REDEMAT R EDE TEMÁTICA EM E NGENHARIA DE MATERIAIS UFOP – CETEC – UEMG UFOP - CETEC - UEMG Dissertação de Mestrado "Estudo da Incorporação de Hidrogênio no Aço Líquido" Autor: Bruno Rodrigues Henriques Orientador: Prof. Fernando Gabriel da Silva Araújo Co-Orientador: Prof. Cristovam Paes de Oliveira Novembro de 2010 REDEMAT R EDE TEMÁTICA EM E NGENHARIA DE MATERIAIS UFOP – CETEC – UEMG UFOP - CETEC - UEMG Bruno Rodrigues Henriques "Estudo da Incorporação de Hidrogênio no Aço Líquido" Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais da REDEMAT, como parte integrante dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Materiais. Área de concentração: Processos de Fabricação Orientador: Prof. Fernando Gabriel da Silva Araújo Co-Orientador: Prof. Cristovam Paes de Oliveira Ouro Preto, novembro de 2010 Catalogação: [email protected] FOLHA DE APROVAÇÃO ii DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho aos meus pais, à minha esposa Cely e aos meus filhos Nicole e Rafael iii AGRADECIMENTOS Um dos maiores desafios de minha carreira profissional foi o desenvolvimento e conclusão deste projeto, que era um objetivo acalentado há muitos anos. Agora, chegou o momento de agradecer a todos que, direta ou indiretamente, tornaram a minha caminhada um pouco menos árdua. A elaboração de uma dissertação de mestrado é um processo longo, desgastante, por vezes dolorido, mas no fim extremamente prazeroso. Os agradecimentos especiais serão feitos pela ordem cronológica dos acontecimentos: • Primeiramente agradeço à ArcelorMittal Tubarão por ter patrocinado este trabalho, e em especial ao Departamento de Produção de Placas e Bobinas (IDA). • Agradeço ao engenheiro Dimas Bahiense Moreira, um homem visionário, que eu considero o criador do projeto que permitiu a muitos engenheiros do IDA a realização de um Mestrado. • Agradeço à REDEMAT, entidade séria com quadros de primeira grandeza, que sempre acreditou na parceria estabelecida com a ArcelorMittal Tubarão. • Agradeço ao Professor Cristovam Paes Oliveira pelo comprometimento, apoio e, principalmente, paciência durante a orientação deste trabalho. “Muito Obrigado”. • Agradeço à Luciana Lopes Caldas e ao engenheiro Odair José Kirmse, da ArcelorMittal Tubarão, pela ajuda em todos os momentos críticos da fase de formatação da dissertação de mestrado. • Agradeço ao engenheiro Francisco Coutinho Dornelas. “Você chegou com o projeto de Mestrado já em andamento, mas o seu apoio e incentivo fizeram parte do conjunto de forças motrizes que me permitiram concluir este trabalho”. • Agradeço ao Prof. Fernando Gabriel Araújo.“Você chegou no fim do processo, mas se tornou a peça-chave que tornou possível a conclusão do projeto. Muito Obrigado”. iv ÍNDICE LISTA DE FIGURAS ...........................................................................................................VII LISTA DE TABELAS ...........................................................................................................XII RESUMO ............................................................................................................................. XIV ABSTRACT ...........................................................................................................................XV 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 2. OBJETIVOS ..................................................................................................................... 2 3. 2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 2 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................................ 3 3.1 EFEITOS DO HIDROGÊNIO NO AÇO............................................................................... 3 3.1.1 Fatores de Influência na Solubilidade do Hidrogênio no Aço............................... 4 3.1.2 Incorporação de Hidrogênio no Aço ..................................................................... 7 3.1.3 Danos Causados pelo Hidrogênio ......................................................................... 8 3.2 FUNDAMENTOS TERMODINÂMICOS ........................................................................... 13 3.2.1 Solubilidade do Hidrogênio no Aço Líquido........................................................ 13 3.2.2 Solubilidade do Vapor D’água no Aço Líquido................................................... 15 3.2.3 Solubilidade do Vapor D’água na Escória Líquida............................................. 17 3.2.4 Transferência de Hidrogênio: Interação Metal/Escória ..................................... 19 3.2.5 Transferência de Hidrogênio: Interação Metal/Atmosfera ................................. 23 3.3 DETERMINAÇÃO DO TEOR DE HIDROGÊNIO CONTIDO NO AÇO LÍQUIDO .................... 27 3.3.1 Métodos Convencionais de Determinação do Teor de Hidrogênio ..................... 28 3.3.2 Sistema Hydris de Determinação do Teor de Hidrogênio ................................... 32 3.3.3 Método de Análise Química do Sistema Hydris................................................... 39 3.3.4 Acurácia do Sistema Hydris de Medição ............................................................. 40 3.4 FONTES DE INCORPORAÇÃO DE HIDROGÊNIO NO AÇO LÍQUIDO..................................... 47 3.4.1 Influência da Adição de Cal ................................................................................. 47 3.4.2 Influência da Adição de Materiais Recarburantes .............................................. 50 3.4.3 Influência da Adição de Ferro-Ligas................................................................... 54 v 4. 3.4.4 Influência da Umidade da Atmosfera................................................................... 57 3.4.5 Caracterização da Incorporação de Hidrogênio no Aço Líquido ....................... 59 3.5 PERFIL DE INCORPORAÇÃO DE HIDROGÊNIO NO AÇO LÍQUIDO .................................. 61 3.6 MODELOS MATEMÁTICOS DE PREVISÃO DA INCORPORAÇÃO DE HIDROGÊNIO .......... 65 3.7 PRÁTICAS DE PRODUÇÃO DE AÇOS COM BAIXO TEOR DE HIDROGÊNIO .................... 71 METODOLOGIA .......................................................................................................... 75 4.1 LOCAL DE REALIZAÇÃO DOS EXPERIMENTOS ............................................................ 76 4.2 ROTA DE PRODUÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DOS EXPERIMENTOS ............................... 77 4.3 METODOLOGIA PARA A REALIZAÇÃO DOS EXPERIMENTOS ....................................... 77 4.3.1 Variáveis Utilizadas nos Experimentos................................................................... 78 4.3.2 Umidade Relativa do Ar.......................................................................................... 79 4.3.3 Plano de Experimentos........................................................................................... 80 4.3.4 Variável Resposta dos Experimentos ...................................................................... 82 4.4 METODOLOGIA PARA A ANÁLISE DE REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA ....................... 83 4.4.1 Variáveis Utilizadas na Análise de Regressão........................................................ 83 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 86 5.1 5.1.2 Evolução do Teor de Hidrogênio ......................................................................... 99 5.1.3 Avaliação da Dispersão dos Resultados de Teor de Hidrogênio....................... 101 5.1.4 Incorporação Gradativa de Hidrogênio no Aço Líquido................................... 105 5.1.5 Avaliação das Médias dos Resultados de Hidrogênio ....................................... 121 5.1.6 Avaliação dos Blocos de Experimentos com Médias Iguais.............................. 129 5.2 6 EXPERIMENTOS REALIZADOS NA PANELA DE AÇO .................................................... 86 RESULTADOS DA ANÁLISE DE REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA ............................... 133 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 142 6.1 CONCLUSÕES SOBRE OS RESULTADOS DOS EXPERIMENTOS .................................... 142 6.2 CONCLUSÕES SOBRE A ANÁLISE DE REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA ...................... 144 6.3 CONCLUSÕES GERAIS .............................................................................................. 145 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...................................................... 146 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 147 vi LISTA DE FIGURAS Figura 3.1 – Solubilidade do hidrogênio no ferro, em função da temperatura, na pressão de 1atm (Winkler e Bakish, 1971) ................................................................................ 5 Figura 3.2 – Solubilidade do hidrogênio em função dos elementos de liga presentes no ferro, na temperatura de 1600ºC (Fuwa, 1978)..................................................................... 6 Figura 3.3 – Influência do teor de manganês do aço na ocorrência de flocos (ElectroNite, 1999)................................................................................................................................ 10 Figura 3.4 - Diagrama esquemático, indicando o teor de hidrogênio tolerável no aço como uma função do teor de enxofre (Fruehan, 1997) ............................................................ 11 Figura 3.5 – Relacionamento entre os teores dos gases hidrogênio e nitrogênio na formação de bolhas no aço (Huang e Liu, 1996) ..................................................................... 12 Figura 3.6 – Efeito dos elementos de liga sobre o coeficiente de atividade henriana do hidrogênio em ligas de ferro a 1600ºC (Fuwa, 1978) ......................................................... 14 Figura 3.7 – Concentração de hidrogênio e oxigênio no aço líquido a 1600ºC em equilíbrio com as misturas H2 -H2 O indicadas (Turkdogan, 1996)........................................... 17 Figura 3.9 – Representação esquemática da dissolução do hidrogênio no metal líquido através de uma camada de escória básica (Lingras, 1982) .......................................... 20 Figura 3.10 – Efeitos da pressão parcial de vapor d’água da atmosfera e do teor de óxido de ferro da escória sobre a concentração de hidrogênio no metal líquido, antes da desoxidação (Lingras, 1982) ............................................................................................... 22 Figura 3.11 – Efeitos da concentração de oxigênio no metal líquido e da pressão parcial de vapor d’água da atmosfera sobre a concentração de hidrogênio em equilíbrio no metal líquido (Lingras, 1982) ............................................................................. 23 Figura 3.12 – Representação esquemática da transferência de hidrogênio para o metal líquido devido à direta exposição a uma atmosfera úmida (Lingras, 1982)................... 24 Figura 3.13 – Influência da concentração de oxigênio do metal líquido e da pressão parcial de vapor d’água na atmosfera sobre a concentração de equilíbrio do hidrogênio no metal líquido exposto diretamente às atmosferas úmidas (Lingras, 1982)......................................................................................................................................... 26 vii Figura 3.14 – Efeito da taxa de resfriamento na perda de hidrogênio, expressada em termos da concentração residual de hidrogênio, C* (Pocklington e Cheyne, 1984)............... 30 Figura 3.15 – Configuração do sistema Hydris (Electro-Nite, 2005) ..................................... 33 Figura 3.16 – Detalhes do sensor de imersão do sistema Hydris (Frigm et al., 1990) ........... 34 Figura 3.17 – Foto do sensor de imersão Hydris (Frigm et al., 1990) .................................... 35 Figura 3.18 – Princípio de medição do sistema Hydris, mostrando o fluxo de gás através da unidade pneumática e do sensor de imersão (Electro-Nite, 2005) .......................... 37 Figura 3.19 – Curva típica do sistema Hydris, para um aço não-desgaseificado (Vergauwens, 1996) ................................................................................................................. 38 Figura 3.20 – Condutividade térmica dos gases (Electro-Nite, 2005) .................................... 39 Figura 3.21 – Comparação entre o teor de hidrogênio medido pelo sistema Hydris e o valor de equilíbrio, para cada composição química de gás soprado (Stone et al., 1991)......................................................................................................................................... 42 Figura 3.22 – Comparação da medição Hydris, utilizando gás portador com 100% de N2 e com 15% de H2 e 85% de N2 (Stone et al., 1991)............................................................. 43 Figura 3.23 – Repetibilidade do sistema Hydris para diferentes níve is de teor de hidrogênio (Vergauwens, 1996) ............................................................................................... 44 Figura 3.24 – Avaliação da repetibilidade do sistema Hydris (Frigm et al., 1990) ................ 45 Figura 3.25 – Avaliação da repetibilidade do método DWS (Frigm et al., 1990) .................. 45 Figura 3.26 – Comparação dos resultados de hidrogênio, medidos na panela e no distribuidor, entre o sistema Hydris e o método DWS (Stone et al., 1991) ............................. 46 Figura 3.28 – Incorporação de hidrogênio devido à adição de Ca(OH)2 juntamente com a escória (Fruehan e Misra, 2005).................................................................................... 49 Figura 3.29 – Influência da adição de ligas na incorporação de hidrogênio no aço líquido (Ootsuka et al., 1996)................................................................................................... 51 Figura 3.30 – Incorporação de hidrogênio no aço líquido em função da adição de coque (Fruehan e Misra, 2005) ................................................................................................ 53 Figura 3.31 – Resultados de recusa em ultra-som em função da espessura e do préaquecimento de ferro- ligas (Silveira et al., 1988) .................................................................... 56 viii Figura 3.32 – Influência da adição de ligas no teor de hidrogênio durante a desgaseificação (Vergauwens, 1996) ....................................................................................... 57 Figura 3.33 – Teor de hidrogênio, em função da umidade relativa do ar, durante lingotamento (Fitzgerald, 1982) ............................................................................................... 58 Figura 3.34 – Teor de hidrogênio, antes do vazamento, em função da umidade atmosférica (Harvey, 1982) ...................................................................................................... 59 Figura 3.35 – Perfil de incorporação de hidrogênio no aço líquido, desde o carregamento no convertedor LD até o vazamento do aço na panela (Silveira et al., 1988)......................................................................................................................................... 62 Figura 3.36 – Perfil de incorporação de hidrogênio no aço líquido, desde o carregamento no forno elétrico até o lingotamento (Harvey, 1982) ........................................ 63 Figura 3.37 – Efeito de diferentes práticas operacionais no teor de hidrogênio do aço líquido (Jha et al., 2003) ........................................................................................................... 74 Figura 4.1 – Desenho esquemático da aciaria da ArcelorMittal Tubarão ............................... 76 Figura 4.2 – Evolução da umidade relativa do ar, para cada hora do dia, em um ano ............ 79 Figura 4.3 – Evolução da umidade relativa do ar, para cada mês, durante um ano ................ 80 Figura 5.1 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 1º grupo de experimentos ............... 87 Figura 5.2 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 2º grupo de experimentos ............... 88 Figura 5.3 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 3º grupo de experimentos ............... 90 Figura 5.4 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 4º grupo de experimentos ............... 91 Figura 5.5 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 5º grupo de experimentos ............... 92 Figura 5.6 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 6º grupo de experimentos ............... 94 Figura 5.7 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 7º grupo de experimentos ............... 95 Figura 5.8 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 8º grupo de experimentos ............... 96 Figura 5.9 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 9º grupo de experimentos ............... 98 Figura 5.10 – Evolução do teor de hidrogênio em função do grupo de experimentos ......... 100 Figura 5.11 – Configuração básica do gráfico do tipo Box-Plot da Mediana....................... 101 Figura 5.12 – Box-Plot (da mediana) mostrando a distribuição dos resultados de ix hidrogênio por grupo de experimentos................................................................................... 102 Figura 5.13 – Desvio padrão do teor de hidrogênio do aço líquido em função do grupo de experimentos ........................................................................................................... 104 Figura 5.14 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 1º e 2º grupos de experimentos ........................................................................................... 106 Figura 5.15 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 2º e 3º grupos de experimentos ........................................................................................... 107 Figura 5.16 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 3º e 4º grupos de experimentos ........................................................................................... 109 Figura 5. 17 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 4º e 5º grupos de experimentos ........................................................................................... 111 Figura 5.18 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 5º e 6º grupos de experimentos ........................................................................................... 113 Figura 5.19 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 6º e 7º grupos de experimentos ........................................................................................... 115 Figura 5.20 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 7º e 8º grupos de experimentos ........................................................................................... 117 Figura 5.21 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 8º e 9º grupos de experimentos ........................................................................................... 119 Figura 5.22 – Configuração básica do gráfico do tipo Box-Plot da Média ........................... 121 Figura 5.23 – Box-Plot (da média) mostrando a distribuição dos resultados de hidrogênio por grupo de experimentos................................................................................... 123 Figura 5.24 – Box-Plot (da média) mostrando a distribuição dos resultados de hidrogênio por bloco de experimentos................................................................................... 131 Figura 5.25 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora CALld .................... 137 Figura 5.26 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora CALp ..................... 137 Figura 5.27 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora Coque .................... 138 Figura 5.28 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora Grafite................... 138 Figura 5.29 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora SiMn ..................... 139 x Figura 5.30 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora Mntot ...................... 139 Figura 5.31 – Gráfico de resíduos contra valores previstos.................................................. 140 Figura 5.32 – Gráfico de probabilidade normal para os resíduos ......................................... 141 Figura 5.33 – Gráfico da distribuição dos resíduos............................................................... 141 xi LISTA DE TABELAS Tabela III.1 – Solubilidade do hidrogênio, em ligas de ferro, a uma temperatura de 400ºC e pressão de 1mm de mercúrio (Warren, 1987) ..........................................................7 Tabela III.2 – Efeito da adição de coque metalúrgico no teor de hidrogênio do aço líquido (Fruehan e Misra, 2005).............................................................................................52 Tabela III.3 - Teores de hidrogênio em diversos tipos de ferro-ligas (Silveira et al., 1988).......................................................................................................................................54 Tabela III.4 – Influência das condições de armazenamento no teor de hidrogênio dos ferro- ligas (Leger, 1978) ........................................................................................................55 Tabela III.5 – Influências de diversas fontes de incorporação no teor de hidrogênio do aço líquido (Lawson, 1988)...............................................................................................60 Tabela III.6 – Perfil de incorporação de hidrogênio no aço líquido na usina da Algoma Steel (Lawson, 1988)................................................................................................64 Tabela III.7 – Variáveis preditoras para o modelo de pré-tratamento de panela (Varcoe et al., 1990) ...............................................................................................................66 Tabela III.8 – Variáveis preditoras para o modelo de tratamento de panela (Varcoe et al., 1990).................................................................................................................................67 Tabela III.9 – Cálculo da incorporação total de hidrogênio durante vazamento e após adições (Fruehan e Misra, 2005)............................................................................................69 Tabela III.10 – Medidas adotadas para reduzir a incorporação de hidrogênio no aço líquido (Jha et al., 2003) .........................................................................................................73 Tabela IV.1 – Plano de experimentos para o estudo da incorporação de hidrogênio ...........81 Tabela IV.2 – Níveis de valores para as variáveis investigadas nos grupos de experimentos ..........................................................................................................................82 Tabela V.1 – Resultados do 1º grupo de experimentos.........................................................86 Tabela V.2 – Resultados do 2º grupo de experimentos.........................................................88 Tabela V.3 – Resultados do 3º grupo de experimentos.........................................................89 Tabela V.4 – Resultados do 4º grupo de experimentos.........................................................90 xii Tabela V.5 – Resultados do 5º grupo de experimentos.........................................................92 Tabela V.6 – Resultados do 6º grupo de experimentos.........................................................93 Tabela V.7 – Resultados do 7º grupo de experimentos.........................................................94 Tabela V.8 – Resultados do 8º grupo de experimentos.........................................................96 Tabela V.9 – Resultados do 9º grupo de experimentos.........................................................97 Tabela V.10 – Resultados gerais de todos os grupos de experimentos .................................99 Tabela V.11 – Informações sobre a dispersão de resultados de cada grupo de experimento ............................................................................................................................103 Tabela V.12 – Evolução do teor de hidrogênio do 1º para o 2º grupo de experimentos.......106 Tabela V.13 – Evolução do teor de hidrogênio do 2º para o 3º grupo de experimentos.......108 Tabela V.14 – Evolução do teor de hidrogênio do 3º para o 4º grupo de experimentos.......110 Tabela V.15 – Evolução do teor de hidrogênio do 4º para o 5º grupo de experimentos.......112 Tabela V.16 – Evolução do teor de hidrogênio do 5º para o 6º grupo de experimentos.......113 Tabela V.17 – Evolução do teor de hidrogênio do 6º para o 7º grupo de experimentos.......116 Tabela V.18 – Evolução do teor de hidrogênio do 7º para o 8º grupo de experimentos.......118 Tabela V.19 – Evolução do teor de hidrogênio do 8º para o 9º grupo de experimentos.......119 Tabela V.20 – Teste t para comparação de médias entre o 1º e o 3º gr upo de experimentos ..........................................................................................................................126 Tabela V.21 – Teste t para comparação de médias entre os grupos de experimentos ..........127 Tabela V.22 – Matriz de resultados da comparação das médias entre os experimentos.......129 Tabela V.23 – Teste t para comparação de médias entre os blocos de experimentos...........130 Tabela V.24 – Variáveis preditoras utilizadas na análise de regressão linear múltipla ........134 Tabela V.25 – Resultados da análise de regressão linear múltipla .......................................135 Tabela V.26 – Importância relativa de cada variável preditora e efeito no teor de hidrogênio ...............................................................................................................................136 xiii RESUMO O hidrogênio é reconhecido como sendo um elemento residual sempre prejudicial ao aço. Ele pode provocar danos severos que, dependendo das circunstâncias, podem ser descritos como: bolhas, flocos ou escamas, fragilização, fissuras e trincas internas. Existem numerosas fontes de incorporação de hidrogênio durante os processos de fusão no convertedor, tratamento da panela e lingotamento contínuo. Por outro lado, a redução do teor de hidrogênio para níveis ultrabaixos (<1,5ppm) no processo de desgaseificação ainda é um desafio. A maior parte dos fundamentos termodinâmicos e cinéticos, relacionados com o hidrogênio, é conhecida. Contudo, não existem muitos modelos capazes de prever a importância e o impacto de diversos parâmetros operacionais sobre os teores de hidrogênio no aço líquido, nas várias etapas do fluxo de produção da aciaria. Portanto, o objetivo desse trabalho é identificar e quantificar as principais fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido, atuantes no processo de produção da aciaria da ArcelorMittal Tubarão, entre as etapas de vazamento do aço líquido no convertedor e o início do tratamento da panela na estação de desgaseificação a vácuo. Os dados gerados serão utilizados para desenvolver um modelo capaz de prever o teor de hidrogênio no início do tratamento na estação de desgaseificação a vácuo. Para tanto, foram implementados um total de 69 experimentos, realizados na panela de aço, durante e após o vazamento do aço líquido proveniente do convertedor, utilizando-se as próprias corridas de rotina do fluxo operacional da aciaria. A variável resposta de cada experimento foi o teor de hidrogênio presente no aço líquido. A quantificação da importância de cada fonte de incorporação de hidrogênio foi feita através de análise de regressão linear múltipla. Os resultados obtidos se mostraram coerentes com os dados de literatura e indicaram que as principais fontes de incorporação de hidrogênio são os produtos à base de cal, os materiais recarburantes (coque e grafite) e os ferro-ligas (ferro-silício- manganês e ligas de manganês). No tocante à análise de regressão, o coeficiente de determinação (R2 ) apresentou um valor elevado, de 89%, significando que uma grande proporção da variabilidade do teor de hidrogênio contido no aço líquido foi explicada pelo modelo de regressão linear múltipla. xiv ABSTRACT Hydrogen has been recognized as being a residual element always detrimental to steel. It can cause severe damage that, depending on the circumstances, may be described as blistering, flaking, static fatigue, fissuring and internal cracking. There are numerous hydrogen pickup sources during the process of melting at converter, ladle processing and casting. On the other hand, the reduction of hydrogen content to ultra low levels (<1,5ppm) in degassing still is a challenge. Much of the thermodynamics and kinetics fundamentals related to hydrogen are known. However, no useful model exists to predict the importance and the impact of the many operational parameters influencing the steel hydrogen content, at several steps of the steelmaking production flow. The objective of this research is to identify and quantify the main hydrogen pickup sources into liquid steel, that are part of the production process at ArcelorMittal Tubarão steelmaking plant, from liquid steel tapping at converter up to start of ladle treatment at vacuum degasser. The data generated will be used to develop a model to predict the hydrogen content at beginning of treatment at vacuum degasser station. For that, 69 experiments were carried out, performed at the steel ladle, during and after the tapping of the liquid steel from the converter, using heats from the regular steelmaking production flow. The response variable of each of these experiments was the hydrogen content in the liquid steel. The importance quantification of each hydrogen pickup source was done by the use of multi linear regression analysis. The results obtained were in accordance to the technical literature and indicated that the main hydrogen pickup sources are the lime based products, recarburizer materials (coke and graphite) and ferro alloys (ferro-silicon- manganese and manganese alloys). Regarding the regression analysis, the result for the multiple square regression coefficient (R2 ) was high, of 89%, indicating that a great proportion of steel hydrogen content variability was explained by the multiple linear regression model. xv 1. Introdução Dissertação de Mestrado 1. INTRODUÇÃO Com o aperfeiçoamento das práticas de metalurgia de panela, hoje é possível produzir aços que apresentem extrema limpidez e controle apurado do teor da maioria dos elementos químicos. Contudo, a remoção e o controle, em baixos níveis, dos gases dissolvidos no aço ainda possui um grau significativo de dificuldade. O controle do teor de hidrogênio, em níveis modestos, sem a etapa de desgaseificação ou então a redução do teor de hidrogênio para valores abaixo de 1,5ppm ainda são grandes desafios para a maioria das aciarias do mundo. O hidrogênio é a causa de um grande número de defeitos e casos de falhas em diversos tipos de produtos à base de aço. Esses danos severos podem ser descritos como: bolhas; flocos ou escamas; fragilização; fissuras; trincas internas, etc. Apesar de estudado há décadas, o assunto hidrogênio ainda é um tópico de importância para a comunidade científica internacional. Existem numerosas fontes de incorporação de hidrogênio atua ntes em todas as etapas do ciclo produtivo de uma aciaria. Dentre todas as fontes de incorporação investigadas por diversos pesquisadores, destacam-se a cal (ou produtos à base de cal), os ferro- ligas, os materiais recarburantes e a umidade da atmosfera. Em termos de incorporação de hidrogênio, a etapa mais relevante do fluxo de produção de uma aciaria compreende o intervalo entre o fim de sopro no convertedor e o início de tratamento na estação de metalurgia secundária. Os fundamentos termodinâmicos e de cinética de reações, relacionados com o hidrogênio, são amplamente conhecidos. Contudo, pelo menos na literatura existente, não existem muitos modelos capazes de prever a importância e o impacto de diversos parâmetros operacionais de uma aciaria sobre os teores de hidrogênio no aço líquido, em cada etapa do fluxo de produção. Portanto, fica claro que as etapas de identificação e quantificação das principais fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido são tão ou mais importantes do que os diversos métodos de remoção do mesmo. Com esse conhecimento dominado, é possível desenvolver práticas operacionais visando a produção de aços com baixíssimos teores de hidrogênio (H<1,5ppm), assim como estabelecer modelos de previsão do teor de hidrogênio perfeitame nte ajustados à realidade operacional de cada tipo de aciaria. