INOVAÇÃO: POR ONDE VAMOS?
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
Índice
INOVAÇÃO: POR ONDE VAMOS?
3
A Inovação em Portugal: Desenvolvimentos Recentes
3
A Inovação em Portugal: Principais Desafios
6
O sistema de Educação
7
Empreendedorismo
9
Networking e Cooperação
14
Transversalidade e consistência de implementação das Políticas Públicas de Inovação
15
Alavancagem (Dimensão, Visão Mundial)
16
Eixos de Actuação para Promover a Inovação em prol da Competitividade do País
17
Educar: Uma Educação que promova valores, estimule atitudes empreendedoras e
desenvolva competências
18
Integrar: Uma lógica de inovação transversal, envolvendo múltiplas dimensões
20
Empreender: Um empreendedorismo pujante, dentro e fora das organizações
estabelecidas
21
Cooperar: Uma lógica de exploração de sinergias, assente na cooperação
26
Atrair: Um investimento estrangeiro exportador, criador de emprego e promotor de
interacções e de aprendizagens
28
Pensar Global: Uma orientação inovadora para competir num Mundo global.
31
Ficha Técnica
34
Anexos
36
Contactos
46
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
2
INOVAÇÃO: POR ONDE VAMOS?
O Barómetro de Inovação da COTEC Portugal é uma plataforma de divulgação de
informações sobre a inovação em Portugal. Inserido no âmbito das actividades de
valorização dos seus conteúdos, este documento tem dois objectivos centrais:
(1) Dar visibilidade às opiniões expressas pelos membros do Painel de Opinião COTEC,
proporcionando uma visão de conjunto das suas contribuições num espaço temporal
mais alargado;
(2) Fornecer uma nova base de reflexão sobre a inovação em Portugal, identificando as
principais áreas de acção.
O presente documento está estruturado em três partes. Na primeira parte procede-se
à análise, a partir das opiniões expressas pelo Painel de Opinião COTEC (ver Anexo A)
dos desenvolvimentos recentes da política de inovação em Portugal. Na segunda, são
identificados, com base nas opiniões do Painel os principais desafios defrontados por
aquela política, tendo em conta a conjuntura nacional e internacional defrontada e as
expectativas de evolução do panorama económico internacional. A última parte, será
dedicada à apresentação de uma agenda de mudança no sentido de promover a
inovação como elemento central para reforçar a competitividade do País.
A Inovação em Portugal: Desenvolvimentos Recentes
A avaliação do Painel relativamente às políticas de inovação em Portugal é
moderadamente positiva, como se poderá observar na figura 1, abaixo apresentada. A
opinião global sobre os resultados da política de inovação pode ser considerada como
suficiente, rondando os 4.2 pontos numa escala de 1 a 7. Curiosamente, a variação
observada entre os diversos momentos de auscultação do Painel foi muito reduzida. A
tónica dominante é a consistência das avaliações ao longo do tempo, apesar de uma
ligeira quebra na última observação (Março de 2012).
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
3
Avaliação das Políticas de Inovação
7
6
5
4,2
4,3
4,1
4
Dez-10
Jun-11
Mar-12
3
2
1
Fonte: Painel de Opinião do Barómetro de Inovação COTEC
Figura 1: Avaliação das Políticas de Inovação: Evolução dos Resultados
De um modo geral, o Painel considera que nos últimos anos houve esforços meritórios,
designadamente no campo da formação de recursos humanos altamente qualificados.
Alerta, no entanto, para o facto de haver ainda muito por fazer em diferentes áreas,
que vão desde a formação de base e das atitudes face ao risco até a uma visão
integrada e transversal da política de inovação, passando pela promoção de relações
de cooperação entre os vários intervenientes nos processos de inovação. O esforço no
sentido da promoção da inovação é julgado ainda mais relevante no quadro das
dificuldades com que o País se debate
O Plano Tecnológico é referido de uma forma positiva, como instrumento mobilizador
da sociedade para a mudança. A “criação do Plano Tecnológico com planos, medidas,
indicadores e metas e divulgação da inovação em Portugal” (Luís Portela) foi
considerada como um dos principais desenvolvimentos positivos da política de
inovação no passado recente.
A opinião do Painel sobre o Programa Estratégico para o Empreendedorismo e a
Inovação (+E+I) é genericamente favorável. Vários membros relevaram a importância
da definição de uma política coordenada e consistente de promoção do
empreendedorismo. Refere-se que se “deu um passo na direcção certa” (António
Vidigal) e que “os objectivos estratégicos estão bem articulados” (João Caraça). Não
existe, porém, consenso quanto à ambição do Programa. De acordo com uma opinião,
“a visão do Programa +E+I denota ambição e apresenta-se com quatro objectivos
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estratégicos adequados à promoção do crescimento” (Pedro Carneiro); outra considera
todavia que “o grande desígnio (…) devia ser mais ambicioso: criar uma cultura da
inovação em Portugal.” (João Caraça). Como afirmou Luís Portela:
“O novo Programa é um factor positivo para a melhoria das condições de
enquadramento às dinâmicas de inovação, até porque aposta numa dupla
perspectiva de continuidade das práticas e instrumentos públicos cujos
resultados passados têm sido positivos (invertendo uma lógica muito negativa
de descontinuidade das politicas) e de aposta numa melhor coordenação das
acções publicas de modo a tornar mais eficazes os resultados a obter
(particularmente relevantes parecem ser as acções a concretizar no domínio da
oferta de capital de risco)” .
Entre os aspectos positivos mencionados, destacam-se os seguintes:
● Promoção do empreendedorismo (contribuição para o reforço da “cultura
empreendedora em Portugal”, Isabel Mota);
● Reconhecimento da importância atribuída ao empreendedorismo social;
● Estímulo das ligações entre a Universidade e a Indústria (“Ênfase na transferência de
tecnologia das universidades para as Empresas”, António Murta);
● Promoção da qualidade do capital de risco em Portugal; e
● Reconhecimento da vantagem da continuidade de políticas, evitando cortes
abruptos face ao passado.
Todavia, foi apontado também que a efectiva contribuição do +E+I vai depender da
capacidade de mobilização de vontades e de competências no sentido de levar à
prática as ideias apresentadas. Como mostram os excertos abaixo apresentados, a
implementação será, na opinião do Painel, a pedra de toque do resultado do Programa
enquanto instrumento de mudança e de reforço da competitividade:
“Os resultados vão depender crucialmente da qualidade da execução” (Sérgio Rebelo);
“O programa contém muitas ideias louváveis, mas é pouco concreto quanto ao modo
de as aplicar” (Joana Vasconcelos);
“Faltam os detalhes…e os detalhes fazem toda a diferença” (Rogério Carapuça); e
“Se o Programa Estratégico +E+I funcionará de uma forma eficaz e eficiente, ver-se-á a
posteriori. Como sucedeu com o Plano Tecnológico (que, no meu entender, teve muitos
aspectos positivos), tal dependerá dos líderes da equipa que o virá a implementar e da
sua capacidade de nele integrarem vontades e capacidades presentes na sociedade
portuguesa, em particular nas suas comunidades empresarial e académica” (Rui
Guimarães).
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A falta de uma concretização das medidas e a ausência de indicadores de desempenho
e de avaliação do resultado encontram-se entre os pontos fracos referidos pelo Painel.
Mais especificamente, foi sublinhado “o carácter simbólico ou vago de algumas
medidas anunciadas” (Isabel Mota), bem como o facto de parecer “sofrer de falta de
objectivos, metas e recursos identificados” (João Bento). Duas outras observações
negativas respeitam à ausência de “medidas para estimular a procura” (João Caraça) e
de uma “verdadeira política de inovação na cultura”, apesar da referência positiva ao
“apoio à internacionalização das indústrias culturais criativas” (Pedro Carneiro).
O Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial
(SIFIDE) constitui um instrumento de promoção das actividades de I&D muito
valorizado pelos membros do painel, especialmente por aqueles que se encontram
mais ligados a grandes empresas. A impressão geral é a de que este instrumento tem
um papel muito relevante na consolidação do esforço em I&D pelas empresas
portuguesas.
Menor é o consenso do Painel acerca das alterações efectuadas no orçamento de
2012. Vários membros sublinham que a decisão de manutenção do SIFIDE no actual
contexto de redução do défice das contas do Estado constitui um sinal muito positivo
do empenhamento do Governo na promoção da IDI empresarial. Outros, porém,
embora reconhecendo os problemas orçamentais, lamentam a discriminação negativa
das grandes empresas e a não continuidade do apoio fiscal à propriedade intelectual.
Foi mesmo expressa a opinião de que é “impensável criar estímulo à investigação
aplicada em Portugal quando se acaba com o estímulo à Propriedade Intelectual”
(Filipe de Botton).
Independentemente das diferenças na avaliação das políticas públicas seguidas em
matéria de IDI, existe uma razoável convergência do Painel em torno da identificação
de um conjunto de desafios centrais para a promoção da inovação e para a
competitividade do País. Existe a consciência de que a resposta a grande parte deles
exige tempo e consistência de políticas.
A Inovação em Portugal: Principais Desafios
Existe um reconhecimento generalizado, por parte do Painel, de que a inovação
constitui um ingrediente fundamental para Portugal (e a Europa) responder aos
desafios competitivos defrontados num Mundo cada vez menos Ocidental e onde
novos actores, nacionais e empresariais, assumem um relevo crescente. A capacidade
de inovar e a velocidade de inovação são imperativos para concorrer com sucesso no
século XXI. Estes objectivos podem e devem ser estimulados e enquadrados por uma
visão estratégica mobilizadora de longo prazo.
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Os problemas actuais da nossa vivência colectiva não devem perturbar a prossecução
de uma trajectória consistente em direcção ao futuro. Muito pelo contrário: o esforço
no sentido da promoção da inovação é julgado ainda mais pertinente face às
dificuldades com que o País se debate.”É exactamente nesta altura que se deve investir
na inovação” (José Manuel dos Santos). Tais dificuldades não devem pôr em causa
“aquilo que é seminal para a inovação, onde vínhamos a fazer um bom trabalho –
capacidade de produzir conhecimento, saber, engenharia, tecnologia”, tanto mais que
a inovação é fundamental para conseguirmos acrescentar valor às nossas exportações
(Gonçalo Quadros).
7
Os principais desafios identificados pelo Painel podem ser agrupados em torno dos
seguintes seis grandes eixos inter-relacionados:
(i)
Ultrapassar as condicionantes de base, relacionadas nomeadamente com as
atitudes e o funcionamento do sistema de Educação;
(ii)
Promover o empenhamento
Empreendedorismo;
(iii)
Encorajar o Networking e a Cooperação entre os agentes económicos,
(iv)
Promover uma maior consistência e transversalidade na implementação
das Políticas Públicas, nomeadamente na Política de Inovação;
(v)
Reconhecer a Transversalidade do conceito de inovação e o papel
fundamental da inovação para a promoção da Competitividade; e
(vi)
Criar capacidade de alavancagem dos projectos, conferindo-lhes Dimensão
e uma Perspectiva mundial.
na
mudança
e
estimular
o
Nas páginas seguintes apresentam-se detalhadamente as posições assumidas pelo
Painel em cada um dos eixos referidos.
