ISSN 2177-465X UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO 1a. JORNADA CIENTÍFICA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL A PESQUISA EM COMUNICAÇÃO: TENDÊNCIAS E DESAFIOS ANAIS 27 a 29 de agosto de 2009 Bauru – SP ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA MS. ENGº. RODRIGO ROCHA CHANCELER DRª. IR. ELVIRA MILANI REITORA PROF. MS. IR. SUZANA DE JESUS FADEL PRÓ-REITORIA ACADÊMICA COMISSÃO ORGANIZADORA LÍGIA BEATRIZ CARVALHO DE ALMEIDA (Org.) ROSEANE ANDRELO (Org.) SANDRA MARA FIRMINO (Org.) SONIA APARECIDA CABESTRÉ (Org.) VITOR PACHIONI BRUMATTI (Org.) J828 Jornada Científica de Comunicação Social (1. : 2009 : Bauru, SP) Anais da 1ª Jornada Cientifica de Comunicação Social : a pesquisa em comunicação : tendências e desafios, Bauru, 27 a 29 de agosto de 2009. – Bauru : Universidade Sagrado Coração, 2009. 146p : il. I. Universidade Sagrado Coração. II. Título A variedade dos artigos compilados nos anais da 1ª Jornada Científica de Comunicação Social reflete a característica multifacetada da atuação profissional do comunicador social, que tem que dominar um vasto referencial de conhecimentos teórico-práticos para atender as demandas da população, dos serviços públicos, das organizações comunitárias. Para os cursos de Comunicação Social da Universidade Sagrado Coração, a jornada representou uma grande conquista. Para os corpos docente, discente e para os nossos ex-alunos, foi uma oportunidade única com múltiplas facetas: campo de difusão de saberes, de intercâmbio entre graduados, pós-graduados e docentes. Configurou-se como uma forma de aprendizado em que alunos de publicidade e propaganda trabalharam na divulgação, cuidando da criação e divulgação das peças de comunicação. Os futuros relações públicas e jornalistas integraram a equipe de organização do evento e de reportagem, transmitindo os acontecimentos, em tempo real, para a comunidade externa por meio de redes sociais. Mas, acima de tudo, o evento cumpriu seu papel principal: ao divulgar resultados de pesquisas que têm como objeto de estudo a comunicação social provocou debates que geraram novos questionamentos e levarão a novos saberes, disseminando a cultura da pesquisa na comunidade acadêmica. Comissão Organizadora EIXOS TEMÁTICOS NOVAS MÍDIAS COMUNICAÇÃO PÚBLICA E CIDADANIA RELAÇÕES PÚBLICAS E INFORMAÇÃO JORNALISMO E SOCIEDADE LINGUAGENS E EDUCAÇÃO ÉTICA E LEGISLAÇÃO NA COMUNICAÇÃO SUMÁRIO EIXO TEMÁTICO: NOVAS MÍDIAS Resumo : O advento da TV Digital e a produção de campanhas publicitárias – um estudo enfocando as perspectivas futuras desse segmento. Camila C. L. Corrêa........................................................................................... 8 Resumo : A importância das redes sociais para os profissionais 2.0 do mercado publicitário do interior paulista. Vanessa G. B. do Amaral.................................................................................. 13 Resumo : A propaganda na tv digital, do ponto de vista do publicitário. Vânia Lúcia Siqueira.......................................................................................... 17 Resumo : Representação cultural dentro da sociedade digital: a utilização das redes sociais como processo de comunicação. Vitor P. Brumatti……………………………………………………………………... 23 EIXO TEMÁTICO: RELAÇÕES PÚBLICAS E INFORMAÇÃO Resumo : A crise econômica mundial sob diferentes óticas: psicológica, social e econômica. Lívia Ikeda Martins............................................................................................ 29 Resumo : Comunicação, Informação e Conhecimento nas organizações contemporâneas – diferenciais de desenvolvimento e inovação. Sônia Aparecida Cabestre; Regina Célia Baptista Belluzzo............................ 33 Resumo : Empreendedorismo em Relações Públicas. Pedro Polesel Filho........................................................................................... 39 Resumo : Responsabilidade social: desafio empresarial, estratégia e compromisso ético. Débora Seno Errera; Fábio José de Souza; Thalita M.M. Souza...................... 42 EIXO TEMÁTICO: JORNALISMO E SOCIEDADE Resumo : A censura política na imprensa bauruense durante a ditadura militar (1968 a 1970). Camila Fernandes............................................................................................. 47 Resumo : Igreja e comunicação: da censura e repressão para as produções jornalísticas. Paulo Giraldi ..................................................................................................... 51 Resumo : Jornalismo Econômico: o conhecimento que não consegue chegar ao grande público. Daira R. Martins Botelho ; Rene Rodriguez Lopez ........................................... 55 Resumo : Os paradigmas da imprensa em pauta: biodiversidade, biocombustíveis e aquecimento. Katarini Miguel................................................................................................... 60 Artigo : Representações sobre as esferas do poder na primeira edição do Caderno Kiplô. Fernanda Larossi............................................................................................... 63 EIXO TEMÁTICO: LINGUAGENS E EDUCAÇÃO Resumo : Da criação a globalização: Michelangelo e o processo de recriação Lea Silvia Braga de Castro Sá.......................................................................... 74 Resumo : A poética criativa na publicidade: uma visão da semiótica peirceana Luiz Nelson de Oliveira Trentini......................................................................... 77 Artigo : A utilização do rádio na Educação à Distância (EaD): o Projeto Minerva e o Movimento de Educação de Base. Thalita M.M.M.Souza; Eliane C. R. Montresol; Sílvia B. Cuenca Stipp; Roseane Andrelo............................................................................................... 81 EIXO TEMÁTICO: ÉTICA E LEGISLAÇÃO NA COMUNICAÇÃO Artigo : Direitos da infância e da adolescência na cobertura dos jornais do centro oeste paulista. Pedro Luis Bueno Berti...................................................................................... 91 Artigo : Não adianta fazer birra!: a relação entre publicidade, propaganda, crianças e as implicações ética e jurídicas. Vitor Pachioni Brumatti; Fábio José de Souza; Thalita M.M.M. e Souza.......... 100 Resumo : Novas abordagens em Direito relativas à imprensa e seu exercício. Antonio Carlos da Silva Barros.......................................................................... 109 Resumo : Publicidade e propaganda: uma reflexão sobre a importância da legislação brasileira e da ética para a profissão. Vívian Xavier de M. Freitas; Livia Lara Andretto; Eduardo Liporacci; Fábio José de Souza................................................................................................... 112 Artigo : Publicidade e propaganda subliminar: a legislação e a ética. Patrícia de Abreu; Lígia Beatriz C. Almeida; Fábio José de Souza; Thalita M. M. M. Souza...................................................................................................... 117 EIXO TEMÁTICO: COMUNICAÇÃO PÚBLICA E CIDADANIA Resumo : Comunicação entre órgãos públicos: limites entre a intenção e a realização. Bruno Sampaio Garrido..................................................................................... 131 Resumo : Lazer e entretenimento sob influência das políticas públicas no contexto bauruense. Luiz Ricardo Ferreira; Simone Yadomi ............................................................. 135 Resumo : A prática do jornalismo na consolidação da cidadania. Aline M. Fuzisaki Leão...................................................................................... 139 Resumo : Pesquisa e execução de ações de comunicação para conselhos municipais de Bauru-SP. Luciana Galhardo Batista.................................................................................. 143 EIXO TEMÁTICO: NOVAS MÍDIAS 8 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios O ADVENTO DA TV DIGITAL E A PRODUÇÃO DE CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS – UM ESTUDO ENFOCANDO AS PERSPECTIVAS FUTURAS DESSE SEGMENTO1. Camila Cristina de Lima Corrêa2 Palavras-chave: Mercado Publicitário. Publicidade e Propaganda. TV Digital. INTRODUÇÃO - Na situação atual da cultura digital um novo meio de comunicação surge com a probabilidade de transmitir conteúdos interativos e adaptados às realidades locais, através de suportes fixos (televisão) e móveis (celulares e palmtops). A TV digital teve sua primeira transmissão no Brasil em dezembro de 2007, no entanto, nesse primeiro momento, não foram oferecidas mudanças em termos de conteúdo, apenas no padrão de imagem. Logo, para que a TV digital não se limite apenas à melhoria de atributos técnicos ou a reprodução da programação da TV analógica, é preciso pensar sobre como utilizar as ferramentas da TV digital para a elaboração de novos formatos de programas. RELEVÂNCIA – Refletir sobre os processos da TV Digital, um assunto atual que está em processo de implantação no Brasil e poderá trazer consigo grandes mudanças na maneira de produzir propagandas publicitárias. Com o advento da TV Digital as formas de produção e veiculação de campanhas publicitárias deverão ser redimensionadas – pergunta-se: quais serão as condições a serem oferecidas para a produção de anúncios publicitários? Os publicitários estão devidamente capacitados para produzir campanhas publicitárias utilizando a tecnologia da TV Digital? Considerando que uma restrita parcela da população tem acesso a essa tecnologia, as empresas estão preparadas e têm condições financeiras para investir nessa mídia? METODOLOGIA – Através de pesquisa bibliográfica desenvolvida junto à literatura e produções científicas disponibilizadas na internet, foram identificados e selecionados pesquisadores que têm realizado estudos significativos sobre a implantação da TV Digital no Brasil e suas possíveis mudanças. Dos textos selecionados extraíram-se os pontos mais importantes sobre a temática, o que viabilizou uma reflexão e a análise das informações relevantes e consideradas importantes para essa produção. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - O presente trabalho tem por objetivo fazer uma análise sobre as possíveis transformações que a publicidade sofrerá com a implantação da TV digital, descrever também sobre as possíveis mudanças que a TV digital trará para publicitários e anunciantes e relatar as tendências apontadas pela convergência digital pondo em cheque a TV analógica e sua transição para a transmissão digital em alta definição. Este estudo é voltado para a área da Comunicação e não da Engenharia ou da Eletrônica. O meio que 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Sagrado Coração de Bauru/SP 9 mais investe em termos publicitários é a TV, pois está presente em quase todos os lares brasileiros, por este motivo, a maior parte dos investimentos publicitários são direcionados para esse veiculo de comunicação que atinge a grande massa populacional. A chegada da Televisão digital no Brasil gerou expectativas e controvérsias em setores especializados e, simultaneamente, causou mudanças em diversas categorias profissionais em virtude da repercussão que o acontecimento deve provocar a curto, médio e longo prazo. O mercado publicitário brasileiro televisivo está passando por um período de grandes modificações, ao começar a produzir conteúdos digitas, deixará de produzir conteúdos massificados e passará a produzir conteúdos segmentados, para atender assim anunciantes e clientes dessa nova tecnologia que veio para ficar. De acordo com Costa (2008, p. 42): Um dos setores mais interessado nessas mudanças, que certamente precisará adaptar-se ao inovador modelo de comunicação, é o mercado publicitário, que tem antecipado soluções e criado novas alternativas de propagar seu conteúdo. A chegada da TV digital deverá provocar também a exigência de um profissional especializado em comunicação digital, portador de habilidades e competências na área da comunicação e domínio de ferramentas tecnológicas. A publicidade atuará como grande forma de investimento dentro da TV digital; porém, para realizar esse investimento as agências terão que levar em consideração os aspectos tecnológicos digitais, para se adequarem a esse novo meio da melhor forma possível e assim suprir as necessidades do mercado. Conforme consta no site da Globo: A publicidade, tanto quanto a programação de TV, poderá se reinventar a partir da TV digital em alta definição. Os ganhos de qualidade na imagem e som, por si só, já proporcionarão aos criadores e diretores de filmes publicitários um amplo campo de desenvolvimento para novas abordagens de comunicação. A vocação de qualidade dos publicitários só tem a ganhar com uma plataforma técnica tão diferenciada quanto a TV digital em alta definição. Importante frisar que o modelo atual de comunicação publicitária via TV nada perde com a digitalização do sinal. Os comerciais de 30 segundos, os patrocínios e outros formatos já bem conhecidos por anunciantes, agências e consumidores seguem perfeitamente válidos e ainda mais valorizados pela maior qualidade das imagens e som. Comerciais em resolução convencional serão aceitos para exibição pela TV Globo Minas ainda durante muitos anos.(GLOBO, 2009, p. 1). Os publicitários deverão acompanhar a evolução do mercado, para assim se adequarem perfeitamente à tecnologia da TV digital, não perdendo clientes e consumidores e sim usufruindo dessa tecnologia para ganhar mais clientes e os deixar mais satisfeitos. A TV passará por grandes modificações que levam ao desenvolvimento de um novo meio de comunicação, onde os telespectadores terão o comando da programação que lhe é oferecida. Essa tecnologia possibilitará que os telespectadores interessados acompanhem a programação que querem, quando e onde desejarem com a possibilidade de eliminar conteúdos publicitários. Se eles não encontrarem nada atrativo, isso significa que existe a necessidade de profissionais especializados 10 no assunto para que o mercado publicitário possa ganhar cada vez mais com essa nova tecnologia, sem que haja perdas. Já para Gem (2005, p. 11 apud SANTOS, 2007, p. 4): A iniciativa de evolução dos meios é fundamental e irreversível, possuindo por conseqüência uma das maiores mudanças que o mercado publicitário já teve. Essas modificações decorrentes da inserção de um novo meio de comunicação são fundamentais para existência de indivíduos dispostos aos riscos de empreender, pilar do desenvolvimento. De acordo com o autor, será essencial para o sucesso da TV Digital uma maior parceria entre os setores privados e públicos. E, para que esta união aconteça é necessária também parceria com as universidades, agências de inovações e centros de desenvolvimento tecnológico, que poderão estar em constante aperfeiçoamento de novas tecnologias. Ressalta-se que o sistema implantado no Brasil, independente de ter sido desenvolvido em parceria com o Japão, é próprio. E, segundo Rose (1997 apud LIMA FILHO, 2008, p. 1). A TV Digital almeja convergir todos os públicos segmentados, em todos os horários e lugares para promover um “fluxo contínuo” de uma cultura globalizada. Promove a “inclusão digital” dos consumidores das classes D e E, e das pequenas empresas regionais, diluindo o monologismo pelo dialogismo da interatividade digital para o indivíduo que é “governado se autogovernando”, com o Sistema não mais exercendo controle “contra o indivíduo, mas por meio dele”. O avanço tecnológico dos meios de comunicação pode colaborar cada vez mais para que a propaganda e a publicidade cheguem aos indivíduos facilitando o processo de escolha deste ou daquele produto ou serviço. De acordo com Montez e Becker (2005), a TV digital nada mais é do que a transmissão digital dos sinais audiovisuais, conceito bem diferente de TV interativa. Na transmissão digital, os sinais de som e imagem são representados por uma seqüência de bits, e não mais por uma onda eletromagnética análoga ao sinal televisivo. O advento da TV digital permitiu, além de uma qualidade de imagem e som muito superior à televisão convencional, a possibilidade de interatividade e o oferecimento de novos serviços. Segundo Palácios (2000, p. 46 apud MONTEZ e BECKER, 2005, p. 46) “o adjetivo interativo é usado para qualificar qualquer coisa ou objeto cujo funcionamento permite ao seu usuário algum nível de participação, suposta participação, ou troca de ações”. Enquanto para Bolaño e Brittos (2007, p. 25): A televisão digital apresenta-se como uma plataforma tecnológica capaz de realizar a convergência de inúmeros serviços de comunicações, podendo reduzir as fronteiras entre as indústrias culturais quanto aos modelos organizacionais característicos de cada uma delas. Machado Fillho (2008, p. 1) diz que a “A TV Digital no Brasil vem enfrentando os percalços comuns da implantação de qualquer nova tecnologia, ainda mais, quando se trata de um novo veículo de comunicação de massa”. De fato o processo de 11 implantação da TV digital está lento, e aonde ela chega não atinge todas as classes sociais, pois para que o telespectador possa ter acesso a essa tecnologia ele precisa do set top box, que é um conversor de sinal. Esse aparelho não tem um custo barato, o que impede que a maior parte da população possa desfrutar dessa mídia digital. Para que tudo ocorra da melhor maneira possível é necessário mais pesquisas e estudos sobre esse tema e também uma maior união entre instituições publicas e privadas, facilitando assim o processo de implantação da TV digital e as possibilidades de maior acessibilidade por parte da população. Para Bolaño e Brittos (2007, p. 29): No caso brasileiro, o modelo impõe a distribuição gratuita da programação televisiva, mas abre brechas para cobrança de conteúdos interativos, tendo em vista o custo do canal de retorno, que extrapola a capacidade das emissoras (...) O maior desafio continua sendo o de convencer o telespectador de que vale a pena arcar com maiores despesas televisivas, o que até agora não foi conseguido. Esperam-se grandes mudanças com o advento da TV digital, o governo fala em inclusão social, já que esse é o meio que está presente na maioria dos lares brasileiros, tem também a interatividade, onde o telespectador vai poder participar ativamente em toda a programação que lhe é oferecida, e ocorrerão mudanças na produção de conteúdos digitais, que deverão ser muito mais elaborados, para assim atingir o consumidor final e atrair o interesse de anunciantes para produzirem materiais digitais. Com isso espera-se que a implantação da TV digital no Brasil seja levada a sério por seus idealizadores, e que eles busquem cada vez mais alternativas acessíveis para toda a população brasileira e assim alcance a tão esperada digitalização desse meio em todo o Brasil. Apresentados os pressupostos inerentes ao tema, ficam reforçados os questionamentos destacados no início desta proposta, uma vez que ainda são incipientes as ações para a implementação dessa tecnologia que vai inovar o cotidiano da área de publicidade e propaganda. CONCLUSÃO - A busca e a sistematização de informações sobre a temática estudada possibilitou a refletir sobre alguns aspectos da TV digital, o contexto de sua implantação no Brasil e a produção de conteúdos publicitários para esse meio. As idéias aqui expostas serão mais aprofundadas em um Trabalho de Conclusão de Curso. A tecnologia da TV digital já é realidade e em um futuro próximo estará presente nas casas de uma quantidade cada vez maior de brasileiros. No entanto, como todo novo meio de comunicação ela nasce dentro de uma sociedade que ainda não está preparada para a sua dinâmica. Por este motivo, o estudo tem o propósito de provocar uma reflexão sobre a necessidade de criação de novos formatos de programas televisivos apropriados a essa realidade digital que usem o máximo de ferramentas disponíveis, especialmente aquelas relacionadas à interatividade com o usuário e permita o ajustamento dos conteúdos às diferentes culturas, em termos regionais, do Brasil. REFERÊNCIAS BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; BRITTOS, Valério Cruz. A televisão brasileira na era digital: exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes. São Paulo: Paulus, 2007. 12 LIMA, Filho Carvalho.O Futuro da Publicidade na TV Digital. Disponível em:<www.intercom.org.br >. Acesso em:18 mar. 2009. MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir. TV Digital interativa: conceitos, desafios e perspectivas para o Brasil. Satã Catarina: UFSC, 2005. SANTOS, Leandro César Moreira. A TV digital: sua implantação e mudanças no mercado publicitário brasileiro. Disponível em:<www.intercom.org.br >. Acesso em:18 mar. 2009. GLOBO.TV Digital Vantagens. 2009. Disponível em: <http://www.globominastvdigital.com/mercado_publicitario/>. Acesso em: 16 abr. 2009. 13 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios A IMPORTÂNCIA DAS REDES SOCIAIS PARA OS PROFISSIONAIS 2.0 DO MERCADO PUBLICITÁRIO DO INTERIOR PAULISTA1. Vanessa Grazielli Bueno do Amaral2 Palavras-chave: Ciberespaço. Web 2.0. Redes sociais. Mídias digitais. Profissionais 2.0. INTRODUÇÃO – As novas mídias digitais sociais têm influenciado diretamente a comunicação e a organização social na Era Digital. O perfil dos usuários dessas mídias envolve uma maior criticidade, devido à possibilidade de confrontação das fontes de informação, interatividade e autonomia. O usuário interage diretamente com a mídia e pode contribuir com conteúdo e informação das mais diversas formas, sem ter necessariamente qualquer conhecimento técnico específico. As redes sociais permitem e encorajam essa participação. É isto o que chamamos de Web 2.0 ou Internet da Segunda Geração, um ambiente propício entendido não apenas como mídia, mas como plataforma, que se aprimora quanto maior a colaboração dos indivíduos, usando a inteligência coletiva. Neste cenário visamos compreender a participação dos profissionais de publicidade e tantos outros relacionados a artes ou tecnologia do interior paulista, que fomentam a produção comercial de comunicação nas novas mídias digitais, os chamados “Profissionais 2.0”, e a importância das redes sociais em seu cotidiano. A pesquisa é direcionada especificamente para o mercado publicitário do interior paulista e seu atual cenário referente à "Web 2.0". Os perfis traçados no decorrer desta pesquisa poderão subsidiar um salto de qualidade na produção de conteúdos publicitários desenvolvidos para a internet, além de uma expansão da área geográfica de participação dos profissionais 2.0 de determinada localidade. RELEVÂNCIA – O ser humano se comunica para se expressar, entreter, compartilhar conhecimento, perpetuar a cultura, entre outros. Se comunicar é de suma importância para os grupos sociais, pois é assim que eles se formam, se mantém e, que seus membros se identificam entre si. A internet tem papel importante na constituição dos grupos sociais atualmente. A utilização de redes sociais tem superado serviços mais tradicionais da internet como o email. Diante disso, cabe aos profissionais de comunicação analisar e interpretar os sinais das mudanças que a web 2.0 vem causando na sociedade, como a utilização de redes sociais e sua relação com os profissionais 2.0 no processo de sedimentação de uma nova cadeia produtiva e, a exploração de possibilidades e vantagens para profissionais que tenham formação em mais de uma área do conhecimento, aumentando as opções de campos de atuação. 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Aluna de graduação do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda – Universidade Sagrado Coração - E-mail: [email protected] 14 METODOLOGIA – Baseadas em uma pesquisa bibliográfica utilizando literatura específica da área de comunicação, além de artigos e pesquisas divulgados na internet, foram levantadas hipóteses posteriormente confrontadas com resultados de uma pesquisa de campo com questionários e/ou entrevistas diretivos, realizada com responsáveis nas agências de publicidade pelas produções web e profissionais (autônomos ou vinculados a empresa especializada em web). A amostra de pesquisados foi selecionada de forma não-probabilística por conveniência e julgamento, abrangendo as cidades de Bauru, Dois Córregos, Jaú e Lençóis Paulista. A pesquisa qualitativa, de natureza aplicada, com caráter exploratório, foi elaborada e aplicada através do envio dos questionários por email, entre os meses de março e abril de 2009. Os dados foram analisados por método indutivo, de forma a intuir um panorama futuro da atuação de profissionais 2.0, sejam da área de comunicação, artes, ou tecnologia. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - No ano de 2001 houve o estouro do que foi chamada bolha das empresas ponto-com, uma avalanche de sites que foi considerada por muitos uma publicidade exagerada para a internet. Mas as empresas que sobreviveram à bolha representavam o que de novo estava por vir para revolucionar a web e originar a Web 2.0, que trazia não somente novas ferramentas, mas novas tecnologias. Pierre Lévy, em Martins e Silva (2002), define ciberespaço como o meio de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores, um espaço onde hoje vemos uma grande utilização de ferramentas como blogs e redes sociais. É objetivo desta pesquisa analisar como essas redes sociais são utilizadas pelos profissionais 2.0 e qual sua importância na cadeia produtiva de conteúdos de publicidade para internet. No ciberespaço, cada indivíduo é capaz de produzir e difundir conteúdo, criando um ciclo em que a comunicação é de “todos para todos”, diferentemente dos meios de comunicação de massa convencionais em que a informação é transmitida de “um para todos”. A autonomia do consumidor no ciberespaço, a possibilidade de ser colaborador ou criador de informação, fez com que vivessemos em uma nova era, a “Web 2.0”. De acordo com O’Reilly (2008), o conceito de “Web 2.0” começou com uma conferência de brainstorming entre ele e a MediaLive International. A internet, então, passa a ser encarada como plataforma que permite, inclusive, que o usuário crie ou transmita espontaneamente propaganda (positiva ou negativa) sobre produtos, serviços ou marcas. Na criação convencional de propaganda, o publicitário é o responsável pelo manejo das informações, das características a serem divulgadas. Segundo a Lei nº 4.680 de 18 de junho de 1965, são publicitários “aqueles que, em caráter regular e permanente, exerçam funções de natureza técnica da especialidade, nas Agências de Propaganda, nos veículos de divulgação, ou em quaisquer empresas nas quais se produza propaganda” e, que têm atividade regida pelo Código de Ética dos Profissionais da Propaganda, instituído pelo I Congresso Brasileiro de Propaganda, realizado em outubro de 1957 (BRASIL, 2008). Dentro do conceito de Web 2.0, um novo modelo de profissional surge para suprir as necessidades do mercado, o “Profissional 2.0”. Max Petrucci (2008 apud QUEIROZ, 2008, p. 67), sócio-presidente da Garage Interactive Marketing, destaca características do profissional 2.0, afirmando que “o cara pode ter sido um tiozinho” mas deve ter se digitalizado, passado pela escola da marca em agências ou em uma grande empresa, ser ágil, auto motivado, consciente e maduro. Para Abel Reis (2008 apud QUEIROZ, 2008, p. 67), presidente da Agência Click, o profissional 2.0 deve ter os seguintes atributos: curiosidade aguçada, buscar o aprendizado constante, trabalhar em equipe e ter multi funções. A demanda por estes profissionais tem levado agências a capacitar 15 pessoal, por não encontrar pessoas qualificadas no mercado. Para Lévy (2000, p. 109), “os artistas que exploram essas vias poderiam ser os pesquisadores da nova arquitetura do ciberespaço, que será sem dúvida uma das principais artes do século XXI”. E completa: “os novos arquitetos podem ser tanto pessoas provenientes de meios tradicionais da arte como engenheiros, criadores de redes ou interfaces, inventores de softwares, equipes localizadas em organismos internacionais de padronização, juristas da informação, etc.”. Para Neves (2007, p. 10), “talvez, no final de mais algumas décadas, os historiadores atinjam um consenso de fato e passem a chamar nosso tempo de ‘Renascença Digital’: período no qual todo o trabalho e maior parte de toda criação humana foram convertidos para a forma de bits e bytes”. Com o objetivo geral de compreender a importância das redes sociais na atuação dos profissionais 2.0 do mercado publicitário do interior paulista, o presente trabalho visa especificamente, os seguintes objetivos: Diagnosticar quais redes sociais são utilizadas na Web 2.0 Demonstrar a sinergia do conhecimento em áreas distintas na comunicação da Era Digital Levantar o panorama de atuação do publicitário na internet Traçar perfil do profissional 2.0 requisitado para o interior paulista Estimar características do mercado futuro Para alcançar tais objetivos, questões como “Qual a importância das redes sociais para a atuação dos profissionais 2.0?”, “Qual o papel dos publicitários e profissionais 2.0 nas agências?”, “Como serão alocados os profissionais 2.0?”, “Qual a tendência do mercado publicitário do interior paulista?”, “Quais são, se existem, os limites de atuação para profissionais do interior?” foram levantadas e nortearam a pesquisa. Foram analisados 7 questionários, enviados para profissionais que trabalham com desenvolvimento web ou que a utilizam como ferramenta em suas atividades, seja divulgando trabalhos ou buscando informações. Os questionários eram compostos de 12 questões, abertas e fechadas, nas quais foram abordados temas como quais as redes sociais utilizadas, local de acesso, frequência de acesso e o tempo de permanência em cada acesso, utilização no âmbito profissional, análise do profissional do interior e opiniões a respeito do futuro. CONCLUSÕES - Dos resultados obtidos, destacamos os seguintes dados, relevantes aos objetivos da pesquisa: a rede social mais utilizada pelos entrevistados é o Orkut, obtendo 70% das respostas. A maioria dos entrevistados acessa redes sociais de casa e do trabalho, respectivamente. Os acessos geralmente são feitos mais de uma vez ao dia, com permanência inferior a uma hora. Os profissionais utilizam as redes sociais em prol de seu trabalho para buscar ideias, contatos e divulgar o trabalho, e 50% dos entrevistados consideram as redes sociais indispensáveis. Grande parte dos profissionais entrevistados mantém, além de perfis em redes sociais, seu próprio blog e/ou fotolog, por exemplo. Quando questionados sobre o bloqueio de acesso a redes sociais por parte das empresas, a maioria respondeu que as empresas mantêm este tipo de política interna. As redes sociais são vistas pelo profissional 2.0 do interior como vias de obter atualização e aperfeiçoamento, e a visão é de um futuro em que o uso da internet e de redes sociais cresça ainda mais. Tais respostas nos levam a crer que as redes sociais são uma realidade crucial no dia a dia dos profissionais do interior, mas que a organização hierárquica e a censura por parte das empresas, ainda não demonstra sinais de mudança. 16 REFERÊNCIAS BRASIL, Lei nº 4.680, de 18 de Junho de 1965. Dispõe sobre a regulamentação da profissão de publicitário. Base da Legislação Federal do Brasil. Brasília, 1965. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4680.htm>. Acesso em: 13 set. 2008. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000. MARTINS, Francisco Menezes; SILVA, Juremir da (Org.). Para navegar no século 21: tecnologias do imaginário e cibercultura. 2.ed. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2000. NEVES, Ricardo. O novo mundo digital - você já está nele: oportunidades, ameaças e as mudanças que estamos vivendo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2007. O'REILLY, Tim. What Is Web 2.0?. 2005. Disponível em < http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html>. Acesso em: 20 nov. 2008. QUEIROZ, Roberta. Profissional 2.0. Revista Meio Digital, São Paulo, n. 7, p. 6267, set./out. 2008. 17 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios A PROPAGANDA NA TV DIGITAL, DO PONTO DE VISTA DO PUBLICITÁRIO1. Vânia Lúcia Siqueira2 Palavras-chave: Publicitários. TV digital. Comércio eletrônico. Publicidade. Propaganda. INTRODUÇÃO - Desde 2003 fala-se da inserção da TV Digital no Brasil. Foi montado um comitê de especialistas para definir e desenvolver a tecnologia para a implantação da mesma que garantisse o atendimento da necessidade da nossa população. Depois de muitos estudos, finalmente no final de 2007 começaram as experiências práticas e, no ano passado, divulgou-se o início das atividades no território nacional. Em diversas capitais brasileiras a transmissão já é digital. É um fato. No município de Bauru, residência da pesquisadora, há uma equipe da Universidade Estadual Paulista pronta para colocar no ar a TV digital educativa. Há também um mestrado lato senso em TV digital em funcionamento. Diante de todos os artigos e notícias que alardeiam essa inovação, um questionamento, uma curiosidade, surgiu: e a propaganda? Como estaria ela sendo veiculada? O que mudou na prática? Qual a visão e a ação dos publicitários que atuam hoje no mercado no sentido de produzirem comerciais em formato que atenda as potencialidades do sistema? Quais seriam os desafios e as dificuldades de se trabalhar a propaganda na nova lógica da TV Digital, que solicitará a interatividade e consumo sob demanda? A TELEVISÃO BRASILEIRA - A introdução da televisão no Brasil coincide com um importante período de mudanças na estrutura econômica, social e política do País. Inaugurada oficialmente no dia 18 de setembro de 1950, em precário estúdio em São Paulo, por iniciativa do jornalista Assis Chateaubriand, a TV Tupi Difusora surge no momento em que o rádio era o veículo de comunicação mais popular no país, atingindo a quase todos os estados. Nos anos cinqüenta e sessenta, o conceito de desenvolvimento era centrado no crescimento econômico e a industrialização era considerada o principal fator de desenvolvimento. Apesar do regime militar ter se utilizado dos meios de comunicação, principalmente a televisão e o rádio, como instrumentos para o estímulo ao espírito nacional, nos anos setenta principalmente a televisão passa a ficar sob um controle cada vez maior dos grupos estrangeiros, devido à dependência principalmente da publicidade. (MATTOS, 2002 p. 44). CARACTERÍSTICAS E POTENCIALIDADES DA TV DIGITAL - A TV digital começou a ser transmitida no Brasil em dezembro de 2007, entretanto, naquele momento, não foram apresentadas mudanças em termos de conteúdo, apenas no padrão de imagem. É uma nova tecnologia de transmissão de sinais de televisão, que 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected] 18 proporcionará gratuitamente ao telespectador melhor qualidade de imagens e sons e uma série de novos benefícios, tais como ver televisão quando em deslocamento e interagir com os programas. A imagem ganha qualidade de cinema, tal qual ocorre em DVDs e formato 16x9, semelhante ao da tela de cinema, como pode ser visto na figura na seqüência, que mostra também a evolução na aparência dos aparelhos de televisão. O som é comparável ao de um CD e poderá ser surround3. Existe a possibilidade de assistir TV dentro de carros (ou ônibus, trens, barcos) em movimento, sem prejuízo da qualidade de imagem. Será tecnicamente possível para a emissora a transmissão de mais de um programa simultaneamente, ou então, diferentes tomadas da mesma cena de forma que o telespectador escolha a que mais lhe aprouver. A tecnologia da TV digital poderá permitir a edição de imagens em tempo real. Usando o controle remoto, é possível congelar a imagem, misturar, cortar cenas e editar o que quiser, misturando inclusive o videotape de um programa com outro. Interatividade em TV digital significa comunicar-se em duas direções, dialogar. De um lado, a emissora. De outro, o telespectador. No futuro, a emissora poderá transmitir perguntas, questionários, que serão respondidos pelos telespectadores, por meio do próprio controle remoto. Na publicidade haverá um diálogo com os anúncios, pedindo mais informações, descobrindo-se onde o produto é vendido, obtendo-se mais imagens etc. E, se gostar, pode comprar, simplesmente acionando o controle remoto. Mas essas são as promessas para o futuro, o mundo está engatinhando em matéria de interatividade. As pessoas também não tem costume de interagir com a TV. O máximo que fazemos é ligar, desligar, mudar de canal, ajustar o volume. (SIQUEIRA, 2008, p. 38). Como se pode observar, muito se tem a aprender e a realizar antes que a interatividade venha a fazer parte do nosso dia a dia, porém não se pode ignorar, que ensaios sobre esta prática vem sendo feitos, sem que se tenha dado um nome a ela, como é o caso do programa “Você decide”, veiculado há alguns anos pela Globo, em que o espectador era convidado a escolher um final para o episódio, o que era feito via telefone. Não importando a forma como isso era feito, o usuário estava interagindo com a emissora, participando do programa. A IMPORTÂNCIA DA PUBLICIDADE - A publicidade é uma atividade profissional dedicada à difusão pública de idéias associadas a empresas, produtos ou serviços, especificamente, propaganda comercial. Sua importante função é a persuação do consumidor, ajudando a induzir o comportamento de compra. Entretanto, apesar de sua função comercial, a propaganda também pode ser ideológica, com o objetivo de levantar uma bandeira, uma idéia, uma prestação de serviços ligada à utilidade pública, tendo como objetivo disseminar uma idéia ou um conceito. (SAMPAIO, 2003). A IMAGEM E A PUBLICIDADE NA TV DIGITAL - A propaganda hoje conta com a alta tecnologia, muita experiência que requer talentos específicos para manipulá-la de forma consciente. Na TV digital em um primeiro momento, o que parece ser o motivo principal a impulsionar a publicidade, é o comércio, Television Commerce, ou T-Commerce. Verificou-se que, para a publicidade na TV Digital, não há ainda, muita informação que os oriente para as mudanças que virão com o processo de digitalização da televisão. Entretanto, convém lembrar, que com o aumento do espaço na TV 16x9, o publicitário poderá contar com um espaço muito maior para trabalhar com a imagem, um aumento do campo de visão do telespectador e, consequentemente da sua 3 Som surround poderá ser entendido, imaginando que sejam colocados ao redor de um ouvinte, vários alto-falantes, para que o som venha de várias direções diferentes. 