2 A POLÍTICA PÚBLICA DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR: UMA ANÁLISE SOBRE A DESTINAÇÃO DAS BOLSAS DO PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI) NO ESTADO DO PARÁ Sônia Andréa Pimentel Rodrigues Vera Lúcia Jacob Chaves RESUMO: Este estudo apresenta reflexões iniciais acerca programa Universidade para todos (PROUNI) como política de acesso ao Ensino Superior e a destinação de bolsas no Estado do Pará. No estudo buscamos respostas as seguintes questões: Qual a destinação das bolsas ofertadas pelo PROUNI e sua efetividade no acesso aos estudantes do Ensino Superior no Estado do Pará? Qual montante de renúncia fiscal tem sido investido pelo Governo Federal no PROUNI? Quais as condições de oferta do Ensino Superior privado no Pará por meio do PROUNI no período de 2004 a 2009? Utilizamos como recurso metodológico a pesquisa bibliográfica e a análise documental. Fundamentados nos estudos de Bardin (1977), Franco (2005) e Severino (2002). Os dados iniciais foram coletados junto ao Ministério de Educação (MEC), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) e Tribunal de Contas da União (TCU) referentes às Instituições privadas cadastradas no programa. Os resultados preliminares demonstram que a destinação de bolsas do PROUNI no Estado do Pará está se concentrando principalmente nas Instituições provenientes das regiões Sul e Sudeste. Outro fator a destacar é o número de bolsas ofertadas que não corresponde ao número de vagas ocupadas. Quanto ao montante de renúncia fiscal supera as ofertas de bolsas ocupadas no período de 2005 a 2009. Palavras-chave: ProUni; Ensino Superior; Financiamento; Bolsas de estudo Résumé: Cette étude présente les premières réflexions sur le programme de l'Université pour tous (PROUNI) et sur l'accès à l'enseignement supérieur et l'attribution des subventions dans l'État du Pará dans l'étude visera à répondre aux questions suivantes: Quelle est l'attribution des bourses offertes par PROUNI et son efficacité l'accès aux étudiants de l'enseignement supérieur dans l'Etat de Para? Quel montant d'exonération d'impôt ont été investis par le gouvernement fédéral en PROUNI? Quelles sont les conditions de l'offre de l'enseignement supérieur privé dans le Pará par PROUNI la période 2004 à 2009? Nous avons utilisé une approche méthodologique pour bibliographiques et analyse de documents. Basé sur des études de Bardin (1977), Franco (2005) et Severino (2002). Les premières données ont été recueillies par le ministère de l'Éducation (MEC), Institut national d'études et de recherche (INEP) et la Cour des Comptes (TCU) pour les établissements privés participant au programme. Les résultats préliminaires montrent que la répartition des subventions de PROUNI dans le Pará se concentre principalement sur les institutions du Sud et du Sud-Est. Un autre facteur important de noter est le nombre de bourses offertes pour correspondre au nombre de sièges occupés. Le montant de la taxe dépasse la démission offre des bourses occupé de 2005 à 2009. Mots-clés: ProUni, enseignement supérieur, le financement, les bourses 3 Introdução O presente artigo apresenta resultados preliminares obtidos na pesquisa sobre Política Pública de acesso ao Ensino Superior: uma análise sobre a destinação das bolsas do programa universidade para todos (ProUni) no estado do Pará. Segundo Carvalho (2006), a política expansionista do Ensino Superior foi adota pelo Estado a partir de 1964, considerando que tal ensino foi fortemente expandido ao longo da história, principalmente, pela iniciativa privada. A década de 1990 mantêm essa lógica privatista, tanto governo como Fernando Henrique Cardoso no período do posteriormente pelo Governo de Luiz Inácio Lula da Silva que continua a política privatista de favorecimento do setor privado por meio do ProUni.. No desenvolvimento do estudo investigativo buscamos respostas as seguintes questões norteadoras: a) Qual a destinação das bolsas ofertadas pelo ProUni e sua efetividade no acesso aos estudantes do Ensino Superior no Estado do Pará? b) Qual montante de renúncia fiscal tem sido investido pelo Governo Federal no ProUni? Para respondermos esses questionamentos desenvolvemos a pesquisa a partir do