ser formado em educação física, só tinha a ideia, mas não possuía nem conhecimento gerencial para abrir a empresa, nem conhecimento tecnológico para produzir o produto e contou com a ajuda de parceiros que sabiam utilizar a tecnologia necessária para desenvolver sua ideia (E.2:3). Embora a maioria dos empreendedores tenha conhecimento de sua tecnologia, quando necessário, a incubadora faz a mediação dos empreendedores com alguns contatos, como órgãos governamentais e a universidade, para ajudá-los a sanar alguma dificuldade (E.2:1; E.2:2; E.2:6; Doc.2:4). Ou seja, “(...) se o empreendedor precisa de algum conhecimento sobre o produto, a incubadora resolve de duas formas, quando já tem o pessoal que está fornecendo algum curso eles mesmos fazem, porém quando não têm, eles passam para o SEBRAE, para a UFV ou para outros órgãos com a competência” (E.2:3). Desta forma, para atender estas necessidades dos empreendedores, atualmente, a incubadora tem um escritório 103 do SEBRAETEC, “(...) que provavelmente vai contratar um professor da UFV ou tenta viabilizar uma parceria entre um empresário e um departamento da universidade” (E.2:1). A IEBT CENTEV/UFV, também, tem parcerias com a UFV (E.2:1; E.2:2), que possui alto potencial tecnológico, pois conta com professores altamente qualificados, com mais de 400 laboratórios, suporte na área de informática, com sala de servidor web, e-mail e internet (Doc.2:4) e com o Núcleo de Tecnologia e Gestão (NTG) que é formado por alunos da engenharia de produção, que ajudam a oferecer consultorias para as empresas (E.2:1; E.2:2). Assim, “(...) como a incubadora é parte da universidade, ela faz esses links para os empreendedores, em relação à parte técnica” (E.2:6). Além disso, há na incubadora um departamento denominado escritório de ligação, que mapeia todas as tecnologias e linhas de pesquisa em desenvolvimento na universidade. Desta forma, quando chega um empreendedor que necessita de determinada tecnologia, o banco de dados é consultado e o escritório promove esse encontro (E.2:1; E.2:2). É importante destacar que, para permitir a transferência de tecnologia oriunda da universidade e a utilização de sua infraestrutura, a CPPI faz um contrato de compartilhamento de laboratório e negocia as cláusulas referentes à utilização da propriedade intelectual (E.2:2). É desta forma que, “(...) a incubadora faz a ponte entre o mercado e a ciência” (E.2:2). Do ponto de vista dos empreendedores das empresas incubadas entrevistadas, embora a IEBT CENTEV/UFV não tenha profissionais para transferir o conhecimento tecnológico, as necessidades dos empreendedores sempre são supridas de outras formas (E.2:3; E.2:6; E.2:7), pois “(...) se o pessoal da incubadora não sabe alguma coisa e não pode nos auxiliar de alguma forma, eles buscam consultores e informação de fora e nos passam, então sempre que necessário não houve problemas em obter conhecimento tecnológico” (E.2:7). Além disso, geralmente a incubadora recorre à ajuda da UFV e os empreendedores utilizam a 104 infraestrutura da universidade. Desta forma, “(...) a empresa usa o espaço administrativo do CENTEV e o espaço técnico da universidade” (E.2:6). Apenas dois empreendedores informaram que não utilizam os cursos e parcerias disponibilizados pela incubadora para obter conhecimento tecnológico. Um deles justificou que já possui conhecimento e laboratório próprio (E.2:4) e o outro informou que a UFV não trabalha com o tipo de tecnologia que eles utilizam e seu conhecimento foi adquirido por pesquisas próprias (E.2:5). Por fim, é importante destacar que, assim como na transferência de conhecimento gerencial, durante as reuniões e o café empresarial, já citado, como empreendedores das empresas incubadas tornam-se mais próximos, há maior facilidade para tocarem experiências, socializarem o conhecimento tecnológico e até criarem novos projetos e parcerias (E.2:2). 4.2.2.3 Intensidades dos laços no relacionamento entre universidade, incubadora e empresas incubadas A dinâmica da transferência de conhecimento da IEBT CENTEV/UFV para os empreendimentos incubados ocorre tanto por meio de treinamento, assessoria, reuniões e formas de confraternização (E.2:1; E.2:7; Doc.2:4), quanto por redes de contatos da incubadora (E.2:1; E.2:2; E.2:6; Doc.2: 4). Nestes termos, as interações que permitem o fluxo de conhecimento durante o processo de incubação ocorrem entre os seguintes agentes: (i) incubadora e empresa incubada; (ii) universidade e incubadora; (iii) universidade, incubadora e empresa incubada e (iv) entre as empresas incubadas. O relacionamento da IEBT CENTEV/UFV com as empresas incubadas é estabelecido por meio de um contrato, que contém as atribuições de cada agente. Por um lado, a incubadora tem que supervisionar e controlar as atividades das empresas incubadas, reunir-se 105 com os empreendedores de forma periódica para apresentar as informações pertinentes e fornecer suporte gerencial e técnico aos projetos pré-incubados e às empresas associadas ou residentes. Por outro lado, os empreendedores precisam cumprir as exigências do Contrato de Utilização do Sistema Compartilhado, das normas e dos regimentos da IEBT, do CENTEV e da UFV; apresentar semestralmente ou quando solicitado o relatório de atividades desenvolvidas por meio do programa; comunicar a incubadora qualquer intenção de desligamento do programa; participar das reuniões e eventos realizados, dentre outras atribuições (Doc.2:6). Dado que o relacionamento entre a IEBT CENTEV/UFV e as empresas incubadas é mantido como um acordo, regido por um contrato que define os direitos e obrigações (Doc.2:6), há uma ligação entre esses agentes no âmbito legal. Entretanto, também se estabelece uma forte conexão social, pois existe um comprometimento de ambas as partes, ou seja, os empreendedores se comprometem com a incubadora pela necessidade de desenvolver suas empresas (E.2:1; E.2:2) e, a incubadora cumpre suas atribuições por ter definido valores que precisam ser seguidos, tais como: (i) ética, (ii) transparência, (iii) atitudes empreendedoras, (iv) compromisso com a inovação e a qualidade, (v) fortalecimento das parcerias, (vi) humanização das condições de trabalho; e (vii) responsabilidade social e ambiental (Doc.2:6). Os gestores da incubadora informaram que, a interação com os empreendedores ocorre sem apresentar dificuldades e todo o acompanhamento para verificar o desenvolvimento das empresas incubadas é feito por meio de reuniões mensais (E.2:1; E.2:2). “(...) Às vezes a única dificuldade nesse relacionamento está associada ao interesse do empresário, porque nos queremos oferecer tudo e ele não quer nada, mas ai a gente respeita” (E.2:1). Do ponto de vista dos empreendedores das empresas entrevistadas, o relacionamento com a incubadora se baseia na confiança de que a IEBT CENTEV/UFV tem potencial para 106 desenvolver a capacidade gerencial dos sócios e, consequentemente, seu empreendimento (E.2:3; E.2:5). Assim, eles são motivados a participar do processo de incubação devido à estrutura, o valor do aluguel, os cursos oferecidos (E.2:4), o acompanhamento que os gestores da incubadora fazem junto às empresas, a oportunidade de network e a capacitação dentro daquilo que é possível (E.2:5). Além disso, durante a incubação os empreendedores se sentem incentivados (E.2:3; E.2:6), ou seja, o simples estímulo dos gestores da incubadora cobrarem dos empreendimentos (E.2:6), “(...) dá certa autoconfiança, eu sei que não estou sozinho e saber que eu estou no meio de pessoas capacitadas e com formações nas mais diversas áreas é muito importante” (E.2:3). Outro relacionamento estabelecido para desenvolver os empreendimentos e, que se faz necessário quando a incubadora não consegue atender as demandas dos empreendedores por meio de seus funcionários e de sua infraestrutura, é entre IEBT CENTEV/UFV com sua rede de contatos, em que um dos seus relacionamentos mais próximo é com a UFV, pois a incubadora é parte integrante da universidade, que é a sua principal financiadora (E.2:2). É importante destacar que o relacionamento entre UFV e a IEBT, atualmente, não apresenta dificuldades (E.2:1; E.2:2) e já foi bem mais difícil obter apoio da universidade, mas “(...) hoje se a gente fala que é da incubadora do CENTEV está havendo maior receptividade e as portas estão abrindo voluntariamente, talvez seja por causa da divulgação que a gente tem feito” (E.2:1). Assim, por meio desta interação mais receptiva entre essas instituições, o gerente de acompanhamento empresarial da incubadora observa benefícios para ambas às partes (E.2:2). A maior vantagem da incubadora para a universidade é gerar spin-offs acadêmicas com as tecnologias produzidas na UFV, estimular pesquisas que atendam as necessidades do mercado e tentar gerar soluções para problemas da sociedade com as dissertações de mestrado ou teses de doutorado. “(...) Não que a pesquisa básica não seja importante, tem que acontecer 107 também” (E.2:2), mas a preocupação é que “(...) por ano são defendidas 950 teses e dissertações e para onde vai todo esse conhecimento?” (E.2:1). Portanto, a IEBT CENTEV/UFV atua no sentido de conscientização, sensibilização e prospecção, “(...) explicando para aquele pesquisador que sua tecnologia pode ser transferida para uma empresa ou ele pode ser empreendedor” (E.2:2). Por outro lado, o benefício para a incubadora neste relacionamento com a universidade é que a IEBT passa atuar como uma interface entre a UFV e o mercado (Doc.2:2; E.2:1), de modo a facilitar a interação da universidade com as empresas incubadas e possibilitar o acesso dos empreendedores a infraestrutura (exemplo: laboratórios) da universidade e as pesquisas relacionadas ao seu negócio (E.2:1; E.2:2; E.2:6). Além disso, quando um empreendimento inicia suas atividades, “(...) ele ganha um pouco de credibilidade por estar na universidade” (E.2:4). Entretanto, o relacionamento entre as empresas incubadas e a universidade não é tão fácil, pois esses dois agentes, geralmente, apresentam diferenças culturais e como a incubadora está nessa interface, ela tem que lidar com duas realidades distintas. Ou seja, a UFV trabalha em um ritmo mais lento que o mercado, “(...) a questão burocrática é muito mais lenta, a gente tem que lidar aqui com empresas que querem sempre para ontem, então isso é uma dificuldade muito grande” (E.2:2). Assim, há muito que fazer para minimizar essas diferenças culturais, pois com a implantação da incubadora não houve mudanças significativas na comunidade acadêmica e “(...) a questão cultural está mudando a passos lentos” (E.2:2). Desta forma, para que o relacionamento entre a UFV, a incubadora e os empreendimentos seja mais próximo e possibilite intensificar o processo de inserção das pesquisas no mercado, é necessário melhorar alguns aspectos, como exemplo, incentivar a cultura empreendedora na universidade (E.2:1; E.2:6), porque, conforme os entrevistados 108 formados em administração na UFV, eles não tiveram nenhuma disciplina de empreendedorismo (E.2:1) e faltam profissionais, tanto na incubadora quanto na universidade, que tenham uma vivência empresarial: “(...) tem muitos professores e bolsistas aqui, com um conhecimento muito grande da área técnica e gerencial, mas não de forma prática” (E.6). Na tentativa de melhorar a interação entre da UFV e as empresas incubadas, uma das ações da incubadora é fazer com que a comunidade acadêmica participe do programa de préincubação e incubação, o que aumenta a visibilidade do CENTEV (E.2:1; E.2:2). Assim, os professores são convidados a fornecer consultorias, ministrar cursos, serem pareceristas técnicos do processo de seleção das empresas (E.2:1) e alguns são sócios dos empreendimentos incubados, mas atuam apenas como consultores, pois não podem intervir diretamente como funcionários devido o problema da dedicação exclusiva (E.2:2). Além disso, os mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos desenvolvem projetos de negócio ou auxiliam nos serviços prestados aos alunos, que, geralmente, participam dos cursos abertos à comunidade (E.2:1; E.2:2). Durante a incubação, outro relacionamento que favorece o fluxo de informações e conhecimento é a interação entre os próprios empreendedores, o que é incentivado pela incubadora com a promoção de reuniões para tratar de assuntos gerais, para apresentar uma empresa que está ingressando no processo de incubação e passar informações daqueles que já estão na incubadora (E.2:2; E.2:7; Doc.2:4). Além disso, são promovidas formas de confraternização, como o café empresarial que reúne apenas os empreendedores da incubadora (E.2:1) e o CENTEV Sinergia, que tem como objetivo a interação de todas as empresas da incubadora com os empreendimentos instalados no parque tecnológico, para que se conheçam e compartilhem conhecimento (E.2:2). Estes meios de integração entre os empreendedores “(...) são momentos para discussão e para troca de experiência, em que nos levamos temas e eles discutem, às vezes sai até negócio, é muito interessante” (E.2:1). 109 Por fim, é importante destacar que além de promover um bom relacionamento entre as empresas incubadas como forma de incentivar a transferência de conhecimento, é necessário considerar que em muitos casos o empreendimento não se desenvolve de forma desejável, dada a dificuldade no convívio entre os sócios, como intrigas, divergências de opiniões, dentre outros (E.2:1; E.2:2). “(...) A gente teve três empresas, só no ano passado, que fecharam, pois estavam incubadas e no meio do processo deu problema na sociedade” (E.2:1), assim é necessário que os sócios tenham maturidade e saibam administrar a relação interna entre eles (E.2:1; E.2:2). Ao descrever a dinâmica da transferência de conhecimento da IEBT CENTEV/UFV para as empresas incubadas e as interações que envolvem esse processo, como no caso da RAIAR, elaborou-se a Tabela 12, que relaciona as evidências obtidas sobre o fluxo de conhecimento entre universidade, incubadora e empresas incubadas e os fatores que influenciam este processo. Tabela 12 Síntese das Evidências dos Fatores que Influenciam a Transferência de Conhecimento Itens Fatores Características do Conhecimento Conhecimento Explícito Conhecimento Tácito Conhecimento Gerencial Conhecimento Tecnológico - Conhecimento gerencial, procedimentos da incubadora e informações são documentados e disponibilizados para funcionários e empreendedores da incubadora. - Conhecimento tecnológico da universidade (linhas de pesquisa em desenvolvimento) é mapeado e disponibilizado. - Conhecimento de gestão para elaboração do plano de negócio: com base nas assessorias consultorias, os empreendedores das empresas incubadas estruturam o seu negócio; -Conhecimentos gerenciais, como administrativos e financeiros: os empreendedores das empresas incubadas aprendem por meio de cursos, seminários, palestras e assessorias e colocam em prática; - Conhecimento gerencial referente às experiências dos empreendedores das empresas incubadas: por meio de reuniões e café empresarial há o compartilhamento de experiências. - Conhecimento tecnológico referente à tecnologia dos produtos das empresas incubadas: os empreendedores adquirem conhecimento por meio de consultorias e cursos fornecidos pelo SEBRAETEC; professores da UFV e pelo Núcleo de Tecnologia e Gestão (NTG) e colocam em prática as informações obtidas no desenvolvimento de seus produtos; -Conhecimentos referentes à tecnologia dos empreendimentos incubados: há a troca de informações e experiências entre os empreendedores das empresas incubadas durante as reuniões e o café empresarial. Intensidade dos laços entre Universidade, Incubadora e Empresas Incubadas Características organizacionais da Universidade, Incubadora e Empresas Incubadas 110 - A incubadora não tem infraestrutura e profissionais para atender diretamente as necessidades tecnológicas dos empreendimentos. Capacidade Disseminativa da Incubadora - Os colaboradores da incubadora são dedicados; -Os colaboradores da incubadora possuem capacidade em relação ao conhecimento gerencial; -Faltam profissionais na incubadora com experiências de mercado; -A motivação em transferir conhecimento já é inerente ao objetivo da incubadora. Capacidade Disseminativa da Universidade -Os professores da UFV são muito acadêmicos e com pouca ou nenhuma experiência real de mercado; - São desenvolvidas ações para incentivar a transferência de conhecimento; - São desenvolvidas ações pelo CENTEV para incentivar a transferência de conhecimento da universidade. - A UFV tem um grande potencial e é uma fonte de tecnologias; - A UFV possui mais de 400 laboratórios, suporte na área de informática, com sala de servidor web, e-mail, internet e de manutenção de equipamentos. - São desenvolvidas ações para incentivar a transferência de conhecimento tecnológico. - Os colaboradores da incubadora não tem conhecimento tecnológico. Capacidade Absortiva da Incubadora -Os colaboradores da incubadora são capacitados em relação ao conhecimento gerencial; - Os colaboradores da incubadora participam de curso para se capacitarem; -Os colaboradores da incubadora, geralmente, não tem experiência no mercado. Capacidade Absortiva das Empresas Incubadas -Os empreendedores das empresas incubadas têm pouco ou nenhum conhecimento gerencial; -Os empreendedores das empresas incubadas, geralmente, não sabe transformar sua ideia em uma empresa; - Os empreendedores das empresas incubadas veem a incubadora com potencial para desenvolve suas empresas, o que incentiva aquisição do conhecimento. -O requisito para ingressar na incubadora é ter conhecimento tecnológico sobre o produto; - O incentivo para a aquisição do conhecimento é a facilidade de acesso à UFV, que tem alto potencial tecnológico. - O relacionamento da incubadora com as empresas incubadas é mantido por contratos e por forte conexão social; - O relacionamento entre a incubadora e a universidade já é mais próximo; - A incubadora faz parte da UFV; -Ações de integração entre as empresas incubadas para trocar experiências e conhecimento gerencial. - A incubadora tem uma interação direta com a UFV para possibilitar a transferência de conhecimento tecnológico; - A transferência de tecnologia da UFV para os empreendimentos incubados é respaldada por contratos controlados pela CPPI; -O escritório do SEBRAETEC na incubadora possibilita o apoio tecnológico; - Ações de integração entre as empresas incubadas para trocarem experiências e conhecimento gerencial. Laços Fortes 111 Laços Fracos -Diferenças culturais entre os empreendimentos e a universidade; - É necessário incentivar a cultura empreendedora na universidade; -Desentendimentos entre os sócios da empresa incubada. - As empresas incubadas adquirem conhecimento tecnológico por meio da intermediação da incubadora com a UFV e o SEBRATEC; -Diferenças culturais entre a empresa e a universidade. Nota. Fonte: Elaborado pela autora 4.3 Análise comparativa entre os casos 4.3.1 Fatores críticos à transferência de conhecimento da IEBT RAIAR e da IEBT CENTEV/UFV para as empresas incubadas A descrição dos casos das IEBTs RAIAR e CENTEV/UFV permite observar que o desenvolvimento dos empreendimentos durante o período de pré-incubação e incubação consiste tanto na transferência de conhecimento gerencial - o que ocorre por