19 sensação de imersão, mas esse espaço deverá ser considerado com algum critério, pois nas extremidades da tela não poderão estar os pontos principais da mensagem que se pretende transmitir, já que se for transmitida para uma TV 4x3 terão essas bordas excluídas, perdendo-se assim boa parte da mensagem. As ilustrações a seguir demonstram as deformações nas imagens que podem ocorrer. Figura 1- Imagens nas TV’s 4x3 e 16x9 Fonte: Moviola para Profissionais (2009) Nessa ilustração, “Source” se refere à imagem real, “Native” é a reprodução dessa imagem tal qual ela foi captada. “Letterboxed” se refere a uma imagem com as faixas pretas, para respeitar, na tela 4X3, a proporção de altura da imagem originalmente produzida para a tela 16X9, e “Squeezed” é a imagem espremida para se ajustar ao tamanho da tela, o que a deforma completamente. O espaço maior na tela permitirá também a transmissão de quatro canais simultaneamente ou a exibição de quatro anúncios distintos, quatro espaços com os quais o publicitário poderá contar, o que será benéfico para o anunciante, mas que exigirá da indústria da propaganda uma adaptação. Pode-se imaginar a importância de quatro comerciais sobre veículos da linha VW, por exemplo? Será exigida uma produção mais aprimorada quanto ao cenário, figurino e maquiagem. A pós-produção deverá contar com ferramentas de última geração para finalizar o produto, pois detalhes são nitidamente captados com imagens digitais em televisores de alta definição. Com anúncios publicitários interativos, serão oferecidos links em áreas isoladas das imagens que podem ser acessados simultaneamente com a programação normal, e esses links poderão ser salvos e acessados posteriormente, caso tenha interessado ao visualizador. Acessando esses links, o anunciante terá como mensurar o número de telespectadores que estão interagindo com o anúncio. METODOLOGIA - Observou-se neste trabalho o método da pesquisa qualitativa exploratória, utilizando-se de levantamento em materiais impressos e eletrônicos e pesquisa com fontes primárias. Apesar do esforço realizado, conseguiu-se apenas 20 uma resposta de um especialista em tecnologia a distância. O grau de ocupação dos integrantes da amostra não permitiu que muitos profissionais contatados retornassem o questionário em tempo hábil. O único respondente havia sido selecionado por conveniência, em função de contato profissional com a pesquisadora, mas também por julgamento, em função de sua relevante atuação no segmento. No período de 15 de abril a 20 de maio, foram enviados por e-mail 30 questionários a profissionais que atuam nas cidades de São Paulo e Bauru envolvidas. Destes apenas 06 retornaram respondidos. PESQUISA DE CAMPO – ESPECIALISTA EM TECNOLOGIA - Buscando conhecer um pouco mais sobre a TV Digital, foi entrevistado o profissional Ethevaldo Siqueira. Escritor, consultor e jornalista especializado em comunicações e em novas tecnologias. É também colunista do jornal O Estado de São Paulo e acompanha todo o processo de implantação da TV digital no Brasil. Sobre a Interatividade, explicou que é a possibilidade de os telespectadores interagirem com a TV, respondendo a pesquisas, fazendo compras de produtos exibidos em programas de maior audiência (telenovelas, jogos de futebol, filmes de sucesso, etc.), usando para isso o controle remoto. Dependerá de um software instalado no televisor e no controle remoto, que fará a comunicação entre o telespectador e a emissora. O nome comercial desse software no Brasil é Ginga, desenvolvido por um consórcio de empresas e de pesquisadores das universidades brasileiras. Quando seus responsáveis obtiverem todas as autorizações para uso de parte desse software pertencente a entidades internacionais, o Ginga será oficializado pelo Ministério das Comunicações e pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), para uso em todo o País, e deverá começar a funcionar no Brasil em 2010. Quanto à Mobilidade, é a possibilidade de recebermos as imagens da TV digital em celulares e outros aparelhos móveis, como laptops, agendas eletrônicas, iPods etc. Sobre a Portabilidade, esclareceu que é a possibilidade de vermos TV em diferentes aparelhos – em computadores, laptops, PDAs (Personal Digital Assistants) em trens, aviões, navios, etc. A Flexibilidade é a possibilidade de ter o máximo de aplicações e serviços, tanto para as emissoras de TV quanto para as operadoras de celulares e empresas de multimídia. A Multiprogramação proporcionará a transmissão de até 4 programas de TV digital no mesmo canal de freqüência. Esses canais digitais não serão de alta definição, mas de definição padrão (Standard Definition). Sobre as mudanças para as quais os publicitários deverão se preparar, Siqueira diz que o potencial da nova tecnologia digital é desconhecido pela maioria das agências de publicidade, mas menciona a necessidade de um cuidado especial, já que a TV digital oferecerá imagens muito mais nítidas e pequenas falhas poderão ser percebidas pelas câmeras. Explica ainda, que o Brasil vive um período de lenta aprendizagem com a TV digital, e que o período de transição entre a TV analógica (atual) e a TV digital (a nova tecnologia) será com certeza superior a 10 anos. PROFISSIONAIS DO MERCADO DA COMUNICAÇÃO - Na sondagem realizada coletou-se as opiniões de seis publicitários. Cinco deles atuam na cidade de Bauru e um na cidade de São Paulo. Com a finalidade de conhecermos a realidade vivida pelos publicitários diante do advento TV Digital, foi feito um questionamento individual. Pode-se observar pelas respostas, que não importando onde estejam alocados, os publicitários brasileiros ainda têm uma grande jornada a percorrer antes de se sentirem prontos para publicidade na TV Digital. Ainda sentem a falta de informações para tanto, a falta de um treinamento específico. Percebe-se ser quase uma unanimidade a sensação de desconhecimento real sobre as possibilidades e o 21 funcionamento da nova tecnologia, apesar de já estar em funcionamento em algumas cidades brasileiras. Sobre o trabalho do publicitário, as mudanças substanciais que incidirão sobre as suas criações para a TV digital, não há qualquer orientação. No que diz respeito à publicidade, até o momento parece haver apenas a preocupação com os resultados de vendas que se poderá atingir, o que pode ser verificado nas leituras feitas, dando uma especial atenção à interatividade. ”Clicar” será a nova tendência. Mais uma vez poderá ser feita a pergunta: Como estarão sendo apresentados os comerciais, pelas emissoras das cidades onde essa nova tecnologia já está no ar? CONCLUSÃO - Os dados levantados permitiram constatar que os publicitários ainda não puderam contar com nenhum treinamento para desenvolver peças para veiculação na TV Digital, e é no mercado americano que se pode buscar alguma referência sobre o assunto. Perguntados se as suas agências já desenvolvem peças para a veiculação em TV Digital, todos informaram que ainda não o fizeram, e deixam claro a existência de dúvidas. Sobre a maneira como a mudança tecnológica afetará o trabalho criativo, foi lembrada a interatividade com o telespectador, que exigirá do publicitário um empenho muito maior em tornar a publicidade relevante, e do ponto de vista de venda, muito mais agressiva. Quanto à motivação que a nova tecnologia poderá agregar ao resultado que a publicidade poderá alcançar, todos mencionaram o resultado prático, vendas, que esse trabalho objetivará, com possibilidade de se mensurar os números provenientes da interatividade que está sendo prometida. Comentaram também sobre o desafio de se trabalhar as inúmeras opções, dirigindose de certa forma diretamente aos usuários que estiverem interessados em determinado produto, afinal, ele estará com o controle remoto nas mãos, interagindo e fazendo as suas escolhas. Tudo girará em torno do interesse do usuário. Muito embora a TV Digital no Brasil tenha se tornado realidade em grandes cidades, o contato com os profissionais demonstra que essa nova tecnologia ainda parece fazer parte de um capítulo do livro de ficção científica “Admirável Mundo Novo”, que, apesar de ter sido escrito por Aldous Huxley na década de 30, previa, por exemplo, a obtenção de clones, fato que acabou por se tornar uma realidade. Da mesma forma, com a mesma curiosidade e espanto que o livro causou na época, os profissionais ainda entendem as mudanças, as adaptações que a publicidade sofrerá com as exigências da TV Digital, como algo para um futuro distante. Tem-se a impressão de que ainda não se movimentam, talvez por ainda não acreditarem nessas mudanças, na direção desse novo formato. Ainda não se preparam para adaptarem seus conhecimentos e experiência às exigências dessa nova maneira de se fazer comerciais para a televisão. Obviamente isso acontecerá no momento em que se sentirem diante da necessidade, mas deve-se confessar uma discreta frustração, pois quando se determinou o início dessa pesquisa, pretendia-se encontrar uma outra realidade. Um trabalho sendo feito e exemplos para serem estudados. Talvez até profissionais com novas vivências para dividir. Todavia, apesar dessa lacuna, a experiência trazida por esse estudo foi válida pelas informações adquiridas sobre a TV Digital. Conclui-se, no entanto, que a publicidade direcionada a esse novo veículo ainda “engatinha”, sendo necessário que os profissionais se mantenham informados sobre o assunto, acompanhando todas as novidades que venham a surgir. 22 REFERÊNCIAS MATTOS, Sérgio. História da televisão digital: uma visão econômica, social e política. Vozes: Petrópolis, 2002. SAMPAIO, Rafael.Propaganda de A a Z. Elsevier: Rio de Janeiro, 2003. SIQUEIRA, Ethevaldo. Para compreender o mundo digital. Globo: São Paulo, 2008. 23 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios REPRESENTAÇÃO CULTURAL DENTRO DA SOCIEDADE DIGITAL: A UTILIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS COMO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO1. Vitor Pachioni Brumatti2 Palavras-chave: Representação cultural. Redes sociais. Internet. Comunicação. INTRODUÇÃO – A globalização está cada vez mais inserida em nosso dia-a-dia, fazer parte dela e de seus processos já não é mais uma opção e sim uma necessidade. Uma necessidade de buscar informações e conteúdos, buscar conhecimento e buscar também construir uma identidade cultural nessa nova realidade de sociedade que nos é apresentada: a sociedade digital. O processo de digitalização ou “virtualização” da sociedade tem um “veículo” que permite a “circulação” da informação. Esse veículo é a internet, uma grande rede de computadores conectados entre si que permite o envio e recebimento dos mais diversos tipos de informação, sobre tudo que se possa imaginar. A internet também permite que pessoas relacionem-se entre si, conheçam gostos, hábitos e costumes umas das outras, o que possibilita uma aproximação significativa entre elas, essa aproximação cria novos grupos, novas micro sociedades dentro de uma sociedade muito maior. Compreender o que os indivíduos buscam, como o fazem e principalmente qual a importância desse processo para cada um é muito mais profundo do que simplesmente dados quantitativos sobre números de acessos a um conteúdo específico. Pode mostrar também o que os indivíduos buscam em nossa sociedade, porque precisam dessa informação e interação e o quão importante está se tornando a participação cultural da internet dentro dos hábitos e costumes de cada um. RELEVÂNCIA – Mesmo com a característica global da sociedade digital, o indivíduo produz e representa sua cultural em caráter regional. Sendo essa região aquela na qual ele se identifica e encontra indivíduos similares. Entretanto um mesmo indivíduo pode produzir e representar diversas formas culturais, desde que ele se identifique com cada uma delas, reafirmando o contexto de multiplicidade dessa sociedade. Será então a presença e representação humana na sociedade digital vinculada com qual modelo? De fato criamos uma globalização cultural digital? Qual é o sentido desta globalização cultural e quais seus interesses? Este estudo contribuiu muito para o entendimento da participação do ser dentro de uma sociedade específica, seus gostos, necessidades e anseios. Permitindo que fosse possível entender o que e como cada ser busca informação, relaciona-se e produz seu conteúdo em um ambiente dinâmico e altamente interativo. 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Publicitário com Especialização em Antropologia. Professor do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected] 24 METODOLOGIA – Foi realizada uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório dentro dos temas relevantes para o contexto do trabalho. Foi realizada também uma análise sincrético-analítica-sintética da pesquisa realizada pelo Instituto Cultura Data, disponibilizada via e-mail para o autor, buscando modelos e formas de representação cultural do indivíduo dentro de uma sociedade digital. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA – A explanação teórica do trabalho passou por quatro tópicos principais, iniciando pela globalização, posteriormente falando a respeito do virtual, em seguida abordando a internet e a sociedade digital e por fim redes sociais e representação digital. Em todos os casos não foi intuito realizar uma discussão sobre os temas, mas sim fazer uma explanação com a finalidade de possibilitar uma compreensão dos mesmos. A mesma linha de pensamento foi desenvolvida nesse resumo. A respeito do tema globalização foram utilizados alguns textos pontuais, entre os quais se destacam Moderno... (c1998-2008a), Globalização [2008?], Andrioli (2003), Batista Junior (1998), Braga (2001), Beck (1997), Hirst e Thompson (1996) entre outros que permitem compreender a globalização em seu conceito e brevemente um contexto em que pode ser inserida e relacionada. Dessa forma foi possível desenvolver uma compreensão por meio das idéias e conceitos apresentados, desde a conceituação do termo globalização, presente no dicionário Moderno... (c1998-2008a), até sua ampliação para um aspecto mais conceitual presente em Globalização [2008?], Andrioli (2003), Batista Junior (1998) mostrando a proposta de globalização como um processo que idealiza a integração de diversos países por diferentes aspectos, com consequências diversas também que acabam por impactar vários aspectos da sociedade, entre eles a cultura como identificou Andrioli (2003) e que é o foco principal do trabalho. Sobre o tema virtual também foram utilizados alguns autores para realizar essa explanação, entre eles destacam-se Moderno... (c1998-2008b), Candido [200-?], Lévy (1996), Martinez [200-], Deleuze (1996) entre outras colocações que possibilitaram um entendimento a respeito do conceito de virtual e sua relação com a sociedade. Com isso foi possível complementar a teorização iniciada no assunto anterior iniciando também com uma explicação advinda do dicionário Moderno... (c1998-2008b) passando por outras leituras principalmente Candido [200-?] que aborda dois autores de renomes em seu texto Lévy (1996) e Deleuze (1996) permitindo compreender o virtual enquanto possibilidade ou como Lévy (1996 apud CANDIDO [200-?]) coloca como “potência” e sua relação com o real e o atual no processo de oposição e complementação. Esse conceito também é abordado por Martinez [200-] e permite assim ampliá-lo e complementá-lo. Outro ponto importante trazido por Candido [200-?] foi a identificação da importância do processo de comunicação como parte importante para a formação do que o autor intitula por “comunidade virtual” que seria aprofundado nos tópicos seguintes. Quando foi abordado o tema internet e a sociedade digital foram utilizados principalmente os textos de Coutinho (2008), Galli (2002), em que Coutinho (2008) traz informações a respeito da internet no Brasil em que fica evidente sua relevância e importância na sociedade, enquanto que Galli (2002) desenvolve uma explicação mais teórica ao relacionar a internet com a globalização, suas aplicações e efeitos na sociedade, possibilitando inclusive identificar novas configurações de alguns aspectos da sociedade, em específico quando se trata da utilização da internet como meio de comunicação. Já quando foi abordado o tema redes sociais e representação digital utilizou-se os autores Coutinho (2006), Galli (2002) entre outros que possibilitaram complementar 25 essa discussão seguindo a estrutura do tópico anterior em que foi possível identificar a relevância dos sites de relacionamentos de acordo com os dados apresentados por Coutinho (2006) em que fica nítida a importância dos sites de relacionamento a respeito da utilização da internet. Enquanto que Galli (2002) continua com sua abordagem teórica e identifica como ocorre o processo de comunicação nesses espaços e a participação dos emissores e receptores de forma dinâmica e interativa dentro desses espaços comunicacionais. E Coutinho (2006) conclui que a internet e seus ambientes acabam por proporcionar uma aproximação de acordo com os interesses em comum dos indivíduos que interagem nesses ambientes. No desenvolvimento da análise dos resultados da pesquisa realizada pelo Instituto Cultura Data (INSTITUTO CULTURA DATA, 2008) foi possível perceber a importância da internet e a identificação das suas principais utilizações por meio do público pesquisado. Dessa forma, foi possível relacionar com os aspectos teóricos estudados e assim compreender a participação dos indivíduos dentro da internet. CONCLUSÃO – De acordo com os estudos realizados pode-se entender a presença e representação cultural do ser humano dentro da sociedade digital como uma participação ampla, em um primeiro momento ela é passiva, no sentido de busca e recepção de informações que possibilite a identificação e construção de uma identidade, que por vezes reflete e/ou amplia a cultura construída fora da sociedade digital. Em um segundo momento ela tem uma utilização muito relacionada ao processo de comunicação, em que os usuários utilizam-na para se comunicar e trocar informações principalmente em sites de relacionamentos entre os próprios usuários. O processo de produção cultural e as manifestações do homem ocorrem através da busca por indivíduos que compartilham os mesmos interesses e costumes, essa busca por afinidades resulta na criação de grupos e pequenas comunidades que se relacionam dentro da discussão e troca de informações a respeitos dessas afinidades. Esses sites, como foi visto tanto na parte teórica como também na análise da pesquisa tem conquistado cada vez mais participantes e seu crescimento tem chamado muita atenção. A dimensão da cultura está muito relacionada com os gostos hábitos e costumes, as informações coletadas dentro desse veículo de comunicação que é a internet alimenta esses hábitos e esses aspectos ganham valor significativo dentro do que esses indivíduos entendem por cultura, buscando se aprimorar e aprofundar cada vez mais nos conteúdos que os inserem dentro dessas comunidades. REFERÊNCIAS ANDRIOLI, A. I. Efeitos culturais da globalização, 2003. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/026/26andrioli.htm>. Acesso em: 12 jan. 2009. BECK, U. Was ist Globalisierung? Frankfurt: Suhrkamp, 1997. BATISTA JUNIOR, P. N. Mitos da "globalização". Estud. av., São Paulo, v. 12, n. 32, Jan./Abr, 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010340141998000100012&script=sci_ arttext>. Acesso em 12 Jan. 2009. 26 BRAGA, R. Globalização ou Neocolonialismo? O FMI e a Armadilha do Ajuste. Actuel Marx em Ligne, 2001. Disponível em: < http://actuelmarx.uparis10.fr/indexm.htm>. Acesso em: 25 jan 2009. CANDIDO, C. Notas acerca do Virtual, [200-?]. Disponível em: <http:// www.caosmose.net/candido/unisinos/textos/ovirtual.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2009 COUTINHO, M. A web brasileira em 2009, [2008] Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/blog/plural/2008/11/23/a-web-brasileira-em-2009/>. Acesso em: 21 jan. 2009 COUTINHO, M. A comuna digital, [2006]. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/blog/plural/2006/04/24/a-comuna-digital/>. Acesso em: 21 jan. 2009 DELEUZE, G. O atual e o virtual. In: ALLIEZ, E. Deleuze filosofia virtual. São Paulo: Editora 34, 1996. p. 47-56. DENTIN, S. O virtual nas ciências. In: PARENTE, A. (Org.). Imagem máquina: a era das tecnologias do virtual. Rio de Janeir : Editora 34, 1993. GALLI, F. C. S. Linguagem da internet: um meio de comunicação global, [2002]. Disponível em <www.ufpe.br/nehte/artigos/LINGUAGEM%20DA %20INTERNETum%20meio.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2009 GLOBALIZAÇÃO. Rede Nacional de Consumo Responsável, [2008?]. Disponível em: <http://www.isu.pt/cr/wp-content/rncr_fichas/RNCR_Ficha_A1.pdf>. Acesso em 25 jan. 2009. HIRST, P. ; THOMPSON, G. Globalization in question: the international economy and the possibilities of governance. Cambridge, U.K., Polity Press, 1996. INSTITUTO CULTURA DATA. Conexão cultura: pesquisa realizada de 10 a 17 de dezembro de 2008. São Paulo, 2008. 60 p. LÉVY, P. O que é virtual?. São Paulo: Editora 34, 1996. 27 MARTINEZ, V. C. Notas suplementares sobre o virtual, [200-]. Disponível em: <http://globalization.sites.uol.com.br/notas.htm>. Acesso em: 12 jan. 2009. MODERNO dicionário da língua portuguesa. Michaelis, c1998-2008a. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php? lingua=portuguesportugues&palavra=globaliza%E7%E3o>. Acesso em: 12 jan. 2009. MODERNO dicionário da língua portuguesa. Michaelis, c1998-2008b. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php? lingua=portuguesportugues&palavra=globaliza%E7%E3o>. Acesso em: 12 jan. 2009. 28 EIXO TEMÁTICO: RELAÇÕES PÚBLICAS E INFORMAÇÃO 29 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL SOB DIFERENTES ÓTICAS – PSICOLÓGICA, SOCIAL E ECONÔMICA1. Lívia Ikeda Martins2 Palavras-chave: Crise. Crédito imobiliário. Capitalismo. Mercado de imóveis. Assédio moral. Desemprego. INTRODUÇÃO - A Crise Financeira Mundial, que se alastrou no segundo semestre do ano de 2008 provocando uma derrocada nas bolsas, bancos e economias mundiais, balançando-as e tirando-as da estabilidade, colocou em xeque o próprio sistema capitalista. Provocou uma queda no consumo e fez com que trabalhadores de todo o mundo ficassem com medo de perder seus empregos. No contexto brasileiro, os bancos recuaram em relação ao crédito porque houve um aumento da inadimplência, deixando assim, o país dentro de um ciclo vicioso, sofrendo impacto sobre sua economia. Isto posto, neste artigo apresentam-se os principais aspectos e fundamentos desse processo, cujas informações foram obtidas por meio de pesquisa bibliográfica e de entrevistas4. RELEVÂNCIA – Trata-se de um tema atual e de interesse daqueles que estudam os diferentes aspectos que interferem no cotidiano da sociedade. Pesquisar e refletir sobre as interfaces desse tema possibilitou atualização e enriquecimento pessoal e acadêmico. METODOLOGIA – Para desenvolvimento do estudo desenvolveu-se pesquisa bibliográfica e trabalho de campo. Optou-se, nesse sentido, pela pesquisa qualitativa, por intermédio da técnica de “entrevista em profundidade”. Escolheu-se os informantes com formação nas áreas de advocacia, medicina veterinária, administração, geopolítica, relações publicas, teologia, antropologia e análise de sistemas. As entrevistas foram realizadas entre a primeira e a segunda quinzena de maio de 2009, após o agendamento prévio de data e horário, além do envio de material de apoio aos entrevistados, assim como do roteiro de questões e um breve texto com explicações sobre o tema, para que os participantes tivessem conhecimento dos assuntos abordados durante as entrevistas. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA – Primeiramente considera-se importante apresentar alguns pressupostos sobre o tema e após os principais resultados do trabalho de campo. De acordo com Steinbruch (2009, p. C6), “uma das características mais marcantes da atual crise é a inversão ideológica 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Aluna de graduação em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas – Universidade Sagrado Coração – E-mail:[email protected]. Trabalho elaborado sob orientação da Profa. Dra. Sonia Aparecida Cabestré. 4 A elaboração do projeto de pesquisa de opinião, realização das entrevistas e formatação do relatório de pesquisa foi desenvolvida em conjunto com a aluna Juliana Abss. 30 que ela provocou. A primeira, sobre a intervenção estatal na economia, que, esquecida durante décadas, voltou a ser abertamente recomendada, não apenas para investimentos públicos mas também para salvar da falência instituições financeiras e empresas industriais. A segunda, sobre a globalização, tão exaltada como qualidade indispensável, que passou a ser indicador de risco para as grandes companhias. De fato, pelo menos até agora, os maiores perdedores na atual crise são países cuja economia se mostra mais dependente do comércio global, incluindo o Brasil.” O mercado de imóveis começou a sofrer com seus preços caindo na inadimplência de mutuários, quando a taxa de juros subiu de 1% a 5,35%, entre 2004 e 2006, segundo os grandes economistas. De acordo com Kristina Gomes (2009), “o mercado imobiliário viu que o financiamento era uma boa maneira de ganhar dianheiro e, em 2003, houve um aumento na procura pelo crédito, já que os juros no setor chegou a 1% ao ano, o menor em 50 anos nos EUA.”. Deu-se a queda global em março de 2007, com a aplicação da crise do subprime, que seriam os empréstimos imobiliários, disponibilizados às pessoas, empresas e bancos, com histórico de inadimplência, que emprestam dinheiro antes mesmo de pagar suas dívidas. As financeiras americanas passaram a confiar de modo excessivo em pessoas que não tinham um bom histórico em pagamentos de dívidas. Na tentativa de recuperar as perdas, os juros subiram acima da capacidade de pagamentos e os valores acima do real valor dos imóveis, gerando desemprego e descontentação por todo o planeta. No Brasil, tivemos efeitos positivos e negativos dessa realidade. Mesmo com a crise, o nosso país ainda lidera o ranking de maior exportador de alimentos do mundo; coexistindo com tal estimativa, uma explicação lógica para isso: as pessoas não deixarão de comer. Portanto, ainda que se verifique uma redução nas cotações das mercadorias exportadas pelo país, a venda de comida (soja e carne, principalmente) trará neste ano pelo menos 50 bilhões de dólares em divisas para o país. Quanto ao desemprego, o Brasil aparece com destaque entre os países que têm tido altos índices de demissões e, somente em dezembro, o país perdeu 654 mil postos de trabalho, superior até mesmo que as demissões nos EUA neste mesmo mês. Sob um contexto social e psicológico, grande parte dos advogados afirma que a pressão para melhorar os resultados diante dos efeitos da crise mundial se dissemina e coloca cada vez mais trabalhadores em situações de possível assédio moral, que seria um conjunto de condutas agressivas, frequentes e intencionais, que atingem a dignindade da pessoa, resultando em humilhação e sofrimento. Nesses tempos de instabilidade econômica, o trabalhador, infelizmente, está sujeito a situações como essa, que denigrem a sua estabilidade mental, deixando-o inativo quanto a sua produção. De acordo com o Presidente do Fundo Monetário Intenacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, o término da crise financeira ainda está distante e, apesar do surgimento de índices de recuperação, a economia global enfrentará a pressão de longo prazo. Segundo ele, o período de recessão será sentido durante um tempo, ainda que diversos países tenham adotado medidas para incentivar a economia. Ele reiteirou que se forem adotadas políticas corretas e reforçada a administração financeira, a economia mundial poderá experimentar revitalização no primeiro semestre de 2010. No que concerne aos resultados do trabalho de campo – entrevistas realizadas com os profissionais escolhidos previamente, priorizou-se dar ênfase aos principais motivos do início da crise econômica e as conseqüências em vários países do mundo, assim como no Brasil. Dessa forma, destacam-se temas dentro do cotidiano do trabalhador brasileiro, bem como as economias mais afetadas e o seu reflexo nos diferentes setores do Brasil. Os entrevistados manifestaram-se sobre o sistema capitalista e a relação deste com 31 a globalização e o atual contexto de crise: as respostas foram relevantes e a maioria dos entrevistados respondeu com estilos de raciocínio parecidos; diferentemente de outras questões, como a que abordou sobre a relação da crise com a mídia. Dois dos entrevistados tiveram opiniões diferenciadas; um deles ressaltou que a mídia tenta mostrar à população que a crise já passou, mas que isso não é o que acontece que ela ainda está forte diante do mercado e da população; já o segundo observou que a mídia está criando uma onda de medo nas pessoas, pois está a favor do capital, mas que a crise é setorizada, que alguns segmentos não sofreram diretamente com suas consequências. Nesse sentido, vale ressaltar a importância deste trabalho de teoria e pesquisa, pois foi extremamente importante a opinião dos profissionais entrevistados, por ter nos possibilitado desenvolver de forma coerente este tema totalmente intrínseco ao nosso cotidiano. CONSIDERAÇÕES FINAIS - Através desta pesquisa, especificamente das informações coletadas com profissionais de diversas áreas de formação, nos foi permitido identificar os principais motivos da crise e o comportamento da sociedade diante deste período de instabilidade econômica, tendo em foco o sistema capitalista, o qual trouxe um grande acúmulo de riquezas e certo contraste social, que hoje, está em questionamento. Diante dos dados obtidos, pudemos confirmar nossas hipóteses as quais se basearam na mudança do comportamento profissional e social da população. Também foram concretizados nossos objetivos, indo do início da crise econômica até as visões mercadológicas diante de um futuro próximo. Foi, para nós, estudantes de Comunicação Social com Habilitação e Relações Públicas, muito gratificante poder estudar um assunto tão marcante e instigante como este, que nos afetou e continua afetando em todos os âmbitos, social, psicológico, econômico e político. Mesmo o Brasil sendo um país não tão afetado quanto os outros, como os Estados Unidos e a Europa, também sofreu em grande proporção, desde assédios morais e demissões, até nos preços e condições favoráveis de pagamento de produtos em geral, deixando nossos conterrâneos em total alerta. REFERÊNCIAS CHINA, Rádio Internacional online. Presidente do FMI: término da crise financeira ainda está distante. Disponível em: <http://portuguese.cri.cn/index.htm>. Acesso em: 13 ago 2009. FUCS, José. Como o Brasil pode reagir à crise. Revista Época, São Paulo, n. 564, 7 de mar. de 2009. HELOANI, Roberto. Demissões atingirão 230 milhões em todo o mundo. Disponível em: <www..folha.uol.com.br>. Acesso em: 23 mar. 2009. ROLLI, Claudia; FERNANDES, Fátima. Casos de assédio moral crescem na crise. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo. 2009. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u538937.shtml. Acesso em: 23 mar. 2009. 32 STEINBRUCH, Benjamin. O Mundo será menos desigual se as economias desenvolvidas olharem com generosidade para os países mais pobres. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 3 de mar. 2009. Caderno Oportunidades. 33 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios COMUNICAÇÃO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS – DIFERENCIAIS DE DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO1. Sonia Aparecida Cabestré2, Regina Célia Baptista Belluzzo3 Palavras-chave: Comunicação. Gestão da informação. Gestão do conhecimento. INTRODUÇÃO - No atual contexto defrontamo-nos novamente com a necessidade de reinventar a vivência em sociedade. Aparecem novos estilos e ciclos de vida. Os sistemas produtivos transformam-se. Há um reconhecimento mundial que a inteligência representa um elemento cada vez mais importante em todas as áreas de atuação do ser humano. A capacidade de inovação não se situa mais como prioridade no potencial organizacional, mas sim no investimento constituído pelas competências. Em face do exposto, busca-se com esta produção apresentar e refletir sobre os principais aspectos que compõem e interagem no processo de recepção e difusão da informação e no seu uso inteligente no contexto da comunicação organizacional. RELEVÂNCIA – Pesquisar e refletir sobre os processos de gestão da comunicação, da informação e do conhecimento é condição sine qua non no cotidiano dos profissionais que atuam como educadores na graduação em comunicação e que, ao mesmo tempo, vivenciam outras experiências nos diferentes ambientes organizacionais da sociedade. Dada a importância desses processos, tal estudo torna-se relevante na medida em que possibilita ao pesquisador aprofundar-se e buscar as condições adequadas para socializar o conhecimento e ampliar o leque de relacionamentos. METODOLOGIA – Desenvolveu-se pesquisa bibliográfica junto à literatura e em artigos científicos disponibilizados na Internet com o intuito de identificar, selecionar e analisar produções de autores que têm realizado estudos significativos sobre gestão da informação e do conhecimento e comunicação organizacional. Da literatura e dos textos selecionados pode-se extrair os fundamentos e aspectos mais importantes sobre o tema, o que possibilitou refletir e analisar a respeito das informações pertinentes e consideradas importantes para esta produção. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA – Por se tratar de um estudo com ênfase em gestão da informação e do conhecimento e comunicação organizacional priorizou-se destacar os fundamentos e aspectos que caracterizam e 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Relações Públicas com Doutorado em Educação – Ensino na Educação Brasileira pela UNESP/Marília. Professora do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas e do Curso de Pós-Graduação em Comunicação nas Organizações – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected]. 3 Formação em Biblioteconomia e Doutorado em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. É docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática – FAAC-UNESP-Bauru e Consultora em Projetos de Gestão da Informação e do Conhecimento. Email: [email protected] 34 valorizam esses processos. Primeiramente é importante ressaltar que, na atual economia, o único paradigma permanente é a mudança. Entretanto, as pessoas constituem o primeiro elemento da mudança e precisam saber a sua razão. É importante que estejam informadas sobre as condições e ambiência do seu desempenho nesse processo. Certamente, que a tecnologia é um outro fator chave para o desenvolvimento do talento humano, ainda que a velocidade no ritmo de mudança tecnológica altere, com relativa agilidade, a vigência das competências técnicas, pessoais, profissionais e sociais das pessoas e o fluxo do conhecimento na sociedade atual (BARRETO, 1998). Na opinião de Moraes (2004), entretanto, quem assumiu a dianteira no processo de globalização foi a informação. Deve-se esclarecer que, como todo conceito imperfeitamente definido, globalização significa coisas distintas. Pode-se, no entanto, perceber quatro linhas básicas de interpretação desse fenômeno: como uma época histórica; como um fenômeno sociológico de compressão do espaço e tempo; como hegemonia dos valores liberais; e, como fenômeno sócio-econômico (PRADO, 2006). Na área de comunicação, por exemplo, a própria noção de informação não corresponde mais à simples idéia de notícia e incorpora várias concepções: informação de base (bancos de dados, acervos digitais, arquivos multimídias), informação cultural (filmes, vídeos, jornais, programas televisivos, livros etc.) e know-how (invenções, patentes, protótipos etc.). Cada vez mais, a produtividade e a competitividade das organizações dependem da capacidade dos agentes econômicos de aplicar de modo eficiente informações baseadas em conhecimento. A disponibilidade de dados em tempo real, de modo instantâneo e à medida da necessidade das pessoas, passa a ser um elemento-chave para a diminuição do prazo de resposta de investidores e especuladores diante da variação dos mercados globalizados. A explosão do conhecimento e o ritmo acelerado das mudanças sociais estão exigindo respostas ágeis e sem precedentes na história das organizações. Assim, prosperar é empreender saltos significativos em competitividade. Para tanto, certamente há um único caminho alternativo: pessoas e organizações devem aprender mais rapidamente. Os princípios e conceitos que procuram explicar a informação têm apresentado, em geral, o seu elo com a produção do conhecimento, uma vez que a associam ao desenvolvimento e à liberdade individual, aos grupos de convivência e à sociedade como um todo. “A informação, quando adequadamente assimilada, produz conhecimento, modifica o estoque mental de informações do indivíduo e traz benefícios ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento da sociedade em que ele vive” (BARRETO, 1994, p. 1). A questão central na sociedade contemporânea não é mais apenas o acesso à informação, mas o uso e a utilidade da informação para fazer o quê? Como questionar essa informação onipresente, principalmente nos processos comunicacionais? Isto porque saber questionar um estoque de informações requer previamente uma competência, existindo uma estreita especialização para que a troca de informações seja possível com as facilidades de acesso e da mídia. Entretanto, é importante ressaltar, também, que as TIC por si só não criam uma nova cultura ou novos saberes, isto porque dependem sempre de culturas e de saberes anteriores. Por que precisamos de instrumentos para acessar e usar a informação com sentido e significado e, a partir daí, estarmos criando o conhecimento novo nas organizações? Enquanto seres humanos, somos detentores de algumas capacidades que, se por um lado nos permitem fazer o que fazemos, por outro também implicam em limites para essas mesmas coisas que fazemos. Além da dificuldade de pensarmos conhecimento por meio de disciplinas e da dificuldade crescente de dividi-lo em espaços de informações estanques e inseridos 35 em princípios de linearidade, existe até mesmo consenso de que, desde o final do século XX, ocorreram profundas transformações nos modos de produção e, especialmente, nos modos de produção do conhecimento e de sua difusão. As redes de trabalho, a globalização, a necessidade de maximização de recursos, processos e serviços, a busca pela lucratividade por intermédio da inovação tecnológica, enfim, são questões que têm afetado os ambientes organizacionais, não só em seu compromisso com a sociedade, mas no âmbito de sua essência (GALVÃO; BORGES, 2000). Em um mundo onde há tanta informação e pouca sabedoria, também faz parte do kit de sobrevivência a capacidade de usar bem a informação e de estabelecer a sua utilidade, selecionando o que é importante para a tomada de decisões, em especial, nos contextos organizacionais. Certamente, vivemos a Era da Inteligência Conectada que, segundo Cebrián (1998, p. 18) “não se trata simplesmente da interconexão de tecnologias e, sim, da interconexão de seres humanos pela tecnologia. Não se trata de uma era das máquinas inteligentes, mas de seres humanos que, pelas redes podem combinar sua inteligência, seu conhecimento e sua criatividade para avançar na criação de riqueza e desenvolvimento social. Não se trata apenas de uma era de conexão de computadores, mas de interconexão da inteligência humana”. Além disso, a informação coletada necessita de organização para que possa ser analisada, categorizada, para que depois seja recuperada e utilizada adequadamente. A organização da informação baseia-se na interpretação, comparação e na síntese, o que significa uma reestruturação da mesma segundo as ênfases e focos de atenção determinados pela investigação e sua contextualização, de modo a fazer sentido: estes são os primeiros passos para a construção do conhecimento nas organizações. A construção de redes de significados, a partir do que as pessoas ouvem, lêem e refletem, constitui uma estrutura de aprendizado que leva à formação da inteligência. Os processos que envolvem a competência em informação objetivam a construção do conhecimento em ambientes organizacionais, com o uso inteligente de informações geradas, de modo que possam ser difundidas a outras pessoas mediante diferentes processos comunicacionais. Isso implica no domínio de instrumentos, técnicas e habilidades de comunicação, oral ou escrita, podendo envolver desde o uso de comunicação interpessoal até os aplicativos e linguagens de informática. O usuário / receptor passa a ser um conhecedor de como o conhecimento está organizado, como buscar a informação, como usá-la de modo inteligente e como proceder ao processo de comunicação do conhecimento gerado. No contexto da construção do conhecimento nas organizações, portanto, destaca-se o seu processo de socialização. De acordo com Teixeira; Brandão (2006, p.2), “a sociedade da informação configura-se como um ambiente potencializado pelo advento das novas tecnologias e que tem como uma de suas principais características o valor crescente do conhecimento para o desenvolvimento humano e social de indivíduos e grupos”. Sob esse aspecto e, se considerarmos que todo ator social tem direito à informação, pode-se inferir que, por intermédio desse processo, os responsáveis pela geração e difusão de informações em ambientes organizacionais, ao utilizarem de forma adequada os recursos tecnológicos estariam cumprindo seu papel social. É importante ressaltar também, que o processo de globalização possibilitou a criação de novos mecanismos de relacionamento no contexto social; nesse sentido, e apoiando-se nas reflexões de Teixeira; Brandão (2006, p. 2), pode-se afirmar que “o papel de destaque das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) na sociedade atual é atribuído principalmente à valorização da informação”. Todo processo decisório, seja no âmbito das 36 organizações e/ou instituições, seja na ambiência de pesquisa do indivíduo, é definido em função da valoração dada à informação. “Tudo aquilo que potencialize o seu manuseio representa um elemento importante nesse processo, no qual a informação emerge como matéria-prima e a tecnologia como um meio de agir sobre ela. Nesse sentido, é possível apontar tais tecnologias como as principais propulsoras e mantenedoras da atual sociedade” (TEIXEIRA; BRANDÃO, 2006, p. 2). Não se pode negar o papel representado pelas tecnologias interativas, uma vez que através de sua utilização disponibilizam informações de e para diferentes áreas e setores nas organizações. Ressalta-se, de acordo com os estudiosos mencionados, que uma das principais características das TIC é a de diminuírem a “distância” entre o ser humano e aquilo que lhe pode ser extremamente valioso: a informação. O fato de as pessoas vivenciarem cenários diferentes e desenvolverem atividades diversas no seu cotidiano, impossibilitando a realização e/ou efetivação de compromissos por intermédio da comunicação face a face, fez da Internet um canal bastante utilizado, otimizando os relacionamentos, sejam de caráter profissional e/ou pessoal. Nesse sentido, Teixeira; Brandão (2006, p. 4) afirmam a existência da possibilidade de interação, de comunicação entre indivíduos e grupos e da troca de informações entre eles, permitindo a construção e socialização do conhecimento. O surgimento da organização em rede, a divisão internacional do trabalho e a necessidade cada vez maior da utilização informatizada da informação redefinem as instituições e as organizações da economia informacional no cenário contemporâneo, criando uma nova cultura. Este universo de redes digitais e seus suportes originais de informação produzem modificações dos laços sociais, dando origem a processos flexíveis e novas redes de produção nas organizações (LÉVY 1994 apud BRENNAND, 2008, p. 1). Isto posto, é importante destacar, segundo Belluzzo (2007), que no contexto da sociedade contemporânea as organizações competitivas devem considerar nos processos decisórios a coexistência dos seguintes cenários: a)sociedade da informação – caracterizada pelo desenvolvimento e a utilização das TIC e por uma velocidade assegurada pelo processamento e recuperação da informação; b) sociedade do conhecimento – caracterizada pelo desenvolvimento das TIC e do valor agregado à informação, onde o foco é a pessoa e suas relações com a informação; c)sociedade da aprendizagem – expressada por meio de uma evolução natural dos conceitos anteriores e com ênfase à importância do sujeito como um ator social. Dessa maneira, pode-se dizer que, na atualidade o conhecimento é o principal fator de inovação disponível ao ser humano. Não é apenas um recurso renovável – é um processo dinâmico que acompanha a vida humana, requerendo a criação de ambiência de comunicação e compartilhamento de informação in continuum nas organizações. CONCLUSÃO - Tanto a busca como a sistematização de informações sobre o tema, possibilitaram às autoras estabelecer parâmetros para algumas reflexões sobre o processo de gestão da informação e de construção do conhecimento no cotidiano das organizações contemporâneas. Desse modo, considera-se que a informação é o resultado de pesquisa sobre um conjunto de dados, seguido de uma análise e explicitado como mensagem significativa e contextualizada. Enquanto que o conhecimento reflete estados mentais que estão em constante transformação, cujos processos associados às articulações são inerentes à mente humana e seu saber. Sob essa ótica, acredita-se que a construção do conhecimento deve levar em conta que o aprendizado, em qualquer circunstância, está centrado nas pessoas que aprendem, onde a pesquisa é o foco central, a solução de problemas é objeto de atenção primária e o pensamento crítico forma parte de todo o processo. Esse 37 deverá ser o norteador principal das organizações contemporâneas. Destaca-se, nesse sentido, que o processo de interação entre os indivíduos no cotidiano organizacional e uma determinada estrutura de informação propiciam uma modificação em seu estado cognitivo, produzindo conhecimento. Esta relação só acontece se a informação é percebida e aceita como tal. Por sua vez, no processo de interação, pode-se observar a importância dada aos atos comunicativos. Ela se revela tanto como forma de disseminação dos pressupostos e valores culturais, indispensáveis ao processo de mudança cultural; mas também no compartilhamento em si, determinado principalmente pela incidência de contatos diretos e pela utilização de uma linguagem comum. Na criação, no aprendizado e no compartilhamento, a comunicação está principalmente relacionada às transações e trocas humanas, as quais permitem que novos conhecimentos sejam desenvolvidos, adquiridos, transmitidos, questionados, enfim, é um processo de aprendizagem contínua, que necessita da interação. O conhecimento organizacional deve ser construído a partir do conhecimento de cada um. É preciso, nesse sentido, que as pessoas sejam capacitadas para “saber buscar”; “saber analisar” e “saber aplicar” - a comunicação exerce papel fundamental nesse processo. REFERÊNCIAS BARRETO, A. de A. A questão da informação. São Paulo em Perspectiva, Fundação Seade, v. 8,n. 4, p.1-10, 1994. BARRETO, A. de A. Mudança estrutural no fluxo do conhecimento: a comunicação eletrônica. Ciência da Informação, Brasília, v. 27, n. 2, p.122-127, maio/ago. 1998. BELLUZZO, R.C.B. Construção de mapas: desenvolvendo competência em informação e comunicação. 