enfoque “quanti-qualitativo” que respaldará a análise documental dos dados e informações coletados junto aos órgãos oficiais MEC, INEP, TCU, entre outros pertinentes a pesquisa, especialmente que tratam das instituições cadastradas no ProUni no Estado do Pará. Para melhor compreensão do texto apresentado, adotamos os seguintes procedimentos: iniciamos com uma reflexão sobre a Reforma do Estado incidindo no Ensino Superior e as conseqüências desse nível de ensino no Brasil. Em seguida, apresentamos dados referentes à implantação do Programa ProUni no Estado do Pará no que diz respeito: as bolsas ofertadas, natureza das IES, municípios abrangidos, número de cursos, modalidade de ensino. Por fim, nas considerações finais, demonstramos que a política de acesso ao ProUni tem se configurado em práticas excludentes da população economicamente vulnerável, que intuições provenientes de outros estados estão centralizando o Ensino no Pará na modalidade a distância, que a oferta de bolsas é desproporcional à renuncia fiscal se analisarmos o período de 2005 a 2008. Da Reforma do Estado à reforma do Ensino Superior As reformas educacionais são fruto das reformas do Estado, o discurso oficial é de que o Ensino Superior público no Brasil historicamente tem se constituído a partir de uma seletividade que afasta grande parcela da população, tanto no tocante ao acesso quanto a permanência neste nível de ensino. Assim, a exclusão e a inacessibilidade 4 constituem uma herança que atinge particularmente os jovens das classes trabalhadoras (RISTOFF, 2008.p. 41). As reformas adotadas pelos governos de FHC (1995-2002) e Lula da Silva (2003aos dias atuais) se fundamentam na lógica do neoliberalismo1, cujo argumento central é a falta de recursos financeiros para investimentos em políticas sociais. Como solução, implementaram as Parcerias Público-Privadas (PPP) que foi regulamentada no governo de Lula da Silva, por meio da Lei nº 11. 079, de 30 de dezembro de 2004. Essas PPP representam outro mecanismo para os governos neoliberais não cumprirem com suas responsabilidades à medida que esta lei amplia na prática, a possibilidade de transferências de recursos públicos para a iniciativa privada. Em outras palavras, garantem que o setor privado gerencie e obtenha lucros em parceria com o Estado. Essa política de parceria público-privada é parte essencial da reforma do Estado idealizada por Bresser Pereira e expressa no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE, 1995). De acordo com esse Plano, os princípios básicos da Reforma do Estado brasileiro, devem envolver, basicamente, a descentralização do Estado; o estímulo à privatização de atividades econômicas competitivas sustentáveis em regime de mercado; a transferência de funções do poder central para entes e processos administrativos (desburocratização); uma reeducação para os princípios públicos administrativos (ética administrativa); a ampliação dos mecanismos de participação popular na atividade administrativa e de controle social da administração pública (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 186). Para por em prática a reforma do Estado o governo adotou políticas de “ajuste fiscal” que se deu no plano macroeconômico como resposta ao esgotamento do modelo de financiamento externo e ao endividamento dos Estados nacionais. Para tanto, era necessário desenvolver uma política de contenção de verbas para a execução dos serviços públicos seguindo as orientações dos organismos financeiros multilaterais2. 1 Proposta hegemônica nos países capitalistas a partir de meados da década de 1970, quando a crise do paradigma Keynesiano acentua as contradições entre as necessidades de acumulação de capital e as políticas distributivas derivadas do Estado Benfeitor (BIANCHETTI, 1997). 2 Organizações internacionais formadas por diversos governos nacionais com a finalidade de promover determinado objetivo comum aos países membros. São exemplos: Banco Mundial (BM), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Interamericano Para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Organização das Nações Unidas (ONU), Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Organização Mundial do Comércio (OMC) (HADDAD, 2008). 