meio do relacionamento direto estabelecido entre as incubadoras e as empresas incubadas - quanto na transferência de conhecimento tecnológico - o qual flui pela interação entre os empreendedores e a rede de contatos da incubadora composta, principalmente, pela universidade. Entretanto, como o fluxo de conhecimento em ambos os casos envolve organizações com diferentes objetivos, motivações, competências e culturas, esse processo perpassa um ambiente multidimensional, ou seja, ocorre em contextos organizacionais e relacionais distintos com implicações diversas para a transferência de conhecimento, o que, consequentemente, afeta a eficácia na capacitação das empresas incubadas. Desta forma, nesta seção faz-se uma análise comparativa entre os casos de modo a verificar como determinados fatores influenciam à dinâmica da transferência de conhecimento que ocorre durante a incubação dos empreendimentos nas IEBTs estudadas. Os fatores identificados como críticos em ambos os casos foram: (i) capacidade disseminativa da fonte 112 (incubadora e universidade); (ii) capacidade absortiva do receptor (incubadora e empresas incubadas); e (iii) intensidade do relacionamento entre a fonte (universidade e incubadora) e a receptora (incubadora e empresas incubadas). Além disso, a natureza do conhecimento transferido, também, influencia o fluxo de conhecimento durante a incubação, mas aparece dependente dos outros fatores, como é explicado no decorrer desta análise. A capacidade disseminativa foi identificada em ambos os casos a partir de dois requisitos: (i) se a incubadora e a universidade enquanto fontes de conhecimento têm expertise e potencial para transferir conhecimento para as empresas incubadas; e (ii) se estas fontes estão motivadas para disseminar seu conhecimento (Minbaeva, 2007). Com base nesses requisitos, é possível afirmar que as IEBTs estudadas apresentam alta capacidade disseminativa do conhecimento gerencial, dado a existência de funcionários qualificados que se atualizam frequentemente por meio de cursos e palestras fornecidos pelas incubadoras em parceria com órgãos de fomento e, têm motivação para assessorar e apoiar os empreendedores, posto que, como o propósito e a missão da incubadora é desenvolver os empreendimentos incubados, os funcionários se envolvem fortemente no processo de incubação e se dedicam para atender esse objetivo. Além disso, quando surge uma demanda referente ao conhecimento gerencial que não é possível atender diretamente, as incubadoras contam com o apoio de outros agentes externos qualificados, como o SEBRAE e/ou professores das universidades, para transferir o conhecimento. Entretanto, em relação às demandas associadas ao conhecimento tecnológico, pode-se inferir que, as incubadoras não apresentam estrutura e competências internas para disseminar esse conhecimento, pois atendem empreendimentos de diversas áreas tecnológicas e consideram que esta é uma obrigação dos empreendedores, muito embora, as IEBTs não deixem as empresas incubadas sem suporte e as colocam em contato com as universidades e alguns órgãos de apoio. 113 Por outro lado, as instituições de ensino e pesquisa (PUCRS e UFV), ligadas as IEBTs, RAIAR e CENTEV, têm alta capacidade disseminativa tanto referente ao conhecimento gerencial quanto tecnológico, uma vez que, trabalham em diversas áreas e sabem como transmiti-lo, pois possuem profissionais qualificados e que atuam na docência, ou seja, eles têm habilidade para disseminar o conhecimento de forma mais didática. Além disso, as incubadoras, juntamente com os gestores das instituições de ensino, também desenvolvem ações para incentivar a troca de conhecimento entre a comunidade acadêmica e as empresas incubadas. Exemplos desses incentivos é o fato da PUCRS, como apoio a RAIAR, ter implantado a disciplina de empreendedorismo em todos os cursos oferecidos pela universidade, o que tem motivado os alunos a participar da incubadora; e o caso do CENTEV, que passou a realizar campanhas de divulgação na UFV tornando a IEBT mais reconhecida. Além de analisar as características organizacionais das incubadoras e das universidades como indicadores da capacidade disseminativa, também deve-se considerar os mecanismos utilizados por essas fontes para transferir conhecimento às empresas incubadas, pois para que o conhecimento gerencial e tecnológico seja disseminado de forma eficaz, também é necessário que a transferência ocorra por meios adequados, que permitam o fluxo de conhecimento de natureza explícita e tácita. Desta forma, observa-se que para transferir conhecimento gerencial para as empresas incubadas, as IEBTs estudadas utilizam mecanismos de disseminação semelhantes, tais como: (i) manuais e documentos são utilizados para informar os empreendedores sobre os procedimentos da incubadora, o planejamento de desenvolvimento do negócio, informações gerenciais dos empreendimentos e algumas orientações, estes mecanismos permitem o fluxo do conhecimento em sua natureza explícita; (ii) consultorias, assessorias, cursos, workshops e palestras, possibilitam o fluxo de conhecimento gerencial, em relação ao conhecimento administrativo, de marketing, jurídico e financeiro, bem como noções referentes à elaboração 114 do plano de negócios; e (iii) reuniões e formas de confraternização (exemplo: café empresarial), promovem a integração entre as empresas incubadas, o que incentiva a troca de informações, experiências e habilidades e, consequentemente, permite o fluxo de conhecimento tácito. Além desses mecanismos, observa-se nos dois casos que a aquisição e criação do conhecimento gerencial, também ocorrem por meio do “aprender fazendo” (Nonaka, 1994), pois durante o desenvolvimento dos empreendimentos incubados, os empreendedores utilizam os conhecimentos adquiridos para solucionar os problemas de seus negócios, além disso, as IEBTs permitem que os empreendedores aprendam com os próprios erros e com as experiências dos outros. Nestes termos, por meio das experiências, os empreendedores internalizam o conhecimento gerencial transferido das incubadoras para as empresas incubadas, o que representa uma forma de criação do conhecimento tácito. Em relação à transferência de conhecimento tecnológico durante a incubação das empresas, foram identificados em ambos os casos os seguintes mecanismos de disseminação: (i) mapeamento das pesquisas desenvolvidas pelas universidades, o que facilita o acesso dos empreendedores das empresas incubadas ao conhecimento científico-tecnológico; (ii) cursos e assessorias fornecidos pelos professores das universidades, que permitem atender algumas necessidades dos empreendedores em relação a este conhecimento; e (iii) reuniões e as formas confraternizações, o que incentiva a troca de experiências tecnológicas entre os empreendedores das empresas incubadas, de modo que eles passam a ajudar uns aos outros a solucionarem problemas e/ou criarem novos projetos, possibilitando, assim, o fluxo do conhecimento de natureza mais tácita. Além desses mecanismos, assim como no caso da disseminação do conhecimento gerencial, destaca-se que, o conhecimento tecnológico transferido durante a incubação, também é internalizado pelas empresas incubadas, uma vez que os empreendedores utilizam o 115 conhecimento adquirido para aperfeiçoar suas tecnologias e desenvolver seus produtos. Nestes termos, por meio da experiência os empreendedores dos empreendimentos incubados criam um conhecimento tácito. Por fim, ao destacar os mecanismos utilizados durante a incubação das empresas para disseminar o conhecimento gerencial e tecnológico, é possível inferir que os serviços fornecidos por ambas as IEBTs facilitam o fluxo de conhecimento, principalmente, de natureza tácita, posto que os empreendedores aprendem muito com as situações que ocorrem durante o processo de desenvolvimento de seus empreendimentos e com as experiências das outras empresas incubadas. O segundo fator crítico na transferência de conhecimento é a capacidade absortiva tanto das incubadoras - que para atender as demandas dos empreendedores de forma eficaz, em alguns momentos, também, atuam como receptoras na aquisição de novos conhecimentos quanto das empresas incubadas que precisam de habilidades para assimilar, transformar e utilizar o conhecimento adquirido. A CA depende de diversos elementos, mas para identificá-la nos casos descritos foram utilizadas as características apresentadas na literatura desta pesquisa, tais como: (i) o potencial do receptor em relação ao nível de experiência e conhecimento prévio (Cohen & Levithal, 1990); (ii) a sua motivação em absorver novos conhecimentos (Minbaeva, 2007); e (iii) os meios utilizados para se capacitarem (Vega-Jurado et al., 2008). Nestes termos, observa-se que, nos casos analisados, as incubadoras possuem profissionais com alta CA referente ao conhecimento gerencial, pois são graduados na área em que atuam e quando necessário participam de cursos, palestras e workshops promovidos em parceira com o SEBRAE e a universidade. Assim, os colaboradores conseguem tanto adquirir e assimilar o conhecimento (capacidade potencial), quanto transformá-lo e explorá-lo (capacidade realizada), de forma a atender as necessidades dos empreendedores. 