► O sistema de Educação
A existência de um conjunto de condicionantes de base, que comprometem a
generalidade dos esforços de política pública desenvolvidos no sentido de promover a
inovação ressaltou tanto no comentário dos estímulos e barreiras ao
empreendedorismo e da estratégia Europa 2020 como na questão “Eu, Primeiro
Ministro”, colocada logo na primeira ronda do Painel. (Ver Anexo B)
As deficiências de educação e de qualificação dos Portugueses, nos vários níveis de
ensino, foram destacadas pelo Painel. A superação dessas deficiências constitui um
desafio fundamental para as autoridades públicas: é preciso uma “aposta na Escola –
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uma aposta determinada, mobilizando os principais stakeholders para a qualificação
dos Portugueses” (Gonçalo Quadros). Por outras palavras, uma “aposta de longo prazo
na educação, incentivando e estimulando a criatividade, a inovação e a capacidade de
realização, desde o ensino básico ao superior” (Luís Portela). As opiniões do Painel
foram sintetizadas por Daniel Bessa nestes termos: “se tivessem de escolher uma
prioridade para uma ‘agenda de inovação’ no nosso País, a maioria dos membros do
Painel situá-la-ia (…) no domínio da educação (uma educação em sentido amplo,
centrada em atitudes comportamentos, e em experiências e competências, e não
apenas em saberes)”. Reconhece-se, no entanto, que isso exige um empenhamento
continuado, independente dos ciclos eleitorais.
No Barómetro de Inovação COTEC, Portugal está na 33ª posição no Pilar Qualidade
do Sistema de Educação. (Ver anexo C)
http://www.barometro.cotec.pt/website/statistics/index/c/statDimPilaresFontes#60
A aposta na educação é encarada como transversal. Ela envolve todos os graus de
ensino. Enquanto alguns membros do Painel focaram mais o ensino básico (“pensar o
conceito de ‘Escola do futuro’ não como uma escola apenas cheia de tecnologia, mas
como uma escola que ensina de maneira diferente”, Rogério Carapuça), outros
dirigiram a sua atenção para o superior (por exemplo, procurando ganhar escala e
elaborando um ranking de desempenho das Universidades e Politécnicos). Observouse, todavia, uma convergência no sentido da importância de o sistema de ensino não
transmitir apenas conhecimentos, mas também valores e atitudes, incluindo “maior
exigência e rigor” (Jorge Rebelo de Almeida), combatendo o “facilitismo” (Filipe de
Botton). Isso é bem expresso nas seguintes afirmações:
“O sistema de ensino tem que estar concertado com a política de inovação e tem que
promover desde o início o empreendedorismo, o experimentalismo e o debate de ideias
em vez de promover uma atitude passiva de simplesmente ensinar matérias”
(Alexandre Soares dos Santos); e
“Adoptar medidas de reforma da educação, no sentido de reformular o modelo de
aprendizagem, apostando na exigência e no rigor, na capacidade de aprender ao longo
de toda a vida” (Paulo de Azevedo).
Ambas remetem para o empreendedorismo, tema que será abordado mais adiante.
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Foram feitas também diversas referências ao reduzido nível de formação dos próprios
empresários e gestores. A classe empresarial não é imune aos problemas de
insuficiente nível de qualificação referidos acima. Foi salientado que “o primeiro
problema de formação/treino é dos empresários e não dos trabalhadores” (António
Murta) e que os “gestores portugueses [são] medíocres” (Filipe de Botton). Por seu
turno, Rui Guimarães destacou “a falta de qualificação generalizada, em particular
entre muitos empresários de PME nacionais”. O reforço da qualificação e a formação
dos gestores constituem, portanto, desafios que não podem ser descurados pela
política de inovação.
9
Sublinhando a necessidade de “reforçar e focar as políticas de inovação orientadas
pelos resultados” (João Picoito), combatendo o “facilitismo” e valorizando o mérito, foi
focada tanto a necessidade de melhor formação dos professores como de
implementação de sistemas apropriados de avaliação.
Especificamente no ensino superior foi criticada a reduzida orientação para a
resolução de problemas, competência considerada como extremamente relevante em
termos de empregabilidade. A adopção de uma mudança de comportamento neste
campo constitui um outro desafio para o sistema de ensino aos diferentes níveis. A
resposta que lhe for dada, vai-se reflectir em outros aspectos relevantes,
designadamente a propensão ao empreendedorismo e o nível de cooperação entre
organizações universitárias e empresas. A ideia subjacente é que a orientação à
resolução de problemas iria permitir uma confluência mais fácil entre os dois corpos
de conhecimentos: o de natureza mais teórica, característico das universidades; e o de
índole mais prática, característico das empresas, garantindo uma maior possibilidade
de empregabilidade e de ajustamento às mudanças ocorridas na sociedade.
Por outro lado, as empresas atribuem cada vez mais importância às competências
transversais, daí decorrendo inúmeros desafios quer para as políticas públicas quer
para os actores do próprio sistema de educação e de formação. Frequentemente
citados como soft skills, valorizam-se cada vez mais os atributos associados por
exemplo à capacidade de interagir (comunicação e ferramentas digitais, trabalho em
equipa, atitude colaborativa), à capacidade de pensar (na resolução de problemas, na
aprendizagem), à capacidade de aplicar (criatividade, inovação, experimentação,
empreendedorismo) e mesmo à capacidade de explorar as vivências sociais (cidadania,
interculturalidade).
► Empreendedorismo
Um dos temas fixos do Painel respeita ao Empreendedorismo, questão tida como
central numa perspectiva de dinamização da inovação em Portugal. A capacidade de
empreender, aproveitando e/ou explorando as mudanças observadas em termos
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sociais, tecnológicos e económicos ressalta como um desafio decisivo. Curiosamente, a
ligação entre Empreendedorismo e Inovação é acolhida pelo Programa Estratégico
para o Empreendedorismo e a Inovação, a que se fez referência anteriormente.
Um aspecto importante, destacado nomeadamente por alguns membros empresariais
do Painel, foi a importância do intra-empreendedorismo, isto é, o empreendedorismo
que tem lugar dentro das empresas, conduzindo a novas iniciativas e projectos,
traduzidas ou não na criação de novas empresas. Na verdade, como afirma Paulo
Azevedo, existe uma insuficiente percepção de que o empreendedorismo pode
também emergir de dentro das empresas. Em sua opinião, “é responsabilidade das
empresas proporcionarem aos seus colaboradores um ambiente de trabalho propício à
inovação e proporcionar aos seus trabalhadores uma formação adequada ao
desempenho das suas funções de forma cada vez mais responsável e empowered”.
Portugal encontra-se na 33ª Posição do Global Entrepreneurship Monitor (GEM –
www.gemconsortium.org) um estudo independente sobre empreendedorismo
realizado em todo o Mundo
http://www.barometro.cotec.pt/website/index/news
A observação dos resultados do Painel sugere a existência de três grandes tipos de
condicionantes da dinamização do empreendedorismo em Portugal:
● Atitudes
● Condições contextuais
● Instrumentos
É interessante notar que a opinião do Painel não difere muito da avaliação do GEM
Portugal 2010. Neste estudo, as duas condições estruturais consideradas menos
favoráveis ao Empreendedorismo em Portugal são as Normas Culturais e Sociais e as
Políticas Governamentais.
As atitudes respeitam fundamentalmente à aversão ao risco, à escassa tolerância ao
insucesso e à falta de comunicação. “O que dificulta o empreendedorismo em Portugal
é acima de tudo a nossa atitude” (Luís Amaral). Isso implica a valorização da função
social do empresário, como foi referido por Jorge Rebelo de Almeida (“falta de
reconhecimento do importante papel dos empresários privados na economia”) e por
Rogério Carapuça (“imagem negativa veiculada pela comunicação social relativamente
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aos empresários”), mas vai muito para além deste aspecto. O efeito de demonstração
pode ser estimulado através da divulgação de iniciativas bem-sucedidas, que podem
funcionar como exemplos e factores de inspiração para jovens empresários, como
notou Gonçalo Quadros. A maioria dos membros do Painel apontou a elevada aversão
ao risco como um elemento castrador da iniciativa empreendedora. Intimamente
relacionada com a aversão ao risco está uma “cultura de trabalho ainda muito
orientada para o trabalho por conta de outrem” (Alberto da Ponte). Aquela aversão
conduz também a uma atitude de penalização dos erros e a uma reduzida tolerância
ao insucesso. O anátema do insucesso anterior prevalece sobre a possibilidade de
aprendizagem com a experiência: “o insucesso empresarial ainda tem uma conotação
muito negativa o que reduz a propensão ao risco da comunidade empresarial”
(António Vidigal). Acresce que as “consequências administrativas de uma falência
impedem que um empreendedor volte a lançar novas iniciativas durante demasiado
tempo” (António Vidigal). José Manuel dos Santos sublinha a importância da
“experimentação” e do “processo de testar para validar, de falhar para aprender”, o
qual tende a ser encarado negativamente devido ao peso das normas culturais e
sociais. Daqui decorre um reduzido nível de estímulo à chamada second chance.
Sem contestar os dois pontos anteriores, outros membros do Painel destacam a
reduzida capacidade comunicacional, ligada a uma “mentalidade fechada” (Pedro
Carneiro). Para João Caraça e José Manuel dos Santos, os problemas centrais são de
natureza comunicacional: o “fechamento sobre os problemas próprios” gera uma
“incapacidade de comunicar com os outros” (João Caraça). Na mesma linha, foi
referido também o “provincianismo” (Luís Amaral) e uma “atitude céptica
relativamente a novos protagonistas no mercado” (Diogo Vasconcelos). Isso está
associado ao facto de sermos “uma sociedade pouco transparente e pouco dada a
valorizar a meritocracia”. Esta característica tem consequências em outros planos,
desde a escala dos projectos até à capacidade de relacionamento e de cooperação
entre os actores económicos.
As dificuldades decorrentes das atitudes pouco propensas ao risco são acentuadas
pelas condições contextuais. O aspecto mais referido neste campo foi a burocracia.
Esta é espelhada em múltiplas vertentes, desde o sistema de justiça até ao processo de
avaliação de projectos e de concessão de incentivos. A burocracia constitui um
elemento dissuasor da iniciativa empreendedora, especialmente na medida em que
reforça as posições de quem já está instalado e induz, como se referiu acima, uma
desconfiança face a novos actores. Em certas áreas, a regulamentação das actividades
parece pecar simultaneamente por excesso e por defeito: “a incoerência regulamentar
que ora onera o empreendedor com excessos burocráticos, ora o desprotege por falta
de regulamentação adequada à sua actividade económica” (Salvador Guedes). Foi
referida a insuficiente divulgação dos sistemas de incentivos e a “falta de
aconselhamento” aos potenciais empresários (Nicolau Santos). Sintetizando as
posições do Painel, Daniel Bessa afirma que “a complexidade burocrática e a
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11
morosidade dos processos de decisão [estão] entre os maiores constrangimentos às
políticas de inovação no nosso país”.
Dois temas específicos, mas com influência transversal sobre o empreendedorismo e o
funcionamento da economia, foram destacados, de forma mais ou menos incisiva, por
vários membros do Painel: o sistema de justiça e o sistema de financiamento.
