EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ALUNO COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA NO ENSINO REGULAR Autoras: Natália Aparecida DAL ZOT, Rafaela Alice HORN, Neusa MARTINI Identificação autores: Acadêmica do Curso de Matemática-Licenciatura do IFC – Campus Concórdia, Acadêmica do Curso de Matemática-Licenciatura do IFC – Campus Concórdia, Orientadora IFC-Concórdia. Introdução No mundo atual, sabe-se da complexidade inerente ao contexto da sala de aula. Ou seja, o contexto da sala de aula é um espaço onde muitas questões, situações e elementos coexistem mutuamente. Dentre estas questões, está a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais. Nesse sentido, nos questionamos se há de fato inclusão? Indo um pouco mais além, os professores encontram-se preparados para enfrentar esta situação? Sobre esta questão, Carvalho (2004, p.28) preconiza que “[...] qualquer aprendiz, sem exceção, deve participar da vida acadêmica, em escolas comuns e nas classes regulares, nas quais deve ser desenvolvido o trabalho pedagógico que sirva a todos, indiscriminadamente”. Considerando esta premissa, apresentamos neste artigo algumas reflexões acerca de uma experiência na sala de aula de Matemática com um aluno do 6º Ano, de uma escola do Oeste Catarinense, sendo este portador de Deficiência Múltipla. As reflexões aqui apresentadas buscam compreender e evidenciar se o aluno está incluso na sala de aula regular, bem como no âmbito escolar. Material e Métodos O artigo aqui apresentado foi desenvolvido no âmbito da disciplina Educação Inclusiva do Curso de Matemática – Licenciatura do IFC – Campus Concórdia, assumindo a perspectiva de Prática como Componente Curricular (PCC). Considerando que a Prática como Componente Curricular visa a articulação da teoria e prática, buscamos na PCC analisar como ocorre o processo de inclusão dos alunos como necessidades especiais em sala de aula. Para tanto, nos dirigimos até a escola em que a PCC se desenvolveu. Juntamente com a direção avaliamos o diagnóstico do aluno escolhido e evidenciamos que o mesmo é deficiente múltiplo. Seus laudos apontam que o mesmo é classificado nos seguintes CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde): CID F 70: Retardo Mental Leve; CID F 79: Retardo Mental não especificado; CID F 84: Transtornos Globais do Desenvolvimento; CID F 90: Transtornos Hipercinéticos; CID F 91: Distúrbios de Conduta. Durante a visita à escola, fizemos observações no ambiente escolar, à biblioteca, em três aulas de Matemática do 6º ano e analisamos o PPP (Projeto Político Pedagógico) no que tange a Educação Inclusiva. Resultados e discussão A inclusão de um aluno com necessidade especial não demanda que a Escola deva desenvolver um trabalho especializado, mas sim adequar as atividades de acordo com as necessidades de cada aluno. Sobre este aspecto o MEC (2006, p. 13) ressalta que: As crianças com qualquer deficiência, independentemente de suas condições físicas, sensoriais, cognitivas ou emocionais são crianças que têm necessidade e possibilidade de conviver, interagir, trocar, aprender, brincas e serem felizes, embora, algumas vezes, por caminhos ou formas diferentes. Sabemos que nem sempre isso é possível, há vários fatores que contribuem para que isso ocorra, como por exemplo, a falta de habilidade e conhecimento dos professores, a falta de segundo professor habilitado, a estrutura da Escola como também o desinteresse da Escola em adaptar-se aos alunos especiais. Ao analisar o PPP, observamos que o mesmo não possuía um item mais abrangente sobre Educação Inclusiva, apenas cita que há dois alunos com necessidades especiais conforme diagnóstico médico, matriculados no 6º ano do Ensino Fundamental e 1ª série do Ensino Médio que são atendidos por segundo professor conforme prevê a legislação. Durante a observação, notamos que haviam dois alunos com necessidades especiais na mesma turma, um deles apenas com necessidade na aula de Matemática, e somente uma segunda professora. Diante disso, evidenciamos uma das dificuldades encontradas para que haja inclusão. Na observação da aula de Educação Física da turma em que o aluno especial está incluso, ele não realiza atividades junto com os demais colegas, pois segundo a professora, ele fica muito agitado e cansa rápido demais. A Escola adequou o horário da aula de Educação Física como sendo a última da tarde, para que a agitação do aluno não intervisse nas demais aulas. Por isso, devido ao fato do aluno não participar das aulas de Educação Física, a segunda professora realiza atividades na sala de Informática, aplicando jogos juntamente com a outra aluna com