116 Embora em ambos os casos os profissionais das incubadoras sejam qualificados, diferente da IEBT RAIAR em que seus colaboradores possuem experiências em outras organizações, a maioria dos funcionários da IEBT CENTEV/UFV possui muito conhecimento gerencial adquirido na academia, mas não têm experiência em outras organizações fora da incubadora e da universidade. Esta situação representa um fato negativo para a CA desta IEBT, pois foi apontada nos relatos dos empreendedores como uma barreira para a identificação de novas oportunidades. Desta forma, é possível inferir que neste caso é mais difícil transferir o conhecimento tácito, o qual está atrelado às experiências do indivíduo (Becerra et al., 2008; Anand et al. 2010). É importante destacar que este não é um problema apenas da IEBT CENTEV/UFV, mas também afeta a UFV, que tem muitos professores da área acadêmica e poucos com atuação no mercado. Além disso, as incubadoras estudadas não apresentaram capacidade absortiva em relação ao conhecimento tecnológico, porém, este fato não foi apontado como uma dificuldade para o desenvolvimento das empresas incubadas, uma vez que, as demandas associadas a este conhecimento são atendidas por meio da rede de contatos. Em relação à CA das empresas incubadas, observa-se que os sócios destes empreendimentos, geralmente, têm pouco ou nenhum conhecimento gerencial quando ingressam no processo de incubação, o que dificulta a aquisição, assimilação, transformação e utilização deste conhecimento, principalmente, o de natureza tácita por ser difícil de codificálo e transferi-lo. Por outro lado, como um dos requisitos para as empresas ingressarem no processo de incubação é que os empreendedores conheçam bem a tecnologia que produzem, pode-se inferir que eles têm alta capacidade absortiva associada ao conhecimento tecnológico, o que facilita a identificação e assimilação de novas oportunidades. 117 Por fim, é possível observar que a CA também é influenciada pela motivação do receptor em adquirir conhecimento, pois nos casos analisados quando as empresas incubadas se inserem no processo de pré-incubação ou incubação, os empreendedores estão altamente motivados, o que aumenta o interesse na aquisição de conhecimento junto à incubadora, facilitando sua absorção e utilização. Esta disposição e vontade em obter conhecimento, se deve ao fato dos sócios das empresas incubadas considerarem a RAIAR e a IEBT CENTEV/UFV como o melhor ambiente para se desenvolverem, como fontes de conhecimento gerencial para ajudá-los a transformar suas ideias inovadoras em um negócio de sucesso e como agentes capazes de facilitar o contato com as universidades e outras empresas de alta tecnologia. Além da capacidade disseminativa e da capacidade absortiva, verifica-se que, nos dois casos, a intensidade dos laços interorganizacionais entre universidade, incubadora e empresas incubadas, também, é um fator que influencia a transferência de conhecimento. Assim, a partir da descrição dos dados, fez-se a classificação das interações entre os agentes como conexões fortes ou fracas, o que se baseou em duas características principais: (i) proximidade cultural; e (ii) qualidade no relacionamento (Granovetter, 1973; Argote et al., 2003; Jasimuddin, 2007). Desta forma, observa-se que o relacionamento entre as incubadoras e as empresas incubadas é estabelecido por laços fortes, o que facilita a transferência de conhecimento tácito. Esta afirmação é confirmada pelos seguintes aspectos: (i) intensa interação entre as incubadoras e os empreendedores; (ii) relacionamento mantido por meio de contratos de direitos e obrigações, o que gera maior confiança entre as partes e, consequentemente, maior qualidade no relacionamento; (iii) forte conexão legal (relacionamento estabelecido por meio de contrato) e social; e (iv) compatibilidade entre os objetivos da fonte e da receptora, o que aumenta a proximidade cultural entre as incubadoras e as empresas incubadas. 118 Dado que há uma forte conexão entre as incubadoras e as empresas incubadas e que estas organizações de apoio ao empreendedorismo apresentaram alta capacidade disseminativa do conhecimento gerencial, como analisado anteriormente, verifica-se maior facilidade no fluxo deste conhecimento para os empreendedores, inclusive o de natureza tácita, pois a força dos laços nas interações tem implicações diretas nas características do conhecimento. Ou seja, quanto mais forte é a relação, maior a facilidade em transferir conhecimento tácito. Além disso, em determinados momentos as incubadoras precisam interagir com as universidades, a fim de adquirir conhecimentos adicionais e intermediar o relacionamento das empresas com a instituição de ensino e pesquisa. Todavia, para que este relacionamento seja mais forte, embora as IEBTs RAIAR e CENTEV façam parte das universidades (PUCRS e UFV), elas precisam desenvolver ações para adequar o contexto de mercado dos empreendimentos com o contexto acadêmico e fazer com que as instituições de ensino participem mais do processo de incubação. Desta forma, por meio dos incentivos e divulgação, atualmente, a PUCRS e a UFV aceitam melhor as incubadoras, o que facilita a aquisição de conhecimento e o apoio entre as partes. Entretanto, é importante destacar que ao comparar os casos estudados, observa-se que a PUCRS apresenta características e desenvolve ações em parceria com a IEBT RAIAR, que permitem inferir que esta incubadora se encontra em um ambiente com maiores incentivos ao empreendedorismo do que a IEBT CENTEV. Esta afirmação se baseia no fato de os entrevistados enfatizarem que a IEBT RAIAR faz parte da cadeia de empreendedorismo da PUCRS, o que mostra a visão empreendedora da universidade, além disso, algumas ações como a implantação de disciplinas de empreendedorismo em todos os cursos representam importantes incentivos para o desenvolvimento dessa cultura empreendedora. Já no caso da UFV, verificam-se poucas ações que incentivam o empreendedorismo na comunidade 119 acadêmica, exemplo disso, é a falta de disciplinas voltadas para essa temática, inclusive, segundo entrevistados formados em administração pela instituição, nas áreas gerenciais. É provável que a cultura mais empreendedora da PUCRS em comparação com a UFV, se justifique na origem de cada instituição. Ou seja, por um lado a PUCRS iniciou suas atividades, justamente, com a criação dos cursos de Administração e Finanças, por outro lado, embora a UFV tenha cursos nas áreas gerenciais, ela se classifica como uma instituição de ensino tradicional e mais desenvolvida na área de Ciências Agrárias, o que não representa uma barreira ao empreendedorismo, mas destaca a necessidade de ações mais incisivas em relação ao desenvolvimento da cultura empreendedora. Após verificar as características que envolvem o relacionamento entre as IEBTs e as instituições de ensino e pesquisa, é necessário analisar uma terceira interação, ou seja, o relacionamento entre as universidades e os empreendimentos incubados. Porém, infere-se que em ambos os casos, algumas características, como as diferenças culturais (contexto de mercado versus contexto acadêmico, trabalhar em logo prazo versus trabalhar em curto prazo, dentre outras), a necessidade de mediação das incubadoras para que haja este relacionamento e pouca interação entre as universidades e os empreendimentos incubados, fazem com que os laços entre esses atores (universidade e empresas incubadas) sejam fracos. Logo, há maior dificuldade em cumprir um dos principais motivos dessa interação, ou seja, promover a transferência de conhecimento tecnológico de natureza tácita para as empresas incubadas. Assim, embora o processo de compartilhamento de tecnologia e propriedade intelectual entre universidade e empresas incubadas seja regulamentado por contratos elaborados pelo CPPI/ETT, o que contribui para aumentar a confiança entre esses atores, é importante ressaltar que estes acordos não são suficientes para que haja a transferência de conhecimento tácito, pois dado alguns fatos que caracterizam as diferenças culturais, o que está associado, principalmente, com as finalidades, interesses, formas de gestão e valores de cada organização 120 (exemplo disso é o fato de que ainda há membros da comunidade acadêmica que consideram que o objetivo da universidade é apenas ensinar e, por isso não consideram necessário atender as necessidades do mercado e incentivar o empreendedorismo), infere-se que haja receio em compartilhar a tecnologia. Além dessas interações, verifica-se que durante o processo de incubação, as IEBTs incentivam o relacionamento entre os empreendedores por meio de reuniões e formas de confraternizações. Embora no caso da RAIAR o gestor tenha afirmado que esta interação é difícil pelo fato de os sócios das empresas incubadas se veem como concorrentes, há um consenso entre os membros dos empreendimentos incubados entrevistados e os gestores da IEBT CENTEV/UFV de que o relacionamento entre as empresas incubadas é de ajuda mútua e que nesta interação surgem parcerias. Desta forma, como esta relação ocorre entre empresas que estão em um mesmo ambiente e apresentam objetivos (se desenvolverem e se inserirem no mercado) e culturas organizacionais semelhantes (são inovadoras e de base tecnológica), pode-se inferir que há uma maior intensidade nos laços estabelecidos por estes agentes durante a incubação, o que facilita a troca de experiências e, consequentemente, permite o fluxo de conhecimento de maior conteúdo e valor. A partir da identificação dos fatores críticos - capacidade disseminativa, capacidade absortiva e intensidade dos laços - à transferência de conhecimento durante a interação universidade, incubadora e empresas incubada, é possível fazer uma análise holística do processo de forma a verificar, com embasamento em determinados elementos encontrados, como ocorre o fluxo de conhecimento explícito e/ou tácito. Nestes termos, observa-se que há fortes evidências de que o conhecimento gerencial tácito é mais facilmente transferido das incubadoras para as empresas