A situação da Justiça constitui um entrave sério ao empreendedorismo. Como foi
sublinhado por vários membros do Painel, as deficiências no sistema judicial
condicionam fortemente a competitividade do País.
12
Segundo o Barómetro de Inovação COTEC, Portugal encontra-se na 44ª posição
relativamente à Eficiência Judicial (Anexo C).
http://www.barometro.cotec.pt/website/statistics/index/c/statDimPilaresFontes#60
Embora em curso de correcção, os problemas do sistema de justiça perpetuam-se
“com constantes defesas de índole corporativista”, o “que assusta verdadeiramente
qualquer empresário normal” (António Murta). Como elemento complementar neste
campo, foi mencionada a burocracia e “a demasiada legislação a nível do registo de
patentes”, o que decorre em parte das orientações europeias neste campo (Zita
Martins). Simplificação de procedimentos, maior rapidez na decisão e maior eficiência
são vectores centrais na (absolutamente indispensável) revisão do sistema de Justiça
em Portugal.
Portugal encontra-se na 10ª posição, no pilar Financiamento, do Barómetro de
Inovação COTEC
http://www.barometro.cotec.pt/website/statistics/index#65
No que respeita ao sistema de financiamento, uma crítica transversal respeitou à falta
de disponibilidade de financiamento às empresas, o que restringe a iniciativa, tanto na
criação de novas empresas como nas iniciativas empreendedoras de empresas já
existentes. Foi expressa a opinião de que a capacidade da banca para avaliar projectos
é obnubilada também pelos interesses constituídos, limitando a disponibilidade para
financiar ideias de negócio meritórias: “a banca em Portugal serve os interesses
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
instalados, não as ideias com valor” (Luís Amaral). Outros membros do Painel
exprimiram compreensão pelas dificuldades da Banca para disponibilizar
financiamento às empresas, mas não deixaram de notar que esta é uma condicionante
forte do empreendedorismo: “escassez de mecanismos (e de quantidade) de
financiamento de apoio ao lançamento de novas actividades” (João Bento).
Ainda relativamente ao sistema de financiamento, as insuficiências do capital de risco
foram também objecto de referência. Para Luís Portela, os “mecanismos de estímulo
articulando acesso ao crédito e ao capital de risco nas start-ups” são escassos. Alguns
membros do Painel sugeriram que se tornava necessário conceder mais apoio ao
capital de risco. Outros, no entanto, consideraram que o problema principal era de
qualidade dos actores existentes: as “entidades de apoio financeiro (tipo Venture
Capitalist) [são] muito fechadas em si próprias, pouca transparência nos critérios [e]
nos processos” (José Manuel dos Santos); “apenas [existem] alguns (poucos)
operadores com grande qualidade” (Rogério Carapuça). Não surpreende, por isso, que
tenha sido assumida uma posição favorável à intenção de reestruturação dos
instrumentos públicos de capital de risco expressa no Programa Estratégico para o
Empreendedorismo e a Inovação +E+I.
Este tema conduz-nos para o terceiro eixo referido acima: as insuficiências dos
instrumentos de promoção do empreendedorismo. Sendo reconhecido que a resposta
básica aos problemas defrontados passa pela mudança de atitudes, através da
educação para a cidadania e para a iniciativa, foi apontada a necessidade de medidas
de política para estímulo do empreendedorismo, actuando sobre os instrumentos
disponíveis. Outros pontos referidos respeitam à utilização dos incentivos no âmbito
do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), à promoção do
empreendedorismo “em actividades primárias e no interior do País” (Rogério
Carapuça) e nas comunidades imigrantes (Helena Nazaré) e à disponibilização de
serviços de aconselhamento a pequenos empresários e empreendedores. Aspecto
interessante é a proposta no sentido de estimular iniciativas de “abertura de centros
de excelência fora das grandes cidades” (Zita Martins).
Nem tudo são, porém, aspectos negativos. Alguns membros do Painel chamaram a
atenção para o facto de a crise aguçar o engenho. Nas palavras de Daniel Bessa, “de
forma talvez paradoxal, a crise económica foi apontada como o factor que hoje mais
estimula o empreendedorismo em Portugal (a necessidade em virtude do progressivo
escassear de todos os outros ‘modos de vida’)”. Além disso, as políticas desenvolvidas
nos últimos anos têm contribuído para reforçar a consciencialização para a inovação e
o empreendedorismo, tendo “ajudado a criar uma nova atitude nos mais novos, que
são hoje muito mais receptivos do que há algum tempo atrás a ousarem lançar os seus
projectos” (Gonçalo Quadros).
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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► Networking e Cooperação
As dificuldades relacionais e de estabelecimento de formas de cooperação entre os
diferentes actores constituem, na opinião da maioria dos membros do Painel, um dos
desafios mais importantes para a promoção da inovação em Portugal.
A “perspectiva muito individualista” (João Picoito) e a atitude pouco cooperativa da
generalidade dos Portugueses limitam a capacidade de obter escala nas iniciativas e
projectos bem como o acesso a capacidades complementares, susceptíveis de
estabelecer sinergias com a base de conhecimentos já existente. Uma das expressões
mais referidas dessa falta de cooperação respeita às ligações entre a Universidade e as
Empresas. Independentemente do ponto de vista, existe uma razoável convergência
de posições, bem expressa nas citações abaixo apresentadas:
“Em algumas áreas mais tecnológicas, não tem existido ainda uma cooperação
entre diferentes actores. Quer as universidades quer as empresas deveriam
cooperar mais entre elas e também criar redes de inovação” (João Picoito);
“Não há uma eficiente ligação entre as Empresas e as Universidades/Centros de
I&D” (Zita Martins); e
“Dificuldade de valorização no plano empresarial do enorme reforço de meios
humanos e técnicos em ciência nas instituições do sistema científico” (Luís
Portela).
Isso resulta de problemas relacionados com atitudes e competências de ambos os
lados da equação, como nota João Bento:
Existe uma “baixa disponibilidade do tecido académico para se envolver
pragmaticamente em projectos de I&D+I, [a qual] não tem sido combatida por
políticas públicas que incentivem decisivamente a alteração de atitude. Nem
dirigidas às empresas, nem, sobretudo, dirigidas às universidades”.
Simultaneamente, observa-se uma “baixa capacidade dos decisores privados
para captar o potencial científico e tecnológico instalado nas universidades, não
tem sido suficientemente incentivada por políticas públicas ou pela agenda
política, mesmo nos domínios de conhecimento e de actividade económicas
’eleitos’ como prioritários”.
Um aspecto central da cooperação deveria respeitar, na opinião de Gonçalo Quadros,
às “competências de ligação ao mercado”. Estas são consideradas como essenciais
para responder de “forma criativa, eficaz e eficiente” às oportunidades de mercado
detectadas. “Temos boa engenharia, boa capacidade de produzir tecnologia, mas
muita dificuldade em vendê-la. Diria que é normal porque as competências precisam de
tempo e do contexto certo para se desenvolverem, e ainda não há muito tempo não se
produzia tecnologia em Portugal”.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
14
A atitude individualista e ‘fechada’ exprime-se também em projectos pouco
ambiciosos e ‘virados para dentro’, para o mercado doméstico, descurando as
possibilidades de afirmação internacional.
Por último, ela reflecte-se no plano das políticas públicas. De facto, a falta de
coordenação entre Ministérios tem sido, desde há mais de duas décadas, um óbice à
definição e à implementação de políticas coerentes e consistentes de inovação. Apesar
das diversas iniciativas no sentido de estabelecer instrumentos de coordenação, a
realidade tem sido uma apropriação ministerial de áreas de intervenção com reduzida
preocupação de actuar de uma forma integrada face às necessidades dos agentes
económicos. A ausência de uma abordagem coordenada foi expressa por vários
membros do Painel. João Caraça apontou “a existência de dois ministérios diferentes
com responsabilidades sobre este domínio de acção do executivo”. Rogério Carapuça
refere, na mesma linha, a “pouca articulação visível entre as políticas dos vários
Ministérios relevantes”. Estas observações remetem para um outro desafio que
ressalta das opiniões do Painel: a transversalidade e consistência de implementação
das políticas públicas.
► Transversalidade e consistência de implementação das Políticas Públicas de
Inovação
Ainda que por vezes de forma mais implícita que explícita, o Painel reconhece que a
insuficiente integração e a falta de consistência na implementação das políticas de
inovação, com avanços e recuos, quando não com ziguezagues, constituem desafios
que importa ultrapassar.
As opiniões acima expressas acerca da articulação entre Ministérios é bem elucidativa
quanto ao reconhecimento das vantagens de abordagens integradas e coordenadas,
designadamente assumindo uma perspectiva transversal da inovação. O diálogo entre
inovação e cultura é expresso por Pedro Carneiro nestes termos:
“Entender a inovação apenas como ciência e tecnologia […] acaba por ser uma
visão que promove investimento não sustentado no médio e longo prazo. A
cultura [não deve] estar sempre fora da inovação”.
Esta é, sem dúvida, a visão mais abrangente do conceito de inovação entre os
membros do painel. Mesmo não sendo partilhada por todos, ela sublinha a
transversalidade e a necessidade de uma atitude aberta na concepção e
implementação da política de inovação. Aliás, a transversalidade da inovação é
propugnada por Diogo Vasconcelos nestes termos: “uma abordagem que assume que
inovação não se reduz a inovação tecnológica, mas inclui inovação social, design,
indústrias criativas, inovação na administração pública e nos serviços em geral”.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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O desafio da transversalidade exprime-se também no reconhecimento de que a
política de inovação não deve ser apenas induzida pela oferta, nomeadamente pela
oferta de Ciência e Tecnologia. Não pondo em causa o mérito do esforço feito para a
promoção desta, importará actuar também do lado da procura, como notou João
Caraça. A questão está, em larga medida, na adequação e combinação das acções,
tendo presente que, em termos económicos, a inovação se exprime
fundamentalmente no confronto com o mercado. Daí a importância das capacidades
de interpretar o mercado e de networking. Mercado que deverá cada vez mais ser
encarado em termos mundiais e não apenas nacionais. Mais uma vez nos defrontamos
com a transversalidade: a política de inovação não deverá ser dissociada da política de
internacionalização, como sugerem vários membros do Painel, nomeadamente
Gonçalo Quadros: “com uma moeda forte, temos de incorporar valor na nossa oferta
para a conseguir vender nos mercados externos”.
Sem prejuízo das necessárias mudanças a introduzir, o Painel destacou também a
consistência na acção, independentemente dos ciclos políticos. Uma afirmação muito
clara desta ideia foi expressa por Luís Portela, apontando a “dupla perspectiva de
continuidade de práticas e de instrumentos públicos” como um ponto forte do recente
Programa Estratégico para o Empreendedorismo e a Inovação. Na mesma linha, várias
opiniões foram expressas no sentido da criação de uma relação de confiança entre o
poder político e os agentes económicos, o que passa pela continuidade das medidas
que têm revelado impactos positivos, como é o caso do SIFIDE. A “previsibilidade das
políticas económicas” é importante para permitir às empresas desenvolverem
“capacidade de planeamento a longo prazo” (Alberto da Ponte). Isso remete também
para a importância do estabelecimento de metodologias e de instrumentos credíveis e
independentes de avaliação dos resultados das políticas de inovação.
