ALCOOLISMO E REPERCUSSÕES GERADAS NO AMBIENTE FAMILIAR
Rafaela Martins Silva e Dias1
Bruna Rodrigues Pinheiro2
RESUMO
Foi realizado um estudo de caso em uma família da periferia da cidade de
Paracatu, Minas Gerais. O acompanhamento da família foi feito na disciplina de
interação comunitária. Para isso utilizou-se o método da problematização, com
elaboração de um projeto de intervenção, que foi empregado na realização desse
artigo.O problema abordado é o alcoolismo enfrentado por um membro da família que
compromete a vivência harmoniosa daquele lar, além de gerar outras enfermidades em
alguns componentes da família. O objetivo dessa artigo era implementar tratamento
adequado ao alcoolista com o intuito de melhorar a qualidade de vida no âmbito
familiar, promovendo mudanças psicológicas, sociais, culturais, econômicas gerando
um ônus direto para o próprio usuário, bem como seus familiares.
PALAVRAS-CHAVES: Alcoolismo.Vivência familiar.Qualidade de vida.
1
Acadêmica do curso de Medicina, da Faculdade Atenas,
[email protected]
2
Professora do curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu-MG.
Paracatu-MG,
contato
1 INTRODUÇÃO
1.1 ESTADO DA ARTE
O hábito de beber é um costume muito antigo, que vem desde a pré-história,
porém, somente neste século iniciaram-se estudos mais sistematizados para entender
que fenômeno. Recentemente, cientistas, pesquisadores, sanitaristas, psicólogos,
sociólogos, biólogos e outros estudiosos têm se voltado para estudar o assunto, devido à
enorme proporção em que os problemas associados ao consumo de álcool vêm
ocasionando ás populações. 3
A epidemiologia tem sido importante na caracterização do abuso e
dependência de bebidas alcoólicas como um problema de saúde pública. As análises de
dados secundários apontam o alcoolismo como a segunda causa de internação
psiquiátrica, como uma das principais causas de aposentadoria por invalidez, do
absenteísmo, dos acidentes de trabalho e de trânsito.4.
O álcool é uma substância que causa dependência chamada popularmente de
alcoolismo, razão pela qual é incluído em todas as relações de drogas. No mundo, "a
doença causada pelo álcool" preocupa enormemente os sistemas de saúde, estimando-se
o número de dependentes entre 10% e 15% da população mundial. No Estado de São
Paulo, por exemplo, pelo menos 1 milhão de pessoas sofrem desse mal.5
3
BERTOLOTE, 1979.
4
MINISTÉRIO DA SAÚDE; 1988
MINISTÉRIO DA SAÚDE; 1988
5
O uso e abuso do álcool progridem de forma lenta e insidiosa evoluindo para
cronificação acarretando imensuráveis problemas no processo saúde-doença do
indivíduo, da família e da sociedade. Nesta perspectiva, entendemos que os efeitos
psicológicos, sociais, culturais, jurídicos, políticos e econômicos da dependência do uso
e abuso do álcool acarretam prejuízos incalculáveis com redução das condições e
qualidade de vida constituindo num ônus direto para o próprio usuário, bem como seus
familiares, além das incapacidades biopsicossociais que se instalam no transcurso do
uso e abuso gerando, indiretamente oportunidades perdidas no manejo do processo
produtivo, social, afetivo e familiar, para simplificar a complexidade do problema.
6
1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO
Apesar de ser aceito pela sociedade, o álcool oferece uma série de perigos
tanto para quem o consome quanto para as pessoas que estão próximas. A família toda
estudada compreende C. D. S. de 41 anos, tratorista, que é casado com S. I. S.de 40
anos, do lar, tiveram E. S. 19 anos a filha mais velha, estudante de curso superior, E.