5 O ajuste fiscal provocou o desmonte das políticas sociais, o que “[...] levou os países da periferia do capitalismo a desenvolver programas sociais de emergência, focalizados, com forte apelo para a solidariedade humana” (CHAVES, 2008 p, 76). Esses programas sociais fazem um agenciamento para que a sociedade civil assuma responsabilidades do Estado, que se desobriga de garantir os direitos sociais dos cidadãos ainda justifica essa medida com o discurso e de solidariedade e responsabilidade social. No âmbito do ensino superior público, a política neoliberal definida pelo governo brasileiro por meio do MEC institucionaliza ações privatistas apoiadas na legislação brasileira tais como: Constituição Federal de 1988, na LDB 9394/94 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), Plano Nacional de Educação (PNE) Lei nº 10. 172 que traçou metas para o ensino superior e prevê a presença até 2011 que pelo menos 30% da população na faixa etária de 18 a 24 anos hoje restrita a 12% nas Universidades. Oficialização das parcerias público-privadas no Ensino Superior: a renúncia fiscal em troca da renúncia social O Programa Universidade para Todos (ProUni) adotado pelo Governo Federal é a operacionalização das Parcerias Publico-Privadas (PPPs) no Ensino Superior brasileiro. Esse programa foi regulamentado pelos seguintes instrumentos legais: inicialmente o governo encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei 3582/2004 instituindo o programa. Devido à demora na tramitação do PL, o governo editou a Medida Provisória nº 213 de 10/09/2004 que, após inúmeros debates no Congresso Nacional foi convertida na Lei n. 11.096 de 13/01/2005. A redação final do documento reflete o jogo político a que o Ministério da Educação se envolveu pela pressão que sofreu da iniciativa privada. O ProUni foi apresentado á sociedade como forma de “democratizar” o ensino superior. Entretanto, ele representa um deslocamento de verbas públicas para as instituições privadas, seguindo a lógica privatizante do projeto neoliberal assumido pelo governo brasileiro. O objetivo do programa é oportunizar o acesso ao Ensino Superior nas instituições privadas de acordo com art. 5º prevê aplicação obrigatória do programa 6 para as Instituições de Ensino Superior (IES) sem fins lucrativos e considerados beneficentes (condição para a imunidade tributária). Em relação às IES sem fins lucrativos e não beneficentes a adesão é opcional ao ProUni. O Governo Lula por meio do ProUni estimula ás instituições privadas a destinarem “gratuitamente” 10% de suas vagas em forma de bolsas para os estudantes não portadores de diploma de curso superior que devem atender as regras do programa para aquisição da bolsa, tais como: para aquisição da bolsa integral ter renda familiar per capita até um salário-mínimo e meio (697,50) e a parcial de 50% (R$ 1.395) ou de 25% (vinte e cinco por cento) para estudantes que possuam renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos serão concedidas somente para cursos mensalidade de até R$ 200,00. É imprescindível que o candidato a bolsa no ProUni deve fazer o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), do ano anterior e obter nota mínima de 45 pontos, os resultados são usados como critério para a distribuição das bolsas de estudos, isto é, as bolsas são distribuídas conforme as notas obtidas pelos estudantes no ENEM e o perfil socioeconômico. A bolsa oferecida pelo ProUni destina-se: a estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral; para as cotas que obedecem ao percentual de cidadãos autodeclarados pretos, pardos e indígenas por unidade da federação, de acordo com o último Censo do IBGE; professor da rede pública de ensino, para os cursos de licenciatura, normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério da educação básica, independentemente da renda a que se referem os §§ 1o e 2o do art. 1o desta Lei e Art. 7° § 1° lei 11.096. As instituições que aderirem ao programa opcionalmente ficam isentas por um período de dez anos (renovável por iguais períodos), do pagamento dos seguintes impostos e contribuições de acordo com art. 8º: I - Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), II - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social III - (COFINS), IV - Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS). Obviamente, o governo Lula expande a política de beneficiamento das instituições privadas em decorrência da renúncia fiscal favorecendo principalmente as IES com fins lucrativos que a partir da adesão estão isentas de todos os tributos federais (IRPJ=25%, CSLL=9%, COFINS= 7,6% PIS= 1,65%) independentemente da quantidade de bolsas que ofertarem, sejam as mesmas ocupadas ou não uma vez que são fixados sobre o lucro e/ou receita das instituições privadas independentemente da quantidade de bolsas que ofereçam (CARVALHO E LOPREATO, 2005). 7 Apresentamos na Tabela 1 a seguir dados extraídos do Relatório do Tribunal de Contas da União (BRASIL, TCU, 2008, p18), relativos à evolução do número de bolsas ofertadas no período de 2005 a 2008 e do montante de renúncia fiscal que o governo federal concedeu às IES privadas que adotaram o ProUni. Tabela 1- Evolução do número de bolsas de estudos ofertadas e renúncia fiscal, Brasil, associada no período de 2005-2008. Nº de bolsas Renúncia fiscal Ano ofertadas % % (R$ milhões) (em milhares) 2005 112,3 106,7 2006 138,7 23,5 265,7 149,0 2007 163,8 18,1 126,0 -52,6 2008 195,4* 19,3 325,8* 158,6 Total 610,2 824,2 Fonte: Relatório do TCU. Ofício nº 7631/2008 – GAB/SESu/MEC/SISPROUNI (*dados do 1º semestre de 2008. ) Observa-se na Tabela acima, o montante de recursos que os cofres públicos deixaram de arrecadar para implementar o ProUni. Os dados evidenciam uma oscilação em relação ao montante de recursos de renúncia fiscal a cada ano. O ano de 2006 superou o ano anterior em 149 % alcançando um montante de R$ 265,7 milhões. Já no ano de 2007 houve uma redução de -52,6% de recursos em relação ao ano anterior, o que não se repete em 2008, pois ainda no primeiro semestre desse ano o governo já havia deixado de arrecadar R$325,8 milhões, mais de 158,6% em relação ao ano de 2007. O total de recursos que o governo federal deixou de arrecadar das IES privadas do país representou um montante de R$ 824,2 milhões de reais. Em relação ao número de bolsas ofertadas os dados, não evidenciam o número de bolsas que foram efetivamente ocupadas, o que impossibilita uma análise profunda nesta relação de permutação (entre a oferta e a ocupação). De acordo com o relatório do TCU, o incremento do acesso ao Ensino Superior, mesmo com a contribuição do ProUni, não ultrapassou 6,4% em cada processo seletivo, observado o período de 2005 (ano de sua implantação) até o 1º semestre de 2008 (BRASIL, TCU, 2008, p.21). A evasão dos beneficiários das bolsas de estudo alcançou o percentual de 19,5%, no mesmo período. No segundo semestre de 2008, um total de 42% das bolsas ofertadas estavam sem utilização. (idem, p.21,22) No momento de adesão ao ProUni a IES privada tem prioridade na aquisição do Programa de Financiamento Estudantil (FIES) destinado a financiar a graduação no Ensino Superior de estudantes que não têm condições de arcar com os custos de sua formação e estejam regularmente matriculadas em instituições não gratuitas cadastradas no Programa e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo MEC. 8 Davies (2008) considera que o ProUni se reveste de um verniz democratizante, trocando vagas ociosas em instituições privadas por benefícios fiscais. Para o governo nestas instituições o gasto é menor, representando cerca de R$ 50 milhões, enquanto que nas públicas seriam necessários R$ 350 milhões e levaria muito mais tempo para tal concretização. O Estado do Pará ocupa a 12ª colocação nacional e o primeiro da região norte na oferta de bolsas no programa. Dos 143 municípios do Pará o ProUni foi implantado em vinte e quatro, destacando-se entre eles Belém que lidera com 25% do número de instituições privadas. De acordo com a pesquisa, realizada pela SEPOF3 os dez municípios mais ricos do Pará, com as respectivas participações no PIB Estadual (R$ 44,3 bilhões), são os seguintes: Belém (28,21%), Barcarena (8,03%), Parauapebas (6,72%), Marabá (5,91%), Ananindeua (5,56%), Tucuruí (4,67%), Santarém (3,22%), Castanhal (1,85%), Canaã dos Carajás (1,58%) e Oriximiná (1,42%). O mais provável, é que as instituições privadas se aloquem nestas