► Alavancagem (Dimensão, Visão Mundial)
Foi afirmado que um dos problemas portugueses é o “pensar pequeno” (Luís Amaral),
o que restringe à partida a ambição e a dimensão dos projectos. A quantidade de
projectos apoiados, provocando uma excessiva dispersão de recursos e uma
pulverização de iniciativas sem massa crítica capaz de induzir mudanças, deverá ser
travada em benefício de um esforço orientado à promoção da inovação e do
empreendedorismo. Nesse sentido, foi apontada a “dificuldade em implementar
projectos de escala relevante pois alguns incentivos dispersam-se por um conjunto
demasiado alargado de iniciativas” (António Vidigal).
Sem prejuízo do reconhecimento da relevância de projectos de natureza local e de
menor dimensão, muitas vezes associados a um empreendedorismo mais fruto da
necessidade que da vocação, importa pensar global. Num Mundo onde as barreiras,
nomeadamente aduaneiras, protegem cada vez menos, as empresas necessitam de ter
uma perspectiva internacional para a sua actividade. Mesmo não sendo born globals,
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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não devem acantonar-se no mercado doméstico. A crise veio, aliás, confirmar este
princípio: as empresas com capacidade de inovação e já envolvidas em operações
internacionais sentem menos os efeitos negativos da retracção da procura interna. A
participação em “redes internacionais dá [aos actores económicos portugueses] a
vantagem de troca de conhecimentos e de informação, de acesso a potenciais
parceiros, de conhecer concursos ou projectos que estão a ser desenvolvidos em vários
pontos do globo, o que aumenta consideravelmente os seus factores de
competitividade” (Nicolau Santos).
Encontram-se referências positivas à política de clusters como instrumento de
desenvolvimento conjunto e de combinação de competências para ganhar
competitividade internacional. De acordo com Salvador Guedes, no sector do vinho,
“começam a ser visíveis os primeiros resultados da criação de Estratégias de Eficiência
Colectiva, sobretudo a nível da criação de uma mentalidade de cooperação de
funcionamento em rede que já está a chamar a atenção a nível internacional”. Foram
também sublinhados os desafios inerentes à obtenção de escala e de competências
para actuar num mercado mundial competitivo.
Portugal encontra-se na 31ª posição, no pilar Estado de desenvolvimento dos clusters,
do Barómetro de Inovação COTEC
http://www.barometro.cotec.pt/website/statistics/index#65
A resposta aos cinco desafios identificados pelo Painel é fundamental para encorajar a
inovação e dar um novo impulso para a competitividade do País. As opiniões expressas
pelo Painel sugerem que tal resposta deverá ser naturalmente coerente, mas também
multifacetada, tendo em conta a diversidade de vectores em jogo e alguma
necessidade de experimentação. A observação de boas práticas internacionais, através
tanto de troca de experiências como de instrumentos de “competitive intelligence”
(Alberto da Ponte), deverá ser conjugada com a adaptação às condições específicas do
tecido social e económico de Portugal. Os principais eixos de acção decorrentes das
posições assumidas pelo Painel são explicitados na secção seguinte.
Eixos de Actuação para Promover a Inovação em prol da Competitividade do País
O acompanhamento das opiniões expressas ao longo das três rondas do Painel de
Opinião COTEC permite identificar dois grandes fios condutores para a acção,
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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estreitamente relacionados entre si: dinâmica de inovação e competitividade
internacional. Num quadro internacional em mudança acentuada, a capacidade de
mudança, torna-se essencial. Isso reclama uma política de inovação consistente que
permita criar condições para os agentes económicos portugueses competir num
Muindo global. Importa ressaltar o facto de a inovação não ser um fim em si mesmo,
mas antes
um meio para estimular a competitividade internacional e o
desenvolvimento económico e social do País. Ganhar competitividade internacional
implica não apenas capacidade de diferenciação e de formulação de propostas de
valor específicas, mas também um esforço de eficiência que se expressa numa maior
produtividade. Os desafios da eficiência e da produtividade foram claramente
enunciados pelo Painel e são também ilustrados pelos resultados do Barómetro de
Inovação COTEC (http://www.barometro.cotec.pt/website/opinion/questions).
Os dois fios condutores –inovação e competitividade− são declinados através de seis
eixos de acção. Sem surpresas, esses eixos revelam uma significativa correspondência
com os desafios anteriormente identificados.
Os seis eixos de acção que decorrem das opiniões do Painel são os seguintes:
1. Educar: Uma Educação que promova
empreendedoras e desenvolva competências;
valores,
estimule
atitudes
2. Integrar: Uma lógica de inovação transversal, envolvendo múltiplas dimensões,
3. Empreender: Um empreendedorismo dinâmico, dentro e fora das organizações
estabelecidas;
4. Cooperar: Uma lógica de exploração de sinergias, assente na cooperação;
5. Atrair: Um investimento estrangeiro criador de emprego e promotor de
interacções e de aprendizagens; e
6. Pensar Global: Uma orientação inovadora para competir num Mundo global.
► Educar: Uma Educação que promova valores, estimule atitudes
empreendedoras e desenvolva competências
A convergência do Painel relativamente ao papel central da Educação, enquanto raiz
primeira do desempenho inovador e vector sobre o qual importa actuar no sentido de
promover uma mudança consistente, é muito nítida.
A ideia de aposta na Escola torna-se fundamental para promover a qualificação e as
competências da população portuguesa. Ela deverá assentar na formação de base,
partindo do ensino pré-primário. De facto, é aí (e também no seio das famílias) que são
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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inculcados valores e atitudes que se tornam fundamentais para orientar os processos
de aprendizagem e para estimular o empreendedorismo nos seus diferentes níveis.
Educação, Valores e Atitudes
A Educação deve, desde o início, sublinhar a importância do esforço, da capacidade de
trabalho, da exigência e do rigor e da ambição de mudança, de poder contribuir para
criar um mundo melhor através da capacidade de fazer as coisas acontecer. Isso exige
uma nova atitude e formação dos agentes educativos. Importa substituir uma cultura
difusa de laxismo, de ‘chico-espertismo’, de clientelismo, de conformismo e de
satisfação com a aurea mediocritas por uma cultura de rigor, de aprendizagem
permanente, de capacidade de mobilizar recursos e de ambição e capacidade de
empreender.
Paralelamente, há que combater o vício do individualismo e promover a capacidade de
comunicar com os outros e de trabalhar e de criar em conjunto. Comunicar envolve a
capacidade de afirmar as nossas ideias e de as defender, mas também a abertura e o
reconhecimento do mérito das ideias dos outros. Este aspecto é fundamental para o
estímulo da capacidade de liderança, do empreendedorismo e da inovação. A iniciativa
empreendedora é cada vez mais conjunta e comunicacional. Empreender exige
combinar vontades e talentos e comunicar a nossa ideia a outros, convencendo-os da
sua relevância. Mas o sucesso do empreendedorismo exige, do mesmo passo,
abertura, para que as ideias dos nossos pares possam contribuir para reduzir os pontos
fracos e alavancar os méritos das nossas.
A Escola tornou-se, nos dias de hoje, um espaço central na formação do carácter. O
seu papel é fundamental. Neste quadro, o papel dos professores é central. A mudança
do status quo exige a formação e a mobilização dos professores. Mas exige também a
mobilização das comunidades locais, para motivar pelo exemplo e pela divulgação de
casos de sucesso. Este parece ser um campo de eleição para as iniciativas de
responsabilidade social das empresas. A Escola pode constituir também um vector
chave de uma política de inovação social.
Educação, Aprendizagem e Competências
Um aspecto referido por diversos membros do Painel foi a necessidade de repensar o
quê e o como se ensina e se aprende. A introdução das TIC na Escola, promovida pelo
Plano Tecnológico, é importante para trazer a Escola para a realidade actual e para
expor, desde o início, os alunos aos ambientes que vão encontrar posteriormente no
mundo do trabalho. Todavia, não basta introduzir tecnologia no ensino: será
necessário repensar o modo como se ensina e como se aprende.
O estímulo da aprendizagem é considerado essencial. Uma aprendizagem que combine
a assimilação de conceitos teóricos e uma base sólida na Matemática e no Português
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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com a experimentação e a exposição dos alunos a ambientes diversos. Diversidade
parece ser, aliás, um aspecto central para alargar a base de saberes e de experiência
dos jovens. A exposição à diversidade permite o desenvolvimento de ideias próprias,
caldeadas no confronto com ideias de outros. Na mesma linha de raciocínio, a
conjugação de experiências nos campos das Ciências e das Artes pode ser
extremamente enriquecedora. A dimensão internacional da aprendizagem constitui
outra expressão da diversidade, na medida em que alarga horizontes e torna os jovens
mais capazes de actuar em contextos geográficos diversos.
A transformação das aprendizagens em competências constitui um desafio central que
se coloca ao sistema de educação. Sendo certo que o desenvolvimento de
competências acaba por resultar de uma aprendizagem ao longo da vida, o trajecto
escolar deverá permitir aos alunos a aquisição de competências relevantes para a vida
activa. Este tema suscita questões de orientação profissional e de adequação das
orientações do ensino às necessidades do sistema económico. A falta de adequação
gera desfasamentos entre a oferta e a procura no mercado de trabalho e vai exigir
esforços de adaptação a posteriori, com custos adicionais para os indivíduos, para o
Estado e para as empresas. Existe aqui matéria para reflexão em conjunto, envolvendo
os agentes do sistema educativo e as empresas. Daí poderia resultar quer a análise de
experiências internacionais de articulação entre o sistema de ensino formal e as
iniciativas de formação empresariais, quer o desenvolvimento de instrumentos de
monitorização da procura de competências futuras que possam orientar as decisões de
investimento no sistema educativo, designadamente ao nível da educação profissional
e do ensino Universitário.
► Integrar: Uma lógica de inovação transversal, envolvendo múltiplas
dimensões
O Painel sublinhou a multi-dimensionalidade do conceito de inovação, de acordo com
a perspectiva que a COTEC tem vindo a promover. Com efeito, o modelo COTEC de
interacções em cadeia no processo de inovação (Anexo D), em linha aliás com as
orientações da OCDE, refere expressamente que a inovação não tem apenas uma
vertente tecnológica (inovação de produto e inovação de processo), mas também
dimensões comercial e organizacional.
As opiniões do Painel foram, porém, bastante mais longe, no sentido em que
chamaram a atenção para outras vertentes da inovação, nomeadamente a inovação
artística (e estética) e a inovação social. A mensagem transmitida foi muito clara. Podese (e deve-se) inovar em diferentes dimensões, de modo a reforçar os factores de
diferenciação e a ganhar vantagem competitiva.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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Um aspecto relevante da inovação organizacional, apontado por diversos membros é a
inovação nos modelos de negócio. Esta dimensão da inovação é relevante
nomeadamente no âmbito do empreendedorismo, incluindo o intraempreendedorismo. Será importante desenvolver novos modelos de negócio mais
eficientes, menos baseados nos apoios públicos e mais orientados para o mercado
internacional.