incubadas. Esta afirmação se deve aos seguintes dados: (i) embora uma das incubadoras não tenha profissionais com experiências no mercado, estas organizações, que ora atuam como fonte 121 para as empresas incubadas e ora como receptora de novos conhecimentos gerenciais apresentaram alta capacidade disseminativa e absortiva deste conhecimento; (ii) os empreendedores têm baixa capacidade absortiva do conhecimento gerencial, mas têm motivação em aprender e a incubadora utiliza mecanismos que facilitam o processo de transferência de conhecimento e de aprendizagem; e, por fim, (iii) os laços entre as incubadoras e os empreendedores são fortes, o que torna mais fácil a transferência de conhecimento tácito. É importante destacar que, embora a transferência de conhecimento gerencial ocorra por meio da interação direta das incubadoras com as empresas incubadas, em algumas situações também é necessário recorrer ao auxílio das universidades, mas como o relacionamento universidade-empresas incubadas ocorre por laços fracos e os empreendedores tem baixa CA em relação ao conhecimento gerencial, infere-se que quando esse conhecimento é transferido para as empresas incubadas por meio das redes de contatos é provável que ele seja mais codificado. Em relação ao fluxo de conhecimento tecnológico, observa-se que, embora a fonte (universidades) tenha alto potencial para transferir o conhecimento e o receptor (empreendedores de empresas incubadas) tenha alta capacidade de absorção, os laços entre esses agentes são mais fracos, portanto, oferecem maior dificuldade na transferência de conhecimento tácito. Ou seja, as universidades têm capacidade disseminava, mas podem não ter tanta confiança para disponibilizar a sua pesquisa e tecnologia, assim, o conhecimento transferido pode ser o de menor conteúdo e valor. Entretanto, o conhecimento tecnológico também é transferido por meio da interação entre as empresas incubadas e, como neste caso, os empreendedores possuem elevado conhecimento referente à sua tecnologia e durante a incubação eles estabelecem laços fortes 122 uns com os outros, por meio desta interação ocorre o compartilhamento de conhecimento tecnológico de natureza mais tácita. Baseando-se nas características organizacionais das incubadoras, das empresas incubadas e das universidades estudadas e, na intensidade dos laços entre esses agentes, elaborou-se a Tabela 13, que apresenta como os fatores analisados influenciam na transferência conhecimento. Ressalta-se que, não está representada na Tabela 13 a interação entre universidade e incubadora, porque o principal objetivo deste relacionamento é promover interações entre as universidades e as empresas incubadas, além disso, o foco é identificar como ocorre a transferência de conhecimento para os empreendedores e qual a natureza do conhecimento transferido. Tabela 13 Fatores Críticos à Transferência de Conhecimento Interações Intensidade dos Laços -Alta Capacidade Disseminativa Incubadora (Fonte) e Universidade (Fonte) e Alta transferência de conhecimento gerencial tácito. -Baixa Capacidade Absortiva - Laços Fortes -Alta Capacidade Absortiva -Baixa Capacidade Absortiva -Alta Capacidade Absortiva -Alta Capacidade Disseminativa -Alta Capacidade Disseminativa -Baixa Capacidade Absortiva -Alta Capacidade Absortiva - Laços Fracos Empresas Incubadas (Receptora) Nota. Fonte: Elaborado pela autora Tipo e Natureza do Conhecimento Transferido -Baixa Capacidade Disseminativa - Laços Fortes Empresas Incubadas (Receptora) Entre Empresas Incubadas Tipo de Conhecimento Conhecimento Conhecimento Gerencial Tecnológico Alta transferência de conhecimento tecnológico tácito, desde que as empresas incubadas sejam da mesma especialidade. Baixa transferência de conhecimento gerencial e tecnológico tácito. 123 4.3.2 Modelo da Pesquisa Tomando por base os resultados obtidos na análise comparativa dos casos, o framework elaborado anteriormente, que orientou a pesquisa, foi revisado e elaborou-se o modelo ilustrado na Figura 7, que representa a dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas com a adição de outros elementos descobertos. Figura 7. Dinâmica da Transferência de Conhecimento das Incubadoras para as Empresas Incubadas Fonte: Elaborado pela autora Ao observar o modelo da Figura 7, verifica-se que conforme o framework anterior à incubadora realmente atua na transferência de conhecimento gerencial para as empresas incubadas, o que é possível devido a sua alta capacidade em adquirir, absorver, transformar e utilizar esse conhecimento, ou seja, a sua CA, bem como sua capacidade em disseminá-lo. 124 Além disso, como a incubadora tem laços fortes com as empresas, o conhecimento gerencial de natureza tácita flui mais facilmente. A incubadora, também, atua como um agente mediador nas relações da universidade com os empreendimentos, mas um fato novo e muito citado nos dois casos é que as IEBTs precisam adequar dois contextos culturais diferentes: (i) o contexto acadêmico, em que, geralmente, a universidade ainda tem a visão de que sua função é apenas formar recursos humanos, bem como o fato das pesquisas precisarem de prazos mais longos; e (ii) o contexto de mercado, cujas empresas precisam superar a competitividade e atuar em curto prazo. Já a universidade apresenta alta capacidade disseminativa em relação ao seu potencial em codificar, articular, comunicar e ensinar, mas no que tange a sua motivação em transferir conhecimento é necessário que sejam realizadas ações que a incentive interagir com as empresas incubadas, até que se desenvolva na instituição de ensino e pesquisa uma cultura de empreendedorismo. Ainda no que se refere à interação entre a universidade e as empresas incubadas, conforme o modelo, este relacionamento ocorre por meio de alguns agentes, tais como: (i) os professores e pesquisadores, que fornecem tanto conhecimento gerencial quanto tecnológico; (ii) alguns órgãos da universidade, como o CPPI/ETT, que intermedia a transferência de tecnologia; e (iii) alguns órgão de fomento como o SEBRATEC que convida professores para ministrar cursos, palestras e ajudar os empreendimentos em suas necessidades tecnológicas. Além disso, dado as características do relacionamento entre universidade e empresas incubadas, identificadas na análise dos dados, a conexão entre esses agentes é estabelecida por laços fracos, o que permite a aquisição de informações inovadoras, mas observa-se dificuldade em transferir conhecimento tácito. Em relação às empresas incubadas, o modelo revela que elas apresentam inicialmente baixa capacidade absortiva referente ao conhecimento gerencial, o que dificulta aquisição 125 desse conhecimento, mas isso é superado pelos mecanismos utilizados pela incubadora para transferir o conhecimento e a motivação dos empreendedores em aprender. Por outro lado, observa-se alto potencial de aquisição, transformação e utilização do conhecimento tecnológico, mas dificilmente é transferido o conhecimento tecnológico tácito, dado os laços fracos entre universidade e empresas incubadas. Outra interação ilustrada no modelo é a relação entre as próprias empresas incubadas, que é incentivada pela incubadora. Desta forma, devido algumas características, como proximidade cultural e qualidade no relacionamento, identificou-se esta interação como de laços fortes, o que permite a transferência de conhecimento tácito. Por fim, observa-se no modelo que por meio dessa dinâmica da transferência de conhecimento, as empresas se graduam e se inserem de forma competitiva no mercado. Além disso, como vantagem deste processo para a universidade, as pesquisas passam a atender as necessidades do mercado e surgem novas ideias que podem se tornar empreendimentos inovadores. 126 5 Conclusão 5.1 Principais resultados da pesquisa A partir da perspectiva teórica sobre a transferência de conhecimento entre organizações como base para compreender o fluxo de conhecimento durante a incubação dos empreendimentos nascentes, esta pesquisa buscou descrever e analisar as barreiras e os indutores da transferência de conhecimento das incubadoras de base tecnológica para as empresas incubadas, bem como compreender as atribuições das universidades no processo de disseminação do conhecimento tecnológico e científico para os empreendedores. Entretanto, para que esta pesquisa atingisse o seu propósito foi necessário definir e cumprir três objetivos específicos. Em relação ao primeiro objetivo - descrever e analisar a dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas - os achados revelam que o processo de transferência de conhecimento durante a incubação ocorre de duas formas. Ou seja, o conhecimento gerencial é fornecido para os empreendedores pelas incubadoras por meio de suas assessorias, serviços e, quando necessário, contam com as parcerias estabelecidas com os professores das universidades e órgãos de fomento. Por outro lado, como as IEBTs não têm funcionários e estrutura para fornecer o conhecimento tecnológico, este é transferido pelas redes de contatos, que é composta, principalmente, pelas instituições de ensino e pesquisa. Após descrever e analisar como ocorre o fluxo de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas e ao utilizar as pesquisas sobre a transferência de conhecimento interorganizacional (ver exemplo, Szulanski, 1996, 2000; Cummings & Teng, 2003; Minbaeva & Michailova, 2004; Easterby-Smith et al., 2008; Vega-Jurado et al., 2008; Tang, 2011), contatou-se que esse processo envolve fatores críticos, o que permitiu atingir o 127 segundo objetivo específico, ou seja, possibilitou descrever e analisar os principais indutores e barreiras na transferência