necessidade especial. A segunda professora, relatou que o aluno disponibiliza de uma agenda, em que no final da tarde a mesma descreve o que ocorreu durante as aulas. Essa agenda é entregue pelo aluno à sua mãe, para que ela possa saber o que se passa no ambiente escolar, já que o mesmo não a conta. Porém sua mãe não pode contar para o aluno o que está descrito na agenda, pois ele se revolta com a segunda professora. Ainda, a segunda professora relata que o aluno sente “necessidade” em aprontar todos os dias, e então após o fato ele se acalma e se concentra realizando as atividades que a segunda professora propõe. Na observação das aulas referente a Matemática, percebemos que o aluno permanece na classe regular, com os demais colegas, realizando atividades diferenciadas, mas relacionada com a Matemática. A segunda professora descreve em seu caderno operações de adição e subtração para o aluno resolver durante a aula e ao finalizar a atividade ele pode conferir o resultado utilizando calculadora, já que o mesmo tem direito de usá-la. A professora relata que o aluno só faz as atividades porque pode usar a calculadora. Figura 1: Fotografia do caderno do aluno e sua calculadora. Fonte: As autoras (2015) Após o professor da classe propor atividades para os demais alunos, ele inclui o aluno especial na aula, ensinando a ele um novo método para resolver contas de adição. Ao questionar o professor da classe sobre o comportamento do aluno em suas aulas, o mesmo relata que ele é sempre calmo e respeitoso. Entendo assim que a imagem do professor homem o remete respeito, já com a imagem de uma professora mulher ele se sente superior não respeitando-a durante as aulas. Questionamos ainda o professor sobre o que ele pensa sobre a inclusão do aluno na classe regular e relatou que: “Isso não é inclusão, é exclusão. Se atende 1, exclui 25 e viceversa. Deveria ter uma sala especial com materiais especiais.” As práticas educativas, que envolvem alunos com deficiências, comprometidas com a qualidade da Educação, dependem que os professores e que o grupo escolar, sejam capazes de atender as necessidades específicas dos mesmos, tendo conhecimentos reais quanto os aspectos relacionados ao desenvolvimento, aprendizagem e comportamento dos alunos. Conclusão A Deficiência Múltipla, é uma das deficiências que mais limita a aprendizagem ou a inclusão do aluno no ensino regular, uma vez que ela abrange duas ou mais deficiências. Ela exige muitos recursos adaptados ou específicos, especialização dos profissionais e mudanças de metodologias por parte dos professores e de todos que trabalham na unidade escolar. Como apontado no decorrer do trabalho, e acordo com o professor não há inclusão do aluno na classe regular, pois o mesmo não possui o cognitivo desenvolvido o suficiente para realizar as mais simples, ou adaptadas, atividades propostas. Outros motivos que bloqueiam a tentativa de inclusão do aluno é seu comportamento agressivo, hiperativo e sua dificuldade em interagir com seus colegas. O professor ainda relata que isso não é inclusão e sim exclusão, que talvez a aprendizagem pudesse ocorrer se estivesse em uma sala de aula especial e com recursos adequados. Um argumento que poderia auxiliar na inclusão do aluno, seria a presença de mais um segundo professor na classe, uma vez que nessa turma frequentam dois educandos com necessidades educativas especiais. A presença deste segundo professor, poderia assim, acompanhar mais de perto o aluno com Deficiência Múltipla, adaptando as atividades relacionadas aos conteúdos trabalhados com a turma. Ainda, a PCC nos possibilitou o contato com a realidade escolar, pois enquanto profissionais da área da Educação, é importante conhecer e refletir sobre o processo de educação de alunos com necessidades educativas especiais. Referências BRASÍLIA, Ministério da Educação. Secretária de Educação Especial. Educação Infantil: Saberes e práticas da inclusão: introdução. Brasília, 2006. 45p. ___ Educação Infantil: Saberes e práticas da inclusão: Dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiência múltipla. Brasília, 2006. 58p. ___ Saberes e práticas da inclusão: Avaliação para identificação das necessidades educacionais especiais. Brasília, 2006. 92p. ___ Saberes e práticas da inclusão: Recomendações para a construção de escolas inclusivas. Brasília, 2006. 96p. CARVALHO, R.R. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre: Mediação, 2004. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Alto Bela Vista: Escola de Educação Básica Teixeira de Freitas. 2015. Organização Mundial da Saúde: CID – 10. 9.ed.rev. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.