O cruzamento da inovação económica e empresarial com a inovação nas Artes remete
imediatamente para as oportunidades de negócio inerentes ao desenvolvimento das
chamadas ‘indústrias criativas’. Mas remete também, na opinião de Pedro Carneiro,
para a vantagem de as empresas privadas incluírem na sua estratégia formas de
valorização da cultura empresarial incentivando o envolvimentos dos stakeholders
através da ligação às artes, como forma de promover a sustentabilidade do
investimento no médio e longo prazo. A mensagem é, pois, a da compatibilidade entre
inovação tecnológica, organizacional, comercial e artística como instrumento de
reforço da cultura, da diferenciação e da reputação internacional das empresas
portuguesas.
A inovação social tem um papel central na resposta aos desafios sociais elencados. Ela
constitui uma oportunidade para empresas e empreendedores, permitindo o
desenvolvimento de soluções inovadoras para necessidades sociais cada vez mais
relevantes. Em linha com esta dimensão da inovação importa notar que uma parte
significativa dos membros do painel identificou a resposta aos desafios suscitados pelo
envelhecimento da população como uma oportunidade para o empreendedorismo
hoje.
Em conclusão, a adopção de perspectivas multi-dimensionais da inovação vem abrir
aos agentes sociais e económicos novas possibilidades de compatibilização de
interesses e novas oportunidades para o drive empreendedor. Inovar envolve cada vez
mais a conjugação de diferentes formas de expressão de uma atitude de mudança e de
criação de futuros possíveis, numa resposta aos novos desafios colocados pela ecologia
das sociedades e das organizações. Esta lógica articula-se, evidentemente, com os
desafios suscitados por um Mundo cada vez mais interdependente, aspecto a que
voltaremos mais adiante.
► Empreender: Um empreendedorismo dinâmico, dentro e fora das
organizações estabelecidas
A necessidade de conferir um novo impulso ao empreendedorismo, tanto qualificado
como não qualificado, constitui outro ponto central de convergência das opiniões do
Painel.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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As respostas do Painel às questões sobre o empreendedorismo alertam para diversos
vectores muito importantes em termos de orientação da política pública. Alguns deles
põem em causa certas ideias adquiridas, permitindo identificar quatro ‘mitos’ do
empreendedorismo aos quais a política pública nem sempre tem estado devidamente
atenta.
O primeiro ‘mito’ respeita à relação entre empreendedorismo e juventude. Se
considerarmos o período de vida activa de uma população, entre os 18 e os 64 anos,
não existe uma relação inversa entre empreendedorismo e idade. A propensão a
empreender tende a ser superior a partir dos 35 anos, devido nomeadamente à
experiência e recursos financeiros acumulados e à rede de contactos desenvolvida.
Consequentemente, a promoção do empreendedorismo não deverá ser focada apenas
nas gerações mais novas.
O segundo ‘mito’ tem a ver com a ideia de que ser empreendedor implica a criação de
uma nova empresa. Isso não é necessariamente verdade. Existe também
empreendedorismo dentro das empresas já existentes. Este empreendedorismo
interno ou intra-empreendedorismo pode desempenhar um papel muito importante
na adaptação das organizações à mudança e no desenvolvimento das chamadas
capacidades dinâmicas. Daqui resulta que a visão do empreendedorismo como criação
de novas empresas subvaloriza o papel das várias vertentes da capacidade
empreendedora na transformação estrutural das economias.
O terceiro ‘mito’ encontra-se relacionado com o anterior. Está associado à convicção
de que as novas empresas, para crescerem, vão entrar em conflito com as já
estabelecidas. Esta visão heróica e guerreira do empreendedorismo está
frequentemente desfasada da realidade. Muitas vezes, para crescerem e se afirmarem
no plano da competição internacional, as novas empresas precisam de ser
’alavancadas’, sob diferentes formas, pelas grandes empresas já estabelecidas. Sem
esse apoio e impulso, o ritmo de crescimento internacional das novas empresas será
inferior. Uma ecologia constituída apenas por actores pequenos e jovens é
disfuncional. A diversidade de características dos actores e a sua capacidade de
desenvolver formas de cooperação reforça as possibilidades de inovar e de concorrer
num Mundo global. Daqui resulta outro vector interessante de acção para a política
pública, subjacente, aliás, ao lançamento de uma política de clusters, como foi notado
por vários membros do Painel.
O quarto e último mito respeita à deriva tecnológica que tem caracterizado a política
de inovação em Portugal. Tende a privilegiar-se o empreendedorismo de base
tecnológica, esquecendo que muitas vezes o que faz a diferença não está na tecnologia
em si mesma, mas muito mais na capacidade de compreender o mercado e de
conceber modelos de negócio inovadores. Por outras palavras, as dimensões não
tecnológicas da inovação (comercial e organizacional) são frequentemente decisivas
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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para assegurar o sucesso e a sustentabilidade das iniciativas inovadoras.
Consequentemente, sem pôr em causa a importância do vector tecnologia, a política
de promoção do empreendedorismo deveria estimular também as vertentes
associadas à inovação comercial e organizacional, incluindo a concepção de novos
modelos de negócio. Por outro lado, a inovação em sectores de actividade por vezes
identificados como de menor intensidade tecnológica será decisiva para a sua
sobrevivência e competitividade.
Feito este intróito, convirá analisar agora as pistas relativas aos principais
constrangimentos identificados. Como se referiu acima, foram identificados três
grandes grupos de condicionantes ao desenvolvimento do empreendedorismo:
Atitudes, Condições contextuais e Instrumentos. Algumas das pistas são transversais,
influenciando todos os grupos. Todavia, para facilitar a apresentação e a leitura, a
abordagem será efectuada grupo a grupo.
Atitudes: Estimular a Iniciativa e a Interacção e Valorizar o Mérito
Os aspectos atitudinais foram já, em larga medida, referidos na secção relativa à
Educação. O sistema de ensino tem um papel muito importante no sentido de instilar o
desejo de assumir riscos, estimulando a capacidade de analisar e defrontar desafios e
combatendo a acomodação do ’vale mais um pássaro na mão que dois a voar’.
Inerente à capacidade de assumir riscos, deverá estar também a educação para a
gestão do risco, isto é, o saber distinguir em que condições assumir riscos. Importará
reconhecer, no entanto, que os resultados neste campo não serão imediatos. Pelo
contrário, trata-se de uma tarefa para uma geração, tendo em conta a forte inserção
cultural da aversão ao risco.
Podendo a iniciativa ser individual, a capacidade comunicacional torna-se muito
relevante para mobilizar outras vontades e competências, no sentido de reforçar as
possibilidades de sucesso dos projectos e de reduzir as suas potenciais insuficiências.
Vertentes como o diálogo e o debate de ideias são importantes como veículos
comunicacionais, evitando o ‘fechamento’ dos indivíduos em iniciativas com
insuficiências manifestas.
Estimular o rigor na análise e valorizar o mérito são elementos que podem promover
efeitos de demonstração e círculos virtuosos de emulação. Todavia, como ressaltou
nas opiniões do Painel, a valorização do mérito não deve ter como corolário a
desvalorização do insucesso. Isso conduziria a reforçar a situação já existente,
fortemente penalizadora dos insucessos iniciais. Consequentemente, o reforço
positivo da valorização do mérito deverá ser conjugado com o estímulo da iniciativa,
mesmo quando esta, por motivos não claramente evidentes, soçobrou.
Será interessante notar que diversos destes pontos são também salientados no
Programa Estratégico para o Empreendedorismo e a Inovação +E+I. O reconhecimento
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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destas questões é, sem dúvida, uma característica meritória do programa. O desafio
prático está, todavia, no modo como esses aspectos vão ser declinados nos vários
níveis de ensino.
Condições Contextuais: Eficiência da Justiça e Acesso a Financiamento
Como se referiu anteriormente, os sistemas judicial e financeiro constituem
estrangulamentos sérios para vários eixos da inovação empresarial e sobretudo para o
empreendedorismo.
Embora o Painel não se tenha pronunciado a esse respeito, o Programa Revitalizar,
incluindo a revisão do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas , parece
ser um passo útil no sentido de facilitar a mudança de propriedade das empresas em
dificuldade, permitindo a introdução de novas ideias e processos e a recuperação de
empresas em situação difícil. No entanto, o sucesso desta iniciativa parece também
assentar no bom funcionamento do sistema judicial, o que não deixa de colocar um
ponto de interrogação quanto à eficácia e à eficiência da sua aplicação prática. De
facto, a morosidade e a falta de eficácia do sistema de Justiça são um factor dissuasor
da iniciativa empreendedora, na medida em que acentuam os riscos da própria acção
de empreender. Investir na eficácia do sistema Judicial será imprescindível para
promover o empreendedorismo e para estimular a second chance.
A crise financeira mundial e a subsequente crise da dívida soberana vieram reduzir
consideravelmente os meios financeiros disponibilizados às empresas e, por maioria de
razão, os fundos disponíveis para novas iniciativas empreendedoras. Os fundos
entretanto injectados pelo Banco Central Europeu no sistema bancário não se
reflectiram ainda num aliviar da restrição financeira, a qual é particularmente
acentuada para iniciativas que já passaram a fase de start-up e que pretendem
prosseguir políticas de afirmação competitiva em mercados internacionais. Esta parece
ser uma área onde se justifica uma intervenção mais atenta por parte da política
pública.
Outro problema do sistema financeiro referido pelo Painel respeita à qualidade dos
próprios operadores de capital de risco, públicos e privados. A insuficiente qualificação
dos operadores torna difícil aos empreendedoras acederem aos serviços de apoio e
aconselhamento especializado à gestão que supostamente as entidades de venture
capital deveriam facultar, para além do investimento financeiro. A pouca profundidade
do mercado de capitais constitui outro óbice ao funcionamento do capital de risco,
pois dificulta as transacções e o refreshing das carteiras de participações. A iniciativa
de reestruturação dos instrumentos públicos de capital de risco, incluída no Programa
Estratégico para o Empreendedorismo e a Inovação +E+I e entretanto expressa na
criação da Portugal Ventures, constitui um passo positivo no sentido de melhorar o
quadro de apoio financeiro às iniciativas empreendedoras.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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Instrumentos: Afectação de recursos, Apoio a iniciativas emergentes e Cooperação
para Competir Internacionalmente
A observação anterior remete já para os instrumentos de promoção do
empreendedorismo. A recente reestruturação dos instrumentos públicos de capital de
risco é uma medida positiva, pois pode introduzir mais racionalidade e ganhar
economias de escala no apoio ao empreendedorismo. Poderá também contribuir para
melhorar a qualidade do apoio prestado à gestão das empresas participadas. Neste
sentido, seria também importante promover condições atractivas para empresas
internacionais de venture capital especialistas em domínios onde a experiência
existente em Portugal é insuficiente, como é o caso da biotecnologia.