de conhecimento durante a incubação das empresas. Tais fatores analisados foram: (i) capacidade disseminativa da fonte (universidade e incubadora); (ii) capacidade absortiva do receptor (incubadora e empresas incubadas); (iii) intensidade dos laços entre fonte e receptor; e (iv) a característica do conhecimento (tácito e explícito), que dependem da forma como os outros fatores estão atuando. Com base nesses fatores, primeiramente observou-se que em um ambiente de incubação as incubadoras atuam tanto como fonte de conhecimento quanto como receptora, pois para atender os empreendedores adequadamente precisam se capacitar constantemente e adquirir novos conhecimentos, assim, é necessário que estas instituições tenham tanto capacidade disseminativa quanto capacidade absortiva. A CA das IEBTs foi identificada como fator importante para que estas organizações reconheçam, assimilem, utilizem novos conhecimentos e, deste modo, possuam potencial para disseminá-lo, bem como para reconhecer novas oportunidades para os empreendedores das empresas incubadas. Entretanto, embora as incubadoras estudadas sejam de base tecnológica, os serviços fornecidos durante a incubação têm como foco desenvolver as competências gerenciais dos empreendedores. Desta forma, a alta capacidade disseminativa e absortiva das IEBTs atuam como indutores do processo de transferência de conhecimento gerencial para as empresas incubadas. O fato de os serviços fornecidos pelas IEBTs serem utilizados para transferir, principalmente, o conhecimento gerencial, se justifica pela característica organizacional das empresas incubadas, pois ao ingressarem no processo de incubação, os empreendedores possuem pouco ou nenhum conhecimento referente às áreas gerenciais, o que os impedem de transformar suas ideias em empresas competitivas para o mercado sem o apoio de instituições como as incubadoras. Assim, constatou-se que os empreendedores têm alta capacidade 128 absortiva do conhecimento tecnológico, mas baixa CA referente ao conhecimento gerencial, o que se apresentou como um fator que dificulta a aquisição desse conhecimento, principalmente, o de natureza mais tácita. Entretanto, dado à proximidade cultural e a qualidade do relacionamento entre as incubadoras e as empresas incubadas, verificou-se que estes atores mantêm um relacionamento forte, o que segundo pesquisas sobre a transferência de conhecimento interorganizacional (ver exemplo, Argote et al., 2003; Van Wijk et al., 2008; Sankowska, 2013), facilita o fluxo de conhecimento de natureza mais tácita, ou seja, constatou-se que durante a incubação as IEBTs transferem conhecimento gerencial de alto valor e conteúdo para os empreendimentos incubados. Este resultado sobre a transferência de conhecimento converge com os estudos de Hackett e Dilts (2004) e Scillitoe e Chakrabarti (2010), que também discutem que o conhecimento gerencial é transferido para as empresas incubadas em um relacionamento direto com a incubadora e que essa interação constante faz com que haja laços mais fortes, o que permite as IEBTs aprenderem sobre as necessidades das empresas incubadas e serem capazes de oferecer assistência relevante ao negócio. Por outro lado, embora as empresas incubadas tenham apresentado alta CA referente ao conhecimento tecnológico e as universidades tenham alta capacidade para disseminá-lo aos empreendedores, os laços entre esses atores são fracos, o que foi identificado como uma barreira ao fluxo de conhecimento tecnológico de natureza tácita. Nestes termos, em complemento a algumas pesquisas (ver, Hackett e Dilts, 2004), que discutem que a interação das empresas incubadas com as redes de contatos da incubadora facilita o acesso às novas informações e conhecimentos, neste estudo conclui-se que o conhecimento tecnológico transferido das universidades para os empreendimentos incubados dificilmente será o de maior conteúdo e valor. 129 Dado que os laços fracos dificultam a transferência de conhecimento tecnológico de natureza tácita das universidades para as empresas incubadas, em conformidade com a discussão de Hannon (2005), este estudo verificou que uma das competências que a gestão da incubadora precisaria desenvolver é o suporte tecnológico aos empreendedores. Porém, como as IEBTs estudadas informaram que é inviável fornecer apoio tecnológico diretamente para os empreendedores, uma vez que, apoiam empreendimentos de diversos setores, a única alternativa para as incubadoras atenderem as demandas associadas ao conhecimento tecnológico, como apresentado por Scillitoe e Chakrabarti (2010), seria realmente por meio das redes de contato. Portanto, é necessário que se desenvolvam laços mais fortes entre empresas incubadas e as universidades para que o conhecimento tácito seja mais facilmente transferido. O desenvolvimento de laços fortes entre as empresas incubadas e as universidades poderia ocorrer, principalmente, com a mudança de alguns paradigmas que ainda perduram na cultura acadêmica, tais como: (i) alguns membros da comunidade acadêmica ainda acreditarem que a única atribuição da universidade é formar recursos humanos; (ii) o fato da maioria dos alunos e pesquisadores focarem apenas no desenvolvimento de pesquisas básicas; e (iii) as exigências de órgãos que regulamentam a educação no Brasil, os quais atribuem a maior quantidade de pontos aos programas de pós-graduação pela quantidade de publicações, sendo que em determinadas situações é necessário manter sigilo das descobertas para que sejam registradas patentes e para garantir a competitividade no mercado, caso a pesquisa seja desenvolvida em parceria com alguma empresa. Ressalta-se que as IEBTs estudadas já desenvolvem algumas ações para alcançar uma maior integração entre a universidade e as empresas incubadas, como divulgação da incubadora, incentivo ao empreendedorismo na comunidade acadêmica, entre outros. Sendo importante destacar que no caso da IEBT RAIAR, observou-se uma cultura empreendedora 130 mais desenvolvida do que na IEBT CENTEV, mas em ambos os casos as incubadoras ainda têm dificuldades em mediar o contexto acadêmico e o contexto de mercado. Assim, para que a conexão entre universidade, incubadora e empresas incubadas seja mais forte, essas ações de aproximação entre estes atores precisam ser constantes, para que se minimizem as diferenças culturais existentes em ambos os contextos. Além disso, é importante destacar que as ações de incentivo a interação entre as próprias empresas incubadas se mostrou importante para o fluxo de conhecimento tecnológico de natureza tácita, pois ao interagirem durante a incubação, os empreendedores estabelecem laços mais fortes, o que favorece a troca de informações e experiências, bem como a criação de parceiras para novos projetos. Por fim, o terceiro objetivo específico era analisar como as incubadoras de base tecnológica atuam no processo de transferência de conhecimento tecnológico e científico produzido nas universidades. Nestes termos, os achados mostraram que quando necessário as IEBTs convidam professores para ministrar palestras e participar de workshops. Além disso, as incubadoras fazem o mapeamento das pesquisas que estão em desenvolvimento na universidade, verificam quais estão associadas à tecnologia das empresas incubadas e tentam colocar os empreendedores em contato com os pesquisadores, de modo a incentivar a comunidade acadêmica a utilizar as tecnologias produzidas para atender as necessidades do mercado, na tentativa de que se estreitem mais os laços entre esses agentes, pois como discutido os laços ainda são fracos e dificultam a transferência de conhecimento tácito. Ao atingir os objetivos específicos, os resultados dessa pesquisa levam a concluir que, entre os fatores analisados, a intensidade do relacionamento entre universidade, incubadora e empresas incubadas apresentou-se como o fator com maiores implicações no fluxo de conhecimento e, que a característica que mais influencia no fato de os laços serem mais fracos entre as instituições de ensino e pesquisa e as empresas incubadas é a diferença cultural. Ou 131 seja, por um lado, tem-se um contexto acadêmico (exemplo: as pesquisas demandam prazos maiores, há membros da comunidade acadêmica que consideram a universidade um ambiente apenas de capacitação de recursos humanos, pesquisadores desenvolvem pesquisas que apresentam relevantes contribuições teóricas, mas também precisam considerar a importância de realizar estudos que atendam as necessidades do mercado, dentre outros) e por outro lado, o contexto de mercado (exemplo: as empresas trabalham em curto prazo, demandam soluções para as dificuldades enfrentadas no mercado, dentre outros). 5.2 Contribuições da pesquisa Os resultados obtidos nesta pesquisa forneceram contribuições teóricas e empíricas relevantes. Uma contribuição teórica deste estudo foi permitir a compreensão da dinâmica da transferência de conhecimento em um ambiente de incubação. Outro fato relevante, que contribuiu para a literatura, foi atrelar a teoria sobre os fatores críticos à transferência de conhecimento interorganizacional com teorias que explicam o fluxo de conhecimento das IEBTs para as empresas incubadas, pois dentre os estudos sobre incubadoras utilizados para construir o referencial teórico desta pesquisa, não foi encontrado nenhum que abordassem os indutores e barreiras da transferência de conhecimento durante a incubação das empresas, o que torna esta análise inovadora neste campo de estudo. Do ponto de vista empírico, a utilização das pesquisas que abordam os fatores que influenciam o fluxo de conhecimento interorganizacional, foi relevante para identificar quais aspectos precisam ser analisados pelos gestores das incubadoras para que cumpram de forma eficaz o seu papel de desenvolvimento dos empreendimentos, por meio da transferência de conhecimento gerencial e tecnológico. 