S.14 anos, estudante do Ensino Médio, M. S. 8 anos, e C. D. S. Jr. de 5 anos ambos
cursando o Ensino Fundamental. Eles vivem na cidade de Paracatu em Minas Gerais no
setor Aeroporto. A casa em que habitam possui cinco cômodos, sendo uma sala, dois
quartos, uma cozinha e um banheiro. Ela não é inteiramente acabada, teto de alvenaria,
e possui um quintal nos fundos. O ambiente é simplório, a higiene é adequada, possui
saneamento básico completo, energia e água tratada. A renda é composta de dois
6
PILON e LUIS (2004)
salários mínimos, juntamente com alguns trocados que S. I. S. ganha esporadicamente
trabalhando como lavadeira, E. S. trabalha como caixa de supermercado, porém o ganho
paga seus estudos. A vivência familiar não está agradável ao passo que o alcoolismo de
C. D. S. afeta todos os membros da família, sem exceção. O relacionamento entre os
membros está conflituoso, principalmente entre C. D. S. e E. S . Ela não suporta vê-lo
bebendo e discutem sempre por causa da reação ou do estado em que fica quando está
sob efeito do álcool. S. I. S diz ser depressiva mediante toda essa situação, diz já não
suportar mais o estado deplorável do ambiente familiar em que se encontra aquele lar.
Segue abaixo o genograma dessa família:
1.3 JUSTIFICATIVA
De um modo geral o alcoolismo é enfrentado por todos da família. Acomete
os níveis familiar, social, econômico, psicológico dentre outros.Dessa forma observando
nas visitas os problemas gerados no núcleo familiar pelo alcoolismo, como freqüentes
brigas, agressões, depressão, hipertensão, úlcera, stress, mau exemplo na educação dos
filhos, transtornos com vizinhos. Fiquei impressionada como um problema de um único
membro gerou outros tantos e dificultou a vivência saudável daquela ambiente. Além de
a própria pessoa acometida não admitir ser etilista e nem procurar ajuda necessária para
tratamento.
1.4 OBJETIVOS
1.4.1 OBJETIVO GERAL
Tratamento do alcoolismo de C. D. S. (41anos), visando melhorar a
qualidade de vida de toda a família.
1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
-Promover a aceitação de C. D. S. ao alcoolismo;
-Apontar a C. D. S. os prejuízos ao seu organismo provocados pelo abuso
do álcool;
-Tentar mostrar os malefícios gerados no ambiente familiar, incluindo as
patologias provindas desse transtorno;
-Incentivar C. D. S. a procurar tratamento.
2 METODOLOGIA
2. 1 TIPO DE ESTUDO
O estudo realizado é um estudo de caso em que se acompanhou uma
família, no qual convivem com o alcoolismo e os transtornos gerado pelo mesmo.
2.2 ÁREA DE ESTUDO
Foi escolhida a área do PSF Aeroporto da cidade de Paracatu, Minas Gerais
por tratar-se de acompanhamentos das famílias que se localizavam na microrregião
dessa Unidade Básica de Saúde, acompanhadas durante a disciplina de Interação
Comunitária.
2.3 COLETA DOS DADOS
A escolha da família foi feita pela própria médica, pois já acompanhávamos
outras três famílias, no entanto uma dessas estava difícil a aproximação, logo teve que
substituí-la, e a última a ser selecionada para acompanharmos foi a da S. I. S.
Foi utilizada a Metodologia da Problematização como método de estudo da
realidade social da família que acompanhamos.A primeira etapa foi a Observação da
Realidade social, concreta, a partir de um tema ou unidade de estudo. Fomos orientados
pelo professor a olhar atentamente e registrar sistematizadamente o que percebemos
sobre a parcela da realidade em que aquela família está vivendo, podendo para isso nós
sermos dirigidos por questões gerais que ajudem a focalizar e não fugir dos problemas
vivenciados pela família acompanhada. Tal observação nos permitiu identificar
dificuldades, carências, discrepâncias, de várias ordens, que transformamos em
problemas. Elegemos então um desses problemas como principal.
Levamos esse
problema a discussões entre os componentes do grupo, a enfermeira chefe, e o médico
da UBS e com o professor que nos ajudou na redação do problema, como uma síntese
desta etapa e que passou a ser a referência para todas as outras etapas seguintes do
estudo.
Partimos então para a segunda etapa que é o levantamento dos PontosChaves, no qual refletimos primeiramente sobre as possíveis causas da existência do
problema em estudo. Neste momento passamos a perceber, com as informações
disponíveis, os problemas de ordem social (os da educação, da atenção à saúde, da
cultura, das relações sociais etc.) são complexos e geralmente multideterminados. Tal
complexidade dos problemas detectados nos sugeriu um estudo mais atento, mais
criterioso, mais crítico e mais abrangente do problema, em busca de sua solução. A
partir dessa análise reflexiva, fomos estimulados a uma nova síntese: a da elaboração
dos pontos essenciais que serão estudados sobre o problema, para compreendêlo mais
profundamente e encontrar formas de interferir na realidade para solucioná-lo ou
desencadear passos nessa direção.