Ainda no campo da racionalização de instrumentos e de iniciativas poderá haver outra
área importante de intervenção. Na última década não têm faltado iniciativas de
promoção do empreendedorismo em Portugal. Algumas, como o Programa CoHiTec da
COTEC já estão consolidadas e começam agora a dar frutos. Outras, porém, têm uma
dimensão muito reduzida, correspondendo muitas vezes a lógicas paroquiais e de
imitação, sem possibilidade de constituírem factores efectivos de mudança. Parece,
portanto, ser desejável uma estratégia de integração e de cooperação entre as
múltiplas iniciativas existentes, no sentido de lhe emprestar coerência e de garantir
escala. Na mesma lógica, pode referir-se a criação de incubadoras para novas
empresas apoiadas por fundos públicos. Pensa-se que é chegado o momento de
proceder a uma avaliação independente, de modo a reorientar a política de
financiamento público. Em vez de uma dispersão por múltiplos projectos, seria mais
vantajoso focalizar e concentrar recursos, alavancando as iniciativas que mostram ter
verdadeiro potencial.
Dois pontos referidos pelo Painel que poderiam conduzir à concepção e/ou melhoria
de instrumentos públicos de apoio respeitam à integração de imigrantes (onde já
existe o programa ‘Escolhas’) e à promoção de iniciativas empreendedoras no sector
agrícola e no interior do País.
Um instrumento, já abordado, respeita à educação para o empreendedorismo. Para
além dos aspectos relativos à atitude e à capacidade de assumir riscos, parece
importante disponibilizar acções de formação para indivíduos já em idade adulta
eventualmente interessados em lançar projectos empreendedores. Aspectos relativos
à formação de empresas, à formulação de um business plan, ao relacionamento com
financiadores, à gestão de equipas, ao registo de direitos de propriedade intelectual,
ao marketing internacional deveriam fazer parte do currículo. Um vector importante
dessa formação seria a partilha de casos de empreendedores bem sucedidos,
contando as suas histórias de vida e os sucessos e insucessos das suas iniciativas
empreendedoras.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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De acordo com as observações feitas relativamente ao empreendedorismo dentro das
empresas já estabelecidas, esta constitui outra área onde poderão ser desenvolvidos
instrumentos de acção. Estes deveriam ser fundamentalmente de natureza ‘soft’,
sensibilizando os empresários, tanto de PME como de grandes empresas, para as
vantagens da iniciativa empreendedora interna, enquanto factor de mudança,
adaptação e inovação. A gestão do talento exige a promoção do espírito
empreendedor dentro das organizações.
As opiniões do Painel sugerem também a vantagem da promoção da cooperação entre
empresas já estabelecidas e jovens start-ups. Esta cooperação poderia ter lugar sob o
lema ‘Cooperar para competir internacionalmente’. Ela poderia compreender três
grandes vertentes: (1) Relacionamento entre start-ups e empresas portuguesas com
presença internacional significativa; (2) Relacionamento entre start-ups e subsidiárias
portuguesas de empresas multinacionais; e (3) Cooperação entre start-ups gerando
vantagens de complementaridade e de escala para actuar internacionalmente. Este
tipo de iniciativas deveria envolver designadamente a AICEP, enquanto principal
instituição promotora da internacionalização das empresas portuguesas. Ainda nesta
linha, as opiniões do Painel relativamente a um excessivo “provincianismo” ou
“paroquialismo” e às vantagens do apoio à internacionalização das start-ups sugerem a
possibilidade de lançamento de iniciativas promovendo o empreendedorismo bornglobal, isto é, a criação de empresas com uma lógica de actuação internacional, desde
o início. Mais uma vez, a utilização de casos de born globals portuguesas poderia ter
um efeito de demonstração muito positivo.
► Cooperar: Uma lógica de exploração de sinergias, assente na cooperação
Uma das áreas de maior convergência das opiniões do Painel respeitou ao
individualismo e à insuficiente cooperação entre os diferentes agentes económicos. O
estímulo da cooperação para inovar e para internacionalizar foi genericamente
reconhecido. As ideias da inovação aberta, que a COTEC tem divulgado, sublinham a
necessidade de cooperação e de especialização para concorrer num mercado cada vez
mais global. Importa reconhecer, no entanto, que cooperar não torna necessariamente
os fracos mais fortes. Os parceiros deverão ter competências distintivas, por forma a
tornar a cooperação mutuamente vantajosa e a promover a afirmação competitiva
internacional dos participantes.
A propósito da política de clusters (Pólos de Competitividade e Tecnologia e outros
clusters) parece claro que uma das vantagens dessa política é precisamente, se bem
aplicada, o estímulo da cooperação entre diferentes actores, com competências
complementares. Políticas deste tipo podem ter um papel importante no sentido de
estimular sinergias, de modo a reforçar a competitividade internacional de
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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determinada área de actividade. Um elemento central é, porém, a qualidade da
implementação. Seria vantajoso aproveitar os resultados do exercício, recentemente
lançado, de avaliação independente da política de clusters para analisar aspectos
positivos e insuficiências, de modo a separar o trigo do joio e a relançar a iniciativa em
bases mais sólidas, assentes na experiência anterior e em outras iniciativas
internacionais, como é o caso das Knowledge and Innovation Communities (KICs).
Um dos objectivos pretendidos pelos Pólos de Competitividade e Tecnologia é o
estímulo da cooperação entre Universidades e Empresas. Este parece ser um tema
central para a política de inovação em Portugal. As opiniões do Painel mostram,
porém, que a visão do lado da Universidade e do lado das Empresas é distinta. O
diálogo não é fácil, pois há diferenças de linguagem, de perspectiva temporal e de
objectivos. A lógica da ‘transferência de tecnologia’ não funciona, em regra, pois os
desenvolvimentos científicos têm de ser ‘formatados’ em função dos problemas e
oportunidades concretos defrontados pelas empresas. Não existe conhecimento
apenas nas Universidades. Na verdade, existem dois corpos de conhecimento (aquilo
que Keith Pavitt designou por body of understanding e body of practice) que devem ser
combinados e integrados. Se a iniciativa de relacionamento for da empresa, as
possibilidades de sucesso serão, em termos probabilísticos, superiores. Mas para a
cooperação funcionar verdadeiramente é necessário que haja pessoas, de um lado e
do outro, capazes de fazer a ponte e de ultrapassar as diferenças. As posições do
Painel sugerem, portanto, ainda que de forma implícita, a conveniência da concepção
de políticas realistas, pragmáticas e consistentes no tempo para promover, de facto, a
cooperação entre Empresas e Universidades. Estas políticas não dispensam, porém, o
esforço individual no sentido do desenvolvimento de relações de confiança e de
reconhecimento das competências e limitações de ambos os lados da equação. A
confiança é aliás um factor determinante para o sucesso das redes colaborativas,
resultando de um trabalho continuado e de uma governação equilibrada.
A cooperação inter-empresarial constitui outra vertente relevante para a exploração
de sinergias com vista ao reforço da capacidade competitiva. Os exemplos de
cooperação bem sucedidos podem funcionar como instrumentos de demonstração
capazes de combater o individualismo e de mostrar que a convergência de esforços
pode conduzir a melhores resultados do que as acções individuais. Nesta perspectiva,
existem dois eixos que importa promover, complementarmente à política de clusters
referida acima:
● Cooperação entre grandes empresas (e subsidiárias de empresas multinacionais) e
PME, na linha da observação já feita sobre o relacionamento entre start-ups e
empresas portuguesas com presença internacional significativa. Esta cooperação pode
ter lugar tanto no âmbito de supply chains como numa lógica de complementaridade.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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Um elemento relevante será a preocupação de alavancagem internacional dessas
relações, de modo a facilitar a internacionalização das PME portuguesas.
● Cooperação entre PME, com vista a obter economias de escala e de gama através da
acção concertada. Esta cooperação pode expressar-se em três planos interrelacionados: regional, nacional e internacional. Será importante haver ‘facilitadores’,
mas o impulso deve desejavelmente ser bottom-up, partindo das próprias empresas.
Uma vertente interessante desta cooperação será a internacional, no sentido de
reduzir o risco e os custos e reforçar os efeitos de aprendizagem da actuação em
contextos diversos.
► Atrair: Um investimento estrangeiro exportador, criador de emprego e
promotor de interacções e de aprendizagens
A necessidade de atrair mais e melhor investimento estrangeiro é reconhecida pelas
principais forças políticas: o investimento estrangeiro pode ser um factor essencial de
transformação e de modernização estrutural da Economia Portuguesa. Sem prejuízo
de algumas diferenças de tonalidade, esta constitui, aliás, outra das áreas onde se
registou uma clara convergência das opiniões do Painel. Existe consenso quanto ao
interesse de uma política clara e consistente de atracção de investimento estrangeiro,
verdadeiramente criador de riqueza.
Importa reconhecer, no entanto, que as condições actuais não são propícias à atracção
de investimento internacional. Por um lado, as zonas periféricas da Europa não são
actualmente atraentes. Por outro, os problemas de natureza institucional referidos
pelo painel, nomeadamente nos domínios judicial e da estabilidade fiscal, condicionam
as possibilidades de captar investimento.
Um aspecto importante na definição de políticas de atracção de investimento
estrangeiro é a existência de uma visão dual das vantagens de Portugal como
localização de investimento. As empresas já estabelecidas no nosso País tendem a ter
uma perspectiva muito mais positiva do que aquelas que não têm experiência anterior
de investimento em Portugal. Esta dualidade sugere que a probabilidade de sucesso no
reforço dos investimentos já existentes tende a ser superior à da captação de novos
investidores. Assim, para além do esforço a desenvolver neste campo, será muito
importante manter uma relação próxima com os investidores já instalados ou, por
outras palavras, com os ‘clientes’ já existentes. Num quadro de anemia nos
investimentos na Europa, a existência de um diálogo estreito entre a AICEP e os
gestores das subsidiárias portuguesas torna-se extremamente importante para a
identificação de projectos de investimento interessantes e para a definição de
estratégias concertadas de acção no sentido de atrair tais projectos para Portugal.
Uma ideia interessante seria a criação de uma rede de empresários portugueses
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
28
funcionando como elementos de ligação para potenciais investidores estrangeiros, no
sentido de reduzir os custos de não conhecimento do contexto. Assim, aspectos
referidos pelo Painel como atractivos do nosso País – como a empatia cultural dos
Portugueses, o acesso near-shore à Europa, a disponibilidade de jovens qualificados
motivados para carreiras internacionais, uma relação favorável no binómio qualidadecusto do trabalho e a segurança e qualidade de vida dos expatriados em Portugal−
tenderão a ser mais valorizados. Estes aspectos foram especialmente destacados numa
das iniciativas da COTEC Portugal designada por Conselho para a Globalização e
presidida por Sua Excelência, o Presidente da República. A integração de Portugal na
economia global poderá ser reforçada pela criação de condições que, na opinião dos
Conselheiros, abrangem a captação de investimento, pressupondo a revisão dos
regimes fiscal, laboral e de justiça, bem como a identificação de oportunidades com
vista à maior atractividade de serviços para empresas globais.
Das opiniões expressas pelo Painel é possível retirar três objectivos principais para a
política de atracção de investimento estrangeiro: (1) a promoção de exportações; (2) a
criação de emprego, designadamente de emprego qualificado; e (3) o estímulo da
inserção relacional das unidades de capital estrangeiro com o tecido científico,
tecnológico e produtivo nacional. Estes três desideratos são desenvolvidos de seguida.