cidades, objetivando um mercado promissor para o Ensino Superior. Conforme o gráfico abaixo, percebemos como vem ocorrendo a distribuição de bolsas integrais e parciais no Estado do Pará. 3 Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Finanças (SEPOF) 9 Gráfico 1: Oferta de Bolsas integrais e parciais no período de 2005 – 2009 no Estado do Pará. Fonte: PROUNI/MEC – 2009 O gráfico 1 demonstra que no ano de 2005 há um equilíbrio entre as bolsas parciais e integrais. Contudo, o ano de 2006 superou o ano anterior na oferta das bolsas integrais representando um aumento de quase 100%. Já as bolsas integrais contabilizaram 1.829 enquanto as bolsas parciais de 462. Em contrapartida, o ano de 2007 apresentou um decréscimo na ofertas das bolsas integrais (1.430) e parciais (388) de 21,81% e 16% respectivamente. Entretanto, em 2008 o quadro se inverteu, pois a oferta das bolsas parciais (1.521) superou as integrais (1.284) em 18,45%. No de 2009 em relação ao ano anterior, as bolsas integrais ofertadas passaram para 2.343 representando um percentual de 82,47% e as parciais para 1.688 sofrendo uma pequena variação de 11%. Do período de 2005 a 2009 o ProUni ofereceu um montante de 12.920 equacionando as bolsas integrais e parciais. Longe de resolver ou de corrigir a distribuição desigual dos bens educacionais, a privatização promovida pelo ProUni tende a agravar a exclusão histórica do ensino superior de caráter elitista que se configurou no país. Ainda que indiretamente o governo compre as vagas para os carentes, mantêm “destinação das escolas academicamente superiores para os que passarem nos vestibulares das instituições públicas e escolas academicamente mais fracas, salvo exceções, para os pobres” (MANCEBO, 2009). Conforme o quadro 2 abaixo é possível perceber que a oferta do ensino superior no Estado do Pará está sendo realizada por Instituições privadas cujas sedes estão localizadas nas regiões sul sudeste e centro-oeste. Observa-se, ainda uma parcela significativa das vagas ofertadas para o PROUNI são para cursos de graduação a distância. 10 Tabela 2: IES, Municípios e Dependência Administrativa, Bolsas oferecidas, Nº de cursos e modalidades de ensino no Pará em 2009 DEPENDÊ BOLS IE MUNICÍ NCIA AS CURS ADMINSTRA OFERECI S PIOS OS TIVA DAS Centro Universitário 1 1 Particular 27 16 Leonardo da 0 Vinci Faculdade de 2 Tecnologia 16 Particular 12 8 Internacional – 7 FATEC (PR) da Universidade 3 Amazônia2 Particular 14 24 UNAMA (PA) 1 Universidade 4 Luterana 8 Com./Confes. 91 5 5 ESMAC(PA) 1 45 14 /FilParticular do Brasil – ULBRA 6 FIBRA(PA) 1 40 5 Faculdade de 7 Administração de 7 Particular 35 1 Brasília – Universidade 8 Castelo 2 Filantrópica 26 3 Branco – UCBde(RJ) Universidade 9 Santo 1 Particular 21 11 Universidade – UNISA 10 Amaro 2 Particular 19 6 Paulista – UNIP (SP) Universidade 11 Anhangüera – 3 Particular 16 7 UNIDERP (MS) Universidade de 12 Uberaba 2 Filantrópica 15 3 Faculdade do(MG) Pará – UNIUBE 13 – FAP 1 Particular 14 12 (PA) Faculdade de 14 Tecnologia 1 Particular 13 5 Faculdade de Amazônia 15 da 1 Particular 12 3 ItaitubaFAI (PA) Centro 16 Universitário do 1 Particular 11 7 Estado do Pará – Faculdade 17 Internacional 4 Particular 11 4 de Curitiba – Universidade Norte 18 do 4 Particular 10 5 Universidade do Paraná – 19 Sul de 1 8 8 Publica/ Santa municipal Catarina -de ensino Instituto 20 Superior do Pará 1 Particular 7 5 – IESP (PA) Faculdade Ideal – 21 FACI 1 Particular 4 4 Faculdade Tapajós (PA) 22 – 1 Particular 1 3 FAT(PA) Faculdades 23 Integradas do 1 Particular 1 1 Universidade Tapajós – FIT (PA) 24 Metodista 1 Confessional 1 1 de São Paulo – UMESP (SP) MEC/ INEP -2º semestre 2009 Fonte: PROUNI/ Nº MODALID ADE DE Presencial Distancia Presencial/Dist ancia Distancia Presencial Presencial Distancia Distancia Distancia Distancia Distancia Distancia Presencial Presencial Presencial Presencial Distancia Distancia Distancia Presencial Presencial Presencial Presencial Distancia 11 No que diz respeito, à adesão ao programa, os dados evidenciam que das vinte e quatro Instituições privadas, 30,04 % são da região norte e funcionam em regime presencial, enquanto que 69,96 % provêm de outros estados do Brasil oferecendo educação na modalidade