A terceira etapa é a qual teorizamos o problema escolhido. Nos organizamos
tecnicamente para buscar as informações que necessitamos sobre o problema, onde quer
que elas se encontrem,dentro de cada ponto - chave já definido. Estudamos
cientificamente o problema em questão, e aplicamos um questionário (Anexo I) para
obter informações de várias ordens (quantitativas ou qualitativas). As informações
obtidas foram tratadas, analisadas e avaliadas quanto a suas contribuições para resolver
o problema. Tudo isto foi registrado no “Diário de Bordo”, possibilitando algumas
conclusões, que nos permitiu desenvolver a etapa seguinte.
Em seguida elaboramos hipóteses de solução do problema (quarta etapa).
As hipóteses foram construídas após o estudo, como fruto da compreensão profunda que
se obteve sobre o problema, investigando-o de todos os ângulos possíveis.
A quinta e última etapa foi realizada nas visitas familiares ao todo 6 , nos
dias
11/08/2006;25/08/2006;06/10/2006;10/11/2006;01/03/2007;12/04/2006
onde
tentamos aplicar as hipóteses de solução levantas à realidade daquela família.
2.4 POPULAÇÃO DE ESTUDO
A família que compreende a população estudada se localiza no setor
aeroporto, próximo ao PSF Aeroporto na cidade de Paracatu Minas Gerais.
2.5 CRITÉRIO DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS
O critério de seleção para a escolha da família foi o fácil acesso, a boa
receptividade da informante chave, devido a vulnerabilidade social dessa família, e o
problema
principal
encontrado,
o
alcoolismo,
conhecido
por
toda
equipe
multidisciplinar da Unidade Básica de Saúde, acompanhado principalmente pela agente
comunitária da área em questão.
2.6 INSTRUMENTOS OU TÉCNICAS UTILIZADAS
Foi aplicado um questionário pré-determinado pelo coordenador da
disciplina, e o “Diário de Bordo”, um caderno de registros de todas as atividades
realizadas nas visitas domiciliares e na Unidade Básica de Saúde.
2.7 ANÁLISE DOS DADOS E TRATAMENTO ESTATÍSTICO
Foi utilizado indicadores de impacto e nenhum tratamento estatístico foi atribuido.
3 RESLTADOS
3.1 DESCRIÇÃO
O potencial de detecção foi efetivo, no entanto o de intervenção na redução
dos problemas ligados ao álcool, não foi de fato alcançado. Percebi que um fato ligado
ao vício foi o desemprego, no entanto foi momentaneamente, logo voltou para o
emprego. Conversamos com ele poucas vezes, e ele se mostrava consciente com o
problema e com as repercussões do mesmo, disse já ter procurado ajuda mais logo
desistiu de continuar por causa do trabalho que fazia em turnos alternados. A agente
comunitária da área auxiliava muito a família, dando apóio, incentivando-os a procura
do tratamento, principalmente quando percebeu que em uma de nossas visitas que ele
era hipertenso.
4 DISCUSSÃO
A idade média de 40 anos detectada em nosso estudo aponta para a busca
tardia do tratamento do alcoolismo, visto que muito deles sequer reconhecem o fato de
serem alcoolistas. A maior freqüência encontra-se entre o sexo masculino (88,2%), de
acordo com os dados obtidos por Barros et al. (2000) e pelo 1° Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil (2002).
A idade média de 16,8 anos de início de ingestão alcoólica revela a
necessidade de se conter o uso abusivo e nocivo do álcool, principalmente em nível de
prevenção primária. O elevado número de pacientes (88,2%) que mencionaram história
de alcoolismo familiar mostra a relevância do componente hereditário como uma das
causas do alcoolismo, conforme descrições de Ramos e Bertolote (1990).
Entretanto, apesar da influência genética, o ambiente e o estado psicológico
do indivíduo são importantes fatores de vulnerabilidade para o desenvolvimento do
alcoolismo. Sendo assim, faz-se necessária uma abordagem terapêutica abrangendo toda
a família, principalmente os filhos de pais alcoolistas.