2. ed. Bauru: Cá entre Nós, 2007. BRENNAND, E. G. de G. Ciberespaço e educação: navegando na construção da inteligência coletiva. Disponível em:< www.informacaoesociedade.ufpb.br/1110108.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2008. CEBRIÁN, J. La red. 3.ed. 1998. Disponível em: <http://www.links.org.ar/infoteca/ctccomopuentessi.pdf>. Acesso em: 20 jan.2008. GALVÃO, M.C.B; BORGES, P.C.R. Ciência da Informação: ciência recursiva no contexto da sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília, v.29, n.3, p.40-49, set./dez. 2000. PRADO, L.C.D. Globalização: notas sobre um conceito controverso. Disponível em: <http://www.redem.buap.mx/word/2001luis.doc>. Acesso em: 20 abr.2006. 38 TEIXEIRA, A. C.e BRANDÃO, E.J. R. Internet e democratização do conhecimento: repensando o processo de exclusão social. Disponível em: <www.cinted.ufrgs.br/renote/ fev2003/artigos/adriano_internet.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2006. 39 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios EMPREENDEDORISMO EM RELAÇÕES PÚBLICAS1. Pedro Polesel Filho2 Palavras-chave: Empreendedorismo. Liderança. Relações públicas. INTRODUÇÃO – A busca por soluções inovadoras é muito valorizada na sociedade em que vivemos, pois é da ação do indivíduo que surgem as novas idéias e as conquistas. Para as organizações, os elementos que atuam de maneira a buscar soluções inovadoras para produtos e serviços, são essenciais para a sua sobrevivência. Na comunicação, encontrar tais soluções para a gestão da informação é uma dos objetivos e desafios da comunicação, agora vista como estratégica para o desenvolvimento da organização. Assim, o profissional de relações públicas deve aprimorar as suas habilidades e competências para se destacar entre tantos profissionais. Para tanto, conhecer e desenvolver a vocação empreendedora tem se mostrado de fundamental importância para o profissional que procura liderar os processos de comunicação e os indivíduos que colaboram para que a organização se destaque em um ambiente tão competitivo. RELEVÂNCIA – Refletir sobre os desafios que o mercado apresenta para os profissionais de relações públicas e o papel do empreendedorismo nas atividades de comunicação para o desenvolvimento das organizações. METODOLOGIA – Através da revisão da literatura sobre o tema, foram identificados e selecionados autores que têm realizado estudos significativos sobre empreendedorismo e relações públicas. Dos textos selecionados foram extraídos os aspectos mais importantes sobre a temática, o que possibilitou refletir e analisar as informações pertinentes e consideradas importantes para essa produção. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - O que podemos entender por empreendedorismo? Segundo Dornellas (2008, p. 22), “é o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam a transformação de idéias em oportunidades.” Essa definição é bastante ampla e atual. Engloba tanto procedimentos de gestão quanto o desenvolvimento de produtos. Nesse sentido, o empreendedor transforma a situação comum em uma oportunidade excepcional (GERBER, 2004, p.15). Para outros autores, o empreendedorismo tem um caráter subversivo, pois “o empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais.” (SCHUMPETER, 1949 apud BOM ANGELO, 2003 p. 27). Características fundamentais da vocação empreendedora: Vontade e habilidade para criar algo absolutamente inédito e que possa melhorar as condições de vida da família, da empresa, da comunidade local ou da raça humana. 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Relações Públicas com Mestrado em Comunicação Midiática. Professor do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected] 40 Capacidade de encontrar novas utilidades para velhas idéias. O objeto dessa ação de reciclagem deve resultar em benefício coletivo. Talento para melhorar a eficiência de um sistema, processo ou produto, tornando-o mais econômico, acessível e tecnicamente superior. Em termos de comunicação, a vocação empreendedora surge da observação das características da organização, dos seus públicos e das estratégias de relacionamento. Por exemplo, um jornal mural pode ser transformado em um jornal mural digital (REVISTA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL, 2006, p. 17), para realizar uma comunicação em tempo real, fazer a convergência de mídias e despertar a curiosidade do receptor. O relações-públicas deve estar atento as idéias e oportunidades para adaptar e melhorar as atividades de comunicação. De onde os empreendedores tiram suas idéias? Segundo Chér (2008, p. 39), as fontes de inspiração são: Cópia ou modificação de uma idéia encontrada em um emprego anterior (71%) Descobertas por acaso (20%) Descoberta na onda da revolução de TI (5%) Pesquisa sistemática em busca de oportunidade (4%) Podemos perceber que o ambiente organizacional é a principal fonte geradora de idéias empreendedoras. O setor de comunicação pode estimular, através de veículos de comunicação e campanhas, a geração e aproveitamento dessas informações. As idéias empreendedoras e as oportunidades estão fora da Zona de Conforto, ou seja, quando os indivíduos estão satisfeitos com os resultados que estão atingindo. A organização deve estimular a criatividade e a participação através de desafios e metas. O relações-públicas, como empreendedor interno, busca soluções de comunicação inovadoras e procura alinhar a política de comunicação à política de negócios. Para tanto, adota o planejamento e a administração estratégicos. Fora da empresa, a consultoria é o meio do profissional de relações públicas buscar o seu espaço no mercado. Os clientes têm problemas de comunicação que necessitam de um profissional especializado para resolvê-los. A iniciativa do profissional é procurar as empresas para mostrar o seu trabalho e como a comunicação atende as necessidades que o cliente precisa, mas não sabe da sua existência. CONCLUSÃO - A comunicação é o elemento de ligação entre os indivíduos de uma organização. Buscar a valorização de idéias e processos que melhorem as relações humanas, o desenvolvimento de produtos e serviços, e a sistematização de informações que efetivamente contribuam para as organizações, passou a ser o desafio das assessorias de comunicação. O profissional de relações públicas pode optar por atuar internamente nas organizações para atingir esses objetivos ou pode, externamente, como consultor, desenvolver projetos que contribuam para aumentar a visibilidade e credibilidade das organizações. REFERÊNCIAS BOM ANGELO, Eduardo. Empreendedor corporativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 41 CHÉR, Rogério. Empreendedorismo na veia: um aprendizado constante. Rio de Janeiro: Elsevier / SEBRAE, 2008. DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. GERBER, Michael E. Empreender: fazendo a diferença. São Paulo: Editora Fundamento Educacional, 2004. REVISTA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL, São Paulo, n. 59, jun. 2006. 42 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios RESPONSABILIDADE SOCIAL: DESAFIO EMPRESARIAL, ESTRATÉGIA E COMPROMISSO ÉTICO1. Débora Seno Errera2, Fábio José de Souza3 , Thalita Maria Mancoso Mantovani e Souza5 Palavras-chave: Responsabilidade social. Marketing social. Ética. INTRODUÇÃO - A sociedade brasileira tem enfrentado situações que a modificam constantemente, precisando adaptar-se aos padrões impostos pelo próprio desenvolvimento do país e muitas vezes, pelas mídias. Algumas iniciativas dos governos nas instâncias federal, estadual e municipal, como por exemplo, a realização de projetos ou programas para suprirem a carência social e econômica da população, ainda estão longe de alcançarem um resultado positivo por completo. Por isso, tem papel relevante e essencial a atuação de pequenas, médias e grandes organizações (ou associações) que buscam o desenvolvimento contínuo da sociedade, com investimentos consideráveis em projetos voltados ao bem-estar humano e social, inclusive com a preservação e conservação do meio ambiente natural. Este cenário é o que chamamos de responsabilidade social, ou terceiro setor, que consiste na ação de uma empresa em prol da cidadania (MELO NETO; FROES, 2001). Neste sentido, este estudo apresenta a importância das práticas de responsabilidade social como uma estratégia para o marketing social das empresas. RELEVÂNCIA DO ASSUNTO - No mercado globalizado, com acirrada concorrência, as empresas devem ter, dentre outras preocupações, um lucro estimado que sobreponha seus gastos para sobreviverem. Hoje, também é necessário anexar ao mundo corporativo as condutas éticas, o comprometimento social cidadão com as comunidades, o respeito ao meio ambiente natural, mas, acima de tudo, tornar público estas ações, divulgando e disseminando a responsabilidade social praticada pelas organizações através do marketing social. Com esta dimensão, as empresas podem obter um diferencial estratégico de sucesso e, aliado à ética, conseguirem estabelecer uma relação de confiança e zelo com seus colaboradores, clientes, fornecedores, sociedade e natureza. 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected] ou [email protected] 3 Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Sagrado Coração (USC). Mestre em Direito Constitucional. Especialista em Direito. Especialista em Formação de Educadores em Turismo. Advogado. E-mail: [email protected] 5 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em Planejamento e Gestão da Hospitalidade em Turismo. Bacharel em Turismo. E-mail: [email protected] 43 Desta forma, o presente estudo se justifica por abordar um tema necessário às empresas, por ser uma vantagem competitiva de mercado e à sociedade, por proporcionar melhores condições de vida para o ser humano. METODOLOGIA - O levantamento das informações aqui presentes foi realizado por uma pesquisa bibliográfica, com a consulta em livros, periódicos, artigos científicos e documentos eletrônicos envolvendo os assuntos de responsabilidade social, marketing social e ética profissional. Após a leitura, aplicou-se o método analíticosintético, o qual permite obter análises e reflexões mais aprofundadas dos materiais consultados. Os materiais estão disponíveis em bibliotecas e compõem o acervo dos autores. RESULTADOS/DISCUSSÕES - A origem da palavra marketing é do inglês market, que significa mercado. O marketing, em linhas gerais, segundo Dias (2003, p. 2) consiste na “função empresarial que cria valor para o cliente, e gera vantagem competitiva duradoura para a empresa, através de estratégias das variáveis controláveis de marketing: produto, preço, praça e promoção”. Para Kotler; Armstrong (1993, p. 2) o marketing é um “processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação da oferta e troca de produtos de valor com outros”. Estas e todas as demais definições de marketing têm como fundamento a relação de troca entre empresa e cliente utilizando técnicas de vendas de bens e oferecimento de serviços voltados às exigências dos consumidores ou encantá-los, bem como para intervir em tendências. Nesta linha de raciocínio, o marketing social corresponde a uma das estratégias mercadológicas mais utilizadas na atualidade, com a finalidade de estabelecer uma interação positiva entre a empresa e a sociedade. O marketing social, portanto, é o “uso de técnicas e ferramentas do marketing tradicional, para promover a adoção de comportamento que desenvolverá a saúde e o bem-estar de um público alvo específico ou da sociedade como um todo” (SINA, 1999, p. 28). Para Andreasen (2002, p. 94), o marketing social é a “aplicação das tecnologias de marketing desenvolvidas no setor comercial à solução de problemas sociais, onde o resultado almejado é a mudança de comportamento”. Uma das orientações para o marketing social é o apresentado por Kotler (2000, p. 47): [...] sustenta que a tarefa da organização é determinar as necessidades, os desejos e os interesses dos mercados-alvo e fornecer as satisfações desejadas mais eficaz e eficientemente do que a concorrência, de uma maneira que preserve ou melhore o bem-estar do consumidor e da sociedade. Isto infere concluir que o marketing social se encaixa para colocar em prática as estratégias que visam a mudança comportamental, tanto da sociedade quanto da própria organização, no âmbito da contribuição social em todos os setores, a fim de que essa mudança propicie melhorias na vida dos cidadãos, quando são realizados programas de responsabilidade social. Por responsabilidade social entende-se que é um: [...] compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e sua prestação de contas para com ela (QUEIROZ et al, 2005, p. 7). 44 Para Melo Neto; Froes (2001, p. 28; 31), a responsabilidade social é uma conduta “que vai da ética nos negócios às ações desenvolvidas na comunidade, passando pelo tratamento dos funcionários e relações com acionistas, fornecedores e clientes [...] que busca retorno econômico-social, institucional, tributário-fiscal”. Os autores (2001) também conceituam que a prática corresponde a uma troca, já que a empresa lucra por meio dos recursos extraídos do meio ambiente e substitui o que foi retirado com ações sociais realizadas para solucionar ou minimizar os problemas da sociedade. Assim, a responsabilidade social corresponde a um comportamento ético e positivo que a empresa busca obter, após reconsiderar seus atos errôneos e retribui à sociedade por meio de investimentos em projetos sociais, o lucro obtido com o aproveitamento dos recursos naturais. Para Queiroz et al. (2005), a empresa engajada socialmente considera como responsabilidade sua os problemas da sociedade, dentro dos códigos de ética, atitude esta formadora de uma cultura interna, o que influencia no comportamento dos envolvidos. Melo Neto; Froes (2001, p. 32) informam que a responsabilidade social deve partir da análise de três segmentos, a saber: Análise de como a empresa se comporta (quais os valores que adota, e como os difunde e promove junto a seus diversos públicos). É o que denominamos de dimensão ética da Responsabilidade Social corporativa; Análise de como a empresa desenvolve suas ações sociais (qual foto dessas ações, seus beneficiários, total de investimentos, retorno obtido, resultados alcançados). É o que denominamos de dimensão pragmática da Responsabilidade Social corporativa; Análise de como a empresa se relaciona com os seus diversos públicoalvo (como a organização relaciona-se com os seus empregados e dependentes, clientes, governo, fornecedores, distribuidores, acionistas, comunidade e sociedade). É o que denominamos de dimensão políticoinstitucional da Responsabilidade Social corporativa. Desta forma, quanto maior a participação da empresa nessas dimensões, maior e melhor será a gestão de responsabilidade social por ela praticada. Melo Neto; Froes (2001) pontuam uma questão interessante: as empresas precisam escolher o foco principal de atuação (meio ambiente, cidadania, saúde) e sua estratégia de ação (negócios, marketing de relacionamento, marketing institucional, marketing social) para definirem a sua política de responsabilidade social. Atualmente, a responsabilidade social é imprescindível nas empresas pelo fato de que: Primeiro, é o desejo dos empresários de produzir bem-estar social e não apenas bens e serviços para a população; Segundo, há o uso dos impostos, por meio de incentivos fiscais, em projetos específicos, em vez de destiná-los diretamente ao governo; Terceiro, é a preservação crescente de que a “empresa-cidadã” atrai a fidelidade de seus colaboradores e consumidores (SINA, 1999, p. 61). Ser socialmente responsável não se restringe a respeitar e cumprir as obrigações legais e éticas necessárias para o exercício de uma atividade mercadológica, mas ir além de suas tradicionais obrigações em relação ao seu capital humano, ao meio ambiente, à comunidade, ao setor público, desenvolvimento este que está intrinsecamente ligado a sua própria expansão e consolidação. Por isso, é inerente ao modelo comercial e competitivo vigente que a empresa consolide uma reputação 45 de comportamento ético aliado aos conceitos de responsabilidade e marketing social, com vistas aos requisitos para o bom desempenho de suas relações comerciais, entre as partes interessadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS - As empresas, de forma geral, estão cumprindo suas obrigações sociais através do amparo à sociedade e aos seus consumidores em longo prazo, uma vez que as atividades realizadas com a responsabilidade social propiciam o bem-estar e melhoria na qualidade de vida. Nas palavras de Andreasen (2002), a empresa precisa sustentar-se para investir em programas sociais. O lucro é o próprio investimento do gasto proporcionado pelas atividades de responsabilidade social. Ser um contribuinte ao bem-estar da sociedade não é prestar caridade, mas responsabilizar-se socialmente. O que antes era apenas contribuição esporádica, hoje é um dever de todos, especialmente às organizações empresariais, que podem obter, dentre outros benefícios, respeito, confiança, destaque na concorrência, espaço na mídia e novos clientes. Portanto, necessário aduzir que todos os profissionais de Comunicação Social poderão contribuir significativamente para assegurarem uma relação eficiente e eficaz entre empresa, sociedade, colaboradores, clientes e fornecedores, demonstrando o que efetivamente está sendo desenvolvido com enfoque na responsabilidade social, fortalecendo, assim, a confiabilidade nestas relações existentes e até mesmo permitindo que novas sejam firmadas, sempre com transparência e ética. REFERÊNCIAS ANDREASEN, A. R. Ética no marketing social: como conciliar os interesses do cliente, da empresa e da sociedade numa ação de marketing. São Paulo: Futura, 2002. DIAS, S. R. Gestão de marketing. São Paulo: Saraiva, 2003. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, PHB, 1993. KOTLER, P. Administração de marketing. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. MELO NETO, F.; FROES, P. C. Responsabilidade social & cidadania empresarial: a administração do terceiro setor. 2. ed. Rio de Janeiro: QualityMark, 2001. QUEIROZ, A. et al. Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. SINA, A. Marketing social: uma oportunidade para atuar e contribuir socialmente no terceiro setor. São Paulo: Crescente, 1999. 46 EIXO TEMÁTICO: JORNALISMO E SOCIEDADE 47 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios A CENSURA POLÍTICA NA IMPRENSA BAURUENSE DURANTE A DITADURA MILITAR (1968 A 1970)1. Camila Fernandes2 Palavras-chave: Imprensa. Ditadura Militar. AI -5. Censura. INTRODUÇÃO - A ditadura militar no Brasil, que se estendeu no período de 1964 a 1985, causou diversos problemas à Comunicação e ao Jornalismo, em especial. Assim pretendemos com essa pesquisa levantar opiniões importantes registradas no jornal bauruense de oposição, Diário de Bauru, durante os dois primeiros anos, de 1968 a 1970, marcados pela censura política e editorial instalada no Brasil, após o Ato Institucional nº.5 em dezembro de 1968. A pesquisa pretende verificar a tecelagem de relações sociais que se implantou por entre os setores mais informados da sociedade bauruense e reconhecer suas a influências sobre as ações da imprensa frente ao AI-5. As permanências do estilo editorial daquele período, em que camuflar a notícia era o traço mais presente no jornalismo censurado é um dos focos deste estudo. Entretanto, o maior ensejo, está na investigação dos fatos ocorridos nos meios de comunicação após o AI-5, por meio da linha editorial da imprensa local e perceber o seu envolvimento com os meios de comunicação em nível nacional, durante a ditadura militar. RELEVÂNCIA - A realização desta pesquisa é resultado de estudos individuais e da intensa curiosidade em investigar as influências do Ato Institucional nº 5 nas redações dos meios de comunicações de cidades do interior paulista, sobretudo Bauru, já que a chama da ‘cortina de fumaça’3 girava em torno de metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, como se a tecelagem social não envolvesse também o interior, com intensidade semelhante à das grandes capitais. É de suma importância à compreensão dos fatos que, de alguma forma, negativa ou positivamente, contribuíram para a redemocratização e desenvolvimento do país e que, sem dúvida, deixaram profundas marcas na História do Brasil. Desta forma, preenchendo lacunas ainda existentes no levantamento de informações sobre este assunto, esta pesquisa tem por objetivo inserir a imprensa bauruense e seus jornalistas nesta esteira histórica ainda obscura para a maioria dos brasileiros. Desvendar fatos e ações realizadas aparentemente à margem da História já registrada, porque aconteceram distante dos centros de decisão, tem o poder muitas vezes, de alterar os rumos das investigações já realizadas. Acreditamos que o ineditismo desta pesquisa está em observar até onde a imprensa bauruense esteve envolvida e responde pela rejeição 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Aluna do quinto ano do curso de comunicação social-habilitação em jornalismo da Universidade Sagrado Coração -USC Email: [email protected] 3 Entende-se por ‘cortina de fumaça´: Período que se instalou a censura nos meios de comunicação e nas principais cidades do país. 48 uníssona e interativa dos meios de comunicação, frente à tão grande descalabro de poder. Esta questão atrai jornalistas e pessoas impregnadas de cidadania. METODOLOGIA - Fases da Pesquisa: Coleta de dados - Bibliográficos Inicialmente, uma revisão de literatura feita a partir de resenhas e fichamentos sobre a história da ditadura militar no Brasil. - Documentação Oral Utilizaremos à técnica da documentação oral para coletar os depoimentos de interlocutores, tais como jornalistas- Zarcillo Barboza, então chefe de redação do jornal, e cidadãos que vivenciaram a época. - Análise do material coletado Coletados os dados, faremos análise de conteúdo das informações frente aos objetivos propostos. Tendo em mãos as publicações quinzenais do jornal Diário de Bauru, fornecidas pelo núcleo de história da Universidade Sagrado Coração, datados entre 13 de Dezembro de 1968 a 13 de Dezembro de 1970, com o total de 336 exemplares, a pesquisa fará a análise qualitativa e quantitativa prezando: - Matérias; - Imagens; - Editoriais; - Notas; PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - Golpeando a nação, o AI-5, como ficou conhecido, foi um instrumento de poder que deu aos governantes poderes absolutos para administrar o país sob a força dos decretos-lei como fechar o congresso nacional por tempo indeterminado, suspender direitos políticos por dez anos, intervir nos estados e nos municípios, demitir funcionários públicos e, sobretudo, instalar a censura nas redações dos jornais brasileiros. Todos os meios de comunicação sofreram um desgaste em sua autonomia. Na mesma noite em que o Ato foi publicado, censores ocuparam as redações dos principais jornais, rádios, revistas e emissoras de televisão para controlarem as informações públicas. Era o fim da liberdade de expressão. O assombroso período durou exato dez anos e dez dias. O jornalista Zuenir Ventura (1988), relata que o I-5 começou a censurar antes de ser editado e a prender antes de ser anunciado publicamente. De acordo com o autor, na sexta-feira 13 de dezembro, em Brasília, o Correio Brasiliense circulou sob censura prévia, sem o noticiário da votação na Câmara. Em Belo Horizonte, as 2 da madrugada, um oficial do exército e cinco soldados chegavam armados à oficina do Diário. O Correio da Manhã e o Jornal do Brasil circularam normalmente, mas à 1 hora da madrugada de sexta-feira, três homens chegaram à redação do Correio dizendo que ‘queriam ver como estavam as noticias’. Como os intrusos não se identificaram, foram mandados embora, Foi uma operação nacional. O Jornal ‘O Estado de São Paulo’ foi um dos veículos mais retaliados pela censura desde a instauração do Ato Institucional nº 1 em 1964, pois, a família Mesquita, os proprietários do tradicional jornal, foi a favor do golpe, em defesa do modelo social liberal democrata,que após perceberem o equivoco da estratégia, se voltaram totalmente contra o endurecimento do regime. O histórico editorial de 13 de dezembro de 1968, com o titulo “Instituições em Frangalhos”, procurava descrever a crise política e a falta de visão do general Costa e Silva, que pensava poder governar o País como se fosse uma caserna, além de vaticinar dias mais difíceis. Saiu um texto indignado, que a maioria dos leitores do Estado de São Paulo e do Jornal da Tarde, onde também seria publicado, nunca chegou a ler, pois às três 49 horas da madrugada do mesmo dia, o general Sílvio Correia de Andrade, chefe do Departamento de Polícia Federal em São Paulo, chegou ao jornal e confiscou todos os exemplares. O editorial criticava as medidas de impostas pelo governo e sua cruel derrota no parlamento, no qual deu inicio ao AI-5: Sob a ditadura, enquanto quase todos os jornais do País aceitaram a determinação para que o material vetado pelos censores fosse substituído por outro, dando a impressão de normalidade democrática, o Estado recusou-se a participar disso. Passou a preencher os espaços vagos com trechos do épico Os Lusíadas, de Luís de Camões. O Jornal da Tarde mostrou idêntica combatividade, recorrendo, porém a inusitadas receitas culinárias. Arlindo Chinem (2000) relata que as vésperas da decretação do AI-5 ocorreram doze explosões e um assalto à banco e o jornalista Alberto Dines observou que as bombas não tinham sido casos esporádicos, e sim uma maneira adotada pelos órgãos de segurança pública para eliminar o que eles chamavam de “um antro de radicais que querem desestabilizar o regime”, a imprensa alternativa . De acordo com Abreu (2000), no período compreendido entre 1969 e 1978, os jornais, revistas semanais de informação, rádios e televisões se habituaram a receber ordens e recomendações, através de telefonemas, proibindo a divulgação de fatos considerados desagradáveis aos olhos do regime militar. CONCLUSÂO - Os períodos de resistência e reação dos jornais a censura imposta, uns tanto pelo ufanismo, outros por coragem e ideologia, fizeram da imprensa brasileira, o grande estorvo para os militares. Assim, restava à opção de buscar caminhos alternativos para chegar ao leitor noticias sobre os acontecimentos do país. A intencionalidade do ocultamento pode ser sentida com clareza na forma como agiam os mecanismos censórios para os periódicos que aceitavam trabalhar no limite da censura. Atuava por meio de recados telefônicos e bilhetes sem identificação certa, como por exemplo ‘de ordem superior’, ‘Polícia Federal’. Os responsáveis pelos periódicos tinham consciência que o não cumprimento da ‘ordem, implicava represálias. Na redação do jornal bauruense ‘Diário de Bauru’, não poderia ser diferente, notas simples e comentários camuflados foram publicados sobre o que ocorria no país. Alguns exemplos de rastreamento e analise do ‘Diário’ entre 1968 a 1970: 13/12/1968 nº 7.148 Capa-Governo Derrotado “O governo foi derrotado ontem (12/12) na Câmara dos Deputados, quando aquela casa rejeitou por 216 contra 141 votos o pedido de licença para processar Márcio Moreira Alves. O Deputado, falou em sua defesa, desmentindo ter atacado as Forças Armadas em seu discurso pronunciado a 2 de setembro. 14/12/1968 nº7.149 Nota curta na capa- “Dotado de prerrogativas Recesso no Congresso excepcionais, o Presidente da República Costa e Silva, decretou ontem (13/12) um Ato Institucional, determinado o recesso no Congresso Nacional”. 50 09/01/1969 ARTIGO-7ª pagina - Coisas que ‘Refere-se a indignação da amofinam’ Mestre Cyrilo sociedade em relação ao governo autoritário que se diz revolucionário,acabando-se por instaurar o AI-5 REFERÊNCIAS ABREU, JOÃO BATISTA DE. As manobras da informação: análise da cobertura jornalística da luta armada no Brasil (1965-1979). Rio de Janeiro: Mauad, 2000. AQUINO, MARIA APARECIDA DE. Censura Imprensa e Estado autoritário (19681978): o exercício cotidiano de dominação e da resistência: O Estado de São Paulo e o Movimento. EDUSC.Bauru.1999. CHINEM, Rivaldo. Imprensa Alternativa: jornalismo de oposição e inovação. São Paulo: Ática, 1995. DIÁRIO DE BAURU. Bauru, 13 dez.1968 a 13 dez. 1970 O ESTADO DE SÃO PAULO. São Paulo, 14 dez.1968 VENTURA, Zuenir. 1968: o ano que não terminou. São Paulo: Nova Fronteira, 1988. v.1. 51 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios IGREJA E COMUNICAÇÃO: DA CENSURA E REPRESSÃO PARA AS PRODUÇÕES JORNALÍSTICAS1. Paulo Vitor Giraldi Pires2, Angela Grossi de Carvalho3 Palavras-chave: Igreja Católica. Jornalismo. Comunicação religiosa. INTRODUÇÃO – É visível a expansão do uso da comunicação como propagação de fé dentro e fora das instituições religiosas, através do mass media. Mas, as mudanças do mundo contemporâneo, principalmente no campo da comunicação, obrigaram, pois, a Igreja Católica a refletir sobre sua relação com a sociedade e as novas tecnologias. Cabe à Igreja, entre outras exigências, saber comunicar-se com todas as pessoas, indistintamente, e não limitar-se a transmitir unilateralmente uma mensagem que é compreensível apenas àqueles que já fazem parte da comunidade eclesial, tendo em vista fomentar o diálogo construtivo com a sociedade em geral e promover os valores evangélicos de que se diz portadora. RELEVÂNCIA – A Igreja quer, na prática, continuar utilizando os meios para a divulgação da fé, principalmente no que diz respeito ao uso da televisão. Por outro lado, a postura da mídia generalista em relação às questões sociais de natureza religiosa apresenta-se quase sempre em termos depreciativos do fenômeno religioso, aumentando a necessidade de legitimação da existência da mídia institucional, caso da Igreja Católica. Sendo assim, ter um espaço na mídia é considerado uma tarefa importante para a Instrução Pastoral Communio et Progressio, proclamada pós Concílio Vaticano II, que reafirma a necessidade de usar, quanto possível, os meios de comunicação social para apresentar a mensagem cristã, de um modo mais interessante e eficaz, encarnando-a no estilo próprio de cada um destes meios. Mas para que isso aconteça, a Igreja Católica precisa estar aberta para dialogar com o mundo, com todas as raças e culturas; só assim continuará sendo a “boa nova”, o que traduziríamos em “boa notícia”. METODOLOGIA – Com base na pesquisa bibliográfica, nos estudos de autores sobre a competência comunicacional/telejornalística e à luz de documentos da Igreja Católica acerca da comunicação social foi possível a reflexão sobre a atual realidade comunicacional televisiva da Igreja Católica. Conteúdo e linguagem que correspondam a um nível mínimo de qualidade já consagrado por profissionais especialistas da área e pela opinião pública. Por fim, buscamos levantar subsídios para uma análise acerca do amplo e atual modelo de comunicação da Igreja Católica no Brasil, especialmente no âmbito da televisão, o que o que possibilitou 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Estudante de Jornalismo- Centro de Exatas e Sociais Aplicadas – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected] 3 Jornalista e doutoranda. Professora do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected] 52 refletir e analisar as informações pertinentes e consideradas importantes para essa análise acerca do papel da comunicação na Igreja Católica. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - A comunicação sempre foi ferramenta imprescindível na disseminação do Evangelho, da Boa Nova, da missão social, do diálogo e do serviço em favor dos afastados da Igreja. Pela ação de seus missionários, a Igreja sempre se ocupou em levar a mensagem cristã para o mundo. Acerca desse contexto, Melo (1998 apud SOARES, 1985, p. 61) divide em quatro períodos o estudo da comunicação da Igreja Católica: no primeiro período, a Igreja vive a relação de censura e repressão em relação aos meios de comunicação. O segundo está relacionado à aceitação duvidosa desses mesmos meios. No terceiro período, a Igreja busca assumir as transformações sociais e tecnológicas pelas quais passam os meios de comunicação, sobretudo por meio do investimento em veículos próprios, especialmente o rádio. As dificuldades encontradas pela Igreja na atuação e utilização dos meios massivos, como a televisão, levou a II Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM) realizada em Puebla, no México, em 1989, a buscar novas orientações, e “não poupou esforços de articular e buscar maior clareza nos rumos a serem tomados pela instituição no que tange à sua presença nos meios de comunicação” (DIAS, 2001, p. 53). A Instrução Pastoral Communio et Progressio é fruto desse esforço. Considerada o documento mais importante da Comissão Pontifícia para os Meios de Comunicação Social. Uma das orientações da Instrução Pastoral Communio et Progressio (1971, p. 32) é que Igreja esteja “informando e ouvindo atentamente a opinião pública, dentro e fora da Igreja, e procurando um diálogo contínuo com o mundo contemporâneo, participando, assim, na resolução dos problemas do homem de hoje”. Esta visão da Igreja coincide com o pensamento de Paternostro (1999, p. 19) para quem “a comunicação torna possível a interação e ao mesmo tempo propicia a convivência entre os homens já que a interação de um indivíduo, está relacionada, de forma intrínseca, ao seu acesso à informação”. O papel do jornalismo consiste em noticiar aquilo que julga de interesse público. A notícia é uma representação da realidade através dos acontecimentos do dia-a-dia do mundo. É nesta perspectiva que Medina (1978, p. 47) define a notícia como um produto à venda, uma corrida desenfreada pelo lucro. Hoje, o que se vê na televisão, principalmente no que diz respeito aos noticiários é a informação de olho na audiência, descompromissada com o interesse público. A comunicação deve propor um novo relacionamento entre os povos. Nesse sentido, “os comunicadores suscitam e estimulam o diálogo que já existe na sociedade. São eles que moderam o intercâmbio estabelecido no vasto mundo dos ‘mass media’”, afirma o item 73 da Communio et Progressio (1971, p. 73). “Portanto, a eles compete - e esta é a grandeza da sua vocação - promover os fins a que a comunicação social deve tender: o progresso humano em todos os campos e a verdadeira comunhão entre os homens” (Ibid), conclui o documento. Na visão de Medina (1995, p. 37), para que haja um diálogo possível, “a escolha das fontes de informação terá de se enriquecer através da pluralidade de vozes e, ao mesmo tempo, da qualificação humanizadora dos entrevistados”. Sendo a instrução pastoral Communio et Progressio o principal documento da Igreja Católica sobre a comunicação, ela deixa a desejar em alguns aspectos. Puntel (1994, p. 67-68) salienta que, na instrução, "a Igreja louva a idéia de progresso tecnológico", mas não se preocupa com a dimensão política e econômica desses meios. O autor trata da mídia perfeita criada para o desenvolvimento da sociedade, sem conflitos internos entre a comunicação social e a política. A Igreja Católica tem alterado sua postura diante dos meios de comunicação, sobretudo os eletrônicos. No plano da 53 comunicação, por vezes, ela adota uma postura eufórica e demonstra acreditar que a difusão da mensagem (e sua aceitação) depende essencialmente do meio, avalia Pessinatti (1999). E assim proclama a evangelização eletrônica, o uso de todos os meios de comunicação disponíveis para ampliar e reproduzir a palavra cristã. Em outros momentos, no entanto, ela se mostra cética em relação à mídia em geral, limitando-se a investir nos próprios meios de comunicação, enquanto se fecha e até mesmo parece se recusar ao diálogo – sempre difícil para ela – com os veículos comerciais e massivos. No Brasil, a década de 1990 foi marcada por uma disputa acirrada entre dominações cristãs pela “mídia televisiva”. Dias (2001, p. 78) constata que, nesse período, se acelera a luta entre Igrejas cristãs (notadamente a católica e as evangélicas neopentecostais) pelas concessões de canais de televisão e emissoras de rádio. Dezenas dessas Igrejas alugam espaços nos canais convencionais abertos com o intuito de “mostrarem sua cara”. Dias define este momento como era da “Igreja eletrônica”. De fato, a partir desse momento, “a TV passa a ser a principal arma de batalha simbólica pelos fiéis das mais diversas expressões religiosas existentes no Brasil”, como constata Martinho (2003, p. 11) em recente estudo sobre mídia e religião. A Igreja, mais uma vez, reconhece – ao menos teoricamente - a importância dos programas televisivos, como os noticiários, principalmente quanto ao seu papel de difundir informação e promover a instrução e o diálogo, sempre respeitando as diversidades. Entre outras palavras: se quer promover o diálogo construtivo com a sociedade em geral, tendo em vista promover os valores evangélicos de que se diz portadora, cabe à Igreja, entre outras exigências, saber comunicar-se com todas as pessoas, indistintamente, e não limitar-se a transmitir unilateralmente uma mensagem que é compreensível apenas àqueles que já fazem parte da comunidade eclesial. Sobre esse assunto, Martinho (2003, p. 79), faz uma crítica ao mau uso dos programas de TV pela Igreja no uso das informações religiosas veiculadas, sobretudo, em programas de televisão produzem transferências emotivas. A encarnação evangélica nos meios sociais tão defendida pela Igreja exige, no entanto, mais competência profissional, abertura a temáticas e fontes mais ousadas e o exercício do diálogo mais efetivo, ainda que isso implique num certo confronto. CONCLUSÃO - A Igreja quer, na prática, continuar utilizando os meios para a divulgação da fé. Por outro lado, a postura da mídia generalista em relação às questões sociais de natureza religiosa apresenta-se quase sempre em termos depreciativos do fenômeno religioso, aumentando a necessidade de legitimação da existência da mídia institucional, caso da Igreja Católica. Sendo assim, ter um espaço na mídia é considerado uma tarefa importante para a Instrução Pastoral Communio et Progressio, que reafirma a necessidade de usar, quanto possível, os meios de comunicação social para apresentar a mensagem cristã, de um modo mais interessante e eficaz, encarnando-a no estilo próprio de cada um destes meios. Ainda sim, a Instrução Pastoral é clara ao dizer que a Igreja precisa estar aberto para dialogar com o mundo, com todas as raças e culturas; só assim continuará sendo a “boa nova”, o que traduziríamos em “boa notícia”. Ao contrário disso, continuará fazendo comunicação para a si mesma. REFERÊNCIAS 54 INSTRUÇÃO PASTORAL COMMUNIO ET PROGRESSIO. Encíclica sobre os meios de comunicação social. São Paulo: Paulinas, 1971. DIAS, Arlindo Pereira. Domingão do Cristão: estratégias de comunicação da Igreja Católica. São Paulo: Salesiana, 2001. MARTINHO, Luís Mauro Sá. Mídia e poder simbólico. São Paulo: Paulus, 2003. MELO, José Marques de. Igreja e Comunicação. In: SOARES, Ismar de O.; PUNTEL, Joana T. (Org.). Comunicação, Igreja e Estado na América Latina. São Paulo: Paulinas, 1985. PATERNOSTRO, Vera Íris. O Texto na TV: manual de telejornalismo. Rio de Janeiro: Campus, 1999. PESSINATTI, Nivaldo Luiz. Políticas de comunicação da Igreja Católica no Brasil. São Paulo: Unisal; Petrópolis: Vozes, 1999. MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: o diálogo possível. São Paulo, 1995. 