principalmente, à distância. Nessas condições, a educação a distância que seria uma alternativa para ampliação do ensino superior presencial passa a ser a solução mais viável e mais econômica para o governo e mais rentável para os empresários do ensino. Um dado que chama a atenção é o caso da UNISSUL conforme a tabela acima, é a única universidade, que apesar de ser pública oferece Ensino Privado por meio do ProUni. Isto demonstra a dimensão da consolidação do Público Não-Estatal4 no contexto das relações entre Estado e sociedade civil, amplamente difundida por Bresser Pereira, materializada no Plano de Reforma do Estado. Nesse sentido, é indispensável uma análise no contexto das reformas do Estado brasileiro, das políticas problematizemos como de expansão política do ensino excludente. O superior, ProUni se de modo apresenta que como a uma alternativa viável, porém dentro da lógica do capital, pois em termos sociais, não contribui para a eliminação das desigualdades sociais, que, aliás, são acirradas, ao passo que essa suposta inclusão nada mais é que uma nova forma de exclusão, pois oferece ensino superior de qualidade questionável (CATANI et all, 2006). O Programa além de repassar verbas públicas a iniciativa privada: [...] promove o acesso à educação superior com baixo custo para o governo, isto é, uma engenharia administrativa que equilibra impacto popular, atendimento às demandas do setor privado e regulagem das contas do Estado, cumprindo a meta do Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº 10.172/2001) de aumentar a proporção de jovens de 18 a 24 anos matriculados em curso superior para 30% até 2010. Pretende, ainda, atender ao aumento da demanda por acesso à educação superior, valendo-se da alta ociosidade do ensino superior 4 É público o espaço que é de todos e para todos. É estatal uma forma específica de espaço ou de propriedade pública: aquela que faz parte do Estado. É privada a propriedade que se volta para o lucro ou para o consumo dos indivíduos ou dos grupos. Em princípio todas as organizações sem fins lucrativos são ou devem ser organizações públicas não-estatais. Poderíamos dizer que, afinal, continuamos apenas com as duas formas clássicas de propriedade: a pública e a privada, mas com duas importantes ressalvas: primeiro, a propriedade pública se subdivide em estatal e não-estatal, ao invés de se confundir com a estatal; e segundo, as instituições de Direito Privado voltadas para o interesse público e não para o consumo privado não são privadas, mas sim públicas não-estatais (BRESSER PEREIRA, 1997, p. 26). 12 privado (35% das vagas em 2002, 42% em 2003 e 49,5% em 2004) (CATANI, 2006, p. 127). Assim, no discurso o Poder público vem promovendo a inclusão social aos excluídos historicamente, mas, na realidade realiza uma política que atende os interesses comerciais do setor privado, ao mesmo tempo ocorre uma redução dos investimentos do nos gastos sociais pelo Estado na área social. A concepção de educação sob a perspectiva do Neoliberalismo Especificamente, neste contexto a lógica neoliberal ganha novos contornos que advogam para a educação o papel de salvadora dos sujeitos, bem como, manobra do capital ao individualismo e a competição. Essa concepção de educação contraria a tese dos marxistas, que afirma que não é o nível de escolaridade como querem provar os neoliberais promove a produtividade do trabalho, mas que sim, as condições tecnológicas e da organização do processo de produção. O ideal de educação pensada pelos neoliberais está pautado como a única atividade social capaz de promover a inserção no mercado de trabalho, por isso oferta uma formação rápida, regulada em um discurso de desqualificação da educação pública, portanto, necessária a privatização, segundo os neoliberais. Schultz (1973) defende que quanto mais uma pessoa investir em si, ela não tem custo, mas, um investimento propulsor, para um futuro promissor [...] se a educação fosse integralmente gratuita, uma pessoa com toda a probabilidade a consumiria até que estivesse saciada e "investiria" nela até que não mais aumentasse os seus futuros ganhos. Se uma parte das despesas educacionais fosse suportada pelos cofres públicos, os custos privados