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 1 2. Objetivos Dissertação de Mestrado 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO G ERAL O objetivo geral desse trabalho é realizar uma caracterização, em escala industrial, do processo de incorporação de hidrogênio no aço líquido, na aciaria da ArcelorMittal Tubarão, considerando a rota de produção do convertedor até o desgaseificador a vácuo. Os resultados obtidos serão confrontados com os dados existentes na literatura. 2.2 OBJETIVOS E SPECÍFICOS Os objetivos específicos são os seguintes: Ø Identificar, através da realização de experimentos em escala industrial, as principais fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido, atuantes no fluxo de produção entre o convertedor e a estação de desgaseificação a vácuo. Ø Quantificar a influência dessas fontes de incorporação, através da metodologia de análise de regressão linear múltipla. Ø Desenvolver um modelo ajustado à realidade operacional da aciaria da ArcelorMittal Tubarão, capaz de prever o teor de hidrogênio no início do tratamento na estação de desgaseificação a vácuo. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 2 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 EFEITOS DO HIDROGÊNIO NO A ÇO A presença de gases nos aços pode influenciar o comportamento do metal de várias formas, proporcionando efeitos benéficos ou deletérios. Segundo Fuji (2003), o hidrogênio talvez seja, dentre todos os elementos residuais na fabricação do aço, o único considerado sempre prejudicial às propriedades físicas e mecânicas do produto final. Os efeitos do hidrogênio no aço, apesar de estudados e discutidos há décadas, ainda permanecem como temas de grande relevância, haja vista a grande quantidade de trabalhos técnicos que atualmente ainda abordam esse assunto. Apesar de não ser o escopo do presente trabalho, o entendimento do comportamento do hidrogênio e de sua influência sobre as propriedades do aço, passa necessariamente pelo estudo e compreensão de um complexo processo, cujas principais etapas são: • Incorporação de hidrogênio • Transporte de hidrogênio através da rede cristalina • Acumulação de hidrogênio em diversos locais na microestrutura • Tipo de dano causado Conforme mencionado por Warren (1987), o hidrogênio pode entrar e sair do aço sem que sua presença tenha sido notada, ou pode provocar danos severos que, dependendo das circunstâncias, podem ser descritos como: bolhas, flocos ou escamas, fragilização, fissuras, trincas internas, etc. Existem diversos mecanismos propostos pelos pesquisadores para explicar cada efeito deletério provocado pelo hidrogênio. Contudo, já existe a idéia bastante difundida de que nenhum dos mecanismos propostos é suficientemente abrangente para explicar todos os casos observados. Para Pressouyre (1982), está cada vez mais claro que muitos mecanismos, senão todos, podem estar ativos ao mesmo tempo, dependendo das condições experimentais utilizadas. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 3 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Em resumo, apesar da vasta literatura existente, pode-se dizer que o entendimento geral acerca dos mecanismos de interação do hidrogênio com o aço e sua relação com os diversos problemas e soluções ainda é incompleto. Portanto, o assunto “hidrogênio e seus efeitos no aço” ainda deve permanecer, por um bom tempo, como um tópico de extrema importância para a área siderúrgica. 3.1.1 FATORES DE INFLUÊNCIA NA SOLUBILIDADE DO HIDROGÊNIO NO AÇO A solubilidade do hidrogênio em metais é uma função da forma física do metal (sólido x líquido), do reticulado cristalino, do teor de elementos de liga, da temperatura e da pressão parcial de hidrogênio do meio ambiente. Ø INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA A figura 3.1, Winkler e Bakish (1971), mostra o efeito da temperatura sobre a solubilidade do hidrogênio no ferro, na pressão de 1atm. No ferro puro, a solubilidade do hidrogênio é muito baixa na temperatura ambiente, mas lentamente aumenta com o aumento da temperatura. Na temperatura de 910ºC, quando o ferro-alfa (estrutura cúbica de corpo centrado) se transforma no ferro-gama (estrutura cúbica de face centrada), a solubilidade do hidrogênio apresenta um nítido aumento. A partir desse ponto, novamente se observa um aumento na solubilidade do hidrogênio com o aumento da temperatura, até que o ferro-gama se transforma no ferro-delta (estrutura cúbica de corpo centrado), verificando-se então um notável decréscimo na solubilidade do hidrogênio. Finalmente, no ponto de fusão, ocorre um enorme aumento na solubilidade do hidrogênio quando o ferro líquido é formado. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 4 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Hidrogênio (ppm) 40 30 20 10 0 500 1000 1500 2000 Temperatura (ºC) Figura 3.1 – Solubilidade do hidrogênio no ferro, em função da temperatura, na pressão de 1atm (Winkler e Bakish, 1971) Ø INFLUÊNCIA DA PRESSÃO PARCIAL DE HIDROGÊNIO O gás hidrogênio (H2 ), tal como os outros gases diatômicos (O 2 , N2 e S2 ), se dissolve nos metais líquidos e sólidos na forma atômica, como mostrado a seguir na equação 3.1: 1 H2 (g) = [ H ] 2 (3.1) Para soluções ideais, a concentração de hidrogênio é diretamente proporcional à raiz quadrada da pressão parcial de hidrogênio em equilíbrio, sendo essa relação conhecida como lei de Sieverts, conforme pode ser visto na equação 3.2: [% H ] = k. PH 2 (3.2) Onde: [%H]: Concentração de hidrogênio (em % peso) k: Constante de equilíbrio a uma dada temperatura PH2 : Pressão parcial de hidrogênio no aço (em atm) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 5 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Ø INFLUÊNCIA DO TEOR DE ELEMENTOS DE LIGA Quando um elemento de liga é adicionado ao ferro, a solubilidade do hidrogênio pode aumentar ou diminuir, sendo esse efeito proporcional à concentração do elemento de liga. A presença do titânio, nióbio, vanádio, cromo e manganês aumentam a solubilidade. Já a presença do carbono, boro, silício e alumínio diminuem a solubilidade. Fuwa (1978), através da figura 3.2, apresenta a solubilidade do hidrogênio em função dos elementos de liga presentes no ferro, a uma temperatura de 1600ºC. Verifica-se que as curvas de solubilidade variam com o tipo de elemento de liga adicionado. 50 Solubilidade do hidrogênio (ppm) Ti 40 Zr V 30 20 P S C 10 B 0 0 2 4 6 8 10 Elemento de liga (% em peso) Figura 3.2 – Solubilidade do hidrogênio em função dos elementos de liga presentes no ferro, na temperatura de 1600ºC (Fuwa, 1978) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 6 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Ø INFLUÊNCIA DO RETÍCULO CRISTALINO De acordo com Warren (1987), o reticulado cristalino tem uma maior influência na solubilidade do hidrogênio no ferro ou aço do que os teores de elementos de liga. A tabela III.1 mostra que a estrutura cúbica de face centrada (CFC) pode conter muito mais hidrogênio a uma dada temperatura e pressão do que a estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) Tabela III.1 – Solubilidade do hidrogênio, em ligas de ferro, a uma temperatura de 400ºC e pressão de 1mm de mercúrio (Warren, 1987) Estrutura Solubilidade cristalina (cm3 de H / 100g de metal) Ferro Puro CCC 0,7 Liga com 13% de Cr CCC 0,4 Liga com 13% de Cr CFC 4,8 Liga com 18 de Cr e 10 de Ni CFC 5,8 Liga 3.1.2 INCORPORAÇÃO DE HIDROGÊNIO NO AÇO Na maioria das vezes o hidrogênio é proveniente do ambiente circundante e o mesmo pode entrar no aço durante as etapas de refino e lingotamento, durante o aquecimento de placas e outros produtos, durante os tratamentos de decapagem ácida, durante os tratamentos de eletrodeposição ou como um resultado de processos de corrosão. O hidrogênio está prontamente disponível em ambientes como a água, umidade atmosférica, hidrocarbonetos, ácidos, sulfeto de hidrogênio e em vários líquidos e gases envolvidos nos diversos processos químicos existentes. A principal fonte de incorporação de hidrogênio no aço líquido é a água contida nos refratários dos fornos e nos materiais adicionados, tais como sucata, ferro- ligas e aditivos formadores de escória, sendo a cal o mais importante deles. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 7 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado De acordo com Keyst (1979), além de sua introdução no aço proveniente da dissociação da água durante as operações de refino e lingotamento, o hidrogênio pode entrar no metal através das seguintes fontes: • Hidrogênio atômico pode ser adsorvido na superfície e subseqüentemente entrar no reticulado do metal durante os processos de decapagem e eletrodeposição ou então durante um ataque corrosivo, onde o hidrogênio está envolvido na reação catódica. • Técnicas de prevenção de corrosão, como par galvânico e proteção catódica de corrente aplicada, podem resultar na introdução de hidrogênio no aço. • Através de gases ou líquidos contendo sulfeto de hidrogênio. • Através da dissociação das moléculas de hidrogênio, quando o metal fica exposto às altas pressões de hidrogênio. • Através de processos de corrosão quando o metal fica exposto à água ou soluções aquosas. Antes que o hidrogênio possa entrar no aço, ele deve primeiro ficar adsorvido na superfície do metal como hidrogênio na forma atômica. Os átomos de hidrogênio liberados em qualquer um dos processos descritos acima se dissolverão e difundirão na estrutura cristalina do aço de acordo com as condições de solubilidade e difusibilidade de cada situação. A movimentação de hidrogênio no aço ocorre através da migração de átomos através do reticulado cristalino. Os átomos de hidrogênio, em função de seu pequeno tamanho, podem se difundir através do reticulado cristalino do aço. Moléculas de hidrogênio, devido ao seu maior tamanho, não têm essa possibilidade. 3.1.3 DANOS CAUSADOS PELO HIDROGÊNIO Interrante (1982) afirma que o hidrogênio é, em parte, um problema para o aço porque na forma atômica ele possui alta mobilidade e porque pode se difundir no reticulado cristalino e ser transportado pelo movimento das discordâncias. Além de estar em solução sólida no reticulado cristalino do ferro, o hidrogênio tende a se acumular em uma grande variedade de locais da microestrutura, como por exemplo: contornos de grão, inclusões, vazios, discordâncias, precipitados e átomos de soluto. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 8 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Ainda segundo Interrante (1982), em temperaturas próximas da ambiente, o hidrogênio pode originar os problemas de fragilização por hidrogênio e formação de bolhas. Em temperaturas elevadas pode-se verificar o ataque de hidrogênio em função da exposição do aço às altas pressões de gás hidrogênio. A fragilização pode ser tanto um problema de perda de ductilidade quanto um fenômeno de trincamento. Frequentemente o trincamento envolve um tempo de espera, requerido para a difusão e acumulação do hidrogênio nos locais críticos da estrutura cristalina. Esse aspecto é muito relevante, pois provoca falhas não esperadas nos aços. Os principais danos causados pelo hidrogênio são apresentados a seguir: Ø FRAGILIZAÇÃO POR HIDROGÊNIO Para Interrante (1982), o termo fragilização por hidrogênio é utilizado para caracterizar os mais comuns efeitos deletérios do hidrogênio nas propriedades mecânicas do aço, em temperaturas próximas da ambiente. Esses efeitos incluem a perda de ductilidade, diminuição da tenacidade à fratura, trincamento e trincamento retardado. O agente causador da fragilização é o excesso de hidrogênio presente em determinadas regiões do material, não significando, contudo, que o limite de solubilidade do elemento precise ser necessariamente ultrapassado. Os mecanismos propostos para explicar o fenômeno da fragilização por hidrogênio são numerosos e refletem as diversas maneiras através das quais são observadas as interações do hidrogênio com o aço. A diminuição da tenacidade à fratura talvez seja o efeito mais importante. Nessa condição, a presença do hidrogênio, juntamente com outros fatores, pode levar o material a romper-se com tensões aplicadas menores que a tensão de escoamento nominal. Ø FORMAÇÃO DE FLOCOS Trincas finas internas ou trincas capilares, comumente conhecidas como flocos, são o maior problema na produção de grandes peças forjadas, desde o início do século XX. A partir de 1920, ficou claro que esses defeitos estavam associados com a presença do hidrogênio no aço e agora eles são chamados de flocos de hidrogênio. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 9 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado As trincas capilares ou flocos se desenvolvem somente após um período de incubação, em temperaturas abaixo de 200ºC. Normalmente, a formação de flocos ocorre ao redor de inclusões e áreas de martensita ou segregação. Os flocos não são observados em aços que não possuem elementos de liga, mas são facilmente formados em aços ligados ao manganês, cromo e níquel. A figura 3.3, Electro-Nite (1999), mostra a influência do teor de manganês no aço sobre a ocorrência de flocos. Teor de hidrogênio do aço (ppm) 4,5 Sem flocos Com flocos 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 Teor de manganês do aço (%) Figura 3.3 – Influência do teor de manganês do aço na ocorrência de flocos (Electro-Nite, 1999) Os principais fatores que influenciam na formação dos flocos são: o teor de hidrogênio, o tamanho das peças forjadas, o teor de enxofre, a transformação da austenita, concentração de elementos de liga que causam endurecimento, a produção de aços de alta pureza e quantidade de óxidos presente no material. Aços de alta pureza, com teores muito baixos de enxofre são mais suscetíveis à ocorrência de flocos. Como o teor de enxofre é reduzido drasticamente, o aço se torna muito limpo, com um número muito limitado de impurezas. Como o hidrogênio tende a se difundir para estas impurezas, mas somente poucas delas estão disponíveis, o limite crítico da concentração de hidrogênio ao redor dessas poucas impurezas é rapidamente excedido, resultando no aparecimento de trincas. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 10 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Fruehan (1997) mostra através da figura 3.4 qual seria o valor tolerável de hidrogênio, como uma função do teor de enxofre, para se evitar o aparecimento de flocos no aço. Teor de hidrogênio (ppm) 3 Possível área 2 com flocos 1 Área sem flocos 0 0 0,01 0,02 0,03 0,04 Teor de enxo fre (%) Figura 3.4 - Diagrama esquemático, indicando o teor de hidrogênio tolerável no aço como uma função do teor de enxofre (Fruehan, 1997) Ø FORMAÇÃO DE BOLHAS E MICRO-POROSIDADES Bolhas e micro-porosidades têm como causa a quantidade excessiva de gases (N2, CO e H2) dissolvidos no aço. A figura 3.5, Huang e Liu (1996), mostra o relacionamento entre os teores de gases dissolvidos e a ocorrência de bolhas e micro-porosidades. Pode-se verificar que altos teres de hidrogênio e nitrogênio podem resultar na formação de bolhas. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 11 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 250 Teor de Nitrogênio (ppm) Região de formação de bolhas 200 %Al: 0,015 %Al: 0,020 %Al: 0,025 150 100 Região sem bolhas 50 0 0 2 4 6 8 10 Teor de Hidrogênio (ppm) Figura 3.5 – Relacionamento entre os teores dos gases hidrogênio e nitrogênio na formação de bolhas no aço (Huang e Liu, 1996) Ø TRINCAMENTO SOB A INFLUÊNCIA DO HIDROGÊNIO Para Warren (1987) esse modo de falha é meramente um caso especial de fragilização por hidrogênio localizada, onde o hidrogênio atômico é fornecido ao aço como um subproduto da reação de corrosão. É de extrema importância reduzir o teor de hidrogênio para o valor mínimo possível em aços usados em tubulações e vasos que contenham gases sulfúricos. O hidrogênio nesses gases se difundirá na estrutura do aço e irá se concentrar em determinadas regiões. Se grandes quantidades de hidrogênio já estão presentes no aço, então pequenas quantidades de hidrogênio difundido serão suficientes para induzir trincas, provocando falhas prematuras do material. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 12 3. Revisão Bibliográfica 3.2 Dissertação de Mestrado F UNDAMENTOS T ERMODINÂMICOS 3.2.1 SOLUBILIDADE DO HIDROGÊNIO NO AÇO LÍQUIDO O hidrogênio, na forma atômica, se dissolve nas ligas de ferro líquido de acordo com a equação 3.3, mostrada a seguir : 1 H 2 (g ) ⇒ H 2 (3.3) A concentração de hidrogênio presente no banho metálico é relacionada com a pressão parcial de gás, através da seguinte relação (equação 3.4): [% H ] = K H fH PH2 (3.4) Onde: [%H]: Concentração de hidrogênio (em % em peso) K H : Constante de equilíbrio a uma dada temperatura fH : Coeficiente de atividade henriana do hidrogênio PH2 : Pressão parcial de hidrogênio no aço (em atm) Segundo Fuwa (1978), que realizou uma grande compilação de dados de literatura, o valor da constante de equilíbrio (K H) é obtido pela seguinte expressão (equação 3.5): log K H = - 1900 - 1,577 T (3.5) Onde: T: Temperatura do aço (em graus Kelvin) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 13 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado O coeficiente de atividade do hidrogênio dissolvido em ligas de ferro líquido é dado pela seguinte somatória (equação 3.6): log f H = ∑e j H [% j ] (3.6) onde: eHj é o coeficiente de interação henriano de ”j” sobre o elemento hidrogênio. Do mesmo modo que nas soluções binárias existem interações entre os dois componentes, nas soluções com vários constituintes vai haver interações entre todos os componentes. Quando um elemento de liga é adicionado ao ferro, a solubilidade do hidrogênio no ferro aumenta ou diminui, com a adição do elemento de liga, embora as curvas de solubilidade variem com o tipo de elemento adicionado. A figura 3.6, Fuwa (1978), mostra o efeito do elemento de liga “j” sobre o coeficiente de atividade henriana do hidrogênio. 0,3 C Si 0,2 B P Ge 0,1 Sn log fH Al 0 Nb V -0,1 Zr -0,2 Ti -0,3 0 2 4 6 8 10 Elemento de liga “j” (% em peso) Figura 3.6 – Efeito dos elementos de liga sobre o coeficiente de atividade henriana do hidrogênio em ligas de ferro a 1600ºC (Fuwa, 1978) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 14 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Alguns dos valores recomendados para eHj , segundo Fuwa (1978), são: Mn Ni Si eHC = 0,06 ; e Cr H = -0,0022 ; eH = -0,0014 ; e H = -0,0016 ; eH = 0,023 A energia livre para a equação 3.3 é representada pela equação 3.7 mostrada a seguir: ∆G o = 7640 + 7,68T cal/mol (3.7) Portanto, no equilíbrio é obtido (equação 3.8): 3845 ln[% H ] = 1 / 2 × ln PH 2 − + 3,865 − ln f H T (3.8) Onde: [%H]: Porcentagem de hidrogênio no banho (em % em peso) PH2 : Pressão de hidrogênio no sistema (em atm) T: Temperatura do aço líquido (em graus Kelvin) f H: Coeficiente da atividade henriana do hidrogênio. 3.2.2 SOLUBILIDADE DO VAPOR D’ÁGUA NO AÇO LÍQUIDO No entanto, o caso mais comum é o estabelecimento de um equilíbrio entre o hidrogênio e o oxigênio dissolvido no aço, representado pela equação 3.9 mostrada a seguir: 2 H + O = H 2O ( g ) (3.9) Já a sua energia livre é representada pela equação 3.10 descrita abaixo: ∆G o = −48290 − 0,75T cal/mol REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG (3.10) Página 15 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Portanto, no equilíbrio é obtida a seguinte relação, expressa pela equação 3.11, apresentada a seguir: ln[% H ] = 1 / 2 × ln 1 12151 − + 0,189 − ln f H ⋅ f O 2 %O T PH 2 O (3.11) Onde: [%H]: Porcentagem de hidrogênio no banho (em % em peso) %O: Porcentagem de oxigênio no aço (em % em peso) T: Temperatura do aço líquido (em graus Kelvin) PH2 O : Pressão de vapor d’água f H: Coeficiente da atividade henriana do hidrogênio f O: Coeficiente da atividade henriana do oxigênio. A equação 3.11 demonstra que a incorporação de hidrogênio no aço líquido depende fortemente da pressão parcial de vapor d’água na atmosfera. O período de verão, onde os dias apresentam altos valores de umidade relativa do ar, propicia uma condição mais favorável à incorporação de hidrogênio. A equação 3.11 também mostra que a presença de um baixo teor de oxigênio no aço líquido conduz a uma maior incorporação de hidrogênio. A figura 3.7, Turkdogan (1996), mostra de uma forma gráfica exatamente o que foi concluído a respeito da equação 3.11, apresent ada anteriormente. A figura 3.7 mostra as concentrações de equilíbrio de hidrogênio e oxigênio no aço líquido, calculadas para diferentes pressões parciais de vapor d’água, em uma atmosfera de H2 -H2 O e pressão total de 1atm a 1600ºC. A figura 3.7 mostra que a solubilidade do hidrogênio no aço líquido diminui quando o teor de oxigênio aumenta, para uma dada pressão parcial de vapor d’água. Para aços desoxidados, o teor de hidrogênio em equilíbrio pode alcançar valores bastante elevados. Contudo, na prática isso não acontece em função de limitações cinéticas. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 16 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 100 Teor de hidrogênio (ppm) 60 40 H2 + H2O = 1 atm. 20 0,2 10 0,05 0,01 6 4 0,1 PH2 O atm. 0,003 2 1 0,001 0,004 0,01 0,04 0,1 0,2 Teor de oxigênio (% em peso) Figura 3.7 – Concentração de hidrogênio e oxigênio no aço líquido a 1600ºC em equilíbrio com as misturas H2 -H2 O indicadas (Turkdogan, 1996) 3.2.3 SOLUBILIDADE DO VAPOR D’ÁGUA NA ESCÓRIA LÍQUIDA Como explicado por diversos pesquisadores, dentre eles Jung (2006), o vapor d’água se dissolve na escória líquida na forma de íon hidróxido (OH-), para escórias básicas, ou na forma de radical hidróxido, no caso de escórias ácidas. A presença de íons hidróxido na escória de panela resultará na transferência de hidrogênio da escória para o aço líquido. Dor et al. (1988) afirma m que os desvios nos resultados de remoção de hidrogênio do aço líquido são muitas vezes devidos a uma contínua contaminação do aço líquido pela escória durante e depois do processo de desgaseificação a vácuo. Ele comenta que o teor de água na escória, após o tratamento a vácuo, pode ser 200 vezes maior do que o previsto pelo equilíbrio metal- gás-escória. Por sua vez, Brandberg e Sichen (2006) explicam que a razão para esse comportamento está no fato de que a cinética de remoção de hidrogênio no aço é muita mais rápida do que na escória. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 17 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Zuliani et al. (1981), afirmam que todos os pesquisadores concordam que o teor de hidrogênio na escória é função tanto da basicidade da escória quanto da raiz quadrada da pressão parcial de vapor d’água. Mesmo após o processo de desgaseificação a vácuo, a escória permanece como uma fonte de hidrogênio, podendo ocasionar uma incorporação de hidrogênio de até 1ppm no aço líquido. Portanto, para controlar o processo de incorporação de hidrogênio e otimizar o processo de desgaseificação a vácuo, é essencial o estudo e conhecimento da solubilidade do vapor d’água na escória liquida. Como já foi dito anteriormente, o vapor d’água se dissolve na escória líquida na forma de íon hidróxido ou radical hidróxido, dependendo da basicidade da escória. No caso de escórias básicas, o vapor d’água reage com o íon de oxigênio livre para formar o íon hidróxido, conforme mostrado na equação 3.12: H2 O(g) + O2- = 2OH- (3.12) A “capacidade de água ” (COH) de uma escória pode ser expressa pela equação 3.13: COH = (ppm de H2O) ( PH O ) 1/2 (3.13) 2 O teor em água de uma escória é proporcional à raiz quadrada da pressão parcial de vapor d’água. Para as mesmas condições de temperatura e de pressão parcial de vapor d’água, a capacidade em água de uma escória varia de forma sensível com a composição da mesma. Brandberg e Sichen (2006), através de uma compilação de dados de literatura, mostram que o aumento da basicidade da escória acarreta um aumento da solubilidade do vapor d’água. Por outro lado, a temperatura teria pouco efeito sobre a solubilidade do vapor d’água. A figura 3.8, Gatellier e Gaye (1986), mostra os valores de capacidade de água de escórias do sistema CaO-Al2 O3-SiO 2 a 1550ºC. Do exame desta figura, obtém-se que a solubilidade do vapor d’água na escória cresce com o aumento no teor de CaO da mesma. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 18 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado SiO 2 20 80 40 60 500 600 800 60 40 1000 80 20 1300 1500 2000 2500 CaO 20 40 60 80 Al2 O3 Figura 3.8 – Capacidade de água de escórias do sistema CaO-Al2 O3-SiO 2 a 1550ºC (Gatellier e Gaye, 1986) 3.2.4 TRANSFERÊNCIA DE HIDROGÊNIO: INTERAÇÃO M ETAL / ESCÓRIA Durante os processos de fusão e refino dos aços, o hidrogênio pode ser introduzido no banho metálico através do vapor d’água que se encontra dissolvido, na forma de íons hidróxidos, na escória. As escórias ácidas apresentam uma menor solubilidade para a água do que as escórias básicas. Contudo, as escórias ácidas não são utilizadas no s processos de refino primário e secundário dos aços. As escórias básicas atuam como locais de armazenamento de vapor d’água e quando esse tipo de escória entra em contato com o aço líquido acaba ocorrendo a transferência de hidrogênio para o banho metálico. Nessa situação, o teor de óxido de ferro da escória e o teor de oxigênio do aço exercem grande influência na concentração de hidrogênio em equilíbrio no aço. A figura 3.9, Lingras (1982), mostra em uma representação esquemática, como é o processo de incorporação de hidrogênio no aço líquido através de uma camada de escória básica. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 19 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado PH O Atmosfera 2 H2O Escória Básica + (O--) 2(OH-) (FeO) -- (O ) Metal líquido H+O O + Fe Figura 3.9 – Representação esquemática da dissolução do hidrogênio no metal líquido através de uma camada de escória básica (Lingras, 1982) O vapor d’água presente na atmosfera se dissolve na escória básica através de reação, na interface escória-ar, com os íons de oxigênio para formar íons hidróxidos. Quanto maior a basicidade da escória, maior será a disponibilidade desses íons de oxigênio e, conseqüentemente, maior será a solubilidade do vapor d’água na escória. A equação 3.14 descreve a dissolução do vapor d’água na escória básica, conforme apresentado anteriormente: H 2 O( g ) + (O −− ) ⇒ 2(OH − ) (3.14) Os íons hidróxidos formados se movimentam em direção à interface metal líquido-escória, ocorrendo nessa região a dissociação dos mesmos para a formação de hidrogênio, oxigênio e íons oxigênio, conforme pode ser visto na equação 3.15: 2( OH − ) ⇒ 2 H + O + (O −− ) (3.15) O hidrogênio e o oxigênio são transferidos para o banho metálico, enquanto os íons de oxigênio permanecem na escória para reagir com mais vapor d’água, reiniciando o ciclo. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 20 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Lingras (1982) explica que desse modo a escória permanece saturada com vapor d’água enquanto que os íons hidróxidos atuam como um veículo para a transferência de hidrogênio e oxigênio para o banho metálico a partir do vapor d’água presente na atmosfera. O processo completo de transferência de hidrogênio, englobando as duas equações apresentadas anteriormente, pode ser descrito através da equação 3.16: ( H 2O ) g ⇒ 2 H + O (3.16) A relação de equilíbrio para a equação acima pode ser descrita pela equação 3.17: k1 ⋅ PH 2O [H] = (% O) 1/ 2 (3.17) Onde: [H]: Concentração de hidrogênio no aço (em ppm) PH2 O : Pressão de vapor na atmosfera (em atm) k1 : Constante de equilíbrio (%O): Concentração de oxigênio no aço (em % em peso) A concentração de oxigênio no metal líquido pode ser relacionada à concentração do óxido de ferro na escória, antes da etapa de desoxidação do aço líquido, através da equação 3.18: O + Fel ⇒ ( FeO) (3.18) As equações 3.16 e 3.18 podem ser combinadas para descrever a transferência de hidrogênio para o metal líquido, o que pode ser observado através da equação 3.19: H 2 O ( g ) + Fe( l) ⇒ 2 H + ( FeO ) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG (3.19) Página 21 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado A condição de equilíbrio é expressa pela equação 3.20, mostrada a seguir: PH O [H ] = k 2 ⋅ 2 ( FeO ) 1/ 2 (3.20) Onde: [H]: Concentração de hidrogênio no aço (em ppm) PH2 O : Pressão de vapor na atmosfera (em atm) k2 : Constante de equilíbrio (FeO): Concentração de FeO na escória (em % em peso) A figura 3.10, Lingras (1982), é a representação gráfica da equação 3.20, para condições de refino anteriores à etapa de desoxidação do aço líquido. A curva AB representa as condições de um dia quente e úmido e a curva CD de um dia frio e seco. Pela análise da figura 3.10 fica claro que quanto menor o teor de FeO da escória maior será a concentração de hidrogênio em equilíbrio no metal líquido. Também fica evidente o efeito significativo da pressão parcial de Hidrogênio no metal líquido (ppm) vapor d’água na concentração de equilíbrio do hidrogênio. P [H ] = 29,43 H 2O ( FeO) 20 1 2 B 1600ºC 2912ºF 15 10 30ºC, 60% U.R 5 A 2ºC, 10% U.R D C 5,0 10,0 15,0 20,0 FeO na escória (%) Figura 3.10 – Efeitos da pressão parcial de vapor d’água da atmosfera e do teor de óxido de ferro da escória sobre a concentração de hidrogênio no metal líquido, antes da desoxidação (Lingras, 1982) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 22 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Por sua vez, a figura 3.11, Lingras (1982), é a representação gráfica da equação 3.17, onde é mostrada a influência da concentração de oxigênio do banho metálico e da pressão parcial de vapor d’água da atmosfera sobre a concentração de hidrogênio em equilíbrio no metal líquido. As condições de um dia frio e seco são representadas pela reta PQ e as condições de um dia quente e úmido pela reta RS. Nessa figura também fica evidente a influência da concentração de oxigênio do banho metálico, pois mesmo em um dia frio e seco a desoxidação do metal líquido para baixos níveis de oxigênio pode resultar em teores indesejáveis de hidrogênio no Hidrogênio no metal líquido (ppm) metal líquido. 30 P [H ] = 14,12 H2 O [ %O ] 1600ºC 2912ºF 20 1 2 [O] = 0,086% S Q [O] = 0,0014% [O] = 0,001% R [O] = 0,230% [O] = 0,010% 10 P 0,001 30ºC, 60% U.R 2ºC, 10% U.R 0,010 0,100 1,000 Pressão de vapor d’água (atm) Figura 3.11 – Efeitos da concentração de oxigênio no metal líquido e da pressão parcial de vapor d’água da atmosfera sobre a concentração de hidrogênio em equilíbrio no metal líquido (Lingras, 1982) 3.2.5 TRANSFERÊNCIA DE HIDROGÊNIO: INTERAÇÃO M ETAL / ATMOSFERA O hidrogênio pode ser transferido para o metal líquido através do contato direto do vapor d’água com o banho metálico durante algumas etapas do processo de fabricação de aço, como por exemplo, o vazamento do aço líquido em condições de alta umidade atmosférica. A figura 3.12, Lingras (1982), mostra em uma representação esquemática, como é o processo de incorporação de hidrogênio no aço líquido através da exposição do mesmo a uma REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 23 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado atmosfera rica em umidade. PH O Atmosfera 2 P' H 2O + PH 2 Interface entre a Atmosfera e o Metal Líquido H2 O H2 + Metal líquido O H Figura 3.12 – Representação esquemática da transferência de hidrogênio para o metal líquido devido à direta exposição a uma atmosfera úmida (Lingras, 1982) A pressão parcial de vapor d’água na atmosfera ( PH 2O ) sofre um reajuste na região de interface entre a atmosfera e o metal líquido , devido à alta temperatura no local, passando a ter o valor de P' H 2 O . O vapor d’água na superfície do metal líquido se dissocia para formar hidrogênio gasoso e oxigênio dissolvido no metal líquido, conforme descrito pela equação 3.21: H 2 O( g ) = H 2 ( g) + O (3.21) A condição de equilíbrio da equação anterior é expressa pela equação 3.22: k 3 = PH 2 ⋅ (% O) P 'H 2 O (3.22) Onde: PH2 : Pressão de hidrogênio na interface (em atm) (%O): Concentração de oxigênio (em % em peso) P' H 2 O : Concentração de vapor d’água na interface (em atm) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 24 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado A equação 3.23 descreve a maneira pela qual o hidrogênio gasoso se dissolve no metal líquido: 1 ⋅H2 ⇒ H ( g) 2 (3.23) Sendo que a condição de equilíbrio é mostrada na equação 3.24: K4 = ( H ) / ( PH2 )1/2 (3.24) Onde: H: Hidrogênio dissolvido a 1% no aço PH2 : Pressão de hidrogênio no sistema (em atm) As equações 3.21 e 3.23 podem ser combinadas para descrever a transferência de hidrogênio para o metal líquido, o que pode ser observado através da equação 3.25: k 3 ⋅ PH 2O H = k 4 ⋅ k 3 + %O 1/2 (3.25) A figura 3.13, Lingras (1982), é a representação gráfica da equação 3.25, que mostra a influência da pressão parcial de vapor d’água da atmosfera e da concentração de oxigênio do metal líquido sobre a concentração em equilíbrio do hidrogênio no metal líquido, quando o mesmo é exposto diretamente à atmosfera. Conforme mostra a figura 3.13, em dias quentes e úmidos, quanto menor a concentração de oxigênio presente no banho metálico maior será a suscetibilidade do aço líquido para incorporar hidrogênio proveniente da atmosfera. O efeito da concentração de oxigênio passa a ser menor quando se trata de dias frios e secos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 25 Hidrogênio no metal líquido (ppm) 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 30 20 1 , 0 + 3 , 63 [ % O ] [H ] = 26,89 PH 2 O 1 2 1600ºC 2912ºF [O] = 0, 001% [O] = 0,230% 10 2ºC, 10% U.R 0,001 0,010 30ºC, 60% U.R 0,100 1,000 Pressão de vapor d’água (atm) Figura 3.13 – Influência da concentração de oxigênio do metal líquido e da pressão parcial de vapor d’água na atmosfera sobre a concentração de equilíbrio do hidrogênio no metal líquido exposto diretamente às atmosferas úmidas (Lingras, 1982) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 26 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 3.3 DETERMINAÇÃO DO T EOR DE HIDROGÊNIO CONTIDO NO AÇO LÍQUIDO A maioria dos elementos químicos contidos no aço líquido pode ser analisada, nos laboratórios das aciarias, dentro de um intervalo de poucos minutos, contados a partir do momento em que a amostra de aço é retirada do banho metálico. Uma das exceções é o hidrogênio. Os procedimentos de retirada, armazenamento e preparação de uma amostra de aço líquido, para a posterior determinação do seu teor em hidrogênio, precisam ser conduzidos com extremo cuidado, uma vez que os mesmos podem, facilmente, provocar a perda de parte do hidrogênio que estava originalmente contido na amostra, imediatamente após a mesma ter sido retirada do seio do aço líquido. Portanto, o critério mais importante na escolha do melhor método de amostragem é a garantia de máxima retenção de hidrogênio na amostra de aço. Apesar dos efeitos nocivos do hidrogênio sobre o aço serem conhecidos há mais de 70 anos, somente a partir de 1970 é que se passou a dar a devida importância aos métodos de determinação do teor de hidrogênio contido no aço líquido. Os métodos convencionais de determinação do teor de hidrogênio foram utilizados por muitos anos, mas não conseguiram se consolidar como uma efetiva ferramenta de aná lise e controle de processo. Esses métodos apresentavam complexos procedimentos de amostragem e análise química, baixos índices de funcionabilidade e reprodutibilidade de resultados, assim como um tempo excessivo entre o momento de retirada da amostra de aço líquido e o término do procedimento de análise química. Durante os últimos quinze anos, diversos esforços de pesquisa e desenvolvimento foram feitos no sentido de se desenvolver um método de determinação do teor de hidrogênio contido no aço líquido, que fosse, ao mesmo tempo, extremamente rápido e confiável. O sistema Hydris, desenvolvido pela empresa Electro-Nite, apresenta essas características, o que o qualificou como o método de determinação do teor de hidrogênio mais utilizado atualmente em todo o mundo. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 27 3. Revisão Bibliográfica 3.3.1 MÉTODOS Dissertação de Mestrado CONVENCIONAIS DE DETERMINAÇÃO DO T EOR DE HIDROGÊNIO Os métodos convencionais de amostragem, para a posterior determinação do teor de hidrogênio contido no aço líquido, podem ser classificados nas duas seguintes categorias: Ø MÉTODO DE RESFRIAMENTO RÁPIDO O método de resfriamento rápido é um método no qual a amostra de aço líquido é resfriada da forma mais rápida possível, primeiramente em água e depois em nitrogênio líquido ou gelo seco, com o objetivo de se evitar a perda do hidrogênio contido na mesma. Normalmente, são utilizadas amostras com um formato de pino, apresentando um diâmetro de 6 a 8mm. Essas amostras são retiradas do aço líquido através da utilização de tubos de quartzo, evacuados ou não. Todas essas amostras precisam ser retiradas por operadores especializados, uma vez que os resultados de aná lise química são fortemente dependentes da qualidade e diâmetro da amostra, e dos procedimentos de amostragem e resfriamento. Mesmo com todas as precauções possíveis, não se consegue evitar as perdas de hidrogênio da amostra, assim como a incorporação de hidrogênio proveniente de impurezas do amostrador, umidade atmosférica e da água utilizada no resfriamento da amostra. A amostra tem que ser transportada para o laboratório dentro de um recipiente contendo nitrogênio líquido ou gelo seco. No laboratório, ela passa pelos processos de limpeza, lavagem, secagem e pesagem. Posteriormente, a amostra precisa ser posicionada em um instrumento de análise química. A extração do hidrogênio contido na amostra é conduzida sob vácuo ou em um gás condutor, durante o aquecimento até uma temperatura de 1100ºC ou por um processo de fusão. No método de análise química através do processo de fusão, o teor de hidrogênio é obtido através da fusão da amostra em um cadinho de grafite, a uma temperatura de 1900ºC. O nitrogênio, utilizado como gás condutor, transporta o hidrogênio liberado da amostra para uma célula de condutividade térmica, onde o resultado é amplificado, integralizado e apresentado em parte por milhão (ppm) de hidrogênio. Este método requer sempre um REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 28 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado cadinho novo e pré-desgaseificado para cada amostra. No método de análise química através do aquecimento da amostra, o teor de hidrogênio é obtido através do processo de difusão no estado sólido a uma temperatura de 1100ºC. Uma vez liberado, a determinação do teor de hidrogênio da amostra é feita do mesmo modo que no processo de fusão. Ø MÉTODO DO MOLDE SELADO OU SISTEMA “ESK” O amostrador ESK apresenta os seguintes componentes: - Um tubo evacuado de aço inoxidável austenítico, com uma pré-câmara para a aspiração do aço líquido. - Uma câmara interna para a amostra de aço. - Uma câmara de difusão selada a vácuo. Quando o amostrador ESK é inserido no banho metálico, a pré-câmara é preenchida com aproximadamente 25 gramas de aço líquido. Então, 5 gramas de aço são aspiradas, através de uma abertura, para uma câmara interna, formando a amostra de aço. Para garantir o completo preenchimento desta câmara, existem pequenos orifícios de modo que os gases liberados durante o processo de amostragem possam ser coletados na câmara de difusão. Todo o hidrogênio difusível liberado pela amostra, durante a solidificação e resfriamento, é coletado, sem perda, na câmara de difusão selada a vácuo. Alguns tipos de aços apresentam apenas hidrogênio difusível, ou seja, todo o hidrogênio contido na amostra de aço da câmara interna se difunde para a câmara de difusão. Porém, outros tipos de aços também apresentam um hidrogênio residual, contido na amostra da câmara interna. Segundo Martin e Mercaldo (1982), esse hidrogênio residual é dependente do teor de ferro do aço líquido, da influência dos elementos de liga e da temperatura do aço líquido no momento da amostragem. Portanto, o teor total de hidrogênio de todos os tipos de aços pode ser determinado através da análise, em duas etapas, do teor de hidrogênio difusível e residual. Em primeiro lugar, analisa-se o teor de hidrogênio contido na câmara de difusão. Para tanto, utiliza-se um analisador específico, onde o ar ambiente é utilizado como gás condutor e o teor REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 29 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado de hidrogênio é determinado através do uso de uma célula de condutividade térmica. Para a análise do teor de hidrogênio residual, a amostra de aço da câmara interna é aquecida e analisada em um instrumento de extração a quente. O nitrogênio é utilizado como gás condutor e o teor de hidrogênio residual também é determinado através do uso de uma célula de condutividade térmica. Ø MÉTODO DE RESFRIAMENTO RÁPIDO X MÉTODO “ESK” O método de resfriamento rápido permite a análise química somente do hidrogênio não difundido. Portanto, uma certa imprecisão é inevitável devido ao manuseio durante os procedimentos de amostragem e resfriamento, uma vez que o hidrogênio difundido escapa facilmente do tubo de quartzo. A maioria dos erros de análise química com o método de resfriamento rápido é devida ao lento resfriamento da amostra. Essa baixa taxa de resfriamento conduz a resultados muito baixos de hidrogênio, especialmente quando o aço líquido apresenta elevados teores de hidrogênio. A figura 3.14, Pocklington e Cheyne (1984), mostra o efeito da taxa de resfriamento sobre a retenção de hidrogênio em uma amostra de 10mm de diâmetro. 100 Taxa de resfriamento, K s -1 1000 0,98 500 0,96 250 0,94 C* 0,92 100 0,90 0,88 50 0,86 25 0,84 0,82 0,80 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Tempo (s) Figura 3.14 – Efeito da taxa de resfriamento na perda de hidrogênio, expressada em termos da concentração residual de hidrogênio, C* (Pocklington e Cheyne, 1984) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 30 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Os resultados são apresentados em termos da concentração residual de hidrogênio, C*, expressa através da equação 3.26, apresentada a seguir: C* = Ct / Ci (3.26) Onde: Ct : Concentração de hidrogênio no tempo t Ci: Concentração de hidrogênio inicial Para se obter uma retenção de hidrogênio maior do que 90% deve-se trabalhar com uma taxa de resfriamento de, no mínimo, 100K/s. Para baixos teores de hidrogênio no aço líquido, a incorporação de hidrogênio proveniente da água de resfriamento pode resultar em resultados de análise química bastante elevados. Ootsuka et al. (1996) afirma que o método ESK apresenta uma maior precisão de análise química, uma vez que o hidrogênio difundido é mantido dentro da câmara de difusão, permitindo a sua análise química livre do fator de manuseio. Alem disso, no método ESK não há a necessidade de qualquer tipo de preparação da amostra para a posterior análise química. Apesar da vantagem do método ESK em relação ao método de resfriamento rápido, ainda assim ambos os métodos apresentam importantes limitações, uma vez que exigem técnicas especiais de amostragem, só possíveis de serem adotados com a participação de operadores especializados, que por si só introduzem erros na etapa de análise química. Mesmo com todos os cuidados adotados nos procedimentos de amostragem, muitas vezes torna-se necessária a retirada de uma segunda amostra. Além disso, por exigir procedimentos especiais de amostragem, transporte da amostra e análise química, os métodos convencionais acabam levando a uma excessiva demora na obtenção do resultado de análise química para o teor de hidrogênio. Em muitas usinas, o resultado da análise química não chega antes do término do lingotamento da corrida. Por todas essas razões apresentadas anteriormente, os métodos convencionais não conseguiram transformar o teor de hidrogênio contido no aço líquido em uma efetiva ferramenta de controle de processo, cujo objetivo seria o de se evitar os problemas REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 31 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado relacionados à presença do hidrogênio durante o lingotamento contínuo e posterior processamento do aço. 3.3.2 SISTEMA HYDRIS DE DETERMINAÇÃO DO T EOR DE HIDROGÊNIO Por muitos anos a indústria siderúrgica pesquisou um método prático para analisar, com precisão, o teor de hidrogênio contido no aço líquido. Os métodos baseados na retirada de uma amostra de aço demandam muito tempo e requerem operadores habilidosos. Mesmo com grande cuidado, pode-se perder ou incorporar hidrogênio durante os procedimentos de amostragem, afetando a confiabilidade dos resultados de análise química. Algumas vezes, defeitos na amostra impossibilitam a análise química, tornando necessária a repetição do procedimento de amostragem. O sistema Hydris, desenvolvido pela empresa Electro-Nite, elimina todos esses obstáculos. Trata-se de um sistema de medição rápida e direta, que determina o teor de hidrogênio contido no aço líquido, através da imersão de um sensor no interior do banho metálico. Com esse sistema não há a necessidade de retirada de amostra sólida, sendo o resultado obtido no próprio “chão de fábrica”, dentro de um intervalo de 40 segundos a um minuto. Hoje, o sistema Hydris é o padrão mundial para controle de hidrogênio no aço líquido, com mais de 350 unidades operando. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 32 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Ø CONFIGURAÇÃO DO SISTEMA HYDRIS A figura 3.15, Electro-Nite (2005), apresenta a configuração do sistema Hydris. Unidade Pneumática Sensor para Distribuidor Lança Sensor para Panela Multi-Lab Figura 3.15 – Configuração do sistema Hydris (Electro-Nite, 2005) Os principais componentes do sistema Hydris são os seguintes: - Sensor de imersão para a condução do gás nitrogênio para dentro e fora do aço líquido O sensor de imersão consiste, basicamente, de um pequeno tubo para o borbulhamento de nitrogênio, de um sino cerâmico poroso, de um segundo tubo de condução do gás de volta para a lança e de um conector, conforme mostrado em detalhes na figura 3.16, Frigm et al. (1991). REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 33 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado escória escória AÇO AÇO Gás N2 Gás H2 para o analisador Tubo refratário não-splash Tubo refratário não-splash Figura 03 – Gás N2 Gás 2 H2 - N 2 sendo enviado para o analisador Gás H2 - N2 sendo enviado para o analisador Domo (bolhas H2 - N2 ) Sino cerâmico oGás N Gás N2 Figura 3.16 – Detalhes do sensor de imersão do sistema Hydris (Frigm et al., 1990) O conector foi concebido para prover uma conexão entre o sensor e a lança de imersão, que seja firme, isenta de vazamento e de fácil operação. Capas protetoras, de papelão e aço, são utilizadas para a penetração do sensor na escória. Uma luva refratária tem a função de garantir o isolamento térmico do sensor durante a penetração do mesmo no aço líquido. O sensor de imersão deve ser inserido no banho metálico da forma mais vertical possível, de modo que se tenha o menor tempo de resposta para a medição. A figura 3.17, Frigm et al. (1991), apresenta uma foto do sensor de imersão. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 34 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Figura 3.17 – Foto do sensor de imersão Hydris (Frigm et al., 1990) - Lança para a imersão do sensor no aço líquido A lança de imersão consiste de tubos de metal providos com um bloco de contato para garantir a conexão da lança com o sensor. No interior da lança, dois tubos de cobre conduzem o gás de medição. A imersão da lança no aço líquido pode ser feita de forma automática ou manual. - Cabo pneumático O cabo pneumático consiste de dutos plásticos dentro de um tubo flexível de proteção. O cabo pneumático se situa entre a lança de imersão e a unidade pneumática, podendo ser facilmente conectado e desconectado. Os acoplamentos são especialmente desenhados para evitar vazamentos. No intuito de se obter o menor tempo de resposta possível, o comprimento total da lança de imersão, mais o cabo pneumático, deve ser inferior a 15 metros. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 35 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado - Unidade pneumática para manuseio e análise do gás A unidade pneumática consiste de uma bomba, de um detector de condutividade térmica, de um filtro, de sensores de pressão e de conectores para o fornecimento de nitrogênio. A unidade pneumática deve ser instalada próxima do local de medição, para se evitar longos circuitos de gás e demorados tempos de resposta. A unidade pneumática é encerrada em uma caixa a prova de poeira e fornecida com luzes de controle, um botão de partida e uma buzina. O nitrogênio, utilizado como gás condutor, pode ser fornecido diretamente do setor de utilidades da usina ou na forma engarrafada. Não se exige nitrogênio de alta pureza. A unidade pneumática é conectada à unidade de micro processamento através de cabos de interface múltipla. - Unidade microprocessadora (Multi-Lab) O microprocessador controla a bomba, as válvulas, a buzina e as luzes de controle. Além disso, ele avalia e mede continuamente os sinais do detector de condutividade térmica e dos sensores de pressão. O microprocessador converte os sinais do detector de condutividade térmica em teor de hidrogênio, medido em ppm. A evolução do procedimento de medição pode ser acompanhada através de uma tela, sendo que o processo de medição termina assim que se obtenha uma estabilização na curva de medição. A unidade microprocessadora também faz uma calibração automática do detector de condutividade térmica, no inicio de cada ciclo de medição. Ø PRINCÍPIO DE MEDIÇÃO DO SISTEMA HYDRIS A figura 3.18, Electro-Nite (2005), apresenta o princípio de medição do teor de hidrogênio contido no aço líquido, através da utilização do sistema Hydris. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 36 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Bomba Válvula Filtro Suprimento de Nitrogênio Figura 3.18 – Princípio de medição do sistema Hydris, mostrando o fluxo de gás através da unidade pneumática e do sensor de imersão (Electro-Nite, 2005) Quando o sensor Hydris é imerso no banho metálico, no início do processo de medição, o nitrogênio é soprado para dentro do aço líquido, através do tubo de borbulhamento, e coletado pelo sino cerâmico poroso, que permite a passagem de gás, mas não do aço líquido. Nesse momento, não ocorre a recirculação do nitrogênio pela bomba da unidade pneumática. Esse procedimento tem a função de limpar o sistema de qualquer tipo de impureza. Em seguida, o fornecimento de nitrogênio é interrompido e o gás nitrogênio, já presente no sistema, é recirculado pela bomba. O hidrogênio, que se encontra em solução no aço líquido, se difunde para as bolhas de nitrogênio e é capturado pelo sino cerâmico poroso. Essa mistura de nitrogênio e hidrogênio é recirculada pelo sistema com o objetivo de se estabelecer um equilíbrio entre a pressão parcial de hidrogênio no aço líquido e na mistura de gases que está sendo recirculada. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 37 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado A pressão parcial de hidrogênio na mistura de gases é determinada, de forma on-line, através de um detector de condutividade térmica. A mistura de gases é recirculada através do aço líquido até que não mais ocorra a incorporação de hidrogênio proveniente do banho metálico e uma estável pressão parcial de hidrogênio seja medida. Nesse momento, o processo de medição é encerrado e o teor de hidrogênio é calculado e apresentado, com valores em ppm, na tela da unidade microprocessadora. O tempo total de medição varia entre 40 e 60 segundos, dependendo do teor de hidrogênio contido no aço líquido. Quanto maior o teor de hidrogênio do aço líquido, maior será a quantidade de hidrogênio a se difundir para as bolhas de nitrogênio, provocando assim um maior tempo de medição. A figura 3.19, Vergauwens (1996), apresenta uma curva típica de medição. Figura 3.19 – Curva típica do sistema Hydris, para um aço não-desgaseificado (Vergauwens, 1996) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 38 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 3.3.3 MÉTODO DE ANÁLISE QUÍMICA DO SISTEMA HYDRIS O sistema Hydris mede o teor de hidrogênio contido no aço líquido, através de um detector de condutividade térmica. Como a diferença, em termos de condutividade térmica, entre o hidrogênio e o nitrogênio é muito significativa, até mesmo pequenos teores de hidrogênio podem ser facilmente detectados. A figura 3.20, Electro-Nite (2005), mostra a condutividade térmica de diferentes gases. 2 mW/ cm°K (1.816) Hidrogênio (1.473) Hélio (0.518) Neônio (0.258) Oxigênio 1 Ar (0.254) (0.252) Nitrogênio Monóxido de Carbono (0.242) (0.173) Dióxido de Carbono Argônio (0.157) 0 Figura 3.20 – Condutividade térmica dos gases (Electro-Nite, 2005) O detector de condutividade térmica mede a pressão parcial de hidrogênio na mistura de gases que circula pelo sistema. Como a medição é feita de modo contínuo, o equilíbrio é atingido quando não mais houver mudança na pressão parcial de hidrogênio medida. Nesse momento, o microprocessador converte essa pressão parcial de equilíbrio em teor de hidrogênio no aço líquido, através da utilização da lei de Sieverts (equação 3.27): REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 39 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado [H ] = K H fH (3.27) PH2 Onde: [H]: Concentração de hidrogênio (em ppm) K H : Constante de equilíbrio a uma dada temperatura fH : Coeficiente de atividade do hidrogênio, que é afetado pelos elementos de liga do aço PH2 : Pressão parcial de hidrogênio no aço (em mbar) Os valores recomendados de K H e f H foram extraídos do trabalho de FUWA (1978). A constante de equilíbrio pode ser calculada através da equação 3.28: log K H = - 1900 + 0,9201 T (3.28) Onde: T : Temperatura do aço (em graus Kelvin) 3.3.4 ACURÁCIA DO SISTEMA HYDRIS DE MEDIÇÃO Ao longo do tempo, diversos experimentos foram realizados no intuito de se avaliar a acurácia do sistema Hydris de medição. Todos eles concluíram que os resultados apresentados pelo sistema Hydris são altamente reprodutíveis, consistentes com os dados termodinâmicos extraídos da literatura, e que apresentam uma boa correlação com as análises químicas feitas em laboratório. Stone et al.(1991), utilizando um forno de indução de 180kg e aços com diversas composições químicas, realizaram dois tipos de experimentos com o objetivo de se avaliar o grau de precisão da medição do teor de hidrogênio com o sistema Hydris: REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 40 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Ø Experimento 1: Aço líquido saturado com H2 a uma pressão conhecida Neste experimento, utilizando-se um forno de indução de 180 kg, o aço líquido foi saturado com H2, através da injeção de uma mistura dos gases H2 e N2 a uma composição química conhecida. O objetivo era avaliar se a pressão parcial de hidrogênio, medida pelo sistema Hydris, estaria próxima da pressão parcial de hidrogênio utilizada na saturação do aço líquido. Se tal fato ocorresse, então a medição com o sistema Hydris seria considerada precisa, dentro dos limites de reprodutividade de resultados. Foram utilizados quatro tipos de mistura de gases, de composição química certificada (com 6, 9, 12 e 15% de H2 em peso). Essa mistura de gases foi soprada sobre a superfície do aço líquido, a uma vazão de 100Nl/min. O teor inicial de hidrogênio do aço líquido estava próximo do teor da mistura de gases contendo 6% de H2. Mesmo assim, essa mistura foi soprada sobre a superfície do aço líquido por 30 minutos. Logo em seguida, a mistura contendo 9% de H2 foi utilizada durante 50 minutos. Posteriormente, a cada intervalo de 50 minutos, foram utilizadas as misturas com 12 e 15% de H2. Ao término de cada período de sopro de 50 minutos, foram feitas medições da temperatura e do teor de hidrogênio do aço líquido com o sistema Hydris. Do mesmo modo, ao fim de cada período de 50 minutos, calculou-se o teor de hidrogênio em equilíbrio no aço líquido, considerando-se o valor da temperatura medida e o teor de H2 da mistura de gases utilizada. A figura 3.21, Stone et al. (1991), mostra os resultados alcançados nesse experimento. A linha sólida horizontal mostra o teor de hidrogênio em equilíbrio no aço líquido. Pode ser observado que as medições com o sistema Hydris apresentaram resultados em total concordância com os valores de equilíbrio, calculados ao término de cada período de sopro. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 41 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado H(ppm), medido pelo Hydris 10 9 15% H2 8 Range esperado de equilíbrio 7 12% H2 Teor de H em equilíbrio na temperatura indicada e para cada %H 2 no gás soprado 6 5 9% H2 Mudança na composição do gás 4 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Tempo de sopro de gás (minutos) Figura 3.21 – Comparação entre o teor de hidrogênio medido pelo sistema Hydris e o valor de equilíbrio, para cada composição química de gás soprado (Stone et al., 1991) Ø Experimento 2: Medição de hidrogênio com gás portador contendo N2 e N 2 + H2 Este experimento foi realizado em um forno de indução de 180kg e também no distribuidor da máquina de lingotamento contínuo nº2, com 50t de capacidade, situado na usina de USS Gary, nos Estados Unidos. Utilizando-se o sistema Hydris, dois tipos diferentes de gás condutor foram usados para medir o teor de hidrogênio contido no aço líquido: O primeiro tipo de gás continha 100% de N2, ou seja, não apresentava hidrogênio em sua composição química. O segundo tipo de gás apresentava 15% de H2 e 85% de N2, o que equivale a um teor de hidrogênio em equilíbrio com o aço líquido de 9,2ppm. O objetivo era verificar se medições consecutivas com o sistema Hydris, utilizando-se esses dois tipos de gases, iriam apresentar valores próximos. A medição com o sistema Hydris seria considerada precisa em caso de concordância de resultados. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 42 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado A medição de hidrogênio, utilizando-se 100% de N2 como gás condutor, é caracterizada por um processo de difusão contínua de hidrogênio proveniente do aço líquido para as bolhas do gás condutor, até que o equilíbrio seja atingido entre o aço líquido e o gás condutor. Já o gás condutor contendo 15% de H2 e 85% de N2 apresenta um excesso de hidrogênio quando comparado com o aço líquido. Durante a sua circulação através do banho metálico, o mesmo perde parte de seu teor de hidrogênio para o aço líquido, até que o teor de hidrogênio presente no gás condutor esteja em equilíbrio com o teor de hidrogênio dissolvido no aço líquido. O teor de hidrogênio de equilíbrio é independente do teor de hidrogênio presente inicialmente no gás condutor. A figura 3.22, Stone et al. (1991), apresenta os resultados obtidos nesse experimento, onde as medições Hydris feitas com gás portador contendo 15% de H2 e 85% de N2 são correlacionadas com outras medições que utilizaram 100% de N2. A figura 3.22 mostra resultados obtidos no forno de indução e no distribuidor da usina de USS Gary. As medições consecutivas com o sistema Hydris, utilizando-se esses dois tipos de gases, mostraram idênticos teores de hidrogênio em equilíbrio, ratificando, mais uma vez, a precisão do sistema Hydris. H(ppm), gás portador com 15% de H 2 10 Forno de 180 kg 8 Distribuidor 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 H(ppm) com gás portador com 100% de N2 Figura 3.22 – Comparação da medição Hydris, utilizando gás portador com 100% de N2 e com 15% de H2 e 85% de N2 (Stone et al., 1991) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 43 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Vergauwens (1996) mostra a excelente repetibilidade do sistema Hydris de medição, mesmo para diferentes níveis de hidrogênio, conforme pode ser visto na figura 3.23. 8 7 H (ppm) 6 5 4 Panela 1 Panela 2 Panela 3 Panela 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Medições com o sistema Hydris Figura 3.23 – Repetibilidade do sistema Hydris para diferentes níveis de teor de hidrogênio (Vergauwens, 1996) Frigm et al. (1990), utilizando um forno de indução de 180kg, compararam a repetibilidade do sistema Hydris com a do método DWS de determinação do teor de hidrogênio contido no aço líquido. O método DWS (“dual-wall sampling”) é um método similar ao sistema ESK, que foi descrito anteriormente. Diversas medições duplicadas foram feitas e os resultados podem ser vistos na figura 3.24 e figura 3.25, obtidas do trabalho de Frigm et al. (1990). O sistema Hydris apresentou uma excelente repetibilidade. Em contraste, o método DWS apresentou uma repetibilidade totalmente inadequada. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 44 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Aço baixa liga Ferro fundido-3% Si Ferro fundido-6% Si Teor de H da 1a amostra (ppm) 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 Teor de H da 2a amostra (ppm) Figura 3.24 – Avaliação da repetibilidade do sistema Hydris (Frigm et al., 1990) Teor de H da 1a amostra (ppm) 16 Aço baixa liga Ferro fundido-3% Si Ferro fundido-6% Si 14 12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Teor de H da 2a amostra (ppm) Figura 3.25 – Avaliação da repetibilidade do método DWS (Frigm et al., 1990) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 45 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Zasowski et al. (1989), realizando experimentos em panelas de aço e distribuidores, na usina de USS Gary, Estados Unidos, avaliaram a reprodutibilidade do sistema Hydris, comparado-a com a do método DWS. Para cada corrida, utilizando-se diversos tipos de aços, foram realizadas medições duplicadas, com os sistemas Hydris e DWS, na panela e no distribuidor. Stone et al. (1991), utilizando os dados reportados por Zasowski, traçaram um gráfico que mostra que a dispersão de resultados com o método DWS é muito maior do que com o sistema Hydris, conforme pode ser visto na figura 3.26. Teor de H no distribuidor (ppm) 14 DWS 12 10 HYDRIS 8 6 4 Linha de concordância perfeita 2 0 0 2 4 6 8 10 12 14 Teor de H na panela (ppm) Figura 3.26 – Comparação dos resultados de hidrogênio, medidos na panela e no distribuidor, entre o sistema Hydris e o método DWS (Stone et al., 1991) Os resultados obtidos nos diversos testes realizados conduzem à conclusão inequívoca de que o sistema Hydris proporciona medições confiáveis do teor de hidrogênio contido no aço líquido, podendo ser utilizado, efetivamente, como uma ferramenta de análise e controle de processo. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 46 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 3.4 FONTES DE INCORPORAÇÃO DE HIDROGÊNIO NO AÇO LÍQUIDO Existem numerosas fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido, atuando nos processos de refino primário em convertedor LD, tratamento do aço na panela e lingotamento contínuo. A principal fonte de hidrogênio em uma aciaria é a água, seja na forma de vapor d’água presente no ar atmosférico, seja na forma de impureza presente nos ferro- ligas e recarburantes ou associada com materiais formadores de escória, como a cal. Além das diversas fontes de incorporação, existem práticas e condições operacionais do processo de fabricação do aço líquido que favorecem, em maior ou menor grau, os mecanismos de incorporação de hidrogênio. Ao longo do tempo, diversos pesquisadores procuraram investigar a influência das principais fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido. Dentre todas as fontes de incorporação investigadas, destacam-se as seguintes: • Adição de cal, ou de produtos à base de cal • Adição de materiais recarburantes • Adição de ferro- ligas • Umidade da atmosfera 3.4.1 INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CAL A adição de cal (CaO) é de extrema importância durante o processo de fabricação do aço em convertedores LD, assim como durante a etapa de metalurgia de panela. A cal é utilizada para se ajustar a composição química da escória, para facilitar a remoção das inclusões e para promover a dessulfuração do aço líquido. Em função das condições atmosféricas, a cal pode se tornar hidratada, formando o hidróxido de cálcio, antes mesmo de ser adicionada ao aço líquido. Essa cal hidratada, quando adicionada ao aço líquido, se decompõe de acordo com a equação 3.29 apresentada a seguir: Ca(OH)2 (s) = (CaO) + H2 O (g) (3.29) O vapor d’água formado se dissocia na superfície do aço líquido, causando a incorporação de hidrogênio através da seguinte reação (equação 3.30): H2 O (g) = 2H + O REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG (3.30) Página 47 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Fruehan e Misra (2005), utilizando um forno de indução de 227kg, realizaram dois experimentos com o objetivo de se investigar o efeito da adição de hidróxido de cálcio no teor de hidrogênio contido no aço líquido. No primeiro experimento, 220kg de aço contendo 0,7% de carbono foram fundidos em uma atmosfera contendo argônio. Posteriormente, 2kg de escória contendo 50% de CaO e 50% de Al2O3 foram adicionados ao aço líquido, permitindose um período de 15 minutos de homogeneização. Ao término desse tempo, foram feitas medições iniciais dos teores de hidrogênio e oxigênio. Em seguida, 260g de Ca(OH)2 foram adicionados no topo da escória, permitindo-se um período de estabilização de 20 minutos, seguido por novas medições dos teores de hidrogênio e oxigênio. Esse processo foi repetido com duas novas adições de 500g de Ca(OH)2. A figura 3.27 mostra a variação do teor de hidrogênio em função da adição de Ca(OH)2. Pode-se verificar que o teor de hidrogênio aumenta com cada subseqüente adição de Ca(OH)2. 25 Teor de Hidrogênio (ppm) 5 20 Hidrogênio 4 15 3 10 2 Oxigênio 1 5 0 0 1400 0 200 400 600 800 1000 1200 Teor de Oxigênio (ppm) 6 Adição de Ca(OH)2 , em gramas Figura 3.27 – Incorporação de hidrogênio devido à adição de Ca(OH)2 no topo da escória (Fruehan e Misra, 2005) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 48 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado No segundo experimento, Fruehan e Misra (2005) utilizaram 190kg de aço, contendo 0,1% de carbono. A escória utilizada apresentava 45% de CaO e 55% de Al2O3. Porém, dessa vez o hidróxido de cálcio foi adicionado juntamente com a escória e não mais no topo da mesma, como ocorreu no primeiro experimento. Os resultados obtidos podem ser vistos na figura 8 70 7 60 6 50 Hidrogênio 5 40 4 30 3 Oxigênio 2 20 1 10 0 0 800 0 100 200 300 400 500 600 700 Teor de Oxigênio (ppm) Teor de Hidrogênio (ppm) 3.28. Adição de Ca(OH)2 , em gramas Figura 3.28 – Incorporação de hidrogênio devido à adição de Ca(OH)2 juntamente com a escória (Fruehan e Misra, 2005) Os experimentos apresentados anteriormente mostraram que a adição de Ca(OH)2 no aço líquido resulta em uma significativa incorporação de hidrogênio. Contudo, foi possível verificar que a adição de Ca(OH)2 juntamente com a escória provoca uma maior absorção de hidrogênio do que a adição de Ca(OH)2 no topo da escória. O hidróxido de cálcio tem uma temperatura de decomposição de 580ºC, que é baixa quando comparada às temperaturas do processo de fabricação de aço. Segundo Fruehan e Misra (2005), quando o Ca(OH)2 é adicionado no topo da escória, a maior parte do vapor d’água originado da dissociação do Ca(OH)2 escapa para a atmosfera antes mesmo que possa reagir com a aço líquido, provocando a incorporação de hidrogênio. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 49 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado No primeiro experimento, realizado por Fruehan e Misra (2005), um total de 1260g de hidróxido de cálcio foi adicionado ao aço líquido, fornecendo 34 moles de hidrogênio. Se todo esse hidrogênio tivesse se dissolvido no banho metálico, então, através de cálculos de balanço de massa, o teor de hidrogênio total seria aumentado para um valor hipotético de 150ppm. Contudo, observou-se um aumento de apenas 2,2ppm, o que representa menos de 1,5% de toda a quantidade de hidrogênio adicionada. No segundo experimento, 690g de Ca(OH)2 foram adicionados ao aço líquido, o que equivale a 19 moles de hidrogênio. Porém, observou-se um aumento de apenas 2,1ppm no teor de hidrogênio. Isso representa somente 2% de todo o hidrogênio adicionado na forma de Ca(OH)2. Segundo Fruehan e Misra (2005), a baixa taxa de incorporação de hidrogênio no aço líquido se deve à lenta cinética da reação descrita na equação 3.29. 3.4.2 INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE M ATERIAIS RECARBURANTES Os materiais recarburantes são utilizados durante e após o vazamento do aço líquido na panela, ainda no convertedor ou nas estações de refino secundário, com o objetivo de se aumentar o teor de carbono presente no aço líquido. Esses materiais podem apresentar um teor significativo de hidrogênio na forma de impureza, podendo acarretar uma grande incorporação desse elemento no aço líquido. No que se refere à qualidade, um dos parâmetros críticos utilizados na escolha dos materiais recarburantes é o teor residual de hidrocarbonetos presentes no coque ou em produtos a base de grafite. Ø INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE COQUE METALÚRGICO Na figura 3.29, Ootsuka et al. (1996) investigaram a influência da adição de coque metalúrgico na incorporação de hidrogênio no aço líquido. Para eles está claro que a adição de coque resulta no aumento do teor de hidrogênio, e isto se deve às propriedades do coque relacionadas com a sua peculiar porosidade. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 50 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Incorporação de Hidrogênio (ppm) 0,5 Coque Fe-Si 0,4 FeMn 0,3 0,2 0,1 0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 Adição de ligas (kg/t) Figura 3.29 – Influência da adição de ligas na incorporação de hidrogênio no aço líquido (Ootsuka et al., 1996) A tabela III.2, mostra os resultados de um experimento realizado por Fruehan e Misra (2005), onde se avaliou o efeito da adição de coque metalúrgico no teor de hidrogênio contido no aço líquido. Para tanto, 215kg de aço contendo 0,26% de carbono, foram fundidos em um forno de indução. Uma amostra de aço foi retirada para se obter o teor inicial de carbono do experimento. Do mesmo modo, foram feitas medições dos teores iniciais de hidrogênio e oxigênio. Em seguida, três adições de coque, cada uma no valor de 1140g, foram feitas em intervalos regulares de tempo. Após cada adição de coque, foram retiradas amostras de aço e feitas novas medições dos teores de hidrogênio e oxigênio. A tabela III.2 mostra os teores de hidrogênio e oxigênio do aço líquido, antes e após cada adição de coque. O coque utilizado nesse experimento apresentava um teor de hidrogênio de 0,2%. Pode-se observar que o teor de hidrogênio do aço diminui após cada adição de coque, sendo que esse resultado é oposto ao que foi encontrado por Ootsuka et al. (1996). A conclusão de Fruehan e Misra (2005) é a de que a adição de coque metalúrgico não resulta em incorporação de hidrogênio no aço líquido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 51 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Tabela III.2 – Efeito da adição de coque metalúrgico no teor de hidrogênio do aço líquido (Fruehan e Misra, 2005) Antes da adição de coque Depois da adição de coque Oxigênio Hidrogênio Oxigênio Hidrogênio (ppm) (ppm) (ppm) (ppm) 0 5,7 3,8 --- --- 1140 59,5 6,28 5,2 4,84 1140 4,3 6,68 13,7 6,07 1140 8,0 8,28 6,2 6,86 Adição de coque (g) Segundo Fruehan e Misra (2005), o hidrogênio presente no coque metalúrgico é liberado na forma de gás (material volátil), quando as partículas de coque são aquecidas. Essa liberação de gás ocorreria em temperaturas mais baixas do que as utilizadas no processo de fabricação de aço líquido. Com o objetivo de ratificar essa explicação científica, Fruehan e Misra (2005) aqueceram uma amostra de coque metalúrgico até a temperatura utilizada na produção de aço líquido e avaliaram a mudança no teor de hidrogênio presente na amostra de coque. Para a realização desse teste, uma amostra de coque de peso conhecido foi pulverizada até a granulometria de 60mesh. Metade da amostra foi aquecida a uma temperatura de 1550ºC, em uma atmosfera de argônio, por 6 horas. A outra metade foi armazenada em um local livre de umidade. Em seguida, foram analisados os teores de hidrogênio de ambas as amostras. O resultado indicou que mais de 40% do hidrogê nio presente no coque metalúrgico é perdido quando o mesmo é aquecido em temperaturas usualmente utilizadas em uma aciaria. Ø INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE COQUE DE PETRÓLEO Fruehan e Misra (2005), com o objetivo de avaliar a influência da adição de coque de petróleo na incorporação de hidrogênio no aço líquido, realizaram uma série de experimentos na usina de North Star Steel, nos Estados Unidos. Para tanto, diversas quantidades de coque de petróleo foram adicionadas em diferentes corridas de 90t cada uma. Foram feitas medições do teor de hidrogênio presente no aço líquido, antes e após cada adição de coque. A quantidade de hidrogênio incorporado ao aço líquido foi obtida através da diferença entre as medições do teor de hidrogênio. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 52 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado A figura 3.30 apresenta a incorporação de hidrogênio no aço líquido em função da adição de coque de petróleo. Comparando-se os resultados da tabela III.2 com os da figura 3.30, fica claro que Fruehan e Misra (2005) obtiveram resultados diferentes ao analisar a influência do coque metalúrgico e do coque de petróleo. Para esses pesquisadores, o coque metalúrgico não provoca qualquer incorporação de hidrogênio no aço líquido, enquanto que o coque de petróleo acarreta um aumento no teor de hidrogênio proporcional à quantidade adicionada. Incorporação de Hidrogênio (ppm) 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 100 200 300 400 500 Adição de coque (kg) Figura 3.30 – Incorporação de hidrogênio no aço líquido em função da adição de coque (Fruehan e Misra, 2005) Como no caso do coque metalúrgico, Fruehan e Misra (2005) também avaliaram a mudança no teor de hidrogênio quando uma amostra de coque de petróleo é aquecida. Contudo, no caso do coque de petróleo, não houve diminuição no teor de hidrogênio quando a amostra foi aquecida a uma temperatura de 1550ºC. Segundo esses pesquisadores, esse fato explica porque a adição de coque de petróleo provoca uma incorporação de hidrogênio no aço líquido e a adição de coque metalúrgico não. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 53 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 3.4.3 INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE FERRO-LIGAS Os ferro- ligas, assim como os materiais recarburantes, podem ser utilizados durante e após o vazamento do aço líquido na panela. Alguns tipos de ferro- ligas, devido ao seu preço e sua alta afinidade pelo oxigênio, são adicionados somente nas estações de refino secundário. O objetivo básico da adição de ferro- ligas na panela é a obtenção da composição química especificada pelo cliente ou pelo setor de metalurgia de cada usina. A adição de alguns tipos de ferro- ligas pode, em função dos seus teores de hidrogênio e umidade, provocar uma incorporação de hidrogênio no aço líquido. Portanto, entendendo que a presença de hidrogênio nos ferro- ligas pode ser prejudicial à qualidade final do aço, vários pesquisadores procuraram determinar valores típicos para o conteúdo de hidrogênio presente em cada tipo de ferro- liga. A tabela III.3 mostra uma compilação de resultados feita por Silveira et al. (1988), apresentando os teores de hidrogênio de alguns tipos de ferro- ligas. Os valores apresentados na tabela III.3 foram obtidos em condições normais de produção e estocagem dos ferro- ligas. Como pode ser visto, para um mesmo tipo de ferro- liga foram encontrados resultados diferentes para o teor de hidrogênio. Tabela III.3 - Teores de hidrogênio em diversos tipos de ferro- ligas (Silveira et al., 1988) 3 Ferro-Liga Teor de hidrogênio (cm /100g) (CNTP) FeMn Alto Carbono 20 a 40, 130 a 160 FeMn Medio Carbono 2 a 20, 15, 40 a 75 FeMn Baixo Carbono 2 a 20, 43, 60 FeSiMn 20 a 25, 28, 70 Mn Eletrolítico 78, 100 a 150 Mn Metálico 30 FeSi 75 (75% Si) 10, 9 a 50, 40 a 100 A influência das condições de armazenamento sobre o teor final de hidrogênio presente nos ferro- ligas, também já foi estudada por diversos pesquisadores. Leger (1978), em dois de seus experimentos, submeteu as ligas de FeSi e FeMn às severas condições de armazenamento, durante 10 e 15 dias, dispondo as mesmas em locais abertos e sem cobertura, assim como em REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 54 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado condições chuvosas. Em seguida, avaliou o impacto dessas condições de armazenamento no teor de hidrogênio contido nas ligas. A tabela III.4 apresenta os resultados obtidos por Leger (1978). Verifica-se que, após o período de armazenamento, houve uma grande incorporação de hidrogênio, demonstrando a importância das condições de estocagem dos ferro- ligas. Tabela III.4 – Influência das condições de armazenamento no teor de hidrogênio dos ferroligas (Leger, 1978) Tipo de Ferro-Liga FeSi e FeMn Condição Inicial Condição Final (teor de hidrogênio) (teor de hidrogênio) 10 dias de 15 dias de (CNTP) Armazenamento armazenamento 3 4 cm / 100 g 3 3 20 cm / 100 g 30 cm / 100 g Até o momento, a melhor solução para corrigir problemas de armazenamento e, assim, reduzir o teor de hidrogênio presente nos ferro- ligas, é o pré-aquecimento do material, antes de sua utilização nas diversas etapas de fabricação do aço líquido. Segundo Downing (1986), o aquecimento a 600ºC por 1 hora reduz o teor de hidrogênio presente no ferro- ligas a valores inferiores a 10ppm. De acordo com Leger (1978), o aquecimento de uma liga de FeMn, a 3 650ºC por 4 horas, reduz o seu teor de hidrogênio de 6 para 1,5cm /100g. Silveira et al. (1988), através da figura 3.31, mostram os resultados dos testes de ultra-som em chapas de diferentes espessuras, produzidas com e sem pré-aquecimento dos ferro- ligas. Pode-se verificar que as chapas produzidas com o pré-aquecimento dos ferro- ligas apresentaram um índice mais baixo de recusa em ultra-som, confirmando o efeito benéfico desse tipo de procedimento operacional. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 55 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 40 Recusa em ultra-som (%) Sem pré-aquecimento Com pré-aquecimento 20 0 <10 10 a 30 30 a 50 Espessura de chapas (mm) Figura 3.31 – Resultados de recusa em ultra-som em função da espessura e do préaquecimento de ferro- ligas (Silveira et al., 1988) A figura 3.32 mostra um experimento realizado por Vergauwens (1996), onde se procurou avaliar o efeito da adição de ferro- ligas no teor de hidrogênio presente no aço líquido. O experimento foi realizado em uma unidade de desgaseificação a vácuo e consistiu de diversas medições do teor de hidrogênio, feitas com o sistema hydris de medição, ao longo do tempo de tratamento de uma corrida. Aos 6 minutos de tratamento, foi feita uma adição de ferro-liga que provocou uma elevação de 0,2ppm no teor de hidrogênio presente no aço líquido. Notase, claramente, que a adição de ferro-liga alterou completamente a trajetória descendente de evolução do teor de hidrogênio contido no aço líquido. Após passado o impacto da adição do ferro- liga, o teor de hidrogê nio retornou à sua trajetória original de queda. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 56 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Teor de Hidrogênio (ppm) 3,0 H (Hydris) 2,5 Adições 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 3 6 9 12 Tempo de tratamento (minutos) 15 Figura 3.32 – Influência da adição de ligas no teor de hidrogênio durante a desgaseificação (Vergauwens, 1996) 3.4.4 INFLUÊNCIA DA UMIDADE DA ATMOSFERA A exposição do aço líquido à atmosfera, durante o vazamento ou lingotamento de uma corrida, pode resultar em um processo de incorporação de hidrogênio. A extensão dessa incorporação é fortemente dependente da pressão parcial de vapor d’água na atmosfera, ou seja, um alto teor de umidade presente na atmosfera é uma condição favorável para uma maior incorporação de hidrogênio no aço líquido. A incorporação de hidrogênio proveniente da atmosfera ocorre principalmente durante a etapa de vazamento do aço líquido, quando o metal fica exposto sem a proteção da camada de escória. O impacto do jato com a superfície do banho metálico provoca o entranhamento de um grande volume de bolhas de ar, com considerável pressão de vapor d’água. Como normalmente o aço líquido é desoxidado durante o vazamento, uma incorporação de hidrogênio de até 1ppm pode ser considerada normal. Vários pesquisadores procuraram demonstrar a relação entre o teor de umidade da atmosfera e o teor de hidrogênio contido no aço líquido. Fitzgerald (1982), mostra na figura 3.33 a correlação entre o teor de hidrogênio presente no aço líquido e a umidade relativa do ar, durante o lingotamento de uma série de corridas. O coeficiente de correlação encontrado foi de 0,68. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 57 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Hidrogênio (ml / 100g) 4 3 2 1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Umidade Relativa do ar (%) Figura 3.33 – Teor de hidrogênio, em função da umidade relativa do ar, durante lingotamento (Fitzgerald, 1982) Harvey (1982), também avaliou a influência da umidade atmosférica no teor de hidrogênio presente no aço líquido. Em experimentos realizados na usina de Stocksbridge, Inglaterra, ele concluiu que o teor de hidrogênio contido no aço líquido, antes do vazamento da corrida, é fortemente dependente da umidade atmosférica, conforme pode ser visto na figura 3.34. Ainda segundo Harvey (1982), a umidade presente no ar pode provocar uma incorporação de até 0,8ppm de hidrogênio no aço líquido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 58 Hidrogênio antes do vazamento (ppm) 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 5 4 3 4 6 8 10 12 Umidade Atmosférica (g H2 O / kg ar) Figura 3.34 – Teor de hidrogênio, antes do vazamento, em função da umidade atmosférica (Harvey, 1982) 3.4.5 CARACTERIZAÇÃO DA INCORPORAÇÃO DE HIDROGÊNIO NO AÇO LÍQUIDO Alguns pesquisadores conseguiram realizar, dentro de certos limites, uma completa identificação e quantificação das principais fontes de incorporação de hidrogênio atuantes em determinado processo de fabricação de aço líquido. Lawson (1988), por exemplo, realizou uma caracterização das fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido, durante a produção de aços com baixos e altos teores de enxofre (0,008% e 0,014% respectivamente), na usina da Algoma Steel Corporation, localizada no Canadá. Considerando o uso de dados de processo de 83 corridas e através de medições do teor de hidrogênio feitas no distribuidor do lingotamento contínuo, Lawson (1988) identificou que os materiais dessulfurantes à base de cal, os ferro- ligas, os materiais recarburantes e a umidade presente no ar atmosférico eram as principais fontes de incorporação de hidrogênio. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 59 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado A tabela III.5 mostra, para cada fonte de incorporação identificada por Lawson (1988), qual é o resultado esperado em termos de incorporação de hidrogênio no aço líquido. Tabela III.5 – Influências de diversas fontes de incorporação no teor de hidrogênio do aço líquido (Lawson, 1988) Fonte de Incorporação / Parâmetros do Processo Adição de 2 kg/t de material dessulfurante na panela, sem Incorporação de Hidrogênio (ppm) 0,7 agitação do aço líquido Adição de 2 kg/t de material dessulfurante na panela, com forte 1,2 agitação do aço líquido Adição de material recarburante, referente a 0,05% de carbono 1,3 no aço líquido Adição de 2 kg/t de Ferro Manganês Médio Carbono 0,6 Lawson (1988) concluiu que a adição de material dessulfurante (à base de cal) causa um grande aumento no teor de hidrogênio presente no aço líquido. Isso se deve ao teor de umidade presente na cal, assim como ao aumento da capacidade de absorção de hidrogênio devido ao baixo teor de enxofre do aço líquido. Processos de refino na panela, através de forte borbulhamento do aço líquido, acentuam essa incorporação de hidrogênio. Na verdade, a grande responsável pela incorporação de hidrogênio apresentada na tabela III.5 é a umidade, seja presente nos materiais dessulfurantes e ferro- ligas, seja presente no ar atmosférico. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 60 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 3.5 PERFIL DE INCORPORAÇÃO DE HIDROGÊNIO NO A ÇO L ÍQUIDO O processo de fabricação de aço em uma aciaria que utiliza convertedores LD compreende uma série de etapas, dentre as quais se destacam as seguintes: • Refino primário em fornos LD • Vazamento do aço na panela • Operações pós-vazamento • Refino secundário • Lingotamento contínuo O teor de hidrogênio presente no aço líquido sofre grandes alterações ao se avançar de uma etapa para outra dentro do fluxo operacional de produção de aço líquido. Essa evolução do teor de hidrogênio pode ser chamada de perfil de incorporação de hidrogênio no aço líquido. Esse perfil de incorporação sofre influência do tipo de aço produzido, das práticas operacionais adotadas, dos materiais adicionados e dos equipamentos utilizados na aciaria. Portanto, cada usina apresenta um perfil característico e o conhecimento do mesmo é de extrema importância na definição da melhor estratégia de gerenciamento do assunto hidrogênio, minimizando os riscos inerentes à presença desse elemento no aço líquido e garantindo a produção de aços com baixos teores de hidrogênio (H < 2ppm). Silveira et al. (1988) mostram na figura 3.35, um exemplo da evolução do teor de hidrogênio contido no aço líquido, durante a sua elaboração em uma aciaria que utiliza convertedores LD. A quantidade de hidrogênio introduzida através da carga (gusa líquido e sucata) e fundentes não é crítica, uma vez que durante o período de sopro de oxigênio a intensa evolução de bolhas de CO no interior do metal líquido promove o abaixamento da pressão parcial do H2, garantindo uma desidrogenação altamente eficaz, reduzindo o teor de hidrogênio para níveis de 1ppm ou pouco mais. Para garantir essa eficaz remoção de hidrogênio pelo vigoroso fluxo de gás CO, é preciso que todas as matérias primas que contenham hidrogênio sejam adicionadas o mais próximo possível do início do refino, antes do período de descarburação máxima. De acordo com a figura 3.35, a partir do final de sopro, o teor de hidrogênio presente no aço líquido se eleva em função da adição de refrigerantes, ferro- ligas e coque. Ainda pode ocorrer uma posterior incorporação de hidrogênio, caso o aço líquido seja vazado em uma panela mal aquecida. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 61 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 40 Panela Coque Ferro-Ligas Refrigerantes Fim de sopro 4 Fundentes 5 Carga Hidrogênio no aço (ppm) 38 2 0 Eventos Figura 3.35 – Perfil de incorporação de hidrogênio no aço líquido, desde o carregamento no convertedor LD até o vazamento do aço na panela (Silveira et al., 1988) Harvey (1982), em um de seus estudos, traçou o perfil de incorporação de hidrogênio da usina de Tinsley Park, localizada na Inglaterra. Os resultados são apresentados na figura 3.36. O perfil de incorporação apresenta a evolução do teor de hidrogê nio, desde a etapa de carregamento da carga metálica no forno elétrico até o lingotamento do aço líquido, passando pela fase de desgaseificação. Como pode ser visto na figura 3.36, o teor de hidrogênio diminui durante o período de sopro, para aumentar, logo em seguida, quando adições de ferro- ligas ou cal são feitas dentro do forno elétrico, antes do vazamento do aço líquido. Outras adições são feitas, dessa vez durante o vazamento do aço líquido, provocando uma nova incorporação de hidrogênio. O teor de hidrogênio cai durante a etapa de desgaseificação e sofre pouca alteração até o término do lingotamento. Segundo Harvey (1982), o perfil de incorporação apresentado pela usina de Tinslay Park é típico do processo de fabricação de aço através de forno elétrico, ou seja, os níveis de hidrogênio caem durante os períodos oxidantes e sobem quando são feitas adições sob condições desoxidantes. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 62 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Hidrogênio (ppm) 5 4 3 2 Carga Antes do Depois da Vazamento Desgaseificação Fim de Depois do Sopro Vazamento Lingotamento Figura 3.36 – Perfil de incorporação de hidrogênio no aço líquido, desde o carregamento no forno elétrico até o lingotamento (Harvey, 1982) A tabela III.6 apresenta o perfil de incorporação de hidrogênio avaliado por Lawson (1988), na aciaria nº2 da usina da Algoma Steel, localizada no Canadá. Os teores de hidrogênio foram medidos desde o convertedor até o distribuidor do lingotamento contínuo. Verifica-se que a incorporação de hidrogênio, do convertedor para a panela, é muito maior em corridas dessulfuradas do que em corridas não dessulfuradas. Lawson (1988) explica que a adição de material dessulfurante à base de cal causa um enorme aumento no teor de hidrogênio do aço líquido, uma vez que esse tipo de material apresenta um alto teor de umidade. Outro fator que aumenta a absorção de hidrogênio é o baixo teor de enxofre dos aços dessulfurados. Em corridas não dessulfuradas, a incorporação de hidrogênio do convertedor para a panela é maior em aços ligados, demonstrando que os ferro- ligas são uma importante fonte de incorporação. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 63 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Tabela III.6 – Perfil de incorporação de hidrogênio no aço líquido na usina da Algoma Steel (Lawson, 1988) Tipo de Tipo de H (ppm) H (ppm) H (ppm) Corrida Aço Convertedor Panela Distribuidor Corridas não Baixo C 3,8 4,5 dessulfuradas Ligado 5,8 6,7 Corridas Baixo C 8,9 10,8 dessulfuradas Ligado 10,0 11,2 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG 3,5 3,5 Página 64 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 3.6 MODELOS MATEMÁTICOS DE P REVISÃO DA INCORPORAÇÃO DE HIDROGÊNIO Diversos pesquisadores procuraram desenvolver modelos matemáticos que pudessem prever o teor de hidrogênio presente no aço líquido, em função das diversas fontes de incorporação atuantes em uma aciaria. Fica claro que não existe um único modelo que possa ser aplicado a todas as aciarias do mundo, uma vez que os equipamentos e práticas operacionais são muito diferentes entre si. Além disso, os materiais adicionados, ainda que de um mesmo tipo, podem apresentar distintos teores de impurezas e métodos de armazenamento. Portanto, as principais fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido, estabelecidas como parâmetros dos modelos matemáticos, podem variar de usina para usina. De forma geral, os pesquisadores optam por desenvolver modelos matemáticos específicos para cada etapa do processo operacional de fabricação de aço líquido. Por exemplo, alguns modelos são desenvolvidos especificamente para a etapa de va zamento do aço líquido, onde se procura prever a incorporação de hidrogênio oriunda do aprisionamento das bolhas de ar durante o vazamento. Outros modelos, além da influência do vazamento, procuram avaliar também o impacto das adições de materiais. Varcoe et al. (1990), na aciaria da BHP Steel, Austrália, desenvolveram dois modelos matemáticos, visando a previsão do teor de hidrogênio presente no aço líquido antes e durante o tratamento do aço na panela. O sistema Hydris de determinação do teor de hidrogênio foi utilizado no desenvolvimento do trabalho. Um grande número de parâmetros foi submetido às análises de regressão, visando o estabelecimento das variáveis preditoras mais influentes. O primeiro modelo, chamado de modelo de pré-tratamento, procurou avaliar o processo de incorporação de hidrogênio durante o vazamento do aço líquido, ou seja, antes do tratamento do aço na panela. Foram utilizados dados de 99 corridas. O coeficiente de correlação (R2 ) obtido foi de 0,70 e o desvio padrão da previsão foi de 0,47ppm. A tabela III.7 apresenta as variáveis preditoras, com seus respectivos coeficientes, que foram consideradas no modelo de regressão. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 65 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Tabela III.7 – Variáveis preditoras para o modelo de pré-tratamento de panela (Varcoe et al., 1990) Variável Unidade Constante Coeficiente 1,82 Teor de enxofre no vazamento (S) % -28,69 1 / Teor de carbono no vazamento (1/C) 1/% 0,026 Pressão parcial de H2 O na atmosfera ( PH2 O ) atm 35,51 Teor de hidrogênio em equilíbrio (H eq) ppm 0,018 Adição de ferro- ligas no vazamento (Carga) pacote 0,012 Adição de FeSi no vazamento (FeSi_1) kg 0,00027 Adição de FeCr no vazamento (FeCr) kg 0,00031 Sucata carregada (Suc) t -0,018 Dolomita carregada (Dol) t -0,158 Adição de FeSi antes da 1ª mostra (FeSi_2) kg 0,0047 A incorporação de hidrogênio (? H), durante o vazamento do aço líquido na panela, pode ser calculada através do seguinte modelo matemático (equação 3.31): ? H = 1,82 – 28,69 (S) + 0,026 (1/C) + 35,51 ( PH2 O ) + 0,018 (Heq ) + 0,012 (Carga) + 0,00027 (FeSi_1) + 0,00031 (FeCr) – 0,018 (Suc) – 0,158 (Dol) + 0,0047 (FeSi_2) (3.31) Varcoe et al. (1990) afirmam que o valor de PH2 O pode ser calculado da seguinte maneira (equações 3.32, 3.33 e 3.34): H2 O (saturação) = 0,96 x 0,17 x Temperatura Ambiente (em ºC) (3.32) H2 O (vapor) = Umidade /100 x H2 O (saturação) (3.33) PH2 O = H2 O (vapor) / 101,3 (3.34) Finalmente, ainda segundo Varcoe et al. (1990), o valor de Heq (em ppm) pode ser calculado como segue (equação 3.35): 1 1,024 x10 −7 xP 2 H2 O H eq = x10000 O 10000 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG (3.35) Página 66 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Onde: O: Teor de oxigênio dissolvido no aço líquido (em % em peso) O segundo modelo, chamado de modelo de tratamento de panela, procurou avaliar o processo de incorporação de hidrogênio durante o tratamento do aço líquido na panela, após o vazamento. Foram utilizados dados de 84 corridas. O coeficiente de correlação (R2 ) obtido foi de 0,67 e o desvio padrão da previsão foi de 0,18ppm. A tabela III.8 apresenta as variáveis preditoras, com seus respectivos coeficientes, que foram consideradas no modelo de regressão. Tabela III.8 – Variáveis preditoras para o modelo de tratamento de panela (Varcoe et al., 1990) Variável Unidade Constante Coeficiente 0,51 Teor inicial de enxofre (S) % -0,83 1 / Teor inicial de carbono (1/C) 1/% -0,37 Teor de hidrogênio em equilíbrio (H eq) ppm -0,0096 Adição de dolomita (Dol) kg 0,00034 Adição de sucata (Suc) kg 0,00004 Adição de alumínio (Al) kg 0,005 A incorporação de hidrogênio (? H), durante o tratamento do aço líquido na panela, pode ser calculada através do seguinte modelo matemático (equação 3.36): ? H = 0,51 – 0,83 (S) – 0,37 (1/C) – 0,0096 (H eq) + 0,000034 (Dol) + 0,00004 (Suc) + 0,0005 (Al) (3.36) Fruehan e Misra (2005) também desenvolveram um modelo matemático cujo objetivo era prever a incorporação total de hidrogênio ocorrida durante o vazamento do aço líquido e também após a adição de fundentes e ferro- ligas na panela. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 67 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado As fontes de incorporação de hidrogênio consideradas no modelo são: • Adição de cal hidratada (Ca(OH)2 ) • Adição de material recarburante (coque de petróleo) • Umidade atmosférica durante o vazamento do aço líquido Fruehan e Misra (2005) identificaram em seus experimentos que aproximadamente 2% do hidrogênio adicionado na forma de Ca(OH)2 se incorporava ao aço líquido. O pior cenário seria aquele em que toda a cal estivesse hidratada. Nesse caso, o teor de hidrogênio que seria incorporado ao aço pode ser obtido através da equação 3.37, mostrada a seguir: ?H= 4 x Cal x 104 74 x Aço (3.37) Onde: ?H: Incorporação de hidrogênio (em ppm) Cal: Peso de cal adicionada na panela (em kg) Aço: Peso de aço líquido (em kg) Também se observou que em torno de 10% do hidrogênio presente no coque de petróleo, na forma de impureza, se incorpora ao aço líquido. Nesse caso, o teor de hidrogênio que seria incorporado ao aço pode ser obtido da equação 3.38: ?H= 10 x Coque x HC x 104 100 x Aço (3.38) Onde: ?H: Incorporação de hidrogênio (em ppm) Coque: Peso de coque de petróleo adicionado na panela (em kg) Aço: Peso de aço líquido (em kg) HC: Teor de hidrogênio presente no coque (em % em peso) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 68 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Fruehan e Misra (2005) identificaram que a quantidade de hidrogênio incorporado ao aço líquido durante o vazamento depende dos teores de oxigênio e enxofre do aço líquido, além da pressão parcial de vapor d’água presente na atmosfera. A equação de regressão que proporcionou os melhores resultados pode ser vista a seguir (equação 3.39): ln (? H) = 0,6225 – 0,4647 x ln(h0 ) – 0,2037 x ln(S) + 0,6687 x ln( PH2 O ) + 0,0589 x [ln(h0 )]2 – 0,0291 x [ln(S)]2 – 0,0076 x [ln( PH2 O )]2 + 0,005 x [ln(h0 )]3 – 0,00142 x [ln(S)]3 + 0,000085 x [ln( PH2 O )]3 (3.39) Onde: ?H: Incorporação de hidrogênio durante vazamento do aço (em ppm) h0 : Teor de oxigênio do aço líquido (em % em peso) S: Teor de enxofre do aço líquido (em % em peso) PH2 O : Pressão parcial de H2 O na atmosfera (em atm) A tabela III.9 apresenta um exemplo, segundo o modelo matemático desenvolvido por Fruehan e Misra (2005), de qual seria a incorporação total de hidrogênio no aço líquido, ocorrida durante o vazamento e após a adição de cal e material recarburante, para uma corrida de 200t. Tabela III.9 – Cálculo da incorporação total de hidrogênio durante vazamento e após adições (Fruehan e Misra, 2005) Variável / Parâmetro Peso de aço líquido (em kg) Valor 200000 Teor de oxigênio do aço líquido (em % em peso) 0,05 Teor de enxo fre do aço líquido (em % em peso) 0,02 Pressão parcial de H2 O (em atm) 0,03 Peso de cal adicionado (em kg) 200 Peso de coque de petróleo adicionado (em kg) 100 Teor de hidrogênio do coque de petróleo (em % em peso) 0,3 Incorporação de hidrogênio prove niente das adições (ppm) 0,69 Incorporação de hidrogênio durante vazamento (em ppm) 1,50 Incorporação total de hidrogênio (em ppm) 2,19 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 69 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Por sua vez, Lawson (1988), realizando experimentos na aciaria nº2 da Algoma Steel Corporation, cujos resultados a respeito da incorporação de hidrogênio no aço líquido já foram apresentados na tabela III.5, encontrou uma significativa correlação entre o teor de hidrogênio medido no distribuidor e o teor de enxofre do aço líquido, conforme pode ser verificado abaixo (equação 3.40): H (ppm) = 14,5 – 606 x ( %S) (3.40) O coeficiente de correlação (R2 ) obtido foi de 0,66 e o erro padrão da estimativa foi de 2,81ppm. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 70 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 3.7 PRÁTICAS DE PRODUÇÃO DE AÇOS COM B AIXO T EOR DE HIDROGÊNIO Uma vez identificadas as principais fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido e após a quantificação do impacto das mesmas, torna-se possível iniciar o desenvolvimento, para posterior produção em escala industrial, de aços com teores de hidrogênio abaixo de 2ppm. Esse tipo de aço só é possível de ser produzido em escala industrial com o completo domínio dos mecanismos de incorporação de hidrogênio no aço líquido existentes em cada procedimento operacional de cada etapa do fluxo de produção da aciaria. Alguns pesquisadores conseguiram quantificar perfeitamente a incorporação de hidrogênio existente em cada prática operacional. Com esse conhecimento, tornou-se possível estabelecer uma espécie de receita operacional que deve ser seguida visando a produção de aços com baixos teores de hidrogênio. Segundo Fitzgerald (1982), as práticas de aciaria que seguem esses princípios são chamadas de práticas a seco (do inglês “dry practices”), uma vez que se procura eliminar condições que favoreçam a incorporação de hidrogênio ou que propiciem a adição ou uso de materiais e equipamentos que contenham umidade. Fitzgerald (1982) estabeleceu os seguintes princípios a serem seguidos durante a produção de aços com baixo teor de hidrogênio (< 2ppm): • Adotar um rápido sopro de oxigênio no convertedor LD, com uma alta taxa de eliminação de carbono, com o objetivo de agitar vigorosamente o banho metálico através da evolução do gás CO. • Durante o sopro no convertedor LD, adicionar a cal e os outros fundentes o mais cedo possível, de modo que o teor de hidrogênio proveniente de umidade do material seja eliminado pela evolução do gás CO. • Manter o teor de oxigênio do aço líquido o mais elevado possível pelo maior tempo possível. Na prática, isso significa desoxidar o aço líquido o mais tarde possível, uma vez que o aço na condição efervescente dificulta a incorporação de hidrogênio. • Reduzir o tempo de espera (tempo que a panela permanece parada sem tratamento) após a desoxidação do aço, visado reduzir o tempo disponível para a incorporação de REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 71 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado hidrogênio proveniente da atmosfera. • Fazer adições de materiais secos e, se necessário, pré-aquecidos antes do uso. • Não utilizar panelas novas e frias, e garantir que todos os outros equipamentos refratários estejam totalmente secos e também aquecidos. • Minimizar a pressão parcial de vapor d’água dos gases no interior dos equipamentos de refino. Na prática isso significa escolher, para a produção do aço, um período de menor umidade atmosférica e garantir a integridade dos sistemas de resfriamento (com água) dos equipamentos de refino. O resultado final do teor de hidrogênio de uma corrida, normalmente aferido no distribuidor do lingotamento cont ínuo, é fortemente afetado pela intensidade do fenômeno de incorporação de hidrogênio que ocorre nas diversas etapas do fluxo de produção do aço líquido. Jha et al. (2003), na usina de Durgapur Steel, India, realizaram uma série de experimentos visando a produção de aços médio carbono (de 0,5 a 0,7% de C) com teores de hidrogênio, checados na área de lingotamento, abaixo de 2ppm. Os resultados de hidrogênio foram obtidos e mantidos de forma consistente, através da adoção de uma série de práticas operaciona is, que foram implantadas nas áreas de refino primário e secundário dos aços. O objetivo era eliminar (ou pelo menos reduzir) a incorporação de hidrogênio proveniente da escória de processo, dos ferro- ligas, dos refratários e da atmosfera. Os procedimentos implementados foram os seguintes: • Evitar a adição atrasada de fundentes durante o período de sopro no convertedor. • Controlar a passagem de escória do convertedor para a panela durante o vazamento. • Reduzir a basicidade da escória de panela, mantendo a mesma abaixo de 1,2. • Atrasar o momento de desoxidação da corrida. • Adição de recarburantes com baixo teor de hidrogênio. • Uso de panelas com no máximo 3 horas sem recebimento de aço. • Aumento da viscosidade da escória, para reduzir a incorporação de hidrogênio entre o fim de tratamento no desgaseificador a vácuo e o fim do lingotamento da corrida. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 72 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado O efeito combinado de todas as medidas mencionadas anteriormente tornou possível a produção, de forma consistente, de corridas com teor de hidrogênio abaixo de 2ppm no produto final. A tabela III.10 apresenta todas as medidas adotadas nos experimentos conduzidos por Jha et al. (2003). Por sua vez, a figura 3.37 mostra, passo a passo, o impacto de cada medida na redução da incorporação de hidrogênio no aço líquido. Para cada medida implementada, o ponto de checagem é o teor de hidrogênio do aço líquido antes da etapa de desgaseificação a vácuo. Considerou-se uma condição base, onde o teor de hidrogênio do aço líquido fica em torno de 9ppm. Verifica-se, na figura 3.37, uma redução no teor de hidrogênio após a implementação de cada medida. Conforme pode ser visto, o efeito combinado de todas as medidas resultou na obtenção de um teor de hidrogênio de 5ppm antes da etapa de desgaseificação a vácuo, significando que houve uma redução de 44% no teor de hidrogênio quando se compara com a condição base, onde nenhuma medida especial foi adotada. Tabela III.10 – Medidas adotadas para reduzir a incorporação de hidrogênio no aço líquido (Jha et al., 2003) Medida Procedimento Operacional Adotado A Procedimento padrão B Evitar adição atrasada de fundentes no convertedor C Condição B + Vazamento efervescente + desoxidação atrasada D Condição C + Uso de escória com baixa basicidade (< 1,2) E Condição D + Uso de material recarburante com baixo teor de hidrogênio F Condição E + Desgaseificação a vácuo G Condição F + Uso de escória de topo com alto teor de MgO REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 73 3. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 10 Teor de hidrogênio (ppm) 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 A B C D E F G Medida implementada Figura 3.37 – Efeito de diferentes práticas operacionais no teor de hidrogênio do aço líquido (Jha et al., 2003) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 74 4. Metodologia Dissertação de Mestrado 4. METODOLOGIA O objetivo deste estudo é identificar e quantificar as principais fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido, na rota de produção do convertedor até o desgaseificador a vácuo. Os experimentos deste estudo foram todos realizados em escala industrial, utilizando as instalações da aciaria da ArcelorMittal Tubarão. Como já foi mencionado anteriormente, a intensa evolução de bolhas de CO no interior do metal líquido, durante o sopro no convertedor, promove uma remoção de hidrogênio altamente eficaz, reduzindo o teor de hidrogênio para níveis de 1ppm no fim de sopro. Portanto, pode-se dizer que o processo de incorporação de hidrogênio no aço líquido se inicia a partir do fim do sopro no convertedor. Dessa etapa em diante, ocorrem sucessivas elevações do teor de hidrogênio, dependendo da fase operacional e do tipo de material adicionado na panela. O teor de hidrogênio só diminui durante o tratamento no desgaseificador a vácuo, em função dos baixíssimos níveis de pressão atingidos nesse equipamento. Na etapa seguinte, ou seja, durante o lingotamento do aço líquido, o teor de hidrogênio pode voltar a se elevar, mas, desta vez, em níveis reduzidos. Em vista disso, optou-se por estudar o processo de incorporação de hidrogênio que ocorre entre o fim de sopro no convertedor e o início de tratamento da panela de aço no desgaseificador a vácuo, pois é nesse período que ocorre a maior parte da incorporação de hidrogênio em uma aciaria. Posto isto, neste capítulo será apresentada a metodologia que foi utilizada na parte experimental deste estudo. Basicamente, a parte experimental deste estudo foi desenvolvida através de duas etapas: • Realização de uma série de experimentos, conduzidos em escala industrial • Implementação de uma análise de regressão linear múltipla REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 75 4. Metodologia Dissertação de Mestrado 4.1 LOCAL DE R EALIZAÇÃO DOS EXPERIMENTOS A figura 4.1 apresenta o “layout” da aciaria da ArcelorMittal Tubarão, que é composta, basicamente, pelos seguintes equipamentos: • 3 Convertedores LD (CV1, CV2 e CV3) • 3 estações de refino secundário : 2 Desgaseificadores a Vácuo (RH1 e RH2) e uma estação do tipo IRUT (“Injection Refining Up Temperature”) • 3 Máquinas de Lingotamento Contínuo (MLC1, MLC2 e MLC3). CV 3 RH 1 MLC 1 CV 2 IRUT MLC 2 RH 2 CV 1 MLC 3 Figura 4.1 – Desenho esquemático da aciaria da ArcelorMittal Tubarão REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 76 4. Metodologia Dissertação de Mestrado Considerando os equipamentos mostrados na figura 4.1, o fluxo de produção da Aciaria da ArcelorMittal Tubarão pode ser descrito da seguinte maneira: • Sucata e gusa líquido são carregados nos convertedores, para que ocorra o processo de refino primário do aço, através do sopro de oxigênio. • No término do sopro de oxigênio no convertedor, o aço líquido é vazado em uma panela de aço. Durante o vazamento do aço, algumas adições de ferro- ligas e fundentes são feitas na panela. • Após o vazamento, dependendo do tipo de aço a ser fabricado, podem ser necessárias novas adições de ferro-ligas e fundentes na panela. • Em seguida, a panela de aço é enviada para o tratamento em uma das estações de refino secundário do aço. • No término do tratamento na estação de refino secundário, a panela é transportada para uma das máquinas de lingotamento contínuo, onde serão produzidas placas de aço de diversas dimensões. Para se estudar o processo de incorporação de hidrogênio que ocorre entre o fim de sopro no convertedor e o início de tratamento da panela de aço no desgaseificador a vácuo, decidiu-se pela implementação de uma série de experimentos, de determinação do teor de hidrogênio pelo sistema Hydris, realizados na panela de aço, durante e após o vazamento do aço líquido proveniente do convertedor. Portanto, todos os experimentos foram realizados na ala dos convertedores, antes da panela de aço ser enviada para o tratamento na estação de desgaseificação a vácuo. 4.2 ROTA DE P RODUÇÃO PARA A R EALIZAÇÃO DOS EXPERIMENTOS Para a realização dos experimentos, considerou-se a produção de corridas em qualquer um dos 3 convertedores (CV1, CV2 e CV3) e o envio de todas as panelas apenas para a estação de desgaseificação a vácuo nº1 (RH1). 4.3 METODOLOGIA PARA A REALIZAÇÃO DOS E XPERIMENTOS A metodologia desenvolvida para a realização dos experimentos teve como inspiração os trabalhos de diversos pesquisadores, que procuraram, cada um à sua maneira, identificar e REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 77 4. Metodologia Dissertação de Mestrado quantificar as principais fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido. Outra premissa básica adotada é a de que os experimentos seriam executados em escala industrial, utilizando as corridas de rotina do fluxo de produção da aciaria da ArcelorMittal Tubarão. 4.3.1 VARIÁVEIS UTILIZADAS NOS EXPERIMENTOS As variáveis escolhidas para serem utilizadas nos experimentos apresentam, segundo dados de literatura, influência relevante na incorporação de hidrogênio no aço líquido. Além disso, todas as variáveis utilizadas são passíveis de controle, de modo que os valores das mesmas possam estar de acordo com o que estabelece cada plano de experimento. Variáveis importantes, como o teor de umidade da atmosfera, não foram incluídas nos experimentos justamente por não serem controláveis. Finalmente, é importante enfatizar que os materiais escolhidos como variáveis não passam por qualquer processo de pré-aquecimento. As variáveis que foram utilizadas nos experimentos são as seguintes: Ø Cal adicionada durante o vazamento (Cal) Esse material é adicionado na panela, durante o vazamento do aço líquido, com os propósitos de adequação da basicidade de escória, proteção do revestimento refratário da panela, dessulfuração do aço, remoção de inclusões, etc. Ø FeSiMn (Ferro-Silício-Manganês) e FeMn (Ligas de Ferro-Manganês) Trata-se de ferro- ligas que são adicionados durante o vazamento do aço líquido na panela, com o objetivo de se obter a composição química desejada pelo cliente. Ø Materiais recarburantes (Coque e Grafite) Os materiais recarburantes também são adicionados durante o vazamento do aço líquido na panela, com o objetivo de se incorporar carbono ao aço, obtendo-se assim o teor desejado pelo cliente. Ø Condição de vazamento (acalmado ou efervescente) O vazamento do aço líquido na panela pode ser feito com ou sem alumínio. Quando há a adição de alumínio diz-se que a condição de vazamento é do tipo “acalmado”. Quando não ocorre a adição de alumínio, diz-se que o aço foi vazado na condição “efervescente”. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 78 4. Metodologia Dissertação de Mestrado 4.3.2 UMIDADE RELATIVA DO AR Como já foi afirmado anteriormente, vários pesquisadores demonstraram que existe uma relação entre o teor de umidade da atmosfera e o teor de hidrogênio contido no aço líquido. Trata-se, portanto, de uma variável importante no estudo da incorporação de hidrogênio no aço líquido. Contudo, essa variável não será incluída na fase de experimentos, uma vez que não se tem o controle sobre o valor da mesma. Na ArcelorMittal Tubarão, o valor da umidade relativa do ar não é medido no galpão da aciaria e sim na área administrativa da empresa. A figura 4.2 mostra a evolução da umidade relativa do ar, considerando a média dos valores de cada hora do dia, durante um ano completo, representando um total de 8532 medições. Por exemplo, a média da umidade relativa do ar, medida sempre às 12:00 horas, em todos os 365 dias do ano, foi de 65%. Como pode ser verificado, o valor médio da umidade varia bastante ao longo do dia: • Ele permanece elevado, em torno de 90%, nas primeiras 6 horas do dia • A partir desse ponto a umidade começa a cair, chegando a um mínimo de 65% • A partir das 13:00 horas, a umidade volta a subir até retornar para o valor de 90% 100 Umidade Relativa (%) 90 80 70 60 50 40 30 Máximas (%) Mínimas (%) Desvio (%) Médias (%) 1º 2º 4º 6º 8º 10º 12º 14º 16º 18º 20º 22º 24º Hora do dia Figura 4.2 – Evolução da umidade relativa do ar, para cada hora do dia, em um ano REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 79 4. Metodologia Dissertação de Mestrado Verifica-se, ainda com relação à figura 4.2, que além do valor médio da umidade reduzir bastante na parte mais quente do dia, os valores mínimos chegam a alcançar, nesse período do dia, o patamar de 30%. Do mesmo modo, também para o mesmo período, pode-se constatar que ocorre um aumento no desvio padrão dos resultados. Por sua vez, a figura 4.3 mostra a evolução do valor médio da umidade relativa do ar, mês a mês, durante um ano completo, representando um total de 8532 medições. Verifica-se que também há uma variação nos resultados, porém de forma menos acentuada. 100 Umidade Relativa (%) 90 80 70 60 50 Máximas (%) Mí nimas (%) Desvio (%) Médias (%) 40 30 Jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Mês do ano Figura 4.3 – Evolução da umidade relativa do ar, para cada mês, durante um ano Pode-se constatar que as oscilações diárias do teor de umidade são mais relevantes do que as mensais. Processar um aço na aciaria com um teor de umidade de 40% é muito diferente da produção com 90% de umidade relativa do ar. Os dados de literatura indicam que a intensidade da incorporação de hidrogênio seria completament e diferente. Portanto, apesar de não fazer parte dos experimentos, a umidade relativa do ar, em função de sua importância, será considera na fase de análise de regressão linear múltipla, que será explicada em um capítulo mais à frente. 4.3.3 PLANO DE EXPERIMENTOS O plano de experimentos contemplou a realização de uma série de experiências de REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 80 4. Metodologia Dissertação de Mestrado determinação de teor de hidrogênio, em diferentes condições de processo na panela, que foram conduzidas de acordo com o que está descrito na tabela IV.1, apresentada a seguir. O plano previu a realização de um total de 9 grupos de experimentos, com um número mínimo de 6 experiências conduzidas em cada grupo. Cada experiência foi executada em apenas uma corrida, com peso de aço líquido de 315t. Os grupos de experimentos apresentam diretrizes diferentes entre si. Porém, todas as experiências de um mesmo grupo de experimentos foram processadas da mesma maneira. A tabela IV.1 apresenta as cinco variáveis escolhidas e incluídas no plano de experimentos, sendo que cada uma delas foi dividida em dois níveis de valores (N1 e N2). Para cada grupo de experimentos, pode-se verificar se determinada variável foi utilizada e, em caso afirmativo, qual foi o nível de valor adotado para essa variável. Por exemplo, o 5º grupo de experimentos foi conduzido da seguinte maneira: • Condição de vazamento: foi utilizada no nível 2 (N2) de valores • Cal adicionada durante o vazamento: utilizada no nível 1 (N1) de valores • FeSiMn: não foi utilizado nesse grupo de experimentos • FeMn: utilizado no nível 1 (N1) de valores • Material recarburante: não foi utilizado nesse grupo de experimentos Tabela IV.1 – Plano de experimentos para o estudo da incorporação de hidrogênio Grupo Vazamento N1 1º X 2º X N2 Cal N1 FeSiMn N2 N1 N2 FeMn N1 N2 Recarb. N1 N2 X 3º X 4º X X 5º X X 6º X 7º X 8º X X 9º X X REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG X X X X X X X X Página 81 4. Metodologia Dissertação de Mestrado Onde: Vazamento: Condição de vazamento do aço líquido Recarb.: Material recarburante A tabela IV.2 mostra os dois níveis de valores (N1 e N2) que foram utilizados para cada variável investigada durante a realização dos experimentos. Tabela IV.2 – Níveis de valores para as variáveis investigadas nos grupos de experimentos Variável Nível 1 (N1) Nível 2 (N2) Condição de vazamento Vazamento efervescente Vazamento acalmado Cal Cal = 600kg Cal > 2000kg FeSiMn FeSiMn < 3500kg FeSiMn > 3500kg FeMn FeMn < 1200kg FeMn > 1200kg Material Recarburante Coque = 1500kg Grafite = 1500kg 4.3.4 VARIÁVEL RESPOSTA DOS EXPERIMENTOS A variável resposta de cada experiência foi o teor de hidrogênio presente no aço líquido. O teor de hidrogênio foi medido no desgaseificador a vácuo nº1 (RH1), utilizando-se o sistema Hydris de medição. Atualmente, o sistema Hydris é o padrão mundial da indústria para controle do teor de hidrogênio no aço líquido, com mais de 350 sistemas em operação. A medição foi feita antes do início de tratamento e os resultados obtidos foram correlacionados com as variáveis utilizadas nos experimentos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 82 4. Metodologia Dissertação de Mestrado 4.4 METODOLOGIA PARA A A NÁLISE DE R EGRESSÃO L INEAR MÚLTIPLA Após a realização dos experimentos e da análise dos resultados obtidos, foi implementada uma análise de regressão linear múltipla, considerando os dados mais relevantes de cada experiência realizada. A variável resposta ou variável dependente da equação de regressão foi o teor de hidrogênio presente no aço líquido e medido no desgaseificador a vácuo nº1 (RH1). As variáveis independentes analisadas foram todas aquelas estabelecidas no plano de experimentos e outras que foram utilizadas nas corridas, mas que não constavam no plano de experimentos, uma vez que as mesmas não eram passíveis de controle. 