A dificuldade encontrada pelos pacientes que freqüentam bares em aderir ao
tratamento revela a necessidade de intervenções de enfermagem que venham auxiliálos, como a prevenção da recaída e o enfrentamento da compulsão (Marlatt, Gordon,
1993), além do incentivo ao AA e a prática de atividades ocupacional física, recreativa e
espiritual, facilitadoras da reinserção social do dependente. Os motivos alegados pelos
pacientes para o ingresso no programa demonstram que a busca para o tratamento do
alcoolismo acontece somente na ocorrência do comprometimento de uma ou mais
dimensões do ser humano – fisiológica, emocional, intelectual, social e espiritual – e
não como forma de prevenção de tais complicações. Entretanto altas taxas de faltas e
abandonos são observadas usualmente em programas de tratamento de dependência
química (Macieira, 1993). A assistência ao paciente enfocando não apenas os sinais e
sintomas da síndrome de dependência do álcool, mas também buscando atender suas
necessidades humanas básicas, é importante para a prevenção de possíveis co-
morbidades e para o tratamento de tais patologias, pois possibilita um atendimento de
qualidade e integral ao paciente.
Uma das dificuldades era encontrar C. D. S em casa, ele sempre estava no
trabalho dificultando nossa intervenção. É importante salientar que esse tipo de
problema é complicado a intervenção, pois envolve a família em geral, principalmente o
envolvido. Sendo assim a motivação pra largar o vício depende muito de C. D. S., no
entanto ele não se mostrava tão empenhado, Já tinha procurado ajuda em algum centro
de ajuda aqui mesmo em Paracatu, mais abandou. A família se mostrava disposta a
ajudá-lo, mais ele não mudava seus hábitos.
5 CONCLUSÃO
A família tem um papel importante na criação de condições relacionadas ao
abuso de álcool, funcionando igualmente como antídoto, quando o vício já tiver
instalado. É importante reforçar a idéia de que é preciso atingir as famílias e trabalhar os
vínculos entre seus membros.
A família, uma das três fontes de socialização primária, ao construir
vínculos saudáveis, comunica normas sociais salutares para os seus membros. Mas,
famílias disfuncionais podem transmitir normas desviantes através do modelo de
comportamento dos pais para os filhos.
O uso abusivo de álcool causa desordem biopsicossocial séria e complexa
que gera problemas sistêmicos em níveis variados, passando da célula para a família, o
trabalho e a sociedade.
Como foi observado nesse estudo, no acompanhamento da família, denotase a grande relevância da divulgação do tratamento do alcoolista, na importância de
restaurar a ordem e a boa vivência no ambiente familiar, que ora fora desestruturado
pelo vício, gerando ainda mais problemas. Com a ajuda de agentes comunitárias tentar
levar ao tratamento o alcoolista, insistindo com a família a fornecer o apoio necessário
para o restabelecimento da pessoa em questão.
É reconhecida a importância do apoio e incentivo prestado pelo professor e
orientador Helvécio Bueno na realização desse projeto de pesquisa. Agradeço também a
agente comunitária do PSF Aeroporto da cidade de Paracatu Minas Gerais, e a minha
colega Laila Borges pela imensa auxílio.
ABSTRACT
It was conducted a case study in a family of the periphery of the city of Paracatu, Minas
Gerais. The monitoring of the family was made in the discipline of community
interaction. To do so is the method used the problematization, with elaboration of a
draft speech, which was employed in achieving this is the problem addressed article.O
alcoholism faced by a family member who commits a smooth experience that home, as
well as generate additional diseases in some parts of the family. The purpose of this
article was to implement appropriate treatment to the alcoholic in order to improve the
quality of life in the family, promoting changes psychological, social, cultural, and
economic, generating a direct cost to the user as well as their family.
KEYWORDS: Alcoholism. Family Environment. Quality of Life
REFERÊNCIAS
1. PILON, S.C.; LUIS, M.A.V. Modelos explicativos para o uso de álcool
e drogas para a enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem, Ribeirão Preto, v.12, n.4.
p.676-682, 2004.
2. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Nacional de Controle dos
Problemas Relacionados com o Consumo de Álcool (PRONAL). Brasília, 1988.
3. CONGRESSO BRASILEIRO DE ALCOOLISMO, 6. Rio de Janeiro, 31
out. 3 nov. 1985. Congresso brasileiro de alcoolismo. Rio de Janeiro, Assoc.
Brasileira de Estudos do Álcool e Alcoolismo, 1985.
4. BERTOLOTE, J.M. Epidemiologia do Alcoolismo; alternativas
metodológicas para seu estudo. Arq. Clin. Pinel, 5 (3): 176-85, 1979.
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