55 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios JORNALISMO ECONÔMICO: O CONHECIMENTO QUE NÃO CONSEGUE CHEGAR AO GRANDE PÚBLICO1. Daira Renata Martins Botelho2, Rene Rodriguez Lopez3 Palavras-chave: Jornalismo. Economia. História. Linguagem. Profissional. INTRODUÇÃO - A ciência econômica tem suas primeiras referências nas obras de Aristóteles que, aparentemente, foi quem definiu o termo a partir do grego – oikosnomos (de oikos, casa, e nomos, lei), podendo traduzi-la por administração de uma casa, mas que recebe diferentes definições. Jacob Viner, importante economista dos anos 50, diz que “Economia é aquilo em que os economistas trabalham”, no entanto, Matthew Bishop a define como “o estudo de recursos escassos pela sociedade e/ou a ciência das escolhas”. A primeira escola econômica foi o mercantilismo que, apesar de não ter um conjunto homogêneo de técnicas, importava-se com a acumulação de riquezas e construiu fortes princípios baseados no comércio. Pelos séculos, a economia teve vários expoentes que a tornaram uma ciência respeitada e também ajudaram a mostrar sua importância para o mundo. Um grande exemplo desses teóricos é Adam Smith, considerado o precursor da moderna Teoria Econômica (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003, p. 16) e que publicou o livro A Riqueza das Nações, em 1776, o qual retrata vários aspectos da economia, como as leis de mercado e até a distribuição do rendimento da terra. Os conceitos criados por Smith são usados até hoje, como a Teoria da Mão Invisível, que afirma a existência de uma “mão” que rege todos os mecanismos do mercado, direcionando-os, para levar a sociedade à perfeição; e o laissez-faire, que propunha a livre iniciativa de mercado. Também afirmou que o Estado deveria se manter fora das questões econômicas: o Estado teria somente o dever de proteger a sociedade, sem nenhuma intervenção nas leis de mercado. Entre os outros autores que compõem os pensadores da era clássica, podemos citar: David Ricardo, John Stuart Mill, Jean Baptiste Say e Thomas Malthus; teóricos muito importantes que formam a base que constitui a economia moderna. A teoria neoclássica teve Alfred Marshall como nome principal, cujo livro Princípios da Economia serviu como texto básico até a metade do século XX. A partir dos anos 70, a essa ciência vem apresentando algumas transformações que têm feito com que a economia se coloque cada dia mais próxima da população, seja por meio de atos simples do cotidiano, seja pelos efeitos de crises no mundo e que têm efeito direto em nosso país. Mesmo com toda 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Jornalista graduada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP – E-mail: [email protected] 3 Jornalista graduado pela Universidade Sagrado Coração – mestrando do Programa de Pós Graduação em TV Digital da Unesp Bauru e Jornalista do Laboratório Aberto de Interatividade passa Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico da Universidade Federal de São Carlos – Email: [email protected] 56 sua abrangência teórica, a economia não consegue atingir a maioria da população devido aos seus jargões e mecanismos complexos que envolvem a matemática financeira e também a matemática pura. As siglas fazem da economia um universo a ser desvendado pela maior parte das pessoas, exceto os próprios economistas, investidores, e outros que estão diretamente ligados a ela. Por esse motivo a economia é muito criticada, pois precisa de simplificação para ser entendida, bem como a ajuda de especialistas e um glossário de termos que os economistas utilizam a todo momento para explicar qualquer fato remoto ou da atualidade. METODOLOGIA - Através de um estudo de exploração histórica do cenário do jornalismo econômico, foi possível verificar que apesar de seu potencial informativo, seu uso não é reconhecido e nem apreendido pelo publico geral. Com base nos preceitos de um jornalismo de interesse público se faz necessária reflexões sobre o atual modelo de jornalismo econômico comumente empregado nos veículos de comunicação que não contextualizam as informações de modo que beneficie o compreendimento do cidadão comum. Até os anos 50, o que se sabe da existência do jornalismo econômico na imprensa se resume a algumas notas relacionadas com os interesses do comércio e dos cafeicultores, com informações sobre produção, exportação, movimentos de portos ou taxas cambiais (QUINTÃO, 1987). Essa realidade foi se alterar somente a partir da década de 50, devido às mudanças estruturais pelas quais o Brasil estava passando. O cenário brasileiro dessa época mostra o governo de Juscelino Kubitschek tentando uma aproximação com o capital estrangeiro, visando o desenvolvimento e o crescimento do país, que estava no contexto mundial como produtor e exportador de matérias-primas e importador de produtos industrializados. O jornalismo econômico tem um marco considerado como seu verdadeiro início no Brasil: [...] a marca do aparecimento definitivo do Jornalismo Econômico nos moldes como é praticado hoje caberá a um encarte do Correio da Manhã, chamado Diretor Econômico. São 16 páginas diárias voltadas exclusivamente para o tratamento dos negócios no mercado. O desenvolvimento desse Jornalismo e dos próprios negócios é muito estimulado pelo Diretor. (QUINTÃO, 1987, p. 74). No entanto, o tipo de jornalismo econômico pioneiro, feito pelo Diretor Econômico, não foi o que os grandes veículos acabaram por utilizar. Há uma virtual diferença, entretanto, entre o Jornalismo Econômico praticado pelo Diretor e o que veio a ser desenvolvido pelos grandes jornais. O Diretor fez o primeiro Jornalismo de Negócios no Brasil. Já o noticiário e a análise econômica na grande imprensa na década de 70 estão preocupados apenas com o discurso da sociedade política, no exercício do Poder do Estado, endereçado à sociedade civil. O novo noticiário econômico não tratará de questões polêmicas. Abordará numa direção positiva grandes operações financeiras internas ou externas [...]. Dedicará ainda uma boa parte do seu espaço editorial a debater anos seguidos quem e o que seriam as correntes do pensamento econômico contemporâneo: se “estruturalistas”, “monetaristas” ou “pós-keynesianos”, ou, ainda, discutindo academicamente se a inflação brasileira é de “custo” ou de “demanda”. Esse tipo de informação, veiculada pela grande imprensa, reflete as mudanças introduzidas na economia brasileira. Elas serão 57 discutidas em editoriais, pelos articulistas – começam a aparecer os comentaristas econômicos – e no próprio noticiário, através de entrevistas com economistas e empresários.(QUINTÃO, 1987, p. 79) Um jornal que tem papel importante para a consolidação da economia enquanto editoria é a Gazeta Mercantil. Ele trará a essência da informação econômica para as páginas de sua publicação. A Gazeta Mercantil sempre deixou bem clara a sua postura editorial. Seu leitor direto é o empresário que necessita todos os dias das informações sobre negócios, investimentos, agricultura, mercado financeiro, sem uma preocupação específica com as políticas governamentais, salvo se elas se refletirem diretamente no mundo dos negócio [...]. (VIEIRA, 1999, p. 25) O ápice do jornalismo econômico aconteceu durante o regime militar do período 1964-1984, em que o jornalismo político foi silenciando-se (QUINTÃO, 1987), já que as atividades políticas já não eram tão evidenciadas devido a uma legislação mais rigorosa e à censura por parte do governo, fazendo com que muitos jornalistas, cronistas e repórteres perdessem seus empregos ou fossem remanejados para outras funções ou editorias. No caso, a de economia. A partir daí, começou a surgir vários modelos desse segmento: em jornais, revistas, periódicos, etc. Jornais com assuntos de economia podemos citar somente o Gazeta Mercantil, já que os outros são ligados a associações de lojistas ou comerciais, com público específico, como o Diário do Comércio e da Indústria e Diário do Comércio, de São Paulo; Jornal do Comércio de Porto Alegre; Diário do Comércio de Belo Horizonte; Jornal do Comércio e o Monitor Econômico, no Rio de Janeiro; Indústria e Comércio, de Curitiba (KUCINSKI, 20002). As revistas compõem grande parte dessa vertente do jornalismo. Existem a Conjuntura Econômica, publicada pela Fundação Getúlio Vargas há 50 anos; Exame; Amanhã; Pequenas Empresas Grandes Negócios; Isto É Dinheiro; etc. A televisão também conta com os programas Conjuntura Econômica, da TV Cultura; e Pequenas Empresas Grandes Negócios, da Rede Globo. O jornalismo econômico foi se desenvolvendo de acordo com a evolução da economia no Brasil e no mundo. Importantes e conceituadas publicações foram se fortalecendo e se especializando cada vez mais nos assuntos que rondam o mundo dos negócios. Ao contrário do Brasil, no exterior já havia – há muito – periódicos sobre economia, como o The Economist, importante revista, lançada em 1843; e o jornal Financial Times, que chegou às bancas em 1888, ambos na cidade de Londres. Nos EUA, mais precisamente em Nova Iorque, existe o periódico The Wall Street Journal, fundado em 1889, e que, a partir dos anos 60, teve incluído em sua publicação matérias de cultura e internacional. Nesses dois centros financeiros mundiais o jornalismo econômico chegou no século XIX, o que aconteceu em nosso país quase um século depois. Apesar de normalmente direcionada a um público que domina esta linguagem, hoje podemos observar a necessidade da disseminação das informações econômicas sobre uma abordagem que a aproxime do leitor comum. Com esse novo segmento do jornalismo, os profissionais tiveram que se adaptar e se inteirar do que é a economia, conhecer essa ciência para poder passar para os cidadãos as informações acerca do que acontece no mercado financeiro. A Ciência Econômica é uma área do conhecimento complexa e de demorada aprendizagem. Sua abrangência teórica, com todos os conflitos ideológicos, paradigmas e paradoxos que a compõe, exige do jornalista de economia um saber diferente do convencional.” (VIEIRA, 1999, p. 9). 58 A especialização dos jornalistas é um processo longo, que requer muito estudo e dedicação ao assunto, já que a economia não é um objeto tão simples, pois envolve vários aspectos da sociedade. Por abranger ciências exatas e humanas, se torna complexa, necessita de um entendimento global e não só de uma análise lateral. (VIEIRA, 1999). Os fatos relacionados à economia nunca são isolados, um acontecimento factual faz parte de uma cadeia de fatos, ou seja, não se pode fazer uma análise individual de um fenômeno, partindo do resultado, deve-se checar o que realmente fez com que tudo acontecesse. Por isso, o jornalista deve ter uma visão global, no caso do jornalismo econômico, mais ainda. Muitos aspectos que envolvem a economia são desconhecidos por grande parte da população, e é essa intermediação que o profissional que se dedicar ao jornalismo econômico tem que fazer: decifrar a economia e passar esse conhecimento para os cidadãos. Os próprios jornalistas acreditam que esse é o maior desafio para o profissional que escolhe a economia como campo para especialização. Essa dificuldade é que caracteriza o jornalismo econômico: temos uma ciência de difícil entendimento e acesso; uma linguagem rebuscada, como siglas e mecanismos que não podem ser explicados com duas linhas de uma matéria de jornal ou em 30 segundos de uma reportagem na TV; e um público que não acredita que a economia faça parte do seu dia-a-dia. São fatores que realmente fazem com que o jornalismo econômico atinja uma minoria e, geralmente, a elite de empresários ou quem está envolvido no mundo dos negócios. Chegar ao público é uma árdua tarefa, que depende da experiência do jornalista e da sua capacidade de interpretação, para esmiuçar a economia e repassá-la para o veículo de informação, como afirma Silvia Regina Rosa. [...] a população não reconhece a sua realidade nas páginas dos jornais, não se identifica com os personagens retratados e não consegue enxergar a influência direta da política econômica em sua vida. Tal distanciamento é resultado de uma distorção do conceito de economia nos cadernos econômicos, que foi resumido ao dinheiro ou a capacidade de gerá-lo, destituído de seu conceito mais amplo que envolve as atividades do homem para satisfazer suas necessidades. De ciência da escassez a economia passou a figurar como a ciência da riqueza, voltada não à satisfação do homem, e sim às necessidades de acumulação do capital.” (ROSA, 2005, p. 37). Quando os jornalistas conseguirem aproximar a economia do cotidiano da população, o jornalismo econômico terá conseguido atingir o grande ato de sua existência. E isso só poderá ser feito com a revisão dos conceitos de economia e do próprio jornalismo, buscando ferramentas para atingir de maneira mais plena possível todas as camadas da sociedade. Em um universo de siglas, estrangeirismos e termos técnicos é onde se instala o jornalismo econômico, em que essa particularidade afasta as pessoas dos cadernos de economia, por exemplo. A dificuldade de entendimento e o distanciamento da maioria da população fazem com que a economia seja esquecida, deixada de lado; não há interesse das pessoas, já que acreditam que ela não influencia em nada as suas vidas. O jornalista econômico deve buscar uma linguagem mais simplificada que vise atingir todas as camadas da sociedade. Para isso, já que a economia é uma ciência complexa, os profissionais têm que se inteirar do assunto de forma profunda, para poder informar com 59 qualidade. A notícia não deve ser somente reprodução de informação, além de estar em uma linguagem inteligível, ela deve ser produzida de modo que seja contextualizadora, para, além de ser entendida, ela interaja com o universo do cidadão comum. REFERÊNCIAS BASILE, S. Elementos do Jornalismo Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 2002. BISHOP, M. Economia sem mistério: glossário dos termos essenciais. São Paulo: Publifolha, 2005. CALDAS, S. Jornalismo Econômico. São Paulo: Contexto, 2003. HEILBRONER, R. Introdução à macroeconomia. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973. KUCINSKI, B. Jornalismo Econômico. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000. RESENDE, J. V. Construtores do Jornalismo Econômico: da cotação do boi ao congelamento de preços. São Paulo: SAA APTA, 2003. ROSA, S. R. Jornalismo Econômico: uma leitura possível. 2005. Monografia (Graduação em Jornalismo) - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru. SARCINELLI, J. Jornalismo Econômico: a sedução do Poder. Disponível em: <http://www.hottopos.com/mirand3/econ.htm>. Acesso em: 15 set. 2009. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. São Paulo, 2003. VIEIRA, F. Jornalismo Econômico: especialização, linguagem e argumentação. 1999. Monografia (Graduação em Jornalismo) - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru. 60 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios OS PARADIGMAS DA IMPRENSA EM PAUTA: BIODIVERSIDADE, BIOCOMBUSTÍVEIS E AQUECIMENTO GLOBAL1. Katarini Miguel2 Palavras-chave: Meio ambiente. Comunicação. Análise de Conteúdo. INTRODUÇÃO - Ao longo dos anos nota-se que o assunto ambiental ganhou inúmeras vertentes e interpretações, que apresentam a questão de maneira ora romantizada, ora catastrófica, ora antropocêntrica ou ainda banalizam a temática para criar uma realidade ambiental autônoma, isolada e desvinculada do conjunto das relações de interdependência que se estabelecem entre natureza e sociedade, como avalia Ramos (1996). Ainda quando se considera o exercício político sobre as questões ambientais, faz-se necessário analisar a construção destas notícias para reconhecer paradigmas que ainda persistem nas mensagens, e conseqüentemente, influenciam a visão do leitor e podem comprometer políticas públicas. A prática do jornalismo relacionado às questões ambientais, mostra-se, na maioria das vezes, carregada de estereótipos, impedindo uma concepção contextualizada do tema. Assuntos que exigem mais apuração e conhecimento como o processo de política ambiental, acabam marginalizados. O trabalho em questão propõe justamente averiguar o tratamento dos textos informativos relacionados à temática ambiental, no jornal impresso O Estado de S.Paulo, a partir dos temas Biodiversidade, Biocombustíveis e Aquecimento Global, utilizando a Análise de Conteúdo para avaliar o tratamento das notícias e sinalizar para as principais características da construção jornalística. METODOLOGIA - A análise de conteúdo é uma técnica de investigação sistemática e quantitativa, que pode ser utilizada para avaliar as notícias ambientais, na medida em que vai proporcionar elementos de comparação para sugerir os paradigmas predominantes nos meios de comunicação de massa. Bardin (1977) explica que este tipo de abordagem permite a análise quantitativa, que avalia a freqüência de certas características no conteúdo, como a qualitativa, que percebe a presença ou ausência de indicativos, que valoram o texto, sempre fundamentada na presença de um indicador. A análise de conteúdo, segundo a autora, proporciona a ultrapassagem da incerteza e o enriquecimento da leitura de tentativa exploratória. Segundo Bardin, reiterada por Fonseca Junior (2008), a análise quer induzir os conhecimentos relativos às condições de produção ou recepção, e para isso, recorre a indicadores. Os autores sugerem que, inicialmente, seja feita uma pré-analise, com 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Jornalista, mestre em Comunicação Midiática pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Bauru, coordenadora do Programa de Comunicação do Instituto Vidágua. E-mail: [email protected] 61 formulação de hipóteses, objetivos e indicadores; exploração do material para constituição do corpus e tratamento do resultado/inferência e interpretação. A categorização também é colocada pela autora, na medida em que classifica os elementos constitutivos de um conjunto, que podem ser semânticos, léxicos e expressivos. Mas ela (p.134) lembra que “qualquer análise conteúdo deve passar pela análise da mensagem em si”, porque é necessário compreender as significações como mitos, símbolos e valores. A autora explica que a análise pode ser feita a partir do desmembramento do texto em unidades de significação. Desta forma, só os enunciados que exprimem avaliação são submetidos à analise. E estes componentes relevantes podem ser objetos de atitude, que podem recair sobre pessoas, grupos, idéias e termos avaliativos, o que permite também averiguar o enquadramento das mensagens. Este procedimento pode ser feito, através da escolha de unidades de registro (como palavras chaves e temas), escolha das unidades de contexto e recorte do texto em fragmentos, codificando e avaliando a presença ou ausência de cada unidade e o realçar destes elementos. PRINCIPAIS RESULTADOS - A partir da metodologia da Análise de Conteúdo e categorizações quantitativas foram analisadas as matérias, com o objetivo de compor um quadro preliminar da cobertura da mídia nos assuntos relacionados à temática ambiental. Em oito dias de análise foram constatadas 40 matérias sobre a temática, em uma média de 5 matérias por dia de tamanhos superiores a 2 mil caracteres, evidenciando a centralidade da questão e o espaço que a temática ambiental está adquirindo nos veículos de comunicação. Vale lembrar que esta autora realizou semelhante pesquisa há exatamente um ano e verificou em um período maior, 12 dias, apenas sete matérias com viés ambiental. A maioria das matérias constava no Caderno de Economia em editoras específicas de Economia e Negócios, Agroenergia, Produção de Combustível e Etanol. Do total de 40 matérias, metade, 20 delas, ocuparam o Caderno de Economia, fazendo uma estreita ligação de meio ambiente com economia, colocando, muitas vezes, o tema ambiental como fator limitante para os negócios. O Caderno Nacional (geral), editoria específica “Vida &” abordou assuntos relacionados à Biodiversidade, Aquecimento Global e qualidade de vida. Também foram encontradas notícias relacionadas ao tema ambiental no Caderno Cidades, evidenciando a abrangência do assunto, que não deve estar fixado em uma única editoria. O tema mais freqüente nas matérias analisadas foi a Produção de etanol, biocombustível e agroenergia, justamente no Caderno de Economia. Foram 19 matérias sobre a temática, quase metade do total. Também foram contabilizados 9 textos sobre biodiversidade, englobando unidades de conservação, florestas e povos tradicionais e 6 sobre aquecimento global e mudanças climáticas. As fontes de informação foram em sua maioria oficiais. Em 40 matérias, 31 tinham o posicionamento oficial, enquanto 14 também ouviram organizações não governamentais, associações e personagens envolvidos com o tema. Os empresários e investidores foram citados em apenas 5 matérias, apesar da predominância no Caderno de Economia com ênfase para negócios, enquanto pesquisadores e universidades foram fontes de informação em 4 textos .O jornal usou de generalizações atribuindo às informações e opiniões aos “ambientalistas”, “cientistas” e “negociadores internacionais” como se estas categorias fossem homogêneas e partilhassem da mesma opinião. Mas vale colocar que foi notada uma pluralidade de fontes de informações em grande parte das matérias, que ouviram governo, organizações não governamentais, personagens e pesquisadores. CONCLUSÃO - Ficou evidente a partir desta pequena amostra que O Estado de S.Paulo incorporou o discurso da preocupação ambiental, desenvolvimento 62 sustentável e produção de energia e combustíveis alternativos, mas deixou a desejar em suas abordagens. Para Castells (2002) a questão ambiental ganhou mais espaço justamente em virtude das publicações na mídia, e porque o movimento ambiental demonstrou grande capacidade de divulgação, criando elementos propícios para matérias e reportagens. Foi possível perceber um certo enquadramento conflituoso, ressaltando embates ao invés de explicar o assunto para seu leitor e uma forte predominância na relação econômica. Por não entrar em muitos méritos científicos, se restringindo a descrever os acontecimentos de maneira isolada, foi constatado um viés antropocêntrico nas matérias aqui analisadas, colocando o homem isolado do meio ambiente. Mas as raras exceções mostram assuntos mais voltados a uma realidade local. Devido às relações econômicas, escolha das editorias e abordagens, muitas vezes, pragmática de alguns assuntos, sobressaiu o paradigma positivista de ver a natureza de forma utilitária e isolada. Esse panorama prévio contribuiu para uma pesquisa mais ampla sobre o assunto, com uma amostra maior, que pode oferecer um quadro mais conclusivo a respeito dos paradigmas ambientais encontradas no jornal em questão. Freire (2003) avalia que a questão ambiental é interdisciplinar, em que se entrecruza o conhecimento técnico cientifico, as normas e valores, o estético cultural, regidos por razões diferenciadas. Para ele a solução dos problemas ambientais não é de natureza técnica, mas de uma opção político cultural e de um novo paradigma, que deve catalisar a formação de novos valores e promover a percepção em várias direções. A mídia mostra-se como um importante canal para esta mudança de paradigmas. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1973. CASTELLS, M. O poder da identidade. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. (A Era da Informação: economia, sociedade e cultura, 2). FONSECA JÚNIOR, W. C. Análise Conteúdo. IN: DUARTE, J. BARROS, A. (Org.). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. RAMOS, L. F. A. Meio Ambiente e Meios de Comunicação. São Paulo: AnnaBlume, 1996. FREIRE, G. Educação Ambiental : princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2003. RAMOS, L. F. A. Meio ambiente e meios de comunicação. São Paulo: AnnaBlume, 1996. 63 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios REPRESENTAÇÕES SOBRE AS ESFERAS DO PODER NA PRIMEIRA EDIÇÃO DO CADERNO DIPLÔ, DO LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL1. Fernanda Larossi Pinto2 RESUMO Este trabalho tem a finalidade de analisar o Caderno Diplô, do Le Monde Diplomatique Brasil, concretamente, a edição cuja chamada de capa é “Fórum Social 2002: Que outro mundo é possível?” Pretende-se buscar o sentido criado pelo Caderno uma vez que nele se reproduzem matérias já publicadas anteriormente no Le Monde Diplomatique. Assim, busca-se elencar características que moldam um ponto de vista comum entre os autores, ou seja, o artigo a seguir indica as possíveis representações das formas de poder, defendidas especialmente a partir das ações dos Estados Unidos com o resto do mundo, o que vai de encontro à visão de que o jornalismo é uma forma de representação importante na sociedade atual, devido ao grande alcance e influência dos meios de comunicação em geral. Palavras-chave: Representações. Poder. Jornalismo. Le Monde Diplomatique Brasil. 1 INTRODUÇÃO O artigo tem como objetivo analisar a edição número um do Caderno Diplô, publicação do jornal Le Monde Diplomatique, e relacioná-lo com as possíveis representações nas quatro esferas de poder: político, econômico, coercitivo e simbólico, classificação esta exposta por Thompson (2005). Além de esboçar as diferenças de cada esfera e tentar identificá-las no conteúdo editorial do Caderno, 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp (Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’, campus de Bauru/SP) na linha de pesquisa Processos Midiáticos e Práticas Socioculturais, desenvolvendo projeto de estudo sobre ‘Reaproveitamento das notícias no jornalismo impresso contemporâneo: o caso Le Monde Diplomatique’ com orientação do Prof. Dr. Maximiliano Martín Vicente ([email protected]) 64 busca-se também dialogar com os conceitos de cultura e globalização discutidos nas obras dos autores Canclini (2005) e Ramonet (2001), este último diretor do Jornal Le Monde Diplomatique na França de 1998 a 2008. O objetivo final reside em buscar contribuir para a discussão do papel social da mídia no mundo atual. E como o conteúdo analisado do Caderno aborda as relações geopolíticas após os atentados de 11 de setembro é possível elencar as características das representações de tais formas de poder não só na sociedade norte-americana como no mundo todo. 2 RELEVÂNCIA Este trabalho tem a finalidade de analisar o Caderno Diplô, do Le Monde Diplomatique Brasil, concretamente, a primeira edição cuja chamada de capa é “Fórum Social 2002: Que outro mundo é possível?” Pretende-se buscar o sentido criado pelo Caderno uma vez que nele se reproduzem matérias já publicadas anteriormente no Le Monde Diplomatioque. Assim, busca-se elencar características que moldam um ponto de vista comum entre os autores, ou seja, o artigo a seguir indica as possíveis representações das formas de poder, defendidas especialmente a partir das ações dos Estados Unidos com o resto do mundo, o que vai de encontro à visão de que o jornalismo é uma forma de representação importante na sociedade atual, devido ao grande alcance e influência dos meios de comunicação em geral. 3 METODOLOGIA Através da análise interpretativa dos textos republicados no Caderno Diplô, pretende-se relacionar tais textos com as representações nas quatro esferas de poder: político, econômico, coercitivo e simbólico, classificação esta exposta por Thompson (2005). Com a ajuda de levantamento bibliográfico, busca-se também dialogar com os conceitos de cultura e globalização discutidos nas obras dos autores Canclini (2005) e Ramonet (2001), este último diretor do Jornal Le Monde Diplomatique na França de 1998 a 2008. 4 PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA 65 Na abertura da primeira edição do Caderno Diplô, do Le Monde Diplomatique, são citados os objetivos dos textos reunidos na publicação: debater “os novos desafios surgidos após a contra-ofensiva do Império” – isso após os atentados de 11 de setembro –, “muito mais do que tentar sanar a perplexidade provocada pelos atentados e pelo precedente aberto pela guerra contra o Afeganistão”. Com isso, o posicionamento da publicação fica claro: Agimos movidos por uma ética que valoriza os direitos ao invés do lucro; e a solidariedade em vez do egoísmo. Estamos respaldados, além disso, pelo fato de que a globalização atual facilitou o surgimento de monstros cujos tentáculos invisíveis se propagaram no vazio deixado pelo Estado e nas brechas abertas pela desregulamentação. Na nova disputa de idéias que surgiu após a guerra, deixaremos claro (...) que tanto o fundamentalismo religioso como o fanatismo dos mercados são duas faces da mesma moeda; e que uma efetiva democratização do mundo passa pela mudança radical de prioridades econômicas, sociais e políticas 3. A organização de uma edição especial temática ajuda a reforçar a posição do jornal Le Monde Diplomatique de tentar contribuir para a reflexão de temas ligados à economia e política que interferem na sociedade como um todo. Até mesmo o reaproveitamento de material já divulgado pelo jornal e reunido numa nova versão temática contribui para reforçar tal posição, o que, de certa forma, implica em pensar que estamos diante de um nova maneira de realizar jornalismo, notadamente aquela destinada a apresentar os fatos na sua cotidianidade. Na primeira edição do Caderno Diplô, cujo tema central é “Fórum Social 2002: Que outro mundo é possível?”, é possível identificar como os autores reunidos fazem um “convite ao leitor” para pensar sobre a geopolítica atual, ou seja, consideram o receptor, especialmente o deste produto editorial, como um indivíduo consumidor de informação ativo e preocupado com a dinâmica mundial, notadamente aquela relacionada com o desdobramento de episódios como foram os atentados ás torres Gêmeas. Tal posicionamento seguido pelo Caderno Diplô se aproxima muito ao pensamento de J. B. Thompson (1995), que defende a compreensão da sociedade e sua construção social tomando como referência a mídia - já que para ele a “mídia se envolve ativamente na construção do mundo social” - e entende a comunicação sempre inserida numa sociedade e esta num contexto social. Para identificar tal 3 Trecho retirado da abertura de CADERNOS DIPLÔ nº 1. São Paulo: Editora Unesp, 2001-2003. Anual. ISSN 1677-3616. 66 contexto, o autor elenca as relações de poder tipificadas em quatro esferas: poder político, econômico, coercitivo e simbólico. Tais níveis se sobrepõem de maneiras complexas e variadas, ou seja, tal estratificação não indica grau maior ou menor de importância ou relevância na classificação proposta. O poder político é derivado da “coordenação dos indivíduos e da regulamentação dos padrões de sua interação”. Refere-se ao emaranhado “sistema de regras e procedimentos” (THOMPSON, 1995, p. 22) que dão estrutura legal à sociedade. A segunda esfera, o poder econômico, é considerada fruto da atividade humana produtiva: é a “atividade relacionada com a provisão dos meios de subsistência através da extração da matéria-prima e de sua transformação em bens que podem ser consumidos ou trocados no mercado” (THOMPSON, 1998, p. 22). Vale destacar que entram aí tanto a esfera estatal quanto a iniciativa privada. O poder coercitivo refere-se à utilização da “força física para subjugar ou conquistar um oponente” (THOMPSON, 1998, p. 23). O autor destaca que tal força não está relacionada somente com a humana, também inclui o uso de armas e equipamentos, engloba os treinamentos, as táticas, a inteligência e o planejamento. E a forma mais importante deste nível de poder é representada pelo poder militar. O quarto nível – o poder simbólico – “nasce da atividade de produção, transmissão e recepção do significado das formas simbólicas”. Nesta esfera, encontram-se o poder da cultura e da comunicação. Para Thompson (1998, p. 24), a atividade simbólica faz parte da vida social e com isso instituições diversas têm importância na “acumulação dos meios de informação e comunicação”. E tais meios englobam “os meios técnicos de fixação e transmissão; as habilidades, competências e formas de conteúdo simbólico (que Bourdieu chama de “capital cultural”); e o prestígio acumulado, o reconhecimento e o respeito tributados a alguns produtores ou instituições (“capital simbólico”)”. Em resumo, para o autor, poder simbólico refere-se à aptidão de influenciar no decorrer dos acontecimentos, nas atitudes alheias e gerar eventos através de meio de produção e da transferência de formas simbólicas. A partir dos textos dos Cadernos Diplô, é possível relacionar tais níveis de poder na discussão entre os autores reunidos na publicação, já que os textos ajudam na construção da representação das formas de poder estabelecidas a partir da política dos Estados Unidos, especialmente após os atentados terroristas de 11 de setembro. Para esclarecer como se operam as relações de poder e suas respectivas representações, aplicaremos a classificação proposta por Thompson e que pode ser condensada na tabela a seguir: 67 Instituições paradigmáticas4 Formas de poder Recursos Poder econômico Materiais e financeiros Instituições econômicas (p. ex. empresas comerciais) Poder político Autoridade Instituições políticas (p. ex. estados) Poder coercitivo (especialmente poder militar) Força física e armada Instituições coercitivas (especialmente militares, mas também a polícia, instituições carcerárias, etc.) Poder simbólico Meios de informação e Instituições culturais (p. ex. a comunicação Igreja, escolas e universidades, as indústrias da mídia, etc.) Quadro 1 - Formas de poder. Fonte: Thompson,1998, adaptada pelo autor. Transportando para as representações dos textos do Caderno Diplô: Formas de poder Recursos Instituições paradigmáticas Poder econômico Materiais e financeiros Empresas estatais ou privadas das mais diferentes nacionalidades, como as que produzem armamento ou tecnologia (no campo da informática, por exemplo), ), instituições ‘globais’ ligadas à área econômica como FMI, Banco Mundial e OMC (que também podem entrar no poder político, já que se passam por “autoridade” nas relações mundiais) Poder político Autoridade Governo dos EUA, governos que apoiaram a postura norteamericana após 11 de setembro, governos que foram ajudados/treinados pelos EUA no passado (como Irã, Arábia saudita 4 [...] instituições que proporcionam bases privilegiadas para o exercício de certas formas de poder. (THOMPSON, 1998, p. 22). 68 Poder coercitivo (especialmente poder militar) Força física e armada Exército dos EUA, órgãos ligados ao governo norte-americano como a CIA, os próprios terroristas (seriam uma esfera de poder vista a partir das ações/ataques terroristas, ou seja, eles seriam uma forma de coerção no combate ao imperialismo estadunidense) Poder simbólico Meios de informação e Meios de comunicação em si, comunicação conglomerados midiáticos e bens de consumo produzidos por eles (produtos midiáticos ou formas simbólicas por eles comercializados) Quadro 2 - Formas de poder no Caderno Diplô. Fonte: Thompson,1998. Adaptada pelo autora. O quadro logo acima, de forma bem resumida, aponta as instituições “que proporcionam bases privilegiadas para o exercício de certas formas de poder” (THOMPSON, 1996, p. 22) a partir do conteúdo analisado. Em todos os textos do Caderno Diplô, é possível identificar crítica severa em relação ao exercício do poder político, econômico, coercitivo e até simbólico dos EUA. O país que se tornou grande potência mundial, especialmente após o fim da URSS, passou a ser referência nas quatro esferas de poder e o “american way of life” despertou encantamento (o desejo de copiar, se inspirar e seguir, por exemplo) por parte de uns e revolta por parte de outros (o desejo de combater, exterminar, por exemplo). Isso nas mais distintas esferas sociais e nas mais diferentes nacionalidades. O fácil acesso às formas simbólicas norte-americanas e o consumo das mesmas – por causa principalmente dos avanços tecnológicos–, seja por parte da própria sociedade dos EUA e de sociedades de outros países, faz resgatar o pensamento de Canclini (2005), que defende que nos séculos XIX e XX o valor simbólico de consumir o que é nosso (valorização dos bens locais) era amparado por uma nacionalidade econômica. Hoje, a cultura é vista como um processo multinacional, ou seja, “uma colagem de traços que qualquer cidadão de qualquer país, religião e ideologia pode ter e utilizar” (CANCLINI, 2005, p. 32), o que explica o fascínio pela representação do poder norte-americano na sociedade como um todo. Com a facilidade ao acesso aos produtos estadunidenses versus a influência desempenhada através do exercício das quatro esferas do poder, o mundo todo pode consumir e imitar (aí seguem os 69 exemplos: fórmulas televisivas copiadas incansavelmente pelo mundo todo; recorde de bilheteria dos filmes, especialmente as seqüências cinematográficas e etc.), uma forma de vida própria de uma potência hegemônica que sabe responder pela força e demais manifestações de poder diante de uma possível agressão à sua integridade. À luz desta discussão em relação ao poder simbólico, especialmente no âmbito da cultura, na contemporaneidade, Ramonet (2001) faz uma provocação em relação ao papel dos EUA (vista também nos textos analisados do Caderno Diplô) e presente em artigos diversos do autor: (...) qual é a responsabilidade da cultura? Também neste aspecto, os Estados Unidos continuam sendo a referência e os pioneiros da cultura de massa, quer se trate de esporte, world music, séries de televisão, programas de informação ou parques de lazer. Assumido pelos homens de negócio, o modelo cultural derrapou no insignificante, sensacional ou vulgar. (RAMONET, 2001, p. 12). Ainda para despertar mais a reflexão indaga: “Será possível que os espíritos criativos não se manifestem? Será que os intelectuais hão de conseguir se mobilizar para evitar que, no limiar de um novo milênio, a civilização acabe soçobrando no fascínio do caos?” (RAMONET, 2001, p. 12). Publicações como os Cadernos Diplô vão de encontro na busca por uma resposta à última pergunta de Ramonet no parágrafo anterior: uma edição especial com intelectuais, pensadores, pesquisadores contemporâneos que discutem temas atuais que ditam o comportamento social de forma clara, objetiva em textos autorais. Ao analisar tal conteúdo, fica claro o posicionamento de cada autor e a unidade que existe entre eles ao alimentarem uma discussão saudável e essencial que molda a sociedade nos dias de hoje: qual rumo seguirá o mundo se as atitudes políticas, econômicas e sociais não se transformarem? Tal questão refere-se às quatro esferas do poder elencadas no início deste texto e como os EUA e as representações de tais esferas podem continuar sendo como são. A elaboração do Caderno especial serve para analisar, de maneira mais vagarosa e em profundidade um tema essencial para o mundo uma vez que Os Estados Unidos desenvolveram uma forte ação, rigorosa, taxativa em alguns momentos, contra o que passaram a denominar de eixo do mal. Nada mais, de acordo com as manifestações de poder estudadas por Thompson, do que uma forma de se reafirmar diante do desgaste só que agora de maneira mais abrangente e sinistra, pois pretendiam se tornar a reserva moral mundial dizendo o que é certo e o que é errado. Assim, esse tipo de jornalismo cumpre a função de enriquecer o debate, de apresentar diversas versões além de levantar interrogações 70 e problemas que colocam em xeque a ação dos Estados Unidos. De acordo com Ramonet (1996) a “mundialização da informação” torna possível a transmissão de acontecimentos ao vivo de qualquer parte do planeta, ainda mais nos meios eletrônicos, como a televisão e a Internet (ainda com menor penetração que a televisão, mas tão ou mais impactante que o meio televisivo). “Na guerra das imagens, uma foto ou uma cena televisionada e o seu eco planetário pode surtir mais efeito que um corpo militar” (RAMONET, 1996, p. 11). Além da facilidade de acesso aos produtos devido ao rápido avanço tecnológico, vale destacar também que os conglomerados midiáticos atuais fazem com o fluxo/troca/contato/divulgação dos formatos simbólicos seja mundial e cada vez haja barreiras para tais movimentos. “Estas grandes concentrações de poder econômico e simbólico fornecem as bases institucionais para a produção de informação e conteúdo simbólico e sua circulação em escala global” (THOMPSON, 1995, p. 75). Como a circulação se insere dentro de uma escala global, as grandes empresas de comunicação responsáveis pela distribuição mundial de formas simbólicas estão cada vez se expandindo mais e usufruindo da globalização (especialmente nas esferas política, econômica e simbólica de poder): [...] o desenvolvimento dos conglomerados de comunicação provocou a formação de grandes concentrações de poder econômico e simbólico que são privadamente controlados e desigualmente distribuídos, e que dispõem de recursos maciços para garantir os objetivos corporativos na arena global. Provocou também a formação de extensas redes de comunicação, privadamente controladas, através das quais informação e conteúdo simbólico podem fluir. (THOMPSON, 1998. p. 144). Além da internacionalização dos meios comunicacionais e culturais que interferem no exercício das quatro esferas de poder, a relação tempo e espaço com a globalização6 também foi alterada. Nas sociedades antigas, a convivência entre as pessoas (que Thompson denominou de “interação face a face”) geravam ações e conseqüências entre seus membros, ou 6 Considerando definição de Canclini (2005, p. 32): “A globalização supõe uma interação funcional de atividades econômicas e culturais dispersas, bens e serviços gerados por um sistema com muitos centros, no qual é mais importante a velocidade com que se percorre o mundo do que as posições geográficas a partir das quais se está agindo”. E apoiando-se na visão de Thompson (1998, p. 135): “No sentido mais geral, o termo globalização refere-se à crescente interconexão entre as diferentes partes do mundo, um processo que deu origem às formas complexas de interação e interdependência”. E mais: o processo de globalização “surge somente quando (a) atividades acontecem numa arena que é global ou quase isso (e não apenas regional, por exemplo); (b) atividades são organizadas, planejadas ou coordenadas numa escala global; e (c) atividades envolvem algum grau de reciprocidade e interdependência, de modo a permitir que atividades locais situadas em diferentes partes do mundo sejam modeladas umas pelas outras.” 