4.4.1 VARIÁVEIS UTILIZADAS NA ANÁLISE DE REGRESSÃO Ø Condição de vazamento (código: VAZ) Conforme explicado anteriormente, o vazamento do aço líquido no convertedor pode ser feito com ou sem alumínio. Quando há a adição de alumínio diz-se que a condição de vazamento é do tipo “acalmado”. Quando não ocorre a adição de alumínio, diz-se que o aço foi vazado na condição “efervescente”. Ø Ressopro no convertedor (código: RES) No fim de sopro no convertedor, se as condições visadas não forem obtidas, torna-se necessário efetuar um novo sopro de oxigênio, que é chamado de ressopro. Essa variável indicará se houve ou não ressopro na corrida. Ø Cal adicionada no convertedor (código: CALld) Trata-se da quantidade de cal adicionada no convertedor, após o fim de sopro e antes do vazamento do aço líquido na panela. Ø Dolomita crua adicionada no convertedor (código: CRUA1d) Trata-se da quantidade de dolomita crua adicionada no convertedor, após o fim de sopro e REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 83 4. Metodologia Dissertação de Mestrado antes do vazamento do aço líquido na panela. Ø Cal adicionada na panela (código: CALp) Trata-se da quantidade de cal adicionada na panela, durante o vazamento do aço líquido. Ø Cal Dolomítica adicionada na panela (código: DOLp) Trata-se da quantidade de cal dolomítica adicionada na panela, durante o vazamento do aço líquido. Ø Ferro-Silício-Manganês (código: SiMn) Trata-se da quantidade de ferro-silício- manganês (liga com 66% de Mn e 16% de Si) adicionada na panela durante o vazamento do aço líquido. Ø Ferro-Silício (código: FeSi) Trata-se da quantidade de ferro-silício (liga com 77% de Si) adicionada na panela durante o vazamento do aço líquido Ø Ferro-Manganês_alto-carbono (código: FeMnAC) Trata-se da quantidade de ferro- manganês-alto-carbono (liga com 76% de Mn e 7% de C) adicionada na panela durante o vazamento do aço líquido. Ø Ferro-Manganês-Médio-Carbono (código: Fe MnMC) Trata-se da quantidade de ferro-manganês- médio-carbono (liga com 79% de Mn e 1,4% de C) adicionada na panela durante o vazamento do aço líquido. Ø Manganês Metálico (código: Mn met) Trata-se da quantidade de manganês metálico (liga com 99,5% de Mn) adicionada na panela durante o vazamento do aço líquido. Ø Ferro-Manganês Total (código: Mntot) Trata-se do somatório de todos os tipos de ferro-ligas à base de ferro- manganês adicionado na panela durante o vazamento do aço líquido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 84 4. Metodologia Dissertação de Mestrado Ø Coque (código: Coque ) Trata-se de um tipo de material recarburante (com 89% de C), adicionado na panela durante o vazamento do aço líquido. Ø Grafite (código: Grafite) Trata-se de outro tipo de material recarburante (com 93% de C) que também é adicionado na panela durante o vazamento do aço líquido Ø Umidade (código: UMID) Trata-se do teor de umidade relativa do ar, medido na área administrativa da ArcelorMittal Tubarão. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 85 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 EXPERIMENTOS REALIZADOS NA P ANELA DE AÇO Neste capítulo serão apresentados todos os resultados e conclusões prévias obtidos durante a realização dos experimentos, cuja metodologia foi explicada no capítulo anterior. Os resultados de cada grupo de experimentos são os seguintes: Ø Resultados do 1º grupo de experimentos O 1º grupo de experimentos foi conduzido em 10 corridas, seguindo as diretrizes do plano de experimentos apresentado anteriormente, contemplando os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “efervescente”, ou seja, sem adição de alumínio • Vazamento sem adição de cal, FeSiMn, de ligas de FeMn e de materiais recarburantes Os resultados alcançados no 1º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.1. O teor de hidrogênio foi medido com o sistema Hydris, antes do início do tratamento no RH1. O teor de oxigênio, apresentado na tabela V.1, também foi medido antes do início do tratamento da corrida no RH1, e serve para mostrar o nível de oxidação alcançado com o vazamento do aço líquido na condição “efervescente”. Como pode ser verificado, o teor médio de hidrogênio foi de 1,7ppm. Tabela V.1 – Resultados do 1º grupo de experimentos Corrida 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média Desvio Padrão REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Teor de oxigênio no RH (ppm) 610 612 552 554 394 504 843 506 939 783 629 171 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 2,2 1,5 1,7 1,9 1,3 1,9 1,6 1,5 2,2 1,6 1,7 0,3 Página 86 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A figura 5.1 mostra um histograma com a distribuição dos valores de hidrogênio, obtidos % durante a realização do 1º grupo de experimentos. 40 35 30 25 20 15 10 5 0 até 1,4 1,6 1,8 2 até 2,2 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.1 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 1º grupo de experimentos Ø Resultados do 2º grupo de experimentos O 2º grupo de experimentos foi conduzido em 9 corridas, de acordo com os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “efervescente”, ou seja, sem adição de alumínio • Vazamento com adição de cal no nível 1 (adição = 600kg) • Vazamento sem adição de FeSiMn, de ligas de FeMn e de materiais recarburantes Os resultados alcançados no 2º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.2. Como no caso anterior, o teor de oxigênio apresentado foi medido no RH1, antes do início do tratamento da corrida. O teor médio de hidrogênio obtido foi de 1,9ppm. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 87 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Tabela V.2 – Resultados do 2º grupo de experimentos Corrida Cal (kg) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Média Desvio Padrão 589 599 600 600 1102 604 596 601 596 654 168 Teor de oxigênio no RH (ppm) 628 697 549 219 403 420 454 310 417 455 150 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 2,9 1,0 2,2 1,6 2,3 1,7 1,6 2,1 1,3 1,9 0,6 A figura 5.2 apresenta um histograma com a distribuição dos valores de hidrogênio obtidos durante a realização do 2º grupo de experimentos. 35 30 % 25 20 15 10 5 0 até 1,4 1,8 2,2 2,6 até 3,0 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.2 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 2º grupo de experimentos REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 88 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Ø Resultados do 3º grupo de experimentos O 3º grupo de experimentos foi conduzido em 8 corridas, de acordo com os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “acalmado”, ou seja, com adição de alumínio • Vazamento sem adição de cal, de FeSiMn, de ligas de FeMn e de materiais recarburantes Os resultados alcançados no 3º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.3. O teor de oxigênio apresentado foi medido antes do iníc io do tratamento da corrida no RH1, e serve para ilustrar o nível de oxidação obtido com o vazamento do aço líquido na condição “acalmado”. O teor de hidrogênio presente no aço líquido, que é a variável resposta do experimento, apresentou um valor médio de 2,0ppm. Tabela V.3 – Resultados do 3º grupo de experimentos Corrida 1 2 3 4 5 6 7 8 Média Desvio Padrão Teor de oxigênio no RH (ppm) 6,5 8,5 8,0 7,1 49,2 4,3 3,0 6,8 11,7 15,3 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 2,7 2,1 1,6 1,6 2,2 2,1 2,1 1,9 2,0 0,4 A figura 5.3, mostrada a seguir, apresenta um histograma com a distribuição dos valores de hidrogênio obtidos durante a realização do 3º grupo de experimentos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 89 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 50 40 % 30 20 10 0 até 1,4 1,8 2,2 2,6 até 3,0 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.3 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 3º grupo de experimentos Ø Resultados do 4º grupo de experimentos O 4º grupo de experimentos foi conduzido em 7 corridas, de acordo com os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “acalmado”, ou seja, com adição de alumínio • Vazamento com adição de cal no nível 1 (adição = 600kg) • Vazamento sem adição de FeSiMn, de ligas de FeMn e de materiais recarburantes Os resultados alcançados no 4º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.4. Como nos casos anteriores, o teor de oxigênio foi medido antes do início do tratamento da corrida no RH1. Como pode ser verificado, o teor médio de hidrogênio foi de 2,2ppm. Tabela V.4 – Resultados do 4º grupo de experimentos Corrida Cal (kg) 1 2 3 4 5 6 7 Média Desvio Padrão 598 603 601 600 598 594 599 599 3 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Teor de oxigênio no RH (ppm) 11,1 3,6 3,5 2,7 5,5 4,9 5,8 5,3 2,8 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 2,2 3,2 1,7 1,7 2,9 1,7 2,1 2,2 0,6 Página 90 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A figura 5.4 mostra um histograma com a distribuição dos valores de hidrogênio obtidos % durante a realização do 4º grupo de experimentos. 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 até 2,0 2,3 2,6 2,9 até 3,2 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.4 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 4º grupo de experimentos Ø Resultados do 5º grupo de experimentos O 5º grupo de experimentos foi conduzido em 6 corridas, de acordo com os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “acalmado”, ou seja, com adição de alumínio • Vazamento com adição de cal no nível 1 (adição = 600kg) • Vazamento com adição de ligas de FeMn no nível 1 (adição total < 1200kg) • Vazamento sem adição de FeSiMn e materiais recarburantes Os resultados alcançados no 5º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.5, mostrada a seguir. Como pode ser verificado, o teor médio de hidrogênio foi de 2,9ppm REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 91 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Tabela V.5 – Resultados do 5º grupo de experimentos Corrida Cal (kg) FeMnAC (kg) FeMnMC (kg) 1 2 3 4 5 6 Média Desvio Padrão 459 697 500 593 581 593 571 83 323 373 1125 0 0 0 304 437 0 808 0 0 800 821 405 444 Mn Metálico (kg) 0 0 0 505 0 0 84 206 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 3,8 4,1 2,9 2,0 2,5 1,9 2,9 0,9 Onde: FeMnAC: Ferro-manganês com alto teor de carbono (liga com 76% de Mn e 7% de C) FeMnMC: Ferro- manganês com médio teor de carbono (liga com 79% de Mn e 1,4% de C) Mn metálico: Manganês puro (liga com 99,5% de Mn) A figura 5.5 apresenta um histograma com a distribuição dos valores de hid rogênio obtidos durante a realização do 5º grupo de experimentos. 35 30 % 25 20 15 10 5 0 até 2,1 2,6 3,1 3,6 4,1 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.5 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 5º grupo de experimentos REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 92 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Ø Resultados do 6º grupo de experimentos O 6º grupo de experimentos foi conduzido em 10 corridas, de acordo com os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “acalmado”, ou seja, com adição de alumínio • Vazamento com adição de FeSiMn no nível 2 (adição > 3500kg) • Vazamento sem adição de cal, de ligas de FeMn e de materiais recarburantes Os resultados alcançados no 6º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.6. Como pode ser verificado, o teor médio de hidrogênio foi de 4,0ppm Tabela V.6 – Resultados do 6º grupo de experimentos Corrida 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média Desvio Padrão FeSiMn (kg) 5874 5677 5563 5612 5692 5774 5638 5725 6009 5709 5727 131 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 3,3 4,6 3,7 4,1 4,2 3,9 3,6 4,3 3,6 4,9 4,0 0,5 A figura 5.6, mostrada a seguir, apresenta um histograma com a distribuição dos valores de hidrogênio obtidos durante a realização do 6º grupo de experimentos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 93 % 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 40 35 30 25 20 15 10 5 0 até 3,0 3,5 4 4,5 5 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.6 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 6º grupo de experimentos Ø Resultados do 7º grupo de experimentos O 7º grupo de experimentos foi conduzido em 7 corridas, de acordo com os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “acalmado”, ou seja, com adição de alumínio • Vazamento com adição de FeSiMn no nível 1 (adição < 3500kg) • Vazamento com adição de material recarburante no nível 1 (coque = 1500kg) • Vazamento sem adição de cal e de ligas de FeMn Os resultados alcançados no 7º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.7. O teor médio de hidrogênio, considerando as 7 corridas, foi de 5,2ppm. Tabela V.7 – Resultados do 7º grupo de experimentos Corrida 1 2 3 4 5 6 7 Média Desvio Padrão REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG FeSiMn (kg) 3158 3468 2987 2913 3010 3279 3112 3132 191 Coque (kg) 1599 1501 1499 1550 1496 1500 1499 1521 39 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 5,8 4,7 5,0 5,2 5,2 4,6 5,6 5,2 0,4 Página 94 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A figura 5.7 mostra um histograma com a distribuição dos valores de hidrogênio obtidos durante a realização do 7º grupo de experimentos. 30 25 % 20 15 10 5 0 até 4,2 4,6 5 5,4 5,8 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.7 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 7º grupo de experimentos Ø Resultados do 8º grupo de experimentos O 8º grupo de experimentos foi conduzido em 6 corridas, de acordo com os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “acalmado”, ou seja, com adição de alumínio • Vazamento com adição de cal no nível 2 (adição > 2000kg) • Vazamento com adição de FeSiMn no nível 2 (adição > 3500kg) • Vazamento com adição de ligas de FeMn no nível 2 (adição total > 1200kg) • Vazamento sem adição de materiais recarburantes Os resultados alcançados no 8º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.8, apresentada a seguir. Como pode ser verificado, o teor médio de hidrogênio foi de 5,3ppm. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 95 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Tabela V.8 – Resultados do 8º grupo de experimentos Corrida 1 2 3 4 5 6 Média Desvio Padrão Cal (kg) 4032 3005 2000 3008 2003 3002 2842 763 FeSiMn (kg) 4435 4164 4279 4352 4495 4297 4337 118 FeMnMC (kg) 1888 1271 1686 1116 2015 1806 1630 358 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 3,3 5,8 4,7 4,9 5,5 7,3 5,3 1,3 Onde: FeMnMC: Ferro- manganês com médio teor de carbono (liga com 79% de Mn e 1,4% de C) A figura 5.8 mostra um histograma com a distribuição dos valores de hidrogênio obtidos durante a realização do 8º grupo de experimentos. 35 30 % 25 20 15 10 5 0 até 3,3 4,3 5,3 6,3 até 7,3 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.8 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 8º grupo de experimentos REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 96 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Ø Resultados do 9º grupo de experimentos O 9º e último grupo de experimentos foi conduzido em 6 corridas, de acordo com os seguintes procedimentos: • Vazamento do aço na condição “acalmado”, ou seja, com adição de alumínio • Vazamento com adição de cal no nível 2 (adição > 2000kg) • Vazamento com adição de FeSiMn no nível 1 (adição < 3500kg) • Vazamento com adição de material recarburante no nível 2 (grafite = 1500kg) • Vazamento sem adição de ligas de FeMn Os resultados alcançados no 9º grupo de experimentos são apresentados na tabela V.9. O teor médio de hidrogênio, presente no aço líquido, foi de 5,4ppm. Tabela V.9 – Resultados do 9º grupo de experimentos Corrida 1 2 3 4 5 6 Média Desvio Padrão Cal (kg) 2007 2289 2007 2003 2007 1768 2014 165 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG FeSiMn (kg) 2542 2198 2204 2309 2386 2383 2337 130 Grafite (kg) 1400 1550 1400 1400 1600 1500 1475 88 Teor de hidrogênio no RH (ppm) 5,8 6,7 4,8 4,7 5,8 4,5 5,4 0,9 Página 97 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A figura 5.9, apresentada a seguir, mostra um histograma com a distribuição dos valores de hidrogênio obtidos durante a realização do 9º grupo de experimentos. 35 30 % 25 20 15 10 5 0 até 4,7 5,2 5,7 6,2 até 6,7 Teor de hidrogênio (ppm) Figura 5.9 – Distribuição dos valores de hidrogênio do 9º grupo de experimentos REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 98 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 5.1.2 EVOLUÇÃO DO TEOR DE HIDROGÊNIO Como apresentado anteriormente, foram realizadas 69 experiências, distribuídas em 9 grupos de experimentos. Os procedimentos operacionais adotados nos experimentos foram implementados durante e após o vazamento do aço líquido, com as corridas ainda nas alas dos convertedores. Por sua vez, a variável resposta, o teor de hidrogênio, foi medida com a corrida já posicionada no desgaseificador a vácuo, porém antes de se iniciar o tratamento da mesma. A tabela V.10 mostra, de forma global, os resultados dos 9 grupos de experimentos. Para cada grupo de experimentos, são apresentados os valores médios de cada variável utilizada e o resultado final do experimento, na forma do teor médio de hidrogênio. Os campos tracejados indicam que aquela variável não foi utilizada no grupo de experimentos. Tabela V.10 – Resultados gerais de todos os grupos de experimentos Grupo Vaz. 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º EF EF AC AC AC AC AC AC AC Cal (kg) ---654 ---599 571 ------2842 2014 Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn ---------------------------793 5727 ---3132 ---4337 1630 2337 ---- Recarburantes (kg) Coque Grafite ------------------------------------1521 ------------1475 H (ppm) 1,7 1,9 2,0 2,2 2,9 4,0 5,2 5,3 5,4 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido EF: Vazamento efervescente (sem adição de alumínio) AC: Vazamento acalmado (com adição de alumínio) A primeira informação que se extrai da tabela V.10 é a de que ocorre um gradativo aumento no teor médio de hidrogênio, à medida que se avança de um grupo de experimentos para outro. O aumento no teor de hidrogênio, do 1º para o 9º grupo de experimentos, no valor de 3,7ppm, foi bastante significativo. Na verdade, os experimentos foram planejados para que essa gradação de valores pudesse ser comprovada e comparada com os dados de literatura. O plano de experimentos possui REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 99 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado sustent ação teórica, uma vez que foram consideradas as principais fontes de incorporação de hidrogênio mencionadas em artigos técnicos de diversos pesquisadores. A figura 5.10 mostra, de uma forma mais didática, como houve um constante e gradativo aumento no teor de hidrogênio presente no aço líquido, ao se avançar de um grupo de experimentos para outro. Se em determinado momento o aumento foi de apenas 0,1ppm, em outra ocasião verificou-se uma elevação extremamente significativa de 1,2ppm. 5,6 5,2 5,3 5,4 Teor médio de hidrogênio (ppm) 5,1 4,6 4,0 4,1 3,6 2,9 3,1 2,6 2,1 1,7 1,9 2,0 2,2 1,6 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º Grupos de Experimentos Figura 5.10 – Evolução do teor de hidrogênio em função do grupo de experimentos Nesse momento do estudo, pode-se concluir, ainda que de forma preliminar, que foram identificadas importantes variáveis responsáveis pela incorporação de hidrogênio no aço líquido, na aciaria da ArcelorMittal Tubarão. Aparentemente, todas as variáveis incluídas no plano de experimentos parecem influir no processo de incorporação de hidrogênio. A quantificação do papel de cada uma delas será feita na etapa de análise de regressão múltipla, assunto que será abordado em um capítulo específico. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página100 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 5.1.3 AVALIAÇÃO DA DISPERSÃO DOS RESULTADOS DE TEOR DE HIDROGÊNIO A ferramenta gráfica “Box-Plot” será utilizada para se obter uma visualização clara e rápida da variabilidade do processo de incorporação de hidrogênio, atuante nos nove grupos de experimentos que foram realizados. O Box-Plot é especialmente útil para mostrar a dispersão de resultados de um grupo de dados e as diferenças que existem entre vários outros grupos. Além disso, ele permite identificar a presença de “outliers”, que são pontos da distribuição que apresentam algum tipo de anomalia. Conforme mostrado na figura 5.11, o Box-Plot da mediana é uma representação gráfica, no formato de caixa, consistindo dos seguintes itens principais: • Máximo: é o maior valor da distribuição de dados • 3º Quartil: valor abaixo do qual estão 75% do conjunto de dados • Mediana(linha central da caixa): valor abaixo do qual estão 50% do conjunto de dados • 1º Quartil: valor abaixo do qual estão 25% do conjunto de dados • Mínimo: é o menor valor da distribuição de dados Maior valor 3º Quartil Mediana 1º Quartil Menor valor Figura 5.11 – Configuração básica do gráfico do tipo Box-Plot da Mediana REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página101 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A figura 5.12 mostra uma disposição gráfica do tipo “Box-Plot”, para a mediana, onde se pode avaliar a simetria e a dispersão dos resultados do teor de hidrogênio presente no aço líquido, para cada grupo de experimentos. A mediana divide um conjunto ordenado de dados em dois grupos de quantidades iguais. A metade do grupo estará abaixo e, a outra metade, acima da mediana. 8 Mediana Teor de Hidrogênio (ppm) 7 25% - 75% Faixa dos valores 6 5 4 3 2 1 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º Grupos de Experimentos Figura 5.12 – Box-Plot (da mediana) mostrando a distribuição dos resultados de hidrogênio por grupo de experimentos Inicialmente, verifica-se que alguns grupos apresentam uma pequena dispersão de resultados, enquanto outros grupos apresentam uma grande variação. O 1º grupo de experimentos, por exemplo, apresenta uma pequena dispersão de resultados de hidrogênio que pode ser explicada em função da ausência de adições (cal, ferro- ligas e materiais recarburantes) em seu plano de experimentos, ou seja, não houve a atuação das principais fontes de incorporação de hidrogênio. Além disso, esse grupo foi vazado na condição efervescente, o que dificulta a contaminação de hidrogênio oriunda de outras fontes não contempladas nos experimentos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página102 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Por sua vez, o 8º grupo de experimentos apresentou uma elevada dispersão de resultados que pode ser explicada pela grande adição de cal e FeSiMn na panela A tabela V.11 fornece maiores detalhes acerca da dispersão de resultados de hidrogênio encontrada em cada grupo de experimentos. Verifica-se que os quatro grupos (1º; 3º; 6º e 7º) que não tiveram a participação de cal em seus planos de experimentos apresentaram as menores dispersões de resultados. Tabela V.11 – Informações sobre a dispersão de resultados de cada grupo de experimento Nº de Grupo Dados Média do H Mediana Mínimo (ppm) (ppm) Máximo Var. (ppm) (ppm) (ppm) Desvio Erro Padrão Padrão (ppm) (ppm) 1º 10 1,74 1,65 1,30 2,20 0,09 0,30 0,10 2º 9 1,86 1,70 1,00 2,90 0,33 0,58 0,19 3º 8 2,04 2,10 1,60 2,70 0,13 0,35 0,13 4º 7 2,21 2,10 1,70 3,20 0,37 0,61 0,23 5º 6 2,87 2,70 1,90 4,10 0,84 0,92 0,37 6º 10 4,02 4,00 3,30 4,90 0,25 0,50 0,16 7º 7 5,16 5,20 4,60 5,80 0,19 0,44 0,17 8º 6 5,25 5,20 3,30 7,30 1,76 1,33 0,26 9º 6 5,38 5,30 4,50 6,70 0,73 0,86 0,35 Onde: Var. : Variância A figura 5.13, mostrada a seguir, apresenta os resultados de desvio padrão para o teor de hidrogênio contido no aço líquido em função de cada grupo de experimentos. Trata-se de uma nova forma de apresentar o que foi explicado anteriormente, desta vez graficamente. Pode-se verificar que os grupos com maiores dispersões de resultados são justamente aqueles com adição de cal na panela, durante o vazamento do aço líquido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página103 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Desvio padrão (ppm de H) 1,4 1,2 Sem Cal Com Cal 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 1º 3º 7º 6º 2º 4º 9º 5º 8º Grupos de Experimentos Figura 5.13 – Desvio padrão do teor de hidrogênio do aço líquido em função do grupo de experimentos O que é importante enfatizar é que a cal pode se tornar hidratada e provocar a incorporação de hidrogênio no aço líquido. Contudo, o rendimento de incorporação de hidrogênio é bastante instável. Diversos pesquisadores, entre eles Fruehan e Misra (2005), concluíram que a quantidade real de hidrogênio introduzida no aço líquido, em função da adição de cal na panela, é muito menor do que o valor teórico possível. A explicação estaria nas limitações cinéticas do processo de incorporação de hidrogênio. Portanto, uma maior adição de cal pode levar a uma maior incorporação de hidrogênio, mas também a uma maior dispersão de resultados. Na verdade, pouco se sabe a respeito do rendimento de incorporação de hidrogênio no aço líquido, e muito menos a respeito da dispersão dos resultados de incorporação. De qualquer modo, não é escopo desse estudo explicar em profundidade os motivos de uma maior ou menor dispersão de resultados de hidrogênio em determinado grupo de experimento. De modo geral, o que pode ser concluído é que os experimentos que foram conduzidos sem adição de material apresentaram uma menor dispersão de resultados. Para os demais casos, a maior dispersão pode estar relacionada ao tipo e quantidade de material adicionado. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página104 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 5.1.4 INCORPORAÇÃO GRADATIVA DE HIDROGÊNIO NO AÇO LÍQUIDO O 1º grupo de experimentos foi concebido, com base em dados de literatura, para ser a condição de tratamento de corridas que proporcionasse o nível mínimo de incorporação de hidrogênio no aço líquido. Como pode ser verificado, nesse grupo de experimentos não há qualquer adição de material e o aço é vazado da condição efervescente. Portanto, nenhuma das principais font es de incorporação de hidrogênio (fundentes, ferro- ligas e recarburantes) estará atuando no 1º grupo de experimentos. Além disso, o nível elevado de oxigênio presente no aço líquido irá reduzir a taxa de absorção de hidrogênio que por ventura possa vir a ocorrer, em função do teor de umidade da atmosfera ou devido a outro tipo de contaminante. Em resumo, não há muito mais o que possa ser feito para se reduzir ainda mais o nível de hidrogênio presente no aço líquido. Pode-se dizer que o resultado alcançado no 1º grupo de experimentos representa uma espécie de “piso operacional” para o processo de incorporação de hidrogênio. A partir desse “piso operacional”, qualquer exposição do aço líquido às possíveis fontes de incorporação de hidrogênio irá provocar a elevação do teor desse elemento, conforme demonstrado na tabela V.10 e na figura 5.10, apresentadas anteriormente. O aumento gradativo do teor de hidrogênio, verificado ao se avançar de um grupo de experimentos para outro, pode ser explicado da seguinte maneira: Ø Do 1º para o 2º Grupo de experimentos Esses dois grupos de experimentos foram planejados, nessa ordem, com o objetivo de se avaliar uma possível influência da adição padrão de cal na panela (em torno de 600kg) sobre o teor de hidrogênio presente no aço líquido, considerando somente corridas efervescentes. A figura 5.14, mostrada a seguir, apresenta um gráfico box-plot da mediana, comparando os resultados de hidrogênio entre o 1º e 2º grupos de experimentos. Verifica-se que o 2º grupo apresenta uma maior dispersão de resultados, cuja causa mais provável pode ser exatamente a adição de cal efetuada na panela. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página105 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 3,0 2,8 Teor de Hidrogênio (ppm) 2,6 Mediana 25% - 75% Faixa dos valores 2,4 2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 2º 1º Grupos de Experimentos Figura 5.14 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 1º e 2º grupos de experimentos A tabela V.12 mostra que, em termos de valores médios, o aumento no teor de hidrogênio foi de apenas 0,2ppm. Para os dois grupos de experimentos não há a adição de ferro- ligas ou materiais recarburantes. Ambas as condições adotam a modo de vazamento do tipo efervescente. A única diferença é que ocorre uma adição de 654kg de cal, em média, no 2º grupo de experimentos. Tabela V.12 – Evolução do teor de hidrogênio do 1º para o 2º grupo de experimentos Grupo Vaz. 1º 2º EF EF Cal (kg) ---654 Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn ------------- Recarburantes (kg) Coque Grafite ------------- H (ppm) 1,7 1,9 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido EF: Vazamento efervescente (sem adição de alumínio) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página106 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Em função das condições atmosféricas, a cal pode se tornar hidratada, transformando-se em uma poderosa fonte de incorporação de hidrogênio. Desse modo, a adição de cal no 2º grupo de experimentos pode ter influência na elevação do teor de hidrogênio que foi verificada. A quantificação dessa influência será feita na etapa de análise de regressão múltipla. Contudo, o que é importante salientar é que a elevação no teor de hidrogênio, apesar de pequena, está coerente com os dados de literatura técnica, apresentados no capítulo de pesquisa bibliográfica, que mostram que a cal é uma das mais importantes fontes de incorporação de hidrogênio. Ø Do 2º para o 3º Grupo de experimentos Através da figura 5.15 pode-se fazer uma comparação de resultados de hidrogênio entre o 2º e 3º grupos de experimentos. Verifica-se que o 2º grupo apresenta uma maior dispersão de resultados quando comparado com o 3º grupo de experimentos. 