diretos de educação seriam, sem dúvida, menos do que os custos totais com a educação e à medida que a educação incrementa os rendimentos futuros do estudante, sua taxa privada de rendimento em relação ao que gastara com a educação seria mais alta do que a taxa de rendimento em relação aos gastos totais educacionais que entrassem nesta parte de sua educação. Desta forma, os incentivos privados para consumir e para investir na educação são afetados pelas despesas públicas educacionais, mas o fato de haver tais despesas públicas não tem qualquer ressonância na questão de saber-se se a educação é consumo ou produção de capacitações (ALMEIDA e PEREIRA apud SCHULTZ, 1973, p.56). 13 O neoliberalismo apresenta o papel que a educação deve assumir decorrente de uma nova racionalidade, capaz de gerar certo “progresso” individual e social. É notória por parte do Estado a preocupação em ampliar o ensino superior por meio de “parcerias”. Dessa forma, temos, então, uma nova concepção de educação superior, balizada na relação entre burguesia e governo “tal compreensão concorre diretamente para os interesses da burguesia industrial, mas preocupada com a incorporação do conhecimento como insumo produtivo, isto é, educação-mercadoria, tal qual a entendem os empresários do ensino superior” (RODRIGUES, 2007, p. 85). Com essa concepção de educação-mercadoria o Estado compactua indiretamente ou diretamente com o perfil que o capital destinou a educação na nova ordem mundial, a de mercadoria a ser negociada no mercado. Entretanto, a educação para além do capital deve está centrada no ser humano como parâmetro, o que só é possível a partir da superação da lógica desumanizadora do capital. Ou seja, é necessário que a sociedade, os subjetividade sobreponham-se sobre a objetividade mercantil, valores, a a racionalidade financeira, a competitividade, a concorrência e o individualismo pilares do neoliberalismo (MESZÁROS, 2005). Considerações Finais As discussões iniciais desse trabalho, as análises dos primeiros documentos e das informações coletadas possibilitaram chegarmos a algumas conclusões parciais, já levantadas em forma de hipóteses no início deste artigo. Em relação ao ProUni é possível inferir que: tem promovido uma concentração de bolsas ofertadas no programa nas IES das regiões sul e sudeste do país, principalmente, na modalidade à distância como forma mais econômica; quanto à oferta de bolsas no período de quatro anos tem sido desproporcional a renúncia fiscal, o que representa uma fragilidade no programa quando se refere à questão tributária. O ProUni é coerente quanto contempla as metas do PNE no que tange a ampliação gradual da oferta de formação a distância em nível superior para todas as áreas, incentivando a participação das universidades e das demais Instituições de Educação Superior credenciadas. Acreditamos que a Universidade deve ser pública. O que está em jogo é um processo de privatização cuja lógica é a da retirada dos gastos sociais da estrutura estatal. Com o neoliberalismo busca-se construir um “Estado máximo para o capital”. (SANFELICE, 2000, p. 153). O ProUni faz parte dessa lógica que tende a promover a 14 reforma do Ensino Superior por meio das relações das PPPs, deslocando verbas públicas para as Instituições privadas. Mas educação não é mercadoria é direito de todos e dever do Estado. Referências Bibliográficas ALMEIDA, E. P. E PEREIRA, R, S. Críticas à teoria do capital humano (uma contribuição à análise de políticas públicas em educação. Disponível em http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev15/AlmeidaPereira.htmlacessado em 20/05/2009. BAIANCHETTI, G. R. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. São Paulo: Editora Cortez 2001. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Portugal: Edições 70, 1977. BITTAR, M.; OLIVEIRA, J. F. de; MOROSINI, M. (Orgs). Educação Superior no Brasil: 10 anos pós-LDB. INEP, ano. 2008. BRASIL. Constituição federativa do Brasil: Promulgada em 05 de outubro de 1998. BRESSER-PEREIRA, L. C.; CUNILL GRAU, N. (orgs.) O público não-estatal na reforma do Estado. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999. . FIES-MEC. 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