71 seja, não influenciavam indivíduos que não fazia parte deste círculo social. E “hoje é comum ver os indivíduos orientarem suas ações para outros que não partilham o mesmo ambiente espaço-temporal, e com conseqüências que ultrapassam de muito os limites de seus contextos e localizações” (THOMPSON, 1998, p. 92). E vale lembrar que a “as mensagens da mídia podem estimular e alimentar ações coletivas em indivíduos localizados em contextos distantes” (THOMPSON, 1998, p. 105). Na análise dos textos do Caderno Diplô, percebe-se que os movimentos despertados por ações que acontecem nas mais diferentes partes do mundo têm sido freqüentes na sociedade atual. Um exemplo são os movimentos antiglobalização internacionais – destacados nos textos do Caderno -, ou seja, manifestações contra as mais diferentes esferas de poder, especialmente a política e econômica (mas que refletem diretamente nas outras duas esferas, coercitiva e simbólica) promovidas por indivíduos nos mais diversos lugares do planeta unidos por uma série de valores e crenças comuns apesar de sua diversidade e pluralidade de origem. A barreira territorial do tempo e de culturas não existe mais com os meios eletrônicos e com o acesso facilitado a eles. 5 CONCLUSÃO O conteúdo reunido na primeira edição do Caderno Diplô, além do objetivo explícito na abertura da publicação - de promover uma reflexão especialmente das relações internacionais após os atentados de 11 de setembro, contribui para a discussão do papel social da mídia na contemporaneidade. A prática jornalística não pode ser dissociada das relações de poder. Os textos analíticos e reflexivos conseguem reunir dados históricos, que contribuem ainda mais para a formação crítica de quem os consome, contextualizando as representações dos poderes político, econômico, coercitivo e simbólico entre o país de maior influência mundial – os EUA – e o resto do planeta. Não adianta apenas culpar o poderio norteamericano pelas mazelas do mundo. É necessário discutir de que forma as quatro esferas do poder na atualidade pode contribuir para a diminuição de tais diferenças, especialmente as do âmbito sociais, já que globalização da comunicação, principalmente através da mídia eletrônica, é mais um dos embates culturais da humanidade (THOMPSON, 1998, p. 152). 72 ABSTRACTS This paper aims to analyze the Notebook Diplo, Le Monde Diplomatique Brazil, namely the issue whose cover story is "Social Forum 2002: That another world is possible." The aim is to seek the meaning created by the notebook since it reproduces material previously published in Le Monde Diplomatique. So, I intend to list characteristics that shape a common view among the authors, ie the article below indicates the possible representations of the forms of power, especially since defended the actions of the United States with the rest of the world, that goes against the view that journalism is an important form of representation in today's society, given the broad scope and influence of the media in general. Keywords: Brazil. Representations. Power. Journalism. Lê Monde. Diplomatique REFERÊNCIAS CADERNOS DIPLÔ n. 1. São Paulo: Editora Unesp, 2001-2003. Anual. ISSN 16773616. CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Tradução de Maurício Santana Dias. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005. THOMPSON. John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Tradução de Wagner de Oliveira Brandão. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. RAMONET, Ignacio. Geopolítica do caos. Tradução de Guilherme João de Freitas Texeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. ______ ; GRES, Alain (org.). A desordem das nações. Tradução de Ephraim Ferreria Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. VICENTE, Maximiliano Martin. O Jornalismo do Le Monde Diplomatique. Revista Comunicação Midiática: Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação/Universidade Estadual Paulista, ano 2, n. 3, p.133-149, ago. 2005. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em: <http://diplo.uol.com.br/200708,a1327>. Acesso em: 18 jul. 2008. Le Monde Diplomatique França. Disponível em: <http://www.mondediplomatique.fr/diplo/apropos/>. Acesso em: 13 mar. 2009. 73 EIXO TEMÁTICO: LINGUAGENS E EDUCAÇÃO 74 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios DA CRIAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO: MICHELANGELO E O PROCESSO DE RECRIAÇÃO 1. Léa Sílvia Braga de Castro Sá2 Palavras-chave: Leitor. Gestualidade. Intertextualidade. INTRODUÇÃO - A imagem atravessa os textos e os tempos, palavras e imagens interagem, possibilitam a re-vitalização e a socialização de um saber, antes restrito a uma minoria. Neste “canto de metamorfose”, participamos deste “museu imaginário”. O legível e o visível cruzam-se e entrecruzam-se nos olhares do ler e do ver, que são os mesmos acrescidos do mundo do texto e do mundo do leitor. O leitor produtor de sentidos - traz, para o interior do mundo do papel, toda uma gama de elementos extratextuais. Um olhar diferente leva a uma composição diferente, o que possibilita ao autor interversões e intervenções. E é justamente a mobilidade do ponto de vista que permite a atualização no ato de criação. Ler levantando a cabeça aponta o trabalho de tessitura dos significados que não estão circunscritos, limitados ao texto, assim como não estão no autor ou no leitor exclusivamente, mas no cruzamento de olhares entre eles. RELEVÂNCIA - Como leitor - caçador de sentidos e participante da construção do sentido -, estabelecemos a intertextualidade, buscando um dos pontos de isotopia o gesto, o significado da mão no ato de criar; o ato performativo da criação através das mãos. Como no ato de ler e ver, o gesto é muito importante, não só “a leitura tornou-se um gesto do olho”, como disse De Certeau, como também o gestual se tornou, além de visível, lisível (possível de ler). O gesto - precursor da palavra - é universal, sintético. É a linguagem sem palavras, é o silêncio que fala. Utilizando-se de signos não verbais, cria significação. METODOLOGIA - Numa volta ao Gênesis (“No princípio Deus criou o céu e a terra... separou a luz e as trevas... E criou o homem a Sua imagem; criou-o à imagem de Deus...E, da costela de Adão, formou o Senhor Deus uma mulher – Eva...”) e a Michelangelo (A Criação – Capela Sistina), buscamos a chave para algumas re-leituras que se tem feito, acompanhando o processo de intervenções e interversões (na Arte e na Mídia), caminhando pela trama de unidades sígnicas do verbal e do não verbal. Tentamos resgatar no passado o presente, analisando, neste constante re-criar, a complexidade da relação entre o texto e o leitor. PRINCIPAIS DISCUSSÕES / RESULTADOS DA PESQUISA - Michelangelo enfatizou o gestual e a grande recorrência do gesto revela sua importância, transforma-o em um verdadeiro signo. No afresco da Capela Sistina, a gestualidade 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Professora com Doutorado em Comunicação e Poéticas Visuais. Professora do Centro de Humanas – Universidade Sagrado Coração – e-mail: [email protected] 75 da mão foi a constante. Michelangelo teve o cuidado de distinguir dois gestos para as mãos pelos quais o Criador instaura Sua criação: gestos do indicador apontado – símbolo do poder – para a criação dos astros e para a criação de Adão; e, da mão espalmada – símbolo da autoridade – para a separação da luz e das trevas, para a separação dos astros e para a criação de Eva. O indicador apontado é a imagem do Logos performativo, do Verbo. O gesto da mão espalmada corresponde à criação pela separação dos elementos existentes anteriormente. Nada mais que dois gestos - o indicador e a mão espalmada - e o Caos se transforma em Cosmos, a não vida se transforma em vida. À criação pela palavra “Deus disse”, acrescenta-se a criação pelo ato “Deus fez”. A palavra bíblica - o dito - fixa o significado da imagem - o visto. Entre o visto e o dito, pode-se estabelecer relações de complementaridade em relação ao gestual: o encontro da mão de Deus com a mão do homem. Michelangelo transforma o texto verbal em pictórico. Seus afrescos impressionam pelas marcas significativas: a gestualidade tem sido utilizada pelos mais diferentes Meios de Comunicação, procurando entrecruzar linguagens para eternizar e reavivar constantemente o potencial criativo do homem. Hoje Michelangelo - o criador - se atualiza nos mais diversos Meios de Comunicação de Massa. Recreia-se através de Cópia, como em envólucros de papel e envelopes (Filipaper), em propagandas (Petrobrás), em Os Quadrões de Maurício de Sousa, na literatura (O Criador de Semíramis Paterno), em um Mural (no Metrô de Milão/2003 ...); através da Estilização (como no Selo comemorativo do ano 2000 na Itália), em propaganda (Caterpillar...), em capas de revistas; através de Sugestão, como no enredo e alegorias da Escola de Samba São Clemente do Rio de Janeiro (Carnaval / 2002)), em filme (ET), na vinheta de novelas (Tieta do Agreste, O Anjo que caiu do Céu, O Clone...). A vinheta do novela O Clone, numa atualização da Criação do Homem, faz repensar o ato da criação. Assim como o Criador criou o homem à Sua imagem e semelhança, também criou Eva - o primeiro clone -, tirando-a da costela de Adão. Criou o varão e a fêmea. O homem inerte levanta-se, divide-se em dois e a tênue fita do DNA estabelece a ligação. É uma tessitura polifônica: um texto fala de outro texto, é um diálogo de um texto com outro texto. Como diz Malraux “é um canto de metamorfose”. Entramos num museu imaginário. O agora-presente representa-se como a modificação do agora-passado. CONCLUSÃO - A releitura arrasta o texto para fora da cronologia e reencontra um tempo mítico (sem antes nem depois) e é através dela que obtemos não o “verdadeiro” texto, mas o texto plural: o mesmo e o novo. Cabe ao leitor puxar os fios, destecer nós, ao mesmo tempo em que amarra outros fios, tece outros nós. Os hipertextos, inseridos numa rede de outros textos, libertam da ideia da obra como objeto absoluto e fechado, pois, com a inserção de textos particulares em contextos textuais variáveis, permite ao leitor-usuário mudanças incontroláveis. REFERÊNCIAS ARASSE, D. L’index de Michel-Ange. In: Communications 34. Paris: Seuil, 1981. BERTRAND, D. Caminhos da Semiótica Literária. Tradução do Grupo CASA. Bauru, SP: EDUSC, 2003. 76 CHASTEL, A. Lê geste dans l’art. Paris: Editions Liana Levi, 2001. COSNIER, J. Geste, cognition et communication. In: Nouveaux Acts Semiothiques. Pulim. Limoges, FR: Université de Limoges, 1997. JOLY, M. Introduction à l’Analyse de l’image.Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1996. (Coleção Ofício e Arte). RIO, M. Lê dite et le vu. In: DEGRÉES. Bruxelles, 1987. p. 49-50. 77 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios A POÉTICA CRIATIVA NA PUBLICIDADE: UMA VISÃO DA SEMIÓTICA PEIRCEANA1. Luiz Nelson de Oliveira Trentini2 Palavras-chave: Criatividade. Semiótica. Objeto estético da publicidade. INTRODUÇÃO – A abrangência do signo permite que a realidade do visível pertença a uma camada interpretativa do conhecimento (SANTAELLA, 1995), dessa maneira, o signo midiático, assim considerado, é interpretativo. Nesse sentido, o ato poéticocriativo faz um questionamento relevante sobre a interpretação da realidade num contexto propositadamente preparado e produzido para simbolizar a figuração. Pode-se, assim, considerar esse o objeto da criação na publicidade, um ato compreensível recíproco entre o enunciador e o enunciatário. Dessa maneira, a ação criadora aliada à combinatória sígnica adequada tornam-se essenciais para a narrativa favorável ao objeto da campanha de publicidade. Sobre isso, afirma Peirce, “Para identificar um objeto, geralmente indicamos seu lugar e determinamos um tempo; e, em qualquer caso, deve mostrar-se como pode conectar-se uma experiência sua com a experiência prévia do ouvinte” (MS 404, §5). RELEVÂNCIA – Para Peirce, a ação sígnica é o meio natural para a percepção do mundo exterior que constrói o repertório reflexivo do mundo interior do homem. Não é possível pensar sem a intermediação de signos, sejam eles verbais, imagéticos, sonoros, olfativos, táteis e gustativos. Toda percepção do mundo exterior gera a experiência e repertório interior do homem. Assim, todo pensamento deve ordenar outro pensamento, o que vem constituir “de forma imediata, pelo mesmo princípio, a sensação precedente estaria imediatamente presente, e assim sucessivamente, ad infinitum” (CP 6. 109). Da mesma maneira, na criação publicitária um pensamento é precedido de outro pensamento comparável ou semelhante ao objeto da comunicação da campanha. É o mesmo que dizer “[…] as idéias tendem a propagarse de forma continua, e a afetar a outras determinadas que se encontram em uma relação peculiar de afetabilidade a respeito delas” (CP 6. 103). Desse modo as ações combinadas entre os cinco sentidos do homem, sejam arbitrárias ou casuais, podem criar novas representações sígnicas e assim aumentar sua coleção cognitiva. Assim, ao determinar o objeto de comunicação da estética da publicidade através de signos compreensíveis, pode-se sujeitar esse objeto de comunicação ao exame da mente do público-alvo. METODOLOGIA – Por intermédio de pesquisa bibliográfica e produções científicas disponibilizadas na Internet identificou-se e selecionou-se autores que têm realizado 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Designer, publicitário e fotógrafo, com Mestrado em Comunicação Midiática, pela UNESP-Bauru. Professor do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas da Universidade Sagrado Coração, das Faculdades Integradas de Jaú e Coordenador do Curso Comunicação nas Organizações, na Pósgraduação da USC – e-mail: [email protected] 78 estudos sobre semiótica, psicologia, publicidade e sociologia. Dos textos selecionados extraiu-se os aspectos mais importantes que se relacionam à criação em publicidade, o que possibilitou refletir e analisar as informações pertinentes e consideradas importantes para essa produção. PRINCIPAIS DISCUSSÕES - Todos os homens co-dividem extraordinárias energias psíquicas, que formam as raízes do Eu, definido por Jung, como Inconsciente Coletivo. É o patrimônio da humanidade que se ramifica em cada ser individualmente. Nessa realidade antiga e primordial encontram-se todas as experiências fundamentais do homem. Tudo o que peculiarmente representa a humanidade: experiências do nascimento, da felicidade, da maternidade, do perigo, do encontro com as forças da natureza, dos animais e dos grandes símbolos sagrados e religiosos. Substancialmente, tudo que trata do encontro do homem com a energia da vida, da natureza e dos seres (HILLMAN, 1990). Essa arquetipia jungniana se apresenta em ocasiões da vida, sobretudo em momentos de grandes emoções, quando estão em jogo interesses privados. Assim, o homem encontra nessa arquetipia sígnica de grande força e potência que o colocará de frente à sua própria personalidade, a seus próprios desejos (HILLMAN, 1990). Trata-se do mais poderoso e influente sistema da psique. Parece ser o depósito de traços de memória herdados do passado da humanidade que tornam-se signos que devem ser utilizados pontualmente na criação em publicidade. É aparentemente universal e todos os seres humanos têm, em maior ou menor teor de qualidade, o mesmo inconsciente coletivo. Sobre ele estão erigidos o ego, o inconsciente pessoal e todas as outras aquisições individuais. Tudo o que uma pessoa apreende como resultado de experiências é influenciado pelo inconsciente coletivo faz parte do seu repertório cognitivo (JUNG, 1990). Para Durkheim, esse mundo inconsciente é completamente diferente do mundo físico. É o mundo social. É a idealidade constituída de duas representações sígnicas que, em semiótica, é conhecida como realidade de signos e realidade de símbolos, assim, para Durkheim, existem tipos de idéias ou ideais de realidade “cujo papel é unicamente expressar as realidades às quais se aplicam, de expressá-las como são: trata-se dos conceitos propriamente ditos [...] estes são os ideais de valor” (DURKHEIM, 1994, p. 143). Essas representações coletivas são imagens, que, embora resultem das sensações, não podem ser explicadas apenas pelo estado do cérebro nem pela morfologia social. Desse modo, se a vida representativa no indivíduo pode ser chamada de “espiritualidade”, a vida social se define por uma “hiperespiritualidade”. Isto é, trata-se dos “mesmos atributos da vida psíquica, elevada a uma potência muita alta, de modo que chegam a constituir algo inteiramente novo” (DURKHEIM, 1994, p. 54). Pois, a sociedade é, antes de tudo, “um conjunto de idéias, de crenças, de sentimentos de toda a espécie, num amálgama realizado pelo próprio indivíduo” (DURKHEIM, 1994, p. 90). Ou seja, virtualidades que se juntam e se repelem em constante movimento de construção de mundos de sentidos capazes de instituir a nova realidade. Nesse sentido, as teorias acima estão aportadas na Cosmologia peirciana, quando ele afirma: “minha noção é que nós percebemos diretamente a continuidade da consciência e se qualquer um objetar que aquilo que não é realmente contínuo pode ‘parecer’ ser assim, eu replico ‘mas não poderia parecer assim se não houvesse alguma consciência que assim seja” (CP 6.182). Portanto, fundamentar a pesquisa estética não somente sobre repertórios sígnicos de fantasias, mas também num repertório sígnico que revitalize a atividade mental do público, com novas produções de sentido. Isso quer dizer, sem 79 perder os traços distintivos, os signos associados no sintagma3 configuram um desenho paradigmático, que leva o receptor a uma atividade mental de leitura formada por novos signos que reciclam o repertório de elementos do grupo em questão (BIGAL, 1999). A produção poético-estética do objeto estético da publicidade deve ser orientada pelo conhecimento do repertório apresentado pela pesquisa de opinião e pela pesquisa de mercado, para estabelecer equivalência sígnica entre a mensagem e o público receptor. Como signos aproximados por equivalência, o repertório do público receptor seria ampliado substancialmente e, na mesma materialidade sígnica, aproximar dois repertórios, dois campos sígnicos distintos. A função poética de linguagem4 está presente na cultura de massa e na publicidade. O objeto estético da publicidade cumpre a tarefa de linkar a percepção a dada coleção sígnica onde a recepção exige a percepção para a elaboração do interpretante pelo sujeito/receptor, cuja decodificação produz sentido. Dessa maneira, a função conativa da linguagem5 garante a resposta de compra, a interpretação esperada. A função conativa estabelece uma relação que se dá entre duas formas, entre forma e significado ou entre um sistema de formas e seu contexto, onde deverá estar incluída na composição da mensagem do objeto estético da publicidade. Ela torna o receptor/consumidor partícipe consciente do consumo, ao selecionar marcas, produtos e serviços oferecidos. O poético-estético do objeto de publicidade, que produz e cria sentido, está sob o domínio e a satisfação do desejo: há um prazer alcançado no ato da compra do produto ou serviço anunciado e há outro prazer na recepção poético-estética da mensagem, que acrescenta novo saber muito próximo ao do sujeito/consumidor. Assim, os prazeres na esfera do consumo garantem a compra de bens simbólicos onde o prazer é “[...] aquilo que é satisfeito mediante o consumo de bens simbólicos” (BIGAL, 1999, p. 24). Dessa maneira, na esfera da recepção está garantida a participação do consumidor como receptor/leitor o prazer é a capacidade de reconhecer os semantemas 6 ou a capacidade da fruição da obra, conforme o repertório sígnico (BIGAL, 1999). Desse modo, a mensagem poética acentua a essência da mensagem. Na obra poética, como em outras artes o importante é a maneira de como se preceitua o enunciado. A mensagem dá origem à função poética: o essencial é a sua forma, o seu conteúdo e a sua fruição estética. A criação da mensagem é evidenciada pela função poética, pela similaridade sígnica, seja na comunicação verbal como na comunicação não verbal, concede autonomia à mensagem, pelo seu caráter formal e estético. Assim, estabelece as relações de afetabilidade entre os objetos do mundo exterior, que confere ao homem a representação sígnica que pode determinar a natureza cognitiva do seu mundo interior. Para Charles Peirce, a criatividade é a capacidade de gerar nova inteligibilidade a partir de objetos já existentes. A criatividade envolve tanto o enunciador como o enunciatário, inclusive a criatividade, como possibilidade de crescimento, é uma característica da racionalidade humana. A maneira como funciona, portanto, não exclusiva de nenhum âmbito do conhecimento indissoluvelmente unido a toda aplicação da razão humana. CONCLUSÃO - O objeto estético da publicidade é uma forma de criar atos de comunicação cuja característica principal é ser persuasivo e realista. Sua mensagem deve convencer o público sobre os benefícios do produto ou serviço anunciado. 3 Nosso conhecimento acumulado (BIGAL, 1999, p. 43). Que produz, que cria um sentido, uma significação (BIGAL, 1999, p. 43). 5 Relação entre um sistema de formas e o seu contexto (BIGAL, 1999, p. 43). 6 Elementos que encerram os significados correspondentes a dado conceito (BIGAL, 1999, p. 98). 4 80 Portanto, através das representações sígnicas pode-se alcançar maior visão de conjunto das representações obtidas sobre o objeto estético da publicidade e, desse modo, apurar novas verdades, ações combinatórias, arbitrárias e eventuais de signos que podem criar novas representações e, assim, aumentar a coleção cognitiva do objeto veiculado. Portanto, pode-se dizer que o signo novo é, para Peirce, a criatividade idealizada pela abdução7: o criativo é valioso, inteligível e original. É a expressão da própria subjetividade, que ele entende em termos semióticos caracterizada pela continuidade evolutiva marcados por estados teleológicos. REFERÊNCIAS BIGAL, Solange. O que é criação publicitária. São Paulo: Nobel, 1999. DURKHEIM, Émile. Sociologia e filosofia. São Paulo: Ícone, 1994. HILLMAN, James. Anima: anatomia de uma noção personificada. São Paulo: Cultrix 1990. JUNG, Carl. O eu e o inconsciente. Rio de Janeiro. Vozes. 1990. PEIRCE, C.S., Collected Papers of Charles Sanders Peirce, Vols. I-VI, ed. por C. Hartshorne and P. Weiss, Harvard University Press, Cambridge, 1931-1935, and Vols. VII-VIII, ed. by Arthur Burks, Harvard University Press, Cambridge, 1958. (Referenciado como CP.) SANTAELLA, L. e NÖTH W. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 1998. 7 Peirce denomina a abdução, alternativamente de retrodução, hipótese e inferência hipotética (CP. 5.590). 81 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios A UTILIZAÇÃO DO RÁDIO NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA (EAD): O PROJETO MINERVA E O MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE1 Roseane Andrelo2, Thalita Maria Mancoso Mantovani e Souza3, Eliane Cintra Rodrigues Montresol4, Sílvia Brandão Cuenca Stipp5. RESUMO A Educação a Distância (EaD) utiliza-se principalmente da internet, que possibilita o acesso ao mundo todo em apenas alguns cliques, além do aluno estudar no tempo que lhe for conveniente e reduz custos financeiros dos dois lados, da instituição de ensino e do discente. Contudo, outros meios de comunicação, por exemplo o rádio e a televisão, em tempos remotos, implantaram o conceito de EaD no Brasil. Como proposta, este estudo apresenta a utilização do rádio como uma das ferramentas de EaD no Brasil, salientando, especialmente, o Movimento de Educação de Base (MEB) e o Projeto Minerva. Foram utilizadas as pesquisas bibliográfica e exploratória, baseando-se em literaturas, artigos científicos e webites sobre o assunto. Aplicou-se o Método Analítico-Sintético, que permite uma análise mais detalhada destes materiais, os quais encontram-se disponíveis em bibliotecas e na internet. Conclui-se que com as demais inovações tecnológicas disponíveis, o rádio passou a ser menos utilizado pela educação. O rádio é um meio importante de interação entre as pessoas e no processo de ensino-aprendizagem, especialmente na educação e alfabetização de adultos. Neste sentido, cabe a todos os cidadãos, 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Docente dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Sagrado Coração (USC). Coordenadora dos Cursos de Comunicação Social – Habilitações em Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda da USC. Doutora em Educação Escolar. Mestre em Comunicação Midiática. Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. E-mail: [email protected] 3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em Planejamento e Gestão da Hospitalidade em Turismo. Bacharel em Turismo. E-mail: [email protected] 4 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em Marketing e Propaganda. Bacharel em Publicidade e Propaganda. Docente do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba. E-mail: [email protected] 5 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em Comunicação Jornalística. Bacharel em Direito. Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. Coordenadora do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo e Assessora de Comunicação do Centro Universitário de Votuporanga e Supervisora da Artefato – Agência Experimental de Jornalismo. E-mail: [email protected] 82 governantes, educadores, gestores e alunos acreditarem novamente no potencial do rádio no ambiente educacional, na expectativa de que se cumpra, verdadeiramente, as metas de Roquette-Pinto, trazendo consigo a esperança de uma nova civilização baseada na educação, na informação e na cultura. Palavras-chave: Rádio. Educação à Distância. Projeto Minerva. Movimento de Educação de Base. 1 INTRODUÇÃO Assim como a evolução das sociedades ao longo da história, o processo educacional também alcançou mudanças significativas, possibilitadas especialmente, pelas ferramentas tecnológicas desenvolvidas. Com a introdução da tecnologia, a educação teve a possibilidade de tornar-se mais dinâmica, de repensar valores e métodos, além de exigir cada vez mais que as pessoas (educadores, gestores, discentes) tenham conhecimentos e habilidades diversas e, que acima de tudo, sejam motivadas a utilizar tais tecnologias. Atualmente, vive-se a fase da Educação à Distância, mais conhecida como EaD. A EaD utiliza-se principalmente da internet, que possibilita o acesso ao mundo todo em apenas alguns cliques, além do aluno estudar no tempo que lhe for conveniente e reduz custos financeiros dos dois lados, da instituição e do discente. Grandes portais e plataformas são construídas para atender a EaD, tais como Moodle e TelEduc. Estas plataformas educacionais fazem com que os alunos possam interagir entre si e com os educadores (tutores), além da participação em fóruns, postar mensagens, entre outros. No Brasil, esta realidade não é diferente. Com a EaD, as barreiras geográficas são quebradas, otimiza-se o tempo, mas desde que os alunos tenham condições de acesso à computadores e laboratórios. Contudo, não é somente pela introdução da internet que se pode obter a EaD. Outros meios de comunicação, por exemplo o rádio e a televisão, em tempos remotos, implantaram o conceito de EaD no Brasil. Assim, como proposta, este estudo visa apresentar a utilização do rádio como uma das ferramentas de EaD no Brasil, salientando, especialmente, o Movimento de Educação de Base (MEB) e o Projeto Minerva. 2 RELEVÂNCIA 83 Para os acadêmicos, docentes e profissionais da Comunicação Social e suas áreas interdisciplinares, torna-se necessário conhecer e refletir sobre o papel exercido na sociedade por uma mídia, neste estudo, o rádio. O rádio é uma potente ferramenta para alavancar a educação em nosso país, a exemplo dos projetos extintos Minerva e MEB. Assim, o tema é pertinente porque reúne informações sobre os projetos citados acima e permite uma reflexão sobre a história do rádio na EaD no Brasil. 3 METODOLOGIA Foram utilizadas as pesquisas bibliográfica e exploratória, baseando-se em literaturas, artigos científicos e webites sobre o assunto. Aplicou-se o Método Analítico-Sintético, que permite uma análise mais detalhada destes materiais, os quais encontram-se disponíveis em bibliotecas e na internet. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO As origens da radiodifusão sonora vem carregadas de experiências e pesquisas em transmissão de som, telegrafia, telefonia com fios e ondas magnéticas. A invenção do rádio é atribuída ao italiano Guglielmo Marconi. Contudo, a radiodifusão sonora é o resultado do trabalho de vários pesquisadores de diversos países ao longo do tempo. No Brasil, o destaque é para o Padre Roberto Landell de Moura que, em 1904, recebe três cartas patentes do Escritório de Patente de Washington: telégrafo sem fio, telefone sem fio e transmissor de ondas. Um outro momento importante na história é que no início do século, “os pesquisadores enfrentavam um grande problema para a transmissão de sons sem o uso de fios” (FERRARETTO, 2001, p. 85). Assim, surge a figura de Reginald A. Fessenden, o qual desenvolveu a estrutura básica do processo de transmissão em amplitude modulada (teoria da onda contínua). Seu objetivo era transmitir a música e a voz humana. A teoria da onda contínua é aquela em que a onda sonora era sobreposta à de rádio e transmitida ao receptor, onde o ouvinte ficava apenas com o som. Em 24 de dezembro de 1906 ocorreu a primeira transmissão comprovada e eficiente, com som de um violino, trechos da Bíblia e de uma gravação fonográfica da estação em Brant Rock, Massachussetts. As emissões foram ouvidas em diversos navios da 84 costa norte-americana. Nesta esteira de raciocínio, podemos definir o rádio como sendo um “meio de comunicação que utiliza emissões de ondas eletromagnéticas para transmitir a distância mensagens sonoras destinadas a audiências numerosas” (FERRARETTO, 2001, p. 23). Em linhas gerais, portanto, o rádio é um veículo de comunicação baseado na difusão de informações sonoras, por meio de ondas eletromagnéticas, em diversas freqüências. 4.1 SURGIMENTO DO RÁDIO: BREVES CONSIDERAÇÕES O rádio nasceu como um meio de comunicação bidirecional. Era um elo entre dois sujeitos fisicamente afastados que precisavam se comunicar. Em 1916, David Sarnoff, um russo radicado nos EUA intuiu a possibilidade de transformar o rádio em um meio de comunicação massiva. Os avanços técnicos tornaram possível que o rádio perdesse sua bidirecionalidade constituindo-se em um meio de comunicação massiva unidirecional. Já no Brasil, em 1922, durante a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, a Westinghouse e a Western Eletric realizam a 1ª demonstração pública de radiodifusão sonora no país. Esta exposição despertou a curiosidade do Prof. Edgard Roquette-Pinto. No dia 20 de abril de 1923, Roquette-Pinto e Henrique Morize fundaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com o slogan “Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”. O Brasil entrou definitivamente na era do rádio no dia 1º de maio de 1923. 4.2 O RÁDIO E A EDUCAÇÃO No que tange à educação, as emissoras educativas são aquelas mantidas pela União e sem fins lucrativos. Entre os diversos formatos de programação existentes, destaca-se o Educativo-Cultural, que é aquele adotado pelas emissoras não-comerciais, voltadas a uma programação que pretende formar o ouvinte, ampliando seus horizontes educativos e culturais. O rádio, durante a sua primeira fase no Brasil, era considerado um meio de comunicação focado principalmente para a transmissão de educação e cultura. Em 1936, a função educativa do rádio tornavase oficial. Roquette-Pinto doou ao MEC a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, mediante a promessa de que seus ideais ao fundar a emissora seriam preservados. Nasce o sistema de Rádios Educativas no Brasil. Havia a intenção de produzir uma 85 programação educativa popular, contudo, os conteúdos eram elitizados, como cursos de literatura francesa e inglesa, lições de italiano, português, francês, entre outros. Apesar do interesse de Roquete Pinto em produzir uma programação educativa popular, de acesso fácil à maioria da população, com o rádio ajudando a resolver o problema educacional do país, as condições de acesso existentes na época faziam com que o novo veículo refletisse um nível de cultura compatível com o da elite, os privilegiados ouvintes de então (MOREIRA, 1991, p. 17). Em 1933 foi criada a Rádio Escola Municipal do Distrito Federal, sob a coordenação de Anísio Teixeira, que permitiu o contato direto entre emissora e ouvinte e o desenvolvimento de uma didática especial para o ensino radiofônico. [...] preocupada em manter o contato com os alunos, a estação distribuía folhetos e esquema das lições que eram enviadas antes das aulas radiofônicas, pelo correio, às pessoas inscritas. Os alunos, por sua vez, enviavam à emissora trabalhos relacionados com os assuntos das aulas e mantinham contato com a emissora por carta, telefone e até mesmo visitas (MOREIRA, 1991, p. 18). Este breve resgate histórico nos remete ao conceito de EaD, o qual foi introduzido no Brasil em 1939, com a fundação do Instituto RádioMonitor e depois do Instituto Universal Brasileiro, em 1941. Outras iniciativas aconteciam ao mesmo tempo utilizando o rádio para promover a educação, como o programa Universidade no Ar, que oferecia orientação metodológica para professores do ensino secundário. No ano de 1947 houve uma campanha educacional do SESC e SENAC para operários do interior paulista. Desenvolveram-se os primeiros núcleos de recepção organizados, onde os alunos ouviam as aulas em grupos e debatiam os temas orientados por um professor. Neste mesmo período, o Brasil contou com a contribuição especial e importante de João Ribas da Costa, sendo que o mesmo fomentou a instalação de uma rede de emissoras de ondas médias nas regiões com maior densidade demográfica e menor número de rádios. A meta do projeto de Ribas da Costa era a alfabetização de adultos através de monitores voluntários com mínimo de conhecimentos, que auxiliariam os professores-locutores. Em 1957, este projeto foi o pontapé inicial da organização do Sistema de Rádio Educativo Nacional – SIRENA, extinto em 1963. Em linhas gerais, percebe-se que o rádio foi amplamente utilizado no processo de alfabetização, justamente porque esta mídia é difusora de informação e conhecimento e que 86 carrega consigo características especiais, tais como linguagem oral, mobilidade, imediatismo, instantaneidade, fácil penetração, entre outros. 4.3 O MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB) Como já é de conhecimento, no período do Estado Novo de Getúlio Vargas e da Ditadura Militar, a censura aos meios de comunicação foi constante. Pela sua facilidade de propagar mensagens, especialmente o rádio foi visto como importante estratégia para o Poder Público. Assim, Getúlio Vargas assina em 1932, um decreto que colocava o rádio e seus proprietários sob a vigilância de seu poder (SOUZA; SOUZA, 2007). Dando um salto na história, na década de 60 se iniciam os movimentos de educação popular, fundamentados nos pensamentos sociais e cristãos preocupados com questões educativas e que tornassem os adultos mais participativos de sua sociedade e da vida política do país. Um destes movimentos é o Movimento de Educação de Base (MEB), fundado em 21 de março de 1961 por Dom Eugênio Salles e desenvolvido pelas escolas radiofônicas paroquiais, sob a supervisão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), concentrando suas atividades em regiões subdesenvolvidas: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O MEB tinha o objetivo da alfabetização escolar, educação de base, conscientização da mudança de atitudes e da instrumentação das comunidades receptoras dos programas elaborados pelo MEB. Possibilitou também, a educação à distância nãoformal. O MEB viveu seu auge em 1963 e durante a Ditadura, em 1964, os acontecimentos políticos interferiram em todos os movimentos de educação e cultura popular, até desaparecerem. O MEB se sustentou graças ao vínculo com a CNBB, contudo, com alterações na sua concepção pedagógica. No ano de 1986, o movimento também assumiu como tarefa a animação e o assessoramento aos movimentos e organizações populares, visando a formação para a cidadania e a conscientização das lideranças frente aos problemas sociais. 4.4 PROJETO MINERVA O Projeto Minerva foi criado nos anos 70, para atender aos objetivos do governo militar brasileiro em resposta aos movimentos de educação popular iniciados pela Igreja, utilizando o rádio e a TV em programas de ensino à distância. 87 Como exposto acima, na ditadura, a Igreja Católica propunha uma conscientização e mudança radical no processo educativo com a utilização do rádio e da televisão. A proposta, portanto, do Projeto Minerva era a de solucionar os problemas educacionais com a implantação de uma cadeia de rádio e televisão educativas para a educação de massa por meios de métodos e instrumentos não convencionais de ensino. Como tudo era controlado, o governo determinou horários obrigatórios para a transmissão de programas educativos. Isto era uma realidade voltada “apenas a instrumentalizar o indivíduo para o trabalho, sem refletir criticamente sobre a realidade” (FERRARETTO, 2001, p. 162). O Projeto Minerva começou a operar em 1970 pelo Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e Cultura e concebido com uma parceria entre MEC, Fundação Padre Anchieta e Fundação Padre Landell de Moura. Era transmitido em rede nacional por várias emissoras de rádio e de televisão, visando a preparação de alunos para os exames supletivos de Capacitação Ginasial e Madureza Ginasial (preparação dos candidatos que desejavam se submeter aos exames e não tinham condições de freqüentar ou pagar um curso preparatório), produzidos pela Fundação Padre Landell de Moura e pela Fundação Padre Anchieta. O Projeto Minerva, segundo Pavan (2001), possuía um cunho informativocultural e educativo com uma produção regionalizada, concentrada no eixo Sul-Sudeste, e uma distribuição centralizada. O programa acabou não conquistando a população, que o chamava de “Projeto Me Enerva”. Isso contribuiu para fortalecer a imagem, segundo Pavan, de que o rádio educativo é chato e cansativo (BURINI, 2005, p. 68). Foi implementado como uma solução a curto prazo aos problemas do desenvolvimento do país, que tinha como cenário um período de crescimento econômico onde o pressuposto da educação era o de preparação de mão de obra. O Projeto Minerva foi mantido até o início dos anos 80, apesar das severas críticas e do baixo índice de aprovação - 77% dos inscritos não conseguiram obter o diploma, ficando amplamente conhecido como “Projeto Me Enerva”, conforme exposto acima. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com as demais inovações tecnológicas disponíveis, o rádio passou a ser menos utilizado pela educação. Contudo, a educação precisa redescobrir as suas 88 funcionalidades, que são a instantaneidade, simultaneidade e rapidez. Na mesma medida, espera-se que os professores e gestores escolares mudem suas mentalidades, ousem mais, criem mais, para que assim cumpram com o objetivo de formarem cidadãos mais críticos e comprometidos com o desenvolvimento das sociedades. O rádio é um meio importante de interação entre as pessoas e no processo de ensino-aprendizagem, especialmente na educação e alfabetização de adultos. Este meio de comunicação tem a facilidade de trabalhar com conteúdos locais e regionais, além de ser possível a redução de analfabetismo nas áreas rurais. Compreender esses aspectos é caminhar para a libertação e universalização dos saberes, favorecendo a aquisição de conhecimentos e habilidades indispensáveis para que se introduzam e se promovam os diferentes modos de comunicação na sala de aula e no conjunto das atividades educativas (BURINI, 2005, p. 71). Neste sentido, cabe a todos os cidadãos, governantes, educadores, gestores, alunos a acreditar novamente no potencial do rádio no ambiente educacional, na expectativa de que se cumpra, verdadeiramente, as metas de Roquette-Pinto, trazendo consigo a esperança de uma nova civilização baseada na educação, na informação e na cultura. ABSTRACT The Distance Education (EAD) is mainly used the Internet, allowing access to the world in just a few clicks, and the student's study time that is convenient and reduces the financial costs on both sides of the educational institution and students. However, other media such as radio and television, in ancient times, applied the concept of Distance Education in Brazil. As proposed, this study presents the use of radio as a tool of Distance Education in Brazil, highlighting in particular the Movement for Basic Education (MEB) and Minerva Project. We used the literature and exploratory research, based on literature, scientific articles and webites on the subject. We applied the Analytic-Synthetic, which allows a more detailed analysis of these materials, which are available in libraries and the Internet. It was concluded that with the other technological innovations available, the radio has become less used for education. The radio is an important means of interaction between people and the process of teaching and learning, especially in education and adult literacy. In this sense, it is for all citizens, governments, educators, managers and students once again believe in the potential of radio in the educational environment, pending the fulfillment, indeed, the objectives from Roquette-Pinto, bringing hope of a new civilization based on education, information and culture. 89 Keywords : Radio. Distance Education. Minerva Project. Movement for Basic Education. REFERÊNCIAS BURINI, D. Educação para adultos e democracia: um estudo do rádio como mediador nas experiências educativas no Brasil. FACOM, São Paulo, n. 15, 2 sem. 2005. Disponível em: <http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/facom_15/_debora_burini.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2009. FERRARETTO, L. A. Rádio: o veículo, a história e a técnica. 2. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001. PROJETO MINERVA. In: MENEZES, E. T. de; SANTOS, T. H. dos. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix, 2002. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=291>. Acesso em: 12 jun. 2009. MEB (Movimento de Educação de Base). In: _____. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix, 2002. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=272>. Acesso em: 12 jun. 2009. MOREIRA, S. V. O rádio no Brasil. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1991. SOUZA, I. S. de; SOUZA, C. A. de. O poder do rádio na era da educação a distância. 2007. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2007/tc/53200713528PM.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2009. 90 EIXO TEMÁTICO: ÉTICA E LEGISLAÇÃO NA COMUNICAÇÃO 91 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios DIREITOS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NA COBERTURA DOS JORNAIS DO CENTRO OESTE PAULISTA1. Pedro Luis Bueno Berti2 RESUMO Os direitos e deveres da infância e adolescência são protegidos por legislação específica no Brasil. Mas, quando a mídia noticia violações às salvaguardas de crianças e jovens, muitas vezes veicula enfoques superficiais, de maneira que seus direitos não são esclarecidos. Com freqüência, os meios de comunicação deixam de apresentar informações sobre as políticas públicas envolvidas e seu entendimento específico de causas possíveis e soluções cabíveis para os problemas que afetam aquele público. Esta pesquisa identificou e analisou as características da cobertura de assuntos ligados à preservação dos direitos da infância e adolescência nos oito principais jornais das maiores cidades da região administrativa de Bauru, no período de agosto de 2008 a março de 2009, no total de 389 matérias. O objetivo foi caracterizar a qualidade da contextualização composta pelas reportagens analisadas em relação às conseqüências e soluções para os problemas apurados e ao enfoque sobre as políticas públicas envolvidas. Foram empregadas metodologias de análise de conteúdo e análise de enquadramento, a fim de perceber os significados implícitos e explícitos com os quais os fatos foram enfocados. Do total de matérias avaliadas, 66% noticiaram atos infracionais e de violência com crianças e adolescentes como vítimas ou agentes, com abordagem fragmentada e superficial; 34% são abordagens mais amplas sobre as políticas públicas destinadas à preservação dos direitos de crianças e adolescentes. Palavras-chave: Mídia. Direitos de crianças e adolescentes. Ética no jornalismo. Construção da notícia. 1 INTRODUÇÃO Os direitos e deveres da infância e adolescência são protegidos por legislação específica no Brasil. Mas, quando a mídia noticia violações às salvaguardas de crianças e jovens, muitas vezes veicula enfoques superficiais, de 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Estudante do curso de Comunicação Social — Habilitação em Jornalismo – E-mail: [email protected] 92 maneira que seus direitos não são esclarecidos. Esta pesquisa identificou e analisou as características da cobertura de assuntos ligados à preservação dos direitos da infância e adolescência nos oito principais jornais das maiores cidades da região administrativa de Bauru (SP), no período de agosto de 2008 a março de 2009, no total de 389 matérias. Do total de matérias avaliadas, 66% noticiaram atos infracionais e de violência com crianças e adolescentes como vítimas ou agentes, com abordagem fragmentada e superficial; 34% são abordagens mais amplas sobre as políticas públicas destinadas à preservação dos direitos de crianças e adolescentes. 2 RELEVÂNCIA O monitoramento das notícias veiculadas pela mídia impressa sobre assuntos ligados aos direitos da infância e juventude oferece parâmetros para se caracterizar a qualidade da cobertura realizada, isto é, torna-se possível verificar o nível de contextualização dos fatos e da investigação dos acontecimentos em questão. Nesse sentido, a análise deve observar a presença de informações referentes a políticas públicas, causas possíveis e soluções cabíveis dentro do acontecimento abordado, e a consulta a fontes especiais, imprescindíveis para uma visão mais ampla e contextualizada do problema. 3 METODOLOGIA A metodologia empregou análises de conteúdo e enquadramento. Para a análise de conteúdo, foi utilizada como referência a metodologia desenvolvida pela Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância). Cada matéria foi caracterizada por meio de seis chaves de compreensão, de modo a enquadrá-las em aspectos de compreensão que abrangem a descrição do ato infracional, causas e soluções apresentadas pelos jornalistas, políticas públicas, fontes consultadas na elaboração das reportagens, dados e discussões específicas relacionadas ao objeto de análise, e o comportamento editorial do jornal quanto ao uso de apelos lingüísticos que denotam exploração sensacionalista do fato. Para a análise de enquadramento, foram utilizados os seguintes eixos: seleção de informações, ênfase de informações e exclusão de informações. 93 4 PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA Os resultados desse estudo provêm da análise de conteúdo de 389 matérias veiculadas de agosto de 2008 a março de 2009 pelos oito principais jornais das maiores cidades da região administrativa de Bauru sobre a temática pesquisada: Jornal da Cidade e Bom Dia (Bauru), Jornal Candeia (Bariri), Jornal O Independente (Dois Córregos), Comércio do Jahu (Jaú), A Tribuna (Lençóis Paulista), Correio de Lins e Jornal Debate (Lins). De acordo com a metodologia de análise de conteúdo proposta, foram estabelecidos parâmetros de apreciação das matérias selecionadas. As reportagens foram classificadas em dois grupos, de acordo com a primeira categoria de análise de conteúdo (“fato em questão”). No primeiro, foram classificadas as matérias que noticiaram atos infracionais e de violência com crianças e adolescentes como vítimas ou agentes, com abordagem fragmentada e superficial; no segundo, foram classificadas as matérias que tiveram, em foco, fatos relacionados às políticas públicas destinadas à preservação dos direitos de crianças e adolescentes. Do total de 389 matérias analisadas nesse estudo, 255 (65,55%) estão no primeiro grupo, e 134 (34,45%) no segundo. Das 255 matérias classificadas no primeiro grupo, 60,39% (154) não apresentaram informação referente ao encaminhamento dos jovens aos órgãos de direitos ou uma descrição do contexto social que possa ter influenciado o jovem a praticar o ato infracional, enquanto 36,47% (93) dos textos mencionaram de forma superficial o encaminhamento para órgãos do sistema de preservação de direitos. Nessas matérias, a menção superficial ocorre quando o jornal apenas relata que o jovem foi “foi apreendido e encaminhado ao Núcleo de Atendimento Integrado (NAI) da Fundação Casa”, como pode ser observado na matéria “Adolescente é flagrado com 7 quilos de maconha”. Somente 8 textos (3,14%) do primeiro grupo trouxeram informações de representantes de órgãos do sistema de proteção dos direitos de crianças e adolescentes. Um exemplo pode ser conferido na matéria “Criança é abrigada após denúncia”, na qual é descrita a intervenção do Conselho Tutelar ao abrigar uma criança que era supostamente mantida em cárcere privado por uma mulher que não tinha a guarda legal, nem o registro de nascimento da garota. De uma maneira geral, o primeiro grupo de matérias privilegiou somente a descrição da ocorrência em si, sem se ater a uma cobertura contextualizada com as medidas de proteção adotadas pelo sistema de atendimento implantado pelo ECA. Das 154 matérias do primeiro 94 grupo que não divulgaram informação referente ao encaminhamento aos órgãos da área, 142 apresentaram como única fonte de informação a Polícia, seja ela Militar ou Civil. Em 13 reportagens a Polícia foi citada juntamente com outras fontes. Esse resultado constitui um indício de que boa parte dos jornalistas pauta suas coberturas em boletins de ocorrência e os usa como fontes de informação para a matéria. Fatores inerentes à atividade jornalística como os prazos limitados para a produção das matérias, as pressões impostas pelos editores do jornal, a grande freqüência de acontecimentos diários e a insuficiente formação profissional dos jornalistas resultam em reportagens superficiais e fragmentadas que dificultam a compreensão dos leitores sobre os acontecimentos noticiados, bem como o contexto social em que eles ocorreram. Em geral, o fato de o trabalho jornalístico ser condicionado pela somatória desses fatores contribui para que fontes estáveis, regulares e institucionais (delegacia e seus boletins de ocorrência, principalmente) se tornem preferidas pelos membros da comunidade jornalística, o que tende a ser insuficiente para que o jornalista possa construir uma contextualização de causas, conseqüências e políticas públicas relacionadas aos fatos em questão. Das 154 reportagens do primeiro grupo, 95,29% (243) não trouxeram informação sobre políticas públicas do sistema de proteção dos direitos da infância; 1,96% (5) dos textos fizeram menção superficial ao encaminhamento de crianças e jovens a órgãos do sistema, enquanto que outros 2,75% (7) apresentaram mais informações sobre as funções de tais órgãos. Esses dados caracterizam a pouca profundidade da cobertura e da falta de contextualização dos fatos nas matérias do primeiro grupo, pois o fato de não haver informação sobre a atuação dos órgãos do sistema de proteção contribui para a insuficiente divulgação de políticas públicas do setor — medidas socioeducativas ou políticas que têm como finalidade obter, de forma direta ou indireta, a inclusão social de crianças e adolescentes, por exemplo. Acredita-se que quanto mais informações sobre políticas públicas a reportagem apresentar, maior tende a ser o estímulo do público e de outros agentes sociais na atenção sobre o poder público. Outro indicador da superficialidade observada nas matérias do primeiro grupo está no fato de que 96% (245) não apresentaram estatísticas, citações complementares à legislação atual ou possíveis menções a temas correspondentes ao sistema de proteção dos direitos de crianças e adolescentes, enquanto que somente 4% (10) dos textos apresentaram outras informações e estatísticas sobre o assunto em questão — um exemplo desse tipo de cobertura 95 pode ser observado na matéria “‘Onda de criminalidade está ligada ao tráfico’, diz delegado titular”, que apresenta declarações de um delegado de polícia sobre as causas do aumento da violência urbana, especialmente quando há o envolvimento de jovens no tráfico de drogas. De acordo com o titular da Delegacia “o baixo efetivo das polícias (Civil e Militar), as falhas na legislação, aliados ao aumento do tráfico e consumo de drogas, estão contribuindo para a banalização da criminalidade”. Ainda sobre as matérias do primeiro grupo, 5,5% (14) apresentaram apelos lingüísticos que denotam exploração sensacionalista do fato, enquanto que a grande maioria, ou seja, 94,5% (241) não trouxe apelos desse tipo. As matérias que usaram descrições sensacionalistas noticiaram supostos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. Um exemplo desse apelo lingüístico pode ser visto na matéria “Pedófilo abusava de menina de 4 anos”, em que foi descrita a seguinte cena: “os vídeos mostram Santos obrigando a menina a fazer sexo oral nele. O suposto agressor ainda aparece se masturbando, tirando a roupa da menina e colocando o dedo em sua vagina”. Considerando que detalhes desse tipo não auxiliam a compreensão das causas ou das soluções tomadas pelos órgãos de direitos, é possível conjecturar que o jornal explorou o fato de maneira sensacionalista para atrair o interesse do leitor. Com relação às 134 matérias do segundo grupo de análise, 9,7% (13) não apresentaram informação referente a solução proposta pelos órgãos de proteção da infância e juventude na situação específica abordada pela matéria; 13,44% (18) dos textos fizeram menção superficial a informações sobre as soluções propostas pelos órgãos de direitos; e 76,86% (103) dos textos trouxeram mais informações sobre as soluções propostas por esses órgãos, número superior ao verificado no primeiro grupo de matérias, no qual apenas 3,14% dos textos apresentaram informações sobre os órgãos de direitos. Das matérias pertencentes ao segundo grupo, 16,42% (22) não apresentaram informações sobre políticas públicas, enquanto que 8,2% (11) fizeram menções superficiais ao papel do órgão do sistema de preservação de direitos de crianças e adolescentes presente na reportagem. Em 75,38% (101) dos textos analisados, foi verificada a existência de mais informações sobre as funções dos órgãos de direitos, ou sobre os serviços prestados pelo órgão. Esse último dado indica, portanto, que grande parte das matérias do segundo grupo apresentou uma cobertura mais contextualizada, com informações adicionais sobre o fato noticiado e o papel desempenhado pelos órgãos de direitos, enquanto que no primeiro grupo de matérias esse número atingiu apenas 96 2,75% dos textos. Na categoria “dados e discussões específicas”, 72,39% (97) das matérias não apresentaram estatísticas ou discussões complementares ao fato noticiado, enquanto que 27,61% (37) foram abrangentes nessa questão. Na categoria “comportamento editorial”, apenas uma (0,75%) matéria apresentou apelos lingüísticos que denotam exploração sensacionalista; nas outras 133 (99,25%) não foi verificado esse tipo de apelo. 5 CONCLUSÃO Os resultados obtidos através da metodologia de análise de conteúdo empregada na apreciação das 389 reportagens coletadas no período de agosto a dezembro de 2008 permitiram estabelecer algumas ponderações acerca do comportamento editorial que caracterizou a cobertura dos oito principais jornais das maiores cidades da região administrativa de Bauru sobre temas ligados à preservação dos direitos de crianças e adolescentes. Do total de matérias analisadas, 66% noticiaram atos infracionais e de violência com crianças e adolescentes como vítimas ou agentes, com abordagem fragmentada e superficial; 34% são abordagens mais amplas sobre as políticas públicas destinadas à preservação dos direitos de crianças e adolescentes. Partindo dessa distinção foi possível identificar que nas reportagens que se limitaram à descrição do fato imediato, tendo como base os boletins de ocorrência, o conteúdo produzido ofereceu informações superficiais e fragmentadas ao leitor, porquanto os jornalistas não se detiveram em buscar informações complementares no que diz respeito às causas ou ao encaminhamento dos jovens aos órgãos de preservação dos direitos da infância e juventude. Ao investigar as conseqüências e soluções do fato, o jornalista acaba por contextualizar sua matéria com as políticas públicas e as funções desenvolvidas pelos órgãos do sistema de proteção dos direitos de crianças e adolescentes, o que pode contribuir para o fortalecimento e a consolidação das medidas implantadas pelo ECA. Um aspecto positivo observado nos resultados da análise é a quantidade de matérias que apresentaram abordagens mais completas e contextualizadas nos assuntos ligados à infância e juventude, ainda que em menor freqüência que as reportagens que se esgotaram na descrição de atos infracionais e de violência. Os textos mais abrangentes tenderam a proporcionar ao leitor o dimensionamento da importância da temática em questão, assim como auxiliam na compreensão das 97 medidas e ações tomadas pelas diferentes esferas do governo e da sociedade empenhadas na manutenção do sistema de atendimento dos direitos desse público específico. É significativo assinalar que a abrangência de enfoque esteve em muitos casos ligada diretamente ao número de fontes consultas pelos jornais, bem como a investigação de posições divergentes daquelas que inicialmente motivaram a cobertura. No entanto, a grande maioria das matérias se ateve apenas às fontes primárias de informação, isto é, as Polícias Militar ou Civil, enquanto outras consultaram apenas uma fonte de informação. Os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e os Conselhos Tutelares, principais instâncias de atendimento ao público infanto-juvenil não foram prioridade na cobertura dos principais jornais pesquisados. Nesse sentido, quando o jornal deixa de buscar informações nos conselhos de direitos, ele não verifica se as entidades estão devidamente estruturadas no município para cumprir as determinações do ECA, da mesma forma que, de maneira indireta, não investiga informações referentes a outras políticas do setor. ABSTRACT The duties and the obligations in the infancy and adolescence are protected by specific laws in Brazil. But, when the media tells rapes about children and adolescents safeguard, many times they entail superficial focus, in manner that their rights are not clear. Usually, the media communication does not present information about public politics involved and its specific understanding of the possible reasons and solutions appropriated to the problems which affect that public. This research identified and analyzed the characteristics of the coverage about reports related to the preservations of the children and adolescents rights in the eight main newspapers in the biggest cities in Bauru region, in the period from August 2008 to March 2009, in the total of 389 reports. The aim of this work was to describe the qualities of the contextualization composed by the reports analyzed related to the consequences and solutions to the problems refined and the focus about the public politics involved. It was used methodologies of analyzes contents and analyzes framing in order to realize the implicit and explicit meanings in which the facts were involved. In the total of all reports evaluated, 66% informed infringement acts and violence with children and adolescents as victims or agents, with a fragmented and superficial approach; 34% are wider approaches about public politics destined to preservation of the children and adolescents rights. Key-words: Media. Children and adolescent rights. Ethic in journalism. Report construction. REFERÊNCIAS 98 CONANDA. CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – Sinase. Brasília-DF, 2006. ARCE, T. Informação, jornalismo e direitos da infância: modelando formas de conhecer e pensar. In: CANELA, G. (Org.). Políticas públicas sociais e os desafios para o jornalismo. São Paulo: Cortez; Brasília: Andi, 2008. p. 280-288. AZEVEDO, F. A. Agendamento da política. In: RUBIM, A. A. C. (Org.). Comunicação e política: conceitos e abordagens. São Paulo: Unesp, 2004. p. 4270. BUCCI, E. 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Infância na mídia: a criança e o adolescente no olhar da imprensa brasileira. Brasília: Andi, 2005b. 100 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios NÃO ADIANTA FAZER BIRRA!: A RELAÇÃO ENTRE PUBLICIDADE, PROPAGANDA, CRIANÇAS E AS IMPLICAÇÕES ÉTICAS E JURÍDICAS1. Vitor Pachioni Brumatti2, Thalita Maria Mancoso Mantovani e Souza3 RESUMO A publicidade e a propaganda estão presentes no dia-a-dia de todos os seres humanos, assim como o ato de consumir. As crianças aprendem a consumir rapidamente, logo nos primeiros anos de vida, especialmente através dos meios de comunicação, sendo que seus aprendizados ainda estão em fase de desenvolvimento e de formação. Uma campanha publicitária destinada a este público é tratada de maneira mais cautelosa, buscando compreender como deve ser assimilada. Com estas considerações, o presente estudo contempla a publicidade e propaganda e sua relação com a criança, tendo a ética e a legislação como premissas básicas para o correto desenvolvimento dos conteúdos publicitários. Foi utilizada a pesquisa bibliográfica, através da consulta em leis, livros, websites e, como técnica, o método analítico-sintético, que consiste na reflexão mais aprofundada dos materiais selecionados para análise, sendo que estes integram o acervo de bibliotecas e dos autores. Conclui-se que há um desafio cada vez maior e mais exigente para os profissionais e veículos da área de Comunicação, bem como os anunciantes, haja vista os limites éticos e legais estabelecidos para a publicidade e propaganda para as crianças e uma futura restrição legal que em breve, deverá entrar em vigor. A publicidade e propaganda para as crianças obrigarão uma nova comunicação, com o objetivo de estabelecer uma correta veiculação, que atenda com eficiência e criatividade os anunciantes, a mídia e o público-alvo. Certamente, esta comunicação deverá atingir os pais e responsáveis, mas não as crianças. Palavras-chave: Publicidade. Propaganda. Crianças. Ética. Legislação. 1 INTRODUÇÃO Certamente já presenciamos a cena de um pai ou uma mãe dizendo as primeiras palavras do título acima para seus filhos, seja numa loja ou mesmo em um 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Docente do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Sagrado Coração (USC). Especialista em Antropologia. Publicitário. E-mail: [email protected] 3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em Planejamento e Gestão da Hospitalidade em Turismo. Bacharel em Turismo. E-mail: [email protected] 101 corredor de supermercado. Por vezes, os pais encontram uma verdadeira encruzilhada, pois seus filhos desejam avidamente certos produtos. Isso é normal, faz parte da infância de toda criança, ainda mais dentro da sociedade atual, onde o consumo é muitas vezes a resposta encontrada para suprir uma lacuna existente, provocada por inúmeros motivos. O ato de consumir está presente no dia-a-dia das pessoas. Portanto, nada mais comum do que as crianças “aprenderem” a consumir e é aí que se apresenta o perigo e inseguranças. As crianças estão em uma fase essencial da vida que se dedicam quase que exclusivamente ao aprendizado. Sendo assim, todo tipo de informação, especialmente uma campanha publicitária, destinada a este público-alvo é tratada de maneira mais cautelosa, buscando compreender como deve ser assimilada, armazenada e, principalmente, como agir a partir desta informação. Para corroborar, segundo notícia da Agência Notisa (2009), Arturo Moreno e Luis Toro Zapata publicaram um artigo na Revista Chilena de Nutrição com a temática da influência da televisão no consumo e na obesidade de crianças e adolescentes. A pesquisa permitiu concluir cientificamente que a televisão atual é uma fonte de poder que interfere de maneira ideológica no consumo alimentício e televisivo. A interferência da mídia no consumo de produtos é comprovada por um outro estudo, sobre a propaganda de cerveja na televisão, que concluiu que quanto mais vezes determinado anúncio fosse assistido, mais atraente ele seria considerado por estudantes de Ensino Médio de São Bernardo do Campo - SP (AGÊNCIA NOTISA, 2009). Isto também confirma o poder que os veículos de comunicação possuem, o que merece atenção dos pais, educadores sobre o que poderá comprometer negativamente na formação das crianças. Com estas considerações, o presente estudo contempla a publicidade e propaganda e sua relação com a criança, tendo a ética e a legislação como premissas básicas para o correto desenvolvimento dos conteúdos publicitários. 2 RELEVÂNCIA / JUSTIFICATIVA O assunto aqui proposto pretende contribuir para as áreas de publicidade, propaganda, direito, ética e comunicação, pois, além de ser atual, ainda carece de reflexões e referências. Com as implicações jurídicas cada vez mais presentes, é 102 necessário proteger os consumidores de campanhas publicitárias incoerentes, especialmente as crianças, através do Código de Proteção e de Defesa do Consumidor (CDC), Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e observando-se que tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 5.921 de 2001, que pretende acrescentar parágrafo no artigo 37 do CDC. 3 METODOLOGIA Foi utilizada a pesquisa bibliográfica, através da consulta em leis, livros, websites e, como técnica, o método analítico-sintético, que consiste na reflexão mais aprofundada dos materiais selecionados para análise. De posse destes materiais (que integram o acervo de bibliotecas e dos autores), são extraídas as considerações finais. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente, convém apresentar os conceitos que permearão o desenvolvimento deste estudo: publicidade e propaganda. Por publicidade entendese que: [...] a publicidade é uma técnica de comunicação de massa, paga com a finalidade precípua de fornecer informações, desenvolver atitudes e provocar ações benéficas para os anunciantes, geralmente para vender produtos ou serviços. A publicidade serve para realizar as tarefas de comunicação de massa com economia, velocidade e volume maiores que os obtidos em quaisquer outros meios (SANT’ANNA, 2002, p. 76). Para o mesmo autor, a propaganda é vista como a propagação de princípios e teorias, “compreende a idéia de implantar, de incluir uma idéia, uma crença na mente alheia” (SANT’ANNA, 2002, p. 75). Para Sampaio (1999, p. 24), a propaganda pode ser definida como “a manipulação planejada da comunicação visando, pela persuasão, promover comportamentos em beneficio do anunciante que a utiliza”. Em linhas gerais, cabe à propaganda “informar e despertar interesse de compra/uso de produtos/serviços, nos consumidores, em beneficio de um anunciante (empresa, pessoa ou entidade que se utiliza da propaganda)” (SAMPAIO, 1999, p. 24-25). 103 Convém apresentar a interessante posição de Lopes (2003, p. 34) quanto à função da publicidade e propaganda, a saber: Aproximar o consumidor do produto: eis a grande função da publicidade. A maravilha da propaganda e da publicidade, seu foco, sua razão de ser resume-se, exatamente, nisso. Aqui, meu produto, aqui minha idéia. “Promover a venda de meu produto, difunda minha idéia, informe ao público de minha existência, fale de minha instituição, de minha marca, de meu serviço”, diz o anunciante. Por outro lado, quem é o consumidor? Nos termos do artigo 2º da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências, também chamada de Código de Proteção e Defesa do Consumidor: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo (BRASIL, 1990). Para a mesma lei, logo no artigo 3º é feita a descrição da figura do fornecedor. Este conceito permite fazer a relação com a publicidade e propaganda ao abranger a prestação de serviços: Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (BRASIL, 1990). O Código de Proteção e de Defesa do Consumidor (CDC) protege a todos, sem distinção. Contudo, há necessidade de zelar pelas crianças, haja vista que este público ainda não está totalmente formado em termos de pensamento, crítica e ações. Em relação à proteção para as crianças, a legislação brasileira passou a contemplar a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, a qual dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e dá outras providências. 104 O ECA vem constantemente sendo atualizado desde então, nos anos de 1991, 2000, 2005, 2003, 2008 e 2009, com destaque para os anos de 2003 e 2008, onde, na oportunidade, diversos novos dispositivos o integraram, fortalecendo o rigor da referida lei (BRASIL, 1990). Nessa mesma vertente, há a atuação do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), que desde meados dos anos 70 busca defender os interesses dos envolvidos com o mercado publicitário, inclusive os dos consumidores. Em 1º de setembro de 2006, o CONAR ampliou consideravelmente o rigor sobre a comunicação direcionada para o público infantojuvenil, apontados em seu Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. A partir desta ação, são inúmeros os casos de campanhas publicitárias retiradas de veiculação por ferirem os princípios dispostos pelo órgão. Para o CONAR (2006), a publicidade dever ser: [...] um fator coadjuvante aos esforços de pais, educadores, autoridades e da comunidade na formação de crianças e adolescentes, contribuindo para o desenvolvimento positivo das relações entre pais e filhos, alunos e professores, e demais relacionamentos que envolvam o público-alvo. O destaque é para as normas abaixo, em forma de tabela, para melhor visualização: Não se use mais o apelo imperativo de consumo dirigido diretamente a crianças e adolescentes [“Peça pra mamãe comprar...”]. Não se use crianças e adolescentes como modelos para Modelos vocalizar apelo direto, recomendação ou sugestão de uso ou consumo por outros menores [”Faça como eu, use...”]. O planejamento de mídia reflita as restrições técnica e Planejamento eticamente recomendáveis, buscando-se o máximo de de mídia adequação à mídia escolhida. Também são reprovados pelo Código ético-publicitário anúncios capazes de provocar qualquer tipo de discriminação, inclusive em virtude de não poderem ser consumidores do produto, a utilização de formato Discriminação jornalístico e a exploração de situações capazes de infundir medo. Admite-se, porém, a participação de crianças e adolescentes em peças publicitárias nas demonstrações pertinentes aos demais produtos e serviços anunciados. Apelo de consumo Quadro 1 – Novas normas éticas da publicidade para o público infanto-juvenil. Fonte: CONAR, 2006, adaptado pelo autor. 105 Desde a criação do Código, o CONAR já recomendava algumas posições interessantes sobre as peças publicitárias, as quais permanecem válidas e extremamente atuais, conforme segue: peças publicitárias não devem associar crianças e adolescentes a situações ilegais, perigosas ou socialmente condenáveis, impor a noção de que o consumo proporcione superioridade ou inferioridade e provocar situações de constrangimento com o propósito de impingir o consumo. Mas devem sempre: respeitar a dignidade, ingenuidade, credulidade, inexperiência e o sentimento de lealdade do público-alvo; dar atenção às características psicológicas do público-alvo e seu discernimento limitado; evitar eventuais distorções psicológicas nos modelos publicitários e no público-alvo (CONAR, 2006). No Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária há diversos anexos, cada qual destinado a uma categoria especial de anúncios. Por exemplo, o Anexo “A’ trata das bebidas alcoólicas; o Anexo “B”, da educação, cursos e ensino; já o “C” sobre empregos e oportunidades, dentre outros. Assim, destaca-se o Anexo “H”, que aborda a questão dos alimentos, refrigerantes, sucos e bebidas assemelhadas e sua relação com o público infanto-juvenil: 1. Disposições Gerais – Além de atender aos preceitos gerais deste Código, os anúncios de produtos submetidos a este Anexo deverão: a) compatibilizar-se com os termos do respectivo licenciamento oficial. Adotarão terminologia com ele harmonizada, seja para designar qualidades como “diet”, “light”, “não contém açúcar”, “não contém glúten”, seja para descrever quaisquer outras características distintivas que orientem as escolhas do consumidor; b) evitar qualquer associação a produtos fármaco-medicinais; c) valorizar e encorajar, sempre que possível, a prática de exercícios físicos e atividades afins; d) abster-se de encorajar ou relevar o consumo excessivo nem apresentar situações que incentivem o consumo exagerado ou conflitem com esta recomendação; e) abster-se de menosprezar a importância da alimentação saudável, variada e balanceada; f) abster-se de apresentar qualquer produto como substituto das refeições básicas (desjejum, almoço e jantar), a menos que tal indicação esteja embasada em responsável opinião médica ou nutricional, reconhecida pela autoridade sanitária; g) limitar afirmações técnicas relativas aos benefícios à saúde e à nutrição às que forem compatíveis com o licenciamento oficial e amparadas em responsável opinião médica ou nutricional. Neste caso, tais afirmações deverão ser apresentadas em linguagem acessível ao consumidor médio; h) apresentar corretamente as características de sabor, tamanho, conteúdo/peso, benefícios nutricionais e de saúde; 106 i) evitar a exploração de benefícios potenciais derivados do consumo do produto, como a conquista de popularidade, elevação de status ou êxito social, sexual, desempenho escolar, esportivo, entre outros; j) abster-se de desmerecer o papel dos pais, educadores, autoridades e profissionais de saúde quanto à correta orientação sobre hábitos alimentares saudáveis e outros cuidados com a saúde; k) ao utilizar personagens do universo infantil ou apresentadores de programas dirigidos a este público-alvo, fazê-lo apenas nos intervalos comerciais, evidenciando a distinção entre a mensagem publicitária e o conteúdo editorial ou da programação; l) abster-se de utilizar crianças muito acima ou muito abaixo do peso normal, segundo os padrões biométricos comumente aceitos, evitando que elas e seus semelhantes possam vir a ser atingidos em sua dignidade. 2. Quando o produto for destinado à criança, sua publicidade deverá, ainda, abster-se de qualquer estímulo imperativo de compra ou consumo, especialmente se apresentado por autoridade familiar, escolar, médica, esportiva, cultural ou pública, bem como por personagens que os interpretem, salvo em campanhas educativas, de cunho institucional, que promovam hábitos alimentares saudáveis (CONAR, 2009). Há expressiva preocupação sobre a proteção das crianças na legislação, tanto que está em trâmite na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 5.921 de 2001, que pretende acrescentar parágrafo no artigo 37 do CDC, de forma a restringir a publicidade para as crianças. Neste sentido, os empresários, publicitários e demais profissionais da Comunicação deverão observar a ética e a legislação, respeitando a dignidade das crianças, afastando da mídia a publicidade e propaganda que não atendam às normas existentes. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o presente estudo, conclui-se que há um desafio cada vez maior e mais exigente para os profissionais e veículos da área de Comunicação, bem como os anunciantes, haja vista os limites éticos e legais estabelecidos para a publicidade e propaganda para as crianças e uma futura restrição legal que em breve, deverá entrar em vigor. A publicidade e propaganda para as crianças obrigarão uma nova comunicação, com o objetivo de estabelecer uma correta veiculação, que atenda com eficiência e criatividade os anunciantes, a mídia e o público-alvo. Certamente, esta comunicação deverá atingir os pais e responsáveis, mas não as crianças. Caso não ocorram tais mudanças, os anúncios não serão exibidos com estabilidade, uma vez que sofrerão denúncias de vários setores da sociedade, por comprometerem a ética e a legislação aplicável. Logo, não adianta fazer birra! 107 ABSTRACT Advertising and publicity are present in day-to-day life of all human beings, as well as the act of consuming. Children learn to eat quickly, in the first years of life, especially through the media, and their learning are still in development and training. An advertising campaign aimed at this audience is treated more cautiously, trying to understand how it should be assimilated. With these considerations, this study deals with the publicity and advertising and its relationship with the child, and the ethics and legislation as the basic requirements for the correct development of advertising content. We used a literature search by consulting on laws, books, websites and, as a technique, the analytic-synthetic method, which consists of more detailed examination of the materials selected for analysis, and these make up the collection of libraries and authors. We conclude that there is an increasingly challenging and more demanding for professionals and vehicles in the area of communication, as well as advertisers, given the ethical and legal limits established for the publicity and advertising for children and a future legal restriction that soon to come into force. The publicity and advertising to children shall require a new notice in order to establish a proper serving, taking into account efficiency and creativity with advertisers, the media and audience. Certainly, this communication is expected to reach parents and responsible, but not children. Keywords: Publicity. Advertising. Children. Ethics. Legislation. REFERÊNCIAS AGÊNCIA NOTISA. 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Código e Anexos: Anexo “H” – alimentos, refrigerantes, sucos e bebidas assemelhadas. Disponível em: <http://www.conar.org.br/html/codigos/codigos%20e%20anexos_cap2_anexoH.htm> . Acesso em: 15 ago. 2009. LOPES, A. P. Ética na propaganda. São Paulo: Atlas, 2003. SAMPAIO, R. Propaganda de A a Z : como usar a propaganda para construir marcas e empresas de sucesso. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus: APB, 1999. SANT`ANNA, A. Propaganda : teoria, técnica e prática. 7. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. 109 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios NOVAS ABORDAGENS EM DIREITO RELATIVAS À IMPRENSA E SEU EXERCÍCIO1. Antonio Carlos da Silva Barros 2 Palavras-chave: Lei de imprensa. Normas jurídicas. Novas abordagens. INTRODUÇÃO – A Lei 5.250/67, conhecida como “Lei de Imprensa” e o Decreto-Lei 972/69, em vigor, perderam sua validade nos últimos meses do corrente ano, quando o Supremo Tribunal Federal, analisando uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental e um Recurso Extraordinário, entenderam que o ordenamento jurídico nacional não permitia mais a sua existência em virtude de conflitos com a Constituição Federal de 1988, que “não recepcionou” as normas que tratavam das questões relativas à Imprensa e ao exercício profissional do Jornalista. A partir de então, estamos vivendo novas experiências em busca de uma imprensa “livre” que merecem suas análises. RELEVÂNCIA – Discutir e refletir sobre as conseqüências das decisões do Supremo Tribunal Federal no exercício da profissão da jornalista bem como no cotidiano da Imprensa Brasileira. A Lei de Imprensa foi declarada “inválida”, perdendo a sua validade e não a vigência, pois só poderá perdê-la através de uma nova Lei e a não exigência do diploma de jornalista para o exercício profissional, resultaram em novas abordagens para essas questões, extremamente importantes na área e Comunicação Social. O fato das normas terem sido editadas durante o período histórico conhecido como “ditadura militar” resultaram na compreensão de que não poderiam ser recepcionados por uma “Constituição Cidadã”, que apregoa a liberdade e o respeito às ideias. Suas consequências devem ser analisadas para possam resultar em novas formas de abordagens que conduzam a um novo tempo na área de Comunicação Social brasileiro. METODOLOGIA – Por intermédio de pesquisa bibliográfica desenvolvida junto à literatura e produções científicas disponibilizadas na Internet, bem como decisões jurídicas constantes do Supremo Tribunal Federal, foram identificadas situações e análises científicas que resultaram em novas abordagens para as questões eminentes de Comunicação Social relacionadas com a Imprensa e seu exercício no Brasil. Verificou-se, a partir da análise dos textos abordados, que é possível realizar novas abordagens relacionadas à Imprensa e seu exercício em território nacional. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - A discussão sobre a imprensa e a liberdade de expressão do ser humano estão presentes desde antigamente em nossas relações. Autores como Miranda (1959, p. 4), afirmava em 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Advogado graduado em Ciências Sociais e Jurídicas, Especialista em História Social, Mestre em Ciências da Religião com abordagem entre Direito e Religião. Professor do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas – Universidade Sagrado Coração – E-mail: [email protected] 110 sua obra “mater” sobre a Lei de Imprensa, que “desde os remotos tempos em que os homens procuravam se entender através de símbolos e sinais, ou seja, desde a idade da pedra (paleolítica e neolítica), em que transmitiam os seus pensamentos por meio de indecisões e pinturas rupestres, - e até onde remontam, talvez, as origens do alfabeto – quando começava a estabelecer-se a diferença entre as representações artístico-estéticas e as de caráter prevalentemente comunicativo, a imprensa madrugava”. Aproximadamente, pelo prazo de quarenta anos, a Lei de Imprensa esteve em vigor e com plena eficácia, acompanhada da exigência de diploma de jornalismo para o exercício profissional no setor. A análise das novas abordagens em direito relativas à Imprensa levará em consideração a Constituição Federal em vigor, a Lei de Imprensa e o Decreto-Lei que trata do Diploma de Jornalismo, com ponderações de especialistas a respeito do tema e decisões judiciais. Inicialmente, a Constituição Federal Brasileira, em vigor, assegura nos incisos IV, V, IX, X, XIII e XIV do art. 5º, mais os arts. 220 a 223, princípios da liberdade de expressão bem como do livre exercício profissional, entre outros. O Supremo Tribunal Federal no período avocado recebeu diversos recursos que trataram da questão. Alguns recursos foram históricos entre os quais uma Ação de Descumprimento de Preceito Constitucional que trata de questões relativas à Constituição Federal Brasileira, em especial, a que está em vigor. Na Ação de Descumprimento de Preceito Constitucional, o recorrente alega que existe alguma norma infra-constitucional que está em conflito com a Constituição em vigor. No caso histórico sobre a Lei de Imprensa, o recorrente entendia que não apenas alguns artigos, mas a própria Lei de Imprensa, Lei 5250/67, que surgiu durante a Ditadura Militar, não fora recepcionada pela Constituição em vigor. Em caso de não recepção, a norma não poderia continuar a ter eficácia no ordenamento jurídico nacional, assim, o recurso almejava confirmar que a norma infra-constitucional estava em conflito com a Constituição Federal em vigor. Em caso positivo, a norma seria declarada “inválida”, assim perderia sua eficácia no ordenamento jurídico, e não poderia mais ser referendada em decisões judiciais nacionais. Foi o que ocorreu na decisão final do Supremo Tribunal Federal que afastou a Lei de Imprensa do ordenamento nacional. Entende-se que surgiu um vazio em relação às questões de imprensa; mas, Nalini (2009), observa que “ não se encare o momento como o de um vácuo ou anomia”, antes que devemos estar preparados, pois “novos protótipos haverão de surgir para orientar a conduta de todos. Jornalistas, empresários do setor, advogados, promotores e juízes. O subproduto, nada desprezível, é modelar uma sociedade mais madura e apta ao enfrentamento autônomo de seus problemas “. Assim, não devemos nos preocupar com as novas mudanças. Teruya (2009) já vislumbrava as diversas conseqüências dessas mudanças ao tratar das questões relativas às situações de uso de imagem das pessoas, analisando decisões judiciais. No mesmo caminho, o Supremo Tribunal Federal recebeu um Recurso Extraordinário, que questionava uma decisão que tratava do exercício profissional de jornalista, que está previsto no artigo 5º. do Decreto-Lei 972/69, onde é exigido o Diploma de Jornalismo. Ocorre que a Constituição Federal de 1988, no artigo 5º., estabelece a liberdade do exercício profissional. O recurso extraordinário visava afastar do ordenamento jurídico a compreensão da obrigatoriedade de diploma. O Supremo Tribunal Federal decidiu através de seu plenário que não se pode mais exigir diploma de jornalismo para a sua atuação na área de imprensa. Lenza (2009, p. 685), entre seus ensinamentos a respeito de Direito Constitucional afirma que “a constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento” e a “liberdadde de exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão”, apresentando decisão do 111 Ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal, já em 2006, “estabelecendo como desnecessário o diploma de jornalista para o exercício da atividade”. Rossi (2009, p.66), afirma que a imprensa internacional parabenizou o Supremo Tribunal Federal pela sua decisão de não permitir a violação da liberdade de expressão em nosso país sob qualquer pretexto. Retoma-se, pois, a expressão de Nalini (2009) que “novos protótipos haverão de surgir”. CONCLUSÃO - As decisões históricas do Supremo Tribunal Federal em relação à imprensa brasileira relativas à Lei de Imprensa e à determinação de não obrigatoriedade de diploma de jornalismo conduziram a novas abordagens no setor. A preocupação da existência de um vácuo no setor não prosperou, mas obrigou a todos os interessados, jornalistas, empresários, magistrados, políticos, e os mais diversos profissionais a trilhar novos caminhos. A “desregulamentação” já é real; e, um dos caminhos talvez seja a “regulamentação” dos setores envolvidos na área de imprensa, como já ocorre com o setor de publicidade, através do Conar. Assim, a imprensa continuará “sempre viva”, independente de normatização, com novos caminhos, novas abordagens, cumprindo o seu papel histórico. REFERÊNCIAS LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. MIRANDA, Darcy Arruda. Dos abusos da liberdade de imprensa. São Paulo: Revista dos tribunais, 1959. NALINI, José Renato. Lei de Imprensa: é hora da responsabilidade. Revista Consulex, Brasília, ano XIII, n. 297, p. 28-29, maio 2009. ROSSI, Francisco. O Brasil dá um passo à frente com a revogação da Lei de Imprensa pelo STF. Revista Consulex, Brasília, ano XIII, n. 297, p. 66, maio 2009. TERUYA, Renata dos Santos. Orkut: a responsabilidade civil concernente à violação do direito de imagem. Revista Consulex, Brasília, ano XIII, n. 295, p. 36-39, abr. 2009. 112 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios PUBLICIDADE E PROPAGANDA: UMA REFLEXÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E DA ÉTICA PARA A PROFISSÃO1. Vívian Xavier de Moraes Freitas 2, Livia Lara Andretto3, Eduardo Liporacci4, Fábio José de Souza5 Palavras-chave: Publicidade e propaganda. Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. Código de Proteção e Defesa do Consumidor. CONAR. CENP. INTRODUÇÃO - Na sociedade atual, marcada pelas diferenças pessoais e profissionais, é indispensável a existência de instituições que assegurem e retomem os valores éticos e morais dos cidadãos, em especial no que tange à família, opção sexual, etnia e religião. Estes valores podem ser colocados em prática pela própria vontade de cada indivíduo e também com a participação dos meios de comunicação. Com o foco na publicidade e propaganda no Brasil, alguns órgãos primam pela ética nas diferentes relações com o mercado publicitário, defendendo, em um primeiro momento, o público consumidor, desde que este se sinta ofendido ou atacado por um determinado comercial, bem como prezam pela transparência e livre concorrência entre as agências e as mídias. Neste sentido, por meio deste estudo, pode-se ampliar o debate da importância da ética e da legislação nas relações de comunicação do mercado publicitário, além de apresentar o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), o Conselho Executivo das NormasPadrão (CENP) e suas formas de atuação para a correta prestação de serviços pelos publicitários. RELEVÂNCIA DO ASSUNTO / JUSTIFICATIVA - Entender a legislação e a importância da presença da ética na atividade publicitária é de extrema valia não somente para o profissional da área, como para todos aqueles envolvidos nos diversos ramos empresariais e da comunicação, especialmente os consumidores. Os pontos aqui abordados são necessários para o desenvolvimento total do processo de idealização e comercialização de um produto, posto que existem normas para tanto, bem como órgãos que garantam os seus cumprimentos. 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Acadêmica do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected] ou [email protected] 4 Acadêmico do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected] 5 Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Sagrado Coração (USC). Mestre em Direito Constitucional. Especialista em Direito. Especialista em Formação de Educadores em Turismo. E-mail: [email protected] 113 METODOLOGIA - Este estudo baseou-se em literaturas, códigos e sites de Conselhos sobre a temática. Foi utilizada uma pesquisa bibliográfica, com a aplicação do método Analítico-Sintético, realizando análises e posterior síntese do material obtido, que permitiu a reflexão do pensamento apresentado. Os materiais encontram-se disponíveis em bibliotecas e internet, além de serem parte do acervo dos autores. RESULTADO E DISCUSSÃO - Por se tratar de um assunto relevante e necessário para a comunicação, especialmente para a Publicidade e Propaganda, serão apresentados a importância da ética, dos Conselhos existentes – CONAR e CENP –, do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. As etapas do processo de comunicação entre a agência publicitária e o receptor da mensagem (consumidor) são contempladas nestes Conselhos e Códigos, pois há a necessidade dos profissionais se preocuparem com a ética, justiça, moral e valores, independentemente do público a ser atingido. Para Lopes (2003, p. 62), a ética em publicidade e propaganda é importante, pois: É dever, entre os deveres, divulgar a verdade. Quem assim procede, normalmente, tem êxito definitivo. O outro, o oposto, é fogo fátuo. Não é concorrente. Acende e apaga como o vagalume e só tem êxito na escuridão da noite. O profissional ético tem qualidade e seu progresso é duradouro. É lembrado. Ele é marca famosa. Para tanto, foram criados o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) e o Conselho Executivo de Normas-Padrão (CENP). O primeiro tem como missão “impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou a empresas” (CONAR, 2009). Em linhas gerais, ele impede que exista a publicidade enganosa ou abusiva no meio midiático e que causem danos a todos os envolvidos. O órgão atende e julga denúncias sobre tais assuntos. Estabelece também, previsões para os anúncios, tais como a honestidade e a veracidade dos mesmos, em sintonia com as leis do país; a responsabilidade social em sua elaboração, entre outros. O CONAR é uma organização não governamental, formada por publicitários e profissionais de outras áreas que zelam pela liberdade de expressão. Já o CENP (2009) tem como missão: o estabelecimento de princípios éticos no relacionamento comercial entre anunciantes, agências e veículos de comunicação, por meio da autoregulamentação, de forma a preservar um modelo de negócios que proporciona as bases para a liberdade de imprensa (na medida em que financia a atividade dos veículos), o fomento ao mercado consumidor e que levou a publicidade brasileira à condição de uma das mais criativas e eficientes do mundo. A preocupação maior do CENP é preservar a transparência no negócio da publicidade, estabelecendo relações comerciais entre anunciantes, agências e veículos. Filiar-se ao CENP é firmar o compromisso de estabelecer bases para relações mais sólidas. O CENP concede o Certificado de Qualificação Técnica às agências que cumprem as regras estabelecidas nas Normas-Padrão, fazendo vistorias para a verificação destas. Este é um selo de qualidade que garante aos anunciantes a confiança de que estão estabelecendo vínculos comerciais com agências idôneas e éticas. Tanto o CONAR quanto o CENP são coerentes com a Lei 114 nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, mais conhecida como Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC). Este é um conjunto de artigos que concedem direitos aos consumidores e disciplinam as atitudes dos fornecedores, estabelecendo princípios, responsabilidades, indenizações, prazos e, inclusive, multas e penas. O CDC apresenta algumas definições úteis que norteiam a área empresarial, bem como ao profissional de publicidade e propaganda. São elas: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (BRASIL, 1990). Essas definições são essenciais para o desenrolar dos outros artigos do CDC e, por isso, estão estabelecidas logo nos artigos iniciais, como visto acima. O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990) cristalinamente aponta que a oferta deverá preencher requisitos: Art. 30 Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 31 A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. [...] Art. 36 A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. Os órgãos mencionados, juntamente com o CDC, procuram proteger o consumidor (ou receptor final da mensagem) de uma publicidade: a) enganosa e b) abusiva: Art. 37 É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. Parágrafo primeiro - É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. 115 Parágrafo segundo - É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Parágrafo terceiro - Para os efeitos deste Código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço (BRASIL, 1990). Assim, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor estabelece normas e cautelas, sob penas diversas. A publicidade está diretamente ligada ao CDC, pois esta é a voz que anuncia os produtos e serviços, os quais serão adquiridos ou contratados, respectivamente, pelos interessados. Merece relevo mencionar os artigos 66, 67, 68 e 75 do CDC (BRASIL, 1990), os quais preconizam os crimes para quem promove publicidade enganosa e abusiva: Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena Detenção de um a seis meses ou multa. Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva: Pena Detenção de três meses a um ano e multa. Parágrafo único. (Vetado). Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança: Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa: Parágrafo único. (Vetado). [...] Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas. O CONAR, o CENP e o CDC possuem o propósito de garantir que a ação publicitária seja feita da melhor maneira possível, para que o receptor entenda com clareza e sem equívocos a mensagem que chega até ele. CONSIDERAÇÕES FINAIS - Diante das considerações acima, chega-se a um pensamento mais crítico perante o assunto e, assim, podendo analisar que o CONAR e o CENP, dentro das suas competências, fortalecidos pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor, procuram por todos os meios preservarem a publicidade íntegra e clara, evitando-se conflitos entre consumidores e fornecedores. Neste sentido, cabe aos publicitários significativa responsabilidade, para que continuamente a ética e a legislação sejam observadas em suas áreas de atuação, o que valorizará definitivamente, o trabalho desenvolvido, sempre com transparência e harmonia, enaltecendo a ponte entre consumidores e fornecedores. 116 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 6 ago. 2009. CONSELHO EXECUTIVO DE NORMAS-PADRÃO (CENP). CENP comemora 10 anos renovando normas-padrão da atividade publicitária. Disponível em: <http://www.cenp.com.br/>. Acesso em: 6 ago. 2009. CONSELHO NACIONAL DE AUTORREGULAMENTAÇÃO PUBLICITÁRIA (CONAR). Missão. Disponível em: <http://www.conar.org.br/>. Acesso em: 6 ago. 2009. LOPES, A. P. Ética na propaganda. São Paulo: Atlas, 2003. 117 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios PUBLICIDADE E PROPAGANDA SUBLIMINAR: A LEGISLAÇÃO E A ÉTICA1. Patrícia de Abreu2, Lígia Beatriz Carvalho de Almeida3 , Fábio José de Souza4 , Thalita Maria Mancoso Mantovani e Souza5 RESUMO A propaganda subliminar é um tema pouco discutido e sobre o qual existe muita controvérsia, sendo que está presente nas mídias, sem que o consumidor possa ao menos perceber e escolher se aceita ou não tal prática. É necessária, portanto, uma conscientização da existência da propaganda subliminar e dos efeitos nocivos do seu uso, os quais muitas vezes desrespeitam a ética, as leis, os profissionais e os consumidores. Neste sentido, é o que propõe o presente artigo: reunir e discutir conceitos sobre propaganda subliminar e sua relação com a ética e a legislação brasileira, os quais permitirão uma reflexão mais crítica e pontual sobre esta temática, para melhor desempenho e embasamento científico na vida profissional do publicitário. Aplicou-se uma pesquisa bibliográfica, com a consulta em materiais científicos como livros, revistas, periódicos, artigos, sites, o que permitiu conhecer e refletir sobre o objeto pesquisado e, após, construir esta produção. Conclui-se que o uso proposital da subliminaridade é condenável, por isso é importante divulgar formas de fazer denúncias e maneiras de se defender dessa prática. No Brasil, pode-se contar com o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) e o Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP). Diante das conquistas tecnológicas, são sempre oferecidas novas contribuições para as comunicações, o que aumentam os desafios para os profissionais desenvolverem os seus trabalhos publicitários com eficiência e eficácia, mas, acima de tudo, comprometidos com os princípios éticos, observando a legislação vigente e enaltecendo a relação com o público-alvo. Palavras-chave: Propaganda. Subliminaridade. Mensagem subliminar. Ética. Legislação. 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: [email protected] 3 Docente dos Cursos de Graduação da Universidade Sagrado Coração (USC). Doutoranda em Educação. Mestre em Comunicação Midiática. Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Rádio e TV. E-mail: [email protected] 4 Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Sagrado Coração (USC). Mestre em Direito Constitucional. Especialista em Direito. Especialista em Formação de Educadores em Turismo. Advogado. E-mail: [email protected] 5 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP (FAAC/UNESP). Especialista em Planejamento e Gestão da Hospitalidade em Turismo. Bacharel em Turismo. E-mail: [email protected] 118 1 INTRODUÇÃO A propaganda subliminar é um tema pouco discutido e sobre o qual existe muita controvérsia. Nos dias de hoje, as mensagens subliminares estão presentes nas mídias, sem que o consumidor possa ao menos perceber e escolher se aceita ou não tal prática. O uso de mensagens subliminares é fácil de ser identificado em algumas propagandas, mas em outras é praticamente impossível. É necessária uma conscientização da existência da propaganda subliminar e dos efeitos nocivos do seu uso, os quais muitas vezes desrespeitam a ética, as leis, os profissionais e os consumidores. Destaca-se que a função do publicitário é zelar pela ética publicitária, conhecendo e evitando os danos causados pela propaganda subliminar. Para combater este tipo de propaganda, mais pesquisas devem ser realizadas, para que possam produzir e difundir conhecimentos. Neste sentido, é o que se propõe o presente artigo: reunir e discutir conceitos sobre propaganda subliminar e sua relação com a ética e a legislação brasileira, os quais permitirão uma reflexão mais crítica e pontual sobre esta temática, para melhor desempenho e embasamento científico na vida profissional do publicitário. 2 RELEVÂNCIA DO ASSUNTO / JUSTIFICATIVA Ao mesmo tempo em que desperta a curiosidade, o conceito de subliminaridade incita tanto as pessoas quanto os profissionais a conhecerem, discutirem e se aprofundarem no tema. É preciso pensar a publicidade e propaganda utilizando-se de mecanismos que possibilitem o consumidor entender a mensagem e agir conforme a sua necessidade e vontade, sem a existência e interferência de uma mensagem subliminar. 3 METODOLOGIA Aplicou-se uma pesquisa bibliográfica, com a consulta em materiais científicos como livros, revistas, periódicos, artigos, sites na internet, o que permitiu conhecer e refletir sobre o objeto pesquisado e, após, construir esta produção. 119 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A comunicação é uma atividade social. Do ponto de vista empresarial, ela se presta a colocar em contato uma organização com seus públicos. A propaganda é o elo que estabelece a relação entre a organização e o público-alvo e tem como finalidade propagar o conhecimento de uma marca e de seu conceito. Sant´Anna (2007, p. 1), quando trata da propaganda e sua importância para a vida em sociedade, afirma que é: [...] uma das matérias mais interessantes no estudo do comportamento humano, o que é compreensível, já que a comunicação é um processo social fundamental. Sem a comunicação não existiriam os grupos humanos e as sociedades. Complementa que a “Comunicação é, pois, o processo de transmitir idéias entre indivíduos” (SANT´ANNA, 2007, p. 2). Entende-se que propaganda em si é uma técnica de comunicação, que desenvolve atividades e provoca ações benéficas para o anunciante, geralmente para vender produtos e serviços, com fundamento em uma idéia. A propaganda pode colaborar com a mudança de hábitos, recuperar uma economia, criar imagens, promover o consumo, vender produtos, oferecer serviços e ainda informar o consumidor. Conforme aponta Sampaio (1999, p. 17), “muitos produtos são tão parecidos que praticamente não existe uma diferença real – física – entre as diversas marcas que brigam pela preferência dos consumidores”. Sem a propaganda, seria difícil diferenciar um produto dos demais e, como consequência, uma marca não se destacaria das outras. O autor afirma ainda que “A propaganda seduz nossos sentidos, mexe com nossos desejos, revolve nossas aspirações, fala com nosso inconsciente, nos propõe novas experiências, novas atitudes, novas ações” (SAMPAIO, 1999, p. 21). 4.1 A PROPAGANDA SUBLIMINAR Conforme Houaiss (2001, p. 2311-2312, 2625): Propaganda: s.f. (1858cf.MS6) 1 divulgação, propagação de uma idéia, uma crença, uma religião; apostolado, proselitismo, catequese (trabalho de p. da Igreja católica) 2 ação de exaltar as qualidades de (algo) para um número 120 ger. Grande de pessoas; anúncio, reclame (fazer p. de um candidato) (a p. é a alma do negocio) 3 disseminação de idéias, informações (verdadeiras ou falsas), boatos etc., com o fim de ajudar ou prejudicar (outrem); campanha (p. anticomunista) (p. anti-semita) (p. religiosa) 4 PUB difusão de mensagem verbal, pictórica, musical etc., de conteúdo informativo e persuasivo, em TV, jornal, revista, volantes, outdoors etc.; publicidade (escritório de p.) 5 p.ext. peça de propaganda; anuncio (gosto muito dessa p.). [...] Propaganda Subliminar: PUB técnica de propaganda onde a mensagem publicitária não é captada pelo consciente do público, pois o estímulo é insuficientemente intenso para atingi-lo, e sim, pela repetição ou outros mecanismos, atuando no seu inconsciente, esp. nas suas emoções, e causando os efeitos desejados nas suas idéias e opiniões (p.ex., se deseja prejudicar a imagem de um político, costuma-se associá-lo por contigüidade a fatos catastróficos, desastres etc., para vender um produto masculino, costuma-se apresentá-lo ao lado de mulheres belas e sensuais).[...] Subliminar: / sub-li/ 1 que é inferior ao limiar, subliminal 2 que é subentendido nas entrelinhas ou se faz por associação de idéias (diz-se da propaganda) 3 PSIC que não ultrapassa o limiar da consciência, que não é suficientemente intenso para penetrar na consciência, mas que, pela repetição ou por outras técnicas. Pode atingir o subconsciente, afetando as emoções, desejos, opiniões; subconsciente (propagandas). O primeiro registro de uso da subliminaridade na propaganda aconteceu em 10 de junho de 1956, com Jim Vicary (CALAZANS, 2006, p. 25-30). Durante a exibição de um filme em um cinema, Jim teria feito uso de um taquistoscópio, que pode ser comparado a um tipo de projetor de slides que projeta um único slide em uma velocidade de 1/3.000 de segundo. O taquistoscópio emitia um slide com a frase “Drink Coke” (Beba Coca-Cola), projetada repetidamente, e de forma sobreposta ao filme. Era rápido demais para ser percebido pelo público, atuando apenas subconscientemente, assim as vendas do refrigerante na saída do filme aumentaram. Segundo Lima (2006, p. 14), “[...] com o taquistoscópio provou-se que o cérebro reage a imagens projetadas a uma velocidade de exposição de até 1/3.000 de segundo”. Calazans (2006, p. 57-59) aborda como a subliminaridade atua no receptor, que se inicia com a percepção da imagem pelo olho humano. Ele explica que o nervo óptico é cruzado, ou seja, o olho esquerdo envia informações ao hemisfério direito do cérebro. Os dois lados do cérebro têm funções diferenciadas: o lado esquerdo é o eixo sintagmático, que executa a leitura linear letra a letra, pensa com lógica, é racional, enquanto o lado direito do cérebro é o eixo paradigmático das imagens visuais, analogias e emoções. O funcionamento desses dois mecanismos ativadores da razão e da emoção possibilitam interpretarmos aquilo que nos atinge. A visão fóvica faz com que os nossos olhos foquem sempre o objeto principal das imagens de forma consciente. (ONG MENSAGENS SUBLIMINARES, 2004). Captam 121 a imagem central, enquanto a visão periférica, geralmente só é captada em nível subliminar, ou seja, as imagens captadas pela visão periférica são remetidas automaticamente ao nosso cérebro, em um nível subvisual involuntário (figura 1). Figura 1 – Visão fóvica e visão periférica. Fonte: ONG Mensagens Subliminares, 2004. De acordo com Lima (2006, p. 15): Os nossos olhos sempre focam o objeto principal das imagens, seja na TV, nos quadros, paisagens etc. As células responsáveis são chamadas de cones, responsáveis por um ângulo de aproximadamente 20º de visão central, enquanto que a maior parte de nosso mundo visual está na área que chamamos de visão periférica, realizada por células do tipo bastonete. Geralmente, são essas imagens que são captadas a nível subliminar, ou seja, são remetidas automaticamente ao nosso cérebro, em nível inconsciente, involuntário. Conforme a ONG Mensagens Subliminares (2004), a psicologia é quem melhor define o conceito de subliminaridade “qualquer estímulo produzido abaixo do limiar da consciência e que produz efeitos na atividade psíquica ou mental”. As mensagens ou propagandas subliminares podem estar presentes nos mais diversos tipos de produtos midiáticos como programas de televisão, cinema, rádio, histórias em quadrinhos, revistas, RPG, videogames, músicas, informática, teatro, jornais, outdoors, embalagens, vitrines etc. Este tipo de propaganda fere as normas da ética e interfere no livre arbítrio, pois não dá ao receptor a opção de escolher conscientemente, seja na compra de um produto, uma filosofia ou de uma ideologia. As mensagens subliminares podem ser principalmente visuais e auditivas, porém nada impede que atuem sobre outros órgãos dos sentidos. O objetivo maior desse tipo de propaganda é controlar a mente das pessoas no nível do subconsciente. As mensagens para serem subliminares obedecem à fórmula abaixo (figura 2): 122 Figura 2 – Fórmula da subliminaridade. Fonte: ONG Mensagens Subliminares, 2004. Essa fórmula significa que o subliminar ocorre em decorrência do envio da maior quantidade possível de informação, no menor tempo possível de exposição, evitando que o receptor consiga analisar e descartar a mensagem. Interferindo de forma abusiva nos processos mentais, o que causa preocupação, principalmente quando o público alvo são as crianças, ainda em fase de formação. Muitas propagandas, usando a técnica subliminar, transformam sua identidade em valores positivos e negativos, especialmente para as crianças. A Walt Disney, a maior empresa de entretenimento do mundo, é a que mais gerou lendas urbanas quanto ao uso da subliminaridade. O uso desse tipo de propaganda pode ser atribuído aos anunciantes, aos publicitários, ou ainda, aos editores e produtores das mensagens. Mas, a responsabilidade legal é sempre atribuída ao emissor da mensagem, ou seja, ao anunciante. Destaca-se que, com o início das transmissões digitais terrestres no Brasil, iniciadas em dezembro de 2007, é necessário mais cautela com a publicidade, uma vez que a televisão digital poderá alterar o formato dos anúncios e comerciais (especialmente o clássico modelo de 30 segundos veiculados na televisão de sinal analógico), o público deverá ser mais participativo com a possibilidade de interatividade, entre outros. Isto vai exigir que se aproveitem os recursos disponíveis com esta tecnologia, para enfrentar e superar os desafios na comunicação com o público final, ou seja, os consumidores. Por isso, o publicitário deve estar muito atento à totalidade do processo produtivo e adotar um rigoroso processo de controle de qualidade, para evitar que mensagens sejam inseridas em uma campanha de sua autoria, causando sérios problemas éticos e morais ao seu cliente, quando são identificadas, além das consequências jurídicas advindas. 4.2 A PROPAGANDA SUBLIMINAR E A LEGISLAÇÃO 123 O uso da subliminaridade é regulamentado pela legislação brasileira. A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conhecida como Código de Proteção e Defesa do Consumidor, apesar de não mencionar especificamente a palavra subliminar faz referência à sua utilização nos artigos 2º, 3º, 6º, 30, 31, 35, 36 e 37 (BRASIL, 1990), quando veda o uso da publicidade enganosa e abusiva, não clara e não objetiva: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. [...] Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX - (Vetado); X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Ainda, neste sentido (BRASIL, 1990): Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e 124 serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével. (Incluído pela Lei nº 11.989, de 2009) [...] Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. § 4° (Vetado). Há uma preocupação tão séria com a publicidade que envolve a esfera penal, no próprio Código de Proteção e Defesa do Consumidor, a saber. Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena Detenção de um a seis meses ou multa. Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva: Pena Detenção de três meses a um ano e multa. Parágrafo único. (Vetado). Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança: Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa: 125 Parágrafo único. (Vetado).[...] Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas (BRASIL, 1990). A propaganda subliminar também é combatida pelo Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária elaborado pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária – o CONAR, em seu artigo 29, a saber: Artigo 29 - Este Código não se ocupa da chamada “propaganda subliminar”, por não se tratar de técnica comprovada, jamais detectada de forma juridicamente inconteste. São condenadas, no entanto, quaisquer tentativas destinadas a produzir efeitos “subliminares” em publicidade ou propaganda (CONAR, 2009). No entanto, como assegurar que mensagens subliminares não sejam utilizadas, uma vez que se considera a impossibilidade de, conscientemente, detectar a sua existência? Procura-se ainda uma regulação por um compromisso pessoal e profissional advindo da ética e o respeito necessário ao cumprimento da legislação. 4.3 A MENSAGEM SUBLIMINAR E A ÉTICA As definições de ética são inúmeras, mas mesmo sendo uma palavra de significado complexo, a ética se refere ao bom comportamento humano. Segundo Cornu (1998, p. 8-9): A ética, então, fica definida como a aplicação pessoal de um conjunto de valores livremente eleitos pelo indivíduo, em função de uma finalidade por ele mesmo estabelecida e que acredita ser boa. [...] ética pode também ser compreendida como a expressão da diferença entre preceitos gerais e preceitos específicos de um determinado campo de atividade. Assim, a ética é aplicada a um grupo, a uma profissão que lhe é própria, no caso as mídias e a publicidade. Os meios de comunicação têm um poder de manipulação de informação e de formação de opinião. Nestes meios, as mensagens são manipuladas conforme os interesses de grupos e instituições. Existem algumas normas e princípios que regulamentam a conduta de um indivíduo no exercício de 126 sua profissão, a isso se dá o nome de ética profissional. Os profissionais dos meios de comunicação são responsáveis pela ética publicitária. Os meios de comunicação não apenas oferecem lazer, divertimento e informação, mas, muitas vezes, alteram o comportamento humano, induzindo os telespectadores, leitores, ouvintes a alimentarem desejos de consumo e fantasias como se fossem reais. A televisão, por exemplo, obtém mais índices de audiência quando faz apresentações exóticas, irreverentes e fantasiosas. De acordo com Leal (2006, p. 94): A coerção na TV é feita com a sedução do telespectador por aquilo que o coloca mais próximo do reino animal: seus instintos de sobrevivência e de reprodução. A possibilidade de testemunhar um ato sexual ou de ver uma briga pela permanência no programa são as armas dos produtores para atingir largas audiências. Para controlar esses excessos, os anunciantes, as agências de propaganda e os veículos de comunicação criaram em 1980, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) e formaram também o Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP), os quais exigem profissionalismo, desenvolvimento técnico e, principalmente, compromisso com a ética. O CONAR elaborou o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e o CENP criou as Normas-Padrão, que devem ser respeitados e obedecidos, para o bem de todos e para a valorização da atividade profissional. O CONAR trabalha para impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou as empresas. Constituído por publicitários e profissionais de outras áreas, delimita sua função e atuação: Uma organização não-governamental que visa promover a liberdade de expressão publicitária e defender as prerrogativas constitucionais da propaganda comercial. Sua missão inclui principalmente o atendimento a denúncias de consumidores, autoridades, associados ou formuladas pelos integrantes da própria diretoria. As denúncias são julgadas pelo Conselho de Ética, com total e plena garantia de direito de defesa aos responsáveis pelo anúncio. Quando comprovada a procedência de uma denúncia, é sua responsabilidade recomendar alteração ou suspender a veiculação do anúncio. O Conar não exerce censura prévia sobre peças publicitárias, já que se ocupa somente do que está sendo ou foi veiculado. Mantido pela contribuição das principais entidades da publicidade brasileira e seus filiados - anunciantes, agências e veículos -, tem sede na cidade de São Paulo e atua em todo o País. Foi fundado em 1980 (CONAR, 2009). 127 Já o CENP é uma entidade criada pelo mercado publicitário para fazer cumprir as Normas-Padrão da atividade publicitária, um documento básico que define as condutas e regras das melhores práticas éticas e comerciais entre os principais agentes da publicidade brasileira. O CENP existe desde 1998 e reúne vinte e dois representantes, pertencentes às agências de propaganda, anunciantes, veículos de comunicação e governo federal. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A publicidade e propaganda subliminar produzem efeitos na atividade psíquica ou mental das pessoas, afetam o inconsciente e tem como objetivo atingirem o subconsciente das pessoas, apelando, na maioria das vezes, para os desejos, sexo e erotismo. O uso proposital da subliminaridade é condenável, por isso é importante divulgar formas de fazer denúncias, bem como divulgar maneiras de se defender dessa prática. Denunciar o subliminar, além de ser uma questão de cidadania, é uma questão de humanidade, pois a liberdade de escolha e autonomia define uma forma de vida livre e inteligente. No Brasil, pode-se contar com o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) e o Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP). Necessário deixar assentado que a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, assegura a liberdade de expressão em seu artigo 5º, inciso IV: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” (BRASIL, 1988). Entretanto, o mesmo deverá ser colocado em prática em sintonia com os dispositivos legais que contemplam a publicidade e os consumidores, além de aplicar continuamente os elevados padrões éticos. A nossa Carta Magna também expressa os princípios que norteiam a Comunicação Social, em seu Capítulo V, nos artigos 220 a 224. Diante das conquistas tecnológicas, são sempre oferecidas novas contribuições para as Comunicações, o que aumentam os desafios para os profissionais desenvolverem os seus trabalhos publicitários com eficiência e eficácia, mas, acima de tudo, comprometidos com os princípios éticos, observando a legislação vigente e enaltecendo a relação com o público-alvo. ABSTRACTS 128 Subliminal advertising is a subject rarely discussed and about which there is much controversy, and is present in the media, without the consumer can at least understand and choose whether to accept such a practice. It is therefore required an awareness of the existence of subliminal advertising and the effects of its use, which often disregard the ethics, laws, professionals and consumers. In this sense, is what this article proposes to: meet and discuss ideas about subliminal advertising and its relationship with Brazilian law and ethics, which will allow a more critical and timely on this issue, for better performance and scientific background in professional life advertiser. We used a literature search, consultation with scientific materials such as books, periodicals, magazines, articles, websites, providing knowledge and reflect on the object of research and, later, to build its production. Concluded that the deliberate use of subliminals is wrong, so it is important to promote ways of making complaints and ways to defend this practice. In Brazil, you can count on the Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) and the Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP). In the face of technological achievements, are always offered new contributions to communications, which raise challenges for professionals to develop their advertising work efficiently and effectively, but, above all, committed to ethical principles, noting the legislation and uplifting the relationship with the audience. Keywords: Advertising. Subliminals. Subliminal message. Ethics. Law. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 9 jul. 2009. ______. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 9 jul. 2009. CALAZANS, F. Propaganda subliminar multimídia. 7. ed. São Paulo: Summus Editorial, 2006. CONSELHO NACIONAL DE AUTORREGULAMENTAÇÃO PUBLICITÁRIA (CONAR). Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. Disponível em: <http://www.conar.org.br>. Acesso em: 9 jul. 2009. ______. Missão. Disponível em: <http://www.conar.org.br>. Acesso em: 9 jul. 2009. CORNU, D. Ética da informação. Bauru: EDUSC, 1998. 129 HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LEAL, L. A TV sob controle: a resposta da sociedade ao poder da televisão. São Paulo: Summus, 2006. LIMA, E. A invasão oculta. São Paulo: Naós, 2006. ONG MENSAGENS SUBLIMINARES. Incrível mundo das mensagens subliminares. São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.mensagenssubliminares.kit.net/>. Acesso em: 30 set. 2007. SAMPAIO, R. Propaganda de A à Z: como usar a propaganda para construir marcas e empresas de sucesso. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. SANT´ANNA, A. Propaganda: teoria, técnica e prática. 7. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. 130 EIXO TEMÁTICO: COMUNICAÇÃO PÚBLICA E CIDADANIA 131 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios COMUNICAÇÃO ENTRE ÓRGÃOS PÚBLICOS: LIMITES ENTRE A INTENÇÃO E A REALIZAÇÃO1. Bruno Sampaio Garrido2 Palavras-chave: Comunicação organizacional. Cultura organizacional. Gestão do conhecimento. Serviço público do Estado de São Paulo. INTRODUÇÃO – O investimento em melhoria das relações comunicativas entre os setores das organizações agrega valor aos produtos e serviços e viabiliza suas atividades. Logo, tornou-se fator crucial para a própria sobrevivência de uma empresa. Essa regra também é válida para os serviços públicos, tão criticados pela ineficiência, para melhorar a qualidade de seus serviços e sua imagem perante os usuários. Este artigo visa discutir as relações de comunicação entre a Diretoria de Ensino de Bauru e as escolas estaduais, com base nas práticas comunicativas em uma unidade escolar. Assim, procura-se estabelecer vínculos entre a prática comunicativa adotada e a cultura organizacional do serviço público estadual, tendo em vista a eficiência e a eficácia dos processos. RELEVÂNCIA – Embora a literatura especializada aponte que a otimização das relações comunicativas pode melhorar tanto a qualidade dos serviços prestados quanto a imagem das instituições perante a sociedade, no âmbito do serviço público, implantar uma mudança desse porte requer um trabalho árduo. É necessário superar vários entraves decorrentes tanto da estrutura organizacional dos órgãos públicos como fatores ligados à cultura desses órgãos, tais como: falta de relações transparentes (comunicativas ou não), excesso de legalismo, verticalização das relações de trabalho, burocratização excessiva, falta de estrutura apropriada na área de comunicação. METODOLOGIA – Para o desenvolvimento deste trabalho, recorreu-se à pesquisa bibliográfica na literatura nas áreas de comunicação organizacional e pública, a fim de identificar e comparar as práticas comunicativas adotadas pelos órgãos analisados, assim como de cultura organizacional e de gestão do conhecimento, com o intuito de identificar as influências da cultura interna das organizações na execução e planejamento comunicacional, bem como na administração das informações. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA — Revisão bibliográfica: As organizações são sistemas, ou seja, um conjunto de elementos voltados para a produção de bens e/ou serviços. Exercem papel relevante no meio social na qual 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Jornalista (USC), licenciado em Letras (UNIP), mestrando em Comunicação pela Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (FAAC/UNESP). Assistente de Suporte Acadêmico do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências da UNESP (FC/UNESP) . E-mail: [email protected] 132 estão integradas e por isso, precisa apoiar-se na cooperação para manter-se ativa (TORQUATO, 1986). A comunicação, nesse sentido, atuaria para equilibrar as relações entre as partes da organização, além de norteá-la para a eficácia por meio da adequação de suas mensagens a fim de que elas sejam claras, compreensíveis e assimiláveis por todos. No entanto, para que isso ocorra, existem barreiras na comunicação que necessitam ser superadas, a saber: a) barreiras pessoais: relacionadas à personalidade de cada indivíduo, o estado de espírito, valores, emoções e formas de comportamento demonstradas no ambiente; b) barreiras administrativas ou burocráticas: surgem a partir da maneira como as instituições geram, organizam e processam suas informações; c) excesso de informações: a quantidade de informações produzida gera sobrecarga, perda de tempo e de recursos, causando saturação nos indivíduos e, por conseguinte, a desinformação; d) comunicações incompletas ou parciais: informações fragmentadas, distorcidas, não transmitidas ou sonegadas, capazes de gerar dúvidas e equívocos (KUNSCH, 2002; DAZZI; PEREIRA, 2008). Ao analisar a comunicação pública, optou-se, nesse trabalho, por considerá-la como sinônimo de comunicação organizacional. Nessa acepção, ela é tratada de maneira estratégica e planejada, e visa não apenas a constituir relações com os diversos públicos da instituição, mas também criar uma identidade institucional (BRANDÃO, 2006). Inovações tecnológicas, acesso à informação, estabilidade econômica e a abertura de mercado e as privatizações forçaram o setor público a aperfeiçoar a qualidade de seus serviços e de sua comunicação, pois os usuários começaram a exigir mais os seus direitos (MATOS, 2000). A melhoria das práticas comunicativas geraria uma maior busca por informações pelos funcionários e uma maior participação destes em momentos de decisão. Eles querem saber exatamente qual o status da organização, os problemas enfrentados por ela e como resolvê-los. Sem uma comunicação que corresponda a essas expectativas, dá-se lugar aos boatos (CORRADO apud MATOS, 2000). Enfim, um planejamento estratégico na comunicação e a inclusão desta como parte das práticas de gestão da organização serviriam para agregar os diversos níveis da empresa em torno de linguagens, práticas e objetivos comuns, colaborando para a criação de uma identidade organizacional (NOGUEIRA, 2008). Contudo a cultura organizacional do serviço público é fortemente calcada em tradições burocráticas e patrimoniais; conflito de interesses pessoais e políticos; falta de experiência dos profissionais de comunicação desses órgãos em planejamento de ações de longo prazo; práticas comunicativas estanques, restritas apenas à divulgação de ações (NOGUEIRA, 2008). As conseqüências desses elementos culturais no ambiente organizacional são a desinformação e o isolamento entre setores e indivíduos. Objeto de estudo: A organização atual da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEE), baseada no Decreto n° 7.510, de 29 de janeiro de 1976, constituise pelo Gabinete do Secretário e, subordinados a ele, estão a Assistência Técnica de Planejamento e Controle Educacional, Departamento de Suprimento Escolar, Departamento de Recursos Humanos, Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas e as Coordenadorias de Ensino (Grande São Paulo e Interior). Sob a jurisdição das Coordenadorias estão 91 Diretorias de Ensino e, abaixo delas, mais de 5.000 escolas estaduais. A escola analisada fica localizada na zona norte de Bauru e, em 2008, contou com cerca de 800 alunos divididos em 25 classes de Ensino Fundamental (quinta a oitava séries) e Médio, nos três períodos. A equipe escolar era formada pela diretora, vice-diretora, duas professoras coordenadoras, 45 docentes, duas escriturárias, três serventes, três inspetores de alunos e um secretário. Relações de comunicação: Efetuam-se basicamente por telefone e/ou 133 e-mail. As ligações são feitas, principalmente, pelas seções de Pessoal, Pagamento, Multimeios, Planejamento e Supervisão. As mensagens eram destinadas em geral ao diretor, coordenadores e secretário, e consistem, em sua maioria, em ordens de serviço, convocações, instruções, solicitações de documentos, esclarecimentos de dúvidas, material de divulgação ou de ordem diversa. Os responsáveis na DE pela comunicação com as escolas via e-mail são servidores administrativos do gabinete da Dirigente Regional. Na escola, a secretaria e os gestores recebem, filtram, reinterpretam e retransmitem as mensagens recebidas aos demais setores. Problemas apontados: Fluxo descendente de comunicação (transmissão unilateral das mensagens vindas da cúpula para a base); falta de canais de feedback mais eficazes; linguagem dos textos marcada pelo formalismo e legalismo, o que dificulta a compreensão por parte de quem não a domina; falta de estrutura própria de comunicação. Como saída encontrada para superar esses inconvenientes, os servidores recorrem a conversas informais com os colegas na tentativa de compreender as mensagens oficiais. Como consequências desses aspectos, pode haver entendimentos equivocados das normas, os quais podem comprometer a rotina de trabalho, entre outros prejuízos. CONCLUSÃO - A partir dessa análise, pode-se dizer que as relações de comunicação entre a escola e a DE caracterizam-se pelo distanciamento entre os setores e pela carência de ações características de um planejamento estratégico na área de comunicação. A falta de estrutura adequada de comunicação e de profissionais especializados restringe as possibilidades de uma comunicação eficaz. Logo, apontam-se as seguintes necessidades: a) reestruturar o modelo de comunicação da SEE a partir de um foco estratégico; b) dotar as DEs de infraestrutura adequada para atuarem como mediadoras entre as escolas e a SEE; c) transformar as mensagens decorrentes dessas trocas em conhecimento para os grupos de trabalho. REFERÊNCIAS BRANDÃO. E.P. Usos e Significados do Conceito Comunicação Pública. In: ENCONTRO DOS NÚCLEOS DE PESQUISA DA INTERCOM, 6, 2006. São Paulo. Anais... São Paulo:[s.n], 2006. Disponível em: <www.intercom.org.br>. Acesso em: 1 maio 2008. DAZZI, M.C.S.; PEREIRA, T.M. Impactos da cultura e da comunicação na gestão do conhecimento. In: WORKSHOP DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E SEMINÁRIO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO, 3, 2001, Florianópolis. Anais... Florianópolis: [s.n.], 2001. Disponível em: <www.negict.cse.ufsc.br/publicacao_imagens/artigocom.pdf>. Acesso em: 13 maio 2008. KUNSCH, M.M.K. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. 2.ed. São Paulo: Summus, 2002. MATOS. H. Comunicação pública e comunicação global. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 23, 2000, Manaus. Anais... 134 Manaus:[s.n.], 2000. Disponível em:<www.portalrp.com.br/bibliotecavirtual/cidadania/0083.htm>. Acesso em: 22 maio 2008. NOGUEIRA. M.F.M. Gestão da comunicação interna nas instituições públicas: um recurso esquecido. Disponível em: <www.portalrp.com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/funcoesetecnicas/0138.htm>. Acesso em: 22 maio 2008. SÃO PAULO. Decreto n° 7.510, de 29 de janeiro de 1976: Reorganiza a Secretaria de Estado da Educação. Diário Oficial do Estado de São Paulo, Poder Executivo, São Paulo, SP, v. 86, n. 20, 30 jan. 1976. TORQUATO, G. Comunicação empresarial/comunicação institucional: conceitos, estratégias, sistemas, estrutura, planejamento e técnicas. São Paulo: Summus, 1986. 135 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios LAZER E ENTRETENIMENTO SOB INFLUÊNCIAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO BAURUENSE1. Luiz Ricardo Ferreira2, Simone Yadomi Marques3, Sonia Aparecida Cabestré4 Palavras-chave: Pesquisa de opinião pública. Pesquisa qualitativa. Políticas públicas. Lazer. Bauru. INTRODUÇÃO – Planejar políticas públicas para o lazer significa equacionar mais amplamente as estratégias de investimento na cadeia produtiva que visa oferecer produtos e serviços para ocupar o tempo livre das pessoas. Dentro da constelação mais ampla de alternativas de investimento que se apresenta para os governantes, como por exemplo, o turismo e seus desdobramentos, destacam-se as questões da produção cultural como recursos sustentáveis e o entretenimento por meio da indústria da diversão. Visto de forma desvinculada das outras facetas da vida, o lazer acaba representando uma opção de segundo plano na política, tendo em vista que os governos preferem investir, ainda de forma incipiente, nos campos da educação, saúde ou habitação enquanto estratégias isoladas de investimento. Nesta linha de raciocínio, um primeiro aspecto essencial é observar o caráter educativo, cultural e de saúde, dentre outros da ordem urbana industrial do tempo livre, que as políticas públicas de lazer podem abarcar. Assim, é importante esclarecer que os critérios que influenciaram na escolha do tema trabalhado no contexto bauruense referem-se à ausência de diagnósticos que apresentem medidas que discorram sobre o lazer público. Além da ausência de diagnósticos e pesquisas de campo evidenciando a baixa iniciativa dos munícipes para com o lazer e entretenimento da cidade, também há carência de projetos e produções que ofereçam respaldo à população para cobrar de seus políticos, equipamentos de lazer, cultura e entretenimento e o fácil acesso a eles. Assim, a pesquisa qualitativa, que deu origem a esta produção, procurou desenvolver o tema lazer a partir do conceito cultura e entretenimento e suas influências nas políticas públicas, buscando traçar um embasamento teórico sobre as relações entre lazer e cultura de forma mais ampla. RELEVÂNCIA - Dentro de uma perspectiva democrática, o lazer e o entretenimento devem ser considerados como algo fundamental na vida dos homens. Devem ser tratados de forma responsável pelo poder público, que deveria entendê-los como uma necessidade humana e um direito legal. Algumas pessoas ainda associam o lazer com o ócio improdutivo, pois acreditam que seja um tempo vago em nossa 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Aluno de graduação em Comunicação Social - Habilitação em Relações Públicas - Universidade Sagrado Coração. E-mail: [email protected] 3 Aluna de graduação em Comunicação Social - Habilitação em Relações Públicas - Universidade Sagrado Coração. E-mail: [email protected] 4 Relações Públicas com Doutorado em Educação – Ensino na Educação Brasileira pela UNESP/Marília. Professora do Centro de Exatas e Sociais Aplicadas e do Curso de Pós-Graduação em Comunicação nas Organizações – Universidade Sagrado Coração. E-mail: [email protected] 136 sociedade capitalista, que tanto enfatiza a produtividade. Essa concepção incipiente ainda está presente na sociedade moderna. É necessária a existência da dicotomia entre o lazer e vagarosidade para não haja mais a negativação do primeiro termo. Para explicar esta desassociação podemos utilizar como exemplo a Grécia Antiga para entender a importância do lazer em nossas vidas. Segundo Martins (2007) nos primórdios desta civilização o lazer era visto como algo nobre, pois a recreação era associada com o desligamento das atividades servis e assim os gregos teriam tempo para a reflexão das idéias estimulando a sabedoria da sociedade. E ainda dentro deste contexto Vaz (2002, p. 6) ressalta a visão positiva em relação a esse tema: propor qualidade de vida por meio de ações de lazer significa dar a oportunidade à riqueza do relacionamento humano vivenciado e fortalecer vínculos, despertando sentimentos de colaboração, de participação e de solidariedade. Salientamos, entretanto, que a ausência de iniciativas na área não representa necessariamente a falta de investimentos no setor; mas o que ocorre, muitas vezes, é a má utilização dos recursos existentes devido à ausência de políticas setoriais que norteiem as ações. E, em outros casos, pode-se dizer que há desinteresse na aplicação dos recursos, já que o lazer não é visto como algo importante no contexto social e geralmente não se enquadra nos projetos políticos das administrações. Portanto, é preciso que os atores sociais dos diferentes municípios entendam as políticas públicas de lazer como um espaço de fortalecimento da cidadania e um importante mecanismo na melhoria da “qualidade de vida da população”. METODOLOGIA – Utilizou-se a para desenvolvimento deste estudo a pesquisa qualitativa, por intermédio da técnica de “entrevista em profundidade”. Participaram desse processo Secretários Municipais, Professores de Filosofia, Sociologia, Antropologia, História da Arte e o Coordenador da Comissão Municipal de Turismo de Bauru. As entrevistas foram realizadas no período compreendido entre a segunda quinzena de abril a primeira quinzena de maio de 2009. Foram entrevistados seis profissionais de extrema relevância na cidade de Bauru, na expectativa de atender os objetivos do trabalho com resultados satisfatórios. As entrevistas foram realizadas após o agendamento prévio de data e horário, além do envio de material de apoio aos entrevistados. Foi enviado também um material de apoio, ou seja, o roteiro de questões, para que os participantes tivessem conhecimento dos assuntos abordados no processo de entrevista, que foi baseado em tópicos, desenvolvidos previamente pelos pesquisadores, que foram respeitados, segundo um roteiro, para a obtenção das informações. PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA – DESENVOLVIMENTO – De acordo com as respostas apresentadas pelos entrevistados em relação ao Lazer Público foram geradas as seguintes reflexões: as ações e perspectivas em relação ao Lazer Público e as políticas públicas do governo central estão aquém das necessidades básicas no sentido de estimular as cadeias produtivas do lazer e do entretenimento. Assim, os dirigentes deveriam reverter este quadro revendo suas ações e perspectivas em relação ao Lazer Público, bem como as políticas públicas que retardam os processos para implantação de novas alternativas de entretenimento para população. Dessa forma, associando essas informações com as hipóteses e objetivos do estudo podemos entender que, de uma maneira genérica, os entrevistados concordam com a incapacidade do governo central para oferecer alternativas às políticas públicas que estimulem as cadeias produtivas do lazer e do entretenimento. Pode-se concluir que a população não possui conhecimento do que é oferecido no sentido de lazer e entretenimento e, por conseqüência, a este fato pode-se associar, um outro agravante que se trata do déficit na divulgação dos 137 equipamentos de Lazer Público. Em relação à qualidade do lazer público de Bauru a maioria das respostas nos levou a crer que está aquém do que se é esperado. Assim, podemos responder a nossa seguinte hipótese: Os recursos liberados para o lazer público têm sido bem utilizados? Concluímos com uma perspectiva de que se não há qualidade, conseqüentemente não há um bom proveito dos recursos liberados para o lazer público. A relação entre governantes da cidade de Bauru dos últimos cinco anos versus políticas para o lazer público foi um assunto importante e pode-se inferir que as prioridades sanadas da época eram de suprimir as contas, reduzir as despesas e organizar as finanças. Desse modo, nada foi feito voltado para o lazer e entretenimento, uma vez que o foco estava centrado para outras diretrizes. De acordo com as manifestações, a instâncias passadas nada fizeram para mudar o cenário cultural da nossa cidade. Para que se tenha a implementação de políticas públicas de lazer público na cidade de Bauru com eficácia será necessário que a gestão municipal encare esta questão como uma prioridade e intensifique as suas ações, que hoje estão escassas, podendo assim, sensibilizar a população ao explanar a importância do lazer no aspecto que envolve a educação, que é um dos principais fatores sociais para resgatar a cidadania. CONSIDERAÇÕES FINAIS - O presente estudo possibilitou, no decorrer dos trabalhos, a reflexão acerca de temas atuais e inerentes sobre as interfaces do lazer e entretenimento sob a influência das políticas públicas no contexto bauruense. Foi fundamental avaliar a qualidade percebida dos serviços, na visão de grandes vozes aqui presentes, para que seja possível estabelecer ações visando melhorar o nível dos serviços oferecidos a população. Em suma, o presente trabalho permitiu aos pesquisadores perceber a carência de equipamentos de entretenimento e lazer, para suprir a demanda isolada, desmotivada e entediada da população de classes mais abastardas que acreditam na qualidade de vida num futuro próximo. Retomando aos discursos inerentes ao estudo, podemos observar que há fronteiras nítidas entre essas duas esferas da vida social. Divertir-se, aparentemente parece direito de todos, portanto, observamos freqüentemente que as atividades associadas ao lazer e entretenimento também possui influências nas condições financeiras, e não apenas na vontade de participar. Outra característica marcante que a pesquisa revela é a permanência da sociabilidade permeando o lazer. São raras as práticas de lazer individualizadas. Já está na hora de que os discursos de campanha de um lazer emancipador, sejam acompanhados de verbas e infra-estrutura, e de atuação profissional, compromissada politicamente sim, mas com competência e “profissionalismo”. É preciso considerar ainda que, quando se quiser que o trabalho a ser desenvolvido respeite o conceito do lazer e conjugue difusão com participações culturais torna-se necessário que além do trabalho profissional, sejam preparados/capacitados animadores voluntários. Quando se fala neles, o profissional mal informado, o dirigente mal intencionado pensa ou em concorrência profissional, ou em mão-de-obra gratuita. Não é isso o que entendemos, mas sim colocamos o trabalho voluntário como participação efetiva, no planejamento, execução e avaliação dos programas e dos equipamentos de lazer da cidade, garantindo, o estabelecimento das ações a partir das aspirações da comunidade. Isto posto, encerramos nosso objeto de estudo, que será destinado aos dirigentes municipais, a fim de dar visibilidade ao descontentamento em nome da comunidade e salientar a importância do lazer ativo na vida em sociedade. 138 REFERÊNCIAS MARTINS, José Clerton de Oliveira. Ócio, lazer e tempo livre na sociedade do consumo e do trabalho. Revista Mal-estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 7, n. 2, p. 479 – 500, set. 2007. VAZ, Leopoldino Gil Dulcio. Esportes e lazer e qualidade de vida. Buenos Aires, ano, n. 51, ago. 2002. 139 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios A PRÁTICA DO JORNALISMO NA CONSOLIDAÇÃO DA CIDADANIA1. Aline Maria Fuzisaki Leão2 Palavras-chave: Jornalismo. Cidadania. Sociedade. INTRODUÇÃO – Este trabalho faz um levantamento histórico dos conceitos de cidadania e promove um debate em relação ao papel do jornalismo e suas funções cidadãs. Tem-se como objetivo refletir sobre uma possível convergência entre a atual prática jornalística presente nos jornais impressos diários e a função normativa dos meios de comunicação, visando contribuir para a ampliação, consolidação e disseminação dos direitos relativos à cidadania entre os leitores e a sociedade. RELEVÂNCIA – Existe uma preocupação em se compreender as práticas jornalísticas, já que os meios de comunicação estão envolvidos em uma dinâmica social. O papel do jornalismo para dar visibilidade às questões que envolvem direitos humanos e cidadania é indiscutível. E, para garantir os direitos dos cidadãos, é necessário que os meios dediquem-se a praticar o jornalismo cívico, que paute o interesse comunitário. Por isso, se faz necessário verificar se a atual ampliação do debate envolvendo questões ligadas aos direitos humanos na sociedade contemporânea alcança, na mesma proporção, uma maior representatividade nos meios de comunicação. Ou, seja, se há uma reflexividade entre os direitos discutidos pela sociedade e os apresentados na mídia. METODOLOGIA – Para a elaboração deste trabalho, utilizou-se como base teórica a pesquisa bibliográfica desenvolvida junto à literatura, como também algumas produções científicas disponibilizadas na Internet relacionadas aos conceitos de cidadania e práticas de jornalismo (Newsmaking e enquadramento noticioso). PRINCIPAIS DISCUSSÕES/RESULTADOS DA PESQUISA - Neste trabalho, os meios de comunicação são concebidos como instrumentos de poder da sociedade, por meio do qual os cidadãos tomam consciência de sua realidade. Assim, o principal objetivo é discutir, sob a perspectiva do enquadramento e do newsmaking, o papel desempenhado pelos jornais no processo de representação e implementação dos direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos. Além disso, esta pesquisa pretende contribuir para os estudos dos gêneros midiáticos na área da Comunicação, especificamente nos processos de construção da cidadania. Embora a noção de cidadania remonte à Grécia antiga, Soares (2008, p. 1) aponta que o conceito, originalmente, “dizia respeito aos privilégios das categorias sociais dominantes”. Foi a partir das revoluções industriais que o termo cidadão ganhou a 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Jornalista – Mestranda do Programa de Pós –Graduação em Comunicação – FAAC/UNESP – Email: [email protected] 140 denotação atual, indicando a detenção de direitos dos indivíduos. A partir do pensamento de Marshall (1967), Kunsch (2005, p. 22) classifica a categoria de direitos como primeira geração, que engloba o “sistema judiciário e os direitos políticos e eleitorais”. No início do século XX, é instituída a segunda geração, a dos direitos sociais, que “exigem uma maior presença do Estado”, a fim de garantir o acesso universal a serviços como, por exemplo, à saúde e à educação. Oliveira (2005, p. 47) aponta que, a partir da segunda metade do século XX, “o conceito foi radicalmente alterado” e, atualmente, “cidadania tem relação direta com democracia”. Dessa forma, Fernandes (2002) ressalta que a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, desencadeou a luta por direitos que são comuns a toda a humanidade e não somente ao indivíduo, tais como as questões relacionadas à paz e ao meio ambiente. Estes são os chamados direitos de terceira geração. No presente momento, discute-se os direitos de quarta geração, relativos às pesquisas genéticas e à bioética. No entanto, Kunsch (2005, p.24) aponta o “aumento das desigualdades sociais” e a “diminuição das possibilidades de se construir uma verdadeira cidadania” como conseqüências da atual globalização e da revolução tecnológica. Mas, para Kunsch (2005, p.29), tais “transformações mundiais têm impulsionado também reações e novas formas de luta da sociedade civil”. Dentro desse processo, Kunsch (2005, p. 41-43) avalia que os meios de comunicação devem “constituir-se num setor estratégico, agregando valores e facilitando os processos interativos e as mediações da sociedade civil com as organizações, a opinião pública, o Estado e a sociedade em geral”, contribuindo e participando com “consciência política e social numa perspectiva interpretativa e crítica da sociedade contemporânea”. Neste ponto, é necessário indicar as relações entre o jornalismo e a implementação efetiva dos direitos. Soares (2008, p. 3) ressalta que é importante examinar o significado da imprensa na ampliação, consolidação e disseminação dos direitos relativos à cidadania, a partir de dois enfoques: “o de caráter normativo, na linha de direito, que estabelece os princípios de uma imprensa comprometida com a cidadania e o outro, crítico, que se apóia na observação das condições históricas em que atua a imprensa”. Soares (2008) aponta que a sociedade precisa de acesso à informação pública para que ela possa exercer os “direitos de acesso ao poder público, de modo que o direito à informação é necessário ao exercício dos demais direitos de cidadania” (SOARES, 2008, p. 4). Assim, é possível afirmar que a comunicação tem uma relação direta com a cidadania. Na atual sociedade, Soares (2008) destaca que os jornais impressos desempenham a função de mediadores, formando uma instituição social, pois, mesmo sendo empresas privadas, desempenham uma função pública. Por isso, deve existir a responsabilidade dos meios para com a sociedade. Com relação aos conteúdos veiculados pela mídia, para Soares (2008), é possível constatar que os meios noticiosos tendem a representar de forma limitada os temas relacionados à cidadania. Fernandes (2002, p. 11) aponta que a atual prática do jornalismo “não se aprofunda em discussões filosóficas, políticas e históricas que envolvem a questão dos direitos humanos, sendo muitas vezes superficial e retrógrado nas abordagens”. A mesma opinião é compartilhada por Soares (2008). O autor justifica que “o problema da sub-representação das questões da cidadania social” decorre “da natureza do jornalismo praticado num contexto de mercado”, estritamente capitalista, e “baseado em critérios de noticiabilidade” (Soares, 2008, p. 6). Quando se discute o papel do jornalismo nos temas de cidadania, pensa-se que a imprensa tenha algum tipo de poder, capaz de influenciar os processos sociais. No entanto, o poder efetivo é a capacidade de fazer as coisas acontecerem. Porém, esse poder não condiz com 141 as funções específicas dos meios de comunicação. Para Soares (2008, p. 9), o “poder da imprensa é um poder simbólico, que advém de sua capacidade de agendar os temas, enquadrá-los, colocando-os publicamente”. No processo de representação e implementação dos direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos, práticas como o newsmaking e o enquadramento noticioso, presentes na mídia diária, podem contribuir de maneira positiva ou negativa para a construção e efetivação da cidadania. No conceito de newsmaking, a noticiabilidade, exposta por Traquina (2001, p. 63), refere-se ao “conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é, possuir valor como notícia”. De acordo com Traquina (2004), tais valores-notícia são temporalmente mutáveis, assim como se adaptam conforme a realidade de cada meio de comunicação. Mas o exercício jornalístico que consiste em transformar um fato em notícia é resultante da soma de critérios, pois “um acontecimento será tanto mais noticiável quanto maior número de valores possuir” (TRAQUINA, 2004, p. 73). Já o enquadramento (ou framing), é apresentado por Soares (2007) “como modos de exposição de determinados assuntos ou pessoas que salientam algumas de suas características, ou mesmo acrescentam a eles ou subtraem deles certos atributos” (SOARES, 2007, p. 51). Aplicado ao jornalismo, o conceito é utilizado para analisar como “informações pontualmente corretas e verificáveis podem ser selecionadas, valorizadas, destacadas, omitidas ou atenuadas, em reportagens complexas, de modo a produzirem representações diferentes de uma mesma situação” (SOARES, 2007, p. 52). Partindo da definição de Entman (1993), Soares (op.cit) expõe que “os fatores essenciais do enquadramento são a seleção dos aspectos de uma realidade percebida e a saliência dada a eles”. Assim, algumas idéias são ressaltadas, enquanto outras se tornam invisíveis, promovendo uma “definição da situação, uma interpretação causal, uma avaliação moral” (SOARES, 2007, p. 52-53). Soares (2007) explica que as “orientações dos enquadramentos são difíceis de detectar, porque muitos artifícios podem parecer ‘naturais’, simples escolhas de palavras ou imagens”. No entanto, quando há a comparação com outros textos, é possível verificar que “essas escolhas não são inevitáveis ou não-problemáticas, sendo centrais para o modo como a notícia enquadra e interpreta os eventos” (SOARES, 2007, p. 52). O que é notável para alguns pesquisadores é que os jornais não noticiariam sistematicamente os problemas sociais numa frequência compatível com a sua dimensão concreta, nem dariam a eles espaços proporcionalmente correspondentes a essa amplitude. Com essa hipótese, para eles, as práticas de noticiabilidade e os enquadramentos presentes no atual jornalismo privilegiariam algumas questões de cidadania em detrimento de outras. Com uma atuação restrita e específica, a mídia não contribuiria para o debate público racional ao deixar de agendar temas relevantes voltados aos direitos e à cidadania. Partindo da distinção entre as funções normativas e empíricas dos meios de comunicação, torna-se importante a discussão sobre a possibilidade de existir um ponto de equilíbrio na atuação da mídia em favor da cidadania e observar o real direcionamento noticioso dos jornais brasileiros. CONCLUSÃO - Na medida em que os jornais optam por trazer ao seu público notícias sobre violação dos direitos humanos, dando visibilidade às questões relacionadas à cidadania, são capazes de levantar um debate sobre o assunto em todas as esferas da sociedade. De acordo com Kunsch (2005), essa é a função dos meios de comunicação: atuar como mediador entre a sociedade civil, as organizações, a opinião pública e o Estado. Ao expor temas controversos, contribuem para que toda a sociedade participe de um amplo debate com 142 consciência política e social, numa perspectiva mais interpretativa e crítica dos fatos. Dessa forma, considerando que os meios de comunicação atuam sobre o direcionamento da opinião pública, disseminando posicionamentos sócio-culturais, faz-se necessária uma análise mais abrangente com o objetivo de identificar e compreender as representações construídas pelos meios. Assim, para extrair as perspectivas sócio-culturais e políticas dos jornais brasileiros e fundamentar esta discussão, está sendo produzida uma pesquisa tendo como referencial teórico os conceitos de enquadramento, considerado por Soares (2008) uma das abordagens mais apropriadas para o estudo de matérias jornalísticas por trazer, em seus resultados, os viezes implícitos da produção. A partir da análise de matérias referentes ao tema cidadania, publicadas em dois jornais de grande circulação nacional, será possível discutir se, a partir de suas funções normativas e empíricas, esses veículos contribuem para a ampliação, consolidação e disseminação dos direitos. REFERÊNCIAS FERNANDES, A. B. Jornalismo, cidadania e direitos humanos: uma relação reflexiva no espaço público. In: Congresso Anual em Ciência da Comunicação, XXV, Núcleo de Pesquisa Jornalismo, Salvador, set. 2002. Anais... Salvador, 2002. Disponível em: <http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/18665/1/2002_NP2FERNA NDES.pd f>. Acesso em: 15 abr. 2008. KUNSCH, M. M. K. Campos de estudos emergentes em comunicação nas novas cidadanias. In: BEZZON, L. C. (Org.). Comunicação, política e sociedade. Campinas: Alínea, 2005. p. 1-44. OLIVEIRA, M. J. C. Panorama social e cidadania: uma análise sobre o Brasil na ótica da comunicação. In: BEZZON, L. C. (Org.). Comunicação, política e sociedade. Campinas: Alínea, 2005. p. 45-64. SOARES, M. C. Jornalismo e cidadania em duas abordagens.In: Encontro da Compôs, XVII, Grupo de Trabalho “Estudos de Jornalismo”, São Paulo, jun. 2008. Anais... São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.compos.org.br/data/biblioteca_373.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2008. ______. Representações e comunicação: uma relação em crise. Líbero, São Paulo, n. 20, p. 47-56, dez. 2007. TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2004. 143 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios PESQUISA E EXECUÇÃO DE AÇÕES DE COMUNICAÇÃO PARA CONSELHOS MUNICIPAIS DE BAURU – SP1. Luciana Galhardo Batista2 Palavras-chave: Conselhos municipais. relacionamento com a sociedade. Políticas públicas. Comunicação e INTRODUÇÃO – Os conselhos municipais atuam para fiscalizar e orientar a formulação de políticas públicas em diversos setores. Devem trabalhar de forma transparente, estabelecendo um relacionamento seguro com a sociedade civil, e um meio adequado para obter a divulgação de suas ações é a mídia, que pode enfocálas de forma jornalística, despertando o interesse do público. Como conseqüência da realidade do dia-a-dia dos conselhos municipais, comunicar-se de forma eficiente com os meios de comunicação é fundamental para despertar o interesse sobre sua atuação na sociedade. Para que isto seja posto em prática, os conselhos devem identificar formas de veicular suas mensagens a fim de ampliar a visibilidade de suas ações. RELEVÂNCIA – Pesquisar e desenvolver ações estratégicas de assessoria de imprensa para apresentar os conselhos municipais ao público são atividades que precisam ser praticadas constantemente. Isto porque os conselhos precisam organizar seus contatos com os jornalistas para estar em ligação com a sociedade. E, também, para informar o que acontece em cada segmento, na condição de órgãos de interesse público e que precisam prestar contas à sociedade sobre como estão desenvolvendo seu trabalho, para que ela possa avaliar se o que está sendo feito está de acordo com seus interesses e necessidades. Todos os dias, novas formas de comunicação são colocadas em prática como meio de divulgação e, devem ser aplicadas no que diz respeito as políticas públicas. METODOLOGIA – Através de pesquisa bibliográfica da literatura e trabalhos científicos disponibilizadas na Internet, foi possível identificar e estudar autores que tem realizado pesquisas sobre assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia, participação social no Brasil, espaços públicos, comunicação pública, marketing político e democracia. Uma série de estudos e entrevistas foi realizada junto a nove conselhos municipais de Bauru com o objetivo principal de identificar as divulgações já feitas pelos órgãos e desenvolver novas estratégias de comunicação. Como material prático, durante sete meses, foram desenvolvidas ações de comunicação a partir de instrumentos de assessoria de imprensa pesquisados anteriormente, como: releases3, notas; sugestão de pauta; clipping4 de TV, jornais 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Jornalista. E-mail: [email protected] 3 Texto informativo distribuído a imprensa por uma instituição privada, governamental etc., para ser divulgado gratuitamente entre as notícias publicadas pelo veículo. 144 impressos, rádio e internet; coletiva de imprensa; follow up5 com jornalista e visitas de cortesia. Solenidade de lançamento do programa de Certificação do Tradicional Sanduíche Bauru. De maneira geral, pode-se considerar que os conselhos municipais da Pessoa Idosa, dos Direitos da Criança e do Adolescente, Direitos das Pessoas com Deficiência, Turismo, Saúde, Educação, Assistência Social, Meio Ambiente e Tutelar puderam ampliar seu espaço na mídia local, se relacionar de maneira produtiva com os jornalistas e compreender a importância de um planejamento de comunicação interna e externa. A assessoria de comunicação torna mais fácil aos conselhos a divulgação de suas ações. Além disso, há uma crescente cobrança, por parte da sociedade civil, com relação à prestação de contas sobre como eles estão desenvolvendo seu trabalho. Isso porque os conselhos estão na condição de órgãos de interesse público e precisam prestar contas à sociedade. As ferramentas mais utilizadas na pesquisa foram o press release, follow up, clipping, nota informativa e sugestão de pauta. O mais prático e acatado pela imprensa foi o release. O elevado número de ações empregadas evidencia o positivo relacionamento estabelecido entre a assessoria e os conselhos, o que facilitou a busca constante de informações para o processo de produção de releases a serem enviados para abastecer a imprensa com notícias dos conselhos. Ao longo do trabalho foi possível observar a melhoria no relacionamento dos conselhos com os veículos de comunicação, o que facilitou o reconhecimento dos presidentes dos conselhos como fonte de informação segura e oficial para a imprensa. Vale lembrar a importância da contribuição científica do trabalho, fator que gerou credibilidade da assessoria perante a mídia e aos conselhos para o desenvolvimento da pesquisa. E não apenas isso, mas também o constante relacionamento, já previsto no plano de assessoria, entre a imprensa e os conselhos foi significativo para que o trabalho pudesse atingir o resultado esperado. O relacionamento se deu através de sugestões de pautas seguidas de contatos telefônicos, que acabaram por estabelecer um laço de amizade entre os repórteres, a assessoria de imprensa e os presidentes dos conselhos. Foram realizadas mais de dez visitas aos veículos de comunicação com o objetivo de fazer convites para eventos, entregar releases em mãos e esclarecer possíveis dúvidas. Isso fez com que o índice de erros, por parte dos jornalistas em matérias consideradas de relevância pública, fosse zero. O baixo índice de erros por parte da imprensa pode ser atribuído, também, pela insistência da assessoria em enviar vários releases referentes ao mesmo fato, mas com enfoques e datas diferentes, como, por exemplo, no caso da divulgação de um evento que dura uma semana. Neste caso é aconselhável, em todos os dias, enviar releases que contém como matéria principal a atividade mais relevante do dia, seguida do cronograma que ainda resta até o término do evento. CONCLUSÃO – O resultado da pesquisa pode ser considerado positivo pelo produtivo laço estabelecido entre os conselhos e a mídia bauruense, e pela contribuição científica dada à área de assessoria de comunicação para conselhos municipais, na forma de indicações de estratégias adequadas ao setor. Entretanto, a continuidade das ações de comunicação se faz necessária, por se tratar de órgãos municipais que lidam diariamente com assuntos referentes à sociedade em geral e 4 Serviço de apuração, coleção e fornecimento de recortes de jornais e revistas, assim como TV, rádio e sites de internet, sobre determinado assunto e atividades de uma empresa, instituição, pessoa etc. 5 Ato de se dar continuidade a um contato, para buscar informações sobre uma atividade ou decisão acertada para aquele prazo, ou para reatar um processo de comunicação. 145 que não conseguem alcançar a devida atenção dos meios de comunicação quando estão sem uma pessoa capacitada para intermediar esta relação. Trabalhar com os conselhos constituiu uma importante experiência ao indicar o caminho que os órgãos devem tomar para a construção de sua imagem positiva, já que desenvolvem alternativas para a resolução de problemas públicos e, assim, exercem grande influência nas diversas esferas da sociedade e evidenciam a importância das causas sociais. Confirmada a relevância dos conselhos municipais no auxilio da administração, fica relevante a necessidade da assessoria de imprensa para divulgar as ações, já que a técnica jornalística é imprescindível neste sentido. Afinal, é o jornalista que consegue transformar as atividades do dia-a-dia em fatos de relevância pública, que ajudam a ampliar a visão da sociedade sobre os acontecimentos do mundo. Com esta visão, o trabalho de pesquisa e execução de ações de comunicação para conselhos municipais foi realizado através da identificação dos dados relevantes dentro dos assuntos a ser transformado em releases, notas ou sugestões de pauta. Produção esta que foi responsável pelo positivo relacionamento entre a assessoria e os conselhos, o que facilitou o reconhecimento dos presidentes dos conselhos como fonte de informação segura para a imprensa. Espera-se que os resultados desta pesquisa possam servir como contribuição para profissionais que venham a escolher a área para pesquisas e estudos ou que já trabalhem com ela, norteando futuras atividades com semelhante propósito. REFERÊNCIAS AVRITZER, Leonardo. Sociedade civil e participação social no Brasil. Disponível em:<www.democraciaparticipativa.org/Paginas/biblioteca.htm>. Acesso em: 10 ago. 2005. AVRITZER, Leonardo (Org.). A participação em São Paulo. São Paulo: Editora Unesp, 2004. MONTEIRO, Graça França. A notícia institucional. In: Duarte, Jorge (Org.). Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia: teoria e técnica. São Paulo: Atlas, 2002. p. 140-160. BUENO, Wilson da Costa. Comunicação empresarial: teoria e pesquisa. Barueri, SP: Manole, 2003. 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