3,0 2,8 Teor de Hidrogênio (ppm) 2,6 2,4 2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 Mediana 25% - 75% Faixa dos valores 1,2 1,0 0,8 3º 2º Grupos de Experimentos Figura 5.15 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 2º e 3º grupos de experimentos REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página107 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Por sua vez, a tabela V.13 mostra que o aumento no teor de hidrogênio foi de apenas 0,1ppm. Como no caso anterior, para as duas condições também não há a adição de ferro- ligas ou materiais recarburantes. A diferença está no fato de que o 3º grupo de experimentos foi conduzido com o modo de vazamento do tipo acalmado e sem adição de cal na panela. Tabela V.13 – Evolução do teor de hidrogênio do 2º para o 3º grupo de experimentos Grupo Vaz. 2º 3º EF AC Cal (kg) 654 ---- Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn ------------- Recarburantes (kg) Coque Grafite ------------- H (ppm) 1,9 2,0 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido EF: Vazamento efervescente (sem adição de alumínio) AC: Vazamento acalmado (com adição de alumínio) No caso do 3º grupo de experimentos, existem duas variáveis que provocam efeitos distintos no tocante à incorporação de hidrogênio. Por um lado tem-se o vazamento acalmado, que reduz drasticamente o teor de oxigênio presente no aço líquido, tornando mais fácil a incorporação de hidrogênio de possíveis fontes contaminadoras. Por outro lado, a ausência de adição de cal é benéfica no controle do teor de hidrogênio. Para análise da incorporação total de hidrogênio, o resultado parece indicar que o efeito negativo da condição de vazamento possui mais relevância do que o efeito positivo da ausência de adição de cal. As corridas acalmadas, mesmo sem adição de cal (3º grupo), apresentaram um teor médio de hidrogênio maior do que as corridas efervescentes com e sem adição de cal (2º e 1º grupos, respectivamente). As diferenças são pequenas entre os grupos de experimentos, mas os resultados não são conflitantes com os dados de literatura. Ø Do 3º para o 4º Grupo de experimentos Esses dois grupos de experimentos também foram planejados, nessa ordem, com o objetivo de se avaliar uma possível influência da adição padrão de cal na panela (em torno de 600kg) sobre o teor de hidrogênio presente no aço líquido, desta vez considerando somente corridas acalmadas, ou seja, corridas vazadas com a adição de alumínio. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página108 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A figura 5.16 apresenta um gráfico box-plot da mediana, comparando os resultados de hidrogênio entre o 3º e 4º grupos de experimentos. Verifica-se que o 4º grupo apresenta uma maior dispersão de resultados quando comparado com o 3º grupo de experimentos. Aqui, como no caso explicado anteriormente, a causa mais provável pode ser exatamente a adição de cal efetuada na panela. 3,4 3,2 Teor de Hidrogênio (ppm) 3,0 Mediana 25% - 75% Faixa dos valores 2,8 2,6 2,4 2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 4º 3º Grupos de Experimentos Figura 5.16 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 3º e 4º grupos de experimentos Através da tabela V.14, mostrada a seguir, pode-se verificar que o aumento no teor de hidrogênio, quando se avança do 3º para o 4º grupo de experimentos, foi de 0,2ppm. Para as duas condições continua não havendo a adição de ferro- ligas ou materiais recarburantes. A única diferença é que ocorre uma adição de 599kg de cal, em média, no 4º grupo de experimentos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página109 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Tabela V.14 – Evolução do teor de hidrogênio do 3º para o 4º grupo de experimentos Grupo Vaz. 3º 4º AC AC Cal (kg) ---599 Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn ------------- Recarburantes (kg) Coque Grafite ------------- H (ppm) 2,0 2,2 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido AC: Vazamento acalmado (com adição de alumínio) No caso do 4º grupo de experimentos, verifica-se que as duas variáveis (condição de vazamento e adição de cal) estão atuando na mesma direção, ou seja, no sentido de se contribuir para a incorporação de hidrogênio ao aço líquido. Portanto, os efeitos das duas variáveis se somaram, gerando o grupo de experimentos com o maior teor de hidrogênio até esse momento do estudo. As condições estabelecidas na literatura técnica continuaram a ser respeitadas. Ø Do 4º para o 5º Grupo de experimentos Esses dois grupos de experimentos foram planejados, nessa ordem, com o intuito de se avaliar uma possível influência da adição de ligas de ferro- manganês (em torno de 800kg) sobre o teor de hidrogênio presente no aço líquido, considerando somente corridas acalmadas. Através da figura 5.17, apresentada a seguir, pode-se observar um gráfico box-plot da mediana, comparando os resultados de hidrogênio entre o 4º e 5º grupos de experimentos. Verifica-se que o 5º grupo apresenta uma maior dispersão de resultados, cuja causa mais provável pode ser exatamente a adição de ligas de ferro- manganês efetuada na panela. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página110 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 4,2 4,0 Teor de Hidrogênio (ppm) 3,8 Mediana 25% - 75% Faixa dos valores 3,6 3,4 3,2 3,0 2,8 2,6 2,4 2,2 2,0 1,8 1,6 5º 4º Grupos de Experimentos Figura 5. 17 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 4º e 5º grupos de experimentos A tabela V.15, mostrada a seguir, informa que, em termos de valores médios, o aumento no teor de hidrogênio, quando se avança do 4º para o 5º grupo de experimentos, foi de 0,7ppm. Nesse caso, trata-se de um aumento significativo. Ambos os grupos de experimentos foram conduzidos com vazamento acalmado e com adição de cal em torno de 600kg. Para ambas as condições, não houve adição de materiais recarburantes e de FeSiMn. A diferença entre os grupos ficou por conta da adição de ligas de ferro- manganês (FeMn), em um valor médio de 793kg, ocorrida somente no 5º grupo de experimentos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página111 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Tabela V.15 – Evolução do teor de hidrogênio do 4º para o 5º grupo de experimentos Grupo Vaz. 4º 5º AC AC Cal (kg) 599 571 Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn ---------793 Recarburantes (kg) Coque Grafite ------------- H (ppm) 2,2 2,9 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido AC: Vazamento acalmado (com adição de alumínio) Pelos resultados obtidos, fica evidente a influência da adição de ligas de ferro-manganês. A literatura técnica é farta em exemplos que mostram a influência da adição de ferro-ligas na incorporação de hidrogênio no aço líquido. Contudo, não se pode afirmar que toda a incorporação de hidrogênio verificada no 5º grupo de experimentos se deve, unicamente, à adição de ligas de ferro- manganês. Como foi explicado anteriormente, outras variáveis, que não fazem parte do estudo, podem estar atuando e contribuindo com alguma parcela. Ø Do 5º para o 6º Grupo de experimentos Nesse caso, esses dois grupos de experimentos foram planejados, nessa ordem, com o objetivo de se avaliar a influência de uma grande adição de FeSiMn(em torno de 5700kg) sobre o teor de hidrogênio presente no aço líquido, considerando somente corridas acalmadas. A figura 5.18, mostrada a seguir, apresenta um gráfico box-plot da mediana, comparando os resultados de hidrogênio entre o 5º e 6º grupos de experimentos. Verifica-se que o 5º grupo, apesar de ter sido conduzido com uma adição muito menor de ferro-ligas, apresenta uma maior dispersão de resultados quando comparado com o 6º grupo de experimentos. O 5º grupo foi conduzido com adição de cal na panela, o que não aconteceu com o 6º grupo. Tudo indica que a adição de cal provoca um aumento na dispersão de resultados, mas não se pode afirmar que essa foi a única razão para o aumento da dispersão verificado no 5º grupo de experimentos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página112 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 5,5 Mediana Teor de Hidrogênio (ppm) 5,0 25% - 75% Faixa dos valores 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 6º 5º Grupos de Experimentos Figura 5.18 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 5º e 6º grupos de experimentos A tabela V.16 mostra que o aumento no teor de hidrogênio, quando se avança do 5º para o 6º grupo de experimentos, foi de 1,1ppm. Verifica-se que nessa etapa dos experimentos os aumentos no teor de hidrogênio passaram a ser extremamente significativos. Ambos os grupos de experimentos foram conduzidos com vazamento acalmado e sem a adição de materiais recarburantes. A cal e as ligas de ferro-manganês deixaram de ser usadas, do 5º para o 6º grupo de experimentos, e o lugar desses materiais passou a ser ocupado pelo FeSiMn. Tabela V.16 – Evolução do teor de hidrogênio do 5º para o 6º grupo de experimentos Grupo Vaz. 5º 6º AC AC Cal (kg) 571 ---- Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn ---793 5727 ---- Recarburantes (kg) Coque Grafite ------------- H (ppm) 2,9 4,0 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido AC: Vazamento acalmado (com adição de alumínio) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página113 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado No caso do 6º grupo de experimentos, voltou-se a ter o exemplo de variáveis que provocam efeitos distintos no processo de incorporação de hidrogênio. Por um lado tem-se a ausência da adição de cal e de ligas de ferro-manganês, o que se traduz em uma redução na incorporação de hidrogênio. Por outro lado, verifica-se que houve uma adição média de 5727kg de FeSiMn, que certamente contribuiu para um aumento no teor de hidrogênio presente no aço líquido. Para efeito de incorporação de hidrogênio, o resultado parece indicar que o efeito positivo da ausência de cal e de ligas de ferro- manganês não foi suficiente, nem de perto, para equilibrar o efeito negativo de uma alta quantidade de FeSiMn adicionado na panela. Portanto, fica evidente que o grande responsável pelo significativo aumento no teor de hidrogênio foi o FeSiMn. Esse é mais um exemplo de que os ferro- ligas também devem ser considerados como uma das mais importantes fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido. Ø Do 6º para o 7º Grupo de experimentos Esses dois grupos de experimentos foram planejados, nessa ordem, com o objetivo de se avaliar a possível influência de uma grande adição de coque (em torno de 1500kg) sobre o teor de hidrogênio presente no aço líquido, considerando somente corridas acalmadas. A figura 5.19, mostrada a seguir, apresenta um gráfico box-plot da mediana, comparando os resultados de hidrogênio entre o 6º e 7º grupos de experimentos. Verifica-se que, apesar da grande diferença das adições feitas na panela, as dispersões de resultados não se mostraram diferentes na mesma proporção. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página114 5. Resultados e Discussão 6,0 5,8 5,6 Teor de Hidrogênio (ppm) 5,4 Dissertação de Mestrado Mediana 25% - 75% Faixa dos valores 5,2 5,0 4,8 4,6 4,4 4,2 4,0 3,8 3,6 3,4 3,2 3,0 7º 6º Grupos de Experimentos Figura 5.19 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 6º e 7º grupos de experimentos A tabela V.17, mostrada a seguir, indica que o aumento no teor de hidrogênio, quando se avança do 6º para o 7º grupo de experimentos, foi de 1,2ppm. Trata-se de um aumento extremamente significativo e o maior que foi encontrado nesse estudo. Ambos os grupos de experimentos foram conduzidos com vazamento acalmado e sem adição de cal e de ligas de ferro- manganês. O 7º grupo, quando comparado com o 6º grupo, reduziu a adição de FeSiMn e passou a utilizar o coque, como material recarburante, considerando uma adição média de 1521kg. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página115 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Tabela V.17 – Evolução do teor de hidrogênio do 6º para o 7º grupo de experimentos Grupo Vaz. 6º 7º AC AC Cal (kg) ------- Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn 5727 ---3132 ---- Recarburantes (kg) Coque Grafite ------1521 ---- H (ppm) 4,0 5,2 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido AC: Vazamento acalmado (com adição de alumínio) Pelos resultados encontrados no 7º grupo de experimentos, fica evidente a influência do coque. Com a redução na adição de FeSiMn, pode-se concluir que a única razão para o aumento de 1,2ppm no teor de hidrogênio é a adição de coque, que é um importante material recarburante, utilizado nas aciarias de todo o mundo. Aqui, mais uma vez, cumpre destacar que os dados de literatura apresentam inúmeros exemplos da influência da adição de coque na incorporação de hidrogênio no aço líquido. Ø Do 7º para o 8º Grupo de experimentos Nesse caso, esses dois grupos de experimentos foram planejados, nessa ordem, com o objetivo de se avaliar a possível influência de uma grande adição de cal na panela (em torno de 2800kg) sobre o teor de hidrogênio presente no aço líquido, considerando somente corridas acalmadas. A figura 5.20, mostrada a seguir, apresenta um gráfico box-plot da mediana, comparando os resultados de hidrogênio entre o 7º e 8º grupos de experimentos. Verifica-se que o 8º grupo apresenta uma dispersão significativamente maior de resultados. Na verdade, considerando todos os experimentos realizados, esse grupo foi o que apresentou o maior desvio padrão para os resultados do teor de hidrogênio. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página116 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 7,5 7,0 Teor de Hidrogênio (ppm) 6,5 Mediana 25% - 75% Faixa dos valores 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 8º 7º Grupos de Experimentos Figura 5.20 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 7º e 8º grupos de experimentos A tabela V.18, mostrada a seguir, indica que o aumento no teor de hidrogênio, quando se avança do 7º para o 8º grupo de experimentos, foi de apenas 0,1ppm. Verifica-se que nessa etapa dos experimentos os aumentos no teor de hidrogênio voltaram para os patamares do início da fase de testes. No 8º grupo de experimentos não houve adição de materiais recarburantes, a adição de FeSiMn sofreu um aumento e passou-se a adicionar também as ligas de ferro-manganês (FeMn). Além disso, o 8º grupo contemplou uma grande adição de cal na panela, sendo essa uma adição típica da produção de aços com baixos teores de enxofre (S < 0,0050%). REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página117 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Tabela V.18 – Evolução do teor de hidrogênio do 7º para o 8º grupo de experimentos Grupo Vaz. 7º 8º AC AC Cal (kg) ---2842 Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn 3132 ---4337 1630 Recarburantes (kg) Coque Grafite 1521 ---------- H (ppm) 5,2 5,3 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido AC: Vazamento acalmado (com adição de alumínio) Ao se analisar o 8º grupo de experimentos, verifica-se, mais uma vez, que foram utilizadas variáveis capazes de provocar efeitos distintos no processo de incorporação de hidrogênio. Por um lado tem-se a ausência da adição de coque, o que proporciona uma redução na incorporação de hidrogênio. Por outro lado, verifica-se que houve um aumento na adição de FeSiMn, que passou-se a utilizar as ligas de ferro- manganês e que houve uma grande adição de cal na panela. Essas adições, quando analisadas isoladamente, certamente conduzem a um aumento no teor de hidrogênio. Quando se analisa o processo de incorporação de hidrogênio entre o 7º e 8º grupos de experimentos, o resultado parece indicar que o efeito positivo da ausência do coque no 8º grupo de experimentos foi capaz de praticamente equilibrar os efeitos negativos de 3 variáveis, sendo que uma delas é uma grande adição de cal na panela. Essa conc lusão, juntamente com a apresentada no item anterior (do 6º para o 7º grupo de experimentos), confirma que o coque também é uma das mais importantes fontes de incorporação de hidrogênio Ø Do 8º para o 9º Grupo de experimentos Esses dois grupos de experimentos foram planejados, nessa ordem, com o objetivo de se avaliar a possível influência de uma grande adição de grafite na panela (em torno de 1500kg) sobre o teor de hidrogênio presente no aço líquido, considerando somente corridas acalmadas. A figura 5.21 apresenta um gráfico box-plot da mediana, comparando os resultados de hidrogênio entre o 8º e 9º grupos de experimentos. Verifica-se que o 9º grupo apresenta uma dispersão de resultados significativa mente menor quando comparado com o 8º grupo de experimentos. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página118 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 7,5 Teor de Hidrogênio (ppm) 7,0 6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 Mediana 25% - 75% Faixa dos valores 3,5 3,0 9º 8º Grupos de Experimentos Figura 5.21 – Box-Plot (da mediana) comparando os resultados de hidrogênio entre o 8º e 9º grupos de experimentos A tabela V.19, mostrada a seguir, indica que o aumento no teor de hidrogênio, ao se avançar do 8º para o 9º grupo de experimentos, também foi de apenas 0,1ppm, como no caso anterior. No 9º grupo de experimentos houve uma redução significativa na adição de FeSiMn e de cal, cancelou-se a adição de ligas de ferro-manganês e passou-se a adicionar o grafite, que é outro tipo de material recarburante. Tabela V.19 – Evolução do teor de hidrogênio do 8º para o 9º grupo de experimentos Grupo Vaz. 8º 9º AC AC Cal (kg) 2842 2014 Ferro-Ligas (kg) FeSiMn FeMn 4337 1630 2337 ---- Recarburantes (kg) Coque Grafite ---------1475 H (ppm) 5,3 5,4 Onde: Vaz.: Condição de vazamento do aço líquido AC: Vazamento acalmado (com adição de alumínio) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página119 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Finalmente, ao se analisar o 9º grupo de experimentos, pode-se constatar que as variáveis se posicionaram novamente em direções opostas. Por um lado tem-se a redução significativa nas adições de cal e FeSiMn, além da eliminação da adição de ligas de ferro- manganês, o que certamente reduz a incorporação de hidrogênio no aço líquido. Por outro lado, verifica-se que se passou a adicionar uma grande quantidade de material recarburante, no caso o grafite. Espera-se que o grafite tenha o mesmo efeito do coque, ou seja, que aumente o teor de hidrogênio. Ao se analisar o processo de incorporação de hidrogênio entre o 8º e 9º grupos de experimentos, o resultado parece indicar que o efeito positivo da redução da adição de materiais como cal, FeSiMn e ligas de ferro- manganês foi equilibrado pelo efeito negativo gerado pela adição de grafite. A conclusão que se chega é a de que o grafite é tão importante quanto o coque, confirmando que os materiais recarburantes também são uma das mais importantes fontes de incorporação de hidrogênio no aço líquido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página120 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 5.1.5 AVALIAÇÃO DAS M ÉDIAS DOS RESULTADOS DE HIDROGÊNIO Conforme apresentado anteriormente, verificou-se que ocorreu um gradativo aumento no teor médio de hidrogênio, à medida que se avançou de um grupo de experimentos para outro. Contudo, antes de se concluir que os valores médios de hidrogênio realmente aumentaram, é preciso avaliar se as médias dos grupos de experimentos são realmente diferentes entre si. Existem duas ferramentas que permitem esse tipo de avaliação: - Gráfico Box-Plot para a média - Teste t de Student para comparação de médias de duas populações Ø AVALIAÇÃO DAS MÉDIAS ATRAVÉS DO GRÁFICO BOX-PLOT Conforme mostrado na figura 5.22, o Box-Plot da média é uma representação gráfica, no formato de caixa, consistindo dos seguintes itens principais: • Média + CI (intervalo de confiança) • Média + SE (erro padrão) • Média (linha central da caixa) • Média - SE (erro padrão) • Média - CI (intervalo de confiança) Média + CI Média + SE Média Média - SE Média - CI Figura 5.22 – Configuração básica do gráfico do tipo Box-Plot da Média REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página121 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Como Paes (2008) afirma, caso o objetivo de um determinado estudo seja fazer inferências sobre as médias, como por exemplo, comparar médias de diferentes populações, o erro padrão ou intervalos de confiança são considerados mais adequados de serem utilizados no momento da apresentação dos resultados. O erro padrão (SE) pode ser descrito como sendo a precisão ou incerteza da média de uma única amostra quando a mesma é utilizada como uma estimativa da média da população. O valor do erro padrão pode ser obtido através da equação 5.1, apresentada a seguir: SE = (s ) / (n)1/2 (5.1) Onde: s : desvio padrão n: tamanho ou número de dados da amostra Por sua vez, o intervalo de confiança (CI) para a média fornece uma faixa de valores em torno da média da amostra, onde se espera que a média de uma população esteja localizada, considerando-se um determinado nível de confiança. Segundo Paes (2008), o intervalo de confiança fornece um intervalo de valores plausíveis para a média populacional. O valor do intervalo de confiança pode ser calculado conforme mostrado na equação 5.2, apresentada abaixo. CI = (média amostral) ± (c x SE) (5.2) Onde: c: coeficiente associado a uma distribuição teórica (normal ou t de Student) SE: erro padrão Ainda segundo Paes (2008), na maioria dos estudos, o valor de c adotado é aproximadamente igual a dois, o que corresponde a um grau de confiança de 95% para o intervalo. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página122 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A figura 5.23, mostrada a seguir, apresenta uma disposição gráfica do tipo “Box-Plot” para a média, onde se pode fazer inferências sobre as médias de cada um dos grupos de experimentos realizados nesse estudo. Como foi informado anteriormente, o erro padrão (SE) e o intervalo de confiança de 95% (0,95 CI) serão utilizados como medidas de variabilidade dos dados, uma vez que se pretende comparar médias de diferentes populações. 7 Média Média +/- SE Teor de Hidrogênio (ppm) 6 Média +/- 0,95 CI 5 4 3 2 1 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º Grupos de Experimentos Figura 5.23 – Box-Plot (da média) mostrando a distribuição dos resultados de hidrogênio por grupo de experimentos Inicialmente, verifica-se que os Box-Plots de alguns grupos de experimentos apresentam uma grande sobreposição de intervalos de confiança, indicando que as médias desses grupos de experimentos não são, em termos estatísticos, diferentes entre si. Considerando o conceito de sobreposição ou interseção de intervalos de confiança, pode-se concluir que os seguintes casos apresentam grupos de experimentos cujas médias não diferem entre si: REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página123 5. Resultados e Discussão • Dissertação de Mestrado Caso 1 è 1º; 2º; 3º e 4º grupos O caso 1 mostra uma grande sobreposição de resultados. Os intervalos de confiança do 1º e 3º grupos estão praticamente inseridos no intervalo do 4º grupo. Já o 2º grupo apresenta uma grande, mas não completa, sobreposição de resultados com o 4º grupo. • Caso 2 è 4º e 5º grupos O intervalo do 4º grupo está praticamente inserido no intervalo de confiança do 5º grupo. • Caso 3 è 7º; 8º; e 9º grupos O caso 3 mostra uma completa sobreposição de resultados. Os intervalos de confiança do 7º e 9º grupos estão totalmente inseridos no intervalo do 8º grupo. Por outro lado, alguns grupos de experimentos apresentam pouca ou nenhuma sobreposição de intervalos de confiança, indicando que as médias desses grupos são realmente diferentes. Portanto, baseado no gráfico Box-Plot, pode-se concluir que os seguintes grupos (ou conjuntos de grupos) de experimentos apresentam médias diferentes entre si: • 1º; 2º; e 3º grupos ? 5º grupo • 5º grupo ? 6º grupo • 6º grupo ? 7º; 8º; e 9º grupos Ø AVALIAÇÃO DAS MÉDIAS ATRAVÉS DO TESTE T DE STUDENT A sobreposição ou não de intervalos de confiança, trazendo informações sobre a diferença ou não das médias dos grupos de experimentos, poderia dispensar a realização de testes estatísticos formais. Contudo, no sentido de ratificar as conclusões obtidas até esse momento, optou-se pela realização do teste t de Student para comparação de médias de duas populações. Uma série de conceitos estatísticos, necessários para a realização e correto entendimento dos resultados do teste t, serão abordados de forma simplificada e apresentados a seguir. Sem se aprofundar muito em conceitos estatísticos, uma vez que este não é o objetivo desse estudo, pode-se dizer que o teste t é o método mais comumente utilizado para se avaliar as diferenças em médias de duas amostras independentes. A razão desse nome vem da utilização da distribuição t, que substitui a distribuição normal no caso de não se conhecer o desvio padrão da população e em vez deste utilizar-se o desvio padrão da amostra. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página124 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Normalmente, os intervalos de confiança são a forma mais informativa de apresentar os resultados principais de um estudo. Contudo, algumas vezes existe um particular interesse em verificar determinadas afirmações ou conjecturas. Por exemplo, pode-se estar interessado em determinar se populações diferentes são similares do ponto de vista probabilístico. O conceito de hipótese estatística pode ser definido como qualquer afirmação que se faça sobre um parâmetro populacional desconhecido. A idéia básica é que a partir de uma amostra da população irá se estabelecer uma regra de decisão, chamada de teste de hipótese, segundo a qual se rejeitará ou aceitará a hipótese proposta. Normalmente existe uma hipótese que é mais importante para o pesquisador, sendo chamada de hipótese nula (H0 ). A hipótese nula é uma hipótese que é presumida verdadeira até que provas estatísticas, sob a forma de testes de hipóteses, indiquem o contrário. É uma hipótese onde se está interessado em confrontar com os fatos. Por diversas vezes é uma afirmação quanto a um parâmetro que é propriedade de uma população, sendo que é impossível se observar toda a população, e o teste é baseado na observação de uma amostra aleatória da população. Tal parâmetro é frequentemente a média ou desvio padrão. Por outro lado, qualquer outra hipótese diferente de H0 será chamada de hipótese alternativa (H1 ). A hipótese nula expressa uma igualdade, enquanto que a hipótese alternativa é dada por uma desigualdade. Portanto, na comparação de médias de duas populações, a hipótese nula consiste em se considerar que não há diferença entre as duas médias. Uma forte evidência contra a hipótese nula pode ser avaliada através do valor de p (p-valor), que representa a probabilidade de se observar uma diferença entre as médias de dois grupos, quando, na verdade, esta diferença não existe. Se o valor de p for menor do que o nível de significância estipulado, em geral de 5%, rejeita-se a hipótese nula. Ao contrário, se o valor de p for maior aceita-se a hipótese nula. A utilização do teste t de Student pode ser apresentada através do exemplo mostrado a seguir, que procura avaliar se a diferença entre as médias do teor de hidrogênio do 1º e 3º grupos de experimentos pode ser considerada estatisticamente significativa. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página125 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Nesse caso teremos: • H0 (hipótese nula) è média do 1º grupo = média do 3º grupo de experimentos • H1 (hipótese alternativa) è média do 1º grupo ? média do 3º grupo de experimentos • Nível de significância è 5% A principal informação obtida do teste t, conforme mostrado na tabela V.20, é o valor de p. Normalmente considera-se um valor de p de 0,05 como o patamar para se avaliar a hipótese nula. Se o valor de p for inferior ou igual a 0,05 pode-se rejeitar a hipótese nula. Em caso contrário, não há evidência que permita rejeitar a hipótese nula. Tabela V.20 – Teste t para comparação de médias entre o 1º e o 3º grupo de experimentos Grupo A x Grupo B 1º grupo x 3º grupo Média Média Desvio Desvio 1º grupo 3º grupo 1º grupo 3º grupo 1,7400 2,0375 0,3026 0,3543 p-valor 0,0725 Portanto, ao nível de significância de 0,05 e baseado no valor de p apresentado acima, não há evidências para se rejeitar a hipótese de igualdade das médias (hipótese nula), ou seja, o teste mostra que, estatisticamente, não há diferença entre as médias do 1º e 3º grupos de experimentos. Como foi mencionado anteriormente, a sobreposição ou não de intervalos de confiança, pode, por si só, trazer informações releva ntes a respeito da existência de diferença entre as médias dos grupos de experimentos. Contudo, usa-se também o teste t de Student para ratificar, de forma cabal, se as médias de duas amostras são ou não diferentes entre si. A tabela V.21, apresentada a seguir, mostra os resultados do teste t para cada par de grupos de experimentos, abrangendo todos os grupos. A conclusão obtida de cada teste está baseada nos valores do nível de significância (0,05) e do parâmetro p, e pode, como já foi explicado, ter dois tipos de respostas: • p < 0,05 è A hipótese nula (H0 ) está rejeitada è As médias são diferentes • p > 0,05 è A hipótese nula (H0 ) está aceita è As médias são estatisticamente iguais REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página126 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Tabela V.21 – Teste t para comparação de médias entre os grupos de experimentos Média Média grupo A grupo B 1º grupo x 2º grupo 1,7400 1º grupo x 3º grupo Grupo A x Grupo B p-valor Conclusão 1,8556 0,5859 As médias são iguais 1,7400 2,0375 0,0725 As médias são iguais 1º grupo x 4º grupo 1,7400 2,2143 0,0505 As médias são iguais 1º grupo x 5º grupo 1,7400 2,8667 0,0027 As médias são diferentes 1º grupo x 6º grupo 1,7400 4,0200 0,0000 As médias são diferentes 1º grupo x 7º grupo 1,7400 5,1571 0,0000 As médias são diferentes 1º grupo x 8º grupo 1,7400 5,2500 0,0000 As médias são diferentes 1º grupo x 9º grupo 1,7400 5,3833 0,0000 As médias são diferentes 2º grupo x 3º grupo 1,8556 2,0375 0,4529 As médias são iguais 2º grupo x 4º grupo 1,8556 2,2143 0,2493 As médias são iguais 2º grupo x 5º grupo 1,8556 2,8667 0,0205 As médias são diferentes 2º grupo x 6º grupo 1,8556 4,0200 0,0000 As médias são diferentes 2º grupo x 7º grupo 1,8556 5,1571 0,0000 As médias são diferentes 2º grupo x 8º grupo 1,8556 5,2500 0,0000 As médias são diferentes 2º grupo x 9º grupo 1,8556 5,3833 0,0000 As médias são diferentes 3º grupo x 4º grupo 2,0375 2,2143 0,4984 As médias são iguais 3º grupo x 5º grupo 2,0375 2,8667 0,0363 As médias são diferentes 3º grupo x 6º grupo 2,0375 4,0200 0,0000 As médias são diferentes 3º grupo x 7º grupo 2,0375 5,1571 0,0000 As médias são diferentes 3º grupo x 8º grupo 2,0375 5,2500 0,0000 As médias são diferentes 3º grupo x 9º grupo 2,0375 5,3833 0,0000 As médias são diferentes 4º grupo x 5º grupo 2,2143 2,8667 0,1543 As médias são iguais 4º grupo x 6º grupo 2,2143 4,0200 0,0000 As médias são diferentes 4º grupo x 7º grupo 2,2143 5,1571 0,0000 As médias são diferentes 4º grupo x 8º grupo 2,2143 5,2500 0,0002 As médias são diferentes 4º grupo x 9º grupo 2,2143 5,3833 0,0000 As médias são diferentes “...continua...” REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página127 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Média Média grupo A grupo B 5º grupo x 6º grupo 2,8667 5º grupo x 7º grupo Grupo A x Grupo B p-valor Conclusão 4,0200 0,0053 As médias são diferentes 2,8667 5,1571 0,0001 As médias são diferentes 5º grupo x 8º grupo 2,8667 5,2500 0,0047 As médias são diferentes 5º grupo x 9º grupo 2,8667 5,3833 0,0006 As médias são diferentes 6º grupo x 7º grupo 4,0200 5,1571 0,0002 As médias são diferentes 6º grupo x 8º grupo 4,0200 5,2500 0,0177 As médias são diferentes 6º grupo x 9º grupo 4,0200 5,3833 0,0011 As médias são diferentes 7º grupo x 8º grupo 5,1571 5,2500 0,8639 As médias são iguais 7º grupo x 9º grupo 5,1571 5,3833 0,5518 As médias são iguais 8º grupo x 9º grupo 5,2500 5,3833 0,8403 As médias são iguais Portanto, como mostram os resultados da tabela V.21, em alguns casos não foi possível verificar evidências para se rejeitar a hipótese de igualdade das médias (hipótese nula), ou seja, as médias podem ser consideradas iguais. Em outros casos, a hipótese de igualdade foi rejeitada, significando que as médias são realmente diferentes. Em resumo, pode-se afirmar que as informações obtidas através das análises da sobreposição dos intervalos de confiança e dos resultados dos testes t diferem um pouco daquelas obtidas no início da análise dos resultados dos experimentos. Uma análise inicial dos resultados mostrava que houve um constante e gradativo aumento no teor de hidrogênio presente no aço líquido, ao se avançar de um grupo de experimentos para outro, ou seja, os valores médios de hid rogênio eram diferentes entre os grupos e sempre aumentavam à medida que novas fontes de incorporação de hidrogênio passavam a fazer parte dos experimentos. Contudo, os testes t mostraram uma nova perspectiva, desta vez sob a ótica da significância estatística. Na verdade, verificou-se que vários grupos de experimentos apresentavam médias estatisticamente iguais, ou seja, para esses grupos a participação de novas fontes de incorporação não foi capaz de alterar o resultado médio do teor de hidrogênio. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página128 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 5.1.6 AVALIAÇÃO DOS BLOCOS DE EXPERIMENTOS COM MÉDIAS IGUAIS A tabela V.22 mostra, na forma de uma matriz, os resultados da comparação de médias entre os grupos de experimentos. A primeira coluna a partir da esquerda e a primeira linha a partir do alto mostram os diversos grupos de experimentos. O cruzamento de cada grupo posicionado na vertical com cada grupo disposto na horizontal simboliza a execução do teste t de Student. A palavra “Sim”, escrita no cruzamento de dois grupos, indica que os mesmos apresentam médias estatisticamente iguais. A palavra “Não” indica que as médias são diferentes. Tabela V.22 – Matriz de resultados da comparação das médias entre os experimentos Grupos 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 1º Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não Não 2º Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não Não 3º Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não Não 4º Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não 5º Não Não Não Sim Sim Não Não Não Não 6º Não Não Não Não Não Sim Não Não Não 7º Não Não Não Não Não Não Sim Sim Sim 8º Não Não Não Não Não Não Sim Sim Sim 9º Não Não Não Não Não Não Sim Sim Sim De acordo com o que mostra a tabela V.22, fica claro a existência de 4 blocos de experimentos, sinalizados nas cores laranja, verde, vermelho e azul. Os blocos são diferentes entre si, mas os grupos de experimentos inseridos em cada bloco apresentam médias iguais para o teor de hidrogênio. Os 4 blocos detectados são os seguintes: • Bloco I (cor laranja) è 1º; 2º; 3º e 4º grupos • Bloco II (cor verde) è 4º e 5º grupos • Bloco III (cor vermelha) è 6º grupo • Bloco IV (cor azul) è 7º; 8º e 9º grupos Verifica-se que existe uma interseção de resultados entre os blocos I e II, que é representada pelo 4º grupo de experimentos, sinalizado na cor amarela. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página129 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A tabela V.23 mostra os resultados do teste t para cada par de blocos de experimentos, abrangendo todos os quatro blocos. Como apresentado anteriormente, a conclusão obtida de cada teste está baseada nos valores do nível de significância (0,05) e do parâmetro p. Como pode ser visto, a hipótese de igualdade das médias foi rejeitada em todas as análises, significando que as mesmas são realmente diferentes. Tabela V.23 – Teste t para comparação de médias entre os blocos de experimentos Média Média bloco A bloco B Bloco I x Bloco II 1,9382 Bloco I x Bloco III Bloco A x Bloco B p-valor Conclusão 2,5154 0,0042 As médias são diferentes 1,9382 4,0200 0,0000 As médias são diferentes Bloco I x Bloco IV 1,9382 5,2579 0,0000 As médias são diferentes Bloco II x Bloco III 2,5151 4,0200 0,0000 As médias são diferentes Bloco II x Bloco IV 2,5151 5,2579 0,0000 As médias são diferentes Bloco III x Bloco IV 4,0200 5,2579 0,0003 As médias são diferentes Por sua vez, a figura 5.24, mostrada a seguir, apresenta um gráfico do tipo “Box-Plot” para a média, mostrando a distribuição dos resultados de hidrogênio por bloco de experimentos. Considerando os resultados do teste t, que mostram que as médias são todas diferentes verifica-se uma clara evolução no teor médio de hidrogênio presente no aço líquido, à medida que se avança de um bloco de experimento para outro. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página130 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 6,0 Teor de Hidrogênio (ppm) 5,5 5,0 Média Média +/- SE Média +/- 0,95 CI 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1 2 3 4 Blocos de Experimentos Figura 5.24 – Box-Plot (da média) mostrando a distribuição dos resultados de hidrogênio por bloco de experimentos A análise dos resultados de cada bloco de experimentos é a seguinte: Ø Análise dos resultados do Bloco I: O bloco I é composto pelo 1º, 2º, 3º e 4º grupos de experimentos. Apesar de se tratar de experimentos completamente diferentes, com teores médios de hidrogênio diferentes e ascendentes, o teste t de Student mostrou que não há evidências para se rejeitar a hipótese de que as médias desses grupos sejam, na verdade, iguais. Portanto, pode-se concluir que a condição de vazamento (efervescente ou acalmado) e a adição (ou não) de 600kg de cal na panela, que é a quantidade padrão usualmente adotada na maioria das corridas produzidas na aciaria da ArcelorMittal Tubarão, não provoca alterações estatisticamente significativas no teor de hidrogênio presente no aço líquido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página131 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Ø Análise dos resultados do Bloco II: O bloco II, por sua vez, é composto pelo 4º e 5º grupos de experimentos. Os valores médios de hidrogênio obtidos nos experimentos (2,2 e 2,9ppm respectivamente) são, aparentemente, diferentes. Contudo, o teste t de Student mostra que essa diferença não é estatisticamente significativa, mostrando, mais uma vez, que não há evidências para se rejeitar a hipótese de que as médias desses grupos sejam iguais. Ambos os grupos de experimentos foram conduzidos considerando-se a condição de vazamento acalmado e a adição de 600kg de cal. A diferença está no fato de que o 5º grupo considera também uma adição média de ligas de manganês (FeMn) de 793kg. Logo, pode-se inferir que uma adição de até 793kg de ligas de manganês não foi capaz de provocar alterações estatisticamente significativas no teor de hidrogênio presente no aço líquido. Ø Análise dos resultados do Bloco III: Na verdade trata-se de um único grupo de experimentos, que conseguiu se diferenciar dos demais blocos de experimentos. A única adição feita nesse grupo foi a de FeSiMn, porém com grande magnitude. Talvez a explicação para a diferenciação desse grupo esteja na singularidade de seu plano de experimentos. Ø Análise dos resultados do Bloco IV: Já o bloco IV é composto pelo 7º, 8º e 9º grupos de experimentos. Nesse caso, os valores médios de hidrogênio obtidos nos experimentos (5,2; 5,3 e 5,4ppm respectivamente) apresentam uma pequena diferença entre si. Contudo, mais uma vez, o teste t de Student mostra que essa diferença não é estatisticamente significativa. Os três grupos de experimentos foram conduzidos de modo totalmente diferente entre si. Foram utilizados dois tipos de ferro- ligas (FeSiMn e FeMn), dois tipos de materiais recarburantes (coque e grafite), grandes adições e também nenhuma adição de cal. A conclusão que se extrai desses resultados é a de que todas as variáveis, nos níveis de valores utilizados, provocaram alterações significativas, e de mesma magnitude, no teor de hidrogênio presente no aço líquido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página132 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado 5.2 RESULTADOS DA A NÁLISE DE R EGRESSÃO L INEAR MÚLTIPLA Conforme informado anteriormente, os experimentos foram realizados em escala industrial, utilizando-se corridas de rotina da aciaria da ArcelorMittal Tubarão. Diversas variáveis atuaram sobre essas corridas e nem todas estavam contempladas no plano de experimentos, uma vez que as mesmas não eram passíveis de controle. Portanto, para quantificar/ratificar a importância das variáveis já identificadas e para avaliar a influência de variáveis não incluídas nos experimentos, decidiu-se pela realização de uma análise de regressão linear múltipla. A análise de regressão é uma metodologia estatística utilizada na predição de valores de uma variável resposta (variável dependente) a partir de uma coleção de valores de variáveis explicativas (variáveis independentes), ou seja, é uma ferramenta estatística que permite ver o efeito conjunto de várias variáveis preditoras sobre uma variável resposta. O modelo de regressão linear múltipla é dado pela equação 5.3, apresentada a seguir: Y = B0 + B1 X1 +B2 X2 + ... +BKXK (5.3) Onde: Y = Variá vel dependente ou variável resposta X1 ,X2 , ... ,XK = Variáveis independentes, explicativas, regressoras ou preditoras B0 ,B1 ,B2 , ... ,BK = Coeficientes de regressão Os parâmetros apresentados a seguir são utilizados na avaliação da representatividade do modelo de regressão linear obtido: • Coeficiente de correlação linear múltiplo (R): esse coeficiente traduz numericamente o quanto as variáveis estão linearmente relacionadas entre si. O valor de R encontra-se no intervalo de -1 < R < 1. • Coeficiente de determinação (R2 ): o coeficiente R2 mede a proporção da variabilidade presente nas observações da variável resposta Y que é explicada pelas variáveis preditoras presentes na equação de regressão. O valor de R2 encontra-se no intervalo de 0 < R2 < 1. De modo geral, R2 próximo de 1 indica um bom ajuste do modelo e R2 próximo de zero um ajuste ineficiente. É sempre possível aumentar o valor de R2 por meio da adição de novas variáveis preditoras no modelo. No entanto, como explica Werkema (2006), um grande valor para R2 não implica, necessariamente, que o modelo obtido esteja adequado, pois apesar do maior valor para R2 , nem sempre a REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página133 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado nova equação com mais variáveis preditoras será melhor que a equação anterior que não envolve essas variáveis. Para contornar esse problema deve ser utilizado o coeficiente de determinação ajustado (R2 ajust ). • Coeficiente de determinação ajustado (R2 ajust ): esse coeficiente leva em conta o número de variáveis preditoras incluídas no modelo de regressão. O valor de R2 ajust encontra-se no intervalo de 0 < R2 ajust < 1. Quanto mais próximo de 1 for o valor de R2 ajust , melhor é a qualidade do modelo ajustado aos dados. Werkema (2006) complementa que se R2 e R2 ajust forem muito diferentes, então há uma indicação de que foi incluído um número excessivo de variáveis preditoras no modelo de regressão linear múltipla, ou seja, foram incluídas variáveis que não contribuem de modo significativo para melhorar a qualidade do modelo que foi ajustado. As variáveis preditoras (e suas unidades), utilizadas na análise de regressão, estão definidas na tabela V.24, apresentada abaixo: Tabela V.24 – Variáveis preditoras utilizadas na análise de regressão linear múltipla Variável Denominação Unidade VAZ Condição de vazamento --- RES Ressopro no convertedor --- Cal adicionada no convertedor, após o fim de sopro kg Dolomita crua adicionada no convertedor, após o fim de sopro kg CALp Cal adicionada na panela kg DOLp Cal dolomítica adicionada na panela kg SiMn Ferro-silício- manganês adicionado na panela kg FeSi Ferro-silício adicionado na panela kg Coque Coque adicionado na panela kg Grafite Grafite adicionado na panela kg FeMnAC Ferro-manganês-alto-carbono adicionado na panela kg FeMnMC Ferro-manganês- médio-carbono adicionado na panela kg Mnmet Manganês metálico adicionado na panela kg Mntot Somatório de ligas de manganês adicionado na panela kg UMID Teor de umidade relativa do ar % CALld CRUA1d REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página134 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A variável resposta é o teor de hidrogênio presente no aço líquido (H), medido com o sistema Hydris, antes do início do tratamento no desgaseificador a vácuo. O teor de hidrogênio é medido em ppm. O modelo de regressão obtido pode ser descrito através da equação 5.4, mostrada a seguir: H = 1,738136 + (0,0003 x SiMn) + (0,000631 x CALp ) + (0,001637 x Coque) + (0,000576 x CALld) + (0,000905 X Grafite) + (0,000651 x Mntot ) (5.4) Os resultados da análise de regressão são mostrados na tabela V.25: Tabela V.25 – Resultados da análise de regressão linear múltipla Parâmetro Valor Coeficiente de correlação linear múltiplo (R): 0,94229 Coeficiente de determinação (R2 ): 0,88791 Coeficiente de determinação ajustado (R2 ajust ): 0,87772 Erro padrão da estimativa 0,55966 Número de observações 69 O erro padrão da estimativa, apresentado na tabela V.25, mede a variabilidade dos resultados em torno da equação de regressão. Como se pode verificar pelos resultados apresentados pela Tabela V.25, um valor de R2 de 0,88791 significa que 88,79% da variabilidade do teor de hidrogênio contido no aço líquido é explicada pelas 6 variáveis preditoras que estão presentes no modelo de regressão linear múltipla. Além disso, a diferença entre o R2 e o R2 ajust é pequena, indicando que todas as variáveis preditoras incluídas no modelo são significativas. A análise dos coeficientes de regressão da equação 5.4 indica que o coque é a variável preditora que possui, de forma muito destacada, a maior influência sobre a variável resposta (teor de hidrogênio). Logo em seguida, aparece a adição de grafite como a segunda variável de maior influência. As demais variáveis preditoras seguem de perto, sem que ocorra um maior destaque de uma sobre as outras. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página135 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado A tabela V.26 mostra, de uma forma mais didática, a importância relativa de cada variável preditora sobre as demais e o seu efeito sobre o teor de hidrogênio do aço líquido. Considerando o modelo de regressão proposto e partindo do “piso operacional” para o teor de hidrogênio (1,7ppm), a tabela apresenta qual seria o teor de hidrogênio previsto em função de cada adição de material, assumindo que não ocorra adição das outras variáveis preditoras. Fica evidente, conforme já informado, que o coque é a variável que provoca o maior efeito no teor de hidrogênio presente no aço líquido. Tabela V.26 – Importância relativa de cada variável preditora e efeito no teor de hidrogênio Teor de hidrogênio obtido para cada adição de material (ppm) Variável 0kg 100kg 200kg 300kg 400kg 500kg 1000kg 1500kg SiMn 1,70 1,80 1,80 1,80 1,90 1,90 2,00 2,20 Calp 1,70 1,80 1,90 1,90 2,00 2,10 2,40 2,70 Coque 1,70 1,90 2,10 2,20 2,40 2,60 3,40 4,20 Calld 1,70 1,80 1,90 2,00 2,00 2,00 2,30 2,60 Grafite 1,70 1,80 1,90 2,10 2,10 2,20 2,60 3,10 Calld 1,70 1,80 1,90 1,90 2,00 2,10 2,40 2,70 O modelo de regressão linear múltipla estabelece, para seu desenvolvimento, uma série de pressupostos básicos. Para que boa parte dos mesmos seja atendida, os resíduos estimados devem passar por um processo de análise, normalmente através de gráficos, de modo que seja verificado se não há violação dos pressupostos estabelecidos. Entre outras características, os resíduos precisam apresentar a condição de homocedasticidade. Esse termo refere-se ao comportamento da variância ao longo da série de dados. Quando a variância é constante, ou seja, a dispersão dos resíduos em torno da média (zero) é a mesma ao longo da série, os resíduos são chamados de homocedásticos. As figuras 5.25; 5.26; 5.27; 5.28; 5.29 e 5.30 mostram gráficos de resíduos contra valores das 6 variáveis preditoras que fazem parte do modelo de regressão. Verifica-se que os resíduos apresentam um padrão aleatório de variação em torno de zero, indicando que os mesmos possuem variância constante. Portanto, não há indícios da transgressão da suposição da homocedasticidade. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página136 Dissertação de Mestrado Resíduos (ppm) 5. Resultados e Discussão CAL ld (kg) Resíduos (ppm) Figura 5.25 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora CALld CAL p (kg) Figura 5.26 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora CALp REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página137 Dissertação de Mestrado Resíduos (ppm) 5. Resultados e Discussão Coque (kg) Resíduos (ppm) Figura 5.27 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora Coque Grafite (kg) Figura 5.28 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora Grafite REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página138 Dissertação de Mestrado Resíduos (ppm) 5. Resultados e Discussão SiMn (kg) Resíduos ( ppm) Figura 5.29 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora SiMn Mntot (kg) Figura 5.30 – Gráfico de resíduos contra valores da variável preditora Mntot REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página139 5. Resultados e Discussão Dissertação de Mestrado Por sua vez, a figura 5.31 apresenta um gráfico dos resíduos contra os valores previstos pelo modelo de regressão. Nesse caso, também pode ser constatado que a distribuição dos resíduos em função dos valores previstos pelo modelo não revelou a existência de nenhuma tendência, Resíduos ( ppm) confirmando a hipótese de variância constante ou homocedasticidade. Valores previstos (ppm) Figura 5.31 – Gráfico de resíduos contra valores previstos Outra característica que os resíduos precisam apresentar é a normalidade, ou seja, os mesmos devem seguir aproximadamente uma distribuição normal. Em geral, como informado anteriormente, a avaliação da normalidade é feita graficamente, verificando-se a aleatoriedade da distribuição dos resíduos em torno da média zero. A figura 5.32 mostra um gráfico de probabilidade normal para os resíduos. Verifica-se que os pontos estão distribuídos ao longo da reta, indicando que os resíduos têm uma distribuição aproximadamente normal. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página140 Dissertação de Mestrado Valor Normal Esperado 5. Resultados e Discussão Resíduos (ppm) Figura 5.32 – Gráfico de probabilidade normal para os resíduos A mesma conclusão pode ser extraída através da análise da figura 5.33, que apresenta um gráfico da distribuição dos resíduos, indicando que os mesmos não apresentam fortes indícios de falta de normalidade. Nº de Observações Normal Esperada Resíduos (ppm) Figura 5.33 – Gráfico da distribuição dos resíduos REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página141 6. Conclusões Dissertação de Mestrado 6 CONCLUSÕES Os objetivos desse trabalho foram plenamente alcançados. Através de uma caracterização, em escala industrial, do processo de incorporação de hidrogênio no aço líquido, foi possível identificar as principais fontes de incorporação de hidrogênio atuantes na aciaria da ArcelorMittal Tubarão, considerando a rota de produção do convertedor até o desgaseificador a vácuo. Além disso, foi possível quantificar a influência dessas fontes de incorporação e também desenvolver um modelo capaz de prever o teor final de hidrogênio, que é medido antes do início do tratamento da corrida no desgaseificador a vácuo. 6.1 CONCLUSÕES SOBRE OS RESULTADOS DOS E XPERIMENTOS No total, foram realizadas 69 experiências na panela de aço, divididas em 9 grupos de experimentos. Os resultados encontrados permitiram que fossem tiradas as seguintes conclusões: • Foi verificado que o “piso operacional” para a incorporação de hidrogênio na aciaria da ArcelorMittal Tubarão, ou seja, o valor mínimo de hidrogênio que pode ser obtido em uma panela logo após o vazamento do aço líquido, é de cerca de 1,7ppm. A condição operacional necessária à obtenção desse valor é o vazamento efervescente e a ausência de adição de qualquer tipo de material na panela, durante ou após o vazamento do aço. • Utilizou-se nos experimentos as principais fontes de incorporação de hidrogênio descritas na literatura, e que são passíveis de controle. Essas fontes foram capazes de elevar gradativamente o teor de hidrogênio do aço líquido de 1,7ppm para 5,4ppm em média, mostrando o quão influentes são as mesmas no processo de incorporação de hidrogênio. Verificou-se que os maiores valores de hidrogênio foram obtidos nos experimentos que utilizaram grandes adições de materiais. • As variáveis que se mostraram relevantes no processo de incorporação de hidrogênio no aço líquido são as seguintes: adição de cal; adição de coque; adição de grafite; REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página142 6. Conclusões Dissertação de Mestrado adição de FeSiMn e adição de ligas de manganês. Todas essas adições são feitas na panela, durante o vazamento do aço líquido. • Apesar da fundamentação termodinâmica e de dados de literatura dizerem o contrário, não foi constatado que a condição de vazamento do aço líquido (efervescente ou acalmado) tenha alguma influência na incorporação de hidrogênio. • A variabilidade dos resultados de hidrogênio entre os diversos grupos de experimentos foi muito heterogênea. A adição de cal na panela parece ser a maior responsável pelo aumento da dispersão dos resultados de incorporação de hidrogênio. • Ao se analisar a evolução do teor de hidrogênio de um grupo de experimento para outro, verificou-se que ocorre um somatório de forças motrizes, às vezes em direções contrárias, devido à presença ou ausência de várias fontes de incorporação. Ficou evidente que a avaliação da importância relativa de cada variável em relação às outras só seria possível através da análise de regressão linear múltipla. • A avaliação das médias dos resultados através do teste t de Student mostrou que muitos grupos de experimentos apresentavam, na verdade, médias estatisticamente iguais. Em vista disso, foi possível concluir que, apesar de ser uma poderosa fonte de incorporação de hidrogênio, uma adição de cal em torno de 600kg, não é capaz de provocar um aumento estatisticamente significativo no teor de hidrogênio do aço. Essa adição de cal de 600kg é a adição padrão utilizada em corridas da ArcelorMittal Tubarão, que não apresentem necessidades especiais com relação ao teor de enxofre do aço líquido. • Em resumo, os resultados obtidos com os experimentos realizados na panela mostraram uma coerência completa com os estudos de diversos pesquisadores. Talvez a única exceção seja a umidade relativa do ar, que não foi incluída no plano de experimentos, uma vez que o seu valor não é passível de controle. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página143 6. Conclusões 6.2 Dissertação de Mestrado CONCLUSÕES SOBRE A ANÁLISE DE REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA Para quantificar e ratificar a importância de variáveis identificadas nos experimentos, assim como para avaliar a influência de parâmetros não incluídos nos mesmos, decidiu-se pela realização de uma aná lise de regressão linear múltipla. As principais conclusões são as seguintes: • Considerando que havia inicialmente 15 candidatas a variáveis preditoras, verifica-se que apenas 6 dessas variáveis permaneceram na equação que obteve o melhor ajuste. • O coeficiente de determinação apresentou um valor elevado, de 89%, significando que uma grande proporção da variabilidade do teor de hidrogênio contido no aço líquido foi explicada pelo modelo de regressão. Esse valor se mostrou melhor do que a maioria dos resultados de estudos pesquisados na literatura existente sobre o tema. • Não houve violação dos pressupostos de normalidade e de homocedasticidade dos resíduos. • As variáveis que foram incluídas no modelo de previsão do teor de hidrogênio são as seguintes: adição de cal no convertedor; adição de cal na panela; adição de coque na panela, adição de grafite na panela; adição de FeSiMn na panela e adição de ligas de manganês na panela. • Das 6 variáveis que permaneceram na equação que obteve o melhor ajuste, 5 delas já haviam sido identificadas anteriormente, durante a realização dos experimentos, como variáveis que apresentavam forte influência na incorporação de hidrogênio no aço líquido. Esse fato mostra uma grande coerência de resultados entre as etapas de realização dos experimentos e de análise de regressão. • Os materiais recarburantes (coque e grafite) são as variáveis da aciaria que mais influem no processo de incorporação de hidrogênio no aço líquido, com posição destacada para o coque. • De todas as variáveis que não estavam contempladas no plano de experimentos, a REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página144 6. Conclusões Dissertação de Mestrado análise de regressão só considerou como relevante a adição de cal no convertedor. De fato, a adição de cal no fim de sopro no convertedor influi na incorporação de hidrogênio, pois nessa etapa já não se tem mais a intensa geração de bolhas de CO, que é a responsável pela desidrogenação altamente eficaz que ocorre no convertedor. 6.3 CONCLUSÕES GERAIS • Considerando o tratamento da corrida na estação de desgaseificação a vácuo, uma vez que não se pode evitar o uso das fontes de incorporação de hidrogênio identificadas, deve-se, pelo menos, antecipar ao máximo o momento em que as mesmas são adicionadas na panela durante o tratamento da corrida. • O conhecimento gerado por esse trabalho é de fundamental importância para o desenvolvimento do processo de produção de aços com teores máximos de hidrogênio de 1,5ppm REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página145 7. Sugestões para Trabalhos Futuros Dissertação de Mestrado 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS De forma geral, os resultados obtidos apresentaram uma boa conformidade com os dados de literatura. Mesmo assim, como cada aciaria possui a sua peculiaridade, os resultados de um trabalho podem entrar em conflito com os de outros pesquisadores. O coque metalúrgico apresentou nesse trabalho uma influência destacada, que é corroborada por vários outros pesquisadores. Contudo, Fruehan e Misra (2005) afirmam que a adição de coque metalúrgico não resulta em qualquer incorporação de hidrogênio no aço líquido. Por outro lado, a umidade relativa do ar é considerada como extremamente influente e, nesse trabalho, não mostrou qualquer correlação com o teor de hidrogênio. É provável que a razão esteja na pouca variabilidade dos dados, uma vez que os experimentos foram todos realizados aproximadamente no mesmo período. Portanto, sugere-se a realização de novos experimentos, em momentos diferentes ao longo do dia, de modo que os valores de umidade relativa do ar possam variar dentro de uma faixa maior do que a que foi obtida durante a realização desse trabalho. De posse dos dados obtidos, recomenda-se a realização de uma nova análise de regressão linear múltipla e a verificação do novo coeficiente de determinação encontrado. Os novos resultados podem ser comparados com os desse trabalho, com o objetivo de se verificar se o modelo de regressão ficou ainda mais ajustado à realidade operacional da aciaria. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página146 8. Referências Bibliográficas Dissertação de Mestrado 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDBERG, J.; SICHEN D., Water Vapor Solubility in Ladle-Refining Slags, Metallurgical and Materials Transactions B, 2006, Vol. 37B, p. 389-393 DOR B. 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