Investimento estrangeiro exportador
Um dos principais constrangimentos da economia portuguesa reside no défice da
balança comercial. A ultrapassagem das actuais dificuldades de financiamento exige
um relançamento das exportações. Independentemente da contribuição das empresas
nacionais nesse sentido, muitas vezes ‘forçadas’ pela contracção do mercado
doméstico, o investimento estrangeiro pode ter um contributo fundamental. Este
pode assentar, como se referiu atrás, tanto em novos investidores como em projectos
de expansão das actividades de empresas já estabelecidas.
A integração das subsidiárias portuguesas em redes de fornecimento à escala europeia
(e mesmo mundial) deverá ser explorada. Passados vinte anos sobre a instalação da
Auto-Europa, parece inquestionável a necessidade de um novo investimento
estruturante, com uma intensidade exportadora considerável e capaz de actuar como
âncora para fornecedores portugueses. A posição de certo modo periférica face ao
centro da Europa pode, no quadro actual, ser um activo e não apenas uma liability. Por
um lado, a proximidade geográfica e temporal face a África e à América pode ser
valorizada; por outro, a abertura do Canal do Panamá vem propiciar oportunidades na
relação com a Ásia, podendo Portugal posicionar-se como plataforma de entrada e de
transformação de produtos asiáticos no espaço europeu. Um elemento relevante será,
evidentemente, o nível de valor acrescentado gerado no País, o que remete para o tipo
de actividades desenvolvidas em Portugal. Nesta linha, uma possibilidade a explorar,
tendo em conta o investimento realizado na educação pós-graduada é a atracção de
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
29
unidades com actividades significativas de I&D, que funcionem com prestadores de
serviços a outras empresas dos respectivos grupos multinacionais.
Investimento estrangeiro criador de emprego
Os elevados níveis de desemprego, incluindo desemprego jovem, na sociedade
portuguesa reclamam uma acção consistente por parte dos poderes públicos. Níveis
excessivos de desemprego podem ser um detonador de instabilidade social. Também
aqui a contribuição do investimento estrangeiro pode ser muito relevante, actuando
simultaneamente como elemento de oferta de emprego e como promotor de níveis
superiores de produtividade.
A atracção de projectos de investimento estrangeiro (novos e/ou de empresas já
instaladas) com forte potencial de criação de emprego deve ser uma prioridade da
política pública. Atendendo às condições sociais existentes, Portugal apresenta uma
oferta de trabalho interessante, podendo o espectro de níveis de qualificação dos
projectos ser razoavelmente amplo, indo desde a formação secundária à pós
graduada, passando pelos licenciados. Consequentemente, aspectos mais transversais,
como a empatia cultural ou a facilidade de falar outros idiomas, deveriam ser
valorizados, a par da disponibilidade de um conjunto significativo de jovens com
formação pós-graduada, designadamente em áreas técnicas e científicas.
Investimento estrangeiro promotor de interacções e de aprendizagens
A terceira vertente da atracção de investimento estrangeiro respeita ao efeito de
demonstração e de interacção que pode estabelecer com as empresas Portuguesas,
nomeadamente com as PME, contribuindo também para a aprendizagem, o reforço
das competências e a internacionalização destas. Seria desejável que o investimento
estrangeiro tivesse um papel de tutoria e de alavancagem das competências das
empresas portuguesas.
Consequentemente, o estímulo da interacção entre investidores estrangeiros e
empresas nacionais deveria constituir um vector relevante da política de investimento
estrangeiro. A promoção do aprovisionamento em Portugal, de relações de
fornecimento de produtos e de serviços às subsidiárias de empresas multinacionais em
Portugal pode ter dois efeitos muito relevantes: reforço das competências, pelo
confronto com as exigências estabelecidas pelos clientes; e internacionalização,
incluindo através da entrada nas redes de aprovisionamento centrais dos grupos. O
exemplo da indústria de componentes para automóvel mostra que este processo não é
fácil, mas é possível e desejável. Um aspecto complementar, referido pelo Painel, é o
da promoção do envolvimento de empresas de capital estrangeiro nos Pólos de
Competitividade e Tecnologia e nos clusters.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
30
A política a desenvolver neste domínio deveria incluir duas vertentes. A primeira é a da
promoção de linkages, em termos de cadeia de abastecimentos e de exploração de
sinergias e de complementaridades, entre subsidiárias de empresas multinacionais e
entidades portuguesas, nomeadamente empresas, mas também Universidades e
centros de investigação. A segunda respeita ao estabelecimento de ligações como
instrumento de atracção de novos investidores. A demonstração da existência de uma
base nacional de empresas potencialmente fornecedoras, complementadoras e
prestadoras de serviços especializados pode ter um papel relevante para reforçar a
atractividade do País e para estabelecer uma ‘ancoragem’ local dos investimentos,
essencial para o desenvolvimento de interacções e para a promoção de efeitos de
aprendizagem por parte dos agentes económicos portugueses.
► Pensar Global: Uma orientação inovadora para competir num Mundo
global.
O Painel sublinhou em diversas ocasiões que a economia mundial do futuro assumirá
características diferentes, menos ‘ocidentais’, que as que caracterizaram a segunda
metade do século XX. A deriva para Oriente e o peso crescente dos BRIC e
nomeadamente dos países asiáticos no jogo económico mundial exigem uma nova
atitude por parte dos agentes económicos portugueses: uma atitude mais aberta ao
Mundo e mais assente na capacidade inovadora. Por outro lado, as características
definidoras de ’poder’ sofreram também nas últimas décadas ajustamentos próprios
das mudanças ocorridas. O conceito de soft power, já há muito apresentado por J. Nye
e entretanto vulgarizado na literatura, revela a crescente importância de factores
intangíveis na influência e no poder internacionais. A língua, a ciência, a tecnologia, as
artes e a cultura constituem disso exemplo. Acresce ainda que a natureza das relações
entre os actores internacionais também manifesta outras especificidades associadas a
novos actores com protagonismo acrescido.
As orientações fornecidas pelo Painel são, aliás, consonantes com os elementos
estatísticos fornecidos pelo Barómetro de Inovação COTEC e com as conclusões
obtidas nos vários encontros do Conselho para a Globalização, promovidos pelo
Senhor Presidente da República. As opiniões do Painel convergem, em larga medida,
com as posições expressas pelos executivos portugueses de grandes empresas
multinacionais no Conselho para a Globalização realizado em Novembro de 2011.
Portugal e os Portugueses têm vantagens na nova configuração da economia mundial,
marcada pela maior intensidade das trocas comerciais, pelas oportunidades de
crescimento nos países emergentes e por uma aceleração da mudança, assente na
inovação. A capacidade de adaptação e de estabelecer pontes entre culturas distintas
constitui um activo relevante, de que Portugal pode beneficiar. Para isso, será
necessário ter uma visão, um foco e uma estratégia, como sublinhou Carlos Silva Lopes
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
31
numa das mais recentes reuniões do Conselho para a Globalização (Lisboa, CCB,
Novembro 2011).
Existem vantagens e oportunidades num mundo cada vez mais plural. Nessa linha, a
aposta deverá ser no desenvolvimento de uma capacidade inovadora para competir
num mundo global. Apesar de continuar a haver oportunidades na Europa, os
mercados em crescimento são os dos países emergentes. Temos de olhar para eles e
de desenvolver capacidades para os explorar. Neste quadro, a Língua Portuguesa pode
ser um trunfo, mas não pode funcionar como uma restrição.
32
A língua portuguesa, com mais de 250 milhões de falantes, é a quinta língua mais
falada no mundo.
Fonte: Banco Mundial
Importa desenvolver capacidades de combinação de competências diversas.
Simultaneamente, essa abertura ao mundo terá de ser ancorada numa capacidade de
inovação permanente. A crescente rapidez de mudança não permite a manutenção de
nichos privilegiados por muito tempo. Os desafios são cada vez mais intensos e
provenientes de diferentes origens. Não é possível ganhar uma posição e sustentá-la
sem uma inovação continuada e sem atenção às necessidades em mudança dos
clientes/utilizadores dos nossos produtos ou serviços.
Este desafio não se coloca apenas às empresas. Ele exige um empenhamento político,
marcado pela universalidade, pelo reconhecimento da diversidade e pela abertura ao
Mundo, sem prejuízo da nossa pertença Europeia. Expressa-se numa política de
negócios estrangeiros aberta e numa política de educação que valorize a abertura e a
experiência internacional dos jovens. Implica, por outro lado, novos esforços para
aprofundar as sinergias entre os Portugueses em Portugal e os Portugueses da
diáspora. Expressa-se na promoção do empreendedorismo com horizontes de
actuação internacional, estimulando a atracção de capital de risco internacional e o
surgimento de born globals portuguesas. Traduz-se ainda numa visão integrada e
sistémica dos movimentos de investimento internacional, combinando a promoção do
investimento estrangeiro em Portugal com a da internacionalização das empresas
portuguesas (incluindo o investimento no estrangeiro).
Mas é também um desafio para as empresas. O nosso rectângulo é demasiado
pequeno para ganhar escala. Esta terá de ser obtida fora de portas, actuando em
termos mundiais. As âncoras estratégicas deverão continuar em Portugal, mas o
Mundo deve ser potencialmente o espaço de acção. Isso exige capacidade
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
organizacional, para combinar diferentes geografias e lógicas de negócio, capacidade
de recrutamento internacional, promovendo a diversidade, e capacidade de inovação.
Perspectiva mundial dos negócios e inovação reforçam-se mutuamente. A sua
relevância acentua-se com o desenvolvimento de capacidades comunicacionais e de
networking. Ao captar ideias e assimilar conhecimentos provenientes de diferentes
contextos as oportunidades de inovação aprofundam-se e as possibilidades de
conceber propostas de valor diferenciadas face aos concorrentes ampliam-se.
O conjunto de opiniões expressas pelo Painel de Inovação COTEC permitiu construir
uma perspectiva sólida sobre os desenvolvimentos ocorridos na política de inovação e
sobre os principais desafios a que importa responder, de molde a definir seis eixos de
actuação considerados centrais para promover a inovação e, desse modo, reforçar a
competitividade do País. Acreditamos que as ideias expressas podem contribuir para o
relançamento da agenda de inovação para a competitividade de Portugal.
Importa, no entanto, sublinhar que a concretização de tal agenda não cabe
exclusivamente às entidades públicas. Os desafios com que nos defrontamos exigem o
empenhamento de toda a Sociedade Portuguesa, estimulando mecanismos
cooperativos de alinhamento das perspectivas de diferentes actores (empresas,
associações, Universidades, organizações não governamentais) para definir e
prosseguir objectivos estratégicos de futuro, num contexto global.
Em suma, o desafio de promover uma orientação inovadora para competir num
Mundo global torna-se um desígnio para Portugal!
Lisboa, 23 de Julho de 2012
Vítor Corado Simões e Isabel Caetano
Um agradecimento especial à equipa de projecto pelo apoio na elaboração do
documento:
Artur Arsénio, Cristina Mira Godinho, Diogo Agostinho, José Alves, José Diogo, Miguel
Fernandes e Vera Santos
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
33
FICHA TÉCNICA
O que é o Painel de Opinião COTEC sobre a Inovação em Portugal?