132 Foi possível, também, confirmar que de acordo com a teoria utilizada, embora as incubadoras sejam de base tecnológica, seu objetivo principal é a transferência de conhecimento gerencial e não possuem estrutura interna para fornecer apoio tecnológico, o que ocorre por meio da rede de contatos, principalmente com as universidades. Desta forma, mostrou-se necessário que os gestores das incubadoras se atentem para a intensidade dos laços entre universidade, incubadora e empresas incubadas e, para os fatores associados às características organizacionais da fonte e da receptora, de modo que ocorra o fluxo do conhecimento mais valioso, tornando os empreendimentos mais competitivos e capazes de se graduarem para enfrentar o mercado. Esta pesquisa, também mostrou o quanto é importante incentivar a interação entre as próprias empresas incubadas para que se crie um ambiente com relacionamentos fortes, de modo que durante a incubação das empresas haja cooperação entre os empreendedores e a troca de experiências, informações e conhecimentos. Finalmente, por meio deste estudo foi possível confirmar que, como as IEBTs apoiam o desenvolvimento de empreendimentos inovadores, principalmente, por meio da transferência de conhecimento gerencial e por possibilitar o fluxo de conhecimento tecnológico das universidades para as empresas incubadas, estas organizações de apoio ao empreendedorismo também atuam como agentes de transferência de tecnologia. Desta forma, além de cumprir o papel de apoio no desenvolvimento dos empreendimentos nascentes, a proximidade das universidades com as incubadoras se mostrou importante para que as instituições de ensino não fiquem limitadas a desenvolver apenas estudos que forneçam contribuições teóricas, mas que também sejam desenvolvidas pesquisas que se tornem empreendimentos e atendam as necessidades do mercado. Portanto, baseando-se no papel fundamental das IEBTs, este estudo enfatizou a necessidade de que sejam feitos investimentos público e privados nestas organizações, posto 133 que, atuam na sociedade como agentes de inovação, estimulando o empreendedorismo na comunidade acadêmica e na região em que estão inseridas. Entretanto, além de se fazer investimentos, para que as incubadoras realmente cumpram suas atribuições como canais de disseminação do conhecimento científico-tecnológico, este estudo ressalta que as universidades, que estabelecem parcerias com estes agentes de inovação, percebam a importância de trabalhar a cultura da comunidade acadêmica, de modo que vejam o empreendedorismo como uma oportunidade de crescimento da instituição de ensino e como uma forma de visibilidade e utilização de suas pesquisas e tecnologias. Desta forma, é possível que se estreitem os laços entre as IEBTs e as universidades, o que, consequentemente, aumentará o fluxo de conhecimento tácito e refletirá em maior eficácia do processo de incubação. 5.3 Limitações da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros A pesquisa forneceu contribuições teóricas e empíricas, porém, também apresentou algumas limitações. Uma das principais dificuldades é o fato de o processo de transferência de conhecimento no Brasil ser um tema relativamente recente. Além disso, apenas nos últimos anos as incubadoras estão documentando todos seus procedimentos para se adequar as exigências da certificação no CERNE, o que dificultou, principalmente no primeiro caso, o acesso aos documentos institucionais que mostram os processos dessas organizações de apoio ao empreendedorismo. Desta forma, foi necessário utilizar artigos sobre as incubadoras deste estudo para complementar os dados. O segundo fator, que também está associado à limitação dos dados foi à dificuldade de acesso aos entrevistados das empresas incubadas, uma vez que disponham de pouco tempo, assim, não foi possível realizar mais entrevistas. Desta forma, embora tenha sido realizado o 134 estudo de duas incubadoras, um maior volume de dados conferiria mais robustez aos resultados. Visto que os resultados dessa pesquisa foram obtidos apenas por meio da percepção dos colaboradores das incubadoras e dos empreendedores das empresas incubadas, para aumentar a compreensão da dinâmica da transferência de conhecimento durante a incubação dos empreendimentos, seria importante realizar entrevistas com os professores e dirigentes das universidades, o que possibilitaria verificar a visão dessas instituições de ensino sobre a interação com as empresas incubadas e com a incubadora. Além disso, o fato de se propor a analisar diversas variáveis atreladas a dificuldade de obter um maior número de entrevistas, por um lado possibilitou a apresentação de uma maior quantidade de fatores que influenciam a transferência de conhecimento, mas por outro lado não permitiu que a análise fosse realizada com maior nível de profundidade. Por fim, baseando-se nas limitações e alguns insights provenientes das constatações, implicações e conclusões deste estudo, sugere-se que estudos futuros limitem os fatores indicados nesta pesquisa como críticos à transferência de conhecimento, a fim de possibilitar uma análise com maior nível de detalhes. Além disso, seria interessante realizar uma pesquisa que verifique a visão da comunidade acadêmica sobre a interação com as incubadoras e a transferência de conhecimento para as empresas incubadas. 135 Referências Aaboen, L. (2009). Explaining incubators using firm analogy. Technovation. 29, 657–670. Albuquerque, E. D. M. E. (1996). 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Qual o tempo máximo de permanência das empresas nesta fase? 9) Qual o tempo máximo de permanência das empresas na fase de incubação? 10) Como ocorre o processo de pré-incubação? 11) Como ocorre o processo de incubação? 12) Há um monitoramento das empresas após a graduação? 143 13) A incubadora tem fins lucrativos ou não? Se sim, este é o principal benefício de se instalar uma incubadora de empresas? Se não qual o principal beneficio de se instalar uma incubadora? 14) A incubadora cobra algum tipo de taxa das empresas incubadas? Qual a taxa cobrada? Qual o valor médio da taxa? 15) Quem financia a incubadora? 16) Quais os serviços oferecidos pela incubadora para as empresas incubadas? 17) Após se graduarem, as empresas passam a desenvolver suas atividades no parque tecnológico? Como ocorre esse processo de migração das empresas para o parque tecnológico? 18) Em relação aos objetivos da incubadora como ocorre a criação dos spin-off e como funciona a instalação destes nas incubadoras? 2. A importância das incubadoras para a universidade: (verificar a interação universidade-empresa por meio da incubadora) 1) A incubadora pode ser considerada um agente de inovação? Por quê? 2) Qual a importância da incubadora para a criação de produtos e processos inovadores? 3) O que mudou na comunidade acadêmica com a implantação da incubadora? 4) Quais os benefícios de uma incubadora para a universidade? 5) Quais os benefícios da incubadora para os professores? Como estes, atuam na incubadora? 6) Quais os benefícios para os alunos? 7) Houve aumento de pesquisas desenvolvidas por alunos e professores com a instalação da incubadora? 3. Principais dificuldades dos novos empreendimentos: (identificar quais conhecimentos as empresas incubadas têm maior debilidade). 1) Quais as principais dificuldades dos novos empreendimentos, para a inserção no mercado? Por quê? a. ( ) a baixa intensidade de capital; b. ( ) dificuldade ao acesso as linhas de crédito, pois não dispõem de garantias reais; c. ( ) falta de conhecimento tecnológico para a elaboração de projetos, que possibilitariam a aquisição de financiamento; 144 d. e. f. g. h. i. ( ) debilidade da função gerencial; ( ) baixa qualificação dos recursos humanos; ( ) precariedade da função tecnológica; ( ) falta de planejamento em longo prazo; ( )baixo poder de barganha com parceiros comerciais; ( )problema com a produção, devido à dificuldade financeira o alto grau de conhecimento técnico exigido nas empresas de base tecnológicas; j. ( )dificuldade em identificar canais de distribuição compatíveis com o tipo de produto que fabricam, devido o seu caráter inovador; k. ( ) a comercialização; l. ( ) Outra dificuldade. 2) Há empresas graduadas que não foram bem sucedidas no mercado? É possível informar por qual motivo isso ocorreu? 3) De acordo com sua avaliação, qual o tipo de conhecimento absorvido, prioritariamente, pelas empresas que participam do processo de incubação? 4. Processo de transferência de conhecimento: 4.1 Características organizacionais da incubadora 1) Como a incubadora, prioritariamente, mobiliza recursos e capacidades para prestar seus serviços? Exemplo: parceria com a universidade; parceria com outros institutos de pesquisa; participação em palestras, conferências e workshops; parcerias com empresas privadas realizam as próprias pesquisas. 2) Como os funcionários da incubadora são capacitados para trabalhar na incubadora? 3) A incubadora investe em palestras com pessoas especializadas? 4) No processo de capacitação das empresas incubadas, a incubadora tem competência técnica e gerencial para estar auxiliando empreendimentos de diversas naturezas? Como ocorre esse processo? 5) Qual a principal motivação da incubadora em transferir conhecimento para as empresas incubadas? 4.2 Características organizacionais da empresa 1) Quais os fatores analisados na seleção das empresas candidatas ao processo de incubação? 