O Painel de Opinião COTEC integra-se no Barómetro de Inovação COTEC. Este inclui três áreas,
como se indica na caixa abaixo: Estatísticas, Práticas e Opinião. Esta última secção apresentase sob a forma de um Painel constituído por 24 individualidades relevantes na Sociedade
Portuguesa, desde empresários e gestores com uma longa experiência até jovens
empreendedores, passando por académicos, jornalistas e agentes culturais. O Painel
pronuncia-se semestralmente sobre um conjunto de questões fixas, susceptíveis de permitir
uma comparação longitudinal de posições e avaliações, e questões variáveis, relativas a temas
considerados de oportunidade relevante pela COTEC. A constituição do Painel e as opiniões
até agora expressas pelos seus membros, bem como as mensagens de análise semestralmente
expressas pelo Prof. Daniel Bessa, Director Geral da COTEC, podem ser consultadas em
http://www.barometro.cotec.pt/website/opinion/concept.
O “Barómetro Inovação” é uma plataforma que visa disponibilizar informações sobre a
inovação em Portugal, de acordo com os seguintes objectivos:
•
•
•
Divulgar, dando-lhes, maior visibilidade, indicadores e estatísticas de IDI e, através
deles, desenvolver análises e apresentações agregadas;
Apresentar informação sobre a inovação empresarial, em particular práticas de
gestão de inovação;
Criar e manter um painel de “líderes” que, com regularidade, emitam as suas opiniões
sobre questões de inovação.
www.barometro.cotec.pt
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
34
A COTEC Portugal - Associação Empresarial para a
Inovação, foi constituída em Abril de 2003 com a missão
de «promover o aumento da competitividade das
empresas localizadas em Portugal, através do
desenvolvimento e difusão de uma cultura e de uma
prática de inovação, bem como do conhecimento
residente no País».
A COTEC é uma associação sem fins lucrativos que conta com o apoio dos seus Associados e
das instituições do Sistema Nacional de Inovação para a concretização dos seus objectivos,
através da realização de iniciativas em várias áreas. Desde o início da sua actividade que o
cargo de Presidente da Assembleia-Geral tem sido exercido pelo Presidente da República.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
35
Anexo A
Membros do Painel do Barómetro de Inovação:
Alberto da Ponte
Presidente do Conselho de Administração da RTP. Foi Presidente
Executivo da Sociedade Central de Cervejas e Sociedade da Água
do Luso (Grupo Scottish & Newcastle).
Alexandre Soares dos Santos
Presidente do Conselho de Administração do Grupo Jerónimo
Martins.
António Murta
Managing Director da Pathena, sociedade de investimentos em
"ventures" da qual é fundador.
António Vidigal
Director Geral da EDP, sendo Presidente da EDP Inovação e da
Labelec.
Diogo Vasconcelos
Foi Distinguished Fellow da Cisco, no âmbito do Internet Business
Solutions Group. Foi Presidente da APDC – Associação Portuguesa
para o Desenvolvimento das Comunicações.
Filipe de Botton
CEO da Logoplaste e seu sócio fundador. Foi membro da Direcção
da COTEC Portugal.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
36
Gonçalo Quadros
CEO da Critical Software SA
Helena Nazaré
Foi Reitora da Universidade de Aveiro. Presidente do Conselho
Consultivo da Fundação Galp Energia e Presidente da Sociedade
Portuguesa de Física.
Isabel Mota
Administradora da Fundação Calouste Gulbenkian desde 1999.
Foi Secretária de Estado do Planeamento e do Desenvolvimento
Regional nos XI e XII Governos Constitucionais.
Joana Vasconcelos
Artista Plástica. Expõe regularmente em Portugal e no estrangeiro
desde 1994.
João Bento
Presidente Executivo da Efacec e Presidente da Direcção da
COTEC Portugal.
João Caraça
Director do Serviço de Ciência da Fundação Calouste
Gulbenkian e Professor catedrático convidado do Instituto
Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de
Lisboa. É Presidente do Conselho Consultivo da COTEC Portugal.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
37
João Picoito
Presidente da Nokia Siemens Networks para o Sul da Europa.
Jorge Rebelo de Almeida
38
Presidente do Conselho de Administração da Vila Galé –
Sociedade de Empreendimentos Turísticos, S.A.
José Manuel dos Santos
Designer industrial de formação, gestor de design por experiência
e empreendedor por vocação
Luís Amaral
CEO da Eurocash Polónia.
Luís Portela
Presidente dos Laboratórios Bial, cargo que tem exercido até à
actualidade.
Nicolau Santos
Subdiretor do Jornal «Expresso» .
Paulo Azevedo
CEO da Sonae. Membro da Direcção da COTEC Portugal.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
Pedro Carneiro
Instrumentista, Chefe de orquestra e Compositor. Director
Artístico da Orquestra de Câmara Portuguesa.
Rogério Carapuça
Presidente do Conselho de Administração da Novabase SGPS desde
1999. Presidente Executivo entre 1999 e 2009.
Rui Guimarães
Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto desde 1999. Foi Director Geral da COTEC
Portugal, entre Setembro de 2003 e Junho de 2009.
Salvador Guedes
Presidente Conselho de Administração da Sogrape.
Sérgio Rebelo
Professor de Finanças na Kellogg School of Management.
Zita Martins
Research Fellow da Royal Society no Imperial College London.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
39
Painel
Página
Alberto da Ponte
11, 16, 17
Alexandre Soares dos Santos
8
António Murta
9, 12
António Vidigal
4, 11, 16
Diogo Vasconcelos
11, 15
Filipe de Botton
6, 8, 9
Gonçalo Quadros
7, 8, 13, 14, 16
Helena Nazaré
13
Isabel Mota
5, 6
Joana Vasconcelos
5
João Bento
6, 13, 14
João Caraça
4, 5, 6, 11, 15, 16
João Picoito
9, 14
Jorge Rebelo de Almeida
8, 10
José Manuel dos Santos
7, 11, 13
Luís Amaral
10, 11, 13, 16
Luís Portela
4, 5, 8, 13, 14, 16
Nicolau Santos
11, 17
Paulo Azevedo
8, 10
Pedro Carneiro
4, 6, 11, 15, 21
Rogério Carapuça
5, 8, 10, 13, 15
Rui Guimarães
5, 9
Salvador Guedes
11, 17
Sérgio Rebelo
5
Zita Martins
12, 13, 14
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
40
Anexo B
Questionários
Cada membro do Painel responde de semestralmente a um questionário de 7
perguntas, em que as primeiras 4 questões são fixas e as restantes variáveis a cada
inquirição.
Perguntas fixas:
41
1. Como avalia os resultados da política de Inovação em Portugal?
a) Quais os principais desenvolvimentos positivos das políticas de inovação em
Portugal?
b) Quais os constrangimentos com que se deparou?
c) Indique os principais aspectos em que a política de Inovação tem
contribuído, ou não, para a competitividade do País.
2. Indique quais foram, em sua opinião, os principais factos ocorridos no último
semestre que influenciaram a política de inovação em Portugal.
3. Indique as principais inovações, a nível nacional e internacional, que mais o
marcaram nos últimos 6 meses.
4. Indique quais são, em sua opinião, os principais factores que:
a) Estimulam o empreendedorismo em Portugal
b) Dificultam o empreendedorismo em Portugal.
Perguntas variáveis:
1º questionário (Dezembro 2010):
- Eu, Primeiro-Ministro: Admita que acaba de assumir o cargo de Primeiro-Ministro.
Quais seriam as três primeiras medidas que tomaria para promover a inovação em
Portugal?
- Indique quais são, em sua opinião, os efeitos da crise sobre a inovação, distinguindo
entre os efeitos a curto e a médio/longo prazo.
- Como avalia a iniciativa de criação de Pólos de Competitividade e Tecnologia e de
outros Clusters em Portugal?
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
2º questionário (Junho 2011):
- Admita que tem hoje 25 anos. Que iniciativa empreendedora lançaria e como a
concretizaria?
- A União Europeia lançou recentemente a estratégia UE2020 com cinco principais
áreas: emprego, inovação, educação, inclusão social e clima/energia. Cada EstadoMembro deverá definir os seus objectivos para cada uma destas áreas. Qual a principal
prioridade que incluiria na Agenda de Inovação para Portugal?
- Quais são os principais problemas que identifica na adequação entre as medidas de
apoio à formação profissional no âmbito do QREN e as necessidades competitivas das
empresas?
3º questionário (Dezembro 2011):
- Eu, Investidor Estrangeiro. Que condições valorizaria para investir em Portugal? Que
factores considera "desmotivantes" para assumir esse investimento em Portugal? o
que fazer para atrair o investidor?
- Qual a sua opinião sobre o novo Programa Estratégico para o Empreendedorismo e a
Inovação (+E+I)?
- Como avalia o impacto das alterações introduzidas no Sistema de Incentivos Fiscais à
I&D Empresarial (SIFIDE) para 2012?
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
42
Anexo C
Apresentação do Posicionamento de Portugal em indicadores abrangidos pelo Barómetro de
Inovação:
Posicionamento de Portugal na Qualidade do Sistema de Educação
Indicador Qualidade do Sistema de Educação
1 - Suiça
6
2 - Islândia
5,9
5,7
3 - Canadá
4 - Finlândia
5,6
43
5,5
5 - Bélgica
5
14 - Alemanha
17 - Reino Unido
4,8
4,8
18 - EUA
4,5
20 - Japão
26 - China
4
3,6
33 - Portugal
3,4
37 - Itália
43 - Espanha
3,1
3,1
45 - Brasil
2,9
47 - Grécia
Média OCDE
4,47
4,33
Média UE27
3,25
Média Europa do Sul
0
1
2
3
4
5
6
7
Fonte: Barómetro de Inovação COTEC
Posicionamento de Portugal relativamente à Eficiência Judicial
Indicador Eficiência Judicial
1 - Suécia
6,1
2 - Noruega
5,8
3 - Nova Zelândia
5,7
4 - Finlândia
5,5
5 - Reino Unido
5,5
12 - Alemanha
5,3
17 - Japão
4,7
19 - EUA
4,6
20 - Irlanda
4,5
24 - China
4,2
28 - Espanha
3,6
34 - Brasil
3,4
37 - Grécia
3,2
44 - Portugal
2,8
47 - Itália
2,6
Média OCDE
4,43
Média UE27
4,08
Média Europa do Sul
3,05
0
1
2
3
4
5
6
7
Fonte: Barómetro de Inovação COTEC
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
Anexo D
Modelo COTEC de Interacções em Cadeia
44
Fonte: João Caraça, J. Ferreira e Sandro Mendonça, Modelo de Interacções em cadeia – Um
modelo para a Economia do Conhecimento, Lisboa, COTEC Portugal, 2006.
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
45
Contactos
COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação
Delegação de Lisboa
Rua Joshua Benoliel, n.º 6 - 2.º B
1250-133 Lisboa
T. +351 213 183 350
F. +351 213 183 359
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[email protected]
Barómetro de Inovação | COTEC Portugal
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