2) Qual a principal motivação para as empresas incubadas estarem adquirindo o conhecimento? 145 3) As empresas incubadas conseguem desenvolver sua capacidade de inovação, financeira e gerencial ao participar de um processo de incubação? 4.3 A intensidade dos laços entre incubadora e universidade 1) Se a incubadora estabelece laços com as universidades, qual o principal argumento para essa interação? Exemplo: o fluxo de conhecimento dessas instituições melhora o desempenho dos empreendimentos; ocorrem benefícios para ambas às partes. Por um lado à incubadora pode se tornar um meio de transferência de tecnologia entre a universidade e o mercado, por outro a universidade pode ser um meio de geração de tecnologia, inovação e levar novos empreendimentos à incubadora (DORNELAS, 2002). 4.4 A intensidade dos laços entre a incubadora e a empresa incubada 1) Há transferência de conhecimento dos funcionários da incubadora para as empresa incubadas? Como ocorre esse processo? 2) Na incubadora, verifica-se uma interação entre as empresas incubadas? O senhor (a) considera que este processo contribui para moldar a aprendizagem das empresas? 4.5 A transferência de conhecimento entre universidade, incubadora e empresas incubadas 1) No processo de incubação é possível verificar os processos de compartilhamento de conhecimento? 2) Quais as formas mais usuais utilizadas pela incubadora para transferir conhecimento gerencial e tecnológico para as empresas incubadas? 3) Como ocorre o processo de transferência de conhecimento das universidades para a incubadora? Exemplo: recursos humanos capacitados; patente ou direitos autorais; participação em workshops, conferências, palestras. 4) Como ocorre o desenvolvimento das redes de negócio? 5) Quais as formas mais usuais utilizadas pela incubadora para transferir conhecimento para as empresas incubadas? Exemplo: workshop, conversas informais, treinamento etc. 6) A incubadora promove a interação entre as universidades e as empresas? Como ocorre esse processo? 7) No seu ponto de vista, a incubadora pode ser considerada como um mecanismo de transferência de conhecimento das universidades para as empresas incubadas? Como ocorre esse processo? 146 8) A transferência da tecnologia ou conhecimento das universidades ou instituições de pesquisa para as indústrias depende de algum fator principal? E no processo de tranferência desse conhecimento para as incubadoras? Exemplo: o ambiente que ocorre a transferência, fatores organizacionais, capacidade de absorção/transferência, os mecanismos de transferência, o gerenciamento do processo e o valor adicionado ao processo de transferência de tecnologia. 9) A incubadora troca conhecimento com outras incubadoras? De que forma ocorre, prioritariamente, essa interação das incubadoras? 10) O senhor (a) considera que a incubadora, consegue cumprir o papel de apoio aos novos empreendimentos, no que tange os aspectos gerenciais, financeiros e de inovação? Se não, qual o principal motivo? 4.6 Barreiras no processo de transferência de conhecimento 1) Há barreiras no processo de transferência de conhecimento, tanto das universidades para as empresas, quanto das incubadoras para as empresas incubadas? Exemplo: diferença em termos institucionais, em sua organização, valores, tolerância, nível de qualidade e em seus objetivos sociais, o tempo gasto na transferência (enquanto os gestores industriais exigem soluções práticas em curto prazo, os acadêmicos trabalham em longo prazo); a apropriabilidade (as organizações podem não confiar na idoneidade dos acadêmicos, os quais, ao deter o conhecimento, podem utilizar os resultados das pesquisas para abrir seu próprio negócio ou fornecer informações que beneficiam os concorrentes), a implicitabilidade (dificuldade de transferência de conhecimento tácito pelo pesquisador) e a universalidade do conhecimento (associada a sua utilização em diversos problemas e áreas). 147 Apêndice B – Roteiro de entrevistas sobre a dinâmica da transferência de conhecimento das incubadoras para as empresas incubadas: aplicado junto aos sócios das empresas incubadas Nome: Formação: Função na empresa: 1) Empresa (opcional): 2) Tipo de produto ou serviço oferecido pela empresa: 3) O(s) sócio (s) da empresa era (eram) estudante (s) da universidade? 4) O projeto de criação da empresa surgiu em que momento, quando era aluno ou após a graduação? 5) Se a criação do projeto da empresa surgiu enquanto você era aluno da universidade, a existência de uma incubadora de empresa na instituição facilitou a abertura da mesma? 6) De que forma a incubadora facilitou esse processo? 7) Atualmente a empresa se encontra em qual fase: ( ) pré-incubação ( ) incubação 8) Quais as principais dificuldades de inserção da sua empresa no mercado? a. ( )a baixa intensidade de capital; b. ( ) dificuldade ao acesso as linhas de crédito, pois não dispõem de garantias reais; c. ( ) falta de conhecimento tecnológico para a elaboração de projetos, que possibilitariam a aquisição de financiamento; d. ( ) debilidade da função gerencial; e. ( ) baixa qualificação dos recursos humanos; f. ( ) precariedade da função tecnológica; g. ( ) falta de planejamento em longo prazo; h. ( ) baixo poder de barganha com parceiros comerciais; i. ( ) problema com a produção, devido à dificuldade financeira o alto grau de conhecimento técnico exigido nas empresas de base tecnológicas; j. ( ) dificuldade em identificar canais de distribuição compatíveis com o tipo de produto que fabricam, devido o seu caráter inovador; k. ( ) a comercialização; l. ( ) Outra dificuldade. 9) Os sócios possuíam conhecimento gerencial e tecnológico quando iniciaram o empreendimento, antes do processo de incubação? A incubadora consegue desenvolver essa capacidade? De que forma a incubadora desenvolve essa capacidade? Se não, qual o motivo? 148 10) Antes de participar da incubadora, a empresa possuía capacidade financeira? A incubadora consegue desenvolver essa capacidade? Se Sim, de que forma a incubadora desenvolve essa capacidade? Se não, qual o motivo? 11) Ao participar do processo de incubação, a empresa se tornou mais inovadora? Justifique a resposta, explicando o que mudou na inovação de produtos e processos ao se associar à incubadora. 12) Sua empresa possui pessoal capacitado (em termos de conhecimento), para absorver e integrar os conhecimentos transferidos da incubadora para sua empresa? Quais as medidas adotadas para desenvolver a equipe? 13) Quais os serviços oferecidos pela a incubadora, a sua empresa usufrui? a. b. c. d. e. f. g. h. i. ( )Assessoria jurídica; ( )Assessoria contábil; ( )Assessoria financeira; ( )Assistência em marketing; ( )Capacitação em gestão; ( )Apoio administrativo; ( )Utilização do espaço físico; ( )Acesso aos laboratórios e equipamentos; ( )Outro: 14) A incubação está sendo importante para o desenvolvimento do seu negócio? O que você poderia citar como aspecto mais importante que a incubadora fornece para o desenvolvimento do negócio? 15) De acordo com sua avaliação, qual o tipo de conhecimento absorvido, prioritariamente, pela sua empresa ao participar do processo de incubação? a. ( )Conhecimento gerencial; b. ( )Conhecimento tecnológico; c. ( )Aprender trabalhar em rede; d. ( )Outro: 16) A empresa compartilha conhecimento com as outras empresas do processo de incubação? Como ocorre esse processo? (Exemplo: Contatos informais, redes de negócio, comunidades de práticas, fóruns, seminários e congressos, associação de empresas) 17) Em sua opinião qual o principal benefício de participar do processo de incubação: a. ( ) Aquisição de conhecimento; b. ( ) Obter capacidade gerencial; c. ( ) Obter capacidade financeira; d. ( ) Obter capacidade de inovação; e. ( ) Obter capacidade técnica; f. ( ) Obter capacidade gerencial, financeira, técnica e de inovação; g. ( ) Acesso a equipamentos e laboratório de universidades; h. ( ) Facilita a inserção do produto no mercado; 149 i. ( ) A incubadora fornece serviço especifico para cada tipo de empreendimento; j. ( ) Usufruir de um espaço físico, com escritórios, para estruturação da empresa com um custo menor que os preços praticados no mercado; k. ( ) Outro: 18) Principal desvantagem de incubar a empresa: a. ( ) O processo de incubação é moroso; b. ( ) A incubadora não desenvolve a capacidade financeira da empresa, de forma adequada; c. ( ) A incubadora não desenvolve a capacidade gerencial da empresa, de forma adequada; d. ( ) A incubadora não desenvolve a capacidade técnica da empresa, de forma adequada; e. ( ) A incubadora não desenvolve a capacidade de inovação, de forma adequada; f. ( )A incubadora não desenvolver a capacidade financeira, gerencial, de inovação e técnica, de forma adequada; g. ( ) A incubadora apresenta dificuldade em inserir o produto no mercado; h. ( ) A incubadora não fornece serviço especifico para cada tipo de empreendimento i. ( ) Outro: 19) Justifique a resposta anterior 20) A incubadora atende as necessidades específicas de cada empreendimento de forma adequada? 21) Quais as principais dificuldades identificadas, para que a empresa adquira o conhecimento gerado na relação incubadora - empresa? a. ( )Falta de conhecimento prévio por parte dos gestores das empresas incubadas; b. ( )Dificuldade no relacionamento entre incubadoras e empresas incubadas (exemplo: falta de confiança das empresas incubadas com as incubadoras, objetivos divergentes entre empresas incubadas e incubadoras); c. ( )Falta de uma cultura de inovação na empresa incubada; d. ( )Falta de qualificação do pessoal da empresa incubada; e. ( )Ambiente inadequado para a transferência de conhecimento.